Teorema de Picard
Teorema de Picard
Teorema de Picard
1 Introduo ............................................................................................ 2 ca 2 Objetivos .............................................................................................. 3 3 Desenvolvimento ................................................................................. 4 4 Equaes Diferenciais de Primeira Ordem ..................................... 5 co 4.1. Equaoes Diferenciais Lineares de Primeira Ordem ....................... 5 c 4.2. Equaoes Separveis ..................................................................... 12 c a 5 Propriedades Gerais das Equaoes ................................................. 18 c 5.1. Interpretaao Geomtrica da equaao y = f (x, y) ....................... 18 c e c 5.2. Existncia, Unicidade e Dependncia Cont e e nua ........................... 20 6 Conluso ............................................................................................. 37 a 7 Referncias Bibliogrcas ............................................................... 38 e a
1 Introduo ca
A motivaao para o estudo das Equaes Diferenciais Ordinrias baseiac co a -se nas inmeras aplicaes em problemas f u co sicos e tambm na possibilidade e de auxiliar na resoluo de problemas de Equaes Diferenciais Parciais. No ca co estudo das Equaoes Diferencias o conhecimento de teoremas de existncia c e de solues se torna fundamental, na medida que, sabendo-se da existncia co e de soluoes, sua busca atravs dos vrios mtodos ao nosso alcance se torna c e a e justicvel. Neste contexto, o Teorema de Picard um resultado essencial a e para se estudar a existncia de solues para o Problema de Cauchy para e co equaoes de evoluo. A demonstraao do Teorema aqui apresentada, usa o c ca c Princ pio da Contrao e exibe uma vestimenta moderna para o mtodo das ca e aproximaes sucessivas, j conhecido e usado com sucesso pelos matemticos co a a do sculo passado. e
2 Objetivos
O projeto teve como objetivo o estudo do Teorema de Existncia e Unicie dade de Picard. Para podermos chegar a este objetivo, foi preciso introduzir de maneira precisa, conceitos fundamentais da Teoria das Equaes Difeco renciais Ordinrias; ilustrar suas aplicaoes a problemas da F a c sica, Mecnica, a Estat sticas e outras reas, passando antes por uma abordagem de alguns a tpicos preliminares de Anlise Real. o a
3 Desenvolvimento
Inicialmente foi feito um estudo em Anlise Real, que dentre vrios tpicos a a o abordados, podemos destacar: O conjunto dos nmeros reais R com a mtrica usual completo; u e e Funoes reais cont c nuas sobre um espao mtrico compacto; c e Convergncia uniforme e o espao C(X). e c Tambm foram introduzidos conceitos fundamentais das Equaes Difee co renciais. Para enm, demonstrarmos o Teorema da Existncia, Unicidade e e Dependncia Cont e nua. A dedicao do orientando foi de 20 horas semanais. Trabalho esse, que ca foi realizado atravs de seminrios apresentados semanalmente sob supere a viso do orientador, auxiliando, dando nfase em problemas propostos e suas a e aplicaoes. Alm de motivar o orientado a desenvolver um esp c e rito cr tico e cient co, conceitos esses, de fundamental importncia para o futuro do a acadmico. e
Neste cap tulo trataremos de apenas dois tipos de equaoes, as equaoes c c lineares de primeira ordem, e as equaoes separveis. Procuraremos obter c a a soluo do problema em forma expl ca cita. Isto foi poss vel, em virtude da natureza simples das equaes abordadas. Daremos nfase ao aspecto, co e extremamente importante, da interpretao das soluoes obtidas e de seu ca c signicado dentro do contexto do problema em estudo.
(4.1)
onde p : (a, b) R e q : (a, b) R so funes reais cont a co nuas denidas em um intervalo (a, b). Uma funao x : (a, b) R soluo de (4.1) se ela for c e ca diferencivel e satisfazer ` equao. No estudo da equao (4.1) surgem dois a a ca ca problemas bsicos: a i) Obter a soluo geral da equaao (4.1); ca c ii) Obter a soluao de problema de valor inicial (P.V.I.). c
x = p(t)x + q(t) (4.2) x(t0 ) = x0 onde t0 (a, b) e x0 so dados iniciais. a Vejamos um exemplo mais simples da equao (4.1): ca x = kx, (4.3)
que a equaao do crescimento exponencial, onde k uma constante. Vamos e c e obter uma soluo da equao geral (4.3), utilizando um fator integrante que ca ca estudaremos mais adiante e detalhadamente. Assim temos: x kx = 0. Multiplicando ambos os membros pelo fator ekt segue que x ekt kxekt = 0, que podemos escrever na forma d (x(t)ekt ) = 0. dt Por integraao temos c e portanto x(t) = cekt , que a soluo geral da equaao (4.3), onde c uma constante arbitrria. e ca c e a Para resolvermos o problema de valor inicial x = kx, (4.4) x(t0 ) = x0 , 6 x(t)ekt = c
onde so dados t0 (a, b) e x0 , substitu a mos na soluao geral da equao c ca (4.3) para obter x(t0 ) = cekt0 = x0 , logo c = x0 ekt0 .
