3 - Aula 3 Ciência Política 2023.1

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Ciência Política

e Teoria do Estado
Prof. Ronaldo Lucas
Lattes:  http://lattes.cnpq.br/0284767277040893
O Estado Moderno
Explorando o plano de aula 3

Objetivos
1. Identificar as características do surgimento dos
princípios políticos da sociedade contemporânea;

2. Identificar as características do conceito de Estado


moderno, a transição do absolutismo ao Estado liberal
com a ascensão e consolidação da burguesia no poder.
O Estado Moderno e sua configuração a partir de
Vestefália

ANTES DA PAZ DE VESTFÁLIA DE 1648


Organização política típica da medievalidade:

• Concepção dual de poder: poder temporal x poder


eclesiástico;
• Guerras Religiosas – Guerra dos 30 anos; (principais atores – Império
Sacro – Germânico – França e Suécia) territórios que hoje pertencem à Alemanha, Áustria,
Bélgica, Holanda, Luxemburgo, República Checa, Eslováquia, Eslovênia, parte do
território da França, Itália e Polônia)

• Não existia o Estado nacional propriamente dito.


• A Paz se deu durante um período de 7 anos de reuniões e
acordos – paz na cristandade
Nascimento do Estado moderno

Formação do Direito Internacional Público:


Sociedade Internacional de Estados Nacionais
Diplomacia permanente;
Anti-hegemonia
Promoção da economia de mercado

Paz de Vestfália de 1648 – nivela o poder dos Estados – balança de poder

Formação do Estado Nacional propriamente dito:


Estado Absoluto com os três elementos essenciais
– POVO, TERRITÓRIO e SOBERANIA una e
indivisível.
Nascimento do Estado moderno

Paz de Vestfália de 1648 – nivela o poder dos países


Os princípios mais importantes da Paz de Westfália foram:

•Estados soberanos (superioridade interna e insubmissão externa);


•Não ingerência nos assuntos internos de outros estados;
•Estados iguais em direitos e obrigações;
•Pacta Sunt Servanda – “Acordos devem ser mantidos” (respeito
pelos compromissos internacionais).
Formação Histórica do Estado
MODELO WESTPHALIANO

Simboliza:

a) passagem do Estado Medieval para o Estado Absoluto;

b) a criação do Direito Internacional Público, tal qual é concebido nos dias atuais;

c) o nascimento do Estado Nacional propriamente dito, formado a partir da coexistência dos seus três
grandes elementos essenciais (território, povo e soberania una e indivisível).
Os elementos essenciais do Estado
 Território
 Povo
 Soberania
 TERRITÓRIO:
a delimitação espacial do poder

• O território é o componente material da estrutura do Estado

• Base geográfica do poder estatal;

• Base física sobre a qual o Estado irá exercer sua jurisdição soberana;

• Define os limites dentro dos quais se exerce a soberania do Estado.


O caráter multidimensional do território

• Não se restringe ao elemento terrestre;

Inclui o espaço marítimo e o espaço aéreo;

• Pode incluir áreas destacáveis do núcleo territorial do Estado;


Exemplos: Ilhas Malvinas e Arco Britânico de Ilhas no Atlântico.

• Inclui o solo, o subsolo, as águas interiores, o mar territorial e o espaço aéreo sobrejacente.
Arco de contenção britânico
Teorias acerca da natureza jurídica do território

• Teoria do Território-PATRIMÔNIO;
• Concepção medieval. O território é considerado propriedade do Estado.

• Teoria do Território-OBJETO;
• O Estado exerce um direito real de caráter público. É um direito sobre as coisas do território (dominium) Dimensão positiva do direito (Estado);
Dimensão negativa (exercido pelo cidadão). Incongruência dessa teoria por admitir dois direitos de propriedade sobre a mesma coisa.

• Teoria do Território-ESPAÇO.
• O poder seria exercido não sobre as coisas, mas sobre as pessoas ( poder de imperium)

• Teoria do Território-COMPETÊNCIA.
• O território seria o âmbito espacial de validade da ordem jurídica estatal. É no território que o Estado pode aplicar as leis por ele produzidas.
(PRÓXIMA AOS DIAS ATUAIS)
Território marítimo estatal - Espaço marítimo
- diferentes nomenclaturas já que estão submetidas a diferentes regimes jurídicos

MAR TERRITORIAL: 12 MILHAS – somente aqui o Estado Costeiro


tem soberania plena. (aprox. 22km). 200 milhas náuticas???
diminuídas em 1993 (seguindo a “Convenção de Montego Bay” –Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar - de 1982)

