Trabalho Sobretotação

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Psicopatologias do Desenvolvimento Sobredotação

Reflexões sobre as políticas Educacionais e Curriculares promotoras do


Sucesso Educativo nos jovens sobredotados.

Que mecanismos existem e orientações pedagógicas deveriam ser implementados no


ensino para dar respostas a jovens sobredotados?

Aurora de Almeida Ferreira e Maria de Lurdes de Almeida

Resumo
No presente trabalho, abordaremos os conceitos de sobredotação e
as características mais pertinentes que os jovens sobredotados apresentam.
Após termos dissertado acerca desta problemática tão actual e
preocupante, concluímos que é função da escola, da família e das
instituições dar respostas adequadas para preparar estes jovens de modo a
rentabilizar as suas capacidades excepcionais para intervirem activamente
na sociedade.
É um problema difícil porque a sobredotação nem sempre é
entendida como uma necessidade especial, que na realidade, é nas escolas
que as crianças sobredotadas encontram as maiores dificuldades de
adaptação. Daí o papel da escola na inclusão destes jovens.
Assim sendo, é na articulação conjugada entre os diferentes actores
do processo ensino-aprendizagem que se devem construir, firme e
conscientemente, caminhos desejáveis para favorecerem o sucesso
educativo destes jovens.

Palavras-Chave: inclusão, sobredotado, talentos, intervenção pedagógica

Introdução

No presente trabalho abordaremos a questão dos sobredotados e as


necessidades educativas específicas destes alunos, dando especial atenção à
inclusão, no âmbito de uma política socioeducativa de igualdade de oportunidades,
que a escola – dita agora uma escola inclusiva – se preocupe com os seus alunos
mais capazes e que deles possa esperar a excelência na sua aprendizagem e
rendimento académico.
Por outro lado, esta problemática ganha maior visibilidade se atendermos a
que, apesar das altas habilidades e elevados desempenhos em certas áreas
cognitivas, vários destes alunos sobredotados passam despercebidos no sistema
educativo ou, ainda, aparecem identificados apenas quando evidenciam particulares

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dificuldades de comportamento e de desenvolvimento. É função da escola accionar


mecanismos apropriados que detectem e intervenham, em tempo real, as capacidades
excepcionais dos sobredotados, tendo em vista a não desmotivação destas crianças
especiais, com perda profunda para elas próprias e para a sociedade.
Muito naturalmente, a sobredotação deve ser enquadrada nas actuais políticas
de integração escolar, mais concretamente no seio das "necessidades educativas
especiais", e como tal pode fazer apelo a diferentes formas de actuação. Toda a
educação deve ter como objectivo fundamental a promoção da excelência e o
desenvolvimento máximo do potencial humano em todas as áreas de realização,
atendendo às características e necessidades de cada aluno em particular.
Salienta-se, também o papel da Família e das Instituições ligadas à
sobredotação, tendo sempre em vista a promoção, o desenvolvimento do bem-estar, e
o encaminhamento dos talentos e capacidades destas crianças, que assegurem ao
jovem sobredotado um ambiente que leve em conta o seu ritmo de aprendizagem e
nível intelectual, no qual se sinta compreendido, aceite e estimulado nos seus
projectos.
Guenther (2000, p. 26) reforça a ideia de que “sela onde for que se localize a
área de acção, escola, família, estado, comunidade, cumpre definir a parcela directa
de responsabilidades, e derivar a tarefa imediata que compete a cada um.”