Substitu mos c na soluo geral (4.3) e obtemos a soluao do problema (4.4) ca c para todo t R x(t) = x0 ek(tt0 ) . Equaoes do tipo c
x = p(t)x
so chamadas de equaes lineares homogneas, e o problema de valor inicial a co e correspondente dado por e x = p(t)x (4.5) x(t0 ) = x0 . A soluao do problema de valor inicial homogneo obtida da seguinte c e e maneira. Temos que x p(t)x = 0, multiplicando ambos os lados pelo fator integrante (t) (t)(x p(t)x) = 0 e busquemos (t) de tal forma que o primeiro membro seja a derivada do produto de por x, isto , e (x p(t)x) = ou seja d (x) = x + x , dt
(4.6)
x = p(t)x, 7
supondo = 0, segue-se que = p(t), logo d (ln) = p(t). dt Agora, por integrao obtemos ca ln = p(s)ds isto e
t
t0
(t) = e
p(s)ds
=e
t0
t
p(s)ds
Assim, atravs da equaao (4.6) chegamos que e c d tt0 (e x(t)) = 0, dt integrando de t0 ` t a e e portanto x(t) = x0 e
t0
t
x(t) e
t0
t0
x(t0 ) = e
t0
t
x(t) x(t0 ) = 0
t
t0
que soluao do problema de valor inicial homogneo (4.5). e c e Para facilitar nossos clculos, usaremos a seguinte notao a ca
t
T (t, t0 ) = e
t0
Notemos que a funao T satisfaz as seguintes propriedades: c i) T (t0 , t0 ) = 1; ii) T (t, t0 ) = [T (t0 , t)]1 ; iii) T (t, t0 )T (t0 , s) = T (t, s). 8
(4.7)
p(s)ds
= e0 = 1.
t0
p(s)ds
= e
t
s
t0
t
p(s)ds
= [T (t0 , t)]1 .
t
s
T (t, t0 )T (t0 , s) = e
t0
p(s)ds
p(s)ds
=e
p(s)ds
= T (t, s).
A resoluao do problema de valor inicial (4.2), no caso geral, obtido c e atravs do uso de um fator integrante u(t). Para determin-lo, multipliquee a mos a equao por u(t) ca u(t)(x p(t)x) = u(t)q(t) e busquemos u(t) de tal forma que o primeiro membro seja a derivada do produto u por x, isto , e u(t)(x p(t)x) = ou seja segue-se que d(ux) = u x + ux dt
Portanto determinamos um fator integrante u(t), tomado uma particular primitiva de p: u(t) = e
t
t0
p(s)ds
=e 9
t0
t
p(s)ds
= T (t0 , t).
Logo d (T (t0 , t)x(t)) = T (t0 , t)q(t). dt Agora, integrando de t0 a t, obtemos T (t0 , t)x(t) T (t0 , t0 )x(t0 ) = T (t0 , t)x(t) x(t0 ) t T (t0 , t)x(t) x(t0 ) = T (t0 , s)q(s)ds,
t0
Multipliquemos ambos os lados por T (t, t0 ), e utilizando as propriedades (4.7), obtemos a soluao do problema de valor inicial (4.2): c x(t) = T (t, t0 )x0 +
t0 t
T (t, s)q(s)ds.
