Teoria Inteligências Múltiplas
Teoria Inteligências Múltiplas
Teoria Inteligências Múltiplas
ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO:
3
Copyright © das autoras
CDD – 370
Capa: Andersen Bianchi
Editores: Pedro Amaro de Moura Brito & João Rodrigo de Moura
Brito
Revisão linguística: Rebeca Aparecida Mega
Conselho Científico da Pedro & João Editores:
Augusto Ponzio (Bari/Itália); João Wanderley Geraldi
(Unicamp/Brasil); Nair F. Gurgel do Amaral (UNIR/Brasil); Maria
Isabel de Moura (UFSCar/Brasil); Maria da Piedade Resende da
Costa (UFSCar/Brasil); Valdemir Miotello (UFSCar/Brasil)
4
SUMÁRIO
Apresentação 7
Prefácio 11
CAPÍTULO 1
Altas Habilidades/Superdotação: uma temática 17
desafiadora
CAPÍTULO 2
Altas Habilidades/Superdotação: as diversas 29
terminologias
CAPÍTULO 3
Características e identificação do(a) aluno(a) com 45
Altas Habilidades/Superdotação
CAPÍTULO 4
A Teoria das Inteligências Múltiplas 63
CAPÍTULO 5
Os domínios 79
CAPÍTULO 6
As Inteligências Múltiplas e as implicações 103
educacionais
5
CAPÍTULO 7
Relato de uma intervenção educacional 121
longitudinal realizada com um aluno da rede
pública de ensino
CAPÍTULO 8
O processo de aceleração na Educação Infantil 137
CAPÍTULO 9
Procedimento de identificação do alto potencial 145
numa visão multifacetada
CAPÍTULO 10
Concepção de uma professora sobre um aluno 185
com Altas Habilidades/Superdotação
CAPÍTULO 11
Concepção dos pais em relação à trajetória 207
acadêmica de um filho com Altas
Habilidades/Superdotação
CAPÍTULO 12
Considerações finais 217
Referências 223
Anexos 239
6
APRESENTAÇÃO
7
consequentemente, o não aproveitamento de suas
habilidades, evidenciando-se a omissão da premissa de
que a educação é um direito de todos(as).
Na área acadêmica também há uma grande lacuna
de pesquisas voltadas à temática das Altas
Habilidades/Superdotação especificamente sobre a
precocidade em comparação com produções que
abordam todas as outras especificidades da Educação
Especial.
A partir de reflexões sobre o tema, o presente livro
buscou tratar de alguns questionamentos mais comuns,
tais como: Será possível reconhecer alunos(as) com
Altas Habilidades/Superdotação na Educação Infantil?
Como sinalizar e identificar alunos(as) com
precocidade na Educação Infantil? Como realizar o
atendimento ao(à) aluno(a) identificado(a)
precocemente? Qual a importância da aceleração?
Como desenvolver um procedimento de identificação e
de atendimento em uma sala de recurso
multifuncional? Qual é o papel da escola no processo
de inclusão do(a) aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação? Como se dá a participação
dos pais? Qual a concepção dos professores de se ter,
na escola, um(a) aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação?
Como embasamento teórico, ressaltando a
importância de outras abordagens, nossa opção foi a de
nos aprofundarmos na teoria do psicólogo da
Universidade de Harvard (Estados Unidos), Howard
Gardner, com a intenção de não só refletir sobre e
analisar os múltiplos olhares da inteligência, mas
8
também de contemplar o entendimento dos processos
que organizam os comportamentos da pessoa com Altas
Habilidades/Superdotação em uma visão global.
Para o desenvolvimento deste livro, dividiu-se a
discussão em doze capítulos. Inicialmente, trata-se sobre o
aspecto desafiador e um panorama histórico da temática
Altas Habilidades/Superdotação, numa visada sobre as
modalidades de programas e as teorias e modelos que
fundamentam os atendimentos aos indivíduos que
apresentam Altas Habilidades/Superdotação.
Em seguida, no segundo capítulo, são apresentadas
as diversas terminologias utilizadas pelas pesquisas e
pela legislação, tendo como objetivo apontar
divergências. No terceiro capítulo, são apresentadas as
características e a identificação do(a) aluno(a) com
Altas Habilidades/Superdotação e aprofundados os
conceitos e conhecimentos desta demanda. No quarto
capítulo reflete-se, de forma detalhada, sobre a Teoria
das Inteligências Múltiplas. O quinto capítulo mostra
especificamente os domínios propostos nesta Teoria, e
o sexto capítulo analisa suas implicações educacionais.
No sétimo capítulo apresenta-se o relato de um
caso com acompanhamento longitudinal a partir da
Educação Infantil. Os capítulos seguintes – oitavo,
nono, décimo e décimo primeiro – promovem, a partir
deste estudo de caso, discussões sobre processos de
aceleração na Educação Infantil, procedimentos de
identificação do alto potencial numa visão
multifacetada, a concepção do(a) professor(a) que
possui, em sala de aula, um(a) aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação e a concepção dos pais em
9
relação à trajetória acadêmica de um(a) filho(a) nestas
condições. Por fim, nas considerações finais, são
apontadas reflexões sobre o tema tratado no presente
livro.
10
PREFÁCIO
11
sem que seus talentos sejam notados e ou
potencializados nas escolas.
As autoras ávidas por contribuírem com a área da
Educação Especial nessa temática escreveram este livro
perpassando desde a problemática conceitual até o
relato de uma intervenção na educação infantil com um
aluno com altas habilidades com ênfase nas
inteligências múltiplas.
Desse esforço resulta uma contribuição valiosa
para os leitores, tantos para os acadêmicos, quanto para
pais e professores, pois as autoras explicitam de modo
claro os conceitos abordados, bem como o relato da
experiência, que poderá inspirar outros profissionais.
Cabe destacar que não é possível fechar a escola para
balanço, as pesquisas aplicadas e teóricas estão sendo
desenvolvidas com o objetivo de produzir conhecimento
sobre essa temática. Desta forma, você leitor está sendo
convidado a se deleitar nas páginas deste livro: Altas
habilidades/superdotação: a intervenção educacional na
precocidade a partir da teoria das inteligências
múltiplas, pois as autoras cuidadosamente abordam essa
temática, com referencial teórico adequado, articulam
teoria e prática e nos permitem refletir criticamente sobre
diferentes aspectos como:
Os desafios do conceito.
As características e identificação desse grupo.
A Teoria das Inteligências Múltiplas.
Os domínios.
As Inteligências Múltiplas e as implicações
educacionais.
Relato da intervenção educacional longitudinal.
12
O processo de aceleração na Educação Infantil.
Identificação do alto potencial numa visão
multifacetada.
As concepções da professora e dos pais sobre um
aluno com Altas Habilidades/Superdotação.
13
14
Dedicamos este livro a todas as pessoas que
não são reconhecidas por seus talentos!
15
16
CAPÍTULO 1
ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO:
UMA TEMÁTICA DESAFIADORA
17
Habilidades/Superdotação existe no Brasil há mais de
quatro décadas, mas pouco é feito por eles(as), uma vez
que estes(as) não desenvolverão seus talentos se forem
deixados(as) à própria sorte. Para Alencar e Fleith
(2001), esta negligência ocorre devido à dificuldade de
instituições educacionais em reconhecer e identificar
este público em um determinado grupo. Os autores
ressaltam que estas dificuldades geram muitos
questionamentos, tais como: Quando começou o
entendimento de que havia pessoas com Altas
Habilidades/Superdotação no mundo? E no Brasil?
Quais são as variedades da nomenclatura e o que são as
Altas Habilidades/Superdotação? O que é precocidade
e quais são as ideias errôneas sobre a precocidade?
Quem são os(as) alunos(as) com Altas Habilidades/
Superdotação? Como identificá-los(as)? Quais são seus
direitos? Como atendê-los(as)?
Nesta perspectiva, estes questionamentos serão
refletidos no desenvolvimento do presente livro.
Inicialmente, apresentaremos o panorama histórico
sobre as Altas Habilidades/Superdotação tanto no
Brasil como no mundo.
Pérez (2004) descreve, em sua pesquisa, o
panorama histórico das Altas Habilidades/
Superdotação. De acordo com a autora, a observação da
pessoa com Altas Habilidades/Superdotação
possivelmente se iniciou no século IV a.C. Em Esparta,
meninos que apresentavam Altas Habilidades/
Superdotação em habilidades militares eram
incentivados a desenvolver as artes, a luta e a liderança.
18
Gama (2006) ressalta que a China, no século VII,
valorizava crianças e jovens talentosos(as), pois as
crianças prodígios eram enviadas para a corte, na
Dinastia Tang, para que seus talentos fossem
reconhecidos e cultivados. Segundo a autora, os chineses
conseguiam reconhecer alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação a partir de quatro princípios:
i) aceitavam o conceito de superdotação como talento
múltiplo e valorizavam as habilidades de liderança,
imaginação, leitura e escrita, memória, raciocínio e
percepção; ii) reconheciam que algumas crianças
aparentemente precoces, ao crescerem, se tornavam
adultos normais, e que outras, que não apresentavam
sinais precoces na infância, cresciam e se tornavam
notáveis, e outras, realmente precoces, apresentavam
habilidades e talentos por toda a vida; iii) reconheciam
que, mesmo as crianças mais talentosas na infância, sem
a educação apropriada as suas habilidades, não eram
desenvolvidas; e iv) identificavam a importância de que
todos os(as) jovens, independentemente das classes às
quais pertenciam, deveriam receber uma educação de
qualidade, mas enfatizavam que cada um(a) deveria
receber a educação que melhor conviesse às suas
habilidades. Com estas ações infere-se o motivo pelo
qual a China se tornou um dos países líderes em
programas de atendimentos a alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação atualmente.
Nas Filipinas, a educação de superdotados(as) e
talentosos(as), segundo Gama (2006), começou antes de
outros países da Ásia. Iniciou-se em 1966, com o
Programa de Formação de Professores para
19
Superdotados no Departamento de Educação da
Universidade das Filipinas. Esta iniciativa surgiu antes
mesmo da Educação Especial para superdotados se
tornar oficial – decretada apenas em 1987 na
Constituição do país. Nos dias atuais, o atendimento a
alunos(as) com Altas Habilidades/Superdotação
acontece em três escolas totalmente dedicadas à
educação deste público, com programas voltados à
Ciência e às Artes, além de outros programas existentes
em escolas regulares.
De acordo com Pérez (2004), a primeira escola
voltada para o(a) superdotado(a) surge em Worcester
(Estados Unidos) em 1901, e as primeiras classes
especiais surgem em 1916 em Los Angeles (Califórnia) e
Cincinnati (Ohio), depois em Urbana (Illinois), em 1919,
e em 1922 Manhattan (Nova York) e Cleveland (Ohio).
Nos Estados Unidos há uma vasta variedade de
programas de atendimentos a alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação, considerando, por exemplo,
o enriquecimento e a aceleração, salas de recursos dentro
das escolas, programas diretamente ligados às escolas
para alunos(as) superdotados(as) em diferentes áreas
(musical, artes visuais, artes cênicas, entre outras),
programas de finais de semana e programas de férias
ligados ou não a universidades (GAMA, 2006).
Na Coréia, a educação de alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação tornou-se prioridade para o
governo coreano a partir da década de 1970. Já em 1985
criou-se, no país, a primeira Escola Superior de Ciência
para Superdotado. O atendimento a alunos(as) com
Altas Habilidades/Superdotação no país é composto de
20
três tipos de ofertas: i) escolas especiais no Ensino
Médio; ii) Programas de Enriquecimento
extracurricular para alunos(as) da Educação
Fundamental e Média; e iii) competições de Matemática
e Ciências que visam encorajar a inteligência e a
criatividade (GAMA, 2006).
Diferente da realidade dos países mencionados, a
educação de alunos(as) com Altas Habilidades/
Superdotação no Brasil ainda enfrenta muitas barreiras
e limitações, pois mesmo sendo uma temática discutida
no território desde a década de 30 do século passado,
ela ainda se encontra em um processo muito lento e
repleto de lacunas.
A pioneira e responsável por trazer a temática das
Altas Habilidades/Superdotação para o Brasil foi
Helena Antipoff. De acordo com Alencar (2007),
21
Helena Antipoff deu início, na Fazenda do Rosário, no
município de Ibirité, em Minas Gerais, a um programa de
atendimento ao aluno bem-dotado do meio rural e da
periferia urbana, sob a coordenação do professor Daniel
Antipoff (ALENCAR, 2007, p. 87).
22
a organização de um sistema de educação para o(a)
superdotado(a);
a preparação de pessoas especializadas para
atender adequadamente as necessidades deste
grupo; e
a adoção de um conceito operativo de
“superdotado(a)” (ALENCAR; FLEITH, 2001, p.
169).
Mesmo com algumas ações voltadas à educação de
alunos(as) com Altas Habilidades/Superdotação, o
progresso de identificação e atendimento a este público
ainda era muito lento. Apenas em 1975 foi criado, em
Brasília, um Núcleo de Apoio à Aprendizagem do
Superdotado (NAS), que tinha como objetivo
desenvolver um atendimento específico a alunos(as)
superdotados(as) ou talentosos(as) no ensino de 1o
grau, como se denominava na época (GAMA, 2006).
Já em 1978, Gama (2006) ressalta a importância da
criação da Associação Brasileira de Superdotação
(ABSD), com sede no Rio de Janeiro e filiais em outros
estados, tendo como principais propósitos:
23
Habilidades/Superdotação. Assim, em 1993, surge o Centro
para Desenvolvimento do Potencial e Talento (Cedet),
denominado como um centro de Educação Especial e
idealizado por uma educadora, Dra. Zenita Guenther, em
Lavras-MG. Este centro tem como principal objetivo
construir um ambiente de complementação e
suplementação educacional de apoio a alunos(as)
dotados(as) e talentosos(as) matriculados(as) em diferentes
escolas e níveis de ensino nos sistemas público e privado.
Se refletirmos sobre as ações voltadas à educação
de alunos(as) com Altas Habilidades/Superdotação em
comparação com a extensão territorial do nosso país,
perceberemos a lacuna que existe e notaremos como é
insuficiente agregar todas as particularidades das
instituições voltadas ao atendimento. Com o intuito de
amenizar esta precariedade é fundado, em 29 de março
de 2003, em Brasília, o Conselho Brasileiro de
Superdotação (ConBraSD). De acordo com Gama
(2006), este conselho surge para reunir profissionais,
pesquisadores(as) e interessados(as) na pessoa com
Altas Habilidades/Superdotação brasileira.
Segundo informações publicadas no Portal3 do
ConBraSD, o conselho é regido pelos seguintes
objetivos:
24
• Colaborar com as entidades públicas e privadas
incumbidas de formular e promover políticas
públicas para as pessoas com altas
habilidades/superdotação;
• Congregar pessoas físicas e jurídicas, interessadas na
área das altas habilidades/superdotação a fim de
estabelecer intercâmbio de conhecimentos e
experiências, coordenando seus esforços, estudos e
ações;
• Incentivar o intercâmbio e a cooperação entre
profissionais e entidades públicas e privadas,
nacionais e internacionais, que se ocupem das
questões relativas às pessoas com altas
habilidades/superdotação;
• Promover congressos, seminários, simpósios,
encontros, conferências, palestras, cursos e outras
atividades similares concernentes à finalidade do
CONBRASD;
• Estimular a realização de estudos e pesquisas sobre
temas referentes às altas habilidades/superdotação;
• Incentivar a formação e o aperfeiçoamento de
recursos humanos destinados à educação, pesquisa,
identificação e atendimento de pessoas com altas
habilidades/superdotação e seus familiares;
• Fomentar a criação de uma Central de Dados e
Informações sobre altas habilidades/superdotação,
bem como a sua circulação;
• Criar, manter e veicular publicações relacionadas a
temas de interesse do CONBRASD;
• Solicitar, receber e aplicar quaisquer contribuições,
doações, legados, subvenções e recursos financeiros
provenientes de pessoas físicas e de entidades
públicas ou privadas, nacionais ou internacionais,
para a realização das finalidades do CONBRASD; e
25
• Desenvolver outras atividades referentes à
consecução da finalidade do CONBRASD
(CONBRASD.ORG, 2018b).
26
conformação de um polo de construção de
conhecimento tendo, como interface, a inclusão
destes(as) alunos(as) no ensino básico e nas
universidades (MOREIRA; LIMA, 2012).
Diante destes contextos educacionais implantados
do Brasil durante as décadas mencionadas, verificou-se
que muitos foram os avanços para o reconhecimento
do(a) aluno(a) com Altas Habilidades/Superdotação.
Contudo, ainda existe uma vasta limitação, que impede
que este(a) aluno(a) seja identificado(a) e atendido(a).
Estas dificuldades se refletem de forma clara nos
resultados do Censo Escolar de 2015.4
Apesar de as pesquisas apontarem que existe uma
estimativa de mais de 2,5 milhões de alunos(as) com
Altas Habilidades/Superdotação matriculados(as) na
Educação Básica, alguns estudos – dentre eles os de
Pérez (2012) e de Farias e Wechler (2014) – indicam, a
partir do Censo anterior, que pouco mais de 14.000
matrículas foram declaradas.
Pérez (2012) ressalta que uma das principais
dificuldades na identificação do(a) aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação está entre gestores(as)
educacionais e professores(as) que cada vez mais se
defrontam com o(a) aluno(a) diferente e que, na
maioria das vezes, não sabem como nomeá-lo(a) e nem
identificar suas características. Nesta perspectiva,
entende-se a importância de se discutir e refletir sobre
uma fatia das diversas terminologias adotadas para
designar este público.
27
28
CAPÍTULO 2
ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO:
AS DIVERSAS TERMINOLOGIAS
29
talentoso(a) e precoce. Também existem os termos
discriminatórios e, muitas vezes, preconceituosos, tais
como nerd, sabichão, cdf e assim por diante.
Para demostrar a utilização dos termos nas
produções acadêmicas do país consultou-se o banco de
dados da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e
Dissertações (BDTD), no intuito de levantar produções
bibliográficas do período de 2005 a 2015 sobre pesquisas
que tivessem, nas palavras-chave ou no título, alguns dos
seguintes termos: altas habilidades/superdotação; altas
habilidades; dotação e talento; altas habilidades ou
superdotação; precocidade e superdotado.
Foram encontradas 64 pesquisas, sendo 15 teses de
doutorado e 49 dissertações de mestrado, defendidas
no período citado e relacionadas ao tema, descartando-
se trabalhos repetidos e alguns que não pertenciam à
área. Os resultados estão sintetizados na Tabela 1.
30
Observa-se, na referida Tabela, que a produção
brasileira sobre o tema é bastante reduzida, apesar de
ter crescido a discussão sobre a temática nas últimas
décadas.
Em relação às terminologias pesquisadas, o termo
“altas habilidades/superdotação” apresentou um maior
número de produções acadêmicas, com um resultado
de 33 dissertações e 10 teses, somando 43 trabalhos. Já o
termo “altas habilidades ou superdotação” consta
apenas em uma dissertação; o termo “altas habilidades”
figurou resultados em oito dissertações e uma tese; o
termo “precocidade” contabilizou três dissertações; e,
por fim, o termo “superdotado” apresentou um total de
cinco produções acadêmicas, sendo duas teses e três
dissertações.
Diante dos resultados pode-se questionar o
seguinte: Qual a diferença entre os termos com a
indicação de uma barra (/) e com o emprego da
conjunção “ou”? Este questionamento vem trazendo
muitos desencontros terminológicos, principalmente
nos documentos legais.
Neste entorno, Rangni (2012) apresenta uma síntese
das principais legislações, no âmbito federal,
pertinentes à Educação Especial, apontando as
terminologias empregadas para definir o(a) aluno(a)
com capacidade acima da média, como pode ser visto
no Quadro 1.
31
Quadro 1 Definições e termos em documentos oficiais.
DOCUMENTO DEFINIÇÃO ANO
Lei de Diretrizes e Não há definição.
Bases Nomenclatura empregada: 1971
(Lei no 5.692) superdotados
Não há definição.
Declaração de
Nomenclatura empregada: super- 1994
Salamanca
dotados
“Notável desempenho e elevada
potencialidade em qualquer dos
seguintes aspectos isolados ou
combinados: capacidade intelectual
Política Nacional geral; aptidão acadêmica específica;
de pensamento criativo ou produtivo; 1994
Educação Especial capacidade de liderança; talento
especial para artes e capacidade
psicomotora” (BRASIL, 1994, p. 13).
Nomenclatura empregada: altas
habilidades
No artigo 59, II, os superdotados
são mencionados
da seguinte forma: “[...]
terminalidade específica para
aqueles que não puderem atingir o
Lei de Diretrizes e
nível exigido para
Bases
a conclusão do ensino fundamental,
da Educação 1996
em virtude de suas deficiências, e
Nacional
aceleração para concluir em menor
(Lei no 9.394)
tempo o programa escolar para os
superdotados”.
Não há definição específica.
Nomenclatura empregada:
superdotados
Diretrizes No artigo 5o, inciso III, tem-se: “[...]
Nacionais Grande facilidade de aprendizagem
2001
da Educação que os leve a dominar rapidamente
Especial na conceitos, procedimentos e
32
Educação Básica atitudes” (BRASIL, 2001).
Nomenclatura empregada: altas
habilidades/superdotação
“Alunos com altas
habilidades/superdotação
demonstram potencial elevado em
qualquer uma das seguintes áreas,
Política Nacional isoladas ou combinadas: intelectual,
de Educação acadêmica, liderança,
Especial psicomotricidade e artes, além de 2008
na perspectiva da apresentar grande criatividade,
Educação Inclusiva envolvimento na aprendizagem e
realização de tarefas em áreas de
seu interesse” (BRASIL, 2008, p. 9).
Nomenclatura empregada: altas
habilidades/superdotação
Decreto no 6.571 Sem definição.
(dispõe sobre o Decreto revogado pelo Decreto
Atendimento 7.611/2011. 2008
Educacional Nomenclatura empregada: altas
Especializado) habilidades ou superdotação
“Alunos com altas
habilidades/superdotação
Resolução no 4 demonstram potencial elevado em
(Diretrizes qualquer uma das seguintes áreas,
Operacionais para isoladas ou combinadas: intelectual,
o Atendimento acadêmica, liderança,
Educacional psicomotricidade e artes, além de 2009
Especializado na apresentar grande criatividade,
Educação Básica, envolvimento na aprendizagem e
modalidade realização de tarefas em áreas de
Educação Especial) seu interesse” (BRASIL, 2004).
Nomenclatura empregada: altas
habilidades/superdotação
Decreto no 7.611
Sem definição.
(dispõe sobre a
Nomenclatura empregada: altas 2011
Educação Especial
habilidades ou superdotação
e o Atendimento
33
Educacional
Especializado)
Sem definição.
Nota Técnica no 62 Nomenclatura empregada: altas 2011
habilidades/superdotação
Sem definição.
Nota Técnica no 046 Nomenclatura empregada: altas 2013
habilidades ou superdotação
Fonte: extraído de Rangni (2012, p. 46-47) e adaptado por Marques
(2017).
34
No entanto, o mesmo documento apresenta
discrepâncias ao citar quatro vezes o termo “altas
habilidades/superdotação”. Neste sentido, alertando
sobre estes desencontros, o ConBraSD se manifestou
disponibilizando, na página inicial de seu site, a
seguinte declaração:
35
Em 2002, o ConBraSD, ao reunir vários(as)
pesquisadores(as) da área de diversas regiões
brasileiras, chegou ao consenso de que o termo mais
adequado para definir este alunado seria Altas
Habilidades/Superdotação. Assim, as políticas públicas
educacionais, embora apresentassem muitas
discrepâncias em relação ao emprego dos termos,
acatariam às decisões de profissionais da área,
tornando-se oficial, portanto, o termo Altas
Habilidades/Superdotação (PÉREZ, 2012). Isso justifica
a escolha do presente livro, de se usar a terminologia
com a barra.
De acordo com a Política Nacional de Educação Especial
na Perspectiva da Educação Inclusiva, alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação são definidos(as) como sendo
aqueles(as)
36
complemento ou como sinônimo de “dotação”, e que o
interior desta relação se encontra na compreensão do
termo “capacidade”. Assim, a autora descreve a
característica de cada designação:
dotação: designa posse e uso de notável
capacidade natural, em pelo menos um domínio de
capacidade humana;
talento: designa desempenho superior, mestria,
conhecimento aprendido e habilidades
sistematicamente desenvolvidas, implicando altos
níveis de conhecimento (ou realização) em
determinada área;
capacidade: é compreendida como o poder de
aprender e fazer alguma coisa física ou mental,
porém, dotação refere-se a uma capacidade natural,
e talento a uma capacidade adquirida
(GUENTHER, 2011).
