Hermenêutica 02
Hermenêutica 02
Hermenêutica 02
Capítulo 2
A História da
Hermenêutica
1
A HISTÓRIA DA HERMENÊUTICA - INTRODUÇÃO
1. Principais pensadores e escritores sobre
Hermenêutica.
2. Saber deste legado científico contribui em
nossa formação.
a. Processo de desenvolvimento.
b. Contribuições de cada autor e a forma como
fora elaborado.
3. A Bíblia Sagrada, como literatura, é uma
obra essencialmente judaica.
4. Vamos iniciar com a história de suas raízes.
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PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS ENTRE OS JUDEUS
1. História da Hermenêutica como ciência, e
história dos princípios hermenêuticos,
2. Ciência: teve início no ano de 1567 d.C
E leram
(FláviooIlírico).
livro, na Lei de Deus, e declarando
3. ePrincípios:
explicandoinício
o sentido, faziam que, lendo,
da era cristã.
4. Exegetas se entendesse. (Ne 8.8)
antigos:
a. Esdras (Ne 8.8). Esdras certamente traduzia
e explicava a lei.
b. Ele parece ter sido a primeira figura de
destaque na Hermenêutica judaica.
3
EXEGETAS ANTIGOS
1. Exegetas antigos:
a. Rabinos Posteriores. Através do exemplo
de Esdras, criou-se entre os rabinos um
apreço e supervalorização da letra.
i. As cópias eram feitas com extremo zelo e
reverência.
ii. Esse comportamento recebe o nome de
“letrismo” e muitas vezes substituíram o
sentido que o autor bíblico pretendia.
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EXEGETAS ANTIGOS
1. Rabinos no tempo de Cristo.
a. Literal: sentido normal do texto, com base em
suas palavras.
b. Midráshica: era uma forma de falar da lei.
Surgiram no século 4 a.C., “os adeptos desse
método determinavam o significado do texto
pelo significado das palavras, sem
consideração do contexto e da ideias do
autor”.
c. Pesher: praticado pelos essênios, era
semelhante à interpretação midráshica, mas
possuía ênfase escatológica.
d. Alegórica: dar um sentido místico ou espiritual
para um relato histórico. 5
EXEGETAS ANTIGOS
1. Os judeus Palestinos: até as letras eram sagradas, e
os “copistas tinham o hábito de contá-las com o
objetivo de evitar que alguma coisa se perdesse na
transição”;
a. Devotavam o mais profundo respeito à Bíblia da
sua época (Hebraica) como a infalível Palavra de
Deus.
b. Colocavam a Lei em primeiro lugar, acima dos
profetas e dos Escritos Sagrados.
c. Faziam objetiva diferenciação entre sentido
literal da Bíblia (peshat), e, entre a exposição
exegética da Bíblia (midrash), cujo propósito era
investigar as aplicações e verdades das
Escrituras 6
EXEGETAS ANTIGOS
1. Os judeus Alexandrinos. Advinha de certa forma, da
linha filosófica predominante na cidade de
Alexandria, no Egito:
a. Princípio fundamental de Platão: ninguém deve
acreditar em algo que seja indigno de Deus.
b. Recorriam às interpretações alegóricas.
c. Filo: a letra das Escrituras era apenas um símbolo
de coisas mais profundas;
i. Buscava o significado oculto das Escrituras.
ii. Teologia Negativa: o sentido literal deve ser
excluído quando o que afirma:
A. É indigno de Deus;
B. Envolve contradição;
C. Quando a própria Escritura alegoriza. 7
EXEGETAS ANTIGOS
1. Filo:
a. Teologia Positiva: O texto deve ser
alegorizado quando:
i. As expressões são ambíguas;
ii. Existem palavras supérfluas;
iii. Há repetições de fatos já conhecidos;
iv. Há o emprego de sinônimos;
v. A expressão é rara;
vi. Existe algo de anormal quanto ao número
e ao tempo gramatical.
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EXEGETAS ANTIGOS
1. Os judeus Caraítas. Seita fundada por Anan ben
David, por volta do ano 800 da nossa Era.
2. São descendentes espirituais dos saduceus.
3. Chamada por alguns de os protestantes do
judaísmo.