(4.8)
Essa expresso chamada de frmula de variao das constantes. a e o ca Acabamos de obter uma forma geral das soluoes caso exista. Agora, c para vericar a existncia, basta mostrar que a expresso obtida de fato a e a e soluao da equaao diferencial (4.1). c c Em particular, quando temos x = p(t)x + q(t) = kx + q(t), ou seja, q(t) igual a uma constante k, assim
t
T (t, t0 ) = e
t0
kds
=e
t
t0
ds
= ek(tt0 )
e portanto a soluao do problema de valor inicial c x = kx + q(t) x(t0 ) = x0 dada pela frmula de variaao das constantes (4.8): e o c t k(tt0 ) x(t) = e x0 + ek(tt0 ) q(s)ds.
t0
10
Agora, dadas duas soluoes quaisquer x1 (t) e x2 (t) da equao (4.1), ento c ca a x(t) = x1 (t) + x2 (t) uma soluao da equaao homognea associada x = p(t). Pois e c c e x1 x2 = p(t)x1 + q(t) p(t)x2 q(t) = p(t)(x1 x2 ) = p(t)x = x . Ou seja, todas as soluoes da equaao linear no homognea (4.1), so obtic c a e a das somando uma soluao particular dessa equaao com a soluao geral da c c c equaao homognea associada. Na frmula de variao das constantes onde c e o ca p(t) k, o termo integral t ek(ts) q(s)ds
t0
uma soluao particular da equao (4.1). Assim podemos evitar o clculo e c ca a dessa integral se pudermos determinar uma soluo particular por algum ca outro mtodo. e q0 Por exemplo, quando q(t) q0 uma constante, temos que xp (t) = e k uma soluao particular da equaao e c c x = kx + q0 . Portanto, x(t) = cekt q0 k
(4.9)
11
Sejam f e g funes ambas cont co nuas denidas em intervalos abertos f : (a, b) R, g : (c, d) R. Equaes diferenciais da forma co y = f (x) , g(y)
(4.10)
dy onde g(y) = 0 e y = a derivada da funao y em relaao ` varivel e c c a a dx independente x, so chamadas de equaes separveis. Podemos escrever a a co a equaao (4.10) da seguinte forma c g(y)y = f (x), ou ainda g(y)dy = f (x)dx. Esta ultima equaao justica a nomenclatura de equaoes separveis. c c a Uma funo y : (, ) R C 1 uma soluao da equao (4.10) se ca e c ca (, ) (a, b), y((, )) (c, d), g(y(x)) = 0 e que satisfaz (4.10) para todo x (a, b). Se y(x) uma soluo e G uma primitiva de g, ou seja G = g, e ca e pela Regra da Cadeia temos: d G(y(x)) = f (x) dx e da G(y(x)) = F (x) + C onde F a primitiva de f . e Assim, dado x0 (, ), y(x0 ) = y0 (c, d), ento a C = G(y(x0 )) F (x0 ) e substituindo em (4.12) obtemos G(y(x)) G(y0 ) = F (x) F (x0 ), 12 (4.12)
(4.11)
ou ainda
y(x)
g(y)dy =
f (x)dx.
x0
y0
O que zemos aqui, foi supor conhecida uma soluao da equaao (4.10) c c e mostrar que ela satisfaz a equaao (4.12). O racioc c nio usado seria considerado precipitado, porm possui uma certa lgica: sendo G = g = 0, e o logo G montona e possui inversa, assim obter e o amos soluoes na forma c 1 y(x) = G (F (x) + C). Porm o correto que, dada uma relaao e e c G(y) = F (x) + C e (x0 , y0 ) satisfazendo essa relaao, com G (y0 ) = g(y0 ) = 0, o Teorema das c Funoes Impl c citas nos garante a existncia de um intervalo (, ) contendo e x0 e uma funo y : (, ) R de classe C 1 que satisfaz a relaao (4.12) ca c e portanto soluao da equao (4.11). Porm, at agora, no mencionamos c ca e e a nada sobre o campo de deniao dessa soluao. c c Vejamos agora, uma variedade de possibilidades nos exemplos a seguir: Exemplo 1: y = Soluao: Temos c logo y 2 = x2 + C. Assim, se C = 0 temos quatro solues: co y1 y2 y3 y4 = +x, x > 0; = x, x > 0; = +x, x < 0; = x, x < 0. x . y yy = x
Se C < 0, digamos C = 1, obtemos quatro solues: co y1 y2 y3 y4 = +(x2 1) 2 , x > 1; 1 = (x2 1) 2 , x > 1; 1 = +(x2 1) 2 , x < 1; 1 = (x2 1) 2 , x < 1.
