Altas Habilidades Superdotação 2

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2
Garantindo o acesso e permanência
de todos os alunos na escola

Alunos com necessidades


educacionais especiais

Identificando e atendendo as necessidades


educacionais especiais dos alunos com
altas habilidades/superdotação

3
Presidente da República
Fernando Henrique Cardoso

Ministro de Estado da Educação


Paulo Renato Souza

Secretário Executivo
Luciano Oliva Patrício

Secretária de Educação Especial


Marilene Ribeiro dos Santos

FICHA TÉCNICA
Coordenação: SORRI-BRASIL
Elaboração: Maria Salete Fábio Aranha
Projeto gráfico e copydesk: Alexandre Ferreira
Agradecimentos: Equipe Técnica da Secretaria de Educação Especial
Tiragem: 10.000 exemplares

Autorizada reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte.

Projeto Escola Viva - Garantindo o acesso e permanência de todos os


alunos na escola - Alunos com necessidades educacionais especiais,
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial,
C327 2002, Série 2
I 96p.: il.
Iniciando nossa Conversa
1. Identificando e atendendo as necessidades educacionais especi-
ais dos alunos com altas habilidades/superdotação
2. Reconhecendo os alunos que apresentam dificuldades acentua-
das de aprendizagem, relacionadas a condutas típicas
3. Oficinas Pedagógicas: Um espaço para o desenvolvimento de com-
petências e habilidades na educação profissional
Resumindo nossa Conversa
CDD: 372.6
CDU: 342.71

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Índice

Iniciando Nosso Bate Papo... .................................................... 8


Reflexões Conceituais ............................................................. 9
Origem de Altas Habilidades/Superdotação ................................ 13
Indicadores de Altas Habilidades/Superdotação .......................... 13
Identificando Necessidades Educacionais Especiais ................. 22
Elaborando Plano Individualizado/Relatório de Ensino................ 23
Respondendo a Necessidades Educacionais Especiais
de Alunos Portadores de Altas Habilidades/Superdotação ......... 25
Projetos de Interesse do Aluno .................................................... 33
Administrando o Ensino na Diversidade da Sala Inclusiva ........ 33
Concluindo este bate papo... ....................................................... 36

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6
Prezado professor.

Retomamos desta vez nosso contato, atividade que nos tem sem-
pre sido muito prazerosa, para abordar uma questão que tem freqüen-
temente sido motivo de manifesta aflição por parte de muitos daque-
les com quem temos conversado por este país afora: como adminis-
trar o ensino a alunos que apresentam altas habilidades/super-
dotação.

Na busca de atender aos anseios de todos, optamos por abordar


a temática na seguinte seqüência:

1. Iniciando nosso bate papo...

2. Reflexões conceituais

3. Origem de altas habilidades/superdotação

4. Indicadores de altas habilidades/superdotação

5. Identificando necessidades educacionais especiais

6. Elaborando Plano Individualizado/Relatório de Ensino

7. Respondendo a necessidades educacionais especiais de alunos


portadores de altas habilidades/superdotação

8. Administrando o ensino na diversidade da sala inclusiva

9. Concluindo este bate papo...

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Iniciando nosso bate papo...

Desde crianças ouvimos falar, popularmente, de pessoas con-


sideradas “geniais”, “habilidosas”, “talentosas”, “superdotadas”
enfim, pessoas que se diferenciavam das demais por apresenta-
rem alguma, ou várias características extraordinárias, já que in-
comuns.

Geralmente comentava-se que a pessoa tinha uma inteligência


muito “alta”, o que a fazia sobressair, quando comparada com as
demais pessoas.

Tais comentários, na maioria das vezes, vinham acompanhados


de frases do tipo “todo gênio é meio louco”, “todo cara muito inteli-
gente é meio esquisito”, criando uma associação entre um funciona-
mento cognitivo diferenciado e características atípicas de personali-
dade da pessoa.

Isso tudo muito contribuiu para fazer das pessoas que apresenta-
vam habilidades extraordinárias, pessoas consideradas misteriosas,
míticas, e, portanto, difíceis de convivência com os demais, dado a
seus interesses diferenciados.

Você teve alguma vivência desse tipo? Lembra-se de algum cole-


ga de sala que se destacava dos demais? Que idéia sempre fez da
criança então chamada de “superdotada”?

Pois é... muitas coisas mudaram no âmbito do conhecimento so-


bre pessoas com habilidades especiais, bem como as práticas utili-
zadas em seu processo educacional.

Vamos, então, ver um pouco sobre essa história.

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Reflexões conceituais

Até o início do século XX não havia formas de se quantificar atri-


butos da inteligência, o que começou a se tornar possível quando
Alfred Binet, um psicólogo francês, desenvolveu a primeira escala
de desenvolvimento infantil. Milhares de crianças foram observadas
sistematicamente, possibilitando a identificação e a descrição das
tarefas que podiam ser desempenhadas em cada etapa do desen-
volvimento cronológico infantil.

Desta forma, a escala passou a constituir um referencial descriti-


vo do que se podia esperar de uma criança, com desenvolvimento
normal, em cada etapa de seu desenvolvimento. Passou, também, a
possibilitar que se avaliasse, através da observação sistemática, se
uma criança apresentava um desenvolvimento estaticamente nor-
mal, em termos cronológicos, ou se seu desempenho era mais
adiantado do que o esperado para a idade.

Em continuidade ao seu trabalho, Binet, associando-se a Théodore


Simon, construiu o conceito de idade mental, informação derivada
da contraposição das tarefas desenvolvimentais que uma criança
era capaz de cumprir, com sua idade cronológica.

Embora inicialmente utilizado para identificação de crianças com


menor desenvolvimento mental, aos poucos passou a servir também
para identificar as crianças que apresentavam uma idade mental mais
alta que as demais crianças da mesma idade.