4. Exegese mais correta do que a dos judeus
palestinos e alexandrinos.
a. Representam um protesto contra o rabinismo
parcialmente influenciado pelo maometismo.
b. Forma hebraica de “Karaites” (Beni Mikra) - Filhos
de Leitura.
c. Princípio fundamental: a Escritura como única
autoridade nas questões da fé. 9
EXEGETAS ANTIGOS
1. Os judeus Cabalistas. Século XII. Caráter bem
distinto dos demais.
a. Defendia algumas crenças bastante
incongruentes, entre elas que “qualquer
parte da Lei, mesmo os versos, as palavras,
as letras, vogais e acentos foram entregues
a Moisés no Sinai, e que o número de
letras, tinham poder especial e
sobrenatural”.
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EXEGETAS ANTIGOS
Texto Consonantal
15
O USO QUE OS APÓSTOLOS FIZERAM DO ANTIGO
TESTAMENTO
1. Deus é mencionado como o Autor do texto
bíblico em pelo menos 56 referências.
2. Seguindo
20
sabendoo primeiramente
exemplo de isto:
Cristo, aceitaram a
que nenhuma
exatidãodado
profecia relatoéhistórico
Escritura contido
de particular no Antigo
interpretação;
Testamento
21
porque a(At 7.9-50;
profecia 13.16-22;
nunca Hb 11).
foi produzida por
vontade de homem
3. Reconheceram algum,
o AT comomas os homens
Palavra santosde
inspirada
de Deus
Deus e afalaram
ela seinspirados
referirampelo Espírito
várias Santo.
vezes (2 Tm
3.16; 2 Pe 1.21). 2 Pe 1.20-21
16
O USO QUE OS APÓSTOLOS FIZERAM DO ANTIGO
1. Quando em debate,TESTAMENTO
eles apelam para a Escritura:
a. Quando solicitados a responder a perguntas,
sejam sérias ou capciosas;
b. Com referência ao ensino que ministram até
aos que não se inclinariam a pressioná-los
para outras autoridades que não a própria
palavra deles;
c. A fim de indicar o propósito de algumas de
suas ações ou sua penetração no propósito de
Deus em relação aos desenvolvimentos
contemporâneos;
d. Em suas orações.
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O USO QUE OS APÓSTOLOS FIZERAM DO ANTIGO
TESTAMENTO
15 Todas
e tende as referências
por salvação a longanimidade node Novo
nosso Senhor,
como Testamento às Escrituras
também o nosso amado estão
irmão Paulo vos escreveu,
segundo a sabedoria que lhe foi dada, 16 falando disto,
diretamente
como em todas as suasrelacionadas com
epístolas, entre as quais a
háBíblia
pontos
Hebraica
difíceis (AT)que
de entender, e não come inconstantes
os indoutos a Bíblia todatorcem
e igualmente as outras Escrituras, para sua própria
(66perdição.
livros).
2 Pe 3.15-16
18
Porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que
debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário.
1 Tm 5.18 = Dt 25.4 + Lc 10.7
18
PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS NA IGREJA CRISTÃ
1.Período Patrístico
a. Período que aconteceu um movimento de
novos princípios hermenêuticos;
b. Dependiam de três grandes núcleos em que
a igreja daquele período desenvolvia suas
atividades:
i. Escola de Alexandria;
ii. Escola de Antioquia;
iii. Escola do Ocidente.
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ESCOLA DE ALEXANDRIA
1. Teve atuação na interpretação bíblica do
começo do século III.
2. Alexandria: era considerada o centro cultural
e religioso do Egito.
a. A religião judaica e a filosofia grega não
somente compartilharam o mesmo
espaço, elas também se influenciaram
reciprocamente.
20
ESCOLA DE ALEXANDRIA
1. Principais expoentes: Clemente de
Alexandria e seu discípulo Orígenes
2. Reconheciam o sentido literal das Escrituras,
porém avaliaram que a interpretação
alegórica era importante, pois colaborava
para dar uma noção real da Palavra.
3. Defendiam a inspiração da Bíblia como sendo
Palavra de Deus; porém concordavam com o
pensamento que era comum à época de que
havia algumas regras especiais que
deveriam ser aplicadas para interpretar a
Revelação divina através das Escrituras.
