Notas de Aula Cálculo II - 2. Funções de Várias Variáveis
Notas de Aula Cálculo II - 2. Funções de Várias Variáveis
Notas de Aula Cálculo II - 2. Funções de Várias Variáveis
1.1 Introdução
Uma função de duas variáveis reais a valores reais é uma função f : A → R, em que A
é um subconjunto de R2 . Uma tal função associa, a cada par (x, y) ∈ A, um único número
real f (x, y) ∈ R. O conjunto A é o domínio de f e será indicado por Df , ou simplesmente
por D, quando não houver possibilidade de confusão. O conjunto
Observação: Caso não seja especificado o domínio de f, ficará implícito que seu domínio
será o ”maior” subconjunto de R2 para o qual faz sentido a regra de f.
1
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS REAIS A VALORES REAIS 2
Exemplo 1: Seja f a função de duas variáveis reais a valores reais dada por f (x, y) =
x+y
. O domínio de f é o conjunto de todos os pares (x, y) ∈ R2 , com x 6= y. Isto é,
x−y
Df = {(x, y) ∈ R2 / x 6= y}.
Exemplo 4: Seja f a função dada por (x, y) 7→ z, em que z = 5x2 y − 3x. O valor de
f em (x, y) é f (x, y) = 5x2y − 3x. Na equação acima, x e y estão sendo vistas como
variáveis independentes e z como variável dependente. Observe que o domínio de f é o
R2 .
Exemplo 5: Represente graficamente o domínio da função w = f (u, v), dada por
u2 + v 2 + w2 = 1, w ≥ 0.
Seja z = f (x, y), (x, y) ∈ Df , uma função real de duas variáveis reais. O conjunto
denomina-se gráfico de f.
Munindo-se o espaço de um sistema ortogonal de coordenadas cartesianas, o gráfico
de f pode, então, ser pensado como o lugar geométrico descrito pelo ponto (x, y, f (x, y))
quando (x, y) percorre o domínio de f.
A representação geométrica do gráfico de uma função de duas varáveis não é tarefa
fácil. Em vista disso, quando se pretende ter uma visão geométrica da função, lança-se
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS REAIS A VALORES REAIS 3
mão de curvas de nível, cuja representação geométrica é sempre mais fácil de ser obtida
do que o gráfico da função.
Sejam z = f (x, y) uma função e c ∈ Im(f ). O conjunto de todos os pontos (x, y) de
Df tais que f (x, y) = c denomina-se curva de nível de f correspondente ao nível z = c.
Assim, f é constante sobre cada curva de nível.
O gráfico de f é um subconjunto de R3 . Uma curva de nível é um subconjunto do
domínio de f, portanto, de R2 .
Exemplo 7: O gráfico da função constante f (x, y) = k é um plano paralelo ao plano xy.
Exemplo 8: O gráfico da função linear dada por z = 2x+y é um plano paralelo passando
pela origem e normal ao vetor ~n = (2, 1, −1).
Tal plano é determinado pelas retas
x=0 y=0
e
z=y z = 2x
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS REAIS A VALORES REAIS 4
c) Esboce o gráfico.
Capítulo 2
Podemos escrever
p
1
Denotamos por k(x, y)k = x2 + y 2 a norma euclidiana em R2 .
5
CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS 6
2.2 Limite
Observação: De agora em diante, sempre que falarmos que f tem limite em (x0 , y0 ), fica
implícito que (x0 , y0 ) é ponto de acumulação de Df .
Exemplo 1: Usando a definição de limite, mostrar que lim (3x + 2y) = 7.
(x,y)→(1,2)
CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS 7
Demonstração: Vamos supor que existe um número real L tal que lim f (x, y) =
(x,y)→(x0 ,y0 )
L. Então, para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que, se (x, y) ∈ Df e 0 < k(x, y)−(x0 , y0 )k < δ,
então |f (x, y) − L| < ε.
Como D1 ⊂ Df , temos que, se se (x, y) ∈ D1 e 0 < k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ, então
|f (x, y) − L| < ε. Da mesma forma, como D2 ⊂ Df , temos que, se se (x, y) ∈ D2 e
0 < k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ, então |f (x, y) − L| < ε.
