Notas de Aula Cálculo II - 2. Funções de Várias Variáveis

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 39

Capítulo 1

Funções de Duas Variáveis Reais a


Valores Reais

1.1 Introdução

Uma função de duas variáveis reais a valores reais é uma função f : A → R, em que A
é um subconjunto de R2 . Uma tal função associa, a cada par (x, y) ∈ A, um único número
real f (x, y) ∈ R. O conjunto A é o domínio de f e será indicado por Df , ou simplesmente
por D, quando não houver possibilidade de confusão. O conjunto

Im(f ) = {f (x, y) ∈ R / (x, y) ∈ Df }

é a imagem de f. As palavras aplicação e transformação são sinônimas de função.

Observação: Caso não seja especificado o domínio de f, ficará implícito que seu domínio
será o ”maior” subconjunto de R2 para o qual faz sentido a regra de f.

1
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS REAIS A VALORES REAIS 2

Exemplo 1: Seja f a função de duas variáveis reais a valores reais dada por f (x, y) =
x+y
. O domínio de f é o conjunto de todos os pares (x, y) ∈ R2 , com x 6= y. Isto é,
x−y
Df = {(x, y) ∈ R2 / x 6= y}.

Exemplo 2: Na função do exemplo 1, temos:


2+3
f (2, 3) = = −5.
2−3

Exemplo 3: Represente graficamente o domínio da função f dada por


√ p
f (x, y) = y−x+ 1 − y.

Exemplo 4: Seja f a função dada por (x, y) 7→ z, em que z = 5x2 y − 3x. O valor de
f em (x, y) é f (x, y) = 5x2y − 3x. Na equação acima, x e y estão sendo vistas como
variáveis independentes e z como variável dependente. Observe que o domínio de f é o
R2 .
Exemplo 5: Represente graficamente o domínio da função w = f (u, v), dada por

u2 + v 2 + w2 = 1, w ≥ 0.

Exemplo 6: Represente graficamente o domínio da função z = f (x, y), dada por


p
z= y − x2 .

1.2 Gráfico e curvas de nível

Seja z = f (x, y), (x, y) ∈ Df , uma função real de duas variáveis reais. O conjunto

Gf = {(x, y, z) ∈ R3 / z = f (x, y), (x, y) ∈ Df }

denomina-se gráfico de f.
Munindo-se o espaço de um sistema ortogonal de coordenadas cartesianas, o gráfico
de f pode, então, ser pensado como o lugar geométrico descrito pelo ponto (x, y, f (x, y))
quando (x, y) percorre o domínio de f.
A representação geométrica do gráfico de uma função de duas varáveis não é tarefa
fácil. Em vista disso, quando se pretende ter uma visão geométrica da função, lança-se
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS REAIS A VALORES REAIS 3

mão de curvas de nível, cuja representação geométrica é sempre mais fácil de ser obtida
do que o gráfico da função.
Sejam z = f (x, y) uma função e c ∈ Im(f ). O conjunto de todos os pontos (x, y) de
Df tais que f (x, y) = c denomina-se curva de nível de f correspondente ao nível z = c.
Assim, f é constante sobre cada curva de nível.
O gráfico de f é um subconjunto de R3 . Uma curva de nível é um subconjunto do
domínio de f, portanto, de R2 .
Exemplo 7: O gráfico da função constante f (x, y) = k é um plano paralelo ao plano xy.

Exemplo 8: O gráfico da função linear dada por z = 2x+y é um plano paralelo passando
pela origem e normal ao vetor ~n = (2, 1, −1).
Tal plano é determinado pelas retas
 
 x=0  y=0
e
 z=y  z = 2x
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS REAIS A VALORES REAIS 4

Exemplo 9: O gráfico da função afim dada por z = ax + by + c é um plano normal ao


vetor ~n = (a, b, −1).
Tal plano é determinado pelas retas
 
 x=0  y=0
e
 z = by + c  z = ax + c

Exemplo 10: Desenhe as curvas de nível de f (x, y) = x2 + y 2 .


Exemplo 11: Esboce o gráfico de f (x, y) = x2 + y 2 . (Parabolóide de rotação)
x2 y 2
Exemplo 12: O gráfico da função dada por z = 2 + 2 (a > 0 e b > 0) é uma superfície
a b
denominada parabolóide elíptico. Se a = b, temos o parabolóide de rotação.
1
Exemplo 13: Seja f a função dada por z = 2 .
x + y2

a) Determine o domínio e a imagem de f.

b) Desenhe as curvas de nível.

c) Esboce o gráfico.
Capítulo 2

Limite e continuidade de funções de


duas variáveis

2.1 Alguns conceitos básicos

Definição 1. Dados P0 = (x0 , y0 ) ∈ R2 e um número positivo r, a bola aberta B(P0 , r),


de centro P0 e raio r, é definida como o conjunto de todos os pontos P = (x, y) ∈ R2
cuja distância até a P0 é menor que r, isto é, pelos pontos P = (x, y) que satisfazem
kP − P0 k < r.1

Podemos escrever

B(P0 , r) = {(x, y) ∈ R2 / k(x, y) − (x0 , y0 )k < r}


p
= {(x, y) ∈ R2 / (x − x0 )2 + (y − y0 )2 < r}

Geometricamente, B(P0 , r) é o conjunto de todos os pontos internos à circunferência


de centro em P0 e raio r.

Definição 2. Seja A ⊂ R2 . Um ponto P ∈ R2 é dito um ponto de acumulação de A se


toda bola aberta de centro em P contiver uma infinidade de pontos de A.

Intuitivamente, podemos dizer que P 0 é um ponto de acumulação de A quando exis-


tirem pontos de A, diferentes de P 0 que estejam tão próximos de P 0 quanto desejarmos.

p
1
Denotamos por k(x, y)k = x2 + y 2 a norma euclidiana em R2 .

5
CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS 6

2.2 Limite

Definição 3. Sejam f : Df ⊂ R2 → R uma função, (x0 , y0 ) um ponto de acumulação de


Df e L um número real. Definimos



 Para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que,

lim f (x, y) = L ⇔ para todo (x, y) ∈ Df ,
(x,y)→(x0 ,y0 ) 

 0 < k(x, y) − (x , y )k < δ ⇒ |f (x, y) − L| < ε.

0 0

Observação: De agora em diante, sempre que falarmos que f tem limite em (x0 , y0 ), fica
implícito que (x0 , y0 ) é ponto de acumulação de Df .
Exemplo 1: Usando a definição de limite, mostrar que lim (3x + 2y) = 7.
(x,y)→(1,2)
CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS 7

Proposição 4. Sejam D1 e D2 dois subconjuntos de Df , ambos tendo (x0 , y0 ) como ponto


de acumulação. Se f (x, y) tem limites diferentes quando (x, y) tende a (x0 , y0 ) através de
pontos de D1 e de D2 , respectivamente, então lim f (x, y) não existe.
(x,y)→(x0 ,y0 )

