Notas de Aula Cálculo 2

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Universidade Federal do Ceará

Matemática - Bacharelado
...............................................................

Notas de Aula em
Cálculo Diferencial e Integral II
Professor: Romildo José da Silva
Comentário: No que segue, reúno as notas de aula correspondentes ao curso
de Cálculo Diferencial e Integral II, doravante ministrado para alunos do
Bacharelado em Matemática da Universidade Federal do Ceará no semestre
de 2024.2. Evidentemente, não sou autor destas notas, bom estudo.

Carlos Monte
AULA 01
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Nesta aula será apresentada a primeira técnica de integração, denominada integração por
partes. Esta técnica, como será visto, tem sua origem na regra do produto para derivação. Mas
antes reveja os enunciados dos seguintes teoremas, os quais serão utilizados ao longo desta
disciplina.
Teorema (Primeiro Teorema Fundamental do Cálculo). Sejam f uma função, I ⊂ R um inter-
valo e c ∈ I. Se f é contı́nua em I então a função g : I −→ R, dada por
Z x
g(x) := f (u) du qualquer que seja x ∈ I,
c
é diferenciável valendo
g 0 (x) = f (x) qualquer que seja x ∈ I.
O Primeiro Teorema Fundamental do Cálculo diz que toda função contı́nua em um intervalo
possui uma primitiva neste intervalo.
Teorema (Segundo Teorema Fundamental do Cálculo). Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma
função contı́nua em [a, b]. Se g é uma função primitiva de f em [a, b] então
Z b
f (x) dx = g(b) − g(a).
a

O Segundo Teorema Fundamental do Cálculo dá um método de calcular, de forma exata, o


valor da integral definida, em um intervalo fechado, de uma função contı́nua nesse intervalo,
em termos de uma primitiva dessa função nesse mesmo intervalo.

Mudança de Variável na Integral Indefinida

Sejam f e g funções. O domı́nio da função


(f 0 ◦ g) · g 0
é o conjunto
Ω := { x ∈ Dg | g é diferenciável em x e f é diferenciável em g(x) },
com
((f 0 ◦ g) · g 0 )(x) := f 0 (g(x)) · g 0 (x) qualquer que seja x ∈ Ω.
Mas, pela Regra da Cadeia, f ◦ g é diferenciável em Ω valendo
(f ◦ g)0 (x) = f 0 (g(x)) · g 0 (x) = ((f 0 ◦ g) · g 0 )(x) qualquer que seja x ∈ Ω.
Assim Z
((f 0 ◦ g) · g 0 )(x)dx = (f ◦ g)0 (x) + C,
isto é, Z
f 0 (g(x)) · g 0 (x)dx = f (g(x)) + C.

1
2

Note que, para u = g(x), tem-se


Z Z
f (g(x)) · g (x)dx = f (g(x)) + C = f (u) + C = f 0 (u)du.
0 0

e
du
= g 0 (x).
dx
Perceba que abusando da notação, ao escrever du = g 0 (x)dx, e fazendo as mudanças corres-
pondentes, isto é, substituindo g(x) por u e g 0 (x)dx por du, obtemos rapidamente a igualdade
Z Z
f (g(x)) · g (x)dx = f 0 (u)du.
0 0

Este procedimento, o qual funciona por causa da Regra da Cadeia, é denominado mudança de
variável na integral indefinida. Ele é útil para tornar simples integrais que parecem “complica-
das”.
Proposição (Mudança de Variável na Integral Definida). Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f e
g funções. Se g é função de classe C 1 no intervalo [a, b] e f é função contı́nua no intervalo
g([a, b]), então a função (f ◦ g) · g 0 é contı́nua em [a, b] e
Z b Z g(b)
0
f (g(x)) · g (x) dx = f (u) du.
a g(a)

Esta proposição permite a mudança de variável dentro da integral definida. Observe que a
mudança de variável na integral definida requer a mudança nos limites de integração.

Integração por Partes

Sabe-se que se f e g são funções diferenciáveis, então o produto f · g é diferenciável valendo


(f · g)0 (x) = f 0 (x) · g(x) + f (x) · g 0 (x) ∀x ∈ Df ·g .
Assim, Z Z
0 0
(f (x) · g(x) + f (x) · g (x)) dx = (f · g)0 (x) dx.
Deste modo, Z Z Z
0 0
f (x) · g(x) dx + f (x) · g (x) dx = (f · g)0 (x) dx,
isto é, Z Z Z
0 0
f (x) · g (x) dx = (f · g) (x) dx − g(x) · f 0 (x) dx.
Logo, Z Z
0
f (x) · g (x) dx = f (x) · g(x) − g(x) · f 0 (x) dx.

Com u = f (x) e v = g(x), tem-se du = f 0 (x)dx e dv = g 0 (x)dx. Portanto, a fórmula anterior


é agora escrita, em termos de u e de v, como
Z Z
u dv = u · v − v du.
3

Este artifı́cio mnemônico é denominado fórmula de integração por partes.R Dada uma integral
R por escolhas convenientes de u e de v, obtem-se a integral R udv em termos da
indefinida,
integral vdu. Perceba
R que esta fórmula é útil quando a segunda integral, vdu, é mais simples
do que a primeira, udv.
Exemplo 1. Como calcular a integral indefinida
Z
x ex dx?

Soluçao. Com u = x e v = ex , tem-se


du = dx e dv = ex dx.
Daı́,
Z Z Z
x ex dx = u dv = u · v − v du
Z
= x e − ex dx
x

= x ex − ex + C,
ou seja,
Z
x ex dx = x ex − ex + C.


Exemplo 2. Como calcular a integral indefinida
Z
x sen(x)dx?

Soluçao. Com u = x e v = − cos(x), tem-se du = dx e dv = sen(x)dx. Assim,


Z Z Z
x sen(x) dx = u dv = u · v − v du
Z
= −x cos(x) + cos(x) dx
= −x cos(x) + sen(x) + C,
ou seja,
Z
x sen(x) dx = −x cos(x) + sen(x) + C.


Exemplo 3. Como calcular a integral indefinida
Z
x ln(x) dx?
4

Soluçao. Com u = ln(x), tem-se du = x1 dx e, com v = x2 , tem-se dv = xdx. Assim,


2
Z Z Z Z
x ln(x) dx = ln(x) · x dx = u dv = u · v − v du

x2 ln(x)
Z 2
x2 ln(x)
Z
x 1 x
= − · dx = − dx
2 2 x 2 2
x2 ln(x) x2
= − + C,
2 4
ou seja,
x2 ln(x) x2
Z
x ln(x) dx = − + C.
2 4


Exemplo 4. Como calcular a integral indefinida


Z
ln(x) dx?

Soluçao. Fazendo u = ln(x) e v = x, tem-se du = x 1 dx e dv = dx. Assim,


Z Z Z
ln(x) dx = u dv = u · v − v du
Z
1
= ln(x) · x − x · dx
x
Z
= x ln(x) − 1 dx = x ln(x) − x + C,

ou seja,
Z
ln(x) dx = x ln(x) − x + C.

Exemplo 5. Como calcular a integral indefinida


Z
sec3 (x) dx?

Soluçao. Primeiro observe que


Z Z
sec (x) dx = sec(x) · sec2 (x) dx.
3

Assim, fazendo u = sec(x) e v = tg(x), tem-se

du = sec(x) · tg(x)dx e dv = sec2 (x)dx


5

Portanto,
Z Z Z
3
sec (x) dx = u dv = u · v − v du
Z
= sec(x) · tg(x) − tg(x) · sec(x) · tg(x) dx
Z
= sec(x) · tg(x) − sec(x) · tg2 (x) dx

Como 1 + tg2 (x) = sec2 (x), tem-se


Z Z
sec (x) dx = sec(x) · tg(x) − sec(x) · sec2 (x) − 1 dx
3


Z
sec3 (x) − sec(x) dx

= sec(x) · tg(x) −
Z Z
3
= sec(x) · tg(x) − sec (x) dx + sec(x) dx,

isto é, Z Z Z
3 3
sec (x) dx = sec(x) · tg(x) − sec (x) dx + sec(x) dx.
Daı́,
Z Z
3
2· sec (x) dx = sec(x) · tg(x) + sec(x) dx
= sec(x) · tg(x) + ln (|sec(x) + tg(x)|) + C,
ou seja, Z
1 1
sec3 (x) dx = sec(x) · tg(x) + ln (|sec(x) + tg(x)|) + C.
2 2

Exemplo 6. Como resolver a integral indefinida
Z
ex sen(x) dx?

Soluçao. Fazendo u = ex e v = − cos(x), tem-se


du = ex dx e dv = sen(x)dx.
Assim,
Z Z Z
ex sen(x) dx = u dv = u · v − v du
Z
= − e cos(x) + cos(x) ex dx
x
Z
= − e cos(x) + ex cos(x) dx
x

Agora, com y = ex e z = sen(x), tem-se


dy = ex dx e dz = cos(x)dx.
6

Deste modo,
Z Z Z
ex cos(x) dx = y dz = y · z − z dy
Z
= e · sen(x) − sen(x) ex dx
x
Z
= e · sen(x) − ex sen(x) dx,
x

isto é, Z Z
ex cos(x) dx = ex · sen(x) − ex sen(x) dx.
Retornando à integral indefinida principal, tem-se
Z Z
e sen(x) dx = − e cos(x) + ex cos(x) dx
x x
Z
= − e cos(x) + e · sen(x) − ex sen(x) dx.
x x

Portanto, Z
2· ex sen(x) = ex sen(x) − ex cos(x) + C,
o que dá Z
1 1
ex sen(x) dx = · ex sen(x) − · ex cos(x) + C.
2 2

AULA 02
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Antes de prosseguir com as demais técnicas de integração, serão mostradas algumas aplica-
ções, da integral definida, para o cálculo do volume de sólidos de revolução. Nesta aula será
apresentado o cálculo do volume pelo método do disco e pelo método da coroa.
Sejam a, b ∈ R com a < b, f uma função contı́nua em [a, b] com f (x) ≥ 0 qualquer que seja
x ∈ [a, b], Ω a região plana em R2 dada por
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e 0 ≤ y ≤ f (x)


e SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região plana Ω em torno do eixo das abscissas
(eixo y = 0), conforme a figura 1. Como exemplos conhecidos de sólidos de revolução temos
o cilindro circular reto, que é a rotação de um retângulo em torno de um dos seus lados, o cone
circular reto, que é a rotação de um triângulo retângulo em torno de um dos seus catetos, e a
esfera, que é rotação de um semicı́rculo em torno do seu diâmetro.

F IGURA 1. Sólido de revolução SΩ gerado pela rotação de Ω.

Dada uma partição P = (x0 , x1 , . . . , xn ) de [a, b] com coeficientes c1 , . . . , cn , sejam o retângulo


Ri de vértices
(xi−1 , 0), (xi , 0), (xi , f (ci )) e (xi−1 , f (ci )),
para cada i ∈ { 1, . . . , n }, ΩP a região plana dada por
n
[ [
ΩP := R1 ∪ R2 ∪ · · · ∪ Rn = Ri = Ri ,
i=1 P

e SP o sólido de revolução obtido pela rotação da região plana ΩP em torno do eixo das abs-
cissas. Sendo, para cada i ∈ { 1, . . . , n }, Ci o cilindro de revolução obtido pela rotação do

1
2

retângulo Ri , em torno do eixo das abscissas, tem-se


n
[ [
SP := C1 ∪ C2 ∪ · · · ∪ Cn = Ci = Ci ,
i=1 P

ou seja, o sólido SP é a “colagem” de n cilindros “verticais”, lembrando, em certas situações,


um bolo formado por camadas cilı́ndricas.

F IGURA 2. SP é a colagem de três cilindros.

Daı́, como para cada i ∈ { 1, . . . , n }, Ci é o cilindro circular reto de raio f (ci ) e altura ∆xi
e, portanto,
Volume(Ci ) = |Ci | = π · (f (ci ))2 · ∆xi ,
tem-se
Volume(SP ) = |SP | = π · (f (c1 ))2 · ∆x1 + · · · + π · (f (cn ))2 · ∆xn
Xn X
= π · (f (ci ))2 · ∆xi = π · (f (ci ))2 · ∆xi .
i=1 P
3

Observe que, exceto por alguns casos especiais, ainda não há definição para o volume do sólido
SΩ e, assim, não há como calculá-lo. Entretanto, sendo f contı́nua em [a, b], a intuição diz
que quanto mais fina for a partição P, mais parecidos são os sólidos SΩ e SP . Deste modo, é
razoável pensar em estimar o volume de SΩ pelo volume de SP , desde que |P| ≈ 0 em relação
ao tamanho do intervalo [a, b]. Baseado nesta ideia intuitiva, seja g : Df −→ R a função dada
por g(x) = π (f (x))2 . O volume de SP é a soma de Riemann de g, sobre [a, b], relativa à
partição P com coeficientes c1 , . . . , cn . Como g contı́nua em [a, b], g é integrável a Riemann
em [a, b], isto é, existe
X X Z b
2
lim Volume(SP ) = lim π · (f (ci )) · ∆xi = lim g(ci ) · ∆xi =: g(x) dx.
|P|→0 |P|→0 |P|→0 a
P P

Daı́ segue a seguinte definição


Definição 1. O volume do sólido de revolução SΩ é o número real |SΩ | dado por
X Z b
2
|SΩ | := lim π · (f (ci )) · ∆xi = π (f (x))2 dx.
|P|→0 a
P

Observe que, dado x ∈ [a, b], a secção transversal plana de SΩ , perpendicular ao eixo das
abscissas e correspondente à abscissa x, é um disco de raio f (x) e, assim, sua área mede
π · (f (x))2 .
Portanto, o volume de S é a integral da área da referida secção transversal de SΩ . Por este
motivo, o cálculo do volume, usando fórmula da definição 1, é conhecido como método do
disco.
Exemplo 1. Seja S o sólido de revolução obtido pela rotação da região Ω, limitada pelos
gráficos de y = x2 + 1, x = −1, x = 1 e y = 0, em torno do eixo das abscissas. Como
encontrar o volume de S?
Soluçao. Observe a figura 3. Tem-se que
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e 0 ≤ y ≤ f (x)


onde a = −1, b = 1 e f (x) = x2 + 1. Assim, pela definição 1, o volume de S é dado por


Z b Z 1
2
|S| = π (f (x)) dx = π (x2 + 1)2 dx
a −1
Z 1 Z 1
2 2
= 2π (x + 1) dx = 2π (x4 + 2x2 + 1) dx
0 0
 5 3  1
x 2x 28 56π
= 2π + +x = 2π · = u.v.
5 3 0 15 15


Exemplo 2. Seja S o sólido de revolução obtido pela rotação da região Ω, limitada pelos
gráficos de y = 3x − x2 e y = 0, em torno do eixo das abscissas. Como encontrar o volume de
S?
4

F IGURA 3. Região Ω limitada por y = x2 + 1, x = −1, x = 1 e y = 0.

F IGURA 4. Região Ω limitada por y = 3x − x2 e y = 0.

Soluçao. Observe a figura 4. Tem-se que

(x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e 0 ≤ y ≤ f (x)

Ω :=
5

onde a = 0, b = 3 e f (x) = 3x − x2 . Assim, pela definição 1, o volume de S é dado por


Z b Z 3
2
|S| = π (f (x)) dx = π (3x − x2 )2 dx
a 0
3 3
x5 3x4
Z  
2 3 4
= π (9x − 6x + x ) dx = π − + 3x3
0 5 2 0
81 81π
= = u.v.
10 10


Sejam a, b ∈ R com a < b, f e g funções contı́nuas em [a, b] com 0 ≤ f (x) ≤ g(x) qualquer
que seja x ∈ [a, b], Ω a região plana dada por

Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e f (x) ≤ y ≤ g(x)




e SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região plana Ω em torno do eixo das abscissas
(eixo y = 0). Sejam

Ωf := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e 0 ≤ y ≤ f (x) ,


(x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e 0 ≤ y ≤ g(x)

Ωg := ,

Sf o sólido de revolução obtido pela rotação de Ωf em torno do eixo das abscissas e Sg o sólido
de revolução obtido pela rotação de Ωg em torno do eixo das abscissas.

F IGURA 5. Sólido Vazado: diferença de dois sólidos.


6

Sendo SΩ o sólido vazado da figura 5, isto é, SΩ := Sg − Sf , tem-se

|SΩ | = Volume(SΩ ) = Volume(Sg ) − Volume(Sf ) = |Sg | − |Sf |


Z b Z b
2
= π (g(x)) dx − π (f (x))2 dx
a a
Z b
π (g(x))2 − π (f (x))2 dx

=
a
Z b
π (g(x))2 − (f (x))2 dx

=
a

F IGURA 6. Secção Transversal em x.

Observe que, dado x ∈ [a, b], a secção transversal plana, perpendicular ao eixo das abscissas
e correspondente à abscissa x, é uma coroa de raio menor f (x) e raio maior g(x) e, assim, sua
área mede π · (g(x))2 − π · (f (x))2 . Portanto, o volume de S é a integral da área da secção
transversal de S. Neste caso, o cálculo do volume é conhecido como método da coroa.

Exemplo 3. Seja S o sólido de revolução obtido pela rotação, em torno do eixo das abscissas,
da região Ω limitada pelos gráficos de y = x + 3 e y = x2 + 1. Como encontrar o volume de S.

Soluçao. Observe a figura 7. Tem-se

x + 3 = x2 + 1 ⇐⇒ x2 − x − 2 = 0 ⇐⇒ x ∈ { −1, 2 } .

Assim, a região Ω é dada por

Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e f (x) ≤ y ≤ g(x)



7

F IGURA 7. Região Ω limitada por y = x + 3 e y = x2 + 1.

onde a = −1, b = 2, f (x) = x2 + 1 e g(x) = x + 3. Portanto, o sólido de revolução S tem


volume dado por
Z b Z 2
2 2 2 
|S| = π (g(x)) − (f (x)) dx = π (x + 3)2 − x2 + 1 dx
a −1
Z 2
x2 + 6x + 9 − x4 + 2x2 + 1

= π dx
−1
Z 2
−x4 − x2 + 6x + 8 dx =

= π
−1
2
x5 x3
 
117 117π
= π − − + 3x2 + 8x =π· = u.v.
5 3 −1 5 5

Sejam a, b, c ∈ R com a < b, f e g funções contı́nuas em [a, b] com c ≤ f (x) ≤ g(x)
qualquer que seja x ∈ [a, b], Ω a região plana dada por
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e f (x) ≤ y ≤ g(x)


e SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região plana Ω em torno do eixo y = c.


Observe que, dado x ∈ [a, b], a secção transversal plana de S, correpondente à abscissa x, é
uma coroa circular de raio maior R(x) = g(x) − c e raio menor r(x) = f (x) − c e, portanto,
8

sua área é
π (R(x))2 − (r(x))2 = π (g(x) − a)2 − (f (x) − a)2 .
 

Portanto o volume de S é dado por


Z b
(R(x))2 − (r(x))2 dx

|S| = π
a
Z b
(g(x) − c)2 − (f (x) − c)2 dx.

= π
a

Observe que se f (x) ≤ g(x) ≤ c qualquer que seja x ∈ [a, b] então


r(x) = c − g(x) e R(x) = c − f (x)
e, portanto,
Z b
(R(x))2 − (r(x))2 dx

|S| = π
a
Z b
(c − f (x))2 − (c − g(x))2 dx.

= π
a

F IGURA 8. A rotação do segmento “azul” gera a seccção transversal em x.

Exemplo 4. Seja S o sólido gerado pela rotação, em torno do eixo y = −2, da região Ω
limitada pelos gráficos y = x + 1, y = −x − 1 e x = 1. Como encontrar o volume de S?
Soluçao. Observe a figura 9. Tem-se
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e f (x) ≤ y ≤ g(x)


com a = −1, b = 1, f (x) = −x − 1 e g(x) = x + 1 onde −2 ≤ f (x) ≤ g(x) qualquer que seja
x ∈ [−1, 1]. Portanto, dado x ∈ [−1, 1], a secção transversal plana, perpendicular ao eixo de
9

rotação y = −2 e correspondente à abscissa x, é a coroa de raio menor r(x) e raio maior R(x)
dados por
r(x) = −x − 1 − (−2) = −x + 1 e R(x) = x + 1 − (−2) = x + 3.
Assim, o volume de S é dado por
Z b Z 1
2 2
(x + 3)2 − (1 − x)2 dx

|S| = π (R(x)) − (r(x)) dx = π
a −1
Z 1
x2 + 6x + 9 − 1 − 2x + x2

= π dx
−1
Z 1
1
(8x + 8) dx = π 4x2 + 8x

= π −1
= 16πu.v.
−1

F IGURA 9. Região Ω limitada por y = x + 1, y = −x − 1 e x = 1.

Exemplo 5. Seja S o sólido de revolução obtido pela rotação, em torno do eixo y = 5, da


região Ω limitada pelos gráficos de y = x + 3 e y = x2 + 1. Como encontrar o volume de S.
Soluçao. Tem-se
x + 3 = x2 + 1 ⇐⇒ x2 − x − 2 = 0 ⇐⇒ x ∈ { −1, 2 } .
10

Assim, a região Ω é dada por


Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e f (x) ≤ y ≤ g(x)


onde a = −1, b = 2, f (x) = x2 + 1 e g(x) = x + 3 onde f (x) ≤ g(x) ≤ 5 qualquer que


seja x ∈ [a, b]. Portanto, dado x ∈ [−1, 2], a secção transversal plana, perpendicular ao eixo de
rotação y = 5 e correspondente à abscissa x, é a coroa de raio menor r(x) e raio maior R(x)
dados por
r(x) = 5 − (x + 3) = 2 − x e R(x) = 5 − (x2 + 1) = 4 − x2 .
Assim, o volume de S é dado por
Z b Z 2 
2 2 2
|S| = π (R(x)) − (r(x)) dx = π 4 − x2 − (2 − x)2 dx
a −1
Z 2
x4 − 8x2 + 16 − x2 − 4x + 4

= π dx
−1
Z 2
x4 − 9x2 + 4x + 12 dx

= π
−1
2
x5
 
108 108π
= π − 3x3 + 2x2 + 12x =π· = u.v.
5 −1 5 5

AULA 03
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula desenvolve o processo de cálculo de volume de sólido de revolução pelo método
do invólucro de cilindro. As regiões planas aqui descritas, exceto por algumas restrições, são
as mesmas da aula passada, mas os eixos de rotação são, agora, “verticais”, diferentes daqueles
usados na exposição passada. Neste sentido, sejam a, b ∈ R com 0 ≤ a < b, f uma função
contı́nua em [a, b] com f (x) ≥ 0 qualquer que seja x ∈ [a, b], Ω a região plana em R2 dada por
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e 0 ≤ y ≤ f (x)


e SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região Ω, desta vez, em torno do eixo das
ordenadas x = 0. Veja um esboço de um sólido SΩ na figura 1.

F IGURA 1. Sólido de revolução SΩ obtido pela rotação de Ω em torno de x = 0.

O invólucro de cilindro C, da figura 2, é um caso particular do sólido de revolução SΩ . C


é o sólido de revolução obtido pela rotação, em torno do eixo u, do retângulo hachurado em
vermelho, observando que o retângulo e o eixo são coplanares, e que o eixo é paralelo a um dos
lados do retângulo. Assim, o volume de C é dado por
|C| = Volume(C) = πR2 h − πr2 h
= π R2 − r2 h = π(R + r)(R − r)h


R+r
= 2π (R − r)h = 2π · r · ∆r · h,
2
onde r é o raio médio R 2+ r e ∆r é a variação do raio (R − r).
O que segue tem por objetivo definir o volume de SΩ . Dada uma partição P = (x0 , x1 , . . . , xn )
de [a, b], com coeficientes c1 , . . . , cn escolhidos como
xi−1 + xi
ci = qualquer que seja i ∈ { 1, . . . , n },
2

1
2

F IGURA 2. Invólucro de cilindro de raio menor r, raio maior R e altura h.

sejam o retângulo Ri de vértices

(xi−1 , 0), (xi , 0), (xi , f (ci )) e (xi−1 , f (ci )),

para cada i ∈ { 1, . . . , n }, ΩP a região plana dada por


n
[ [
ΩP := R1 ∪ R2 ∪ · · · ∪ Rn = Ri = Ri ,
i=1 P

e SP o sólido de revolução obtido pela rotação da região plana ΩP em torno do eixo das or-
denadas. Sendo, para cada i ∈ { 1, . . . , n }, Ci o invólucro de cilindro obtido pela rotação do
retângulo Ri , em torno do eixo das ordenadas, tem-se que xi−1 é o seu raio menor, xi é o seu
raio maior, f (ci ) é a sua altura e
n
[ [
SP := C1 ∪ C2 ∪ · · · ∪ Cn = Ci = Ci ,
i=1 P

ou seja, o sólido SP é a “colagem” de n invólucros de cilindro “verticais”, como na figura 3


para n = 2. Além disso, pela escolha dos coeficiente c1 , . . . , cn de P, tem-se

|Ci | = Volume(Ci ) = 2πci f (ci )∆xi qualquer que seja i ∈ { 1, . . . , n }.

Sendo f uma função contı́nua, a intuição nos diz que quanto mais fina for a partição P, isto
é, quanto mais |P| estiver próximo de 0 (zero) em relação ao comprimento (b − a) do intervalo
[a, b], mais parecidos serão os sólidos SΩ e SP . Deste modo, se existir e for um número real o
limite
lim Volume(SP ),
|P|→0
3

F IGURA 3. Sólido de revolução SP para P = (x0 , x1 , x2 ) partição de [a, b].

então tal limite será, por definição, o volume de SΩ . Observe que


X
|SP | = Volume(SP ) = Volume(Ci )
P
X X
= 2πci f (ci )∆xi = g(ci )∆xi ,
P P

onde g : Df −→ R é a função dada por g(x) = 2πf (x) qualquer que seja x ∈ Df . Assim,
o volume de SP é a soma de Riemann de g, sobre [a, b], relativa à partição P com coeficientes
c1 , . . . , cn . Como a função g é, também, contı́nua em [a, b], ela é integrável a Riemann em [a, b],
isto é, existe
X X Z b
lim Volume(SP ) = lim 2πci f (ci )∆xi = lim g(ci ) · ∆xi =: g(x) dx.
|P|→0 |P|→0 |P|→0 a
P P

Daı́ segue a seguinte definição.

Definição 1. O volume do sólido de revolução SΩ é o número real |SΩ | dado por


X Z b
|SΩ | := lim 2πci f (ci )∆xi = 2πxf (x) dx.
|P|→0 a
P

Dar-se-á agora uma interpretação geométrica da fórmula da definição 1. Dado x ∈ [a, b],
sejam Tx o segmento “vertical” ligando os pontos (x, 0) e (x, f (x)), e Lx a casca (lateral) de
cilindro obtida pela rotação de Tx em torno do eixo das ordenadas. Lx tem raio x, altura f (x)
e, portanto, a sua área é dada por

|Lx | = Área(Lx ) = 2πxf (x).


4

A casca de cilindro Lx é uma secção, não plana, do sólido de revolução SΩ e ele pode ser visto
como uma composição dessas secções, isto é,
[
SΩ = Lx .
x∈[a,b]

Além disso, pela definição 1, o volume de SΩ é a integral definida da área dessa secção, isto é,
Z b
|SΩ | := Área(Lx ) dx,
a
que é o “espı́rito” da fórmula presente nesta definição.

F IGURA 4. Casca de cilindro Lx correspondente à abscissa x ∈ [a, b]

Exemplo 1. Seja SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região Ω limitada pelas
curvas x = 0, x = 1 e y = 1 2 em torno do eixo das ordenadas. Como econtrar o volume
1+x
de SΩ ?
Soluçao. Observe a figura 5. Tem-se que
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e 0 ≤ y ≤ f (x)


onde a = 0, b = 1 e f (x) = 1 2 . Assim, pela definição 1, o volume de SΩ é dado por


1+x
Z b Z 1 Z 1
x 2x
|SΩ | = 2πxf (x) dx = 2πx · 2 dx = π 2 dx
a 0 1+x 0 1+x
Z 2 2
1
= π du = π ln(u) = ln(2) u.v.
1 u 1
Não esqueça que, para cada x ∈ [0, 1], 2πx · x 2 é a área da casca de cilindro Lx obtida pela
1+x
rotação, em torno do eixo das ordenadas, do segmento Tx ligando os pontos (x, 0) e (x, 1 2 ).
1+x

5

F IGURA 5. Região Ω limitada pelas curvas x = 0, x = 1 e y = 1 .


1 + x2

Sejam a, b ∈ R com 0 ≤ a < b, f e g funções contı́nuas em [a, b] com f (x) ≤ g(x) qualquer
que seja x ∈ [a, b], Ω a região plana dada por
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e f (x) ≤ y ≤ g(x)


e SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região plana Ω em torno do eixo das orde-
nadas. Seja, para cada x ∈ [a, b], Tx o segmento ligando os pontos (x, f (x)) e (x, g(x)), e
Lx a casa de cilindro gerada pela rotação de Tx em torno do eixo das ordenadas. Lx tem raio
r(x) = x, altura h(x) = (g(x) − f (x)) e área 2πr(x)h(x) = 2πx (g(x) − f (x)). O sólido de
revolução SΩ é uma composiçao dessas cascas de cilindro, isto é,
[
SΩ = Lx
x∈[a,b]

e o volume de SΩ é dado por


Z b Z b Z b
|SΩ | = Área(Lx ) dx = 2πr(x)h(x) dx = 2π x (g(x) − f (x)) dx,
a a a
que vai ao encontro da interpretação geométrica da definição 1.
Exemplo 2. Seja SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região Ω limitada pelas
curvas y = x − 1 e y = x2 − 4x + 3, em torno do eixo das ordenadas. Como econtrar o volume
de SΩ ?
Soluçao. Observe a figura 7. Tem-se
x2 − 4x + 3 = x − 1 ⇐⇒ x2 − 5x + 4 = 0 ⇐⇒ x ∈ { 1, 4 } .
Daı́,
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e f (x) ≤ y ≤ g(x)


onde a = 1, b = 4, f (x) = x2 − 5x + 4 e g(x) = x − 1. Assim,


[
SΩ = Lx ,
x∈[a,b]

onde, para cada x ∈ [1, 4], Lx é a casca de cilindro obtida pela rotação, em torno do eixo das
ordenadas, do segmento ligando os pontos (x, x2 − 4x + 3) e (x, x − 1). Como Lx tem raio
6

F IGURA 6. Lx tem raixo r(x) = x e altura h(x) = g(x) − f (x).

r(x) = x e altura h(x) = (x − 1) − (x2 − 4x + 3) = −x2 + 5x − 4, segue-se que o volume de


SΩ é dado por
Z b Z 4
x −x2 + 5x − 4 dx

|SΩ | = 2πr(x)h(x) dx = 2π
a 1
Z 4
−x3 + 5x2 − 4x dx

= 2π
1
 4 4
5x3

x 2 45 45π
= 2π − + − 2x = 2π · = u.v.
4 3 1 4 2

Sejam a, b, c ∈ R com c ≤ a < b, f e g funções contı́nuas em [a, b] com f (x) ≤ g(x)
qualquer que seja x ∈ [a, b], Ω a região plana dada por
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e f (x) ≤ y ≤ g(x)


e SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região plana Ω em torno do eixo x = c,


isto é, eixo “vertical” passando pelo ponto (c, 0). Seja, para cada x ∈ [a, b], Tx o segmento
ligando os pontos (x, f (x)) e (x, g(x)), e Lx a casa de cilindro gerada pela rotação de Tx em
torno do eixo x = c. Lx tem raio r(x) = (x − c), altura h(x) = (g(x) − f (x)) e área
2πr(x)h(x) = 2π(x − c) (g(x) − f (x)). O sólido de revolução SΩ é uma composiçao dessas
cascas de cilindro, isto é,
[
SΩ = Lx
x∈[a,b]
7

F IGURA 7. Região Ω limitada pelas curvas y = x − 1 e y = x2 − 4x + 3.

e o volume de SΩ é dado por


Z b Z b Z b
|SΩ | = Área(Lx ) dx = 2πr(x)h(x) dx = 2π (x − c) (g(x) − f (x)) dx,
a a a

que vai ao encontro da interpretação da definição 1. Observe que se a < b ≤ c então r(x) =
c − x e o volume de SΩ é dado por
Z b Z b Z b
|SΩ | = Área(Lx ) dx = 2πr(x)h(x) dx = 2π (c − x) (g(x) − f (x)) dx.
a a a

Exemplo 3. Seja SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região Ω limitada pelas
curvas y = x − 1 e y = x2 − 4x + 3, em torno do eixo x = −1. Como econtrar o volume de
SΩ ?
Soluçao. Tem-se
x2 − 4x + 3 = x − 1 ⇐⇒ x2 − 5x + 4 = 0 ⇐⇒ x ∈ { 1, 4 } .
Daı́,
(x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e f (x) ≤ y ≤ g(x)

Ω :=
onde a = 1, b = 4, f (x) = x2 − 5x + 4 e g(x) = x − 1. Assim,
[
SΩ = Lx ,
x∈[a,b]

onde, para cada x ∈ [1, 4], Lx é a casca de cilindro obtida pela rotação, em torno do eixo
x = −1, do segmento ligando os pontos (x, x2 − 4x + 3) e (x, x − 1). Como Lx tem raio
r(x) = x − (−1) = x + 1 e altura h(x) = (x − 1) − (x2 − 4x + 3) = −x2 + 5x − 4, segue-se
8

F IGURA 8. Casca de cilindro Lx com raio r(x) = x − c e altura h(x) = g(x) − f (x).

que o volume de SΩ é dado por


Z b Z 4
(x + 1) −x2 + 5x − 4 dx

|SΩ | = 2πr(x)h(x) dx = 2π
a 1
Z 4
−x3 + 4x2 + x − 4 dx

= 2π
1
 4 4
4x3 x2

x 63 63π
= 2π − + + − 4x = 2π · = u.v.
4 3 2 1 4 2


Exemplo 4. Seja SΩ o sólido de revolução obtido pela rotação da região Ω limitada pelas
curvas y = x − 1 e y = x2 − 4x + 3, em torno do eixo x = 5. Como econtrar o volume de SΩ ?
Soluçao. Tem-se
x2 − 4x + 3 = x − 1 ⇐⇒ x2 − 5x + 4 = 0 ⇐⇒ x ∈ { 1, 4 } .
Daı́,
(x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e f (x) ≤ y ≤ g(x)

Ω :=
onde a = 1, b = 4, f (x) = x2 − 5x + 4 e g(x) = x − 1. Assim,
[
SΩ = Lx ,
x∈[a,b]

onde, para cada x ∈ [1, 4], Lx é a casca de cilindro obtida pela rotação, em torno do eixo x = 5,
do segmento ligando os pontos (x, x2 − 4x + 3) e (x, x − 1). Como Lx tem raio r(x) = 5 − x
9

F IGURA 9. Eixo de rotação x = −1 e raio de rotação r(x) = x − (−1) = x + 1.

e altura h(x) = (x − 1) − (x2 − 4x + 3) = −x2 + 5x − 4, segue-se que o volume de SΩ é dado


por
Z b Z 4
(5 − x) −x2 + 5x − 4 dx

|SΩ | = 2πr(x)h(x) dx = 2π
a 1
Z 4
x3 − 10x2 + 29x − 20 dx

= 2π
1
4
x4 10x3 29x2
 
45 45π
= 2π + + − 20x = 2π · = u.v.
4 3 2 1 4 2

AULA 04
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Nesta aula dar-se-á uma generalização do método do disco e da coroa, usado para cálculo
de volume de sólido de revolução e apresentados nas duas últimas aulas. Nestes dois métodos,
já estudados, usou-se a área das secções transversais, em relação ao eixo de rotação, para o
cálculo de volume dos sólidos de revoluções. É interessante observar que este princı́pio aplica-
se, também, a outros sólidos que não sejam de revolução, isto é, o conhecimento das áreas das
suas secções transversais, relativas a um eixo fixo, determinam o seu volume. Ver-se-á isso nos
próximos parágrafos.
No que segue, dado x ∈ R, πx denota o plano, dentro do espaço euclidiano R3 , perpendicular
ao eixo das abscissas Ox e que passa pelo ponto de coordenadas (x, 0, 0), isto é, sendo r a reta
paralela ao eixo Oy, passando pelo ponto (x, 0, 0), e s a reta paralela ao eixo Oz, passando
também pelo ponto (x, 0, 0), πx é o plano contendo as retas r e s.

F IGURA 1. As retas r e s determinam o plano πx .

Sejam π1 e π2 dois planos palarelos, com distância h entre eles, e S ⊂ π1 uma região limitada
com área conhecida. O cilindro reto de base S e altura h, entre os planos π1 e π2 , é o conjunto
C definido por
[
C := Tp ,
p∈S
onde, para cada p ∈ S, Tp é o segmento de reta perpendicular ao plano π1 , com uma extremidade
em p e a outra extremidade em π2 . Deste modo, o cilindro S possui duas bases: a base S contida
em π1 e a base S 0 contida em π2 congruente à base S. Além disso, cada secção transversal plana
de C, dada por π ∩ C, onde π é um plano paralelo a π1 e entre π1 e π2 , é uma translação da base
S ao longo de uma direção perpendicular ao plano π1 . O volume de C, por definição, é dado
por
|C| = Volume(C) := área(S) · h = |S| · h.

1
2

F IGURA 2. Cilindro reto C entre os planos π1 e π2 com bases S e S 0 .

Como exemplos de cilindros retos tem-se o cilindro circular reto (cilindro de revolução), no
qual a base é um disco, e o prisma reto, no qual a base é um polı́gono simples.
Sejam a, b ∈ R, com a < b, e S um sólido limitado, no espaço euclidiano R3 , tal que é vazia
a intersecção S ∩ πx qualquer que seja x 6∈ [a, b]. Dado x ∈ [a, b], a intersecção πx ∩ S é a
seção transversal plana de S, em relaçao ao eixo Ox das abscissas, correspondente à abscissa x.
Suponha que seja conhecida a área da secção transveral plana πx ∩ S, de S, para cada x ∈ [a, b]
e que a função A : [a, b] −→ R, dada por
A(x) = Área(πx ∩ S) qualquer que seja x ∈ [a, b],
seja contı́nua. Como expressar o volume de S em termos da função A?
Dada uma partição P = (x0 , x1 , . . . , xn ) de [a, b], com coeficientes c1 , . . . , cn , seja, para cada
i ∈ { 1, . . . , n }, o cilindro reto Ci com bases nos planos πxi−1 e πxi , e cuja seção transversal
plana, em ci , seja a secção tansversal plana S ∩ πci do sólido S. Assim, cada secção transversal
plana do cilindro Ci é uma translação, ao longo do eixo Ox, da secção transversal S ∩ πci do
sólido S. Deste modo,
|Ci | = Volume(Ci ) = Área(πci ∩ S) · ∆xi = A(ci )∆xi .
Seja, então, SP o sólido definido por
n
[ [
SP := C1 ∪ C2 ∪ · · · ∪ Cn = Ci = Ci .
i=1 P

Assim, o volume de SP é dado por


X
|SP | = Volume(SP ) = Volume(Ci )
P
X
= A(ci )∆xi ,
P
3

e, como A é contı́nua em [a, b], existe


X
lim |SP | = lim Volume(SP ) = lim Volume(Ci )
|P|→0 |P|→0 |P|→0
P
X Z b
= lim A(ci )∆xi = A(x) dx.
|P|→0 a
P
Também neste caso, a intuição diz que quanto mais fina for a partição P em relação ao intervalo
[a, b], mais parecidos são os sólidos S e SP , podendo o volume de S ser estimado pelo volume
de SP . Daı́, segue a seguinte definição.

F IGURA 3. Cilindro reto Ci .

Definição 1. O volume do sólido S é o número real |S| dado por


X Z b
|S| := lim A(ci )∆xi = A(x) dx.
|P|→0 a
P
Assim, o volume de S é a integral definida da função que dá a área da secção transversal de
S, em relação a um eixo fixo.
Exemplo 1. A base de um sólido S é um disco de raio r e cada secção transversal plana
perpendicular a um diâmetro fixo da base é um quadrado. Como encontrar o volume do sólido
S?
Soluçao. Pode-se considerar que a base do sólido S é o disco de raio r, limitado pela circun-
ferência de equação
x2 + y 2 = r 2
no plano xy, e que as secções transversais de S são tomadas em relação ao segmento, no eixo
Ox, ligando os pontos (−r, 0) e (r, 0). Assim,√dado x ∈ [−r, r], a secção transversal corres-
pondente à abscissa x é o quadrado de lado 2 · r2 − x2 e, portanto, a sua área é dada por
 √ 2
= 4 · r 2 − x2 .

A(x) = 2 · r − x2 2
4

Deste modo, o volume de S é dado por


Z r Z r Z r
2 2
· r2 − x2 dx
 
|S| = A(x) dx = 4 · r − x dx = 8
−r −r 0
 3 r  3
x r
= 8 · r2 x − = 8 · r3 −
3 0 3
2r3 16r3
= 8· = u.v.
3 3


F IGURA 4. Base do sólido S e lado da secção transversal na abscissa x.

Exemplo 2. A base de um sólido S é um triângulo retângulo isósceles onde cada cateto mede
a, e cada secção transversal plana perpendicular a um cateto fixo é um semicı́rculo. Como
encontrar o volume de S.
Soluçao. Podemos assumir que a base S é o triângulo retângulo isósceles no plano xy cujos
vértices são os pontos (0, 0), (a, 0) e (a, a), e que as secções transversais planas são tomadas
em relação ao cateto sobre o eixo Ox. Assim, para cada x ∈ [0, a], a secção transversal cor-
respondente é um semicı́rculo cujo diâmetro é o segmento ligando os pontos (0, x) e (x, x), e,
portanto, seu raio vale x/2. Logo, a área desta secção transveral vale

1  x 2 πx2
A(x) = · π · = .
2 2 8
5

Portanto, o volume de S é dado por


Z a a a
πx2 πx3 πa3
Z  
|S| = A(x) dx = dx = = u.v.
0 0 8 24 0 24


F IGURA 5. Base do sólido S é o triângulo de vértices (0, 0), (a, 0) e (a, a).

Exemplo 3. Seja S o tronco de cone reto cuja base é um quadrado de lado a, cujo topo é um
quadrado de lado b e cuja altura é h. Como encontrar o volume de S?
Soluçao. Podemos assumir que o eixo das abscissas, eixo Ox, passa pelo centro da base e do
topo, e que o eixo das ordenadas, eixo Oy, passa pelo centro da base e pelo ponto médio de um
dos lados desta base. Assim, para cada x ∈ [0, h], a secção transversal plana correspondente é
um quadrado. Observe, pela figura 7, que
y − b/2 a/2 − b/2
= .
h−x h
Daı́,
 
1 a−b 1 b−a
y − b/2 = · · (h − x), isto é, y = ·x+a .
2 h 2 h
Portanto, a secção correspondente à abscissa x tem lado l = 2y e área
 2
2 2 b−a
A(x) = l = 4y = ·x+a
h
(b − a)2 2
 
(b − a)a 2
= ·x +2 ·x+a .
h2 h
6

Portanto, o volume de S é dado por


Z h h
(b − a)2 2
 
(b − a)a
Z
|S| = A(x) dx = 2 ·x +2 · x + a2 dx
0 0 h h
 2 3 2 h
(b − a) x (b − a)a x
= 2 · +2 · + a2 · x
h 3 h 2 0
2
(b − a) h
= + (b − a)ah + a2 h
3
h
· b2 − 2ab + a2 + 3ab − 3a2 + 3a2

=
3
h
· a2 + ab + b2 .

=
3


F IGURA 6. Tronco de cone: base é quadrado de lado a e topo quadrado de lado b


7

F IGURA 7. Intersecção do plano xy com o tronco de cone da figura 6.


AULA 05
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Com esta aula dar-se-á continuidade ao estudo de técnicas de integração, iniciado com o
método de integração por partes. Outras aplicações da integral definida serão abordadas após a
apresentação de diversos métodos de integração.
O próxima técnica de integração visa a resolução de integrais do tipo
Z
senn (x) · cosm (x) dx,

onde m e n são números naturais.


Será considerado, primeiramente, o caso em que n ou m é ı́mpar. Neste caso procede-se com
a decomposição
senn (x) · cosm (x) = senn−1 (x) · cosm (x) · sen(x), se n é ı́mpar,
ou
senn (x) · cosm (x) = senn (x) · cosm−1 (x) · cos(x), se m é ı́mpar.
Além disso, usá-se a identidade “sen2 (x) + cos2 (x) = 1 ∀x ∈ R” e a mudança de variável, na
integral indefinida, u = sen(x) ou u = cos(x).
Exemplo 1. Como resolver a integral indefinida
Z
sen3 (x) · cos2 (x) dx?

Soluçao. Primeiro escreva


Z Z
3 2
sen (x) · cos (x) dx = sen2 (x) · cos2 (x) · sen(x) dx.

Como sen2 (x) = 1 − cos2 (x),


Z Z
3 2
sen (x) · cos (x) dx = (1 − cos2 (x)) · cos2 (x) · sen(x) dx.

Assim, com a mudanção de variável u = cos(x), tem-se du = (− sen(x))dx e, portanto,


Z Z
3 2
sen (x) · cos (x) dx = (cos2 (x) − 1) · cos2 (x) · (− sen(x)) dx
Z Z
= (u − 1) · u du = (u4 − u2 ) du
2 2

u5 u3
= − +C
5 3
cos5 (x) cos3 (x)
= − + C,
5 3
isto é,
cos5 (x) cos3 (x)
Z
sen3 (x) · cos2 (x) dx = − + C.
5 3


1
2

Exemplo 2. Como resolver a integral indefinida


Z
sen4 (x) · cos3 (x) dx?

Soluçao. Primeiro escreva


Z Z
4 3
sen (x) · cos (x) dx = sen4 (x) · cos2 (x) · cos(x) dx.

Como cos2 (x) = 1 − sen2 (x),


Z Z
4 3
sen (x) · cos (x) dx = sen4 (x) · (1 − sen2 (x)) · cos(x) dx.

Assim, com a mudanção de variável u = sen(x), tem-se du = cos(x)dx e, portanto,


Z Z
4 3
sen (x) · cos (x) dx = sen4 (x) · (1 − sen2 (x)) · cos(x) dx
Z Z
= u · (1 − u ) du = (u4 − u6 ) du
4 2

u5 u7
= − +C
5 7
sen5 (x) sen7 (x)
= − + C,
5 7
isto é,
sen5 (x) sen7 (x)
Z
sen4 (x) · cos3 (x) dx = − + C.
5 7

Observe que, no caso em que n é impar, a sugerida decomposição
senn (x) · cosm (x) = senn−1 (x) · cosm (x) · sen(x),
gera uma potência do seno cujo expoente é par. Daı́ tal potência pode ser escrita, via identidade
“sen2 (x) = 1 − cos2 (x)”, em termos de cosseno. Assim, a mudança de variável u = cos(x)
transforma a integral trigonométrica numa integral polinomial, na variável u, de fácil resolução.
Algo semelhante ocorre quando m é ı́mpar. Eis a razão porque o procedimento adotado leva
sempre a uma solução da integral trigonométrica.
Exemplo 3. Como resolver a integral indefinida
Z
cos5 (x) dx?

Soluçao. Primeiro escreve-se


Z Z Z
5
cos (x) dx = cos (x) · cos(x) dx = (cos2 (x))2 · cos(x) dx.
4

Logo, usando que cos2 (x) = 1 − sen2 (x), tem-se


Z Z
5
cos (x) dx = (1 − sen2 (x))2 · cos(x) dx.
3

Daı́, via mudança u = sen(x), tem-se du = cos(x)dx e, portanto,


Z Z
5
cos (x) dx = (1 − sen2 (x))2 · cos(x) dx
Z Z
= (1 − u ) du = (1 − 2u2 + u4 ) du
2 2

2u3 u5
= u− + +C
3 5
2 sen3 (x) sen5 (x)
= sen(x) − + + C.
3 5

Agora será considerada a integral
Z
senn (x) · cosm (x) dx

no caso em que m e n são pares. Para encontrar a integral, neste caso, precisá-se usar as
identidas trigonométricas
1 − cos(2x) 1 + cos(2x)
sen2 (x) = e cos2 (x) = ∀x ∈ R.
2 2
A aplicação dessas identidades leva ao caso anterior. Ajuda ter em mente que
Z Z
cos(ax) sen(ax)
sen(ax) dx = − + C e que cos(ax) dx = + C,
a a
qualquer que seja a 6= 0 em R, para agilizar o processo de resolução.
Exemplo 4. Como resolver a integral indefinida
Z
cos4 (x) dx?

Soluçao. Tem-se
Z Z Z  2
4 2 2 1 + cos(2x)
cos (x) dx = (cos (x)) dx = dx
2
Z
1
1 + 2 cos(2x) + cos2 (2x) dx

=
4
Z Z Z
1 1 1
= 1 dx + cos(2x) dx + cos2 (2x) dx
4 2 4
Z
x sen(2x) 1 1 + cos(4x)
= + + dx
4 4 4 2
Z Z
x sen(2x) 1 1
= + + 1 dx + cos(4x) dx
4 4 8 8
x sen(2x) x sen(4x)
= + + + +C
4 4 8 32
3x sen(2x) sen(4x)
= + + + C.
8 4 32
4

Exemplo 5. Como resolver a integral indefinida


Z
sen2 (x) · cos2 (x) dx?

Soluçao. Tem-se

1 − cos(2x) 1 + cos(2x)
Z Z
2 2
sen (x) · cos (x) dx = · dx
2 2
Z
1
1 − cos2 (2x) dx

=
4
Z
x 1
= − cos2 (2x) dx
4 4
Z
x 1 1 + cos(4x)
= − dx
4 4 2
x x sen(4x)
= − − +C
4 8 32
x sen(4x)
= − + C.
8 32

Vale a pena apresentar uma solução alternativa usando a identidade

sen(2x) = 2 · sen(x) · cos(x) ∀x ∈ R.

Assim,
Z Z
2 2
sen (x) · cos (x) dx = (sen(x) · cos(x))2 dx
Z  2 Z
sen(2x) 1
= dx = sen2 (2x) dx
2 4
1 − cos(4x)
Z
1
= dx
4 2
x sen(4x)
= − + C.
8 32

Exemplo 6. Como resolver a integral indefinida


Z
sen4 (x) · cos2 (x) dx?
5

Soluçao. Tem-se

Z Z
4 2
2
sen (x) · cos (x) dx = sen2 (x) · cos2 (x) dx
Z  2
1 − cos(2x) 1 + cos(2x)
= · dx
2 2
Z
1
= (1 − 2 cos(2x) + cos2 (2x)) · (1 + cos(2x)) dx
8
Z
1
= (1 − cos(2x) − cos2 (2x) + cos3 (2x)) dx
8
Z Z
x sen(2x) 1 1 + cos(4x) 1
= − − dx + cos3 (2x) dx
8 16 8 2 8
Z
x sen(2x) x sen(4x) 1
= − − − + cos3 (2x) dx
8 16 16 64 8
Z
x sen(2x) sen(4x) 1
= − − + cos3 (2x) dx
16 16 64 8

Em separado, com u = sen(2x) e du = 2 cos(2x)dx, tem-se

Z Z Z
3
cos (2x) dx = cos (2x) · cos(2x) dx = (1 − sen2 (2x)) · cos(2x) dx
2

Z Z
1 2 1
= (1 − sen (2x)) · 2 cos(2x) dx = (1 − u2 ) du
2 2
u u3 sen(2x) sen3 (2x)
= − +C = − + C.
2 6 2 6

Portanto,

sen(2x) sen(4x) sen(2x) sen3 (2x)


Z
x
sen4 (x) · cos2 (x) dx = − − + − +C
16 16 64 16 48
x sen(4x) sen3 (2x)
= − − + C.
16 64 48
6

Observe esta outra solução.


Z Z
4 2
sen (x) · cos (x) dx = sen2 (x) · sen2 (x) · cos2 (x) dx
Z
= sen2 (x) · (sen(x) · cos(x))2 dx
Z
= sen2 (x) · (sen(2x)/2)2 dx
1 − cos(2x)
Z
1
= · sen2 (2x) dx
4 2
Z Z
1 2 1
= sen (2x) dx − sen2 (2x) · cos(2x) dx
8 8
1 − cos(4x)
Z Z
1 1
= dx − sen2 (2x) · 2 cos(2x) dx
8 2 16
x sen(4x) 1 sen3 (2x)
= − − · +C
16 64 16 3
x sen(4x) sen3 (2x)
= − − + C.
16 64 48
É chegada a hora de executar mentalmente, sempre que possı́vel, a mudança de variável na
integral trigonométrica indefinida. 
Agora será apresentado o processo de resolução da integral indefinida
Z
tgn (x) dx para n par.

Exemplo 7. Tem-se, para n = 2,


Z Z
2
tg (x) dx = (sec2 (x) − 1) dx = tg(x) − x + C.

Exemplo 8. Tem-se, para n = 4,


Z Z
4
tg (x) dx = tg2 (x) · tg2 (x) dx
Z
= tg2 (x) · (sec2 (x) − 1) dx
Z Z
= tg (x) · sec (x) dx − tg2 (x) dx
2 2

Em separado, com a mudança u = tg(x) e du = sec2 (x)dx, tem-se


u3 tg3 (x)
Z Z
2 2 2
tg (x) · sec (x) dx = u du = +C = + C.
3 3
Desta igualdade e do resultado do exemplo anterior tem-se
tg3 (x)
Z
tg4 (x) dx = − tg(x) + x + C.
3
7

Exemplo 9. Tem-se, para n = 6,


Z Z
6
tg (x) dx = tg4 (x) · tg2 (x) dx
Z
= tg4 (x) · (sec2 (x) − 1) dx
Z Z
= tg (x) · sec (x) dx − tg4 (x) dx
4 2

Em separado, com a mudança u = tg(x) e du = sec2 (x)dx, tem-se


u5 tg5 (x)
Z Z
tg (x) · sec (x) dx = u4 du =
4 2
+C = + C.
5 5
Desta igualdade e do resultado do exemplo anterior tem-se
tg5 (x) tg3 (x)
Z
tg6 (x) dx = − + tg(x) − x + C.
5 3
Exemplo 10. Tem-se, para n = 8,
Z Z
8
tg (x) dx = tg6 (x) · tg2 (x) dx
Z
= tg6 (x) · (sec2 (x) − 1) dx
Z Z
= tg (x) · sec (x) dx − tg6 (x) dx
6 2

Em separado, com a mudança u = tg(x) e du = sec2 (x)dx, tem-se


u7 tg7 (x)
Z Z
6 2 6
tg (x) · sec (x) dx = u du = +C = + C.
7 7
Desta igualdade e do resultado do exemplo anterior tem-se
tg7 (x) tg5 (x) tg3 (x)
Z
8
tg (x) dx = − + − tg(x) + x + C.
7 5 3
Baseado nos exemplos anteriores e na recursividade tem-se
tg9 (x) tg7 (x) tg5 (x) tg3 (x)
Z
tg10 (x) dx = − + − + tg(x) − x + C,
9 7 5 3
tg11 (x) tg9 (x) tg7 (x) tg5 (x) tg3 (x)
Z
tg12 (x) dx = − + − + − tg(x) + x + C
11 9 7 5 3
e assim por diante.
Agora será apresentado o processo de resolução da integral indefinida
Z
tgn (x) dx para n ı́mpar.

Exemplo 11. Tem-se, para n = 1,


Z
tg(x) dx = ln(| sec(x)|) + C.
8

Exemplo 12. Tem-se, para n = 3,


Z Z Z
3
tg (x) dx = tg(x) · tg (x) dx = tg(x) · (sec2 (x) − 1) dx
2

Z Z
2
= tg(x) · sec (x) dx − tg(x) dx

tg2 (x)
= − ln(| sec(x)|) + C.
2
Exemplo 13. Tem-se, para n = 5,
Z Z Z
5
tg (x) dx = tg (x) · tg (x) dx = tg3 (x) · (sec2 (x) − 1) dx
3 2

Z Z
= tg (x) · sec (x) dx − tg3 (x) dx
3 2

tg4 (x)
Z
= − tg3 (x) dx.
4
Desta igualdade e do resultado do exemplo anterior tem-se
tg4 (x) tg2 (x)
Z
5
tg (x) dx = − + ln(| sec(x)|) + C.
4 2
Exemplo 14. Tem-se, para n = 7,
Z Z Z
7
tg (x) dx = tg (x) · tg (x) dx = tg5 (x) · (sec2 (x) − 1) dx
5 2

Z Z
= tg (x) · sec (x) dx − tg5 (x) dx
5 2

tg6 (x)
Z
= − tg5 (x) dx.
6
Desta igualdade e do resultado do exemplo anterior tem-se
tg6 (x) tg4 (x) tg2 (x)
Z
tg7 (x) dx = − + − ln(| sec(x)|) + C.
6 4 2
Exemplo 15. Tem-se, para n = 9,
Z Z Z
9
tg (x) dx = tg (x) · tg (x) dx = tg7 (x) · (sec2 (x) − 1) dx
7 2

Z Z
= tg (x) · sec (x) dx − tg7 (x) dx
7 2

tg8 (x)
Z
= − tg7 (x) dx.
8
Desta igualdade e do resultado do exemplo anterior tem-se
tg8 (x) tg6 (x) tg4 (x) tg2 (x)
Z
tg9 (x) dx = − + − + ln(| sec(x)|) + C.
8 6 4 2
9

Baseado nos exemplos anteriores e na recursividade tem-se


tg10 (x) tg8 (x) tg6 (x) tg4 (x) tg2 (x)
Z
tg11 (x) dx = − + − + − ln(| sec(x)|) + C,
10 8 6 4 2
tg12 (x) tg10 (x) tg8 (x) tg6 (x) tg4 (x) tg2 (x)
Z
13
tg (x) dx = − + − + −
12 10 8 6 4 2
+ ln(| sec(x)|) + C
e assim por diante.
AULA 06
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula continua com a apresentação de técnicas para resolução de integrais trigonométricas.
Apresentar-se-á agora o método para resolução de integrais do tipo
Z
secn (x) dx onde n é par.

Neste caso, faz-se a decomposição


secn (x) = secn−2 (x) · sec2 (x).
Como (n − 2) é par, o fator secn−2 (x) pode ser expresso em termos de tg(x), via a identidade
“1 + tg2 (x) = sec2 (x)”. Daı́, com a mudança de variável u = tg(x), obtem-se a integral de
uma função polinomial de fácil resolução, conforme os próximos exemplos.
Exemplo 1. Como resolver a integral indefinida
Z
sec4 (x) dx?

Soluçao. Escreva
Z Z Z
4
sec (x) dx = sec (x) · sec (x) dx = (1 + tg2 (x)) · sec2 (x) dx.
2 2

Com u = tg(x), obtem-se du = sec2 (x)dx e, assim,


Z Z Z
4
sec (x) dx = (1 + tg (x)) · sec (x) dx = (1 + u2 ) du
2 2

u3 tg3 (x)
= u+ + C = tg(x) + + C,
3 3
isto é,
tg3 (x)
Z
sec4 (x) dx = tg(x) + + C.
3

Exemplo 2. Como resolver a integral indefinida
Z
sec6 (x) dx?

Soluçao. Tem-se
Z Z Z
6 4 2
2
sec (x) dx = sec (x) · sec (x) dx = sec2 (x) · sec2 (x) dx
Z
= (1 + tg2 (x))2 · sec2 (x) dx
Z
1 + 2 tg2 (x) + tg4 (x) · sec2 (x) dx

=

2 tg3 (x) tg5 (x)


= tg(x) + + + C.
3 5

1
2

Atenção: a última igualdade decorre da mudança de variável u = tg(x). 


No caso em que n é ı́mpar precisa-se usar integração por partes.
Exemplo 3. Como resolver a integral indefinida
Z
sec5 (x) dx?

Soluçao. Escreva
Z Z
5
sec (x) dx = sec3 (x) · sec2 (x) dx.

Com u = sec3 (x) e v = tg(x), obtem-se


du = 3 sec3 (x) · tg(x)dx e dv = sec2 (x) dx.
Daı́, por integração por partes, chega-se a
Z Z
sec (x) dx = sec (x) · tg(x) − 3 sec3 (x) · tg2 (x)dx
5 3

Z
= sec (x) · tg(x) − 3 sec3 (x) · (sec2 (x) − 1) dx
3

Z Z
3
= sec (x) · tg(x) − 3 sec (x) dx + 3 sec3 (x) dx.
5

Assim,
Z Z
4 sec (x) dx = sec (x) · tg(x) + 3 sec3 (x) dx
5 3

3 3
= sec3 (x) · tg(x) + sec(x) · tg(x) + ln(| sec(x) + tg(x)|) + C.
2 2
Portanto,
Z
1 3 3
sec5 (x) dx = = sec3 (x) · tg(x) + sec(x) · tg(x) + ln(| sec(x) + tg(x)|) + C.
4 8 8

Agora serão abordadas as integrais do tipo
Z
tgn (x) · secm (x) dx onde m e n são números naturais.

Primeiro considerar-se-á o caso em que n é ı́mpar ou m é par. Neste caso, faz-se a decomposição
tgn (x) · secm (x) = tgn−1 (x) · secm−1 (x) · tg(x) · sec(x)
quando n é ı́mpar, e a decomposição
tgn (x) · secm (x) = tgn (x) · secm−2 (x) · sec2 (x),
quando m é par. Veja os próximos exemplos.
Exemplo 4. Como resolver a integral indefinida
Z
tg3 (x) · sec5 (x) dx?
3

Soluçao. Primeiro escreva


Z Z
3 5
tg (x) · sec (x) dx = tg2 (x) · sec4 (x) · tg(x) · sec(x) dx
Z
= (sec2 (x) − 1) · sec4 (x) · tg(x) · sec(x) dx.

Fazendo u = sec(x), tem-se du = tg(x) · sec(x) dx e, portanto,


Z Z
3 5
tg (x) · sec (x) dx = (sec2 (x) − 1) · sec4 (x) · tg(x) · sec(x) dx
Z Z
= (u − 1) · u du = (u6 − u4 ) du
2 4

u7 u5
= − +C
7 5
sec7 (x) sec5 (x)
= − + C,
7 5
isto é,
sec7 (x) sec5 (x)
Z
tg3 (x) · sec5 (x) dx = − + C.
7 5

Exemplo 5. Como resolver a integral indefinida
Z
tg4 (x) · sec6 (x) dx?

Soluçao. Primeiro escreva


Z Z
4 6
tg (x) · sec (x) dx = tg4 (x) · sec4 (x) · sec2 (x) dx
Z
= tg4 (x) · (sec2 (x))2 · sec2 (x) dx
Z
= tg4 (x) · (tg2 (x) + 1)2 · sec2 (x) dx

Fazendo u = tg(x) tem-se du = sec2 (x)dx e, portanto,


Z Z
4 6
tg (x) · sec (x) dx = tg4 (x) · (tg2 (x) + 1)2 · sec2 (x) dx
Z Z
= u · (u + 1) du = u4 · (u4 + 2u2 + 1) du
4 2 2

u9 2u7 u5
Z
= (u8 + 2u6 + u4 ) du = + + +C
9 7 5
tg9 (x) 2 tg7 (x) tg5 (x)
= + + + C.
9 7 5

4

No caso em que n é par e m é ı́mpar, usa-se integração por partes. Não deixe de observar
que, neste caso, a integral
Z
tgn (x) · secm (x) dx

reduz-se a integrais do tipo


Z
seck (x) dx,

onde k é ı́mpar, e a resolução dessas integrais envolve integração por partes, conforme o seguinte
exemplo.
Exemplo 6. Como resolver a integral indefinida
Z
tg2 (x) · sec(x) dx?

Soluçao. Tem-se
Z Z
2
tg (x) · sec(x) dx = (sec(x)2 − 1) · sec(x) dx
Z
= (sec3 (x) − sec(x)) dx
Z Z
3
= sec (x) dx − sec(x) dx
1 1
= sec(x) · tg(x) + ln(| sec(x) + tg(x)|) − ln(| sec(x) + tg(x)|) + C
2 2
1 1
= sec(x) · tg(x) − ln(| sec(x) + tg(x)|) + C.
2 2
Observe que
Z
sec3 (x) dx

sai por integração por partes e foi aconselhado a memorização do valor desta integral. 
Exemplo 7. Como resolver a integral indefinida
Z
tg2 (x) · sec3 (x) dx?

Soluçao. Tem-se
Z Z
2 3
tg (x) · sec (x) dx = (sec(x)2 − 1) · sec3 (x) dx
Z
= (sec5 (x) − sec3 (x)) dx
Z Z
= sec (x) dx − sec3 (x) dx.
5
5

Assim, por exemplos anteriores,


Z Z Z
2 3
tg (x) · sec (x) dx = sec (x) dx − sec3 (x) dx
5

1 3 3
= sec3 (x) · tg(x) + sec(x) · tg(x) + ln(| sec(x) + tg(x)|)
4 8 8
1 1
− sec(x) · tg(x) − ln(| sec(x) + tg(x)|) + C
2 2
1 1 1
= sec3 (x) · tg(x) − sec(x) · tg(x) − ln(| sec(x) + tg(x)|) + C.
4 8 8
Observe que
Z
sec5 (x) dx,

também, sai por integração por partes. 

Para o que segue, lembre que dados n números reais z1 , z2 , . . . , zn , a razão


z1 + z2 + · · · + zn
n
é a sua média aritmética simples. Além disso, dados n números reais positivos p1 , p2 , . . . , pn , a
razão
p1 · z1 + p2 · z2 + · · · + pn · zn
p1 + p2 + · · · + pn
é a média aritmética ponderada de z1 , z2 , . . . , zn , com pesos p1 , p2 , . . . , pn . Assim, a média
aritmética simples é um caso particular de média ponderada na qual todos os pesos são iguais a
1.
Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma função contı́nua em [a, b]. Dada uma partição P =
(x0 , x1 , . . . , xn ) de [a, b], com coeficientes c1 , . . . , cn , tem-se
X n
X
f (ci )∆xi f (ci )∆xi
P i=1 f (c1 ) · ∆x1 + f (c2 ) · ∆x2 + · · · + f (cn ) · ∆xn
= =
b−a b−a b−a
f (c1 ) · ∆x1 + f (c2 ) · ∆x2 + · · · + f (cn ) · ∆xn
= ,
∆x1 + ∆x2 + · · · + ∆xn
isto é, a expressão
X
f (ci )∆xi
P
b−a
é uma média aritmética ponderada dos valores
f (c1 ), f (c2 ), . . . , f (cn )
com pesos
∆x1 , ∆x2 , . . . , ∆xn .
6

Como
X Z b
lim f (ci )∆xi = f (x) dx,
|P|→0 a
P
diz-se que o quociente Z b
f (x) dx
a
b−a
e a média da função f no intervalo fechado [a, b], pois este quociente é o limite de médias de
valores de f em [a, b]. Observe que, ao longo de partições uniformes do intervalo [a, b], tem-se
Z b
f (x) dx n  
a 1 X b−a b−a
= lim f a+i· ·
b−a b − a n→+∞ i=1 n n
n  
1 X b−a
= lim · f a+i·
n→+∞ n n
i=1
o que dá todo o sentido à definição apresentada.
Exemplo 8. Qual o valor médio da função f , dada por f (x) = x2 − 2x, no intervalo [0, 2]?
Soluçao. Tem-se
2 2 2
x3
Z Z  
2 4
f (x) dx = (x − 2x) dx = − x2 =− .
0 0 3 0 3
Daı́ o valor médio de f no intervalo [0, 2] é, por definição,
Z 2
f (x) dx
0 −4/3 2
= =− .
2 2 3

Exemplo 9. Qual o valor médio da função f , dada por f (x) = cos(x), no intervalo [0, 2π]?
Soluçao. Tem-se
Z 2π Z 2π
f (x) dx = cos(x) dx = sen(x)|2π
0 = 0.
0 0
Daı́ o valor médio de f no intervalo [0, 2π] é, por definição,
Z 2π
f (x) dx
0 0
= = 0.
2π 2π

AULA 07
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula aborda as funções trigonométricas inversas, as quais são utilizadas, entre outras
aplicações, em certas técnicas de integração. Apesar da denominação do assunto, observe que
cada uma das funções trigonométricas não é invertı́vel.
A função seno, sen : R −→ R, não é injetiva nem é sobrejetiva e, por conseguinte, não é
invertı́vel. Entretanto, a função isen : [−π/2, π/2] −→ [−1, 1], dada por
isen(x) = sen(x) qualquer que seja x ∈ [−π/2, π/2],
é injetiva e é sobrejetiva, isto é, é bijetiva. Portanto, isen é invertı́vel.
Definição 1. A função inversa da função isen é denominada função arco seno, sendo denotada
por arcsen.

F IGURA 1. Função sen é injetiva em [−π/2, π/2] e sen([−π/2, π/2]) = [−1, 1].

Da definição 1 seguem as seguintes propriedades.


∗ O domı́nio da função arco seno é o conjunto Darcsen = [−1, 1].
∗ O contradomı́nio da função arco seno é o conjunto Carcsen = [−π/2, π/2].
∗ arcsen(sen(x)) = arcsen(isen(x)) = x qualquer que seja x ∈ [−π/2, π/2].
∗ sen(arcsen(x)) = isen(arcsen(x)) = x qualquer que seja x ∈ [−1, 1].
∗ Sintetizando as duas últimas observações, dados x ∈ [−1, 1] e y ∈ [−π/2, π/2], tem-se
y = arcsen(x) ⇐⇒ x = sen(y).

1
2

∗ arcsen(0) = 0, pois sen(0) = 0.


∗ arcsen(1/2)
√ = π/6, pois sen(π/6) = 1/2. √
∗ arcsen( 3/2) = π/3, pois sen(π/3) = 3/2.
∗ arcsen(sen(π/4)) = π/4, pois π/4 ∈ [−π/2, π/2].
∗ arcsen(sen(3π/4)) = arcsen(sen(π − π/4)) = arcsen(sen(π/4)) = π/4. Observe com
atenção a definição da função arco seno e suas propriedades!
∗ A função arco seno é contı́nua.
Para o que segue, relembre o Teorema da Função Inversa, enunciado a seguir.
Teorema (Teorema da Função Inversa). Sejam I e J intervalos de R, f : I −→ J uma função
contı́nua e invertı́vel, e p ∈ I. Se f é diferenciável em p e f 0 (p) 6= 0, então f −1 é diferenciável
em f (p) valendo
0 1
f −1 (f (p)) = 0 .
f (p)

F IGURA 2. Gráficos da função isen, em vermelho, e arcsen, em preto.

O Teorema da Função Inversa diz, portanto, que se I e J são intervalos de R e f : I −→ J


é uma função contı́nua e invertı́vel, então a função inversa f −1 : J −→ I é diferenciável no
conjuto Ω dado por
Ω := { x ∈ J | f é diferenciável em f −1 (x) e f 0 (f −1 (x)) 6= 0 },
valendo
0 1
f −1 (x) = 0 −1 em cada x ∈ Ω.
f (f (x))
3

Proposição 1. A função arco seno é diferenciável no intervalo (−1, 1) valendo


1
arcsen0 (x) = √ em cada x ∈ (−1, 1).
1 − x2
Demonstração. Dado x ∈ (−1, 1), tem-se arcsen(x) ∈ (−π/2, π/2) e, portanto, a função isen
é diferenciável em arcsen(x) com
isen0 (arcsen(x)) = sen0 (arcsen(x)) = cos(arcsen(x)) > 0.
Daı́, pelo Teorema da Função Inversa, a função arcsen é diferenciável em x com
1
arcsen0 (x) = 0
isen (arcsen(x))
1
=
cos(arcsen(x))
1
= p
1 − sen2 (arcsen(x))
1
= p
1 − (sen(arcsen(x))2
1
= √ .
1 − x2
Fica assim provado que a função arcsen é diferenciável em (−1, 1) valendo
1
arcsen0 (x) = √ ∀x ∈ (−1, 1).
1 − x2

Exemplo 1. Como encontrar a derivada da função f , dada por,
f (x) = arcsen(x3 − 4x2 + 1)?
Soluçao. Pela Regra da Cadeia e pela proposicao 1 tem-se
1
f 0 (x) = q · 3x2 − 8x .


1 − (x3 − 4x2 + 1)2



Exemplo 2. Como encontrar a derivada da função g, dada por,
g(x) = arcsen(ln(x2 − 1))?
Soluçao. Pela Regra da Cadeia e pela proposicao 1 tem-se
1 2x
g 0 (x) = q · 2 .
2 2 x −1
1 − (ln(x − 1))

Exemplo 3. Como encontrar a derivada da função h, dada por,
arcsen(x3 + 1)
h(x) = e ?
4

Soluçao. Pela Regra da Cadeia e pela proposicao 1 tem-se


0 arcsen(x3 + 1) 1
h (x) = e ·q · 3x2 .
2
1 − (x3 + 1)

Segue da proposição 1 que
Z
1
√ dx = arcsen(x) + C.
1 − x2
Assim, dado a > 0,
Z Z Z
1 1 1
√ dx = s  dx = r  x 2 dx
a2 − x 2 x 2
a2 1 − 2 a· 1−
a a
Z
1 1
= r ·
 x 2 a dx
1−
a
Deste modo, com u = x/a, tem-se du = (1/a)dx e, portanto,
Z Z
1 1
√ dx = √ du = arcsen(u) + C
2
a −x 2 1 − u2
x
= arcsen + C,
a
ou seja, Z
1 x
√ dx = arcsen + C.
a2 − x 2 a
Atenção: Memorize esta fórmula!
Exemplo 4. Tem-se
Z Z
1 1 x
√ dx = √ dx = arcsen + C.
4 − x2 22 − x2 2
Exemplo 5. Veja que
Z Z Z
1 1 1
√ dx = p dx = p dx
5 + 4x − x2 5 − (x2 − 4x) 9 − (x2 − 4x + 4)
Z
1
= p dx.
32 − (x − 2)2
Assim, com u = x − 2, tem-se du = dx e, portanto,
Z Z
1 1 u
√ dx = √ du = arcsen +C
5 + 4x − x2 32 − u2 3
 
x−2
= arcsen + C,
3
5

isto é,  
x−2
Z
1
√ dx = arcsen + C.
5 + 4x − x2 3
A função cosseno, cos : R −→ R, não é injetiva nem é sobrejetiva e, por conseguinte, não é
invertı́vel. Entretanto, a função icos : [0, π] −→ [−1, 1], dada por
icos(x) = cos(x) qualquer que seja x ∈ [0, π],
é injetiva e é sobrejetiva, isto é, é bijetiva. Portanto icos é invertı́vel.
Definição 2. A função inversa da função icos é denominada função arco cosseno, sendo deno-
tada por arccos.

F IGURA 3. Função cos é injetiva em [0, π] e cos([0, π]) = [−1, 1].

Da definição 2 seguem as seguintes propriedades.


∗ O domı́nio da função arco cosseno é o conjunto Darccos = [−1, 1].
∗ O contradomı́nio da função arco cosseno é o conjunto Carccos = [0, π].
∗ arccos(cos(x)) = arccos(icos(x)) = x qualquer que seja x ∈ [0, π].
∗ cos(arccos(x)) = icos(arccos(x)) = x qualquer que seja x ∈ [−1, 1].
∗ Sintetizando as duas últimas observações, dados x ∈ [−1, 1] e y ∈ [0, π], tem-se
y = arccos(x) ⇐⇒ x = cos(y).
∗ arccos(1) = 0.
∗ arccos(cos(π/3)) = π/3 pois π/3 ∈ [0, π].
∗ arccos(cos(−π/3)) = arccos(cos(π/3)) = π/3. Observe com atenção a definição da
função arco coseno e suas propriedades!
∗ A função arco cosseno é contı́nua.
Observação 1. Para o que segue perceba que
θ ∈ [0, π] ⇐⇒ 0 ≤ θ ≤ π ⇐⇒ −π/2 ≤ (θ − π/2) ≤ π/2
⇐⇒ π/2 ≥ (π/2 − θ) ≥ −π/2 ⇐⇒ −π/2 ≤ (π/2 − θ) ≤ π/2
⇐⇒ (π/2 − θ) ∈ [−π/2, π/2],
6

F IGURA 4. Gráficos da função icos, em vermelho, e arccos, em preto.

isto é,
θ ∈ [0, π] se, e somente, se (π/2 − θ) ∈ [−π/2, π/2],
e, trivialmente,
θ ∈ [−π/2, π/2] se, e somente, se (π/2 − θ) ∈ [0, π].
Além disso, lembre que
cos(θ) = sen(π/2 − θ) e sen(θ) = cos(π/2 − θ) qualquer que seja θ ∈ R.
Proposição 2. Dado x ∈ [−1, 1], tem-se
arccos(x) = π/2 − arcsen(x).
Demonstração. Se x ∈ [−1, 1], então
arcsen(x) ∈ [−π/2, π/2] e, portanto, (π/2 − arcsen(x)) ∈ [0, π].
Daı́,
arccos(x) = arccos(sen(arcsen(x)))
= arccos(cos(π/2 − arcsen(x)))
= π/2 − arcsen(x)).

Da proposição 2 segue imediatamente o seguinte corolário.
Corolário 1. A função arco cosseno é diferenciável no intervalo (−1, 1) valendo
1
arccos0 (x) = − √ em cada x ∈ (−1, 1).
1 − x2
7

F IGURA 5. A função tg é injetiva em (−π/2, π/2) e tg((−π/2, π/2)) = R.

A função tangente,
tg : { x ∈ R | x 6= π/2 + kπ ∀k ∈ Z } −→ R,
é sobrejetiva mas não é injetiva, por conseguinte, não é invertı́vel. Entretanto, a função
itg : (−π/2, π/2) −→ R,
dada por
itg(x) = tg(x) qualquer que seja x ∈ (−π/2, π/2),
é injetiva e é sobrejetiva, isto é, é bijetiva. Portanto itg é invertı́vel.
Definição 3. A função inversa da função itg é denominada função arco tangente, sendo deno-
tada por arctg.
Da definição 3 seguem as seguintes propriedades.
∗ O domı́nio da função arco tangente é o conjunto Darctg = R.
∗ O contradomı́nio da função arco tangente é o conjunto Carctg = (−π/2, π/2).
∗ arctg(tg(x)) = arctg(itg(x)) = x qualquer que seja x ∈ (−π/2, π/2).
∗ tg(arctg(x)) = itg(arctg(x)) = x qualquer que seja x ∈ R.
∗ Sintetizando as duas últimas observações, dados x ∈ R e y ∈ (−π/2, π/2), tem-se
y = arctg(x) ⇐⇒ x = tg(y).
∗ arctg(0) = 0.
∗ arctg(tg(π/4)) = π/4 pois π/4 ∈ (−π/2, π/2).
8

∗ arctg(tg(3π/4)) = arctg(tg(−π/4)) = −π/4. Observe com atenção a definição da


função arco tangente e suas propriedades!
∗ A função arco tangente é contı́nua.

F IGURA 6. Gráficos da função itg, em vermelho, e arctg, em preto.

Proposição 3. A função arco tangente é diferenciável valendo

1
arctg0 (x) = qualquer que seja x ∈ R.
1 + x2

Demonstração. Dado x ∈ R, tem-se arctg(x) ∈ (−π/2, π/2) e, portanto, a função itg é dife-
renciável em arctg(x) com

itg0 (arctg(x)) = tg0 (arctg(x)) = sec2 (arctg(x)) > 0.


9

Daı́, pelo Teorema da Função Inversa, a função arctg é diferenciável em x com


1
arctg0 (x) = 0
itg (arctg(x))
1
= 2
sec (arctg(x))
1
= 2
1 + tg (arctg(x))
1
=
1 + (tg(arctg(x))2
1
= .
1 + x2
Fica assim provado que a função arctg é diferenciável valendo
1
arctg0 (x) = ∀x ∈ R.
1 + x2

Exemplo 6. Como encontrar a derivada da função f dada por
f (x) = arctg(1 + 2x + x3 )?
Soluçao. Pela proposição 3 e pela Regra da Cadeia, tem-se
1
f 0 (x) = · (2 + 3x2 ).
1 + (1 + 2x + x3 )2

Segue da proposição 3 que
Z
1
dx = arctg(x) + C.
1 + x2
Assim, dado a > 0, tem-se
Z Z Z
1 1 1 1 1
dx = 2  dx =  x 2 · dx
a2 + x 2

x a a
a2 1 + 2 1+
a a
Deste modo, com u = x/a, tem-se du = (1/a)dx e, portanto,
Z Z
1 1 1 1
2 2 dx = 2 du = · arctg(u) + C
a +x a 1+u a
1 x
= · arctg + C,
a a
ou seja, Z
1 1 x
dx = · arctg + C.
a2 + x 2 a a
Atenção: Memorize esta fórmula!
10

Exemplo 7. Como resolver a integral indefinida


Z
1
dx?
25 + x2
Soluçao. Tem-se
Z Z
1 1 1 x
dx = dx = arctg + C.
25 + x2 52 + x2 5 5

Exemplo 8. Como resolver a integral indefinida
Z
1
2 dx?
x + 2x + 5
Soluçao. Veja que
Z Z Z
1 1 1
2 dx = 2 dx = dx
x + 2x + 5 x + 2x + 1 + 4 (x + 1)2 + 4
Z
1
= dx.
(x + 1)2 + 22
Com a mudança u = x + 1 tem-se du = dx e, portanto,
Z Z
1 1 1 u
dx = du = · arctg +C
x2 + 2x + 5 u2 + 2 2 2 2
 
1 x+1
= · arctg + C.
2 2

A função cotangente,
ctg : { x ∈ R | x 6= kπ ∀k ∈ Z } −→ R,
é sobrejetiva mas não é injetiva, por conseguinte, não é invertı́vel. Entretanto, a função
ictg : (0, π) −→ R,
dada por
ictg(x) = ctg(x) qualquer que seja x ∈ (0, π),
é injetiva e é sobrejetiva, isto é, é bijetiva. Portanto ictg é invertı́vel.
Definição 4. A função inversa da função ictg é denominada função arco cotangente, sendo
denotada por arcctg.
Da definição 4 seguem as seguintes propriedades.
∗ O domı́nio da função arco cotangente é o conjunto Darcctg = R.
∗ O contradomı́nio da função arco cotangente é o conjunto Carcctg = (0, π).
∗ arcctg(ctg(x)) = arcctg(ictg(x)) = x qualquer que seja x ∈ (0, π).
∗ ctg(arcctg(x)) = ictg(arcctg(x)) = x qualquer que seja x ∈ R.
∗ Sintetizando as duas últimas observações, dados x ∈ R e y ∈ (0, π), tem-se
y = arcctg(x) ⇐⇒ x = ctg(y).
11

F IGURA 7. A função ctg é injetiva em (0, π) e ctg((0, π)) = R.

