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discursivos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Os gêneros textuais/discursivos são ações sociais e discursivas que agem
e dizem o mundo. Esses eventos discursivos, tipificados socialmente, são
caracterizados especialmente pelo propósito ou pela funcionalidade
comunicativa. Essas formas verbais de ação social, as quais se materializam
em textos, são numerosas uma vez que são também inúmeras as esferas
da comunicação humana. Por outro lado, os tipos textuais se caracte-
rizam como sequências tipológicas de base estrutural e são limitados
em número: narração, descrição, injunção, exposição e argumentação.
Tais sequências, contudo, se manifestam e se organizam nos textos em
interação com outras sequências, do que se pode dizer que há uma
heterogeneidade de tipos textuais em um mesmo texto.
Neste capítulo, você vai estudar o que são gêneros textuais/discursivos
e conhecer algumas de suas abordagens teóricas. Além disso, você vai
reconhecer quais são os elementos que determinam os gêneros e, ainda,
identificar o que são os tipos textuais.
12 Gêneros textuais/discursivos
Ao longo deste capítulo, fazemos uso das expressões gêneros, gêneros textuais,
gêneros discursivos e gêneros textuais/discursivos como intercambiáveis. Embora
algumas teorizações façam uso de uma terminologia em detrimento de outra, é
importante pensar que os gêneros são eventos enunciativos, com significado, da ordem
social, relacionados às esferas de comunicação humanas, e não dizem respeito apenas
aos gêneros da modalidade (textual) escrita. Ou seja, o gênero não se materializa, de
forma necessária, em um texto escrito. Dito de outro modo, há os gêneros das artes
plásticas, da modalidade oral, dentre muitos outros.
14 Gêneros textuais/discursivos
O ensaio intitulado “Os gêneros do discurso”, que faz parte da obra Estética da criação
verbal, foi escrito entre 1952 e 1953. Esse trabalho teórico, aparentemente não concluído,
foi publicado inicialmente em forma de fragmentos, em 1978, na revista Estudo literário.
A temática dos gêneros do discurso, no entanto, já tinha sido apresentada, mesmo
que brevemente, em obra anterior intitulada Marxismo e filosofia da linguagem, datada
de 1929, de autoria de V. N. Volochínov, um dos integrantes do chamado “Círculo
Bakhtiniano”.
Esse ensaio é dividido em duas seções: de início, o teórico russo analisa a problemática
da definição dos gêneros do discurso. Posteriormente, Bakhtin (2003) discute sobre o
enunciado como uma unidade real da comunicação verbal e discursiva, diferenciando-
-o de outras unidades da língua como as palavras e orações que são estudadas e
analisadas como abstraídas do contexto e, portanto, do meio social. Esse segundo
momento do ensaio constitui um ponto teórico importante para compreender que os
discursos, constituídos por enunciados (verbais, visuais, verbo-visuais) se materializam
em gêneros (BAKHTIN, 2003).
conteúdo temático;
estilo;
construção composicional.
Imagine dois sujeitos sentados em uma sala de jantar conversando sobre as atividades
que cada um realizou naquele dia no trabalho. Durante o gênero diálogo entre colegas
de trabalho em ambiente informal, o segundo jovem se levanta, aproxima-se da janela
e olha para o céu. Nesse ato, tal jovem sorri para a lua e, após vislumbrar a imagem
do astro no céu, vira para o seu colega e diz bem. Esse bem é falado com um sorriso
leve no rosto do jovem, o que é percebido pelo primeiro jovem como a admiração
que aquele colega tem pelo globo lunar, admiração essa que também expressa
gratidão e serenidade naquele momento. Tais sentidos construídos pelo enunciado
bem durante a comunicação entre os dois jovens não são dados pelo uso do advérbio
bem como uma palavra ou unidade linguística, isto é, unidade que faz parte da língua
portuguesa, mas pela relação estabelecida pelos sujeitos na troca de enunciados em
determinado contexto social.