Conceito de sobredotação

“Seja qual for a definição mais consensual


de criança sobredotada… seu cérebro de
seis anos pode funcionar muito além dessa
idade cronológica, mas não deixa de
pertencer a um corpo de seis anos, com
emoções de seis anos” (Serra, 2004, p.18)

A problemática da sobredotação tem suscitado interesse por parte de diversos


investigadores ao longo dos tempos. São vários os termos utilizados para distinguir
indivíduos altamente capazes, talentosos ou inteligentes como “possuidor de altas
habilidades”, “sobredotado”, “talentoso”, “bem dotado”, …
Segundo Vilas Boas e Peixoto (2003) não existe um conceito unânime de
sobredotação, nem sequer quanto à questão do termo utilizado. Este surge sob várias

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nomenclaturas (supra citadas). No entanto os autores distinguem em primeiro plano a


sobredotação cognitiva e o talento especial.
No que toca à sobredotação cognitiva os autores balizam-na como a “ criança
com potencial cognitivo (ao nível de Q.I.) bastante acima da média do seu grupo
etário.” Por outro lado definem a criança com talento especial a que “manifestam
talento bastante acima da média do seu grupo etário, numa área específica (no
aspecto atlético, artístico, musical, etc)”. (Boas e Peixoto, 2003, p.21)
Jane Farias Chagas in Fleith e Alencar (2007) corrobora com a opinião dos
autores e, salienta, ainda para a dificuldade da terminologia para o estudo do tema,
onde refere que a variedade de definições e conceitos é dificultada pela existência de
mitos e ideias preconceituosas.

Chagas in Fleith e Alencar (2007) menciona que o termo

“altas habilidades dá maior ênfase ao desempenho do que as


características da pessoa, enquanto o termo superdotado sugere
habilidades extremas.”

Na sua linha de orientação preconiza o modelo dos “três anéis” de Renzulli e


Reis.
Renzulli e Reis (1985, 1986, 1997a, 1997b) citado por Chagas in Fleith e
Alencar (2007) definem o seu modelo como resultado da interacção entre três
factores: habilidade acima da média, desenvolvimento com a tarefa e criatividade que
estão presentes em certas pessoas, em certos momentos e sob certas circunstâncias.
No seu trabalho, definiu que esses três factores são básicos e estão articulados
entre si: elevada capacidade geral e/ou capacidades especificas acima da média,
elevados níveis de envolvimento nas tarefas (implica motivação, vontade de realizar
alguma coisa, perseverança e concentração) e por fim altos níveis de criatividade
(pensar em algo diferente, ver novos significados e implicações, retirar ideias de um
contexto e usá-las noutro). Estes três factores, segundo Renzulli, são fundamentais
para identificarmos uma criança sobredotada. No entanto, é imperativo evidenciar que
estes não podem ser considerados isoladamente para se tomar uma decisão, é
necessário que exista convergência entre eles.

Para a Chagas

“esses comportamentos são dinâmicos, complexos, temporais e


envolvem a interacção entre as habilidades cognitivas, os traços de

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personalidade e o ambiente onde o indivíduo está inserido.” (Chagas in


Fleith e Alencar, 2007, p. 16)

Monks, citado por Serra et al (2004), veio completar o modelo de Renzulli,


introduzindo o papel do meio ambiente – família, escola e grupo de pares – como
factor desencadeador do potencial de sobredotação.

Na óptica de Zenita Cunha Guenther (2000) a criança bem dotada e talentosa é

“primeiramente uma criança essencialmente igual a todas as outras


crianças. Portanto, muitos dos seus comportamentos e características são
atribuídos próprios de sua faixa etária e estágio de desenvolvimento em que
se encontra, e vão existir também nas outras crianças, como ser humanos
que são.”

Esta autora acrescenta, ainda, os factores culturais, geográficos, familiares na


formação do potencial do jovem sobredotado.
Também é importante referir as investigações efectuadas pelo investigador
americano Howard Gardner, Teoria das Inteligências Múltiplas, que definiu 7
inteligências a partir do conceito que o ser humano possui um conjunto de diferentes
capacidades: lógico-matemática; linguística; espacial; corpora-cinestésica;
interpessoal; intrapessoal e musical.
Falcão (1992) refere que a criança sobredotada é aquela que possui um
potencial humano de nível superior e frequência constante em qualquer uma, ou mais,
das áreas operacionais das Inteligências Múltiplas (I.M.), permitindo prognosticar, se
fornecidas adequadas oportunidades de desenvolvimento, um elevado grau de
competência específica, quer na solução de problemas, quer na criação de produtos
(Falcão, 1992, p.70).