Concluímos, assim, que o limite de f (x, y) é igual ao mesmo valor L quando (x, y)
tende a (x0 , y0 ) através de pontos pertencentes somente a D1 e também pertencentes
somente a D2 . Isso contraria a hipótese de que f (x, y) tem limites diferentes quando
(x, y) se aproxima de (x0 , y0 ) através de pontos de D1 e de D2 . Logo, se f (x, y) tem
limites diferentes quando (x, y) tende a (x0 , y0 ) através de conjuntos de pontos distintos
do domínio de f, então lim f (x, y) não existe.
(x,y)→(x0 ,y0 )
Usando essa proposição, podemos mostrar que certos limites de funções de duas va-
riáveis não existem. Para isso, tomamos conjuntos particulares convenientes, dados, por
exemplo, por pontos de curvas que passem em (x0 , y0 ). Nesse caso, o limite se transforma
no limite de uma função de uma variável, como mostram as situações seguintes:
a) Se D1 é o conjunto dos pontos do eixo dos x, o limite de f (x, y) quando (x, y) → (0, 0)
através de pontos de D1 é dado por
2xy
Exemplo 2: Mostrar que lim
não existe.
(x,y)→(0,0) x2
+ y2
xy 2
Exemplo 3: Verificar se existe lim não existe.
(x,y)→(0,0) x2 + y 4
= |a||(x − x0 )|
≤ |a|k(x, y) − (x0 , y0 )k
lim f (x, y)
f (x, y) (x,y)→(x0 ,y0 )
d) lim = , desde que lim g(x, y) 6= 0;
(x,y)→(x0 ,y0 ) g(x, y) lim g(x, y) (x,y)→(x0 ,y0 )
(x,y)→(x0 ,y0 )
CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS 9
n
n
e) lim [f (x, y)] = lim f (x, y) , para qualquer n ∈ N;
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )
p r
n
f) lim f (x, y) = n lim f (x, y), se lim f (x, y) ≥ 0 e n ∈ N ou
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )
Portanto, lim [f (x, y) + g(x, y)] = L + M = lim f (x, y) + lim g(x, y).
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )
lim (f ◦ g)(x, y) = f lim g(x, y) = f (a),
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )
Demonstração: Seja ε > 0. Como f é contínua em a, existe δ1 > 0 tal que se (x, y) ∈ Df
e |u − a| < δ1 , então |f (u) − f (a)| < ε.
CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS10
Agora, como lim g(x, y) = a, existe δ2 > 0 tal que, se (x, y) ∈ Dg e ) <
(x,y)→(x0 ,y0 )
k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ2 , tem-se |g(x, y) − a| < δ1 .
Assim, se (x, y) ∈ Dg e 0 < k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ2 , temos |f (g(x, y)) − f (a)| < ε.
Demonstração: Primeiramente, note que, como g(x, y) é limitada em uma bola aberta
de centro (x0 , y0 ), existem constantes M > 0 e r > 0 tais que |g(x, y)| ≤ M, para todo
(x, y) ∈ B((x0 , y0 ); r).
Seja ε > 0. Como lim f (x, y) = 0, existe δ1 > 0 tal que, se (x, y) ∈ Df e
(x,y)→(x0 ,y0 )
0 < k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ1 , temos |f (x, y)| < ε/M.
Tome δ = min{δ1 , r}. Então, se (x, y) ∈ Df e 0 < k(x, y) − (x0 , y0 )k < δ, temos
x2 y
Exemplo 9: Mostre que lim = 0.
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
então
lim g(x, y) = L.
(x,y)→(x0 ,y0 )
CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS11
Sejam f e g funções tais que lim f (x, y) = lim g(x, y) = 0. Nada pode-
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )
f
mos afirmar sobre o limite do quociente , quando (x, y) → (x0 , y0 ). Vamos ver alguns
g
exemplos.
x3 + x2 y − 2xy − 2x2 − 2x + 4
Exemplo 10: Calcular lim .