ZONA CONTÍGUA: 12 -24 MILHAS. Controle


relativo - para evitar infrações ao Mar
territorial(aduana, imigração, sanitária)

ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA: 200 MILHAS Sem soberania


plena

PLATAFORMA CONTINENTAL: ATÉ 350


MILHAS
A Lei do Mar e a distribuição do espaço
marítimo

Convenção das
Nações Unidas sobre
estendida
o Direito do Mar

Montego Bay –
Jamaica, 1982
Amazônia
azul

Plataforma Continental
estendida
 POVO:

Conjunto de pessoas que se


encontram na base geográfica de
Poder do Estado – não
POVO E O SEU SENTIDO necessariamente participam da vida
JURÍDICO-POLÍTICO política do país. NAÇÃO POVO

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Vínculo da nacionalidade entre a POVO E POPULAÇÃO Coletividade real que


pessoa e o ESTADO se sente unida pela
origem comum, laços
Vínculo jurídico permanente =
linguísticos, culturais,
NACIONALIDADE
espirituais. Comungar
do mesmo destino
NACIONALIDADE – Atributo que
capacita o indivíduo a se
tornar cidadão, participando
da formação da vontade do
Estado e do exercício do poder
soberano
POVO: O conceito de povo em uma perspectiva jurídico-política

O conceito jurídico-político de povo está relacionado com o vínculo da nacionalidade


entre a pessoa e o Estado.

A nacionalidade é o atributo que capacita os indivíduos a se tornarem cidadãos e, com este status,
participarem da formação da vontade do Estado e do exercício do poder soberano.
Os conceitos de Povo e População

Conceito de povo: o conjunto de membros de uma sociedade


política ligados pelo vínculo jurídico-político da
nacionalidade

Diferença entre os
conceitos
Conceito de população: o conjunto de pessoas que se
encontram na base geográfica de poder do Estado, sem que
isso importe
necessariamente possibilidade de participar da vida política do
País
Atenção: O conceito de nacionalidade

Em sentido jurídico-político, demarcando o vínculo entre um membro do povo


e o Estado. (SERIA MELHOR SE FOSSE A EXPRESSÃO “ESTATALIDADE”)

O Conceito de NACIONALIDADE do conceito de NAÇÃO

O conceito de ESTADO do conceito de NAÇÃO


O conceito de nação

A nação representa uma coletividade real que se sente unida pela origem comum, pelos
laços linguísticos, culturais ou espirituais, pelos interesses comuns, por ideais e
aspirações comuns.

Assim, nação pode ser entendida como grupos constituídos por pessoas que não
necessitam ocupar um mesmo espaço físico para compartilhar dos mesmos valores
axiológicos e da vontade de comungar um mesmo destino.

Em sentido étnico-cultural, demarcando os laços linguísticos, culturais ou


espirituais, ou mesmo os interesses, ideais e aspirações comuns.
O conceito de nação

Pessoas de nacionalidades diversas (sírios, iraniano,


turcos) podem fazer parte de uma mesma nação (Curda) e
pessoas de uma mesma nacionalidade (espanhóis) podem
ser membros de nações diversas (basca, catalã)

Curdistão é a “pátria” de cerca de 30 milhões de curdos que vivem na Turquia, Síria, Iraque e Irã. A grande maioria, mais de metade,
vive no Sul da Turquia e representa 20% da população turca. É um povo com língua própria, hábitos e tradições seculares e que
aspira à constituição de um estado.
O conceito de nação

Podem existir diversas nações dentro de um


mesmo Estado. (País Basco; Catalunha).
Da mesma forma que pode existir uma única
nação espalhada por diversos Estados diferentes.
(Curdistão)

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-50012988
Conceito de cidadão

CIDADÃO é o nacional no pleno gozo dos seus direitos políticos.

A nacionalidade é condição necessária, mas, insuficiente para definir o conceito de cidadão.


Todo cidadão é nacional, porém nem todo nacional é cidadão.
Questão

Responda:

a) É possível existir mais de uma nação dentro de um único Estado?

b) Todas as nações são necessariamente reconhecidas como Estados nacionais?

c) Neste momento da história, são os catalães e os bascos partes integrantes do povo espanhol em
seu sentido jurídico-político?
 Soberania

1 – a construção do conceito de soberania no decorrer da Modernidade;

2 – as características que definem o conceito de “soberania” nos dias


atuais;

3 – o conceito de soberania se fundamenta em bases de legalidade e de


legitimidade.
A construção histórica do conceito de soberania na modernidade

Antecedentes:

A ideia de soberania tem uma dimensão histórica,


na medida em que nem sempre existiu tal
conceito.

