3 Yannik_ Chaotic (Homens USC) - Cecilia Turner

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1ª edição

2023
Copyright© 2023 Cecília Turner
Revisão: Barbara Pinheiro
Designer da capa: Layce Design
Diagramação: Cecília Turner
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Turner, Cecília

Yannik [livro eletrônico]: Chaotic / Cecília Turner. – 1. Ed. -- Sorocaba, SP: Editora da
Autora,2023. – (Homens da USC; 3)
PDF
ISBN 978-65-00-75948-8
1. Ficção brasileira I. Título. II. Série.

23-166028
CDD-B869.3
Índices para catálogo sistemático:
1. Ficção: Literatura brasileira B869.3
Aline Graziele Benitez — Bibliotecária — CRB-1/3129

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte


desta obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184
do Código Penal .
Para todos os meus leitores...
Para aqueles que há meses pedem pela história do Y.
Para aqueles que me fizeram sonhar com esta trilogia e tornaram-na
possível.
Esta história é para você.

E, para todos que por qualquer razão se acham presos na escuridão.


Seja sua própria luz.
Seja feliz.
PRÓLOGO

CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 2

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 7

CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 11

CAPÍTULO 12

CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14

CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 16

CAPÍTULO 17

CAPÍTULO 18

CAPÍTULO 19

CAPÍTULO 20

CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 22

CAPÍTULO 23

CAPÍTULO 24

CAPÍTULO 25

CAPÍTULO 26

CAPÍTULO 27

CAPÍTULO 28

CAPÍTULO 29

CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 31

CAPÍTULO 32
EPÍLOGO 1

FAMÍLIA USC

BÔNUS
Este é o livro 3 da Trilogia – Homens da USC, e trará a história do
Yannik.
Alguns acontecimentos narrados no início do livro são
mencionados no livro Thorsten: Strong, que conta a história do Thorsten,
sendo recomendado sua leitura prévia, mas não é um impeditivo.
Contém cenas abordando luto, dependência química, traumas
familiares, violência, sexo explícito e uso corriqueiro de palavrões. Caso
não goste deste tipo de conteúdo, recomendo que pare agora.
Se, ainda assim, você continua aqui… espero que se divirta tanto
quanto eu me diverti escrevendo.
Um grande beijo, Cecília!
Muitas músicas embalaram esta história…
Algumas se encaixaram com precisão…
Abra o Spotify no seu celular, clique em “buscar” e, em seguida, na
câmera.
Basta posicioná-la sobre o código abaixo e curtir!
Angel — Sarah MacLachlan

17 anos

É sábado, mas me forço a levantar da cama. Há muito que ajeitar,


mas porra se hoje eu só queria me esquecer de tudo.
Dois anos desde que tudo desmoronou, mas às vezes parece que foi
ontem. Meu pai tomou café com a gente, zoou meu cabelo, que na época
estava lotado de gel, e saiu para trabalhar.
Nunca mais voltou.
Ainda me lembro do toque da campainha, horas mais tarde. O
capitão e mais dois policiais fizeram questão de vir falar com minha mãe
pessoalmente.
Eram amigos.
Ainda escuto seu grito e choro. Soube na hora que tinha algo muito
errado. Abracei Luke que começou a chorar, sem entender muito, e guardei
o meu.
Ele morreu fazendo o que mais gostava, pegando os bandidos,
salvando as pessoas… naquele dia nossa vida mudou para sempre. A dor foi
avassaladora, mas eu tinha que ser forte.
Eu era o homem da casa.
Ele sempre disse isso, e eu… não poderia desapontá-lo.
Meus olhos enchem de lágrimas, mas não há tempo para esta
merda. Pulo da cama e chamo meu irmãozinho, que ainda está dormindo
todo enrolado nas cobertas. O aquecimento aqui é uma grande merda, mas é
o que há para hoje.
A mãe quis mudar de casa, pois tudo lembrava ele e embora eu
concordasse, para mim, nada mudou.
Ainda penso nele, a todo momento.
Moramos numa região mais humilde de Bonn e a cidade até que é
legal. Não há luxo aqui, mas conseguimos viver bem com a pensão do meu
pai. E o que mais importa, na verdade, é ser próximo da casa da tia Sabine,
já que minha mãe nunca mais foi a mesma.
Começou com as bebidas, depois as pílulas, então ela não estava
mais ali.
Várias vezes chegamos da escola e a encontramos desmaiada,
dormindo. A casa suja, sem comida, contas em atraso.
Tomei a frente de tudo. Eu tinha que cuidar do Luke. Não havia
como contar com ela.
Quando ela acordava, pedia desculpas. Jogava os remédios fora e
era assim, até a próxima vez.
Sempre tinha outra…
Nunca contei para ninguém os problemas que tínhamos em casa.
Guardava comigo, era meu segredo.
Na escola, eu era o alegre e zoeiro. Eu não queria pena ou que
soubessem que minha mãe era uma viciada.
Empurro a tristeza para uma parte distante do meu cérebro e desço
as escadas pronto para mais um dia.
O dia…
Chame de coincidência ou não, mas o baile de formatura do ensino
médio é hoje também. Todos estão animados e surtando, a única coisa que
me anima é pensar nela.
Vou levar a garota mais linda.
Sophie.
É o que me dá forças para superar todo o resto.
Ela é da minha sala e mora numa área chique. Seu pai é político e
se soubesse onde moro, certeza que ia me querer bem longe da filha dele.
Sempre odiei biologia, isso até o professor me colocar num
trabalho em dupla, com ela. A mais inteligente da sala, aquela que se
esconde atrás dos longos cabelos castanho-claros e dos óculos de grau, mas
eu sei melhor… tive um vislumbre rápido, um dia, na aula de educação
física.
Ela é linda.
Claro que ela não ficou tão animada quanto eu, não no início,
minha fama não é das melhores, mas porra se eu ia perder oportunidade.
Naquele dia tudo mudou.
Ela é diferente das outras.
Parece ver o que quero esconder, o que é complicado.
Não quero que tenham pena de mim.
Eu sou o atleta pegador.
Eu estou bem — preciso acreditar nisso, mesmo que por dentro tudo
esteja um caos.
Após o trabalho, viramos amigos.
Não é fácil, não vou mentir.
Sophie é linda demais e me afeta de uma forma única, mas tem
funcionado.
Eu não posso estragar o que temos. Não quero perdê-la.
Só quero ficar perto dela. É bom, é paz…
Nós fazemos uma boa dupla.
O caos e a calmaria.
Quando ela pergunta da minha família, eu desconverso e tem sido
assim nos últimos meses. A melhor parte do meu dia é quando estou com
ela, o que é louco, eu sei.
A última semana foi uma loucura.
Este baile está deixando as garotas histéricas.
Tenho evitado várias, mas continuam colando igual carrapato.
Ela ri e me chama de puto.
Eu sou mesmo, mas amigo, só dela.
Eu não ia nessa merda, mesmo sendo uma ótima oportunidade de
pegar umas bocetas, mas então ouvi uma das meninas zoando, falando que
ninguém ia convidá-la.
E, porra, eu vi vermelho.
Nem pensei muito a respeito, simplesmente a chamei, se for para ir
neste lugar, será com ela.
Ela vai à porra do baile, sim, e de quebra ainda tirarei os urubus de
cima de mim.
A felicidade que me invadiu ao ver o sorriso dela e saber que fui eu
quem coloquei em seu rosto, não tem preço.
Está tudo certo.
A mãe está limpa faz uns dois meses.
Luke vai ficar em casa, jogando RPG com uns outros amigos nerds.
Tudo está ajeitado.

— Caramba — meu irmão dispara ao me ver, terminando de ajeitar


a gravata.
Olho meu reflexo, tentando não lembrar que a última vez que usei
um terno foi no seu enterro.
Não é a mesma roupa, mas a mente da gente é foda demais.
— Vai entrar em várias calcinhas assim.
— Hey — dou um tapa leve na sua cabeça —, isso é jeito de falar?
— Você fala assim — pontua e, caramba, o moleque tem razão.
— Você ainda é uma criança.
— Já tenho onze — rebate, cruzando os braços em frente ao peito.
— Exato! — devolvo. — Os outros nerds já chegaram?
— Vamos jogar online — explica e fico mais tranquilo, menos
bagunça para ficar para trás.
— Bom! Vou indo — sinalizo, pegando meu celular que já está
com a carga cheia. — Qualquer coisa, me liga, Luke.
— Sim. — Revira os olhos.
— Hey — chamo sua atenção e apoio a mão no seu ombro. —
Qualquer coisa mesmo.
— Pode deixar, irmãozão. Se divirta… um pouco.
— Eu vou. — A lembrança de Sophie me invade e me pego
sorrindo.
Digito uma mensagem rápida no celular.

“Estou saindo de casa, princesa. �� ”

Finalizo com um emoji piscando e clico em enviar.


Sophie odeia que eu a chame de princesa, mas é o que ela é… para
mim.
Além disso, eu adoro provocá-la, fazê-la perder a paciência, se
soltar. A garota é séria demais, e se tem algo que aprendi é que a vida é um
sopro. A gente tem que viver, cada dia, intensamente.
A resposta vem na sequência.
Alguém está ansiosa.

“Ainda não saiu… �� . Te esperando, HP.”

Uma gargalhada escapa ao ver seu retorno e guardo o aparelho no


bolso. Sophie é recatada até para zoar, mas não poderia ter escolhido um
apelido mais preciso.
HP significa: homem puto.
Se ela soubesse da metade.
Desço as escadas, pulando os degraus, de repente animado.
— Mãe, vou indo…
Não a encontro na cozinha, nem na sala.
— Mãe… — chamo, sem resposta.
Meu estômago revira e tensão me invade.
Subo as escadas correndo e abro a porta do seu quarto.
— Porra, porra.
Corro na sua direção e viro seu corpo, evitando que sufoque com o
próprio vômito.
Seu corpo convulsiona em meus braços e espuma sai pela boca.
Na cama, o vidro de antidepressivos vazio.
— Luke... — grito a plenos pulmões. — Chame a ambulância.
Caralho, pense.
Meu irmãozinho surge e arregala os olhos ao ver a cena.
— Luke — grito, atraindo sua atenção. — Olha pra mim, desça e
chame ajuda, a ambulância.
— Ok — assente e desce apressado para a sala.
Escuto seus passos e sua voz desesperada ao telefone.
— Aguenta, mãe… você vai ficar bem! — resmungo mais para
mim mesmo.
Tudo parece distante.
Não sei quanto tempo passou… pareceu uma eternidade.
Os paramédicos chegam e me afasto, deixando-os trabalhar.
— Salvem nossa mãe — peço, indo na direção do Luke e o
abraçando com toda força.
Meu irmão enfia o rosto no meu peito enquanto os médicos tentam
reanimá-la. A cada choque, eu apenas abraço Luke mais forte, rezando
baixinho.
— Hey, estou aqui. Vai ficar tudo bem — sussurro no seu ouvido e
ele apenas me aperta.
Deus, não leve nossa mãe também, por favor.
— Temos ritmo! — um dos caras grita e a colocam com rapidez
numa maca.
Tudo acontece muito rápido.
Seu coração voltou a bater e corremos para o hospital.
Lá conseguiram fazer uma lavagem e remover tudo que estava em
seu estômago.
Foi por pouco.
Apoio as mãos no joelho, ao ouvir o médico contar que ela está fora
de perigo, e solto o ar que estava segurando.
Abraço meu irmão, tentando tranquilizá-lo.
— Vai ficar tudo bem, Luke, eu prometo.
Minha tia Sabine chega neste instante, acompanhada do marido, os
olhos vermelhos de quem andou chorando e eu me endireito.
Tenho que ser forte.
Meu irmão precisa de mim.
Minha mãe precisa.
Conto tudo que temos passado nos últimos anos, sem meias-
verdades, ela precisa saber, não podemos mais continuar assim.
— Oh, Deus, meus lindos. Vai ficar tudo bem, me ouviram, a mãe
de vocês vai ficar bem.
Alívio me invade ao ver meu irmão sob seus cuidados, ele precisa
mais do que eu.
Me jogo na cadeira dura de plástico, tentando colocar as ideias em
ordem e só então me dou conta.
Sophie.
Caralho.
Eu a deixei esperando. Com tudo que aconteceu, eu nem pensei…
eu só…
Foda!
Fecho os olhos, percebendo que passa das dez horas da noite.
Que merda de amigo eu sou.
Eu poderia até explicar, mas para isso eu teria que contar tudo que
escondi até agora.
O quão caótica minha vida realmente é.
Ela é luz e não merece ser trazida para minha escuridão.
Vou até o carro, na correria larguei o celular lá.
Trinta mensagens não lidas. Vou direto para a última.

“Achei que éramos amigos. Nunca mais


apareça na minha frente.”

Uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto, ao mesmo tempo em


que desligo o aparelho.
Acredite, Sophie, você está melhor sem mim.
Os próximos dias são caóticos.
Nós nos mudamos para a casa dos nossos tios. É algo temporário,
só enquanto a mãe fica na reabilitação, o que pode levar até doze meses, de
acordo com os médicos. Luke será transferido para outra escola e quanto a
mim, com o fim do ano letivo, eu fiz aquilo que há meses desejava, me
juntei ao exército.
Eu apenas preciso de novos ares.
Luke está seguro.
Minha mãe em recuperação.
É hora de eu me preocupar apenas comigo.
É o meu recomeço.
Nothing Else Matters - Metallica
Broken — Seether & Amy Lee

Dias atuais.

Deixei o exército depois de dois anos, e ingressei na polícia


estadual, desejando me estabelecer em Bonn.
Sentia falta de Luke, já que quase não o via, por conta das
constantes missões no exterior.
Durante os três anos de patrulha, pude estar mais próximo do meu
irmãozinho, depois seguimos caminhos distintos. Ele foi fazer faculdade em
Berlim, a mais de quinhentos quilômetros de distância, e eu continuei em
Bonn, até tomar a decisão que mudaria minha vida. Ainda assim, nos vimos
com mais frequência que antes.
Minha mãe parece ter colocado a vida nos eixos e se casou
novamente. Manfred parece ser um cara decente e claro que eu virei sua
vida do avesso, afinal, ele iria morar na mesma casa que meu irmãozinho,
mesmo ele já tendo dezesseis anos e não sendo tão pequeno assim.
Ela tem ido às reuniões dos dependentes químicos. Me certifico de
acompanhar esta merda.
Ingressar na força foi fácil.
Meu sobrenome me precede.
Meu pai tinha uma boa reputação na corporação.
Ele morreu fazendo o que gostava, salvando vidas.
Um tiroteio num assalto, porém, o levou muito cedo.
Meu capitão o conhecia, fez muita patrulha ao seu lado e disse que
ele sentiria orgulho de mim.
Gosto de pensar que sim.
Fiquei apenas alguns anos nas ruas, o tempo necessário para me
inscrever na unidade de elite.
Lá conheci os caras…
Os primeiros amigos que me permiti ter.
Fiz bons colegas no exército e na polícia, graças ao que gosto de
chamar: meu charme natural.
Minha escuridão, guardo bem fundo.
Para o mundo, eu sou o zoeiro e mulherengo.
Mas dentro de mim, tudo é caótico.
Nothing Else Matters do Metallica ecoa no carro quando finalmente
estaciono na USC.
O sol nem nasceu, mas já estou pronto para mais um dia e
preparado para chutar uns traseiros albaneses.
Fodidos filhos da puta.
Ainda não acredito que tentaram pegar a loira.
Felizmente, T conseguiu chegar a tempo e fez um ótimo trabalho,
mandando-os direto para o inferno, sem escalas.
Cumprimento os novatos e faço meu caminho até a academia.
Nada como liberar um pouco de energia no saco de pancadas.
Falando no homem de gelo, vejo que já está se divertindo no local.
— Coitado de quem te irritou — disparo, quando estou a poucos
metros de distância.
— Fala, cara — cumprimenta, batendo seu punho contra o meu.
— K avisou que vocês estavam aqui. Tudo bem com a loira? —
questiono, querendo uma confirmação.
— Sim, está dormindo.
— Porra, não acredito que invadiram a casa dela. Caralho, foi por
pouco, T.
— Não gosto nem de lembrar, o pânico que vi nos olhos dela,
cara… El não merece essa porra.
— Nem fodendo.
— Vou tomar um banho e encontro vocês na sala de reunião.
— Fechado.
Ele começa a se afastar, e claro que não perco a oportunidade de
infernizá-lo.
— Hey, T, dê um beijo na loira, em meu nome. — Dou uma
piscadinha e ele ergue o dedo do meio em resposta, sem deixar de caminhar.
Explodo numa gargalhada.
Caralho, como eu amo este lugar.
— Saudade de você também, T — grito.
A verdade é que passo mais tempo aqui do que no meu apartamento
e, inferno, se não sou feliz.
Adorava estar no GSG9, dediquei dez anos da minha vida lá, mas
quando Stefan me chamou para fazer parte da sua empresa, nem pensei
muito, a iniciativa privada paga melhor e continuo tendo muito
divertimento, entenda: tiro, porrada e bomba.
E com a mudança da sede para Dortmund, estou a uma hora de
Bonn.
Melhor impossível.
Reconheço que conhecer Stefan, Karl e Thorsten foi a melhor coisa
que me aconteceu num bom tempo. Eles são os irmãos que a vida me deu.
Com eles, eu quase consigo deixar minhas barreiras abaixadas,
quase….
Todos têm alguma merda no passado e lidam com isso, à sua
maneira. As minhas eu mantenho guardadas. Assim é a vida.
Meia hora depois, encontro todos na recepção.
— Não sei quanto a vocês, mas estou pronto para chutar alguns
traseiros mafiosos — provoco, arrancando sorrisos das garotas.
— E aí, loira, o T tem cuidado bem de você? — questiono,
abraçando-a.
— Não posso reclamar — devolve rápido e me pego sorrindo.
— Qualquer coisa, só me chamar. — Dou uma piscadinha, sabendo
que T deve estar me fuzilando com o olhar.
— Sala de guerra? — Stefan questiona e todos concordamos.
— Mari e Vivi vão te fazer companhia, El. Nós nos vemos mais
tarde, linda.
Nem fodendo.
— Caralho, T, você também… porra, não vou beber mais água
neste lugar — disparo e vejo que a loira morde os lábios para não rir.
— Ignore ele. Eu faço isso — ele retruca e coloco a mão no peito,
me fazendo de sentido.
Mais um soldado abatido.
Primeiro foi Stefan, que ficou de quatro com a ruiva, pouco tempo
depois Karl começou a cadelar a brasileira e agora T, isso eu achei que não
fosse viver para ver.
O cara é frio, metódico, ou pelo menos era, até conhecer a Elise.
Não sei o que está acontecendo, mas todos estão sendo amarrados
pelas bolas.
Tempos tristes para os solteiros e apreciadores de uma grande
variedade de bocetas, como eu.
Logo seremos minoria nesta empresa.
Não me entendam mal, eu amo as garotas, elas são fodas, mas só de
pensar em comer a mesma mulher, me embrulha o estômago.
Sou um amante que aprecia a diversidade.

— Como vocês sabem, tive uma reunião com a BND, alguns dias
atrás. Um congressista está recebendo ameaças. A sua equipe de segurança
está cuidando do assunto. Procedimento padrão: rotas não divulgadas,
veículos blindados e checagem para explosivos.
— Estão seguindo o manual — comento ao ouvir Stefan.
— Sim, estão, mas as ameaças continuam. No início, acharam que
era algum fanático político. O parlamentar é conhecido por ser a favor de
uma postura forte na repressão ao narcotráfico, defende a modificação da
legislação, com criação de medidas que atinjam o patrimônio das
organizações criminosas.
— O cara tem um alvo na testa — aponto o óbvio, já que mexer no
bolso destes filhos da puta só pode resultar numa coisa, mortes. — Vamos
ter que fazer a segurança do coroa?
— Não dele — S corrige. — As ameaças agora não se restringem a
ele apenas. Estão mirando sua única filha.
— Porra — T xinga e me mantenho em silêncio, isto está ficando
cada vez mais interessante.
— Falei pessoalmente com ele. A situação não é nada bonita.
Enviaram para o gabinete dele fotos dela dentro da residência, dormindo, na
piscina.
— Nem fodendo — K dispara.
— Tem alguém infiltrado na porra da casa — aponto, não
conseguindo mais ficar sentado.
— Tudo indica que sim. A sua própria equipe de segurança não
sabe que ele nos procurou — esclarece. — E sua filha também não sabe de
nada.
— Perfeito, uma patricinha querendo ir ao shopping com um fodido
alvo nas costas — T comenta o que estava na ponta da minha língua. —
Quem você está pensando em enviar? — pergunta para Stefan, que abre um
sorriso filho da puta.
— Yannik.
Nem fodendo.
— Eu? Mas que caralho, S. Você sabe que odeio ficar de babá.
— Infelizmente, você foi altamente recomendado.
— Você quer me foder. Por quem, porra? — disparo, andando de
um lado para o outro.
Mas que cacete.
— Um especialista do esquadrão antibomba. Encontram um
dispositivo na varredura diária dos veículos — explica, jogando algumas
fotos sobre a mesa. — E de acordo com o cara, você saberia lidar com este
tipo de merda.
Caminho até as fotografias, espalho-as, observando com atenção
cada fodido detalhe.
— Caralho. Não se deram ao trabalho de esconder. Era para ser
encontrado. Queriam mandar uma mensagem — explico, sem desviar a
atenção das fotos. Um pequeno detalhe no detonador atrai minha atenção.
Não pode ser… — Porra! A última vez que vi algo assim foi no
Afeganistão.
Todos ficam em silêncio.
Minha cabeça está a mil.
Esta merda poderia destruir meio quarteirão.
— Sua missão é ficar uns dias como novo guarda-costas da filha
dele, levantar os principais suspeitos e enviar as informações obtidas para
nós. Seu papel é exclusivamente protegê-la, deixe o resto com a gente.
— O que S quer dizer é… você é a babá e deixe o resto com quem
entende — K provoca e só ergo o dedo do meio.
Filho da puta.
— Parem de provocá-lo — Stefan intervém, mas sei que está se
divertindo.
Eles me conhecem, sabem que odeio este tipo de operação.
— Não se arrisque a ser descoberto. Sua entrada como novo
segurança não deve chamar a atenção do resto da equipe. Parece que ela
resiste a ter alguém junto dela.
— Parece que você vai ter trabalho, Y — T provoca e reviro os
olhos. — É simples, encontrar o rato, antes que as ameaças se concretizem
— complementa tentando me animar.
— Descobrir quem são os bandidos e proteger a mocinha. Fácil.
Mais um dia de trabalho — devolvo, com meu melhor sorriso. — Quem é a
filhinha de papai? Que seja gostosa, que seja gostosa!
Stefan olha suas anotações.
— É Sophie Meyer, filha do congressista Olaf Meyer.
— Nem fodendo.
Não pode ser…
Não depois de todos esses anos.
— Você a conhece? — S questiona.
Fico em silêncio alguns segundos, assimilando a informação.
É só um fodido trabalho, como qualquer outro.
Proteger o cliente, pegar os bandidos…
— Y, algum problema? — T pergunta ao meu lado.
— Não me diga que teremos que nos preocupar com um marido
traído? — K brinca.
Quem dera, porra, seria mais simples.
— Ela… era minha amiga — explico, passando as mãos pelos
cabelos enquanto ando pela sala.
Foda, não consigo mais ficar parado.
— Isto é um problema, Y? Devo responder que você não pode
assumir? — Stefan questiona, me observando com atenção.
Fecho os olhos e respiro fundo.
— A missão é minha — retruco firme, para que não haja qualquer
dúvida a respeito.
— Feito. Nos próximos dias, vamos receber mais detalhes quanto
ao seu início lá.
— Bora chutar alguns traseiros, USC? — Karl grita e respondo no
automático com um fodido sim, minha cabeça está longe.
Sophie…
Eu vou revê-la, e porra, se isso não me faz sentir como se tivesse
dezessete anos novamente.
Mas que inferno.

O trabalho mantém minha mente ocupada.


Antes de ir para Bonn, tenho que ajudar os caras com esta merda
aqui.
É, as coisas não estão bonitas, não mesmo.
Os albaneses conseguiram hackear nossos servidores, deixando
uma ameaça.
Os fodidos têm bolas, tenho que admitir, mas estão loucos se acham
que vamos entregar a garota.
Não vejo a hora de ter um deles na mira da minha pistola.
A dificuldade está em encontrá-los, principalmente o líder da
escória.
Karl está fazendo sua mágica no computador, mas são inúmeras
propriedades e empresas.
Explico para os caras que o cretino deve estar escondido numa das
propriedades localizadas próximas das rodovias e portos.
— Faz sentido, Y — Thorsten concorda.
— Achou que eu era apenas um rostinho bonito? — provoco.
— Você, bonito? Nunca passaria pela minha cabeça — devolve,
sério.
— Doeu!
— Por mais que seja difícil admitir, Y tem razão. Pavli deve estar
neste raio. — Karl aponta no mapa. É uma área grande, ainda assim, melhor
do que começamos ontem.
— Alguma chance de conseguirmos seguir um desses escrotos? —
T questiona e era a deixa que eu precisava.
— Porra sim, deixa comigo.
— Tem certeza, Y? — ele pergunta — Sven ou um dos novatos
pode cuidar disso. Você deveria estar se preparando…
Para minha nova missão, eu sei.
— É justamente por isso, cara. Preciso refrescar as ideias, nada
como ficar de tocaia e ver onde os putos frequentam.
Observo-os se entreolharem.
Sabem que eu tenho razão.
— Se você quer segui-los sem ser visto, sugiro que já fique a
postos. — Karl sinaliza. — Eles têm circulado a cada duas horas. Não
fazem muita questão de se esconder. Consegui acompanhar pelas câmeras
de trânsito até a Betenstraβe Strasse.
— Considere feito — digo, conferindo o pente da minha pistola e
colocando-a no coldre.
— E, Y, nos mantenha informado. Nada de bancar o fodido herói
— T frisa, apertando meu ombro.
— Sim, mãe — brinco, mas o abraço.
— Se cuida lá fora, irmão — ele sussurra só para os meus ouvidos.
— Sempre — devolvo antes de sair da sala assobiando.
Hora de descobrir onde estes putos estão.
Broken — Amy Lee & Seether

Karl estava certo, eles passaram novamente.


O mesmo carro preto, vidros abertos e se não fosse a tatuagem
típica da escória albanesa, passaria despercebido.
Mantive dois carros de distância e os segui até um restaurante no
centro. A região é conhecida pela lavagem de dinheiro e jogos de azar. Nem
me atrevi a entrar, fiquei no carro, vendo se os filhos da puta iam para
algum lugar depois.
Uma residência, um armazém, precisamos de opções.
Já falei com os caras e o imóvel aparentemente está limpo. Passa
das vinte e duas horas quando coloco o carro em movimento. Ficar mais
tempo aqui, iria chamar muita atenção.
Os putos devem ter saído por alguma saída nos fundos. Não é
possível que estejam lá dentro ainda.
Meu apartamento está um caos, mas ignoro. Só preciso de um
banho e algumas horas de sono, antes de começar toda correria de novo.
Estou a caminho do banheiro quando a campainha toca.
Que diabos!
Ninguém nunca me chama, exceto a vizinha gostosa.
Esta sabe mamar como poucas.
Puxo a arma do coldre e espio no olho mágico.
O velho do apartamento 64 parece com problemas. Na sua mão, um
pedaço de cano me diz que deve ser algo no encanamento.
Guardo a pistola e abro a porta.
Não há tempo de reação.
Sou atingido em cheio.
É como um soco no peito e caio no chão incapacitado, o corpo
tremendo.
Tento resistir, ver a quantidade de agressores, mas então um deles
se aproxima e uma coronhada me nocauteia.

Ainda não acredito nisso. Porra, como fui otário. Sabia que tinha
algo errado. O que o velho do apartamento 64 iria querer comigo? Se ainda
fosse a gostosa do 62, mas não. Devia ter desconfiado dessa porra.
Cuspo sangue, ignorando a dor que irradia por todo meu corpo.
Albaneses filhos da puta.
Tudo foi muito rápido.
Abri a porta e os dardos de choque me atingiram, fazendo seu
trabalho, me incapacitando, depois foi escuridão até ser jogado neste
buraco.
Não querem informações.
Fui surrado repetidamente, por mero prazer.
Mal consigo abrir os olhos, mas escuto o barulho de passos.
Foda, outra surra.
Reteso o corpo, mas milagrosamente o puto só veio apreciar o
resultado do seu trabalho. É o primeiro que vou caçar.
— Uma pena que o chefe tenha planos para você… — O primeiro
golpe chega forte no estômago. Eu vomitaria, se não tivesse feito isso nas
inúmeras vezes antes. — Adoraria ver até onde você aguenta, antes de
chorar feito uma menininha.
Ignoro a provocação.
Só respirar é motivo para apanhar e, caralho, minhas costelas estão
me matando. Só espero não ter quebrado essa porra.
Tenho que sair logo dessa.
Sophie… ela precisa de ajuda.
Deixo minha mente viajar para ela.
A imagem da linda mulher que se tornou com flashes da
adolescente de cabelo castanho, tímida, que me ajudava com aquela fodida
matéria, biologia.
Pensando nela, ignoro tudo ao meu redor.
Tudo que não seja a esperança de voltar a vê-la.
Então tudo fica escuro.

— Achei que não fosse acordar, budallaqe.


Vamos ver quem é o imbecil. Não sei quanto tempo fiquei apagado.
Há mais três cretinos no inferno que me enfiaram. Conversam
animadamente. Algo sobre um evento, um leão, adubo e lírios.
“Para adestrar o leão, precisamos adubar o lírio.”
Céus… devem ter batido com força na minha cabeça.
Meu albanês não é de primeira, mas me viro bem.
Tenho entendido tudo que os putos conversam e eles nem
imaginam.
O quarto vigia grita algo no corredor.
Troca.
Nem fodendo.
Thorsten não pode ter concordado com esta merda. A loira vai
desejar a morte se cair nas mãos deles.
Pense, pense…
Eles devem ter um plano.
Só pode ser isso.
— Vou sentir saudade — provoco meu algoz e recebo um soco.
Cuspo sangue no seu pé e sorrio, sabendo que isto o enfurece.
— Chega… guarde sua energia para a garota. — Um deles segura
seu punho no ar. — O chefe disse que poderemos nos divertir com a porca,
depois que ele tiver seu tempo com ela.
Todos riem e quero matá-los, mas mal me mantenho de pé.
Foda.
Irmãos, é bom que vocês tenham um caralho de um bom plano…
minha vida e da loira dependem disso.

A cada solavanco vejo estrelas, mas me mantenho calado, atento a


tudo que os filhos da puta dizem.
Depois de alguns minutos, o carro para. Sou arrastado para fora e
só então noto que estamos no meio nada. Olho ao redor, só para identificar
um Hummer mais adiante, Stefan.
Thorsten deve estar escondido, pronto para estourar a cabeça deles.
Um helicóptero pousa ao nosso lado, erguendo poeira.
Porra, isso não é boa coisa.
Os fodidos têm um plano.
A arma cutuca minhas costas e sou forçado a caminhar.
Cruzo com Elise, e droga…
Isso não está certo.
Foco minha visão nos meus irmãos.
Stefan e Karl me observam à distância.
O circo vai pegar fogo, eu apenas sei.
Mal consigo cobertura, uma bomba de fumaça explode próximo
dos carros. Se havia alguma chance de T conseguir um tiro limpo, já era.
Karl me ajuda a entrar no veículo e então desamarra as minhas
mãos.
— Bom te ver, cara… bom te ver.
Eu não poderia concordar mais.
Stefan nos coloca em movimento, derrapando a poucos metros de
onde T estava escondido.
— O chip está funcionando — Karl grita assim que T entra.
— Y, você precisa ir para um hospital? — Stefan questiona
enquanto nos coloca de novo, em movimento.
— Nem fodendo vou perder o melhor da festa — sinalizo, dando
uma piscadinha e tomando toda garrafa de água entregue. — Me deem um
colete e uma arma.
Todos me olham de um jeito estranho.
— Que foi, porra?
— Bem-vindo de volta, irmão. — T aperta meu ombro com
cuidado.
— Vejo que tentaram fazer uma plástica em você, mas continua
feio igual antes — Karl brinca e só ergo o dedo do meio.
— Vamos pegar sua mulher, T — disparo e neste momento não há
um pingo de brincadeira na minha voz.
— Não posso… — Ele nem consegue terminar a frase.
E, porra, se não acaba comigo ver meu irmão assim.
— Você não vai — Stef assegura sem desviar o olhar da estrada.
Em poucos minutos, estamos na esquina da Märkische com a
Rheinland.
Cortesia da intel fornecida pelo amigo russo do T.
Nunca pensei que realizaríamos um resgate com o suporte da máfia
russa, mas me enganei.
O puto não tem por que nos ajudar, mas se o Thorsten confia nele, é
bom para mim.
— Prontos para chutar uns traseiros? — S pergunta e todos damos
um Hurra.
Encontramos com o tal de Dimitri e seus homens.
— O hospital é no próximo quarteirão — o russo provoca ao ver o
estrago que fizeram na minha cara.
O filho da puta tem bolas.
— Vá se foder — devolvo, sem me intimidar e o cretino ri.
E por mais louco que pareça, gostei desse cara.
Um dos brutamontes que está com ele entrega uma planta. Dimitri
abre o papel sobre o capô do SUV.
— Aqui é onde o helicóptero pousou. Para todos os efeitos, um
prédio comercial, consultores, prestadores de serviços, mas…
— Porque sempre tem um mas… — resmungo, observando com
atenção.
— É usado pela máfia albanesa para esquentar o dinheiro. De
acordo com as informações que obtive, há drogas e dinheiro no local, além
de um puteiro para executivos, mas é o que não está na planta que nos
interessa.
— O quê? — Thorsten faz a pergunta de milhões.
— Aqui há uma passagem subterrânea. Uma rede de túneis antigos
que liga este edifício com algumas estações do metrô e, em específico, com
o restaurante chinês no centro.
— Segui os putos até lá — sinalizo.
Eu sabia que havia algo de errado.
— É uma fachada. No subsolo, há uma rede de prostituição para
clientes com gostos peculiares.
— Que merda é essa? — é Karl quem questiona.
— Oferecem as garotas para sádicos da dark web.
— Porra! — disparo.
— Como você sabe desta merda toda? — T questiona, sem rodeios.
— Por que você está nos falando isso?
—Meus motivos são apenas meus. Aproveitem a info, salve a sua
mulher e acabe com a operação. Se falharmos, ela vai desejar ter recebido
uma bala na cabeça, acredite.
Caralho.
— Como vamos entrar? — T questiona.
Minutos depois, temos um plano. Não é o melhor, mas é o que
conseguimos organizar em tão pouco tempo.
Cada minuto é crítico para a loira.
Stefan, Karl e Thorsten vão pelo telhado, cortesia do helicóptero
providenciado pelo puto russo.
Já eu, vou entrar misturado com seus homens, pela porta da frente.
A máscara preta esconde totalmente meu rosto, não chamando a
atenção para os tons roxos e sangue que ainda cobrem minha pele.
Confiro o pente da pistola e recebo uma semiautomática.
Perfeito.
Quero sangue… e de preferência acertar minhas contas com o
escroto do cativeiro.
Toda ação é coordenada.
Entramos no prédio, sem chamar atenção. Para todos os efeitos,
fazemos a segurança do russo e ele tem negócios com os albaneses.
Nem nos revistam.
Nosso destino é o 45º andar. Nos dividimos, uma parte desce no 44ª
e sobe as escadas, e o restante segue pelo elevador.
O cronômetro zera. Hora de chutar alguns traseiros.
O russo grita algo em seu idioma nativo e o caos começa.
Avançamos pelo andar e, pegos de surpresa, os que não se rendem
acabam mortos.
O barulho dos tiros é ensurdecedor.
Uma porta se abre à minha direita, e porra se não poderia ficar mais
feliz. O filho da puta tenta segurar as calças, empunhando a pistola na outra
mão. Puxo a máscara, querendo que ele me reconheça.
Surpresa inunda seu olhar quando me reconhece. O infeliz até tenta
erguer a arma na minha direção, mas sou mais rápido.
Quem é o imbecil agora?
Chegamos à sala de Pavli e lá o cenário é de igual destruição.
Varro o local rapidamente e respiro aliviado ao ver os caras e a
loira, bem, isso até encontrar Thorsten caído no chão, uma poça de sangue
ao seu redor.
Porra.
— Te deixo uns minutos sozinho e você já apronta, T. Parece que
um caminhão te atropelou — comento.
— Você devia ver como ficou o outro cara — devolve.
Elise revira os olhos.
— Você precisa ficar quieto e ir num médico.
— Mandona.
— Também tô machucado, loira — Dimitri provoca, dando um
sorrisinho na direção do T.
Caralho, o filho da puta é dos meus, realmente. Poderíamos ser
amigos, se ele não fosse um mafioso. Ele grita uma ordem para seus
homens e todos começam a sair.
O barulho de sirenes indica que em breve teremos companhia.
— Precisamos ir. A polícia já está chegando — Stefan grita,
atraindo a atenção de todos. — Já avisei o Andreas, ele não está muito feliz
com nossa incursão não autorizada, mas vibrou quando disse que
desmontamos esta célula albanesa.
— Tem muita informação nos computadores, ele vai se divertir —
Karl comenta.
— Consegue andar, T? — Stefan questiona e o puto ao invés de
ficar quieto, tenta levantar, só para desabar na sequência, quase matando a
gente e a loira do coração.
Por sorte, a ambulância chegou rápido.
— Estou bem! — sinalizo quando um paramédico se aproxima.
— Você precisa de exames, senhor.
— Deixe os homens trabalharem, Y — Stefan repreende e deixo
que cuidem de mim.
Tudo dói, mas algumas horas de descanso é tudo que preciso, antes
de partir para minha próxima missão.
Meu rosto já viu dias melhores, porém isso é o que menos importa.
Certeza de que Sophie não quer ver minha cara nem pintada de
ouro.