Quanto à nomenclatura “precocidade”, indicador
do assunto de reflexão do presente livro, trata-se de
uma temática discutida dentro da abordagem das Altas
Habilidades/Superdotação, sendo foco de estudo de
vários trabalhos, tais como os de Winner (1998), Vieira
(2005), Martins (2013), Marques (2013) e Marques,
Costa e Rangni (2014). Estes(as) autores(as) assinalam
ser um(a) aluno(a) precoce aquele(a) que apresenta
maior destaque em comparação com seus pares da
mesma idade na fase da Educação Infantil.
Ao ingressar na Educação Infantil, as habilidades
precoces tendem a sobressair em comparação ao
desenvolvimento de outros(as) alunos(as) da mesma
idade; porém, é importante ressaltar que não é tarefa
37
simples realizar, com precisão, um diagnóstico de
precocidade do(a) aluno(a) deste nível de ensino,
considerando-se que ele(a) está em fase inicial de
desenvolvimento e que pode, ainda, ser muito
estimulado(a) pela família.
Nesta perspectiva, para a identificação do(a)
aluno(a) precoce na Educação Infantil, o(a) professor(a)
deve estar atento(a) e observar se o desenvolvimento
avançado da criança, sob o ponto de vista intelectual,
configura características de precocidade ou se as
habilidades são resultados de uma estimulação intensa
por parte de pessoas significativas de seu ambiente. No
segundo caso, o(a) aluno(a) com habilidades precoces,
ao atingir a idade para o início do Ensino Fundamental,
pode ter seu desenvolvimento normalizado, passando a
apresentar um desempenho semelhante ao de crianças
de sua idade.
Independente de qual for o motivo que faça o(a)
aluno(a) apresentar capacidades elevadas, sua
diversidade demanda atendimentos educacionais
especializados. Nesta mesma vertente, Marques (2013)
assinala que
38
Assim, a identificação precoce do(a) aluno(a)
atendido(a) pelos serviços da Educação Especial se
torna importante, pois possibilita a implementação de
práticas inclusivas que favorecem a ampliação de
oportunidades ao alunado.
Tratando-se do(a) aluno(a) com precocidade, a
identificação nos primeiros anos de vida proporciona: i)
situar o(a) aluno(a) em um ambiente educativo
adequado; ii) desenvolver práticas pedagógicas que
estimulem suas potencialidades; iii) proporcionar aos
pais e professores(as) melhor compreensão sobre como
ajudar seus(suas) filhos(as)-alunos(as); e iv) evitar
problemas futuros, tais como desajustamento social,
frustação e, principalmente, desprezo de seu próprio
potencial (BENITO, 2009).
De acordo com Gama (2006), as principais
características identificadas em crianças precoces são:
saber ler aos três ou quatro anos; fazer cálculos mentais
aos quatro anos; aprender diferentes formas, tais como
bandeiras, aos dois anos; desenhar com realismo aos
três ou quatro anos. Portanto, estas são apenas algumas
das manifestações da precocidade intelectual.
Guenther (2006), por sua vez, alerta que
precocidade não é sinônimo de talento ou potencial
elevado, e relata que dois terços das pessoas que
chegaram a altos níveis de produção na vida adulta não
foram crianças precoces, e que considerável número de
crianças precoces, altamente capazes e talentosas na
infância, não chegará muito além da média, em
produção e desempenho, na vida adulta. Em outra
39
visão teórica, Pérez (2004) relata que a precocidade em
si já é um indicador de superdotação.
Guenther (2006) ressalta que, na infância, a
expectativa da família sobre a criança que apresenta
habilidades precoces à sua idade é muito grande.
Quando essa criança deixa de sobressair aos talentos
que apresentava em menor idade, surgem sugestões e
crenças enraizadas no senso comum para a explicação
do “desaparecimento” do talento. Assim, a autora
classifica as principais ideias errôneas mais frequentes
sobre a precocidade, tais como: “a escola destruiu a
capacidade da criança”; “elas ‘queimam’ sua
potencialidade e tornam-se normais”; “o ‘meio’ não
ajudou”; “houve ‘excesso de exposição’”; e “faltou uma
‘escola especial’”. A seguir, tem-se a explicação de cada
item relacionado.
40
integral do(a) aluno(a). É necessário levar em conta
que, independente do grau de capacidade da
criança na Educação Infantil – fase na qual começa o
amadurecimento das células nervosas e a
construção do conhecimento – é importante
valorizar o ritmo de desempenho de cada criança
(GUENTHER, 2006).
41
estímulo, seja ele material ou ambiental, vai faltar a
esta criança a vivência de situações que possam
incitar o uso dessas habilidades. Quando há
capacidade, estimulação e contexto apropriado à
expressão de talento, ela tende a se desenvolver e se
expressar em qualidade de desempenho. A escola e
a sociedade muitas vezes dão mais importância à
capacidade acadêmica, não valorizando e
estimulando as capacidades criativas. Assim, seja a
criança precoce ou talentosa, sem o estímulo do
meio, sua contemplação de amadurecimento físico e
neurológico vai diminuindo (GUENTHER, 2006).
42
maioria das vezes, encarada como uma educação
para minimizar dificuldades e limitações. A escola
regular ainda não está preparada para atender uma
clientela com capacidade acima da média. A
intervenção educativa ainda está voltada para a
analogia de equalização do potencial, atingindo-se
um mesmo resultado e, no que trata da capacidade
superior, seria diminuir e minimizar exatamente o
potencial talentoso que se deseja desenvolver e
aumentar.
43
aluno(a) talentoso(a), ou seja, um plano de inclusão
deve estar de acordo com os(as) interesses e
características do(a) aluno(a). No entanto, nem sempre
estas características são facilmente reconhecidas. Assim,
no próximo Capítulo, são abordadas as diversidades de
características apresentadas por pessoas com Altas
Habilidades/Superdotação.
44
CAPÍTULO 3
CARACTERÍSTICAS E IDENTIFICAÇÃO
DO(A) ALUNO(A) COM ALTAS
HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO
45
média não constituem um grupo homogêneo, mas sim
apresentam uma grande variedade de características.
De acordo com o documento do MEC que expõe
subsídios para a organização e funcionamento de
serviços da Educação Especial, indivíduos com Altas
Habilidades/Superdotação são os(as) educandos(as)
que apresentam notável desempenho e/ou elevado
potencial em qualquer uma das seguintes
características, isoladas ou combinadas:
46
desordem de fatos; facilidade de autoexpressão;
fluência e flexibilidade.
47
as características tipicamente dominantes nas áreas
artísticas, psicomotoras e sociais nem sempre são focos
de pesquisas e de identificação.
O reconhecimento destas características por parte
de educadores(as), na maioria das vezes, é um processo
com muitas dificuldades, visto que estes(as) não sabem
como lidar com os comportamentos de alunos(as) com
Altas Habilidades/Superdotação em situação de
aprendizagem, pois cada um(a) se relaciona de forma
diferente com este processo, cujas variáveis dependem
de caraterísticas pessoais, estilo de aprendizagem e
expressão de talento (PEREIRA, 2014).
Nesse contexto, Pereira (2014) aborda que o(a)
professor(a) que reconhece essas características em
seu(sua) aluno(a) reconhece, também, as necessidades
que atendam suas expectativas e capacidades. Assim, a
autora apresenta alguns comportamentos de alunos(as)
com Altas Habilidades/Superdotação que, quando não
observados e reconhecidos pelos(as) professores(as),
podem desenvolver possíveis problemas e experiências
socioemocionais conflitantes. Pontos cruciais desta
discussão são apresentados no Quadro a seguir.
48
Faz perguntas desafiadoras ao(à)
Curiosidade intelectual e
professor(a), resiste ao
atitude inquisitiva; motivação
direcionamento, tem vasta gama
intrínseca; busca por
de interesses, esperando o mesmo
significados.
dos outros.
Tem dificuldade para aceitar o
Percebe relações causa e
ilógico, o superficial e os
efeito.
conhecimentos desestruturados.
Habilidade de
contextualização; abstração; Rejeita ou omite detalhes;
síntese; gosta de resolução de resistência ocasional à imposição;
problemas e atividade questiona processos de ensino.
intelectual.
Amplo vocabulário e
Torna-se entediado(a) com a
proficiência verbal; tem
escola e colegas; é visto(a) pelos
amplas informações em áreas
outros como “sabe-tudo”.
avançadas.
Intolerante ou crítico(a) com os
Pensamento crítico elevado;
demais; pode ficar
tem altas expectativas; é
desencorajado(a); deprimido(a) ou
autocrítico(a) e avalia demais.
perfeccionista.
É questionador(a) e tende a
Criatividade e inventividade;
rejeitar o que é tido como
gosto por novas maneiras de
conhecido; é visto(a) como
fazer as coisas.
diferente e fora do compasso.
Intensa concentração, longos Resiste à interrupção; negligencia
períodos de atenção em áreas deveres ou pessoas durante
de interesse, comportamento períodos de interesse focalizado; é
dirigido a metas; persistência. obstinado(a).
É excessivamente sensível à crítica
Sensibilidade e intensidade
e/ou à rejeição dos colegas; espera
emocionais; empatia com os
que os outros tenham valores
outros; desejo de ser aceito
semelhantes; sente-se diferente e
pelos outros.
alienado(a).
49
Independência; preferência Pode rejeitar o que é imposto
pelo trabalho individualizado; pelos pais e colegas; é não
confiança em si mesmo. conformista.
Frustra-se com a inatividade; não
Grande energia; vivacidade; progride;
agilidade; tolerância e período é impaciente; necessita de
de intenso esforço. contínua estimulação; pode ser
confundido(a) com hiperativo(a).
Pode parecer desligado(a) e
desorganizado(a); frustra-se com o
Diversos interesses e
tempo perdido; tem necessidade
habilidades; versatilidade.
de individualização e contínua
estimulação.
Percebe situações absurdas; tem
senso de humor que os pares não
compreendem; muito
Forte senso de humor. frequentemente, torna-se o(a)
“palhaço(a)” do grupo, como
forma de chamar a atenção sobre
si.
Fonte: extraído de Pereira (2014 p. 379).
50
Características de pensamento criativo: são
características relacionadas à criatividade;
Características de aprendizagem: são características
relacionadas no ambiente escolar.
51
autoimposição de padrões de desempenho elevados, rígidos e até
mesmo irrealistas
Independência
Facilidade verbal
Vontade de contribuir em alguma medida, com a sociedade
Ansiedade em relação às realizações
Gosto e preferência por jogos que exijam estratégia
Alergias não apresentadas por outros membros da família
Pode preferir a companhia de adultos e crianças mais velhas a
crianças de sua idade
Controle emocional
Sociabilidade
Comportamento cooperativo
Estabilidade emocional
Investe energia emocional significativa em suas realizações
Agressividade
Organização e eficiência no que se refere a tarefas e soluções de
problemas
Tolerância à ambiguidade
Sentido ético e moral muito desenvolvido
Alto nível de energia que, por vezes, resulta em um diagnóstico
errôneo de hiperatividade
Precocidade no desenvolvimento geral (andar, falar etc.)
Curiosidade
Questiona ou desafia regras/autoridade
Elevada capacidade de observação
Ingenuidade nas ligações de base emocional
Autoconceito positivo
Consciência aguçada de si, o que pode fazer com que se perceba
diferente dos outros
Popularidade
Espírito de competição
Procura de autenticidade
Sensibilidade e intensidade emocional
Fonte: extraído de Martins (2013, p. 109).
52
Quadro 4 - Categoria das características de pensamento.
CARACTERÍSTICAS DE PENSAMENTO CRIATIVO
Inconformismo e independência de pensamento
Apresentar ideias inesperadas ou originais e extravagantes
Pensamento divergente, original e inovador
Senso de humor avançado para sua idade
Flexibilidade
Fluência de ideias
Gosto por enfrentar desafios e correr riscos
Capacidade elevada de percepção
Imaginação
Sensibilidade estética muito desenvolvida
Criatividade
Coragem em tentar descobrir se suas ideias têm valor, sem
medo das críticas
Uso elevado de analogias e combinações incomuns
Menor inibição intelectual para discordar, expor ideias e
opiniões
Abertura às novas experiências
Capacidade de construir hipóteses ou questões do tipo “como
seria se...”
Preferência por atividades novas e criadoras a tarefas rotineiras
e repetitivas
Constrói histórias vívidas e dramáticas
Cria soluções próprias para resolver problemas
Habilidade para produzir muitas ideias e visualizar
consequências
Fonte: extraído de Martins (2013, p. 109).
53
Desejo por saber causas e razões das coisas
Gosto por quebra-cabeças e jogos-problema
Capacidade de planejamento e organização
Rapidez e facilidade na aprendizagem e na utilização dos
conhecimentos
Rapidez em estabelecer relações e compreender significados
Agilidade mental
Progride rapidamente
Capacidade desenvolvida de análise, avaliação e julgamento
Capacidade para fazer generalizações
Estabelece relações entre informações adquiridas anteriormente
e novos conhecimentos
Encontra satisfação pensando e discutindo sobre o que leu
Estabelece relações entre causa e efeito
Pensamento abstrato
Prazer pela atividade intelectual
Rapidez na identificação de inconsistências.
Amplo vocabulário
Tendência a que outros(as) alunos(as) lhe peçam ideias e
sugestões
Preferência para lidar com abstrações
Precocidade, gosto e nível elevado de leitura
Capacidade para pronta resposta
Tendência a agradar aos(às) professores(as) e a gostar do
ambiente escolar
Explorar temas em profundidade
Procura ser superior em quase tudo que faz
Capacidade de manter a concentração e a atenção por longos
períodos em atividades de seu interesse
Processa informações complexas com rapidez
Habilidade em encontrar ordem na complexidade e no caos
Interesse precoce por palavras, números ou relógios,
calendários e quebra-cabeças
Atitude de questionamento e busca por informações
Amplitude de foco (parece distraído(a), mas está atento(a) a
mais de uma coisa)
Fazer relatos ricos em detalhes
Pensamento crítico
54
Distração, tédio e desmotivação quando a tarefa não lhe é
interessante
Fonte: Extraído de Martins (2013, p. 110).
55
Habilidades/Superdotação é uma pessoa como qualquer
outra, mas com um diferencial, pois veem e interpretam
o mundo de forma diferente. Cabe ao(à) professor(a) ter
a sensibilidade de reconhecer estas potencialidades; se
forem corretamente identificadas, somente assim
poderão ser desenvolvidas.
Quanto à identificação, trata-se de um passo
fundamental para o atendimento de um(a) aluno(a)
com Altas Habilidades/Superdotação, porém, por
razões muitas vezes político-ideológicas, algumas
pessoas acreditam que estes indivíduos não precisam
de identificação (SABATELLA, 2008). No entanto, este
público necessita ser identificado para que se conheçam
suas necessidades, bem como para que se realize o
discernimento de estratégias de atendimento e para que
se estruturem recursos, uma vez que, para um
atendimento adequado, é condição essencial saber para,
por que e a quem ele se destina.
Considerando que cada pessoa é única, pessoas
com potencial elevado também possuem características
diferenciadas em relação as suas áreas de interesses.
Este é mais um motivo para se utilizar diferentes
instrumentos de identificação. Pesquisadores como
Gardner (1995), Guenther e Freman (2000), Renzulli e
Reis (2004) e Virgolim (2007) são unânimes em afirmar
que a identificação deve ser realizada por meio de
inúmeros instrumentos que permitam uma visão
integral do sujeito. Estes autores acreditam que devam
ser utilizados diferentes critérios, identificados a partir
de variadas fontes de informações.
56
Virgolim (2007), por exemplo, destaca os seguintes
instrumentos possíveis:
57
salientando seus maiores interesses, realizações,
criações etc. Porém, é necessário cuidado, pois
alguns pais supervalorizam as habilidades dos(as)
filhos(a) e podem confundi-las com características
das Altas Habilidades.
58
professores(as) das séries anteriores dos(as)
alunos(as).
59
com a área, levando-o a desenvolver sua
criatividade e habilidades específicas.
60
apenas por identificar, torna-se um rótulo para o
indivíduo, provocando uma expectativa que a
identificação, por si só, não pode satisfazer.
Assim, a identificação da pessoa com Altas
Habilidades/Superdotação deve ser feita tanto como
componente quanto como etapa de um planejamento
de atendimento, sendo que, de acordo com a Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva, ao indivíduo com Altas Habilidades/
Superdotação é garantido o direito ao atendimento por
meio de “apoio especializado”, como descreve o
parágrafo 1o do artigo 58 da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB): “haverá, quando necessário, serviços
de apoio especializado, na escola regular, para atender
às peculiaridades da clientela da educação especial”
(BRASIL, 1996). No entanto, surgem diversas dúvidas e
inseguranças por parte das escolas sobre como oferecer
um apoio especializado ao indivíduo com Altas
Habilidades/Superdotação. Esta falta de formação-
informação resulta em um atendimento mais voltado a
alunos(as) com deficiências e pouco relevante para
alunos(as) com Altas Habilidades/Superdotação.
Em 2011, o Decreto 7.611 foi sancionado com o
objetivo de esclarecer como devem ser realizados os
atendimentos a alunos(as) que compõem o público-alvo
da Educação Especial.
61
§ 1o Para fins deste Decreto, os serviços de que trata o
caput serão denominados atendimento educacional
especializado, compreendido como o conjunto de
atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos
organizados institucional e continuamente, prestado das
seguintes formas:
I - complementar à formação dos estudantes com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento,
como apoio permanente e limitado no tempo e na
frequência dos estudantes às salas de recursos
multifuncionais; ou
II - suplementar à formação de estudantes com altas
habilidades ou Superdotação [...] (BRASIL, 2011).
62
CAPÍTULO 4
6 Termo usado por Gardner (1995; 2001) para se referir a uma visão
a partir das oito inteligências.
63
Em uma visão tradicional, a inteligência é definida
operacionalmente como a capacidade de responder a
itens em testes de inteligência. Esta afirmação surge
com as primeiras conceituações de inteligência
(SABATELLA, 2008). Segundo a autora, as primeiras
referências sobre testes de inteligência datam do século
V, na China, mas sua funcionalidade sistematizada de
aplicação científica só aconteceu na França, no século
XX. Contudo, a elaboração do primeiro teste de
inteligência é atribuída a Alfred Binet, pedagogo e
psicólogo francês, estudioso da área da educação e do
desenvolvimento infantil.
Binet, a pedido do Governo da França, investiu
seus estudos na verificação de crianças com atraso
mental em escolas públicas de Paris prevendo, assim,
quais delas poderiam ter dificuldades com a educação
formal. Desta forma, Binet e Théodore Simon –
psicólogo e psiquiatra francês – criaram a Escala de
Binet-Simon. Este instrumento testava a habilidade das
crianças nas áreas verbais e lógica. Binet aplicou
centenas de questionários abordando também os
aspectos sensoriais, mas logo percebeu que obtinha
mais resultados nas áreas de assuntos acadêmicos
(ALENCAR; FLEITH, 2001; GAMA, 2006;
SABATELLA, 2008).
Em 1912, surgiu o teste do Quociente de Inteligência
(QI), proposto pelo psicólogo alemão Wilhelm Stern. Ele
desenvolveu um cálculo matemático para avaliar o nível
mental de uma pessoa introduzindo, assim, um cálculo
em que o QI fosse determinado pelo resultado da
divisão entre a idade mental e a idade cronológica. Nesta
64
visão, se uma criança apresentasse, por exemplo, um
nível mental de nove anos e tivesse idade cronológica de
dez anos, teria um QI equivalente a 0,9 (GAMA, 2006;
SABATELLA, 2008).
Somente em 1916 Lewis Terman propôs um cálculo
que eliminasse o valor decimal dos testes de QI; assim,
o número do QI era multiplicado por 100; neste novo
conceito, o exemplo da criança com QI 0,9 passaria,
então, a QI 90 (SABATELLA, 2008).
Estudos realizados nos Estados Unidos na
Universidade de Stanford (Califórnia) e liderados por
Terman promoveram a adaptação do conceito e
estabeleceram novos padrões de habilidade média para
cada idade, de criança a adultos, oficializando o teste
como Escala de Inteligência Stanford-Binet (SABATELLA,
2008). Esta escala recebeu muitas críticas, especialmente
por usar um único e rápido instrumento; assim, em 1930,
Louis Thurstone, psicólogo da Universidade de Chicago,
desafiou o conceito do escore para medir a inteligência e
ressaltou que este resultado seria falho, pois identificava
apenas as áreas acadêmicas e verbais. Nesta nova visão,
Thurstone dividiu a inteligência em sete segmentos, os
quais nomeou habilidades mentais primárias, quais
sejam: i) compreensão verbal; ii) fluência de vocabulário;
iii) facilidade numérica; iv) visualização espacial; v)
memória associativa; vi) rapidez de percepção; e vii)
raciocínio (SABATELLA, 2008).
Outro avanço significativo nesta área foi o
simbolizado pelos estudos de Jean Piaget (1983), que
dedicou grande parte de suas pesquisas à inteligência,
influenciando a Teoria e a prática educacional. O autor
65
procurou definir “inteligência” com foco no ponto de
vista funcional e estrutural de seu entendimento; desse
modo, para Piaget (1983), a inteligência é definida como
uma estrutura contínua de adaptação a novas situações
(SABATELLA, 2008).
Já nos primeiros anos do século XX, o conceito de
inteligência expandiu-se em definições mais
abrangentes. Nesta época destacam os estudos de Joy
Paul Guilford (1979), Robert Sternberg (1997) e Howard
Gardner (1995; 2012), que defendem uma inteligência
multidimensional.
Guilford (1979) previa um modelo de inteligência
que descrevesse os diferentes tipos de capacidades
cognitivas que fundamentavam o processo ou a
operação realizada ao lidar com a informação recebida.
Essas operações poderiam ser classificadas em:
Cognição: significa descoberta, conhecimento e
compreensão;
Memória: significa retenção do que é conhecido;
Pensamento convergente: implica que a
informação conduz apenas a uma resposta certa ou
a uma resposta mais convencional;
Pensamento divergente: refere-se à produção de
inúmeras respostas ou de uma variedade de
alternativas para um problema (GUILFORD, 1979;
ALENCAR; FLEITH, 2008).
De acordo com Alencar e Fleith (2008), a teoria
multifatorial de Joy Paul Guilford trouxe à discussão os
papéis do pensamento divergente – que pesquisas
como a de Renzulli e Reis (2004) classificam como
criatividade – e de outras habilidades cognitivas que
66
não estariam sendo comtempladas pelos tradicionais
testes de inteligência.
Sternberg (1997) foi outro psicólogo que
proporcionou uma nova visão para o conceito de
inteligência ao conceituar a inteligência a partir da
Teoria Triárquica da Inteligência Humana. De acordo com
este modelo, a inteligência pode ser associada ao
mundo interno e externo do indivíduo, bem como a sua
experiência, considerada, por sua vez, a mediadora
entre os dois mundos. Para Sternberg (1997), a
inteligência abrangeria três fatores, a saber:
Inteligência Analítica: são mecanismos ou
componentes mentais que a pessoa utiliza para
processar a informação que deverá executar,
envolvendo o planeamento, a execução e a
avaliação do comportamento inteligente;
Inteligência criativa: neste fator, a pessoa
inteligente é aquela que lidará com as novidades e
com as tarefas exigidas no contexto de forma
rápida e adequada;
Inteligência prática: este mecanismo reconhece que a
inteligência não pode ser separada do contexto
sociocultural no qual ela é exercitada. Assim, para
que as pessoas possam funcionar adequadamente em
muitos contextos diferentes, devem estar aptas a se
adaptarem aos requerimentos do ambiente.
Assim como Sternberg (1997), Howard Gardner
propõe uma abordagem multifatorial da inteligência;
sendo sua teoria a fundamentação do presente livro,
nos tópicos seguintes serão aprofundados: o conceito
de Teoria das Inteligências Múltiplas, sua influência no
67
processo de observação e atendimento a alunos(as) com
indicadores de Altas Habilidades/Superdotação a partir
dos domínios propostos por Gardner, Feldman e
Krechevsky (2001b), e a contribuição da Teoria das
Inteligências Múltiplas no âmbito educacional.
