A ARTE RETRICA ARISTOTLICA: UM LEGADO CLSSICO AT OS DIAS ATUAIS

Luciene de Lima Oliveira*

A retrica de Aristteles constitui a mais brilhantes das tentativas de institucionalizar a retrica a partir da Filosofia (Paul Ricoeur) a natureza social, coloquial do homem e a conscincia natural do lgos, como palavra e razo, como meio de persuaso, do homem grego, que explica o valor que a palavra falada adquiriu na sociedade grega. (Luiz Rohden)

Resumo: O presente artigo tem por escopo tecer consideraes a respeito da retrica na Grcia Antiga. Utilizou-se, sobretudo, como documentao textual, a Arte Retrica de Aristteles, uma vez que a obra do Estagirita considerada de grande valor, ainda, nos dias atuais para os estudos retricos. Ressalte-se que, antes de tudo, foi feita uma abordagem da presena da retrica tanto na epopia homrica quanto no teatro e, ainda, na historiografia e na filosofia. Palavras-Chave: Grcia Antiga, Retrica, Aristteles, Nova Retrica

Doutoranda em Letras Clssicas (Linha de Pesquisa: Modos e Tons do Discurso Grego) pelo Programa de Ps-Graduao em Letras Clssicas (PPGLC) da UFRJ e Professora Substituta de Lngua Grega do Instituto de Letras da UERJ. E-mail: [email protected]

69

Abstract: This article is scope to make considerations about the rhetoric in ancient Greece. It was used mainly as textual documents, the Art of Rhetoric Aristotle, since Aristotle's work is considered of great value, even in these days for rhetorical studies. It should be noted that, above all, was made an exposure of the presence of rhetoric in both the Homeric epic as in theater and also in historiography and in philosophy. Keywords: Ancient Greece, Rhetoric, Aristotle, New Rhetoric

1. Notas Introdutrias

O vocbulo retrica - Rhetorik - provm do original grego de rhtor, orador pblico. Costuma-se defin-la como sendo um conjunto de preceitos e normas para a orientao dos oradores. Para Vanoye, a retrica clssica se estabeleceu como um conjunto de tcnicas destinadas produo de discursos. Todavia, atualmente, a retrica constitui um instrumento da anlise do discurso, principalmente, dos discursos esteriotipados (VANOYE, 1986, p. 50). Heinrich sublinha que a retrica definida como ars bene dicendi, sendo que bene a virtus1 especfica do discurso partidrio constituda pelo sucesso da persuaso. Na verdade, esta virtus geral do discurso realizar-se-, especificamente, em cada fase da elaborao e em cada parte do discurso (LAUSBERG, 1967, p. 86).

70

H uma antiga tradio de que a arte da retrica seria uma inveno de Crax e Tsias no sculo V a.C. em Siracusa na Siclia; de Siracusa teria passado a Atenas atravs do sofista Grgias de Leontinos2. Acredita-se que a retrica seja uma disciplina muito antiga no mundo ocidental. Atesta-se, na Ilada, pequenos discursos que eram pronunciados nas assemblias deliberativas. Ora, o velho Nestor tinha por epteto o rei-orador, cujas palavras fluam mais doces que o mel (HOMERO. Ilada I, vv. 247-249), o que leva a pensar que os gregos j organizavam seus discursos em tempos bem remotos. Tem-se, ainda, como modelos de eloquncia, os discursos de trs guerreiros gregos: Odisseu (HOMERO. Ilada IX, vv. 223-307), Fnix (HOMERO. Ilada IX, vv. 431-606) e jax, Telamnio (HOMERO. Ilada IX, vv. 621-643). Estes discursos tinham por objetivo persuadir Aquiles a retornar ao campo de batalha. Na Odissia, a formosura, o talento e a eloquncia eram considerados presentes divinos (HOMERO. Odissia VIII, vv. 167-175)3. A Ilada e a Odissia de Homero so consideradas obras monumentais da eloquncia grega. Com ele, mestre universal, os gregos aprendiam a gramtica, a histria, a moral e a arte de bem falar. (RHODEN, 1997, p. 20-21)

