Lágrimas de Sangue

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 8

Prólogo

NOVE ANOS ATRÁS, 1957


Minha casa era grande. Ou pelo menos, eu acho que
era. Eu não me lembro muito bem.

Eu apenas me lembro de andar pelos corredores


escuros em direção ao quarto dela.

Parecia que aquele corredor não tinha fim. Que a


cada passo que eu dava ele ficava ainda maior.
Quando enfim eu cheguei a porta, percebi que ela
estava trancada. Eu sentia uma angústia muito forte. Eu
sabia que se eu entrasse lá dentro, me arrependeria
para sempre.
Mas eu não sei ouvidos a essa sensação. Comecei a
bater na porta. Eu chutava e me jogava contra a porta,
mas eu não tinha força nenhuma. Não tinha feito nem
um arranhão na porta. Eu já estava pensando em
desistir, mas assim que me virei, vi a chave jogada num
canto no fim do corredor, em baixo da cortina da
janela. Eu peguei ela, e com passos lentos voltei a porta.
Quando eu destranquei e abri, meu mundo caiu.
Sob uma poça de sangue estava ela. Minha mãe!
“ Mamãe?” foi o único som que conseguiu sair da
minha boca.

Ela tinha um corte na garganta. Suas pernas e braços


estavam vermelhos como se tivessem sido amarrados.
Ela tinha uma mancha roxa no olho esquerdo, e um
pequeno corte no canto da boca.

Eu havia fugido para ir a praia que ficava perto de


casa pra brincar um pouco. Eu não imaginava que
quando eu voltasse, fosse encontrar a porta da frente
quebrada, os móveis da casa caídos, e um rastro de
sangue que ia da escada, passava pelo corredor e
terminava no quarto.
Eu estava em choque. O medo tinha se apossado do
meu corpo. Eu não conseguia me mexer. Eu mal
respirava. Foi quando eu senti uma lágrima escorrer
por meu rosto. Logo meu rosto estava encharcado. Eu
não parava de chorar, ao mesmo tempo em que não
me mexia.

Depois daquele momento de desespero e medo por


ter visto a própria mãe com a garganta cortada, eu
desmaiei.

Dias depois eu acordei no hospital. Não me recordava


de tudo o que tinha acontecido. Os médicos diziam
que era devido ao estresse pós traumático, que eu
estava em choque. Passei por muitos psiquiatras e
psicólogos, e mesmo assim as lembranças daquele dia
não voltavam. Eu me lembrava apenas do momento
em que cheguei na porta do quarto, depois disso eu
não me lembro de nada.

Do dia para a noite minha mãe havia morrido, e eu


não tinha mais ninguém. Ou era o que eu achava!

Fui mandada para morar com um tio que eu nem


sabia que tinha. Era irmão do meu pai. Mas assim que
cheguei naquela enorme mansão em Nova York, eu
percebi que minha vida seria muito diferente. Mas não
do jeito bom.

Fui colocada em um quartinho pequeno no


primeiro andar da casa. Ficava próximo do quarto dos
empregados. E durante uma semana não encontrei
com meu tio Philip e nem com a esposa dele,
Margareth.

Apesar de não ter ficado muito animada com


minha nova casa, eu percebi que teria sido muito
melhor ter continuado sozinha naquele quarto, porque
no momento em que conheci meus tios, minha vida
virou um inferno!
E esses era só o começo dos próximos anos no
inferno que era ser uma Cesarini. Erika Cesarini!
Capítulo 1
27.10.1966

Cinco da manhã. O sol ainda não saiu. Eu estou


deitada sobre a cama, com os cabelos grudados sobre
o rosto, respiração desregulada, e com lágrimas
escorrendo dos olhos.

Eu pensei que nunca mais voltaria a sonhar com


aquele dia, na verdade eu tinha até esquecido disso
por um tempo. Mas a paz nunca dura.
Novamente eu sonhei com a morte da minha mãe,
e isso me deixou pensando que tipo de coisa ruim vai
acontecer comigo hoje.
Me levanto da cama e sigo em direção ao banheiro.
Quando entro me assusto com a minha imagem no
espelho. Eu estou pior que dá última vez.

Estou cheia de hematomas pelo rosto, mas não tive


coragem de olhar por baixo do pijama, com certeza
estaria pior. Meu rosto ainda estava inchado da última
surra, tinham novos hematomas por cima do mais
antigos. Um olho roxo, corte na sombra celha direita,
lábios rachados e cortados, nariz vermelho e com
sangue velho, e ainda tinha as marcas meio
amareladas na bochecha que estava quase sarando
mas foi coberta por uma nova marca roxa.

Terminei de me higienizar e me trocar e desci para


a cozinha. Eu costumo me levantar a essa hora para
não ter que encontrar com meu tio e Margareth. Eu
não quero ter que encontrar com eles logo tão cedo,
quando meu dia tem tudo pra dar errado.

Mas eu não tenho sorte com nada na vida, no


momento em que terminei de descer o último degrau
da escada me deparei com Margareth sentada na
poltrona da sala.
— O que está fazendo aqui a essa hora?— ela
perguntou com uma cara seria, parece que hoje ela
acordou de mal humor e vai descontar tudo em mim.

— E-eu só levantei para beber água!— gaguejei como


uma criancinha, eu não queria mostrar fraqueza para
ela, mas eu estava com medo do que ela poderia fazer
comigo se eu a irritasse.

— Meu deus, você está péssima.— ela disse sem


emoção nenhuma, como se não ligasse de me ver
toda machucada, e com um tom de pele roxo— Já que
é assim, não vai poder nos acompanhar essa noite.
Não quero que te vejam nesse estado e que comecem
a falar sobre nós!

— ir a onde? Eu não sabia que tinha alguma festa pra


ir.

— E não tem! Você não vai por nem um pé para fora


dessa casa, entendeu?

— s-sim!
— A propósito, a biblioteca está imunda. Quando eu
da casa de (.......) não quero ver nem um pontinho de
sujeira naqueles livros. Fui clara?
— com certeza!— eu disse num tom meio seco que
não passou despercebido por ela.
— Cuidado com o jeito que você fala comigo! Não
bastou a surra de ontem? Quer apanhar hoje
também?— ela gritou.
Eu fiquei em silêncio, eu não queria admitir que
tinha medo, mas ela sabia e usava isso contra mim
sempre que podia, pra me chantagear.
Ela deu um meio sorriso com o meu silêncio.
— Foi o que eu pensei!— E saiu andando em direção a
porta que dava acesso a sala de visitas, e eu pude ouvir
uma pequena risada. Bem baixinha mais que ainda
sim eu podia ouvir.

Você também pode gostar