Cabe ressaltar que a origem das Inteligências
Múltiplas (IM) surge em meados dos anos 1980 com
Howard Gardner que, à época, trabalhava em dois
projetos: o primeiro considerando indivíduos que
haviam sofrido alguma forma de dano cerebral; e o
segundo, o chamado “Projeto Zero”, que tratava de
questões de desenvolvimento humano e cognição com
crianças que apresentavam diferentes formas de
expressar suas habilidades em Artes. Durante estudos e
pesquisas no âmbito destes projetos, Gardner observou
que alguns indivíduos que apresentavam danos
cerebrais, cuja linguagem havia sido muito prejudicada,
conseguiram apresentar grandes capacidades em outras
áreas, como por exemplo, a área espacial. O psicólogo
presenciou o fato com crianças do Projeto Zero, que
apresentavam um determinado potencial herdado de
seus pais biológicos, mas que não eram observados por
meio dos testes psicométricos de inteligência. Esta
discrepância é clara em um dos relatos do autor:
68
Inconformado com estes resultados, Gardner
desafiou a crença de que a “inteligência” poderia ser
medida objetivamente e reduzida a um simples número
ou escore de QI. O autor começou a pesquisar
estratégias que implicavam a definição de uma
inteligência e de um conjunto de critérios para aquilo
que realmente deveria significar inteligência,
desfragmentando, assim, uma inteligência limitada e
até então conhecida, que se resumia a uma combinação
de determinadas habilidades lógico-linguísticas –
particularmente, as que são valorizadas na escola
(ARMSTRONG, 2001; GARDNER, 2010).
De modo a oferecer fundamentos teóricos sólidos
para suas afirmações, Gardner estabeleceu certos
critérios básicos, nos quais cada inteligência teria de ser
aprovada para ser considerada uma inteligência
habilitada, e não simplesmente um talento, habilidade
ou aptidão. Assim, o autor estabelece os seguintes
critérios (GARDNER, 1994; 2010; ARMSTRONG, 2001):
69
2. Existência de savants, prodígios e outras
excepcionalidades: de acordo com Gardner, os
savants (do francês, “sábios”) são pessoas que
demostram capacidades superiores em algumas
inteligências, enquanto que em outras apresentam
um baixo nível de aprendizagem e funcionamento.
Exemplo disso é uma pessoa que calcula
mentalmente e com rapidez números com
múltiplos algarismos e realiza outras façanhas
matemáticas espantosas, mas tem um
relacionamento inadequado com seus semelhantes,
um funcionamento linguístico insuficiente e
introspecção em relação à própria vida.
70
tem seu momento de surgimento na infância, seu
momento de pico durante a vida e seu próprio
padrão de declínio (rápido ou gradual) na velhice.
Assim, identificada esta capacidade
desenvolvimental, sua sustentabilidade à
modificação e seu treinamento são muito
importantes para professores(as), pois quanto mais
a escola encontra estratégias para desenvolver as
inteligências múltiplas, melhor os resultados de
motivação e aprendizagem dos indivíduos.
71
7. Apoio de dados psicométricos: embora Gardner
não seja adepto dos testes padronizados e tenha
sido, de fato, um ardente defensor de alternativas à
testagem formais, ele ressalta que dados
psicométricos podem oferecer informações
adicionais.
72
inteligência compre ou não os critérios. Dito isso, tenho
adotado uma postura muito conservadora para
aumentar a lista de inteligências (GARDNER, 2010, p.
18).
73
porém, o que diferencia estas capacidades é o grau de
desenvolvimento umas das outras. Assim, algumas
pessoas podem ser altamente desenvolvidas em certas
inteligências, umas modestamente em outras e outras
pessoas relativamente subdesenvolvidas nas
capacidades restantes. No entanto, para que a escola
estimule as oito inteligências dos(as) alunos(as), é
essencial que o sistema educacional elabore estratégias
curriculares que incentivem professores(as) e alunos(as)
a utilizarem múltiplos pontos de entrada para sustentar
a aprendizagem.
Em consonância com o foco deste livro, as
contribuições do teórico Howard Gardner foram
utilizadas para desenvolver instrumentos de
observação e estratégias de atendimentos a alunos(as)
com indicadores de Altas Habilidades/Superdotação.
Para o desenvolvimento das atividades de identificação
e intervenções, respaldou-se a Teoria de Gardner,
Feldman e Krechevsky (2001b), proposta nos estudos
do “Projeto Spectrum” como forma de observar,
organizar e avaliar o comportamento dos(as) alunos(as)
durante as atividades.
O Projeto Spectrum foi um trabalho desenvolvido
por Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b) na
Universidade de Harvard. Os referidos autores
adotaram a Teoria das Inteligências Múltiplas para
renovar o currículo, desenvolver avaliações e expandir
a definição do que seria um(a) aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação. Para isso, os estudiosos
propuseram estratégias que o(a) professor(a) pudesse
usar em sala de aula, de modo a proporcionar o
74
crescimento das competências e capacidades deste
público.
De início, o Projeto Spectrum objetivava atingir
alunos(as) da Educação Infantil para “[...] encontrar
maneiras de melhorar as experiências iniciais das
crianças pequenas, identificando suas capacidades
distintas, apoiando tais capacidades e ajudando os
professores, os pais e as crianças a celebrarem seus
diversos potenciais” (GARDNER; FELDMAN;
KRECHEVSKY, 2001a, p. 19).
Os fundadores do Projeto acreditavam que, quanto
mais precocemente fossem identificadas as habilidades
de cada criança, mais tempo teriam os(as)
professores(as), os pais e a escola para trabalharem
juntos no desenvolvimento das habilidades dos(as)
alunos(as) e menos tempo haveria para fracassar com
aqueles(as) que apresentavam um potencial
diferenciado. Assim, propunha-se subsidiar,
complementar e suplementar o currículo da Educação
Infantil com atividades que possuíam, como foco:
identificar as áreas de competência das crianças;
apresentar às crianças uma ampla variedade de
áreas de aprendizagem;
estimular as capacidades identificadas; e
construir pontes entre as capacidades da criança e
outras áreas de assunto e desempenho escolar
(GARDNER; FELDMAN; KRECHEVSKY, 2001b, p.
13).
As professoras participantes do Projeto relataram que
foi importante estudar e reconhecer as habilidades de
seus(suas) alunos(as), pois com as informações
75
pedagógicas que possuíam sobre aqueles(as) que corriam
risco de figurar no fracasso escolar, as educadoras
encontraram mais maneiras de envolvê-los(as) no
programa, planejando e visando suas individualidades,
bem como a criatividade e a construção de pontes entre as
áreas de competências identificadas nas crianças e outras
áreas de aprendizagem (GARDNER; FELDMAN;
KRECHEVSKY, 2001b).
A proposta do Projeto Spectrum tem sido subsídio
para pesquisas como as de Vieira (2005) e Marques (2013;
2017), que investigaram o reconhecimento de sinais de
indicadores que caracterizam a criança precoce.
Vieira (2005), por exemplo, desenvolveu um estilo
de observação às crianças talentosas da Educação
Infantil que englobavam os seguintes domínios: o da
ciência; o musical; o espacial; o da linguística; o da
matemática; o social; o das artes; o do movimento e o
do estilo de trabalho. A autora justificou a estrutura
desses domínios da seguinte forma:
76
O único domínio diferenciado entre os autores do
Projeto Spectrum e os projetos de Vieira (2005) e
Marques (2013) foi em relação à mecânica e construção,
domínio que foi substituído pelo domínio espacial, pois
entendeu-se que o domínio espacial é um fator
importante para o desenvolvimento cognitivo e social
do(a) aluno(a) com potencial acima da média. É a partir
da motricidade espacial que o indivíduo consegue
compreender a relação entre cor, forma, linha,
configuração e espaço, podendo, assim, construir,
recriar ou transformar imagens destas informações
(VIRGOLIM, 2007).
Nas atividades desenvolvidas pelo Projeto
Spectrum também se avaliou o estilo de trabalho
dos(as) alunos(as). No entanto, Gardner, Feldman e
Krechevsky (2001a; 2001b; 2001c) ressaltam que este
não é propriamente um domínio, mas sim uma
capacidade que permite descrever como a criança
interage com as atividades propostas, seja de forma
persistente, confiante ou facilmente destruída. Os
indicadores são classificados por Renzulli e Reis (2004)
como uma das principais características da criança com
Altas Habilidades/Superdotação, relacionadas ao
comprometimento com a tarefa. Os autores do Projeto
ressaltam que
77
determinada tarefa tem raízes no estilo ou no conteúdo
pode ajudar a professora individualizar a instrução. Por
exemplo, ela pode identificar situações ou domínios em
que uma criança precisa de orientação muito específica
para ter um bom desempenho; assume a iniciativa e,
assim, consegue trabalhar com uma supervisão mínima,
ou se distrai facilmente, podemos beneficiar-se de
atividades que podem ser concluídas rapidamente
(GARDNER; FELDMAN; KRECHEVSKY, 2001b, p. 16).
78
CAPÍTULO 5
OS DOMÍNIOS
Domínio da Linguagem
79
relação à linguagem, que lhes possibilite resolver
problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens
culturais e alcançar a participação plena no mundo
letrado (BRASIL, 1997).
Em alunos(as) com potenciais elevados, o domínio
da linguagem manifesta-se na capacidade elevada de
contar histórias de formas diversificadas, coerentes e
ricas em detalhes. Gardner, Feldman e Krechevsky
(2001a) caracterizam este domínio por meio de três
categorias: a da narrativa inventada/narração de
história; a da linguagem descritiva/reportagem; e a da
linguagem poética/jogos de palavras. No Quadro 6
tem-se as habilidades-chave de cada uma destas
categorias.
80
Revela interesse e
capacidade no
planejamento e no
desenvolvimento de
Demonstra interesse em
tramas (enredos), na Demonstra
explicar como as coisas
elaboração e na interesse em
funcionam, ou em
motivação dos aprender novas
descrever um
personagens, na palavras
procedimento
descrição de cenários,
cenas ou estados de
ânimos, no uso do
diálogo etc.
Demonstra
capacidade de
representar ou talento
dramático, incluindo Argumenta ou Usa as palavras
um estilo distinto, investiga de modo de maneira
expressividade ou lógico divertida
habilidade de
desempenhar
diversos papéis
Fonte: extraído de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b, p. 207-
208).
Domínio da Matemática
81
(2001b) são: raciocínio numérico; raciocínio espacial;
solução lógica de problemas. O Quadro 7 aponta os
indicadores de cada categoria.
82
cidadania, utilizando conhecimentos de natureza
científica e tecnológica (BRASIL, 1997).
Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b) dividem o
domínio das Ciências em quatro áreas, a saber:
habilidade de observação; identificação de semelhanças
e diferenças; formação e experimentação de hipóteses;
interesse em/conhecimento de fenômenos
naturais/científicos.
No Quadro 8 são apresentados os indicadores de
cada uma destas categorias.
83
Com
frequência,
percebe
mudanças
Manifesta interesse
no meio
Faz perguntas por fenômenos
ambiente
do tipo “e naturais ou materiais
(por
se?”; explica relacionados, como
exemplo,
por que as livros de História
folhas novas
coisas são Natural, ao longo de
nas plantas,
como são períodos de tempo
insetos nas
prolongados
árvores, Classifica
mudanças materiais e
sazonais geralmente
sutis) nota
semelhan Realiza
ças e experimentos
diferenças simples e tem
entre ideias de
espécies ou experimentos
em ambas para testar
Mostra
(por hipóteses
interesse em
exemplo, próprias e
registrar
compara alheias
observações
caranguejo (por exemplo,
através de Costuma perguntar
e aranha) deixa cair
desenhos, sobre as coisas que
pedras
gráficos, observa
pequenas e
cartões
grandes na
sequenciais
água para ver
ou outros
se umas
métodos
afundam mais
rápido do que
as outras; rega
plantas com
tinta em vez
de água)
Fonte: extraído de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b, p. 61-62).
84
Domínio Musical
85
musicais de músicos e
Identifica diferentes
outras composições
instrumentos e sons
Fonte: extraído de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b, p. 94).
Domínio Espacial
86
Quadro 10 - Domínio Espacial.
ABORDA
GEM DE
COMPREEN
SOLUÇÕES
SÃO DE HABILIDA
CAPACIDADE DE
RELAÇÕES DES
VISUOESPA PROBLEMAS
CASUAIS E MOTORAS
CIAL COM
FUNCIO FINAS
OBJETOS
NAIS
MECÂNI
COS
É capaz de
construir ou Usa a
É hábil ao
reconstruir abordagem de
Infere relações manipular
objetos físicos e tentativa e
com base na objetos ou
máquinas erro, e
observação partes
simples em aprende a
pequenas
duas ou três partir dela
dimensões
Usa uma
abordagem Exibe boa
Compreende a
sistemática coordenação
relação das Compreende as
para resolver mão-olho
partes com o relações
problemas (por exemplo,
todo, função espaciais entre
mecânicos bate com o
dessas partes e as partes de um
martelo no
como elas são objeto mecânico Compara e
prego e não
montadas generaliza
nos dedos)
informações
Fonte: extraído de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b, p. 34).
87
modo adequado e criativo (GARDNER; FELDMAN;
KRECHEVSKY, 2001a; 2001c).
Para Gardner, Feldman e Krechevsky, (2001b), as
categorias associadas a este domínio são as de
percepção, de representação, de talento artístico e de
exploração. Estas categorias são apresentadas no
Quadro 11, por meio dos seguintes grupos de
características sistematizados.
88
Transmite
claramente o
humor através
de
representações Usa linhas e
É capaz de
literais (por formas para
criar símbolos
exemplo, sol gerar uma
reconhecíveis
sorrindo, rosto grande
para objetos
chorando) e variedade de
comuns (por
aspectos formas (por
exemplo,
abstratos (por exemplo,
pessoas,
É sensível a exemplo, cores abertas e
vegetação,
estilos escuras ou fechadas,
casa, animais)
artísticos linhas caindo explosivas e
e coordenar
diferentes para expressar controladas)
elementos,
(por tristeza); em trabalhos
espacialmente,
exemplo, é produz bidimensionais
em um todo
capaz de desenhos ou ou
unificado
distinguir esculturas que tridimensionais
arte abstrata parecem
de realismo, “alegres”,
impressionis “tristes” ou
mo etc.) “poderosos”
Preocupa-se
com a É capaz de
Usa
decoração e o executar
proporções
embelezamento assuntos ou
realistas,
Produz temas variados
características
desenhos que (por exemplo,
detalhadas,
são coloridos, pessoas,
escolha
equilibrados, animais,
deliberada de
rítmicos, ou prédios,
cores
com todas essas paisagens)
características
Fonte: extraído de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b, p. 238).
89
Domínio do Movimento
90
(por verbal, um amplia
exemplo, objeto ou uma ideias (por
a criança música exemplo,
tenta sugere que
acompa os colegas
nhar o ergam os
ritmo, em braços
vez de para
não parecerem
perceber nuvens no
ou céu)
desconsid
erar
mudan
ças
rítmicas)
Planeja, É capaz de
organiza responder ao
uma tom ou à
É capaz
sequência qualidade
de Responde
e executa tonal de um Revela
estabelec imediatam
moviment instrumento sensibilida
er um ente à
os ou seleção de ao
ritmo ideia e
eficientem musical (por ritmo e
próprio e imagens
ente (os exemplo, faz expressivi
regulá-lo com
moviment movimentos dade ao
para moviment
os não leves e fluidos responder
atingir os
parecem com uma a música
um efeito originais
aleatórios música lírica e
desejado
ou movimentos
desconjun fortes e
tados) destacados
91
com uma Explora o
marcha) espaço
disponível
(vertical e
horizontal
) com
muita
liberdade
Antecipa
Consegue
os outros
repetir os Coreografa
em um
próprios uma dança
espaço
moviment simples,
compartil
os e os ensinando-
hado
moviment a
Experimen
os dos aos outros
ta
outros
movimen
tos do
corpo no
espaço
(por
exemplo,
voltando-
se e
girando)
Fonte: extraído de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b, p. 120).
Domínio Social
92
cidadania e a democracia e os múltiplos aspectos e
diferentes dimensões da vida social. Gardner, Feldman e
Krechevsky (2001b) resumem o domínio Social da
criança a partir de cinco categorias, quais sejam: a do
entendimento de si mesma; do entendimento do outro; a
da vivência de papéis sociais distintos/de líder; a de
facilitadora; e de cuidadora/amiga. As habilidades-chave
podem ser observadas no Quadro 13.
93
Utiliza essas
reflexões Reconhece
para pensamen Convida
compreen tos, Atribui outras
der e sentimentos papéis aos crianças
orientar o e outros para
próprio capacidades brincar Demons
comporta alheias tra saber
mento do que
Explica Amplia e os
Demonstra
como a elabora as amigos
insight sobre
Tira atividade ideias das gostam
os fatores
conclusões é outras e não
que levam
sobre os realizada crianças gostam
alguém a
outros com Oferece
se sair bem
base em Supervisio ajuda
ou ter
suas na e dirige quando os
dificuldade
atividades as outros
em
atividades precisam
uma área
de atenção
Fonte: extraído de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b, p. 182).
Estilo de trabalho
94
em determinada(s) atividade(s) estão relacionadas ao
seu estilo de trabalho ou ao entendimento do conteúdo.
Nesta perspectiva, os autores propuseram uma lista de
características que destacam e avaliam o
comportamento e o estilo de trabalho da criança (cf.
Anexo 12).
Ainda de acordo com Gardner, Feldman e
Krechevsky (2001c), a lista de estilo de trabalho tem
como objetivo descrever o processo pelo qual o(a)
aluno(a) aborda e realiza determinadas atividades.
Importante destacar que essas descrições não têm
conotação positiva ou negativa , apenas referem-se à
relação da criança com os materais e atividades.
95
continua buscando a aprovação ou o
reasseguramento do adulto; tem medo de
fazer movimentos errados.
A criança diverte-se com os materiais ou com
a atividade; usa os materiais facilmente,
Brincalhão
fazendo frequentes comentários espontâneos,
ou criando extensões divertidas da atividade.
A abordagem da criança à atividade é direta,
sem distrações; executa a atividade como se
Sério fosse “só trabalho, nenhum divertimento”;
porém, pode ser séria e demostrar que está
gostando da tarefa e dos materiais.
A criança demostra intensa concentração na
atividade ou no uso dos materiais; presta
atenção ao trabalho, apesar de distrações ao
Concentrado
seu redor (isso vai além do interesse, o foco
indica atenção e singularidade de propósito
incomuns por parte da criança).
A criança tem dificuldade de desligar-se das
atividades de sala de aula que a cercam,
Distraído
parece que sua atenção à tarefa aumenta e
diminui.
A criança dedica-se à atividade tenazmente,
responde aos desafios com equinimidade e
Persistente não desiste, apesar das dificuldades; também
pode ser persistente sem a presença de
qualquer dificuldade específica.
A criança tem dificuldade em resolver partes
desafiadoras ou frustrantes da atividade;
Frustrado pela
pode recorrer rapidamente ao adulto em
atividade
busca de soluções de problemas, ou
expressar relutância em terminar a atividade.
A criança não tem senso de continuidade;
Impulsivo trabalha tão rapidamente que fica
descuidada.
A criança comenta ou avalia seu trabalho,
Reflexivo fazendo revisão positiva ou negativa; parece
distanciar-se do processo concreto de
96
trabalho ou brincar, para avaliar se seu
desempenho está de acordo com suas
expectativas.
Propenso a A criança precisa de muito tempo para
trabalhar preparar seu trabalho; trabalha lentamente e
lentamente metodicamente durante a atividade.
Propenso a O ritmo da criança é mais rápido do que o da
trabalhar maioria dos colegas; inicia imediatamente a
rapidamente atividade e vai avançando até concluí-la.
A criança conversa com os adultos enquanto
Conversador trabalha na atividade; inicia discussões
relacionadas ou não à atividade.
A criança fala muito pouco enquanto
trabalha na atividade, apenas quando a
Quieto atividade exige, porém a ausência de
conversa não é necessariamente devido a
desconforto ou hesitação.
A criança revela necessidade ou preferência
por começar a tarefa através de estímulos
Responde a
visuais (examinando cuidadosamente os
pistas visuais,
materias), de estímulo auditivo (ouvindo
auditivas ou
instruções, música) ou de estímulo
cinestésicas
cinestésicos (sentindo os materiais ou usando
o movimento para compreender melhor).
A criança usa materais ou informações
Demostra uma estrategicamente; declara seus objetivos e
abordagem depois começa a trabalhar para atingi-los,
planejadora muitas vezes descrevendo o próprio
progresso.
Emprega
A criança usa suas inclinações como um meio
habilidades
de se envolver em uma dada atividade ou
pessoais na
interpretá-la.
tarefa
A criança descobre um elemento divertido na
Diverte-se na área de conteúdo; é capaz de olhar a
área de atividade de fora, conforme ela foi definida, e
conteúdo descobrir uma faceta engraçada, irônica ou
inesperada.
97
A criança redefine materiais e atividades de
Usa os materiais
maneira singular, nova ou imaginativa.
de maneira
Observa como o uso inesperado afeta o
inesperadas
processo ou o produto da criança.
Demostra
A criança demostra prazer com seu sucesso
orgulho pela
na atividade.
realização
Presta atenção
A criança nota aspectos sutis de materiais ou
aos detalhes; é
atividades.
observadora
A criança faz perguntas sobre o que são as
É curiosa sobre
coisas, sobre como e por que foram feitas
os materiais
daquele jeito.
A criança pergunta frequentemente ao adulto
Demostra
se o que ela está fazendo está “certo”; pode
preocupação
perguntar se as outras crianças acertaram;
com a resposta
demostra prazer quando está “certa” e
“certa”
desagrado quando está “errada”.
A criança está mais interessada em estar com
o adulto do que com os materiais; ela busca
continuamente uma interação com o adulto
Concentra-se na
por meio de conversa e contato visual,
interação com o
sentando no colo do adulto e assim por
adulto
diante. Mesmo quando envolvida na
atividade, ela tenta manter algum tipo de
interação com o adulto.
Fonte: adaptado de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001c, p. 185).
98
no que trate daqueles(as) com Altas
Habilidades/Superdotação. Este currículo deve,
portanto, ser mais complexo, mais abstrato e mais
variado do que o currículo regular, além de ser
organizado de forma diferente.
Consonante com essa visão, entendemos a
importância da reorganização dos conteúdos de forma
transdisciplinar, tendo como enfoque uma visão
pluralista do conhecimento. Assim, a articulação entre a
proposta de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001a;
2001b; 2001c), os fundamentos pedagógicos dos PCN e
os domínios de Vieira (2005) e de Marques (2013; 2017)
constroem um estudo integrado, promovendo a eficácia
de um currículo de conteúdos variados, permitindo
maior e melhor visão de mundo e podendo explorar
temas centrais para o(a) aluno(a), com estímulo e
motivação para se aprofundar no conhecimento do que
mais lhe interessa. Assim, há possibilidades de
desenvolvimento, de um maior senso de liberdade e,
também, de responsabilidade pelo conhecimento
adquirido.
O Quadro 15 apresenta, em resumo, a articulação
dos domínios aqui apresentados em consonância com
os Parâmetros Curriculares Nacionais e seus temas
transversais.
99
Quadro 15 - Articulação dos domínios, dos Parâmetros Curriculares
Nacionais e dos temas transversais.
ARTICULAÇÃO DOS DOMÍNIOS
PARÂMETROS DOMÍNIOS DE
CURRICULARES GARDNER,
DOMÍNIOS DE
NACIONAIS E FELDMAN
VIEIRA (2005)
TEMAS E KRECHEVSKY
E MARQUES (2013)
TRANSVERSAIS (2001a; 2001b;
(BRASIL, 1997) 2001c)
Domínio da
Língua Portuguesa Domínio Linguístico
Linguagem
Domínio da Domínio da
Matemática
Matemática Matemática
Domínio das Domínio das Artes
Artes Visuais Visuais
Artes
Domínio Musical Domínio Musical
Domínio do Domínio do
Educação Física
Movimento Movimento
História, Geografia,
Domínio das
Ciência, Meio Domínio das Ciências
Ciências
Ambiente e Saúde
Saúde, Pluralidade
Domínio do
Cultural, Orientação Domínio do
Entendimento
Sexual, Trabalho e Entendimento Social
Social
Consumo
Educação Física e Domínio da
Domínio Espacial
Artes Mecânica
Fonte: elaboração própria.
