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Literatura Infantojuvenil

Profª Laís Sena


Literatura Infanto-Juvenil: Gêneros
Narrativos
• Costuma-se classificar como literatura infantil o que se escreve
para as crianças. Seria mais acertado, talvez, assim classificar o que
elas leem com utilidade e prazer. Não haveria, pois, uma literatura
infantil a priori, mas a posteriori.
• Apesar de serem obras que transmitem um conteúdo escolhido
pelo adulto com seus pontos de vista de adulto e que ele considera
interessantes para a criança, e numa linguagem que considera
adequada à compreensão dela. Ele inventa uma forma e um estilo
para estimular a criança a aceitar e cumprir de modo não
questionador, o que ele deseja. De qualquer forma, o ideal será
classificar a obra infantil pela escolha da criança, observando o que
ela prefere ler.
• “Poderia ser um livro rico de ilustrações, capas coloridas com
assunto de aniversários e festas ou simplesmente escrito sem
figuras extravagantes ou promessas irresistíveis. Basta que seja
capaz de seduzir seu pequeno ou jovem leitor, que o guardará na
alma e na mente para toda a vida.” Assim opina Cecília Meireles,
também defensora do respeito à liberdade e ao direito de
escolha desse pequeno leitor, em sua obra Problemas de
literatura infantil, 1984.
• O estudo sobre os gêneros em literatura inicia-se na Poética de
Aristóteles. Aliás, toda a obra parece resumir-se na observação e
análise da produção literária grega antiga e na sua
contemporânea, descrevendo-a, discutindo sua constituição
poética e até “prescrevendo” fórmulas ou modelos de criação
mimética, a partir daquelas obras que examinava.

• Lendo a Poética e observando a realidade daquela época, pode-se


ver que Aristóteles escolheu para ministrar seus cursos-aulas (ele
era professor) a produção escrita e consagrada, autoral e
representativa dos valores da classe dominante.
• Durante o Classicismo moderno, Classicismo (Renascimento),
Barroco e Arcadismo os estudos sobre os gêneros intensificaram-
se, e cada época procurou compreendê-los e explicá-los
conforme sua visão de mundo e seus interesses. Modernamente
reconhecem-se três gêneros literários, cada um dividido em
formas e espécies.
• As formas narrativas da oralidade – populares, simplórias,
infantis, expressão de excluídos, não foram contempladas
pelos estudos do grande filósofo, fundador da Teoria Literária
no ocidente. Seguindo a tradição, as obras de hoje,
preocupadas com estudos literários, também não têm essa
produção “popular” como centro de preocupações teóricas e
culturais.
• Há um conjunto de textos (obras) que têm em comum uma
temática voltada para o mundo da criança (apesar de veicular
interesses do mundo adulto), uma matéria literária ligada ao
sonho, à fantasia, ao maravilhoso, ao mágico, ao fantástico, à
fabulação, ao desempenho de animais na trama das histórias,
jogo entre a realidade e a fantasia etc. Costumamos chamar de
gêneros da literatura infantil e juvenil. São formas variadas da
expressão infantil, produzidas por adultos, e que não pretendiam
dirigir-se à criança, mas às pessoas em geral.
• Entre essas formas, estudaremos o conto (de fada ou não), a
fábula, mito, lenda, apólogo, novela, crônica (moderno) e as
narrativas mistas que englobam elementos de outros
gêneros. Hoje esses gêneros textuais são lidos e trabalhados
nas escolas de Ensino Fundamental. Espaço onde a criança e
o jovem não só conhece essa produção como tem
oportunidade de produzir seus próprios textos, a partir dos
gêneros textuais estudados.
 O Conto

• Os contos populares, contos de fada, as lendas, bem como o cordel, o mito,


sempre foram associados ao folclore e, por vezes, foram suprimidos dos
estudos literários.
• A partir do século XX, com a linguística saussuriana, ocorre um resgate
acadêmico desse material de origem popular. Assim, despontam novas
perspectivas, sugerindo outros modelos de análise para essas narrativas.
• As reflexões compreenderam que o ato de narrar, de recontar histórias é
inerente ao ser humano. Desde o princípio das civilizações, o contar oralmente
era a única possibilidade de registro e, sendo assim, foi reconstruído seu valor
tanto literário, quanto no processo de formação do leitor. Nesse sentido, esse
resgate da chamada literatura oral beneficiou a construção de uma memória
de leitura de um povo, bem como os estudos dessa literatura.
 O Conto de Fadas

