LIVRE-Programa-Europeias
LIVRE-Programa-Europeias
LIVRE-Programa-Europeias
EUROPA
UNIDA E LIVRE
Programa do LIVRE às
eleições europeias de 2024
EI S
24 O P Õ E
20 R IÇ
EU LE
E
A
S
Por uma Europa unida e livre
O LIVRE defende uma União Europeia (UE) progressista que dá novamente coragem a um
projeto de integração Europeu e que derruba barreiras, apelando sempre aos valores que
nos movem: a Democracia, o Estado de Direito e os Direitos Humanos.
Construiremos uma UE mais verde e sustentável, com a criação de um novo Pacto Verde
e Social, que nos prepare para o futuro, que nos permita atingir os compromissos que
alavancamos no Acordo de Paris, e que nos permita defender a biodiversidade, o ambiente
e lutar contra a crise climática, defendendo assim a qualidade de vida das gerações
presentes e vindouras, e do planeta que tanto estimamos.
É este o projeto que o LIVRE apresenta à União Europeia. Um projeto de Futuro, que se
constrói agora. Uma dedicação profunda a defender o que já foi conquistado e a trabalhar
para a resolução dos problemas urgentes dos nossos dias, de forma a dar a todos – os
Europeus e a quem escolhe a Europa para viver – uma vida justa, segura e livre.
2
Índice
A. Democracia 4
B. Desenvolvimento Ecológico, Cooperativo e Solidário 13
C. Igualdade e Justiça Social 18
D. Trabalho, Rendimento, Tempo e Proteção Social 27
E. Natureza, Clima e Transição Verde 32
F. Agricultura e Pescas 45
G. Política Externa 52
H. Migração e Asilo 58
I. União Económica e Monetária 66
J. Justiça Fiscal e Financeira 71
K. Coesão Territorial, Transportes e Mobilidade 75
L. Educação e Juventude 80
M. Conhecimento, Ciência e Ensino Superior 83
N. Habitação 88
O. Saúde 91
P. Arte e Cultura 97
Q. Soberania Digital 102
R. Comércio Internacional 106
3
A. Democracia
Nestas eleições está em causa a democracia europeia. O crescimento de projetos políticos
autoritários e regressivos em relação à conquista de direitos sociais, à ecologia, à liberdade
e à solidariedade entre os Estados europeus revela vulnerabilidades democráticas graves.
O aprofundamento democrático da União Europeia (UE), através do desenvolvimento do
seu ideário, das suas práticas e propostas, é a única resposta para combater o
distanciamento – há muito diagnosticado – das pessoas em relação às instituições e
processos de decisão da UE.
2. Democratizar a votação
4
Polónia protegeram-se sucessivamente, impedindo um escrutínio justo, baseado nos factos
e que garantisse o respeito pelos valores fundadores da UE.
O Parlamento Europeu deve ser capaz de representar os interesses dos seus eleitores e de
controlar o poder dos órgãos não-eleitos da UE. Propomos um conjunto de medidas para
reforçar o poder do Parlamento Europeu: poder de se pronunciar sobre como os seus
membros são eleitos; direito de propor legislação; poder eleger o Presidente da Comissão
de forma livre e democrática aprofundando, de acordo com os parâmetros atuais, os
poderes de demissão aos Comissários individualmente.
Propomos também que seja revisto o artigo 294.º do Tratado sobre o Funcionamento da
União Europeia (TFUE), alargando o poder de codecisão do Parlamento Europeu a todos os
atos legais da União, sem exceções.
Defendemos que as pessoas devem ter mais influência sobre o futuro da Europa,
concretizada através de diferentes vias de participação:
5
europeu. Defendemos que, nestas sessões, sejam ouvidos peritos e representantes
das várias posições em causa e pessoas cidadãs e residentes escolhidas
aleatoriamente e por critérios representativos, juntamente com petições ou
referendos, principalmente em matérias locais;
● da Conferência sobre o Futuro da Europa e projetos análogos relevantes para
discussões sobre a Europa a médio e longo prazo idealmente realizadas uma vez
por década, e associados a processos de reforma Europeia;
● da criação de uma Plataforma Digital de Deliberação Cidadã, que sirva como um
meio interativo para as cidadãs, cidadãos e residentes da União Europeia proporem
legislação, debaterem políticas em desenvolvimento e participarem diretamente em
consultas públicas. A iniciativa visa reforçar o caráter democrático da UE,
aumentando a transparência e promovendo uma participação mais ativa e informada
das pessoas nas decisões políticas que afetam diretamente as suas vidas. A
utilização de plataformas digitais para deliberação cidadã na Islândia e na Estónia,
por exemplo, mostraram que este tipo de iniciativas podem aumentar a participação
pública, a transparência e a confiança nas instituições;
● do aprofundamento da transparência e representatividade da Agenda Estratégica
para 2024-2029, com uma maior divulgação do documento e mais diversidade no
seu grupo de redação; uma situação a trabalhar também no que diz respeito à
Agenda Estratégica para 2029-2034.
O Tribunal Europeu de Justiça deve ser reforçado com a introdução de uma Comissão de
Copenhaga: um organismo fiscalizador independente que investigará violações do Artigo 2.º
do Tratado da União Europeia, artigo este que garante dignidade, liberdade, democracia,
igualdade, estado de direito e respeito pelos Direitos Humanos em todos os
Estados-Membros. As instituições da UE devem proteger os nossos Direitos Fundamentais
quando os governos dos Estados-Membros procuram negá-los.
6
conservação da natureza, transição energética e economia, à semelhança do programa
Nova Bauhaus Europeia. É preciso promover o trabalho em rede entre cidades, conduzindo
ao diálogo, ao fortalecimento do poder local e à capacitação de autarquias e movimentos
municipais que têm vindo a inspirar as pessoas, trazendo-as para a participação política no
âmbito da governação local na Europa.
Uma democracia europeia apenas será possível com uma sociedade civil europeia. São
hoje milhões os cidadãos europeus que, livre e voluntariamente, se juntam em associações
em toda a Europa. A União Europeia deve dar reconhecimento institucional ao ativismo
destes cidadãos. Respeitando o princípio da subsidiariedade, este estatuto será opcional e
ideal para as associações que pretendam desenvolver atividades transnacionais. Iremos
promover o desenvolvimento de um Estatuto de Associação Europeia, de modo a dar
ferramentas aos cidadãos que, todos os dias, ajudam a criar uma cidadania europeia.
7
● do estabelecimento de regras comuns para a publicidade das reuniões do Conselho,
Parlamento e Comissão, no quadro de um acordo interinstitucional. Para poupar
gastos, devemos encontrar um meio comum de difusão pública destas reuniões (a
exemplo da ARTV em Portugal).
9. Registar lobistas
8
12. Proteger os denunciantes
Trabalharemos ainda para que seja criado um estatuto de asilo europeu que consagre
proteções para jornalistas perseguidos judicialmente, tanto por Estados-Membros da UE
como por outros.
9
família Verde Europeia. Defendemos que este projeto não pode ser resignado. Assim,
iremos apresentar uma nova proposta no Parlamento Europeu para a eleição de mandatos
extra num segundo voto, no qual os eleitores europeus irão poder votar numa lista a nível
europeu.
15. Avançar para um Senado Europeu com votos iguais para cada país
A União Europeia funciona hoje num sistema legislativo de duas câmaras: o Conselho da
União Europeia é a segunda câmara, o Parlamento Europeu a primeira. Se o Parlamento
Europeu representa os cidadãos da União Europeia, então o Conselho deve ser
transformado num verdadeiro Senado Europeu, onde os Estados-Membros estejam
representados de forma igualitária.
10
17. Combater a desinformação
A desinformação tem sido, nos últimos anos, uma das principais ferramentas de ameaça à
democracia, estabilidade e coesão social, criando um grande impacto na vida política dos
Estados-Membros. Procurando garantir que a liberdade de expressão se mantenha como
um pilar democrático fundamental na Europa, travaremos uma luta aguerrida contra a
desinformação ativa e contra a promoção da “pós-verdade”.
11
Propomos que o Parlamento Europeu envolva mais as escolas, tomando a iniciativa de as
convidar através de um dia aberto do Parlamento ou através de convites regulares com a
devida divulgação. Defendemos também que os jovens possam ser mais envolvidos em
iniciativas como o Prémio Europeu Carlos Magno para a Juventude, o Corpo Solidário
Europeu, entre outras.
Todos os meses, e apenas por quatro dias, todo o Parlamento Europeu passa de Bruxelas
(na Bélgica) para Estrasburgo (em França). Este movimento mensal de milhares de
pessoas custa 180 milhões de euros por ano aos contribuintes europeus e produz quase 20
mil toneladas de CO2 por mês. A maioria dos eurodeputados, por variadas ocasiões, votou
para que o Parlamento Europeu possa decidir ter uma sede única. No entanto, os governos
dos Estados-Membros bloqueiam sempre esta decisão.
Eleitos para o Parlamento Europeu, os eurodeputados do LIVRE trabalharão por uma maior
eficiência, lutando para que se acabe com a plurilocalização do Parlamento Europeu,
dando-lhe uma sede única e lógica.
12
atualizar. Algumas das potências emergentes querem ter um lugar permanente à mesa do
Conselho de Segurança da ONU.
13
B. Desenvolvimento Ecológico, Cooperativo e
Solidário
Defendemos que cada pessoa tem direito a um padrão de vida digno. Na Europa, 95.3
milhões de pessoas estão em risco de pobreza ou exclusão social. Apesar deste indicador
ter diminuído ao longo dos anos, continua a representar 21.6% da população da UE. Temos
a responsabilidade de garantir que a evolução da União Europeia prioriza o combate às
desigualdades. Defendemos uma UE solidária e focada no desenvolvimento ecológico e
sustentável, fundamentado na igualdade e cooperação. A solidariedade social é um Direito
Fundamental das pessoas cidadãs e residentes; a UE tem de o honrar.
Defendemos uma maior integração do trabalho reprodutivo e do cuidador nos debates sobre
direitos laborais e conciliação entre o trabalho e a família. Numa perspetiva feminista,
instigaremos as instituições europeias a tornar visível e a valorizar este sector sobre o qual
todo o restante desenvolvimento económico assenta. Defenderemos o direito a todas as
pessoas receberem cuidados dignos, à criação de condições laborais e contributivas para
os cuidadores em todos os Estados-Membros, ao reforço das redes de saúde e da
assistência social de proximidade.
14
● reforçar os direitos laborais e contributivos da população mais velha, permitindo
regimes de transição (a pedido da pessoa cidadã ou residente) entre a vida laboral e
a reforma.
15
graves, sendo o alargamento do seu espaço nas economias locais, nacionais e europeias
um fator determinante para uma economia centrada nas pessoas e no seu bem-estar.
Uma parte importante dos materiais mais críticos e estratégicos para a UE são perdidos
quando os Resíduos de Equipamentos Eléctricos e Electrónicos (REEE) não são
capturados nos sistemas de recolha. No caso dos resíduos efetivamente recolhidos e
depois reciclados, são perdidas matérias-primas nos processos de reciclagem, uma vez que
as componentes onde estão alojadas não são separadas. Os cadernos de encargos das
Entidades Gestoras (EG) que colocam estes resíduos nos circuitos de reciclagem devem
garantir e pagar não só a despoluição obrigatória, mas também a separação destes
componentes. Alinhados com diretivas recém-aprovadas pela UE como a Right to Repair, o
Critical Raw Materials Act ou a proposta para o regulamento Ecodesign for Sustainable
Products, defendemos:
● criar uma parceria europeia que atue no equilíbrio do mercado das componentes
separadas, enquanto o mercado não estiver equilibrado;
16
6. Acabar com a obsolescência programada
17
impedem a inovação, destruindo a concorrência através de um poder abusivo
anticolaborativo e anticoncorrencial.
18
C. Igualdade e Justiça Social
Ninguém deve ser discriminado com base na sua identidade, convicções ou condições.