1
x2 . y2 y = x2 y2
Para C > 0, por exemplo C = 1, temos duas solues: co y1 (x) = (x3 + 1) 3 , x < 1; 1 y2 (x) = (x3 + 1) 3 , x > 1. Para C = 1, temos tambm duas solues: e co y1 (x) = (x3 1) 3 , x < 1; 1 y2 (x) = (x3 1) 3 , x > 1. As soluoes obtidas acima esto representadas gracamente abaixo c a
1 1
segue-se que y = 2x, ento ln|y| = x2 + C. a y Portanto para cada C R obtemos duas soluoes c y1 = ex
2 +C
, x R; , x R.
y2 = ex
2 +C
e ainda ey = x2 + C, ou seja y = ln|x2 + C|. Assim para C = 0 temos duas solues co y1 (x) = 2lnx, x > 0; y2 (x) = 2ln|x|, x < 0. Para C > 0 existe uma unica soluao c y(x) = ln(x2 + C), x R. Para C < 0 obtemos duas soluoes c y1 (x) = ln(x + C), x > |C| 2 ; y2 (x) = ln(x + C), x < |C| 2 . Veja o grco das soluoes a seguir. a c
a 1
17
Trataremos agora, `s questes de existncia de soluao de um problema, a o e c sem a preocupaao de exib c -las, visto que, em geral encontramos enorme diculdade para resolver de forma expl cita a maior parte das equaoes. Nosso c objetivo o Teorema de Picard, que garante a existncia de soluao para o e e c problema de valor inicial: y = f (x, y); y(x0 ) = x0 . A demonstraao que apresentamos, usa o Princ c pio da Contraao (Teorema c do Ponto Fixo de Banach). Tambm dedicamos especial atenao aos aspectos e c geomtricos ligados `s equaoes diferencias. e a c
Um problema bsico no estudo da equaao diferencial (5.1) a detera c e minaao de suas soluoes, visto no cap c c tulo anterior. Em muitos problemas de aplicaao no se faz necessrio saber a expresso algbrica da equao difec a a a e ca rencial, bastando apenas saber o comportamento quando x tende a um valor pr-estabelecido, da a importncia do estudo das propriedades geomtrica e a e da fam das solues da equao diferencial. lia co ca O terceiro problema que destacamos no estudo da equaao (5.1), a c e teoria de existncia e unicidade de soluao do problema de valor inicial. O e c problema de valor inicial consiste em: dadas a equaao diferencial e um c ponto (x0 , y0 ) , determinar um intervalo aberto I contendo x0 e uma funao diferencivel : I R tais que as relaes (5.2) e (5.3) se vericam, c a co onde (x0 ) = y0 , que chamada de condio inicial. e ca
Seu signicado geomtrico que a funao f associa cada ponto (x, y) de e e c um nmero f (x, y) e a soluo que passar por este ponto, deve ter inclinao u ca ca igual a esse nmero, isto , u e tg = f (x, y) onde o ngulo formado pela reta tg ` soluao no ponto (x, y) e o eixo x. e a a c 19
Teorema 5.1 (Existncia e Unicidade): Seja f : R uma funao e c cont nua denida num aberto do plano (x, y), suponhamos que fy : R tambm seja cont e nua. Ento, para cada (x0 , y0 ) , existe um intervalo I a contendo x0 e uma unica funao diferencivel : I R com (x, (x)) , c a para todo x I, que soluo do problema de valor inicial (P.V.I.): e ca y = f (x, y); y(x0 ) = y0 . (5.4) (5.5)
Para demonstrar o Teorema 5.1, primeiramente vamos transformar o (P.V.I.) numa equaao integral. Para isso, usaremos o seguinte lema. c Lema 5.2. Seja f : R uma funao cont c nua denida num aberto do plano (x, y). Ento uma funao diferencivel : I R uma soluao do a c a e c problema de valor inicial (5.4) e (5.5) se e somente se ela for uma soluo da ca equaao integral c y(x) = y0 +
x0 x
f (s, y(s)ds, x I.
(5.6)
Demonstrao: Temos que, se : I R soluo do P.V.I., ento pelo ca e ca a Teorema Fundamental do Clculo: a y (x) = f (x, y), logo y(x) y(x0 ) =
x0
f (s, y(s))ds
x
f (s, y(s))ds.
x0
20
Por outro lado, se : I R uma funao cont e c nua que satisfaz a integral (5.6), ento pelo Teorema Fundamental do Clculo temos que (x) a a diferencivel e e a y = f (x, y). Alm disso e y(x0 ) = y0 +
x0
x0
f (s, y(s))ds,
donde y(x0 ) = y0 e portanto soluo do problema de valor inicial. ca Para resolver a equaao integral (5.6), vamos inicialmente estimar a intec gral. Assim, dado (x0 , y0 ) , tomemos a, b R+ tais que o retngulo a B = {(x, y) : |x x0 | a e |y y0 | b} esteja contido em . Temos que f cont e nua e B compacto, logo f e e limitada em B. Sejam M = max{|f (x, y)| : (x, y) B}, 0 < a min{a, e Ja = [x0 a, x0 + a]. Seja C o conjunto de todas as funoes cont c nuas g : Ja R tais que g(x0 ) = y0 e |g(x) y0 | b. b } M
21
Gracamente, o conjunto das funoes cont e c nuas cujos grcos passam a pelo ponto (x0 , y0 ) e que estejam contidas em B.