Fora o rosto inchado, inúmeros hematomas por todo o corpo, os


filhos da puta conseguiram apenas trincar duas costelas.
Podia ser pior.
Não é minha primeira vez.
Já sei tudo o que o médico tem a dizer, repouso, compressas e
tomar os analgésicos e anti-inflamatórios, os dois últimos eu consigo fazer,
repousar está fora de questão.
Tenho outra missão.
Preciso falar com o Stefan e ir pegar minhas coisas em casa. Desço
da cama e procuro minhas roupas, mas que caralho.
Onde enfiaram?
Por sorte, não são aqueles aventais que ficam aparecendo o traseiro.
A enfermeira surge e dou meu melhor sorriso.
Sempre funciona.
— Você deve voltar para sua cama, Sr. Bauer — sinaliza, séria. —
Pode se machucar.
Procuro seu crachá, e o encontro logo abaixo do logo do hospital,
no uniforme verde-claro.
— Estou bem — tranquilizo. — Preciso só resolver uns assuntos
com meu amigo, ele está no quarto ao lado, Margareth — digo seu nome e
pisco, mas ela nem sorri.
Caramba, estou mal mesmo.
Ignoro sua carranca e continuo meu caminho.
— Cadê o Yannik? — Escuto a voz de Thorsten e sei que é o quarto
certo.
A mulher continua atrás de mim feito sombra.
— Já disse que estou bem… não preciso disso — aponto,
arrancando o acesso que estava pendurado no meu braço.
Ela não parece feliz, mas pelo menos sai de perto, me deixando em
paz.
— Ouvi meu nome por aqui?
Stefan e Vivi me olham sem disfarçar a surpresa, já Thorsten, o
puto ri ao me ver.
— Porra, irmão. Feliz de te ver bem. Feio pra caralho, mas bem —
comenta, e porra é bom vê-lo bem depois do susto.
— Logo estarei melhor. As enfermeiras têm cuidado bem de mim
— brinco para não perder a prática.
— Nem no hospital seu pau descansa — Stefan provoca.
— Nunca — garanto, pensando que talvez não seja uma má ideia,
depois de tudo.
— Acha que tem condições de seguir com a missão em Bonn? Sven
pode te substituir, ele também conhece bem explosivos.
— Nem fodendo — devolvo sério. — A missão é minha — friso e
Stefan apenas assente.
O puto me conhece. Se achasse que não havia condições de ir, eu
avisaria. Não é o caso.
Eu… preciso ir.
— Desculpe a demora, Mari insistiu em… — A loira surge na porta
e parece surpresa em nos ver. — Ah, que bom que não estava sozinho —
complementa, olhando para Thorsten que só tem olhos para ela.
Céus, vou vomitar.
— Lise… Deus, fiquei tão preocupada. — A ruiva a abraça e fico
esperando a minha vez.
— Nem acredito que tudo acabou… — comenta e então olha para
nós. Dou uma piscadinha e seu sorriso aumenta. — Vocês salvaram minha
vida. Só tenho a agradecer à USC, a todos vocês…
Porra, como eu amo meu trabalho.
É sobre isso, salvar vidas e foder os filhos da puta, o combo
perfeito.
Nós nos despedimos, deixando o T descansar ou não, na companhia
da loira.
Começo a caminhar em direção ao meu quarto, desejando que o
doutor passe logo para me liberar.
— Hey, Y… — Stefan chama e viro na sua direção. — Vou avisar o
congressista que você está a caminho.
— Obrigado, irmão. Estou pronto para ir.
— Tem certeza?
— Nunca tive tanta — respondo e isso é um pouco assustador.
De alguma forma, voltar para Bonn é pessoal.
— Se cuida lá e nos ligue, ao menor sinal de problema.
— Tente não morrer de saudade enquanto eu estiver fora.
— Vá se foder — retruca rindo e então me abraça.
— Tentem não se matar enquanto estou fora e se cuidem vocês
também.
Me despeço e estou quase com a mão na maçaneta, quando Stefan
grita:
— Hey, Y… Sophie tem sorte de ter você… como babá. Boa
viagem!
Filho da puta.
Ergo o dedo do meio e entro no quarto, ouvindo a sua gargalhada.
Eu amo esses caras.
Stefan tem razão, nós somos uma grande família.
The one that got away — Katy Perry

34 anos - Dias atuais

O alarme toca e tudo que eu queria eram mais cinco minutinhos,


mas não posso relaxar, não se eu pretendo entregar os quadros a tempo da
exposição.
Podem até achar que sou uma patricinha vivendo de mesada, mas a
realidade não podia ser outra.
Pago todas minhas despesas com os meus próprios ganhos. Sou
perita em obras de arte, restauradora e pintora nas horas vagas.
Até tenho dinheiro no banco, herança da minha mãe que faleceu há
mais de quinze anos, e tudo que ela deixou está aplicado.
Pensar neste dinheiro só me lembra dela… e, céus, eu sinto tanto a
sua falta.
Mil vezes não ter dinheiro e tê-la comigo.
Hoje é o dia dela e nós iríamos celebrar.
Juntos, família.
Além do Natal, Ano Novo, os aniversários eram datas sagradas lá
em casa. Nesses dias, nada de trabalho, inclusive para o meu pai, que
sempre trabalhou feito louco e isso não mudou até hoje.
Continua enlouquecendo todos, dedica sua vida à comunidade, à
política e hoje ocupa um cargo de destaque na Bundestag, que nada mais é
que o parlamento alemão. Lá ele ocupa o cargo de chanceler federal, tendo
sido eleito pelos seus próprios pares, graças à confiança que depositam nele.
O Sr. Olaf Meyer é famoso e vive nos jornais e mídias digitais, mas
em casa, é somente meu pai.
E eu… bem, eu sou apenas a Sophie.
No dia a dia, evito usar meu sobrenome. Mesmo na galeria, poucos
sabem minha relação com um dos homens mais poderosos do país.
Gosto assim.
Afasta oportunistas.
Já tive minha quota de trastes e interesseiros.
Começo a achar que a culpa é minha e neste aspecto não poderia
ser mais frustrada. Escuto os relatos das minhas amigas, as poucas que
tenho, e penso que nunca senti um décimo do que elas comentam. Ou há
algo muito errado comigo, ou meu dedo é realmente podre. Até tive
esperança de que Kiefer, o assessor do meu pai, seria o cara. Aquele que
mudaria todo este histórico negativo. Resultado: outro desastre.
Pelo menos, desta vez, consegui encerrar sem grandes traumas.
Ele ainda insiste numa retomada, mas eu estou firme.
A verdade é que nem sinto sua falta.
Por conta do seu trabalho com meu pai, nos vemos ocasionalmente.
Ele sempre muito gentil, certinho, o tipo perfeito para a filha do
congressista, eu arriscaria dizer. Se declarou num jantar e eu estava tão
carente, que acabei o beijando. Foi a pior coisa que fiz.
Nada…
Não conseguia sentir nada, nenhuma faísca.
Zero tesão.
Achei que o problema fosse eu, o dia, sei lá, insisti em mais uns
encontros. Chegamos perto de transar, fechei os olhos e tentei aproveitar o
momento, mas não rolou.
Não consegui relaxar.
Não parecia certo.
Pedi desculpas, envergonhada, e coloquei a culpa no trabalho, no
estresse e fui embora. A verdade é que já desisti… não estou procurando
nada.
Antes sozinha do que mal acompanhada.
Não se sente falta do que nunca se teve.
Todas as vezes que transei foram péssimas.
Vi o amor dentro de casa e, sonho um dia, encontrar alguém para
dividir a vida, construir uma família, mas enquanto este dia não chega,
prefiro ficar sozinha, dá menos dor de cabeça e decepção.
O cheiro do café inunda o ambiente e me forço a olhar para a tela à
minha frente, mas as lembranças continuam chegando.
Se ela estivesse aqui, certeza que poderia me dar muitos conselhos,
talvez as coisas entre mim e papai fossem mais fáceis, talvez eu estivesse
casada e com filhos…
São muitos talvez.
A verdade é que eu e o velho, como às vezes o provoco, nos damos
bem e, na maior parte do tempo, eu consigo ser apenas Sophie e não a filha
do chanceler.
Mas, vez ou outra, surge um paparazzo, e há a constante cobrança
para ser a filha perfeita, sem escândalos, sem manchetes e eu apenas quero
ser eu mesma.
Às vezes, me sinto sufocada.
O único momento em que me sinto livre é pintando.
No meu refúgio, posso ser quem eu quero, sem julgamentos.
Somente Sophie.
Independente, artista plástica, mas quase formada em medicina, a
dizer pela quantidade de séries médicas que assisto.
Virginiana compulsiva e totalmente apegada a detalhes, vai
achando que é fácil lidar comigo.
O celular vibra sobre a mesa, me trazendo de volta para a Terra.
Falando nele…
— Oi, pai — atendo, tentando soar animada, mesmo que por dentro
tudo esteja confuso.
— Oi, querida, tudo bem?
— Tudo e aí?
— Tudo ótimo. O que acha de vir aqui?
— Ir aí? — A pergunta me pega de surpresa, já que ele não é do
tipo que chama para matar a saudade. Olho para o quadro e mordo os
lábios, preocupada. — Não sei, pai, preciso adiantar um trabalho aqui —
começo, mas mal consigo terminar a frase.
— Preciso falar com você querida — aponta e parece nervoso.
Algo está acontecendo.
Apoio o pincel no suporte e começo a caminhar pela sala.
— Você está bem? — questiono, já pensando em mil hipóteses.
Desesperada, né? Eu sei, mas não consigo evitar.
— Estou, mas precisamos conversar. É urgente.
— Estou a caminho.
— Ok, querida. Vou esperar.
Desligo, decidida a ir logo para lá.
Quanto antes chegar, antes resolvo e volto para casa.
Só espero que não seja nenhum convite para estas festas frescas,
que às vezes ele me pede para acompanhá-lo, ou sua tentativa absurda de
colocar gorilas na minha cola.
Ele tem insistido nessa palhaçada de guarda-costas ultimamente, e
estou irredutível.
Como disse, o famoso é ele… não eu.
Dou uma última olhada para a tela inacabada.
— Parece que vou ter que abandonar, de novo.
O plano de ficar quietinha em casa acaba de ser alterado com
sucesso.
Here without you — 3 Doors Down

Paro o carro em frente ao grande portão de ferro na Rochusweg e


observo com atenção a segurança.
Duas câmeras monitoram a entrada, mas pelo que vi no muro que
circunda a propriedade, há apenas a cerca elétrica e quero acreditar que
alguns sensores de movimento também.
Há muito a melhorar por aqui.
Já pedi para o K a planta completa do lugar. Quero saber tudo,
todas as entradas, acessos e pontos cegos desta porra. Vou revirar este lugar
do avesso.
Toco o interfone e, não demora muito, sou atendido.
— Bom dia, tenho uma reunião com o Sr. Meyer — anuncio.
Depois de cinco minutos e de terem checado meu nome e
documento de identidade, o portão é aberto.
Tudo estaria perfeito com o controle de acesso, não fosse um
detalhe crítico. Não houve vistoria no meu veículo.
Até onde sei, poderia estar carregando outras pessoas dentro do
carro, armas, ou até mesmo o corpo do verdadeiro Yannik e ter conseguido
documentos falsos de qualidade.
Não seria difícil, não com a quantidade certa de dinheiro.
Observo as instruções passadas pelo interfone e sigo pelo caminho
de paralelepípedos que leva à entrada da mansão.
Não vejo seguranças ou câmeras monitorando este trecho. Há muita
vegetação em volta, o que facilitaria a cobertura de um invasor.
Foda!
Até agora, nada de bom.
Viro à direita e a imponente construção colonial se destaca.
O lugar é lindo.
A fonte e a jardinagem impecável mostram o quão fora do meu
habitat estou e ainda nem conheci a casa.
Imagina se o congressista soubesse que a filha conversava com o
moleque que morava no subúrbio.
Desço do carro e ignoro os olhares que recebo.
Foda-se se eu ia vir de terno. A boa e velha calça jeans é muito mais
confortável e não estou aqui numa festa ou algo parecido.
É trabalho.
O congressista precisa entender a regra do jogo para que a missão
tenha sucesso.
Um homem surge no topo da escadaria externa e me surpreendo ao
ver que é ele. Um dos homens mais influentes da Alemanha.
— Sr. Bauer — cumprimenta e aceito a mão estendida.
— Pode me chamar de Yannik, senhor.
— Neste caso, sou Olaf.
Aceno em concordância e acompanho-o para dentro da mansão.
Como eu imaginava, o lugar parece ter saído das revistas de
decoração. Não que eu leia estas merdas, mas a gente vê na internet.
— Fez boa viagem, aceita algo? Café, chá? — questiona, fazendo
sinal para uma funcionária que se aproxima.
— Estou bem. Obrigado.
— Neste caso, vamos até o meu escritório.
Perfeito!
Direto aos negócios.
Sigo o velho até uma grande porta.
Sua sala é tão imponente quanto ele.
Uma grande mesa de madeira, com uma estante ao fundo que vai
até o teto, totalmente forrada de livros.
Na frente da mesa, um sofá de dois lugares e uma poltrona que
deve valer mais que meu carro.
— Fique à vontade. — Aponta na direção dos móveis, enquanto vai
até um bar no canto direito, se servindo de uma dose de uísque. — Sei que
está cedo, Sr. Bauer, mas este assunto…
Ignoro o comentário sobre a bebida, não me importo com seus
hábitos, contanto que não atrapalhe meu serviço.
Caminho pelo local, observando cada detalhe e então disparo a
pergunta que não sai da minha cabeça desde que entrei aqui.
— Onde está Sophie?
Sua atenção está em mim e o copo para na metade do caminho.
— No apartamento dela — sinaliza, se sentando na sua cadeira.
— Sem proteção?
— Não — se apressa em dizer. — Alguns homens estão fazendo a
vigilância do lado de fora.
— Isso não é suficiente, Sr. Meyer.
— Olaf, por favor. — Indica novamente a poltrona e me sento nela.
— Estamos lidando com um profissional — começo e não há uma
forma fácil de dizer isso. — Não sei quanto o Stefan te disse, mas preciso
que entenda que se ele quisesse, ela já estaria morta.
O homem empalidece.
— Quem montou aquela bomba poderia ter feito, sem que vocês
sequer tivessem notado. Foi um recado.
— Eu não sei o que querem… — Passa as mãos pelos cabelos
grisalhos, então volta a me olhar. Há medo ali, o que é bom.
Não preciso de corajosos, só torna tudo mais difícil.
— Até descobrirmos isso, sua filha precisa estar aqui, onde teremos
mais condições de protegê-la, há várias falhas na segurança, mas que
podem ser resolvidas.
— Diga e faremos — devolve, pegando o telefone. — Vou chamar
o Rainer, é meu chefe de segurança… — começa, mas o interrompo: —
Não. Há três condições para eu aceitar esta missão.
— Achei que já tivesse aceitado — devolve, confuso, e eu gesticulo
que não, torcendo para que o velho aceite o que vou propor. — Prossiga,
filho.
— Primeiro: ninguém aqui pode saber quem sou. Para todos os
efeitos, sou um guarda-costas que o senhor contratou por indicação de um
colega. Nem mesmo seu assessor e seu chefe de segurança devem saber da
USC.
— Mas… — começa e nem deixo que conclua.
— Karl já fez sua mágica e se pesquisarem na internet, não
encontrarão muito sobre mim — esclareço. — Há alguém de sua confiança
envolvido nisso, senhor.
Se levanta e começa a andar de um lado para o outro.
— Rainer trabalha comigo há mais de quinze anos, Kiefer também
é de confiança. Todos são cuidadosamente checados. Tenho plena confiança
neles.
— Ninguém, Sr. Meyer — friso, irredutível.
O homem está contrariado, isto é certo, mas assente.
— Ok, quais são as outras condições?
— Ela precisa saber a verdade — disparo de uma vez. — No
arquivo que recebi consta que ela é relutante em ter seguranças, o que me
faz deduzir que ela não faz a mínima ideia do perigo que está enfrentando.
O congressista permanece em silêncio.
— Não posso proteger alguém que não quer ser protegido —
complemento.
Ele caminha até a janela, sem dizer uma única palavra e então volta
sua atenção para mim.
— Eu falo com ela. Ela está vindo para cá, agora mesmo.
A informação me surpreende e meu coração acelera, mas que
caralho.
É só uma cliente.
Foco, porra!
— E, por último, há uma grande chance da sua filha recusar que eu
seja seu guarda-costas.
— Por que diz isso? — questiona, sem disfarçar a surpresa.
Ensaiei esta porra no carro, mas agora parece complicado.
— Nós nos conhecemos na escola e digamos que não deixei uma
lembrança muito boa.
Me olha, esperando uma explicação.
Sou objetivo.
Conto sobre nossa amizade e o baile que eu furei.
— Então foi você… — murmura após alguns segundos. —
Madeleine, minha falecida esposa, me contou o que houve.
Suspira e passa as mãos pelos cabelos, o que já percebi ser um
TOC. Ele está nervoso.
— Isso é passado, Sr. Bauer. Sophie é uma mulher adulta,
certamente não irá recusar seus serviços, por conta de algo que ocorreu há
mais de quinze anos.
Espero que sim, se me lembro bem, ela é teimosa como uma mula.
— Mais alguma coisa?
— Sim — devolvo. — No meu caminho para cá, tive a impressão
de ver uma casa de hóspedes.
— Na ala leste. Mal a usamos.
— Isto está para mudar — começo. — Sua filha ficará hospedada
lá — continuo. — E eu também — complemento, sem desviar o olhar do
seu.
— Imagino que saiba o que está fazendo, Sr. Bauer — rebate e
apenas aceno que sim.
Quero restringir sua circulação e quem tem acesso a ela.
Não confio em ninguém aqui.
— Sophie é o que tenho de mais precioso na minha vida. — Olha
para o porta-retratos em sua mesa. — Quando o senhor começa?
— Minha mochila está no carro, senhor.
— Parece que temos um acordo, então. — Estende a mão e eu
aceito.
— Sr. Meyer…
— Já que vai morar no meu quintal, insisto que me chame apenas
de Olaf — brinca.
— Senhor — chamo sério e seu olhar está no meu. — Vou protegê-
la com minha vida — friso cada palavra, raiva pulsando em minhas veias só
de pensar em alguém machucando-a.
O congressista acena em concordância e me fita com intensidade,
sabe que eu quis dizer cada fodida palavra.
Proteger Sophie Meyer é minha nova missão, e como sempre
dizemos na USC: missão dada é missão cumprida.
Enquanto a aguardamos chegar, deixo o congressista com suas
ligações e vou até a área externa. Preciso urgente falar com os caras e ficar
lá dentro é sufocante pra caralho.
— Você está no viva-voz, Y — Karl sinaliza.
— Então? — Stefan pergunta sempre muito direto.
— Boa tarde para você também — brinco e escuto as risadinhas.
— Corta a merda. Estamos curiosos.
— O velho aceitou minhas condições — devolvo e queria ver a
cara deles.
— O desespero faz coisas estranhas com as pessoas — S debocha e
reviro os olhos.
— Falta a sua “amiga” aceitar — Karl provoca e isso é um gatilho
para mim.
Imagens da Sophie vem com tudo na minha mente.
— Ela não tem escolha.
— Ela é maior de idade, pode resolver correr o risco — Stefan
argumenta.
Nem fodendo.
— Isso não é uma possibilidade — retruco, certo de que seu pai vai
convencê-la.
Ela precisa de proteção.
Isso não é negociável.
— Qualquer problema, avise. Posso ver com Sven… — começa e
vejo vermelho.
O caralho se vou deixá-lo ou qualquer outro perto dela.
Que porra é essa?
Respiro fundo, colocando minha cabeça no lugar.
Sophie nem chegou e já está me fodendo.
— A missão é minha — devolvo, curto e grosso. — Agora vamos
ao trabalho, preciso do mapa completo da propriedade. Quero saber cada
detalhe daqui, todas as possíveis entradas, esgoto, ar-condicionado, cada
fodido metro.
— Considere feito — Karl aponta.
— E, K — chamo —, vou te mandar uma relação com as câmeras e
alarmes silenciosos que pretendo instalar na minha nova moradia.
— Como é a proteção do perímetro? — Stefan questiona.
— O que vi até agora, só me deixou preocupado.
— Foda.
— Sim, por isso, quero redundância da redundância.
— Tudo que for necessário — S devolve. — Nos mantenha
informados sobre suas descobertas, e lembre-se, você é apenas…
— A babá dela. — Acredite, eu sei.
Os putos começam a rir e, quando percebo, eu também estou.
I Still — Backstreet Boys

Quando finalmente estaciono o carro, depois de vinte minutos


dirigindo, estou a ponto de esganar alguém.
Por alguém, entenda-se o meu pai.
Se ele realmente achou que eu não fosse perceber o carro com os
seguranças me seguindo, está muito enganado.
Seguro com força o volante tentando me acalmar. Eu sei que suas
intenções são as melhores, mas me irrita essa invasão de privacidade.
Desço do veículo e imediatamente sou invadida por lembranças. É
sempre assim quando estou aqui. Mal saio do meu mini, que é meu
xodozinho, e sou recepcionada por Martha. A mulher de quase setenta anos
é uma segunda mãe para mim e trabalha conosco desde que eu me entendo
por gente. Foi meu apoio, após a tragédia que assolou nossa família.
Meu pai se enfiou no trabalho e eu nos estudos.
Cada um enfrentou o luto de uma forma.
Nas horas vagas, eu pintava. Colocava toda dor ali, nas telas. Era
minha libertação.
Martha cuidou de nós e manteve tudo funcionando, enquanto
reuníamos nossos cacos. É quem comanda os funcionários da casa com
pulso de ferro e não se engane pelo sorriso simpático, a mulher é brava,
exceto comigo. Às vezes acho que ela esquece que tenho mais de trinta.
— Srta. Meyer — cumprimenta do alto da escada e me apresso em
sua direção. — Que bom te ver, querida.
— Até parece que não me vê há séculos. — Abraço-a forte. — E
que história é esta de Srta. Meyer?
— Podia passar mais por aqui, mocinha — repreende, colocando as
mãos na cintura.
Agora sim, não temos formalidades.
— Muito trabalho. — Faço careta, mas ela sabe que é mais que
isso. A verdade é que prefiro ficar no meu canto.
— Quem está aí? — questiono, apontando com a cabeça na direção
do esportivo estacionado. Não parece o tipo de carro que qualquer colega
do meu pai teria.
— Nunca vi antes. — Dá de ombros. — Seu pai está te esperando
no escritório.
Respiro fundo.
Hora de descobrir o que está acontecendo.
— Espero que tenha bolo de chocolate — comento dando uma
piscadinha.
— Sempre tem para a senhorita — confirma com um sorriso. —
Seu pai avisou que você vinha. Está no forno.
— Já te disse que te amo? — brinco e ela revira os olhos. — Não
vou deixá-lo esperando, então. — Dou um beijo na sua bochecha e acelero
o passo.
— Há também bolo de maçã — ela avisa, já caminhando na direção
oposta.
— Pegou pesado, Má — resmungo, sabendo que minha dieta já era.
Odiando academia como eu faço, só há uma alternativa: maneirar
na boca e usar vez ou outra a esteira que tenho em casa.
Maneirar, eu geralmente consigo. Às vezes até esqueço de comer,
bem da verdade, mas são os doces a minha perdição. Sou uma formiga e se
tem algo que não falta em casa é chocolate.
Já a esteira, parece mais um cabide do que um equipamento de
ginástica, mas juro que tento.
Acho que tenho que agradecer ao meu metabolismo ser acelerado,
porque vou te dizer, pensa em alguém sedentária.
Bato de leve na porta e então abro.
— Pai — digo e ele se levanta da sua cadeira, com um sorriso no
rosto.
Olho ao redor, apenas para encontrar o visitante misterioso. Está de
costas, olhando pela janela. Parece distraído no celular.
Não vi a frente, mas de costas…
Ele é…
Uau! Meu Deus, Sophie, você realmente está na seca.
Só vejo as costas largas do homem, coberta por esta camiseta preta
colada, que deixa ter uma breve noção de quanto tempo ele deve ficar na
academia, igualzinho eu.
Alto e forte, o desenho de uma tatuagem se destaca no bíceps
direito. Coxas musculosas e uma bunda que deveria ser proibida.
Eu não faço pinturas de nu artístico, mas por ele eu poderia
certamente começar, detalhe, nem vi seu rosto ainda, já que continua de
costas.
— Sophie, querida. Entre, estávamos te esperando. Quero que
conheça seu novo guarda-costas, o senhor… — sinaliza e eu estou a ponto
de interrompê-lo e questionar que história é essa de guarda-costas, quando
ele se vira, e sinto que estou de volta ao passado.
Não pode ser… não pode.
Então ele sorri, e aquelas covinhas que eu por muitos anos admirei
de longe, surgem, e meu coração acelera feito louco no peito.
— Yannik — murmuro, completando a frase do meu pai.
Seu olhar está em mim… e é difícil respirar.
Isso realmente está acontecendo?
O meu Niki está aqui? Meu amigo puto… aquele que me fazia rir e
desejar ser muito mais do que isso, aquele que me deu esperanças, que me
fez sentir querida e depois destruiu tudo, foi embora, sem se despedir, sem
me dar uma justificativa, qualquer coisa…
— Isso mesmo, querida. Yannik Bauer, vejo que se recordou dele.
Como esquecer?
— Você foi embora… — Minha voz é quase um sopro, mas ele
escuta. Seu semblante muda. Seu sorriso some e eu poderia jurar ter visto
tristeza em seu olhar. Sou inundada pelas lembranças de dezessete anos
atrás e fecho os olhos, tentando me acalmar.
Respira, respira.
— O que está acontecendo? — disparo, focando minha tensão no meu pai e
ignorando o estranho ao lado, porque é isso que ele é… um estranho. —
Não quero segurança. Não preciso de guarda-costas. — Mal reconheço
minha voz. Passada a surpresa, deixo a raiva me dominar. — Inclusive,
pode pedir para seus cães de guarda pararem de me seguir. Pensa que não vi
o sedan prata?
Meu pai parece confuso.
— O que você disse? — Yannik se aproxima, sua voz é rouca, forte
e não deveria me afetar.
— Não é da sua conta — retruco e meu olhar poderia matar.
— Ok, ok, vamos nos acalmar aqui — meu pai pede e tento
respirar. — Sophie, querida, acabei de desligar com Roman e Max, eles
estão no comitê. Foram direto para lá, após você ter saído do apartamento.
— Como assim?
— Isto porque não foram eles que te seguiram — ele aponta, me
circulando, e não parece nada satisfeito. — Sr. Meyer, ela precisa saber.
— O que eu preciso saber? Que diabos está acontecendo aqui? —
questiono, erguendo minha voz.
Nem mesmo me reconheço.
Um arrepio percorre meu corpo e simplesmente sei que não é nada
bom. Meu pai parece em pânico e se atrapalha com as palavras, logo ele,
que as domina.
— Você está recebendo ameaças — Yannik dispara como se não
tivesse acabado de jogar uma bomba na sala.
Silêncio.
— Ameaças? — Olho dele para meu pai, precisando de mais
informações.
Meu pai se joga na poltrona.
— Tentei te proteger dessas informações, querida, mas você precisa
saber.
Fecho os olhos, tentando me acalmar e entender o quão crítica é a
situação.
— Do que estamos falando? Cartas?
Sei que meu pai vira e mexe recebe cartas com insultos e ameaças
veladas.
— Receio que a situação seja mais crítica… — começa e então
troca um olhar com Yannik.
Por mais que eu não queira falar com ele, parece ser o único aqui
disposto a falar o que realmente está acontecendo. Sem rodeios.
— Quero saber tudo! — aponto, mirando sua íris azul e pelos
próximos minutos sou atualizada sobre os últimos acontecimentos.
Não pode ser…
Sinto minhas mãos tremerem e cerro os punhos, não querendo que
note como isso me assustou.
— Uma bomba? — repito, ainda não acreditando no que ouvi.
— A bomba — frisa. — A última vez que vi algo do tipo, foi no
Afeganistão, há mais de doze anos.
Então ele serviu…
— Poderia ter destruído o quarteirão inteiro.
Oh, Deus, vou vomitar.
— A questão é — continua —, queriam que a bomba fosse achada.
A intenção não era te matar, mas sim, dar um aviso.
Muito reconfortante.
Não queremos te matar, ainda…
— Que aviso? — disparo.
— Não sabemos, ainda.
— Ok. — Inspiro e expiro algumas vezes. — Como vamos fazer?
Posso deixar de andar de carro, enquanto tentam descobrir quem está por
trás disso — sugiro.
— Não é o bastante, Sophie — começa, e sei que vem mais más
notícias. — Não há uma forma fácil de dizer isso — continua e então me
entrega um envelope.
— Sr. Bauer. — Meu pai se levanta da mesa, mas ele o interrompe:
— Ela precisa entender a gravidade.
Puxo os papéis e nada me preparou para aquilo.
São fotos… minhas.
Saindo do meu apartamento, no mercado, caminhando pelas ruas,
dirigindo e a última é uma na piscina da mansão, no aniversário do meu pai.
Como?
A pessoa teria que estar perto para conseguir uma foto assim, certo?
Meu coração parece a ponto de sair pela boca.
Eles sabem onde eu moro, sabem a minha rotina… e se
conseguiram uma foto aqui, imagina o que podem fazer no meu
apartamento que sequer tem porteiro.
— Oh, Deus. — Levo a mão à boca, em choque.
— Sophie, querida… — Escuto a voz do meu pai, mas parece
longe.
Respira.
— Sophie — ele repete e me forço a olhá-lo. — O Sr. Bauer é um
ex-GSG9 e foi altamente recomendado, querida. Ele fará sua segurança,
será seu guarda-costas, até descobrirmos quem está por trás disso.
Por mais que medo pulse nas minhas veias, quero acreditar que haja
outra solução.
— Deve haver outra saída.
— Caixão — ele rebate.
— Você continua o mesmo imbecil.
— Velhos hábitos nunca morrem.
— Vocês dois, parem! — Meu pai se levanta, apoiando as mãos na
mesa. — Disse para o Sr. Bauer que vocês certamente conseguiriam colocar
suas diferenças de lado. O que quer que tenha acontecido no passado, deve
ficar lá.
Fácil falar…
— Você ficará aqui na casa de hóspedes, até resolvermos a situação.
— O quê?
— Não aceito um não como resposta, Sophie Meyer. — Sua voz se
eleva e me sinto com uma garotinha novamente.
— Já perdi sua mãe, não posso perder você.
Golpe baixo, ainda mais hoje.
— Eu… — Olho na direção de Yannik que me observa com
atenção. — Ok… — murmuro, derrotada, caminhando na direção da mesa
do meu pai, precisando colocar alguma distância dele. — Vou precisar
trazer minhas coisas para cá — exijo. — Tenho prazo para entregar alguns
quadros.
— Claro, tudo que precisar.
— E tenho algumas condições.
Me olham com atenção.
— Daqui a quatro semanas será o baile beneficente da galeria, eu
tenho que ir…
— É perigoso. — Sua voz soa nas minhas costas e sinto os pelos da
minha nuca arrepiarem.
— Não é negociável. Você é o segurança, certo? — Viro o rosto na
sua direção. — Faça seu trabalho.
Seu olhar estreita, ele está puto, o que me lembra da minha última
condição.
— Sem mulheres por aqui.
— Isso é evidente, querida. O Sr. Bauer estará aqui a trabalho.
— Mesmo se ele estiver de folga. Não quero mulheres aqui.
Meu pai olha para ele e ele nem pisca.
— Sem problema.
— Ótimo — retruco, se ele vai fazer da minha vida um inferno,
justo que também sofra um pouco. E se ele ainda é o mesmo puto, isso é
sofrimento.
— Srta. Meyer — me chama, usando meu sobrenome para me
irritar, sabe que odeio, mas ergo o queixo, sem me abater. — Só para que
saiba, não terei folga.
Como assim?
— Enquanto a missão durar, estarei ao seu lado, vinte e quatro
horas, sete dias por semana — anuncia e então dá uma piscadinha. —
Agora, se me dão licença, vou buscar minha mochila no carro. Tenho
certeza que será um prazer trabalhar com você — murmura, só para os
meus ouvidos ao passar do meu lado.
Filho da puta.
Podem me entregar logo aos bandidos.
Como vou suportar isso? Ficar sob o mesmo teto que ele… sem
descanso.
Das duas uma, ou vou enlouquecer ou vou matá-lo. Sim, é isso…
O cretino envelheceu bem para caramba.
A sua versão agora, dezessete anos depois, consegue ser ainda mais
impactante do que a do passado.
Estou ferrada.
Far away — Nickelback