21
ESCOLA DE ALEXANDRIA
1. Clemente de Alexandria (150-215 d.C.) foi
quem iniciou a aplicação do método
alegórico na interpretação do AT:
a. Acreditava que os textos da Escritura
possuíam cinco sentidos:
i. Histórico, doutrinal, profético, filosófico e
místico.
b. A literalidade do texto sagrado poderia
originar apenas fé elementar;
c. O sentido alegórico conduziria ao
verdadeiro conhecimento.
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ESCOLA DE ALEXANDRIA
1. Orígenes (185-254 d.C.): teve a incumbência
de explicar em detalhes a interpretação
alegórica defendida pelo seu mestre
a. Foi o maior teólogo do seu tempo.
b. A Escritura era uma vasta alegoria na qual
cada detalhe é simbólico.
c. Assim como o ser humano possui três
partes, as Escrituras têm três sentidos:
literal, moral e alegórico.
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ESCOLA DE ANTIOQUIA DA SÍRIA
1. Supostamente formada por Doroteu e Lúcio a fins
do século III.
2. Outra linha de pensamento que defende a
paternidade por: Diodoro, primeiro presbítero de
Antioquia, e depois de 378 d.C., bispo de Tarso.
3. Diodoro:
a. Contestava veementemente a interpretação
alegórica;
b. Defendia a interpretação histórica com ênfase
apenas para o que de fato estava escrito no
documento bíblico;
c. Rebatia a busca por sentidos ocultos no texto.
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ESCOLA DE ANTIOQUIA DA SÍRIA
1. Diodoro escreveu um tratado sobre
princípios de interpretação.
2. Dois ilustres discípulos seus: Teodoro de
Mopsuéstia e João Crisóstomo.
3. Teodoro: defendia a interpretação liberal.
4. João Crisóstomo: radicalizava dizendo que
todas as partes da Bíblia eram a infalível
Palavra de Deus.
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ESCOLA DE ANTIOQUIA DA SÍRIA
1. Teodoro de Mopsuéstia (350-428 d.C.).
Manteve uma línha exegética intelectual e
dogmática, assim, ficou reconhecido como
crítico e interprete.
2. Defendia uma interpretação histórico-
gramatical.
3. Sua exegese era intelectual e dogmática.
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ESCOLA DE ANTIOQUIA DA SÍRIA
1. João Crisóstomo (185-254 d.C). Ele se
mostrou um exegeta habilidoso e superou
todos os oradores da sua época.
2. Teodoro: o Exegeta x João foi chamado
“Crisóstomo” (boca de ouro).
3. Considerava todas as partes da Bíblia como
sendo a infalível Palavra de Deus.
4. Sua exegese era mais espiritual e prática.
5. Sua habilidade como exegeta não era menor
que a de Teodoro, mas se tornou famoso
pela sua eloquência.
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ESCOLA OCIDENTAL DE EXEGESE
1. Exegese que se mostrou como uma mistura
entre os pensamentos interpretativos das
escolas de Alexandria e Antioquia:
a. Reconheceu autoridade a tradição e à
Igreja no comportamento interpretativo
das Escrituras.
2. Era uma forma intermediária de
interpretação já que “acolheu alguns
elementos da escola alegórica de Alexandria,
mas também recolheu os princípios da Escola
Síria”.
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ESCOLA OCIDENTAL DE EXEGESE
1. Destaque: considerou importante a
autoridade da tradição e da Igreja na
interpretação na Bíblia.
2. Teve quatro extraordinários representantes,
que também eram mestres da igreja: Hilário,
Ambrósio e principalmente Jerônimo e
Agostinho de Hipona.
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ESCOLA OCIDENTAL DE EXEGESE
1. Jerônimo de Strídon (347-420).
2. Reconhecido como doutor e padre da Igreja
pelo fato de ter traduzido a Bíblia para o
Latim, a versão é conhecida como “Vulgata”.
3. Profundo conhecedor das línguas originais
usadas para escrever a Bíblia.
4. Realizou um vasto trabalho onde introduziu
número considerável de notas explicativas:
a. Linguísticas, históricas e arqueológicas.
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ESCOLA OCIDENTAL DE EXEGESE
1. Agostinho de Hipona (350-428 d.C.). Não tinha
conhecimento amplo das línguas bíblicas;
2. É apontado como o maior “sistematizador da
doutrina cristã”.
