Notas de Aula Cálculo 2
Notas de Aula Cálculo 2
Notas de Aula Cálculo 2
Matemática - Bacharelado
...............................................................
Notas de Aula em
Cálculo Diferencial e Integral II
Professor: Romildo José da Silva
Comentário: No que segue, reúno as notas de aula correspondentes ao curso
de Cálculo Diferencial e Integral II, doravante ministrado para alunos do
Bacharelado em Matemática da Universidade Federal do Ceará no semestre
de 2024.2. Evidentemente, não sou autor destas notas, bom estudo.
Carlos Monte
AULA 01
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
Nesta aula será apresentada a primeira técnica de integração, denominada integração por
partes. Esta técnica, como será visto, tem sua origem na regra do produto para derivação. Mas
antes reveja os enunciados dos seguintes teoremas, os quais serão utilizados ao longo desta
disciplina.
Teorema (Primeiro Teorema Fundamental do Cálculo). Sejam f uma função, I ⊂ R um inter-
valo e c ∈ I. Se f é contı́nua em I então a função g : I −→ R, dada por
Z x
g(x) := f (u) du qualquer que seja x ∈ I,
c
é diferenciável valendo
g 0 (x) = f (x) qualquer que seja x ∈ I.
O Primeiro Teorema Fundamental do Cálculo diz que toda função contı́nua em um intervalo
possui uma primitiva neste intervalo.
Teorema (Segundo Teorema Fundamental do Cálculo). Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma
função contı́nua em [a, b]. Se g é uma função primitiva de f em [a, b] então
Z b
f (x) dx = g(b) − g(a).
a
1
2
e
du
= g 0 (x).
dx
Perceba que abusando da notação, ao escrever du = g 0 (x)dx, e fazendo as mudanças corres-
pondentes, isto é, substituindo g(x) por u e g 0 (x)dx por du, obtemos rapidamente a igualdade
Z Z
f (g(x)) · g (x)dx = f 0 (u)du.
0 0
Este procedimento, o qual funciona por causa da Regra da Cadeia, é denominado mudança de
variável na integral indefinida. Ele é útil para tornar simples integrais que parecem “complica-
das”.
Proposição (Mudança de Variável na Integral Definida). Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f e
g funções. Se g é função de classe C 1 no intervalo [a, b] e f é função contı́nua no intervalo
g([a, b]), então a função (f ◦ g) · g 0 é contı́nua em [a, b] e
Z b Z g(b)
0
f (g(x)) · g (x) dx = f (u) du.
a g(a)
Esta proposição permite a mudança de variável dentro da integral definida. Observe que a
mudança de variável na integral definida requer a mudança nos limites de integração.
Este artifı́cio mnemônico é denominado fórmula de integração por partes.R Dada uma integral
R por escolhas convenientes de u e de v, obtem-se a integral R udv em termos da
indefinida,
integral vdu. Perceba
R que esta fórmula é útil quando a segunda integral, vdu, é mais simples
do que a primeira, udv.
Exemplo 1. Como calcular a integral indefinida
Z
x ex dx?
= x ex − ex + C,
ou seja,
Z
x ex dx = x ex − ex + C.
Exemplo 2. Como calcular a integral indefinida
Z
x sen(x)dx?
Exemplo 3. Como calcular a integral indefinida
Z
x ln(x) dx?
4
x2 ln(x)
Z 2
x2 ln(x)
Z
x 1 x
= − · dx = − dx
2 2 x 2 2
x2 ln(x) x2
= − + C,
2 4
ou seja,
x2 ln(x) x2
Z
x ln(x) dx = − + C.
2 4
ou seja,
Z
ln(x) dx = x ln(x) − x + C.
Portanto,
Z Z Z
3
sec (x) dx = u dv = u · v − v du
Z
= sec(x) · tg(x) − tg(x) · sec(x) · tg(x) dx
Z
= sec(x) · tg(x) − sec(x) · tg2 (x) dx
Z
sec3 (x) − sec(x) dx
= sec(x) · tg(x) −
Z Z
3
= sec(x) · tg(x) − sec (x) dx + sec(x) dx,
isto é, Z Z Z
3 3
sec (x) dx = sec(x) · tg(x) − sec (x) dx + sec(x) dx.
Daı́,
Z Z
3
2· sec (x) dx = sec(x) · tg(x) + sec(x) dx
= sec(x) · tg(x) + ln (|sec(x) + tg(x)|) + C,
ou seja, Z
1 1
sec3 (x) dx = sec(x) · tg(x) + ln (|sec(x) + tg(x)|) + C.
2 2
Exemplo 6. Como resolver a integral indefinida
Z
ex sen(x) dx?
Deste modo,
Z Z Z
ex cos(x) dx = y dz = y · z − z dy
Z
= e · sen(x) − sen(x) ex dx
x
Z
= e · sen(x) − ex sen(x) dx,
x
isto é, Z Z
ex cos(x) dx = ex · sen(x) − ex sen(x) dx.
Retornando à integral indefinida principal, tem-se
Z Z
e sen(x) dx = − e cos(x) + ex cos(x) dx
x x
Z
= − e cos(x) + e · sen(x) − ex sen(x) dx.
x x
Portanto, Z
2· ex sen(x) = ex sen(x) − ex cos(x) + C,
o que dá Z
1 1
ex sen(x) dx = · ex sen(x) − · ex cos(x) + C.
2 2
AULA 02
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
Antes de prosseguir com as demais técnicas de integração, serão mostradas algumas aplica-
ções, da integral definida, para o cálculo do volume de sólidos de revolução. Nesta aula será
apresentado o cálculo do volume pelo método do disco e pelo método da coroa.
Sejam a, b ∈ R com a < b, f uma função contı́nua em [a, b] com f (x) ≥ 0 qualquer que seja
x ∈ [a, b], Ω a região plana em R2 dada por
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e 0 ≤ y ≤ f (x)
e SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região plana Ω em torno do eixo das abscissas
(eixo y = 0), conforme a figura 1. Como exemplos conhecidos de sólidos de revolução temos
o cilindro circular reto, que é a rotação de um retângulo em torno de um dos seus lados, o cone
circular reto, que é a rotação de um triângulo retângulo em torno de um dos seus catetos, e a
esfera, que é rotação de um semicı́rculo em torno do seu diâmetro.
e SP o sólido de revolução obtido pela rotação da região plana ΩP em torno do eixo das abs-
cissas. Sendo, para cada i ∈ { 1, . . . , n }, Ci o cilindro de revolução obtido pela rotação do
1
2
Daı́, como para cada i ∈ { 1, . . . , n }, Ci é o cilindro circular reto de raio f (ci ) e altura ∆xi
e, portanto,
Volume(Ci ) = |Ci | = π · (f (ci ))2 · ∆xi ,
tem-se
Volume(SP ) = |SP | = π · (f (c1 ))2 · ∆x1 + · · · + π · (f (cn ))2 · ∆xn
Xn X
= π · (f (ci ))2 · ∆xi = π · (f (ci ))2 · ∆xi .
i=1 P
3
Observe que, exceto por alguns casos especiais, ainda não há definição para o volume do sólido
SΩ e, assim, não há como calculá-lo. Entretanto, sendo f contı́nua em [a, b], a intuição diz
que quanto mais fina for a partição P, mais parecidos são os sólidos SΩ e SP . Deste modo, é
razoável pensar em estimar o volume de SΩ pelo volume de SP , desde que |P| ≈ 0 em relação
ao tamanho do intervalo [a, b]. Baseado nesta ideia intuitiva, seja g : Df −→ R a função dada
por g(x) = π (f (x))2 . O volume de SP é a soma de Riemann de g, sobre [a, b], relativa à
partição P com coeficientes c1 , . . . , cn . Como g contı́nua em [a, b], g é integrável a Riemann
em [a, b], isto é, existe
X X Z b
2
lim Volume(SP ) = lim π · (f (ci )) · ∆xi = lim g(ci ) · ∆xi =: g(x) dx.
|P|→0 |P|→0 |P|→0 a
P P
Observe que, dado x ∈ [a, b], a secção transversal plana de SΩ , perpendicular ao eixo das
abscissas e correspondente à abscissa x, é um disco de raio f (x) e, assim, sua área mede
π · (f (x))2 .
Portanto, o volume de S é a integral da área da referida secção transversal de SΩ . Por este
motivo, o cálculo do volume, usando fórmula da definição 1, é conhecido como método do
disco.
Exemplo 1. Seja S o sólido de revolução obtido pela rotação da região Ω, limitada pelos
gráficos de y = x2 + 1, x = −1, x = 1 e y = 0, em torno do eixo das abscissas. Como
encontrar o volume de S?
Soluçao. Observe a figura 3. Tem-se que
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e 0 ≤ y ≤ f (x)
Exemplo 2. Seja S o sólido de revolução obtido pela rotação da região Ω, limitada pelos
gráficos de y = 3x − x2 e y = 0, em torno do eixo das abscissas. Como encontrar o volume de
S?
4
(x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e 0 ≤ y ≤ f (x)
Ω :=
5
Sejam a, b ∈ R com a < b, f e g funções contı́nuas em [a, b] com 0 ≤ f (x) ≤ g(x) qualquer
que seja x ∈ [a, b], Ω a região plana dada por
e SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região plana Ω em torno do eixo das abscissas
(eixo y = 0). Sejam
Ωf := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e 0 ≤ y ≤ f (x) ,
(x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e 0 ≤ y ≤ g(x)
Ωg := ,
Sf o sólido de revolução obtido pela rotação de Ωf em torno do eixo das abscissas e Sg o sólido
de revolução obtido pela rotação de Ωg em torno do eixo das abscissas.
Observe que, dado x ∈ [a, b], a secção transversal plana, perpendicular ao eixo das abscissas
e correspondente à abscissa x, é uma coroa de raio menor f (x) e raio maior g(x) e, assim, sua
área mede π · (g(x))2 − π · (f (x))2 . Portanto, o volume de S é a integral da área da secção
transversal de S. Neste caso, o cálculo do volume é conhecido como método da coroa.
Exemplo 3. Seja S o sólido de revolução obtido pela rotação, em torno do eixo das abscissas,
da região Ω limitada pelos gráficos de y = x + 3 e y = x2 + 1. Como encontrar o volume de S.
x + 3 = x2 + 1 ⇐⇒ x2 − x − 2 = 0 ⇐⇒ x ∈ { −1, 2 } .
sua área é
π (R(x))2 − (r(x))2 = π (g(x) − a)2 − (f (x) − a)2 .
Exemplo 4. Seja S o sólido gerado pela rotação, em torno do eixo y = −2, da região Ω
limitada pelos gráficos y = x + 1, y = −x − 1 e x = 1. Como encontrar o volume de S?
Soluçao. Observe a figura 9. Tem-se
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e f (x) ≤ y ≤ g(x)
com a = −1, b = 1, f (x) = −x − 1 e g(x) = x + 1 onde −2 ≤ f (x) ≤ g(x) qualquer que seja
x ∈ [−1, 1]. Portanto, dado x ∈ [−1, 1], a secção transversal plana, perpendicular ao eixo de
9
rotação y = −2 e correspondente à abscissa x, é a coroa de raio menor r(x) e raio maior R(x)
dados por
r(x) = −x − 1 − (−2) = −x + 1 e R(x) = x + 1 − (−2) = x + 3.
Assim, o volume de S é dado por
Z b Z 1
2 2
(x + 3)2 − (1 − x)2 dx
|S| = π (R(x)) − (r(x)) dx = π
a −1
Z 1
x2 + 6x + 9 − 1 − 2x + x2
= π dx
−1
Z 1
1
(8x + 8) dx = π 4x2 + 8x
= π −1
= 16πu.v.
−1
Esta aula desenvolve o processo de cálculo de volume de sólido de revolução pelo método
do invólucro de cilindro. As regiões planas aqui descritas, exceto por algumas restrições, são
as mesmas da aula passada, mas os eixos de rotação são, agora, “verticais”, diferentes daqueles
usados na exposição passada. Neste sentido, sejam a, b ∈ R com 0 ≤ a < b, f uma função
contı́nua em [a, b] com f (x) ≥ 0 qualquer que seja x ∈ [a, b], Ω a região plana em R2 dada por
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e 0 ≤ y ≤ f (x)
e SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região Ω, desta vez, em torno do eixo das
ordenadas x = 0. Veja um esboço de um sólido SΩ na figura 1.
R+r
= 2π (R − r)h = 2π · r · ∆r · h,
2
onde r é o raio médio R 2+ r e ∆r é a variação do raio (R − r).
O que segue tem por objetivo definir o volume de SΩ . Dada uma partição P = (x0 , x1 , . . . , xn )
de [a, b], com coeficientes c1 , . . . , cn escolhidos como
xi−1 + xi
ci = qualquer que seja i ∈ { 1, . . . , n },
2
1
2
e SP o sólido de revolução obtido pela rotação da região plana ΩP em torno do eixo das or-
denadas. Sendo, para cada i ∈ { 1, . . . , n }, Ci o invólucro de cilindro obtido pela rotação do
retângulo Ri , em torno do eixo das ordenadas, tem-se que xi−1 é o seu raio menor, xi é o seu
raio maior, f (ci ) é a sua altura e
n
[ [
SP := C1 ∪ C2 ∪ · · · ∪ Cn = Ci = Ci ,
i=1 P
Sendo f uma função contı́nua, a intuição nos diz que quanto mais fina for a partição P, isto
é, quanto mais |P| estiver próximo de 0 (zero) em relação ao comprimento (b − a) do intervalo
[a, b], mais parecidos serão os sólidos SΩ e SP . Deste modo, se existir e for um número real o
limite
lim Volume(SP ),
|P|→0
3
onde g : Df −→ R é a função dada por g(x) = 2πf (x) qualquer que seja x ∈ Df . Assim,
o volume de SP é a soma de Riemann de g, sobre [a, b], relativa à partição P com coeficientes
c1 , . . . , cn . Como a função g é, também, contı́nua em [a, b], ela é integrável a Riemann em [a, b],
isto é, existe
X X Z b
lim Volume(SP ) = lim 2πci f (ci )∆xi = lim g(ci ) · ∆xi =: g(x) dx.
|P|→0 |P|→0 |P|→0 a
P P
Dar-se-á agora uma interpretação geométrica da fórmula da definição 1. Dado x ∈ [a, b],
sejam Tx o segmento “vertical” ligando os pontos (x, 0) e (x, f (x)), e Lx a casca (lateral) de
cilindro obtida pela rotação de Tx em torno do eixo das ordenadas. Lx tem raio x, altura f (x)
e, portanto, a sua área é dada por
A casca de cilindro Lx é uma secção, não plana, do sólido de revolução SΩ e ele pode ser visto
como uma composição dessas secções, isto é,
[
SΩ = Lx .
x∈[a,b]
Além disso, pela definição 1, o volume de SΩ é a integral definida da área dessa secção, isto é,
Z b
|SΩ | := Área(Lx ) dx,
a
que é o “espı́rito” da fórmula presente nesta definição.
Exemplo 1. Seja SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região Ω limitada pelas
curvas x = 0, x = 1 e y = 1 2 em torno do eixo das ordenadas. Como econtrar o volume
1+x
de SΩ ?
Soluçao. Observe a figura 5. Tem-se que
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e 0 ≤ y ≤ f (x)
Sejam a, b ∈ R com 0 ≤ a < b, f e g funções contı́nuas em [a, b] com f (x) ≤ g(x) qualquer
que seja x ∈ [a, b], Ω a região plana dada por
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e f (x) ≤ y ≤ g(x)
e SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região plana Ω em torno do eixo das orde-
nadas. Seja, para cada x ∈ [a, b], Tx o segmento ligando os pontos (x, f (x)) e (x, g(x)), e
Lx a casa de cilindro gerada pela rotação de Tx em torno do eixo das ordenadas. Lx tem raio
r(x) = x, altura h(x) = (g(x) − f (x)) e área 2πr(x)h(x) = 2πx (g(x) − f (x)). O sólido de
revolução SΩ é uma composiçao dessas cascas de cilindro, isto é,
[
SΩ = Lx
x∈[a,b]
onde, para cada x ∈ [1, 4], Lx é a casca de cilindro obtida pela rotação, em torno do eixo das
ordenadas, do segmento ligando os pontos (x, x2 − 4x + 3) e (x, x − 1). Como Lx tem raio
6
que vai ao encontro da interpretação da definição 1. Observe que se a < b ≤ c então r(x) =
c − x e o volume de SΩ é dado por
Z b Z b Z b
|SΩ | = Área(Lx ) dx = 2πr(x)h(x) dx = 2π (c − x) (g(x) − f (x)) dx.
a a a
Exemplo 3. Seja SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região Ω limitada pelas
curvas y = x − 1 e y = x2 − 4x + 3, em torno do eixo x = −1. Como econtrar o volume de
SΩ ?
Soluçao. Tem-se
x2 − 4x + 3 = x − 1 ⇐⇒ x2 − 5x + 4 = 0 ⇐⇒ x ∈ { 1, 4 } .
Daı́,
(x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e f (x) ≤ y ≤ g(x)
Ω :=
onde a = 1, b = 4, f (x) = x2 − 5x + 4 e g(x) = x − 1. Assim,
[
SΩ = Lx ,
x∈[a,b]
onde, para cada x ∈ [1, 4], Lx é a casca de cilindro obtida pela rotação, em torno do eixo
x = −1, do segmento ligando os pontos (x, x2 − 4x + 3) e (x, x − 1). Como Lx tem raio
r(x) = x − (−1) = x + 1 e altura h(x) = (x − 1) − (x2 − 4x + 3) = −x2 + 5x − 4, segue-se
8
F IGURA 8. Casca de cilindro Lx com raio r(x) = x − c e altura h(x) = g(x) − f (x).
Exemplo 4. Seja SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região Ω limitada pelas
curvas y = x − 1 e y = x2 − 4x + 3, em torno do eixo x = 5. Como econtrar o volume de SΩ ?
Soluçao. Tem-se
x2 − 4x + 3 = x − 1 ⇐⇒ x2 − 5x + 4 = 0 ⇐⇒ x ∈ { 1, 4 } .
Daı́,
(x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e f (x) ≤ y ≤ g(x)
Ω :=
onde a = 1, b = 4, f (x) = x2 − 5x + 4 e g(x) = x − 1. Assim,
[
SΩ = Lx ,
x∈[a,b]
onde, para cada x ∈ [1, 4], Lx é a casca de cilindro obtida pela rotação, em torno do eixo x = 5,
do segmento ligando os pontos (x, x2 − 4x + 3) e (x, x − 1). Como Lx tem raio r(x) = 5 − x
9
Nesta aula dar-se-á uma generalização do método do disco e da coroa, usado para cálculo
de volume de sólido de revolução e apresentados nas duas últimas aulas. Nestes dois métodos,
já estudados, usou-se a área das secções transversais, em relação ao eixo de rotação, para o
cálculo de volume dos sólidos de revoluções. É interessante observar que este princı́pio aplica-
se, também, a outros sólidos que não sejam de revolução, isto é, o conhecimento das áreas das
suas secções transversais, relativas a um eixo fixo, determinam o seu volume. Ver-se-á isso nos
próximos parágrafos.
No que segue, dado x ∈ R, πx denota o plano, dentro do espaço euclidiano R3 , perpendicular
ao eixo das abscissas Ox e que passa pelo ponto de coordenadas (x, 0, 0), isto é, sendo r a reta
paralela ao eixo Oy, passando pelo ponto (x, 0, 0), e s a reta paralela ao eixo Oz, passando
também pelo ponto (x, 0, 0), πx é o plano contendo as retas r e s.
Sejam π1 e π2 dois planos palarelos, com distância h entre eles, e S ⊂ π1 uma região limitada
com área conhecida. O cilindro reto de base S e altura h, entre os planos π1 e π2 , é o conjunto
C definido por
[
C := Tp ,
p∈S
onde, para cada p ∈ S, Tp é o segmento de reta perpendicular ao plano π1 , com uma extremidade
em p e a outra extremidade em π2 . Deste modo, o cilindro S possui duas bases: a base S contida
em π1 e a base S 0 contida em π2 congruente à base S. Além disso, cada secção transversal plana
de C, dada por π ∩ C, onde π é um plano paralelo a π1 e entre π1 e π2 , é uma translação da base
S ao longo de uma direção perpendicular ao plano π1 . O volume de C, por definição, é dado
por
|C| = Volume(C) := área(S) · h = |S| · h.
1
2
Como exemplos de cilindros retos tem-se o cilindro circular reto (cilindro de revolução), no
qual a base é um disco, e o prisma reto, no qual a base é um polı́gono simples.
Sejam a, b ∈ R, com a < b, e S um sólido limitado, no espaço euclidiano R3 , tal que é vazia
a intersecção S ∩ πx qualquer que seja x 6∈ [a, b]. Dado x ∈ [a, b], a intersecção πx ∩ S é a
seção transversal plana de S, em relaçao ao eixo Ox das abscissas, correspondente à abscissa x.
Suponha que seja conhecida a área da secção transveral plana πx ∩ S, de S, para cada x ∈ [a, b]
e que a função A : [a, b] −→ R, dada por
A(x) = Área(πx ∩ S) qualquer que seja x ∈ [a, b],
seja contı́nua. Como expressar o volume de S em termos da função A?
Dada uma partição P = (x0 , x1 , . . . , xn ) de [a, b], com coeficientes c1 , . . . , cn , seja, para cada
i ∈ { 1, . . . , n }, o cilindro reto Ci com bases nos planos πxi−1 e πxi , e cuja seção transversal
plana, em ci , seja a secção tansversal plana S ∩ πci do sólido S. Assim, cada secção transversal
plana do cilindro Ci é uma translação, ao longo do eixo Ox, da secção transversal S ∩ πci do
sólido S. Deste modo,
|Ci | = Volume(Ci ) = Área(πci ∩ S) · ∆xi = A(ci )∆xi .
Seja, então, SP o sólido definido por
n
[ [
SP := C1 ∪ C2 ∪ · · · ∪ Cn = Ci = Ci .
i=1 P
Exemplo 2. A base de um sólido S é um triângulo retângulo isósceles onde cada cateto mede
a, e cada secção transversal plana perpendicular a um cateto fixo é um semicı́rculo. Como
encontrar o volume de S.
Soluçao. Podemos assumir que a base S é o triângulo retângulo isósceles no plano xy cujos
vértices são os pontos (0, 0), (a, 0) e (a, a), e que as secções transversais planas são tomadas
em relação ao cateto sobre o eixo Ox. Assim, para cada x ∈ [0, a], a secção transversal cor-
respondente é um semicı́rculo cujo diâmetro é o segmento ligando os pontos (0, x) e (x, x), e,
portanto, seu raio vale x/2. Logo, a área desta secção transveral vale
1 x 2 πx2
A(x) = · π · = .
2 2 8
5
F IGURA 5. Base do sólido S é o triângulo de vértices (0, 0), (a, 0) e (a, a).
Exemplo 3. Seja S o tronco de cone reto cuja base é um quadrado de lado a, cujo topo é um
quadrado de lado b e cuja altura é h. Como encontrar o volume de S?
Soluçao. Podemos assumir que o eixo das abscissas, eixo Ox, passa pelo centro da base e do
topo, e que o eixo das ordenadas, eixo Oy, passa pelo centro da base e pelo ponto médio de um
dos lados desta base. Assim, para cada x ∈ [0, h], a secção transversal plana correspondente é
um quadrado. Observe, pela figura 7, que
y − b/2 a/2 − b/2
= .
h−x h
Daı́,
1 a−b 1 b−a
y − b/2 = · · (h − x), isto é, y = ·x+a .
2 h 2 h
Portanto, a secção correspondente à abscissa x tem lado l = 2y e área
2
2 2 b−a
A(x) = l = 4y = ·x+a
h
(b − a)2 2
(b − a)a 2
= ·x +2 ·x+a .
h2 h
6
Com esta aula dar-se-á continuidade ao estudo de técnicas de integração, iniciado com o
método de integração por partes. Outras aplicações da integral definida serão abordadas após a
apresentação de diversos métodos de integração.
O próxima técnica de integração visa a resolução de integrais do tipo
Z
senn (x) · cosm (x) dx,
u5 u3
= − +C
5 3
cos5 (x) cos3 (x)
= − + C,
5 3
isto é,
cos5 (x) cos3 (x)
Z
sen3 (x) · cos2 (x) dx = − + C.
5 3
1
2
u5 u7
= − +C
5 7
sen5 (x) sen7 (x)
= − + C,
5 7
isto é,
sen5 (x) sen7 (x)
Z
sen4 (x) · cos3 (x) dx = − + C.
5 7
Observe que, no caso em que n é impar, a sugerida decomposição
senn (x) · cosm (x) = senn−1 (x) · cosm (x) · sen(x),
gera uma potência do seno cujo expoente é par. Daı́ tal potência pode ser escrita, via identidade
“sen2 (x) = 1 − cos2 (x)”, em termos de cosseno. Assim, a mudança de variável u = cos(x)
transforma a integral trigonométrica numa integral polinomial, na variável u, de fácil resolução.
Algo semelhante ocorre quando m é ı́mpar. Eis a razão porque o procedimento adotado leva
sempre a uma solução da integral trigonométrica.
Exemplo 3. Como resolver a integral indefinida
Z
cos5 (x) dx?
2u3 u5
= u− + +C
3 5
2 sen3 (x) sen5 (x)
= sen(x) − + + C.
3 5
Agora será considerada a integral
Z
senn (x) · cosm (x) dx
no caso em que m e n são pares. Para encontrar a integral, neste caso, precisá-se usar as
identidas trigonométricas
1 − cos(2x) 1 + cos(2x)
sen2 (x) = e cos2 (x) = ∀x ∈ R.
2 2
A aplicação dessas identidades leva ao caso anterior. Ajuda ter em mente que
Z Z
cos(ax) sen(ax)
sen(ax) dx = − + C e que cos(ax) dx = + C,
a a
qualquer que seja a 6= 0 em R, para agilizar o processo de resolução.
Exemplo 4. Como resolver a integral indefinida
Z
cos4 (x) dx?
Soluçao. Tem-se
Z Z Z 2
4 2 2 1 + cos(2x)
cos (x) dx = (cos (x)) dx = dx
2
Z
1
1 + 2 cos(2x) + cos2 (2x) dx
=
4
Z Z Z
1 1 1
= 1 dx + cos(2x) dx + cos2 (2x) dx
4 2 4
Z
x sen(2x) 1 1 + cos(4x)
= + + dx
4 4 4 2
Z Z
x sen(2x) 1 1
= + + 1 dx + cos(4x) dx
4 4 8 8
x sen(2x) x sen(4x)
= + + + +C
4 4 8 32
3x sen(2x) sen(4x)
= + + + C.
8 4 32
4
Soluçao. Tem-se
1 − cos(2x) 1 + cos(2x)
Z Z
2 2
sen (x) · cos (x) dx = · dx
2 2
Z
1
1 − cos2 (2x) dx
=
4
Z
x 1
= − cos2 (2x) dx
4 4
Z
x 1 1 + cos(4x)
= − dx
4 4 2
x x sen(4x)
= − − +C
4 8 32
x sen(4x)
= − + C.
8 32
Assim,
Z Z
2 2
sen (x) · cos (x) dx = (sen(x) · cos(x))2 dx
Z 2 Z
sen(2x) 1
= dx = sen2 (2x) dx
2 4
1 − cos(4x)
Z
1
= dx
4 2
x sen(4x)
= − + C.
8 32
Soluçao. Tem-se
Z Z
4 2
2
sen (x) · cos (x) dx = sen2 (x) · cos2 (x) dx
Z 2
1 − cos(2x) 1 + cos(2x)
= · dx
2 2
Z
1
= (1 − 2 cos(2x) + cos2 (2x)) · (1 + cos(2x)) dx
8
Z
1
= (1 − cos(2x) − cos2 (2x) + cos3 (2x)) dx
8
Z Z
x sen(2x) 1 1 + cos(4x) 1
= − − dx + cos3 (2x) dx
8 16 8 2 8
Z
x sen(2x) x sen(4x) 1
= − − − + cos3 (2x) dx
8 16 16 64 8
Z
x sen(2x) sen(4x) 1
= − − + cos3 (2x) dx
16 16 64 8
Z Z Z
3
cos (2x) dx = cos (2x) · cos(2x) dx = (1 − sen2 (2x)) · cos(2x) dx
2
Z Z
1 2 1
= (1 − sen (2x)) · 2 cos(2x) dx = (1 − u2 ) du
2 2
u u3 sen(2x) sen3 (2x)
= − +C = − + C.
2 6 2 6
Portanto,
Z Z
2
= tg(x) · sec (x) dx − tg(x) dx
tg2 (x)
= − ln(| sec(x)|) + C.
2
Exemplo 13. Tem-se, para n = 5,
Z Z Z
5
tg (x) dx = tg (x) · tg (x) dx = tg3 (x) · (sec2 (x) − 1) dx
3 2
Z Z
= tg (x) · sec (x) dx − tg3 (x) dx
3 2
tg4 (x)
Z
= − tg3 (x) dx.
4
Desta igualdade e do resultado do exemplo anterior tem-se
tg4 (x) tg2 (x)
Z
5
tg (x) dx = − + ln(| sec(x)|) + C.
4 2
Exemplo 14. Tem-se, para n = 7,
Z Z Z
7
tg (x) dx = tg (x) · tg (x) dx = tg5 (x) · (sec2 (x) − 1) dx
5 2
Z Z
= tg (x) · sec (x) dx − tg5 (x) dx
5 2
tg6 (x)
Z
= − tg5 (x) dx.
6
Desta igualdade e do resultado do exemplo anterior tem-se
tg6 (x) tg4 (x) tg2 (x)
Z
tg7 (x) dx = − + − ln(| sec(x)|) + C.
6 4 2
Exemplo 15. Tem-se, para n = 9,
Z Z Z
9
tg (x) dx = tg (x) · tg (x) dx = tg7 (x) · (sec2 (x) − 1) dx
7 2
Z Z
= tg (x) · sec (x) dx − tg7 (x) dx
7 2
tg8 (x)
Z
= − tg7 (x) dx.
8
Desta igualdade e do resultado do exemplo anterior tem-se
tg8 (x) tg6 (x) tg4 (x) tg2 (x)
Z
tg9 (x) dx = − + − + ln(| sec(x)|) + C.
8 6 4 2
9
Esta aula continua com a apresentação de técnicas para resolução de integrais trigonométricas.
Apresentar-se-á agora o método para resolução de integrais do tipo
Z
secn (x) dx onde n é par.
Soluçao. Escreva
Z Z Z
4
sec (x) dx = sec (x) · sec (x) dx = (1 + tg2 (x)) · sec2 (x) dx.
2 2
u3 tg3 (x)
= u+ + C = tg(x) + + C,
3 3
isto é,
tg3 (x)
Z
sec4 (x) dx = tg(x) + + C.
3
Exemplo 2. Como resolver a integral indefinida
Z
sec6 (x) dx?
Soluçao. Tem-se
Z Z Z
6 4 2
2
sec (x) dx = sec (x) · sec (x) dx = sec2 (x) · sec2 (x) dx
Z
= (1 + tg2 (x))2 · sec2 (x) dx
Z
1 + 2 tg2 (x) + tg4 (x) · sec2 (x) dx
=
1
2
Soluçao. Escreva
Z Z
5
sec (x) dx = sec3 (x) · sec2 (x) dx.
Z
= sec (x) · tg(x) − 3 sec3 (x) · (sec2 (x) − 1) dx
3
Z Z
3
= sec (x) · tg(x) − 3 sec (x) dx + 3 sec3 (x) dx.
5
Assim,
Z Z
4 sec (x) dx = sec (x) · tg(x) + 3 sec3 (x) dx
5 3
3 3
= sec3 (x) · tg(x) + sec(x) · tg(x) + ln(| sec(x) + tg(x)|) + C.
2 2
Portanto,
Z
1 3 3
sec5 (x) dx = = sec3 (x) · tg(x) + sec(x) · tg(x) + ln(| sec(x) + tg(x)|) + C.
4 8 8
Agora serão abordadas as integrais do tipo
Z
tgn (x) · secm (x) dx onde m e n são números naturais.
Primeiro considerar-se-á o caso em que n é ı́mpar ou m é par. Neste caso, faz-se a decomposição
tgn (x) · secm (x) = tgn−1 (x) · secm−1 (x) · tg(x) · sec(x)
quando n é ı́mpar, e a decomposição
tgn (x) · secm (x) = tgn (x) · secm−2 (x) · sec2 (x),
quando m é par. Veja os próximos exemplos.
Exemplo 4. Como resolver a integral indefinida
Z
tg3 (x) · sec5 (x) dx?
3
u7 u5
= − +C
7 5
sec7 (x) sec5 (x)
= − + C,
7 5
isto é,
sec7 (x) sec5 (x)
Z
tg3 (x) · sec5 (x) dx = − + C.
7 5
Exemplo 5. Como resolver a integral indefinida
Z
tg4 (x) · sec6 (x) dx?
u9 2u7 u5
Z
= (u8 + 2u6 + u4 ) du = + + +C
9 7 5
tg9 (x) 2 tg7 (x) tg5 (x)
= + + + C.
9 7 5
4
No caso em que n é par e m é ı́mpar, usa-se integração por partes. Não deixe de observar
que, neste caso, a integral
Z
tgn (x) · secm (x) dx
onde k é ı́mpar, e a resolução dessas integrais envolve integração por partes, conforme o seguinte
exemplo.
Exemplo 6. Como resolver a integral indefinida
Z
tg2 (x) · sec(x) dx?
Soluçao. Tem-se
Z Z
2
tg (x) · sec(x) dx = (sec(x)2 − 1) · sec(x) dx
Z
= (sec3 (x) − sec(x)) dx
Z Z
3
= sec (x) dx − sec(x) dx
1 1
= sec(x) · tg(x) + ln(| sec(x) + tg(x)|) − ln(| sec(x) + tg(x)|) + C
2 2
1 1
= sec(x) · tg(x) − ln(| sec(x) + tg(x)|) + C.
2 2
Observe que
Z
sec3 (x) dx
sai por integração por partes e foi aconselhado a memorização do valor desta integral.
Exemplo 7. Como resolver a integral indefinida
Z
tg2 (x) · sec3 (x) dx?
Soluçao. Tem-se
Z Z
2 3
tg (x) · sec (x) dx = (sec(x)2 − 1) · sec3 (x) dx
Z
= (sec5 (x) − sec3 (x)) dx
Z Z
= sec (x) dx − sec3 (x) dx.
5
5
1 3 3
= sec3 (x) · tg(x) + sec(x) · tg(x) + ln(| sec(x) + tg(x)|)
4 8 8
1 1
− sec(x) · tg(x) − ln(| sec(x) + tg(x)|) + C
2 2
1 1 1
= sec3 (x) · tg(x) − sec(x) · tg(x) − ln(| sec(x) + tg(x)|) + C.
4 8 8
Observe que
Z
sec5 (x) dx,
Como
X Z b
lim f (ci )∆xi = f (x) dx,
|P|→0 a
P
diz-se que o quociente Z b
f (x) dx
a
b−a
e a média da função f no intervalo fechado [a, b], pois este quociente é o limite de médias de
valores de f em [a, b]. Observe que, ao longo de partições uniformes do intervalo [a, b], tem-se
Z b
f (x) dx n
a 1 X b−a b−a
= lim f a+i· ·
b−a b − a n→+∞ i=1 n n
n
1 X b−a
= lim · f a+i·
n→+∞ n n
i=1
o que dá todo o sentido à definição apresentada.
Exemplo 8. Qual o valor médio da função f , dada por f (x) = x2 − 2x, no intervalo [0, 2]?
Soluçao. Tem-se
2 2 2
x3
Z Z
2 4
f (x) dx = (x − 2x) dx = − x2 =− .
0 0 3 0 3
Daı́ o valor médio de f no intervalo [0, 2] é, por definição,
Z 2
f (x) dx
0 −4/3 2
= =− .
2 2 3
Exemplo 9. Qual o valor médio da função f , dada por f (x) = cos(x), no intervalo [0, 2π]?
Soluçao. Tem-se
Z 2π Z 2π
f (x) dx = cos(x) dx = sen(x)|2π
0 = 0.
0 0
Daı́ o valor médio de f no intervalo [0, 2π] é, por definição,
Z 2π
f (x) dx
0 0
= = 0.
2π 2π
AULA 07
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
Esta aula aborda as funções trigonométricas inversas, as quais são utilizadas, entre outras
aplicações, em certas técnicas de integração. Apesar da denominação do assunto, observe que
cada uma das funções trigonométricas não é invertı́vel.
A função seno, sen : R −→ R, não é injetiva nem é sobrejetiva e, por conseguinte, não é
invertı́vel. Entretanto, a função isen : [−π/2, π/2] −→ [−1, 1], dada por
isen(x) = sen(x) qualquer que seja x ∈ [−π/2, π/2],
é injetiva e é sobrejetiva, isto é, é bijetiva. Portanto, isen é invertı́vel.
Definição 1. A função inversa da função isen é denominada função arco seno, sendo denotada
por arcsen.
F IGURA 1. Função sen é injetiva em [−π/2, π/2] e sen([−π/2, π/2]) = [−1, 1].
1
2
isto é,
x−2
Z
1
√ dx = arcsen + C.
5 + 4x − x2 3
A função cosseno, cos : R −→ R, não é injetiva nem é sobrejetiva e, por conseguinte, não é
invertı́vel. Entretanto, a função icos : [0, π] −→ [−1, 1], dada por
icos(x) = cos(x) qualquer que seja x ∈ [0, π],
é injetiva e é sobrejetiva, isto é, é bijetiva. Portanto icos é invertı́vel.
Definição 2. A função inversa da função icos é denominada função arco cosseno, sendo deno-
tada por arccos.
isto é,
θ ∈ [0, π] se, e somente, se (π/2 − θ) ∈ [−π/2, π/2],
e, trivialmente,
θ ∈ [−π/2, π/2] se, e somente, se (π/2 − θ) ∈ [0, π].
Além disso, lembre que
cos(θ) = sen(π/2 − θ) e sen(θ) = cos(π/2 − θ) qualquer que seja θ ∈ R.
Proposição 2. Dado x ∈ [−1, 1], tem-se
arccos(x) = π/2 − arcsen(x).
Demonstração. Se x ∈ [−1, 1], então
arcsen(x) ∈ [−π/2, π/2] e, portanto, (π/2 − arcsen(x)) ∈ [0, π].
Daı́,
arccos(x) = arccos(sen(arcsen(x)))
= arccos(cos(π/2 − arcsen(x)))
= π/2 − arcsen(x)).
Da proposição 2 segue imediatamente o seguinte corolário.
Corolário 1. A função arco cosseno é diferenciável no intervalo (−1, 1) valendo
1
arccos0 (x) = − √ em cada x ∈ (−1, 1).
1 − x2
7
A função tangente,
tg : { x ∈ R | x 6= π/2 + kπ ∀k ∈ Z } −→ R,
é sobrejetiva mas não é injetiva, por conseguinte, não é invertı́vel. Entretanto, a função
itg : (−π/2, π/2) −→ R,
dada por
itg(x) = tg(x) qualquer que seja x ∈ (−π/2, π/2),
é injetiva e é sobrejetiva, isto é, é bijetiva. Portanto itg é invertı́vel.
Definição 3. A função inversa da função itg é denominada função arco tangente, sendo deno-
tada por arctg.
Da definição 3 seguem as seguintes propriedades.
∗ O domı́nio da função arco tangente é o conjunto Darctg = R.
∗ O contradomı́nio da função arco tangente é o conjunto Carctg = (−π/2, π/2).
∗ arctg(tg(x)) = arctg(itg(x)) = x qualquer que seja x ∈ (−π/2, π/2).
∗ tg(arctg(x)) = itg(arctg(x)) = x qualquer que seja x ∈ R.
∗ Sintetizando as duas últimas observações, dados x ∈ R e y ∈ (−π/2, π/2), tem-se
y = arctg(x) ⇐⇒ x = tg(y).
∗ arctg(0) = 0.
∗ arctg(tg(π/4)) = π/4 pois π/4 ∈ (−π/2, π/2).
8
1
arctg0 (x) = qualquer que seja x ∈ R.
1 + x2
Demonstração. Dado x ∈ R, tem-se arctg(x) ∈ (−π/2, π/2) e, portanto, a função itg é dife-
renciável em arctg(x) com
∗ arcctg(0) = π/2.
∗ arcctg(ctg(π/4)) = π/4 pois π/4 ∈ (0, π).
∗ arcctg(ctg(−π/4)) = arcctg(ctg(3π/4)) = 3π/4. Observe com atenção a definição da
função arco cotangente e suas propriedades!
∗ A função arco cotangente é contı́nua.
Demonstração. Se x ∈ R então
arctg(x) ∈ (−π/2, π/2) e, portanto, (π/2 − arctg(x)) ∈ (0, π).
Daı́,
arcctg(x) = arcctg(tg(arctg(x)))
= arcctg(ctg(π/2 − arctg(x)))
= π/2 − arctg(x)).
Da proposição 4 segue imediatamente o seguinte corolário.
Corolário 2. A função arco cotangente é diferenciável valendo
1
arcctg0 (x) = − qualquer que seja x ∈ R.
1 + x2
Exercı́cio 1. Encontre a função de derivada de cada função abaixo relacionada.
∗ f (x) = arcsen(x3 + 2x − 1)
x+1
∗ g(x) = arcsen( )
x−1
1
∗ h(x) = arcsen( )
1 + x2
∗ p(x) = arcsen(ln(x2 + 2x − 1))
∗ q(x) = arcsen(sen(x3 + 4x))
∗ r(x) = cos(arcsen(1 + 2x))
√
3
∗ s(x) = ln(arcsen( x5 − 2x2 ))
3 +1)
∗ t(x) = earcsen(x
1
2
Pelo corolário 1,
Z
1
p dx = arcsec(x) + C.
|x| · x2 − 1
Além disso, sendo g : (−∞, −1] ∪ [1, +∞) −→ R a função dada por
tem-se
arcsec(x) se x ≥ 1,
g(x) =
arcsec(−x) se x ≤ −1.
e, portanto,
1 1
arccsc(x) = arccsc = arccsc
1/x sen(arcsen(1/x))
= arcsec(csc(arcsen(1/x))) = arcsen(1/x).