∗ arcctg(0) = π/2.
∗ arcctg(ctg(π/4)) = π/4 pois π/4 ∈ (0, π).
∗ arcctg(ctg(−π/4)) = arcctg(ctg(3π/4)) = 3π/4. Observe com atenção a definição da
função arco cotangente e suas propriedades!
∗ A função arco cotangente é contı́nua.

F IGURA 8. Gráficos da função ictg, em vermelho, e arcctg, em preto.

Proposição 4. Dado x ∈ R, tem-se


arcctg(x) = π/2 − arctg(x).
12

Demonstração. Se x ∈ R então
arctg(x) ∈ (−π/2, π/2) e, portanto, (π/2 − arctg(x)) ∈ (0, π).
Daı́,
arcctg(x) = arcctg(tg(arctg(x)))
= arcctg(ctg(π/2 − arctg(x)))
= π/2 − arctg(x)).

Da proposição 4 segue imediatamente o seguinte corolário.
Corolário 2. A função arco cotangente é diferenciável valendo
1
arcctg0 (x) = − qualquer que seja x ∈ R.
1 + x2
Exercı́cio 1. Encontre a função de derivada de cada função abaixo relacionada.
∗ f (x) = arcsen(x3 + 2x − 1)
x+1
∗ g(x) = arcsen( )
x−1
1
∗ h(x) = arcsen( )
1 + x2
∗ p(x) = arcsen(ln(x2 + 2x − 1))
∗ q(x) = arcsen(sen(x3 + 4x))
∗ r(x) = cos(arcsen(1 + 2x))

3
∗ s(x) = ln(arcsen( x5 − 2x2 ))
3 +1)
∗ t(x) = earcsen(x

Exercı́cio 2. Resolva as integrais indefinidas abaixo relacionadas.


Z
1
∗ √ dx
Z 16 − 9x2
1
∗ √ dx
Z 4 − 9x2
1
∗ √ dx
Z 6x − x2 − 8
1
∗ √ dx
Z 3 − 2x − x2
x
∗ √ dx
1 − x4
AULA 08
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula dá continuidade ao estudo das funções trigonométricas inversas.


A função secante, sec : { x ∈ R | x 6= π/2 + kπ ∀k ∈ Z } −→ R, não é injetiva nem é
sobrejetiva e, por conseguinte, não é invertı́vel. Entretanto, a função
isec : [0, π/2) ∪ (π/2, π] −→ (−∞, −1] ∪ [1, +∞),
dada por
isec(x) = sec(x) qualquer que seja x ∈ [0, π/2) ∪ (π/2, π]
é injetiva e é sobrejetiva, isto é, é bijetiva. Portanto, isec é invertı́vel.
Definição 1. A função inversa da função isec é denominada função arco secante, sendo deno-
tada por arcsec.

F IGURA 1. A Função secante é injetiva em [0, π/2) ∪ (π/2, π] e


sec([0, π/2) ∪ (π/2, π]) = (−∞, −1] ∪ [1, +∞).

Da definição 1 segue que


∗ O domı́nio da função arco secante é o conjunto Darcsec = (−∞, −1] ∪ [1, +∞).
∗ O contradomı́nio da função arco secante é o conjunto Carcsec = [0, π/2) ∪ (π/2, π].
∗ arcsec(sec(x)) = arcsec(isec(x)) = x qualquer que seja x ∈ [0, π/2) ∪ (π/2, π].
∗ sec(arcsec(x)) = isec(arcsec(x)) = x qualquer que seja x ∈ (−∞, −1] ∪ [1, +∞).
∗ Sintetizando as duas últimas observações, dados
x ∈ (−∞, −1] ∪ [1, +∞) e y ∈ [0, π/2) ∪ (π/2, π],
tem-se
y = arcsec(x) ⇐⇒ x = sec(y).
∗ arcsec(1) = 0.
∗ arcsec(−1) = π.
∗ arcsec(2) = π/3.
∗ arcsec(sec(π/4)) = π/4 pois π/4 ∈ [0, π/2) ∪ (π/2, π].

1
2

F IGURA 2. Gráfico da função isec.

∗ arcsec(sec(−π/4)) = arcsec(sec(π/4)) = π/4. Observe com atenção a definição da


função arco secante e suas propriedades!
∗ A função arco secante é contı́nua.
Proposição 1. Dado x ∈ (−∞, −1] ∪ [1, +∞) tem-se
 
1
arcsec(x) = arccos .
x
1 ∈ [−1, 0) ∪ (0, 1]. Assim,
Demonstração. Se x ∈ (−∞, −1] ∪ [1, +∞), então x
arccos(1/x) ∈ [0, π/2) ∪ (π/2, π],
e, portanto,
   
1 1
arcsec(x) = arcsec = arcsec
1/x cos(arccos(1/x))
= arcsec(sec(arccos(1/x))) = arccos(1/x).

3

F IGURA 3. Gráfico da função arco secante.

Da proposição 1 segue imediatamente o seguinte corolário.


Corolário 1. A função arco secante é diferenciável no intervalo (−∞, −1) ∪ (1, +∞) valendo
1
arcsec0 (x) = p qualquer que seja x ∈ (−∞, −1) ∪ (1, +∞).
|x| · x2 − 1
Demonstração. Pela proposição 1
 
1
arcsec(x) = arccos ∀x ∈ (−∞, −1] ∪ [1, +∞).
x
Daı́, pela Regra da Cadeia, arcsec é diferenciável em (−∞, −1) ∪ (1, +∞) valendo
 
0 1 1
arcsec (x) = − s  2 · − x2
1
1−
x
1 1
= s = r
 2
1 1
2
x · 1− x2 · 1 − 2
x x
1 1
= = 2
x √ 2
s
2 x2 − 1 · x −1
x · |x|
x2
1 1
= 2 √ = √
|x| |x| · x2 − 1
· x2 − 1
|x|
qualquer que seja x ∈ (−∞, −1) ∪ (1, +∞). 
Exemplo 1. Como encontrar a função derivada da função f dada por
f (x) = arcsec(x2 + 1)?
4

Soluçao. Pelo corolário 1 e pela Regra da Cadeia,


1
f 0 (x) = 2
p · 2x
|x + 1| · (x2 + 1)2 − 1
2x
= 2
p .
(x + 1) · (x2 + 1)2 − 1

Pelo corolário 1,
Z
1
p dx = arcsec(x) + C.
|x| · x2 − 1
Além disso, sendo g : (−∞, −1] ∪ [1, +∞) −→ R a função dada por

g(x) = arcsec(|x|) ∀x ∈ (−∞, −1] ∪ [1, +∞),

tem-se

arcsec(x) se x ≥ 1,
g(x) =
arcsec(−x) se x ≤ −1.

Portanto, g é diferenciável em (1, +∞) com


1 1
g 0 (x) = √ = √ ∀x ∈ (1, +∞)
2
|x| · x − 1 x · x2 − 1

e g é diferenciável em (−∞, −1) com


1
g 0 (x) = p · (−1)
| − x| · (−x)2 − 1
1
= − √
|x| · x2 − 1
1
= − √
(−x) · x2 − 1
1
= √ ∀x ∈ (−∞, −1),
x · x2 − 1
ou seja,
1
g 0 (x) = √ ∀x ∈ (−∞, −1) ∪ (1, +∞).
x· x2 − 1
Isto diz que
Z
1
p dx = g(x) + C = arcsec(|x|) + C.
x · x2 − 1
5

Assim, dado a > 0,


Z Z
1 1
p dx = s  dx
x· x 2 − a2 x2

x· a2 · −1
a2
Z
1
= s  dx
 x 2
ax · −1
a
Z
1 1 1
= s · dx
a x  x 2  a
· −1
a a
Logo, com u = x/a, tem-se du = (1/a)dx e, portanto,
Z Z
1 1 1
p dx = √ du
x· x −a2 2 a u · u2 − 1
1
= · arcsec(|u|) + C
a
1  x 
= · arcsec +C
a a 
1 |x|
= · arcsec + C,
a a
isto é,  
|x|
Z
1 1
p dx = · arcsec + C.
x · x 2 − a2 a a
Atenção: Memorize esta fórmula!
Exemplo 2. Como resolver a integral indefinida
Z
1
√ dx?
x · x2 − 9
Soluçao. Tem-se
Z Z
1 1
√ dx = √ dx
x · x2 − 9 x · x2 − 32
 
1 |x|
= · arcsec + C.
3 3

A função cossecante, csc : { x ∈ R | x 6= kπ ∀k ∈ Z } −→ R, não é injetiva nem é sobreje-
tiva e, por conseguinte, não é invertı́vel. Entretanto, a função
icsc : [−π/2, 0) ∪ (0, π/2] −→ (−∞, −1] ∪ [1, +∞),
dada por
icsc(x) = csc(x) qualquer que seja x ∈ [−π/2, 0) ∪ (0, π/2]
6

é injetiva e é sobrejetiva, isto é, é bijetiva. Portanto, icsc é invertı́vel.


Definição 2. A função inversa da função icsc é denominada função arco cosecante, sendo
denotada por arccsc.
Da definição 2 segue que
∗ O domı́nio da função arco cossecante é o conjunto Darccsc = (−∞, −1] ∪ [1, +∞).
∗ O contradomı́nio da função arco cosecante é o conjunto
Carccsc = [−π/2, 0) ∪ (0, π/2].
∗ arccsc(csc(x)) = arccsc(icsc(x)) = x qualquer que seja x ∈ [−π/2, 0) ∪ (0, π/2].
∗ csc(arccsc(x)) = icsc(arccsc(x)) = x qualquer que seja x ∈ (−∞, −1] ∪ [1, +∞).
∗ Sintetizando as duas últimas observações, dados
x ∈ (−∞, −1] ∪ [1, +∞) e y ∈ [−π/2, 0) ∪ (0, π/2],
tem-se
y = arccsc(x) ⇐⇒ x = csc(y).
∗ arccsc(1) = π/2.
∗ arccsc(−1) = −π/2.
∗ arccsc(2) = π/6.
∗ arccsc(csc(π/4)) = π/4 pois π/4 ∈ [−π/2, 0) ∪ (0, π/2].
∗ arccsc(csc(3π/4)) = arccsc(csc(π/4)) = π/4. Observe com atenção a definição da
função arco cossecante e suas propriedades!
∗ A função arco cossecante é contı́nua.
Proposição 2. Dado x ∈ (−∞, −1] ∪ [1, +∞), tem-se
arccsc(x) = π/2 − arcsec(x).
Demonstração. Se x ∈ (−∞, −1] ∪ [1, +∞), então
arcsec(x) ∈ [0, π/2) ∪ (π/2, π] e, portanto, (π/2 − arcsec(x)) ∈ [−π/2, 0) ∪ (0, π/2].
Daı́,
arccsc(x) = arccsc(sec(arcsec(x)))
= arccsc(csc(π/2 − arcsec(x)))
= π/2 − arcsec(x).

Da proposição 2 segue imediatamente o seguinte corolário.
Corolário 2. A função arco cossecante é diferenciável no intervalo (−∞, −1) ∪ (1, +∞) va-
lendo
1
arccsc0 (x) = − p qualquer que seja x ∈ (−∞, −1) ∪ (1, +∞).
|x| · x2 − 1

Proposição 3. Dado x ∈ (−∞, −1] ∪ [1, +∞) tem-se


 
1
arccsc(x) = arcsen .
x
7

F IGURA 4. A função cossecante é injetiva em [−π/2, 0) ∪ (0, π/2] e


csc([−π/2, 0) ∪ (0, π/2]) = (−∞, −1] ∪ [1, +∞). Gráfico da função icsc.

F IGURA 5. Gráfico da função arco cossecante.

1 ∈ [−1, 0) ∪ (0, 1]. Assim,


Demonstração. Se x ∈ (−∞, −1] ∪ [1, +∞), então x
arcsen(1/x) ∈ [−π/2, 0) ∪ (0, π/2],
8

e, portanto,
   
1 1
arccsc(x) = arccsc = arccsc
1/x sen(arcsen(1/x))
= arcsec(csc(arcsen(1/x))) = arcsen(1/x).


√ Suponha que a função integrando, de uma integral indefinida, envolva uma expressão do tipo
a2 − x2 , onde a > 0. Então, o seu domı́nio está contido no conjunto [−a, a]. Além disso, com
a mudança de variável θ = arcsen(x/a), tem-se θ ∈ [−π/2, π/2], x = a sen(θ) e, portanto,
x
sen(θ) = , dx = a cos(θ)dθ,
√ a p p
a − x = a2 − a2 sen2 (θ) = a cos2 (θ) = a| cos(θ)| = a cos(θ),
2 2

a2 − x 2 x a
cos(θ) = , tg(θ) = √ , sec(θ) = √ ,
a a2 − x 2 a2 − x 2

a a2 − x 2
csc(θ) = e ctg(θ) = .
x x

F IGURA 6. Figura auxiliar para mudança de variável pelo seno.

Estas observações podem ser usadas para resolver integrais que envolvam a referida ex-
pressão. Convém observar que todas estas igualdades podem ser concluı́das a partir de uma
análise simples da figura 6.
Exemplo 3. Como resolver a integral indefinida
Z
1
√ dx?
x · 25 − x2
Soluçao. Observe que
Z Z
1 1
√ dx = √ dx.
x · 25 − x2 x · 52 − x2
Assim, com x = 5 sen(θ), tem-se

dx = 5 cos(θ)dθ e 52 − x2 = 5 cos(θ).
9

Logo,
Z Z
1 1
√ dx = · 5 cos(θ) dθ
x · 25 − x2 5 sen(θ) · 5 cos(θ)
Z Z
1 1 1
= dθ = csc(θ) dθ
5 sen(θ) 5
1
= − · ln(| ctg(θ) + csc(θ)|) + C.
5
Como √
25 − x2 5
ctg(θ) = e csc(θ) = ,
x x
tem-se
√ !
25 − x2 5
Z
1 1
√ dx = − · ln + +C
x · 25 − x2 5 x x
√ !
1 25 − x2 + 5
= − · ln + C.
5 |x|

Exemplo 4. Dado a > 0, como resolver a integral indefinida
Z √
a2 − x2 dx?

Soluçao. Com x = a sen(θ) tem-se



dx = a cos(θ)dθ e a2 − x2 = a cos(θ).
Assim,
Z √ Z
2 2
a − x dx = a cos(θ) · a cos(θ) dθ
Z Z
2 2 2 1 + cos(2θ)
= a cos (θ) dθ = a dθ
2
a2 a2
= ·θ+ · sen(2θ) + C
2 4
a2 a2
= ·θ+ · sen(θ) · cos(θ) + C.
2 2
Como √
x x a2 − x 2
θ = arcsen , sen(θ) = e cos(θ) = ,
a a a
tem-se
Z √ √
a2 x 1
a2 − x2 dx = · arcsen + · x · a2 − x2 + C.
2 a 2

10

Exemplo 5. Desconsidere, neste exemplo, o conhecimento adquirido para valor de integral


indefinida
Z
1
√ dx.
a2 − x 2
Com x = a sen(θ), tem-se

dx = a cos(θ)dθ e a2 − x2 = a cos(θ).
Assim,
Z Z
1 1
√ dx = · a cos(θ) dθ
a2 − x 2 a cos(θ)
Z
= 1 dθ = θ + C
x
= arcsen + C,
a
que é a solução já conhecida. 
Exercı́cio 1. Encontre a função de derivada de cada função abaixo relacionada.
∗ f (x) = arctg(x3 + 2x − 1)

x+1
∗ f (x) = arctg( )
x−1
1
∗ f (x) = arctg( )
1 + x2
∗ f (x) = arctg(ln(x2 + 2x − 1))

∗ f (x) = arctg(sen(x3 + 4x))

∗ f (x) = cos(arctg(1 + 2x))



3
∗ f (x) = ln(arctg( x5 − 2x2 ))
3 +1)
∗ f (x) = earctg(x

∗ f (x) = arcsec(x3 + 2x − 1)

x+1
∗ f (x) = arcsec( )
x−1

3
∗ f (x) = arcsec( 1 + x2 )

∗ f (x) = arcsec(sen(x) + x2 )
11

Exercı́cio 2. Resolva as integrais indefinidas abaixo relacionadas.


Z
1
∗ 2 dx
Z 9x + 16
x+1
∗ 2 dx
Z x +4
∗ x sec3 (x2 + 1) dx
Z
1
∗ 2 dx
Z x − 6x + 10
1
∗ √ dx
Z 6x − x2 − 8
1
∗ √ dx
Z 4 − 9x2
1
∗ 2 dx
Z 3x − 2x + 5
2x + 7
∗ 2 dx
Z x + 2x + 5
x
∗ 4 dx
Z x + 16
x
∗ √ dx
Z 3 − 2x − x2
x
∗ 2 dx
Z x +x+1
1
∗ dx
x(1 + (ln(x))2 )
AULA 9
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula continua com a apresentação das técnicas de integração introduzidas na aula pas-
sada. Desta vez, são√apresentados métodos de integração de funções que envolvem expressões
do tipo x2 + a2 ou x2 − a2 . Perceba que as três técnicas, a da aula passada e as duas desta
aula, envolvem o uso da teoria desenvolvida para as funções trigonométricas inversas: arco
seno, arco tangente e arco secante.
Observação 1. Seja a > 0. Dado x ∈ R, tem-se
√ √
x ≤ |x| = x2 < x2 + a2 .
Daı́,

x2 + a2 − x > 0.
Assim,
p
(−x)2 + a2 − (−x) > 0,
isto é,

x2 + a2 + x > 0.
Suponha que a função integrando, de uma integral indefinida, envolva uma expressão do tipo
a2 + x2 , onde a > 0. Então, com a mudança de variável θ = arctg(x/a), tem-se
θ ∈ (−π/2, π/2), x = a tg(θ)
e, portanto,
dx = a sec2 (θ)dθ,
a2 + x2 = a2 + a2 tg2 (θ) = a2 (1 + tg2 (θ)) = a2 sec2 (θ),

a2 + x2 = |a sec(θ)| = a sec(θ),

x a2 + x 2
tg(θ) = , sec θ = ,
a a
x a
sen(θ) = √ , cos(θ) = √ ,
2
a +x 2 a + x2
2

a2 + x 2 a
csc(θ) = e ctg(θ) = .
x x
Observe que as igualdades podem ser concluı́das a partir de uma análise simples da figura 1.
Exemplo 1. Como resolver a integral indefinida
Z √
a2 + x2 dx,

onde a > 0?

1
2

F IGURA 1. Figura auxiliar para mudança de variável pela tangente.

Soluçao. Com x = a tg(θ) tem-se



dx = a sec2 (θ)dθ e a2 + x2 = a sec(θ).
Daı́,
Z √ Z
a2 + x2 dx = a sec(θ) · a sec2 (θ) dθ
Z
2
= a sec3 (θ) dθ

a2 a2
= · sec(θ) · tg(θ) + · ln(| sec(θ) + tg(θ)|) + C.
2 2
Como

a2 + x 2 x
sec θ = e tg(θ) = ,
a a
tem-se
Z √ √ !
1 √ a2 a2 + x 2 x
2 2 2 2
a + x dx = · x · a + x + · ln + +C
2 2 a a
√ !
1 √ a2 a2 + x 2 + x
= · x · a2 + x 2 + · ln +C
2 2 a
√ !
1 √ a 2
| a 2 + x2 + x|
= · x · a2 + x 2 + · ln +C
2 2 a
1 √ a2 √ a2
= · x · a2 + x 2 + · ln(| a2 + x2 + x|) − · ln(a) + C
2 2 2
1 √ a2 √
= · x · a2 + x 2 + · ln( a2 + x2 + x) + C.
2 2

3

Exemplo 2. Como resolver a integral indefinida


Z
1
√ dx,
x · a2 + x 2
onde a > 0?
Soluçao. Com x = a tg(θ) tem-se

dx = a sec2 (θ)dθ e a2 + x2 = a sec(θ).
Daı́,
Z Z
1 1
√ dx = · a sec2 (θ) dθ
x· a2 + x2 a tg(θ) · a sec(θ)
Z Z
1 sec(θ) 1 1
= dθ = dθ
a tg(θ) a sen(θ)
Z
1 1
= csc(θ) dθ = − ln(| csc(θ) + ctg(θ)|) + C.
a a
Como

a2 + x 2 a
csc(θ) = e ctg(θ) = ,
x x
tem-se
√ !
a2 + x 2 a
Z
1 1
√ dx = − · ln + +C
x · a2 + x 2 a x x
√ !
1 a2 + x 2 + a
= − · ln +C
a x
√ !
1 | a2 + x2 + a|
= − · ln +C
a |x|
√ !
1 a2 + x 2 + a
= − · ln + C.
a |x|


Exemplo 3. Como resolver a integral indefinida
Z
1
dx
(x + a2 )2
2

onde a > 0?
Soluçao. Com x = a tg(θ) tem-se
dx = a sec2 (θ)dθ e a2 + x2 = a2 sec2 (θ).
4

Daı́,
Z Z
1 1
dx = · a sec2 (θ) dθ
(x + a2 )2
2
(a sec2 (θ))2
2
Z Z
1 1 1
= 3 dθ = 3 cos2 (θ) dθ
a sec2 (θ) a
Z
1 1 + cos(2θ) 1 1
= 3 dθ = 3 · θ + 3 · sen(2θ) + C
a 2 2a 4a
1 1
= · θ + 3 · sen(θ) · cos(θ) + C.
2a3 2a
Como
x a
θ = arctg(x/a), sen(θ) = √ e cos(θ) = √ ,
a2 + x 2 a2 + x 2
tem-se
Z
1 1 x 1 x a
dx = · arctg + ·√ ·√ +C
(x2 + a2 )2 2a3 a 2a3 2
a +x 2 a + x2
2

1 x 1 x
= · arctg + · 2 + C.
2a3 a 2a2 a + x2


√ Suponha que a função integrando, de uma integral indefinida, envolva uma expressão do tipo
x2 − a2 , onde a > 0. Então, o seu domı́nio está contido no conjunto (−∞, −a] ∪ [a, +∞).
Além disso, com a mudança de variável θ = arcsec(x/a), tem-se
θ ∈ [0, π/2) ∪ (π/2, π], x = a sec(θ)
e, portanto,
dx = a sec(θ) · tg(θ)dθ,
x2 − a2 = a2 sec2 (θ) − a2 = a2 (sec2 (θ) − 1) = a2 tg2 (θ) e

x2 − a2 = |a tg(θ)|.
Entretanto, não há como se livrar do módulo na última expressão, pois
tg(θ) < 0 qualquer que seja θ ∈ (π/2, π],
e a sua presença na integral indefinida, após a mudança de variável trigonométrica, pode com-
plicar sobremaneira o cálculo dessa integral. Esta dificuldade pode ser contornada observando
que a função
isec2 : [0, π/2) ∪ [π, 3π/2) −→ (−∞, −1] ∪ [1, +∞),
dada por
isec2(x) = sec(x) ∀x ∈ [0, π/2) ∪ [π, 3π/2),
é injetiva e sobrejetiva, portanto invertı́vel, sendo sua inversa dada por

−1 arcsec(x) se x ∈ [1, +∞),
isec2 (x) =
arcsec(|x|) + π se x ∈ (−∞, −1].
ou seja,
5

F IGURA 2. Veja que tg(x) ≥ 0 ∀x[0, π/2) ∪ [π, 3π/2).


−1 arcsec(|x|) se x ∈ [1, +∞),
isec2 (x) =
arcsec(|x|) + π se x ∈ (−∞, −1].

F IGURA 3. Veja que isec2−1 (x) = arcsec(|x|) + π ∀x ∈ (−∞, −1].

Deste modo, com a mudança de variável θ = isec2−1 (x/a), tem-se

θ ∈ [0, π/2) ∪ [π, 3π/2), x = a sec(θ)


6

e, portanto,

dx = a sec(θ) · tg(θ)dθ,
x2 − a2 = a2 sec2 (θ) − a2 = a2 (sec2 (θ) − 1) = a2 tg2 (θ) e

x2 − a2 = |a tg(θ)| = a tg(θ),

x x 2 − a2
sec(θ) = , tg(θ) = ,
a√ a
x 2 − a2 a
sen(θ) = , cos(θ) = ,
x x
a x
ctg(θ) = √ e csc(θ) = √ .
2
x −a 2 x − a2
2

F IGURA 4. Figura auxiliar para mudança de variável pela secante.

Observe que as igualdades podem ser concluı́das a partir de uma análise simples da figura 4.

Exemplo 4. Como encontrar a integral indefinida

Z
1
√ dx,
x 3 · x 2 − a2

onde a > 0.

Soluçao. Com x = a sec(θ), com θ ∈ (0, π/2) ∪ (π, 3π/2), tem-se


dx = a sec(θ) · tg(θ)dθ e x2 − a2 = a tg(θ).
7

Assim,
Z Z
1 1
√ dx = 3 3 · a sec(θ) · tg(θ) dθ
x3 · x 2 − a2 a sec (θ) · a tg(θ)
Z Z
1 1 1
= 3 2 dθ = 3 cos2 (θ) dθ
a sec (θ) a
Z
1 1 + cos(2θ)
= 3 dθ
a 2
1 1
= 3 ·θ+ · sen(2θ) + C
2a 4a3
1 1
= 3 ·θ+ · sen(θ) · cos(θ) + C.
2a 2a3

Como

−1 arcsec(|x|/a) se x ∈ [a, +∞),
θ = isec2 (|x|/a) =
arcsec(|x|/a) + π se x ∈ (−∞, −a],


x 2 − a2 a
sen(θ) = e cos(θ) = ,
x x

tem-se
  √
|x| x 2 − a2
Z
1 1 1 a
√ dx = 3 · arcsec + · · +C
3 2
x · x −a 2 2a a 2a3 x x
  √
1 |x| 1 x 2 − a2
= 3 · arcsec + · + C.
2a a 2a2 x2

Exemplo 5. Como encontrar a integral indefinida


Z √
x2 − a2 dx,

onde a > 0.

Soluçao. Com x = a sec(θ), com θ ∈ [0, π/2) ∪ [π, 3π/2), tem-se


dx = a sec(θ) · tg(θ)dθ e x2 − a2 = a tg(θ).
8

Assim,
Z √ Z
x2 − a2 dx = a tg(θ) · a sec(θ) · tg(θ) dθ
Z
= a2 sec(θ) · tg2 (θ) dθ
Z
2
= a sec(θ) · (sec2 (θ) − 1) dθ
Z
2
= a (sec3 (θ) − sec(θ)) dθ
Z Z
2 3 2
= a sec (θ) dθ − a sec(θ) dθ

a2
= · ( sec(θ) · tg(θ) + ln(| sec(θ) + tg(θ)|) ) −
2
a2 · ln(| sec(θ) + tg(θ)|) + C
a2 a2
= · sec(θ) · tg(θ) − · ln(| sec(θ) + tg(θ)|) + C.
2 2
Como √
x x 2 − a2
sec θ = e tg(θ) = ,
a a
tem-se
Z √ 2
√ 2
√ !
a x x 2 − a2 a x x 2 − a2
x2 − a2 dx = · · − · ln + +C
2 a a 2 a a
1 √ a2 √
= · x · x 2 − a2 − · ln(|x + x2 − a2 |) + C.
2 2
Atenção: Não há como se livrar do módulo na última expressão! 
Exemplo 6. Como encontrar a integral indefinida
Z
1
√ dx,
x − a2
2

onde a > 0.
Soluçao. Com x = a sec(θ), com θ ∈ (0, π/2) ∪ (π, 3π/2), tem-se

dx = a sec(θ) · tg(θ)dθ e x2 − a2 = a tg(θ).
Assim,
Z Z
1 1
√ dx = · a sec(θ) · tg(θ) dθ
x 2 − a2 a tg(θ)
Z
= sec(θ) dθ = ln(| sec(θ) + tg(θ)|) + C.

Como √
x x 2 − a2
sec θ = e tg(θ) = ,
a a
9

tem-se
√ !
x 2 − a2
Z
1 x
√ dx = ln + +C
x 2 − a2 a a

= ln(|x + x2 − a2 |) + C.

AULA 10
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Nesta aula serão apresentados métodos para integração de funções racionais. Lembre que
função racional é qualquer função f dada por
p(x)
f (x) = ,
q(x)
onde p e q são funções polinomiais. Cada método basear-se-á em uma proposição cujo enuncia-
do é apresentado, mas cuja demonstração é omitida, e passa pela fatoração máxima da função
polinomial q em funções polinomiais de grau um ou grau dois. Cada uma dessas futuras
proposições dirá que toda função racional pode ser decomposta em soma de frações parciais,
sendo cada fração parcial uma expressão do tipo
A Bx + D
n ou ,
(x − p) (x + qx + r)m
2

onde m, n ∈ N∗ , A, B, C, p, q, r ∈ R e x2 + qx + r não possui raı́zes em R, isto é, x2 + qx + r


é irredutı́vel. Observe que se x2 + qx + r não possui raı́zes em R, então x2 + px + r não pode
ser fatorado como produto de polinômios lineares com coeficiente em R.
Proposição 1. Sejam p(x) e q(x) funções polinomiais reais sem fatores lineares em comum,
com Grau(p) < Grau(q) = n. Se
q(x) = (x − a1 ) · (x − a2 ) · · · · · (x − an ),
com a1 , . . . , an ∈ R distintos dois a dois, então existem únicos A1 , . . . , An ∈ R tais que
p(x) A1 A2 An
= + + ... + .
q(x) x − a1 x − a2 x − an
Assim, dada uma função racional f , definida por
p(x)
f (x) = ,
q(x)
onde p e q são funções polinomiais satisfazendo as hipóteses da proposição 1, para encontrar a
integral indefinida
Z Z
p(x)
f (x) dx = dx,
q(x)
basta encontrar as constantes A1 , . . . , An ∈ R tais que
p(x) A1 A2 An
= + + ... + ,
q(x) x − a1 x − a2 x − an
cuja existência e unicidades são garantidas pela proposição 1.
A proposição 1 diz, por exemplo, que existem constantes A, B ∈ R tais que
x+1 A B
= + ,
(x − 2) · (x + 3) x−2 x+3

1
2

existem constantes C, D, E tais que


1 C D E
= + +
x · (x − 1) · (x − 3) x x−1 x−3
e existem constantes F, G, H, I tais que
2x − 1 F G H I
2 2 = + + +
(x − 1) · (x − 4) x−1 x+1 x−2 x+2
pois, neste último caso,

(x2 − 1) · (x2 − 4) = (x − 1) · (x + 1) · (x − 2) · (x + 2).

Exemplo 1. Como resolver a integral indefinida


x2 + 2x + 2
Z
dx?
x3 + 3x2 + 2x
Soluçao. Primeiro observe que

Grau(x2 + 2x + 2) < Grau(x3 + 3x2 + 2x),

x3 + 3x2 + 2x = x · (x2 + 3x + 2) = x · (x + 1) · (x + 2)

e estas duas funções polinomiais não possuem fatores lineares em comum, isto é, as funções
polinomiais, numerador e denominador da função integrando, satisfazem as hipóteses da pro-
posição 1. Daı́, existem constantes A, B, C ∈ R tais que

x2 + 2x + 2 A B C
3 2 = + + .
x + 3x + 2x x x+1 x+2
Observe que

x2 + 2x + 2 A B C
3 2 = + +
x + 3x + 2x x x+1 x+2
2
x + 2x + 2 A · (x + 1) · (x + 2) + B · x · (x + 2) + C · x · (x + 1)
⇐⇒ 3 2 =
x + 3x + 2x x · (x + 1) · (x + 2)
2 2
x + 2x + 2 (A + B + C)x + (3A + 2B + C)x + 2A
⇐⇒ 3 2 =
x + 3x + 2x x3 + 3x2 + 2x
2 2
⇐⇒ x + 2x + 2 = (A + B + C)x + (3A + 2B + C)x + 2A
⇐⇒ (A + B + C) = 1, (3A + 2B + C) = 2 e 2A = 2
⇐⇒ A = 1, B + C = 0 e 2B + C = −1 ⇐⇒ A = 1, B = −1 e C = 1.

Portanto,
x2 + 2x + 2 1 1 1
3 2 = − + .
x + 3x + 2x x x+1 x+2
3

Logo,

x2 + 2x + 2
Z Z  
1 1 1
dx = − + dx
x3 + 3x2 + 2x x x+1 x+2
Z Z Z
1 1 1
= dx − dx + dx
x x+1 x+2
= ln(|x|) − ln(|x + 1|) + ln(|x + 2|) + C
 
x · (x + 2)
= ln + C.
x+1

Exemplo 2. Dado a > 0, qual o valor da integral indefinida


Z
1
dx?
x − a2
2

Soluçao. Como

x2 − a2 = (x − a) · (x + a),

segue, pela proposição 1, que existem contantes B, C ∈ R tais que

1 B C
2 2 = + .
x −a x−a x+a

Observe que

1 B C
22 = +
x −a x−a x+a
1 B · (x + a) + C · (x − a)
⇐⇒ 2 2 =
x −a (x − a) · (x + a)
1 (B + C)x + Ba − Ca
⇐⇒ 2 2 =
x −a x 2 − a2
⇐⇒ 1 = (B + C)x + Ba − Ca
⇐⇒ B + C = 0 e Ba − Ca = 1 ⇐⇒ Ba + Ca = 0 e Ba − Ca = 1
1 1
⇐⇒ 2Ba = 1 e 2Ca = −1 ⇐⇒ B = e C=− .
2a 2a

Daı́,
1 1 1 1 1
2 2 = · − ·
x −a 2a x − a 2a x + a
4

e, portanto,
Z Z  
1 1 1 1 1
dx = · − · dx
x − a2
2
2a x − a 2a x + a
Z Z
1 1 1 1
= dx − dx
2a x−a 2a x+a
1 1
= ln(|x − a|) − ln(|x + a|) + C
2a   2a
1 x−a
= ln + C,
2a x+a
isto é,
 
x−a
Z
1 1
dx = ln + C.
x 2 − a2 2a x+a
Deste modo,
Z  
1 1 x+a
dx = ln + C.
a2 − x 2 2a x−a
Atenção: Memorize estas duas fórmulas! 
Exemplo 3. Como resolver a integral indefinida
Z
3x + 3
2 dx?
x +x−2
Soluçao. Como x2 + x − 2 = (x − 1) · (x + 2), tem-se, pela proposição 1, a existência de
constantes A, B ∈ R tais que
3x + 3 A B
2 = + .
x +x−2 x−1 x+2
Agora,
3x + 3 A B
2 = +
x +x−2 x−1 x+2
3x + 3 A · (x + 2) + B · (x − 1)
⇐⇒ 2 =
x +x−2 (x − 1) · (x + 2)
3x + 3 (A + B)x + (2A − B)
⇐⇒ 2 =
x +x−2 x2 + x − 2
⇐⇒ 3x + 3 = (A + B)x + (2A − B)
⇐⇒ A + B = 3 e 2A − B = 3
⇐⇒ 3A = 6 e 3B = 3 ⇐⇒ A = 2 e B = 1.
Assim,
3x + 3 2 1
2 = +
x +x−2 x−1 x+2
5

e, portanto,
Z Z  
3x + 3 2 1
2 dx = + dx
x +x−2 x−1 x+2
Z Z
1 1
= 2 dx + dx
x−1 x+2
= 2 ln(|x − 1|) + ln(|x + 2|) + C
= ln(|x − 1|2 · |x + 2|) + C
= ln((x − 1)2 · |x + 2|) + C.

A proposição 2 diz como proceder quando a função polinomial q possui somente fatores
lineares na sua fatoração, mas alguns destes fatores com multiplicidade.

Proposição 2. Sejam p e q funções polinomiais reais sem fatores lineares em comum, com
Grau(p) < Grau(q) = k. Se

q(x) = (x − a1 )α1 · · · · · (x − an )αn ,

com a1 , ..., an ∈ R distintos dois a dois, então existem únicos

A11 , . . . , A1α1 , . . . , A1n , . . . , A1αn ∈ R,

tais que
p(x) A11 A1α1 An1 Anαn
= + ... + α
+ ... + + ... + .
q(x) x − a1 (x − a1 ) 1 x − an (x − an )αn
A proposição 2 diz, por exemplo, que existem constantes A, B, C ∈ R tais que
x−2 A B C
2 = + + ,
(x − 1) · (x + 2) x − 1 x + 2 (x + 2)2
que existem constante D, E, F, G, H ∈ R tais que
1 D E F G H
3 2 = + 2+ 3+ +
x · (x − 1) x x x x − 1 (x − 1)2
e que existem constantes I, J, K, L ∈ R tais que

x2 + 1 I J K L
3 = + 2 + 3 + .
(x − 2) · (x + 1) x − 2 (x − 2) (x − 2) x+1
Exemplo 4. Como resolver a integral indefinida
Z 2
x + 2x + 6
dx?
x3 + 3x2 − 4
6

Soluçao. Primeiro veja que


x3 + 3x2 − 4 = x3 + 2x2 + x2 − 4
= x2 · (x + 2) + (x − 2) · (x + 2)
= (x + 2) · (x2 + x − 2)
= (x + 2) · (x + 2) · (x − 1)
= (x + 2)2 · (x − 1).
Daı́, pela proposição 2, existem contantes A, B, C ∈ R tais que
x2 + 2x + 6 A B C
3 2 = + 2 + .
x + 3x − 4 x + 2 (x + 2) x−1
Agora,
x2 + 2x + 6 A B C
3 2 = + 2 +
x + 3x − 4 x + 2 (x + 2) x−1
x2 + 2x + 6 A · (x + 2) · (x − 1) + B · (x − 1) + C · (x + 2)2
⇐⇒ 3 =
x + 3x2 − 4 (x + 2)2 · (x − 1)
x2 + 2x + 6 (A + C)x2 + (A + B + 4C)x + (−2A − B + 4C)
⇐⇒ 3 =
x + 3x2 − 4 x3 + 3x2 − 4
2 2
⇐⇒ x + 2x + 6 = (A + C)x + (A + B + 4C)x + (−2A − B + 4C)
⇐⇒ A + C = 1, A + B + 4C = 2 e − 2A − B + 4C = 6
⇐⇒ A + C = 1, A + B + 4C = 2 e − A + 8C = 8
⇐⇒ A + C = 1, A + B + 4C = 2 e 9C = 9
⇐⇒ C = 1, A = 0 e B = −2.
Daı́,
x2 + 2x + 6 2 1
3 2 =− 2 +
x + 3x − 4 (x + 2) x−1
e, portanto,
x2 + 2x + 6
Z Z  
2 1
dx = − + dx
x3 + 3x2 − 4 (x + 2)2 x − 1
Z Z
−2 1
= −2 (x + 2) dx + dx
x−1
(x + 2)−1
= −2 · + ln(|x − 1|) + C
−1
2
= + ln(|x − 1|) + C.
x+2

Exemplo 5. Como resolver a integral indefinida
Z
x+1
2 dx?
x − 2x + 1
7

Soluçao. Como x2 − 2x + 1 = (x − 1)2 , pela proposição 2, existem A, B ∈ R tais que


x+1 A B
2 = + .
x − 2x + 1 x − 1 (x − 1)2
Agora,
x+1 A B
2 = +
x − 2x + 1 x − 1 (x − 1)2
x+1 A · (x − 1) + B
⇐⇒ 2 =
x − 2x + 1 (x − 1)2
x+1 Ax + (−A + B)
⇐⇒ 2 =
x − 2x + 1 x2 − 2x + 1
⇐⇒ x + 1 = Ax + (−A + B)
⇐⇒ A = 1 e − A + B = 1 ⇐⇒ A = 1 e B = 2.
Assim,
x+1 1 2
2 = +
x − 2x + 1 x − 1 (x − 1)2
e, portanto,
Z Z  
x+1 1 2
2 dx = + dx
x − 2x + 1 x − 1 (x − 1)2
Z Z
1
= dx + 2 (x − 1)−2 dx
x−1
(x − 1)−1
= ln(|x − 1|) + 2 · +C
−1
2
= ln(|x − 1|) − + C.
x−1
Alternativamente, temos a seguinte solução.
x−1+2
Z Z
x+1
2 dx = dx
x − 2x + 1 x2 − 2x + 1
x−1
Z Z
2
= 2 dx + 2 dx
x − 2x + 1 x − 2x + 1
2x − 2
Z Z
1
= 2 dx + 2 (x − 1)−2 dx
2 x − 2x + 1
1 2 (x − 1)−1
= ln(|x − 2x + 1|) + 2 +C
2 −1
1 2
= ln(|(x − 1)2 |) − +C
2 x−1
1 2
= ln(|x − 1|2 ) − +C
2 x−1
2
= ln(|x − 1|) − + C.
x−1

8

Proposição 3. Sejam p(x) e q(x) funções polinomiais reais sem fatores lineares, e sem fatores
quadráticos irredutı́veis, em comum, com Grau(p) < Grau(q) = n + 2m. Se
q(x) = (x − a1 ) · · · · · (x − an ) · (x2 + b1 x + c1 ) · · · · · (x2 + bm x + cm ),
onde
a1 , . . . , an ∈ R são distintos dois a dois,
(b1 , c1 ), . . . , (bm , cm ) ∈ R2 são distintos dois a dois e
(x2 + b1 x + c1 ), . . . , (x2 + bm x + cm ) não possuem raı́zes reais,
então existem únicos A1 , . . . , An , B1 , C1 , . . . , Bm , Cm ∈ R tais que
p(x) A1 An B1 x + C1 Bm x + Cm
= + ... + + 2 + ... + 2 .
q(x) x − a1 x − an x + b 1 x + c 1 x + bm x + c m
A proposição 3 diz, por exemplo, que existem constantes A, B, C ∈ R tais que
x−1 A Bx + C
2 = + 2 ,
(x + 1) · (x + 4) x+1 x +4
existem constantes E, F, G, H, I, J ∈ R tais que
1 E F Gx + H Ix + J
2 2 = + + 2 + 2
x · (x + 3) · (x + 1) · (x + x + 1) x x+3 x +4 x +x+1
e existem constantes K, L, M, N ∈ R tais que
2x + 1 Kx + L M x + N
2 2 = 2 + 2 .
(x + 1) · (x + 3) x +1 x +3
Exemplo 6. Como resolver a integral indefinida
2x2 + x + 3
Z
dx?
x3 + x2 + x + 1
Soluçao. Primeiro observe que
x3 + x2 + x + 1 = x2 · (x + 1) + 1 · (x + 1) = (x + 1) · (x2 + 1).
Assim, existem constantes A, B, C ∈ R tais que
2x2 + x + 3 A Bx + C
3 2 = + 2 .
x +x +x+1 x+1 x +1
Agora,
2x2 + x + 3 A Bx + C
3 2 = + 2
x +x +x+1 x+1 x +1
2 2
2x + x + 3 A · (x + 1) + (Bx + C) · (x + 1)
⇐⇒ 3 2 =
x +x +x+1 (x + 1) · (x2 + 1)
2x2 + x + 3 (A + B)x2 + (B + C)x + A + C
⇐⇒ 3 =
x + x2 + x + 1 x3 + x2 + x + 1
⇐⇒ 2x2 + x + 3 = (A + B)x2 + (B + C)x + A + C
⇐⇒ A + B = 2, B + C = 1 e A + C = 3
⇐⇒ A = 2, B = 0 e C = 1.
9

Assim,

2x2 + x + 3 2 1
3 2 = + 2
x +x +x+1 x+1 x +1

e, portanto,

2x2 + x + 3
Z Z  
2 1
dx = + dx
x3 + x2 + x + 1 x + 1 x2 + 1
Z Z
1 1
= 2 dx + 2 dx
x+1 x +1
= 2 ln(|x + 1|) + arctg(x) + C.

Exemplo 7. Como resolver a integral indefinida

4x3 + 5x + 3
Z
dx?
x4 + x2 − 2

Soluçao. Primeiro observe que

x4 + x2 − 2 = x4 + 2x2 − x2 − 2
= x2 · (x2 + 2) − 1 · (x2 + 2)
= (x2 − 1) · (x2 + 2)
= (x − 1) · (x + 1) · (x2 + 2).

Daı́ existem constantes A, B, C, D ∈ R tais que

4x3 + 5x + 3 A B Cx + D
4 2 = + + 2 .
x +x −2 x−1 x+1 x +2
10

Agora,

4x3 + 5x + 3 A B Cx + D
4 2 = + + 2
x +x −2 x−1 x+1 x +2
3
4x + 5x + 3 
⇐⇒ 4 = A · (x + 1) · (x2 + 2) + B · (x − 1) · (x2 + 2) +
x + x2 − 2 . 
(Cx + D) · (x − 1)(x + 1) (x − 1) · (x + 1) · (x2 + 2)
4x3 + 5x + 3 
⇐⇒ 4 2 = (A + B + C)x3 + (A − B + D)x2 + (2A + 2B − C)x +
x +x −2 . 
4 2
(2A − 2B − D) x +x −2
⇐⇒ 4x3 + 5x + 3 = (A + B + C)x3 + (A − B + D)x2 + (2A + 2B − C)x +
2A − 2B − D
⇐⇒ A + B + C = 4, A − B + D = 0, 2A + 2B − C = 5 e
2A − 2B − D = 3
⇐⇒ 2A + 2B + 2C = 8, 2A − 2B + 2D = 0, 2A + 2B − C = 5 e
2A − 2B − D = 3
⇐⇒ 3C = 3, 3D = 3, A + B + C = 4 e A − B + D = 0
⇐⇒ C = 1, D = −1, A + B = 3 e A − B = 1
⇐⇒ A = 2, B = 1, C = 1 e D = −1.

Assim,

4x3 + 5x + 3 2 1 x−1
4 2 = + + 2
x +x −2 x−1 x+1 x +2
11

e, portanto,
4x3 + 5x + 3
Z  
x−1
Z
2 1
dx = + + dx
x4 + x 2 − 2 x − 1 x + 1 x2 + 2
x−1
Z Z Z
2 1
= dx + dx + dx
x−1 x+1 x2 + 2
Z Z
1 1
= 2 dx + dx +
x−1 x+1
Z Z
x 1
2 dx − 2 dx
x +2 x +2
Z Z
1 1
= 2 dx + dx +
x−1 x+1
Z Z
1 1 1
2 · 2x dx − √ dx
2 x +2 x + ( 2)2
2

1
= 2 ln(|x − 1|) + ln(|x + 1|) + ln(|x2 + 2|) −
  2
1 x
√ arctg √ +C
2 2

 

2
 1 x
= ln (x − 1) · |x + 1| · x + 2 − √ arctg √
2 + C.
2 2

Exemplo 8. Como resolver a integral indefinida
Z 4
x + 6x2 − x + 6
dx?
x3 + 3x
Soluçao. Primeiro observe que
Grau(x4 + 6x2 − x + 6) > Grau(x3 + 3x).
Neste caso, é necessário dividir o polinômio numerador pelo polinônio denominador obtendo,
assim,
x4 + 6x2 − x + 6 = x · (x3 + 3x) + (3x2 − x + 6).
Daı́,
x4 + 6x2 − x + 6 x · (x3 + 3x) + (3x2 − x + 6)
=
x3 + 3x x3 + 3x
x · (x3 + 3x) 3x2 − x + 6
= +
x3 + 3x x3 + 3x
3x2 − x + 6
= x+ .
x3 + 3x
Como x3 + 3x = x · (x2 + 3), existem constantes A, B, C ∈ R tais que
3x2 − x + 6 A Bx + C
3 = + 2 .
x + 3x x x +3
12

Agora,
3x2 − x + 6 A Bx + C
3 = + 2
x + 3x x x +3
2
3x − x + 6 A · (x2 + 3) + (Bx + C) · x
⇐⇒ =
x3 + 3x x · (x2 + 3)
3x2 − x + 6 (A + B)x2 + Cx + 3A
⇐⇒ =
x3 + 3x x · (x3 + 3x)
⇐⇒ 3x2 − x + 6 = (A + B)x2 + Cx + 3A
⇐⇒ A + B = 3, C = −1 e 3A = 6
⇐⇒ A = 2, B = 1 e C = −1.
Assim,
3x2 − x + 6 2 x−1
3 = + 2
x + 3x x x +3
e, portanto,
x4 + 6x2 − x + 6 2 x−1
3 =x+ + 2 .
x + 3x x x +3
Logo,
x4 + 6x2 − x + 6
Z  
x−1
Z
2
dx = x+ + 2 dx
x3 + 3x x x +3
x−1
Z Z Z
2
= x dx + dx + dx
x x2 + 3
Z Z Z
1 1 1
= x dx + 2 dx + 2 · 2x dx
x 2 x +3
Z
1
− √ dx
x + ( 3)2
2

x2
 
1 2 1 x
= + 2 ln(|x|) + ln(x + 3) − √ arctg √ +C
2 2 3 3
x2 √
 

2
 1 x
= + ln x · x + 3 − √ arctg √
2 + C.
2 3 3

AULA 11
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula continua com a quarta, e final, parte das técnicas de integração, de funções racionais,
por decomposição em frações parciais.
Proposição 1. Sejam p(x) e q(x) funções polinomiais reais sem fatores lineares, e sem fatores
quadráticos irredutı́veis, em comum, com Grau(p) < Grau(q) = n + 2m. Se
q(x) = (x − a1 )α1 · · · · · (x − an )αn · (x2 + b1 x + c1 )β1 · · · · · (x2 + bm x + cm )βm ,
onde
a1 , . . . , an ∈ R são distintos dois a dois,
(b1 , c1 ), . . . , (bm , cm ) ∈ R2 são distintos dois a dois e
(x2 + b1 x + c1 ), . . . , (x2 + bm x + cm ) não possuem raı́zes reais,
então existem únicos
A11 , . . . , A1α1 , . . . , An1 , . . . , Anαn ∈ R
e
B11 , C11 , . . . , B1β1 , C1β1 , . . . , Bm1 , Cm1 , . . . , Bmβm , Cmβm ∈ R
tais que
P (x) A11 A1α1 An1 Anαn
= + ... + α
+ ... + + ... + +
Q(x) x − a1 (x − a1 ) 1 x − an (x − an )αn
B11 + C11 x B1β + C1β1 x
2
+ ... + 2 1 + ...+
x + b1 x + c 1 (x + b1 x + c1 )β1
Bm1 + Cm1 x Bmβ + Cmβm x
2
+ ... + 2 m .
x + bm x + c m (x + bm x + cm )βm
A proposição 1 diz, por exemplo, que existem constantes A, B, C, D, E, F ∈ R tais que
x−1 A B Cx + D Ex + F
2 2 2 = + 2 + 2 + 2 ,
(x + 1) · (x + 4) x + 1 (x + 1) x +4 (x + 4)2
existem constantes G, H, I, J, K, L, M ∈ R tais que
1 G Hx + I Jx + K Lx + M
2 3 = + 2 + 2 2 +
(x + 3) · (x + x + 1) x + 3 x + x + 1 (x + x + 1) (x + x + 1)3
2

e existem constantes N, O, P, Q, R, S ∈ R tais que


2x + 1 Nx + O Px + Q Rx + S
2 2 2 = 2 + 2 2 + .
(x + 1) · (x + 3) x +1 (x + 1) x2 + 3
Exemplo 1. Como resolver a integral indefinida
x2 − x + 1
Z
dx?
x4 + 2x2 + 1

1
2

Soluçao. Primeiro observe que


x4 + 2x2 + 1 = (x2 + 1)2 .
Daı́, pela proposição 1, existem constantes A, B, C, D ∈ R tais que
x2 − x + 1 Ax + B Cx + D
4 2 = 2 + 2 .
x + 2x + 1 x +1 (x + 1)2
Agora,
x2 − x + 1 Ax + B Cx + D
4 2 = 2 + 2
x + 2x + 1 x +1 (x + 1)2
x2 − x + 1 (Ax + B) · (x2 + 1) + (Cx + D)
⇐⇒ =
x4 + 2x2 + 1 (x2 + 1)2
x2 − x + 1 Ax3 + Bx2 + (A + C)x + B + D
⇐⇒ =
x4 + 2x2 + 1 x4 + 2x2 + 1
⇐⇒ x2 − x + 1 = Ax3 + Bx2 + (A + C)x + B + D
⇐⇒ A = 0, B = 1, A + C = −1 e B + D = 1
⇐⇒ A = 0, B = 1, C = −1 e D = 0.
Portanto,
x2 − x + 1 1 x
4 2 = 2 − 2 .
x + 2x + 1 x + 1 (x + 1)2
Deste modo,
x2 − x + 1
Z Z  
1 x
dx = − dx
x4 + 2x2 + 1 x2 + 1 (x2 + 1)2
Z Z
1 x
= 2 dx − dx
x +1 (x + 1)2
2
Z Z
1 1 1
= 2 dx − · 2x dx
x +1 2 (x + 1)2
2

1 1
= arctg(x) + · 2 + C.
2 x +1

Exemplo 2. Como resolver a integral indefinida
Z
1
dx?
(x − 1) · (x2 + 2)2
Soluçao. Pela proposição 1, existem contantes A, B, C, D, E ∈ R tais que
1 A Bx + C Dx + E
2 2 = + 2 + 2 .
(x − 1) · (x + 2) x−1 x +2 (x + 2)2
3

Agora,

1 A Bx + C Dx + E
2 2 = + 2 + 2
(x − 1) · (x + 2) x−1 x +2 (x + 2)2
1 A · (x2 + 2)2 (Bx + C) · (x − 1) · (x2 + 2)
⇐⇒ = + +
(x − 1) · (x2 + 2)2 (x − 1) · (x2 + 2)2 (x − 1) · (x2 + 2)2
(Dx + E) · (x − 1)
(x − 1) · (x2 + 2)2
1 (A + B)x4 + (C − B)x3 + (4A + 2B − C + D)x2
⇐⇒ = +
(x − 1) · (x2 + 2)2 (x − 1) · (x2 + 2)2
(−2B + 2C − D + E)x + (4A − 2C − E)
(x − 1) · (x2 + 2)2
⇐⇒ 1 = (A + B)x4 + (C − B)x3 + (4A + 2B − C + D)x2 +
(−2B + 2C − D + E)x + (4A − 2C − E)
⇐⇒ A + B = 0, C − B = 0, 4A + 2B − C + D = 0,
(−2B + 2C − D + E) = 0 e (4A − 2C − E) = 1
⇐⇒ A + B = 0, C − B = 0, 2A − C + D = 0,
− D + E = 0 e 4A − 2C − E = 1
⇐⇒ A + B = 0, C − B = 0, 2A − C + D = 0, −D + E = 0 e − 2D − E = 1
⇐⇒ D = −1/3, E = −1/3, A + B = 0, C − B = 0 e 2A − C = 1/3
⇐⇒ A = 1/9, B = −1/9, C = −1/9, D = −1/3 e E = −1/3.

Assim,

1 1 1 1 x+1 1 x+1
2 2 = · − · 2 − · 2
(x − 1) · (x + 2) 9 x − 1 9 x + 2 3 (x + 2)2
4

e, portanto,

Z Z Z
1 1 1 1 x+1
2 2 dx = dx − dx −
(x − 1) · (x + 2) 9 x−1 9 x2 + 2
Z
1 x+1
dx
3 (x2 + 2)2
Z
1 1 1
= ln(|x − 1|) − 2 · 2x dx −
9 18 x +2
Z Z
1 1 1 1
√ dx − · 2x dx −
9 x2 + ( 2)2 6 (x + 2)2
2
Z
1 1
dx
3 (x + 2)2
2
 
1 1 2 1 x
= ln(|x − 1|) − ln(x + 2) − √ arctg √ +
9 18 9 2 2
Z
1 1 1 1
· 2 − dx.
6 x +2 3 (x + 2)2
2


Em separado, com x = 2 tg(θ), tem-se


dx = 2 sec2 (θ)dθ, x2 + 2 = 2 sec2 (θ)

e, deste modo,

Z
1
Z
1 √
dx = · 2 sec2 (θ) dθ
(x + 2)2
2 4
4 sec (θ)
√ Z √ Z
2 1 2
= 2 dθ = cos2 (θ) dθ
4 sec (θ) 4
√ Z
2
= (1 + cos(2θ)) dθ
8
√ √
2 2
= ·θ+ · sen(2θ) + C
√8 16

2 2
= ·θ+ · sen(θ) · cos(θ) + C
√8 8
  √ √
2 x 2 x 2
= · arctg √ + ·√ ·√ +C
8 2 8 x2 + 2 x2 + 2
√  
2 x 1 x
= · arctg √ + · 2 + C.
8 2 4 x +2
5

Portanto, voltando à integral original, tem-se


Z  
1 1 1 2 1 x
dx = ln(|x − 1|) − ln(x + 2) − √ arctg √ +
(x − 1) · (x2 + 2)2 9 18 9 2 2
Z
1 1 1 1
· 2 − dx
6 x +2 3 (x + 2)2
2
  √  
1 |x − 1| 2 x 1 1
= ln √ − arctg √ + · 2
9 x2 + 2 18 2 6 x +2
√  
2 x 1 x
− arctg √ − · 2 +C
24 2 12 x + 2
  √  
1 |x − 1| 7 2 x 1 1
= ln √ + arctg √ + · 2
9 2
x +2 72 2 6 x +2
1 x
− · 2 + C.
12 x + 2

Exemplo 3. Como resolver a integral indefinida
Z
1
3 dx?
x −1
Soluçao. Primeiro, observe que
x3 − 1 = (x − 1) · (x2 + x + 1).
Daı́ existem constantes A, B, C ∈ R tais que
1 A Bx + C
3 = + 2 .
x −1 x−1 x +x+1
Agora,
1 A Bx + C
3= + 2
x −1 x−1 x +x+1
1 A · (x2 + x + 1) + (Bx + C) · (x − 1)
⇐⇒ 3 =
x −1 (x − 1) · (x2 + x + 1)
1 (A + B)x2 + (A − B + C)x + (A − C)
⇐⇒ 3 =
x −1 x3 − 1
⇐⇒ A + B = 0, A − B + C = 0 e A − C = 1
⇐⇒ A + B = 0, A − C = 1 e A = 1/3
⇐⇒ A = 1/3, B = −1/3 e C = −2/3.
Assim,
1 1 1 1 x+2
3 = · − · 2
x −1 3 x−1 3 x +x+1
6

e, portanto,

Z Z Z
1 1 1 1 x+2
3 dx = dx − 2 dx
x −1 3 x−1 3 x +x+1
Z
1 2x + 4
= ln(|x − 1|) − 2 dx
6 x +x+1
Z
1 2x + 1 + 3
= ln(|x − 1|) − dx
6 x2 + x + 1
Z Z
1 2x + 1 1 3
= ln(|x − 1|) − 2 dx − 2 dx
6 x +x+1 6 x +x+1
Z
1 1 1
= ln(|x − 1|) − ln(x2 + x + 1) − 2 dx
6 2

1 3
x+ +
2 4
 
|x − 1|
Z
1 1
= ln √ 6
− √ !2 dx
x2 + x + 1 2 
1
2
3
x+ +
2 2
 
1
x + 2 
 
|x − 1| 1 2
= ln √ 6
− · √ · arctg  √ +C
2
x +x+1 2 3  3 

   2
|x − 1| 1 2x + 1
= ln √ 6
− √ · arctg √ + C.
x2 + x + 1 3 3

Exemplo 4. Como resolver a integral indefinida

2x2 − x + 2
Z
dx?
x5 + 2x3 + x

Soluçao. Primeiro, observe que

x5 + 2x3 + x = x · (x4 + 2x2 + 1) = x · (x2 + 1)2 .

Assim, existem constantes A, B, C, D, E ∈ R tais que

2x2 − x + 2 A Bx + C Dx + E
5 3 = + 2 + 2 .
x + 2x + x x x +1 (x + 1)2
7

Agora,
2x2 − x + 2 A Bx + C Dx + E
5 3 = + 2 + 2
x + 2x + x x x +1 (x + 1)2
2x2 − x + 2 A · (x2 + 1)2 (Bx + C) · x · (x2 + 1)
⇐⇒ 5 = + +
x + 2x3 + x x · (x2 + 1)2 x · (x2 + 1)2
(Dx + E) · x
x · (x2 + 1)2
⇐⇒ 2x2 − x + 2 = (A + B)x4 + Cx3 + (2A + B + C)x2 + (C + E)x + A
⇐⇒ A + B = 0, C = 0, 2A + B + D = 2, C + E = −1 e A = 2
⇐⇒ A = 2, B = −2, C = 0, D = 0 e E = −1.
Assim,
2x2 − x + 2 2 2x 1
5 3 = − 2 − 2 ,
x + 2x + x x x + 1 (x + 1)2
e, portanto,
2x2 − x + 2
Z Z Z Z
1 2x 1
dx = 2 dx − dx − dx
x5 + 2x3 + x x 2
x +1 (x + 1)2
2
Z
2 1
= 2 ln(|x|) − ln(x + 1) − dx
(x + 1)2
2

x2
  Z
1
= ln 2 − dx
x +1 (x + 1)2
2

Em separado, com x = tg(θ) tem-se


dx = sec2 (θ)dθ e x2 + 1 = sec2 (θ)
e, assim,
Z Z Z
1 1 2 1
dx = · sec (θ) dθ = dθ
(x + 1)2
2 4
sec (θ) sec2 (θ)
Z Z
2 1
= cos (θ) dθ = (1 + cos(2θ)) dθ
2
1 1 1 1
= · θ + · sen(2θ) = · θ + · sen(θ) · cos(θ)
2 4 2 2
1 1 1 x
= · arctg(x) + · √ ·√
2 2 x2 + 1 x2 + 1
1 1 x
= · arctg(x) + · 2 + C.
2 2 x +1
Retornando à integral indefinida orginal, tem-se
2x2 − x + 2 x2
Z  
1 1 x
5 3 dx = ln 2 − · arctg(x) − · 2 + C.
x + 2x + x x +1 2 2 x +1

8

Exemplo 5. Como resolver a integral indefinida

x3
Z
dx?
x3 + 1

Soluçao. Incialmente, divide-se x3 por x3 + 1 otendo

x3 1
3 =1− 3 .
x +1 x +1

Agora, observe que

x3 + 1 = x3 − (−1)3 = (x + 1) · (x2 − x + 1).

Daı́, existem constantes A, B, C ∈ R tais que

1 A Bx + C
3 = + 2 .
x +1 x+1 x −x+1

Agora,

1 A Bx + C
3 = + 2
x +1 x+1 x −x+1
1 A · (x2 − x + 1) + (Bx + C) · (x + 1)
⇐⇒ =
x3 + 1 (x + 1) · (x2 − x + 1)
1 (A + B)x2 + (−A + B + C)x + A
⇐⇒ =
x3 + 1 x3 + 1
⇐⇒ 1 = (A + B)x2 + (−A + B + C)x + A + C
⇐⇒ A + B = 0, −A + B + C = 0 e A + C = 1
⇐⇒ A = 1/3, B = −1/3 e C = 2/3.

Deste modo,

1 1 1 1 −x + 2
3 = · + · 2
x +1 3 x+1 3 x −x+1

x3 1 1 1 −x + 2
3 =1− · − · 2 .
x +1 3 x+1 3 x −x+1
9

Portanto,
x3 x−2
Z Z Z Z
1 1 1
3 dx = 1 dx − dx + 2 dx
x +1 3 x+1 3 x −x+1
2x − 4
Z
1 1
= x − · ln(|x + 1|) + 2 dx
3 6 x −x+1
2x − 1 − 3
Z
1 1
= x − · ln(|x + 1|) + dx
3 6 x2 − x + 1
2x − 1 −3
Z Z
1 1 1
= x − · ln(|x + 1|) + 2 dx + 2 dx
3 6 x −x+1 6 x −x+1
Z
1 1 2 1 1
= x − · ln(|x + 1|) + ln(x − x + 1) − √ dx
3 6 2 (x − 1/2) + ( 3/2)2
2
√6
! !
x2 − x + 1 1 2 x − 1/2
= x + ln p − · √ · arctg √ +C
3
|x + 1| 2 3 3/2
√6
!  
x2 − x + 1 1 2x − 1
= x + ln p
3
− √ · arctg √ + C.
|x + 1| 3 3

AULA 12
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Nesta aula aborda-se o método para resolver integrais indefinidas de funções racionais de
seno e cosseno, as quais são integrais do tipo
Z Z
sen(x) 1
dx dx
sen(x) + cos(x) 1 − sen(x) + cos(x)
Z Z
1 1
dx dx
sen(x) + tg(x) 1 sen(x) + 2 cos(x) + 3
A técnica consiste em transformar a integral indefinida da função racional de seno e coseno,
na variável x, na integral indefinida de uma função racional, na variável z, via mudança
z = tg(x/2).
Assim,
 x x x
sen(x) = sen 2 · = 2 · sen · cos
 2x  2 2
sen x x 1
= 2·  x2  · cos2 = 2 · tg ·
2 x
 
cos 2 2 sec
x 2 2
2 · tg 2z
= 2x  = ,
1 + tg2 1 + z2
2
 x x x x
cos(x) = cos 2 · = cos2 − sen2 = 2 · cos2 −1
2 2 2 2
1 2
= 2·   −1=   −1
2 x 2 x
sec 1 + tg
2x  2
2
1 − tg 2
= x2 = 1 − z
1 + tg2 1 + z2
2
e
x 1 1 2 x
 
2
dz = sec · dx = 1 + tg dx,
2 2 2 2
isto é
2
dx = dz.
1 + z2
Resumindo, com z = tg(x/2), tem-se
2z 1 − z2 2
sen(x) = 2 , cos(x) = 2 e dx = dz.
1+z 1+z 1 + z2

1
2

Memorize a mudança de variável e as três fórmulas para efetuar a mudança de variável na


integral indefinida.
Exemplo 1. Como resolver a integral indefinida
Z
1
dx?
1 − sen(x) + cos(x)
Soluçao. Com z = tg(x/2), tem-se
2z 1 − z2 2
sen(x) = 2 , cos(x) = 2 e dx = dz.
1+z 1+z 1 + z2
Assim,
Z Z
1 1 2
dx = 2 · dz
1 − sen(x) + cos(x) 2z 1−z 1 + z2
1− 2 +
Z 1+z 1 + z2
1 2
= 2 · dz
1 + z − 2z + 1 − z 1 + z 2
2

Z 1 + z 2Z
2 1
= dz = dz
2 − 2z 1−z
Z
1
= − dz = − ln(|z − 1|) + C
z−1
 x 
= − ln tg − 1 + C.
2

Exemplo 2. Como resolver a integral indefinida
Z
1
dx?
5 + 4 cos(x)
Soluçao. Com z = tg(x/2), tem-se
2z 1 − z2 2
sen(x) = 2 , cos(x) = 2 e dx = dz.
1+z 1+z 1 + z2
Assim,
Z Z
1 1 2
dx = 2 · dz
5 + 4 cos(x) 1 − z 1 + z2
5+4·
Z 1 + z2
1 2
= 2 · dz
5 + 5z + 4 − 4z 1 + z 2
2

Z 1 + z2
1 2 z 
= 2 dz = · arctg +C
9 + z2 3 3
 
2 tg(x/2)
= · arctg + C.
3 3
3


Exemplo 3. Como resolver, pelo método desta aula, a integral indefinida
Z
sec(x) dx?

Soluçao. Com z = tg(x/2), tem-se


2z 1 − z2 2
sen(x) = 2 , cos(x) = 2 e dx = dz.
1+z 1+z 1 + z2
Assim,
Z Z Z
1 1 2
sec(x) dx = dx = 2 · dz
cos(x) 1 − z 1 + z2
1 + z2  
Z
1 1 z+1
= 2 dz = 2 · · ln +C
1 − z2 2 z−1
 
tg(x/2) + 1
= ln + C.
tg(x/2) − 1
Como verificação, não deixe de observar que
sen(x/2)
+1
tg(x/2) + 1 cos(x/2) sen(x/2) + cos(x/2)
= =
tg(x/2) − 1 sen(x/2) sen(x/2) − cos(x/2)
−1
cos(x/2)
sen(x/2) + cos(x/2) sen(x/2) + cos(x/2)
= ·
sen(x/2) − cos(x/2) sen(x/2) + cos(x/2)
sen2 (x/2) + 2 · sen(x/2) · cos(x/2) + cos2 (x/2)
=
sen2 (x/2) − cos2 (x/2)
1 + sen(x)
= − = −(sec(x) + tg(x))
cos(x)
e, deste modo,
Z
sec(x) dx = ln(| sec(x) + tg(x)|) + C,

que dá a fórmula já conhecida. 


Exemplo 4. Como resolver a integral indefinida
Z
sen(2x)
dx?
2 + cos(x)
Soluçao. No caso deste exemplo é melhor não utilizar a técnica desta aula. Veja que
sen(x) · cos(x)
Z Z
sen(2x)
dx = 2 dx
2 + cos(x) 2 + cos(x)
Z
cos(x)
= −2 · (− sen(x)) dx.
2 + cos(x)
4

Como a mudança u = cos(x) tem-se


Z Z Z  
sen(2x) u 2
dx = −2 du = −2 1− du
2 + cos(x) 2+u 2+u
= −2u + 4 ln |2 + u| + C
= −2 cos(x) + 4 ln(|2 + cos(x)|) + C
= −2 cos(x) + 4 ln(2 + cos(x)) + C.

Atenção: tente pelo método desta aula e veja aonde chega! 

Exemplo 5. Como resolver a integral indefinida


Z
1
dx?
tg(x) − 1

Soluçao. Com z = tg(x/2), tem-se

2z 1 − z2 2
sen(x) = 2 , cos(x) = 2 e dx = dz.
1+z 1+z 1 + z2

Assim,
Z Z Z
1 1 cos(x)
dx = dx = dx
tg(x) − 1 sen(x) sen(x) − cos(x)
−1
cos(x)
1 − z2
Z
1 + z2 2
= 2 · dz
2z 1 − z 1 + z2

1 + z2 1 + z2
1 − z2
Z
2
= · dz
z + 2z − 1 1 + z 2
2

1 − z2
Z
= 2 dz
(z 2 + 2z − 1) · (1 + z 2 )

Perceba que
√ √
(z 2 + 2z − 1) · (1 + z 2 ) = (z + 1 − 2) · (z + 1 + 2) · (z 2 + 1).

Daı́, existem constantes A, B, C, D ∈ R tais que

1 − z2 A B Cz + D
2 2 =
√ + √ + 2 .
(z + 2z − 1) · (1 + z ) z+1− 2 z+1+ 2 z +1
5

Agora
1 − z2 A B Cz + D
2 2 =
√ + √ + 2
(z + 2z − 1) · (1 + z ) z+1− 2 z+1+ 2 z +1
2
√ 2
1−z A · (z + 1 + 2) · (z + 1)
⇐⇒ 2 2 = +
(z + 2z − 1) · (1 + z ) (z 2 + 2z − 1) · (1 + z 2 )

B · (z + 1 − 2) · (z 2 + 1)
+
(z 2 + 2z − 1) · (1 + z 2 )
(Cz + D) · (z 2 + 2z − 1)
(z 2 + 2z − 1) · (z 2 + 1)
√ √
⇐⇒ 1 − z 2 = (A + B + C)z 3 + ((1 + 2)A + (1 − 2)B + 2C + D)z 2
√ √
+ (A + B − C + 2D)z + ((1 + 2)A + (1 − 2)B − D)


 A+B √ + C = 0, √
(1 + 2)A + (1 − 2)B + 2C + D = −1,

⇐⇒

 A+B √ − C + 2D =√0 e
(1 + 2)A + (1 − 2)B − D = 1



 A+B √ + C = 0, √
(1 + 2)A + (1 − 2)B + 2C + D = −1,

⇐⇒

 2C − 2D = 0 e
2C + 2D = −2


 C = −1/2, D = −1/2,
⇐⇒ A+B √ = 1/2 e √
(1 + 2)A + (1 − 2)B = 1/2,

⇐⇒ A = 1/4, B = 1/4, , C = −1/2 e D = −1/2.


Portanto,
1 − z2 1 1 1 1 1 z+1
2 2 = · √ + · √ − · 2
(z + 2z − 1) · (1 + z ) 4 z+1− 2 4 z+1+ 2 2 z +1
e, assim,
1 − z2
Z Z Z
1 1 1 1
2 2 dz =
√ dz + √ dz
(z + 2z − 1) · (1 + z ) 4 z+1− 2 4 z+1+ 2
Z Z
1 2z 1 1
− 2 dz − 2 dz
4 z +1 2 z +1
1 √ 1 √
= · ln(|z + 1 − 2|) + · ln(|z + 1 + 2|)
4 4
1 1
− ln(z 2 + 1) − arctg(z) + C
4 2
2
1 |z + 2z − 1| 1
= · ln 2 − arctg(z) + C.
4 z +1 2
6

Retornanto à integral indefinida original, tem-se


1 − z2
Z Z
1
dx = 2 dz
tg(x) − 1 (z 2 + 2z − 1) · (1 + z 2 )
 2 
1 |z + 2z − 1|
= · ln − arctg(z) + C
2 z2 + 1
 2 
1 | tg (x/2) + 2 tg(x/2) − 1|
= · ln − arctg(tg(x/2)) + C
2 tg2 (x/2) + 1
 2 
1 | tg (x/2) + 2 tg(x/2) − 1| x
= · ln 2 − + C.
2 tg (x/2) + 1 2

Exercı́cio 1. Resolva as integrais indefinidas abaixo relacionadas.
Z
1
∗ dx
Z 5 + 4 cos(x)
1
∗ dx
Z 3 − 5 sen(x)
1
∗ dx
Z cos(x) − sen(x) + 1
1
∗ dx
Z sen(x) − cos(x) + 2
1
∗ dx
Z sen(x) + tg(x)
1
∗ dx
Z tg(x) − 1
8
∗ dx
Z 3 cos(2x) + 1
cos(x)
∗ dx
Z 3 cos(x) − 5
5
∗ dx
Z 6 + 4 sec(x)
1
∗ dx
Z sen(x) − tg(x)
1
∗ dx
2 sen(x) + 2 cos(x) + 3
AULA 13
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula introduz o estudo das funções hiperbólicas, com suas definições, gráficos e pro-
priedades. Adiante, será justificado o ajetivo hiperbólico para estas funções. Para o que segue,
lembre que
ex > 1 se x > 0, 0 < ex < 1 se x < 0,
lim ex = +∞ e lim ex = 0+
x→+∞ x→−∞

Definição 1. A função seno hiperbólico é a função denotada por senh onde


? seu domı́nio é dado por Dsenh = R,
? seu contradomı́nio é dado por Csenh = R e
? sua lei de formação é dada por
x −x
e −e
senh(x) = qualquer que seja x ∈ R.
2
Definição 2. A função cosseno hiperbólico é a função denotada por cosh onde
? seu domı́nio é dado por Dcosh = R,
? seu contradomı́nio é dado por Ccosh = R e
? sua lei de formação é dada por
x −x
e +e
cosh(x) = qualquer que seja x ∈ R.
2
Das definições 1 e 2, seguem as seguintes propriedades.
∗ Tem-se senh(0) = 0 e
ex − e−x e−x ·(e2x −1)
senh(x) = = ∀x ∈ R.
2 2
Assim, como (e2x −1) > 0 se x > 0 e (e2x −1) < 0 se x < 0, segue que
senh(x) > 0 se x > 0 e senh(x) < 0 se x < 0.
∗ Tem-se cosh(0) = 1 e, dado x ∈ R,
(ex/2 − e−x/2 )2 ≥ 0, isto é, ex + e−x ≥ 2.
Logo,
ex + e−x
≥ 1, ou seja, cosh(x) ≥ 1.
2
∗ Dado x ∈ R, tem-se
e−x − e−(−x) e−x − ex ex − e−x
senh(−x) = = =− = − senh(x) e
2 2 2
e−x + e−(−x) e−x + ex ex + e−x
cosh(−x) = = = = cosh(x).
2 2 2
Isto diz que a função senh é ı́mpar e a função cosh é par.

1
2

∗ Dado x ∈ R, tem-se
− e−x < e−x , o que dá − e−x + ex < e−x + ex .
Logo,
ex − e−x ex + e−x
< , ou seja, senh(x) < cosh(x).
2 2
Daı́,
senh(−x) < cosh(−x), isto é, − senh(x) < cosh(x).
Assim,
− cosh(x) < senh(x) < cosh(x).
∗ A função seno hiperbólico é de classe C ∞ em R com
ex + e−x
senh0 (x) = = cosh(x) ∀x ∈ R,
2
Daı́, senh é estritamente crescente em R.
∗ A função cosseno hiperbólico é de classe C ∞ em R com
ex − e−x
cosh0 (x) = = senh(x) ∀x ∈ R.
2
Daı́, cosh é estritamente crescente em [0, +∞) e é estritamente decrescente em (−∞, 0].
∗ Das duas propriedades anteriores segue que
senh00 (x) = senh(x) ∀x ∈ R e cosh00 (x) = cosh(x) ∀x ∈ R.
Logo, senh é estritamente côncava em (−∞, 0], senh é estritamente convexa em [0, +∞)
e cosh é estritamente convexa em R.
∗ Dado x ∈ R, tem-se
2  x 2
e + e−x e − e−x
 x
2 2
cosh (x) − senh (x) = −
2 2
e2x +2 + e−2x e2x −2 + e−2x
= −
4 4
2 2
= + = 1,
4 4
ou seja,
cosh2 (x) − senh2 (x) = 1.
Isto diz que, dado x ∈ R, como cosh(x) ≥ 1, o par ordenado (cosh(x), senh(x))
pertence ao ramo direito da hipérbole de equação
u2 − v 2 = 1
no plano cartesino, conforme a figura 1.
∗ Como
lim ex = +∞, lim ex = 0, lim e−x = 0 e lim e−x = +∞,
x→+∞ x→−∞ x→+∞ x→−∞
3

F IGURA 1. Hipérbole unitária.

segue que

ex − e−x
lim senh(x) = lim = +∞,
x→+∞ x→+∞ 2
e − e−x
x
lim senh(x) = lim = −∞,
x→−∞ x→−∞ 2
e + e−x
x
lim cosh(x) = lim = +∞ e
x→+∞ x→+∞ 2
e + e−x
x
lim cosh(x) = lim = +∞.
x→−∞ x→−∞ 2

Articulando as informações, obtidas até aqui, obtem-se os gráficos de senh e cosh como
mostrados na figura 2.
∗ Dado x ∈ R,

cosh(x) + senh(x) = ex e cosh(x) − senh(x) = e−x .


4

F IGURA 2. Gráficos das funções senh e cosh.

Daı́, dados x, y ∈ R,

e(x+y) − e−(x+y) 1
= · ex+y − e−x−y =

senh(x + y) =
2 2
1
= · ex · ey − e−x · e−y

2
1   
= · cosh(x) + senh(x) · cosh(y) + senh(y)
2
 
− cosh(x) − senh(x) · cosh(y) − senh(y)
1 
= · cosh(x) · cosh(y) + cosh(x) · senh(y)
2
+ senh(x) · cosh(y) + senh(x) · senh(y)
− cosh(x) · cosh(y) + cosh(x) · senh(y)

+ senh(x) · cosh(y) − senh(x) · senh(y)
= senh(x) · cosh(y) + cosh(x) · senh(y),

ou seja,

senh(x + y) = senh(x) · cosh(y) + cosh(x) · senh(y).


5

Além disso,
e(x+y) + e−(x+y) 1
= · ex+y + e−x−y =

cosh(x + y) =
2 2
1
= · ex · ey + e−x · e−y

2
1   
= · cosh(x) + senh(x) · cosh(y) + senh(y)
2
 
+ cosh(x) − senh(x) · cosh(y) − senh(y)
1 
= · cosh(x) · cosh(y) + cosh(x) · senh(y)
2
+ senh(x) · cosh(y) + senh(x) · senh(y)
+ cosh(x) · cosh(y) − cosh(x) · senh(y)

− senh(x) · cosh(y) + senh(x) · senh(y)
= cosh(x) · cosh(y) + senh(x) · senh(y),
ou seja,
cosh(x + y) = cosh(x) · cosh(y) + senh(x) · senh(y).
∗ Do conjunto anterior de propriedades, dado x ∈ R, tem-se
senh(2x) = 2 · senh(x) · cosh(x) e cosh(2x) = cosh2 (x) + senh2 (x).
Assim, como 1 = cosh2 (x) − senh2 (x), segue-se que
2 · cosh2 (x) = cosh(2x) + 1 e 2 · senh2 (x) = cosh(2x) − 1.
Logo,
cosh(2x) + 1 cosh(2x) − 1
cosh2 (x) = e senh2 (x) = .
2 2
∗ Veja que
Z Z
senh(x) dx = cosh(x) + C e cosh(x) dx = senh(x) + C.