Os gregos antigos acreditavam que o discurso era provido de poder, a esse poder os gregos acreditavam que emanava de uma divindade: - Peith a Persuaso. O tragedigrafo grego, squilo, atravs da fala da deusa Aten, faz referncias Persuaso. A deusa acreditava que era a Peith quem fazia suas palavras parecerem mgicas e doces (SQUILO. Eumnides vv. 1171-1174). Em uma outra ocasio, a filha 71

de Zeus mostra-se agradecida Peith por guiar a sua voz e lbios (SQUILO. Eumnides vv. 1275-1278). Convm lembrar o que Odisseu falou a Neoptlemo: Hoje, com a experincia, vejo que, entre os mortais, so as palavras, e no as aes que conduzem tudo (SFOCLES. Filoctetes vv. 98-99). Tucdides, em sua obra historiogrfica, reproduziu determinados discursos, citem-se, por exemplo: os discursos dos corcireus aos atenienses (TUCDIDES. Histria da Guerra do Peloponeso I 32 a 36), os discursos dos corntios tambm aos atenienses (TUCDIDES. Histria da Guerra do Peloponeso I 37 a 43) e o famoso discurso de Pricles, que ficou conhecido como O Discurso Fnebre de Pricles (TUCDIDES. Histria da Guerra do Peloponeso II, 34-46). Sublinhe-se que, de um modo geral, os discursos reproduzidos pelo historiador so classificados em deliberativos ou polticos. Ora, os estudos de retrica tambm faziam parte da educao dos romanos, povo esse que sempre manifestou grande pendor para a eloquncia (FARIA, 1988, p. 51). Ccero considerado como o maior dos oradores clssicos; j a obra Institutio Oratoria (O Ensino da Oratria) de Marcus Fabius Quintilianus digna de destaque, uma vez que apresenta uma sntese dos conhecimentos retricos da antiguidade. Atribui-se a Aristteles uma teoria mais sistemtica sobre os gneros e sobre a natureza do discurso. O filsofo escreveu dois livros que versam sobre o discurso: He Poietik Tkhne (A Arte Potica) e He Rhetorik Tkhne (A Arte Retrica). Na verdade, tanto o Estagirita quanto Plato criticaram os retricos que os precederam por terem apenas reunido algumas receitas e alguns subterfgios aplicveis oratria (DAYOUB, 2004, p. 10). 72

Plato faz a seguinte observao em relao verdadeira retrica: a condio essencial da verdadeira retrica, da eloquncia o saber. No o miservel ofcio de mistificador da palavra, nem a arte sorrateira do falso escritor (PLATO. Fedro, p. 190). J Aristteles sublinha que a retrica til porque o verdadeiro e o justo so, por natureza, melhores que seus contrrios (ARISTOTE. Rhtorique I, 1, 1355 b 21-22). Cham Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca dois dos mais importantes tericos da retrica do sculo XX -, tendo por base Aristteles, escrevem o Tratado da Argumentao. Nascia assim, o que denomina-se, hoje, de A Nova Retrica.

2. O Corpus da Rhetorik Tkhne Reboul enfatiza que a obra de Aristteles composta por quatro partes, que representariam as quatro fases pelas quais passa aquele que compe um discurso ou pelas quais acredita-se que passe. Destaca tambm que na poca romana, ao ser acrescentada a memria (REBOUL, 2004, p. 44). 1) A Inventio 2) A Dispositio (Txis) 3) A Elocutio (Lxis) 4) A Actio4 (Hypkrisis)

(Heresis)

inveno,

ordenao a ornamentao dos So os gestos e a vocbulos figuras6. e das dico do orador como se fosse um ator.

descoberta de encontrar favorveis das partes5. o que dizer. Em

resumo: o assunto que se vai tratar.