√ Suponha que a função integrando, de uma integral indefinida, envolva uma expressão do tipo
a2 − x2 , onde a > 0. Então, o seu domı́nio está contido no conjunto [−a, a]. Além disso, com
a mudança de variável θ = arcsen(x/a), tem-se θ ∈ [−π/2, π/2], x = a sen(θ) e, portanto,
x
sen(θ) = , dx = a cos(θ)dθ,
√ a p p
a − x = a2 − a2 sen2 (θ) = a cos2 (θ) = a| cos(θ)| = a cos(θ),
2 2
√
a2 − x 2 x a
cos(θ) = , tg(θ) = √ , sec(θ) = √ ,
a a2 − x 2 a2 − x 2
√
a a2 − x 2
csc(θ) = e ctg(θ) = .
x x
Estas observações podem ser usadas para resolver integrais que envolvam a referida ex-
pressão. Convém observar que todas estas igualdades podem ser concluı́das a partir de uma
análise simples da figura 6.
Exemplo 3. Como resolver a integral indefinida
Z
1
√ dx?
x · 25 − x2
Soluçao. Observe que
Z Z
1 1
√ dx = √ dx.
x · 25 − x2 x · 52 − x2
Assim, com x = 5 sen(θ), tem-se
√
dx = 5 cos(θ)dθ e 52 − x2 = 5 cos(θ).
9
Logo,
Z Z
1 1
√ dx = · 5 cos(θ) dθ
x · 25 − x2 5 sen(θ) · 5 cos(θ)
Z Z
1 1 1
= dθ = csc(θ) dθ
5 sen(θ) 5
1
= − · ln(| ctg(θ) + csc(θ)|) + C.
5
Como √
25 − x2 5
ctg(θ) = e csc(θ) = ,
x x
tem-se
√ !
25 − x2 5
Z
1 1
√ dx = − · ln + +C
x · 25 − x2 5 x x
√ !
1 25 − x2 + 5
= − · ln + C.
5 |x|
Exemplo 4. Dado a > 0, como resolver a integral indefinida
Z √
a2 − x2 dx?
x+1
∗ f (x) = arctg( )
x−1
1
∗ f (x) = arctg( )
1 + x2
∗ f (x) = arctg(ln(x2 + 2x − 1))
∗ f (x) = arcsec(x3 + 2x − 1)
x+1
∗ f (x) = arcsec( )
x−1
√
3
∗ f (x) = arcsec( 1 + x2 )
∗ f (x) = arcsec(sen(x) + x2 )
11
Esta aula continua com a apresentação das técnicas de integração introduzidas na aula pas-
sada. Desta vez, são√apresentados métodos de integração de funções que envolvem expressões
do tipo x2 + a2 ou x2 − a2 . Perceba que as três técnicas, a da aula passada e as duas desta
aula, envolvem o uso da teoria desenvolvida para as funções trigonométricas inversas: arco
seno, arco tangente e arco secante.
Observação 1. Seja a > 0. Dado x ∈ R, tem-se
√ √
x ≤ |x| = x2 < x2 + a2 .
Daı́,
√
x2 + a2 − x > 0.
Assim,
p
(−x)2 + a2 − (−x) > 0,
isto é,
√
x2 + a2 + x > 0.
Suponha que a função integrando, de uma integral indefinida, envolva uma expressão do tipo
a2 + x2 , onde a > 0. Então, com a mudança de variável θ = arctg(x/a), tem-se
θ ∈ (−π/2, π/2), x = a tg(θ)
e, portanto,
dx = a sec2 (θ)dθ,
a2 + x2 = a2 + a2 tg2 (θ) = a2 (1 + tg2 (θ)) = a2 sec2 (θ),
√
a2 + x2 = |a sec(θ)| = a sec(θ),
√
x a2 + x 2
tg(θ) = , sec θ = ,
a a
x a
sen(θ) = √ , cos(θ) = √ ,
2
a +x 2 a + x2
2
√
a2 + x 2 a
csc(θ) = e ctg(θ) = .
x x
Observe que as igualdades podem ser concluı́das a partir de uma análise simples da figura 1.
Exemplo 1. Como resolver a integral indefinida
Z √
a2 + x2 dx,
onde a > 0?
1
2
a2 a2
= · sec(θ) · tg(θ) + · ln(| sec(θ) + tg(θ)|) + C.
2 2
Como
√
a2 + x 2 x
sec θ = e tg(θ) = ,
a a
tem-se
Z √ √ !
1 √ a2 a2 + x 2 x
2 2 2 2
a + x dx = · x · a + x + · ln + +C
2 2 a a
√ !
1 √ a2 a2 + x 2 + x
= · x · a2 + x 2 + · ln +C
2 2 a
√ !
1 √ a 2
| a 2 + x2 + x|
= · x · a2 + x 2 + · ln +C
2 2 a
1 √ a2 √ a2
= · x · a2 + x 2 + · ln(| a2 + x2 + x|) − · ln(a) + C
2 2 2
1 √ a2 √
= · x · a2 + x 2 + · ln( a2 + x2 + x) + C.
2 2
3
Exemplo 3. Como resolver a integral indefinida
Z
1
dx
(x + a2 )2
2
onde a > 0?
Soluçao. Com x = a tg(θ) tem-se
dx = a sec2 (θ)dθ e a2 + x2 = a2 sec2 (θ).
4
Daı́,
Z Z
1 1
dx = · a sec2 (θ) dθ
(x + a2 )2
2
(a sec2 (θ))2
2
Z Z
1 1 1
= 3 dθ = 3 cos2 (θ) dθ
a sec2 (θ) a
Z
1 1 + cos(2θ) 1 1
= 3 dθ = 3 · θ + 3 · sen(2θ) + C
a 2 2a 4a
1 1
= · θ + 3 · sen(θ) · cos(θ) + C.
2a3 2a
Como
x a
θ = arctg(x/a), sen(θ) = √ e cos(θ) = √ ,
a2 + x 2 a2 + x 2
tem-se
Z
1 1 x 1 x a
dx = · arctg + ·√ ·√ +C
(x2 + a2 )2 2a3 a 2a3 2
a +x 2 a + x2
2
1 x 1 x
= · arctg + · 2 + C.
2a3 a 2a2 a + x2
√ Suponha que a função integrando, de uma integral indefinida, envolva uma expressão do tipo
x2 − a2 , onde a > 0. Então, o seu domı́nio está contido no conjunto (−∞, −a] ∪ [a, +∞).
Além disso, com a mudança de variável θ = arcsec(x/a), tem-se
θ ∈ [0, π/2) ∪ (π/2, π], x = a sec(θ)
e, portanto,
dx = a sec(θ) · tg(θ)dθ,
x2 − a2 = a2 sec2 (θ) − a2 = a2 (sec2 (θ) − 1) = a2 tg2 (θ) e
√
x2 − a2 = |a tg(θ)|.
Entretanto, não há como se livrar do módulo na última expressão, pois
tg(θ) < 0 qualquer que seja θ ∈ (π/2, π],
e a sua presença na integral indefinida, após a mudança de variável trigonométrica, pode com-
plicar sobremaneira o cálculo dessa integral. Esta dificuldade pode ser contornada observando
que a função
isec2 : [0, π/2) ∪ [π, 3π/2) −→ (−∞, −1] ∪ [1, +∞),
dada por
isec2(x) = sec(x) ∀x ∈ [0, π/2) ∪ [π, 3π/2),
é injetiva e sobrejetiva, portanto invertı́vel, sendo sua inversa dada por
−1 arcsec(x) se x ∈ [1, +∞),
isec2 (x) =
arcsec(|x|) + π se x ∈ (−∞, −1].
ou seja,
5
−1 arcsec(|x|) se x ∈ [1, +∞),
isec2 (x) =
arcsec(|x|) + π se x ∈ (−∞, −1].
e, portanto,
dx = a sec(θ) · tg(θ)dθ,
x2 − a2 = a2 sec2 (θ) − a2 = a2 (sec2 (θ) − 1) = a2 tg2 (θ) e
√
x2 − a2 = |a tg(θ)| = a tg(θ),
√
x x 2 − a2
sec(θ) = , tg(θ) = ,
a√ a
x 2 − a2 a
sen(θ) = , cos(θ) = ,
x x
a x
ctg(θ) = √ e csc(θ) = √ .
2
x −a 2 x − a2
2
Observe que as igualdades podem ser concluı́das a partir de uma análise simples da figura 4.
Z
1
√ dx,
x 3 · x 2 − a2
onde a > 0.
√
dx = a sec(θ) · tg(θ)dθ e x2 − a2 = a tg(θ).
7
Assim,
Z Z
1 1
√ dx = 3 3 · a sec(θ) · tg(θ) dθ
x3 · x 2 − a2 a sec (θ) · a tg(θ)
Z Z
1 1 1
= 3 2 dθ = 3 cos2 (θ) dθ
a sec (θ) a
Z
1 1 + cos(2θ)
= 3 dθ
a 2
1 1
= 3 ·θ+ · sen(2θ) + C
2a 4a3
1 1
= 3 ·θ+ · sen(θ) · cos(θ) + C.
2a 2a3
Como
−1 arcsec(|x|/a) se x ∈ [a, +∞),
θ = isec2 (|x|/a) =
arcsec(|x|/a) + π se x ∈ (−∞, −a],
√
x 2 − a2 a
sen(θ) = e cos(θ) = ,
x x
tem-se
√
|x| x 2 − a2
Z
1 1 1 a
√ dx = 3 · arcsec + · · +C
3 2
x · x −a 2 2a a 2a3 x x
√
1 |x| 1 x 2 − a2
= 3 · arcsec + · + C.
2a a 2a2 x2
onde a > 0.
√
dx = a sec(θ) · tg(θ)dθ e x2 − a2 = a tg(θ).
8
Assim,
Z √ Z
x2 − a2 dx = a tg(θ) · a sec(θ) · tg(θ) dθ
Z
= a2 sec(θ) · tg2 (θ) dθ
Z
2
= a sec(θ) · (sec2 (θ) − 1) dθ
Z
2
= a (sec3 (θ) − sec(θ)) dθ
Z Z
2 3 2
= a sec (θ) dθ − a sec(θ) dθ
a2
= · ( sec(θ) · tg(θ) + ln(| sec(θ) + tg(θ)|) ) −
2
a2 · ln(| sec(θ) + tg(θ)|) + C
a2 a2
= · sec(θ) · tg(θ) − · ln(| sec(θ) + tg(θ)|) + C.
2 2
Como √
x x 2 − a2
sec θ = e tg(θ) = ,
a a
tem-se
Z √ 2
√ 2
√ !
a x x 2 − a2 a x x 2 − a2
x2 − a2 dx = · · − · ln + +C
2 a a 2 a a
1 √ a2 √
= · x · x 2 − a2 − · ln(|x + x2 − a2 |) + C.
2 2
Atenção: Não há como se livrar do módulo na última expressão!
Exemplo 6. Como encontrar a integral indefinida
Z
1
√ dx,
x − a2
2
onde a > 0.
Soluçao. Com x = a sec(θ), com θ ∈ (0, π/2) ∪ (π, 3π/2), tem-se
√
dx = a sec(θ) · tg(θ)dθ e x2 − a2 = a tg(θ).
Assim,
Z Z
1 1
√ dx = · a sec(θ) · tg(θ) dθ
x 2 − a2 a tg(θ)
Z
= sec(θ) dθ = ln(| sec(θ) + tg(θ)|) + C.
Como √
x x 2 − a2
sec θ = e tg(θ) = ,
a a
9
tem-se
√ !
x 2 − a2
Z
1 x
√ dx = ln + +C
x 2 − a2 a a
√
= ln(|x + x2 − a2 |) + C.
AULA 10
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
Nesta aula serão apresentados métodos para integração de funções racionais. Lembre que
função racional é qualquer função f dada por
p(x)
f (x) = ,
q(x)
onde p e q são funções polinomiais. Cada método basear-se-á em uma proposição cujo enuncia-
do é apresentado, mas cuja demonstração é omitida, e passa pela fatoração máxima da função
polinomial q em funções polinomiais de grau um ou grau dois. Cada uma dessas futuras
proposições dirá que toda função racional pode ser decomposta em soma de frações parciais,
sendo cada fração parcial uma expressão do tipo
A Bx + D
n ou ,
(x − p) (x + qx + r)m
2
1
2
x3 + 3x2 + 2x = x · (x2 + 3x + 2) = x · (x + 1) · (x + 2)
e estas duas funções polinomiais não possuem fatores lineares em comum, isto é, as funções
polinomiais, numerador e denominador da função integrando, satisfazem as hipóteses da pro-
posição 1. Daı́, existem constantes A, B, C ∈ R tais que
x2 + 2x + 2 A B C
3 2 = + + .
x + 3x + 2x x x+1 x+2
Observe que
x2 + 2x + 2 A B C
3 2 = + +
x + 3x + 2x x x+1 x+2
2
x + 2x + 2 A · (x + 1) · (x + 2) + B · x · (x + 2) + C · x · (x + 1)
⇐⇒ 3 2 =
x + 3x + 2x x · (x + 1) · (x + 2)
2 2
x + 2x + 2 (A + B + C)x + (3A + 2B + C)x + 2A
⇐⇒ 3 2 =
x + 3x + 2x x3 + 3x2 + 2x
2 2
⇐⇒ x + 2x + 2 = (A + B + C)x + (3A + 2B + C)x + 2A
⇐⇒ (A + B + C) = 1, (3A + 2B + C) = 2 e 2A = 2
⇐⇒ A = 1, B + C = 0 e 2B + C = −1 ⇐⇒ A = 1, B = −1 e C = 1.
Portanto,
x2 + 2x + 2 1 1 1
3 2 = − + .
x + 3x + 2x x x+1 x+2
3
Logo,
x2 + 2x + 2
Z Z
1 1 1
dx = − + dx
x3 + 3x2 + 2x x x+1 x+2
Z Z Z
1 1 1
= dx − dx + dx
x x+1 x+2
= ln(|x|) − ln(|x + 1|) + ln(|x + 2|) + C
x · (x + 2)
= ln + C.
x+1
Soluçao. Como
x2 − a2 = (x − a) · (x + a),
1 B C
2 2 = + .
x −a x−a x+a
Observe que
1 B C
22 = +
x −a x−a x+a
1 B · (x + a) + C · (x − a)
⇐⇒ 2 2 =
x −a (x − a) · (x + a)
1 (B + C)x + Ba − Ca
⇐⇒ 2 2 =
x −a x 2 − a2
⇐⇒ 1 = (B + C)x + Ba − Ca
⇐⇒ B + C = 0 e Ba − Ca = 1 ⇐⇒ Ba + Ca = 0 e Ba − Ca = 1
1 1
⇐⇒ 2Ba = 1 e 2Ca = −1 ⇐⇒ B = e C=− .
2a 2a
Daı́,
1 1 1 1 1
2 2 = · − ·
x −a 2a x − a 2a x + a
4
e, portanto,
Z Z
1 1 1 1 1
dx = · − · dx
x − a2
2
2a x − a 2a x + a
Z Z
1 1 1 1
= dx − dx
2a x−a 2a x+a
1 1
= ln(|x − a|) − ln(|x + a|) + C
2a 2a
1 x−a
= ln + C,
2a x+a
isto é,
x−a
Z
1 1
dx = ln + C.
x 2 − a2 2a x+a
Deste modo,
Z
1 1 x+a
dx = ln + C.
a2 − x 2 2a x−a
Atenção: Memorize estas duas fórmulas!
Exemplo 3. Como resolver a integral indefinida
Z
3x + 3
2 dx?
x +x−2
Soluçao. Como x2 + x − 2 = (x − 1) · (x + 2), tem-se, pela proposição 1, a existência de
constantes A, B ∈ R tais que
3x + 3 A B
2 = + .
x +x−2 x−1 x+2
Agora,
3x + 3 A B
2 = +
x +x−2 x−1 x+2
3x + 3 A · (x + 2) + B · (x − 1)
⇐⇒ 2 =
x +x−2 (x − 1) · (x + 2)
3x + 3 (A + B)x + (2A − B)
⇐⇒ 2 =
x +x−2 x2 + x − 2
⇐⇒ 3x + 3 = (A + B)x + (2A − B)
⇐⇒ A + B = 3 e 2A − B = 3
⇐⇒ 3A = 6 e 3B = 3 ⇐⇒ A = 2 e B = 1.
Assim,
3x + 3 2 1
2 = +
x +x−2 x−1 x+2
5
e, portanto,
Z Z
3x + 3 2 1
2 dx = + dx
x +x−2 x−1 x+2
Z Z
1 1
= 2 dx + dx
x−1 x+2
= 2 ln(|x − 1|) + ln(|x + 2|) + C
= ln(|x − 1|2 · |x + 2|) + C
= ln((x − 1)2 · |x + 2|) + C.
A proposição 2 diz como proceder quando a função polinomial q possui somente fatores
lineares na sua fatoração, mas alguns destes fatores com multiplicidade.
Proposição 2. Sejam p e q funções polinomiais reais sem fatores lineares em comum, com
Grau(p) < Grau(q) = k. Se
tais que
p(x) A11 A1α1 An1 Anαn
= + ... + α
+ ... + + ... + .
q(x) x − a1 (x − a1 ) 1 x − an (x − an )αn
A proposição 2 diz, por exemplo, que existem constantes A, B, C ∈ R tais que
x−2 A B C
2 = + + ,
(x − 1) · (x + 2) x − 1 x + 2 (x + 2)2
que existem constante D, E, F, G, H ∈ R tais que
1 D E F G H
3 2 = + 2+ 3+ +
x · (x − 1) x x x x − 1 (x − 1)2
e que existem constantes I, J, K, L ∈ R tais que
x2 + 1 I J K L
3 = + 2 + 3 + .
(x − 2) · (x + 1) x − 2 (x − 2) (x − 2) x+1
Exemplo 4. Como resolver a integral indefinida
Z 2
x + 2x + 6
dx?
x3 + 3x2 − 4
6
Proposição 3. Sejam p(x) e q(x) funções polinomiais reais sem fatores lineares, e sem fatores
quadráticos irredutı́veis, em comum, com Grau(p) < Grau(q) = n + 2m. Se
q(x) = (x − a1 ) · · · · · (x − an ) · (x2 + b1 x + c1 ) · · · · · (x2 + bm x + cm ),
onde
a1 , . . . , an ∈ R são distintos dois a dois,
(b1 , c1 ), . . . , (bm , cm ) ∈ R2 são distintos dois a dois e
(x2 + b1 x + c1 ), . . . , (x2 + bm x + cm ) não possuem raı́zes reais,
então existem únicos A1 , . . . , An , B1 , C1 , . . . , Bm , Cm ∈ R tais que
p(x) A1 An B1 x + C1 Bm x + Cm
= + ... + + 2 + ... + 2 .
q(x) x − a1 x − an x + b 1 x + c 1 x + bm x + c m
A proposição 3 diz, por exemplo, que existem constantes A, B, C ∈ R tais que
x−1 A Bx + C
2 = + 2 ,
(x + 1) · (x + 4) x+1 x +4
existem constantes E, F, G, H, I, J ∈ R tais que
1 E F Gx + H Ix + J
2 2 = + + 2 + 2
x · (x + 3) · (x + 1) · (x + x + 1) x x+3 x +4 x +x+1
e existem constantes K, L, M, N ∈ R tais que
2x + 1 Kx + L M x + N
2 2 = 2 + 2 .
(x + 1) · (x + 3) x +1 x +3
Exemplo 6. Como resolver a integral indefinida
2x2 + x + 3
Z
dx?
x3 + x2 + x + 1
Soluçao. Primeiro observe que
x3 + x2 + x + 1 = x2 · (x + 1) + 1 · (x + 1) = (x + 1) · (x2 + 1).
Assim, existem constantes A, B, C ∈ R tais que
2x2 + x + 3 A Bx + C
3 2 = + 2 .
x +x +x+1 x+1 x +1
Agora,
2x2 + x + 3 A Bx + C
3 2 = + 2
x +x +x+1 x+1 x +1
2 2
2x + x + 3 A · (x + 1) + (Bx + C) · (x + 1)
⇐⇒ 3 2 =
x +x +x+1 (x + 1) · (x2 + 1)
2x2 + x + 3 (A + B)x2 + (B + C)x + A + C
⇐⇒ 3 =
x + x2 + x + 1 x3 + x2 + x + 1
⇐⇒ 2x2 + x + 3 = (A + B)x2 + (B + C)x + A + C
⇐⇒ A + B = 2, B + C = 1 e A + C = 3
⇐⇒ A = 2, B = 0 e C = 1.
9
Assim,
2x2 + x + 3 2 1
3 2 = + 2
x +x +x+1 x+1 x +1
e, portanto,
2x2 + x + 3
Z Z
2 1
dx = + dx
x3 + x2 + x + 1 x + 1 x2 + 1
Z Z
1 1
= 2 dx + 2 dx
x+1 x +1
= 2 ln(|x + 1|) + arctg(x) + C.
4x3 + 5x + 3
Z
dx?
x4 + x2 − 2
x4 + x2 − 2 = x4 + 2x2 − x2 − 2
= x2 · (x2 + 2) − 1 · (x2 + 2)
= (x2 − 1) · (x2 + 2)
= (x − 1) · (x + 1) · (x2 + 2).
4x3 + 5x + 3 A B Cx + D
4 2 = + + 2 .
x +x −2 x−1 x+1 x +2
10
Agora,
4x3 + 5x + 3 A B Cx + D
4 2 = + + 2
x +x −2 x−1 x+1 x +2
3
4x + 5x + 3
⇐⇒ 4 = A · (x + 1) · (x2 + 2) + B · (x − 1) · (x2 + 2) +
x + x2 − 2 .
(Cx + D) · (x − 1)(x + 1) (x − 1) · (x + 1) · (x2 + 2)
4x3 + 5x + 3
⇐⇒ 4 2 = (A + B + C)x3 + (A − B + D)x2 + (2A + 2B − C)x +
x +x −2 .
4 2
(2A − 2B − D) x +x −2
⇐⇒ 4x3 + 5x + 3 = (A + B + C)x3 + (A − B + D)x2 + (2A + 2B − C)x +
2A − 2B − D
⇐⇒ A + B + C = 4, A − B + D = 0, 2A + 2B − C = 5 e
2A − 2B − D = 3
⇐⇒ 2A + 2B + 2C = 8, 2A − 2B + 2D = 0, 2A + 2B − C = 5 e
2A − 2B − D = 3
⇐⇒ 3C = 3, 3D = 3, A + B + C = 4 e A − B + D = 0
⇐⇒ C = 1, D = −1, A + B = 3 e A − B = 1
⇐⇒ A = 2, B = 1, C = 1 e D = −1.
Assim,
4x3 + 5x + 3 2 1 x−1
4 2 = + + 2
x +x −2 x−1 x+1 x +2
11
e, portanto,
4x3 + 5x + 3
Z
x−1
Z
2 1
dx = + + dx
x4 + x 2 − 2 x − 1 x + 1 x2 + 2
x−1
Z Z Z
2 1
= dx + dx + dx
x−1 x+1 x2 + 2
Z Z
1 1
= 2 dx + dx +
x−1 x+1
Z Z
x 1
2 dx − 2 dx
x +2 x +2
Z Z
1 1
= 2 dx + dx +
x−1 x+1
Z Z
1 1 1
2 · 2x dx − √ dx
2 x +2 x + ( 2)2
2
1
= 2 ln(|x − 1|) + ln(|x + 1|) + ln(|x2 + 2|) −
2
1 x
√ arctg √ +C
2 2
√
2
1 x
= ln (x − 1) · |x + 1| · x + 2 − √ arctg √
2 + C.
2 2
Exemplo 8. Como resolver a integral indefinida
Z 4
x + 6x2 − x + 6
dx?
x3 + 3x
Soluçao. Primeiro observe que
Grau(x4 + 6x2 − x + 6) > Grau(x3 + 3x).
Neste caso, é necessário dividir o polinômio numerador pelo polinônio denominador obtendo,
assim,
x4 + 6x2 − x + 6 = x · (x3 + 3x) + (3x2 − x + 6).
Daı́,
x4 + 6x2 − x + 6 x · (x3 + 3x) + (3x2 − x + 6)
=
x3 + 3x x3 + 3x
x · (x3 + 3x) 3x2 − x + 6
= +
x3 + 3x x3 + 3x
3x2 − x + 6
= x+ .
x3 + 3x
Como x3 + 3x = x · (x2 + 3), existem constantes A, B, C ∈ R tais que
3x2 − x + 6 A Bx + C
3 = + 2 .
x + 3x x x +3
12
Agora,
3x2 − x + 6 A Bx + C
3 = + 2
x + 3x x x +3
2
3x − x + 6 A · (x2 + 3) + (Bx + C) · x
⇐⇒ =
x3 + 3x x · (x2 + 3)
3x2 − x + 6 (A + B)x2 + Cx + 3A
⇐⇒ =
x3 + 3x x · (x3 + 3x)
⇐⇒ 3x2 − x + 6 = (A + B)x2 + Cx + 3A
⇐⇒ A + B = 3, C = −1 e 3A = 6
⇐⇒ A = 2, B = 1 e C = −1.
Assim,
3x2 − x + 6 2 x−1
3 = + 2
x + 3x x x +3
e, portanto,
x4 + 6x2 − x + 6 2 x−1
3 =x+ + 2 .
x + 3x x x +3
Logo,
x4 + 6x2 − x + 6
Z
x−1
Z
2
dx = x+ + 2 dx
x3 + 3x x x +3
x−1
Z Z Z
2
= x dx + dx + dx
x x2 + 3
Z Z Z
1 1 1
= x dx + 2 dx + 2 · 2x dx
x 2 x +3
Z
1
− √ dx
x + ( 3)2
2
x2
1 2 1 x
= + 2 ln(|x|) + ln(x + 3) − √ arctg √ +C
2 2 3 3
x2 √
2
1 x
= + ln x · x + 3 − √ arctg √
2 + C.
2 3 3
AULA 11
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
Esta aula continua com a quarta, e final, parte das técnicas de integração, de funções racionais,
por decomposição em frações parciais.
Proposição 1. Sejam p(x) e q(x) funções polinomiais reais sem fatores lineares, e sem fatores
quadráticos irredutı́veis, em comum, com Grau(p) < Grau(q) = n + 2m. Se
q(x) = (x − a1 )α1 · · · · · (x − an )αn · (x2 + b1 x + c1 )β1 · · · · · (x2 + bm x + cm )βm ,
onde
a1 , . . . , an ∈ R são distintos dois a dois,
(b1 , c1 ), . . . , (bm , cm ) ∈ R2 são distintos dois a dois e
(x2 + b1 x + c1 ), . . . , (x2 + bm x + cm ) não possuem raı́zes reais,
então existem únicos
A11 , . . . , A1α1 , . . . , An1 , . . . , Anαn ∈ R
e
B11 , C11 , . . . , B1β1 , C1β1 , . . . , Bm1 , Cm1 , . . . , Bmβm , Cmβm ∈ R
tais que
P (x) A11 A1α1 An1 Anαn
= + ... + α
+ ... + + ... + +
Q(x) x − a1 (x − a1 ) 1 x − an (x − an )αn
B11 + C11 x B1β + C1β1 x
2
+ ... + 2 1 + ...+
x + b1 x + c 1 (x + b1 x + c1 )β1
Bm1 + Cm1 x Bmβ + Cmβm x
2
+ ... + 2 m .
x + bm x + c m (x + bm x + cm )βm
A proposição 1 diz, por exemplo, que existem constantes A, B, C, D, E, F ∈ R tais que
x−1 A B Cx + D Ex + F
2 2 2 = + 2 + 2 + 2 ,
(x + 1) · (x + 4) x + 1 (x + 1) x +4 (x + 4)2
existem constantes G, H, I, J, K, L, M ∈ R tais que
1 G Hx + I Jx + K Lx + M
2 3 = + 2 + 2 2 +
(x + 3) · (x + x + 1) x + 3 x + x + 1 (x + x + 1) (x + x + 1)3
2
1
2
1 1
= arctg(x) + · 2 + C.
2 x +1
Exemplo 2. Como resolver a integral indefinida
Z
1
dx?
(x − 1) · (x2 + 2)2
Soluçao. Pela proposição 1, existem contantes A, B, C, D, E ∈ R tais que
1 A Bx + C Dx + E
2 2 = + 2 + 2 .
(x − 1) · (x + 2) x−1 x +2 (x + 2)2
3
Agora,
1 A Bx + C Dx + E
2 2 = + 2 + 2
(x − 1) · (x + 2) x−1 x +2 (x + 2)2
1 A · (x2 + 2)2 (Bx + C) · (x − 1) · (x2 + 2)
⇐⇒ = + +
(x − 1) · (x2 + 2)2 (x − 1) · (x2 + 2)2 (x − 1) · (x2 + 2)2
(Dx + E) · (x − 1)
(x − 1) · (x2 + 2)2
1 (A + B)x4 + (C − B)x3 + (4A + 2B − C + D)x2
⇐⇒ = +
(x − 1) · (x2 + 2)2 (x − 1) · (x2 + 2)2
(−2B + 2C − D + E)x + (4A − 2C − E)
(x − 1) · (x2 + 2)2
⇐⇒ 1 = (A + B)x4 + (C − B)x3 + (4A + 2B − C + D)x2 +
(−2B + 2C − D + E)x + (4A − 2C − E)
⇐⇒ A + B = 0, C − B = 0, 4A + 2B − C + D = 0,
(−2B + 2C − D + E) = 0 e (4A − 2C − E) = 1
⇐⇒ A + B = 0, C − B = 0, 2A − C + D = 0,
− D + E = 0 e 4A − 2C − E = 1
⇐⇒ A + B = 0, C − B = 0, 2A − C + D = 0, −D + E = 0 e − 2D − E = 1
⇐⇒ D = −1/3, E = −1/3, A + B = 0, C − B = 0 e 2A − C = 1/3
⇐⇒ A = 1/9, B = −1/9, C = −1/9, D = −1/3 e E = −1/3.
Assim,
1 1 1 1 x+1 1 x+1
2 2 = · − · 2 − · 2
(x − 1) · (x + 2) 9 x − 1 9 x + 2 3 (x + 2)2
4
e, portanto,
Z Z Z
1 1 1 1 x+1
2 2 dx = dx − dx −
(x − 1) · (x + 2) 9 x−1 9 x2 + 2
Z
1 x+1
dx
3 (x2 + 2)2
Z
1 1 1
= ln(|x − 1|) − 2 · 2x dx −
9 18 x +2
Z Z
1 1 1 1
√ dx − · 2x dx −
9 x2 + ( 2)2 6 (x + 2)2
2
Z
1 1
dx
3 (x + 2)2
2
1 1 2 1 x
= ln(|x − 1|) − ln(x + 2) − √ arctg √ +
9 18 9 2 2
Z
1 1 1 1
· 2 − dx.
6 x +2 3 (x + 2)2
2
√
Em separado, com x = 2 tg(θ), tem-se
√
dx = 2 sec2 (θ)dθ, x2 + 2 = 2 sec2 (θ)
e, deste modo,
Z
1
Z
1 √
dx = · 2 sec2 (θ) dθ
(x + 2)2
2 4
4 sec (θ)
√ Z √ Z
2 1 2
= 2 dθ = cos2 (θ) dθ
4 sec (θ) 4
√ Z
2
= (1 + cos(2θ)) dθ
8
√ √
2 2
= ·θ+ · sen(2θ) + C
√8 16
√
2 2
= ·θ+ · sen(θ) · cos(θ) + C
√8 8
√ √
2 x 2 x 2
= · arctg √ + ·√ ·√ +C
8 2 8 x2 + 2 x2 + 2
√
2 x 1 x
= · arctg √ + · 2 + C.
8 2 4 x +2
5
e, portanto,
Z Z Z
1 1 1 1 x+2
3 dx = dx − 2 dx
x −1 3 x−1 3 x +x+1
Z
1 2x + 4
= ln(|x − 1|) − 2 dx
6 x +x+1
Z
1 2x + 1 + 3
= ln(|x − 1|) − dx
6 x2 + x + 1
Z Z
1 2x + 1 1 3
= ln(|x − 1|) − 2 dx − 2 dx
6 x +x+1 6 x +x+1
Z
1 1 1
= ln(|x − 1|) − ln(x2 + x + 1) − 2 dx
6 2
1 3
x+ +
2 4
|x − 1|
Z
1 1
= ln √ 6
− √ !2 dx
x2 + x + 1 2
1
2
3
x+ +
2 2
1
x + 2
|x − 1| 1 2
= ln √ 6
− · √ · arctg √ +C
2
x +x+1 2 3 3
2
|x − 1| 1 2x + 1
= ln √ 6
− √ · arctg √ + C.
x2 + x + 1 3 3
2x2 − x + 2
Z
dx?
x5 + 2x3 + x
2x2 − x + 2 A Bx + C Dx + E
5 3 = + 2 + 2 .
x + 2x + x x x +1 (x + 1)2
7
Agora,
2x2 − x + 2 A Bx + C Dx + E
5 3 = + 2 + 2
x + 2x + x x x +1 (x + 1)2
2x2 − x + 2 A · (x2 + 1)2 (Bx + C) · x · (x2 + 1)
⇐⇒ 5 = + +
x + 2x3 + x x · (x2 + 1)2 x · (x2 + 1)2
(Dx + E) · x
x · (x2 + 1)2
⇐⇒ 2x2 − x + 2 = (A + B)x4 + Cx3 + (2A + B + C)x2 + (C + E)x + A
⇐⇒ A + B = 0, C = 0, 2A + B + D = 2, C + E = −1 e A = 2
⇐⇒ A = 2, B = −2, C = 0, D = 0 e E = −1.
Assim,
2x2 − x + 2 2 2x 1
5 3 = − 2 − 2 ,
x + 2x + x x x + 1 (x + 1)2
e, portanto,
2x2 − x + 2
Z Z Z Z
1 2x 1
dx = 2 dx − dx − dx
x5 + 2x3 + x x 2
x +1 (x + 1)2
2
Z
2 1
= 2 ln(|x|) − ln(x + 1) − dx
(x + 1)2
2
x2
Z
1
= ln 2 − dx
x +1 (x + 1)2
2
x3
Z
dx?
x3 + 1
x3 1
3 =1− 3 .
x +1 x +1
1 A Bx + C
3 = + 2 .
x +1 x+1 x −x+1
Agora,
1 A Bx + C
3 = + 2
x +1 x+1 x −x+1
1 A · (x2 − x + 1) + (Bx + C) · (x + 1)
⇐⇒ =
x3 + 1 (x + 1) · (x2 − x + 1)
1 (A + B)x2 + (−A + B + C)x + A
⇐⇒ =
x3 + 1 x3 + 1
⇐⇒ 1 = (A + B)x2 + (−A + B + C)x + A + C
⇐⇒ A + B = 0, −A + B + C = 0 e A + C = 1
⇐⇒ A = 1/3, B = −1/3 e C = 2/3.
Deste modo,
1 1 1 1 −x + 2
3 = · + · 2
x +1 3 x+1 3 x −x+1
x3 1 1 1 −x + 2
3 =1− · − · 2 .
x +1 3 x+1 3 x −x+1
9
Portanto,
x3 x−2
Z Z Z Z
1 1 1
3 dx = 1 dx − dx + 2 dx
x +1 3 x+1 3 x −x+1
2x − 4
Z
1 1
= x − · ln(|x + 1|) + 2 dx
3 6 x −x+1
2x − 1 − 3
Z
1 1
= x − · ln(|x + 1|) + dx
3 6 x2 − x + 1
2x − 1 −3
Z Z
1 1 1
= x − · ln(|x + 1|) + 2 dx + 2 dx
3 6 x −x+1 6 x −x+1
Z
1 1 2 1 1
= x − · ln(|x + 1|) + ln(x − x + 1) − √ dx
3 6 2 (x − 1/2) + ( 3/2)2
2
√6
! !
x2 − x + 1 1 2 x − 1/2
= x + ln p − · √ · arctg √ +C
3
|x + 1| 2 3 3/2
√6
!
x2 − x + 1 1 2x − 1
= x + ln p
3
− √ · arctg √ + C.
|x + 1| 3 3
AULA 12
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
Nesta aula aborda-se o método para resolver integrais indefinidas de funções racionais de
seno e cosseno, as quais são integrais do tipo
Z Z
sen(x) 1
dx dx
sen(x) + cos(x) 1 − sen(x) + cos(x)
Z Z
1 1
dx dx
sen(x) + tg(x) 1 sen(x) + 2 cos(x) + 3
A técnica consiste em transformar a integral indefinida da função racional de seno e coseno,
na variável x, na integral indefinida de uma função racional, na variável z, via mudança
z = tg(x/2).
Assim,
x x x
sen(x) = sen 2 · = 2 · sen · cos
2x 2 2
sen x x 1
= 2· x2 · cos2 = 2 · tg ·
2 x
cos 2 2 sec
x 2 2
2 · tg 2z
= 2x = ,
1 + tg2 1 + z2
2
x x x x
cos(x) = cos 2 · = cos2 − sen2 = 2 · cos2 −1
2 2 2 2
1 2
= 2· −1= −1
2 x 2 x
sec 1 + tg
2x 2
2
1 − tg 2
= x2 = 1 − z
1 + tg2 1 + z2
2
e
x 1 1 2 x
2
dz = sec · dx = 1 + tg dx,
2 2 2 2
isto é
2
dx = dz.
1 + z2
Resumindo, com z = tg(x/2), tem-se
2z 1 − z2 2
sen(x) = 2 , cos(x) = 2 e dx = dz.
1+z 1+z 1 + z2
1
2
Z 1 + z 2Z
2 1
= dz = dz
2 − 2z 1−z
Z
1
= − dz = − ln(|z − 1|) + C
z−1
x
= − ln tg − 1 + C.
2
Exemplo 2. Como resolver a integral indefinida
Z
1
dx?
5 + 4 cos(x)
Soluçao. Com z = tg(x/2), tem-se
2z 1 − z2 2
sen(x) = 2 , cos(x) = 2 e dx = dz.
1+z 1+z 1 + z2
Assim,
Z Z
1 1 2
dx = 2 · dz
5 + 4 cos(x) 1 − z 1 + z2
5+4·
Z 1 + z2
1 2
= 2 · dz
5 + 5z + 4 − 4z 1 + z 2
2
Z 1 + z2
1 2 z
= 2 dz = · arctg +C
9 + z2 3 3
2 tg(x/2)
= · arctg + C.
3 3
3
Exemplo 3. Como resolver, pelo método desta aula, a integral indefinida
Z
sec(x) dx?
2z 1 − z2 2
sen(x) = 2 , cos(x) = 2 e dx = dz.
1+z 1+z 1 + z2
Assim,
Z Z Z
1 1 cos(x)
dx = dx = dx
tg(x) − 1 sen(x) sen(x) − cos(x)
−1
cos(x)
1 − z2
Z
1 + z2 2
= 2 · dz
2z 1 − z 1 + z2
−
1 + z2 1 + z2
1 − z2
Z
2
= · dz
z + 2z − 1 1 + z 2
2
1 − z2
Z
= 2 dz
(z 2 + 2z − 1) · (1 + z 2 )
Perceba que
√ √
(z 2 + 2z − 1) · (1 + z 2 ) = (z + 1 − 2) · (z + 1 + 2) · (z 2 + 1).
1 − z2 A B Cz + D
2 2 =
√ + √ + 2 .
(z + 2z − 1) · (1 + z ) z+1− 2 z+1+ 2 z +1
5
Agora
1 − z2 A B Cz + D
2 2 =
√ + √ + 2
(z + 2z − 1) · (1 + z ) z+1− 2 z+1+ 2 z +1
2
√ 2
1−z A · (z + 1 + 2) · (z + 1)
⇐⇒ 2 2 = +
(z + 2z − 1) · (1 + z ) (z 2 + 2z − 1) · (1 + z 2 )
√
B · (z + 1 − 2) · (z 2 + 1)
+
(z 2 + 2z − 1) · (1 + z 2 )
(Cz + D) · (z 2 + 2z − 1)
(z 2 + 2z − 1) · (z 2 + 1)
√ √
⇐⇒ 1 − z 2 = (A + B + C)z 3 + ((1 + 2)A + (1 − 2)B + 2C + D)z 2
√ √
+ (A + B − C + 2D)z + ((1 + 2)A + (1 − 2)B − D)
A+B √ + C = 0, √
(1 + 2)A + (1 − 2)B + 2C + D = −1,
⇐⇒
A+B √ − C + 2D =√0 e
(1 + 2)A + (1 − 2)B − D = 1
A+B √ + C = 0, √
(1 + 2)A + (1 − 2)B + 2C + D = −1,
⇐⇒
2C − 2D = 0 e
2C + 2D = −2
C = −1/2, D = −1/2,
⇐⇒ A+B √ = 1/2 e √
(1 + 2)A + (1 − 2)B = 1/2,
Esta aula introduz o estudo das funções hiperbólicas, com suas definições, gráficos e pro-
priedades. Adiante, será justificado o ajetivo hiperbólico para estas funções. Para o que segue,
lembre que
ex > 1 se x > 0, 0 < ex < 1 se x < 0,
lim ex = +∞ e lim ex = 0+
x→+∞ x→−∞
1
2
∗ Dado x ∈ R, tem-se
− e−x < e−x , o que dá − e−x + ex < e−x + ex .
Logo,
ex − e−x ex + e−x
< , ou seja, senh(x) < cosh(x).
2 2
Daı́,
senh(−x) < cosh(−x), isto é, − senh(x) < cosh(x).
Assim,
− cosh(x) < senh(x) < cosh(x).
∗ A função seno hiperbólico é de classe C ∞ em R com
ex + e−x
senh0 (x) = = cosh(x) ∀x ∈ R,
2
Daı́, senh é estritamente crescente em R.
∗ A função cosseno hiperbólico é de classe C ∞ em R com
ex − e−x
cosh0 (x) = = senh(x) ∀x ∈ R.
2
Daı́, cosh é estritamente crescente em [0, +∞) e é estritamente decrescente em (−∞, 0].
∗ Das duas propriedades anteriores segue que
senh00 (x) = senh(x) ∀x ∈ R e cosh00 (x) = cosh(x) ∀x ∈ R.
Logo, senh é estritamente côncava em (−∞, 0], senh é estritamente convexa em [0, +∞)
e cosh é estritamente convexa em R.