Demonstração: Vamos supor que existe um número real L tal que lim f (x, y) =
(x,y)→(x0 ,y0 )
L. Então, para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que, se (x, y) ∈ Df e 0 < k(x, y)−(x0 , y0 )k < δ,
então |f (x, y) − L| < ε.
Como D1 ⊂ Df , temos que, se se (x, y) ∈ D1 e 0 < k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ, então
|f (x, y) − L| < ε. Da mesma forma, como D2 ⊂ Df , temos que, se se (x, y) ∈ D2 e
0 < k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ, então |f (x, y) − L| < ε.
Concluímos, assim, que o limite de f (x, y) é igual ao mesmo valor L quando (x, y)
tende a (x0 , y0 ) através de pontos pertencentes somente a D1 e também pertencentes
somente a D2 . Isso contraria a hipótese de que f (x, y) tem limites diferentes quando
(x, y) se aproxima de (x0 , y0 ) através de pontos de D1 e de D2 . Logo, se f (x, y) tem
limites diferentes quando (x, y) tende a (x0 , y0 ) através de conjuntos de pontos distintos
do domínio de f, então lim f (x, y) não existe.
(x,y)→(x0 ,y0 )

Usando essa proposição, podemos mostrar que certos limites de funções de duas va-
riáveis não existem. Para isso, tomamos conjuntos particulares convenientes, dados, por
exemplo, por pontos de curvas que passem em (x0 , y0 ). Nesse caso, o limite se transforma
no limite de uma função de uma variável, como mostram as situações seguintes:

a) Se D1 é o conjunto dos pontos do eixo dos x, o limite de f (x, y) quando (x, y) → (0, 0)
através de pontos de D1 é dado por

lim f (x, y) = lim f (x, 0).


x→0 x→0
y=0

b) Se D2 é o conjunto dos pontos da reta y = 2x, o limite de f (x, y) quando (x, y)


tende a (0, 0) através de pontos de D2 é dado por

lim f (x, y) = lim f (x, 2x).


x→0 x→0
y=2x
CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS 8

c) Se D3 é o conjunto dos pontos do eixo positivo dos y, o limite de f (x, y) quando


(x, y) tende a (0, 0) através de pontos de D3 é dado por

lim f (x, y) = lim+ f (0, y).


y→0+ y→0
x=0

2xy
Exemplo 2: Mostrar que lim
não existe.
(x,y)→(0,0) x2
+ y2
xy 2
Exemplo 3: Verificar se existe lim não existe.
(x,y)→(0,0) x2 + y 4

2.3 Propriedades do limite

Proposição 5. Seja f : R2 → R, definida por f (x, y) = ax + b, como a, b ∈ R. Então


lim f (x, y) = ax0 + b.
(x,y)→(x0 ,y0 )

Demonstração: Para a = 0 a demonstração é trivial. Sejam a 6= 0 e ε > 0. Tome


ε
δ= . Assim, sempre que k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ, temos:
|a|

|f (x, y) − (ax0 + b)| = |(ax + b) − (ax0 + b)|

= |a||(x − x0 )|

≤ |a|k(x, y) − (x0 , y0 )k

< |a|δ < ε.

Proposição 6. Se lim f (x, y) e lim g(x, y) existem e c ∈ R, então:


(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

a) lim [f (x, y) ± g(x, y)] = lim f (x, y) ± lim g(x, y);


(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

b) lim c · f (x, y) = c · lim f (x, y);


(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )
   
c) lim [f (x, y) · g(x, y)] = lim f (x, y) · lim g(x, y) ;
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

lim f (x, y)
f (x, y) (x,y)→(x0 ,y0 )
d) lim = , desde que lim g(x, y) 6= 0;
(x,y)→(x0 ,y0 ) g(x, y) lim g(x, y) (x,y)→(x0 ,y0 )
(x,y)→(x0 ,y0 )
CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS 9
 n
n
e) lim [f (x, y)] = lim f (x, y) , para qualquer n ∈ N;
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

p r
n
f) lim f (x, y) = n lim f (x, y), se lim f (x, y) ≥ 0 e n ∈ N ou
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

se lim f (x, y) ≤ 0 e n ∈ N é ímpar.


(x,y)→(x0 ,y0 )

Demonstração: Demonstraremos o item (a) apenas. A demonstração dos outros itens


é análoga.
Seja ε > 0. Suponhamos que lim f (x, y) = L e lim g(x, y) = M.
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )
Daí, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que |f (x, y) − L| < ε/2, sempre que (x, y) ∈ Df
e 0 < k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ1 ; e |g(x, y) − M | < ε/2, sempre que (x, y) ∈ Dg e 0 <
k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ2 .
Tome δ = min{δ1 , δ2 }. Assim, se (x, y) ∈ Df ∩ Dg e 0 < k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ, temos

|(f (x, y) + g(x, y)) − (L + M )| = |(f (x, y) − L) + (g(x, y) − M )|

≤ |(f (x, y) − L)| + |(g(x, y) − M )|

< ε/2 + ε/2 = ε.

Portanto, lim [f (x, y) + g(x, y)] = L + M = lim f (x, y) + lim g(x, y).
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

Exemplo 4: Calcular (x3 y + x2 y 3 − 2xy + 4).


lim
(x,y)→(2,−1)

Exemplo 5: Calcular lim x + y.
(x,y)→(0,2)
x3 y + 4
Exemplo 6: Calcular lim .
(x,y)→(−1,1) x + y − 2

Proposição 7. Seja f : R → R contínua em um ponto a ∈ R. Se g : R2 → R é uma


função tal que lim g(x, y) = a, então
(x,y)→(x0 ,y0 )

 
lim (f ◦ g)(x, y) = f lim g(x, y) = f (a),
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

em que (f ◦ g)(x, y) é a função composta de f e g, isto é, (f ◦ g)(x, y) = f (g(x, y)).

Demonstração: Seja ε > 0. Como f é contínua em a, existe δ1 > 0 tal que se (x, y) ∈ Df
e |u − a| < δ1 , então |f (u) − f (a)| < ε.
CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS10

Agora, como lim g(x, y) = a, existe δ2 > 0 tal que, se (x, y) ∈ Dg e ) <
(x,y)→(x0 ,y0 )
k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ2 , tem-se |g(x, y) − a| < δ1 .
Assim, se (x, y) ∈ Dg e 0 < k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ2 , temos |f (g(x, y)) − f (a)| < ε.

Exemplo 7: Calcular lim ln(x2 + xy − 1).


(x,y)→(1,2)
Exemplo 8: Calcular lim sen(x + y).
(x,y)→(0,π/2)

Proposição 8. Se lim f (x, y) = 0 e g(x, y) é uma função limitada em uma bola


(x,y)→(x0 ,y0 )
aberta centrada em (x0 , y0 ), então

lim f (x, y)g(x, y) = 0.


(x,y)→(x0 ,y0 )

Demonstração: Primeiramente, note que, como g(x, y) é limitada em uma bola aberta
de centro (x0 , y0 ), existem constantes M > 0 e r > 0 tais que |g(x, y)| ≤ M, para todo
(x, y) ∈ B((x0 , y0 ); r).
Seja ε > 0. Como lim f (x, y) = 0, existe δ1 > 0 tal que, se (x, y) ∈ Df e
(x,y)→(x0 ,y0 )
0 < k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ1 , temos |f (x, y)| < ε/M.
Tome δ = min{δ1 , r}. Então, se (x, y) ∈ Df e 0 < k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ, temos

|f (x, y) · g(x, y)| = |(f (x, y)| · |(g(x, y)|


ε
< · M = ε.
M
Logo,
lim f (x, y)g(x, y) = 0.
(x,y)→(x0 ,y0 )

x2 y
Exemplo 9: Mostre que lim = 0.
(x,y)→(0,0) x2 + y 2

Proposição 9 (Teorema do Confronto). Se f (x, y) ≤ g(x, y) ≤ h(x, y) em uma bola


aberta de centro (x0 , y0 ) e se

lim f (x, y) = lim h(x, y) = L,


(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

então
lim g(x, y) = L.
(x,y)→(x0 ,y0 )
CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS11

Proposição 10. lim f (x, y) = 0 ⇔ lim |f (x, y)| = 0.