73

He Rhetorik Tkhne de Aristteles dividida em trs Livros. No Livro I, o filsofo conceitua a retrica como a faculdade de descobrir, especulativamente, o que, em cada caso, pode ser prprio para persuadir (ARISTOTE. Rhtorique I, 2, 1355 b 25). A retrica correspondente, antstrophos, dialtica, pois todos os homens utilizam, at certo ponto, de uma e de outra, quando se pem a discutir uma tese. Ambas no pertencem ao domnio de uma cincia, uma vez que no possuem um objeto definido (ARISTOTE. Rhtorique I, 1, 1354 a 1-7). O Estagirita distingue trs gneros de discursos oratrios que foram divididos, levando em conta seus ouvintes e sua temtica: a) Deliberativo - se o ouvinte for cidado decidir sobre as realizaes futuras, sendo a temtica poltica; b) Judicirio - a temtica de conflitos de interesses individuais (judicirio privado) ou coletivos (judicirio pblico), a deciso sobre acontecimentos passados que cabe a um grupo de juzes; c) Demonstrativo - o ouvinte um espectador, havendo, neste discurso, um elogio ou uma censura a respeito de acontecimentos ocorridos na cidade. O presente o tempo essencial neste gnero de discurso (ARISTOTE. Rhtorique I, 3). O mtodo hbil da retrica se fundamenta em provas, psteis. Ora, a prova uma demonstrao, apodexis, pois confia-se mais quando se demonstra (ARISTOTE. Rhtorique I, 1, 1355 a 4-7). H dois tipos de provas: as tcnicas (ntekhnoi) e as extra-tcnicas (tekhnoi). As provas tcnicas so as provas criadas pelo orador com o objetivo de persuadir o auditrio. 74

Ressalte-se que as provas tcnicas empregadas atravs do discurso so de trs espcies: a) Quanto ao carter do orador, uma vez que se pode alcanar a persuaso pelo carter do orador, quando o discurso dito de tal sorte que torne o orador digno de crdito (ARISTOTE. Rhtorique I, 15, 1356 a 5); b) Quanto s paixes dos ouvintes, quando o discurso os leva a experimentar uma paixo (ARISTOTE. Rhtorique I, 15, 1356 a 14); c) Quanto ao valor demonstrativo do discurso, Aristteles pontua que o discurso (di tn lgon) gera a persuaso, quando a verdade e o verossmil so mostradas (ARISTOTE. Rhtorique, I, 15, 1356 a 19-20).

Diz-se que, em Aristteles, o que se deve observar, primeiramente, so as bases ticas, psicolgicas e lingusticas de um discurso. Dayoub sublinha que o thos e o pthos tm feio afetiva, j o lgos possui feio racional. Essa parte do discurso, para a pesquisadora, a mais importante da oratria, uma vez que expressa a argumentao propriamente dita e envolve o raciocnio lgico e persuasivo. Dayoub enfatiza que, no decorrer da apresentao de seus argumentos, o orador pode ter atitudes de um ator teatral, expondo um carter diferente daquele que ele realmente possui (DAYOUB, 2004, p. 15). Reboul diz que , na narrao, lgos que o thos e o pthos so superados (REBOUL, 2004, p. 56). Luiz Rohden considera que o thos deve ser compreendido no s como carter, mas atitude, costume, moralidade, elementos estes que aparecem na disposio do orador. 75

Phtos no paixo no puro sentido de uma inflamada emoo, mas o mundo todo da irracionalidade emocional (ROHDEN, 1997, p. 102). Assim que todos os oradores procuram que as provas tcnicas sejam aceitas pela demonstrao pelo emprego de exemplos e de entimemas (ARISTOTE. Rhtorique I, 2, 1356 b 20-27), conforme o quadro subscrito:

Exemplo (Pardeigma)

Entimema (Enthmema)

uma induo retrica que consiste em citar

A demonstrao retrica o entimema. Na o entimema um silogismo,

um caso particular para induzir o auditrio de verdade, que assim o geral. H dois tipos de exemplos:

syllogisms, retrico que uma forma de raciocnio proposies em que, sendo dadas desta certas resulta,

(premissas),

a) Fatos

Histricos

so

os

casos, necessariamente, uma nova proposio. O silogismo mais eficaz contra os

realmente, sucedidos; b) Fatos Fictcios so os

casos opositores.

inventados, por exemplo: o emprego de parbolas e fbulas.

Entre os oradores, uns preferem servir-se de pardeigma, outros de entimemas. Os discursos baseados em pardeigma prestam-se mais que os outros para persuadir, por serem mais claros e acessveis a pessoas de pouca instruo. J os discursos baseados em entimemas impressionam mais (ARISTOTE. Rhtorique I, 2, 1356 b 20-27).