100
Os autores do Projeto Spectrum desenvolveram,
para cada domínio, características que permitem
aos(às) professores(as) examinar os trabalhos dos(as)
alunos(as) e determinar seus níveis de competência em
certa(s) área(s); assim, professores(as) usam estas
características como instrumento de avaliação e como
subsídios para analisar o desenvolvimento de uma
determinada atividade, observando o grau de
motivação e interesse, como também as facilidades e
dificuldades dos(as) alunos(as).
101
102
CAPÍTULO 6
AS INTELIGÊNCAIS MÚLTIPLAS E AS
IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS
103
maneira, este conceito oferece à escola e seus(suas)
professores(as) uma nova forma de ver as capacidades
e limitações singulares de cada aluno(a) e, assim,
elaborar atividades voltadas ao estilo de aprendizagem
individual.
As inovações educacionais sugeridas pelas IM
exigem mudanças qualitativas que incluem posturas,
aptidões e reflexões de maneiras pedagógicas e
didáticas por parte dos professores. Este processo pode
levar tempo, porém, é essencial que o(a) professor(a)
aprenda a vislumbrar o(a) aluno(a) por completo, em
suas múltiplas capacidades. Segundo Smole (1999), este
modo de olhar para o(a) aluno(a) permite que o(a)
professor crie(a) condições para interferir no
desenvolvimento e no treino de suas competências. Ao
mesmo tempo, este olhar torna possível acompanhar
individualmente os resultados da sua prática
pedagógica e adotar uma atitude de constante reflexão
a respeito dos sucessos e insucessos de seu trabalho
docente.
O(a) professor(a) em prática na sala de aula tem o
poder de ativar e desativar as inteligências dos(as)
alunos(as): depende de como usa suas estratégias de
ensino. Armstrong (2010) classifica este processo em
dois tipos de experiências: as cristalizadoras e as
paralisadoras. O(a) professor(a) pode proporcionar
experiências cristalizadoras quando, ao identificar áreas
de interesse do(a) aluno(a), desenvolve métodos de
modo a incluir uma amplitude de técnicas para que
possam atingir e estimular o talento do indivíduo.
Reciprocamente, as experiências paralisadoras são
104
ações que “desligam” as potencialidades dos(as)
alunos(as) quando, por exemplo, um(a) professor(a)
tenta homogeneizar, igualar a aprendizagem dos(as)
alunos(as), fazendo que todos(as) utilizem apenas uma
única forma de aprender, tolhendo, assim, a
criatividade de cada indivíduo.
Nesta perspectiva ressalta-se a importância de um
curso de formação de professores embasado nos
conceitos das IM, com o objetivo de proporcionar
aos(às) educadores(as) informações suficientes para que
melhor reconheçam as possíveis inteligências múltiplas
de suas turmas e, assim, construam um currículo que
esteja de acordo com a proposta teórica e no qual se
desenvolvam mecanismos para que este conceito
pluralista de ensino seja posto em prática (MARQUES,
2013; 2017).
Uma experiência prática desta formação foi
relatada por Hyland e McCarthy (2010) ao
desenvolverem um curso de pós-graduação para
docentes do Ensino Médio na Irlanda, tendo como
público cerca de dois mil profissionais. Esta formação
teve como objetivo apresentar a Teoria das Inteligências
Múltiplas e proporcionar aos(às) cursistas estratégias
para se adaptar o modelo de ensino e incentivá-los(as) a
usar a nova abordagem em sala de aula. Em uma das
atividades, uma professora relatou como a Teoria
mudou sua forma de pensar e agir em sala de aula:
105
devemos procurar e desenvolver metodologias que
permitam que todas as inteligências resplandeçam na
experiência da aprendizagem. Isso significa que não
podemos voltar à estrutura hierárquica do ensino. Pelo
contrário, devemos agarrar a noção do construtivismo
com as duas mãos e dar liberdade aos alunos para
explorarem e construírem o conhecimento e o
entendimento a partir das suas próprias potencialidades
(HYLAND; MCCARTHY, 2010, p. 228).
106
Teoria das IM também podem ser encontradas em
documentos nacionais relacionados com as artes no
ensino fundamental; educação social, pessoas e de
saúde; avaliação do currículo fundamental; educação
cívica, social e política no nível médio, e abordagens de
ensino e aprendizagem no ano de transição (HYLAND;
MCCARTHY, 2010, p. 229).
107
dúvidas e conquistas, bem como avaliando as
dificuldades e o crescimento de seus(suas) alunos(as) a
partir da visão das IM.
No âmbito da Educação Especial, a adoção de
práticas da Teoria das Inteligências Múltiplas traz,
como principais objetivos, incentivar uma mudança de
atitude no sistema educacional e gerar um novo olhar
em relação a alunos(as) com Necessidades
Educacionais Especiais aos se construírem perfis
individuais que mostrem qualidades e limitações
relativas, em vez de simplesmente direcionar-se aos
déficits (VIALLE, 2010; MARQUES, 2013; 2017).
Armstrong (2001) explica que a Educação Especial
ainda está carregada de termos pragmáticos de
doenças, tais como patologias, retardos, perturbações e
transtornos de déficit; isso dificulta a identificação das
capacidades das crianças com tais necessidades
especiais. Para eliminar estes rótulos de incapacidade, o
autor sugere que a escola insira o parâmetro proposto
pelas IM – o paradigma de crescimento –, ou seja, as
práticas das IM reconhecem as dificuldades e
deficiências, mas o faz no contexto de considerar a
existência de pessoas com todo tipo de necessidade
especial, mas que podem ser talentosas em uma ou
mais das oito inteligências. No Quadro16, a seguir,
Armstrong (2001) ilustra algumas diferenças entre o
paradigma do déficit versus o paradigma do
crescimento.
108
Quadro 16 - O paradigma do déficit versus o paradigma do
crescimento.
PARADIGMA DO
PARADIGMA DO DÉFICIT
CRESCIMENTO
Rotula o indivíduo em termos de
incapacidades específicas (por Evita rótulos; vê o
exemplo, incapacidade de indivíduo como uma
aprendizagem, perturbação pessoa por completo, e não
emocional, transtorno comunicativo, apenas sua deficiência
transtorno comportamental)
Avalia as necessidades de
Diagnostica as incapacidades
um indivíduo usando
específicas usando uma bateria de
abordagens de avaliações
testes padronizados; centra-se em
autênticas, dentro de um
erros, escores baixos e fraquezas em
contexto naturalista;
geral
centra-se em forças
Ajuda a pessoa a aprender
Remedia as incapacidades usando e crescer através de um
estratégias de tratamento conjunto rico e variado de
especializados, muitas vezes distantes interações, com atividades
de qualquer contexto de vida real e acontecimentos da vida
real
Mantem as conexões do
Separa o indivíduo dos outros para indivíduo com os colegas
tratamento especializado em turmas, ao buscar um padrão de
grupos ou programas segregados vida tão normal quanto
possível
Usa uma coletânea de termos, testes,
Usa materiais, estratégias e
programas, materiais e cadernos de
atividades que são comuns
exercícios que são diferentes dos
para todas as crianças
encontrados em sala de aula comum
Segmenta a vida do indivíduo em Mantém a integridade do
objetivos indivíduo como um ser
comportamentais/educacionais que humano integral quando
são monitorados, medidos e avalia o progresso em
modificados regularmente relação aos objetivos
109
Cria programas de Educação Especial
que correm em uma pista paralela à
Estabelece modelos
dos programas de educação regular;
colaborativos que
professores(as) das duas pistas
permitem a especialistas e
raramente
professores(as) de sala de
se encontram, exceto nas reuniões dos
aula trabalhar juntos
programas educacionais
individualizados
Fonte: extraído de Armstrong (2001, p. 136).
110
para criar planos de aula de oito maneiras diferentes
para a sala de aula comum. De acordo com a Teoria das
Inteligências Múltiplas, as melhores atividades de
aprendizagem para estes(as) alunos(as) são as que têm
mais sucesso com todos os(as) alunos(as); porém, o que
difere é a forma pela qual as aulas são especificamente
adaptadas às limitações de determinados(as) alunos(as)
ou de pequenos grupos (ARMSTRONG, 2001).
O estudioso aponta que a Teoria das Inteligências
Múltiplas também se insere no desenvolvimento dos
Programas Educacionais Individualizados (PEI), pois
ajuda professores(as) a identificarem as capacidades e o
estilo de aprendizagem preferido de cada aluno(a), e
estas informações servem como base para planejar os
tipos de estratégias mais adequadas para a inclusão
do(a) aluno(a) em um PEI.
Segundo Armstrong (2001), se a Teoria das
Inteligências Múltiplas for implantada em larga escala
tanto em programas de educação regular quanto nos de
Educação Especial, isso proporcionará uma série de
efeitos positivos:
111
portanto, apoia o movimento de inclusão total na
Educação.
112
Maior entendimento e apreciação dos alunos: de
acordo com Armstrong (2001), quando os(as)
alunos(as) usam a Teoria das Inteligências
Múltiplas para compreender suas diferenças
individuais, a tolerância, o entendimento e a
apreciação em relação aos colegas com
necessidades educacionais especiais tendem a
aumentar, facilitando a total interação na sala de
aula regular.
113
sistemas mentais do(a) aluno(a), permitindo que ele(a)
mostre aquilo que aprendeu em um contexto, ou seja,
em um ambiente voltado a sua realidade de
aprendizagem.
As escolas ainda estão limitadas a avaliações por
meio de testes padronizados, que averiguam o
conhecimento existente na mente do(a) aprendiz em
um dado momento e geralmente centrados naquilo que
o(a) aluno(a) não consegue fazer, ou seja, direcionados
ao seu fracasso. No entanto, uma avaliação voltada a
uma visão multifacetada da aprendizagem sustenta a
afirmação de que alunos(as) devem ser capazes de
mostrar suas competências em uma determinada
habilidade de diversas maneiras, o que conscientiza
sobre o fato de que o processo de avaliação não é um
processo de julgamento de seus erros, mais sim mais
uma oportunidade de aprendizagem.
Nesta visão, Armstrong (2010, p. 120) aponta várias
vantagens pela quais as avaliações voltadas às IM
podem promover uma maior aprendizagem dos(as)
alunos(as). Tais avaliações, multifacetadas:
permitem ao(à) professor(a) uma percepção de
experiência única do(a) aluno(a) enquanto
aprendiz;
proporcionam experiências interessantes, ativas,
animadas e estimulantes;
permitem o desenvolvimento de currículos
significativos e a avaliação dentro do contexto
daquele programa;
114
enfatizam a vontade de aprender do(a) aluno(a),
mostrando aquilo que ele(a) pode fazer e aquilo
que ele(a) está tentando fazer;
oferecem múltiplas fontes de avaliação, que dão
uma visão mais acurada do processo de
aprendizagem do(a) aluno(a);
tratam cada aluno(a) como um ser humano único;
descrevem o desempenho do(a) aluno(a) em
termos que podem ser facilmente compreendido
pelos pais, demais alunos(a) e por outras pessoas
que não são educadoras;
estimulam a aprendizagem pela própria
aprendizagem;
comparam os(as) alunos(as) com seus próprios
desempenhos anteriores.
Nesta mesma vertente, Veiga (2012) traz uma
proposta de procedimento de avaliação a partir da
Teoria Modular da Mente. De acordo com a autora, esta
Teoria – embasada nos estudos de Howard Gardner e
Robert Sternberg – revela
115
como “normais”, mas também de alunos com
deficiências, transtornos globais, Altas Habilidades/
Superdotação e dificuldades de aprendizagem. A
avaliação modular, como descreve Veiga (2012; 2014), é
uma proposta que vem redimensionar os esforços no
campo da avaliação, tendo como objetivo tornar
conhecido o perfil cognitivo do sujeito, investigando
quais são as capacidades e limitações do(a) aluno(a) e
como ele(a) utiliza estas capacidades, bem como quais
competências usa para aprender. Esta nova abordagem
de aprendizagem permite desvincular uma visão
patológica que profissionais da Educação têm do(a)
aluno(a) e vincular a visão das suas potencialidades,
desenvolvendo, assim, todos os seus sistemas de
inteligências, promovendo uma adaptação e
assimilação do conhecimento independente das
dificuldades ou facilidades dos(as) alunos(as).
O processo de avaliação modular é composto de
três fases, a saber:
116
cognitivo a partir das oito inteligências propostas
por Howard Gardner. Para este levantamento são
utilizados instrumentos pedagógicos disparadores
para identificar quais são as facilidades e
dificuldades encontradas no sistema cognitivo
do(a) aluno(a). Estes instrumentos pedagógicos
podem ser conjuntos de tarefas que ativem as oito
inteligências do(a) aluno(a).
117
Múltiplas afeta as práticas de educação de alunos(as)
com potencial acima da média, oferecendo uma
condição mais ampla de inteligência, a qual favorece,
por sua vez, a identificação das Altas
Habilidades/Superdotação em alunos(as) que não
tiveram bom desempenho em testes de QI tradicionais,
por exemplo.
Vialle (2010) relata que no início dos estudos sobre
a Teoria das Inteligências Múltiplas foram muitas as
críticas de uma linha tradicional da Psicologia que
argumentava que, com estas várias inteligências,
qualquer criança poderia ter características de Altas
Habilidades/Superdotação. No entanto, o(a) autor(a)
sempre defendeu que a Teoria das Inteligências
Múltiplas era coerente com o redirecionamento
igualitário das capacidades acima da média, pois
muitos programas de atendimento a alunos(as) com
Altas Habilidades/Superdotação eram elitistas e
privilegiavam aqueles(as) que apresentavam estratos
culturais e econômicos favoráveis.
Destarte, as IM demonstraram ser uma base eficaz
para identificar a condição de superdotado(a) em
estudantes de grupos desfavorecidos, de modo que o(a)
professor(a), ao enxergar as crianças em situações
socioeconômicas inferiores sob as lentes das IM, se
permitirá vê-las para além dos estereótipos da pobreza
(VIALLE, 2010).
Por fim, Craft (2010) explana que o uso da Teoria
das Inteligências Múltiplas para identificar quais e de
que maneiras os(as) alunos(as) são superdotados
recebeu muitas críticas: a oposição argumentava que as
118
avaliações não apresentavam veracidade para calcular
um fenômeno tão complexo. Ainda assim, o autor
assegura o enorme potencial das IM, qual seja, o de
proporcionar uma aprendizagem multifacetada, capaz
de se adaptar às diversas finalidades educacionais. A
referida Teoria ajuda não só aqueles(as) que têm
dificuldades, bem como aqueles(as) que se sobressaem,
abrangendo, ainda, o currículo acadêmico
tradicionalmente limitado proporcionando-lhe,
inclusive, uma visão curricular mais ampla.
O próximo Capítulo apresenta um relato de
intervenção educacional longitudinal, caracterizando o
direcionamento teórico-metodológico escolhido para o
seu desenvolvimento.
119
120
CAPÍTULO 7
121
permitindo, assim, uma compreensão mais profunda
das mudanças e da evolução das variáveis observadas.
Um dos propósitos deste relato – do tipo estudo de
caso – foi o de reunir informações detalhadas e
sistematizadas sobre a identificação de um aluno com
Altas Habilidades/Superdotação e mostrar as
dificuldades encontradas durante a trajetória escolar
deste aluno (MARQUES, 2017). Yin (2004, p. 32)
defende que o estudo de caso é o enfoque mais
adequado para conhecer em profundidade todas as
nuances de um determinado fenômeno. Neste sentido,
mesmo utilizando-se de um caso único, pode-se fazer
generalizações quando o contexto envolve casos
decisivos, raros, típicos, reveladores e longitudinais.
Esta abordagem, portanto, vai muito além do dado
quantificável, possibilitando a interpretação e descrição
dos fatos valorizando as vivências do aluno no contexto
escolar.
O interesse pelo tema Altas Habilidades/Superdotação
surgiu a partir da prática de uma das autoras como
professora da Educação Infantil. Como consequência, a
autora pode realizar o acompanhamento da trajetória
do aluno, priorizando o enfoque sobre a precocidade de
alunos(as) na Educação Infantil (MARQUES 2013;
2017).
A sinalização e identificação de alunos(as) com
Altas Habilidades/Superdotação ocorreu após uma
palestra sobre Altas Habilidades/Superdotação,
realizada por uma das autoras, professora da Educação
Infantil, a convite da direção de uma escola da rede
pública municipal de ensino, no nível de Educação
122
Infantil, para professores(as) e gestores(as) da referida
escola. Como consequência da palestra, esta professora
foi procurada pela direção da instituição para ajudar a
identificar e atender às necessidades de um aluno,
motivo do convite e da preocupação daqueles(as) que
constituíam o corpo docente da escola. Foram
realizados vários procedimentos de identificação, e a
autora participou do processo de aceleração do aluno, à
época, precoce.
As informações coletadas na identificação foram
feitas pela professora regular do aluno após receber
orientações sobre a aplicação dos instrumentos.
O relato foi desenvolvido em duas fases da vida
escolar do aluno, quais sejam: a fase vivenciada na
Educação Infantil e a fase vivenciada no Ensino
Fundamental. Na fase da Educação Infantil
participaram da coleta de informações uma professora
de Educação Infantil e os pais do aluno. Já no Ensino
Fundamental, foram participantes uma professora de
Ensino Fundamental e uma professora de Educação
Especial. Portanto, o critério de inclusão de docentes
neste relato foi “ser professor(a)” deste aluno.
Para um melhor entendimento sobre as
características das pessoas envolvidas, as informações
foram obtidas na aplicação dos instrumentos
respondidos pelas professoras, pais e pelo próprio
aluno. Uma síntese desta utilização está relacionada no
Quadro 17.
123
Quadro 17 - Instrumentos utilizados.
124
Instrumento elaborado por
Marques (2017), baseado na Teoria
do Projeto Spectrum de Gardner,
Lista de
Feldman e Krechevsky (2001a;
avaliação do
05 2001b; 2001c), visando avaliar as
domínio da
habilidades-chave dos domínios da
Matemática
Matemática, tais como: raciocínio
numérico; raciocínio espacial;
soluções lógicas de problemas.
Instrumento elaborado por
Marques (2017), baseado na Teoria
do Projeto Spectrum de Gardner,
Lista de
Feldman e Krechevsky (2001a;
06 avaliação do
2001b; 2001c), visando avaliar as
domínio Musical
habilidades-chave dos domínios da
Música, como a percepção,
produção e composição musicais.
Instrumento elaborado por
Marques (2017) baseado na teoria
do Projeto Spectrum de Gardner,
Lista de
Feldman e Krechevsky (2001)
avaliação do
07 visando avaliar as habilidades-
domínio das
chave dos domínios das Artes
Artes Visuais
Visuais, tais como a percepção, a
produção, o talento artístico e a
exploração.
Instrumento elaborado por
Marques (2017), baseado na Teoria
do Projeto Spectrum de Gardner,
Feldman e Krechevsky (2001),
Lista de visando avaliar as habilidades-
avaliação do chave dos domínios da Ciência,
08
domínio das como as seguintes: habilidade de
Ciências avaliação; identificar semelhanças e
diferenças; formatação e
experimentação de hipóteses;
interesse em conhecimento de
fenômeno naturais/científicos.
125
Instrumento elaborado por
Marques (2017), baseado na Teoria
do Projeto Spectrum de Gardner,
Lista de Feldman e Krechevsky (2001a;
avaliação do 2001b; 2001c), visando avaliar as
09
domínio do habilidades-chave dos domínios do
Movimento Movimento, tais como: controle
corporal; sensibilidade ao ritmo;
expressividade; criação de ideias;
responsabilidade à música.
Instrumento elaborado por Marques
(2017), baseado na Teoria do Projeto
Spectrum de Gardner, Feldman e
Krechevsky (2001a; 2001b; 2001c),
Lista de visando avaliar as habilidades-chave
10 avaliação do do domínio Espacial, como as
domínio Espacial seguintes: compreensão de relações
causais e funcionais; capacidade
visuoespacial; abordagem de solução
de problemas com objetos mecânicos;
habilidades motoras finas.
Instrumento elaborado por
Marques (2017), baseado na Teoria
do Projeto Spectrum de Gardner,
Feldman e; Krechevsky (2001a;
Lista de
2001b; 2001c), visando avaliar as
11 avaliação do
habilidades-chave dos domínios
domínio Social
Social, tais como: entendimento de
si mesmo; entendimento do outro;
liderança; facilitador;
cuidador/amigo.
Instrumento elaborado por
Marques (2017), baseado na Teoria
Lista de
do Projeto Spectrum de Gardner,
verificação do
12 Feldman e Krechevsky (2001a;
Estilo de
2001b; 2001c), visando descrever o
trabalho
processo pelo qual a criança aborda
e realiza determinadas atividades.
126
Instrumento elaborado por
Marques (2017), baseado nos
estudos de Virgolim (2014), para
Lista de
analisar com profundidade as
13 verificação da
características de criatividade
criatividade
voltadas à fluência, flexibilidade,
originalidade, elaboração e
expressão das emoções.
Instrumento elaborado por
Roteiro de
Marques (2017), respondido pela
entrevista não
professora do Ensino Fundamental,
estruturada para
14 com o objetivo de obter
a professora do
informações sobre o
Ensino
desenvolvimento escolar e social do
Fundamental I
aluno no âmbito do ensino regular.
Instrumento elaborado por
Roteiro de
Marques (2017), respondido pela
entrevista
professora de Educação Especial,
estruturada para
15 com o objetivo de obter
a professora de
informações sobre o
Educação
desenvolvimento escolar e social do
Especial (AEE)
aluno no âmbito da área.
Formulário elaborado por Delou
Formulário do (2012), com o objetivo planejar,
plano de organizar e estruturar o
16
atendimento Atendimento Educacional
individualizado Especializado para alunos(as) com
Altas Habilidades/Superdotação.
Elaborado por Pérez e Freitas
(2016), trata-se de um instrumento
utilizado para sistematizar os
Parecer
17 resultados de cada um dos
pedagógico
instrumentos usados para a
identificação dos indicadores de
Altas Habilidades/Superdotação.
Fonte: elaboração própria.
127
Contextualização da história de vida do aluno
128
calcular operações matemáticas simples de adição e
subtração e sempre ajudava sua irmã, que estava no 2o
ano do Ensino Fundamental, a fazer as tarefas. Em sala
de aula, ele era uma criança agressiva e estava sempre
relatando que achava a escola muito chata e que os(as)
amigos(as) só gostavam de brincar.
No período da identificação de precocidade, a
professora de Educação Infantil do aluno, orientada
pela professora/pesquisadora da área das Altas
Habilidades/Superdotação e precocidade, aplicou o
“Questionário de indicadores de precocidade dirigido
aos professores e pais de crianças da Educação
Infantil”, elaborado por Marques (2013) (cf. Anexo 2).
Para assegurar que os dados colhidos por meio do
instrumento dirigido à professora apresentassem
veracidade, aplicou-se o mesmo questionário de
indicadores de precocidade aos pais do aluno Lucas. A
importância de se utilizar mais de um instrumento para
avaliar o desempenho e o potencial da criança
enriquece os dados de informação.
Desta forma, comparou-se a relação de quantidade
de indicadores observados pela professora de Lucas e
com a quantidade observada pelos pais. É importante
ressaltar que, para identificar os indicadores de
precocidade, há a necessidade de que o(a) professor(a)
esteja, no mínimo, há seis meses em sala com o(a)
aluno(a), e mesmo o(a) professor(a) permaneça uma
grande parte do tempo com a criança em sala, os pais
tem mais autoridade para descrever o potencial de seus
filhos. Delou (2007) ressalta, neste sentido, que
129
não se pode ignorar o papel da família no
desenvolvimento dos talentos de seus membros, no
encorajamento de características que podem exigir ações
perseverantes, disponibilidade de acesso e modelos
próximos que sirvam de parâmetros para a formação.
Os pais e as mães têm a oportunidade, a possibilidade e
a responsabilidade de interagir de modo lúdico e verbal,
a fim de estimular positivamente as altas habilidades de
suas crianças e adolescentes, favorecendo a construção
de seu futuro (DELOU, 2007, p. 56).
130
facilidade em planejar cuidadosamente o uso do
espaço onde se encontra;
habilidade em organizar e agrupar objetos;
habilidade em interpretar mapas e gráficos mais
facilmente do que textos.
De acordo com Benito (2009), já na primeira
infância é possível que os pais identifiquem traços de
precocidade em seus(suas) filhos(as). Desta forma, para
que os pais de Lucas percebessem sinais de precocidade
dos seis meses aos quatro anos, elaborou-se um
instrumento baseado dos estudos de Benito (2009),
denominado “Lista de verificação para crianças com
indicadores de superdotação na primeira infância”
(MARQUES, 2013) (cf. Anexo 3). Esta ficha foi
preenchida pelos pais com o objetivo de se obter um
levantamento de algumas características de precocidade
nas seguintes áreas, apresentadas pelo aluno já nos
primeiros meses de vida: linguagem; cognitiva;
autoajuda; socialização e criatividade.
