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RESUMO
ABSTRACT
The rationalization process allows man to make decisions based on technical means that
science offers, analyzing the side effects and the impact of their actions. However, the
rationalization to be consolidated as a fundamental characteristic of a society need to
incorporate state institutions and culture interpretations, and is part of the character and
personality of modern man. Rationalization is the process by which the culture has changed,
breaking with the old and its structures.
The current existing religious culture demonstrates increasingly plural and fragmented,
becoming more complex with time. The human being becomes autonomous and choose what
is most convenient for you, and the different religious expressions, pluralistic by nature,
breaking ancient sacred monopolies becoming a safe haven for the new religious model.
KEYWORDS: Science. Religion. Rationalism. Society.
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O presente artigo faz parte de um projeto de pesquisa para mestrado sobre a influência da religião no processo
de ensino aprendizagem de ciências naturais para alunos do ensino médio.
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Mestrando em Ciências das Religiões, pela Faculdade Unida de Vitória-ES. Pós-graduado em Programa Saúde
da Família, pela Universidade Iguaçu (UNIG – Itaperuna). Pós-graduado em Ciências da Religião, pela
Faculdade de Nanuque-MG (FANAN). Pós-graduado em Ciências Biológicas, pela Faculdade de Nanuque-MG
(FANAN). Graduado em Enfermagem, pela Universidade Iguaçu (UNIG – Itaperuna). Graduado em
Licenciatura Plena em Biologia, pela Faculdade de Ciências da Bahia (FACIBA). E-mail:
[email protected].
Revista Eletrônica de Teologia e Ciências das Religiões, Vitória-ES, v. 4, n 2, jul.-dez., 2016
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INTRODUÇÃO
Conhecer alguma coisa era saber a que fim ela se destinava. E os filósofos se
entregavam à investigação dos sinais que, de alguma forma, pudessem
indicar o sentido de cada uma e de todas as coisas. E é assim que um homem
como Kepler dedica toda a sua vida ao estudo da astronomia na firme
convicção de que Deus não havia colocado os planetas no céu por acaso.
Deus era um grande músico-geômetra, e as regularidades matemáticas dos
movimentos dos astros podiam ser decifradas de sorte a revelar a melodia
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Toland, através do livro O cristianismo não é misterioso (1696), foi um dos responsáveis pelo início da
controvérsia deísta na Inglaterra.
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que renuncie a si mesmo para que suas ações sejam governadas por valores superiores. Porém
quando o homem assume o comando de suas atitudes cabe à religião apenas massagear o ego
ferido da humanidade.
O surgimento do pensamento cético acerca de Deus evidencia que para uma sociedade
desenvolvida não há lugar para a fé. Teóricos modernos creem que para o avanço da
humanidade se faz necessário superar a dependência de um Deus. John Polkinghorne sobre o
discurso cético diz:
...O homem, que na realidade fantástica do céu, onde procurara um ser sobre-
humano, encontrou apenas o seu próprio reflexo (...). É este o fundamento da
crítica religiosa: o homem faz a religião; a religião não faz o homem. E a
religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou
não se encontrou ainda ou voltou-se a perder-se. Mas o homem não é um ser
abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado,
a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma
consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A
religião é a teoria geral deste mundo, o seu resumo enciclopédico, a sua lógica
em forma popular, o seu point d’ honneur espiritualista, o seu entusiasmo, a
sua sanção moral, o seu complemento solene, a sua base geral de consolação e
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Segundo Ricoeur, em O conflito das interpretações. Ensaio de hermenêutica, a partir de Nietzsche, Marx e
Freud, a consciência passa a ser considerada como consciência falsa, isso querendo dizer que, a partir deles,
estabeleceu-se a crítica à ideia cartesiana de que o sentido e a consciência do sentido coincidem. Eles
instauraram a dúvida sobre os poderes da consciência em apreender o sentido do mundo e de si mesma de
maneira evidente, de maneira clara e distinta. Segundo Ricoeur, o cogito cartesiano “penso, logo existo”, a auto
apreensão imediata do sujeito foi posta em questão pela descoberta do inconsciente em Freud, do ser social em
Marx e da vontade de poder em Nietzsche.
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Karl Marx em seu discurso adota uma postura crítica em relação ao capitalismo. Para
ele a modernidade é produto do capitalismo como modelo estabelecido pela sociedade, “a
ordem social emergente da modernidade é capitalista tanto em seu sistema econômico como
em suas outras instituições” (GIDDENS, 1991, p. 20), porém Max Weber vê no racionalismo
o alicerce da modernidade. Para Weber o materialismo de Marx sempre existiu na
humanidade, o desejo pela riqueza e o impulso por acumular bens estavam presentes e,
portanto, não deve ser utilizado como fundamento para o capitalismo moderno. O argumento
utilizado por Weber mostra a ação de expectativa de lucro baseada em uma operação racional,
lógica e calculista. “O ocidente veio a conhecer, na era moderna, um tipo completamente
diverso e nunca antes encontrado no capitalismo: a organização capitalista racional assentada
no trabalho livre” (WEBER, 1997, p.7). A racionalidade aflorou o desejo e expandiu as
possibilidades de enriquecimento, o capitalismo moderno se difere do capitalismo antigo
devido a presença da racionalidade na modernidade
predominante protestante dos proprietários do capital e empresários, assim como das camadas
superiores da mão de obra qualificada” (WEBER, 1997, p. 29). No meio protestante os fiéis
apresentam maior tendência ao racionalismo econômico.
