1.-Marx-e-Engels-sobre-a-acumulação-primitiva
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capitalismo:
“As descobertas de ouro e de prata na América, o extermínio, a escravização das populações indígenas,
forçadas a trabalhar no interior das minas, o início da conquista e pilhagem das Índias Orientais e a
transformação da África num vasto campo de caçada lucrativa são os acontecimentos que marcam os albores
da era da produção capitalista. Estes processos idílicos são fatores fundamentais da acumulação primitiva.
(...)
As diferentes formas da acumulação primitiva distribuem-se agora mais ou menos por ordem cronológica,
especialmente pela Espanha, Portugal, Holanda, França e Inglaterra. Na Inglaterra, no fim do século XVII, são
coordenados através de vários sistemas: o colonial, o das dívidas públicas, o moderno regime tributário e o
protecionismo. Estes métodos dependem em parte da força bruta, como por exemplo, o sistema colonial.”
Marx, Karl, O Capital, Livro I, Volume 2, página 867, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1980.
“Não cabe dúvida alguma – e precisamente este fato suscitou concepções inteiramente falsas – de que, nos
séculos XVI e XVII, as grandes revoluções que tiveram lugar no comércio com os descobrimentos geográficos,
e aceleraram enormemente o desenvolvimento do capital comercial, constituem um elemento básico na
promoção do trânsito do modo feudal de produção para o modo capitalista. A súbita expansão do mercado
mundial, a multiplicação das mercadorias circulantes, a emulação entre as nações europeias, desejosas de se
apoderarem dos produtos asiáticos e dos tesouros da América, o sistema colonial coadjuvaram
essencialmente para derrubar as barreiras feudais que obstaculizavam a produção.” Marx, Karl, O Capital,
Livro III, Volume 5, op. cit., p. 383.
“A escravidão direta é o fundamento do nosso industrialismo atual, tanto como as máquinas, o crédito etc.
Sem escravidão não teríamos o algodão, sem algodão não teríamos indústria moderna. É a escravidão que
deu valor às colônias; são as colônias que criaram o comércio mundial; é o comércio mundial que constitui a
condição necessária da grande indústria mecanizada. Por isso, antes do tráfico negreiro, as colônias não
proporcionavam ao Velho Mundo senão uns poucos produtos que não teriam mudado visivelmente a face da
terra. A escravidão, pois, é uma categoria econômica de enorme importância. Sem a escravidão, a América
do Norte, a nação mais progressista, se transformaria num país patriarcal. Se suprimirmos a América do Norte
do mapa das nações, teremos a anarquia, a decadência por completo do comércio e da civilização moderna.
Porém, fazer desaparecer a escravidão equivaleria suprimir a América do Norte do mapa das nações.
Portanto, a escravidão, por ser uma categoria econômica, existe desde o começo do mundo entre todos os
povos. Os povos modernos não fizeram mais do que encobrir a escravidão entre eles e introduzi-la sem
disfarces no Novo Mundo.” Carta de Marx para Annenkov. Traduzido do original francês segundo a
recopilação: Marx; Engels, Ausgewàhte Briefe, Berlim, Dietz Verlag, 1953, p. 37.
Marx caracteriza a colonização nas plantations (grandes plantações) da seguinte forma: “Na segunda classe
de colônias – as plantações, que são, desde o momento de criar-se, especulações comerciais, centros de
produção para o mercado mundial – existe um regime de produção capitalista, ainda que de modo formal,
posto que a escravização de negros exclui o trabalho livre assalariado, que é a base sobre a qual descansa a
produção capitalista. São, no entanto, capitalistas os que manejam o tráfico de negros. O sistema de
produção introduzido por eles não provém da escravidão e sim que se enxerta nela. Neste caso, o capitalista
e o latifundiário são uma só pessoa.” Marx, Karl, Teorías sobre la plusvalía (Tomo IV de El Capital) tomo 2,
México, Fondo de Cultura Económica, 1980, p. 331.
(...)
“Embora os primeiros começos de produção capitalista se nos deparem esporadicamente já nos séculos XIV
e XV em algumas cidades do Mediterrâneo, a era capitalista data apenas do século XVI. (...) Fazem época na
história da acumulação original todos os revolucionamentos que servem de alavanca à classe dos capitalistas
em formação; acima de todos, porém, os momentos em que grandes massas humanas de súbito, e
violentamente, são arrancadas aos seus meios de subsistência e atiradas para o mercado de trabalho como
proletários sem direitos. A expropriação do produtor rural, do camponês, da terra forma a base de todo o
processo.” Pg. 831
(...)
“Quando a revolução do mercado mundial desde o fim do século XV aniquilou a supremacia comercial da
Itália do Norte...(...) Por revolução do mercado mundial entende-se aqui o acentuado declínio a partir de finais
do século XV, de Veneza, de Génova, e de outras cidades da Itália do Norte no comércio de trânsito, ocorrido
em consequência das grandes descobertas geográficas da época....” Página 831
(...)