Oliveira (2014) ressalta a importância da observação,
por parte dos pais, de sinais que antecipam as
características de precocidade, evitando-se, assim,
problemas de comportamento, contribuindo com a
qualidade de vida das crianças e das famílias. Nesta
perspectiva, o Quadro 18 apresenta indicadores
relatados pelos pais do Lucas, relacionados aos seus
primeiros anos de vida.
131
Falou as primeiras frases por volta dos 12 meses
Conseguiu construir uma conversa completa por volta dos dois anos de
idade
Demostrou um vocabulário avançado para sua idade por volta dos dois
anos
Demonstrou curiosidade em conhecer novas palavras por volta dos três
anos
Reconheceu e classificou os membros familiares por volta dos dois anos
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
Aprendeu a contar até dez por volta dos dois anos
Facilidade em montar quebra-cabeça por volta dos dois anos e meio
Apresentou curiosidade pelo ambiente que o rodeia e desejo aprender
coisas novas por volta dos 18 meses de idade
Aprendeu pelo menos seis cores por volta dos dois anos
Aprendeu a ler por volta dos três anos
Aprendeu a ler vários livros de forma rápida por volta dos quatros
anos
Apresentou facilidade em memorizar histórias, músicas por volta dos
dois anos
Interessou pela escrita ortográfica das palavras por volta dos três anos
AUTOAJUDA
Facilidade com o controle de esfíncteres diurnos e noturnos por volta
de um ano e meio
Escolhia sua própria roupa por volta dos dois anos
Vestia-se sozinho por volta dos dois anos e meio
SOCIALIZAÇÃO
Relacionava e gostava de brincar com crianças maiores que sua idade
por volta dos quatro anos
Apresentava características de liderança nas brincadeiras por volta dos
três anos
Apresentou sensibilidade em ajudar o outro por volta dos três anos
Apresentou características de perfeccionismo por volta dos cinco anos
CRIATIVIDADE
Apresentou facilidade em desenvolver atividades artísticas, musicais
ou físicas por volta dos quatro anos
132
Inventava histórias, jogos ou situações criativas com facilidade por
volta dos quatro anos
Entendia e ria de situações engraçadas por volta dos quatro anos
Fonte: extraído de Marques (2013) adaptado de Benito (2009).
133
dos indicadores observados pela professora da
Educação Infantil e pelos pais apontam, no relatório
pedagógico, que o aluno apresentava as seguintes
características:
grande facilidade em utilizar o computador;
dificuldade de aceitar regras;
facilidade de aprender sozinho;
gosta muito de ver revistas que tratam de assuntos
políticos e conhecimentos gerais;
alto nível de curiosidade, criatividade e liderança;
apresenta fácil socialização com os(as) colegas;
prefere fazer amizades com crianças mais velhas.
No relatório realizado pela fonoaudióloga, foram
reunidas as seguintes informações sobre o Lucas:
apresentou linguagem oral adequada para idade no
aspecto fonológico e acima da média para os aspectos
semânticos, sintáticos e pragmáticos.
Já de acordo com relatório psicológico, durante as
atividades realizadas por Lucas, a profissional
observou que ele apresentava um desempenho
intelectual e de liderança acima da média se comparado
com crianças da sua faixa etária.
Nesta perspectiva, destacamos a importância de uma
equipe multidisciplinar para o processo de identificação
do(a) aluno(a) com Altas Habilidades/Superdotação, pois
de acordo com Mendonça, Mencia e Capellini (2015), para
este tipo de identificação deve-se utilizar múltiplas visões,
com diversos(as) profissionais envolvidos(as) e com
vários instrumentos e técnicas, considerando-se que o
potencial de indivíduos com indicadores de Altas
134
Habilidades/Superdotação pode ser expresso de
diferentes maneiras.
Assim, diante dos relatórios apresentados, as
profissionais envolvidas, junto ao Departamento
Pedagógico da Secretaria de Educação do município onde
Lucas residia e estudava, manifestaram parecer, conforme
documento particular, notificando que Lucas fosse
acelerado da fase seis da Educação Infantil para o 1o ano
do Ensino Fundamental, pois o aluno apresentava
precocidade na aprendizagem acadêmica, considerando -
se, desta forma, que a permanência do estudante por mais
um ano na Educação Infantil poderia desmotivá-lo.
Assim, diante dos relatórios apresentados pela equipe
multidisciplinar, as profissionais envolvidas e o
Departamento Pedagógico manifestaram-se favoráveis à
aceleração do estudante para o 1o ano do Ensino
Fundamental. Ressalta-se que recomendaram as
necessidades de um acompanhamento do estudante pela
equipe da Divisão de Educação Especial da Secretaria no
período de adaptação do Lucas ao Ensino Fundamental,
bem como de realização de avaliações periódicas, para
que fosse verificada a eventual necessidade de nova
aceleração ou de permanência no mesmo ano letivo.
135
136
CAPÍTULO 8
O PROCESSO DE ACELERAÇÃO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
137
a) por promoção, para alunos que cursaram, com
aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria
escola;
b) por transferência, para candidatos procedentes de
outras escolas;
c) independentemente de escolarização anterior,
mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau
de desenvolvimento e experiência do candidato e
permita sua inscrição na série ou etapa adequada,
conforme regulamentação do respectivo sistema de
ensino [...] (BRASIL, 1996, grifo nosso).
138
Diante desta realidade, entendemos que a
aceleração de Lucas, por meio da aprovação da
Secretaria Municipal de Educação, vem para mostrar o
avanço na luta pelos direitos de alunos(as) com
capacidade acima da média. Porém, em uma visão
geral – e levando-se em conta a estrutura educacional
das instituições escolares brasileiras –, um processo de
aceleração como o de Lucas muitas vezes não é bem
visto pelos(as) professores(as), dificultando-se, assim, o
desenvolvimento das potencialidades de alunos(as) que
apresentam indicadores de Altas Habilidades/
Superdotação. Nesta direção, no decorrer do percurso
escolar de Lucas, muitas foram as barreiras que
dificultaram o atendimento e a efetivação dos direitos
do aluno.
Quanto à aceleração no Ensino Fundamental, nesta
fase Lucas foi identificado como uma criança precoce.
Nessa perspectiva pode-se entender que nem sempre
o(a) aluno(a) precoce na Educação Infantil poderá ser
caracterizado como aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação. No entanto, diante desta
afirmação, surgiu o seguinte questionamento: Lucas é
apenas uma criança precoce ou já apresenta
características de Altas Habilidades/Superdotação?
Esta pergunta leva a outros questionamentos, tais
como: i) A precocidade é uma pré-característica do
comportamento da pessoa com Altas
Habilidades/Superdotação? ii) O(a) aluno(a) precoce,
quando não apresenta características de Altas
Habilidades/Superdotação, está apenas vivendo uma
139
fase precoce ou há falta de estímulo do ambiente para o
desenvolvimento das suas potencialidades?
Para responder estas perguntas realizou-se o
acompanhamento do Lucas, registrando suas
habilidades e interesses demostrados nos primeiros
anos de escolarização do Ensino Fundamental e
oferecendo várias oportunidades estimuladoras e
enriquecedoras para suas potencialidades. Assim,
quando o aluno estava no 1o ano do Ensino
Fundamental, realizou-se uma entrevista com os pais
para observar o desenvolvimento e a adaptação do
aluno após sua aceleração escolar. Já no 2o ano do
Ensino Fundamental, o aluno foi submetido a várias
formas de avaliações para a identificação das Altas
Habilidades/Superdotação. Nos anos seguintes (3o e 4o
ano do Ensino Fundamental), o aluno teve
Atendimento Educacional Especializado (AEE).
As informações analisadas nestas fases foram
coletadas, portanto, a partir de uma entrevista com os
pais do Lucas, cujo objetivo era o de obter maiores
informações sobre o seu desenvolvimento escolar e
social e seu processo de aceleração. Para a análise foram
elaborados questionamentos que são sistematizados no
Quadro 19.
No QUESTÕES RESPOSTAS
“Diante da desmotivação do
Como ocorreu o Lucas, a coordenação da escola,
1
processo de aceleração? junto com a Secretária Municipal
da Educação, avaliando a
140
situação, decidiram que ao invés
dele fazer o último ano da
Educação Infantil (fase 6) ele seria
acelerado para o primeiro ano do
Ensino Fundamental”.
Vocês foram orientados “A escola nos orientou a levar
pela escola sobre quais uma declaração emitida pela
os procedimentos coordenadora de Educação
2 necessários para o Especial, para a nova escola do
ingresso precoce do seu fundamental, autorizando a
filho no ensino matrícula do meu filho no 1o
fundamental? ano”.
“Não vimos ponto negativo neste
Na opinião de vocês,
processo de aceleração, foi tudo
quais foram os pontos
muito tranquilo, percebemos que
3 positivos e negativos
o Lucas ficou mais motivado a ir
sobre aceleração de seu
para escola depois da
filho?
aceleração”.
Seu filho teve
atendimento da
“O atendimento só começou
Educação Especial na
depois que ele entrou no Ensino
sala de recurso
4 Fundamental, na Educação
multifuncional? Este
Infantil ele não teve nenhum
atendimento ocorreu
atendimento especializado”.
antes ou depois da
aceleração?
“Na sala de aula, Lucas mesmo
acelerado ainda é um dos que
primeiro terminam as atividades.
Qual foi o Quando conversei com a
posicionamento da professora ela relatou que não
5 professora da sala de concordava muito com a
aula ao receber um aceleração do Lucas e que em
aluno acelerado? sala não iria adaptar o conteúdo
para ele, pois muita estimulação
poderia atrapalhar a
aprendizagem dele”.
141
“Lucas não encontrou
Como você descreve o dificuldades em fazer novas
comportamento de seu amizades, pois ele sempre
6
filho entre os amigos na preferiu amizades com crianças
escola? mais velhas. Ele está gostando
dos novos colegas de sala”.
“Ele está gostando bastante dos
atendimentos do AEE, pois ele
sempre chega relatando que
aprendeu algo novo. No entanto,
Como você descreve o
na sala de aula, ele reclama que
7 comportamento de seu
não gosta de ficar esperando os
filho na escola?
colegas terminar [sic] de copiar o
conteúdo da lousa. Ele fica triste
em ficar muito tempo sem fazer
nada em sala”.
“Sim, ele percebe que é uma
criança muito inteligente. Eu só
permiti que ele fosse acelerado
Seu filho se reconhece
pois ele me pediu para estudar
8 como uma criança
com crianças que sabiam escrever
precoce?
e ler como ele e não apenas
brincar, como acontecia na
Educação Infantil”.
Fonte: elaboração própria.
142
acadêmico, uma vez que ele(a) se sente desafiado(a) e
motivado(a). No caso de Lucas, o processo de
aceleração apresentou bons resultados, mas é
importante ressaltar que é necessário avaliar cada caso
individualmente, para decidir acelerar ou não uma
criança.
Oliveira e Almeida (2013) ressaltam que, entre as
condições para a tomada de decisão acerca de se
acelerar ou não um(a) aluno(a), são necessárias, antes,
uma avaliação psicológica do(a) aluno(a) (verificando-
se habilidades intelectuais, desempenho acadêmicos e
desenvolvimento socioemocional) e atitudes positivas
dos pais em face da aceleração e disposição de
professores(as) em ajudar este(a) aluno(a) a se ajustar à
nova situação.
Os autores enumeram algumas características
importantes para que a aceleração possa acontecer de
forma positiva:
143
Altas Habilidades/Superdotação. Sua adoção depende
das características, necessidades e contextos nos quais
estes indivíduos estão inseridos.
De acordo com o relato da mãe do Lucas, a maior
barreira encontrada no processo de aceleração foi
deparar-se com a falta de estrutura pedagógica e
educacional para o atendimento ao(à) aluno(a) em
processo de aceleração e que apresenta capacidades
acima da média.
O desconhecimento das escolas sobre os principais
objetivos da aceleração pode gerar ao indivíduo com
Altas Habilidades/Superdotação problemas em seu
desenvolvimento, além de descontentamento com a
escola, fracasso acadêmico, tédio, desmotivação e, em
casos mais graves, sintomas de depressão. Diante desta
realidade, é imprescindível que a escola saiba respeitar
e estimular o desenvolvimento de aprendizagem do
indivíduo. Para isso, é necessário que profissionais da
Educação, bem como os pais, tenham informações
adequadas sobre as formas de aceleração de ensino e
sobre como implementá-las, além de conhecimento
sobre seus direitos perante a legislação para que
possam lutar por um atendimento educacional de
qualidade para alunos(as) e filhos(as) com capacidade
acima da média.
Destarte, segundo Maia-Pinto e Fleith (2013), o
sucesso da aceleração está diretamente relacionado ao
acompanhamento sistematizado de todo processo de
aceleração, mantendo-se o foco da atenção nos diversos
aspectos do desenvolvimento do(a) aluno(a) e não
apenas no desenvolvimento acadêmico.
144
CAPÍTULO 9
145
Habilidades/Superdotação. Foi elaborado um critério
de avaliação para cada atividade de acordo com Teoria
de Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b) para
verificar o nível de desenvolvimento das habilidades-
chave de cada domínio, como mostra o Quadro 20.
146
Composição musical grupo
Compreensão de relações
casuais e funcionais
Capacidade visuoespacial
Domínio
Abordagem de soluções de
Espacial
problemas com objetos
mecânicos
Habilidades motoras finas
Artes Visuais: percepção
Artes Visuais:
Domínio das produção/representação
Artes Visuais
Talento artístico
Exploração
Controle corporal
Sensibilidade ao ritmo
Domínio do Expressividade
Movimento Criação de ideias de
movimento
Responsabilidade à música
Entendimento de si mesmo
Entendimento do outro
Vivência de papéis sociais
Domínio distintos
Social
Líder
Facilitador
Cuidador/amigo
Fonte: elaboração própria, com base nos dados coletados no
acompanhamento do aluno.
147
As atividades foram elaboradas de acordo com
cada domínio, de modo que o aluno realizou as
atividades sistematizadas e indicadas no Quadro 21.
DOMÍNIOS ATIVIDADES
148
educandos(as). Este mapeamento, segundo Pereira
(2014), pode ser realizado por meio de atividades
lúdicas, conversas e dinâmicas de grupo, elaboração de
listas, realizações de simulações, oficinas etc.
Ao fazer o mapeamento dos interesses de Lucas, foi
identificado seu grande interesse por um determinado
jogo de videogame. Desta forma, adaptou-se
pedagogicamente as etapas do próprio jogo. Diante da
visão de um currículo transdisciplinar, foi possível
integrar um mesmo domínio em várias atividades. Um
exemplo foram as atividades desenvolvidas na aula de
Educação Física, em que foram observados os domínios
Social, do Movimento e Espacial.
A partir da identificação das áreas de competência,
se tornaram visíveis aqueles domínios nos quais Lucas
mais se destacava e aqueles nos quais ele apresentava
dificuldade. Em cada uma das características dos
domínios, Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b)
identificaram capacidades-chave específicas para
descrever como e em quais situações eles se afloram
no(a) aluno(a).
Quanto à identificação dos domínios, foi elaborado
um critério de avaliação para verificar o nível de
desenvolvimento das habilidades-chave de cada
domínio, assim determinado: 0 (insuficiente); 1
(regular); 2 (satisfatório); 3 (satisfatório acima da
média). Também foi observado, no desenvolvimento
das atividades, o grau de criatividade e estilo de
trabalho do aluno, com critérios estabelecidos de
acordo com a “Lista de Verificação da Criatividade” (cf.
149
Anexo 13) e a “Lista de Verificação do Estilo de
Trabalho” (cf. Anexo 12)
150
uma história; e a terceira atividade, “Letroca”, visou o
enriquecimento vocabular do aluno.
Foram avaliadas as habilidades-chave de acordo
com a “Lista de avaliação do domínio da Linguagem”
(cf. Anexo 4), quais sejam:
narrativa inventada/narração de história;
linguagem descritiva/reportagem;
uso poético da linguagem/jogos de palavra.
São listadas, a seguir, as atividades propostas para
o referido domínio.
151
histórias e mais é maior do que quando estão
usando livros ilustrados, sem textos.
152
enredo “começo, meio e fim”. Para dificultar a
atividade e desafiar o(a) aluno(a), o(a) professor(a)
poderá esconder uma das peças e pedir para que,
ao organizar as fichas, o(a) aluno(a) identifique a
parte que está faltando.
ATIVIDADE 3: Letroca
153
minutos, o conto, preferindo a sequência de enredo do
início para o fim. Ao ser questionado sobre o que achou
da atividade, o aluno se lembrou do conto e deu a
seguinte resposta: “Eu achei muito fácil; esta história eu
ouvia quando estava na Educação Infantil”. Lucas
relatou, ainda, que achou a história “muito infantil”, e
que preferia ler jornais e revistas.
Na segunda atividade, o aluno teria de inventar
uma história para a qual poderia criar seu próprio
personagem empregando vários materiais (blocos de
montar, figuras e fantoches). Lucas, de início, não
queria realizar a atividade, relatando “ser muita chata”;
porém, quando viu a figura do personagem do jogo
Minecraft,7 logo se animou. Assim, ele escolheu usar os
blocos lógicos para contar sua história e, desta forma,
montou dois personagens, além de usar uma espada. O
aluno também apresentou muita facilidade de falar
inglês – esta é uma das suas habilidades que veio
demonstrando desde os cinco anos de idade. Narrou
uma história de aventura lançando mão de um rico
vocabulário de palavras, com falas construídas
adequadamente e respeitando-se a norma padrão da
língua portuguesa, além de conjugar verbos nos tempos
corretos e fazer um uso concordante de plurais.
154
Por fim, a última atividade, em que o aluno teria de
formar diferentes palavras usando somente as letras A-
E-I-O-U-M-S-R-T-D-B-C-L-J-N, foi executada
adequadamente.
Diante das análises sobre as atividades de
intervenção, foi possível avaliar o nível de domínio de
Linguagem, bem como as características do estilo de
trabalho e da criatividade que o aluno apresentou, com
resultados exitosos.
Lucas apresentou nível satisfatório acima da média
nas três categorias sugeridas por Gardner (2001) para o
domínio. Na categoria narrativa inventada/narração de
história, o aluno demonstrou criatividade, usando a
imaginação para narrar histórias e revelando interesse e
capacidade de planejamento e organização da
narrativa. Na categoria linguagem descritiva/
reportagem, Lucas descreveu detalhadamente cenas,
personagens e acontecimentos. Demonstrou, ainda,
interesse em explicar como as coisas funcionavam e/ou
descreveu procedimentos com exatidão, argumentando
ou investigando de maneira lógica. Por fim, na
categoria de uso poético da linguagem/jogos de
palavra, o aluno demonstrou facilidade em brincar com
o significado e os sons das palavras, além de ter
apresentado interesse em aprender novas palavras,
principalmente em inglês.
De acordo com a lista de observação do estilo de
trabalho desenvolvida por Gardner (2001), o aluno
apresentou animação, entusiasmo e atenção ao realizar
as atividades; ademais, demonstrou confiança, pois
conhecer a história sugerida facilitou o
155
desenvolvimento da atividade, diminuindo a
probabilidade de erro; apresentou, ainda, intensa
concentração para organizar as fichas das cenas da
história e para formar novas palavras também, pois
respondeu ao desafio das atividades com
equanimidade e, apesar das dificuldades, não desistiu,
tendo usado estratégias para organizar as cenas da
história de forma correta. Lucas demonstrou seriedade
ao executar as atividades, sem distrações, e relatou ter
gostado do que lhe foi sugerido. No mais demonstrou,
em uma das intervenções, uma frustação, pois relutou
ao terminar a atividade por achá-la muito infantil.
Com relação às características de criatividade
abordadas por Virgolim (2014), foi possível observar,
no aluno, a presença de características iguais,
relacionadas à: i) fluência, já que apresentou um grande
número de produção de ideias; ii) originalidade, já que
apresentou habilidades de reorganizar uma ideia em
uma nova forma; e iii) elaboração, já que demostrou
grande quantidade de detalhes presentes em uma única
ideia.
156
ajudar a criança a explorar as muitas facetas dos
números e as várias relações que existe entre eles; b) o
de fazer com que a criança reflita sobre a ação para
chegar a um entendimento; e c) o de encorajar a criança
a pensar e agir de forma autônoma em uma grande
diversidade de situações.
De acordo com estes princípios, foram planejadas
duas atividades usando jogos didáticos: o primeiro,
“Escala Cuisenaire”, e o segundo, “Jogo da mesada”.
As atividades deste domínio foram avaliadas a partir
de três habilidades-chave, de acordo com a “Lista de
avaliação do domínio de matemática” (cf. Anexo 5), a
saber:
Raciocínio numérico;
Raciocínio espacial;
Soluções lógicas de problemas.
São pontuadas, a seguir, as atividades propostas
para o referido domínio.
157
• Procedimentos: incialmente o(a) professor(a) pode
deixar o(a) aluno(a) explorar e conhecer o Jogo, até
mesmo pedir para que ele(a) construa figuras com
as peças. Depois de familiarizá-lo(a) com o
material, o(a) professor(a) pode fazer alguns
questionamentos, tais como: Como posso organizar
estas peças? Por que cada peça tem uma cor
diferente? Após decifrar a ordem e o valor de cada
uma das peças, o(a) professor(a) pode realizar
atividades de soma e subtração explorando-as, por
exemplo, com os seguintes questionamentos: Como
posso representar os números 54, 23, 15, 40?
Quantas barras vermelhas são necessárias para
completar “10”?
158
Na atividade “Escala Cuisenaire”, Lucas identificou
o valor de cada cor e apresentou facilidades para
memorização das cores no decorrer da atividade.
Assim, como desafio, a professora/pesquisadora pediu
para que ele representasse, de várias maneiras, o
número “10” sem usar a barra laranja. Ao pedir para
que representasse o número “33”, Lucas fez várias
contas mentalmente, até chegar ao resultado:
8 + 5 = 13;
2+3=5
+1=6
+ 6 = 12
+ 7 = 19
+ 1 = 20;
20 + 13 = 33
159
caía na casa do tabuleiro no qual tinha-se que “pagar
uma multa para o banco”, perdendo, assim, seu
dinheiro; nestes momentos foi possível observar a
preocupação que o aluno demonstrava em perder o
jogo, bem como seu espírito de competividade, sendo
que só ganharia quem, ao final do jogo, estivesse com
mais dinheiro. Várias vezes ele se preocupou em saber
qual jogador(a) possuía mais dinheiro.
O aluno obteve nível satisfatório acima da média
nas três habilidades-chave, pois na categoria de
raciocínio numérico foi ágil nos cálculos,
desenvolvendo atalhos sempre que possível; também
demostrou capacidade de fazer estimativas, quantificar
objetos e identificar reações numéricas. Na categoria de
raciocínio espacial demostrou facilidade em noção
espacial e imaginação para visualizar e conceituar um
problema. Já a habilidade de solução lógica de
problemas foi na que mais se destacou, pois focalizou
as relações e a estrutura global do problema em vez de
fatos isolados, fazendo interferências lógicas e
construindo suas próprias estratégias para encontrar
determinadas soluções.
No estilo de trabalho, o aluno apresentou facilidade
de entendimento e concentração para formar conjuntos
de “10” na atividade “Escala Cuisenaire”. Planejou
formas diferentes de representá-la, além de ter
demonstrado curiosidade, pois queria saber o
significado da palavra cuisenaire.8 Por fim, nos aspectos
criativos, Lucas apresentou fluência ao pensar em
160
soluções alternativas para formar os agrupamentos de
10 em 10 e flexibilidade para criar diferentes estratégias
de raciocínio.
161
do domínio Musical em atividades curriculares,
visando descobrir as diferentes sensibilidades e
habilidades e expandir o tipo e a profundidade das
oportunidades relacionadas à música, possíveis para
todas as crianças em sala de aula (GARDNER, 2001) (cf
Anexo 6).
As atividades planejadas foram “Loto musical” e
“Escrevendo uma música”. Ambas foram adaptadas de
Gardner, Feldman e Krechevsky (2001a; 2001b; 2001c) e
são pontuadas a seguir.
162
que o(a) aluno(a) ouça o som e escreva, em uma
folha de papel, o nome de cada instrumento.