(x,y)→(2,1) xy + x − 2y − 2
x+y−1
Exemplo 11: Calcular lim+ √ √ .
x→0
−
x − 1 − y
y→1
2.5 Continuidade
2xy
p , (x, y) 6= (0, 0)
Exemplo 15: Verificar se f (x, y) = 2x2 + 2y 2 é contínua na
0, (x, y) = (0, 0)
origem.
a) f ± g é contínua em (x0 , y0 );
b) f · g é contínua em (x0 , y0 );
f
c) é contínua em (x0 , y0 ), desde que g(x0 , y0 ) 6= 0.
g
Proposição 13. Sejam y = f (u) e z = g(x, y). Suponha que g é contínua em (x0 , y0 ) e
que f é contínua em g(x0 , y0 ). Então, a função composta f ◦ g é contínua em (x0 , y0 ).
Derivadas Parciais
Seja z = f (x, y) uma função real de duas variáveis reais e seja (x0 , y0 ) ∈ Df . Fixado
y0 , podemos considerar a função g de uma variável dada por
g(x) = f (x, y0 ).
∂f
Assim, (x0 , y0 ) = g 0 (x0 ). De acordo com a definição de derivada, temos:
∂x
∂f g(x) − g(x0 ) f (x, y0 ) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = g 0 (x0 ) = lim = lim ,
∂x x→x 0 x − x0 x→x 0 x − x0
ou ainda,
∂f f (x0 + h, y0 ) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim .
∂x h→0 h
Definição 14. Seja A o subconjunto de Df formado por todos os pontos (x, y) tais que
∂f ∂f
(x, y) existe; fica assim definida uma nova função, indicada por e definida em A,
∂x ∂x
∂f
que a cada (x, y) ∈ A, associa o número (x, y), em que
∂x
∂f f (x0 + h, y0 ) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim .
∂x h→0 h
13
CAPÍTULO 3. DERIVADAS PARCIAIS 14
∂f f (x0 , y) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim ,
∂y y→y0 y − y0
ou
∂f f (x0 , y0 + h) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim .
∂y h→0 h
Exemplo 1: Seja f (x, y) = 2xy − 4y. Calcule:
∂f ∂f ∂f ∂f
a) (x, y) b) (x, y) c) (1, 1) d) (−1, 1).
∂x ∂y ∂x ∂y
Exemplo 2: Considere a função z = f (x, y) dada por z = arctg(x2 + y 2 ). Calcule:
∂z ∂z ∂z ∂z
a) b) c) d)
∂x ∂y ∂x x=1 ∂y x=0
y=1 y=0
Exemplo 3: Sendo z = f (x, y) dada implicitamente por x2 + y 2 + z 2 = 1, z > 0, calcule:
∂z ∂z
a) b)
∂x ∂y 3
x − y2
, (x, y) 6= (0, 0)
Exemplo 4: Seja f (x, y) = x2 + y 2 . Determine:
0, (x, y) = (0, 0)
∂z ∂z
a) b)
∂x ∂y
∂f
tgβ = (x0 , y0 ).
∂y
Funções Diferenciáveis
16
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS 17
que é a reta tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , f (x0 )), é uma ”boa aproximação” de
f perto de x0 . Em outras palavras, quando x se aproxima de x0 , a diferença entre f (x) e
y se aproxima de zero de uma forma mais rápida.
A figura abaixo ilustra essa situação.
Assim como a derivada de uma função de uma variável está ligada à reta tangente
ao gráfico da função, as derivadas parciais estão relacionadas com o plano tangente ao
gráfico de uma uma função de duas variáveis. No entanto, nesse último caso, devemos
fazer uma análise bem mais cuidadosa, pois somente a existência das derivadas parciais
não garante que existirá um plano tangente, como veremos mais adiante. Por enquanto,
vamos raciocinar mais intuitivamente, dispensando um pouco o formalismo.