Em toda a Europa, existe um grande fosso salarial e de poder político entre homens
cisgénero (homens cuja identidade de género corresponde ao sexo biológico) e os outros
géneros. As mulheres recebem em média 16% menos do que os homens, o que equivale a
dois meses completos de trabalho não-remunerado a cada ano. Em alguns
Estados-Membros, milhões de mulheres veem negado o direito de tomar decisões sobre o
seu próprio corpo.
Lutamos para que a UE se afirme feminista na sua política externa, de modo a que a
igualdade de género esteja no centro dos seus valores. Incentivamos a participação civil e
política de mulheres de qualquer idade e de grupos marginalizados, apoiando também
organizações locais de empoderamento das mulheres e destes grupos. As mulheres não
estão sozinhas. Lutamos também para que pessoas da comunidade LGBTQIA+, pessoas
com deficiência ou necessidades especiais e pessoas de outras etnias ou credos religiosos
tenham os seus Direitos Fundamentais protegidos e assegurados, para que possam viver
uma vida condigna, segura e autónoma.
Defendemos uma Europa mais igual, com dignidade para todos. Uma Europa sem violência
de género, que garanta os direitos reprodutivos das mulheres. Capaz de derrubar barreiras
às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. E que combata todas as formas de
discriminação e discursos de ódio. Uma Europa que elimine a pobreza.
19
2. Acabar com a violência de género
A UE deve fazer mais para acabar com a violência de género. Vamos lutar para proteger e
ampliar a Convenção de Istambul, lutando para que seja ratificada por todos os
Estados-Membros. Defendemos, dentro das instituições europeias, a adoção de políticas e
medidas concretas para prevenir, mas também sancionar a violência de género, protegendo
as suas vítimas.
20
instituições da UE, dando o exemplo através do nosso grupo político. Além disto,
continuamos a defender limiares de equilíbrio de género para as listas eleitorais dos
partidos políticos no Parlamento Europeu.
Todas as mulheres na Europa devem ter acesso à Interrupção Voluntária da Gravidez legal
e segura, bem como a informações gratuitas sobre a IVG. As grávidas devem ter acesso a
cuidados pré-natais com exames e cuidados obstétricos gratuitos, mas também cursos de
preparação para o período pós-parto gratuitos ou subsidiados. Os casos de risco de morte
fetal ou de parto prematuro devem ter direito a baixa totalmente paga durante a gravidez.
Queremos ainda lutar contra a violência obstétrica que ocorre durante a gestação, parto e
pós-parto e se traduz sob a forma de violência verbal, física (manobra de Kristeller) ou
sexual (toque de forma abusiva). Estas formas de violência são responsáveis por desgaste
e sofrimento físico e emocional; queremos garantir que possam ser denunciadas e puníveis
por lei.
Os direitos reprodutivos estendem-se à parentalidade. Os pais devem ter direito a 480 dias
de licença parental, mesmo que não estejam empregados. Além destes 480 dias pagos, os
pais também devem ter o direito legal de reduzir o horário normal de trabalho para passar
mais tempo com os seus filhos.
21
6. Garantir o reconhecimento das pessoas LGBTQIA+
Lutamos para que todas as pessoas trans, não-binárias e intersexo sejam devidamente
reconhecidas e protegidas, tenham os seus direitos assegurados e um livre acesso aos
procedimentos de mudança de género e reconhecimento legal devidos. Para isso,
queremos também garantir a menção expressa à identidade de género nos Tratados da UE e
na Carta dos Direitos Fundamentais (como, aliás, já existe para a orientação sexual), de forma a
garantir a proteção das pessoas trans, não-binárias e intersexo.
A Comissão Europeia já propôs um alargamento da lista dos crimes europeus aos crimes e
discurso de ódio, proposta essa que ainda não foi adotada pelo Conselho. Continuaremos a
fazer pressão para que os crimes europeus sejam alargados e para que, numa segunda
fase, a Comissão Europeia proponha uma diretiva que dê expressão à criminalização
destes atos. Defendemos a inclusão expressa do sexo, orientação sexual, identidade de
22
género, expressão de género, caraterísticas sexuais, situação de deficiência, idade, origem
étnica e religião ou crença nessa proposta, de forma a criminalizar a nível europeu todas as
expressões de ódio.
A crise de pobreza infantil na Europa é grave: um quarto de todas as crianças está em risco
de pobreza e de exclusão social. Defendemos um Plano de Erradicação da Pobreza Infantil
que mobilize mais recursos do Fundo Social Europeu para garantir o acesso a cuidados de
saúde, habitação, nutrição e educação para todas as crianças. O Plano estabelecerá um
objetivo de redução da pobreza infantil no quadro da Estratégia 2020 e apelará à
monitorização do progresso dos Estados-Membros no Semestre Europeu.
A UE não tem conseguido responder às necessidades das pessoas com deficiência. Apesar
do sucesso em adotar um Cartão Europeu de Deficiência, este ainda possui uma falha
grave. Atualmente, o Cartão não reconhece o estatuto de deficiência ou incapacidade de
forma transnacional, o que impossibilita as pessoas portadoras de deficiência de se
deslocar, residir ou trabalhar livremente em outros Estados-Membros europeus - já que
precisam de reiniciar esse reconhecimento da sua condição, processo esse que difere de
país para país.
Por isso, é preciso garantir que o Cartão Europeu de Deficiência seja mais robusto e
uniforme em toda a UE, repensando e aumentando também as competências da UE ao
nível da saúde. Continuaremos também a:
● propor nova legislação que forneça maiores recursos para eliminar todas as
barreiras arquitetónicas em edifícios públicos;
23
● garantir cuidados de saúde para todas as formas de deficiência;
● garantir que todos os Estados-Membros da UE proporcionem educação adequada e
digna e possibilitem às pessoas com deficiência uma vida independente.
Acreditamos que estas não são simplesmente questões de acesso – são questões de
justiça.
Lutamos pela Igualdade Salarial, para acabar com a discriminação baseada no género no
local de trabalho, defendendo sempre o princípio da remuneração igual por trabalho igual ou
de igual valor.A disparidade salarial de género não pertence a uma Europa do futuro.
24
definido um conjunto de serviços mínimos de saúde, que devem ser sempre centrados nas
necessidades do paciente, embora dando especial atenção aos grupos marginalizados e
com algum tipo de deficiência. Queremos direcionar parte do orçamento da UE para apoiar
os Estados-Membros que tenham dificuldade em atingir esses objetivos.
São cerca de 6 milhões as pessoas de origem cigana na União Europeia, a maioria com
cidadania de um dos Estados-Membros. Representam, por isso, a maior minoria étnica da
UE e, consequentemente, temos uma responsabilidade para com ela.
25
a discriminação através de uma abordagem horizontal, foi aprovado pelo Parlamento
Europeu e continua pendente no Conselho desde 2008.
Consideramos urgente a aprovação desta diretiva. O LIVRE lutará pela continuação das
discussões com o Conselho, de forma a que este (finalmente) aprove a proposta, que
carece de unanimidade por parte dos Estados-Membros.
26
D. Trabalho, Rendimento, Tempo e Proteção
Social
Vivemos tempos de graves desigualdades sociais e de crescente dificuldade em superar
situações de pobreza que se reproduzem geracionalmente. Os baixos salários, o aumento
do custo de vida e a normalização da precariedade laboral têm custos coletivos e danos
pessoais que colocam em causa a dignidade humana. Adicionalmente, os
desenvolvimentos tecnológicos, a inteligência artificial e o aumento da esperança média de
vida permitem-nos reequacionar o papel do trabalho na vida de cada um e na sociedade,
assim como a capacitação da proteção social. Defendemos o reforço do pilar social da UE a
fim de renovarmos o estado social, melhorarmos as condições laborais, as políticas
salariais, a redistribuição da riqueza criada e a preparação do mundo do trabalho e da
proteção social para digitalização e automação.
Propomos que o Parlamento Europeu elabore e crie a Carta Europeia do Trabalho Justo,
que reforce os direitos dos trabalhadores em toda a UE. Esta carta será executada pela
Agência Europeia de Inspeção do Trabalho que propomos criar e que terá competências de
coordenação e supervisão das instituições dos Estados-Membros, com responsabilidades
na garantia do cumprimento das leis do trabalho e do tratamento justo dos trabalhadores. A
Carta abrangerá todos os Estados-Membros (incluindo aqueles onde não existem acordos
coletivos de trabalho) para que garanta:
● um novo Salário Mínimo Europeu, que inclua critérios para a convergência dos
salários na Europa, a aplicar especialmente nos Estados-Membros onde não
existam acordos coletivos de trabalho;
● a criação de uma normativa europeia que regule os aumentos salariais mínimos
anuais, em linha com a inflação;
● um novo padrão europeu de trabalho, com um máximo de 35 horas semanais, a
semana dos 4 dias de trabalho e um mínimo de 30 dias de férias por ano;
● a diminuição dos bónus corporativos;
● a regulação do salário dos executivos, indexando-os ao salário mínimo pago pela
empresa;
27
● a criação de um rácio máximo entre o ordenado mais baixo e o mais alto dentro da
mesma empresa, assim como a eliminação de diferenças salariais para um mesmo
cargo e empresa;
● garantir a representação dos trabalhadores nos órgãos executivos das empresas;
● a aposta na qualificação dos trabalhadores, como critério fulcral na progressão de
carreira;
● a discriminação positiva, de forma a garantir o acesso ao autoemprego e o fomento
à contratação de pessoas com deficiência ou necessidades especiais;
● que a implementação de processos de transformação digital nas empresas
(digitalização e robotização, por exemplo) seja realizada, respeitando a dignidade e
os direitos dos trabalhadores;
● a capacitação empresarial para garantir apoio aos trabalhadores (sector público e
privado) de cuidados de saúde mental, mesmo quando passem por períodos longos
de baixa médica.
O sector público emprega milhões de europeus e serve outros tantos todos os dias: o seu
desempenho é crucial para o bem-estar europeu. Adicionaremos ao programa Erasmus+ a
administração pública, de modo a promover a cooperação entre trabalhadores das
instituições da UE, bem como de funcionários dos diversos serviços públicos de cada
Estado-Membro. Este acrescento contará com dotação orçamental suficiente para
contemplar apoio à mobilidade e à habitação, para facilitar o trabalho fora da área de
residência. Pretendemos com isto incentivar a partilha de boas práticas no desempenho do
serviço público, em domínios como a saúde, a justiça e a segurança, assim como novas
oportunidades de emprego.
28
4. Proteger os trabalhadores em caso de insolvência
Propomos introduzir uma legislação semelhante à lei Marcora (lei italiana em vigor) para
que, em caso de insolvência de uma empresa, os trabalhadores possam utilizar o subsídio
de desemprego que iam receber como capital para adquirir o negócio, criando assim uma
cooperativa laboral. Além disso, deve ser contemplado o financiamento de alguma entidade
pública com entrada de capital.
Cada ano, o Fundo distribuirá um Dividendo Universal de Cidadania que financiará uma
primeira fase de teste do RBI em diferentes territórios europeus. Ao projeto-piloto poderão
candidatar-se regiões da Europa, havendo lugar à cooperação para definição de protocolos
entre as entidades regionais e a Comissão Europeia, entidade gestora do Fundo de
Riqueza Cidadã.
29
O RBI deve incluir pessoas beneficiárias de apoios sociais que se devem manter, pessoas
com rendimentos exclusivos do trabalho por conta de outrem e trabalhadores
independentes, bem como pessoas desempregadas ou reformadas – numa amostra
representativa da sociedade. O projeto-piloto deve ter ainda um quadro temporal superior a
dois anos e contemplar a sua monitorização e avaliação. Este é um passo que poderá
proporcionar liberdade e maior igualdade entre os europeus, independentemente do seu
nível de rendimentos.
Propomos um plano para que os trabalhadores possam participar na gestão das empresas
que os empregam ou, caso não desejem ficar como acionistas, que parte dos dividendos
seja obrigatoriamente distribuída pelos trabalhadores.
