Direito e Processo Penal_ - Prova; - Lei Das Armas
Direito e Processo Penal_ - Prova; - Lei Das Armas
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Assim, aqui se reúnem treze apresentações e respectivos vídeos que agora podem ser
por todos/as usufruídos/as.
O e-book de que os cultores do Direito Penal e do Direito Processual Penal não poderão
deixar de utilizar como ferramenta de trabalho.
(ETL)
Ficha Técnica
Nome:
Direito e Processo Penal: ‒ Prova; ‒ Lei das armas
Coleção:
Formação Contínua
1
Até agosto de 2018.
*À data da ação de formação.
Conceção e organização:
Jurisdição Penal
Intervenientes:
Alberto Ruço – Juiz Desembargador no Tribunal da Relação do Porto
António Pires Henriques da Graça – Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça
António João Latas – Juiz Desembargador do Tribunal da Relação de Évora
Carla Costa – Inspetora da Polícia Judiciária, Adjunta no Gabinete do Ministro da Saúde
João Gouveia de Caires – Mestre em Direito, Assistente na Faculdade de Direito da Universidade
de Lisboa
Jorge dos Reis Bravo – Procurador da República
José Mouraz Lopes – Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas
Maria Teresa de Teixeira de Simões Morais – Procuradora da República
Patrícia Naré Agostinho – Procuradora da República e Docente do CEJ
Paulo Dá Mesquita – Procurador-Geral Adjunto, Vogal do Conselho Consultivo da Procuradoria-
Geral da República
Paulo de Sousa Mendes – Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Sandra Oliveira e Silva – Professora Auxiliar da Faculdade de Direito da Universidade do Porto
Revisão final:
Edgar Taborda Lopes – Juiz Desembargador, Coordenador do Departamento da Formação do
CEJ
Ana Caçapo – Departamento da Formação do CEJ
Notas:
Foi respeitada a opção dos autores na utilização ou não do novo Acordo Ortográfico.
Os conteúdos e textos constantes desta obra, bem como as opiniões pessoais aqui expressas, são
da exclusiva responsabilidade dos/as seus/suas Autores/as não vinculando nem necessariamente
correspondendo à posição do Centro de Estudos Judiciários relativamente às temáticas
abordadas.
A reprodução total ou parcial dos seus conteúdos e textos está autorizada sempre que seja
devidamente citada a respetiva origem.
AUTOR(ES) – Título [Em linha]. a ed. Edição. Local de edição: Editor, ano de
edição.
[Consult. Data de consulta]. Disponível na internet: <URL:>. ISBN.
Exemplo:
Direito Bancário [Em linha]. Lisboa: Centro de Estudos Judiciários, 2015.
[Consult. 12 mar. 2015].
Disponível na
internet: <URL: http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebooks/civil/Direito_Bancario.pdf.
ISBN 978-972-9122-98-9.
Índice
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões) 305
Maria Teresa de Teixeira de Simões Morais
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
1. Considerações gerais
1.1. Globalização e criminalidade organizada
1.2. O crime de tráfico de pessoas
1.2.1. A nível internacional
1.2.2. A nível nacional
2. A valoração da prova
2.1. Produção e valoração da prova nos processos relativos ao crime organizado
Bibliografia
Vídeo da apresentação
1. Considerações gerais
“Estes crimes caracterizam-se pelo portentoso grau de ofensividade à paz pública, merecendo
pois um tratamento penal e processual penal diferenciado do dispensado à criminalidade
comum. Mesmo porque, a criminalidade organizada escarnece dos instrumentos processuais
tradicionais utilizados para a apuração [apuramento] da delinquência individualizada, que se
mostram desfasados ante o seu caráter multiforme. E de outro modo não poderia ser, já que é
ilógico tentar combater coisas distintas valendo-se de um único método, ou seja, é irracional a
aplicação de um mesmo aparato para a contenção de criminalidades abissalmente diversas.” 3
1
Apresentação decorrida no âmbito da ação de formação “Tráfico de seres humanos”, no Auditório do Montepio
(Lisboa), a 4 de dezembro de 2015.
* Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça.
2
FABIANA GREGHI,A Delação Premiada no Combate ao Crime Organizado.
3
Idem, ibidem.
13
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
A Agência das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) – United Nations Office on Drugs
and Crime - tem-se empenhado na cooperação com governos, organizações internacionais e
da chamada sociedade civil com vista a fortalecer o Estado de Direito no combate à
criminalidade organizada, nomeadamente pela tipificação, nas legislações nacionais, de
infrações penais relacionadas com crime organizado. 4
“O tráfico de seres humanos é, em todo o mundo, o terceiro negócio ilícito mais rendível, logo
depois da droga e das armas. Tendo como causa principal a pobreza e as grandes
desigualdades sociais, este tráfico não exclui nenhum país, seja ele de origem, de trânsito ou
de destino. Mulheres, crianças e adolescentes continuam a ser as principais vítimas.
O número exato das vítimas de tráfico de seres humanos é difícil de avaliar, mas pode
ascender a vários milhões em todo o mundo, 2,5 milhões, de acordo com as estimativas da
Organização Internacional do Trabalho (OIT). E, apesar da consciência atual sobre o que são os
direitos humanos, não cessa de aumentar, alimentando um negócio ilícito que a mesma OIT
avalia em mais de 30 000 milhões de dólares por ano.
Na sua definição, este Protocolo adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional, de Novembro de 2000, acrescenta ainda que «essa exploração
incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição alheia ou outras formas de exploração
sexual, os trabalhos ou serviços forçados, a escravatura ou práticas análogas à escravatura, a
servidão ou a extração de órgãos».” 5
4
Como se assinala no “Escritório de Ligação e Parceria no Brasil da UNODC”, que vale a pena transcrever:
UNODC mantém, desde março de 1999, o Programa contra o Tráfico de Seres Humanos, em colaboração com o
Instituto das Nações Unidas de Pesquisa sobre Justiça e Crime Interregional (UNICRI). O programa coopera com os
Estados-Membros em seus esforços de combater o tráfico de seres humanos, ressaltando o envolvimento do crime
organizado nesta atividade e promovendo medidas eficazes para reprimir ações criminosas. A adoção, em 2000, do
Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças e do
Protocolo contra o Crime Organizado Transnacional, Relativo ao Combate ao Contrabando de Migrantes por via
Terrestre, Marítima e Aérea, que complementam a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional, representa um marco fundamental nos esforços internacionais para enfrentar o tráfico de seres
humanos, considerado uma forma moderna de escravidão.
5
ANA GLÓRIA LUCAS, Jornalista, Tráfico de seres humanos: A escravatura do século XXI, ALÉM-MAR, julho de 2012.
14
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Teve como objeto prevenir e combater o tráfico de pessoas, prestando uma especial atenção
às mulheres e às crianças; Proteger e ajudar as vítimas desse tráfico, respeitando plenamente
os seus direitos humanos; e promover a cooperação entre os Estados Partes de forma a atingir
estes objetivos, sendo que de harmonia e para efeitos do referido Protocolo:
d) Por “criança” entende-se qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos. 8
De igual forma, a Convenção do Conselho da Europa Relativa à Luta contra o Tráfico de Seres
Humanos, aberta à assinatura em Varsóvia, em 16 de maio de 2005, aprovada pela Resolução
n.º 1/2008, de 14 de janeiro considerou no art.º 4:
6
Foi aprovado pela Resolução da Assembleia da República n.º 32/2004, de 02.04.2004.
7
Art.º 1.º, n.º 1, do Protocolo.
8 s
Art.º 2 º e 3.º do Protocolo.
15
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Objetivos do crime de tráfico de pessoas são “fins de exploração, que inclui prostituição,
exploração sexual, trabalhos forçados, escravidão, remoção de órgãos e práticas semelhantes.
Para verificar se uma circunstância particular constitui tráfico de pessoas, há que considerar a
definição de tráfico no protocolo sobre tráfico de pessoas e os elementos constitutivos do
delito, conforme definido pela legislação nacional pertinente.”
16
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
e seus Protocolos, assiste os Estados em seus esforços para implementar o Protocolo contra o
Contrabando de Migrantes por via Terrestre, Marítima e Aérea (Protocolo dos Migrantes).
Consentimento
O contrabando de migrantes, mesmo em condições perigosas e degradantes, envolve o
conhecimento e o consentimento da pessoa contrabandeada sobre o ato criminoso. No tráfico
de pessoas, o consentimento da vítima de tráfico é irrelevante para que a ação seja
caracterizada como tráfico ou exploração de seres humanos, uma vez que ele é, geralmente,
obtido sob malogro.
Exploração
O contrabando termina com a chegada do migrante em seu destino, enquanto o tráfico de
pessoas envolve, após a chegada, a exploração da vítima pelos traficantes, para obtenção de
algum benefício ou lucro, por meio da exploração. De um ponto de vista prático, as vítimas do
tráfico humano tendem a ser afetadas mais severamente e necessitam de uma proteção
maior.
Caráter Transnacional
Contrabando de migrantes é sempre transnacional, enquanto o tráfico de pessoas pode
ocorrer tanto internacionalmente quanto dentro do próprio país.” 9
O crime de tráfico de pessoas vem previsto no art.º 160.º do Código Penal, integra-se no
capítulo IV (Dos crimes contra a liberdade pessoal) do Título I (Dos crimes contra as pessoas)
do Livro II (Parte especial), do Código Penal.
Tráfico de pessoas
1 ‒ Quem oferecer, entregar, recrutar, aliciar, aceitar, transportar, alojar ou acolher pessoa
para fins de exploração, incluindo a exploração sexual, a exploração do trabalho, a
mendicidade, a escravidão, a extração de órgãos ou a exploração de outras atividades
criminosas:
a) Por meio de violência, rapto ou ameaça grave;
b) Através de ardil ou manobra fraudulenta;
c) Com abuso de autoridade resultante de uma relação de dependência hierárquica,
económica, de trabalho ou familiar;
9
UNODC – Escritório de Ligação e Parceria com o Brasil.
17
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
2 ‒ A mesma pena é aplicada a quem, por qualquer meio, recrutar, aliciar, transportar,
proceder ao alojamento ou acolhimento de menor, ou o entregar, oferecer ou aceitar, para
fins de exploração, incluindo a exploração sexual, a exploração do trabalho, a mendicidade, a
escravidão, a extração de órgãos, a adoção ou a exploração de outras atividades criminosas.
3 ‒ No caso previsto no número anterior, se o agente utilizar qualquer dos meios previstos nas
alíneas do n.º 1 ou atuar profissionalmente ou com intenção lucrativa, é punido com pena de
prisão de três a doze anos.
4 ‒ As penas previstas nos números anteriores são agravadas de um terço, nos seus limites
mínimo e máximo, se a conduta neles referida:
6 ‒ Quem, tendo conhecimento da prática de crime previsto nos n.ºs 1 e 2, utilizar os serviços
ou órgãos da vítima é punido com pena de prisão de um a cinco anos, se pena mais grave lhe
não couber por força de outra disposição legal.
8 ‒ O consentimento da vítima dos crimes previstos nos números anteriores não exclui em
caso algum a ilicitude do facto.
Não se confunde com o crime de escravidão, p. e p. no art.º 159.º do CP, porque os “fins de
exploração sexual, exploração de trabalho ou extração de órgãos” são conseguidos pelos
meios previstos nas diversas alíneas do n.º 1 do art.º 160.ºdo CP, e no crime de escravidão a
pessoa é reduzida ao estado ou condição de escravo, há alienação, cedência, aquisição ou
apossamento de uma pessoa com a intenção de a manter no estado ou condição de escravo.
18
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Por sua vez, ainda que o crime de tráfico de pessoas possa ser praticado por meio de rapto,
não exclui a autonomia deste último, por os fins serem diferentes e este ser um dos meios de
prática daquele.
Por outro lado, quando o crime de tráfico de pessoas é praticado para fins de exploração
sexual”, não se confunde com a autonomia dos concretos crimes praticados contra a liberdade
sexual ou contra a autodeterminação sexual da pessoa traficada. 10
Note-se ainda os crimes previstos na Lei n.º 23/2007, de 04 de julho 11, referente à entrada,
permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território nacional, a saber: 12
Será concedida a entrega da pessoa procurada com base num mandado de detenção europeu,
sem controlo da dupla incriminação do facto, sempre que os factos, de acordo com a
legislação do Estado membro de emissão, constituam as seguintes infrações, puníveis no
Estado membro de emissão com pena ou medida de segurança privativas de liberdade de
duração máxima não inferior a três anos.
a) […]
b) […]
c) Tráfico de seres humanos;
10
V. Secção I e Secção II do capítulo V do título I do Código Penal.
11
Atualizada pela Lei n.º 29/2012 de 9 de agosto.
12
Atualizada por diplomas posteriores, sendo o último a Lei n.º 63/2015, de 30/06.
19
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
2. A valoração da prova
A função de garantia dos tipos penais convocaria uma metodologia própria de verificação da
conduta proibida, quanto mais os tipos legais fossem de alguma imprecisão, como que normas
penais em branco, limitados apenas pela reserva de lei na sua criação.
Todavia, o processo penal, como direito constitucional aplicado, na expressão de Henkel, não
poderá afastar ou subverter a dignidade da pessoa humana, o que significa que não pode
realizar-se a custo de qualquer prova, mas somente as que não desprezam aquela dignidade.
Como escreve Figueiredo Dias, “em processo penal está em causa não a ‘verdade formal’, mas
a ‘verdade material’, que há de ser tomada em duplo sentido: no sentido de uma verdade
subtraída à influência que, através do seu comportamento processual, a acusação e a defesa
queiram exercer sobre ela; mas também no sentido de uma verdade, que não sendo ‘absoluta’
ou ‘ontológica’, há de ser antes de tudo uma verdade judicial, prática e, sobretudo, não uma
verdade obtida a todo o preço mas processualmente válida.” 14
E, como explicita o mesmo Insigne Professor ”Já em relação aos métodos proibidos de prova
(art.º 126.º) – pensados a partir da necessária proteção dos direitos fundamentais das pessoas
– nenhuma transação é possível já que em causa está a proteção da dignidade humana. Daí
13
ROBERTO SCHULTZE, O Crime Organizado no Direito Penal Brasileiro: por uma análise do tratamento distinto da
criminalidade organizada no plano processual.
HASSEMER, Winfried. Perspectiva de uma Moderna Política Criminal. Revista Brasileira de Ciência Criminal.
FIGUEIREDO DIAS; Direito Processual Penal, (Lições coligidas por Maria João Antunes) Secção de textos da
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, 1088-9, § 71, p. 131.
20
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
que, as provas obtidas através de tais métodos não possam ser valoradas ainda que dessa
forma contribuíssem para a descoberta da verdade material.” 15
Tudo isto, sem prejuízo, porém, do valor da segurança – tão premente nos dias de hoje e,
constitucionalmente afirmado no art.º 27.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa –,
que como causa prévia à Justiça, garante ao Estado de Direito a sua subsistência para poder
agir com eficácia de forma justa: “ o Estado de Direito não exige apenas a tutela dos interesses
das pessoas e o reconhecimento dos limites inultrapassáveis, dali decorrentes, à prossecução
do interesse dos criminosos. Ele exige também a proteção das suas instituições e a viabilização
de uma eficaz administração da justiça penal, já que pretende ir ao encontro da verdade
material. Assim, e vendo as coisas sob um outro prisma, em certas circunstâncias, para que os
interesses se concretizem, necessário se torna por em causa os direitos fundamentais das
pessoas.” 16
15
Idem, ibidem, p. 26, nota 38.
16
Idem, ibidem, p. 23.
17
Roberto Schultze.
21
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Nas investigações de tráfico de pessoas, as cenas do crime apresentam inúmeros desafios aos
investigadores.
Os investigadores terão experiência na utilização das análises de cenas do crime para apoiar
investigações criminais; isto demonstra algumas das diferenças entre a análise de provas
materiais e de cenas do crime tradicionais e os casos de tráfico de pessoas.
Múltiplos locais
Em muitos crimes, é provável que o cenário se subdivida em múltiplos locais: por exemplo, o
carro onde a violação ocorreu ou o banco onde ocorreu o roubo, etc. Em casos de tráfico de
pessoas, existe uma probabilidade maior de haver um número elevado de locais de interesse
para o investigador. Estes poderão exigir uma gestão simultânea.
Poderão existir locais relacionados na origem, trânsito e destino num caso de tráfico. É
provável que existam provas forenses das vítimas e dos traficantes em todos estes locais. De
igual forma, poderão existir provas que liguem uma pessoa ao transporte utilizado em todos
os locais ou a um veículo que tenha passado por todos. A publicidade, os documentos
financeiros e equipamentos de comunicações podem representar eventuais oportunidades
para uma análise forense.
Deverá sempre considerar quais os locais que poderão estar relacionados entre si e onde
estarão localizados os mesmos. Explorar as oportunidades para os analisar ou pedir a
realização de uma perícia. Isto poderá não ser prático em todos os casos, mas os vários locais
poderão ter ligações muito particulares entre si que não deverão ser ignoradas. Mesmo
22
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
quando um local do crime pertencer a outra jurisdição, poderão ser partilhados resultados de
eventuais exames já realizados.
Estabelecer uma ligação entre diferentes locais poderá permitir a identificação de mais vítimas
ou suspeitos, gerar informações e apresentar um caso mais consistente e abrangente em
tribunal.
Os profissionais deverão evitar contactar com mais do que uma cena do crime, suspeito, ou
vítima, de modo a acautelar a contaminação cruzada.
Nos locais onde as pessoas vivem ou trabalham, os vestígios transferidos podem ou não
resultar do contacto fortuito ou constituir prova de exploração.
A «cadeia de custódia» num caso de tráfico de pessoas poderá ser longa e complexa, dado que
poderá existir uma necessidade de transferir provas entre jurisdições. Qualquer transferência
desse tipo deverá ser sempre feita de forma a respeitar a legislação dos Estados envolvidos na
mesma, uma vez que o sistema de uma jurisdição pode não se aplicar a outras jurisdições.
Tal significa que estes casos incluem cenários (pessoas, locais, etc.) suscetíveis de
apresentarem muitos vestígios forenses. Alguns desses vestígios podem ser relevantes, muitos
poderão não o ser e algumas provas poderão ter-se deteriorado a ponto de não poder ser
valoradas.
«Processo comercial»
O tráfico de pessoas é um processo comercial. O objetivo de qualquer investigação criminal
não deverá ser apenas condenar os autores do crime, mas também desmantelar redes. Uma
23
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
estratégia forense num caso de tráfico de pessoas deverá considerar a forma como os exames
forenses podem ser ligadas aos cinco processos [modos] do tráfico de pessoas — publicidade,
instalações, transporte, comunicações e registos financeiros. 18
Como se sintetiza no Acórdão do Supremo de 28-06-2007, Proc. n.º 1409/07 - 5.ª Secção: «Na
aplicação da regra processual da “livre apreciação da prova” (art.º 127.º do CPP), não haverá
que lançar mão, limitando-a, do princípio in dubio pro reo exigido pela constitucional
presunção de inocência do acusado, se a prova produzida [ainda que «indireta»] não conduzir,
depois de avaliada segundo as regras da experiência e a liberdade de apreciação da prova, “à
subsistência no espírito do tribunal de uma dúvida positiva e invencível sobre a existência ou
inexistência do facto” (cf. Cristina Líbano Monteiro, In Dubio Pro Reo, Coimbra, 1997).
O princípio da legalidade da prova perfilhado pelo art.º 125.º do CPP considera “admissíveis as
provas que não forem proibidas por lei”. Incluindo-se nelas as presunções judiciais (ou seja,
«as ilações que o julgador tira de um facto conhecido para firmar um facto desconhecido»:
art.º 349.º do CC).