Avançando no estudo da inteligência infantil, Lewis M. Terman, edu-


cador e psicólogo norte-americano, reviu o instrumento criado por Binet
e publicou, juntamente com a Universidade de Stanford, em 1916, a
Escala de Inteligência Stanford-Binet. Terman desenvolveu o conceito

9
de QI (quociente de inteligência), índice que se propunha sintetizar a
quantificação da inteligência, através do estabelecimento de uma
relação entre a idade mental da criança e sua idade cronológica (idade
mental / idade cronológica x 100).

Como a ciência não pára e se encontra em constante processo


de construção e produção de novos conhecimentos, novas idéias e
reflexões foram sendo produzidas sobre a questão da inteligência.

Cientistas começaram a defender que as capacidades intelectu-


ais podiam e deviam ser medidas separadamente, e que um único
“score”, tal como o QI, não ajudava a identificar a capacidade de
desempenho da pessoa, em diferentes habilidades e capacidades
envolvidas com o comportamento inteligente.

J. P. Guilford (1950, 1959, in Hardman et al., 1993), por exemplo,


“levou muitos pesquisadores a considerar a inteligência como mais do
que uma habilidade ampla e unitária. Ele viu a inteligência como um
conjunto diversificado de habilidades intelectuais e criativas” (p. 378).

A partir do trabalho de Guilford e do de Torrance (1961, 1965, 1968),


o conceito de superdotação foi ampliado, passando a incluir a criativi-
dade e seus vários componentes, como por exemplo, pensamento di-
vergente, solução de problemas e a capacidade de tomada de decisão.

Ainda mais recentemente, acrescentou-se ao conceito de superdo-


tação o termo talento, de forma que “indivíduos que demonstram
habilidades marcantes nas artes visuais ou nas artes de representa-
ção, ou mesmo que excedem em outras áreas de desempenho, po-
dem igualmente ser designados como superdotados” (Hardman et
alii, 1993, pág. 379) .

Assim, foi-se gradativamente alterando a concepção de superdota-


ção, no sentido de ampliar sua significação.

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Segundo Parcell (1978, in Hardman, 1993), os termos “superdotado”
e “talentoso” se refere a crianças e jovens, identificados na pré esco-
la, no ensino fundamental ou no ensino médio, como possuidores de
habilidades potenciais ou demonstradas, que evidenciam alta capa-
cidade de desempenho, em áreas tais como no desempenho inte-
lectual, criativo, acadêmico específico ou habilidade de liderança,
ou nas artes de representação, artes de um modo geral e que, por
essa razão, necessitam de serviços ou atividades que não são roti-
neiramente oferecidas pela escola (Seção 902)” (p. 379).

Renzulli (1978, in Hardman, 1993) foi pioneiro ao apresentar a


noção de que a superdotação era uma combinação de conjuntos
(conglomerados) interativos de comportamentos e que uma pessoa
não pode ser identificada como superdotada, baseando-se em
somente um desses conglomerados. Sua definição dizia que: “a su-
perdotação consiste de uma interação entre três conglomerados
básicos de traços humanos - habilidades gerais acima da média,
altos níveis de compromisso com as tarefas que assume e altos níveis
de criatividade. Crianças superdotadas e talentosas seriam, então,
aquelas que apresentam ou que são capazes de desenvolver este
conjunto integrado de traços, bem como de aplicá-los a qualquer
área potencialmente importante do desempenho humano. Crianças
que manifestam ou que são capazes de desenvolver uma interação
entre os três conglomerados requerem uma variedade ampla de opor-
tunidades e de serviços educacionais, normalmente não oferecidos
nos programas instrucionais regulares.” (p. 380).

Mais recentemente, outras novas concepções surgiram na literatu-


ra sobre inteligência. Sternberg (1981, in Hardman, 1993) propôs uma
teoria triárquica sobre a inteligência humana, que defende que o de-
sempenho intelectual compreende três partes: a inteligência analíti-
ca, apresentada por aqueles que mostram um bom desempenho em
testes de aptidão e de inteligência; a inteligência sintética, apresen-
tada por pensadores não convencionais, que são criativos, intuitivos e

11
apresentam alto nível de insight; e a inteligência prática, apresenta-
da por aqueles que lidam de forma extraordinariamente eficiente com
os problemas da vida cotidiana, bem como com os problemas do
ambiente de trabalho. (p. 380).

Em 1991, Ramos-Ford e Gardner propuseram uma nova forma de


considerar a inteligência, ou dotação, através de uma teoria que tem
sido mencionada como a teoria da inteligência múltipla. Os autores
definiram inteligência como uma habilidade, ou um conjunto de habili-
dades, que permite a um indivíduo resolver problemas ou fenômenos
que são característicos de um momento ou de um contexto cultural
específicos, ou que são deles conseqüentes.

Como se pode perceber, a concepção de inteligência foi se amplian-


do no decorrer do tempo, com implicações importantes para a prática
educacional, e mais especificamente, para a prática pedagógica do pro-
fessor, em sala de aula, especialmente no que se refere à identificação
das necessidades educacionais especiais do aluno e ao seu ensino.

A Secretaria de Educação Especial adota o seguinte conceito por


ser abrangente como “altas habilidades/superdotados ou talentosos
os educandos que apresentarem notável desempenho ou elevada
potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos isolados ou com-
binados: capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica específica,
pensamento criativo-produtivo, capacidade de liderança, talento
especial para artes e capacidade psicomotora”.