∗ Dado x ∈ R, tem-se
2 x 2
e + e−x e − e−x
x
2 2
cosh (x) − senh (x) = −
2 2
e2x +2 + e−2x e2x −2 + e−2x
= −
4 4
2 2
= + = 1,
4 4
ou seja,
cosh2 (x) − senh2 (x) = 1.
Isto diz que, dado x ∈ R, como cosh(x) ≥ 1, o par ordenado (cosh(x), senh(x))
pertence ao ramo direito da hipérbole de equação
u2 − v 2 = 1
no plano cartesino, conforme a figura 1.
∗ Como
lim ex = +∞, lim ex = 0, lim e−x = 0 e lim e−x = +∞,
x→+∞ x→−∞ x→+∞ x→−∞
3
segue que
ex − e−x
lim senh(x) = lim = +∞,
x→+∞ x→+∞ 2
e − e−x
x
lim senh(x) = lim = −∞,
x→−∞ x→−∞ 2
e + e−x
x
lim cosh(x) = lim = +∞ e
x→+∞ x→+∞ 2
e + e−x
x
lim cosh(x) = lim = +∞.
x→−∞ x→−∞ 2
Articulando as informações, obtidas até aqui, obtem-se os gráficos de senh e cosh como
mostrados na figura 2.
∗ Dado x ∈ R,
Daı́, dados x, y ∈ R,
e(x+y) − e−(x+y) 1
= · ex+y − e−x−y =
senh(x + y) =
2 2
1
= · ex · ey − e−x · e−y
2
1
= · cosh(x) + senh(x) · cosh(y) + senh(y)
2
− cosh(x) − senh(x) · cosh(y) − senh(y)
1
= · cosh(x) · cosh(y) + cosh(x) · senh(y)
2
+ senh(x) · cosh(y) + senh(x) · senh(y)
− cosh(x) · cosh(y) + cosh(x) · senh(y)
+ senh(x) · cosh(y) − senh(x) · senh(y)
= senh(x) · cosh(y) + cosh(x) · senh(y),
ou seja,
Além disso,
e(x+y) + e−(x+y) 1
= · ex+y + e−x−y =
cosh(x + y) =
2 2
1
= · ex · ey + e−x · e−y
2
1
= · cosh(x) + senh(x) · cosh(y) + senh(y)
2
+ cosh(x) − senh(x) · cosh(y) − senh(y)
1
= · cosh(x) · cosh(y) + cosh(x) · senh(y)
2
+ senh(x) · cosh(y) + senh(x) · senh(y)
+ cosh(x) · cosh(y) − cosh(x) · senh(y)
− senh(x) · cosh(y) + senh(x) · senh(y)
= cosh(x) · cosh(y) + senh(x) · senh(y),
ou seja,
cosh(x + y) = cosh(x) · cosh(y) + senh(x) · senh(y).
∗ Do conjunto anterior de propriedades, dado x ∈ R, tem-se
senh(2x) = 2 · senh(x) · cosh(x) e cosh(2x) = cosh2 (x) + senh2 (x).
Assim, como 1 = cosh2 (x) − senh2 (x), segue-se que
2 · cosh2 (x) = cosh(2x) + 1 e 2 · senh2 (x) = cosh(2x) − 1.
Logo,
cosh(2x) + 1 cosh(2x) − 1
cosh2 (x) = e senh2 (x) = .
2 2
∗ Veja que
Z Z
senh(x) dx = cosh(x) + C e cosh(x) dx = senh(x) + C.
u5 u3
= − +C
5 3
cosh5 (x) cosh3 (x)
= − + C.
5 3
7
Soluçao. Tem-se
Z
cosh(2x) − 1
Z
2 2 cosh(2x) + 1
senh (x) · cosh (x) dx = · dx
2 2
Z
1
= (cosh2 (2x) − 1) dx
4
Z Z
1 2 1
= cosh (2x) dx − 1 dx
4 4
Z Z
1 cosh(4x) + 1 1
= dx − 1 dx
4 2 4
Z Z Z
1 1 1
= cosh(4x) dx + 1 dx − 1 dx
8 8 4
senh(4x) x x
= + − +C
32 8 4
senh(4x) x
= − +C
32 8
Definição 3. A função tangente hipérbólica é a função denotada por tgh e definida por
senh
tgh := .
cosh
Desta definição, seguem as seguintes propriedades.
∗ O domı́nio da tangente hiperbólica é dado por Dtgh = R. Além disso,
ex − e−x
senh(x) ex − e−x
tgh(x) = = x 2 −x = x em cada x ∈ R
cosh(x) e +e e + e−x
2
e, assim, tgh(0) = 0, tgh(x) < 0 se x < 0 e tgh(x) > 0 se x > 0.
∗ Dado x ∈ R, já foi demonstrado que
− cosh(x) < senh(x) < cosh(x).
Assim, sendo cosh(x) > 0,
senh(x)
−1 < < 1, isto é, − 1 < tgh(x) < 1.
cosh(x)
e, portanto, | tgh(x)| < 1.
∗ Como
lim ex = +∞ e lim ex = 0,
x→+∞ x→−∞
8
segue que
ex − e−x 1 − e−2x 1
lim tgh(x) = lim
x −x = lim −2x = =1 e
x→+∞ x→+∞ e + e x→+∞ 1 + e 1
x −x 2x
e −e e −1 −1
lim tgh(x) = lim x −x = lim 2x = = −1.
x→−∞ x→−∞ e + e x→−∞ e +1 1
Definição 4. A função secante hipérbólica é a função denotada por sech e definida por
1
sech := .
cosh
Desta definição seguem as seguintes propriedades.
∗ O domı́nio da secante hiperbólica é dado por Dsech = R. Além disso,
1 1 2
sech(x) = = x −x = x ∀x ∈ R
cosh(x) e +e e + e−x
2
e, assim, sech(0) = 1.
∗ Como cosh(x) ≥ 1 qualquer que seja x ∈ R, tem-se
0 < sech(x) ≤ 1 ∀x ∈ R.
∗ Como
lim cosh(x) = +∞ e lim cosh(x) = +∞,
x→+∞ x→−∞
tem-se
lim sech(x) = 0+ e lim sech(x) = 0+ .
x→+∞ x→−∞
∗ Dado x ∈ R, como
cosh2 (x) − senh2 (x) = 1,
tem-se
1 − tgh2 (x) = sech2 (x).
∗ Como
senh
tgh = ,
cosh
a função tangente hiperbólica é diferenciável valendo
senh0 (x) · cosh(x) − senh(x) · cosh0 (x)
tgh0 (x) =
cosh2 (x)
cosh(x) · cosh(x) − senh(x) · senh(x)
=
cosh2 (x)
cosh2 (x) − senh2 (x) 1
= 2 = 2 = sech2 (x) ∀x ∈ R.
cosh (x) cosh (x)
Sendo assim, a função tangente hiperbólica é estritamente crescente em R.
9
∗ Como
1
sech = ,
cosh
a função secante hiperbólica é diferenciável valendo
cosh0 (x) senh(x)
sech0 (x) = − 2 =−
cosh (x) cosh2 (x)
1 senh(x)
= − ·
cosh(x) cosh(x)
= − sech(x) · tgh(x) ∀x ∈ R.
Observação 2. Como
tgh0 (x) = sech2 (x) ∀x ∈ R,
sech0 (x) = − sech(x) · tgh(x) ∀x ∈ R e
sech2 (x) = 1 − tgh2 (x) ∀x ∈ R,
as técnicas de integração para resolução das integrais indefinidas
Z
tgm (x) · secn (x) dx, onde m, n ∈ N,
u3 u5
= − +C
3 5
tgh3 (x) tgh5 (x)
= − + C.
3 5
AULA 14
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
Definição 1. A função cotangente hipérbólica é a função denotada por ctgh e definida por
cosh
ctgh := .
senh
Desta definição, seguem as seguintes propriedades.
∗ O domı́nio da cotangente hiperbólica é dado por
Dctgh = { x ∈ R | senh(x) 6= 0 } = R∗ .
Além disso,
ex + e−x
cosh(x) ex + e−x
ctgh(x) = = x 2 −x = x em cada x 6= 0.
senh(x) e −e e − e−x
2
∗ Já foi demonstrado que
senh(x)
−1 < < 1 em cada x ∈ R.
cosh(x)
Assim,
cosh(x) cosh(x)
< −1 se x < 0 e > 1 se x > 0,
senh(x) senh(x)
isto é,
ctgh(x) < −1 se x < 0 e ctgh(x) > 1 se x > 0.
Portanto, | ctgh(x)| > 1 qualquer que seja x 6= 0.
∗ Como
lim ex = +∞ e lim ex = 0,
x→+∞ x→−∞
segue que
ex + e−x 1 + e−2x 1
lim ctgh(x) = xlim −x = lim −2x = = 1+ e
x→+∞ x→+∞ e − e x→+∞ 1 − e 1
x −x 2x
e +e e +1 1
lim ctgh(x) = lim x −x = lim 2x = = −1− .
x→−∞ x→−∞ e − e x→−∞ e −1 −1
Além disso, como
lim cosh(x) = 1, lim+ senh(x) = 0+ e lim− senh(x) = 0− ,
x→0 x→0 x→0
tem-se
cosh(x)
lim+ ctgh(x) = lim+ = +∞ e
x→0 x→0 senh(x)
cosh(x)
lim− ctgh(x) = lim− = −∞.
x→0 x→0 senh(x)
1
2
Definição 2. A função cossecante hipérbólica é a função denotada por csch e definida por
1
csch := .
senh
Desta definição, seguem as seguintes propriedades.
∗ O domı́nio da cossecante hiperbólica é dado por
Dcsch = { x ∈ R | senh(x) 6= 0 } = R∗ .
Além disso,
1 1 2
csch(x) = = x −x = x ∀x 6= 0,
senh(x) e −e e − e−x
2
csch(x) < 0 se x < 0 e csch(x) > 0 se x > 0.
∗ Como
lim senh(x) = +∞, lim senh(x) = −∞,
x→+∞ x→−∞
lim senh(x) = 0 +
e lim− senh(x) = 0− ,
x→0+ x→0
tem-se
1
lim csch(x) = lim = 0+ ,
x→+∞ x→+∞ senh(x)
1
lim csch(x) = lim = 0− ,
x→−∞ x→−∞ senh(x)
1
lim+ csch(x) = lim+ = +∞ e
x→0 x→0 senh(x)
1
lim− csch(x) = lim− = −∞.
x→0 x→0 senh(x)
∗ Como
cosh
ctgh = ,
senh
a função cotangente hiperbólica é diferenciável valendo
0 cosh0 (x) · senh(x) − cosh(x) · senh0 (x)
ctgh (x) =
senh2 (x)
senh(x) · senh(x) − cosh(x) · cosh(x)
=
senh2 (x)
senh2 (x) − cosh2 (x) 1
= 2 =− = − csch2 (x) ∀x 6= 0.
senh (x) senh2 (x)
Sendo assim, a função cotangente hiperbólica é estritamente decrescente em (−∞, 0)
e é estritamente decrescente em (0, +∞). Articulando as diversas informações sobre a
funcão cotangente hiperbólica, até aqui obtidas, obtem-se o seu gráfico como o mostrado
na figura 1.
3
∗ Como
1
csch = ,
senh
a função cossecante hiperbólica é diferenciável valendo
senh0 (x) cosh(x)
csch0 (x) = − 2 =−
senh (x) senh2 (x)
1 cosh(x)
= − ·
senh(x) senh(x)
= − csch(x) · ctgh(x) ∀x 6= 0.
Sendo assim, a função cossecante hiperbólica é estritamente decrescente em (−∞, 0)
e é estritamente decrescente em (0, +∞). Articulando as diversas informações sobre a
funcão cotangente hiperbólica, até aqui obtidas, obtem-se o seu gráfico como o mostrado
na figura 2.
Exercı́cio 1. Estude a concavidade das funções hiperbólicas.
A função seno hiperbólico, senh : R −→ R, é estritamente crescente em R e, assim, ela é
injetiva. Além disso, como
lim senh(x) = +∞ e lim senh(x) = −∞,
x→+∞ x→−∞
4
tem-se, pelo Teorema do Valor Intermediário, que senh é sobrejetiva. Portanto, senh é in-
vertı́vel.
Definição 3. A função inversa da função senh : R −→ R é denominada função arco seno
hiperbólico, sendo denotada por arcsenh.
y = arcsenh(x) ⇐⇒ x = senh(y).
Por outro lado, com x = tg(u), tem-se dx = sec2 (u)du e, deste modo,
Z Z Z
1 1 2
√ dx = · sec (u) du = sec(u) du
x2 + 1 sec(u)
= ln | sec(u) + tg(u)| + C
√
= ln(| x2 + 1 + x|) + C
√
= ln( x2 + 1 + x) + C.
Daı́, existe uma constante C ∈ R tal que
√
arcsenh(x) = ln( x2 + 1 + x) + C ∀x ∈ R.
Em particular, √
arcsenh(0) = ln( 02 + 1 + 0) + C, isto é, C = 0.
Logo, √
arcsenh(x) = ln( x2 + 1 + x) ∀x ∈ R.
A função cosseno hiperbólico, cosh : R −→ R, não é injetiva nem sobrejetiva e, portanto,
não é invertı́vel. Entretanto, a função
icosh : [0, +∞) −→ [1, +∞),
dada por
icosh(x) = cosh(x) ∀x ∈ [0, +∞),
é injetiva, pois cosh é estritamente crescente em [0, +∞). Além disso, como icosh é contı́nua,
icosh(0) = 1 e lim icosh(x) = lim cosh(x) = +∞,
x→+∞ x→+∞
tem-se, pelo Teorema do Valor Intermediário, que icosh é sobrejetiva. Logo, icosh é invertı́vel.
Definição 4. A função inversa da função icosh : [0, +∞) −→ [1, +∞) é denominada função
arco cosseno hiperbólico, sendo denotada por arccosh.
y = arccosh(x) ⇐⇒ x = cosh(y).
Proposição 2. A função arco cosseno hiperbólico, arccosh : [1, +∞) −→ [0, +∞), é dife-
renciável em (1, +∞) valendo
1
arccosh0 (x) = √ qualquer que seja x ∈ (1, +∞).
x2 − 1
Demonstração. Dado x ∈ (1, +∞), tem-se arccosh(x) ∈ (0, +∞) e, portanto, a função icosh
é diferenciável em arccosh(x) com
1
2
Assim, em particular,
1 1+0
arctgh(0) = ln , isto é, C = 0.
2 1−0
Portanto,
1 1+x
arctgh(x) = ln ∀x ∈ (−1, 1).
2 1−x
A função cotangente hiperbólica, ctgh : R∗ −→ R, é injetiva mas não é sobrejetiva. Entre-
tanto, a função
ictgh : R∗ −→ (−∞, −1) ∪ (1, +∞),
dada por
ictgh(x) = ctgh(x) qualquer que seja x 6= 0,
é injetiva e sobrejetiva. Logo ictgh é invertı́vel.
Definição 2. A função inversa da função ictgh : R∗ −→ (−∞, −1) ∪ (1, +∞) é denominada
função arco cotangente hiperbólica, sendo denotada por arcctgh.
e, portanto,
1
arcsech(x) = arcsech
1/x
1
= arcsech
cosh(arccosh(1/x))
= arcsech (sech(arccosh(1/x)))
1
= arccosh .
x
1
arcsech0 (x) = − √ qualquer que seja x ∈ (0, 1).
x· 1 − x2
7
Demonstração. Dado x ∈ (0, 1), tem-se pela proposicão 3 e pela Regra da Cadeia, que arcsech
é diferenciável em x valendo
0 0 1 1
arcsech (x) = arccosh · − 2
x x
1 1
= −p · 2
(1/x)2 − 1 x
1 1 1 1
= −r · 2 = −s · 2
1 x x
1 − x2
2 −1
x x2
1 1 1
= −√ · 2 =− √ .
1 − x2 x x · 1 − x2
x
Deste corolário, segue que
Z
1
√ dx = − arcsech(|x|) + C.
x · 1 − x2
Corolário 4. Dado x ∈ (0, 1],
√ !
1+ 1− x2
arcsech(x) = ln .
x
y = arccsch(x) ⇐⇒ x = csch(y).
Proposição 4. Dado x ∈ R∗ ,
1
arccsch(x) = arcsenh .
x
e, portanto,
1
arccsch(x) = arccsch
1/x
1
= arccsch
senh(arcsenh(1/x))
= arccsch (csch(arcsenh(1/x)))
1
= arcsenh .
x
1
arccsch0 (x) = − √ qualquer que seja x ∈ R∗ .
|x| · 1 + x 2
Demonstração. Dado x ∈ R∗ , tem-se pela proposicão 4 e pela Regra da Cadeia, que arccsch é
diferenciável em x valendo
0 0 1 1
arccsch (x) = arcsenh · − 2
x x
1 1
= −p · 2
(1/x)2 + 1 x
1 1 1 1
= −r · 2 = −s · 2
1 x x
+ 1 1 + x2
x2 x2
1 1 1
= −√ · 2 =− √ .
1 + x2 |x| |x| · 1 + x2
|x|
Corolário 6. Dado x ∈ R∗ ,
√ !
1 1 − x2
arccsch(x) = ln + .
x |x|
10
e, portanto,
Z cosh(x) √
|Ω1 | = u2 − 1 du
1
arccosh(cosh(x)) x
cosh(2z) − 1
Z Z
2
= senh (z) dz = dz
arccosh(1) 0 2
x
senh(2z) z senh(2x) x
= − = −
4 2 0 4 2
senh(x) · cosh(x) x
= − .
2 2
Assim, a área do “setor hiperbólico” Ω é dado por
|Ω| = área(∆OP Q) − |Ω1 |
senh(x) · cosh(x) senh(x) · cosh(x) x x
= − − = .
2 2 2 2
Temos, portanto, uma analogia ao que ocorre no cı́rculo trigonométrico, onde a área do setor
circular, correspondente ao ângulo de medida x radianos, é ı́gual a x/2.
11
b
F IGURA 1. Segmento de gráfico Gf e poligonal HP .
a
1
2
tais que
f (x1 ) − f (x0 ) = f 0 (c1 ) · (x1 − x0 ),
f (x2 ) − f (x1 ) = f 0 (c2 ) · (x2 − x1 ),
··· ,
f (xn ) − f (xn−1 = f 0 (cn ) · (xn − xn−1 ).
e, portanto,
p
|HP | = (x1 − x0 )2 + (f 0 (c1 ))2 · (x1 − x0 )2 +
p
(x2 − x1 )2 + (f 0 (c2 ))2 · (x2 − x1 )2 +
··· +
p
(xn − xn−1 )2 + (f 0 (cn ))2 · (xn − xn−1 )2 ,
isto é,
p p
|HP | = 1 + (f 0 (c1 ))2 · ∆x1 + · · · + 1 + (f 0 (cn ))2 · ∆xn
Xn Xp
p
= 1 + (f 0 (ci ))2 · ∆xi =: 1 + (f 0 (ci ))2 · ∆xi .
i=1 P
Assim, HP torna-se uma Soma de Riemann da função g, sobre o intervalo [a, b], relativa à
partição P com coeficientes c1 , . . . , cn , onde g : I −→ R é a função contı́nua dada por
p
g(x) = 1 + (f 0 (x))2 qualquer que seja x ∈ I.
Deste modo, g é integrável a Riemman em [a, b], ou seja, existe
Z bp Xp
1 + (f 0 (x))2 dx := lim 1 + (f 0 (ci ))2 · ∆xi = lim |HP |.
a |P|→0 |P|→0
P
e, assim,
Z √ Z Z
2
1+ u2 du = sec(θ) · sec (θ) dθ = sec3 (θ) dθ
1 1
= sec(θ) · tg(θ) + ln(| sec(θ) + tg(θ)|) + C
2 2
1 √ 1 √
= u 1 + u2 + ln(|u + 1 + u2 |) + C
2 2
1 √ 1 √
= u 1 + u2 + ln(u + 1 + u2 ) + C.
2 2
Portanto, voltando ao objetivo principal,
1 2√
1
Z
Lf = 1 + u2 du
0 2 0
2
1 √ √
2
1 2
= u 1 + u + ln(u + 1 + u )
4 4 0
1√ 1 √
= 5 + ln(2 + 5) u.c.
2 4
2
Z 2 p Z 2 q
Lg = 1+
dx = (g 0 (x))2 1 + senh2 (x) dx
0 0 0
Z 2q Z 2
= cosh2 (x) dx = cosh(x) dx
0 0
2
= senh(x) = senh(2) u.c.
0
x5 1
f (x) = + 3 , ao longo do intervalo [1, 2]?
10 6x
4
o que dá,
x x
ρ ρ
arcsenh(f (u)) = u , isto é, arcsenh(f 0 (x)) = x,
0
0 H 0 H
0
pois f (0) = 0, por conta da disposição do eixo horizontal. Deste modo,
ρ
0
f (x) = senh x
H
6
e, portanto,
H ρ
f (x) = cosh x + C.
ρ H
Se o eixo horizontal for disposto de modo que f (0) = H/ρ, então
H ρ
f (x) = cosh x .
ρ H
Isto diz que a disposição de um cabo homogêneo suspenso, e sujeito apenas à ação da gravidade,
é descrita pelo cosseno hiperbólico.
Sejam a, b ∈ R, com a < b, f uma função de classe C 1 em [a, b], com f (x) ≥ 0 qualquer
que seja x ∈ [a, b] e S a superfı́cie de revolução obtida pela rotação do segmento de gráfico de
f , ao longo de [a, b], em torno do eixo das abscissas. O objetivo desta aula é definir a área da
superfı́cie de revolução S e apresentar um método para calculá-la.
2πR 2πr
= , o que dá Rh = rH.
H h
1
2
Portanto,
2πRH 2πrh
|Γ| = área(Γ) = −
2 2
= π(RH − rh) = π(RH − Rh + rH − rh)
= π (R(H − h) + r(H − r)) = π(R + r)(H − h)
R+r
= 2π · g = 2πrg
2
onde r é o raio medio e g é a geratriz do tronco de cone. Esta fórmula diz que a área de Γ é a
área de um retângulo com base 2πr e altura g.
(a, f (a)) = (x0 , f (x0 )), (x1 , f (x1 )), . . . , (xn , f (xn )) = (b, f (b)),
Exemplo 1. Como encontrar a área da superfı́cie de revolução S obtida pelo rotação, em torno
do eixo das abscissas, do segmento de gráfico da função f (x) = x3 , ao longo do intervalo
[0, 1]?
Soluçao. Pela definição 1, tem-se
Z 1 p Z 1 p
|S| = 2π 0 2
f (x) 1 + (f (x)) dx = 2π x3 1 + (3x2 )2 dx
0 0
Z 1 √ Z 1
2π
= 2π x3 1 + 9x4 dx = (1 + 9x4 )1/2 · 36x3 dx
0 36 0
4 3/2 1 √
π (1 + 9x ) π
= · = · (10 10 − 1) u.a.
18 3/2 0 27
4
Suponha, agora, que a, b, c, d ∈ R, com a < b e c < d, e f : [a, b] −→ [c, d] é uma função
invertı́vel e de classe C 1 , com f 0 (x) > 0 qualquer que seja x ∈ [a, b] ou f 0 (x) < 0 qualquer que
seja x ∈ [a, b]. Então, pelo Teorema da Função Inversa, f −1 é diferenciável com
1
(f −1 )0 (y) = 0 −1 qualquer que seja y ∈ [c, d].
f (f (y))
Assim, com a mudança de variável x = f −1 (y) tem-se, no caso em que f 0 (x) > 0 qualquer que
seja x ∈ [a, b],
Z b s
1 0
|S| = 2π x 1+ 0 2 f (x) dx
a (f (x))
Z b s
1 0
= 2π x 1+ 0 2 |f (x)| dx
a (f (x))
Z b p
= 2π x 1 + (f 0 (x))2 dx,
a
Esta nova fórmula faz necessária uma leitura e uma interpretação (mais) abrangentes da fórmula
apresentada na definição 1, que gera a seguinte conclusão: sendo S a superfı́cie de revolução
obtida pela rotação, em torno de um eixo “horizontal” ou um eixo “vertical”, do gráfico de f no
intervalo [a, b], tem-se
Z β
|S| = 2π ρ · ds,
α
onde ρ(x) é o raio de rotação do ponto (x, f (x)) em relação ao eixo de rotação e s é o compri-
mento de arco, isto é,
s 2 q s 2 q
ds dy 2 ds dx
= 1+ = 1 + (f 0 (x)) ou = 1+ = 1 + ((f −1 )0 (y))2 ,
dx dx dy dy
6
s 2 s 2
Z b Z d
dy dx
|S| = 2π |y − k| 1 + dx = 2π |y − k| 1 + dy
a dx c dy
Z b q Z d q
2
= 2π 0
|f (x) − k| 1 + (f (x)) dx = 2π |y − k| 1 + ((f −1 )0 (y))2 dy.
a c
7
Exemplo 3. Como encontrar área da superfı́cie de revolução obtida pela rotação, em torno do
eixo das ordenadas, do gráfico da função f (x) = x2 , no intevalo [1, 2]?
Soluçao. Seja S a referida superfı́cie. Para cada x ∈ [1, 2], o raio de rotação, ρ(x), do ponto
(x, f (x)) em torno do eixo das ordenadas é dado por ρ(x) = x. Assim
Z 2 Z 2 p
|S| = 2π ρ(x) ds = 2π x 1 + (f 0 (x))2 dx
1 1
Z 2 √
π 2
Z
= 2π 2
x 1 + 4x dx = (1 + 4x2 )1/2 · 8x dx
1 4 1
2 3/2 2 √ √
π (1 + 4x ) π
= · = 17 17 − 5 5 u.a.
4 3/2 1 6
AULA 18
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
Esta aula aborda e estuda as integrais impróprias. Sejam a ∈ R e f uma função contı́nua em
[a, +∞). Dado u ∈ [a, +∞), f é integrável a Riemann em [a, u] e, por definiçao, existe e é um
número real a integral definida Z u
f (x) dx.
a
1
2
e dizemos que a integral imprópria de f , em (−∞, a], diverge no caso contrário, isto é, quando
Z a Z a Z a
f (x) dx = +∞, f (x) dx = −∞ ou f (x) dx não existe.
−∞ −∞ −∞
converge ou diverge?
Soluçao. Dado u ≥ 0, tem-se
Z u
1 u 1 u 2
Z Z
x 1
2 2 dx = 2 2 · 2x dx = (x + 1)−2 · 2x dx
0 (x + 1) 2 0 (x + 1) 2 0
2 −1 u u
1 (x + 1) 1 1
= · =− · 2
2 −1 0 2 x +1 0
1 1 1
= − · 2 + .
2 u +1 2
Portanto,
Z u
x 1 1 1 1
lim 2 2 dx = lim − · 2 + = .
u→+∞ 0 (x + 1) u→+∞ 2 u +1 2 2
Daı́, pela definição 1, a integral imprópria
Z +∞ Z +∞ Z u
x x x 1
2 2 dx converge com 2 2 dx = u→+∞
lim 2 2 dx = .
0 (x + 1) 0 (x + 1) 0 (x + 1) 2
3
Observação 1. Dado p ∈ R, com p 6= 1, tem-se
x−p+1
Z Z
1 −p 1 1
p dx = x dx = +C = · p−1 + C.
x −p + 1 1−p x
Assim, dados p 6= 1 e u ≥ 1, tem-se
Z u u
1 1 1 1 1
p dx = · = −1
1 x 1 − p xp−1 1 1 − p up−1
e, portanto,
Z u ( 1
1 1 1 p − 1 se p > 1,
lim p dx = lim p−1 −1 =
u→+∞ 1 x u→+∞ 1 − p u +∞ se p < 1.
Não deixando de observar que
Z u x u
1
lim dx = lim ln(|x|) = lim ln(x) = lim ln(u) = +∞,
u→+∞ 1 x u→+∞ u→+∞ u→+∞
1 1
tem-se que a integral imprópria
Z +∞ Z +∞
1 1 1
dx converge, com p dx = , se p > 1,
1 xp 1 x p−1
e que a integral imprópria
Z +∞ Z +∞
1 1
dx diverge, com dx = +∞, se p ≤ 1.
1 xp 1 xp
Observação 2. Dados p ∈ R e f uma função, vale a pena lembrar que, com relação ao limite
da função f no número real p, há exatamente quatro excludentes possibilidades:
lim f (x) é um número real, lim f (x) = +∞, lim f (x) = −∞ ou lim f (x)
x→p x→p x→p x→p
4
Tenha em mente a validade desta observação, também, para limites laterias e para limites no
infinito.
Proposição 1. Sejam a, b, com a < b, e f uma função contı́nua em [a, +∞). A integral
imprópria
Z +∞
f (x) dx converge se, e somente se,
a
a integral imprópria
Z +∞
f (x) dx converge.
b
Além disso, se uma das integrais impróprias converge, então
Z +∞ Z b Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a b
Demonstração. Sejam a, b, com a < b, e f uma função contı́nua em [a, +∞). Dado u ≥ a
tem-se Z u Z b Z u
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a b
Observe que a integral definida
Z b
f (x) dx é constante.
a
Portanto, se Z u
lim f (x) dx é um número real
u→+∞ a
então
Z u Z b Z u
lim f (x) dx = lim − f (x) dx + f (x) dx
u→+∞ b u→+∞ a a
Z b Z u
= − lim f (x) dx + lim f (x) dx
u→+∞ a u→+∞ a
Z b Z u
= − f (x) dx + lim f (x) dx,
a u→+∞ a
então
Z u Z b Z u
lim f (x) dx = lim f (x) dx + f (x) dx
u→+∞ a u→+∞ a b
Z b Z u
= lim f (x) dx + lim f (x) dx
u→+∞ a u→+∞ b
Z b Z u
= f (x) dx + lim f (x) dx,
a u→+∞ b
Analogamente tem-se a seguinte proposição.
Proposição 2. Sejam a, b, com a < b, e f uma função contı́nua em (−∞, b]. A integral
imprópria
Z a
f (x) dx converge se, e somente se,
−∞
a integral imprópria
Z b
f (x) dx converge.
−∞
Além disso, se uma das integrais impróprias converge, então
Z b Z a Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
−∞ −∞ a
Definição 3. Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma função contı́nua em [a, b) de modo que
Z u
lim− f (x) não é um número real. O limite lim− f (x) dx,
x→b u→b a
Está claro??!!
De modo análogo temos seguinte definição.
Definição 4. Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma função contı́nua em (a, b] de modo que
Z b
lim+ f (x) não é um número real. O limite lim+ f (x) dx,
x→a u→a u
Rb Ra
F IGURA 2. A integral imprópria a f (x) dx := limu→a+ u f (x) dx, conver-
gindo, é a área finita da região ilimitada
Ω := { (x, y) | a < x ≤ b e 0 ≤ y ≤ f (x) }
Dizemos que a integral imprópria de f , em (a, b], converge e que f é integrável em (a, b] quando
Z b
f (x) dx é um número real,
a
e dizemos que a integral imprópria de f , em (a, b], diverge no caso contrário.
Exemplo 3. A integral imprópria Z 3
1
√
3
dx
2 x−3
converge ou diverge?
Soluçao. Perceba que, de fato, trata-se de uma integral imprópria, pois a função integrando
1
f (x) = √ 3
é contı́nua em [2, 3) e lim− f (x) = −∞.
x−3 x→3
e, portanto, f 0 (x) < 0 qualquer que seja x ∈ (0, 1). Logo f é estritamente decrescente em [0, 1].
Como f é contı́nua em [0, 1],
lim+ f 0 (x) = +∞ e lim− f 0 (x) = 0,
x→0 x→1
segue pelo Teorema do Valor Médio que f é diferenciável em 1, com f 0 (1− ) = 0, e f não é
diferenciável em 0, com f 0 (0+ ) = +∞. Daı́, a reta tangente em 0 é vertical. Agora, dado
u ∈ (0, 1], o comprimento do segmento de gráfico de f , no intervalo [u, 1] é dado por
s v !2
1 Z 1 2 Z 1u 1/3
dy u
t1 + − y
Lf = 1+ dx = dx
u u dx u x1/3
s s
Z 1 Z 1
y 2/3 x2/3 + y 2/3
= 1 + 2/3 dx = dx
u x u x2/3
Z 1
1
Z 1
x2/3
1
3 2/3
1
3 √
3
−1/3 2 .
= 1/3
dx = x dx = = · x = 1 − u
u x u 2/3 u 2 u 2
Logo o comprimento do segmento de gráfico de f em [0, 1] é dado por
1 1
3 √3
3
Lf = lim+ Lf = lim+ 1− u = , 2
0 u→0 u u→0 2 2
ou seja, o comprimento segmento de gráfico de f em [0, 1] é dado, em termos de uma integral
imprópria, por
s
1 Z 1 2 Z 1
dy 1
Lf = 1+ dx = 1/3
dx.
0 0 dx 0 x
Exercı́cio 1. Use o exemplo anterior para esboçar a curva
√3
p
x2 + 3 y 2 = 1
e encontre o seu comprimento total.
Observação 4. Dado p ∈ R, com p 6= 1, tem-se
x−p+1
Z Z
1 −p 1 1
p dx = x dx = +C = · p−1 + C.
x −p + 1 1−p x
Assim, dados p 6= 1 e 0 < u ≤ 1, tem-se
Z 1 1
1 1 1 1 1
p dx = · p−1 = 1−
u x 1−p x u 1−p up−1
e, portanto,
(
Z 1
1 1
1
1
lim+ p dx = lim+ 1− = 1 − p se p < 1,
u→0 u x u→0 1 − p up−1 +∞ se p > 1.
10
Proposição 1. Sejam a, b, c ∈ R, com a < b < c, e f uma função contı́nua em [a, c) de modo
que
lim− f (x) não é um número real.
x→c
A integral imprópria
Z c Z c
f (x) dx converge se, e somente se, a integral imprópria f (x) dx
a b
1
2
Esta proposição permite a seguinte definição.
Definição 2. Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma função contı́nua em (a, b) de modo que cada
um dos limites
lim+ f (x) e lim− f (x) não é um número real.
x→a x→b
Dizemos que f é integrável em (a, b) quando existe c ∈ (a, b) tal que as integrais impróprias
Z c Z b
f (x) dx e f (x) dx convergem.
a c
Neste caso, a soma
Z c Z b
f (x) dx + f (x) dx
a c
Dizemos que f é integrável em (a, +∞) quando existe c ∈ (a, +∞) tal que as integrais
impróprias
Z c Z +∞
f (x) dx e f (x) dx convergem.
a c
Soluçao. Tem-se
Z 2 2 2
1
lim+ √ dx = lim+ arcsec(|x|) = lim+ arcsec(x)
u→1 u x x2 − 1 u→1 u u→1 u
= lim+ (arcsec(2) − arcsec(u)) = arcsec(2) e
u→1
Z u u u
1
lim √ dx = lim arcsec(|x|) = lim arcsec(x)
u→+∞ 2 x x2 − 1 u→+∞
2
u→+∞
2
π
= lim (arcsec(u) − arcsec(2)) = − arcsec(2).
u→+∞ 2
Daı́, pela definição 3, f é integrável em (1, +∞) valendo
Z +∞ Z 2 Z +∞
1 1 1
√ dx = √ dx + √ dx
1 x x2 − 1 2
1 x x −1 2 x x2 − 1
π π
= arcsec(2) + − arcsec(2) = .
2 2
A proposição 5 possui a seguinte variação.
Proposição 6. Sejam a ∈ R e f uma função contı́nua em (−∞, a) de modo que
lim− f (x) não é um número real.
x→a
Dizemos que f é integrável em (−∞, a) quando existe c ∈ (−∞, a) tal que as integrais
impróprias
Z c Z a
f (x) dx e f (x) dx convergem.
−∞ c
Neste caso, a soma
Z c Z a
f (x) dx + f (x) dx
−∞ c
8
Agora serão enunciados, sem demonstração, testes de comparação para integrais impróprias.
R +∞ R +∞
F IGURA 1. Se a
g(x) dx converge então a
f (x) dx converge.
Se a integral imprópria
Z +∞ Z +∞
f (x) dx diverge, então a integral imprópria g(x) dx diverge.
a a
Se a integral imprópria
Z a Z a
f (x) dx diverge, então a integral imprópria g(x) dx diverge.
−∞ −∞
9
Proposição 10. Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f, g funções contı́nuas em (a, b] tais que
lim+ f (x) e lim+ g(x)
x→a x→a
não são números reais, e
0 ≤ f (x) ≤ g(x) qualquer que seja x ∈ (a, b].
Se a integral imprópria
Z b Z b
g(x) dx converge, então a integral imprópria f (x) dx converge.
a a
Se a integral imprópria
Z b Z b
f (x) dx diverge, então a integral imprópria g(x) dx diverge.
a a
Nesta aula é introduzido o sistema de coordenadas polares. Antes, porém, é definida a função
gamma que estende, ao intervalo (−1, +∞), o conceito de fatorial para os números naturais.
Exemplo 1. Dado c > 0 e a ∈ R, tem-se
Z u
1 u −cx
Z
−cx
lim e dx = lim − e ·(−c) dx
u→+∞ a u→+∞ c a
u
1 −cx
= lim − e
u→+∞ c a
1 −cu −ca
= lim − e −e
u→+∞ c
−ca
1 −ca e
= − 0−e = .
c c
Assim, a integral imprópria
Z +∞ Z +∞ −ca
−cx −cx e
e dx converge com e dx = .
a a c
Observação 1. Dados a > 0 e p ∈ R, tem-se
xp
lim = 0.
x→+∞ eax
1
2
Como e−x < 1 qualquer que seja x ∈ (0, +∞), tem-se que
0 < e−x xp < xp qualquer que seja x ∈ (0, 1].
Daı́, a integral imprópria
Z 1
e−x xp dx converge
0
e, portanto, a integral imprópria
Z +∞
e−x xp dx converge.
0
Deste modo, fica prova que a integral imprópria
Z +∞
e−x xp dx converge qualquer que seja p > −1.
0
3
Definição 1 (Função Gama). A função gama é a funçao denotada por Γ e definida por
Z +∞
Γ(p) = e−x xp dx qualquer que seja p > −1.
0
Z +∞ Z u
−x
Γ(p) = p
e x dx = lim e−x xp dx
0 u→+∞
u Z u0
−x p −x p−1
= lim − e x + p e x dx
u→+∞ 0
0
Z u
−u p −x p−1
= lim − e u + p e x dx
u→+∞ 0
p Z u
u −x p−1
= lim − u + p e x dx
u→+∞ e 0
Z +∞
= p e−x xp−1 dx = p · Γ(p − 1).
0
e
Z 1 Z 1
−x
e p
x dx = lim+ e−x xp dx
0 u→0 u
!
1 Z 1
= lim+ − e−x xp +p e−x xp−1 dx
u→0 u u
Z 1
1 −u p −x p−1
= lim+ − + e u + p e x dx
u→0 e u
Z 1
1 up
−x p−1
= lim+ − + u + p e x dx
u→0 e e u
Z 1
1
= − +p e−x xp−1 dx.
e 0
Deste modo,
Z +∞ Z 1 Z +∞
−x −x
Γ(p) = e p
x dx = x dx + e−x xp dx
e p
0 0 1
Z 1 Z +∞
1 1
= − +p e−x xp−1 dx + + p e−x xp−1 dx
e 0 e 1
Z +∞
= p e−x xp−1 dx = p · Γ(p − 1).
0
Portanto, está provado que
Γ(p) = p · Γ(p − 1) qualquer que seja p > 0.
∗ Pela propriedade anterior, dado n ∈ N∗ ,
Γ(n) = nΓ(n − 1) = · · · = n(n − 1) · · · Γ(0) = n!
Deste modo, a função Γ estende, ao intervalo (−1, +∞), a função fatorial definida no
conjunto N dos números naturais.
∗ Observe ainda que, dado p > 0, tem-se (dpe − 1) < p ≤ dpe e
Γ(p) = p(p − 1)(p − 2) · · · Γ(p − dpe)
onde (p − dpe) ∈ (−1, 0]. Isto diz que o conhecimento da função Γ no intervalo (−1, 0]
determina o seu conhecimento no intervalo (−1, +∞).
∗ É possı́vel demonstrar que a função Γ é diferenciável e, portanto, contı́nua com
Z +∞
0
Γ (p) = e−x xp ln(x) dx qualquer que seja p > −1.
0
Convém observar que, um pouco diferente do feito nesta aula, a literatura apresenta a seguinte
definição para a Função Gamma. Observe que, com pequenas modifições sobre p, tudo o que
foi feito até aqui permanece válido.
Definição 2 (Função Gama). A função gama é a funçao denotada por Γ e definida por
Z +∞
Γ(p) = e−x xp−1 dx converge qualquer que seja p > 0.
0
5
Agora será apresentada, como uma opção ao sistema de coordenadas cartesianas, um outro
método para situar e localizar pontos num plano, denominado sistema de coordenadas polares.
Um sistema de coordenadas polares, num plano, consiste numa semirreta nesse plano, deno-
minada semieixo polar, com origem num ponto O, denominado polo, onde a posição de cada
ponto P nesse plano é dada por um par ordenado (r, θ), sendo r a distância desse ponto ao polo
O e θ a medida, em radianos, do ângulo orientado
−→
do semieixo polar à semireta OP , conforme a figura 1.
Para isso, é necessário que esteja definida uma unidade de medida no semieixo polar. O par
(r, θ), assim definido, é chamado par de coordenadas polares do ponto P , r é denominado
raio polar e θ é denominado ângulo polar. Um plano munido de um sistema de coordenadas
polares é denominado plano polar.
√No plano polar esboçado na figura 2, (4, 0) é par de coordenadas polares do ponto A,
(4 2, π/4) é par de coordenadas polares do ponto B, (6, π/2) é par de coordenadas polares
do ponto C, (6, 2π/3) √ é par de coordenadas polares do ponto E, (6, π) é par de coordenadas
polares do ponto D, (3 2, 5π/4) é par de coordenadas polares do ponto F , (5, 3π/2) é par de
coordenadas polares do ponto G e (5, −π/6) é par de coordenadas polares do ponto H, por
exemplo. Ainda com relação à figura 2, observe que (5, 11π/6) também é par coordenadas
polares do ponto H.
