Teoria Inteligências Múltiplas

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ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO:

A INTERVENÇÃO EDUCACIONAL NA PRECOCIDADE


A PARTIR DA TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS
MÚLTIPLAS
2
Danitiele Maria Calazans Marques
Maria da Piedade Resende da Costa

ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO:

A INTERVENÇÃO EDUCACIONAL NA PRECOCIDADE


A PARTIR DA TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS
MÚLTIPLAS

3
Copyright © das autoras

Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser


reproduzida, transmitida ou arquivada desde que levados em conta os
direitos das autoras.

Danitiele Maria Calazans Marques; Maria da Piedade Resende da


Costa

Altas habilidades/superdotação: a intervenção educacional


na precocidade a partir da teoria das inteligências múltiplas.
São Carlos: Pedro & João Editores, 2018. 288p.

ISBN. 978-85-7993-572-5 [impresso]


978-85-7993-581-7 [Ebook]
1. Altas habilidades. 2. Superdotação. 3. Intervenção educacional
na precocidade. 4. Autoras. I. Título.

CDD – 370
Capa: Andersen Bianchi
Editores: Pedro Amaro de Moura Brito & João Rodrigo de Moura
Brito
Revisão linguística: Rebeca Aparecida Mega
Conselho Científico da Pedro & João Editores:
Augusto Ponzio (Bari/Itália); João Wanderley Geraldi
(Unicamp/Brasil); Nair F. Gurgel do Amaral (UNIR/Brasil); Maria
Isabel de Moura (UFSCar/Brasil); Maria da Piedade Resende da
Costa (UFSCar/Brasil); Valdemir Miotello (UFSCar/Brasil)

Pedro & João Editores


www.pedroejoaoeditores.com.br
13568-878 - São Carlos – SP
2018

4
SUMÁRIO

Apresentação 7

Prefácio 11

CAPÍTULO 1
Altas Habilidades/Superdotação: uma temática 17
desafiadora

CAPÍTULO 2
Altas Habilidades/Superdotação: as diversas 29
terminologias

CAPÍTULO 3
Características e identificação do(a) aluno(a) com 45
Altas Habilidades/Superdotação

CAPÍTULO 4
A Teoria das Inteligências Múltiplas 63

CAPÍTULO 5
Os domínios 79

CAPÍTULO 6
As Inteligências Múltiplas e as implicações 103
educacionais

5
CAPÍTULO 7
Relato de uma intervenção educacional 121
longitudinal realizada com um aluno da rede
pública de ensino

CAPÍTULO 8
O processo de aceleração na Educação Infantil 137

CAPÍTULO 9
Procedimento de identificação do alto potencial 145
numa visão multifacetada

CAPÍTULO 10
Concepção de uma professora sobre um aluno 185
com Altas Habilidades/Superdotação

CAPÍTULO 11
Concepção dos pais em relação à trajetória 207
acadêmica de um filho com Altas
Habilidades/Superdotação

CAPÍTULO 12
Considerações finais 217

Referências 223

Anexos 239

Sobre as autoras 287

6
APRESENTAÇÃO

O presente livro trata de uma das áreas da


Educação Especial que pouco tem se destacado dentre
as várias demandas do Público-Alvo da Educação
Especial (PAEE). A escolha do tema central deste livro
surgiu após duas pesquisas envolvendo um assunto
polêmico dentro das Altas Habilidades/Superdotação,
qual seja: a precocidade. Ambas – a primeira, intitulada
Reconhecimento por meio de indicadores da precocidade do
aluno na educação infantil e financiada pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e a segunda,
intitulada Aluno com Altas Habilidades/Superdotação: um
estudo longitudinal a partir da Teoria das Inteligências
Múltiplas e financiada pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) –
foram pesquisas acadêmicas desenvolvidas no âmbito
da escola pública. Surgiram da urgência e da
necessidade de expandir o conhecimento sobre este
público, com capacidades acima da média, que está fora
dos padrões educacionais e que é praticamente
invisível em uma escola capaz de estimular quem está
abaixo da média, homogeneizar quem está no padrão
médio e desestimular quem está acima do esperado.
É preciso que o sistema educacional tenha
conhecimento de que uma Educação voltada apenas
para o(a) estudante que se posiciona na média e abaixo
da média pode significar o não reconhecimento e o
desestímulo do talento daqueles(as) mais capazes e,

7
consequentemente, o não aproveitamento de suas
habilidades, evidenciando-se a omissão da premissa de
que a educação é um direito de todos(as).
Na área acadêmica também há uma grande lacuna
de pesquisas voltadas à temática das Altas
Habilidades/Superdotação especificamente sobre a
precocidade em comparação com produções que
abordam todas as outras especificidades da Educação
Especial.
A partir de reflexões sobre o tema, o presente livro
buscou tratar de alguns questionamentos mais comuns,
tais como: Será possível reconhecer alunos(as) com
Altas Habilidades/Superdotação na Educação Infantil?
Como sinalizar e identificar alunos(as) com
precocidade na Educação Infantil? Como realizar o
atendimento ao(à) aluno(a) identificado(a)
precocemente? Qual a importância da aceleração?
Como desenvolver um procedimento de identificação e
de atendimento em uma sala de recurso
multifuncional? Qual é o papel da escola no processo
de inclusão do(a) aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação? Como se dá a participação
dos pais? Qual a concepção dos professores de se ter,
na escola, um(a) aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação?
Como embasamento teórico, ressaltando a
importância de outras abordagens, nossa opção foi a de
nos aprofundarmos na teoria do psicólogo da
Universidade de Harvard (Estados Unidos), Howard
Gardner, com a intenção de não só refletir sobre e
analisar os múltiplos olhares da inteligência, mas

8
também de contemplar o entendimento dos processos
que organizam os comportamentos da pessoa com Altas
Habilidades/Superdotação em uma visão global.
Para o desenvolvimento deste livro, dividiu-se a
discussão em doze capítulos. Inicialmente, trata-se sobre o
aspecto desafiador e um panorama histórico da temática
Altas Habilidades/Superdotação, numa visada sobre as
modalidades de programas e as teorias e modelos que
fundamentam os atendimentos aos indivíduos que
apresentam Altas Habilidades/Superdotação.
Em seguida, no segundo capítulo, são apresentadas
as diversas terminologias utilizadas pelas pesquisas e
pela legislação, tendo como objetivo apontar
divergências. No terceiro capítulo, são apresentadas as
características e a identificação do(a) aluno(a) com
Altas Habilidades/Superdotação e aprofundados os
conceitos e conhecimentos desta demanda. No quarto
capítulo reflete-se, de forma detalhada, sobre a Teoria
das Inteligências Múltiplas. O quinto capítulo mostra
especificamente os domínios propostos nesta Teoria, e
o sexto capítulo analisa suas implicações educacionais.
No sétimo capítulo apresenta-se o relato de um
caso com acompanhamento longitudinal a partir da
Educação Infantil. Os capítulos seguintes – oitavo,
nono, décimo e décimo primeiro – promovem, a partir
deste estudo de caso, discussões sobre processos de
aceleração na Educação Infantil, procedimentos de
identificação do alto potencial numa visão
multifacetada, a concepção do(a) professor(a) que
possui, em sala de aula, um(a) aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação e a concepção dos pais em

9
relação à trajetória acadêmica de um(a) filho(a) nestas
condições. Por fim, nas considerações finais, são
apontadas reflexões sobre o tema tratado no presente
livro.

São Carlos, outubro de 2018.

Danitiele Maria Calazans Marques


Maria da Piedade Resende da Costa

10
PREFÁCIO

Na atualidade, não existe dúvida quanto ao


entendimento da Educação como um direito
fundamental. Assim, os sistemas de ensino em nosso
país enfrentam o desafio de garantir para além do
acesso, o pleno desenvolvimento de todos os alunos
considerando a Educação como inclusiva.
Esta perspectiva de Educação parte do pressuposto
que as escolas precisam planejar, a curto, médio e longo
prazo, ampliar suas políticas, práticas e culturas de
modo a torná-las mais inclusivas. Isto significa
considerar a diversidade humana como um princípio
inclusivo, todavia, é vital ter clareza da singularidade
de cada como direito individual como condição sine qua
non, para o processo de ensino e aprendizagem.
Neste cenário, observamos avanços tímidos no
sentido da inclusão escolar de alunos com deficiência
na classe comum. Nesta mesma perspectiva ainda nos
deparamos com essa problemática voltada para os
alunos com altas habilidades/superdotação.
Historicamente foram negligenciados por diferentes
motivos, dentre eles os mitos de autossuficiência no
desempenho de suas tarefas e, sobretudo, ausência de
políticas de identificação. Assim, muitos alunos com
altas habilidades/superdotação em diferentes áreas
ainda continuam muitas vezes na classe comum, porém

11
sem que seus talentos sejam notados e ou
potencializados nas escolas.
As autoras ávidas por contribuírem com a área da
Educação Especial nessa temática escreveram este livro
perpassando desde a problemática conceitual até o
relato de uma intervenção na educação infantil com um
aluno com altas habilidades com ênfase nas
inteligências múltiplas.
Desse esforço resulta uma contribuição valiosa
para os leitores, tantos para os acadêmicos, quanto para
pais e professores, pois as autoras explicitam de modo
claro os conceitos abordados, bem como o relato da
experiência, que poderá inspirar outros profissionais.
Cabe destacar que não é possível fechar a escola para
balanço, as pesquisas aplicadas e teóricas estão sendo
desenvolvidas com o objetivo de produzir conhecimento
sobre essa temática. Desta forma, você leitor está sendo
convidado a se deleitar nas páginas deste livro: Altas
habilidades/superdotação: a intervenção educacional na
precocidade a partir da teoria das inteligências
múltiplas, pois as autoras cuidadosamente abordam essa
temática, com referencial teórico adequado, articulam
teoria e prática e nos permitem refletir criticamente sobre
diferentes aspectos como:
Os desafios do conceito.
As características e identificação desse grupo.
A Teoria das Inteligências Múltiplas.
Os domínios.
As Inteligências Múltiplas e as implicações
educacionais.
Relato da intervenção educacional longitudinal.

12
O processo de aceleração na Educação Infantil.
Identificação do alto potencial numa visão
multifacetada.
As concepções da professora e dos pais sobre um
aluno com Altas Habilidades/Superdotação.

A riqueza deste trabalho está na preocupação das


autoras em problematizar e apontar caminhos para a
complexidade do processo de inclusão escolar do
estudante com alta/habilidade superdotação na
educação infantil.
É um livro atual e inspirador! Boa leitura a todos!

Profa Dra. Vera Lucia Messias Filho Capellini

13
14
Dedicamos este livro a todas as pessoas que
não são reconhecidas por seus talentos!

15
16
CAPÍTULO 1

ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO:
UMA TEMÁTICA DESAFIADORA

A discussão da temática Altas Habilidades/


Superdotação1 ainda é um assunto desafiador na área da
Educação Especial. Inferimos isso pois, embora a
temática da educação do(a) aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação não seja um assunto recente,
ainda hoje a maioria destes(as) alunos(as) que
apresentam características específicas acima da média é
negligenciada em seus direitos educacionais,
dificultando o desenvolvimento de suas
potencialidades.
De acordo com Pérez (2004), a história da Educação
Especial tradicionalmente sempre teve atenção voltada
mais às deficiências, e isto se revela por meio dos
inúmeros estudos que discutem, analisam e apontam
propostas de inclusão escolar destinadas apenas a
alunos(as) com deficiência.
Gama (2014) aborda que o direito à educação
diferenciada por parte de alunos(as) com Altas

1 Para se referir à pessoa com alto potencial usaremos a terminologia


“Altas Habilidades/Superdotação”. Contudo, respeitaremos as
terminologias usadas pelos(as) autores(as) nos estudos citados.

17
Habilidades/Superdotação existe no Brasil há mais de
quatro décadas, mas pouco é feito por eles(as), uma vez
que estes(as) não desenvolverão seus talentos se forem
deixados(as) à própria sorte. Para Alencar e Fleith
(2001), esta negligência ocorre devido à dificuldade de
instituições educacionais em reconhecer e identificar
este público em um determinado grupo. Os autores
ressaltam que estas dificuldades geram muitos
questionamentos, tais como: Quando começou o
entendimento de que havia pessoas com Altas
Habilidades/Superdotação no mundo? E no Brasil?
Quais são as variedades da nomenclatura e o que são as
Altas Habilidades/Superdotação? O que é precocidade
e quais são as ideias errôneas sobre a precocidade?
Quem são os(as) alunos(as) com Altas Habilidades/
Superdotação? Como identificá-los(as)? Quais são seus
direitos? Como atendê-los(as)?
Nesta perspectiva, estes questionamentos serão
refletidos no desenvolvimento do presente livro.
Inicialmente, apresentaremos o panorama histórico
sobre as Altas Habilidades/Superdotação tanto no
Brasil como no mundo.
Pérez (2004) descreve, em sua pesquisa, o
panorama histórico das Altas Habilidades/
Superdotação. De acordo com a autora, a observação da
pessoa com Altas Habilidades/Superdotação
possivelmente se iniciou no século IV a.C. Em Esparta,
meninos que apresentavam Altas Habilidades/
Superdotação em habilidades militares eram
incentivados a desenvolver as artes, a luta e a liderança.

18
Gama (2006) ressalta que a China, no século VII,
valorizava crianças e jovens talentosos(as), pois as
crianças prodígios eram enviadas para a corte, na
Dinastia Tang, para que seus talentos fossem
reconhecidos e cultivados. Segundo a autora, os chineses
conseguiam reconhecer alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação a partir de quatro princípios:
i) aceitavam o conceito de superdotação como talento
múltiplo e valorizavam as habilidades de liderança,
imaginação, leitura e escrita, memória, raciocínio e
percepção; ii) reconheciam que algumas crianças
aparentemente precoces, ao crescerem, se tornavam
adultos normais, e que outras, que não apresentavam
sinais precoces na infância, cresciam e se tornavam
notáveis, e outras, realmente precoces, apresentavam
habilidades e talentos por toda a vida; iii) reconheciam
que, mesmo as crianças mais talentosas na infância, sem
a educação apropriada as suas habilidades, não eram
desenvolvidas; e iv) identificavam a importância de que
todos os(as) jovens, independentemente das classes às
quais pertenciam, deveriam receber uma educação de
qualidade, mas enfatizavam que cada um(a) deveria
receber a educação que melhor conviesse às suas
habilidades. Com estas ações infere-se o motivo pelo
qual a China se tornou um dos países líderes em
programas de atendimentos a alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação atualmente.
Nas Filipinas, a educação de superdotados(as) e
talentosos(as), segundo Gama (2006), começou antes de
outros países da Ásia. Iniciou-se em 1966, com o
Programa de Formação de Professores para

19
Superdotados no Departamento de Educação da
Universidade das Filipinas. Esta iniciativa surgiu antes
mesmo da Educação Especial para superdotados se
tornar oficial – decretada apenas em 1987 na
Constituição do país. Nos dias atuais, o atendimento a
alunos(as) com Altas Habilidades/Superdotação
acontece em três escolas totalmente dedicadas à
educação deste público, com programas voltados à
Ciência e às Artes, além de outros programas existentes
em escolas regulares.
De acordo com Pérez (2004), a primeira escola
voltada para o(a) superdotado(a) surge em Worcester
(Estados Unidos) em 1901, e as primeiras classes
especiais surgem em 1916 em Los Angeles (Califórnia) e
Cincinnati (Ohio), depois em Urbana (Illinois), em 1919,
e em 1922 Manhattan (Nova York) e Cleveland (Ohio).
Nos Estados Unidos há uma vasta variedade de
programas de atendimentos a alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação, considerando, por exemplo,
o enriquecimento e a aceleração, salas de recursos dentro
das escolas, programas diretamente ligados às escolas
para alunos(as) superdotados(as) em diferentes áreas
(musical, artes visuais, artes cênicas, entre outras),
programas de finais de semana e programas de férias
ligados ou não a universidades (GAMA, 2006).
Na Coréia, a educação de alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação tornou-se prioridade para o
governo coreano a partir da década de 1970. Já em 1985
criou-se, no país, a primeira Escola Superior de Ciência
para Superdotado. O atendimento a alunos(as) com
Altas Habilidades/Superdotação no país é composto de

20
três tipos de ofertas: i) escolas especiais no Ensino
Médio; ii) Programas de Enriquecimento
extracurricular para alunos(as) da Educação
Fundamental e Média; e iii) competições de Matemática
e Ciências que visam encorajar a inteligência e a
criatividade (GAMA, 2006).
Diferente da realidade dos países mencionados, a
educação de alunos(as) com Altas Habilidades/
Superdotação no Brasil ainda enfrenta muitas barreiras
e limitações, pois mesmo sendo uma temática discutida
no território desde a década de 30 do século passado,
ela ainda se encontra em um processo muito lento e
repleto de lacunas.
A pioneira e responsável por trazer a temática das
Altas Habilidades/Superdotação para o Brasil foi
Helena Antipoff. De acordo com Alencar (2007),

o interesse em organizar programas educacionais para o


superdotado teve início em nosso país em o trabalho da
professora Helena Antipoff, que veio para o Brasil em 1929
e que, desde os seus primeiros anos aqui, chamou a
atenção para o aluno que se destaca por suas
potencialidades superiores, a quem preferia chamar de
bem-dotados. Esta educadora publicou vários estudos
como “Primeiros Casos de Supernormais”, em 1938,
“Campanha da Pestalozzi em Prol do Bem-Dotado”, em
1942, e “A Criança Bem-Dotada” em 1946, estudos estes
reunidos recentemente no livro organizado por Daniel
Antipoff (1992). O seu trabalho na área teve início em 1945
no Instituto Pestalozzi do Brasil, no Rio de Janeiro, através
de reuniões com pequenos grupos de alunos com um
potencial superior para realizar, com eles, estudos sobre
literatura, teatro, música. Alguns anos depois, a professora

21
Helena Antipoff deu início, na Fazenda do Rosário, no
município de Ibirité, em Minas Gerais, a um programa de
atendimento ao aluno bem-dotado do meio rural e da
periferia urbana, sob a coordenação do professor Daniel
Antipoff (ALENCAR, 2007, p. 87).

Para Delou (2007), a influência de Helena Antipoff foi


fundamental para o reconhecimento de políticas públicas
em favor da educação de alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação. Como consequência, o
resultado foi a Lei 4.024/1961, popularmente conhecida
como Lei de Diretrizes e Bases, em que os artigos 88 e 89
são direcionados ao tratamento de alunos(as)
“excepcionais” (BRASIL, 1961) – termo usado por Helena
Antipoff para se referir tanto ao(à) aluno(a) com
deficiência intelectual quanto ao(à) aluno(a)
superdotado(a).
Anos depois, em 1971, a Lei 5.691/1971,2 em
detrimento das diretrizes de bases para o ensino de 1 o e
2o graus ressalta, no seu artigo 9o, a necessidade de um
atendimento especial, não apenas a alunos(as) com
deficiência física e mental, mas também àqueles(as) que
apresentam uma habilidade superior (ALENCAR;
FLEITH, 2001).
No mesmo ano ocorreu, também, o Primeiro
Seminário sobre Superdotados no país, tendo como
principal público educadores(as) interessados(as) no
tema. Neste evento foram discutidas várias propostas
para o crescimento da temática no país, dentre elas:
 um diagnóstico precoce do(a) superdotado(a);

2 Cf. Brasil (1971).

22
 a organização de um sistema de educação para o(a)
superdotado(a);
 a preparação de pessoas especializadas para
atender adequadamente as necessidades deste
grupo; e
 a adoção de um conceito operativo de
“superdotado(a)” (ALENCAR; FLEITH, 2001, p.
169).
Mesmo com algumas ações voltadas à educação de
alunos(as) com Altas Habilidades/Superdotação, o
progresso de identificação e atendimento a este público
ainda era muito lento. Apenas em 1975 foi criado, em
Brasília, um Núcleo de Apoio à Aprendizagem do
Superdotado (NAS), que tinha como objetivo
desenvolver um atendimento específico a alunos(as)
superdotados(as) ou talentosos(as) no ensino de 1o
grau, como se denominava na época (GAMA, 2006).
Já em 1978, Gama (2006) ressalta a importância da
criação da Associação Brasileira de Superdotação
(ABSD), com sede no Rio de Janeiro e filiais em outros
estados, tendo como principais propósitos:

(i) colaborar com instituições públicas e particulares; (ii)


congregar indivíduos e instituições interessados no
assunto para estabelecer trocas de conhecimento e
experiências, e (iii) promover encontros, seminários e
pesquisas, receber e alocar contribuições (GAMA, 2006,
p. 24).

Somente 15 anos após a criação da ABSD surgiria um


Programa que iria alavancar a identificação e o
atendimento do(a) aluno(a) com Altas

23
Habilidades/Superdotação. Assim, em 1993, surge o Centro
para Desenvolvimento do Potencial e Talento (Cedet),
denominado como um centro de Educação Especial e
idealizado por uma educadora, Dra. Zenita Guenther, em
Lavras-MG. Este centro tem como principal objetivo
construir um ambiente de complementação e
suplementação educacional de apoio a alunos(as)
dotados(as) e talentosos(as) matriculados(as) em diferentes
escolas e níveis de ensino nos sistemas público e privado.
Se refletirmos sobre as ações voltadas à educação
de alunos(as) com Altas Habilidades/Superdotação em
comparação com a extensão territorial do nosso país,
perceberemos a lacuna que existe e notaremos como é
insuficiente agregar todas as particularidades das
instituições voltadas ao atendimento. Com o intuito de
amenizar esta precariedade é fundado, em 29 de março
de 2003, em Brasília, o Conselho Brasileiro de
Superdotação (ConBraSD). De acordo com Gama
(2006), este conselho surge para reunir profissionais,
pesquisadores(as) e interessados(as) na pessoa com
Altas Habilidades/Superdotação brasileira.
Segundo informações publicadas no Portal3 do
ConBraSD, o conselho é regido pelos seguintes
objetivos:

• Sensibilizar a comunidade para o reconhecimento


das situações e questões relativas às pessoas com
altas habilidades/superdotação;

3 Mais informações sobre o conselho podem ser encontradas no


seguinte endereço: <http://conbrasd.org/wp/>.

24
• Colaborar com as entidades públicas e privadas
incumbidas de formular e promover políticas
públicas para as pessoas com altas
habilidades/superdotação;
• Congregar pessoas físicas e jurídicas, interessadas na
área das altas habilidades/superdotação a fim de
estabelecer intercâmbio de conhecimentos e
experiências, coordenando seus esforços, estudos e
ações;
• Incentivar o intercâmbio e a cooperação entre
profissionais e entidades públicas e privadas,
nacionais e internacionais, que se ocupem das
questões relativas às pessoas com altas
habilidades/superdotação;
• Promover congressos, seminários, simpósios,
encontros, conferências, palestras, cursos e outras
atividades similares concernentes à finalidade do
CONBRASD;
• Estimular a realização de estudos e pesquisas sobre
temas referentes às altas habilidades/superdotação;
• Incentivar a formação e o aperfeiçoamento de
recursos humanos destinados à educação, pesquisa,
identificação e atendimento de pessoas com altas
habilidades/superdotação e seus familiares;
• Fomentar a criação de uma Central de Dados e
Informações sobre altas habilidades/superdotação,
bem como a sua circulação;
• Criar, manter e veicular publicações relacionadas a
temas de interesse do CONBRASD;
• Solicitar, receber e aplicar quaisquer contribuições,
doações, legados, subvenções e recursos financeiros
provenientes de pessoas físicas e de entidades
públicas ou privadas, nacionais ou internacionais,
para a realização das finalidades do CONBRASD; e

25
• Desenvolver outras atividades referentes à
consecução da finalidade do CONBRASD
(CONBRASD.ORG, 2018b).

A educação de alunos(as) com Altas


Habilidades/Superdotação foi se fortalecendo à medida
que o sistema público dava abertura para se discutir o
assunto. Desta forma, em 2005, por meio da extinta
Secretaria de Educação Especial (Seesp) do Ministério
da Educação (MEC), foram implantados os Núcleos de
Atividades de Altas Habilidades/Superdotação
(NAAH/S) em parceria com todas as Secretarias de
Educação das unidades da federação Para esta
implementação foi disponibilizado, para todas as
instituições envolvidas, o “Documento Orientador de
Execução da Ação” que destaca como principal objetivo

promover a identificação, o atendimento e o


desenvolvimento dos alunos com Altas
Habilidades/Superdotação das escolas públicas de
educação básica, possibilitando sua inserção efetiva no
ensino regular e disseminando conhecimentos sobre o
tema nos sistemas educacionais, nas comunidades
escolares, nas famílias em todos os Estados e no Distrito
Federal (BRASIL, 2006, p. 15).

Estes núcleos se constituem em três importantes


vertentes de atendimento: ao(à) aluno(a), ao(à)
professor(a) e à família. Foram implantados 27 núcleos
em todo o Brasil, com a intenção de haver, em cada
estado do país, um espaço com grande potencial não
apenas para o atendimento, mas também para a

26
conformação de um polo de construção de
conhecimento tendo, como interface, a inclusão
destes(as) alunos(as) no ensino básico e nas
universidades (MOREIRA; LIMA, 2012).
Diante destes contextos educacionais implantados
do Brasil durante as décadas mencionadas, verificou-se
que muitos foram os avanços para o reconhecimento
do(a) aluno(a) com Altas Habilidades/Superdotação.
Contudo, ainda existe uma vasta limitação, que impede
que este(a) aluno(a) seja identificado(a) e atendido(a).
Estas dificuldades se refletem de forma clara nos
resultados do Censo Escolar de 2015.4
Apesar de as pesquisas apontarem que existe uma
estimativa de mais de 2,5 milhões de alunos(as) com
Altas Habilidades/Superdotação matriculados(as) na
Educação Básica, alguns estudos – dentre eles os de
Pérez (2012) e de Farias e Wechler (2014) – indicam, a
partir do Censo anterior, que pouco mais de 14.000
matrículas foram declaradas.
Pérez (2012) ressalta que uma das principais
dificuldades na identificação do(a) aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação está entre gestores(as)
educacionais e professores(as) que cada vez mais se
defrontam com o(a) aluno(a) diferente e que, na
maioria das vezes, não sabem como nomeá-lo(a) e nem
identificar suas características. Nesta perspectiva,
entende-se a importância de se discutir e refletir sobre
uma fatia das diversas terminologias adotadas para
designar este público.

4 Cf. Inep (2015).

27
28
CAPÍTULO 2

ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO:
AS DIVERSAS TERMINOLOGIAS

De acordo com Sabatella (2008), indicar uma


terminologia para a pessoa com alto potencial ao longo
dos anos tem sido fonte de muitas polêmicas, impedindo
uma uniformidade entre autores(as) e especialistas. O
uso destas diversas terminologias vem deflagrando
dúvidas e interpretações inadequadas que confundem,
especialmente, educadores(as) que conhecem pouco
acerca da temática, contribuindo para ampliar ainda
mais as barreiras que impedem esse alunado de receber
o devido reconhecimento educacional.
Pessoas com alto potencial, na maioria das vezes,
receberam outras denominações na tentativa de que
fosse encontrada uma terminologia mais “aceitável”
para a família e para a sociedade. Porém, alguns dos
termos descrevem apenas e em parte, as características
da pessoa com Altas Habilidades/Superdotação, e
muitas vezes são empregados de maneira equivocada,
levando a interpretações completamente diferentes
(SABATELLA, 2008).
Pérez (2012) listou uma diversidade de terminologias
encontradas na literatura, tais como: altamente capaz;
alto(a) habilidoso(a); bem-dotado(a); brilhante; dotado(a);
altas habilidades; genialidade; superdotado(a);

29
talentoso(a) e precoce. Também existem os termos
discriminatórios e, muitas vezes, preconceituosos, tais
como nerd, sabichão, cdf e assim por diante.
Para demostrar a utilização dos termos nas
produções acadêmicas do país consultou-se o banco de
dados da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e
Dissertações (BDTD), no intuito de levantar produções
bibliográficas do período de 2005 a 2015 sobre pesquisas
que tivessem, nas palavras-chave ou no título, alguns dos
seguintes termos: altas habilidades/superdotação; altas
habilidades; dotação e talento; altas habilidades ou
superdotação; precocidade e superdotado.
Foram encontradas 64 pesquisas, sendo 15 teses de
doutorado e 49 dissertações de mestrado, defendidas
no período citado e relacionadas ao tema, descartando-
se trabalhos repetidos e alguns que não pertenciam à
área. Os resultados estão sintetizados na Tabela 1.

Tabela 1 Número de teses e dissertações defendidas no período


2005–2015, de acordo com as diversas terminologias.
TERMINOLOGIAS TESES DISSERTAÇÕES TOTAL
Altas
10 33 43
habilidades/superdotação
Altas habilidades 1 8 9
Dotação e talento 2 2 4
Altas habilidades ou
0 1 1
superdotação
Precocidade 0 3 3
Superdotado 2 3 5
Total 15 49 64
Fonte: elaboração própria.

30
Observa-se, na referida Tabela, que a produção
brasileira sobre o tema é bastante reduzida, apesar de
ter crescido a discussão sobre a temática nas últimas
décadas.
Em relação às terminologias pesquisadas, o termo
“altas habilidades/superdotação” apresentou um maior
número de produções acadêmicas, com um resultado
de 33 dissertações e 10 teses, somando 43 trabalhos. Já o
termo “altas habilidades ou superdotação” consta
apenas em uma dissertação; o termo “altas habilidades”
figurou resultados em oito dissertações e uma tese; o
termo “precocidade” contabilizou três dissertações; e,
por fim, o termo “superdotado” apresentou um total de
cinco produções acadêmicas, sendo duas teses e três
dissertações.
Diante dos resultados pode-se questionar o
seguinte: Qual a diferença entre os termos com a
indicação de uma barra (/) e com o emprego da
conjunção “ou”? Este questionamento vem trazendo
muitos desencontros terminológicos, principalmente
nos documentos legais.
Neste entorno, Rangni (2012) apresenta uma síntese
das principais legislações, no âmbito federal,
pertinentes à Educação Especial, apontando as
terminologias empregadas para definir o(a) aluno(a)
com capacidade acima da média, como pode ser visto
no Quadro 1.

31
Quadro 1 Definições e termos em documentos oficiais.
DOCUMENTO DEFINIÇÃO ANO
Lei de Diretrizes e Não há definição.
Bases Nomenclatura empregada: 1971
(Lei no 5.692) superdotados
Não há definição.
Declaração de
Nomenclatura empregada: super- 1994
Salamanca
dotados
“Notável desempenho e elevada
potencialidade em qualquer dos
seguintes aspectos isolados ou
combinados: capacidade intelectual
Política Nacional geral; aptidão acadêmica específica;
de pensamento criativo ou produtivo; 1994
Educação Especial capacidade de liderança; talento
especial para artes e capacidade
psicomotora” (BRASIL, 1994, p. 13).
Nomenclatura empregada: altas
habilidades
No artigo 59, II, os superdotados
são mencionados
da seguinte forma: “[...]
terminalidade específica para
aqueles que não puderem atingir o
Lei de Diretrizes e
nível exigido para
Bases
a conclusão do ensino fundamental,
da Educação 1996
em virtude de suas deficiências, e
Nacional
aceleração para concluir em menor
(Lei no 9.394)
tempo o programa escolar para os
superdotados”.
Não há definição específica.
Nomenclatura empregada:
superdotados
Diretrizes No artigo 5o, inciso III, tem-se: “[...]
Nacionais Grande facilidade de aprendizagem
2001
da Educação que os leve a dominar rapidamente
Especial na conceitos, procedimentos e

32
Educação Básica atitudes” (BRASIL, 2001).
Nomenclatura empregada: altas
habilidades/superdotação
“Alunos com altas
habilidades/superdotação
demonstram potencial elevado em
qualquer uma das seguintes áreas,
Política Nacional isoladas ou combinadas: intelectual,
de Educação acadêmica, liderança,
Especial psicomotricidade e artes, além de 2008
na perspectiva da apresentar grande criatividade,
Educação Inclusiva envolvimento na aprendizagem e
realização de tarefas em áreas de
seu interesse” (BRASIL, 2008, p. 9).
Nomenclatura empregada: altas
habilidades/superdotação
Decreto no 6.571 Sem definição.
(dispõe sobre o Decreto revogado pelo Decreto
Atendimento 7.611/2011. 2008
Educacional Nomenclatura empregada: altas
Especializado) habilidades ou superdotação
“Alunos com altas
habilidades/superdotação
Resolução no 4 demonstram potencial elevado em
(Diretrizes qualquer uma das seguintes áreas,
Operacionais para isoladas ou combinadas: intelectual,
o Atendimento acadêmica, liderança,
Educacional psicomotricidade e artes, além de 2009
Especializado na apresentar grande criatividade,
Educação Básica, envolvimento na aprendizagem e
modalidade realização de tarefas em áreas de
Educação Especial) seu interesse” (BRASIL, 2004).
Nomenclatura empregada: altas
habilidades/superdotação
Decreto no 7.611
Sem definição.
(dispõe sobre a
Nomenclatura empregada: altas 2011
Educação Especial
habilidades ou superdotação
e o Atendimento

33
Educacional
Especializado)

Sem definição.
Nota Técnica no 62 Nomenclatura empregada: altas 2011
habilidades/superdotação
Sem definição.
Nota Técnica no 046 Nomenclatura empregada: altas 2013
habilidades ou superdotação
Fonte: extraído de Rangni (2012, p. 46-47) e adaptado por Marques
(2017).

Analisa-se, a partir deste Quadro, que as


formulações de diretrizes para a Educação Especial ao
longo do tempo vêm alterando o emprego das as
terminologias, fazendo com que seus conteúdos sofram
as adequações correspondentes. De acordo com
Sabatella (2008), isso pode causar não só dúvidas e
inseguranças a respeito da legitimidade das orientações
encontradas nessas diretrizes, como também a
pertinência das referências, quando se realiza uma
pesquisa, por exemplo.
Na Nota Técnica no 046, de 22 de abril de 2013,
emprega-se a nomenclatura “altas habilidades OU
superdotação”, na seguinte definição:

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva


da Educação Inclusiva – MEC/2008 conceitua a educação
especial como modalidade transversal aos níveis, etapas
e outras modalidades de ensino, de forma suplementar a
escolarização dos estudantes com altas habilidades ou
superdotação (BRASIL, 2013, p. 1, grifo nosso).

34
No entanto, o mesmo documento apresenta
discrepâncias ao citar quatro vezes o termo “altas
habilidades/superdotação”. Neste sentido, alertando
sobre estes desencontros, o ConBraSD se manifestou
disponibilizando, na página inicial de seu site, a
seguinte declaração:

[...] a Diretoria de Políticas da Educação Especial -


DPEE, esclarece que a Política Nacional da Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva constitui
Documento Referência para os Sistemas de Ensino, que
consolida a implementação da Educação Inclusiva no
país e define como público alvo: os estudantes com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
Altas Habilidades/Superdotação. Ressalta-se que a
nomenclatura utilizada neste marco político legal é
resultado das contribuições de especialistas, composto
pelo grupo de trabalho nomeado pela Portaria
Ministerial no 555, de 05 de junho de 2007
(CONBRASD.ORG, 2018a).

De acordo com Pérez (2012), o termo “altas


habilidades/superdotação” dividia os(as)
pesquisadores(as) do Brasil. Existia quem defendesse a
ideia de que o termo “superdotado” trazia uma carga
muito pesada para a pessoa, principalmente para as
crianças. Como também a ideia de “super”, que
denotava que a pessoa era boa em tudo, e isso acabava
criando ideias errôneas, dificultando até mesmo no
simples reconhecimento destes(as) alunos(as) pelo(a)
professor(a), que imagina que nunca terá um(a)
aluno(a) com este perfil na sala de aula.

35
Em 2002, o ConBraSD, ao reunir vários(as)
pesquisadores(as) da área de diversas regiões
brasileiras, chegou ao consenso de que o termo mais
adequado para definir este alunado seria Altas
Habilidades/Superdotação. Assim, as políticas públicas
educacionais, embora apresentassem muitas
discrepâncias em relação ao emprego dos termos,
acatariam às decisões de profissionais da área,
tornando-se oficial, portanto, o termo Altas
Habilidades/Superdotação (PÉREZ, 2012). Isso justifica
a escolha do presente livro, de se usar a terminologia
com a barra.
De acordo com a Política Nacional de Educação Especial
na Perspectiva da Educação Inclusiva, alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação são definidos(as) como sendo
aqueles(as)

[...] que demonstram potencial elevado em qualquer


uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas:
intelectual, acadêmica, de liderança, psicomotricidade e
artes, além de apresentar grande criatividade,
envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas
em áreas de seu interesse (BRASIL, 2008, p. 9).

Ainda como demonstrado o Quadro 1 em relação


aos termos “dotação” e “talento”, os dados apontam
um resultado de quatro pesquisas, sendo duas teses e
duas dissertações.
Guenther (2011) defende a denominação
fundamentada por Gagné (2010) sobre dotação e
talento, e esclarece que “talento” é uma designação
diferenciada, que não deve ser usada como

36
complemento ou como sinônimo de “dotação”, e que o
interior desta relação se encontra na compreensão do
termo “capacidade”. Assim, a autora descreve a
característica de cada designação:
 dotação: designa posse e uso de notável
capacidade natural, em pelo menos um domínio de
capacidade humana;
 talento: designa desempenho superior, mestria,
conhecimento aprendido e habilidades
sistematicamente desenvolvidas, implicando altos
níveis de conhecimento (ou realização) em
determinada área;
 capacidade: é compreendida como o poder de
aprender e fazer alguma coisa física ou mental,
porém, dotação refere-se a uma capacidade natural,
e talento a uma capacidade adquirida
(GUENTHER, 2011).
Quanto à nomenclatura “precocidade”, indicador
do assunto de reflexão do presente livro, trata-se de
uma temática discutida dentro da abordagem das Altas
Habilidades/Superdotação, sendo foco de estudo de
vários trabalhos, tais como os de Winner (1998), Vieira
(2005), Martins (2013), Marques (2013) e Marques,
Costa e Rangni (2014). Estes(as) autores(as) assinalam
ser um(a) aluno(a) precoce aquele(a) que apresenta
maior destaque em comparação com seus pares da
mesma idade na fase da Educação Infantil.
Ao ingressar na Educação Infantil, as habilidades
precoces tendem a sobressair em comparação ao
desenvolvimento de outros(as) alunos(as) da mesma
idade; porém, é importante ressaltar que não é tarefa

37
simples realizar, com precisão, um diagnóstico de
precocidade do(a) aluno(a) deste nível de ensino,
considerando-se que ele(a) está em fase inicial de
desenvolvimento e que pode, ainda, ser muito
estimulado(a) pela família.
Nesta perspectiva, para a identificação do(a)
aluno(a) precoce na Educação Infantil, o(a) professor(a)
deve estar atento(a) e observar se o desenvolvimento
avançado da criança, sob o ponto de vista intelectual,
configura características de precocidade ou se as
habilidades são resultados de uma estimulação intensa
por parte de pessoas significativas de seu ambiente. No
segundo caso, o(a) aluno(a) com habilidades precoces,
ao atingir a idade para o início do Ensino Fundamental,
pode ter seu desenvolvimento normalizado, passando a
apresentar um desempenho semelhante ao de crianças
de sua idade.
Independente de qual for o motivo que faça o(a)
aluno(a) apresentar capacidades elevadas, sua
diversidade demanda atendimentos educacionais
especializados. Nesta mesma vertente, Marques (2013)
assinala que

da mesma maneira que a Educação Especial atende as


necessidades educacionais do aluno identificado como
superdotado, ela deve reconhecer e proporcionar ações
pedagógicas voltadas à criança que, neste período da
educação infantil, apresenta características acima da
média, mesmo que nos anos seguintes esta fase de
precocidade se estacione e o aluno se iguale em relação
ao desenvolvimento de seus pares (MARQUES, 2013, p.
39).