(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

A demonstração das Proposições 9 e 10 são similares às demonstrações dos respectivos


teoremas para funções de uma variável, utilizando-se o raciocínio das demonstrações dos
outros teoremas dessa seção.

2.4 Cálculo de limites envolvendo algumas indetermi-


nações

Sejam f e g funções tais que lim f (x, y) = lim g(x, y) = 0. Nada pode-
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )
f
mos afirmar sobre o limite do quociente , quando (x, y) → (x0 , y0 ). Vamos ver alguns
g
exemplos.

x3 + x2 y − 2xy − 2x2 − 2x + 4
Exemplo 10: Calcular lim .
(x,y)→(2,1) xy + x − 2y − 2
x+y−1
Exemplo 11: Calcular lim+ √ √ .
x→0

x − 1 − y
y→1

2.5 Continuidade

Definição 11. Sejam f : Df ⊂ R2 → R e (x0 , y0 ) ∈ Df um ponto de acumulação de Df .


Dizemos que f é contínua em (x0 , y0 ) se

lim f (x, y) = f (x0 , y0 ).


(x,y)→(x0 ,y0 )

Vejamos alguns exemplos.


2xy


 p , (x, y) 6= (0, 0)
Exemplo 12: Verificar se f (x, y) = x2 + y 2 é contínua em (0, 0).

 0, (x, y) = (0, 0)

 2xy , (x, y) 6= (0, 0)

Exemplo 13: Verificar se f (x, y) = x2 + y 2 é contínua em (0, 0).
0, (x, y) = (0, 0)


Exemplo 14: Discutir a continuidade da função

 x2 + y 2 + 1, se x2 + y 2 ≤ 4,
f (x, y) =
 0, se x2 + y 2 > 4.
CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS12

2xy


 p , (x, y) 6= (0, 0)
Exemplo 15: Verificar se f (x, y) = 2x2 + 2y 2 é contínua na

 0, (x, y) = (0, 0)
origem.

Proposição 12. Sejam f, g : D ⊂ R2 → R duas funções contínuas em (x0 , y0 ) ∈ D.


Então

a) f ± g é contínua em (x0 , y0 );

b) f · g é contínua em (x0 , y0 );
f
c) é contínua em (x0 , y0 ), desde que g(x0 , y0 ) 6= 0.
g
Proposição 13. Sejam y = f (u) e z = g(x, y). Suponha que g é contínua em (x0 , y0 ) e
que f é contínua em g(x0 , y0 ). Então, a função composta f ◦ g é contínua em (x0 , y0 ).

As demonstrações das proposições acima seguem direto da definição de continuidade.


Exemplo 16: A função h(x, y) = ln(x2 + y 2 + 4) é a composta das funções f (u) = ln u e
g(x, y) = x2 y 2 + 4.
A função g é contínua em R2 , pois é uma função polinomial. A função f é contínua em
R+ . Como g(x, y) > 0, ∀(x, y) ∈ R2 , temos que, para qualquer (x0 , y0 ) ∈ R2 , g é contínua
em (x0 , y0 ) e f é contínua em g(x0 , y0 ). Logo, h é contínua em R2 .
Capítulo 3

Derivadas Parciais

3.1 Introdução e exemplos

Seja z = f (x, y) uma função real de duas variáveis reais e seja (x0 , y0 ) ∈ Df . Fixado
y0 , podemos considerar a função g de uma variável dada por

g(x) = f (x, y0 ).

A derivada dessa função no ponto x = x0 (caso exista) denomina-se derivada parcial


de f em relação a x, no ponto (x0 , y0 ) e indica-se com uma das notações:
∂f ∂z
(x0 , y0 ) ou ou fx (x0 , y0 ).
∂x ∂x x=x0
y=y0

∂f
Assim, (x0 , y0 ) = g 0 (x0 ). De acordo com a definição de derivada, temos:
∂x
∂f g(x) − g(x0 ) f (x, y0 ) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = g 0 (x0 ) = lim = lim ,
∂x x→x 0 x − x0 x→x 0 x − x0
ou ainda,
∂f f (x0 + h, y0 ) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim .
∂x h→0 h
Definição 14. Seja A o subconjunto de Df formado por todos os pontos (x, y) tais que
∂f ∂f
(x, y) existe; fica assim definida uma nova função, indicada por e definida em A,
∂x ∂x
∂f
que a cada (x, y) ∈ A, associa o número (x, y), em que
∂x
∂f f (x0 + h, y0 ) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim .
∂x h→0 h

13
CAPÍTULO 3. DERIVADAS PARCIAIS 14

Tal função denomina-se função derivada parcial de 1a ordem da função f, em relação a


x.

De modo análogo, fixado x0 , define-se derivada parcial de f, em relação a y, no ponto


∂f ∂z
(x0 , y0 ) que se indica por (x0 , y0 ) ou ou fy (x0 , y0 ) :
∂y ∂y x=x0
y=y0

∂f f (x0 , y) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim ,
∂y y→y0 y − y0

ou
∂f f (x0 , y0 + h) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim .
∂y h→0 h
Exemplo 1: Seja f (x, y) = 2xy − 4y. Calcule:
∂f ∂f ∂f ∂f
a) (x, y) b) (x, y) c) (1, 1) d) (−1, 1).
∂x ∂y ∂x ∂y
Exemplo 2: Considere a função z = f (x, y) dada por z = arctg(x2 + y 2 ). Calcule:
∂z ∂z ∂z ∂z
a) b) c) d)
∂x ∂y ∂x x=1 ∂y x=0
y=1 y=0
Exemplo 3: Sendo z = f (x, y) dada implicitamente por x2 + y 2 + z 2 = 1, z > 0, calcule:
∂z ∂z
a) b)
∂x ∂y  3
 x − y2
 , (x, y) 6= (0, 0)
Exemplo 4: Seja f (x, y) = x2 + y 2 . Determine:
0, (x, y) = (0, 0)


∂z ∂z
a) b)
∂x ∂y

3.2 Interpretação geométrica

Seja f : Df ⊂ R2 → R, z = f (x, y), uma função que admite derivadas parciais em


(x0 , y0 ) ∈ Df . Para y = y0 , temos que f (x, y0 ) é uma função de uma variável cujo gráfico
é uma curva C1 , resultante da interseção da superfície z = f (x, y) com o plano y = y0 .
A inclinação ou coeficiente angular da reta tangente à curva C1 no ponto P = (x0 , y0 )
é dada por
∂f
tgα = (x0 , y0 ),
∂x
onde α pode ser visualizado na figura acima.
CAPÍTULO 3. DERIVADAS PARCIAIS 15

De maneira análoga, temos que a inclinação da reta tangente à curva C2 , resultante


da interseção de z = f (x, y) com o plano x = x0 é

∂f
tgβ = (x0 , y0 ).
∂y

Exemplo 5: Seja z = 6 − x2 − y 2 . Encontrar a inclinação da reta tangente à curva C2 ,


resultante da interseção de z = f (x, y) com x = 2, no ponto (2, 1, 1).
Exemplo 6: Seja z = 2x2 + 5y 2 − 12x. Encontrar a inclinação da reta tangente à curva
C1 , resultante da interseção de z = f (x, y) com y = 1, no ponto (2, 1, −6).
Capítulo 4