Em verdade, se (r, θ) é par de coordenadas polares de um ponto P , então (r, θ + 2kπ) é,
também, par de coordenadas polares de P qualquer que seja k ∈ Z. Isto diz que cada ponto
possui, num plano polar, infinitos pares de coordenadas polares. Assim, dado um ponto P , não
faz sentido escrever a igualdade
P = (r, θ), onde (r, θ) é par de coordenadas polares de P ,
6
isto é, não é permitido identificar um ponto com um par de coordenadas polares. Este tipo de
identificação é possı́vel num plano munido de um sistema de coordenadas cartesianas, porque,
nesse sistema, a cada ponto desse plano, corresponde um único par de números reais, e a cada
par de números reais, corresponde um único ponto desse plano.
Além disso, perceba que se P é um ponto num plano polar, distinto da sua origem, (r, θ) é
par de coordenadas polares de P e é dada um orientação à reta
←→ −→
OP , sendo OP a sua semirreta positiva,
então (−r, θ) é par de coordenadas polares do ponto Q, simétrico do ponto P em relação ao polo
O, sendo essa situação esboçada na figura 3. Assim, seguindo este princı́pio, como (r, θ + π)
é par de coordenadas polares de Q, segue que (−r, θ + π) é par de coordenadas polares de P .
Portanto,
((−1)k r, θ + kπ) é par de coordenadas polares de P qualquer que seja k ∈ Z.
√
Logo, com relação à figura 2, (−4, π) é par de coordenadas polares do ponto A, (−4 2, 5π/4)
é par de coordenadas polares do ponto B, (−6, 3π/2) é par de coordenadas polares do ponto
C, (−6, 5π/3) é par de √ coordenadas polares do ponto E, (−6, −2π) é par de coordenadas
polares do ponto D, (−3 2, π/4) é par de coordenadas polares do ponto F , (−5, π/2) é par
de coordenadas polares do ponto G e (−5, 5π/6) é par de coordenadas polares do ponto H, por
exemplo.
Vale a pena observar que se (r, θ) é par de coordenadas polares de P então
((−1)k r, θ + kπ) | k ∈ Z
é o conjunto das coordenadas polares de P , isto é, P não possui par de coordenadas polares que
não faça parte deste conjunto.
Exemplo 3. A curva polar descrita pela equação r = θ, cujo esboço aparece na figura 6, é
denominada espiral de Arquimedes.
Exemplo 4. A curva polar descrita pela equação r = eθ , cujo esboço aparece na figura 7, é
denominada espiral exponencial.
9
Nesta aula dá-se continuidade ao estudo das curvas polares. Entretanto, primeiro perceba a
seguinte observação.
Observação 1. Num plano polar, (0, θ) é par de coordenadas do seu polo qualquer que seja
θ ∈ R.
Exemplo 1. Como fica a equação da reta em coordenadas polares?
Soluçao. Cada reta s, no plano cartesiano, tem equação cartesiana dada por
ax + by + c = 0, onde a, b, c ∈ R com a 6= 0 ou b 6= 0.
Portanto, em coordenadas polares, s tem equação
ar cos(θ) + br sen(θ) + c = 0, ou seja, r(a cos(θ) + b sen(θ)) = −c.
Se a 6= 0 tem-se
b
a cos(θ) + b sen(θ) = 0 ⇐⇒ sen(θ) 6= 0 e ctg(θ) = −
a
b
⇐⇒θ = arcctg − + kπ com k ∈ Z.
a
Por outro lado, se b 6= 0 tem-se
a
a cos(θ) + b sen(θ) = 0 ⇐⇒ cos(θ) 6= 0 e tg(θ) = −
a b
⇐⇒θ = arctg − + kπ com k ∈ Z.
b
Deste modo, se a 6= 0 e c 6= 0, s tem equação polar
c b
r=− para θ 6= arcctg − + kπ ∀k ∈ Z
a cos(θ) + b sen(θ) a
e, se b 6= 0 e c 6= 0, s tem equação polar
c a
r=− para θ 6= arctg − + kπ ∀k ∈ Z.
a cos(θ) + b sen(θ) b
Diante da observação 1, se a 6= 0 e c = 0 então, para cada k ∈ Z, s tem, pela equação polar
b
θ = arcctg − + kπ
a
e, se b 6= 0 e c = 0 então, para cada k ∈ Z, s tem equação polar
a
θ = arctg − + kπ.
b
1
2
Soluçao. Seja a > 0. Dado um ponto P , distinto do polo O, com coordenadas polares (r, θ) e
coordenadas cartesianas (x, y), tem-se r 6= 0, (x, y) 6= 0 e
r = a cos(θ) ⇐⇒ r2 = ar cos(θ)
⇐⇒ x2 + y 2 = ax
⇐⇒ x2 − ax + y 2 = 0
a 2 2
a 2
⇐⇒ x − +y =
2 2
3
Além disso, o par (0, π/2) de coordenadas polares do polo satisfaz a equação polar r = a cos(θ)
e o seu par (0, 0) de coordenadas cartesianas satisfaz a equação cartesiana
a 2 2
a 2
x− +y = .
2 2
Portanto, a equação polar
r = a cos(θ),
em coordenadas cartesianas, expressá-se como
a 2 a 2
x− + y2 = ,
2 2
que é a equação da circunferência centrada no ponto (a/2, 0) e raio a/2.
Observe, na figura 3, quatro equações polares, cada uma delas descrevendo uma circun-
ferência de raio a/2. Note a posição relativa do semieixo polar em relação a cada uma delas.
Com relação à curva polar r = a sen(θ) tem-se √ √
r θ=0 = 0, a
r θ=π/6 = 2 , a
r θ=π/4 = 2 , 2 r θ=π/3 = 2 3 ,
a
√ √
r θ=π/2 = a, r θ=2π/3 = a 2 3 , r θ=3π/4 = a 2 2 , r θ=5π/6 = a 2, √
√
r θ=π = 0, r θ=7π/6 = − a ,
2√ r θ=5π/4 = −a2 2 , r θ=4π/3 = −a2 3 ,
√
r θ=3π/2 = −a, −a −a
r θ=5π/3 = 2 , r θ=7π/4 = 2 2 , r θ=11π/6 = − a
3
2 e
r θ=2π = 0.
Exemplo 3. Qual a curva descrita pela equação polar
r = 1 + 2 cos(θ).
4
Dados a > 0 e b > 0, cada uma das curvas polares, descritas pelas equações
r = a + b cos(θ), r = a + b sen(θ)
r = −a + b cos(θ), r = −a + b sen(θ)
r = a − b cos(θ), r = a − b sen(θ)
r = −a − b cos(θ) e r = −a − b sen(θ),
é denominada limaçon.
A figura 6 esboça a limaçon r = a − b cos(θ) com 0 < a < b. Observe que o raio polar é
nulo quando o ângulo polar θ for dado por
θ = arccos(a/b) ou θ = 2π − arccos(a/b).
Além disso, o raio polar é dado por r = a − b < 0 quando o ângulo polar é dado por θ = 0 ou
θ = 2π, e o raio polar é máximo, dado por r = a + b, quando θ = π.
5
A figura 7 esboça a limaçon r = −a + b sen(θ) com 0 < a < b. Observe que o raio polar é
nulo quando o ângulo polar θ for dado por
θ = arcsen(a/b) ou θ = π − arcsen(a/b).
6
Além disso, o raio polar é dado por r = b − a > 0 quando o ângulo polar é dado por θ = π/2,
e o raio polar dado por r = −a − b quando θ = 3π/2.
AULA 22
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
√ √
r θ=7π/6
= a(1 − 3/2), r θ=5π/4
= a(1 − 2/2), r θ=4π/3
= a/2,
√
r θ=3π/2
= a, r θ=5π/3
= 3a/2, r θ=7π/4
= a(1 + 2/2),
√
r θ=11π/6
= a(1 + 3/2) e r θ=2π
= 2a,
sendo o raio polar r estritamente crescente com θ variando no intervalo [π, 2π]. Deste modo,
tem-se a curva fechada da figura 2, que é simétrica em relação ao eixo polar, pois
r(−θ) = r(θ) qualquer que seja θ ∈ R.
1
2
Além disso,
sendo o raio polar estritamente decrescente com θ variando no interval [0, π], e
r θ=π
= a − b, r θ=3π/2
=a e r θ=2π
= a + b,
sendo o raio polar estritamente crescente com θ variando no interval [π, 2π]. Deste modo, a
figura 4 apresenta um esboço da limaçon r = a + b cos(θ) num caso onde a > b > 0. Convém,
agora observar que, nem sempre, a limaçon r = a + b cos(θ), com a > b > 0, apresenta a
concavidade esboçada, em torno do ponto de coordenadas polares (a − b, π), na figura 4.
Considerando o sistema de coordenadas cartesianas, associado ao sistema de coordenadas
polares, conforme a figura 5, a limaçon r = a + b cos(θ), com a > b > 0, apresenta a mudança
de convexidade, mostrada na figura 5 se, e somente se, existir θ ∈ (π/2, π) tal que,
r cos(θ) < b − a, ou seja, b cos2 (θ) + a cos(θ) + a − b < 0.
4
F IGURA 5.
Isto ocorre se, e somente se, o polinômio quadrático bx2 + ax + a − b possuir duas raı́zes reais,
e distinas, e existir θ ∈ (π/2, π) tal que cos(θ) esteja, estritamente, entre estas duas raı́zes. O
discriminante do referido polinônio é dado por
Logo, existirão duas raı́zes reais e distintas se, e somente se, a 6= 2b. Com a > 2b, as duas
raı́zes reais e distintas são dadas por
−a + (a − 2b) −2b −a − (a − 2b) 2b − 2a b−a
z1 = = = −1 e z2 = = =
2b 2b 2b 2b b
e, neste caso,
b−a
a − b > b, ou seja, b − a < −b o que dá z2 = < −1.
b
Portanto, não existe θ ∈ R tal que
z2 < cos(θ) < z1 = −1.
Por outro lado, se a < 2b, então as duas raı́zes reais e distintas são dadas por
−a − (2b − a) −2b −a + (2b − a) 2b − 2a b−a
z1 = = = −1 e z2 = = =
2b 2b 2b 2b b
e, neste caso,
b−a
a − b < b, ou seja, b − a > −b o que dá z2 = > −1.
b
Portanto, existe θ ∈ (π/2, π) tal que
z1 = −1 < cos(θ) < z2 .
Isto mostra que a limaçon r = a + b cos(θ) possui a configuração esboçada na figura 6 se, e
somente se, a ≥ 2b.
√ √
r θ=13π/12
= a 3/2, r θ=9π/8
= a 2/2, r θ=7π/6
= a/2 e r θ=5π/4
= 0,
sendo r estritamente decrescente com θ variando em [π, 5π/4]. Continuando,
√ √
r θ=4π/3 = −a/2, r θ=11π/8 = −a 2/2, r θ=17π/12 = −a 3/2 e r θ=3π/2 = −a,
7
Isto diz que, quando θ varia no intervalo [π, 2π], a curva polar da figura 9 é totalmente percor-
rida, mais uma vez, via sua equação polar r = a cos(3θ).
Dados a > 0 e n natural não nulo, cada uma das curvas polares, descritas pelas equações
r = a cos(nθ), r = a sen(nθ)
r = −a cos(nθ), r = −a sen(nθ)
é denominada rosácea. Considere a rosácea r = a cos(nθ) com a > 0 e n ∈ N∗ . Como
r(θ + 2π) = r(θ) qualquer que seja θ ∈ R, ocorre uma pétala cada vez que r = a ou r = −a
no intervalo [0, 2π). Deste modo tem-se pétalas somente nos 2n ângulos
π π π π π
0 = 0. , 1 · , 2 · , 3 · , . . . , (2n − 1) · .
n n n n n
Observe que o raio polar é a nos ângulos n ângulos “pares”
π π π π π
0. , 2 · , 4 · , . . . , (2n − 2) · = 2(n − 1) · ,
n n n n n
gerando n pétalas distintas duas a duas, e é −a nos n ângulos “ı́mpares”
π π π π
1 · , 3 · , 5 · , . . . , (2n − 1) · ,
n n n n
gerando n pétalas distintas duas a duas. Mas perceba que, se n é par, então cada ângulo par
não é oposto pelo polo a qualquer ângulo ı́mpar e, portanto, há exatamente 2n pétalas distintas.
Agora, se n é ı́mpar, então cada ângulo par é oposto pelo polo a algum ângulo ı́mpar e, portanto,
há exatamente n pétalas distintas. Pode-se chegar a mesma conclusão observando que os n
ânulos distintos
π π π π π
0 = 0. , 1 · , 2 · , 3 · , . . . , (n − 1) · ,
n n n n n
geram n pétalas distintas, que
r(θ + π) = r(θ) qualquer que seja θ ∈ R
se n é par, e que
r(θ + π) = −r(θ) qualquer que seja θ ∈ R
se n é ı́mpar. Deste modo tem-se a rosácea de n pétalas quando n é ı́mpar e a rosácea de 2n
pétalas quando n é par.
Atenção: Uma disciplina que versa sobre coração (cardioide) e rosas (rosáceas) é uma disci-
plina que fala do Amor!!!
AULA 23
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
P , qualquer que seja k ∈ Z. Sendo assim, seja α a curva descrita pela equação polar r = f (θ)
e, dado k ∈ Z, seja αk a curva descrita pela equação polar
r = (−1)k f (θ + kπ).
Se P ∈ α então existe θ0 tal que
(f (θ0 ), θ0 ) é par de coordenadas polares de P
e, portanto,
(−1)k f (θ0 ), θ0 − kπ é par de coordenadas polares de P.
Portanto,
(f (θ1 ), θ1 ) é par de coordenadas polares de P,
donde tem-se P ∈ α. Isto diz que α = αk , ou seja, se α é a curva polar descrita pela equação
r = f (θ) entao α é descrita pela equação r = (−1)k f (θ + kπ)
qualquer que seja k ∈ Z. Lembre que, dado a > 0, a equações polares r = a e r = −a
descrevem a mesma circunferência no plano polar.
Exemplo 1. Dado a, b > 0, considere a curva α descrita pela equação polar
r = a + b cos(θ).
Dado k ∈ Z, α também é descrita pela equação
r = (−1)k · (a + b cos(θ + kπ)).
Agora, veja que, se k é par, então
(−1)k · (a + b cos(θ + kπ)) = a + b cos(θ) ∀θ ∈ R
e, se k é ı́mpar, então
(−1)k · (a + b cos(θ + kπ)) = −(a − b cos(θ)) = −a + b cos(θ) ∀θ ∈ R.
1
2
não necessariamente determina o conjunto intersecção das curvas α e β. Neste caso, a referida
intersecção é dada pelo conjunto [
α∩β = Ωij
i,j∈Z
onde
Ωij = (−1)i f (θ + iπ), θ (−1)i f (θ + iπ) = (−1)j g(θ + jπ)
quaisquer que sejam i, j ∈ Z, isto é, dados i, j ∈ Z, Ωij é o conjunto determinado pela solução
da equação
(−1)i f (θ + iπ) = (−1)j g(θ + jπ).
Observe que, embora pareça o contrário, em muitos casos não se tem um conjunto infinito de
equações para se resolver. Observe o próximo exemplo.
Exemplo 2. Encontre os pontos de interseccção entre as curvas polares α e β das por
r = 2 cos(2θ) e r = 1,
respectivamente.
Soluçao.
A figura 2 apresenta o esboço das duas curvas. Notamos, por ela, que há 8 (oito) pontos na
intersecção: A, B, C, D, E, F, G e H. Dado k ∈ Z, a rosácea α é descrita pela equaçao
r = (−1)k 2 cos(2(θ + kπ))
e a circunferência β é descrita pela equação
r = (−1)k ,
4
Sejam f uma função diferenciável e α uma curva descrita pela equação polar r = f (θ). Em
coordenadas cartesianas tem-se
x = r cos(θ) = f (θ) cos(θ) e y = r sen(θ) = f (θ) sen(θ).
Assim, pela Regra do Produto,
dx dr dy dr
= cos(θ) − r sen(θ) e = sen(θ) + r cos(θ).
dθ dθ dθ dθ
Portanto, pela Regra da Cadeia e pelo Teorema da Função Inversa, sendo dx/dθ 6= 0,
dy dr
dy dy dθ sen(θ) + r cos(θ)
= · = dθ = dθ ,
dx dθ dx dx dr
cos(θ) − r sen(θ)
dθ dθ
5
que é o coeficiente ângular da reta tangente à curva α no ponto P com par de coordenadas
polares (r, θ). Portanto, com θ 6= π/2 + kπ qualquer que seja k ∈ Z, tem-se cos(θ) 6= 0 e, deste
modo,
dr
dy tg(θ) + r
= dθ .
dx dr
− r tg(θ)
dθ
Exemplo 3. Qual é a reta tangente à curva α, descrita pela equação polar
r = 1 + cos(θ),
no ponto com ângulo polar θ = π/2?
Soluçao. Tem-se
dr
r θ=π/2
=1 e = − sen(θ) θ=π/2 = −1.
dθ θ=π/2
Assim, o coeficiente angular da reta tangente à curva α, no ponto com par de coordenadas
polares (1, π/2), é dado por
dr
dy (π/2) sen(π/2) + r(π/2) cos(π/2) (−1) · 1 + 1 · 0
= dθ = = 1.
dx θ=π/2 dr (−1) · 0 − 1 · 1
(π/2) cos(π/2) − r(π/2) sen(π/2)
dθ
Deste modo, a referida reta tangente, tem equação cartesina y = x + 1 e equação polar
1
r= ,
− cos(θ) + sen(θ)
conforme a figura 3.
Exemplo 4. Sejam a, b ∈ R com 0 < a < b e α o segmento da limaçon descrito pela equação
dr dr
dy (θ0 ) tg(θ0 ) + r(θ0 ) (θ0 ) tg(θ0 )
= dθ = dθ = tg(θ0 )
dx θ=θ0 dr dr
(θ0 ) − r(θ0 ) tg(θ0 ) (θ0 )
dθ dθ
e, assim, a sua inclinação é θ0 . Veja a figura 4.
Portanto,
lim γ = π e, assim, lim− α = lim− (γ + θ − π) = π.
θ→π − θ→π θ→π
Isto diz que a inclinação da referida reta tangente é π, isto é, a reta tangente ponto com par de
coordenadas polares (0, π) é a reta suporte do semieixo polar.
Esta aula aborda o problema do cálculo da área de uma região, limitada por curvas polares, e
do cálculo do comprimento de uma curva polar. São dadas as definições e as fórmulas para os
seus cálculos. No que seque, para faciliar as expressões das regiões de interesse, dados r ∈ R
e θ ∈ R, P (r, θ) denota o ponto P que possui (r, θ) como um par seu de coordenadas polares.
Assim,
P (r, θ) = P ((−1)k r, θ + kπ) quaisquer que sejam r ∈ R, θ ∈ R e k ∈ Z.
Sejam a, b ∈ R com 0 < b−a ≤ 2π, f uma função contı́nua em [a, b] com f (x) ≥ 0 qualquer
que seja x ∈ [a, b] e Ω a região polar dada por
Ω := { P (r, θ) | a ≤ θ ≤ b e 0 ≤ r ≤ f (θ) } ,
ou seja, Ω é a região limitada pela curva α, cuja equação polar é r = f (θ) com θ ∈ [a, b], e
pelas retas com equações polares θ = a e θ = b.
Dada uma partição P = (θ0 , θ1 , . . . , θn ) de [a, b], com coeficientes β1 , . . . , βn , seja para cada
i ∈ { 1, . . . , n }, Si o setor circular dado por
Si := { P (r, θ) | θi−1 ≤ θ ≤ θi e 0 ≤ r ≤ f (βi ) } ,
isto é, Si é o setor cirular de raio f (βi ) e limitado pelas retas θ = θi−1 e θ = θi . Assim o arco
de Si mede
f (βi ) · ∆θi · f (βi ) 1
f (βi ) · ∆θi e |Si | = área(Si ) = = (f (βi ))2 · ∆θi
2 2
1
2
X1 Z b
2 1
lim |ΩP | sendo lim |ΩP | = lim (f (βi )) · ∆θi = (f (θ))2 dθ
|P|→0 |P|→0 |P|→0
P
2 a 2
pois, por hipótese, f é contı́nua em [a, b] e, portanto, integrável a Riemann em [a, b]. Deste
modo, segue a seguinte definição.
Exemplo 1. Encontre a área da região Ω limitada pela curva descrita pela equação polar
Soluçao. A região Ω é limitada pelo segmento da cardioide descrito pela equação polar
Ω := { P (r, θ) | 0 ≤ θ ≤ 2π e 0 ≤ r ≤ a + a cos(θ) } .
4
Deste modo,
1 2π
Z
|Ω| = (a + a cos(θ))2 dθ
2 0
1 2 2π
Z
= a (1 + 2 cos(θ) + cos2 (θ)) dθ
2 0
1 2 2π 3
Z
1
= a + 2 cos(θ) + cos(2θ) dθ
2 0 2 2
2π
1 2 3 1
= a · θ + 2 sen(θ) + sen(2θ)
2 2 4 0
1 2 3 3 2
= a · · 2π = a π u.a.
2 2 2
Assim, tem-se
Z π/2 Z π/2
1 2 1
|Ω| = r dθ = (a sen(2θ))2 dθ
2 0 2 0
π/2
2
a2 π/2
Z Z
a 2
= sen (2θ) dθ = (1 − cos(4θ)) dθ
2 0 4 0
π/2
a2 a2 π a2 π
sen(4θ)
= · θ+ = · = u.a.
4 4 0 4 2 8
Soluçao. A figura 6 apresenta um esboço das duas curvas polares, destacando a região Ω de
interesse. Para descobrir θ1 e θ2 , veja que as duas curvas se intersectam quando
Assim
π/3
1 π/3
Z Z
1 2
|Ω| = (3 cos(θ)) dθ − (1 + cos(θ))2 dθ
2 −π/3 2 −π/3
Z π/3
1
= (9 cos2 (θ) − 1 − 2 cos(θ) − cos2 (θ)) dθ
2 −π/3
1 π/3
Z
= (8 cos2 (θ) − 1 − 2 cos(θ)) dθ
2 −π/3
1 π/3
Z
= (4 + 4 cos(2θ) − 1 − 2 cos(θ)) dθ
2 −π/3
1 π/3
Z
= (3 + 4 cos(2θ) − 2 cos(θ)) dθ
2 −π/3
Z π/3
= (3 + 4 cos(2θ) − 2 cos(θ)) dθ
0
π/3
= (3θ + 2 sen(2θ) − 2 sen(θ))
0
π
= 3 · + 2 sen(2π/3) − 2 sen(π/3) = π u.a.
3
Sejam α, β ∈ R, com α < β, f uma função de classe C 1 em [α, β] e a curva γ descrita pela
equação r = f (θ). Em coordenadas cartesianas, sendo
x = r cos(θ) = f (θ) cos(θ) e y = r sen(θ) = f (θ) sen(θ),
tem-se
2 2 2 2
dx dy dr dr
+ = cos(θ) − r sen(θ) + sen(θ) + r cos(θ)
dθ dθ dθ dθ
2
dr dr
= cos2 (θ) − 2r cos(θ) sen(θ) + r2 sen2 (θ) +
dθ dθ
2
dr dr
sen2 (θ) + 2r cos(θ) sen(θ) + r2 cos2 (θ)
dθ dθ
2
dr
= + r2 .
dθ
Suponha, agora, que dx/dθ 6= 0 no intervalo [α, β]. Então, com a = x θ=α
eb = x θ=β
tem-se, pelo Teorema da Função Inversa, que θ = g(x) onde
g : [a, b] −→ [α, β] é de Classe C 1 se dx/dθ > 0 em [α, β]
7
ou
g : [b, a] −→ [α, β] é de Classe C 1 se dx/dθ < 0 em [α, β].
Assim, pela Regra da Cadeia, y = h(x) onde h é uma função de classe C 1 em [a, b], se a < b,
ou [b, a], se b < a, isto é, a curva γ é o gráfico de uma função, na variável x, de classe C 1 .
Portanto, o comprimento da curva γ é dado por
s 2
Z bp Z b
0 2
dy
Lγ = 1 + (h (x)) dx = 1+ dx
a a dx
s 2
Z β
dy/dθ dx
= 1+ · dθ
α dx/dθ dθ
s
Z β 2 2
dx dy 1 dx
= + · · dθ
α dθ dθ dx/dθ dθ
s
Z β 2
dr
= + r2 dθ
α dθ
se dx/dθ > 0 em [α, β], e
s 2
Z a Z a
p
0 2
dy
Lγ = 1 + (h (x)) dx = 1+ dx
b b dx
s 2
Z α
dy/dθ dx
= 1+ · dθ
β dx/dθ dθ
s
Z α 2 2
dx dy 1 dx
= − + · · dθ
β dθ dθ dx/dθ dθ
s
Z β 2
dr
= + r2 dθ
α dθ
se dx/dθ < 0 em [α, β].
No caso em que dy/dθ 6= 0 no intervalo [α, β], chega-se de modo análogo que a curva γ é o
gráfico de uma função, na variável y, de classe C 1 , e que
s
Z β 2
dr
Lγ = + r2 dθ.
α dθ
Podendo a curva γ ser decomposta em uma quantidade finita de segmentos, que são gráficos de
funções, de classe C 1 , na variável x ou na variável y, tem-se a seguinte definição.
Definição 2. O comprimento da curva γ é o número real Lγ dado por
s
Z β 2
dr
Lγ = + r2 dθ.
α dθ
8
Nesta aula inicia-se um estudo introdutório das equações diferenciais ordinárias. Uma equação
matemática é uma pergunta feita usando, para conveniente economia de expressão, sı́mbolos
matemáticos previa e universalmente estabelecidos. Como exemplo, a equação
2x − 1 = 3
deve ser lida com a pergunta: “qual é o conjunto formado por cada número real tal que a
diferença entre seu dobro e 1 é 3?”. Como mais um exemplo, a equação
x2 − 2x = 3
deve ter a seguinte leitura: “qual o conjunto formado por cada número real tal que a diferença
entre seu quadrado e seu dobro é 3?”
Assim, é uma equação diferencial ordinária (EDO), um outro tipo de interrogação matemática,
uma pergunta a respeito de uma função, de variável real e de valor real, e suas derivadas. Se-
guindo este princı́pio de interpretação, a equação
f 0 (x) − 3f (x) = 0
deve ser traduzida como a pergunta: “qual é conjunto formado por cada função diferenciável
tal que a diferença entre a sua derivada e o seu triplo é a função nula”. Tem-se, portanto,
os seguintes exemplos de equações diferenciais ordinárias ou, simplesmente, nesta disciplina,
equações diferenciais.
f 0 (x) + xf (x) = x g 0 (x) − g(x) = 0
f 00 (x) + 2xf 0 (x) + f (x) = 0 g 00 (x) − g(x) = sen(x)
p
f 00 (x) = 1 + (f 0 (x))2 g 0 (x) = x(g(x))2
1 x2
f 0 (x) = (f (x))2 − 1 g 0 (x) =
2 (g(x))2
g(x)
f 000 (x) − 2f 00 (x) + xf (x) = x2 g 0 (x) =
g(x) + 1
A ordem de uma equação diferencial é, por definiçao, a ordem da mais alta derivada que
ocorre na equação. Assim, por exemplo,
a equação diferencial f 0 (x) + xf (x) = x possui ordem 1,
a equação diferencial g 00 (x) − g(x) = sen(x) possui ordem 2 e
a equação diferencial f 000 (x) − 2f 00 (x) + xf (x) = x2 possui ordem 3.
1
2
A função cosh pertence ao conjunto S2 , pois Dcosh = R, cosh é duas vezes diferenciável e
q q
00 0
cosh (x) − 1 + (cosh (x)) = cosh(x) − 1 + senh2 (x)
2
q
= cosh(x) − cosh2 (x)
= cosh(x) − cosh(x) = 0 ∀x ∈ R.
Qual a relação entre funções de várias variáveis reais e equações diferenciais? Primeiro veja
que a equação diferencial
f 0 (x) + xf (x) = x
pode ser colocada na forma
f 0 (x) = F (x, f (x))
onde F é a função de duas variáveis reais e valor real dada por
F (x, y) = x − xy,
assim como a equação diferencial
f 00 (x) + 2xf 0 (x) + f (x) = x
pode ser posta na forma
f 00 (x) = F (x, f (x), f 0 (x))
onde F é a função de três variáveis reais e valor real dada por
F (x, y, z) = x − y − 2xz.
Observe, então, como exemplos, as seguinte equivalências, para equações diferenciais.
O conjunto solução desta equação diferencial é o conjunto S formado por cada solução desta
equação, ou seja,
S := { ψ | ψ é funçao n vezes diferenciável,
(x, ψ(x), ψ 0 (x), . . . , ψ (n−1) (x)) ∈ DF ∀x ∈ Dψ e
ψ (n) (x) = F (x, ψ(x), ψ 0 (x), . . . , ψ (n−1) (x)) ∀x ∈ Dψ }.
Portanto, uma equação diferencial de ordem 1 é uma equação do tipo
f 0 (x) = F (x, f (x)),
onde F é uma função de duas variáveis reais e de valor real, e o seu conjunto solução S é dado
por
S := { ψ | ψ é função diferenciável, (x, ψ(x)) ∈ DF ∀x ∈ Dψ e
ψ 0 (x) = F (x, ψ(x)) ∀x ∈ Dψ }.
Dada uma equação diferencial, o problema que se apresenta é o de encontrar o seu conjunto
soluçao. Este problema será abordado, nesta disciplina, a partir das equações diferenciais de
ordem 1, começando-se pela seguinte observação.
Observação 1. Dada uma função k, resolver a integral indefinida
Z
k(x) dx
o que dá,
(φ(x))3 x2
= + C com C ∈ R.
3 2
Portanto, a solução geral φg é dada por
r
2
3 3x
φg (x) = + C onde C ∈ R.
2
Não deixe de observar que
Dφg = R se C > 0, Dφg = R∗ se C = 0 e
n p p o
Dφg = R − − −2C/3, −2C/3 se C < 0.
Exemplo 3. Como resolver a equação diferencial
f 0 (x) + f (x) = 0?
Soluçao. Um função φ é solução da equação diferencial f 0 (x) + f (x) = 0 se, e somente se, φ
é diferenciável e φ0 (x) + φ(x) = 0 qualquer que seja x ∈ Dφ . Mas
φ0 (x) + φ(x) = 0 ∀x ∈ Dφ ⇐⇒ ex φ0 (x) + ex φ(x) = 0 ∀x ∈ Dφ
d x
⇐⇒ (e φ(x)) = 0 ∀x ∈ Dφ
dx
⇐⇒ ex φ(x) = C ∀x ∈ Dφ onde C ∈ R.
⇐⇒ φ(x) = C e−x ∀x ∈ Dφ onde C ∈ R.
Portanto, a soluçao geral φg da equação diferencial é dada por
φg (x) = C e−x onde C ∈ R.
Exemplo 4. Como encontrar o conjunto solução da equação diferencial, de ordem 2,
p
f 00 (x) = 1 + (f 0 (x))2 ?
7
Portanto,
Z Z
0
φ (x) dx = senh(x + C) dx.
φ(x) = cosh(x + C) + D ∀x ∈ R.
Sendo reversı́vel cada implicação da presente argumentação, tem-se que a solução geral φg da
equação diferencial é dada por
Perceba que a solução geral, da equação do exemplo 4, está parametrizada por duas cons-
tantes. Via de regra, se uma equação diferencial possui ordem n, então a sua solução geral é
parametrizada por n constantes reais.
dy d2 y dn y
= f 0 (x), = f 00
(x), . . . , = f (n) (x)
dx dx2 dxn
e, assim, a equação diferencial fica escrita como
!
dn y dy d(n−1) y
=F x, y, , · · · , (n−1) .
dxn dx dx
8
Dado um ponto (x, y) ∈ R2 , a sua norma é o número real denotado por k(x, y)k e definido
por p
k(x, y)k = x2 + y 2 ,
ou seja, k(x, y)k é a distância do ponto (x, y) à origem (0, 0). Assim, dados dois pontos (x, y)
e (u, v) em R2 , a distância entre eles é
p
k(x, y) − (u, v)k = k(u − x, v − y)k = (u − x)2 + (v − y)2 .
Definição 1. Seja Ω ⊂ R2 . Dizemos que Ω é um conjunto aberto quando, para cada (x0 , y0 ) ∈
Ω, existe > 0 tal que
(x, y) ∈ R2 e k(x, y) − (x0 , y0 )k < =⇒ (x, y) ∈ Ω.
Dito de outra forma, Ω é um conjunto aberto quando, para cada (x0 , y0 ) ∈ Ω, existe > 0 tal
que
(x, y) ∈ R2 | k(x, y) − (x0 , y0 )k < ⊂ Ω.
1
2
Definição 6. Sejam F uma função de duas variáveis reais e de valor real, e f uma função de
uma variável real e valor real. A composição f ◦ F é a função definida por
Df ◦F = (x, y) ∈ R2 | (x, y) ∈ DF e F (x, y) ∈ Df
e
(f ◦ F )(x, y) = f (F (x, y)) ∀(x, y) ∈ Df ◦F .
Assim, a composição f ◦ F também é uma função de duas variáveis reais e de valor real.
Exemplo 2. Sendo
x−y √
F (x, y) = x2 + y 2 , G(x, y) = , f (x) = x e g(x) = sen(x),
x+y
tem-se
p
(f ◦ F )(x, y) = x2 + y 2 ,
r
x−y
(f ◦ G)(x, y) = ,
x+y
(g ◦ F )(x, y) = sen(x2 + y 2 ) e
x−y
(g ◦ G)(x, y) = sen .
x+y
Proposição 3. Sejam F uma função de duas variáveis reais e de valor real, f uma função
de uma variável real e valor real, (x0 , y0 ) ∈ R2 e Ω ⊂ R2 . São verdadeiras as seguintes
afirmações.
∗ Se F é contı́nua em (x0 , y0 ) e f é contı́nua em F (x0 , y0 ) então f ◦ F é contı́nua em
(x0 , y0 ).
∗ Se F é contı́nua em Ω e f é contı́nua em
F (Ω) := { F (x, y) | (x, y) ∈ Ω } ,
então f ◦ F é contı́nua em Ω.
∗ Se F e f são contı́nuas então f ◦ F são contı́nuas.
Portanto, são contı́nuas as seguintes funções.
F (x, y) = sen(x + y) F (x, y) = ln(x2 + y 2 )
r
x x+y
F (x, y) = arctg F (x, y) = 3
y x−y
2
xy
F (x, y) = cos(x + xy 3 ) + x2 y F (x, y) = cosh
x + 2y
Sejam F uma função de duas variáveis reais e de valor real, e (x0 , y0 ) ∈ R2 . Dizemos que F
possui derivada parcial em relação à segunda variável no ponto (x0 , y0 ) quando (x0 , y0 ) ∈ DF
e a funçao g, de uma variável real, dada por
g(y) = f (x0 , y)
4
for diferenciável em y0 . Como exemplo, seja a função F dada por F (x, y) = x2 y 3 + sen(xy).
A função F possui derivada parcial em relação à segunda variável no ponto (2, 3)?
Seja g a função dada por
g(y) = f (2, y), ou seja, g(y) = 4y 3 + sen(2y).
É imediato que a função g é diferenciável com g 0 (y) = 12y 2 + 2 cos(2y). Em particular, g é
diferenciável em 3 com g 0 (3) = 108 + cos(6). Portanto, F possui derivada parcial em relação à
segunda variável no ponto (2, 3).
Definição 7. Seja F uma função de duas variáveis reais e de valor real. Sendo a segunda
variável da função F denotada por y, a função derivada parcial de F em relação à variável y
é a função denotada por ∂F e definida por
∂y
D ∂F := { (x0 , y0 ) ∈ DF | F possui derivada parcial em relação a y no ponto (x0 , y0 ) } e
∂y
∂F
(x0 , y0 ) = g 0 (y0 ) onde g é a função dada por g(y) = F (x0 , y).
∂y
Exemplo 3. Seja, por exemplo, a função F dada por F (x, y) = x2 y 3 + sen(xy). Dado
(x0 , y0 ) ∈ DF = R2 , seja g a função dada por
g(y) = f (x0 , y), isto é, g(y) = x20 y 3 + sen(x0 y).
A função g é diferenciável com g 0 (y) = 3x20 y 2 + x0 cos(x0 y). Em particular g é diferenciável
em y0 . Portanto, F possui derivada parcial em relação à variável y com
∂F
(x0 , y0 ) = g 0 (y0 ) = 3x20 y02 + x0 cos(x0 y0 ).
∂y
Assim pode-se dizer que F possui derivada parcial em cada ponto (x, y) ∈ R2 e pode-se
escrever
∂F
(x, y) = 3x2 y 2 + x cos(x, y) ∀(x, y) ∈ R2 .
∂y
Dada uma função F de duas variáveis reais e de valor real, a definição 7 diz que para calcular
∂F
(x, y), onde possı́vel,
∂y
basta derivar a expressão F (x, y), em relação à variável y, onde possı́vel, tratando a variável x
com uma constante.
Exemplo 4. Sendo F a função dada por
F (x, y) = x2 + xy 3 ,
tem-se DF = R2
∂F
(x, y) = 3xy 2 qualquer que seja (x, y) ∈ R2 .
∂y
Exemplo 5. Sendo F a função dada por
p
F (x, y) = x2 + y 2 ,
5
tem-se DF = R2
∂F 1 y
(x, y) = p · 2y = p ∀(x, y) 6= (0, 0) em R2 .
∂y 2
2 x +y 2 2
x +y 2
Sendo
∂F ∂F
= 2xy ∀(x, y) ∈ R2 tem-se F e
∂y ∂y
contı́nuas em R2 . A função nula, isto é, a funçao φ : R −→ R, com φ(x) = 0 qualquer que
seja x ∈ R, é solução da equação diferencial. Portanto, se I é um intervalo aberto, ψ : I −→ R
é solução desta equação diferencial e ψ não é a função nula, então, pelo Teorema 2, ψ(x) 6= 0
qualquer que seja x ∈ I. Assim,
ψ 0 (x) ψ 0 (x)
Z Z
= x ∀x ∈ I e, daı́, dx = x dx.
(ψ(x))2 (ψ(x))2
Logo, existe C ∈ R tal que
1 x2
− = + C ∀x ∈ I,
ψ(x) 2
ou seja,
1
ψ(x) = − 2 ∀x ∈ I.
x
+C
2
Daı́,
2
ψ(x) = − 2 ∀x ∈ I, onde C ∈ R.
x +C
Deste modo, a solução geral ψg da equação diferencial é dada por
2
ψg (x) = − 2 onde C ∈ R ou
x +C
ψg (x) = 0 ∀x ∈ R.
A função nula é a solução maximal φ : R −→ R tal que φ(0) = 0. Dado (a, b) ∈ R, com b 6= 0,
tem-se
2 2 2
ψg (a) = b ⇐⇒ − 2 = b ⇐⇒ a2 + C = − ⇐⇒ C = −a2 − .
a +C b b
e, assim, a solução φ da equação diferencial, satisfazendo φ(a) = b, é dada por
2 2
φ(x) = − = .
2 2
x 2 − a2 − 2
a + −x 2
b b
7
Portanto, 0 < g(u) < 1 se u < −1, −1 < g(u) < 1 se u < 0, g(u) < −1 se 0 < u < 1 e
x + 1.
F IGURA 2. Gráfico da função f (x) = x −1
Nesta aula, serão dados mais exemplos de resolução de equações diferenciais ordinárias: as
equações diferenciais separáveis e as equação diferenciais lineares.
Exemplo 1. Como encontrar a solução da equações diferencial
f (x)
f 0 (x) = ?
x2 − 1
Soluçao. Veja que a equação diferencial tem a configuração
y
f 0 (x) = F (x, f (x)) onde F (x, y) = 2
x −1
e DF = { (x, y) | x 6= −1 e x 6= 1 }, que é um subconjunto aberto de R2 . As funções
φ1 : (−∞, −1) −→ R, φ2 : (−1, 1) −→ R e φ3 : (1, +∞) −→ R,
dadas por
φ1 (x) = 0 ∀x ∈ (−∞, −1),
φ2 (x) = 0 ∀x ∈ (−1, 1), e
φ3 (x) = 0 ∀x ∈ (1, +∞),
são soluções, nulas, da equação diferencial. Assim, se I é um intervalo aberto e φ : I −→ R
é uma solução não nula da equação diferencial, então −1 6∈ I, 1 6∈ I e, pelo Teorema de
Existência e Unicidade e pelo Teorema de Solução Maximal, φ(x) 6= 0 qualquer que seja
x ∈ I. Logo, tem-se
φ0 (x)
Z 0 Z
1 φ (x) 1
= 2 ∀x ∈ I e, portanto, dx = 2 dx.
φ(x) x −1 φ(x) x −1
Logo,
1 x−1
ln |φ(x)| = ln + C ∀x ∈ I, onde C ∈ R,
2 x+1
ou seja,
s
x−1
|φ(x)| = C · ∀x ∈ I, onde C > 0.
x+1
Daı́, pelo Teorema do Valor Intermediário,
s
x−1
φ(x) = C · ∀x ∈ I, onde C 6= 0.
x+1
Deste modo, a solução geral φg é dada por
s
x−1
φg (x) = C · ∀x ∈ I, onde C ∈ R.
x+1
1
2
Exemplo 4. Uma caixa de água contém 2000 litros de água salgada com 30 quilos de sal
dissolvido. Água pura é despejada no tanque a uma taxa de 20 litros por minuto. A mistura,
de água com sal, é mantina homogênea e sai do tanque na mesma taxa que entra a água pura.
Como saber a quantidade de sal no tanque em x minutos?
Soluçao. Seja Q(x) a quantidade de sal na mistura em x minutos, com x ≥ 0. A quantidade sal
por cada litro é, então,
Q(x) Q(x) 1
e, portanto, · 20 = · Q(x) quilos de sal
2000 2000 100
saem da caixa de água a cada minuto, ou seja,
1 Q0 (x) 1
Q0 (x) = − · Q(x), isto é, =− ∀x ≥ 0.
100 Q(x) 100
Daı́, integrando termo a termo, tem-se
Z 0 Z
Q (x) 1 x
dx = − dx, o que dá ln(Q(x)) = − + C ∀x ≥ 0, onde C ∈ R.