38
Assim, a identificação precoce do(a) aluno(a)
atendido(a) pelos serviços da Educação Especial se
torna importante, pois possibilita a implementação de
práticas inclusivas que favorecem a ampliação de
oportunidades ao alunado.
Tratando-se do(a) aluno(a) com precocidade, a
identificação nos primeiros anos de vida proporciona: i)
situar o(a) aluno(a) em um ambiente educativo
adequado; ii) desenvolver práticas pedagógicas que
estimulem suas potencialidades; iii) proporcionar aos
pais e professores(as) melhor compreensão sobre como
ajudar seus(suas) filhos(as)-alunos(as); e iv) evitar
problemas futuros, tais como desajustamento social,
frustação e, principalmente, desprezo de seu próprio
potencial (BENITO, 2009).
De acordo com Gama (2006), as principais
características identificadas em crianças precoces são:
saber ler aos três ou quatro anos; fazer cálculos mentais
aos quatro anos; aprender diferentes formas, tais como
bandeiras, aos dois anos; desenhar com realismo aos
três ou quatro anos. Portanto, estas são apenas algumas
das manifestações da precocidade intelectual.
Guenther (2006), por sua vez, alerta que
precocidade não é sinônimo de talento ou potencial
elevado, e relata que dois terços das pessoas que
chegaram a altos níveis de produção na vida adulta não
foram crianças precoces, e que considerável número de
crianças precoces, altamente capazes e talentosas na
infância, não chegará muito além da média, em
produção e desempenho, na vida adulta. Em outra

39
visão teórica, Pérez (2004) relata que a precocidade em
si já é um indicador de superdotação.
Guenther (2006) ressalta que, na infância, a
expectativa da família sobre a criança que apresenta
habilidades precoces à sua idade é muito grande.
Quando essa criança deixa de sobressair aos talentos
que apresentava em menor idade, surgem sugestões e
crenças enraizadas no senso comum para a explicação
do “desaparecimento” do talento. Assim, a autora
classifica as principais ideias errôneas mais frequentes
sobre a precocidade, tais como: “a escola destruiu a
capacidade da criança”; “elas ‘queimam’ sua
potencialidade e tornam-se normais”; “o ‘meio’ não
ajudou”; “houve ‘excesso de exposição’”; e “faltou uma
‘escola especial’”. A seguir, tem-se a explicação de cada
item relacionado.

 A escola destruiu a capacidade da criança: a criança


precoce, com o tempo, nivela-se ao ritmo normal da
sua idade, enquanto que para a criança talentosa seu
desempenho sempre precisará ser motivado e
desafiado. As famílias que não entendem essas
diferenças acabam culpando a escola por ter sido o
agente de desaceleração, de haver “podado” os
talentos de suas crianças. Esta afirmação, ao se tratar
da criança precoce, pode ser entendida como mito,
mas se a criança realmente apresentar uma efetiva
capacidade acima da média, esta afirmação se torna
verdadeira quando a criança se depara com uma
escola que não tem um projeto educacional
apropriado para a estimulação do desenvolvimento

40
integral do(a) aluno(a). É necessário levar em conta
que, independente do grau de capacidade da
criança na Educação Infantil – fase na qual começa o
amadurecimento das células nervosas e a
construção do conhecimento – é importante
valorizar o ritmo de desempenho de cada criança
(GUENTHER, 2006).

 Elas “queimam” sua potencialidade e tornam-se


normais: esta afirmação surge quando há
estimulação demais, e a criança perde o interesse
pelo que fazia e torna-se uma criança comum. O
que realmente acontece é que, quando passa a fase
da precocidade, a criança tende a se esforçar cada
vez mais para alcançar menor grau comparativo de
sucesso e, com isso, vai diminuindo o interesse por
aquele tipo de atividade. Quando há uma
capacidade elevada de talento de forma constante,
o interesse não se esgota, sendo assim, “a queima
de fase” não acontece, porque a criança continua se
destacando em nível cada vez mais elevado
(GUENTHER, 2006). Para Renzulli e Reis (2004),
esta é uma das três características fundamentais da
criança que apresenta uma capacidade acima da
média, pois no envolvimento com a tarefa a criança
tem um expressivo interesse em relação a uma
determinada área ou tarefa, classificada como
motivação e persistência.
 O “meio” não ajudou: independente da classe
social, o ambiente exerce considerável influência na
realização do potencial da criança e, na falta deste

41
estímulo, seja ele material ou ambiental, vai faltar a
esta criança a vivência de situações que possam
incitar o uso dessas habilidades. Quando há
capacidade, estimulação e contexto apropriado à
expressão de talento, ela tende a se desenvolver e se
expressar em qualidade de desempenho. A escola e
a sociedade muitas vezes dão mais importância à
capacidade acadêmica, não valorizando e
estimulando as capacidades criativas. Assim, seja a
criança precoce ou talentosa, sem o estímulo do
meio, sua contemplação de amadurecimento físico e
neurológico vai diminuindo (GUENTHER, 2006).

 Houve “excesso de exposição”: a exposição


excessiva do talento da criança transforma sua vida
em uma rotina artificial, trocando a motivação
interna e natural por aplausos externos,
impessoais, podendo até prejudicar na formação de
sua personalidade. Porém, com todas essas
ressalvas, não se pode dizer que o talento é
destruído pela exposição e repetição de
desempenho. O que pode acontecer é que a criança,
para se proteger de tamanha exposição, acabe
aprendendo a não exercitar e a usar sua capacidade
para ser vista como uma criança normal
(GUENTHER, 2006).

 Faltou uma “escola especial”: a referida autora


chama a atenção para a reflexão sobre esta crença,
pois a educação voltada para desenvolver a
capacidade incluindo a Educação Especial é, na

42
maioria das vezes, encarada como uma educação
para minimizar dificuldades e limitações. A escola
regular ainda não está preparada para atender uma
clientela com capacidade acima da média. A
intervenção educativa ainda está voltada para a
analogia de equalização do potencial, atingindo-se
um mesmo resultado e, no que trata da capacidade
superior, seria diminuir e minimizar exatamente o
potencial talentoso que se deseja desenvolver e
aumentar.

Diante a discussão dos mitos presentes no ambiente


escolar, ou seja, no espaço estruturado no qual ocorrem
os processos de ensino e aprendizagem da criança
talentosa, bem como no espaço não estruturado,
entende-se como grande o desafio a ser enfrentado. Isto
ocorre tanto para a escola quanto para a sociedade em
geral no que se refere à inclusão e reconhecimento das
capacidades elevadas no âmbito social e educacional.
O(a) aluno(a) talentoso(a) requer uma nova escola
inclusiva, com um olhar que “respeite, aceite, aposte e
estimule suas habilidades, na mesma proporção que
atenda as suas necessidades” (MEZZOMO, 2011, p. 180).
Mezzomo (2011) prossegue sua discussão
ressaltando que, para que esta nova escola inclusiva se
torne realidade, esta deve ter um plano didático que
oferte oportunidades variadas, atividades
enriquecedoras e que, acima de tudo, entenda e respeite
a especificidade do(a) aluno(a), seja ele(a) talentoso(a)
ou não; desta forma, a construção de um novo
paradigma se reflete em desafios na inclusão do(a)

43
aluno(a) talentoso(a), ou seja, um plano de inclusão
deve estar de acordo com os(as) interesses e
características do(a) aluno(a). No entanto, nem sempre
estas características são facilmente reconhecidas. Assim,
no próximo Capítulo, são abordadas as diversidades de
características apresentadas por pessoas com Altas
Habilidades/Superdotação.

44
CAPÍTULO 3

CARACTERÍSTICAS E IDENTIFICAÇÃO
DO(A) ALUNO(A) COM ALTAS
HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

Estudos sobre as principais características


encontradas em alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação não são recentes. As
pesquisas começaram na década de 1920, com Lewis
Terman, psicólogo estadunidense que dedicou grande
parte de seus estudos ao acompanhamento de um
grupo de superdotados(as) durante toda a vida. Com
isso, os estudos de Terman trouxeram grandes
contribuições para a área das Altas
Habilidades/Superdotação, pois desmistificaram-se as
características deste público. Uma das ideias errôneas
era acreditar que a superdotação fosse sinônimo de
insanidade, ou que crianças muito inteligentes eram
fracas e doentes e que sua inteligência era uma forma
de compensar inferioridades em outras áreas
(ALENCAR; FLEITH, 2001).
Desde as publicações dos estudos de Terman
muitos foram os avanços em relação ao levantamento
das características de uma pessoa com Altas
Habilidades/Superdotação. Com isso, foi possível
compreender que pessoas com capacidade acima da

45
média não constituem um grupo homogêneo, mas sim
apresentam uma grande variedade de características.
De acordo com o documento do MEC que expõe
subsídios para a organização e funcionamento de
serviços da Educação Especial, indivíduos com Altas
Habilidades/Superdotação são os(as) educandos(as)
que apresentam notável desempenho e/ou elevado
potencial em qualquer uma das seguintes
características, isoladas ou combinadas:

 Tipo Intelectual – apresenta flexibilidade e


fluência de pensamento abstrato para fazer
associações, além de produção ideativa, raciocínio,
compreensão e memória elevadas, capacidade de
resolver e lidar com problemas e julgamento
crítico;

 Tipo Acadêmico – evidencia aptidão acadêmica


específica de atenção, concentração, rapidez de
aprendizagem, boa memória, gosto e motivação por
disciplinas de seu interesse, além de habilidades para
avaliar, sintetizar e organizar o conhecimento e
capacidade de produção acadêmica;

 Tipo Criativo – relaciona-se às seguintes


características: originalidade; imaginação;
capacidade para resolver problemas de forma
diferente e inovadora; sensibilidade para as
situações ambientais, podendo reagir e produzir de
modo diferente; sentimento de desafio diante da

46
desordem de fatos; facilidade de autoexpressão;
fluência e flexibilidade.

 Tipo Social – revela capacidade de liderança e


caracteriza-se por demonstrar sensibilidade
interpessoal, atitude cooperativa, sociabilidade
expressiva, habilidade de trato com pessoas
diversas para estabelecer relações sociais, além de
percepção acurada de situações de grupo,
capacidade para resolver circunstâncias sociais
complexas e alto poder de persuasão e de
influência;

 Tipo Talento Especial – pode se destacar tanto na


área das artes plásticas, musicais, como dramáticas,
literárias ou técnicas, evidenciando habilidades
especiais para essas atividades e alto desempenho;

 Talento Psicomotor – destaca-se por apresentar


habilidade e interesse por atividades psicomotoras,
evidenciando desempenho em velocidade, agilidade
de movimentos, força, resistência, controle e
coordenação motora.

Para Sabatella (2008), alunos(as) com Altas


Habilidades/Superdotação apresentam combinações
entre os tipos relacionados às características mentais,
sociais, emocionais e físicas. A autora ressalta, ainda,
que os traços relacionados às áreas intelectuais e com
habilidades acadêmicas são mais visíveis e facilmente
observados pelas instituições educacionais. No entanto,

47
as características tipicamente dominantes nas áreas
artísticas, psicomotoras e sociais nem sempre são focos
de pesquisas e de identificação.
O reconhecimento destas características por parte
de educadores(as), na maioria das vezes, é um processo
com muitas dificuldades, visto que estes(as) não sabem
como lidar com os comportamentos de alunos(as) com
Altas Habilidades/Superdotação em situação de
aprendizagem, pois cada um(a) se relaciona de forma
diferente com este processo, cujas variáveis dependem
de caraterísticas pessoais, estilo de aprendizagem e
expressão de talento (PEREIRA, 2014).
Nesse contexto, Pereira (2014) aborda que o(a)
professor(a) que reconhece essas características em
seu(sua) aluno(a) reconhece, também, as necessidades
que atendam suas expectativas e capacidades. Assim, a
autora apresenta alguns comportamentos de alunos(as)
com Altas Habilidades/Superdotação que, quando não
observados e reconhecidos pelos(as) professores(as),
podem desenvolver possíveis problemas e experiências
socioemocionais conflitantes. Pontos cruciais desta
discussão são apresentados no Quadro a seguir.

Quadro 2 - Problemas emocionais associados a características da


superdotação.
CARACTERÍSTICAS DO(A)
ALUNO(A) POSSÍVEIS PROBLEMAS
SUPERDOTADO(A)
Fica impaciente diante da lentidão
Adquire e retém informações
dos colegas, não gosta de rotina e
rapidamente.
repetição.

48
Faz perguntas desafiadoras ao(à)
Curiosidade intelectual e
professor(a), resiste ao
atitude inquisitiva; motivação
direcionamento, tem vasta gama
intrínseca; busca por
de interesses, esperando o mesmo
significados.
dos outros.
Tem dificuldade para aceitar o
Percebe relações causa e
ilógico, o superficial e os
efeito.
conhecimentos desestruturados.
Habilidade de
contextualização; abstração; Rejeita ou omite detalhes;
síntese; gosta de resolução de resistência ocasional à imposição;
problemas e atividade questiona processos de ensino.
intelectual.
Amplo vocabulário e
Torna-se entediado(a) com a
proficiência verbal; tem
escola e colegas; é visto(a) pelos
amplas informações em áreas
outros como “sabe-tudo”.
avançadas.
Intolerante ou crítico(a) com os
Pensamento crítico elevado;
demais; pode ficar
tem altas expectativas; é
desencorajado(a); deprimido(a) ou
autocrítico(a) e avalia demais.
perfeccionista.

Gosto pela verdade, pela Tem dificuldades de aceitar


equidade e pelo jogo limpo. práticas paralelas.

É questionador(a) e tende a
Criatividade e inventividade;
rejeitar o que é tido como
gosto por novas maneiras de
conhecido; é visto(a) como
fazer as coisas.
diferente e fora do compasso.
Intensa concentração, longos Resiste à interrupção; negligencia
períodos de atenção em áreas deveres ou pessoas durante
de interesse, comportamento períodos de interesse focalizado; é
dirigido a metas; persistência. obstinado(a).
É excessivamente sensível à crítica
Sensibilidade e intensidade
e/ou à rejeição dos colegas; espera
emocionais; empatia com os
que os outros tenham valores
outros; desejo de ser aceito
semelhantes; sente-se diferente e
pelos outros.
alienado(a).

49
Independência; preferência Pode rejeitar o que é imposto
pelo trabalho individualizado; pelos pais e colegas; é não
confiança em si mesmo. conformista.
Frustra-se com a inatividade; não
Grande energia; vivacidade; progride;
agilidade; tolerância e período é impaciente; necessita de
de intenso esforço. contínua estimulação; pode ser
confundido(a) com hiperativo(a).
Pode parecer desligado(a) e
desorganizado(a); frustra-se com o
Diversos interesses e
tempo perdido; tem necessidade
habilidades; versatilidade.
de individualização e contínua
estimulação.
Percebe situações absurdas; tem
senso de humor que os pares não
compreendem; muito
Forte senso de humor. frequentemente, torna-se o(a)
“palhaço(a)” do grupo, como
forma de chamar a atenção sobre
si.
Fonte: extraído de Pereira (2014 p. 379).

A literatura apresenta várias características


encontradas em indivíduos com Altas
Habilidades/Superdotação. Assim, Martins (2013)
direcionou seu estudo visando sistematizar estas
características, apontadas por pesquisas da área a partir
de um levantamento bibliográfico. Como resultado a
autora classificou 109 características, dividindo-as em
três principais categorias, a saber:

 Características gerais: envolvem aspectos


comportamentais, sociais, emocionais, cognitivos e do
desenvolvimento;

50
 Características de pensamento criativo: são
características relacionadas à criatividade;
 Características de aprendizagem: são características
relacionadas no ambiente escolar.

Nos Quadros 3, 4 e 5 são apresentadas,


respectivamente, estas três categorias.

Quadro 3 - Categoria das características gerais.


CARACTERÍSTICAS GERAIS
 Perseverança e persistência diante de dificuldades inesperadas
 Capacidade de elaborar inferências
 Utiliza muito tempo em projetos próprios, como construções,
coleções, redações
 Liderança
 Somatização
 Entusiasmo
 Senso de confiança
 Capacidade perceptivo-espacial elevada
 Responsabilidade
 Sensibilidade aos sentimentos dos outros
 Impulsividade e espontaneidade
 Tendência ao isolamento
 Idealismo, senso de justiça e desenvolvimento moral
 Interesses variados e diferenciados
 Receptividade
 Tendência à introversão
 Ampla gama de informações
 Expressão de sentimentos
 Autonomia
 Motivação
 Preferência por trabalhar ou estudar sozinha
 Expressa-se bem
 Chama a atenção sobre si
 Tendência ao perfeccionismo, expresso muitas vezes pela

51
autoimposição de padrões de desempenho elevados, rígidos e até
mesmo irrealistas
 Independência
 Facilidade verbal
 Vontade de contribuir em alguma medida, com a sociedade
 Ansiedade em relação às realizações
 Gosto e preferência por jogos que exijam estratégia
 Alergias não apresentadas por outros membros da família
 Pode preferir a companhia de adultos e crianças mais velhas a
crianças de sua idade
 Controle emocional
 Sociabilidade
 Comportamento cooperativo
 Estabilidade emocional
 Investe energia emocional significativa em suas realizações
 Agressividade
 Organização e eficiência no que se refere a tarefas e soluções de
problemas
 Tolerância à ambiguidade
 Sentido ético e moral muito desenvolvido
 Alto nível de energia que, por vezes, resulta em um diagnóstico
errôneo de hiperatividade
 Precocidade no desenvolvimento geral (andar, falar etc.)
 Curiosidade
 Questiona ou desafia regras/autoridade
 Elevada capacidade de observação
 Ingenuidade nas ligações de base emocional
 Autoconceito positivo
 Consciência aguçada de si, o que pode fazer com que se perceba
diferente dos outros
 Popularidade
 Espírito de competição
 Procura de autenticidade
 Sensibilidade e intensidade emocional
Fonte: extraído de Martins (2013, p. 109).

52
Quadro 4 - Categoria das características de pensamento.
CARACTERÍSTICAS DE PENSAMENTO CRIATIVO
 Inconformismo e independência de pensamento
 Apresentar ideias inesperadas ou originais e extravagantes
 Pensamento divergente, original e inovador
 Senso de humor avançado para sua idade
 Flexibilidade
 Fluência de ideias
 Gosto por enfrentar desafios e correr riscos
 Capacidade elevada de percepção
 Imaginação
 Sensibilidade estética muito desenvolvida
 Criatividade
 Coragem em tentar descobrir se suas ideias têm valor, sem
medo das críticas
 Uso elevado de analogias e combinações incomuns
 Menor inibição intelectual para discordar, expor ideias e
opiniões
 Abertura às novas experiências
 Capacidade de construir hipóteses ou questões do tipo “como
seria se...”
 Preferência por atividades novas e criadoras a tarefas rotineiras
e repetitivas
 Constrói histórias vívidas e dramáticas
 Cria soluções próprias para resolver problemas
 Habilidade para produzir muitas ideias e visualizar
consequências
Fonte: extraído de Martins (2013, p. 109).

Quadro 5 - Categoria das características de aprendizagem.


CARACTERÍSTICAS DE APRENDIZAGEM
 Capacidade incomum de raciocínio (verbal, lógico, matemático)
 Habilidade em áreas específicas
 Boa memória
 Habilidades metacognitivas e autorreguladoras da
aprendizagem
 Geralmente apresenta boas notas

53
 Desejo por saber causas e razões das coisas
 Gosto por quebra-cabeças e jogos-problema
 Capacidade de planejamento e organização
 Rapidez e facilidade na aprendizagem e na utilização dos
conhecimentos
 Rapidez em estabelecer relações e compreender significados
 Agilidade mental
 Progride rapidamente
 Capacidade desenvolvida de análise, avaliação e julgamento
 Capacidade para fazer generalizações
 Estabelece relações entre informações adquiridas anteriormente
e novos conhecimentos
 Encontra satisfação pensando e discutindo sobre o que leu
 Estabelece relações entre causa e efeito
 Pensamento abstrato
 Prazer pela atividade intelectual
 Rapidez na identificação de inconsistências.
 Amplo vocabulário
 Tendência a que outros(as) alunos(as) lhe peçam ideias e
sugestões
 Preferência para lidar com abstrações
 Precocidade, gosto e nível elevado de leitura
 Capacidade para pronta resposta
 Tendência a agradar aos(às) professores(as) e a gostar do
ambiente escolar
 Explorar temas em profundidade
 Procura ser superior em quase tudo que faz
 Capacidade de manter a concentração e a atenção por longos
períodos em atividades de seu interesse
 Processa informações complexas com rapidez
 Habilidade em encontrar ordem na complexidade e no caos
 Interesse precoce por palavras, números ou relógios,
calendários e quebra-cabeças
 Atitude de questionamento e busca por informações
 Amplitude de foco (parece distraído(a), mas está atento(a) a
mais de uma coisa)
 Fazer relatos ricos em detalhes
 Pensamento crítico

54
 Distração, tédio e desmotivação quando a tarefa não lhe é
interessante
Fonte: Extraído de Martins (2013, p. 110).

Autoras como Alencar e Fleith (2001) e Sabatella


(2008) ressaltam que, mesmo conhecendo os principais
traços apontados por pessoas com Altas
Habilidades/Superdotação, é importante considerar
que nem todas apresentam todas as características, e
que possivelmente algumas delas tentam dissimular
características, principalmente quando se trata
daquelas que são desmotivadas pelo meio social em
que a pessoa vive.
De acordo com Sabatella (2008), as múltiplas
características podem ser uma barreira para a
identificação do(a) aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação no ambiente escolar, pois
muitos(as) educadores(as), para evitar a insegurança
diante de um(a) aluno(a) com capacidade acima da
média, afirmam que “este é como todos os outros”, que
“não percebem diferença”, e que “são apenas
inteligentes”. Nesta visão, para a autora supracitada, a
dúvida em reconhecer se um(a) aluno(a) é inteligente
ou superdotado(a) gera muitas questões e impedem
que ele(a) receba um atendimento adequado para as
suas necessidades.
Assim, Sabatella (2008) classifica as diferenças
existentes entre as atitudes de um(a) aluno(a)
inteligente e outro(a) superdotado(a): embora
apresentem semelhanças, estes indivíduos possuem
potencial intelectual inteiramente diferente. Nesta
perspectiva, entende-se que um(a) aluno(a) com Altas

55
Habilidades/Superdotação é uma pessoa como qualquer
outra, mas com um diferencial, pois veem e interpretam
o mundo de forma diferente. Cabe ao(à) professor(a) ter
a sensibilidade de reconhecer estas potencialidades; se
forem corretamente identificadas, somente assim
poderão ser desenvolvidas.
Quanto à identificação, trata-se de um passo
fundamental para o atendimento de um(a) aluno(a)
com Altas Habilidades/Superdotação, porém, por
razões muitas vezes político-ideológicas, algumas
pessoas acreditam que estes indivíduos não precisam
de identificação (SABATELLA, 2008). No entanto, este
público necessita ser identificado para que se conheçam
suas necessidades, bem como para que se realize o
discernimento de estratégias de atendimento e para que
se estruturem recursos, uma vez que, para um
atendimento adequado, é condição essencial saber para,
por que e a quem ele se destina.
Considerando que cada pessoa é única, pessoas
com potencial elevado também possuem características
diferenciadas em relação as suas áreas de interesses.
Este é mais um motivo para se utilizar diferentes
instrumentos de identificação. Pesquisadores como
Gardner (1995), Guenther e Freman (2000), Renzulli e
Reis (2004) e Virgolim (2007) são unânimes em afirmar
que a identificação deve ser realizada por meio de
inúmeros instrumentos que permitam uma visão
integral do sujeito. Estes autores acreditam que devam
ser utilizados diferentes critérios, identificados a partir
de variadas fontes de informações.

56
Virgolim (2007), por exemplo, destaca os seguintes
instrumentos possíveis:

1. Nomeação por professores(as): professores(as)


normalmente possuem maior facilidade na
indicação de alunos(as) com características de altas
habilidades, uma vez que convivem por um
grande tempo com os(as) alunos(as) em suas
turmas e podem observar traços importantes
daqueles(as) que se sobressaem em relação ao
grupo de colegas.

2. Indicadores de criatividade: alguns indicadores de


criatividade do(a) aluno(a), bem como testes
formais podem auxiliar o(a) professor(a) a
identificar não só indivíduos com criatividade
aparente, mas também aqueles que possuem
talentos únicos mas que, em sala de aula, passam
despercebidos ao olhar desatento. É necessário
salientar que a identificação de um(a) aluno(a)
altamente criativo(a) é importante para evitar um
possível fracasso escolar, em função do seu
pensamento divergente.

3. Nomeação por pais: os pais são personagens que


tendem a contribuir para a identificação de
alunos(as) com Altas Habilidades, uma vez que a
maioria deles acompanha o desenvolvimento
dos(as) filhos(as) com grande atenção. Os pais
podem informar todas as etapas do
desenvolvimento vivenciadas pelo(a) filho(a),

57
salientando seus maiores interesses, realizações,
criações etc. Porém, é necessário cuidado, pois
alguns pais supervalorizam as habilidades dos(as)
filhos(a) e podem confundi-las com características
das Altas Habilidades.

4. Nomeação por colegas: muitas vezes os próprios


colegas reconhecem características importantes de
um(a) aluno(a) que o(a) professor(a) pode ainda
não ter observado. Este processo pode ser
desenvolvido de diferentes formas – com
abordagem direta, abordagem disfarçada,
abordagem no formato de jogos –, a fim de tornar
mais fácil a identificação de talentos.

5. Autonomeação: pode ser um instrumento útil para


a indicação de crianças que não tiveram seus
talentos notados nem pelo(a) professor(a) nem
pelos colegas, mas que possuem habilidades em
determinada área do conhecimento. Por meio da
autonomeação podem ser percebidas áreas
específicas de interesse, assim como a liderança, a
aptidão para esportes etc.

6. Nomeações especiais: esta forma de nomeação


permite que sejam indicados(as) alunos(as) que
tenham se destacado em anos anteriores mas que,
por problemas emocionais ou pessoais, possam
estar apresentando um baixo rendimento escolar.
Por isso, é interessante que se busquem
informações, sempre que possível, com

58
professores(as) das séries anteriores dos(as)
alunos(as).

7. Avaliação de produtos: a observação da qualidade


de uma produção do(a) aluno(a) pode permitir que
sejam identificadas características de talento. Os
produtos podem demonstrar criatividade,
pensamento criador, habilidades específicas ou
outros aspectos relacionados, por exemplo, a
temáticas especiais.

8. Escalas de características e listas de observação: as


escalas e listas são utilizadas de forma conjunta
entre o(a) professor(a), os pais, o(a) próprio(a)
aluno(a) e a avaliação do produto criado. Existem
algumas propostas de escalas e listas, dentre elas a
Escala de Características, proposta por Joseph
Renzulli e a Lista de Indicadores para Observação do
Professor, proposta por Zenita Guenther, que
podem auxiliar na observação e na indicação de
alunos(as) com Altas Habilidades/Superdotação.

9. Nomeação por motivação do(a) aluno(a):


indivíduos motivados e que demonstram um
interesse incomum em determinada área durante o
ano escolar também podem ser indicados para um
atendimento especializado. Estes(as) alunos(as)
geralmente demonstram comportamentos
inesperados e diferenciados, e se o(a) professor(a)
estiver atento(a) pode detectar seu envolvimento

59
com a área, levando-o a desenvolver sua
criatividade e habilidades específicas.

Nos Subsídios para Organização e Funcionamento de


Serviços de Educação Especial – Área de Altas Habilidades,
alguns procedimentos foram apresentados para
identificar crianças com Altas Habilidades. Destacam-
se, dentre eles:

[...] avaliação realizada por professores, especialistas e


supervisores; percepção de resultados escolares
superiores aos demais; autoavaliação; aplicação de testes
individuais, coletivos ou combinados; e demonstração
de habilidades superiores em determinadas áreas
(BRASIL, 1995, p. 23).

Estes são procedimentos possíveis para identificar


um(a) aluno(a) com Altas Habilidades/Superdotação e
que podem ser utilizados em conjunto, permitindo uma
maior validade dos comportamentos percebidos.
Contudo, o sistema educacional ainda apresenta
dificuldades em utilizar instrumentos de identificação,
pois não há profissionais capacitados para tal.
Sabatella (2012) relata que mesmo que instituições
educacionais ainda não promovam programas
específicos para indivíduos com Altas
Habilidades/Superdotação, é de grande importância
que os(as) professores(as) tenham conhecimentos sobre
sinalizações e procedimentos, para que possam
desenvolver ações pedagógicas adequadas.
De acordo com Gama (2014), a identificação,
quando atrelada a um procedimento de identificar

60
apenas por identificar, torna-se um rótulo para o
indivíduo, provocando uma expectativa que a
identificação, por si só, não pode satisfazer.
Assim, a identificação da pessoa com Altas
Habilidades/Superdotação deve ser feita tanto como
componente quanto como etapa de um planejamento
de atendimento, sendo que, de acordo com a Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva, ao indivíduo com Altas Habilidades/
Superdotação é garantido o direito ao atendimento por
meio de “apoio especializado”, como descreve o
parágrafo 1o do artigo 58 da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB): “haverá, quando necessário, serviços
de apoio especializado, na escola regular, para atender
às peculiaridades da clientela da educação especial”
(BRASIL, 1996). No entanto, surgem diversas dúvidas e
inseguranças por parte das escolas sobre como oferecer
um apoio especializado ao indivíduo com Altas
Habilidades/Superdotação. Esta falta de formação-
informação resulta em um atendimento mais voltado a
alunos(as) com deficiências e pouco relevante para
alunos(as) com Altas Habilidades/Superdotação.
Em 2011, o Decreto 7.611 foi sancionado com o
objetivo de esclarecer como devem ser realizados os
atendimentos a alunos(as) que compõem o público-alvo
da Educação Especial.

Art. 2o A educação especial deve garantir os serviços de


apoio especializado voltado a eliminar as barreiras que
possam obstruir o processo de escolarização de
estudantes com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.

61
§ 1o Para fins deste Decreto, os serviços de que trata o
caput serão denominados atendimento educacional
especializado, compreendido como o conjunto de
atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos
organizados institucional e continuamente, prestado das
seguintes formas:
I - complementar à formação dos estudantes com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento,
como apoio permanente e limitado no tempo e na
frequência dos estudantes às salas de recursos
multifuncionais; ou
II - suplementar à formação de estudantes com altas
habilidades ou Superdotação [...] (BRASIL, 2011).

Mesmo com direitos garantidos em Lei, o


atendimento ao aluno com Altas Habilidades/
Superdotação ainda não é uma realidade em muitas
instituições educacionais. De acordo com Delou (2014),
existe muita resistência nas escolas, pois mesmo
quando o(a) aluno(a) já demonstra competências plenas
para realizar procedimentos e objetivos escolares de
acordo com suas capacidades acima da média, a escola
muitas vezes reluta em garantir-lhe um direito, a
identificação e o suporte pedagógico previsto em Lei.
Neste aspecto, Pérez (2016) denuncia que, dos mais
de 2,5 milhões de estudantes com Altas Habilidades/
Superdotação, matriculados na Educação Básica, apenas
14.166 estão inseridos no Censo Escolar,5 sem a garantia
que estão sendo atendidos(as) adequadamente.

5 Cf. Inep (2015).

62
CAPÍTULO 4

A TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

Especificamente neste livro preferiu-se a teoria de


Howard Gardner, psicólogo da Universidade de Harvard
(Estados Unidos), com a intenção de não só refletir sobre e
analisar os múltiplos olhares da inteligência, mas também
complementar o entendimento dos processos que
organizam os comportamentos da pessoa com Altas
Habilidades/Superdotação em uma visão multifacetada6 e
embasada, teoricamente, a partir dos estudos de Marques
(2013; 2017).
A Teoria das Inteligências Múltiplas tornou-se uma
alternativa para redefinir a inteligência entendida como
uma capacidade inata, de origem biológica, que
desenvolve habilidades para resolver problemas ou para
elaborar produtos que são valorizados em um ou mais
ambientes culturais ou comunitários (GARDNER, 1995).
No entanto, para um melhor entendimento desta
Teoria é necessário, antes, compreender o que é
inteligência. Assim, são realizadas a seguir reflexões sobre:
i) o conceito de inteligência; ii) a influência da Teoria das
Inteligências Múltiplas na área educacional; e iii) sua
relação com as Altas Habilidades/Superdotação.

6 Termo usado por Gardner (1995; 2001) para se referir a uma visão
a partir das oito inteligências.

63
Em uma visão tradicional, a inteligência é definida
operacionalmente como a capacidade de responder a
itens em testes de inteligência. Esta afirmação surge
com as primeiras conceituações de inteligência
(SABATELLA, 2008). Segundo a autora, as primeiras
referências sobre testes de inteligência datam do século
V, na China, mas sua funcionalidade sistematizada de
aplicação científica só aconteceu na França, no século
XX. Contudo, a elaboração do primeiro teste de
inteligência é atribuída a Alfred Binet, pedagogo e
psicólogo francês, estudioso da área da educação e do
desenvolvimento infantil.
Binet, a pedido do Governo da França, investiu
seus estudos na verificação de crianças com atraso
mental em escolas públicas de Paris prevendo, assim,
quais delas poderiam ter dificuldades com a educação
formal. Desta forma, Binet e Théodore Simon –
psicólogo e psiquiatra francês – criaram a Escala de
Binet-Simon. Este instrumento testava a habilidade das
crianças nas áreas verbais e lógica. Binet aplicou
centenas de questionários abordando também os
aspectos sensoriais, mas logo percebeu que obtinha
mais resultados nas áreas de assuntos acadêmicos
(ALENCAR; FLEITH, 2001; GAMA, 2006;
SABATELLA, 2008).
Em 1912, surgiu o teste do Quociente de Inteligência
(QI), proposto pelo psicólogo alemão Wilhelm Stern. Ele
desenvolveu um cálculo matemático para avaliar o nível
mental de uma pessoa introduzindo, assim, um cálculo
em que o QI fosse determinado pelo resultado da
divisão entre a idade mental e a idade cronológica. Nesta

64
visão, se uma criança apresentasse, por exemplo, um
nível mental de nove anos e tivesse idade cronológica de
dez anos, teria um QI equivalente a 0,9 (GAMA, 2006;
SABATELLA, 2008).
Somente em 1916 Lewis Terman propôs um cálculo
que eliminasse o valor decimal dos testes de QI; assim,
o número do QI era multiplicado por 100; neste novo
conceito, o exemplo da criança com QI 0,9 passaria,
então, a QI 90 (SABATELLA, 2008).
Estudos realizados nos Estados Unidos na
Universidade de Stanford (Califórnia) e liderados por
Terman promoveram a adaptação do conceito e
estabeleceram novos padrões de habilidade média para
cada idade, de criança a adultos, oficializando o teste
como Escala de Inteligência Stanford-Binet (SABATELLA,
2008). Esta escala recebeu muitas críticas, especialmente
por usar um único e rápido instrumento; assim, em 1930,
Louis Thurstone, psicólogo da Universidade de Chicago,
desafiou o conceito do escore para medir a inteligência e
ressaltou que este resultado seria falho, pois identificava
apenas as áreas acadêmicas e verbais. Nesta nova visão,
Thurstone dividiu a inteligência em sete segmentos, os
quais nomeou habilidades mentais primárias, quais
sejam: i) compreensão verbal; ii) fluência de vocabulário;
iii) facilidade numérica; iv) visualização espacial; v)
memória associativa; vi) rapidez de percepção; e vii)
raciocínio (SABATELLA, 2008).
Outro avanço significativo nesta área foi o
simbolizado pelos estudos de Jean Piaget (1983), que
dedicou grande parte de suas pesquisas à inteligência,
influenciando a Teoria e a prática educacional. O autor

65
procurou definir “inteligência” com foco no ponto de
vista funcional e estrutural de seu entendimento; desse
modo, para Piaget (1983), a inteligência é definida como
uma estrutura contínua de adaptação a novas situações
(SABATELLA, 2008).
Já nos primeiros anos do século XX, o conceito de
inteligência expandiu-se em definições mais
abrangentes. Nesta época destacam os estudos de Joy
Paul Guilford (1979), Robert Sternberg (1997) e Howard
Gardner (1995; 2012), que defendem uma inteligência
multidimensional.
Guilford (1979) previa um modelo de inteligência
que descrevesse os diferentes tipos de capacidades
cognitivas que fundamentavam o processo ou a
operação realizada ao lidar com a informação recebida.
Essas operações poderiam ser classificadas em:
 Cognição: significa descoberta, conhecimento e
compreensão;
 Memória: significa retenção do que é conhecido;
 Pensamento convergente: implica que a
informação conduz apenas a uma resposta certa ou
a uma resposta mais convencional;
 Pensamento divergente: refere-se à produção de
inúmeras respostas ou de uma variedade de
alternativas para um problema (GUILFORD, 1979;
ALENCAR; FLEITH, 2008).
De acordo com Alencar e Fleith (2008), a teoria
multifatorial de Joy Paul Guilford trouxe à discussão os
papéis do pensamento divergente – que pesquisas
como a de Renzulli e Reis (2004) classificam como
criatividade – e de outras habilidades cognitivas que

66
não estariam sendo comtempladas pelos tradicionais
testes de inteligência.
Sternberg (1997) foi outro psicólogo que
proporcionou uma nova visão para o conceito de
inteligência ao conceituar a inteligência a partir da
Teoria Triárquica da Inteligência Humana. De acordo com
este modelo, a inteligência pode ser associada ao
mundo interno e externo do indivíduo, bem como a sua
experiência, considerada, por sua vez, a mediadora
entre os dois mundos. Para Sternberg (1997), a
inteligência abrangeria três fatores, a saber:
 Inteligência Analítica: são mecanismos ou
componentes mentais que a pessoa utiliza para
processar a informação que deverá executar,
envolvendo o planeamento, a execução e a
avaliação do comportamento inteligente;
 Inteligência criativa: neste fator, a pessoa
inteligente é aquela que lidará com as novidades e
com as tarefas exigidas no contexto de forma
rápida e adequada;
 Inteligência prática: este mecanismo reconhece que a
inteligência não pode ser separada do contexto
sociocultural no qual ela é exercitada. Assim, para
que as pessoas possam funcionar adequadamente em
muitos contextos diferentes, devem estar aptas a se
adaptarem aos requerimentos do ambiente.
Assim como Sternberg (1997), Howard Gardner
propõe uma abordagem multifatorial da inteligência;
sendo sua teoria a fundamentação do presente livro,
nos tópicos seguintes serão aprofundados: o conceito
de Teoria das Inteligências Múltiplas, sua influência no

67
processo de observação e atendimento a alunos(as) com
indicadores de Altas Habilidades/Superdotação a partir
dos domínios propostos por Gardner, Feldman e
Krechevsky (2001b), e a contribuição da Teoria das
Inteligências Múltiplas no âmbito educacional.
Cabe ressaltar que a origem das Inteligências
Múltiplas (IM) surge em meados dos anos 1980 com
Howard Gardner que, à época, trabalhava em dois
projetos: o primeiro considerando indivíduos que
haviam sofrido alguma forma de dano cerebral; e o
segundo, o chamado “Projeto Zero”, que tratava de
questões de desenvolvimento humano e cognição com
crianças que apresentavam diferentes formas de
expressar suas habilidades em Artes. Durante estudos e
pesquisas no âmbito destes projetos, Gardner observou
que alguns indivíduos que apresentavam danos
cerebrais, cuja linguagem havia sido muito prejudicada,
conseguiram apresentar grandes capacidades em outras
áreas, como por exemplo, a área espacial. O psicólogo
presenciou o fato com crianças do Projeto Zero, que
apresentavam um determinado potencial herdado de
seus pais biológicos, mas que não eram observados por
meio dos testes psicométricos de inteligência. Esta
discrepância é clara em um dos relatos do autor:

Algumas anomalias surgiam nos meus estudos com


crianças. Alguns com pouca idade podem ter um
desempenho excelente em poesia, ficção e expressar
oralmente, mas ter dificuldades para desenhar uma
pessoa, uma planta ou um avião. Um colega dessa pessoa
pode ser excelente desenhista, mas ter dificuldade para
falar, escrever ou ler (GARDNER, 2010, p. 17).