Funções Diferenciáveis

4.1 Função Diferenciável: Definição

Nessa seção, vamos estender o conceito de diferenciabilidade de funções de uma variável


para funções de duas variáveis.
Sabemos que o gráfico de uma função derivável de uma variável constitui uma curva
que não possui pontos angulosos, isto é, é uma curva suave. Em cada ponto do gráfico
temos uma reta tangente única.
Similarmente, queremos caracterizar uma função diferenciável de duas variáveis f (x, y),
pela suavidade de seu gráfico. Em cada ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) do gráfico de f , deverá
existir um único plano tangente, que represente uma ”boa aproximação” para a função f
perto de (x0 , y0 ).
Para entendermos o que significa um ”boa aproximação” para a função f perto de
(x0 , y0 ), vamos trabalhar inicialmente com uma função derivável f : R → R. Sabemos
que, se f é derivável no ponto x0 sua derivada f 0 (x0 ) é dada por
f (x) − f (x0 )
lim = f 0 (x0 ). (4.1)
x→x0 x − x0
Podemos reescrever a equação (4.1) como
f (x) − [f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 )]
lim = 0. (4.2)
x→x0 x − x0
A expressão (4.2) nos diz que a função

y = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ),

16
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS 17

que é a reta tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , f (x0 )), é uma ”boa aproximação” de
f perto de x0 . Em outras palavras, quando x se aproxima de x0 , a diferença entre f (x) e
y se aproxima de zero de uma forma mais rápida.
A figura abaixo ilustra essa situação.

Assim como a derivada de uma função de uma variável está ligada à reta tangente
ao gráfico da função, as derivadas parciais estão relacionadas com o plano tangente ao
gráfico de uma uma função de duas variáveis. No entanto, nesse último caso, devemos
fazer uma análise bem mais cuidadosa, pois somente a existência das derivadas parciais
não garante que existirá um plano tangente, como veremos mais adiante. Por enquanto,
vamos raciocinar mais intuitivamente, dispensando um pouco o formalismo.
∂f
Como já vimos, a derivada parcial de (x0 , y0 ) é o coeficiente angular da reta tangente
∂x
à curva de interseção do plano y = y0 com a superfície z = f (x, y), no ponto (x0 , y0 ). Da
∂f
mesma forma, (x0 , y0 ) é o coeficiente angular da reta tangente à curva de interseção
∂y
do plano x = x0 com a superfície z = f (x, y), no ponto (x0 , y0 ).
Intuitivamente, percebemos que essas retas tangentes devem estar contidas no plano
tangente à superfície, se esse plano existir.
Veja a figura abaixo:
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS 18

Assim, se o plano tangente a z = f (x, y), no ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )), fosse dado pela
equação
h(x, y) = ax + by + c, (4.3)

teríamos que :

a) sua inclinação na direção do eixo dos x seria


∂f
a= (x0 , y0 ); (4.4)
∂x

b) sua inclinação na direção do eixo dos y seria


∂f
b= (x0 , y0 ); (4.5)
∂y

c) o ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) satisfaria a equação (4.3), ou seja,

h(x0 , y0 ) = f (x0 , y0 ). (4.6)

Substituindo (4.4) e (4.5) em (4.3), obteríamos


∂f ∂f
h(x, y) = (x0 , y0 )x + (x0 , y0 )y + c. (4.7)
∂x ∂y
Substituindo (4.6) em (4.7), teríamos
∂f ∂f
f (x0 , y0 ) = (x0 , y0 )x0 + (x0 , y0 )y0 + c
∂x ∂y
ou
∂f ∂f
c = f (x0 , y0 ) − (x0 , y0 )x0 − (x0 , y0 )y0 (4.8)
∂x ∂y
Finalmente, substituindo (4.8) em (4.7), obteríamos
∂f ∂f
h(x, y) = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )[x − x0 ] + (x0 , y0 )[y − y0 ]. (4.9)
∂x ∂y
Assim, na situação em que existir o plano tangente ao gráfico de z = f (x, y) no ponto
(x0 , y0 , f (x0 , y0 )), esse plano será dado pela equação (4.9).
Podemos, agora, introduzir o conceito de função diferenciável. De uma maneira infor-
mal, dizemos que f (x, y) é diferenciável em (x0 , y0 ) se o plano dado pela equação (4.9) nos
fornece uma boa ”aproximação” para f (x, y) perto de (x0 , y0 ). Ou seja, quando (x, y) se
aproxima de (x0 , y0 ), a diferença entre f (x, y) e z = h(x, y) se aproxima mais rapidamente
de zero.
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS 19

Definição 15. Dizemos que a função f (x, y) é diferenciável no ponto (x0 , y0 ) se as deri-
∂f ∂f
vadas parciais (x0 , y0 ) e (x0 , y0 ) existem e se
∂x ∂y
 
∂f ∂f
f (x, y) − f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )[x − x0 ] + (x0 , y0 )[y − y0 ]
∂x ∂y
lim = 0. (4.10)
(x,y)→(x0 ,y0 ) k(x, y) − (x0 , y0 )k

Dizemos que f é diferenciável em um conjunto A ⊂ Df , se for diferenciável em todos


os pontos de A. É importante ressaltarmos os seguintes pontos sobre a definição anterior:

• Para provar que uma função é diferenciável em (x0 , y0 ) usando a definição, devemos
mostrar que as derivadas parciais existem em (x0 , y0 ) e, além disso, que o limite da
equação (4.10) é zero.

• Se uma das derivadas parciais não existe no ponto (x0 , y0 ), f não é diferenciável
nesse ponto.

• Se o limite da equação (4.10) for diferente de zero ou não existir, f não será dife-
renciável no ponto (x0 , y0 ), mesmo se existirem as derivadas parciais nesse ponto.

Proposição 16. Se f (x, y) é diferenciável no ponto (x0 , y0 ), então f é contínua nesse


ponto.

Demonstração: Devemos mostrar que

lim f (x, y) = f (x0 , y0 ).


(x,y)→(x0 ,y0 )

Como f é diferenciável em (x0 , y0 ), temos que


∂f ∂f
f (x, y) − f (x0 , y0 ) − (x0 , y0 )[x − x0 ] − (x0 , y0 )[y − y0 ]
∂x ∂y
lim p = 0.
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x − x0 )2 + (y − y0 )2
p
Como lim (x − x0 )2 + (y − y0 )2 = 0, podemos escrever
(x,y)→(x0 ,y0 )

∂f ∂f
f (x, y) − f (x0 , y0 ) − (x0 , y0 )[x − x0 ] − (x0 , y0 )[y − y0 ] p
∂x ∂y
lim p · (x − x0 )2 + (y − y0 )2 = 0.
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x − x0 )2 + (y − y0 )2

ou
 
∂f ∂f
lim f (x, y) − f (x0 , y0 ) − (x0 , y0 )[x − x0 ] − (x0 , y0 )[y − y0 ] = 0.
(x,y)→(x0 ,y0 ) ∂x ∂y
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS 20

Como lim (x − x0 ) = 0 e lim (x − x0 ) = 0, concluímos que


(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

lim (f (x, y) − f (x0 , y0 )) = 0,


(x,y)→(x0 ,y0 )

isto é,
lim f (x, y) = f (x0 , y0 ).
(x,y)→(x0 ,y0 )

Exemplo 1 Usando a definição, provar que a função f (x, y) = x2 + y 2 é diferenciável


em R2 .
Exemplo 2 Verifique se as funções dadas são diferenciáveis na origem.
p
a) f (x, y) = x2 + y 2

x2
, se (x, y) 6= (0, 0)


b) f (x, y) = x2 + y 2
0, se (x, y) = (0, 0)