163
“Escrever uma música”. Diante da atividade realizada,
foi possível avaliar o nível de habilidade musical em
cada uma das categorias do domínio. Nesta
perspectiva, o aluno mostrou pouco interesse pela área
musical, mesmo tendo apresentado algumas
características de percepção musical. Contudo, nas
atividades desenvolvidas com o aluno, não foi possível
verificar características de produção e composição
musical. No estilo de trabalho, o aluno demonstrou
relutância e hesitação ao desenvolver as atividades
propostas – por exemplo, na atividade “Loto musical”,
ele se mostrou um pouco irritado por não saber
responder quais eram os sons dos instrumentos;
apresentou insegurança ao escrever o nome do
instrumento por medo de errar e demonstrou atitudes
perfeccionistas.
164
ele(a) durante o ano todo e avaliar o corpo do trabalho
quanto a três componentes principais, quais sejam: o
nível de representação, o grau de exploração e o nível
de talento artístico.
Para o contexto de Lucas, respeitando-se o interesse
do aluno, foram propostas tarefas voltadas ao game
Minecraft. Assim, idealizou-se a atividade: “Meu
personagem favorito”. Sendo o domínio das Artes
Visuais uma área abrangente, voltada a um estudo
integrado de conteúdos variados, entendemos que
avaliar as habilidades-chave deste domínio somente a
partir destas categorias anteriormente citadas
delimitaria algumas capacidades que não poderiam ser
avaliadas; desta forma, foram analisadas, também,
algumas habilidades artísticas evidenciadas nas
atividades de outros domínios.
A atividade teve sua avaliação pautada em quatro
habilidades-chave, de acordo com a “Ficha de avaliação
do domínio das Artes Visuais: i) percepção; ii)
produção; iii) talento artístico; e iv) exploração (cf.
Anexo 7). Tem-se sua descrição a seguir.
165
que mais gostava; em seguida, pediu-se para que
ele desenhasse seu personagem favorito tendo
como base uma folha quadriculada. A proposta
desta atividade permitiu que o aluno explorasse
suas capacidades de criação e criatividade e
desenvolvesse seus aspectos de representações
visuais e espaciais, proporcionados, por sua vez,
pelo game.
166
trabalho o aluno apresentou persistência ao terminar a
atividade sendo que, ao início, demonstrou relutância.
167
conhecimento de fenômeno naturais/científicos. A
caracterização da atividade é pontuada a seguir.
ATIVIDADE: Astronomia
9 Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=
Qrqgontgwv4>. (mimeo).
10 Disponível em <http://www.oba.org.br/>.
168
nome de algumas constelações. A
professora/pesquisadora pediu para que o aluno fizesse
algumas anotações durante a apresentação do vídeo,
especialmente sobre o que ele achou mais curioso e
interessante para que, depois, fosse possível pesquisar
mais sobre os assuntos. Lucas achou interessante a
comparação entre os tamanhos dos planetas. Desta
forma, pediu-se para que ele fizesse um desenho sobre
este tema; ele se recusou, mas comentou que sempre
acessava um site de jogos sobre o sistema solar. Foi
quando ele pesquisou e encontrou o jogo “Ordenando
os planetas”.11 Com o mouse, colocou os planetas na
ordem correta. Percebeu-se que Lucas relacionou um
jogo para cada assunto proposto nos atendimentos que
envolveram a atividade, como também apresentou uma
grande facilidade para entender as regras de um jogo
que acabou de conhecer. A partir destas observações,
avaliou-se o nível do domínio das ciências do aluno.
O aluno apresentou grande interesse, pois nas
habilidades de observação foi capaz de descrever
detalhadamente a ordem e a cor de cada planeta; na
categoria de identificação de semelhanças e diferenças,
apresentou facilidade em comparar os tamanhos dos
planetas em relação ao Sol, como também de classificar
os planetas por ordem de tamanho. Já na habilidade de
formação e experimentação de hipóteses, Lucas fez
muitos questionamentos. E por fim, apresentou a
habilidade de interesse em/conhecimento de fenômenos
11 Disponível em <http://discoverykidsbrasil.uol.com.br/jogos/
ordenando-os-planetas/>. (mimeo).
169
naturais/científicos, pois se mostrou interessado em
aprofundar-se em conteúdos sobre astronomia.
Em relação ao estilo de trabalho, Lucas demostrou
entusiasmo ao estudar o tema, persistência em realizar
as atividades, confiança e segurança em discutir
assuntos deste âmbito, como também grande interesse
por pesquisar e estudar outras temáticas relacionadas
ao assunto. Diante deste envolvimento foi possível
observar seu nível de criatividade, destacado, de
acordo com Virgolim (2014), na fluência – pois
apresentou grande capacidade de elaboração de ideias
– e na flexibilidade – pois teve habilidade de fazer
diferentes conexões de ideias e de ver as coisas sob
diferentes pontos de vista.
170
De acordo com Gardner, Feldman e Krechevsky
(2001b), a consciência corporal-cinestésica do(a)
aluno(a) geralmente ocorre em estágios sequenciais: i)
o(a) aluno(a) recorre ao seu próprio corpo; ii) executa-se
uma variedade de movimentos e padrões; e iii) o seu
movimento é uma fonte de expressão criativa. Para os
autores, entender estes estágios e os diferentes ritmos
que cada criança cria é algo que pode ajudar no
planejamento de sessões de movimento em sala de
aula.
No contexto do estudo de caso, para a avaliação
deste domínio as observações ocorreram em atividades
realizada em sala de aula, bem como nas aulas de
Educação Física dos alunos. A atividade, realizada na
quadra escolar, foi “Passar a bola no túnel”, e em sala
de aula desenvolveu-se a atividade “Criar formas com
o corpo”.
Tais atividades foram avaliadas a partir de cinco
habilidades-chave, de acordo com a “Ficha de avaliação
do domínio do Movimento” (cf. Anexo 9): i) controle
corporal; ii) sensibilidade ao ritmo; iii) expressividade;
iv) criação de ideias de movimento; e v)
responsabilidade à música. As caracterizações de
ambas são pontuadas a seguir.
171
ser passada com os braços ao colega de trás, e por
baixo das pernas ao colega seguinte, e assim
sucessivamente, até que se chegue à última pessoa
da fila. Quem apanhar a bola deve correr para a
posição do início da fila, reiniciando a passagem.
172
alegava ser uma “brincadeira muito infantil”,
preferindo fazer alguma atividade no computador.
Consoante às descrições das habilidades-chave de
movimento propostas por Gardner (2001), observou-se
que Lucas gosta muito de futebol; no entanto, prefere
mais a parte tática e teórica do que a prática
propriamente dita. Mesmo assim, apresentou
dificuldades com jogos que exigissem o seguimento de
regras ou situações que envolvesse perder. Cabe
mencionar que a professora de Educação Física relatou
que o aluno, no começo do ano letivo, às vezes parava
de jogar pois “empacava” porque seu time estava
perdendo. Durante a realização das atividades o aluno
manifestou concentração na realização das atividades,
planejamento de estratégias em como jogar, mas
também frustação por ter de realizar uma atividade que
considerava infantil. Devido a este comportamento não
foi possível observar as particularidades da
criatividade do aluno.
173
observando a manifestação de suas características nas
ações pedagógicas do aluno em sala de aula,
compreendemos a importância de se avaliar e criar
estratégias educacionais para desenvolver estas
habilidades na escola, de modo geral.
Nesta perspectiva, tendo como base as
características da inteligência espacial, este domínio
corresponde às habilidades de relacionar padrões, de
perceber similaridades em formas espaciais e de
conceituar relações entre elas. Incluem-se, também, a
capacidade de visualização no espaço tridimensional e
a construção de modelos que auxiliem na orientação
espacial ou na transformação de um espaço. No Projeto
Spectrum, por exemplo, os indicadores que mais
proximamente correspondem a estas habilidades
encontram-se no domínio de Mecânica e Construção.
No contexto de Lucas, para a avaliação do domínio
Espacial, utilizou-se o jogo de videogame Minecraft. A
atividade proposta teve sua avaliação pautada nas
quatro habilidades-chave, de acordo com a “Ficha de
avaliação do domínio Espacial” (Anexo 10): i)
compreensão de relações casuais e funcionais; ii)
capacidades visuoespaciais; iii) abordagem de solução
de problemas com objetos mecânicos; e iv) habilidade
motora fina. Ela é descrita a seguir.
174
relato, se trata de um game de blocos virtuais de
construção inspirado no LEGO. Minecraft permite
criar casas, edifícios, monumentos e até naves
espaciais em escala real, e tudo isso pode ser
construído com peças em formato de cubo, o que
confere às criações um aspecto 3D. O Jogo trabalha,
na criança, a criatividade, a noção espacial e a
estratégia de planejamento. Em sala de aula o game
proporciona trabalhar com projetos não apenas
voltado ao domínio Espacial (porque trabalha a
construção tridimensional), mas também: o
domínio de Ciências (pois suas ferramentas
exploram noções de urbanismo e construção de
hipóteses); o domínio de Matemática (pois
trabalhar raciocínio lógico e abstrato); e o domínio
de Linguagem (pois para cada avatar o(a) aluno(a)
tem de montar uma história).
175
blocos para a construção da casa virtual de seu avatar.
Durante o jogo o aluno relatou que gostava muito de
programas que trabalhavam com desenhos para
construir casas e prédios.
Diante destas informações pode-se verificar que
Lucas apresentou capacidade de construir ou
reconstruir objetos em duas ou três dimensões; também
usou a abordagem de tentativa e erro para adquirir
novos conhecimentos; exibiu boa coordenação com
habilidade motora fina para executar os comandos do
jogo e demostrou, ainda, facilidade em representar, a
partir do jogo, ideias visuais e espaciais.
Neste domínio também foi possível notar que
Lucas expressou maior destaque em habilidades
espaciais voltadas à construção e à arquitetura. No
estilo de trabalho, o aluno apontou características de
concentração, observação, facilidade e agilidade de
comando no jogo, bem como persistência em descobrir
novas estratégias para mudar de fase, destacando sua
criatividade de elaboração.
176
crianças desenvolvam habilidades de reflexão,
observação e comunicação enquanto interagem com
seus iguais. Neste ponto de vista, a atividade social foi
a mesma sugerida para a verificação do domínio de
Movimento, com o objetivo específico de observar a
cooperação e o trabalho em equipe.
A atividade proposta teve sua avaliação pautada
nas cinco habilidades-chave, de acordo com a “Ficha de
avaliação do domínio Social” (cf. Anexo 11): i)
entendimento de si mesmo; ii) entendimento do outro;
iii) líder; iv) facilitador; e v) cuidador/amigo.
177
demonstrou preocupação em sempre querer ganhar, e
chamava a atenção dos amigos quando erravam e
prejudicavam o time na fila de Lucas, que estava em
busca de vencer; contudo, Lucas estava sempre
rodeado de alguns amigos com os quais mais se
identificava ao brincar. Em sala de aula, o aluno
desenvolveu algumas atividades em grupo; Lucas
aceitava com facilidade as opiniões dos demais
integrantes, mas pouco se manifestava na sugestão de
opiniões.
Percebeu-se em Lucas uma característica muito
forte de perfeccionismo; por isso, muitas vezes ele
demonstrou insegurança ao expor suas ideias em
grupo. Também preferiu, em certas situações, trabalhar
sozinho, mas nem por isso apresentou dificuldades de
socialização e/ou de fazer amizades. Neste contexto,
seu estilo de trabalho contempla muita observação e
preocupação com respostas certas.
O modelo de mapeamento das capacidades
proposta por Gardner, Feldman e Krechevsky (2001b)
oferece ao(à) aluno(a) a exploração de assuntos e temas
que, por sua vez, segundo Gama (2014), proporciona: a)
a interação do(a) aluno(a) com diferentes conceitos,
generalizações, princípios e teorias relacionadas a
questões e problemas significativos em domínios
variados; b) a exposição do(a) aluno(a) a diversas
crenças; c) a compreensão, pelo(a) aluno(a), das
principais questões não resolvidas numa área especifica
do saber; d) a oportunidade para o(a) aluno(a)
contribuir de forma original para uma área do saber; e)
178
a aplicação, pelo(a) aluno(a), do conhecimento vindo de
uma disciplina em novas áreas do saber.
À guisa de encerramento, o Quadro 22 apresenta,
de forma sintetizada, os níveis de desenvolvimento das
habilidades de cada um dos domínios observados em
Lucas.
179
Espacial casuais e funcionais da média
Satisfatório acima
Capacidade visuoespacial
da média
Abordagem de soluções de
Satisfatório acima
problemas com objetos
da média
mecânicos
Satisfatório acima
Habilidades motoras finas
da média
Artes visuais: percepção Satisfatório
Domínio
Artes visuais:
das Regular
produção/representação
Artes
Talento artístico Regular
Visuais
Exploração Regular
Controle corporal Satisfatório
Sensibilidade ao ritmo Regular
Domínio do Expressividade Regular
Movimento Criação de ideias de
Satisfatório
movimento
Responsabilidade à música Regular
Entendimento de si mesmo Satisfatório
Entendimento do outro Satisfatório
Domínio Vivência de papéis sociais
Satisfatório
Social distintos/Líder
Facilitador Satisfatório
Cuidador/amigo Satisfatório
Fonte: elaboração própria.
180
Quadro 23 - Resultados dos domínios do aluno.
DOMÍNI DOMÍNIO
OS DE DE
ALU CRIATIVI ESTILO DE
MAIOR MENOR
NO DADE TRABALHO
DESTA DESTA
QUE QUE
Confiança
Concentração
Uso de
Linguagem
Fluência estratégia
Matemática
Lucas Música Elaboração Facilidade de
Espacial
Originalidade compreensão
Ciências
das
atividades
Seriedade.
Fonte: elaboração própria, com base em Marques (2017).
181
conhecimentos e técnica ou na habilidade de executar
uma ou mais atividades de tipo especifico e em âmbito
restrito. Muitas habilidades específicas, contudo, talvez
não sejam facilmente medidas por teste; portanto, áreas
como belas artes e artes aplicadas, atletismo, liderança,
planejamento e habilidades de relações humanas devem
ser avaliadas por meio de observação, realizada por
profissionais experientes e por outras técnicas de
avaliação baseadas em desempenho (RENZULLI, 2014,
p. 236).
182
o aluno Lucas apresenta características de superdotação
do tipo acadêmico – que, segundo o autor, é um tipo de
Superdotação facilmente mensurado por testes de
inteligência, uma vez que valoriza principalmente os
conhecimentos adquiridos no contexto escolar, de
forma mais específica. As habilidades também
valorizadas na escola – a linguística e a lógico-
matemática – “[...] focalizam as habilidades analíticas,
em lugar das habilidades criativas ou práticas”
(RENZULLI, 2004, p. 82).
Outra observação que merece destaque é a
capacidade que Lucas apresentou para as áreas
tecnológicas e digitais, sendo que as atividades sempre
relacionavam o assunto discutido com um programa
computacional. o aluno também apresentou muita
destreza e rapidez de manuseio no uso do teclado, ao
digitar, e no uso mouse. Diante destas características
apresentadas pelo aluno, sentiu-se falta de um
instrumento de observação que pudesse avaliar o
domínio digital. Mesmo não sendo uma das propostas
de Howard Gardner criar uma “inteligência digital”,
existem estudos como os de Battro (2010) e de Battro e
Denham (2007) que defendem a existência desta nova
inteligência. Assim, Battro (2010) adverte que
183
procedimento heurístico, que achamos que sustenta o
desenvolvimento de uma inteligência digital.
Especificamente, o processo de debugging, ou seja, a
experiência informática de corrigir erros de
programação, é essencial na construção da novidade e,
mais amplamente, no processo criativo (BATTRO, 2010,
p. 298).
184
CAPÍTULO 10
185
aluno(a) com Altas Habilidades/Superdotação tem por
finalidade levar estes(as) profissionais a uma reflexão
constante a respeito de suas práticas pedagógicas. Para
isso, é necessário que haja mudanças educacionais,
visando a criação de estratégias inclusivas para uma
reelaboração dos projetos político-pedagógicos das
escolas e dos processos de formação e qualificação de
educadores(as).
A falta desta formação muitas vezes leva o(a)
professor(a) a dificultar o processo de identificação
do(a) aluno(a), levando este ao desinteresse pela escola.
Nesta visão, apresentamos o relato da professora de
2o ano do Ensino Fundamental de Lucas, coletado no mês
de outubro de 2013, época em que a professora já
conhecia bem o aluno. Foram analisados, em sua fala, os
seguintes fatores: i) o comportamento do aluno em sala de
aula; ii) a ação pedagógica da professora em relação do
aluno em sala de aula; iii) a identificação das Altas
Habilidades/Superdotação na concepção da professora;
iv) a participação dos pais na aprendizagem do aluno; e v)
as principais características do aluno (cf. Anexo 14).
No Quadro 24 são apontados os dados referentes à
concepção da professora em relação às características
do aluno com indicadores de Altas Habilidades/
Superdotação.
186
o assunto. O pouco que sei é que é
uma criança muito boa em todas as
áreas”.
“No ano passado, a professora do 1o
ano teve muitos problemas com ele,
pelo o que ela me relatava, ela o
Comportamento do aluno
considerava aluno um problema, pois
em sala de aula
por ter sido acelerado demostrava
muita imaturidade, e ela não sabia
lidar com isso”.
“Já no início do ano fiz um
diagnóstico com ele, e vi que ele já
veio alfabetizado do 1o ano, então eu
sempre coloco atrás os alunos já
Ação pedagógica da alfabetizados e na frente os que ainda
professora em relação ao apresentam muitas dificuldades; no
aluno em sala de aula começo, quando a mãe viu que ele
estava atrás, veio me questionar, aí
expliquei que fiz esta divisão, pois ele
apresenta muita facilidade em
aprender”.
A identificação das Altas “Eu não consigo ver o Lucas como
Habilidades/Superdotação aluno de destaque, um aluno
na concepção da brilhante, ele é inteligente tanto
professora quanto outros aqui da sala”.
“Os pais nunca tocaram no assunto
sobre a possível suspeita de
A participação dos pais na
superdotação do Lucas e nem tratam
aprendizagem do aluno
ele como estrela, eu acho isso muito
importante”.
“Ele é bom aluno em todas as
matérias, mas a que mais se destaca é
Principais características a Matemática. Em Português ele não
do aluno gosta muito de escrever e pintar. Ele é
muito sistemático, não gosta de ser
contrariado”.
Concepção sobre a “Em relação à aceleração eu não acho
temática de aceleração muito saudável, acho que não foi
187
muito bom para o Lucas, acho uma
judiação exigir dele o que ele não
consegue, acho que tudo que é
precoce não é bom, não faz bem.
Imagina nos outros anos, quando
começar a estudar sobre sexualidade,
ele estará imaturo em relação a sua
turma, isso pode atrapalhar muito a
socialização com os outros da sua
turma, pois ele sempre será o mais
novo”.
Fonte: elaboração própria, com base em Marques (2017).
188
outros atores da comunidade escolar – se faz
necessária. Destaque-se também que esta formação
carece de urgência, pois esses(as) educandos(as) se
encontram à margem, sem serem reconhecidos(as).
Devido à falta de conhecimento sobre alunos(as)
com alto potencial, muitas são as ideias errôneas que
surgem a respeito deste público, sendo a mais
decorrente achar que o(a) aluno(a) com Altas
Habilidades/Superdotação apresenta, simplesmente,
bom rendimento escolar. Diante disso, Alencar (2001)
afirma que
189
Atendimento no contexto da sala de recurso
multifuncional
190
Quanto à formação docente, a professora de
Educação Especial não teve, em sua formação inicial,
disciplinas voltadas à temática das Altas
Habilidades/Superdotação, e sua especialização em
Educação Especial era voltada a alunos(as) com
deficiência intelectual; no entanto, pode-se inferir que
ela foi uma profissional que, diante de um aluno com
alto potencial, não se mostrou insegura com o novo
desafio, pelo contrário, encontrou nele uma
oportunidade de adquirir novos conhecimentos sobre
uma temática a priori pouco conhecida por ela.
Quanto ao Atendimento Educacional Especializado
(AEE), ao se questionar sobre a matrícula do aluno com
Altas Habilidades/Superdotação no Censo Escolar das
escolas municipais da cidade onde o presente trabalho
foi desenvolvido, foi encontrada uma realidade que se
repete em nível nacional: um número insuficiente de
alunos(as) com Altas Habilidades/Superdotação
matriculados(as) no Censo Escolar12 em comparação
com outros(as) alunos(as) que compõem o PAEE.
Assim, dos(as) 4.730 estudantes matriculados(as) nos
anos iniciais, 110 são alunos(as) da Educação Especial;
no entanto, deste total de alunos público-alvo da
Educação Especial, apenas um está matriculado como
aluno com Altas Habilidades/Superdotação.
Contextualizando brevemente uma parcela da luta
da professora/pesquisadora e da professora de
Educação Especial para que o aluno fosse inserido no
Censo Escolar, a responsável pela Secretaria Municipal
de Educação da cidade justificou, à época, que só
191
poderia inserir o aluno no Censo Escolar caso os pais
apresentassem um laudo clínico. No entanto, essa
exigência é contraditória à Nota Técnica 04/2014, que
orienta as instituições educacionais quanto à
documentação comprobatória de alunos(as) com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
Altas Habilidades/Superdotação no Censo Escolar,
certificando que
192
os laudos clínicos dos alunos que compõem o PAEE.
Assim, de acordo com relatos da mãe de Lucas, os(as)
profissionais da referida instituição, até o momento da
procura, não tinham conhecimento sobre como avaliar
um(a) aluno(a) com Altas Habilidades/Superdotação.
Contudo, a triagem foi realizada e as descrições
realizadas a seguir estão de acordo com o relatório final
oferecido pelo Centro.
Para a realização da triagem aplicou-se o WISC-III
(Escala de Inteligência Wechsler para crianças, 3. ed.), e
constatou-se que o aluno apresentava um desempenho
geral muito acima da média, como também em tarefas
verbais e não verbais (execução). Na avaliação
fonoaudiológica e psicopedagógica, o aluno
comunicou-se verbalmente, iniciando e mantendo o
diálogo de maneira contextualizada, apresentando bom
vocabulário e estruturação de frases. Quanto aos
aspectos de audibilização e visualização, estes se
encontravam sem alteração.
Mediantes dados obtidos no Teste de Desempenho
Escolar (TDE), o aluno apresentou os seguintes
resultados, reunidos no Quadro 25.
193
referentes ao texto
corretamente.
Escreveu palavras simples
Conhecimento
e complexas de alta e
compatível com
baixa frequência sem
competências e
Escrita dificuldade. Escreveu
habilidades do 7o ano
frases e parágrafos
do Ensino
apresentando boa
Fundamental.
organização textual.
Apresentou conhecimento
Conhecimento
e facilidades de resolução
compatível com
nas quatro operações
competências e
Matemática (adição, subtração,
habilidades do 4o ano
multiplicação e divisão).
do Ensino
Resolveu problemas sem
Fundamental.
dificuldades.
Fonte: elaboração própria, com base em Marques (2017).
194
determinação e imaginação – não são avaliados por
testes de inteligência. Estes testes não identificam a
totalidade da potencialidade do indivíduo, apenas as
áreas acadêmicas.
Nesta reflexão, Gardner (1995) ressalta que
195
em sala de aula. No entanto, muitas foram as barreiras
encontradas pela profissional para oferecer um
atendimento de qualidade que pudesse atender às
necessidades do aluno. Uma delas foi a falta de
estrutura e materiais pedagógicos na sala de recurso
multifuncional voltada para o aluno com Altas
Habilidades/Superdotação. De acordo com a
professora, a verba enviada pelo MEC para investir em
materiais para a sala de recursos foi completamente
utilizada em materiais voltados para alunos(as) com
deficiência. Nesta visão, como mencionado
anteriormente, Guenther (2011) ressalta que a escola
está voltada para alunos(as) na média e abaixo da
média, mas nunca aos indivíduos com capacidade
acima da média. Ademais, uma das maiores
dificuldades encontradas pela professora foi propor
atividades diferenciadas que prendessem o interesse e
estimulassem as potencialidades do aluno.
Nesta perspectiva, entende-se que, para ser
professor(a) de um indivíduo com Altas
Habilidades/Superdotação, não é preciso ser, também,
uma pessoa com capacidade acima da média, mas é
importante que este(a) professor esteja comprometido
com sua atuação neste contexto. Neves-Pereira (2007)
defende a ideia de que uma formação de qualidade é
aquela que prepara o(a) professor(a) para ser
criativo(a), e para isso é necessário que ele(a) não tenha
apenas um conhecimento criativo, mas também um
domínio e um treino de suas próprias habilidades e
competências criativas.