3. Defendia o conceito que o intérprete das
Escrituras devia ter, acima de tudo, apego
incondicional ao autor Divino da Escritura e que
o hermeneuta deveria estar preparado para o
trabalho a ser realizado, este preparo incluía
estudos: filosófico, crítico e histórico.
a. Defendeu a existência de quatro sentidos:
histórico, etiológico (ref. origem), analógico e
alegórico. 31
PERÍODO MEDIEVAL 600 – 1500 D.C.
1. Tempo de ignorância quanto à interpretação
bíblica.
2. Bíblia: um livro misterioso que não podia ser
lido nem compreendido senão de forma
mística.
3. As poucas informações que se conheciam das
Escrituras eram vindas da Vulgata através dos
Pais da Igreja.
4. A Bíblia somente dizia aquilo que os patriarcas
da Igreja também diziam.
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PERÍODO MEDIEVAL 600 – 1500 D.C.
1. Hugo de São Vítor: “Aprende primeiro o que
deves crer e então vai a Bíblia para encontrares
a confirmação”.
2. A exegese estava imobilizada pela tradição e a
autoridade concedida aos concílios pela Igreja
Católica Apostólica Romana.
3. Os dogmas e a tradição regulamentavam a
interpretação bíblica.
4. Dominado pela alegorização e pelo sentido
quádruplo sugerido por Agostinho.
5. Até mesmo alguns clérigos, viviam na mais
profunda ignorância quanto à Bíblia.
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PERÍODO DA REFORMA (SÉCULO XVI)
1. O período renascentista preparou o mundo, e
principalmente a Igreja para o advento da
Reforma Protestante.
2. Acenou para os cristãos da época que havia a
necessidade de iniciar uma nova etapa, e esta
incluía o estudo das Escrituras.
3. Os maiores representantes deste período:
a. Martinho Lutero e João Calvino, entre
outros.
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PERÍODO DA REFORMA (SÉCULO XVI)
1. Lutero (1483-1546). Defendeu a tese de que a fé e
a iluminação do Espírito são fundamentais.
2. Escrituras estão acima da igreja.
3. Necessidade de ser considerar o contexto e as
circunstâncias históricas de cada livro.
4. Exigiu que o intérprete da Bíblia tivesse intuição
espiritual e fé
5. Pretendeu encontrar Cristo em toda a Escritura
(Interpretação Cristocêntrica).
6. A interpretação correta procede de uma
compreensão literal.
7. Devem ser consideradas as condições históricas, a
gramática e o contexto. 35
PERÍODO DA REFORMA (SÉCULO XVI)
1. Calvino (1509-1564).
2. Não aceitava a alegorização.
3. A Escritura interpreta a Escritura.
4. Destacou:
a. A importância do contexto;
b. Palavras e passagens paralelas;
c. Combateu trazer para o texto o significado
do intérprete.
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PERÍODO DA PÓS-REFORMA – CONFESSIONALISMO
1. Definição dos credos Católicos e
Protestantes, que serviram de base para a
exegese.
2. A variedade de credos e a preferência do
intérprete conduziam a muitas
discrepâncias teológicas.
3. O uso das Escrituras ficou restrito à
escolha de textos para “comprovação” de
posições religiosas pré-determinadas”.
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PERÍODO DA PÓS-REFORMA – PIETISMO
1. Principal representante: Philipp Jakob Spener
(1635-1705).
2. Movimento contra a exegese dogmática.
3. Retorno às boas obras; ao estudo para chegar
ao conhecimento bíblico; ao preparativo
espiritual dos místicos; e o afazer missionário.
4. Lançaram mão, por um tempo, do método
histórico-gramatical.
5. Depois: a tendência de espiritualizar de forma
piedosa os textos, fortaleceu a tese de uma luz
interior para a interpretação e o desprezo ao
método histórico-gramatical, distanciando os
intérpretes das intenções do autor. 38
PERÍODO DA PÓS-REFORMA – RACIONALISMO
1. Surgimento do confronto da razão com a
revelação.
2. Razão: considerada como a única autoridade
na interpretação bíblica
3. Só era aceito aquilo que pudesse ser
compreendido pelo ser humano.
4. Após a Reforma, o empirismo aliou-se ao
racionalismo.
a. Empirismo: o conhecimento vem apenas por
meio dos sentidos físicos.
b. Só se podia aceitar o que se pudesse
comprovar. 39