De Vita Beata
O diálogo De Vita Beata ("A Vida Feliz" / "Da Felicidade") foi escrito por volta do ano 58 dC., destinado ao seu irmão mais velho, Gálio, a quem Sêneca também dedicou também seu diálogo De Ira ("Sobre a Ira"). Sêneca explica que a busca da felicidade é a busca da razão.
A principal coisa a entender sobre o texto é o próprio título: Feliz aqui não tem a conotação moderna de se sentir bem, mas é o equivalente da palavra grega eudaimonia, que é melhor compreendida como uma vida digna de ser vivida, um estado de plenitude do ser. Para Sêneca e para os estoicos, a única vida que vale a pena ser vivida é aquela de retidão moral, o tipo de existência à qual olhamos no final e podemos dizer honestamente que não nos envergonhamos.[1]
Logo no primeiro parágrafo Sêneca dá a linha da argumentação estoica: Não devemos ter a felicidade como objetivo: “não é fácil alcançar a felicidade já que quanto mais avidamente um homem se esforça para alcançá-la mais ele se afasta”. A solução é ter como objetivo a virtude. A felicidade será consequência.
No ensaio Sêneca faz grande oposição ao epicurismo, corrente filosófica que valoriza o prazer como fonte de felicidade, como vemos no capítulo X: “Você se dedica aos prazeres, eu os controlo; você se entrega ao prazer, eu o uso; você pensa que é o bem maior, eu nem penso que seja bom: por prazer não faço nada, você faz tudo.” No XV, Sêneca explica por que não se pode simplesmente associar a virtude ao prazer. O problema é que, mais cedo ou mais tarde, o prazer o levará a territórios não virtuosos: “Você não oferece à virtude uma base sólida e imóvel se você a colocar sobre o que é instável”.
O capítulo XX fornece uma lista de regras estoicas pelas quais Sêneca está tentando viver. Vale a pena considerá-las na íntegra:[2]
• Eu vou encarar a morte ou a vida a mesma expressão de semblante;
• Eu desprezarei as riquezas quando as tiver tanto quanto quando não as tiver;
• Verei todas as terras como se pertencessem a mim, e as minhas terras como se pertencessem a toda a humanidade;
• Seja o que for que eu possua, eu não vou acumulá-lo avidamente nem o desperdiçar de forma imprudente;
• Não farei nada por causa da opinião pública, mas tudo por causa da consciência;
• Ao comer e beber, meu objetivo é extinguir os desejos da natureza, não encher e esvaziar minha barriga;
• Eu serei agradável com meus amigos, gentil e suave com meus inimigos;
• Sempre que a Natureza exigir minha vida, ou a razão me pedir que a rejeite, vou desistir desta vida, chamando a todos para testemunhar que amei uma boa consciência e boas atividades;
A profundidade do pensamento, a vivacidade do estilo e os ricos exemplos que o filósofo apresenta para confirmar suas teses tornam a leitura de “A Vida Feliz” extremamente prazerosa.[3]
Tópicos
[editar | editar código-fonte]O trabalho pode ser claramente dividido em duas partes. Na primeira parte (§ 1-17), Sêneca define o conceito de vida feliz e discute como isso pode ser alcançado. Esta parte também contesta as doutrinas epicuristas. Na segunda parte (§17-28), Sêneca discute a relação dos ensinamentos filosóficos com a vida pessoal. Parte dela (§21-24) é especificamente dedicada a responder a objeções contra a posse de riqueza.[4]
Referências
- ↑ «Livro: A Vida Feliz (De Vita Beata)»
- ↑ «Google books: a vida feliz»
- ↑ http://www.estoico.com.br/
- ↑ Mutschler, Fritz-Heiner (2013). Damschen, Gregor; Heil, Andreas, eds. De Beata Vitae. Brill's Companion to Seneca: Philosopher and Dramatist (em inglês). [S.l.]: Brill Academic Pub. pp. 142–143. ISBN 978-9004154612
Ligações Externa
[editar | editar código-fonte]- Aubrey Stewart (1900): Obras relacionadas com Of a Happy Life no Wikisource
- De Vita Beata – Latin text at The Latin Library