68
Inconformado com estes resultados, Gardner
desafiou a crença de que a “inteligência” poderia ser
medida objetivamente e reduzida a um simples número
ou escore de QI. O autor começou a pesquisar
estratégias que implicavam a definição de uma
inteligência e de um conjunto de critérios para aquilo
que realmente deveria significar inteligência,
desfragmentando, assim, uma inteligência limitada e
até então conhecida, que se resumia a uma combinação
de determinadas habilidades lógico-linguísticas –
particularmente, as que são valorizadas na escola
(ARMSTRONG, 2001; GARDNER, 2010).
De modo a oferecer fundamentos teóricos sólidos
para suas afirmações, Gardner estabeleceu certos
critérios básicos, nos quais cada inteligência teria de ser
aprovada para ser considerada uma inteligência
habilitada, e não simplesmente um talento, habilidade
ou aptidão. Assim, o autor estabelece os seguintes
critérios (GARDNER, 1994; 2010; ARMSTRONG, 2001):

1. Isolamento potencial por dano cerebral: Gardner


defendia que um indivíduo com uma lesão cerebral
na Área de Broca (lobo frontal esquerdo do
cérebro), por exemplo, poderia apresentar grande
dificuldade de fala, leitura e escrita, porém ainda
poderia apresentar habilidades ao cantar, fazer
contas, dançar ou relacionar-se com os outros, ou
seja, uma lesão cerebral não impede que uma
pessoa demonstre suas potencialidades.

69
2. Existência de savants, prodígios e outras
excepcionalidades: de acordo com Gardner, os
savants (do francês, “sábios”) são pessoas que
demostram capacidades superiores em algumas
inteligências, enquanto que em outras apresentam
um baixo nível de aprendizagem e funcionamento.
Exemplo disso é uma pessoa que calcula
mentalmente e com rapidez números com
múltiplos algarismos e realiza outras façanhas
matemáticas espantosas, mas tem um
relacionamento inadequado com seus semelhantes,
um funcionamento linguístico insuficiente e
introspecção em relação à própria vida.

3. Operação central ou conjunto de operações


identificáveis: comparando o cérebro com um
programa operacional de computador, Gardner
defende que cada inteligência tem um conjunto de
operações centrais que servem para acionar as
várias atividades inerentes àquela inteligência. Na
inteligência espacial, por exemplo, estes
componentes podem incluir a potencialidade de
reconhecer e manipular padrões do espaço. Na
inteligência musical, as operações centrais podem
incluir sensibilidade ao tom ou capacidade de
discriminar entre várias estruturas rítmicas.

4. Trajetória de desenvolvimento característica,


culminando em desempenho especializado: o
autor define que cada inteligência apresenta um
desenvolvimento gradativo, ou seja, cada atividade

70
tem seu momento de surgimento na infância, seu
momento de pico durante a vida e seu próprio
padrão de declínio (rápido ou gradual) na velhice.
Assim, identificada esta capacidade
desenvolvimental, sua sustentabilidade à
modificação e seu treinamento são muito
importantes para professores(as), pois quanto mais
a escola encontra estratégias para desenvolver as
inteligências múltiplas, melhor os resultados de
motivação e aprendizagem dos indivíduos.

5. História e plausibilidade: Gardner acredita que


cada inteligência tem uma influência muito forte na
evolução dos seres humanos, como, por exemplo,
os traços da inteligência musical que podem ser
identificados na comunicação animal, com o uso do
som de pássaros e golfinhos.

6. Apoio de tarefas psicológicas: Gardner ressalta que


métodos oriundos da Psicologia podem ajudar a
esclarecer o funcionamento de uma determinada
inteligência. O autor relatou que, ao examinar
estudos psicológicos específicos, observou que as
inteligências podem operar isoladas umas das outras.
Assim, o psicólogo, fazendo uso de seu instrumento,
poderia investigar relativamente uma dada
inteligência a partir de alguns critérios, tais como os
detalhes do seu funcionamento, as formas de
memórias peculiares a um dado estímulo e a maneira
como se pode interagir com as outras memórias na
execução de tarefas complexas.

71
7. Apoio de dados psicométricos: embora Gardner
não seja adepto dos testes padronizados e tenha
sido, de fato, um ardente defensor de alternativas à
testagem formais, ele ressalta que dados
psicométricos podem oferecer informações
adicionais.

8. Suscetibilidade à codificação em sistema


simbólico: um dos melhores indicadores de
comportamento inteligente, segundo Gardner
(1994), é a capacidade dos seres humanos de usar
símbolos; a linguagem, o desenho e os números são
apenas três dos sistemas de símbolos que se
tornaram importantes para a espécie humana. De
acordo com o autor, os símbolos permitem ao
homem a transcendência, isto é, permitem que o
ser humano ultrapasse limites. Ou seja, cada
inteligência, de fato, tem seu próprio sistema
simbólico ou notacional.

Diante deste conjunto de critérios, Gardner (2010)


ressalta que:

qualquer um pode criar outras inteligências, mas, a


menos que elas se ajustem a alguns critérios, postular
uma inteligência se torna um exercício de imaginação, e
não um trabalho com base no conhecimento acadêmico.
Curiosamente, nem os apoiadores nem os críticos da
teoria prestaram muita atenção aos critérios. Desde o
começo, deixei claro que sua aplicação era, em alguma
medida, uma questão de avaliação. Não há regra
inamovível para determinar se uma candidata à

72
inteligência compre ou não os critérios. Dito isso, tenho
adotado uma postura muito conservadora para
aumentar a lista de inteligências (GARDNER, 2010, p.
18).

Desta forma, em uma perspectiva mais ampla e


pragmática para mapear uma gama de capacidades do
indivíduo em usar a inteligência para resolver
problemas e criar produtos em ambientes ricos e
naturais, Gardner (1994; 1995) desenvolve a Teoria das
Inteligências Múltiplas a partir de oito categorias (ou
inteligências) abrangentes, quais sejam:
 Linguística: capacidade de usar as palavras na
forma escrita ou oral;
 Lógico-matemática: capacidade de usar números e
fazer medições e raciocínios;
 Espacial: capacidade de perceber o mundo
visuoespacial e transformá-lo;
 Corporal-cinestésica: capacidade de usar o corpo
para expressão e produção de algo;
 Musical: capacidade de perceber, discriminar,
transformar e expressar formas musicais;
 Interpessoal: capacidade de perceber e fazer
distinções no humor, intenções, motivações e
sentimentos das pessoas;
 Intrapessoal: capacidade de se conhecer e agir com
base nesse autoconhecimento; e
 Naturalista: capacidade de conhecer e discriminar
questões referentes à fauna, à flora e ao meio
ambiente.
Gardner (2010) explica que cada pessoa tem
capacidade de possuir todas as oito inteligências,

73
porém, o que diferencia estas capacidades é o grau de
desenvolvimento umas das outras. Assim, algumas
pessoas podem ser altamente desenvolvidas em certas
inteligências, umas modestamente em outras e outras
pessoas relativamente subdesenvolvidas nas
capacidades restantes. No entanto, para que a escola
estimule as oito inteligências dos(as) alunos(as), é
essencial que o sistema educacional elabore estratégias
curriculares que incentivem professores(as) e alunos(as)
a utilizarem múltiplos pontos de entrada para sustentar
a aprendizagem.
Em consonância com o foco deste livro, as
contribuições do teórico Howard Gardner foram
utilizadas para desenvolver instrumentos de
observação e estratégias de atendimentos a alunos(as)
com indicadores de Altas Habilidades/Superdotação.
Para o desenvolvimento das atividades de identificação
e intervenções, respaldou-se a Teoria de Gardner,
Feldman e Krechevsky (2001b), proposta nos estudos
do “Projeto Spectrum” como forma de observar,
organizar e avaliar o comportamento dos(as) alunos(as)
durante as atividades.
O Projeto Spectrum foi um trabalho desenvolvido
por Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b) na
Universidade de Harvard. Os referidos autores
adotaram a Teoria das Inteligências Múltiplas para
renovar o currículo, desenvolver avaliações e expandir
a definição do que seria um(a) aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação. Para isso, os estudiosos
propuseram estratégias que o(a) professor(a) pudesse
usar em sala de aula, de modo a proporcionar o

74
crescimento das competências e capacidades deste
público.
De início, o Projeto Spectrum objetivava atingir
alunos(as) da Educação Infantil para “[...] encontrar
maneiras de melhorar as experiências iniciais das
crianças pequenas, identificando suas capacidades
distintas, apoiando tais capacidades e ajudando os
professores, os pais e as crianças a celebrarem seus
diversos potenciais” (GARDNER; FELDMAN;
KRECHEVSKY, 2001a, p. 19).
Os fundadores do Projeto acreditavam que, quanto
mais precocemente fossem identificadas as habilidades
de cada criança, mais tempo teriam os(as)
professores(as), os pais e a escola para trabalharem
juntos no desenvolvimento das habilidades dos(as)
alunos(as) e menos tempo haveria para fracassar com
aqueles(as) que apresentavam um potencial
diferenciado. Assim, propunha-se subsidiar,
complementar e suplementar o currículo da Educação
Infantil com atividades que possuíam, como foco:
 identificar as áreas de competência das crianças;
 apresentar às crianças uma ampla variedade de
áreas de aprendizagem;
 estimular as capacidades identificadas; e
 construir pontes entre as capacidades da criança e
outras áreas de assunto e desempenho escolar
(GARDNER; FELDMAN; KRECHEVSKY, 2001b, p.
13).
As professoras participantes do Projeto relataram que
foi importante estudar e reconhecer as habilidades de
seus(suas) alunos(as), pois com as informações

75
pedagógicas que possuíam sobre aqueles(as) que corriam
risco de figurar no fracasso escolar, as educadoras
encontraram mais maneiras de envolvê-los(as) no
programa, planejando e visando suas individualidades,
bem como a criatividade e a construção de pontes entre as
áreas de competências identificadas nas crianças e outras
áreas de aprendizagem (GARDNER; FELDMAN;
KRECHEVSKY, 2001b).
A proposta do Projeto Spectrum tem sido subsídio
para pesquisas como as de Vieira (2005) e Marques (2013;
2017), que investigaram o reconhecimento de sinais de
indicadores que caracterizam a criança precoce.
Vieira (2005), por exemplo, desenvolveu um estilo
de observação às crianças talentosas da Educação
Infantil que englobavam os seguintes domínios: o da
ciência; o musical; o espacial; o da linguística; o da
matemática; o social; o das artes; o do movimento e o
do estilo de trabalho. A autora justificou a estrutura
desses domínios da seguinte forma:

[...] apesar de ter adotado os domínios propostos por


Gardner, Feldman e Krechevsky, as categorias
trabalhadas não correspondem à totalidade das
habilidades-chave enfatizadas por eles. Portanto, as
categorias apresentadas estão relacionadas ao que foi
observado na análise, as dimensões visuais e verbais das
estruturas narrativas. Na análise visual, foram
considerados elementos descritivos e que compunham
os comportamentos apresentados pelas crianças.
Enquanto que na análise verbal, o material usado foram
os discursos das crianças, durante as atividades
(VIEIRA, 2005, p. 91).

76
O único domínio diferenciado entre os autores do
Projeto Spectrum e os projetos de Vieira (2005) e
Marques (2013) foi em relação à mecânica e construção,
domínio que foi substituído pelo domínio espacial, pois
entendeu-se que o domínio espacial é um fator
importante para o desenvolvimento cognitivo e social
do(a) aluno(a) com potencial acima da média. É a partir
da motricidade espacial que o indivíduo consegue
compreender a relação entre cor, forma, linha,
configuração e espaço, podendo, assim, construir,
recriar ou transformar imagens destas informações
(VIRGOLIM, 2007).
Nas atividades desenvolvidas pelo Projeto
Spectrum também se avaliou o estilo de trabalho
dos(as) alunos(as). No entanto, Gardner, Feldman e
Krechevsky (2001a; 2001b; 2001c) ressaltam que este
não é propriamente um domínio, mas sim uma
capacidade que permite descrever como a criança
interage com as atividades propostas, seja de forma
persistente, confiante ou facilmente destruída. Os
indicadores são classificados por Renzulli e Reis (2004)
como uma das principais características da criança com
Altas Habilidades/Superdotação, relacionadas ao
comprometimento com a tarefa. Os autores do Projeto
ressaltam que

[...] os estilos de trabalho das crianças podem variar


segundo a tarefa; uma criança com habilidades na área
de ciências pode demonstrar uma paciência
surpreendente ao realizar experimentos, mas ficar
facilmente frustrada em um jogo de amarelinha.
Analisar se a dificuldade de uma criança em uma

77
determinada tarefa tem raízes no estilo ou no conteúdo
pode ajudar a professora individualizar a instrução. Por
exemplo, ela pode identificar situações ou domínios em
que uma criança precisa de orientação muito específica
para ter um bom desempenho; assume a iniciativa e,
assim, consegue trabalhar com uma supervisão mínima,
ou se distrai facilmente, podemos beneficiar-se de
atividades que podem ser concluídas rapidamente
(GARDNER; FELDMAN; KRECHEVSKY, 2001b, p. 16).

A proposta do Projeto é uma das diferentes formas


de mapear as competências dos(as) alunos(as), porém,
independente da necessidade de estratégias
educacionais a serem desenvolvidas, é necessário,
primeiramente, que o sistema de ensino desenvolva um
currículo flexível, dinâmico e instigador, para que seja
possível incluir adequações curriculares para alunos(as)
com potencial elevado.
O próximo Capítulo discute-se cada domínio e são
apresentadas suas respectivas descrições.

78
CAPÍTULO 5

OS DOMÍNIOS

Será apresentada, neste Capítulo, uma síntese da


relação entre cada um dos domínios abordados por
Gardner, Feldman e Krechevsky (2001a; 2001b; 2001c),
Vieira (2005) e Marques (2013) e as disciplinas e temas
transversais abordados nos Parâmetros Curriculares
Nacionais, os PCN (BRASIL, 1997), considerando suas
características principais para identificar indicadores de
Altas Habilidades/Superdotação em alunos(as) dos
primeiros anos do Ensino Fundamental. Mas podemos
interrogar: por que os PCN? Porque é este o documento
oficial que, apesar do longo período de 21 anos que o
separa da atualidade, ainda fundamenta parâmetros
para o Ensino Fundamental.

Domínio da Linguagem

Por meio do domínio da Linguagem a criança pode


perceber as múltiplas funções sociais que exerce e,
assim, desenvolver suas capacidades. No Ensino
Fundamental, este domínio é desenvolvido
especificamente a partir da disciplina de Língua
Portuguesa, tendo como objetivo garantir aos
indivíduos, progressivamente, uma competência em

79
relação à linguagem, que lhes possibilite resolver
problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens
culturais e alcançar a participação plena no mundo
letrado (BRASIL, 1997).
Em alunos(as) com potenciais elevados, o domínio
da linguagem manifesta-se na capacidade elevada de
contar histórias de formas diversificadas, coerentes e
ricas em detalhes. Gardner, Feldman e Krechevsky
(2001a) caracterizam este domínio por meio de três
categorias: a da narrativa inventada/narração de
história; a da linguagem descritiva/reportagem; e a da
linguagem poética/jogos de palavras. No Quadro 6
tem-se as habilidades-chave de cada uma destas
categorias.

Quadro 6 - Domínio da Linguagem.


USO POÉTICO
NARRATIVA
LINGUAGEM DA
INVENTADA/NAR
DESCRITIVA/REPOR LINGUAGEM/J
RAÇÃO
TAGEM OGO
DE HISTÓRIAS
DE PALAVRAS
Apresenta relatos
coerentes de eventos, Aprecia e sabe
sentimentos e fazer jogos de
É imaginativo(a) e
experiências (por palavras, como
original ao narrar
exemplo, usa uma trocadilhos,
histórias
sequência correta e um rimas e
nível apropriado de metáforas
detalhes)
Brinca com os
Gosta de ouvir ou ler Rotula e descreve as significados e os
histórias coisas com exatidão sons das
palavras

80
Revela interesse e
capacidade no
planejamento e no
desenvolvimento de
Demonstra interesse em
tramas (enredos), na Demonstra
explicar como as coisas
elaboração e na interesse em
funcionam, ou em
motivação dos aprender novas
descrever um
personagens, na palavras
procedimento
descrição de cenários,
cenas ou estados de
ânimos, no uso do
diálogo etc.
Demonstra
capacidade de
representar ou talento
dramático, incluindo Argumenta ou Usa as palavras
um estilo distinto, investiga de modo de maneira
expressividade ou lógico divertida
habilidade de
desempenhar
diversos papéis
Fonte: extraído de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b, p. 207-
208).

Domínio da Matemática

De acordo com os PCN da Matemática, ao


relacionar ideias matemáticas entre si, o(a) aluno(a)
pode reconhecer princípios gerais, tais como
proporcionalidade, igualdade, composição e inclusão, e
perceber que processos como o estabelecimento de
analogias, indução e dedução estão presentes tanto no
trabalho com números e operações como em espaço,
forma e medidas (BRASIL, 1997). As habilidades-chave
observadas por Gardner, Feldman e Krechevsky

81
(2001b) são: raciocínio numérico; raciocínio espacial;
solução lógica de problemas. O Quadro 7 aponta os
indicadores de cada categoria.

Quadro 7 - Domínio da Matemática.


SOLUÇÃO
RACIOCÍNIO RACIOCÍNIO
LÓGICA
NUMÉRICO ESPACIAL
DE PROBLEMAS
Focaliza as relações
É hábil em cálculo
Descobre padrão e a estrutura global
(por exemplo,
espacial do problema em vez
encontra atalhos)
de fatos isolados
É capaz de fazer É hábil em quebra- Faz interferências
estimativas cabeças lógicas
É competente ao
quantificar objetos e
informações
(por exemplo, Generaliza regras
mantendo registro,
Usa a imaginação
criando notações
para visualizar e
eficazes e gráficas)
conceituar um
É capaz de
problema
identificar relações Desenvolve e usa
numéricas (por estratégias (por
exemplo, exemplo, quando
probabilidade e joga algum jogo)
razão)
Fonte: adaptado de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b, p. 150).

Domínio das Ciências

Os objetivos do domínio das Ciências no Ensino


Fundamental são concebidos para que o(a) aluno(a)
desenvolva competências que lhe permitam
compreender o mundo e atuar como indivíduos e na

82
cidadania, utilizando conhecimentos de natureza
científica e tecnológica (BRASIL, 1997).
Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b) dividem o
domínio das Ciências em quatro áreas, a saber:
habilidade de observação; identificação de semelhanças
e diferenças; formação e experimentação de hipóteses;
interesse em/conhecimento de fenômenos
naturais/científicos.
No Quadro 8 são apresentados os indicadores de
cada uma destas categorias.

Quadro 8 - Domínio das Ciências.


IDENTIFI
INTERESSE
CAÇÃO FORMAÇÃO
HABILIDA EM/CONHECIMEN
DE SEME E
DE DE TO DE
LHANÇAS EXPERIMENTA
OBSERVA FENÔMENOS
E ÇÃO DE
ÇÃO NATURAIS/CIENTÍ
DIFEREN HIPÓTESES
FICOS
ÇAS
Observa
cuidadosam Revela vasto
ente os conhecimento sobre
materiais Gosta de vários tópicos
para comparar e científicos; oferece
Faz predições
aprender contrastar espontaneamente
com base em
sobre suas materiais, informações sobre
observações
característic eventos ou esses tópicos, ou
as físicas; ambos relata experiências
usa um ou pessoais ou alheias
mais com o mundo natural
sentidos

83
Com
frequência,
percebe
mudanças
Manifesta interesse
no meio
Faz perguntas por fenômenos
ambiente
do tipo “e naturais ou materiais
(por
se?”; explica relacionados, como
exemplo,
por que as livros de História
folhas novas
coisas são Natural, ao longo de
nas plantas,
como são períodos de tempo
insetos nas
prolongados
árvores, Classifica
mudanças materiais e
sazonais geralmente
sutis) nota
semelhan Realiza
ças e experimentos
diferenças simples e tem
entre ideias de
espécies ou experimentos
em ambas para testar
Mostra
(por hipóteses
interesse em
exemplo, próprias e
registrar
compara alheias
observações
caranguejo (por exemplo,
através de Costuma perguntar
e aranha) deixa cair
desenhos, sobre as coisas que
pedras
gráficos, observa
pequenas e
cartões
grandes na
sequenciais
água para ver
ou outros
se umas
métodos
afundam mais
rápido do que
as outras; rega
plantas com
tinta em vez
de água)
Fonte: extraído de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b, p. 61-62).

84
Domínio Musical

De acordo com os PCN de Artes, no transcorrer do


Ensino Fundamental o(a) aluno(a) poderá desenvolver
sua competência estética e artística nas diversas
modalidades da área de Artes (Artes Visuais, Dança,
Música, Teatro), tanto para produzir trabalhos pessoais e
grupais quanto para que possa, progressivamente,
apreciar, desfrutar, valorizar e julgar bens artísticos de
distintos povos e culturas, produzidos ao longo da
história e na contemporaneidade.
O domínio Musical foi classificado por Gardner,
Feldman e Krechevsky (2001b) nas seguintes categorias:
a de percepção musical; de produção musical; e de
composição musical. O Quadro 9 aponta as
habilidades-chave de cada uma delas.

Quadro 9 - Domínio Musical.


PERCEPÇÃO PRODUÇÃO COMPOSIÇÃO
MUSICAL MUSICAL MUSICAL
Cria composições
É sensível à
É capaz de manter simples em certos
dinâmica
um tom exato sensos de início,
(alto e baixo)
meio e fim
É sensível ao tempo É capaz de manter o
e aos padrões tempo e os padrões
rítmicos rítmicos exatos
Revela
Discrimina alturas expressividade Cria sistemas
de som quando canta ou toca notacionais simples
algum instrumento
Identifica estilos É capaz de lembrar
musicais e de ou reproduzir
diferentes músicos propriedades

85
musicais de músicos e
Identifica diferentes
outras composições
instrumentos e sons
Fonte: extraído de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b, p. 94).

Domínio Espacial

Gardner (1994) contempla que a “inteligência


espacial” é a responsável pela capacidade de visualizar
e representar graficamente ideias visuais ou espaciais e
de orientar-se, de forma apropriada, a partir de uma
matriz espacial. Mesmo sendo a teoria dos domínios
relacionada à Teoria das Inteligências Múltiplas,
Gardner, Feldman e Krechevsky (2001a; 2001b; 2001c)
não descrevem atividades específicas voltadas ao
domínio espacial da mesma forma que descrevem
outros domínios. Nos PCN também não há um eixo
específico para o domínio espacial, mas um mesmo
domínio pode estar presente em várias temáticas de
trabalho do Ensino Fundamental, como nas disciplinas
de Educação Física e Artes.
Nesta perspectiva, os autores do Projeto Spectrum
sugerem que atividades que possam contemplar as
capacidades espaciais sejam relacionadas com
atividades de construção e mecânica. Desta forma, as
categorias destes domínios são entendidas como as: de
compreensão de relações causais e funcionais; de
capacidades visuoespaciais; de abordagem de solução
de problemas com objetos mecânicos; e de habilidades
motoras finas.
As habilidades-chave deste domínio e suas
categorias estão descritas no Quadro 10.

86
Quadro 10 - Domínio Espacial.
ABORDA
GEM DE
COMPREEN
SOLUÇÕES
SÃO DE HABILIDA
CAPACIDADE DE
RELAÇÕES DES
VISUOESPA PROBLEMAS
CASUAIS E MOTORAS
CIAL COM
FUNCIO FINAS
OBJETOS
NAIS
MECÂNI
COS
É capaz de
construir ou Usa a
É hábil ao
reconstruir abordagem de
Infere relações manipular
objetos físicos e tentativa e
com base na objetos ou
máquinas erro, e
observação partes
simples em aprende a
pequenas
duas ou três partir dela
dimensões
Usa uma
abordagem Exibe boa
Compreende a
sistemática coordenação
relação das Compreende as
para resolver mão-olho
partes com o relações
problemas (por exemplo,
todo, função espaciais entre
mecânicos bate com o
dessas partes e as partes de um
martelo no
como elas são objeto mecânico Compara e
prego e não
montadas generaliza
nos dedos)
informações
Fonte: extraído de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b, p. 34).

Domínio das Artes Visuais

No Ensino Fundamental, esta área de domínio se


torna menos explorada, limitando muitas vezes os(as)
alunos(as) a desenvolverem suas capacidades artísticas
de observação, criação e a expressarem suas ideias de

87
modo adequado e criativo (GARDNER; FELDMAN;
KRECHEVSKY, 2001a; 2001c).
Para Gardner, Feldman e Krechevsky, (2001b), as
categorias associadas a este domínio são as de
percepção, de representação, de talento artístico e de
exploração. Estas categorias são apresentadas no
Quadro 11, por meio dos seguintes grupos de
características sistematizados.

Quadro 11 - Domínio das Artes Visuais.


ARTES
ARTES
VISUAIS:
VISUAIS: TALENTO EXPLORA
PRODUÇÃO/
PERCEP ARTÍSTICO ÇÃO
REPRESENTA
ÇÃO
ÇÃO
É capaz de usar
Tem
vários
consciência
elementos de
dos É flexível e
arte (por
elementos inventivo(a) no
É capaz de exemplo, linha,
visuais no uso de
representar o cor, forma) para
ambiente e materiais de
mundo visual descrever
no trabalho arte (por
com exatidão emoções,
de arte (por exemplo,
em duas ou produzir certos
exemplo, experimenta
três dimensões efeitos e
cor, linha, com tinta, giz,
embelezar
formas, argila)
desenhos ou
padrões,
trabalhos
detalhes)
tridimensionais

88
Transmite
claramente o
humor através
de
representações Usa linhas e
É capaz de
literais (por formas para
criar símbolos
exemplo, sol gerar uma
reconhecíveis
sorrindo, rosto grande
para objetos
chorando) e variedade de
comuns (por
aspectos formas (por
exemplo,
abstratos (por exemplo,
pessoas,
É sensível a exemplo, cores abertas e
vegetação,
estilos escuras ou fechadas,
casa, animais)
artísticos linhas caindo explosivas e
e coordenar
diferentes para expressar controladas)
elementos,
(por tristeza); em trabalhos
espacialmente,
exemplo, é produz bidimensionais
em um todo
capaz de desenhos ou ou
unificado
distinguir esculturas que tridimensionais
arte abstrata parecem
de realismo, “alegres”,
impressionis “tristes” ou
mo etc.) “poderosos”
Preocupa-se
com a É capaz de
Usa
decoração e o executar
proporções
embelezamento assuntos ou
realistas,
Produz temas variados
características
desenhos que (por exemplo,
detalhadas,
são coloridos, pessoas,
escolha
equilibrados, animais,
deliberada de
rítmicos, ou prédios,
cores
com todas essas paisagens)
características
Fonte: extraído de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b, p. 238).

89
Domínio do Movimento

O domínio do Movimento oferece ao aluno


oportunidades de experimentar estilos de movimento
criativos e atléticos, pois este pode usar seu corpo para
expressar emoções e ideias, explorar habilidades
esportivas e testar seus limites e suas capacidades
físicas. Esta proposta pode ser encontrada na temática
da Educação Física e Artes, pois além de explorar as
atividades corporais e físicas ainda promove o
desenvolvimento da coordenação rítmica do aluno.
Segundo Gardner, Feldman, Krechevsky (2001b, p.
120), este domínio é dividido em cinco categorias:
controle corporal; expressividade; criação de ideias de
movimento; responsabilidade à música.

Quadro 12 - Domínio do Movimento.


CRIA
ÇÃO
CONTRO SENSIBI RESPON
DE
LE LIDADE EXPRESSIVI SABI
IDEIAS
CORPO AO DADE LIDADE
DE
RAL RITMO À MÚSICA
MOVIME
NTO
Move-se Evoca estado Tem ideias
Revela
em de ânimo e interessant
consciên
sincronia imagens es
cia e Responde
com através do e novas de
capacida diferente
ritmos movimento, movimen
de de mente a
estáveis usando gestos to,
isolar e diferentes
ou e posturas verbalmen
usar tipos de
mutantes corporais; o te,
partes músicas
especial estímulo pode fisicamen
diferentes
mente na ser uma te ou
do corpo
música imagem ambos,

90
(por verbal, um amplia
exemplo, objeto ou uma ideias (por
a criança música exemplo,
tenta sugere que
acompa os colegas
nhar o ergam os
ritmo, em braços
vez de para
não parecerem
perceber nuvens no
ou céu)
desconsid
erar
mudan
ças
rítmicas)
Planeja, É capaz de
organiza responder ao
uma tom ou à
É capaz
sequência qualidade
de Responde
e executa tonal de um Revela
estabelec imediatam
moviment instrumento sensibilida
er um ente à
os ou seleção de ao
ritmo ideia e
eficientem musical (por ritmo e
próprio e imagens
ente (os exemplo, faz expressivi
regulá-lo com
moviment movimentos dade ao
para moviment
os não leves e fluidos responder
atingir os
parecem com uma a música
um efeito originais
aleatórios música lírica e
desejado
ou movimentos
desconjun fortes e
tados) destacados

91
com uma Explora o
marcha) espaço
disponível
(vertical e
horizontal
) com
muita
liberdade
Antecipa
Consegue
os outros
repetir os Coreografa
em um
próprios uma dança
espaço
moviment simples,
compartil
os e os ensinando-
hado
moviment a
Experimen
os dos aos outros
ta
outros
movimen
tos do
corpo no
espaço
(por
exemplo,
voltando-
se e
girando)
Fonte: extraído de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b, p. 120).

Domínio Social

O domínio Social pode ser explorado nas várias


temáticas do ensino fundamental, porém são nos temas
transversais que este aparece em maior destaque.
Segundo os PCN dos temas transversais (BRASIL, 1997),
para a construção de uma educação para a cidadania é
necessário proporcionar ao alunado reflexões sobre as
questões sociais que os norteiam, a construção da

92
cidadania e a democracia e os múltiplos aspectos e
diferentes dimensões da vida social. Gardner, Feldman e
Krechevsky (2001b) resumem o domínio Social da
criança a partir de cinco categorias, quais sejam: a do
entendimento de si mesma; do entendimento do outro; a
da vivência de papéis sociais distintos/de líder; a de
facilitadora; e de cuidadora/amiga. As habilidades-chave
podem ser observadas no Quadro 13.

Quadro 13 - Domínio Social.


VIVÊN
CIA
DE CUIDA
ENTENDI ENTENDI
PAPÉIS FACILITA DORA/
MENTO DE MENTO
SOCIAIS DORA
SI MESMA DO OUTRO
DISTIN AMIGA
TOS/
LÍDER
Frequente Consola
Identifica as mente as
próprias Demonstra Frequente compartilh outras
capacidades, conhecer os mente a ideias, crianças
habilidades, colegas e inicia e informaçõe quando
interesses e suas organiza se elas
áreas de atividades atividades habilidades estão
dificuldade com outras chatead
crianças as
Demons
tra
Reflete sobre sensibili
os próprios Presta Organiza dade
Medeia
sentimentos, atenção aos as outras aos
conflitos
experiências outros crianças sentime
e realizações ntos das
outras
crianças

93
Utiliza essas
reflexões Reconhece
para pensamen Convida
compreen tos, Atribui outras
der e sentimentos papéis aos crianças
orientar o e outros para
próprio capacidades brincar Demons
comporta alheias tra saber
mento do que
Explica Amplia e os
Demonstra
como a elabora as amigos
insight sobre
Tira atividade ideias das gostam
os fatores
conclusões é outras e não
que levam
sobre os realizada crianças gostam
alguém a
outros com Oferece
se sair bem
base em Supervisio ajuda
ou ter
suas na e dirige quando os
dificuldade
atividades as outros
em
atividades precisam
uma área
de atenção
Fonte: extraído de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b, p. 182).

Estilo de trabalho

Como mencionado anteriormente, o estilo de


trabalho não é caracterizado como um domínio
propriamente dito, mas permite avaliar a intensidade
que a criança demonstra ao desenvolver uma atividade.
Segundo Gardner, Feldman e Krechevsky (2001c), o
estilo de trabalho reflete a dimensão do processo de
trabalho ou brincar da criança, em vez do tipo de
produto que resulta. O estilo de trabalho pode variar
segundo a tarefa desenvolvida pelo(a) aluno(a); desta
forma, o(a) professor(a) deve estar atento(a) para
analisar se as dificuldades apresentadas pela criança

94
em determinada(s) atividade(s) estão relacionadas ao
seu estilo de trabalho ou ao entendimento do conteúdo.
Nesta perspectiva, os autores propuseram uma lista de
características que destacam e avaliam o
comportamento e o estilo de trabalho da criança (cf.
Anexo 12).
Ainda de acordo com Gardner, Feldman e
Krechevsky (2001c), a lista de estilo de trabalho tem
como objetivo descrever o processo pelo qual o(a)
aluno(a) aborda e realiza determinadas atividades.
Importante destacar que essas descrições não têm
conotação positiva ou negativa , apenas referem-se à
relação da criança com os materais e atividades.

Quadro 14 - Estilo de trabalho e características.


ESTILOS DE
CARACTERÍSTICAS
TRABALHO
A criança inicia a atividade animada; presta
atenção e se adapta ao formato e ao conteúdo
Facilmente
da atividade. Às vezes a criança começa a
engajado
fazer uma atividade sozinha, antes mesmo
que o adulto explique como será a atividade.
A criança mostra resistência à estrutura da
atividade; pode precisar de que o adulto
Relutante em
reestruture a atividade; pode impor sua
engajar-se
própria agenda para mudar os objetivos da
atividade.
A criança parece à vontade com os materiais
e com sua capacidade; faz movimentos, dá
Confiante
respostas ou opiniões prontamente e com
segurança.
A criança segue hesitante depois de iniciar a
atividade; pode parecer insegura em relação
Hesitante
a como usar os materais, mesmo depois de
uma explicação; resiste a dar respostas ou

95
continua buscando a aprovação ou o
reasseguramento do adulto; tem medo de
fazer movimentos errados.
A criança diverte-se com os materiais ou com
a atividade; usa os materiais facilmente,
Brincalhão
fazendo frequentes comentários espontâneos,
ou criando extensões divertidas da atividade.
A abordagem da criança à atividade é direta,
sem distrações; executa a atividade como se
Sério fosse “só trabalho, nenhum divertimento”;
porém, pode ser séria e demostrar que está
gostando da tarefa e dos materiais.
A criança demostra intensa concentração na
atividade ou no uso dos materiais; presta
atenção ao trabalho, apesar de distrações ao
Concentrado
seu redor (isso vai além do interesse, o foco
indica atenção e singularidade de propósito
incomuns por parte da criança).
A criança tem dificuldade de desligar-se das
atividades de sala de aula que a cercam,
Distraído
parece que sua atenção à tarefa aumenta e
diminui.
A criança dedica-se à atividade tenazmente,
responde aos desafios com equinimidade e
Persistente não desiste, apesar das dificuldades; também
pode ser persistente sem a presença de
qualquer dificuldade específica.
A criança tem dificuldade em resolver partes
desafiadoras ou frustrantes da atividade;
Frustrado pela
pode recorrer rapidamente ao adulto em
atividade
busca de soluções de problemas, ou
expressar relutância em terminar a atividade.
A criança não tem senso de continuidade;
Impulsivo trabalha tão rapidamente que fica
descuidada.
A criança comenta ou avalia seu trabalho,
Reflexivo fazendo revisão positiva ou negativa; parece
distanciar-se do processo concreto de

96
trabalho ou brincar, para avaliar se seu
desempenho está de acordo com suas
expectativas.
Propenso a A criança precisa de muito tempo para
trabalhar preparar seu trabalho; trabalha lentamente e
lentamente metodicamente durante a atividade.
Propenso a O ritmo da criança é mais rápido do que o da
trabalhar maioria dos colegas; inicia imediatamente a
rapidamente atividade e vai avançando até concluí-la.
A criança conversa com os adultos enquanto
Conversador trabalha na atividade; inicia discussões
relacionadas ou não à atividade.
A criança fala muito pouco enquanto
trabalha na atividade, apenas quando a
Quieto atividade exige, porém a ausência de
conversa não é necessariamente devido a
desconforto ou hesitação.
A criança revela necessidade ou preferência
por começar a tarefa através de estímulos
Responde a
visuais (examinando cuidadosamente os
pistas visuais,
materias), de estímulo auditivo (ouvindo
auditivas ou
instruções, música) ou de estímulo
cinestésicas
cinestésicos (sentindo os materiais ou usando
o movimento para compreender melhor).
A criança usa materais ou informações
Demostra uma estrategicamente; declara seus objetivos e
abordagem depois começa a trabalhar para atingi-los,
planejadora muitas vezes descrevendo o próprio
progresso.
Emprega
A criança usa suas inclinações como um meio
habilidades
de se envolver em uma dada atividade ou
pessoais na
interpretá-la.
tarefa
A criança descobre um elemento divertido na
Diverte-se na área de conteúdo; é capaz de olhar a
área de atividade de fora, conforme ela foi definida, e
conteúdo descobrir uma faceta engraçada, irônica ou
inesperada.

97
A criança redefine materiais e atividades de
Usa os materiais
maneira singular, nova ou imaginativa.
de maneira
Observa como o uso inesperado afeta o
inesperadas
processo ou o produto da criança.
Demostra
A criança demostra prazer com seu sucesso
orgulho pela
na atividade.
realização
Presta atenção
A criança nota aspectos sutis de materiais ou
aos detalhes; é
atividades.
observadora
A criança faz perguntas sobre o que são as
É curiosa sobre
coisas, sobre como e por que foram feitas
os materiais
daquele jeito.
A criança pergunta frequentemente ao adulto
Demostra
se o que ela está fazendo está “certo”; pode
preocupação
perguntar se as outras crianças acertaram;
com a resposta
demostra prazer quando está “certa” e
“certa”
desagrado quando está “errada”.
A criança está mais interessada em estar com
o adulto do que com os materiais; ela busca
continuamente uma interação com o adulto
Concentra-se na
por meio de conversa e contato visual,
interação com o
sentando no colo do adulto e assim por
adulto
diante. Mesmo quando envolvida na
atividade, ela tenta manter algum tipo de
interação com o adulto.
Fonte: adaptado de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001c, p. 185).