∂f
Como já vimos, a derivada parcial de (x0 , y0 ) é o coeficiente angular da reta tangente
∂x
à curva de interseção do plano y = y0 com a superfície z = f (x, y), no ponto (x0 , y0 ). Da
∂f
mesma forma, (x0 , y0 ) é o coeficiente angular da reta tangente à curva de interseção
∂y
do plano x = x0 com a superfície z = f (x, y), no ponto (x0 , y0 ).
Intuitivamente, percebemos que essas retas tangentes devem estar contidas no plano
tangente à superfície, se esse plano existir.
Veja a figura abaixo:
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS 18
Assim, se o plano tangente a z = f (x, y), no ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )), fosse dado pela
equação
h(x, y) = ax + by + c, (4.3)
teríamos que :
Definição 15. Dizemos que a função f (x, y) é diferenciável no ponto (x0 , y0 ) se as deri-
∂f ∂f
vadas parciais (x0 , y0 ) e (x0 , y0 ) existem e se
∂x ∂y
∂f ∂f
f (x, y) − f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )[x − x0 ] + (x0 , y0 )[y − y0 ]
∂x ∂y
lim = 0. (4.10)
(x,y)→(x0 ,y0 ) k(x, y) − (x0 , y0 )k
• Para provar que uma função é diferenciável em (x0 , y0 ) usando a definição, devemos
mostrar que as derivadas parciais existem em (x0 , y0 ) e, além disso, que o limite da
equação (4.10) é zero.
• Se uma das derivadas parciais não existe no ponto (x0 , y0 ), f não é diferenciável
nesse ponto.
• Se o limite da equação (4.10) for diferente de zero ou não existir, f não será dife-
renciável no ponto (x0 , y0 ), mesmo se existirem as derivadas parciais nesse ponto.
∂f ∂f
f (x, y) − f (x0 , y0 ) − (x0 , y0 )[x − x0 ] − (x0 , y0 )[y − y0 ] p
∂x ∂y
lim p · (x − x0 )2 + (y − y0 )2 = 0.
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x − x0 )2 + (y − y0 )2
ou
∂f ∂f
lim f (x, y) − f (x0 , y0 ) − (x0 , y0 )[x − x0 ] − (x0 , y0 )[y − y0 ] = 0.
(x,y)→(x0 ,y0 ) ∂x ∂y
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS 20
isto é,
lim f (x, y) = f (x0 , y0 ).
(x,y)→(x0 ,y0 )
Proposição 17. Seja (x0 , y0 ) um ponto do domínio da função f (x, y). Se f (x, y) possui
∂f ∂f
derivadas parciais e em um conjunto aberto A que contém (x0 , y0 ) e se essas
∂x ∂y
derivadas parciais são contínuas em (x0 , y0 ), então f é diferenciável em (x0 , y0 ).
∂f ∂f
Demonstração: Uma vez que as derivadas parciais (x0 , y0 ) e (x0 , y0 ) existem,
∂x ∂y
devemos mostrar que
∂f ∂f
f (x, y) − f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )[x − x0 ] + (x0 , y0 )[y − y0 ]
∂x ∂y
lim = 0. (4.11)
(x,y)→(x0 ,y0 ) k(x, y) − (x0 , y0 )k
Como A é aberto e (x0 , y0 ) ∈ A, existe uma bola aberta B = B(x0 , y0 ; r) que está
∂f
contida em A. Seja (x, y) ∈ A. Fixando y e sabendo (por hipótese) que (x, y) existe
∂x
para todo (x, y) ∈ B, pelo Teorema do Valor Médio, existe x̄ entre x0 e x tal que
∂f
f (x, y) − f (x0 , y) = (x̄, y)(x − x0 )
∂x
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS 21
Da mesma forma, podemos dizer que existe um ponto ȳ entre y0 e y tal que
∂f
f (x0 , y) − f (x0 , y0 ) = (x0 , ȳ)(y − y0 ).
∂y
Daí,
Portanto, o quociente do limite dado na equação (4.11) pode ser escrito como
∂f ∂f ∂f ∂f
(x̄, y)(x − x0 ) − (x0 , y0 )(x − x0 ) (x0 , ȳ)(x − x0 ) − (x0 , y0 )(x − x0 )
∂x ∂x ∂y ∂y
p + p
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 (x − x0 )2 + (y − y0 )2
x − x0 y − y0
p ≤1 e p ≤ 1.