O nosso plano apoiará pequenas e médias empresas na criação de um Fundo Acionista dos
Trabalhadores, que distribua aos trabalhadores uma percentagem anual das ações ou
dividendos, cabendo a escolha ao trabalhador, que assim poderá escolher entre receber
ações da empresa ou parte dos dividendos. Estes fundos não proporcionarão apenas
dividendos: os trabalhadores passam a ser acionistas, tendo uma palavra a dizer sobre as
decisões da companhia. Este será um passo importante para a democratização da
economia europeia.
30
A Proposta de Resolução do Parlamento Europeu 2021/2253 (INI) refere que 80% dos
cuidados de longa duração na Europa são prestados por cuidadores informais. A prestação
de cuidados não-remunerados representa 9% do PIB mundial e entre 40 a 50 milhões de
pessoas na União Europeia prestam cuidados informais numa base regular. Esta proposta,
aprovada a 21 de junho de 2022, sugere aos Estados-Membros colocar a prestação de
cuidados no centro das suas políticas.
31
E. Natureza, Clima e Transição Verde
Regemo-nos pela defesa de uma sociedade justa, consciente e sustentável, onde cada um
de nós conhece o seu papel na defesa do meio ambiente e do planeta. Perante o atual
contexto, marcado pelo declínio acentuado da biodiversidade ao longo das últimas décadas,
denunciamos a ausência de uma ação urgente e necessária, por parte da União Europeia,
para travar o declínio e iniciar o restauro da natureza, habitats naturais e dos ecossistemas.
Não podemos baixar os braços. Urge, também, reforçar as medidas de combate às
alterações climáticas, em harmonia com os avisos alarmantes da comunidade científica - e
do nosso próprio planeta - materializados em fenómenos climáticos extremos cada vez mais
frequentes e intensos.
Apresentamos um Novo Pacto Verde Europeu, reforçado com critérios sociais, alocado a
uma transição verde, justa e digital na economia europeia. Este investimento transformará a
infraestrutura europeia, de forma a alinhar os objetivos climáticos da União Europeia com as
recomendações do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas. A proposta
inclui, nomeadamente, a construção de sistemas de energia renovável, a transição para
métodos de transporte com baixas emissões e a construção habitacional com elevados
padrões de eficiência energética.
O Novo Pacto Verde Europeu consultará as comunidades e o poder local para desenvolver
e gerir os projetos junto das populações. Por exemplo, defendemos benefícios fiscais para
quem separa e recicla resíduos, programas de oferta de vouchers para utilizar no comércio
local e disponibilização de kits de reciclagem e compostagem às pessoas.
32
Igualmente, as regiões mais dependentes do carvão receberão especial atenção para
garantir que cada emprego na área dos combustíveis fósseis seja substituído por um
equivalente adaptado à transição energética.
Iremos sugerir a colocação de painéis solares em todos os telhados dos edifícios públicos
dos Estados-Membros, de forma a aumentar a produção de energia renovável sem
comprometer os ecossistemas.
Defendemos também que seja proibida a embalagem de plástico dupla, que obriga a
produção de mais materiais desnecessários e consequente criação de mais lixo. E ainda
que sejam incluídos os confetes de plástico na diretiva de restrição de produtos de plástico
de utilização única, permitindo reduzir a quantidade de pequenos e micro plásticos no
ambiente.
Criaremos um organismo especial ligado ao Tribunal Europeu de Justiça que irá monitorizar
o cumprimento do Pacto Climático Europeu e da Diretiva de Redução das Emissões e
Poluentes Atmosféricos.
33
3. Defender o Pacto Climático Europeu 2050 revigorado e mais ambicioso
A União Europeia deve agir rapidamente para uma estratégia firme e eficaz perante as
alterações climáticas, e introduzir metas mais ambiciosas já em 2050. Isto inclui a revisão
das metas de 2040, com o objetivo de cumprir a meta do aumento médio da temperatura
global abaixo dos 1.5 ºC.
Traremos novo vigor ao Pacto Climático Europeu, estabelecendo objetivos mais ambiciosos:
para a diretiva referente à redução das emissões nacionais de gases com efeito de estufa;
para uma maior aposta nas fontes de energia renováveis; para uma diminuição geral do
consumo de energia, indo além dos 35%; e para a necessidade de atingir a Neutralidade
Carbónica, considerando a pegada do transporte aéreo e marítimo.
A UE deve reforçar o seu papel regulador e passar uma mensagem forte: as metas de
descarbonização não podem ser atingidas à custa das comunidades locais, que
frequentemente sofrem os maiores impactos das grandes centrais fotovoltaicas e/ou eólicas
e delas retiram poucos ou nenhuns benefícios. É necessário devolver o poder às
comunidades locais e compensar devidamente os impactos ambientais causados por estas
mega-instalações de energia renovável. Só assim conseguiremos promover uma justiça
ambiental e distributiva.
Por isso, defendemos que todos os leilões públicos em países da UE incorporem condições
que obriguem ao envolvimento das comunidades locais, seja através da criação de
cooperativas ou associações locais para investirem parte dos lucros dos projetos na criação
de valor local, diminuição do preço da eletricidade, ou coinvestimento no projeto e
participação nas tomadas de decisão. Igualmente, os Estados-Membros devem promover
medidas legislativas e reguladoras no mesmo sentido para investimentos privados em
energias renováveis.
34
Por fim, defendemos mais apoios e incentivos às energias solar e eólica descentralizadas,
reduzindo os impactos ambientais e deixando nas comunidades e empresas locais a
geração e manutenção da sua própria eletricidade.
Propomos aumentar os preços do carbono para alinhar a Europa com os Objetivos para o
Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, através da criação de uma taxa de
carbono progressiva e indexada ao nível de desenvolvimento e às emissões de cada país.
Os apoios financeiros aos diferentes sectores são vários, mas apenas alguns têm em conta
a sustentabilidade. De forma a acelerar a corrida à neutralidade carbónica, ao bom estado
ambiental e a tornar os bens e serviços ecologicamente responsáveis e mais acessíveis,
sugerimos uma majoração ambiental para todos os financiamentos europeus. Esta
majoração definiria qual a percentagem de financiamento uma entidade receberia a mais
caso o projeto atingisse metas ambientais, como a neutralidade carbónica ou os objetivos
do desenvolvimento sustentável.
35
Os centros de investigação privados europeus ativos poderão ter apoio direto da União,
consubstanciado numa parceria e financiado por fundos estruturais. Os privados não podem
patentear, mas podem informar o público das suas realizações e implicações positivas na
necessária sustentabilidade ecológica.
36
Queremos promover a participação das comunidades locais em projetos de grande impacto
ambiental – como a construção de centrais eólicas ou solares – exigindo uma
coparticipação ou cofinanciamento das comunidades locais nestes projetos, mitigando desta
forma os impactos sociais, ambientais e económicos, garantindo um acesso justo das
comunidades aos benefícios gerados pelo projeto.
Defendemos medidas de justiça distributiva e ambiental para estes projetos que incentivem
as comunidades locais a participarem e a tomarem decisões sobre os mesmos. Desta
forma, beneficiamos não apenas estas comunidades do ponto de vista social, ambiental e
económico, mas também os próprios projetos que passarão a estar desenhados à medida
das preocupações e necessidades locais.
37
Acreditamos que, desta forma, iremos assegurar mais autonomia e segurança energética,
diminuindo a dependência da UE de recursos fósseis provenientes de outros países e
regiões.
Defendemos uma visão multifuncional da floresta, com florestas autóctones e com grande
prioridade para a presença de espécies endémicas e multiestratificadas. Espécies essas
que são sujeitas a uma gestão e monitorização rigorosas, recorrendo à melhor tecnologia e
práticas disponíveis (como satélites, deteção remota ou ciência cidadã).
No quadro também de uma iniciativa europeia pelo restauro da natureza, propomos que
todos os Estados-Membros tenham pelo menos 50% da sua superfície florestada (de
acordo com o que é natural e histórico em cada região biogeográfica). Tal promove
ativamente a posse e gestão pública, tendendo para pelo menos 50% da área florestal; e
salvaguardando sempre, nos territórios prioritários atuais e antecipando migrações de
espécies por pressão das alterações climáticas, pelo menos 10% de florestas autóctones
(no mínimo, oito espécies nativas) para a biodiversidade, programando uma transição para
os 20% ao longo da próxima década.
38
12. Restaurar a natureza europeia
Cerca de 80% dos habitats naturais da União Europeia estão em estado degradado. Numa
década decisiva para reverter os impactos das alterações climáticas, é importante que a UE
reforce o seu compromisso e o seu programa em reverter esta tendência.
● tenham pelo menos 50% da sua superfície florestada (de acordo com o que é
natural e histórico em cada região biogeográfica);
● promovam ativamente a posse e gestão pública, apontando para, pelo menos, 50%
da área florestal;
● salvaguardem nos territórios prioritários atuais - e antecipando migrações de
espécies por pressão das alterações climáticas - pelo menos 10% de florestas
autóctones (no mínimo, 8 espécies nativas) para a biodiversidade, programando
uma transição para os 20%, ao longo da próxima década.
39
As Soluções Baseadas na Natureza (SbN) oferecem um foco holístico e efetivo para tratar
simultaneamente desafios relacionados com a segurança hídrica, a conservação da
biodiversidade e as alterações climáticas. Neste sentido, propomos:
O Plano usará, por fim, o Fundo Europeu de Solidariedade para apoiar, a nível local, o
desenvolvimento de estratégias de preparação e resposta em caso de catástrofe.
Lutamos por um planeta com cada vez menores níveis de poluição, desenvolvendo um
sistema integrado de gestão de resíduos para combater estes mesmos níveis na Europa e
no resto do mundo.
40
biodegradáveis para melhorar a gestão europeia dos resíduos. Para além disso, queremos
avançar com a discussão e adoção de normas europeias para a ecomodulação de resíduos
de embalagens, de modo a melhorar a eficácia da sua reciclagem.
Iremos introduzir regulamentos para restringir a poluição por metais pesados (que
envenenam a água), a poluição farmacêutica (que desenvolve superbactérias resistentes
aos antibióticos) e os microplásticos (que prejudicam a vida aquática).
Para combater a poluição por plásticos, apoiaremos também uma taxa europeia sobre a sua
produção. Atualmente, os Estados-Membros são sancionados pela União Europeia se não
cumprirem as metas de reciclagem de plástico. No entanto, não existem incentivos para que
as empresas deixem de usar plástico nos seus produtos. Propomos, portanto, taxar os
produtores de plástico e criar incentivos às empresas que optem por produtos sustentáveis.
Queremos uma Transição Azul na Estratégia Marinha Europeia, introduzindo legislação que
mantenha a pesca em níveis abaixo do Rendimento Máximo Sustentável e investindo mais
recursos do Orçamento da União em pescarias de pequena escala. Iremos expandir as
Áreas Marinhas Protegidas na UE, de modo a proteger o ecossistema marinho; defendemos
o compromisso de atingir o bom estado ambiental de todas as massas de água da União
Europeia.
41
18. Criar o novo Pacto para os Oceanos da UE
● a criação do Pacto para os Oceanos da UE, que deve integrar a legislação existente
relacionada com o meio marinho e assegurar a coerência entre as diferentes
políticas sectoriais, tornando-as simultaneamente adequadas para preservar e
proteger o nosso oceano;
● a criação do Fundo Europeu para o Oceano, baseando-se em duas componentes:
uma dedicada às medidas para a recuperação e conservação a longo prazo do meio
marinho; outra dedicada à transição dos sectores económicos dos oceanos para
atividades mais sustentáveis, justas, descarbonizadas e de baixo impacto.
42
A instalação de estruturas para fins de produção de energia eólica offshore é frequente nos
Estados-Membros do norte europeu, na proximidade à costa, e encontra-se planeada para
distâncias e profundidades maiores, em Estados-Membros como Portugal. Existe uma
significativa escassez de dados e conhecimento científico quanto aos impactos destas
estruturas (de instalação, de vibrações, ruído e electromagnetismo) na biodiversidade
marinha (como aves, cetáceos e peixes). Como tal, defenderemos energias renováveis
marinhas compatíveis com a biodiversidade, excluídas das áreas classificadas e daquelas
em vias de classificação ou tendentes a tal, e que sejam adotados critérios ambientais
rigorosos na implantação de energias renováveis offshore, sejam estas eólicas, das ondas
ou das marés. Assim, cumpriremos os objetivos da UE em matéria de energias renováveis,
minimizando os impactos no meio marinho.