Daí que a circunstância de a presunção judicial não constituir «prova direta» não contraria o
princípio da livre apreciação da prova, que permite ao julgador apreciar a «prova» (qualquer
que ela seja, desde que não proibida por lei) segundo as regras da experiência e a livre
convicção do tribunal (art.º 127.º do CPP). Não está, por isso, vedado, ante factos conhecidos,
a extração – por presunção judicial – de ilações capazes de «firmar um facto desconhecido».
Em processo penal não existe um verdadeiro ónus da prova em sentido formal; nele vigora o
princípio da aquisição da prova ligado ao princípio da investigação, donde resulta que são boas
18
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS - Manual contra o tráfico de pessoas para profissionais do sistema de
justiça penal.
Módulo 7:Análise de provas materiais e da cena do crime nas investigações de tráfico de pessoas
Nova Iorque, 2009.
19
Acórdão do Supremo de 10-01-2008, proc. n.º 07P4198, www.dgsi.pt
CRISTINA LÍBANO MONTEIRO, «In Dubio Pro Reo», Coimbra, 1997.
24
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
as provas validamente trazidas ao processo, sem importar a sua origem, devendo o tribunal,
em último caso, investigar e esclarecer os factos na procura da verdade material. 20
Perante as provas legalmente admissíveis, é dos princípios gerais da produção da prova que o
tribunal ordena, oficiosamente ou a requerimento, a produção de todos os meios de prova
cujo conhecimento se lhe afigure necessário à descoberta da verdade e à boa decisão da causa
– v. art.º 340.º, n.º 1, do CPP – sem prejuízo do contraditório (v. n.º 2 do preceito). 21
“Os meios de prova admissíveis são aqueles cujo conhecimento se afigure necessário para a
descoberta da verdade e boa decisão da causa (n.º 1). É afloramento do princípio da
necessidade.” 22
20
Acórdão do STJ, de 23 de julho de 1999, proc. n.º 650/98, 3ª Secção, in SASTJ, n.º 32, p. 87.
21
Conforme art.º 340.º do CPP, que versa sobre o princípio da investigação, ou da verdade material:
1. O tribunal ordena, oficiosamente ou a requerimento, a produção de todos os meios de prova cujo conhecimento
se lhe afigure necessário à descoberta da verdade e à boa decisão da causa.
2. Se o tribunal considerar necessária a produção de meios de prova não constantes da acusação, da pronúncia ou
da contestação, dá disso conhecimento, com a antecedência possível, aos sujeitos processuais e fá-lo constar da
ata.”
22
MAIA GONÇALVES, Código de Processo Penal Anotado – Legislação Complementar, 17ª edição – 2009, p. 781:
23
MARIA HELENA FAZENDA, Da fiscalização, do controlo, da proteção à vítima. A Coordenação da investigação do
crime de Tráfico de Pessoas.
25
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Como se disse, no sistema processual penal português, vigora a regra da livre apreciação da
prova, em que conforme art.º 127.º do CPP, salvo quando a lei dispuser diferentemente, a
prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção da entidade
competente.
O artigo 127.º do CPP estabelece três tipos de critérios para avaliação da prova, com
caraterísticas e natureza completamente diferente: uma avaliação da prova inteiramente
objetiva quando a lei assim o determinar (o caso dos documentos autênticos), outra, também
objetiva, quando for imposta pelas regras da experiência, finalmente uma outra,
eminentemente subjetiva, que resulta da livre convicção do julgador.
A livre apreciação da prova liberta do rígido sistema da prova tarifada, ou prova legal, realiza-
se obedecendo a critérios lógicos e objetivos, determinando uma convicção racional e, por isso
objetivável e explicável. 24
As regras da experiência não exigem certezas científicas, não são perícias, nem exames donde
resultem aquelas certezas, mas informações reais que a vida ensina na verificação empírica de
resultados produzidos, valendo a máxima de Cícero de que a experiência é a mestra da vida.
“Ao analisar as declarações incriminadoras do coarguido, deve-se observar que o acusado não
presta o compromisso de falar a verdade em seu interrogatório e está em situação de
beneficiário processual, podendo figurar como beneficiário penal. Em consonância com o
acatado, o magistrado deverá considerar os seguintes elementos para a valoração desse meio
de prova: a verdade da confissão, a inexistência de ódio em qualquer das manifestações, a
homogeneidade e coerência de suas declarações, a inexistência da finalidade de atenuar ou
24
V., v.g., Acórdãos do STJ, de 4 de novembro de 1998, 21 de janeiro de 1999 e 18 de janeiro de 2001,
respetivamente na “CJ, Acórdãos do STJ VI”, Tomo 3, p. 201; “SAASTJ”, n.º 27, p. 38; e n.º 47, p. 88.
26
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Deve, ainda, o juiz considerar, na valoração do depoimento prestado por pessoa protegida, as
seguintes presunções:
O Código de Processo Penal não enumera taxativamente as provas proibidas, mas aponta
limites à produção de provas e à sua valoração.
Assim, considera métodos proibidos de prova os indicados no art.º 126.º considerando “nulas,
não podendo ser utilizadas, as provas obtidas mediante tortura, coação ou, em geral, ofensa
da integridade física ou moral das pessoas.” (n.º 1), descrevendo as que “são ofensivas da
integridade física ou moral das pessoas, mesmo que com consentimento delas” (n.º2) e,
ressalvados os casos previstos na lei, são igualmente nulas, não podendo ser utilizadas as
provas obtidas nos termos do n.º 3 do mesmo preceito.
25
ALLINE GONÇALVES GONÇALEZ, ANNA PAOLA BONAGURA, BEATRIZ ANTONIETTI GARCIA, LEANDRO LOPES DE
ALMEIDA, LUCIANA LIE KUGUIMIYA e PAULO M. de AQUINO LOPES, “O crime organizado”.
A delação, própria do regime jurídico-penal brasileiro, corresponde grosso modo à figura do arrependido.
27
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
As provas não proibidas serão todas as que não vão contra a dignidade da pessoa humana e
seus direitos fundamentais constitucionalmente consagrados, sendo porém certo que se
houver colisão de direitos fundamentais no binómio liberdade/segurança, gerando por isso
uma situação de conflito, há que ponderar a definição e imposição de limites
constitucionalmente consagrados ou imanentes para que seja possível a coexistência.
Quanto á proibição de valoração de provas, como resulta do art.º 355.º do CPP, não valem em
julgamento, nomeadamente para o efeito de formação da convicção do tribunal, quaisquer
provas que não tiverem sido produzidas ou examinadas em audiência, ressalvando-se apenas
as provas contidas em atos processuais cuja leitura, visualização ou audição em audiência
sejam permitidas,
26
Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 87/99, de 10 de fevereiro, proc. n.º 444/98, in DR II Série, de 1 de julho de
1999.
27
Acórdão do STJ, de 27 de janeiro de 1999, proc. n.º 350/98, 3ª Secção, SASTJ, n.º 27, p. 83.
28
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
observância de nenhuma das regras definidas pelo artigo 147.º do Código de Processo
Penal.” 28
As regras de reconhecimento pessoal prescritas pelo art.º 147.º do CPP não se aplicam em
julgamento, mas antes à fase de inquérito e de instrução. O reconhecimento feito em
audiência integra-se num conjunto probatório que lhe retira não só autonomia como meio de
prova especificamente previsto no art.º 147.º, como lhe dá sobretudo um cariz de
instrumento, entre outros, para avaliar a credibilidade de determinado depoimento, inserindo-
se assim numa estrutura de verificação do discurso produzido pela testemunha. Nesta
perspetiva, tal reconhecimento feito em audiência, a avaliar segundo as regras próprias do
art.º 127.º do CPP, não carece, para ser válido, de ser precedido do reconhecimento
propriamente dito – realizado na fase de investigação – o inquérito e a instrução. 29
Como se sabe, a testemunha é inquirida sobre factos de que possua conhecimento direto e
que constituam objeto da prova. – artº 128.º do CPP.
Por sua vez, do artigo 343.º, n.º 1, do CPP, resulta que o arguido “tem direito a prestar
declarações em qualquer momento da audiência, desde que elas se refiram ao objeto do
processo, sem que no entanto a tal seja obrigado e sem que o seu silêncio possa desfavorecê-
lo.”
O Tribunal Constitucional já decidiu que o artigo 129.º, n.º 1, (conjugado com o art.º 128.º, n.º
1, do CPP), interpretado no sentido de que o tribunal pode valorar livremente os depoimentos
indiretos de testemunhas que relatem conversas tidas com um coarguido que, chamado a
depor, se recusa a fazê-lo no exercício do seu direito ao silêncio, não atinge, de forma
intolerável, desproporcionada ou manifestamente opressiva, o direito de defesa do arguido.
28
Acórdão n.º 137/2001, de 28 de março.
29
Acórdão do STJ, de 16 de junho de 2005, proc. n.º 553/05- 5ª Secção, “SASTJ”, n.º 92, p- 114.
29
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Por isso, não havendo um encurtamento inadmissível do direito de defesa do arguido, tal
forma não é inconstitucional. 30
Como referiu o Supremo Tribunal, de acordo com o disposto no art.º 129.°, n.º 1, do CPP,
quando o depoimento indireto resulta do que se ouviu dizer a pessoas determinadas, dever-
se-á considerar válido e, portanto, valorável, quando depõe perante o tribunal aquele a quem
a testemunha ouviu dizer. 31
Não há prejuízo para o direito de defesa do arguido que, presente, poderá contraditar a
informação, ou remeter-se ao silêncio, sem que este o possa desfavorecer.
O facto de o arguido nada dizer, significa que não podem extrair-se ilações sobre o seu
silêncio.
Mas, não significa, que não possam valorar-se depoimentos, nas respetivas condições legais,
por não constituírem provas proibidas por lei, ficando sujeitas à valoração constante do artigo
355.º do CPP, e à livre apreciação nos termos do artigo 127.º do CPP, sendo que por outro
lado, inclui-se nos poderes de cognição do tribunal, balizado pelos princípios da necessidade,
legalidade, adequação e obtenibilidade das provas, pois que como supra se referiu, deve haver
lugar à produção de todos os meios de prova cujo conhecimento se afigure necessário à
descoberta da verdade e à boa decisão da causa. – art.º 340.º do CPP.
Como resulta do Acórdão do STJ, de 19-02-2015 32, “[…] do elenco constante do artigo 126.º
(métodos proibidos de prova), não fazem parte as declarações dos coarguidos.
Não há qualquer impedimento legal a que as declarações dos arguidos ou dos coarguidos
sejam valoradas como meio de prova. Os arguidos podem prestar declarações no exercício do
direito que lhes assiste de o fazerem em qualquer altura do processo, podendo as declarações
ser prestadas sobre factos de que possuam conhecimento direto e que constituam objeto de
prova, sejam eles factos que só digam diretamente respeito ao declarante sejam eles factos
que respeitem a outros coarguidos.
Não há, pois, qualquer impedimento do coarguido a, nessa qualidade, prestar declarações
contra os coarguidos no mesmo processo e, consequentemente, de valoração da prova feita
por um coarguido contra os seus coarguidos.
30
Ac. do Tribunal Constitucional n.º 440/99, de 8 de julho, proc. n.º 268/99, DR, II Série, de 9 de novembro de 1999.
31
Ac. do STJ, de 25-01-2006, Proc. n.º 184/06, 3ª Secção.
32
Proc., 617/11.8JABRG.G2.S1.
30
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Nos termos do n.º 4 do artigo 345.º do CPP, não podem valer como meio de prova as
declarações de um coarguido em prejuízo de outro coarguido quando, a instâncias deste outro
coarguido, o primeiro se recusar a responder no exercício do direito ao silêncio. Do que se
trata, aqui, é de retirar valor probatório a declarações totalmente subtraídas ao contraditório.
Não deixando de acentuar que é decisivo que o arguido contra quem tais declarações sejam
feitas não tenha sido impedido de submetê-las ao contraditório.
A proibição que decorre alínea a) do n.º 1 do artigo 133.º do CPP nada tem a ver com a
validade das declarações do arguido como meio de prova.
Estatui o artigo 133.º do CPP, na matéria de impedimentos de depor como testemunhas, que:
Tal como decorre da norma transcrita, o impedimento não se traduz apenas na limitação ao
testemunho contra si próprio por parte do arguido [princípio nemo tenetur] na medida em que
o seu direito a não responder abrange todas as perguntas que lhe sejam feitas,
independentemente do conteúdo intrínseco da resposta. O alargamento do direito do arguido
ao silêncio ao próprio coarguido, isto é, a não ser obrigado a prestar depoimento, precedido
de juramento, e a não ser punido por falsas declarações, emerge desta matriz da garantia
contra a autoincriminação, enquanto expressão privilegiada do direito de defesa, entendida
neste contexto como a exigência de assegurar ao coarguido o direito a defender-se […].
31
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Contudo, nos termos do n.º 2 do artigo 133.º, em caso de conexão (artigo 24.º CPP), mas
tendo havido separação de processos (artigo 30.º do CPP), o arguido, já julgado no processo
inicial, tem capacidade para ser testemunha no julgamento do arguido, no processo separado,
podendo o seu depoimento ser usado como meio de prova na formação da convicção do
tribunal.”
Concorda-se pois com Maia Gonçalves, quando refere: “o n.º 7 proíbe apenas a reprodução
daquelas declarações cuja leitura não é permitida, como aí claramente se expressa e resulta do
pensamento legislativo. Consideramos assim, manifestamente errada a interpretação que por
vezes se tem dado a esse dispositivo de que os órgãos de polícia criminal não podem ser
testemunhas no processo.” 33
«Não há conversas informais, com validade probatória à margem do processo, sejam quais
forem as formas que assumam, desde que não tenham assumido os procedimentos de recolha
admitidos por lei e por ela sancionados... (as diligências são reduzidas a auto – art.º 275.º, n.º
1, do CPP. Haveria fraude à lei se se permitisse o uso de conversas informais não
documentadas e fora de qualquer controlo» (cf. Ac. do STJ de 11-07-2001).
33
Código de Processo Penal, anotado, 16ª edição, 2007, p. 741, nota 7.
32
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Pretenderá, assim, a lei impedir, com a proibição destas “conversas”, que se frustre o direito
do arguido ao silêncio, silêncio esse que seria “colmatado” ilegitimamente através da
“confissão por ouvir dizer” relatada pelas testemunhas.
De forma diferente se passam as coisas quando se está no plano da recolha de indícios de uma
infração de que a autoridade policial acaba de ter notícia: compete-lhe praticar “os atos
necessários e urgentes para assegurar os meios de prova”, entre os quais, “colher informações
das pessoas que facilitem a descoberta dos agentes do crime” (art.º 249.º do CPP).
Esta é uma fase de pura recolha informal de indícios, que não é dirigida contra ninguém em
concreto; as informações que então forem recolhidas pelas autoridades policiais são
necessariamente informais, dada a inexistência de inquérito. Ainda que provenham de
eventual suspeito, essas informações não são declarações em sentido processual,
precisamente porque não há ainda processo.
O que o art.º 129.º do CPP proíbe são estes testemunhos que visam suprir o silêncio do
arguido, não os depoimentos de agentes de autoridade que relatam o conteúdo de diligências
de investigação, nomeadamente a prática das providências cautelares a que se refere o art.º
249.º do CPP. (v. Ac. do STJ de 15-02-2007, Proc. n.º 4593/06 - 5.ª Secção)
33
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
O art.º 356.º, n.º 7 do CPP, pretende abarcar a credibilidade e validade da prova, delimitada
em atos processuais mas já não exclui a colaboração voluntária e livre de motu proprio, de
quem quer que seja, no apuramento dos factos em sede de investigação meramente policial.
Se um dos fins do processo penal é a busca da verdade material obtida, não a tudo o custo,
mas de forma legalmente válida através de prova não proibida e de meios de prova válidos na
sua obtenção, não há contudo, nem podia haver, uma proibição de colaboração ou de ajuda
(mesmo que provenha dos arguidos, voluntariamente, a quem incumbe o dever de investigar
matéria criminal; a busca da justiça interessa a todos ‒ a justiça é para toda a gente; a vontade
de ajudar de forma livre e espontânea, na procura da verdade com vista à justiça, ainda que
não integre um dever de colaboração é uma manifestação sã de cidadania.
O depoimento dos agentes policiais apenas tem por objeto a investigação desenvolvida mas já
não as declarações dos arguidos, só naquela medida é prova válida.
A prova nem sempre é direta, de perceção imediata, muitas vezes é baseada em indícios.
Indícios são as circunstâncias conhecidas e provadas a partir das quais, mediante um raciocínio
lógico, pelo método indutivo, se obtém a conclusão, firme, segura e sólida de outro facto; a
indução parte do particular para o geral e, apesar de ser prova indireta, tem a mesma força
que a testemunhal, a documental ou outra.
O juízo de inferência deve ser razoável, não arbitrário, absurdo ou infundado, e respeitar a
lógica da experiência e da vida; dos factos-base há de derivar o elemento que se pretende
provar, existindo entre ambos um nexo preciso, direto, segundo as regras da experiência. 34
A avaliação dos indícios pelo juiz implica uma especial atenção que devem merecer os factos
que se alinham num sentido oposto ao dos indícios culpabilizantes, pois que a sua comparação
é que torna possível a decisão sobre a existência, e gravidade, das provas.
Tal como perante os indícios, também para o funcionamento dos contraindícios é imperioso o
recurso às regras da experiência e a afirmação de um processo lógico e linear que, sem
qualquer dúvida, permita estabelecer uma relação de causa e efeito perante o facto contra
indiciante infirmando a conclusão que se tinha extraído do facto indício. Dito por outras
palavras, o funcionamento do contraindício, ou do indício de teor negativo, tem como
34
Acórdão do STJ, de 11 de julho de 2007.
34
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Os factos indiciadores devem ser objeto de análise crítica dirigida à sua verificação, precisão e
avaliação:
Esclarece Santos Cabral: “a prova indiciária é uma prova de probabilidades e é a soma das
probabilidades que se verifica em relação a cada facto indiciado que determinará a certeza.
Todavia, a transposição da soma de probabilidades que dá a convergência dos factos
indiciados para a certeza sobre o facto, ou factos probandos, que consubstanciam a
responsabilidade criminal do agente é uma operação em que a lógica se interliga com o
domínio da livre convicção do juiz. Convicção sustentada, e motivada
[…] Na verdade, a máxima da experiência é uma regra que exprime aquilo que sucede na maior
parte dos casos, mais precisamente é uma regra extraída de casos semelhantes. A experiência
permite formular um juízo de relação entre factos, ou seja, é uma inferência que permite a
afirmação que uma determinada categoria de casos é normalmente acompanhada de uma
outra categoria de factos. Parte-se do pressuposto de que “em casos semelhantes existe um
idêntico comportamento humano” e este relacionamento permite afirmar um facto histórico
não com plena certeza mas, como afirma Tonini, como uma possibilidade mais ou menos
ampla.
A máxima da experiência é uma regra e, assim, não pertence ao mundo dos factos,
consequentemente origina um juízo de probabilidade e não de certeza.
[…]
É grave o indício que resiste às objeções e que tem uma elevada carga de persuasividade como
ocorrerá quando a máxima da experiência que é formulada exprima uma regra que tem um
amplo grau de probabilidade. Por seu turno é preciso o indício quando não é suscetível de
outras interpretações. Mas sobretudo, o facto indiciante deve estar amplamente provado ou,
como refere Tonini, corre-se o risco de construir um castelo de argumentação lógica que não
está sustentado em bases sólidas.
35
Acórdão do STJ, de 2 de abril de 2011.
35
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Por fim, os indícios devem ser concordantes, convergindo na direção da mesma conclusão
facto indiciante. Porém, uma perplexidade assalta o analista destas áridas matérias na
enumeração dos requisitos deste tipo de prova, pelo menos em face da lógica. É que
ultrapassando a questão da necessidade de vários indícios ou da suficiência de um indício, o
certo é que, quando existe aquela pluralidade, coloca-se a questão do objeto em função dos
quais se deve avaliar os requisitos enunciados.” 36
De outra banda, as escutas telefónicas, agentes infiltrados, quebra do sigilo fiscal, bancário e
financeiro, intercetação ambiental, com registo de imagem e som, colaboração das vítimas,
são importantes meios de obtenção de prova com credibilidade para sua valoração.