Denimos em C a seguinte mtrica: e d(g1 , g2 ) = max{|g1 (x) g2 (x)| : x Ja }. Armamos que (5.7) uma mtrica, ou seja: e e i) d(g1 , g2 ) 0, e d(g1 , g2 ) = 0 se e somente se g1 = g2 ; ii) d(g1 , g2 ) = d(g2 , g1 ); iii) d(g1 , g2 ) d(g1 , g3 ) + d(g3 , g2 ). De fato: Para provarmos i), observamos que pela denio ca d(g1 , g2 ) 0, x Ja . Alm disso e d(g1 , g2 ) = max{|g1 (x) g2 (x)| : x Ja } = 0 logo |g1 (x) g2 (x)| = 0, ou seja g1 (x) = g2 (x) 22 (5.7)
e portanto g1 = g2 . Reciprocamente, se g1 (x) = g2 (x), ento a |g1 (x) g2 (x)| = 0 e portanto d(g1 , g2 ) = max{|g1 (x) g2 (x)| : x Ja } = 0. No caso ii), temos que d(g1 , g2 ) = max{|g1 (x) g2 (x)| : x Ja } = max{|g2 (x) g1 (x)| : x Ja } = d(g2 , g1 ) pois |g1 (x) g2 (x)| = |g2 (x) g1 (x)|. Agora, para provar iii), temos d(g1 , g2 ) = max{|g1 (x) g2 (x)| : x Ja } = max{|g1 (x) g3 (x) + g3 (x) g2 (x)| : x Ja }. Mas |g1 (x)g2 (x)| = |g1 (x)g3 (x)+g3 (x)g2 (x)| |g1 (x)g3 (x)|+|g3 (x)g2 (x)|, logo d(g1 , g2 ) = max{|g1 (x) g3 (x) + g3 (x) g2 (x)| : x Ja } max{|g1 (x) g3 (x)| + |g3 (x) g2 (x)| : x Ja } = max{|g1 (x) g3 (x)| : x Ja } + max{|g3 (x) g2 (x)| : x Ja } e portanto d(g1 , g2 ) d(g1 , g3 ) + d(g3 , g2 ). O que mostra que (5.7) realmente uma mtrica. e e 23
Mostraremos agora que o espao mtrico C denido anteriormente comc e e pleto. Suponhamos que (gn ) seja uma seqncia de Cauchy em (C(Ja ), d). ue Ento, se > 0, existe um n0 N tal que a d(gn , gm ) < , para m, n > n0 ; 2 isto , e max{|gm (x) gn (x)| : x Ja }, para m, n > n0 . Portanto |gm (x) gn (x)| < , para m, n > n0 e x Ja . 2 (5.8)
Conseqentemente, para cada x Ja , (gn (x)) uma seqncia de Cauchy u e ue em R e, assim, desde que R completo, existe para cada x Ja , um unico e nmero real g(x) tal que gn g(x) quando n , isto (gn ) converge u e pontualmente sobre Ja . Portanto, se x Ja e dado > 0, existe um n1 N tal que |gn (x) g(x)| < , para n > n1 , 2 e segue-se disso e de (5.8) que, se escolhermos m > n0 e n > max{n1 , n0 }, |gm (x) g(x)| |gm (x) gn (x)| + |gn (x) g(x)| < . Portanto |gm (x) g(x)| < , para m > n0 e x Ja , de forma que (gm ) converge uniformemente sobre Ja . Como o limite uniforme de funoes cont c nuas uma funao cont e c nua, temos g C(Ja ), e sendo C compacto, logo gn g em (C(Ja ), d). Assim toda seqncia de Cauchy em ue (C(Ja ), d) convergente e, portanto, (C(Ja ), d) completo. e e Consideremos a integral (5.6), e seja uma funo denida em C tal que ca para cada y C associa ` funo a ca x g(x) = y0 + f (s, y(s))ds.