Exemplo 1. Como encontrar a derivada da função f definida por


f (x) = senh(x2 − 2x + 1)?
Soluçao. Pela Regra da Cadeia e pelas propriedades demonstradas, tem-se
f 0 (x) = cosh(x2 − 2x + 1) · (2x − 2).

Exemplo 2. Como encontrar a derivada da função g definida por
g(x) = log10 (cosh(x3 − ex ))?
6

Soluçao. Pela Regra da Cadeia e pelas propriedades demonstradas, tem-se


1
g 0 (x) = 3 x · senh(x3 − ex ) · (3x2 − ex ).
cosh(x − e ) · ln(10)

Observação 1. Como
senh0 (x) = cosh(x) ∀x ∈ R,
cosh0 (x) = senh(x) ∀x ∈ R,
1 = cosh2 (x) − senh2 (x) ∀x ∈ R,
cosh(2x) + 1
cosh2 (x) = e
2
cosh(2x) − 1
senh2 (x) = ,
2
as técnicas de integração para resolução das integrais indefinidas
Z
senm (x) · cosn (x) dx, onde m, n ∈ N,

de modo análogo, funcionam para resolução das integrais indefinidas


Z
senhm (x) · coshn (x) dx, onde m, n ∈ N,

Exemplo 3. Como resolver a integral indefinida


Z
senh3 (x) · cosh2 (x) dx?

Soluçao. Veja que


Z Z
3 2
senh (x) · cosh (x) dx = senh2 (x) · cosh2 (x) · senh(x) dx
Z
= (cosh2 (x) − 1) · cosh2 (x) · senh(x) dx.

Com a mudança de variável u = cosh(x) tem-se du = senh(x)dx e, assim,


Z Z
3 2
senh (x) · cosh (x) dx = (cosh2 (x) − 1) · cosh2 (x) · senh(x) dx
Z Z
= (u − 1) · u du = (u4 − u2 ) du
2 2

u5 u3
= − +C
5 3
cosh5 (x) cosh3 (x)
= − + C.
5 3

7

Exemplo 4. Como resolver a integral indefinida


Z
senh2 (x) · cosh2 (x) dx?

Soluçao. Tem-se
Z    
cosh(2x) − 1
Z
2 2 cosh(2x) + 1
senh (x) · cosh (x) dx = · dx
2 2
Z
1
= (cosh2 (2x) − 1) dx
4
Z Z
1 2 1
= cosh (2x) dx − 1 dx
4 4
Z   Z
1 cosh(4x) + 1 1
= dx − 1 dx
4 2 4
Z Z Z
1 1 1
= cosh(4x) dx + 1 dx − 1 dx
8 8 4
senh(4x) x x
= + − +C
32 8 4
senh(4x) x
= − +C
32 8

Definição 3. A função tangente hipérbólica é a função denotada por tgh e definida por
senh
tgh := .
cosh
Desta definição, seguem as seguintes propriedades.
∗ O domı́nio da tangente hiperbólica é dado por Dtgh = R. Além disso,
ex − e−x
senh(x) ex − e−x
tgh(x) = = x 2 −x = x em cada x ∈ R
cosh(x) e +e e + e−x
2
e, assim, tgh(0) = 0, tgh(x) < 0 se x < 0 e tgh(x) > 0 se x > 0.
∗ Dado x ∈ R, já foi demonstrado que
− cosh(x) < senh(x) < cosh(x).
Assim, sendo cosh(x) > 0,
senh(x)
−1 < < 1, isto é, − 1 < tgh(x) < 1.
cosh(x)
e, portanto, | tgh(x)| < 1.
∗ Como
lim ex = +∞ e lim ex = 0,
x→+∞ x→−∞
8

segue que
ex − e−x 1 − e−2x 1
lim tgh(x) = lim
x −x = lim −2x = =1 e
x→+∞ x→+∞ e + e x→+∞ 1 + e 1
x −x 2x
e −e e −1 −1
lim tgh(x) = lim x −x = lim 2x = = −1.
x→−∞ x→−∞ e + e x→−∞ e +1 1
Definição 4. A função secante hipérbólica é a função denotada por sech e definida por
1
sech := .
cosh
Desta definição seguem as seguintes propriedades.
∗ O domı́nio da secante hiperbólica é dado por Dsech = R. Além disso,
1 1 2
sech(x) = = x −x = x ∀x ∈ R
cosh(x) e +e e + e−x
2
e, assim, sech(0) = 1.
∗ Como cosh(x) ≥ 1 qualquer que seja x ∈ R, tem-se
0 < sech(x) ≤ 1 ∀x ∈ R.
∗ Como
lim cosh(x) = +∞ e lim cosh(x) = +∞,
x→+∞ x→−∞
tem-se
lim sech(x) = 0+ e lim sech(x) = 0+ .
x→+∞ x→−∞

∗ Dado x ∈ R, como
cosh2 (x) − senh2 (x) = 1,
tem-se
1 − tgh2 (x) = sech2 (x).
∗ Como
senh
tgh = ,
cosh
a função tangente hiperbólica é diferenciável valendo
senh0 (x) · cosh(x) − senh(x) · cosh0 (x)
tgh0 (x) =
cosh2 (x)
cosh(x) · cosh(x) − senh(x) · senh(x)
=
cosh2 (x)
cosh2 (x) − senh2 (x) 1
= 2 = 2 = sech2 (x) ∀x ∈ R.
cosh (x) cosh (x)
Sendo assim, a função tangente hiperbólica é estritamente crescente em R.
9

∗ Como
1
sech = ,
cosh
a função secante hiperbólica é diferenciável valendo
cosh0 (x) senh(x)
sech0 (x) = − 2 =−
cosh (x) cosh2 (x)
1 senh(x)
= − ·
cosh(x) cosh(x)
= − sech(x) · tgh(x) ∀x ∈ R.

Deste modo a secante hiperbólica é estritamente crescente em (−∞, 0] e é estritamente


decrescente em [0, +∞).
Articulando essas informações, tem-se os gráficos da tangente hiperbólica e da secante hi-
perbólica nas figuras 3 e 4 respectivamente.

F IGURA 3. Gráfico da função tangente hiperbólica.

F IGURA 4. Gráfico da função secante hiperbólica.


10

Observação 2. Como
tgh0 (x) = sech2 (x) ∀x ∈ R,
sech0 (x) = − sech(x) · tgh(x) ∀x ∈ R e
sech2 (x) = 1 − tgh2 (x) ∀x ∈ R,
as técnicas de integração para resolução das integrais indefinidas
Z
tgm (x) · secn (x) dx, onde m, n ∈ N,

de modo análogo, funcionam para resolução das integrais indefinidas


Z
tghm (x) · sechn (x) dx, onde m, n ∈ N,

Exemplo 5. Como resolver a integral indefinida


Z
tgh2 (x) · sech4 (x) dx?

Soluçao. Veja que


Z Z
2 4
tgh (x) · sech (x) dx = tgh2 (x) · sech2 (x) · sech2 (x) dx
Z
= tgh2 (x) · (1 − tgh2 (x)) · sech2 (x) dx

Com a mudança u = tgh(x), tem-se du = sech2 (x)dx e, assim,


Z Z
2 4
tgh (x) · sech (x) dx = u2 · (1 − u2 ) du
Z
= (u2 − u4 ) du

u3 u5
= − +C
3 5
tgh3 (x) tgh5 (x)
= − + C.
3 5

AULA 14
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Definição 1. A função cotangente hipérbólica é a função denotada por ctgh e definida por
cosh
ctgh := .
senh
Desta definição, seguem as seguintes propriedades.
∗ O domı́nio da cotangente hiperbólica é dado por
Dctgh = { x ∈ R | senh(x) 6= 0 } = R∗ .
Além disso,
ex + e−x
cosh(x) ex + e−x
ctgh(x) = = x 2 −x = x em cada x 6= 0.
senh(x) e −e e − e−x
2
∗ Já foi demonstrado que
senh(x)
−1 < < 1 em cada x ∈ R.
cosh(x)
Assim,
cosh(x) cosh(x)
< −1 se x < 0 e > 1 se x > 0,
senh(x) senh(x)
isto é,
ctgh(x) < −1 se x < 0 e ctgh(x) > 1 se x > 0.
Portanto, | ctgh(x)| > 1 qualquer que seja x 6= 0.
∗ Como
lim ex = +∞ e lim ex = 0,
x→+∞ x→−∞
segue que
ex + e−x 1 + e−2x 1
lim ctgh(x) = xlim −x = lim −2x = = 1+ e
x→+∞ x→+∞ e − e x→+∞ 1 − e 1
x −x 2x
e +e e +1 1
lim ctgh(x) = lim x −x = lim 2x = = −1− .
x→−∞ x→−∞ e − e x→−∞ e −1 −1
Além disso, como
lim cosh(x) = 1, lim+ senh(x) = 0+ e lim− senh(x) = 0− ,
x→0 x→0 x→0
tem-se
cosh(x)
lim+ ctgh(x) = lim+ = +∞ e
x→0 x→0 senh(x)

cosh(x)
lim− ctgh(x) = lim− = −∞.
x→0 x→0 senh(x)

1
2

Definição 2. A função cossecante hipérbólica é a função denotada por csch e definida por
1
csch := .
senh
Desta definição, seguem as seguintes propriedades.
∗ O domı́nio da cossecante hiperbólica é dado por
Dcsch = { x ∈ R | senh(x) 6= 0 } = R∗ .
Além disso,
1 1 2
csch(x) = = x −x = x ∀x 6= 0,
senh(x) e −e e − e−x
2
csch(x) < 0 se x < 0 e csch(x) > 0 se x > 0.
∗ Como
lim senh(x) = +∞, lim senh(x) = −∞,
x→+∞ x→−∞

lim senh(x) = 0 +
e lim− senh(x) = 0− ,
x→0+ x→0

tem-se
1
lim csch(x) = lim = 0+ ,
x→+∞ x→+∞ senh(x)

1
lim csch(x) = lim = 0− ,
x→−∞ x→−∞ senh(x)

1
lim+ csch(x) = lim+ = +∞ e
x→0 x→0 senh(x)
1
lim− csch(x) = lim− = −∞.
x→0 x→0 senh(x)

∗ Como
cosh
ctgh = ,
senh
a função cotangente hiperbólica é diferenciável valendo
0 cosh0 (x) · senh(x) − cosh(x) · senh0 (x)
ctgh (x) =
senh2 (x)
senh(x) · senh(x) − cosh(x) · cosh(x)
=
senh2 (x)
senh2 (x) − cosh2 (x) 1
= 2 =− = − csch2 (x) ∀x 6= 0.
senh (x) senh2 (x)
Sendo assim, a função cotangente hiperbólica é estritamente decrescente em (−∞, 0)
e é estritamente decrescente em (0, +∞). Articulando as diversas informações sobre a
funcão cotangente hiperbólica, até aqui obtidas, obtem-se o seu gráfico como o mostrado
na figura 1.
3

F IGURA 1. Gráfico da função cotangente hiperbólica.

∗ Como
1
csch = ,
senh
a função cossecante hiperbólica é diferenciável valendo
senh0 (x) cosh(x)
csch0 (x) = − 2 =−
senh (x) senh2 (x)
1 cosh(x)
= − ·
senh(x) senh(x)
= − csch(x) · ctgh(x) ∀x 6= 0.
Sendo assim, a função cossecante hiperbólica é estritamente decrescente em (−∞, 0)
e é estritamente decrescente em (0, +∞). Articulando as diversas informações sobre a
funcão cotangente hiperbólica, até aqui obtidas, obtem-se o seu gráfico como o mostrado
na figura 2.
Exercı́cio 1. Estude a concavidade das funções hiperbólicas.
A função seno hiperbólico, senh : R −→ R, é estritamente crescente em R e, assim, ela é
injetiva. Além disso, como
lim senh(x) = +∞ e lim senh(x) = −∞,
x→+∞ x→−∞
4

F IGURA 2. Gráfico da função cossecante hiperbólica.

tem-se, pelo Teorema do Valor Intermediário, que senh é sobrejetiva. Portanto, senh é in-
vertı́vel.
Definição 3. A função inversa da função senh : R −→ R é denominada função arco seno
hiperbólico, sendo denotada por arcsenh.

F IGURA 3. Gráfico da função arco seno hiperbólico.


5

Desta definição, seguem as seguintes propriedades.


∗ O domı́nio da função arcsenh é o conjunto Darcsenh = R.
∗ O contradomı́nio da função arcsenh é o conjunto Carcsenh = R.
∗ arcsenh(senh(x)) = x qualquer que seja x ∈ R.
∗ senh(arcsenh(x)) = x qualquer que seja x ∈ R.
∗ Sintetizando as duas últimas observações, dados x, y ∈ R, tem-se

y = arcsenh(x) ⇐⇒ x = senh(y).

∗ arcsenh(0) = 0, pois senh(0) = 0.


∗ A função arco seno hiperbólico é contı́nua.
Observe com atenção a definição da função arco seno hiperbólico e suas propriedades!

Proposição 1. A função arco seno hiperbólico, arcsenh : R −→ R, é diferenciável valendo


1
arcsenh0 (x) = √ qualquer que seja x ∈ R.
x2 +1
Demonstração. Dado x ∈ R, tem-se arcsenh(x) ∈ R e, portanto, a função senh é diferenciável
em arcsenh(x) com

senh0 (arcsenh(x)) = cosh(arcsenh(x)) ≥ 1.

Daı́, pelo Teorema da Função Inversa, a função arcsenh é diferenciável em x com


1
arcsenh0 (x) = 0
senh (arcsenh(x))
1
=
cosh(arcsenh(x))
1
= q
senh2 (arcsenh(x)) + 1
1
= p
(senh(arcsenh(x))2 + 1
1
= √ .
2
x +1
Assim, fica provado que a função arcsenh é diferenciável em R valendo
1
arcsenh0 (x) = √ ∀x ∈ R,
x2 + 1
e, portanto,
Z
1
√ dx = arcsenh(x) + C.
x2 + 1

6

Por outro lado, com x = tg(u), tem-se dx = sec2 (u)du e, deste modo,
Z Z Z
1 1 2
√ dx = · sec (u) du = sec(u) du
x2 + 1 sec(u)
= ln | sec(u) + tg(u)| + C

= ln(| x2 + 1 + x|) + C

= ln( x2 + 1 + x) + C.
Daı́, existe uma constante C ∈ R tal que

arcsenh(x) = ln( x2 + 1 + x) + C ∀x ∈ R.
Em particular, √
arcsenh(0) = ln( 02 + 1 + 0) + C, isto é, C = 0.
Logo, √
arcsenh(x) = ln( x2 + 1 + x) ∀x ∈ R.
A função cosseno hiperbólico, cosh : R −→ R, não é injetiva nem sobrejetiva e, portanto,
não é invertı́vel. Entretanto, a função
icosh : [0, +∞) −→ [1, +∞),
dada por
icosh(x) = cosh(x) ∀x ∈ [0, +∞),
é injetiva, pois cosh é estritamente crescente em [0, +∞). Além disso, como icosh é contı́nua,
icosh(0) = 1 e lim icosh(x) = lim cosh(x) = +∞,
x→+∞ x→+∞

tem-se, pelo Teorema do Valor Intermediário, que icosh é sobrejetiva. Logo, icosh é invertı́vel.
Definição 4. A função inversa da função icosh : [0, +∞) −→ [1, +∞) é denominada função
arco cosseno hiperbólico, sendo denotada por arccosh.

F IGURA 4. Gráfico da função arco cosseno hiperbólico.

Desta definição, seguem as seguintes propriedades.


7

∗ O domı́nio da função arccosh é o conjunto Darccosh = [1, +∞).


∗ O contradomı́nio da função arccosh é o conjunto Carccosh = [0, +∞).
∗ arccosh(icosh(x)) = arccosh(cosh(x)) = x qualquer que seja x ∈ [0, +∞).
∗ icosh(arccosh(x)) = cosh(arccosh(x)) = x qualquer que seja x ∈ [1, +∞).
∗ Sintetizando as duas últimas observações, dados x ∈ [1, +∞) e y ∈ [0, +∞), tem-se

y = arccosh(x) ⇐⇒ x = cosh(y).

∗ arccosh(1) = 0, pois icosh(0) = cosh(0) = 1.


∗ A função arco cosseno hiperbólico é contı́nua.
Observe com atenção a definição da função arco cosseno hiperbólico e suas proprieda-
des!

Proposição 2. A função arco cosseno hiperbólico, arccosh : [1, +∞) −→ [0, +∞), é dife-
renciável em (1, +∞) valendo
1
arccosh0 (x) = √ qualquer que seja x ∈ (1, +∞).
x2 − 1
Demonstração. Dado x ∈ (1, +∞), tem-se arccosh(x) ∈ (0, +∞) e, portanto, a função icosh
é diferenciável em arccosh(x) com

icosh0 (arccosh(x)) = cosh0 (arccosh(x)) = senh(arccosh(x)) > 0.

Daı́, pelo Teorema da Função Inversa, a função arccosh é diferenciável em x com


1
arccosh0 (x) = 0
icosh (arccosh(x))
1
=
senh(arccosh(x))
1
= q
cosh2 (arccosh(x)) − 1
1
= p
(cosh(arccosh(x))2 − 1
1
= √ .
x2 − 1
Assim, fica provado que a função arccosh é diferenciável em (1, +∞) valendo
1
arccosh0 (x) = √ ∀x ∈ (1, +∞),
x2 −1
e, portanto,
Z 
1 arccosh(x) + C1 se x > 1,
√ dx =
x2 − 1 − arccosh(−x) + C2 se x < −1.

8

Por outro lado, com x = sec(u), tem-se dx = sec(u) · tg(u)du e, assim,


Z Z
1 1
√ dx = · sec(u) · tg(u) du
x2 − 1 tg(u)
Z
= sec(u) du = ln(| sec(u) + tg u|) + C

= ln(|x + x2 − 1|) + C.
Deste modo, existe uma constante C ∈ R tal que

arccosh(x) = ln(|x + x2 − 1|) + C ∀x ∈ [1, +∞),
isto é, √
arccosh(x) = ln(x + x2 − 1) + C ∀x ∈ [1, +∞).
Em particular, √
arccosh(1) = ln(1 + 12 − 1) + C, ou seja, C = 0.
Portanto, √
arccosh(x) = ln(x + x2 − 1) ∀x ∈ [1, +∞).
Observação 1. As funções hiperbólicas senh e cosh são dadas em termos da função exponen-
cial, enquanto que as funções hipebólicas inversas arcsenh e arccosh são dadas em termos da
função logaritmo natural, o que não deve ser uma surpresa.
AULA 15
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

A função tangente hiperbólica, tgh : R −→ R, é injetiva mas não é sobrejetiva. Entretanto, a


função itgh : R −→ (−1, 1), dada por
itgh(x) = tgh(x) qualquer que seja x ∈ R,
além de injetiva, é sobrejetiva, pois ela é contı́nua,
lim itgh(x) = 1− e lim itgh(x) = −1+ .
x→+∞ x→−∞

Portanto, ela é invertı́vel.


Definição 1. A função inversa da função itgh : R −→ (−1, 1) é denominada função arco
tangente hiperbólica, sendo denotada por arctgh.

F IGURA 1. Gráfico da função arco tangente hiperbólica.

Desta definição, seguem as seguintes propriedades.


∗ O domı́nio da função arctgh é o conjunto Darctgh = (−1, 1).
∗ O contradomı́nio da função arctgh é o conjunto Carctgh = R.
∗ arctgh(itgh(x)) = arctgh(tgh(x)) = x qualquer que seja x ∈ R.
∗ itgh(arctgh(x)) = tgh(arctgh(x)) = x qualquer que seja x ∈ (−1, 1).
∗ Sintetizando as duas últimas observações, dados x ∈ (−1, 1) e y ∈ R, tem-se
y = arctgh(x) ⇐⇒ x = tgh(y).

1
2

∗ arctgh(0) = 0, pois itgh(0) = tgh(0) = 0.


∗ A função arco tangente hiperbólica, arctgh : (−1, 1) −→ R, é contı́nua.
Proposição 1. A função arco tangente hiperbólica, arctgh : (−1, 1) −→ R, é diferenciável
valendo
1
arctgh0 (x) = qualquer que seja x ∈ (−1, 1).
1 − x2
Demonstração. Dado x ∈ (−1, 1), tem-se arctgh(x) ∈ R e, portanto, a função itgh é dife-
renciável em arcctgh(x) com
itgh0 (arcctgh(x)) = tgh0 (arcctgh(x)) = sech2 (arcctgh(x)) > 0.
Daı́, pelo Teorema da Função Inversa, a função arctgh é diferenciável em x com
1
arctgh0 (x) = 0
itgh (arctgh(x))
1
= 0
tgh (arctgh(x))
1
= 2
sech (arctgh(x))
1
= 2
1 − tgh (arctgh(x))
1
=
1 − (tgh(arctgh(x)))2
1
= .
1 − x2
Assim, fica provado que a função arctgh é diferenciável em (−1, 1) valendo
1
arctgh0 (x) = qualquer que seja x ∈ (−1, 1).
1 − x2

Observe que
Z  
1 1 1+x
dx = ln + C.
1 − x2 2 1−x
Deste modo existe uma constante C ∈ R tal que
 
1 1+x
arctgh(x) = ln + C ∀x ∈ (−1, 1),
2 1−x
ou seja,
 
1 1+x
arctgh(x) = ln + C ∀x ∈ (−1, 1),
2 1−x
pois
1+x
> 0 qualquer que seja x ∈ (−1, 1).
1−x
3

Assim, em particular,
 
1 1+0
arctgh(0) = ln , isto é, C = 0.
2 1−0
Portanto,
 
1 1+x
arctgh(x) = ln ∀x ∈ (−1, 1).
2 1−x
A função cotangente hiperbólica, ctgh : R∗ −→ R, é injetiva mas não é sobrejetiva. Entre-
tanto, a função
ictgh : R∗ −→ (−∞, −1) ∪ (1, +∞),
dada por
ictgh(x) = ctgh(x) qualquer que seja x 6= 0,
é injetiva e sobrejetiva. Logo ictgh é invertı́vel.
Definição 2. A função inversa da função ictgh : R∗ −→ (−∞, −1) ∪ (1, +∞) é denominada
função arco cotangente hiperbólica, sendo denotada por arcctgh.

F IGURA 2. Gráfico da função arco cotangente hiperbólica

Desta definição, seguem as seguintes propriedades.


∗ O domı́nio da função arcctgh é o conjunto (−∞, −1) ∪ (1, +∞).
∗ O contradomı́nio da função arcctgh é o conjunto R∗ .
∗ arcctgh(ictgh(x)) = arcctgh(ctgh(x)) = x qualquer que seja x ∈ R∗ .
∗ ictgh(arcctgh(x)) = ctgh(arcctgh(x)) = x
qualquer que seja x ∈ (−∞, −1) ∪ (1, +∞).
4

∗ Sintetizando as duas últimas observações, dados


x ∈ (−∞, −1) ∪ (1, +∞) e y ∈ R∗ ,
tem-se
y = arcctgh(x) ⇐⇒ x = ctgh(y).
∗ A função arco cotangente hiperbólica, arcctgh : (−∞, −1) ∪ (1, +∞) −→ R∗ , é
contı́nua.
Proposição 2. Dado x ∈ (−∞, −1) ∪ (1, +∞),
 
1
arcctgh(x) = arctgh .
x
Demonstração. Dado x ∈ (−∞, −1) ∪ (1, +∞), tem-se
 
1 1 1
∈ (−1, 1), 6= 0, arctgh 6= 0,
x x x
e, portanto,
 
1
arcctgh(x) = arcctgh
1/x
 
1
= arcctgh
tgh(arctgh(1/x))
= arcctgh (ctgh(arctgh(1/x)))
 
1
= arctgh .
x

Corolário 1. A função arco cotangente hiperbólica é diferenciável valendo
1
arcctgh0 (x) = qualquer que seja x ∈ (−∞, −1) ∪ (1, +∞).
1 − x2
Demonstração. Dado x ∈ (−∞, −1) ∪ (1, +∞), tem-se, pela proposição 2 e pela Regra da
Cadeia, que arcctgh é diferenciável em x valendo
   
0 0 1 1
arcctgh (x) = arctgh · − 2
x x
1 1
= − ·
1 − (1/x)2 x2
1 1 1 1
= − · 2 =− 2 = 2.
1 x x − 1 1 − x
1− 2
x

Observe agora que

Z
1  arcctgh(x) + C1 se x < −1,
dx = arctgh(x) + C2 se − 1 < x < 1,
1 − x2  arcctgh(x) + C se x > 1.
3
5

Corolário 2. Dado x ∈ (−∞, −1) ∪ (1, +∞) tem-se


 
1 x+1
arcctgh(x) = ln .
2 x−1
Demonstração. Dado x ∈ (−∞, −1) ∪ (1, +∞) tem-se, pela proposição 2 que
1
 
1 1 + x 
 
1
arcctgh(x) = arctgh = ln
x 2 1
1−
x
x+1
 
 
1  x  1 x+1
= ln = ln .
2 x−1 2 x−1
x


A função sech : R −→ R não é injetiva nem sobrejetiva. Entretanto, a função


isech : [0, +∞) −→ (0, 1],
dada por
isech(x) = sech(x) qualquer que seja x ∈ [0, +∞),
é injetiva e sobrejetiva. Portanto, isech é invertı́vel.
Definição 3. A função inversa da função isech : [0, +∞) −→ (0, 1] é denominada função arco
secante hiperbólica, sendo denotada por arcsech.
Desta definição, seguem as seguintes propriedades.
∗ O domı́nio da função arcsech é o conjunto (0, 1].
∗ O contradomı́nio da função arcsech é o conjunto [0, +∞).
∗ arcsech(isech(x)) = arcsech(sech(x)) = x qualquer que seja x ∈ [0, +∞)
∗ isech(arcsech(x)) = sech(arcsech(x)) = x qualquer que seja x ∈ (0, 1].
∗ Sintetizando as duas últimas observações, dados x ∈ (0, 1] e y ∈ [0, +∞) tem-se
y = arcsech(x) ⇐⇒ x = sech(y).
∗ arcsech(1) = 0 pois isech(0) = sech(0) = 1.
∗ A função arco secante hiperbólica, arcsech : (0, 1] −→ [0, +∞), é contı́nua.
Proposição 3. Dado x ∈ (0, 1],
 
1
arcsech(x) = arccosh .
x
Demonstração. Dado x ∈ (0, 1] tem-se
 
1 1
∈ [1, +∞), arccosh ∈ [0, +∞)
x x
6

F IGURA 3. Gráfico da função arco secante hiperbólica.

e, portanto,

 
1
arcsech(x) = arcsech
1/x
 
1
= arcsech
cosh(arccosh(1/x))
= arcsech (sech(arccosh(1/x)))
 
1
= arccosh .
x

Corolário 3. A função arco secante hiperbólica é diferenciável em (0, 1) valendo

1
arcsech0 (x) = − √ qualquer que seja x ∈ (0, 1).
x· 1 − x2
7

Demonstração. Dado x ∈ (0, 1), tem-se pela proposicão 3 e pela Regra da Cadeia, que arcsech
é diferenciável em x valendo
   
0 0 1 1
arcsech (x) = arccosh · − 2
x x
1 1
= −p · 2
(1/x)2 − 1 x
1 1 1 1
= −r · 2 = −s · 2
1 x x
1 − x2
2 −1
x x2
1 1 1
= −√ · 2 =− √ .
1 − x2 x x · 1 − x2
x

Deste corolário, segue que
Z
1
√ dx = − arcsech(|x|) + C.
x · 1 − x2
Corolário 4. Dado x ∈ (0, 1],
√ !
1+ 1− x2
arcsech(x) = ln .
x

Demonstração. Dado x ∈ (0, 1), tem-se pela proposicão 3 que


 s  
  2
1 1 1
arcsech(x) = arccosh = ln + − 1
x x x
r !  s 
2
1 1 1 1−x 
= ln + 2 −1 = ln +
x x x x2
√ ! √ !
1 1 − x2 1 + 1 − x2
= ln + = ln .
x x x

A função cossecante hiperbólica, csch : R∗ −→ R é injetiva, mas não é sobrejetiva. Entre-
tanto, a função icsch : R∗ −→ R∗ , dada por
icsch(x) = csch(x) qualquer que seja x ∈ R∗ ,
é injetiva e sobrejetiva. Portanto, icsch é invertı́vel.
Definição 4. A função inversa da função icsch : R∗ −→ R∗ é denominada função arco cose-
cante hiperbólica, sendo denotada por arccsch.
Desta definição seguem as seguintes propriedades.
8

F IGURA 4. Gráfico da função arcocossecante hiperbólica.

∗ O domı́nio da função arccsch é o conjunto R∗ .


∗ O contradomı́nio da função arccsch é o conjunto R∗ .
∗ arccsch(icsch(x)) = arccsch(csch(x)) = x qualquer que seja x ∈ R∗
∗ icsch(arccsch(x)) = csch(arccsch(x)) = x qualquer que seja x ∈ R∗ .
∗ Sintetizando as duas últimas observações, dados x, y ∈ R∗ tem-se

y = arccsch(x) ⇐⇒ x = csch(y).

∗ A função arco cossecante hiperbólica, arccsch : R∗ −→ R∗ , é contı́nua.

Proposição 4. Dado x ∈ R∗ ,
 
1
arccsch(x) = arcsenh .
x

Demonstração. Dado x ∈ R∗ tem-se


 
1 1
∈ R∗ , arcsenh ∈ R∗
x x
9

e, portanto,
 
1
arccsch(x) = arccsch
1/x
 
1
= arccsch
senh(arcsenh(1/x))
= arccsch (csch(arcsenh(1/x)))
 
1
= arcsenh .
x

Corolário 5. A função arco cossecante hiperbólica é diferenciável valendo

1
arccsch0 (x) = − √ qualquer que seja x ∈ R∗ .
|x| · 1 + x 2

Demonstração. Dado x ∈ R∗ , tem-se pela proposicão 4 e pela Regra da Cadeia, que arccsch é
diferenciável em x valendo
   
0 0 1 1
arccsch (x) = arcsenh · − 2
x x
1 1
= −p · 2
(1/x)2 + 1 x
1 1 1 1
= −r · 2 = −s · 2
1 x x
+ 1 1 + x2
x2 x2
1 1 1
= −√ · 2 =− √ .
1 + x2 |x| |x| · 1 + x2
|x|

Deste corolário segue que


Z 
1 − arccsch(x) se x > 0,
√ dx =
x · 1 − x2 arccsch(x) se x < 0.

Corolário 6. Dado x ∈ R∗ ,
√ !
1 1 − x2
arccsch(x) = ln + .
x |x|
10

Demonstração. Dado x ∈ R∗ , tem-se pela proposicão 3 que


 s  
  2
1 1 1
arccsch(x) = arcsenh = ln + + 1
x x x
r !  s 
2
1 1 1 1+x 
= ln + 2 +1 = ln +
x x x x2
√ !
1 1 + x2
= ln + .
x |x|

Dado x > 0, seja Ω1 a região esboçada na figura 5. A área da região Ω1 é dada por
Z cosh(x) √
|Ω1 | = u2 − 1 du.
1
Com a mudança de variável u = cosh(z), onde z ≥ 0, tem-se
√ q q
du = senh(z)dz, u − 1 = cosh (z) − 1 = senh2 (z) = senh(z), z = arccosh(u)
2 2

e, portanto,
Z cosh(x) √
|Ω1 | = u2 − 1 du
1
arccosh(cosh(x)) x
cosh(2z) − 1
Z Z
2
= senh (z) dz = dz
arccosh(1) 0 2
  x
senh(2z) z senh(2x) x
= − = −
4 2 0 4 2
senh(x) · cosh(x) x
= − .
2 2
Assim, a área do “setor hiperbólico” Ω é dado por
|Ω| = área(∆OP Q) − |Ω1 |
 
senh(x) · cosh(x) senh(x) · cosh(x) x x
= − − = .
2 2 2 2
Temos, portanto, uma analogia ao que ocorre no cı́rculo trigonométrico, onde a área do setor
circular, correspondente ao ângulo de medida x radianos, é ı́gual a x/2.
11

F IGURA 5. Área do setor hiperbólico Ω é x/2.


AULA 16
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Sejam I um intervalo e f uma função contı́nua em I. Dados a, b ∈ I, com a < b, o segmento


de gráfico da funçao f , do ponto (a, f (a)) ao ponto (b, f (b)) ou, dito simplesmente, ao longo
do intervalo [a, b], é o conjunto denotado por
b b
Gf e definido por Gf := { (x, y) | a ≤ x ≤ b e y = f (x) } .
a a
O objetivo desta aula é definir o comprimento deste segmento, no caso em que f é função de
classe C 1 em I, bem como apresentar uma fórmula para o seu cálculo.
Dada uma partição de P = (x0 , x1 , . . . , xn ) de [a, b], seja HP a poligonal ligando, em
sequência, os (n + 1) pontos
(a, f (a)) = (x0 , f (x0 )), (x1 , f (x1 )), . . . , (xn , f (xn )) = (b, f (b)),
conforme a figura 1.

b
F IGURA 1. Segmento de gráfico Gf e poligonal HP .
a

O comprimento desta poligonal é dado por


p
|HP | = (x1 − x0 )2 + (f (x1 ) − f (x0 ))2 +
p
(x2 − x1 )2 + (f (x2 ) − f (x1 ))2 +
··· +
p
(xn − xn−1 )2 + (f (xn ) − f (xn−1 ))2 .
É razoável estimar o comprimento do segmento de gráfico de f , ao longo de [a, b], pelo compri-
mento de HP , no caso em que P é uma partiçao fina, isto é, no caso em que a norma de P é um
número próximo de zero em relação ao comprimento de [a, b]. Além disso, sendo f de classe
C 1 em I, pelo Teorema do Valor Médio, existem n números reais
c1 ∈ (x0 , x1 ), c2 ∈ (x1 , x2 ), . . . , cn ∈ (xn−1 , xn ),

1
2

tais que
f (x1 ) − f (x0 ) = f 0 (c1 ) · (x1 − x0 ),
f (x2 ) − f (x1 ) = f 0 (c2 ) · (x2 − x1 ),
··· ,
f (xn ) − f (xn−1 = f 0 (cn ) · (xn − xn−1 ).
e, portanto,
p
|HP | = (x1 − x0 )2 + (f 0 (c1 ))2 · (x1 − x0 )2 +
p
(x2 − x1 )2 + (f 0 (c2 ))2 · (x2 − x1 )2 +
··· +
p
(xn − xn−1 )2 + (f 0 (cn ))2 · (xn − xn−1 )2 ,
isto é,
p p
|HP | = 1 + (f 0 (c1 ))2 · ∆x1 + · · · + 1 + (f 0 (cn ))2 · ∆xn
Xn Xp
p
= 1 + (f 0 (ci ))2 · ∆xi =: 1 + (f 0 (ci ))2 · ∆xi .
i=1 P

Assim, HP torna-se uma Soma de Riemann da função g, sobre o intervalo [a, b], relativa à
partição P com coeficientes c1 , . . . , cn , onde g : I −→ R é a função contı́nua dada por
p
g(x) = 1 + (f 0 (x))2 qualquer que seja x ∈ I.
Deste modo, g é integrável a Riemman em [a, b], ou seja, existe
Z bp Xp
1 + (f 0 (x))2 dx := lim 1 + (f 0 (ci ))2 · ∆xi = lim |HP |.
a |P|→0 |P|→0
P

Daı́, a seguinte definição.


Definição 1. Sejam I um intervalo e f uma função de classe C 1 em I. Dados a, b ∈ I, com
a < b, o comprimento do segmento de gráfico de f , ao longo de [a, b], é o número real denotado
por
b b
Z bp
Lf e definido por Lf := 1 + (f 0 (x))2 dx.
a a a

Exemplo 1. Como encontrar o comprimento do segmento de gráfico da função f , dada por


f (x) = x2 , ao longo do intervalo [0, 1]?
Soluçao. Pela definição 1, tem-se
1
Z 1p Z 1 p
Lf := 0 2
1 + (f (x)) dx = 1 + (2x)2 dx.
0 0 0
Com a mudança u = 2x, tem-se du = 2dx e, assim,
1 √
Z p Z Z
2
1 p 2
1 + (2x) dx = 1 + (2x) · 2 dx = 1 + u2 du.
2 2
3

Com a mudança u = tg(θ) tem-se



du = sec2 (θ)dθ, 1 + u2 = sec(θ)

e, assim,
Z √ Z Z
2
1+ u2 du = sec(θ) · sec (θ) dθ = sec3 (θ) dθ
1 1
= sec(θ) · tg(θ) + ln(| sec(θ) + tg(θ)|) + C
2 2
1 √ 1 √
= u 1 + u2 + ln(|u + 1 + u2 |) + C
2 2
1 √ 1 √
= u 1 + u2 + ln(u + 1 + u2 ) + C.
2 2
Portanto, voltando ao objetivo principal,

1 2√
1
Z
Lf = 1 + u2 du
0 2 0
2
1 √ √
 
2
1 2
= u 1 + u + ln(u + 1 + u )
4 4 0
1√ 1 √
= 5 + ln(2 + 5) u.c.
2 4


Exemplo 2. Como encontrar o comprimento do segmento de gráfico da função g, dada por


g(x) = cosh(x), ao longo do intervalo [0, 2]?

Soluçao. Pela definição, 1 tem-se

2
Z 2 p Z 2 q
Lg = 1+
dx = (g 0 (x))2 1 + senh2 (x) dx
0 0 0
Z 2q Z 2
= cosh2 (x) dx = cosh(x) dx
0 0
2
= senh(x) = senh(2) u.c.
0

Exemplo 3. Como encontrar o comprimento do segmento de gráfico da função f , dada por

x5 1
f (x) = + 3 , ao longo do intervalo [1, 2]?
10 6x
4

Soluçao. Pela definição 1, tem-se


s
Z 2 Z 2  4 2
2 p
0 2
x 1
Lf = 1 + (f (x)) dx = 1+ − 4 dx
1 1 1 2 2x
s s
Z 2 Z 2
x8 1 1 x8 1 1
= 1+ − + 8 dx = + + 8 dx
1 4 2 4x 1 4 2 4x
s
Z 2 2 Z 2
x4 x4
   
1 1
= + 4 dx = + 4 dx
1 2 2x 1 2 2x
 5 2
x 1 779
= − 3 = u.c.
10 6x 1 240


F IGURA 2. Comprimento de arco.

Sejam I um intevalo de R, f uma função de classe C 1 em I e c ∈ I. A função g : I −→ R,


dada por Z xp
g(x) = 1 + (f 0 (u))2 du qualquer que seja x ∈ I,
c
e denominada função comprimento de arco de f , com ponto inicial (c, f (c)). Observe que g
é diferenciável com
p
g 0 (x) = 1 + (f 0 (x))2 qualquer que seja x ∈ I.
Assim, com a notação
y = f (x) e s = g(x),
tem-se s  2
dy ds dy
= f 0 (x) e = 1+ .
dx dx dx
5

Exemplo 4. Como encontrar a função comprimento de arco da função f , dada por


2√ 3
f (x) = 1 + x,
3
com domı́nio em [0, +∞) e ponto inicial em x = 0.
Soluçao. A função pedida é a função g : [0, +∞) −→ R dada por

Z xq Z x
√ 2
g(x) = 1 + ( u) du = 1 + u du
0 0
Z x+1 √ 3/2 x+1
v
= v dv =
1 3/2 1
x+1
2 √ 2  √ 
= v v = (x + 1) x + 1 − 1 .
3 1 3

Exemplo 5. Como encontrar a função que descreve um cabo homogêneo suspenso e sujeito
apenas à ação da gravidade?
Soluçao. Primeiro disponha, em relação ao cabo suspenso, o eixo das abscissas (eixo horizon-
tal) de modo que o ponto mais baixo do cabo tenha abscissa nula. Assim, o problema resume-se
em encontrar a função f de modo que f (x) dê a altura do cabo em cada ponto de abscissa x,
conforme a figura 3.
Sendo o cabo homogêneo, seja ρ a densidade linear de peso. Seja H a tensão horizontal no
ponto (0, f (0)) e, dado x ∈ [a, b], sejam θ a inclinação da reta tangente em x, T a tensão (tan-
gencial) no ponto (x, f (x)) e s o comprimento do segmento de cabo ligando os dois referidos
pontos. As forças que atuam na vertical, sobre o segmento, são T · sen(θ) e ρ · s. As forças
que atuam na horizontal, sobre o segmento, são T · cos(θ) e H. Como este segmento está em
equilı́brio, tem-se
T · sen(θ) = ρ · s e T · cos(θ) = H.
Assim, Z xp
ρ 0 ρ
tg(θ) = · s, isto é, f (x) = · 1 + (f 0 (u))2 du.
H H 0
Daı́, derivando a última igualdade,
00 ρ p 0 2
f 00 (x) ρ
f (x) = · 1 + (f (x)) , ou seja, p = .
H 1 + (f 0 (x))2 H
Integrando a última igualdade, tem-se
Z x Z x
1 00 ρ
p · f (u) du = du,
0 0
1 + (f (u)) 2 0 H

o que dá,
x x
ρ ρ
arcsenh(f (u)) = u , isto é, arcsenh(f 0 (x)) = x,
0

0 H 0 H
0
pois f (0) = 0, por conta da disposição do eixo horizontal. Deste modo,
ρ 
0
f (x) = senh x
H
6

e, portanto,
H ρ 
f (x) = cosh x + C.
ρ H
Se o eixo horizontal for disposto de modo que f (0) = H/ρ, então
H ρ 
f (x) = cosh x .
ρ H
Isto diz que a disposição de um cabo homogêneo suspenso, e sujeito apenas à ação da gravidade,
é descrita pelo cosseno hiperbólico. 

F IGURA 3. Resultante das forças horizontais e verticais são nulas.


AULA 17
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Sejam a, b ∈ R, com a < b, f uma função de classe C 1 em [a, b], com f (x) ≥ 0 qualquer
que seja x ∈ [a, b] e S a superfı́cie de revolução obtida pela rotação do segmento de gráfico de
f , ao longo de [a, b], em torno do eixo das abscissas. O objetivo desta aula é definir a área da
superfı́cie de revolução S e apresentar um método para calculá-la.

F IGURA 1. Superfı́cie de revolução genérica.

Observação 1. Sendo Ω a região plana limitada pelas curvas y = f (x), x = a, x = b e y = 0,


isto é,
Ω := (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b e 0 ≤ y ≤ f (x) ,


a referida superfı́cie de revolução S é a lateral cilı́ndrica do sólido de revolução obtido pela


rotação da região Ω em torno do eixo das abscissas.

Inicialmente, considere na figura 2, a superfı́cie de revolução T obtida pela rotação do seg-


mento AB em torno do eixo das abscissas. A superfı́cie T é a lateral cilı́ndrica de um tronco de
cone circular reto. Procedendo com a “abertura” de T ao longo do segmento AB, obtem-se a
região plana Γ da figura 2, cuja área é ı́gual à área de T . Observe que

2πR 2πr
= , o que dá Rh = rH.
H h

1
2

Portanto,
2πRH 2πrh
|Γ| = área(Γ) = −
2 2
= π(RH − rh) = π(RH − Rh + rH − rh)
= π (R(H − h) + r(H − r)) = π(R + r)(H − h)
R+r
= 2π · g = 2πrg
2
onde r é o raio medio e g é a geratriz do tronco de cone. Esta fórmula diz que a área de Γ é a
área de um retângulo com base 2πr e altura g.

F IGURA 2. Tronco de cone circular reto.

Retornando ao objetivo principal, sejam a, b ∈ R, com a < b, f uma função de classe C 1


em [a, b], com f (x) ≥ 0 qualquer que seja x ∈ [a, b] e S a superfı́cie de revolução obtida pela
rotação do segmento de gráfico de f , ao longo de [a, b], em torno do eixo das abscissas.
Dada uma partição P = (x0 , x1 , . . . , xn ) de [a, b], sejam HP a poligonal ligando os pontos

(a, f (a)) = (x0 , f (x0 )), (x1 , f (x1 )), . . . , (xn , f (xn )) = (b, f (b)),

e SP a superfı́cie de revolução obtida pela rotação de HP em torno do eixo das abscissas.


Perceba que
SP = T1 ∪ T2 ∪ · · · ∪ Tn
onde, para cada i ∈ { 1, . . . , n }, Ti é a lateral do tronco de cone obtido pela rotação, em torno
do eixo das abscissas, do segmento ligando os pontos (xi−1 , f (xi−1 )) e (xi , f (xi )). Assim Ti
tem raios f (xi−1 ) e f (xi ), e geratriz dada por
p
(xi − xi−1 )2 + (f (xi ) − f (xi−1 ))2 .
3

Portanto, a área de SP é dada por


n
X f (xi−1 ) + f (xi ) p
|SP | = 2π · (xi − xi−1 )2 + (f (xi ) − f (xi−1 ))2
i=1
2
Pelo Teorema do Valor Intermediário, para cada i ∈ { 1, . . . , n }, existe zi ∈ [xi−1 , xi ] tal que
f (xi−1 ) + f (xi ) f (xi−1 ) + f (xi )
= f (zi ), pois f (xi−1 ) ≤ ≤ f (xi ).
2 2
Além disso, pelo Teorema do Valor Médio, para cada i ∈ { 1, . . . , n }, existe wi ∈ (xi−1 , xi ) tal
que
f (xi ) − f (xi−1 ) = f 0 (wi ) · (xi − xi−1 ).
Deste modo
X p
|SP | = 2πf (zi ) · 1 + (f 0 (wi ))2 · ∆xi .
P

É razoável estimar a área da superfı́cie de revolução S pela área de SP , no caso em que P


seja uma partiçao fina, isto é, a norma de P é um número próximo de zero em relação ao
comprimento de [a, b]. Além disso, é possı́vel demonstrar que
X p X p
lim 2πf (zi ) · 1 + (f 0 (wi ))2 · ∆xi = lim 2πf (ci ) · 1 + (f 0 (ci ))2 · ∆xi ,
|P|→0 |P|→0
P P
ou seja,
X p Z b p
lim 0
2πf (zi ) · 1 + f (wi ) · ∆xi = 2πf (x) 1 + (f 0 (x))2 dx.
|P|→0 a
P
Deste modo, tem-se a seguinte a definição.
Definição 1. sejam a, b ∈ R, com a < b, f uma função de classe C 1 em [a, b], com f (x) ≥ 0
qualquer que seja x ∈ [a, b] e S a superfı́cie de revolução obtida pela rotação do segmento de
gráfico de f , ao longo de [a, b], em torno do eixo das abscissas. A área de S é o número real
|S| dado por
Z b p
|S| := 2πf (x) 1 + (f 0 (x))2 dx.
a

Exemplo 1. Como encontrar a área da superfı́cie de revolução S obtida pelo rotação, em torno
do eixo das abscissas, do segmento de gráfico da função f (x) = x3 , ao longo do intervalo
[0, 1]?
Soluçao. Pela definição 1, tem-se
Z 1 p Z 1 p
|S| = 2π 0 2
f (x) 1 + (f (x)) dx = 2π x3 1 + (3x2 )2 dx
0 0
Z 1 √ Z 1

= 2π x3 1 + 9x4 dx = (1 + 9x4 )1/2 · 36x3 dx
0 36 0
4 3/2 1 √
π (1 + 9x ) π
= · = · (10 10 − 1) u.a.
18 3/2 0 27

4

Exemplo 2. Como encontrar a área da superfı́cie de revolução S obtida√ pelo rotação, em


torno do eixo das abscissas, do segmento de gráfico da função f (x) = 6 − x2 , ao longo do
intervalo [−2, 2]?
Soluçao. Como f é de classe C 1 em [−2, 2] e
1 x
f 0 (x) = √ · (−2x) = − √ ∀x ∈ [−2, 2],
2 6 − x2 6 − x2
tem-se, pela definição 1, que
Z 2 p
|S| = 2π f (x) 1 + (f 0 (x))2 dx
−2
s 2
Z 2√ 
x
= 2π 6 − x · 1 + −√
2 dx
−2 6 − x2
s
Z 2√
x2
= 2π 6 − x2 · 1 + dx
−2 6 − x2
Z 2√ Z 2√ √
= 2π 2 2
6 − x + x dx = 2π 6 dx = 8π 6 u.a.
−2 −2

Suponha, agora, que a, b, c, d ∈ R, com a < b e c < d, e f : [a, b] −→ [c, d] é uma função
invertı́vel e de classe C 1 , com f 0 (x) > 0 qualquer que seja x ∈ [a, b] ou f 0 (x) < 0 qualquer que
seja x ∈ [a, b]. Então, pelo Teorema da Função Inversa, f −1 é diferenciável com
1
(f −1 )0 (y) = 0 −1 qualquer que seja y ∈ [c, d].
f (f (y))

F IGURA 3. Função de classe C 1 , em [a, b], com f 0 (x) 6= 0 ∀x ∈ [a, b].


5

Portanto f −1 também é de classe C 1 . Sendo S a superfı́cie de revolução obtida pela rotação,


em torno do eixo das ordenadas, do gráfico de f , tem-se
Z d p
|S| = 2π f −1 (y) 1 + ((f −1 )0 (y))2 dy.
c

Assim, com a mudança de variável x = f −1 (y) tem-se, no caso em que f 0 (x) > 0 qualquer que
seja x ∈ [a, b],
Z b s
1 0
|S| = 2π x 1+ 0 2 f (x) dx
a (f (x))
Z b s
1 0
= 2π x 1+ 0 2 |f (x)| dx
a (f (x))
Z b p
= 2π x 1 + (f 0 (x))2 dx,
a

e no caso em que f 0 (x) < 0 qualquer que seja x ∈ [a, b],


Z a s
1 0
|S| = 2π x 1+ 0 2 f (x) dx
b (f (x))
Z a s
1 0
= −2π x 1+ 0 2 |f (x)| dx
b (f (x))
Z b p
= 2π x 1 + (f 0 (x))2 dx.
a

Deste modo, em qualquer caso,


Z b p
|S| = 2π x 1 + (f 0 (x))2 dx.
a

Esta nova fórmula faz necessária uma leitura e uma interpretação (mais) abrangentes da fórmula
apresentada na definição 1, que gera a seguinte conclusão: sendo S a superfı́cie de revolução
obtida pela rotação, em torno de um eixo “horizontal” ou um eixo “vertical”, do gráfico de f no
intervalo [a, b], tem-se
Z β
|S| = 2π ρ · ds,
α

onde ρ(x) é o raio de rotação do ponto (x, f (x)) em relação ao eixo de rotação e s é o compri-
mento de arco, isto é,
s  2 q s  2 q
ds dy 2 ds dx
= 1+ = 1 + (f 0 (x)) ou = 1+ = 1 + ((f −1 )0 (y))2 ,
dx dx dy dy
6

o que, abusando da notação, dá


s  2
dy
q
ds = 1+ dx = 1 + (f 0 (x))2 dx ou
dx
s  2
dx
q
ds = 1+ dy = 1 + ((f −1 )0 (y))2 dy.
dy

F IGURA 4. Rotação em torno do eixo x = k: ρ(x) = k − x.

Deste modo, se a rotação é em torno do eixo y = k, com k 6∈ (c, d), então

s 2 s 2
Z b  Z d 
dy dx
|S| = 2π |y − k| 1 + dx = 2π |y − k| 1 + dy
a dx c dy
Z b q Z d q
2
= 2π 0
|f (x) − k| 1 + (f (x)) dx = 2π |y − k| 1 + ((f −1 )0 (y))2 dy.
a c
7

Se a rotação é em torno do eixo x = k com k 6∈ (a, b) então


s  2 s  2
Z b Z d
dy dx
|S| = 2π |x − k| 1 + dx = 2π |x − k| 1 + dy
a dx c dy
Z b q Z d q
2
= 2π 0
|x − k| 1 + (f (x)) dx = 2π |x − k| 1 + ((f −1 )0 (y))2 dy.
a c

Exemplo 3. Como encontrar área da superfı́cie de revolução obtida pela rotação, em torno do
eixo das ordenadas, do gráfico da função f (x) = x2 , no intevalo [1, 2]?
Soluçao. Seja S a referida superfı́cie. Para cada x ∈ [1, 2], o raio de rotação, ρ(x), do ponto
(x, f (x)) em torno do eixo das ordenadas é dado por ρ(x) = x. Assim
Z 2 Z 2 p
|S| = 2π ρ(x) ds = 2π x 1 + (f 0 (x))2 dx
1 1
Z 2 √
π 2
Z
= 2π 2
x 1 + 4x dx = (1 + 4x2 )1/2 · 8x dx
1 4 1
2 3/2 2 √ √ 
π (1 + 4x ) π 
= · = 17 17 − 5 5 u.a.
4 3/2 1 6

AULA 18
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula aborda e estuda as integrais impróprias. Sejam a ∈ R e f uma função contı́nua em
[a, +∞). Dado u ∈ [a, +∞), f é integrável a Riemann em [a, u] e, por definiçao, existe e é um
número real a integral definida Z u
f (x) dx.
a

Definição 1. Sejam a ∈ R e f uma função contı́nua em [a, +∞). O limite


Z u
lim f (x) dx,
u→+∞ a

é denominado integral imprópria de f em [a, +∞) e é denotado por


Z +∞
f (x) dx,
a
isto é, Z +∞ Z u
f (x) dx := lim f (x) dx.
a u→+∞ a
Dizemos que a integral imprópria de f , em [a, +∞), converge e que f é integrável em [a, +∞)
quando
Z +∞
f (x) dx é um número real,
a
e dizemos que a integral imprópria de f , em [a, +∞), diverge no caso contrário, isto é, quando
Z +∞ Z +∞ Z +∞
f (x) dx = +∞, f (x) dx = −∞ ou f (x) dx não existe.
a a a

Analogamente, temos a seguinte definiçao.


Definição 2. Sejam a ∈ R e f uma função contı́nua em (−∞, a]. O limite
Z a
lim f (x) dx,
u→−∞ u

é denominado integral imprópria de f em (−∞, a] e é denotado por


Z a
f (x) dx,
−∞
isto é, Z a Z a
f (x) dx := lim f (x) dx.
−∞ u→−∞ u
Dizemos que a integral imprópria de f , em (−∞, a], converge e que f é integrável em (−∞, a]
quando Z a
f (x) dx é um número real,
−∞

1
2

F IGURA 1. A integral imprópria, convergindo, é a área (finita) da região ilimi-


tada Ω dada por Ω := { (x, y) | x ≥ a e 0 ≤ y ≤ f (x) }.

e dizemos que a integral imprópria de f , em (−∞, a], diverge no caso contrário, isto é, quando
Z a Z a Z a
f (x) dx = +∞, f (x) dx = −∞ ou f (x) dx não existe.
−∞ −∞ −∞

Exemplo 1. A integral imprópria


Z +∞
x
dx
0 (x + 1)2
2

converge ou diverge?
Soluçao. Dado u ≥ 0, tem-se
Z u
1 u 1 u 2
Z Z
x 1
2 2 dx = 2 2 · 2x dx = (x + 1)−2 · 2x dx
0 (x + 1) 2 0 (x + 1) 2 0
2 −1 u u
1 (x + 1) 1 1
= · =− · 2
2 −1 0 2 x +1 0
1 1 1
= − · 2 + .
2 u +1 2
Portanto,
Z u  
x 1 1 1 1
lim 2 2 dx = lim − · 2 + = .
u→+∞ 0 (x + 1) u→+∞ 2 u +1 2 2
Daı́, pela definição 1, a integral imprópria
Z +∞ Z +∞ Z u
x x x 1
2 2 dx converge com 2 2 dx = u→+∞
lim 2 2 dx = .
0 (x + 1) 0 (x + 1) 0 (x + 1) 2

3

Exemplo 2. A integral imprópria


Z 1
1
dx
−∞ x−2
converge ou diverge?
Soluçao. Dado u ≤ 1, tem-se
Z 1 1 1
1
dx = ln(|x − 2|) = ln(2 − x) = − ln(2 − u).
u x−2 u u
Portanto,
Z 1
1
lim dx = lim − ln(2 − u) = −∞.
u→−∞ u x − 2 u→−∞

Assim, pela definição 2, a integral imprópria


Z 1 Z 1 Z 1
1 1 1
dx diverge com dx = lim dx = −∞.
−∞ x − 2 −∞ x − 2 u→−∞ u x − 2


Observação 1. Dado p ∈ R, com p 6= 1, tem-se
x−p+1
Z Z
1 −p 1 1
p dx = x dx = +C = · p−1 + C.
x −p + 1 1−p x
Assim, dados p 6= 1 e u ≥ 1, tem-se
Z u u  
1 1 1 1 1
p dx = · = −1
1 x 1 − p xp−1 1 1 − p up−1
e, portanto,
Z u   ( 1
1 1 1 p − 1 se p > 1,
lim p dx = lim p−1 −1 =
u→+∞ 1 x u→+∞ 1 − p u +∞ se p < 1.
Não deixando de observar que
Z u x u
1
lim dx = lim ln(|x|) = lim ln(x) = lim ln(u) = +∞,
u→+∞ 1 x u→+∞ u→+∞ u→+∞
1 1
tem-se que a integral imprópria
Z +∞ Z +∞
1 1 1
dx converge, com p dx = , se p > 1,
1 xp 1 x p−1
e que a integral imprópria
Z +∞ Z +∞
1 1
dx diverge, com dx = +∞, se p ≤ 1.
1 xp 1 xp
Observação 2. Dados p ∈ R e f uma função, vale a pena lembrar que, com relação ao limite
da função f no número real p, há exatamente quatro excludentes possibilidades:
lim f (x) é um número real, lim f (x) = +∞, lim f (x) = −∞ ou lim f (x)
x→p x→p x→p x→p
4

não existe. Daı́, reforço, ao ser dito que


lim f (x) não um número real,
x→p

deve ser entendido que


lim f (x) = +∞, lim f (x) = −∞ ou lim f (x) não existe.
x→p x→p x→p

Tenha em mente a validade desta observação, também, para limites laterias e para limites no
infinito.
Proposição 1. Sejam a, b, com a < b, e f uma função contı́nua em [a, +∞). A integral
imprópria
Z +∞
f (x) dx converge se, e somente se,
a
a integral imprópria
Z +∞
f (x) dx converge.
b
Além disso, se uma das integrais impróprias converge, então
Z +∞ Z b Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a b

Demonstração. Sejam a, b, com a < b, e f uma função contı́nua em [a, +∞). Dado u ≥ a
tem-se Z u Z b Z u
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a b
Observe que a integral definida
Z b
f (x) dx é constante.
a

Portanto, se Z u
lim f (x) dx é um número real
u→+∞ a
então
Z u  Z b Z u 
lim f (x) dx = lim − f (x) dx + f (x) dx
u→+∞ b u→+∞ a a
Z b Z u
= − lim f (x) dx + lim f (x) dx
u→+∞ a u→+∞ a
Z b Z u
= − f (x) dx + lim f (x) dx,
a u→+∞ a

que é também um número real. Reciprocamente, se


Z u
lim f (x) dx é um número real
u→+∞ b
5

então
Z u Z b Z u 
lim f (x) dx = lim f (x) dx + f (x) dx
u→+∞ a u→+∞ a b
Z b Z u
= lim f (x) dx + lim f (x) dx
u→+∞ a u→+∞ b
Z b Z u
= f (x) dx + lim f (x) dx,
a u→+∞ b

que é também um número real. É consequência desta demonstração que


Z +∞ Z +∞
f (x) dx = +∞ se, se somente se, f (x) dx = +∞
a b
e que
Z +∞ Z +∞
f (x) dx = −∞ se, se somente se, f (x) dx = −∞.
a b
Assim,
Z u Z u
lim f (x) dx não existe se, e somente se, lim f (x) dx não existe.
u→+∞ a u→+∞ a


Analogamente tem-se a seguinte proposição.
Proposição 2. Sejam a, b, com a < b, e f uma função contı́nua em (−∞, b]. A integral
imprópria
Z a
f (x) dx converge se, e somente se,
−∞
a integral imprópria
Z b
f (x) dx converge.
−∞
Além disso, se uma das integrais impróprias converge, então
Z b Z a Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
−∞ −∞ a

Da observação 2 e da proposição 1 segue que, dado a > 0,


Z +∞ Z +∞ Z 1
1 1 1 1
p dx converge se p > 1, com p dx = p dx + ,
a x a x a x p−1
e que
Z +∞ Z +∞
1 1
p dx diverge se p ≤ 1, com dx = +∞.
a x a xp
Agora serão apresentadas as integrais impróprias em intervalos [a, b) e (a, b], onde a, b ∈ R
e a < b.
6

Definição 3. Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma função contı́nua em [a, b) de modo que
Z u
lim− f (x) não é um número real. O limite lim− f (x) dx,
x→b u→b a

é denominado integral imprópria de f em [a, b) e é denotado por


Z b
f (x) dx,
a
isto é,
Z b Z u
f (x) dx := lim− f (x) dx.
a u→b a
Dizemos que a integral imprópria de f , em [a, b), converge e que f é integrável em [a, b) quando
Z b
f (x) dx é um número real,
a

e dizemos que a integral imprópria de f , em [a, b), diverge no caso contrário.


Observação 3. Veja que, segundo a definição 3, a integral
Z 1
1
2 dx
0 x +1
não é imprópria, pois a função
1
f (x) = 2 é contı́nua em [0, 1].
x +1
Já a integral
Z 1
1
2 dx
0 x −1
é imprópria, pois a função
1
g(x) = 2 é contı́nua em [0, 1) e lim− g(x) = −∞.
x −1 x→1

Está claro??!!
De modo análogo temos seguinte definição.
Definição 4. Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma função contı́nua em (a, b] de modo que
Z b
lim+ f (x) não é um número real. O limite lim+ f (x) dx,
x→a u→a u

é denominado integral imprópria de f em (a, b] e é denotado por


Z b
f (x) dx,
a
isto é,
Z b Z b
f (x) dx := lim+ f (x) dx.
a u→a u
7

Rb Ra
F IGURA 2. A integral imprópria a f (x) dx := limu→a+ u f (x) dx, conver-
gindo, é a área finita da região ilimitada
Ω := { (x, y) | a < x ≤ b e 0 ≤ y ≤ f (x) }

Dizemos que a integral imprópria de f , em (a, b], converge e que f é integrável em (a, b] quando
Z b
f (x) dx é um número real,
a
e dizemos que a integral imprópria de f , em (a, b], diverge no caso contrário.
Exemplo 3. A integral imprópria Z 3
1

3
dx
2 x−3
converge ou diverge?
Soluçao. Perceba que, de fato, trata-se de uma integral imprópria, pois a função integrando
1
f (x) = √ 3
é contı́nua em [2, 3) e lim− f (x) = −∞.
x−3 x→3

Dado, u ∈ [2, 3) tem-se


Z u Z u u
1 −1/3 (x − 3)2/3
√3
dx = (x − 3) dx =
2 x−3 2 2/3 2
u
33p 3 p
= (x − 3)2 = ( 3 (u − 3)2 − 1).
2 2 2
Assim,
Z u
1 3 p 3
lim− √
3
dx = lim− ( 3 (u − 3)2 − 1) = − .
u→3 2 x−3 u→3 2 2
8

Portanto, a integral imprópria


Z 3 Z 3
1 1 3
√3
dx converge e √
3
dx = − .
2 x−3 2 x−3 2


F IGURA 3. Gráfico da função exemplo 4.

Exemplo 4. Qual o comprimento do gráfico da função f , dada por



r 3
3
f (x) = 1− x , 2

no intervalo [0, 1]?


Soluçao. Primeiro observe que f é contı́nua em [0, 1] e , pela Regra da Cadeia, que f é dife-
renciável em (0, 1). Fazendo y = f (x), com x ∈ (0, 1), tem-se
y 2 = (1 − x2/3 )3 , o que dá y 2/3 = 1 − x2/3 , ou seja, x2/3 + y 2/3 = 1.
Daı́, por derivação implı́cita,
2 −1/3 2 −1/3 dy dy y 1/3
x + y · = 0, isto é, = − 1/3 .
3 3 dx dx x
Isto diz que q √3
0 1 − x2
f (x) = − √
3
∀x ∈ (0, 1)
x
9

e, portanto, f 0 (x) < 0 qualquer que seja x ∈ (0, 1). Logo f é estritamente decrescente em [0, 1].
Como f é contı́nua em [0, 1],
lim+ f 0 (x) = +∞ e lim− f 0 (x) = 0,
x→0 x→1

segue pelo Teorema do Valor Médio que f é diferenciável em 1, com f 0 (1− ) = 0, e f não é
diferenciável em 0, com f 0 (0+ ) = +∞. Daı́, a reta tangente em 0 é vertical. Agora, dado
u ∈ (0, 1], o comprimento do segmento de gráfico de f , no intervalo [u, 1] é dado por
s v !2
1 Z 1  2 Z 1u 1/3
dy u
t1 + − y
Lf = 1+ dx = dx
u u dx u x1/3
s s
Z 1 Z 1
y 2/3 x2/3 + y 2/3
= 1 + 2/3 dx = dx
u x u x2/3
Z 1
1
Z 1
x2/3
1
3 2/3
1
3 √
3

−1/3 2 .
= 1/3
dx = x dx = = · x = 1 − u
u x u 2/3 u 2 u 2
Logo o comprimento do segmento de gráfico de f em [0, 1] é dado por
1 1
3 √3
 3
Lf = lim+ Lf = lim+ 1− u = , 2
0 u→0 u u→0 2 2
ou seja, o comprimento segmento de gráfico de f em [0, 1] é dado, em termos de uma integral
imprópria, por
s
1 Z 1  2 Z 1
dy 1
Lf = 1+ dx = 1/3
dx.
0 0 dx 0 x


Exercı́cio 1. Use o exemplo anterior para esboçar a curva
√3
p
x2 + 3 y 2 = 1
e encontre o seu comprimento total.
Observação 4. Dado p ∈ R, com p 6= 1, tem-se
x−p+1
Z Z
1 −p 1 1
p dx = x dx = +C = · p−1 + C.
x −p + 1 1−p x
Assim, dados p 6= 1 e 0 < u ≤ 1, tem-se
Z 1 1  
1 1 1 1 1
p dx = · p−1 = 1−
u x 1−p x u 1−p up−1
e, portanto,
(
Z 1
1 1

1
 1
lim+ p dx = lim+ 1− = 1 − p se p < 1,
u→0 u x u→0 1 − p up−1 +∞ se p > 1.
10

Não deixando de observar que


Z 1 1 1
1
lim dx = lim+ ln(|x|) = lim+ ln(x) = lim+ − ln(u) = +∞,
u→0+ u x u→0 u u→0 u u→0

tem-se que a integral imprópria


Z 1 Z 1
1 1 1
p dx converge, com p dx = , se 0 < p < 1,
0 x 0 x 1−p
e que a integral imprópria
Z 1 Z 1
1 1
p dx diverge, com p dx = +∞, se p ≥ 1.
0 x 0 x
Note que Z 1
1
p dx é integral imprópria se, e somente se, p > 0.
0 x
AULA 19
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Proposição 1. Sejam a, b, c ∈ R, com a < b < c, e f uma função contı́nua em [a, c) de modo
que
lim− f (x) não é um número real.
x→c
A integral imprópria
Z c Z c
f (x) dx converge se, e somente se, a integral imprópria f (x) dx
a b

converge. Além disso, se uma delas converge, então vale


Z c Z b Z c
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a b

Demonstração. Admita as hipóteses. Dado u ∈ [a, c), tem-se


Z u Z b Z u Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx, onde f (x) dx é constante.
a a b a
Assim, se
Z u
lim− f (x) dx é um número real,
u→c b
então
Z u Z b Z u 
lim f (x) dx = lim− f (x) dx + f (x) dx
u→c− a u→c a b
Z b Z u
= lim− f (x) dx + lim− f (x) dx
u→c a u→c b
Z b Z u
= f (x) dx + lim− f (x) dx,
a u→c b

que é um número real. Reciprocamente, se


Z u
lim− f (x) dx é um número real,
u→c a
então
Z u  Z b Z u 
lim f (x) dx = lim− − f (x) dx + f (x) dx
u→c− b u→c a a
Z b Z u
= lim− − f (x) dx + lim− f (x) dx
u→c a u→c a
Z b Z u
= − f (x) dx + lim− f (x) dx,
a u→c a

1
2

que é um número real. Desta demonstração, segue que


Z u Z u
lim− f (x) dx = +∞ se, e somente se, lim− f (x) dx = +∞
u→c a u→c b
e que
Z u Z u
lim− f (x) dx = −∞ se, e somente se, lim− f (x) dx = −∞.
u→c a u→c b
Logo,
Z u Z u
lim− f (x) dx não existe se, e somente se, lim− f (x) dx não existe .
u→c a u→c b

Analogamente tem-se a seguinte versão da proposição 1.
Proposição 2. Sejam a, b, c ∈ R, com a < b < c, e f uma função contı́nua em (a, c] de modo
que
lim+ f (x) não é um número real.
x→a
A integral imprópria
Z b Z c
f (x) dx converge se, e somente se, a integral imprópria f (x) dx
a a
converge. Além disso, se uma delas converge, então vale
Z c Z b Z c
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a b

Proposição 3. Seja f uma função contı́nua em R. Se existe a ∈ R tal que as integrais


impróprias
Z a Z +∞
f (x) dx e f (x) dx
−∞ a
convergem, então as integrais impróprias
Z b Z +∞
f (x) dx e f (x) dx
−∞ b
convergem qualquer que seja b ∈ R valendo
Z a Z +∞ Z b Z +∞
f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
−∞ a −∞ b

Demonstração. Se existe a ∈ R tal que as integrais impróprias


Z a Z +∞
f (x) dx e f (x) dx
−∞ a
convergem, então, pelas proposições 1 e 2 da aula 19, as integrais impróprias
Z b Z +∞
f (x) dx e f (x) dx
−∞ b
3

convergem qualquer que seja b ∈ R, valendo


Z +∞ Z b Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
a a b
e
Z b Z a Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
−∞ −∞ a
Portanto,
Z a Z +∞ Z b Z b
f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx − f (x) dx +
−∞ a −∞ a
Z b Z +∞
f (x) dx + f (x) dx
a b
Z b Z +∞
= f (x) dx + f (x) dx.
−∞ b

Esta proposição permite a seguinte definição.
Definição 1. Seja f uma função contı́nua em R. Dizemos que f é integrável em R quando
existe a ∈ R tal que as integrais impróprias
Z a Z +∞
f (x) dx e f (x) dx convergem.
−∞ a
Neste caso, a soma
Z a Z +∞
f (x) dx + f (x) dx
−∞ a
é denominada integral imprópria de f em R, sendo denotada por
Z +∞ Z +∞ Z a Z +∞
f (x) dx, isto é, f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
−∞ −∞ −∞ a
Exemplo 1. A função f , dada por
1
f (x) = ∀x ∈ R,
1 + x2
é integrável em R?
Soluçao. A função f é contı́nua em R e tem-se
Z u Z u u
1
lim f (x) = lim dx = lim arctg(x)
u→+∞ 0 u→+∞ 0 1 + x2 u→+∞
0
π
= lim arctg(u) = e
u→+∞ 2
Z 0 Z 0 0
1
lim f (x) = lim dx = lim arctg(x)
u→−∞ u u→−∞ u 1 + x2 u→−∞
u
π
= lim − arctg(u) = .
u→−∞ 2
4

Daı́, por definiçao, a função f é integrável em R com


Z +∞ Z 0 Z +∞
π π
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx = + = π.
−∞ −∞ 0 2 2

Exemplo 2. A função f , dada por
x
f (x) = ∀x ∈ R,
1 + x2
é integrável em R?
Soluçao. A função f é contı́nua em R e tem-se
Z u Z u
1 u 2x
Z
x
lim f (x) dx = lim dx = lim dx
u→+∞ 0 u→+∞ 0 1 + x2 u→+∞ 2 0 1 + x2
u
1 2 1
= lim ln(1 + x ) = lim ln(1 + u2 ) = +∞.
u→+∞ 2 u→+∞ 2
0
Assim, não existe a ∈ R tal que as integrais impróprias
Z a Z +∞
f (x) dx e f (x) dx convergem.
−∞ a

Portanto, f não é integrável em R. 


Proposição 4. Sejam a, b ∈ R com a < b e f uma função contı́nua em (a, b) de modo que cada
um dos limites
lim+ f (x) e lim− f (x) não é um número real.
x→a x→b

Se existe c ∈ (a, b) tal que as integrais impróprias


Z c Z b
f (x) dx e f (x) dx
a c
convergem, então as integrais impróprias
Z d Z b
f (x) dx e f (x) dx
a d
convergem qualquer que seja d ∈ (a, b) valendo
Z c Z b Z d Z b
f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a c a d

Demonstração. Se existe c ∈ (a, b) tal que as integrais impróprias


Z c Z b
f (x) dx e f (x) dx
a c
convergem então, pelas proposições 1 e 2 desta aula, as integrais impróprias
Z d Z b
f (x) dx e f (x) dx
a d
5

convergem qualquer que seja d ∈ (a, b) valendo


Z c Z b Z d Z c
f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx +
a c a d
Z d Z b
f (x) dx + f (x) dx
c d
Z d Z b
= f (x) dx + f (x) dx.
a d


Esta proposição permite a seguinte definição.
Definição 2. Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma função contı́nua em (a, b) de modo que cada
um dos limites
lim+ f (x) e lim− f (x) não é um número real.
x→a x→b

Dizemos que f é integrável em (a, b) quando existe c ∈ (a, b) tal que as integrais impróprias
Z c Z b
f (x) dx e f (x) dx convergem.
a c
Neste caso, a soma
Z c Z b
f (x) dx + f (x) dx
a c

é denominada integral imprópria de f em (a, b), sendo denotada por


Z b Z b Z c Z b
f (x) dxf (x) dx, isto é, f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a a c

Exemplo 3. A função f , dada por


1
f (x) = dx ∀x ∈ R − { 1, −1 },
1 − x2
é integrável em (−1, 1).
Soluçao. A função f é contı́nua e tem-se
Z u Z u   u
1 1 x+1
lim− f (x) dx = lim− 2 dx = lim− ln
u→1 0 u→1 0 1−x u→1 2 x−1 0
 
1 u+1
= lim− ln = +∞.
u→1 2 u−1
Portanto não existe c ∈ (−1, 1) tal que as integrais impróprias
Z c Z 1
f (x) dx e f (x) dx convergem.
−1 c

Assim, f não é integrável em (−1, 1). 


6

Proposição 5. Sejam a ∈ R e f uma função contı́nua em (a, +∞) de modo que


lim f (x) não é um número real.
x→a+

Se existe c ∈ (a, +∞) tal que as integrais impróprias


Z c Z +∞
f (x) dx e f (x) dx
a c

convergem, então as integrais impróprias


Z d Z +∞
f (x) dx e f (x) dx
a d

convergem qualquer que seja d ∈ (a, +∞) valendo


Z c Z +∞ Z d Z +∞
f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a c a d

Demonstração. Segue da proposição 1 da aula 19 e da proposição 2 desta aula. Prova seme-


lhante às provas das proposições 3 e 4 desta aula. 

A proposição 5 permite a seguinte definiçao.

Definição 3. Sejam a ∈ R e f uma função contı́nua em (a, +∞) de modo que


lim f (x) não é um número real.
x→a+

Dizemos que f é integrável em (a, +∞) quando existe c ∈ (a, +∞) tal que as integrais
impróprias
Z c Z +∞
f (x) dx e f (x) dx convergem.
a c

Neste caso, a soma


Z c Z +∞
f (x) dx + f (x) dx
a c

é denominada integral imprópria de f em (a, +∞), sendo denotada por


Z +∞ Z +∞ Z c Z +∞
f (x) dx, isto é, f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a a c

Exemplo 4. A função f , dada por


1
f (x) = √ ,
x x2 − 1
é integrável em (1, +∞)?
7

Soluçao. Tem-se
Z 2 2 2
1
lim+ √ dx = lim+ arcsec(|x|) = lim+ arcsec(x)
u→1 u x x2 − 1 u→1 u u→1 u
= lim+ (arcsec(2) − arcsec(u)) = arcsec(2) e
u→1
Z u u u
1
lim √ dx = lim arcsec(|x|) = lim arcsec(x)
u→+∞ 2 x x2 − 1 u→+∞
2
u→+∞
2
π
= lim (arcsec(u) − arcsec(2)) = − arcsec(2).
u→+∞ 2
Daı́, pela definição 3, f é integrável em (1, +∞) valendo
Z +∞ Z 2 Z +∞
1 1 1
√ dx = √ dx + √ dx
1 x x2 − 1 2
1 x x −1 2 x x2 − 1
π  π
= arcsec(2) + − arcsec(2) = .
2 2

A proposição 5 possui a seguinte variação.
Proposição 6. Sejam a ∈ R e f uma função contı́nua em (−∞, a) de modo que
lim− f (x) não é um número real.
x→a

Se existe c ∈ (−∞, a) tal que as integrais impróprias


Z c Z a
f (x) dx e f (x) dx
−∞ c
convergem, então as integrais impróprias
Z d Z a
f (x) dx e f (x) dx
−∞ d
convergem qualquer que seja d ∈ (−∞, a) valendo
Z c Z a Z d Z a
f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
−∞ c −∞ d

A proposição 6 permite a seguinte definiçao.


Definição 4. Sejam a ∈ R e f uma função contı́nua em (−∞, a) de modo que
lim− f (x) não é um número real.
x→a

Dizemos que f é integrável em (−∞, a) quando existe c ∈ (−∞, a) tal que as integrais
impróprias
Z c Z a
f (x) dx e f (x) dx convergem.
−∞ c
Neste caso, a soma
Z c Z a
f (x) dx + f (x) dx
−∞ c
8

é denominada integral imprópria de f em (−∞, a), sendo denotada por


Z a Z a Z c Z a
f (x) dx, isto é, f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
−∞ −∞ −∞ c

Agora serão enunciados, sem demonstração, testes de comparação para integrais impróprias.

R +∞ R +∞
F IGURA 1. Se a
g(x) dx converge então a
f (x) dx converge.

Proposição 7. Sejam a ∈ R e f, g funções contı́nuas em [a, +∞) tais que


0 ≤ f (x) ≤ g(x) qualquer que seja x ∈ [a, +∞).
Se a integral imprópria
Z +∞ Z +∞
g(x) dx converge, então a integral imprópria f (x) dx converge.
a a

Se a integral imprópria
Z +∞ Z +∞
f (x) dx diverge, então a integral imprópria g(x) dx diverge.
a a

Proposição 8. Sejam a ∈ R e f, g funções contı́nuas em (−∞, a] tais que


0 ≤ f (x) ≤ g(x) qualquer que seja x ∈ (−∞, a].
Se a integral imprópria
Z a Z a
g(x) dx converge, então a integral imprópria f (x) dx converge.
−∞ −∞

Se a integral imprópria
Z a Z a
f (x) dx diverge, então a integral imprópria g(x) dx diverge.
−∞ −∞
9

Proposição 9. Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f, g funções contı́nuas em [a, b) tais que


lim− f (x) e lim− g(x)
x→b x→b
não são números reais, e
0 ≤ f (x) ≤ g(x) qualquer que seja x ∈ [a, b).
Se a integral imprópria
Z b Z b
g(x) dx converge, então a integral imprópria f (x) dx converge.
a a
Se a integral imprópria
Z b Z b
f (x) dx diverge, então a integral imprópria g(x) dx diverge.
a a

Proposição 10. Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f, g funções contı́nuas em (a, b] tais que
lim+ f (x) e lim+ g(x)
x→a x→a
não são números reais, e
0 ≤ f (x) ≤ g(x) qualquer que seja x ∈ (a, b].
Se a integral imprópria
Z b Z b
g(x) dx converge, então a integral imprópria f (x) dx converge.
a a
Se a integral imprópria
Z b Z b
f (x) dx diverge, então a integral imprópria g(x) dx diverge.
a a

Exemplo 5. A integral imprópria Z +∞


1
3 dx
0 x +1
converge ou diverge?
Soluçao. A função f , dada por
1
f (x) = 3 , é contı́nua.
x +1
Além disso, observe que, dado x ∈ [1, +∞), tem-se
1 1
0< 3 < 3.
x +1 x
Como a integral imprópria
Z +∞
1
dx converge,
1 x3
segue da, proposição 7, que a integral imprópria
Z +∞
1
3 dx converge,
1 x +1
10

e, assim, a integral imprópria


Z +∞
1
dx converge.
3
0 x +1

Exemplo 6. A integral imprópria
1
sec2 (x)
Z
√ dx
0 x x
converge ou diverge?
Soluçao. Dado x ∈ (0, 1], tem-se
sec2 (x) 1 1
√ ≥ √ = 3/2 > 0.
x x x x x
Como a integral imprópria
Z 1
1
dx diverge,
3/2
0 x
segue, da proposição 10, que a integral imprópria
Z 1
sec2 (x)
√ dx diverge .
0 x x

Exemplo 7. A integral imprópria
+∞
x3 + 1
Z
dx
0 x4
converge ou diverge?
Soluçao. Dado x ∈ [1, +∞), tem-se
x3 + 1 x3 1
4 > 4 = > 0.
x x x
Como a integral imprópria
Z +∞
1
dx diverge,
1 x
segue da, proposição 7, que a integral imprópria
Z +∞ 3
x +1
dx diverge,
1 x4
e, assim, a integral imprópria
Z +∞ 3
x +1
dx diverge.
0 x4

AULA 20
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Nesta aula é introduzido o sistema de coordenadas polares. Antes, porém, é definida a função
gamma que estende, ao intervalo (−1, +∞), o conceito de fatorial para os números naturais.
Exemplo 1. Dado c > 0 e a ∈ R, tem-se
Z u
1 u −cx
Z
−cx
lim e dx = lim − e ·(−c) dx
u→+∞ a u→+∞ c a
u
1 −cx
= lim − e
u→+∞ c a
1  −cu −ca 
= lim − e −e
u→+∞ c
−ca
1 −ca  e
= − 0−e = .
c c
Assim, a integral imprópria
Z +∞ Z +∞ −ca
−cx −cx e
e dx converge com e dx = .
a a c
Observação 1. Dados a > 0 e p ∈ R, tem-se
xp
lim = 0.
x→+∞ eax

Demonstração. Primeiro, perceba que se p < 0, então


xp 1
lim ax = lim ax −p = 0.
x→+∞ e x→+∞ e x

Veja também que


c
lim = 0 qualquer que seja c ∈ R
x→+∞ eax

e, dado n ∈ N∗ , com a aplicação da Regra de L’Hôspital, sucessivamente n vezes, tem-se


xn nxn−1 n!
lim
ax = lim ax = · · · = lim n ax = 0.
x→+∞ e x→+∞ a e x→+∞ a e

Assim, dado p ∈ [0, +∞), se x ∈ [1, +∞) então


xp xdpe
0< ≤ ,
eax eax
onde dpe é o teto de p, ou seja, é o menor dos inteiros que são maiores que ou iguais a p. Como
xdpe xp
lim = 0, segue que lim = 0.
x→+∞ eax x→+∞ eax

1
2

Proposição 1. A integral imprópria


Z +∞
e−x xp dx
0
converge qualquer que seja p > −1.
Demonstração. Dado p ∈ R, como
xp
lim = 0,
x→+∞ ex/2

existe c > 0 tal que


xp −x/2 x
p
x ≥ c =⇒ x/2 ≤ 1 =⇒ e · x/2 ≤ e−x/2 =⇒ 0 < e−x xp ≤ e−x/2 .
e e
Como a integral imprópria
Z +∞ Z +∞
−x/2
e dx converge, então a integral imprópria e−x xp dx converge.
c c
Assim, a integral imprópria
Z +∞
e−x xp dx converge.
1
Observe que está provado que a integral imprópria acima converge em cada p ∈ R. Agora, veja
que se p ≥ 0, então a função f , dada por f (x) = e−x xp , é contı́nua em [0, +∞) e, portanto, a
integral imprópria
Z +∞
e−x xp dx converge.
0
Por outro lado, se −1 < p < 0 então −p < 1 e a integral imprópria
Z 1 Z 1
p 1
x dx = −p dx converge.
0 0 x

Como e−x < 1 qualquer que seja x ∈ (0, +∞), tem-se que
0 < e−x xp < xp qualquer que seja x ∈ (0, 1].
Daı́, a integral imprópria
Z 1
e−x xp dx converge
0
e, portanto, a integral imprópria
Z +∞
e−x xp dx converge.
0
Deste modo, fica prova que a integral imprópria
Z +∞
e−x xp dx converge qualquer que seja p > −1.
0

3

Definição 1 (Função Gama). A função gama é a funçao denotada por Γ e definida por
Z +∞
Γ(p) = e−x xp dx qualquer que seja p > −1.
0

Pela definição 1, a função Γ : (−1, +∞) −→ R satisfaz as seguintes propriedades.