Diante do novo momento filosófico e existencial vivido pelo homem, a religião perdeu
sua força coativa sobre os indivíduos, perdendo força também nas demais esferas de valor
presente na sociedade moderna. Com a ausência da religião nestas novas esferas, estas criam
seus próprios códigos de conduta individual e coletiva. A religião fica reduzida a escolhas
morais do homem e as consequências de suas ações. O homem passa a ter sua conduta
pautada na escolha subjetiva do agente, ou seja, a esfera de valor que o ser humano dedica
maior atenção, acaba ditando as regras da sua vida. Wolfgang Schluchter (SCHLUCHTER,
2000), afirma que quem, na modernidade secularizada, quer conduzir a vida de forma
consciente é forçado a afirmar certos valores e negar outros através de uma decisão subjetiva.
A religião se torna, no processo de racionalização, apenas mais uma esfera de valor, sem
qualquer tipo de predominância sobre as outras. A religião ainda é capaz de ser o referencial
de muitos e até mesmo controlar suas condutas, porém dividindo espaço com outras esferas de
valores e assim seu domínio possui intensidade menor que em outrora.
É importante notar que tal contexto de secularização evidencia uma realidade europeia
e não condizente com o processo de secularização brasileiro. No Brasil o processo de
separação entre o estado e a igreja foi quem permitiu que a igreja católica perdesse seu espaço
e a partir daí deu início ao processo de secularização no Brasil. A secularização brasileira
permitiu o despertar de uma liberdade religiosa que resultou na manifestação de religiões que
eram oprimidas pelo poder católico. Enquanto a religião católica extremamente
institucionalizada perdia espaço a religiosidade aflorava por todos os lados da sociedade
brasileira. O fenômeno religioso permanece presente na sociedade brasileira, porém a
secularização e a racionalidade diminuem a fidelidade institucional e permitem ao fiel a
liberdade para frequentar ao mesmo tempo diferentes tipos de cultos. Segundo Monteiro, “o
pluralismo religioso no Brasil, isto é, o reconhecimento legal da diversidade de cultos e a
garantia de liberdade religiosa foi o resultado de um longo debate político-científico em torno
daquilo que o Estado (e a sociedade) podiam legitimamente reconhecer e aceitar como prática
religiosa” (MONTERO, 2009, p. 7-16).
fútil e o temporário são mais expressivos que o eterno, o imutável, o integrado, o harmônico e
o sublime. A mistura é melhor que a pureza” (BENEDETTI, 2003, p. 69).
A pós-modernidade revela o homem como meio e como fim. O ser humano, dotado de
profunda individualidade e racionalidade, substituindo as instituições religiosas e suas
definições universais por conceitos capazes de atender à necessidade momentânea do
indivíduo. A cosmovisão oferecida pela igreja, que apresenta um Deus único e imutável, que
oferece uma coesão cultural-religiosa dá lugar a cosmovisão estabelecida para atender
interesses individuais, baseados na racionalidade e na independência de escolha do ser
humano. A sociedade se desenvolve em um modelo altamente pluralista, onde é grande a
quantidade de definições sobre a vida e o universo. Segundo Azevedo “há uma série de
perspectivas religiosas mundiais dentro de uma sociedade, e nenhuma delas detém o controle
ou tônus crítico-social” (AZEVEDO, 1991).
A atual cultura religiosa existente demonstra-se cada vez mais plural e fragmentada, se
tornando mais complexa com o tempo. A rapidez dos sistemas de comunicação, a facilidade
de locomoção e o avanço da tecnologia contribuem grandemente para a existência de diversas
subculturas, costumes e valores numa mesma sociedade, “o que quer que aceitemos como
verdade, e até mesmo o modo como a vemos, depende da comunidade da qual participamos”
(GRENZ, 1997, p. 25). O ser humano se torna autônomo e escolhe aquilo que lhe é mais
conveniente, e as diversas expressões religiosas, pluralistas por natureza, quebram antigos
monopólios sagrados se tornando um porto seguro para o novo modelo religioso. Segundo
Berger “a característica chave de todas as situações pluralistas, quaisquer que sejam os
detalhes de seu pano de fundo histórico, é que os ex-monopólios religiosos não podem mais
contar com a submissão de suas populações. A submissão é voluntária” (BERGER, 1985, p.
149).
CONCLUSÃO
O século XXI trouxe um novo modelo religioso, onde o fenômeno é vivido pelos fiéis,
todavia, o indivíduo transita entre vários meios, buscando satisfazer seu transcendental e ao
mesmo tempo permanecendo livre para uma reflexão crítica. Permitindo o desenvolvimento
de diversos segmentos de fé e uma grande pluralidade cultural e religioso.
REFERÊNCIAS
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Paulo: Paulus. 1985.
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19953.
GLEISER, Marcelo. A dança do Universo: dos mitos de Criação ao Big Bang. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
GRENZ, S. J. Pós-modernismo: um guia para entender a filosofia do nosso tempo. São Paulo:
Vida Nova, 1997.
HARRISON, Peter. The Cambrige Companion to Science and Religion. Cambride, Cambrige
Univestiy Press, 2010.
MARX, K., Contribuição à crítica da filosofia do direito de Hegel. In: MARX, K.,
Manuscritos econômico-filosóficos.
MCGRATH, Alister E. Fundamentos do diálogo entre ciência e religião. São Paulo, SP:
Loyola, 2005.
NEWTON, Isaac. In: COLEÇÃO OS PENSADORES: NEWTON. São Paulo: Nova Cultural,
1996.
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
SCHLUCHTER, Wolfgang. Politeísmo dos Valores. In: SOUZA, Jessé. (org). A Atualidade
de Max Weber. Brasília: UnB, 2000.