 3
 2y ,

se (x, y) 6= (0, 0)
c) f (x, y) = x2 + y 2
0, se (x, y) = (0, 0)

4.2 Uma condição suficiente para diferenciabilidade

Proposição 17. Seja (x0 , y0 ) um ponto do domínio da função f (x, y). Se f (x, y) possui
∂f ∂f
derivadas parciais e em um conjunto aberto A que contém (x0 , y0 ) e se essas
∂x ∂y
derivadas parciais são contínuas em (x0 , y0 ), então f é diferenciável em (x0 , y0 ).
∂f ∂f
Demonstração: Uma vez que as derivadas parciais (x0 , y0 ) e (x0 , y0 ) existem,
∂x ∂y
devemos mostrar que
 
∂f ∂f
f (x, y) − f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )[x − x0 ] + (x0 , y0 )[y − y0 ]
∂x ∂y
lim = 0. (4.11)
(x,y)→(x0 ,y0 ) k(x, y) − (x0 , y0 )k

Como A é aberto e (x0 , y0 ) ∈ A, existe uma bola aberta B = B(x0 , y0 ; r) que está
∂f
contida em A. Seja (x, y) ∈ A. Fixando y e sabendo (por hipótese) que (x, y) existe
∂x
para todo (x, y) ∈ B, pelo Teorema do Valor Médio, existe x̄ entre x0 e x tal que
∂f
f (x, y) − f (x0 , y) = (x̄, y)(x − x0 )
∂x
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS 21

Da mesma forma, podemos dizer que existe um ponto ȳ entre y0 e y tal que

∂f
f (x0 , y) − f (x0 , y0 ) = (x0 , ȳ)(y − y0 ).
∂y

Daí,

f (x, y) − f (x0 , y0 ) = f (x, y) − f (x0 , y) + f (x0 , y) − f (x0 , y0 )


∂f ∂f
= (x̄, y)(x − x0 ) + (x0 , ȳ)(y − y0 ).
∂x ∂y

Portanto, o quociente do limite dado na equação (4.11) pode ser escrito como

∂f ∂f ∂f ∂f
(x̄, y)(x − x0 ) − (x0 , y0 )(x − x0 ) (x0 , ȳ)(x − x0 ) − (x0 , y0 )(x − x0 )
∂x ∂x ∂y ∂y
p + p
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 (x − x0 )2 + (y − y0 )2

Agora, observe que

x − x0 y − y0
p ≤1 e p ≤ 1.
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 (x − x0 )2 + (y − y0 )2

∂f ∂f
Por outro lado, como e são contínuas em (x0 , y0 ) e x̄ e ȳ estão entre x0 e x e y0 e
∂x ∂y
y, respectivamente, temos
 
∂f ∂f
lim (x̄, y)(x − x0 ) − (x0 , y0 ) = 0
(x,y)→(x0 ,y0 ) ∂x ∂x

e  
∂f ∂f
lim (x0 , ȳ)(x − x0 ) − (x0 , y0 ) = 0.
(x,y)→(x0 ,y0 ) ∂y ∂y
Logo,
 
∂f ∂f
f (x, y) − f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )[x − x0 ] + (x0 , y0 )[y − y0 ]
∂x ∂y
lim = 0.
(x,y)→(x0 ,y0 ) k(x, y) − (x0 , y0 )k

Exemplo 3 Verificar que as funções a seguir são diferenciáveis em R2 :

a) f (x, y) = x2 + y 2

b) f (x, y) = 3xy 2 + 4x2 y + 2xy

c) f (x, y) = sen(xy 2 )
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS 22

Exemplo 4 Verificar que as funções dadas são diferenciáveis em todos os pontos de


R2 , exceto na origem:
x
a) f (x, y) =
x2 + y 2
p
b) f (x, y) = x2 + y 2

Definição 18. Seja f (x, y) uma função. Dizemos que f é de classe C 1 no conjunto aberto
∂f ∂f
A, se e forem contínuas em A.
∂x ∂y
Corolário 19. Seja f : A ⊂ R2 , A aberto. Se f for de classe C 1 em A, então f será
diferenciável em A.

4.3 Plano tangente e reta normal

Definição 20. Seja z = f (x, y) uma função diferenciável no ponto (x0 , y0 ). O plano de
equação
∂f ∂f
z = T (x, y) = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ) (4.12)
∂x ∂y
é chamado plano tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )).

A equação (4.12) pode ser escrita, em notação de produto escalar, da seguinte forma:
 
∂f ∂f
(x0 , y0 ), (x0 , y0 ), −1 · (x − x0 , y − y0 , z − f (x0 , y0 )) = 0.
∂x ∂y
Segue daí que o plano tangente ao gráfico de f em (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) é perpendicular à
direção do vetor  
∂f ∂f
N (x0 , y0 ) = (x0 , y0 ), (x0 , y0 ), −1 .
∂x ∂y
A reta que passa por (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) e é paralela ao vetor N (x0 , y0 ) é chamada reta
normal ao gráfico da função f em (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) e sua equação é dada por
 
∂f ∂f
(x, y, z) = (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) + t (x0 , y0 ), (x0 , y0 ), −1 , t ∈ R.
∂x ∂y
Observação: Só definimos o plano tangente ao gráfico de uma função f no ponto
(x0 , y0 , f (x0 , y0 )) no caso em que f é diferenciável em (x0 , y0 ). Se f não é diferenciá-
vel em (x0 , y0 ), mas admite derivadas parciais neste ponto, então o plano equação (4.12)
existe, mas não é necessariamente tangente ao gráfico.
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS 23

Exemplo 5 Determine as equações do plano tangente e da reta normal ao gráfico de


p
f (x, y) = 2 − x2 + y 2 no ponto P0 = (3, 4, −3).
Exemplo 6 Seja f (x, y) = 3x2 y − x. Determine as equações do plano tangente e da
reta normal do ponto (1, 2, f (1, 2)).

4.4 Diferencial

Definição 21. Seja z = f (x, y) uma função diferenciável no ponto (x0 , y0 ). A diferencial
de f em (x0 , y0 ) é definida pela função ou transformação linear T : R2 → R, dada por
∂f ∂f
T (x − x0 , y − y0 ) = (x0 , y0 )[x − x0 ] + (x0 , y0 )[y − y0 ] (4.13)
∂x ∂y
ou
∂f ∂f
T (h, k) = (x0 , y0 )h + (x0 , y0 )k,
∂x ∂y
em que h = x − x0 e k = y − y0

Observamos que:

• Comparando a equação (4.13) com a equação do plano tangente à superfície z =


f (x, y), podemos ver que a transformação linear T nos dá uma aproximação do
acréscimo ∆z, sofrido por f quando passamos de (x0 , y0 ) para (x, y) ou seja,

∆z = f (x, y) − f (x0 , y0 )
∼ ∂f ∂f
= (x0 , y0 )[x − x0 ] + (x0 , y0 )[y − y0 ].
∂x ∂y

• É comum dizer que


∂f ∂f
(x0 , y0 )[x − x0 ] + (x0 , y0 )[y − y0 ]
∂x ∂y
é a diferencial de f em (x0 , y0 ) relativa aos acréscimos ∆x e ∆y, onde

∆x = x − x0 e ∆y = y − y0 .

• Em uma notação clássica, definimos a diferencial das variáveis independentes x e y


como os acréscimos ∆x e ∆y, respectivamente, isto é,

dx = ∆x e dy = ∆y.
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS 24

Nesse contexto, a diferencial de f em (x, y), relativa aos acréscimos ∆x e ∆y, é


indicada por dz ou df, em que

∂f ∂f
dz = (x, y)dx + (x, y)dy.
∂x ∂y

Essa expressão também é denominada diferencial total de f (x, y).