36
JOSÉ ANTÓNIO HENRIQUES DOS SANTOS CABRAL, Prova indiciária e as novas formas de criminalidade.
37
EUCLIDES DÂMASO SIMÕES, Prova Indiciária (Contributos Para o Seu Estudo e Desenvolvimento em dez sumários
e Um Apelo Premente), JULGAR - N.º 2 – 2007.
36
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Artigo 24.º
Proteção das testemunhas
1. Cada Estado Parte, dentro das suas possibilidades, adotará medidas apropriadas para
assegurar uma proteção eficaz contra eventuais atos de represália ou de intimidação das
testemunhas que, no âmbito de processos penais, deponham sobre infrações previstas na
presente Convenção e, quando necessário, aos seus familiares ou outras pessoas que lhes
sejam próximas.
2. Sem prejuízo dos direitos do arguido, incluindo o direito a um julgamento regular, as
medidas referidas no n.º 1 do presente artigo poderão incluir, entre outras:
a) Desenvolver, para a proteção física destas pessoas, procedimentos destinados a,
consoante as necessidades e na medida do possível fornecer-lhes um novo domicílio e,
se necessário, impedir ou restringir a divulgação de informações relativas à sua
identidade e paradeiro;
b) Estabelecer normas em matéria de prova que permitam às testemunhas depor em
segurança, nomeadamente autorizando-as a depor com recurso a meios técnicos de
comunicação, como ligações de vídeo ou outros meios adequados.
3. Os Estados Partes considerarão a possibilidade de celebrar acordos com outros Estados para
facultar um novo domicílio às pessoas referidas no n.º 1 do presente artigo.
4. As disposições do presente artigo aplicam-se igualmente às vítimas, quando forem
testemunhas.
Artigo 25.º
Assistência e proteção às vítimas
1. Cada Estado Parte adotará, segundo as suas possibilidades, medidas apropriadas para
prestar assistência e assegurar a proteção às vítimas de infrações previstas na presente
Convenção, especialmente em caso de ameaça de represálias ou de intimidação.
38
DANIEL DE RESENDE SALGADO, Enfrentamento ao tráfico internacional de seres humanos.
37
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
2. Cada Estado Parte estabelecerá procedimentos adequados para que as vítimas de infrações
previstas na presente Convenção possam obter reparação.
3. Cada Estado Parte, sem prejuízo do seu direito interno, assegurará que as opiniões e
preocupações das vítimas sejam apresentadas e tomadas em consideração nas fases
adequadas do processo penal instaurado contra os autores de infrações, por forma que não
prejudique os direitos da defesa.
Artigo 6.º
Assistência e proteção às vítimas de tráfico de pessoas
1. Nos casos em que se considere apropriado e na medida em que o permita o seu direito
interno, cada Estado Parte deverá proteger a privacidade e a identidade das vítimas de tráfico
de pessoas, nomeadamente estabelecendo a confidencialidade dos processos judiciais
relativos a esse tráfico.
2. Cada Estado Parte deverá assegurar que o seu sistema jurídico ou administrativo contenha
medidas que forneçam às vítimas de tráfico de pessoas, quando necessário:
a) Informação sobre os processos judiciais e administrativos aplicáveis;
b) Assistência para permitir que as suas opiniões e preocupações sejam apresentadas e
tomadas em conta nas fases adequadas do processo penal instaurado contra os
autores das infrações, sem prejuízo dos direitos de defesa.
3. Cada Estado Parte deverá considerar a possibilidade de aplicar medidas que permitam a
recuperação física, psicológica e social das vítimas de tráfico de pessoas, nomeadamente, se
for caso disso, em cooperação com organizações não-governamentais, outras organizações
competentes e outros sectores da sociedade civil e, em especial, facultar:
a) Alojamento adequado;
b) Aconselhamento e informação, em particular, quanto aos direitos que a lei lhes
reconhece, numa língua que compreendam;
c) Assistência médica, psicológica e material; e
d) Oportunidades de emprego, de educação e de formação.
4. Cada Estado Parte deverá ter em conta, ao aplicar as disposições do presente artigo, a
idade, o sexo e as necessidades especiais das vítimas de tráfico de pessoas, em particular as
necessidades especiais das crianças, nomeadamente o alojamento, a educação e os cuidados
adequados.
5. Cada Estado Parte deverá esforçar-se por garantir a segurança física das vítimas de tráfico
de pessoas enquanto estas se encontrarem no seu território.
6. Cada Estado Parte deverá assegurar que o seu sistema jurídico preveja medidas que
ofereçam às vítimas de tráfico de pessoas a possibilidade de obterem indemnização pelos
danos sofridos.
38
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Artigo 7.º
Estatuto das vítimas de tráfico de pessoas nos Estados de acolhimento
1. Além de adotar as medidas previstas no artigo 6.º do presente Protocolo, cada Estado Parte
deverá considerar a possibilidade de adotar medidas legislativas ou outras medidas adequadas
que permitam às vítimas de tráfico de pessoas permanecerem no seu território, se for caso
disso, temporária ou permanentemente.
2. Ao aplicar o disposto no n.º 1 do presente artigo, cada Estado Parte deverá ter devidamente
em conta fatores humanitários e compassivos.
Artigo 8.º
Repatriamento das vítimas de tráfico de pessoas
1. O Estado Parte do qual a vítima de tráfico de pessoas é nacional ou no qual esta tinha direito
de residência permanente no momento da sua entrada no território do Estado Parte de
acolhimento, deverá facilitar e aceitar, tendo devidamente em conta a segurança dessa
pessoa, o seu regresso sem demora indevida ou injustificada.
2. Quando um Estado Parte repatria uma vítima de tráfico de pessoas para um Estado Parte do
qual essa pessoa é nacional ou no qual esta tinha direito de residência permanente, no
momento da sua entrada no território do Estado Parte de acolhimento, deverá assegurar que
esse repatriamento tenha devidamente em conta a segurança da pessoa, bem como o estado
de qualquer processo judicial relacionado com o facto de ela ser uma vítima de tráfico, e que
seja, de preferência, voluntário.
3. A pedido do Estado Parte de acolhimento, qualquer Estado Parte requerido deverá verificar,
sem demora indevida ou injustificada, se uma vítima de tráfico de pessoas é sua nacional ou
tinha direito de residência permanente no seu território no momento da sua entrada no
território do Estado Parte de acolhimento.
4. De forma a facilitar o repatriamento de uma vítima de tráfico de pessoas que não possua os
documentos devidos, o Estado Parte do qual essa pessoa é nacional ou no qual esta tinha
direito de residência permanente no momento da sua entrada no território do Estado Parte de
acolhimento, deverá aceitar emitir, a pedido do Estado Parte de acolhimento, os documentos
de viagem ou qualquer outro tipo de autorização necessária que permitam à pessoa viajar e
voltar a entrar no seu território.
5. O presente artigo não prejudica os direitos reconhecidos às vítimas de tráfico de pessoas
por força de qualquer disposição do direito interno do Estado Parte de acolhimento.
6. O presente artigo não prejudica qualquer acordo bilateral ou multilateral aplicável que
regule, no todo ou em parte, o repatriamento das vítimas de tráfico de pessoas.
Artigo 28.º
Proteção das vítimas, testemunhas e pessoas que colaborem com as autoridades judiciárias
1. Cada uma das Partes adotará as medidas legislativas ou outras necessárias para garantir
uma proteção efetiva e adequada face às possíveis represálias ou ações de intimidação, em
particular durante ou após a conclusão de investigações e procedimentos criminais contra os
autores de infrações, a favor:
39
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
a) Das vítimas;
b) Se apropriado, das pessoas que prestem informação acerca da prática de infrações
penais previstas no artigo 18.º da presente Convenção ou que colaborem, por
qualquer outra forma, com as autoridades encarregadas de proceder às investigações
e de instaurar procedimentos criminais;
c) Das testemunhas cujos depoimentos digam respeito a infrações criminais previstas
no artigo 18.º da presente Convenção;
d) Se necessário, dos familiares das pessoas referidas nas alíneas a) e c).
2. Cada uma das Partes adotará as medidas legislativas ou outras necessárias para garantir e
oferecer diversas formas de proteção. Tais medidas poderão incluir a proteção física, a
atribuição de um novo local de residência, a alteração de identidade e a ajuda na obtenção de
emprego.
3. As crianças beneficiarão de medidas de proteção especiais tendo em consideração o seu
superior interesse.
4. Cada uma das Partes adotará as medidas legislativas ou outras necessárias para garantir, se
necessário, uma proteção apropriada aos membros dos grupos, das fundações, das
associações ou das organizações não governamentais que exerçam uma ou várias das
atividades referidas no n.º 3 do artigo 27.º, face às possíveis represálias ou ações de
intimidação, em particular durante ou após a conclusão de investigações e procedimentos
criminais contra os autores de infrações.
5. Cada uma das Parte procurará concluir acordos ou convénios com outros Estados com o
objetivo de implementar o disposto no presente artigo.
Por sua vez, as Diretrizes e Princípios Recomendados sobre Direitos Humanos e Tráfico de
Pessoas, apresentados ao Conselho Económico e Social das Nações Unidas em anexo a
relatório da Alta Comissária para os Direitos Humanos (documento E/2002/68/Add.1).
Sobre Proteção e assistência:
40
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
11. Tanto o Estado de acolhimento como o Estado de origem deverão garantir o regresso
seguro (e, na medida do possível, voluntário) das pessoas vítimas de tráfico. Às vítimas de
tráfico deverão ser oferecidas alternativas legais ao repatriamento caso seja razoável supor
que este coloca graves riscos à sua segurança e/ou à segurança das suas famílias.
Lei n.º 61/91, de 13 de agosto – garante proteção adequada às mulheres vítimas de violência.
Alterado por:
Regulado por:
Lei n.º 93/99, de 14 de julho – LEI DE PROTEÇÃO DE TESTEMUNHAS em processo penal, (com
as alterações das Leis n.º- Lei n.º 42/2010, de 03/09, e Lei n.º 29/2008, de 04/07).
39
Referido no site da DGPJ – Direcção-Geral de Política de Justiça.
41
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Bibliografia
42
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
1. A valoração da prova no crime de tráfico de pessoas
Acórdão do STJ, de 27 de janeiro de 1999, proc. n.º 350/98, 3ª Secção, “SASTJ”, n.º 27, p. 83
Acórdão do STJ, de 16 de junho de 2005, proc. n.º 553/05-5ª Secção, “SASTJ”, n.º 92, p. 114
Acórdão do Tribunal Constitucional, n.º 440/99, de 8 de julho, proc. n.º 268/99, DR, II Série, de
9 de novembro de 1999
Acórdão do STJ de 25-01-2006, Proc. n.º 184/06, 3ª Secção
Acórdão do STJ, de 11 de julho de 2007
Acórdão do STJ, de 2 de abril de 2011
Código de Processo Penal, Anotado, 16ª edição, 2007, p. 741, nota 7
José António Henriques dos Santos Cabral, Prova indiciária e as novas formas de criminalidade
Euclides Dâmaso Simões, PROVA INDICIÁRIA (CONTRIBUTOS PARA O SEU ESTUDO E
DESENVOLVIMENTO EM DEZ SUMÁRIOS E UM APELO PREMENTE), JULGAR - N.º 2 - 2007
Daniel de Resende Salgado, Enfrentamento ao tráfico internacional de seres humanos
Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada
Transnacional relativo à Prevenção, à Repressão e à Punição do Tráfico de Pessoas, em
especial de Mulheres e Crianças
Vídeo da apresentação
https://educast.fccn.pt/vod/clips/1ib0v4kzbb/flash.html?locale=pt
43
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
2. Processo Penal Português - Questões de Prova
Vídeo da apresentação
«No trabalho de verificação dos enunciados factuais, a posição do investiga pode, de algum
modo, assimilar-se à do historiador: tanto um como outro, irremediavelmente situados num
qualquer presente, procuram reconstituir algo que se passou antes e que não é reprodutível».
Donde que “não seja qualquer dúvida sobre os factos que autoriza sem mais uma solução
favorável ao arguido», mas apenas a chamada dúvida razoável (a doubt for which reasons can
be given). Pois que «nos actos humanos nunca se dá um a certeza contra a qual não militem
alguns motivos de dúvida». «Pedir uma certeza absoluta para orientar a actuação seria, por
conseguinte, o mesmo que exigir o impossível e, em termos práticos, paralisar as decisões
morais». Enfim, «a dúvida que há-de levar o tribunal a decidir pro reo tem de ser uma dúvida
positiva, uma dúvida racional que ilida a certeza contrária, ou, por outras palavras ainda, um a
dúvida que impeça a convicção do tribunal» (Cristina Líban o Monteiro, «ln Dubio Pro Reo»,
Coimbra, 1997).
No sistema processual penal, vigora a regra da livre apreciação da prova, conforme art.º 127.º
do CPP, em que, salvo quando a lei dispuser diferentemente, a prova é apreciada segundo as
regras da experiência e a livre convicção da entidade competente.
Por força do art.º 205.º, n.º 1, da Constituição da República: As decisões dos tribunais que não
sejam de mero expediente são fundamentadas na forma prevista na lei.
Para tanto, aproveita-se a exigência dos códigos modernos, inspirados nos valores
democráticos, no sentido de que as decisões judiciais, quer em matéria de facto, quer em
matéria de direito, sejam fundamentadas.
1
Apresentação decorrida no âmbito da ação de formação “Produção, apreciação e valoração da prova em
julgamento no processo penal”, no Auditório do Edifício-Sede da Polícia Judiciária (Lisboa), a 13 de março de 2015.
* Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça.
47
DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
2. Processo Penal Português - Questões de Prova
Desse modo, com tal exigência, consegue-se que as decisões judiciais se imponham não em
razão da autoridade de quem as profere, mas antes pela razão que lhes subjaz. (Marques
Ferreira, Jornadas de Direito Processual Penal, pág. 230)
Determina o art.º 347.º, n.º 2, do Código de Processo Penal, sobre os requisitos da sentença,
que: Ao relatório segue-se a fundamentação, que consta da enumeração dos factos provados e
não provado s, bem como de uma exposição, tanto quanto possível completa, ainda que
concisa, dos motivos, de facto e de direito, que fundamentam a decisão, com indicação e
exame crítico das provas que serviram para formar a convicção do tribunal.
O exame crítico das provas imposto pela Lei n.º 59/98, de 25 de Agosto, tem como finalidade
impor que o julgador esclareça "quais foram os elementos probatórios que, em maior ou
menor grau, o elucidaram e porque o elucidaram, de forma a que se possibilite a compreensão
de ter sido proferida uma dada decisão e não outra. (Ac. do S.T.J. de 01.03.00, BMJ 495, 209).
Não dizendo a lei em que consiste o exame crítico das provas, esse exame tem de ser aferido
com critérios de razoabilidade, sendo fundamental que permita avaliar cabalmente o porquê
da decisão e o processo lógico-formal que serviu de suporte ao respectivo conteúdo. (Ac. do
STJ de 12 de Abri l de 2000, proc. n.º 141/2000-3.ª; SASTJ, n.º 40. 48.).
Desde que a motivação explique o porquê da decisão e o processo lógico-formal que serviu de
suporte ao respectivo conteúdo, inexiste falta ou insuficiência de fundamentação para a
decisão.
Como se decidiu por ex., no Ac. do STJ, de 3-10-07, proc. 07Pl779, 3.ª Secção, a
fundamentação da sentença em matéria de facto consiste na indicação e exame crítico das
provas que serviram para formar a convicção do tribunal, que constitui a enunciação das
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DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
2. Processo Penal Português - Questões de Prova
Em processo penal não existe um verdadeiro ónus da prova em sentido formal; nele vigora o
princípio da aquisição da prova ligado ao princípio da investigação, donde resulta que são
boas as provas validamente trazidas ao processo, sem importar a sua origem, devendo o
tribunal, em último caso, investigar e esclarecer os factos na procura da verdade material (v. já
por ex. o acórdão do STJ, de 23 de Julho de 1999, proc. n.º 650/98, 3.ª secção, (in SASTJ, n.º
32, 87).
Perante as provas admissíveis, é dos princípios gerais da produção da prova que o tribunal
ordena, oficiosamente ou a requerimento, a produção de todos os meios de prova cujo
conhecimento se lhe afigure necessário à descoberta da verdade; e à boa decisão da causa ‒ v.
art.º 340.º, n.º 1 do CPP- sem prejuízo do contraditório (v. n.º 2 do preceito).
O artigo 127.º do CPP estabelece três tipos de critérios para avaliação da prova, com
características e natureza completamente diferente: uma avaliação da prova inteiramente
objectiva quando a lei assim o determinar (o caso dos documentos autênticos), outra, também
objectiva, quando for imposta pelas regras da experiência, finalmente uma outra,
eminentemente subjectiva, que resulta da livre convicção do julgador.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
2. Processo Penal Português - Questões de Prova
nunca puramente subjectiva ou emotiva, e, por isso, há-de ser fundamentada, racionalmente
objectivada e logicamente motivada, de forma a susceptibilizar controlo.
A livre apreciação da prova liberta do rígido sistema da prova tarifada, ou prova legal, realiza-
se obedecendo a critérios lógicos e objectivos, determinando uma convicção racional e, por
isso, objectivável e explicável. (v. v.g. acs do STJ de: 4 de Novembro de 1998, 21 de Janeiro de
1999 e 18 de Janeiro de 2001, respectivamente na CJ, Acs do STJ VI, tomo 3, 20 1; SAASTJ n.º
27, 38; e n.º 47, 88).
Costuma distinguir-se entre prova directa e prova indiciária, referindo-se aquela ao thema
probandum, aos factos a provar, e respeitando a prova indirecta ou indiciária a factos diversos
(instrumentais) do tema probatório, mas que possibilitam, pelo uso das regras da experiência,
extrair ilações no domínio do thema probandum, de convicção racional e objectivável do
julgador.
O princípio da legalidade da prova perfilhado pelo art.º 125.º do CPP considera "admissíveis
as provas que não forem proibidas por lei."
O Código de Processo Penal não enumera taxativamente as provas proibidas, mas aponta
limites à produção de provas e à sua valoração.
Acentua Costa Andrade (invocando Gossel, in Sobre as Proibições de Prova em Processo Penal,
págs. 85 e ss.) que as proibições de prova são «barreiras colocadas à determinação dos factos
que constituem objecto do processo». Mais do que a modalidade do seu enunciado, o que
define proibição de prova é a prescrição de um limite à descoberta da verdade. Normalmente
formulada como proibição, a proibição de prova pode igualmente ser ditada através de um a
imposição e, mesmo, de uma permissão.
Diferentemente, as regras de produção da prova ‒ cf., v.g., o art.º 341.º do CPP ‒ visam
apenas disciplinar o procedimento exterior da realização da prova na diversidade dos seus
meios e métodos, não determinando a sua violação a reafirmação contrafáctica através da
proibição de valoração. As regras de produção da prova configuram, na caracterização de
Figueiredo Dias, «meras prescrições ordenativas de produção da prova, cuja violação não
poderia acarretar a proibição de valorar como prova (...) mas unicamente a eventual
responsabilidade (disciplinar, interna) do seu autor». Umas vezes pré-ordenadas à
maximização da verdade material (como forma de assegurar a solvabilidade técnico-científica
do meio de prova em causa), as regras de produção da prova podem igualmente ser ditadas
para obviar ao sacrifício desnecessário e desproporcionado de determinados bens jurídicos.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
2. Processo Penal Português - Questões de Prova
Quanto à proibição de valoração de provas, como resulta do art.º 355.º, do CPP, não valem
em julgamento, nomeadamente para o efeito de formação da convicção do tribunal, quaisquer
provas que não tiverem sido produzidas ou examinadas em audiência, ressalvando-se apenas
as provas contidas em actos processuais cuja leitura, visualização ou audição em audiência
sejam permitidas.