“O prelúdio da revolução que criou a base do modo de produção capitalista ocorreu no último terço do século
XV e nas primeiras décadas do século XVI. Com a dissolução das vassalagens feudais, é lançada no mercado
de trabalho uma massa de proletários....” Página 833
(...)
“Legislação Sangrenta Contra os Expropriados Desde o Fim do Século XV. Leis Para o Abaixamento dos
Salários
Os pais da classe operária atual foram castigados inicialmente por se transformarem em vagabundos e
pobres. (...) Na Inglaterra, essa legislação começou com Henrique VII. Henrique VIII, em 1530....” Página 851
“O sistema colonial amadureceu, como numa estufa, o comércio e a navegação. As sociedades dotadas de
monopólio foram poderosas alavancas da concentração do capital. As colônias asseguraram um mercado de
escoamento às manufaturas em crescimento e, pelo monopólio do mercado, uma acumulação acelerada. O
tesouro capturado fora da Europa, diretamente por pilhagem, escravização, assassínio seguido de roubo,
refluiu para a mãe pátria e transformou-se aí em capital. A Holanda, que foi quem primeiro desenvolveu
completamente o sistema colonial, já em 1648 estava no foco da sua grandeza comercial. (...) Hoje em dia, a
supremacia industrial traz consigo a supremacia comercial. No período da manufatura propriamente dito,
pelo contrário, é a supremacia comercial que dá a predominância industrial. Daí, o papel preponderante que
o sistema colonial então desempenhou... Proclamou a produção da mais-valia como único e último objetivo
da humanidade.” Página 871 e 872
(...)
“A Inglaterra obtinha o direito de fornecer a América espanhola até 1743 anualmente 4800 negros. Isto
concedia, ao mesmo tempo, uma cobertura oficial para o contrabando britânico. Liverpool engordou à base
do comércio de escravos. Ele constituía o seu método de acumulação original. (...) Em 1730, Liverpool
empregava no comércio de escravos 15 navios; em 1751, 53; em 1760, 74; em 1770, 96; e em 1792, 132.
Enquanto introduzia a escravatura de crianças em Inglaterra, a indústria do algodão dava, ao mesmo tempo,
o impulso para a transformação da escravatura negra nos Estados Unidos, que antes era mais ou menos
patriarcal, num sistema de exploração mercantil. Em geral, a escravatura velada de operários assalariados
na Europa precisava, como pedestal, da escravatura sem disfarce no novo mundo. (...) Em 1790, nas Índias
Ocidentais inglesas, havia dez escravos por um homem livre, nas francesas catorze, nas holandesas vinte e
três.” Página 878
(...)
“O capital, ao surgir, escorrem-lhe sangue e sujeira por todos os poros, da cabeça aos pés.” Página 879
(...)
“Em que se reduz, em última análise, a acumulação primitiva do capital, a origem histórica do capital?
Quando não é transformação direta de escravos e servos em assalariados, mera mudança de forma, apenas
significa a expropriação dos produtores diretos, isto é, a dissolução da propriedade privada baseada no
trabalho pessoal próprio.” Página 879
Capítulo XX Observações históricas sobre o capital mercantil – livro 3, volume 5. Civilização Brasileira
“Na produção capitalista, o capital mercantil deixa a antiga existência soberana para ser um elemento
particular do investimento de capital, e o nivelamento dos lucros reduz sua taxa de lucro à média geral. Passa
a funcionar como agente do capital produtivo. As condições sociais particulares que se formaram com o
desenvolvimento do capital mercantil deixam de ser determinantes; ao revés, onde ele ainda prevalece,
reinam condições arcaicas.” Página 377
(...)
“O desenvolvimento do comércio e do capital mercantil leva a produção por toda a parte a orientar-se pelo
valor de troca, aumenta o volume dela, diversifica-a e dá-lhe caráter internacional, e faz o dinheiro converter-
se em dinheiro universal. O comércio por isso exerce sempre ação mais ou menos dissolvente sobre as
organizações anteriores da produção, as quais em todas as suas diversas formas se guiam essencialmente
pelo valor de uso. (...) No mundo antigo, a atuação do comércio e o desenvolvimento do capital mercantil
resultavam sempre em economia escravista, ou, de acordo com o ponto de partida, ocasionavam apenas a
transformação de um sistema escravista patriarcal, baseado na produção de meios de subsistência imediatos,
num sistema voltado para a produção de mais-valia.” Pg 382
(...)
“As descobertas geográficas, por certo, provocaram grandes revoluções no comércio e maior velocidade no
desenvolvimento do capital mercantil, e essas transformações constituíram fator fundamental de aceleração
da passagem do modo feudal de produção para o capitalista. Mas justamente esse fato levou a concepções
de todo errôneas. A expansão súbita do mercado mundial, a multiplicação das mercadorias em circulação, a
luta entre as nações europeias para se apoderarem dos produtos asiáticos e dos tesouros americanos, o
sistema colonial, contribuíram substancialmente para derrubar as barreiras feudais da produção. Entretanto,
o moderno modo de produção, em seu primeiro período, o manufatureiro, só se desenvolveu onde se tinham
gerado as condições apropriadas no curso da Idade Média. Comparemos, por exemplo, Holanda e Portugal.