Exemplo 7 Calcular a diferencial de f (x, y) = x + xy no ponto (1, 1).
Exemplo 8 Dada a função z = x2 + y 2 − xy

a) Determinar uma boa aproximação para o acréscimo da variável dependente quando


(x, y) passa de (1, 1) para (1, 001; 1, 02).

b) Calcular ∆z quando as varáveis independentes sofrem a variação dada em a).

Exemplo 9 Calcular a diferencial das seguintes funções:

a) z = sen2 xy

b) z = ln(x + y 2 )

Exemplo 10 Dados um retângulo de lados 2cm e 4cm e um triângulo retângulo cujos


catetos medem 2cm e 1cm, calcular um valor aproximado para a variação da área quando
os lados são modificados de:

a) 4cm e 2cm para 4,01cm e 2,001cm, respectivamente, no caso do retângulo.

b) 2cm para 2,01 cm, 1cm para 0,5cm, no caso do triângulo retângulo.
Capítulo 5

Regra da cadeia e vetor gradiente

5.1 Regra da cadeia

Teorema 22. Sejam z = f (x, y) uma função definida num conjunto aberto U ⊂ R2 e
σ(t) = (x(t), y(t)), t ∈ [a, b], tal que σ([a, b]) ⊂ U. Se σ(t) é diferenciável em t0 ∈ [a, b]
e f (x, y) é diferenciável em σ(t0 ) = (x0 , y0 ), então a função composta z(t) = f (σ(t)),
t ∈ [a, b], é diferenciável em t0 e

dz ∂f dx ∂f dy
= (x(t0 ), y(t0 )) (t0 ) + (x(t0 ), y(t0 )) (t0 ). (5.1)
dt ∂x dt ∂y dt

Demonstração: Seja t0 ∈ [a, b]. Usando a definição de derivada de função de uma


variável, podemos escrever
dz z(t) − z(t0 )
(t0 ) = lim .
dt t→t0 t − t0
z(t) − z(t0 )
O quociente pode ser reescrito como
t − t0
z(t) − z(t0 ) f (x(t), y(t)) − f (x(t0 ), y(t0 )
=
t − t0 t − t0
f (x(t), y(t)) − f (x(t0 ), y(t) f (x(t0 ), y(t)) − f (x(t0 ), y(t0 )
= + .
t − t0 t − t0

Pelo Teorema do Valor Médio para funções de uma variável, existe x̄ entre x0 = x(t0 ) e
x = x(t) tal que  
∂f
f (x, y) − f (x0 , y) = (x̄, y) (x − x0 ).
∂x

25
CAPÍTULO 5. REGRA DA CADEIA E VETOR GRADIENTE 26

Analogamente, considerando f como uma função de y, existe ȳ entre y0 = y(t0 ) e


y = y(t) tal que  
∂f
f (x, y) − f (x0 , y) = (x, ȳ) (y − y0 ).
∂x
Obtemos, assim,
   
z(t) − z(t0 ) ∂f x(t) − x(t0 ) ∂f y(t) − y(t0 )
= (x̄, y) + (x, ȳ) .
t − t0 ∂x t − t0 ∂x t − t0
Passando ao limite quando t → t0 na equação acima e observando que x̄ → x0 , ȳ → y0 e
que as derivadas parciais de f são contínuas em (x0 , y0 ), obtemos
dz ∂f dx ∂f dy
= (x(t0 ), y(t0 )) (t0 ) + (x(t0 ), y(t0 )) (t0 ),
dt ∂x dt ∂y dt
para todo t ∈ [a, b].

dz
Exemplo 1 Sejam z = f (x, y) = x3 y 2 , x(t) = e−t e y(t) = tsent. Calcule (t).
dt
2 dz
Exemplo 2 Sejam z = x2 y, x(t) = et e y(t) = 2t + 1. Calcule (t).
dt
Exemplo 3 Seja z = f (t2 , 3t + 1), em que f (x, y) é uma função de classe C 1 em R2 .
dz
a) Expresse em termos das derivadas parciais de f.
dt
dz ∂f ∂f
b) Verifique que =2 (1, 4) + 3 (1, 4).
dt t=1 ∂x ∂y
Exemplo 4 A temperatura de T (x, y) graus centígrados em cada ponto (x, y) de uma
chapa de metal não caria com o tempo. Um besouro atravessando a chapa está em
(x, y) = (t2 + 1, 3t) no instante t. A temperatura tem as propriedades: T (5, 6) = 40,
Tx (5, 6) = 4 e Ty (5, 6) = −2. Qual a taxa de variação desta temperatura em relação ao
tempo no instante t = 2?

5.2 Vetor gradiente

Definição 23. Seja f (x, y) uma função que possui derivadas parciais em (x0 , y0 ). O vetor
gradiente de f em (x0 , y0 ), denotado por ∇f (x0 , y0 ), é o vetor
 
∂f ∂f
∇f (x0 , y0 ) = (x0 , y0 ), (x0 , y0 ) .
∂x ∂y
Outra notação para o gradiente de f em (x0 , y0 ) é: gradf (x0 , y0 ).
CAPÍTULO 5. REGRA DA CADEIA E VETOR GRADIENTE 27

Exemplo 5 Determinar o vetor gradiente das funções:


1
a) z = 5x2 y + y 2
x
1
b) f (x, y) = x2 + y 2 , no ponto (1, 3).
2
Geometricamente, interpretamos ∇f (x0 , y0 ), como um vetor aplicado no ponto (x0 , y0 ).

Proposição 24. Seja f (x, y) uma função tal que pelo ponto P0 = (x0 , y0 ), passa uma
curva de nível C de f. Se ∇f (x0 , y0 ) for não nulo, então ele é perpendicular à curva C
em (x0 , y0 ), isto é, ele é perpendicular à reta tangente à curva C no ponto (x0 , y0 ).

A figura abaixo ilustra geometricamente esse resultado.

Exemplo 6 Encontrar a equação da reta perpendicular à curva x2 + y 2 = 4, no ponto



P = (1, 3).

5.3 Derivação implícita

No estudo de funções de uma variável, é visto que uma função y = f (x) é definida
implicitamente pela equação
F (x, y) = 0, (5.2)

se, ao substituirmos y por f (x) em (5.2), essa equação se transforma em uma identidade:
F (x, f (x)) = 0.
Analogamente, dizemos que uma função z = f (x, y) é definida implicitamente pela
equação
F (x, y) = 0, (5.3)
CAPÍTULO 5. REGRA DA CADEIA E VETOR GRADIENTE 28

se, ao substituirmos z por f (x, y) e, (5.3), essa equação se reduz a uma identidade.
Vejamos alguns exemplos:
Exemplo 7 A função diferenciável y = y(x) é definida implicitamente pela equação
dy
y 3 + xy + x3 = 3. Expresse em termos de x e de y.
dx
Exemplo 8 A função diferenciável z = z(x, y) é dada implicitamente pela equação xyz +
dz
x3 + y 3 + z 3 = 5. Expresse em termos de x, y e z.
dx
Exemplo 9 Sejam y = y(x) e z = z(x), z > 0, diferenciáveis e dadas pelo sistema

 x2 + y 2 + z 2 = 1
 x + y = 1.