Todas as pessoas têm o direito à água limpa e ao saneamento básico. Queremos consagrar
o “Direito à Água e ao Saneamento Básico” na Carta dos Direitos Fundamentais da União
Europeia e introduzir uma moratória em toda a liberalização dos serviços de água e
saneamento.
Queremos conciliar as leis de proteção animal num novo Padrão de Bem-Estar Animal, com
o objetivo de proteger os animais do abuso e do desrespeito por parte da indústria e
combatendo a degradação ambiental.
43
cruéis e o transporte de animais vivos, através de uma melhor regulação e maior
fiscalização da utilização de animais na indústria.
Sugerimos ainda a criação de uma base de dados única online (registo único europeu) de
microchips para animais de companhia, que uniformize e reúna num mesmo lugar os vários
registos nacionais dos Estados-Membros.
No que diz respeito ao transporte de animais vivos, iremos pugnar pela proibição da
exportação por via marítima ou aérea e continuaremos a lutar por um máximo de 8 horas
(com 4 horas para certas espécies) ou 300 quilómetros de tempo e distância de transporte
por terra.
44
Defendemos uma Política Alimentar Comum que redirecione os apoios atualmente dirigidos
a práticas insustentáveis na pecuária para a melhoria dos sistemas de alojamento e das
práticas de gestão, no interesse do bem-estar animal.
Os rios europeus têm várias barreiras (como açudes ou barragens) que foram sendo
construídos ao longo da história com vários objetivos, sobretudo o de reter água para uso
individual ou agrícola. Contudo, essas barreiras criaram impactos ambientais significativos
num dos ecossistemas mais sensíveis a nível global.
Durante uma crise da biodiversidade tão profunda como a que atualmente atravessamos, a
remoção de barreiras fluviais que não têm mais uso e que podem implicar um problema de
segurança devido à falta de manutenção, irá:
A remoção destas barreiras tem vindo a ser promovida nos últimos anos, com a remoção de
487 barreiras em 2023: um número recorde. É necessário persistir nesta missão e libertar
50.000km de rios e ribeiras na União Europeia até 2030, mas também acompanhá-la com
outras medidas igualmente importantes de restauração, como a recuperação da vegetação
ripícola, a proibição de descargas de efluentes tóxicos ou a remoção de espécies invasoras.
Com estas medidas, antevê-se também a recuperação da pesca, uma fonte alimentar local
e autossustentável no passado.
45
F. Agricultura e Pescas
A agricultura está no centro da ação humana diretamente ligada ao Ambiente. É uma
atividade com impactos diretos na biodiversidade e nas alterações climáticas. Na Europa,
tem-se caminhado para padrões de produção cada vez mais exigentes, para garantir
alimentos e outros produtos de qualidade, assegurando boas práticas laborais e ambientais.
No momento em que nos encontramos, não podemos recuar no compromisso com o futuro.
A agricultura europeia recebe a maior parte das dotações do orçamento comunitário, mas é
contribuinte líquida para o PIB da UE. A implementação de práticas agrícolas sustentáveis
requer, por vezes, períodos prolongados de adaptação, pelo que o apoio comunitário se
justifica – interromper estes apoios é faltar aos compromissos assumidos para o longo
prazo. Da mesma forma, os esforços de redução faseada dos fatores de produção
baseados em combustíveis fósseis não podem ser abandonados. A Europa precisa de uma
estratégia clara e firme para a agricultura, que combata as alterações climáticas, preserve o
meio ambiente e encha de resiliência o sector agroalimentar.
A pesca, por sua vez, está intrinsecamente ligada ao ambiente marinho. A abundância,
qualidade e diversidade de espécies depende diretamente do estado dos oceanos. Para
isso, a União Europeia tem caminhado com a Diretiva-Quadro Estratégia Marinha e Política
Comum de Pescas para uma pesca sustentável; um caminho que está longe de estar
concluído. A meta para o bom estado ambiental – delineada pela Diretiva-Quadro Estratégia
Marinha para os oceanos da União Europeia – ainda não foi atingida e as diferenças entre
regiões são severas. Muitos dos stocks de pesca da União Europeia continuam
sobre-explorados com baixos níveis de reprodução e as espécies têm as suas populações
marinhas ameaçadas. A gestão das pescas na União Europeia pode ir mais além.
46
em particular no fomento do sector cooperativo e no combate à concentração de capital.
Privilegiamos também a cooperação produtiva entre Estados-Membros.
Acreditamos que a União Europeia deve ter como objetivo a sua resiliência em alimentos de
qualidade, ao mesmo tempo que reduz a dependência da exportação comercial e do
dumping agrícola.
Sabemos que a agricultura europeia não está desligada do resto do mundo. As trocas
comerciais entre a UE e os seus parceiros têm consequências para as práticas ambientais,
laborais e comerciais noutras regiões do planeta; é nossa responsabilidade fazer as
escolhas certas. Por isso, rejeitaremos os acordos de comércio que coloquem em causa os
Direitos Humanos e a sustentabilidade à escala internacional, e exigiremos o
esclarecimento da posição da União quanto à circulação de bens agrícolas provenientes da
Ucrânia, no contexto do apoio a este país.
47
reflorestação e a reconversão florestais, numa estratégia de harmonia e reforço de
instrumentos jurídicos europeus, como a Lei do Restauro da Natureza – uma lei que
teremos de proteger a todo o custo perante as tentativas da direita e extrema-direita de a
fazer cair, colocando em causa as nossas metas ecológicas e ambientais.
Não aceitamos o recuo na estratégia percorrida até aqui, como disso é exemplo a
suspensão de medidas de proteção ambiental na agricultura, que constituem uma cedência
a interesses nacionais de mote eleitoralista. Exigimos esclarecimentos sobre a execução da
PAC no que aos apoios à agricultura sustentável disser respeito.
Para além disto, aumentaremos a contribuição da Europa para a rede Natura 2000, de
áreas protegidas e para os sistemas agrícolas e florestais de alto valor natural, assim como
para todos os corredores ecológicos e áreas de tampão necessárias.
3. Preparar o futuro
48
novas gerações que queiram trabalhar neste sector. Por isso, defenderemos medidas de
financiamento de projetos agrícolas para jovens. Ainda neste âmbito, apoiamos as
taxonomias de exploração agrícola que se possam integrar numa estratégia de resiliência
agroalimentar, em particular no fomento do sector cooperativo e no combate à concentração
de capital. Privilegiamos também a cooperação produtiva entre Estados-Membros.
É preciso adotar uma gestão baseada na ciência e seguir os pareceres sobre os Totais
Admissíveis de Captura de entidades como a International Council for the Exploration of the
Seas (ICES), a General Fisheries Commission for the Mediterranean (GFCM) ou a
Northwest Atlantic Fisheries Organization (NAFO) para a gestão das pescas e acabar com a
sobrepesca. Sendo a pesca um dos responsáveis pela contaminação dos oceanos com
plásticos, temos de apostar nos estudos de materiais biodegradáveis mais resistentes e
aplicá-los ao sector.
49
5. Aumentar a proteção marinha
Temos de tomar passos concretos para interditar a pesca de arrasto de fundo e de outras
formas de pesca intensiva e danosa para os ecossistemas marinhos em áreas marinhas
protegidas. De forma a proteger e restaurar ecossistemas e espécies vulneráveis, propomos
interditar a expansão das áreas atuais onde existe esta prática. É urgente acelerar a criação
de novas áreas marinhas protegidas, de forma a atingir o objetivo da Estratégia de
Biodiversidade da UE para 2030, garantindo o estatuto de proteção a 30% das águas
europeias, sendo que 10% devem ser áreas livres de pesca (áreas no-take). Devemos
ainda tomar passos na aplicação progressiva de uma abordagem da gestão da pesca
assente nos ecossistemas, que permitirá uma exploração mais sustentável dos recursos
pesqueiros.
50
8. Promover a alimentação saudável - Regime Escolar
51
G. Política Externa
À medida que o mundo se torna cada vez mais interligado e os desafios globais se
multiplicam, a afirmação da União Europeia no cenário internacional torna-se crucial. Num
contexto de crescente complexidade geopolítica, a política externa e de defesa da UE
desempenha um papel fundamental na promoção da estabilidade, da segurança e da paz,
tanto dentro como além-fronteiras, mas também na defesa do acesso universal à saúde,
educação, habitação, a uma alimentação saudável e aos Direitos Humanos.
Com vista a este objetivo, condenaremos todas as invasões e agressões a países com
fronteiras internacionalmente reconhecidas, procurando promover soluções diplomáticas e
multilaterais conjuntamente com a UE e a ONU.
52
Defendemos, em particular, a autodeterminação do povo sarauí na luta contra a ocupação
do Saara Ocidental por Marrocos e a promoção, conforme definido na Carta da ONU, da
sua proteção e de um processo credível para um referendo.
A capacidade da União Europeia agir em uníssono é uma das suas mais-valias na política
externa. Contudo, esta capacidade é regularmente limitada pelo facto da política externa ser
53
uma área que requer unanimidade. Esta prática faz com que a nossa resposta seja mais
lenta, menos ambiciosa e suscetível a chantagens por parte de certos Estados-Membros.
6. Apoiar os defensores de Direitos Humanos e lutar por um novo Plano de Ação para os
Direitos Humanos e a Democracia
54
7. Descolonizar e reparar o passado
Acreditamos que a Política Externa da União Europeia deverá incluir uma abordagem
abrangente da descolonização, incentivando os Estados-Membros a refletirem e a
reconciliarem-se com os seus passados coloniais, com uma política de reparação mais forte
e justa.
A União Europeia deverá também pressionar por medidas concretas que aliviem as dívidas
dos países afetados pela colonização europeia, permitindo-lhes investir no seu próprio
desenvolvimento. Tal poderá ser alcançado através de programas de perdão da dívida e de
assistência financeira, mas também de apoio a iniciativas de desenvolvimento sustentável e
social.
Perante as ameaças cada vez mais diversificadas e complexas que enfrentamos, temos de
reforçar a nossa capacidade de defesa coletiva e de resposta a crises. Apenas
conjuntamente poderemos continuar a dar resposta a questões como a invasão da Ucrânia
pela Rússia ou a necessidade de reduzir a dependência da União Europeia em relação à
OTAN.
55
O alargamento da União Europeia é uma estratégia fundamental para promover a
estabilidade, a prosperidade e a cooperação, dentro e fora das fronteiras europeias. Este
processo deverá ser conduzido de forma cuidadosa e criteriosa, mantendo os valores
democráticos e o Estado de Direito como pilares inabaláveis. As negociações em
andamento com a Ucrânia e a Moldova, bem como o caminho em direção à adesão plena
dos países dos Balcãs Ocidentais, representam oportunidades importantes para fortalecer
os laços entre estes países e a União Europeia.
No entanto, lutamos pelo respeito dos critérios de adesão, com especial foco na
Democracia interna e no respeito ao Estado de Direito. Qualquer aceleração do processo de
alargamento por motivos geopolíticos deverá ser firmemente rejeitada, garantindo que a
integração de novos membros seja baseada no cumprimento dos critérios estabelecidos.
Estes são essenciais em qualquer processo de candidatura, garantindo que a adesão à UE
fortalece os valores de Democracia, Liberdade e Justiça em toda a região.
Por fim - e porque acreditamos que a União Europeia deve defender padrões elevados para
a adesão, que incentivem os seus vizinhos a respeitar os Direitos Fundamentais e a
proteger a Democracia e o Estado de Direito - desenvolveremos novos critérios de adesão.
Entre outros, incluem-se nestes critérios a segurança social entre cidadãs, cidadãos e
residentes, os níveis de desigualdade ou as condições de trabalho.