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Origem de altas habilidades/superdotação

Como na grande maioria das demais áreas da vida humana, a


discussão científica sobre o talento tem sido permeada por defesas
da herança biológica e da estimulação ambiental. Da mesma forma
que nos demais casos, é muito difícil poder apontar com exatidão
quanto de determinação cabe a um e a outro. Entretanto, pode-se
afirmar, com razoável segurança, que ambos contribuem para o pro-
cesso de desenvolvimento de uma pessoa, dotada de altas habilida-
des/superdotação e que um ambiente estimulador favorece a mani-
festação de suas características.

Indicadores de altas habilidades/superdotação

Há vários inventários e listagens elaborados por especialistas con-


tendo indicadores e características específicas que permitem a iden-
tificação de comportamentos e perfis de alunos com altas habili-
dades/superdotação. Estes instrumentos podem ser de grande va-
lia, para os pais e professores, na identificação de necessidades
educacionais especiais, que precisam ser atendidas, no contexto
escolar.

Dificilmente um aluno vai apresentar todos os indicadores conti-


dos num determinado inventário, mas com freqüência, vários aspec-
tos de suas características serão apontados. Além disso, dificilmen-
te um inventário conerá todos os indicadores possíveis, já que cada
um se origina de uma leitura teórica que, como já vimos anteriormen-

13
te, está sempre em processo de ampliação, englobando novas áreas
de desempenho.

Assim, é importante que tanto os pais, como os professores, ao


utilizar um inventário ou ficha, tomem seus elementos como exemplos
possíveis de traços na identificação de altas habilidades/superdotação.
Entretanto, é também importante considerar que quanto maior o nú-
mero de traços presentes em uma criança, maior a segurança que
se pode ter da presença da superdotação.

Whitmore (1985)1, publicou documento denominado “Caracterís-


ticas das crianças intelectualmente dotadas”, o qual aqui transcre-
vemos com o intuito de auxiliar o trabalho de observação de pais e
de professores, ao estudar crianças que parecem apresentar altas
habilidades. Pequenos ajustes de expressão foram efetivados na tra-
dução, para facilitar a compreensão do texto.

Lembramos, entretanto, que a superdotação pode existir em so-


mente uma área da aprendizagem acadêmica, tal como matemática,
por exemplo, ou pode ainda ser generalizada em habilidades que se
manifestam através de todo o currículo escolar (Lewis e Doorlag, 1991).

CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS GERAIS

• Muitos aprendem a ler mais cedo que as demais crianças de


sua idade, apresentando uma melhor compreensão das nuances
da linguagem... é freqüente que leiam com maior rapidez, mais
intensidade e apresentem vocabulários mais amplos.

1
Whitmore, J.R. (1985), in VA Council for Exceptional Children, Digests on the Gifted.
Digest 344. Documento de domínio público.

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• Geralmente aprendem habilidades básicas melhor, mais rapida-
mente, e com menor número de exercícios práticos.

• Freqüentemente são capazes de identificar e de interpretar dicas


não verbais, elaborando inferências que outras crianças depen-
dem do adulto para fazer.

• Têm menor aceitação de “verdades prontas”, buscando os “como”


e os “por que’s”.

• Apresentam melhor habilidade de trabalho independente, mais


cedo e por períodos de tempo mais longos que outras crian-
ças.

• Podem manter períodos de concentração e de atenção mais lon-


gos.

• Seus interesses são, freqüentemente, tanto amplamente ecléticos


como intensamente focalizados.

• Freqüentemente apresentam uma energia aparentemente inter-


minável, que às vezes conduz a um diagnóstico errôneo de “hipe-
ratividade”.

• São geralmente capazes de responder e de se relacionar bem


com pais, professores e outros adultos. Eles podem preferir a
companhia de crianças mais velhas e de adultos, ao invés da
companhia de colegas da mesma idade.

• Eles são sempre motivados a examinar aquilo que é incomum,


sendo altamente inquisitivos (fazem muitas perguntas, buscando
compreensão do fenômeno).

• Seu comportamento é freqüentemente bem organizado, direcio-


nado para um objetivo, e eficiente no que se refere a tarefas e à
solução de problemas.

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• Eles exibem uma motivação intrínseca para aprender, para des-
cobrir ou para explorar, sendo freqüentemente muito persisten-
tes. “Eu prefiro eu mesmo fazer” é uma atitude comum.

• Eles gostam de aprender coisas novas e de novas formas de fa-


zer as coisas.

• Eles apresentam capacidade de manter períodos mais longos de


atenção e de concentração, do que seus colegas.

CARACTERÍSTICAS DE APRENDIZAGEM

• Eles podem apresentar poder de observação, exibir uma percep-


ção clara do que é significativo e ser especialmente atencioso
para detalhes importantes.

• Eles podem ler com bastante independência, mostrando prefe-


rência por livros e revistas escritos para crianças mais velhas.

• Freqüentemente demonstram grande prazer na atividade intelec-


tual.

• Eles apresentam capacidades bem desenvolvidas de abstração,


de conceituação e de síntese.

• Geralmente têm um rápido insight das relações de causa e efeito.

• Freqüentemente apresentam uma atitude de questionamento e


de busca de informação pelo simples prazer de dominar o conhe-
cimento, bem como pelo seu valor instrumental.

• Freqüentemente são céticos, críticos e avaliadores. São rápidos


na identificação de inconsistências.

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• Freqüentemente, armazenam uma ampla gama de informações,
relativas a uma variedade de assuntos, as quais podem acessar
e às quais podem recorrer, rapidamente.

• Mostram uma pronta compreensão de princípios implícitos, e po-


dem, freqüentemente, fazer generalizações válidas sobre even-
tos, sobre pessoas e sobre objetos.

• Eles podem rapidamente perceber semelhanças, diferenças e


anomalias.

• Freqüentemente abordam um material complexo, dividindo-o em


seus componentes e analisando-os sistematicamente.