O estudo dos domínios permite ao(à) professor(a)


refletir e explorar sistematicamente algumas áreas que
talvez ignorasse em alguns momentos, por não ter
subsídios ou formação suficientes para abordá-las com
os(as) alunos(as).
Gama (2014) assinala que uma proposta de
currículo deve conter as ideias, os conceitos, as teorias e
os fatos que devem ser apresentados aos(às) alunos(as),

98
no que trate daqueles(as) com Altas
Habilidades/Superdotação. Este currículo deve,
portanto, ser mais complexo, mais abstrato e mais
variado do que o currículo regular, além de ser
organizado de forma diferente.
Consonante com essa visão, entendemos a
importância da reorganização dos conteúdos de forma
transdisciplinar, tendo como enfoque uma visão
pluralista do conhecimento. Assim, a articulação entre a
proposta de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001a;
2001b; 2001c), os fundamentos pedagógicos dos PCN e
os domínios de Vieira (2005) e de Marques (2013; 2017)
constroem um estudo integrado, promovendo a eficácia
de um currículo de conteúdos variados, permitindo
maior e melhor visão de mundo e podendo explorar
temas centrais para o(a) aluno(a), com estímulo e
motivação para se aprofundar no conhecimento do que
mais lhe interessa. Assim, há possibilidades de
desenvolvimento, de um maior senso de liberdade e,
também, de responsabilidade pelo conhecimento
adquirido.
O Quadro 15 apresenta, em resumo, a articulação
dos domínios aqui apresentados em consonância com
os Parâmetros Curriculares Nacionais e seus temas
transversais.

99
Quadro 15 - Articulação dos domínios, dos Parâmetros Curriculares
Nacionais e dos temas transversais.
ARTICULAÇÃO DOS DOMÍNIOS
PARÂMETROS DOMÍNIOS DE
CURRICULARES GARDNER,
DOMÍNIOS DE
NACIONAIS E FELDMAN
VIEIRA (2005)
TEMAS E KRECHEVSKY
E MARQUES (2013)
TRANSVERSAIS (2001a; 2001b;
(BRASIL, 1997) 2001c)
Domínio da
Língua Portuguesa Domínio Linguístico
Linguagem
Domínio da Domínio da
Matemática
Matemática Matemática
Domínio das Domínio das Artes
Artes Visuais Visuais
Artes
Domínio Musical Domínio Musical

Domínio do Domínio do
Educação Física
Movimento Movimento
História, Geografia,
Domínio das
Ciência, Meio Domínio das Ciências
Ciências
Ambiente e Saúde
Saúde, Pluralidade
Domínio do
Cultural, Orientação Domínio do
Entendimento
Sexual, Trabalho e Entendimento Social
Social
Consumo
Educação Física e Domínio da
Domínio Espacial
Artes Mecânica
Fonte: elaboração própria.

Observa-se, como já contextualizado, que as três


perspectivas se entrelaçam. Vale ressaltar que, de
acordo com os PCN (BRASIL, 1997), o domínio musical
está contido no currículo de Artes.

100
Os autores do Projeto Spectrum desenvolveram,
para cada domínio, características que permitem
aos(às) professores(as) examinar os trabalhos dos(as)
alunos(as) e determinar seus níveis de competência em
certa(s) área(s); assim, professores(as) usam estas
características como instrumento de avaliação e como
subsídios para analisar o desenvolvimento de uma
determinada atividade, observando o grau de
motivação e interesse, como também as facilidades e
dificuldades dos(as) alunos(as).

101
102
CAPÍTULO 6

AS INTELIGÊNCAIS MÚLTIPLAS E AS
IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS

Gardner (1994; 1995; 2010) descreve que uma escola


ideal é aquela que leva em consideração que nem todas
as pessoas têm os mesmos interesses e habilidades, ou
seja, nem todas aprendem da mesma maneira. Nesta
visão, o autor ressalta a importância de uma Educação
centrada no indivíduo, na qual o objetivo deve ser
construir um ensino em torno das potencialidades e
inclinações específicas de cada um.
Nesta perspectiva, a essência das Inteligências
Múltiplas (IM) para a educação é a de respeitar as
muitas diferenças entre as pessoas, as múltiplas
variações em suas maneiras de aprender e os vários
modos pelos quais elas podem ser avaliadas
(MONTEIRO; SMOLE, 2010).
Em suas pesquisas por duas décadas, refletindo as
implicações educacionais voltadas as IM, Gardner
(2010) conclui que sua Teoria apresenta dois princípios
fundamentais para a educação: i) o da visão pluralista de
aprendizagem, ou seja, existem muitas maneiras de
pensar, saber e ensinar; e ii) o do ensino individualizado,
que reflete em saber adequar o estudo à aptidão do(a)
aluno(a), proporcionando, assim, uma aprendizagem
conforme a potencialidade de cada indivíduo. Desta

103
maneira, este conceito oferece à escola e seus(suas)
professores(as) uma nova forma de ver as capacidades
e limitações singulares de cada aluno(a) e, assim,
elaborar atividades voltadas ao estilo de aprendizagem
individual.
As inovações educacionais sugeridas pelas IM
exigem mudanças qualitativas que incluem posturas,
aptidões e reflexões de maneiras pedagógicas e
didáticas por parte dos professores. Este processo pode
levar tempo, porém, é essencial que o(a) professor(a)
aprenda a vislumbrar o(a) aluno(a) por completo, em
suas múltiplas capacidades. Segundo Smole (1999), este
modo de olhar para o(a) aluno(a) permite que o(a)
professor crie(a) condições para interferir no
desenvolvimento e no treino de suas competências. Ao
mesmo tempo, este olhar torna possível acompanhar
individualmente os resultados da sua prática
pedagógica e adotar uma atitude de constante reflexão
a respeito dos sucessos e insucessos de seu trabalho
docente.
O(a) professor(a) em prática na sala de aula tem o
poder de ativar e desativar as inteligências dos(as)
alunos(as): depende de como usa suas estratégias de
ensino. Armstrong (2010) classifica este processo em
dois tipos de experiências: as cristalizadoras e as
paralisadoras. O(a) professor(a) pode proporcionar
experiências cristalizadoras quando, ao identificar áreas
de interesse do(a) aluno(a), desenvolve métodos de
modo a incluir uma amplitude de técnicas para que
possam atingir e estimular o talento do indivíduo.
Reciprocamente, as experiências paralisadoras são

104
ações que “desligam” as potencialidades dos(as)
alunos(as) quando, por exemplo, um(a) professor(a)
tenta homogeneizar, igualar a aprendizagem dos(as)
alunos(as), fazendo que todos(as) utilizem apenas uma
única forma de aprender, tolhendo, assim, a
criatividade de cada indivíduo.
Nesta perspectiva ressalta-se a importância de um
curso de formação de professores embasado nos
conceitos das IM, com o objetivo de proporcionar
aos(às) educadores(as) informações suficientes para que
melhor reconheçam as possíveis inteligências múltiplas
de suas turmas e, assim, construam um currículo que
esteja de acordo com a proposta teórica e no qual se
desenvolvam mecanismos para que este conceito
pluralista de ensino seja posto em prática (MARQUES,
2013; 2017).
Uma experiência prática desta formação foi
relatada por Hyland e McCarthy (2010) ao
desenvolverem um curso de pós-graduação para
docentes do Ensino Médio na Irlanda, tendo como
público cerca de dois mil profissionais. Esta formação
teve como objetivo apresentar a Teoria das Inteligências
Múltiplas e proporcionar aos(às) cursistas estratégias
para se adaptar o modelo de ensino e incentivá-los(as) a
usar a nova abordagem em sala de aula. Em uma das
atividades, uma professora relatou como a Teoria
mudou sua forma de pensar e agir em sala de aula:

Em termos de ensino e aprendizagem, a Teoria das IM


concentra nossa mente no fato de que precisamos
abordar a pluralidade do intelecto da criança. [...]. Se
realmente aceitamos e valorizamos a Teoria das IM,

105
devemos procurar e desenvolver metodologias que
permitam que todas as inteligências resplandeçam na
experiência da aprendizagem. Isso significa que não
podemos voltar à estrutura hierárquica do ensino. Pelo
contrário, devemos agarrar a noção do construtivismo
com as duas mãos e dar liberdade aos alunos para
explorarem e construírem o conhecimento e o
entendimento a partir das suas próprias potencialidades
(HYLAND; MCCARTHY, 2010, p. 228).

Segundo Hyland e McCarthy (2010), o projeto de


formação atingiu importantes resultados para a
comunidade educacional do país, pois além das IM
terem sido facilmente entendidas pelos(as)
professores(as) e adotadas nas escolas participantes, o
curso também influenciou atitudes entre legisladores
educacionais em âmbito nacional. Os documentos e as
diretrizes da política educacional nacional da Irlanda
durante os últimos dez anos fazem, cada vez mais,
referência à Teoria das Inteligências Múltiplas e
destacam suas relevâncias para o ensino e para a
aprendizagem. Nesta perspectiva, os autores relatam as
conquistas trazidas a partir da implantação da Teoria
na Irlanda.

Outro documento legislativo publicado recentemente


leva a Teoria das IM explicitamente em conta ao
descrever capacidades excepcionais e sugerir listas pra
identificar crianças com essas capacidades. Essa
publicação tem um capítulo intitulado “Outras maneiras
de pensar sobre ensino e aprendizagem”, que enfatiza a
Teoria das IM e dá exemplos de estratégias de ensino
baseadas em várias inteligências. Referencias explicitas à

106
Teoria das IM também podem ser encontradas em
documentos nacionais relacionados com as artes no
ensino fundamental; educação social, pessoas e de
saúde; avaliação do currículo fundamental; educação
cívica, social e política no nível médio, e abordagens de
ensino e aprendizagem no ano de transição (HYLAND;
MCCARTHY, 2010, p. 229).

No Brasil, uma realidade comparada à da Irlanda


está longe de ocorrer, principalmente no âmbito
legislativo. Entendemos que transformar a Teoria das
Inteligências Múltiplas em prática pedagógica não é
tarefa simples, nem rápida, e segundo Smole (1999) não
há uma receita ou uma forma única a ser seguida que
garanta que sua aplicação funcionará em todas as
escolas e em qualquer realidade.
Gardner (1995; 2010) reconhece que este processo
de mudança da prática escolar é longo e que, mais do
que estrutura ou investimento financeiro, necessita,
primeiramente, um trabalho em equipe, tendo como
crença a real possibilidade de desenvolvê-lo bem como
vontade de implementá-lo, por parte de todas as
pessoas envolvidas.
Ademais, Smole (1999) relata que se uma
comunidade escolar ou mesmo um(a) professor(a)
desejar adotar a perspectiva das IM em sua prática, é
indispensável que se tenha clareza sobre seus objetivos
e que se conheçam os interesses e as expectativas do
alunado, de seus pais e da equipe de trabalho. É
importante também que a equipe escolar trabalhe
coletivamente, investindo em sua própria formação,
refletindo sobre sua prática, trocando impressões,

107
dúvidas e conquistas, bem como avaliando as
dificuldades e o crescimento de seus(suas) alunos(as) a
partir da visão das IM.
No âmbito da Educação Especial, a adoção de
práticas da Teoria das Inteligências Múltiplas traz,
como principais objetivos, incentivar uma mudança de
atitude no sistema educacional e gerar um novo olhar
em relação a alunos(as) com Necessidades
Educacionais Especiais aos se construírem perfis
individuais que mostrem qualidades e limitações
relativas, em vez de simplesmente direcionar-se aos
déficits (VIALLE, 2010; MARQUES, 2013; 2017).
Armstrong (2001) explica que a Educação Especial
ainda está carregada de termos pragmáticos de
doenças, tais como patologias, retardos, perturbações e
transtornos de déficit; isso dificulta a identificação das
capacidades das crianças com tais necessidades
especiais. Para eliminar estes rótulos de incapacidade, o
autor sugere que a escola insira o parâmetro proposto
pelas IM – o paradigma de crescimento –, ou seja, as
práticas das IM reconhecem as dificuldades e
deficiências, mas o faz no contexto de considerar a
existência de pessoas com todo tipo de necessidade
especial, mas que podem ser talentosas em uma ou
mais das oito inteligências. No Quadro16, a seguir,
Armstrong (2001) ilustra algumas diferenças entre o
paradigma do déficit versus o paradigma do
crescimento.

108
Quadro 16 - O paradigma do déficit versus o paradigma do
crescimento.
PARADIGMA DO
PARADIGMA DO DÉFICIT
CRESCIMENTO
Rotula o indivíduo em termos de
incapacidades específicas (por Evita rótulos; vê o
exemplo, incapacidade de indivíduo como uma
aprendizagem, perturbação pessoa por completo, e não
emocional, transtorno comunicativo, apenas sua deficiência
transtorno comportamental)
Avalia as necessidades de
Diagnostica as incapacidades
um indivíduo usando
específicas usando uma bateria de
abordagens de avaliações
testes padronizados; centra-se em
autênticas, dentro de um
erros, escores baixos e fraquezas em
contexto naturalista;
geral
centra-se em forças
Ajuda a pessoa a aprender
Remedia as incapacidades usando e crescer através de um
estratégias de tratamento conjunto rico e variado de
especializados, muitas vezes distantes interações, com atividades
de qualquer contexto de vida real e acontecimentos da vida
real
Mantem as conexões do
Separa o indivíduo dos outros para indivíduo com os colegas
tratamento especializado em turmas, ao buscar um padrão de
grupos ou programas segregados vida tão normal quanto
possível
Usa uma coletânea de termos, testes,
Usa materiais, estratégias e
programas, materiais e cadernos de
atividades que são comuns
exercícios que são diferentes dos
para todas as crianças
encontrados em sala de aula comum
Segmenta a vida do indivíduo em Mantém a integridade do
objetivos indivíduo como um ser
comportamentais/educacionais que humano integral quando
são monitorados, medidos e avalia o progresso em
modificados regularmente relação aos objetivos

109
Cria programas de Educação Especial
que correm em uma pista paralela à
Estabelece modelos
dos programas de educação regular;
colaborativos que
professores(as) das duas pistas
permitem a especialistas e
raramente
professores(as) de sala de
se encontram, exceto nas reuniões dos
aula trabalhar juntos
programas educacionais
individualizados
Fonte: extraído de Armstrong (2001, p. 136).

Deste modo, na perspectiva do paradigma do


crescimento, a Teoria das Inteligências Múltiplas
oferece um contexto que favorece os canais positivos de
alunos(as) com necessidades educacionais especiais,
pelos quais eles podem aprender a criar mecanismos
para lidar com suas próprias limitações. O(a)
professor(a) deve ter consciência que as deficiências
ocorrem em apenas uma parte da vida do(a) aluno(a);
assim, Armstrong (2001, p. 138) aponta que
professores(as) precisam ser “detetives de
potencialidades das IM” nas vidas de alunos(as) que
enfrentam dificuldades na escola. Este procedimento
proporciona caminhos para que o(a) educadora
encontre soluções positivas para ajudar o(a) aluno(a) a
lidar com suas necessidades especiais, pois teorias das
IM sugerem que alunos(as) que não estão se saindo
bem em virtude de limitações em áreas específicas de
inteligência podem desviar destes obstáculos usando,
como alternativas, suas inteligências mais
desenvolvidas para suprir as menos desenvolvidas.
Nesta visão, as estratégias usadas para facilitar a
aprendizagem de alunos(as) com necessidades
educacionais especiais devem ser as mesmas usadas

110
para criar planos de aula de oito maneiras diferentes
para a sala de aula comum. De acordo com a Teoria das
Inteligências Múltiplas, as melhores atividades de
aprendizagem para estes(as) alunos(as) são as que têm
mais sucesso com todos os(as) alunos(as); porém, o que
difere é a forma pela qual as aulas são especificamente
adaptadas às limitações de determinados(as) alunos(as)
ou de pequenos grupos (ARMSTRONG, 2001).
O estudioso aponta que a Teoria das Inteligências
Múltiplas também se insere no desenvolvimento dos
Programas Educacionais Individualizados (PEI), pois
ajuda professores(as) a identificarem as capacidades e o
estilo de aprendizagem preferido de cada aluno(a), e
estas informações servem como base para planejar os
tipos de estratégias mais adequadas para a inclusão
do(a) aluno(a) em um PEI.
Segundo Armstrong (2001), se a Teoria das
Inteligências Múltiplas for implantada em larga escala
tanto em programas de educação regular quanto nos de
Educação Especial, isso proporcionará uma série de
efeitos positivos:

 Menos encaminhamento para turmas de Educação


Especial: de acordo com o autor, quando o
currículo regular incluir o espectro total das
inteligências, os encaminhamentos para turmas de
Educação Especial vão diminuir, pois as aulas de
apoio não ficarão restritas aos conteúdos de leitura,
de escrita e de matemática, mas serão sensíveis aos
diferentes tipos de aprendizagens. Este modelo,

111
portanto, apoia o movimento de inclusão total na
Educação.

 Um novo papel para o(a) profissional de


Educação Especial: neste novo modelo o(a)
educador(a) especial deixará de ser um(a)
professor(a) de apoio e se tornará consultor(a),
um(a) mediador(a) das IM, podendo, desta forma,
ajudar professores(as) da sala de aula regular em
tarefas tais como: i) identificar as inteligências mais
fortes nos(as) alunos(as); ii) focalizar as
necessidades de alunos(as) específicos(as); (iii) criar
intervenções específicas de IM; e iv) trabalhar com
grupos usando atividades de IM.

 Uma maior ênfase na identificação de


potencialidades: a partir da Teoria das
Inteligências Múltiplas, os(as) professores(as) terão
subsídios para avaliar as capacidades dos
indivíduos com necessidades educacionais
especiais e suplantar medidas diversas de
diagnósticos, no objetivo de desenvolver
programas educacionais adequados.

 Maior autoestima: estimulando as capacidades de


alunos(as) com necessidades especiais,
provavelmente a autoestima destes indivíduos
aumentará, e seu desempenho de aprendizagem
também.

112
 Maior entendimento e apreciação dos alunos: de
acordo com Armstrong (2001), quando os(as)
alunos(as) usam a Teoria das Inteligências
Múltiplas para compreender suas diferenças
individuais, a tolerância, o entendimento e a
apreciação em relação aos colegas com
necessidades educacionais especiais tendem a
aumentar, facilitando a total interação na sala de
aula regular.

Nesta perspectiva, compreende-se que existem


evidências convincentes de que os processos de ensino e
aprendizagem voltados para as IM levam a um maior
envolvimento dos(as) alunos(as), sejam eles(as)
indivíduos com necessidades especiais ou não; ademais,
os(as) alunos(as) são levados(as) a descobrir suas formas
de aprender, proporcionando, assim, maior motivação
por parte dos(as) professores(as) em prover um
ambiente de aprendizagem mais inclusivo e,
simultaneamente, provocando na comunidade escolar
uma visão mais positiva em relação a estes indivíduos e
tornando mais elevadas as expectativas sobre suas
capacidades de aprendizagem
No entanto, para a implantação de uma proposta
que considere as IM no âmbito educacional, é
necessário realizar uma reestruturação fundamental da
maneira pela qual educadores(as) avaliam o processo
de aprendizagem de seus(suas) alunos(as). Armstrong
(2010), Veiga (2010; 2012; 2014) e Marques (2013; 2017)
argumentam a importância de uma avaliação que
permita investigar as potencialidades de todos os

113
sistemas mentais do(a) aluno(a), permitindo que ele(a)
mostre aquilo que aprendeu em um contexto, ou seja,
em um ambiente voltado a sua realidade de
aprendizagem.
As escolas ainda estão limitadas a avaliações por
meio de testes padronizados, que averiguam o
conhecimento existente na mente do(a) aprendiz em
um dado momento e geralmente centrados naquilo que
o(a) aluno(a) não consegue fazer, ou seja, direcionados
ao seu fracasso. No entanto, uma avaliação voltada a
uma visão multifacetada da aprendizagem sustenta a
afirmação de que alunos(as) devem ser capazes de
mostrar suas competências em uma determinada
habilidade de diversas maneiras, o que conscientiza
sobre o fato de que o processo de avaliação não é um
processo de julgamento de seus erros, mais sim mais
uma oportunidade de aprendizagem.
Nesta visão, Armstrong (2010, p. 120) aponta várias
vantagens pela quais as avaliações voltadas às IM
podem promover uma maior aprendizagem dos(as)
alunos(as). Tais avaliações, multifacetadas:
 permitem ao(à) professor(a) uma percepção de
experiência única do(a) aluno(a) enquanto
aprendiz;
 proporcionam experiências interessantes, ativas,
animadas e estimulantes;
 permitem o desenvolvimento de currículos
significativos e a avaliação dentro do contexto
daquele programa;

114
 enfatizam a vontade de aprender do(a) aluno(a),
mostrando aquilo que ele(a) pode fazer e aquilo
que ele(a) está tentando fazer;
 oferecem múltiplas fontes de avaliação, que dão
uma visão mais acurada do processo de
aprendizagem do(a) aluno(a);
 tratam cada aluno(a) como um ser humano único;
 descrevem o desempenho do(a) aluno(a) em
termos que podem ser facilmente compreendido
pelos pais, demais alunos(a) e por outras pessoas
que não são educadoras;
 estimulam a aprendizagem pela própria
aprendizagem;
 comparam os(as) alunos(as) com seus próprios
desempenhos anteriores.
Nesta mesma vertente, Veiga (2012) traz uma
proposta de procedimento de avaliação a partir da
Teoria Modular da Mente. De acordo com a autora, esta
Teoria – embasada nos estudos de Howard Gardner e
Robert Sternberg – revela

como os procedimentos mentais de cada inteligência estão


atuando a partir do funcionamento das habilidades
cognitivas correspondentes a cada processo mental, que por
sua vez, corresponde a uma determinada inteligência.
Propicia também conhecer as capacidades e dificuldades em
cada sistema inteligente (VEIGA, 2012, p. 13).

Este modelo tem a pretensão de desenvolver uma


avaliação que auxilia profissionais nas áreas
pedagógicas e psicopedagógicas a investigarem a
aprendizagem não somente de alunos(as) entendidos

115
como “normais”, mas também de alunos com
deficiências, transtornos globais, Altas Habilidades/
Superdotação e dificuldades de aprendizagem. A
avaliação modular, como descreve Veiga (2012; 2014), é
uma proposta que vem redimensionar os esforços no
campo da avaliação, tendo como objetivo tornar
conhecido o perfil cognitivo do sujeito, investigando
quais são as capacidades e limitações do(a) aluno(a) e
como ele(a) utiliza estas capacidades, bem como quais
competências usa para aprender. Esta nova abordagem
de aprendizagem permite desvincular uma visão
patológica que profissionais da Educação têm do(a)
aluno(a) e vincular a visão das suas potencialidades,
desenvolvendo, assim, todos os seus sistemas de
inteligências, promovendo uma adaptação e
assimilação do conhecimento independente das
dificuldades ou facilidades dos(as) alunos(as).
O processo de avaliação modular é composto de
três fases, a saber:

 Contextualização: nesta etapa é feito um


levantamento de dados sobre o contexto escolar
do(a) aluno(a), verificando como acontece seu
desenvolvimento de aprendizagem. Estas
informações podem ser obtidas por meio de uma
entrevista com a família e do contato com
professores(as) anteriores do(a) aluno(a).

 Perfil modular: refere-se ao processo de


levantamento do potencial de aprendizagem do(a)
aluno(a), tendo como foco seu desenvolvimento

116
cognitivo a partir das oito inteligências propostas
por Howard Gardner. Para este levantamento são
utilizados instrumentos pedagógicos disparadores
para identificar quais são as facilidades e
dificuldades encontradas no sistema cognitivo
do(a) aluno(a). Estes instrumentos pedagógicos
podem ser conjuntos de tarefas que ativem as oito
inteligências do(a) aluno(a).

 Devolutiva: refere-se a um relatório pedagógico


feito a partir de registros de profissionais da
Educação que desenvolveram avaliações
modulares com o(a) aluno(a). Neste relatório deve
estar claro como acontece o desenvolvimento
cognitivo do(a) aluno(a) referente a cada uma das
oito inteligências, verificando assim, aquelas em
que o(a) aluno(a) demostra maior facilidade e
aquelas em que apresenta maior dificuldade ou
que, por algum motivo, não foram desenvolvidas.

De acordo com Veiga (2012; 2014) e Marques (2013;


2017), a Teoria das Inteligências Múltiplas possibilita
uma avaliação em que o sujeito mostra as múltiplas
opções para compartilhar o que aprendeu. Nesta
direção, a Teoria Modular da Mente está vinculada à
Teoria das Inteligências Múltiplas porque promove
uma avaliação modular que procura imergir o sujeito
em um ambiente enriquecido de recursos centrados nas
oito inteligências para avaliar seu desempenho e
conhecer suas verdadeiras potencialidades em uma
abordagem holística. A Teoria das Inteligências

117
Múltiplas afeta as práticas de educação de alunos(as)
com potencial acima da média, oferecendo uma
condição mais ampla de inteligência, a qual favorece,
por sua vez, a identificação das Altas
Habilidades/Superdotação em alunos(as) que não
tiveram bom desempenho em testes de QI tradicionais,
por exemplo.
Vialle (2010) relata que no início dos estudos sobre
a Teoria das Inteligências Múltiplas foram muitas as
críticas de uma linha tradicional da Psicologia que
argumentava que, com estas várias inteligências,
qualquer criança poderia ter características de Altas
Habilidades/Superdotação. No entanto, o(a) autor(a)
sempre defendeu que a Teoria das Inteligências
Múltiplas era coerente com o redirecionamento
igualitário das capacidades acima da média, pois
muitos programas de atendimento a alunos(as) com
Altas Habilidades/Superdotação eram elitistas e
privilegiavam aqueles(as) que apresentavam estratos
culturais e econômicos favoráveis.
Destarte, as IM demonstraram ser uma base eficaz
para identificar a condição de superdotado(a) em
estudantes de grupos desfavorecidos, de modo que o(a)
professor(a), ao enxergar as crianças em situações
socioeconômicas inferiores sob as lentes das IM, se
permitirá vê-las para além dos estereótipos da pobreza
(VIALLE, 2010).
Por fim, Craft (2010) explana que o uso da Teoria
das Inteligências Múltiplas para identificar quais e de
que maneiras os(as) alunos(as) são superdotados
recebeu muitas críticas: a oposição argumentava que as

118
avaliações não apresentavam veracidade para calcular
um fenômeno tão complexo. Ainda assim, o autor
assegura o enorme potencial das IM, qual seja, o de
proporcionar uma aprendizagem multifacetada, capaz
de se adaptar às diversas finalidades educacionais. A
referida Teoria ajuda não só aqueles(as) que têm
dificuldades, bem como aqueles(as) que se sobressaem,
abrangendo, ainda, o currículo acadêmico
tradicionalmente limitado proporcionando-lhe,
inclusive, uma visão curricular mais ampla.
O próximo Capítulo apresenta um relato de
intervenção educacional longitudinal, caracterizando o
direcionamento teórico-metodológico escolhido para o
seu desenvolvimento.

119
120
CAPÍTULO 7

RELATO DE UMA INTERVENÇÃO


EDUCACIONAL LONGITUDINAL REALIZADA
COM UM ALUNO DA REDE PÚBLICA DE ENSINO
____________________________________________________

Contextualização do início da intervenção educacional

O presente relato é resultado de uma intervenção


realizada com um aluno de rede pública de ensino e
comporta a utilização de diversos aportes teórico-
metodológicos compatíveis com a realidade do
contexto no qual o aluno se encontrava inserido. A
preocupação foi com a pertinência à faixa etária
envolvida nesta intervenção: a infância (MARQUES,
2013; 2017).
Para o processo de identificação do aluno com
sinalizadores de Altas Habilidades/Superdotação, foi
utilizada a identificação pela provisão proposta por
Vieira (2011) (cf. Anexo 14).
Ademais, trata-se de um relato de intervenção
educacional longitudinal. O aluno é o mesmo, e as
análises envolvem a comparação dos dados levantados
entre os períodos analisados. A opção em utilizar este
tipo de relato reside nos aspectos da observação, do
controle e da análise que a professora (no presente
relato, denominada “professora/pesquisadora”)
apontou durante a trajetória de vida do aluno,

121
permitindo, assim, uma compreensão mais profunda
das mudanças e da evolução das variáveis observadas.
Um dos propósitos deste relato – do tipo estudo de
caso – foi o de reunir informações detalhadas e
sistematizadas sobre a identificação de um aluno com
Altas Habilidades/Superdotação e mostrar as
dificuldades encontradas durante a trajetória escolar
deste aluno (MARQUES, 2017). Yin (2004, p. 32)
defende que o estudo de caso é o enfoque mais
adequado para conhecer em profundidade todas as
nuances de um determinado fenômeno. Neste sentido,
mesmo utilizando-se de um caso único, pode-se fazer
generalizações quando o contexto envolve casos
decisivos, raros, típicos, reveladores e longitudinais.
Esta abordagem, portanto, vai muito além do dado
quantificável, possibilitando a interpretação e descrição
dos fatos valorizando as vivências do aluno no contexto
escolar.
O interesse pelo tema Altas Habilidades/Superdotação
surgiu a partir da prática de uma das autoras como
professora da Educação Infantil. Como consequência, a
autora pode realizar o acompanhamento da trajetória
do aluno, priorizando o enfoque sobre a precocidade de
alunos(as) na Educação Infantil (MARQUES 2013;
2017).
A sinalização e identificação de alunos(as) com
Altas Habilidades/Superdotação ocorreu após uma
palestra sobre Altas Habilidades/Superdotação,
realizada por uma das autoras, professora da Educação
Infantil, a convite da direção de uma escola da rede
pública municipal de ensino, no nível de Educação

122
Infantil, para professores(as) e gestores(as) da referida
escola. Como consequência da palestra, esta professora
foi procurada pela direção da instituição para ajudar a
identificar e atender às necessidades de um aluno,
motivo do convite e da preocupação daqueles(as) que
constituíam o corpo docente da escola. Foram
realizados vários procedimentos de identificação, e a
autora participou do processo de aceleração do aluno, à
época, precoce.
As informações coletadas na identificação foram
feitas pela professora regular do aluno após receber
orientações sobre a aplicação dos instrumentos.
O relato foi desenvolvido em duas fases da vida
escolar do aluno, quais sejam: a fase vivenciada na
Educação Infantil e a fase vivenciada no Ensino
Fundamental. Na fase da Educação Infantil
participaram da coleta de informações uma professora
de Educação Infantil e os pais do aluno. Já no Ensino
Fundamental, foram participantes uma professora de
Ensino Fundamental e uma professora de Educação
Especial. Portanto, o critério de inclusão de docentes
neste relato foi “ser professor(a)” deste aluno.
Para um melhor entendimento sobre as
características das pessoas envolvidas, as informações
foram obtidas na aplicação dos instrumentos
respondidos pelas professoras, pais e pelo próprio
aluno. Uma síntese desta utilização está relacionada no
Quadro 17.

123
Quadro 17 - Instrumentos utilizados.

ORDEM INSTRUMENTO DESCRIÇÃO

Instrumento elaborado para os pais


Roteiro de
com o objetivo de obter mais
entrevista
01 informações sobre o
estruturada,
desenvolvimento escolar e social do
dirigido aos pais
aluno (MARQUES, 2013).
Questionário de
Instrumento preenchido pelos pais
indicadores
e professoras da Educação Infantil
de precocidade,
do aluno, com objetivo de levantar,
02 dirigido às
junto a este público, a possível
professoras e pais
presença de indicadores de
das crianças da
precocidade (MARQUES, 2013).
Educação Infantil
Instrumento elaborado por Marques
(2017), baseado dos estudos de Benito
Lista de (2009). Esta escala foi preenchida
verificação de pelos pais do aluno, com o objetivo
indicadores de de fazer um levantamento de
03
precocidade algumas características de
na primeira precocidade nas áreas da linguagem,
infância cognitiva, autoajuda, socialização e
criatividade, apresentadas pelo aluno
já nos primeiros meses de vida.
Instrumento elaborado por
Marques (2017), baseado na Teoria
do Projeto Spectrum de Gardner,
Feldman e Krechevsky (2001a;
Lista de
2001b; 2001c), com vistas à
avaliação do
04 avaliação das habilidades-chave
domínio da
dos domínios da Linguagem, tais
Linguagem
como: narrativa inventada/narração
de história; linguagem
descritiva/reportagem; uso poético
da linguagem/jogos de palavra.

124
Instrumento elaborado por
Marques (2017), baseado na Teoria
do Projeto Spectrum de Gardner,
Lista de
Feldman e Krechevsky (2001a;
avaliação do
05 2001b; 2001c), visando avaliar as
domínio da
habilidades-chave dos domínios da
Matemática
Matemática, tais como: raciocínio
numérico; raciocínio espacial;
soluções lógicas de problemas.
Instrumento elaborado por
Marques (2017), baseado na Teoria
do Projeto Spectrum de Gardner,
Lista de
Feldman e Krechevsky (2001a;
06 avaliação do
2001b; 2001c), visando avaliar as
domínio Musical
habilidades-chave dos domínios da
Música, como a percepção,
produção e composição musicais.
Instrumento elaborado por
Marques (2017) baseado na teoria
do Projeto Spectrum de Gardner,
Lista de
Feldman e Krechevsky (2001)
avaliação do
07 visando avaliar as habilidades-
domínio das
chave dos domínios das Artes
Artes Visuais
Visuais, tais como a percepção, a
produção, o talento artístico e a
exploração.
Instrumento elaborado por
Marques (2017), baseado na Teoria
do Projeto Spectrum de Gardner,
Feldman e Krechevsky (2001),
Lista de visando avaliar as habilidades-
avaliação do chave dos domínios da Ciência,
08
domínio das como as seguintes: habilidade de
Ciências avaliação; identificar semelhanças e
diferenças; formatação e
experimentação de hipóteses;
interesse em conhecimento de
fenômeno naturais/científicos.

125
Instrumento elaborado por
Marques (2017), baseado na Teoria
do Projeto Spectrum de Gardner,
Lista de Feldman e Krechevsky (2001a;
avaliação do 2001b; 2001c), visando avaliar as
09
domínio do habilidades-chave dos domínios do
Movimento Movimento, tais como: controle
corporal; sensibilidade ao ritmo;
expressividade; criação de ideias;
responsabilidade à música.
Instrumento elaborado por Marques
(2017), baseado na Teoria do Projeto
Spectrum de Gardner, Feldman e
Krechevsky (2001a; 2001b; 2001c),
Lista de visando avaliar as habilidades-chave
10 avaliação do do domínio Espacial, como as
domínio Espacial seguintes: compreensão de relações
causais e funcionais; capacidade
visuoespacial; abordagem de solução
de problemas com objetos mecânicos;
habilidades motoras finas.
Instrumento elaborado por
Marques (2017), baseado na Teoria
do Projeto Spectrum de Gardner,
Feldman e; Krechevsky (2001a;
Lista de
2001b; 2001c), visando avaliar as
11 avaliação do
habilidades-chave dos domínios
domínio Social
Social, tais como: entendimento de
si mesmo; entendimento do outro;
liderança; facilitador;
cuidador/amigo.
Instrumento elaborado por
Marques (2017), baseado na Teoria
Lista de
do Projeto Spectrum de Gardner,
verificação do
12 Feldman e Krechevsky (2001a;
Estilo de
2001b; 2001c), visando descrever o
trabalho
processo pelo qual a criança aborda
e realiza determinadas atividades.

126
Instrumento elaborado por
Marques (2017), baseado nos
estudos de Virgolim (2014), para
Lista de
analisar com profundidade as
13 verificação da
características de criatividade
criatividade
voltadas à fluência, flexibilidade,
originalidade, elaboração e
expressão das emoções.
Instrumento elaborado por
Roteiro de
Marques (2017), respondido pela
entrevista não
professora do Ensino Fundamental,
estruturada para
14 com o objetivo de obter
a professora do
informações sobre o
Ensino
desenvolvimento escolar e social do
Fundamental I
aluno no âmbito do ensino regular.
Instrumento elaborado por
Roteiro de
Marques (2017), respondido pela
entrevista
professora de Educação Especial,
estruturada para
15 com o objetivo de obter
a professora de
informações sobre o
Educação
desenvolvimento escolar e social do
Especial (AEE)
aluno no âmbito da área.
Formulário elaborado por Delou
Formulário do (2012), com o objetivo planejar,
plano de organizar e estruturar o
16
atendimento Atendimento Educacional
individualizado Especializado para alunos(as) com
Altas Habilidades/Superdotação.
Elaborado por Pérez e Freitas
(2016), trata-se de um instrumento
utilizado para sistematizar os
Parecer
17 resultados de cada um dos
pedagógico
instrumentos usados para a
identificação dos indicadores de
Altas Habilidades/Superdotação.
Fonte: elaboração própria.

127
Contextualização da história de vida do aluno

De acordo com informações cedidas pela mãe no


“Roteiro de entrevista estruturada dirigido aos pais de
crianças com indicadores de Altas Habilidades/
Superdotação” (cf. Anexo 1), Lucas (nome fictício dado
ao aluno no escopo da pesquisa) é o filho mais novo
dos pais e tem duas irmãs. O pai é graduado em
Filosofia e em Administração, e trabalha como
professor, e a mãe é dona de casa, técnica em Nutrição
e, à época, licencianda em Educação Especial. Segundo
relatos da mãe, ela sempre se identificou com o filho,
pois quando criança ela apresentava as mesmas
características de precocidade.
Lucas começou a falar com nove meses, sendo que
ao invés de falar “primeiras palavras”, já começou a
enunciar frases como, por exemplo, “Tô com fome”.
Com um ano e três meses começou a andar, e com três
anos, conforme informação dos pais, já sabia ler. Em
casa os pais tentavam corresponder às curiosidades do
filho, respondendo apenas o que era perguntado.
Na escola, a professora de Educação Infantil relatou
que Lucas, na época com cinco anos, era um garoto
atento, curioso e que estava sempre liderando o grupo,
mas que também percebia a desmotivação do aluno em
querer ir para a escola, pois sua turma estava na fase de
aprender a escrever o nome, de fazer atividades com
desenhos e colagens, e Lucas já lia revistas e jornais, e
ainda discutia o assunto lido. Apresentava facilidade
em escrever textos longos e já havia criado dois livros e
uma história em quadrinhos sobre futebol. Sabia

128
calcular operações matemáticas simples de adição e
subtração e sempre ajudava sua irmã, que estava no 2o
ano do Ensino Fundamental, a fazer as tarefas. Em sala
de aula, ele era uma criança agressiva e estava sempre
relatando que achava a escola muito chata e que os(as)
amigos(as) só gostavam de brincar.
No período da identificação de precocidade, a
professora de Educação Infantil do aluno, orientada
pela professora/pesquisadora da área das Altas
Habilidades/Superdotação e precocidade, aplicou o
“Questionário de indicadores de precocidade dirigido
aos professores e pais de crianças da Educação
Infantil”, elaborado por Marques (2013) (cf. Anexo 2).
Para assegurar que os dados colhidos por meio do
instrumento dirigido à professora apresentassem
veracidade, aplicou-se o mesmo questionário de
indicadores de precocidade aos pais do aluno Lucas. A
importância de se utilizar mais de um instrumento para
avaliar o desempenho e o potencial da criança
enriquece os dados de informação.
Desta forma, comparou-se a relação de quantidade
de indicadores observados pela professora de Lucas e
com a quantidade observada pelos pais. É importante
ressaltar que, para identificar os indicadores de
precocidade, há a necessidade de que o(a) professor(a)
esteja, no mínimo, há seis meses em sala com o(a)
aluno(a), e mesmo o(a) professor(a) permaneça uma
grande parte do tempo com a criança em sala, os pais
tem mais autoridade para descrever o potencial de seus
filhos. Delou (2007) ressalta, neste sentido, que

129
não se pode ignorar o papel da família no
desenvolvimento dos talentos de seus membros, no
encorajamento de características que podem exigir ações
perseverantes, disponibilidade de acesso e modelos
próximos que sirvam de parâmetros para a formação.
Os pais e as mães têm a oportunidade, a possibilidade e
a responsabilidade de interagir de modo lúdico e verbal,
a fim de estimular positivamente as altas habilidades de
suas crianças e adolescentes, favorecendo a construção
de seu futuro (DELOU, 2007, p. 56).