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 (x − x0 )2 + (y − y0 )2
∂f ∂f
Por outro lado, como e são contínuas em (x0 , y0 ) e x̄ e ȳ estão entre x0 e x e y0 e
∂x ∂y
y, respectivamente, temos
∂f ∂f
lim (x̄, y)(x − x0 ) − (x0 , y0 ) = 0
(x,y)→(x0 ,y0 ) ∂x ∂x
e
∂f ∂f
lim (x0 , ȳ)(x − x0 ) − (x0 , y0 ) = 0.
(x,y)→(x0 ,y0 ) ∂y ∂y
Logo,
∂f ∂f
f (x, y) − f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )[x − x0 ] + (x0 , y0 )[y − y0 ]
∂x ∂y
lim = 0.
(x,y)→(x0 ,y0 ) k(x, y) − (x0 , y0 )k
a) f (x, y) = x2 + y 2
c) f (x, y) = sen(xy 2 )
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS 22
Definição 18. Seja f (x, y) uma função. Dizemos que f é de classe C 1 no conjunto aberto
∂f ∂f
A, se e forem contínuas em A.
∂x ∂y
Corolário 19. Seja f : A ⊂ R2 , A aberto. Se f for de classe C 1 em A, então f será
diferenciável em A.
Definição 20. Seja z = f (x, y) uma função diferenciável no ponto (x0 , y0 ). O plano de
equação
∂f ∂f
z = T (x, y) = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ) (4.12)
∂x ∂y
é chamado plano tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )).
A equação (4.12) pode ser escrita, em notação de produto escalar, da seguinte forma:
∂f ∂f
(x0 , y0 ), (x0 , y0 ), −1 · (x − x0 , y − y0 , z − f (x0 , y0 )) = 0.
∂x ∂y
Segue daí que o plano tangente ao gráfico de f em (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) é perpendicular à
direção do vetor
∂f ∂f
N (x0 , y0 ) = (x0 , y0 ), (x0 , y0 ), −1 .
∂x ∂y
A reta que passa por (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) e é paralela ao vetor N (x0 , y0 ) é chamada reta
normal ao gráfico da função f em (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) e sua equação é dada por
∂f ∂f
(x, y, z) = (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) + t (x0 , y0 ), (x0 , y0 ), −1 , t ∈ R.
∂x ∂y
Observação: Só definimos o plano tangente ao gráfico de uma função f no ponto
(x0 , y0 , f (x0 , y0 )) no caso em que f é diferenciável em (x0 , y0 ). Se f não é diferenciá-
vel em (x0 , y0 ), mas admite derivadas parciais neste ponto, então o plano equação (4.12)
existe, mas não é necessariamente tangente ao gráfico.
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS 23
4.4 Diferencial
Definição 21. Seja z = f (x, y) uma função diferenciável no ponto (x0 , y0 ). A diferencial
de f em (x0 , y0 ) é definida pela função ou transformação linear T : R2 → R, dada por
∂f ∂f
T (x − x0 , y − y0 ) = (x0 , y0 )[x − x0 ] + (x0 , y0 )[y − y0 ] (4.13)
∂x ∂y
ou
∂f ∂f
T (h, k) = (x0 , y0 )h + (x0 , y0 )k,
∂x ∂y
em que h = x − x0 e k = y − y0
Observamos que:
∆z = f (x, y) − f (x0 , y0 )
∼ ∂f ∂f
= (x0 , y0 )[x − x0 ] + (x0 , y0 )[y − y0 ].
∂x ∂y
∆x = x − x0 e ∆y = y − y0 .
dx = ∆x e dy = ∆y.
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS 24
∂f ∂f
dz = (x, y)dx + (x, y)dy.
∂x ∂y
√
Exemplo 7 Calcular a diferencial de f (x, y) = x + xy no ponto (1, 1).