76

J as provas extra-tcnicas no so criadas pelo orador, citem-se, por exemplo: as testemunhas, os escritos, as confisses sob tortura. Aristteles enfatiza que as testemunhas so de duas espcies: as testemunhas antigas e as recentes (ARISTOTE. Rhtorique I, 15, 1375 b 26-34 / 1376 a 1-16). Denominam-se testemunhas antigas os poetas e outros personagens em evidncia. O filsofo oferece tambm exemplos de pessoas que utilizaram testemunhos de Homero, Slon e Periandro. As testemunhas recentes s tm uma utilidade: determinar se um fato ocorreu ou no. Algumas deste tipo de testemunhas podem compartilhar dos perigos do ru (ARISTOTE. Rhtorique I, 15, 1375 b 28-34). O discurso consta de trs componentes (ARISTOTE. Rhtorique I, 3, 1358 a 37-40):

a) O que fala b) Aquilo que se fala c) Aquele a quem se fala

O Orador O Assunto O Auditrio

O linguista francs mile Benveniste atesta que a narrao discursiva toda a enunciao que supe um locutor e um receptor, tendo o primeiro a inteno de influenciar o outro seja de que modo for (BENVENISTE, s/ d, p. 23). Na verdade, o enunciador (no caso o orador), atravs de suas palavras, quer influenciar o seu auditrio, de modo que compartilhem das mesmas opinies. No Livro II, o Estagirita destaca que utiliza-se os discursos persuasivos para provocar um juzo / julgamento nos seguintes casos:

77

a) Quando se usa o discurso destinado a um s ouvinte para aconselhar ou desaconselhar ou para repreend-lo ou incit-lo a decidir-se sobre algo. Esse nico ouvinte considerado um juiz, j que o indivduo, que se pretende persuadir, um verdadeiro juiz; b) Quando se fala contra um adversrio ou se combate uma determinada tese. Neste ltimo caso, usa-se o discurso para refutar os argumentos contrrios; c) Quando se usa o discurso para elogiar ou censurar. O discurso dirigido a esse ouvinte possui a mesma importncia que se fosse dirigido ao juiz (ARISTOTE. Rhtorique II, 18, 1391 b 7-26). A professora Mara Ceclia destaca que o el discurso se inscribe en un terreno agonstico, porque se lucha por y con la palabra, cuya preeminencia es extraordinaria. El orador es un agonists, un combatiente y el discurso persigue um tlos, un fin: convencer al auditorio (COLOMBANI, 2002, p. 251). Rohden destaca que o discurso produto mais de um impulso espontneo natural do momento, que de uma reflexo. Caracteriza-se por argumentos de ordem psicolgica e pessoal mais do que anlise de idias (ROHDEN, 1997, p. 22). Aristteles enumera as qualificaes que o orador deve possuir a fim de que sua mensagem convena o pblico: phrnesis (sensatez, prudncia), aret (virtude) e enoia (boa vontade, benevolncia). O orador que tem o thos, o carter formado por estas trs qualidades possui a confiana do ouvinte (ARISTOTE. Rhtorique II, 1, 1378 a 6-19). Alm do mais, o orador deve ter a capacidade de despertar paixes, diga-se, pthe em seus ouvintes. As paixes so os meios pelos quais se fazem mudar os homens nos seus juzos e que tm por consequncia o prazer e a dor como, por exemplo, a clera, a 78

compaixo, o temor e todas as outras paixes semelhantes e aquelas que so contrrias (ARISTOTE. Rhtorique II, 1, 1378 a 20-22). Citem-se essas paixes, pthe que o Estagirita faz referncia entre os captulos 2 a 11 de sua He Rhetorik Tkhne: a clera (org) (cap. 2), a calma / a serenidade (t pranesthai) (cap. 3), a amizade (phila) e a inimizade (t khthos) (cap. 4), o temor (phbos) e a confiana (tharren) (cap. 5), a vergonha (aiskhne) (cap. 6), o favor ou a benevolncia (khris) (cap. 7), a piedade (leos) (cap. 8), a indignao (nemesn) (cap. 9), a inveja (phthnos) (cap. 10), a emulao (zelo) (cap. 11). A pesquisadora Elisa Brando de Carvalho salienta que, de se notar que a traduo da palavra pthos por paixo um tanto inadequada, j que tal palavra indicaria, no contexto da Retrica, uma mera disposio anmica (o que o alemo chama Stimmung). Em portugus, a melhor traduo seria talvez emoo (CARVALHO, 2006, p. 141).