Perante uma nova ordem multipolar que se cimenta no panorama global, em grande parte
devido à ascensão dos BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, torna-se
evidente a necessidade de uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, algo que já se
discute em grande escala. Este órgão, que tem por missão desempenhar um papel central
na manutenção da paz e da segurança internacionais, tem de refletir a atual dinâmica
geopolítica perante a cada vez maior pressão dos BRICS, necessitando de ser atualizado
na sua composição.
56
especial. Perante a cada vez maior pressão para a inclusão dos BRICS na composição do
Conselho de Segurança da ONU, queremos garantir uma representação mais equilibrada,
legítima e que represente melhor o cenário internacional - em contraste com uma
distribuição de lugares feita no pós-II Guerra Mundial.
Lutamos pelo fim imediato de todas as vendas de armas a Estados com registos de
violação de Direitos Humanos, bem como regulamentos europeus mais estritos sobre
exportações de armas. Exigimos transparência no lóbi das empresas do "complexo
militar-industrial" em Bruxelas.
57
H. Migração e Asilo
Lutamos por uma Europa humanista, progressista e onde todas as pessoas se sintam em
casa, independentemente da sua origem. Numa União de valores como a igualdade e a
celebração da diversidade, precisamos de uma postura firme contra as forças que
pretendem o retrocesso. Este caminho terá, obrigatoriamente, que combater a xenofobia, o
racismo, a homofobia ou a transfobia;cada pessoa deve, sem medo, expressar a sua visão
social, cultural, religiosa e do mundo.
Igualmente, pugnamos por uma maior representatividade de todas as minorias étnicas nas
instituições europeias, mas também nos processos políticos e nas tomadas de decisão,
valorizando a diversidade europeia e ouvindo toda a sociedade.
O nosso caminho deverá passar por uma verdadeira União, com um sistema pan-europeu
que garanta corredores legais e seguros para quem a procura, como migrantes e
refugiados, respeitando os Direitos Humanos e o Direito Internacional; onde ninguém
esqueça a sua integração na sociedade e o combate às causas da migração involuntária
desde a sua origem. Só assim garantimos uma Europa diversificada e multifacetada, onde
não fechamos a porta a quem pretende uma vida digna.
Precisamos de um novo Sistema Europeu Comum de Asilo (SECA) que respeite as leis
internacionais e que garanta os Direitos Fundamentais de quem procura a Europa como
porto seguro. Mas também precisamos de um sistema que vá mais longe, garantindo uma
devida proteção a todos os refugiados que tenham direito a este estatuto por uma via
diferente da tradicional, constante da Convenção de 1951 sobre Refugiados - como poderá
ser o caso de ativistas de Direitos Humanos, do clima ou de pessoas LGBTQIA+.
58
(incluindo situações de perseguição, tortura ou maus-tratos), mas também outras violações
graves de Direitos Humanos.
Lutaremos para acabar com o sistema hotspot de controlo e registo dos migrantes nos
países de entrada na União Europeia, e para melhorar rapidamente as suas condições de
vida antes, durante e após o seu percurso migratório. Por exemplo, os centros de detenção
de migrantes e refugiados terão de ser fechados, nomeadamente aqueles onde se verifica a
detenção de crianças. As instalações de receção deverão garantir o respeito pelos Direitos
Humanos, no que toca ao acesso à saúde, à educação, a habitação digna e
aconselhamento legal. São necessários espaços específicos onde mulheres, crianças e
outros grupos mais vulneráveis sejam protegidos perante situações de abuso ou violência.
Por fim, os procedimentos de asilo não deverão ser externalizados para outros países,
como tem sido discutido nas propostas de reforma da Comissão Europeia.
O prazo de resposta aos pedidos de asilo deverá ser de poucos meses – e não de anos,
como é comum atualmente.
59
2. Acabar com a Europa Fortaleza
Acreditamos que a Europa deve acolher os recém-chegados – não afastá-los. Por isso,
criaremos canais seguros, legais e abertos para entrar na Europa.
Propomos que os vistos Schengen sejam concedidos pelos consulados da União Europeia
em todo o mundo. Por isso, expandiremos o Cartão Azul UE, para que os candidatos a
emprego de fora da UE tenham a oportunidade de vir para a Europa. Introduziremos novos
esquemas de mobilidade de educação e trabalho para estudantes e trabalhadores de fora
da Europa.
Queremos ainda repor uma obrigação juridicamente vinculativa de emitir vistos humanitários
nos consulados e embaixadas dos Estados-Membros, destinada a pessoas que tenham
direito a proteção jurídica e humanitária internacional e que desejem entrar no espaço da
União Europeia de forma a requerer asilo.
60
Por fim, ampliaremos o financiamento para a reunificação familiar no Fundo para o Asilo, a
Migração e a Integração (FAMI), de forma a apoiar quem não possua recursos para viajar
para a Europa. Acreditamos que ninguém deve ser forçado a cair na pobreza ou a enfrentar
fenómenos de abuso, violência ou exploração para se reunir com a sua família.
Sublinhe-se que a cooperação com os países de origem ou de trânsito deverá ser permitida
apenas e só se for salvaguardado o respeito pelos Direitos Humanos destas comunidades
vulneráveis.
61
Igualmente, urge intensificar o combate ao tráfico humano, uma prática desumana que
frequentemente coloca migrantes em situações de perigo, abuso e exploração. A par da
implementação da OEBS, devemos também desenvolver a cooperação internacional para
desmantelar redes de tráfico humano, protegendo as vítimas e levando os responsáveis à
Justiça.
Lutamos pelo acesso dos recém-chegados à participação política a nível europeu nos seus
locais de residência. Acreditamos que o direito de voto é um passo crucial para a
participação, a autodeterminação e a integração em democracias saudáveis. Por isso,
lutaremos para que os recém-chegados possam desfrutar de todos os direitos políticos na
União Europeia, após o cumprimento de critérios básicos como um período mínimo de
residência. Igualmente, pressionaremos as respetivas organizações responsáveis pela
criação de programas em que os Estados-Membros concedam este mesmo direito de voto
em eleições nacionais e referendos.
8. Apoiar a integração
Acreditamos que a integração daqueles que escolhem a Europa como um destino seguro
implica uma obrigação comum de os apoiar, representando uma oportunidade comum de
enriquecer a sociedade europeia. Por isso, aumentaremos o financiamento do Fundo para o
Asilo, a Migração e a Integração (FAMI), de forma a garantir o acesso à educação, à cultura
e à aprendizagem dos idiomas dos países de acolhimento. Aumentaremos, igualmente, o
financiamento para estratégias de integração local que celebrem o intercâmbio cultural e
que ofereçam formação aos recém-chegados.
62
Defendemos que os trabalhadores migrantes e refugiados devem ter os mesmos direitos,
benefícios e proteção que cidadãs e cidadãos europeus. Perante um sistema que parece
condená-los à ilegalidade, à ausência de competências e à permanente ameaça de
deportação, combateremos a exploração destas comunidades através da criação de um
corpo especial da Comissão Internacional de Trabalhadores, que acompanhará os salários
e as condições de trabalho.
Reconhecemos que as comunidades locais possuem uma compreensão única das suas
capacidades e necessidades, e por isso devem ser capacitadas para tomar decisões que
reflitam essa realidade. Igualmente, o acolhimento de migrantes e de refugiados reflete uma
63
responsabilidade que deve ser partilhada por todos os Estados-Membros, urgindo a
distribuição equitativa e solidária dos esforços de receção, tendo em conta as capacidades
e recursos locais.
Até 2050, 200 milhões de pessoas serão obrigadas a deslocar-se devido a eventos
climáticos extremos, pelo que nos encontramos perante uma emergência ambiental e
humanitária.
Enquanto defensora dos Direitos Humanos e do combate aos efeitos das alterações
climáticas nas populações mais vulneráveis, a União Europeia deverá ser pioneira na
criação de um sistema de acolhimento e proteção jurídica dos deslocados climáticos. Urge
uma ação imediata perante a falta de um quadro legal específico para os refugiados
climáticos (movimento transfronteiriço) e os deslocados internos climáticos (dentro de um
Estado).
64
No âmbito deste Pacto, pretendemos discutir:
65
I. União Económica e Monetária
As instituições económicas devem servir os interesses da maioria, não de uma elite. As
políticas de austeridade na Zona Euro agravaram as desigualdades entre
Estados-Membros, regiões e classes, impedindo os governos nacionais de ultrapassar as
suas dificuldades económicas através de um reavivar do seu mercado interno. Se é certo
que o Fundo de Coesão da UE tem o seu papel no reequilibrar da economia europeia, é
igualmente certo que podemos ir mais além no sentido de democratizar as finanças públicas
na Europa, evitar outra crise financeira e devolver a confiança no projeto europeu. Temos de
acabar com a crise do Euro antes que ela acabe com a Europa.
1. Expandir o orçamento da UE
66
3. Democratizar o orçamento da UE
As cidadãs, os cidadãos e os residentes na UE devem ter uma voz ativa nas instituições
económicas mais poderosas da Europa. Iremos lutar para que o Mecanismo Europeu de
Estabilidade (MEE) fique sob jurisdição da UE, reforçando o papel do Parlamento Europeu
na gestão dos seus assuntos e decisões e pondo fim aos poderes de veto que permitem
aos países ricos impedir que o MEE sirva os mais pobres.
Queremos reformar o BCE para dar maior eco às necessidades dos cidadãos da Europa.
Nesse sentido, apresentamos as seguintes propostas:
67
objetivos sociais e ambientais da UE. Isso implica não apenas apoiar a transição
energética, mas também mitigar os efeitos redistributivos da política monetária.
Estes objetivos fazem parte do mandato secundário do BCE, muitas vezes
negligenciado, e devem ser cumpridos integralmente.
● mais transparência: exigir a divulgação do registo de votação individual dos
membros do Conselho do BCE, promovendo a transparência no escrutínio das suas
decisões. Adesão do BCE ao Registo de Transparência da União Europeia,
restringindo o acesso a reuniões com os membros dos seus órgãos de decisão a
lobistas registados.
A Zona Euro precisa de uma solução sustentável para o problema da elevada dívida pública
dos seus Estados-Membros. Propomos que os Estados-Membros possam converter as
suas dívidas, através de empréstimos concedidos pelo BCE a taxas suficientemente baixas
que possibilitem a redução do serviço da dívida de curto e longo prazo. Garantiremos que o
BCE estará protegido de perdas, assegurando a prioridade desta nova responsabilidade
sobre as suas restantes obrigações e forçando o Mecanismo Europeu de Estabilidade a
garantir as suas obrigações. Este plano é necessário para libertar os Estados-Membros dos
constrangimentos causados pelo serviço da dívida.
Em 2020, as regras fiscais presentes no Stability and Growth Pact (SGP) foram suspensas
para que os Estados-Membros pudessem aumentar os seus gastos no combate à
COVID-19. No entanto, em 2023, essas regras fiscais foram novamente postas em vigor.
Apesar de algumas reformas terem sido feitas, estas são ainda insuficientes, mantendo os
objetivos de défice e dívida pública demasiado rigorosos e obsoletos no contexto geopolítico
atual. A vigência dos critérios de Maastricht limitam severamente o investimento público,
principalmente nas economias do sul da Europa, que se vêem perante sucessivas ameaças
de instauração de procedimentos por défice excessivo. Por isso, importa incentivar a UE a
fazer reformas fiscais que não provoquem a redução do investimento público nem acentuem
as divergências entre os Estados-Membros. Queremos incentivar políticas para a UE como
um todo, não apenas para a estabilidade financeira de cada membro a nível individual.
68
8. Reformar os indicadores económicos
69
esses bancos para uma jurisdição da Zona Euro a fim de os reestruturar e recapitalizar.
Propomos também separar a banca comercial da banca de investimento em toda a UE.