Exemplo 8 Dada a função z = x2 + y 2 − xy
a) z = sen2 xy
b) z = ln(x + y 2 )
b) 2cm para 2,01 cm, 1cm para 0,5cm, no caso do triângulo retângulo.
Capítulo 5
Teorema 22. Sejam z = f (x, y) uma função definida num conjunto aberto U ⊂ R2 e
σ(t) = (x(t), y(t)), t ∈ [a, b], tal que σ([a, b]) ⊂ U. Se σ(t) é diferenciável em t0 ∈ [a, b]
e f (x, y) é diferenciável em σ(t0 ) = (x0 , y0 ), então a função composta z(t) = f (σ(t)),
t ∈ [a, b], é diferenciável em t0 e
dz ∂f dx ∂f dy
= (x(t0 ), y(t0 )) (t0 ) + (x(t0 ), y(t0 )) (t0 ). (5.1)
dt ∂x dt ∂y dt
Pelo Teorema do Valor Médio para funções de uma variável, existe x̄ entre x0 = x(t0 ) e
x = x(t) tal que
∂f
f (x, y) − f (x0 , y) = (x̄, y) (x − x0 ).
∂x
25
CAPÍTULO 5. REGRA DA CADEIA E VETOR GRADIENTE 26
dz
Exemplo 1 Sejam z = f (x, y) = x3 y 2 , x(t) = e−t e y(t) = tsent. Calcule (t).
dt
2 dz
Exemplo 2 Sejam z = x2 y, x(t) = et e y(t) = 2t + 1. Calcule (t).
dt
Exemplo 3 Seja z = f (t2 , 3t + 1), em que f (x, y) é uma função de classe C 1 em R2 .
dz
a) Expresse em termos das derivadas parciais de f.
dt
dz ∂f ∂f
b) Verifique que =2 (1, 4) + 3 (1, 4).
dt t=1 ∂x ∂y
Exemplo 4 A temperatura de T (x, y) graus centígrados em cada ponto (x, y) de uma
chapa de metal não caria com o tempo. Um besouro atravessando a chapa está em
(x, y) = (t2 + 1, 3t) no instante t. A temperatura tem as propriedades: T (5, 6) = 40,
Tx (5, 6) = 4 e Ty (5, 6) = −2. Qual a taxa de variação desta temperatura em relação ao
tempo no instante t = 2?
Definição 23. Seja f (x, y) uma função que possui derivadas parciais em (x0 , y0 ). O vetor
gradiente de f em (x0 , y0 ), denotado por ∇f (x0 , y0 ), é o vetor
∂f ∂f
∇f (x0 , y0 ) = (x0 , y0 ), (x0 , y0 ) .
∂x ∂y
Outra notação para o gradiente de f em (x0 , y0 ) é: gradf (x0 , y0 ).
CAPÍTULO 5. REGRA DA CADEIA E VETOR GRADIENTE 27
Proposição 24. Seja f (x, y) uma função tal que pelo ponto P0 = (x0 , y0 ), passa uma
curva de nível C de f. Se ∇f (x0 , y0 ) for não nulo, então ele é perpendicular à curva C
em (x0 , y0 ), isto é, ele é perpendicular à reta tangente à curva C no ponto (x0 , y0 ).
No estudo de funções de uma variável, é visto que uma função y = f (x) é definida
implicitamente pela equação
F (x, y) = 0, (5.2)
se, ao substituirmos y por f (x) em (5.2), essa equação se transforma em uma identidade:
F (x, f (x)) = 0.
Analogamente, dizemos que uma função z = f (x, y) é definida implicitamente pela
equação
F (x, y) = 0, (5.3)
CAPÍTULO 5. REGRA DA CADEIA E VETOR GRADIENTE 28
se, ao substituirmos z por f (x, y) e, (5.3), essa equação se reduz a uma identidade.