CARACTERÍSTICAS DE PENSAMENTO CRIATIVO

• São pensadores fluentes, capazes de produzir uma grande quan-


tidade de possibilidades, de conseqüências, ou de idéias correla-
cionadas.

• São pensadores flexíveis, capazes de usar muitas alternativas e


abordagens diferentes para a solução de um problema.

• São pensadores originais, buscando associações e combina-


ções novas, incomuns ou não convencionais, entre itens de in-
formação. Eles também apresentam a habilidade de perceber
relações entre objetos, idéias ou fatos aparentemente não re-
lacionados.

• São pensadores elaborativos, produzindo novos passos, idéias,


respostas, ou outros embellishments perante uma idéia, uma si-
tuação, ou um problema básicos.

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• Mostram desejo de se entreter com assuntos complexos, pare-
cendo vibrar em situações que envolvem problemas a serem so-
lucionados.

• São bons “adivinhos”, podendo, rapidamente, construir hipóteses


ou questões do tipo “como seria, se...”.

• Freqüentemente têm consciência de sua própria impulsividade e da


irracionalidade em si próprios, mostrando sensibilidade emocional.

• Apresentam um alto nível de curiosidade sobre objetos, idéias,


situações ou eventos.

• Freqüentemente mostram uma prontidão para o exercício inte-


lectual, para fantasiar e para imaginar.

• Podem ser menos inibidos intelectualmente que seus colegas, ao


expressar opiniões e idéias, bem como freqüentemente exibem
uma discordância espirituosa.

• Têm sensibilidade para a beleza e são atraídos para as dimen-


sões estéticas de um fenômeno.

As características descritas anteriormente podem se manifestar


de forma construtiva, favorecendo a aprendizagem e boas relações
interpessoais, como podem se manifestar de forma dificultadora, de-
terminando relações interpessoais difíceis e dolorosas. Neste caso,
pode ocorrer intolerância, ridicularização e falta de compreensão por
parte dos colegas, bem como o aluno ser considerado estranho ou
“anormal” pelos professores. Geralmente, tal situação pode se en-
caminhar para a rejeição da criança, seu isolamento e conseqüente
exclusão do grupo social ao qual pertence.

Assim, o pensamento crítico, por exemplo, tão importante para o


processo de aprendizagem e de desenvolvimento da criança, pode
se manifestar através de:

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• Uma tendência a discordar verbalmente das outras pessoas, in-
clusive dos professores, quanto a suas idéias ou valores.

• Uma tendência a dominar os colegas e as pessoas, de maneira


geral.

• Ser auto-crítico, crítico dos outros, dos professores, mostrando


impaciência com falhas.

O alto grau de motivação, igualmente, pode determinar:

• Recusa da aceitação de autoridade.

• Inconformismo, teimosia exagerada.

• Dificuldade em largar a atividade na qual está interessada, e pas-


sar para um próximo tópico, por exigência do professor ou do
adulto responsável.

• Tendência a dominar as demais pessoas.

• Discordar, freqüentemente, das demais pessoas, inclusive dos


professores.

Por outro lado, a criatividade pode também se manifestar de for-


ma negativa, através de:

• Desinteresse por tarefas rotineiras.

• Impaciência ao ter que esperar que os demais alunos do grupo


terminem suas atividades.

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• Recusa a fazer tarefas que não representam um desafio.

• Apresentação de piadinhas e de ironia para criticar as demais


pessoas.

• Ser percebido, pelos colegas, como uma pessoa exibida.

• Ser percebido como teimoso, voluntarioso, não cooperativo e apre-


sentar desinteresse por detalhes.

• Apresentação de trabalhos e cadernos desorganizados e sujos.

No aspecto afetivo-emocional, também pode manifestar:

• Hipersensibilidade emocional, enraivecendo-se facilmente, apre-


sentando reações emocionais exacerbadas para as situações,
ou chorando se as coisas não saírem como desejam.

• Vulnerabilidade e fortes reações emocionais a críticas.

• Recusa a participar de atividades nas quais não se sobressaia,


limitando, assim, suas possíveis experiências com atividades agra-
dáveis e fisicamente construtivas.

Tanto os pais, como os professores, precisam primeiramente pro-


curar identificar as características presentes na criança, para então
buscar as formas de poder ajudá-la a utilizar suas habilidades e com-
petências, com vistas ao benefício de sua aprendizagem e desenvol-
vimento geral nos aspectos físicos, cognitivos, intuitivos, afetivos e
sociais.

Os alunos com altas habilidades/superdotação nem sempre apre-


sentam as mesmas habilidades e aptidões, nem todos tem o mesmo

20
potencial e não necessitam apresentar todo o conjunto de caracte-
rísticas descritas. Observa-se com freqüência um conjunto de indi-
cadores, em componentes combinados de algumas características
(comportamentais, aprendizagem, criatividade entre outros).

Entre os tipos de altas habilidades/superdotação, apontam-se tra-


dicionalmente: o tipo intelectual, que apresenta flexibilidade, inde-
pendência, fluência de pensamento, produção intelectual, julgamen-
to crítico e habilidade para resolver problemas; o tipo social, que
revela capacidade de liderança, sensibilidade interpessoal, atitude
cooperativa, sociabilidade expressiva, poder de persuasão, influência
no grupo; o tipo acadêmico, com capacidade de atenção, concentra-
ção, memória, interesse e motivação pelas tarefas e capacidade de
produção; o tipo criativo, com capacidade de encontrar soluções di-
ferentes e inovadoras, facilidades de auto-expressão, fluência, origi-
nalidade e flexibilidade; o tipo psicomotorcinestésico, que se desta-
ca por sua habilidade e interesse por atividades físicas e psicomotoras,
agilidade, força e resistência, controle e coordenação motoras; final-
mente, o tipo talentos especiais, que revelam destaque em artes plás-
ticas, musicais, literárias e dramáticas, revelando especial e alto de-
sempenho (conceituação adotada pelo MEC/SEESP, 1995).