Q(x) 100 100
Portanto,
Q(x) = C e−x/100 ∀x ≥ 0, onde C > 0.
Como Q(0) = 30 e Q(0) = C, tem-se C = 30. Deste modo,
Q(x) = 30 e−x/100 ∀x ≥ 0.
Isto diz que a quantidade de sal em x minutos é 30 · e−x/100 quilos.
Exemplo 5. Um tanque com 2000 litros de cerveja contém 4% de álcool. Cerveja com 6%
de álcool é bombeada para dentro do tanque a uma taxa de 20 litros por minuto e a mistura,
homogênea, é bombeada para fora do tanque à mesma taxa. Qual a porcentagem de álcool no
tanque em x minutos?
Soluçao. Seja Q(x) quantidade de álcool no tanque em x minutos. A cada minuto entra no
tanque
6% · 1 · 20 = 1,2 litros de álcool,
e a cada minuto sai do tanque
Q(x) 1
· 20 = · Q(x) litros de álcool.
2000 100
Deste modo,
1 1
Q0 (x) = 1,2 − · Q(x) = · (120 − Q(x)) ∀x ≥ 0.
100 100
Assim,
Q0 (x) Q0 (x)
Z Z
1 1
= ∀x ≥ 0 e dx = dx.
120 − Q(x) 100 120 − Q(x) 100
Daı́,
x
− ln(120 − Q(x)) = + C ∀x ≥ 0, onde C ∈ R,
100
isto é
x
ln(120 − Q(x)) = − + C ∀x ≥ 0, onde C ∈ R.
100
6
Portanto,
120 − Q(x) = C e−x/100 ∀x ≥ 0, onde C ∈ R,
ou seja,
Q(x) = 120 + C e−x/100 ∀x ≥ 0, onde C ∈ R.
Como Q(0) = 80 e Q(0) = 120 + C, tem-se C = −40. Logo
Q(x) = 120 − 40 e−x/100 ∀x ≥ 0, onde C ∈ R.
Isto diz que há no tanque 120 − 40 e−x/100 litros de álcool em x minutos. Portanto, a porcen-
tagem de álcool no tanque em x minutos é
120 − 40 e−x/100 120 − 40 e−x/100
= %.
2000 20
O seguinte resultado, conhecido como Teorema de Existência e Unicidade para equação di-
ferencial linear de primeira ordem, é consequência do Teorema de Existência e Unicidade,
enunciado na aula passada, mesmo que o mencionado intervalo I não seja um intervalo aberto.
Entretanto, opta-se nesta aula por uma demonstração alternativa e simples, a qual exibe a forma
da solução geral em termos das funções coeficientes p e p.
Teorema 1. Seja I um intervalo de R. Se p : I −→ R e q : I −→ R são funções contı́nuas,
então, dados a ∈ I e b ∈ R, existe uma única função φ : I −→ R que é solução da equação
diferencial
f 0 (x) + p(x)f (x) + q(x) = 0
e que satisfaz a condição φ(a) = b.
Soluçao. Se p : I −→ R e q : I −→ R são funções contı́nuas, então a função p possui
uma primitiva α no intervalo I, isto é, existe uma função α : I −→ R diferenciável tal que
α0 (x) = p(x) qualquer que seja x ∈ I. Logo, se φ : I −→ R é uma solução da equação
diferencial, então
φ0 (x) + p(x)φ(x) = −q(x) ∀x ∈ I,
e, assim,
eα(x) φ0 (x) + eα(x) p(x)φ(x) = − eα(x) q(x) ∀x ∈ I,
isto é,
γ 0 (x) = β 0 (x) ∀x ∈ I, onde γ : I −→ R
é a função diferenciável dada por γ(x) = eα(x) φ(x) ∀x ∈ I, e β : I −→ R é uma primitiva da
função contı́nua g : I −→ R dada por
g(x) = − eα(x) q(x) ∀x ∈ I.
Portanto,
γ(x) = β(x) + C ∀x ∈ I, onde C ∈ R,
ou seja,
eα(x) φ(x) = β(x) + C ∀x ∈ I, onde C ∈ R.
Deste modo, sendo reversı́vel cada uma das implicações desta argumentação, a solução geral
φg da equação diferencial é dada por
φg (x) = e−α(x) (β(x) + C) ∀x ∈ I, onde C ∈ R,
sendo α uma primitiva em I da função p e β uma primitiva em I da função contı́nua g dada por
g(x) = − eα(x) q(x) ∀x ∈ I.
Daı́, se a ∈ I, b ∈ R e φ é uma solução da equação diferencial com φ(a) = b então existe
C ∈ R tal que
φ(x) = e−α(x) (β(x) + C) ∀x ∈ I.
Em particular,
φg (a) = e−α(a) (β(a) + C) = b, o que dá C = eα(a) b − β(a).
Isto diz que φ : I −→ R, dada por
φ(x) = e−α(x) (β(x) − β(a) + eα(a) b) ∀x ∈ I,
é a única solução da equação diferencial satisfazendo a condição φ(a) = b.
8
Portanto, sendo reversı́vel cada implicação desta argumentação, a solução geral φg da equação
diferencial é dada por
x3 C
φg (x) = + ∀x > 0, onde C ∈ R, ou
4 x
x3 C
φg (x) = + ∀x < 0, onde C ∈ R.
4 x
Exemplo 8. Como encontrar a solução geral da equação diferencial
f 0 (x) + f (x) = x?
Soluçao. As funções coeficientes p(x) = 1 e q(x) = −x são contı́nuas em R. Daı́, pelo teorema
1, cada solução da equação diferencial está definida em R. Assim, se φ : R −→ R é solução,
então
φ0 (x) + φ(x) = x ∀x ∈ R.
Daı́, multiplicando a equação pela exponencial de uma primitiva, em R, da função p, tem-se
ex φ0 (x) + ex φ(x) = x ex ∀x ∈ R.
Logo,
d x d
(e φ(x)) = (x ex − ex ) em R.
dx dx
Portanto,
ex φ(x) = x ex − ex + C ∀x ∈ R, onde C ∈ R.
Sendo reversı́vel cada implicação desta argumentação, a solução geral φg da equação diferencial
é dada por
φg (x) = x − 1 + C e−x ∀x ∈ R, onde C ∈ R.
AULA 28
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
Esta aula continua com o estudo das equações diferenciais de primeira ordem e introduz o
estudo das equações diferenciais de segunda ordem. Primeiro, convém observar os casos em
que a solução geral, de uma equação diferencial, é dada implicitamente por uma equação
E(x, φg (x)) = 0 ⇐⇒ E(x, yg ) = 0,
conforme os dois próximos exemplos.
Exemplo 1. Como resolver a equação diferencial
0 x2
f (x) = ?
1 − (f (x))2
Soluçao. Se I é um intervalo aberto e φ : I −→ R é uma solução da equação diferencial, então
x2
φ0 (x) = 1 − (φ(x))2 φ0 (x) = x2 ∀x ∈ I.
∀x ∈ I, isto é,
1 − (φ(x))2
Integrando termo a termo,
Z Z
2 0
x2 dx.
1 − (φ(x)) φ (x) dx =
Logo,
(φ(x))3 x3
φ(x) − = + C ∀x ∈ I, onde C ∈ R.
3 3
Portanto, a solução geral φg fica dada implicitamente pela equação
(φg (x))3 x3
φg (x) − = + C, onde C ∈ R.
3 3
Exemplo 2. Como resolver a equação diferencial
dy x2
= 2 ?
dx y + sen(y)
Soluçao. Sendo a função, que exprime a variável y dependendo diferenciavelmente da variável
x, solução da equação diferencial, tem-se, por abuso da notação,
y 2 + sen(y) dy = x2 dx.
ou seja,
y3 x3
− cos(y) = + C, onde C ∈ R.
3 3
1
2
Dizemos que F possui derivada parcial em relação a y no ponto (a, b, c) quando a função g é
diferenciável em b, sendo g 0 (b) denotado por
∂F ∂F
(a, b, c), isto é, (a, b, c) = g 0 (b).
∂y ∂y
Dizemos que F possui derivada parcial em relação a z no ponto (a, b, c) quando a função h é
diferenciável em c, sendo h0 (c) denotado por
∂F ∂F
(a, b, c), isto é, (a, b, c) = h0 (c).
∂z ∂z
Assim, para encontrar ∂F (x, y, z) basta derivar a expressão F (x, y, z) em relação a y, “con-
∂y
siderando” x e z como constantes. Para encontrar ∂F (x, y, z) basta derivar a expressão F (x, y, z)
∂z
em relação a z, “considerando” x e y como constantes. Veja o próximo exemplo.
Exemplo 5. Sendo
F (x, y, z) = x2 + y 3 + z 4 ,
tem-se
∂F ∂F
(x, y, z) = 3y 2 e (x, y, z) = 4z 3 .
∂y ∂z
Sendo p
G(x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 ,
tem-se
∂G y ∂G z
(x, y, z) = p e (x, y, z) = p .
∂y x2 + y 2 + z 2 ∂z x2 + y 2 + z 2
Sendo
H(x, y, z) = x2 y 3 z 4 + y 2 z 3 ,
tem-se
∂H ∂H
(x, y, z) = 3x2 y 2 z 4 + 2yz 3 e (x, y, z) = 4x2 y 3 z 3 + 3y 2 z 2 .
∂y ∂z
Teorema 1 (Existência e Unicidade de Ordem 2). Sejam Ω ⊂ R3 um conjunto aberto e F :
Ω −→ R uma função contı́nua, tal que F possui derivada parcial em relação a y e em relação
a z em Ω, e ∂F : Ω −→ R e ∂F : Ω −→ R são funções contı́nuas. Dado (x0 , y0 , z0 ) ∈ Ω, são
∂y ∂z
verdadeiras as seguintes afirmações.
∗ Existe um intervalo aberto I contendo x0 e uma função φ : I −→ R que é solução da
equação diferencial
f 00 (x) = F (x, f (x), f 0 (x)), satisfazendo as condições φ(x0 ) = y0 e φ0 (x0 ) = z0 .
∗ Se ψ : I −→ R é solução desta equação diferencial, com as condições ψ(x0 ) = y0 e
ψ 0 (x0 ) = z0 , então ψ(x) = φ(x) qualquer que seja x ∈ I.
Teorema 2 (Solução Maximal de Ordem 2). Sejam Ω ⊂ R3 um conjunto aberto e F : Ω −→ R
uma função contı́nua, tal que F possui derivada parcial em relação a y e em relação a z em
Ω, e ∂F : Ω −→ R e ∂F : Ω −→ R são funções contı́nuas. Dado (x0 , y0 , z0 ) ∈ Ω, são
∂y ∂z
verdadeiras as seguintes afirmações.
5
é denominada equação diferencial linear de segunda ordem. Dizemos que esta equação di-
ferencial linear é homogênea quando é nula a função r. São lineares as seguintes equações
diferenciais de segunda ordem.
d2 y
f 00 (x) + xf (x) − x2 = 0 + xy − x = 0
dx2
d2 y dy
f 00 (x) + cos(x)f 0 (x) + sen(x)f (x) = 1 2 +5 + 6y = x
dx dx
A seguinte proposição diz que a soma de duas soluções de uma equação diferencial linear
homogênea é também solução dessa equação. Também diz que o produto de um escalar por
uma solução de uma equação diferencial linear homogênea ainda é solução dessa equação.
Proposição 1. Sejam I ⊂ R um intervalo, p : I −→ R e q : I −→ R funções de uma variável
real e de valor real, e a equação diferencial linear homogênea de segunda ordem
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0.
São verdadeiras as seguintes afirmações.
∗ A funçao nula θ : I −→ R, com θ(x) = 0 qualquer que seja x ∈ I, é solução desta
equação homogênea.
∗ Se φ : I −→ R e ψ : I −→ R são soluções da equação homogênea, então φ + ψ :
I −→ R é solução da equação homogênea.
∗ Se φ : I −→ R é solução da equação homogênea e λ ∈ R, então λ.φ : I −→ R é
solução da equação homogênea.
Demonstração. Se φ : I −→ R, ψ : I −→ R são soluções da equação diferencial linear
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0,
então
φ00 (x) + p(x)φ0 (x) + q(x)φ(x) = 0 e
ψ 00 (x) + p(x)ψ 0 (x) + q(x)ψ(x) = 0 ∀x ∈ I.
Daı́,
(φ + ψ)00 (x) + p(x)(φ + ψ)0 (x) + q(x)(φ + ψ)(x) =
(φ00 (x) + ψ 00 (x)) + p(x)(φ0 (x) + ψ 0 (x)) + q(x)(φ(x) + ψ(x)) =
φ00 (x) + ψ 00 (x) + p(x)φ0 (x) + p(x)ψ 0 (x) + q(x)φ(x) + q(x)ψ(x) =
(φ00 (x) + p(x)φ0 (x) + q(x)φ(x)) + (ψ 00 (x) + p(x)ψ 0 (x) + q(x)ψ(x)) =
0 + 0 = 0 ∀x ∈ I.
8
Esta é uma aula teórica. As suas definições e os seus resultados justificam os procedimentos
que serão utlizados, na próxima aula, para resolução de equações diferenciais homogêneas, de
segunda ordem, com coeficientes constantes.
Lembre que, dada uma função φ de variável real e de valor real, dizemos que φ é função nula,
e escrevemos φ = 0, quando
φ(x) = 0 qualquer que seja x ∈ Dφ .
Assim, φ não é função nula, e escrevemos φ 6= 0, quando existe x0 ∈ Dφ tal que φ(x0 ) 6= 0.
Com isso, faça-te um favor parando de dizer que φ não é função nula quando φ(x) 6= 0 em cada
x ∈ Dφ : a função sen : R −→ R não é função nula e sen(kπ) = 0 qualquer que seja k ∈ Z.
Dados um intervalo I, n funções φ1 : I −→ R, . . . , φn : I −→ R e n números reais
a1 , . . . , an ∈ R, a função
a1 φ1 + · · · + an φn
é denominada combinação linear de φ1 , . . . , φn com coeficientes a1 , . . . , an .
Lembre que, por definição, a função a1 φ1 + · · · + an φn : I −→ R é dada por
(a1 φ1 + · · · + an φn )(x) = a1 φ1 (x) + · · · + an φn (x) ∀x ∈ I.
Logo a1 φ1 + · · · + an φn = 0, isto é, a1 φ1 + · · · + an φn é função nula se, e somente se,
a1 φ1 (x) + · · · + an φn (x) = 0 qualquer que seja x ∈ I.
Observe também que 0φ1 + · · · + 0φn = 0 pois
0φ1 (x) + · · · + 0φn (x) = 0 em cada x ∈ I.
O conjunto formado por cada combinação linear de φ1 , . . . , φn é denominado espaço de funções
gerado por φ1 , . . . , φn , sendo denotado por [φ1 , . . . , φn ]. Daı́
[φ1 , . . . , φn ] := { a1 φ1 + · · · + an φn | a1 ∈ R, . . . , an ∈ R } .
Observação 1. Sejam I ⊂ R um intervalo, p : I −→ R e q : I −→ R funções de uma variável
real e de valor real, e a equação diferencial linear homogênea de segunda ordem
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0.
Segue da proposição 1, da aula número 29, que se φ1 , . . . , φn são soluções desta equação
diferencial linear homogênea, então
[φ1 , . . . , φn ] ⊂ S, onde S é o conjunto solução desta equação.
Definição 1. Sejam I um intervalo e φ1 : I −→ R, . . . , φn : I −→ R funções. Dizemos que
φ1 , . . . , φn são linearmente independentes quando
a1 φ1 + · · · + an φn = 0 ⇐⇒ a1 = 0, . . . , an = 0,
isto é,
a1 φ1 (x) + · · · + an φn (x) = 0 qualquer que seja x ∈ I ⇐⇒ a1 = 0, . . . , an = 0.
1
2
Desta definição, para mostrar que φ1 , . . . , φn são linearmente indepentes basta mostrar a
veracidade da implicação
a1 φ1 + · · · + an φn = 0 =⇒ a1 = 0, . . . , an = 0.
Exemplo 1. As funções sen e cos são linearmente independentes?
Soluçao. Se a, b ∈ R e a sen +b cos = 0, então
a sen(x) + b cos(x) = 0 qualquer que seja x ∈ R.
Em particular,
a sen(0) + b cos(0) = 0 e a sen(π/2) + b cos(π/2) = 0,
isto é
a = 0 e b = 0.
Isto diz que as funções sen e cos são linearmente independentes.
Exemplo 2. As funções f , g e h, dadas por f (x) = ex , g(x) = e2x e h(x) = e3x , são linear-
mente independentes?
Soluçao. Se a, b, c ∈ R e af + bg + ch = 0, então (af + bg + ch)0 = 0 e (af + bg + ch)00 = 0,
isto é
a ex +b e2x +c e3x = 0 ∀x ∈ R,
a ex +2b e2x +3c e3x = 0 ∀x ∈ R e
a ex +4b e2x +9c e3x = 0 ∀x ∈ R.
Em particular, com x = 0, tem-se
a + b + c = 0,
a + 2b + 3c = 0 e
a + 4b + 9c = 0.
Daı́ b + 2c = 0 e 2b + 6c = 0, isto é, b + 2c = 0 e b + 3c = 0. Assim b = c = 0. Portanto,
a = b = c = 0.
Isto diz que f , g e h são funções linearmente independentes.
Definição 2. Sejam I um intervalo e φ1 : I −→ R, . . . , φn : I −→ R funções. Dizemos que
φ1 , . . . , φn são linearmente dependentes quando φ1 , . . . , φn não são linearmente independentes,
isto é, quando existem a1 , . . . , an ∈ R, não todos nulos, tais que
a1 φ1 + · · · + an φn = 0,
ou seja,
a1 φ1 (x) + · · · + an φn (x) = 0 qualquer que seja x ∈ I.
Proposição 1. Sejam I um intervalo e φ1 : I −→ R, . . . , φn : I −→ R funções. As funções
φ1 , . . . , φn são linearmente dependentes se, e somente se, uma delas é combinação linear das
demais.
3
Soluçao. Suponha que φ1 , . . . , φn são (n − 1) vezes diferenciáveis e que existe x0 ∈ I tal que
W [φ1 , . . . , φn ](x0 ) 6= 0. Daı́, se a1 , . . . , an ∈ R e a1 φ1 + · · · + an φn = 0 então
a1 φ1 (x) + · · · + an φn (x) = 0 ∀x ∈ I,
a1 φ01 (x) + · · · + an φ0n (x) = 0 ∀x ∈ I,
...,
(n−1)
a1 φ1 (x) + · · · + an φ(n−1)
n (x) = 0 ∀x ∈ I.
Em particular,
a1 φ1 (x0 ) + · · · + an φn (x0 ) = 0,
a1 φ01 (x0 ) + · · · + an φ0n (x0 ) = 0,
...,
(n−1)
a1 φ1 (x0 ) + · · · + an φ(n−1)
n (x0 ) = 0,
isto é,
φ1 (x0 ) ... φn (x0 ) a1 0
φ01 (x0 ) ... φ0n (x0 ) a2 0
· =
... ,
... ... ... ...
(n−1) (n−1)
φ1 (x0 ) . . . φn (x0 ) an 0
com n equações e n incógnitas. Como W [φ1 , . . . , φn ](x0 ) 6= 0, ou melhor, a matriz dos coe-
ficientes deste sistema linear é invertı́vel, tem-se que ele possui somente uma solução. Assim,
sendo (0, . . . , 0) a solução deste sistema, conclui-se que a1 = 0, . . . , an = 0.
Isto mostra que φ1 , . . . , φn são linearmente independentes.
Soluçao. Tem-se
ψ1 (x) ... ψn (x)
ψ10 (x) ... ψn0 (x)
W [ψ1 , . . . , ψn ](x) = det
... ... ...
(n−1) (n−1)
ψ1 (x) . . . ψn (x)
1 x x2 ... xn−1
0
1 2x ... (n − 1)xn−2
= det
0 0 2 . . . (n − 1)(n − 2)xn−3 =
... ... ... ... ...
0 0 0 ... (n − 1)!
= (0!).(1!).(2!). · · · .((n − 1)!) 6= 0 ∀x ∈ I.
Portanto, pela proposição 2, as funções ψ1 , . . . , ψn são linearmente independentes.
Proposição 3. Sejam I um intervalo de R e, p : I −→ R e q : I −→ R, funções contı́nuas. Se
φ1 : I −→ R e φ2 : I −→ R são soluções linearmente independentes da equação diferencial
linear homogênea, de segunda ordem,
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0,
então W [φ1 , φ2 ](x) 6= 0 ∀x ∈ I.
Soluçao. Admita as hipóteses no enunciado. Dado x0 ∈ I, se (a, b) é solução do sistema linear
homogêneo
φ1 (x0 ) φ2 (x0 ) u 0
0 0 · = ,
φ1 (x0 ) φ2 (x0 ) v 0
então aφ1 (x0 ) + bφ2 (x0 ) = 0 e aφ01 (x0 ) + bφ02 (x0 ) = 0. Deste modo, pela proposição 1, da aula
número 29, a função φ : I −→ R, dada por
φ(x) = aφ1 (x) + bφ2 (x) ∀x ∈ I,
é solução da referida equação diferencial linear homogênea, satisfazendo as condições φ(x0 ) =
0 e φ0 (x0 ) = 0. Como a função nula, com domı́nio I, é solução desta equação diferencial linear
homogênca, satisfazendo as mesmas condições, segue pelo Teorema de Existência e Unicidade
que φ é função nula, ou seja, aφ1 + bφ2 = 0. Sendo φ1 e φ2 linearmente independentes, tem-se
que a = b = 0.
Isto diz que o sistema linear homogêneo possui somente uma solução. Assim a sua matriz
dos coeficientes é invertı́vel, ou melhor,
φ1 (x0 ) φ2 (x0 )
W [φ1 , φ2 ](x0 ) = det 6= 0.
φ01 (x0 ) φ02 (x0 )
Veja que x0 ∈ I é fixo, porém arbitrário. Logo
W [φ1 , φ2 ](x) 6= 0 ∀x ∈ I.
A seguinte proposição diz que o conjunto solução de cada equação diferencial linear, de
segunda ordem e homogênea, fica completamente determinado por um par de soluções linear-
mente independentes.
6
Como
e−x
x
φ1 (x) φ2 (x) e
W [φ1 , φ2 ](x) = det = det
φ01 (x) φ02 (x) ex − e−x
= −1 − 1 = −2 ∀x ∈ R,
tem-se que φ1 e φ2 são linearmente independentes. Assim, pela proposição 4, a solução geral
φg desta equação diferencial é dada por
φg (x) = C1 ex +C2 e−x onde C1 , C2 ∈ R.
Corolário 1. Sejam I um intervalo de R e, p : I −→ R e q : I −→ R, funções contı́nuas. A
equação diferencial linear homogênea, de segunda ordem,
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0,
possui duas soluções φ1 : I −→ R e φ2 : I −→ R linearmente independentes e, portanto, a
sua solução geral φg é dada por
φg (x) = C1 φ1 (x) + C2 φ2 (x) ∀x ∈ I, onde C1 , C2 ∈ R.
Demonstração. Admita as hipóteses do enunciado. Pelo Teorema de Existência e Unicidade, o
problema de valor inicial
00
f (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0,
f (0) = 1 e f 0 (0) = 0,
possui uma única solução φ1 : I −→ R, e o problema de valor inicial
00
f (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0,
f (0) = 0 e f 0 (0) = 1,
possui uma única solução φ2 : I −→ R. Daı́
φ1 (0) φ2 (0) 1 0
W [φ1 , φ2 ](0) = det = det = 1 6= 0.
φ01 (0) φ02 (0) 0 1
Portanto, φ1 e φ2 são linearmente independentes.
AULA 30
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
O objetivo desta aula é encontrar a solução geral da equação diferencial linear homogênea,
de segunda ordem,
(EDLH) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = 0,
onde p e q são constantes reais, isto é, p, q ∈ R.
Na busca de uma solução, da equação diferencial linear homogênea EDLH, na forma
φ(x) = eαx qualquer que seja x ∈ R, onde α ∈ R,
tem-se a seguinte sequência de equivalências,
φ00 (x) + pφ0 (x) + qφ(x) = 0 ∀x ∈ R ⇐⇒ α2 eαx +pα eαx +q eαx = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ eαx (α2 + pα + q) = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ α2 + pα + q = 0,
visto que eαx 6= 0 qualquer que seja x ∈ R. Daı́, a seguinte proposição.
Proposição 1. Dados p, q, α ∈ R, a função φ : R −→ R, dada por
φ(x) = eαx qualquer que seja x ∈ R,
é solução da equação diferencial linear homogênea
(EDLH) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = 0
se, e somente se, α é raiz da equação algébrica u2 + pu + q = 0, na incógnita u.
A equação, do segundo grau, u2 + pu + q = 0 é denoninada equação caracterı́stica da
equação diferencial linear homogênea EDLH.
Exemplo 1. As funções φ1 e φ2 , dadas por,
φ1 (x) = ex e φ2 (x) = e−x ∀x ∈ R,
são soluções linearmente independentes da equação diferencial linear homogênea
f 00 (x) − f (x) = 0, onde p = 0 e q = 1.
Perceba que 1 e −1 são as raı́zes reais da sua equação caracterı́stica: u2 − 1 = 0.
1
2
EDLH para obter-se a sua solução geral. A ideia agora é buscar uma solução ψ : R −→ R,
dada por
ψ(x) = g(x) eαx qualquer que seja x ∈ R,
onde g : R −→ R seja uma função duas vezes diferenciável e não constante. Dada uma função
ψ, desse tipo, tem-se
ψ 0 (x) = g 0 (x) eαx +αg(x) eαx ∀x ∈ R e
ψ 00 (x) = g 00 (x) eαx +2αg 0 (x) eαx +α2 g(x) eαx ∀x ∈ R.
Daı́,
ψ 00 (x) + pψ 0 (x) + qψ(x) = 0 ∀x ∈ R ⇐⇒ g 00 (x) eαx +2αg 0 (x) eαx +α2 g(x) eαx +
p(g 0 (x) eαx +αg(x) eαx )+
qg(x) eαx = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ g 00 (x) eαx +(2α + p)g 0 (x) eαx
(α2 + pα + q)g(x) eαx = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ g 00 (x) eαx = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ g 00 (x) = 0 ∀x ∈ R,
visto que 2α + p = 0 e α2 + pα + q = 0. Assim, ψ é solução da equação diferencial linear
homogênea EDLH se, e somente se, g 00 (x) = 0 ∀x ∈ R. Logo, as funções φ : R −→ R e
ψ : R −→ R, dadas por
φ(x) = eαx e ψ(x) = x eαx ∀x ∈ R,
são soluções da equação diferencial linear homogênea EDLH. Como
αx
e x eαx
W [φ, ψ](x) =
α eαx eαx +xα eαx
= e2αx +αx e2αx −αx e2αx = e2αx 6= 0 ∀x ∈ R,
as funções φ e ψ são linearmente independentes e, portanto, a solução geral φg , da equação
diferencial linear homogênea EDLH é dada por
φg (x) = C eαx +Dx eαx ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Exemplo 4. Como resolver a equação diferencial linear homogênea
f 00 (x) + 6f 0 (x) + 9f (x) = 0?
Soluçao. A sua equação caracterı́stica, u2 + 6u + 9 = 0, possui somente uma raiz real: −3.
Neste caso as funções φ : R −→ R e ψ : R −→ R, dadas por
φ(x) = e−3x e ψ(x) = x e−3x ∀x ∈ R,
são soluções linearmente independentes. Portanto, a sua solução geral φg é dada por
φg (x) = C e−3x +Dx e−3x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
4
Daı́,
ψ 00 (x) + pψ 0 (x) + qψ(x) = 0 ∀x ∈ R ⇐⇒ g 00 (x) eαx +2αg 0 (x) eαx +α2 g(x) eαx +
p(g 0 (x) eαx +αg(x) eαx )+
qg(x) eαx = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ g 00 (x) eαx +(2α + p)g 0 (x) eαx
(α2 + pα + q)g(x) eαx = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ g 00 (x) eαx +β 2 g(x) eαx = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ g 00 (x) + β 2 g(x) = 0 ∀x ∈ R,
visto que 2α + p = 0 e
p2 p2 p2
α2 + pα + q = − + q = − + q = β 2.
4 2 4
Assim, ψ é solução da equação diferencial linear homogênea EDLH se, e somente se,
g 00 (x) + β 2 g(x) = 0 ∀x ∈ R.
Logo, pelo exemplo 5, as funções ψ1 : R −→ R e ψ2 : R −→ R, dadas por
ψ1 (x) = eαx sen(βx) e ψ2 (x) = eαx cos(βx) ∀x ∈ R,
são soluções da equação diferencial linear homogênea EDLH. Como
eαx sen(βx) eαx cos(βx)
W [ψ1 , ψ2 ](x) =
α eαx sen(βx) + β eαx cos(βx) α eαx cos(βx) − β eαx sen(βx)
= −β eαx sen2 (βx) − β eαx cos2 (βx) = −β eαx 6= 0 ∀x ∈ R,
as funções ψ1 e ψ2 são linearmente independentes e, portanto, a solução geral φg , da equação
diferencial linear homogênea EDLH é dada por
φg (x) = C1 eαx sen(βx) + C2 eαx cos(βx) ∀x ∈ R, onde C1 , C2 ∈ R.
Exemplo 6. Como resolver a equação diferencial linear homogênea
f 00 (x) − 4f 0 (x) + 13f (x) = 0?
Soluçao. A sua equação caracterı́stica, u2 − 4u + 13 = 0, possui discriminante ∆ dado por
∆ = (−4)2 − 4.1.13 = 16 − 52 = −36.
Sendo ∆ < 0, esta equação do segundo grau possui duas raizes complexas:
p p
−(−4) + i −(36) 4 + 6i −(−4) − i −(36) 4 − 6i
= = 2 + 3i e = = 2 − 3i.
2 2 2 2
Assim, as funções ψ1 : R −→ R e ψ2 : R −→ R, dadas por
ψ1 (x) = e2x sen(3x) e ψ2 (x) = e2x cos(3x) ∀x ∈ R,
são soluções linearmente independentes da referida equação diferencial linear homogênea. Por-
tanto, a sua solução geral ψg é dada por
ψg (x) = C e2x sen(3x) + D e2x cos(3x) ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
6
O objetivo desta aula é resolver equação diferencial linear não homogênea, de segunda or-
dem,
f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = r(x)
onde p, q ∈ R e r, óbvio, não é uma função nula.
Antes, porém, vamos considerar a equação diferencial linear não homogênea
e, portanto,
(φ + ψ)00 (x) + p(x)(φ + ψ)0 (x) + q(x)(φ + ψ)(x) =
φ00 (x) + ψ 00 (x) + p(x)(φ0 (x) + ψ 0 (x)) + q(x)(φ(x) + ψ(x) =
φ00 (x) + ψ 00 (x) + p(x)φ0 (x) + p(x)ψ 0 (x)) + q(x)φ(x) + q(x)ψ(x) =
(φ00 (x) + p(x)φ0 (x) + q(x)φ(x)) + (ψ 00 (x) + p(x)ψ 0 (x)) + q(x)ψ(x)) =
0 + r(x) = r(x) qualquer que seja x ∈ I,
isto é, φ + ψ é solução da equação diferencial linear não homogênea EDNH. Isto diz
que a soma de qualquer solução da equação diferencial linear homogênea com qual-
quer solução da equação diferencial linear não homogênea, é uma solução da equação
diferencial linear não homogênea.
∗ Por outro lado, se ψ1 : I −→ R e ψ2 : I −→ R são soluções da equação diferencial
linear não homogênea EDNH, então
ψ100 (x) + p(x)ψ10 (x) + q(x)ψ1 (x) = r(x) qualquer que seja x ∈ I,
ψ200 (x) + p(x)ψ20 (x) + q(x)ψ2 (x) = r(x) qualquer que seja x ∈ I
1
2
e, assim,
(ψ2 − ψ1 )00 (x) + p(x)(ψ2 − ψ1 )0 (x) + q(x)(ψ2 − ψ1 )(x) =
ψ200 (x) − ψ100 (x) + p(x)(ψ20 (x) − ψ10 (x)) + q(x)(ψ2 (x) − ψ1 (x) =
ψ200 (x) − ψ100 (x) + p(x)ψ20 (x) − p(x)ψ10 (x)) + q(x)ψ2 (x) − q(x)ψ1 (x) =
(ψ200 (x) + p(x)ψ20 (x) + q(x)ψ2 (x)) − (ψ100 (x) + p(x)ψ10 (x)) + q(x)ψ1 (x)) =
r(x) − r(x) = 0 qualquer que seja x ∈ I,
isto é, ψ2 − ψ1 é solução da equação diferencial linear homogênea EDH. Isto diz que a
diferença entre quaisquer duas soluções da equação diferencial linear não homogênea,
é uma solução da equação diferencial linear homogênea.
Diante destes dois fatos, seja ψp : I −→ R uma solução particular da equação diferencial
linear não homogênea EDNH. Se ψ : I −→ R é qualquer solução da equação diferencial linear
não homogênea EDNH, então
ψ(x) = (ψ(x) − ψp (x)) + ψp (x) = (ψ − ψp )(x) + ψp (x) ∀x ∈ I,
onde ψ − ψp é uma solução da equação diferencial linear homogênea EDH, ou seja, ψ é a
soma de uma solução da equação diferencial linear homogênea com a solução particular ψp
da equação diferencial linear não homogênea. Reciprocamente, se φ é solução da equação
diferencial linear homogênea EDH, então φ + ψp é solução da equação diferencial linear não
homogênea EDNH. Portanto, a solução geral ψg , da equação diferencial linear não homogênea
EDNH, é dada por
ψg (x) = φg (x) + ψp (x) ∀x ∈ I,
onde φg é a solução geral da equação diferencial linear homogênea EDH. Isto diz que para
resolver a equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = r(x),
basta encontrar uma solução particular sua e encontrar a solução geral da equação diferencial
linear homogênea
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0
associada.
Exemplo 1. Como encontrar a solução geral da equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) = sen(x)?
Soluçao. Observe que a função ψp : R −→ R, dada por
ψp (x) = − sen(x) ∀x ∈ R,
é uma solução particular da equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) = sen(x),
e a solução geral φg , da equação diferencial linear homogênea associada
f 00 (x) = 0,
é dada por
φg (x) = C + Dx ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
3
Portanto, a solução geral ψg , da equação diferencial linear não homogênea, é dada por
ψg (x) = φg (x) + ψp (x) = C + Dx − sen(x) ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Sejam p, q, α ∈ R, a equação diferencial linear não homogênea
(ED1) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = eαx ,
e a equação diferencial linear homogênea associada
(EDH1) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = 0.
Se α não é raiz da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, então a função φ(x) = eαx não é
solução da equação diferencial linear homogênea EDH1. Logo, é razoável buscar uma solução
particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED1, dada por
ψp (x) = A eαx ∀x ∈ R, onde A ∈ R.
Sendo ψp desta forma, tem-se
ψp00 (x) + pψp0 (x) + qψp (x) = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ α2 A eαx +pαA eαx +qA eαx = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ (α2 + pα + q)A = 1
1
⇐⇒A = 2 ,
α + pα + q
isto é, a função ψp é solução da equação diferencial linear não homogênea ED1 se, e somente
se, A = 1/(α2 + pα + q). Portanto, a função ψp : R −→ R, dada por
1
ψp (x) = 2 eαx ∀x ∈ R,
α + pα + q
é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED1. Agora se α é raiz da
equação caracterı́stica, mas não é raiz dupla, então a função φ(x) = eαx é solução da equação
diferencial linear homogênea EDH1 e α 6= −p/2. Assim, é razoável buscar uma solução
particular ψp dada por
ψp (x) = Ax eαx ∀x ∈ R, onde A ∈ R.
Sendo ψp desta forma, tem-se
ψp0 (x) = A eαx +Aαx eαx ∀x ∈ R,
ψp00 (x) = 2Aα eαx +Aα2 x eαx ∀x ∈ R
e, assim,
ψp00 (x) + pψp0 (x) + qψp (x) = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ 2Aα eαx +Aα2 x eαx +p(A eαx +Aαx eαx ) + qAx eαx = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒(α2 + pα + q)Ax eαx +(2α + p)A eαx = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ (2α + p)A = 1
1
⇐⇒ A = ,
2α + p
4
isto é, a função ψp é solução da equação diferencial linear não homogênea ED1 se, e somente
se, A = 1/(2α + p). Portanto, a função ψp : R −→ R, dada por
1
ψp (x) = x eαx ∀x ∈ R,
2α + p
é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED1. No caso em que α é
raiz dupla da equação caracterı́stica , as funções φ1 (x) = eαx e φ2 (x) = x eαx são soluções da
equação diferencial linear homogênea EDH1. Assim, é razoável buscar uma solução particular
ψp dada por
ψp (x) = Ax2 eαx ∀x ∈ R, onde A ∈ R.
Sendo ψp desta forma, tem-se
ψp0 (x) = 2Ax eαx +Aαx2 eαx ∀x ∈ R,
ψp00 (x) = 2A eαx +4Aαx eαx +Aα2 x2 eαx ∀x ∈ R
e, assim,
ψp00 (x) + pψp0 (x) + qψp (x) = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ 2A eαx +4Aαx eαx +Aα2 x2 eαx +
p(2Ax eαx +Aαx2 eαx ) + qAx2 eαx = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ (α2 + pα + q)Ax2 eαx +2(2α + p)Ax eαx +2A eαx = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ 2A eαx = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ 2A = 1
1
⇐⇒ A = ,
2
isto é, a função ψp é solução da equação diferencial linear não homogênea ED1 se, e somente
se, A = 1/2. Portanto, a função ψp : R −→ R, dada por
1
ψp (x) = x2 eαx ∀x ∈ R,
2
é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED1.
Sugestão 1. Para encontrar uma solução particular ψp da equação diferencial linear não ho-
mogênea
(ED1) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = eαx ,
não memorize as fórmulas para ψp . Memorize, em cada relação de α com a equação carac-
terı́stica u2 + pu + q = 0, a forma de ψp e o procedimento adotado para encontrar a respectiva
constante A. Se α não é raiz da equação caracterı́stica, ψp (x) = A eαx . Se α é raiz sim-
ples da equação caracterı́stica, ψp (x) = Ax eαx . Se α é raiz dupla da equação caracterı́stica,
ψp (x) = Ax2 eαx . Em cada caso, substitua f por ψp na equação diferencial linear não ho-
mogênea ED1 e encontre o valor para A de modo que a iguldade ocorra em cada x ∈ R.
Exemplo 2. Como encontrar a solução geral da equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) − 5f 0 (x) + 6f (x) = e2x ?
5
Assim,
ψp00 (x) + pψp0 (x) + qψp (x) = eαx sen βx ∀x ∈ R
⇐⇒ (A(α2 − β 2 ) − 2Bαβ) eαx sen βx + (B(α2 − β 2 ) + 2Aαβ) eαx cos βx+
p((Aα − Bβ) eαx sen βx + (Aβ + Bα) eαx cos βx)+
q(A eαx sen βx + B eαx cos βx) = eαx sen βx ∀x ∈ R
⇐⇒ [A(α2 − β 2 ) − 2Bαβ + p(Aα − Bβ) + qA] eαx sen βx
[B(α2 − β 2 ) + 2Aαβ + p(Aβ + Bα) + qB] eαx cos βx
= eαx sen βx ∀x ∈ R
⇐⇒ [(α2 − β 2 + pα + q)A + (−2αβ − pβ)B] eαx sen βx+
[(2αβ + pβ)A + (α2 − β 2 + pα + q)B] eαx cos βx = eαx sen βx ∀x ∈ R
⇐⇒ (α2 − β 2 + pα + q)A + (−2αβ − pβ)B = 1 e
(2αβ + pβ)A + (α2 − β 2 + pα + q)B = 0
e o sistema linear
(α2 − β 2 + pα + q)u + (−2αβ − pβ)v = 1,
(SL2)
(2αβ + pβ)u + (α2 − β 2 + pα + q)v = 0,
nas incógnitas u e v, possui uma única solução (A, B) pois
2
α − β 2 + pα + q −2αβ − pβ
det =
2αβ + pβ α2 − β 2 + pα + q
(α2 − β 2 + pα + q)2 + (2α + p)2 β 2 > 0
visto que, por hipótese, α + iβ não é raiz da equação caracterı́stica, isto é,
0 6= (α + iβ)2 + p · (α + iβ) + q
= α2 + 2αβi − β 2 + pα + ipβ + q
= (α2 − β 2 + pα + q) + i(2α + p)β
e, portanto,
(2α + p)β 6= 0 ou α2 − β 2 + pα + q 6= 0.
Daı́, há uma solução particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED2, dada por
ψp (x) = A eαx sen βx + B eαx cos βx ∀x ∈ R,
onde (A, B) é a única solução do sistema linear SL2.
No caso em que α + iβ é raiz da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, então a função
φ1 (x) = eαx sen βx e a função φ2 (x) = eαx cos βx são soluções da equação diferencial linear
homogênea EDH2. Logo, é razoável buscar uma solução particular ψp da equação diferencial
linear não homogênea ED2 dada por
ψp (x) = xφp (x) ∀x ∈ R,
onde
φp (x) = A eαx sen βx + B eαx cos βx ∀x ∈ R, com A, B ∈ R.
7
Soluçao. A sua equação caracterı́stica, u2 + 2u + 1 = 0, possui uma raı́z real dupla: −1. Daı́,
a solução geral φg , da equação diferencial linear homogênea associada
f 00 (x) + 2f 0 (x) + f (x) = 0,
é dada por
φg (x) = C e−x +Dx e−x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Como o número complexo α + iβ = 0 + 1i = i não é raiz complexa da equação caracterı́stica,
há uma solução particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea, dada por
ψp (x) = A sen(x) + B cos(x) ∀x ∈ R, onde A, B ∈ R.