Sem mulheres.
Caralho, eu nem havia pensado nesta porra, e olha que uma das
moças da cozinha me deu seu telefone num guardanapo.
Ela é gostosa e tal, mas não chega nem perto dela… Sophie.
Mas que merda!
A verdade é que desde que soube que teria esta missão, minha vida
virou do avesso.
Após a alta, vim direto para cá, ou seja, nem fodi e, pelo visto, vou
ter que me contentar com a minha mão pelas próximas semanas.
A situação só melhora.
Só pode ser praga.
Sophie continua me afetando.
Vê-la de perto, sentir seu perfume… foi foda.
Tive que me esforçar para manter meu pau sob controle e olha que
geralmente tenho um bom controle sobre ele.
Eu já esperava sua raiva, desprezo, mas a tristeza que vi em seu
olhar quando me reconheceu, mexeu comigo.
Mais do que eu gostaria de admitir.
Saio do escritório, fechando a porta atrás de mim, decidido a
manter uma distância segura dela e dar um minuto de privacidade para pai e
filha.
A verdade é que tanto quanto quero infernizá-la, quero protegê-la,
inclusive de mim mesmo.
Se antes eu já era uma bagunça, agora… minha bagagem é ainda
maior. Cortesia do exército e das merdas que vemos dia após dia.
Me viro e me deparo com um engomadinho, alto, loiro e muito
perto da porta, para a própria sorte.
Mas que caralho!
O encaro, esperando alguma reação e, como esperado, o filho da
puta se afasta disfarçadamente.
Estou a ponto de questionar seu nome, quando a porta abre atrás de
mim.
— Kief? — A voz dela soa ligeiramente surpresa.
— Srta. Meyer — cumprimenta, a medindo dos pés à cabeça.
— Sabe que eu odeio esse formalismo — retruca, o abraçando e
cerro os punhos ao vê-lo assim, tão perto dela.
Felizmente, ela se afasta depressa.
— Kiefer, que bom que já chegou — o congressista também
cumprimenta o infeliz, que parece fazer parte da rotina da casa.
Continuo em silêncio, aguardo a apresentação.
— Este é Yannik, o guarda-costas da Sophie.
Surpresa inunda o seu olhar.
— Prazer, sou o assessor do Sr. Meyer. — Ele estende a mão e
aceito, sem desviar o olhar do seu. Não me pergunte por que, mas algo
sobre este cara não me desce. — Fico feliz que esteja aqui para proteger a
Srta. Meyer.
— Kief — ela revira os olhos —, sabe muito bem que isto tudo é
ideia do meu pai.
— Que ela finalmente resolveu aceitar — Olaf comenta e então
chama o engomadinho para o seu escritório.
Se despedem e ele segue o velho, não sem antes dar uma última
olhada na direção de Sophie, que está distraída mexendo no celular, e então
para mim e não parece nada satisfeito.
Sim, puto… ela está comigo agora.
Começo a caminhar em direção à área externa com ela no meu
encalço.
— Aonde vamos? — pergunta, acelerando o passo ao meu lado.
— Você disse que precisa buscar suas coisas — retruco, tentando
me acalmar.
— Sim, mas iremos agora?
— Você tem algum outro compromisso, Srta. Meyer?
— Não me chame assim.
— O engravatado te chamou assim.
— Kief?
Ignoro e aperto o alarme do meu carro, fazendo as portas
destravarem.
— Vocês estão fodendo? — disparo, me virando em sua direção.
Ela para a poucos centímetros de distância.
— O quê?
— Transando, metendo, você sabe.
— Isso não é da sua conta — rebate, erguendo o queixo e dobrando
os braços em frente ao corpo, o que só faz com que seus seios saltem a cada
inspiração.
Foda, se controla, cara.
— Aí que você se engana, gatinha, tudo sobre você é da minha
conta. Para te proteger, preciso saber de tudo, inclusive se aquele cara é
uma foda sua ou se tenho que me preocupar com algum namorado vindo te
visitar.
Arregala os olhos, ultrajada.
— Você é nojento — devolve. — E não me chame de gatinha —
vocifera.
— Já me chamaram de coisas piores. Então?
— Não — nega a contragosto. — Kiefer e eu tivemos algo, mas
isso… — Parece pensar e só de pensar nele tocando-a, vejo vermelho. —
Acabou alguns meses atrás.
Porra.
— Bom… — Dou de ombros, satisfeito.
— Desculpe? — questiona, indignada.
— Certeza que você está melhor sem aquele cara, princesa.
— Não me chame assim.
— Prefere gatinha? — Dou uma piscadinha.
— Use apenas meu nome. Sophie, para você é Sophie.
— Vou tentar me lembrar disso — retruco após alguns segundos.
— Mas a verdade é que você sempre pareceu uma princesa para mim —
murmuro, mas ela escuta e não disfarça a surpresa.
Merda.
— Você sabe que os caras poderiam pegar suas coisas no
apartamento — mudo de assunto. — É só falar o que precisa. Não era bom
sairmos hoje, preciso checar as câmeras de segurança e ver se conseguimos
ver quem está te seguindo, placa, qualquer coisa.
— Não posso correr o risco de eles estragarem. — Morde os lábios,
preocupada. — Faz semanas que estou trabalhando nele.
— Nele?
— No quadro.
— Ok. Vou te levar lá — digo, puxando o celular e chamando o
chefe de segurança.
Não confio nele.
Não confio em ninguém aqui, mas é o que há para hoje.
Só confio nos meus irmãos e na minha arma, mas Sophie precisa ir
até seu apartamento, e eu não vou sair daqui sem um batedor e um carro
sombra.
Nem fodendo.
— Pronto, podemos ir — digo e ela me observa com curiosidade.
— Realmente é necessário tudo isso? — questiona, e não há ironia
na sua voz. — Você já estará comigo.
— Até sabermos um pouco mais, com quem estamos lidando, todo
cuidado é redobrado — explico e ela parece aceitar. — Aonde vai? —
questiono ao vê-la caminhar na direção oposta ao meu carro.
— Indo pro meu carro.
Tanto para obter um pouco de paz.
— Nem ferrando vamos neste carro de brinquedo.
— Ora…
— Não me entenda mal, princesa. Mas se precisarmos fugir, até
uma bicicleta nos pega nisso.
Parece a ponto de retrucar, mas então se cala.
— Não se preocupe, vou falar para a segurança guardar seu carro.
Você não precisará dele nas próximas semanas, quem sabe você dá sorte e
eles somem de vez com ele. — Dou uma piscadinha e ela ergue o dedo do
meio na minha direção.
— Vá se foder.
— Hum, seu pai sabe que você tem uma boca tão suja?
Entra no Audi e bate a porta do carro.
Nem retruco, já provoquei o suficiente, apenas sorrio.
Porra, é bom estar com ela novamente.
Coloco o carro em movimento e deixo minha arma num local de
fácil acesso.
— Isso é realmente necessário? — questiona ao ver.
— Espero que não, mas quero estar preparado.
A viagem é curta e feita em silêncio.
O clima é tenso.
O veículo batedor sinaliza que chegou ao endereço sem
intercorrências, o que é um alívio.
Cinco minutos depois, estaciono no subsolo do prédio.
O trajeto foi feito em segurança.
Coloco a arma no coldre que levo na cintura e cubro com a camiseta.
Desço do carro, varrendo cada canto com os olhos.
Tudo limpo.
Abro a porta e estendo a mão.
Me olha e há medo em seu olhar.
Está assustada.
— Pode vir, Sophie. Não há ninguém aqui e já checaram o seu
andar.
Ela assente, aceitando a mão estendida.
Tocá-la, mesmo algo tão inocente, mexe comigo de uma forma
irracional.
É apenas uma missão. Foco, porra. Nada de pensar com o pau,
agora.
Caminhamos juntos até o elevador e seguimos direto para o
apartamento 403.
Saímos do elevador e, como eu esperava, um dos seguranças está
estrategicamente posicionado no acesso via escadas.
Tudo parece certo com a fechadura.
Sem sinal de arrombamento.
Um pedaço de papel no chão próximo do capacho chama minha
atenção.
Me agacho e o pego.
“Floyd’s Pub.”
— Algum dos vizinhos deve ter derrubado. A faxineira não dá conta
da bagunça deles — ela comenta com as chaves na mão. — Posso abrir?
— Deixa comigo — sinalizo, aceitando as chaves. — Fique atrás
de mim, até que eu tenha certeza que está tudo limpo.
— Ok.
Abro a porta e felizmente não há nenhum dispositivo.
Não faria sentido algo assim, considerando o histórico da bomba no
carro, mas porra, não sabemos com que tipo de louco estamos lidando.
Ainda.
Fecho a porta atrás de nós e com a arma em punho passo a varrer o
local.
— Fique aqui na sala — sinalizo, seguindo em direção ao que
imagino ser os quartos. — Tudo limpo — informo após segundos de tensão.
Vou até as persianas e as fecho.
— Você é realmente paranoico, sabia — comenta, só então saindo
de onde pedi para que aguardasse.
— Pegue o que precisa, não quero ficar muito tempo aqui —
devolvo, sem tirar o olho da movimentação na rua.
— Grosseiro.
— Prefiro o termo objetivo e você está desperdiçando preciosos
segundos, gatinha.
Revira os olhos e então marcha em direção ao seu quarto.
Tudo aqui é a cara dela.
Colorido, com vida.
— Quantos dias vou ter que ficar lá?
— Não sei, princesa, vamos levar o máximo possível. Não quero
ficar voltando aqui. Quanto menos sairmos da mansão, melhor.
Escuto barulho de armários e sei que está ocupada.
Me distraio admirando seu quadro com atenção.
Ela é talentosa.
— É para ser uma vinícola na região do Reno.
— É lindo.
— Ainda não acabei…
— Se já está bonito assim, é um bom sinal — rebato e ela sorri.
Porra.
Meu peito acelera e não consigo desviar o olhar. Ela pigarreia e
pede licença para começar a organizar suas tintas e cavalete.
— Vou sair do seu caminho — sinalizo, me afastando.
A campainha toca e todo meu corpo fica em alerta.
Puxo a arma do cós da calça, colocando a mão para trás do corpo.
— Calma, deve ser apenas um vizinho.
— Acredite, nem sempre é a porra do vizinho — disparo,
apontando para meu olho que ainda está arroxeado.
— Quem é? — ela pergunta, a voz tensa.
— É a Olga, querida. Do 404. — Uma voz simpática soa.
— Viu, é só a Olga. — Revira os olhos e seguro a vontade de
retrucar.
— Fique ali. — Aponto na direção oposta à porta.
Me olha como se tivesse nascido um chifre, mas ignoro.
O importante é mantê-la longe da linha de visão.
O segurança confirma que é apenas uma vizinha, mas ainda assim,
mantenho a arma em punho, embora fora de visão.
Abro a porta com tudo e quase mato a pobre senhora de susto.
— Oh, Deus… que susto, meu rapaz. — Pula para trás, quase
derrubando o embrulho que carrega nas mãos.
— Não foi minha intenção. — Dou o meu melhor sorriso, e aceno
para Sophie que surge para atender a mulher.
— Oi, Olga.
— Oi, querida, desculpe atrapalhar, não sabia que tinha companhia
— comenta, olhando para nós com curiosidade.
— Imagina, Ol. Como posso ajudá-la? — Sophie oferece e só
espero que esta merda não demore muito.
Já estamos há muito tempo aqui.
Isso não é nada bom.
— Deixaram hoje isso na sua porta. Vi que tinha saído há pouco
tempo, e então guardei, você sabe como a criançada daqui é atentada.
Nem fodendo.
Sophie olha para mim e tomo a dianteira.
— Nós agradecemos muito, Olga. — Estendo a mão e com extremo
cuidado pego a caixa. — Você, por acaso, viu quem deixou?
— Não, querido, eu saí para pôr o lixo, e o homem estava indo
embora, não vi o rosto.
Ela percebe minha preocupação e olha de mim para a caixa.
— E… obrigada, Ol, mas precisamos… estamos no meio de algo…
— começa e a velha arregala os olhos, entendendo totalmente errado.
— Ah sim, claro, querida! Se divirtam, crianças. — Dá uma
piscadinha para Sophie que fica vermelha e volta para o seu apartamento.
Mas que diabo?
— Ela realmente está achando que nós…? Céus! — resmunga,
fechando a porta e voltando sua atenção para mim. — Será que é uma
bomba? — questiona assustada, ao me ver caminhar devagar até a mesa da
sala.
— Não — nego ao ver a mancha vermelha numa das laterais da
caixa.
— O que é então?
— Nada bom. — Puxo um canivete do bolso e corto o lacre, com
cuidado removo a tampa. — Porra!
— Ó Deus, é o que estou pensan…? — Sophie mal termina a frase,
começa a vomitar.
Dentro da caixa, no meio de rosas negras, há um coração.
Ao seu lado, num cartão escrito com letra cursiva, se lê:

“A morte é a única certeza.”

— Precisamos sair daqui. Você está bem? — Seguro sua cintura, a


puxando para junto de mim.
— Isso é um… coração? — fala rápido, em choque. — Ó Deus, ó
Deus… — Sua voz é puro pânico.
— Sophie, olha para mim — peço firme e ela obedece. —É o
coração de algum animal, pelo tamanho, eu diria um boi.
— Você tem certeza?
— Sim! — asseguro, sem desviar o olhar do seu.
Balança a cabeça em concordância.
— Vou pegar sua mala e suas coisas, precisamos ir.
— Ok — murmura ainda parada.
— Hey, Sophie, vai ficar tudo bem, princesa — digo, segurando sua
mão.
Ela a aperta com força e adrenalina pulsa em minhas veias.
Vou descobrir quem são os filhos da puta por trás disso, mas por
ora, só preciso tirá-la daqui.
Colocá-la em segurança.
I Still — Backstreet Boys

Não sei como chegamos ao carro.


Fiquei tão fora de mim, que se não fosse Yannik, teria esquecido
tudo que separei.
Ele grita ordens para os outros seguranças que não entendem nada,
a dizer pela cara confusa.
— Vou tirar você daqui, princesa.
Desisto de corrigi-lo e só entro no carro.
Minhas mãos tremem e meu coração parece a ponto de sair da
boca.
Respira.
Arranca com o carro, cantando pneu e em questão de minutos
estamos na rodovia.
Permaneço em silêncio, em choque.
Escuto-o falando com alguém no viva-voz, um tal de K ou S, que
tipo de nomes são esses? Não entendo direito e nem tento acompanhar.
Minha mente está longe.
Queria que isto tudo fosse um pesadelo, mas está acontecendo.
Não é exagero do meu pai.
Meus olhos enchem de lágrimas e inspiro devagar, não podendo
desmanchar.
Preciso ser forte.
— Hey…
Sua voz soa preocupada e viro o rosto na sua direção, desejando
que não perceba o quanto esta merda me assustou.
— Vai ficar tudo bem. — Apoia a mão sobre a minha e de repente é
muito difícil segurar a emoção.
Aceno que sim, e viro o rosto em direção à janela.
Estamos quase chegando à mansão quando consigo abrir a boca,
com a certeza de que não irei desmanchar em lágrimas.
— Eu… — começo e seu olhar está no meu. — Obrigada, lá trás…
eu simplesmente entrei em pânico quando vi aquilo. — Deus, só de lembrar
meu estômago revira.
— Não precisa agradecer — retruca e fico esperando a piadinha,
mas desta vez ela não vem.
O resto do trajeto é feito em completo silêncio.
Yannik estaciona em frente à casa de hóspedes, meu novo lar, sabe
Deus por quanto tempo.
Nem espero seu auxílio, desço do carro, observando com cuidado a
casa de aparência rústica, perdida no meio da vegetação que circunda a
propriedade.
Faz tanto tempo que não venho aqui.
O local não tem absolutamente nada a ver com a construção
principal e, justamente por isso, sempre foi um dos meus lugares favoritos
na propriedade.
O exterior é todo revestido de madeira e pedras, com grandes
janelas de vidro e dentro a decoração segue a mesma linha do exterior, mas
nem por isso é desconfortável. Minha mãe não faria isso com seus
convidados.
No térreo, sala espaçosa com lareira para os dias mais frios,
cozinha equipada com utensílios de qualidade, que foram poucas vezes
usados, se é que foram algum dia, um pequeno lavabo e na área externa,
tendo a vegetação como testemunha, um ofurô que acomoda facilmente
umas quatros pessoas.
Realmente, não sei o que minha mãe estava pensando quando
projetou este lugar.
É imenso. Se eu fosse a visita, nem iria querer ir embora.
— Se esta é a casa de hóspedes, fico imaginando como é o resto da
mansão — brinca e não posso culpá-lo, minha mãe tinha muito bom gosto.
O lugar parece ter saído de uma revista.
— Minha mãe adorava mexer com decoração — explico, sentindo
o peito de repente apertado.
Observo-o andando pelos cômodos, e o olhar brincalhão foi
embora, agora ele está no modo guarda-costas.
— Todos os quartos ficam em cima?
Aceno que sim.
— Ok, vai funcionar — comenta consigo mesmo e estou a ponto de
perguntar o que vai funcionar, quando sou surpreendida com sua pergunta.
— Algum de sua preferência? — questiona, subindo as escadas
com a minha mala.
— Tanto faz, acho. São todos iguais.
— Você fica no último, final do corredor, então — comanda e estou
a ponto de questionar pelo simples prazer de fazê-lo. — É o mais seguro —
complementa e me calo, de repente envergonhada, ele está trabalhando, mas
desperta este lado irracional em mim.
— Ok — murmuro, desejando mais que tudo um banho e depois
me jogar na cama.
— Eu vou ficar no quarto ao lado do seu e monto meus
equipamentos no próximo à escada.
Equipamentos?
Aceno que sim, não fazendo ideia do que ele está falando.
— Eu vou — gesticulo na direção do quarto — tomar um banho e
tentar apagar a imagem daquela caixa da minha cabeça.
— Vamos descobrir quem está por trás disso, Sophie.
Quero acreditar que sim.
— Você não está com fome?
— Não consigo nem pensar em comida, mas conhecendo a Má,
certeza que está tudo abastecido.
Ele acena, me olhando de um jeito estranho.
— Vou indo… — começo, de repente sem graça.
— Claro — concorda, passando as mãos pelos cabelos e parece tão
deslocado quanto eu. — Estarei aqui ao lado, se precisar de algo.
Por mais louco que pareça, me sinto segura. Não que eu vá admitir
isso, ele já é cheio de si, sem esse elogio. Eu não deveria confiar nele, não
depois do que ele fez, mas… apenas parece certo, não sei explicar.
— Boa noite — sussurro, já com a mão na maçaneta do meu
quarto.
— Durma bem, princesa — ele devolve com uma piscadinha.
Reviro os olhos e desisto de brigar, por hoje.
Amanhã é um novo dia, e se bem conheço o Niki, ele não medirá
esforços para me proteger e me enlouquecer, não necessariamente nesta
ordem.
— Puto — murmuro, mas ele escuta e sorri.

Dormir foi uma tarefa particularmente difícil.


Se já é estranho estar fora da própria cama, imagine fechar os olhos
depois de tudo que descobri.
As imagens da caixa com as rosas pretas e o coração
ensanguentado ficaram surgindo na minha cabeça, num looping infinito.
Liguei a TV, tentei ouvir música, mas nada adiantou, até pensei em
ir até a sala buscar meu cavalete. Talvez pintar fizesse sua mágica e me
ajudasse a esquecer isso, mas o medo de cruzar com Yannik foi maior.
Já tive o suficiente de emoções por um dia.
Revê-lo foi uma dessas.
Ele é só o guarda-costas, Sophie, não é mais seu amigo, nunca
foi… entenda isso e ficará bem.
Ele não é… não é meu amigo.
Viro novamente na cama, repetindo este mantra, para ver se entra
na minha cabeça, assim não me pego pensando nele, em como ele mudou,
ou me questionando por onde esteve todos estes anos… e, principalmente:
por que foi embora?
O sono finalmente leva a melhor sobre mim, mas se achei que fosse
encontrar paz, me enganei.
Perdi a conta da quantidade de vezes que despertei.
O último pesadelo foi o mais tenso, eu corria desesperada por um
gramado, alguém estava quase me alcançando e meu coração martelava
dentro do meu peito, era difícil respirar. Eu procurava por ajuda, por ele,
mas Yannik tinha me abandonado novamente… e claro que no sonho eu
estava usando o mesmo vestido de dezessete anos atrás.
Quão deprimente é isso?
Acordei agitada e como já eram cinco da manhã, desisti de dormir.
Faz cerca de dez graus e, embora a casa esteja aquecida, opto por
uma calça legging e um moletom que já viu dias melhores, mas que é
quentinho e confortável.
Saio do quarto, caminhando na ponta dos pés, rumo à cozinha.
Não ter jantado ontem à noite está cobrando seu preço agora, meu
estômago está queimando.
Estou no meio da escada quando o vejo.
Sentado na mesa de jantar, que mais parece uma bancada de
trabalho, a dizer pela quantidade de equipamentos espalhados.
— Vai ficar me olhando aí o dia inteiro, ou vai descer, princesa?
Ora, seu…
Respiro fundo, me preparando para mais um dia.
— Você dormiu? — disparo, caminhando ao seu encontro.
— Não estou com sono — retruca simplesmente.
— Preciso de um guarda-costas acordado e não dormindo pelos
cantos — provoco, indo até a cozinha, decidida a colocar a cafeteira para
trabalhar.
— Tem café pronto — devolve. — Espero que goste forte.
— Forte é bom — sinalizo, me servindo de uma xícara generosa e
só então percebo que seu olhar continua em mim
— Não poderia concordar mais com você — aponta e não sei se
estamos mais falando do café.
Meu coração dispara com a atenção e dou uma tossidinha,
precisando mudar de assunto.
— O que é toda esta bagunça?
— O que há de melhor em monitoramento e segurança de
perímetro — dispara e deve ter visto a interrogação em meu rosto. — São
sensores de movimento: térmicos, câmeras, tudo e mais um pouco. Além
disso, já montei a minha própria central de monitoramento no outro quarto e
consigo ter acesso a todas as câmeras da propriedade. — Aponta na direção
do notebook.
— A que tinha não era o suficiente?
Ele acena que não.
— Por que você precisa ter acesso à central de monitoramento?
Não seria só chamar o Rainer e pedir um relatório, algo do tipo?
— Não me entenda mal, mas não conheço este tal de Rainer e sua
equipe.
— Você tem sérios problemas de confiança — aponto, já me
sentindo melhor depois de uma dose de cafeína.
Yannik sorri com o comentário e a covinha está ali, me fazendo
sentir coisas totalmente inapropriadas.
— Você sabe que a bomba no seu carro foi instalada quando ele
estava estacionado aqui, certo?
— O quê? — Quase engasgo com a informação.
Aqui???
— Eu… não fazia ideia — assumo, achei que tinham aproveitado
algum momento dele estacionado na rua.
Isso torna tudo ainda pior.
— É, princesa…
— Não me chame assim — reclamo, andando de um lado para o
outro, refletindo sobre o que ele disse. — Me explica o que você está
instalando — peço, determinada a entender como isso irá nos ajudar.
— Tudo isso será instalado nas janelas, portas e ao redor de onde
estamos. Também consigo ter acesso a todas as câmeras da portaria,
estacionamento, muro, dentro da mansão, enfim, todas.
— Nenhuma câmera pegou quem… você sabe, colocou a câmera
no meu carro?
— Seu carro estava estacionado justamente num dos pontos cegos
da propriedade.
— Ponto cego?
— Significa que nenhuma câmera conseguia captar aquele local em
específico.
— Há muitos lugares assim aqui?
— No que depender de mim, não haverá mais nenhum.
Aceno que sim, ainda assustada com estas informações.
— Já conversei com Stefan e ele enviará uma equipe para instalar
outras câmeras nas áreas que identifiquei na planta.
Uau…
— Você realmente esteve ocupado — comento, assimilando a
informação. — Mas se você acha que tem alguém daqui envolvido, eles
saberão das câmeras.
— Acredite em mim, eles não fazem ideia de que instalaremos
câmeras adicionais, para todos os efeitos, é uma manutenção nas calhas e
ar-condicionado.
— Você realmente pensa que algum deles está envolvido?
— Tudo é possível. Você não deve confiar em ninguém Sophie. —
Se levanta e caminha na minha direção, parando a poucos centímetros.
É difícil pensar com ele tão próximo.
— Há alguém envolvido — afirma com convicção. — Alguém de
dentro. Com acesso às informações. Meus irmãos estão trabalhando nisso
junto com a BND.
— Seus irmãos? Achei que só tinha o Luke — comento.
— Stefan, Karl e Thorsten são os irmãos que a vida me deu. Nós
nos conhecemos no treinamento do GSG9 — explica e me lembro da
apresentação do meu pai. — Alguns anos atrás, S saiu e criou sua própria
empresa de segurança, a USC, e nos chamou para fazer parte do time. O
resto é história.
— Ainda não acredito que você é um ex-policial — comento e
quero dizer cada palavra. — Você é…
—Gostoso? Acredite, eu sei.
Reviro os olhos e me afasto, pois no fundo concordo e isso acaba
comigo.
— Se seus “irmãos” estão tentando descobrir quem está envolvido,
qual seu papel nisso tudo? — questiono, enquanto tento achar algo na
geladeira.
— Levantar informações e te proteger.
Me proteger.
Nem ferrando vou conseguir comer depois disso.
Meu coração acelera e fecho a geladeira de mãos vazias, tentando
pensar em algo esperto para dizer, qualquer coisa.
Nada surge.
Me viro e seus olhos estão em mim.
— Minha missão é você, princesa — sinaliza, sem desviar o olhar e
de repente fica difícil respirar.
— Eu… — Mordo os lábios, nervosa, ao vê-lo encurtar a distância,
parando a poucos passos.
Será que ele percebeu como me afeta?
— Não vou deixar nada acontecer com você, Sophie. Se alguém
chegar a menos de quatrocentos metros daqui, eu vou saber, e eu primeiro
atiro, depois pergunto.
Caramba… isso é… quente como o inferno.
Misericórdia, preciso de um banho.
— Você é apenas um — assinalo o óbvio.
— Assim você machuca meu coração, gatinha.
— Como se você tivesse um — debocho e fico tensa quando ele dá
mais um passo na minha direção.
Muito perto.
— Ouch…. bom ponto — retruca, mas não se afasta e seu olhar é
feito brasa.
— O que quero dizer — continuo, tentando ter uma conversa séria
— é que você está sozinho, alguma hora você terá que ter folga, dormir, sei
lá.
— Estou nesta missão 24x7, não há folga, mas não se preocupe,
dentro da mansão o risco é mais controlado e como te disse, nosso
perímetro está protegido. Antes de algo chegar aqui, saberemos e estarei
esperando. O problema é na rua, lá são muitas variáveis. O risco é elevado.
Agora entendo sua preocupação.
— O baile na galeria… — começo.
— Sim? — questiona, observando cada movimento meu.
— Eu realmente preciso ir.
— Nós faremos funcionar — tranquiliza, mas sei que está
preocupado. — Quem sabe, até lá, já está tudo encerrado e você estará livre
de mim — provoca, e ali está o Yannik zoeiro de sempre.
— Espero que sim — murmuro, mal conseguindo raciocinar com
ele ainda tão próximo.
Ele sorri e sei que me ouviu.
— Sei que não está feliz em me ter aqui, Sophie — dá mais um
passo, e é agora que eu morro, poucos centímetros nos separam —, mas
precisamos fazer isso dar certo.
Aceno que sim, incapaz de falar.
Ele está aqui para me ajudar, está se colocando em risco.
Fecho os olhos, tentando me acalmar.
Não posso nem pensar nele ferido por minha culpa.
Céus…
Não faz nem vinte e quatro horas que estou dividindo o mesmo teto
com ele e já está difícil, como vou sobreviver a isso?
Num instante, quero bater nele, e no seguinte… quero, muito…
droga, se eu sei o que quero.
O que tínhamos na adolescência é algo que não sei rotular.
Não era uma simples amizade.
Eu adorava os curtos momentos que tínhamos juntos. Aguardava
com ansiedade nossos encontros na sala de aula e mesmo sentindo
borboletas no estômago, cada vez que ele chegava, de alguma forma louca,
sempre me senti à vontade com ele, a conversa fluía, era tão fácil… eu era
livre com ele, de uma forma que não conseguia ser com mais ninguém.
Nós tínhamos algo diferente.
Eu sabia que ele não pensava em mim, como nas outras garotas, e
havia dias que eu ficava puta com isso.
Outros, eu só agradecia por apenas tê-lo para mim.
Para todo mundo, ele era o Yannik, o capitão do time, o puto, o
zoeiro, para mim, ele era o Niki.
Ele era meu, até não ser mais.
Oh, droga!
Meus olhos enchem de água com as lembranças e eu preciso muito
voltar para o meu quarto.
— Tenho que ir — digo e começo a me afastar.
— Você não comeu nada — sinaliza, confuso.
— Estou bem, preciso trabalhar. — Agarro meu cavalete, como um
náufrago, uma boia. — Obrigada pelas explicações. — Gesticulo em
direção à mesa. — Espero que funcione.
— Não há outra opção — devolve, me fitando com intensidade.
Aceno que sim e subo as escadas, desejando o silêncio e solidão do
quarto.
Estar perto dele está mexendo com a minha cabeça.
Esta tal de USC tem que resolver logo este assunto porque, do
contrário, estarei muito ferrada.
When you look me in the eyes — Jonas Brothers

— Diga que conseguiu algo com as câmeras do tráfego!