21
Identificando necessidades
educacionais especiais

Primeiramente, há que se retomar aqui a lembrança de que cada


indivíduo é peculiar em suas características e em suas expressões.
Assim, embora hajam aquelas que são compartilhadas por grande
parte das crianças dotadas de altas habilidades/superdotação, exis-
tem outras características, a serem estudadas individualmente e co-
nhecidas em suas peculiaridades e especificidades.

Assim, é de extrema importância que não se coloquem rótulos gené-


ricos, nem se teçam conclusões guiadas categorialmente, mas sim, que
a família e a escola se unam, para avaliar, individual e cuidadosamente,
a cada criança, na busca de identificação de sua expressão no proces-
so de aprendizagem, bem como das necessidades educacionais que
apresenta: tanto as comuns, como as possivelmente especiais.

Pais, professores e profissionais de áreas especializadas devem


trabalhar cooperativamente, no processo de avaliação compreensiva
da criança que apresenta sinais de altas habilidades/superdotação,
já que o objetivo principal de uma avaliação é identificar o conjunto
de necessidades educacionais da criança, como elemento de es-
sencial importância para a elaboração do planejamento do ensino.

Assim, psicólogos podem dar sua contribuição através da aplica-


ção de testes padronizados comuns, que permitem a identificação
dos níveis, estilos e perfis das diversas áreas que compõem a pro-
dução cognitiva do aluno.

Já os pais podem contribuir com dados obtidos através de obser-


vação das expressões e potencialidades da criança no ambiente do-
méstico e social.

22
Os professores e demais educadores envolvidos, por sua vez, tam-
bém contribuem com dados levantados através da observação do
processo de aprendizagem do aluno, de sua participação nas ativida-
des da sala de aula, bem como nas diferentes atividades do cotidiano
escolar. Existem inventários e outros instrumentos norteadores da
observação, que podem facilitar a tarefa do professor.

A síntese dessas informações permite a identificação pontual das


habilidades e competências apresentadas pelo aluno, bem como si-
naliza suas necessidades, na direção do que é necessário para a utili-
zação do máximo de seu potencial, de forma construtiva e enriquecedora
para seu desenvolvimento, para sua aprendizagem e sua formação
enquanto pessoa e ser social.

Elaborando plano individualizado/


relatório de ensino

Após a realização de um estudo de caso, pela equipe de apoio


pedagógico2, faz-se necessário que se elabore o plano individualiza-
do/relatório de ensino, que poderá orientar os professores para algu-
mas particularidades da aprendizagem dos alunos identificados. O

2
A equipe de apoio pedagógico é um grupo de pessoas que sugerimos seja formal-
mente constituído no nível da administração educacional (secretaria municipal / esta-
dual), com a participação da equipe técnica. do professor do ensino regular, o educador
especial e a família, tendo como tarefas: realizar estudo de caso, identificar necessida-
des educacionais especiais, indicar as adaptações de grande e de pequeno porte ne-
cessárias para atender a tais necessidades, orientar o professor quanto a acessibilida-
de, objetivos educacionais, conteúdo, método e estratégias de avaliação a serem
adotadas na rotina escolar, manter registro desse processo, em prontuário, e fazer o
acompanhamento regular do caso.

23
referido relatório é encaminhado aos professores para a otimização
das ações pedagógicas a serem desenvolvidas.

O PLANO INDIVIDUALIZADO/RELATÓRIO DE ENSINO


DEVE CONTER:

1. Uma caracterização pormenorizada das características do alu-


no, em seu processo de aprendizagem;

2. A descrição e caracterização do conjunto de suas necessida-


des educacionais especiais;

3. A explicitação das adaptações de grande e de pequeno porte


(de acesso ao currículo, de objetivos educacionais, de con-
teúdo, de método e avaliativas), que se mostram necessárias
para atender às necessidades educacionais especiais iden-
tificadas;

4. A explicitação clara e objetiva das metas.

Em geral as atividades de acompanhamento pedagógico do alu-


no com altas habilidades/superdotação são desenvolvidas em salas
de recursos que realizam o atendimento pedagógico complementar.
Nessas salas professores especializados efetivam atividades de en-
riquecimento e aprofundamento nas diversas áreas em que se mani-
festa a superdotação, bem como oportunizam momentos de desen-
volvimento global e de harmonização dos aspectos dificultadores de
seus potenciais.

As atividades a serem desenvolvidas são centradas em interes-


ses pessoais e se baseiam em propostas metodológicas de várias
correntes da educação e psicologia, bem como em contribuições de
pesquisadores das áreas citadas. O aluno participa de momentos de

24
interação grupal, de atividades de organização de trabalhos intelec-
tuais e de elaboração de propostas pessoais acerca de um campo
de interesse pesquisável (projetos de pesquisa).

Respondendo a necessidades
educacionais especiais de alunos com
altas habilidades/superdotação

Para responder às necessidades educacionais especiais das cri-


anças com altas habilidades/superdotação, é importante que família
e escola trabalhem cooperativamente, compartilhando esforços e in-
formações.

RECOMENDAÇÕES AOS PAIS

É importante que os pais entendam que a superdotação pode


ocorrer em uma ou algumas das diferentes áreas de competência,
como por exemplo, memória, raciocínio lógico, raciocínio abstrato,
administração da vida prática, capacidade de informação, capacida-
de de liderança, capacidade de comunicação verbal, etc.