Deste modo,
ψp0 (x) = A cos(x) − B sen(x) ∀x ∈ R,
ψp00 (x) = −A sen(x) − B cos(x) ∀x ∈ R
e, assim,
ψp00 (x) + 2ψp0 (x) + ψp (x) = sen(x) ∀x ∈ R
⇐⇒ − A sen(x) − B cos(x) + 2(A cos(x) − B sen(x))+
A sen(x) + B cos(x) = sen(x) ∀x ∈ R
⇐⇒ − 2B sen(x) + 2A cos(x) = sen(x) ∀x ∈ R
⇐⇒ − 2B = 1 e 2A = 0 ⇐⇒ B = −1/2 e A = 0.
Portanto, a função ψp , dada por
1
ψp (x) = − cos(x) ∀x ∈ R,
2
é uma solução particular da equação diferencial linear não homogênea. Logo, a solução geral
ψg da equação diferencial linear não homogênea, é dada por
1
ψg (x) = C e−x +Dx e−x − cos(x) ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
2
Sejam p, q ∈ R, uma função polinômial P (x) = Pn xn + Pn−1 xn−1 + · · · + P1 x + P0 de grau
n, a equação diferencial linear não homogênea
(ED3) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = P (x),
e a equação diferencial linear homogênea associada
(EDH3) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = 0.
Se q 6= 0, isto é, 0 não é raiz da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, então é razoável buscar
uma solução particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED3, dada por
ψp (x) = An xn + · · · + A1 x + A0 ∀x ∈ R,
onde An , . . . , A1 , A0 ∈ R. Sendo ψp desta forma, tem-se
ψp0 (x) = nAn xn−1 + · · · + 3A3 x2 + 2A2 x + A1 ∀x ∈ R e
ψp00 (x) = n(n − 1)An xn−2 + · · · + 6A3 x + 2A2 ∀x ∈ R.
9
Assim,
ψp00 (x) + pψp0 (x) + qψp (x) = P (x) ∀x ∈ R
⇐⇒ n(n − 1)An xn−2 + · · · + 6A3 x + 2A2 +
p(nAn xn−1 + · · · + 3A3 x2 + 2A2 x + A1 )+
q(An xn + · · · + A1 x + A0 ) = Pn xn + · · · + P1 x + P0 ∀x ∈ R
qAn = Pn ,
qAn−1 + pnAn = Pn−1 ,
⇐⇒ qAn−2 + p(n − 1)An−1 + n(n − 1)An = Pn−2 ,
...,
qA + pA + 2A = P .
0 1 2 0
nas incóginitas u0 , u1 , . . . , un possui uma única solução (An , . . . , A1 , A0 ). Daı́, há uma solução
particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED3, dada por
ψp (x) = An xn + · · · + A1 x + A0 ∀x ∈ R,
onde (An , . . . , A1 , A0 ) é a única solução do sistema linear SL3.
Se q = 0 e p 6= 0, isto é, 0 é raiz simples da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, então é
razoável buscar uma solução particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED3,
dada por
ψp (x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 )
= An xn+1 + · · · + A1 x2 + A0 x ∀x ∈ R,
onde An , . . . , A1 , A0 ∈ R. Sendo ψp desta forma, tem-se
ψp0 (x) = (n + 1)An xn + · · · + 3A2 x2 + 2A1 x + A0 ∀x ∈ R,
ψp00 (x) = (n + 1)nAn xn−1 + · · · + 6A2 x + 2A1 ∀x ∈ R,
Assim,
ψp00 (x) + pψp0 (x) = P (x) ∀x ∈ R
⇐⇒ (n + 1)nAn xn−1 + · · · + 6A2 x + 2A1 +
p((n + 1)An xn + · · · + 3A2 x2 + 2A1 x + A0 ) = Pn xn + · · · + P1 x + P0 ∀x ∈ R
p(n + 1)An = Pn ,
pnAn−1 + (n + 1)nAn = Pn−1 ,
⇐⇒ p(n − 1)An−2 + n(n − 1)An−1 = Pn−2 ,
...,
pA + 2A = P .
0 1 0
10
nas incóginitas u0 , u1 , . . . , un possui uma única solução (An , . . . , A1 , A0 ). Daı́, há uma solução
particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED3, dada por
ψp (x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 ) ∀x ∈ R,
onde (An , . . . , A1 , A0 ) é a única solução do sistema linear SL4.
Se p = q = 0, isto é, 0 é raiz dupla da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, então é
razoável buscar uma solução particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED3,
dada por
ψp (x) = x2 (An xn + · · · + A1 x + A0 )
= An xn+2 + · · · + A1 x3 + A0 x2 ∀x ∈ R,
onde An , . . . , A1 , A0 ∈ R. Sendo ψp desta forma, tem-se
ψp0 (x) = (n + 2)An xn+1 + · · · + 4A2 x3 + 3A1 x2 + 2A0 x ∀x ∈ R,
ψp00 (x) = (n + 2)(n + 1)An xn + · · · + 12A2 x2 + 6A1 x + 2A0 ∀x ∈ R,
Assim,
ψp00 (x) = P (x) ∀x ∈ R
⇐⇒ (n + 2)(n + 1)An xn + · · · + 12A2 x2 + 6A1 x + 2A0 =
Pn xn + · · · + P1 x + P0 ∀x ∈ R
(n + 2)(n + 1)An = Pn ,
(n + 1)(n)An−1 = Pn−1 ,
⇐⇒ n(n − 1)An−2 = Pn−2 ,
...,
2A = P .
0 0
nas incóginitas u0 , u1 , . . . , un possui uma única solução (An , . . . , A1 , A0 ). Daı́, há uma solução
particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED3, dada por
ψp (x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 ) ∀x ∈ R,
onde (An , . . . , A1 , A0 ) é a única solução do sistema linear SL5.
11
Sugestão 3. Para encontrar uma solução particular ψp , da equação diferencial linear não
homogênea
(ED3) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = Pn xn + · · · + P1 x + P0 ,
não memorize as fórmulas para ψp . Memorize a forma de ψp e o procedimento adotado para
encontrar as respectivas constantes An , . . . , A1 , A0 . Se q 6= 0,
ψp (x) = An xn + · · · + A1 x + A0 ∀x ∈ R.
Se q = 0 e p 6= 0,
ψp (x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 ) ∀x ∈ R.
Se p = q = 0,
ψp (x) = x2 (An xn + · · · + A1 x + A0 ) ∀x ∈ R.
Em cada caso, substitua f por ψp na equação diferencial linear não homogênea ED3 e encontre
os valores para An , . . . , A1 , A0 de modo que a igualdade ocorra em cada x ∈ R.
Exemplo 4. Como resolver a equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) − 2f 0 (x) = x2 + 1?
Soluçao. A sua equação caracterı́stica, u2 − 2u = 0, possui duas raı́zes reais simples: 0 e 2.
Daı́, a solução geral φg , da equação diferencial linear homogênea associada
f 00 (x) − 2f 0 (x) = 0,
é dada por
φg (x) = C + D e2x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Como q = 0, há uma solução particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea, dada
por
ψp (x) = x(Ax2 + Bx + C) = Ax3 + Bx2 + Cx ∀x ∈ R, onde A, B ∈ R.
Deste modo,
ψp0 (x) = 3Ax2 + 2Bx + C ∀x ∈ R,
ψp00 (x) = 6Ax + 2B ∀x ∈ R
e, assim,
ψp00 (x) − 2ψp0 (x) = x2 + 1 ∀x ∈ R
⇐⇒ 6Ax + 2B − 2(3Ax2 + 2Bx + C) = x2 + 1 ∀x ∈ R
⇐⇒ − 6A = 1, 6A − 4B = 0 e 2B − 2C = 1
⇐⇒ A = −1/6, B = −1/4 e C = −3/4.
Portanto, a função ψp , dada por
1 1 3
ψp (x) = − x3 − x2 − x ∀x ∈ R,
6 4 4
é uma solução particular da equação diferencial linear não homogênea. Logo, a solução geral
ψg , da equação diferencial linear não homogênea, é dada por
1 1 3
ψg (x) = C + D e2x − x3 − x2 − x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
6 4 4
AULA 32
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
Esta aula continua com o estudo da resolução de equações diferenciais lineares, de segunda
ordem, não homogêneas e com coeficientes constantes.
Sejam p, q, α ∈ R, uma função polinômial P (x) = Pn xn + Pn−1 xn−1 + · · · + P1 x + P0 de
grau n, a equação diferencial linear não homogênea
(ED4) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = P (x) eαx ,
e a equação diferencial linear homogênea associada
(EDH4) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = 0.
Se Q é uma função polinomial e ψp é a função dada por
ψp (x) = Q(x) eαx ∀x ∈ R,
então
ψp0 (x) = Q0 (x) eαx +αQ(x) eαx ∀x ∈ R e
ψp00 (x) = Q00 (x) eαx +2αQ0 (x) eαx +α2 Q(x) eαx ∀x ∈ R.
Assim,
ψp00 (x) + pψp0 (x) + qψp (x) = Q00 (x) eαx +2αQ0 (x) eαx +α2 Q(x) eαx +
p(Q0 (x) eαx +αQ(x) eαx ) + qQ(x) eαx
= (α2 + pα + q)Q(x) eαx +(2α + p)Q0 (x) eαx +
Q00 (x) eαx ∀x ∈ R.
Daı́, ψp é solução da equação diferencial linear não homogênea ED4 se, e somente se,
(α2 + pα + q)Q(x) eαx +(2α + p)Q0 (x) eαx +Q00 (x) eαx = P (x) eαx ∀x ∈ R,
isto é,
(α2 + pα + q)Q(x) + (2α + p)Q0 (x) + Q00 (x) = P (x) ∀x ∈ R.
Assim, se α não é raiz da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0 e Q é a função polinomial
dada por
Q(x) = An xn + · · · + A1 x + A0 ∀x ∈ R,
onde
2
(α + pα + q)An = Pn ,
2
(α + pα + q)An−1 + (2α + p)nAn = Pn−1 ,
(α2 + pα + q)An−2 + (2α + p)(n − 1)An−1 + n(n − 1)An = Pn−2 ,
...,
(α2 + pα + q)A + (2α + p)A + 2A = P ,
0 1 2 0
então a função ψp é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED4.
Agora, se α é raiz simples da equação caracterı́stica u2 +pu+q = 0 e Q é a função polinomial
dada por
Q(x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 ) ∀x ∈ R,
1
2
onde
(2α + p)(n + 1)An = Pn ,
(2α + p)nAn−1 + (n + 1)nAn = Pn−1 ,
(2α + p)(n − 1)An−2 + n(n − 1)An−1 = Pn−2 ,
...,
(2α + p)A + 2A = P ,
0 1 0
então a função ψp é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED4.
Finalmente, se α é raiz dupla da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0 e Q é a função
polinomial dada por
Q(x) = x2 (An xn + · · · + A1 x + A0 ) ∀x ∈ R,
onde
(n + 2)(n + 1)An = Pn ,
(n + 1)(n)An−1 = Pn−1 ,
n(n − 1)An−2 = Pn−2 ,
..,
.
2A = P ,
0 0
então a função ψp é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED4.
Sintetizando, se α não é raiz da equação caracterı́stica, então deve-se buscar uma solução
particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED4, na forma
ψp (x) = (An xn + · · · + A1 x + A0 ) eαx .
Se α é raiz simples da equação caracterı́stica, então deve-se buscar uma solução particular ψp ,
da equação diferencial linear não homogênea ED4, na forma
ψp (x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 ) eαx .
Se α é raiz dupla da equação caracterı́stica, então deve-se buscar uma solução particular ψp , da
equação diferencial linear não homogênea ED4, na forma
ψp (x) = x2 (An xn + · · · + A1 x + A0 ) eαx .
A teoria apresentada garante que a busca funciona!
Exemplo 1. Como resolver a equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) + f 0 (x) = x e2x ?
Soluçao. A sua equação caracterı́stica , u2 + u = 0, possui duas raı́zes simples: 0 e −1. Daı́, a
solução geral φg , da equação diferencial linear homogênea associada
f 00 (x) + f 0 (x) = 0,
é dada por
φg (x) = C + D e−x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Como α = 2 não é raiz da equação caracterı́stica, existe uma solução particular ψp dada por
ψp (x) = (Ax + B) e2x , onde A, B ∈ R.
3
Logo,
ψp00 (x) + ψp0 (x) = x e2x ⇐⇒(5A + 6B) e2x +6Ax e2x = x e2x
⇐⇒5A + 6B = 0 e 6A = 1
⇐⇒A = 1/6 e B = −5/36.
é uma solução particular da equação diferencial linear não homogênea. Deste modo, a solução
geral ψg , da equação diferencial linear não homogênea, é dada por
−x 1 5
ψg (x) = C + D e + x− e2x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
6 36
então
ψp0 (x) = (A(x)α − B(x)β + A0 (x)) eαx sen βx +
(A(x)β + B(x)α + B 0 (x)) eαx cos βx ∀x ∈ R e
ψp00 (x) = (A(x)(α2 − β 2 ) − 2B(x)αβ + 2αA0 (x) − 2βB 0 (x) + A00 (x)) eαx sen βx +
(B(x)(α2 − β 2 ) + 2A(x)αβ + 2βA0 (x) + 2αB 0 (x) + B 00 (x)) eαx cos βx ∀x ∈ R.
4
Assim,
Daı́, ψp é solução da equação diferencial linear não homogênea ED5 se, e somente se,
isto é,
A(x) = An xn + · · · + A1 x + A0 e B(x) = Bn xn + · · · + B1 x + A0 ∀x ∈ R,
5
onde
2
(α − β 2 + pα + q)An + (−2αβ − pβ)Bn = Pn ,
(2αβ + pβ)An + (α2 − β 2 + pα + q)Bn = 0,
(α2 − β 2 + pα + q)An−1 + (−2αβ − pβ)Bn−1 + (2α + p)nAn − 2βnBn = Pn−1 ,
(2αβ + pβ)An−1 + (α2 − β 2 + pα + q)Bn−1 + 2βnAn + (2α + p)nBn = 0,
(α2 − β 2 + pα + q)An−2 + (−2αβ − pβ)Bn−2 + (2α + p)(n − 1)An−1 − 2β(n − 1)Bn−1
+n(n − 1)An = Pn−2 ,
(2αβ + pβ)An−2 + (α2 − β 2 + pα + q)Bn−2 + 2β(n − 1)An−1 + (2α + p)(n − 1)Bn−1
+n(n − 1)Bn = 0,
...
(α2 − β 2 + pα + q)A0 + (−2αβ − pβ)B0 + (2α + p)A1 − 2βB1 + 2A2 = P0 ,
(2αβ + pβ)A0 + (α2 − β 2 + pα + q)B0 + 2βA1 + (2α + p)B1 + 2B2 = 0,
então a função ψp é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED5. Per-
ceba que as duas primeiras equações lineares determinam An e Bn . Logo, as duas seguintes
determinan An−1 e Bn−1 e, assim por diante, até que as duas últimas equações determinam A0
e B0 . Em cada passo resolve-se um sistema linear 2 × 2 que possui somente uma solução.
Agora, se α + iβ é raiz da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, então 2α + p = 0 e
α2 − β 2 + pα + q = 0. Portanto, se A e B são as funções polinomiais dadas por
A(x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 ) e B(x) = x(Bn xn + · · · + B1 x + B0 ) ∀x ∈ R,
onde
−2β(n + 1)Bn = Pn ,
2β(n + 1)An = 0,
−2βnBn−1 + (n + 1)nAn = Pn−1 ,
2βnAn−1 + (n + 1)nBn = 0,
−2β(n − 1)Bn−2 + n(n − 1)An−1 = Pn−2 ,
2β(n − 1)An−2 + n(n − 1)Bn−1 = 0,
···
−2βB0 + 2A1 = P0 ,
2βA0 + 2B1 = 0,
então a função ψp é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED5.
Sintetizando, se α+iβ não é raiz da equação caracterı́stica, então deve-se buscar uma solução
particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED5, na forma
ψp (x) = (An xn + · · · + A1 x + A0 ) eαx sen(βx) +
= (Bn xn + · · · + B1 x + B0 ) eαx cos(βx).
Se α + iβ é raiz da equação caracterı́stica então, deve-se buscar uma solução particular ψp , da
equação diferencial linear não homogênea ED5, na forma
ψp (x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 ) eαx sen(βx) +
= x(Bn xn + · · · + B1 x + B0 ) eαx cos(βx).
A teoria apresentada garante que a busca funciona!
Exemplo 2. Como resolver a equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) − 2f 0 (x) + 5f (x) = x ex cos(2x)?
6
Logo,
(ψr + ψs )00 (x) + p(x)(ψr + ψs )0 (x) + q(x)(ψr + ψs )(x) =
ψr00 (x) + ψs00 (x) + p(x)(ψr0 (x) + ψs0 (x)) + q(x)(ψr (x) + ψs (x) =
ψr00 (x) + ψs00 (x) + p(x)ψr0 (x) + p(x)ψs0 (x)) + q(x)ψr (x) + q(x)ψs (x) =
(ψr00 (x) + p(x)ψr0 (x) + q(x)ψr (x)) + (ψs00 (x) + p(x)ψs0 (x)) + q(x)ψs (x)) =
r(x) + s(x) qualquer que seja x ∈ I,
isto é, ψr + ψs é solução da equação diferencial linear não homogênea EDNH. Isto diz que para
encontrar uma solução particular a equação diferencial linear não homogênea EDNH, basta
encontrar uma solução da equação diferencial EDNHr, uma solução da equação diferencial
EDNHs e somá-las.
Exemplo 3. Como resolver a equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) + 2f (x) = 1 + e2x + e−x ?
√ √
Soluçao. A sua equação caracterı́stica, u2 + 2 = 0, possui duas raı́zes complexas: 2i e − 2i.
Daı́, a solução geral φg , da equação diferencial linear homogênea associada
f 00 (x) + 2f (x) = 0,
é dada por
√ √
φg (x) = A sen( 2x) + B cos( 2x) ∀x ∈ R, onde A, B ∈ R.
A função ψ1 , dada por
1
ψ1 (x) = ∀x ∈ R,
2
é solução particular da equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) + 2f (x) = 1.
A função ψ2 , dada por
1 2x
ψ2 (x) = e ∀x ∈ R,
6
é solução particular da equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) + 2f (x) = e2x .
A função ψ3 , dada por
1 −x
ψ3 (x) = e ∀x ∈ R,
3
é solução particular da equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) + 2f (x) = e−x .
Portanto, a função ψp , dada por
1 2x 1 −x
ψp (x) = 1 + e + e ∀x ∈ R,
6 3
é solução particualar equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) + 2f (x) = 1 + e2x + e−x ,
8
Esta aula introduz o estudo das sequências de números reais, ponto de partida para o estudo
das séries de números reais e das séries de funções. Dado k ∈ N, o conjunto denotado por Nk é
o subconjunto de N definido por
Nk := { n ∈ N | n ≥ k }
:= { k, k + 1, k + 2, k + 3, k + 4, . . . } ,
isto é, Nk é o conjunto formado por cada número natural que é maior do que ou igual a k.
Assim, por exemplo,
N2 = { 2, 3, 4, 5, . . . } ,
N8 = { 8, 9, 10, 11, . . . } ,
N15 = { 15, 16, 17, 18, . . . } ,
N21 = { 21, 22, 23, 24, . . . } ,
N1 = N∗ = { 1, 2, 3, 4, . . . } e
N0 = N = { 0, 1, 2, 3, 4, . . . } .
Definição 1. Dizemos que uma função f , de uma variável real e de valor real, é uma sequência
(de números reais) quando o seu dominio é um conjunto de números naturais Nk , para algum
k ∈ N.
Deste modo, são sequências as seguintes funções.
∗ A função f : N −→ R dada por
n
f (n) = 2 ∀n ∈ N.
n +1
∗ A função g : N1 −→ R dada por
n−1
g(n) = ∀n ∈ N1 .
n2 + n
∗ A função h : N3 −→ R dada por
1 − n3
h(n) = ∀n ∈ N3 .
n2 − 2n
∗ A função f : N20 −→ R dada por
1
f (n) = ∀n ∈ N20 .
n − 19
Exemplo 1. Seja f a sequência dada por
n+7
f (n) = .
n2 − 7n
Neste caso, o domı́nio da sequência f é o conjunto N8 .
1
2
Perceba que o cálculo de xn depende do conhecimento do valor de xn−1 . Por exemplo, não há
como calcular x11 sem o prévio conhecimento de x10 . O valor de xn depende somente de n,
mas o seu cálculo requer o conhecimento do valor de xn−1 .
Exemplo 10. Seja (zn )n≥0 a sequência definida recursivamente por
0 se n = 0,
zn = 1 se n = 1,
z
n−2 + zn−1 se n ≥ 2.
Esta é conhecida como Sequência de Fibonacci. Por definição
z0 =1 z1 = 1
z2 = z0 + z1 = 0 + 1 = 1 z3 = z1 + z2 = 1 + 1 = 2
z4 = z2 + z3 = 1 + 2 = 3 z5 = z3 + z4 = 2 + 3 = 5
z6 = z4 + z5 = 3 + 5 = 8 ...
Definição 2. Sejam uma sequência (xn )n≥k e L ∈ R. Dizemos que L é limite da sequência
(xn )n≥k quando, para cada > 0, existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < .
Esta definição diz, de outra forma, que L é limite da sequência (xn )n≥k quando, em módulo,
a diferença xn − L puder ser limitada superiormente tanto quando se deseja, bastando para isso
tomar n suficientemente “grande”. Desta forma, a intuiçao diz, por exemplo, que 0 é limite da
sequência (xn )n≥0 dada por
1
xn = 2 qualquer que seja n ∈ N.
n +1
Proposição 1. Sejam uma sequência (xn )n≥k e L, M ∈ R. Se L e M são limites da sequência
(xn )n≥k então L = M .
Demonstração. Se L e M são limites de (xn )n≥k então, para cada > 0, existe n1 ∈ Nk tal que
n > n1 =⇒ |xn − L| < /2
e existe n2 ∈ Nk tal que
n > n2 =⇒ |xn − M | < /2.
5
Daı́, escolhendo n > max{ n1 , n2 }, tem-se |xn − L| < /2, |xn − M | < /2 e, portanto,
0 ≤ |L − M | = |L − xn + xn − M | = |(L − xn ) + (xn − M )|
≤ |L − xn | + |xn − M | = |xn − L| + |xn − M |
< /2 + /2 = ,
ou seja, 0 ≤ |L − M | < . Assim, está provado que
0 ≤ |L − M | < qualquer que seja > 0.
Logo, |L − M | = 0, isto é, L = M .
Sejam uma sequência (xn )n≥k e L ∈ R. Esta proposição diz que limite de uma sequência,
em existindo, é único. Daı́, sendo L o limite da sequência (xn )n≥ escrevemos
L = lim xn ou xn −→ L.
n→+∞
Proposição 2. Sejam k ∈ N, f uma função definida em [k, +∞) e (xn )n≥k a sequência definida
por f , isto é,
xn = f (n) qualquer que seja n ∈ Nk .
Se
L = lim f (x) então L = lim xn .
x→+∞ n→+∞
Demonstração. Se
L = lim f (x),
x→+∞
Definição 3. Seja uma sequência (xn )n≥k . Dizemos que limite da sequência (xn )n≥k é +∞, e
escrevemos
lim xn = +∞ ou xn −→ +∞,
n→+∞
quando, para cada C > 0, existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ xn > C.
Esta definição diz, de outra forma, que limite da sequência (xn )n≥k é +∞ quando xn puder
ser tomado “tão grande” quando se deseja, bastando para isso tomar n suficientemente “grande”.
Desta forma, a intuiçao diz, por exemplo, que +∞ é limite da sequência (xn )n≥0 dada por
xn = n2 + 1 qualquer que seja n ∈ N.
Definição 4. Seja uma sequência (xn )n≥k . Dizemos que limite da sequência (xn )n≥k é −∞, e
escrevemos
lim xn = −∞ ou xn −→ −∞,
n→+∞
quando, para cada C < 0, existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ xn < C.
Tem-se as duas seguintes variações da 2.
Proposição 3. Sejam k ∈ N, f uma função definida em [k, +∞) e (xn )n≥k a sequência definida
por f , isto é,
xn = f (n) qualquer que seja n ∈ Nk .
Se
lim f (x) = +∞, então lim xn = +∞.
x→+∞ n→+∞
Proposição 4. Sejam k ∈ N, f uma função definida em [k, +∞) e (xn )n≥k a sequência definida
por f , isto é,
xn = f (n) qualquer que seja n ∈ Nk .
Se
lim f (x) = −∞, então lim xn = −∞.
x→+∞ n→+∞
n2 + 1 1
lim 2 = lim e−n = 0
n→+∞ 2n − 1 2 n→+∞
3
n +1
lim = +∞ lim ln(n) = +∞
n→+∞ 2n2 − 1 n→+∞
1 − n2
lim = −∞ lim ln(1/n) = −∞
n→+∞ 2n − 1 n→+∞
Dizemos que uma sequência (xn )n≥k converge quando o seu limite é um número real. Caso
contrário, dizemos que ela diverge. Observe que há exatamente quatro possibilidades para a
7
sequência (xn )n≥k : ou seu limite é um número real, ou seu limite é +∞, ou seu limite é −∞
ou seu limite não existe.
Exemplo 12. Seja (xn )n≥n a sequência dada por
1 se n é par,
xn =
−1 se n é ı́mpar.
Suponha que esta sequência converge. Seja, então, L ∈ R o limite de (xn )n≥n . Daı́, em
particular, existe n0 ∈ N tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < 1/2.
Sendo assim, porque n0 + 1 e n0 + 2 têm paridades distintas,
2 = |xn0 +2 − xn0 +1 | = |(xn0 +2 − L) + (L − xn0 +1 )|
≤ |xn0 +2 − L| + |L − xn0 +1 | < 1/2 + 1/2 = 1,
ou seja, 2 < 1, o que é um absurdo. Portanto, esta sequência não converge. Chega-se a outros
absurdos supondo que +∞ é limite de (xn )n≥n ou que −∞ é limite de (xn )n≥n . Logo, não há
limite para tal sequência.
Definição 5. Seja (xn )n≥k uma sequência. Dizemos que (xn )n≥k é limitada superiormente
quando existe M ∈ R tal que
xn ≤ M qualquer que seja n ∈ Nk .
Dizemos que (xn )n≥k é limitada inferiormente quando existe N ∈ R tal que
xn ≥ N qualquer que seja n ∈ Nk .
Dizemos que (xn )n≥k é limitada quando (xn )n≥k é limitada superiormente e limitada inferior-
mente.
Exemplo 13. A sequência (yn )n≥1 dada por
1
yn = sen ∀n ∈ N1 ,
n
é limitada superiormente e inferiormente porque
−1 ≤ yn ≤ 1 qualquer que seja n ∈ N1 .
Logo, ela é limitada.
Exemplo 14. A sequência (xn )n≥0 dada por
xn = en ∀n ∈ N,
é limitada inferiormente porque
xn > 0 qualquer que seja n ∈ N,
mas não é limitada superiormente porque
lim xn = +∞.
n→+∞
Esta aula continua com o estudo das sequências de números reais. A seguinte definição
estabelece a igualdade entre duas sequências.
Definição 1. Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências. Dizemos que (xn )n≥k1 é igual a (yn )n≥k2 ,
e escrevemos
(xn )n≥k1 = (yn )n≥k2 ,
quando k1 = k2 e xn = yn qualquer que seja n ∈ Nk1 .
Observe que a definição 1 pode ser dita desnecessária, pois seu enunciado é consequência da
definição de igualdade de funções. A seguinte proposição estabelece que se duas sequências
diferem, por no máximo uma quantidade finita de termos, então uma converge se, e somente se,
a outra converge.
Proposição 1. Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências. Se existe k0 ∈ N, com k0 ≥ maior{ k1 , k2 },
tal que xn = yn qualquer que seja n ≥ k0 , então a sequência (xn )n≥k1 converge se, e somente
se, a sequência (yn )n≥k2 converge. Em cada caso tem-se
lim xn = lim yn .
n→+∞ n→+∞
Demonstração. Perceba que basta mostrar uma implicação. Suponha que existe k0 ∈ N tal que
k0 ≥ maior{ k1 , k2 } e xn = yn qualquer que seja n ≥ k0 .
Se a sequência (xn )n≥k1 converge, então existe L ∈ R tal que L é o limite da sequência
(xn )n≥k1 . Logo, para cada > 0, existe n0 ∈ Nk1 tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < .
Daı́, escolhendo n1 = maior{ n0 , k0 }, tem-se n1 ∈ Nk2 e
n > n1 =⇒ n > n0 e n > k0 =⇒ |yn − L| = |xn − L| < ,
isto é,
n > n1 =⇒ |yn − L| < .
Isto diz que L é o limite da sequência (yn )n≥k2 e, assim, (yn )n≥k2 converge.
Proposição 2. Sejam (xn )n≥k uma sequência e L, M ∈ R. Se L é limite de (xn )n≥k e L > M
então existe n0 ∈ Nk tal que
xn > M qualquer que seja n > n0 .
Demonstração. Se L é limite de (xn )n≥k e L > M então, em particular, existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < L − M =⇒ M − L < xn − L < L − M
=⇒ M < xn < 2L − M =⇒ M < xn ,
isto é, xn > M qualquer que seja n > n0 .
A proposição 2 apresenta a seguinte variação.
1
2
Proposição 3. Sejam (xn )n≥k uma sequência e L, M ∈ R. Se L é limite de (xn )n≥k e L < M
então existe n0 ∈ Nk tal que
xn < M qualquer que seja n > n0 .
Corolário 1. Sejam (xn )n≥k uma sequência e L, M ∈ R. Se L é limite de (xn )n≥k e xn ≤ M
qualquer que seja n ∈ Nk então L ≤ M .
Corolário 2. Sejam (xn )n≥k uma sequência e L, M ∈ R. Se L é limite de (xn )n≥k e xn ≥ M
qualquer que seja n ∈ Nk então L ≥ M .
Notaçao 1. Dada uma sequência f : Nk −→ R, além da sua notação (xn )n≥k , onde
xn = f (n) qualquer que seja n ∈ Nk ,
é comum denotá-la, também, diretamente por (f (n))n≥k . Isto possiblita escrever, de forma
mais direta, os seguintes enunciados.
∗ O limite da sequência
2
n −1
é 1.
n2 + 1 n≥0
∗ A sequência
3
n −1
diverge.
n2 + 1 n≥0
∗ A sequência
n
1+ 3 converge.
n − 1 n≥2
∗ A sequência
n−1 x−1
é definida pela funçao f dada por f (x) = .
sen(n) + 2 n≥0 sen(x) + 2
Proposição 4. Sejam (xn )n≥k uma sequência e L ∈ R. As seguintes afirmações são equivalen-
tes
∗ L é limite da sequência (xn )n≥k .
∗ 0 é limite da sequência (xn − L)n≥k .
∗ 0 é limite da sequência (|xn − L|)n≥k .
Exercı́cio 1. Demonstre a proposição 4.
Proposição 5. Sejam p ∈ R, f uma função e (xn )n≥k uma sequência tal que xn ∈ Df qualquer
que seja n ∈ Nk . Se f é contı́nua em p e p é o limite da sequência (xn )n≥k então f (p) é o limite
da sequência (f (xn ))n≥k , ou seja, neste caso
lim f (xn ) = f lim xn .
n→+∞ n→+∞
Demonstração. Se f é contı́nua em p então p ∈ Df e, para cada > 0, existe δ > 0 tal que
x ∈ Df e |x − p| < δ =⇒ |f (x) − f (p)| < .
3
Definição 2 (Soma de Sequências). Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências. A soma
(xn )n≥k1 + (yn )n≥k2 ,
de (xn )n≥k1 com (yn )n≥k2 , é a sequência (zn )n≥k3 dada por
zn = xn + yn ∀n ∈ Nk3 , onde k3 = maior{ k1 , k2 }.
Assim (xn )n≥k1 + (yn )n≥k2 := (xn + yn )n≥k3 onde k3 = maior{ k1 , k2 }.
Observe que a definição 2 pode ser dita desnecessária, pois seu enunciado é consequência da
definição de soma de funções.
4
Proposição 6. Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências, e L, M números reais. Se L é limite de
(xn )n≥k1 e M é limite (yn )n≥k2 então L + M é limite da soma (xn )n≥k1 + (yn )n≥k2 , ou seja,
L + M = lim (xn + yn ).
n→+∞
Observe que a definição 4 pode ser dita desnecessária, pois seu enunciado é consequência da
definição do produto de funções.
Exemplo 4. O produto da sequência
n+1 n−2
pela sequência
n − 2 n≥3 n n≥1
é a sequência
n+1 n−2 n+1
· = .
n−2 n n≥3 n n≥3
Proposição 8. Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências, e L, M números reais. Se L é limite de
(xn )n≥k1 e M é limite (yn )n≥k2 então L · M é limite do produto (xn )n≥k1 · (yn )n≥k2 , ou seja,
L · M = lim (xn · yn ).
n→+∞
é a sequência
n2 − 1
.
n2 − 5n + 6 n≥4
Proposição 9. Sejam (xn )n≥k uma sequência e L ∈ R. Se L é limite de (xn )n≥k e L 6= 0 então
o conjunto
{ n ∈ Nk | xn = 0 } é finito.
Demonstração. Se L ∈ R, L é limite de (xn )n≥k e L 6= 0 então L > 0 ou L < 0. Sendo L > 0,
pela proposição 2, existe n0 ∈ Nk tal que
xn > 0 qualquer que seja n > n0 .
Sendo L < 0, pela proposição 3, existe n0 ∈ Nk tal que
xn < 0 qualquer que seja n > n0 .
Logo, em qualquer caso, existe n0 ∈ Nk tal que xn 6= 0 qualquer que seja n > n0 e, assim,
{ n ∈ Nk | xn = 0 } ⊂ { k, k + 1, . . . , n0 } .
Portanto, { n ∈ Nk | yn = 0 } é um conjunto finito.
Proposição 10. Seja (xn )n≥k uma sequência. Se L é limite de (xn )n≥k e L 6= 0 então 1/L é
limite do inverso multiplicativo 1 (xn )n≥k , ou seja,
1 1
= lim .
L n→+∞ xn
Exercı́cio 5. Demonstre a proposição 10.
Corolário 4. Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências. Se L é limite de (xn )n≥k1 , M é limite
(yn )n≥k2 e M 6= 0 então L/M é limite do quociente (xn )n≥k1 (yn )n≥k2 , ou seja,
L xn
= lim .
M n→+∞ yn
O conjunto dos números naturais possui cota inferior mas não possui cota superior. Por
exemplo, −11, −2 e 0 são cotas inferiores de N. O intervalo (−∞, 1) possui cota superior
mas não possui cota inferior. Por exemplo, 1 e π são cotas superiores de (−∞, 1). O con-
junto { 1/n | n ∈ N1 } possui cota inferior e cota superior. Por exemplo, 0 é cota inferior de
{ 1/n | n ∈ N1 } e 1 é cota superior de { 1/n | n ∈ N1 }.
Definição 8. Sejam S ⊂ R um subconjunto não vazio e M, N ∈ R. Dizemos que M é máximo
de S quando M ∈ S e M é cota superior de S. Dizemos que N é mı́nimo de S quando N ∈ S
e N é cota inferior de S.
Observe:
∗ O intervalo aberto (−1, 2) não possui máximo nem mı́nimo.
∗ O intervalo [−1, 2) possui mı́nimo, −1, mas não possui máximo.
∗ O intervalo (−1, 2] possui máximo, 2, mas não possui mı́nimo.
∗ O intervalo [−1, 2] possui mı́nimo, −1, e possui máximo, 2.
∗ O conjunto { 1/n | n ∈ N1 } possui máximo, 1, mas não possui mı́nimo.
Definição 9. Sejam S ⊂ R um subconjunto não vazio e M ∈ R. Dizemos que M é supremo
de S quando M é cota superior de S e M é menor ou igual a qualquer cota superior de S, ou
seja, quando M é a menor das cotas superiores de S.
Definição 10. Sejam S ⊂ R um subconjunto não vazio e N ∈ R. Dizemos que M é ı́nfimo de
S quando M é cota inferior de S e N é maior que ou igual a qualquer cota inferior de S, ou
seja, quando N é a maior das cotas inferiores de S.
O número real 2 é supremo dos intervalos (−1, 2), [−1, 2), (−1, 2] e [−1, 2]. O número real
−1 é ı́nfimo dos intervalos (−1, 2), [−1, 2), (−1, 2] e [−1, 2]. O número real 0 é infimo e o
número real 1 é supremo do conjunto { 1/n | n ∈ N1 }.
Observação 2. Seja S ⊂ R um subconjunto não vazio e M, N ∈ R.
Se M é supremo de S então, por definição, M é cota superior de S e é menor ou igual a
qualquer das cotas superiores de S. Logo, se a < M então a não é cota superior de S e,
portanto, existe x ∈ S tal que a < x ≤ M .
Se N é ı́nfimo de S então, por definição, N é cota inferior de S e é maior que ou igual a
qualquer das cotas inferiores de S. Logo, se a > N então a não é cota inferior de S e, portanto,
existe x ∈ S tal que N ≤ x < a.
Proposição 11. Sejam S ⊂ R um subconjunto não vazio e M, N ∈ R. Se M é máximo de S
então M é supremo de S. Se M é mı́nimo de S então M é ı́nfimo de S.
Exercı́cio 6. Demonstre a proposicao 11.
Observe que não são verdadeiras as recı́procas das implicações da proposição 11. O seguinte
teorema não está acompanhado da sua demonstração, pois esta depende de teoria que não está
no nı́vel desta disciplina.
Teorema 1. Seja S ⊂ R um subconjunto não vazio de R. Se S é limitado superiormente então
S possui supremo. Se S é limitado inferiormente então S possui ı́nfimo.
Proposição 12. Seja (xn )n≥k uma sequência. Se (xn )n≥k é crescente e limitada superiormente
então (xn )n≥k converge.
8
Assim, pelo Princı́pio de Indução Finita, 1 ≤ xn < 2 qualquer que seja n ∈ N, ou seja, a
sequência (xn )n≥0 é limitada.
Portanto, pela proposição 12, a sequência (xn )n≥0 converge. Seja, então, L ∈ R tal que L é
limite de (xn )n≥0 . Como
√ √
xn+1 = 2xn ∀n ∈ N, tem-se, lim xn+1 = lim 2xn ,
n→+∞ n→+∞
o que dá
√ √
L= 2L. Mas L = 2L =⇒ L2 = 2L =⇒ L = 0 ou L = 2.
Pelo corolário 2, L ≥ 1 pois xn ≥ 1 ∀n ∈ N. Portanto, L = 2. Logo, está provado que 2 é
limite da sequência (xn )n≥0 .
Exemplo 7. Seja (xn )n≥0 a sequência definida por
(
2 se n = 0,
xn = 1
3 − xn−1 se n ≥ 1.
Esta sequência converge?
Demonstração. Primeiro será provado que 0 < xn ≤ 2 ∀n ∈ N.
∗ Tem-se x0 = 2. Daı́, 0 < x0 ≤ 2.
∗ Se 0 < xn ≤ 2 então −2 ≤ −xn < 0. Daı́, 1 ≤ 3 − xn < 3 e, assim,
1 1
< ≤ 1. Logo, 0 < xn+1 ≤ 2.
3 3 − xn
Assim, pelo Princı́pio de Indução Finita, 0 < xn ≤ 2 ∀n ∈ N, ou seja, a sequência (xn )n≥0 é
limitada.
Agora será provado que xn > xn+1 ∀n ∈ N.
∗ Tem-se x0 = 2 e x1 = 1. Daı́, x0 > x1 .
∗ Se xn > xn+1 então −xn < −xn+1 e, assim, 3 − xn < 3 − xn+1 . Logo,
1 1
1 ≤ 3 − xn < 3 − xn+1 , o que dá > ,
3 − xn 3 − xn+1
isto é, xn+1 > xn+2 .
Assim, pelo Princı́pio de Indução Finita, xn > xn+1 ∀n ∈ N, ou seja, a sequência (xn )n≥0
é estritamente decrescente. Portanto, pela proposição 13, a sequência (xn )n≥0 converge. Seja,
então, L ∈ R tal que L é limite de (xn )n≥0 . Como
1
xn < 2 e xn+1 = ∀x ∈ N,
3 − xn
tem-se
1 1
L ≤ 2 e L = lim xn+1 = lim = .
n→+∞ n→+∞ 3 − xn 3−L
Portanto, √ √
2 3− 5 3+ 5
L − 3L + 1 = 0, isto é , L = ou L = .
2 2
10
Daı́, √ √
3− 5 3+ 5
é limite de (xn )n≥0 pois > 2.
2 2
Proposição 14. Sejam (xn )n≥k uma sequência. Se (xn )n≥k é crescente e não é limitada supe-
riormente então limite da sequência (xn )n≥k é +∞.
Exercı́cio 7. Demonstre a proposição 14.
Proposição 15. Sejam (xn )n≥k uma sequência. Se (xn )n≥k é decrescente e não é limitada
inferiormente então limite da sequência (xn )n≥k é −∞.
Exercı́cio 8. Demonstre a proposição 15.
AULA 35
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
Esta aula finaliza o estudo proposto, nesta disciplina, de sequências de números reais e in-
troduz o estudo das séries. A seguinte definição apresenta o conceito de sequência de Cauchy.
Mostra-se, após esta definição, que toda sequência convergente também é de Cauchy. Portanto,
se uma sequência não é de Cauchy então ela não converge. Vale a pena comentar que os dois
conceitos são equivalentes em se tratando de sequências de números reais, mas esta equivalência
não é demonstrada nesta disciplina.
Definição 1. Sejam (xn )n≥k uma sequência. Dizemos que (xn )n≥k é uma sequência de Cauchy
quando, para cada > 0, existe n0 ∈ Nk tal que
m, n > n0 =⇒ |xm − xn | < .
Dito de outra forma, (xn )n≥k é uma sequência de Cauchy quando, em módulo, a diferença
xm − xn puder ser tomada tão pequena quanto se deseja, bastando para isso escolher os ı́ndices
m e n suficientemente grandes.
Proposição 1. Sejam (xn )n≥k uma sequência. Se (xn )n≥k converge então (xn )n≥k é uma
sequência de Caucy.
Demonstração. Se (xn )n≥k converge, então seja L ∈ R o seu limite. Daı́, para cada > 0,
existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < /2.