— Boa tarde para você também — K provoca.
— Corta a merda e me diga se conseguiu pegar o carro que estava
atrás dela.
— Acho que às vezes você esquece com quem está falando, Y —
debocha e sei que descobriu algo.
— Porra, sim! — comemoro.
— Se eu fosse você, não ficaria tão animado.
— Que houve, caralho?
— A placa é de um veículo roubado há uma semana, e não
conseguimos pegar uma boa imagem para rodar no banco de dados do FBI,
Interpol e demais agências.
— Droga!
— Mas há algo…
— Você quer me matar com estas introduções.
— Olha o vídeo que te mandei.
Abro meu e-mail e clico no play.
Na imagem é possível ver Sophie saindo do estacionamento do
prédio e, logo na sequência, um sedã prata arranca também.
Dentro há dois ocupantes, mas o reflexo do sol, ou azar do caralho,
impede uma visão detalhada dos infelizes.
— Mas que bosta… — resmungo, os olhos vidrados na gravação.
— Adiante a gravação para 10h13. — Sigo sua orientação.
O entorno mudou, saíram da rodovia e estão próximos da mansão.
Reconheço o muro e é possível ver com clareza o momento em que
Sophie para na portaria e o veículo segue seu caminho.
Alguns metros para frente, aparecem na próxima câmera pegando o
acesso para a rodovia, o detalhe está no passageiro.
Ele apoia a mão com o cigarro para o lado de fora, antes de levá-lo
à boca.
Nesta fração de segundos, é possível ver.
— Nem fodendo.
— Sabia que não estava louco.
A tatuagem: uma águia com duas cabeças.
— Achei que não fosse ver estes filhos da puta tão cedo.
— Parece que nos enganamos.
— Já falou com Stefan?
— Ele e T estão a par e concordam que são nossos amigos
albaneses, mas com a queda de Pavli, deve ser alguma célula localizada em
Bonn, você sabe como eles são descentralizados.
Foda, foda…
O que a porra da máfia quer com o congressista e com a minha
garota? Eu vou matá-los… todos, se for preciso.
— Hey, Y, você está aí? — K chama e volto a prestar a atenção na
conversa.
Vejo vermelho no momento.
O que eu não daria pelo saco de pancada neste instante.
— Se acalma, sei que adora os caras, mas já estamos procurando
intel. Stefan já falou com Becker e o T vai ver se o russo sabe de algo que
possa nos ajudar.
— Isso não está cheirando bem.
— Achamos que pode ter alguma relação com a votação do projeto
de lei. Essa merda vai mexer no bolso das famílias. Pode ser uma forma de
pressão.
— Se fosse isso, outros congressistas estariam recebendo ameaças
— argumento, tentando encontrar sentido nisso tudo, mas simplesmente não
encontro.
— Ele é o chanceler, sua palavra tem grande repercussão.
Sim, K está certo.
— E a ficha do pessoal? — questiono, torcendo para que haja algo.
— Tudo limpo.
Cacete.
— Nem uma fodida multa de trânsito. A equipe parece ter sido
escolhida a dedo.
— Isto é estranho pra caralho, você tem que admitir.
— Estranho, mas não ilegal.
— E quanto ao engomadinho?
— Vejo que já está fazendo amizades por aí.
— Não me fode, K. O filho da puta é estranho, me diga que achou
algo.
— Kiefer Koch, trinta e nove anos, nascido em Rothenburg, se
mudou aos dezoito para Berlim, fez faculdade de ciências políticas lá,
trabalhou em diversos ministérios e há cinco anos se mudou para Bonn,
onde atua como assessor do Sr. Olaf Meyer. Pais falecidos, sem irmãos,
aparentemente, o senhor engomadinho vive para o trabalho e para a igreja,
de acordo com suas redes sociais.
— Porra.
— Sinto muito, irmão, queria ter trazido boas notícias.
— Valeu, cara, me mantenha informado.
— Conte com isso, mas agora me conta, como está o trabalho de
babá?
— Vá se foder — disparo, escutando sua risada antes de desligar.
Aqui as coisas não podiam estar melhores.
Escuto passos no andar de cima e me preparo para encontrá-la.
Como esperado, Sophie surge no topo da escada e nosso olhar se encontra.
Parece cansada e abatida. Ela precisa comer, mas se escondeu no quarto o
dia inteiro e tenho certeza de que é para não ficar perto de mim.
Reconheço que não tenho facilitado.
— Ia preparar um lanche agora — começo, abrindo a geladeira e
tirando os frios.
— Parece uma boa ideia — concorda e meu coração acelera.
Foco minha atenção na tarefa à minha frente e, poucos minutos
depois, coloco um prato com um sanduíche de peito de peru e queijo na sua
frente.
— Achei que era para você — aponta, surpresa.
— Vou preparar o meu, este fiz para você.
Olha do pão para mim, com um semblante confuso.
— Desculpe, devia ter perguntado se queria…
— Você lembrou que gosto de peito de peru — comenta antes de
dar uma mordida.
Ahh, garota, se você soubesse da metade.
Dou de ombros e comemos em silêncio.
— Escutei vozes quando saí do quarto.
— Estava falando com o Karl.
— Ah, seu “irmão”, né?
— Isso.
— Alguma novidade?
— Conseguiram as imagens dos caras que te seguiram até aqui.
— Isso é bom, certo? — questiona, animada.
— Não conseguimos fazer o reconhecimento facial.
— Oh! — A animação some, dando lugar à frustração.
— Estamos apenas começando, logo teremos respostas.
— Espero que sim. — Se levanta e caminha até a pia.
Impossível não deixar de apreciar a visão da bunda tentadora nesta
calça colada.
Caralho.
Foco, cara. É a Sophie.
Sim, ainda mais gostosa do que antes.
Se antes já foi difícil resistir, agora… então.
— Eu lavo… — começo, tentando pensar com a cabeça de cima.
— Nem pensar, você preparou os lanches, eu cuido disso — nega e
seu tom não admite discussão.
— Mandona — retruco e ela revira os olhos. — Vou deixar passar
desta vez, mas amanhã a louça é minha. A propósito, a tal de Martha passou
aqui e deixou ainda mais comida. Não sei quantas pessoas ela acha que vão
vir — explico e ela nem parece surpresa. — Tem bolo também.
— Essa é a Martha.
Acompanho-a subir as escadas apressada e depois voltar com um
casaco e tênis.
— Aonde vamos? — questiono, já me levantando.
— Eu — frisa a palavra — vou dar uma volta.
— Neste caso, nós — enfatizo o pronome — vamos.
— Isso é realmente necessário? É só uma caminhada aqui perto,
talvez passe na mansão e fale um oi para o meu pai.
— Acho que já tivemos esta conversa, princesa, aonde você for, eu
vou.
— Isso é ridículo!
— Prefiro o termo “necessário” — provoco e ela para com a mão
na maçaneta.
— Vamos então, já que não tenho escolha.
Agarro minha pistola, confiro o pente e coloco no coldre. Além
dessa, tenho outra no tornozelo, junto com uma faca de combate, mas isso a
gatinha não precisa saber, ou vai surtar e me chamar de paranoico, de novo.
Dou uma última olhada nas câmeras e uma movimentação me
chama a atenção.
Esta caminhada ficou mais interessante de repente.
Deixo-a seguir alguns passos à frente.
Parece estar irritada e não há nada que eu possa fazer a respeito.
Ela diminui o ritmo e acabo alcançando-a.
— Desculpe — dispara e fico perdido. — Ainda é difícil assimilar
que você tem que estar comigo a cada passo. — Faz uma careta e o vento
frio solta uma das mechas do seu cabelo.
Minha mão coça para tocá-la, mas me seguro.
— Vai querer ir até a mansão? — Gesticulo na direção das luzes.
— Acho que não, que tal só irmos até o estacionamento e
voltarmos? É uma boa caminhada — comenta e seus olhos verdes estão em
mim, em expectativa.
Aceno em concordância, torcendo para que eles ainda estejam lá.
Após alguns minutos, viramos na direção do estacionamento e lá
estão eles.
O chefe de segurança e o engomadinho.
Eles nos avistam e se afastam.
Ah, rapazes, podem continuar conversando.
— Kiefer, Rainer, vocês por aqui? — Sophie cumprimenta ambos,
quando estamos a poucos metros.
— Algum problema, Srta. Meyer? — o segurança, que chuto ter
uns cinquenta anos, pergunta, olhando dela para mim.
Sustento seu olhar, observando cada movimento.
— Tudo ótimo! Saímos para uma caminhada e vocês?
Boa, princesa.
Se entreolham e o mauricinho toma a frente, abraçando-a.
Minha mão coça para arrancá-lo dali, mas me contenho.
— Estava falando que seu pai deve receber alguns visitantes nas
próximas semanas. Alguns líderes de partido e que teremos que redobrar a
segurança.
— Ah, claro. — Ela se desvencilha e vem para perto de mim.
Chupa, otário.
— O que acha de um café, Sophie? Tenho alguns assuntos para
tratar com seu pai, mas depois sou todo seu… como nos velhos tempos? —
dispara e olha na minha direção, o filho da puta está tentando me provocar
e, caralho, está conseguindo.
— Yannik e eu já tomamos café, mas obrigada.
— Não faltará oportunidade, então — devolve, a devorando com os
olhos.
Se depender de mim, vai!
Respire, porra.
— Bem, boa noite para vocês — se despede e eu apenas aceno,
com receio de como minha voz iria soar.
Não sei o que os filhos da puta estavam falando, mas uma coisa é
certa, não precisariam estar aqui fora para tratar de negócios.
O fato de aqui ser um dos antigos pontos cegos do monitoramento,
é uma coincidência que eu não pretendo ignorar.
Nem fodendo.
O caminho de volta é feito em absoluto silêncio.
A verdade é que estou puto.
Não gostei de ver as mãos dele nela, o que é absurdo, eu sei, mas
inferno.
A vontade era voar no cretino.
— Você está bem? — Sua voz soa preocupada, mas ignoro.
— Só pensando sobre o seu amigo engomadinho.
— Kiefer?
— O próprio.
— Qual seu problema com ele? Ele é um cara legal, educado,
simpático… — começa a elencar as qualidades do infeliz e isso me deixa
ainda mais irritado.
— Aposto cem pratas que ele nem te fazia gozar gostoso, que você
nem implorava por mais — digo e ela arregala os olhos em choque.
Pesado, mesmo para você.
— Não lembro de você ser tão imbecil assim antes — retruca, e seu
olhar poderia matar.
— Isso porque eu me controlava perto de você, princesa — revelo e
não deixa de ser verdade.
— E por que não faz isso agora? Um filtro chamado “isso não é da
sua conta” seria bom, sabe?
— Não conheço este, gatinha — debocho e ela revira os olhos,
acelerando o passo, se afastando. — E talvez agora, eu não queira controle
— grito e ela para, sem olhar para trás. — Talvez, eu queira que você
conheça o verdadeiro Yannik.
E corra para o mais longe de mim.
— Não se preocupe, já está bem claro que você é um babaca —
vocifera, olhando de lado. — Um que não vejo a hora de estar bem longe de
mim — complementa e retoma a caminhada.
Melhor assim, princesa, você não precisa da minha bagunça,
acredite.

Sophie subiu direto para o quarto e não a vi mais.


Passa das vinte e três horas quando caminho pelo andar de baixo,
apagando as luzes, conferindo cada porta e janela.
Tudo fechado, alarmes e sensores ligados e funcionando, vou para o
quarto.
Um banho e cama é uma boa ideia para encerrar o dia infernal.
Ainda agitado, fico apenas de boxer e decido fazer algumas flexões
de braço. A verdade é que eu queria socar algo, ou alguém, mas na falta de
equipamento, é o que temos.
Foder também ajudaria a extravasar o estresse, mas isso está ainda
mais fora de questão.
Me exercito até os braços começarem a queimar e o suor escorrer
pela testa, então me jogo no chão.
— Foda… quem sabe assim, eu consiga dormir.
Entro sob a ducha e deixo a água quente bater contra minhas costas.
É bom.
Fecho os olhos, tentando relaxar, mas a imagem daquele filho da
puta com as mãos nela me atinge.
Que droga!? É só um trabalho.
Não me importa quem a come e se o cara a faz gozar gostoso.
Eu não poderia me importar menos, nem deveria imaginar como
deve ser ter seus seios pesando na palma da minha mão. Como é o gosto da
sua pele, do seu gozo?
Inferno, quando dou por mim, estou batendo punheta, imaginando
Sophie me tomando inteiro naquela boca esperta.
Acelero os movimentos, colocando a pressão certa.
Fecho os olhos e a imagino, a boca aberta, engolindo toda minha
porra e apenas isso basta.
— Caralho — explodo, meu gozo jorra em jatos quentes sujando
tudo.
Perfeito, agora ainda vou ter que limpar esta merda. Isso só pode ser uma
coisa: falta de boceta.
Sim, é apenas isso.
Não ela.
Não é nada sobre ela.
Saio do chuveiro e checo as câmeras no notebook.
Tudo em ordem, então vejo uma chamada não atendida no meu
celular.
Nem termino de me vestir, apenas disco rapidamente e minha mãe
atende no segundo toque.
— O que houve?
— Oi, querido!
— Está tudo bem, mãe?
— Sim, só saudade, faz dias que você não liga e resolvi checar se
está bem.
Solto o ar que nem percebi estar segurando, passando as mãos pelos
cabelos molhados.
— Tudo bem, mãe, só muito trabalho.
Minha mãe está sóbria há mais de dez anos, mas ainda assim não
tenho sossego. Vê-la quase morrer diante dos meus olhos é algo que não me
deixa. Estou sempre monitorando, checando…
Dependência química não é considerada uma doença crônica,
progressiva e sem cura à toa. O tratamento é contínuo para evitar chances
de uma recaída.
Ela está fazendo a parte dela.
Meu terapeuta já me disse inúmeras vezes que tenho que acreditar e
encorajar que ela vai conseguir, e tenho feito isso. Acompanho de longe,
deixando que siga sua vida.
Ela está bem e se precisar de ajuda, eu saberei, mas esta sensação
de não ter controle, acaba comigo. E é aqui que entra a frase que mais
escuto nas minhas sessões com o velho médico: preciso aceitar que não
tenho controle, só posso fazer o meu melhor dentro das circunstâncias e
esperar que dê certo.
Não adianta sofrer por antecedência, alguma merda do gênero.
Fácil falar, difícil colocar em prática, ao menos para mim.
Me sinto o moleque de dezessete anos atrás, aquele que tentava
manter as aparências. Que fingia que estava tudo nos eixos, funcionando,
quando, na verdade, tudo ao meu redor ruía.
Minha mãe superou o luto, casou, meu irmão cresceu, se formou,
está namorando. Todos estão bem, seguiram em frente.
E eu… ainda estou preso no passado.
Foda.
Preciso deixar esta merda para trás e viver minha vida.
O trabalho ajuda a manter a mente ocupada, mas é quando estou
sozinho que tudo pesa e me sinto preso na escuridão. O aperto no meu peito
me lembra que estou devendo uma visita ao doutor, que me acompanha há
anos.
Respira, porra.
Inspiro e expiro, tentando me acalmar.
— O que acha de vir aqui semana que vem, querido? Vai ser bom,
faz tempo que não nos vemos. — Sua voz me traz de volta ao presente.
— Não posso, mãe, estou trabalhando.
— Ah — resmunga triste e quase consigo ver seu semblante.
— Como está o Luke? — mudo de assunto.
— Está viajando com a namorada, mas disse que passa aqui.
— Mande um abraço para ele, neste caso.
— Sentimos sua falta.
— Eu também. Prometo que passo aí, assim que possível.
— Ok, querido. Fique bem!
Me despeço e desligo com o coração acelerado.
Sei que estou devendo uma visita, mas os últimos meses foram
loucos, com toda esta situação envolvendo a Mari e Elise.
Numa situação normal, eu a visitaria a cada quinze dias. Isso não
significa que eu não a monitore. Falo com seu marido toda semana.
Sei de tudo.
Não posso deixar aquilo se repetir. Não posso.
Coloco o celular sobre a mesa de cabeceira e me jogo na cama,
desejando algumas horas de sono.
A imagem de Sophie é o que vem na minha cabeça e o agito no
meu peito parece acalmar.
Ela é a minha paz.
Sempre foi.
Por isso, devo me manter distante. Não posso estragar isso, não de
novo.
Alone - Heart

Faz uma hora que estou olhando para a tela sem conseguir avançar.
Inferno.
A semana foi produtiva, não posso reclamar, mas juro que não
aguento ficar mais um segundo sequer neste quarto. Saio apenas quando é
extremamente necessário, ou seja, para comer. Nestas ocasiões, eu o vejo, e
toda raiva vem à tona.
Infelizmente, não é só raiva que sinto, e isto me deixa ainda mais
enfurecida. Eu devo ter algum problema. É tão fácil odiá-lo, motivos eu
tenho de sobra, mas… como ele consegue me afetar tanto?
Yannik tem se comportado bem nos últimos dias, talvez isso seja
exagero da minha parte.
Fato é que ele não tem aberto a boca, o que já é algo, mas droga, se
eu sinto falta até das suas piadas sem graça.
Estou enlouquecendo, é isso!
Preciso sair daqui!
Olho pela janela e está um dia lindo.
Céu azul, ensolarado, vinte graus, de acordo com a internet. Melhor
impossível, no meu dicionário. Desço as escadas, decidida a ter um pouco
de ar fresco.
Não o encontro na sala ou cozinha.
Estranho.
Por um segundo, penso em subir e ver se está no quarto dele, mas
desisto. Só vou aqui na frente, não é como se estivesse fazendo nada errado.
Abro a porta, desço o primeiro degrau e viro à direita, só para quase
cair sobre ele.
— Oh, Deus — grito, assustada.
— Bom dia, princesa. — Sorri e isto traz borboletas no meu
estômago.
Corpo traidor.
Superado o choque inicial, percebo que o infeliz está sem camisa,
todo suado.
Uma ajudinha, Deus!
— Estava ajustando uma das câmeras no telhado — comenta, mas
mal consigo prestar atenção.
— O quê?
— Estava dizendo que tivemos um problema numa das câmeras,
mas já resolvi, e quanto a você, o que está fazendo aqui? Outra caminhada?
— Você não tem camiseta? — disparo sem filtro, e o cretino ri.
— Alguém acordou azeda!
Reviro os olhos.
— Não aguento mais ficar aqui dentro.
— Achei que trabalhasse do seu apartamento — argumenta.
— Sim, mas eu saía, ia na cafeteria, no parque. Aqui eu só olho
para a janela e… bem, para você. — Minha atenção está novamente no seu
abdômen definido e nas inúmeras tatuagens no seu braço esquerdo.
Pelo amor de Deus, Sophie, se controle.
Ergo o olhar, torcendo para que ele não tenha percebido.
— Desse jeito, vou ter que procurar um psiquiatra depois que a
missão acabar. Você sabe como deixar uma pessoa com a autoestima
elevada — comenta, mas sei que está brincando. Yannik pode ser tudo, mas
não é um problema para os olhos.
Até tento segurar, mas não consigo. Explodo numa gargalhada.
— Descul… — tento falar, mas sequer consigo.
Quando percebo, estamos os dois rindo e, caramba, como que ele
chegou assim, tão perto?
Não sei quanto tempo ficamos assim, mas é bom e minha barriga
até dói, quando finalmente nos acalmamos.
Nos fitamos em silêncio e a tensão é imensa.
Desvio o olhar, de repente nervosa. Com certeza já estou pronta
para voltar ao meu quarto.
— Acho que já tive o suficiente de ar puro — aponto, de repente
sem graça.
Covarde!
Ele abre a porta da sala e caminho em direção às escadas com o
coração acelerado. Subo, sentindo-o próximo de mim.
Respira.
Ele deve estar indo para o quarto dele.
Passo pela sua porta e sigo até o final do corredor.
— Você fica linda assim… — Sua voz soa alta e rouca atrás de
mim, me surpreendendo e viro na sua direção.
— O quê?
— Devia sorrir mais, Sophie, você sempre fica linda quando sorri
— diz e então entra no seu quarto, me deixando atônita.
— Mas que diabo… — murmuro antes de entrar no meu.

Relutei em descer para comer, mas meu estômago estava


queimando. No fim, ele estava concentrado no notebook e nem nos
falamos.
Melhor assim, imagino.
Depois das suas últimas palavras, eu não sei o que esperar. Ora um
babaca, ora tão doce… difícil acompanhar suas mudanças de humor.
Passa das vinte e três horas e acho que a cama está me chamando.
Consegui avançar na pintura, depois do ar fresco pela manhã, e posso dizer
que estou até adiantada.
Tomo um banho, coloco meu pijama e me jogo na cama. Estou
quase dormindo, quando começa um barulho.
— Mas que droga?!
Levanto e, com cuidado, abro a porta. Coloco a cabeça para fora e
confirmo a minha suspeita.
O quarto dele.
É lá a fonte do barulho.
Volto para a cama, decidida a dormir, mas o som de madeira
rangendo continua.
Tento de tudo, cubro a cabeça com o travesseiro… até que desisto.
— Mas que inferno ele está fazendo a esta hora? — Levanto e
caminho com destino certo. Sem avisar, abro a porta com tudo. — Será que
você pode… — grito, mas paro quando o vejo.
Puta que pariu!
Yannik está totalmente nu, segurando o pau, que é, sem sombra de
dúvida, o mais comprido e grosso que já vi na vida, não que tenham sido
muitos, mas o detalhe fica por conta da cabeça rosada, onde há a porra de
um piercing.
Sim, um piercing!
Socorro, Deus!
A joia atravessa em diagonal, indo da base da glande até a parte de
cima, terminando numa esfera.
— Oh… — é tudo que sai da minha boca.
Minha boceta palpita com a visão e perco a capacidade de articular
uma frase.
— Quer me ajudar, princesa? — provoca, sem desviar o olhar do
meu.
— Ora… seu… — tento retrucar, mas estou hipnotizada e o cretino
não se incomoda, continuando a movimentar sua mão para cima e para
baixo.
Feche a boca, Sophie!
Droga!
— Tente fazer menos barulho enquanto… — meu olhar segue
novamente para lá e, merda — …estiver, você sabe o que… — Me viro,
fechando a porta com força atrás de mim.
Escuto a sua risada conforme caminho pelo corredor.
Maldito.
Dormir já era, agora eu preciso é de um banho, bem frio de
preferência.
Passa das nove horas quando finalmente levanto, o que é bem tarde
para mim, mas considerando como foi a noite anterior, não posso reclamar.
Depois de ser presenteada com a visão de Yannik e seu pau, Deus,
não vá por este caminho, demorei a conseguir pegar no sono. Não houve
mais barulho depois que saí de lá.
Das duas uma, ou arruinei seus planos, ou ele terminou o serviço,
tão logo ficou sozinho.
Não sei se um dia serei capaz de esquecer aquilo e me pego
imaginando o quanto deve ter doído colocar aquele treco lá.
Será que eu sentiria, se transássemos?
Misericórdia… já sinto um calor.
Me troco, optando por uma calça jeans e blusinha preta básica e
estou pronta para descer, embora não me sinta desta forma.
Como vou encará-lo? Não é como se eu pudesse evitá-lo, uma hora
terei que sair do quarto.
Como que em protesto, meu estômago ronca.
— Ok… já vou.
Desço as escadas, decidida a ignorar o episódio de ontem, mas é só
encontrar Yannik sentado na sala e ver seu sorrisinho sacana que sei que as
chances de isso funcionar são baixíssimas.
— Bom dia, princesa!
Ignoro a provocação e sigo direto para a cozinha.
Me sirvo de uma xícara generosa de café e resolvo fazer ovos
mexidos com torrada.
— Não sei o que ensinam aqui neste bairro chique, mas sempre
soube que é feio entrar sem bater no quarto dos outros, sabe…
Fecho os olhos por alguns segundos e continuo focada na minha
tarefa.
Não rebata, apenas ignore.
Vejo pelo canto dos olhos o exato momento em que ele levanta do
sofá e caminha na minha direção.
Puta merda.
— Na próxima vez que me interromper, pode, pelo menos, me
ajudar a terminar… — sussurra próximo do meu ouvido.
Meu sangue agita e não consigo resistir.
— Não conseguiu terminar a brincadeira, é? Que peninha —
debocho, mas me arrependo imediatamente.
Ele está logo atrás de mim. Posso sentir sua respiração na minha
nuca.
— Ah, gatinha, eu terminei sim, pensando em você. — A voz rouca
faz meu corpo estremecer e sinto um aperto ao sul.
— Qual seu problema? — Me viro para enfrentá-lo e seus olhos
estão em mim.
Meu coração está acelerado e meu peito sobe e desce, mas me
recuso a recuar.
— Nenhum, foi você quem entrou no meu quarto — argumenta,
sustentando meu olhar.
— Ora… — Respiro fundo e ele apenas sorri. — Eu não deveria ter
entrado sem bater, admito, mas você não deveria fazer tanto barulho… —
Não consigo terminar a frase e ele sorri.
Cretino.
— Vou tentar me controlar da próxima vez, princesa, mas não
posso prometer. — Pisca. — Às vezes, as coisas ficam quentes, sabe?!
— Contanto que você me deixe dormir, pode fazer o que quiser! —
advirto, séria.
— Se tiver problemas para dormir, me avise, que posso te colocar
na cama. — Se aproxima e fica difícil raciocinar. — Será meu prazer.
Meu corpo responde ao infeliz.
— Vá se foder, Yannik!
— Que boca-suja… — começa, mas o notebook apita e seu
semblante fica sério.
Caminha rapidamente até o equipamento, tecla alguma coisa, e o
barulho para.
— Algo errado?
— Seu pai e seu namorado estão vindo nos visitar.
— Eu não tenho namorado! — rebato.
Dá de ombros e me recuso a deixá-lo me irritar ainda mais.
— Neste caso, vou recebê-los — sinalizo, mas mal dou um passo
em direção à porta, sua mão segura meu pulso e ele me puxa para junto de
si.
— Ei! — resmungo, surpresa, o peito praticamente colado ao seu.
— Apenas seu pai sabe sobre as câmeras e sensores adicionais que
instalei. Isto deve permanecer assim, entendeu? — Sinto sua respiração no
meu rosto e fica difícil pensar quando só consigo notar a leve barba que
cobre seu maxilar, ou como ele é cheiroso, uma mistura de sabonete, com…
droga, foco, Sophie. — Você entendeu, princesa?
— Sim, Kiefer não pode saber — digo pausadamente.
— Boa garota! — Me solta e sinto a falta do seu toque.
Desisto de ir até a porta e volto para a cozinha, fingindo que não sei
que eles se aproximam.
É ridículo, eu sei, mas obedeço.
Mal tenho tempo de tomar um copo de suco, eles surgem próximo
da escada que dá acesso à casa.
— Ó de casa — meu pai brinca e não posso evitar o sorriso que
surge.
— Pai! — cumprimento, indo até o seu encontro.
Yannik, a esta altura, fechou o notebook e não há qualquer
evidência do monitoramento, ele está em pé ao meu lado.
Abro a porta e abraço-o.
— Vim checar se está tudo bem por aqui? — brinca e eu apenas
sorrio. — Yannik está cuidando bem de você, querida?
Tudo ótimo, pai, estamos quase nos matando, ah, e ontem eu vi o
pau dele, passa na minha cabeça, mas o velho certamente infartaria, então
sigo o caminho seguro.
— Melhor impossível — respondo, e só por isto eu deveria ganhar
o Oscar de melhor atriz.
— Bom, muito bom! Até essa loucura passar, quero você por perto.
Dou um oi para o Kiefer que me puxa para um abraço, o que é
estranho, já que ele não é de muito contato, não na frente dos outros, pelo
menos. Ele é todo sério. Isso é, inclusive, uma das coisas que sempre me
incomodou. Parecia que eu tinha que ficar sempre pensando em como me
comportar na presença dele. Na etiqueta, quando eu só queria, sei lá, ser eu,
não a filha do chanceler.
Yannik cumprimenta meu pai com um aperto de mão e apenas
acena na direção do meu, tecnicamente, ex. Ele realmente tem um problema
com o pobre homem.
— Quer algo para comer, pai? Martha trouxe tanta comida, que dá
para alimentar um batalhão.
— Não, querida, estamos bem e de saída. Só vim mesmo ver se
estavam bem instalados. — Olha ao redor com certo saudosismo. — Queria
ter vindo antes, mas tive muitos compromissos externos.
— Sem problemas, pai. Eu também estive ocupada, terminando
uma encomenda.
— Ainda pintando, Sophie? — Kiefer pergunta e o tom de
reprovação está ali.
— É o meu trabalho, então sim — retruco, mais seca do que
pretendia.
— Claro, foi o que quis dizer — se corrige rapidamente, mas eu
percebi seu tom e me incomodou, sim.
— Sophie é uma grande artista, Yannik. Além de ser uma perita
reconhecida no mercado, também tem suas próprias obras.
— Conheço seu trabalho, Sophie é extremamente talentosa —
retruca, me olhando de forma tão intensa que meu peito se agita.
Será que realmente conhece meu trabalho, ou está apenas falando
da boca para fora?
Impossível que seja verdade…
— Um homem de bom gosto! — Meu pai dá um tapinha em seu
ombro. — Bem, vou indo, preciso ir ao ministério e depois tenho
compromissos a tarde inteira, mas gostaria que fossem jantar comigo. O que
acham?
— Jantar? — questiono, surpresa.
— Sim, faz tempo que não tenho este prazer com minha filha e
você também está convidado, filho — complementa fitando Yannik, que
parece tão surpreso quanto eu. — Não aceito um não como resposta. Já falei
com a Martha.
— De minha parte, vai ser um prazer jantar com o senhor.
— Olaf — meu pai corrige.
— Olaf — repete.
— Bem, neste caso, teremos um jantar! — anuncio e todos sorriem,
bem, quase todos. Kiefer está mais afastado numa ligação e depois volta
para próximo de nós com semblante fechado.
— Desculpem, trabalho. — Aponta para o celular.
— Vou deixar vocês em paz, crianças — meu pai diz, ignorando
que ambos temos mais de trinta anos. — Até mais tarde.
Só quando eles já estão longe e entrando no carro estacionado a
alguns metros da casa, eu relaxo.
Tanto para ficar trancada no quarto, apenas pintando…
Agora terei que ficar numa sala de jantar, por sabe lá quanto tempo,
com ele…
Estou de costas, mas sinto seu olhar em mim, eu apenas sei.
Meu cérebro diz não, mas meu corpo diz sim… e ele parece uma
árvore de Natal acesa, só de estar perto do infeliz.
Viro e, sem olhar na sua direção, começo a subir as escadas.
— Hoje não conseguirá ficar escondida muito tempo, princesa —
provoca, voltando a abrir o notebook.
— Qualquer minuto longe de você, já conta — rebato e ele
gargalha.
— Até mais tarde, gatinha. Contarei as horas.
Cretino!
Eu também contarei, mas isso ele não precisa saber.
When you look me in the eyes — Jonas Brothers.

Jantar.
Um fodido jantar.
Eu deveria ter recusado essa porra, mas não. Agora vou ter que
ficar fazendo sala para o congressista e passar a noite sendo torturado. Sim,
pois é isso que acontece quando fico no mesmo espaço que ela.
Sempre tive controle sobre o meu pau, mas nos últimos dias, ele
resolveu ter vida própria e se recusa a me obedecer. É só a ver que fica
pronto para ação e a cada resposta atrevida, a situação fica ainda pior.
Ah, como queria beijar aquela boca esperta, sentir sua maciez, seu
gosto.
Não vá por aí, caralho!
O que aconteceu ontem só serviu para piorar ainda mais a situação.
Claro que não era para ela ter visto. Nunca imaginei que ela fosse entrar
lá… muito menos, que estivesse fazendo barulho.
Fiquei tantas horas com o pau latejando, que quando me joguei na
cama, só conseguia pensar em obter algum alívio antes de dormir.
A cada movimento da minha mão, foi a sua imagem que surgiu na
minha mente, dominando meus pensamentos, inebriando meus sentidos,
mais umas bombadas, teria gozado e ela teria presenciado uma puta sujeira.
Sua interrupção só prolongou o prazer, ver o choque em seu rosto
ser substituído por tesão, sim, não sou bobo… sei o que vi ali, porra, se não
fiquei ainda mais duro.
Caralho, só de pensar nisso, meu pau responde e aperta contra o
jeans.
Foco, cara. Prevejo tempos difíceis para você, amigão.
Desta vez, não vai rolar.
Meu papel aqui é um só, mantê-la segura, protegê-la, inclusive de
mim mesmo.
Ela merece bem mais do que alguém ferrado da cabeça, e cheio de
problemas familiares, ela merece a família de comercial de margarina, um
homem que irá lamber o chão para ela passar… e cada pedacinho dela.
Mas que caralho!?
E esse cara não sou eu.
Só quero aproveitar cada segundo desta missão. Cada momento ao
seu lado e, bom… Sophie me faz bem, mesmo quando quer me esganar, ela
é especial.
Meu celular toca, me trazendo de volta à realidade.
— Com saudade? — disparo, já sentindo falta das zoeiras na USC.
— Fala, Y, como estão as coisas por aí?
— Estariam melhores se eu estivesse no meu apartamento, com
alguma morena esperta sentada no meu colo, mas…
— Quase tenho pena de você — debocha e sorrio. — Os homens
casados estão tendo alguma folga na sua ausência.
Sempre sou zoado com esta merda e eu nem sabia que ela era
casada. Tenho regras no que se refere a bocetas. Só como aquelas que,
assim como eu, estão livres e desimpedidas. Nada de pegar o lanche do
coleguinha.
Não preciso de dor de cabeça, ou no caso, de um corno sentimental
enchendo meu saco. Só quero um bom tempo, algumas horas de diversão,
mas às vezes, as pessoas mentem e foi exatamente o que ocorreu neste caso.
— Vá se foder, K. Você sabe o que aconteceu — disparo, sem
tempo para esta merda. — Diga que teve notícias do laboratório — peço e
ele gargalha.
— O resultado do laboratório confirmou a sua suspeita. Coração de
boi, sem digitais na caixa.
— E quanto às flores? Não deve ser normal comprar rosas pretas.
— Acredite ou não, só no mercado municipal foram vendidas mais
de cinquenta dúzias. Comerciantes, clientes, impossível de rastrear, ainda
mais se a compra foi feita em espécie, o que deve ser o caso.
— Não temos nada — afirmo, sem disfarçar a frustração.
— Não, mas a BND disse que outros políticos receberam ameaças
similares a que o Sr. Meyer.
— Suas famílias também?
— Não! Apenas o político.
— Não é o mesmo modus operandi — aponto o óbvio.
— Será que estamos diante de dois criminosos? — K especula.
— Nada faz sentido nesta porra. Alguma outra ameaça chegou para
ele? — questiono, mesmo sabendo que teriam me avisado de algo relevante
assim.
— Não! Stefan está acompanhando diariamente isso, com o pessoal
em Berlim. Nada!
— Não estou com um bom pressentimento sobre isso.
— A votação é daqui a quinze dias, se tudo continuar tranquilo,
logo você poderá voltar para casa.
— Algo não fecha, K.
— Se as ameaças pararem, não há por que você estar mais aí, cara.
Até onde sabemos, podia ser um fanático que morreu em casa vendo
televisão.
— Esqueceu dos nossos amigos albaneses, caralho?
— Foda, tem estes putos.
— Eles ficam quietos e depois atacam, quando você menos espera.
— Talvez as ordens sejam outras agora.
Não sei de mais nada.
— Bom, você não trouxe nada de útil, mas pelo menos matou um
pouco a saudade, né?! — brinco e sei que ele estaria erguendo o dedo do
meio neste exato momento.
— Claro! Mal durmo de saudade, seu filho da mãe.
Gargalho e ele também.
— Bom falar com você, K.
— Hey, Y, estava quase esquecendo, sei que está enrolado aí, mas
só queria dizer que estou correndo com os preparativos daquilo que te falei.
— Tem certeza que vai seguir com isso, irmão?
— Mais do que tudo, Mari é a mulher da minha vida.
— Fico muito feliz por vocês, cara, de verdade. Com certeza quero
participar deste momento, ainda que por telefone.
— Fechado, cara. Se cuide aí.
— Vocês também.
— E, Y?
— Fala, K.
— Nós realmente sentimos sua falta — diz sério antes de desligar.
Outro soldado abatido com sucesso e que agora vai se amarrar de
vez.
Até arrepio.
Mari é legal pra cacete, mas… imagina, acordar e comer a mesma
boceta, dia após dia, não faz sentido.
Pior é que tenho certeza de que T vai para o mesmo caminho.
Dois cachorrinhos adestrados, três, se contar o Stef com a ruiva.
Até bom ficar longe da USC um tempo, deve ter algo de errado
naquele lugar. A água, sei lá que porra é essa que está afetando a cabeça e o
pau deles.
— Estamos bem, amigão.
E vamos continuar assim.
Custe o que custar.