R +∞ R +∞
∗ Γ(0) = 0 e−x x0 dx = 0 e−x dx = 1.
∗ Usando integração por partes na integral indefinida, tem-se
Z Z Z
−x p −x −x
e p
x dx = dx = x · (− e ) −
x e p
(− e−x ) · pxp−1 dx
Z
= − e x + p e−x xp−1 dx.
−x p

Logo, dado p ≥ 1, tem-se (p − 1) ≥ 0 e

Z +∞ Z u
−x
Γ(p) = p
e x dx = lim e−x xp dx
0 u→+∞
 u Z u0 
−x p −x p−1
= lim − e x + p e x dx
u→+∞ 0
0
 Z u 
−u p −x p−1
= lim − e u + p e x dx
u→+∞ 0
 p Z u 
u −x p−1
= lim − u + p e x dx
u→+∞ e 0
Z +∞
= p e−x xp−1 dx = p · Γ(p − 1).
0

Além disso, dado 0 < p < 1, tem-se −1 < p − 1 < 0,


Z +∞ Z u
−x
e p
x dx = lim e−x xp dx
1 u→+∞
1 u Z u 
−x p −x p−1
= lim − e x + p e x dx
u→+∞ 1
1
 Z u 
−u p 1 −x p−1
= lim − e u + + p e x dx
u→+∞ e 1
 p Z u 
u 1 −x p−1
= lim − u + + p e x dx
u→+∞ e e 1
Z +∞
1
= +p e−x xp−1 dx
e 1
4

e
Z 1 Z 1
−x
e p
x dx = lim+ e−x xp dx
0 u→0 u
!
1 Z 1
= lim+ − e−x xp +p e−x xp−1 dx
u→0 u u
 Z 1 
1 −u p −x p−1
= lim+ − + e u + p e x dx
u→0 e u
Z 1
1 up
 
−x p−1
= lim+ − + u + p e x dx
u→0 e e u
Z 1
1
= − +p e−x xp−1 dx.
e 0
Deste modo,
Z +∞ Z 1 Z +∞
−x −x
Γ(p) = e p
x dx = x dx + e−x xp dx
e p
0 0 1
Z 1 Z +∞
1 1
= − +p e−x xp−1 dx + + p e−x xp−1 dx
e 0 e 1
Z +∞
= p e−x xp−1 dx = p · Γ(p − 1).
0
Portanto, está provado que
Γ(p) = p · Γ(p − 1) qualquer que seja p > 0.
∗ Pela propriedade anterior, dado n ∈ N∗ ,
Γ(n) = nΓ(n − 1) = · · · = n(n − 1) · · · Γ(0) = n!
Deste modo, a função Γ estende, ao intervalo (−1, +∞), a função fatorial definida no
conjunto N dos números naturais.
∗ Observe ainda que, dado p > 0, tem-se (dpe − 1) < p ≤ dpe e
Γ(p) = p(p − 1)(p − 2) · · · Γ(p − dpe)
onde (p − dpe) ∈ (−1, 0]. Isto diz que o conhecimento da função Γ no intervalo (−1, 0]
determina o seu conhecimento no intervalo (−1, +∞).
∗ É possı́vel demonstrar que a função Γ é diferenciável e, portanto, contı́nua com
Z +∞
0
Γ (p) = e−x xp ln(x) dx qualquer que seja p > −1.
0
Convém observar que, um pouco diferente do feito nesta aula, a literatura apresenta a seguinte
definição para a Função Gamma. Observe que, com pequenas modifições sobre p, tudo o que
foi feito até aqui permanece válido.
Definição 2 (Função Gama). A função gama é a funçao denotada por Γ e definida por
Z +∞
Γ(p) = e−x xp−1 dx converge qualquer que seja p > 0.
0
5

Sistema de Coordenadas Polares

Agora será apresentada, como uma opção ao sistema de coordenadas cartesianas, um outro
método para situar e localizar pontos num plano, denominado sistema de coordenadas polares.

F IGURA 1. O par (r, θ) é par de coordenadas polares do ponto P .

Um sistema de coordenadas polares, num plano, consiste numa semirreta nesse plano, deno-
minada semieixo polar, com origem num ponto O, denominado polo, onde a posição de cada
ponto P nesse plano é dada por um par ordenado (r, θ), sendo r a distância desse ponto ao polo
O e θ a medida, em radianos, do ângulo orientado
−→
do semieixo polar à semireta OP , conforme a figura 1.
Para isso, é necessário que esteja definida uma unidade de medida no semieixo polar. O par
(r, θ), assim definido, é chamado par de coordenadas polares do ponto P , r é denominado
raio polar e θ é denominado ângulo polar. Um plano munido de um sistema de coordenadas
polares é denominado plano polar.
√No plano polar esboçado na figura 2, (4, 0) é par de coordenadas polares do ponto A,
(4 2, π/4) é par de coordenadas polares do ponto B, (6, π/2) é par de coordenadas polares
do ponto C, (6, 2π/3) √ é par de coordenadas polares do ponto E, (6, π) é par de coordenadas
polares do ponto D, (3 2, 5π/4) é par de coordenadas polares do ponto F , (5, 3π/2) é par de
coordenadas polares do ponto G e (5, −π/6) é par de coordenadas polares do ponto H, por
exemplo. Ainda com relação à figura 2, observe que (5, 11π/6) também é par coordenadas
polares do ponto H.
Em verdade, se (r, θ) é par de coordenadas polares de um ponto P , então (r, θ + 2kπ) é,
também, par de coordenadas polares de P qualquer que seja k ∈ Z. Isto diz que cada ponto
possui, num plano polar, infinitos pares de coordenadas polares. Assim, dado um ponto P , não
faz sentido escrever a igualdade
P = (r, θ), onde (r, θ) é par de coordenadas polares de P ,
6

F IGURA 2. Pontos num sistema de coordenadas polares.

isto é, não é permitido identificar um ponto com um par de coordenadas polares. Este tipo de
identificação é possı́vel num plano munido de um sistema de coordenadas cartesianas, porque,
nesse sistema, a cada ponto desse plano, corresponde um único par de números reais, e a cada
par de números reais, corresponde um único ponto desse plano.

F IGURA 3. O par (−r, θ + π) é par de coordenadas polares de P .


7

Além disso, perceba que se P é um ponto num plano polar, distinto da sua origem, (r, θ) é
par de coordenadas polares de P e é dada um orientação à reta
←→ −→
OP , sendo OP a sua semirreta positiva,
então (−r, θ) é par de coordenadas polares do ponto Q, simétrico do ponto P em relação ao polo
O, sendo essa situação esboçada na figura 3. Assim, seguindo este princı́pio, como (r, θ + π)
é par de coordenadas polares de Q, segue que (−r, θ + π) é par de coordenadas polares de P .
Portanto,
((−1)k r, θ + kπ) é par de coordenadas polares de P qualquer que seja k ∈ Z.

Logo, com relação à figura 2, (−4, π) é par de coordenadas polares do ponto A, (−4 2, 5π/4)
é par de coordenadas polares do ponto B, (−6, 3π/2) é par de coordenadas polares do ponto
C, (−6, 5π/3) é par de √ coordenadas polares do ponto E, (−6, −2π) é par de coordenadas
polares do ponto D, (−3 2, π/4) é par de coordenadas polares do ponto F , (−5, π/2) é par
de coordenadas polares do ponto G e (−5, 5π/6) é par de coordenadas polares do ponto H, por
exemplo.
Vale a pena observar que se (r, θ) é par de coordenadas polares de P então
((−1)k r, θ + kπ) | k ∈ Z


é o conjunto das coordenadas polares de P , isto é, P não possui par de coordenadas polares que
não faça parte deste conjunto.

Conversão entre coordenadas polares e coordenadas cartesianas

Se (r, θ) é par de coordenadas polares de um ponto P então (x, y), com


x = r cos(θ) e y = r sen(θ),
é o par de coordenadas cartesianas do ponto P , onde os pontos de coordenadas cartesianas (1, 0)
e (0, 1) são aos pontos de coordenadas polares (1, 0) e (1, π/2) respectivamente. Na figura 4 os
pontos X e Y têm coordenadas cartesianas (1, 0) e (0, 1) respectivamente.
Reciprocamente, se (x, y) é o par de coordenadas
p cartesianas de um ponto P , então (r, θ) é
par de coordenadas cartesianas de P com r = x + y 2 e
2


 arctg(y/x) se x > 0,
arctg(y/x) + π se x < 0,

θ=

 arcctg(x/y) se y > 0 e
 arcctg(x/y) + π se y < 0.

Dada um função f , a equação


r = f (θ), onde r indica raio polar e θ indica ângulo polar,
é chamada de equação polar. A curva polar descrita por esta equação é o seu conjunto solução,
isto é, o conjunto de pontos do plano polar que a satisfazem em coordenadas polares. A figura
5 descreve, genericamente, uma curva polar.
Exemplo 2. A curva polar descrita pela equação polar r = 2 é a circunferência de raio 2
centrada no polo do plano polar. Observe que a equação polar r = −2 descreve a mesma
curva.
8

F IGURA 4. O eixo das abscissas é suporte do semieixo polar.

F IGURA 5. Curva polar onde o raio polar é função do ângulo polar.

Exemplo 3. A curva polar descrita pela equação r = θ, cujo esboço aparece na figura 6, é
denominada espiral de Arquimedes.

Exemplo 4. A curva polar descrita pela equação r = eθ , cujo esboço aparece na figura 7, é
denominada espiral exponencial.
9

F IGURA 6. Espiral de Arquimedes.

F IGURA 7. Espiral exponencial.


AULA 21
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Nesta aula dá-se continuidade ao estudo das curvas polares. Entretanto, primeiro perceba a
seguinte observação.
Observação 1. Num plano polar, (0, θ) é par de coordenadas do seu polo qualquer que seja
θ ∈ R.
Exemplo 1. Como fica a equação da reta em coordenadas polares?
Soluçao. Cada reta s, no plano cartesiano, tem equação cartesiana dada por
ax + by + c = 0, onde a, b, c ∈ R com a 6= 0 ou b 6= 0.
Portanto, em coordenadas polares, s tem equação
ar cos(θ) + br sen(θ) + c = 0, ou seja, r(a cos(θ) + b sen(θ)) = −c.
Se a 6= 0 tem-se
b
a cos(θ) + b sen(θ) = 0 ⇐⇒ sen(θ) 6= 0 e ctg(θ) = −
  a
b
⇐⇒θ = arcctg − + kπ com k ∈ Z.
a
Por outro lado, se b 6= 0 tem-se
a
a cos(θ) + b sen(θ) = 0 ⇐⇒ cos(θ) 6= 0 e tg(θ) = −
 a b
⇐⇒θ = arctg − + kπ com k ∈ Z.
b
Deste modo, se a 6= 0 e c 6= 0, s tem equação polar
 
c b
r=− para θ 6= arcctg − + kπ ∀k ∈ Z
a cos(θ) + b sen(θ) a
e, se b 6= 0 e c 6= 0, s tem equação polar
c  a
r=− para θ 6= arctg − + kπ ∀k ∈ Z.
a cos(θ) + b sen(θ) b
Diante da observação 1, se a 6= 0 e c = 0 então, para cada k ∈ Z, s tem, pela equação polar
 
b
θ = arcctg − + kπ
a
e, se b 6= 0 e c = 0 então, para cada k ∈ Z, s tem equação polar
 a
θ = arctg − + kπ.
b


Exemplo 2. Qual a curva descrita pela equação polar


r = a cos(θ), onde a > 0?

1
2

F IGURA 1. Reta s tem equação polar


c
r=−
a cos(θ) + b sen(θ)
para θ 6= arctg(− a ) + kπ qualquer que seja k ∈ Z.
b

F IGURA 2. A reta s tem equação polar θ = α.

Soluçao. Seja a > 0. Dado um ponto P , distinto do polo O, com coordenadas polares (r, θ) e
coordenadas cartesianas (x, y), tem-se r 6= 0, (x, y) 6= 0 e

r = a cos(θ) ⇐⇒ r2 = ar cos(θ)
⇐⇒ x2 + y 2 = ax
⇐⇒ x2 − ax + y 2 = 0
 a 2 2
 a 2
⇐⇒ x − +y =
2 2
3

Além disso, o par (0, π/2) de coordenadas polares do polo satisfaz a equação polar r = a cos(θ)
e o seu par (0, 0) de coordenadas cartesianas satisfaz a equação cartesiana
 a 2 2
 a 2
x− +y = .
2 2
Portanto, a equação polar
r = a cos(θ),
em coordenadas cartesianas, expressá-se como
 a 2  a 2
x− + y2 = ,
2 2
que é a equação da circunferência centrada no ponto (a/2, 0) e raio a/2. 

F IGURA 3. Equações polares de circunferências.

Observe, na figura 3, quatro equações polares, cada uma delas descrevendo uma circun-
ferência de raio a/2. Note a posição relativa do semieixo polar em relação a cada uma delas.
Com relação à curva polar r = a sen(θ) tem-se √ √
r θ=0 = 0, a
r θ=π/6 = 2 , a
r θ=π/4 = 2 , 2 r θ=π/3 = 2 3 ,
a
√ √
r θ=π/2 = a, r θ=2π/3 = a 2 3 , r θ=3π/4 = a 2 2 , r θ=5π/6 = a 2, √

r θ=π = 0, r θ=7π/6 = − a ,
2√ r θ=5π/4 = −a2 2 , r θ=4π/3 = −a2 3 ,

r θ=3π/2 = −a, −a −a
r θ=5π/3 = 2 , r θ=7π/4 = 2 2 , r θ=11π/6 = − a
3
2 e
r θ=2π = 0.
Exemplo 3. Qual a curva descrita pela equação polar
r = 1 + 2 cos(θ).
4

Soluçao. Observe que √ √


r θ=0 = 3, r θ=π/6 = 1 + 3, r θ=π/4 = 1 + 2, r θ=π/3 = 2,
r θ=π/2 = 1 e r θ=2π/3 = 0.
Assim, quando o ângulo polar θ varia de 0 a 2π/3, o raio varia descrescendo do seu valor
máximo 3 a 0. Continuando,
√ tem-se √
r θ=3π/4 = 1 − 2, r θ=5π/6 = 1 − 3 e r θ=π = −1.
Assim, quando o ângulo polar θ varia de 2π/3 a π, o raio varia descrescendo de 0 ao seu valor
mı́nimo −1.

F IGURA 4. Metade da limaçon r = 1 + 2 cos(θ).

Para fechar esta


√ curva tem-se √
r θ=7π/6 = 1 − 3, r θ=5π/4 = 1 − 2, r θ=4π/3
= 0, r θ=3π/2
= 1,
√ √
r θ=5π/3 = 2, r θ=7π/4 = 1 + 2, r θ=11π/6
=1+ 3 e r θ=2π
= 3,
otendo assim a curva fechada da figura 5. 

Dados a > 0 e b > 0, cada uma das curvas polares, descritas pelas equações
r = a + b cos(θ), r = a + b sen(θ)
r = −a + b cos(θ), r = −a + b sen(θ)
r = a − b cos(θ), r = a − b sen(θ)
r = −a − b cos(θ) e r = −a − b sen(θ),
é denominada limaçon.
A figura 6 esboça a limaçon r = a − b cos(θ) com 0 < a < b. Observe que o raio polar é
nulo quando o ângulo polar θ for dado por
θ = arccos(a/b) ou θ = 2π − arccos(a/b).
Além disso, o raio polar é dado por r = a − b < 0 quando o ângulo polar é dado por θ = 0 ou
θ = 2π, e o raio polar é máximo, dado por r = a + b, quando θ = π.
5

F IGURA 5. Limaçon r = 1 + 2 cos(θ).

F IGURA 6. Limaçon r = a − b cos(θ) com 0 < a < b.

A figura 7 esboça a limaçon r = −a + b sen(θ) com 0 < a < b. Observe que o raio polar é
nulo quando o ângulo polar θ for dado por
θ = arcsen(a/b) ou θ = π − arcsen(a/b).
6

F IGURA 7. Limaçon r = −a + b sen(θ) com 0 < a < b.

Além disso, o raio polar é dado por r = b − a > 0 quando o ângulo polar é dado por θ = π/2,
e o raio polar dado por r = −a − b quando θ = 3π/2.
AULA 22
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Exemplo 1. Dado a > 0, como é a curva descrita pela equação polar


r = a + a cos(θ)?
Soluçao. Primeiro, observe que
r = 0 ⇐⇒ a + a cos(θ) = 0 ⇐⇒ cos(θ) = −1
⇐⇒ θ = π + 2kπ com k ∈ Z.
Além disso,
√ √
r θ=0
= 2a, r θ=π/6
= a(1 + 3/2), r θ=π/4
= a(1 + 2/2), r θ=π/3
= 3a/2,
√ √
r θ=π/2
= a, r θ=2π/3
= a/2, r θ=3π/4
= a(1 − 2/2), r θ=5π/6
= a(1 − 3/2)
e r θ=π
= 0,
sendo o raio polar r estritamente decrescente com θ variando no intervalo [0, π]. Isto gera a
curva na figura 1. Por outro lado,

F IGURA 1. Curva polar r = a + a cos(θ) com θ ∈ [0, 2π].

√ √
r θ=7π/6
= a(1 − 3/2), r θ=5π/4
= a(1 − 2/2), r θ=4π/3
= a/2,

r θ=3π/2
= a, r θ=5π/3
= 3a/2, r θ=7π/4
= a(1 + 2/2),

r θ=11π/6
= a(1 + 3/2) e r θ=2π
= 2a,
sendo o raio polar r estritamente crescente com θ variando no intervalo [π, 2π]. Deste modo,
tem-se a curva fechada da figura 2, que é simétrica em relação ao eixo polar, pois
r(−θ) = r(θ) qualquer que seja θ ∈ R.

1
2

Além disso,

F IGURA 2. Cardioide r = a + a cos(θ).

r(θ + 2kπ) = r(θ) qualquer que seja θ ∈ R.



Dados a > 0, cada uma das curvas polares, descritas pelas equações
r = a + a cos(θ), r = a + a sen(θ),
r = −a + a cos(θ), r = −a + a sen(θ),
r = a − a cos(θ), r = a − a sen(θ),
r = −a − a cos(θ) e r = −a − a sen(θ),
é denominada cardioide.
A figura 3 apresenta um esboço da cardioide descrita pela equação polar r = a + a sen(θ),
onde a > 0. Veja que, neste caso,
r θ=−π/2
= 0, r θ=0
=a e r θ=π/2
= 2a,
sendo o raio polar estritamente crescente com θ variando no interval [−π/2, π/2], e
r θ=π/2
= 2a, r θ=π
=a e r θ=3π/2
= 0,
sendo o raio polar estritamente decrescente com θ variando no interval [π/2, 3π/2].
Exemplo 2. Dados a, b ∈ R, com a > b > 0, como é a curva descrita pela equação polar
r = a + b cos(θ)?
3

F IGURA 3. Cardioide r = a + a sen(θ).

Soluçao. Como a > b > 0, tem-se


r > 0 qualquer que seja θ ∈ R,
sendo
r θ=0
= a + b.
Observe também que
r θ=0
= a + b, r θ=π/2
=a e r θ=π
= a − b,

sendo o raio polar estritamente decrescente com θ variando no interval [0, π], e
r θ=π
= a − b, r θ=3π/2
=a e r θ=2π
= a + b,

sendo o raio polar estritamente crescente com θ variando no interval [π, 2π]. Deste modo, a
figura 4 apresenta um esboço da limaçon r = a + b cos(θ) num caso onde a > b > 0. Convém,
agora observar que, nem sempre, a limaçon r = a + b cos(θ), com a > b > 0, apresenta a
concavidade esboçada, em torno do ponto de coordenadas polares (a − b, π), na figura 4. 
Considerando o sistema de coordenadas cartesianas, associado ao sistema de coordenadas
polares, conforme a figura 5, a limaçon r = a + b cos(θ), com a > b > 0, apresenta a mudança
de convexidade, mostrada na figura 5 se, e somente se, existir θ ∈ (π/2, π) tal que,
r cos(θ) < b − a, ou seja, b cos2 (θ) + a cos(θ) + a − b < 0.
4

F IGURA 4. Limaçon r = a + b cos(θ) com 2b > a > b > 0.

F IGURA 5.

Isto ocorre se, e somente se, o polinômio quadrático bx2 + ax + a − b possuir duas raı́zes reais,
e distinas, e existir θ ∈ (π/2, π) tal que cos(θ) esteja, estritamente, entre estas duas raı́zes. O
discriminante do referido polinônio é dado por

∆ = a2 − 4b(a − b) = a2 − 4ab + 4b2 = (a − 2b)2 .


5

Logo, existirão duas raı́zes reais e distintas se, e somente se, a 6= 2b. Com a > 2b, as duas
raı́zes reais e distintas são dadas por
−a + (a − 2b) −2b −a − (a − 2b) 2b − 2a b−a
z1 = = = −1 e z2 = = =
2b 2b 2b 2b b
e, neste caso,
b−a
a − b > b, ou seja, b − a < −b o que dá z2 = < −1.
b
Portanto, não existe θ ∈ R tal que
z2 < cos(θ) < z1 = −1.
Por outro lado, se a < 2b, então as duas raı́zes reais e distintas são dadas por
−a − (2b − a) −2b −a + (2b − a) 2b − 2a b−a
z1 = = = −1 e z2 = = =
2b 2b 2b 2b b
e, neste caso,
b−a
a − b < b, ou seja, b − a > −b o que dá z2 = > −1.
b
Portanto, existe θ ∈ (π/2, π) tal que
z1 = −1 < cos(θ) < z2 .
Isto mostra que a limaçon r = a + b cos(θ) possui a configuração esboçada na figura 6 se, e
somente se, a ≥ 2b.

F IGURA 6. Limaçon r = a + b cos(θ) com a ≥ 2b > 0.


6

Exemplo 3. Dado a > 0, como é a curva descrita pela equação polar


r = a cos(2θ)?
Soluçao. Tem-se
√ √
r θ=0
= a, r θ=π/12
= a 3/2, r θ=π/8
= a 2/2, r θ=π/6
= a/2 e r θ=π/4
= 0,
sendo r estritamente decrescente com θ variando em [0, π/4]. Continuando,
√ √
r θ=π/3 = −a/2, r θ=3π/8 = −a 2/2, r θ=5π/12 = −a 3/2 e r θ=π/2 = −1,
sendo r estritamente decrescente com θ variando em [π/4, π/2]. Continuando,
√ √
r θ=7π/12 = −a 3/2, r θ=5π/8 = −a 2/2, r θ=2π/3 = −a/2 e r θ=3π/4 = 0,
sendo r estritamente crescente com θ variando em [π/2, 3π/4]. Continuando,
√ √
r θ=5π/6 = a/2, r θ=7π/8 = a 2/2, r θ=11π/12 = a 3/2 e r θ=π = a,
sendo r estritamente crescente com θ variando em [3π/4, π]. Até aqui tem-se a equação polar
descrita na figura 7. Continuando,

F IGURA 7. Curva polar r = a cos(θ) com a > 0 e θ ∈ [0, π].

√ √
r θ=13π/12
= a 3/2, r θ=9π/8
= a 2/2, r θ=7π/6
= a/2 e r θ=5π/4
= 0,
sendo r estritamente decrescente com θ variando em [π, 5π/4]. Continuando,
√ √
r θ=4π/3 = −a/2, r θ=11π/8 = −a 2/2, r θ=17π/12 = −a 3/2 e r θ=3π/2 = −a,
7

sendo r estritamente decrescente com θ variando em [5π/4, 3π/2]. Continuando,


√ √
r θ=19π/12 = −a 3/2, r θ=13π/8 = −a 2/2, r θ=5π/3 = −a/2 e r θ=7π/4 = 0,
sendo r estritamente crescente com θ variando em [3π/2, 7π/4]. Finalmente,
√ √
r θ=11π/6 = a/2, r θ=15π/8 = a 2/2, r θ=23π/12 = a 3/2 e r θ=2π = a,
sendo r estritamente crescente com θ variando em [7π/4, 2π]. Tem-se, então, a curva fechada
da figura 8 e, nela, está indicado o sentido percorrido quando θ varia de 0 a 2π. Esta curva é
simétrica em relação ao polo pois
r(θ + π) = r(θ) qualquer que seja θ ∈ R,
é simétrica em relação à reta suporte do semieixo polar pois
r(−θ) = r(θ) qualquer que seja θ ∈ R,
e é simétrica em relação à reta perpendicual ao semieixo polar, passando pelo polo, pois
r(π − θ) = r(θ) qualquer que seja θ ∈ R.
Além disso, basta esbocá-la para θ ∈ [0, 2π] pois
r(θ + 2π) = r(θ) qualquer que seja θ ∈ R.


F IGURA 8. Curva polar r = a cos(2θ) com [0, 2π].


8

Exemplo 4. Dado a > 0, como é a curva descrita pela equação polar


r = a cos(3θ)?
Soluçao. Tem-se
√ √
r θ=0
= a, rθ=π/18
= a 3/2, r θ=π/12
= a 2/2, r θ=π/9 = a/2, r θ=π/6 = 0
√ √
r θ=2π/9
= −a/2, r θ=π/4 = −a 2/2, r θ=5π/18 = −a 3/2 e r θ=π/3 = −a,
sendo r estritamente decrescente com θ variando em [0, π/3]. Continuando,
√ √
r θ=7π/18 = −a 3/2, r θ=5π/12 = −a 2/2, r θ=4π/9 = −a/2, r θ=π/2 = 0,
√ √
r θ=5π/9 = a/2, r θ=7π/12 = a 2/2, r θ=11π/18 = a 3/2, r θ=2π/3 = a,
sendo r estritamente crescente com θ variando em [π/3, 2π/3]. Continuando,
√ √
r θ=13π/18 = a 3/2, r θ=3π/4 = a 2/2, r θ=7π/9 = a/2, r θ=5π/6 = 0,
√ √
r θ=8π/9 = −a/2, r θ=11π/12 = −a 2/2, r θ=17π/18 = −a 3/2, r θ=π = −a,
sendo r estritamente decrescente com θ variando em [2π/3, π]. Tem-se, assim, a curva da figura
9. Observe que

F IGURA 9. Curva polar r = a cos(3θ) para θ ∈ [0, π].

r(θ + π) = a cos(3(θ + π)) = a cos(3θ + 3π)


= a cos(3θ + π + 2π) = a cos(3θ + π)
= −a cos(3θ) = −r(θ) qualquer que seja θ ∈ R.
9

Isto diz que, quando θ varia no intervalo [π, 2π], a curva polar da figura 9 é totalmente percor-
rida, mais uma vez, via sua equação polar r = a cos(3θ). 
Dados a > 0 e n natural não nulo, cada uma das curvas polares, descritas pelas equações
r = a cos(nθ), r = a sen(nθ)
r = −a cos(nθ), r = −a sen(nθ)
é denominada rosácea. Considere a rosácea r = a cos(nθ) com a > 0 e n ∈ N∗ . Como
r(θ + 2π) = r(θ) qualquer que seja θ ∈ R, ocorre uma pétala cada vez que r = a ou r = −a
no intervalo [0, 2π). Deste modo tem-se pétalas somente nos 2n ângulos
π π π π π
0 = 0. , 1 · , 2 · , 3 · , . . . , (2n − 1) · .
n n n n n
Observe que o raio polar é a nos ângulos n ângulos “pares”
π π π π π
0. , 2 · , 4 · , . . . , (2n − 2) · = 2(n − 1) · ,
n n n n n
gerando n pétalas distintas duas a duas, e é −a nos n ângulos “ı́mpares”
π π π π
1 · , 3 · , 5 · , . . . , (2n − 1) · ,
n n n n
gerando n pétalas distintas duas a duas. Mas perceba que, se n é par, então cada ângulo par
não é oposto pelo polo a qualquer ângulo ı́mpar e, portanto, há exatamente 2n pétalas distintas.
Agora, se n é ı́mpar, então cada ângulo par é oposto pelo polo a algum ângulo ı́mpar e, portanto,
há exatamente n pétalas distintas. Pode-se chegar a mesma conclusão observando que os n
ânulos distintos
π π π π π
0 = 0. , 1 · , 2 · , 3 · , . . . , (n − 1) · ,
n n n n n
geram n pétalas distintas, que
r(θ + π) = r(θ) qualquer que seja θ ∈ R
se n é par, e que
r(θ + π) = −r(θ) qualquer que seja θ ∈ R
se n é ı́mpar. Deste modo tem-se a rosácea de n pétalas quando n é ı́mpar e a rosácea de 2n
pétalas quando n é par.
Atenção: Uma disciplina que versa sobre coração (cardioide) e rosas (rosáceas) é uma disci-
plina que fala do Amor!!!
AULA 23
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Nesta aula abordamos os problemas de encontrar os pontos de intersecção de curvas em


coordenadas polares e de encontrar retas tangentes à uma curva polar. Para o problema de
intersecção, é importante a seguinte observação.
Observação 1. Sabe-se que se (r, θ) é par de coordenadas polares de um ponto P , então
(−1)k r, θ − kπ e (−1)k r, θ + kπ são pares de coordenadas polares de
 

P , qualquer que seja k ∈ Z. Sendo assim, seja α a curva descrita pela equação polar r = f (θ)
e, dado k ∈ Z, seja αk a curva descrita pela equação polar
r = (−1)k f (θ + kπ).
Se P ∈ α então existe θ0 tal que
(f (θ0 ), θ0 ) é par de coordenadas polares de P
e, portanto,
(−1)k f (θ0 ), θ0 − kπ é par de coordenadas polares de P.


Logo, com θ1 = θ0 − kπ,


(−1)k f (θ1 + kπ), θ1 é par de coordenadas polares de P


e, deste modo, P ∈ αk . Reciprocamente, se P ∈ αk então existe θ0 tal que


(−1)k f (θ0 + kπ), θ0 é par de coordenadas polares de P.


e, assim, com θ1 = θ0 + kπ,


(−1)k f (θ1 ), θ1 − kπ é par de coordenadas polares de P


Portanto,
(f (θ1 ), θ1 ) é par de coordenadas polares de P,
donde tem-se P ∈ α. Isto diz que α = αk , ou seja, se α é a curva polar descrita pela equação
r = f (θ) entao α é descrita pela equação r = (−1)k f (θ + kπ)
qualquer que seja k ∈ Z. Lembre que, dado a > 0, a equações polares r = a e r = −a
descrevem a mesma circunferência no plano polar.
Exemplo 1. Dado a, b > 0, considere a curva α descrita pela equação polar
r = a + b cos(θ).
Dado k ∈ Z, α também é descrita pela equação
r = (−1)k · (a + b cos(θ + kπ)).
Agora, veja que, se k é par, então
(−1)k · (a + b cos(θ + kπ)) = a + b cos(θ) ∀θ ∈ R
e, se k é ı́mpar, então
(−1)k · (a + b cos(θ + kπ)) = −(a − b cos(θ)) = −a + b cos(θ) ∀θ ∈ R.

1
2

Assim, a duas equações


r = a + b cos(θ) e r = −a + b cos(θ)
descrevem a mesma curva α.
Veja que, no sistema de coordenadas cartesianas, sendo f e g duas funções, para econtrar os
pontos de intersecção entre os gráficos de f e de g, basta resolver a equação
f (x) = g(x).
Não temos isso em coordenadas polares. Suponha, na figura 1, que f (π/6) = 1, f (π/6 +
2π) = 2 e g(π/6) = 2. O ponto P , na intersecção das curvas descritas pelas equações r = f (θ)
e r = g(θ), não é encontrado pela resolução da equação
f (θ) = g(θ).
Ele é determinado pela resolução da equação
f (θ + 2π) = g(θ),
pois (f (π/6 + 2π), π/6 + 2π) e (g(π/6), π/6) são pares de coordenadas polares do ponto P .

F IGURA 1. Intersecção de curvas em coordenadas polares.

Considere a situação geral. Sejam f e g funções e, α e β, as duas curvas polares descritas


pelas equações r = f (θ) e r = g(θ) respectivamente. Se θ0 é solução da equação f (θ) = g(θ)
então (f (θ0 ), θ0 ) = (g(θ0 ), θ0 ) é par de coordenadas polares de um ponto P na intersecção das
curvas α e β. Entretanto, o exemplo da figura 1 diz que se P é ponto na intersecção das curvas
α e β, não necessariamente P possui um par de coordenadas polares da forma (f (θ1 ), θ1 ), onde
θ1 é solução da equação f (θ) = g(θ). Assim, o conjunto solução da equação f (θ) = g(θ)
3

não necessariamente determina o conjunto intersecção das curvas α e β. Neste caso, a referida
intersecção é dada pelo conjunto [
α∩β = Ωij
i,j∈Z
onde
Ωij = (−1)i f (θ + iπ), θ (−1)i f (θ + iπ) = (−1)j g(θ + jπ)
 

quaisquer que sejam i, j ∈ Z, isto é, dados i, j ∈ Z, Ωij é o conjunto determinado pela solução
da equação
(−1)i f (θ + iπ) = (−1)j g(θ + jπ).
Observe que, embora pareça o contrário, em muitos casos não se tem um conjunto infinito de
equações para se resolver. Observe o próximo exemplo.
Exemplo 2. Encontre os pontos de interseccção entre as curvas polares α e β das por
r = 2 cos(2θ) e r = 1,
respectivamente.

Soluçao.

F IGURA 2. Rosácea de 4 pétalas r = 2 cos(2θ) e circunferência r = 1.

A figura 2 apresenta o esboço das duas curvas. Notamos, por ela, que há 8 (oito) pontos na
intersecção: A, B, C, D, E, F, G e H. Dado k ∈ Z, a rosácea α é descrita pela equaçao
r = (−1)k 2 cos(2(θ + kπ))
e a circunferência β é descrita pela equação
r = (−1)k ,
4

isto é, a rosácea α é descrita pela equações


r = 2 cos(2θ) e r = −2 cos(2θ),
e a circunferência β é descrita pelas equações
r = 1 e r = −1.
Assim, precisa-se resolver duas equações:
2 cos(2θ) = 1 e 2 cos(2θ) = −1.
Primeiro, tem-se
1
cos(2θ) = ⇐⇒ 2θ = π/3 + 2kπ com k ∈ Z ou 2θ = 5π/3 + 2kπ com k ∈ Z
2
⇐⇒ θ = π/6 + kπ com k ∈ Z ou θ = 5π/6 + kπ com k ∈ Z,
o que determina os quatro pontos com par de coordenadas polares
(1, π/6), (1, 7π/6), (1, 5π/6) e (1, 11π/6),
isto é, os pontos A, E, D e H respectivamente. Para finalizar, tem-se
1
cos(2θ) = − ⇐⇒ 2θ = 2π/3 + 2kπ com k ∈ Z ou 2θ = 4π/3 + 2kπ com k ∈ Z
2
⇐⇒ θ = π/3 + kπ com k ∈ Z ou θ = 2π/3 + kπ com k ∈ Z,
o que determina os quatro pontos com par de coordenadas polares
(−1, π/3), (−1, 4π/3), (−1, 2π/3) e (−1, 5π/3),
isto é, os pontos F, B, G e C respectivamente. 

Reta tangente a uma curva polar.

Sejam f uma função diferenciável e α uma curva descrita pela equação polar r = f (θ). Em
coordenadas cartesianas tem-se
x = r cos(θ) = f (θ) cos(θ) e y = r sen(θ) = f (θ) sen(θ).
Assim, pela Regra do Produto,
dx dr dy dr
= cos(θ) − r sen(θ) e = sen(θ) + r cos(θ).
dθ dθ dθ dθ
Portanto, pela Regra da Cadeia e pelo Teorema da Função Inversa, sendo dx/dθ 6= 0,
dy dr
dy dy dθ sen(θ) + r cos(θ)
= · = dθ = dθ ,
dx dθ dx dx dr
cos(θ) − r sen(θ)
dθ dθ
5

que é o coeficiente ângular da reta tangente à curva α no ponto P com par de coordenadas
polares (r, θ). Portanto, com θ 6= π/2 + kπ qualquer que seja k ∈ Z, tem-se cos(θ) 6= 0 e, deste
modo,
dr
dy tg(θ) + r
= dθ .
dx dr
− r tg(θ)

Exemplo 3. Qual é a reta tangente à curva α, descrita pela equação polar
r = 1 + cos(θ),
no ponto com ângulo polar θ = π/2?
Soluçao. Tem-se
dr
r θ=π/2
=1 e = − sen(θ) θ=π/2 = −1.
dθ θ=π/2
Assim, o coeficiente angular da reta tangente à curva α, no ponto com par de coordenadas
polares (1, π/2), é dado por
dr
dy (π/2) sen(π/2) + r(π/2) cos(π/2) (−1) · 1 + 1 · 0
= dθ = = 1.
dx θ=π/2 dr (−1) · 0 − 1 · 1
(π/2) cos(π/2) − r(π/2) sen(π/2)

Deste modo, a referida reta tangente, tem equação cartesina y = x + 1 e equação polar
1
r= ,
− cos(θ) + sen(θ)
conforme a figura 3. 

F IGURA 3. Reta tangente à curva polar r = 1 + cos(θ) em θ = π/2.


6

Exemplo 4. Sejam a, b ∈ R com 0 < a < b e α o segmento da limaçon descrito pela equação

r = a + b cos(θ) com θ ∈ [0, π].

Qual reta tangente ao segmento α no ponto de ângulo polar θ0 = arccos(−a/b).

Soluçao. Tem-se cos(θ0 ) = −a/b 6= −1 e, portanto, r(θ0 ) = 0, sen(θ0 ) 6= 0 e (dr/dθ)(θ0 ) 6= 0.


Daı́, o coeficiente angular da referida reta tangente é

dr dr
dy (θ0 ) tg(θ0 ) + r(θ0 ) (θ0 ) tg(θ0 )
= dθ = dθ = tg(θ0 )
dx θ=θ0 dr dr
(θ0 ) − r(θ0 ) tg(θ0 ) (θ0 )
dθ dθ
e, assim, a sua inclinação é θ0 . Veja a figura 4. 

F IGURA 4. Reta tangente à curva polar r = a + b cos(θ) em θ0 = arccos(−a/b).

Para facilitar o cálculo da inclinação da reta tangente, em coordenadas polares, tem-se a


seguinte alternativa. Sejam α a inclinação da reta tangente, e γ o ângulo orientado do raio polar
para reta tangente, conforme a figura 5. Há dois casos para consideração. No caso da esquerda
na figura 5 tem-se

α = γ + θ e tg(γ) = tg(α − θ).

No caso da direita na figura 5 tem-se

γ = α + π − θ e tg(γ) = tg(α − θ + π) = tg(α − θ).


7

F IGURA 5. Ângulo γ do raio polar para reta tangente.

Assim, em qualquer dos dois casos, tem-se


tg(α) − tg(θ)
tg(γ) = tg(α − θ) =
1 + tg(α) · tg(θ)
dr dr dr
tg(θ) + r tg(θ) + r − tg(θ) + r tg2 (θ)
dθ − tg(θ) dθ dθ
dr dr
− r tg(θ) − r tg(θ)
= dθ = dθ
dr dr dr 2
tg(θ) + r − r tg(θ) + tg (θ) + r tg(θ)
1 + dθ · tg(θ) dθ dθ
dr dr
− r tg(θ) − r tg(θ)
dθ dθ
r + r tg2 (θ) r(1 + tg2 (θ)) r
= = = , isto é,
dr dr 2 dr 2 dr
+ tg (θ) (1 + tg (θ))
dθ dθ dθ dθ
r
tg(γ) = .
dr

Perceba que a fórmula calculando γ é mais simples do que a fórmula que calcula α.
Exemplo 5. Sejam a > 0 e o β segmento da cardioide descrito pela equação
r = a + a cos(θ) com θ ∈ [0, π].
Qual é a reta tangente à curva β no ponto com ângulo polar θ = π.
Soluçao. Observe a figura 6. O ângulo γ medido do raio polar para reta tangente, no sentido
antihorário, é dado por
r a + a cos() 1 + cos(θ)
γ = α − θ + π e tg(γ) = = =− .
dr −a sen(θ) sen(θ)

8

Dai, pela Regra de L’Hôspital,


1 + cos(θ) − sen(θ)
lim− tg(γ) = lim− − = lim− − = lim− tg(θ) = 0− .
θ→π θ→π sen(θ) θ→π cos(θ) θ→π

Portanto,
lim γ = π e, assim, lim− α = lim− (γ + θ − π) = π.
θ→π − θ→π θ→π
Isto diz que a inclinação da referida reta tangente é π, isto é, a reta tangente ponto com par de
coordenadas polares (0, π) é a reta suporte do semieixo polar. 

F IGURA 6. Reta tangente no polo é a reta suporte do semieixo polar.


AULA 24
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula aborda o problema do cálculo da área de uma região, limitada por curvas polares, e
do cálculo do comprimento de uma curva polar. São dadas as definições e as fórmulas para os
seus cálculos. No que seque, para faciliar as expressões das regiões de interesse, dados r ∈ R
e θ ∈ R, P (r, θ) denota o ponto P que possui (r, θ) como um par seu de coordenadas polares.
Assim,
P (r, θ) = P ((−1)k r, θ + kπ) quaisquer que sejam r ∈ R, θ ∈ R e k ∈ Z.

F IGURA 1. Pontos no plano polar.

Área de região limitadada por curvas polares

Sejam a, b ∈ R com 0 < b−a ≤ 2π, f uma função contı́nua em [a, b] com f (x) ≥ 0 qualquer
que seja x ∈ [a, b] e Ω a região polar dada por
Ω := { P (r, θ) | a ≤ θ ≤ b e 0 ≤ r ≤ f (θ) } ,
ou seja, Ω é a região limitada pela curva α, cuja equação polar é r = f (θ) com θ ∈ [a, b], e
pelas retas com equações polares θ = a e θ = b.
Dada uma partição P = (θ0 , θ1 , . . . , θn ) de [a, b], com coeficientes β1 , . . . , βn , seja para cada
i ∈ { 1, . . . , n }, Si o setor circular dado por
Si := { P (r, θ) | θi−1 ≤ θ ≤ θi e 0 ≤ r ≤ f (βi ) } ,
isto é, Si é o setor cirular de raio f (βi ) e limitado pelas retas θ = θi−1 e θ = θi . Assim o arco
de Si mede
f (βi ) · ∆θi · f (βi ) 1
f (βi ) · ∆θi e |Si | = área(Si ) = = (f (βi ))2 · ∆θi
2 2

1
2

F IGURA 2. Região limitada pelas curvas polares r = f (θ), θ = a e θ = b.

qualquer que seja i ∈ { 1, . . . , n }. Sendo ΩP a região dada por


ΩP := S1 ∪ S2 ∪ · · · ∪ Sn ,
conforme esboço na figura 3, tem-se
n
X X1
|ΩP | = área(ΩP ) = |Si | = (f (βi ))2 · ∆θi .
i=1 P
2
Pode-se estimar a área de Ω pela área de ΩP quando P é uma partição fina em relação ao

F IGURA 3. Cada setor circular Si tem raio f (βi ) e ângulo ∆θi .


3

intervalo [a, b] e, observe, é um número real o limite

X1 Z b
2 1
lim |ΩP | sendo lim |ΩP | = lim (f (βi )) · ∆θi = (f (θ))2 dθ
|P|→0 |P|→0 |P|→0
P
2 a 2

pois, por hipótese, f é contı́nua em [a, b] e, portanto, integrável a Riemann em [a, b]. Deste
modo, segue a seguinte definição.

Definição 1. A área da região Ω é o número real |Ω| dado por


Z b Z b
1 1
|Ω| := (f (θ))2 dθ = r2 dθ.
a 2 2 a

F IGURA 4. Região Ω limitada pela cardioide r = a + a cos(θ).

Exemplo 1. Encontre a área da região Ω limitada pela curva descrita pela equação polar

r = a + a cos(θ), onde a > 0.

Soluçao. A região Ω é limitada pelo segmento da cardioide descrito pela equação polar

r = a + a cos(θ) com θ ∈ [0, 2π].

Tem-se o esboço desta região na figura 4. Veja que

Ω := { P (r, θ) | 0 ≤ θ ≤ 2π e 0 ≤ r ≤ a + a cos(θ) } .
4

Deste modo,
1 2π
Z
|Ω| = (a + a cos(θ))2 dθ
2 0
1 2 2π
Z
= a (1 + 2 cos(θ) + cos2 (θ)) dθ
2 0
1 2 2π 3
Z  
1
= a + 2 cos(θ) + cos(2θ) dθ
2 0 2 2
  2π
1 2 3 1
= a · θ + 2 sen(θ) + sen(2θ)
2 2 4 0
1 2 3 3 2
= a · · 2π = a π u.a.
2 2 2


F IGURA 5. Região Ω limitada por uma pétala da rosácea r = a sen(2θ).

Exemplo 2. Qual a área de uma pétala da rosácea descrita pela equação


r = a sen(2θ), onde a > 0.
Soluçao. A figura 5 apresenta um esboço da referida rosácea. A pétala destacada nesta fı́gura é
a região Ω dada por
Ω := { P (r, θ) | 0 ≤ θ ≤ π/2 e 0 ≤ r ≤ a sen(2θ) } .
5

Assim, tem-se
Z π/2 Z π/2
1 2 1
|Ω| = r dθ = (a sen(2θ))2 dθ
2 0 2 0
π/2
2
a2 π/2
Z Z
a 2
= sen (2θ) dθ = (1 − cos(4θ)) dθ
2 0 4 0
 π/2
a2 a2 π a2 π

sen(4θ)
= · θ+ = · = u.a.
4 4 0 4 2 8

F IGURA 6. Região Ω interior à circunferência e exterior à rosácea.

Exemplo 3. Encontre a área da região Ω interior à circunferência r = 3 cos(θ) e exterior à


cardioide r = 1 + cos(θ).

Soluçao. A figura 6 apresenta um esboço das duas curvas polares, destacando a região Ω de
interesse. Para descobrir θ1 e θ2 , veja que as duas curvas se intersectam quando

3 cos(θ) = 1 + cos(θ), isto é, cos(θ) = 1/2.

Deste modo, escolhendo θ1 = −π/3 e θ1 = π/3, tem-se

Ω := { P (r, θ) | −π/3 ≤ θ ≤ π/3 e 1 + cos(θ) ≤ r ≤ 3 sen(θ) } .


6

Assim
π/3
1 π/3
Z Z
1 2
|Ω| = (3 cos(θ)) dθ − (1 + cos(θ))2 dθ
2 −π/3 2 −π/3
Z π/3
1
= (9 cos2 (θ) − 1 − 2 cos(θ) − cos2 (θ)) dθ
2 −π/3
1 π/3
Z
= (8 cos2 (θ) − 1 − 2 cos(θ)) dθ
2 −π/3
1 π/3
Z
= (4 + 4 cos(2θ) − 1 − 2 cos(θ)) dθ
2 −π/3
1 π/3
Z
= (3 + 4 cos(2θ) − 2 cos(θ)) dθ
2 −π/3
Z π/3
= (3 + 4 cos(2θ) − 2 cos(θ)) dθ
0
π/3
= (3θ + 2 sen(2θ) − 2 sen(θ))
0
π
= 3 · + 2 sen(2π/3) − 2 sen(π/3) = π u.a.
3


Comprimento de curvas polares

Sejam α, β ∈ R, com α < β, f uma função de classe C 1 em [α, β] e a curva γ descrita pela
equação r = f (θ). Em coordenadas cartesianas, sendo
x = r cos(θ) = f (θ) cos(θ) e y = r sen(θ) = f (θ) sen(θ),
tem-se
 2  2  2  2
dx dy dr dr
+ = cos(θ) − r sen(θ) + sen(θ) + r cos(θ)
dθ dθ dθ dθ
 2
dr dr
= cos2 (θ) − 2r cos(θ) sen(θ) + r2 sen2 (θ) +
dθ dθ
 2
dr dr
sen2 (θ) + 2r cos(θ) sen(θ) + r2 cos2 (θ)
dθ dθ
 2
dr
= + r2 .

Suponha, agora, que dx/dθ 6= 0 no intervalo [α, β]. Então, com a = x θ=α
eb = x θ=β
tem-se, pelo Teorema da Função Inversa, que θ = g(x) onde
g : [a, b] −→ [α, β] é de Classe C 1 se dx/dθ > 0 em [α, β]
7

ou
g : [b, a] −→ [α, β] é de Classe C 1 se dx/dθ < 0 em [α, β].
Assim, pela Regra da Cadeia, y = h(x) onde h é uma função de classe C 1 em [a, b], se a < b,
ou [b, a], se b < a, isto é, a curva γ é o gráfico de uma função, na variável x, de classe C 1 .
Portanto, o comprimento da curva γ é dado por
s  2
Z bp Z b
0 2
dy
Lγ = 1 + (h (x)) dx = 1+ dx
a a dx
s 2
Z β 
dy/dθ dx
= 1+ · dθ
α dx/dθ dθ
s
Z β  2  2
dx dy 1 dx
= + · · dθ
α dθ dθ dx/dθ dθ
s
Z β  2
dr
= + r2 dθ
α dθ
se dx/dθ > 0 em [α, β], e
s 2
Z a Z a 
p
0 2
dy
Lγ = 1 + (h (x)) dx = 1+ dx
b b dx
s 2
Z α 
dy/dθ dx
= 1+ · dθ
β dx/dθ dθ
s
Z α  2  2
dx dy 1 dx
= − + · · dθ
β dθ dθ dx/dθ dθ
s
Z β  2
dr
= + r2 dθ
α dθ
se dx/dθ < 0 em [α, β].
No caso em que dy/dθ 6= 0 no intervalo [α, β], chega-se de modo análogo que a curva γ é o
gráfico de uma função, na variável y, de classe C 1 , e que
s
Z β  2
dr
Lγ = + r2 dθ.
α dθ
Podendo a curva γ ser decomposta em uma quantidade finita de segmentos, que são gráficos de
funções, de classe C 1 , na variável x ou na variável y, tem-se a seguinte definição.
Definição 2. O comprimento da curva γ é o número real Lγ dado por
s
Z β  2
dr
Lγ = + r2 dθ.
α dθ
8

F IGURA 7. Curva polar como gráfico de função na variável x.

Exemplo 4. Dado a > 0, qual o comprimento da curva γ descrita pela equação


r = a cos(θ) com θ ∈ [0, π]?
Soluçao. Pela definição 2 tem-se
s
Z β  2
dr
Lγ = + r2 dθ
α dθ
Z πq
= (−a sen(θ))2 + (a cos(θ))2 dθ
Z0 π π
= a dθ = aθ = aπ.
0 0
Observe que a curva γ é uma circunferência de raio a/2, sendo totalmente percorrida quando θ
varia de 0 a π. Assim o resultado vai ao encontro do que já é conhecido. 
Exemplo 5. Qual o comprimento da curva γ descrita pela equação
r = eθ com θ ∈ [0, 2π]?
Soluçao. Pela definição 2 tem-se
s 2
Z β
dr
Lγ = + r2 dθ
α dθ
Z 2π q
= (eθ )2 + (eθ )2 dθ
0
Z 2π q
2
√ Z 2π
= θ
2 (e ) dθ = 2 eθ dθ
0 0
√ 2π √
= 2 eθ = 2(e2π −1).
0

AULA 25
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Nesta aula inicia-se um estudo introdutório das equações diferenciais ordinárias. Uma equação
matemática é uma pergunta feita usando, para conveniente economia de expressão, sı́mbolos
matemáticos previa e universalmente estabelecidos. Como exemplo, a equação
2x − 1 = 3
deve ser lida com a pergunta: “qual é o conjunto formado por cada número real tal que a
diferença entre seu dobro e 1 é 3?”. Como mais um exemplo, a equação
x2 − 2x = 3
deve ter a seguinte leitura: “qual o conjunto formado por cada número real tal que a diferença
entre seu quadrado e seu dobro é 3?”
Assim, é uma equação diferencial ordinária (EDO), um outro tipo de interrogação matemática,
uma pergunta a respeito de uma função, de variável real e de valor real, e suas derivadas. Se-
guindo este princı́pio de interpretação, a equação
f 0 (x) − 3f (x) = 0
deve ser traduzida como a pergunta: “qual é conjunto formado por cada função diferenciável
tal que a diferença entre a sua derivada e o seu triplo é a função nula”. Tem-se, portanto,
os seguintes exemplos de equações diferenciais ordinárias ou, simplesmente, nesta disciplina,
equações diferenciais.
f 0 (x) + xf (x) = x g 0 (x) − g(x) = 0
f 00 (x) + 2xf 0 (x) + f (x) = 0 g 00 (x) − g(x) = sen(x)
p
f 00 (x) = 1 + (f 0 (x))2 g 0 (x) = x(g(x))2
1 x2
f 0 (x) = (f (x))2 − 1 g 0 (x) =

2 (g(x))2
g(x)
f 000 (x) − 2f 00 (x) + xf (x) = x2 g 0 (x) =
g(x) + 1

A ordem de uma equação diferencial é, por definiçao, a ordem da mais alta derivada que
ocorre na equação. Assim, por exemplo,
a equação diferencial f 0 (x) + xf (x) = x possui ordem 1,
a equação diferencial g 00 (x) − g(x) = sen(x) possui ordem 2 e
a equação diferencial f 000 (x) − 2f 00 (x) + xf (x) = x2 possui ordem 3.

Solução de uma equação diferencial

Com relação à equação diferencial


f 0 (x) + xf (x) = x,

1
2

dizemos que uma função g é solução desta equação quando g é diferenciável e


g 0 (x) + xg(x) = x qualquer que seja x ∈ Dg .
2 /2
Assim, a função g, dada por g(x) = 1+e−x , é solução desta equação diferencial pois Dg = R,
g é diferenciável e
2 /2 2 /2
g 0 (x) + xg(x) = −x e−x +x · (1 + e−x )
−x2 /2 −x2 /2
= −x e +x + x e
= x qualquer que seja x ∈ R.
Observe que não foi dito, nem pode ser dito, que “g é a solução desta equação”, ou seja, não se
2
usou o artigo definido “a”. Veja que a função h, dada por h(x) = 1 + 2 e−x /2 , é diferenciável,
com Dh = R, e
2 /2 2 /2
h0 (x) + xh(x) = −2x e−x +x · (1 + 2 e−x )
2 2
= −2x e−x /2 +x + 2x e−x /2
= x qualquer que seja x ∈ R,
isto é, h é outra solução da referida equação diferencial, distinta de g. De fato, dado c ∈ R, a
2
função fc , dada por fc (x) = 1 + c e−x /2 , é solução da equação diferencial, pois Dfc = R, fc é
diferenciável e
2 /2 2 /2
fc0 (x) + xfc (x) = −cx e−x +x · (1 + c e−x )
2 2
= −cx e−x /2 +x + cx e−x /2
= x qualquer que seja x ∈ R.
Portanto, a citada equação possui infinitas soluções. Assim, o seu conjunto solução S é, por
definição, o conjunto formado por cada uma das suas soluções, ou seja,
S := { φ | φ é função diferenciável e φ0 (x) + xφ(x) = x qualquer que seja x ∈ Dφ } .
2
Diante do exposto, a função q, dada por q(x) = ex , não é solução da equação diferencial
f 0 (x) + xf (x) = x
pois, Dq = R, q é diferenciável, mas
2 2 2
q 0 (x) + xq(x) = 2x ex +x ex = 3x ex 6= x ∀x 6= 0.
Logo, sendo g, e h as funções recentemente definidas, tem-se
g ∈ S, h ∈ S e q 6∈ S.
Para reforçar, o conjunto solução da equação diferencial
p
f 00 (x) = 1 + (f 0 (x))2 ,
é o conjunto S2 dado por
n p o
00 0 2
S2 := φ φ é função duas vezes diferenciável e φ (x) = 1 + (φ (x)) ∀x ∈ Dφ .
3

A função cosh pertence ao conjunto S2 , pois Dcosh = R, cosh é duas vezes diferenciável e
q q
00 0
cosh (x) − 1 + (cosh (x)) = cosh(x) − 1 + senh2 (x)
2
q
= cosh(x) − cosh2 (x)
= cosh(x) − cosh(x) = 0 ∀x ∈ R.

Forma geral de uma equação diferencial

Introduzindo-se um sistema de coordenadas cartesianas num plano, cria-se uma correpondência


bijetiva entre os pontos desse plano e os pares ordenados do produto cartesiano
R2 := R × R := { (x, y) | x ∈ R e y ∈ R } .
Inserindo-se um sistema de coordenadas cartesianas no espaço, cria-se uma correpondência
bijetiva entre os pontos do espaço e as triplas ordenadas do produto cartesiano
R3 := R × R × R := { (x, y, z) | x ∈ R, y ∈ R e z ∈ R } .
Deste modo, vida identificação de cada ponto com o seu par de coordenadas cartesianas, R2
é denominado plano euclidiano, ou espaço euclidiano bidimensional. Do mesmo modo, via
identificação de cada ponto com o seu trio de coordenadas cartesianas, R3 é denominado espaço
euclidiano tridimensional. De modo geral, dado n ∈ N∗ , o produto cartesiano
Rn := R × · · · × R
:= { (x1 , . . . , xn ) | x1 ∈ R, . . . , xn ∈ R }
é denominado de espaço euclidiano n-dimensional. Cada elemento x = (x1 , . . . , xn ) de Rn é
chamado de n-upla. R1 := R é o espaço euclidiano unidimensional.
Dados Ω ⊂ Rn e uma função F : Ω −→ R, dizemos que F é uma função de n variáveis reais
e de valor real. Assim, a função F , dada por
F (x, y) = x2 + xy 2 ,
é uma função de duas variáveis reais e de valor real, a função G, dada por
p
G(x, y, z) = x2 − y 2 − z 2 ,
é uma função de três variáveis reais e de valor real, e a função H, dada por
x + 2y
H(x, y, s, t) =
x+y+s+t
é uma função de quatro variáveis reais e de valor real. Perceba que tais funções estão definiadas
somente pelas suas leis de formação e, neste caso, seus domı́nios estão implicitamente dados.
Portanto,
DF = R2 , DG = (x, y, z) x2 − y 2 − z 2 ≥ 0

e
DH = { (x, y, s, t) | x + y + s + t 6= 0 } .
4

Além disso, para F , G e H, anteriormente difinidas, tem-se, por exemplo,


F (−1, 2) = (−1)2 + (−1) · 22 = −3 F (0, 3) = 02 + 0 · 32 = 0
√ √ √ √ √
G(2, 1, 0) = 22 − 12 − 02 = 3 G( 3, 2, 1) = 3 − 2 − 1 = 0
1+2·0 1 1+1 2
H(1, 0, 1, 1) = = H(1, 1/2, 1/2, 1) = =
1+0+1+1 3 1+1+1 3
3
G(cosh(x), senh(x), 1) = 0 ∀x ∈ R H(x, x, x, x) = ∀x 6= 0
4

Qual a relação entre funções de várias variáveis reais e equações diferenciais? Primeiro veja
que a equação diferencial
f 0 (x) + xf (x) = x
pode ser colocada na forma
f 0 (x) = F (x, f (x))
onde F é a função de duas variáveis reais e valor real dada por
F (x, y) = x − xy,
assim como a equação diferencial
f 00 (x) + 2xf 0 (x) + f (x) = x
pode ser posta na forma
f 00 (x) = F (x, f (x), f 0 (x))
onde F é a função de três variáveis reais e valor real dada por
F (x, y, z) = x − y − 2xz.
Observe, então, como exemplos, as seguinte equivalências, para equações diferenciais.

f 0 (x) − f (x) = x ⇐⇒ f 0 (x) = F (x, f (x))


onde F (x, y) = x + y,
p
f 00 (x) = 1 + (f 0 (x))2 ⇐⇒ f 00 (x) = F (x, f (x), f 0 (x))

onde F (x, y, z) = 1 + z 2 e
f 000 (x) − x2 f 00 (x) + xf 0 (x) − f (x) = 0 ⇐⇒ f 000 (x) = F (x, f (x), f 0 (x), f 00 (x))
onde F (x, y, z, w) = x2 w − xz + y.
Assim, dado n ∈ N∗ , pode-se dizer que uma equação diferencial de ordem n é uma equação
do tipo
f (n) (x) = F (x, f (x), f 0 (x), . . . , f (n−1) (x))
onde F é uma função de (n + 1) variáveis reais e de valor real. Uma função ψ é solução desta
equação quando ψ é n-vezes diferenciável,
(x, ψ(x), ψ 0 (x), . . . , ψ (n−1) (x)) ∈ DF ∀x ∈ Dψ e

ψ (n) (x) = F (x, ψ(x), ψ 0 (x), . . . , ψ (n−1) (x)) ∀x ∈ Dψ .


5

O conjunto solução desta equação diferencial é o conjunto S formado por cada solução desta
equação, ou seja,
S := { ψ | ψ é funçao n vezes diferenciável,
(x, ψ(x), ψ 0 (x), . . . , ψ (n−1) (x)) ∈ DF ∀x ∈ Dψ e
ψ (n) (x) = F (x, ψ(x), ψ 0 (x), . . . , ψ (n−1) (x)) ∀x ∈ Dψ }.
Portanto, uma equação diferencial de ordem 1 é uma equação do tipo
f 0 (x) = F (x, f (x)),
onde F é uma função de duas variáveis reais e de valor real, e o seu conjunto solução S é dado
por
S := { ψ | ψ é função diferenciável, (x, ψ(x)) ∈ DF ∀x ∈ Dψ e
ψ 0 (x) = F (x, ψ(x)) ∀x ∈ Dψ }.
Dada uma equação diferencial, o problema que se apresenta é o de encontrar o seu conjunto
soluçao. Este problema será abordado, nesta disciplina, a partir das equações diferenciais de
ordem 1, começando-se pela seguinte observação.
Observação 1. Dada uma função k, resolver a integral indefinida
Z
k(x) dx

é encontrar o conjunto soluçao da equação diferencial


f 0 (x) = k(x).
Exemplo 1. Como resolver a equação diferencial
f 0 (x) = x2 ?
Soluçao. Um função φ é solução da equação diferencial f 0 (x) = x2 se, e somente se, φ é
diferenciável e φ0 (x) = x2 qualquer que seja x ∈ Dφ . Logo φ é solução da equação diferencial
se, e somente se,
x3
Z
φ(x) = x2 dx, isto é, φ(x) = + C,
3
onde C é uma constante real. Assim, o conjunto solução S procurado é dado por
x3
 
S := φ C ∈ R e φ(x) = + C ∀x ∈ R .
3
Convém notar que, em trantando-se de uma equação diferencial, o seu conjunto solução é usu-
almente indicado por uma expressão geral, parametrizada por um grupo de constantes reais, que
que encapsula cada solução dessa equação. No caso desta equação, a solução geral é parame-
trizada por uma constante real e, assim, a sua solução geral ψg é dada por
x3
ψg (x) = + C, onde C ∈ R.
3

6

Exemplo 2. Como resolver a equação diferencial


x
f 0 (x) = .
(f (x))2
Soluçao. Um função φ é solução desta equação se, e somente se, φ é diferenciável e
x
φ0 (x) = 2 0
2 ∀x ∈ Dφ , ou seja, φ(x) 6= 0 e (φ(x)) · φ (x) = x ∀x ∈ Dφ .
(φ(x))
Assim, necessária e suficientemente, tem-se
Z Z
2 0
(φ(x)) · φ (x) dx = x dx,

o que dá,
(φ(x))3 x2
= + C com C ∈ R.
3 2
Portanto, a solução geral φg é dada por
r
2
3 3x
φg (x) = + C onde C ∈ R.
2
Não deixe de observar que
Dφg = R se C > 0, Dφg = R∗ se C = 0 e
n p p o
Dφg = R − − −2C/3, −2C/3 se C < 0.


Exemplo 3. Como resolver a equação diferencial
f 0 (x) + f (x) = 0?
Soluçao. Um função φ é solução da equação diferencial f 0 (x) + f (x) = 0 se, e somente se, φ
é diferenciável e φ0 (x) + φ(x) = 0 qualquer que seja x ∈ Dφ . Mas
φ0 (x) + φ(x) = 0 ∀x ∈ Dφ ⇐⇒ ex φ0 (x) + ex φ(x) = 0 ∀x ∈ Dφ
d x
⇐⇒ (e φ(x)) = 0 ∀x ∈ Dφ
dx
⇐⇒ ex φ(x) = C ∀x ∈ Dφ onde C ∈ R.
⇐⇒ φ(x) = C e−x ∀x ∈ Dφ onde C ∈ R.
Portanto, a soluçao geral φg da equação diferencial é dada por
φg (x) = C e−x onde C ∈ R.

Exemplo 4. Como encontrar o conjunto solução da equação diferencial, de ordem 2,
p
f 00 (x) = 1 + (f 0 (x))2 ?
7

Soluçao. Se φ : R −→ R é solução da equação diferenciável então φ é duas vezes diferenciável


e
p
φ00 (x) = 1 + (φ0 (x))2 qualquer que seja x ∈ R.
Assim,
φ00 (x) φ00 (x)
Z Z
p = 1 ∀x ∈ R, o que dá p dx = 1 dx.
1 + (φ0 (x))2 1 + (φ0 (x))2
Daı́, existe C ∈ R tal que

arcsenh(φ0 (x)) = x + C ∀x ∈ R, isto é, φ0 (x) = senh(x + C) ∀x ∈ R.

Portanto,
Z Z
0
φ (x) dx = senh(x + C) dx.

Logo existe D ∈ R tal que

φ(x) = cosh(x + C) + D ∀x ∈ R.

Sendo reversı́vel cada implicação da presente argumentação, tem-se que a solução geral φg da
equação diferencial é dada por

φg (x) = cosh(x + C) + D onde C, D ∈ R.

Perceba que a solução geral, da equação do exemplo 4, está parametrizada por duas cons-
tantes. Via de regra, se uma equação diferencial possui ordem n, então a sua solução geral é
parametrizada por n constantes reais.

Outra notação para equação diferencial

Sejam n ∈ N∗ F , uma função de (n + 1) variáveis reais e a equação diferencial

f (n) (x) = F (x, f (x), f 0 (x), · · · , f (n−1) (x)).

Como a notação y = f (x) tem-se

dy d2 y dn y
= f 0 (x), = f 00
(x), . . . , = f (n) (x)
dx dx2 dxn
e, assim, a equação diferencial fica escrita como
!
dn y dy d(n−1) y
=F x, y, , · · · , (n−1) .
dxn dx dx
8

Portanto, temos, por exemplo, as seguintes equivalências para equações diferenciais.


dy
f 0 (x) + x2 f (x) = x ⇐⇒ + x2 y = x,
dx
00 0 d2 y dy
f (x) − xf (x) + f (x) = 0 ⇐⇒ 2 − x + y = 0,
dx dx
s  2
d2 y dy
q
00 0 2
f (x) = 1 − (f (x)) ⇐⇒ 2 = 1 − e
dx dx
000 0 00 d3 y dy d2 y
f (x) = f (x) · f (x) + xf (x) ⇐⇒ 3 = y + x 2.
dx dx dx
Observe que pode-se resolver uma equação diferencial usando esta notação, basta que se
abuse dela como no seguinte exemplo.
Exemplo 5. Como encontrar a solução geral da equação diferencial
dy
= x + xy 2 ?
dx
Soluçao. Tem-se, exorbitando-se da notação, que
dy dy
= x + xy 2 ⇐⇒ = x(1 + y 2 )
dx dx
1
⇐⇒ dy = xdx
1 + y2
Z Z
1
⇐⇒ dy = x dx
1 + y2
x2
⇐⇒ arctg(y) = + C, C ∈ R
 2 2 
x
⇐⇒ y = tg + C , C ∈ R.
2
Daı́, nesta notação, a solucão geral da equação diferencial é dada por
 2 
x
yg = tg + C , C ∈ R.
2

AULA 26
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

A seguir são apresentados conceitos necessários e suficientes ao entendimento do Teorema


de Existência de Unicidade para equações diferenciais de primeira ordem.

Continuidade de uma função de duas variáveis reais

Dado um ponto (x, y) ∈ R2 , a sua norma é o número real denotado por k(x, y)k e definido
por p
k(x, y)k = x2 + y 2 ,
ou seja, k(x, y)k é a distância do ponto (x, y) à origem (0, 0). Assim, dados dois pontos (x, y)
e (u, v) em R2 , a distância entre eles é
p
k(x, y) − (u, v)k = k(u − x, v − y)k = (u − x)2 + (v − y)2 .
Definição 1. Seja Ω ⊂ R2 . Dizemos que Ω é um conjunto aberto quando, para cada (x0 , y0 ) ∈
Ω, existe  > 0 tal que
(x, y) ∈ R2 e k(x, y) − (x0 , y0 )k <  =⇒ (x, y) ∈ Ω.
Dito de outra forma, Ω é um conjunto aberto quando, para cada (x0 , y0 ) ∈ Ω, existe  > 0 tal
que
(x, y) ∈ R2 | k(x, y) − (x0 , y0 )k <  ⊂ Ω.


Exemplo 1. São exemplos de abertos em R2 os seguintes conjuntos.


∗ Ω = R2 − A onde A é um subconjunto finito de R2 .
∗ Ω = R2 − ρ onde ρ é uma reta de R2 .
∗ Ω = { (x, y) ∈ R2 | k(x, y) − (a, b)k < r } onde (a, b) ∈ R2 e r > 0, isto é, Ω é o
interior de uma circunferência.
∗ Ω = { (x, y) ∈ R2 | k(x, y) − (a, b)k > r } onde (a, b) ∈ R2 e r > 0, isto é, Ω é o
exterior de uma circunferência.
∗ Ω = { (x, y) ∈ R2 | y 6= ax2 + bx + c } onde a, b, c ∈ R e a 6= 0, isto é, Ω é o plano
menos uma parábola.
∗ Ω = { (x, y) ∈ R2 | y 6= f (x) } onde f : I −→ R é uma função contı́nua sendo I = R,
I = [a, b] com a, b ∈ R, I = [a, +∞) com a ∈ R ou I = (−∞, a] com a ∈ R.
Definição 2. Sejam F uma função de duas variáveis reais e de valor real, e (x0 , y0 ) ∈ R2 .
Dizemos que F é contı́nua em (x0 , y0 ) quando (x0 , y0 ) ∈ Df e, para cada  > 0, existe δ > 0
tal que
(x, y) ∈ Df e k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ =⇒ |F (x, y) − F (x0 , y0 )| < .
Definição 3. Sejam F uma função de duas variáveis reais e de valor real, e Ω ⊂ R2 . Dizemos
que F é contı́nua em Ω quando F é contı́nua em (x0 , y0 ) qualquer que seja (x0 , y0 ) ∈ Ω.
Definição 4. Seja F uma função de duas variáveis reais e de valor real. Dizemos que F é
contı́nua quando F é contı́nua em DF , ou seja, quando F é contı́nua em (x0 , y0 ) qualquer que
seja (x0 , y0 ) ∈ DF .

1
2

Proposição 1. Dados a, b, c, d ∈ R, sejam F : R2 −→ R e G : R2 −→ R as funções dadas por


F (x, y) = ax + b e G(x, y) = cy + d qualquer que seja (x, y) ∈ R2 .
As funções F e G são contı́nuas.
Assim, por exemplo, são contı́nuas as seguintes funções.
F (x, y) = 2x + 1 F (x, y) = −y + 3
F (x, y) = 3x F (x, y) = 4y
F (x, y) = 1 F (x, y) = x + 2
Definição 5. Sejam F e G funções de duas variáveis reais e de valor real, e λ ∈ R. A soma
F + G, o simétrico −F , a diferença F − G, o produto por escalar λ · F , o produto F · G, o
inverso multiplicativo 1/F e o quociente F/G são as funções definidas por
DF +G := DF ∩ DG e (F + G)(x) := F (x) + G(x) ∀x ∈ DF +G ,
D−F := DF e (−F )(x) := −F (x) ∀x ∈ D−F ,
DF −G := DF ∩ DG e (F − G)(x) := F (x) − G(x) ∀x ∈ DF −G ,
Dλ·F := DF e (λ · F )(x) := λ · F (x) ∀x ∈ Dλ·F ,
DF ·G := DF ∩ DG e (F · G)(x) := F (x) · G(x) ∀x ∈ DF ·G ,
 
1 1
D 1 := { (x, y) ∈ DF | F (x, y) 6= 0 } e (x) := ∀x ∈ D F ,
F F F (x) G
 
F F (x)
D F := { (x, y) ∈ DF ∩ DG | G(x, y) 6= 0 } e (x) := ∀x ∈ D F .
G G G(x) G

Observe que −F = (−1) · F , F − G = F + (−G) e F/G = F · (1/G).


Proposição 2. Sejam F e G funções de duas variáveis reais, λ ∈ R, (x0 , y0 ) ∈ R2 e Ω ⊂ R2 .
São verdadeiras as seguintes afirmações.
∗ Se F e G são contı́nuas em (x0 , y0 ) então F +G, −F , F −G, λ·F e F ·G são contı́nuas
em (x0 , y0 ).
∗ Se F e G são contı́nuas em (x0 , y0 ) e G(x0 , y0 ) 6= 0 então 1/G e F/G são contı́nuas
em (x0 , y0 ).
∗ Se F e G são contı́nuas em Ω então F + G, −F , F − G, λ · F e F · G são contı́nuas
em Ω.
∗ Se F e G são contı́nuas em (x0 , y0 ) e G(x0 , y0 ) 6= 0 ∀(x0 , y0 ) ∈ Ω então 1/G e F/G
são contı́nuas em Ω.
∗ Se F e G são contı́nuas então F +G, −F , F −G, λ·F , F ·G, 1/G e F/G são contı́nuas.
Assim, por exemplo, são contı́nuas as seguintes funções.
F (x, y) = x + y F (x, y) = x2 + y 2
x x+y
F (x, y) = F (x, y) =
y x−y
x2 y
F (x, y) = x + xy 3 F (x, y) =
x + 2y
3

Definição 6. Sejam F uma função de duas variáveis reais e de valor real, e f uma função de
uma variável real e valor real. A composição f ◦ F é a função definida por
Df ◦F = (x, y) ∈ R2 | (x, y) ∈ DF e F (x, y) ∈ Df

e
(f ◦ F )(x, y) = f (F (x, y)) ∀(x, y) ∈ Df ◦F .
Assim, a composição f ◦ F também é uma função de duas variáveis reais e de valor real.
Exemplo 2. Sendo
x−y √
F (x, y) = x2 + y 2 , G(x, y) = , f (x) = x e g(x) = sen(x),
x+y
tem-se
p
(f ◦ F )(x, y) = x2 + y 2 ,
r
x−y
(f ◦ G)(x, y) = ,
x+y
(g ◦ F )(x, y) = sen(x2 + y 2 ) e
 
x−y
(g ◦ G)(x, y) = sen .
x+y
Proposição 3. Sejam F uma função de duas variáveis reais e de valor real, f uma função
de uma variável real e valor real, (x0 , y0 ) ∈ R2 e Ω ⊂ R2 . São verdadeiras as seguintes
afirmações.
∗ Se F é contı́nua em (x0 , y0 ) e f é contı́nua em F (x0 , y0 ) então f ◦ F é contı́nua em
(x0 , y0 ).
∗ Se F é contı́nua em Ω e f é contı́nua em
F (Ω) := { F (x, y) | (x, y) ∈ Ω } ,
então f ◦ F é contı́nua em Ω.
∗ Se F e f são contı́nuas então f ◦ F são contı́nuas.
Portanto, são contı́nuas as seguintes funções.
F (x, y) = sen(x + y) F (x, y) = ln(x2 + y 2 )
  r
x x+y
F (x, y) = arctg F (x, y) = 3
y x−y
 2 
xy
F (x, y) = cos(x + xy 3 ) + x2 y F (x, y) = cosh
x + 2y

Derivada parcial de uma função de duas variáveis reais

Sejam F uma função de duas variáveis reais e de valor real, e (x0 , y0 ) ∈ R2 . Dizemos que F
possui derivada parcial em relação à segunda variável no ponto (x0 , y0 ) quando (x0 , y0 ) ∈ DF
e a funçao g, de uma variável real, dada por
g(y) = f (x0 , y)
4

for diferenciável em y0 . Como exemplo, seja a função F dada por F (x, y) = x2 y 3 + sen(xy).
A função F possui derivada parcial em relação à segunda variável no ponto (2, 3)?
Seja g a função dada por
g(y) = f (2, y), ou seja, g(y) = 4y 3 + sen(2y).
É imediato que a função g é diferenciável com g 0 (y) = 12y 2 + 2 cos(2y). Em particular, g é
diferenciável em 3 com g 0 (3) = 108 + cos(6). Portanto, F possui derivada parcial em relação à
segunda variável no ponto (2, 3).
Definição 7. Seja F uma função de duas variáveis reais e de valor real. Sendo a segunda
variável da função F denotada por y, a função derivada parcial de F em relação à variável y
é a função denotada por ∂F e definida por
∂y
D ∂F := { (x0 , y0 ) ∈ DF | F possui derivada parcial em relação a y no ponto (x0 , y0 ) } e
∂y
∂F
(x0 , y0 ) = g 0 (y0 ) onde g é a função dada por g(y) = F (x0 , y).
∂y
Exemplo 3. Seja, por exemplo, a função F dada por F (x, y) = x2 y 3 + sen(xy). Dado
(x0 , y0 ) ∈ DF = R2 , seja g a função dada por
g(y) = f (x0 , y), isto é, g(y) = x20 y 3 + sen(x0 y).
A função g é diferenciável com g 0 (y) = 3x20 y 2 + x0 cos(x0 y). Em particular g é diferenciável
em y0 . Portanto, F possui derivada parcial em relação à variável y com
∂F
(x0 , y0 ) = g 0 (y0 ) = 3x20 y02 + x0 cos(x0 y0 ).
∂y
Assim pode-se dizer que F possui derivada parcial em cada ponto (x, y) ∈ R2 e pode-se
escrever
∂F
(x, y) = 3x2 y 2 + x cos(x, y) ∀(x, y) ∈ R2 .
∂y
Dada uma função F de duas variáveis reais e de valor real, a definição 7 diz que para calcular
∂F
(x, y), onde possı́vel,
∂y
basta derivar a expressão F (x, y), em relação à variável y, onde possı́vel, tratando a variável x
com uma constante.
Exemplo 4. Sendo F a função dada por
F (x, y) = x2 + xy 3 ,
tem-se DF = R2
∂F
(x, y) = 3xy 2 qualquer que seja (x, y) ∈ R2 .
∂y
Exemplo 5. Sendo F a função dada por
p
F (x, y) = x2 + y 2 ,
5

tem-se DF = R2
∂F 1 y
(x, y) = p · 2y = p ∀(x, y) 6= (0, 0) em R2 .
∂y 2
2 x +y 2 2
x +y 2

Veja que F não possui


p derivada parcial em relação a y em (0, 0), pois a função g, dada por
g(y) = F (0, y) = y 2 = |y|, não é diferenciável em 0.
Definição 8. Seja F uma função de duas variáveis reais e de valor real, e Ω ⊂ R2 . Sendo
a segunda variável da função F denotada por y, dizemos que F possui derivada parcial em
relação a y em Ω, quando F possui derivada parcial em relação a y em (x, y) qualquer que
seja (x, y) ∈ Ω.
Para compreensão da resolução dos exercı́cios que seguem, faz-se necessário o entendimento
dos enunciados dos dois seguintes teoremas, cujas demonstrações são omitidas por não estarem
no nı́vel desta disciplina.
Teorema 1 (Existência e Unicidade). Sejam Ω ⊂ R2 um conjunto aberto e F : Ω −→ R uma
função contı́nua, tal que F possui derivada parcial em relação a y em Ω e ∂F : Ω −→ R é
∂y
funçao contı́nua. Dado (x0 , y0 ) ∈ Ω, são verdadeiras as seguintes afirmações.
∗ Existe um intervalo aberto I contendo x0 e uma função φ : I −→ R que é solução da
equação diferencial
f 0 (x) = F (x, f (x)), de modo que φ(x0 ) = y0 .
∗ Se ψ : I −→ R é solução desta equação diferencial, com ψ(x0 ) = y0 , então ψ(x) =
φ(x) qualquer que seja x ∈ I.
Teorema 2 (Solução Maximal). Sejam Ω ⊂ R2 um conjunto aberto e F : Ω −→ R uma função
contı́nua, tal que F possui derivada parcial em relação a y em Ω e ∂F : Ω −→ R é funçao
∂y
contı́nua. Dado (x0 , y0 ) ∈ Ω, são verdadeiras as seguintes afirmações.
∗ Se φ1 : I1 −→ R e φ2 : I2 −→ R, sendo I1 e I2 intervalos abertos contendo x0 , são
soluções da equação diferencial
f 0 (x) = F (x, f (x)), com φ1 (x0 ) = φ2 (x0 ) = y0 ,
então φ1 (x) = φ2 (x) qualquer que seja x ∈ I1 ∩ I2 .
∗ Existe um intervalo aberto I, contendo x0 , e uma solução φ : I −→ R da equação
diferencial
f 0 (x) = F (x, f (x)), com φ(x0 ) = y0 ,
tal que se J é um intervalo, contendo x0 , e ψ : J −→ R é uma solução desta equação
diferencial, com ψ(x0 ) = y0 , então J ⊂ I e ψ(x) = φ(x) qualquer que seja x ∈ J.
Exemplo 6. Como resolver a equação diferencial
f 0 (x) = x(f (x))2 ?
Soluçao. Primeiro observe que a equação pode ser escrita como
f 0 (x) = F (x, f (x)) onde F (x, y) = xy 2 ∀(x, y) ∈ R2 .
6

Sendo
∂F ∂F
= 2xy ∀(x, y) ∈ R2 tem-se F e
∂y ∂y
contı́nuas em R2 . A função nula, isto é, a funçao φ : R −→ R, com φ(x) = 0 qualquer que
seja x ∈ R, é solução da equação diferencial. Portanto, se I é um intervalo aberto, ψ : I −→ R
é solução desta equação diferencial e ψ não é a função nula, então, pelo Teorema 2, ψ(x) 6= 0
qualquer que seja x ∈ I. Assim,

ψ 0 (x) ψ 0 (x)
Z Z
= x ∀x ∈ I e, daı́, dx = x dx.
(ψ(x))2 (ψ(x))2
Logo, existe C ∈ R tal que
1 x2
− = + C ∀x ∈ I,
ψ(x) 2
ou seja,
1
ψ(x) = − 2 ∀x ∈ I.
x
+C
2
Daı́,
2
ψ(x) = − 2 ∀x ∈ I, onde C ∈ R.
x +C
Deste modo, a solução geral ψg da equação diferencial é dada por
2
ψg (x) = − 2 onde C ∈ R ou
x +C
ψg (x) = 0 ∀x ∈ R.