Vejamos alguns exemplos:
Exemplo 7 A função diferenciável y = y(x) é definida implicitamente pela equação
dy
y 3 + xy + x3 = 3. Expresse em termos de x e de y.
dx
Exemplo 8 A função diferenciável z = z(x, y) é dada implicitamente pela equação xyz +
dz
x3 + y 3 + z 3 = 5. Expresse em termos de x, y e z.
dx
Exemplo 9 Sejam y = y(x) e z = z(x), z > 0, diferenciáveis e dadas pelo sistema
x2 + y 2 + z 2 = 1
x + y = 1.
dy dz
Expresse e em termos de x, y e z.
dx dx
Capítulo 6
Derivada Direcional
Nessa seção, generalizamos o conceito de derivada parcial para obter a taxa de variação
de uma função numa determinada direção.
Sejam f (x, y) uma função de duas variáveis, P0 = (x0 , y0 ) um ponto do domínio de f
e u um vetor não nulo no plano xy. O conjunto dos pontos P0 + tu, /t ∈ R, é a reta L que
contém P0 e é paralela ao vetor u.
∂f
A derivada direcional de f (x, y) em P0 na direção de u, denotada por (P0 ), é a taxa
∂u
∂f
de variação de f (x, y) em P0 na direção de L. Geometricamente, (P0 ) representa a
∂u
inclinação da reta tangente à curva C de equação z = f (P0 +tu) no ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )).
Vejamos a figura a seguir:
29
CAPÍTULO 6. DERIVADA DIRECIONAL 30
∂f u
(P0 ) = ∇f (P0 ) · ,
∂u kuk
u
onde ∇f (P0 ) · é o produto escalar de ∇f (P0 ) pelo vetor unitário na direção e sentido
kuk
do vetor u.
Teorema 27. Se f é uma função diferenciável em P0 tal que ∇f (P0 ) 6= 0, então o valor
∂f
máximo de (P0 ) ocorre quando u tem a direção e o sentido do vetor ∇f (P0 ) (quando
∂u
∇f (P0 )
u for o versor de ∇f (P0 ), isto é, u = ), sendo k∇f (P0 )k o valor máximo.
k∇f (P0 )k
∂f
a) Determine u de modo que (1, 1) seja máximo.
∂u
∂f
b) Qual o valor máximo de (1, 1)?
∂u
c) Estando-se em (1, 1) que direção e sentido deve-se tomar para que f cresça mais
rapidamente?
1
a) Estando-se em (2, ) qual a direção e sentido de maior crescimento da temperatura?
2
Qual a taxa de crescimento nesta direção?
1
b) Estando-se em (2, ) qual a direção e sentido de maior decrescimento da tempera-
2
tura? Qual a taxa de decrescimento nesta direção?
Capítulo 7
∂f ∂f
∂ 2f ∂
∂f
(x + h, y) − (x, y)
• fxx (x, y) = 2
(x, y) = (x, y) = lim ∂x ∂x , se este
∂x ∂x ∂x h→0 h
limite exisir.
∂f ∂f
∂ 2f ∂
∂f
(x, y + h) − (x, y)
• fxy (x, y) = (x, y) = (x, y) = lim ∂x ∂x , se este
∂y∂x ∂y ∂x h→0 h
limite exisir.
∂f ∂f
(x + h, y) − (x, y)
∂ 2f
∂ ∂f ∂y ∂y
• fyx (x, y) = (x, y) = (x, y) = lim , se este
∂x∂y ∂x ∂y h→0 h
limite exisir.
32
CAPÍTULO 7. DERIVADAS PARCIAIS DE ORDEM SUPERIOR 33
∂f ∂f
(x, y + h) − (x, y)
∂ 2f
∂ ∂f ∂y ∂y
• fyy (x, y) = (x, y) = (x, y) = lim , se este
∂y 2 ∂y ∂y h→0 h
limite exisir.
Teorema 28. (de Schwarz) Se z = f (x, y) é de classe C 2 , então suas derivadas mistas
são iguais, isto é,
∂ 2f ∂ 2f
(x, y) = (x, y).