196
Ser um(a) “professor(a) criativo(a)” não implica ter
indicadores de talento e capacidade elevada tal como
apresentam alunos(as) talentosos(as). O(a) professor(a)
criativo(a) é aquele(a) que tem uma postura de
avaliação e reflexão sobre sua própria prática, é
aquele(a) que tem uma formação multidisciplinar,
vinculada a um contexto sociocultural, permitindo à
escola e seus agentes que o sucesso seja alcançado. Por
fim, o(a) professor(a) que adota estratégias para
promover a criatividade em sala de aula, sem dúvidas,
tem mais chances de atuar de forma competente,
auxiliando, assim, seus(suas) alunos(as) a descobrirem
e realizarem seus potenciais e talentos (NEVES-
PEREIRA, 2007).
Após realizar um mapeamento das áreas de
interesse do(a) aluno(a) fica mais fácil definir os
objetivos, estratégias e metodologias que permitirão
alcançar as diferentes necessidades do(a) aluno(a) com
Altas Habilidades/Superdotação. De acordo com
Pereira (2014), do ponto de vista pedagógico, o
currículo a ser adotado deve ser flexível, dinâmico e
instigador. Já para Gama (2014), na adaptação
curricular para um(a) aluno(a) superdotado(a) é preciso
levar em conta as diferenças que separam este(a)
aluno(a) de seus pares da mesma idade, para que sejam
criadas oportunidades para aceleração de estudos,
observando-se a complexidade e o aprofundamento
dos assuntos estudados, a criatividade e a abstração.
A autora classifica os seguintes princípios
norteadores para a elaboração de um currículo
197
diferenciado para alunos(as) com Altas
Habilidades/Superdotação.
o conteúdo dos currículos para superdotados(as)
deve ser organizado para incluir o estudo mais
elaborado, complexo e profundo de ideias,
problemas e temas que integrem o conhecimento
de diferentes sistemas de pensamento;
o currículo deve facilitar o desenvolvimento e a
aplicação de habilidades de pensamento
produtivo, para permitir que os(as) alunos(as)
reconceitualizem o conhecimento existente ou
criem um conhecimento novo;
o currículo deve facilitar a exploração do
conhecimento em perpétua mutação e o
desenvolvimento da atitude de apreciação de busca
de conhecimento em um mundo aberto;
o currículo deve encorajar a exploração, a seleção e
o uso de fontes especializadas;
o currículo deve incentivar a aprendizagem e o
crescimento autoiniciados e autodirecionados;
o currículo deve facilitar o desenvolvimento de
autoconhecimento e do conhecimento das relações
com outras pessoas, instituições sociais, natureza e
cultura (GAMA, 2014, p. 391).
Nesta perspectiva, na trajetória escolar do aluno
considerado para a pesquisa em estudo, esta adaptação
curricular aconteceu sob a forma de enriquecimento
intracurricular, apenas nos atendimentos do AEE.
Segundo relatos da professora de Educação Especial, o
plano individual de ensino foi realizado a partir dos
interesses demostrados pelo aluno e registrado pela
198
professora para que ela pudesse refletir sobre os
objetivos que deram certo, analisá-los e determinar os
que precisariam ser alterados de acordo com a
realidade do atendimento.
Muitas das sessões de atendimento foram
observadas pela professora/pesquisadora sob diversos
aspectos, como por exemplo o da forma como a
professora planejava os atendimentos. Como um dos
objetivos foi o de desenvolver estratégias que
facilitassem o atendimento da professora de Educação
Especial ao aluno com Altas Habilidades/Superdotação,
a professora/pesquisadora sugeriu que a professora
planejasse as sessões de atendimento de acordo com o
plano de ensino individual para alunos com Altas
Habilidades Superdotação, elaborado por Delou (2014).
O referido plano é dividido em três etapas:
1a Etapa – apresenta os dados de identificação
do(a) aluno(a), da escola, do(a) professor(a) e do(a)
responsável. Identifica: o local onde será realizado
o AEE, quais serão os serviços de apoio; os recursos
pedagógicos e de acessibilidade disponíveis e
necessários; o número de atendimentos previstos e
realizados; e o período de aplicação do plano.
2a Etapa – define a finalidade do AEE nas
diferentes possibilidades. Assim, em três colunas,
o(a) professor(a) pode organizar seu planejamento
pedagógico. Na primeira coluna deve ser feita uma
breve descrição das áreas curriculares, dos
interesses e habilidades a serem trabalhados,
apontando-se os critérios de avaliação
correspondente. Na segunda coluna devem ser
199
descritos os recursos utilizados para o
desenvolvimento das experiências de
aprendizagem. Por fim, na terceira coluna, devem
ser descritas as atividades pedagógicas que serão
utilizadas para promover as experiências de
aprendizagem.
3a Etapa – apresenta fatores que facilitam a
elaboração do parecer final do(a) aluno(a) com
Altas Habilidades/Superdotação (cf. Anexo 16).
O Quadro 26 apresenta, de forma resumida, o
plano individual de ensino realizado pela professora e
utilizado de 2013 a 2016.
200
Número de atendimentos Cinco semestres de
realizados atendimentos
Período de aplicação do
De 2013 a 2016
plano
SEGUNDA ETAPA
Suplementação curricular
Finalidade do AEE
Enriquecimento curricular
Áreas curriculares – Pontos fortes – Recursos básicos –
Atividades
2013
1o semestre
Levantamento de interesses
Matemática: aprofundamento de conteúdo (conteúdo do 3o
ano do EF)
2o semestre
Levantamento de interesses
Matemática: Aprofundamento de Conteúdo (conteúdo do 4 o
ano do EF)
Português: Aprofundamento de Conteúdo (conteúdo do 3 o
ano do EF)
2014
1o semestre
Levantamento de interesses
ÁREAS/ATIVIDADES
Domínio de Matemática
Atividades de aprofundamento de matemática (frações e
números decimais)
Domínio Espacial
Domínio de Linguagem oral e escrita
Projeto Copa do Mundo (pesquisas: mapas dos principais
países participantes, dicionário alemão-português, construção
de um mini-campo de futebol com papel paraná, tinta e
201
materiais diversos, utilizando escalas para definir a metragem
correspondente à oficial, elaboração de uma tabela de jogos e
criação de hipóteses relativas aos resultados).
2o semestre
ÁREAS/ATIVIDADES
Domínio da Linguagem
Contação de história com diversos objetos
Organizando a história
Letroca
Domínio de Matemática
Escala Cuisenaire
Jogo da mesada
Domínio Musical
Loto musical
Escrevendo uma música
Domínio de Artes Visuais
Jogo Minecraft
Meu personagem favorito
Domínio das Ciências
Astronomia
Domínio do Movimento
Atividade com bola
Criar formas com o corpo
Domínio Espacial
Jogo Minecraft
Domínio Social
Atividades em grupo
Atividade com bola
2015
1o semestre
ÁREAS/ATIVIDADES
Domínio de Matemática
Domínio da Linguagem
Conhecimentos Tecnológicos
202
Levantamento de interesses do aluno
Construção de gráficos simples relacionando-os com frações e
números decimais
Construção de gráficos a partir de temas propostos pelo aluno
no levantamento de interesses (como o livro O Diário de um
Banana, de Jeff Kinney)
Atividades do livro O Diário de uma Banana – Faça você mesmo
Construção de um blog para que o aluno discorra sobre um
tema de seu interesse (no caso, Lucas quis abordar o tema
Minecraft)
Elaboração de pequena biografia para publicação no blog
Entrevista via Skype com o designer de games André
Rodrigues, sócio da agência Big Green Pillow
2o semestre
O AEE foi interrompido. A escola recebeu um aluno com
necessidade de acompanhamento constante em sala de aula, e a
professora da sala de recursos precisou cancelar seus
atendimentos para poder atender a esta demanda sob orientação
da direção escolar e da Secretaria Municipal de Educação.
2016
1o semestre
ÁREAS/ATIVIDADES
Domínio de Matemática
Domínio da Linguagem
Levantamento de interesses
Matemática: expressões numéricas (conteúdo do 5 o ano do EF)
Projeto FIFA: o aluno desenvolveu projeto de pesquisa a
respeito de seu jogo favorito (FIFA), procurando responder às
seguintes questões norteadoras:
o Origem e histórico do jogo: Quem foram os criadores?
Como tiveram a ideia? Quais foram suas influências?
o Qual é o lucro anual gerado pelo FIFA?
o Como é escolhido o jogador que estará na capa?
o Como funciona o esquema de atribuição de valores
203
aos jogadores?
2o semestre
ÁREAS/ATIVIDADES
Domínio de Matemática
Domínio das Ciências
Matemática: aprofundamento de frações (operações entre
frações, MMC)
Início do Projeto Big Bang (pesquisas sobre o tema, vídeos,
conversas sobre as diferentes teorias)
TERCEIRA ETAPA
Objetivos alcançados
Acompanhar o processo de adaptação da aceleração do aluno
Fazer com que o aluno tenha motivação e estimulo em
frequentar a escola
Identificar e estimular as áreas de interesse do aluno
Pesquisar e aprofundar os conteúdos que potencialize as
habilidades do aluno
Objetivos não alcançados
Estimular a atenção e o interesse do aluno em determinadas
atividades
Relacionar as atividades de AEE com os conteúdos em sala de
aula
Trocar informações com a professora da sala de aula sobre a
forma de aprender do aluno
Fonte: elaboração própria, com base em Marques (2017).
204
das áreas de destaque do(a) aluno(a);
das formas como o(a) aluno(a) prefere apresentar
os resultados de seus trabalhos;
da forma como o(a) aluno(a) aprende;
dos principais interesses do(a) aluno(a);
sobre em quais inteligências se manifestam as
características de Altas Habilidades/Superdotação;
do tipo de Altas Habilidades/Superdotação do(a)
aluno(a) (se do tipo acadêmico ou se produtivo-
criativo).
A análise dos objetivos não alcançados por meio
dos atendimentos torna evidente a falta de interação em
relação ao conteúdo da sala de aula e os conteúdos
propostos no âmbito do AEE. Nas falas do relato da
professora de sala de aula regular, é possível identificar
a difícil relação entre o aluno com Altas
Habilidades/Superdotação e a escola, dado o fato de
que esta não reconhece as potencialidades do aluno.
Para Neves-Pereira (2007), o ambiente educacional é
um local de grande importância para o
desenvolvimento de competências e habilidades. Nesse
sentido, a compreensão das necessidades e das
oportunidades de desenvolvimento do(a) aluno(a) com
superdotação é imprescindível para que as ofertas
educacionais atendam às expectativas e capacidades
desse público. Para isso, é necessário que a escola ajuste
as peculiaridades da superdotação com vistas à
inclusão do(a) aluno(a), já que a condição de indivíduo
com Altas Habilidades/Superdotação não permite a
estas pessoas a garantia de sucesso na escola, nos
205
contextos culturais, na adequação social ou na
realização profissional.
Foram várias as vezes em que a
professora/pesquisadora procurou a direção escolar
para propor uma formação ao corpo docente da escola.
No entanto, a direção justificava que este não era um
assunto que interessasse à equipe pedagógica uma vez
que esta gestão não acreditava ter, na escola, um(a)
aluno(a) superdotado(a). Assim, o atendimento ao
aluno só aconteceu em um ambiente não inclusivo das
Altas Habilidades/Superdotação devido à sensibilidade
e reconhecimento da professora de Educação Especial,
à persistência da professora/pesquisadora e à luta dos
pais de Lucas, a fim de que lhe fossem efetivados os
direitos garantidos por lei. Nesse sentido, no Capítulo a
seguir analisa-se a visão dos pais em relação à trajetória
acadêmica do filho com Altas Habilidades/
Superdotação.
206
CAPÍTULO 11
207
singularidade destes sujeitos, cujas preferências fogem
aos padrões da infância comum e que, desde cedo, se
dedicam a interesses para além daqueles compatíveis
com sua faixa etária.
Ao entrar na vida de Lucas, a
professora/pesquisadora encontrou pais que tinham
consciência das potencialidades do seu filho e se
preocupavam em satisfazer suas curiosidades, mas que
buscavam não estimular ainda mais a criança. Pais
inseguros e preocupados, sobretudo, com a luta pelos
direitos de inclusão educacional do filho.
O papel dos pais na trajetória escolar de Lucas foi
fundamental, pois a criança, em todas as fases da
pesquisa, apresentou maturidade e entendimento sobre
tudo o que estava acontecendo com seu processo
escolar. Em vários momentos, o aluno relatava que os
pais sempre explicavam o motivo pelo qual ele tinha de
passar por várias avaliações e o porquê de aprender de
forma diferente das outras crianças.
Sendo um dos objetivos desta pesquisa analisar a
concepção dos pais em relação à trajetória de
identificação e ao AEE de modo completo, realizou-se
uma entrevista com a mãe de Lucas no final do
segundo semestre de 2016, visto que em 2013 ela
também foi entrevistada para relatar, na sua visão,
como ocorreu a adaptação do aluno no processo de
aceleração. Assim, nesta fase, foram analisados os
seguintes tópicos: a) concepção de AEE; b) visão das
áreas de maior e menor interesse do filho; c) a
autoidentificação do filho superdotado; d)
comportamento do filho na escola e na família; e) o
208
processo de aceleração; f) laudo clínico; e g) concepção
sobre ter um filho com Altas Habilidades/
Superdotação. São aprofundadas, a seguir, as
discussões sobre cada um dos tópicos tendo em vista a
consolidação da entrevista (cf. Anexo 01).
De acordo com o relato da mãe, identificar as Altas
Habilidades/Superdotação em seu filho foi tarefa muito
importante, pois a partir deste momento ela conseguiu
compreender o comportamento de Lucas na escola,
tanto em relação aos conteúdos que ele abordava
quanto às atitudes e diferenças por ele demonstradas
perante os(as) colegas.
Em relação ao AEE, primeiro tópico discutido, a
mãe relatou o seguinte:
209
de formação a respeito da temática do indivíduo com
capacidades acima da média. Assim, de acordo com a
autora, professores(as) sem preparação especial ou
conhecimento da área das Altas habilidades/
Superdotação tendem a ser desinteressados(as) ou
mesmo hostis como relação a estes indivíduos.
Em relação às áreas de maior e menor interesse,
segundo tópico abordado, a entrevistada ressaltou que
Lucas acabou desenvolvendo um interesse muito
grande por montar estratégias relacionadas a futebol.
Ele não é o melhor jogador, mas consegue identificar
jogadas, táticas e posicionamentos importantes para a
melhoria do desempenho do time. Já nas áreas de
menor interesse, na Educação Infantil e no 1o ano do
Ensino Fundamental, Lucas nunca demostrou interesse
pelas Artes; no entanto, no 4o ano do Ensino
Fundamental ele passou a demonstrar um pouco mais
de gosto por desenhos e pinturas, mas ainda não se
trata de algo que chame muito sua atenção.
A professora/pesquisadora perguntou à mãe de
Lucas se, por acaso, ele se reconhecia como uma pessoa
com Altas Habilidades/Superdotação, e quais seriam os
pontos positivos e negativos em relação a este
reconhecimento. Sobre esta autoidentificação, ela
relatou o seguinte:
210
que ninguém, e isso é um ponto positivo (fragmento da
entrevista – relato da mãe).
211
ativa sobre o ambiente, com grande desejo de se
expressar e de se relacionar com os outros, acabam se
deparando com um ambiente entediante. Assim, um
indivíduo com capacidade acima da média que
constantemente espera que toda a turma aprenda
aquilo que ele já sabe (ou sabia antes de ir à escola)
pode acumular sentimentos de frustação e insatisfação.
Muitas vezes, a motivação e o entusiasmo do(a)
aluno(a) são abafados por pessoas mais interessadas em
forçar um ajustamento ou fazer com que ele(a) se
conforme com os padrões já determinados.
Como mencionado anteriormente, a entrevistada
relatou, em 2013, como foram a adaptação e o impacto
da aceleração na vida escolar de Lucas. Assim, em 2016,
a entrevista previu um tópico para analisar se algo se
alterou e melhorou ou não em relação ao processo de
aceleração.
212
mais baixos de motivação e autoestima, e mais
frequentemente eram rejeitados pelos(as) seus colegas
de escola. Especialmente aqueles indivíduos que, com
um Q.I igual ou superior a 180, que permaneciam em
sala de aula regular, apresentavam um elevado nível de
desajuste emocional.
Em sequência, a mãe foi questionada sobre quais
foram os pontos positivos e negativos após a emissão
do laudo para o diagnóstico de Altas
Habilidades/Superdotação de seu filho, exigido pela
Secretaria Municipal de Educação. A entrevistada
relatou que
213
apenas por identificar e não desenvolver um plano de
atendimento especializado, adequado e que promova
reconhecimento e inclusão do aluno no meio escolar.
No tópico seguinte, perguntou-se à mãe quais eram
as facilidades e dificuldades de se ter um filho com
Altas Habilidades/Superdotação. Ela respondeu o
seguinte:
214
grupos de discussão, é uma rica fonte de informações
para todos os integrantes e vidência como podem
ajudar-se descrevendo estratégias que tiveram sucesso
em determinadas situações (SABATELLA, 2008, p. 148).
215
216
CAPÍTULO 12
CONSIDERAÇÕES FINAIS
217
início deste estudo, que há poucas pesquisas voltadas à
avaliação e identificação das Altas Habilidades/
Superdotação a partir da Teoria das Inteligências
Múltiplas. Com isso, esta intervenção de ensino nos
proporcionou explorar habilidades nas quais o aluno
apresentou maior capacidade e aquelas em que poderá
desenvolver mais afeição, de acordo com o estímulo do
ambiente escolar.
Como resultado desta identificação na fase de
precocidade, o aluno apresentou habilidades acima da
média voltadas aos domínios da Linguagem, da
Matemática e Espacial. Estas características
permaneceram de modo frequente durante todo o
procedimento de identificação com o aluno, à época já
no Ensino Fundamental. Durante os quatro anos de
análise e de observação dos indicadores de Altas
Habilidades/Superdotação foi possível descrever o
desenvolvimento de outros domínios, tais como o das
Ciências, focado na temática da astronomia, bem como
uma facilidade de debater assuntos sobre Tecnologia.
Diante do levantamento destas características
torna-se possível afirmar que a precocidade foi um dos
traços oriundos do dado comportamental da
superdotação do aluno.
Nesta visão, acreditamos que nem toda criança
precoce apresentará características e comportamentos
indicadores de Altas Habilidades/Superdotação, mas a
pessoa com capacidade acima da média tem grandes
chances de ter sido uma criança precoce na infância.
A partir desses domínios foi possível identificar,
ainda, que o aluno apresenta Altas Habilidades/
218
Superdotação nas áreas acadêmicas. É muito provável
que estes domínios foram um dos motivos facilitadores
que fizeram com que a escola enxergasse as
potencialidades nas áreas acadêmicas a ponto de
acelerar o aluno. O processo de aceleração, sendo uma
das formas de atendimento especializado para
indivíduos com Altas Habilidades/Superdotação,
proporcionou a Lucas um ajustamento social e
cognitivo, permitindo assim um maior interesse em
frequentar a escola – interesse este que não havia na
fase da Educação Infantil. Contudo, a aceleração só teve
significado a partir do momento em que o aluno
começou a frequentar o AEE no contraturno.
É importante ressaltar que não basta apenas
identificar alunos(as) que apresentam Altas
Habilidades/Superdotação: é imprescindível que haja
um ajustamento do sistema educacional para melhor
atender às necessidades deste alunado. Assim, o
primeiro passo desta vicissitude é minimizar as
inseguranças e as dúvidas de professores(as) sobre
como planejar um currículo voltado para as
necessidades do indivíduo com capacidades acima da
média.
Sendo um dos objetivos organizar estratégias que
facilitassem a atuação de professores(as) de Educação
Especial no atendimento a indivíduos com Altas
Habilidades/Superdotação, a proposta do Projeto
Spectrum, de desenvolver habilidades-chave para
observar domínios específicos nos(as) alunos(as),
proporcionou à intervenção educacional meios para
enfatizar a importância de se reconhecer e estimular as
219
diversas capacidades cognitivas destas crianças e,
consequentemente, de oferecer subsídios para que
professores(as) desenvolvam as potencialidades de
seus(suas) alunos(a) em sala de aula, sejam eles(as)
indivíduos com Altas Habilidades/Superdotação ou
não. Porém, para que este objetivo se concretize é
necessário, primeiramente, isentar a insegurança
trazida por muitos(as) professores(as) que, diante de
tantas barreiras e falhas educacionais, não encontram
suporte para ou maneiras de identificar e desenvolver
as potencialidades específicas de cada aluno(a). Assim,
como proposta para futuros trabalhos, é dever do
sistema educacional proporcionar uma sólida formação
de professores(as), objetivando trabalhar com os(as)
educadores(as) pelo menos alguns conceitos e
estratégias práticas sobre como desenvolver atividades
que estimulem as potencialidades do(a) aluno(a) na
sala de aula, independente se há perfis de aprendizes
mais capazes ou não.
No escopo da pesquisa, após o mapeamento de
interesse, foi possível construir um plano individual de
ensino para o aluno acima da média, visando, à
professora, a realização de modificações ou adaptações
curriculares de acordo com suas capacidades. É
importante ressaltar que toda esta interação e a troca de
experiências entre a professora/pesquisadora e a
professora de Educação Especial só foi possível pois a
professora, mesmo apresentando pouco conhecimento
e formação sobre a temática das Altas
Habilidades/Superdotação, demostrou muito interesse
e motivação diante do desafio de atender um indivíduo
220
diferente do público-alvo das salas de recurso
multifuncional. No entanto, ela relatou que um dos
maiores desafios ainda está voltado à invisibilidade
desses indivíduos perante o sistema educacional, que
muito pouco ou nada investe em materiais específicos
destinados aos mais dotados.
Infelizmente, poucos são os(as) professores(as) que
se sentem motivados(as) a trabalhar em sala de aula as
potencialidades de seus(suas) alunos(as). A maioria
apresenta insegurança e até mesmo receio. Foi possível
detectar este comportamento na fala da professora do
Ensino Fundamental, que não acreditou ter, em sala de
aula, um aluno com Altas Habilidades/Superdotação,
mesmo com a apresentação, por parte dos pais, do
laudo exigido pela Secretaria de Educação do
município. Destarte, ainda que o aluno estivesse
respaldado legalmente diante não necessidade de
apresentação de um laudo clínico para garantir sua
inclusão escolar e seu Atendimento Educacional
Especializado, ele ainda enfrenta a dificuldade de
reafirmar, a todo tempo, sua identidade de
superdotado.
Da visão dos pais sobre ter um filho com Altas
Habilidades/Superdotação, drena-se a sensação de que
eles estão sozinhos na luta pela efetivação dos direitos
de seus(suas) filhos(as), de modo a garantir um ensino
adequado, que atenda às necessidades destas crianças.
É preciso que se invista em centros de apoio às crianças
e jovens com Altas Habilidades/Superdotação e aos
seus pais, pois a troca de experiências com outras
famílias que vivenciam a mesma realidade facilita nas
221
formas de reconhecimento e compreensão das
necessidades de seus filhos.
Por fim, pretende-se que, a partir do relato do caso
de Lucas e da leitura do presente estudos, as pessoas se
sensibilizem e se questionem sobre quais aspectos
existem, em nosso país, ou até mesmo em nossas salas
de aulas, e que efetivamente tenham sido
desenvolvidos de forma integral em prol das pessoas
que demostram um potencial acima da média.
222
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237
238
ANEXOS
239
240
ANEXO 1
241
9) Como foi a trajetória escolar dele? Quais os pontos positivos e
negativos?
242
ANEXO 2
QUESTIONÁRIO DE INDICADORES DE
PRECOCIDADE DIRIGIDO AOS PROFESSORES E
PAIS DE CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Residência:
__________________________________________________ Fone:
_____________
Nome do(a)
professor(a):_______________________________________ Etapa:
_____________
Nome da escola:
_________________________________________________ Período:
________
Nome do
responsável:___________________________________________
PERGUNTAS FREQUÊNCIA
Algumas Não
Não Sempre
vezes observado
ESTILO DE TRABALHO
243
1. As pessoas dizem
que ele(a) faz coisas
antes do esperado
para sua faixa etária?
2. Acrescenta
qualidades únicas
a uma tarefa?
3. Gosta de juntar
“coisas” para fazer
experimentos, com
interesse em
descobrir o que
acontece com elas?