Como se sabe, não são inconstitucionais os normativos do art.º 355.º, do CPP, interpretados
no sentido de que os documentos juntos aos autos não são de leitura obrigatória na audiência
de julgamento, considerando-se nesta produzidos e examinados, desde que se trate de caso
em que a leitura não seja proibida. (Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 87/99, de 10 de
Fevereiro, proc. n.º 444/98 in DR II série, de 1 de Julho de 1999.)
Por outro lado, como já salientava o Acórdão do STJ de 27 de Janeiro de 1999, proc. 350/98,
3.ª Secção, (in SASTJ, n.º 27, 83), a observância do disposto no art.º 355.º, n.º 1, do CPP, não
exige a leitura em audiência dos documentos constantes dos autos, bastando a existência dos
mesmos e a possibilidade de relativamente a eles poder exercer-se o contraditório.
O Tribunal Constitucional por seu acórdão n.º 137/200 1 de 28 de Março, considerou que "é
claramente lesivo do direito defesa do arguido, consagrado no n.º 1 do artigo 32.º da
Constituição, interpretar o artigo 127.º do Código de Processo Penal no sentido de que o
princípio da livre apreciação da prova permite valorar, em julgamento, um acto de
reconhecimento realizado sem a observância de nenhuma das regras previstas no artigo 147.º
do mesmo diploma." Tendo assim, decidido "Julgar inconstitucional, por violação das garantias
de defesa do arguido, consagradas no n.º 1 do artigo 32.º da Constituição, a norma constante
do artigo127.º do Código de Processo Penal, quando interpretada no sentido de admitir que o
princípio da livre apreciação da prova permite a valoração, em julgamento, de um
reconhecimento do arguido realizado sem a observância de nenhuma das regras definidas
pelo artigo 147.º do Código de Processo Penal”.
Como se sabe, a testemunha é inquirida sobre factos de que possua conhecimento directo e
que constituam objecto da prova.‒ art.° 128.º do CPP.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
2. Processo Penal Português - Questões de Prova
parte, servir como meio de prova, salvo se a inquirição das pessoas indicadas não for
possível, por morte, anomalia psíquica superveniente ou impossibilidade de serem
encontradas.
3. Não pode em caso algum, servir com o meio de prova o depoimento de quem
recusar ou não estiver em condições de indicar a pessoa ou a fonte através dos quais
tomou conhecimento dos factos.
O Tribunal Constitucional j á decidiu ‒ Ac. n.º 440/99, de 8 de Julho, proc. n.º 268/99 DR, II
série, de 9 de Novembro de 1999, que o artigo 129°, n.º 1 (conjugado com o art.º 128.º, n.º 1,
do CPP), interpretado no sentido de que o tribunal pode valorar livremente os depoimentos
indirectos de testemunhas que relatem conversas tidas com um co-arguido que, chamado a
depor, se recusa a fazê-lo no exercício do seu direito ao silêncio, não atinge, de forma
intolerável, desproporcionada ou manifestamente opressiva , o direito de defesa do arguido.
Por isso, não havendo um encurtamento inadmissível do direito de defesa do arguido, tal
forma não é inconstitucional.
Como referiu o STJ, Ac. de 25-01-2006, Proc. n.º 184/06, de acordo com o disposto no art.
129.º, n.º 1 do CPP, quando o depoimento indirecto resulta do que se ouviu dizer a pessoas
determinadas, dever-se-á considerar válido e, portanto, valorável, quando depõe perante o
tribunal aquele a quem a testemunha ouviu dizer.
Não há prejuízo para o direito de defesa do arguido que, presente, poderá contraditar a
informação, ou remeter-se ao silêncio, sem que este o possa desfavorecer.
Na verdade, do art.º 343.º, n.º 1, do CPP, resulta que o arguido "tem direito a prestar
declarações em qualquer momento da audiência, desde que elas se refiram ao objecto do
processo, sem que no entanto, a tal seja obrigado e sem que o seu silêncio possa desfavorecê-
lo."
O facto de o arguido nada dizer, significa que não podem extrair-se ilações sobre o seu
silêncio.
Mas, não significa que, não possam valorar-se depoimentos, nas respectivas condições legais
por não constituírem provas proibidas por lei, ficando sujeitas à valoração constante do artigo
355.º do CPP, e à livre apreciação nos termos do artigo 127.º do CPP, sendo que por outro
lado, inclui-se nos poderes de cognição do tribunal, balizado pelos princípios da necessidade,
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DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
2. Processo Penal Português - Questões de Prova
Como salienta Santos Cabral, Código de Processo Penal Comentado, 2014, Almedina:
"O depoimento indirecto refere-se a um meio de prova, e não aos factos objecto de prova,
pois que o que está em causa não é o que a testemunha percepcionou, mas sim o que lhe foi
transmitido por quem percepcionou os factos, Assim, o depoimento indirecto não incide sobre
os factos que constituem objecto de prova, mas sim sobre algo diferente, ou seja, sobre um
depoimento que se ouviu." [pág. 486]
Concorda-se pois com Maia Gonçalves, (Código de Processo Penal, Anotado, 16.º edição, 2007,
p. 741, nota 7), quando refere: "o n.º 7 proíbe apenas a reprodução daquelas declarações cuja
leitura não é permitida, como aí claramente se expressa e resulta do pensamento legislativo.
Consideramos assim, manifestamente errada a interpretação que por vezes se tem dado a
esse dispositivo de que os órgãos de polícia criminal não podem ser testemunhas no
processo".
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DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
2. Processo Penal Português - Questões de Prova
«Não há conversas informais, com validade probatória à margem do processo, sejam quais
forem as formas que assumam, desde que não tenham assumido os procedimentos de recolha
admitidos por lei e por ela sancionados... (as diligências são reduzidas a auto ‒ art. 275.º, n.º 1,
do CPP. Haveria fraude à lei se se permitisse o uso de conversas informais não documentadas
e fora de qualquer controlo» (cf. Ac. do STJ de 11- 07-2001).
Pretenderá, assim, a lei impedir, com a proibição destas "conversas'', que se frustre o direito
do arguido ao silêncio, silêncio esse que seria "colmatado" ilegitimamente através da
"confissão por ouvir dizer" relatada pelas testemunhas.
Esta é uma fase de pura recolha informal de indícios, que não é dirigida contra ninguém em
concreto; as informações que então forem recolhidas pelas autoridades policiais são
necessariamente informais, dada a inexistência de inquérito. Ainda que provenham de
eventual suspeito, essas informações não são declarações em sentido processual,
precisamente porque não há ainda processo.
O que o art.º 129.º do CPP proíbe são estes testemunhos que visam suprir o silêncio do
arguido, não os depoimentos de agentes de autoridade que relatam o conteúdo de diligências
de investigação, nomeadamente a prática das providências cautelares a que se refere o art.º
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DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
2. Processo Penal Português - Questões de Prova
249.º do CPP. (v. Ac. do STJ de 15-02-2007, Proc. n.º 4593/06 - 5.ª Secção e Santos Cabral, [et
al.], Código de Processo Penal Comentado,2014, Almedina , p. 493).
O art.º 356.º, n.º 7do CPP, pretende abarcar a credibilidade e validade da prova, delimitada em
actos processuais mas já não exclui a colaboração voluntária e livre de motu próprio, de quem
quer que seja, no apuramento dos factos em sede de investigação meramente policial.
Se um dos fins do processo penal é a busca da verdade material obtida, não a tudo o custo,
mas de forma legalmente vá lida através de prova não proibida e de meios de prova válidos na
sua obtenção, não há contudo, nem podia haver, uma proibição de colaboração ou de ajuda
(mesmo que provenha dos arguidos, voluntariamente), a quem incumbe o dever de investigar
matéria criminal; a busca da justiça interessa a todos - a justiça é para toda a gente; a vontade
de ajudar de forma livre e espontânea, na procura da verdade com vista à justiça, ainda que
não integre um dever de colaboração é um a manifestação sã de cidadania.
Nas provas admissíveis são incluídas as presunções judiciais (ou seja, «as ilações que o
julgador tira de um facto conhecido para firmar um facto desconhecido»: art.º 349.º do CC).
Daí que a circunstância de a presunção judicia l não constituir «prova directa» não contraria o
princípio da livre apreciação da prova, que permite ao julgador apreciar a «prova»
(qualquer que ela seja, desde que não proibida por lei) segundo as regras da experiência e a
livre convicção do tribunal (art.º 127.º do CPP). Não está, por isso, vedado às instâncias, ante
factos conhecidos, a extracção ‒ por presunção judicial ‒ de ilações capazes de «firmar um
facto desconhecido».
A violação do princípio in dubio pro reo, que dizendo respeito à matéria de facto é um princípio
fundamental em matéria de apreciação e valoração da prova, só pode ser sindicado pelo STJ
dentro dos seus limites de cognição, devendo, por isso, resultar do texto da decisão recorrida
em termos análogos aos dos vícios do art.º 410.º, n.º 2, do CPP, e só se verifica quando
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DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
2. Processo Penal Português - Questões de Prova
Como se sintetiza no Ac. do STJ de 28-06-2007, Proc. n.º 1409/07 - 5.ª Secção: «Na aplicação
da regra processual da "livre apreciação da prova"(art.º 127.º do CPP), não haverá que lançar
mão, limitando-a, do princípio in dubio pro reo exigido pela constitucional presunção de
inocência do acusado, se a prova produzida [ainda que «indirecta»] não conduzir, depois de
avaliada segundo as regras da experiência e a liberdade de apreciação da prova, "à
subsistência no espírito do tribunal de uma dúvida positiva e invencível sobre a existência ou
inexistência do facto" (cf. Cristina Líbano Monteiro, ln Dubio Pro Reo, Coimbra, 1997).
Não haverá, na aplicação da regra processual da «livre apreciação da prova» (art.º 127.º do
CPP), que lançar mão, limitando-a, do princípio in dubio pro reo exigido pela constitucional
presunção de inocência do acusado, se a prova produzida, depois de avaliada segundo as
regras da experiência e a liberdade de apreciação da prova, não conduzir «à subsistência no
espírito do tribunal de uma dúvida positiva e invencível sobre a existência ou inexistência do
facto». O in dubio pro reo, com efeito, «parte da dúvida, supõe a dúvida e destina-se a permitir
uma decisão judicial que veja ameaçada a concretização por carência de uma firme certeza do
julgador» (Cristina Líbano Monteiro, «ln Dubio Pro Reo», Coimbra 1997). Até porque «a prova,
mais do que uma demonstração racional, é um esforço de razoabilidade» (idem, pág. 17): «O
juiz lança-se à procura do «realmente acontecido» conhecendo, por um lado, os limites que o
próprio objecto impõe à sua tentativa de o «agarram (idem, pág. 13)». E, por isso, é que, «nos
casos em que as regras da experiência, a razoabilidade e a liberdade de apreciação da prova
convencerem da verdade da acusação, não há lugar à intervenção da «contraface (de que a
«face» é a «livre convicção») da intenção de imprimir à prova a marca da razoabilidade ou da
racionalidade objectiva» que é o in dubio pro reo (cuja pertinência «partiria da dúvida, suporia
a dúvida e se destinaria a permitir uma decisão judicial que visse ameaçada a sua
concretização por carência de uma firme certeza do julgador» (idem).
Para efeitos de sindicância da alegada violação do princípio in dubio pro reo, não há que
comparar a decisão do tribunal a quo com a decisão do tribunal ad quem.
Há apenas que conhecer e julgar a decisão recorrida, e decisão recorrida é aquela que é
remetida para apreciação e decisão ao tribunal de recurso.
Em termos de decisão que julga o recurso, não há uma relação de conhecimento de todas as
decisões, mas apenas da última decisão, já que é dela que se recorre.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: - PROVA; - LEI DAS ARMAS
2. Processo Penal Português - Questões de Prova
da prova, ou ónus da prova a cargo do arguido, mas resultou do exame e discussão livre das
provas produzidas e examinadas em audiência, como impõe o artigo 355.º, n.º 1, do CPP,
subordinadas ao princípio do contraditório, conforme art.º 355.º, n.º 1, da Constituição da
República.
Em recurso para o STJ, se a discordância for apenas quanto à forma como o tribunal valorou a
prova e decidiu a matéria de facto, traduzida em impugnação de matéria de facto apurada,
constitui matéria especificamente questionada, que se integra em objecto de recurso em
matéria de facto, e que o recorrente somente pode exercer em recurso interposto para a
Relação, e por isso não pode repristinar, ainda que em crítica ao acórdão recorrido ‒ o da
Relação ‒ por extravasar os poderes de cognição do Supremo Tribunal de Justiça, que sem
prejuízo do disposto nos n.ºs 2 e 3 do art.º 410.º efectua exclusivamente o reexame da matéria
de direito ‒ art.º 434.º) do CPP.
Embora o n.º 1 do art.º 410.º do CPP, refira: "Sempre que a lei não restringir a cognição do
tribunal ou os respectivos poderes, o recurso pode ter como fundamento quaisquer questões
de que pudesse conhecer a decisão recorrida", vem sendo entendido pelo Supremo Tribunal
de Justiça, que os vícios constantes do artigo 410.º, n.º 2, do CPP, apenas podem ser
conhecidos oficiosamente e não quando suscitados pelos recorrentes.
Trata-se, na realidade, de vícios ao nível da matéria de facto, que tornam impossível uma
decisão jurídico-factualmente correcta e, por isso, configuram vícios da própria decisão e não
do julgamento, mas não se trata de vícios de lógica jurídica.
Mesmo nos casos em que a lei restrinja a cognição do tribunal de recurso a matéria de direito,
o recurso pode ter como fundamentos, desde que o vício resulte do texto da decisão recorrida,
por si só ou conjugada com as regras da experiência comum:
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2. Processo Penal Português - Questões de Prova
É certo também que o art.º 434.º do CPP determina que o recurso interposto para o Supremo
Tribunal de Justiça exclusivamente o reexame da matéria de direito, sem prejuízo do disposto
no artigo 410.º, n.ºs 2 e 3 ‒ art.º 434.º do CPP.
Mas, isto significa que sendo o Supremo Tribunal de Justiça um tribunal de revista, só conhece
dos vícios aludidos no artigo 410.º, n.º 2, de forma oficiosa, por sua própria iniciativa, quando
tais vícios se perfilem, que não a requerimento dos sujeitos processuais.
Mesmo nos recursos das decisões finais do tribunal colectivo, o Supremo só conhece dos vícios
do art.º 410.º, n.º 2, do CPP, por sua própria iniciativa, e nunca a pedido do recorrente, que,
para o efe1 o, sempre terá de se dirigir à Relação.
Esta é a solução que está em sintonia com a filosofia do processo penal emergente da reforma
de 1998 que, significativamente, alterou a redacção da al. d) do citado art.º 432.º; fazendo- lhe
acrescer a expressão antes inexistente "visando exclusivamente o reexame da matéria de
direito", filosofia que, bem vistas as coisas, visa limitar o acesso ao Suprem o Tribunal, sob
pena do sistema vigente comprometer irremediavelmente a dignidade deste como tribunal de
revista que é (v. Acórdão deste Supremo Tribunal de 09-11-2006 Proc. n.º 4056/06 ‒ 5.ª
Secção).
Com tal inovação, o legislador claramente pretendeu dar acolhimento a óbvias razões de
operacionalidade judiciária, nomeadamente, restabelecendo mais equidade na distribuição de
serviço entre os tribunais superiores e garantir o desejável duplo grau de jurisdição em matéria
de facto.
Esta posição nada tem de contraditório, já que a invocação expressa dos vícios da matéria de
facto, se bem que algumas das vezes possa implicar alguma intromissão nos domínios do
conhecimento de direito, leva sempre ancorada a pretensão de reavaliação da matéria de
facto, que a Relação tem, em princípio, condições de conhecer e colmatar, se for caso disso,
sendo claros os benefícios em sede de economia e celeridade processuais que, em casos tais,
se conseguem, se o recurso para ali for logo encaminhado.
Como se decidiu por ex. no Acórdão de 8-11-2006, do Supremo Tribuna l, Proc. n.º 3102/06 ‒
3ª Secção: Os vícios elencados no art.º 410.º, n.º 2, do CPP, pertinem à matéria de facto. São
anomalias decisórias ao nível da confecção da sentença, circunscritos à matéria de facto,
apreensíveis pelo seu simples texto, sem recurso a quaisquer outros elementos a ela
estranhos, impeditivos de bem se decidir tanto ao nível da matéria de facto como de direito.
Também o apelo ao princípio in dubio pro reo respeita à matéria de facto.
Se o agente intenta ver reapreciada a matéria de facto, esta e a de direito, recorre para a
Relação; se pretende ver reapreciada exclusivamente a matéria de direito recorre para o STJ,
no condicionalismo restritivo vertido nos art.ºs 432.º e 434.º do CPP, pois que este tribunal,
salvo nas circunstâncias exceptuadas na lei, não repondera a matéria de facto.
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2. Processo Penal Português - Questões de Prova
A reforma do Código de Processo Penal operada quer pela Lei n.º 48/2007, de 29 de Agosto,
quer pela Lei n.º 28/2010, de 30 de Agosto, não alterou esse entendimento.
Inexiste uma terceira instância do facto ou duplo grau de recurso em matéria de facto, pelo
que a valoração de prova s legalmente permitidas não integra a função do Supremo Tribunal.
Quando impugne a decisão proferida sobre matéria de facto, o recorrente deve especificar:
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2. Processo Penal Português - Questões de Prova
O duplo grau de jurisdição em matéria de facto não visa a repetição do julgamento na 2.ª
instância, mas dirige-se somente ao exame dos erros de procedimento ou de julgamento que
lhe tenham sido referidos em recurso e às provas que impõem decisão diversa e não
indiscriminadamente a todas as provas produzidas em audiência.
Os recursos são remédios jurídicos que se destinam a despistar e corrigir erros in judicando ou
in procedendo, reexaminando decisões proferidas por jurisdição inferior.
Ao tribunal superior pede-se que aprecie a decisão à luz dos dados que o juiz recorrido
possuía.
Aplicada aos tribunais de recurso, contudo, a norma do art.º 374.º, n.º 2, do CPP, não tem
porém, aplicação em toda a sua extensão, pois que, nomeadamente não faz sentido a
aplicação da parte final de tal preceito (exame crítico das provas que serviram para formar a
livre convicção do tribunal) quando referida a acórdão confirmatório proferido pelo Tribunal
da Relação ou quando referida a acórdão do STJ funcionando como tribunal de revista.
Sempre que a convicção seja uma convicção possível e explicável pelas regras da experiência
comum, perante as provas produzidas que motivaram essa convicção, deve acolher-se a opção
do julgador da 1.ª instância, em caso de concordância pelo Tribunal da Relação, até porque o
mesmo beneficiou da oralidade e imediação da recolha da prova, e traduz a dimensão
soberana da independência judicial na administração da justiça.
Na verdade, como se elucida no Ac. do STJ, de 14-06-2007, Proc. n.º 1387/07 ‒ 5.ª Secção, se a
Relação sindicou todo o processo, fundamentou a decisão sobre a improcedência do recurso
em matéria d e facto nas provas examinadas no processo , acolhendo, justificando-o na parte
respectiva, a fundamentação do acórdão do tribunal colectivo que se apresenta como
detalhada , então as instâncias cumpriram suficientemente o encargo de fundamentar, sendo
que a alegada discordância quanto aos factos apurados não permite afirmar que não foi (ou
não foi suficientemente) efectuado o exame crítico pelas instâncias.
