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TEXTOS REALISTAS
MACHADO DE ASSIS
MACHADO DE ASSIS
• Todavia, importa dizer que este livro é escrito com pachorra, com a
pachorra de um homem já desafrontado da brevidade do século, obra
supinamente filosófica, de uma filosofia desigual, agora austera, logo
brincalhona, coisa que não edifica nem destrói, não inflama nem
regala, e é todavia mais do que passatempo e menos do que
apostolado."
• "Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a
pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e
todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as
formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava
eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia
alguma vez, mas cedia à indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era
uma dor bastarda. Então o homem, flagelada e rebelde, corria diante da fatalidade das
coisas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de
impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a
agulha da imaginação; e essa figura, - nada menos que a quimera da felicidade, - ou lhe
fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e
então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.“
• capítulo VII
CAPÍTULO XXIV