É importante, também, que entendam que o fato de seu filho, ou


filha, apresentar uma característica atípica em alguma(s) dessas fun-
ções não significa que assim também o seja em todas as demais
áreas de seu desenvolvimento. Por outro lado, o fato de ter altas
habilidades em várias áreas não garante maturidade na área pessoal
e/ou social.

25
O reconhecimento da presença de altas habilidades e sua esti-
mulação são fatores essenciais para o bom desenvolvimento geral
da criança. Assim, recomenda-se que os pais ofereçam alternativas
estimuladoras às crianças, levando-os a museus, feiras científicas,
exibições artísticas e permitindo que elas se expressem a respeito.

É interessante que forneçam sempre, à criança, estimulação vi-


sual, auditiva, verbal e cinestésica, bem como um ambiente desafia-
dor, adequado para a idade em que seu filho se encontra. Dentre os
brinquedos oferecidos à criança, por exemplo, dar preferência aos
que possam ser usados para uma variedade de atividades, ao invés
de objetos monofuncionais.

É importante que a família incentive a associação da criança de


altas habilidades/superdotação com pessoas que tenham interesses
e aptidões semelhantes.

Por outro lado, é importante também, que se pratique com a cri-


ança, o exercício da empatia, da compreensão, da diversidade, do
respeito pelas características individuais das pessoas e das rela-
ções saudáveis entre as diferenças pessoais.

À medida que a criança cresce e vai avançando em seu desenvol-


vimento, é interessante que a família participe de suas análises de
alternativas profissionais, bem como das atividades ocupacionais que
melhor se adequem as competências e habilidades diferenciadas que
o/a jovem apresenta.

Grande parte das famílias brasileiras não tem informação sobre a


superdotação, além de ter limitada possibilidade de oferecer à crian-
ça com altas habilidades a estimulação de que ela necessita. A es-
cola e o professor podem em muito auxiliar, informando e orientando
à família quanto aos procedimentos possíveis na realidade de seu
cotidiano.

26
RECOMENDAÇÕES AOS GESTORES DA EDUCAÇÃO

Os gestores da Educação têm papel de primordial importância, já


que é a eles que compete a decisão política de construir um sistema
educacional que seja respeitoso e responsivo às necessidades edu-
cacionais especiais dos alunos com altas habilidades/superdotação.

É aos gestores, também, que compete elaborar o planejamento


estratégico que lhes permitirá implementar, no ritmo e na intensida-
de possíveis, o preparo dos professores e dos demais profissionais
da Educação, bem como as adaptações curriculares que se mostra-
rem necessárias.

A escola inclusiva não será implementada somente com a inser-


ção de alunos portadores de necessidades educacionais especiais
em salas do ensino regular. Há que se garantir a acessibilidade, que
se adquirir os instrumentos, equipamentos e materiais necessários
para o ensino, que se preparar os professores, que se estabelecer os
critérios e normas do funcionamento inclusivo, tarefas que não são da
competência, nem da possibilidade de ação do professor.

Assim, é essencial que os gestores da Educação assumam sua


parte da responsabilidade nesse processo, executando as ações que
são anteriores às ações dos professores, cujo âmbito de ação e com-
petência profissional se prioriza ao contexto da sala de aula.

RECOMENDAÇÕES AOS PROFESSORES

Inicialmente, é importante apontar que nenhum professor precisa


apresentar altas habilidades para ensinar alunos que as apresentam.

O que o professor precisa, primeiramente, é identificar as áreas


de alta potencialidade do aluno, observar como estas estão sendo

27
utilizadas no contexto escolar, e planejar suas atividades de ensino,
de forma a promover o crescimento de acordo com seus próprios
ritmos, possibilidades, interesses e necessidades.

O trabalho do professor na área das altas habilidades/superdota-


ção se traduz em desafios. Requer uma postura de facilitador do pro-
cesso de aprendizagem, uma vez que as características apresenta-
das muitas vezes superam as expectativas previstas. É importante
que esse profissional tenha flexibilidade na conduta pedagógica e nas
relações entre seus alunos, que possibilite o crescimento de talentos
e habilidades oportunizando desafios e contextos interessantes que
motivem a aprendizagem.

É essencial que o aluno com altas habilidades/superdotação se de-


senvolva em seu próprio ritmo, aproveitando ao máximo suas potencia-
lidades e competências, sem ser “subjugado” a um conteúdo curricular
que já domina, que seja estimulado a construir novos conhecimentos,
ao mesmo tempo em que conviva com parceiros da mesma faixa etária,
no contexto regular da sala de aula. Obrigar o aluno a trabalhar conteú-
dos que não lhe constituem desafios de aprendizagem é mantê-lo
desmotivado, aborrecido e livre para desenvolver padrões indesejáveis
de relacionamento e de comportamento escolar.

No dia a dia da escola em muitas situações se torna necessário ser


flexível na utilização do espaço físico, na utilização de materiais e
equipamentos, na organização e reorganização de grupos de traba-
lhos, na estruturação de planejamentos e em procedimentos e pro-
cessos de avaliação.

Os objetivos da ação pedagógica juntos aos alunos com altas


habilidades/superdotação devem preparar para a autonomia e inde-
pendência, desenvolver habilidades, estimular atividades de planeja-
mento, implementar diferentes formas de pensamento e oferecer
estratégias que estimulem o posicionamento crítico e avaliativo.

28
Segundo Reynolds e Birch (1982), e Lewis e Doorlag (1991), há
seis princípios importantes que podem auxiliar o professor a oferecer
experiências educacionais apropriadas para esse grupo de alunos,
no contexto da sala inclusiva:

1. Estimular a independência de estudo do aluno, ensinando-o a


ser “eficiente e efetivo” nessa tarefa. Assim, é interessante que
o professor estimule o aluno a ler, a pesquisar, a buscar novas
informações em material extra-classe, de forma que ele apren-
da a estudar pesquisando. Desta forma, o aluno não precisa
ficar “amarrado” ao conteúdo regular do plano de ensino da
série ou nível em que se encontra (por ele, muitas vezes, já
dominado), andando em seu próprio ritmo, ao mesmo tempo
em que se evitam problemas na interação com colegas e mes-
mo com o professor.