Observe que se Dψ é um intervalo e ψ é uma solução maximal da equação diferencial então


Dψ = R se C > 0,
Dψ = (−∞, 0) ou Dψ = (0, +∞) se C = 0 e
√ √ √ √
Dψ = (−∞, − −C) ou Dψ = (− −C, −C) ou Dψ = (− −C, +∞) se C < 0.

A função nula é a solução maximal φ : R −→ R tal que φ(0) = 0. Dado (a, b) ∈ R, com b 6= 0,
tem-se
2 2 2
ψg (a) = b ⇐⇒ − 2 = b ⇐⇒ a2 + C = − ⇐⇒ C = −a2 − .
a +C b b
e, assim, a solução φ da equação diferencial, satisfazendo φ(a) = b, é dada por
2 2
φ(x) = − = .
2 2
x 2 − a2 − 2
a + −x 2
b b
7

Observe que, dado (a, b) ∈ R2 com b 6= 0, tem-se


2 2
a2 + < 0 ⇐⇒ a2 < −
b b  
1 b
⇐⇒ (a = 0 e b < 0) ou a 6= 0, b < 0 e 2 > −
a 2
 
2
⇐⇒ (a = 0 e b < 0) ou a 6= 0, b < 0 e 2 > −b
a
 
2
⇐⇒ (a = 0 e b < 0) ou a 6= 0 e − 2 < b < 0 .
a
Deste modo considere as seguintes regiões em R2 .
  
2
Ω1 := (x, y) (x = 0 e y < 0) ou x = 6 0 e − 2 <y<0 ,
x
Ω2 := { (x, y) | y > 0 } ,
 
2
Ω3 := (x, y) x > 0 e y < − 2 ,
x
 
2
Ω4 := (x, y) x < 0 e y < − 2 ,
x
 
2
Ω5 := (x, y) x > 0 e y = − 2 ,
x
 
2
Ω6 := (x, y) x < 0 e y = − 2 ,
x
Ω7 := { (x, y) | y = 0 } ,
São verdadeiras as seguintes afirmações.
∗ Ω1 , Ω2 , Ω3 , Ω4 , Ω5 , Ω6 e Ω7 são dois a dois disjuntos, e
Ω1 ∪ Ω2 ∪ Ω3 ∪ Ω4 ∪ Ω5 ∪ Ω6 ∪ Ω7 = R2 .
∗ Se (a, b) ∈ Ω1 então a2 + 2/b < 0 e φ : R −→ R, dada por
2
φ(x) = ,
2 2 2
a + −x
b
é a solução maximal da equação diferencial com φ(a)p
= b. p
∗ Se (a, b) ∈ Ω2 então a2 + 2/b > 0 e, com z1 = − a2 + 2/b e z2 = a2 + 2/b,
tem-se a ∈ (z1 , z2 ) e φ : (z1 , z2 ) −→ R, dada por
2
φ(x) = ,
2 2 2
a + −x
b
é a solução maximal da equação diferencial com φ(a) = b.
8
p
∗ Se (a, b) ∈ Ω3 então a2 + 2/b > 0, a > z1 = a2 + 2/b e φ : (z1 , +∞) −→ R, dada
por
2
φ(x) = ,
2 2 2
a + −x
b
pφ(a) = b.
é a solução maximal da equação diferencial com
∗ Se (a, b) ∈ Ω4 então a2 + 2/b > 0, a < z2 = − a2 + 2/b e φ : (−∞, z2 ) −→ R, dada
por
2
φ(x) = ,
2 2 2
a + −x
b
é a solução maximal da equação diferencial com φ(a) = b.
∗ Se (a, b) ∈ Ω5 então a2 + 2/b = 0 e φ : (0, +∞) −→ R, dada por
2
φ(x) = − ,
x2
é a solução maximal da equação diferencial com φ(a) = b.
∗ Se (a, b) ∈ Ω6 então a2 + 2/b = 0 e φ : (−∞, 0) −→ R, dada por
2
φ(x) = − ,
x2
é a solução maximal da equação diferencial com φ(a) = b.
∗ Se (a, b) ∈ Ω7 então b = 0 e φ : R −→ R, dada por
φ(x) = 0,
é a solução maximal da equação diferencial com φ(a) = 0.
Deste modo, o plano cartesiano R2 é coberto pelos gráficos das soluções da equação diferencial
f 0 (x) = x(f (x))2 .
Por cada pondo do plano euclidiano R2 passa o gráfico de alguma soluçao maximal e tais
gráficos não se intersectam. 

Exemplo 7. Como encontrar a solução geral da equação diferencial


f 0 (x) = 1 − (f (x))2 ?
Soluçao. Primeiro observe que a equação pode ser escrita como
f 0 (x) = F (x, f (x)) onde F (x, y) = 1 − y 2 ∀(x, y) ∈ R2 .
Sendo
∂F ∂F
= −2y ∀(x, y) ∈ R2 tem-se F e
∂y ∂y
contı́nuas em R2 . As funões φ1 : R −→ R e φ2 : R −→ R, dadas por
φ1 (x) = 1 e φ2 (x) = −1 qualquer que seja x ∈ R,
9

F IGURA 1. Soluções maximais da equação diferencial f 0 (x) = x(f (x))2 .

são soluções da equações diferencial. Portanto, se I é um intervalo aberto e φ : I −→ R é


solução da equação diferencial, distinta de φ1 e distinta de φ2 , então φ(x) 6= 1 e φ(x) 6= −1
qualquer que seja x ∈ I. Daı́,
φ0 (x) φ0 (x)
Z Z
= 1 ∀x ∈ I e, assim, dx = 1 dx.
1 − (φ(x))2 1 − (φ(x))2
Logo, existe C ∈ R tal que
   
1 φ(x) + 1 φ(x) + 1
ln = x + C ∀x ∈ I, isto é, ln = 2x + C.
2 φ(x) − 1 φ(x) − 1
Daı́,
φ(x) + 1
= C e2x ∀x ∈ I, onde C > 0.
φ(x) − 1
Portanto, pelo Teorema do Valor Intermediário,
φ(x) + 1
= C e2x ∀x ∈ I, onde C 6= 0,
φ(x) − 1
o que dá,
C e2x +1
φ(x) = ∀x ∈ I, onde C 6= 0.
C e2x −1
10

Deste modo, a solução geral φg da equação diferencial é dada por


C e2x +1
φg (x) = onde C ∈ R, ou
C e2x −1
φg (x) = 1 ∀x ∈ R.
Seja g : R − { 1 } −→ R a função dada por
u+1
g(u) = .
u−1
Estudando o seu sinal tem-se
g(u) > 0 se u ∈ (−∞, −1) ∪ (1, +∞) e g(u) < 0 se u ∈ (−1, 1).
Além disso, f é diferenciável com
2
g 0 (u) = − qualquer que seja u 6= 1.
(u − 1)2
Logo f é estritamente decrescente em (−∞, 1) e é estritamente decrente em (1, +∞), com
g(0) = −1, lim g(u) = 1− , lim− g(u) = −∞, lim+ g(u) = +∞ e lim g(u) = 1+ .
u→−∞ u→1 u→1 u→+∞

Portanto, 0 < g(u) < 1 se u < −1, −1 < g(u) < 1 se u < 0, g(u) < −1 se 0 < u < 1 e

x + 1.
F IGURA 2. Gráfico da função f (x) = x −1

g(u) > 1 se u > 1. Assim, são verdadeiras as seguintes afirmações.


∗ Se C < 0 então φ : R −→ R, dada por
C e2x +1
φ(x) = ∀x ∈ R,
C e2x −1
é solução maximal com −1 < φg (x) < 1 qualquer que seja x ∈ R.
11

∗ Se C > 0 então C e2x > 0 ∀x ∈ R e



C e2x < 1 ⇐⇒ e2x < 1/C ⇐⇒ 2x < ln(1/C) ⇐⇒ x < − ln( C).

Daı́, com z1 = − ln( C), a funçao φ : (−∞, z1 ) −→ R, dada por
C e2x +1
φ(x) = ∀x < z1 ,
C e2x −1
é solução maximal com φg (x) < −1 qualquer que seja x < z1 .
∗ Se C > 0 então C e2x > 0 ∀x ∈ R e

C e2x > 1 ⇐⇒ e2x > 1/C ⇐⇒ 2x > ln(1/C) ⇐⇒ x > − ln( C).

Daı́, com z1 = − ln( C), a funçao φ : (z1 , +∞) −→ R, dada por
C e2x +1
φ(x) = ∀x > z1 ,
C e2x −1
é solução maximal com φg (x) > 1 qualquer que seja x > z1 .
∗ Dado (a, b) ∈ R2 , com b 6= 1, a solução φ satisfazendo φ(a) = b é aquela na qual
b+1
C = 2a .
e (b − 1)
Portanto, se −1 < b < 1 então
b+1
< 0 , o que dá C < 0. Logo − 1 < φ(x) < 1 ∀x ∈ R.
b−1
Se b < −1 então
b+1 √  1 1

b+1

0< < 1, C > 0 e z1 = − ln C = − ln(C) = a − ln > a.
b−1 2 2 b−1
Daı́, a ∈ (−∞, z1 ) e φ(x) < −1 ∀ x ∈ (−∞, z1 ).
Se b > 1 então
b+1 √  1 1

b+1

> 1, C > 0 e z1 = − ln C = − ln(C) = a − ln < a.
b−1 2 2 b−1
Daı́, a ∈ (z1 , +∞) e φ(x) > 1 ∀ x ∈ (z1 , +∞).

AULA 27
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Nesta aula, serão dados mais exemplos de resolução de equações diferenciais ordinárias: as
equações diferenciais separáveis e as equação diferenciais lineares.
Exemplo 1. Como encontrar a solução da equações diferencial
f (x)
f 0 (x) = ?
x2 − 1
Soluçao. Veja que a equação diferencial tem a configuração
y
f 0 (x) = F (x, f (x)) onde F (x, y) = 2
x −1
e DF = { (x, y) | x 6= −1 e x 6= 1 }, que é um subconjunto aberto de R2 . As funções
φ1 : (−∞, −1) −→ R, φ2 : (−1, 1) −→ R e φ3 : (1, +∞) −→ R,
dadas por
φ1 (x) = 0 ∀x ∈ (−∞, −1),
φ2 (x) = 0 ∀x ∈ (−1, 1), e
φ3 (x) = 0 ∀x ∈ (1, +∞),
são soluções, nulas, da equação diferencial. Assim, se I é um intervalo aberto e φ : I −→ R
é uma solução não nula da equação diferencial, então −1 6∈ I, 1 6∈ I e, pelo Teorema de
Existência e Unicidade e pelo Teorema de Solução Maximal, φ(x) 6= 0 qualquer que seja
x ∈ I. Logo, tem-se
φ0 (x)
Z 0 Z
1 φ (x) 1
= 2 ∀x ∈ I e, portanto, dx = 2 dx.
φ(x) x −1 φ(x) x −1
Logo,  
1 x−1
ln |φ(x)| = ln + C ∀x ∈ I, onde C ∈ R,
2 x+1
ou seja,
s
x−1
|φ(x)| = C · ∀x ∈ I, onde C > 0.
x+1
Daı́, pelo Teorema do Valor Intermediário,
s
x−1
φ(x) = C · ∀x ∈ I, onde C 6= 0.
x+1
Deste modo, a solução geral φg é dada por
s
x−1
φg (x) = C · ∀x ∈ I, onde C ∈ R.
x+1

1
2

Perceba que as soluções gerais e maximais são


r
x−1
φg : (−∞, −1) −→ R dada por φg (x) = C · , onde C ∈ R,
x+1
r
1−x
φg : (−1, 1) −→ R dada por φg (x) = C · , onde C ∈ R e
x+1
r
x−1
φg : (1, +∞) −→ R dada por φg (x) = C · , onde C ∈ R.
x+1

Exemplo 2. Como encontrar a solução geral da equação diferencial
p
f 0 (x) = xf (x)?
Soluçao. Primeiro, observe que a função nula φ : R −→ R, dada por φ(x) = 0 ∀x ∈ R, é
solução da equação diferencial. Colocando a equação diferencial na forma

f 0 (x) = F (x, f (x)), com F (x, y) = xy,
tem-se
DF = { (x, y) | xy ≥ 0 } = { (x, y) | x ≥ 0 e y ≥ 0 } ∪ { (x, y) | x ≤ 0 e y ≤ 0 } ,
sendo disjunta a união. Relativo ao domı́nio aberto Ω, dado por
Ω = { (x, y) | xy > 0 } = { (x, y) | x > 0 e y > 0 } ∪ { (x, y) | x < 0 e y < 0 } ,
se I é um intervalo aberto e φ : I −→ R é solução da equação diferencial, então I ⊂ (−∞, 0)
ou I ⊂ (0, +∞), e φ(x) 6= 0 qualquer que seja x ∈ I. Sendo I ⊂ (0, +∞) tem-se
φ0 (x) φ0 (x)
Z Z
1/2
=x ∀x ∈ I, o que dá dx = x1/2 dx.
(φ(x))1/2 (φ(x))1/2
Logo,
2
2(φ(x))1/2 = x3/2 + C ∀x ∈ I, onde C ∈ R,
3
e, portanto,
 √ 2
1 3
φ(x) = x +C ∀x ∈ I, onde C ∈ R.
3
No caso em que I ⊂ (−∞, 0), tem-se
φ0 (x) −φ0 (x)
Z Z
1/2
1/2
= (−x) ∀x ∈ I, o que dá 1/2
dx = (−x)1/2 · (−1) dx.
(−φ(x)) (−φ(x))
Logo,
2
2(−φ(x))1/2 = (−x)3/2 + C ∀x ∈ I, onde C ∈ R,
3
e, portanto,
 2
1p
φ(x) = − (−x)3 + C ∀x ∈ I, onde C ∈ R.
3
3

Deste modo, relativo ao domı́nio aberto Ω, a solução geral φg é dada por


 √ 2
1 3
φg (x) = x +C ∀x > 0, onde C ∈ R, ou
3
 2
1p 3
φg (x) = − (−x) + C ∀x < 0, onde C ∈ R.
3

Como a funçao h, dada por h(x) = x3 ∀x ≥ 0, é diferenciável com h0 (0) = 0, tem-se a
solução geral ψg da equação diferencial , relativa ao domı́nio DF , dada por
 √ 2
1 3
ψg (x) = x +C ∀x ≥ 0, onde C ∈ R,
3
 2
1p
ψg (x) = − (−x)3 + C ∀x ≤ 0, onde C ∈ R ou
3
ψg (x) = 0 ∀x ∈ R.
Observe que
1
ψ1 (x) = 0 ∀x ∈ R e ψ2 (x) = x3 ∀x ∈ R
9
0
p
são soluções da equação diferencial f (x) = xf (x) com ψ1 6= ψ2 e ψ1 (0) = ψ2 (0) = 0. Mas
isto não contradiz o Teorema de Existência e Unicidade porque DF não é aberto em R2 . 
Dizemos que uma equação diferencial ordinária, de ordem 1,
f 0 (x) = F (x, f (x))
é separável quando existem funções g e h, de uma variável real e de valor real, tais que
F (x, y) = g(x) · h(y) qualquer que seja (x, y) ∈ DF .
Neste caso a equação diferencial toma a forma
f 0 (x) = g(x) · h(f (x)),
e uma parte majoritária do seu conjunto solução, senão todo ele, é encontrada escrevendo a
equação na forma
1
f 0 (x) = g(x),
h(f (x))
e obtendo, pela integração termo a termo, a igualdade.
Z Z
1 0
f (x) dx = g(x) dx.
h(f (x))
O procedimento de seração de variáveis fica mais evidente usando a notação
dy dy
= F (x, y), ou seja, = g(x) · h(y).
dx dx
Daı́, abusando da notação, escrevemos
1
dy = g(x) dx
h(y)
4

onde quase todo, ou todo, conjunto solução é encontrado via a igualdade


Z
1
dy = g(x) dx.
h(y)
São separáveis as seguintes equações diferenciais
dy dy
= 2yx, = x − xy,
dx dx
dy x dy 1+y
= , = ,
dx y dx x
dy dy x2 y
= 2x − xy 3 e = ,
dx dx 1 + 2y
assim como as duas equações resolvidas na aula anterior e as dos exemplos 1 e 2 desta aula:
dy dy dy y
= xy 2 , = 1 − y2 e = 2 .
dx dx dx x −1
Não são separáveis as equações diferenciais
dy dy
= x + 2y, = 1 − xy,
dx dx
dy 1 dy 1 + xy
=x+ e = .
dx y dx 1 − xy
Exemplo 3. Como encontrar a solução geral da equação diferencial
dy y+1
= 2 ?
dx x +1
Soluçao. Procedendo com esta notação, para resolução da equação diferencial, tem-se que y1 =
−1, com domı́nio R, é solução desta equação. Se y é outra solução da equação, cujo domı́nio
é um intervalo aberto de R, então pelo Terema de Existência de Unicidade, y 6= −1 em todo o
seu domı́nio. Assim, separando as variáveis,
Z Z
1 1 1 1
dy = 2 dx e, integrando termo a termo, dy = 2 dx.
y+1 x +1 y+1 x +1
Logo,
ln(|y + 1|) = arctg(x) + C, onde C ∈ R.
Daı́,
|y + 1| = earctg(x)+C , com C ∈ R, ou seja, |y + 1| = C · earctg(x) com C > 0.
Portanto, pelo Teorema do Valor Intermediário,
y + 1 = C · earctg(x) com C 6= 0,
Logo, a solução geral yg é dada por
yg = C · earctg(x) −1 com C ∈ R.
Observe que a solução geral insere a solução particular y1 = −1. 
Os próximos dois exemplos dão aplicações de resolução de equações diferenciais.
5

Exemplo 4. Uma caixa de água contém 2000 litros de água salgada com 30 quilos de sal
dissolvido. Água pura é despejada no tanque a uma taxa de 20 litros por minuto. A mistura,
de água com sal, é mantina homogênea e sai do tanque na mesma taxa que entra a água pura.
Como saber a quantidade de sal no tanque em x minutos?
Soluçao. Seja Q(x) a quantidade de sal na mistura em x minutos, com x ≥ 0. A quantidade sal
por cada litro é, então,
Q(x) Q(x) 1
e, portanto, · 20 = · Q(x) quilos de sal
2000 2000 100
saem da caixa de água a cada minuto, ou seja,
1 Q0 (x) 1
Q0 (x) = − · Q(x), isto é, =− ∀x ≥ 0.
100 Q(x) 100
Daı́, integrando termo a termo, tem-se
Z 0 Z
Q (x) 1 x
dx = − dx, o que dá ln(Q(x)) = − + C ∀x ≥ 0, onde C ∈ R.
Q(x) 100 100
Portanto,
Q(x) = C e−x/100 ∀x ≥ 0, onde C > 0.
Como Q(0) = 30 e Q(0) = C, tem-se C = 30. Deste modo,
Q(x) = 30 e−x/100 ∀x ≥ 0.
Isto diz que a quantidade de sal em x minutos é 30 · e−x/100 quilos. 
Exemplo 5. Um tanque com 2000 litros de cerveja contém 4% de álcool. Cerveja com 6%
de álcool é bombeada para dentro do tanque a uma taxa de 20 litros por minuto e a mistura,
homogênea, é bombeada para fora do tanque à mesma taxa. Qual a porcentagem de álcool no
tanque em x minutos?
Soluçao. Seja Q(x) quantidade de álcool no tanque em x minutos. A cada minuto entra no
tanque
6% · 1 · 20 = 1,2 litros de álcool,
e a cada minuto sai do tanque
Q(x) 1
· 20 = · Q(x) litros de álcool.
2000 100
Deste modo,
1 1
Q0 (x) = 1,2 − · Q(x) = · (120 − Q(x)) ∀x ≥ 0.
100 100
Assim,
Q0 (x) Q0 (x)
Z Z
1 1
= ∀x ≥ 0 e dx = dx.
120 − Q(x) 100 120 − Q(x) 100
Daı́,
x
− ln(120 − Q(x)) = + C ∀x ≥ 0, onde C ∈ R,
100
isto é
x
ln(120 − Q(x)) = − + C ∀x ≥ 0, onde C ∈ R.
100
6

Portanto,
120 − Q(x) = C e−x/100 ∀x ≥ 0, onde C ∈ R,
ou seja,
Q(x) = 120 + C e−x/100 ∀x ≥ 0, onde C ∈ R.
Como Q(0) = 80 e Q(0) = 120 + C, tem-se C = −40. Logo
Q(x) = 120 − 40 e−x/100 ∀x ≥ 0, onde C ∈ R.
Isto diz que há no tanque 120 − 40 e−x/100 litros de álcool em x minutos. Portanto, a porcen-

tagem de álcool no tanque em x minutos é
120 − 40 e−x/100 120 − 40 e−x/100
= %.
2000 20


Equação Diferencial Linear de primeira ordem

Sejam p e q funções de uma variável real e de valor real. A equação diferencial


dy
f 0 (x) + p(x)f (x) + q(x) = 0 ⇐⇒ + p(x)y + q(x) = 0
dx
é denominada equação diferencial linear de primeira ordem. São lineares as seguintes equações
diferenciais.
dy
f 0 (x) + xf (x) − 2x = 0 +y−2=0
dx
dy
f 0 (x) + sen(x)f (x) + cos(x) = 0 − xy + ex = 0
dx
dy 1
f 0 (x) + 2x = 0 +y− =0
dx x
Dizemos que a equação diferencial linear é homogênea quando é nula a função q. Assim, são
homogêneas as seguintes equações diferenciais lineares.
dy
f 0 (x) + xf (x) = 0 +y =0
dx
dy
f 0 (x) + sen(x)f (x) = 0 − xy = 0
dx
dy
f 0 (x) = 0 +y =0
dx
Não são lineares as seguintes equações diferenciais.
1 dy
f 0 (x) + =0 + y2 − 1 = 0
f (x) dx
p dy x
f 0 (x) − xf (x) = 0 − =0
dx y
dy 1
f 0 (x) + (f (x))2 − x = 0 +x− =0
dx y
7

O seguinte resultado, conhecido como Teorema de Existência e Unicidade para equação di-
ferencial linear de primeira ordem, é consequência do Teorema de Existência e Unicidade,
enunciado na aula passada, mesmo que o mencionado intervalo I não seja um intervalo aberto.
Entretanto, opta-se nesta aula por uma demonstração alternativa e simples, a qual exibe a forma
da solução geral em termos das funções coeficientes p e p.
Teorema 1. Seja I um intervalo de R. Se p : I −→ R e q : I −→ R são funções contı́nuas,
então, dados a ∈ I e b ∈ R, existe uma única função φ : I −→ R que é solução da equação
diferencial
f 0 (x) + p(x)f (x) + q(x) = 0
e que satisfaz a condição φ(a) = b.
Soluçao. Se p : I −→ R e q : I −→ R são funções contı́nuas, então a função p possui
uma primitiva α no intervalo I, isto é, existe uma função α : I −→ R diferenciável tal que
α0 (x) = p(x) qualquer que seja x ∈ I. Logo, se φ : I −→ R é uma solução da equação
diferencial, então
φ0 (x) + p(x)φ(x) = −q(x) ∀x ∈ I,
e, assim,
eα(x) φ0 (x) + eα(x) p(x)φ(x) = − eα(x) q(x) ∀x ∈ I,
isto é,
γ 0 (x) = β 0 (x) ∀x ∈ I, onde γ : I −→ R
é a função diferenciável dada por γ(x) = eα(x) φ(x) ∀x ∈ I, e β : I −→ R é uma primitiva da
função contı́nua g : I −→ R dada por
g(x) = − eα(x) q(x) ∀x ∈ I.
Portanto,
γ(x) = β(x) + C ∀x ∈ I, onde C ∈ R,
ou seja,
eα(x) φ(x) = β(x) + C ∀x ∈ I, onde C ∈ R.
Deste modo, sendo reversı́vel cada uma das implicações desta argumentação, a solução geral
φg da equação diferencial é dada por
φg (x) = e−α(x) (β(x) + C) ∀x ∈ I, onde C ∈ R,
sendo α uma primitiva em I da função p e β uma primitiva em I da função contı́nua g dada por
g(x) = − eα(x) q(x) ∀x ∈ I.
Daı́, se a ∈ I, b ∈ R e φ é uma solução da equação diferencial com φ(a) = b então existe
C ∈ R tal que
φ(x) = e−α(x) (β(x) + C) ∀x ∈ I.
Em particular,
φg (a) = e−α(a) (β(a) + C) = b, o que dá C = eα(a) b − β(a).
Isto diz que φ : I −→ R, dada por
φ(x) = e−α(x) (β(x) − β(a) + eα(a) b) ∀x ∈ I,
é a única solução da equação diferencial satisfazendo a condição φ(a) = b. 
8

Embora a demonstração do teorema 1 exiba, de forma genérica, a solução geral da equação


diferencial satisfazendo as hipóteses do seu enunciado, não convém memorizá-la para solução
de equações particulares. O aconselhável é entender e aplicar a sequência de procedimentos
contida na demonstração do resultado.
Exemplo 6. Como encontrar a solução geral da equação diferencial
f 0 (x) + xf (x) = x?
Soluçao. As funções coeficientes p(x) = x e q(x) = −x são contı́nuas em R. Daı́, pelo teorema
1, cada solução da equação diferencial está definida em R. Assim, se φ : R −→ R é solução da
equação então
φ0 (x) + xφ(x) = x ∀x ∈ R.
Daı́, multiplicando a equação pela exponencial de uma primitiva, em R, da função p, tem-se
2 /2 2 /2 2 /2
ex φ0 (x) + ex xφ(x) = x ex ∀x ∈ R.
Logo,
d  x2 /2  d  x2 /2 
e φ(x) = e em R.
dx dx
Portanto,
2 /2 2 /2
ex φ(x) = ex + C ∀x ∈ R, onde C ∈ R.
Sendo reversı́vel cada implicação desta argumentação, a solução geral φg da equação diferencial
é dada por
2
φg (x) = 1 + C e−x /2 ∀x ∈ R, onde C ∈ R.

Exemplo 7. Como encontrar a solução geral da equação diferencial
1
f 0 (x) + f (x) = x2 ?
x
Soluçao. As funções coeficientes p(x) = 1/x e q(x) = −x2 são contı́nuas nos intervalos
(−∞, 0) e (0, +∞). Daı́, pelo teorema 1, cada solução da equação diferencial está definida
maximalmente em um destes intervalos. Assim, se I é um destes intervalos e φ : I −→ R é
solução da equação diferencial, então
1
φ0 (x) + φ(x) = x2 ∀x ∈ I.
x
Neste caso, multiplicando a equação por x, tem-se
xφ0 (x) + φ(x) = x3 ∀x ∈ I,
ou seja
x4
 
d d
(xφ(x)) = em I.
dx dx 4
Assim,
x4
xφ(x) = + C ∀x ∈ I, onde C ∈ R.
4
9

Portanto, sendo reversı́vel cada implicação desta argumentação, a solução geral φg da equação
diferencial é dada por
x3 C
φg (x) = + ∀x > 0, onde C ∈ R, ou
4 x
x3 C
φg (x) = + ∀x < 0, onde C ∈ R.
4 x

Exemplo 8. Como encontrar a solução geral da equação diferencial
f 0 (x) + f (x) = x?
Soluçao. As funções coeficientes p(x) = 1 e q(x) = −x são contı́nuas em R. Daı́, pelo teorema
1, cada solução da equação diferencial está definida em R. Assim, se φ : R −→ R é solução,
então
φ0 (x) + φ(x) = x ∀x ∈ R.
Daı́, multiplicando a equação pela exponencial de uma primitiva, em R, da função p, tem-se
ex φ0 (x) + ex φ(x) = x ex ∀x ∈ R.
Logo,
d x d
(e φ(x)) = (x ex − ex ) em R.
dx dx
Portanto,
ex φ(x) = x ex − ex + C ∀x ∈ R, onde C ∈ R.
Sendo reversı́vel cada implicação desta argumentação, a solução geral φg da equação diferencial
é dada por
φg (x) = x − 1 + C e−x ∀x ∈ R, onde C ∈ R.

AULA 28
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula continua com o estudo das equações diferenciais de primeira ordem e introduz o
estudo das equações diferenciais de segunda ordem. Primeiro, convém observar os casos em
que a solução geral, de uma equação diferencial, é dada implicitamente por uma equação
E(x, φg (x)) = 0 ⇐⇒ E(x, yg ) = 0,
conforme os dois próximos exemplos.
Exemplo 1. Como resolver a equação diferencial
0 x2
f (x) = ?
1 − (f (x))2
Soluçao. Se I é um intervalo aberto e φ : I −→ R é uma solução da equação diferencial, então
x2
φ0 (x) = 1 − (φ(x))2 φ0 (x) = x2 ∀x ∈ I.

∀x ∈ I, isto é,
1 − (φ(x))2
Integrando termo a termo,
Z Z
2 0
x2 dx.

1 − (φ(x)) φ (x) dx =

Logo,
(φ(x))3 x3
φ(x) − = + C ∀x ∈ I, onde C ∈ R.
3 3
Portanto, a solução geral φg fica dada implicitamente pela equação
(φg (x))3 x3
φg (x) − = + C, onde C ∈ R.
3 3

Exemplo 2. Como resolver a equação diferencial
dy x2
= 2 ?
dx y + sen(y)
Soluçao. Sendo a função, que exprime a variável y dependendo diferenciavelmente da variável
x, solução da equação diferencial, tem-se, por abuso da notação,
y 2 + sen(y) dy = x2 dx.


Integrando termo a termo tem-se


Z Z
2
x2 dx,

y + sen(y) dy =

ou seja,
y3 x3
− cos(y) = + C, onde C ∈ R.
3 3

1
2

Portanto, a solução geral yg é dada implicitamente pela equação


yg3 x3
− cos(yg ) = + C, onde C ∈ R.
3 3

Dados uma equação diferencial
f 0 (x) = F (x, f (x)) e um par ordenado (x0 , y0 ) ∈ DF ,
encontrar solução particular φ desta equação diferencial, satisfazendo a condição φ(x0 ) = y0 , é
resolver o denominado problema de valor inicial ou problema com condição inicial
 0
f (x) = F (x, f (x)),
f (x0 ) = y0 .
No caso em que o domı́nio de F é um conjunto aberto em R2 , o Teorema de Existência e
Unicidade diz que este problema possui somente uma solução, isto é, existe um intervalo aberto
I contendo x0 e uma solução φ : I −→ R da equação diferencial satisfazendo a condição
φ(x0 ) = y0 , e se ψ : J −→ R, onde J é um intervalo aberto contendo x0 , é solução da equação
diferencial, com ψ(x0 ) = y0 , então
ψ(x) = φ(x) qualquer que seja x ∈ I ∩ J.
Mais do que isso, o Teorema de Solução Maximal diz que existe um intervalo aberto I contendo
x0 e uma solução φ : I −→ R da equação diferencial satisfazendo a condição φ(x0 ) = y0 , tal
que se ψ : J −→ R, onde J é um intervalo aberto contendo x0 , é solução da mesma equação
diferencial, com ψ(x0 ) = y0 , então J ⊂ I e
ψ(x) = φ(x) qualquer que seja x ∈ J.
Exemplo 3. Como resolver o problema de valor inicial
 0
f (x) = 1 − (f (x))2
f (0) = 2.
Soluçao. Sabe-se do exemplo 7, da aula número 27, que a equação diferencial
f 0 (x) = 1 − (f (x))2
possui solução geral φg dada por
C e2x +1
φg (x) = ∀x ∈ R, onde C ∈ R, ou
C e2x −1
φg (x) = 1 ∀x ∈ R.
Deste modo, se φ : R −→ R é a solução do problema inicial, então existe C ∈ R tal que
C e2x +1
φ(x) = ∀x ∈ R,
C e2x −1
e φ(0) = 2. Daı́, em particular,
C +1
φ(0) = = 2 e, assim, C = 3.
C −1
3

Portanto, φ é dada por


3 e2x +1
φ(x) = ∀x ∈ R.
3 e2x −1

Exemplo 4. Como resolver o problema de valor inicial
 0
f (x) = sen(x)f (x)
f (π) = 1.
Soluçao. Se φ : R −→ R é solução da equação diferencial linear homogência
f 0 (x) − sen(x)f (x) = 0,
então
φ0 (x) − sen(x)φ(x) = 0 ∀x ∈ R.
Portanto,
ecos(x) φ0 (x) − ecos(x) sen(x)φ(x) = 0 ∀x ∈ R,
isto é,
d cos(x) 
e φ(x) = 0 em R.
dx
Daı́, existe C ∈ R tal que
ecos(x) φ(x) = C ∀x ∈ R.
Assim, a solução geral φg , da referida equação diferencial linear homogênea, é dada por
φg (x) = C e− cos(x) ∀x ∈ R, onde C ∈ R.
Deste modo, se ψ : R −→ R é solução do problema de valor inicial, então ψ(π) = 1 e existe
C ∈ R tal que
ψ(x) = C e− cos(x) ∀x ∈ R.
Em particular,
1
ψ(π) = C e = 1, isto é , C = .
e
Logo, ψ é dada por
ψ(x) = e−1−cos(x) ∀x ∈ R.

Os próximos dois resultados generalizam, para ordem 2, o Teorema de Existência e Uni-
cidade e o Teorema de Solução Maximal enunciados, na aula de número 27, para equações
diferenciais de ordem 1. Para os seus entendimentos, observe que os conceitos e resultados
enunciados na aula número 27, para funções de duas variáveis reais e de valor real, estendem-se
naturalmente às funções de três variáveis reais e de valor real, isto é, funções com domı́nio
Ω ⊂ R3 e contradomı́nio R.
Sejam Ω ⊂ R3 , F : Ω −→ R uma função de três variáveis reais e de valor real, e, dado
(a, b, c) ∈ Ω, g a função dada por
g(s) = F (a, s, c) ∀s tal que (a, s, c) ∈ Ω,
e h a função dada por
h(s) = F (a, b, s) ∀s tal que (a, b, s) ∈ Ω.
4

Dizemos que F possui derivada parcial em relação a y no ponto (a, b, c) quando a função g é
diferenciável em b, sendo g 0 (b) denotado por
∂F ∂F
(a, b, c), isto é, (a, b, c) = g 0 (b).
∂y ∂y
Dizemos que F possui derivada parcial em relação a z no ponto (a, b, c) quando a função h é
diferenciável em c, sendo h0 (c) denotado por
∂F ∂F
(a, b, c), isto é, (a, b, c) = h0 (c).
∂z ∂z
Assim, para encontrar ∂F (x, y, z) basta derivar a expressão F (x, y, z) em relação a y, “con-
∂y
siderando” x e z como constantes. Para encontrar ∂F (x, y, z) basta derivar a expressão F (x, y, z)
∂z
em relação a z, “considerando” x e y como constantes. Veja o próximo exemplo.
Exemplo 5. Sendo
F (x, y, z) = x2 + y 3 + z 4 ,
tem-se
∂F ∂F
(x, y, z) = 3y 2 e (x, y, z) = 4z 3 .
∂y ∂z
Sendo p
G(x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 ,
tem-se
∂G y ∂G z
(x, y, z) = p e (x, y, z) = p .
∂y x2 + y 2 + z 2 ∂z x2 + y 2 + z 2
Sendo
H(x, y, z) = x2 y 3 z 4 + y 2 z 3 ,
tem-se
∂H ∂H
(x, y, z) = 3x2 y 2 z 4 + 2yz 3 e (x, y, z) = 4x2 y 3 z 3 + 3y 2 z 2 .
∂y ∂z
Teorema 1 (Existência e Unicidade de Ordem 2). Sejam Ω ⊂ R3 um conjunto aberto e F :
Ω −→ R uma função contı́nua, tal que F possui derivada parcial em relação a y e em relação
a z em Ω, e ∂F : Ω −→ R e ∂F : Ω −→ R são funções contı́nuas. Dado (x0 , y0 , z0 ) ∈ Ω, são
∂y ∂z
verdadeiras as seguintes afirmações.
∗ Existe um intervalo aberto I contendo x0 e uma função φ : I −→ R que é solução da
equação diferencial
f 00 (x) = F (x, f (x), f 0 (x)), satisfazendo as condições φ(x0 ) = y0 e φ0 (x0 ) = z0 .
∗ Se ψ : I −→ R é solução desta equação diferencial, com as condições ψ(x0 ) = y0 e
ψ 0 (x0 ) = z0 , então ψ(x) = φ(x) qualquer que seja x ∈ I.
Teorema 2 (Solução Maximal de Ordem 2). Sejam Ω ⊂ R3 um conjunto aberto e F : Ω −→ R
uma função contı́nua, tal que F possui derivada parcial em relação a y e em relação a z em
Ω, e ∂F : Ω −→ R e ∂F : Ω −→ R são funções contı́nuas. Dado (x0 , y0 , z0 ) ∈ Ω, são
∂y ∂z
verdadeiras as seguintes afirmações.
5

∗ Se φ1 : I1 −→ R e φ2 : I2 −→ R, sendo I1 e I2 intervalos abertos contendo x0 , são


soluções da equação diferencial
f 00 (x) = F (x, f (x), f 0 (x)), com φ1 (x0 ) = φ2 (x0 ) = y0 e φ01 (x0 ) = φ02 (x0 ) = z0 ,
então φ1 (x) = φ2 (x) qualquer que seja x ∈ I1 ∩ I2 .
∗ Existe um intervalo aberto I, contendo x0 , e uma solução φ : I −→ R da equação
diferencial
f 00 (x) = F (x, f (x), f 0 (x)), com φ(x0 ) = y0 e φ0 (x0 ) = z0 ,
tal que se J é um intervalo contendo x0 e ψ : J −→ R é uma solução desta equação
diferencial, com ψ(x0 ) = y0 e ψ 0 (x0 ) = z0 , então J ⊂ I e ψ(x) = φ(x) qualquer que
seja x ∈ J.
Dados uma equação diferencial de ordem 2
f 00 (x) = F (x, f (x), f 0 (x))
e uma tripla (x0 , y0 , z0 ), encontrar uma solução φ desta equação diferencial, satisfazendo as
condições φ(x0 ) = y0 e φ0 (x0 ) = z0 , é resolver o problema de valor inicial
 00
f (x) = F (x, f (x), f 0 (x)),
f (x0 ) = y0 e f 0 (x0 ) = z0 .
Os teoremas 1 e 2, desta aula, apresentam condições sobre a função F , e sobre seu domı́nio,
para que este problema tenha uma única solução.
Exemplo 6. Como resolver o problema de valor inicial
 p
f 00 (x) = 1 + (f 0 (x))2 ,
f (0) = 2 e f 0 (0) = 0?
Soluçao. Sabe-se do exemplo 4, da aula número 26, que a equação diferencial
p
f 00 (x) = 1 + (f 0 (x))2
possui solução geral ψg dada por
φg (x) = cosh(x + C) + D ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Daı́, se φ : R −→ R é solução do problema de valor inicial, então φ(0) = 2, φ0 (0) = 0 e
existem constantes C, D ∈ R tais que
φ(x) = cosh(x + C) + D ∀x ∈ R.
Em particular,
φ(0) = cosh(C) + D = 2 e φ0 (0) = senh(C) = 0.
Assim,
C = 0 e 1 + D = 2, isto é, D = 1.
Portanto,
φ(x) = cosh(x) + 1 ∀x ∈ R.

6

Exemplo 7. A solução geral φg da equação diferencial


f 00 (x) = 0
é dada por
φg (x) = Cx + D ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Exemplo 8. Como resolver o problema de valor inicial
 00
f (x) + f 0 (x) = 1
f (0) = 2 e f 0 (0) = 3?
Soluçao. Se I é um intervalo aberto e φ : I −→ R é solução da equação diferencial
f 00 (x) + f 0 (x) = 1,
então
φ00 (x) + φ0 (x) = 1 ∀x ∈ I e, assim, ex φ00 (x) + ex φ0 (x) = ex ∀x ∈ I.
Isto diz que
d x 0 d x
(e φ (x)) = (e ) em I.
dx dx
Logo, existe C ∈ R tal que
ex φ0 (x) = ex +C ∀x ∈ I, ou seja , φ0 (x) = 1 + C e−x ∀x ∈ I.
Portanto, existe D ∈ R tal que
φ(x) = x − C e−x + D ∀x ∈ I.
Assim, a solução geral φg da equação diferencial f 00 (x) + f 0 (x) = 1 é dada por
φg (x) = x + C e−x + D ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Deste modo, se ψ : R −→ R é solução do problema de valor inicial, então ψ(0) = 2, ψ 0 (0) = 3
e existem constantes C, D ∈ R tais que
ψ(x) = x + C e−x +D ∀x ∈ R.
Em particular,
ψ(0) = C + D = 2 e ψ 0 (0) = 1 − C = 3.
O que dá C = −2, D = 4 e, portanto,
ψ(x) = x − 2 e−x + 4 ∀x ∈ R.


Equação Diferencial Linear de Segunda Ordem

Sejam p, q e r funções de uma variável real e de valor real. A equação diferencial


d2 y dy
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) + r(x) = 0 ⇐⇒ 2 + p(x) + q(x)y + r(x) = 0
dx dx
7

é denominada equação diferencial linear de segunda ordem. Dizemos que esta equação di-
ferencial linear é homogênea quando é nula a função r. São lineares as seguintes equações
diferenciais de segunda ordem.
d2 y
f 00 (x) + xf (x) − x2 = 0 + xy − x = 0
dx2
d2 y dy
f 00 (x) + cos(x)f 0 (x) + sen(x)f (x) = 1 2 +5 + 6y = x
dx dx

São homogêneas as seguintes equações diferenciais lineares de segunda ordem.


d2 y
f 00 (x) + xf (x) = 0 + xy = 0
dx2
d2 y dy
f 00 (x) + cos(x)f 0 (x) + sen(x)f (x) = 0 2 +5 + 6y = 0
dx dx

A seguinte proposição diz que a soma de duas soluções de uma equação diferencial linear
homogênea é também solução dessa equação. Também diz que o produto de um escalar por
uma solução de uma equação diferencial linear homogênea ainda é solução dessa equação.
Proposição 1. Sejam I ⊂ R um intervalo, p : I −→ R e q : I −→ R funções de uma variável
real e de valor real, e a equação diferencial linear homogênea de segunda ordem
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0.
São verdadeiras as seguintes afirmações.
∗ A funçao nula θ : I −→ R, com θ(x) = 0 qualquer que seja x ∈ I, é solução desta
equação homogênea.
∗ Se φ : I −→ R e ψ : I −→ R são soluções da equação homogênea, então φ + ψ :
I −→ R é solução da equação homogênea.
∗ Se φ : I −→ R é solução da equação homogênea e λ ∈ R, então λ.φ : I −→ R é
solução da equação homogênea.
Demonstração. Se φ : I −→ R, ψ : I −→ R são soluções da equação diferencial linear
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0,
então
φ00 (x) + p(x)φ0 (x) + q(x)φ(x) = 0 e
ψ 00 (x) + p(x)ψ 0 (x) + q(x)ψ(x) = 0 ∀x ∈ I.
Daı́,
(φ + ψ)00 (x) + p(x)(φ + ψ)0 (x) + q(x)(φ + ψ)(x) =
(φ00 (x) + ψ 00 (x)) + p(x)(φ0 (x) + ψ 0 (x)) + q(x)(φ(x) + ψ(x)) =
φ00 (x) + ψ 00 (x) + p(x)φ0 (x) + p(x)ψ 0 (x) + q(x)φ(x) + q(x)ψ(x) =
(φ00 (x) + p(x)φ0 (x) + q(x)φ(x)) + (ψ 00 (x) + p(x)ψ 0 (x) + q(x)ψ(x)) =
0 + 0 = 0 ∀x ∈ I.
8

Portanto, φ + ψ : I −→ R é solução da equação diferencial linear homogênea.


Se φ : I −→ R é solução da equação diferencial linear
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0
e λ ∈ R, então
φ00 (x) + p(x)φ0 (x) + q(x)φ(x) = 0 ∀x ∈ I.
Daı́,
(λ · φ)00 (x) + p(x)(λ · φ)0 (x) + q(x)(λ · φ)(x) =
λ · φ00 (x) + p(x)(λ · φ0 (x)) + q(x)(λ · φ(x)) =
λ · φ00 (x) + λ · p(x)φ0 (x) + λ · q(x)φ(x) =
λ · (φ00 (x) + p(x)φ0 (x) + q(x)φ(x)) = λ · 0 = 0 ∀x ∈ I.
Portanto, λ.φ : I −→ R é solução da equação diferencial linear homogênea. 
O seguinte resultado é conhecido com Teorema de Existência e Unicidade para equações
diferenciais lineares de segunda ordem. Dele é apresentado somente o seu enunciado.
Teorema 3. Seja I um intervalo de R. Se p : I −→ R, q : I −→ R e r : I −→ R são funções
contı́nuas, então, dados a ∈ I, b ∈ R e c ∈ R, existe uma única função φ : I −→ R que é
solução da equação diferencial linear
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) + r(x) = 0,
e que satisfaz as condições φ(a) = b e φ0 (a) = c.
Exemplo 9. Este teorema diz, por exemplo, que a equação diferencial linear
f 00 (x) + x2 f 0 (x) + xf (x) = cos(x)
possui uma única solução φ : R −→ R tal que φ(1) = 2 e φ0 (1) = 3, pois as funções
coeficientes p(x) = x2 , q(x) = x e r(x) = − cos(x) são contı́nuas em R.
Exemplo 10. Este teorema diz, por exemplo, que se φ : [0, +∞) −→ R é solução da equação
diferencial linear homogênea

f 00 (x) + xf 0 (x) + xf (x) = 0,
e φ(1) = φ0 (1) = 0, então φ(x) = 0 qualquer que seja x ∈ R, pois a função nula θ :
[0, +∞) −→ R, com θ(x) = 0 ∀x ∈ R, é solução desta equação diferencial linear homogênea
satistazendo as mesmas condições iniciais.
Este teorema será utilizado, na próxima aula, para se encontrar a solução geral de uma
equação diferencial linear de segunda ordem
f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) + r(x) = 0,
onde p e q são constantes reais.
AULA 29
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta é uma aula teórica. As suas definições e os seus resultados justificam os procedimentos
que serão utlizados, na próxima aula, para resolução de equações diferenciais homogêneas, de
segunda ordem, com coeficientes constantes.
Lembre que, dada uma função φ de variável real e de valor real, dizemos que φ é função nula,
e escrevemos φ = 0, quando
φ(x) = 0 qualquer que seja x ∈ Dφ .
Assim, φ não é função nula, e escrevemos φ 6= 0, quando existe x0 ∈ Dφ tal que φ(x0 ) 6= 0.
Com isso, faça-te um favor parando de dizer que φ não é função nula quando φ(x) 6= 0 em cada
x ∈ Dφ : a função sen : R −→ R não é função nula e sen(kπ) = 0 qualquer que seja k ∈ Z.
Dados um intervalo I, n funções φ1 : I −→ R, . . . , φn : I −→ R e n números reais
a1 , . . . , an ∈ R, a função
a1 φ1 + · · · + an φn
é denominada combinação linear de φ1 , . . . , φn com coeficientes a1 , . . . , an .
Lembre que, por definição, a função a1 φ1 + · · · + an φn : I −→ R é dada por
(a1 φ1 + · · · + an φn )(x) = a1 φ1 (x) + · · · + an φn (x) ∀x ∈ I.
Logo a1 φ1 + · · · + an φn = 0, isto é, a1 φ1 + · · · + an φn é função nula se, e somente se,
a1 φ1 (x) + · · · + an φn (x) = 0 qualquer que seja x ∈ I.
Observe também que 0φ1 + · · · + 0φn = 0 pois
0φ1 (x) + · · · + 0φn (x) = 0 em cada x ∈ I.
O conjunto formado por cada combinação linear de φ1 , . . . , φn é denominado espaço de funções
gerado por φ1 , . . . , φn , sendo denotado por [φ1 , . . . , φn ]. Daı́
[φ1 , . . . , φn ] := { a1 φ1 + · · · + an φn | a1 ∈ R, . . . , an ∈ R } .
Observação 1. Sejam I ⊂ R um intervalo, p : I −→ R e q : I −→ R funções de uma variável
real e de valor real, e a equação diferencial linear homogênea de segunda ordem
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0.
Segue da proposição 1, da aula número 29, que se φ1 , . . . , φn são soluções desta equação
diferencial linear homogênea, então
[φ1 , . . . , φn ] ⊂ S, onde S é o conjunto solução desta equação.
Definição 1. Sejam I um intervalo e φ1 : I −→ R, . . . , φn : I −→ R funções. Dizemos que
φ1 , . . . , φn são linearmente independentes quando
a1 φ1 + · · · + an φn = 0 ⇐⇒ a1 = 0, . . . , an = 0,
isto é,
a1 φ1 (x) + · · · + an φn (x) = 0 qualquer que seja x ∈ I ⇐⇒ a1 = 0, . . . , an = 0.

1
2

Desta definição, para mostrar que φ1 , . . . , φn são linearmente indepentes basta mostrar a
veracidade da implicação
a1 φ1 + · · · + an φn = 0 =⇒ a1 = 0, . . . , an = 0.
Exemplo 1. As funções sen e cos são linearmente independentes?
Soluçao. Se a, b ∈ R e a sen +b cos = 0, então
a sen(x) + b cos(x) = 0 qualquer que seja x ∈ R.
Em particular,
a sen(0) + b cos(0) = 0 e a sen(π/2) + b cos(π/2) = 0,
isto é
a = 0 e b = 0.
Isto diz que as funções sen e cos são linearmente independentes. 
Exemplo 2. As funções f , g e h, dadas por f (x) = ex , g(x) = e2x e h(x) = e3x , são linear-
mente independentes?
Soluçao. Se a, b, c ∈ R e af + bg + ch = 0, então (af + bg + ch)0 = 0 e (af + bg + ch)00 = 0,
isto é
a ex +b e2x +c e3x = 0 ∀x ∈ R,
a ex +2b e2x +3c e3x = 0 ∀x ∈ R e
a ex +4b e2x +9c e3x = 0 ∀x ∈ R.
Em particular, com x = 0, tem-se
a + b + c = 0,
a + 2b + 3c = 0 e
a + 4b + 9c = 0.
Daı́ b + 2c = 0 e 2b + 6c = 0, isto é, b + 2c = 0 e b + 3c = 0. Assim b = c = 0. Portanto,
a = b = c = 0.
Isto diz que f , g e h são funções linearmente independentes. 
Definição 2. Sejam I um intervalo e φ1 : I −→ R, . . . , φn : I −→ R funções. Dizemos que
φ1 , . . . , φn são linearmente dependentes quando φ1 , . . . , φn não são linearmente independentes,
isto é, quando existem a1 , . . . , an ∈ R, não todos nulos, tais que
a1 φ1 + · · · + an φn = 0,
ou seja,
a1 φ1 (x) + · · · + an φn (x) = 0 qualquer que seja x ∈ I.
Proposição 1. Sejam I um intervalo e φ1 : I −→ R, . . . , φn : I −→ R funções. As funções
φ1 , . . . , φn são linearmente dependentes se, e somente se, uma delas é combinação linear das
demais.
3

Demonstração. Se φ1 , . . . , φn são linearmente dependentes, então existem a1 , . . . , an ∈ R, com


aj 6= 0 para algum j ∈ { 1, . . . , n }, tal que
a1 φ1 (x) + · · · + an φn (x) = 0 qualquer que seja x ∈ I.
Daı́,
aj φj (x) = −(a1 φ1 (x) + · · · + aj−1 φj−1 (x) + aj+1 φj+1 (x) + · · · + an φn (x)) ∀x ∈ I,
isto é,
a1 aj−1 aj+1 an
φj (x) = − φ1 (x) − · · · − φj−1 (x) − φj+1 (x) − · · · − φn (x) ∀x ∈ I.
aj aj aj aj
Logo φj é combinação linear de φ1 , . . . , φj−1 , φj+1 , . . . , φn .
Reciprocamente, se φj é combinação linear de φ1 , . . . , φj−1 , φj+1 , . . . , φn , para algum j ∈
{ 1, . . . , n }, então existem a1 , . . . , aj−1 , aj+1 , . . . , an ∈ R tais que
φj (x) = a1 φ1 (x) + · · · + aj−1 φj−1 (x) + aj+1 φj+1 (x) + · · · + an φn (x) ∀x ∈ I.
Daı́,
a1 φ1 (x) + · · · + aj−1 φj−1 (x) + (−1)φj (x) + aj+1 φj+1 (x) + · · · + an φn (x) = 0 ∀x ∈ I,
ou seja, há uma combinação linear nula de φ1 , . . . , φn onde os coeficientes não são todos nulos.
Isto diz que φ1 , . . . , φn são linearmente dependentes. 
Exemplo 3. As funções f (x) = sen2 (x), g(x) = cos2 (x) e h(x) = 1, ∀x ∈ R, são linearmente
dependentes pois
1 · f (x) + 1 · g(x) − 1.h(x) = 0 ∀x ∈ R.
Definição 3. Sejam I ⊂ R um intervalo e φ1 : I −→ R, . . . , φn : I −→ R funções (n − 1)
vezes diferenciáveis. O Wronskiano de φ1 , . . . , φn é a função W [φ1 , . . . , φn ] : I −→ R dada
por  
φ1 (x) ... φn (x)
 φ01 (x) ... φ0n (x) 
W [φ1 , . . . , φn ](x) = det 
 ... ... ...


(n−1) (n−1)
φ1 (x) . . . φn (x)
Exemplo 4. Pela definição 3, o Wronskiano das funções seno e cosseno é dado por
 
sen(x) cos(x)
W [sen, cos](x) = det
cos(x) − sen(x)
= − sen2 (x) − cos2 (x) = −1 ∀x ∈ R.
Exemplo 5. Sejam Sejam f , g e h, as funções dadas por f (x) = ex , g(x) = e2x e h(x) = e3x .
Pela definição 3, o Wronskiano destas funções é dado por
 x   
e e2x e3x 1 1 1
W [f, g, h](x) = det  ex 2 e2x 3 e3x  = e6x det  1 2 3 
ex 4 e2x 9 e3x 1 4 9
      
6x 2 3 1 3 1 2
= e det − det + det
4 9 1 9 1 4
= e6x (6 − 6 + 2) = 2 e6x ∀x ∈ R.
4

Proposição 2. Sejam I ⊂ R um intervalo e φ1 : I −→ R, . . . , φn : I −→ R funções (n − 1)


vezes diferenciáveis. Se existe x0 ∈ I tal que W [φ1 , . . . , φn ](x0 ) 6= 0 então

φ1 , . . . , φn são linearmente independentes.

Soluçao. Suponha que φ1 , . . . , φn são (n − 1) vezes diferenciáveis e que existe x0 ∈ I tal que
W [φ1 , . . . , φn ](x0 ) 6= 0. Daı́, se a1 , . . . , an ∈ R e a1 φ1 + · · · + an φn = 0 então

a1 φ1 (x) + · · · + an φn (x) = 0 ∀x ∈ I,
a1 φ01 (x) + · · · + an φ0n (x) = 0 ∀x ∈ I,
...,
(n−1)
a1 φ1 (x) + · · · + an φ(n−1)
n (x) = 0 ∀x ∈ I.

Em particular,

a1 φ1 (x0 ) + · · · + an φn (x0 ) = 0,
a1 φ01 (x0 ) + · · · + an φ0n (x0 ) = 0,
...,
(n−1)
a1 φ1 (x0 ) + · · · + an φ(n−1)
n (x0 ) = 0,

isto é,
     
φ1 (x0 ) ... φn (x0 ) a1 0
 φ01 (x0 ) ... φ0n (x0 )   a2   0 
· =
  ... ,
 
 ... ... ...   ...
(n−1) (n−1)
φ1 (x0 ) . . . φn (x0 ) an 0

ou seja, (a1 , . . . , an ) é solução do sistema linear homogêneo


     
φ1 (x0 ) ... φn (x0 ) x1 0
 φ01 (x0 ) ... 0
φn (x0 )   x2
    0 
 ·  ...
=
  ... ,
 
 ... ... ...
(n−1) (n−1)
φ1 (x0 ) . . . φn (x0 ) xn 0

com n equações e n incógnitas. Como W [φ1 , . . . , φn ](x0 ) 6= 0, ou melhor, a matriz dos coe-
ficientes deste sistema linear é invertı́vel, tem-se que ele possui somente uma solução. Assim,
sendo (0, . . . , 0) a solução deste sistema, conclui-se que a1 = 0, . . . , an = 0.
Isto mostra que φ1 , . . . , φn são linearmente independentes. 

Exemplo 6. Sejam I ⊂ R um intervalo e ψ1 : I −→ R, . . . , ψn : I −→ R as funções dadas


por
ψ1 (x) = 1, ψ2 (x) = x, . . . , ψn (x) = xn−1 ∀x ∈ I.

As funções ψ1 , . . . , ψn são linearmente independentes?


5

Soluçao. Tem-se
 
ψ1 (x) ... ψn (x)
 ψ10 (x) ... ψn0 (x) 
W [ψ1 , . . . , ψn ](x) = det 
 ... ... ...


(n−1) (n−1)
ψ1 (x) . . . ψn (x)
 
1 x x2 ... xn−1
 0
 1 2x ... (n − 1)xn−2 

= det 
 0 0 2 . . . (n − 1)(n − 2)xn−3 =

 ... ... ... ... ... 
0 0 0 ... (n − 1)!
= (0!).(1!).(2!). · · · .((n − 1)!) 6= 0 ∀x ∈ I.
Portanto, pela proposição 2, as funções ψ1 , . . . , ψn são linearmente independentes. 
Proposição 3. Sejam I um intervalo de R e, p : I −→ R e q : I −→ R, funções contı́nuas. Se
φ1 : I −→ R e φ2 : I −→ R são soluções linearmente independentes da equação diferencial
linear homogênea, de segunda ordem,
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0,
então W [φ1 , φ2 ](x) 6= 0 ∀x ∈ I.
Soluçao. Admita as hipóteses no enunciado. Dado x0 ∈ I, se (a, b) é solução do sistema linear
homogêneo
     
φ1 (x0 ) φ2 (x0 ) u 0
0 0 · = ,
φ1 (x0 ) φ2 (x0 ) v 0
então aφ1 (x0 ) + bφ2 (x0 ) = 0 e aφ01 (x0 ) + bφ02 (x0 ) = 0. Deste modo, pela proposição 1, da aula
número 29, a função φ : I −→ R, dada por
φ(x) = aφ1 (x) + bφ2 (x) ∀x ∈ I,
é solução da referida equação diferencial linear homogênea, satisfazendo as condições φ(x0 ) =
0 e φ0 (x0 ) = 0. Como a função nula, com domı́nio I, é solução desta equação diferencial linear
homogênca, satisfazendo as mesmas condições, segue pelo Teorema de Existência e Unicidade
que φ é função nula, ou seja, aφ1 + bφ2 = 0. Sendo φ1 e φ2 linearmente independentes, tem-se
que a = b = 0.
Isto diz que o sistema linear homogêneo possui somente uma solução. Assim a sua matriz
dos coeficientes é invertı́vel, ou melhor,
 
φ1 (x0 ) φ2 (x0 )
W [φ1 , φ2 ](x0 ) = det 6= 0.
φ01 (x0 ) φ02 (x0 )
Veja que x0 ∈ I é fixo, porém arbitrário. Logo
W [φ1 , φ2 ](x) 6= 0 ∀x ∈ I.

A seguinte proposição diz que o conjunto solução de cada equação diferencial linear, de
segunda ordem e homogênea, fica completamente determinado por um par de soluções linear-
mente independentes.
6

Proposição 4. Sejam I um intervalo de R e, p : I −→ R e q : I −→ R funções contı́nuas. Se


φ1 : I −→ R e φ2 : I −→ R são soluções linearmente independentes da equação diferencial
linear homogênea, de segunda ordem,
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0,
então o seu conjunto solução S é o espaço gerado por φ1 e φ2 , ou seja,
S = [φ1 , φ2 ].
Assim, se ψ : I −→ R é solução da referida equação diferencial, então existem constantes
C1 , C2 ∈ R tai que
ψ(x) = C1 φ1 (x) + C2 φ2 (x) qualquer que seja x ∈ I
e, portanto, a sua solução geral φg é dada por
φg (x) = C1 φ1 (x) + C2 φ2 (x) qualquer que seja x ∈ I, onde C1 ∈ R e C2 ∈ R.
Demonstração. Admita as hipóteses. Segue da proposição 1, da aula número 29, que
[φ1 , φ2 ] ⊂ S.
Agora escolha x0 ∈ I. Pela proposição 3, W [φ1 , φ2 ](x0 ) 6= 0. Dada uma solução φ : I −→ R
da equação diferencial linear homogênea seja, então, (a, b) a única solução do sistema linear
     
φ1 (x0 ) φ2 (x0 ) u φ(x0 )
· = ,
φ01 (x0 ) φ02 (x0 ) v φ0 (x0 )
e ψ : I −→ R a função dada por
ψ(x) = aφ1 (x) + bφ2 (x) ∀x ∈ I.
Deste modo a função ψ é solução da equação diferencial linear homogênea satistazendo as
condições ψ(x0 ) = φ(x0 ) e ψ 0 (x0 ) = φ0 (x0 ). Portanto, pelo Teorema de Existência e Unicidade,
tem-se
ψ(x) = φ(x) ∀x ∈ I,
ou seja,
φ(x) = aφ1 (x) + bφ2 (x) ∀x ∈ I.
Isto diz que S ⊂ [φ1 , φ2 ] e, assim, S = [φ1 , φ2 ]. 
Exemplo 7. As funções sen e cos são soluções linearmente independentes da equação diferen-
cial linear homogênea
f 00 (x) + f (x) = 0.
Assim, pela proposição 4, a sua solução geral φg é dada por
φg (x) = C1 sen(x) + C2 cos(x) onde C1 , C2 ∈ R.
Exemplo 8. As funções φ1 (x) = ex e φ2 (x) = e−x são soluções da equação diferencial linear
homogênea
f 00 (x) − f (x) = 0.
7

Como
e−x
   x 
φ1 (x) φ2 (x) e
W [φ1 , φ2 ](x) = det = det
φ01 (x) φ02 (x) ex − e−x
= −1 − 1 = −2 ∀x ∈ R,
tem-se que φ1 e φ2 são linearmente independentes. Assim, pela proposição 4, a solução geral
φg desta equação diferencial é dada por
φg (x) = C1 ex +C2 e−x onde C1 , C2 ∈ R.
Corolário 1. Sejam I um intervalo de R e, p : I −→ R e q : I −→ R, funções contı́nuas. A
equação diferencial linear homogênea, de segunda ordem,
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0,
possui duas soluções φ1 : I −→ R e φ2 : I −→ R linearmente independentes e, portanto, a
sua solução geral φg é dada por
φg (x) = C1 φ1 (x) + C2 φ2 (x) ∀x ∈ I, onde C1 , C2 ∈ R.
Demonstração. Admita as hipóteses do enunciado. Pelo Teorema de Existência e Unicidade, o
problema de valor inicial
 00
f (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0,
f (0) = 1 e f 0 (0) = 0,
possui uma única solução φ1 : I −→ R, e o problema de valor inicial
 00
f (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0,
f (0) = 0 e f 0 (0) = 1,
possui uma única solução φ2 : I −→ R. Daı́
   
φ1 (0) φ2 (0) 1 0
W [φ1 , φ2 ](0) = det = det = 1 6= 0.
φ01 (0) φ02 (0) 0 1
Portanto, φ1 e φ2 são linearmente independentes. 
AULA 30
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

O objetivo desta aula é encontrar a solução geral da equação diferencial linear homogênea,
de segunda ordem,
(EDLH) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = 0,
onde p e q são constantes reais, isto é, p, q ∈ R.
Na busca de uma solução, da equação diferencial linear homogênea EDLH, na forma
φ(x) = eαx qualquer que seja x ∈ R, onde α ∈ R,
tem-se a seguinte sequência de equivalências,
φ00 (x) + pφ0 (x) + qφ(x) = 0 ∀x ∈ R ⇐⇒ α2 eαx +pα eαx +q eαx = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ eαx (α2 + pα + q) = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ α2 + pα + q = 0,
visto que eαx 6= 0 qualquer que seja x ∈ R. Daı́, a seguinte proposição.
Proposição 1. Dados p, q, α ∈ R, a função φ : R −→ R, dada por
φ(x) = eαx qualquer que seja x ∈ R,
é solução da equação diferencial linear homogênea
(EDLH) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = 0
se, e somente se, α é raiz da equação algébrica u2 + pu + q = 0, na incógnita u.
A equação, do segundo grau, u2 + pu + q = 0 é denoninada equação caracterı́stica da
equação diferencial linear homogênea EDLH.
Exemplo 1. As funções φ1 e φ2 , dadas por,
φ1 (x) = ex e φ2 (x) = e−x ∀x ∈ R,
são soluções linearmente independentes da equação diferencial linear homogênea
f 00 (x) − f (x) = 0, onde p = 0 e q = 1.
Perceba que 1 e −1 são as raı́zes reais da sua equação caracterı́stica: u2 − 1 = 0.

A equação caracterı́stica possui duas raı́zes reais e distintas

Se p, q ∈ R e ∆ = p2 − 4q > 0, então a equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, da equação


diferencial linear homogênea
(EDLH) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = 0,
possui duas raı́zes reais e distintas α1 e α2 . Logo, pela proposição 1, as funções φ1 : R −→ R
e φ2 : R −→ R, dadas por
φ1 (x) = eα1 x e φ2 (x) = eα2 x qualquer que seja x ∈ R,

1
2

são soluções da equação diferencial linear homogênea EDLH. Como


 αx 
e 1 eα2 x
W [φ1 , φ2 ](x) =
α1 eα1 x α2 eα2 x
= α2 eα1 x eα2 x −α1 eα1 x eα2 x
= (α2 − α1 ) eα1 x+α2 x 6= 0 ∀x ∈ R,
tem-se que φ1 e φ2 são linearmente independentes. Portanto, a solução geral φg da equação
diferencial linear homogênea EDLH é dada por
φg (x) = C1 eα1 x +C2 eα2 x ∀x ∈ R, onde C1 , C2 ∈ R.
Exemplo 2. Como resolver a equação diferencial linear homogênea
f 00 (x) + 5f 0 (x) + 6f (x) = 0?
Soluçao. A sua equação caracterı́stica, u2 + 5u + 6 = 0, possui duas raı́zes reais e distintas: −2
e −3. Portanto, as funções φ1 : R −→ R e φ2 : R −→ R, dadas por
φ1 (x) = e−2x e φ2 (x) = e−3x qualquer que seja x ∈ R,
são soluções linearmente independentes. Logo, a sua solução geral φg é dada por
φg (x) = C e−2x +D e−3x qualquer que seja x ∈ R, onde C, D ∈ R.

Exemplo 3. A equação diferencial linear homogênea
f 00 (x) = 0, onde p = q = 0,
possui solução geral φg dada por
φg (x) = C + Dx ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Veja que a sua equação caracterı́stica, u2 = 0, possui somente uma raiz real: 0. Perceba,
também, que as funções φ : R −→ R e ψ : R −→ R, dadas por
φ(x) = 1 = e0x e ψ(x) = x = x e0x qualquer que seja x ∈ R,
são soluções linearmente independentes da referida equação diferencial.

A equação caracterı́stica possui somente uma raiz real

Se p, q ∈ R e ∆ = p2 − 4q = 0, então a equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, da equação


diferencial linear homogênea
(EDLH) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = 0,
possui uma única raiz real α = −p/2. Logo, a função φ : R −→ R, dada por
φ(x) = eαx qualquer que seja x ∈ R,
é solução da equação diferencial linear homogênea EDLH. Perceba que multiplicando φ por
uma constante real C 6= 1, obtem-se uma outra solução da equação diferencial linear ho-
mogênea EDLH, mas não se obtem duas soluções linearmente independentes. Lembre que são
necessárias duas soluções linearmente independentes da equação diferencial linear homogênea
3

EDLH para obter-se a sua solução geral. A ideia agora é buscar uma solução ψ : R −→ R,
dada por
ψ(x) = g(x) eαx qualquer que seja x ∈ R,
onde g : R −→ R seja uma função duas vezes diferenciável e não constante. Dada uma função
ψ, desse tipo, tem-se
ψ 0 (x) = g 0 (x) eαx +αg(x) eαx ∀x ∈ R e
ψ 00 (x) = g 00 (x) eαx +2αg 0 (x) eαx +α2 g(x) eαx ∀x ∈ R.
Daı́,
ψ 00 (x) + pψ 0 (x) + qψ(x) = 0 ∀x ∈ R ⇐⇒ g 00 (x) eαx +2αg 0 (x) eαx +α2 g(x) eαx +
p(g 0 (x) eαx +αg(x) eαx )+
qg(x) eαx = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ g 00 (x) eαx +(2α + p)g 0 (x) eαx
(α2 + pα + q)g(x) eαx = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ g 00 (x) eαx = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ g 00 (x) = 0 ∀x ∈ R,
visto que 2α + p = 0 e α2 + pα + q = 0. Assim, ψ é solução da equação diferencial linear
homogênea EDLH se, e somente se, g 00 (x) = 0 ∀x ∈ R. Logo, as funções φ : R −→ R e
ψ : R −→ R, dadas por
φ(x) = eαx e ψ(x) = x eαx ∀x ∈ R,
são soluções da equação diferencial linear homogênea EDLH. Como
 αx 
e x eαx
W [φ, ψ](x) =
α eαx eαx +xα eαx
= e2αx +αx e2αx −αx e2αx = e2αx 6= 0 ∀x ∈ R,
as funções φ e ψ são linearmente independentes e, portanto, a solução geral φg , da equação
diferencial linear homogênea EDLH é dada por
φg (x) = C eαx +Dx eαx ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Exemplo 4. Como resolver a equação diferencial linear homogênea
f 00 (x) + 6f 0 (x) + 9f (x) = 0?
Soluçao. A sua equação caracterı́stica, u2 + 6u + 9 = 0, possui somente uma raiz real: −3.
Neste caso as funções φ : R −→ R e ψ : R −→ R, dadas por
φ(x) = e−3x e ψ(x) = x e−3x ∀x ∈ R,
são soluções linearmente independentes. Portanto, a sua solução geral φg é dada por
φg (x) = C e−3x +Dx e−3x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.

4

Exemplo 5. As funções φ1 e φ2 , dadas por,


φ1 (x) = sen(x) e φ2 (x) = cos(x) ∀x ∈ R,
são soluções linearmente independentes da equação diferencial linear homogênea
f 00 (x) + f (x) = 0.
Perceba que a sua equação caracterı́stica, u2 + 1 = 0, possui duas raı́zes complexas: i e −i.
Com certa generalidade, dado β 6= 0, as funções ψ1 e ψ2 , dadas por,
ψ1 (x) = sen(βx) e ψ2 (x) = cos(βx) ∀x ∈ R,
são soluções da equação diferencial linear homogênea
f 00 (x) + β 2 f (x) = 0
e a sua equação caracterı́stica, u2 + β 2 = 0, não possui raı́zes reais. Como
 
sen(βx) cos(βx)
W [ψ1 , ψ2 ](x) =
β cos(βx) −β sen(βx)
= −β sen2 (βx) − β cos2 (βx) = −β 6= 0 ∀x ∈ R,
as funções ψ1 e ψ2 são linearmente independentes. Assim, a solução geral de equação diferen-
cial linear homogênea
f 00 (x) + β 2 f (x) = 0,
é dada por
φg (x) = C1 sen(βx) + C2 cos(βx), onde C1 , C2 ∈ R.

A equação caracterı́stica não possui raı́zes reais

Se p, q ∈ R e ∆ = p2 − 4q < 0, então a equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, da equação


diferencial linear homogênea
(EDLH) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = 0,
possui duas raı́zes complexas, e conjugadas, α + iβ e α − iβ, com α, β ∈ R e β > 0. De fato,
p p
−p + p2 − 4q p 4q − p2
α + iβ = =− +i ,
2 2 2
o que dá, 2α + p = 0 e β 2 = q − p2 /4. Como, neste caso, α não é raiz da equação caracterı́stica
u2 + pu + q = 0, então a função φ : R −→ R, dada por
φ(x) = eαx qualquer que seja x ∈ R,
não é solução da equação diferencial linear homogênea EDLH. Sendo assim, a ideia agora é
buscar uma solução ψ : R −→ R, dada por
ψ(x) = g(x) eαx qualquer que seja x ∈ R,
onde g : R −→ R seja uma função duas vezes diferenciável e não constante. Dada uma função
ψ, desse tipo, tem-se
ψ 0 (x) = g 0 (x) eαx +αg(x) eαx ∀x ∈ R e
ψ 00 (x) = g 00 (x) eαx +2αg 0 (x) eαx +α2 g(x) eαx ∀x ∈ R ∀x ∈ R.
5

Daı́,
ψ 00 (x) + pψ 0 (x) + qψ(x) = 0 ∀x ∈ R ⇐⇒ g 00 (x) eαx +2αg 0 (x) eαx +α2 g(x) eαx +
p(g 0 (x) eαx +αg(x) eαx )+
qg(x) eαx = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ g 00 (x) eαx +(2α + p)g 0 (x) eαx
(α2 + pα + q)g(x) eαx = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ g 00 (x) eαx +β 2 g(x) eαx = 0 ∀x ∈ R
⇐⇒ g 00 (x) + β 2 g(x) = 0 ∀x ∈ R,
visto que 2α + p = 0 e
p2 p2 p2
α2 + pα + q = − + q = − + q = β 2.
4 2 4
Assim, ψ é solução da equação diferencial linear homogênea EDLH se, e somente se,
g 00 (x) + β 2 g(x) = 0 ∀x ∈ R.
Logo, pelo exemplo 5, as funções ψ1 : R −→ R e ψ2 : R −→ R, dadas por
ψ1 (x) = eαx sen(βx) e ψ2 (x) = eαx cos(βx) ∀x ∈ R,
são soluções da equação diferencial linear homogênea EDLH. Como
 
eαx sen(βx) eαx cos(βx)
W [ψ1 , ψ2 ](x) =
α eαx sen(βx) + β eαx cos(βx) α eαx cos(βx) − β eαx sen(βx)
= −β eαx sen2 (βx) − β eαx cos2 (βx) = −β eαx 6= 0 ∀x ∈ R,
as funções ψ1 e ψ2 são linearmente independentes e, portanto, a solução geral φg , da equação
diferencial linear homogênea EDLH é dada por
φg (x) = C1 eαx sen(βx) + C2 eαx cos(βx) ∀x ∈ R, onde C1 , C2 ∈ R.
Exemplo 6. Como resolver a equação diferencial linear homogênea
f 00 (x) − 4f 0 (x) + 13f (x) = 0?
Soluçao. A sua equação caracterı́stica, u2 − 4u + 13 = 0, possui discriminante ∆ dado por
∆ = (−4)2 − 4.1.13 = 16 − 52 = −36.
Sendo ∆ < 0, esta equação do segundo grau possui duas raizes complexas:
p p
−(−4) + i −(36) 4 + 6i −(−4) − i −(36) 4 − 6i
= = 2 + 3i e = = 2 − 3i.
2 2 2 2
Assim, as funções ψ1 : R −→ R e ψ2 : R −→ R, dadas por
ψ1 (x) = e2x sen(3x) e ψ2 (x) = e2x cos(3x) ∀x ∈ R,
são soluções linearmente independentes da referida equação diferencial linear homogênea. Por-
tanto, a sua solução geral ψg é dada por
ψg (x) = C e2x sen(3x) + D e2x cos(3x) ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.

6

Exemplo 7. Como resolver o problema de valor inicial


 00
f (x) − 2f 0 (x) = 0,
f (0) = 1 e f 0 (0) = −1?
Soluçao. A equação caracterı́stica, u2 − 2u = 0, da equação diferencial linear homogênea
f 00 (x) − 2f 0 (x) = 0,
possui duas raı́zes reais e distintas: 0 e 2. Portanto, a solução geral φg desta equação diferencial
é dada por
φg (x) = C e0x +D e2x = C + D e2x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Logo, se ψ : R −→ R é a solução do referido problema de valor inicial, então ψ(0) = 1,
ψ 0 (0) = −1 e existem constantes C, D ∈ R tais que
ψ(x) = C + D e2x ∀x ∈ R.
Em particular,
ψ(0) = C + D = 1 e ψ 0 (0) = 2D = −1,
isto é, D = −1/2 e C = 3/2. Portanto, a solução ψ do problema de valor incial é dada por
3 1
ψ(x) = − e2x ∀x ∈ R.
2 2

AULA 31
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

O objetivo desta aula é resolver equação diferencial linear não homogênea, de segunda or-
dem,
f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = r(x)
onde p, q ∈ R e r, óbvio, não é uma função nula.
Antes, porém, vamos considerar a equação diferencial linear não homogênea

(EDNH) f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = r(x)

e a equação diferencial linear homogênea, a ela associada,

(EDH) f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0,

onde I ⊂ R é um intervalo e p : I −→ R, q : I −→ R e r : I −→ R são funções contı́nuas.