dy dz
Expresse e em termos de x, y e z.
dx dx
Capítulo 6

Derivada Direcional

6.1 Derivada Direcional: Definição e exemplos

Nessa seção, generalizamos o conceito de derivada parcial para obter a taxa de variação
de uma função numa determinada direção.
Sejam f (x, y) uma função de duas variáveis, P0 = (x0 , y0 ) um ponto do domínio de f
e u um vetor não nulo no plano xy. O conjunto dos pontos P0 + tu, /t ∈ R, é a reta L que
contém P0 e é paralela ao vetor u.
∂f
A derivada direcional de f (x, y) em P0 na direção de u, denotada por (P0 ), é a taxa
∂u
∂f
de variação de f (x, y) em P0 na direção de L. Geometricamente, (P0 ) representa a
∂u
inclinação da reta tangente à curva C de equação z = f (P0 +tu) no ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )).
Vejamos a figura a seguir:

29
CAPÍTULO 6. DERIVADA DIRECIONAL 30

Mais precisamente, temos o seguinte:

Definição 25. A derivada direcional de uma função z = f (x, y) em P0 na direção do


vetor u é definida por
∂f f (P0 + tu) − f (P0 )
(P0 ) = lim ,
∂u t→0 tkuk
se este limite existir.

Segue da definição acima que as derivadas parciais de f (x, y) em relação a x e a


y em P0 são as derivadas direcionais nas direções dos vetores u = (1, 0) e v = (0, 1),
respectivamente.

Teorema 26. Se z = f (x, y) é diferenciável em P0 = (x0 , y0 ) então

∂f u
(P0 ) = ∇f (P0 ) · ,
∂u kuk
u
onde ∇f (P0 ) · é o produto escalar de ∇f (P0 ) pelo vetor unitário na direção e sentido
kuk
do vetor u.

Exemplo 1 Determine a taxa de variação de f (x, y) = xy + e2x+y no ponto P0 =


(−1, 2) na direção do vetor u = (1, 1).

Teorema 27. Se f é uma função diferenciável em P0 tal que ∇f (P0 ) 6= 0, então o valor
∂f
máximo de (P0 ) ocorre quando u tem a direção e o sentido do vetor ∇f (P0 ) (quando
∂u
∇f (P0 )
u for o versor de ∇f (P0 ), isto é, u = ), sendo k∇f (P0 )k o valor máximo.
k∇f (P0 )k

Exemplo 2 Seja f (x, y) = x2 y.

∂f
a) Determine u de modo que (1, 1) seja máximo.
∂u
∂f
b) Qual o valor máximo de (1, 1)?
∂u
c) Estando-se em (1, 1) que direção e sentido deve-se tomar para que f cresça mais
rapidamente?

Exemplo 3 Admita que T (x, y) = x2 +3y 2 represente uma distribuição de temperatura


no plano xy : T (x, y) é a temperatura no ponto (x, y) (supondo T é o C e x, y em cm).
CAPÍTULO 6. DERIVADA DIRECIONAL 31

1
a) Estando-se em (2, ) qual a direção e sentido de maior crescimento da temperatura?
2
Qual a taxa de crescimento nesta direção?
1
b) Estando-se em (2, ) qual a direção e sentido de maior decrescimento da tempera-
2
tura? Qual a taxa de decrescimento nesta direção?
Capítulo 7

Derivadas parciais de ordem superior

7.1 Derivadas parciais de ordem superior: Introdução

Nessa seção, introduziremos as derivadas parciais de ordem superior de funções de


duas variáveis. O bjetivo principal é apresentar o Teorema de Schwarz, que atesta a
igualdade das "derivadas parciais mistas"para funções de duas varáveis.
∂f ∂f
Já vimos como definir as funções (x, y) e (x, y), sendo z = f (x, y) uma função
∂x ∂y
de duas variáveis.
∂f
Da mesma forma, podemos, agora, definir as derivadas parciais das funções e
∂x
∂f
, obtendo quatro novas funções que são chamadas derivadas parciais de segunda
∂y
ordem de f , a saber:

∂f ∂f
∂ 2f ∂

∂f
 (x + h, y) − (x, y)
• fxx (x, y) = 2
(x, y) = (x, y) = lim ∂x ∂x , se este
∂x ∂x ∂x h→0 h
limite exisir.
∂f ∂f
∂ 2f ∂

∂f
 (x, y + h) − (x, y)
• fxy (x, y) = (x, y) = (x, y) = lim ∂x ∂x , se este
∂y∂x ∂y ∂x h→0 h
limite exisir.
∂f ∂f
(x + h, y) − (x, y)
∂ 2f
 
∂ ∂f ∂y ∂y
• fyx (x, y) = (x, y) = (x, y) = lim , se este
∂x∂y ∂x ∂y h→0 h
limite exisir.

32
CAPÍTULO 7. DERIVADAS PARCIAIS DE ORDEM SUPERIOR 33

∂f ∂f
(x, y + h) − (x, y)
∂ 2f
 
∂ ∂f ∂y ∂y
• fyy (x, y) = (x, y) = (x, y) = lim , se este
∂y 2 ∂y ∂y h→0 h
limite exisir.

Exemplo 1 Calcule todas as derivadas parciais de segunda ordem da função f (x, y) =


xy − ex cos y.
∂ 2f ∂ 2f
Exemplo 2 Dada a função f (x, y) = sen(2x+y), determinar (x, y) e (x, y).
∂y∂x ∂x∂y
∂ 2f ∂ 2f
Notemos que nos exemplos acima, as derivadas parciais mistas (x, y) e (x, y)
∂x∂y ∂y∂x
coincidem. Este fato nem sempre se verifica. O teorema a seguir nos dá uma condição
que garante a igualdade das derivadas parciais mistas.
Já vimos que uma função f é de classe C 1 quando suas derivadas parciais são contínuas.
Se as derivadas parciais de segunda ordem de f são contínuas, dizemos que f é de classe
C 2.

Teorema 28. (de Schwarz) Se z = f (x, y) é de classe C 2 , então suas derivadas mistas
são iguais, isto é,
∂ 2f ∂ 2f
(x, y) = (x, y).
∂x∂y ∂y∂x
Capítulo 8

Máximos e Mínimos

8.1 Valores extremos de funções de duas variáveis

Definição 29. Consideremos a função real z = f (x, y) definida num conjunto D ⊂ R2


e (x0 , y0 ) ∈ D. Dizemos que f (x0 , y0 ) é um valor máximo relativo de f (resp. valor
mínimo relativo de f ) se existe uma bola aberta B = B((x0 , y0 ); r) ⊂ D tal que

f (x, y) ≤ f (x0 , y0 ) ( resp. f (x, y) ≥ f (x0 , y0 )),

para todo (x, y) pertencente a B. Um valor máximo ou mínimo relativo de f é chamado


valor extremo relativo. O ponto (x0 , y0 ) onde f assume um valor extremo relativo é
dito ponto extremo relativo.

34
CAPÍTULO 8. MÁXIMOS E MÍNIMOS 35

Definição 30. Dizemos que X ∈ Rn é um ponto interior a um subconjunto D ⊂ Rn


se existir r > 0 tal que a bola aberta B(X; r) está contida em D. O subconjunto formado
pelos pontos interiores a D é chamado interior de D.

