Barata, Alexandre- Locus- Maçons e Movimento Republicano
Barata, Alexandre- Locus- Maçons e Movimento Republicano
Barata, Alexandre- Locus- Maçons e Movimento Republicano
Abstract
The puipuse of this article is to apprehend and to rescue the activity of
Brazilian Free-Masonry between 1870 and 1910, when happened intense
debates searching to build a new national identity. It was looking for
civilization and progress, expressed in defense of conscience freedom,
abolition of slave work and the republic. The Brazilian Free-Masonry, with
its peculiar organization. Knew, at that time, an important growing of its
activities around all the country. The sociability proporcionated by Free-
Masonry lodges, putting together expressive sectors of the society, ended up
to transform them in important spread centers discussing on the republican
project.
Key words: Free-Masonry; Republic; Liberalism
Resumo
Este artigo apreende e resgata a atuação da Maçonaria brasileira entre
1870 e 1910, período marcado pelos intensos debates que procuravam
estruturar uma nova identidade nacional. Buscava-se a civilização e o pro
gresso, encarnados na defesa da liberdade de consciência, na abolição do
trabalho escravo e na República. Marcada por uma estrutura organizacional
peculiar, a Maçonaria brasileira conheceu, no período, um importante
crescimento das suas atividades em todo o território nacional. Aglutinando
setores expressivos da sociedade, a "sociabilidade" proporcionada pelas
lojas maçónicas acabou por transformá-las em importantes centros de di¬
vulgação e discussão do projeto republicano.
Palavras-cbave : Maçonaria; República; Liberalismo
Artigo elaborado a partir da dissertação de mestrado 'Luzes e Sombras: a ação dos pedreiros
livres brasileiros (I87O-I9IO)', defendida junto ao programa de pos-graduação em História
Social da Universidade Federal Fluminense.
Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Juiz de Fora.
126
Introdução
A década de 20 deste século conheceu um importante proces-
so de reflexão sobre os caminhos da pesquisa histórica. Ao questio-
nar a hegemonia da História política na produção historiognffica fran-
cesa, os historiadores dos Annales passaram a defender uma nova
concepção de história onde o econômico e o social ocupavam lugar
fundamental.
Nos anos 60, com o crescimento do marxismo nos meios ac-<1-
démicos, acentuou-se na pesquisa histórica a margmalii.ação dos es-
tudos políticos.
Contudo, este quadro vem se modificando. O crescente diá-
logo entre a Historia e as outras ciências sociais (Ciência Política,
Sociologia, Llngülstica) contribuiu para que a dimensão política
voltasse a ocupar um espaço fundamental nos estudos históricos,
num processo que R. Remond chamou de "renascunenlo da his-
tória política" 1.
11, portanto, neste contexto de renovação historiogr:ifica e de
crescimento cios estudos políticos que as reflexões deste artigo se
inserem. Nosso objetivo é repensar a atuaç-Jo da instituição maçôni•
ca no final do século XIX e início do século XX no Brasil, pcr{odo
marc-Jdo pelos grandes debates que procuravam estruturar uma nov,1.
identidade nacional, tentando compreender a especificidade da ·so-
ciabilidade" proporcionada pelas lojas maçônicas que acabou por
transform1-las em importantes centros de djvulga~'ào e discussão do
ideário liberal, a despeito dos cuidados que devem ser guardados de
uma identificação simplista.
1 REMON'D, R.. Po, qYC • liiltoti. politka.T Lt,n/o, His1tfncos. Rio de Jan,rho. -,,1. D.13. 199.t. p 7-19,
O. Maçoo, e o Movõmcato 11.cpublinno • (1170 • 1910) 127
Estrutura organizacional
da Maçonaria brasileira
De modo particular, a estrutura organizacional da Maçonaria em
nosso país, neste período, apresentou três fases bastante distintas.
Na primeira, de 1863 a 1883, o poder central da Ordem estava divi-
dido em dois grupos: o Grande Oriente do Brasil da rua dos
7 Vu: llol,11• do Cra11dt o,,,,.,, do /lroslL Rio d~ Janeiro. 22(l•<I): 144. malo-Ju,Vll97.
130
1 Ve.r. lol,11111 do C,o,,d~ Orf,,.,, U•lllo ~ S•prt•o Coa,,llto do Bnull.. Rio d• Jne.lro. 2(2•l):
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O. M'l'ODJ e o Mowimc:nto l\q,ub!laoo • (1870 • 1910) 131
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(1861-19'20)
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136
IS Ibidem, p. 149,
16 CARVALHO. Jos~ M. op. clt. p. 2•·9.
O. MIÇOOI < o Movu,icoto ll.<p,,t,li<1m •(li;()• 1910) 139
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li lbldent, p. 09.
19 lbldrn,. p 32.
140
20 lbldu,, p.J6.
21 tblclcra. p.103.
O. Maçoa, e o Mo-rimcnto lcpublitano • (1170 • 1910) 141
vida política do país. Foi obseivado o quanto ela estava ativa e influ-
ente, revelando-se como um autC:ntico grupo de pressão. Aglutinando
expressiva parcela da elite, debateu, quer nas suas Lojas, quer na
imprensa, quer no Parlamento, os principais temas que abalaram a
sociedade brasileira do periodo. Desta forma, ser maçom, para cer-
tos setores da sociedade, significava uma forma de influir, de partici-
par na estruturação do Estado brasileiro.