E se no século XVI e em parte ainda no século XVII, a extensão súbita do comércio e a criação de novo mercado
mundial exerceram influência preponderante na decadência do antigo modo de produção e na ascensão do
modo capitalista, isto se deu, entretanto, na base do modo capitalista de produção já existente. Este, na
verdade, se apoia sobre o próprio mercado mundial. Mas a necessidade imanente ao capitalismo de produzir
em escala cada vez maior, leva à expansão contínua do mercado mundial, de modo que não é o comércio que
revoluciona constantemente a indústria, mas o contrário. E o domínio comercial é agora função da
predominância maior ou menor das condições da indústria moderna. Comparemos, por exemplo, Inglaterra
e Holanda. A história do declínio da Holanda como nação comercial dominante é a história da subordinação
do capital mercantil ao capital industrial.” Pg 383 e 384
"A escravidão dos negros - uma escravidão puramente industrial - que desaparece sem mais e é incompatível
com o desenvolvimento da sociedade burguesa, pressupõe a existência de tal sociedade: se paralelamente a
esta escravidão não existirem outros estados livres com trabalho assalariado, todas as condições sociais nos
estados escravistas assumiriam formas pré-civilizadas.”
(Grundisse: Manuscritos econômicos de 1857-1858, p. 159).
"Se atualmente não só chamamos os proprietários de plantações na América de capitalistas, mas se eles de
fato o são, isso se baseia no fato de que eles existem como uma anomalia no interior de um mercado mundial
fundado no trabalho livre".
(Grundisse: Manuscritos econômicos de 1857-1858, p. 684)
1
Manifesto Comunista, 1848, pagina 3.
Discurso de Engels, 1847
“O surgimento das máquinas se deve, em boa parte, ao descobrimento da América, e com isso, começou
necessariamente a luta que estamos travando hoje, a luta dos despossuídos contra os possuidores. (...) Eis
aqui como o descobrimento da América dividiu toda a sociedade em duas classes, o que não podia ocorrer
sem o nascimento do mercado mundial.”
Engels, Friedrich, “El descubrimiento de América y las luchas de los pueblos”, resumo do discurso
pronunciado na Sociedade de Cultura Operária de Londres, em 30 de novembro de 1847, publicado em 1919
segundo as atas originais de Max Nettlau.
(...)
“O trabalho excedente, o trabalho para além do tempo necessário à conservação do operário é à apropriação
do produto deste trabalho excedente por outros, a exploração do trabalho são, pois, comuns a todas as
formas sociais passadas, na medida em que estas evoluíram em contradições de classes. Mas foi apenas no
dia em que o produto deste trabalho excedente tomou a forma de mais-valia, em que o proprietário dos meios
de produção encontrou perante ele o operário livre, - livre de vínculos sociais e livre de qualquer coisa que
pudesse pertencer-lhe, - como objeto de exploração e em que ele explora com o fim de produzir mercadorias,
foi então somente trabalho excedente, segundo Marx, o meio de produção tomou o caráter específico de
capital. E isto só se deu em grande escala a partir do fim do século XV, princípio do século XVI.” Pagina 285
negrito de Engels.
(...)
“Mas o termo capital com o seu significado econômico moderno não aparece senão no período em que a
própria coisa aparece, em que a riqueza mobiliária toma cada vez mais uma função de capital explorando o
trabalho excedente de operários livres para produzir mercadorias: de fato, esta palavra foi introduzida pela
primeira nação de capitalistas que a história conheceu, os Italianos dos séculos XV e XVI.” Página 286.
(...)
“Mas, por esta mesma razão, pertenciam normalmente ao próprio produtor. Concentrar, alargar estes meios
de produção, dispersos e limitados, fazer deles as possantes alavancas da produção atual, foi esse
precisamente o papel histórico do modo de produção capitalista e da classe que o suporta: a burguesia. Na
4ª parte do «Capital» Marx esclareceu pormenorizadamente como a burguesia levou a cabo a sua obra, a
partir do século XV, através da cooperação simples, da manufatura e da grande indústria.” Página 367
(...)
“Na Inglaterra, na Holanda e mais tarde na França, o período manufatureiro da produção capitalista começa
durante a segunda metade do século XVI, alcançando seu apogeu durante a segunda metade do século XVIII.”
Pg 17
(...)
“Os holandeses foram os primeiros que criaram um Estado burguês, e desde o século XVII serviram de modelo
aos demais estados burgueses que foram estabelecendo-se pouco a pouco na Europa Ocidental.” Pg 22.
(...)
“Expansão do capitalismo através do mundo. O ímpeto do capitalismo durante o século XVI se deveu a
expansão do mercado mundial.” Pg 29
“...a economia mundial capitalista é um sistema articulado de relações de produção capitalistas, semi-
capitalistas e pré-capitalistas, ligadas entre si por relações capitalistas de troca e dominadas pelo mercado
capitalista mundial.” Pg 31.