2. Estimular que os alunos utilizem processos cognitivos comple-


xos, tais como o pensamento criativo, a análise crítica, análises
de prós e contras, etc... Esse tipo de atividade permite ao aluno
exercitar suas competências de forma construtiva e favorece-
dora de um desenvolvimento dentro de seu próprio ritmo.

3. Estimular os alunos a discutirem amplamente sobre questões,


fatos, idéias, aprofundando gradativamente o nível de comple-
xidade da análise, até culminar em um processo de tomada de
decisão e de comunicação com os demais acerca de planos, rela-
tórios e soluções esperadas a partir das decisões tomadas. Este
procedimento não só estimula as operações de análise (reflexão
sobre os múltiplos componentes da realidade enfocada, a identifi-
cação de possibilidades alternativas para a solução de proble-
mas) e de síntese, como também a organização do pensamento,
o raciocínio lógico, o planejamento de ações, a avaliação de pos-

29
síveis conseqüências e efeitos das ações planejadas, a comuni-
cação social das idéias, dentre outras competências.

4. Estabelecer as habilidades de comunicação interpessoal ne-


cessárias para que os alunos trabalhem tranqüilamente com
parceiros de diferentes faixas etárias, e de todos os níveis do
desenvolvimento cognitivo. O fato de ter altas habilidades, sejam
elas as competências que forem, pode tornar-se impeditivo para
a convivência entre pares, razão pela qual é de grande impor-
tância que a interação e a comunicação interpessoal constitu-
am objetivos de ensino, de igual importância aos demais con-
teúdos curriculares.

5. Estimular o desenvolvimento do respeito pelos demais seres


humanos, independentemente de suas características, talen-
tos e competências. A criança portadora de altas habilidades
pode se tornar alguém impaciente com pessoas que funcionam
em nível ou ritmo diferente do seu, ou desenvolver um padrão
de a elas desqualificar. Isto é prejudicial para seu desenvolvi-
mento pessoal e social, podendo ter conseqüências destruti-
vas para seu próprio processo de aprendizagem, bem como
para a sociedade. Assim, tratar do desenvolvimento e da práti-
ca do respeito humano enquanto conteúdo curricular é de im-
portância e relevância educacional e social.

6. Desenvolver expectativas positivas do aluno quanto a escolhas


profissionais que possam otimizar o uso de seus talentos e com-
petências. (p. 396).

Lewis e Doorlag (1991) abordam especificamente a questão da


criatividade, a qual “pode também ser conceituada como a habilida-
de de gerar soluções novas para problemas específicos” (p. 397).

30
Assim, um dos componentes da criatividade é o pensamento di-
vergente, competência envolvida para a sugestão de várias soluções
para um problema. Os autores acima citados apontam que segundo
Silverman (1988), há quatro fatores que são importantes para o exer-
cício do pensamento divergente: a fluência, a flexibilidade, a origina-
lidade e a elaboração. Segundo Silverman (1988, p. 276):

• A fluência é a habilidade de gerar muitas respostas.

• A flexibilidade é a habilidade de mudar a forma, mudar a infor-


mação, ou mudar a perspectiva do olhar para a realidade foca-
lizada.

• A originalidade é a habilidade de gerar respostas novas.

• A elaboração é a habilidade de cercar uma idéia com detalhes.

Para estimular o desenvolvimento e a utilização do pensamento


criativo, o autor sugere que o professor use de estratégias tais como:

• Atividades do tipo “tempestade de idéias”, ou seja, estimular que


o grupo apresente muitas possíveis soluções para o problema.

• Estimular cada aluno a apresentar o maior número possível de


possibilidades, de forma a desenvolver sua flexibilidade inte-
lectual.

• Ensinar habilidades de debate, encorajando os alunos a discuti-


rem sobre assuntos de sua própria escolha.

• Estimular que cada aluno defenda o ponto de vista do professor,


o ponto de vista de outros colegas, o ponto de vista dos pais,
etc...

31
• Estimular que os alunos tomem a iniciativa de apresentar proje-
tos, incentivando e apoiando seu desenvolvimento e realização.

• Estimular que cada aluno apresente sugestões inéditas de possí-


veis soluções para os problemas.

• Fazer sessões de “idéias malucas”, onde somente noções inco-


muns podem ser discutidas.

• Estimular os alunos a escreverem “scripts” para programas de


rádio e de TV, e a participarem dos referidos programas.

• Estimular, também, que cada aluno amplie cada vez mais o deta-
lhamento das soluções que tenha proposto.

• Estimular que alunos que apresentam altas habilidades em mate-


mática, por exemplo, criem quebra-cabeças, e outros instrumen-
tos que exijam o raciocínio.

Outro componente ligado ao pensamento divergente é a capaci-


dade de resolução de problemas. Resolver problemas é uma habili-
dade que se manifesta não só na sala de aula, com conteúdos aca-
dêmicos, mas também nas diferentes situações do cotidiano.

A resolução de problemas envolve operações mentais distintas,


tais como cognição, memória, produção divergente, produção conver-
gente e avaliação. É importante que o professor estimule, nos alunos,
de maneira geral, o exercício dessas operações, nas atividades do
cotidiano da sala de aula.

Algumas alternativas pedagógicas são facilitadoras para a docên-


cia e se tornam muito estimulantes para o aluno com altas habilida-
des/superdotação, nas salas de recursos por meio do Projeto de Inte-
resse do Aluno.