• Estas narrativas surgiram com os celtas, aproximadamente no século


II a.C., propagadas através da oralidade. O conto de fada apresenta
uma estrutura com início, meio e fim. A história inicia-se com uma
situação de equilíbrio, alterada por um conflito. No decorrer dos
acontecimentos, a tranquilidade é retomada pelo herói ou heroína,
efetuando-se, assim, o desfecho da história.
• Nessas narrativas aparecem fadas, duendes, espelhos mágicos,
príncipes, princesas, reis, rainhas, bruxas gigantes, ou seja, objetos
ou seres mágicos, elementos que conferem uma simbologia a esse
modelo literário.
• Apresentam temas relacionados ao medo, ao amor, às
carências, às perdas e buscas. Essas questões fazem parte do
cotidiano infanto-juvenil e favorecem a autodescoberta - quem
somos e o que desejamos , conforme nossos valores morais e
éticos.
• Os contos de fada trazem a magia que alimenta a imaginação,
ajudam a encarar os problemas da vida e, por vezes, trazem
esperanças de dias melhores. É um pouco por isso que ainda
hoje esses contos continuam a ser tão encantadores para
adultos e crianças, que podem acreditar pelo menos na fantasia
de que é possível “viver feliz para sempre”.
• O conto possibilita à criança dar vazão a seus afetos e
angústias, ou seja, o conto faz rir e chorar, é um treino para
as emoções. Bruno Bettelheim (1980), em sua obra A
Psicanálise dos Contos de Fada, afirma que os mesmos
ajudam a resolver problemas da existência da criança.
Enfatiza também o poder regenerador dos contos. Por
conterem, na sua estrutura, elementos simbólicos, criam
uma ponte com o inconsciente, propiciando ao jovem leitor
conforto e consolo em termos emocionais.
• Outro elemento característico dos contos de fada é a
presença de personagens que não mudam bruscamente suas
ações ou reações no decorrer da narrativa (são bem
delineadas quanto ao seu caráter ou modo de ser: bom ou
mau). São representantes destas personagens os reis, as
rainhas, os príncipes, as princesas, as fadas, as bruxas.
Personagens classificadas como planas. E que serão objeto
de estudos futuros.
• Algumas características são recorrentes entre os contos, tais
como: a existência de poderes desconhecidos, feitiços,
monstros, encantos, instrumentos mágicos, vozes do além,
viagens extraordinárias. Costumam ocorrer num tempo
desconhecido, reconhecido pelas expressões “era uma vez...,
há muito tempo..., há milhares de anos...”.
• Nelly Novaes Coelho (2000, p. 173) distingue conto
maravilhoso do conto de fadas. Segundo a autora, o conto
maravilhoso foi difundido pelos árabes. São narrativas nas
quais a aventura é “de natureza material/social/sensorial”,
ou seja, no enredo aparece a satisfação do corpo e busca
pela riqueza e poder.
• Isto o diferencia do conto de fadas, uma vez que este é de
origem celta e é permeado por uma natureza
“espiritual/ética/ existencial”, com aventuras ligadas ao
sobrenatural, daí a aparecerem os seres dotados de poderes,
como as fadas com extraordinários encantos.
• As personagens geralmente são apresentadas como “a bela
adormecida”, “um certo rei”, “uma princesa muito linda“, “a
filha mais amada”, e que no decorrer da narrativa enfrentam
os mais variados perigos, nos quais aventuram-se, são
castigados, vencem, casam e, quanto ao aspecto físico, não
mudam.
• Além disso, exploram o bem como tudo o que corrobora
para com os objetivos do herói ou da heroína. Ao contrário, o
que prejudica ou atrapalha é denominado de mal. Em outras
palavras, é uma moral relativa, determinada por situações do
contexto.
• As personagens nos contos de fadas não são ambivalentes –
não são ao mesmo tempo boas e más, como somos todos na
realidade. Mas, uma vez que a polarização domina a mente
da criança, ela também domina os contos de fadas. Uma
pessoa é boa ou má, sem meio-termo. Um irmão é tolo, o
outro esperto. Uma irmã é virtuosa e trabalhadora, as outras
vis e preguiçosas. Uma é bela, as outras feias.
• Enquanto diverte a criança, o conto de fadas esclarece sobre
si próprio e favorece o desenvolvimento de sua
personalidade. Oferece tantos níveis distintos de significado
e enriquece a sua existência de tantos modos que nenhum
livro pode fazer justiça à profusão e diversidade das
contribuições dadas por esse conto à vida da criança.
• O prazer que experimentamos quando nos permitimos ser
sensíveis a um conto de fadas, o encantamento que
sentimos, não vêm do significado psicológico de um conto
(embora isso contribua para tal), mas de suas qualidades
literárias – o próprio conto como uma obra de arte.
Irmãos Grimm
• Os irmãos Grimm, Jacob (1785) e Wilhelm (1786), foram
pesquisadores alemães, estudiosos para língua, da filosofia e
do folclore nacional. O interesse científico levou-os à
fantasia, ao mito e ao fantástico (maravilhoso). A obra
contém contos tipicamente alemães (germânicos) e outros
cujos temas estão presentes na civilização europeia, em