As pessoas com altas capacidades ou com talentos excepcionais diferem dos


outros indivíduos pelas potencialidades que apresentam e pelo elevado nível de
execução e concretização de que são capazes nas suas áreas de interesse. Pode ser
uma forma de inteligência que se apresenta bastante desenvolvida e estruturada (por
exemplo: a lógica-matemática), uma alta habilidade (por exemplo: para a liderança) ou
um talento artístico (por exemplo: a criação musical). Tradicionalmente chamam-se
sobredotadas a estas pessoas mas o termo tende a ser substituído por "Indivíduo
Portador de Alta Capacidade".

Senos e Dinis (1998) definem, de um modo geral, que o sobredotado


“é visto como alguém que revela um desempenho saliente em
todas as suas actividades, alguém que revela um talento especial para uma

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ou várias expressões artísticas 8música, pintura, etc) ou como alguém, no


domínio do seu desempenho académico, está sempre bem preparado para
os exames, que é um estudante entusiasta e se dificuldades, ou, enfim, a
falta de melhor definição, alguém que possui uma inteligência superior
devidamente atestada por resultados obtidos em testes de inteligência.
Visto deste modo, não haveria razão para se tomar um cuidado
particular relativamente à escolarização destes alunos. Dir-se-ia que estes
alunos aprendem sempre bem, sejam quais forem as circunstâncias, boas
ou más que compõem o seu ambiente de estudo.
Todavia, entre os profissionais da educação, bem como na
comunidade científica, sabe-se que isto não corresponde à realidade.
Designadamente entre professores, existe a convicção de que estas
crianças experimentam dificuldades várias durante a sua escolaridade, pese
embora a relevância das suas qualidades particulares. Por outro lado,
múltiplos estudos têm demonstrado que existem crianças com
potencialidades extraordinárias que passam totalmente despercebidas aos
olhos dos professores e que, por vezes, são mesmo identificados por estes
como sendo alunos problemáticos, com dificuldades relacionadas com o seu
comportamento nas aulas, atenção, interesse pelas tarefas escolares,
desempenho social, etc.
Torna-se, portanto, necessário procurar uma definição para a
sobredotação que possibilite uma intervenção educativa bem sucedida, quer
no que diz respeito à criação de condições para a expressão e
desenvolvimento de qualidades excepcionais, quer para a resolução de
eventuais situações educativas problemáticas relativamente a estes alunos.”
(Senos e Dinis, 1998, p.5)

Alguns mitos contrapostos à realidade

Vilas Boas e Peixoto (2003) focaram certos conceitos de diversos autores no


que se refere a mitos ligados à sobredotação, tais como:

“As crianças sobredotadas são mais populares, melhores ajustadas


socialmente e mais felizes do que a média das crianças.”

As próprias crianças sentem-se diferentes e, muitas vezes, desconfortáveis na


sua relação com os outros, conduzindo frequentemente ao isolamento e à
exclusão social. É tão necessário ajudar a assumir a diferença, como ensinar
os colegas a aceitá-los como são. Uma iniciativa interessante é o encontro com
crianças idênticas, que partilham o mesmo entusiasmo. Funcionam como
grupos de terapia para estas crianças.

“As crianças sobredotadas costumam pertencer a classes sociais altas e


portanto, a distribuição do sobredotado não é aleatória.”

Não há razões científicas que permitam afirmar que os sobredotados


pertencem a classes médias ou socialmente privilegiadas, devido às condições
educativas ambientais, favorecedoras das potencialidades das crianças. As
crianças, por exemplo, dos países em guerra, de classes mais baixas se
usufruíssem das mesmas condições, as estatísticas já seriam diferentes.