70
J. Justiça Fiscal e Financeira
A economia deve servir as pessoas, não servir-se delas. Por isso, pretendemos transformar
o sistema financeiro capitalista e recentrar a atividade económica naquilo que importa:
melhorar a qualidade e dignidade de vida das pessoas. Os desafios que a Europa enfrenta
aumentam com o estalar da guerra nas suas fronteiras, que traz consigo a tragédia da
morte, mas também o aumento do custo de vida para todas as pessoas do continente. A
inflação, a crise da habitação e a não-atualização salarial em linha com a inflação têm vindo
a precarizar a vida dos europeus e residentes no continente, muitos deles ainda a sentir os
efeitos da crise das dívidas soberanas de 2011. É neste contexto, contudo, que sectores
como a energia, a banca, o retalho ou o armamento têm vindo a apresentar lucros recorde,
numa transferência direta de riqueza das pessoas para os acionistas de grandes
conglomerados, não raras vezes monopolistas. Precisamos de um plano forte e robusto
para combater o crescimento de assimetrias económicas, impedindo a proliferação de
paraísos fiscais dentro do mesmo espaço económico e financeiro europeu.
2. Combater a corrupção
O combate à corrupção deve ser sempre uma prioridade. Propomos aumentar os recursos
do Gabinete Europeu Antifraude para investigar o uso de dinheiro público na UE, de forma a
reforçar a sua capacidade para continuar a sancionar fraude, corrupção e outras atividades
ilegais contra os governos dos Estados-Membros e funcionários da UE que sejam
considerados culpados. Este aumento serve também para eliminar inconsistências no IVA,
que anualmente permitem fraudes fiscais avultadas. Reconhecemos que os reforços a nível
regulatório e de cooperação institucional não são suficientes, sendo essencial que sejam
71
alocados, a nível da União, poderes de aplicação direta de medidas punitivas, em caso de
corrupção transnacional.
Existem milhares de empresas de fachada e “entidades com fins especiais” que não
declaram os seus verdadeiros proprietários. Defendemos a criação de um Registo de
Propriedade de Usufruto, que faça com que todas as empresas declarem a identidade dos
seus proprietários e os detalhes dos seus ativos. Exigimos transparência.
● Aumento da Taxa Mínima Efetiva: Propomos elevar a taxa mínima efetiva para, pelo
menos, 25%, dado que esta corresponde aproximadamente à taxa média global de
IRC. Esta mudança resultaria num aumento substancial das receitas fiscais globais e
desencorajaria a transferência de lucros entre jurisdições;
72
● Eliminação de Isenções: Defendemos a abolição da “exclusão de substância”, que
fomenta a concorrência fiscal internacional ao permitir que a taxa mínima efetiva
seja inferior a 15%.
Estas reformas requerem uma reabertura das negociações internacionais sobre a tributação
dos lucros das empresas multinacionais, de modo a alcançar um sistema mais justo e
consistente.
6. Reduzir a especulação
Para evitar uma crise financeira como a que aconteceu em 2008/2010, propomos que se
regule a atividade financeira dos vários participantes nos mercados financeiros que são
pouco regulados; à imagem do que foi feito com a banca desde a crise financeira, onde o
aumento da regulação bancária levou ao aumento da resiliência do sector e a uma maior
proteção ao consumidor.
73
Defendemos a criação do EURO digital público, por parte do Banco Central Europeu, de
modo a que as moedas digitais privadas (com a sua opacidade e volatilidade conhecidas)
não monopolizem o mercado de criptoativos. Pretendemos garantir que os criptoativos
(criptomoedas, tokens, blockchain e NFTs) e todas as atividades individuais ou comerciais
ligadas aos criptoativos sejam devidamente reguladas e tributadas, no âmbito da regulação
da Autoridade Bancária Europeia - Asset-referenced and e-money tokens (MiCAR). Neste
sentido, defendemos que os mineradores de criptoativos incorporem os impactos
ambientais que a sua atividade económica gera, atuando pela via fiscal e na mitigação das
suas elevadas necessidades energéticas.
Neste sentido, propomos acabar com o voto por unanimidade nas questões financeiras e
adotar o sistema de votação por maioria qualificada. Assim, poderemos mais facilmente
agilizar o processo decisório e aprovar medidas para enfrentar desafios económicos, melhor
refletindo a diversidade de interesses dos Estados-Membros.
74
K. Coesão Territorial, Transportes e Mobilidade
Queremos uma União Europeia coesa. Mas para isso, as pessoas precisam de conseguir
deslocar-se de forma fácil, rápida e barata. A mobilidade é crucial no dia-a-dia de todos os
residentes na UE. É a mobilidade que liga pessoas, comunidades e empresas, que permite
que se possa experienciar as diferentes culturas viajando em modo de lazer, resultando
numa maior integração europeia e na construção do espírito europeu.
É hora de acabar com a priorização deste tipo de transporte e dirigir os esforços e fundos
para o investimento em transportes públicos verdes e para a mobilidade suave. Visionamos
uma Europa verde, ecológica e sustentável e, por isso, rejeitamos voos domésticos em
distâncias curtas e a aviação executiva. Queremos uma Europa que fomente a conetividade
e a automação, para um uso eficiente do espaço urbano.
A “Europa das Regiões” é incentivada pela União Europeia. É consensual que a ideia de
região ajuda a procura de soluções socioeconómicas e ambientais numa escala adequada,
mantendo a coesão territorial. As populações locais devem ter poder para decidir as suas
necessidades e, economicamente, a descentralização cria maior eficiência na afetação de
recursos públicos.
75
● valorizar como fator de elegibilidade territórios de baixa densidade e das cidades
médias no acesso aos fundos europeus, para reforçar as infraestruturas da
educação, habitação, saúde e justiça, entre outras áreas essenciais a uma vida
digna;
● garantir acesso fácil a serviços de primeira necessidade nas cidades médias e
territórios de baixa densidade, promovendo a relocalização de empresas e
instituições públicas.
Propomos uma expansão significativa para o Fundo de Coesão da UE, a fim de apoiar as
regiões subdesenvolvidas da União Europeia. Queremos transferir o financiamento da
coesão ao nível dos Estados-Membros, dotando fundos para as localidades carentes e
capacitando-as para investir em serviços locais. Expandiremos também as atribuições do
Fundo de Coesão da UE para incluir investimentos em habitação, saúde e equipamentos
sociais.
76
Queremos continuar a incentivar e a criar condições para que se opte pelo transporte
ferroviário verde, investindo em ligações de alta velocidade e com composições ferroviárias
modernas e confortáveis, onde o preço da ligação ferroviária seja inferior ao preço da
mesma viagem aérea. Queremos um mapa ferroviário europeu que ligue as capitais dos
Estados-Membros, assim como as principais cidades e regiões até 2035, promovendo
formas de mobilidade amigas do ambiente e da coesão territorial. Queremos que o
Parlamento Europeu interceda junto da Comissão Europeia para que esta apresente uma
proposta juridicamente vinculativa, que obrigue à criação de uma rede ferroviária europeia
de alta velocidade.
Lutamos para que a aviação executiva privada dentro do espaço aéreo europeu seja
fortemente fiscalizada, regulada e taxada, desincentivando-a. Propomos uma Europa livre
da aviação executiva privada a combustíveis fósseis, que é gravemente responsável pela
emissão de gases poluentes; uma Europa onde só a aviação executiva elétrica (caso se
confirme a viabilidade) tenha espaço para existir. Queremos também promover junto da
Comissão Europeia uma política europeia de descarbonização do sector aeroportuário.
Queremos que as zonas urbanas da União Europeia possam ter velocidades máximas de
30 km/h, zelando assim pela segurança dos condutores, passageiros, peões e ciclistas.
77
Queremos que o ambiente urbano desmotive o tráfego automóvel e o excesso de
velocidade, ruído e poluição, de forma a que as (inevitáveis) falhas humanas não resultem
em acidentes fatais. Promovemos o investimento em redes de transporte de mercadoria
ferroviárias, que permitam reduzir a pegada ecológica dos bens produzidos, a nível local e
internacional, e dêem lugar a uma infraestrutura mais segura com, por exemplo, menos
passagens de peões ou de estradas. Queremos promover que a exportação e importação
de bens dentro da UE seja tendencialmente feita pela ferrovia, garantindo que os valores e
tarifas sejam justos e iguais entre os vários Estados-Membros, numa concorrência leal com
o transporte rodoviário.
Queremos que o Passe Interrail tenha preços mais reduzidos, de modo a promover o
intercâmbio de experiências culturais dentro da UE, democratizando e universalizando o
seu acesso a todas as pessoas, independentemente da sua condição sócio-económica. É
imperativa uma União Europeia mais solidária e unida.
Ao nível do vetor de energia, deve ser dada prioridade à investigação de novos vetores de
energia verdadeiramente sustentável, como as baterias de ião de sódio.
78
10. Aumento do financiamento para o Mecanismo Europeu de Proteção Civil
79
L. Educação e Juventude
Mais do que uma necessidade, a educação é a chave para o progresso e prosperidade com
que sonhamos. É um espelho da sociedade e capacita as gerações seguintes. No entanto,
numa Europa ainda muito desigual, a escola nem sempre tem conseguido lidar com essa
disparidade. É por isso que defenderemos uma forte aposta na educação pública e
universal dentro do espaço Europeu.
Queremos que os jovens na União Europeia possam ter tempo, liberdade e condições para,
de facto, serem jovens. Lutamos para restaurar a confiança dos jovens no projeto europeu e
para que tenham mais oportunidades de estudar, viajar e trabalhar no espaço da União
Europeia.
Um sistema público e gratuito de educação, com bons recursos, pode ser um poderoso
motor para uma Europa justa e inclusiva. O direito à educação é um direito universal, que
não se esgota num percurso escolar e académico estruturado e previamente delineado.
Reconhecemos este direito a todos, mas em especial a quem viu a sua formação escolar
incompleta ou interrompida; as lacunas no percurso escolar e académico não devem servir
para excluir ninguém de aprendizagens futuras. Propomos a criação de uma bolsa de
créditos de aprendizagem, atribuída a todas as pessoas à nascença e que possa ser
utilizada em qualquer altura da sua vida.
Queremos planear um sistema público europeu de educação mais integrado, mas que
respeite a diversidade dos modelos educativos em toda a UE. Novos fundos de
solidariedade que invistam em sistemas públicos de educação, de modo a equilibrar os
resultados escolares em toda a Europa. Cada curso, tanto no nível secundário como no
universitário, garantirá um diploma correspondente a um nível europeu comum, com
equivalência automática em toda a UE.
O programa Garantia para a Juventude, que apoia muitos jovens a ingressar no mundo do
trabalho e a adquirir competências, teve um significativo reforço durante o período
pandémico para assegurar que os jovens não são deixados para trás no mercado de
80
trabalho. No entanto, muitos jovens continuam sem acesso a oportunidades de formação ou
de trabalho dignas, sobretudo no Sul da Europa.
Queremos que esse investimento nos jovens, em vez de uma exceção, se torne a norma e
seja ainda mais reforçado. Asseguraremos o aumento do investimento dos
Estados-Membros, num acesso mais amplo a formação e a trabalho com significado. Aos
Estados-Membros com taxas de desemprego jovem superiores às da UE, devem ser
alocados mais recursos para a combater. Através de uma melhor supervisão, queremos que
a Garantia para a Juventude coloque os jovens em empregos não apenas dignos, mas que
também ofereçam a oportunidade de desenvolver carreiras profissionais. O relançamento
deste programa será feito em articulação com as organizações de jovens, capacitando-as
para lançar iniciativas próprias.
Queremos travar a exploração dos jovens. Apelamos ao fim dos estágios não-remunerados
ou pagos abaixo do salário mínimo. Apoiamos a formação de sindicatos de jovens na
Comissão Internacional de Trabalhadores, que negoceiem em nome dos trabalhadores
jovens.
Os jovens quase não são ouvidos na UE: poucos participam na política e ainda menos
encontram um lugar à mesa para negociar e decidir o seu futuro. Por isso, o LIVRE quer
incluir uma quota de representantes da juventude em todos os níveis de governação
europeia.