Faltam cinco minutos para às dezenove horas e a dizer pelo barulho


de saltos no andar de cima, logo terei companhia.
Checo mais uma vez o monitor e tudo está tranquilo na portaria e
perímetro, nada fora do lugar.
Ainda está claro, mas a temperatura já começa a diminuir,
sinalizando mais uma noite gelada.
Estou de costas para a escada, mas sei que Sophie saiu do quarto.
Seu perfume invade minhas narinas e meu corpo se agita.
— Achei que não fosse descer, gatinha, e estou morrendo de fome
por aqui — disparo sem me virar.
— Neste caso, talvez eu deveria ter demorado um pouco mais,
quem sabe — retruca e meu sorriso se expande.
Me viro para provocá-la, mas a piada não sai. Sua visão, linda num
vestido roxo de manga longa, pouco acima dos joelhos, meia-calça preta
marcando com perfeição as coxas gostosas e cabelo solto, me tira
totalmente dos trilhos.
Caralho!
— Você está linda, Sophie — murmuro e surpresa inunda seu rosto.
— Eu… obrigada — responde após alguns segundos. — É um
vestido simples, nada elaborado, só não estava a fim de ir de moletom.
Quero retrucar e dizer que o vestido pode até ser simples, mas ela
está gostosa pra caralho, porém me calo.
— Você não está nada mal também — aponta, dando uma
piscadinha, e sorrio.
Guardei o terno para o baile que teremos em breve, mas a calça de
sarja, camisa social e blazer fazem bem o trabalho para hoje, já que não é
uma festa. Enfim, era isso ou jeans e camiseta.
— Fico feliz que tenha gostado, princesa — provoco e ela revira os
olhos. — Vamos?
Parece que vai dizer algo, mas me olha uns segundos e se cala.
Resolvo deixar assim. Uma leve trégua.
— Vamos. Também estou faminta.
— Espero que haja comida naquela mansão e não aqueles pratos
finos e elaborados.
— Relaxa, vai ter. Meu pai pode até comer isso nos jantares com
políticos ou em eventos, mas aqui estamos em casa. É família.
Família…
— Você vai se surpreender.
— Veremos.
Uma hora mais tarde, tenho que reconhecer que ela tinha razão.
Comi com gosto um suculento pedaço de carne de porco acompanhado de
salada de batata e agora estou me acabando com uma fatia de bolo de
chocolate.
— Sophie também ama bolo de chocolate — o Sr. Meyer comenta
com um sorriso no rosto.
— Está tudo uma delícia. Fazia meses, sei lá, anos, que não tinha
uma refeição tão boa.
— Martha ficará feliz em ouvir isso.
Sophie está quieta, no início achei que podia ter ficado
decepcionada, já que o engomadinho não está aqui, mas não… algo está
errado.
— Você foi vê-la? — pergunta ao seu pai e fico vendido.
— Sophie… — Ele apoia a taça na mesa e apoia a mão sobre a
dela.
— Tive compromissos, mas irei este fim de semana.
— Quero ir.
— Não sei se é uma boa ideia.
Ok, agora estou definitivamente curioso.
— Eu preciso ir… eu sempre fui.
— Vamos dar um jeito, querida.
— Preciso ir ao toilette. — Levanta rapidamente e tudo em mim
grita para ir atrás dela, mas me contenho.
— Ela está bem, rapaz. — A voz do seu pai soa ao meu lado.
— O que houve?
— Saudade.
Mas que porra?
— O dia que você chegou aqui, era o aniversário da minha Maddy.
— Solta um suspiro pesado. — Desde que ela se foi, temos o hábito de ir
visitar seu túmulo nesta data, é meio que uma tradição nossa. E este ano…
Não conseguiram.
— Vou providenciar isso, senhor.
— Não acha que pode ser perigoso?
— Não vou deixar nada acontecer com Sophie.
Isso não é uma opção.
Meu coração bate acelerado e as memórias do meu velho me
invadem. Faz tanto tempo que ele se foi e tudo mudou.
Foda…
— Em qual lugar? — questiono.
— No West Memorial Park.
— Considere feito.
— Obrigado, filho — agradece, emocionado.
O barulho dos seus saltos indica que ela está voltando.
Trocamos um olhar e mudamos de assunto.
Economia, meio ambiente, filmes e música. Os temas foram dos
mais complexos até notícias do cotidiano.
Não consigo resistir à tentação e me pego observando-a, a forma
como seu olho brilha quando fala da sua arte, ou sua insistência em tentar
manter os fios teimosos atrás da orelha.
Sophie é linda de uma forma tão intensa, que é como um soco no
estômago. O olhar triste foi embora, ela escondeu sua dor, eu sei porque
faço isso diariamente, e pensar nisso só me faz querer fazê-la sorrir, ou
sentir qualquer outra coisa que não seja tristeza.
Meia hora depois, estamos nos preparando para partir quando a
governanta vem com um pote, que só posso imaginar ser mais comida e
uma caixa de papelão.
Fico tenso por um segundo, mas relaxo quando vejo que está
escrito “Coisas da Sô” com caneta e uma carinha sorrindo.
— Srta. Meyer, estava quase esquecendo.
— O que foi, Martha? Meu Deus, o que é este monte de coisa?
— Bolo para mais tarde — aponta para o pote plástico — e isso
aqui estava no depósito. Estava organizando as coisas por lá e me deparei
com esta caixa.
Sophie observa com curiosidade, passando a mão pela letra gravada
na lateral.
— Veja se tem algo que quer manter ou se podemos jogar fora,
querida. Pedi para Martha fazer uma limpeza. De anos em anos, precisamos
liberar espaço naquele lugar.
Ela levanta a tampa e arregala os olhos.
— Ah, mãe… — murmura para si mesmo, olhando para o interior
da caixa, em choque.
— Pode levar com você e olhar, sem pressa.
Sophie tira um porta-retratos de dentro e fica admirando o que quer
que seja, por alguns segundos, então seu olhar está no meu.
Estende a mão e me entrega e não posso acreditar no que vejo.
— É o que estou imaginando? — questiono, trazendo na memória
aquela lembrança eternizada na foto.
Sophie, eu e outros colegas do colégio, na feira de ciências.
Isso faz muito tempo…
— A feira — ela confirma.
— Eu não sabia que tinham tirado fotos — comento, ainda
observando a fotografia.
Não é minha melhor versão.
Eu já era alto e forte, mas não chega nem perto do que estou hoje.
Ninguém está fazendo pose, os caras estão conversando e Sophie e
eu estamos nos olhando e sorrindo.
Ela sempre me fazia sorrir.
— Minha mãe tirou e me entregou uns dias depois, estava no meu
quarto, até que eu resolvi… — Para, como se medindo as palavras, e então
estende a mão. — É passado, deixa para lá — diz e eu simplesmente sei que
ela está dizendo isso da boca para fora.
Entrego o porta-retratos, observando-a colocar de novo na caixa.
— Obrigada, Martha, eu vou olhar com cuidado e te aviso o que é
para continuar no depósito e o que deve ir para o lixo — fala e seu olhar
está no meu.
— Não querem ficar mais um pouco? — seu pai pergunta, mas é tarde e
Sophie está tensa ao meu lado.
— Obrigado pelo jantar, Olaf.
— Foi um prazer, meu jovem. Espero que em breve tenham
novidades sobre os albaneses — diz e se algo já está ruim, claro que pode
piorar.
— Que albaneses? — Sua voz soa logo atrás de mim, mas a
pergunta é dirigida ao seu pai.
O velho permanece em silêncio.
— Que albaneses? — insiste, então para na minha frente. — O que
vocês não estão me contando?
— Sophie… — seu pai tenta acalmá-la.
Eu sabia que não daria para protegê-la da verdade, não por muito
tempo.
— Os caras que te seguiram até aqui, não os identificamos.
— Sim, você me disse isso! — retruca, impaciente.
— Sim, mas…
— Mas?
— Sabemos que são da máfia.
— Máfia? Você está falando sério?
Aceno que sim.
—Não estamos na Itália, pelo amor de Deus!
— A máfia não se resume à italiana, como muitos acham —
explico. — Há várias organizações criminosas espalhadas pelo globo: russa,
chinesa, japonesa, sérvia, albanesa — friso a última —, dentre muitas
outras.
— O que eles podem querer comigo?
— Não sabemos — reconheço —, mas vamos descobrir.
Fecha os olhos e, droga, nunca quis tanto ter respostas.
Quero tranquilizá-la.
— Tudo vai ficar bem, querida. Você está segura aqui! — seu pai
fala, mas ela está perdida nos próprios pensamentos.
— Eu quero ir…. — Sua voz é quase um sopro, abraça seu pai e
então caminha em direção à porta.
Seu pai acena para mim e me apresso atrás dela.
O caminho até a casa de hóspedes é feito em silêncio. Apenas o
som da copa das árvores balançando com o vento. Tomo a dianteira,
conforme nos aproximamos. Tudo parece em ordem, mas todo cuidado é
pouco. Checo o entorno e desarmo o alarme, me afastando para que ela
entre. Começa a subir as escadas, sem olhar para trás, mas então para.
— Não esconda mais nada de mim. — Seu pedido é como uma
facada no peito, porque, porra, eu não queria esconder merda nenhuma.
— Sophie…
— Se você tem o mínimo de consideração por mim — sua voz
embarga e me sinto um bosta —, não faça mais isso, eu mereço saber o que
está acontecendo… é a minha vida.
— Iria te falar quando tivéssemos mais informações…
— Boa noite, Yannik.
— Boa noite, Sophie.
Como uma noite, que começou bem, pode acabar assim?
Mas que caralho!
It’s all coming back to me now — Celine Dion

Respira!
Coloco a caixa sobre a cama e corro em direção ao banheiro.
Meu peito bate acelerado, apoio as mãos na pia e fecho os olhos,
tentando me acalmar. Claro que descobrir que mafiosos estão atrás de mim
é desesperador, mas é mais que isso.
É tudo…
O acúmulo de todas as emoções das últimas semanas.
Eu poderia colocar a culpa nos hormônios, já que sempre fico
sensível nesta época, mas eu sei que é mais que isso, e estar tão perto dele,
só potencializa tudo.
Yannik…
Talvez eu tenha sido muito dura.
Sei que, no fundo, eles quiseram me proteger da informação até ter
algo concreto, mas eu preciso saber, apenas preciso.
— Queria que você estivesse aqui, mãe — murmuro, sentindo as
lágrimas se acumularem.
Ligo o chuveiro e me dispo, torcendo para que um banho resolva
todos os meus problemas, leve este aperto, esta angústia do meu peito.
Apoio as mãos na parede e deixo a água quente cair sobre minhas
costas, então deixo toda dor sair.
Choro de saudade, porque algumas perdas nunca são superadas. O
tempo ameniza as feridas, mas elas estão sempre ali… e choro pela
impotência diante desta situação, pelo medo do desconhecido.
O banheiro está cheio de vapor quando finalmente desligo o
chuveiro, mas nem ligo, eu precisava deste momento.
Coloco meu moletom mais quentinho, escovo meus cabelos e me
sinto mais leve.
Melhor.
Um filme e cama parece uma boa pedida, mas mal coloco os pés no
quarto, vejo a caixa com o sorriso estampado na lateral.
A letra da minha mãe.
Ela está ali, me esperando, recheada de lembranças e mesmo
sabendo que eu não deveria fazer isso, não hoje, quero puxar logo o
curativo.
Com cuidado, começo a tirar as coisas de dentro e é como se eu
tivesse voltado no tempo. Consigo visualizar aqueles itens no meu quarto.
O porta-retratos, os pôsteres que enfeitavam a parede do quarto,
livros, revistas, a foto oficial da turma…
Lembro-me de ter colocado tudo no lixo.
Foi num impulso, logo após descobrir que ele não viria. Que ele me
enganou e que eu não iria ao baile com ele, nem com ninguém…
Tirei tudo que me lembrasse dele. Do garoto rebelde de olhos azuis,
que fazia meu coração acelerar.
Que ainda faz…
Seguro novamente o porta-retratos, desejando ter aquela leveza da
Sophie de dezessete anos, mas isso é impossível.
Uma lágrima cai sobre o vidro e só então percebo que é minha.
Ah, mãe, se você estivesse aqui, certeza que poderia me orientar,
dar conselhos, como só você sabia.
Eu não sei o que fazer, mãe…
Eu não quero sentir.
Mas eu sinto!
Eu quero deixar a barreira cair, mas tenho medo.
As lágrimas aumentam, achei que tinha chorado tudo no banheiro,
mas não…
Agora, choro por ele, pela perda do meu amigo, por tudo que
perdemos, por tudo que poderia ter sido e por tudo que ainda quero, mesmo
não devendo querer.
— Por que você guardou isso tudo, mãe?
Me levanto e olho para a bagunça na cama.
Por quê?
Meu olhar recai para uma foto que está caindo do diário.
Yannik.
Sozinho, sentado na arquibancada do ginásio, o olhar perdido no
vazio.
Meu coração acelera com a lembrança.
Tinha acabado de ganhar uma polaroid do meu pai e levei a
máquina comigo. Ele não apareceu na aula, mas eu sabia que ele estava no
colégio. Vi sua bicicleta na entrada. Procurei por ele em todos os cantos e
nada, então eu lembrei. Quando ele queria fugir do assédio das garotas ou
dos caras do time, ele se escondia no ginásio. Se não tinha aula ou jogo, era
só silêncio.
E naquele dia não tinha jogo ou aula…
Entrei sem fazer barulho e o encontrei. Ergui a câmera e registrei o
momento. Nunca vou esquecer, meu coração batia feito doido no meu peito,
e ao ver a tristeza dele, prometi que iria fazê-lo sorrir… Guardei a foto no
bolso e logo depois ele viu que eu estava lá e sorriu. Felicidade brotou
dentro de mim. O sorriso do Niki sempre fez isso comigo.
Naquele dia, tiramos muitas outras fotos, todas sorrindo, zoando,
mas foi aquela que guardei no bolso, que eu sempre olhava… era um
constante lembrete, que o menino zoeiro escondia uma tristeza dentro de si,
mas que eu podia ajudá-lo a sorrir.
Eu sempre tentei… até que ele foi embora.
Guardo tudo na caixa. Quase tudo, na verdade.
As fotos e o porta-retratos eu coloco na gaveta ao lado da cama.
Não me pergunte o porquê.
Eu apenas, não consigo me desfazer delas…
Não agora.
Não sei o que minha mãe estava pensando quando ela resgatou
estas coisas do lixo, mas estou feliz que ela fez.
Eu apenas, estou.
Dusk till Dawn — Zyan feat Sia

Dois meses.
O que era para ser quinze dias, foi se estendendo.
A rotina tem se mantido.
Sei tudo o que acontece na mansão. O horário da ronda, da troca de
turno, sei até a frequência que o veículo vem trazer as frutas e legumes para
a cozinheira. Só não sei o mais importante.
Que caralho está acontecendo!
Na mansão está tudo na mais completa calma e, o mais importante,
o projeto foi votado já faz quinze dias.
Stefan me ligou hoje, me atualizou sobre o status das investigações
e disse que precisávamos conversar.
Eu já sei o que é…
A missão acabou e eu deveria estar feliz, mas algo não fecha.
Eu apenas sei.
Aquela sensação de algo ruim prestes a acontecer não me deixa.
Felizmente, antes que pudéssemos concluir o assunto, uma
chamada de urgência do Sven o fez desligar. Tenho que agradecer o cara
depois, sua interrupção foi precisa. Não tenho motivos para continuar por
aqui, mas quero.
Sophie continua enfiada a maior parte do tempo no quarto,
pintando. Nossos encontros são limitados aos horários das refeições, ou
quando ela realmente não aguenta mais ficar trancada lá.
São os melhores momentos do dia.
Espero por cada um e faço todo possível para tornar inesquecível,
mesmo que isto envolva ela ficar me xingando ou ficar mais tempo
escondida no quarto.
Hoje será um dia diferente.
É um risco calculado e me recuso a ir embora, sem garantir que ela
faça isso em segurança.
Subo as escadas, pulando os degraus de dois em dois.
Meu coração está agitado e me sinto um fodido adolescente.
— Hey, princesa — chamo, batendo na porta.
Ela abre alguns segundos depois, os cabelos presos num rabo de
cavalo alto, uma legging preta, uma camiseta do Iron Maiden, que já viu
dias melhores, as mãos sujas de tinta e o mesmo tom que está manchando
seus dedos tinge sua bochecha direita. — Algum problema? — Me olha
num misto de surpresa e preocupação.
Não é para menos…
Eu nunca bati no seu quarto e olha que já perdi as contas de quantas
vezes me imaginei ali.
Não vá por aí, porra.
— O que acha de tomar um pouco de ar fresco?
Olha para trás, para o que só posso supor ser a tela em que está
trabalhando. Morde o lábio e meu olhar segue para lá e claro que meu pau
responde, imediatamente.
Foda.
Se controla, caralho.
— Então?
— Me dê dez minutos, só para trocar de roupa.
— Te espero lá embaixo.
— Aonde vamos?
— Você vai gostar, princesa — devolvo, e ela revira os olhos
antes de fechar a porta.

— Valeu, cara. — Sophie surge no alto da escada e nosso olhar


se encontra. —Sim, estamos de saída. Se cuida! — Desligo o celular,
sem desviar o olhar dela.
— Espero que jeans seja o suficiente para onde vamos —
comenta, gesticulando para sua roupa.
— É! — A calça abraça suas coxas grossas e a camiseta justa
molda seus seios, me fazendo pensar em como seria bom arrancar tudo
e lamber cada pedaço do seu corpo, antes de… — Você está perfeita! —
digo com dificuldade.
Caralho.
Todo meu sangue parece ter ido direto para o meu pau.
Se controla…
— Com quem estava falando?
— É do serviço.
— Tudo bem?
— Melhor, impossível. — E realmente quero dizer cada
palavra. — Pronta?
— Para o que quer que seja. — Sorri e só isso já valeu todo o
trabalho.
Dou uma última olhada nas câmeras, com especial atenção nas
que monitoram os muros da residência.
Tudo tranquilo.
Agarro minha pistola, confiro o pente, pego minha jaqueta e
meus óculos de sol. Abro a porta do meu Audi RS6 Avant para ela e dou
a volta, feliz de estar saindo para dar uma volta com minha garota.
Que porra é esta?
Estou precisando ver gente, é isso.
Só pode ser falta de boceta. Esta rotina de punheta deve estar
fritando alguns neurônios.
Giro a chave e o motor ganha vida.
— Saudade de você, belezinha.
— Sério que você está conversando com o carro?
— Não é um carro, é uma máquina de velocidade, princesa.
— Aff.
— Você sabe quantos cavalos estão debaixo deste capô?
— Não e, sinceramente, não me importa, contanto que me leve
onde quer que estejamos indo.
— Este carro pode fazer de zero a cem em menos de quatro
segundos.
— Meu mini também chega a cem quilômetros, muito bem —
debocha.
— Não escute esta louca, bebê, ela não sabe o que diz. —
Acaricio o painel e ela começa a gargalhar ao meu lado e me pego
sorrindo também.
— Não teremos escolta hoje? — questiona, curiosa, ao nos ver
passar pela portaria.
— Hoje somos apenas eu e você, Sophie — respondo antes de
pisar no acelerador e arrancar com o carro.
A mansão e o olhar chocado do chefe de segurança ficam para
trás.
— Ok, já me convenceu — ela retruca, vendo os números
subirem no painel.
— Peça desculpas para ele.
— O quê?
— Vamos. — Acelero mais um pouco e o motor responde.
— Você é louco! — aponta, apertando o banco de couro com os
dedos. — Yannik…
— Ainda não ouvi? — provoco.
— Ok, ok… eu reconheço, seu carro é uma máquina de
velocidade.
Tiro o pé e ela parece relaxar ao lado.
— Você quer nos matar. — O tapa vem forte, acertando meu
ombro.
— Ei, isso doeu! — resmungo, sem tirar a atenção da estrada.
— Não gosta de velocidade, gatinha?
— Gosto de viver, obrigada!
— Que drama, estava só tirando as teias de aranha.
— Faça isso num dia em que eu não estiver no carro com você,
ok?! — devolve brava, mas então sorri e, caramba, não consigo me
controlar.
— Você é linda — murmuro.
— O quê?
— Eu disse… que você deveria sorrir mais, Sophie. —
Pigarreio e volto minha atenção para a rodovia, apertando o volante
com força.
Caralho.
Não estrague tudo.
— Não foi tão ruim assim — admite após alguns segundos e
desta vez sou eu quem estou sorrindo.

— O que estamos fazendo aqui? — questiona ao passarmos


pela entrada do West Memorial Park.
— Um passarinho me disse que você precisava vir até aqui. —
Dou de ombros, desligando o carro no estacionamento.
A vinda foi tranquila.
Nem sinal de companhia.
Karl fez sua mágica nos computadores e se aquele sedã
aparecer em qualquer câmera num raio de quinze quilômetros daqui, eu
vou saber.
É tempo mais do que suficiente para dar com o pé, além disso,
Sven está à paisana a poucos metros daqui.
— Um passarinho, é? — Sua voz está embargada e me
preocupo de ter feito um mau movimento.
— Sophie…— chamo e seu olhar encontra o meu.
— Obrigada. — Os olhos marejados dizem tudo que preciso
saber. Ela está feliz de ter vindo aqui.
— Tudo que precisar, linda.
Mantenho uma distância segura, deixando que tenha seu tempo
com sua mãe.
A última vez que estive num cemitério, foi quando meu pai
faleceu, então minhas lembranças não são boas, mas aqui parece um
lugar legal, com todo este verde e silêncio.
Alguns minutos depois, ela caminha na minha direção.
O rosto vermelho de quem andou chorando, mas um sorriso
enorme no rosto.
— Eu sei que já disse, mas… muito obrigada, Niki.
Este apelido…
Ninguém me chama assim, só ela.
Caralho.
Meu coração acelera e minha mão coça para tocá-la, cerro os
punhos, tentando me controlar.
Porra, nunca quis tanto tocar uma mulher como quero tocar
Sophie.
Meu celular vibra, arruinando o momento.
— Fala, K.
— O sedã entrou no meu radar. Tire o seu traseiro e da Sophie
daí. Agora.
Foda.
— Onde estão?
— Quinze quilômetros e se aproximando.
— Estamos saindo — anuncio, gesticulando para Sophie que
precisamos partir.
— E, Y, tenho quase certeza que você está grampeado.
— Por que acha isso?
— Eles estão indo em linha reta até aí.
— Preciso do seu celular, linda — peço e ela nem retruca,
abrindo a bolsa e me entregando.
— Linda, é? Hum, as coisas estão boas aí em Bonn, hein?!
— Vá se ferrar, K — retruco, ao mesmo tempo em que retiro a
tampa sobre a bateria. — Filhos da puta!
— Imagino que você tenha achado.
— Sim, o celular dela. Todo este tempo.
— Vaza daí, agora.
— Nos falamos depois. Obrigado.
Sophie continua me olhando em choque.
— Isto é o que estou pensando? — pergunta e apenas aceno,
não há tempo para explicações.
— Entra no carro, princesa. — Ela obedece, mas se atrapalha
com o cinto, suas mãos tremem e eu a ajudo.
— Ei… olha para mim — peço e nosso olhar se encontra. —
Vamos sair daqui. Tudo sob controle! — Ela assente.
Acelero o carro, reduzindo somente quando passamos ao lado
de uma caminhonete onde se lê “Manutenção”, perfeito. Jogo o grampo
na direção da caçamba, acertando em cheio o alvo.
Até os cretinos descobrirem o que estão seguindo, já estaremos
longe e de volta à proteção da mansão e, com isso em mente, piso fundo
no acelerador.
Quarenta minutos depois, nos aproximamos do portão da
mansão.
— Nem acredito que estamos chegando. É seguro?
Olho pela décima vez no retrovisor e aceno que sim.
— Karl me mandou mensagem, o perímetro está seguro.
Nenhum carro suspeito. A portaria está livre.
— Como ele sabe disso?
— Ele tem acesso às câmeras da minha central de
monitoramento. O acesso é compartilhado. Tudo que vejo, ele consegue
ver na USC, em tempo real. Não que ele precisasse, mas facilita.
— Como assim, não que ele precisasse?
— Karl conseguiria acessar meu notebook e a central de
monitoramento que tenho lá com os pés nas costas. Ele é foda com estas
questões de tecnologia.
— Um hacker?
— Ele iria preferir especialista, mas sim.
— Você não cansa de me surpreender.
— Temos muitos talentos, princesa.
— Ae, e qual é o seu?
— Ficaríamos aqui a noite toda falando deles — brinco e
consigo arrancar um sorriso, é bom… já que nos últimos minutos foi só
tensão.
— Céus, esqueci por alguns segundos o quanto você é cheio de
si.
— Ouch! Isso tudo foi para te distrair, gatinha — gesticulo na
direção do portão que se abre em nossa frente —, e talvez sim, eu seja
um pouco confiante. — Pisco e só então ela percebe onde estamos.
— Uau, você realmente conseguiu. Nem acredito que já
chegamos.
— Eu te disse que estava tudo sob controle.
— Você realmente disse.
O chefe de segurança sai da guarita e se aproxima.
Diminuo a velocidade.
— Já estava preocupado. Não deveria sair sem escolta, Srta.
Meyer.
— Não se preocupe, Rainer, estou com o meu guarda-costas.
Tudo sob controle.
Ele acena que sim, e me olha com reprovação.
Preocupado é, colega?! Conta outra.
Volto a acelerar o carro e estaciono próximo da casa de
hóspedes.
— Bem…não era para o dia terminar assim, mas…
— Aquilo no meu celular, era…
— Um rastreador.
— Como?
— Alguém com acesso a você, aproveitou alguma distração. —
Dou de ombros.
—Não consigo imaginar quem possa ter feito isso.
— Relaxa, provavelmente tinham colocado há semanas.
— Isso é assustador! Eles sabem cada passo que dou.
— Não mais — corrijo.
— Não mais — repete. — Vocês estão perto de descobrir quem
está por trás disso?
— Queria ter boas notícias, Sophie. — Meu olhar cai para seus
lábios, e a forma como ela pressiona os dentes ali, quando está
nervosa… Foco, porra. — Mas, não tenho.
— Se vale de algo — começa e para prestes a abrir a porta do
carro —, eu acredito que vocês vão.
— Obrigado pelo voto de confiança, gatinha.
Revira os olhos e desce do Audi.
Sigo logo atrás, querendo checar se está tudo em ordem antes
de entrarmos.
— Tudo certo por aqui — tranquilizo, desarmando o alarme.
— Será que há algo instalado dentro da casa?
— Não há nenhuma escuta — tranquilizo. — Para isso teriam
que entrar, em primeiro lugar.
— Você que é o profissional. — Dá de ombros. — Depois desta
tarde agitada, tudo que mais quero é um banho.
— Tenho uma reunião com os caras agora e depois vou ver algo
para comermos.
— Parece um bom plano. — Sorri e meu peito agita. — Vou
indo… — Se vira e começa a subir as escadas.
A visão do seu traseiro faz meu pau pressionar contra o zíper.
Puta que pariu.
Péssimo timing.
Tudo que precisava, uma ereção a esta hora.
— Hey, Yannik — se vira, já no final da escada —, obrigada
por tudo.
Não tenho tempo de responder, ela simplesmente segue em
direção ao quarto e a próxima coisa que escuto é a porta sendo fechada.

— Nem no cemitério você encontra paz, Y — K provoca assim que


entro na videochamada.
— O que posso dizer, acho que é meu charme irresistível.
— Ou azar do caralho — S complementa e todos rimos.
— Algo por aí, S.
— Bom te ver, Y — Thorsten cumprimenta.
— E aí, T? Como estão as coisas com a loira? Ela ainda não te
dispensou?
Ergue o dedo do meio e, inferno, se minha barriga não chega a doer
de rir.
Estão todos na sala de guerra.
Era para eu estar lá, mas Sophie precisa de mim.
— Bom ver essas caras feias.
— Você não melhorou muito desde a última vez que te vi. A
patricinha está te enlouquecendo ou devo dizer “linda”?
Claro que ele não iria deixar isso passar em branco.
— Não sou eu que estou prestes a me amarrar, filho da puta.
— A diferença entre nós dois, é que eu já admiti que não consigo
viver sem a minha mulher, e quero passar cada fodido dia com ela.
— Cadelinha — murmuro.
— Já você, ainda está tentando resistir.
Stefan e Thorsten riem e eu apenas ignoro, sem uma resposta
inteligente para dar.
O que é raro.
Eu sempre tenho.
O resto da chamada é digno de um desses romances que a
mulherada adora.
As garotas entraram e tive a oportunidade de rever as donas das
coleiras dos meus irmãos: Vivi, Mari e Elise.
Claro que a brasileira não fazia ideia do que a esperava e, ao final,
disse sim para o meu irmão, que estava – pasmem – chorando.
Já vi Karl levar tiro, facada, ter o traseiro chutado sem derrubar
uma lágrima sequer, e lá estava, um marmanjo de quase dois metros de
altura, todo tatuado, chorando ao ter as bolas amarradas.
É o fim dos tempos.
(Everything I Do) I do it for you — Bryan Adams