Novamente, o filsofo retoma ao assunto das proposies e dos entimemas. Deve-se possuir para cada assunto uma seleo de proposies sobre o que possvel e mais apropriado causa, isto , necessrio fazer uma escolha preliminar dos argumentos, incluindo o maior nmero de proposies adequadas (ARISTOTE. Rhtorique II, 22, 1396 b 4-9). Quanto aos entimemas, sublinha que h dois tipos: os demonstrativos, que a concluso de premissas aceitas pelo adversrio e os refutativos, cujas concluses o adversrio no aceita (ARISTOTE. Rhtorique II, 22, 1396 b 20-26).

79

O Livro III (ARISTOTE. Rhtorique, III, 14-19) trata a respeito das diferentes partes do discurso, per txeos (captulos 1-12) e tambm a respeito do estilo, per lxeos (captulos 13-19). Eis a diviso aristotlica das partes de um discurso: 1) O Promio (t proomion) o incio do discurso (ARISTOTE. Rhtorique, III, 14, 1414 b 19); 2) O Desenvolvimento que compreendia: A narrao (he digesis) - parte objetiva da exposio e apresentao dos acontecimentos (t prgma) (ARISTOTE. Rhtorique, III, 16, 1416 b, 17-20) e a A demonstrao (he apdeixis) o autor faz uma apreciao das provas (psteis) que posssui, sejam elas tcnicas ou extratcnicas (ARISTOTE. Rhtorique, III, 17, 1417b 21-34). 3) O Eplogo (ho eplogos) O eplogo compe-se de quatro partes: a) dispor o ouvinte em favor de si mesmo; b) amplificar ou atenuar o que foi dito; c) excitar emoes no ouvinte; d) fazer recapitulaes de seu discurso (ARISTOTE. Rhtorique, III, 19, 1419 b 10-19).

Luiz Rohden destaca que o eplogo tem, essencialmente, dupla finalidade: refrescar a memria e influenciar nos afetos (ROHDEN, 1997, p. 126). O princpio de falar em grego possui cinco condies conforme sublinha Aristteles: 1) empregar as conjunes de modo adequado nas frases, fazendo com que no fique um espao muito grande entre duas proposies ou nomes; 2) deve-se utilizar os nomes prprios ao invs de perfrases; 3) no fazer uso de termos ambguos; 4) fazer a distino

80

dos gneros nominais: masculino, feminino e neutro; 5) nomear os nmeros gramaticais (ARISTOTE. Rhtorique III, 5, 1407 a 20-39; 1407 b 1-10). O discurso deve ser apropriado e claro, sem ser vulgar, e , justamente, a utilizao adequada dos nomes e dos verbos que faz a clareza do estilo (ARISTOTE. Rhtorique III, 2, 1404 b 1-7). Aristteles enfatiza que os assndetos e as frequentes repeties vocabulares so imprprios no estilo escrito, apesar de, nos debates, os oradores a utilizarem por serem meios peculiares da ao (ARISTOTE. Rhtorique III, 12, 1413 b 19-21). O filsofo tambm enumera vrios tipos de estilos: simples, complexo, conciso, redundante etc. Como sublinha o filsofo, o estilo ser adequado se expressa o pattico (= emoes) (...) (ARISTOTE. Rhtorique III, 7, 1408 a 10-11).

3. Notas Conclusivas

Como se infere da leitura do artigo A Arte Retrica Aristotlica Um Legado Clssico At os Dias Atuais, tem-se a utilizao da retrica em vrias pocas na Grcia Antiga, cujos poetas, teatrlogos, historiadores e filsofos fizeram referncias retricas tanto de modo direto quanto indireto. Assim que He Rhetorik Tkhne de Aristteles digna de nota, uma vez que considerada de grande valor, ainda, nos dias atuais para os estudos retricos; sendo objeto de estudo de pesquisadores, tais como Olivier Reboul, Paul Ricoeur e Luiz Rohden. A propsito, a preocupao com o uso da linguagem, para se expressar de maneira clara, concisa uma herana clssica que passou para a cultura ocidental. 81

Como prope o Estagirita se vergonhoso que um homem no possa se defender com seu prprio corpo, seria muito mais vergonhoso no poder se defender por meio da linguagem (ARISTOTE. Rhtorique I, 1, 1355 a 38- 1355 b 1-2).