Observe os seguintes fatos.
∗ Se φ : I −→ R é solução da equação diferencial linear homogênea EDH e ψ : I −→ R
é solução da equação diferencial linear não homogênea EDNH, então
φ00 (x) + p(x)φ0 (x) + q(x)φ(x) = 0 qualquer que seja x ∈ I,

ψ 00 (x) + p(x)ψ 0 (x)) + q(x)ψ(x) = r(x) qualquer que seja x ∈ I

e, portanto,
(φ + ψ)00 (x) + p(x)(φ + ψ)0 (x) + q(x)(φ + ψ)(x) =
φ00 (x) + ψ 00 (x) + p(x)(φ0 (x) + ψ 0 (x)) + q(x)(φ(x) + ψ(x) =
φ00 (x) + ψ 00 (x) + p(x)φ0 (x) + p(x)ψ 0 (x)) + q(x)φ(x) + q(x)ψ(x) =
(φ00 (x) + p(x)φ0 (x) + q(x)φ(x)) + (ψ 00 (x) + p(x)ψ 0 (x)) + q(x)ψ(x)) =
0 + r(x) = r(x) qualquer que seja x ∈ I,

isto é, φ + ψ é solução da equação diferencial linear não homogênea EDNH. Isto diz
que a soma de qualquer solução da equação diferencial linear homogênea com qual-
quer solução da equação diferencial linear não homogênea, é uma solução da equação
diferencial linear não homogênea.
∗ Por outro lado, se ψ1 : I −→ R e ψ2 : I −→ R são soluções da equação diferencial
linear não homogênea EDNH, então
ψ100 (x) + p(x)ψ10 (x) + q(x)ψ1 (x) = r(x) qualquer que seja x ∈ I,

ψ200 (x) + p(x)ψ20 (x) + q(x)ψ2 (x) = r(x) qualquer que seja x ∈ I

1
2

e, assim,
(ψ2 − ψ1 )00 (x) + p(x)(ψ2 − ψ1 )0 (x) + q(x)(ψ2 − ψ1 )(x) =
ψ200 (x) − ψ100 (x) + p(x)(ψ20 (x) − ψ10 (x)) + q(x)(ψ2 (x) − ψ1 (x) =
ψ200 (x) − ψ100 (x) + p(x)ψ20 (x) − p(x)ψ10 (x)) + q(x)ψ2 (x) − q(x)ψ1 (x) =
(ψ200 (x) + p(x)ψ20 (x) + q(x)ψ2 (x)) − (ψ100 (x) + p(x)ψ10 (x)) + q(x)ψ1 (x)) =
r(x) − r(x) = 0 qualquer que seja x ∈ I,
isto é, ψ2 − ψ1 é solução da equação diferencial linear homogênea EDH. Isto diz que a
diferença entre quaisquer duas soluções da equação diferencial linear não homogênea,
é uma solução da equação diferencial linear homogênea.
Diante destes dois fatos, seja ψp : I −→ R uma solução particular da equação diferencial
linear não homogênea EDNH. Se ψ : I −→ R é qualquer solução da equação diferencial linear
não homogênea EDNH, então
ψ(x) = (ψ(x) − ψp (x)) + ψp (x) = (ψ − ψp )(x) + ψp (x) ∀x ∈ I,
onde ψ − ψp é uma solução da equação diferencial linear homogênea EDH, ou seja, ψ é a
soma de uma solução da equação diferencial linear homogênea com a solução particular ψp
da equação diferencial linear não homogênea. Reciprocamente, se φ é solução da equação
diferencial linear homogênea EDH, então φ + ψp é solução da equação diferencial linear não
homogênea EDNH. Portanto, a solução geral ψg , da equação diferencial linear não homogênea
EDNH, é dada por
ψg (x) = φg (x) + ψp (x) ∀x ∈ I,
onde φg é a solução geral da equação diferencial linear homogênea EDH. Isto diz que para
resolver a equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = r(x),
basta encontrar uma solução particular sua e encontrar a solução geral da equação diferencial
linear homogênea
f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0
associada.
Exemplo 1. Como encontrar a solução geral da equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) = sen(x)?
Soluçao. Observe que a função ψp : R −→ R, dada por
ψp (x) = − sen(x) ∀x ∈ R,
é uma solução particular da equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) = sen(x),
e a solução geral φg , da equação diferencial linear homogênea associada
f 00 (x) = 0,
é dada por
φg (x) = C + Dx ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
3

Portanto, a solução geral ψg , da equação diferencial linear não homogênea, é dada por
ψg (x) = φg (x) + ψp (x) = C + Dx − sen(x) ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.

Sejam p, q, α ∈ R, a equação diferencial linear não homogênea
(ED1) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = eαx ,
e a equação diferencial linear homogênea associada
(EDH1) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = 0.
Se α não é raiz da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, então a função φ(x) = eαx não é
solução da equação diferencial linear homogênea EDH1. Logo, é razoável buscar uma solução
particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED1, dada por
ψp (x) = A eαx ∀x ∈ R, onde A ∈ R.
Sendo ψp desta forma, tem-se
ψp00 (x) + pψp0 (x) + qψp (x) = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ α2 A eαx +pαA eαx +qA eαx = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ (α2 + pα + q)A = 1
1
⇐⇒A = 2 ,
α + pα + q
isto é, a função ψp é solução da equação diferencial linear não homogênea ED1 se, e somente
se, A = 1/(α2 + pα + q). Portanto, a função ψp : R −→ R, dada por
1
ψp (x) = 2 eαx ∀x ∈ R,
α + pα + q
é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED1. Agora se α é raiz da
equação caracterı́stica, mas não é raiz dupla, então a função φ(x) = eαx é solução da equação
diferencial linear homogênea EDH1 e α 6= −p/2. Assim, é razoável buscar uma solução
particular ψp dada por
ψp (x) = Ax eαx ∀x ∈ R, onde A ∈ R.
Sendo ψp desta forma, tem-se
ψp0 (x) = A eαx +Aαx eαx ∀x ∈ R,
ψp00 (x) = 2Aα eαx +Aα2 x eαx ∀x ∈ R
e, assim,
ψp00 (x) + pψp0 (x) + qψp (x) = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ 2Aα eαx +Aα2 x eαx +p(A eαx +Aαx eαx ) + qAx eαx = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒(α2 + pα + q)Ax eαx +(2α + p)A eαx = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ (2α + p)A = 1
1
⇐⇒ A = ,
2α + p
4

isto é, a função ψp é solução da equação diferencial linear não homogênea ED1 se, e somente
se, A = 1/(2α + p). Portanto, a função ψp : R −→ R, dada por
1
ψp (x) = x eαx ∀x ∈ R,
2α + p
é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED1. No caso em que α é
raiz dupla da equação caracterı́stica , as funções φ1 (x) = eαx e φ2 (x) = x eαx são soluções da
equação diferencial linear homogênea EDH1. Assim, é razoável buscar uma solução particular
ψp dada por
ψp (x) = Ax2 eαx ∀x ∈ R, onde A ∈ R.
Sendo ψp desta forma, tem-se
ψp0 (x) = 2Ax eαx +Aαx2 eαx ∀x ∈ R,
ψp00 (x) = 2A eαx +4Aαx eαx +Aα2 x2 eαx ∀x ∈ R
e, assim,
ψp00 (x) + pψp0 (x) + qψp (x) = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ 2A eαx +4Aαx eαx +Aα2 x2 eαx +
p(2Ax eαx +Aαx2 eαx ) + qAx2 eαx = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ (α2 + pα + q)Ax2 eαx +2(2α + p)Ax eαx +2A eαx = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ 2A eαx = eαx ∀x ∈ R
⇐⇒ 2A = 1
1
⇐⇒ A = ,
2
isto é, a função ψp é solução da equação diferencial linear não homogênea ED1 se, e somente
se, A = 1/2. Portanto, a função ψp : R −→ R, dada por
1
ψp (x) = x2 eαx ∀x ∈ R,
2
é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED1.
Sugestão 1. Para encontrar uma solução particular ψp da equação diferencial linear não ho-
mogênea
(ED1) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = eαx ,
não memorize as fórmulas para ψp . Memorize, em cada relação de α com a equação carac-
terı́stica u2 + pu + q = 0, a forma de ψp e o procedimento adotado para encontrar a respectiva
constante A. Se α não é raiz da equação caracterı́stica, ψp (x) = A eαx . Se α é raiz sim-
ples da equação caracterı́stica, ψp (x) = Ax eαx . Se α é raiz dupla da equação caracterı́stica,
ψp (x) = Ax2 eαx . Em cada caso, substitua f por ψp na equação diferencial linear não ho-
mogênea ED1 e encontre o valor para A de modo que a iguldade ocorra em cada x ∈ R.
Exemplo 2. Como encontrar a solução geral da equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) − 5f 0 (x) + 6f (x) = e2x ?
5

Soluçao. A sua equação caracterı́stica , u2 − 5u + 6 = 0, possui duas raı́zes simples: 2 e 3. Daı́,


a solução geral φg , da equação diferencial linear homogênea associada
f 00 (x) − 5f 0 (x) + 6f (x) = 0,
é dada por
φg (x) = C e2x +D e3x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Além disso, existe uma solução particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea,
dada por
ψp (x) = Ax e2x ∀x ∈ R, onde A ∈ R.
Deste modo,
ψp0 (x) = A e2x +2Ax e2x ∀x ∈ R,
ψp00 (x) = 4A e2x +4Ax e2x ∀x ∈ R
e, assim,
ψp00 (x) − 5ψp0 (x) + 6ψp (x) = e2x ∀x ∈ R
⇐⇒ 4A e2x +4Ax e2x −5A e2x −10Ax e2x +6Ax e2x = e2x ∀x ∈ R
⇐⇒ − A e2x = e2x ∀x ∈ R
⇐⇒ − A = 1 ⇐⇒ A = −1.
Daı́, a solução particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea, é dada por
ψp (x) = −x e2x ∀x ∈ R.
Logo, a solução geral ψg , da equação diferencial linear não homogênea, é dada por
ψg (x) = C e2x +D e3x −x e2x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.

Sejam p, q, α, β ∈ R, com β > 0, a equação diferencial linear não homogênea
(ED2) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = eαx sen βx,
e a equação diferencial linear homogênea associada
(EDH2) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = 0.
Se α+iβ não é raiz da equação caracterı́stica u2 +pu+q = 0, então a função φ1 (x) = eαx sen βx
e a função φ2 (x) = eαx cos βx não são soluções da equação diferencial linear homogênea
EDH2. Logo, é razoável buscar uma solução particular ψp da equação diferencial linear não
homogênea ED2 dada por
ψp (x) = A eαx sen βx + B eαx cos βx ∀x ∈ R, onde A, B ∈ R.
Sendo ψp desta forma tem-se
ψp0 (x) = (Aα − Bβ) eαx sen βx + (Aβ + Bα) eαx cos βx ∀x ∈ R,
ψp00 (x) = (A(α2 − β 2 ) − 2Bαβ) eαx sen βx + (B(α2 − β 2 ) + 2Aαβ) eαx cos βx ∀x ∈ R.
6

Assim,
ψp00 (x) + pψp0 (x) + qψp (x) = eαx sen βx ∀x ∈ R
⇐⇒ (A(α2 − β 2 ) − 2Bαβ) eαx sen βx + (B(α2 − β 2 ) + 2Aαβ) eαx cos βx+
p((Aα − Bβ) eαx sen βx + (Aβ + Bα) eαx cos βx)+
q(A eαx sen βx + B eαx cos βx) = eαx sen βx ∀x ∈ R
⇐⇒ [A(α2 − β 2 ) − 2Bαβ + p(Aα − Bβ) + qA] eαx sen βx
[B(α2 − β 2 ) + 2Aαβ + p(Aβ + Bα) + qB] eαx cos βx
= eαx sen βx ∀x ∈ R
⇐⇒ [(α2 − β 2 + pα + q)A + (−2αβ − pβ)B] eαx sen βx+
[(2αβ + pβ)A + (α2 − β 2 + pα + q)B] eαx cos βx = eαx sen βx ∀x ∈ R
⇐⇒ (α2 − β 2 + pα + q)A + (−2αβ − pβ)B = 1 e
(2αβ + pβ)A + (α2 − β 2 + pα + q)B = 0
e o sistema linear

(α2 − β 2 + pα + q)u + (−2αβ − pβ)v = 1,
(SL2)
(2αβ + pβ)u + (α2 − β 2 + pα + q)v = 0,
nas incógnitas u e v, possui uma única solução (A, B) pois
 2 
α − β 2 + pα + q −2αβ − pβ
det =
2αβ + pβ α2 − β 2 + pα + q
(α2 − β 2 + pα + q)2 + (2α + p)2 β 2 > 0
visto que, por hipótese, α + iβ não é raiz da equação caracterı́stica, isto é,
0 6= (α + iβ)2 + p · (α + iβ) + q
= α2 + 2αβi − β 2 + pα + ipβ + q
= (α2 − β 2 + pα + q) + i(2α + p)β
e, portanto,
(2α + p)β 6= 0 ou α2 − β 2 + pα + q 6= 0.
Daı́, há uma solução particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED2, dada por
ψp (x) = A eαx sen βx + B eαx cos βx ∀x ∈ R,
onde (A, B) é a única solução do sistema linear SL2.
No caso em que α + iβ é raiz da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, então a função
φ1 (x) = eαx sen βx e a função φ2 (x) = eαx cos βx são soluções da equação diferencial linear
homogênea EDH2. Logo, é razoável buscar uma solução particular ψp da equação diferencial
linear não homogênea ED2 dada por
ψp (x) = xφp (x) ∀x ∈ R,
onde
φp (x) = A eαx sen βx + B eαx cos βx ∀x ∈ R, com A, B ∈ R.
7

Sendo ψp desta forma tem-se


ψp0 (x) = xφ0p (x) + φp (x) ∀x ∈ R,
ψp00 (x) = xφ00p (x) + 2φ0p (x) ∀x ∈ R,
Assim,
ψp00 (x) + pψp0 (x) + qψp (x) = eαx sen βx ∀x ∈ R
⇐⇒ xφ00p (x) + 2φ0p (x) + p(xφ0p (x) + φp (x)) + qxφp (x) = eαx sen βx ∀x ∈ R
⇐⇒ x(φ00p (x) + pφ0p (x) + qφp (x)) + 2φ0p (x) + pφp (x) = eαx sen βx ∀x ∈ R
⇐⇒ 2((Aα − Bβ) eαx sen βx + (Aβ + Bα) eαx cos βx)+
p(A eαx sen βx + B eαx cos βx) = eαx sen βx ∀x ∈ R
⇐⇒ [(2α + p)A + (−2β)B] eαx sen βx + [2βA + (2α + p)B] eαx cos βx =
eαx sen βx ∀x ∈ R
⇐⇒ − 2βB eαx sen βx + 2βA eαx cos βx = eαx sen βx ∀x ∈ R
⇐⇒ − 2βB = 1 e 2βA = 0 ⇐⇒ B = −1/(2β) e A = 0.
pois φp é solução da equação diferencial linear homogênea EDH2 e 2α + p = 0. Daı́, a função
ψp dada por
1
ψp (x) = − x eαx cos βx ∀x ∈ R,

é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED2.
Sugestão 2. Para encontrar uma solução particular ψp da equação diferencial linear não ho-
mogênea
(ED2) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = eαx sen(βx), onde β > 0,
não memorize as fórmulas para ψp . Memorize, em cada relação de α + iβ com a equação
caracterı́stica u2 + pu + q = 0, a forma de ψp e o procedimento adotado para encontrar as
respectivas constantes A e B. Se α + iβ não é raiz complexa da equação caracterı́stica,
ψp (x) = A eαx sen(βx) + B eαx cos(βx).
Se α + iβ é raiz complexa da equação caracterı́stica,
ψp (x) = x(A eαx sen(βx) + B eαx cos(βx)).
Em cada caso, substitua f por ψp na equação diferencial linear não homogênea ED2 e encontre
os valores para A e B de modo que a iguldade ocorra em cada x ∈ R.
Observação 1. Veja que, dados p, q, α, β ∈ R, com β > 0, o procedimento é o mesmo para
encontrar uma solução particular da equação diferencial linear não homogênea
(ED3) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = eαx cos βx.
Exemplo 3. Como resolver a equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) + 2f 0 (x) + f (x) = sen(x)?
8

Soluçao. A sua equação caracterı́stica, u2 + 2u + 1 = 0, possui uma raı́z real dupla: −1. Daı́,
a solução geral φg , da equação diferencial linear homogênea associada
f 00 (x) + 2f 0 (x) + f (x) = 0,
é dada por
φg (x) = C e−x +Dx e−x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Como o número complexo α + iβ = 0 + 1i = i não é raiz complexa da equação caracterı́stica,
há uma solução particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea, dada por
ψp (x) = A sen(x) + B cos(x) ∀x ∈ R, onde A, B ∈ R.
Deste modo,
ψp0 (x) = A cos(x) − B sen(x) ∀x ∈ R,
ψp00 (x) = −A sen(x) − B cos(x) ∀x ∈ R
e, assim,
ψp00 (x) + 2ψp0 (x) + ψp (x) = sen(x) ∀x ∈ R
⇐⇒ − A sen(x) − B cos(x) + 2(A cos(x) − B sen(x))+
A sen(x) + B cos(x) = sen(x) ∀x ∈ R
⇐⇒ − 2B sen(x) + 2A cos(x) = sen(x) ∀x ∈ R
⇐⇒ − 2B = 1 e 2A = 0 ⇐⇒ B = −1/2 e A = 0.
Portanto, a função ψp , dada por
1
ψp (x) = − cos(x) ∀x ∈ R,
2
é uma solução particular da equação diferencial linear não homogênea. Logo, a solução geral
ψg da equação diferencial linear não homogênea, é dada por
1
ψg (x) = C e−x +Dx e−x − cos(x) ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
2

Sejam p, q ∈ R, uma função polinômial P (x) = Pn xn + Pn−1 xn−1 + · · · + P1 x + P0 de grau
n, a equação diferencial linear não homogênea
(ED3) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = P (x),
e a equação diferencial linear homogênea associada
(EDH3) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = 0.
Se q 6= 0, isto é, 0 não é raiz da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, então é razoável buscar
uma solução particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED3, dada por
ψp (x) = An xn + · · · + A1 x + A0 ∀x ∈ R,
onde An , . . . , A1 , A0 ∈ R. Sendo ψp desta forma, tem-se
ψp0 (x) = nAn xn−1 + · · · + 3A3 x2 + 2A2 x + A1 ∀x ∈ R e
ψp00 (x) = n(n − 1)An xn−2 + · · · + 6A3 x + 2A2 ∀x ∈ R.
9

Assim,
ψp00 (x) + pψp0 (x) + qψp (x) = P (x) ∀x ∈ R
⇐⇒ n(n − 1)An xn−2 + · · · + 6A3 x + 2A2 +
p(nAn xn−1 + · · · + 3A3 x2 + 2A2 x + A1 )+
q(An xn + · · · + A1 x + A0 ) = Pn xn + · · · + P1 x + P0 ∀x ∈ R


 qAn = Pn ,
 qAn−1 + pnAn = Pn−1 ,


⇐⇒ qAn−2 + p(n − 1)An−1 + n(n − 1)An = Pn−2 ,
...,




 qA + pA + 2A = P .
0 1 2 0

e, claramente, o sistema linear




 qun = Pn ,
 qun−1 + pnun = Pn−1 ,


(SL3) qun−2 + p(n − 1)un−1 + n(n − 1)un = Pn−2 ,



 ...,
 qu + pu + 2u = P .
0 1 2 0

nas incóginitas u0 , u1 , . . . , un possui uma única solução (An , . . . , A1 , A0 ). Daı́, há uma solução
particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED3, dada por
ψp (x) = An xn + · · · + A1 x + A0 ∀x ∈ R,
onde (An , . . . , A1 , A0 ) é a única solução do sistema linear SL3.
Se q = 0 e p 6= 0, isto é, 0 é raiz simples da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, então é
razoável buscar uma solução particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED3,
dada por
ψp (x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 )
= An xn+1 + · · · + A1 x2 + A0 x ∀x ∈ R,
onde An , . . . , A1 , A0 ∈ R. Sendo ψp desta forma, tem-se
ψp0 (x) = (n + 1)An xn + · · · + 3A2 x2 + 2A1 x + A0 ∀x ∈ R,
ψp00 (x) = (n + 1)nAn xn−1 + · · · + 6A2 x + 2A1 ∀x ∈ R,
Assim,
ψp00 (x) + pψp0 (x) = P (x) ∀x ∈ R
⇐⇒ (n + 1)nAn xn−1 + · · · + 6A2 x + 2A1 +
p((n + 1)An xn + · · · + 3A2 x2 + 2A1 x + A0 ) = Pn xn + · · · + P1 x + P0 ∀x ∈ R


 p(n + 1)An = Pn ,
 pnAn−1 + (n + 1)nAn = Pn−1 ,


⇐⇒ p(n − 1)An−2 + n(n − 1)An−1 = Pn−2 ,
...,




 pA + 2A = P .
0 1 0
10

e, claramente, o sistema linear




 p(n + 1)un = Pn ,
 pnun−1 + (n + 1)nun = Pn−1 ,


(SL4) p(n − 1)un−2 + n(n − 1)un−1 = Pn−2 ,
...,




 pu + 2u = P .
0 1 0

nas incóginitas u0 , u1 , . . . , un possui uma única solução (An , . . . , A1 , A0 ). Daı́, há uma solução
particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED3, dada por
ψp (x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 ) ∀x ∈ R,
onde (An , . . . , A1 , A0 ) é a única solução do sistema linear SL4.
Se p = q = 0, isto é, 0 é raiz dupla da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, então é
razoável buscar uma solução particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED3,
dada por
ψp (x) = x2 (An xn + · · · + A1 x + A0 )
= An xn+2 + · · · + A1 x3 + A0 x2 ∀x ∈ R,
onde An , . . . , A1 , A0 ∈ R. Sendo ψp desta forma, tem-se
ψp0 (x) = (n + 2)An xn+1 + · · · + 4A2 x3 + 3A1 x2 + 2A0 x ∀x ∈ R,
ψp00 (x) = (n + 2)(n + 1)An xn + · · · + 12A2 x2 + 6A1 x + 2A0 ∀x ∈ R,
Assim,
ψp00 (x) = P (x) ∀x ∈ R
⇐⇒ (n + 2)(n + 1)An xn + · · · + 12A2 x2 + 6A1 x + 2A0 =
Pn xn + · · · + P1 x + P0 ∀x ∈ R


 (n + 2)(n + 1)An = Pn ,
 (n + 1)(n)An−1 = Pn−1 ,


⇐⇒ n(n − 1)An−2 = Pn−2 ,



 ...,
 2A = P .
0 0

e, claramente, o sistema linear




 (n + 2)(n + 1)un = Pn ,
 (n + 1)(n)un−1 = Pn−1 ,


(SL5) n(n − 1)un−2 = Pn−2 ,
...,




 2u = P .
0 0

nas incóginitas u0 , u1 , . . . , un possui uma única solução (An , . . . , A1 , A0 ). Daı́, há uma solução
particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED3, dada por
ψp (x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 ) ∀x ∈ R,
onde (An , . . . , A1 , A0 ) é a única solução do sistema linear SL5.
11

Sugestão 3. Para encontrar uma solução particular ψp , da equação diferencial linear não
homogênea
(ED3) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = Pn xn + · · · + P1 x + P0 ,
não memorize as fórmulas para ψp . Memorize a forma de ψp e o procedimento adotado para
encontrar as respectivas constantes An , . . . , A1 , A0 . Se q 6= 0,
ψp (x) = An xn + · · · + A1 x + A0 ∀x ∈ R.
Se q = 0 e p 6= 0,
ψp (x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 ) ∀x ∈ R.
Se p = q = 0,
ψp (x) = x2 (An xn + · · · + A1 x + A0 ) ∀x ∈ R.
Em cada caso, substitua f por ψp na equação diferencial linear não homogênea ED3 e encontre
os valores para An , . . . , A1 , A0 de modo que a igualdade ocorra em cada x ∈ R.
Exemplo 4. Como resolver a equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) − 2f 0 (x) = x2 + 1?
Soluçao. A sua equação caracterı́stica, u2 − 2u = 0, possui duas raı́zes reais simples: 0 e 2.
Daı́, a solução geral φg , da equação diferencial linear homogênea associada
f 00 (x) − 2f 0 (x) = 0,
é dada por
φg (x) = C + D e2x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Como q = 0, há uma solução particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea, dada
por
ψp (x) = x(Ax2 + Bx + C) = Ax3 + Bx2 + Cx ∀x ∈ R, onde A, B ∈ R.
Deste modo,
ψp0 (x) = 3Ax2 + 2Bx + C ∀x ∈ R,
ψp00 (x) = 6Ax + 2B ∀x ∈ R
e, assim,
ψp00 (x) − 2ψp0 (x) = x2 + 1 ∀x ∈ R
⇐⇒ 6Ax + 2B − 2(3Ax2 + 2Bx + C) = x2 + 1 ∀x ∈ R
⇐⇒ − 6A = 1, 6A − 4B = 0 e 2B − 2C = 1
⇐⇒ A = −1/6, B = −1/4 e C = −3/4.
Portanto, a função ψp , dada por
1 1 3
ψp (x) = − x3 − x2 − x ∀x ∈ R,
6 4 4
é uma solução particular da equação diferencial linear não homogênea. Logo, a solução geral
ψg , da equação diferencial linear não homogênea, é dada por
1 1 3
ψg (x) = C + D e2x − x3 − x2 − x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
6 4 4

AULA 32
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula continua com o estudo da resolução de equações diferenciais lineares, de segunda
ordem, não homogêneas e com coeficientes constantes.
Sejam p, q, α ∈ R, uma função polinômial P (x) = Pn xn + Pn−1 xn−1 + · · · + P1 x + P0 de
grau n, a equação diferencial linear não homogênea
(ED4) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = P (x) eαx ,
e a equação diferencial linear homogênea associada
(EDH4) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = 0.
Se Q é uma função polinomial e ψp é a função dada por
ψp (x) = Q(x) eαx ∀x ∈ R,
então
ψp0 (x) = Q0 (x) eαx +αQ(x) eαx ∀x ∈ R e
ψp00 (x) = Q00 (x) eαx +2αQ0 (x) eαx +α2 Q(x) eαx ∀x ∈ R.
Assim,
ψp00 (x) + pψp0 (x) + qψp (x) = Q00 (x) eαx +2αQ0 (x) eαx +α2 Q(x) eαx +
p(Q0 (x) eαx +αQ(x) eαx ) + qQ(x) eαx
= (α2 + pα + q)Q(x) eαx +(2α + p)Q0 (x) eαx +
Q00 (x) eαx ∀x ∈ R.
Daı́, ψp é solução da equação diferencial linear não homogênea ED4 se, e somente se,
(α2 + pα + q)Q(x) eαx +(2α + p)Q0 (x) eαx +Q00 (x) eαx = P (x) eαx ∀x ∈ R,
isto é,
(α2 + pα + q)Q(x) + (2α + p)Q0 (x) + Q00 (x) = P (x) ∀x ∈ R.
Assim, se α não é raiz da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0 e Q é a função polinomial
dada por
Q(x) = An xn + · · · + A1 x + A0 ∀x ∈ R,
onde 
2
 (α + pα + q)An = Pn ,

2
 (α + pα + q)An−1 + (2α + p)nAn = Pn−1 ,


(α2 + pα + q)An−2 + (2α + p)(n − 1)An−1 + n(n − 1)An = Pn−2 ,
...,



 (α2 + pα + q)A + (2α + p)A + 2A = P ,

0 1 2 0
então a função ψp é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED4.
Agora, se α é raiz simples da equação caracterı́stica u2 +pu+q = 0 e Q é a função polinomial
dada por
Q(x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 ) ∀x ∈ R,

1
2

onde 

 (2α + p)(n + 1)An = Pn ,
 (2α + p)nAn−1 + (n + 1)nAn = Pn−1 ,


(2α + p)(n − 1)An−2 + n(n − 1)An−1 = Pn−2 ,
...,




 (2α + p)A + 2A = P ,
0 1 0

então a função ψp é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED4.
Finalmente, se α é raiz dupla da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0 e Q é a função
polinomial dada por
Q(x) = x2 (An xn + · · · + A1 x + A0 ) ∀x ∈ R,
onde 

 (n + 2)(n + 1)An = Pn ,
 (n + 1)(n)An−1 = Pn−1 ,


n(n − 1)An−2 = Pn−2 ,
 ..,
.



 2A = P ,
0 0

então a função ψp é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED4.
Sintetizando, se α não é raiz da equação caracterı́stica, então deve-se buscar uma solução
particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED4, na forma
ψp (x) = (An xn + · · · + A1 x + A0 ) eαx .
Se α é raiz simples da equação caracterı́stica, então deve-se buscar uma solução particular ψp ,
da equação diferencial linear não homogênea ED4, na forma
ψp (x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 ) eαx .
Se α é raiz dupla da equação caracterı́stica, então deve-se buscar uma solução particular ψp , da
equação diferencial linear não homogênea ED4, na forma
ψp (x) = x2 (An xn + · · · + A1 x + A0 ) eαx .
A teoria apresentada garante que a busca funciona!
Exemplo 1. Como resolver a equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) + f 0 (x) = x e2x ?
Soluçao. A sua equação caracterı́stica , u2 + u = 0, possui duas raı́zes simples: 0 e −1. Daı́, a
solução geral φg , da equação diferencial linear homogênea associada
f 00 (x) + f 0 (x) = 0,
é dada por
φg (x) = C + D e−x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Como α = 2 não é raiz da equação caracterı́stica, existe uma solução particular ψp dada por
ψp (x) = (Ax + B) e2x , onde A, B ∈ R.
3

Logo,

ψp0 (x) = (A + 2B) e2x +2Ax e2x ∀x ∈ R,


ψp00 (x) = (4A + 4B) e2x +4Ax e2x ∀x ∈ R e

ψp00 (x) + ψp0 (x) = x e2x ⇐⇒(5A + 6B) e2x +6Ax e2x = x e2x
⇐⇒5A + 6B = 0 e 6A = 1
⇐⇒A = 1/6 e B = −5/36.

Portanto, a função ψp , dada por


 
1 5
ψp (x) = x− e2x ∀x ∈ R,
6 36

é uma solução particular da equação diferencial linear não homogênea. Deste modo, a solução
geral ψg , da equação diferencial linear não homogênea, é dada por
 
−x 1 5
ψg (x) = C + D e + x− e2x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
6 36

Sejam p, q, α, β ∈ R com β > 0, uma função polinômial

P (x) = Pn xn + Pn−1 xn−1 + · · · + P1 x + P0

de grau n, a equação diferencial linear não homogênea

(ED5) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = P (x) eαx sen(βx),

e a equação diferencial linear homogênea associada

(EDH45) f 00 (x) + pf 0 (x) + qf (x) = 0.

Se A e B são funções polinomiais e ψp é a função dada por

ψp (x) = A(x) eαx sen(βx) + B(x) eαx cos(βx) ∀x ∈ R,

então
ψp0 (x) = (A(x)α − B(x)β + A0 (x)) eαx sen βx +
(A(x)β + B(x)α + B 0 (x)) eαx cos βx ∀x ∈ R e
ψp00 (x) = (A(x)(α2 − β 2 ) − 2B(x)αβ + 2αA0 (x) − 2βB 0 (x) + A00 (x)) eαx sen βx +
(B(x)(α2 − β 2 ) + 2A(x)αβ + 2βA0 (x) + 2αB 0 (x) + B 00 (x)) eαx cos βx ∀x ∈ R.
4

Assim,

ψp00 (x) + pψp0 (x) + qψp (x) =


[A(x)(α2 − β 2 ) − 2B(x)αβ + 2αA0 (x) − 2βB 0 (x) + A00 (x)] eαx sen βx +
[B(x)(α2 − β 2 ) + 2A(x)αβ + 2βA0 (x) + 2αB 0 (x) + B 00 (x)] eαx cos βx +
p[A(x)α − B(x)β + A0 (x)] eαx sen βx +
p[A(x)β + B(x)α + B 0 (x)] eαx cos βx +
qA(x) eαx sen(βx) + qB(x) eαx cos(βx) =
[A(x)(α2 − β 2 ) − 2B(x)αβ + 2αA0 (x) − 2βB 0 (x) + A00 (x) +
p(A(x)α − B(x)β + A0 (x)) + qA(x)] eαx sen(βx) +
[B(x)(α2 − β 2 ) + 2A(x)αβ + 2βA0 (x) + 2αB 0 (x) + B 00 (x)+
p(A(x)β + B(x)α + B 0 (x)) + qB(x)] eαx cos(βx) =
[(α2 − β 2 + pα + q)A(x) + (−2αβ − pβ)B(x)+
(2α + p)A0 (x) − 2βB 0 (x) + A00 (x)] eαx sen(βx) +
[(2αβ + pβ)A(x) + (α2 − β 2 + pα + q)B(x) +
(2α + p)B 0 (x) + 2βA0 (x) + B 00 (x)] eαx cos(βx) ∀x ∈ R.

Daı́, ψp é solução da equação diferencial linear não homogênea ED5 se, e somente se,

[(α2 − β 2 + pα + q)A(x) + (−2αβ − pβ)B(x)+


(2α + p)A0 (x) − 2βB 0 (x) + A00 (x)] eαx sen(βx) +
[(2αβ + pβ)A(x) + (α2 − β 2 + pα + q)B(x) +
2βA0 (x) + (2α + p)B 0 (x) + B 00 (x)] eαx cos(βx) = P (x) eαx sen(βx) ∀x ∈ R,

isto é,

[(α2 − β 2 + pα + q)A(x) + (−2αβ − pβ)B(x)+


(2α + p)A0 (x) − 2βB 0 (x) + A00 (x)] sen(βx) +
[(2αβ + pβ)A(x) + (α2 − β 2 + pα + q)B(x) +
2βA0 (x) + (2α + p)B 0 (x) + B 00 (x)] cos(βx) = P (x) sen(βx) ∀x ∈ R,

Observe que, se α + iβ não é raiz da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, então 2α + p 6= 0


ou α2 − β 2 + pα + q 6= 0. Portanto, se A e B são as funções polinomiais dadas por

A(x) = An xn + · · · + A1 x + A0 e B(x) = Bn xn + · · · + B1 x + A0 ∀x ∈ R,
5

onde
 2
 (α − β 2 + pα + q)An + (−2αβ − pβ)Bn = Pn ,
(2αβ + pβ)An + (α2 − β 2 + pα + q)Bn = 0,




(α2 − β 2 + pα + q)An−1 + (−2αβ − pβ)Bn−1 + (2α + p)nAn − 2βnBn = Pn−1 ,




(2αβ + pβ)An−1 + (α2 − β 2 + pα + q)Bn−1 + 2βnAn + (2α + p)nBn = 0,




 (α2 − β 2 + pα + q)An−2 + (−2αβ − pβ)Bn−2 + (2α + p)(n − 1)An−1 − 2β(n − 1)Bn−1


+n(n − 1)An = Pn−2 ,



 (2αβ + pβ)An−2 + (α2 − β 2 + pα + q)Bn−2 + 2β(n − 1)An−1 + (2α + p)(n − 1)Bn−1



 +n(n − 1)Bn = 0,


 ...
(α2 − β 2 + pα + q)A0 + (−2αβ − pβ)B0 + (2α + p)A1 − 2βB1 + 2A2 = P0 ,




(2αβ + pβ)A0 + (α2 − β 2 + pα + q)B0 + 2βA1 + (2α + p)B1 + 2B2 = 0,

então a função ψp é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED5. Per-
ceba que as duas primeiras equações lineares determinam An e Bn . Logo, as duas seguintes
determinan An−1 e Bn−1 e, assim por diante, até que as duas últimas equações determinam A0
e B0 . Em cada passo resolve-se um sistema linear 2 × 2 que possui somente uma solução.
Agora, se α + iβ é raiz da equação caracterı́stica u2 + pu + q = 0, então 2α + p = 0 e
α2 − β 2 + pα + q = 0. Portanto, se A e B são as funções polinomiais dadas por
A(x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 ) e B(x) = x(Bn xn + · · · + B1 x + B0 ) ∀x ∈ R,
onde
−2β(n + 1)Bn = Pn ,


2β(n + 1)An = 0,




−2βnBn−1 + (n + 1)nAn = Pn−1 ,




2βnAn−1 + (n + 1)nBn = 0,



−2β(n − 1)Bn−2 + n(n − 1)An−1 = Pn−2 ,



 2β(n − 1)An−2 + n(n − 1)Bn−1 = 0,



 ···
 −2βB0 + 2A1 = P0 ,



2βA0 + 2B1 = 0,
então a função ψp é solução particular da equação diferencial linear não homogênea ED5.
Sintetizando, se α+iβ não é raiz da equação caracterı́stica, então deve-se buscar uma solução
particular ψp , da equação diferencial linear não homogênea ED5, na forma
ψp (x) = (An xn + · · · + A1 x + A0 ) eαx sen(βx) +
= (Bn xn + · · · + B1 x + B0 ) eαx cos(βx).
Se α + iβ é raiz da equação caracterı́stica então, deve-se buscar uma solução particular ψp , da
equação diferencial linear não homogênea ED5, na forma
ψp (x) = x(An xn + · · · + A1 x + A0 ) eαx sen(βx) +
= x(Bn xn + · · · + B1 x + B0 ) eαx cos(βx).
A teoria apresentada garante que a busca funciona!
Exemplo 2. Como resolver a equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) − 2f 0 (x) + 5f (x) = x ex cos(2x)?
6

Soluçao. A sua equação caracterı́stica , u2 − 2u + 5 = 0, possui duas raı́zes complexas: 1 + 2i


e 1 − 2i. Daı́, a solução geral φg , da equação diferencial linear homogênea associada
f 00 (x) − 2f 0 (x) + 5f (x) = 0,
é dada por
φg (x) = C ex sen(2x) + D ex cos(2x) ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
Como 1 + 2i é raiz da equação caracterı́stica, existe uma solução particular ψp , da equação
diferencial linear não homogênea, dada por
ψp (x) = x(Ax + B) ex sen(2x) + x(Cx + D) ex cos(2x) ∀x ∈ R,
onde A, B, C, D ∈ R. Daı́,
ψp00 (x) − 2ψp0 (x) + 5ψp (x) = (2A − 4D) ex sen 2x + (4B + 2C) ex cos 2x −
8Cx ex sen 2x + 8Ax ex cos 2x ∀x ∈ R.
Logo, ψp é solução da equação diferencial linear não homogênea se
2A − 4D = 0, 4B + 2C = 0, 8C = 0 e 8A = 1,
isto é, A = 1/8, B = 0, C = 0 e D = 1/16. Portanto, a função ψp , dada por
1 1
ψp (x) = x2 ex sen 2x + x ex cos 2x ∀x ∈ R,
8 16
é solução particular da equação diferencial linear não homogênea. Deste modo a sua solução
geral ψg é dada por
ψg (x) = C ex sen(2x) + D ex cos(2x) +
1 2 x 1
x e sen 2x + x ex cos 2x ∀x ∈ R, onde C, D ∈ R.
8 16
Atenção: Faça as contas! 
Considere a equação diferencial linear não homogênea
(EDNH) f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = r(x) + s(x)
e a equação diferencial linear homogênea, a ela associada,
(EDH) f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = 0
onde I ⊂ R é um intervalo e, p : I −→ R, q : I −→ R, r : I −→ R e s : I −→ R são funções
contı́nuas. Observe o seguinte fato.
Se ψr é solução da equação diferencial linear não homogênea
(EDNHr) f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = r(x),
e ψs é solução da equação diferencial linear não homogênea
(EDNHs) f 00 (x) + p(x)f 0 (x) + q(x)f (x) = s(x),
então
ψr00 (x) + p(x)ψr0 (x) + q(x)ψr (x) = r(x) ∀x ∈ I, e
ψs00 (x) + p(x)ψs0 (x) + q(x)ψs (x) = s(x) ∀x ∈ I.
7

Logo,
(ψr + ψs )00 (x) + p(x)(ψr + ψs )0 (x) + q(x)(ψr + ψs )(x) =
ψr00 (x) + ψs00 (x) + p(x)(ψr0 (x) + ψs0 (x)) + q(x)(ψr (x) + ψs (x) =
ψr00 (x) + ψs00 (x) + p(x)ψr0 (x) + p(x)ψs0 (x)) + q(x)ψr (x) + q(x)ψs (x) =
(ψr00 (x) + p(x)ψr0 (x) + q(x)ψr (x)) + (ψs00 (x) + p(x)ψs0 (x)) + q(x)ψs (x)) =
r(x) + s(x) qualquer que seja x ∈ I,
isto é, ψr + ψs é solução da equação diferencial linear não homogênea EDNH. Isto diz que para
encontrar uma solução particular a equação diferencial linear não homogênea EDNH, basta
encontrar uma solução da equação diferencial EDNHr, uma solução da equação diferencial
EDNHs e somá-las.
Exemplo 3. Como resolver a equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) + 2f (x) = 1 + e2x + e−x ?
√ √
Soluçao. A sua equação caracterı́stica, u2 + 2 = 0, possui duas raı́zes complexas: 2i e − 2i.
Daı́, a solução geral φg , da equação diferencial linear homogênea associada
f 00 (x) + 2f (x) = 0,
é dada por
√ √
φg (x) = A sen( 2x) + B cos( 2x) ∀x ∈ R, onde A, B ∈ R.
A função ψ1 , dada por
1
ψ1 (x) = ∀x ∈ R,
2
é solução particular da equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) + 2f (x) = 1.
A função ψ2 , dada por
1 2x
ψ2 (x) = e ∀x ∈ R,
6
é solução particular da equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) + 2f (x) = e2x .
A função ψ3 , dada por
1 −x
ψ3 (x) = e ∀x ∈ R,
3
é solução particular da equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) + 2f (x) = e−x .
Portanto, a função ψp , dada por
1 2x 1 −x
ψp (x) = 1 + e + e ∀x ∈ R,
6 3
é solução particualar equação diferencial linear não homogênea
f 00 (x) + 2f (x) = 1 + e2x + e−x ,
8

e a sua solução geral ψg é dada por


√ √ 1 1
ψg (x) = A sen( 2x) + B cos( 2x) + 1 + e2x + e−x ∀x ∈ R.
6 3

AULA 33
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula introduz o estudo das sequências de números reais, ponto de partida para o estudo
das séries de números reais e das séries de funções. Dado k ∈ N, o conjunto denotado por Nk é
o subconjunto de N definido por
Nk := { n ∈ N | n ≥ k }
:= { k, k + 1, k + 2, k + 3, k + 4, . . . } ,
isto é, Nk é o conjunto formado por cada número natural que é maior do que ou igual a k.
Assim, por exemplo,
N2 = { 2, 3, 4, 5, . . . } ,
N8 = { 8, 9, 10, 11, . . . } ,
N15 = { 15, 16, 17, 18, . . . } ,
N21 = { 21, 22, 23, 24, . . . } ,
N1 = N∗ = { 1, 2, 3, 4, . . . } e
N0 = N = { 0, 1, 2, 3, 4, . . . } .
Definição 1. Dizemos que uma função f , de uma variável real e de valor real, é uma sequência
(de números reais) quando o seu dominio é um conjunto de números naturais Nk , para algum
k ∈ N.
Deste modo, são sequências as seguintes funções.
∗ A função f : N −→ R dada por
n
f (n) = 2 ∀n ∈ N.
n +1
∗ A função g : N1 −→ R dada por
n−1
g(n) = ∀n ∈ N1 .
n2 + n
∗ A função h : N3 −→ R dada por
1 − n3
h(n) = ∀n ∈ N3 .
n2 − 2n
∗ A função f : N20 −→ R dada por
1
f (n) = ∀n ∈ N20 .
n − 19
Exemplo 1. Seja f a sequência dada por
n+7
f (n) = .
n2 − 7n
Neste caso, o domı́nio da sequência f é o conjunto N8 .

1
2

Na literatura matemática corrente, cada sequência f : Nk −→ R é denotada por (xn )n≥k ,


onde
xn := f (n) qualquer que seja n ∈ Nk .
Diante disso, tem-se, por exemplo, as seguintes notações.
∗ A sequência f : N −→ R, dada por
n
f (n) = 2 ∀n ∈ N,
n +1
passa a ser denotada por (xn )n≥0 , onde
n
xn = 2 ∀n ∈ N.
n +1
∗ A sequência g : N1 −→ R, dada por
n−1
g(n) = 2 ∀n ∈ N1 ,
n +n
passa a ser denotada por (yn )n≥1 , onde
n−1
yn = 2 ∀n ∈ N1 .
n +n
∗ A sequência h : N3 −→ R, dada por
1 − n3
h(n) = ∀n ∈ N3 ,
n2 − 2n
passa a ser denotada por (zn )n≥3 , onde
1 − n3
zn = ∀n ∈ N3 .
n2 − 2n
∗ A sequência f : N20 −→ R, dada por
1
f (n) = ∀n ∈ N20 ,
n − 19
passa a ser denotada por (xn )n≥20 , onde
1
xn = ∀n ∈ N20 .
n − 19
Exemplo 2. Seja (zn )n≥0 a sequência dada por

2n se n é par,
zn =
n2 − 2n se n é ı́mpar.
Tem-se
z0 = 2 · 0 = 0 z1 = 12 − 2 · 1 = −1
z2 = 2 · 2 = 4 z3 = 32 − 2 · 3 = 3

Exemplo 3. Dados a ∈ R e r ∈ R, seja (xn )n≥0 a sequência dada por


xn = a + r · n ∀n ∈ N.
Esta sequência é denominada progressão aritmética de razão r com termo inicial x0 = a.
3

Exemplo 4. Dados a ∈ R e r ∈ R, seja (xn )n≥0 a sequência dada por


xn = a · rn ∀n ∈ N.
Esta sequência é denominada progressão geométrica de razão r com termo inicial x0 = a.
Sejam k ∈ N e f uma função definida em [k, +∞). A sequência (xn )n≥k , dada por
xn = f (n) ∀n ∈ Nk ,
é dita sequência definida pela função f .
Exemplo 5. A sequência (xn )n≥2 , dada por
n2 + 1
xn = 2 ∀n ∈ N2 ,
n −1
é definida pela função f , dada por
x2 + 1
f (x) = ,
x2 − 1
pois [2, +∞) ⊂ Df e
xn = f (n) qualquer que seja n ∈ N2 .
Exemplo 6. A sequência (yn )n≥4 , dada por
yn = ln(n2 − 5n + 6) ∀n ∈ N4 ,
é definida pela função g, dada por
g(x) = ln(x2 − 5x + 6),
pois [4, +∞) ⊂ Dg e
yn = g(n) qualquer que seja n ∈ N4 .
Exemplo 7. Sejam a ∈ R e r ∈ R. A progressão artimética (xn )n≥0 , dada por
xn = a + r · n qualquer que seja n ∈ N,
é definida pela função afim f , dada por
f (x) = a + rx ∀x ∈ R.
Exemplo 8. Sejam a ∈ R e r > 0, com r 6= 1. A progressão geométrica (zn )n≥0 , dada por
zn = a · rn qualquer que seja n ∈ N,
é definida pela função exponencial g, dada por
g(x) = a · rx ∀x ∈ R.
Exemplo 9. Seja (xn )n≥0 a sequência dada por
(
1 se n = 0,
xn = 1
1 + xn−1 se n ≥ 1.
4

Esta é uma sequência dita recursivamente definida. Por definição, tem-se


1 1 1
x0 = 1 x1 = = =
1 + x0 1+1 2
1 1 2 1 1 3
x2 = = = x3 = = =
1 + x1 1 + 1/2 3 1 + x2 1 + 2/3 5
1 1 5 1 1 8
x4 = = = x5 = = =
1 + x3 1 + 3/5 8 1 + x4 1 + 5/8 13
1 1 13
x6 = = = ...
1 + x5 1 + 8/13 21

Perceba que o cálculo de xn depende do conhecimento do valor de xn−1 . Por exemplo, não há
como calcular x11 sem o prévio conhecimento de x10 . O valor de xn depende somente de n,
mas o seu cálculo requer o conhecimento do valor de xn−1 .
Exemplo 10. Seja (zn )n≥0 a sequência definida recursivamente por

 0 se n = 0,
zn = 1 se n = 1,
 z
n−2 + zn−1 se n ≥ 2.
Esta é conhecida como Sequência de Fibonacci. Por definição
z0 =1 z1 = 1
z2 = z0 + z1 = 0 + 1 = 1 z3 = z1 + z2 = 1 + 1 = 2
z4 = z2 + z3 = 1 + 2 = 3 z5 = z3 + z4 = 2 + 3 = 5
z6 = z4 + z5 = 3 + 5 = 8 ...

Definição 2. Sejam uma sequência (xn )n≥k e L ∈ R. Dizemos que L é limite da sequência
(xn )n≥k quando, para cada  > 0, existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < .
Esta definição diz, de outra forma, que L é limite da sequência (xn )n≥k quando, em módulo,
a diferença xn − L puder ser limitada superiormente tanto quando se deseja, bastando para isso
tomar n suficientemente “grande”. Desta forma, a intuiçao diz, por exemplo, que 0 é limite da
sequência (xn )n≥0 dada por
1
xn = 2 qualquer que seja n ∈ N.
n +1
Proposição 1. Sejam uma sequência (xn )n≥k e L, M ∈ R. Se L e M são limites da sequência
(xn )n≥k então L = M .
Demonstração. Se L e M são limites de (xn )n≥k então, para cada  > 0, existe n1 ∈ Nk tal que
n > n1 =⇒ |xn − L| < /2
e existe n2 ∈ Nk tal que
n > n2 =⇒ |xn − M | < /2.
5

Daı́, escolhendo n > max{ n1 , n2 }, tem-se |xn − L| < /2, |xn − M | < /2 e, portanto,
0 ≤ |L − M | = |L − xn + xn − M | = |(L − xn ) + (xn − M )|
≤ |L − xn | + |xn − M | = |xn − L| + |xn − M |
< /2 + /2 = ,
ou seja, 0 ≤ |L − M | < . Assim, está provado que
0 ≤ |L − M | <  qualquer que seja  > 0.
Logo, |L − M | = 0, isto é, L = M . 
Sejam uma sequência (xn )n≥k e L ∈ R. Esta proposição diz que limite de uma sequência,
em existindo, é único. Daı́, sendo L o limite da sequência (xn )n≥ escrevemos
L = lim xn ou xn −→ L.
n→+∞

Proposição 2. Sejam k ∈ N, f uma função definida em [k, +∞) e (xn )n≥k a sequência definida
por f , isto é,
xn = f (n) qualquer que seja n ∈ Nk .
Se
L = lim f (x) então L = lim xn .
x→+∞ n→+∞

Demonstração. Se
L = lim f (x),
x→+∞

então, para cada , existe C ∈ [k, +∞) tal que


x > C =⇒ |f (x) − L| < .
Daı́, escolhendo n0 ∈ Nk tal que n0 ≥ C, tem-se
n > n0 =⇒ n > C =⇒ |f (n) − L| <  =⇒ |xn − L| < .
Isto diz que L = limn→+∞ xn . 
Exemplo 11. Seja (xn )n≥0 a sequência dada por
2n2 − 2n + 1
xn = qualquer que seja n ∈ N.
3n2 + 2
Esta sequência é definida pela função f dada por
2x2 − 2x + 1
f (x) = , isto é, xn = f (n) ∀n ∈ N.
3x2 + 2
Como
2x2 − 2x + 1 2
lim f (x) = lim 2 = ,
x→+∞ x→+∞ 3x + 2 3
tem-se, pela proposição 2, que
2n2 − 2n + 1 2
lim xn = lim 2 = .
n→+∞ n→+∞ 3n + 2 3
6

Definição 3. Seja uma sequência (xn )n≥k . Dizemos que limite da sequência (xn )n≥k é +∞, e
escrevemos
lim xn = +∞ ou xn −→ +∞,
n→+∞
quando, para cada C > 0, existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ xn > C.
Esta definição diz, de outra forma, que limite da sequência (xn )n≥k é +∞ quando xn puder
ser tomado “tão grande” quando se deseja, bastando para isso tomar n suficientemente “grande”.
Desta forma, a intuiçao diz, por exemplo, que +∞ é limite da sequência (xn )n≥0 dada por
xn = n2 + 1 qualquer que seja n ∈ N.
Definição 4. Seja uma sequência (xn )n≥k . Dizemos que limite da sequência (xn )n≥k é −∞, e
escrevemos
lim xn = −∞ ou xn −→ −∞,
n→+∞
quando, para cada C < 0, existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ xn < C.
Tem-se as duas seguintes variações da 2.
Proposição 3. Sejam k ∈ N, f uma função definida em [k, +∞) e (xn )n≥k a sequência definida
por f , isto é,
xn = f (n) qualquer que seja n ∈ Nk .
Se
lim f (x) = +∞, então lim xn = +∞.
x→+∞ n→+∞

Proposição 4. Sejam k ∈ N, f uma função definida em [k, +∞) e (xn )n≥k a sequência definida
por f , isto é,
xn = f (n) qualquer que seja n ∈ Nk .
Se
lim f (x) = −∞, então lim xn = −∞.
x→+∞ n→+∞

Como consequências das proposiçoes 2, 3 e 4 tem-se


n+1 1
lim =1 lim 2 =0
n→+∞ n − 1 n→+∞ n + 2n + 1

n2 + 1 1
lim 2 = lim e−n = 0
n→+∞ 2n − 1 2 n→+∞
3
n +1
lim = +∞ lim ln(n) = +∞
n→+∞ 2n2 − 1 n→+∞

1 − n2
lim = −∞ lim ln(1/n) = −∞
n→+∞ 2n − 1 n→+∞

Dizemos que uma sequência (xn )n≥k converge quando o seu limite é um número real. Caso
contrário, dizemos que ela diverge. Observe que há exatamente quatro possibilidades para a
7

sequência (xn )n≥k : ou seu limite é um número real, ou seu limite é +∞, ou seu limite é −∞
ou seu limite não existe.
Exemplo 12. Seja (xn )n≥n a sequência dada por

1 se n é par,
xn =
−1 se n é ı́mpar.
Suponha que esta sequência converge. Seja, então, L ∈ R o limite de (xn )n≥n . Daı́, em
particular, existe n0 ∈ N tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < 1/2.
Sendo assim, porque n0 + 1 e n0 + 2 têm paridades distintas,
2 = |xn0 +2 − xn0 +1 | = |(xn0 +2 − L) + (L − xn0 +1 )|
≤ |xn0 +2 − L| + |L − xn0 +1 | < 1/2 + 1/2 = 1,
ou seja, 2 < 1, o que é um absurdo. Portanto, esta sequência não converge. Chega-se a outros
absurdos supondo que +∞ é limite de (xn )n≥n ou que −∞ é limite de (xn )n≥n . Logo, não há
limite para tal sequência.
Definição 5. Seja (xn )n≥k uma sequência. Dizemos que (xn )n≥k é limitada superiormente
quando existe M ∈ R tal que
xn ≤ M qualquer que seja n ∈ Nk .
Dizemos que (xn )n≥k é limitada inferiormente quando existe N ∈ R tal que
xn ≥ N qualquer que seja n ∈ Nk .
Dizemos que (xn )n≥k é limitada quando (xn )n≥k é limitada superiormente e limitada inferior-
mente.
Exemplo 13. A sequência (yn )n≥1 dada por
 
1
yn = sen ∀n ∈ N1 ,
n
é limitada superiormente e inferiormente porque
−1 ≤ yn ≤ 1 qualquer que seja n ∈ N1 .
Logo, ela é limitada.
Exemplo 14. A sequência (xn )n≥0 dada por
xn = en ∀n ∈ N,
é limitada inferiormente porque
xn > 0 qualquer que seja n ∈ N,
mas não é limitada superiormente porque
lim xn = +∞.
n→+∞

Logo, ela não é limitada.


8

Exemplo 15. A sequência (zn )n≥0 dada por


zn = −n2 ∀n ∈ N,
é limitada superiormente porque
zn ≤ 0 qualquer que seja n ∈ N,
mas não é limitada inferiormente porque
lim zn = −∞.
n→+∞

Logo, ela não é limitada.


Definição 6. Seja (xn )n≥k uma sequência. Dizemos que (xn )n≥k é crescente quando
xn ≤ xn+1 qualquer que seja n ∈ Nk .
Dizemos que (xn )n≥k é estritamente crescente quando
xn < xn+1 qualquer que seja n ∈ Nk .
Dizemos que (xn )n≥k é decrescente quando
xn ≥ xn+1 qualquer que seja n ∈ Nk .
Dizemos que (xn )n≥k é estritamente decrescente quando
xn > xn+1 qualquer que seja n ∈ Nk .
Exemplo 16. A sequência (xn )n≥0 , dada por
1
xn = 2 qualquer que seja n ∈ N,
n +1
é estritamente decrescente pois
n2 + 1 < (n + 1)2 + 1 ∀n ∈ N,
isto é,
1 1
xn = 2 > = xn+1 ∀n ∈ N.
n +1 (n + 1)2 + 1
É imediata a seguinte proposição.
Proposição 5. Sejam k ∈ N, f uma função definida em [k, +∞) e (xn )n≥k a sequência definida
pela função f . São verdadeiras as seguintes implicações.
∗ Se f é crescente em [k, +∞) então a sequência (xn )n≥k é crescente.
∗ Se f é estritamente crescente em [k, +∞) então a sequência (xn )n≥k é estritamente
crescente.
∗ Se f é decrescente em [k, +∞) então a sequência (xn )n≥k é decrescente.
∗ Se f é estritamente decrescente em [k, +∞) então a sequência (xn )n≥k é estritamente
decrescente.
9

Exemplo 17. Seja (xn )n≥0 a sequência dada por


n
xn = √ ∀n ∈ N.
n2 + 1
Esta sequência é definida pela função f : R −→ R, dada por
x
f (x) = √ ∀x ∈ R,
x2 + 1
pois
xn = f (n) ∀n ∈ N.
A função f é diferenciável com
√ x
x2 + 1 − x √
x2 + 1 = 1
f 0 (x) = 2 2
√ > 0 ∀x ∈ R.
x +1 (x + 1) x2 + 1
Assim, f é estritamente crescente em [0, +∞) e, pela proposição 5, a sequência (xn )n≥0 é
estritamente crescente.
Proposição 6. Seja (xn )n≥k uma sequência. Se a sequência (xn )n≥k converge, então ela é
limitada.
Demonstração. Se L ∈ R e L é limite da sequência (xn )n≥k então, em particular, existe n0 ∈
Nk tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < 1 =⇒ −1 < xn − L < 1 =⇒ L − 1 < xn < L + 1,
isto é, L − 1 < xn < L + 1 qualquer que seja n > n0 . Daı́, escolhendo
M = máximo { xk , xk+1 , . . . , xn0 , L + 1 }
e
N = mı́nimo { xk , xk+1 , . . . , xn0 , L − 1 } ,
tem-se M, N ∈ R e
N ≤ xn ≤ M qualquer que seja n ∈ Nk .
Isto diz que a sequência (xn )n≥k é limitada. 
Observe e demonstre as seguintes variações.
Proposição 7. Seja (xn )n≥k uma sequência. Se limite da sequência (xn )n≥k é +∞ então ela é
limitada inferiormente.
Exercı́cio 1. Demonstre a proposicao 7.
Proposição 8. Seja (xn )n≥k uma sequência. Se limite da sequência (xn )n≥k é −∞ então ela é
limitada superiormente.
Exercı́cio 2. Demonstre a proposicao 8.
AULA 34
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula continua com o estudo das sequências de números reais. A seguinte definição
estabelece a igualdade entre duas sequências.
Definição 1. Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências. Dizemos que (xn )n≥k1 é igual a (yn )n≥k2 ,
e escrevemos
(xn )n≥k1 = (yn )n≥k2 ,
quando k1 = k2 e xn = yn qualquer que seja n ∈ Nk1 .
Observe que a definição 1 pode ser dita desnecessária, pois seu enunciado é consequência da
definição de igualdade de funções. A seguinte proposição estabelece que se duas sequências
diferem, por no máximo uma quantidade finita de termos, então uma converge se, e somente se,
a outra converge.
Proposição 1. Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências. Se existe k0 ∈ N, com k0 ≥ maior{ k1 , k2 },
tal que xn = yn qualquer que seja n ≥ k0 , então a sequência (xn )n≥k1 converge se, e somente
se, a sequência (yn )n≥k2 converge. Em cada caso tem-se
lim xn = lim yn .
n→+∞ n→+∞

Demonstração. Perceba que basta mostrar uma implicação. Suponha que existe k0 ∈ N tal que
k0 ≥ maior{ k1 , k2 } e xn = yn qualquer que seja n ≥ k0 .
Se a sequência (xn )n≥k1 converge, então existe L ∈ R tal que L é o limite da sequência
(xn )n≥k1 . Logo, para cada  > 0, existe n0 ∈ Nk1 tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < .
Daı́, escolhendo n1 = maior{ n0 , k0 }, tem-se n1 ∈ Nk2 e
n > n1 =⇒ n > n0 e n > k0 =⇒ |yn − L| = |xn − L| < ,
isto é,
n > n1 =⇒ |yn − L| < .
Isto diz que L é o limite da sequência (yn )n≥k2 e, assim, (yn )n≥k2 converge. 
Proposição 2. Sejam (xn )n≥k uma sequência e L, M ∈ R. Se L é limite de (xn )n≥k e L > M
então existe n0 ∈ Nk tal que
xn > M qualquer que seja n > n0 .
Demonstração. Se L é limite de (xn )n≥k e L > M então, em particular, existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < L − M =⇒ M − L < xn − L < L − M
=⇒ M < xn < 2L − M =⇒ M < xn ,
isto é, xn > M qualquer que seja n > n0 . 
A proposição 2 apresenta a seguinte variação.

1
2

Proposição 3. Sejam (xn )n≥k uma sequência e L, M ∈ R. Se L é limite de (xn )n≥k e L < M
então existe n0 ∈ Nk tal que
xn < M qualquer que seja n > n0 .
Corolário 1. Sejam (xn )n≥k uma sequência e L, M ∈ R. Se L é limite de (xn )n≥k e xn ≤ M
qualquer que seja n ∈ Nk então L ≤ M .
Corolário 2. Sejam (xn )n≥k uma sequência e L, M ∈ R. Se L é limite de (xn )n≥k e xn ≥ M
qualquer que seja n ∈ Nk então L ≥ M .
Notaçao 1. Dada uma sequência f : Nk −→ R, além da sua notação (xn )n≥k , onde
xn = f (n) qualquer que seja n ∈ Nk ,
é comum denotá-la, também, diretamente por (f (n))n≥k . Isto possiblita escrever, de forma
mais direta, os seguintes enunciados.
∗ O limite da sequência
 2 
n −1
é 1.
n2 + 1 n≥0
∗ A sequência
 3 
n −1
diverge.
n2 + 1 n≥0
∗ A sequência  
n
1+ 3 converge.
n − 1 n≥2
∗ A sequência
 
n−1 x−1
é definida pela funçao f dada por f (x) = .
sen(n) + 2 n≥0 sen(x) + 2
Proposição 4. Sejam (xn )n≥k uma sequência e L ∈ R. As seguintes afirmações são equivalen-
tes
∗ L é limite da sequência (xn )n≥k .
∗ 0 é limite da sequência (xn − L)n≥k .
∗ 0 é limite da sequência (|xn − L|)n≥k .
Exercı́cio 1. Demonstre a proposição 4.
Proposição 5. Sejam p ∈ R, f uma função e (xn )n≥k uma sequência tal que xn ∈ Df qualquer
que seja n ∈ Nk . Se f é contı́nua em p e p é o limite da sequência (xn )n≥k então f (p) é o limite
da sequência (f (xn ))n≥k , ou seja, neste caso
 
lim f (xn ) = f lim xn .
n→+∞ n→+∞

Demonstração. Se f é contı́nua em p então p ∈ Df e, para cada  > 0, existe δ > 0 tal que
x ∈ Df e |x − p| < δ =⇒ |f (x) − f (p)| < .
3

Assim, se p é o limite da sequência (xn )n≥k então existe n0 ∈ Nk tal que


n > n0 =⇒ |xn − p| < δ.
Portanto,
n > n0 =⇒ xn ∈ Df e |xn − p| < δ =⇒ |f (xn ) − f (p)| < .
Assim, fica demonstrado que, para cada  > 0, existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ |f (xn ) − f (p)| < .
Isto diz que f (p) é o limite da sequência (f (xn ))n≥k . 
Observação 1. Observe que se f é uma função e (xn )n≥k é uma sequência tal que xn ∈ Df
qualquer que seja n ∈ Nk , então a sequência (f (xn ))n≥k é a composição da função f com a
sequência (xn )n≥k . Lembre que a sequência (xn )n≥k é a função g : Nk −→ R dada por
g(n) = xn qualquer que seja n ∈ Nk .
Exemplo 1. A proposição 5 diz que
n2 + 1 n2 + 1
lim
1 − n2 n→+∞ 1 − n2 1
lim e =e = e−1 = ,
n→+∞ e
pois a função exponencial é contı́nua, em particular é contı́nua em −1, e
n2 + 1
lim = −1.
n→+∞ 1 − n2

Exemplo 2. Seja (yn )n≥1 a sequência dada por


 
1
yn = sen ∀n ∈ N1 .
n
A função sen : R −→ R é contı́nua e
1
lim = 0. Daı́, pela proposição 5,
n→+∞ n

a sequência (yn )n≥1 converge com


   
1 1
lim yn = lim sen = sen lim = sen(0) = 0.
n→+∞ n→+∞ n n→+∞ n

Definição 2 (Soma de Sequências). Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências. A soma
(xn )n≥k1 + (yn )n≥k2 ,
de (xn )n≥k1 com (yn )n≥k2 , é a sequência (zn )n≥k3 dada por
zn = xn + yn ∀n ∈ Nk3 , onde k3 = maior{ k1 , k2 }.
Assim (xn )n≥k1 + (yn )n≥k2 := (xn + yn )n≥k3 onde k3 = maior{ k1 , k2 }.
Observe que a definição 2 pode ser dita desnecessária, pois seu enunciado é consequência da
definição de soma de funções.
4

Exemplo 3. A soma da sequência


   
n+1 1
com a sequência
n − 2 n≥3 n n≥1
é a sequência  
n+1 1
+ .
n−2 n n≥3

Proposição 6. Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências, e L, M números reais. Se L é limite de
(xn )n≥k1 e M é limite (yn )n≥k2 então L + M é limite da soma (xn )n≥k1 + (yn )n≥k2 , ou seja,
L + M = lim (xn + yn ).
n→+∞

Exercı́cio 2. Demonstre a proposição 6.


Definição 3 (Produto por Escalar). Sejam (xn )n≥k1 uma sequência e λ ∈ R. O produto
λ · (xn )n≥k1 ,
de λ por (xn )n≥k1 , é a sequência (zn )n≥k1 dada por
zn = λ · xn ∀n ∈ Nk1 .
Assim λ · (xn )n≥k1 := (λ · xn )n≥k1 .
Observe que a definição 3 pode ser dita desnecessária, pois seu enunciado é consequência da
definição do produto de um escalar por uma função.
Proposição 7. Sejam (xn )n≥k1 uma sequência, λ ∈ R e L ∈ R. Se L é limite de (xn )n≥k1 então
λ · L é o limite de λ · (xn )n≥k1 , ou seja,
λ · L = lim (λ · xn ).
n→+∞

Exercı́cio 3. Demonstre a proposição 7.


Corolário 3. Sejam L, M ∈ R e (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências convergentes com limites L e
M respectivamente. Se
xn ≤ yn qualquer que seja n ∈ Nk então L ≤ M.
Demonstração. Se L é limite de (xn )n≥k , M é limite de (yn )n≥k e
xn ≤ yn qualquer que seja n ∈ Nk ,
seja (zn )n≥k a sequência dada por zn = yn − xn qualquer que seja n ∈ Nk . Tem-se zn ≥ 0
qualquer que seja n ∈ Nk e M − L é o limite de (zn )n≥k . Daı́, M − L ≥ 0, isto é, L ≤ M . 
Definição 4 (Produto de Sequências). Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências. O produto
(xn )n≥k1 · (yn )n≥k2 ,
de (xn )n≥k1 por (yn )n≥k2 , é a sequência (zn )n≥k3 dada por
zn = xn · yn ∀n ∈ Nk3 , onde k3 = maior{ k1 , k2 }.
Assim (xn )n≥k1 · (yn )n≥k2 := (xn · yn )n≥k3 onde k3 = maior{ k1 , k2 }.
5

Observe que a definição 4 pode ser dita desnecessária, pois seu enunciado é consequência da
definição do produto de funções.
Exemplo 4. O produto da sequência
   
n+1 n−2
pela sequência
n − 2 n≥3 n n≥1
é a sequência    
n+1 n−2 n+1
· = .
n−2 n n≥3 n n≥3

Proposição 8. Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências, e L, M números reais. Se L é limite de
(xn )n≥k1 e M é limite (yn )n≥k2 então L · M é limite do produto (xn )n≥k1 · (yn )n≥k2 , ou seja,
L · M = lim (xn · yn ).
n→+∞

Exercı́cio 4. Demonstre a proposição 8.


Definição 5. Seja (xn )n≥k uma sequência tal que o conjunto
{ n ∈ Nk | xn = 0 } é finito. Seja, então, m = maior{ n ∈ Nk | xn = 0 }.
O inverso multiplicativo
1
,
(xn )n≥k
de (xn )n≥k , é a sequência (zn )n≥k1 dada por
1
zn = ∀n ∈ Nk1 onde k1 = m + 1,
xn

Assim 1 (xn )n≥k := (1/xn )n≥k1 onde k1 = m + 1.
Observe que há uma diferença sutil entre o inverso multiplicativo de uma sequência e o
inverso multiplicativo de uma função, no que diz respeito aos seus domı́nios.
Definição 6. Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências tais que o conjunto
{ n ∈ Nk2 | yn = 0 } é finito. Seja, então, m = maior{ n ∈ Nk2 | yn = 0 }.
O quociente
(xn )n≥k1
,
(yn )n≥k2
de (xn )n≥k1 por (yn )n≥k2 , é a sequência (zn )n≥k3 dada por
xn
zn = ∀n ∈ Nk3 onde k3 = maior{ k1 , m + 1 },
yn

Assim (xn )n≥k1 (yn )n≥k2 := (xn /yn )n≥k3 onde k3 = maior{ k1 , m + 1 }. Observe que
(xn )n≥k1 1
= (xn )n≥k1 ·
(yn )n≥k2 (yn )n≥k2
Observe que há uma diferença sutil entre o quociente de duas sequências e o quociente de
duas funções, no que diz respeito aos seus domı́nios.
6

Exemplo 5. O quociente da sequência


n2 − 1 n≥0 pela sequência n2 − 5n + 6 n≥0
 

é a sequência
n2 − 1
 
.
n2 − 5n + 6 n≥4

Proposição 9. Sejam (xn )n≥k uma sequência e L ∈ R. Se L é limite de (xn )n≥k e L 6= 0 então
o conjunto
{ n ∈ Nk | xn = 0 } é finito.
Demonstração. Se L ∈ R, L é limite de (xn )n≥k e L 6= 0 então L > 0 ou L < 0. Sendo L > 0,
pela proposição 2, existe n0 ∈ Nk tal que
xn > 0 qualquer que seja n > n0 .
Sendo L < 0, pela proposição 3, existe n0 ∈ Nk tal que
xn < 0 qualquer que seja n > n0 .
Logo, em qualquer caso, existe n0 ∈ Nk tal que xn 6= 0 qualquer que seja n > n0 e, assim,
{ n ∈ Nk | xn = 0 } ⊂ { k, k + 1, . . . , n0 } .
Portanto, { n ∈ Nk | yn = 0 } é um conjunto finito. 
Proposição 10. Seja (xn )n≥k uma sequência. Se L é limite de (xn )n≥k e L 6= 0 então 1/L é

limite do inverso multiplicativo 1 (xn )n≥k , ou seja,
1 1
= lim .
L n→+∞ xn
Exercı́cio 5. Demonstre a proposição 10.
Corolário 4. Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências. Se L é limite de (xn )n≥k1 , M é limite

(yn )n≥k2 e M 6= 0 então L/M é limite do quociente (xn )n≥k1 (yn )n≥k2 , ou seja,
L xn
= lim .
M n→+∞ yn

As proposições 6, 7, 8 e 10 e o colorário 4 são conhecidadas como propriedades operatórias


do limite.
Definição 7. Sejam S ⊂ R um subconjunto não vazio e M, N ∈ R. Dizemos que M é cota
superior de S quando
x ≤ M qualquer que seja x ∈ S.
Dizemos que N é cota inferior de S quando
x ≥ N qualquer que seja x ∈ S.
Dizemos que S é limitado superiormente quando S possui uma cota superior. Dizemos que S
é limitado inferiormente quando S possui uma cota inferior. Dizemos que S é limitado quando
S é limitado superiormente e é limitado inferiormente.
7

O conjunto dos números naturais possui cota inferior mas não possui cota superior. Por
exemplo, −11, −2 e 0 são cotas inferiores de N. O intervalo (−∞, 1) possui cota superior
mas não possui cota inferior. Por exemplo, 1 e π são cotas superiores de (−∞, 1). O con-
junto { 1/n | n ∈ N1 } possui cota inferior e cota superior. Por exemplo, 0 é cota inferior de
{ 1/n | n ∈ N1 } e 1 é cota superior de { 1/n | n ∈ N1 }.
Definição 8. Sejam S ⊂ R um subconjunto não vazio e M, N ∈ R. Dizemos que M é máximo
de S quando M ∈ S e M é cota superior de S. Dizemos que N é mı́nimo de S quando N ∈ S
e N é cota inferior de S.
Observe:
∗ O intervalo aberto (−1, 2) não possui máximo nem mı́nimo.
∗ O intervalo [−1, 2) possui mı́nimo, −1, mas não possui máximo.
∗ O intervalo (−1, 2] possui máximo, 2, mas não possui mı́nimo.
∗ O intervalo [−1, 2] possui mı́nimo, −1, e possui máximo, 2.
∗ O conjunto { 1/n | n ∈ N1 } possui máximo, 1, mas não possui mı́nimo.
Definição 9. Sejam S ⊂ R um subconjunto não vazio e M ∈ R. Dizemos que M é supremo
de S quando M é cota superior de S e M é menor ou igual a qualquer cota superior de S, ou
seja, quando M é a menor das cotas superiores de S.
Definição 10. Sejam S ⊂ R um subconjunto não vazio e N ∈ R. Dizemos que M é ı́nfimo de
S quando M é cota inferior de S e N é maior que ou igual a qualquer cota inferior de S, ou
seja, quando N é a maior das cotas inferiores de S.
O número real 2 é supremo dos intervalos (−1, 2), [−1, 2), (−1, 2] e [−1, 2]. O número real
−1 é ı́nfimo dos intervalos (−1, 2), [−1, 2), (−1, 2] e [−1, 2]. O número real 0 é infimo e o
número real 1 é supremo do conjunto { 1/n | n ∈ N1 }.
Observação 2. Seja S ⊂ R um subconjunto não vazio e M, N ∈ R.
Se M é supremo de S então, por definição, M é cota superior de S e é menor ou igual a
qualquer das cotas superiores de S. Logo, se a < M então a não é cota superior de S e,
portanto, existe x ∈ S tal que a < x ≤ M .
Se N é ı́nfimo de S então, por definição, N é cota inferior de S e é maior que ou igual a
qualquer das cotas inferiores de S. Logo, se a > N então a não é cota inferior de S e, portanto,
existe x ∈ S tal que N ≤ x < a.
Proposição 11. Sejam S ⊂ R um subconjunto não vazio e M, N ∈ R. Se M é máximo de S
então M é supremo de S. Se M é mı́nimo de S então M é ı́nfimo de S.
Exercı́cio 6. Demonstre a proposicao 11.
Observe que não são verdadeiras as recı́procas das implicações da proposição 11. O seguinte
teorema não está acompanhado da sua demonstração, pois esta depende de teoria que não está
no nı́vel desta disciplina.
Teorema 1. Seja S ⊂ R um subconjunto não vazio de R. Se S é limitado superiormente então
S possui supremo. Se S é limitado inferiormente então S possui ı́nfimo.
Proposição 12. Seja (xn )n≥k uma sequência. Se (xn )n≥k é crescente e limitada superiormente
então (xn )n≥k converge.
8

Demonstração. Se (xn )n≥k é crescente e limitada superiormente então o conjunto


S := { xn | n ∈ Nk } é limitado superiormente.
Daı́, pelo teorema 1, S possui supremo, isto é, existe L ∈ R tal que L é cota superior de S e L é
menor ou igual a qualquer uma das cotas superiores de S. Logo, dado  > 0, tem-se L −  < L
e, assim, L −  não é cota superior de S. Daı́, existe n0 ∈ Nk tal que xn0 > L −  e, deste modo,
n > n0 =⇒ xn0 ≤ xn ≤ L =⇒ L −  < xn < L +  =⇒ |xn − L| < .
Está provado que, dado  > 0, existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < .
Isto diz que L é limite de (xn )n≥k . 

De modo análogo, tem-se a seguinte proposição.


Proposição 13. Seja (xn )n≥k uma sequência. Se (xn )n≥k é decrescente e limitada inferiormente
então (xn )n≥k converge.
Lembre o Princı́pio da Indução Finita, enunciado a seguir e que será utilizado nos próximos
dois exemplos.
Teorema 2 (Princı́pio de Indução Finita). Sejam n0 ∈ N e , para cada n ∈ Nn0 , uma proposição
P(n). Se
• P(n0 ) é verdadeira e
• a implicação “P(n) =⇒ P(n + 1)” é verdadeira qualquer que seja n ≥ n0 ,
então P(n) é verdadeira para cada n ≥ n0 .
Exemplo 6. Seja (xn )n≥0 a sequência definida por

1 se n = 0,
xn = √
2xn−1 se n ≥ 1.
Esta sequência converge?
Demonstração. Veja que, por definição,
r q
√ √ √ √ √ √
q
x0 = 1, x1 = 2x0 = 2, x2 = 2x1 = 2 2, x3 = 2x2 = 2 2 2, . . .

Primeiro será provado que xn < xn+1 ∀n ∈ N.