Passa das onze e meia quando finalmente resolvo subir e ter um


descanso merecido.
Sophie comeu um lanche comigo, trocamos meia dúzia de palavras
e logo voltou para seu refúgio. Não sei se fico triste ou agradeço.
A verdade é que a cada minuto na sua presença fica mais difícil
manter minhas mãos longe dela.
— Nada de se animar, amigão.
Vou parar no hospital por excesso de bolas azuis, neste ritmo.
A ventania lá fora se intensifica, e checo mais uma vez todas as
janelas e portas. Uma tempestade se aproxima, relâmpagos cortam o céu,
iluminando a sala, conforme subo a escadaria em direção ao meu quarto.
Tudo em silêncio no andar de cima e sem sinal de luz acesa no seu quarto.
A princesa deve estar dormindo depois de todas as emoções do dia.
Tomo uma ducha e me jogo no colchão, desejando que o sono
chegue logo. Estou quase apagando, quando o estrondo de um trovão,
seguido de um grito, corta o silêncio.
Sophie.
Pulo da cama, pego minha arma na mesa de cabeceira e nem penso
muito, só corro na direção do seu quarto.
A porta bate na parede com a força que empurro.
Esquadrinho o quarto à procura de algum invasor, mas não vejo
nada.
— O que houve? — questiono, checando o banheiro, que está vazio
também.
Volto o meu olhar para a cama, onde uma assustada Sophie me
encara em pânico.
— Eu… eu tive um pesadelo — começa, quando um raio cai muito
perto e o estouro é ensurdecedor. — Oh, Deus — grita e, foda-se, eu apenas
corro na sua direção.
— Hey, está tudo bem. — Travo a arma e coloco sobre o móvel ao
lado da cama. — Estamos bem. — Sento ao seu lado na cama e seus braços
me envolvem com força. — Estou aqui com você — tranquilizo.
Acaricio suas costas e seu cabelo.
— Você está segura aqui, princesa — sussurro e sinto seus dedos
apertarem minha pele e só então lembro que não me vesti exatamente.
Cacete!
Começo a me afastar e Sophie me olha, envergonhada.
— Eu… estava tendo um pesadelo, e aí, o trovão, eu… — Passa as
mãos pelo cabelo. — Me desculpe, você deve achar que sou louca.
— Não, eu… — Ela se mexe na cama e a alça da sua camisola
escorrega, expondo seu seio.
— Caralho — rosno e olho para o outro lado, mas meu pau que já
não precisa de muito, fica duro pra caralho.
— O que foi?
— Sophie, princesa… sua roupa — murmuro.
— Oh, Deus! — Se ajeita e puxa a coberta quase até o pescoço.
— Posso olhar?
Foda-se se serei capaz de olhar para ela neste momento e não me
lembrar dos bicos rosados durinhos, pedindo para serem tocados e
chupados.
Foco, porra.
Não é hora do meu cacete ficar duro.
Não quando estou apenas com uma fodida boxer.
— Sophie — chamo novamente e me viro apenas para encontrar
seu olhar mirando diretamente minha ereção. — Sinto muito. — Me viro
para sair do quarto com pressa.
Outro trovão retumba, sacudindo as janelas, e ela salta na cama.
— Yannik — chama e paro no meio do caminho —, será que
você…
Não peça isso, não peça…
— Ai, Deus, isto é tão embaraçoso — começa e, cacete, não
consigo ficar indiferente.
— Vou colocar uma roupa e já volto aqui. — Faço exatamente o
oposto do que deveria.
— Você faria isso?
— Fico aqui até a chuva diminuir e você se acalmar, o que acha?
— Eu… — Sua voz falha, mas ela mantém o olhar firme no meu.
— Obrigada.
Coloco uma calça e uma regata e volto para o seu quarto.
Encontro-a em pé, próxima da janela, mas não dá para ver nada lá
fora, só as copas das árvores sacudindo.
— Você veio mesmo — comenta ao me ver.
— Eu disse que vinha.
Um sorriso tímido surge em seu rosto e meu coração acelera.
Foco, Yannik, você está aqui apenas para ela se acalmar.
É isso.
— Achei que tinha superado o medo de trovões — disparo quando
nos sentamos no colchão, que felizmente é de casal, e podemos ficar numa
distância segura.
— Você lembra… — Seu sorriso se torna ainda maior.
Eu me lembro de tudo.
— O medo diminuiu, mas ainda está aqui, como você pode
perceber — reconhece, sem graça. — Quando estou sozinha, uso aqueles
abafadores no ouvido, mas não tenho aqui. — Dá um pequeno salto quando
um raio ilumina o quarto.
— Hoje você não está sozinha. — Apoio minha mão sobre a sua, e
nos fitamos em silêncio.
Observo seu peito subir e descer sob o tecido fino da camisola.
— É tarde — aponto o óbvio. — Pode deitar, eu fico por aqui —
digo, me levantando.
— A cama é grande — ela devolve, se deitando num dos extremos
do móvel.
Oh, Deus, nem fodendo.
Pense em coisas tristes.
— Não sei se isso é uma boa ideia. — Minha voz sai rouca,
necessitada.
Caralho, a mulher acaba comigo.
— Prometo manter minhas mãos longe de você — brinca.
— Não é com as suas que estou preocupado — retruco e ela apenas
me fita.
Seu olhar segue para minha boca, e porra, seria tão fácil só puxá-la para os
meus braços.
Se controla, caralho.
Sophie é fora dos limites.
Quebro o contato, puxando as cobertas e me deitando numa das
extremidades. Coloco minhas mãos sob minha cabeça e fecho os olhos,
ignorando o turbilhão no meu peito e a vontade de tê-la para mim.
— Dorme, princesa, já é tarde. — Nem me mexo, com medo de
tocá-la. — Vou ficar aqui com você, até a tempestade terminar.
Ela não diz nada, mas sinto-a se deitar ao meu lado.
Respira…
Coisas tristes, pense em qualquer merda que não seja ela a poucos
centímetros.
Outro trovão irrompe a madrugada e sinto seu corpo se aproximar
do meu.
— Tudo bem — tranquilizo, passando a acariciar seu cabelo.
É seguro.
Não sei quanto tempo passa, mas tê-la aconchegada no meu corpo e
não a tocar foi a coisa mais difícil que já fiz nos meus trinta e quatro anos, e
olha que já passei por muita merda.
Seu calor, seu cheiro… seu toque contra o meu corpo.
Tudo me instiga.
Tudo lembra o quanto eu quero essa mulher.
Fodida tortura.
Desperto e a primeira coisa que noto é que não estou no meu
quarto.
Porra, porra.
Não acredito que cochilei.
Tento me mexer, mas Sophie está com a coxa nua sobre a minha
perna e a cabeça apoiada no meu ombro.
Linda pra caralho.
Meu peito acelera e memorizo cada pequeno detalhe do seu rosto,
sabendo que as chances de isso se repetir são praticamente nulas.
Não sei em que momento isso aconteceu, mas nem ferrando que
vou me mexer. A julgar pelo quarto ainda escuro, é madrugada, e a chuva
parou. Fecho os olhos, decidido a ficar só mais uns minutos, e então ir… é
isso.
Sophie se mexe e, por um segundo, acredito que vá acordar e me
mandar embora, mas ela apenas se enrola ainda mais em mim.
Fodido céu.
Posso até ir para o inferno, mas nem fodendo que vou sair daqui.
Puxo a coberta sobre seu corpo e com um sorriso no rosto, apoio a
cabeça no travesseiro.
— Nunca achei que você fosse o tipo de dormir agarrada, princesa
— comento ao sentir Sophie se afastando delicadamente de mim.
— Eu… desculpe… — começa, as bochechas vermelhas de
vergonha. — Acho que durante a noite, nós… eu…
— Hey, relaxa. Estou te provocando. Pode me abraçar sempre que
quiser. — Dou uma piscadinha e ela revira os olhos. — Aí está minha
garota — brinco, levantando da cama sob seu olhar atento. — Algo errado?
— Só espero que meu amigão não esteja tão animado a esta hora, mas
ereção matinal é foda, ainda mais depois dos sonhos que tive esta noite.
Não vá por aí, porra.
Sophie balança a cabeça em negativa.
Está toda enrolada no lençol, descabelada e, ainda assim, é a
mulher mais linda que já vi.
— Obrigada por ter ficado… você sabe, ontem, na tempestade.
Eu adorei cada segundo.
Até penso em provocá-la, mas preciso sair logo do quarto.
— Vou indo, tenho que checar se nenhuma câmera ou sensor
estragou com a tempestade e definir o percurso da nossa ida até a galeria.
Me olha com surpresa.
— É hoje, certo? Que você precisa ir lá.
Acena confirmando.
— Achei que não fôssemos conseguir ir. — Morde os lábios e sei
exatamente o que se passa na sua cabecinha. — Não depois de ontem.
— Deixe isso comigo. Se você precisa ir, nós daremos um jeito.
Já tenho algo em mente.
Bora colocar alguns preguiçosos para trabalhar, não que eu confie
neles, mas é melhor do que sair sem qualquer apoio.
Um batedor e uma escolta devem manter os filhos da puta longe de
nós.
Não falei com Stefan ainda, mas uma coisa é certa. O movimento
deles ontem certamente me garantiu mais uns dias de hospedagem.
— Ok, eu até poderia pedir para alguém buscar o quadro, mas é tão
delicado.
— Não precisa se justificar. Partimos às dezessete horas, pode ser?
— Claro, vou avisar a Jordana.
Sophie está certa em estar preocupada. Depois do que aconteceu no
cemitério, todo cuidado é pouco.
Sven conseguiu ter uma boa visão dos cretinos.
O sedã não estava sozinho. Uma Mercedes preta estava junto, e de
acordo com ele, um engravatado desceu do carro, mas ele não conseguiu ter
visão. Não de onde estava.
A placa era fria, claro. Não estamos lidando com estúpidos.
O resto do dia é tranquilo.
Depois de tomarmos café juntos, Sophie subiu empolgada para o
quarto, um novo projeto, ao que parece, e eu fiquei ajudando Thorsten e
Karl com algumas checagens.
A BND passou alguns suspeitos, mas até agora foi tudo perda de
tempo. Todos tinham álibi e eram, na verdade, desafetos políticos.
Há uma diferença grande entre discordar e estar envolvido com o
crime organizado, mas o pessoal insiste em ignorar o envolvimento dos
albaneses.
Fodidos burocratas.
Até agora só há duas certezas: os albaneses estão enfiados nisso até
o pescoço e a confusão só chega quando saímos.
Por que não enviaram mais nenhuma ameaça? Por que o silêncio?
São tantas perguntas, sem uma fodida resposta.
A vontade é manter Sophie escondida, num lugar inacessível, até
ter toda esta merda resolvida. T, com certeza, liberaria seu canto. Mas até
isso é arriscado. Não tentaram nada na mansão, aqui tem sido um ponto
seguro e vamos torcer para permanecer assim.
Estou guardando minha pistola no coldre lateral, quando ela surge
no alto da escada.
— Isso é realmente necessário?
— Antes ter e não precisar usar.
— Tem razão, esqueço às vezes que isto é rotina para você.
— Isto?
— Perigo, armas…
— Sim, tem isso, mas tem o lado bom — começo e ela me observa
com curiosidade. — Proteger, resgatar, devolver entes queridos para seus
familiares, e ainda foder com os filhos da puta.
— É um bom ponto, realmente.
— O que posso dizer, eu amo meu trabalho.
— Fico feliz por você.
—E você?
— Eu?
— Sim… — Aceno em direção ao quadro que ela segura como se
sua vida dependesse disso.
— Eu adoro restaurar antigas obras, saber que estou ajudando a
preservar a história da arte, mas o que mais amo é pintar. Ali não tenho
preocupações, sou apenas a Sophie, sou livre.
Livre.
— Continue sendo livre, princesa, você é um inferno de uma boa
pintora.
— Você realmente já viu algo que eu pintei? — questiona e me
finjo de ofendido, antes de enumerar algumas de suas obras, que eu vi, sim.
Fiz minha pesquisa antes de vir para cá e isso só me fez admirá-la
ainda mais.
— Você realmente viu.
— Não entendo nada disso, geralmente só consigo opinar se algo é
feio ou bonito o suficiente para colocar na parede como decoração.
— A maioria é assim — retruca, sorrindo.
— Com seus quadros não… — começo e seu olhar está em mim.
— É quase como se eu conseguisse sentir ali, na paisagem. Você é foda,
princesa.
— Eu… obrigada, acho — responde, encabulada.
— Posso colocar esta obra-prima no porta-malas, ou precisa de
mais algum cuidado?
— Como não é muito grande, já protegi com plástico bolha e
papelão nas laterais, então, estamos bem! — tranquiliza.
Com cuidado, coloco no porta-malas, ajeitando de forma que não
estrague durante o trajeto.
— Vamos?
— Vamos! Hoje teremos escolta? — questiona ao ver o veículo
com três seguranças nos seguindo.
— Sim, e o batedor saiu alguns minutos antes, para se certificar de
não termos nenhuma surpresa à frente também.
— Ok. — Sua voz está tensa enquanto olha pela janela do
esportivo. — Estamos bem.
Foco minha atenção ao nosso redor. Cada cruzamento, cada carro
que se aproxima demais.
A tensão é grande, mas chegamos em segurança até a Galeria
localizada na Kaiserstraβe e a entrega da obra é feita sem surpresas.
— Está divino, Sophie. — A curadora, que deve ter por volta de
sessenta anos, parece genuinamente animada ao desembrulhar a tela.
— Fico feliz que gostou, Cathy.
— Ah, menina, já disse mil vezes para confiar mais no seu talento.
— Olha com admiração para a obra e não é à toa.
Tá lindo pra caralho.
— A profundidade, harmonia das cores, a suavidade do pincel e o
movimento que você conseguiu criar. Perfeito, querida! Perfeito!
Me afasto um pouco não entendendo porra nenhuma do que a
mulher está falando, mas ela está certa, Sophie arrasou e meu peito enche
de orgulho.
O que é louco, eu sei… eu não deveria me importar, mas eu faço.
Muito.
— Pronto? — pergunto quando ela caminha até mim com um
sorriso no rosto.
— Tudo certinho, podemos voltar!
— Já vendeu?
— Não. — Seu sorriso aumenta. — Esta tela estará à venda no
baile beneficente. É uma doação minha para angariar fundos para o hospital
universitário.
— Uau… e você não ganha nada com isso?
— Eu ajudo! Uns ajudam com dinheiro, eu… tento fazer a minha
parte. Além do mais, gosto de saber que uma obra minha enfeitará alguma
casa ou escritório.
A garota não cansa de me surpreender.
— Vamos? — questiona ao me ver parado.
Aceno que sim e aviso no comunicador que estamos saindo.
Coloco o carro em movimento e, após alguns minutos, sinto falta
da escolta.
— Axel, qual a situação no cruzamento com a Heussalle?
Nada.
Mas que merda!
— Axel, Curt, na escuta?
Só estática na escolta também.
— O que houve?
— O batedor não está respondendo e perdi contato visual com a
escolta no quarteirão anterior.
Ela olha para trás, mas o vidro escuro dificulta ver qualquer coisa.
— Elias, Felix, respondam.
— Temos… — tentam falar, mas não dá para entender nada.
Um sedã preto se aproxima em alta velocidade.
Mudo de faixa e ele também.
Saio da avenida principal e continuo com ele na minha cola.
— Porra! — Dirijo alternando atenção entre a pista e espelhos.
— Você está me assustando.
— Se segura, princesa.
— O quê?
Não tenho tempo para explicações. Piso fundo e o motor do Audi
canta.
— Oh, Deus!
Viro para esquerda, sem reduzir, os pneus do carro cantam ao fazer
a curva, mas continuo com os filhos da puta na minha bota.
— Niki.
— Preciso despistá-los, linda.
Sophie agarra o banco com força, as unhas pressionando o couro preto.
— Vermelho, vermelho — sinaliza, mas eu apenas acelero ainda
mais.
Atravesso a pista, ignorando as buzinas e desviando dos carros,
uma olhada no espelho mostra que os cretinos ficaram presos lá.
Não reduzo, continuo voando e só paro alguns quilômetros à frente,
quando consigo colocar o carro no estacionamento lotado de um mercado.
— Você está bem? — questiono, virando meu rosto na sua direção,
enquanto agarro meu celular e disco imediatamente para o K.
— Viva — retruca, a respiração acelerada e o olhar assustado.
— Fala, Y — atende no segundo toque.
— Fomos perseguidos.
— Porra, tem certeza?
— Claro, caralho — retruco. — FXZ05O32.
— Vou rodar a placa e ver se conseguimos algo, mas…
— Não deve dar em nada.
— Achei que você ia usar escolta hoje.
— Eu usei, ainda não entendi o que houve — começo, apoiando a
cabeça no volante.
Pense, pense…
— Isto está estranho, Y.
— Nem me fale, porra. É bom eles terem uma fodida de uma boa
desculpa.
— Se acalma! O importante é que vocês estão bem. O que pretende
fazer?
Karl tem razão e me forço a raciocinar. Não quero assustar ainda
mais Sophie, que permanece em silêncio.
— Por sorte, o motor do Audi é forte, senão teriam nos alcançado.
— Seu carro já está queimado, você sabe, certo?
Inferno, sim.
— Nem fodendo vou largar minha belezinha por aqui e ir embora
de táxi, isto está fora de cogitação.
— Só estou dizendo, irmão. Não é um carro que passa
despercebido.
— Foda. — Eu sei, preciso achar uma alternativa. — Consegue
checar as câmeras do tráfego? Quero saber se os putos estão por perto ou se
está tudo limpo até irmos.
— Sério que está me perguntando isso?
— Só faça, K — devolvo e o puto ri.
Meu celular vibra, mensagem da escolta, dizendo que ficou presa
num cruzamento e o sinal ficou ruim.
Claro, e eu nasci ontem.
Outra mensagem chega, mas desta vez não é deles.
Mãe?
“Consegue vir até em casa? Preciso falar com você.”
— Karl, já te ligo de novo, cara.
— Falou.
Tento ligar no seu celular, mas chama até cair na caixa-postal. Sem
sorte em falar com Luke.
Ninguém atende, mas que caralho!
Pensa, pensa…
— O que houve?
— Minha mãe me mandou uma mensagem, perguntando se consigo
ir na sua casa. — Passo as mãos pelos cabelos. — Mas não consigo falar
com ela.
— Sua mãe mora aqui, certo?
Aceno que sim.
— Vamos até lá, então.
Rio da sua sugestão.
— Estou trabalhando, linda.
E com uns fodidos na nossa cola, quero acrescentar, mas me calo.
—Eu estou falando para irmos — retruca, séria.
— Não é você quem me contratou, gatinha. — Tento frear o
sorriso, mas é difícil.
— Na ausência do meu pai, quem manda aqui sou eu, é a mim que
você está protegendo e eu digo que devemos ir lá.
Estou a ponto de insistir que isto está fora de cogitação, quando
algo vem à minha mente.
— Talvez seja uma boa ideia — resmungo, enquanto disco para K
sob seu olhar curioso.
— Hey, K, mudança de planos. Como está o trânsito e
monitoramento em direção a Markusstraβe?
— Interessante!
Ignoro o comentário e aguardo sua atualização.
— Tudo limpo. É uma boa ideia, deixe seu carro lá e pegue outro.
— Pensei nisso — confirmo. — Valeu, K, qualquer problema, te
aviso, do contrário, nos falamos amanhã
— Às ordens, Y. Olha suas costas, irmão.
— Sempre!
— Então?
— Coloque o cinto, princesa. Vamos fazer um pequeno desvio,
antes de ir para casa — sinalizo sem confirmar o destino, mas ela sabe que
venceu e sorri. A aflição de antes dando uma trégua.
Ainda tenho que me preocupar com nosso retorno. É certo que
teremos olhos na mansão e muitas respostas por parte da equipe de
segurança, mas, por ora, basta saber que ela está ali comigo.
Segura.
Tento ligar uma última vez para minha mãe, sem sucesso. Não sei
que caralhos está havendo e por que ninguém atende ao telefone, mas vou
descobrir e por mais que não pareça uma boa ideia, ela vai comigo.
Hora da Sophie conhecer minha antiga casa.
Só espero que esteja tudo bem lá.
Before you Go — Lewis Capaldi

Meu coração ainda está acelerado da perseguição, mas estaria


mentindo se dissesse que não estou animada para conhecer a sua mãe.
Deve ser porque ele nunca falou muito a respeito da família.
Apenas sei que tem um irmão mais novo. Fato é que Yannik não parece
muito animado ao meu lado. Na verdade, seu rosto é pura tensão.
Estacionamos em frente a uma casa térrea num bairro residencial,
totalmente do outro lado da cidade.
Eu nunca vim para estes lados, mas parece ser legal.
As casas são menores, claro, mas há crianças brincando na rua,
pessoas caminham na calçada; na mansão eu nunca tive vizinhos ou
amigos. Era muito solitário, aqui parece ser um bom lugar.
Salta do carro e em segundos está ao meu lado. Parece nervoso e
quero tranquilizá-lo, mas me calo.
— Sophie… — chama e meus olhos estão nos seus. — Não sei o
que vamos encontrar lá — começa, mas antes que ele possa concluir, a
porta da frente abre e uma senhora, cabelos negros, lisos, olhos claros como
os dele, sai com um enorme sorriso no rosto.
— Você veio, querido! — exclama, caminhando em nossa direção,
mal disfarçando a felicidade.
— Mãe… — Vejo seu corpo relaxar ao meu lado e,
definitivamente, não estou entendendo nada.
—Estou tão feliz que esteja aqui. — Segura seu rosto, beijando-o
na bochecha. — E ainda trouxe companhia. — Fico em silêncio, esperando
que ele fale algo e me apresente, mas parece ter perdido a língua.
— Prazer, sou Sophie.
Parece surpresa ao ouvir meu nome, mas não fala nada.
— Susanne, e o prazer é meu — devolve, emocionada, aceitando
minha mão.
— Está tudo bem? — ele pergunta do nada.
— Claro, filho. Vamos para dentro. Luke nem vai acreditar que
você realmente veio.
Eita, que hoje conheço a família inteira.
Meia hora depois, já fui apresentada a todos.
Tios, tias, ao padrasto, e claro, ao irmão caçula, que é o único que
eu já sabia um pouco. O irmãozinho, que o ouvi falar algumas vezes, agora
é um adulto maior do que eu.
Luke é extremamente simpático e está acompanhado da noiva,
Marion, que é uma fofa.
Estão justamente comemorando o pedido de casamento.
Ainda não acredito que sejam irmãos. Como podem ser tão
diferentes?
Um a caminho do altar e o outro, bem, algo me diz que ele continua
sendo o HP que conheci no colégio, ou ainda pior.
Não se lembre do piercing, não lembre.
Tarde demais.
Sinto minhas bochechas em brasas, e vou até a cozinha à procura
de um copo de água.
No fim, a mensagem enviada era apenas para que ele participasse
das comemorações do noivado do irmão. Não havia nenhum problema, nem
motivo de preocupação.
Ele não ficou nem um pouco feliz ao descobrir isso. Consegui
escutar de longe, ele falando com a mãe, que estava trabalhando e que só
veio, pois achou que estavam em apuros, o que quer que isto signifique.
Enfim, família!
— Precisa de algo, querida? — sua mãe questiona parando ao meu
lado.
— Não, só vim buscar um copo de água. — Gesticulo na direção da
jarra sobre a mesa. — Obrigada! — devolvo, de repente sem graça.
Cadê ele? Olho ao redor e vejo que está numa conversa animada
com o irmão.
É estranho ver este lado dele, e sorrio ao imaginar os conselhos
mais impróprios que ele deve estar dando para um futuro homem casado.
— Posso te perguntar algo?
Meu Deus, a mãe dele.
— Claro! Desculpe, estava distraída… — Observando seu filho
mais velho descaradamente.
Ela sorri.
— Você e meu filho — começa e parece envergonhada. — Vocês se
conhecem há bastante tempo?
Bem, isto é fácil de responder.
— Sim, nos conhecemos desde a adolescência.
— Eu sabia! — exclama, sem disfarçar a empolgação. — Você é A
Sophie.
“A” Sophie?
Sorrio sem entender o que quis dizer e então, quando acho que não
posso ficar mais surpresa, ela me abraça.
— Obrigada — sussurra no meu ouvido, e então, apoia as mãos nos
meus ombros, me fitando com olhos marejados.
— Eu não… — começo, totalmente perdida.
— Estou tão feliz, por vocês… terem se encontrado — continua e
eu apenas deixo. — Yannik não fala muito a respeito daquela noite, mas eu
sei o quanto ele ficou arrasado por não ter ido naquele baile com você.
O baile…
Fico em silêncio, mas algo me diz que não vou gostar de saber
sobre “aquela noite”.
— Céus, ele estava tão animado, eu lembro como se fosse ontem.
— Sorri. — A nossa vizinha fez uns ajustes num terno que meu falecido
marido tinha. Estava novo em folha, já que ele só tinha usado uma vez e
ficou perfeito no menino. — Seu olhar está longe, perdido nas lembranças e
vejo uma lágrima escorrer pelo seu rosto.
— Susanne…
— Então… — Sua voz falha e ela abaixa os olhos, fitando as unhas
— Eu caí em tentação.
Como assim?
— Joguei meses de sobriedade no lixo, arruinei a noite do meu
menino e quase… acabei com a minha vida — reconhece e seu olhar está
em mim novamente.
Oh, Deus…
Não posso crer.
— Ele não te contou, né?
Não consigo abrir a boca, só gesticulo que não.
— Sua surpresa diz tudo, sempre tentando me proteger. — Ela seca
outra lágrima, e me pego servindo um copo de água e entregando para ela,
antes de tomar todo o conteúdo do meu.
— Era aniversário de morte do Frank e eu… estava perdida,
sufocada nas minhas lembranças.
Meus olhos enchem de lágrimas, mas respiro fundo.
— Tive uma overdose naquela noite. Não me lembro de muita
coisa, só que acordei no hospital. Meus filhos… quase viram a mãe morrer.
Yannik só foi embora quando eu estava fora de perigo. Não saiu do meu
lado, um segundo sequer. Só quando eu fui para a reabilitação e Luke estava
sob os cuidados da minha irmã, é que ele… foi para o exército.
— Eu não sabia… — Minha voz é um sopro
— Yannik cuidou de mim e do irmão, enquanto eu estava me
afogando na dor e no vício.
— Não sei o que dizer.
— Não precisa dizer nada, querida. — Segura minhas mãos com
força. — Eu vejo a forma como meu filho olha para você.
Olha para mim?
— Ele nunca te esqueceu, menina.
Quero corrigi-la, dizer que está enganada, mas me calo.
Minha cabeça está um turbilhão.
Toda mágoa…
Toda dor, todas as lágrimas…
Ele não me abandonou, não de propósito.
Ele estava salvando a mãe…
Ele enfrentava problemas em casa, e guardou tudo para si…
Eu não sabia.
Ele poderia ter falado comigo… eu entenderia.
Mas ele resolveu partir.
Não sei o que dói mais.
Se saber que ele tinha motivos para não aparecer, ou saber que ele
resolveu simplesmente ir embora.
— Susanne — alguém a chama e ela seca disfarçadamente uma
lágrima, antes de me abraçar forte.
— Estou realmente feliz de ver você aqui, Sophie — sussurra no
meu ouvido e então me deixa sozinha.
Respira, respira.
Minhas mãos tremem e seguro com força na bancada.
Flashes daquele dia me invadem.
Nossa conversa no celular.
Ele dizendo que estava vindo…
Então o silêncio. As inúmeras chamadas direto na caixa-postal.
Ele estava no hospital e depois… foi embora.
Lembro-me de falar com seus amigos do time de futebol, eu
precisava de respostas, mas ninguém sabia de nada.
Yannik simplesmente havia partido.
Desaparecido da minha vida e levado meu coração com ele.
— Hey… — Sua voz soa rouca atrás de mim e dou um pulo,
assustada.
Inspira…
Vocês precisam conversar, mas aqui não é o lugar.
— Sophie — chama e há preocupação em sua voz.
Meu coração quebra ainda mais.
Me viro e encaro seu olhar.
— O que houve?
— Nada! — retruco, fazendo um esforço para manter minha voz
firme.
Me analisa alguns segundos e então se aproxima, fazendo meus
pelos arrepiarem.
— Você é uma péssima mentirosa, sabia?!
Fecho os olhos, ignorando sua provocação e a forma como meu
corpo reage ao seu.
Não aqui, não aqui…
— Pronta para ir embora?
Aceno que sim e o acompanho até a sala.
— A bagunça está boa, mas temos que ir, pessoal — anuncia e
todos reclamam.
— Tão cedo — sua mãe resmunga, vindo até nós.
— Outro dia venho com mais tempo — promete.
— Temos saudade, querido.
— Também tenho, mãe, mas você sabe como é…
— Eu sei… trabalho, trabalho e trabalho. — Faz uma careta e ele
ri.
— Foi um prazer conhecê-la, Sophie. — Me abraça forte e beija
minha bochecha. — Espero revê-la em breve, querida — diz e apenas
sorrio, sabendo que isso não vai acontecer.
Pelo canto do olho, vejo que ele está se despedindo do irmão, pega
algo com ele e então está novamente ao meu lado.
— Vamos?
— Vamos.
Caminhamos para a área externa, mas ao invés de irmos para o
Audi, seguimos na direção de um Golf, que só posso supor ser do seu
irmão.
— Vamos no carro de Luke. Depois pego o meu aqui — explica,
mesmo eu não tendo perguntado nada. — Chamará menos atenção
chegarmos em outro carro na portaria, caso nossos “amigos” estejam de
olho.
Faz sentido, embora isso seja a última coisa na minha cabeça.
Nos afastamos da residência e mal acessamos a rodovia, começa a
chover.
Perfeito!
— Não vai me dizer o que houve? — dispara do nada e cerro os
punhos.
Meu coração bate acelerado e sinto um nó na garganta.
Quero tanto gritar… falar tudo o que está engasgado.
O carro parece menor e fica difícil respirar.
Inspiro e expiro, mas não adianta.
Minhas mãos suam frio.
— Sophie?
— Para o carro.
— O quê?
— Para a droga do carro! — grito.
Estamos numa estrada lateral, onde quase não há tráfego e ele joga
o veículo no acostamento.
Abro a porta e desço, ignorando a chuva forte, que me encharca em
segundos. Ignoro tudo, menos a dor que me assola.
Apoio as mãos no joelho, tentando puxar o ar para meus pulmões.
Sinto-o próximo de mim e não consigo mais segurar.
As lágrimas caem sem controle.
Seu braço me envolve e com a mão livre ergue meu queixo.
— O que você está sentindo? Fala pra mim, princesa, me deixa te
ajudar.
— Por quê? — sai da minha boca e ele me olha, confuso.
Respira.
— Por que você não me disse? — disparo à queima-roupa e seu
semblante muda. Ele sabe…
— Minha mãe falou com você. — Me solta e me dá as costas.
— Por quê? Me diz — insisto.
— Porque não mudava nada, ok! — retruca.
Estamos os dois ensopados, discutindo no meio da estrada, mas
foda-se… não saio daqui até terminar essa conversa.
— Mudava para mim! — Minha voz sai num sopro.
Mudava para mim…
— Isso é passado, princesa. — Há tristeza em seu olhar. —
Desculpe não ter te levado ao baile, linda. — Toca minha bochecha,
afastando uma mecha que está colada no meu rosto.
— Você acha que realmente é sobre o baile? — Meto o indicador
no seu peito. Raiva nublando minha visão e ele arregala os olhos. — Nunca
foi sobre o baile, seu burro! — Dor inunda meu peito. — Foi sobre você…
sobre perder você. — Lágrimas caem sem descanso e nem ligo. Nunca me
senti tão exposta na vida. — Me leva pra casa, por favor.
— Sophie… — chama, mas ignoro.
Não há mais nada para falar.
— Só me leva pra casa! — devolvo, já abrindo a porta do carro e
me enfiando dentro.
Foda-se as roupas molhadas, foda-se tudo… eu só quero ir embora.
A volta é feita em silêncio. Mantenho meu olhar focado na janela e
quando vejo o muro da mansão, solto o ar.
— Precisamos… — ele começa quando entramos na casa, mas nem
olho para trás, só preciso do refúgio do meu quarto. — Você está melhor
sem mim — murmura, mas eu ouvi.
Eu ouvi.
Fecho a porta, com a chave, e deixo meu corpo escorregar até o
chão.
Não sei o que é pior… a decepção da adolescente, que não sabia de
nada, ou agora, que eu sei que ele tinha motivos.
Eu entenderia… quero gritar.
Dói saber que nossa amizade, ou que quer que tivéssemos, não era
o bastante.
Não para ele ficar.
Não consigo dormir.
Eu preciso extravasar… então faço aquilo que sempre me ajuda.
É apenas, eu, o pincel e a tela branca…
Os primeiros raios da manhã começam a entrar pela janela, quando
eu finalmente descanso meu pincel.
Sim, passei a madrugada pintando.
Eu precisava… tirar aquela angústia do peito.
Me afasto um pouco e uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto
ao ver o resultado.
É caótico, é belo…
Sim, eu pintei o retrato dele.
Yannik.
When you look me in the eyes — Jonas Brothers

Deixo a água quente bater nas minhas costas.


Que noite infernal.
Não consegui pregar os olhos e sei que ela também não. A luz
estava acesa.
Escutei seu choro…
E, porra, isso acabou comigo.
Parei duas vezes com a mão na maçaneta, mas voltei para o meu. A
vontade era invadir a droga do quarto. Mas então, o quê?
O que você vai falar pra ela, caralho?
Por que minha mãe foi falar com ela?
Isto estava no passado. E deveria continuar assim.
Sou tão fodido que consegui magoar Sophie duas vezes.
O que eu não daria por algumas horas, apenas eu e o saco de
pancadas.
Saio do quarto, tentando deixar esta merda para trás e Sophie deve
fazer o mesmo.
Suas palavras não saem da minha cabeça.
“Foi sobre você… sobre perder você…”
O que ela quis dizer com isso? Deveria ter perguntado ontem,
otário. Hoje, certeza que ela não quer olhar na sua cara.
Éramos amigos.
Ela era bem mais que isso… para mim.
Foda!
Coloco a cafeteira para funcionar com um olho no notebook.
Focar no trabalho, é isso que precisa ser feito.
Sophie precisa estar segura para que eu possa vazar e deixar tudo
isso para trás, me enterrar numa boceta quente e esquecer todos os
problemas.
Mas cacete se nem isto me anima. Devo estar ficando doente. É a
única explicação, qualquer coisa, menos ela…
Menos a forma como me afeta.

É quase meio-dia e nem sinal dela.


Está me evitando e nem desceu para tomar o café. Sei, porque
fiquei a manhã inteira na sala e nada, estou a ponto de subir e checá-la
quando o puto do chefe de segurança aparece.
Era o que me faltava.
— Sr. Bauer.
— É só Yannik — corrijo, aceitando a mão estendida.
Olha ao redor e só quero que vaze logo, preciso vê-la.
Não adianta, ele não me desce. Aposto que veio justificar a falha
animal da sua equipe.
— Sobre ontem — começa e tenho que respirar fundo, para não o
mandar para aquele lugar.
Ignorei os cinco minutos de explicações para o inexplicável.
Falta de sinal no centro da cidade, ok, conta outra.
A escolta presa no semáforo, até podia ser, mas eles tiveram tempo
de sobra para nos alcançarem… e nada.
Simplesmente voltaram para a base.
Que merda é essa?
A situação poderia ter ficado bem feia.
Não sei qual é o plano dos albaneses, mas o que quer que estejam
tramando, começaram chamando atenção com os explosivos, depois
recuaram e agora parecem estar ficando impacientes.
Algo se aproxima.
A perseguição no centro não foi nem mascarada. Ficou nítido que
éramos os alvos.
O que os fodidos querem com ela?
— Espero que esteja tudo esclarecido — continua e volto minha
atenção para ele.
— Sem dúvida — devolvo, não querendo estender esta conversa.
Está claro que nem ferrando vou contar com eles para levar a
princesa no baile.
Ele acena em despedida e quando está quase do lado de fora, para.
— Como está a Srta. Meyer?
— Trabalhando — respondo, curioso com o interesse repentino,
que eu saiba eles não são próximos.
— Bom! — Sorri. — Diga, que mandei um abraço.
Vá esperando, otário.
Começo a subir a escada quando o meu celular toca.
Stefan.
— Hey, S, te ligo daqui cinco minutos, pode ser?
— Claro, cara, tudo certo por aí? K me disse que tiveram
problemas ontem.
— Sim, tudo certo. Só preciso checar algo. — Ele não precisa saber
que é ela.
Não entenderia.
— Aguardo sua ligação — devolve e desliga.
Sempre direto e objetivo.
Volto a subir as escadas quando ela surge no corredor.
— Sophie…
Ela trava ao me ver e nosso olhar se encontra, mas tão rápido
quanto acontece, ela desvia e continua seu caminho sem olhar na minha
direção.
Perfeito.
Cerro os punhos, resistindo à vontade de prendê-la entre meus
braços e… Porra, como eu quero beijá-la, explorar cada pedaço do seu
corpo, senti-la derretendo nas minhas mãos.
Caralho… não vá por aí.
Passa por mim, como se eu não estivesse aqui e me calo.
As olheiras em seu rosto só confirmam o que eu já sabia… o que eu
causei.
Puxo o celular do bolso e caminho em direção à varanda,
precisando de ar e colocar minha cabeça no lugar. Na missão.
— Ei… eu de novo. O que você manda? — disparo e vejo-a
preparar um lanche e subir novamente.
Inferno, até quando vamos ficar nesta situação?
— Y? Porra, cara, você está aí?
— Caralho, foi mal! O que você estava dizendo?
— Você tem certeza de que está bem?
— Sim. — Passo a mão pelos cabelos. — Me distraí com algo, foi
só isso. Então, novidades?
— Os engravatados encerraram formalmente o caso.
— Nem fodendo.
Começo a andar de um lado para o outro, pensando em mil
cenários.
— Mas, falei com Dietmar, um velho conhecido, e consegui mais
alguns dias. Expliquei o que aconteceu no cemitério e ontem, mas eles não
estão dispostos a prolongar muito mais a investigação.
— Eles se esqueceram da bomba?
— De acordo com eles, foi uma ameaça isolada e não houve
contato ou exigências.
— Como se precisasse ter motivo para ser louco. Caralho, em que
mundo esses filhos da puta vivem?
— Estão seguindo o manual.
— Um manual de bosta.
— Hey, concordo com você. Se acalme!
— Isso me tira do sério, S. Eles estão esperando acontecer, para se
moverem. É mais fácil investigar sobre evidências sólidas, ou no caso,
corpos.
— Não poderia concordar mais com você — retruca e escuto a voz
de K ao fundo. — Karl colocou seus robôs numa pesquisa louca aqui, está
rodando alguns algoritmos, vamos ver se conseguimos um ponto de partida.
Até agora não encontramos nada que ligue o chanceler aos albaneses,
nenhum motivo. Estamos cegos.
Foda, eu sei.
— Falou, S. Se eu descobrir algo, te aviso. Por enquanto é o que já
avisei para o K, ela tem este baile que precisa ir no fim de semana e preciso
de suporte, nem fodendo que confio nesses incompetentes.
— Mando Sven e Max te darem suporte. O que acha?
— Porra, cara. Vai ser perfeito! Ficaria mais tranquilo sabendo que
eles olham minhas costas.
— Hey, Y, Thorsten está aqui ao lado, sem chances de você
conseguir vir no churrasco na casa dele, certo?
— Vou ficar devendo. A loira vai ter que matar a saudade um outro
dia.
— Vá se foder! — Escuto a voz do que um dia foi conhecido como
homem de gelo e um sorriso surge em meu rosto.
— Esqueci de avisar que estava no viva-voz — Stefan aponta.
— Percebi! Tudo isto é saudade, T?
— Nem percebi que você não estava aqui, puto — grita e todos
começam a gargalhar.
— Vocês putos não conseguem viver sem mim, eu sei. Logo estou
de volta.
Espero.
Cada segundo aqui, me leva para um caminho perigoso e sem volta.
Before you Go — Lewis Capaldi

Não aguento ficar mais um segundo sequer neste quarto.


Sério, vou enlouquecer.
Na última hora, tive que cobrir o quadro dele com uma toalha, sim,
uma toalha, pois cada vez que eu via, meus olhos enchiam de lágrimas.
Isto é loucura.
Pensei em jogar fora, mas… aí já seria um crime.
Arrisco a dizer que é uma das minhas melhores pinturas.
Será que ele está na sala?
Que pergunta estúpida, Sophie? Ele sempre está… exceto quando
está dormindo ou brincando com seu equipamento.
Puta que pariu.
Eu mesmo não me ajudo. Por que me recordar deste episódio?
Já está difícil sem me lembrar do quão lindo ele é… das coxas
musculosas, o bíceps forte coberto de tatuagens tribais, e aquela joia
metálica no seu pau.
Misericórdia!
Abro a porta do quarto, precisando urgente de ar, mas mal dou dois
passos escuto sua voz. Pelo visto, está no celular, já que não ouço mais
ninguém.
— Vou ficar devendo. A loira vai ter que matar a saudade um outro
dia.
Paro onde estou e desisto de descer. Não sei por que ainda me
surpreendo… Yannik sempre foi assim. Não é à toa que o apelidei de HP.
Algumas coisas não mudam.
A verdade é que ele sempre significou mais para mim do que eu
para ele.
Se é que um dia eu signifiquei…
Fecho os olhos e respiro fundo. O ar fresco vai ficar para mais
tarde, num horário que eu tenha certeza de que não vou encontrá-lo.