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2. Processo Penal Português - Questões de Prova
Mas, sem prejuízo de que, a Relação, ao julgar o recurso em matéria de facto, e atenta a
existência de um efectivo recurso em matéria de facto, pode em sua convicção devidamente
fundamentada, não perfilhar o entendimento da 1.ª instância, no âmbito dos seus poderes de
cognição da matéria de facto, perante as mesmas provas produzidas e examinadas em 1.ª
instância, sendo que como supra se aludiu, a Relação conhece de facto e de direito.
Em síntese e, parafraseando o Acórdão do STJ de 03-04-2008, Proc. n.º 28 11/06 - 5.ª Secção:
No recurso de matéria de facto, haverá que ter por objectivo o passo que se deu, da prova
produzida aos factos dados por assentes, e/ou o passo que se deu, destes à decisão. O
recorrente poderá insurgir-se contra o modo como teve lugar um ou ambos os momentos
deste trânsito, desde logo, impugnando a matéria de facto devido ao confronto entre a prova
que se fez e o que se considerou provado, lançando mão do disposto no n.º 3 do art.º 412.º do
CPP, e podendo mesmo ser pedida a renovação de prova, ou, então, invocando um dos vícios
do n.º 2 do art.º 410.º do CPP. Neste caso, o vício há-de resultar da própria decisão recorrida,
por si só ou conjugada com as regras da experiência comum, e tanto pode incidir sobre a
relação entre a prova efectivamente produzida e o que se considerou provado (al. c) do n.º 2
do art.º 410.º, como sobre a relação entre o que se considerou provado e o que se decidiu (al.
a) e b) do n.º 2 do art.º 410.º).
Em qualquer das hipóteses, haverá que ter em conta que, uma coisa é considerar objecto do
recurso ordinário a questão sobre que incidiu a decisão recorrida e, outra, ter por objecto do
recurso essa decisão ela mesma. No primeiro caso, haverá que decidir de novo a questão que
foi levada a julgamento, podendo inclusive atender-se a factos novos e produzir prova nunca
antes produzida. No segundo caso, haverá que apreciar da bondade da decisão recorrida só a
partir dos dados de que o(s) julgador(es) recorrido(s) dispôs(useram). Acresce que a avaliação
da decisão é a resposta, enquanto remédio jurídico, para incorrecções e ilegalidades
concretamente assinaladas. Não um novo julgamento global de todo o objecto do processo.
É certo que o mesmo art.º 379.º determina que é nula a sentença quando o tribunal deixe de
pronunciar -se sobre queres que devesse apreciar ou conheça de questões de que não podia
tomar conhecimento (n.º 1, al. c).
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2. Processo Penal Português - Questões de Prova
A segunda parte do n.º 1 do art.º 77.º do CP determina que "na medida da pena são
considerados, em conjunto, os factos e a personalidade do agente".
O concurso de crimes tanto pode decorrer de factos praticados na mesma ocasião, como de
factos perpetrados em momentos distintos, temporalmente próximos ou distantes. Por outro
lado, o concurso tanto pode ser constituído pela repetição do mesmo crime, como pelo
cometimento de crimes da mais diversa natureza. Por outro lado ainda, o concurso tanto pode
ser formado por um número reduzido de crimes, como pode englobar inúmeros crimes.
Não tendo o legislador nacional optado pelo sistema de acumulação material (soma das penas
com mera limitação do limite máximo) nem pelo da exasperação ou agravação da pena mais
grave (elevação da pena mais grave, através da avaliação conjunta da pessoa do agente e dos
singulares factos puníveis, elevação que não pode atingir a soma das penas singulares nem o
limite absoluto legalmente fixado), é forçoso concluir que com a fixação da pena conjunta se
pretende sancionar o agente, não só pelos factos individualmente considerados, mas também
e especialmente pelo respectivo conjunto, não como mero somatório de factos criminosos,
mas enquanto revelador da dimensão e gravidade global do comportamento delituoso do
agente, visto que a lei manda se considere e pondere, em conjunto (e não unitariamente), os
factos e a personalidade do agente: como doutamente diz Figueiredo Dias (Direito Penal
Português ‒ As Consequências Jurídicas do Crime, págs. 290-292), como se o conjunto dos
factos fornecesse a gravidade do ilícito global perpetrado.
Será, assim, o conjunto dos factos que fornece a gravidade do ilícito global perpetrado, sendo
decisiva para a sua ava liação a conexão e o tipo de conexão que entre os factos concorrentes
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2. Processo Penal Português - Questões de Prova
Tal concepção da pena conjunta obriga a que do teor da sentença conste uma especial
fundamentação, em função de um tal critério, da medida da pena do concurso, só assim se
evitando que a medida da pena do concurso surja como fruto de um acto intuitivo ‒ da «arte»
do juiz ‒ ou puramente mecânico e portanto arbitrário», embora se aceite que o dever de
fundamentação não assume aqui nem o rigor nem a extensão pressupostos pelo art.º 71.º.
Só assim se evita que a medida da pena do concurso surja consequente de um acto intuitivo,
da apregoada e, ultrapassada, arte de julgar, puramente mecânico e, por isso arbitrário.
Note-se que o artigo 71.º, n.º 3, do Código Penal determina que na sentença são
expressamente referidos os fundamentos da medida da pena.
Embora não seja exigível o rigor e a extensão nos termos do n.º 2 do mesmo art.º 71.º, nem
por isso tal dever de fundamentação deixa de ser obrigatório, quer do ponto de vista legal,
quer do ponto de vista material, e, sem prejuízo de que os factores enumerados no citado n.º
2 podem servir de orientação na determinação da medida da pena do concurso (Figueiredo
Dias, Direito Penal Português, As Consequências Jurídicas do Crime, Aequitas, Editorial Notícias,
1993, p. 291).
Não é necessário nem útil que a decisão que efectue o cúmulo de penas constante de
condenações já transitadas em julgado, enumere os factos provados que integraram a decisão
onde foram aplicadas as penas parcelares, mas já é necessário que a decisão que efectue o
cúmulo, descreva ou resuma todos os factos pertinentes de forma a habilitar os destinatários
da decisão e o tribunal superior, a conhecer a realidade concreta dos crimes anteriormente
cometidos, bem como os factos anteriormente provados que demonstrem qual a
personalidade, modo de vida e inserção social do agente, com vista a poder compreender-se o
processo lógico, o raciocínio da ponderação conjunta dos factos e personalidade do mesmo
que conduziu o tribunal à fixação da pena única (v. Ac. do Supremo Tribuna l de Justiça de 27
de Março de 2003, in proc. n.º 4408/02, da 5.ª secção).
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2. Processo Penal Português - Questões de Prova
Aliás, salienta Maia Gonçalves (Código Penal Português Anotado e Comenta, 18.ª ed., pág.
295,nota 5), "na fixação da pena correspondente ao concurso entra como factor a
personalidade do agente, a qual deve ser objecto de especial fundamentação na sentença.
Ela é mesmo o aglutinador da pena aplicável aos vários crimes e tem, por força das coisas,
carácter unitário".
Qualquer decisão cumulatória que descreva factos conotados com o modo de inserção familiar
do agente, e, que na motivação remeta para a fundamentação das certidões juntas aos autos e
no relatório social junto aos autos, não descreve a síntese dos factos integrantes dos crimes:
não os reproduz nem os sintetiza, nem os equaciona em breve resumo, sendo certo que nos
termos do art.º 472.º, n.º 1, do CPP, o tribunal ordena, “oficiosamente ou a requerimento, as
diligências que se lhe afigurem necessárias para a decisão".
A decisão de cúmulo que apenas se refira à identificação das decisões condenatórias havidas,
indicando os crimes e respectivas datas de ocorrência bem como as penas aplicadas, é
legalmente insuficiente, atento o disposto nos art.ºs 77.º, n.º 1, do CP e 374.º, n.º 2, do CPP.
Quanto à personalidade do arguido é necessário que se encontrem descritos factos, ainda que
em síntese, que definam as características da sua personalidade, nomeadamente ao tempo da
prática dos mesmos, que possibilitem o conhecimento da motivação da sua actuação
delituosa.
A decisão que efectua o cúmulo jurídico de penas não se pode reconduzir à invocação de
fórmulas genéricas ou conclusivas sem apoio factual de significação concreta.
Tem, antes, de demonstrar a relação de proporcionalidade que existe entre a pena conjunta a
aplicar e a avaliação conjunta dos factos e da personalidade.
Por outro lado, essa decisão deve efectuar o correlato com as exigências de prevenção
especial, ou seja, sobre os efeitos previsíveis da pena sobre o comportamento futuro do
condenado, poer serem exigências de socialização que estão em causa.
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justificar quais os factores relevantes de cada operação de formação de pena conjunta, quer
no que respeita à culpa em relação ao conjunto dos factos, quer no que respeita à prevenção,
quer, ainda, no que concerne à personalidade e factos considerados no seu significado
conjunto.
Um dos critérios fundamentais em sede deste sentido de culpa, numa perspectiva global dos
factos, é o da determinação da intensidade da ofensa e dimensão do bem jurídico ofendido,
sendo certo que assume significado profundam ente diferente a violação repetida de bens
jurídicos ligados à dimensão pessoal e em relação a bens patrimoniais. Por outro lado, importa
determinar os motivos e objectivos do agente no denominador comum dos actos ilícitos
praticados e, eventualmente, dos estados de dependência, bem como a tendência para a
actividade criminosa expressa pelo número de infracções, pela sua permanência no tempo,
pela dependência de vida em relação àquela actividade.
Se omitir esta avaliação o tribunal omite pronúncia sobre questão que tinha de apreciar e
decidir, o que determina a nulidade da respectiva decisão (art.º 379.º do CPP ‒ Ac. do
Supremo Tribunal de 22-11-2006, Proc. n.º 3126/96 ‒ 3.ª Secção).
E, em bom rigor, viola o disposto no art.º 32, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa,
pois que este normativo contempla as garantias de processo criminal, que na óptica de um
processo justo, "assegura todas as garantias de defesa, incluindo o recurso'', e a
fundamentação aduzida na decisão recorrida, não habilita o condenado a poder defender se
cabalmente da decisão que o afecta na discussão da pena aplicada, por a mesma decisão não
dar a conhecer as necessárias razões de facto e de direito, que justificaram, em exame crítico
de ponderação conjunta dos factos e personalidade do agente, a conclusão pela pena
concretamente aplicada.
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Vídeo da apresentação
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3. As declarações do arguido e o depoimento das testemunhas, em especial face à revisão de 2013 do CPP
1
Apresentação decorrida no âmbito da ação de formação “As alterações ao Código de Processo Penal”, no
Auditório do CEJ (Lisboa), a 10 de abril de 2014.
* Mestre em Direito, Assistente na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
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3. As declarações do arguido e o depoimento das testemunhas, em especial face à revisão de 2013 do CPP
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3. As declarações do arguido e o depoimento das testemunhas, em especial face à revisão de 2013 do CPP
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3. As declarações do arguido e o depoimento das testemunhas, em especial face à revisão de 2013 do CPP
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3. As declarações do arguido e o depoimento das testemunhas, em especial face à revisão de 2013 do CPP
Vídeo da apresentação
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4. A fixação dos factos na decisão penal
1
Apresentação decorrida no âmbito da ação de formação “Temas de direito penal e processual penal”, no Auditório
do CEJ (Lisboa), nos dias 5, 12, 19 e 26 de fevereiro de 2016.
* Juiz Desembargador do Tribunal da Relação de Évora.
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4. A fixação dos factos na decisão penal
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4. A fixação dos factos na decisão penal
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4. A fixação dos factos na decisão penal
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4. A fixação dos factos na decisão penal
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4. A fixação dos factos na decisão penal
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4. A fixação dos factos na decisão penal
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4. A fixação dos factos na decisão penal
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4. A fixação dos factos na decisão penal
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5. A fundamentação da decisão penal
1
Apresentação decorrida no âmbito da ação de formação “Temas de direito penal e processual penal”, no Auditório
do CEJ (Lisboa), nos dias 5, 12, 19 e 26 de fevereiro de 2016.
* Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas.
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5. A fundamentação da decisão penal
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5. A fundamentação da decisão penal
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5. A fundamentação da decisão penal
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5. A fundamentação da decisão penal
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5. A fundamentação da decisão penal
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5. A fundamentação da decisão penal
Vídeo da apresentação
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6. Prova indiciária
6. PROVA INDICIÁRIA 1
Alberto Ruço ∗
Os factos que o juiz declarará provados ou não provados na sentença penal respeitam a
acontecimentos passados, a factos históricos, situados no tempo (hora, dia, mês e ano) e num
certo espaço geográfico.
Como poderá o juiz convencer-se que tais factos afirmados na acusação ou na contestação
ocorreram?
Mas o que são as provas, isto é, por que razão nos convencemos que A é uma prova de B?
Deixarei a resposta, para já, em suspenso.
1
Apresentação decorrida no âmbito da ação de formação “Direção da Audiência de Julgamento e Produção,
Apreciação e Valoração da Prova em Processo Penal”, no Auditório do CEJ (Lisboa), a 21 de março de 2014.
* Juiz Desembargador no Tribunal da Relação do Porto.
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6. Prova indiciária
Os factos que são descritos nas acusações ou nas contestações podem ser agrupados em dois
tipos: factos regidos pelas leis causais da natureza e factos que são acções humanas, não
submetidas àquelas leis causais.
A ciência não tem conhecimento, até ao momento, de algum facto que tenha surgido do nada.
O julgador pode estar certo que os factos, caso tenham existido historicamente, não
surgiram (misteriosamente) do nada.
Sendo assim, se os factos afirmados existiram e se estes não surgiram do nada, então temos
de concluir que resultaram de um estado de coisas prévio.
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6. Prova indiciária
Por outro lado, além dos factos não terem resultado do nada, mas de um estado de coisas
prévio, também é certo que esse estado de coisas prévio não se identifica com o caos.
Antes pelo contrário, os cientistas estão convencidos que existe uma estrutura nomológica
(governada por leis) da realidade que eles investigam continuamente.
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6. Prova indiciária
E no que respeita às acções humanas, não existindo uma estrutura nomológica semelhante
à da realidade física, existe todavia uma comunidade de crenças e comportamentos que
dotam as acções dos outros de significado e compreensíveis para os demais, por forma a todos
viverem em sociedade sem que esta seja um caos permanente.
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6. Prova indiciária
Sendo o mundo um contínuo devir, formado por um passado e um presente, e por futuros que
em breve se convertem em passados, então, devido à estrutura nomológica da realidade, os
factos são ao mesmo tempo causas e efeitos de estados de coisas que se sucedem no tempo,
digamos, linearmente, uns a seguir aos outros.
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6. Prova indiciária
Por outro lado, como os factos não existem isolados, mas partilham um fundo factual
repleto de muitos outros factos, integrados em processos causais, como se fossem peças
multifacetadas de um gigantesco puzzle vivo, em contínua mudança, dada a estrutura
nomológica da realidade, todos os factos têm aptidão para se reflectirem e deixarem marcas
nos restantes factos que os rodeiam e se situam lateralmente em relação aos processos causais
lineares.
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6. Prova indiciária
Reflexibilidade.
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6. Prova indiciária
Ora, se os factos que existem são, como se afigura indubitável, um resultado de um estado de
coisas prévio, então esse estado de coisas prévio contém em si a razão pela qual um facto
existe, isto é, o estado de coisas prévio explica o facto posterior surgido no seu seio.
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6. Prova indiciária
Sendo assim, podemos concluir que a convicção passa pela explicação dos factos ou, dito de
outra forma, a explicação gera a convicção.
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6. Prova indiciária
Quanto à explicação causal, Karl Popper deu este exemplo de explicação causal, que aqui
simplifico:
Conclusão
O fio partiu.
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6. Prova indiciária
A explicação tem a forma de um silogismo em que a premissa maior é composta por leis
(regras de experiência), a premissa menor por factos históricos e a conclusão resulta
logicamente das premissas e, por isso, se designa este tipo de explicação como nomológico-
dedutiva.
Conclusão
José colocará a carta no marco dos correios, caso lhe seja possível, no momento T.
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6. Prova indiciária
Dada a apontada estrutura nomológica da realidade, os factos-efeito são provas dos factos
prévios, causais e esta afirmação torna-se mais clara se explicitarmos o mecanismo da
explicação mostrando que é o mesmo mecanismo da previsão.
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6. Prova indiciária
Se conhecemos o resultado, isto é, o estado do fio partido, então explicamos o facto de ter
partido usando a explicação causal antes referida.
Se não conhecemos o facto, porque, por exemplo, ainda não ocorreu, podemos prevê-lo, ou
seja, se colocarmos a hipótese de suspender um peso de dois quilos num fio que só possui
resistência até um quilo, prevemos que o fio se partirá se for suspenso nele um peso de dois
quilos.
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6. Prova indiciária
Disse anteriormente e todos sabemos que assim é, que o juiz se convencia da existência dos
factos através das provas.
São provas os factos causais que explicam o facto a provar. São provas os factos que são efeitos
do facto a provar.
E são provas os factos laterais que se reflectiram nos factos a provar ou sofreram os
reflexos dos factos a provar.
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6. Prova indiciária
São provas os factos causais que explicam o facto a provar. São provas os factos que são efeitos
do facto a provar.
E são provas os factos laterais que se reflectiram nos factos a provar ou sofreram os
reflexos dos factos a provar.
Estes factos que adquirem o estatuto de provas de outros factos são justamente os factos
probatórios indiciários.
A valoração de um facto como indiciário exige uma certa forma de raciocínio, isto é, aquele
raciocínio que ficou indicado relativamente à explicação causal e à explicação teleológica da
acção humana.
É esse raciocínio que nos mostra que um facto é indício de outro facto.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
6. Prova indiciária
Ou, ao invés, dada a simetria entre explicação e previsão, se verificarmos que certo
pedaço de ferro aumentou de volume – facto conhecido –, argumentaremos que o
ferro esteve anteriormente em contacto com uma fonte de calor – facto desconhecido.
Verifica-se, pois, que a ponte entre o facto conhecido e o facto desconhecido se fez
através de uma regra pré-existente, com carácter geral, como é típico das leis, a qual
pode ser esquematizada, fazendo agora sobressair essa ponte, numa inferência como
esta:
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
6. Prova indiciária
É a existência da regra ou lei geral que nos permite estabelecer a relação entre o facto
conhecido submissão do pedaço de ferro ao calor e o facto desconhecido não observado,
o seu aumento de volume.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
6. Prova indiciária
O valor de certeza da conclusão depende, logicamente, do valor de certeza que a regra nos
oferece, sabendo-se que uma regra é tanto mais certa, quanto menos excepções admitir.
As provas indiciárias são por isso provas indirectas, carecem da intervenção de uma regra que
faça a ponte entre o facto conhecido e o facto desconhecido.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
6. Prova indiciária
As provas directas são aquelas que não carecem da intervenção de uma regra da
experiência, como ocorre na prova testemunhal.
A testemunha está em contacto directo com o facto a provar e o facto a provar reflectiu-
se no sistema sensorial e mental da testemunha e criou uma sua representação na memória
da testemunha, diremos, por analogia, como se fosse uma fotografia.
Quando a testemunha descreve por palavras a representação do facto que guarda na sua
memória, não intervém qualquer regra de experiência, nem se procede a qualquer explicação.
Tendo deixado uma ideia da natureza ou modo de ser da prova indiciária, passo à aplicação
prática das ideias mencionadas, descrevendo dois casos simples retirados da prática
judiciária.
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6. Prova indiciária
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
6. Prova indiciária
1. Em certa acção de responsabilidade civil não havia dúvidas que a autora, cliente de um
estabelecimento comercial de utilidades domésticas, tinha caído para a respectiva cave
através da abertura que existia no pavimento do estabelecimento, a qual respeitava a um
sistema de monta-cargas que servia para descer as mercadorias que eram armazenadas nessa
cave.