“Criar programas especiais para crianças sobredotadas é um erro, pois


estamos a impedir que se desenvolvam a um ritmo normal, próprio da sua
idade.”

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As crianças sobredotadas necessitam de programas flexíveis que potenciem as


suas capacidades, não o fazer é o mesmo que à criança com dificuldades de
aprendizagem, não se adequar as estratégias necessárias ao seu
desenvolvimento. Os progressos têm que acompanhar o ritmo de
desenvolvimento e de aprendizagem de cada criança.

“Todas as crianças são sobredotadas e, consequentemente, não existe


qualquer grupo especial de crianças que necessita de uma educação
acelerada nas escolas.”

Cada criança tem as suas próprias potencialidades, pontos fortes e fracos. A


sobredotação cria uma Necessidade Educativa Especial (N.E.E.), tal como o
atraso mental ou o atraso de desenvolvimento.

“Uma educação diferenciada para as crianças sobredotadas ou talento


específico é criar elitismo e aumentar as diferenças entre as pessoas”

A educação tem ou deveria ter o objectivo de desenvolver ao máximo todas as


potencialidades da criança, para dar a cada uma a atenção específica que
necessita. O respeito pelas diferenças individuais é democracia. Pouco
democrático é não o fazer.

“Não se pode impedir uma criança sobredotada de atingir o seu potencial,


assim como não se pode mudar o seu destino (teoria do tiro de canhão)”

Esta noção é incorrecta, pois, se fosse verdadeira, ficaríamos livres de


qualquer responsabilidade especial, relativamente as estas crianças.

Características dos sobredotados

As crianças sobredotadas são acima de tudo crianças e têm direito a ser


tratadas como seres únicos (Silva, 1999). O mais importante é a realização da pessoa
e para atingir essa realização plena é necessário conhecer as suas capacidades e ter
acesso a oportunidades iguais para as desenvolver e colocá-las ao serviço da
comunidade. O ritmo mais rápido e todas as características subjacentes à sua
situação não podem ser esquecidas.
Os sobredotados apesar de apresentarem um perfil heterogéneo, apresentam
algumas características comuns.
Falcão (1992) cita os seis tipos de características enumerados por Joyce
Juntune no seu trabalho: o tipo intelectual que passa pela flexibilidade, fluência de
pensamento, capacidade de pensamento abstracto, produção de ideias e rapidez de
pensamento, elevada compreensão e memória, capacidade de resolver e lidar com
problemas; o tipo académico que evidencia aptidões académicas específicas,
motivação pelas disciplinas escolares do seu interesse, capacidade de avaliar,

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sintetizar e organizar o conhecimento e capacidade de produção académica; o tipo


criativo, relaciona-se com originalidade, imaginação, capacidade de resolução de
problemas de uma forma inventiva, sensibilidade e reacções por vezes extravagantes,
facilidade de auto-expressão, fluência e flexibilidade; o tipo social, revela capacidades
de liderança, auto-confiança e sucesso com os pares, fácil adaptação a situações
novas, preocupação com os problemas sociais, alto poder de persuasão e de
influência; o tipo talento especial que se destaca na área das artes ou técnicas
demonstrando alto desempenho; e finalmente, o tipo psicomotor que se caracteriza
por apresentar habilidades e interesse pelas actividades psicomotoras.
Senos e Dinis (1998) preconizam que o desempenho em provas destinadas a
determinar a inteligência (Q.I.) tem vindo a sofrer grandes contestações, pois falham
em áreas mais ligadas à criatividade, a persistência/perseverança, a concentração nas
tarefas.
Partindo da definição mais compreensiva de sobredotação, e na sequência dos
trabalhos de Renzulli, os autores estabeleceram um conjunto de características
comportamentais dos alunos sobredotados ou potencialmente sobredotados,
facilitando, deste modo a sua identificação no contexto de realização escolar, bem
como a organização da intervenção educativa com estas crianças e jovens.