É madrugada e a casa está em silêncio. Estou rolando na cama faz


horas, sem encontrar posição ou paz para dormir.
Virar a madrugada pintando está cobrando seu preço, bagunçou
todo meu sono. Fecho os olhos e me lembro da nossa conversa na beira da
estrada.
“Isso é passado, princesa…”
Como eu gostaria que fosse, mas tê-lo tão perto reabriu todas
minhas feridas. Uma hora ou outra terei que conversar com ele… e seguir
em frente, mas este dia não é hoje.
Eu… não consigo. Só consigo pensar em como ele precisava de
ajuda e eu não estava lá por ele.
Pulo da cama e, com cuidado, abro a porta do quarto.
Tudo escuro e silencioso no corredor.
Eu só… preciso arejar a cabeça, mas sei que sair de casa é algo fora
de questão. Dispararia trocentos alarmes e ele estaria na minha cola, em
minutos. Só quero ficar sozinha, mas fora daquele quarto.
Desço as escadas na ponta dos pés e o ofurô na área externa parece
bem convidativo. Ele praticamente não faz barulho, mas ainda assim, com
cuidado puxo a porta de vidro que separa a área externa da sala.
É tudo envidraçado e permite a visão de toda vegetação no entorno.
Foi cuidadosamente planejado para ser um local de relaxamento e é
exatamente disso que preciso.
Claro que eu não desci preparada para isso, não que tenha algum
biquíni na mala que fiz às pressas antes de ter minha vida virada do avesso.
Tudo continua quieto, quando testo a água, apenas para descobrir
que está perfeita.
Quentinha.
Jogo os sais de banho e, sem pensar muito, tiro o pijama, ficando
apenas de calcinha e sutiã. Me acomodo e fecho os olhos, tentando esquecer
tudo. Tudo, exceto a água quente que me abraça.
Não sei quanto tempo passa…
Só sei que está bom.
Não escuto nenhum som ou o barulho da porta de vidro, mas eu sei
que não estou mais sozinha.
Eu apenas sei…
Abro os olhos apenas para encontrar o seu olhar.
Quente, intenso sobre mim.
Qual o problema dele com camiseta ou a falta dela?
Meu coração dispara e tento permanecer indiferente à visão de
Yannik parado na porta apenas de calça moletom.
— Não consegue dormir, princesa?
— Quero ficar sozinha — é a única coisa que consigo articular.
— E se eu não quiser te deixar sozinha? — retruca e eu apenas
fecho os olhos.
Normalmente, eu até me divertiria com estas provocações, mas não
hoje.
Não quero olhar para ele.
Não quero chorar.
Não mais.
— Você é confuso — devolvo, depois de não sei quanto tempo.
— Como assim?
— Para alguém que diz que eu ficaria melhor sem você, o que você
está fazendo aqui?
— Trabalhando.
— Você poderia ter recusado — rebato e ele dá de ombros, o que
faz meu sangue ferver.
— Por que você está aqui? — grito.
— Para te proteger, porra.
Me levanto, ignorando o fato de estar apenas de lingerie.
Foda-se, eu só preciso sair daqui.
— Deixa eu te dizer uma coisa, você não está fazendo seu trabalho
direto — vocifero, saindo com cuidado de dentro do ofurô.
— Você ainda está inteira e respirando, gatinha — devolve, me
varrendo com seus olhos, que estão faiscando.
Ele está puto.
Eu sei… eu também estou.
Me aproximo, ignorando o quanto seu olhar me deixa quente, o
quanto meu corpo responde a ele.
Só a ele…
— Aí que você se engana, cada segundo perto de você me
machuca. — Minha voz quebra e ele parece ter sentido o golpe. — Você me
machuca! — Enfio o indicador no seu peito. — Quem vai me proteger de
você? Quem? — insisto.
Céus, minha vontade é esmurrá-lo.
Quem vai me proteger do que eu sinto por você, quero gritar, mas
me calo.
Ele fica mudo.
Estamos tão próximos que posso sentir sua respiração sobre mim.
Ambos respiramos com dificuldade.
Fecho os olhos e dou um passo para trás.
Preciso ficar longe, me proteger.
— Só me deixa sozinha, por favor. — Me enrolo na toalha que,
graças a Deus tinha ali na prateleira, e sem olhar para trás, caminho,
deixando as lágrimas caírem livres.
Far away — Nickelback
Here without you — 3 Doors Down

Este baile não poderia ser num dia pior.


Porra, que semana infernal.
Faz dois dias desde que encontrei Sophie naquele ofurô.
E acredite ou não, não é a lembrança dela apenas de calcinha e sutiã
que não sai da minha cabeça, embora a visão tenha sido algo inesquecível.
Não!
Dois dias em que não consigo pensar em mais nada que não seja
nas suas palavras.
“Você me machuca!”
Caralho.
Eu nunca quis… nunca.
Sempre quis protegê-la da bagunça que minha vida era… do meu
caos.
Parece que não faço nada certo.
Para piorar ainda mais meu humor, o dia já começou com boas
notícias, entenda-se, merda acontecendo.
Houve quebra de perímetro na ala norte. O fodido do Rainer
avisou? Claro que não. Eu sei apenas porque tenho acesso a tudo e ele não
faz nem ideia.
De acordo com o relatório oficial, foi apenas um problema na cerca
e já chamaram a empresa de manutenção, mas eu vi as fotografias tiradas
do local.
O fio realmente parece ter rompido e não ter sido cortado, mas o
que atraiu minha atenção foram as marcas de pegada no solo molhado.
São todos cegos ou estou vendo coisa?
Numa situação normal, eu iria pessoalmente até lá checar, mas isto
significa deixar Sophie sozinha, o que está totalmente descartado.
Uma nova mensagem chega:

“A caminho.”

Perfeito.
Saber que Sven e Max estão a caminho me traz certo conforto e
lembra que estou atrasado pra caralho. Preciso me arrumar. Tudo que não
quero são mais motivos para Sophie me odiar, ela já tem o suficiente.
Meia hora depois, me olho no espelho e mal me reconheço. Se tem
algo que eu evito com todas as forças é usar terno. Só tenho más
lembranças.
O funeral do meu pai.
O dia da overdose da minha mãe.
O dia em que perdi Sophie.
Desço as escadas, decidido a esperá-la na sala. Só a vi de relance
pela manhã, e ela estava com a tal de Cathy ao telefone, confirmando sua
presença.
Apesar do clima entre nós, fato é que este baile é importante
demais para ela.
Ela quer ir e é a cliente.
Meu trabalho é garantir que ela permaneça segura. É apenas mais
um dia nesta missão do caralho.
Acabei de colocar uma arma no coldre do tornozelo quando escuto
passos no andar de cima.
Sophie.
Respiro fundo e seu perfume me invade. Viro na sua direção e, puta
que pariu, se eu estava preparado.
Linda pra caralho.
Não…
Linda é pouco.
Não consigo falar nada, é como se tivesse sido socado no estômago
ou chutado nas bolas.
Caralho.
O vestido longo preto com apenas uma alça abraça suas curvas,
quase como se fosse uma fodida segunda pele, e então vem a fenda… porra,
o rasgo vai até o início da coxa, mostrando a perna deliciosa.
Sinto meu pau pressionar contra o zíper e cerro os dentes. Se eu já
achava que a noite seria longa, agora eu tenho certeza.
Foda!
Se aqui já está difícil me controlar, imagina lá, com todos os
abutres em cima dela. Certeza que vai ter um monte de homens se matando
para tê-la nos braços. Vão dançar com ela, se divertir e só consigo pensar
que poderia ser eu.
Era para ser eu, mas nem sempre temos o que queremos.
— Sophie… — Minha voz sai rouca, necessitada, e seu olhar
encontra o meu. — Você está linda — completo e não chega nem perto de
como me sinto.
Morde o lábio e sei que está nervosa.
— Obrigada — comenta sem graça. — Tudo pronto para irmos?
Trabalho é um assunto seguro.
Sim… foco.
— Tudo em ordem, só preciso te entregar algo. — Pego a pequena
caixa na mesa e ela parece surpresa.
Abro e tiro um bracelete.
— É lindo.
— Quem olhar de fora, achará que é apenas uma joia, mas não…
— Não? — questiona, confusa.
— Esta pedra — aponto para enfeite —, além de ter um rastreador
embutido, funciona como um botão de pânico, uma espécie de alarme
silencioso — explico e poderia jurar que está decepcionada. — Lá não
poderei ficar colado em você. Quando não estivermos juntos… — continuo
e só de pensar na minha próxima frase, sinto raiva ferver dentro de mim.
Porra.
— Quando você estiver dançando com aqueles esnobes da alta
sociedade — disparo, mas logo me corrijo: — Quando estiver com eles…
— Coloco o indicador sob seu queixo, precisando que ela olhe para mim e
não tenha dúvida alguma. — Qualquer problema, Sophie… se você sentir
qualquer coisa estranha, por menor que seja, basta apertar a pedra e eu
estarei com você.
O silêncio entre nós é opressor.
Aquela tensão que sempre existe quando estamos próximos.
Minha mão coça para agarrar sua nuca e descer meus lábios nos
seus. Sua respiração acelerada faz seu peito subir e descer.
Seria tão fácil…
Foco, caralho.
Tiro minha mão do seu rosto e ela se afasta.
— Apertar o botão em caso de perigo. Ok, consigo fazer isso —
devolve, me dando as costas.
— Sophie — chamo.
— Oi? — Se vira e então percebe que o bracelete continua na
minha mão.
— Oh… — Estende a mão, mas sou mais rápido.
Com cuidado, seguro seu braço e coloco a joia no seu pulso, a
tocando mais tempo do que necessário.
Ela olha fixamente para ele, passa o indicador sobre a pedra e então
seu olhar está no meu.
— Obrigada, Yannik. Eu amei, mesmo sendo… um rastreador.
Oh, merda.
Um nó parece alojado no meio da minha garganta e a gravata fica
de repente muito apertada.
Nem saímos de casa ainda, mas já prevejo problemas.
Sophie me afeta com um fodido olhar.
Se ela soubesse como mexe comigo…
Se ela soubesse tudo que eu gostaria de fazer com ela… não olharia
para mim… não desta forma.
Como se eu fosse especial… ou digno de ter alguém como ela.
Se teve algo que fiz nos últimos anos, foi fazer jus ao apelido que
ela me deu. Minha fama me precede. Sou o homem puto… sou escuridão,
sou caótico e Sophie…
Ela é luz e calmaria.
Não poderíamos ser mais opostos.
Eu deveria só me afastar, protegê-la de mim mesmo, mas estar
perto dela me faz querer mais, me faz querer perder a razão e apenas
sentir…
Me faz sonhar com um futuro.
E este é o maior perigo que existe para alguém como eu.
Esperança.
It’s all coming back to me now — Celine Dion

Quando fui convidada para este evento, nunca, em mil anos, achei
que seria assim. Imaginei que ficaria horas num salão.
Teria um dia de princesa.
Unhas e cabelos feitos e, depois, dançar, beber, confraternizar e
quem sabe encontrar alguém com quem conseguisse ter uma conversa
interessante o suficiente para pensar em algo a mais. Alguém que fizesse
surgir borboletas no meu estômago.
Ao invés disso, eu mesma fiz minhas unhas. Não que isso seja um
problema, ficou bom, mas minha coordenação motora com a mão esquerda
não é das melhores. O cabelo está melhor do que as unhas, claro, se tem
algo que sei fazer é secar os cabelos e dar uma bela escovada. Mas o
vestido, ah, esse é lindo… eu poderia estar usando chinelo, que ainda o
acharia perfeito.
Soube que era ele assim que o vi.
Preto, cheio de brilhos, uma manga só e com uma fenda
monstruosa. Tudo o que a filha do congressista deveria evitar, mas tudo que
eu desejava… então comprei.
Certeza de que Kief desaprovaria. Acharia vulgar, mas vendo a
forma como Yannik me olha… com toda essa intensidade que ele não
consegue disfarçar, sei que fiz a escolha certa.
Eu não deveria me importar com o que ele acha, mas eu faço. Eu
gostei de ouvir o elogio.
Linda… ele me chamou de linda, e eu sei que foi sincero.
Yannik pode até não corresponder ao que sinto, mas ele não é
mentiroso.
As borboletas estão aqui, voando alucinadas, só não por alguém
que dê a mínima para elas.
Encaro o bracelete no meu pulso e mesmo sabendo que é uma
ferramenta para o trabalho dele…
Sim, eu sei o que sou… uma missão.
Ainda assim, ele foi gentil o suficiente de pensar em algo discreto e
que eu pudesse usar nesta ocasião.
— Obrigada, Yannik. Eu amei, mesmo sendo… um rastreador —
agradeço e quero dizer cada palavra.
Ele parece surpreso com o agradecimento, quem pode culpá-lo,
tenho deixado minhas emoções levarem o melhor sobre mim nos últimos
dias.
Não consigo disfarçar.
Nunca fui boa nisso.
E não é agora que vou mudar.
Estou ferida? Estou, mas se os últimos dias me ensinaram algo é
que Yannik está certo sobre uma coisa…
É passado.
E o futuro é uma grande interrogação.
— Vamos, Sophie? — Estende a mão e aceito, sentindo aquele
arrepio familiar percorrer todo meu corpo.
— Vamos no carro do seu irmão?
— Não, minha belezinha já está de volta — retruca, dando uma
piscadinha.
Por mais que não queira admitir, senti falta disso, das suas
brincadeiras.
Ainda que esteja brava com toda esta situação.
Senti falta dele.
— Não é perigoso?
— Temos reforços.
— Rainer vai mandar mais homens com a gente?
— Deus me livre, prefiro sair na rua nu e desarmado.
Tento não rir, mas é impossível. Quando paro, ele está me olhando
de um jeito estranho.
— Tinha esquecido como é bom isso — murmura.
— O quê?
— Ver você sorrindo.
Oh…
Ele está só sendo simpático.
Respira e ignora.
—Vamos, não quero chegar tarde — desconverso, fingindo que o
comentário não me afetou.
O trajeto é feito sem problemas.
Sem albaneses, sem perseguição e agradeço o momento de paz ao
sair de casa.
Chegamos ao centro de eventos e o estacionamento está lotado.
Minhas mãos começam a suar frio e só então percebo o quanto
estou nervosa. Instintivamente, levo a mão ao bracelete e não sei se ele
percebeu ou foi coincidência, mas lá está sua voz rouca para me
tranquilizar.
— Estarei o tempo inteiro com você, princesa.
Quero retrucar e dizer que não. Que estarei sozinha… que não
tenho um acompanhante, que ele é apenas meu guarda-costas, mas me calo.
Sem brigas hoje.
Yannik para o carro em frente ao manobrista e, em segundos, está
abrindo a porta ao meu lado.
Aceito sua mão e calor me invade, mas logo em seguida ele se
afasta, permanecendo a alguns passos de distância.
São apenas alguns metros até a recepção, mas um nó se aloja na
minha garganta.
Não o quero longe.
Eu o quero ao meu lado, de mãos dadas comigo. E saber que isso
está totalmente fora de questão, é como um balde de água fria.
Vejo Cathy assim que entramos pelo grande salão finamente
decorado com lustres e arranjos maiores que eu. A decoração é opulenta,
mas ignoro isso e foco nos quadros cuidadosamente fixados.
Dentre eles está o meu… e isso me faz feliz.
Deixo esta pequena centelha de felicidade me invadir e coloco um
sorriso no rosto. Pode não ser como imaginei o baile, mas já que estou aqui,
o mínimo que tenho que fazer é tentar me divertir.
E pela próxima hora, eu tento.
Juro que tento.
Converso com vários curadores, artistas, e um ou outro colega do
meu pai, alguns verdadeiros apreciadores da arte, outros grandes imbecis,
que estão aqui apenas para fazer média, a questão é que tentei e falhei
miseravelmente.
Não consigo relaxar ou aproveitar a noite.
Estou tensa.
Eu queria estar conversando com ele.
Eu queria dançar com ele.
Sinto sua presença a alguns metros de distância, seu olhar parece
que vai me atravessar, tamanha a intensidade com que me fita.
— Uma dança, Srta. Meyer? — Conrad, um pintor que conheci
num evento no início do ano, estende a mão e mesmo querendo apenas me
sentar em algum canto, eu aceito.
Não olho na direção de Yannik, mas sinto seu olhar nas minhas
costas.
— Você está magnífica — comenta próximo do meu ouvido, por
conta do barulho, e não consigo sentir nada.
Zero.
Ele é bonito, charmoso, mas não há borboletas… não há nada, pois
não é ele.
Sorrio com o elogio e me forço a terminar a dança.
Tristeza inunda meu peito e é opressor. Abro e fecho os olhos,
tentando afastar as lágrimas teimosas que insistem em se acumular.
Sinceramente… era o que me faltava.
Conrad fala comigo, mas não consigo prestar atenção.
Minha mente está longe.
Olho ao redor e tudo é lindo. Estou dançando com outras pessoas,
achei que estaria feliz, mas… não consigo.
A constatação de que a única pessoa com quem eu gostaria de
dançar está aqui por obrigação, acaba comigo.
A música termina e nem penso muito, eu apenas preciso sair daqui.
— Obrigada, Conrad.
— Uma outra dança… — começa, mas nem respondo, me afasto
com pressa, sem olhar para trás.
Preciso de ar fresco.
Caminho apressada na direção da área externa. Empurro a porta e a
brisa da noite me recebe. Inspiro fundo e continuo caminhando. Ignoro o
salto afundando no gramado, eu só quero ir para longe. Longe da música,
dos casais felizes, longe de tudo…
Uma lágrima teimosa escorre pela minha bochecha e meu peito
sobe e desce acelerado.
— Sophie — Yannik me chama, mas ignoro, não estou distante o
suficiente.
Quero gritar que só preciso de uns minutos sozinha e estarei
melhor, mas apenas acelero os passos.
Chego até uma construção e empurro a porta, sem nem pensar. É
um depósito lotado de cadeiras plásticas empilhadas, mas agora é meu
refúgio.
Minhas mãos tremem e me forço a inspirar e expirar devagar.
O silêncio não dura nem um minuto. O som da porta abrindo e
fechando soa atrás de si.
Yannik.
— Eu… só preciso de uns minutos sozinha — me apresso em dizer
sem olhar para trás.
— Olha para mim — pede, mas não me movo. — Ele fez algo?
Porque se fez, vou matar aquele cara agora mesmo.
Quem? Conrad?
— Ele não fez nada — devolvo, sem coragem de encará-lo.
Fecho os olhos, torcendo para que isso o tranquilize e ele apenas
me espere lá fora. Escuto passos e não preciso ser um gênio para saber que
ele está parado na minha frente. Sinto seu perfume, sua respiração perto de
mim.
Droga…
— O que houve, princesa? — Ergue meu queixo, me fazendo olhar
para ele. — Achei que estava feliz de estar aqui.
Não poderia estar mais equivocado.
Abro os olhos e eu poderia me perder na intensidade do seu olhar.
Na forma preocupada como me fita.
Como cuida de mim.
Não tenho dúvidas de que, se necessário, Yannik mataria por mim.
Isso é ele… intenso.
Respiro fundo, decidida a falar tudo o que está engasgado.
— Sabe o que está errado? — questiono e ele me observa com
atenção. — Dancei com vários homens hoje à noite.
Faz uma careta, mas continuo:
— Mas nenhum deles era quem eu queria, nenhum deles… era
você.
Seu olhar vai para a minha boca e sua mão segura minha nuca com
força.
— Eu juro que tentei, princesa…
Tentou?
Não tenho tempo de fazer nenhuma pergunta, seus lábios descem
nos meus. A mão livre me puxa, colando meu corpo no seu, enquanto sua
língua me invade.
Puta que pariu.
Fogos de artifício explodem dentro de mim.
Sua boca é exigente, dura, me explorando, me fazendo ansiar por
mais e mais…
Por tudo!
Eu sempre sonhei, mas isto é mais… mais do que eu imaginei ser
possível.
Agarro seus cabelos, do jeito que venho desejando há anos, e ele
geme contra a minha boca, mordendo meu lábio inferior, fazendo meu
corpo inflamar.
Interrompe o beijo e apoia a testa contra a minha. O olhar fixo no
meu. Ambos respiramos com dificuldade.
— Juro que tentei — repete, e nos seus olhos vejo um misto de
desejo e… fragilidade —, mas não consigo mais resistir a você.
Isso é um sonho?
Yannik está realmente dizendo isso, para mim?
Seguro seu rosto entre minhas mãos, ignorando o coração a ponto
de explodir no peito.
— Não resista…
Me fita com tamanha intensidade que tenho medo de que tenha se
arrependido e vá embora.
— Tarde demais, linda. — Enfia a mão no meio dos meus cabelos.
— Agora que te provei… eu quero mais.
Nem tento frear o sorriso que brota no meu rosto.
— Conto com isso — devolvo, sustentando seu olhar e minha
boceta palpita com a provocação e todas as promessas implícitas.
— Porra, sim — rosna, e com um movimento rápido, prensa meu
corpo contra a parede.
— Yannik…—Arfo e seu olhar vai para o meu decote.
— Se você soubesse tudo que eu quero fazer com você, linda. —
Meu corpo está em chamas e ele mal me tocou. — Você sairia correndo.
— Duvido muito.
Arqueia a sobrancelha e dou de ombros, aceitando o desafio.
— E se eu disser que minha vontade é abaixar este vestido e cair de
boca nestes seus peitos gostosos — diz e seu indicador passeia pela alça,
seguindo em direção ao meu colo, que sobe e desce acelerado, no ritmo da
minha respiração. — E se eu disser que mataria para descobrir se você é tão
doce quanto venho imaginando… — Morri, é isso. — Que eu já perdi a
conta de quantas vezes sonhei que você estava gozando na minha língua,
nos meus dedos, estrangulando meu pau, nesta sua bocetinha e neste rabo
lindo que você tem.
Sua mão sobe delicadamente pela minha perna exposta e sei que
minha calcinha está ensopada.
É apenas um fato.
Puta que pariu!
Não sou santa nem virgem, mas droga, se a temperatura não
aumentou uns dez graus de repente.
— Eu… — começo, tentando acalmar meu coração. — Eu diria…
que não precisa passar vontade.
Pronto, falei e sinto minhas bochechas queimarem.
Deus, vou para o inferno.
Eu realmente disse.
Yannik me olha e, porra, se não é puro fogo que vejo ali.
— Caralho, princesa, assim, você acaba comigo — rosna e então
seus lábios estão nos meus.
É intenso, faminto, segura meu pescoço com as mãos e pressiona
seu corpo contra o meu, me fazendo sentir o quão duro está.
Mordisca meu lábio inferior e depois lambe, minhas mãos viajam
pelas suas costas, pelo seu peito.
Muita roupa.
Yannik libera minha boca e passa a chupar meu pescoço, deixando
uma trilha de beijos e lambidas.
A cada toque, sinto minha boceta pulsar em antecipação.
Levo minhas mãos para a frente da sua calça e o toco, alisando a
ereção que se destaca ali, marcando o tecido e me fazendo imaginar tudo
aquilo sem barreiras.
— Porra — geme e se afasta com uma careta, passando as mãos
pelo cabelo.
— O que foi? Fiz algo errado?
— Só se ser gostosa pra caralho contar. — Dá uma piscadinha e
então, me fita, sério. — Precisamos voltar.
— Voltar?
— Você tem um baile para ir.
— Eu… prefiro ficar aqui com você.
— Minhas lembranças com ternos não são nada boas, princesa, mas
acho que é uma boa oportunidade de criar boas memórias, com você…
O que ele está querendo dizer?
— Você vai voltar lá… comigo? Comigo, comigo?
Acena que sim e não consigo nem explicar o que sinto.
— Não como meu guarda-costas — friso e ele deve achar que
tenho problema auditivo, mas preciso confirmar.
— Estou atrasado uns dezessete anos — faz uma careta —, mas eu
adoraria voltar lá, com você… é isso, ou vou acabar matando o primeiro
infeliz que se aproximar de você.
Meu sorriso se expande.
Não consigo disfarçar.
Minha felicidade não cabe no peito.
— Bem, antes tarde do que nunca, não é?! — brinco e ele dá um
sorriso, tão lindo… que, Deus, eu só quero vê-lo assim.
Ficamos nos olhando uns segundos, em silêncio, e o tempo parece
parar.
— Princesa… — Acaricia meu rosto com o indicador.
Desta vez é suave, sutil, uma doce carícia, nada como o que
tivemos há pouco, mas tão ou mais íntimo.
— Niki… — Inclino o rosto, fechando os olhos.
— Eu não sei o que é isso… — Gesticula entre nós. — Eu, porra,
tenho medo de foder com tudo… e você me odiar.
— Hey… — começo, mas ele apoia o indicador sobre o meu lábio.
— Eu tentei te proteger da bagunça que é a minha vida, do meu
caos. — Mordisca meu lábio e eu arfo. — Eu sei que você merece alguém
melhor do que eu — segura meu rosto em suas mãos —, mas cansei de
resistir, posso até ir pro inferno, mas cansei de lutar, se querer você pra mim
é ser egoísta, porra, é exatamente o que eu sou.
— Yannik…
— Não faço promessas que não posso cumprir, princesa, e
sinceramente, não sei onde isso vai dar, mas, porra, você é mais do que uma
missão para mim.
Coloco minhas mãos sobre as suas e miro sua íris azul, para que
não haja dúvidas ou mal-entendidos.
— Sem promessas, sem cobranças. — Minha voz soa firme,
embora eu esteja me tremendo toda. — Também não sei o que é isso, mas
quero descobrir… com você.
Nunca estive tão animada e tão assustada ao mesmo tempo.
— Parece um fodido bom plano. — Roça seus lábios nos meus,
devagar, então começa a deixar uma trilha de beijos no meu rosto.
Arfo, mas me afasto.
— Agora, trate de me levar ao baile, que já esperei o suficiente —
brinco.
— Com todo o prazer, Srta. Meyer — devolve, me oferecendo seu
braço.
— E sobre o que conversamos antes… só quero dizer que
expectativas foram criadas — insinuo, dando uma piscadinha.
— Porra, Sophie, você quer me fazer gozar nas calças — geme e
juro que tentei segurar minha língua afiada, mas é mais forte que eu.
— Nunca… seria muito desperdício — provoco e o homem falta
ter um troço.
— Isso vai ter volta, linda.
— Promessas, promessas.
— Provocadora!
—Você não viu nada ainda — sussurro, mas ele ouve e seu sorriso
aumenta.
— Vamos, antes que eu desista de ir neste baile e te leve para casa,
pra te foder de todas as formas que venho sonhando.
Arregalo os olhos, e uma resposta sacana está na ponta da língua,
mas desisto de provocar.
Yannik parece por um fio, então, dou alguns passos em direção à
porta, enquanto ele me fita com cara de quem está pensando numa
revanche.
Baile, estou voltando, mas não tenho pretensão alguma de ficar até
o final da festa.
Não mesmo.
Estou mais interessada no depois.
O after party[1] nunca foi tão esperado.
When you look me in the eyes — Jonas Brothers
Dusk till Dawn — Zayn feat (Sia)

Falta muito para o baile acabar?


Não me entendam mal, eu estou adorando cada segundo, o que é
até estranho, já que abomino este tipo de evento.
Mas ter Sophie em meus braços, ver seu sorriso… e saber que fui
eu quem coloquei lá, porra, me quebra, entretanto, só de pensar em tê-la só
para mim, totalmente nua…
Caralho, se meu pau não responde.
Tô fodido.
Puxo seu corpo junto ao meu, fazendo com que sinta o que faz
comigo, como me deixa, e seu sorriso aumenta.
Mordisco sua orelha e ela arfa contra meu pescoço.
— Já disse como você está gostosa neste vestido — provoco e seus
dedos apertam minhas costas. — Você está molhadinha para mim, princesa?
— Por que você não descobre? — sussurra e trinco os dentes.
— Ah, eu vou — prometo. — Não sei quanto a você, mas acho que
já tivemos o suficiente.
— Achei que não ia dizer isso nunca. Me leva para casa, Niki.
— Porra, sim.
Seguro na sua mão e caminhamos em direção à saída, mas quando
estamos quase na saída, paro.
— Tem certeza? Podemos ficar até o fim.
— Tenho… muito obrigada por esta noite, eu me diverti muito —
morde os lábios e cora —, mas quero ir pra casa.
— Vamos então, linda, que a diversão está só começando.

Minha vontade é só entrar no carro, pisar bem fundo no acelerador,


chegar logo à mansão, arrancar este fodido vestido e me perder nela.
Céus…
Quero fazer Sophie gozar gritando meu nome, até não ter mais
forças, e só de pensar nisso, sinto que vou explodir.
Calma, amigão.
Segurança em primeiro lugar, o que significa falar com Sven e
Max.
O manobrista traz o carro e depois de uma cuidadosa checagem,
deixo que ela entre.
— Tudo certo para irmos? — questiona e lá está a preocupação de
novo.
Foda, precisamos resolver logo esta merda. Mesmo que signifique
eu não a ver novamente.
— Melhor impossível — tranquilizo, enquanto disco para os caras
e coloco no viva-voz.
—Sven, Max, estamos de saída. Como estão as ruas?
— Fala, Y. Sem sinal de problemas até o acesso da Rodovia —
Max sinaliza.
— Bom.
— Estou no acesso e irei segui-los até o destino — Sven comunica.
— Algo estranho nas câmeras de monitoramento da mansão?
— Nada. Aquela merda dá até sono assistir.
— Você está no viva-voz, cara.
— Porra, desculpe, Srta. Meyer — começa e quero rir.
— Relaxa, Sven, ele está te infernizando. A boca dele é bem mais
suja — ela responde e não consigo mais conter a risada.
— Você é um puto, Y — Sven rebate e escuto Max rindo.
— Olha a boca — brinco e é bom aliviar um pouco a tensão. —
Brincadeiras de lado. Agora é sério — começo e meu tom deixa claro que a
zoeira ficou para trás —, até estarmos dentro dos muros da mansão, todo
cuidado é pouco.
Essa calmaria repentina pode enganar os burocratas da BND, mas
não a mim.
A tempestade está a caminho.
— Conte com isso — retrucam e desligam.
Olho na direção de Sophie e ela até tenta disfarçar, mas está tensa.
— Hora de ir.
Apoio minha mão sobre sua coxa e ela entrelaça seus dedos
nos meus e é bom…
— Vamos!
Dez quilômetros parecem cem, tamanha a tensão.
Meus dedos até doem de tanto que aperto o volante, mas felizmente
chegamos.
Sem problemas.
Seguros.
Se não soubesse, diria que é um dia como qualquer outro.
Que Sophie nunca recebeu uma ameaça sequer, ou que os albaneses
estão envolvidos nesta confusão.
Mas eu sei… e essa calmaria não me desce.
Paro o carro e contorno-o rapidamente para ajudá-la a descer. Passa
da meia-noite e não há movimento nesta área. Alguns seguranças estão
fazendo as rondas de rotina em volta dos muros, mas tudo parece realmente
tranquilo.
— Obrigada — agradece, aceitando minha mão.
Olho ao redor e tiro a minha pistola do coldre.
— Ainda não me acostumei com isso, não quando estamos aqui, na
mansão. Acha que é mesmo necessário? — gesticula para a arma.
— Até estarmos lá dentro em segurança, sim.
— Você é paranoico. Já te disse isso hoje?
— Paranoico, é? — Sorrio na sua direção. — Sua memória está
curta, princesa.
Ela dá de ombros, mas fica próximo de mim, enquanto caminhamos
até a entrada. Tudo parece exatamente como deixamos.
Digito os códigos do alarme e a porta da entrada abre.
— Fique aqui até eu ter certeza que está tudo bem — digo,
esquadrinhando cada cômodo do andar de baixo.
— Sim, senhor! — provoca, dando uma piscadinha.
Subo as escadas e menos de um minuto depois, estou de volta.
Guardo a arma e afrouxo a gravata, o olhar na minha presa que está
distraída no celular.
— Você tem um minuto para sair deste vestido, a menos que não se
importe de tê-lo destruído — aponto, enquanto desço calmamente os
degraus.
Surpresa é a primeira coisa que vejo em seu olhar, então ela ergue o
queixo e já espero uma resposta esperta.
— Eu disse paranoico? Esqueça, mandão é melhor.
Tiro o coldre, apoio sobre a mesa e começo a desabotoar os botões
da camisa branca.
Seu olhar está nas minhas mãos e vejo seu peito subindo e
descendo.
— Estou a ponto de explodir, linda — caminho na sua direção e ela
recua um passo —, não quero arruinar um vestido tão lindo — toco o tecido
próximo ao ombro, sob seu olhar vidrado —, mas ele precisa sair.
Sem desviar o olhar do meu, leva a mão à lateral e abaixa um zíper
que eu nem sabia que estava ali.
O tecido desliza pelo seu corpo formando um amontado sobre seus
pés, me presenteado com a visão do seu corpo — Caralho, princesa. —
Nem reconheço minha voz, é crua, necessitada.
A visão de Sophie sem sutiã, os peitos cheios, pesados, os mamilos
de um rosa-claro, pedindo para serem chupados, faz minha rola pressionar
contra o zíper.
Respira, porra.
Para completar a tortura, na calcinha preta de renda, é possível ver
claramente uma mancha mais escura.
Molhada…
— Você tem certeza que quer isso, princesa? — questiono, cerrando
os punhos.
— Pareço com dúvidas? — Dá um passo na minha direção e seus
seios roçam meu peito.
É a minha perdição.
Agarro suas coxas, erguendo seu corpo, a pressionando contra a
parede.
— Você não faz ideia do que faz comigo — rosno, mordiscando sua
orelha.
— Me mostra…
Ataco sua boca, minha língua brincando com a dela. Chupo e
mordisco seus lábios.
É intenso.
Tenho fome: dela.
Desço, deixando uma trilha de beijos por seu pescoço, e ela solta
pequenos gemidos que vão direto para o meu pau.
— Preciso te provar.
— Por favor…
Abocanho seu mamilo e sugo forte.
— Niki… — grita, agarrando meus cabelos.
Sorrio contra o bico duro, dando batidinhas com a língua antes de
voltar a colocá-lo na boca.
Chupo forte, alternado a atenção entre os seios deliciosos.
— Eu poderia ficar horas aqui, mamando em você, linda, mas
quero saber se você é tão gostosa quanto nos meus sonhos.
Devagar, a coloco no chão e nem dou tempo para que ela assimile a
frase.
Sento num dos degraus da escada e puxo seu corpo para junto de
mim.
— Yannik…
— Você está pingando, princesa. — Esfrego meu rosto contra a
calcinha ensopada, sob seu olhar chocado. — Isso tem que sair também —
sinalizo e puxo o pedaço de pano que arrebenta, deixando o caminho livre.
— Porra, sim!
— Não acredito que você fez isso. — Olha surpresa para o tecido
rasgado. — Você me deve uma calcinha — provoca, arfando, conforme a
puxo para junto de mim.
— Compro quantas você quiser, agora senta na minha cara,
gostosa, quero chupar esta boceta.
— Não acredito que estamos fazendo isso… aqui. — Olha para os
lados, parecendo em dúvida. — Você é louco — aponta, mas se aproxima.
— Estou só começando, linda. — Deslizo meu indicador por suas
dobras, arrancando um gemido. — Vou te comer em todos os cantos desta
casa — sinalizo, agarrando sua bunda e puxando seu quadril contra minha
boca.
Foda!
— Oh, Deus… — geme, enquanto sigo deslizando minha língua
por todo comprimento, de cima a baixo, devagar, antes de abocanhar seu
clitóris e chupar como se minha vida dependesse disso.
— Caralho, que boceta gostosa da porra. Minha nova comida
preferida. — Ela rebola no meu rosto e começo a fodê-la com minha língua,
mantendo-a firme sob meu ataque.
Seus gemidos parecem ir direto para o meu pau, mas ignoro, focado
em ver minha garota desmanchar no meu rosto.
— Você gosta, linda? — Passo a fodê-la com dois dedos, enquanto
volto a provocar seu clitóris, chupando no mesmo ritmo das estocadas.
— Não pare! — arfa, agarrando meus cabelos e sinto suas coxas
retesarem.
— Só com você gozando na minha boca… porra!
Enfio um terceiro dedo e passo a lamber e mordiscar seu grelo,
antes de colocá-lo todo na boca.
— Yan… — Joga a cabeça para trás, montando meu rosto, subindo
e descendo em direção aos meus dedos.
Que visão…
— Isso, princesa, me aperta, delícia.
— Ahh — grita, o corpo todo tremendo, continuo socando de forma
rítmica, sentindo sua boceta palpitar.
Tiro os dedos e passo a fodê-la com minha língua, tomando todo
seu gozo.
Sophie geme descontrolada, esfregando a boceta na minha cara,
totalmente entregue.
Fodido paraíso.
Agarro sua bunda e lambo suas dobras sem pressa, tomando cada
gota sob seus protestos e, só então, deixo seu corpo mole escorregar sobre
meu colo.
Seu coração bate acelerado contra meu peito.
Sua excitação molhou toda a minha camisa, seu cheiro e gosto
estão em mim… e, porra, isto é quente como inferno.
Sophie… não pode ser apenas uma missão.
Ela tem que ser… minha.
Everytime we touch — Cascada

Puta que pariu.