81
Além disso, somos pela grande expansão do Diálogo Estruturado, um programa que visa
suscitar o debate entre os jovens e os responsáveis políticos, com foco nas políticas e
estratégia da UE para a Juventude. Esta é uma expansão física e digital, para que o
programa visite as comunidades com menos acesso a instituições da UE ou, através de
plataformas digitais, chegue a jovens em regiões geograficamente isoladas.
Serão os jovens a herdar as instituições europeias: faz sentido que comecem desde já a
intervir na sua construção.
Propomos uma iniciativa a nível europeu para formar uma nova geração de professores. O
Corpo Europeu de Ensino apoiará os recém-graduados a ensinar nas escolas básicas e
secundárias em toda a UE. O objetivo é proporcionar novas oportunidades aos jovens para
se tornarem professores e viajarem pelo continente, mas também para fomentar o ensino e
a aprendizagem multilingues nos sistemas de ensino básico e secundário da Europa.
Os europeus partilham uma história comum que merece um lugar destacado no nosso
sistema educacional. Propomos o desenvolvimento de um novo currículo sobre a História
da Europa para estudantes do ensino básico e secundário em toda a Europa, incentivando
as escolas a adotarem conteúdos comuns que destaquem esta história partilhada.
82
M. Conhecimento, Ciência e Ensino Superior
O conhecimento científico é um requisito para o desenvolvimento e progresso social,
tecnológico e económico da União Europeia. É um pilar fundamental de uma sociedade
justa e sustentável. São inúmeros os desafios a que a UE precisa urgentemente de
responder e para os quais as soluções dependem necessariamente de um sistema
científico e tecnológico robusto e eficaz. Para fazer frente às questões técnicas e éticas das
alterações climáticas, das novas pandemias, da genética e da inteligência artificial, um
sistema científico capaz e ao serviço da comunidade europeia é crucial. A ciência é
igualmente fundamental para contribuir para a resolução dos problemas da habitação, da
mobilidade e da educação, para projetar novas formas de trabalho, para combater as
desigualdades e as alterações climáticas.
A ciência só pode ser o pilar de uma sociedade justa e sustentável se for uma ferramenta
na tomada de decisão informada pelas instituições democráticas e pelas populações. Urge,
nesse sentido, trabalhar para fortalecer a cultura científica da comunidade europeia, seja
pelo investimento em formação superior e ao longo da vida, através de programas e
iniciativas de comunicação de ciência, seja fomentando práticas de investigação e inovação
responsáveis.
83
valores das bolsas de mobilidade, em função do custo de vida de uma área
geográfica concreta (cidade ou região do país de destino);
● apoie mais e novos programas de formação política e cívica, que incentivem os mais
jovens a interessarem-se pelo ativismo internacional de partilha de conhecimento
assente na mobilidade, reduzindo o foco atual nas competências de mercado, para
que seja a base de um movimento juvenil pan-europeu;
● se adeque e adapte às necessidades das pessoas com deficiência ou com doenças
crónicas, eliminando barreiras à sua participação através da garantia de acesso
regular a cuidados de saúde específicos;
● promova o alargamento das parcerias entre instituições de Ensino Superior, atuando
a União Europeia enquanto potenciadora e intermediária para a concretização
dessas mesmas parcerias;
● se alargue ainda mais a instituições e países extracomunitários, pois só assim se
garante a universalidade do programa, consolidando-o para lá das fronteiras da UE.
84
● o escrutínio do impacto da concentração editorial, redução de custos e
automatização na qualidade da arbitragem científica operada pelos grupos
multinacionais editoriais;
● promover a Slow Science, uma cultura de trabalho de fazer ciência que retire o foco
da quantidade de publicações por ano ou da velocidade com que se apresentam
resultados da produção científica, pondo o foco na qualidade e credibilidade dos
mesmos resultados e nas condições de trabalho dos seus autores;
85
3. Defender o Ensino Superior de qualidade, cooperante e justo
● a fixação dos tetos máximos aplicados às propinas pagas por estudantes dos
Estados-Membros em instituições de Ensino Superior da UE;
86
conta as especificidades das fórmulas de cada Estado-Membro para a sua
implementação.
Esta rede de alojamento estudantil deve estar associada a uma linha de financiamento e
outra de empréstimo europeu, especificamente dirigida ao aumento do alojamento
estudantil nos países que diagnostiquem valores reduzidos ou abaixo da média nas redes
públicas de residências universitárias. A rede será composta por alojamentos nas várias
cidades europeias que acolhem estudantes Erasmus+, dando prioridade àqueles com maior
vulnerabilidade socioeconómica. Deve prever-se, desde o início, a monitorização do
funcionamento da rede, de forma a avaliar a necessidade de alargar a frações privadas a
custos acessíveis a bolsa de alojamentos estudantis.
87
N. Habitação
A habitação é um direito de que dependem todos os outros Direitos Humanos e
constitucionais. Não existe saúde, educação, justiça, participação cívica ou política sem
uma habitação digna. Na última década, a habitação tornou-se um bem transacionável e
financeiro e perdeu a sua função social, a de ser uma casa para residência permanente de
pessoas integradas num contexto urbano ou rural.
O acesso à habitação tornou-se um problema cada vez mais abrangente e difícil de resolver
nos vários Estados europeus e a União Europeia tem um papel importante de promoção de
políticas públicas de habitação, boas práticas municipais e regionais e criação de linhas de
financiamento e condições de empréstimo que permitam a sua execução. O relatório dos
Verdes Europeus “Habitação acessível e digna para todos”, realizado no último mandato, foi
um primeiro passo para alargar a perspetiva das instituições europeias sobre o assunto, e
iremos continuar esse trabalho.
Propomos a criação de um plano europeu para garantir habitação acessível e digna para
todas as pessoas. Este plano permitirá suportar o investimento necessário no parque
habitacional público após o investimento excecional do Plano de Recuperação e Resiliência
e destina-se a:
88
2. Regular o alojamento local
89
4. Investir no cooperativismo habitacional
Defendemos o cooperativismo habitacional como uma das áreas mais eficientes, a médio e
longo prazos, para solucionar a crise habitacional em que vivemos. O cooperativismo
habitacional tem uma dinâmica renovada ainda que continue em perda numérica das
organizações existentes. Devem ser estabelecidas metas específicas para o
desenvolvimento do cooperativismo habitacional na Europa e devemos investir no
desenvolvimento e capacitação técnica das organizações do sector.
90
O. Saúde
Ainda que não se trate de uma competência específica da União Europeia, durante a
pandemia da COVID-19 a Saúde revelou-se uma área de intervenção relevante na esfera
europeia. Defendemos uma mudança de paradigma na abordagem à Saúde que a favoreça
em todas as políticas, o trabalho em rede na organização dos serviços públicos e a
promoção da saúde, ao invés de uma saúde maioritariamente centrada no tratamento da
doença. Defendemos a coordenação da promoção da saúde entre Estados-Membros, numa
visão alargada das políticas públicas de saúde.
Em 2022, foi anunciado que a União Europeia iria investir um montante adicional de 125
milhões de euros para reforçar os sistemas de saúde, em especial para o alargamento da
cobertura universal de saúde. Contudo, este investimento revela-se ainda escasso face às
necessidades em cuidados de saúde das pessoas cidadãs e residentes nos
Estados-Membros. Por isso, propomos:
91
● a aposta na sectorização / Saúde Mental e Psiquiatria de sector, a nível europeu, de
modo a garantir uma prestação de cuidados de saúde mental de proximidade;
● o reforço da contratação de recursos humanos, sobretudo não-médicos (psicólogos,
enfermeiros especialistas em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica,
terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, entre outros), de modo a garantir uma
prestação de cuidados de saúde mental transdisciplinar;
● o investimento em áreas estratégicas (saúde mental nas escolas, nos locais de
trabalho ou nos estabelecimentos prisionais), de modo a que os cuidados de saúde
mental se tornem mais acessíveis a todos e mais virados para uma lógica de
promoção da saúde e prevenção da doença.
Tal como ocorreu durante a pandemia da COVID-19, existe a possibilidade de, no futuro,
surgirem novos eventos de saúde pública (como epidemias ou pandemias) que possam
condicionar a saúde pública da população. De modo a dar resposta a este tipo de situações,
desejamos a preparação para eventos de saúde pública de grande impacto, através:
92
● uma partilha de conhecimento mais próxima entre os Estados, incluindo dos
recursos gerados pela investigação em saúde, de modo a potenciar uma maior
equidade na qualidade dos serviços de saúde dos diferentes Estados-Membros da
UE.
O Cartão Europeu de Seguro de Doença (CESD) trata-se de uma ferramenta essencial para
os residentes na União Europeia e que circulam entre os Estados-Membros. De modo a
simplificar os processos relativamente ao mesmo:
93
● o controlo dos preços finais dos medicamentos mais caros para os utentes e
sistemas de saúde;
● o incentivo aos laboratórios a fornecer os medicamentos de acordo com as
necessidades em cada Estado-Membro, e não numa lógica de rateio com base no
mercado;
● o incentivo a que as cidadãs, cidadãos e residentes na União Europeia beneficiem,
em disponibilidades adicionais de medicamentos ou menores custos, de
medicamentos desenvolvidos com apoios dos Estados e União Europeia (apoios
financeiros ou em meios à investigação).
Atendendo a que a alimentação pode contribuir para diversos problemas de saúde, e que
esta tende a apresentar-se pior do que seria desejável nos Estados-Membros da União
Europeia, é essencial:
A União Europeia deve liderar o caminho para uma política sensata e racional sobre drogas.
Por um lado, existe o grave problema de haver diferentes enquadramentos legais nos
Estados-Membros: uns criminalizam o consumo de drogas; outros, como o de Portugal,
implementaram políticas de sucesso. Por outro lado, e nos casos em que o consumo de
drogas foi já descriminalizado, continuam a existir incongruências. Por exemplo, a cannabis
é descriminalizada mas o seu consumo é ilegal. Assim, propomos:
94
os riscos e com a venda restrita a pessoas adultas. Aliado a isto, a criação de um
programa público de informação sobre o uso de cannabis, para um consumo
responsável e consciente numa perspetiva de redução de risco.
Cerca de um terço da população europeia tem, pelo menos, uma doença crónica e a
prevalência é maior nos adultos com menores rendimentos (dados da OCDE, 2021).
Defendemos a criação de um Estatuto Europeu de Doente Crónico, com uma definição
clara do que é uma doença crónica e que garanta:
Este estatuto deve ser harmonizado entre Estados-Membros, partindo dos estatutos
nacionais quando já existam, num processo envolvendo associações representantes de
doentes e profissionais de saúde. A sua atribuição deve corresponder, em qualquer
Estado-Membro, à concessão dos mesmos apoios e acomodações que no país emissor,
tendo em conta as especificidades de cada sistema de saúde, de segurança social e outros
intervenientes relevantes na vida de uma pessoa com doença crónica.
95
● conceder o mandato à Agência Europeia do Medicamento para estabelecer, junto de
titulares de autorização de introdução no mercado de produtos terapêuticos para os
quais uma quebra de inventário seja considerada crítica, valores mínimos de
produção em solo europeu de todos os produtos envolvidos na sua cadeia de
produção.
96
P. Arte e Cultura
A cultura é uma herança que partilhamos, uma língua comum que adquire uma dimensão
crucial nas nossas vidas coletivas. A arte e a cultura são alegria, qualidade de vida,
imaginação, comunidade; mas são também promotoras de criatividade, experimentação,
investigação e inovação.
Aspiramos à expansão das atuais competências da União Europeia neste domínio, com a
inclusão, a descolonização e a construção de uma Europa feminista como prioridades. A
cultura deve ser um pilar da democracia europeia, através de políticas promotoras da
autonomia das pessoas europeias e da sua capacidade de organização e associação. Os
artistas e profissionais do sector cultural devem ser livres e encorajados a exercer o seu
conhecimento e arte no espaço europeu, através de medidas que os valorizem e
desenvolvam as suas comunidades.