CARACTERÍSTICAS NO PLANO DAS APRENDIZAGENS


 Vocabulário avançado para a idade e para o nível escolar;
 Hábitos de leitura independente (por iniciativa própria) preferencialmente por
livros que normalmente interessam a crianças ou jovens mais velhos;
 Domínio rápido da informação e facilidade na evocação de factos;
 Fácil compreensão de princípios subjacentes, capacidade para generalizar
conhecimentos, ideias e soluções;
 Resultados e/ou conhecimentos excepcionais numa ou mais áreas de
actividade ou de conhecimento.

CARACTERÍSTICAS MOTIVACIONAIS:
 Tendência a iniciar as suas próprias actividades;
 Persistência na realização e finalização de tarefas;
 Busca da perfeição;
 Aborrecimento face a tarefas de rotina.

CARACTERÍSTICAS NO PLANO DA CRIATIVIDADE


 Curiosidade elevada perante um grande número de coisas;

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 Originalidade na resolução de problemas e relacionamento de ideias;


 Pouco interesse pelas situações de conformismo.

CARACTERÍTICAS DE LIDERANÇA
 Autoconfiança e sucesso com os pares;
 Tendência a assumir a responsabilidade nas situações;
 Fácil adaptação às situações novas e às mudanças de rotina.

CARACTERÍSTICAS NOS PLANOS SOCIAL E DO JUÍZO MORAL


 Interesse e preocupação pelos problemas do mundo;
 Ideias e ambições muito elevadas;
 Juízo crítico face às suas capacidades e às dos outros;
 Interesse marcado para se relacionarem com indivíduos mais velhos e/ou
adultos.

Através das linhas orientadoras de investigadores dedicados a esta problemática,


compreendemos que a sobredotação devido à sua natureza multidimensional abarca
uma infinidade de características. Por essa razão, é essencial atender às
necessidades educativas especiais da criança sobredotada, para que as suas
competências não sejam debilitadas.

Intervenção Pedagógica das Entidades Oficiais, Família e Comunidade

“Todos nós, adultos de hoje, somos responsáveis pelo


futuro. Pais, mestres, homens públicos, sacerdotes e
escritores, artistas, cientistas, cidadãos comuns… a
todos caberá uma parcela de culpa, se a geração que
nos suceder na arena da vida tiver as mesmas
imperfeições da nossa, ou for pior que a nossa geração“.
(Helena Antipoff, citado por Vilas Boas e Peixoto, 2003,
p. 114).

As crianças sobredotadas apresentam um leque de características próprias que


poderão ser potencializadas se houver uma interacção conjunta da escola, família e
comunidade em geral.
Os alunos sobredotados chegam à escola desejosos de novas experiências,
conhecimentos e desafios, prontos para progredir e para desenvolver rapidamente

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aquisições importantes. Um dos problemas de que se depara o sobredotado é a falta


de capacidade que a escola tem em identificá-los e trabalhar com eles.
Almeida e Oliveira (2000, p. 44) in Vilas Boas e Peixoto (2003) mencionam que

“a escola, apesar de ser socialmente reconhecida como instituição


pedagógica por excelência, convive bastante mal com a diferença. A sua
organização, pelo menos nas fases iniciais, traduz uma maior preocupação
com a idade das crianças do que com as reais capacidades e competências
possuídas”.

Serra (s.d.), alude que

“À escola cabe tornar-se meio propulsor do aparecimento e


desenvolvimento das suas potencialidades. A não promoção de ambientes
criativos, falta de estímulos, de recursos, de oportunidades, o não
atendimento diferenciado em função das suas características e
necessidades individuais, constituem, frequentemente as causas do não
desabrochar de capacidades latentes ou da perda de capacidades
reveladas.” (Serra, p. 73)