x0
e |g(x) y0 | |
|f (s, y(s))|ds| M |x x0 | M a b
x0
ou seja g C. Logo : C C. A equaao integral (5.6) pode ser escrita da seguinte forma c y = (y). Ou seja, as solues de (5.6) so deixados como ponto xo pela funao . co a c Usaremos agora o Teorema do Ponto Fixo de Banach, conhecido tambm e como Princ pio da Contrao: ca Teorema 5.3. Seja C um espao mtrico completo. Suponhamos que : c e C C uma contrao, isto , existe uma constante 0 k < 1, tal que e ca e d((g1 ), (g2 )) kd(g1 , g2 ), g1 , g2 C. Ento, existe uma unica g C tal que g = (g). a Para aplicar este teorema, basta vericar que uma contraao. Para e c tanto, escrevemos |(g1 (x)) (g2 (x))| = |
x0 x
(5.9)
Para estimar o integrando no segundo membro de (5.9), usaremos o lema a seguir. Lema 5.4. Seja f : R uma funao cont c nua denida num aberto do plano (x, y) e tal que fy : R seja cont nua tambm. Ento dado um e a subconjunto limitado 0 0 , existe uma constante k > 0 tal que |f (x, y1 ) f (x, y2 )| k|y1 y2 | (x, y1 ), (x, y2 ) 0 . Demonstrao: Sejam dist(0 , ), onde representa a fronteira de ca , e = {(x, y) : dist((x, y), 0 ) < } 2 25 (5.10)
uma vizinhaa de 0 . Assim, dados (x, y1 ), (x, y2 ) 0 com |y1 y2 | < e c temos que o segmento [x, y1 +(1)y2 ] est contido em , onde 0 1. a Ento pelo Teorema do Valor Mdio, existe entre (y2 , y1 ) tal que a e f (x, y1 ) f (x, y2 ) = fy (x, )(y1 y2 ). Assim, tomando M1 = max{|fy (x, y)| : (x, y) }, segue-se |f (x, y1 ) f (x, y2 )| M1 |y1 y2 | para (x, y1 ), (x, y2 ) 0 e |y1 y2 | < . Agora, para pontos onde |y1 y2 |, tomamos M = max{|f (x, y)| : (x, y) 0 } e obtemos que |f (x, y1 ) f (x, y2 )| 2M 2M |y1 y2 |. 2M }.
Para concluirmos a demonstraao do Teorema 5.3, usamos o Lema 5.4 e c obtemos x |(g1 )(x) (g2 )(x)| K| |g1 (s) g2 (s)|ds| Kd(g1 , g2 ) a
x0
e portanto d((g1 ), (g2 )) Kd(g1 , g2 ). a Ou seja, uma contraao se K < 1. Logo, basta tomar e c a a< 1 K
e o Teorema 5.1 ca demonstrado, onde I = (x0 a, x0 + a). Mostramos a existncia de uma soluao do P.V.I. num intervalo I = e c (x0 a, x0 + a), onde a depende de f e da distncia do ponto (x0 , y0 ) ` a a fronteira de , o lema seguinte de grande importncia. e a 26
Lema 5.5. Se compacto, ento um mesmo a pode ser escolhido de e a modo a servir para todas as condies iniciais (x0 , y0 ) . co Demonstrao: Consideremos uma -vizinhana de tal que ca c ,
ento podemos escolher a e b tais que o retngulo a a B = {(x, y) : |x x0 | a, e |y y0 | b} esteja contido em , (x0 , y0 ) . Para isso, basta tomarmos M = max{|f (x, y)| : (x, y) } e a tal que a < min{a, b 1 , }, M K
onde K a constante dada pelo Lema 5.4, onde = . e A hiptese de continuidade de f garante a existncia de soluao do proo e c blema de valor inicial, mas no a unicidade. Para se obter a unicidade a e necessrio assumir alguma hiptese ` continuidade de f . Vejamos agora a o a alguns exemplos: 27
y(0) = 0. Temos que f (x, y) = |y| 2 cont e nua em todo plano (x, y), e y(x) 0 e soluao do P.V.I., porm para y > 0 e y < 0 existe outra soluo c e ca 1 y(x) = x2 , x 0 4 1 y(x) = x2 , x < 0. 4 Exemplo 2. Considere o P.V.I. y = y2; (5.11) y(1) = 1. Neste exemplo, temos que f (x, y) = y 2 e fy (x, y) = 2y so ambas cont a nuas em todo o plano (x, y). Assim o Teomera 5.1 nos garante a existncia de e uma unica soluao do P.V.I. denida num intervalo (1 a, 1 + a), mas esse c intervalo no pode ser extendido para todo x, pois a soluo de (5.11) a ca e y(x) = cujo dom (, 2). nio e Exemplo 3. Considere o P.V.I. y = ey ; y(0) = 0. Aqui a soluo dada por ca e y = ln(x + 1) cujo dom vlido para x > 1. nio e a 28 1 2x