De acordo com os domínios destacados, na área da


Linguagem, os pais e a professora observaram, no
aluno, os seguintes aspectos:
 conversas espontâneas, com um vocabulário
avançado, sobre assuntos diferenciados para sua
idade, como por exemplo: ideias com coerência,
nas formas oral e escrita; facilidade em descrever
ou representar um objeto ou ideias de várias
maneiras.
Na área Matemática, foram identificados os
seguintes indicadores:
 facilidade em compreender o significado de
conceitos numéricos acima de 100;
 facilidade em construir estratégias para resolver
um problema;
 habilidade e raciocino rápido no computador;
 habilidades em fazer perguntas para entender
como as coisas funcionam.
E por fim, na área do domínio Espacial, foram
observadas as seguintes características:

130
 facilidade em planejar cuidadosamente o uso do
espaço onde se encontra;
 habilidade em organizar e agrupar objetos;
 habilidade em interpretar mapas e gráficos mais
facilmente do que textos.
De acordo com Benito (2009), já na primeira
infância é possível que os pais identifiquem traços de
precocidade em seus(suas) filhos(as). Desta forma, para
que os pais de Lucas percebessem sinais de precocidade
dos seis meses aos quatro anos, elaborou-se um
instrumento baseado dos estudos de Benito (2009),
denominado “Lista de verificação para crianças com
indicadores de superdotação na primeira infância”
(MARQUES, 2013) (cf. Anexo 3). Esta ficha foi
preenchida pelos pais com o objetivo de se obter um
levantamento de algumas características de precocidade
nas seguintes áreas, apresentadas pelo aluno já nos
primeiros meses de vida: linguagem; cognitiva;
autoajuda; socialização e criatividade.
Oliveira (2014) ressalta a importância da observação,
por parte dos pais, de sinais que antecipam as
características de precocidade, evitando-se, assim,
problemas de comportamento, contribuindo com a
qualidade de vida das crianças e das famílias. Nesta
perspectiva, o Quadro 18 apresenta indicadores
relatados pelos pais do Lucas, relacionados aos seus
primeiros anos de vida.

Quadro 18 - Indicadores relatados pelos pais, relacionados ao aluno


(primeiros anos de vida).
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
Falou as primeiras palavras por volta dos seis meses

131
Falou as primeiras frases por volta dos 12 meses
Conseguiu construir uma conversa completa por volta dos dois anos de
idade
Demostrou um vocabulário avançado para sua idade por volta dos dois
anos
Demonstrou curiosidade em conhecer novas palavras por volta dos três
anos
Reconheceu e classificou os membros familiares por volta dos dois anos
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
Aprendeu a contar até dez por volta dos dois anos
Facilidade em montar quebra-cabeça por volta dos dois anos e meio
Apresentou curiosidade pelo ambiente que o rodeia e desejo aprender
coisas novas por volta dos 18 meses de idade
Aprendeu pelo menos seis cores por volta dos dois anos
Aprendeu a ler por volta dos três anos
Aprendeu a ler vários livros de forma rápida por volta dos quatros
anos
Apresentou facilidade em memorizar histórias, músicas por volta dos
dois anos
Interessou pela escrita ortográfica das palavras por volta dos três anos
AUTOAJUDA
Facilidade com o controle de esfíncteres diurnos e noturnos por volta
de um ano e meio
Escolhia sua própria roupa por volta dos dois anos
Vestia-se sozinho por volta dos dois anos e meio
SOCIALIZAÇÃO
Relacionava e gostava de brincar com crianças maiores que sua idade
por volta dos quatro anos
Apresentava características de liderança nas brincadeiras por volta dos
três anos
Apresentou sensibilidade em ajudar o outro por volta dos três anos
Apresentou características de perfeccionismo por volta dos cinco anos
CRIATIVIDADE
Apresentou facilidade em desenvolver atividades artísticas, musicais
ou físicas por volta dos quatro anos

132
Inventava histórias, jogos ou situações criativas com facilidade por
volta dos quatro anos
Entendia e ria de situações engraçadas por volta dos quatro anos
Fonte: extraído de Marques (2013) adaptado de Benito (2009).

Diante destas informações, inferiu-se que, após a


identificação precoce do aluno, como ação adequada,
Lucas deveria ser atendido por serviços de Educação
Especial, pois isso possibilitaria a implementação de
práticas inclusivas que favorecessem a ampliação de
oportunidades ao aluno.
Para que estas ações acontecessem no processo de
identificação de Lucas, fez-se necessária a elaboração de
um parecer pedagógico com informações importantes
para o encaminhamento ao Atendimento Educacional
Especializado (AEE).
De acordo com Pérez e Freitas (2016), o parecer
pedagógico é um documento que informa todos os
processos desenvolvidos com o(a) aluno(a) com
indicadores de Altas Habilidades/Superdotação. Este
procedimento descreve o processo de identificação,
incluindo os instrumentos utilizados, e sintetiza os
resultados de cada um dos instrumentos manipulados
para identificar indicadores de Altas Habilidades/
Superdotação. É recomendado que seja incluído, também,
o referencial teórico utilizado para fazer a identificação.
Para a realização da identificação dos indicadores
do Lucas foram conferidos ao processo os seguintes
relatórios: pedagógico, fonoaudiológico e psicológico.
Na elaboração do relatório pedagógico, a
professora/pesquisadora realizou algumas atividades
educativas, e os resultados desta realização, bem como

133
dos indicadores observados pela professora da
Educação Infantil e pelos pais apontam, no relatório
pedagógico, que o aluno apresentava as seguintes
características:
 grande facilidade em utilizar o computador;
 dificuldade de aceitar regras;
 facilidade de aprender sozinho;
 gosta muito de ver revistas que tratam de assuntos
políticos e conhecimentos gerais;
 alto nível de curiosidade, criatividade e liderança;
 apresenta fácil socialização com os(as) colegas;
 prefere fazer amizades com crianças mais velhas.
No relatório realizado pela fonoaudióloga, foram
reunidas as seguintes informações sobre o Lucas:
apresentou linguagem oral adequada para idade no
aspecto fonológico e acima da média para os aspectos
semânticos, sintáticos e pragmáticos.
Já de acordo com relatório psicológico, durante as
atividades realizadas por Lucas, a profissional
observou que ele apresentava um desempenho
intelectual e de liderança acima da média se comparado
com crianças da sua faixa etária.
Nesta perspectiva, destacamos a importância de uma
equipe multidisciplinar para o processo de identificação
do(a) aluno(a) com Altas Habilidades/Superdotação, pois
de acordo com Mendonça, Mencia e Capellini (2015), para
este tipo de identificação deve-se utilizar múltiplas visões,
com diversos(as) profissionais envolvidos(as) e com
vários instrumentos e técnicas, considerando-se que o
potencial de indivíduos com indicadores de Altas

134
Habilidades/Superdotação pode ser expresso de
diferentes maneiras.
Assim, diante dos relatórios apresentados, as
profissionais envolvidas, junto ao Departamento
Pedagógico da Secretaria de Educação do município onde
Lucas residia e estudava, manifestaram parecer, conforme
documento particular, notificando que Lucas fosse
acelerado da fase seis da Educação Infantil para o 1o ano
do Ensino Fundamental, pois o aluno apresentava
precocidade na aprendizagem acadêmica, considerando -
se, desta forma, que a permanência do estudante por mais
um ano na Educação Infantil poderia desmotivá-lo.
Assim, diante dos relatórios apresentados pela equipe
multidisciplinar, as profissionais envolvidas e o
Departamento Pedagógico manifestaram-se favoráveis à
aceleração do estudante para o 1o ano do Ensino
Fundamental. Ressalta-se que recomendaram as
necessidades de um acompanhamento do estudante pela
equipe da Divisão de Educação Especial da Secretaria no
período de adaptação do Lucas ao Ensino Fundamental,
bem como de realização de avaliações periódicas, para
que fosse verificada a eventual necessidade de nova
aceleração ou de permanência no mesmo ano letivo.

135
136
CAPÍTULO 8

O PROCESSO DE ACELERAÇÃO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL

Na Educação Infantil, a aceleração pode acontecer


com a entrada da criança precoce na escola quando esta
apresentar capacidades superiores ou avançadas e que
podem ser percebidas logo cedo no seu
desenvolvimento infantil. Como exemplo, podemos
citar a leitura precoce ou a habilidade de lidar com
números em níveis adiantados para sua idade. Outra
forma de aceleração na Educação Infantil é a entrada
antecipada no Ensino Fundamental, desde que se
apresentem capacidades para acompanhar séries mais
avançadas (VIRGOLIM, 2012).
Na legislação brasileira, a aceleração é prescrita pela
LDB em seu artigo 59, que prevê que “os sistemas de
ensino assegurarão aos educandos em necessidades
especiais: [...] II - aceleração para concluir em menor
tempo o programa escolar para os superdotados”
(BRASIL, 1996). Já o seu artigo 24 preconiza que “a
educação básica, nos níveis fundamental e médio, será
organizada de acordo com as seguintes regras comuns”:

II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a


primeira do ensino fundamental, pode ser feita:

137
a) por promoção, para alunos que cursaram, com
aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria
escola;
b) por transferência, para candidatos procedentes de
outras escolas;
c) independentemente de escolarização anterior,
mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau
de desenvolvimento e experiência do candidato e
permita sua inscrição na série ou etapa adequada,
conforme regulamentação do respectivo sistema de
ensino [...] (BRASIL, 1996, grifo nosso).

Um(a) aluno(a) da Educação Infantil que apresenta


um elevado nível de aprendizagem, mesmo de forma
precoce, não encontra respaldo legal que possibilite seu
Atendimento Educacional Especializado (como, por
exemplo, a aceleração). Como muitas das leis vigentes
do Brasil encontram-se defasadas em relação à
realidade social, o artigo 24 da LDB – que foi proposta
antes da nova regulamentação do Ensino Fundamental
de nove anos, antes da antecipação do primeiro ano de
alfabetização e antes da nova proposta de Educação
Infantil (em creche até os três anos de idade) e do
atendimento pré-escolar dos quatro e cinco anos –, em
termos legais, aporta um impedimento que não faz
mais sentido (MAIA-PINTO; FLEITH, 2013). Encontra-
se, desta forma, uma legislação contrária à proposta da
Educação Especial, junto a um sistema escolar que não
é capaz de compreender o conceito de aceleração,
promovendo, assim, mitos e preconceitos e mais,
negligenciando o direito ao atendimento de alunos(as)
mais capazes.

138
Diante desta realidade, entendemos que a
aceleração de Lucas, por meio da aprovação da
Secretaria Municipal de Educação, vem para mostrar o
avanço na luta pelos direitos de alunos(as) com
capacidade acima da média. Porém, em uma visão
geral – e levando-se em conta a estrutura educacional
das instituições escolares brasileiras –, um processo de
aceleração como o de Lucas muitas vezes não é bem
visto pelos(as) professores(as), dificultando-se, assim, o
desenvolvimento das potencialidades de alunos(as) que
apresentam indicadores de Altas Habilidades/
Superdotação. Nesta direção, no decorrer do percurso
escolar de Lucas, muitas foram as barreiras que
dificultaram o atendimento e a efetivação dos direitos
do aluno.
Quanto à aceleração no Ensino Fundamental, nesta
fase Lucas foi identificado como uma criança precoce.
Nessa perspectiva pode-se entender que nem sempre
o(a) aluno(a) precoce na Educação Infantil poderá ser
caracterizado como aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação. No entanto, diante desta
afirmação, surgiu o seguinte questionamento: Lucas é
apenas uma criança precoce ou já apresenta
características de Altas Habilidades/Superdotação?
Esta pergunta leva a outros questionamentos, tais
como: i) A precocidade é uma pré-característica do
comportamento da pessoa com Altas
Habilidades/Superdotação? ii) O(a) aluno(a) precoce,
quando não apresenta características de Altas
Habilidades/Superdotação, está apenas vivendo uma

139
fase precoce ou há falta de estímulo do ambiente para o
desenvolvimento das suas potencialidades?
Para responder estas perguntas realizou-se o
acompanhamento do Lucas, registrando suas
habilidades e interesses demostrados nos primeiros
anos de escolarização do Ensino Fundamental e
oferecendo várias oportunidades estimuladoras e
enriquecedoras para suas potencialidades. Assim,
quando o aluno estava no 1o ano do Ensino
Fundamental, realizou-se uma entrevista com os pais
para observar o desenvolvimento e a adaptação do
aluno após sua aceleração escolar. Já no 2o ano do
Ensino Fundamental, o aluno foi submetido a várias
formas de avaliações para a identificação das Altas
Habilidades/Superdotação. Nos anos seguintes (3o e 4o
ano do Ensino Fundamental), o aluno teve
Atendimento Educacional Especializado (AEE).
As informações analisadas nestas fases foram
coletadas, portanto, a partir de uma entrevista com os
pais do Lucas, cujo objetivo era o de obter maiores
informações sobre o seu desenvolvimento escolar e
social e seu processo de aceleração. Para a análise foram
elaborados questionamentos que são sistematizados no
Quadro 19.

Quadro 19 - Questionário respondido pelos pais de Lucas.

No QUESTÕES RESPOSTAS

“Diante da desmotivação do
Como ocorreu o Lucas, a coordenação da escola,
1
processo de aceleração? junto com a Secretária Municipal
da Educação, avaliando a

140
situação, decidiram que ao invés
dele fazer o último ano da
Educação Infantil (fase 6) ele seria
acelerado para o primeiro ano do
Ensino Fundamental”.
Vocês foram orientados “A escola nos orientou a levar
pela escola sobre quais uma declaração emitida pela
os procedimentos coordenadora de Educação
2 necessários para o Especial, para a nova escola do
ingresso precoce do seu fundamental, autorizando a
filho no ensino matrícula do meu filho no 1o
fundamental? ano”.
“Não vimos ponto negativo neste
Na opinião de vocês,
processo de aceleração, foi tudo
quais foram os pontos
muito tranquilo, percebemos que
3 positivos e negativos
o Lucas ficou mais motivado a ir
sobre aceleração de seu
para escola depois da
filho?
aceleração”.
Seu filho teve
atendimento da
“O atendimento só começou
Educação Especial na
depois que ele entrou no Ensino
sala de recurso
4 Fundamental, na Educação
multifuncional? Este
Infantil ele não teve nenhum
atendimento ocorreu
atendimento especializado”.
antes ou depois da
aceleração?
“Na sala de aula, Lucas mesmo
acelerado ainda é um dos que
primeiro terminam as atividades.
Qual foi o Quando conversei com a
posicionamento da professora ela relatou que não
5 professora da sala de concordava muito com a
aula ao receber um aceleração do Lucas e que em
aluno acelerado? sala não iria adaptar o conteúdo
para ele, pois muita estimulação
poderia atrapalhar a
aprendizagem dele”.

141
“Lucas não encontrou
Como você descreve o dificuldades em fazer novas
comportamento de seu amizades, pois ele sempre
6
filho entre os amigos na preferiu amizades com crianças
escola? mais velhas. Ele está gostando
dos novos colegas de sala”.
“Ele está gostando bastante dos
atendimentos do AEE, pois ele
sempre chega relatando que
aprendeu algo novo. No entanto,
Como você descreve o
na sala de aula, ele reclama que
7 comportamento de seu
não gosta de ficar esperando os
filho na escola?
colegas terminar [sic] de copiar o
conteúdo da lousa. Ele fica triste
em ficar muito tempo sem fazer
nada em sala”.
“Sim, ele percebe que é uma
criança muito inteligente. Eu só
permiti que ele fosse acelerado
Seu filho se reconhece
pois ele me pediu para estudar
8 como uma criança
com crianças que sabiam escrever
precoce?
e ler como ele e não apenas
brincar, como acontecia na
Educação Infantil”.
Fonte: elaboração própria.

Diante das respostas-depoimentos dos pais do


Lucas, é possível perceber a importância do processo de
aceleração de um(a) aluno(a) precoce, possibilitando a
implementação de práticas inclusivas que favorecem a
ampliação de oportunidades ao alunado. De acordo
com Maia-Pinto e Fleith (2013), muitos são os benefícios
da aceleração na modalidade de avanço de série ou
entrada precoce na escola, principalmente com relação
ao desenvolvimento geral escolar do(a) aluno(a) como
ajustamento social e melhoria no desempenho

142
acadêmico, uma vez que ele(a) se sente desafiado(a) e
motivado(a). No caso de Lucas, o processo de
aceleração apresentou bons resultados, mas é
importante ressaltar que é necessário avaliar cada caso
individualmente, para decidir acelerar ou não uma
criança.
Oliveira e Almeida (2013) ressaltam que, entre as
condições para a tomada de decisão acerca de se
acelerar ou não um(a) aluno(a), são necessárias, antes,
uma avaliação psicológica do(a) aluno(a) (verificando-
se habilidades intelectuais, desempenho acadêmicos e
desenvolvimento socioemocional) e atitudes positivas
dos pais em face da aceleração e disposição de
professores(as) em ajudar este(a) aluno(a) a se ajustar à
nova situação.
Os autores enumeram algumas características
importantes para que a aceleração possa acontecer de
forma positiva:

(a) nível de desenvolvimento cognitivo muito acima da


média para sua idade, atendendo ao nível de exigência
da classe mais avançada em que será colocado; (b) nível
de competência acima da média do ano escolar
desejado; (c) ausência de qualquer problema grave de
ajustamento emocional; (d) alto grau de envolvimento
com as tarefas escolares e aprendizagem; (e) o aluno não
deve se sentir pressionado a acelerar (OLIVEIRA;
ALMEIDA, 2013, p. 211).

Para os autores citados há, ainda, o alerta de que a


aceleração nem sempre é a medida mais apropriada a
ser adotada no caso de todos(as) os(as) alunos(as) com

143
Altas Habilidades/Superdotação. Sua adoção depende
das características, necessidades e contextos nos quais
estes indivíduos estão inseridos.
De acordo com o relato da mãe do Lucas, a maior
barreira encontrada no processo de aceleração foi
deparar-se com a falta de estrutura pedagógica e
educacional para o atendimento ao(à) aluno(a) em
processo de aceleração e que apresenta capacidades
acima da média.
O desconhecimento das escolas sobre os principais
objetivos da aceleração pode gerar ao indivíduo com
Altas Habilidades/Superdotação problemas em seu
desenvolvimento, além de descontentamento com a
escola, fracasso acadêmico, tédio, desmotivação e, em
casos mais graves, sintomas de depressão. Diante desta
realidade, é imprescindível que a escola saiba respeitar
e estimular o desenvolvimento de aprendizagem do
indivíduo. Para isso, é necessário que profissionais da
Educação, bem como os pais, tenham informações
adequadas sobre as formas de aceleração de ensino e
sobre como implementá-las, além de conhecimento
sobre seus direitos perante a legislação para que
possam lutar por um atendimento educacional de
qualidade para alunos(as) e filhos(as) com capacidade
acima da média.
Destarte, segundo Maia-Pinto e Fleith (2013), o
sucesso da aceleração está diretamente relacionado ao
acompanhamento sistematizado de todo processo de
aceleração, mantendo-se o foco da atenção nos diversos
aspectos do desenvolvimento do(a) aluno(a) e não
apenas no desenvolvimento acadêmico.

144
CAPÍTULO 9

PROCEDIMENTO DE IDENTIFICAÇÃO DO ALTO


POTENCIAL NUMA VISÃO MULTIFACETADA

Para compreender se a precocidade foi apenas uma


fase do processo escolar do aluno em relato ou se já era
uma pré-característica dos indicadores de Altas
Habilidades/Superdotação, no ano seguinte Lucas
passou por um processo de avaliação em uma visão
multifacetada para a identificação de capacidades
acima da média nos seguintes domínios: Linguagem,
Matemática, Ciências, Musical, Espacial, Artes Visuais,
Movimento e Social.
Este procedimento nos permitiu descrever as
estratégias de identificação, avaliação e estimulação dos
domínios de competência e potencialidades de Lucas
desde sua fase de precocidade na Educação Infantil, de
cinco anos, até sua entrada no Ensino Fundamental.
Uma sequência de atividades foi proposta ao Lucas;
estas atividades foram observadas pela
professora/pesquisadora para que suas habilidades
fossem identificadas e suas capacidades de interesse
fossem indicadas. As atividades aconteceram no
contraturno de aulas do aluno, na sala do AEE – espaço
onde a professora/pesquisadora e a professora de
Educação Especial desenvolveram, juntas, atividades
de identificação de indicadores de Altas

145
Habilidades/Superdotação. Foi elaborado um critério
de avaliação para cada atividade de acordo com Teoria
de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b) para
verificar o nível de desenvolvimento das habilidades-
chave de cada domínio, como mostra o Quadro 20.

Quadro 20 - Desenvolvimento das habilidades-chave dos domínios.


ESTILO DE
DOMÍNIO HABILIDADES-CHAVE
TRABALHO
Narrativa Facilmente
inventada/narração de engajado
histórias Relutante em
Domínio da Linguagem engajar-se na
Linguagem descritiva/reportagem atividade
Uso poético da Confiante
linguagem/jogos de Hesitante
palavras Brincalhão
Raciocínio numérico Sério
Concentrado
Domínio da Raciocínio espacial
Distraído
Matemática Solução lógica de Persistente
problemas Frustrado pela
Habilidade de observação atividade
Identificação de Impulsivo
semelhanças e diferenças Reflexivo
Formação e Propenso a
Domínio das
experimentação de trabalhar
Ciências
hipóteses lentamente
Interesse em/conhecimento Propenso a
de fenômenos trabalhar
naturais/científicos rapidamente
Percepção musical Conversador
Domínio
Quieto em
Musical Produção musical

146
Composição musical grupo
Compreensão de relações
casuais e funcionais
Capacidade visuoespacial
Domínio
Abordagem de soluções de
Espacial
problemas com objetos
mecânicos
Habilidades motoras finas
Artes Visuais: percepção
Artes Visuais:
Domínio das produção/representação
Artes Visuais
Talento artístico
Exploração
Controle corporal
Sensibilidade ao ritmo
Domínio do Expressividade
Movimento Criação de ideias de
movimento
Responsabilidade à música
Entendimento de si mesmo
Entendimento do outro
Vivência de papéis sociais
Domínio distintos
Social
Líder
Facilitador
Cuidador/amigo
Fonte: elaboração própria, com base nos dados coletados no
acompanhamento do aluno.

147
As atividades foram elaboradas de acordo com
cada domínio, de modo que o aluno realizou as
atividades sistematizadas e indicadas no Quadro 21.

Quadro 21 - Relação de atividades realizadas com o aluno para cada


domínio.

DOMÍNIOS ATIVIDADES

• Contação de história com


diversos objetos
Domínio da Linguagem
• Organizando a história
• Letroca
• Escala Cuisenaire
Domínio da Matemática
• Jogo da mesada
• Loto musical
Domínio Musical
• Escrevendo uma música
• Jogo Minecraft
Domínio de Artes Visuais
• Meu personagem favorito

Domínio das Ciências • Astronomia

• Atividade com bola


Domínio do Movimento
• Criar formas com o corpo

Domínio Espacial • Jogo Minecraft

Domínio Social • Atividades em grupo

Fonte: elaboração própria.

As atividades propostas são apenas uma amostra


dos diferentes tipos de estratégias que o(a) professor(a)
pode usar para compreender e aproveitar as áreas de
competência dos(as) alunos(as). Assim, sugerimos ser
importante, antes de planejar as atividades, que o
professor promova um mapeamento de interesse dos(as)

148
educandos(as). Este mapeamento, segundo Pereira
(2014), pode ser realizado por meio de atividades
lúdicas, conversas e dinâmicas de grupo, elaboração de
listas, realizações de simulações, oficinas etc.
Ao fazer o mapeamento dos interesses de Lucas, foi
identificado seu grande interesse por um determinado
jogo de videogame. Desta forma, adaptou-se
pedagogicamente as etapas do próprio jogo. Diante da
visão de um currículo transdisciplinar, foi possível
integrar um mesmo domínio em várias atividades. Um
exemplo foram as atividades desenvolvidas na aula de
Educação Física, em que foram observados os domínios
Social, do Movimento e Espacial.
A partir da identificação das áreas de competência,
se tornaram visíveis aqueles domínios nos quais Lucas
mais se destacava e aqueles nos quais ele apresentava
dificuldade. Em cada uma das características dos
domínios, Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b)
identificaram capacidades-chave específicas para
descrever como e em quais situações eles se afloram
no(a) aluno(a).
Quanto à identificação dos domínios, foi elaborado
um critério de avaliação para verificar o nível de
desenvolvimento das habilidades-chave de cada
domínio, assim determinado: 0 (insuficiente); 1
(regular); 2 (satisfatório); 3 (satisfatório acima da
média). Também foi observado, no desenvolvimento
das atividades, o grau de criatividade e estilo de
trabalho do aluno, com critérios estabelecidos de
acordo com a “Lista de Verificação da Criatividade” (cf.

149
Anexo 13) e a “Lista de Verificação do Estilo de
Trabalho” (cf. Anexo 12)

Considerações sobre o domínio da Linguagem

Sabe-se que a linguagem está entre as capacidades


cognitivas, sociais e educacionais mais valorizadas,
podendo ser usada como um complemento de
desenvolvimento para todas as áreas. Na escola, este
domínio pode ser percebido em alunos(as) que se
mostram interessados(as) em descrever
detalhadamente objetos ou algum acontecimento, ou
que demonstram facilidade de explicar como as coisas
funcionam enquanto outros(as) são mais
preocupados(as) em conversar com adultos e com os
iguais sobre assuntos de seu interesse.
As propostas de atividades do domínio da
Linguagem aqui desenvolvidas visam observar e
avaliar o papel do discurso desenvolvido pelos(as)
alunos(as), quais sejam: ao brincar com os significados
e os sons das palavras; ao descrever uma experiência na
sequência correta; ao procurar o significado de novas
palavras; ou em qualquer outra demonstração
espontânea da habilidade linguística (GARDNER,
2001).
Três atividades foram planejadas para Lucas: a
primeira, “Contação de história com diversos objetos”,
cujo foco foi o de avaliar, no aluno, sua criatividade e
sua capacidade de improviso; a segunda, “Organizando
a história”, visou a avaliação do uso de uma sequência
adequada (começo, meio e fim) ao narrar ou descrever

150
uma história; e a terceira atividade, “Letroca”, visou o
enriquecimento vocabular do aluno.
Foram avaliadas as habilidades-chave de acordo
com a “Lista de avaliação do domínio da Linguagem”
(cf. Anexo 4), quais sejam:
 narrativa inventada/narração de história;
 linguagem descritiva/reportagem;
 uso poético da linguagem/jogos de palavra.
São listadas, a seguir, as atividades propostas para
o referido domínio.

ATIVIDADE 1: Contação de história com diversos


objetos

• Propósito e descrição da atividade: teve como


objetivo geral destacar o(a) aluno(a) que apresenta
maior facilidade na habilidade narrativa inventada
em qualquer tarefa que realize, usando sua
criatividade para inventar histórias improvisadas,
utilizando uma linguagem que expressa as
diversas formas de narração. A atividade foi
planejada para que se utilizasse a criatividade,
utilizando diversos objetos para contar uma
determinada história. Segundo Gardner (2001), este
tipo de atividade difere de contar uma história
sozinho(a), sem usar nenhum objeto real, no
sentido de que o(a) aluno(a) não precise depender
da memória a curto prazo para o seu discurso: os
objetos concretos lembram-no(a) do que está
acontecendo. Assim, a oportunidade de criar novas

151
histórias e mais é maior do que quando estão
usando livros ilustrados, sem textos.

• Material utilizado: uma caixa colorida com vários


objetos que possam ser usados para representar uma
história; diversos fantoches; peças de encaixe para
montar.

• Procedimento da atividade: explicar ao(à) aluno(a)


que ele(a) será um(a) contador(a) de história e que
poderá contar ou inventar a história que quiser,
usando diversos materiais, várias formas de
linguagens e tom de voz. Assim que o(a) aluno(a)
começar a contação, o(a) professor(a) ficará apenas
observando e gravando (em áudio) a narrativa
do(a) aluno(a), podendo intervir apenas se o(a)
aluno(a) solicitar ajuda.

ATIVIDADE 2: Organizando a história

• Propósito, descrição da atividade e procedimentos:


para esta atividade, o(a) professor(a) deverá
confeccionar fichas tendo, em cada uma delas,
figuras que ilustrem um pedaço de uma história
previamente selecionada. É importante que a
história escolhida seja do conhecimento de mundo
do(a) aluno(a). Depois de organizado os materiais,
o(a) professor(a) pedirá para que o(a) aluno(a)
conte a história selecionada. Depois de entregues
as fichas de forma desorganizada, pede-se para que
o(a) aluno(a) organize a história respeitando o

152
enredo “começo, meio e fim”. Para dificultar a
atividade e desafiar o(a) aluno(a), o(a) professor(a)
poderá esconder uma das peças e pedir para que,
ao organizar as fichas, o(a) aluno(a) identifique a
parte que está faltando.

ATIVIDADE 3: Letroca

• Propósito, descrição da atividade e procedimentos:


o(a) professor(a) deve confeccionar fichas com
algumas letras e, em seguida, pedir para que o(a)
aluno(a) forme palavras usando apenas aquele
conjunto de letras, sendo que estas não podem ser
repetidas. Para a sugestão da atividade ao aluno
Lucas, as letras selecionadas foram: A-E-I-O-U-M-
S-R-T-D-B-C-L-J-N.

No desenvolvimento da primeira atividade, a


professora/pesquisadora perguntou ao aluno se ele
conhecia a história de “João e Maria”. Lucas disse que
não se lembrava; a narrativa foi contada a ele e, em
seguida, foram apresentadas ao aluno as fichas que
contavam a história, dividida em 15 partes. Contudo,
foram apresentadas apenas 14 partes, sendo que Lucas
teria e organizar a história respeitando o começo, o
meio e o fim, além de notar e descobrir qual era parte
que estava faltando. O aluno demostrou alta
capacidade no planejamento e desenvoltura na
organização do enredo da história, ordenando as fichas
corretamente. Só de ouvir a narrativa contada de forma
resumida Lucas conseguiu organizar, em poucos

153
minutos, o conto, preferindo a sequência de enredo do
início para o fim. Ao ser questionado sobre o que achou
da atividade, o aluno se lembrou do conto e deu a
seguinte resposta: “Eu achei muito fácil; esta história eu
ouvia quando estava na Educação Infantil”. Lucas
relatou, ainda, que achou a história “muito infantil”, e
que preferia ler jornais e revistas.
Na segunda atividade, o aluno teria de inventar
uma história para a qual poderia criar seu próprio
personagem empregando vários materiais (blocos de
montar, figuras e fantoches). Lucas, de início, não
queria realizar a atividade, relatando “ser muita chata”;
porém, quando viu a figura do personagem do jogo
Minecraft,7 logo se animou. Assim, ele escolheu usar os
blocos lógicos para contar sua história e, desta forma,
montou dois personagens, além de usar uma espada. O
aluno também apresentou muita facilidade de falar
inglês – esta é uma das suas habilidades que veio
demonstrando desde os cinco anos de idade. Narrou
uma história de aventura lançando mão de um rico
vocabulário de palavras, com falas construídas
adequadamente e respeitando-se a norma padrão da
língua portuguesa, além de conjugar verbos nos tempos
corretos e fazer um uso concordante de plurais.

7 Segundo Colen (2016), “Minecraft é um jogo de videogame, hoje


disponível em diversas plataformas, do pc ao mobile, que consiste
em minerar recursos para construir coisas. É uma espécie de Lego
digital onde os ambientes são gerados aleatoriamente pelo jogo.
[...] A versão inicial do jogo não possui história. [...] Há apenas
você, os blocos e o que sua criatividade mandar você fazer com
eles”.

154
Por fim, a última atividade, em que o aluno teria de
formar diferentes palavras usando somente as letras A-
E-I-O-U-M-S-R-T-D-B-C-L-J-N, foi executada
adequadamente.
Diante das análises sobre as atividades de
intervenção, foi possível avaliar o nível de domínio de
Linguagem, bem como as características do estilo de
trabalho e da criatividade que o aluno apresentou, com
resultados exitosos.
Lucas apresentou nível satisfatório acima da média
nas três categorias sugeridas por Gardner (2001) para o
domínio. Na categoria narrativa inventada/narração de
história, o aluno demonstrou criatividade, usando a
imaginação para narrar histórias e revelando interesse e
capacidade de planejamento e organização da
narrativa. Na categoria linguagem descritiva/
reportagem, Lucas descreveu detalhadamente cenas,
personagens e acontecimentos. Demonstrou, ainda,
interesse em explicar como as coisas funcionavam e/ou
descreveu procedimentos com exatidão, argumentando
ou investigando de maneira lógica. Por fim, na
categoria de uso poético da linguagem/jogos de
palavra, o aluno demonstrou facilidade em brincar com
o significado e os sons das palavras, além de ter
apresentado interesse em aprender novas palavras,
principalmente em inglês.
De acordo com a lista de observação do estilo de
trabalho desenvolvida por Gardner (2001), o aluno
apresentou animação, entusiasmo e atenção ao realizar
as atividades; ademais, demonstrou confiança, pois
conhecer a história sugerida facilitou o

155
desenvolvimento da atividade, diminuindo a
probabilidade de erro; apresentou, ainda, intensa
concentração para organizar as fichas das cenas da
história e para formar novas palavras também, pois
respondeu ao desafio das atividades com
equanimidade e, apesar das dificuldades, não desistiu,
tendo usado estratégias para organizar as cenas da
história de forma correta. Lucas demonstrou seriedade
ao executar as atividades, sem distrações, e relatou ter
gostado do que lhe foi sugerido. No mais demonstrou,
em uma das intervenções, uma frustação, pois relutou
ao terminar a atividade por achá-la muito infantil.
Com relação às características de criatividade
abordadas por Virgolim (2014), foi possível observar,
no aluno, a presença de características iguais,
relacionadas à: i) fluência, já que apresentou um grande
número de produção de ideias; ii) originalidade, já que
apresentou habilidades de reorganizar uma ideia em
uma nova forma; e iii) elaboração, já que demostrou
grande quantidade de detalhes presentes em uma única
ideia.

Considerações sobre o domínio da Matemática

As atividades de domínio de Matemática têm,


como objetivo, estimular o(a) aluno(a) a raciocinar
sobre números, quantidades de objetos, fazer e
comparar agrupamentos e desenvolver estratégias para
resolver problemas. Segundo Gardner (2001), o
planejamento de atividades que estimulem o domínio
de Matemática pode partir de três princípios: a) o de

156
ajudar a criança a explorar as muitas facetas dos
números e as várias relações que existe entre eles; b) o
de fazer com que a criança reflita sobre a ação para
chegar a um entendimento; e c) o de encorajar a criança
a pensar e agir de forma autônoma em uma grande
diversidade de situações.
De acordo com estes princípios, foram planejadas
duas atividades usando jogos didáticos: o primeiro,
“Escala Cuisenaire”, e o segundo, “Jogo da mesada”.
As atividades deste domínio foram avaliadas a partir
de três habilidades-chave, de acordo com a “Lista de
avaliação do domínio de matemática” (cf. Anexo 5), a
saber:
 Raciocínio numérico;
 Raciocínio espacial;
 Soluções lógicas de problemas.
São pontuadas, a seguir, as atividades propostas
para o referido domínio.

ATIVIDADE 1: Escala Cuisenaire

• Propósito e descrição da atividade: tem-se, como


objetivo geral, desenvolver a investigação, os
desafios e explorações que podem motivar, com o
aluno, a sucessão numérica, a comparação, as
quatro operações, compreensão de dobro e metade,
entre outras tarefas.

• Material utilizado: Jogo “Escala Cuisenaire”.

157
• Procedimentos: incialmente o(a) professor(a) pode
deixar o(a) aluno(a) explorar e conhecer o Jogo, até
mesmo pedir para que ele(a) construa figuras com
as peças. Depois de familiarizá-lo(a) com o
material, o(a) professor(a) pode fazer alguns
questionamentos, tais como: Como posso organizar
estas peças? Por que cada peça tem uma cor
diferente? Após decifrar a ordem e o valor de cada
uma das peças, o(a) professor(a) pode realizar
atividades de soma e subtração explorando-as, por
exemplo, com os seguintes questionamentos: Como
posso representar os números 54, 23, 15, 40?
Quantas barras vermelhas são necessárias para
completar “10”?

ATIVIDADE 2: Jogo da mesada

• Propósito e descrição da atividade: tem-se como


objetivo trabalhar a habilidade de lidar com o
dinheiro, combinando seus gastos e empréstimos
com o recebimento de uma mesada. O(a) aluno(a) é
estimulado(a) a fazer contas mentais, trabalhar com
raciocínio rápido, desenvolver noções de débitos e
créditos, além de trabalhar com regras.

• Material utilizado: um tabuleiro, 135 notas (sendo:


15 notas de R$ 10.000,00; 20 notas de R$ 5.000,00; 40
notas de R$ 1.000,00; 20 notas de R$ 500,00; e 40
notas de R$ 100,00), 72 cartas, seis peões coloridos,
um dado e um bloco para registro de empréstimos.

158
Na atividade “Escala Cuisenaire”, Lucas identificou
o valor de cada cor e apresentou facilidades para
memorização das cores no decorrer da atividade.
Assim, como desafio, a professora/pesquisadora pediu
para que ele representasse, de várias maneiras, o
número “10” sem usar a barra laranja. Ao pedir para
que representasse o número “33”, Lucas fez várias
contas mentalmente, até chegar ao resultado:

8 + 5 = 13;
2+3=5
+1=6
+ 6 = 12
+ 7 = 19
+ 1 = 20;
20 + 13 = 33

Com desta atividade foi possível observar que o


aluno demonstrou grande capacidade no domínio de
Matemática, destacando-se as seguintes habilidades:
facilidade em cálculo; interferências lógicas; fácil
compreensão de agrupamentos; agilidade em resolver
situações problemas; facilidade em relacionar as cores
com os valores.
Já na atividade “Jogo da Mesada”, o foco foi
observar como Lucas reagiria em relação às regras e sua
noção de competividade, além do domínio dos
conteúdos numeração monetária. Inicialmente, em
grupo, ele separou as notas, organizando em
montinhos as notas de 10.000, 5.000, 1.000, 500 e 100. Ao
começar o jogo, houve vezes em que o peão de Lucas

159
caía na casa do tabuleiro no qual tinha-se que “pagar
uma multa para o banco”, perdendo, assim, seu
dinheiro; nestes momentos foi possível observar a
preocupação que o aluno demonstrava em perder o
jogo, bem como seu espírito de competividade, sendo
que só ganharia quem, ao final do jogo, estivesse com
mais dinheiro. Várias vezes ele se preocupou em saber
qual jogador(a) possuía mais dinheiro.
O aluno obteve nível satisfatório acima da média
nas três habilidades-chave, pois na categoria de
raciocínio numérico foi ágil nos cálculos,
desenvolvendo atalhos sempre que possível; também
demostrou capacidade de fazer estimativas, quantificar
objetos e identificar reações numéricas. Na categoria de
raciocínio espacial demostrou facilidade em noção
espacial e imaginação para visualizar e conceituar um
problema. Já a habilidade de solução lógica de
problemas foi na que mais se destacou, pois focalizou
as relações e a estrutura global do problema em vez de
fatos isolados, fazendo interferências lógicas e
construindo suas próprias estratégias para encontrar
determinadas soluções.
No estilo de trabalho, o aluno apresentou facilidade
de entendimento e concentração para formar conjuntos
de “10” na atividade “Escala Cuisenaire”. Planejou
formas diferentes de representá-la, além de ter
demonstrado curiosidade, pois queria saber o
significado da palavra cuisenaire.8 Por fim, nos aspectos
criativos, Lucas apresentou fluência ao pensar em

8 O nome do Jogo faz referência ao seu idealizador, o professor


belga Emile-Georges Cuisenaire (1891-1980).