Portanto,
m, n > n0 =⇒ |xm − xn | = |(xm − L) + (L − xn )| ≤
|xm − L| + |L − xn | =
|xm − L| + |xn − L| < /2 + /2 = .
Assim, está provado que, dado > 0, existe n0 ∈ Nk tal que
m, n > n0 =⇒ |xm − xn | < ,
e isto diz que (xn )n≥k é sequência de Cauchy.
Exemplo 1. Dado a 6= 0, seja (xn )n≥0 a sequência definida por
a se n é par,
xn :=
−a se n é ı́mpar.
Esta sequência não é de Cauchy, portanto ela não converge. Como ela é limitada, não existe o
seu limite: seu limite não é um número real, não é +∞ nem é −∞.
Exemplo 2. Seja (xn )n≥0 a sequência definida por
n + 1 se n é par,
xn := n−1
21 se n é ı́mpar.
n +1
1
2
Como
n+1
lim = 1,
n→+∞ n − 1
existe n1 ∈ N1 tal que |xn − 1| < 1/4 qualquer que seja n > n1 par. Como
1
lim = 0,
n→+∞ n2 + 1
existe n2 ∈ N tal que |xn − 0| < 1/4 qualquer que seja n > n2 ı́mpar. Portanto,
m par, n ı́mpar e m, n > máximo{ n1 , n2 } =⇒ |xm − xn | > 1/2.
Assim, esta sequência não é de Cauchy e, portanto, ela não converge. Como ela é limitada, não
existe o seu limite.
Proposição 2 ( Lei do Confronto para Sequências ). Sejam (xn )n≥k1 , (yn )n≥k2 , (zn )n≥k3 se-
quências e L ∈ R. Se L é limite de (xn )n≥k1 , L é limite de (zn )n≥k3 e existe um número natural
n0 tal que n0 ≥ máximo{ k1 , k2 , k3 } e
xn ≤ yn ≤ zn qualquer que seja n ≥ n0 ,
então L é limite de (yn )n≥k2 .
Demonstração. Se L é limite de (xn )n≥k1 , L é limite de (zn )n≥k3 e existe um número natural
n0 tal que n0 ≥ máximo{ k1 , k2 , k3 } e
xn ≤ yn ≤ zn qualquer que seja n ≥ n0 ,
então, para cada > 0, existe n1 ∈ Nk1 tal que
n > n1 =⇒ |xn − L| < =⇒ − < xn − L < =⇒ L − < xn < L + ,
e existe n3 ∈ Nk3 tal que
n > n3 =⇒ |zn − L| < =⇒ − < zn − L < =⇒ L − < zn < L + .
Assim, escolhendo n2 = maior{ n0 , n1 , n3 }, tem-se n2 ∈ Nk2 e
n > n2 =⇒ n > n0 , n > n1 e n > n3
=⇒ L − < xn ≤ yn ≤ zn < L +
=⇒ L − < yn < L +
=⇒ − < yn − L < =⇒ |yn − L| < .
deste modo, está provado que, para cada > 0, existe n2 ∈ Nk2 tal que
n > n2 =⇒ |yn − L| < ,
e isto diz que L é limite da sequência (yn )n≥k2 .
A proposição 2 apresenta as duas seguintes variações.
Proposição 3. Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências. Se limite de (xn )n≥k1 é +∞ e existe
n0 ≥ máximo{ k1 , k2 } tal que
xn ≤ yn qualquer que seja n ≥ n0 ,
então limite de (yn )n≥k2 é +∞.
Exercı́cio 1. Demonstre a proposição 3.
3
Proposição 4. Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências. Se limite de (xn )n≥k1 é −∞ e existe
n0 ≥ máximo{ k1 , k2 } tal que
xn ≥ yn qualquer que seja n ≥ n0 ,
então limite de (yn )n≥k2 é −∞.
Exercı́cio 2. Demonstre a proposição 4.
Exemplo 3. Seja (xn )n≥0 a sequência dada por
sen(n2 + 1)
xn = ∀n ∈ N.
n2 + 1
Tem-se
−1 ≤ sen(n2 + 1) ≤ 1 ∀n ∈ N.
Daı́,
1 sen(n2 + 1) 1
− 2 ≤ 2 ≤ 2 ∀n ∈ N.
n +1 n +1 n +1
Como
1 1
lim − 2 = lim 2 = 0,
n→+∞ n + 1 n→+∞ n + 1
seque pela proposição 2, Lei do Confronto, que
sen(n2 + 1)
lim = 0, isto é, 0 é limite de (xn )n≥0 .
n→+∞ n2 + 1
Exemplo 4. Dado a ∈ R, a sequência (xn )n≥0 dada por
xn = an qualquer que seja n ∈ N,
é denominada sequência geométrica. Lembre que (xn )n≥0 = (an )n≥0 é, de fato, uma pro-
gressão geométrica.
Sendo a > 0 e a 6= 1, a sequência geométrica (an )n≥0 é definida pela função exponencial de
base a, fa : R −→ (0, +∞), dada por
fa (x) = ax qualquer que seja x ∈ R.
Se 0 < a < 1, então
lim ax = 0 e, portanto, lim xn = lim an = 0.
x→+∞ n→+∞ n→+∞
Se a > 1, então
lim ax = +∞ e, portanto, lim xn = lim an = +∞.
x→+∞ n→+∞ n→+∞
Sendo a = 1, tem-se
lim xn = lim 1n = lim 1 = 1.
n→+∞ n→+∞ n→+∞
Sendo a = 0, tem-se
lim xn = lim 0n = lim 0 = 0.
n→+∞ n→+∞ n→+∞
Se −1 < a < 0, então 0 < |a| < 1 e, portanto,
lim |an | = lim (|a|)n = 0.
n→+∞ n→+∞
4
Se a = −1, então
n 1 se n é par,
xn = (−1) =
−1 se n é ı́mpar .
Portanto, a série geométrica (an )n≥0 diverge, não existindo o seu limite. Se a < −1 então
a série geométrica (an )n≥0 não é limitada superiormente nem inferiormente. Logo, a série
geométrica (an )n≥0 diverge e, pelas proposições 7 e 8, da aula 34, não existe o seu limite.
Deste modo, a série geométrica (an )n≥0 converge se, e somente se, −1 < a ≤ 1 valendo
+∞ se a > 1,
n
lim a = 1 se a = 1,
n→+∞ 0 se − 1 < a < 1.
Seja S um subconjunto não vazio de R. Se S possui elemento máximo então S é limitado
superiormente. Se S possui elemento mı́nimo então S é limitado inferiormente. Observe que
as recı́procas destas duas implicações não são verdadeiras. Como exemplo, o intervalo aberto
(1, 5) é limitado mas não possui elemento máximo nem elemento mı́nimo. Mas sabe-se que
∗ se K, subconjunto não vazio de Z, é limitado superiormente, então K possui um ele-
mento máximo, e
∗ se K, subconjunto não vazio de Z, é limitado inferiormente, então K possui um ele-
mento mı́nimo.
Daı́, seguem as duas definições: dado x ∈ R, o chão de x, denotado por bxc, é o maior inteiro
que é menor do que ou igual a x, isto é,
bxc := máx { k ∈ Z | k ≤ x } ,
e o teto de x, denotado por dxe, é o menor inteiro que é maior do que ou igual a x, isto é,
dxe := mı́n { k ∈ Z | k ≥ x } .
Assim,
j√ k l√ m
bπc = 3, dπe = 4, 2 = 1, 2 = 2, b−5,12c = −6, d−5,12e = −5
e
bnc = dne = n qualquer que seja n ∈ Z.
Além disso,
bxc ≤ x ≤ dxe qualquer que seja x ∈ R.
Proposição 5. Dado x ∈ R,
xn
lim = 0.
n→+∞ n!
Demonstração. Tem-se
0n ∗ 0n
= 0 qualquer que seja n ∈ N e, portanto, lim = lim 0 = 0.
n! n→+∞ n! n→+∞
6
Proposição 6. Sejam a ∈ R, f uma função, (xn )n≥k uma sequência e L ∈ R. Se f está definida
em [a, +∞), xn ∈ [a, +∞) ∀n ∈ Nk ,
lim f (x) = L e lim xn = +∞,
x→+∞ n→+∞
Séries
é denominado série gerada pela sequência (xn )n≥k , sendo denotado por
+∞
X
xi .
i=k
7
Como exemplos.
+∞
X 1 1
A série é a série gerada pela sequência .
i=1
i n n≥1
+∞
X1
1
A série 2 é a série gerada pela sequência .
i=1
i n2 n≥1
+∞
X 1 1
A série é a série gerada pela sequência .
i=2
i(i − 1) n(n − 1) n≥2
+∞
X 1 1
A série i é a série gerada pela sequência .
i=0
2 2n n≥0
+∞
X
Dado a ∈ R, a série ai é a série gerada pela sequência (an )n≥0 .
i=0
+∞
xi xn
X
Dado x ∈ R, a série é a série gerada pela sequência .
i=0
i! n! n≥0
Sejam (xn )n≥k uma sequência e (sn )n≥n a sequência dada por
xk se n = k,
sn =
sn−1 + xn se n > k.
Daı́,
sk = xk ,
sk+1 = sk + xk+1 = xk + xk+1 ,
sk+2 = sk+1 + xk+2 = xk + xk+1 + xk+2 ,
sk+3 = sk+2 + xk+3 = xk + xk+1 + xk+2 + xk+3 ,
...
sn = xk + xk+1 + · · · + xn ∀n ∈ Nk .
A sequência (sn )n≥k é denominada sequência das somas parciais dos termos da sequência
(xn )n≥k . Observe que a série gerada pela sequência (xn )n≥k é dada por
+∞
X
xi = lim sn ,
n→+∞
i=k
isto é, a série gerada pela sequência (xn )n≥k é o limite da sequência (sn )n≥k . Podemos assim
pensar numa série como a soma dos termos da sua sequência geradora, isto é,
+∞
X
xi = xk + xk+1 + xk+2 + xk+3 + xk+4 + xk+5 + · · ·
i=k
8
Definição 2. Sejam
+∞
X
xi = xk + xk+1 + xk+2 + xk+3 + xk+4 + xk+5 + · · ·
i=k
a séria gerada por uma sequência (xn )n≥k e (sn )n≥k a sua sequência de somas parciais. Dize-
mos que esta série converge quando a sequência de somas parciais converge. Caso contrário,
dizemos que esta série diverge.
Exemplo 6. Dado x ∈ R, a série
+∞
X
xi = 1 + x + x2 + x3 + x4 + x5 + · · ·
i=0
é denominada série geométrica, sendo gerada pela sequência geométrica (xn )n≥0 .
Dados x ∈ R e n ∈ N1 tem-se
1 − xn+1 = (1 − x) · (1 + x + x2 + · · · + xn ).
Assim, se x 6= 1,
1 − xn+1
1 + x + x2 + · · · + xn = .
1−x
Isto diz que a sequência de somas parciais (sn )n≥0 é dada por
1 − xn+1 se x 6= 1,
(
sn = 1−x
n+1 se x = 1.
Daı́, se −1 < x < 1 então a serie geométrica converge com
+∞
X 1 − xn+1 1
xi = lim sn = lim = .
n→+∞ n→+∞ 1 − x 1−x
i=0
Se x = −1 então
1 se n é par,
sn =
0 se n é ı́mpar.
Neste caso a série diverge não existindo o limite da sequência de somas parciais (sn )n≥0 . Se
x < −1 então a sequência (sn )n≥0 não é limitada superiormente nem inferiormente. Portanto,
a série diverge não existindo o limite da sequência de somas parciais (sn )n≥0 .
9
Portanto, tem-se (
+∞ 1
X
1−x se − 1 < x < 1,
xi =
i=0
+∞ se x ≥ 1.
Exemplo 7. A série
+∞
X 1 1 1 1 1 1
= 1 + + + + + + ···
n=1
n 2 3 4 5 6
é denominada série harmônica. Esta série converge ou diverge?
Soluçao. Observe que dado k ∈ N1 tem-se
1 1 1
k ≤ x ≤ k + 1 =⇒ ≥ ≥ .
k x k+1
Assim, Z k+1 Z k+1
1 1 1
dx < dx = .
k x k k k
Portanto,
Z n+1 Z 2 Z 3 Z n+1
1 1 1 1
ln(n + 1) = dx = dx + dx + · · · + dx <
1 x 1 x 2 x n x
1 1
1 + + ··· + ∀n ∈ N1 ,
2 n
isto é,
ln(n + 1) < sn ∀n ∈ N1 ,
onde (sn )n≥1 é a sequência de somas parcias da sequência geradora da série harmônica. Como
lim ln(n + 1) = +∞,
n→+∞
Esta aula continua com o estudo de séries, abordando critérios de divergência, critérios de
convergência e algumas propriedades operatórias.
Exemplo 1. A série
+∞
X 1
converge?
n=1
n(n + 1)
Soluçao. Seja (sn )n≥1 a sequência de somas parciais associada à referida série. Tem-se
1 1 1 1
sn = + + + ··· +
1·2 2·3 3·4 n · (n + 1)
1 1 1 1 1 1 1 1
= − + − + − + ··· + −
1 2 2 3 3 4 n n+1
1
=1− ∀n ∈ N1 .
n+1
Daı́, a sequência (sn )n≥1 converge com
+∞
X 1
lim sn = 1. Portanto, converge
n→+∞
n=1
n(n + 1)
com
+∞
X 1
= lim sn = 1.
n=1
n(n + 1) n→+∞
Exemplo 2. A série
+∞
X 1
converge?
n=0
n!
Soluçao. Seja (sn )n≥0 a sequência de somas parciais associada à referida série. Tem-se
1 1 1 1 1 1 1 1 1
sn = + + + ··· + < + + + ··· + + = sn+1 ∀n ∈ N.
0! 1! 2! n! 0! 1! 2! n! (n + 1)!
Daı́, (sn )n≥0 é uma sequência estritamente crescente. Além disso, dado n ≥ 2, tem-se
1 1
n! = 1 · 2 · 3 · · · · · n ≥ 2n−1 , isto é, ≤ n−1 .
n! 2
Logo, dado n ≥ 2, tem-se
1 1 1
sn = 1 + 1 + + ··· +
2! 3! n!
+∞
1 1 1 X 1
≤ 1 + 1 + + 2 + · · · + n−1 < 1 + = 3.
2 2 2 k=0
2k
1
2
Assim,
sn < 3 ∀n ∈ N, ou seja, (sn )n≥0 é uma sequência limitada superiormente.
Deste modo, a sequência de somas parciais (sn )n≥0 converge. Portanto, a série
+∞
X 1
converge.
n=0
n!
Proposição 1. Sejam k ∈ N, (xn )n≥k uma sequência, k0 ∈ Z e (zn )n≥k1 a sequência dada por
zn = xn+k0 ∀n ≥ k1 , onde k1 = máximo{ 0, k − k0 }.
Se a sequência (xn )n≥k converge então a sequência (zn )n≥k1 converge e os limites são iguais.
Demonstração. Se a sequência (xn )n≥k converge e L é o limite de (xn )n≥k então para cada
> 0 existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < .
Daı́, escolhendo n1 = máximo{ n0 − k0 , k1 }, tem-se n1 ∈ Nk1 e
n > n1 =⇒ n > n0 − k0 =⇒ n + k0 > n0
=⇒ |zn − L| = |xn+k0 − L| < .
Está provado que, dado > 0, existe n1 ∈ Nk1 tal que
n > n1 =⇒ |zn − L| < .
Isto diz que L é limite de (zn )n≥k1 e, assim, a sequência (zn )n≥k1 converge.
A seguinte proposição diz que se uma série converge então a sua sequência geradora tem
limite nulo. Deste modo, ela funciona como um critério para divergência.
Proposição 2. Seja (an )n≥k uma sequência. Se a série
+∞
X
an = ak + ak+1 + ak+2 + ak+3 + ak+4 + ak+5 + · · · ,
n=k
Demonstração. Se a série converge, então existe L ∈ R tal que L é limite de (sn )n≥k , onde
(sn )n≥k é a sequência de somas parciais. Como
an = (ak + ak+1 + · · · + an ) − (ak + ak+1 + · · · + an−1 )
= sn − sn−1 ∀n ≥ k + 1,
3
tem-se
lim an = lim (sn − sn−1 ) = lim sn − lim sn−1 = L − L = 0.
n→+∞ n→+∞ n→+∞ n→+∞
Observação 1. A recı́proca da proposição 2 não é verdadeira, pois a série harmônica
+∞
X 1 1 1 1 1 1 1
= 1 + + + + + + + ···
n=1
n 2 3 4 5 6 7
diverge e
1
lim = 0.
n→+∞ n
Demonstração. Sejam (sn )n≥k1 e (tn )n≥k2 as sequências de somas parciais associadas às séries
+∞
X +∞
X
xn e xn respectivamente.
n=k1 n=k2
Dado n ≥ n2 tem-se
sn = xk1 + · · · + xk2 −1 + xk2 + · · · + xn
= xk1 + · · · + xk2 −1 + tn .
Daı́,
lim sn é um número real se, e somente se, lim tn é um número real,
n→+∞ n→+∞
e em cada caso vale
lim sn = (xk1 + · · · + xk2 −1 ) + lim sn .
n→+∞ n→+∞
Portanto,
+∞
X +∞
X
xn converge se, e somente se, a série xn
n=k1 n=k2
4
Corolário 1. Seja k1 , k2 ∈ N e sequências (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 . Se existe n0 ≥ maior{ k1 , k2 }
tal que
xn = yn qualquer que seja n ≥ n0 ,
então a série
+∞
X +∞
X
xn converge se, e somente se, a série yn
n=k1 n=k2
convege. Em cada caso vale
+∞
X +∞
X
xn − (xk1 + · · · + xn0 −1 ) = yn − (yk2 + · · · + yn0 −1 ) .
n=k1 n=k2
Proposição 6. Seja a ∈ R e f uma função contı́nua em [a, +∞) com f (x) ≥ 0 qualquer que
seja x ∈ [a, +∞). São verdadeiras as seguintes afirmações.
∗ Se existe M ∈ R tal que
Z u
f (x) dx ≤ M qualquer que seja u ∈ [a, +∞),
a
então a integral imprópria
Z +∞
f (x) dx converge.
a
∗ Se a integral imprópria
Z +∞ Z +∞
f (x) dx diverge, então f (x) dx = +∞.
a a
Demonstração. Seja a ∈ R, f uma função contı́nua em [a, +∞) com f (x) ≥ 0 qualquer que
seja x ∈ [a, +∞) e S o subconjunto de R dado por
Z u
S= f (x) dx | u ∈ [a, +∞) .
a
Se S é limitado superiormente, então S possui um supremo L. Assim, dado > 0, existe
u0 ∈ [a, +∞) tal que Z u0
L−< f (x) dx ≤ L.
a
Daı́,
Z u Z u0 Z u Z u0
u > u0 =⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx ≥ f (x) dx
a a u0 a
Z u0 Z u
=⇒ L − < f (x) dx ≤ f (x) dx ≤ L
a a
Z u
=⇒ L − < f (x) dx < L +
a
Z u
=⇒ − < f (x) dx − L <
a
Z u
=⇒ f (x) dx − L <
a
Logo, está provado que dado > 0, existe u0 ≥ a tal que
Z u
u > u0 =⇒ f (x) dx − L < ,
a
e isto diz que Z u
lim f (x) dx = L.
u→+∞ a
Portanto, a integral imprópria
Z +∞ Z +∞
f (x) dx converge com f (x) dx = L.
a a
6
Portanto, se a integral imprópria diverge, então o conjunto S não é limitado superiormente. Daı́,
dado C > 0, existe existe u0 ≥ a tal que
Z u0
f (x) dx > C.
a
Logo,
Z u Z u0 Z Z u0
u > u0 =⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx ≥ f (x) > C.
a a u0 a
Assim, está provado que dado C > 0, existe existe u0 ≥ a tal que
Z u
u > u0 =⇒ f (x) dx > C.
a
Proposição 7. Sejam k ∈ N, f uma função contı́nua e decrescente em [k, +∞) com f (x) ≥ 0
qualquer que seja x ∈ [k, +∞). As seguintes afirmações são verdadeiras.
∗ Se a integral imprópria
Z +∞ +∞
X
f (x) dx converge então a série f (n) converge.
k n=k
∗ Se a integral imprópria
Z +∞ +∞
X +∞
X
f (x) dx diverge então a série f (n) diverge com f (n) = +∞.
k n=k n=k
Assim,
f (k) + f (k + 1) + · · · + f (n) ≥
Z k+1 Z k+2 Z n+1
f (x) dx + f (x) dx + · · · + f (x) dx ≥
k k+1 n
f (k + 1) + f (k + 2) + · · · + f (n + 1) ∀n ∈ [k, +∞).
Além disso, sendo (sn )n≥k a sequência de somas parciais da série
+∞
X
f (n),
n=k
tem-se
sn = f (k) + · · · + f (n) ≤ f (k) + · · · + f (n) + f (n + 1) = sn+1 ∀n ∈ Nk ,
ou seja, a sequência de somas parciais (sn )n≥k é crescente.
∗ Suponha que a integral imprópria
Z +∞ Z +∞
f (x) dx converge, isto é, f (x) dx é um número real.
k k
Dado n ∈ Nk , tem-se
sn = f (k) + · · · + f (n) ≤ f (k) + f (k + 1) + · · · + f (n) + f (n + 1) ≤
Z k+1 Z k+2 Z n+1
f (k) + f (x) dx + f (x) dx + · · · + f (x) dx =
k k+1 n
Z n+1 Z u
f (k) + f (x) dx ≤ f (k) + f (x) dx ∀u ≥ n + 1,
k k
o que dá Z +∞
sn ≤ f (k) + f (x) dx.
k
Daı́, (sn )n≥k é uma sequência limitada superiormente e, portanto, convergente. Isto diz
que a série
+∞
X
f (n) converge.
n=k
∗ Suponha, agora, que a integral imprópria
Z +∞ Z u
f (x) dx diverge, isto é, lim f (x) dx = +∞,
k u→+∞ k
Dado n ∈ Nk , tem-se
sn = f (k) + · · · + f (n)
Z k+1 Z k+2 Z n+1
≥ f (x) dx + f (x) dx + · · · + f (x) dx
k k+1 n
Z n+1
= f (x) dx.
k
8
Como Z n+1
lim f (x) dx = +∞, tem-se lim sn = +∞.
n→+∞ k n→+∞
Exemplo 5. Se p > 1 então, pela proposição 7, a série
+∞
X 1
converge
n=1
np
pois a integral imprópria
Z +∞
1
dx converge.
1 xp
Exemplo 6. Se p ≤ 1 então, pela proposição 7, a série
+∞
X 1
p diverge
n=1
n
pois a integral imprópria
Z +∞
1
dx diverge.
1 xp
(sn )n≥k a sequência de somas parciais de (xn )n≥k . Sendo a série convergente, dado n ∈ Nk , a
aproximação
+∞
X
xi ≈ s n ,
i=k
da série pela soma parcial sn , gera um erro En dado por
+∞
X
En = xi − s n .
i=k
é estimado por
Z +∞ Z +∞
f (x) dx ≤ En ≤ f (x) dx ∀n ≥ k.
n+1 n
Esta aula continua com o estudo de séries introduzindo novos critérios de convergência. Os
seus resultados dizem respeito à series geradas por sequências, nas quais cada termo é não
negativo ou cada termo é não positivo, isto é, dada uma sequência (xn )n≥k neste texto, tem-se
xn ≥ 0 ∀n ∈ Nk ou xn ≤ 0 ∀n ∈ Nk .
Proposição 1. Seja (xn )n≥k uma sequência com xn ≥ 0 qualquer que seja n ∈ Nk . Se a serie
+∞
X +∞
X
xn diverge então xn = +∞.
n=k n=k
Demonstração. Sejam (xn )n≥k uma sequência com xn ≥ 0, qualquer que seja n ∈ Nk , e
(sn )n≥k a sua sequência de somas parciais. Tem-se que (sn )n≥k é uma sequência crescente. Se
a série
+∞
X
xn não converge,
n=k
isto é, a sequência (sn )n≥k não converge, então (sn )n≥k não é uma sequência limitada supe-
riormente. Logo, pela proposição 14, da aula número 35, limite de (sn )n≥k é +∞, ou seja, a
série
X+∞ +∞
X
xn diverge com xn = +∞.
n=k n=k
Exemplo 1. A série
+∞
X n2 + n
diverge
n=3
n2 − 2n
pois
n2 + n
lim = 1 6= 0.
n→+∞ n2 − 2n
Como
n2 + n
> 0 qualquer que seja n ≥ 3 tem-se,
n2 − 2n
pela proposição 2, que
+∞
X n2 + n
= +∞.
n=3
n2 − 2n
A proposição 2, evidentemente, possui a seguinte variação.
Proposição 2. Seja (xn )n≥k uma sequência com xn ≤ 0 qualquer que seja n ∈ Nk . Se a serie
+∞
X +∞
X
xn diverge então xn = −∞.
n=k n=k
1
2
Proposição 3 ( Teste da Comparação ). Sejam (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências com 0 ≤ xn ≤ yn
qualquer que seja n ∈ Nk . As seguintes afirmações são verdadeiras.
∗ Se a série
+∞
X +∞
X X+∞ +∞
X
yn converge então a série xn converge com xn ≤ yn .
n=k n=k n=k n=k
∗ Se a série
+∞
X +∞
X
xn diverge então a série yn diverge.
n=k n=k
Demonstração. Sejam (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências com 0 ≤ xn ≤ yn qualquer que seja
n ∈ Nk e, (sn )n≥k e (tn )n≥k , as suas respectivas sequências de somas parciais. Daı́, (sn )n≥k é
crescente, (tn )n≥k é crescente e
sn = xk + · · · + xn ≤ yk + · · · + yn = tn ∀n ∈ Nk .
Deste modo, tem-se as sequintes conclusões.
∗ Se a série
+∞
X +∞
X
yi converge então yi
i=k i=k
é um número real com
+∞
X
sn ≤ tn ≤ yi qualquer que seja n ∈ Nk .
i=k
Assim, a sequência (sn )n≥k é limitada superiormente e, portanto, convergente. Daı́, por
definiçao, a série
+∞
X +∞
X +∞
X
xn converge com xn ≤ yn .
n=k n=k n=k
∗ Se a série
+∞
X +∞
X
xn diverge então xi = +∞,
n=k i=k
isto é, o limite da sequência (sn )n≥k é +∞. Logo, pela proposição 3, da aula número
36, o limite da sequência (tn )n≥n é +∞ e, portanto, a série
+∞
X +∞
X
yn diverge com yn = +∞.
n=k n=k
Exemplo 2. A série
+∞
X 7
3
n=0
n +1
converge ou diverge?
3
Portanto, na aproximação
+∞
X
xi ≈ xk + · · · + xn ,
i=k
Portanto, a série,
+∞
X i
4 também converge.
i=0
i +1
Na aproximação
+∞
X i 0 1 2 100
4 ≈ 4 + 4 + 4 + ··· +
i=0
i +1 0 +1 1 +1 2 +1 1004 + 1
o erro E100 cometido, pelo exemplo 8, da aula número 37, é estimado por
+∞ +∞
X i X 1 100−2
0 < E100 = 4 ≤ 3 ≤ = 0,00005.
i=101
i + 1 i=101
i 2
5
Proposição 4 ( Teste da Comparação no Limite ). Sejam (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências com
xn > 0 e yn > 0 qualquer que seja n ∈ Nk , e L > 0. Se
+∞ +∞
xn X X
L = lim então a série xn converge se, e somente se, a série yn converge.
n→+∞ yn
n=k n=k
Demonstração. Sejam (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências com xn > 0 e yn > 0 qualquer que seja
n ∈ Nk , e L ∈ R. Se
xn
L > 0 e L = lim
n→+∞ yn
Logo, a série
+∞ +∞
X 2 X
xn converge e, por comparação, a série yn converge.
n=n +1
L n=n0 +1
0
Portanto, a série
+∞
X
yn converge.
n=k
∗ Se a série
+∞
X +∞
X
yn converge então a série yn converge.
n=k n=n0 +1
Logo, a série
+∞ +∞
X 3L X
yn converge e, por comparação, a série xn converge.
n=n +1
2 n=n0 +1
0
Portanto, a série
+∞
X
xn converge.
n=k
6
Exemplo 5. A série
+∞ √
3
X 1 + n2
converge ou diverge?
n=0
1+n
Soluçao. Veja que a série
+∞
√
3 +∞ +∞
X n2 X 1 X 1
= √ = 1/3
diverge.
n=1
n n=1
3
n n=1 n
e
√
3
1 + n2 √ s
3 2 2
1√+ n = lim 1 + n n 3 1 + n n
lim 3
√3
· = lim 2 · = 1 · 1 = 1 > 0.
n→+∞ n2 n→+∞ n2 1 + n n→+∞ n 1+n
n
Daı́, pelo Teste da Comparação no Limite, proposição 4, a série
+∞ √ 3
X 1 + n2
diverge.
n=1
1 + n
Portanto, a série
+∞ √
3
X 1 + n2
diverge.
n=0
1+n
Exemplo 6. Verifique se a série
+∞
X 1 + 2n2
converge ou diverge.
2 3
n=0 1 + 3n
Portanto, a série
+∞
X 1 + 2n2
também converge.
2 3
n=0 1 + 3n
Observação 1. Veja que a série
+∞ +∞
X 1 X 1
diverge e a série 2 convege
n=1
n n=1
n
com
1 1
2 1
lim n = lim n = +∞ e lim n = lim = 0.
n→+∞ 1 n→+∞ n→+∞ 1 n→+∞ n
2
n n
Observe também que a série
+∞ +∞
X 1 X 1
2 converge e a série 3 convege
n=1
n n=1
n
com
1 1
2 3 1
lim n = lim n = +∞ e lim n = lim = 0.
n→+∞ 1 n→+∞ n→+∞ 1 n→+∞ n
n3 n2
Além destas duas situações anteriores, tem-se que a série
+∞ +∞
X 1 X 1
√ diverge e a série √
3
diverge
n=1
n n=1
n
com
1 1
√ √
n 1 3
n √
lim = lim √ =0 e lim = lim 6 n = +∞.
n→+∞ 1 n→+∞ 6 n n→+∞ 1 n→+∞
√
3
√
n n
Portanto, estes exemplos dizem que, sendo (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências com xn > 0 e yn > 0
qualquer que seja n ∈ Nk , não é conclusiva a correlação entre a convergência da série
+∞
X +∞
X
xn e a convergência da série yn
n=k n=k
quando
xn xn
lim = 0 ou lim = +∞,
n→+∞ yn n→+∞ yn
Proposição 5. Sejam (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências com xn > 0 e yn > 0 qualquer que seja
n ∈ Nk . Se
+∞
xn X
lim = 0 então a convegência da série yn
n→+∞ yn
n=k
implica a convegência da série
+∞
X
xn .
n=k
Esta aula continua o estudo de séries, apresentando novos critérios de convergência para
séries que não possuem, necessariamente, todos os seus termos não negativos ou todos os seus
termos não positivos. As séries, aqui mencionadas, podem apresentar um conjunto infinito de
termos (parcelas) positivos e um conjunto infinito de termos negativos.
Definição 1. Seja (xn )n≥k uma sequência. Dizemos que (xn )n≥k é uma sequência alternada
quando xn · xn+1 < 0 qualquer que seja n ∈ Nk . Dito de outra forma, a sequência (xn )n≥k é
intitulada alternada quando
xn e xn+1 têm sinais contrários qualquer que seja n ∈ Nk .
Definição 2. Dizemos que a série
+∞
X
xn
n=k
é alternada quando a sua sequência geradora, (xn )n≥k , é alternada.
Exemplo 1. A sequência (xn )n≥1 , dada por
1
xn = (−1)n ∀x ∈ N1 ,
n
é alternada. Daı́, a série
+∞ +∞
X X 1 1 1 1 1 1 1
xn = (−1)n = −1 + − + − + − + · · ·
n=1 n=1
n 2 3 4 5 6 7
é alternada.
Exemplo 2. A sequência (xn )n≥1 , dada por
n
xn = (−1)n+1 ∀x ∈ N1 ,
n+1
é alternada. Daı́, a série
+∞ +∞
X X n 1 2 3 4 5 6
xn = (−1)n+1 = − + − + − + ···
n=1 n=1
n+1 2 3 4 5 6 7
é alternada.
Observação 1. Perceba que se (xn )n≥k é uma sequência alternada, então
xn = (−1)n yn ∀n ∈ Nk ou xn = (−1)n+1 yn ∀n ∈ Nk ,
onde (yn )n≥k é uma sequência com yn > 0 qualquer que seja n ∈ Nk . De fato, (yn )n≥k é a
sequência dada por yn = |xn | qualquer que seja n ∈ Nk .
Proposição 1. Sejam (xn )n≥k uma sequência, L ∈ R e (yn )n≥0 ,(zn )n≥0 sequências dadas por
yn = xk+2n e zn = xk+2n+1 qualquer que seja n ∈ N.
Se L é limite de (yn )n≥0 e L é limite de (zn )n≥0 então L é limite de (xn )n≥k .
1
2
Demonstração. Se L é limite de (yn )n≥0 e L é limite de (zn )n≥0 então, para cada > 0, existe
n1 ∈ N tal que
n > n1 =⇒ |xk+2n − L| = |yn − L| <
e existe n2 ∈ N tal que
n > n2 =⇒ |xk+2n+1 − L| = |zn − L| < .
Portanto, escolhendo n0 = maior{ k + 2n1 , k + 2n2 + 1 }, tem-se n0 ∈ Nk e
n > n0 =⇒ n = k + 2m, com m ∈ N e m > n1 , ou
n = k + 2m + 1, com m ∈ N e m > n2
=⇒|xn − L| < .
Assim, está provado que, para cada > 0, existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < .
Isto diz que L é limite da sequência (xn )n≥k .
Proposição 2 ( Teste da Série Alternada ). Se (xn )n≥k é uma sequência alternada tal que
∗ |xn | ≥ |xn+1 | qualquer que seja n ∈ Nk ,
∗ 0 é limite de (xn )n≥k e
∗ xk > 0,
então a série
+∞
X
xn converge.
n=k
Demonstração. Admitindo as hipóteses, seja (sn )n≥k a sequência de somas parcias de (xn )n≥k .
Se xk > 0, então
s k = xk ,
sk+2 = sk + (xk+1 + xk+2 ) ≤ sk pois xk+1 + xk+2 ≤ 0,
sk+4 = sk+2 + (xk+3 + xk+4 ) ≤ sk+2 pois xk+3 + xk+4 ≤ 0,
...
sk+2(n+1) = sk+2n + (xk+2n+1 + xk+2(n+1) ) ≤ sk+2n pois xk+2n+1 + xk+2(n+1) ≤ 0,
qualquer que seja n ∈ N. Deste modo a sequência (sk+2n )n≥0 é decrescente. Por outro lado
tem-se
sk+1 = (xk + xk+1 ),
sk+3 = sk+1 + (xk+2 + xk+3 ) ≥ sk+1 pois xk+2 + xk+3 ≥ 0,
sk+5 = sk+3 + (xk+4 + xk+5 ) ≥ sk+3 pois xk+4 + xk+5 ≥ 0,
...
sk+2(n+1)+1 = sk+2n+1 + (xk+2n+2 + xk+2(n+1)+1 ) ≥ sk+2n+1 pois xk+2n+2 + xk+2(n+1)+1 ≥ 0,
3
qualquer que seja n ∈ N. Deste modo a sequência (sk+2n+1 )n≥0 é crescente. Como
sk+1 = sk + xk+1 ≤ sk ,
sk+3 = sk+2 + xk+3 ≤ sk+2 ,
sk+5 = sk+4 + xk+5 ≤ sk+4 ,
...
sk+2n+1 = sk+2n + xk+2n+1 ≤ sk+2n ,
qualquer que seja n ∈ N, tem-se sk+2n ≥ sk+1 e sk+2n+1 ≤ sk qualquer que seja n ∈ N.
Logo, a sequência (sk+2n )n≥0 é limitada inferiormente e a sequência (sk+2n+1 )n≥0 é limitada
superiormente. Portanto, as duas sequências convergem. Seja L ∈ R o limite da sequência
(sk+2n )n≥0 . Como 0 é limite da sequência (xn )n≥k e
sk+2n+1 = sk+2n + xk+2n+1 ∀n ∈ N,
tem-se que
lim sk+2n+1 = lim (sk+2n + xk+2n+1 ) = L + 0 = L.
n→+∞ n→+∞
Isto diz, pela proposicao 1, que a sequência de somas parciais (sn )n≥k converge, com limite L.
Portanto, a série
+∞
X +∞
X
xn converge com xn = L.
n=k n=k
Observe também que
+∞
X
sk+2n+1 ≤ xi ≤ sk+2m ∀m, n ∈ N,
i=k
pois a sequência (sk+2n )n≥0 é limitada inferiormente pelo seu limite L e a sequência (sk+2n+1 )n≥0
é limitada superiormente pelo seu limite L.
Corolário 1 ( Teste da Série Alternada ). Se (xn )n≥k é uma sequência alternada tal que
∗ |xn | ≥ |xn+1 | qualquer que seja n ∈ Nk ,
∗ 0 é limite de (xn )n≥k e
∗ xk < 0,
então a série
+∞
X
xn converge.
n=k
Portanto, a série
+∞
X
xn converge.
n=k
4
Exemplo 4. A série
+∞
X n
(−1)n · 2 converge ou diverge?
n=0
n +1
0 1 − x2
f (x) = < 0 ∀x ∈ (1, +∞).
(1 + x2 )2
Logo, f é estritamente decrescente em [1, +∞), portanto, a sequência (yn )n≥1 é estritamente
decrescente. Além disso, 0 é limite de (xn )n≥1 . Deste modo, pelo Teste da Série Alternada, a
série
+∞
X n
(−1)n · 2 converge.
n=1
n + 1
Assim, a série
+∞
X n
(−1)n · 2converge.
n=0
n +1
5
A série harmônica
n
+∞
1 2 n2
diverge e lim n + 1 = lim 2
X
= 1.
n n→+∞ 1 n→+∞ n + 1
n=1
n
Portanto, pelo Teste da Comparação no Limite, a série
+∞ +∞
X n X n
2 diverge e, assim, a série 2 diverge.
n=1
n +1 n=0
n +1
Observação 2 (Estimativa de Erro na Série Alternada). Seja (xn )n≥k é uma sequência alternada
tal que
∗ |xn | ≥ |xn+1 | qualquer que seja n ∈ Nk ,
∗ 0 é limite de (xn )n≥k e
∗ xk > 0.
Pela proposição 2, série
+∞
X
xn converge.
n=k
Seja (sn )n≥k a sequência de somas parcias de (xn )n≥k . Pela demonstração da proposição 2,
tem-se
X+∞
sk+2n+1 ≤ xi ≤ sk+2m quaisquer que sejam n, m ∈ N.
i=k
Assim, dado n ∈ Nk , tem-se
+∞
X
sn+1 ≤ xi ≤ sn se n = k + 2m para m ∈ N
i=k
ou
+∞
X
sn ≤ xi ≤ sn+1 se n = k + 2m + 1 para m ∈ N.
i=k
Daı́, em qualquer dos casos, tem-se
+∞
X
xi − sn ≤ |sn+1 − sn | = |xn+1 |,
i=k
ou seja, o erro En , cometido na aproximação
+∞
X +∞
X
xi ≈ sn , aproximação de xi por sn ,
i=k i=k
quando a série
+∞
X
|xn | converge.
n=k
Exemplo 7. A série
+∞
X 1
(−1)n · converge,
n=1
n2
e converge absolutamente pois a série
+∞ +∞
X 1 n
X 1
(−1) · 2 = converge.
n=1
n n=1
n2
então a série
+∞
X +∞
X +∞
X
xn converge valendo xn ≤ |xn |.
n=k n=k n=k
Demonstração. Se a série
+∞
X +∞
X
xn converge absolutamente então, por definição, a série |xn | converge.
n=k n=k
Assim, a série
+∞
X +∞
X
xn = (xn + |xn |) + (−1)|xn | converge,
n=k n=k
como soma de séries convergentes. Sejam (sn )n≥k e (tn )n≥k as sequências de somas parciais
das séries
X+∞ +∞
X
xn e |xn | respectivamente.
n=k n=k
Tem-se
|sn | = |xk + · · · + xn | ≤ |xk | + · · · + |xn | = tn ∀n ∈ Nk .
8
Daı́, passando ao limite das duas sequências, corolário 3, da aula número 35, tem-se
+∞
X +∞
X
lim |sn | ≤ lim tn , isto é, xn ≤ |xn |.
n→+∞ n→+∞
n=k n=k
Proposição 4 ( Teste da Razão ). Seja (xn )n≥k uma sequência tal que xn 6= 0 qualquer que
seja n ∈ Nk . As seguintes afirmações são verdadeiras.
∗ Se L ∈ R, L < 1 e
+∞
xn+1 X
lim = L então a série xn converge absolutamente.
n→+∞ xn n=k
∗ Se L ∈ R, L > 1 e
+∞
xn+1 X
lim = L então a série xn diverge.
n→+∞ xn n=k
∗ Se
+∞
xn+1 X
lim = +∞ então a série xn diverge.
n→+∞ xn n=k
Demonstração. Se L ∈ R, L < 1 e
xn+1 L+1
lim = L então, com r = , tem-se L < r < 1 e,
n→+∞ xn 2
assim, existe m ∈ Nk tal que
xn+1
n > m =⇒ < r.
xn
Deste modo
|xm+2 | < |xm+1 | · r,
|xm+3 | < |xm+2 | · r < |xm+1 | · r2 ,
|xm+4 | < |xm+3 | · r < |xm+1 | · r3 ,
|xm+5 | < |xm+4 | · r < |xm+1 | · r4 ,
...
|xm+j | < |xm+j−1 | · r < |xm+1 | · rj−1
qualquer que seja j ≥ 2. Portanto, via mudança de ı́ndice por n = m + j, tem-se
xm+1
0 ≤ |xn | < |xm+1 | · rn−m−1 = m+1 · rn ∀n ≥ m + 2.
r
Como a série geométrica
+∞
X +∞
X
n
r converge, a série rn converge.
n=0 n=m+2
9
Logo, a série
+∞
X xm+1
· rn converge.
n=m+2
rm+1
Daı́, pelo Teste da Comparação, a série
+∞
X +∞
X
|xn | converge e, portanto, a série |xn | converge.
n=m+2 n=k
Deste modo
|xm+2 | > |xm+1 | · 2,
|xm+3 | > |xm+2 | · 2 > |xm+1 | · 22 ,
|xm+4 | > |xm+3 | · 2 > |xm+1 | · 23 ,
|xm+5 | > |xm+4 | · 2 > |xm+1 | · 24 ,
...
|xm+j | > |xm+j−1 | · r > |xm+1 | · 2j−1
qualquer que seja j ≥ 2. Portanto, via mudança de ı́ndice por n = m + j, tem-se
xm+1
|xn | > |xm+1 | · 2n−m−1 = n
m+1 · 2 ∀n ≥ m + 2.
r
Daı́, como
xm+1 n
lim m+1 · 2 = +∞, tem-se que n→+∞ lim |xn | = +∞.
n→+∞ 2
Logo, 0 não é limite da sequência (|xn |)n≥k , consequentemente, nem da sequência (xn )n≥k .