Na altura da queda a plataforma do monta-cargas estava a ser utilizada e, por essa razão,
estava assente no piso da cave, deixando descoberta a respectiva abertura.
Não houve testemunhas da queda da autora, mas a queda era um facto certo, pois a autora foi
retirada da cave.
A autora, ouvida em declarações, referiu que ia a olhar para os objectos colocados nas
prateleiras e de repente «faltou-lhe o chão debaixo dos pés» e caiu para a cave, não admitindo
que a corrente estivesse colocada, pois não tinha tocado em nada.
Considerou-se que o emprego garante a sobrevivência das pessoas e que a falta ou perda de
emprego é altamente prejudicial, pelo que, em regra, o empregado não terá, e não se sentirá,
com a necessária liberdade para declarar o que viu, se porventura a verdade desfavorecer a
sua entidade patronal.
Na análise acerca do que terá ocorrido, ponderou-se também a possibilidade de alguém ter
colocado a corrente na posição horizontal antes de terem chegado ao local as testemunhas
que afirmavam tê-la visto colocada nessa posição.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
6. Prova indiciária
Tal colocação podia ter sido levada a cabo pela testemunha A, com o fim de apagar os vestígios
da negligência havida, ou por alguém que instintivamente a tivesse colocado nessa posição
com o fim de salvaguardar outras quedas, prevendo a afluência de pessoas ao local.
Quanto ao depoimento da autora, considerou-se que o mesmo não tinha, só por si, capacidade
para formar a convicção no sentido de que os factos ocorreram como ela declarava terem
ocorrido, pois era pessoa interessada, na medida em que era parte e, por outro lado, porque
poderia ser objecto de alguma censura se admitisse que a corrente estava colocada
horizontalmente, pois tal facto poderia levar a considerar-se que ela devia ter visto e não viu a
referida corrente, sendo-lhe imputável, no mínimo, parte da culpa quanto à queda.
Apurou-se que esta corrente metálica se apoiava em dois suportes fixos; ficava a cerca de 70
centímetros de altura e a uns 20 centímetros da abertura do monta-cargas.
Como resulta do exposto, a questão que se colocava consistia em saber se a corrente estava
ou não estava colocada horizontalmente, presa a ambos os suportes, quando ocorreu a queda.
2. O tribunal acolheu a versão da autora, mas não com base nas suas declarações.
Logicamente não atribuiu valor persuasivo ao teor dos depoimentos das testemunhas que
afirmaram terem constatado a corrente colocada na posição horizontal, desde logo porque a
corrente podia ter sido colocada nessa posição depois da queda.
Com efeito, quando uma hipótese de facto ocorreu mesmo apresenta sintomas de verdade
porque há identidade entre ela e a realidade e, sendo assim, tal hipótese, por ser real, obtém,
em regra, confirmações variadas da sua existência nessa mesma realidade e esta não a refuta.
Isto é, a realidade acolhe-a no seu seio ao invés de a rejeitar, pois, tendo existido aí, nessa
realidade, a hipótese real resulta do fundo factual onde ocorreu (foi fabricada aí), pelo que se
reflectiu nele e recebeu dele influências variadas, tudo isto de acordo com a estrutura
nomológica que existe no mundo natural e da lógica motivo-crença-intenção-finalidade que
governa as acções humanas.
No caso havia dois tipos de indícios com aptidão para desfazer dúvidas quanto a saber se a
corrente estava ou não colocada no momento da queda.
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6. Prova indiciária
Por outro lado, se a corrente estivesse colocada, a autora, ao andar em direcção à corrente e
ao embater nela, sensivelmente a meio do seu corpo, caso não parasse logo ao sentir o
contacto e forçasse a corrente em direcção à abertura do monta-cargas, então a corrente teria
impedido que o corpo da autora chegasse à abertura do monta-cargas, pois esta estava
localizada ainda a cerca de 20 centímetros.
Segundo conjunto de indícios – Muito embora a autora não tivesse alertado para tal matéria,
havia indícios que, aliados aos anteriores, apontavam com clareza para a hipótese da corrente
não se encontrar colocada horizontalmente.
Ora, verificava-se pelo teor do relatório do Instituto de Medicina Legal, onde se encontravam
descritas as lesões sofridas pela autora em consequência da queda, que esta tinha sofrido
fracturas no pé esquerdo e na vértebra D12 – trata-se da vértebra que faz a transição entre as
vértebras dorsais e as lombares.
Estas lesões, e não havia outras, eram compatíveis com a hipótese da queda da autora numa
posição corporal vertical, «de pé», posição em que todo o peso e pressão do corpo se
concentra, ao embater no pavimento da cave, nos pés, pernas e coluna vertebral, ou seja,
precisamente onde se registaram as lesões.
Estas lesões constituíam factos gerados pela queda, ou seja, indícios localizados causal e
cronologicamente após os factos sob prova – colocação da corrente/queda para a abertura – e
apenas se conciliavam com a hipótese da corrente não estar colocada.
Por conseguinte, era altamente improvável que a autora tivesse fracturado o pé esquerdo e a
vértebra D12, se a corrente estivesse colocada, e era apropriado que tivesse sofrido tais lesões
se tivesse caído numa posição corporal vertical a qual, por sua vez, era incompatível com a
existência da corrente colocada em posição horizontal.
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6. Prova indiciária
Nestas circunstâncias, a convicção não podia deixar de se formar no sentido da corrente não
estar colocada 2.
1. Em certa comarca foi julgado um homem, com cerca de setenta anos, acusado de abuso
sexual, tendo por vítima uma menina de dez anos de idade, sua vizinha.
Os actos consistiram em a menor se ter despido à frente do arguido, por diversas vezes, na
casa deste, a troco de pequenas quantias de dinheiro e mais tarde também sob a ameaça, feita
pelo arguido, de narrar o já sucedido a terceiros.
Face a renovadas e contínuas exigências do arguido, a menor acabou por contar o que se
estava a passar com ela a uma colega da mesma idade, informação que acabou por chegar aos
pais da menor.
O arguido negou peremptoriamente os factos, no que foi acompanhado por testemunhas que
em audiência o consideraram incapaz de cometer acções como as que lhe eram imputadas
pela menor e que constavam da acusação do Ministério Público.
2. Este facto foi valorado pelo tribunal como facto indiciário do abuso sexual.
Com efeito, verificou-se que este comportamento da menor coincidia com o período de abuso
sexual referido na acusação.
Este comportamento da menor não constava dos factos descritos na acusação, muito embora
constasse das declarações que a professora de ginástica tinha já prestado durante o inquérito
e que reproduziu espontaneamente em audiência 3.
2
Dir-se-á, e é o caso, que se chegava a esta conclusão sem ouvir testemunhas, apenas com base nas lesões da
autora descritas no relatório pericial, no conhecimento da altura da corrente quando colocada na posição horizontal
e na distância desta à abertura do monta- cargas, factos estes que não eram objecto de controvérsia.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
6. Prova indiciária
A alteração radical de um comportamento não pode deixar de surpreender e intrigar, por ser
sabido que nada surge do nada, quer dizer, há-de ter existido algo que determinou este
comportamento da menor que antes era inexistente, pelo que, mesmo desconhecendo de
todo a possível causa, atribuímos-lhe uma causa genérica.
Pensamos desta forma, por esta razão: se algo não agir sobre uma coisa, essa coisa
permanecerá a mesma; se essa coisa sofre uma alteração, então algo intrínseco ou extrínseco
agiu sobre ela.
Por analogia aplicamos esta lei a situações que envolvem o comportamento das pessoas.
Mas, colocando-se esta hipótese, seja com base num qualquer indício, seja porque a menor
denunciou o abuso sexual, então dada a simetria entre a explicação e a previsão atrás
assinalada, a professora, ou qualquer outra pessoa, podia partir do efeito – a mencionada
alteração do comportamento – para a sua causa explicativa.
Poderia inferir que um tal efeito podia ter como causa, entre outras causas adequadas,
possíveis e concorrentes, uma situação de abuso sexual 4.
Com efeito, uma possível causa para aquela alteração específica do comportamento da menor
podia consistir, precisamente, no facto da menor ter sido ou estar a ser vítima de abuso sexual.
Efectivamente, é habitual que uma criança vítima de abuso sexual experimente um sentimento
de vergonha que se pode reflectir no relacionamento interpessoal, evitando as situações de
intimidade 5.
3
Em situação de audiência de julgamento, a factualidade relativa à modificação do comportamento da menor
constituiria um caso de alteração não substancial dos factos da acusação – al. f), do artigo 1.º, do Código de
Processo Penal, a contrario –, podendo e devendo, se fosse o caso, ser introduzida na matéria factual atinente à
acusação, nos termos previstos no artigo 358.º, n.º 1, do mesmo Código, com o fim de ser submetida a
contraditório e a decisão por parte do tribunal.
4
Perante um facto surpreendente, procurar-se-á enquadrar o mesmo numa hipótese explicativa, a qual, se
porventura se revelar verdadeira, mostrará que, afinal, o facto era algo de natural. Este tipo de raciocínio é
denominado de abdução – Cfr. António Zilhão. Pensar com Risco, 25 Lições de Lógica Indutiva, 1.ª edição. Lisboa:
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2010, pág. 45.
5
CHRISTIANE SANDERSON aludindo a esta problemática referiu que a criança «… também pode evitar situações em
que o seu corpo se torne o foco da atenção, como nos esportes, na natação ou em actividades físicas que envolvam
despir-se ou trocar-se na frente dos outros» – Abuso Sexual em Crianças. São Paulo: M. Books do Brasil Editora,
Lda., 2005, pág. 207.
127
DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
6. Prova indiciária
Neste caso, o comportamento da menor que fica relatado, aparecia como um efeito adequado
e gerado pelas acções de abuso sexual.
No caso concreto em apreço este comportamento constituía, sem dúvida, um indício dos
factos integradores do tipo legal de crime pelo qual o arguido vinha acusado, por se tratar de
factos explicáveis tendo como causa geradora os concretos factos imputados ao arguido.
Também aqui, por virtude da simetria entre explicação e previsão, partimos de factos
conhecidos – recusa da menor em despir-se e tomar banho à frente das colegas – para outros
factos, desconhecidos situados a montante, os abusos sexuais imputados ao arguido.
3. Claro está que esta inferência não é acompanhada da certeza que encontramos numa
explicação em que intervenham leis causais.
No domínio da acção humana, por não existir uniformidade no que respeita à reacção da cada
pessoa a uma dada situação factual, uma situação factual em tudo idêntica a outra pode
produzir ou não, num caso concreto, o mesmo tipo de reacção, pelo que esta inferência em
regra carece de apoio, de confirmação, proveniente de outras provas.
Porém, verifica-se que este indício corrobora as declarações da menor e vice-versa e confere
um alto grau de probabilidade à hipótese de facto constante da acusação, caso não se
encontre uma explicação alternativa aos abusos sexuais, capaz de explicar a existência do
mencionado comportamento da menor na escola.
Nestas condições, conjugando o depoimento da menor com este indício e com a ausência de
explicação alternativa para a indicada alteração do comportamento da menor, bem como a
ausência de quaisquer outros indícios com valor oposto à hipótese de facto constante da
acusação, a convicção do juiz formar-se-á no sentido dos indicados abusos terem ocorrido.
4. Neste caso, o facto indiciário, o comportamento anómalo e reiterado da menor após a aula
de ginástica, é um facto situado a jusante dos factos relativos ao abuso sexual submetidos ao
veredicto do tribunal.
FRANCISCO ALEEN GOMES e TEREZA COELHO enumeram diversas alterações do comportamento de menores
registadas na sequência de abusos sexuais – A Sexualidade Traída (Abuso sexual infantil e pedofilia). Porto: Âmbar,
2003, pág. 52.
6
Afigura-se que a explicação será, neste caso, de natureza quase-causal, na medida em que não existirão aqui leis
causais a conectar os abusos sexuais e o comportamento da menor, mas sim motivações da menor que a levaram a
agir/reagir dessa forma; se intervierem leis causais, o que é potenciado pelo facto do comportamento em causa se
inserir num padrão de comportamento, então a explicação revestirá, neste aspecto, natureza causal.
128
DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
6. Prova indiciária
Por conseguinte, este indício não é directamente explicativo do abuso sexual, pois a explicação
para ele reside nos motivos libidinosos específicos do agente.
Os actos de abuso sexual é que integram a explicação daquele comportamento da menor por
ocasião da aula de ginástica.
Mas quer os actos de abuso sexual, quer as motivações prévias do agente, quer o mencionado
comportamento da menor, todos eles se inserem na mesma linha ou cadeia explicativa e é por
isso que tal comportamento constitui um indício dos actos de abuso sexual, por surgir como
um efeito típico destes.
Vídeo da apresentação
https://educast.fccn.pt/vod/clips/3mxyeb105/flash.html?locale=pt
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
Paulo Dá Mesquita ∗
1
Apresentação decorrida no âmbito da ação de formação “Direito probatório, substantivo e processual penal”, no
Auditório do CEJ (Lisboa), no dia 25 de novembro 2016.
* Procurador-Geral Adjunto, Vogal do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República.
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
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7. Atos de fala de testemunhas e arguidos anteriores ao julgamento
Vídeo da apresentação
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
1
Apresentação decorrida no âmbito da ação de formação “Direito probatório, substantivo e processual penal”, no
Auditório do CEJ (Lisboa), no dia 19 de janeiro 2018.
* Procurador da República.
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
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8. Direito ao silêncio corporal? Ingerências corporais probatórias: a identificação genético-criminal
Vídeo da apresentação
https://educast.fccn.pt/vod/clips/1bolmqj2rm/flash.html?locale=pt
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9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
Pela negativa
4) E, por fim, não nos debruçaremos sobre aquelas situações em que o arguido ou futuro
arguido não se opôs expressamente à realização da diligência e vem - a posteriori - colocar em
crise a prova assim obtida, directa ou indirectamente, por contender com a prerrogativa
contra a auto-incriminação.
Assim, e pela positiva, iremos unicamente debruçar-nos sobre as situações em que o arguido
expressamente se recuse a realizar um determinado comportamento no âmbito de uma
diligência que tem por objectivo a recolha de provas.
1
Apresentação decorrida no âmbito da ação de formação “Direito probatório, substantivo e processual penal”, no
Auditório do CEJ (Lisboa), no dia 19 de janeiro 2018.
* Procuradora da República e Docente do CEJ.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
– Se iniciar por uma breve alusão ao panorama actual da discussão em torno da prerrogativa
contra a auto-incriminação;
– Um elenco de onde as questões têm surgido a nível jurisprudencial e qual o seu tratamento;
– Conclusão para quem, como nós, entende que estas diligências não estão a coberto da tutela
da prerrogativa contra a auto-incriminação que o problema não reside nesta mas sim na
dignidade da pessoa humana – via que, embora aparentemente sob a égide da auto-
incriminação – tem sido seguida pelo legislador processual penal.
A realização de diligências de prova que têm como objecto o arguido contende com duas
constelações que convocam a prerrogativa contra a auto-incriminação: a obtenção de fontes
de prova do próprio arguido e a coerção.
Existe um amplo consenso quanto à sua vigência, porém, a prerrogativa contra a auto-
incriminação continua envolta em controvérsia, desde logo, quanto ao seu âmbito objectivo.
Duas teses:
Nos Estados Unidos da América, a formulação literal da V Emenda proíbe apenas que alguém s
eja obrigado a declarar contra si mesmo («tobe awitness against him self »), sugerindo que o
alcance da prerrogativa está limitado à extracção coactiva de «comunicações» – interpretação
que tem sido seguida sem hesitações pelos tribunais superiores desde Holt v. USA (1910).
Partindo desta ideia, a construção largamente dominante no contexto jurídico norte-
americano assenta na dicotomia entre «testimonial» e «real or physical evidence»,
circunscrevendo-se aos elementos probatórios da primeira espécie a operatividade
do privilege against self-incrimination.
Alemanha
Ao contrário do que é o entendimento do Supreme Court, o direito à não auto-incriminação no
direito germânico é compreendido como abrangendo quer a liberdade de declaração, quer o
recurso ao corpo do arguido como meio de prova.
Quanto a meios de prova distintos das declarações do arguido, isto é, quanto ao recurso ao
seu corpo como meio de prova e sua colisão com o direito à não auto-incriminação, a tese que
180
DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
tem feito vencimento na Alemanha, funda-se na distinção entre uma actividade positiva ou o
mero tolerar passivo.
Em face deste critério se ao arguido se impõe a colaboração mediante uma conduta activa tal
é susceptível de ferir o direito à não auto-incriminação; se, ao invés, se lhe impõe meramente
que tolere uma determinada actividade não há qualquer colisão com o direito à não auto-
incriminação que lhe assiste.
Assim, nesta acepção não é possível - porque atentatório do princípio da passividade - obrigar
alguém a soprar para submissão a um teste de álcool. No entanto, já é possível a sua
submissão a uma colheita de sangue para atingir tal desiderato, porque ao visado se exige
unicamente que tolere a sua realização.
Amostras biológicas:
No Acórdão n.º 155/2007 uma das questões de constitucionalidade suscitadas prendia-se com
a recolha não consentida de vestígios biológicos (mais concretamente saliva), contra a vontade
expressa do arguido, mas sem que tivesse existido utilização de força física, embora com
advertência de recurso à mesma, na medida do necessário para salvaguardar a integridade
física de quem iria realizar a colheita e sua compatibilidade com o direito à não auto-
incriminação. O Tribunal Constitucional, louvando-se na jurisprudência Saunders, restringe o
direito à não auto-incriminação “ao respeito pela vontade do arguido em não prestar
declarações”, pelo que que no caso da colheita de saliva para efeitos de realização de análises
de ADN entendeu que tal não contendia com o direito à não auto-incriminação (porquanto
“essa colheita não constitui nenhuma declaração”).
Dir-se-ia que esta questão, face à actual redacção do artigo 154º do Código de Processo Penal
e do artigo 8º da Lei da Base de Dados de ADN, se encontra resolvida de acordo com aquele
que foi o entendimento do Tribunal Constitucional.
181
DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
1 – Se alguém pretender eximir-se ou obstar a qualquer exame devido ou a facultar coisa que
deva ser examinada, pode ser compelido por decisão da autoridade judiciária competente.
2 – É correspondentemente aplicável o disposto nos n.os 3 do artigo 154.º e 6 e 7 do artigo
156.º
Perícia médico-legal
1 – Logo que, no decurso do inquérito ou da instrução, haja notícia de que o arguido era
toxicodependente à data dos factos que lhe são imputados, é ordenada a realização urgente
de perícia adequada à determinação do seu estado.
2 – Na medida do possível, o perito deve pronunciar-se sobre a natureza dos produtos
consumidos pelo arguido, o seu estado no momento da realização da perícia e os eventuais
182
DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
Artigo 53.º
Revista e perícia
1 – Quando houver indícios de que alguém oculta ou transporta no seu corpo estupefacientes
ou substâncias psicotrópicas, é ordenada revista e, se necessário, procede-se a perícia.
2 – O visado pode ser conduzido a unidade hospitalar ou a outro estabelecimento adequado e
aí permanecer pelo tempo estritamente necessário à realização da perícia.
3 – Na falta de consentimento do visado, mas sem prejuízo do que se refere no n.º 1 do artigo
anterior, a realização da revista ou perícia depende de prévia autorização da autoridade
judiciária competente, devendo esta, sempre que possível, presidir à diligência.
4 – Quem, depois de devidamente advertido das consequências penais do seu acto, se recusar
a ser submetido a revista ou a perícia autorizada nos termos do número anterior é punido com
pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias.
5 – A injunção prevista no presente artigo não pode ser dirigida a suspeito ou arguido nesse
processo.