160
soluções alternativas para formar os agrupamentos de
10 em 10 e flexibilidade para criar diferentes estratégias
de raciocínio.

Considerações sobre o domínio Musical

A música é algo que está constantemente presente


em nosso cotidiano, seja cantarolando uma melodia da
qual gostamos, tocando um instrumento, assistindo a
um show ao vivo de seu(sua) artista favorito(a),
dançando uma música animada, entre outras tantas
atividades.
Desde a primeira infância é possível que a criança
apresente um senso rudimentar de música. É comum
que um(a) professor(a) presencie uma criança pequena
cantarolando espontaneamente enquanto brinca ou faz
alguma atividade ou simplesmente a veja dançando,
expressando uma música por meio de movimentos
(GARDNER, 2001). Na Educação Infantil, a música está
presente no currículo escolar dos(as) alunos(as). Nessa
fase escolar é relativamente fácil para o(a) professor(a)
descobrir quais alunos(a) apresentam mais entusiasmo
por música.
Já ao ingressar no Ensino Fundamental, o(a)
aluno(a) muitas vezes não recebe nenhum estímulo
para desenvolver suas habilidades musicais, pois não
se enfatiza tal treinamento no currículo escolar. Desta
forma, a música é vista apenas como um “talento”
artístico, e não enquanto habilidade acadêmica.
Neste sentido, as atividades propostas no âmbito
do presente Capítulo pretendem resgatar a importância

161
do domínio Musical em atividades curriculares,
visando descobrir as diferentes sensibilidades e
habilidades e expandir o tipo e a profundidade das
oportunidades relacionadas à música, possíveis para
todas as crianças em sala de aula (GARDNER, 2001) (cf
Anexo 6).
As atividades planejadas foram “Loto musical” e
“Escrevendo uma música”. Ambas foram adaptadas de
Gardner, Feldman e Krechevsky (2001a; 2001b; 2001c) e
são pontuadas a seguir.

ATIVIDADE 1: Loto musical

• Propósito de descrição da atividade: esta atividade


teve como objetivos principais: discriminar e
identificar os diferentes tipos de sons que ouvimos
no dia a dia; reconhecer o som de diversos
instrumentos; e estimular a memória musical do(a)
aluno(a). Com ela, o(a) estudante terá a
oportunidade de conhecer uma variedade de
instrumentos e, caso lhe desperte o interesse,
poderá pesquisar mais sobre o instrumento que
mais lhe chamou a atenção e talvez até ter a
possibilidade de aprender a tocá-lo.

• Procedimentos: a atividade foi desenvolvida em


duas etapas. A primeira considerou a seleção de
um vídeo em que se apresentavam várias imagens
e sons de diversos instrumentos. Primeiramente,
o(a) aluno vê os instrumentos que são
apresentados no vídeo e, em seguida, pede-se para

162
que o(a) aluno(a) ouça o som e escreva, em uma
folha de papel, o nome de cada instrumento.

• Materiais utilizados: computador com acesso à


internet, papel sulfite e caneta.

ATIVIDADE 2: Escrever uma música

• Propósito e descrição da atividade: esta atividade


possui, como objetivos principais, aprender a usar
símbolos para representar os sons musicais de
forma escrita, discriminar os tons e desenvolver
habilidades de interpretação sonora.

• Procedimentos: deve-se escolher uma música que


o(a) aluno(a) conheça bem para, então, reproduzi-
la no rádio. Pede-se para que o(a) imagine uma
maneira de escrever a melodia desta música (sem o
uso de palavras) em um papel, de modo que
alguém que não conheça a música possa cantá-la.
Pode-se usar canetas ou lápis de cores diferentes
para representar o ritmo e a melodia da música.

• Materiais utilizados: papel sulfite tamanho ofício;


canetas ou lápis de cor; rádio; uma música que seja
conhecida pelo(a) aluno(a).

Ao saber que trabalharia com atividades musicais,


Lucas apresentou relutância em realizar o que se
propunha. Devido à falta de interesse pelo domínio
musical, Lucas se recusou a realizar a atividade

163
“Escrever uma música”. Diante da atividade realizada,
foi possível avaliar o nível de habilidade musical em
cada uma das categorias do domínio. Nesta
perspectiva, o aluno mostrou pouco interesse pela área
musical, mesmo tendo apresentado algumas
características de percepção musical. Contudo, nas
atividades desenvolvidas com o aluno, não foi possível
verificar características de produção e composição
musical. No estilo de trabalho, o aluno demonstrou
relutância e hesitação ao desenvolver as atividades
propostas – por exemplo, na atividade “Loto musical”,
ele se mostrou um pouco irritado por não saber
responder quais eram os sons dos instrumentos;
apresentou insegurança ao escrever o nome do
instrumento por medo de errar e demonstrou atitudes
perfeccionistas.

Considerações sobre o domínio das Artes Visuais

As Artes Visuais compõem um dos domínios que


são bastante explorados na Educação Infantil, pois o
currículo escolar nesta faixa etária permite investigar
variadas formas de “fazer arte”. Muitos professores
consideram a arte visual com uma área de extrema
importância para a autoexpressão, a criatividade e para
novas descobertas.
No exemplo do modelo de avaliação do Projeto
Spectrum, Gardner, Feldman e Krechevsky (2001a;
2001b; 2001c) sugerem que, para que haja uma melhor
visão do desenvolvimento artístico do(a) aluno(a), é
necessário coletar atividades artísticas produzidas por

164
ele(a) durante o ano todo e avaliar o corpo do trabalho
quanto a três componentes principais, quais sejam: o
nível de representação, o grau de exploração e o nível
de talento artístico.
Para o contexto de Lucas, respeitando-se o interesse
do aluno, foram propostas tarefas voltadas ao game
Minecraft. Assim, idealizou-se a atividade: “Meu
personagem favorito”. Sendo o domínio das Artes
Visuais uma área abrangente, voltada a um estudo
integrado de conteúdos variados, entendemos que
avaliar as habilidades-chave deste domínio somente a
partir destas categorias anteriormente citadas
delimitaria algumas capacidades que não poderiam ser
avaliadas; desta forma, foram analisadas, também,
algumas habilidades artísticas evidenciadas nas
atividades de outros domínios.
A atividade teve sua avaliação pautada em quatro
habilidades-chave, de acordo com a “Ficha de avaliação
do domínio das Artes Visuais: i) percepção; ii)
produção; iii) talento artístico; e iv) exploração (cf.
Anexo 7). Tem-se sua descrição a seguir.

ATIVIDADE: Meu personagem favorito

• Propósito e descrição da atividade: a atividade foi


desenvolvida a partir de um interesse particular do
aluno em relato por um jogo de videogame
chamado Minecraft; assim, em um primeiro
momento, ao jogar o game, pediu-se para que o
aluno explicasse quais estratégias desenvolveu no
jogo e, depois, descrevesse a cena ou o personagem

165
que mais gostava; em seguida, pediu-se para que
ele desenhasse seu personagem favorito tendo
como base uma folha quadriculada. A proposta
desta atividade permitiu que o aluno explorasse
suas capacidades de criação e criatividade e
desenvolvesse seus aspectos de representações
visuais e espaciais, proporcionados, por sua vez,
pelo game.

• Materiais utilizados: papel quadriculado, lápis de


cor, giz de cera, tintas coloridas, computador e jogo
online Minecraft.

Lucas apresentou muita concentração e


perfeccionismo em todos os detalhes de linhas e curvas
para representar seus personagens favoritos. De acordo
com as atividades, o aluno apresentou um nível
satisfatório esperado em relação ao seu nível de idade e
escolaridade, sendo que, em alguns momentos, não
demonstrou muito interesse em executá-las. Nas
habilidades de percepção, Lucas demonstrou
compreensão nos elementos visuais de cor, linha,
formas e detalhes, mas não manifestou motivação em
aprofundar-se no assunto. Na habilidade de
produção/representação e habilidade de talento
artístico, Lucas não demonstrou capacidades suficientes
que pudessem ser destacadas em relação ao uso de
símbolos para representar objetos ou de manifestar
suas visões de mundo com exatidão em duas ou três
dimensões. Por fim, na perspectiva do estilo de

166
trabalho o aluno apresentou persistência ao terminar a
atividade sendo que, ao início, demonstrou relutância.

Considerações sobre o domínio das Ciências

A área da Ciência desperta nos(as) alunos(as) o


interesse em descobrir como as coisas funcionam. Há
alunos(as) que apresentam mais envolvimento nas
áreas das Ciências Físicas, que exploram o mundo dos
objetos materiais e a evolução dos sistemas físicos,
enquanto outros(as) se influenciam mais pelas Ciências
Naturais que investigam as formas e os fenômenos dos
seres vivos, incluindo sua origem, seu crescimento e
sua estrutura.
Para Gardner (2001), o(a) aluno(a) que apresenta
um domínio das Ciências acima da média apresenta
capacidade de relacionar e comparar informações,
atribuir significados a observação, bem como formular
e testar hipóteses. Este(a) aluno(a) está ansioso(a) para
explorar o mundo e faz muitas perguntas em busca de
conhecimento.
A atividade aqui proposta teve por objetivo
reconhecer alunos(as) que demostram interesse em
identificar a estrutura e o padrão das coisas, sendo que
as tarefas envolvidas eram voltadas à astronomia.
Foram avaliadas em quatro habilidades-chave, de
acordo com a “Ficha de avaliação do domínio das
Ciências” (Anexo 8): i) habilidade de avaliação; ii)
identificar semelhanças e diferenças; iii) formatação e
experimentação de hipóteses; e iv) interesse em

167
conhecimento de fenômeno naturais/científicos. A
caracterização da atividade é pontuada a seguir.

ATIVIDADE: Astronomia

• Propósito e descrição da atividade: a atividade


proposta teve, como objetivo central, fazer com que
o(a) aluno(a) conhecesse a composição e a dinâmica
do Sistema Solar; para isso, foram abordadas as
seguintes tarefas específicas: conhecer a
organização do Sistema Solar; observar a posição
do Sol e seus efeitos; realizar pesquisas sobre cada
planeta. Estas etapas incentivaram à pesquisa e à
descoberta de novas informações sobre o Sistema
Solar.

• Materiais utilizados: um vídeo – “Rotação da terra:


dia e noite”9 – além de atividades prévias sobre o
Sistema Solar (tais como caça-palavras; decifrando
códigos; cruzadinha dos planetas), bem como um
software disponibilizado pelo Portal da Olimpíada
Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA),10
um computador, um tablet, acesso à internet; papel
sulfite tamanho ofício.

Lucas demostrou muito interesse ao assistir o vídeo


que apresentava algumas informações e curiosidades
sobre o tamanho dos planetas, a rotação da Terra e o

9 Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=
Qrqgontgwv4>. (mimeo).
10 Disponível em <http://www.oba.org.br/>.

168
nome de algumas constelações. A
professora/pesquisadora pediu para que o aluno fizesse
algumas anotações durante a apresentação do vídeo,
especialmente sobre o que ele achou mais curioso e
interessante para que, depois, fosse possível pesquisar
mais sobre os assuntos. Lucas achou interessante a
comparação entre os tamanhos dos planetas. Desta
forma, pediu-se para que ele fizesse um desenho sobre
este tema; ele se recusou, mas comentou que sempre
acessava um site de jogos sobre o sistema solar. Foi
quando ele pesquisou e encontrou o jogo “Ordenando
os planetas”.11 Com o mouse, colocou os planetas na
ordem correta. Percebeu-se que Lucas relacionou um
jogo para cada assunto proposto nos atendimentos que
envolveram a atividade, como também apresentou uma
grande facilidade para entender as regras de um jogo
que acabou de conhecer. A partir destas observações,
avaliou-se o nível do domínio das ciências do aluno.
O aluno apresentou grande interesse, pois nas
habilidades de observação foi capaz de descrever
detalhadamente a ordem e a cor de cada planeta; na
categoria de identificação de semelhanças e diferenças,
apresentou facilidade em comparar os tamanhos dos
planetas em relação ao Sol, como também de classificar
os planetas por ordem de tamanho. Já na habilidade de
formação e experimentação de hipóteses, Lucas fez
muitos questionamentos. E por fim, apresentou a
habilidade de interesse em/conhecimento de fenômenos

11 Disponível em <http://discoverykidsbrasil.uol.com.br/jogos/
ordenando-os-planetas/>. (mimeo).

169
naturais/científicos, pois se mostrou interessado em
aprofundar-se em conteúdos sobre astronomia.
Em relação ao estilo de trabalho, Lucas demostrou
entusiasmo ao estudar o tema, persistência em realizar
as atividades, confiança e segurança em discutir
assuntos deste âmbito, como também grande interesse
por pesquisar e estudar outras temáticas relacionadas
ao assunto. Diante deste envolvimento foi possível
observar seu nível de criatividade, destacado, de
acordo com Virgolim (2014), na fluência – pois
apresentou grande capacidade de elaboração de ideias
– e na flexibilidade – pois teve habilidade de fazer
diferentes conexões de ideias e de ver as coisas sob
diferentes pontos de vista.

Considerações sobre o domínio do Movimento

Muitas vezes as escolas designam atividades de


domínio do Movimento apenas para professores(as) de
Educação Física, de modo que são executadas apenas
nos horários restritos a esta disciplina – geralmente
uma ou duas vezes por semana.
A proposta desenvolvida por Gardner, Feldman e
Krechevsky (2001b) é a de introduzir estas atividades
no currículo desenvolvido pelos professores de sala de
aula como um todo. Desta forma, tem-se como objetivo
desenvolver as capacidades da criança relacionadas ao
controle corporal, à sensibilidade ao ritmo, à criação de
ideias de movimento e ao uso do corpo para expressar
sentimentos, emoções e pensamentos.

170
De acordo com Gardner, Feldman e Krechevsky
(2001b), a consciência corporal-cinestésica do(a)
aluno(a) geralmente ocorre em estágios sequenciais: i)
o(a) aluno(a) recorre ao seu próprio corpo; ii) executa-se
uma variedade de movimentos e padrões; e iii) o seu
movimento é uma fonte de expressão criativa. Para os
autores, entender estes estágios e os diferentes ritmos
que cada criança cria é algo que pode ajudar no
planejamento de sessões de movimento em sala de
aula.
No contexto do estudo de caso, para a avaliação
deste domínio as observações ocorreram em atividades
realizada em sala de aula, bem como nas aulas de
Educação Física dos alunos. A atividade, realizada na
quadra escolar, foi “Passar a bola no túnel”, e em sala
de aula desenvolveu-se a atividade “Criar formas com
o corpo”.
Tais atividades foram avaliadas a partir de cinco
habilidades-chave, de acordo com a “Ficha de avaliação
do domínio do Movimento” (cf. Anexo 9): i) controle
corporal; ii) sensibilidade ao ritmo; iii) expressividade;
iv) criação de ideias de movimento; e v)
responsabilidade à música. As caracterizações de
ambas são pontuadas a seguir.

ATIVIDADE 1: Passar a bola no túnel

• Propósito e descrição da atividade: os(as)


alunos(as) devem ser dispostos(as) em filas, sendo
que as primeiras pessoas devem ficar em posse de
uma bola. Ao sinal do(a) professor(a), a bola deve

171
ser passada com os braços ao colega de trás, e por
baixo das pernas ao colega seguinte, e assim
sucessivamente, até que se chegue à última pessoa
da fila. Quem apanhar a bola deve correr para a
posição do início da fila, reiniciando a passagem.

• Objetivo: esta atividade tem como objetivo


desenvolver não apenas o domínio do Movimento,
mas também o domínio Social. Desta maneira,
pode-se explorar nesta atividade a coordenação, o
controle do corporal, a flexibilidade, a cooperação e
o trabalho em equipe.

• Material utilizado: bola.

ATIVIDADE 2: Criar formas com o corpo

• Propósito e descrição da atividade: os(as)


alunos(as) são desafiados(as) a usar o próprio
corpo para criar formas geométricas e letras
estimulando-se, desta maneira, a criação de ideias
de movimento, a consciência espacial e a resolução
de problemas.

Na atividade “Passar a bola no túnel”, Lucas


apresentou muita facilidade, demostrando gostar da
brincadeira; no entanto, o aluno ficou bravo quando
seu time perdeu, porque um dos membros da fila
deixou a bola cair e demorou a recuperá-la. Quanto à
segunda atividade, Lucas não gostou, realizando-a
apenas duas vezes e com muita resistência, pois

172
alegava ser uma “brincadeira muito infantil”,
preferindo fazer alguma atividade no computador.
Consoante às descrições das habilidades-chave de
movimento propostas por Gardner (2001), observou-se
que Lucas gosta muito de futebol; no entanto, prefere
mais a parte tática e teórica do que a prática
propriamente dita. Mesmo assim, apresentou
dificuldades com jogos que exigissem o seguimento de
regras ou situações que envolvesse perder. Cabe
mencionar que a professora de Educação Física relatou
que o aluno, no começo do ano letivo, às vezes parava
de jogar pois “empacava” porque seu time estava
perdendo. Durante a realização das atividades o aluno
manifestou concentração na realização das atividades,
planejamento de estratégias em como jogar, mas
também frustação por ter de realizar uma atividade que
considerava infantil. Devido a este comportamento não
foi possível observar as particularidades da
criatividade do aluno.

Considerações sobre o domínio Espacial

Gardner (2001), ao especificar as habilidades-chave


de cada domínio, não incluiu o domínio Espacial.
Vieira (2005) afirma, nesta direção, que o estudioso
acreditava na existência de uma profunda relação entre
os domínios Espacial, das Artes Visuais e do
Movimento e que, apesar desses domínios serem
apresentados separadamente, existe uma interação que
implica a complementação de um pelo outro. Porém,
entendendo a complexidade do domínio Espacial e

173
observando a manifestação de suas características nas
ações pedagógicas do aluno em sala de aula,
compreendemos a importância de se avaliar e criar
estratégias educacionais para desenvolver estas
habilidades na escola, de modo geral.
Nesta perspectiva, tendo como base as
características da inteligência espacial, este domínio
corresponde às habilidades de relacionar padrões, de
perceber similaridades em formas espaciais e de
conceituar relações entre elas. Incluem-se, também, a
capacidade de visualização no espaço tridimensional e
a construção de modelos que auxiliem na orientação
espacial ou na transformação de um espaço. No Projeto
Spectrum, por exemplo, os indicadores que mais
proximamente correspondem a estas habilidades
encontram-se no domínio de Mecânica e Construção.
No contexto de Lucas, para a avaliação do domínio
Espacial, utilizou-se o jogo de videogame Minecraft. A
atividade proposta teve sua avaliação pautada nas
quatro habilidades-chave, de acordo com a “Ficha de
avaliação do domínio Espacial” (Anexo 10): i)
compreensão de relações casuais e funcionais; ii)
capacidades visuoespaciais; iii) abordagem de solução
de problemas com objetos mecânicos; e iv) habilidade
motora fina. Ela é descrita a seguir.

ATIVIDADE: Jogo de videogame Minecraft

• Propósito de descrição da atividade: escolheu-se o


jogo Minecraft para avaliar o domínio Espacial pois,
além de ser de interesse particular do aluno em

174
relato, se trata de um game de blocos virtuais de
construção inspirado no LEGO. Minecraft permite
criar casas, edifícios, monumentos e até naves
espaciais em escala real, e tudo isso pode ser
construído com peças em formato de cubo, o que
confere às criações um aspecto 3D. O Jogo trabalha,
na criança, a criatividade, a noção espacial e a
estratégia de planejamento. Em sala de aula o game
proporciona trabalhar com projetos não apenas
voltado ao domínio Espacial (porque trabalha a
construção tridimensional), mas também: o
domínio de Ciências (pois suas ferramentas
exploram noções de urbanismo e construção de
hipóteses); o domínio de Matemática (pois
trabalhar raciocínio lógico e abstrato); e o domínio
de Linguagem (pois para cada avatar o(a) aluno(a)
tem de montar uma história).

• Material utilizado: computador com acesso à


internet.

Para a análise do domínio Espacial partimos de


uma atividade que fosse de interesse do aluno. Para
iniciá-la, Lucas quem tomou a iniciativa e pediu para
instalar o jogo no computador. Depois de instalado,
Lucas começou a configurar os comandos do jogo,
colocando-o num nível de maior dificuldade. Com
muita facilidade foi escolhendo o ambiente no qual
queria jogar, usando o comando do mouse para cavar o
chão virtual, achar pedras e, com elas, construir uma
casa. Lucas apresentou muita agilidade em empilhar os

175
blocos para a construção da casa virtual de seu avatar.
Durante o jogo o aluno relatou que gostava muito de
programas que trabalhavam com desenhos para
construir casas e prédios.
Diante destas informações pode-se verificar que
Lucas apresentou capacidade de construir ou
reconstruir objetos em duas ou três dimensões; também
usou a abordagem de tentativa e erro para adquirir
novos conhecimentos; exibiu boa coordenação com
habilidade motora fina para executar os comandos do
jogo e demostrou, ainda, facilidade em representar, a
partir do jogo, ideias visuais e espaciais.
Neste domínio também foi possível notar que
Lucas expressou maior destaque em habilidades
espaciais voltadas à construção e à arquitetura. No
estilo de trabalho, o aluno apontou características de
concentração, observação, facilidade e agilidade de
comando no jogo, bem como persistência em descobrir
novas estratégias para mudar de fase, destacando sua
criatividade de elaboração.

Considerações sobre o domínio Social

As atividades do domínio Social, segundo Gardner,


Feldman e Krechevsky (2001a; 2001b; 2001c), estimulam
as crianças a examinarem de que maneira elas são
diferentes e semelhantes entre si e constituem,
portanto, base para atividades ou discussões sobre
diversidade cultural planejadas pelo(a) professor(a). É
importante que estas atividades sejam feitas em grupo,
proporcionando, assim, uma oportunidade para que as

176
crianças desenvolvam habilidades de reflexão,
observação e comunicação enquanto interagem com
seus iguais. Neste ponto de vista, a atividade social foi
a mesma sugerida para a verificação do domínio de
Movimento, com o objetivo específico de observar a
cooperação e o trabalho em equipe.
A atividade proposta teve sua avaliação pautada
nas cinco habilidades-chave, de acordo com a “Ficha de
avaliação do domínio Social” (cf. Anexo 11): i)
entendimento de si mesmo; ii) entendimento do outro;
iii) líder; iv) facilitador; e v) cuidador/amigo.

ATIVIDADE: Passar a bola no túnel

• Propósito e descrição da atividade: os(as)


alunos(as) devem ser dispostos(as) em filas, sendo
que as primeiras pessoas devem ficar em posse de
uma bola. Ao sinal do(a) professor(a), a bola deve
ser passada com os braços ao colega de trás, e por
baixo das pernas ao colega seguinte, e assim
sucessivamente, até que se chegue à última pessoa
da fila. Quem apanhar a bola deve correr para a
posição do início da fila, reiniciando a passagem.

• Material utilizado: bola.

Durante a avaliação do domínio Social observou-se


o comportamento social do aluno em seu ambiente de
interação com os(as) colegas nos momentos de recreio e
em atividades na aula de Educação Física. Na atividade
promovida no âmbito desta disciplina, Lucas

177
demonstrou preocupação em sempre querer ganhar, e
chamava a atenção dos amigos quando erravam e
prejudicavam o time na fila de Lucas, que estava em
busca de vencer; contudo, Lucas estava sempre
rodeado de alguns amigos com os quais mais se
identificava ao brincar. Em sala de aula, o aluno
desenvolveu algumas atividades em grupo; Lucas
aceitava com facilidade as opiniões dos demais
integrantes, mas pouco se manifestava na sugestão de
opiniões.
Percebeu-se em Lucas uma característica muito
forte de perfeccionismo; por isso, muitas vezes ele
demonstrou insegurança ao expor suas ideias em
grupo. Também preferiu, em certas situações, trabalhar
sozinho, mas nem por isso apresentou dificuldades de
socialização e/ou de fazer amizades. Neste contexto,
seu estilo de trabalho contempla muita observação e
preocupação com respostas certas.
O modelo de mapeamento das capacidades
proposta por Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b)
oferece ao(à) aluno(a) a exploração de assuntos e temas
que, por sua vez, segundo Gama (2014), proporciona: a)
a interação do(a) aluno(a) com diferentes conceitos,
generalizações, princípios e teorias relacionadas a
questões e problemas significativos em domínios
variados; b) a exposição do(a) aluno(a) a diversas
crenças; c) a compreensão, pelo(a) aluno(a), das
principais questões não resolvidas numa área especifica
do saber; d) a oportunidade para o(a) aluno(a)
contribuir de forma original para uma área do saber; e)

178
a aplicação, pelo(a) aluno(a), do conhecimento vindo de
uma disciplina em novas áreas do saber.
À guisa de encerramento, o Quadro 22 apresenta,
de forma sintetizada, os níveis de desenvolvimento das
habilidades de cada um dos domínios observados em
Lucas.

Quadro 22 - Níveis de desenvolvimento das habilidades dos


domínios.
DOMINÍOS HABILIDADES NÍVEL
Narrativa inventada/narração Satisfatório acima
de histórias da média
Domínio da Linguagem Satisfatório acima
Linguagem descritiva/reportagem da média
Uso poético da Satisfatório acima
linguagem/jogo de palavras da média
Satisfatório acima
Raciocínio numérico
da média
Domínio da Satisfatório acima
Raciocínio espacial
Matemática da média
Satisfatório acima
Solução lógica de problemas:
da média
Satisfatório acima
Habilidade de observação
da média
Identificação de semelhanças Satisfatório acima
e diferenças da média
Domínio da
Formação e experimentação Satisfatório acima
Ciência
de hipóteses da média
Interesse em/conhecimento
Satisfatório acima
de fenômenos
da média
naturais/científicos
Percepção musical Regular
Domínio
Produção musical Insuficiente
Musical
Composição musical Insuficiente
Domínio Compreensão de relações Satisfatório acima

179
Espacial casuais e funcionais da média
Satisfatório acima
Capacidade visuoespacial
da média
Abordagem de soluções de
Satisfatório acima
problemas com objetos
da média
mecânicos
Satisfatório acima
Habilidades motoras finas
da média
Artes visuais: percepção Satisfatório
Domínio
Artes visuais:
das Regular
produção/representação
Artes
Talento artístico Regular
Visuais
Exploração Regular
Controle corporal Satisfatório
Sensibilidade ao ritmo Regular
Domínio do Expressividade Regular
Movimento Criação de ideias de
Satisfatório
movimento
Responsabilidade à música Regular
Entendimento de si mesmo Satisfatório
Entendimento do outro Satisfatório
Domínio Vivência de papéis sociais
Satisfatório
Social distintos/Líder
Facilitador Satisfatório
Cuidador/amigo Satisfatório
Fonte: elaboração própria.

Nessa identificação das áreas de competência,


ficaram visíveis: os domínios nos quais o aluno Lucas
mais se destacou; em quais ele apresentou mais
dificuldades; e em quais as características de
criatividade e estilo de trabalho foram mais frequentes,
como demonstra o Quadro 23.

180
Quadro 23 - Resultados dos domínios do aluno.
DOMÍNI DOMÍNIO
OS DE DE
ALU CRIATIVI ESTILO DE
MAIOR MENOR
NO DADE TRABALHO
DESTA DESTA
QUE QUE
Confiança
Concentração
Uso de
Linguagem
Fluência estratégia
Matemática
Lucas Música Elaboração Facilidade de
Espacial
Originalidade compreensão
Ciências
das
atividades
Seriedade.
Fonte: elaboração própria, com base em Marques (2017).

De acordo com os dados coletados – por sua vez


influenciados pelas teorias de Howard Gardner e de
Joseph Renzulli –, entendemos que o domínio de maior
destaque apresentado pelo aluno pode ser classificado,
segundo Renzulli (2014), como um dos traços dos “três
anéis”, com habilidade acima da média, pois o autor
conceitua que

a habilidade acima da média pode ser definida por duas


formas. A habilidade geral consiste de traços que podem
ser aplicados em todos os domínios (inteligência geral)
ou em domínios amplos (habilidade verbal geral
aplicada a várias dimensões de área de linguagem).
Essas habilidades consistem na capacidade de processar
informações, de integrar experiências que resultem em
respostas apropriadas e adaptativas a novas situações e
de se engajar em pensamentos abstratos. As habilidades
específicas consistem na capacidade de adquirir

181
conhecimentos e técnica ou na habilidade de executar
uma ou mais atividades de tipo especifico e em âmbito
restrito. Muitas habilidades específicas, contudo, talvez
não sejam facilmente medidas por teste; portanto, áreas
como belas artes e artes aplicadas, atletismo, liderança,
planejamento e habilidades de relações humanas devem
ser avaliadas por meio de observação, realizada por
profissionais experientes e por outras técnicas de
avaliação baseadas em desempenho (RENZULLI, 2014,
p. 236).

Na perspectiva das áreas específicas, Lucas se


destacou nos domínios de Linguagem, Matemática,
Espacial e de Ciências. De acordo com Freitas e Pérez
(2010), para avaliar as áreas em que o(a) aluno(a)
apresenta habilidades acima da média, é essencial levar
em conta três fatores importantes: i) a frequência pela
qual o(a) aluno(a) apresenta estes indicadores,
descartando-se assim algumas caraterísticas observadas
eventualmente; ii) a intensidade, que se refere à carga
energética que o(a) aluno(a) deposita na tarefa – carga
que, na teoria de Renzulli e Reis (2004) e Renzulli
(2014), é classificada como o envolvimento com a tarefa
e, na perspectiva de Howard Gardner, reflete no estilo
de trabalho do(a) aluno(a); e iii) a consistência que
reflete no produto desse aluno(a), produto este que
deve ser visível e valorizado pela sociedade em que
ele(a) vive.
Ao realizar uma análise longitudinal observou-se,
em Lucas, desde sua fase de precocidade, os domínios
de Linguagem, Matemática e Espacial. Conforme a
teorização de Joseph Renzulli, podemos reconhecer que

182
o aluno Lucas apresenta características de superdotação
do tipo acadêmico – que, segundo o autor, é um tipo de
Superdotação facilmente mensurado por testes de
inteligência, uma vez que valoriza principalmente os
conhecimentos adquiridos no contexto escolar, de
forma mais específica. As habilidades também
valorizadas na escola – a linguística e a lógico-
matemática – “[...] focalizam as habilidades analíticas,
em lugar das habilidades criativas ou práticas”
(RENZULLI, 2004, p. 82).
Outra observação que merece destaque é a
capacidade que Lucas apresentou para as áreas
tecnológicas e digitais, sendo que as atividades sempre
relacionavam o assunto discutido com um programa
computacional. o aluno também apresentou muita
destreza e rapidez de manuseio no uso do teclado, ao
digitar, e no uso mouse. Diante destas características
apresentadas pelo aluno, sentiu-se falta de um
instrumento de observação que pudesse avaliar o
domínio digital. Mesmo não sendo uma das propostas
de Howard Gardner criar uma “inteligência digital”,
existem estudos como os de Battro (2010) e de Battro e
Denham (2007) que defendem a existência desta nova
inteligência. Assim, Battro (2010) adverte que

o uso inteligente de um computador tem raízes


profundas no desenvolvimento e mesmo na evolução.
Baseia-se em um simples clique, que chamamos de
“opção de clique” – a decisão de ativar (ou não) uma
tecla, apertar um botão ou uma alavanca. Essa sequência
de decisões representa um caminho complexo na
memória de trabalho de um indivíduo e constitui um

183
procedimento heurístico, que achamos que sustenta o
desenvolvimento de uma inteligência digital.
Especificamente, o processo de debugging, ou seja, a
experiência informática de corrigir erros de
programação, é essencial na construção da novidade e,
mais amplamente, no processo criativo (BATTRO, 2010,
p. 298).

Na perspectiva das IM, Battro e Denham (2007)


ressaltam que esta Teoria oferece uma estrutura teórica
e experimental consistente para que entendamos a vida
mental em sentido mais amplo – cognitivo, emocional e
moral. Battro (2010) conclui que. se os critérios
estabelecidos por Gardner (1994) puderem ser
cumpridos, a lista de IM poderia ser ampliada para
incluir uma “inteligência digital”. Assim, se buscaria
entender por que e como cada geração se tornará mais
digital do que a geração anterior.
Diante das discussões e reflexões do processo de
identificação de Altas Habilidades/Superdotação do
aluno Lucas, entendemos a importância do papel do(a)
professor(a) neste processo, o que reforça a necessidade
de uma base de formação docente sólida, essencial para
atuar de maneira eficiente e eficaz. Nesta etapa de
identificação, a professora/pesquisadora entrevistou a
professora do 2o ano do aluno, para analisar os
comportamentos deste em sala de aula. As concepções
da docente sobre o tema são discutidas no Capítulo a
seguir.

184
CAPÍTULO 10

CONCEPÇÃO DE UMA PROFESSORA SOBRE UM


ALUNO COM ALTAS
HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

A identificação dessa parcela de alunos(as)


traduz-se em uma ação complexa, composta de uma
amplitude de opções de atendimento, o que
aumenta o papel do(a) professor(a) para o sucesso e
permanência de indivíduos com potencial elevado em
sala de aula regular (MERLO, 2011). Isso reforça a
necessidade de uma base de formação docente
sólida, essencial para atuar de maneira eficiente e
eficaz. Baseando-se nesse pressuposto, Alencar (2001)
assinala o seguinte:

Um aspecto que tem sido foco de muita atenção é a


formação do professor. Este, sem sombra de dúvida,
tem um papel da maior importância, tanto para a
descoberta e reconhecimento das potencialidades de
cada aluno como para a provisão de condições
favoráveis a este desenvolvimento. Sobretudo o
professor que se propõe atuar diretamente com alunos
que se destacam por suas habilidades especializadas
(ALENCAR, 2001, p. 147).

Merlo (2011) destaca que a capacitação de docentes


para trabalharem na perspectiva de inclusão do(a)

185
aluno(a) com Altas Habilidades/Superdotação tem por
finalidade levar estes(as) profissionais a uma reflexão
constante a respeito de suas práticas pedagógicas. Para
isso, é necessário que haja mudanças educacionais,
visando a criação de estratégias inclusivas para uma
reelaboração dos projetos político-pedagógicos das
escolas e dos processos de formação e qualificação de
educadores(as).
A falta desta formação muitas vezes leva o(a)
professor(a) a dificultar o processo de identificação
do(a) aluno(a), levando este ao desinteresse pela escola.
Nesta visão, apresentamos o relato da professora de
2o ano do Ensino Fundamental de Lucas, coletado no mês
de outubro de 2013, época em que a professora já
conhecia bem o aluno. Foram analisados, em sua fala, os
seguintes fatores: i) o comportamento do aluno em sala de
aula; ii) a ação pedagógica da professora em relação do
aluno em sala de aula; iii) a identificação das Altas
Habilidades/Superdotação na concepção da professora;
iv) a participação dos pais na aprendizagem do aluno; e v)
as principais características do aluno (cf. Anexo 14).
No Quadro 24 são apontados os dados referentes à
concepção da professora em relação às características
do aluno com indicadores de Altas Habilidades/
Superdotação.

Quadro 24 - Concepções da professora da sala regular em relação ao


aluno Lucas.
CATEGORIAS CONCEPÇÕES
Conhecimento sobre a “Eu tenho pouco conhecimento sobre
temática das Altas o assunto. Fiz um curso de Educação
Habilidades/Superdotação Especial, mas quase não se falou sobre

186
o assunto. O pouco que sei é que é
uma criança muito boa em todas as
áreas”.
“No ano passado, a professora do 1o
ano teve muitos problemas com ele,
pelo o que ela me relatava, ela o
Comportamento do aluno
considerava aluno um problema, pois
em sala de aula
por ter sido acelerado demostrava
muita imaturidade, e ela não sabia
lidar com isso”.
“Já no início do ano fiz um
diagnóstico com ele, e vi que ele já
veio alfabetizado do 1o ano, então eu
sempre coloco atrás os alunos já
Ação pedagógica da alfabetizados e na frente os que ainda
professora em relação ao apresentam muitas dificuldades; no
aluno em sala de aula começo, quando a mãe viu que ele
estava atrás, veio me questionar, aí
expliquei que fiz esta divisão, pois ele
apresenta muita facilidade em
aprender”.
A identificação das Altas “Eu não consigo ver o Lucas como
Habilidades/Superdotação aluno de destaque, um aluno
na concepção da brilhante, ele é inteligente tanto
professora quanto outros aqui da sala”.
“Os pais nunca tocaram no assunto
sobre a possível suspeita de
A participação dos pais na
superdotação do Lucas e nem tratam
aprendizagem do aluno
ele como estrela, eu acho isso muito
importante”.
“Ele é bom aluno em todas as
matérias, mas a que mais se destaca é
Principais características a Matemática. Em Português ele não
do aluno gosta muito de escrever e pintar. Ele é
muito sistemático, não gosta de ser
contrariado”.
Concepção sobre a “Em relação à aceleração eu não acho
temática de aceleração muito saudável, acho que não foi

187
muito bom para o Lucas, acho uma
judiação exigir dele o que ele não
consegue, acho que tudo que é
precoce não é bom, não faz bem.
Imagina nos outros anos, quando
começar a estudar sobre sexualidade,
ele estará imaturo em relação a sua
turma, isso pode atrapalhar muito a
socialização com os outros da sua
turma, pois ele sempre será o mais
novo”.
Fonte: elaboração própria, com base em Marques (2017).

De acordo com os relatos podemos identificar falas


que revelam que professores(as) apresentam uma
formação deficitária em relação à temática das Altas
Habilidades/Superdotação. No que concerne à
Resolução CNE/CP no 1/2002, que estabelece as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de
Professores da Educação Básica, as instituições de
Ensino Superior devem prever, em sua organização
curricular, uma formação docente voltada para a
diversidade, contemplando conhecimento sobre as
especificidades de alunos(as) que compõem o Público-
Alvo da Educação Especial (PAEE), e isso inclui
alunos(as) com potencial elevado.
Segundo Marques, Costa e Rangni (2014), para que
tal condição ocorra e beneficie o desenvolvimento de
uma educação satisfatória dos(as) educandos(as) que se
destacam por seus potenciais em nossas escolas, a
formação adequada dos(as) profissionais
envolvidos(as) – sejam professores(as),
coordenadores(as), gestores(as), orientadores(as), entre

188
outros atores da comunidade escolar – se faz
necessária. Destaque-se também que esta formação
carece de urgência, pois esses(as) educandos(as) se
encontram à margem, sem serem reconhecidos(as).
Devido à falta de conhecimento sobre alunos(as)
com alto potencial, muitas são as ideias errôneas que
surgem a respeito deste público, sendo a mais
decorrente achar que o(a) aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação apresenta, simplesmente,
bom rendimento escolar. Diante disso, Alencar (2001)
afirma que

outra ideia também disseminada é a de que o


superdotado apresentará necessariamente um bom
rendimento na escola. Isso, entretanto, nem sempre
acontece. Muitas vezes, observa-se uma discrepância
entre o potencial (aquilo que a pessoa é capaz de realizar
e aprender) e o desempenho real (aquilo que o
indivíduo demonstra conhecer) (ALENCAR, 2001, p.
126).