∂x∂y ∂y∂x
Capítulo 8
Máximos e Mínimos
34
CAPÍTULO 8. MÁXIMOS E MÍNIMOS 35
p ∂f x
Exemplo 2 Seja f (x, y) = x2 + y 2 . Se (x, y) 6= (0, 0), então (x, y) = p
∂x x2 + y 2
∂f y ∂f ∂f
e (x, y) = p ; logo, ∇f (x, y) 6= (0, 0). Por outro lado, (0, 0) e (0, 0) não
∂y x2 + y 2 ∂x ∂y
existem. (Verifique!) Portanto, (0, 0) é o único ponto crítico de f. Como f (0, 0) = 0 e
f (x, y) ≥ 0 = f (0, 0) para todos os valores de x e y então f atinge o valor mínimo 0 em
(0, 0).
CAPÍTULO 8. MÁXIMOS E MÍNIMOS 36
Observe na figura (iii) que algumas seções retas verticais do gráfico de f passando por
(0, 0) têm concavidade voltada para cima e outras têm concavidade voltada para baixo.
Neste caso, dizemos que a função f tem um ponto de sela no ponto crítico (0, 0).
Para analisar a natureza de um ponto crítico (x0 , y0 ) de z = f (x, y) tal que
∇f (x0 , y0 ) = (0, 0), usaremos o teste da derivada segunda, que será dado no próximo
teorema.
CAPÍTULO 8. MÁXIMOS E MÍNIMOS 37
Teorema 33. (Teste da derivada segunda) Sejam z = f (x, y) uma função de classe C 2
numa bola aberta B = B((x0 , y0 ); r). Suponhamos que (x0 , y0 ) é um ponto crítico de f (x, y)
tal que ∇f (x0 , y0 ) = (0, 0). Denotemos por
∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f
A= (x ,
0 0y ), B = (x ,
0 0y ), e C = (x0 , y0 ).
∂x2 ∂x∂y ∂y 2
Se
Definição 34. Sejam z = f (x, y) uma função real de duas variáveis definida num con-
junto D ⊂ R2 e (x0 , y0 ) ∈ D. Dizemos que f (x0 , y0 ) é um valor máximo absoluto de f
(resp. valor mínimo absoluto de f ) se
Teorema 36. (de Weierstrass) Se z = f (x, y) é uma função definida num conjunto
compacto D ⊂ R2 , então f tem um valor máximo absoluto e um valor mínimo absoluto
em D.
Note que esse teorema nos garante a existência de pontos de máximo e mínimo abso-
lutos, mas não nos fornece um critério segundo o qual possamos localizá-los. Passemos,
agora, a tratar desta questão.
Se (x0 , y0 ) é um extremo absoluto de uma função f em D ⊂ R2 (compacto), então
(x0 , y0 ) é um ponto interior a D ou pertence à fronteira de D. Portanto, para localizarmos
os extremos absolutos de f em D, encontramos os pontos críticos de f e comparamos os
valores de f nestes pontos com os valores máximo e mínimo de f na fronteira de D.
Exemplo 6 Encontre o máximo e o mínimo da função
f (x, y) = (x − 2)2 y + y 2 y − y
definida em
D = {(x, y) ∈ R2 ; x ≥ 0, y ≤ 0 e x + y ≤ 4}.
Exemplo 7 Uma placa metálica circular com um metro de raio está colocada com
centro na origem do plano xy e é aquecida de modo que a temperatura num ponto (x, y)
é dada por
T (x, y) = 64(3x2 − 2xy + 3y 2 + 2y + 5) graus,
Teorema 37. Sejam f (x, y) e g(x, y) funções definidas e de classe C 1 num subconjunto
aberto U do plano xy que contém a curva C de equação g(x, y) = 0. Se f (x, y) tem um
valor máximo ou mínimo em (x0 , y0 ) ∈ C e ∇g(x0 , y0 ) não é o vetor nulo, então existe
um número real λ tal que
∇f (x0 , y0 ) + λ∇g(x0 , y0 ) = 0.
x2 + 8xy + 7y 2 − 225 = 0.
2 +y 2 +y
Exemplo 9 Determine o maior e o menor valor de f (x, y) = ex se (x, y) pertence
ao segmento de reta de equação y + x − 1 = 0, 0 ≤ x ≤ 1.