Summa potestas = soberania – potência total –


uma aproximação da ideia de soberania –
Idade média existia o soberano (posição de
superioridade em um sistema social
hierarquizado), mas não a ideia de soberania

A rigor, trata-se de uma construção intelectual


do Estado Moderno em oposição ao fragmentado
poder da era medieval.
A construção histórica do conceito de soberania na modernidade

Antecedentes:

Período medieval – época de multiplicação das fontes de


poder, sem que houvesse uma instância completamente
superior. Poderes que lutavam entre si.

Entre o rei (poder secular) e o povo havia outras autoridades


intermediárias que conduziam a vida em sociedade –
múltiplas ordens jurídicas (Igreja, Universidades,
Corporações de Ofício, Senhores feudais)
A construção histórica do conceito de soberania na modernidade

O grande precursor do conceito de soberania foi Jean Bodin


(1530-1596) com o desiderato de legitimar o poder do Rei de
França no contexto de disputa entre o poder temporal e o poder
espiritual.

“Soberania refere-se a entidade que não conhece superior na ordem


externa nem igual na ordem interna” / “ A SOBERANIA É O PODER
ABSOLUTO E PERPÉTUO DE UM ETADO-NAÇÃO.

Bodin – a soberania é una, indivisível, irrevogável, perpétua,


indelegável.

Início da consolidação do poder do Monarca ABSOLUTO.

Depois vem Hobbes (1588-1679), Locke (1692) e Rousseau (1712-


1778)
A construção histórica do conceito de soberania na modernidade

No contexto de concepção dual de poder, Jean Bodin


engendra a teoria da soberania absoluta do Estado,
seja no plano interno, seja no plano externo.

É importante aqui lembrar que a Paz de Vestfália, de


1648, simboliza, a um só tempo, o nascimento do
Estado nacional propriamente dito, como, também, a
formação do Direito internacional Público, tal qual é
concebido nos dias atuais.
A construção histórica do conceito de soberania na modernidade

No decorrer da própria Modernidade, o conceito de soberania


vai sendo desenvolvido a partir da elaboração das teorias
clássicas dos filósofos contratualistas.

Primeiro, com Hobbes e a legitimação do Estado Absoluto


depois com Locke e a ideia de limitação da soberania estatal a
partir das garantias das liberdades individuais (paradigma do
Estado Liberal – a soberania não estava no Monarca e nem no Estado
e sim nos indivíduos ), até, finalmente, chegar-se a Rousseau e a
ideia de soberania popular e democracia participativa.
A construção histórica do conceito de soberania na modernidade

Formação do Direito Internacional Público:


Fim da sociedade universal do Estado Feudal
e nascimento da Sociedade de Estados
Nacionais

Paz de Westphalia de
1648

Por Bartholomeus van der Helst - www.rijksmuseum.nl : Home : Info : Pic, Domínio público,
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=143784

Formação do Estado Nacional propriamente dito:


Coexistência dos três elementos essenciais do
Estado (povo, território e soberania una e
indivisível)
A construção histórica do conceito de soberania na modernidade

Soberania não designa o poder, mas sim uma qualidade do poder do Estado.
Soberania é o grau supremo a que pode atingir esse poder. É supremo no
sentido de que não reconhece nenhum outro poder juridicamente superior a
ele, nem igual a ele dentro do mesmo Estado.

O Estado traça as normas para regular as relações dos indivíduos (família,


crime, comércio etc...) INTERNA

As normas e decisões elaboradas pelo Estado prevalecem sobre as normas e decisões


emanadas de grupos sociais intermediários, tais como família, escola, empresa,
religião.
Os traços definidores do conceito de soberania

SOBERANIA INTERNA

Em essência, o conceito de soberania designa o poder político


no Estado, expressando internamente seu poder de comando,
ou seja, a plenitude da capacidade de direito em relação aos
demais poderes dentro do Estado (soberania interna).
Os traços definidores do conceito de soberania

SOBERANIA EXTERNA

Por outro lado, sob uma perspectiva externa, a soberania significa o


atributo que possui o Estado nacional de não ser submetido às
vontades estatais alienígenas. Assim, somente o Estado é dotado de
soberania, sendo que outras comunidades ou pessoas coletivas de
direito interno, no limite, podem ser dotadas tão somente de
autonomia.