Documentao Textual

ARISTOTE. Rhtorique. Texte tabli et traduit par Mdric Dufour. Paris: Les Belles Lettres, 1967, Tome Premier. __________. Rhtorique. Texte tabli et traduit par Mdric Dufour. Paris: Les Belles Lettres, 1967, Tome Deuxime. __________. Rhtorique. Texte tabli et traduit par Mdric Dufour e Andr Wartelle. Paris: Les Belles Lettres, 1973, Tome Troisime. __________. Potique. Texte tabli et traduit par J. Hardy. Paris: Les Belles Lettres, 1979. ARISTTELES. Arte Retrica e Arte Potica. Traduo de Antnio Pinto de Carvalho. Rio de Janeiro: Edies de Ouro, s / d. SQUILO. Eumnides. Traduo de Mrio da Gama Kury. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991. HOMERO. Ilada. Edio Bilngue. Traduo de Haroldo de Campos. So Paulo: Arx, 2003. ________. Odissia. Traduo de Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. PLATO. Menon, Banquete, Fedro. Traduo de Jorge Paleikat. Porto Alegre: Globo, 1954. 82

QUINTILIEN. Institution Oratoire. Texte tabli et traduit par Jean Cousin (Tome I-III). Paris: Les Belles Lettres, 1976. __________.Institution Oratoire. Texte tabli et traduit par Jean Cousin (Tome IV-VI). Paris: Les Belles Lettres, 1978. SFOCLES. Filoctetes. Traduo de Jos Ribeiro Ferreira. Coimbra: Fundao Calouste Gulbenkian, 1997. TUCDIDES. Histria da Guerra do Peloponeso. Traduo de Mrio da Gama Curi. Braslia: UnB, 1986.

Bibliografia ARISTTELES. Retrica das Paixes. Traduo de sis Borges B. da Fonseca. So Paulo: Martins Fontes, 2000. BAYLLE, Anatole. Dictionnaire Grec-Franais. Ed. Revista por L. Schan e Chantraine. Paris: Hachette, 2000. BENVENISTE, mile. O Homem na Linguagem. Traduo de Isabel Maria Lucas Pascoal. Lisboa: Vega, s/d. CARVALHO, Elisa Costa Brando de. O Livro II da Retrica de Aristteles 1 Parte. Principia. Rio de Janeiro, XIV, pp. 141-146, 2006. COLOMBANI, Mara Cecilia. De La Palavra Mgico-Religiosa, A La Palabra Poltica. Uma Lectura Desde Las Condiciones de Produccin y Recepcin Del Discurso. Phonix. Rio de Janeiro: Mauad Editora, pp. 244-258, 2002. DAYOUB, Khazzoun Mirched. A Ordem das Idias. So Paulo: Manole, 2004.

83

FARIA, Ruth Junqueira de. Quintiliano, Mestre e Educador. Calope Presena Clssica. Rio de Janeiro, n 7, pp. 51-56, julho / dezembro, 1988. LAUSBERG, Heinrich. Elementos de Retrica Literria. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1967. PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Estudos de Histria da Cultura Clssica, vol I. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1993. PERELMAN Cham e OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da Argumentao. Traduo de Maria Ermantina Galvo. So Paulo: Martins Fontes, 2000. REBOUL, Olivier. Introduo Retrica. Traduo de Ivone Castilho Benedetti. So Paulo: Martins Fontes, 2004. RICOEUR, Paul. Teoria da Interpretao: o Discurso e o Excesso de Significao. Traduo de Artur Moro. Biblioteca de Filosofia Contempornea. Rio de Janeiro: Edies 70, s.d. ROHDEN, Luiz. O Poder da Linguagem A Arte Retrica de Aristteles. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1997. VANOYE, Francis. Usos da Linguagem: Problemas e Tcnicas na Produo Oral e Escrita. Traduo e Adaptao de Clarisse Madureira Sabia [et al.]. So Paulo: Martins Fontes, 1986.
1 2

Do grego aret, virtude, excelncia. Deve-se lembrar que vrios sicilianos haviam perdido suas propriedades para tiranos, assim, sem o poderio militar, os sicilianos tiveram de desenvolver a eloquncia para terem, de volta, seus bens confiscados pelos tiranos. Supe-se que, em Siracusa, ocorriam muitos debates polticos 3 Lembrai que a eloquncia tambm fazia parte da educao de Aquiles (HOMERO. Ilada I, vv. 247-249). 4 Denominada tambm de pronunciatio. 5 Aqui se insere as partes do discurso, a saber, o promio, o desenvolvimento (= narrao e demonstrao) e o eplogo. 6 a expresso lingustica dos pensamentos encontrados pela inventio.

84