Para desmistificar os mitos sobre os conceitos de


aceleração, Colangelo, Assouline e Gross (2004)
apontam que a aceleração não pode ser vista como uma
obrigação de fazer com que o(a) aluno(a) aprenda
matérias avançadas ou socialize com crianças maiores
antes de estar preparado(a), e que a aceleração não
deve ser assumida de forma isolada por apenas uma
das partes envolvidas (ou o(a) aluno(a), ou os pais, ou a
escola), pois para que esta intervenção pedagógica
tenha sucesso, ela deve ser uma decisão tomada em
conjunto.

189
Atendimento no contexto da sala de recurso
multifuncional

A partir do atendimento na sala de recurso


multifuncional, foram analisados. nesta sessão: i) a
concepção da professora de Educação Especial sobre o
AEE a um aluno com Altas Habilidades/Superdotação;
e ii) a construção de um Plano de Atendimento
Individual de Ensino para um aluno com Altas
Habilidades/Superdotação. As considerações sobre este
atendimento são detalhadas a seguir.

Concepção da professora de Educação Especial sobre o


atendimento ao aluno com Altas Habilidades/
Superdotação
A professora de Educação Especial acompanhou o
aluno de 2013 a 2016. Assim, em uma visão
longitudinal, foi possível analisar os seguintes tópicos:
i) a formação da professora; ii) os resultados dos AEE;
iii) a forma de organização e registro das atividades e o
desenvolvimento do aluno; iv) o papel dos pais; e v) o
papel da escola na identificação e atendimento do
aluno (cf. Anexo 15).
Diante do relato da professora de Educação
Especial em comparação com as falas da professora de
sala regular fica evidente a diferença entre um(a)
docente que conhece a temática das Altas
Habilidades/Superdotação e o quanto esta formação
facilita na sensibilidade desse(a) profissional em
reconhecer as potencialidades de um(a) aluno(a).

190
Quanto à formação docente, a professora de
Educação Especial não teve, em sua formação inicial,
disciplinas voltadas à temática das Altas
Habilidades/Superdotação, e sua especialização em
Educação Especial era voltada a alunos(as) com
deficiência intelectual; no entanto, pode-se inferir que
ela foi uma profissional que, diante de um aluno com
alto potencial, não se mostrou insegura com o novo
desafio, pelo contrário, encontrou nele uma
oportunidade de adquirir novos conhecimentos sobre
uma temática a priori pouco conhecida por ela.
Quanto ao Atendimento Educacional Especializado
(AEE), ao se questionar sobre a matrícula do aluno com
Altas Habilidades/Superdotação no Censo Escolar das
escolas municipais da cidade onde o presente trabalho
foi desenvolvido, foi encontrada uma realidade que se
repete em nível nacional: um número insuficiente de
alunos(as) com Altas Habilidades/Superdotação
matriculados(as) no Censo Escolar12 em comparação
com outros(as) alunos(as) que compõem o PAEE.
Assim, dos(as) 4.730 estudantes matriculados(as) nos
anos iniciais, 110 são alunos(as) da Educação Especial;
no entanto, deste total de alunos público-alvo da
Educação Especial, apenas um está matriculado como
aluno com Altas Habilidades/Superdotação.
Contextualizando brevemente uma parcela da luta
da professora/pesquisadora e da professora de
Educação Especial para que o aluno fosse inserido no
Censo Escolar, a responsável pela Secretaria Municipal
de Educação da cidade justificou, à época, que só

12 Cf. Inep (2015).

191
poderia inserir o aluno no Censo Escolar caso os pais
apresentassem um laudo clínico. No entanto, essa
exigência é contraditória à Nota Técnica 04/2014, que
orienta as instituições educacionais quanto à
documentação comprobatória de alunos(as) com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
Altas Habilidades/Superdotação no Censo Escolar,
certificando que

para realizar o AEE, cabe ao professor que atua nesta


área elaborar o Plano de Atendimento Educacional
Especializado – Plano de AEE. Neste liame não se pode
considerar imprescindível a apresentação de laudo
médico (diagnóstico clínico) por parte do aluno com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou
altas habilidades/superdotação, uma vez que o AEE
caracteriza-se por atendimento pedagógico e não clínico.
O professor do AEE poderá articular-se com
profissionais da área da saúde, tornando-se o laudo
médico, neste caso, um documento anexo ao Plano de
AEE. Por isso, não se trata de documento obrigatório,
mas complementar, quando a escola julgar necessário. O
importante é que o direito das pessoas com deficiência à
educação não poderá ser cerceado pela exigência de
laudo médico (BRASIL, 2014).

No entanto, mesmo o aluno estando respaldado


legalmente pela não necessidade de apresentar um
laudo clínico, ele teve de passar por uma triagem
avaliativa para que fossem diagnosticados seu
desempenho e potencialidade. No município onde a
pesquisa em estudo foi realizada existe apenas um
Centro Educacional Especializado para realizar todos

192
os laudos clínicos dos alunos que compõem o PAEE.
Assim, de acordo com relatos da mãe de Lucas, os(as)
profissionais da referida instituição, até o momento da
procura, não tinham conhecimento sobre como avaliar
um(a) aluno(a) com Altas Habilidades/Superdotação.
Contudo, a triagem foi realizada e as descrições
realizadas a seguir estão de acordo com o relatório final
oferecido pelo Centro.
Para a realização da triagem aplicou-se o WISC-III
(Escala de Inteligência Wechsler para crianças, 3. ed.), e
constatou-se que o aluno apresentava um desempenho
geral muito acima da média, como também em tarefas
verbais e não verbais (execução). Na avaliação
fonoaudiológica e psicopedagógica, o aluno
comunicou-se verbalmente, iniciando e mantendo o
diálogo de maneira contextualizada, apresentando bom
vocabulário e estruturação de frases. Quanto aos
aspectos de audibilização e visualização, estes se
encontravam sem alteração.
Mediantes dados obtidos no Teste de Desempenho
Escolar (TDE), o aluno apresentou os seguintes
resultados, reunidos no Quadro 25.

Quadro 25 - Dados coletados no Teste de Desempenho Escolar


(TDE).
ÁREAS RESULTADOS NÍVEL COGNITIVO
Seguiu a rota lexical com Conhecimento
adequada entonação e compatível com
respeitou a pontuação. competências e
Leitura
Reproduziu histórias com habilidades do 6o ano
riqueza de detalhes e do Ensino
respondeu às perguntas Fundamental.

193
referentes ao texto
corretamente.
Escreveu palavras simples
Conhecimento
e complexas de alta e
compatível com
baixa frequência sem
competências e
Escrita dificuldade. Escreveu
habilidades do 7o ano
frases e parágrafos
do Ensino
apresentando boa
Fundamental.
organização textual.
Apresentou conhecimento
Conhecimento
e facilidades de resolução
compatível com
nas quatro operações
competências e
Matemática (adição, subtração,
habilidades do 4o ano
multiplicação e divisão).
do Ensino
Resolveu problemas sem
Fundamental.
dificuldades.
Fonte: elaboração própria, com base em Marques (2017).

Entendendo que o processo de identificação é algo


complexo, ressaltamos que a visão de mensurar o
desempenho e as habilidades de um(a) aluno(a) com
alto potencial não pode ser a única forma de
identificação, uma vez que, como relatado
anteriormente, os testes utilizados para realização da
triagem apontam resultados voltados apenas às áreas
acadêmicas. Assim, fica restrita e incompleta a
identificação, pois na Teoria das Inteligências Múltiplas
estes testes identificam apenas as inteligências
linguísticas e matemáticas. De acordo com Gardner,
Feldman e Krechevsky (2001a), os testes muitas vezes
apresentam funções mentais descontextualizadas das
atividades habituais dos indivíduos e, além disso,
muitos traços utilizados na resolução de problemas –
tais como liderança, habilidade para interagir,

194
determinação e imaginação – não são avaliados por
testes de inteligência. Estes testes não identificam a
totalidade da potencialidade do indivíduo, apenas as
áreas acadêmicas.
Nesta reflexão, Gardner (1995) ressalta que

um aspecto importante da avaliação da inteligência deve


incluir a capacidade do indivíduo de resolver problemas
ou criar produtos utilizando os materiais do meio
intelectual. No entanto, é igualmente importante
determinar qual inteligência é oferecida quando o
indivíduo pode escolher. Uma técnica para a esta
inclinação é expor a pessoa a uma situação
suficientemente complexa, capaz de estimular várias
inteligências, ou oferecer um conjunto de materiais de
diferentes inteligências e verificar qual deles o indivíduo
escolhe e quão profundamente o explora (GARDNER,
1995, p. 35).

Tendo o presente relato de estudo de caso uma


visão gardneriana, a triagem multifacetada realizada
pela professora/pesquisadora mostra que o aluno
apresenta capacidade acima da média não apenas nas
linguagens matemáticas e inteligências linguísticas,
mas também nas áreas dos domínios das Ciências e
Espacial. A professora de Educação Especial também
identificou capacidade acima da média nas áreas de
Linguagem, Matemática e Tecnológica.
Ainda segundo a professora da Educação Especial,
o AEE possibilitou que o aluno se aprofundasse em
suas áreas de interesse, além de permitir que ele
desenvolvesse habilidades que não eram trabalhadas

195
em sala de aula. No entanto, muitas foram as barreiras
encontradas pela profissional para oferecer um
atendimento de qualidade que pudesse atender às
necessidades do aluno. Uma delas foi a falta de
estrutura e materiais pedagógicos na sala de recurso
multifuncional voltada para o aluno com Altas
Habilidades/Superdotação. De acordo com a
professora, a verba enviada pelo MEC para investir em
materiais para a sala de recursos foi completamente
utilizada em materiais voltados para alunos(as) com
deficiência. Nesta visão, como mencionado
anteriormente, Guenther (2011) ressalta que a escola
está voltada para alunos(as) na média e abaixo da
média, mas nunca aos indivíduos com capacidade
acima da média. Ademais, uma das maiores
dificuldades encontradas pela professora foi propor
atividades diferenciadas que prendessem o interesse e
estimulassem as potencialidades do aluno.
Nesta perspectiva, entende-se que, para ser
professor(a) de um indivíduo com Altas
Habilidades/Superdotação, não é preciso ser, também,
uma pessoa com capacidade acima da média, mas é
importante que este(a) professor esteja comprometido
com sua atuação neste contexto. Neves-Pereira (2007)
defende a ideia de que uma formação de qualidade é
aquela que prepara o(a) professor(a) para ser
criativo(a), e para isso é necessário que ele(a) não tenha
apenas um conhecimento criativo, mas também um
domínio e um treino de suas próprias habilidades e
competências criativas.

196
Ser um(a) “professor(a) criativo(a)” não implica ter
indicadores de talento e capacidade elevada tal como
apresentam alunos(as) talentosos(as). O(a) professor(a)
criativo(a) é aquele(a) que tem uma postura de
avaliação e reflexão sobre sua própria prática, é
aquele(a) que tem uma formação multidisciplinar,
vinculada a um contexto sociocultural, permitindo à
escola e seus agentes que o sucesso seja alcançado. Por
fim, o(a) professor(a) que adota estratégias para
promover a criatividade em sala de aula, sem dúvidas,
tem mais chances de atuar de forma competente,
auxiliando, assim, seus(suas) alunos(as) a descobrirem
e realizarem seus potenciais e talentos (NEVES-
PEREIRA, 2007).
Após realizar um mapeamento das áreas de
interesse do(a) aluno(a) fica mais fácil definir os
objetivos, estratégias e metodologias que permitirão
alcançar as diferentes necessidades do(a) aluno(a) com
Altas Habilidades/Superdotação. De acordo com
Pereira (2014), do ponto de vista pedagógico, o
currículo a ser adotado deve ser flexível, dinâmico e
instigador. Já para Gama (2014), na adaptação
curricular para um(a) aluno(a) superdotado(a) é preciso
levar em conta as diferenças que separam este(a)
aluno(a) de seus pares da mesma idade, para que sejam
criadas oportunidades para aceleração de estudos,
observando-se a complexidade e o aprofundamento
dos assuntos estudados, a criatividade e a abstração.
A autora classifica os seguintes princípios
norteadores para a elaboração de um currículo

197
diferenciado para alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação.
 o conteúdo dos currículos para superdotados(as)
deve ser organizado para incluir o estudo mais
elaborado, complexo e profundo de ideias,
problemas e temas que integrem o conhecimento
de diferentes sistemas de pensamento;
 o currículo deve facilitar o desenvolvimento e a
aplicação de habilidades de pensamento
produtivo, para permitir que os(as) alunos(as)
reconceitualizem o conhecimento existente ou
criem um conhecimento novo;
 o currículo deve facilitar a exploração do
conhecimento em perpétua mutação e o
desenvolvimento da atitude de apreciação de busca
de conhecimento em um mundo aberto;
 o currículo deve encorajar a exploração, a seleção e
o uso de fontes especializadas;
 o currículo deve incentivar a aprendizagem e o
crescimento autoiniciados e autodirecionados;
 o currículo deve facilitar o desenvolvimento de
autoconhecimento e do conhecimento das relações
com outras pessoas, instituições sociais, natureza e
cultura (GAMA, 2014, p. 391).
Nesta perspectiva, na trajetória escolar do aluno
considerado para a pesquisa em estudo, esta adaptação
curricular aconteceu sob a forma de enriquecimento
intracurricular, apenas nos atendimentos do AEE.
Segundo relatos da professora de Educação Especial, o
plano individual de ensino foi realizado a partir dos
interesses demostrados pelo aluno e registrado pela

198
professora para que ela pudesse refletir sobre os
objetivos que deram certo, analisá-los e determinar os
que precisariam ser alterados de acordo com a
realidade do atendimento.
Muitas das sessões de atendimento foram
observadas pela professora/pesquisadora sob diversos
aspectos, como por exemplo o da forma como a
professora planejava os atendimentos. Como um dos
objetivos foi o de desenvolver estratégias que
facilitassem o atendimento da professora de Educação
Especial ao aluno com Altas Habilidades/Superdotação,
a professora/pesquisadora sugeriu que a professora
planejasse as sessões de atendimento de acordo com o
plano de ensino individual para alunos com Altas
Habilidades Superdotação, elaborado por Delou (2014).
O referido plano é dividido em três etapas:
 1a Etapa – apresenta os dados de identificação
do(a) aluno(a), da escola, do(a) professor(a) e do(a)
responsável. Identifica: o local onde será realizado
o AEE, quais serão os serviços de apoio; os recursos
pedagógicos e de acessibilidade disponíveis e
necessários; o número de atendimentos previstos e
realizados; e o período de aplicação do plano.
 2a Etapa – define a finalidade do AEE nas
diferentes possibilidades. Assim, em três colunas,
o(a) professor(a) pode organizar seu planejamento
pedagógico. Na primeira coluna deve ser feita uma
breve descrição das áreas curriculares, dos
interesses e habilidades a serem trabalhados,
apontando-se os critérios de avaliação
correspondente. Na segunda coluna devem ser

199
descritos os recursos utilizados para o
desenvolvimento das experiências de
aprendizagem. Por fim, na terceira coluna, devem
ser descritas as atividades pedagógicas que serão
utilizadas para promover as experiências de
aprendizagem.
 3a Etapa – apresenta fatores que facilitam a
elaboração do parecer final do(a) aluno(a) com
Altas Habilidades/Superdotação (cf. Anexo 16).
O Quadro 26 apresenta, de forma resumida, o
plano individual de ensino realizado pela professora e
utilizado de 2013 a 2016.

Quadro 26 - Síntese do plano individual de ensino para o aluno.


PLANO INDIVIDUAL DE ENSINO
PRIMEIRA ETAPA
Sala de recurso multifuncional
Local do AEE
da escola
Devido ao processo de
aceleração da Educação Infantil
Necessidades educacionais
para o Ensino Fundamental, o
identificadas
aluno foi encaminhado para o
AEE
Linguagem oral e escrita
Área(s) de interesse ou Matemática
talento Ciência
Tecnologia
Recursos pedagógicos
Computador
disponíveis
Materiais e jogos que trabalhem
Recursos pedagógicos
e estimulem as oito
necessários
inteligências
Número de atendimentos
Seis semestres de atendimentos
previstos

200
Número de atendimentos Cinco semestres de
realizados atendimentos
Período de aplicação do
De 2013 a 2016
plano
SEGUNDA ETAPA
Suplementação curricular
Finalidade do AEE
Enriquecimento curricular
Áreas curriculares – Pontos fortes – Recursos básicos –
Atividades

2013

1o semestre
 Levantamento de interesses
 Matemática: aprofundamento de conteúdo (conteúdo do 3o
ano do EF)

2o semestre
 Levantamento de interesses
 Matemática: Aprofundamento de Conteúdo (conteúdo do 4 o
ano do EF)
 Português: Aprofundamento de Conteúdo (conteúdo do 3 o
ano do EF)

2014
1o semestre
 Levantamento de interesses

ÁREAS/ATIVIDADES
 Domínio de Matemática
 Atividades de aprofundamento de matemática (frações e
números decimais)
 Domínio Espacial
 Domínio de Linguagem oral e escrita
 Projeto Copa do Mundo (pesquisas: mapas dos principais
países participantes, dicionário alemão-português, construção
de um mini-campo de futebol com papel paraná, tinta e

201
materiais diversos, utilizando escalas para definir a metragem
correspondente à oficial, elaboração de uma tabela de jogos e
criação de hipóteses relativas aos resultados).

2o semestre
ÁREAS/ATIVIDADES
 Domínio da Linguagem
 Contação de história com diversos objetos
 Organizando a história
 Letroca
 Domínio de Matemática
 Escala Cuisenaire
 Jogo da mesada
 Domínio Musical
 Loto musical
 Escrevendo uma música
 Domínio de Artes Visuais
 Jogo Minecraft
 Meu personagem favorito
 Domínio das Ciências
 Astronomia
 Domínio do Movimento
 Atividade com bola
 Criar formas com o corpo
 Domínio Espacial
 Jogo Minecraft
 Domínio Social
 Atividades em grupo
 Atividade com bola

2015

1o semestre
ÁREAS/ATIVIDADES
 Domínio de Matemática
 Domínio da Linguagem
 Conhecimentos Tecnológicos

202
 Levantamento de interesses do aluno
 Construção de gráficos simples relacionando-os com frações e
números decimais
 Construção de gráficos a partir de temas propostos pelo aluno
no levantamento de interesses (como o livro O Diário de um
Banana, de Jeff Kinney)
 Atividades do livro O Diário de uma Banana – Faça você mesmo
 Construção de um blog para que o aluno discorra sobre um
tema de seu interesse (no caso, Lucas quis abordar o tema
Minecraft)
 Elaboração de pequena biografia para publicação no blog
 Entrevista via Skype com o designer de games André
Rodrigues, sócio da agência Big Green Pillow

2o semestre
O AEE foi interrompido. A escola recebeu um aluno com
necessidade de acompanhamento constante em sala de aula, e a
professora da sala de recursos precisou cancelar seus
atendimentos para poder atender a esta demanda sob orientação
da direção escolar e da Secretaria Municipal de Educação.

2016

1o semestre
ÁREAS/ATIVIDADES
 Domínio de Matemática
 Domínio da Linguagem
 Levantamento de interesses
 Matemática: expressões numéricas (conteúdo do 5 o ano do EF)
 Projeto FIFA: o aluno desenvolveu projeto de pesquisa a
respeito de seu jogo favorito (FIFA), procurando responder às
seguintes questões norteadoras:
o Origem e histórico do jogo: Quem foram os criadores?
Como tiveram a ideia? Quais foram suas influências?
o Qual é o lucro anual gerado pelo FIFA?
o Como é escolhido o jogador que estará na capa?
o Como funciona o esquema de atribuição de valores

203
aos jogadores?

O aluno respondeu a tais questões e aprofundou ainda mais a


temática, percorrendo os seguintes temas adicionais: FIFA no
Brasil, o futebol feminino no FIFA e hipóteses sobre mudanças
que ocorrerão a partir do FIFA 2017.

2o semestre
ÁREAS/ATIVIDADES
 Domínio de Matemática
 Domínio das Ciências
 Matemática: aprofundamento de frações (operações entre
frações, MMC)
 Início do Projeto Big Bang (pesquisas sobre o tema, vídeos,
conversas sobre as diferentes teorias)
TERCEIRA ETAPA
Objetivos alcançados
 Acompanhar o processo de adaptação da aceleração do aluno
 Fazer com que o aluno tenha motivação e estimulo em
frequentar a escola
 Identificar e estimular as áreas de interesse do aluno
 Pesquisar e aprofundar os conteúdos que potencialize as
habilidades do aluno
Objetivos não alcançados
 Estimular a atenção e o interesse do aluno em determinadas
atividades
 Relacionar as atividades de AEE com os conteúdos em sala de
aula
 Trocar informações com a professora da sala de aula sobre a
forma de aprender do aluno
Fonte: elaboração própria, com base em Marques (2017).

As atividades realizadas foram elaboradas a partir


de interesses do aluno. Desta forma, de acordo com
Pérez (2004; 2008), para que o enriquecimento aconteça
de forma eficiente é necessário que o(a) professor(a)
tenha conhecimento:

204
 das áreas de destaque do(a) aluno(a);
 das formas como o(a) aluno(a) prefere apresentar
os resultados de seus trabalhos;
 da forma como o(a) aluno(a) aprende;
 dos principais interesses do(a) aluno(a);
 sobre em quais inteligências se manifestam as
características de Altas Habilidades/Superdotação;
 do tipo de Altas Habilidades/Superdotação do(a)
aluno(a) (se do tipo acadêmico ou se produtivo-
criativo).
A análise dos objetivos não alcançados por meio
dos atendimentos torna evidente a falta de interação em
relação ao conteúdo da sala de aula e os conteúdos
propostos no âmbito do AEE. Nas falas do relato da
professora de sala de aula regular, é possível identificar
a difícil relação entre o aluno com Altas
Habilidades/Superdotação e a escola, dado o fato de
que esta não reconhece as potencialidades do aluno.
Para Neves-Pereira (2007), o ambiente educacional é
um local de grande importância para o
desenvolvimento de competências e habilidades. Nesse
sentido, a compreensão das necessidades e das
oportunidades de desenvolvimento do(a) aluno(a) com
superdotação é imprescindível para que as ofertas
educacionais atendam às expectativas e capacidades
desse público. Para isso, é necessário que a escola ajuste
as peculiaridades da superdotação com vistas à
inclusão do(a) aluno(a), já que a condição de indivíduo
com Altas Habilidades/Superdotação não permite a
estas pessoas a garantia de sucesso na escola, nos

205
contextos culturais, na adequação social ou na
realização profissional.
Foram várias as vezes em que a
professora/pesquisadora procurou a direção escolar
para propor uma formação ao corpo docente da escola.
No entanto, a direção justificava que este não era um
assunto que interessasse à equipe pedagógica uma vez
que esta gestão não acreditava ter, na escola, um(a)
aluno(a) superdotado(a). Assim, o atendimento ao
aluno só aconteceu em um ambiente não inclusivo das
Altas Habilidades/Superdotação devido à sensibilidade
e reconhecimento da professora de Educação Especial,
à persistência da professora/pesquisadora e à luta dos
pais de Lucas, a fim de que lhe fossem efetivados os
direitos garantidos por lei. Nesse sentido, no Capítulo a
seguir analisa-se a visão dos pais em relação à trajetória
acadêmica do filho com Altas Habilidades/
Superdotação.

206
CAPÍTULO 11

CONCEPÇÃO DOS PAIS EM RELAÇÃO À


TRAJETÓRIA ACADÊMICA DE UM FILHO COM
ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

De acordo com Delou (2007), a compreensão sobre


como funcionam as famílias de criança com Altas
Habilidade/Superdotação é fundamental para o
conhecimento sobre como a criança se desenvolve e
para os efeitos que a notícia sobre o talento identificado
pode causar sobre os membros da família. Ao contrário
das crianças que nascem com deficiência ou com
transtornos no desenvolvimento e que imediatamente
são identificadas, diagnosticadas e recebem todo um
apoio de atendimento precoce, o nascimento de
crianças que virão a ser identificadas como indivíduos
com capacidade acima da média os direciona a uma
realidade distinta, já que não recebem atendimento
precoce e tampouco são facilmente reconhecidos
perante a escola.
Desta forma, é a família que, ao decorrer do
desenvolvimento da criança, começa a observar
características precoces, mas que, no entanto, não
recebe suporte de profissionais sobre como responder a
esta precocidade identificada em seus(suas) filhos(as).
Muitas vezes as famílias sofrem ao encontrar
profissionais que resistem em reconhecer a

207
singularidade destes sujeitos, cujas preferências fogem
aos padrões da infância comum e que, desde cedo, se
dedicam a interesses para além daqueles compatíveis
com sua faixa etária.
Ao entrar na vida de Lucas, a
professora/pesquisadora encontrou pais que tinham
consciência das potencialidades do seu filho e se
preocupavam em satisfazer suas curiosidades, mas que
buscavam não estimular ainda mais a criança. Pais
inseguros e preocupados, sobretudo, com a luta pelos
direitos de inclusão educacional do filho.
O papel dos pais na trajetória escolar de Lucas foi
fundamental, pois a criança, em todas as fases da
pesquisa, apresentou maturidade e entendimento sobre
tudo o que estava acontecendo com seu processo
escolar. Em vários momentos, o aluno relatava que os
pais sempre explicavam o motivo pelo qual ele tinha de
passar por várias avaliações e o porquê de aprender de
forma diferente das outras crianças.
Sendo um dos objetivos desta pesquisa analisar a
concepção dos pais em relação à trajetória de
identificação e ao AEE de modo completo, realizou-se
uma entrevista com a mãe de Lucas no final do
segundo semestre de 2016, visto que em 2013 ela
também foi entrevistada para relatar, na sua visão,
como ocorreu a adaptação do aluno no processo de
aceleração. Assim, nesta fase, foram analisados os
seguintes tópicos: a) concepção de AEE; b) visão das
áreas de maior e menor interesse do filho; c) a
autoidentificação do filho superdotado; d)
comportamento do filho na escola e na família; e) o

208
processo de aceleração; f) laudo clínico; e g) concepção
sobre ter um filho com Altas Habilidades/
Superdotação. São aprofundadas, a seguir, as
discussões sobre cada um dos tópicos tendo em vista a
consolidação da entrevista (cf. Anexo 01).
De acordo com o relato da mãe, identificar as Altas
Habilidades/Superdotação em seu filho foi tarefa muito
importante, pois a partir deste momento ela conseguiu
compreender o comportamento de Lucas na escola,
tanto em relação aos conteúdos que ele abordava
quanto às atitudes e diferenças por ele demonstradas
perante os(as) colegas.
Em relação ao AEE, primeiro tópico discutido, a
mãe relatou o seguinte:

O que ele mais gosta na escola é a sala de recursos, porém não


consigo identificar uma ligação entre o AEE e a sala de aula.
Acredito que falta interesse dos professores da sala regular em
entender sobre o assunto e querer fazer parte dessa inclusão
(fragmento da entrevista – relato da mãe).

Esta fala da mãe vai ao encontro da fala da


professora de Educação Especial, que também narra a
ausência de interesse por parte do corpo docente e da
gestão escolar em reconhecer e incluir o aluno com
Altas Habilidades/Superdotação.
Para Alencar (2012), o ensino regular é direcionado
a alunos(as) que estão na média e abaixo da média; o(a)
superdotado, além de ser deixado(a) de lado, é visto(a)
pelos(as) professores(as) como uma ameaça por ser
um(a) aluno(a) questionador(a) e crítico(a). Esta
insegurança, na maior parte das vezes, advém da falta

209
de formação a respeito da temática do indivíduo com
capacidades acima da média. Assim, de acordo com a
autora, professores(as) sem preparação especial ou
conhecimento da área das Altas habilidades/
Superdotação tendem a ser desinteressados(as) ou
mesmo hostis como relação a estes indivíduos.
Em relação às áreas de maior e menor interesse,
segundo tópico abordado, a entrevistada ressaltou que
Lucas acabou desenvolvendo um interesse muito
grande por montar estratégias relacionadas a futebol.
Ele não é o melhor jogador, mas consegue identificar
jogadas, táticas e posicionamentos importantes para a
melhoria do desempenho do time. Já nas áreas de
menor interesse, na Educação Infantil e no 1o ano do
Ensino Fundamental, Lucas nunca demostrou interesse
pelas Artes; no entanto, no 4o ano do Ensino
Fundamental ele passou a demonstrar um pouco mais
de gosto por desenhos e pinturas, mas ainda não se
trata de algo que chame muito sua atenção.
A professora/pesquisadora perguntou à mãe de
Lucas se, por acaso, ele se reconhecia como uma pessoa
com Altas Habilidades/Superdotação, e quais seriam os
pontos positivos e negativos em relação a este
reconhecimento. Sobre esta autoidentificação, ela
relatou o seguinte:

Ele sabe porque já ouviu muito as pessoas falarem sobre.


Minha maior preocupação, que envolve um ponto negativo, é
que ele não pense que por causa disso não precisa mais estudar
ou cumprir suas obrigações na escola. Conversamos muito
sobre isso e ele entende que essa condição não o torna melhor

210
que ninguém, e isso é um ponto positivo (fragmento da
entrevista – relato da mãe).

Existem muitas ideias errôneas sobre o indivíduo


com Altas Habilidades/Superdotação, e uma delas é
que não se pode dizer a uma criança que ela é
superdotada. Para Sabatella (2008), crianças
superdotadas são muito atentas e percebem
rapidamente seu ritmo de pensar, aprender e concluir;
sua diferença de interesses e resultados. Curiosamente,
quando crianças e jovens são informados(as) sobre sua
capacidade diferenciada, ficam mais tolerantes e
aceitam seus colegas de menor potencial.
De acordo com a mãe, Lucas é um bom aluno, tem
muitos amigos e um bom relacionamento com a
família. No entanto, ela alega que

[...] ele entende as dificuldades que a escola tem em receber


alunos como ele. É triste, mas ele vai à aula e não aproveita
nada do conteúdo pois ele já sabe. Termina tudo muito rápido
e fica lá sem fazer nada. Mas hoje ele não fica mais tão triste
com isso como antes (fragmento da entrevista – relato da
mãe).

Analisando-se a resposta da mãe para o tópico


comportamental do filho na escola e na família, nos
deparamos com uma realidade que acontece com a
maioria dos alunos com Altas Habilidades/
Superdotação, o tempo ocioso. Segundo Sabatella
(2008), embora alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação, na maioria das vezes,
iniciam sua vida escolar a partir de uma curiosidade

211
ativa sobre o ambiente, com grande desejo de se
expressar e de se relacionar com os outros, acabam se
deparando com um ambiente entediante. Assim, um
indivíduo com capacidade acima da média que
constantemente espera que toda a turma aprenda
aquilo que ele já sabe (ou sabia antes de ir à escola)
pode acumular sentimentos de frustação e insatisfação.
Muitas vezes, a motivação e o entusiasmo do(a)
aluno(a) são abafados por pessoas mais interessadas em
forçar um ajustamento ou fazer com que ele(a) se
conforme com os padrões já determinados.
Como mencionado anteriormente, a entrevistada
relatou, em 2013, como foram a adaptação e o impacto
da aceleração na vida escolar de Lucas. Assim, em 2016,
a entrevista previu um tópico para analisar se algo se
alterou e melhorou ou não em relação ao processo de
aceleração.

A aceleração foi muito positiva quanto à socialização dele na


escola. Ele se dá muito bem com seus colegas de sala hoje em
dia, coisa que não acontecia no ensino infantil. Porém, quanto
ao ensino em sala de aula, nada mudou. Ele continua à frente
das outras crianças (fragmento da entrevista – relato da
mãe).

Nesta visão, entendemos que, no caso de Lucas, a


aceleração foi imprescindível para o ajuste emocional,
social e cognitivo do aluno. Alencar (2012) ressalta que
pesquisas realizadas na Austrália constataram que a
grande maioria dos indivíduos com Altas
Habilidades/Superdotação que não teve a oportunidade
de ser acelerada nos seus estudos apresentou níveis

212
mais baixos de motivação e autoestima, e mais
frequentemente eram rejeitados pelos(as) seus colegas
de escola. Especialmente aqueles indivíduos que, com
um Q.I igual ou superior a 180, que permaneciam em
sala de aula regular, apresentavam um elevado nível de
desajuste emocional.
Em sequência, a mãe foi questionada sobre quais
foram os pontos positivos e negativos após a emissão
do laudo para o diagnóstico de Altas
Habilidades/Superdotação de seu filho, exigido pela
Secretaria Municipal de Educação. A entrevistada
relatou que

de positivo não teve nada. Ele já tinha um laudo pedagógico,


sendo desnecessário outro laudo emitido pela instituição
especializada. Nada mudou para melhor. Nada! Nem em
relação à atitude da escola perante o caso dele. Depois do laudo
ele ainda ficou um bom tempo sem o atendimento na sala de
recursos. Não sei como será esse ano [2016] (fragmento da
entrevista – relato da mãe).

Diante desta fala da mãe, fica evidente o motivo


pelo qual pessoas envolvidas e especialistas da área das
Altas Habilidades/Superdotação são contra o fato de se
ter o laudo clínico como único documento que
comprove o comportamento de Altas Habilidades/
Superdotação. No caso do Lucas, o laudo teve um
significado mais burocrático, ou seja, tratou-se da
necessidade de se ter um laudo clínico multidisciplinar
para que o aluno fosse inserido no Censo Escolar, e não
propriamente de um instrumento inerente ao processo
de identificação. Não existe sentido em identificar

213
apenas por identificar e não desenvolver um plano de
atendimento especializado, adequado e que promova
reconhecimento e inclusão do aluno no meio escolar.
No tópico seguinte, perguntou-se à mãe quais eram
as facilidades e dificuldades de se ter um filho com
Altas Habilidades/Superdotação. Ela respondeu o
seguinte:

A facilidade é que nunca tive problemas em relação à


aprendizagem dele. É difícil porque ele não é bem visto no
ambiente escolar, pois é muito diferente às [sic] outras
crianças. Não há conhecimento desse assunto nas escolas e
muitos não entendem suas atitudes e porque ele é tão crítico
(fragmento da entrevista – relato da mãe).

Segundo Sabatella (2008), a maior angústia da


maioria dos pais de crianças com Altas
Habilidades/Superdotação é a dificuldade encontrada
em relação à carência de especialistas, programas ou
grupos de apoio que discutam as necessidades e os
direitos da criança superdotada, além das inseguranças
sobre ter um(a) filho(a) com capacidade acima da
média. Nesta perspectiva, a autora descreve sua
experiência em organizar um grupo de apoio para
famílias de pessoas com Altas Habilidades/
Superdotação, ressaltando que

[...] a troca de experiência pode levantar vários aspectos


que servirão de apoio à educação dos superdotados e
outros que tranquilizarão as famílias ao perceberem que
comportamentos que causavam estranheza em seus
filhos são comuns nas outras crianças. Unir os pais, em

214
grupos de discussão, é uma rica fonte de informações
para todos os integrantes e vidência como podem
ajudar-se descrevendo estratégias que tiveram sucesso
em determinadas situações (SABATELLA, 2008, p. 148).

Por fim, diante de todos os fragmentos de relatos


oferecidos pela mãe na entrevista, podemos entender a
suma importância da família no processo de
identificação e atendimento de alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação, pois o desenvolvimento
destes indivíduos não se resume as suas capacidades
acima da média, mas sim considera seu
desenvolvimento saudável, proporcionado num
ambiente familiar repleto de carinho, atenção,
aceitação, clareza e entendimento sobre seus
comportamentos e características.