4. Destaca-se do
grupo porque
trabalha sozinho(a),
não necessitando de
ajuda?
5. Apresenta
comportamentos
iguais aos das outras
crianças da mesma
idade?
6. Observa
atentamente e retém
informações a
respeito das coisas
que observa?
7. Expressa ideias
com facilidade
através de desenhos?
ÁREA LINGUÍSTICA
8. Inicia conversas
espontaneamente,
trazendo assuntos
diferenciados para sua
idade?
244
9. Expressa ideias
com facilidade
oralmente ou por
escrito?
10. Usa vocabulário
avançado para sua
idade?
11. Descreve um
objeto de várias
maneiras?
12. Tem facilidade
para representar um
objeto ou ideia de
várias maneiras?
ÁREA LÓGICO-MATEMÁTICA
13. Compreende o
significado de
conceitos numéricos
para além dos
números de 1 a 10?
14. Constrói uma
estratégia para
resolver um
problema?
15. Faz perguntas
para entender como
as coisas funcionam?
16. Tem facilidade
com quebra-cabeças,
utilizados por
crianças maiores que
sua faixa etária?
17. Demonstra
habilidade ao usar o
computador?
ÁREA INTRAPESSOAL
245
18. Concentra-se em
tópicos ou tarefas de
seu interesse?
19. Ë persistente nas
atividades que ele
mesmo escolhe para
fazer?
20. Manifesta senso
de humor
diferenciado para sua
idade?
21. Costuma criar
conflitos com os(as)
amigos(as), pois suas
ideias são diferentes
das dos(as)
companheiros(as)?
22. Consegue rir das
coisas engraçadas ou
erradas que faz?
ÁREA INTERPESSOAL
23. Prefere participar
em atividades
grupais?
24. Gosta de ensinar o
que sabe para as
demais crianças?
25. As outras crianças
buscam a sua
companhia, para
diferentes atividades?
26. Ajuda a resolver
conflitos entre
amigos(as)?
ÁREA CORPORAL-CINESTÉSICA
27. Expressa ideias
246
com facilidade
através da
dramatização?
28. Gosta de montar e
desmontar objetos,
para ver como
funcionam?
29. Prefere atividades
que incluam o
movimento,
destacando-se pela
harmonia dos
mesmos?
30. Gosta de
interpretar histórias,
poemas e canções?
ÁREA ESPACIAL
31. Junta objetos
imaginativamente
para construir algo?
32. Gosta de
organizar e agrupar
objetos?
33. Planeja
cuidadosamente o
uso do espaço?
ÁREA MUSICAL
34. Reproduz com
facilidade melodias e
músicas que acabou
de ouvir?
35. Canta ou
cantarola, com ritmo
e melodia, durante
outras atividades?
36. Experimenta os
247
objetos para criar
sons diferentes?
37. Tem facilidade em
aprender através da
música?
ÁREA NATURALISTÍCA
38. Fala muito sobre
seus bichinhos de
estimação ou sobre
lugares preferidos na
natureza?
39. Está
preocupado(a) e
defende os direitos
dos animais e da
natureza?
40. Gosta de fazer
projetos que envolva
a observação da
natureza?
248
ANEXO 3
249
Aprendeu a ler por volta dos três anos
Aprendeu a ler vários livros de forma rápida por
volta dos quatro anos
Apresentou facilidade em memorizar histórias,
músicas por volta dos dois anos
Interessou-se pela escrita ortográfica das palavras
por volta dos três anos
AUTOAJUDA SIM NÃO
Facilidade com o controle de esfíncteres diurnas e
noturnas por volta de um ano e meio
Escolhia sua própria roupa por volta dos dois anos
Se vestia sozinho(a) por volta dos dois anos e meio
SOCIALIZAÇÃO SIM NÃO
Se relacionava e gostava de brincar com crianças
com mais idade que a suapor volta dos quatro anos
Apresentava características de liderança nas
brincadeiras por volta dos três anos
Apresentou sensibilidade em ajudar por volta dos
três anos
Apresentou características de perfeccionismo por
volta dos cinco anos
CRIATIVIDADE SIM NÃO
Apresentou facilidade em desenvolver atividades
artísticas, musicais ou físicas por volta dos quatro
anos
Inventava histórias, jogos ou situações criativas com
facilidade por volta dos quatro anos
Entendia e ria de situações engraçadas desde os
quatro anos
Observação:
250
ANEXO 4
ÀS NÃO
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI
Narrativa inventada/narração de histórias
É imaginativo(a) e
original ao narrar
histórias
Gosta de ouvir ou ler
histórias
Revela interesse e
capacidade no
planejamento e no
desenvolvimento de
tramas (enredos), na
elaboração e na
motivação dos
personagens, na
descrição de cenários,
cenas ou estados de
ânimos, no uso de
diálogos etc.
Demonstra capacidade de
representar ou talento
dramático, incluindo um
estilo distinto,
expressividade ou
habilidade de
desempenhar diversos
papéis
Linguagem descritiva/reportagem
251
Apresenta relatos
coerentes de eventos,
sentimentos e
experiências (por
exemplo, usa uma
sequência correta e um
nível apropriado de
detalhes)
Rotula e descreve as
coisas com exatidão
Demonstra interesse em
explicar como as coisas
funcionam, ou em
descrever um
procedimento
Argumenta ou investiga
de modo lógico
Uso poético da linguagem/jogos de palavras
Aprecia e sabe fazer jogos
de palavras, como
trocadilhos, rimas e
metáforas
Brinca com os
significados e os sons das
palavras
Demonstra interesse em
aprender novas palavras
Usa as palavras de
maneira divertida
Fonte: extraído de Marques (2017).
252
ANEXO 5
ÀS NUNCA
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI
Raciocínio numérico
É hábil em cálculo
(por exemplo,
encontra atalho)
É capaz de fazer
estimativas
É competente ao
quantificar objetos e
informações (por
exemplo, mantendo
registro, criando
notações eficazes e
gráficas)
É capaz de
identificar relações
numéricas (por
exemplo,
probabilidade e
razão)
Raciocínio espacial
Descobre padrão
espacial
É hábil em xadrez
Usa a imaginação
para visualizar e
conceituar um
problema
Solução lógica de problemas
Focaliza as relações
e a estrutura global
253
do problema, em
vez de fatos
isolados
Faz interferências
lógicas
Generaliza regras
Desenvolve e usa
estratégias (por
exemplo, quando
joga algum jogo)
Fonte: extraído de Marques (2017).
254
ANEXO 6
ÀS NUNCA
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI
Percepção musical
É sensível à
dinâmica (alto e
baixo)
É sensível ao tempo
e aos padrões
rítmicos
Discrimina alturas
de som
Identifica estilos
musicais e de
diferentes músicos
Identifica diferentes
instrumentos e sons
Produção musical
É capaz de manter
um tom exato
É capaz de manter
o tempo e os
padrões rítmicos
exatos
Revela
expressividade
quando canta ou
toca algum
instrumento
É capaz de lembrar
ou reproduzir
propriedades
musicais de
músicos e outras
255
composições
Composição musical
Cria composições
simples em certos
sensos de início,
meio e fim
Cria sistemas
notacionais simples
Fonte: extraído de Marques (2017).
256
ANEXO 7
ÀS NUNCA
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI
Artes Visuais: percepção
Tem consciência dos
elementos visuais no
ambiente e no trabalho
de arte (por exemplo,
cor, linha, formas,
padrões, detalhes)
É sensível a estilos
artísticos diferentes
(por exemplo, é capaz de
distinguir arte abstrata
de realismo,
impressionismo etc.)
Artes visuais: produção/representação
É capaz de representar o
mundo visual com
exatidão em duas ou três
dimensões
É capaz de criar símbolos
reconhecíveis para objetos
comuns (por exemplo,
pessoas, vegetação, casa,
animais) e coordenar
elementos, espacialmente,
em um todo unificado
Usa proporções realistas,
características
detalhadas, escolha
deliberada de cores
257
Talento artístico
É capaz de usar vários
elementos de arte (por
exemplo, linha, cor,
forma) para descrever
emoções, produzir certos
efeitos e embelezar
desenhos ou trabalhos
tridimensionais
Transmite claramente o
humor através de
representações literais (por
exemplo, sol sorrindo, rosto
chorando) e aspectos
abstratos (por exemplo,
cores escuras ou linhas
caindo para expressar
tristeza); produz desenhos
ou esculturas que parecem
“alegres”, “tristes” ou
“poderosas”
Preocupa-se com a
decoração e o
embelezamento
Produz desenhos que são
coloridos, equilibrados,
rítmicos, ou com todas
essas características
Exploração
É flexível e inventivo(a) no
uso de materiais de arte
(por exemplo, experimenta
com tinta, giz, argila)
Usa linhas e formas para
gerar uma grande
variedade de formas (por
exemplo, abertas e
258
fechadas, explosivas e
controladas) em
trabalhos bidimensionais
ou tridimensionais
É capaz de executar
assuntos ou temas
variados (por exemplo,
pessoas, animais,
prédios, paisagens)
Fonte: extraída de Marques (2017).
259
ANEXO 8
ÀS NUNCA
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI
Habilidade de observação
Observa
cuidadosamente os
materiais para
aprender sobre suas
características físicas;
usa um ou mais
sentidos.
Com frequência,
percebe mudanças
no meio ambiente
(por exemplo, folhas
novas nas plantas,
insetos nas árvores,
mudanças sazonais
sutis);
Mostra interesse em
registrar observações
através de desenhos,
gráficos, cartões
sequenciais ou
outros métodos.
Identificação de semelhanças e diferenças
Gosta de comparar e
contrastar materiais,
eventos ou ambos;
Classifica materiais
e, geralmente, nota
260
semelhanças e
diferenças entre
espécies ou em
ambas (por exemplo,
compara caranguejo
e aranha).
Formação e experimentação de hipóteses
Faz predições com
base em observações;
Faz perguntas do
tipo “e se?”; explica
por que as coisas são
como são;
Realiza experimentos
simples e tem ideias
de experimentos
para testar hipóteses
próprias e alheias
(por exemplo, deixa
cair pedras pequenas
e grandes na água
para ver se uma
afunda mais rápido
do que as outras;
rega plantas com
tinta em vez de
água).
261
com o mundo
natural;
Manifesta interesse
por fenômenos
naturais ou materiais
relacionados, como
livros de história
natural, ao longo de
períodos de tempo
prolongados;
Costuma perguntar
sobre as coisas que
observa.
Fonte: extraído de Marques (2017).
262
ANEXO 9
ÀS NÃO
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI
Controle corporal
Revela consciência e
capacidade de isolar e
usar partes diferentes
do corpo
Planeja, organiza uma
sequência e executa
movimentos
eficientemente – os
movimentos não
parecem aleatórios ou
desconjuntados
Consegue repetir os
próprios movimentos
e os movimentos dos
outros
Sensibilidade ao ritmo
Move-se em sincronia
com ritmos estáveis
ou mutantes,
especialmente na
música (por exemplo,
a criança tenta
acompanhar o ritmo,
em vez de não
perceber ou
desconsiderar
mudanças rítmicas)
263
É capaz de estabelecer
um ritmo próprio e
regulá-lo para atingir
um efeito desejado
Expressividade
Evoca estado de
ânimo e imagens
através do
movimento, usando
gestos e posturas
corporais; o estímulo
pode ser uma imagem
verbal, um objeto ou
uma música
É capaz de responder
ao tom ou à
qualidade tonal de
um instrumento ou
seleção musical (por
exemplo, faz
movimentos leves e
fluidos com uma
música lírica e
movimentos fortes e
destacados com uma
marcha)
Criação de ideias de movimento
Tem ideias
interessantes e novas
de movimento,
verbalmente,
fisicamente ou ambos,
amplia ideias (por
exemplo, sugere que
os colegas ergam os
braços para
parecerem nuvens no
264
céu)
Responde
imediatamente a ideia
e imagens com
movimentos originais
Coreografa uma
dança simples,
ensinando-a aos
outros
Responsabilidade à música
Responde
diferentemente a
diferentes tipos de
músicas
Revela sensibilidade
ao ritmo e
expressividade ao
responder a música
Explora o espaço
disponível (vertical e
horizontal) com muita
liberdade
Antecipa os outros
em um espaço
compartilhado
Experimenta
movimentos do corpo
no espaço (por
exemplo, voltando-se
e girando)
Fonte: extraído de Marques (2017).
265
ANEXO 10
ÀS NUNCA
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI
Compreensão de relações casuais e funcionais
Infere relações com
base na observação
Compreende a
relação das partes
com o todo, função
dessas partes e
como elas são
montadas
Capacidade visuoespacial
É capaz de construir
ou reconstruir
objetos físicos e
máquinas simples
em duas ou três
dimensões
Compreende as
relações espaciais
entre as partes de
um objeto mecânico
Abordagem de soluções de problemas com objetos mecânicos
Usa a abordagem de
tentativa e erro,
e aprende a partir
dela
Usa uma
abordagem
sistemática para
resolver problemas
mecânicos
Compara e
266
generaliza
informações
Habilidades motoras finas
É hábil ao
manipular objetos
ou partes pequenas
Exibe boa
coordenação mão-
olho
(por exemplo, bate
com o martelo no
prego e não nos
dedos)
Fonte: extraído de Marques (2017).
267
ANEXO 11
ÀS NÃO
NÃO SEMPRE
VEZES OBSERVEI
Entendimento de si mesmo
Identifica as próprias
capacidades,
habilidades, interesses
e áreas de dificuldade
Reflete sobre os
próprios sentimentos,
experiências e
realizações
Utiliza essas reflexões
para compreender e
orientar o próprio
comportamento
Demonstra insight
sobre os fatores que
levam alguém a se sair
bem ou ter dificuldade
em uma área
Entendimento do outro
Demonstra conhecer
os colegas e suas
atividades
Presta atenção aos
outros
Reconhece os
pensamentos, os
sentimentos e as
capacidades alheias
Tira conclusões sobre
os outros com base em
suas atividades
268
Vivência de papéis sociais distintos/líder
Frequentemente inicia
e organiza atividades
Organiza as outras
crianças
Atribui papéis aos
outros
Explica como a
atividade é realizada
Supervisiona e dirige
atividades
Facilitador
Frequentemente
compartilha ideias,
informações e
habilidades com
outras crianças
Medeia conflitos
Convida outras
crianças para brincar
Amplia e elabora as
ideias das outras
crianças
Oferece ajuda quando
os outros precisam de
atenção
Cuidador/amigo
Consola as outras
crianças quando elas
estão chateadas
Demonstra
sensibilidade aos
sentimentos as outras
crianças
Demonstra saber do
que os amigos gostam
e não gostam
Fonte: extraída de Marques (2017).
269
ANEXO 12
ESTILOS DE
CARACTERÍSTICAS
TRABALHO
A criança inicia a atividade animada; presta
atenção e se adapta ao formato e ao conteúdo
Facilmente
da atividade. Às vezes a criança começa a
engajado
fazer uma atividade sozinha, antes mesmo
que o adulto explique como será a atividade.
A criança mostra resistência à estrutura da
atividade; pode precisar de que o adulto
Relutante em
reestruture a atividade; pode impor sua
engajar-se
própria agenda para mudar os objetivos da
atividade.
A criança parece à vontade com os materiais
e com sua capacidade; faz movimentos, dá
Confiante
respostas ou opiniões prontamente e com
segurança.
A criança segue hesitante depois de iniciar a
atividade; pode parecer insegura em relação
a como usar os materais, mesmo depois de
Hesitante uma explicação; resiste a dar respostas ou
continua buscando a aprovação ou o
reasseguramento do adulto; tem medo de
fazer movimentos errados.
A criança diverte-se com os materiais ou com
a atividade; usa os materiais facilmente,
Brincalhão
fazendo frequentes comentários espontâneos,
ou criando extensões divertidas da atividade.
A abordagem da criança à atividade é direta,
sem distrações; executa a atividade como se
Sério fosse “só trabalho, nenhum divertimento”;
porém, pode ser séria e demostrar que está
gostando da tarefa e dos materiais.
270
A criança demostra intensa concentração na
atividade ou no uso dos materiais; presta
atenção ao trabalho, apesar de distrações ao
Concentrado
seu redor (isso vai além do interesse, o foco
indica atenção e singularidade de propósito
incomuns por parte da criança).
A criança tem dificuldade de desligar-se das
atividades de sala de aula que a cercam,
Distraído
parece que sua atenção à tarefa aumenta e
diminui.
A criança dedica-se à atividade tenazmente,
responde aos desafios com equinimidade e
Persistente não desiste, apesar das dificuldades; também
pode ser persistente sem a presença de
qualquer dificuldade específica.
A criança tem dificuldade em resolver partes
desafiadoras ou frustrantes da atividade;
Frustrado pela
pode recorrer rapidamente ao adulto em
atividade
busca de soluções de problemas, ou
expressar relutância em terminar a atividade.
A criança não tem senso de continuidade;
Impulsivo trabalha tão rapidamente que fica
descuidada.
A criança comenta ou avalia seu trabalho,
fazendo revisão positiva ou negativa; parece
distanciar-se do processo concreto de
Reflexivo
trabalho ou brincar, para avaliar se seu
desempenho está de acordo com suas
expectativas.
Propenso a A criança precisa de muito tempo para
trabalhar preparar seu trabalho; trabalha lentamente e
lentamente metodicamente durante a atividade.
271
A criança conversa com os adultos enquanto
Conversador trabalha na atividade; inicia discussões
relacionadas ou não à atividade.
A criança fala muito pouco enquanto
trabalha na atividade, apenas quando a
Quieto atividade exige, porém a ausência de
conversa não é necessariamente devido a
desconforto ou hesitação.
A criança revela necessidade ou preferência
por começar a tarefa através de estímulos
Responde a
visuais (examinando cuidadosamente os
pistas visuais,
materias), de estímulo auditivo (ouvindo
auditivas ou
instruções, música) ou de estímulo
cinestésicas
cinestésicos (sentindo os materiais ou usando
o movimento para compreender melhor).
A criança usa materais ou informações
Demostra uma estrategicamente; declara seus objetivos e
abordagem depois começa a trabalhar para atingi-los,
planejadora muitas vezes descrevendo o próprio
progresso.
Emprega
A criança usa suas inclinações como um meio
habilidades
de se envolver em uma dada atividade ou
pessoais na
interpretá-la.
tarefa
A criança descobre um elemento divertido na
Diverte-se na área de conteúdo; é capaz de olhar a
área de atividade de fora, conforme ela foi definida, e
conteúdo descobrir uma faceta engraçada, irônica ou
inesperada.
A criança redefine materiais e atividades de
Usa os materiais
maneira singular, nova ou imaginativa.
de maneira
Observa como o uso inesperado afeta o
inesperadas
processo ou o produto da criança.
Demostra
A criança demostra prazer com seu sucesso
orgulho pela
na atividade.
realização
272
Presta atenção
A criança nota aspectos sutis de materiais ou
aos detalhes; é
atividades.
observadora
273
ANEXO 13
ÀS NÃO
SEMPRE NÃO
VEZES OBSERVEI
FLUÊNCIA
1. Capacidade de
produzir um
grande número de
ideias
2. Habilidade de
pensar soluções
alternativas para
um problema
3. Capacidade de
gerar um grande
número de
respostas
4. Capacidade de
pensar em muitas
ideias e fazer
muitos planos
FLEXIBILIDADE
5. Habilidade de
mudar sua forma
de pensar sobre
um problema ou
situação
6. Capacidade de
ver
as coisas sob
diferentes pontos
de vista
7. Habilidade de
pensar em ideias
alternativas para
274
diferentes
situações
8. Capacidade de
usar muitas e
diferentes
estratégias ou
abordagens
9. Capacidade de
fazer diferentes
conexões e deixar
o pensamento ir
em várias direções
ORIGINALIDADE
10. Habilidade de
pensar em ideias,
respostas e estilos
incomuns
11. Capacidade em
dar respostas
infrequentes e
raras
12. Habilidade de
criar coisas novas,
diferentes e únicas
13. Capacidade de
sintetizar e
reorganizar uma
ideia em nova
forma
14. Habilidade em
dar respostas nas
quais ninguém
antes pensou
ELABORAÇÃO
15. Habilidade de
expandir uma
ideia adicionando
detalhes
275
16. Capacidade em
dar respostas mais
elaboradas e
organizadas
17. Habilidade de
desenvolver uma
resposta, um estilo
ou uma ideia,
dando seus
detalhes
18. Habilidade em
clarificar ou
melhorar uma
ideia trabalhando
seus aspectos
constitutivos
19. Capacidade de
adicionar detalhes
específicos para
melhorar uma
ideia
20. Habilidade em
ver problemas
onde outros não
veem
EXPRESSÃO DAS EMOÇÕES
21. Capacidade de
fantasiar e de se
expressar
espontaneamente
22. Capacidade de
olhar o mundo sob
uma perspectiva
incomum
23. Sensibilidade
de entrar em
contato com si
mesmo por uma
276
perspectiva interna
24. Capacidade de
entender o
significado de uma
ideia num contexto
mais amplo
25. Habilidade de
produzir humor;
coragem para
correr riscos
Fonte: extraído de Marques (2017).
277
ANEXO 14
278
ANEXO 15
FORMAÇÃO
1. Descreva, em uma palavra, o que vem à sua mente quando
pensa em uma definição para o conceito de Altas Habilidades.
2. Descreva o que você entende serem as características e/ou
comportamentos de um aluno com Altas Habilidades.
3. Em sua formação você teve alguma disciplina sobre a temática
das Altas Habilidades ou Superdotação?
4. Em sua opinião, qual o papel do(a) educador(a) e da escola em
relação ao(à) aluno(a) com Altas Habilidades? Justifique sua
resposta.
5. Você tem experiência em sua prática docente para atender, em
sala de recurso, um(a) aluno(a) com Altas Habilidades ou
Superdotação?
279
10. Quais as áreas de interesse do aluno?
11. Quais as principais características que você observa no aluno
que o identifica como um aluno com Altas Habilidades ou
Superdotação?
12. Quais os avanços você observa no aluno a partir do
atendimento realizado?
13. Quais os foram os projetos realizados com o aluno durante os
atendimentos?
14. O aluno apresenta interesse nas atividades? Desiste facilmente
ou é persistente?
15. Em relação às estruturas e materiais da sala de AEE, você acha
que ela está adaptada para o atendimento ao aluno com Altas
Habilidades ou Superdotação?
16. Como professora de Educação Especial, quais foram as
dificuldades e/ou facilidades em atender o aluno com Altas
Habilidades ou Superdotação?
PROCESSO DE ACELERAÇÃO
17. Como aconteceu o processo de aceleração?
18. Quais foram os pontos positivos e/ou negativos que você
observou sobre o processo de aceleração do aluno?
PARECER PEDAGÓGICO
19. Como é feito o registro das atividades e o desenvolvimento do
aluno?
20. Você tem conhecimento do parecer pedagógico voltado para o
aluno com Altas Habilidades ou Superdotação?
PAIS
21. Em relação aos pais do aluno, você observa que existe estímulo
excessivo?
22. É uma família participativa no desenvolvimento do filho?
ESCOLA
23. A escola reconhece o aluno como um aluno com Altas
Habilidades ou Superdotação?
24. A professora da sala de aula relata que o aluno se destaca em
algumas áreas?
280
25. O aluno relata alguma dificuldade em relação à escola,
professores e colegas?
281
ANEXO 16
282
5. Como você descreve o comportamento de seu filho entre amigos e
familiares?
11. O que você acredita ser necessário para que sejam melhorados
o reconhecimento e atendimento da criança com Altas
Habilidades/Superdotação nas escolas do município?
283
ANEXO 17
284
285
286
SOBRE AS AUTORAS
287
Conselho Federal de Fonoaudiologia. Foi professora dos
Departamentos de Psicologia e de Metodologia do Ensino da
Universidade Federal da Paraíba e do Departamento de
Psicologia da Universidade Federal de São Carlos.
Atualmente é professora permanente do Programa de Pós-
Graduação em Educação Especial da Universidade Federal
de São Carlos com orientação no mestrado e doutorado e
supervisão de pós-doutorado. Foi membro do Conselho
Universitário da UFSCar, membro do Conselho do Curso de
Pós-Graduação em Educação Especial da UFSCar, Chefe e
Vice-Chefe do Departamento de Psicologia da UFSCar.
Possui publicações em capítulos de livros e artigos em
periódicos especializados. Tem participado de eventos
nacionais e internacionais sobre Educação Especial; emitido
pareceres para periódicos especializados e para editoras
universitárias públicas em Educação e Educação Especial.
288