32
Projetos de Interesse do Aluno

• Planejamento de atividades de enriquecimento a serem desen-


volvidas em paralelo com a programação normal da série da qual
se insere o aluno.

• Elaboração de atividades diferenciadas e enriquecidas.

• Estímulo à participação do aluno na elaboração de projetos de in-


vestigação ou de pesquisas de acordo com seus interesses par-
ticulares ou suas habilidades.

• Desenvolvimento de atividades culturais e científicas como Fei-


ras, Mostras e Semanas de Estudo, destinadas a apresentação
de temas desenvolvidos durante um trabalho escolar.

• Elaboração de fichas de conteúdos estimulantes, desafiadores e


curiosos para estudos independentes a todo o grupo escolar.

Administrando a diversidade em salas de


aula inclusivas

Nos textos anteriores já se falou sobre esta questão, mas acredi-


tamos que nunca é demais abordá-la!

Para que um professor possa administrar com competência seu


ensino, ele precisa primeiramente conhecer seus alunos. Sabemos

33
que é prática comum, em nossa realidade educacional, que se faça
o plano de ensino antes do início das aulas, antes de se vir a conhe-
cer os alunos.

Embora este procedimento seja praticamente obrigatório, dadas


as exigências burocráticas que cercam o trabalho do professor (pra-
zos de entrega de documentos, principalmente), não é segredo para
ninguém que ele carece de sustentação lógica, já que um plano de
ensino só faz sentido se ele for desenvolvido para alguém que se
conhece. Se não conheço o aluno que vou receber, porque planejar o
ensino? Vou ensinar para quem? Como vou ensinar? Que estratégias
pedagógicas serão mais eficazes para cada um dos alunos que ainda
nem conheço?

Entretanto, esta é a realidade de nosso cotidiano escolar. O que


recomendamos é que isto passe a ser discutido em cada comunida-
de, e que seja definitivamente modificado operacionalmente. Enquan-
to isto se procede, entretanto, sugerimos ao professor que após as
primeiras semanas de aula, à medida que vá conhecendo os pa-
drões de aprendizagem de cada aluno, comece a promover ajustes
em seu plano de ensino, de forma a poder atender ao conjunto de
necessidades que venha a perceber no conjunto de seus alunos.

Assim, ele terá um plano de ensino genérico, e planejamentos


individualizados para alunos que assim o necessitarem. O professor
deve observar atentamente as competências e habilidades de cada
aluno seu, bem como as necessidades peculiares de cada um.

Que seja criativo. Que trabalhe com cantinhos de aprendizagem,


experimente agrupamentos e re-agrupamentos de alunos, que esti-
mule que cada um se desenvolva no ritmo e direção de sua opção,
que dê suporte para o processo individual de desenvolvimento dos
alunos e garanta espaço acadêmico para que os alunos possam nele
circular à medida de sua necessidade, interesse e vontade.

34
Professor: Não tema o aluno com altas habilidades. E também
não o tolha.

Faça dele seu aliado no processo de busca de compreensão da rea-


lidade, em cada uma das linguagens científicas com a qual você estiver
com ele trabalhando (compreensão matemática da realidade, compreen-
são física da realidade, compreensão histórica da realidade, compreen-
são geográfica da realidade, compreensão biológica da realidade, etc...).

Estimule, desafie, dê suporte, vibre com ele, seja seu aliado, seu
cúmplice e seu amigo no processo de construção do conhecimento.
Só assim você estará sendo verdadeiramente profissional.

Como vê, ensinar é uma coisa só: é partir daquilo que o aluno
real traz consigo, para a sala de aula, e caminhar para a ampliação
de seu conhecimento, utilizando as vias de acesso que o aluno tiver
mais bem desenvolvidas. O processo é sempre o mesmo. O como
realizá-lo, entretanto, depende da caracterização de cada um.

35
Concluindo este bate papo...

Bem, estamos chegando ao final de nossas páginas. Esperamos


ter contribuído para que sua prática no cotidiano da sala de aula seja
responsiva às peculiaridades de todos os seus alunos, num clima de
tranqüilidade e determinação.

Mais especificamente, esperamos ter contribuído com informa-


ções sobre os alunos portadores de altas habilidades/superdotação,
de forma a facilitar o processo de planejamento e de efetivação de
ensino de seus professores.

Um abraço e até a próxima!

36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brasil.Secretaria de Educação Especial. Política nacional de educa-


ção especial: livro 1. Brasília: MEC/SEESP, 1994.

______.Secretaria de Educação Especial. Subsídios para a organi-


zação e funcionamento de serviços de educação especial: Área
de Altas Habilidades. Brasília: MEC/SEESP, 1995.

______.Secretaria de Educação Especial. Diretrizes gerais para o


atendimento dos alunos portadores de altas habilidades, superdo-
tação e talento. Brasília: MEC/SEESP, 1996.

_______.Secretaria de Educação Especial. Programa de capacitação


de recursos humanos do ensino fundamental: superdotação e ta-
lento vols.1 e 2. Brasília: MEC/SEESP,1999.

_______.Ministério da Educação. Diretrizes nacionais para a educa-


ção especial na educação básica/Secretaria de Educação Especial
– MEC; SEESP, 2001.

Hardman, M.L., Drew, C. J., Egan, M.W., Wolf, B. (1993). Human


Exceptionality: society, school, and family. U.S.A.: Allyn and Bacon,
4.ª edição.

Lewis, R.B. & Doorlag, D.H. (1991). Teaching Special Students in the
Mainstream. New York: Macmillan Publishing Company, 3.ª edição.

Wehman, P. & Kregel, J. (1997). Functional Curriculum for Elementary,


Middle, and Secondary Age Students with Special Needs. Austin,
Texas: Pro-ed.

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