IDEIA DE IGUALDADE DE TODOS OS ESTADOS NA COMUNIDADE


INTERNACIONAL, ASSOCIADA À INDEPENDÊNCIA NACIONAL.
Os traços definidores do conceito de soberania

Então, a SOBERANIA se manifesta quando é capaz de constituir um


sistema de normas jurídicas que irão estabelecer as pautas fundamentais
do povo dentro da territorialidade

Resumo
Soberania: conceito teoricamente complexo que mudou ao longo da história. Resumidamente designa o
poder político no Estado Moderno

> interna: capacidade de direito frente aos demais poderes dentro do Estado;
> externa: atributo de não ser submetido à vontade de Estados estrangeiros

- Todas as regras jurídicas estabelecidas são derivadas da emanação do poder soberano do Estado;
Os traços definidores do conceito de soberania

Fim da Guerra Fria e Globalização – impactos sobre o conceito de


SOBERANIA

Enfraquecimento do Welfare State, enfraquecimento da soberania com o


fortalecimento do neoloberalismo

Pandemia Covid-19
Legalidade e legitimidade como fundamentos da soberania
 LEGALIDADE:

Em termos de poder político a SOBERANIA expressa a


capacidade de impor coercitivamente a vontade nacional e
de fixar as competências no âmbito da Organização do Estado

A ideia de legalidade deve ser vislumbrada como a


submissão às leis produzidas pelo próprio Estado, podendo ou
não refletir as aspirações da sociedade como um todo.

WEBER - o ESTADO como detentor do poder soberano tem o


monopólio legítimo do uso da força.

Se concretizou o império da Lei no Estado de Direito – poder


racionalmente justificado, atuando sob os ditames de uma
Constituição escrita.
Legalidade e legitimidade como fundamentos da soberania

 LEGITIMIDADE:

O conceito de legitimidade projeta a ideia de que o


poder soberano no Estado Moderno não basta estar
submetido às diretrizes legais
(conceito de legalidade), mas também deve se
preocupar em atender as aspirações legítimas da
sociedade (conceito de legitimidade).

Enquanto a legalidade exige apenas uma adesão


externa (bastando que o cidadão cumpra a norma
emanada), o reconhecimento da legitimidade exige
que o seguimento ao ordenamento se dê
por uma adesão interna, psicológica. ADESÃO POR
CONVICÇÃO – (ACEITAÇÃO GERAL DOS GOVERNADOS)
Legalidade e legitimidade como fundamentos da soberania

WEBER –

EXERCICIO DO PODER LEGÍTIMO:

A) O PODER TRADICIONAL: típico das monarquias; independe


da legalidade formal;

B) O PODER CARISMÁTICO: lideres autênticos – interpretam


sentimentos e aspirações do povo;

C) O PODER RACIONAL – exercido pelas autoridades


investidas pela lei ( nesse caso há coincidência entre
legalidade e legitimidade)
Legalidade e legitimidade como fundamentos da soberania

A concepção de legitimidade se atrela ao grau de


lealdade de todos os seus cidadãos, ao grau de adesão
por convicção.

Corresponde ela à adesão do Auditório Universal de


Perelman ou à ideia de Comunidade aberta de
intérpretes da Constituição de Härberle.
COMPARAÇÃO DOS CONCEITOS
(Ex: Governos da França Ocupada)

Legalidade do Marechal Petain

Legitimidade do General De Gaulle


Caso:
O conceito de soberania é teoricamente bastante complexo e tem variado no
decorrer do tempo, suscitando uma grande quantidade de acepções conceituais.
Podemos, de qualquer forma, extrair que se trata de um termo que designa o poder
político no Estado Moderno estando expresso em praticamente todas as
constituições modernas.
A Constituição brasileira tem alguns dispositivos (no caso os art. 4º e 14) que
fazem tal referência, senão vejamos:

“Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas


suas relações internacionais pelos seguintes
princípios:
I – independência nacional; (...) Diante do exposto anteriormente, pergunta-se:
III – autodeterminação dos
povos; IV – não intervenção; Em face do que está expresso no Art. 4º da Constituição Federal, é possível
afirmar que o Brasil deve considerar que a soberania sempre exterioriza a
V – igualdade entre os Estados;
supremacia estatal?
(...)”

“Art. 14. A soberania popular será exercida pelo


sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com
valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I – plebiscito;
II –
referendo;
III – iniciativa
Ronaldo Lucas da Silva
Lattes:  http://lattes.cnpq.br/0284767277040893

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