∗ Tem-se x0 = 1 e x1 = 2. Daı́, x0 < x1√ . √
∗ Se xn < xn+1 então 2xn < 2xn+1 . Logo, 2xn < 2xn+1 , isto é, xn+1 < xn+2 .
Assim, pelo Princı́pio de Indução Finita, xn < xn+1 qualquer que seja n ∈ N, ou seja, a
sequência (xn )n≥0 é estritamente crescente.
Agora será provado que 1 ≤ xn < 2 ∀n ∈ N.
∗ Tem-se x0 = 1. Daı́, 1 ≤ x0 < 2. √ √ √
∗ Se 1 ≤ xn < 2 então 2 ≤ 2xn < 4. Logo, 2 ≤ 2xn < 4, isto é, 1 ≤ xn+1 < 2.
9

Assim, pelo Princı́pio de Indução Finita, 1 ≤ xn < 2 qualquer que seja n ∈ N, ou seja, a
sequência (xn )n≥0 é limitada.
Portanto, pela proposição 12, a sequência (xn )n≥0 converge. Seja, então, L ∈ R tal que L é
limite de (xn )n≥0 . Como
√ √
xn+1 = 2xn ∀n ∈ N, tem-se, lim xn+1 = lim 2xn ,
n→+∞ n→+∞

o que dá
√ √
L= 2L. Mas L = 2L =⇒ L2 = 2L =⇒ L = 0 ou L = 2.
Pelo corolário 2, L ≥ 1 pois xn ≥ 1 ∀n ∈ N. Portanto, L = 2. Logo, está provado que 2 é
limite da sequência (xn )n≥0 . 
Exemplo 7. Seja (xn )n≥0 a sequência definida por
(
2 se n = 0,
xn = 1
3 − xn−1 se n ≥ 1.
Esta sequência converge?
Demonstração. Primeiro será provado que 0 < xn ≤ 2 ∀n ∈ N.
∗ Tem-se x0 = 2. Daı́, 0 < x0 ≤ 2.
∗ Se 0 < xn ≤ 2 então −2 ≤ −xn < 0. Daı́, 1 ≤ 3 − xn < 3 e, assim,
1 1
< ≤ 1. Logo, 0 < xn+1 ≤ 2.
3 3 − xn
Assim, pelo Princı́pio de Indução Finita, 0 < xn ≤ 2 ∀n ∈ N, ou seja, a sequência (xn )n≥0 é
limitada.
Agora será provado que xn > xn+1 ∀n ∈ N.
∗ Tem-se x0 = 2 e x1 = 1. Daı́, x0 > x1 .
∗ Se xn > xn+1 então −xn < −xn+1 e, assim, 3 − xn < 3 − xn+1 . Logo,
1 1
1 ≤ 3 − xn < 3 − xn+1 , o que dá > ,
3 − xn 3 − xn+1
isto é, xn+1 > xn+2 .
Assim, pelo Princı́pio de Indução Finita, xn > xn+1 ∀n ∈ N, ou seja, a sequência (xn )n≥0
é estritamente decrescente. Portanto, pela proposição 13, a sequência (xn )n≥0 converge. Seja,
então, L ∈ R tal que L é limite de (xn )n≥0 . Como
1
xn < 2 e xn+1 = ∀x ∈ N,
3 − xn
tem-se
1 1
L ≤ 2 e L = lim xn+1 = lim = .
n→+∞ n→+∞ 3 − xn 3−L
Portanto, √ √
2 3− 5 3+ 5
L − 3L + 1 = 0, isto é , L = ou L = .
2 2
10

Daı́, √ √
3− 5 3+ 5
é limite de (xn )n≥0 pois > 2.
2 2

Proposição 14. Sejam (xn )n≥k uma sequência. Se (xn )n≥k é crescente e não é limitada supe-
riormente então limite da sequência (xn )n≥k é +∞.
Exercı́cio 7. Demonstre a proposição 14.
Proposição 15. Sejam (xn )n≥k uma sequência. Se (xn )n≥k é decrescente e não é limitada
inferiormente então limite da sequência (xn )n≥k é −∞.
Exercı́cio 8. Demonstre a proposição 15.
AULA 35
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula finaliza o estudo proposto, nesta disciplina, de sequências de números reais e in-
troduz o estudo das séries. A seguinte definição apresenta o conceito de sequência de Cauchy.
Mostra-se, após esta definição, que toda sequência convergente também é de Cauchy. Portanto,
se uma sequência não é de Cauchy então ela não converge. Vale a pena comentar que os dois
conceitos são equivalentes em se tratando de sequências de números reais, mas esta equivalência
não é demonstrada nesta disciplina.
Definição 1. Sejam (xn )n≥k uma sequência. Dizemos que (xn )n≥k é uma sequência de Cauchy
quando, para cada  > 0, existe n0 ∈ Nk tal que
m, n > n0 =⇒ |xm − xn | < .
Dito de outra forma, (xn )n≥k é uma sequência de Cauchy quando, em módulo, a diferença
xm − xn puder ser tomada tão pequena quanto se deseja, bastando para isso escolher os ı́ndices
m e n suficientemente grandes.
Proposição 1. Sejam (xn )n≥k uma sequência. Se (xn )n≥k converge então (xn )n≥k é uma
sequência de Caucy.
Demonstração. Se (xn )n≥k converge, então seja L ∈ R o seu limite. Daı́, para cada  > 0,
existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < /2.
Portanto,
m, n > n0 =⇒ |xm − xn | = |(xm − L) + (L − xn )| ≤
|xm − L| + |L − xn | =
|xm − L| + |xn − L| < /2 + /2 = .
Assim, está provado que, dado  > 0, existe n0 ∈ Nk tal que
m, n > n0 =⇒ |xm − xn | < ,
e isto diz que (xn )n≥k é sequência de Cauchy. 
Exemplo 1. Dado a 6= 0, seja (xn )n≥0 a sequência definida por

a se n é par,
xn :=
−a se n é ı́mpar.
Esta sequência não é de Cauchy, portanto ela não converge. Como ela é limitada, não existe o
seu limite: seu limite não é um número real, não é +∞ nem é −∞.
Exemplo 2. Seja (xn )n≥0 a sequência definida por

 n + 1 se n é par,
xn := n−1
 21 se n é ı́mpar.
n +1

1
2

Como
n+1
lim = 1,
n→+∞ n − 1
existe n1 ∈ N1 tal que |xn − 1| < 1/4 qualquer que seja n > n1 par. Como
1
lim = 0,
n→+∞ n2 + 1

existe n2 ∈ N tal que |xn − 0| < 1/4 qualquer que seja n > n2 ı́mpar. Portanto,
m par, n ı́mpar e m, n > máximo{ n1 , n2 } =⇒ |xm − xn | > 1/2.
Assim, esta sequência não é de Cauchy e, portanto, ela não converge. Como ela é limitada, não
existe o seu limite.
Proposição 2 ( Lei do Confronto para Sequências ). Sejam (xn )n≥k1 , (yn )n≥k2 , (zn )n≥k3 se-
quências e L ∈ R. Se L é limite de (xn )n≥k1 , L é limite de (zn )n≥k3 e existe um número natural
n0 tal que n0 ≥ máximo{ k1 , k2 , k3 } e
xn ≤ yn ≤ zn qualquer que seja n ≥ n0 ,
então L é limite de (yn )n≥k2 .
Demonstração. Se L é limite de (xn )n≥k1 , L é limite de (zn )n≥k3 e existe um número natural
n0 tal que n0 ≥ máximo{ k1 , k2 , k3 } e
xn ≤ yn ≤ zn qualquer que seja n ≥ n0 ,
então, para cada  > 0, existe n1 ∈ Nk1 tal que
n > n1 =⇒ |xn − L| <  =⇒ − < xn − L <  =⇒ L −  < xn < L + ,
e existe n3 ∈ Nk3 tal que
n > n3 =⇒ |zn − L| <  =⇒ − < zn − L <  =⇒ L −  < zn < L + .
Assim, escolhendo n2 = maior{ n0 , n1 , n3 }, tem-se n2 ∈ Nk2 e
n > n2 =⇒ n > n0 , n > n1 e n > n3
=⇒ L −  < xn ≤ yn ≤ zn < L + 
=⇒ L −  < yn < L + 
=⇒ − < yn − L <  =⇒ |yn − L| < .
deste modo, está provado que, para cada  > 0, existe n2 ∈ Nk2 tal que
n > n2 =⇒ |yn − L| < ,
e isto diz que L é limite da sequência (yn )n≥k2 . 
A proposição 2 apresenta as duas seguintes variações.
Proposição 3. Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências. Se limite de (xn )n≥k1 é +∞ e existe
n0 ≥ máximo{ k1 , k2 } tal que
xn ≤ yn qualquer que seja n ≥ n0 ,
então limite de (yn )n≥k2 é +∞.
Exercı́cio 1. Demonstre a proposição 3.
3

Proposição 4. Sejam (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 sequências. Se limite de (xn )n≥k1 é −∞ e existe
n0 ≥ máximo{ k1 , k2 } tal que
xn ≥ yn qualquer que seja n ≥ n0 ,
então limite de (yn )n≥k2 é −∞.
Exercı́cio 2. Demonstre a proposição 4.
Exemplo 3. Seja (xn )n≥0 a sequência dada por
sen(n2 + 1)
xn = ∀n ∈ N.
n2 + 1
Tem-se
−1 ≤ sen(n2 + 1) ≤ 1 ∀n ∈ N.
Daı́,
1 sen(n2 + 1) 1
− 2 ≤ 2 ≤ 2 ∀n ∈ N.
n +1 n +1 n +1
Como
1 1
lim − 2 = lim 2 = 0,
n→+∞ n + 1 n→+∞ n + 1
seque pela proposição 2, Lei do Confronto, que
sen(n2 + 1)
lim = 0, isto é, 0 é limite de (xn )n≥0 .
n→+∞ n2 + 1
Exemplo 4. Dado a ∈ R, a sequência (xn )n≥0 dada por
xn = an qualquer que seja n ∈ N,
é denominada sequência geométrica. Lembre que (xn )n≥0 = (an )n≥0 é, de fato, uma pro-
gressão geométrica.
Sendo a > 0 e a 6= 1, a sequência geométrica (an )n≥0 é definida pela função exponencial de
base a, fa : R −→ (0, +∞), dada por
fa (x) = ax qualquer que seja x ∈ R.
Se 0 < a < 1, então
lim ax = 0 e, portanto, lim xn = lim an = 0.
x→+∞ n→+∞ n→+∞

Se a > 1, então
lim ax = +∞ e, portanto, lim xn = lim an = +∞.
x→+∞ n→+∞ n→+∞

Sendo a = 1, tem-se
lim xn = lim 1n = lim 1 = 1.
n→+∞ n→+∞ n→+∞
Sendo a = 0, tem-se
lim xn = lim 0n = lim 0 = 0.
n→+∞ n→+∞ n→+∞
Se −1 < a < 0, então 0 < |a| < 1 e, portanto,
lim |an | = lim (|a|)n = 0.
n→+∞ n→+∞
4

Assim, pela proposição 4, da aula número 35,


lim xn = lim an = 0.
n→+∞ n→+∞

Se a = −1, então 
n 1 se n é par,
xn = (−1) =
−1 se n é ı́mpar .
Portanto, a série geométrica (an )n≥0 diverge, não existindo o seu limite. Se a < −1 então
a série geométrica (an )n≥0 não é limitada superiormente nem inferiormente. Logo, a série
geométrica (an )n≥0 diverge e, pelas proposições 7 e 8, da aula 34, não existe o seu limite.
Deste modo, a série geométrica (an )n≥0 converge se, e somente se, −1 < a ≤ 1 valendo

 +∞ se a > 1,
n
lim a = 1 se a = 1,
n→+∞  0 se − 1 < a < 1.
Seja S um subconjunto não vazio de R. Se S possui elemento máximo então S é limitado
superiormente. Se S possui elemento mı́nimo então S é limitado inferiormente. Observe que
as recı́procas destas duas implicações não são verdadeiras. Como exemplo, o intervalo aberto
(1, 5) é limitado mas não possui elemento máximo nem elemento mı́nimo. Mas sabe-se que
∗ se K, subconjunto não vazio de Z, é limitado superiormente, então K possui um ele-
mento máximo, e
∗ se K, subconjunto não vazio de Z, é limitado inferiormente, então K possui um ele-
mento mı́nimo.
Daı́, seguem as duas definições: dado x ∈ R, o chão de x, denotado por bxc, é o maior inteiro
que é menor do que ou igual a x, isto é,
bxc := máx { k ∈ Z | k ≤ x } ,
e o teto de x, denotado por dxe, é o menor inteiro que é maior do que ou igual a x, isto é,
dxe := mı́n { k ∈ Z | k ≥ x } .
Assim,
j√ k l√ m
bπc = 3, dπe = 4, 2 = 1, 2 = 2, b−5,12c = −6, d−5,12e = −5
e
bnc = dne = n qualquer que seja n ∈ Z.
Além disso,
bxc ≤ x ≤ dxe qualquer que seja x ∈ R.
Proposição 5. Dado x ∈ R,
xn
lim = 0.
n→+∞ n!

Demonstração. Tem-se
0n ∗ 0n
= 0 qualquer que seja n ∈ N e, portanto, lim = lim 0 = 0.
n! n→+∞ n! n→+∞

Assim, a proposição é verdadeira para x = 0.


5

Agora, seja x > 0. Se n ∈ N e dxe + 1 < n então


xn x x x x
= ·
· · ··· ·
n! 1 2 3 n
x x x x
= · ··· · · · ··· ·
1 dxe dxe + 1 n
x x x x
≤ · ··· · · · ··· ·
1 dxe dxe + 1 dxe + 1
 n−dxe
x x x
= · ··· · · ,
1 dxe dxe + 1
isto é,
n
xn

x
0< ≤ Cx ·
n! dxe + 1
onde
x x
· ··· ·
1 dxe
Cx =  dxe
x
dxe + 1
Como
x
0< < 1,
dxe + 1
tem-se  n  n
x x
lim = 0 e, portanto, lim Cx · = 0.
n→+∞ dxe + 1 n→+∞ dxe + 1
Logo,
xn
lim = 0.
n→+∞ n!

Por outro lado, se x < 0 então |x| > 0 e


|x|n xn |x|n
− ≤ ≤ qualquer que seja n ∈ N.
n! n! n!
Como já está provado que
|x|n |x|n
lim = 0 e, portanto, lim − = 0,
n→+∞ n! n→+∞ n!
tem-se que
xn
lim = 0.
n→+∞ n!

Assim, está provado que


xn
lim = 0 qualquer que seja x ∈ R.
n→+∞ n!


6

Proposição 6. Sejam a ∈ R, f uma função, (xn )n≥k uma sequência e L ∈ R. Se f está definida
em [a, +∞), xn ∈ [a, +∞) ∀n ∈ Nk ,
lim f (x) = L e lim xn = +∞,
x→+∞ n→+∞

então L é limite da sequência ((f (xn ))n≥k .


Exercı́cio 3. Demonstre a proposição 6.
Proposição 7. Sejam a ∈ R, f uma função, (xn )n≥k uma sequência e L ∈ R. Se f está definida
em (−∞, a], xn ∈ (−∞, a] ∀n ∈ Nk ,
lim f (x) = L e lim xn = −∞,
x→−∞ n→+∞

então L é limite da sequência ((f (xn ))n≥k .


Exercı́cio 4. Demonstre a proposição 7.
Exemplo 5. Seja (zn )n≥0 a sequência dada por
2n − 1
zn = n ∀n ∈ N.
2 +1
Veja que
x−1
zn = f (xn ) ∀n ∈ N, onde f é a função dada por f (x) =
x+1
e (xn )n≥0 é a sequência dada por xn = 2n ∀n ∈ N. Como
lim f (x) = 1 e lim xn = +∞,
x→+∞ n→+∞

tem-se, pela proposição 6, que


lim zn = lim f (xn ) = 1.
n→+∞ n→+∞

Observação 1. As proposições 6 e 7 permanecem válidas quando L = +∞ ou L = −∞.

Séries

Seja (xn )n≥k uma sequência. O limite


n
X
lim xi = lim (xk + xk+1 + · · · + xn )
n→+∞ n→+∞
i=k

é denominado série gerada pela sequência (xn )n≥k , sendo denotado por
+∞
X
xi .
i=k
7

Como exemplos.
+∞  
X 1 1
A série é a série gerada pela sequência .
i=1
i n n≥1
+∞
X1  
1
A série 2 é a série gerada pela sequência .
i=1
i n2 n≥1
+∞  
X 1 1
A série é a série gerada pela sequência .
i=2
i(i − 1) n(n − 1) n≥2
+∞  
X 1 1
A série i é a série gerada pela sequência .
i=0
2 2n n≥0
+∞
X
Dado a ∈ R, a série ai é a série gerada pela sequência (an )n≥0 .
i=0
+∞
xi xn
X  
Dado x ∈ R, a série é a série gerada pela sequência .
i=0
i! n! n≥0

Sejam (xn )n≥k uma sequência e (sn )n≥n a sequência dada por

xk se n = k,
sn =
sn−1 + xn se n > k.

Daı́,
sk = xk ,
sk+1 = sk + xk+1 = xk + xk+1 ,
sk+2 = sk+1 + xk+2 = xk + xk+1 + xk+2 ,
sk+3 = sk+2 + xk+3 = xk + xk+1 + xk+2 + xk+3 ,
...
sn = xk + xk+1 + · · · + xn ∀n ∈ Nk .

A sequência (sn )n≥k é denominada sequência das somas parciais dos termos da sequência
(xn )n≥k . Observe que a série gerada pela sequência (xn )n≥k é dada por
+∞
X
xi = lim sn ,
n→+∞
i=k

isto é, a série gerada pela sequência (xn )n≥k é o limite da sequência (sn )n≥k . Podemos assim
pensar numa série como a soma dos termos da sua sequência geradora, isto é,
+∞
X
xi = xk + xk+1 + xk+2 + xk+3 + xk+4 + xk+5 + · · ·
i=k
8

Definição 2. Sejam
+∞
X
xi = xk + xk+1 + xk+2 + xk+3 + xk+4 + xk+5 + · · ·
i=k

a séria gerada por uma sequência (xn )n≥k e (sn )n≥k a sua sequência de somas parciais. Dize-
mos que esta série converge quando a sequência de somas parciais converge. Caso contrário,
dizemos que esta série diverge.
Exemplo 6. Dado x ∈ R, a série
+∞
X
xi = 1 + x + x2 + x3 + x4 + x5 + · · ·
i=0

é denominada série geométrica, sendo gerada pela sequência geométrica (xn )n≥0 .
Dados x ∈ R e n ∈ N1 tem-se
1 − xn+1 = (1 − x) · (1 + x + x2 + · · · + xn ).
Assim, se x 6= 1,
1 − xn+1
1 + x + x2 + · · · + xn = .
1−x
Isto diz que a sequência de somas parciais (sn )n≥0 é dada por
1 − xn+1 se x 6= 1,
(
sn = 1−x
n+1 se x = 1.
Daı́, se −1 < x < 1 então a serie geométrica converge com
+∞
X 1 − xn+1 1
xi = lim sn = lim = .
n→+∞ n→+∞ 1 − x 1−x
i=0

Se x = 1 então a serie geométrica diverge com


+∞
X
xi = lim sn = lim (n + 1) = +∞.
n→+∞ n→+∞
i=0

Se x > 1 então a serie geométrica diverge com


+∞
X 1 − xn+1
xi = lim sn = lim = +∞.
n→+∞ n→+∞ 1 − x
i=0

Se x = −1 então 
1 se n é par,
sn =
0 se n é ı́mpar.
Neste caso a série diverge não existindo o limite da sequência de somas parciais (sn )n≥0 . Se
x < −1 então a sequência (sn )n≥0 não é limitada superiormente nem inferiormente. Portanto,
a série diverge não existindo o limite da sequência de somas parciais (sn )n≥0 .
9

Portanto, tem-se (
+∞ 1
X
1−x se − 1 < x < 1,
xi =
i=0
+∞ se x ≥ 1.
Exemplo 7. A série
+∞
X 1 1 1 1 1 1
= 1 + + + + + + ···
n=1
n 2 3 4 5 6
é denominada série harmônica. Esta série converge ou diverge?
Soluçao. Observe que dado k ∈ N1 tem-se
1 1 1
k ≤ x ≤ k + 1 =⇒ ≥ ≥ .
k x k+1
Assim, Z k+1 Z k+1
1 1 1
dx < dx = .
k x k k k
Portanto,
Z n+1 Z 2 Z 3 Z n+1
1 1 1 1
ln(n + 1) = dx = dx + dx + · · · + dx <
1 x 1 x 2 x n x
1 1
1 + + ··· + ∀n ∈ N1 ,
2 n
isto é,
ln(n + 1) < sn ∀n ∈ N1 ,
onde (sn )n≥1 é a sequência de somas parcias da sequência geradora da série harmônica. Como
lim ln(n + 1) = +∞,
n→+∞

tem-se, pela proposição 3, que


lim sn = +∞.
n→+∞
Portanto, a série harmônica diverge com
+∞
X 1
= +∞.
n=1
n

AULA 36
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula continua com o estudo de séries, abordando critérios de divergência, critérios de
convergência e algumas propriedades operatórias.
Exemplo 1. A série
+∞
X 1
converge?
n=1
n(n + 1)
Soluçao. Seja (sn )n≥1 a sequência de somas parciais associada à referida série. Tem-se
1 1 1 1
sn = + + + ··· +
1·2 2·3 3·4 n · (n + 1)
       
1 1 1 1 1 1 1 1
= − + − + − + ··· + −
1 2 2 3 3 4 n n+1
1
=1− ∀n ∈ N1 .
n+1
Daı́, a sequência (sn )n≥1 converge com
+∞
X 1
lim sn = 1. Portanto, converge
n→+∞
n=1
n(n + 1)
com
+∞
X 1
= lim sn = 1.
n=1
n(n + 1) n→+∞

Exemplo 2. A série
+∞
X 1
converge?
n=0
n!
Soluçao. Seja (sn )n≥0 a sequência de somas parciais associada à referida série. Tem-se
1 1 1 1 1 1 1 1 1
sn = + + + ··· + < + + + ··· + + = sn+1 ∀n ∈ N.
0! 1! 2! n! 0! 1! 2! n! (n + 1)!
Daı́, (sn )n≥0 é uma sequência estritamente crescente. Além disso, dado n ≥ 2, tem-se
1 1
n! = 1 · 2 · 3 · · · · · n ≥ 2n−1 , isto é, ≤ n−1 .
n! 2
Logo, dado n ≥ 2, tem-se
1 1 1
sn = 1 + 1 + + ··· +
2! 3! n!
+∞
1 1 1 X 1
≤ 1 + 1 + + 2 + · · · + n−1 < 1 + = 3.
2 2 2 k=0
2k

1
2

Assim,
sn < 3 ∀n ∈ N, ou seja, (sn )n≥0 é uma sequência limitada superiormente.
Deste modo, a sequência de somas parciais (sn )n≥0 converge. Portanto, a série
+∞
X 1
converge.
n=0
n!

Proposição 1. Sejam k ∈ N, (xn )n≥k uma sequência, k0 ∈ Z e (zn )n≥k1 a sequência dada por
zn = xn+k0 ∀n ≥ k1 , onde k1 = máximo{ 0, k − k0 }.
Se a sequência (xn )n≥k converge então a sequência (zn )n≥k1 converge e os limites são iguais.
Demonstração. Se a sequência (xn )n≥k converge e L é o limite de (xn )n≥k então para cada
 > 0 existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < .
Daı́, escolhendo n1 = máximo{ n0 − k0 , k1 }, tem-se n1 ∈ Nk1 e
n > n1 =⇒ n > n0 − k0 =⇒ n + k0 > n0
=⇒ |zn − L| = |xn+k0 − L| < .
Está provado que, dado  > 0, existe n1 ∈ Nk1 tal que
n > n1 =⇒ |zn − L| < .
Isto diz que L é limite de (zn )n≥k1 e, assim, a sequência (zn )n≥k1 converge. 
A seguinte proposição diz que se uma série converge então a sua sequência geradora tem
limite nulo. Deste modo, ela funciona como um critério para divergência.
Proposição 2. Seja (an )n≥k uma sequência. Se a série
+∞
X
an = ak + ak+1 + ak+2 + ak+3 + ak+4 + ak+5 + · · · ,
n=k

gerada por (an )n≥k , converge então


lim an = 0.
n→+∞

Portanto, se 0 não é limite de (an )n≥k então a série


+∞
X
an diverge.
n=k

Demonstração. Se a série converge, então existe L ∈ R tal que L é limite de (sn )n≥k , onde
(sn )n≥k é a sequência de somas parciais. Como
an = (ak + ak+1 + · · · + an ) − (ak + ak+1 + · · · + an−1 )
= sn − sn−1 ∀n ≥ k + 1,
3

tem-se
lim an = lim (sn − sn−1 ) = lim sn − lim sn−1 = L − L = 0.
n→+∞ n→+∞ n→+∞ n→+∞


Observação 1. A recı́proca da proposição 2 não é verdadeira, pois a série harmônica
+∞
X 1 1 1 1 1 1 1
= 1 + + + + + + + ···
n=1
n 2 3 4 5 6 7
diverge e
1
lim = 0.
n→+∞ n

Exemplo 3. Pela proposição 2, a série


+∞
X n
diverge,
n=0
n+1
pois
n
lim = 1.
n→+∞ n + 1

Proposição 3. Seja k1 , k2 ∈ N, com k1 < k2 , e (xn )n≥k1 uma sequência. A série


+∞
X +∞
X
xn converge se, e somente se, a série xn
n=k1 n=k2

converge. Em cada caso vale


+∞
X +∞
X
xn − (xk1 + · · · + xk2 −1 ) = xn .
n=k1 n=k2

Demonstração. Sejam (sn )n≥k1 e (tn )n≥k2 as sequências de somas parciais associadas às séries
+∞
X +∞
X
xn e xn respectivamente.
n=k1 n=k2

Dado n ≥ n2 tem-se
sn = xk1 + · · · + xk2 −1 + xk2 + · · · + xn
= xk1 + · · · + xk2 −1 + tn .
Daı́,
lim sn é um número real se, e somente se, lim tn é um número real,
n→+∞ n→+∞
e em cada caso vale
lim sn = (xk1 + · · · + xk2 −1 ) + lim sn .
n→+∞ n→+∞
Portanto,
+∞
X +∞
X
xn converge se, e somente se, a série xn
n=k1 n=k2
4

converge valendo, em cada caso,


+∞
X +∞
X
xn − (xk1 + · · · + xk2 −1 ) = xn .
n=k1 n=k2


Corolário 1. Seja k1 , k2 ∈ N e sequências (xn )n≥k1 e (yn )n≥k2 . Se existe n0 ≥ maior{ k1 , k2 }
tal que
xn = yn qualquer que seja n ≥ n0 ,
então a série
+∞
X +∞
X
xn converge se, e somente se, a série yn
n=k1 n=k2
convege. Em cada caso vale
+∞
X +∞
X
xn − (xk1 + · · · + xn0 −1 ) = yn − (yk2 + · · · + yn0 −1 ) .
n=k1 n=k2

Proposição 4. Sejam (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências. Se as séries


+∞
X +∞
X
xn e yn convergem
n=k n=k
então a série
+∞
X +∞
X +∞
X +∞
X
(xn + yn ) converge valendo (xn + yn ) = xn + yn .
n=k n=k n=k n=k

Exercı́cio 1. Demonstre a proposição 4.


Exemplo 4. Como
+∞ +∞ +∞ +∞
X 1 X n X 1 X n
n e convergem, com n = 1 e = 1,
n=1
2 n=1
n(n + 1) n=1
2 n=1
n(n + 1)
tem-se que
+∞   +∞  
X 1 n X 1 n
n + converge com n + = 1 + 1 = 2.
n=1
2 n(n + 1) n=1
2 n(n + 1)

Proposição 5. Sejam (xn )n≥k uma sequência e λ ∈ R. Se a série


+∞
X +∞
X
xn converge então a série (λ · xn ) converge
n=k n=k
valendo
+∞
X +∞
X
(λ · xn ) = λ · xn .
n=k n=k

Exercı́cio 2. Demonstre a proposição 5.


5

Proposição 6. Seja a ∈ R e f uma função contı́nua em [a, +∞) com f (x) ≥ 0 qualquer que
seja x ∈ [a, +∞). São verdadeiras as seguintes afirmações.
∗ Se existe M ∈ R tal que
Z u
f (x) dx ≤ M qualquer que seja u ∈ [a, +∞),
a
então a integral imprópria
Z +∞
f (x) dx converge.
a
∗ Se a integral imprópria
Z +∞ Z +∞
f (x) dx diverge, então f (x) dx = +∞.
a a

Demonstração. Seja a ∈ R, f uma função contı́nua em [a, +∞) com f (x) ≥ 0 qualquer que
seja x ∈ [a, +∞) e S o subconjunto de R dado por
Z u 
S= f (x) dx | u ∈ [a, +∞) .
a
Se S é limitado superiormente, então S possui um supremo L. Assim, dado  > 0, existe
u0 ∈ [a, +∞) tal que Z u0
L−< f (x) dx ≤ L.
a
Daı́,
Z u Z u0 Z u Z u0
u > u0 =⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx ≥ f (x) dx
a a u0 a
Z u0 Z u
=⇒ L −  < f (x) dx ≤ f (x) dx ≤ L
a a
Z u
=⇒ L −  < f (x) dx < L + 
a
Z u
=⇒ −  < f (x) dx − L < 
a
Z u
=⇒ f (x) dx − L < 
a
Logo, está provado que dado  > 0, existe u0 ≥ a tal que
Z u
u > u0 =⇒ f (x) dx − L < ,
a
e isto diz que Z u
lim f (x) dx = L.
u→+∞ a
Portanto, a integral imprópria
Z +∞ Z +∞
f (x) dx converge com f (x) dx = L.
a a
6

Portanto, se a integral imprópria diverge, então o conjunto S não é limitado superiormente. Daı́,
dado C > 0, existe existe u0 ≥ a tal que
Z u0
f (x) dx > C.
a

Logo,
Z u Z u0 Z Z u0
u > u0 =⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx ≥ f (x) > C.
a a u0 a

Assim, está provado que dado C > 0, existe existe u0 ≥ a tal que
Z u
u > u0 =⇒ f (x) dx > C.
a

e isto diz que


Z u
lim f (x) dx = +∞.
u→+∞ a
Portanto, a integral imprópria
Z +∞ Z +∞
f (x) dx diverge com f (x) dx = +∞.
a a


Proposição 7. Sejam k ∈ N, f uma função contı́nua e decrescente em [k, +∞) com f (x) ≥ 0
qualquer que seja x ∈ [k, +∞). As seguintes afirmações são verdadeiras.
∗ Se a integral imprópria
Z +∞ +∞
X
f (x) dx converge então a série f (n) converge.
k n=k

∗ Se a integral imprópria
Z +∞ +∞
X +∞
X
f (x) dx diverge então a série f (n) diverge com f (n) = +∞.
k n=k n=k

Demonstração. Suponha k ∈ N, f uma função contı́nua e decrescente em [k, +∞), com


f (x) ≥ 0 qualquer que seja x ∈ [k, +∞). Então, dado n ∈ [k, +∞) ∩ N, tem-se
f (n) ≥ f (x) ≥ f (n + 1) qualquer que seja x ∈ [n, n + 1],
e, portanto,
Z n+1 Z n+1 Z n+1
f (n) dx ≥ f (x) dx ≥ f (n + 1) dx,
n n n
isto é,
Z n+1
f (n) ≥ f (x) dx ≥ f (n + 1).
n
7

Assim,
f (k) + f (k + 1) + · · · + f (n) ≥
Z k+1 Z k+2 Z n+1
f (x) dx + f (x) dx + · · · + f (x) dx ≥
k k+1 n
f (k + 1) + f (k + 2) + · · · + f (n + 1) ∀n ∈ [k, +∞).
Além disso, sendo (sn )n≥k a sequência de somas parciais da série
+∞
X
f (n),
n=k
tem-se
sn = f (k) + · · · + f (n) ≤ f (k) + · · · + f (n) + f (n + 1) = sn+1 ∀n ∈ Nk ,
ou seja, a sequência de somas parciais (sn )n≥k é crescente.
∗ Suponha que a integral imprópria
Z +∞ Z +∞
f (x) dx converge, isto é, f (x) dx é um número real.
k k
Dado n ∈ Nk , tem-se
sn = f (k) + · · · + f (n) ≤ f (k) + f (k + 1) + · · · + f (n) + f (n + 1) ≤
Z k+1 Z k+2 Z n+1
f (k) + f (x) dx + f (x) dx + · · · + f (x) dx =
k k+1 n
Z n+1 Z u
f (k) + f (x) dx ≤ f (k) + f (x) dx ∀u ≥ n + 1,
k k
o que dá Z +∞
sn ≤ f (k) + f (x) dx.
k
Daı́, (sn )n≥k é uma sequência limitada superiormente e, portanto, convergente. Isto diz
que a série
+∞
X
f (n) converge.
n=k
∗ Suponha, agora, que a integral imprópria
Z +∞ Z u
f (x) dx diverge, isto é, lim f (x) dx = +∞,
k u→+∞ k
Dado n ∈ Nk , tem-se
sn = f (k) + · · · + f (n)
Z k+1 Z k+2 Z n+1
≥ f (x) dx + f (x) dx + · · · + f (x) dx
k k+1 n
Z n+1
= f (x) dx.
k
8

Como Z n+1
lim f (x) dx = +∞, tem-se lim sn = +∞.
n→+∞ k n→+∞

Isto diz que a série


+∞
X +∞
X
f (n) diverge com f (n) = +∞.
n=k n=k


Exemplo 5. Se p > 1 então, pela proposição 7, a série
+∞
X 1
converge
n=1
np
pois a integral imprópria
Z +∞
1
dx converge.
1 xp
Exemplo 6. Se p ≤ 1 então, pela proposição 7, a série
+∞
X 1
p diverge
n=1
n
pois a integral imprópria
Z +∞
1
dx diverge.
1 xp

Estimativa de Erro em Aproximação de uma Série

Sejam (xn )n≥k uma sequência, a série


+∞
X
xi gerada por (xn )n≥k e
i=k

(sn )n≥k a sequência de somas parciais de (xn )n≥k . Sendo a série convergente, dado n ∈ Nk , a
aproximação
+∞
X
xi ≈ s n ,
i=k
da série pela soma parcial sn , gera um erro En dado por
+∞
X
En = xi − s n .
i=k

Pela proposição 3, a série


+∞
X +∞
X +∞
X +∞
X
xi converge e En = xi − s n = xi − (xk + · · · + xn ) = xi ,
i=n+1 i=k i=k i=n+1
9

ou seja, o erro En , cometido na aproximação


+∞
X +∞
X
xi ≈ sn , é a série xi ,
i=k i=n+1

também conhecida como resto da aproximação.


Exemplo 7. Sejam x ∈ (−1, 1) com x 6= 0. Dado n ∈ N qual o erro cometido na aproximação
+∞
X
x i ≈ 1 + x + x2 + · · · + xn ?
i=0

Soluçao. O referido erro cometido, En , é dado por


+∞
X +∞
X
En = xi = xn+1 · xi−(n+1)
i=n+1 i=n+1
+∞
X +∞
X
n+1 i n+1
= x ·x =x · xi
i=0 i=0
n+1
1 x
= xn+1 · = .
1−x 1−x
Assim, na aproximação
+∞
X 1 1 1 1 1
i ≈ 1+ + 2 + 3 + 4,
i=0
2 2 2 2 2
o erro E4 cometido é dado por
 5
1 1 1
E4 = · = 6 = 0,015625.
2 1 − 1/2 2

Na série do exemplo 7, é possı́vel encontrar o valor exato do erro cometido, na aproximação
por qualquer soma parcial, porque sabe-se o valor exato da série. Entretanto, há casos em que
sabe-se somente que a série converge. Portanto, não sendo conhecido o valor da série, também
não é conhecido o valor do erro obtido pela sua aproximação por cada soma parcial. Mesmo
assim, em muitos destes casos, ainda é possı́vel estimar o erro, por uma cota superior e/ou cota
inferior.
Sejam k ∈ N, f uma função contı́nua e decrescente em [k, +∞) com f (x) ≥ 0 qualquer que
seja x ∈ [k, +∞). Suponha que a integral imprópria
Z +∞
f (x) dx converge.
k

Neste caso, a proposição 7 diz que a série


+∞
X
f (n) converge.
n=k
10

Sabe-se da demonstração da proposição 7 que, para cada n ∈ Nk , tem-se


Z n+1
f (n) ≥ f (x) dx ≥ f (n + 1),
n
e, portanto,
f (n + 1) + f (n + 2) + · · · + f (m) ≤
Z n+1 Z n+2 Z m
f (x) dx + f (x) dx + · · · + f (x) dx =
n n+1 m−1
Z m
f (x) dx ∀m > n e
n
f (n + 1) + f (n + 2) + · · · + f (m) ≥
Z n+2 Z n+3 Z m+1
f (x) dx + f (x) dx + · · · + f (x) dx =
n+1 n+2 m
Z m+1
f (x) dx ∀m > n.
n+1

Ou seja, dado n ∈ Nk , tem-se


Z m Z +∞
f (n + 1) + f (n + 2) + · · · + f (m) ≤ f (x) dx ≤ f (x) dx
n n
e
+∞
X Z m+1
f (i) ≥ f (n + 1) + f (n + 2) + · · · + f (m) ≥ f (x) dx
i=n+1 n+1

qualquer que seja m > n. Logo, passando aos limites, tem-se


Z +∞ +∞
X Z +∞
f (x) dx ≤ f (i) ≤ f (x) dx.
n+1 i=n+1 n

Daı́, o erro En cometido na aproximação


+∞
X
f (i) ≈ f (k) + f (k + 1) + · · · + f (n),
i=k

é estimado por
Z +∞ Z +∞
f (x) dx ≤ En ≤ f (x) dx ∀n ≥ k.
n+1 n

Exemplo 8. Seja p > 1. Qual a estimativa para o erro En cometido na aproximação


+∞
X 1 1 1 1
p = 1 + p + p + ··· + p?
i=1
i 2 3 n
Soluçao. Tem-se
Z +∞ Z +∞
1 1
dx ≤ En ≤ dx ∀n ≥ 1.
n+1 xp n xp
11

Como, para cada a > 0,


u
x−p+1
Z +∞ Z u
1 1
dx = lim dx = lim
a xp u→+∞ a x
p u→+∞ −p + 1
a
 1−p 1−p  1−p
u a a
= lim − = ,
u→+∞ 1−p 1−p p−1
tem-se
(n + 1)1−p n1−p
≤ En ≤ ∀n ≥ 1.
p−1 p−1
Como exemplo, o erro E4 , cometido na aproximação
+∞
X 1 1 1 1
3 ≈ 1 + 3 + 3 + 3,
i=1
i 2 3 4
está estimado por
5−2 4−2
≤ E4 ≤ ,
2 2
isto é,
0,02 ≤ E4 ≤ 0,03125.

Exercı́cio 3. Encontre n ∈ N1 de modo que, na aproximação
+∞
X 1 1 1 1
2 ≈ 1 + 2 + 2 + ··· + 2,
i=1
i 2 3 n
o erro En cometido não seja superior a 10−6 .
AULA 37
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula continua com o estudo de séries introduzindo novos critérios de convergência. Os
seus resultados dizem respeito à series geradas por sequências, nas quais cada termo é não
negativo ou cada termo é não positivo, isto é, dada uma sequência (xn )n≥k neste texto, tem-se
xn ≥ 0 ∀n ∈ Nk ou xn ≤ 0 ∀n ∈ Nk .
Proposição 1. Seja (xn )n≥k uma sequência com xn ≥ 0 qualquer que seja n ∈ Nk . Se a serie
+∞
X +∞
X
xn diverge então xn = +∞.
n=k n=k

Demonstração. Sejam (xn )n≥k uma sequência com xn ≥ 0, qualquer que seja n ∈ Nk , e
(sn )n≥k a sua sequência de somas parciais. Tem-se que (sn )n≥k é uma sequência crescente. Se
a série
+∞
X
xn não converge,
n=k
isto é, a sequência (sn )n≥k não converge, então (sn )n≥k não é uma sequência limitada supe-
riormente. Logo, pela proposição 14, da aula número 35, limite de (sn )n≥k é +∞, ou seja, a
série
X+∞ +∞
X
xn diverge com xn = +∞.
n=k n=k

Exemplo 1. A série
+∞
X n2 + n
diverge
n=3
n2 − 2n
pois
n2 + n
lim = 1 6= 0.
n→+∞ n2 − 2n
Como
n2 + n
> 0 qualquer que seja n ≥ 3 tem-se,
n2 − 2n
pela proposição 2, que
+∞
X n2 + n
= +∞.
n=3
n2 − 2n
A proposição 2, evidentemente, possui a seguinte variação.
Proposição 2. Seja (xn )n≥k uma sequência com xn ≤ 0 qualquer que seja n ∈ Nk . Se a serie
+∞
X +∞
X
xn diverge então xn = −∞.
n=k n=k

1
2

Proposição 3 ( Teste da Comparação ). Sejam (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências com 0 ≤ xn ≤ yn
qualquer que seja n ∈ Nk . As seguintes afirmações são verdadeiras.
∗ Se a série
+∞
X +∞
X X+∞ +∞
X
yn converge então a série xn converge com xn ≤ yn .
n=k n=k n=k n=k
∗ Se a série
+∞
X +∞
X
xn diverge então a série yn diverge.
n=k n=k

Demonstração. Sejam (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências com 0 ≤ xn ≤ yn qualquer que seja
n ∈ Nk e, (sn )n≥k e (tn )n≥k , as suas respectivas sequências de somas parciais. Daı́, (sn )n≥k é
crescente, (tn )n≥k é crescente e
sn = xk + · · · + xn ≤ yk + · · · + yn = tn ∀n ∈ Nk .
Deste modo, tem-se as sequintes conclusões.
∗ Se a série
+∞
X +∞
X
yi converge então yi
i=k i=k
é um número real com
+∞
X
sn ≤ tn ≤ yi qualquer que seja n ∈ Nk .
i=k

Assim, a sequência (sn )n≥k é limitada superiormente e, portanto, convergente. Daı́, por
definiçao, a série
+∞
X +∞
X +∞
X
xn converge com xn ≤ yn .
n=k n=k n=k

∗ Se a série
+∞
X +∞
X
xn diverge então xi = +∞,
n=k i=k
isto é, o limite da sequência (sn )n≥k é +∞. Logo, pela proposição 3, da aula número
36, o limite da sequência (tn )n≥n é +∞ e, portanto, a série
+∞
X +∞
X
yn diverge com yn = +∞.
n=k n=k

Exemplo 2. A série
+∞
X 7
3
n=0
n +1
converge ou diverge?
3

Soluçao. Veja que


1 1
n3 + 1 > n3 > 0 ∀n ∈ N1 . Daı́, 0 < 3 < 3 ∀n ∈ N1 .
n +1 n
Como
+∞
X 1
converge,
n=1
n3
tem-se, pelo Teste da Comparação, proposição 3, que a série
+∞ +∞
X 1 X 1
3 converge. Portanto, a série 3 converge.
n=1
n +1 n=0
n + 1
Assim, a série
+∞
X 7
3 também converge.
n=0
n +1

Exemplo 3. A série
+∞
X 7

3
n=0
n + 10
converge ou diverge?
Soluçao. Perceba que
√ √ √ √ √
3
n ≥ 10 ∀n ∈ N1000 . Daı́, 2 3 n = 3 n + 3 n ≥ 3 n + 10 > 0 ∀n ∈ N1000 .
Logo,
1 1
0< √
3
≤ √
3
∀n ∈ N1000 .
2 n n + 10
Como a série
+∞ +∞ +∞
X 1 X 1 X 1

3
= 1/3
diverge, a série √ diverge.
n=1
n n=1 n n=1
23n
Deste modo, a série
+∞ +∞
X 1 X 1

3
diverge e, pelo Teste da Comparação, a série √
3
diverge.
n=1000
2 n n=1000
n + 10
Sendo assim, a série
+∞
X 1

3
também diverge.
n=0
n + 10

Sejam (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências com 0 ≤ xn ≤ yn qualquer que seja n ∈ Nk . Se a série
+∞
X +∞
X +∞
X +∞
X
yn converge então a série xn converge com xn ≤ yn .
n=k n=k n=k n=k
4

Portanto, na aproximação
+∞
X
xi ≈ xk + · · · + xn ,
i=k

o erro En cometido é, pelo Teste da Comparação, estimado por


+∞
X +∞
X
0 ≤ En = xi ≤ yi ,
i=n+1 i=n+1

isto é, o erro cometido na aproximação da série


+∞
X
xi pela soma xk + · · · + xn ,
i=k

não é superior ao erro cometido na aproximação da série


+∞
X
yi pela soma yk + · · · + yn .
i=k

Exemplo 4. Considere a série


+∞
X i
4 .
i=0
i +1

Soluçao. Perceba que


i i 1
0< 4 < 4 = 3 ∀i ∈ N1 .
i +1 i i
Como a série
+∞ +∞
X 1 X i
3 converge, pelo Teste da Comparação, a série 4 converge.
i=1
i i=1
i + 1

Portanto, a série,
+∞
X i
4 também converge.
i=0
i +1
Na aproximação
+∞
X i 0 1 2 100
4 ≈ 4 + 4 + 4 + ··· +
i=0
i +1 0 +1 1 +1 2 +1 1004 + 1

o erro E100 cometido, pelo exemplo 8, da aula número 37, é estimado por
+∞ +∞
X i X 1 100−2
0 < E100 = 4 ≤ 3 ≤ = 0,00005.
i=101
i + 1 i=101
i 2


5

Proposição 4 ( Teste da Comparação no Limite ). Sejam (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências com
xn > 0 e yn > 0 qualquer que seja n ∈ Nk , e L > 0. Se
+∞ +∞
xn X X
L = lim então a série xn converge se, e somente se, a série yn converge.
n→+∞ yn
n=k n=k

Demonstração. Sejam (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências com xn > 0 e yn > 0 qualquer que seja
n ∈ Nk , e L ∈ R. Se
xn
L > 0 e L = lim
n→+∞ yn

então L/2 > 0 e, em particular, existe n0 ∈ Nk tal que


xn L L xn L
n > n0 =⇒ − L < =⇒ − < −L<
yn 2 2 yn 2
L xn 3L
=⇒ < < .
2 yn 2
Daı́,
3L 2
xn <yn e yn < xn qualquer que seja n ∈ Nn0 +1 .
2 L
Assim, tem-se as seguintes conclusões.
∗ Se a série
+∞
X +∞
X
xn converge então a série xn converge.
n=k n=n0 +1

Logo, a série
+∞ +∞
X 2 X
xn converge e, por comparação, a série yn converge.
n=n +1
L n=n0 +1
0

Portanto, a série
+∞
X
yn converge.
n=k
∗ Se a série
+∞
X +∞
X
yn converge então a série yn converge.
n=k n=n0 +1

Logo, a série
+∞ +∞
X 3L X
yn converge e, por comparação, a série xn converge.
n=n +1
2 n=n0 +1
0

Portanto, a série
+∞
X
xn converge.
n=k

6

Exemplo 5. A série
+∞ √
3
X 1 + n2
converge ou diverge?
n=0
1+n
Soluçao. Veja que a série
+∞

3 +∞ +∞
X n2 X 1 X 1
= √ = 1/3
diverge.
n=1
n n=1
3
n n=1 n
e

3
1 + n2 √ s
3 2 2
1√+ n = lim 1 + n n 3 1 + n n
lim 3
√3
· = lim 2 · = 1 · 1 = 1 > 0.
n→+∞ n2 n→+∞ n2 1 + n n→+∞ n 1+n
n
Daı́, pelo Teste da Comparação no Limite, proposição 4, a série
+∞ √ 3
X 1 + n2
diverge.
n=1
1 + n
Portanto, a série
+∞ √
3
X 1 + n2
diverge.
n=0
1+n

Exemplo 6. Verifique se a série
+∞
X 1 + 2n2
 converge ou diverge.
2 3
n=0 1 + 3n

Soluçao. Perceba que a série


+∞ +∞ 2 +∞
X n2 X n X 1
2 3 = 6 = 4 converge.
n=1
(n ) n=1
n n=1
n
Além disso,
1 + 2n2
3
1 + 3n2 1 + 2n2 (n2 )3
lim = lim ·
n2 n2
3
n→+∞ n→+∞ 1 + 3n2
(n2 )3
3
1 + 2n2 n2

1 2
= lim 2 · 2 =2· = > 0.
n→+∞ n 1 + 3n 27 27
Daı́, pelo Teste da Comparação no Limite, proposição 4, a série
+∞
X 1 + 2n2
 converge.
2 3
n=1 1 + 3n
7

Portanto, a série
+∞
X 1 + 2n2
 também converge.
2 3
n=0 1 + 3n


Observação 1. Veja que a série
+∞ +∞
X 1 X 1
diverge e a série 2 convege
n=1
n n=1
n
com
1 1
2 1
lim n = lim n = +∞ e lim n = lim = 0.
n→+∞ 1 n→+∞ n→+∞ 1 n→+∞ n
2
n n
Observe também que a série
+∞ +∞
X 1 X 1
2 converge e a série 3 convege
n=1
n n=1
n
com
1 1
2 3 1
lim n = lim n = +∞ e lim n = lim = 0.
n→+∞ 1 n→+∞ n→+∞ 1 n→+∞ n

n3 n2
Além destas duas situações anteriores, tem-se que a série
+∞ +∞
X 1 X 1
√ diverge e a série √
3
diverge
n=1
n n=1
n
com
1 1
√ √
n 1 3
n √
lim = lim √ =0 e lim = lim 6 n = +∞.
n→+∞ 1 n→+∞ 6 n n→+∞ 1 n→+∞

3

n n
Portanto, estes exemplos dizem que, sendo (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências com xn > 0 e yn > 0
qualquer que seja n ∈ Nk , não é conclusiva a correlação entre a convergência da série
+∞
X +∞
X
xn e a convergência da série yn
n=k n=k

quando
xn xn
lim = 0 ou lim = +∞,
n→+∞ yn n→+∞ yn

como no enunciado da proposição 4. Entretanto tem-se as duas seguintes proposições.


8

Proposição 5. Sejam (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências com xn > 0 e yn > 0 qualquer que seja
n ∈ Nk . Se
+∞
xn X
lim = 0 então a convegência da série yn
n→+∞ yn
n=k
implica a convegência da série
+∞
X
xn .
n=k

Exercı́cio 1. Demonstre a proposição 5.


Proposição 6. Sejam (xn )n≥k e (yn )n≥k sequências com xn > 0 e yn > 0 qualquer que seja
n ∈ Nk . Se
+∞
xn X
lim = +∞ então a divergência da série yn
n→+∞ yn
n=k
implica a divergência da série
+∞
X
xn .
n=k

Exercı́cio 2. Demonstre a proposição 6.


AULA 38
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula continua o estudo de séries, apresentando novos critérios de convergência para
séries que não possuem, necessariamente, todos os seus termos não negativos ou todos os seus
termos não positivos. As séries, aqui mencionadas, podem apresentar um conjunto infinito de
termos (parcelas) positivos e um conjunto infinito de termos negativos.
Definição 1. Seja (xn )n≥k uma sequência. Dizemos que (xn )n≥k é uma sequência alternada
quando xn · xn+1 < 0 qualquer que seja n ∈ Nk . Dito de outra forma, a sequência (xn )n≥k é
intitulada alternada quando
xn e xn+1 têm sinais contrários qualquer que seja n ∈ Nk .
Definição 2. Dizemos que a série
+∞
X
xn
n=k
é alternada quando a sua sequência geradora, (xn )n≥k , é alternada.
Exemplo 1. A sequência (xn )n≥1 , dada por
1
xn = (−1)n ∀x ∈ N1 ,
n
é alternada. Daı́, a série
+∞ +∞
X X 1 1 1 1 1 1 1
xn = (−1)n = −1 + − + − + − + · · ·
n=1 n=1
n 2 3 4 5 6 7
é alternada.
Exemplo 2. A sequência (xn )n≥1 , dada por
n
xn = (−1)n+1 ∀x ∈ N1 ,
n+1
é alternada. Daı́, a série
+∞ +∞
X X n 1 2 3 4 5 6
xn = (−1)n+1 = − + − + − + ···
n=1 n=1
n+1 2 3 4 5 6 7
é alternada.
Observação 1. Perceba que se (xn )n≥k é uma sequência alternada, então
xn = (−1)n yn ∀n ∈ Nk ou xn = (−1)n+1 yn ∀n ∈ Nk ,
onde (yn )n≥k é uma sequência com yn > 0 qualquer que seja n ∈ Nk . De fato, (yn )n≥k é a
sequência dada por yn = |xn | qualquer que seja n ∈ Nk .
Proposição 1. Sejam (xn )n≥k uma sequência, L ∈ R e (yn )n≥0 ,(zn )n≥0 sequências dadas por
yn = xk+2n e zn = xk+2n+1 qualquer que seja n ∈ N.
Se L é limite de (yn )n≥0 e L é limite de (zn )n≥0 então L é limite de (xn )n≥k .

1
2

Demonstração. Se L é limite de (yn )n≥0 e L é limite de (zn )n≥0 então, para cada  > 0, existe
n1 ∈ N tal que
n > n1 =⇒ |xk+2n − L| = |yn − L| < 
e existe n2 ∈ N tal que
n > n2 =⇒ |xk+2n+1 − L| = |zn − L| < .
Portanto, escolhendo n0 = maior{ k + 2n1 , k + 2n2 + 1 }, tem-se n0 ∈ Nk e
n > n0 =⇒ n = k + 2m, com m ∈ N e m > n1 , ou
n = k + 2m + 1, com m ∈ N e m > n2
=⇒|xn − L| < .
Assim, está provado que, para cada  > 0, existe n0 ∈ Nk tal que
n > n0 =⇒ |xn − L| < .
Isto diz que L é limite da sequência (xn )n≥k . 

Proposição 2 ( Teste da Série Alternada ). Se (xn )n≥k é uma sequência alternada tal que
∗ |xn | ≥ |xn+1 | qualquer que seja n ∈ Nk ,
∗ 0 é limite de (xn )n≥k e
∗ xk > 0,
então a série
+∞
X
xn converge.
n=k

Demonstração. Admitindo as hipóteses, seja (sn )n≥k a sequência de somas parcias de (xn )n≥k .
Se xk > 0, então
s k = xk ,
sk+2 = sk + (xk+1 + xk+2 ) ≤ sk pois xk+1 + xk+2 ≤ 0,
sk+4 = sk+2 + (xk+3 + xk+4 ) ≤ sk+2 pois xk+3 + xk+4 ≤ 0,
...
sk+2(n+1) = sk+2n + (xk+2n+1 + xk+2(n+1) ) ≤ sk+2n pois xk+2n+1 + xk+2(n+1) ≤ 0,

qualquer que seja n ∈ N. Deste modo a sequência (sk+2n )n≥0 é decrescente. Por outro lado
tem-se
sk+1 = (xk + xk+1 ),
sk+3 = sk+1 + (xk+2 + xk+3 ) ≥ sk+1 pois xk+2 + xk+3 ≥ 0,
sk+5 = sk+3 + (xk+4 + xk+5 ) ≥ sk+3 pois xk+4 + xk+5 ≥ 0,
...
sk+2(n+1)+1 = sk+2n+1 + (xk+2n+2 + xk+2(n+1)+1 ) ≥ sk+2n+1 pois xk+2n+2 + xk+2(n+1)+1 ≥ 0,
3

qualquer que seja n ∈ N. Deste modo a sequência (sk+2n+1 )n≥0 é crescente. Como
sk+1 = sk + xk+1 ≤ sk ,
sk+3 = sk+2 + xk+3 ≤ sk+2 ,
sk+5 = sk+4 + xk+5 ≤ sk+4 ,
...
sk+2n+1 = sk+2n + xk+2n+1 ≤ sk+2n ,
qualquer que seja n ∈ N, tem-se sk+2n ≥ sk+1 e sk+2n+1 ≤ sk qualquer que seja n ∈ N.
Logo, a sequência (sk+2n )n≥0 é limitada inferiormente e a sequência (sk+2n+1 )n≥0 é limitada
superiormente. Portanto, as duas sequências convergem. Seja L ∈ R o limite da sequência
(sk+2n )n≥0 . Como 0 é limite da sequência (xn )n≥k e
sk+2n+1 = sk+2n + xk+2n+1 ∀n ∈ N,
tem-se que
lim sk+2n+1 = lim (sk+2n + xk+2n+1 ) = L + 0 = L.
n→+∞ n→+∞
Isto diz, pela proposicao 1, que a sequência de somas parciais (sn )n≥k converge, com limite L.
Portanto, a série
+∞
X +∞
X
xn converge com xn = L.
n=k n=k
Observe também que
+∞
X
sk+2n+1 ≤ xi ≤ sk+2m ∀m, n ∈ N,
i=k
pois a sequência (sk+2n )n≥0 é limitada inferiormente pelo seu limite L e a sequência (sk+2n+1 )n≥0
é limitada superiormente pelo seu limite L. 
Corolário 1 ( Teste da Série Alternada ). Se (xn )n≥k é uma sequência alternada tal que
∗ |xn | ≥ |xn+1 | qualquer que seja n ∈ Nk ,
∗ 0 é limite de (xn )n≥k e
∗ xk < 0,
então a série
+∞
X
xn converge.
n=k

Demonstração. Admitindo as hipóteses, pela proposiçao 2, a série


+∞
X
(−xn ) converge.
n=k

Portanto, a série
+∞
X
xn converge.
n=k

4

Exemplo 3. A sequência (xn )n≥1 , dada por


1
xn = (−1)n · ∀n ∈ N1 .
n
é alternada com
1 1
|xn | = > = |xn+1 | ∀n ∈ N1 .
n n+1
Além disso, 0 é limite de (xn )n≥n e x1 = −1 < 0. Assim, pelo corolário 1, Teste da Série
Alternada, a série
+∞ +∞
X X 1
xn = (−1)n · converge.
n=1 n=1
n
Lembre que a série harmónica
+∞
X 1
diverge.
n=1
n

Exemplo 4. A série
+∞
X n
(−1)n · 2 converge ou diverge?
n=0
n +1

Soluçao. A sequência (xn )n≥1 , dada por


n
xn = (−1)n · 2 ∀n ∈ N1 , é alternada.
n +1
A sequência (yn )n≥1 , dada por
n
yn = |xn | = 2∀n ∈ N1 ,
n +1
é definida pela função f , dada por
x
f (x) = 2 ∀x ∈ R,
x +1
que é diferenciável com

0 1 − x2
f (x) = < 0 ∀x ∈ (1, +∞).
(1 + x2 )2
Logo, f é estritamente decrescente em [1, +∞), portanto, a sequência (yn )n≥1 é estritamente
decrescente. Além disso, 0 é limite de (xn )n≥1 . Deste modo, pelo Teste da Série Alternada, a
série
+∞
X n
(−1)n · 2 converge.
n=1
n + 1
Assim, a série
+∞
X n
(−1)n · 2converge.
n=0
n +1
5

A série harmônica
n
+∞
1 2 n2
diverge e lim n + 1 = lim 2
X
= 1.
n n→+∞ 1 n→+∞ n + 1
n=1
n
Portanto, pelo Teste da Comparação no Limite, a série
+∞ +∞
X n X n
2 diverge e, assim, a série 2 diverge.
n=1
n +1 n=0
n +1

Observação 2 (Estimativa de Erro na Série Alternada). Seja (xn )n≥k é uma sequência alternada
tal que
∗ |xn | ≥ |xn+1 | qualquer que seja n ∈ Nk ,
∗ 0 é limite de (xn )n≥k e
∗ xk > 0.
Pela proposição 2, série
+∞
X
xn converge.
n=k
Seja (sn )n≥k a sequência de somas parcias de (xn )n≥k . Pela demonstração da proposição 2,
tem-se
X+∞
sk+2n+1 ≤ xi ≤ sk+2m quaisquer que sejam n, m ∈ N.
i=k
Assim, dado n ∈ Nk , tem-se
+∞
X
sn+1 ≤ xi ≤ sn se n = k + 2m para m ∈ N
i=k
ou
+∞
X
sn ≤ xi ≤ sn+1 se n = k + 2m + 1 para m ∈ N.
i=k
Daı́, em qualquer dos casos, tem-se
+∞
X
xi − sn ≤ |sn+1 − sn | = |xn+1 |,
i=k
ou seja, o erro En , cometido na aproximação
+∞
X +∞
X
xi ≈ sn , aproximação de xi por sn ,
i=k i=k

em módulo, não é superior a |xn+1 |.


No caso em que xk < 0, obtem-se que
+∞
X
sk+2m ≤ xi ≤ sk+2n+1 quaisquer que sejam n, m ∈ N.
i=k
6

Assim, dado n ∈ Nk , tem-se


+∞
X
sn ≤ xi ≤ sn+1 se n = k + 2m para m ∈ N
i=k
ou
+∞
X
sn+1 ≤ xi ≤ sn se n = k + 2m + 1 para m ∈ N,
i=k
donde se conclui que
+∞
X
xi − sn ≤ |sn+1 − sn | = |xn+1 |,
i=k
ou seja, a mesma estimativa de erro.
Exemplo 5. A observação 2 diz que na aproximação
+∞
X 1 1 1 1
(−1)n · ≈ −1 + − + · · · + (−1)m · ,
n=1
n 2 3 m
o erro Em cometido é limitado segundo a desigualde
1 1
|Em | ≤ (−1)m+1 · = .
m+1 m+1
Definição 3. Seja (xn )n≥k uma sequência. Dizemos que a série
+∞
X
xn converge absolutamente,
n=k

quando a série
+∞
X
|xn | converge.
n=k

Definição 4. Seja (xn )n≥k uma sequência. Dizemos que a série


+∞
X
xn converge condicionalmente,
n=k

quando ela converge e e não converge absolutamente.


Exemplo 6. A série
+∞
X 1
(−1)n · converge,
n=1
n
mas não converge absolutamente, pois a série harmônica
+∞ +∞
X 1
n
X1
(−1) · = diverge.
n=1
n 1=n
n
Temos assim um exemplo de série que converge condicionalmente.
7

Exemplo 7. A série
+∞
X 1
(−1)n · converge,
n=1
n2
e converge absolutamente pois a série
+∞ +∞
X 1 n
X 1
(−1) · 2 = converge.
n=1
n n=1
n2

Proposição 3. Seja (xn )n≥k uma sequência. Se a série


+∞
X
xn converge absolutamente,
n=k

então a série
+∞
X +∞
X +∞
X
xn converge valendo xn ≤ |xn |.
n=k n=k n=k

Demonstração. Se a série
+∞
X +∞
X
xn converge absolutamente então, por definição, a série |xn | converge.
n=k n=k

Dado x ∈ R tem-se −|x| ≤ x ≤ |x| e, daı́


0 ≤ x + |x| ≤ 2|x|. Logo, 0 ≤ xn + |xn | ≤ 2|xn | ∀n ∈ Nk .
Daı́, como a série
+∞
X
2|xn | converge, tem-se,
n=k
pelo Teste da Comparação, que a série
+∞
X
(xn + |xn |) converge.
n=k

Assim, a série
+∞
X +∞ 
X 
xn = (xn + |xn |) + (−1)|xn | converge,
n=k n=k

como soma de séries convergentes. Sejam (sn )n≥k e (tn )n≥k as sequências de somas parciais
das séries
X+∞ +∞
X
xn e |xn | respectivamente.
n=k n=k
Tem-se
|sn | = |xk + · · · + xn | ≤ |xk | + · · · + |xn | = tn ∀n ∈ Nk .
8

Daı́, passando ao limite das duas sequências, corolário 3, da aula número 35, tem-se
+∞
X +∞
X
lim |sn | ≤ lim tn , isto é, xn ≤ |xn |.
n→+∞ n→+∞
n=k n=k


Proposição 4 ( Teste da Razão ). Seja (xn )n≥k uma sequência tal que xn 6= 0 qualquer que
seja n ∈ Nk . As seguintes afirmações são verdadeiras.
∗ Se L ∈ R, L < 1 e
+∞
xn+1 X
lim = L então a série xn converge absolutamente.
n→+∞ xn n=k

∗ Se L ∈ R, L > 1 e
+∞
xn+1 X
lim = L então a série xn diverge.
n→+∞ xn n=k

∗ Se
+∞
xn+1 X
lim = +∞ então a série xn diverge.
n→+∞ xn n=k

Demonstração. Se L ∈ R, L < 1 e
xn+1 L+1
lim = L então, com r = , tem-se L < r < 1 e,
n→+∞ xn 2
assim, existe m ∈ Nk tal que
xn+1
n > m =⇒ < r.
xn
Deste modo
|xm+2 | < |xm+1 | · r,
|xm+3 | < |xm+2 | · r < |xm+1 | · r2 ,
|xm+4 | < |xm+3 | · r < |xm+1 | · r3 ,
|xm+5 | < |xm+4 | · r < |xm+1 | · r4 ,
...
|xm+j | < |xm+j−1 | · r < |xm+1 | · rj−1
qualquer que seja j ≥ 2. Portanto, via mudança de ı́ndice por n = m + j, tem-se
xm+1
0 ≤ |xn | < |xm+1 | · rn−m−1 = m+1 · rn ∀n ≥ m + 2.
r
Como a série geométrica
+∞
X +∞
X
n
r converge, a série rn converge.
n=0 n=m+2
9

Logo, a série
+∞
X xm+1
· rn converge.
n=m+2
rm+1
Daı́, pelo Teste da Comparação, a série
+∞
X +∞
X
|xn | converge e, portanto, a série |xn | converge.
n=m+2 n=k

Isto diz que a série


+∞
X
xn converge absolutamente.
n=k
Se L ∈ R, L > 1 e
xn+1 L+1
lim = L então, com r = , tem-se L > r > 1 e,
n→+∞ xn 2
assim, existe m ∈ Nk tal que
xn+1
n > m =⇒ > r.
xn
Deste modo
|xm+2 | > |xm+1 | · r,
|xm+3 | > |xm+2 | · r > |xm+1 | · r2 ,
|xm+4 | > |xm+3 | · r > |xm+1 | · r3 ,
|xm+5 | > |xm+4 | · r > |xm+1 | · r4 ,
...
|xm+j | > |xm+j−1 | · r > |xm+1 | · rj−1
qualquer que seja j ≥ 2. Portanto, via mudança de ı́ndice por n = m + j, tem-se
xm+1
|xn | > |xm+1 | · rn−m−1 = m+1 · rn ∀n ≥ m + 2.
r
Daı́, como
xm+1
lim · rn = +∞, tem-se que lim |xn | = +∞.
n→+∞ r m+1 n→+∞
Logo, 0 não é limite da sequência (|xn |)n≥k , consequentemente, nem da sequência (xn )n≥k .
Assim, a série
+∞
X
xn diverge.
n=k
Se
xn+1
lim = +∞ então, por exemplo,
n→+∞ xn
existe m ∈ Nk tal que
xn+1
n > m =⇒ > 2.
xn
10

Deste modo
|xm+2 | > |xm+1 | · 2,
|xm+3 | > |xm+2 | · 2 > |xm+1 | · 22 ,
|xm+4 | > |xm+3 | · 2 > |xm+1 | · 23 ,
|xm+5 | > |xm+4 | · 2 > |xm+1 | · 24 ,
...
|xm+j | > |xm+j−1 | · r > |xm+1 | · 2j−1
qualquer que seja j ≥ 2. Portanto, via mudança de ı́ndice por n = m + j, tem-se
xm+1
|xn | > |xm+1 | · 2n−m−1 = n
m+1 · 2 ∀n ≥ m + 2.
r
Daı́, como
xm+1 n
lim m+1 · 2 = +∞, tem-se que n→+∞ lim |xn | = +∞.
n→+∞ 2
Logo, 0 não é limite da sequência (|xn |)n≥k , consequentemente, nem da sequência (xn )n≥k .
Assim, a série
+∞
X
xn diverge.
n=k


Exemplo 8. Sejam x 6= 0 em R e a série
+∞ n
X x
.
n=0
n!

Tem-se
xn+1
(n + 1)! xn+1 n! 1
lim = lim · = lim |x| · = 0.
n→+∞ xn n→+∞ x n
(n + 1)! n→+∞ n+1
n!
Portanto, pelo Teste da Razão, a série
+∞ n
X x
converge absolutamente.
n=0
n!

Perceba que esta série converge absolutamente qualquer que seja x ∈ R.


Exemplo 9. A série
+∞ n
X n
converge?
n=0
n!
11

Soluçao. Tem-se
(n + 1)n+1
(n + 1)! (n + 1)n+1 n!
lim = lim ·
n→+∞ nn n→+∞ n n
(n + 1)!
n!
(n + 1)n+1 1
= lim n ·
n→+∞ n n+1
n  n
(n + 1) n+1
= lim = lim
n→+∞ nn n→+∞ n
 n
1
= lim 1 + = e > 1.
n→+∞ n
Portanto, pelo Teste da Razão, a série
+∞ n
X n
diverge.
n=0
n!

Exemplo 10. A série
+∞
X n
(−1)n · converge?
n=0
3n
Soluçao. Tem-se
n+1
(−1)n+1 · n
lim 3n+1 = lim n + 1 · 3 = lim 1 · n + 1 = 1 < 1.
n n 3n+1 n→+∞ 3 n 3
n→+∞
(−1)n · n n→+∞
3
Logo, pelo Teste da Razão, a série
+∞
X n
(−1)n · converge absolutamente.
n=0
3n

Observação 3. A série harmônica
1
+∞
1 n
diverge, com lim n + 1 = lim
X
= 1,
n n→+∞ 1 n→+∞ n + 1
n=1
n
e a série
1
+∞ 2
(n + 1)2

X 1 n
lim
2 converge, com n→+∞ = lim = 1.
n 1 n→+∞ n + 1
n=1
n2
12

Isto diz que, sendo (xn )n≥k uma sequência com xn 6= 0 ∀n ∈ Nk , o Teste da Razão, sobre a
convergência da série
+∞
X xn+1
xn , não é conclusivo quando lim = 1.
n=k
n→+∞ xn
AULA 39
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula apresenta mais um critério de convergência/divergência para séries, e introduz o


estudo de séries de potências.
Proposição 1 ( Teste da Raiz ). Seja (xn )n≥k uma sequência. As seguintes afirmações são
verdadeiras.
∗ Se L ∈ R, L < 1 e
+∞
X
p
lim n |xn | = L, então a série xn converge absolutamente.
n→+∞
n=k

∗ Se L ∈ R, L > 1 e
+∞
X
p
n
lim |xn | = L, então a série xn diverge.
n→+∞
n=k
∗ Se
+∞
X
p
n
lim |xn | = +∞, então a série xn diverge.
n→+∞
n=k

Demonstração. Se L ∈ R, L < 1 e
p L+1
lim n |xn | = L então, com r = , tem-se L < r < 1 e,
n→+∞ 2
assim, existe m ∈ Nk tal que
p
n > m =⇒ n |xn | < r =⇒ |xn | < rn ,
ou seja,
|xn | < rn qualquer que seja n > m.
Como a série geométrica
+∞
X +∞
X
n
r converge, a série rn converge.
n=0 n=m+1

Daı́, pelo Teste da Comparação, a série


+∞
X +∞
X
|xn | converge e, portanto, a série |xn | converge.
n=m+1 n=k

Isto diz que a série


+∞
X
xn converge absolutamente.
n=k
Se L ∈ R, L > 1 e
p
n L+1
lim |xn | = L então, com r = , tem-se L > r > 1 e,
n→+∞ 2

1
2

assim, existe m ∈ Nk tal que


p
n > m =⇒ n
|xn | > r =⇒ |xn | > rn ,
ou seja,
|xn | > rn qualquer que seja n > m.
Daı́, como
lim rn = +∞, tem-se que lim |xn | = +∞.
n→+∞ n→+∞
Logo, 0 não é limite da sequência (|xn |)n≥k , consequentemente, nem da sequência (xn )n≥k .
Assim, a série
+∞
X
xn diverge.
n=k
Se p
n
lim |xn | = +∞ então, por exemplo,
n→+∞
existe m ∈ Nk tal que p
n > m =⇒ n
|xn | > 2 =⇒ |xn | > 2n ,
ou seja,
|xn | > 2n qualquer que seja n > m.
Daı́, como
lim 2n = +∞, tem-se que lim |xn | = +∞.
n→+∞ n→+∞
Logo, 0 não é limite da sequência (|xn |)n≥k , consequentemente, nem da sequência (xn )n≥k .
Assim, a série
+∞
X
xn diverge.
n=k

Exemplo 1. A série
+∞  2 n
X n +1
2 converge ou diverge?
n=0
2n + 3
Soluçao. Tem-se
s n s
2 n
n2 + 1 n2 + 1
  
n n +1 n 1
lim = lim = lim = < 1.
n→+∞ 2n2 + 3 n→+∞ 2n2 + 3 n→+∞ 2n2 + 3 2
Daı́, pelo Teste da Raiz, proposição 1, a série
+∞  2 n
X n +1
2 converge absolutamente.
n=0
2n + 3

Exemplo 2. A série
+∞  n
X n
converge ou diverge?
n=2
ln(n)
3

Soluçao. Tem-se
s n s
n
n n n n n n
= = = ∀n ≥ 2.
ln(n) ln(n) ln(n) ln(n)
A sequência
 
n x
é gerada pela função f dada por f (x) =
ln(n) n≥2 ln(x)
qualquer que seja x > 0 com x 6= 1. Como
x 1
lim f (x) = lim = lim = lim x = +∞,
x→+∞ x→+∞ ln(x) x→+∞ 1/x x→+∞

tem-se
n
lim = +∞. Daı́, pelo Teste da Raiz,
n→+∞ ln(n)

a série
+∞  n
X n
diverge.
n=2
ln(n)

Exemplo 3. A série
+∞  n  n
X 1 1
1+ diverge, porque lim 1 + = e 6= 0,
n=0
n n→+∞ n
com s s
n  n
n 1 n 1 1
lim 1+ = lim 1+ = lim 1+ = 1.
n→+∞ n n→+∞ n n→+∞ n
Exemplo 4. Dado p > 0, a sequência
√ 
n
np é gerada pela função f dada por f (x) = xp/x ∀x > 0.
n≥1

Como
p ln(x) p ln(x) p
lim lim
x x 0
= lim e x
x→+∞ x→+∞
lim xp/x =e =e = e = 1,
x→+∞ x→+∞

tem-se

lim n
np = lim np/n = 1.
n→+∞ n→+∞

Assim, a série
s
+∞
X 1 n 1 1
converge com lim lim √
2 = n→+∞ = 1.
n=1
n2 n→+∞ n n
n2
4

O exemplos 3 e 4 dizem que, sendo (xn )n≥k uma sequência, o Teste da Raiz, sobre a con-
vergência da série
+∞
X p
xn , não é conclusivo quando lim |xn | = 1.
n→+∞
n=k

Definição 1. Sejam p ∈ R e uma sequência (an )n≥k . A série


+∞
X
an (x − p)n é denominada
n=k

série de potências centrada em p, ou série de potências em (x − p), com coeficientes dados pela
sequência (an )n≥k .
Observação 1. Perceba que dada uma série de potências
+∞
X
an (x − p)n , tem-se, de fato,
n=k
não uma série, mas uma famı́lia de séries indexadas pela variável x. Isto é, a cada x ∈ R está
associdada a série
+∞
X
an (x − p)n ,
n=k
n
gerada pela sequência (an (x − p) )n≥k . Assim, é claro que que a convergência, ou divergência,
da série
+∞
X
an (x − p)n ,
n=k
depende do valor de x. Dito isto, tem-se a seguinte definição.
Definição 2. Sejam p ∈ R e uma sequência (an )n≥k . O conjunto de convergência da série de
potências
+∞
X
an (x − p)n ,
n=k
é o conjunto S definido por
( +∞
)
X
S := x ∈ R a série an (x − p)n converge .
n=k

Observação 2. Dados p ∈ R e uma sequência (an )n≥k , a série


+∞ +∞ 
X
n
X
n a0 se k = 0,
an (p − p) converge (absolutamente) com an (p − p) =
0 se k > 1.
n=k n=k
Daı́ o conjunto S, de convergência da série de potências
+∞
X
an (x − p)n ,
n=k
não é vazio porque p ∈ S.
5

Exemplo 5. A série geométrica


+∞
X +∞
X
xn é a série de potências an (x − p)n ,
n=0 n=0

onde p = 0 e an = 1 qualquer que seja n ∈ N. Sabe-se, portanto, que seu conjunto de


convergência é o intervalo aberto (−1, 1). Observe que dado x ∈ (−1, 1) tem-se |x| < 1 e,
assim,
+∞
X +∞
X
|xn | = |x|n converge.
n=0 n=0
Portanto, a série
+∞
X
xn converge absolutamente qualquer que seja x ∈ (−1, 1).
n=0

Exemplo 6. Dado p ∈ R, qual conjunto de convergência da série de potências


+∞ +∞
X (x − p)n X 1
= · (x − p)n ?
n=0
n! n=0
n!

Soluçao. Dado x 6= p tem-se


(x − p)n+1
(n + 1)! (x − p)n+1 n! 1
lim n = lim n · = lim |x − p| · = 0.
n→+∞ (x − p) n→+∞ (x − p) (n + 1)! n→+∞ n+1
n!
Assim, pelo Teste da Razão, a série
+∞
X (x − p)n
converge absolutamente.
n=0
n!
Portanto, a série
+∞
X (x − p)n
converge absolutamente ∀x ∈ R.
n=0
n!

Exemplo 7. Dado p ∈ R, qual o conjunto de convergência da série de potências
+∞ +∞
X (x − p)n X 1
= · (x − p)n ?
n=1
n n=1
n

Soluçao. Dado x 6= p tem-se


(x − p)n+1
n+1 (x − p)n+1 n n
lim n = lim n · = lim |x − p| · = |x − p|.
n→+∞ (x − p) n→+∞ (x − p) n + 1 n→+∞ n+1
n
6

Assim, pelo Teste da Razão e pela observação 2, a série


+∞
X (x − p)n
converge absolutamente se |x − p| < 1 e diverge se |x − p| > 1.
n=1
n
Para x = p + 1 tem-se a série harmônica
+∞ +∞
X (x − p)n X 1
= , que diverge.
n=1
n n=0
n
Para x = p − 1 tem-se a série alternada
+∞ +∞
X (x − p)n X (−1)n
= , que converge,
n=1
n n=0
n
mas não converge absolutamente.
Portanto, o conjunto de convergência S, da série
+∞
X (x − p)n
, é o intervalo S = [p − 1, p + 1).
n=1
n

Exemplo 8. Dado p ∈ R, qual o conjunto de convergência da série de potências
+∞ +∞
X (p − x)n X 1
= (−1)n · · (x − p)n ?
n=1
n n=1
n
Soluçao. Dado x 6= p tem-se
(x − p)n+1
(−1)n+1 (x − p)n+1 n
lim n+1 = lim ·
n n
n→+∞ (x − p) n→+∞ (x − p) n+1
(−1)n
n
n
= lim |x − p| · = |x − p|.
n→+∞ n+1
Assim, pelo Teste da Razão e pela observação 2, a série
+∞
X (p − x)n
converge absolutamente se |x − p| < 1 e diverge se |x − p| > 1.
n=1
n
Para x = p − 1 tem-se a série harmônica
+∞ +∞
X (p − x)n X 1
= , que diverge.
n=1
n n=0
n
Para x = p + 1 tem-se a série alternada
+∞ +∞
X (p − x)n X (−1)n
= , que converge,
n=1
n n=0
n
mas não converge absolutamente.
7

Portanto, o conjunto de convergência S, da série


+∞
X (p − x)n
, é o intervalo S = (p − 1, p + 1].
n=1
n


Exemplo 9. Dado p ∈ R, qual o conjunto de convergência da série de potências
+∞ +∞
X (x − p)n X 1 n
= 2 · (x − p) ?
n=1
n2 n=1
n

Soluçao. Dado x 6= p tem-se


− p)n+1
n+1 (x
(−1)
(n + 1)2 (x − p)n+1 n2
lim n = lim ·
n→+∞ (x − p) n→+∞ (x − p)n (n + 1)2
(−1)n
n2
 2
n
= lim |x − p| · = |x − p|.
n→+∞ n+1
Assim, pelo Teste da Razão e pela observação 2, a série
+∞
X (x − p)n
converge absolutamente se |x − p| < 1 e diverge se |x − p| > 1.
n=1
n2

Para x = p + 1 tem-se a série


+∞ +∞
X (x − p)n X 1
= 2 , que converge.
n=1
n2 n=0
n

Para x = p − 1 tem-se a série alternada


+∞ +∞
X (x − p)n X (−1)n
= , que converge absolutamente.
n=1
n2 n=0
n2

Portanto, o conjunto de convergência S, da série


+∞
X (x − p)n
, é o intervalo fechado S = [p − 1, p + 1].
n=1
n2


Exemplo 10. Dado p ∈ R, qual o conjunto de convergência da série de potências
+∞
X
n · (x − p)n ?
n=0
8

Soluçao. Dado x 6= p tem-se


(n + 1) · (x − p)n+1 (x − p)n+1 n + 1
lim = lim ·
n→+∞ n · (x − p)n n→+∞ (x − p)n n
n+1
= lim |x − p| · = |x − p|.
n→+∞ n
Assim, pelo Teste da Razão e pela observação 2, a série
+∞
X
n · (x − p)n converge absolutamente se |x − p| < 1 e diverge se |x − p| > 1.
n=0

Para x = p + 1 tem-se a série


+∞
X +∞
X
n
n · (x − p) = n, que diverge.
n=0 n=0

Para x = p − 1 tem-se a série alternada


+∞
X +∞
X
n
n · (x − p) = n · (−1)n , que diverge.
n=0 n=0

Portanto, o conjunto de convergência S, da série


+∞
X
n · (x − p)n , é o intervalo aberto S = (p − 1, p + 1).
n=0


Exemplo 11. Dado p ∈ R, qual o conjunto de convergência da série de potências
+∞
X
n! · (x − p)n ?
n=0

Soluçao. Dado x 6= p tem-se


(n + 1)! · (x − p)n+1 (x − p)n+1 (n + 1)!
lim = lim ·
n→+∞ n! · (x − p)n n→+∞ (x − p)n n!
= lim |x − p| · (n + 1) = +∞
n→+∞

Assim, pelo Teste da Razão, a série


+∞
X
n! · (x − p)n diverge.
n=0

Portanto, o conjunto de convergência S, da série


+∞
X
n!(x − p)n , é o conjunto unitário S = { p } .
n=0


9

Teorema 1. Seja (an )n≥k uma sequência e x0 6= 0 em R. Se a série


+∞
X +∞
X
an xn0 converge então a série an x n
n=k n=k

converge absolutamente qualquer que seja x ∈ (−|x0 |, |x0 |).


Demonstração. Se a série
+∞
X
an xn0 converge então lim an xn0 = 0.
n→+∞
n=k

Portanto, a sequência (an xn0 )n≥k é limitada, isto é, existe M > 0 tal que
|an xn0 | < M qualquer que seja n ∈ Nk .
Assim, dado x ∈ R, tem-se
n
xn xn xn x
0 ≤ |an xn | = an xn0 · n = |a x
n 0
n
| · n ≤ M · n = M · ∀n ∈ Nk .
x0 x0 x0 x0
Daı́, se x ∈ (−|x0 |, |x0 |) então |x| < |x0 | e, portanto, a série geométrica
+∞ n
X x x
converge porque < 1.
n=k
x0 x0
Logo, a série
+∞ n +∞
X x X
M· converge e, por comparação, a série |an xn | converge.
n=k
x0 n=k

Deste modo a série


+∞
X
an xn converge absolutamente.
n=k

Corolário 1. Seja (an )n≥k uma sequência e x0 6= 0 em R. Se a série
+∞
X +∞
X
an xn0 diverge então a série an x n
n=k n=k

diverge qualquer que seja x ∈ (−∞, −|x0 |) ∪ (|x0 |, +∞).


Demonstração. Seja (an )n≥k uma sequência e x0 6= 0 em R tal que a série
+∞
X
an xn0 diverge.
n=k

Dado x ∈ (−∞, −|x0 |) ∪ (|x0 |, +∞), suponha que a série


+∞
X
an xn converge.
n=k
10

Como x 6= 0 e x0 ∈ (−|x|, |x|) tem-se, pelo teorema 1, que a série


+∞
X +∞
X
an xn0 converge absolutamente e, assim, a série an xn0 converge,
n=k n=k
o que é uma absurdo. Portanto, a série
+∞
X
an xn diverge.
n=k

Corolário 2. Sejam (an )n≥k uma sequência, p ∈ R e x0 6= p em R. Se a série
+∞
X +∞
X
n
an (x0 − p) converge então a série an (x − p)n
n=k n=k

converge absolutamente qualquer que seja x ∈ R tal que |x − p| < |x0 − p|.
Corolário 3. Sejam (an )n≥k uma sequência, p ∈ R x0 6= p em R. Se a série
+∞
X +∞
X
n
an (x0 − p) diverge então a série an (x − p)n
n=k n=k

diverge qualquer que seja x ∈ R tal que |x − p| > |x0 − p|.