183
DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
Recolha de
amostras
Perícias Exames Revistas Determinação Estado biológicas para
Revista e Perícia
(art. 154º (art. 171º (art. 174º Toxicodependência determinação
(art. 53º DL 15/93)
CPP) CPP) CPP) (art. 52º DL 15/93) perfil genético
(artigo 8º Lei
5/2008)
Qualquer Qualquer Qualquer
Sujeito Passivo Arguido toxicodependente Suspeito Arguido
pessoa pessoa pessoa
“Haja notícia de que o arguido
era toxicodependente” “Indícios de que
Tem que haver confirmação alguém oculta ou
Grau de suspeita
das notícias através da transporta no seu
realização de diligências (artigo corpo”
5º Portaria 94/96)
Autoridade
competente com MP MP MP MP MP Juiz
consentimento
Autoridade
competente sem
Juiz Juiz MP MP MP Juiz
consentimento
Qualquer Qualquer Qualquer Tráfico de
Catálogo de Crimes Qualquer crime Qualquer crime
crime crime crime estupefacientes
Artigo 8º, n.º 4: Em
caso de recusa do
arguido na recolha
de amostra que lhe
tenha sido
Falta de “Pode ser Desobediência ordenada (...), o
consentimento compelido” qualificada juiz competente
pode ordenar a
sujeição à
diligência nos
termos do disposto
no artigo 172.º do
CPP.
Em suma:
Todas estas medidas dependem em primeira linha do consentimento e só quando este não
seja dado é que pode ser determinada a sua execução por ordem da autoridade judiciária
competente.
Assim,
Quanto às perícias não se prevê a consequência no caso de o visado recusar.
184
DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
judiciária e, designadamente, não permite que o visado possa ser compelido, como se prevê
no artigo 171º, n.° 1. (…) Portanto, a recusa de obediência só pode dar lugar à incriminação do
artigo 348.°, n.° 1, al. b), do CP, caso ela tenha sido cominada com a ordem dada.” Neste
sentido v. também HELENA MONIZ, “Os Problemas Jurídico-Penais da Criação de uma Base de
Dados (...)”, p. 256; SÓNIA FIDALGO, “Determinação do perfil genético como meio de prova em
processo penal”, p. 139; MARIA DO CARMO SILVA DIAS, “Particularidades da Prova em Processo
Penal. (...)”, p. 203.
O artigo 172º ao prever que “se alguém pretender eximir-se ou obstar a qualquer exame
devido (...) pode ser compelido por decisão da autoridade judiciária competente”, tem
suscitado divisões quanto à previsão de execução coerciva de exames.
Idêntica partição faz o artigo 8º da Lei n.º 5/2008, de 12 de Fevereiro na sua actual
redacção:
b) N.º 4 – no caso de recusa - o juiz competente pode ordenar a sujeição à diligência nos
termos do disposto no artigo 172.º do Código de Processo Penal.
Já a lei do Cibercrime no seu artigo 14º, n.º 5, nem sequer admite que a injunção prevista
no artigo 14º seja dirigida a arguido ou suspeito.
185
DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
Num processo de estrutura acusatória o arguido, de mero objecto do processo, passa a assumir
a veste de verdadeiro sujeito processual ao qual são concedidos direitos e deveres e,
consequentemente, a capacidade de conformar a decisão final, designadamente através da
possibilidade de oferecer provas e requerer as diligências necessárias à descoberta da
verdade. No entanto, a elevação ao estatuto de sujeito processual não é incompatível com a
configuração do arguido também como meio de prova, seja quando através das suas
declarações introduz no processo elementos relevantes para a descoberta da verdade (meio
de prova em sentido material), mas também quando se torna necessário recorrer ao seu
corpo, estado corporal e suas qualidades ou características (meio de prova em sentido formal).
Desta forma a partir da constituição de arguido, além de lhe serem assegurados um conjunto
de direitos que visam em primeira linha a concretização do seu direito de defesa, são-lhe
impostos deveres processuais incluindo o dever de se sujeitar a diligências de prova, nos
termos do artigo 61º, n.º 3, alínea d), do CPP.
E é nesta veste do arguido como meio de prova em sentido formal enquanto sujeito a um
meio de coacção processual que cabe precisar em que termos e sob que condições se pode
impor ao arguido a submissão a diligências probatórias.
Tal análise passa necessariamente por indagar da legitimidade constitucional face ao potencial
de lesão de direitos fundamentais que estas diligências probatórias possam encerrar, como a
autonomia pessoal, a integridade corporal e a reserva da intimidade da vida privada daquele
que constitui o seu alvo. Chamado a pronunciar-se sobre algumas das constelações do arguido
como meio de prova, o Tribunal Constitucional tem admitido a restrição dos direitos
fundamentais assinalados quando esteja em causa a averiguação de crimes e dos seus autores.
O problema, quanto a nós, agudiza-se não nos casos de falta de consentimento, mas sim nos
casos de recusa expressa e de oposição veemente do arguido na execução da diligência.
Partição que, como vimos o artigo 53º do DL 15/93 e o artigo 8º da Lei 5/2008, efectuam.
Ou seja, e dito por outras palavras, os casos em que seja necessário para executar a diligência
a utilização da força.
Como primeira linha de argumentação deve ser tido em consideração que o recurso à força
não está excluído do processo penal sendo, por vezes, imprescindível para a prossecução dos
seus objectivos.
Deve ainda ter-se em consideração que nem todos os meios de prova que consubstanciem um
ilícito penal são feridos com a proibição de prova - é aliás neste horizonte que se parece
inscrever o preceituado na alínea c) do n.º 2 do artigo 126º que só considera ofensiva da
integridade física e moral a provas obtida mediante a utilização da força, fora dos casos e dos
limites permitidos pela lei.
186
DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
Arguido não está impossibilitado de dar o seu consentimento e a posteriori coloca em crise a
prova assim obtida:
“(...) temos para nós que tal comportamento deverá e poderá ser valorado como indício sobre
a culpabilidade do arguido (...).”
(Tiago Caiado Milheiro, “Prova por ADN e o papel do Juiz de Instrução Criminal”, p. 30).
2
Quer na perspectiva da sua subsidiariedade quer do seu potencial probatório.
187
DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
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9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
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9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
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9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
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9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
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9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
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9. A recusa de colaboração do arguido em se sujeitar a diligências de prova
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
10. Nemo Tenetur e a Transmissibilidade da Prova Entre Procedimentos
1
Apresentação decorrida no âmbito da ação de formação “Temas de Direito Penal e Processual Penal”, no Auditório
do CEJ (Lisboa), nos dias 5, 12, 19 e 26 de fevereiro de 2016.
* Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
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10. Nemo Tenetur e a Transmissibilidade da Prova Entre Procedimentos
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Jurisprudência
Ficheiro I
Ficheiro II
Ficheiro III
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒LEI DAS ARMAS
11. A transmissibilidade de documentos entre o procedimento administrativo
tributário e o processo sancionatório penal ou contraordenacional
1
Apresentação decorrida no âmbito da ação de formação “Direito probatório, substantivo e processual penal”, no
Auditório do CEJ (Lisboa), no dia 19 de janeiro 2018.
* Professora Auxiliar da Faculdade de Direito da Universidade do Porto.
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tributário e o processo sancionatório penal ou contraordenacional
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tributário e o processo sancionatório penal ou contraordenacional
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11. A transmissibilidade de documentos entre o procedimento administrativo
tributário e o processo sancionatório penal ou contraordenacional
Vídeo da apresentação
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247
DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
12. Técnicas de inquirição e interrogatório - em especial na criminalidade económico-financeira
Carla Costa ∗
1
Apresentação decorrida no âmbito da ação de formação “Técnicas de inquirição e interrogatório em processo
penal”, no Auditório do Montepio (Lisboa), no dia 16 de janeiro 2015.
* Inspetora da Polícia Judiciária, Adjunta no Gabinete do Ministro da Saúde.
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12. Técnicas de inquirição e interrogatório - em especial na criminalidade económico-financeira
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12. Técnicas de inquirição e interrogatório - em especial na criminalidade económico-financeira
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12. Técnicas de inquirição e interrogatório - em especial na criminalidade económico-financeira
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12. Técnicas de inquirição e interrogatório - em especial na criminalidade económico-financeira
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13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
Vídeo da apresentação
A Lei das Armas, aprovada pela Lei n.º 5/2006 de 23 de Fevereiro, nas suas sucessivas
alterações faz lembrar – desde logo – uma pequena história de um livro de filosofia 2:
De seguida, dou dois nós noutra corda. E, quando as uno, fico com 5 nós.
Estamos aqui no âmbito dos crimes de perigo comum em que a censurabilidade jurídico-
criminal se situa a montante de um possível resultado desvalioso que se pretende prevenir e
evitar.
‒ Por contraposição aos crimes de perigo concreto (de que é exemplo típico a condução
perigosa de veículo rodoviário).
1
Apresentação decorrida no âmbito da ação de formação “Temas de Direito Penal e Processual Penal”, no Auditório
do CEJ (Lisboa), nos dias 5, 12, 19 e 26 de fevereiro de 2016.
* Procuradora da República.
2
«Platão e um Ornitorrinco entram num bar…» Thomas Cathcart e Daniel Klein, Publicações Dom Quixote
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
Já nos crimes de perigo abstracto – como é o caso da Lei das Armas – basta que a conduta do
autor se enquadre numa das previsões normativas.
Ou seja:
O perigo foi considerado antes (pelo próprio legislador) para a tipificação criminal da conduta,
mas não é elemento do tipo.
Numa segunda ordem de considerações: relembra-se que, à excepção do art.º 88.º, em todos
os outros casos estamos perante crimes dolosos (ou seja, decorrentes de uma conduta
voluntária do respectivo autor).
Já a punição por tentativa está legalmente prevista nos arts. 22.º e 23.º do Código Penal, ou
seja para todos crimes puníveis com pena superior a três anos de prisão.
E então, desde 2009, passou a ser sancionada também a tentativa de detenção de armas da
Classe E, armas brancas, munições etc., ou seja, a previsão da al. d) do n.º 1 do art.º 86.º, que
agravou a pena de 3 para 4 anos.
Feito este intróito, abstemo-nos, por ora, de qualquer consideração sobre as definições e
classificações desta Lei e – usando a linguagem bélica – passamos já, de rajada, para os tipos
legais de crime.
Desfolhando este Diploma, desde logo nos deparamos com dois tipos de crime cuja respectiva
sistematização não nos parece louvável, porque algo escondidos por entre «normas de
homologação» e «normas de conduta»:
Referimo-nos:
- Ao n.º 4 do art.º 29.º que pune, como desobediência qualificada, o facto de o respectivo
autor não depositar a arma e respectivos documentos na PSP quando não lhe é
autorizada ou renovada a licença de uso e porte;
e
- Ao art.º 45.º que, em conjugação com o art.º 88.º, nos causa a primeira grande
perplexidade.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
Assim:
O portador de uma arma pode ser obrigado a submeter-se a exame para detecção de
influência de álcool ou de outras substâncias psicotrópicas, sendo a recusa punida como crime
de desobediência qualificada (348.º Código Penal) e, portanto, com uma pena até 2 anos de
prisão.
Incompreensivelmente:
O uso e porte de arma com uma taxa (de álcool) igual ou superior a 1,2 g/litro é punido com
pena até 1 (um) ano de prisão.
Por outro lado, não se percebe a discrepância entre esta norma do art.º 88.º da Lei das Armas
com o art.º 29.º da Lei da Caça que – em nosso entender deveria prever uma moldura penal
semelhante (senão, mesmo, agravada) – mas onde se estabelece, para o exercício da caça sob
influência do álcool, uma pena de multa até 120 dias (sendo que, na Lei das Armas, a multa
ascende aos 360 dias).
- Detenção de arma: ter em seu poder ou disponível para uso imediato (uma arma);
Constata-se assim que o legislador veio agora restringir a definição de «detenção» de arma –
que, na versão anterior, não pressupunha o requisito «uso imediato» – criando, quanto a nós,
confusão ou sobreposição dos conceitos entre «detenção» e «porte».
Só que:
E depois destas definições, o legislador vem dizer que, para os efeitos do referido art.º 45.º -
nomeadamente, para o autor ser obrigado ao referido exame (de detecção de álcool, ou
substâncias estupefacientes ou psicotrópicas) – a «detenção» só é relevante quando a arma
estiver na esfera de disponibilidade imediata do detentor, montada, municiada e apta a
disparar.
Ou seja, em nosso entender, bastava cortar – no n.º 1 desse art.º 45.º – a expressão
«detenção», ficando apenas as situações de uso e porte, para estarem cobertas as situações
que se queriam previstas, sem que houvesse necessidade de uma outra definição (dentro da
mesma lei) sobre o que se entende por detenção.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
Mas retomando ainda o art.º 88.º, a leitura deste artigo faz-nos concluir que:
‒ A punição da detenção (aqui nos termos definidos pelo no art.º 2º) e de transporte, reporta-
se às situações de desrespeito pelas normas de segurança do art.º 41º;
Pelo que:
O legislador juntou, a cada uma destas situações, outros casos perfeitamente diferenciáveis,
ou seja, a detenção, uso e porte e transporte fora das condições de segurança (ligadas,
sobretudo, às próprias armas e seu acondicionamento e, não, ao «agente» em si).
Ainda e no que concerne ao detentor, portador ou transportador de uma arma, a lei prevê a
respectiva punição se o mesmo se encontrar sob influência (para além de substâncias
psicotrópicas) de produtos com efeito análogo perturbadores da aptidão física mental ou
psicológica, mas já não perante a recusa a teste para detecção deste tipo de substâncias.
De outro modo, um portador de arma que tenha tomado, por ex. um anti-histamínico poderia
ser criminalmente responsabilizado por este ilícito.
Esta norma divide-se em duas partes distintas, conforme sugere a sua própria epígrafe.
Outra – de crime cometido com arma (mesmo que autorizada ou dentro das condições legais
ou prescrições da autoridade competente).
310
DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
É que, além do mais, o n.º 3, n.º 4 e n.º 5 do referido artigo reportam-se a situações não
directamente ligadas ou dependentes dos números anteriores, mas a uma certa ideia de
«Parte Geral» como existe no Código Penal.
Dito isto:
Uns, defendiam que se tratava de uma conduta negligente e, portanto, não punível.
O grande mérito da versão de 2011 foi o de clarificar tal questão jurídica ou – dito de outra
forma – de descriminalizar a detenção de arma sem renovação da respectiva licença no prazo
de 180 (cento e oitenta dias) a contar da data da caducidade, relegando esta situação para um
ilícito de mera ordenação social (nos termos do art.º 99.º-A n.º 1, n.º 2 e n.º 3 – consoante a
classe das armas).
Ainda no que concerne ao n.º 1 do citado art.º 86.º, a sua leitura – desde a versão inicial –
acarretou uma espécie de desilusão por expectativas goradas.
Eu explico-me:
Ao ler o art.º 3.º deparamo-nos com uma exaustiva classificação das armas em sentido
descendente de perigosidade (julgava eu).
Mas este critério de classificação não tem qualquer correspondência da graduação do grau de
ilicitude estabelecida pelas várias alíneas do citado n.º 1 do art.º 86.º.
E assim, por exemplo, podemos ver armas da classe A enquadráveis na previsão da al. d), ou
seja, na menos gravosa de todas.
311
DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
Já no que diz respeito ao regime geral previsto por este art.º 86º.
Estabelece o n.º 3 que as penas aplicáveis aos crimes cometidos com arma são agravadas de
1/3 nos seus limites mínimo e máximo, excepto se:
ou
‒ A lei já previr agravação mais elevada para o crime em função do uso e porte de arma.
De imediato, a pergunta que surge é se tal agravação se aplica a todo e qualquer crime?
Qual a lógica ou fundamento desta agravação, por exemplo, nos crimes contra a honra?
Ou, em termos mais gerais, nos crimes em que não existe «confronto» directo entre o autor e
a vítima, ou nos crimes em que, de todo, não existe vítima?
«Se a arma não teve qualquer interferência, mormente de ordem subjectiva por parte do
agente da infracção (isto é: o agente levava a arma, nem sequer se recordava de que consigo a
trazia, e furta uma garrafa de whisky no supermercado), não há lugar à qualificação...»
A esta «doutrina da impressão», atrevo-me a somar um outro critério, agora ligado ao próprio
autor do crime. Ou seja, agravação dos factos poderá funcionar também, quando o mesmo se
sente favorecido/«superiorizado» pela posse da arma.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
Diz o n.º 4 que «o crime é cometido com arma quando qualquer comparticipante traga, no
momento do crime, arma aparente ou oculta».
Vamos supor que alguém determina ou instiga outrem à prática de uma agressão. Assim, só
assim!
Este autor moral pode, muito bem, perder o domínio do facto quanto ao modo de execução,
que é deixada ao arbítrio do autor imediato.
Arma essa, que pode muito bem, nem sequer, ser usada ou manter-se sempre oculta!
E assim:
Mais problemática é, ainda, o caso da cumplicidade. Este comparticipante, não tem qualquer
domínio sobre o facto principal, limitando-se a prestar auxílio (material ou moral) ao autor,
facilitando, pois, o cometimento de um ilícito que – mesmo sem ele – poderia ser consumado.
Numa primeira abordagem seriamos levados a pensar que estamos (apenas) no âmbito da
problemática da ilicitude, ou mais concretamente, do grau de ilicitude.
Só que a doutrina e jurisprudência têm defendido que as agravantes, por exemplo nos casos
dos crimes de furto e roubo (e, portanto, nomeadamente, pela posse de arma aparente ou
oculta) não são de aplicação automática e prendem-se com um juízo de especial
censurabilidade do respectivo autor.
Da pessoalíssima culpa do art.º 29.º do Código Penal, onde se refere que «cada
comparticipante é punido segundo a sua culpa, independentemente da punição ou do grau de
culpa dos outros comparticipantes.».
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
Noutra linha de pensamento, e por uma questão de coerência sistemática, entendemos que
deveria ter sido efectuada uma ligação do n.º 1 do art.º 42.º com a referida espécie de parte
geral (ou seja, n.º 3, 4 e 5 do art.º 86.º).
Deste modo é inevitável associar este regime ao das causas de exclusão da ilicitude previstas
no Código Penal e, mais concretamente, à legítima defesa.
Sejamos claros:
Ao ser assim, deveria então – o legislador – esclarecer expressamente esta sua opção, não
remetendo este regime excepcional para o Capítulo das «normas de conduta».
Intitulando-se, sem mais, estas situações como de «uso de armas de fogo», não prevendo
expressamente estas situações como causas de exclusão da ilicitude e, não sendo feita
qualquer referência ao regime da legítima de defesa (que se quis restringido), em que
ficamos?
E mais:
Por outro lado, chegamos a louvar a opção prevista no art.º 89.º desta Lei, ou seja, a punição
de quem (não estando especificamente autorizado por motivo de serviço ou por autoridade)
transportar, detiver, usar, distribuir ou for portador de quaisquer armas, munições, engenhos,
etc., em:
‒ Recintos desportivos;
‒ Recintos religiosos;
‒ Zonas de exclusão;
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
‒ Feiras ou mercados.
‒ Os estabelecimentos de ensino.
Ora, atenta a amplitude das molduras penais previstas em cada tipo legal de crime (e, no caso,
da detenção de arma), é ao aplicador do direito que caberá aferir, em cada caso em concreto,
do respectivo grau de ilicitude.
E assim, evitar-se-iam também, e numa outra ordem de ideias, perversões que esta norma
pode gerar (recorrendo-se aqui ao que já ficou dito sobre o n.º 3 do art.º 86º).
Ainda e a talhe de foice, não se descortinam os motivos para não integrar este último crime –
de tráfico de armas – no Regime Jurídico das Acções Encobertas, nomeadamente, pelo
carácter continuado e, muitas vezes, transfronteiriço deste tipo de condutas.
Também a título de nota, importa salientar que – não obstante a preocupação do legislador
em proceder (no art.º 2.º) a definições exaustivas, por comparação às simples 6 (seis)
definições do Protocolo Adicional à referida Convenção das Nações Unidas, não se encontra na
Lei em apreço a definição do conceito de tráfico de armas, pelo que qualquer conduta descrita
no art.º 87.º poderá ser considerada como tal.