Tendo em conta que como refere Paixão cit por Departamento da Educação
Básica (1998), será na escola para todos, na escola inclusiva, que se devem colocar
os problemas das crianças precoces e com capacidades acima da média.
São as características da criança sobredotada que, segundo Serra (2004), lhe
conferem um diferente “estar em tarefa” e “estar em relação” que podem fazer
desencadear reacções diversas, nos vários contextos do seu quotidiano. Verifica se
assim, a importância do contexto educativo na vida da criança sobredotada. “O
ambiente educativo em que se processa o desenvolvimento das crianças e,
particularmente, a escola, joga um papel decisivo na sobredotação, cabendo-lhe a
responsabilidade de criar oportunidade e experiências de aprendizagem favoráveis ao
desenvolvimento e expressão da sobredotação. […] O ajustamento da qualidade das
respostas educativas produzidas pela escola, relativamente aos alunos sobredotados,
poderá contribuir para a construção de uma prática pedagógica mais centrada nas
particularidades psicológicas, sociais, cognitivas, que fazem de cada criança e jovem
um sujeito único, cujo direito à diferença e à valorização das suas potencialidades e
competências deverá constituir a finalidade central do sistema educativo” (Ministério
da Educação – Departamento de Ensino Básico, 1998 cit por Serra, 2004, pp. 48-49)
Desta forma, é necessário que o educador/professor adeqúem a sua
intervenção educativa: identificando as crianças e jovens sobredotados, reconhecendo
e intervindo segundo as suas necessidades educativas, avaliando constantemente se
as suas metodologias são adequadas e contribuem para o crescimento efectivo destes
alunos.

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Segundo Serra (s.d.) um programa de educação para os sobredotados


preconiza que este esteja organizado com vista a “aceleração, a complexidade e o
aprofundamento, bem como todo o material suplementar necessário”.
Cabe à escola em geral, e ao professor em particular, proporcionar aos alunos
sobredotados, o estabelecimento de estratégias de identificação e de inclusão, para
haja uma maior adaptação ao ambiente escolar, pois uma identificação vaga e um
atendimento inadequado podem colocar o aluno em risco de fracasso escolar,
comprometendo inclusivamente o seu desenvolvimento sócio-emocional, impedindo-o
de aproveitar plenamente o seu potencial.
Em termos de metodologia e estratégias de ensino e outras actividades de
enriquecimento curriculares, cabe a escola a criação de ambientes criativos,
estimulantes, recursos e programas próprios para que estes alunos possam ter um
desenvolvimento pleno de suas capacidades especiais.
Um contexto educativo apropriado parece favorecer o auto-conceito dos
sobredotados. A par da escola, também a família acaba por ter um importante papel.
Segundo Serra (s.d.) à família cabe abrir um vasto leque de experiências de
vida e enriquecimento (através de estímulos, relações afectivas, vivências do dia-a-
dia, materiais apropriados para jogos, boa organização do ambiente, uma boa
comunicação oral) para se conseguir uma harmonia e equilíbrio do sobredotado.
Vilas Boas e Peixoto (2003, p.62) alertam para a importância do
acompanhamento das famílias de crianças sobredotadas.
“É importante atender e orientar as famílias de sobredotados, se
pretendermos dar uma boa ajuda para que a criança desenvolva o seu
potencial de uma forma adequada”.

Estes autores, reforçam que

“as crianças sobredotadas que aparecem no seio da família afecta, não só


as relações entre os pais, mas também entre irmãos: os outros irmãos
podem sentir que não são tão importantes ou podem sentir-se mais
valorizados por terem no seu seio alguém a quem se dá valor.”(Vilas Boas,
Peixoto, 2003,p. 65).

Para que os pais ajudem os seus filhos a crescer e a atingir o máximo das suas
potencialidades devem aprender a ouvi-los, a ter confiança neles estimulando-lhes o
sentido de iniciativa e independência, desenvolver-lhes a sociabilidade colocando-os
em contacto com crianças interessadas em assuntos comuns e proporcionar-lhes o
maior número de experiências possíveis.