Teorema 31. (Condição necessária para a existência de extremos relativos) Sejam z =


f (x, y) uma função definida num conjunto D ⊂ R2 cujo interior é não vazio e (x0 , y0 ) um
∂f ∂f
ponto interior a D. Se (x0 , y0 ) e (x0 , y0 ) existem e f (x, y) tem um extremo relativo
∂x ∂y
em (x0 , y0 ), então
∂f ∂f
(x0 , y0 ) = 0 e (x0 , y0 ) = 0.
∂x ∂y
Definição 32. Um ponto (x0 , y0 ) interior ao domínio de uma função z = f (x, y) é cha-
mado ponto crítico de f se ∇f (x0 , y0 ) não existe ou ∇f (x0 , y0 ) = (0, 0).

Exemplo 1 Seja f (x, y) = 1−x2 −y 2 . O único ponto crítico de f é (0, 0) e f (0, 0) = 1.


Observando que f (x, y) = 1 − x2 − y 2 ≤ 1 = f (0, 0), para todos os valores de x e y,
concluímos que f atinge o valor máximo 1 em (0, 0).

p ∂f x
Exemplo 2 Seja f (x, y) = x2 + y 2 . Se (x, y) 6= (0, 0), então (x, y) = p
∂x x2 + y 2
∂f y ∂f ∂f
e (x, y) = p ; logo, ∇f (x, y) 6= (0, 0). Por outro lado, (0, 0) e (0, 0) não
∂y x2 + y 2 ∂x ∂y
existem. (Verifique!) Portanto, (0, 0) é o único ponto crítico de f. Como f (0, 0) = 0 e
f (x, y) ≥ 0 = f (0, 0) para todos os valores de x e y então f atinge o valor mínimo 0 em
(0, 0).
CAPÍTULO 8. MÁXIMOS E MÍNIMOS 36

Exemplo 3 O único ponto crítico da função f (x, y) = y 2 − x2 é (0, 0) e f (0, 0) = 0.


No entanto, f não possui extremo relativo em (0, 0).

Observe na figura (iii) que algumas seções retas verticais do gráfico de f passando por
(0, 0) têm concavidade voltada para cima e outras têm concavidade voltada para baixo.
Neste caso, dizemos que a função f tem um ponto de sela no ponto crítico (0, 0).
Para analisar a natureza de um ponto crítico (x0 , y0 ) de z = f (x, y) tal que
∇f (x0 , y0 ) = (0, 0), usaremos o teste da derivada segunda, que será dado no próximo
teorema.
CAPÍTULO 8. MÁXIMOS E MÍNIMOS 37

Teorema 33. (Teste da derivada segunda) Sejam z = f (x, y) uma função de classe C 2
numa bola aberta B = B((x0 , y0 ); r). Suponhamos que (x0 , y0 ) é um ponto crítico de f (x, y)
tal que ∇f (x0 , y0 ) = (0, 0). Denotemos por
∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f
A= (x ,
0 0y ), B = (x ,
0 0y ), e C = (x0 , y0 ).
∂x2 ∂x∂y ∂y 2
Se

i) B 2 − AC < 0 e A < 0, então f tem um valor máximo relativo em (x0 , y0 );

ii) B 2 − AC < 0 e A > 0, então f tem um valor mínimo relativo em (x0 , y0 );

iii) B 2 − AC > 0, então f tem um ponto de sela em (x0 , y0 ).

Exemplo 4 Localize e classifique os pontos críticos da função f (x, y) = 2x3 + y 3 −


3x2 − 3y.
1
Exemplo 5 O gráfico da função g(x, y) = é uma superfície S no R3 . Encontre os
xy
pontos de S mais próximos da origem.

8.2 Máximos e mínimos sobre conjunto compacto

Definição 34. Sejam z = f (x, y) uma função real de duas variáveis definida num con-
junto D ⊂ R2 e (x0 , y0 ) ∈ D. Dizemos que f (x0 , y0 ) é um valor máximo absoluto de f
(resp. valor mínimo absoluto de f ) se

f (x, y) ≤ f (x0 , y0 ) ( resp. f (x, y) ≥ f (x0 , y0 )),

para todo (x, y) ∈ D.

Definição 35. Um conjunto D ⊂ Rn é dito limitado, se existe um número real r > 0


e um ponto X0 ∈ Rn tal que D ⊂ B(X0 ; r).
Dizemos que X é um ponto da fronteira de D, denotada por ∂D, se para qualquer
bola aberta B centrada em X tem-se B ∩ D 6= ∅ e B ∩ (Rn − D) 6= ∅.
Dizemos que D é fechado se D é a união do conjunto dos pontos interiores a D
com os pontos da fronteira de D.
Dizemos que D é um conjunto compacto se D for um conjunto limitado e fechado.
CAPÍTULO 8. MÁXIMOS E MÍNIMOS 38

Teorema 36. (de Weierstrass) Se z = f (x, y) é uma função definida num conjunto
compacto D ⊂ R2 , então f tem um valor máximo absoluto e um valor mínimo absoluto
em D.

Note que esse teorema nos garante a existência de pontos de máximo e mínimo abso-
lutos, mas não nos fornece um critério segundo o qual possamos localizá-los. Passemos,
agora, a tratar desta questão.
Se (x0 , y0 ) é um extremo absoluto de uma função f em D ⊂ R2 (compacto), então
(x0 , y0 ) é um ponto interior a D ou pertence à fronteira de D. Portanto, para localizarmos
os extremos absolutos de f em D, encontramos os pontos críticos de f e comparamos os
valores de f nestes pontos com os valores máximo e mínimo de f na fronteira de D.
Exemplo 6 Encontre o máximo e o mínimo da função

f (x, y) = (x − 2)2 y + y 2 y − y

definida em
D = {(x, y) ∈ R2 ; x ≥ 0, y ≤ 0 e x + y ≤ 4}.

Exemplo 7 Uma placa metálica circular com um metro de raio está colocada com
centro na origem do plano xy e é aquecida de modo que a temperatura num ponto (x, y)
é dada por
T (x, y) = 64(3x2 − 2xy + 3y 2 + 2y + 5) graus,

onde x e y estão em metros. Encontre a maior e a menor temperatura na placa.

8.3 Método dos multiplicadores de Lagrange

O problema de se encontrarem os pontos extremos de uma função f (x, y) na fronteira


de uma região D do plano xy consiste em procurar os extremos da função f (x, y), para
(x, y) sobre uma curva no plano xy de equação g(x, y) = 0. A condição g(x, y) = 0 é
chamada restrição, e o problema correspondente é chamado um problema de extremos
condicionados.
Para resolver tal problema podemos, quando possível, reduzi-lo, usando a restrição,
ao cálculo dos máximos e mínimos de uma função de uma variável (como nos exemplos 6
CAPÍTULO 8. MÁXIMOS E MÍNIMOS 39

e 7). Nem sempre tal procedimento é praticável e, frequentemente, o método a seguir é


mais conveniente.

Teorema 37. Sejam f (x, y) e g(x, y) funções definidas e de classe C 1 num subconjunto
aberto U do plano xy que contém a curva C de equação g(x, y) = 0. Se f (x, y) tem um
valor máximo ou mínimo em (x0 , y0 ) ∈ C e ∇g(x0 , y0 ) não é o vetor nulo, então existe
um número real λ tal que

∇f (x0 , y0 ) + λ∇g(x0 , y0 ) = 0.

O número λ é chamado multiplicador de Lagrange.


Exemplo 8 Encontre a menor distância da origem à hipérbole de equação

x2 + 8xy + 7y 2 − 225 = 0.

2 +y 2 +y
Exemplo 9 Determine o maior e o menor valor de f (x, y) = ex se (x, y) pertence
ao segmento de reta de equação y + x − 1 = 0, 0 ≤ x ≤ 1.

Você também pode gostar