1
Teorema 5.6. Seja f : R uma funao cont c nua denida num aberto do plano (x, y), e suponhamos que fy : R tambm seja cont e nua. Ento, a toda soluo do P.V.I. ca y = f (x, y) y(x0 ) = y0 , pode ser estendida a um intervalo maximal, o qual aberto. e Para demonstrarmos o teorema acima precisamos do seguinte resultado: Lema 5.7. Sejam 1 (x) e 2 (x) solues do P.V.I. denidas respectivamente co em intervalos abertos I1 e I2 contendo x0 . Ento 1 e 2 coincidem em I1 I2 . a Demonstrao: Temos que I = I1 I2 um intervalo aberto. O subconjunto ca e denido por J de I J = {x I : 1 (x) = 2 (x)} fechado em I, pois J = (1 2 )1 ({0}). Alm disso, J aberto em I e e e de acordo com a aplicao do Teorema 4.1. Ou seja, esse intervalo um ca e conjunto conexo e portanto J = I. Voltemos ao Teorema 5.6 e consideremos o conjunto de todas as soluoes c i do P.V.I. denidas em intervalos abertos Ii contendo x0 . Seja I = Ii . Denimos : I R de tal forma que, dado x I, como x Ii para algum i, pomos (x) = i (x). Temos que est bem denida pelo Lema 5.6. Alm disso, soluao do a e e c P.V.I., pois I aberto. Para facilitar nosso trabalho usaremos a notaao: e c I = (w , w+ ). Armamos que I maximal, ou seja, no existe um intervalo e a que contenha propriamente I no qual esteja denida uma soluao . Caso c houvesse tal intervalo este conteria uma das extremidades, por exemplo w+ . Assim, pelo Teorema 5.1, a soluo de ca y = f (x, y) y(w+ ) = (w+ ) e existiria num intervalo (w+ a, w+ + a). Assim, se soluao denida em c w+ , ento (w+ , (w+ )) . Logo, pelo Teorema 5.1 uma funo denida a ca num intervalo I = (w , w+ + a) por 29
{ (x) =
(x) (x)
para para
x (w , w+ ) x [w+ , w+ + a)
soluo do P.V.I. (5.4) e (5.5) o que um absurdo, pois I a unio de todos e ca e e a os intervalos abertos contendo x0 , onde o P.V.I. tem soluo, e I contm I ca e propriamente. Teorema 5.8. Se (x) soluao do P.V.I. com intervalo maximal I = e c (w , w+ ), ento (x, (x)) quando x w+ ( analogamente para quando a x w ). Isto , dado compacto, ento existe um < w+ tal que e a (x, (x)) , para x (, w+ ). Demonstrao: Primeiramente, suponhamos que w+ = +, e dado um ca compacto, basta tomar = sup{x}, (x, y) . Assim se x > , ento (x, (x)) . a
Agora, quando temos w+ < +, e dado compacto, pelo Lema 5.4 podemos escolher um a que satisfaa todas as condioes iniciais em . Assim, c c se (x1 , (x1 )) , ento est denida em (x1 a, x1 + a). Basta tomar a a = w+ para que (x, (x)) no pertena a , para x (, w+ ). De fato, se a a c x1 (, w+ ) e (x1 , (x1 )) , logo ter amos (x) denida em (x1 a, x1 + a) 30
e tambm e x 1 > = w+ a logo x1 + a > + a = w+ . Ou seja x1 + a > w+ e dessa maneira, tambm estaria denida em (w+ , x1 + a), o que uma e e contradio, pois w+ maximal. ca e Teorema 5.9. Suponhamos que seja a faixa {(x, y) : a < x < b} e que f : R seja uma funao cont c nua. Alm disso, suponhamos tambm e e que fy : R seja cont nua e limitada. Ento para cada (x0 , y0 ) , existe a uma unica funao diferencivel : (a, b) R que soluao do P.V.I. c a e c y = f (x, y) y(x0 ) = y0 . Demonstrao: Para isso, basta mostrar que para cada a soluao do ca c P.V.I. est bem denida em (a + , b ). Temos que f cont a e nua em (a, b), seja K1 = max{|f (x, y)| : a + x b }, alm disso fy limitada. Assim, tomando e e K2 = sup{|fy (x, y)| : (x, y) } pelo Teorema do Valor Mdio temos e |f (x, y)| |f (x, y0 )| |f (x, y) f (x, y0 )| K2 |y y0 |. Logo |f (x, y)| |f (x, y0 )| + |f (x, y) f (x, y0 )| K1 + K2 |y y0 |. Integrando de x0 ` x obtemos a 31
|y(x) y0 | K3 + K2
|y(s) y0 |ds.