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Estimular a ligação entre a família, a escola e outras entidades, é a chave para


uma relação cheia d e êxito.
A promoção de actividades de enriquecimento em horários extra curriculares
através de clubes ou cursos em áreas específicas torna-se frequente.
A Associação Portuguesa das Crianças Sobredotadas (A.P.C.S.) organiza
actividades de enriquecimento, através do programa “Sábados diferentes”.
A Associação Nacional para o Estudo e a Intervenção na Sobredotação
(ANEIS) implementa, em várias capitais de Distrito, programas de enriquecimento nas
manhãs de sábado e nas férias de verão. O ETC... é um campo de férias destinado a
adolescentes e jovens com altas habilidades e talentos de todo o país. Trata-se de
uma iniciativa que segue os objectivos gerais dos programas de enriquecimento da
ANEIS, fomentando o desenvolvimento de aptidões, interesses, conhecimentos e
competências.
O programa P.E.D.A.I.S., Programa de Enriquecimento nos Domínios da
Aptidão, Interesse e Socialização, tem como objectivos a promoção cognitiva,
desenvolvimento de competências de relacionamento interpessoal, capacitação na
área das expressões, diversificação e aprofundamento em áreas vocacionais e em
interesse de pesquisa e promoção de uma maior auto-estima.

Metodologia Adoptada

Este trabalho surge da necessidade de perceber em que medida a


organização/funcionamento das escolas condiciona a inclusão das crianças
sobredotadas.
A opção metodológica tomada será, pois, a realização de um estudo de caso,
através de uma abordagem qualitativa que integra componentes qualitativos e
quantitativos.
Após uma sumária revisão bibliográfica e tendo em conta a definição dos
objectivos do presente trabalho formulámos o seguinte problema:
“Que mecanismos existem e orientações pedagógicas deveriam ser
implementados no ensino para dar respostas a jovens sobredotados?”
Assim, questionamos neste trabalho, a eficácia das práticas pedagógicas, as
relações familiares e outras instituições que lidam directamente com sobredotados.

Conclusão

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Psicopatologias do Desenvolvimento Sobredotação

Com este trabalho pretendeu-se abordar a problemática da inclusão das


crianças sobredotadas na escola e se esta define-se como inclusiva, no sentido de dar
respostas adequadas a estes jovens, pois a sobredotação, nem sempre é entendida
como uma necessidade educativa especial mas, na realidade, é nas escolas que as
crianças sobredotadas encontram as maiores dificuldades de adaptação.
Na literatura revista o termo sobredotação é abordado sob diferentes
terminologias que variaram ao longo dos tempos.
Convém ainda referir a distinção entre sobredotação e precocidade, pois um
desenvolvimento acelerado em idades mais precoces numa ou mais áreas, nem
sempre traduz a evidência de sobredotação.
Longe de reunir consensos, a definição de uma criança sobredotada varia entre
um Q.I. superior e a constatação de competências e talentos acima da média para a
sua idade. Estes preconizam a perfeição, apresentam uma comunicação elaborada
para a idade, são criativos e são sensíveis a causas actuais. Mas mais do que a
procura de consensos em torno da questão, o principal problema associado às
crianças sobredotadas reside no tipo de respostas que a família, a escola e a
sociedade podem oferecer, permitindo o desenvolvimento das suas capacidades sem
riscos de discriminação/segregação face às outras crianças.
Assim, uma intervenção educativa eficaz exige que o professor possa
identificar as crianças sobredotadas, a partir de determinados indicadores
comportamentais, conheça as suas necessidades educativas a nível psicológico,
social e cognitivo, adeqúe as suas práticas a essas necessidades e avalie se as
metodologias escolhidas contribuem para o enriquecimento efectivo destes alunos.
Salienta-se, ainda, o papel da comunidade em geral e das associações em
particular, na organização e pragmatismo de programas e encontros que visem o
desenvolvimento dos jovens sobredotados e das suas famílias.

Bibliografia

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