E isto, também por contraposição ao Protocolo da Convenção das Nações Unidas, que
restringe tal conceito (dito aqui em termos gerais e imprecisos) a qualquer tipo de passagem
de armas de um Estado para outro Estado.
Acresce ainda dizer que esta Lei acaba por disparar em todos os sentidos, estendendo-se a
outras áreas de tutela penal, onde cria mais problemas que soluções.
3
Anote-se da existência de uma alteração legislativa em Abril de 2011, após os atentados de Madrid (Atocha) a 11
de Março do mesmo ano.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
Olhemos, por exemplo, para o art.º 107.º, ou seja, para o regime de apreensão das armas:
Mas também:
– Houver indícios da prática pelo suspeito de crime de maus tratos a cônjuge, a quem com ele
viva em condições análogas, a progenitor de descendente comum em 1.º grau, a pessoa
menor ou particularmente indefesa, etc., etc.
Ou seja:
É que, de acordo com a respectiva redacção – que refere «perante queixa, denúncia ou
constatação de flagrante» – a resposta parece ser em sentido afirmativo.
Suspeita nossa que vem confirmada no n.º 3, quando refere a transmissão da notícia do crime
ao MP e a comunicação da apreensão.
E pareciam assim, com o que foi dito, arrumadas as questões jurídico-penais sobre as armas,
neste Diploma que se quis tão exaustivo que já conta com cinco alterações.
Esquecendo esta lei que o Código Penal, «diploma base», resolve na sua parte geral muitas das
questões que este Diploma veio complicar, nomeadamente ao nível da ilicitude, da
responsabilização e do grau de culpa.
Mas há também que não esquecer outros Diplomas que se interligam ou, como é o caso da Lei
da Caça, até conflituam com este.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
E, para além da referida Lei, do Regime sobre o Recurso a Arma de Fogo em Acção Policial,
estamos em crer que se mantém em vigor o art.º 4.º do Decreto-Lei n.º 48/95 de 15 de Março,
que reza assim:
«Para efeito do disposto no Código Penal, considera-se arma qualquer instrumento, ainda que
de aplicação definida, que seja utilizado como meio de agressão ou que possa ser utilizado
para tal fim».
Ou seja, para enquadramento no tipo ou nas agravantes de um qualquer ilícito previsto neste
Código, esqueçamos a exaustiva (mas também redutora) tipificação da Lei das Armas,
podendo dar relevância uma faca de mato, faca de cozinha, a uma pedra, etc., etc.
Mas também aqui há um «mas»: de que falamos quando recorremos ao conceito «que possa
ser utilizado para tal fim»?
Só que este Diploma ainda nos levanta uma outra série de perplexidades face à previsibilidade
estabelecida no n.º 1 do art.º 86º.
E aqui relembro, para quem conhece a cidade do Porto, que na implosão de uma das Torres do
Bairro do Aleixo ‒ edifício de «13 pisos acima da cota de soleira e um abaixo desta», cada um
daqueles «composto por 5 habitações independentes») – foram utilizados 157 Kgs. de produtos
explosivos, tendo-se estabelecido um perímetro de segurança de cerca de 150 metros, com
completa evacuação de todos os habitantes das torres habitacionais anexas.
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13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
O comprador pede: «250 metros de cordão, uma caixa de detonadores, 25 kgs, dinamite e um
rolo de rastilho», sendo que a respectiva entrega aconteceu num Posto de Abastecimento de
Combustível e todo este material foi guardado num veículo estacionado no parque
do restaurante (aberto ao público) de que o comprador era proprietário!
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
Mas neste mesmo processo: muitos outros compradores também eram vendedores.
E, portanto:
No indivíduo que quer deitar um muro abaixo (sem as condições de segurança necessários)?
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
E deixem-me anotar aqui que, em pesquisas efectuadas, fiquei a saber que um terrorista
suicida carrega à cintura cerca de 9 (nove) quilogramas de explosivos (com os resultados que já
todos pudemos ver).
4
Outras escutas no mesmo processo: Cerca das 13:21 horas do dia 26 de Abril de 2013, o X combinou com o Y que
não seria ele próprio a deslocar-se a casa deste, mas que mandou, «pelo rapaz», a quantia de € 220,00 (duzentos e
vinte euros) para que o primeiro lhe arranjasse duas coisas de € 20,00 e uma da pedra de € 180,00 (ou seja, duas
bobines de rastilho e uma caixa de 25 Kg. de pólvora).
Cerca das 17:09 horas do dia 18 de Março de 2013, o Y ligou para o (mesmo) X combinando a entrega de 3 caixas de
velas/explosivos, 2 caixas de pólvora, 200 detonadores pirotécnicos n.º 8 e 400 metros de rastilho, pelo preço global
de € 1.200,00 (mil e duzentos euros).
Exemplo de apreensão após aquisição ilegal do X ao Y:
«… Fez-se transportar no veículo automóvel ligeiro de passageiros, de marca «Renault», de cor cinza e com a
matrícula xx-xx-xx, onde havia acondicionado, sem qualquer cumprimento de qualquer regra de segurança:
‒ 50 (cinquenta) quilogramas de pólvora negra bombardeira, em estado sólido e comprimida num cilindro com 25
mm. de diâmetro e 45 mm. de altura (consubstanciando-se, assim, um explosivo deflagrante de queima de cerca de
750 metros por segundo);
‒ 200 (duzentos) detonadores com revestimento metálico e com carga ignidora, carga iniciadora e carga base, esta
com velocidade de detonação de 5.000 a 9.000 metros por segundo (consubstanciando-se num material sensível a
choques, chispas e fogo e susceptível – caso transportado ou armazenado sem cumprimento das regras de
segurança – a causar risco para a vida ou a causar lesões graves ou relevantes danos materiais);
‒ 400 (quatrocentos) metros de rastilho, com pólvora negra no seu interior (consubstanciando-se num explosivo
deflagrante, com velocidade de queima de 120 segundos por metro e susceptível de causar queimaduras graves);
‒ 25 (vinte e cinco) quilogramas de RIODIN (Goma 2ECO) que se consubstancia num explosivo gelatinoso à base de
nitrato de amónio, nitroglicol e absorventes orgânicos, fracturante e com velocidade de detonação – de «extrema
violência» – de 3.500 a 5.000 metros por segundo e susceptível de provocar graves danos materiais ou pôr em risco
a vida e integridade física das pessoas;
‒ 50 (cinquenta) quilogramas de Riogel Troner Plus, que se consubstancia num explosivo de hidrogel, fracturante e
com velocidade de detonação – de «extrema violência» – de 3.500 a 5.000 metros por segundo e susceptível de
provocar graves danos materiais ou pôr em risco a vida e integridade física das pessoas;
‒2,5 (dois quilos e quinhentos gramas) de pólvora negra, em estado sólido e comprimida num cilindro com 25 mm.
de diâmetro e 45 mm. de altura (consubstanciando-se, assim, um explosivo deflagrante de queima violenta e em
cerca de 750 segundo por metro).»
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
Indiferentes ao destino final de tal tipo de produtos, que o legislador – na respectiva previsão
normativa sobre a mera detenção – os igualizou a armas químicas ou biológicas, a meios
militares e a material de guerra!
A par de tanta explicitação quanto a armas de fogo e armas brancas, a Lei das Armas diz-nos
(no n.º 5 do art.º 2 e, portanto, relegando para as «outras definições») que «explosivo civil»
são:
Daí que pensamos recorrer ao já citado Decreto-Lei 139/2002 (que regula a segurança no
fabrico e armazenagem de produtos explosivos), mas que também apenas estabelece que –
«para efeitos do presente Regulamento, entende-se por produtos explosivos as matérias e os
objectos da Classe 1 que figuram no «Regulamento Nacional de Transporte de Matérias
Perigosas por Estrada».
E lá fomos, com expectativas, para o tal Regulamento de Transporte, que nos diz: «Classe 1:
«matérias e objectos explosivos».
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
Daí que, mas com a advertência que o referido Dec. Lei restringe os conceitos aos casos de
fabrico e armazenagem, ficamos, então, com a ideia ali traduzida que matérias explosivas
«compreendem» «matérias sólidas ou líquidas (ou misturas de matérias) susceptíveis, por
reacção química, libertar gases a uma temperatura, a uma pressão e a uma velocidade tais que
podem causar danos nas imediações».
Ou, dito de uma forma mais esclarecedora – encontrada num Manual do Operador de
Produtos Explosivos 5 – «os produtos explosivos são compostos químicos ou misturas, que
quando activados por uma fonte de energia térmica (calor), mecânica (choque ou fricção), se
podem decompor bruscamente libertando um grande volume de gases a alta pressão e
temperatura».
E quanto ao primeiro dos artigos referidos (o do Código Penal), importa referir que o mesmo
pressupõe a criação de um perigo concreto: provocar explosão por qualquer forma,
nomeadamente mediante utilização de explosivos» criando «deste modo perigo para a vida ou
para a integridade física de outrem, ou para bens patrimoniais alheios de valor elevado».
E os actos preparatórios deste crime, que depende sempre da susceptibilidade de criar tais
perigos, podem consubstanciar-se no fabrico, importação, dissimulação, aquisição, cedência
ou detenção e são punidos com prisão até 3 anos ou com pena de multa.
E este regime, com uma perigosidade concreta prevista, prevê uma pena mais ténue que a
«simples» detenção prevista na Leis das Armas.
Mas será que um explosivo, seja ele qual for, é uma arma nos termos da Lei n.º 5/2006?
‒ Uma, no já falado art.º 86º, ou seja no tipo legal de crime de detenção de arma proibida e
crime cometido com arma;
‒ Outra, no art.º 2º que, sob a epígrafe de «definições legais», prevê no n.º 1 os «tipos de
armas»; no n.º 2 «partes das armas de fogo»; no n.º 3 «munições das armas de fogo e seus
componentes»; no n.º 4 «funcionamento das armas de fogo» e, finalmente, o n.º 5 que
estabelece a «outras definições» e que, nas alíneas seguintes aos «estabelecimentos e locais
de diversão», se refere a «explosivo civil», «engenho explosivo civil» e a «engenho explosivo
ou incendiário improvisado».
5
Associação Portuguesa de Estudos e Engenharia de Explosivos Associação Nacional da Indústria Extractiva e
Transformadora.
322
DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
E a fundamentar esta questão, temos que o artigo 3º, que efectua a classificação das armas,
munições e outros acessórios, não discrimina, em lado algum, os explosivos.
E isto, quer pela técnica legislativa (se nos outros casos se fala expressamente em explosivos e
aqui não), quer – ainda – em termos de hermenêutica jurídica, pelo resultado legal que tal
norma poderia acarretar.
Se o pressuposto é o da construção (fabrico para fins ilícitos), cairia então por terra o caso de
fabrico legal e licenciado de um explosivo que, a determinado momento e com outro agente,
poderia ser desviado ou utilizado como instrumento de agressão ou como instrumento bem
mais gravoso.
E aí acrescia a perfeita incompatibilidade com o art.º 86º que, como crime de perigo abstracto,
visa a protecção social ex ante de um qualquer resultado altamente desvalioso.
Daí que a previsão do art.º 86.º da Lei das Armas 6, com todos os problemas de harmonização
com a legislação avulsa que contempla as actividades económicas relacionadas com o
emprego de explosivos, venha – em sobreposição valorativa e, portanto, normativa –
considerar/tipificar como crime as condutas (entre outras) de detenção, transporte e uso de
explosivos fora das condições legais (ainda que de legislação administrativa) ou em contrário
das prescrições das autoridades competentes.
… O preço de aquisição da encomenda que descrevi acima era de 510 euros por, pólvora,
velas, detonadores e rastilho.
Invocando agora um outro processo para encontrar o preço de uma arma de defesa pessoal
(pistola 6,35 mm.): € 750,00 (setecentos e cinquenta euros).
6
Considerando o que já foi dito, será que a ideia inicial desta Lei, cujo âmbito de aplicação (em sentido positivo) se
encontra explanado no n.º 1 do art. 1.º, tinha em vista, nomeadamente, os explosivos … quando se refere, apenas,
a «armas, seus componentes e munições»?
Em cumprimento (nesse artigo) da Lei de Autorização Legislativa (Lei n.º 24/2004 de 25 de Junho, cujo prazo já se
encontrava ultrapassado), que refere: «É concedida ao cedida ao Governo autorização para legislar sobre a criação
do regime jurídico aplicável ao fabrico, montagem, reparação, importação, exportação, transferência,
armazenamento, circulação, comércio, cedência, detenção, manifesto, guarda, segurança, uso e porte de armas e
suas munições, bem como do regime punitivo criminal e contra-ordenacional relativo a comportamentos ilícitos
associados àquelas actividades, com o objectivo de salvaguardar a ordem, a segurança e a tranquilidade públicas.»
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
Assim, e ainda na visão desse potencial arguido, que mede a facilidade, custos e resultado da
conduta que pretende desvaliosa: que opção fazer entre uma arma de fogo ou uma
«reduzida», mas altamente destrutiva, quantidade de explosivos?
A par disto, e de regresso ao processo que fui relatando, anote-se a compra documentada (e
saliento, documentada ou, melhor ainda, autorizada), de explosivos por parte de um dos
arguidos/vendedor ilegal e durante cerca de 1 ano:
E se esta era a aquisição documentada, ficou a saber-se de muita outra mercadoria adquirida
de forma ilegal, para venda ilegal!
E é este, no que concerne a armas, o crime de perigo comum com maior desvalor de acção,
porque potencialmente com (e repito-me na expressão) inimagináveis resultados desvaliosos.
E tais substâncias não foram devidamente consideradas, nesta sua concreta dimensão (quer na
Lei das Armas, quer no Código Penal), restando vários diplomas avulsos que versam,
sobretudo, sobre as tais «normas de conduta», nomeadamente sobre as condições de
segurança no seu fabrico, armazenagem e transporte.
E assim, algo – nesta lei – me faz recordar uma outra história do mesmo livro de filosofia:
Todas as manhãs, uma senhora abre a porta de sua casa e grita: vão-se embora, tigres!
Um dia, alguém lhe pergunta porque faz isso, se não há tigres num raio de 3 mil quilómetros.
Tratam-se aqui de acções de prevenção reforçadas pela Lei n.º 72/2015 de 20 de Julho que
estabelece os Objectivos, Prioridades e Orientações de Política Criminal para o Biénio
2015/2017 e que, no art.º 10º refere: «As forças de segurança promovem, com a periodicidade
adequada, a realização das operações especiais de prevenção criminal previstas no regime
jurídico das armas e suas munições, aprovado pela Lei n.º 5/2006, de 23 de Fevereiro.
Acrescentando agora, no n.º 2, que «O Ministério Público acompanha, sempre que necessário,
as operações especiais de prevenção referidas no número anterior.»
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
Mas não se trata aqui de uma verdadeira novidade, pois que a própria Lei das Armas já previa
tal possibilidade «sem prejuízo da autonomia técnica e táctica das forças de segurança» (art.º
110.º n.º 3)
E já no âmbito desta Lei, o art.º 109º especifica que as operações especiais pressupõem:
‒ Sem esse objectivo, mas quando haja suspeita que algum desses crimes possa ter
sido cometido como forma de levar a cabo ou encobrir outros.
Quanto às áreas geográficas, estabelece o art.º 109.º n.º 2 (em termos gerais e no que é mais
relevante), a possibilidade de serem estabelecidos pontos de controlo de acesso a locais em
que constituiu crime a detenção de armas, ou seja, aos locais previstos pelo art.º 89.º (recintos
desportivos, religiosos, zonas de exclusão, estabelecimentos ou locais onde decorra
manifestação cívica ou política, locais de diversão, feiras e mercados);
Ou:
Incidindo em vias públicas ou outros locais públicos e respectivos acessos, frequentados por
pessoas que em razão de acções de vigilância, patrulhamento ou informação policial seja de
admitir que se dediquem à prática de infracções previstas no n.º 1, ou seja, previstas pelo art.º
86.º e ss. ou outras infracções associadas ou instrumentais a estas.
Assim:
Neste último aspecto, designadamente, quanto às vias públicas ou outros locais públicos e
respectivos acessos, estamos – de facto – perante todo e qualquer lugar cujo acesso não
pressupõe mandado de busca.
E se, à primeira vista, parece terem sido introduzidos factores limitativos ou requisitos para as
acções de prevenção, eles redundam numa falácia.
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
Mas vejamos:
Por um lado, a largueza do conceito: «infracções previstas neste capítulo», que prevê crimes e
contra-ordenações.
Por outro lado, o conceito «seja de admitir» afigura-se-nos como um critério demasiadamente
vazio.
Acresce ainda que, uma qualquer «informação policial» serve de suporte para tal juízo de
admissibilidade.
Mas não estaremos aqui – e face a estes conceitos tão abstractos – a ultrapassar o equilíbrio
(sempre periclitante, mas fundamental) entre a segurança e a restrição de direitos
fundamentais?
Não se prevê, portanto, qualquer possibilidade de o Ministério Público poder obstar ou dar
parecer negativo à realização de determinada operação, nem sequer se prevê qualquer tipo de
controlo sobre os pressupostos das referidas operações.
E, depois disto tudo, ainda nos deparamos com o n.º 4 do art.º 110.º, que admite a extensão
das operações especiais para além dos espaços geográfico e temporal determinados (e,
portanto, comunicados) se os actos a levar a cabo forem decorrentes de outros iniciados no
âmbito da delimitação inicial.
Como se não chegasse, o n.º 4 do art.º 109º ainda prevê um regime de excepção à abertura de
eventual correspondência (porque de correspondência se pode tratar), que – nos termos do
Código de Processo Penal - é da exclusiva competência do Juiz de Instrução.
A Lei das Armas limita-se a referir «quando no âmbito de uma operação especial se prevenção
se torne necessário levar a cabo buscas domiciliárias…», não estabelecendo, portanto,
qualquer regime especial sobre os seus fundamentos, requisitos e modo de realização, pelo
que os mesmos deverão ser os que se encontram inscritos no Código de Processo Penal
(nomeadamente, quanto ao horário possível!).
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DIREITO E PROCESSO PENAL: ‒ PROVA; ‒ LEI DAS ARMAS
13. Lei das Armas (perplexidades, dúvidas e algumas outras questões)
geográficos e temporais determinados, que pode efectuar revistas e buscas não domiciliárias
«em função da necessidade» (!) e que, também por sua iniciativa, pode abrir correspondência
– regressamos ao n.º 1 do art.º 109.º que se reporta a «armas, seus componentes ou munições
ou substâncias ou produtos a que se refere a presente lei» …
Não aqui estaremos numa das mais absolutas, mas silenciadas (por um securitarismo de
eficácia duvidosa), violações dos princípios básicos das leis penais?
Por fim, agradeço a paciência de me ouvirem a dar tiros no escuro, ciente da importância
desta Lei e de que se trata aqui apenas da tentativa de um contributo no sentido de a
pensarmos melhor.
É que, recorrendo a Aristóteles: «Haverá flagelo mais terrível do que a injustiça de armas na
mão?»
«O número de mortes causadas por armas ligeiras é muito superior ao de qualquer outro tipo
de armas – e, em alguns anos, ultrapassa o número de vítimas das bombas atómicas que
devastaram Hiroxima e Nagasáqui. Em termos de carnificina que causa, poderia muito bem
dizer-se que as armas ligeiras são “armas de destruição maciça”».
É de Kofi Annam!
Vídeo da apresentação
https://educast.fccn.pt/vod/clips/2la4awhlba/flash.html?locale=pt
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Título:
Direito e Processo Penal: - Prova; - Lei das armas
ISBN: 978-989-8908-18-6
Largo do Limoeiro
1149-048 Lisboa