x0
Usando o Lema 5.9 (veja a seguir) conclu mos que |y(x) y0 | K3 ek2 (xx0 ) c onde c uma constante. Isto mostra que y(x) no tende ao innito. Logo, o e a intervalo de denio da soluao do P.V.I. (a+, b), e como qualquer, ca c e e o Teorema ca demonstrado. Lema 5.10.(Lema de Gronwall). Sejam , e funoes cont c nuas denidas em um intervalo aberto (a, b), tais que 0 e (x) (x) +
x0
(s)(s)ds.
(5.12)
(s)(s)e
(u)du
ds.
(5.13)
(s)ds
(5.14)
(s)(s)ds.
Ento w (x) = (x)(x). Assim, substituindo a equao (5.12) em w otemos a ca a seguinte desigualdade x w (x) (x)[(x) + (s)(s)ds]
x0
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logo ou seja
x x0
(s)(s)eB(s) ds
multiplicando ambos os lados por eB(x) obtemos x B(x) w(x) e (s)(s)eB(s) ds.
x0
Mas, (x) (x) w(x), logo (x) (x) + e e portanto (x) (x) +
x0 B(x)
(s)(s)eB(s) ds
x
s
x0
(s)(s)e
(u)du
o que implica (5.13). Agora, para obter (5.14), temos que x w (x) (x)[K + (s)(s)ds]
x0
ou seja
(s)KeB(s) ds
x0
e multiplicando ambos os lados por eB(x) obtemos x B(x) w(x) e (s)KeB(s) ds.
x0
Como (x) K w(x), tem-se (x) K + e ou ainda (x) K[1 + e Observando que (s)e obtemos ou ainda (x) K[1 (e logo e portanto (x) Ke
x
x
B(x) x0
(s)KeB(s) ds
x
B(x)
(s)eB(s) ds].
x0 x
s
(u)du
d x (u)du ), (e s ds
x
s
(x) K[1 (e
(s)ds]x0 x x
x0
)],
(s)ds
(s)ds
e
x
x0
)],
(x) K[1 (1 e
x
x0
(s)ds
)]
(s)ds
34
Teorema 5.11.(Dependncia Cont e nua). Seja f : R uma funao c cont nua denida num aberto do plano (x, y), suponhamos que fy : R cont nua tambm. Se 1 e 2 so soluoes de e a c y = f (x, y) denidas em [x0 , x1 ], ento existe um K > 0 tal que a |1 (x) 2 (x)| |1 (x0 ) 2 (x0 )|ek(xx0 ) , x [x0 , x1 ]. Demonstrao: Sejam 1 (x) e 2 (x) soluoes de ca c y = f (x, y) denidas em [x0 , x1 ], temos 1 (x) e 2 (x) so limitadas, assim podemos tomar a 0 como no Lema 5.3 tais que 1 , 2 0 .
Temos que 1 (x) 2 (x) = f (x, 1 (x)) f (x, 2 (x)) agora, integrando obtemos |1 (x) 2 (x)| |1 (x0 ) 2 (x0 )| +
x0 x
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onde K = max{M1 ,
e M = max{|f (x, y)| : (x, y) 0 }, obtidas no Lema 5.3. Agora, usando a desigualdade de Gronwall (Lema 5.10), obtm-se: e |1 (x) 2 (x)| |1 (x0 ) 2 (x0 )|eK(xx0 ) .
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6 Concluso a
De acordo com os estudos realizados, cou evidente a grande importncia a para o estudo das Equaes Diferencias, `s vezes imprescind em muitos co a vel outros ramos do conhecimento humano, suas aplicaoes em inmeros proc u blemas F sicos, Estat sticas entre outros que se extendem alm das cincias e e exatas. Num estudo mais aprofundado, vericamos a existncia e unicidade de e soluao do problema de valor inicial, a importncia desse resultado que, c a e mediante certas condioes, podemos ento armar que, a regio est coberta c a a a por curvas integrais. Abrangemos tambm as propriedades geomtricas das e e soluoes de y = f (x, y) que esto intimamente relacionadas. c a
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7 Referncias e Bibliogrcas a
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