Teorema 2. Dados uma sequência (an )n≥k , p ∈ R e a série de potências
+∞
X
an (x − p)n ,
n=k
uma e somente uma das três afirmações é verdadeira.
∗ A série de potências converge somente em x = p.
∗ A série de potências converge em cada x ∈ R.
∗ Existe R > 0 tal que série de potências converge absolutamente em cada x ∈ R para o
qual |x − p| < R e diverge em cada x ∈ R para o qual |x − p| > R.
(No primeiro caso dizemos que o raio de convergência da série de potências é 0, no segundo
caso dizemos que o raio de convergência da série de potências é +∞ e no terceiro caso dizemos
que o raio de convergência da série de potências é R.)
Demonstração. Se a série de potências converge somente em x = p, então não são verdadeiras
a segunda e a terceira afirmações.
Se a série de potências converge em cada x ∈ R, então não são verdadeiras a primeira e a
terceira afirmações.
Se a primeira e a segunda afirmações não são verdadeiras, então existem x1 6= p tal que a
série de potências converge e existe x2 6= p tal que a série de potências diverge. Daı́, pelo
corolário 2, 0 < |x1 − p| ≤ |x2 − p|. Seja
( +∞
)
X n
S := |x − p| x ∈ R e an (x − p) converge absolutamente .
n=k
11

O conjunto S não é vazio porque 0 ∈ S. Além disso, pelo corolário 2, o intervalo [0, |x1 − p|)
está contido em S e, pelo corolário 3, S está contido no intervalo [0, |x2 − p|]. Assim, o conjunto
S é limitado superiormente. Logo, S possui supremo R ≥ |x1 − p| > 0.
Se x ∈ R e |x − p| < R então |x − p| não é cota superior de S. Assim, existe x0 ∈ R tal que
|x − p| < |x0 − p| ≤ R e a série
+∞
X
an (x0 − p)n converge absolutamente.
n=k

Logo, a série
+∞
X
an (x0 − p)n converge.
n=k
Portanto, pelo corolário 2, a série
+∞
X
an (x − p)n converge absolutamente.
n=k

Seja x ∈ R tal que |x − p| > R. Se a série


+∞
X
an (x − p)n converge
n=k

então, pelo corolário 2, escolhendo x0 ∈ R com |x − p| > |x0 − p| > R, a série


+∞
X
an (x0 − p)n converge absolutamente,
n=k

o que é um absurdo porque R é cota superior de S. Portanto, a série


+∞
X
an (x − p)n diverge.
n=k


Observação 3. Sejam uma sequência (an )n≥k e p ∈ R. Se a série de potências
+∞
X
an (x − p)n possui raio de convergência igual a +∞,
n=k

então a série
+∞
X
an (x − p)n converge absolutamente em cada x ∈ R.
n=k

Demonstração. Suponha que a série de potências


+∞
X
an (x − p)n possui raio de convergência igual a +∞.
n=k
12

Então, dado x ∈ R, tomando x0 ∈ R tal que |x0 − p| > |x − p|, a série


+∞
X
an (x0 − p)n converge.
n=k
Logo, pelo corolário 2, a série
+∞
X
an (x − p)n converge absolutamente.
n=k

O terema 2 diz, portanto, que o conjunto de convergência S de uma série de potências
+∞
X
an (x − p)n
n=k

∗ ou é o conjunto unitário S = { p }, com raio de convergência R = 0,


∗ ou é o conjunto dos números reais S = R, com raio de convergência R = +∞,
∗ ou é um dos intervalos
(p − R, p + R), [p − R, p + r), (p − R, p + R], [p − R, p + R],
com raio de convergência real R > 0.
Deste modo o conjunto de convergência de uma série de potências é sempre um intervalo de R,
não podendo ser um intervalo do tipo
(a, +∞), [a, +∞), (−∞, a), (−∞, a]
ou um conjunto do tipo
(−∞, a) ∪ (b, +∞) ou (−∞, a] ∪ [b, +∞),
onde a, b ∈ R com a < b. Entendido?
AULA 40
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

O objetivo desta aula é expressar certas funções como séries de potências e, a partir dessas
representações, obter as derivadas e primitivas também como séries de potências.
Sabe-se que a série geométrica
+∞ +∞
X
n
X 1
x converge absolutamente, com xn = , se x ∈ (−1, 1)
n=0 n=0
1−x

e diverge se |x| ≥ 1. Daı́, dado p 6= 0 em R, tem-se


+∞  n +∞
1 1 1 1 X x X 1 n x
= · x = · = n+1 · x se < 1,
p−x p 1− p n=0 p n=0
p p
p
isto é, se x ∈ (−|p|, |p|). Observe que tem-se convergência absoluta se |x| < |p| e a série
diverge de |x| ≥ |p|. Desta forma, tem-se
+∞
1 1 X 1 n
=− =− n+1 x se |x| < |p|.
x−p p−x n=0
p

Daı́, por exemplo, tem-se


+∞
1 X 1 n
= n+1 · x se x ∈ (−2, 2) e
2−x n=0
2
+∞ +∞
1 1 X 1 n
X (−1)n n
= =− n+1 · x = n+1 · x se x ∈ (−2, 2).
x + 2 x − (−2) n=0
(−2) n=0
2

Veja também que, dado p ∈ R, tem-se,


+∞
1 1 X
= = (x − p)n se x ∈ (p − 1, p + 1),
p+1−x 1 − (x − p) n=0

com a respectiva série convergindo absolutamente se |x − p| < 1 e divergindo se |x − p| ≥ 1.


Assim, por exemplo,
+∞
1 1 X
= = (x − 3)n se |x − 3| < 1.
4−x 1 − (x − 3) n=0

Continuando com a aplicação da série geométrica, dado p 6= 0, tem-se


+∞ +∞
1 X 1
2 n
X 1
2n x2
= · (x ) = · x se < 1,
p − x2 n=0
pn+1 n=0
pn+1 p

1
2
p
isto é, se |x| < |p|. Assim, por exemplo, tem-se
1 1 1
2 = 2 =
5 + 2x − x 9 − (x − 2x + 4) 9 − (x − 2)2
+∞
X 1 2n
= n+1 · (x − 2) se |x − 2| < 3.
n=0
9
Observação 1. Para o que seque lembre que, dados p ∈ R e R > 0, tem-se
|x − p| < R ⇐⇒ x ∈ (p − R, p + R),
|x − p| ≤ R ⇐⇒ x ∈ [p − R, p + R],
|x − p| > R ⇐⇒ x ∈ (−∞, p − R) ∪ (p + R, +∞) e
|x − p| ≥ R ⇐⇒ x ∈ (−∞, p − R] ∪ [p + R, +∞).
Também lembre o Teorema de Taylor, cujo enunciado e demonstração serão novamente apre-
sentados nesta aula. Este teorema já foi enunciado e demonstrado na disciplina “Cálculo Dife-
rencial e Integral I”.
Teorema 1 (Teorema de Taylor). Seja a, b ∈ R, com a < b, n ∈ N e f uma função. Se f é de
classe C n em [a, b] e é n + 1 vezes diferenciável em (a, b), então existe c ∈ (a, b) tal que
f 00 (a) f 000 (a)
f (b) = f (a) + f 0 (a) · (b − a) + · (b − a)2 + · (b − a)3 + · · ·
2! 3!
f (n−1) (a) f (n) (a) f (n+1) (c)
+ · (b − a)n−1 + · (b − a)n + · (b − a)n+1 .
(n − 1)! n! (n + 1)!
Atenção: observe a última parcela da soma acima, a qual não segue o padrão de formação das
demais!
Demonstração. Suponha que f é de classe C n em [a, b] e é n + 1 vezes diferenciável em (a, b).
Seja, então, a função g : [a, b] −→ R dada por
f 00 (x) f 000 (x)
F (x) = f (x) + f 0 (x) · (b − x) + · (b − x)2 + · (b − x)3 + · · ·
2! 3!
f (n−1) (x) f (n)
(x)
+ · (b − x)n−1 + · (b − x)n .
(n − 1)! n!
Como f é de classe C n em [a, b], tem-se que F é contı́nua em [a, b] e, como F é n + 1 vezes
diferenciável em (a, b), tem-se que F é diferenciável em (a, b) com
F 0 (x) = f 0 (x) − f 0 (x) + f 00 (x) · (b − x) − f 00 (x) · (b − x)
f (3) (x) f (3) (x) f (4) (x)
+ · (b − x)2 − · (b − x)2 + · (b − x)3 − · · ·
2! 2! 3!
f (n−1) (x) f (n) (x) f (n) (x)
− · (b − x)n−2 + · (b − x)n−1 − · (b − x)n−1
(n − 2)! (n − 1)! (n − 1)!
f (n+1) (x) n f (n+1) (x)
+ · (b − x) = · (b − x)n ∀x ∈ (a, b),
n! n!
3

isto é,
f (n+1) (x)
F 0 (x) = · (b − x)n+1 ∀x ∈ (a, b)
n!
Além disso, seja G : [a, b] −→ R a função dada por
G(x) = (b − x)n+1 .
A função G é contı́nua em [a, b] e é diferenciável em (a, b) com
G0 (x) = −(n + 1) · (b − x)n 6= 0 ∀x ∈ (a, b).
Portanto, pelo Teorema do Valor Médio de Cauchy, existe c ∈ (a, b) tal que
F (b) − F (a) F 0 (c)
= 0
G(b) − G(a) G (c)
isto é,
f (n+1) (c)
f (b) − F (a) · (b − c)n
= n!
−(b − a)n+1 −(n + 1) · (b − c)n
ou seja,
f (n+1) (c)
f (b) − F (a) = · (b − a)n+1 ,
(n + 1)!
o que dá
0 f 00 (a) 2 f 000 (a)
f (b) = f (a) + f (a) · (b − a) + · (b − a) + · (b − a)3 + · · ·
2! 3!
(n−1) (n)
f (c) n−1 f (a) n f (n+1) (c)
+ · (b − a) + · (b − a) + · (b − a)n+1 .
(n − 1)! n! (n + 1)!

Observe, com atenção, que a demonstração do Teorema de Taylor diz que vale a sua seguinte
variação. A demonstração é a mesma, bastando trocar a com b.
Teorema (Teorema de Taylor). Seja a, b ∈ R, com b < a, n ∈ N e f uma função. Se f é de
classe C n em [b, a] e é n + 1 vezes diferenciável em (b, a) então existe c ∈ (b, a) tal que
f 00 (a) f 000 (a)
f (b) = f (a) + f 0 (a) · (b − a) + · (b − a)2 + · (b − a)3 + · · ·
2! 3!
f (n−1) (a) f (n) (a) f (n+1) (c)
+ · (b − a)n−1 + · (b − a)n + · (b − a)n+1 .
(n − 1)! n! (n + 1)!
Perceba que o Teorema de Taylor é o Teorema do Valor Médio quando n = 0.
Proposição 1. Sejam (an )n≥k uma sequência e R > 0. Se R é o raio de convergência da série
+∞
X +∞
X
an xn então R é o raio de convergência da série nan xn−1 ,
n=k n=k1

onde k1 = maior{ 1, k }.
4

Demonstração. Suponha que R > 0 é o raio de convergência de série


+∞
X
an xn . Então, dado x ∈ (−R, R), seja z ∈ (−R, R) talque |x| < |z|.
n=k

Como a série
+∞
X
an z n converge absolutamente, ela converge. Logo, lim an z n = 0.
n→+∞
n=k

Deste modo a sequência (an z n )n≥k é limitada, ou seja, existe M > 0 tal que
|an z n | ≤ M qualquer que seja n ∈ Nk .
Veja agora que
zn |an z n | xn−1 M x n−1
0 ≤ |nan xn−1 | = nan xn−1 n = n · n−1 ≤ n ∀n ≥ k1 .
z |z| z |z| z
Observe também que
x n
(n + 1) n+1 x x
lim z = lim · = < 1.
n→+∞x n−1 n→+∞ n z z
n
z
Daı́, pelo Teste da Razão, a série
+∞ +∞
X x n−1 X M x n−1
n converge e, assim, a série n converge.
n=k1
z n=k
|z| z
1

Portanto, pelo Teste da Comparação, a série


+∞
X +∞
X
n−1
|nan x | converge, isto é, a série nan xn−1 converge absolutamente.
n=k1 n=k1

Seja, agora, x ∈ R tal que |x| > R. Suponha que a série


+∞
X
nan xn−1 converge. Seja, então, z ∈ R tal que R < |z| < |x|.
n=k1

Pelo teorema teorema 1, da aula número 40, a série


+∞
X +∞
X
nan z n−1 converge absolutamente, isto é, a série |nan z n−1 | converge.
n=k1 n=k1

Daı́, a série
+∞
X +∞
X
n
|nan z | = |z| |nan z n−1 | converge.
n=k1 n=k1
5

Como 0 ≤ |an z n | ≤ n|an z n | = |nan z n | qualquer que seja n ≥ k1 tem-se, pelo Teste da
Comparação, que a série
+∞
X +∞
X
n
|an z | converge e, assim, a série |an z n | converge,
n=k1 n=k

isto é, a série


+∞
X
an z n converge absolutamente,
n=k
o que é um absurdo, pois |z| > R. Portanto, a série
+∞
X
nan xn−1 não converge.
n=k1

Isto diz que R é o raio de convergência da série


+∞
X
nan xn−1 .
n=k1


Proposição 2. Sejam (an )n≥k uma sequência. Se o raio de convergência da série
+∞
X +∞
X
n
an x é + ∞, então o raio de convergência da série nan xn−1 é + ∞,
n=k n=k1

onde k1 = maior{ 1, k }.
Demonstração. Suponha que o raio de convergência de série
+∞
X
an xn é + ∞. Então, dado x ∈ R, seja z ∈ R talque |x| < |z|.
n=k
Como a série
+∞
X
an z n converge absolutamente, ela converge. Logo, lim an z n = 0.
n→+∞
n=k

Deste modo a sequência (an z n )n≥k é limitada, ou seja, existe M > 0 tal que
|an z n | ≤ M qualquer que seja n ∈ Nk .
Veja agora que
zn |an z n | xn−1 M x n−1
0 ≤ |nan xn−1 | = nan xn−1 n = n · n−1 ≤ n ∀n ≥ k1 .
z |z| z |z| z
Observe também que
x n
(n + 1) n+1 x x
lim z = lim · = < 1.
n→+∞ x n−1 n→+∞ n z z
n
z
6

Daı́, pelo Teste da Razão, a série


+∞ +∞
X x n−1 X M x n−1
n converge e, assim, a série n converge.
n=k1
z n=k
|z| z
1

Portanto, pelo Teste da Comparação, a série


+∞
X +∞
X
n−1
|nan x | converge, isto é, a série nan xn−1 converge absolutamente.
n=k1 n=k1


Perceba que a demonstração da proposição 2 é, essencialmente, a primeira parte da demonstração
da proposição 1. Seja (xn )n≥k uma sequência. E se o raio de convergência da série
+∞
X
an xn é zero?
n=k

Proposição 3. Sejam (an )n≥k uma sequência. As séries


+∞
X +∞
X
n
an x e nan xn−1 ,
n=k n=k1

onde k1 = maior{ 1, k }, têm o mesmo raio de convergência.


Demonstração. Se o raio de convergência da série
+∞
X
nan xn−1 não é nulo,
n=k1

então existe z 6= 0 em R tal que a série


+∞
X
nan z n−1 converge absolutamente.
n=k1

Portanto, a série
+∞
X +∞
X
z nan z n−1 = nan z n converge absolutamente.
n=k1 n=k1

Como
0 ≤ |an z n | ≤ |nan z n | qualquer que seja n ≥ k1 ,
tem-se, pelo Teste da Comparação, que a série
+∞
X +∞
X
n
an z converge absolutamente. Assim, a série an z n
n=k1 n=k

converge absolutamente. Deste modo o raio de convergência da série


+∞
X
an xn não é nulo.
n=k
7

Portanto, pelas proposiões 1 e 2, as duas séries têm o mesmo raio de convergência. 


Aplicando sucessivamente a proposicão 3 tem-se o seguinte corolário.
Corolário 1. Seja (an )n≥k uma sequência. Dado m > 1, as séries
+∞
X +∞
X
n
an x e n(n − 1) · · · (n − m + 1)an xn−m ,
n=k n=km

onde km = maior{ m, k }, têm o mesmo raio de convergência.


Corolário 2. Sejam (an )n≥k uma sequência e p ∈ R. Dado m > 1, as séries
+∞
X +∞
X
n
an (x − p) e n(n − 1) · · · (n − m + 1)an (x − p)n−m ,
n=k n=km

onde km = maior{ m, k }, têm o mesmo raio de convergência.


Corolário 3. Seja (an )n≥k uma sequência. As séries
+∞ +∞ +∞
X
n
X an n+1 X am−1 m
an x e x = x
n=k n=k
n+1 m=k+1
m
possuem o mesmo raio de convergência.
Corolário 4. Sejam (an )n≥k uma sequência e p ∈ R. As séries
+∞ +∞ +∞
X X
n an n+1
X am−1
an (x − p) e (x − p) = (x − p)m
n=k n=k
n+1 m=k+1
m
possuem o mesmo raio de convergência.
Exemplo 1. Pela proposição 3, e seus corolários, as séries de potências
+∞
X
xn = 1 + x + x2 + x3 + x4 + x5 + x6 + · · · ,
n=0
+∞
X
nxn−1 = 1 + 2x1 + 3x2 + 4x3 + 5x4 + 6x5 + 7x6 + · · · ,
n=1
+∞
X
n(n − 1)xn−2 = 2 + 6x + 12x2 + 20x3 + 30x4 + 42x5 + 56x6 + · · · e
n=2
+∞
X xn+1 x2 x3 x4 x5 x 6 x7
=x+ + + + + + + ···
n=0
n+1 2 3 4 5 6 7
possuem o mesmo raio de convergência R = 1. 
Exemplo 2. Seja p ∈ R. O exemplo 9, da aula número 40, diz que a série de potências
+∞ +∞
X (x − p)n X 1 n
= 2 · (x − p)
n=1
n2 n=1
n
8

possui raio de convegência igual a 1 e intervalo de convergência igual a [p − 1, p + 1]. O


exemplo 7, da aula número 40, diz que a série de potências
+∞ +∞
X (x − p)n X 1
= · (x − p)n
n=1
n n=1
n
possui raio de convegência igual a 1 e intervalo de convergência igual a [p − 1, p + 1). Daı́, a
série
+∞ +∞
1 X 1 n
X 1
· · (x − p) = · (x − p)n−1
x − p n=1 n n=1
n
converge ∀x 6= p em [p − 1, p + 1) e diverge ∀x 6∈ [p − 1, p + 1), isto é, a série de potências
+∞
X 1
· (x − p)n−1
n=1
n
possui raio de convegência igual a 1 e intervalo de convergência igual a [p − 1, p + 1).
Seja (an )n≥k uma sequência. A proposição 3, e seus corolários, dizem que as séries de
potências
+∞
X X+∞
an (x − p)n e nan (x − p)n−1 ,
n=k n=k1

onde k1 = maior{ 1, k }, têm o mesmo raio de convergência. Mas isso não significa que pos-
suem o mesmo intervalo de convergência, como diz este exemplo. 
Teorema 2. Sejam R > 0, (an )n≥k uma sequência tal que a série
+∞
X
an xn possui raio de convergência R
n=k

e f : (−R, R) −→ R a função definida por


+∞
X
f (x) = an xn ∀x ∈ (−R, R).
n=k

A função f é diferenciável valendo


+∞
X
f 0 (x) = nan xn−1 ∀x ∈ (−R, R),
n=k1

onde k1 = maior{ k, 1 }.
Demonstração. Admita as hipóteses do enunciado. Dado p ∈ (−R, R), tem-se |p| < R. Esco-
lhendo
|p| + R
K= , tem-se |p| < K < R e, assim, p ∈ (−K, K) ⊂ (−R, R).
2
Seja, para cada número natural n ≥ 1, a função gn dada por
gn (u) = un ∀u ∈ R. Se x ∈ (−K, K) e x 6= p então, dado n ≥ 1,
9

pelo Teorema de Taylor, existe cn estritamente entre p e x tal que


gn00 (cn )
gn (x) = gn (p) + gn0 (p) · (x − p) + · (x − p)2 , isto é,
2!
g 00 (cn )
xn − pn = gn0 (p) · (x − p) + n · (x − p)2 .
2!
Daı́,
+∞
X +∞
X
n
f (x) − f (p) = an x − an p n
n=k n=k
+∞
X +∞
X
n n
= (an x − an p ) = an (xn − pn )
n=k1 n=k1
+∞
gn00 (cn )
X  
0 2
= an gn (p) · (x − p) + · (x − p) .
n=k1
2!
Logo, dividindo por (x − p), tem-se
+∞
gn00 (cn )
 
f (x) − f (p) X
0
= an gn (p) + · (x − p)
x−p n=k1
2!
+∞ 
gn00 (cn )
X 
0
= an · gn (p) + an · · (x − p) .
n=k
2!
1

Pela proposição 1, a série


+∞
X +∞
X
an · gn0 (p) = nan pn−1 converge absolutamente.
n=k1 n=k1

Observando que g100 (x) = 0 ∀x ∈ R, tem-se


+∞ +∞
X gn00 (cn ) X gn00 (cn )
an · · (x − p) = an · · (x − p)
n=k1
2! n=k
2!
2
+∞
X x−p
· n(n − 1)an (cn )n−2 onde k2 = maior{ 2, k }.
n=k2
2
Pelo corolário 1, a série
+∞
X
n(n − 1)an K n−2 converge.
n=k2
Como
0 ≤ |n(n − 1)an (cn )n−2 | ≤ n(n − 1)an K n−2 ∀n ≥ k2 ,
tem-se, pelo Teste da Comparação, que a série
+∞
X
n(n − 1)an (cn )n−2 converge absolutamente com
n=k2
10

+∞
X +∞
X +∞
X
n(n − 1)an (cn )n−2 ≤ n(n − 1)an (cn )n−2 ≤ n(n − 1)an K n−2 .
n=k2 n=k2 n=k2
Daı́, a série
+∞
X x−p
· n(n − 1)an (cn )n−2 converge absolutamente
n=k
2
2
com
+∞ +∞
X x−p n−2 x−p X
· n(n − 1)an (cn ) = · n(n − 1)an (cn )n−2 .
n=k
2 2 n=k
2 2

Portanto,
+∞ +∞
f (x) − f (p) X
n−1 x−p X
= nan p + · n(n − 1)an (cn )n−2 .
x−p n=k
2 n=k
1 2

Deste modo
+∞ +∞
f (x) − f (p) X x−p X
0≤ − nan pn−1 = · n(n − 1)an (cn )n−2
x−p n=k
2 n=k
1 2
+∞
|x − p| X
= · n(n − 1)an (cn )n−2
2 n=k2
+∞
|x − p| X
≤ · n(n − 1)an K n−2
2 n=k 2

Daı́, como
+∞
|x − p| X
lim · n(n − 1)an K n−2 = 0,
x→p 2 n=k 2

pelo Teorema do Confronto,


+∞
f (x) − f (p) X
lim − nan pn−1 = 0,
x→p x−p n=k 1

o que dá
+∞
f (x) − f (p) X
lim = nan pn−1 .
x→p x−p n=k 1

Isto diz que f é diferenciável em p com


+∞
X
0
f (p) = nan pn−1 .
n=k1

Pela escolha arbitrária de p ∈ (−R, R), conclui-se que f é diferenciável em (−R, R) valendo
+∞
X
0
f (x) = nan xn−1 ∀x ∈ (−R, R).
n=k1
11


Com uma pequena adaptação da demonstração do teorema 2, tem-se a seguinte proposição
Proposição 4. Seja (an )n≥k uma sequência, tal que a série
+∞
X
an xn possui raio de convergência igual a + ∞,
n=k

e f : R −→ R a função definida por


+∞
X
f (x) = an xn ∀x ∈ R.
n=k

A função f é diferenciável valendo


+∞
X
0
f (x) = nan xn−1 ∀x ∈ R,
n=k1

onde k1 = maior{ k, 1 }.
Aplicando sucessivamente o teorema 2 ou a proposição 4, tem o seguinte corolário.
Corolário 5. Sejam R > 0 ou R = +∞, (an )n≥k uma sequência tal que a série
+∞
X
an xn possui raio de convergência R
n=k

e f : (−R, R) −→ R a função definida por


+∞
X
f (x) = an xn ∀x ∈ (−R, R).
n=k

Dado m ∈ N2 , a função f é m-vezes diferenciável valendo


+∞
X
(m)
f (x) = n(n − 1) · · · (n − m + 1)an xn−m ∀x ∈ (−R, R),
n=km

onde km = maior{ k, m }. Assim, a função f é de classe C ∞ .


Pela Regra da Cadeia segue o seguinte corolário.
Corolário 6. Sejam R > 0 ou R = +∞, p ∈ R, (an )n≥k uma sequência tal que a série
+∞
X
an (x − p)n possui raio de convergência R
n=k

e f : (p − R, p + R) −→ R a função definida por


+∞
X
f (x) = an (x − p)n ∀x ∈ (p − R, p + R).
n=k
12

Dado m ∈ N1 , a função f é m-vezes diferenciável valendo


+∞
X
f (m) (x) = n(n − 1) · · · (n − m + 1)an (x − p)n−m ∀x ∈ (p − R, p + R),
n=km

onde km = maior{ k, m }. Assim, a função f é de classe C ∞ .


Corolário 7. Sejam R > 0 ou R = +∞, (an )n≥k uma sequência e p ∈ R. Se a série
+∞
X
an (x − p)n possui raio de convergência R,
n=k

então a função F : (p − R, p + R) −→ R, dada por


+∞ +∞
X an n+1
X an−1
F (x) = (x − p) = (x − p)m ∀x ∈ (p − R, p + R),
n=k
n+1 m=k+1
m
é diferenciável com
+∞
X
0
F (x) = an (x − p)n ∀x ∈ (p − R, p + R).
n=k

Nos dois corolários anteriores entenda (p − ∞, p + ∞) como R.


Exemplo 3. Sabe-se que a série geométrica
+∞
X
xn possui raio de convergêcia igual a 1,
n=0
com
+∞
1 X
= xn ∀x ∈ (−1, 1).
1 − x n=0
Daı́, pelo corolário 7, tem-se
Z Z +∞
!
1 X
dx = xn dx em (−1, 1),
1−x n=0

isto é, existe C ∈ R, tal que


+∞
!
X xn+1
− ln(|1 − x|) = + C ∀x ∈ (−1, 1),
n=0
n+1
ou seja, !
+∞
X xn+1
− ln(1 − x) = + C ∀x ∈ (−1, 1).
n=0
n+1
Em particular, com x = 0, tem-se 0 = 0 + C, o que dá C = 0. Assim,
+∞
X xn+1
ln(1 − x) = − ∀x ∈ (−1, 1).
n=0
n+1
13

Com a mudança de variável u = 1 − x, chega-se a


+∞ +∞
X (1 − u)n+1 X (−1)n+1
ln(u) = − =− · (u − 1)n+1 ∀u ∈ (0, 2).
n=0
n+1 n=0
n+1
Portanto,
+∞ +∞
X (−1)n X (−1)n−1
ln(u) = · (u − 1)n+1 = · (u − 1)n ∀u ∈ (0, 2).
n=0
n+1 n=1
n
Perceba: não há como expressar a função logaritmo natural, ao longo do seu domı́nio, por
uma série de potências, porque o conjunto de convergência de uma série de potências não pode
ser o intervalo (0, +∞).
Exemplo 4. Tem-se
+∞ +∞
1 1 X
2 n
X
= = (−x ) = (−1)n · x2n ∀x ∈ (−1, 1),
1 + x2 1 − (−x2 ) n=0 n=0

com a série convergindo absolutamente se |x| < 1 e divergindo se |x| ≥ 1. Portanto, o raio de
convegência de série é igaul a 1. Assim,
Z Z X +∞
!
1
dx = (−1)n · x2n dx em (−1, 1).
1 + x2 n=0

Daı́, existe C ∈ R tal que


+∞
!
X x2n+1
arctg(x) = (−1)n · + C ∀x ∈ (−1, 1).
n=0
2n + 1
Em particular, com x = 0, tem-se 0 = 0 + C, o que dá C = 0. Portanto,
+∞
X x2n+1
arctg(x) = (−1)n · ∀x ∈ (−1, 1),
n=0
2n + 1
com esta série convergindo absolutamente se |x| < 1 e divergindo se |x| > 1.
Exemplo 5. O raio de convergência da série
+∞
X 1 n
x é igual a + ∞.
n=0
n!
Seja então a função f : R −→ R, dada por
+∞
X 1 n
f (x) = x ∀x ∈ R.
n=0
n!
Pelo teorema 2 a função f é diferenciável valendo
+∞ +∞ +∞
0
X 1 X 1 X 1
f (x) = n· · xn−1 = · xn−1 = · xn = f (x) ∀x ∈ R.
n=1
n! n=1
(n − 1)! n=0
n!
14

Logo, existe C ∈ R tal que


f (x) = C ex ∀x ∈ R. Em particular f (0) = C e0 , isto é, C = 1.
Portanto,
+∞
x
X 1 n
e = f (x) = x ∀x ∈ R,
n=0
n!
com a série convergindo absolutamente em R.
AULA 41
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula continua como o estudo de séries de potências.


Sejam p ∈ R, k > 0, (an )n≥k uma sequência e as séries de potências
+∞
X +∞
X
n
an (x − p) e an (x − p)n , onde a0 = a1 = · · · = ak−1 = 0.
n=k n=0

Dado x ∈ R, pela proposição 3, da aula número 37, a série


+∞
X +∞
X
an (x − p)n converge se, e somente se, a série an (x − p)n
n=k n=0

converge e, em cada caso, tem-se


+∞
X +∞
X
an (x − p)n = an (x − p)n .
n=k n=0

Portanto, as séries de potências


+∞
X +∞
X
an (x − p)n e an (x − p)n
n=k n=0

possuem o mesmo intervalo de convergência e o mesmo raio de convergência. Deste modo


podemos supor que toda série de potênciais possui a sua sequência de coeficientes definida em
N, isto é, qualquer série de potências
+∞
X +∞
X
n
an (x − p) , onde k > 0, pode ser considerada como an (x − p)n
n=k n=0

onde a0 = a1 = · · · = ak−1 = 0.
Seja (an )n≥0 uma sequência, p ∈ R e R > 0 ou R = +∞. A aula passada diz que se R é
raio de convergência da série de potências
+∞
X
an (x − p)n , então a função f : (p − R, p + R) −→ R,
n=0

dada por
+∞
X
f (x) = an (x − p)n ∀x ∈ (p − R, p + R),
n=0

é de classe C com a m-ésima derivada de f dada por
+∞
X
(m)
f (x) = n(n − 1) · · · (n − m + 1)an (x − p)n−m ∀x ∈ (p − R, p + R)
n=m

1
2

e qualquer que seja m ∈ N1 . Sendo assim, tem-se


f (p) =a0 , f 0 (p) =a1 , f 00 (p) =2a2 ,
f 000 (p) =6a3 , f (4) (p) =24a4 , f (5) (p) =60a5 ,
...
isto é,
f (m) (p)
f (m) (p) = m!am ∀m ∈ N, ou seja, am = ∀m ∈ N.
m!
Portanto,
+∞ +∞ (n)
X
n
X f (p)
an (x − p) = (x − p)n .
n=0 n=0
n!
Isto dá a seguinte proposição.
Proposição 1. Seja (an )n≥0 uma sequência, p ∈ R e R > 0 ou R = +∞, tais que a série de
potências
X+∞
an (x − p)n tem raio de convergência R.
n=0
Se f é uma função e
+∞
X
f (x) = an (x − p)n qualquer que seja x ∈ (p − R, p + R),
n=0

então f é de classe C em (p − R, p + R) e
f (m) (p)
am = ∀m ∈ N.
m!
A proposição 1 dá uma condição necessária para que uma função f seja expressa como uma
série de potências, no interior do intervalo de convergência dessa série: f precisa ser de classe
C ∞ nesse intervalo aberto. Além disso, esta proposição dita quem devem ser os coeficientes
dessa série.
Exemplo 1. Sabe-se, pelo exemplo 3, da aula número 41, que
+∞ +∞
X (−1)n n+1
X (−1)n−1
ln(x) = · (x − 1) = · (x − 1)n ∀x ∈ (0, 2).
n=0
n+1 n=1
n
Como
(n − 1)!
ln(n) (x) = (−1)n−1 · quaisquer que sejam x > 0 e n ∈ N1 ,
xn
tem-se
ln(n) (1) (−1)n−1 · (n − 1)! (−1)n−1
= = qualquer que seja n ∈ N1 .
n! n! n
Logo,
+∞ +∞
X ln(n) (1) n
X ln(n) (1)
ln(x) = · (x − 1) = · (x − 1)n ∀x ∈ (0, 2),
n=1
n! n=0
n!
o que vai ao encontro do enunciado da proposição 1.
3

Além disso, dado a > 0, se x ∈ (0, 2a) então x/a ∈ (0, 2). Logo,
+∞
x X (−1)n−1  x n
ln = · −1
a n=1
n a
+∞ n
(−1)n−1

X x−a
= ·
n=1
n a
+∞
X (−1)n−1
= · (x − a)n .
n=1
nan

Como
(n − 1)!
ln(n) (a) (−1)n−1 · (−1)n−1
= an = ∀n ∈ N1 ,
n! n! nan
tem-se
+∞
X ln(n) (a)
ln(x) − ln a = · (x − a)n .
n=1
n!
Portanto, está provado que, dado a > 0,
+∞
X ln(n) (a)
ln(x) = · (x − a)n ∀x ∈ (0, 2a),
n=0
n!

sendo a o raio de convergência da última série de potências.


Exemplo 2. Seja (an )n≥0 uma sequência com raio de convergência R > 0 ou R = +∞. Se
+∞
X
sen(x) = an xn qualquer que seja x ∈ (−R, R), então,
n=0

pela proposição 1,
+∞ +∞
sen(n) (0) X sen(n) (0) n X x2n+1
an = ∀x ∈ N. Portanto, x = (−1)n
n! n=0
n! n=0
(2n + 1)!

é a série de potências centrada em 0 que, no interior do seu intervalo de convergência, pode


expressar a função seno com uma série de potências. Ela expressa?
Dado x 6= 0 em R, tem-se
x2(n+1)+1
(−1)n+1
(2(n + 1) + 1)! (2n + 1)!
lim 2n+1 = lim |x2 | ·
n→+∞ x n→+∞ (2n + 3)!
(−1)n
(2n + 1)!
1
= lim |x2 | · = 0.
n→+∞ (2n + 3)(2n + 2)
4

Daı́, pelo Teste da Razão, a série


+∞
X x2n+1
(−1)n converge absolutamente.
n=0
(2n + 1)!

Portanto, a série
+∞
X x2n+1
(−1)n converge absolutamente ∀x ∈ R,
n=0
(2n + 1)!

ou seja, o raio de convergência da série de potências


+∞ +∞
X sen(n) (0) n
X x2n+1
x = (−1)n é igual a + ∞.
n=0
n! n=0
(2n + 1)!

Seja, então, a função φ : R −→ R dada por


+∞
X x2n+1
n x3 x5 x7 x9 x11
φ(x) = (−1) =x− + − + − · · · ∀x ∈ R.
n=0
(2n + 1)! 3! 5! 7! 9! 11!

A função φ é de classe C ∞ com


+∞
0
X x2n x2 x4 x6 x8 x10
φ (x) = (−1)n =1− + − + − + · · · ∀x ∈ R e
n=0
(2n)! 2! 4! 6! 8! 10!
+∞
X x2n−1 x3 x5 x7 x9
φ00 (x) = (−1)n = −x + − + − + · · · ∀x ∈ R,
n=1
(2n − 1)! 3! 5! 7! 9!

ou seja,
+∞
x2n x3 x5 x7 x9 x11
X  
00 n
φ (x) = − (−1) =− x− + − + − · · · = −φ(x) ∀x ∈ R.
n=0
(2n)! 3! 5! 7! 9! 11!

Isto diz que φ é solução da equação diferencial linear homogênea, de segunda ordem,
f 00 (x) + f (x) = 0.
Portanto, existem constantes A, B ∈ R tais que
φ(x) = A sen(x) + B cos(x) qualquer que seja x ∈ R.
Em particular
0 = φ(0) = A sen(0) + B cos(0) e 1 = φ0 (0) = A cos(0) − B sen(0),

isto é, B = 0 e A = 1. Assim, φ(x) = sen(x) ∀x ∈ R, o que dá


+∞
X x2n+1 x3 x5 x7 x9 x11
sen(x) = (−1)n =x− + − + − · · · ∀x ∈ R.
n=0
(2n + 1)! 3! 5! 7! 9! 11!
5

Daı́, tem-se
+∞
X x2n
cos(x) = sen0 (x) = (−1)n
n=0
(2n)!
x2 x4 x6 x8 x10
=1−
+ − + − + · · · ∀x ∈ R.
2! 4! 6! 8! 10!
Exemplo 3. Sabe-se do exemplo 5, da aula número 41, que
+∞ n
x
X x x2 x3 x4 x5 x 6 x7
e = =1+x+ + + + + + + · · · ∀x ∈ R.
n=0
n! 2! 3! 4! 5! 6! 7!
Logo,
+∞ +∞
−x
X (−x)n X
n x
n
e = = (−1) ·
n=0
n! n=0
n!
(−x)2 (−x)3 (−x)4 (−x)5 (−x)6
= 1 + (−x) + + + + + + ···
2! 3! 4! 5! 6!
x2 x3 x4 x5 x6 x7
=1−x+ − + − + − + · · · ∀x ∈ R.
2! 3! 4! 5! 6! 7!
Assim,
+∞ +∞
x −x
X x2n X x2n
e +e = 2· =2·
n=0
(2n)! n=0
(2n)!
x2 x2 x4 x6 x8
 
=2· 1+ + + + + + · · · ∀x ∈ R,
2! 2! 4! 6! 8!
ou seja,
+∞
ex + e−x X x2n
cosh(x) = =
2 n=0
(2n)!
x2 x4 x6 x8 x2
=1+ + + + + + · · · ∀x ∈ R.
2! 4! 6! 8! 2!
Portanto,
+∞ +∞
0
X x2n−1 X x2n+1
senh(x) = cosh (x) = =
n=1
(2n − 1)! n=0 (2n + 1)!
3 5
x x x7 x9 x11
+
=x+ + + + + · · · ∀x ∈ R.
3! 5! 7! 9! 11!
Definição 1. Sejam p ∈ R e f uma função n−vezes diferenciável em p, qualquer que seja
n ∈ N1 . A série de potências
+∞ (n)
X f (p)
· (x − p)n é denominada
n=0
n!
6

Série de Taylor da função f centrada no ponto p ou, simplesmente, Série de Taylor de f em p.


Sendo p = 0, a série de Taylor
+∞ (n) +∞ (n) +∞ (n)
X f (x − p) n
X f (0) n
X f (0)
·x = · (x − 0) = · xn é denominada
n=p
n! n=0
n! n=0
n!
Série de Maclaurin.
Desta definição segue que se uma função é expressa por uma série de potências, no interior
do seu intervalo de convergência, então essa série é a Série de Taylor da função no centro desse
intervalo.
Sejam p ∈ R e f uma função n−vezes diferenciável em p, qualquer que seja n ∈ N1 . Dado
m ∈ N, o polinômio Pm (x), definido por
f 00 (p) f (m) (p)
Pm (x) = f (p) + f 0 (p) · (x − p) + · (x − p) + · · · + · (x − p)m
2! m!
é denominado m-ésimo polinônio de Taylor de f em p. Note que Pm (x) tem grau m se, e
somente se f (m) (p) 6= 0. Observe que, dado x ∈ R, Pm (x) é a m-ésima soma parcial associada
à Série de Taylor
+∞ (n) +∞ (n)
X f (p) n
X f (p)
· (x − p) com · (x − p)n = lim Pm (x).
n=0
n! n=0
n! m→+∞

Deste modo a série


+∞ (n)
X f (p)
· (x − p)n converge se, e somente se, a sequência (Pm (x))m≥0 converge.
n=0
n!
Sejam p ∈ R, R > 0 e f uma função de classe C ∞ no intervalo (p − R, p + R). Sendo x 6= p
em (p − R, p + R), o Teorema de Taylor diz que, dado m ∈ N, existe cm estritamente entre x e
p tal que
f m+1 (cm )
f (x) = Pm (x) + (x − p)m+1
(m + 1)!
e, assim, o erro Em (x) cometido na aproximação
f (x) ≈ Pm (x),
é dado por
f m+1 (cm )
Em (x) = f (x) − Pm (x) = (x − p)m+1 .
(m + 1)!
Exemplo 4. Dado x ∈ R tem-se
+∞
X x2n+1 x3 x5 x7 x9 x11
sen(x) = (−1)n =x− + − + − + ···
n=0
(2n + 1)! 3! 5! 7! 9! 11!
Se x 6= 0, pelo Teorema de Taylor, dado n ∈ N, existe cn estritamente entre 0 e x tal que
x3 x5 x7 x2n+1 sen(2n+3) (cn ) 2n+3
sen(x) = x − + − + · · · + (−1)n + x .
3! 5! 7! (2n + 1)! (2n + 3)!
7

Daı́, o erro En (x) cometido, na aproximação


x3 x5 x7 n x
2n+1
sen(x) ≈ x − + − + · · · + (−1) ,
3! 5! 7! (2n + 1)!
é limitado, em valor absoluto, pela desigualdade
x3 x5 x7 2n+1 

n x
0 ≤ |En (x)| = sen(x) − x − + − + · · · + (−1)
3! 5! 7! (2n + 1)!
sen(2n+3) (cn ) 2n+3 cos(cn ) 2n+3 |x|2n+3
= x = x ≤ ,
(2n + 3)! (2n + 3)! (2n + 3)!
isto é,
|x|2n+3
0 ≤ |En (x)| ≤ .
(2n + 3)!
Lembre que
xn
= 0 qualquer que seja x ∈ R.
lim
n→+∞ n!

Exemplo 5. Na resolução de alguns problemas de fı́sica, usa-se a aproximação


sen(x) ≈ x. Assim, o erro E0 (x) cometido, em módulo,
é limitado pela desigualdade
|x|3
0 ≤ |E0 (x)| ≤ .
3!
Portanto, na aproximação
(0,1)3
sen(0,1) ≈ 0,1, o erro cometido, em módulo, não é superior a < 0,00017.
3!
Exemplo 6. Dado x ∈ R tem-se
+∞
X x2n x2 x4 x6 x8 x10
cos(x) = (−1)n =1− + − + − + · · · ∀x ∈ R.
n=0
(2n)! 2! 4! 6! 8! 10!
Se x 6= 0, pelo Teorema de Taylor, dado n ∈ N, existe cn estritamente entre 0 e x tal que
x2 x4 x6 x2n cos(2n+2) (cn ) 2n+2
cos(x) = 1 − + − + · · · + (−1)n + x .
2! 4! 6! (2n)! (2n + 2)!
Daı́, o erro En (x) cometido, na aproximação
x2 x4 x6 x2n
cos(x) ≈ 1 − + − + · · · + (−1)n ,
2! 4! 6! (2n)!
é limitado, em valor absoluto, pela desigualdade
x2 x4 x6 2n 

n x
0 ≤ |En (x)| = cos(x) − 1 − + − + · · · + (−1)
2! 4! 6! (2n)!
cos(2n+2) (cn ) 2n+2 cos(cn ) 2n+2 |x|2n+2
= x = x ≤ ,
(2n + 2)! (2n + 2)! (2n + 2)!
8

isto é,
|x|2n+2
0 ≤ |En (x)| ≤ .
(2n + 2)!
Exemplo 7. Dado x ∈ R tem-se
+∞ n
X x x2 x3 x4 x5 x 6 x7
ex = =1+x+ + + + + + + · · · ∀x ∈ R.
n=0
n! 2! 3! 4! 5! 6! 7!
Se x 6= 0, pelo Teorema de Taylor, dado n ∈ N, existe cn estritamente entre 0 e x tal que
x2 x 3 xn ecn
ex = 1 + x + + + ··· + + xn+1 .
2! 3! n! (n + 1)!
Daı́, o erro En (x) cometido, na aproximação
x 2 x3 xn
ex ≈ 1 + x + + + ··· + ,
2! 3! n!
é limitado, em valor absoluto, pela desigualdade
x2 x3 xn
 
x
0 ≤ |En (x)| = e − 1 + x + + + ··· +
2! 3! n!
ecn e|x| ·|x|n+1
= xn+1 ≤ ,
(n + 1)! (n + 1)!
isto é,
e|x| ·|x|n+1
0 ≤ |En (x)| ≤ .
(n + 1)!
AULA 42
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula conclui o estudo de séries de potências e inicia uma introdução ao estudo da
integração numérica.
Exemplo 1. Se n ∈ N e n ≥ 1 então
2
e−1/x
lim = 0.
x→0 xn

Demonstração. Observe as duas seguintes conclusões.


∗ Primeiro, usando a Regra de L’Hôspital , tem-se
1 1
e−1/x
2 − 2 x
lim = lim 1/xx = lim x  = lim = 0.
2 2
x→0 x x→0 e x→0 1/x2 2 x→0 2 e1/x
e · − 3
x
∗ Segundo, se
2
e−1/x
lim = 0, então,
x→0 xn
usando a Regra de L’Hôspital, tem-se
1 n+1
e −1/x2 n+1 −
lim = lim x = lim xn+2 
xn+1
2
x→0 x→0 e1/x x→0 2 2
e1/x · − 3
x
2
n+1 n+1 e−1/x
= lim = · lim = 0.
x→0 2xn · e1/x
2
2 x→0 xn
Portanto, pelo Princı́pio de Indução Finita,
2
e−1/x
lim = 0 ∀n ∈ N1 .
x→0 xn

Exemplo 2. Seja f : R −→ R a função definida por
 −1/x2
e se x 6= 0,
f (x) =
0 se x = 0.
Afirmação: Dado n ∈ N1 , a função f é n-vezes diferenciável em R∗ = (−∞, 0) ∪ (0, +∞) e
existem
an1 , an2 , . . . , an3n ∈ R
tais que  n
an2 an3 an3n

(n) −1/x2 a1
f (x) = e · + 2 + 3 + · · · + 3n ∀x 6= 0.
x x x x
Prova: Tem-se as seguintes conclusões.

1
2

∗ A função f é 1-vez diferenciável em (−∞, 0) ∪ (0, +∞) com


 
(1) 0 −1/x2 2 −1/x2 0 0 2
f (x) = f (x) = e · 3 =e · + + ∀x 6= 0.
x x x2 x3

∗ Se f é n-vezes diferenciável em R∗ = (−∞, 0) ∪ (0, +∞) e existem

an1 , an2 , . . . , an3n ∈ R

tais que

an1 an2 an3 an3n


 
(n) −1/x2
f (x) = e · + 2 + 3 + · · · + 3n ∀x 6= 0,
x x x x

então f é (n + 1)-vezes diferenciável em (−∞, 0) ∪ (0, +∞) com


 n
an2 an3 an3n

(n+1) −1/x2 2 a1
f (x) = e · 3· + 2 + 3 + · · · + 3n +
x x x x x
 n n n
3na3n

−1/x2 a1 2a2 3a3 1
e · − 2 − 3 − 4 − · · · − 3n+1 ∀x 6= 0,
x x x x

o que, após um reagrupamento, dá


!
−1/x2 an+1
1 an+1
2 an+1
3
an+1
3(n+1)
f (n+1) (x) = e · + 2 + 3 + · · · + 3(n+1) ∀x 6= 0,
x x x x

onde an+1
1 , an+1
2 , . . . , an+1
3(n+1) ∈ R.

Portanto, pelo Princı́pio de Indução Finita, para cada n ∈ N1 a função f é n-vezes dife-
renciável em R∗ = (−∞, 0) ∪ (0, +∞) e existem

an1 , an2 , . . . , an3n ∈ R

tais que
an1 an an an
 
−1/x2
f (n)
(x) = e · + 22 + 33 + · · · + 3n ∀x 6= 0.
x x x x3n

Afirmação: Dado n ∈ N1 , a função f é n-vezes diferenciável em 0 e f (n) (0) = 0.


Prova: Observe as seguintes conclusões.
∗ Tem-se
2
f (x) − f (0) e−1/x
lim = lim = 0.
x→0 x−0 x→0 x
Daı́ a função f é 1-vez diferenciável em 0 com f 0 (0) = 0.
3

∗ Se f é n-vezes diferenciável em 0 e f (n) (0) = 0 então


f (n) (x) − f (n) (0) f (n) (x)
lim = lim
x→0 x−0 x→0 x  n
an2 an3 an3n

1 −1/x2 a1
= lim · e · + 2 + 3 + · · · + 3n
x→0 x x x x x
 n n n n 
2 a1 a a a3n
= lim e−1/x · 2 + 23 + 34 + · · · + 3n+1
x→0 x x x x
3n 3n
!
−1/x2 −1/x2
X e X e
= lim ani · i+1 = ani · lim i+1 = 0.
x→0
i=1
x i=1
x→0 x

Logo, f é (n + 1)-vezes diferenciável em 0 com f (n+1) (0) = 0.


Portanto, pelo Princı́pio de Indução Finita, para cada n ∈ N1 , a função f é n-vezes dife-
renciável em 0 com f (n) (0) = 0. Deste modo a função é de classe C ∞ (em R) e a sua Série de
Taylor em 0 é dada por
+∞ (n) +∞ (n) +∞ +∞ +∞
X f (0) n
X f (0) n
X 0 n X n
X
x com x = x = 0·x = 0 = 0 ∀x ∈ R.
n=0
n! n=0
n! n=0
n! n=0 n=0

Sendo assim,
+∞ (n)
X f (0)
xn 6= f (x) ∀x 6= 0.
n=0
n!
Isto dá o exemplo de uma função f : R −→ R, de classe C ∞ , cuja Térie de Taylor, em 0, possui
raio de convergência igual a +∞, mas que não expressa a função em R.
Exemplo 3. Sabe-se que a série alternada
+∞
X 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
(−1)n−1 · =1− + − + − + − + − + ···
n=1
n 2 3 4 5 6 7 8 9 10
converge. Seja (sn )n≥1 a sequências de somas parciais associada a esta série e S o seu limite,
isto é,
+∞
X
S = lim sn = (−1)n−1 .
n→+∞
n=1
Dado n ≥ 2 par, tem-se
     
1 1 1 1 1
sn = 1 − + ··· + − ≥ 1− = ,
2 n−1 n 2 2
e dado n ≥ 3 ı́mpar, tem-se
     
1 1 1 1 1 1
sn = 1 − + ··· + − + > 1− = .
2 n−2 n−1 n 2 2
Portanto,
1 1
sn ≥ ∀n ∈ N1 , o que dá S ≥ .
2 2
4

Sendo
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
(SE01) S =1− + − + − + − + − + − + ··· ,
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
multiplicando esta série por 1/2, tem-se
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
S= − + − + − + − + − + ··· .
2 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Logo, inserindo zeros na última série, consegue-se
1 1 1 1 1 1 1 1
(SE02) S =0+ +0− +0+ +0− +0+ +0− +0+ + ··· .
2 2 4 6 8 10 12 14
Somando as séries SE01 e SE02 chega-se a
3 1 1 1 1 1 1 1 1 1
S =1+0+ − + +0+ − + +0+ − + + 0 + ··· ,
2 3 2 5 7 4 9 11 6 13
ou seja,
3 1 1 1 1 1 1 1 1 1
(SE03) S 6= S = 1 + − + + − + + − + + ··· .
2 3 2 5 7 4 9 11 6 13
Assim, as duas séries, SE01 e SE03, possuem os mesmos termos mas os seus valores são dis-
tintos. Este exemplo mostra que o rearranjo de uma quantidade infinta de termos de uma série,
obtem uma nova série cujo valor pode ser distinto do valor da série original.

Integração Numérica

Há um conjunto considerável de funções, para as quais não é possı́vel expressar as suas
integrais indefinidas em termos de funções previamente estudadas, ou seja, em termos das
funções polinomiais, racionais, raı́zes n-ésimas, trigonométricas, logaritmicas, exponenciais ou
quaisquer outras funções obtidas como combinação destas através das operaçoes com funções:
adição, subtração, multiplicação por escalar, multiplicação, divisão e composiçao de funções.
Neste caso a integral indefinida é apresentada usando o Primeiro Teorema Fundamental do
Cálculo.
Por exemplo, não é possı́vel resolver as integrais indefinidas
Z Z √ Z Z
−x2 cos(x)
e dx, 3
1 − x dx, dx e sen(x2 ) dx
x
em termos de funções (ditas) elementares.
A impossibilidade anteriormente descrita, portanto, não permite encontrar, via o Segundo
Teorema Fundamental do Cálculo, o valor exato de certas integrais definidas. Diante desta
situação, só resta usar a definição da integral definida para obter valores aproximados para
essas integrais.
Lembre o seguinte teorema.
Teorema 1. Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma função. Se f é contı́nua em [a, b] então f é
integrável a Riemann em [a, b].
5

Este teorema diz que, sendo f uma função contı́nua no intervalo [a, b], existe a sua integral
definida em [a, b], denotada por
Z b Z b X
f (x) dx e dada por f (x) dx := lim f (ci ) · ∆xi .
a a |P|→0
P

Dado n ∈ N1 , seja Pn = (x0 , x1 , . . . , xn ) a partição (uniforme) de [a, b] dada por


x0 = a, x1 = a + ∆x, x2 = a + 2∆x, . . . , xn−1 = a + (n − 1)∆x, xn = a + n∆x = b,
isto é,
b−a
xi = a + i∆x ∀i ∈ { 0, . . . , n }, onde ∆x = .
n
São verdadeiras as seguintes afirmações.
∗ Escolhendo, para cada n ∈ N1 , coeficientes c1 , . . . , cn de Pn dados por
c1 = x0 , c2 = x1 , . . . , cn−1 = xn−2 , cn = xn−1 ,
tem-se
Z b n
X n
X
f (x) dx = lim f (ci )∆xi = lim f (xi−1 )∆x
a n→+∞ n→+∞
i=1 i=1
= lim (f (x0 )∆x + f (x1 )∆x + · · · + f (xn−2 )∆x + f (xn−1 )∆x)
n→+∞
= lim ∆x (f (x0 ) + f (x1 ) + · · · + f (xn−2 ) + f (xn−1 ))
n→+∞
b−a
= lim · (f (x0 ) + f (x1 ) + · · · + f (xn−2 ) + f (xn−1 )) .
n→+∞ n
Dado n ∈ N1 , a aproximação
Z b
b−a
(AEE) f (x) dx ≈ · (f (x0 ) + f (x1 ) + · · · + f (xn−2 ) + f (xn−1 ))
a n
é denominada aproximação pelo extremo esquerdo.
∗ Escolhendo, para cada n ∈ N1 , coeficientes c1 , . . . , cn de Pn dados por
c1 = x1 , c2 = x2 , . . . , cn−1 = xn−1 , cn = xn ,
tem-se
Z b n
X n
X
f (x) dx = lim f (ci )∆xi = lim f (xi )∆x
a n→+∞ n→+∞
i=1 i=1
= lim (f (x1 )∆x + f (x2 )∆x + · · · + f (xn−1 )∆x + f (xn )∆x)
n→+∞
= lim ∆x (f (x1 ) + f (x2 ) + · · · + f (xn−1 ) + f (xn ))
n→+∞
b−a
= lim · (f (x1 ) + f (x2 ) + · · · + f (xn−1 ) + f (xn )) .
n→+∞ n
Dado n ∈ N1 , a aproximação
Z b
b−a
(AED) f (x) dx ≈ · (f (x1 ) + f (x2 ) + · · · + f (xn−1 ) + f (xn ))
a n
é denominada aproximação pelo extremo direito.
6

∗ Escolhendo, para cada n ∈ N1 , coeficientes c1 = xi , . . . , c1 = xn de Pn dados por


x0 + x1 x1 + x2 xn−2 + xn−1 xn−1 + xn
x1 = , x2 = , . . . , xn−1 = , xn = ,
2 2 2 2
tem-se
Z b Xn Xn
f (x) dx = lim f (xi )∆xi = lim f (xi )∆x
a n→+∞ n→+∞
i=1 i=1
= lim (f (x1 )∆x + f (x2 )∆x + · · · + f (xn−1 )∆x + f (xn )∆x)
n→+∞
= lim ∆x (f (x1 ) + f (x2 ) + · · · + f (xn−1 ) + f (xn ))
n→+∞
b−a
= lim · (f (x1 ) + f (x2 ) + · · · + f (xn−1 ) + f (xn )) .
n→+∞n
Dado n ∈ N1 , a aproximação
Z b
b−a
(APM) f (x) dx ≈ · (f (x1 ) + f (x2 ) + · · · + f (xn−1 ) + f (xn ))
a n
é denominada aproximação pelo ponto médio.
Dadas uma função contı́nua f , num intervalo [a, b], as fórmulas AEE, AED e APM dão, fácil e
rapidamente, aproximações da integral definida de f utilizando recursos computacionais.
Exemplo 4. Seja f a função dada por
1
f (x) = qualquer que seja x ∈ R.
1 + x2
Tem-se
Z 1 Z 1 1
1
f (x) dx = 2 dx = arctg(x)
−1 −1 1 + x −1
π  π π
= arctg(1) − arctg(−1) = − − =
4 4 2
≈ 1,57079632679489661923.
Para efeito de comparação, a tabela 1 apresenta valores aproximados para esta integral defi-
nida. Compare os valores aproximados, nos três métodos de aproximação, com o valor exato,
apresentado na última coluna desta tabela. Explique porque as colunas “Aproximação(EE)” e
“Aproximação(ED)” apresentam os mesmos valores!

Exemplo 5. Seja f a função dada por


x
f (x) = √ qualquer que seja x ∈ R.
1 + x2
Tem-se
Z 2 Z 2 √ 2
x
f (x) dx = √ = 1+x 2
0 0 1 + x2 0

= 5 − 1 ≈ 1,23606797749978969641.
7

TABELA 1. Valores aproximados da integral definida


R1 1 dx.
−1 1 + x2

n Aproximação(EE) Aproximação(ED) Aproximação(PM) Valor Exato


50 1.5706629935 1.5706629935 1.5708629935 1.5707963268
100 1.5707629935 1.5707629935 1.5708129935 1.5707963268
150 1.5707815120 1.5707815120 1.5708037342 1.5707963268
200 1.5707879935 1.5707879935 1.5708004935 1.5707963268
250 1.5707909935 1.5707909935 1.5707989935 1.5707963268
300 1.5707926231 1.5707926231 1.5707981786 1.5707963268
350 1.5707936057 1.5707936057 1.5707976873 1.5707963268
400 1.5707942435 1.5707942435 1.5707973685 1.5707963268
450 1.5707946807 1.5707946807 1.5707971498 1.5707963268
500 1.5707949935 1.5707949935 1.5707969935 1.5707963268

√ x
R2
TABELA 2. Valores aproximados da integral definida 0
dx.
1 + x2

n Aproximação(EE) Aproximação(ED) Aproximação(PM) Valor Exato


50 1.2180580148 1.2538351024 1.2361286912 1.2360679775
100 1.2270933530 1.2449818968 1.2360831541 1.2360679775
150 1.2300916397 1.2420173356 1.2360747225 1.2360679775
200 1.2315882535 1.2405325254 1.2360717715 1.2360679775
250 1.2324854124 1.2396408299 1.2360704057 1.2360679775
300 1.2330831811 1.2390460290 1.2360696637 1.2360679775
350 1.2335099935 1.2386210060 1.2360692164 1.2360679775
400 1.2338300125 1.2383021485 1.2360689260 1.2360679775
450 1.2340788627 1.2380540946 1.2360687269 1.2360679775
500 1.2342779090 1.2378556178 1.2360685845 1.2360679775

Para efeito de comparação, a tabela 2 apresenta valores aproximados para esta integral defi-
nida. Compare os valores aproximados, nos três métodos de aproximação, com o valor exato,
apresentado na última coluna desta tabela.

Exemplo 6. Seja f a função dada por


f (x) = x cos(x) dx qualquer que seja x ∈ R.
Tem-se
Z 2 Z 2 2
f (x) dx = x cos(x) dx = (x sen(x) + cos(x))
0 0 0
= 2 sen(2) + cos(2) − 1 ≈ 0,40244801710422100379.
Para efeito de comparação, a tabela 3 apresenta valores aproximados para esta integral defi-
nida. Compare os valores aproximados, nos três métodos de aproximação, com o valor exato,
apresentado na última coluna desta tabela.
8
R2
TABELA 3. Valores aproximados da integral definida 0
x cos(x) dx.

n Aproximação(EE) Aproximação(ED) Aproximação(PM) Valor Exato


50 0.4186625701 0.3853708232 0.4026636854 0.4024480171
100 0.4106631278 0.3940172543 0.4025019306 0.4024480171
150 0.4079487192 0.3968514703 0.4024719784 0.4024480171
200 0.4065825292 0.3982595925 0.4024614953 0.4024480171
250 0.4057599398 0.3991015904 0.4024566431 0.4024480171
300 0.4052103488 0.3996617243 0.4024540074 0.4024480171
350 0.4048171970 0.4000612332 0.4024524181 0.4024480171
400 0.4045220122 0.4003605439 0.4024513866 0.4024480171
450 0.4042922339 0.4005931509 0.4024506794 0.4024480171
500 0.4041082915 0.4007791168 0.4024501736 0.4024480171

Estimativa de Erro na Aproximação pelo Ponto Médio

Primeiro observe a seguinte proposição, de fácil demonstração.


Proposição 1. Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma função. Se f é contı́nua em [a, b], então
Z b Z b
f (x) dx ≤ |f (x)| dx.
a a

Demonstração. Sendo f contı́nua em [a, b], são contı́nuas em [a, b] as funções −|f | e |f |, com
−|f (x)| ≤ f (x) ≤ |f (x)| ∀x ∈ Df .
Daı́ Z b Z b Z b
−|f (x)| dx ≤ f (x) dx ≤ |f (x)| dx,
a a a
isto é,
Z b Z b Z b Z b
− |f (x)| dx ≤ f (x) dx ≤ |f (x)| dx com |f (x)| dx ≥ 0.
a a a a
Portanto,
Z b Z b
f (x) dx ≤ |f (x)| dx.
a a

Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma função de classe C 2 em [a, b] e p = (a + b)/2. Dado
x ∈ [a, b], pelo Teorema de Taylor, existe cx ∈ (a, b) tal que
f 00 (cx )
f (x) = f (p) + f 0 (p)(x − p) + (x − p)2 ,
2
isto é,
f 00 (cx )
0
f (x) − f (p) − f (p)(x − p) = (x − p)2 .
2
9

A função derivada segunda f 00 possui máximo e mı́nimo em [a, b]. Então, seja M > 0 tal que
|f 00 (x)| ≤ M qualquer que seja x ∈ [a, b]. Tem-se

f 00 (cx ) M
|f (x) − f (p) − f 0 (p)(x − p)| = (x − p)2 ≤ (x − p)2 .
2 2

Veja que

Z b Z b Z b
f (x) dx − f (p)(b − a) = f (x) dx − f (p) dx
a a a
Z b Z b Z b
= f (x) dx − f (p) dx − f 0 (p)(x − p) dx
a a a
Z b 
= f (x) − f (p) − f 0 (p)(x − p) dx.
a

Portanto,

Z b Z b 
f (x) dx − f (p)(b − a) = f (x) − f (p) − f 0 (p)(x − p) dx
a a
Z b
≤ |f (x) − f (p) − f 0 (p)(x − p)| dx
a
Z b
M b
Z
M 2
≤ (x − p) dx = (x − p)2 dx
a 2 2 a
3 b
M (b − a)3 (a − b)3
 
M (x − p)
= · = −
2 3 a 2 24 24
M
= (b − a)3 ,
24

ou seja,

Z b
M
(DPM) f (x) dx − f (p)(b − a) ≤ (b − a)3 .
a 24

Assim, dados n ∈ N1 e Pn = (x0 , x1 , . . . , xn ) a particão uniforme de [a, b] com coeficientes,


pelos pontos médios x1 , . . . , xn , aplicando a desigualdade DPM em cada subintervalo dessa
10

partição, tem-se
Z b n
X n Z
X xi n
X
f (x) dx − f (xi )∆x = f (x) dx − f (xi )∆x
a i=1 i=1 xi−1 i=1
Xn Z xi 
= f (x) dx − f (xi )∆x
i=1 xi−1
n
X Z xi 
≤ f (x) dx − f (xi )(xi − xi−1 )
i=1 xi−1
n n  3
X M X M b−a
3
≤ (xi − xi−1 ) =
i=1
24 i=1
24 n
3
M (b − a)3

M b−a
=n· = · ,
24 n 24 n2
isto é,
b n
M (b − a)3
Z X
f (x) dx − f (xi )∆x ≤ · .
a i=1
24 n2
Isto diz que na aproximação pelo ponto médio
Z b
b−a
f (x) dx ≈ · (f (x1 ) + f (x2 ) + · · · + f (xn−1 ) + f (xn )) ,
a n
o erro cometido não é superior, em módulo, a
M (b − a)3
· .
24 n2
Exemplo 7. Seja f : R −→ R a função dada por f (x) = sen(x2 ) qualquer que seja x ∈ R. A
função f é de classe C ∞ com
f 0 (x) = 2x cos(x2 ) e f 00 (x) = 2 cos(x2 ) − 4x2 sen(x2 ) ∀x ∈ R.
Portanto,
|f 00 (x)| = 2 cos(x2 ) − 4x2 sen(x2 ) ≤ 2 cos(x2 ) + 4x2 sen(x2 )
≤ 2 + 4x2 ≤ 6 qualquer que seja x ∈ [−1, 1].
Logo, o erro cometido, na aproximação pelo ponto médio
Z 1  2  2  2 !
2 1 3 2n − 1
sen(x2 ) dx ≈ · sen −1 + + sen −1 + + · · · + sen −1 +
−1 n n n n
n  2
X 2 2i − 1
= · sen −1 + ,
i=1
n n
não é, em módulo, superior a
6 23 2
· 2 = 2.
24 n n
11
R1
TABELA 4. Valores aproximados da integral definida −1
sen(x2 ) dx.

n Aproximação(EE) Aproximação(ED) Aproximação(PM) Valor Exato


50 0.6208248672 0.6208248672 0.6203924331 ????????????
100 0.6206086502 0.6206086502 0.6205005777 ????????????
150 0.6205686226 0.6205686226 0.6205205934 ????????????
200 0.6205546139 0.6205546139 0.6205275981 ????????????
250 0.6205481301 0.6205481301 0.6205308401 ????????????
300 0.6205446080 0.6205446080 0.6205326011 ????????????
350 0.6205424843 0.6205424843 0.6205336630 ????????????
400 0.6205411060 0.6205411060 0.6205343522 ????????????
450 0.6205401610 0.6205401610 0.6205348247 ????????????
500 0.6205394851 0.6205394851 0.6205351626 ????????????

A tabela 3 apresenta valores aproximados para esta integral definida.


Z 1
sen(x2 ) dx.
−1
O erro cometido na aproximação pelo ponto médio, da última linha, não é superior, em módulo
a
2
= 0,000008.
5002
AULA 43
C ÁLCULO D IFERENCIAL E I NTEGRAL II
P ROFESSOR ROMILDO J OS É DA S ILVA

Esta aula continua com o estudo da integração numérica. Antes, porém, observe na figura 1
a descrição geométrica dos três métodos de aproximação da integral definida, apresentados na
aula passada. Da esquerda para direita: método do extremo esquerdo, método do ponto médio
e método do extremo direito.

F IGURA 1. Aproximação da integral definida pelo extremo esquerdo, extremo


direito e ponto médio.

Em cada um dos três quadros da figura 1, a soma das áreas do retângulos azuis, aproxima o
valor da integral definida.
Sejam a, b ∈ R, com a < b, e f uma função contı́nua em [a, b]. Pelo Teorema do Valor
Intermediário, existe c ∈ [a, b] tal que
f (a) + f (b) f (a) + f (b)
= f (c), pois é um valor entre f (a) e f (b).
2 2

F IGURA 2. Trapézio de bases f (a) e f (b) e altura b − a.

1
2

Observe que se f (a) > 0 e f (b) > 0 então, conforme figura 2,

f (a) + f (b)
· (b − a) é a área do trapézio
2
de bases f (a) e f (b) e de altura (b − a). Assim, para cada n ∈ N1 , escolhendo teoricamente
coeficientes c1 , . . . , cn , da partição uniforme P = (x0 , x1 , . . . , xn ) de [a, b], de modo que

f (x0 ) + f (x1 ) f (x1 ) + f (x2 ) f (xn−1 ) + f (xn )


= f (c1 ), = f (c2 ), . . . , = f (cn ),
2 2 2

F IGURA 3. Aproximação da integral definida pela Regra do Trapézio.

tem-se ∆x1 = ∆x2 = · · · = ∆xn = ∆x = (b − a)/n e

f (c1 )∆x1 +f (c2 )∆x2 + · · · + f (cn−1 )∆xn−1 + f (cn )∆xn


= ∆x · (f (c1 ) + f (c2 ) + · · · f (cn−1 ) + f (cn ))
f (x0 ) + f (x1 ) f (x1 ) + f (x2 )
= ∆x · + + ···+
2 2
!
f (xn−2 ) + f (xn−1 ) f (xn−1 ) + f (xn )
+
2 2
 
b−a f (x0 ) f (xn )
= · + f (x1 ) + · · · + f (xn−1 ) +
n 2 2
3

e, portanto,
Z b
f (x) dx = lim (f (c1 )∆x1 + f (c2 )∆x2 + · · · + f (cn−1 )∆xn−1 + f (cn )∆xn )
a n→+∞
 
b−a f (x0 ) f (xn )
lim · + f (x1 ) + · · · + f (xn−1 ) + .
n→+∞ n 2 2
Dado n ∈ N1 , a aproximação
Z b  
b−a f (x0 ) f (xn )
f (x) dx ≈ · + f (x1 ) + · · · + f (xn−1 ) +
a n 2 2
é denominada aproximação pela regra do trapézio. Perceba que
 
b−a f (x0 ) f (xn )
· + f (x1 ) + · · · + f (xn−1 ) +
n 2 2
1 b−a n o
= · · f (x0 ) + 2f (x1 ) + · · · + 2f (xn−1 ) + f (xn )
2 n
1 b−a n o
= · · f (x0 ) + f (x1 ) + · · · + f (xn−1 ) +
2 n
1 b−a n o
· · f (x1 ) + f (x2 ) + · · · + f (xn ) +
2 (n )
n−1 n
1 b−aX b−aX
= · f (xi−1 ) + f (xi ) .
2 n i=0 n i=1
ou seja, a aproximação pela Regra do Trapézio é a média aritmética das aproximações pela
Regra do Extremo Esquerdo e pela Regra do Extremo Direito.
Exemplo 1. Seja f a função dada por
1
f (x) = qualquer que seja x ∈ R.
1 + x2
Tem-se
Z 1 Z 1 1
1
f (x) dx = 2 dx = arctg(x)
−1 −1 1 + x −1
π  π π
= arctg(1) − arctg(−1) = − − =
4 4 2
≈ 1,57079632679489661923.
Para efeito de comparação, a tabela 1 apresenta valores aproximados para esta integral de-
finida. A sua segunda coluna coluna apresenta as aproximações pela regra do trapézio e a
terceira coluna apresenta as aproximações pela regra do ponto médio. Compare os valores
aproximados, nos dois métodos de aproximação, com o valor exato, apresentado na última
coluna desta tabela.

Exemplo 2. Seja f a função dada por


x
f (x) = √ qualquer que seja x ∈ R.
1 + x2
4

TABELA 1. Valores aproximados da integral definida


R1 1 dx.
−1 1 + x2

n Aproximação(TPZ) Aproximação(PM) Valor Exato


50 1.5706629935 1.5708629935 1.5707963268
100 1.5707629935 1.5708129935 1.5707963268
150 1.5707815120 1.5708037342 1.5707963268
200 1.5707879935 1.5708004935 1.5707963268
250 1.5707909935 1.5707989935 1.5707963268
300 1.5707926231 1.5707981786 1.5707963268
350 1.5707936057 1.5707976873 1.5707963268
400 1.5707942435 1.5707973685 1.5707963268
450 1.5707946807 1.5707971498 1.5707963268
500 1.5707949935 1.5707969935 1.5707963268

√ x
R2
TABELA 2. Valores aproximados da integral definida 0
dx.
1 + x2

n Aproximação(TPZ) Aproximação(PM) Valor Exato


50 1.2359465586 1.2361286912 1.2360679775
100 1.2360376249 1.2360831541 1.2360679775
150 1.2360544876 1.2360747225 1.2360679775
200 1.2360603895 1.2360717715 1.2360679775
250 1.2360631212 1.2360704057 1.2360679775
300 1.2360646051 1.2360696637 1.2360679775
350 1.2360654998 1.2360692164 1.2360679775
400 1.2360660805 1.2360689260 1.2360679775
450 1.2360664786 1.2360687269 1.2360679775
500 1.2360667634 1.2360685845 1.2360679775

Tem-se
Z 2 Z 2 √ 2
x
f (x) dx = √
= 1+ x2
0 01 + x2 0

= 5 − 1 ≈ 1,23606797749978969641.

Para efeito de comparação, a tabela 2 apresenta valores aproximados para esta integral de-
finida. A sua segunda coluna coluna apresenta as aproximações pela regra do trapézio e a
terceira coluna apresenta as aproximações pela regra do ponto médio. Compare os valores
aproximados, nos dois métodos de aproximação, com o valor exato, apresentado na última
coluna desta tabela.

Exemplo 3. Seja f a função dada por

f (x) = x cos(x) dx qualquer que seja x ∈ R.


5
R2
TABELA 3. Valores aproximados da integral definida 0
x cos(x) dx.

n Aproximação(TPZ) Aproximação(PM) Valor Exato


50 0.4020166966 0.4026636854 0.4024480171
100 0.4023401910 0.4025019306 0.4024480171
150 0.4024000947 0.4024719784 0.4024480171
200 0.4024210608 0.4024614953 0.4024480171
250 0.4024307651 0.4024566431 0.4024480171
300 0.4024360366 0.4024540074 0.4024480171
350 0.4024392151 0.4024524181 0.4024480171
400 0.4024412781 0.4024513866 0.4024480171
450 0.4024426924 0.4024506794 0.4024480171
500 0.4024437041 0.4024501736 0.4024480171

Tem-se

Z 2 Z 2 2
f (x) dx = x cos(x) dx = (x sen(x) + cos(x))
0 0 0
= 2 sen(2) + cos(2) − 1 ≈ 0,40244801710422100379.

Para efeito de comparação, a tabela 3 apresenta valores aproximados para esta integral de-
finida. A sua segunda coluna coluna apresenta as aproximações pela regra do trapézio e a
terceira coluna apresenta as aproximações pela regra do ponto médio. Compare os valores
aproximados, nos dois métodos de aproximação, com o valor exato, apresentado na última
coluna desta tabela.

Estimativa de Erro pela Regra do Trapézio


6

Sejam a, b ∈ R, com a < b, f uma função de classe C 2 em [a, b] e p = (a + b)/2. Tem-se,


por integração por partes, que

b b
b−a b−a
Z Z
f (a) + f (b)
f (x) dx − (b − a) = f (x) dx − f (a)
− f (b)
a 2 a 2 2
Z b
a−b b−a
= f (x) dx + f (a) − f (b)
a 2 2
Z b
= f (x) dx + f (a)(a − p) − f (b)(b − p)
a
Z b b
= f (x) dx − f (x)(x − p)
a a
Z b
= − (x − p)f 0 (x) dx
a
Z b
= − f 0 (x)(x − p) dx
a
b b
(x − p)2 00 (x − p)2
Z
= f (x) dx − f 0 (x)
a 2 2 a
b 2 2
(x − p) 00 (b − a) (a − b)2
Z
0 0
= f (x) dx − f (b) + f (a)
a 2 8 8
Z b 2 2
(x − p) 00 (b − a) 0
= f (x) dx − (f (b) − f 0 (a))
a 2 8
Z b
(x − p)2 00 (b − a)2 b 00
Z
= f (x) dx − f (x) dx
a 2 8 a
Z b
(x − p)2 (b − a)2

= − f 00 (x) dx
a 2 8
1 b (b − a)2
Z  
= 2
(x − p) − f 00 (x) dx
2 a 4
1 b
Z
(x − p)2 − (b − p)2 f 00 (x) dx,

=
2 a

onde (x − p)2 − (b − p)2 ≤ 0 qualquer que seja x ∈ [a, b]. Seja M > 0 tal que |f 00 (x)| ≤ M
qualquer que seja x ∈ [a, b]. Tem-se

(x − p)2 − (b − p)2 f 00 (x) ≤ M · (x − p)2 − (b − p)2




= M · (b − p)2 − (x − p)2


qualquer que seja x ∈ [a, b]. Portanto,


7

Z b Z b
f (a) + f (b) 1
(x − p)2 − (b − p)2 f 00 (x) dx

f (x) dx − (b − a) =
a 2 2 a
Z b
1
(x − p)2 − (b − p)2 f 00 (x) dx

= ·
2 a
Z b
1
(x − p)2 − (b − p)2 f 00 (x) dx


2 a
M b
Z
(b − p)2 − (x − p)2 dx


2 a
 b
(x − p)3

M 2
= · (b − p) x −
2 3 a
 3
M (b − p)
= · (b − p)2 b − −
2 3
(a − p)3
 
M 2
· (b − p) a −
2 3
3
(b − a)3
 
M (b − a) M
= · − = (b − a)3 ,
2 4 12 12

isto é,

Z b
f (a) + f (b) M
(DTR) f (x) dx − (b − a) ≤ (b − a)3 .
a 2 12

Assim, dados n ∈ N1 e Pn = (x0 , x1 , . . . , xn ) a particão uniforme de [a, b], com coeficientes


c1 , . . . , cn tais que

f (xi−1 ) + f (xi )
f (ci ) = qualquer que seja i ∈ { 1, . . . , n },
2
8

aplicando a desigualdade DTR em cada subintervalo da partição Pn , tem-se


Z b n
X n Z
X xi n
X
f (x) dx − f (ci )∆x = f (x) dx − f (ci )∆x
a i=1 i=1 xi−1 i=1
Xn Z xi 
= f (x) dx − f (ci )∆x
i=1 xi−1

Xn Z xi 
≤ f (x) dx − f (ci )(xi − xi−1 )
i=1 xi−1
n Z xi 
X f (xi−1 ) + f (xi )
= f (x) dx − (xi − xi−1 )
i=1 x i−1
2
n n  3
X M 3
X M b−a
≤ (xi − xi−1 ) =
i=1
24 i=1
12 n
3
M (b − a)3

M b−a
=n· = · ,
12 n 12 n2

isto é,

b n
M (b − a)3
Z X
f (x) dx − f (ci )∆x ≤ · .
a i=1
12 n2

Isto diz que na aproximação pela Regra do Trapézio

b  
b−a
Z
f (x0 ) f (xn )
f (x) dx ≈ · + f (x1 ) + · · · + f (xn−1 ) + ,
a n 2 2

o erro cometido não é superior, em módulo, a

M (b − a)3
· .
12 n2
Exemplo 4. Seja f : R −→ R a função dada por f (x) = sen(x2 ) qualquer que seja x ∈ R. A
função f é de classe C ∞ com

f 0 (x) = 2x cos(x2 ) e f 00 (x) = 2 cos(x2 ) − 4x2 sen(x2 ) ∀x ∈ R.

Portanto,

|f 00 (x)| = 2 cos(x2 ) − 4x2 sen(x2 ) ≤ 2 cos(x2 ) + 4x2 sen(x2 )


≤ 2 + 4x2 ≤ 6 qualquer que seja x ∈ [−1, 1].
9
R1
TABELA 4. Valores aproximados da integral definida −1
sen(x2 ) dx.

n Aproximação(TPZ) Aproximação(PM) Valor Exato


50 0.6208248672 0.6203924331 ?????????????
100 0.6206086502 0.6205005777 ?????????????
150 0.6205686226 0.6205205934 ?????????????
200 0.6205546139 0.6205275981 ?????????????
250 0.6205481301 0.6205308401 ?????????????
300 0.6205446080 0.6205326011 ?????????????
350 0.6205424843 0.6205336630 ?????????????
400 0.6205411060 0.6205343522 ?????????????
450 0.6205401610 0.6205348247 ?????????????
500 0.6205394851 0.6205351626 ?????????????

Logo, o erro cometido, na aproximação pela regra do trapézio


( 2 2
sen (−1)2
Z 1  
2 2 2 2
sen(x ) dx ≈ · + sen −1 + + sen −1 + 2 · +
−1 n 2 n n
2 2 )
sen (1)2
 
2 2
sen −1 + 3 · + · · · + sen −1 + (n − 1) +
n n 2
( n−1 2 )
sen (−1)2 X sen (1)2

2 2
= · + sen −1 + i · + ,
n 2 i=1
n 2
não é, em módulo, superior a
6 23 4
· 2 = 2.
12 n n
A tabela 3 apresenta valores aproximados para esta integral definida.
Z 1
sen(x2 ) dx.
−1
O erro cometido na aproximação pela regra do trapézio, da última linha, não é superior, em
módulo a
4
= 0,000016.
5002

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