Assim, a série
+∞
X
xn diverge.
n=k
Exemplo 8. Sejam x 6= 0 em R e a série
+∞ n
X x
.
n=0
n!
Tem-se
xn+1
(n + 1)! xn+1 n! 1
lim = lim · = lim |x| · = 0.
n→+∞ xn n→+∞ x n
(n + 1)! n→+∞ n+1
n!
Portanto, pelo Teste da Razão, a série
+∞ n
X x
converge absolutamente.
n=0
n!
Soluçao. Tem-se
(n + 1)n+1
(n + 1)! (n + 1)n+1 n!
lim = lim ·
n→+∞ nn n→+∞ n n
(n + 1)!
n!
(n + 1)n+1 1
= lim n ·
n→+∞ n n+1
n n
(n + 1) n+1
= lim = lim
n→+∞ nn n→+∞ n
n
1
= lim 1 + = e > 1.
n→+∞ n
Portanto, pelo Teste da Razão, a série
+∞ n
X n
diverge.
n=0
n!
Exemplo 10. A série
+∞
X n
(−1)n · converge?
n=0
3n
Soluçao. Tem-se
n+1
(−1)n+1 · n
lim 3n+1 = lim n + 1 · 3 = lim 1 · n + 1 = 1 < 1.
n n 3n+1 n→+∞ 3 n 3
n→+∞
(−1)n · n n→+∞
3
Logo, pelo Teste da Razão, a série
+∞
X n
(−1)n · converge absolutamente.
n=0
3n
Observação 3. A série harmônica
1
+∞
1 n
diverge, com lim n + 1 = lim
X
= 1,
n n→+∞ 1 n→+∞ n + 1
n=1
n
e a série
1
+∞ 2
(n + 1)2
X 1 n
lim
2 converge, com n→+∞ = lim = 1.
n 1 n→+∞ n + 1
n=1
n2
12
Isto diz que, sendo (xn )n≥k uma sequência com xn 6= 0 ∀n ∈ Nk , o Teste da Razão, sobre a
convergência da série
+∞
X xn+1
xn , não é conclusivo quando lim = 1.
n=k
n→+∞ xn
AULA 39
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
∗ Se L ∈ R, L > 1 e
+∞
X
p
n
lim |xn | = L, então a série xn diverge.
n→+∞
n=k
∗ Se
+∞
X
p
n
lim |xn | = +∞, então a série xn diverge.
n→+∞
n=k
Demonstração. Se L ∈ R, L < 1 e
p L+1
lim n |xn | = L então, com r = , tem-se L < r < 1 e,
n→+∞ 2
assim, existe m ∈ Nk tal que
p
n > m =⇒ n |xn | < r =⇒ |xn | < rn ,
ou seja,
|xn | < rn qualquer que seja n > m.
Como a série geométrica
+∞
X +∞
X
n
r converge, a série rn converge.
n=0 n=m+1
1
2
Soluçao. Tem-se
s n s
n
n n n n n n
= = = ∀n ≥ 2.
ln(n) ln(n) ln(n) ln(n)
A sequência
n x
é gerada pela função f dada por f (x) =
ln(n) n≥2 ln(x)
qualquer que seja x > 0 com x 6= 1. Como
x 1
lim f (x) = lim = lim = lim x = +∞,
x→+∞ x→+∞ ln(x) x→+∞ 1/x x→+∞
tem-se
n
lim = +∞. Daı́, pelo Teste da Raiz,
n→+∞ ln(n)
a série
+∞ n
X n
diverge.
n=2
ln(n)
Exemplo 3. A série
+∞ n n
X 1 1
1+ diverge, porque lim 1 + = e 6= 0,
n=0
n n→+∞ n
com s s
n n
n 1 n 1 1
lim 1+ = lim 1+ = lim 1+ = 1.
n→+∞ n n→+∞ n n→+∞ n
Exemplo 4. Dado p > 0, a sequência
√
n
np é gerada pela função f dada por f (x) = xp/x ∀x > 0.
n≥1
Como
p ln(x) p ln(x) p
lim lim
x x 0
= lim e x
x→+∞ x→+∞
lim xp/x =e =e = e = 1,
x→+∞ x→+∞
tem-se
√
lim n
np = lim np/n = 1.
n→+∞ n→+∞
Assim, a série
s
+∞
X 1 n 1 1
converge com lim lim √
2 = n→+∞ = 1.
n=1
n2 n→+∞ n n
n2
4
O exemplos 3 e 4 dizem que, sendo (xn )n≥k uma sequência, o Teste da Raiz, sobre a con-
vergência da série
+∞
X p
xn , não é conclusivo quando lim |xn | = 1.
n→+∞
n=k
série de potências centrada em p, ou série de potências em (x − p), com coeficientes dados pela
sequência (an )n≥k .
Observação 1. Perceba que dada uma série de potências
+∞
X
an (x − p)n , tem-se, de fato,
n=k
não uma série, mas uma famı́lia de séries indexadas pela variável x. Isto é, a cada x ∈ R está
associdada a série
+∞
X
an (x − p)n ,
n=k
n
gerada pela sequência (an (x − p) )n≥k . Assim, é claro que que a convergência, ou divergência,
da série
+∞
X
an (x − p)n ,
n=k
depende do valor de x. Dito isto, tem-se a seguinte definição.
Definição 2. Sejam p ∈ R e uma sequência (an )n≥k . O conjunto de convergência da série de
potências
+∞
X
an (x − p)n ,
n=k
é o conjunto S definido por
( +∞
)
X
S := x ∈ R a série an (x − p)n converge .
n=k
Exemplo 9. Dado p ∈ R, qual o conjunto de convergência da série de potências
+∞ +∞
X (x − p)n X 1 n
= 2 · (x − p) ?
n=1
n2 n=1
n
Exemplo 10. Dado p ∈ R, qual o conjunto de convergência da série de potências
+∞
X
n · (x − p)n ?
n=0
8
Exemplo 11. Dado p ∈ R, qual o conjunto de convergência da série de potências
+∞
X
n! · (x − p)n ?
n=0
9
Portanto, a sequência (an xn0 )n≥k é limitada, isto é, existe M > 0 tal que
|an xn0 | < M qualquer que seja n ∈ Nk .
Assim, dado x ∈ R, tem-se
n
xn xn xn x
0 ≤ |an xn | = an xn0 · n = |a x
n 0
n
| · n ≤ M · n = M · ∀n ∈ Nk .
x0 x0 x0 x0
Daı́, se x ∈ (−|x0 |, |x0 |) então |x| < |x0 | e, portanto, a série geométrica
+∞ n
X x x
converge porque < 1.
n=k
x0 x0
Logo, a série
+∞ n +∞
X x X
M· converge e, por comparação, a série |an xn | converge.
n=k
x0 n=k
converge absolutamente qualquer que seja x ∈ R tal que |x − p| < |x0 − p|.
Corolário 3. Sejam (an )n≥k uma sequência, p ∈ R x0 6= p em R. Se a série
+∞
X +∞
X
n
an (x0 − p) diverge então a série an (x − p)n
n=k n=k
O conjunto S não é vazio porque 0 ∈ S. Além disso, pelo corolário 2, o intervalo [0, |x1 − p|)
está contido em S e, pelo corolário 3, S está contido no intervalo [0, |x2 − p|]. Assim, o conjunto
S é limitado superiormente. Logo, S possui supremo R ≥ |x1 − p| > 0.
Se x ∈ R e |x − p| < R então |x − p| não é cota superior de S. Assim, existe x0 ∈ R tal que
|x − p| < |x0 − p| ≤ R e a série
+∞
X
an (x0 − p)n converge absolutamente.
n=k
Logo, a série
+∞
X
an (x0 − p)n converge.
n=k
Portanto, pelo corolário 2, a série
+∞
X
an (x − p)n converge absolutamente.
n=k
Observação 3. Sejam uma sequência (an )n≥k e p ∈ R. Se a série de potências
+∞
X
an (x − p)n possui raio de convergência igual a +∞,
n=k
então a série
+∞
X
an (x − p)n converge absolutamente em cada x ∈ R.
n=k
O objetivo desta aula é expressar certas funções como séries de potências e, a partir dessas
representações, obter as derivadas e primitivas também como séries de potências.
Sabe-se que a série geométrica
+∞ +∞
X
n
X 1
x converge absolutamente, com xn = , se x ∈ (−1, 1)
n=0 n=0
1−x
1
2
p
isto é, se |x| < |p|. Assim, por exemplo, tem-se
1 1 1
2 = 2 =
5 + 2x − x 9 − (x − 2x + 4) 9 − (x − 2)2
+∞
X 1 2n
= n+1 · (x − 2) se |x − 2| < 3.
n=0
9
Observação 1. Para o que seque lembre que, dados p ∈ R e R > 0, tem-se
|x − p| < R ⇐⇒ x ∈ (p − R, p + R),
|x − p| ≤ R ⇐⇒ x ∈ [p − R, p + R],
|x − p| > R ⇐⇒ x ∈ (−∞, p − R) ∪ (p + R, +∞) e
|x − p| ≥ R ⇐⇒ x ∈ (−∞, p − R] ∪ [p + R, +∞).
Também lembre o Teorema de Taylor, cujo enunciado e demonstração serão novamente apre-
sentados nesta aula. Este teorema já foi enunciado e demonstrado na disciplina “Cálculo Dife-
rencial e Integral I”.
Teorema 1 (Teorema de Taylor). Seja a, b ∈ R, com a < b, n ∈ N e f uma função. Se f é de
classe C n em [a, b] e é n + 1 vezes diferenciável em (a, b), então existe c ∈ (a, b) tal que
f 00 (a) f 000 (a)
f (b) = f (a) + f 0 (a) · (b − a) + · (b − a)2 + · (b − a)3 + · · ·
2! 3!
f (n−1) (a) f (n) (a) f (n+1) (c)
+ · (b − a)n−1 + · (b − a)n + · (b − a)n+1 .
(n − 1)! n! (n + 1)!
Atenção: observe a última parcela da soma acima, a qual não segue o padrão de formação das
demais!
Demonstração. Suponha que f é de classe C n em [a, b] e é n + 1 vezes diferenciável em (a, b).
Seja, então, a função g : [a, b] −→ R dada por
f 00 (x) f 000 (x)
F (x) = f (x) + f 0 (x) · (b − x) + · (b − x)2 + · (b − x)3 + · · ·
2! 3!
f (n−1) (x) f (n)
(x)
+ · (b − x)n−1 + · (b − x)n .
(n − 1)! n!
Como f é de classe C n em [a, b], tem-se que F é contı́nua em [a, b] e, como F é n + 1 vezes
diferenciável em (a, b), tem-se que F é diferenciável em (a, b) com
F 0 (x) = f 0 (x) − f 0 (x) + f 00 (x) · (b − x) − f 00 (x) · (b − x)
f (3) (x) f (3) (x) f (4) (x)
+ · (b − x)2 − · (b − x)2 + · (b − x)3 − · · ·
2! 2! 3!
f (n−1) (x) f (n) (x) f (n) (x)
− · (b − x)n−2 + · (b − x)n−1 − · (b − x)n−1
(n − 2)! (n − 1)! (n − 1)!
f (n+1) (x) n f (n+1) (x)
+ · (b − x) = · (b − x)n ∀x ∈ (a, b),
n! n!
3
isto é,
f (n+1) (x)
F 0 (x) = · (b − x)n+1 ∀x ∈ (a, b)
n!
Além disso, seja G : [a, b] −→ R a função dada por
G(x) = (b − x)n+1 .
A função G é contı́nua em [a, b] e é diferenciável em (a, b) com
G0 (x) = −(n + 1) · (b − x)n 6= 0 ∀x ∈ (a, b).
Portanto, pelo Teorema do Valor Médio de Cauchy, existe c ∈ (a, b) tal que
F (b) − F (a) F 0 (c)
= 0
G(b) − G(a) G (c)
isto é,
f (n+1) (c)
f (b) − F (a) · (b − c)n
= n!
−(b − a)n+1 −(n + 1) · (b − c)n
ou seja,
f (n+1) (c)
f (b) − F (a) = · (b − a)n+1 ,
(n + 1)!
o que dá
0 f 00 (a) 2 f 000 (a)
f (b) = f (a) + f (a) · (b − a) + · (b − a) + · (b − a)3 + · · ·
2! 3!
(n−1) (n)
f (c) n−1 f (a) n f (n+1) (c)
+ · (b − a) + · (b − a) + · (b − a)n+1 .
(n − 1)! n! (n + 1)!
Observe, com atenção, que a demonstração do Teorema de Taylor diz que vale a sua seguinte
variação. A demonstração é a mesma, bastando trocar a com b.
Teorema (Teorema de Taylor). Seja a, b ∈ R, com b < a, n ∈ N e f uma função. Se f é de
classe C n em [b, a] e é n + 1 vezes diferenciável em (b, a) então existe c ∈ (b, a) tal que
f 00 (a) f 000 (a)
f (b) = f (a) + f 0 (a) · (b − a) + · (b − a)2 + · (b − a)3 + · · ·
2! 3!
f (n−1) (a) f (n) (a) f (n+1) (c)
+ · (b − a)n−1 + · (b − a)n + · (b − a)n+1 .
(n − 1)! n! (n + 1)!
Perceba que o Teorema de Taylor é o Teorema do Valor Médio quando n = 0.
Proposição 1. Sejam (an )n≥k uma sequência e R > 0. Se R é o raio de convergência da série
+∞
X +∞
X
an xn então R é o raio de convergência da série nan xn−1 ,
n=k n=k1
onde k1 = maior{ 1, k }.
4
Como a série
+∞
X
an z n converge absolutamente, ela converge. Logo, lim an z n = 0.
n→+∞
n=k
Deste modo a sequência (an z n )n≥k é limitada, ou seja, existe M > 0 tal que
|an z n | ≤ M qualquer que seja n ∈ Nk .
Veja agora que
zn |an z n | xn−1 M x n−1
0 ≤ |nan xn−1 | = nan xn−1 n = n · n−1 ≤ n ∀n ≥ k1 .
z |z| z |z| z
Observe também que
x n
(n + 1) n+1 x x
lim z = lim · = < 1.
n→+∞x n−1 n→+∞ n z z
n
z
Daı́, pelo Teste da Razão, a série
+∞ +∞
X x n−1 X M x n−1
n converge e, assim, a série n converge.
n=k1
z n=k
|z| z
1
Daı́, a série
+∞
X +∞
X
n
|nan z | = |z| |nan z n−1 | converge.
n=k1 n=k1
5
Como 0 ≤ |an z n | ≤ n|an z n | = |nan z n | qualquer que seja n ≥ k1 tem-se, pelo Teste da
Comparação, que a série
+∞
X +∞
X
n
|an z | converge e, assim, a série |an z n | converge,
n=k1 n=k
Proposição 2. Sejam (an )n≥k uma sequência. Se o raio de convergência da série
+∞
X +∞
X
n
an x é + ∞, então o raio de convergência da série nan xn−1 é + ∞,
n=k n=k1
onde k1 = maior{ 1, k }.
Demonstração. Suponha que o raio de convergência de série
+∞
X
an xn é + ∞. Então, dado x ∈ R, seja z ∈ R talque |x| < |z|.
n=k
Como a série
+∞
X
an z n converge absolutamente, ela converge. Logo, lim an z n = 0.
n→+∞
n=k
Deste modo a sequência (an z n )n≥k é limitada, ou seja, existe M > 0 tal que
|an z n | ≤ M qualquer que seja n ∈ Nk .
Veja agora que
zn |an z n | xn−1 M x n−1
0 ≤ |nan xn−1 | = nan xn−1 n = n · n−1 ≤ n ∀n ≥ k1 .
z |z| z |z| z
Observe também que
x n
(n + 1) n+1 x x
lim z = lim · = < 1.
n→+∞ x n−1 n→+∞ n z z
n
z
6
Perceba que a demonstração da proposição 2 é, essencialmente, a primeira parte da demonstração
da proposição 1. Seja (xn )n≥k uma sequência. E se o raio de convergência da série
+∞
X
an xn é zero?
n=k
Portanto, a série
+∞
X +∞
X
z nan z n−1 = nan z n converge absolutamente.
n=k1 n=k1
Como
0 ≤ |an z n | ≤ |nan z n | qualquer que seja n ≥ k1 ,
tem-se, pelo Teste da Comparação, que a série
+∞
X +∞
X
n
an z converge absolutamente. Assim, a série an z n
n=k1 n=k
onde k1 = maior{ 1, k }, têm o mesmo raio de convergência. Mas isso não significa que pos-
suem o mesmo intervalo de convergência, como diz este exemplo.
Teorema 2. Sejam R > 0, (an )n≥k uma sequência tal que a série
+∞
X
an xn possui raio de convergência R
n=k
onde k1 = maior{ k, 1 }.
Demonstração. Admita as hipóteses do enunciado. Dado p ∈ (−R, R), tem-se |p| < R. Esco-
lhendo
|p| + R
K= , tem-se |p| < K < R e, assim, p ∈ (−K, K) ⊂ (−R, R).
2
Seja, para cada número natural n ≥ 1, a função gn dada por
gn (u) = un ∀u ∈ R. Se x ∈ (−K, K) e x 6= p então, dado n ≥ 1,
9
+∞
X +∞
X +∞
X
n(n − 1)an (cn )n−2 ≤ n(n − 1)an (cn )n−2 ≤ n(n − 1)an K n−2 .
n=k2 n=k2 n=k2
Daı́, a série
+∞
X x−p
· n(n − 1)an (cn )n−2 converge absolutamente
n=k
2
2
com
+∞ +∞
X x−p n−2 x−p X
· n(n − 1)an (cn ) = · n(n − 1)an (cn )n−2 .
n=k
2 2 n=k
2 2
Portanto,
+∞ +∞
f (x) − f (p) X
n−1 x−p X
= nan p + · n(n − 1)an (cn )n−2 .
x−p n=k
2 n=k
1 2
Deste modo
+∞ +∞
f (x) − f (p) X x−p X
0≤ − nan pn−1 = · n(n − 1)an (cn )n−2
x−p n=k
2 n=k
1 2
+∞
|x − p| X
= · n(n − 1)an (cn )n−2
2 n=k2
+∞
|x − p| X
≤ · n(n − 1)an K n−2
2 n=k 2
Daı́, como
+∞
|x − p| X
lim · n(n − 1)an K n−2 = 0,
x→p 2 n=k 2
o que dá
+∞
f (x) − f (p) X
lim = nan pn−1 .
x→p x−p n=k 1
Pela escolha arbitrária de p ∈ (−R, R), conclui-se que f é diferenciável em (−R, R) valendo
+∞
X
0
f (x) = nan xn−1 ∀x ∈ (−R, R).
n=k1
11
Com uma pequena adaptação da demonstração do teorema 2, tem-se a seguinte proposição
Proposição 4. Seja (an )n≥k uma sequência, tal que a série
+∞
X
an xn possui raio de convergência igual a + ∞,
n=k
onde k1 = maior{ k, 1 }.
Aplicando sucessivamente o teorema 2 ou a proposição 4, tem o seguinte corolário.
Corolário 5. Sejam R > 0 ou R = +∞, (an )n≥k uma sequência tal que a série
+∞
X
an xn possui raio de convergência R
n=k
com a série convergindo absolutamente se |x| < 1 e divergindo se |x| ≥ 1. Portanto, o raio de
convegência de série é igaul a 1. Assim,
Z Z X +∞
!
1
dx = (−1)n · x2n dx em (−1, 1).
1 + x2 n=0
onde a0 = a1 = · · · = ak−1 = 0.
Seja (an )n≥0 uma sequência, p ∈ R e R > 0 ou R = +∞. A aula passada diz que se R é
raio de convergência da série de potências
+∞
X
an (x − p)n , então a função f : (p − R, p + R) −→ R,
n=0
dada por
+∞
X
f (x) = an (x − p)n ∀x ∈ (p − R, p + R),
n=0
∞
é de classe C com a m-ésima derivada de f dada por
+∞
X
(m)
f (x) = n(n − 1) · · · (n − m + 1)an (x − p)n−m ∀x ∈ (p − R, p + R)
n=m
1
2
Além disso, dado a > 0, se x ∈ (0, 2a) então x/a ∈ (0, 2). Logo,
+∞
x X (−1)n−1 x n
ln = · −1
a n=1
n a
+∞ n
(−1)n−1
X x−a
= ·
n=1
n a
+∞
X (−1)n−1
= · (x − a)n .
n=1
nan
Como
(n − 1)!
ln(n) (a) (−1)n−1 · (−1)n−1
= an = ∀n ∈ N1 ,
n! n! nan
tem-se
+∞
X ln(n) (a)
ln(x) − ln a = · (x − a)n .
n=1
n!
Portanto, está provado que, dado a > 0,
+∞
X ln(n) (a)
ln(x) = · (x − a)n ∀x ∈ (0, 2a),
n=0
n!
pela proposição 1,
+∞ +∞
sen(n) (0) X sen(n) (0) n X x2n+1
an = ∀x ∈ N. Portanto, x = (−1)n
n! n=0
n! n=0
(2n + 1)!
Portanto, a série
+∞
X x2n+1
(−1)n converge absolutamente ∀x ∈ R,
n=0
(2n + 1)!
ou seja,
+∞
x2n x3 x5 x7 x9 x11
X
00 n
φ (x) = − (−1) =− x− + − + − · · · = −φ(x) ∀x ∈ R.
n=0
(2n)! 3! 5! 7! 9! 11!
Isto diz que φ é solução da equação diferencial linear homogênea, de segunda ordem,
f 00 (x) + f (x) = 0.
Portanto, existem constantes A, B ∈ R tais que
φ(x) = A sen(x) + B cos(x) qualquer que seja x ∈ R.
Em particular
0 = φ(0) = A sen(0) + B cos(0) e 1 = φ0 (0) = A cos(0) − B sen(0),
Daı́, tem-se
+∞
X x2n
cos(x) = sen0 (x) = (−1)n
n=0
(2n)!
x2 x4 x6 x8 x10
=1−
+ − + − + · · · ∀x ∈ R.
2! 4! 6! 8! 10!
Exemplo 3. Sabe-se do exemplo 5, da aula número 41, que
+∞ n
x
X x x2 x3 x4 x5 x 6 x7
e = =1+x+ + + + + + + · · · ∀x ∈ R.
n=0
n! 2! 3! 4! 5! 6! 7!
Logo,
+∞ +∞
−x
X (−x)n X
n x
n
e = = (−1) ·
n=0
n! n=0
n!
(−x)2 (−x)3 (−x)4 (−x)5 (−x)6
= 1 + (−x) + + + + + + ···
2! 3! 4! 5! 6!
x2 x3 x4 x5 x6 x7
=1−x+ − + − + − + · · · ∀x ∈ R.
2! 3! 4! 5! 6! 7!
Assim,
+∞ +∞
x −x
X x2n X x2n
e +e = 2· =2·
n=0
(2n)! n=0
(2n)!
x2 x2 x4 x6 x8
=2· 1+ + + + + + · · · ∀x ∈ R,
2! 2! 4! 6! 8!
ou seja,
+∞
ex + e−x X x2n
cosh(x) = =
2 n=0
(2n)!
x2 x4 x6 x8 x2
=1+ + + + + + · · · ∀x ∈ R.
2! 4! 6! 8! 2!
Portanto,
+∞ +∞
0
X x2n−1 X x2n+1
senh(x) = cosh (x) = =
n=1
(2n − 1)! n=0 (2n + 1)!
3 5
x x x7 x9 x11
+
=x+ + + + + · · · ∀x ∈ R.
3! 5! 7! 9! 11!
Definição 1. Sejam p ∈ R e f uma função n−vezes diferenciável em p, qualquer que seja
n ∈ N1 . A série de potências
+∞ (n)
X f (p)
· (x − p)n é denominada
n=0
n!
6
isto é,
|x|2n+2
0 ≤ |En (x)| ≤ .
(2n + 2)!
Exemplo 7. Dado x ∈ R tem-se
+∞ n
X x x2 x3 x4 x5 x 6 x7
ex = =1+x+ + + + + + + · · · ∀x ∈ R.
n=0
n! 2! 3! 4! 5! 6! 7!
Se x 6= 0, pelo Teorema de Taylor, dado n ∈ N, existe cn estritamente entre 0 e x tal que
x2 x 3 xn ecn
ex = 1 + x + + + ··· + + xn+1 .
2! 3! n! (n + 1)!
Daı́, o erro En (x) cometido, na aproximação
x 2 x3 xn
ex ≈ 1 + x + + + ··· + ,
2! 3! n!
é limitado, em valor absoluto, pela desigualdade
x2 x3 xn
x
0 ≤ |En (x)| = e − 1 + x + + + ··· +
2! 3! n!
ecn e|x| ·|x|n+1
= xn+1 ≤ ,
(n + 1)! (n + 1)!
isto é,
e|x| ·|x|n+1
0 ≤ |En (x)| ≤ .
(n + 1)!
AULA 42
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA
Esta aula conclui o estudo de séries de potências e inicia uma introdução ao estudo da
integração numérica.
Exemplo 1. Se n ∈ N e n ≥ 1 então
2
e−1/x
lim = 0.
x→0 xn
1
2
tais que
onde an+1
1 , an+1
2 , . . . , an+1
3(n+1) ∈ R.
Portanto, pelo Princı́pio de Indução Finita, para cada n ∈ N1 a função f é n-vezes dife-
renciável em R∗ = (−∞, 0) ∪ (0, +∞) e existem
tais que
an1 an an an
−1/x2
f (n)
(x) = e · + 22 + 33 + · · · + 3n ∀x 6= 0.
x x x x3n
Sendo assim,
+∞ (n)
X f (0)
xn 6= f (x) ∀x 6= 0.
n=0
n!
Isto dá o exemplo de uma função f : R −→ R, de classe C ∞ , cuja Térie de Taylor, em 0, possui
raio de convergência igual a +∞, mas que não expressa a função em R.
Exemplo 3. Sabe-se que a série alternada
+∞
X 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
(−1)n−1 · =1− + − + − + − + − + ···
n=1
n 2 3 4 5 6 7 8 9 10
converge. Seja (sn )n≥1 a sequências de somas parciais associada a esta série e S o seu limite,
isto é,
+∞
X
S = lim sn = (−1)n−1 .
n→+∞
n=1
Dado n ≥ 2 par, tem-se
1 1 1 1 1
sn = 1 − + ··· + − ≥ 1− = ,
2 n−1 n 2 2
e dado n ≥ 3 ı́mpar, tem-se
1 1 1 1 1 1
sn = 1 − + ··· + − + > 1− = .
2 n−2 n−1 n 2 2
Portanto,
1 1
sn ≥ ∀n ∈ N1 , o que dá S ≥ .
2 2
4
Sendo
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
(SE01) S =1− + − + − + − + − + − + ··· ,
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
multiplicando esta série por 1/2, tem-se
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
S= − + − + − + − + − + ··· .
2 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Logo, inserindo zeros na última série, consegue-se
1 1 1 1 1 1 1 1
(SE02) S =0+ +0− +0+ +0− +0+ +0− +0+ + ··· .
2 2 4 6 8 10 12 14
Somando as séries SE01 e SE02 chega-se a
3 1 1 1 1 1 1 1 1 1
S =1+0+ − + +0+ − + +0+ − + + 0 + ··· ,
2 3 2 5 7 4 9 11 6 13
ou seja,
3 1 1 1 1 1 1 1 1 1
(SE03) S 6= S = 1 + − + + − + + − + + ··· .
2 3 2 5 7 4 9 11 6 13
Assim, as duas séries, SE01 e SE03, possuem os mesmos termos mas os seus valores são dis-
tintos. Este exemplo mostra que o rearranjo de uma quantidade infinta de termos de uma série,
obtem uma nova série cujo valor pode ser distinto do valor da série original.
Integração Numérica
Há um conjunto considerável de funções, para as quais não é possı́vel expressar as suas
integrais indefinidas em termos de funções previamente estudadas, ou seja, em termos das
funções polinomiais, racionais, raı́zes n-ésimas, trigonométricas, logaritmicas, exponenciais ou
quaisquer outras funções obtidas como combinação destas através das operaçoes com funções:
adição, subtração, multiplicação por escalar, multiplicação, divisão e composiçao de funções.
Neste caso a integral indefinida é apresentada usando o Primeiro Teorema Fundamental do
Cálculo.
Por exemplo, não é possı́vel resolver as integrais indefinidas
Z Z √ Z Z
−x2 cos(x)
e dx, 3
1 − x dx, dx e sen(x2 ) dx
x
em termos de funções (ditas) elementares.
A impossibilidade anteriormente descrita, portanto, não permite encontrar, via o Segundo
Teorema Fundamental do Cálculo, o valor exato de certas integrais definidas. Diante desta
situação, só resta usar a definição da integral definida para obter valores aproximados para
essas integrais.
Lembre o seguinte teorema.
Teorema 1. Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma função. Se f é contı́nua em [a, b] então f é
integrável a Riemann em [a, b].
5
Este teorema diz que, sendo f uma função contı́nua no intervalo [a, b], existe a sua integral
definida em [a, b], denotada por
Z b Z b X
f (x) dx e dada por f (x) dx := lim f (ci ) · ∆xi .
a a |P|→0
P
√ x
R2
TABELA 2. Valores aproximados da integral definida 0
dx.
1 + x2
Para efeito de comparação, a tabela 2 apresenta valores aproximados para esta integral defi-
nida. Compare os valores aproximados, nos três métodos de aproximação, com o valor exato,
apresentado na última coluna desta tabela.
Demonstração. Sendo f contı́nua em [a, b], são contı́nuas em [a, b] as funções −|f | e |f |, com
−|f (x)| ≤ f (x) ≤ |f (x)| ∀x ∈ Df .
Daı́ Z b Z b Z b
−|f (x)| dx ≤ f (x) dx ≤ |f (x)| dx,
a a a
isto é,
Z b Z b Z b Z b
− |f (x)| dx ≤ f (x) dx ≤ |f (x)| dx com |f (x)| dx ≥ 0.
a a a a
Portanto,
Z b Z b
f (x) dx ≤ |f (x)| dx.
a a
Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma função de classe C 2 em [a, b] e p = (a + b)/2. Dado
x ∈ [a, b], pelo Teorema de Taylor, existe cx ∈ (a, b) tal que
f 00 (cx )
f (x) = f (p) + f 0 (p)(x − p) + (x − p)2 ,
2
isto é,
f 00 (cx )
0
f (x) − f (p) − f (p)(x − p) = (x − p)2 .
2
9
A função derivada segunda f 00 possui máximo e mı́nimo em [a, b]. Então, seja M > 0 tal que
|f 00 (x)| ≤ M qualquer que seja x ∈ [a, b]. Tem-se
f 00 (cx ) M
|f (x) − f (p) − f 0 (p)(x − p)| = (x − p)2 ≤ (x − p)2 .
2 2
Veja que
Z b Z b Z b
f (x) dx − f (p)(b − a) = f (x) dx − f (p) dx
a a a
Z b Z b Z b
= f (x) dx − f (p) dx − f 0 (p)(x − p) dx
a a a
Z b
= f (x) − f (p) − f 0 (p)(x − p) dx.
a
Portanto,
Z b Z b
f (x) dx − f (p)(b − a) = f (x) − f (p) − f 0 (p)(x − p) dx
a a
Z b
≤ |f (x) − f (p) − f 0 (p)(x − p)| dx
a
Z b
M b
Z
M 2
≤ (x − p) dx = (x − p)2 dx
a 2 2 a
3 b
M (b − a)3 (a − b)3
M (x − p)
= · = −
2 3 a 2 24 24
M
= (b − a)3 ,
24
ou seja,
Z b
M
(DPM) f (x) dx − f (p)(b − a) ≤ (b − a)3 .
a 24
partição, tem-se
Z b n
X n Z
X xi n
X
f (x) dx − f (xi )∆x = f (x) dx − f (xi )∆x
a i=1 i=1 xi−1 i=1
Xn Z xi
= f (x) dx − f (xi )∆x
i=1 xi−1
n
X Z xi
≤ f (x) dx − f (xi )(xi − xi−1 )
i=1 xi−1
n n 3
X M X M b−a
3
≤ (xi − xi−1 ) =
i=1
24 i=1
24 n
3
M (b − a)3
M b−a
=n· = · ,
24 n 24 n2
isto é,
b n
M (b − a)3
Z X
f (x) dx − f (xi )∆x ≤ · .
a i=1
24 n2
Isto diz que na aproximação pelo ponto médio
Z b
b−a
f (x) dx ≈ · (f (x1 ) + f (x2 ) + · · · + f (xn−1 ) + f (xn )) ,
a n
o erro cometido não é superior, em módulo, a
M (b − a)3
· .
24 n2
Exemplo 7. Seja f : R −→ R a função dada por f (x) = sen(x2 ) qualquer que seja x ∈ R. A
função f é de classe C ∞ com
f 0 (x) = 2x cos(x2 ) e f 00 (x) = 2 cos(x2 ) − 4x2 sen(x2 ) ∀x ∈ R.
Portanto,
|f 00 (x)| = 2 cos(x2 ) − 4x2 sen(x2 ) ≤ 2 cos(x2 ) + 4x2 sen(x2 )
≤ 2 + 4x2 ≤ 6 qualquer que seja x ∈ [−1, 1].
Logo, o erro cometido, na aproximação pelo ponto médio
Z 1 2 2 2 !
2 1 3 2n − 1
sen(x2 ) dx ≈ · sen −1 + + sen −1 + + · · · + sen −1 +
−1 n n n n
n 2
X 2 2i − 1
= · sen −1 + ,
i=1
n n
não é, em módulo, superior a
6 23 2
· 2 = 2.
24 n n
11
R1
TABELA 4. Valores aproximados da integral definida −1
sen(x2 ) dx.
Esta aula continua com o estudo da integração numérica. Antes, porém, observe na figura 1
a descrição geométrica dos três métodos de aproximação da integral definida, apresentados na
aula passada. Da esquerda para direita: método do extremo esquerdo, método do ponto médio
e método do extremo direito.
Em cada um dos três quadros da figura 1, a soma das áreas do retângulos azuis, aproxima o
valor da integral definida.
Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma função contı́nua em [a, b]. Pelo Teorema do Valor
Intermediário, existe c ∈ [a, b] tal que
f (a) + f (b) f (a) + f (b)
= f (c), pois é um valor entre f (a) e f (b).
2 2
1
2
f (a) + f (b)
· (b − a) é a área do trapézio
2
de bases f (a) e f (b) e de altura (b − a). Assim, para cada n ∈ N1 , escolhendo teoricamente
coeficientes c1 , . . . , cn , da partição uniforme P = (x0 , x1 , . . . , xn ) de [a, b], de modo que
e, portanto,
Z b
f (x) dx = lim (f (c1 )∆x1 + f (c2 )∆x2 + · · · + f (cn−1 )∆xn−1 + f (cn )∆xn )
a n→+∞
b−a f (x0 ) f (xn )
lim · + f (x1 ) + · · · + f (xn−1 ) + .
n→+∞ n 2 2
Dado n ∈ N1 , a aproximação
Z b
b−a f (x0 ) f (xn )
f (x) dx ≈ · + f (x1 ) + · · · + f (xn−1 ) +
a n 2 2
é denominada aproximação pela regra do trapézio. Perceba que
b−a f (x0 ) f (xn )
· + f (x1 ) + · · · + f (xn−1 ) +
n 2 2
1 b−a n o
= · · f (x0 ) + 2f (x1 ) + · · · + 2f (xn−1 ) + f (xn )
2 n
1 b−a n o
= · · f (x0 ) + f (x1 ) + · · · + f (xn−1 ) +
2 n
1 b−a n o
· · f (x1 ) + f (x2 ) + · · · + f (xn ) +
2 (n )
n−1 n
1 b−aX b−aX
= · f (xi−1 ) + f (xi ) .
2 n i=0 n i=1
ou seja, a aproximação pela Regra do Trapézio é a média aritmética das aproximações pela
Regra do Extremo Esquerdo e pela Regra do Extremo Direito.
Exemplo 1. Seja f a função dada por
1
f (x) = qualquer que seja x ∈ R.
1 + x2
Tem-se
Z 1 Z 1 1
1
f (x) dx = 2 dx = arctg(x)
−1 −1 1 + x −1
π π π
= arctg(1) − arctg(−1) = − − =
4 4 2
≈ 1,57079632679489661923.
Para efeito de comparação, a tabela 1 apresenta valores aproximados para esta integral de-
finida. A sua segunda coluna coluna apresenta as aproximações pela regra do trapézio e a
terceira coluna apresenta as aproximações pela regra do ponto médio. Compare os valores
aproximados, nos dois métodos de aproximação, com o valor exato, apresentado na última
coluna desta tabela.
√ x
R2
TABELA 2. Valores aproximados da integral definida 0
dx.
1 + x2
Tem-se
Z 2 Z 2 √ 2
x
f (x) dx = √
= 1+ x2
0 01 + x2 0
√
= 5 − 1 ≈ 1,23606797749978969641.
Para efeito de comparação, a tabela 2 apresenta valores aproximados para esta integral de-
finida. A sua segunda coluna coluna apresenta as aproximações pela regra do trapézio e a
terceira coluna apresenta as aproximações pela regra do ponto médio. Compare os valores
aproximados, nos dois métodos de aproximação, com o valor exato, apresentado na última
coluna desta tabela.
Tem-se
Z 2 Z 2 2
f (x) dx = x cos(x) dx = (x sen(x) + cos(x))
0 0 0
= 2 sen(2) + cos(2) − 1 ≈ 0,40244801710422100379.
Para efeito de comparação, a tabela 3 apresenta valores aproximados para esta integral de-
finida. A sua segunda coluna coluna apresenta as aproximações pela regra do trapézio e a
terceira coluna apresenta as aproximações pela regra do ponto médio. Compare os valores
aproximados, nos dois métodos de aproximação, com o valor exato, apresentado na última
coluna desta tabela.
b b
b−a b−a
Z Z
f (a) + f (b)
f (x) dx − (b − a) = f (x) dx − f (a)
− f (b)
a 2 a 2 2
Z b
a−b b−a
= f (x) dx + f (a) − f (b)
a 2 2
Z b
= f (x) dx + f (a)(a − p) − f (b)(b − p)
a
Z b b
= f (x) dx − f (x)(x − p)
a a
Z b
= − (x − p)f 0 (x) dx
a
Z b
= − f 0 (x)(x − p) dx
a
b b
(x − p)2 00 (x − p)2
Z
= f (x) dx − f 0 (x)
a 2 2 a
b 2 2
(x − p) 00 (b − a) (a − b)2
Z
0 0
= f (x) dx − f (b) + f (a)
a 2 8 8
Z b 2 2
(x − p) 00 (b − a) 0
= f (x) dx − (f (b) − f 0 (a))
a 2 8
Z b
(x − p)2 00 (b − a)2 b 00
Z
= f (x) dx − f (x) dx
a 2 8 a
Z b
(x − p)2 (b − a)2
= − f 00 (x) dx
a 2 8
1 b (b − a)2
Z
= 2
(x − p) − f 00 (x) dx
2 a 4
1 b
Z
(x − p)2 − (b − p)2 f 00 (x) dx,
=
2 a
onde (x − p)2 − (b − p)2 ≤ 0 qualquer que seja x ∈ [a, b]. Seja M > 0 tal que |f 00 (x)| ≤ M
qualquer que seja x ∈ [a, b]. Tem-se
= M · (b − p)2 − (x − p)2
Z b Z b
f (a) + f (b) 1
(x − p)2 − (b − p)2 f 00 (x) dx
f (x) dx − (b − a) =
a 2 2 a
Z b
1
(x − p)2 − (b − p)2 f 00 (x) dx
= ·
2 a
Z b
1
(x − p)2 − (b − p)2 f 00 (x) dx
≤
2 a
M b
Z
(b − p)2 − (x − p)2 dx
≤
2 a
b
(x − p)3
M 2
= · (b − p) x −
2 3 a
3
M (b − p)
= · (b − p)2 b − −
2 3
(a − p)3
M 2
· (b − p) a −
2 3
3
(b − a)3
M (b − a) M
= · − = (b − a)3 ,
2 4 12 12
isto é,
Z b
f (a) + f (b) M
(DTR) f (x) dx − (b − a) ≤ (b − a)3 .
a 2 12
f (xi−1 ) + f (xi )
f (ci ) = qualquer que seja i ∈ { 1, . . . , n },
2
8
Xn Z xi
≤ f (x) dx − f (ci )(xi − xi−1 )
i=1 xi−1
n Z xi
X f (xi−1 ) + f (xi )
= f (x) dx − (xi − xi−1 )
i=1 x i−1
2
n n 3
X M 3
X M b−a
≤ (xi − xi−1 ) =
i=1
24 i=1
12 n
3
M (b − a)3
M b−a
=n· = · ,
12 n 12 n2
isto é,
b n
M (b − a)3
Z X
f (x) dx − f (ci )∆x ≤ · .
a i=1
12 n2
b
b−a
Z
f (x0 ) f (xn )
f (x) dx ≈ · + f (x1 ) + · · · + f (xn−1 ) + ,
a n 2 2
M (b − a)3
· .
12 n2
Exemplo 4. Seja f : R −→ R a função dada por f (x) = sen(x2 ) qualquer que seja x ∈ R. A
função f é de classe C ∞ com
Portanto,