A privatização da arte e do sector cultural na Europa tem sido uma constante nas últimas
décadas. Enquanto as instituições culturais europeias perdem apoios e são subfinanciadas,
colecionadores e fundos privados acumulam a riqueza cultural que deve ser partilhada.
Além de resistir a esses esforços de privatização, apoiamos a classificação de todos os
locais históricos da Europa como domínio público, assim consagrando a propriedade
coletiva de património arquitetónico, obras de arte e outros bens culturais comuns.
Defendemos novos financiamentos da UE para reforçar os investimentos dos
Estados-Membros nas suas instituições culturais – de museus históricos a centros de arte
comunitários.
97
2. Valorizar os artistas e trabalhadores da cultura
Queremos acabar com a exploração no sector cultural, uma realidade que qualquer
profissional da área tão bem conhece. Através da criação de um Estatuto Europeu do
Artista e Trabalhador da Cultura, queremos um enquadramento comum e transnacional que
os proteja e valorize. Os artistas e profissionais da Cultura devem encontrar na Europa um
sector laboral mais uniforme, com condições de trabalho dignas e normas comuns aos
vários Estados-Membros. Esta valorização passa também pelos direitos de autor e conexos,
para que autores, intérpretes e executantes recebam uma remuneração justa face aos grandes
lucros da sua indústria e das plataformas de difusão.
3. Descolonizar a cultura
Somos pela descolonização da cultura europeia. Dizemo-lo sabendo que esta é uma
conversa difícil, mas necessária.
É uma conversa que a Europa já começou de forma tímida, mas precisa de intensificar.
Como partido de diálogo, estamos prontos para a ter.
98
UE, bem como um novo fundo dedicado aos jovens e à sua formação artística. E,
sobretudo, estimular iniciativas como a New European Bauhaus, que enchem de vida o
Green Deal europeu através da criatividade.
As instituições culturais europeias têm de ser acessíveis a todos. Por isso, propomos um
modelo Europeu para a gestão e o acesso democrático às instituições culturais dos
Estados-Membros. Queremos um acesso universal às instituições e aos programas
financiados pelos fundos europeus; um acesso livre de barreiras económicas e sociais; um
acesso democrático, que inclua as comunidades na definição das missões e dos programas
das instituições; um acesso mais igualitário e representativo, em particular na gestão e na
aplicação dos recursos do sector. Este acesso não se deve restringir à entrada nas
instituições, mas também preferencialmente incluir a participação na sua gestão e escolha
dos programas.
O espaço europeu precisa de um jornalismo forte, dinâmico e independente. Para que isso
aconteça, os jornalistas e os media precisam de tempo e meios para informar, sem estarem
sujeitos a pressões externas, financiamentos obscuros ou campanhas de desinformação.
Por isso, propomos um Fundo Europeu para os Media Públicos que apoie projetos a nível
local, regional ou nacional. Este Fundo serve para financiar conteúdos que promovam uma
visão democrática e pluralista, reforçando o jornalismo de investigação e a estratégia
Europeia contra a desinformação. Apoiamos novas formas de financiamento dos media à
escala europeia, nomeadamente com base nos lucros das plataformas de streaming.
99
E numa Europa que se quer livre, plural e informada, defenderemos sempre o jornalismo de
investigação e as suas fontes jornalísticas, na senda do Media Freedom Act. Opomo-nos
aos monopólios nos media e trabalharemos para que a transparência dos negócios
europeus neste sector seja uma obrigação com critérios comuns à escala Europeia.
100
Defendemos a cultura como um direito universal. Lutaremos junto da UE para que, no
quadro das Nações Unidas, se inclua o direito universal à criação e fruição cultural e
artística como uma dimensão estruturante e autónoma, nas negociações para o texto que
irá substituir a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
101
Q. Soberania Digital
Acreditamos numa Europa tecnologicamente soberana, onde os europeus tomam decisões
sobre os seus dados, plataformas e inovação. Os nossos dados devem pertencer-nos, as
nossas conversas privadas devem permanecer privadas e as inovações financiadas
publicamente devem pertencer ao público. Pretendemos colocar o poder da tecnologia ao
serviço das pessoas.
Introduziremos legislação que consagre o direito à Internet livre e sem censura. Para
concretizar o acesso universal à Internet, a legislação atribuirá aos Estados-Membros a
responsabilidade de desenvolver e expandir a sua infraestrutura digital. Para garantir que
todas as pessoas têm a capacidade de navegar na Internet, colocaremos de novo em
prática o “Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida” da UE para desenvolver a literacia
digital e a capacidade digital em toda a Europa.
102
Preveniremos a discriminação algorítmica de vencimentos, nomeadamente nas plataformas
de falso trabalho independente. Em todos os Estados-Membros, as empresas que gerem
essas plataformas devem apresentar aos trabalhadores um método de cálculo escrutinável
dos valores pagos, impedindo alterações rápidas e arbitrárias da remuneração por trabalho
igual, com base em fatores hipergranulares como localização, comportamento individual ou
previsão de procura e oferta.
103
as barreiras de saída de que as grandes plataformas se servem para exercer controlo
monopolista (como efeitos de rede) e encorajaremos novas iniciativas digitais, tanto públicas
como privadas. Para tal, queremos que sejam criadas instituições de desenvolvimento de
software livre e aberto em cada Estado-Membro, de modo a que estes possam colaborar
para a soberania tecnológica europeia.
● que todo o código desenvolvido com dinheiro público fique no domínio público;
● expandir a cláusula de “Uso Justo” em todas as leis de direitos de autor;
104
● reverter o ónus da prova para que os bens sejam considerados bens digitais
comuns, excepto se se provar estarem protegidos por direitos de autor;
● rever a Diretiva de Direitos de Autor da UE para reequilibrar os direitos dos
utilizadores, criadores e inovadores.
105
R. Comércio Internacional
A política de comércio internacional da UE permite o estabelecimento de regras e normas a
nível mundial que revelam os nossos valores no respeito pelo direito internacional, Direitos
Humanos, critérios ambientais e de protecção dos ecossistemas, e ambições climáticas.
Acordos comerciais não devem nem podem perturbar ou debilitar os ambientes ou Direitos
Humanos dos países com os quais a UE faz comércio, nomeadamente os direitos dos
povos indígenas. O comércio dito livre tem de ser acima de tudo justo, sendo combinado
com medidas que limitem subsídios danosos para o ambiente, respeitando sempre os
compromissos internacionais estabelecidos pelo Acordo de Paris, bem como pelas diversas
convenções das Nações Unidas subscritas pelos Estados-Membros da União Europeia.
Novos acordos de comércio devem pugnar pela garantia do respeito pelos Direitos
Humanos e dos princípios do comércio justo, nomeadamente na produção, consumo e
comércio.
Além disso, queremos terminar o estabelecimento de sistemas de justiça privada (ou outros
semelhantes) que sobrepõem os interesses das empresas multinacionais ao interesse
público. Sistemas deste tipo tornaram-se cada vez mais comuns no processo de
hiperglobalização neoliberal, com consequências perversas para o ambiente, para a coesão
social e para a própria democracia.
Queremos pôr fim à impunidade empresarial que resulta da forma como empresas
multinacionais jogam com as diferentes jurisdições para evitar pagar indemnizações
associadas a violações graves dos Direitos Humanos. A legislação europeia nesta matéria
ainda é insuficiente e urge reforçá-la na UE. Além disso, urge ainda participar de forma
empenhada a nível europeu na criação de um Tratado Vinculativo sobre Empresas
Transnacionais e Direitos Humanos na ONU.
Queremos que a política de comércio seja posta ao serviço da população, sempre com o
imperativo da sustentabilidade ambiental, social e política.
106
1. Garantir que o comércio é justo e respeita os Direitos Humanos e o Acordo de Paris
Acreditamos que o comércio justo – e não apenas o comércio livre – deve ser a base da
política comercial da UE.
Vamos lutar contra o dumping social e ambiental nos países em desenvolvimento. Isto é,
lutar contra as vantagens competitivas que surjam em resultado do deslocamento da
indústria e sistemas de produção para países com afrouxamento das proteções sociais e
ambientais. Estas mudanças provocam a deslocalização da indústria e do sistema produtivo
precisamente para onde está pior regulado, o que por sua vez torna mais difícil a sua
implementação e fiscalização. Durante qualquer negociação, defenderemos os mais
elevados padrões de proteção do meio ambiente, dos Direitos Humanos, da saúde pública,
dos direitos dos trabalhadores, dos serviços públicos, do bem-estar animal e dos direitos do
consumidor.
Todo o comércio internacional que não respeita os limites planetários é comércio que coloca
em perigo a vida humana, os ecossistemas e o respeito pelas regras internacionais que
definimos enquanto União Europeia e comunidade internacional para combater as
alterações climáticas. Lutaremos pela inclusão expressa de uma cláusula de respeito pelo
Acordo de Paris em todos os novos acordos comerciais, assim como a criação de medidas,
no contexto dos acordos de comércio, que estabeleçam regras comuns e reforcem o poder
de governos locais, respeitando as necessidades locais.
107
mecanismos, um deles chamado “Tudo Menos Armas”. Este mecanismo predica qualquer
tratamento preferencial na ratificação e implementação de convenções internacionais,
nomeadamente no que diz respeito, entre outros, aos direitos civis e políticos; eliminação do
racismo; prevenção e repressão do crime de genocídio; direitos económicos, sociais e
culturais; discriminação contra a Mulher; ou trabalho forçado, infantil ou obrigatório. Porém,
certos países que beneficiam presentemente deste mecanismo são os mesmos que
criminalizam pessoas LGBTQIA+, não tomam medidas suficientes contra a prevenção do
trabalho forçado ou não aplicam o princípio da igualdade salarial, entre outros problemas
sistémicos.
A propriedade intelectual tem um propósito social relevante. Mas com o passar das
décadas, o ponto de equilíbrio entre os benefícios e os custos associados foi sendo cada
vez menos escolhido com base no interesse público, e cada vez mais pela força
hegemónica dos lobistas de grandes empresas multinacionais. Esta situação foi levada ao
extremo no contexto da pandemia de COVID-19: apesar de uma elevada proporção do
investimento na criação de uma vacina ser público, e apesar do contexto de
excecionalidade que exigia uma rápida produção de vacinas, não se procedeu à renúncia
108
dos direitos de propriedade intelectual das vacinas, tendo resultado em lucros
extraordinários para a indústria farmacêutica. Acreditamos que o direito à saúde deve estar
à frente dos lucros das empresas farmacêuticas e alimentares. Desafiaremos todas as
proteções à propriedade intelectual que interfiram no acesso universal a produtos básicos,
como nutrição e medicamentos.
De igual forma, devem ser reavaliados todos os acordos em que a União Europeia está
envolvida, para garantir que os nossos parceiros comerciais estão a cumprir os requisitos
no que concerne ao respeito pelo direito internacional humanitário e Direitos Humanos.
109
7. Repensar a relação comercial com a América do Sul e a América Central
O branqueamento de capitais atinge 2,7% do PIB mundial. Este flagelo tem sido tido em
conta nos recentes quadros de orientações internacionais, mas as zonas cinzentas ainda
são muitas. Nacionalmente, o Banco de Portugal aplicou algumas das regras do BCE, mas
os critérios ainda são sobretudo qualitativos (como a definição das operações que podem
ser consideradas suspeitas) e não tanto quantitativos, ou seja, ao fixar um valor a partir do
qual deve ser comunicada a operação ao Ministério Público. Ao nível das transações
bancárias entre os Estados-Membros, as zonas cinzentas são ainda maiores porque não
existem normas homogéneas relativamente aos depósitos em contas correntes bancárias;
compra de produtos e serviços financeiros, como títulos de capitalização, previdência
privada e seguros; aplicações em depósitos a prazo, poupança ou fundos de investimento e
compra de bens como imóveis, ouro, pedras preciosas ou obras de arte.
110
Somos favoráveis à implementação imediata de auditorias internas sobre o branqueamento
de capitais em cada banco, que deve responder perante este crime à sua administração,
aos bancos centrais e ao BCE.
111