215
216
CAPÍTULO 12

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificou-se, a partir da exposição temática reunida


no presente livro, que a área das Altas
Habilidades/Superdotação é repleta de desafios e
barreiras, mas também de lutas e conquistas. Nesta
visão retratou-se, aqui, a trajetória escolar de um aluno
com Altas Habilidades/Superdotação para exemplificar
a trajetória de muitos outros Lucas que, ainda hoje, não
são reconhecidos por suas altas capacidades.
O relato trazido à baila objetivou analisar, de forma
longitudinal, o processo de reconhecimento,
identificação e atendimento de um indivíduo com
indicadores de Altas Habilidades/Superdotação na
visão multifacetada das Inteligências Múltiplas (IM). A
importância de uma análise longitudinal permite
descrever e identificar componentes comportamentais
de Altas Habilidades/Superdotação do indivíduo em
uma determinada fase de sua vida, possibilitando
analisar a permanência e a frequência das
características de superdotação.
Iniciamos nossa discussão refletindo sobre
procedimentos de identificação multifacetada
propostos ao aluno na fase da precocidade e depois,
quando ele já manifestava indicadores de Altas
Habilidades/Superdotação. Nessa vertente, vimos, já no

217
início deste estudo, que há poucas pesquisas voltadas à
avaliação e identificação das Altas Habilidades/
Superdotação a partir da Teoria das Inteligências
Múltiplas. Com isso, esta intervenção de ensino nos
proporcionou explorar habilidades nas quais o aluno
apresentou maior capacidade e aquelas em que poderá
desenvolver mais afeição, de acordo com o estímulo do
ambiente escolar.
Como resultado desta identificação na fase de
precocidade, o aluno apresentou habilidades acima da
média voltadas aos domínios da Linguagem, da
Matemática e Espacial. Estas características
permaneceram de modo frequente durante todo o
procedimento de identificação com o aluno, à época já
no Ensino Fundamental. Durante os quatro anos de
análise e de observação dos indicadores de Altas
Habilidades/Superdotação foi possível descrever o
desenvolvimento de outros domínios, tais como o das
Ciências, focado na temática da astronomia, bem como
uma facilidade de debater assuntos sobre Tecnologia.
Diante do levantamento destas características
torna-se possível afirmar que a precocidade foi um dos
traços oriundos do dado comportamental da
superdotação do aluno.
Nesta visão, acreditamos que nem toda criança
precoce apresentará características e comportamentos
indicadores de Altas Habilidades/Superdotação, mas a
pessoa com capacidade acima da média tem grandes
chances de ter sido uma criança precoce na infância.
A partir desses domínios foi possível identificar,
ainda, que o aluno apresenta Altas Habilidades/

218
Superdotação nas áreas acadêmicas. É muito provável
que estes domínios foram um dos motivos facilitadores
que fizeram com que a escola enxergasse as
potencialidades nas áreas acadêmicas a ponto de
acelerar o aluno. O processo de aceleração, sendo uma
das formas de atendimento especializado para
indivíduos com Altas Habilidades/Superdotação,
proporcionou a Lucas um ajustamento social e
cognitivo, permitindo assim um maior interesse em
frequentar a escola – interesse este que não havia na
fase da Educação Infantil. Contudo, a aceleração só teve
significado a partir do momento em que o aluno
começou a frequentar o AEE no contraturno.
É importante ressaltar que não basta apenas
identificar alunos(as) que apresentam Altas
Habilidades/Superdotação: é imprescindível que haja
um ajustamento do sistema educacional para melhor
atender às necessidades deste alunado. Assim, o
primeiro passo desta vicissitude é minimizar as
inseguranças e as dúvidas de professores(as) sobre
como planejar um currículo voltado para as
necessidades do indivíduo com capacidades acima da
média.
Sendo um dos objetivos organizar estratégias que
facilitassem a atuação de professores(as) de Educação
Especial no atendimento a indivíduos com Altas
Habilidades/Superdotação, a proposta do Projeto
Spectrum, de desenvolver habilidades-chave para
observar domínios específicos nos(as) alunos(as),
proporcionou à intervenção educacional meios para
enfatizar a importância de se reconhecer e estimular as

219
diversas capacidades cognitivas destas crianças e,
consequentemente, de oferecer subsídios para que
professores(as) desenvolvam as potencialidades de
seus(suas) alunos(a) em sala de aula, sejam eles(as)
indivíduos com Altas Habilidades/Superdotação ou
não. Porém, para que este objetivo se concretize é
necessário, primeiramente, isentar a insegurança
trazida por muitos(as) professores(as) que, diante de
tantas barreiras e falhas educacionais, não encontram
suporte para ou maneiras de identificar e desenvolver
as potencialidades específicas de cada aluno(a). Assim,
como proposta para futuros trabalhos, é dever do
sistema educacional proporcionar uma sólida formação
de professores(as), objetivando trabalhar com os(as)
educadores(as) pelo menos alguns conceitos e
estratégias práticas sobre como desenvolver atividades
que estimulem as potencialidades do(a) aluno(a) na
sala de aula, independente se há perfis de aprendizes
mais capazes ou não.
No escopo da pesquisa, após o mapeamento de
interesse, foi possível construir um plano individual de
ensino para o aluno acima da média, visando, à
professora, a realização de modificações ou adaptações
curriculares de acordo com suas capacidades. É
importante ressaltar que toda esta interação e a troca de
experiências entre a professora/pesquisadora e a
professora de Educação Especial só foi possível pois a
professora, mesmo apresentando pouco conhecimento
e formação sobre a temática das Altas
Habilidades/Superdotação, demostrou muito interesse
e motivação diante do desafio de atender um indivíduo

220
diferente do público-alvo das salas de recurso
multifuncional. No entanto, ela relatou que um dos
maiores desafios ainda está voltado à invisibilidade
desses indivíduos perante o sistema educacional, que
muito pouco ou nada investe em materiais específicos
destinados aos mais dotados.
Infelizmente, poucos são os(as) professores(as) que
se sentem motivados(as) a trabalhar em sala de aula as
potencialidades de seus(suas) alunos(as). A maioria
apresenta insegurança e até mesmo receio. Foi possível
detectar este comportamento na fala da professora do
Ensino Fundamental, que não acreditou ter, em sala de
aula, um aluno com Altas Habilidades/Superdotação,
mesmo com a apresentação, por parte dos pais, do
laudo exigido pela Secretaria de Educação do
município. Destarte, ainda que o aluno estivesse
respaldado legalmente diante não necessidade de
apresentação de um laudo clínico para garantir sua
inclusão escolar e seu Atendimento Educacional
Especializado, ele ainda enfrenta a dificuldade de
reafirmar, a todo tempo, sua identidade de
superdotado.
Da visão dos pais sobre ter um filho com Altas
Habilidades/Superdotação, drena-se a sensação de que
eles estão sozinhos na luta pela efetivação dos direitos
de seus(suas) filhos(as), de modo a garantir um ensino
adequado, que atenda às necessidades destas crianças.
É preciso que se invista em centros de apoio às crianças
e jovens com Altas Habilidades/Superdotação e aos
seus pais, pois a troca de experiências com outras
famílias que vivenciam a mesma realidade facilita nas

221
formas de reconhecimento e compreensão das
necessidades de seus filhos.
Por fim, pretende-se que, a partir do relato do caso
de Lucas e da leitura do presente estudos, as pessoas se
sensibilizem e se questionem sobre quais aspectos
existem, em nosso país, ou até mesmo em nossas salas
de aulas, e que efetivamente tenham sido
desenvolvidos de forma integral em prol das pessoas
que demostram um potencial acima da média.

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237
238
ANEXOS

239
240
ANEXO 1

ROTEIRO DE ENTREVISTA ESTRUTURADA


DIRIGIDO AOS PAIS DE CRIANÇAS COM
INDICADORES DE ALTAS
HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO
Nome da criança:
Data de nascimento:
Série:
Profissão do Pai: Nível escolar:
Profissão da Mãe: Nível escolar:
Quantos irmãos a criança possui?

1) Como foi o desenvolvimento infantil do seu filho? Com quantos


anos começou a:
 Falar:
 Andar
 Ler

2) A partir de qual momento perceberam que seu filho apresentava


comportamentos e atitudes para além da sua idade?

3) Qual(is) os profissionais vocês procuraram para diagnosticar a


precocidade de seu filho?

4) Quais as principais características de seu filho?

5) Na opinião de vocês, em quais habilidades seu filho apresenta


maior facilidade?

6) Quais as habilidades que seu filho apresenta maior dificuldade?

7) Como vocês descrevem o comportamento de seu filho entre os


amigos e familiares?

8) Como vocês descrevem o comportamento de seu filho na escola?

241
9) Como foi a trajetória escolar dele? Quais os pontos positivos e
negativos?

10) Seu filho passou pelo processo de aceleração escolar? Se sim,


como ocorreu o processo?

11) Vocês foram orientados pela escola sobre quais seriam os


procedimentos necessários para o ingresso precoce do seu filho no
Ensino Fundamental?

12) Na opinião de vocês, quais foram os pontos positivos e


negativos sobre aceleração de seu filho?

13) Seu filho teve atendimento da Educação Especial na sala de


recurso multifuncional? Este atendimento ocorreu antes ou após a
aceleração?

14) Para que seu filho fosse atendido na sala de recurso


multifuncional, a escola solicitou alguma documentação específica –
como, por exemplo, a avaliação de outros profissionais para montar
um laudo clínico sobre as habilidades de seu filho?

15) O que vocês entendem sobre Altas Habilidades/Superdotação?

16) Quais suas expectativas em relação à escola no reconhecimento


do potencial de seu filho?

17) Quais seus sentimentos em ser pai/mãe de uma possível criança


superdotada?
Elaborado por Marques (2017).
Fonte: extraído de Marques (2017).

242
ANEXO 2

QUESTIONÁRIO DE INDICADORES DE
PRECOCIDADE DIRIGIDO AOS PROFESSORES E
PAIS DE CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Nome: _________________________________________________ Data


nascimento: ___/____/____

Residência:
__________________________________________________ Fone:
_____________

Nome do(a)
professor(a):_______________________________________ Etapa:
_____________

Nome da escola:
_________________________________________________ Período:
________

Nome do
responsável:___________________________________________

Questionário respondido por: ( ) Professor(a) ( )


Responsável
Data da observação: ___/____/____

Marque com um “X”, nas colunas da direita, a frequência com que


seu(sua) filho(a)/aluno(a) apresenta os comportamentos referidos na
coluna da esquerda.

PERGUNTAS FREQUÊNCIA
Algumas Não
Não Sempre
vezes observado
ESTILO DE TRABALHO

243
1. As pessoas dizem
que ele(a) faz coisas
antes do esperado
para sua faixa etária?
2. Acrescenta
qualidades únicas
a uma tarefa?
3. Gosta de juntar
“coisas” para fazer
experimentos, com
interesse em
descobrir o que
acontece com elas?
4. Destaca-se do
grupo porque
trabalha sozinho(a),
não necessitando de
ajuda?
5. Apresenta
comportamentos
iguais aos das outras
crianças da mesma
idade?
6. Observa
atentamente e retém
informações a
respeito das coisas
que observa?
7. Expressa ideias
com facilidade
através de desenhos?
ÁREA LINGUÍSTICA
8. Inicia conversas
espontaneamente,
trazendo assuntos
diferenciados para sua
idade?

244
9. Expressa ideias
com facilidade
oralmente ou por
escrito?
10. Usa vocabulário
avançado para sua
idade?
11. Descreve um
objeto de várias
maneiras?
12. Tem facilidade
para representar um
objeto ou ideia de
várias maneiras?
ÁREA LÓGICO-MATEMÁTICA
13. Compreende o
significado de
conceitos numéricos
para além dos
números de 1 a 10?
14. Constrói uma
estratégia para
resolver um
problema?
15. Faz perguntas
para entender como
as coisas funcionam?
16. Tem facilidade
com quebra-cabeças,
utilizados por
crianças maiores que
sua faixa etária?
17. Demonstra
habilidade ao usar o
computador?
ÁREA INTRAPESSOAL

245
18. Concentra-se em
tópicos ou tarefas de
seu interesse?
19. Ë persistente nas
atividades que ele
mesmo escolhe para
fazer?
20. Manifesta senso
de humor
diferenciado para sua
idade?
21. Costuma criar
conflitos com os(as)
amigos(as), pois suas
ideias são diferentes
das dos(as)
companheiros(as)?
22. Consegue rir das
coisas engraçadas ou
erradas que faz?
ÁREA INTERPESSOAL
23. Prefere participar
em atividades
grupais?
24. Gosta de ensinar o
que sabe para as
demais crianças?
25. As outras crianças
buscam a sua
companhia, para
diferentes atividades?
26. Ajuda a resolver
conflitos entre
amigos(as)?
ÁREA CORPORAL-CINESTÉSICA
27. Expressa ideias

246
com facilidade
através da
dramatização?
28. Gosta de montar e
desmontar objetos,
para ver como
funcionam?
29. Prefere atividades
que incluam o
movimento,
destacando-se pela
harmonia dos
mesmos?
30. Gosta de
interpretar histórias,
poemas e canções?
ÁREA ESPACIAL
31. Junta objetos
imaginativamente
para construir algo?
32. Gosta de
organizar e agrupar
objetos?
33. Planeja
cuidadosamente o
uso do espaço?
ÁREA MUSICAL
34. Reproduz com
facilidade melodias e
músicas que acabou
de ouvir?
35. Canta ou
cantarola, com ritmo
e melodia, durante
outras atividades?
36. Experimenta os

247
objetos para criar
sons diferentes?
37. Tem facilidade em
aprender através da
música?
ÁREA NATURALISTÍCA
38. Fala muito sobre
seus bichinhos de
estimação ou sobre
lugares preferidos na
natureza?
39. Está
preocupado(a) e
defende os direitos
dos animais e da
natureza?
40. Gosta de fazer
projetos que envolva
a observação da
natureza?

Se tiver alguma contribuição, pode escrevê-la aqui:

Elaborado por Marques (2013)


Fonte: extraído de Marques (2013).

248
ANEXO 3

LISTA DE VERIFICAÇÃO PARA CRIANÇAS COM


INDICADORES DE SUPERDOTAÇÃO NA PRIMEIRA
INFÂNCIA
Nome do aluno:
Escola:
Série:
Data de nascimento:
Data de aplicação:
Responsável:

Marque com um “X” todos os aspectos que se manifestam


claramente em seu(sua) filho(a).

DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM SIM NÃO


Falou as primeiras palavras por volta dos seis meses
Falou as primeiras frases por volta dos 12 meses
Conseguiu construir uma conversa completa por
volta dos dois anos de idade
Demostrou um vocabulário avançado por volta dos
dois anos
Demonstrou curiosidade em conhecer novas
palavras por volta dos três anos
Reconheceu e classificou os membros familiares por
volta dos dois anos
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO SIM NÃO
Aprendeu a contar até dez por volta dos dois anos
Apresentou agilidade em montar quebra-cabeça com 20
peças por volta dos dois anos e meio
Apresentou muito interesse por tudo que lhe rodeia;
perguntava pela origem das coisas, teve curiosidade
e desejava aprender tudo por volta dos 18 meses de
idade
Aprendeu pelo menos seis cores por volta dos dois
anos

249
Aprendeu a ler por volta dos três anos
Aprendeu a ler vários livros de forma rápida por
volta dos quatro anos
Apresentou facilidade em memorizar histórias,
músicas por volta dos dois anos
Interessou-se pela escrita ortográfica das palavras
por volta dos três anos
AUTOAJUDA SIM NÃO
Facilidade com o controle de esfíncteres diurnas e
noturnas por volta de um ano e meio
Escolhia sua própria roupa por volta dos dois anos
Se vestia sozinho(a) por volta dos dois anos e meio
SOCIALIZAÇÃO SIM NÃO
Se relacionava e gostava de brincar com crianças
com mais idade que a suapor volta dos quatro anos
Apresentava características de liderança nas
brincadeiras por volta dos três anos
Apresentou sensibilidade em ajudar por volta dos
três anos
Apresentou características de perfeccionismo por
volta dos cinco anos
CRIATIVIDADE SIM NÃO
Apresentou facilidade em desenvolver atividades
artísticas, musicais ou físicas por volta dos quatro
anos
Inventava histórias, jogos ou situações criativas com
facilidade por volta dos quatro anos
Entendia e ria de situações engraçadas desde os
quatro anos
Observação:

Elaborado por Marques (2017).

Fonte: extraído de Marques (2017).

250
ANEXO 4

LISTA DE AVALIAÇÃO DO DOMÍNIO DA


LINGUAGEM

ÀS NÃO
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI
Narrativa inventada/narração de histórias
É imaginativo(a) e
original ao narrar
histórias
Gosta de ouvir ou ler
histórias
Revela interesse e
capacidade no
planejamento e no
desenvolvimento de
tramas (enredos), na
elaboração e na
motivação dos
personagens, na
descrição de cenários,
cenas ou estados de
ânimos, no uso de
diálogos etc.
Demonstra capacidade de
representar ou talento
dramático, incluindo um
estilo distinto,
expressividade ou
habilidade de
desempenhar diversos
papéis
Linguagem descritiva/reportagem

251
Apresenta relatos
coerentes de eventos,
sentimentos e
experiências (por
exemplo, usa uma
sequência correta e um
nível apropriado de
detalhes)
Rotula e descreve as
coisas com exatidão
Demonstra interesse em
explicar como as coisas
funcionam, ou em
descrever um
procedimento
Argumenta ou investiga
de modo lógico
Uso poético da linguagem/jogos de palavras
Aprecia e sabe fazer jogos
de palavras, como
trocadilhos, rimas e
metáforas
Brinca com os
significados e os sons das
palavras
Demonstra interesse em
aprender novas palavras
Usa as palavras de
maneira divertida
Fonte: extraído de Marques (2017).

252
ANEXO 5

LISTA DE AVALIAÇÃO DO DOMÍNIO DA


MATEMÁTICA

ÀS NUNCA
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI
Raciocínio numérico
É hábil em cálculo
(por exemplo,
encontra atalho)
É capaz de fazer
estimativas
É competente ao
quantificar objetos e
informações (por
exemplo, mantendo
registro, criando
notações eficazes e
gráficas)
É capaz de
identificar relações
numéricas (por
exemplo,
probabilidade e
razão)
Raciocínio espacial
Descobre padrão
espacial
É hábil em xadrez
Usa a imaginação
para visualizar e
conceituar um
problema
Solução lógica de problemas
Focaliza as relações
e a estrutura global

253
do problema, em
vez de fatos
isolados
Faz interferências
lógicas
Generaliza regras
Desenvolve e usa
estratégias (por
exemplo, quando
joga algum jogo)
Fonte: extraído de Marques (2017).

254
ANEXO 6

LISTA DE AVALIAÇÃO DO DOMÍNIO MUSICAL

ÀS NUNCA
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI
Percepção musical
É sensível à
dinâmica (alto e
baixo)
É sensível ao tempo
e aos padrões
rítmicos
Discrimina alturas
de som
Identifica estilos
musicais e de
diferentes músicos
Identifica diferentes
instrumentos e sons
Produção musical
É capaz de manter
um tom exato
É capaz de manter
o tempo e os
padrões rítmicos
exatos
Revela
expressividade
quando canta ou
toca algum
instrumento
É capaz de lembrar
ou reproduzir
propriedades
musicais de
músicos e outras

255
composições
Composição musical
Cria composições
simples em certos
sensos de início,
meio e fim
Cria sistemas
notacionais simples
Fonte: extraído de Marques (2017).

256
ANEXO 7

LISTA DE AVALIAÇÃO DO DOMÍNIO DAS ARTES


VISUAIS

ÀS NUNCA
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI
Artes Visuais: percepção
Tem consciência dos
elementos visuais no
ambiente e no trabalho
de arte (por exemplo,
cor, linha, formas,
padrões, detalhes)
É sensível a estilos
artísticos diferentes
(por exemplo, é capaz de
distinguir arte abstrata
de realismo,
impressionismo etc.)
Artes visuais: produção/representação
É capaz de representar o
mundo visual com
exatidão em duas ou três
dimensões
É capaz de criar símbolos
reconhecíveis para objetos
comuns (por exemplo,
pessoas, vegetação, casa,
animais) e coordenar
elementos, espacialmente,
em um todo unificado
Usa proporções realistas,
características
detalhadas, escolha
deliberada de cores

257
Talento artístico
É capaz de usar vários
elementos de arte (por
exemplo, linha, cor,
forma) para descrever
emoções, produzir certos
efeitos e embelezar
desenhos ou trabalhos
tridimensionais
Transmite claramente o
humor através de
representações literais (por
exemplo, sol sorrindo, rosto
chorando) e aspectos
abstratos (por exemplo,
cores escuras ou linhas
caindo para expressar
tristeza); produz desenhos
ou esculturas que parecem
“alegres”, “tristes” ou
“poderosas”
Preocupa-se com a
decoração e o
embelezamento
Produz desenhos que são
coloridos, equilibrados,
rítmicos, ou com todas
essas características
Exploração
É flexível e inventivo(a) no
uso de materiais de arte
(por exemplo, experimenta
com tinta, giz, argila)
Usa linhas e formas para
gerar uma grande
variedade de formas (por
exemplo, abertas e

258
fechadas, explosivas e
controladas) em
trabalhos bidimensionais
ou tridimensionais
É capaz de executar
assuntos ou temas
variados (por exemplo,
pessoas, animais,
prédios, paisagens)
Fonte: extraída de Marques (2017).

259
ANEXO 8

FICHA DE AVALIAÇÃO DO DOMÍNIO DAS


CIÊNCIAS

ÀS NUNCA
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI

Habilidade de observação
Observa
cuidadosamente os
materiais para
aprender sobre suas
características físicas;
usa um ou mais
sentidos.

Com frequência,
percebe mudanças
no meio ambiente
(por exemplo, folhas
novas nas plantas,
insetos nas árvores,
mudanças sazonais
sutis);

Mostra interesse em
registrar observações
através de desenhos,
gráficos, cartões
sequenciais ou
outros métodos.
Identificação de semelhanças e diferenças
Gosta de comparar e
contrastar materiais,
eventos ou ambos;
Classifica materiais
e, geralmente, nota

260
semelhanças e
diferenças entre
espécies ou em
ambas (por exemplo,
compara caranguejo
e aranha).
Formação e experimentação de hipóteses
Faz predições com
base em observações;
Faz perguntas do
tipo “e se?”; explica
por que as coisas são
como são;
Realiza experimentos
simples e tem ideias
de experimentos
para testar hipóteses
próprias e alheias
(por exemplo, deixa
cair pedras pequenas
e grandes na água
para ver se uma
afunda mais rápido
do que as outras;
rega plantas com
tinta em vez de
água).

Interesse em/conhecimento de fenômenos naturais/científicos


Revela vasto
conhecimento sobre
vários tópicos
científicos; oferece
espontaneamente
informações sobre
esses tópicos, ou
relata experiências
pessoais ou alheias

261
com o mundo
natural;
Manifesta interesse
por fenômenos
naturais ou materiais
relacionados, como
livros de história
natural, ao longo de
períodos de tempo
prolongados;
Costuma perguntar
sobre as coisas que
observa.
Fonte: extraído de Marques (2017).

262
ANEXO 9

LISTA DE AVALIAÇÃO DO DOMÍNIO DO


MOVIMENTO

ÀS NÃO
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI
Controle corporal
Revela consciência e
capacidade de isolar e
usar partes diferentes
do corpo
Planeja, organiza uma
sequência e executa
movimentos
eficientemente – os
movimentos não
parecem aleatórios ou
desconjuntados
Consegue repetir os
próprios movimentos
e os movimentos dos
outros
Sensibilidade ao ritmo
Move-se em sincronia
com ritmos estáveis
ou mutantes,
especialmente na
música (por exemplo,
a criança tenta
acompanhar o ritmo,
em vez de não
perceber ou
desconsiderar
mudanças rítmicas)

263
É capaz de estabelecer
um ritmo próprio e
regulá-lo para atingir
um efeito desejado
Expressividade
Evoca estado de
ânimo e imagens
através do
movimento, usando
gestos e posturas
corporais; o estímulo
pode ser uma imagem
verbal, um objeto ou
uma música
É capaz de responder
ao tom ou à
qualidade tonal de
um instrumento ou
seleção musical (por
exemplo, faz
movimentos leves e
fluidos com uma
música lírica e
movimentos fortes e
destacados com uma
marcha)
Criação de ideias de movimento
Tem ideias
interessantes e novas
de movimento,
verbalmente,
fisicamente ou ambos,
amplia ideias (por
exemplo, sugere que
os colegas ergam os
braços para
parecerem nuvens no

264
céu)

Responde
imediatamente a ideia
e imagens com
movimentos originais
Coreografa uma
dança simples,
ensinando-a aos
outros
Responsabilidade à música
Responde
diferentemente a
diferentes tipos de
músicas
Revela sensibilidade
ao ritmo e
expressividade ao
responder a música
Explora o espaço
disponível (vertical e
horizontal) com muita
liberdade
Antecipa os outros
em um espaço
compartilhado
Experimenta
movimentos do corpo
no espaço (por
exemplo, voltando-se
e girando)
Fonte: extraído de Marques (2017).

265
ANEXO 10

LISTA DE AVALIAÇÃO DO DOMÍNIO ESPACIAL

ÀS NUNCA
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI
Compreensão de relações casuais e funcionais
Infere relações com
base na observação
Compreende a
relação das partes
com o todo, função
dessas partes e
como elas são
montadas
Capacidade visuoespacial
É capaz de construir
ou reconstruir
objetos físicos e
máquinas simples
em duas ou três
dimensões
Compreende as
relações espaciais
entre as partes de
um objeto mecânico
Abordagem de soluções de problemas com objetos mecânicos
Usa a abordagem de
tentativa e erro,
e aprende a partir
dela
Usa uma
abordagem
sistemática para
resolver problemas
mecânicos
Compara e

266
generaliza
informações
Habilidades motoras finas
É hábil ao
manipular objetos
ou partes pequenas
Exibe boa
coordenação mão-
olho
(por exemplo, bate
com o martelo no
prego e não nos
dedos)
Fonte: extraído de Marques (2017).

267
ANEXO 11

LISTA DE AVALIAÇÃO DO DOMÍNIO SOCIAL

ÀS NÃO
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI
Entendimento de si mesmo
Identifica as próprias
capacidades,
habilidades, interesses
e áreas de dificuldade
Reflete sobre os
próprios sentimentos,
experiências e
realizações
Utiliza essas reflexões
para compreender e
orientar o próprio
comportamento
Demonstra insight
sobre os fatores que
levam alguém a se sair
bem ou ter dificuldade
em uma área
Entendimento do outro
Demonstra conhecer
os colegas e suas
atividades
Presta atenção aos
outros
Reconhece os
pensamentos, os
sentimentos e as
capacidades alheias
Tira conclusões sobre
os outros com base em
suas atividades

268
Vivência de papéis sociais distintos/líder
Frequentemente inicia
e organiza atividades
Organiza as outras
crianças
Atribui papéis aos
outros
Explica como a
atividade é realizada
Supervisiona e dirige
atividades
Facilitador
Frequentemente
compartilha ideias,
informações e
habilidades com
outras crianças
Medeia conflitos
Convida outras
crianças para brincar
Amplia e elabora as
ideias das outras
crianças
Oferece ajuda quando
os outros precisam de
atenção
Cuidador/amigo
Consola as outras
crianças quando elas
estão chateadas
Demonstra
sensibilidade aos
sentimentos as outras
crianças
Demonstra saber do
que os amigos gostam
e não gostam
Fonte: extraída de Marques (2017).

269
ANEXO 12

LISTA DE VERIFICAÇÃO DO ESTILO DE


TRABALHO

ESTILOS DE
CARACTERÍSTICAS
TRABALHO
A criança inicia a atividade animada; presta
atenção e se adapta ao formato e ao conteúdo
Facilmente
da atividade. Às vezes a criança começa a
engajado
fazer uma atividade sozinha, antes mesmo
que o adulto explique como será a atividade.
A criança mostra resistência à estrutura da
atividade; pode precisar de que o adulto
Relutante em
reestruture a atividade; pode impor sua
engajar-se
própria agenda para mudar os objetivos da
atividade.
A criança parece à vontade com os materiais
e com sua capacidade; faz movimentos, dá
Confiante
respostas ou opiniões prontamente e com
segurança.
A criança segue hesitante depois de iniciar a
atividade; pode parecer insegura em relação
a como usar os materais, mesmo depois de
Hesitante uma explicação; resiste a dar respostas ou
continua buscando a aprovação ou o
reasseguramento do adulto; tem medo de
fazer movimentos errados.
A criança diverte-se com os materiais ou com
a atividade; usa os materiais facilmente,
Brincalhão
fazendo frequentes comentários espontâneos,
ou criando extensões divertidas da atividade.
A abordagem da criança à atividade é direta,
sem distrações; executa a atividade como se
Sério fosse “só trabalho, nenhum divertimento”;
porém, pode ser séria e demostrar que está
gostando da tarefa e dos materiais.

270
A criança demostra intensa concentração na
atividade ou no uso dos materiais; presta
atenção ao trabalho, apesar de distrações ao
Concentrado
seu redor (isso vai além do interesse, o foco
indica atenção e singularidade de propósito
incomuns por parte da criança).
A criança tem dificuldade de desligar-se das
atividades de sala de aula que a cercam,
Distraído
parece que sua atenção à tarefa aumenta e
diminui.
A criança dedica-se à atividade tenazmente,
responde aos desafios com equinimidade e
Persistente não desiste, apesar das dificuldades; também
pode ser persistente sem a presença de
qualquer dificuldade específica.
A criança tem dificuldade em resolver partes
desafiadoras ou frustrantes da atividade;
Frustrado pela
pode recorrer rapidamente ao adulto em
atividade
busca de soluções de problemas, ou
expressar relutância em terminar a atividade.
A criança não tem senso de continuidade;
Impulsivo trabalha tão rapidamente que fica
descuidada.
A criança comenta ou avalia seu trabalho,
fazendo revisão positiva ou negativa; parece
distanciar-se do processo concreto de
Reflexivo
trabalho ou brincar, para avaliar se seu
desempenho está de acordo com suas
expectativas.
Propenso a A criança precisa de muito tempo para
trabalhar preparar seu trabalho; trabalha lentamente e
lentamente metodicamente durante a atividade.

Propenso a O ritmo da criança é mais rápido do que o da


trabalhar maioria dos colegas; inicia imediatamente a
rapidamente atividade e vai avançando até concluí-la.

271
A criança conversa com os adultos enquanto
Conversador trabalha na atividade; inicia discussões
relacionadas ou não à atividade.
A criança fala muito pouco enquanto
trabalha na atividade, apenas quando a
Quieto atividade exige, porém a ausência de
conversa não é necessariamente devido a
desconforto ou hesitação.
A criança revela necessidade ou preferência
por começar a tarefa através de estímulos
Responde a
visuais (examinando cuidadosamente os
pistas visuais,
materias), de estímulo auditivo (ouvindo
auditivas ou
instruções, música) ou de estímulo
cinestésicas
cinestésicos (sentindo os materiais ou usando
o movimento para compreender melhor).
A criança usa materais ou informações
Demostra uma estrategicamente; declara seus objetivos e
abordagem depois começa a trabalhar para atingi-los,
planejadora muitas vezes descrevendo o próprio
progresso.
Emprega
A criança usa suas inclinações como um meio
habilidades
de se envolver em uma dada atividade ou
pessoais na
interpretá-la.
tarefa
A criança descobre um elemento divertido na
Diverte-se na área de conteúdo; é capaz de olhar a
área de atividade de fora, conforme ela foi definida, e
conteúdo descobrir uma faceta engraçada, irônica ou
inesperada.
A criança redefine materiais e atividades de
Usa os materiais
maneira singular, nova ou imaginativa.
de maneira
Observa como o uso inesperado afeta o
inesperadas
processo ou o produto da criança.
Demostra
A criança demostra prazer com seu sucesso
orgulho pela
na atividade.
realização

272
Presta atenção
A criança nota aspectos sutis de materiais ou
aos detalhes; é
atividades.
observadora

A criança faz perguntas sobre o que são as


É curiosa sobre
coisas, sobre como e por que foram feitas
os materiais
daquele jeito.
A criança pergunta frequentemente ao adulto
Demostra
se o que ela está fazendo está “certo”; pode
preocupação
perguntar se as outras crianças acertaram;
com a resposta
demostra prazer quando está “certa” e
“certa”
desagrado quando está “errada”.
A criança está mais interessada em estar com
o adulto do que com os materiais; ela busca
continuamente uma interação com o adulto
Concentra-se na
por meio de conversa e contato visual,
interação com o
sentando no colo do adulto e assim por
adulto
diante. Mesmo quando envolvida na
atividade, ela tenta manter algum tipo de
interação com o adulto.
Fonte: extraída de Marques (2017).

273
ANEXO 13

LISTA DE VERIFICAÇÃO DA CRIATIVIDADE

ÀS NÃO
SEMPRE NÃO
VEZES OBSERVEI
FLUÊNCIA
1. Capacidade de
produzir um
grande número de
ideias
2. Habilidade de
pensar soluções
alternativas para
um problema
3. Capacidade de
gerar um grande
número de
respostas
4. Capacidade de
pensar em muitas
ideias e fazer
muitos planos
FLEXIBILIDADE
5. Habilidade de
mudar sua forma
de pensar sobre
um problema ou
situação
6. Capacidade de
ver
as coisas sob
diferentes pontos
de vista
7. Habilidade de
pensar em ideias
alternativas para

274
diferentes
situações
8. Capacidade de
usar muitas e
diferentes
estratégias ou
abordagens
9. Capacidade de
fazer diferentes
conexões e deixar
o pensamento ir
em várias direções
ORIGINALIDADE
10. Habilidade de
pensar em ideias,
respostas e estilos
incomuns
11. Capacidade em
dar respostas
infrequentes e
raras
12. Habilidade de
criar coisas novas,
diferentes e únicas
13. Capacidade de
sintetizar e
reorganizar uma
ideia em nova
forma
14. Habilidade em
dar respostas nas
quais ninguém
antes pensou
ELABORAÇÃO
15. Habilidade de
expandir uma
ideia adicionando
detalhes

275
16. Capacidade em
dar respostas mais
elaboradas e
organizadas
17. Habilidade de
desenvolver uma
resposta, um estilo
ou uma ideia,
dando seus
detalhes
18. Habilidade em
clarificar ou
melhorar uma
ideia trabalhando
seus aspectos
constitutivos
19. Capacidade de
adicionar detalhes
específicos para
melhorar uma
ideia
20. Habilidade em
ver problemas
onde outros não
veem
EXPRESSÃO DAS EMOÇÕES
21. Capacidade de
fantasiar e de se
expressar
espontaneamente
22. Capacidade de
olhar o mundo sob
uma perspectiva
incomum
23. Sensibilidade
de entrar em
contato com si
mesmo por uma

276
perspectiva interna
24. Capacidade de
entender o
significado de uma
ideia num contexto
mais amplo
25. Habilidade de
produzir humor;
coragem para
correr riscos
Fonte: extraído de Marques (2017).

277
ANEXO 14

ROTEIRO DE ENTREVISTA NÃO ESTRTURADA


PARA PROFESSORES(AS)
DO ENSINO FUNDAMENTAL

Entrevista* com a professora do Lucas

 Como é o Lucas em sala?

 Comportamento do aluno na sala de aula.

 Como são trabalhadas as potencialidades do aluno em sala de


aula?

 Você consegue identificar indicadores de Altas Habilidades no


aluno?

 Como é a participação dos pais?

 Quais são as áreas em que ele mais se destaca?

 Concepção de aceleração da professora.

*Observação: realizada em 26/11/2014.


Fonte: extraído de Marques (2017).

278
ANEXO 15

ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A PROFESSORA


DE EDUCAÇÃO ESPECIAL

Nome do(a) professor(a): _________________________________


Idade: ____________________
Formação: ___________________________________________
Nível de ensino: _______________________________________
Tempo de magistério: ___________________________________

FORMAÇÃO
1. Descreva, em uma palavra, o que vem à sua mente quando
pensa em uma definição para o conceito de Altas Habilidades.
2. Descreva o que você entende serem as características e/ou
comportamentos de um aluno com Altas Habilidades.
3. Em sua formação você teve alguma disciplina sobre a temática
das Altas Habilidades ou Superdotação?
4. Em sua opinião, qual o papel do(a) educador(a) e da escola em
relação ao(à) aluno(a) com Altas Habilidades? Justifique sua
resposta.
5. Você tem experiência em sua prática docente para atender, em
sala de recurso, um(a) aluno(a) com Altas Habilidades ou
Superdotação?

ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE)


6. Você tem conhecimento de quantos alunos(as) com Altas
Habilidades ou Superdotação são atendidos(as) na rede municipal
de educação?

AEE DE UM(A) ALUNO(A) COM ALTAS HABILIDADES


7. Desde quando o aluno começou a ser atendido?
8. Como aconteceu o processo de identificação? Como foram
avaliados os indicadores de Altas Habilidades ou Superdotação do
aluno?
9. O aluno está inserido no Censo Escolar? Para a inserção, foi
preciso apresentar um laudo clínico?

279
10. Quais as áreas de interesse do aluno?
11. Quais as principais características que você observa no aluno
que o identifica como um aluno com Altas Habilidades ou
Superdotação?
12. Quais os avanços você observa no aluno a partir do
atendimento realizado?
13. Quais os foram os projetos realizados com o aluno durante os
atendimentos?
14. O aluno apresenta interesse nas atividades? Desiste facilmente
ou é persistente?
15. Em relação às estruturas e materiais da sala de AEE, você acha
que ela está adaptada para o atendimento ao aluno com Altas
Habilidades ou Superdotação?
16. Como professora de Educação Especial, quais foram as
dificuldades e/ou facilidades em atender o aluno com Altas
Habilidades ou Superdotação?

PROCESSO DE ACELERAÇÃO
17. Como aconteceu o processo de aceleração?
18. Quais foram os pontos positivos e/ou negativos que você
observou sobre o processo de aceleração do aluno?

PARECER PEDAGÓGICO
19. Como é feito o registro das atividades e o desenvolvimento do
aluno?
20. Você tem conhecimento do parecer pedagógico voltado para o
aluno com Altas Habilidades ou Superdotação?

PAIS
21. Em relação aos pais do aluno, você observa que existe estímulo
excessivo?
22. É uma família participativa no desenvolvimento do filho?

ESCOLA
23. A escola reconhece o aluno como um aluno com Altas
Habilidades ou Superdotação?
24. A professora da sala de aula relata que o aluno se destaca em
algumas áreas?

280
25. O aluno relata alguma dificuldade em relação à escola,
professores e colegas?

Fonte: extraído de Marques (2017).

281
ANEXO 16

QUESTIONÁRIO PARA PAIS DE CRIANÇAS COM


INDICADORES DE ALTAS
HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS


CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
ESPECIAL

QUESTIONÁRIO PARA OS PAIS DE CRIANÇAS COM


INDICADORES
DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO
Nome da criança:
Data de nascimento:
Série:
Profissão do Pai : Nível
escolar:
Profissão da Mãe: Nível escolar:
Quantos irmãos?

1) Descreva os pontos positivos e negativos após a identificação de


Altas Habilidades/Superdotação de seu filho em relação a:
 Atendimento na sala de recurso:

2. Houve mudanças em relação das áreas de interesse de seu filho de


2013 a 2016?

3. Houve mudanças em relação das áreas de menor interesse e/ou


dificuldades de seu filho de 2013 a 2016?

4. Seu filho se reconhece como uma pessoa com Altas


Habilidades/Superdotação? Caso sim, descreva os pontos positivos
e negativos em relação a este reconhecimento.

282
5. Como você descreve o comportamento de seu filho entre amigos e
familiares?

6. Como você descreve o comportamento de seu filho na escola?

7. Aponte os pontos positivos e negativos que ocorreram após a


aceleração de seu filho.

8. Após o laudo para o diagnóstico de Altas


Habilidades/Superdotação de seu filho, exigido pela Secretaria de
Educação, quais foram os pontos positivos e negativos que
ocorreram na escola?

9. O que você entende sobre Altas Habilidades/Superdotação?

10. Quais as facilidades e dificuldades de se ter um filho com


Altas Habilidades/Superdotação?

11. O que você acredita ser necessário para que sejam melhorados
o reconhecimento e atendimento da criança com Altas
Habilidades/Superdotação nas escolas do município?

MUITO OBRIGADA PELA CONTRIBUIÇÃO


DANITIELE MARQUES
Fonte: elaboração própria.

283
ANEXO 17

FORMULÁRIO DO PLANO INDIVIDUAL DE


ENSINO DIGITALIZADO

284
285
286
SOBRE AS AUTORAS

DANITIELE MARIA CALAZANS MARQUES


Pedagoga com habilitação em Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Administração Escolar pelo Centro
Universitário de Votuporanga (2004); Doutora e Mestre em
Educação Especial (Educação do Indivíduo Especial) pela
Universidade Federal de São Carlos. Especialista em
Psicopedagogia Clínica e Educacional pela Faculdade de
Conchas S.P. Professora de Educação Básica com experiência
a 12 anos. Autora de capítulos de livros sobre Altas
habilidades e precocidade. Idealizadora e atuante do projeto
de extensão da Universidade Federal de São Carlos: "Oficina
de criatividade para alunos com alto potencial". Atualmente
é plestrante em eventos nacionais e internacionais de
educação e Educação Especial na temática das Altas
Habilidades, Psicopedagoga e Professora de Educação
Especial. Desenvolve formações e capacitações de
professores sobre a temática das potencialidades e
criatividade do aluno em sala de aula. Tem experiência de
atuação na área de Educação, com ênfase em Educação
Especial nos seguintes temas: Educação Especial. Altas
habilidades/Superdotação e Educação Infantil.

MARIA DA PIEDADE RESENDE DA COSTA


Psicóloga e Pedagoga pela Universidade Católica de
Pernambuco, Mestre em Educação Especial pela
Universidade Federal de São Carlos e Doutora em Psicologia
Experimental pela Universidade de São Paulo. Participou da
formação da profissão de Fonoaudiólogo desde 1965 e após o
reconhecimento obteve o título de Fonoaudióloga pelo

287
Conselho Federal de Fonoaudiologia. Foi professora dos
Departamentos de Psicologia e de Metodologia do Ensino da
Universidade Federal da Paraíba e do Departamento de
Psicologia da Universidade Federal de São Carlos.
Atualmente é professora permanente do Programa de Pós-
Graduação em Educação Especial da Universidade Federal
de São Carlos com orientação no mestrado e doutorado e
supervisão de pós-doutorado. Foi membro do Conselho
Universitário da UFSCar, membro do Conselho do Curso de
Pós-Graduação em Educação Especial da UFSCar, Chefe e
Vice-Chefe do Departamento de Psicologia da UFSCar.
Possui publicações em capítulos de livros e artigos em
periódicos especializados. Tem participado de eventos
nacionais e internacionais sobre Educação Especial; emitido
pareceres para periódicos especializados e para editoras
universitárias públicas em Educação e Educação Especial.

288

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