Desse modo, bem como unidade meramente da estrutura de uma dada língua não
tem um tom expressivo por si só, pois a entonação expressiva do enunciado é construída
pelos participantes envolvidos no gênero textual/discursivo a partir do contexto em
que eles se inserem, e do papel ativo e lugar que os participantes ocupam. Portanto,
a unidade linguística bem, quando fora de contexto, não apresenta os aspectos que
revelariam a entonação expressiva dirigida ao outro — no caso do exemplo, dirigida
à lua e ao colega.
narração;
argumentação;
exposição;
descrição;
injunção.
22 Gêneros textuais/discursivos
Tipologias textuais
De antemão, é necessário lembrar sobre o cuidado no uso da expressão “tipo
textual” ou “tipo de texto”. Os gêneros se realizam nos tipos textuais e não
o contrário. Ou seja, quando alguém escreve uma notícia jornalística, esse
sujeito está fazendo uso do gênero notícia jornalística. A notícia, contudo,
pode se realizar — e, de fato, se constrói — a partir de mais de um tipo de
texto, uma vez que, quando relata um crime, por exemplo, traz momentos
descritivos, narrativos e/ou argumentativos. Isso significa dizer que a notícia
jornalística, dentre muitos outros gêneros, apresenta uma heterogeneidade
tipológica. Mesmo quando alguém caracteriza um texto sob o nome de “nar-
rativo” ou “argumentativo”, esse alguém está falando dos tipos textuais em
que o gênero está se concretizando. Cabe aqui uma ressalva: como os tipos
textuais são definidos pelas sequências linguísticas e boa parte dos textos
apresentam mais de uma tipologia textual, não seria redutor apontar um texto
como apenas narrativo, argumentativo, descritivo, expositivo ou injuntivo? Ao
falar de tipos textuais, é preciso que se considere a sua heterogeneidade. Logo,
pode-se dizer que em um texto encontramos uma variedade de sequências
tipológicas, as quais erguem a base do texto como um todo. Observe o que
Gêneros textuais/discursivos 23
Portanto, os tipos textuais ou tipos de texto não são o mesmo que falar
de gêneros textuais/discursivos. Enquanto os tipos textuais se limitam a um
número específico de tipos de sequências tipológicas linguísticas, os gêneros
textuais/discursivos são numerosos porque são múltiplas as formas de nos
comunicarmos. Os tipos textuais, ainda, não são ações empíricas sociais e
discursivas, mas entidades concretas em que se realizam tais sequências.
Já os gêneros, longe de serem fenômenos estanques e estáticos, são eventos
sociais, discursivos e históricos maleáveis, plásticos, que se modificam com
o passar do tempo, podendo variar ao longo também das sociedades e dos
meios culturais. Embora sejam tidos como ações relativamente estáveis, uma
vez que apresentam possibilidade de interpretação quanto à produção e re-
cepção das formas de comunicação pelos sujeitos envolvidos, essas atividades
de comunicação, mesmo que ligadas a determinada coletividade, oferecem
espaço para uma certa “singularidade” dos agentes envolvidos. Isso porque
nós temos um papel ativo e responsivo no processo de comunicação, o que dá
possibilidade para pequenas variações (nem que sejam leves e sutis).
Logo, quando tratamos de gênero estamos falando de propósitos e objeti-
vos discursivos em que a nossa comunicação linguisticamente se realiza em
tal esfera discursiva; e, de tipo textual, de bases tipológicas ou sequências
estruturais diversas que se organizam e se relacionam em um todo textual.
24 Gêneros textuais/discursivos
MILLER, C. R. Gênero como ação social. In: MILLER, C. R. Estudos sobre gênero textual,
agência e tecnologia. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2009.
SWALES, J. M. Genre analysis: english in academic and research settings. Cambridge:
Cambridge University Press, 1990.