geral.
• Contar histórias e transmiti-las de geração em geração
sempre foi uma forma de guardar a cultura, as tradições e
valores de um povo. Em meio a transformações sociais e
políticas causadas pelas guerras napoleônicas no século XIX,
os irmãos Grimm e outros românticos alemães recorreram às
histórias tradicionais como forma de exaltar a cultura
nacional.
• Reunindo relatos de contadores de histórias locais – em sua
maior parte mulheres e, especialmente, de uma mulher
chamada Dorothea Viehmann, os irmãos Grimm criaram
uma coletânea de contos que, inicialmente, tinha o
propósito de servir como estudo científico e contribuição
acadêmica. Entretanto, eles foram alguns dos primeiros e
mais proeminentes estudiosos a perceberem a importância
dos contos de fadas e tradições orais como registros
históricos de um povo.
• Contos Infantis e Domésticos (Kinder und Hausmarchen) foi
publicado em 1812, e reunia um número seleto de histórias
que, antes, estavam limitadas apenas à tradição oral. Os
irmãos continuaram a resgatar histórias, registrá-las e
publicá-las ao longo dos anos e, com o tempo, foram feitas
adaptações para torná-las mais acessíveis para públicos mais
jovens.
• As ilustrações que acompanhavam as histórias, assim como
as palavras que elas representavam, também foram
responsáveis por moldar o imaginário popular do que era o
folclore alemão da época. Em um período marcado pela
tentativa de encontrar elos que unificassem as primeiras
nações como conhecemos hoje, os Grimm se tornaram
verdadeiros caçadores de contos de fadas e suas
contribuições continuam reverberando, séculos depois.
Cinderela (1812) – Irmãos Grimm
Fragmento
[...] Já era noite alta, quando Cinderela quis voltar para casa.
O príncipe tentou segui-la, mas ela escapuliu tão depressa, que ele
não pode alcançá-la.
Dessa vez, porém, o príncipe usara um estratagema: untou
com piche um degrau da escada e, quando a moça passou, o
sapato do pé esquerdo ficou grudado. Ela deixou-o ali e continuou
correndo.
O príncipe pegou o sapatinho: era pequenino, gracioso e
todo de ouro. No outro dia, de manhã, ele procurou o pai e disse:
— Só me casarei com a dona do pé que couber neste sapato.
As irmãs de Cinderela ficaram felizes e esperançosas
quando souberam disso, pois tinham pés delicados e bonitos.
Quando o príncipe chegou à casa delas, a mais velha foi para o
quarto acompanhada da mãe e experimentou o sapato. Mas,
por mais que se esforçasse, não conseguia meter dentro dele
o dedo grande do pé. Então, a mãe deu-lhe uma faca, dizendo:
— Corte fora o dedo. Quando você for rainha, vai andar
muito pouco a pé.
Assim fez a moça. O pé entrou no sapato e, disfarçando a
dor, ela foi ao encontro do príncipe. Ele recebeu-a como sua
noiva e levou-a na garupa do seu cavalo.
Quando passavam pelo túmulo da mãe de Cinderela, que ficava
bem no caminho, duas pombas pousaram na aveleira e cantaram:
— Olhe para trás! Olhe para trás! Há sangue no sapato, que é
pequeno demais! Não é a noiva certa que vai sentada atrás!
O príncipe virou-se, olhou o pé da moça e logo viu o sangue
escorrendo do sapato. Fez o cavalo voltar e levou-a para a casa dela.
Chegando lá, ordenou à outra filha da madrasta que calçasse o
sapato. Ela foi para o quarto e calçou-o. Os dedos do pé entraram
facilmente, mas o calcanhar era grande demais e ficou de fora. Então, a
mãe deu-lhe uma faca dizendo:
— Corte fora um pedaço do calcanhar. Quando você for rainha,
vai andar muito pouco a pé.
Assim fez a moça. O pé entrou no sapato e, disfarçando a
dor, ela foi ao encontro do príncipe. Ele aceitou-a como sua noiva
e levou-a na garupa do seu cavalo.
Quando passavam pela aveleira, duas pombinhas pousaram
num dos ramos e cantaram:
— Olhe para trás! Olhe para trás! Há sangue no sapato, que
é pequeno demais! Não é a noiva certa que vai sentada atrás!
O príncipe olhou o pé da moça, viu o sangue escorrendo e a
meia branca, vermelha de sangue. Então virou seu cavalo, levou a
falsa noiva de volta para casa e disse ao pai:
— Esta também não é a verdadeira noiva. Vocês não têm
outra filha?
— Não — respondeu o pai — a não ser a pequena Cinderela,
filha de minha falecida esposa. Mas e impossível que seja ela a noiva
que procura.
O príncipe ordenou que fossem buscá-la.
— Oh, não! Ela está sempre muito suja! Seria uma afronta trazê-
la a vossa presença! — protestou a madrasta.
Porém o príncipe insistiu, exigindo que ela fosse chamada.
Depois de lavar o rosto e as mãos ela veio, curvou-se diante do príncipe
e pegou o sapato de ouro que ele lhe estendeu.
Sentou-se num banquinho, tirou do pé o pesado tamanco e
calçou o sapato, que lhe serviu como uma luva. Quando ela se
levantou, o príncipe viu seu rosto e reconheceu logo a linda jovem com
quem havia dançado.
— É esta a noiva verdadeira! — exclamou, feliz.

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