Yannik disse que está só começando e se isso é só o começo,
misericórdia, pois meu coração parece que vai sair pela boca.
Nunca…
Nunca… foi tão bom.
O infeliz me estragou. Não é à toa que ele é o homem puto, esse
sabe usar os dedos e a língua e nem colocou o atacante para jogar ainda.
Céus, só de pensar nisso, meu corpo reage.
— Isso foi… — começo, mas mal tenho tempo de concluir a frase,
se levanta comigo em seus braços, como se eu não pesasse nada.
— Ei.
— Preciso estar dentro de você, princesa.
Sim, por favor.
— Posso ir andando, você sabe — provoco, nem ferrando que vou
admitir que estou adorando ser carregada.
— Onde estaria toda graça? — Pisca. — Além disso, ter você com
esta boceta melada se esfregando em mim, vale qualquer esforço, acredite
em mim.
Olho para baixo e vejo que tem razão. Estou tão molhada que a
camisa dele já era. Está tudo úmido.
— Desculpe — murmuro sem graça. Realmente fiz um estrago ali.
— Nunca se desculpe por isso, porra. Ter você pingando em mim,
me deixou tão duro que estou até preocupado com meu amigão — rebate e
não consigo evitar o sorriso.
— Amigão?
— Não consigo chamar meu pau de pau, é muito impessoal!
— Você é louco — grito, não contendo mais a risada.
Yannik se junta a mim e estamos os dois rindo feito loucos, quando
ele escancara a porta do seu quarto.
Com cuidado, me coloca sobre a cama e a primeira coisa que me
atinge é o seu perfume. Fecho os olhos, apenas curtindo o momento,
quando os abro, encontro seu olhar.
Fixo, faminto… em mim, e só então recordo que estou totalmente
nua em sua cama e a dizer pelo seu olhar, eu sou o jantar.
— Você vai ficar só olhando? — provoco e vibro quando ele
arranca a camisa, me presenteando com a visão do seu peitoral musculoso.
Já tinha dado umas espiadinhas, não é a primeira vez que o vejo
sem camisa, mas definitivamente não estava preparada.
Fecha a boca, Sophie, ou vai babar.
Puro músculo e uma trilha de pelos próximos do umbigo,
mostrando o caminho da perdição.
A calça e a cueca são as próximas a saírem e não consigo parar de
olhar.
Você já tinha visto o pau dele, louca!
Não de tão perto.
Comprido, grosso, com veias saltadas, na cabeça rosada vejo duas
coisas: uma gota de pré-semem e a joia, e droga, se eu não queria passar
minha língua lá agora mesmo.
— Porra, princesa — geme, segurando seu membro pesado,
movimentando sua mão para cima e para baixo. — Se continuar olhando
assim pro meu pau, não vou durar — aponta e me forço a olhar em seus
olhos.
— Eu… — Mordo os lábios, não conseguindo concatenar uma
frase sequer. — Doeu? — Aponto para piercing.
— Não tanto quanto não me enterrar em você — devolve, se
aproximando como um predador.
Meu peito acelera em expectativa.
Isto está realmente acontecendo.
Yannik e eu vamos transar.
O meu Niki…
Coloca a camisinha em tempo recorde, segura minhas pernas e
puxa meu corpo até a beirada.
— Uouuu… — resmungo, surpresa.
— Bem melhor. — Acaricia minhas pernas e meu coração dispara.
— Você ainda está molhadinha? — questiona, esfregando a cabeça do seu
pau nas minhas dobras e nem preciso responder. — Porra, Sophie. — Sua
voz é rouca e me excita saber que o afeto. — Olha como deslizo gostoso
nesta bocetinha — aponta e meu olhar segue para lá, e droga se meu corpo
já não está em chamas novamente.
— Yannik…
— Fala, princesa, o que você quer? — Continua se esfregando nas
minhas dobras, enquanto provoca meu clitóris com o indicador.
— Me fode!
— Não precisa pedir duas vezes, linda. — Pressiona a cabeça na
minha abertura e empurra devagar.
— Oh, Deus… — Agarro os lençóis, sentindo-o preencher cada
centímetro, tocando cada terminação nervosa do meu corpo.
Cheia… muito cheia.
— Caralho — sibila entredentes. — Sua boceta está estrangulando
meu pau.
Só Yannik para dizer isso e ainda parecer sexy.
— Apoia suas pernas nos seus ombros — comanda e apenas
obedeço. Com uma das mãos, segura firme meu quadril, e então se retira
devagar, apenas para voltar todo caminho, socando seu pau bem fundo.
Não sei se é o tamanho, a grossura, ou o bendito do piercing, mas é
diferente de tudo que já senti.
A cada movimento é como se estivesse roçando exatamente onde
eu preciso.
— Hum, não pare.
— Nem fodendo — devolve, a voz rouca que amo. — Tão
apertada, tão gostosa… — rosna, e começa a meter rápido, duro.
Sou bombardeada por sensações, até então, desconhecidas, e coloco
a culpa no piercing e não no homem… é mais seguro.
Ele simplesmente não para, estoca em um ritmo alucinante.
No quarto, apenas o som de corpos batendo e gemidos – os meus.
Sim, me descobri um tanto escandalosa, mas nem ligo.
— Tão bom! — disparo, observando vidrada seu pau entrando e
saindo de dentro de mim.
E por mais que eu queira prolongar estas sensações, não vou
durar.
— Isso, princesa, aperta meu pau — rosna, beliscando meu clitóris
e minhas coxas começam a tremer.
— Não ouse parar — comando, sentindo-me à beira do precipício.
— Nem fodendo. — Acelera suas investidas, o polegar
pressionando em movimentos circulares meu clitóris sensível e prazer me
inunda.
Jogo a cabeça para trás, deixando meu corpo convulsionar num
orgasmo intenso. Grito seu nome, sem qualquer pudor, apenas deixando
aflorar tudo que este homem me faz sentir.
— Goza, Sophie, goza no meu pau, porra. — Agarra minhas coxas,
me mantendo refém das suas estocadas.
Não para ou diminui o ritmo, continua, inclemente, me levando a
lugares desconhecidos.
— Isso, linda, ordenha minha rola, caralho — geme alto e sinto
minha boceta convulsionar ao seu redor, tomando tudo que ele tem para me
dar.
Abro os olhos e vejo o momento em que ele goza, o rosto tomado
pelo prazer, urrando alto, o meu nome… e isso, Deus, devia ser proibido.
Com cuidado, abaixa minhas pernas e desaba seu corpo sobre o
meu, tomando o cuidado de não apoiar seu peso em mim.
Estou presa entre seus braços, onde eu sempre quis estar e pode ser
que eu seja uma boba romântica, mas sentir seu peito sobre o meu, nossos
corpos suados, seu olhar no meu, ou ainda a forma como nossos corações
batem acelerados… é simplesmente íntimo demais, e apenas parece certo.
Se eu ainda tinha alguma dúvida, agora não existe mais.
E isso é assustador…
When you look me in the eyes — Jonas Brothers
Dusk till Dawn — Zayn feat (Sia)

Eu deveria ir para o banheiro, jogar fora a camisinha e encerrar a


noite, mas, caralho se eu não quero ficar aqui apenas a olhando…
Sentindo seu corpo junto ao meu.
Sophie é perigosa, consegue enxergar através das minhas barreiras
e já sabe muito, cortesia da minha mãe… e sei que neste ritmo, uma
conversa sobre o passado será inevitável.
O desejo, a química que temos pode ter prevalecido hoje, mas se
conheço bem a princesa, ela ainda vai exigir algumas respostas.
— Espero que não durma em cima de mim — brinca, o rosto
corado e ostentando um sorriso. Linda.
— Dormir? Quem falou sobre dormir — provoco, esfregando meu
corpo no seu e ela arregala os olhos. — A noite está apenas começando,
nada que uns minutos em repouso não resolvam. — Dou uma piscadinha e
o vermelho em suas bochechas aumenta.
— Noite? Mais para madrugada, né?! — devolve, rindo. — Você é
realmente louco.
Você me enlouquece, princesa.
Afasto uma mecha de cabelo que caiu sobre seu olho, e meu
coração acelera, ela para de rir, e de repente estamos apenas nos fitando em
silêncio.
Eu poderia facilmente ficar fodendo a noite inteira, mas Sophie,
não é como as outras… eu quero mais.
Levanto, sem dizer nada, preciso acalmar a merda dentro de mim.
Tiro a camisinha, amarro e descarto no lixo.
— Niki…— Sua voz suave me chama e respiro fundo, antes de
voltar a encará-la.
— Talvez realmente esteja muito tarde — me viro, apenas para
encontrar seu olhar preocupado —, mas não para um banho. — pisco e ela
parece relaxar.
Não estrague tudo, porra.
— Me acompanha, princesa?
Me deixa cuidar de você?
Olha para minha mão e então seu sorriso está de volta e, caralho, se
não me pego sorrindo também.
O que você está fazendo comigo, Sophie?
— Como recusar um pedido assim? — brinca, aceitando a mão
estendida.
Puxo-a na minha direção e seu corpo nu está colado no meu, meto a
mão no emaranhado dos seus fios e tomo sua boca na minha.
Porra!
A mão livre acaricia suas costas, enquanto nossas línguas duelam.
Me afasto, apoiando a testa contra a sua, estamos ambos respirando pesado.
— Banho, lembra? — sussurra.
— Sim, vamos, você já me deixou pegando fogo de novo — digo,
tentando mascarar a forma como me afeta.
Pego-a no colo, sob seus protestos, mas ignoro. São apenas poucos
passos até a suíte, mas foda-se, eu a quero comigo.
Com cuidado, coloco-a no chão e ligo a ducha, ajustando a
temperatura da água. Entro sob o jato e estendo a mão na sua direção.
Seu olhar varre meu corpo, demorando mais tempo no meu pau,
que já está duro, de novo.
— Ele tem um negócio com você — comento, bombeando meu
cacete, enquanto espero-a entrar no boxe.
— Comigo? — Finge surpresa.
— Impossível ficar perto de alguém tão gostosa — meu olhar
passeia pelo corpo delicioso e vejo-a corar — e permanecer quieto.
— Pobrezinho. — Ri, se juntando a mim.
Sophie cola seus seios no meu peito e nem penso muito, aprisiono-a
entre meus braços, capturando sua boca na minha.
Tomo meu tempo ali, nunca tendo o suficiente.
A água quente bate em minhas costas à medida que deixo seus
lábios e desço em direção ao seu seio, que abocanho de uma vez, chupando
duro.
— Yannik! — arfa, agarrando meus cabelos.
Sigo chupando e mordiscando, enquanto minha mão segue para sua
boceta, encontrando-a molhadinha para mim.
— Porra — rosno e ela geme.
—Banhoooo, lembra?
Brinco com minha língua no bico duro, e ergo as mãos, me
afastando da tentação.
— Bom menino — cumprimenta e quero rir.
Sophie despeja sabonete líquido na palma da mão e passa a me
ensaboar.
Apoio-me na parede gelada e fecho os olhos, aproveitando a
sensação das suas mãos em mim.
Quando que alguma foda fez isso? Cuidou de mim?
Eu sei a resposta: nunca.
Sophie não é uma transa qualquer… ela é…
Caralho, se eu sei.
Coloque a cabeça no lugar, cara.
A princesa passeia suas mãos pelo meu peito, minhas coxas, me
provocando, roçando os peitos gostosos de propósito e meu controle está
por um fio.
— Acho que já estou limpo, princesa — comento, a voz rouca de
desejo.
Sinto suas mãos se afastarem e quando acho que a tortura acabou,
sou surpreendido com ela agarrando meu pau.
— Porra! — Abro os olhos, apenas para encontrar seu olhar safado,
enquanto move a mão para cima e para baixo, numa doce provocação.
— Ficou faltando aqui — explica, como se estivesse falando do
meu ombro e não da minha rola.
Não consigo sequer falar.
Sophie passa o indicador pela cabeça inchada, tocando com
cuidado a joia de inox, e um gemido escapa.
Cerro os punhos, deixando que tenha seu divertimento, por mais
difícil que seja manter minhas mãos longe dela.
— Certeza de que meu amigão já está limpo, linda — rosno, me
afastando apenas o suficiente para entrar sob o jato de água.
— Não pode haver dúvida — devolve e foda-se se eu estava
preparado para a visão dela passando a língua sobre a cabeça do meu pau,
brincando com piercing, antes de tomá-lo em sua boca gostosa.
— Caralho! — exclamo, observando-a tomar quase tudo de mim.
Sophie chupa com vontade, lambendo desde a cabeça até minhas
bolas, para então voltar e levar todo meu comprimento.
Agarro seus cabelos, mantendo sua cabeça firme, enquanto
movimento meu quadril para frente, fodendo a boca deliciosa.
— Se esta é sua ideia de banho, princesa… — gemo, ao senti-la,
dando especial atenção à cabeça, sugando sem descanso. — Porra, Sophie!
— Puxo seus cabelos e ela olha para cima, nossos olhos se encontram e a
visão é de tirar o fôlego. Minhas bolas apertam ao vê-la com tudo na boca.
Aumento a velocidade, metendo gostoso nela, delirando com os
sons que faz ao tentar levar mais a cada investida.
— Melhor se afastar, princesa — advirto, mas ela ignora, agarrando
minha bunda, me mantendo firme no lugar, enquanto movimenta seu rosto
em direção ao meu pau.
Fodido céu!
— Você quer engolir minha porra, prinzessin — seguro seus
cabelos, afastando-os do rosto —, então chupa, que quero ver você tomar
cada gota — digo com extrema dificuldade, movimentando meu quadril ao
seu encontro.
Continua mamando gostoso, massageando minhas bolas, me
enlouquecendo com cada movimento dos seus lábios.
— Porra, porra, Sophie… — Sinto meu pau latejar e ela também
percebe, ergue o olhar me fitando com a boca cheia, e então é demais,
explodo urrando seu nome, com uma mão apoiada na parede e a outra
enrolada nos seus cabelos.
Meu corpo todo treme enquanto observo-a me lamber até a última
gota, me deixando alucinado.
— Está limpo? — questiono, quando finalmente consigo articular
uma frase.
— Sim, totalmente limpo. — Lambe os lábios e dá uma piscadinha,
se erguendo com um sorriso sacana no rosto.
— Banho, né? — pergunto e a safada dá de ombros, mal sabendo o
que a espera. — Minha vez — sinalizo e ela nem discute, apenas sorri.
Ah, Sophie…
Tomo meu tempo ensaboando e provocando, e pela forma como
esfrega seu corpo em mim, alguém está com pressa.
— Você está fazendo de propósito — resmunga, esfregando a
boceta na minha coxa, enquanto fico mais do que o necessário no seu
pescoço.
— Você teve seu momento, este é o meu. — Dou uma piscadinha e
ela bufa.
Ignoro seus protestos e sigo me divertindo.
Ensaboo seus seios, sem pressa, observando prazer inundar seu
rosto. Belisco seus mamilos e ela geme alto.
— Gosta?
— Sim — sussurra, roçando o corpo no meu.
Desço minhas mãos pelas suas coxas e então passo a ensaboar a
bunda que é gostosa pra cacete.
Sophie arrebita o traseiro, provocando.
—Você já gozou com alguém metendo forte neste cu? — questiono,
alisando seu buraco e ela gesticula que não. — Mal posso esperar para ver
meu pau sumindo… aqui — pressiono o indicador, sentindo a resistência
dos músculos e ela arfa — e sentir você me espremendo, igual está fazendo
com meu dedo — complemento, arrancando um pequeno gemido.
Caralho.
Me afasto da tentação e foco na minha missão.
Fazê-la desmanchar nos meus dedos e boca.
Aliso seu corpo, retirando toda a espuma acumulada, e Sophie
fecha os olhos, apreciando o momento, aproveito que está distraída e
abocanho seu mamilo, sugando duro, enquanto meus dedos atacam sua
boceta, que está pronta para mim.
— Você está molhadinha, linda.
— Yannik, por favor…
— O que você quer, princesa? — Enfio dois dedos na sua boceta e
passo a fodê-la sem descanso.
— Por favor…
Agacho na sua frente, abro suas dobras e lambo gostoso, subindo e
descendo pela sua fenda, circulo o broto inchado, atiçando, torturando,
igual ela fez comigo.
Sophie inclina o quadril na minha direção e faço o que venho
desejando, abocanho seu clitóris, chupando e dando leve mordidinhas, sem
deixar de estocar na boceta apertada.
— Oh, Deus…
Seus gemidos são como música, me incentivando a continuar e é o
que faço.
Sugo, meto e quando percebo que ela está perto, mudo o ritmo,
recomeçando tudo lento.
— Por favor… — pede, esfregando a boceta na minha cara.
— O que você quer, linda? Fala que eu te dou — questiono,
provocando seu clitóris com o polegar, enquanto estimulo seu ponto G com
o indicador.
— Yan… — começa, mas para, fechando os olhos. — Vou gozar —
avisa, quase num grito.
Sim, porra!
Intensifico a pressão e assisto à Sophie se desfazer nas minhas
mãos.
— Ahhh… — grita, as coxas tremendo, enquanto a boceta aperta
meus dedos.
Tiro os dedos e passo a fodê-la com a língua, bebendo seu gozo
direto da fonte.
Doce… minha!
— Me fode… duro, por favor. Quero seu pau em mim.
Caralho! Se não é exatamente o que eu precisava ouvir.
Mas tão logo a animação chega, vai embora, ao lembrar que só
tinha uma camisinha.
Droga.
— Não acredito nisso — murmuro.
— Que foi?
— Acabei de lembrar que não tenho camisinha aqui comigo, linda.
Eu não tinha planos de… — reconheço e é a mais pura verdade. — Amanhã
peço para entregar uma caixa gigante aqui.
Quero me socar. Eu sempre tenho cartelas e cartelas dessa merda.
— Desculpa, linda — começo, mas ela coloca um indicador sobre
meus lábios.
— Tomo anticoncepcional, por conta das cólicas… estou limpa, fiz
exames de rotina mês passado e sempre transei de camisinha — dispara e
choque atravessa por mim.
— Você está falando sério?
Acena que sim e só posso estar sonhando.
— A não ser que você não queira, claro — se apressa em dizer,
olhando para todos os lados menos para mim. — Podemos esperar as
camisinhas.
— Sophie — chamo e seu olhar está em mim —, também estou
limpo e sempre transo com camisinha. E não é conversinha para garantir a
foda, pois não precisamos disso.
Ela assente e relaxo. É importante que não haja dúvidas quanto a
isso.
— Podemos esperar, se quiser, Sophie, não quero que se sinta
obrigada a nada, mas não vou mentir… a ideia de sentir você sem nenhuma
barreira, apenas meu pau e sua boceta quente, é tentadora pra caralho.
Seu olhar brilha e quase gozo quando ela agarra meu pau, movendo
a mão para cima e para baixo.
— Preciso de você… agora.
— Não precisa pedir duas vezes, princesa — rosno, puxando seu
quadril de encontro ao meu corpo. — Mãos na parede — comando,
mordiscando sua orelha e ela obedece, arrebitando a bunda, de propósito.
Me aproximo, roçando meu pau por suas dobras encharcadas.
— Foda… tão molhada, prontinha pra mim.
— Sim, sim, por favor, Niki!
Enfio meu pau até o fim, numa estocada só e tenho que usar todo
meu controle para não gozar.
— Porra, isto é bom pra caralho. — A sensação de ter sua boceta
quente, apertando meu pau, é indescritível.
— Me fode… forte.
— Lembre-se que foi você quem pediu — rosno, me afastando
devagar, só para voltar a socar de novo.
Sophie arfa, empurrando o quadril na minha direção.
— Gulosa…
Agarro seu quadril, mantendo-a firme e atendo ao seu pedido. Fodo
duro, entrando e saindo sem descanso.
Sophie geme e aperta meu cacete, e eu apenas aumento a
velocidade.
No banheiro, só o som dos nossos corpos batendo e dos seus
gemidos.
Levo meus dedos até seu clitóris e passo a brincar com ele.
— Sim! — grita, as mãos espalmadas na parede, a água caindo
sobre as costas, e meu pau entrando e saindo da sua boceta.
Uma visão do caralho!
Seu interior começa a me apertar e sei que está perto.
— Goza, Sophie, goza para mim, princesa.
— Ahhh…
— Isso, ordenha meu pau!
Continuo bombeando dentro dela e a forma como convulsiona ao
meu redor, seus gemidos e palavras desconexas, é minha perdição.
Explodo com violência, gritando seu nome e com apenas uma
certeza: estou completamente fodido.
Porque uma coisa é certa…
…agora que toquei o paraíso, eu quero mais.
Eu quero tudo.
You’ve Got a Way — Shania Twain
Never gonna be alone — Nickelback

Desperto e a primeira coisa que percebo é que não estou no meu


quarto. O peso da coxa masculina sobre a minha, o braço me prendendo
junto ao seu corpo quente e a respiração suave no meu pescoço são mais
provas de que não foi um sonho.
Tudo realmente aconteceu.
Nós acontecemos… e ele me pediu para ficar aqui, com ele.
Pensei em negar, manter uma distância, afinal, é apenas sexo, mas
qual seria o ponto, se eu queria estar aqui?
Com ele.
E, droga, como foi bom adormecer nos seus braços, deixar o sono
me levar, sabendo que ele estava aqui… comigo.
Sim, estou ferrada!
Sempre soube que o sexo ia ser bom… desde a adolescência as
meninas já falavam o quanto ele era incrível.
Não lembre disso, droga.
Fico com raiva, só de imaginar as inúmeras mãos tocando o que
é…
Ele não é seu, Sophie.
Bem, ele é, por ora.
Se tenho que ficar vinte e quatro horas com ele, por que não
transando e tendo orgasmos de contorcer o dedinho do pé?
Não vá por aí…
Tarde demais. Flashes de ontem, de como ele me devorou, me
fodendo exatamente como eu sonhei, como pedi, faz minha boceta acordar
e me remexo na cama.
Que grande confusão fui me meter!
Não é para ser. Sem promessas, só curtição, lembra?
Ok, eu posso fazer isso! Sou uma mulher madura, independente e
bem-resolvida. Falando em resolvida, há assuntos inacabados e não importa
quão maravilhoso Yannik e seu amigão sejam, preciso de respostas.
Não basta dizer que é passado… preciso de mais.
O que o levou a deixar tudo para trás, inclusive eu…
Ele se remexe atrás de mim, e tento ficar o mais parada possível.
— Já acordou, princesa? — A voz rouca soa na minha orelha e
meus pelos arrepiam.
Puxa meu corpo junto do seu e sinto sua ereção pressionar minha
bunda.
— Bom dia para você também — sussurro, virando levemente o
rosto. — Vejo que já acordou animado.
— Sempre, ainda mais com você ao meu lado. — Beija meu ombro
e, droga, isto deveria ser proibido.
Reviro os olhos e me viro ficando de frente para ele.
Tão lindo…
E não faz a mínima noção de como me afeta. De como meu coração
bate feito louco no peito.
Ahh, Niki…
— Você consegue falar sacanagem e nem tomou café ainda —
brinco, tomando o cuidado de manter uma distância segura, já que ainda
não escovei os dentes.
— Linda, eu sou assim vinte e quatro horas por dia — devolve e
me pego sorrindo.
— Não sei por que não me surpreendo.
Num movimento rápido, estou presa sob seu corpo, e meu corpo
acende como uma árvore de Natal.
— Admita que você gosta — provoca, se esfregando
propositalmente contra mim.
Filho da mãe.
— Nunca.
— Você que sabe, posso ficar o tempo que for necessário aqui… a
vista de fato está muito boa.
Só então percebo que com o movimento o lençol abaixou e meus
peitos estão expostos.
— Temos que levantar — devolvo, tentando me cobrir, mas seu
peso sobre o tecido impede. Puxo, mas não mexe um centímetro. — Sério?
— Com frio, linda? Posso te esquentar.
Fecho os olhos, respiro fundo e aceito a derrota.
— Ok… eu gosto — reconheço, fazendo uma careta. — Agora sai
de cima de mim, que preciso ir ao banheiro.
— Hum, parece que alguém é mal-humorada de manhã.
— Eu não sou — devolvo.
— Aham…
— Você é louco! — rebato, caindo na risada.
— Por você —sussurra, me fitando sério e travo.
Ele está brincando…
O celular começa a apitar e ele se afasta ligeiro para pegá-lo.
Desbloqueia a tela, olha alguma coisa, mas não fala nada.
— Algo errado?
— Não, só uns alertas que coloco diariamente para acompanhar as
rondas.
Meu coração ainda está acelerado no peito.
Ele realmente falou aquilo?
Sophie, esqueça esta merda.
Respira…
— Que horas são? — Isso, fale do tempo, de qualquer coisa.
— Quase nove.
— Nossa, achei que era mais tarde. Sinto como se tivesse dormido
umas doze horas.
— Isso porque você estava esgotada, mal deitou, apagou.
— Bem, você tem sua parcela de culpa nisso — digo e
imediatamente me arrependo.
Seu olhar sacana me faz pular da cama, tentando enrolar o lençol ao
meu redor.
— Minha culpa? — indaga, me medindo de cima a baixo, e apenas
assinto, precisando urgente fugir para o meu quarto.
Yannik levanta totalmente nu e fica difícil raciocinar com aquele
negócio enorme, duro, com a ponta brilhando, a esta hora da manhã.
Não olhe para lá.
Roupas… roupas, onde estão minhas roupas? Ah, é mesmo, ficaram
na sala.
Caramba, Sophie.
— Eu… vou indo… pro meu quarto — explico, andando de costas
até a porta. — Minhas roupas… — começo, me atrapalhando toda. —
Quero dizer que preciso pôr roupas.
— Prefiro assim, exceto pela parte do lençol, que inclusive, devo
dizer que pertence a este quarto e é desnecessário, devo lembrá-la que já vi
tudo que tenta esconder. — Pisca e quero matá-lo.
— Te devolvo depois — friso, alcançando a maçaneta.
Me apresso em direção ao corredor, escuto sua gargalhada e me
pego sorrindo.
— Fuja, princesa, sua sorte é que eu ainda tenho que encomendar
uns cinco pacotes de camisinha.
Eu deveria continuar andando e ir para o meu quarto, mas a diaba
em mim não deixa.
Volto até a porta do quarto e o encontro vestindo uma boxer preta.
— Sobre isso — começo, atraindo sua atenção. — Por mim,
podemos seguir igual ontem… você sabe, sem… — Olho na direção do seu
pau e então para o seu rosto.
— Porra, Sophie! Vá para o seu quarto, antes que eu esqueça
minhas boas intenções e te foda aqui e agora — rosna e a resposta está
pronta na ponta da língua, mas me contenho.
Eu quero isso, mas primeiro, preciso resgatar minha dignidade com
um banho e escovar os dentes.
O dia está apenas começando e mal posso esperar tudo que me
espera, mas por ora, eu só corro em direção ao quarto e, desta vez, quem
está gargalhando sou eu.

Quarenta minutos depois, banho tomado e devidamente vestida,


desço as escadas.
Seu olhar encontra o meu, mas ele já está ao telefone e pelo
semblante sério, aposto minhas fichas que é trabalho.
Procuro a bagunça no chão da sala, mas ele já cuidou disso, pelo
visto. Me sirvo de um copo de suco e preparo um sanduíche sob seu olhar
atento.
— Ok. Combinado, Stefan. Vou conversar com o K e te mantenho
atualizado. — Encerra a ligação e me observa. — Achei que não fosse
descer — comenta.
— Meu estômago não iria permitir isso — brinco, apontando para
os dois lanches que preparei. — Problemas? — Aponto para o telefone.
— Nada que você precise se preocupar.
— Se é sobre mim, sim, eu preciso me preocupar — devolvo e ele
faz uma careta.
Sabia…
— Ainda estamos tentando descobrir o envolvimento dos
albaneses, e o interesse deles em você.
— Entendo.
— Como não houve mais nenhuma ameaça, a BND quer encerrar o
caso. Stefan está negociando mais uns dias, enquanto continuamos cavando.
— Então, eles querem que eu volte para casa, é isso? Sem descobrir
nada? Que tipo de brincadeira é essa?
— Você não vai a lugar nenhum! — Ergue meu queixo, me fazendo
fitar sua íris azul. — Não até eu ter certeza de que está segura! Você
entendeu, princesa? — questiona e vejo preocupação em seu olhar.
— Se a BND encerrar o caso, você irá embora — comento o óbvio.
— Não poderia me importar menos com eles, minha missão é você.
— Yannik… — Apoio a mão no seu peito, a cabeça a mil.
— Confie em mim, princesa. Eu só vou embora quando eu souber
que você está segura.
Só consigo focar no “vou embora” e na tristeza que me atinge.
— Ok… — Mascaro meus sentimentos e sinto seus braços me
envolverem.
— Tudo vai ficar bem — murmura no meu ouvido e fecho os olhos
uns instantes, torcendo para que ele realmente esteja certo.
Um alarme toca, arruinando o momento.
— Nova ronda? — questiono, tentando descontrair.
— Não, temos visita — anuncia, apontando para a tela do
notebook.
— Visita? — questiono, curiosa, mas então vejo Martha na tela,
caminhando cheia de sacolas.
— Deus, eu havia esquecido completamente. Ela disse que viria
trazer comida e saber sobre o baile.
— Já que você terá companhia, vou aproveitar para ajudar Karl
com algumas coisas da USC, assim me distraio e não penso no quanto eu
quero te comer aqui nesta bancada — dispara, batendo a mão sobre a
madeira, como se estivesse falando do tempo e eu engasgo.
Puta que pariu.
Me entrega um copo de água, com um sorriso safado no rosto.
— Você não pode dizer algo assim… — começo, sentindo meu
rosto em chamas.
— Mas é verdade. — Dá de ombros.
— Exato, e agora vou ficar pensando nisso, o dia inteiro —
reclamo, e ele me puxa de encontro ao seu peito, cheio de si. — Martha está
chegando — sinalizo, olhando para a direção da porta.
— Só um beijo, princesa. — Segura minha nuca com firmeza. —
Um beijo e deixo você em paz, por ora. — Pisca, e então seus lábios estão
nos meus, exigentes, me devorando, a língua atrevida invade minha boca, e
eu a sugo, provocando, pensando em outras partes em que eu quero cair de
boca. — Porra! — Se afasta, apoiando a testa contra a minha. — Já me
deixou duro, linda. Como vou conseguir trabalhar assim?
— Você dará um jeitinho, tenho certeza — debocho, me afastando,
o coração acelerado e o corpo em chamas. — E só para constar — dou uma
olhadinha para trás e encontro seu olhar na minha bunda —, eu acho é
pouco! — Pisco e caminho em direção à porta, já vendo Martha se
aproximar.
— Mais tarde — murmura, me devorando.
— Promessas, promessas.
— Me aguarde, linda.
Ah, eu aguardo, ansiosamente.
Never gonna be alone — Nickelback
When you look me in the eyes — Jonas Brothers
Dusk till the Dawn — Zayn feat Sia

Eu deveria ignorar a interação das duas e apenas ligar para o K. Há


trabalho a ser feito, mas está divertido demais assistir à cena.
— Menina, você tem certeza que não está doente? — A governanta
coloca a mão sobre a testa dela, como se fosse uma criança.
— Estou bem, Má. Já disse.
— Essas bochechas vermelhas, pode ser febre.
Ah, não é.
Dou uma tossidinha e o rosto de Sophie fica ainda mais vermelho.
Porra, a mulher é linda demais.
— Estou bem, é que desci as escadas correndo — justifica e a
senhora parece acreditar nisso. — Deixa eu te ajudar com estas sacolas.
Vamos para a cozinha, Yannik está trabalhando — frisa a palavra, e seu
olhar poderia matar. — E não quero atrapalhar.
— Ah, sim, bom dia, Sr. Bauer. — Acena e me levanto para
cumprimentá-la.
— Apenas Yannik. — Dou meu melhor sorriso e ela retribui. — E
você nunca atrapalha, Srta. Meyer, meu trabalho é você — devolvo, fitando
seus olhos e sei que a senhora nos observa com curiosidade.
Ela morde os lábios, mas segura a resposta atrevida que sei que está
na ponta da língua.
—Vou deixar vocês à vontade e fazer umas ligações — digo,
puxando o celular do bolso.
Um pouco de ar fresco não é uma má ideia.
Quem sabe traga o foco que preciso, e tire as imagens da princesa
toda abertinha sobre a bancada que não sai da minha cabeça.
O dia mal começou, mas se a ereção que ostento no momento é um sinal, eu
diria que ele promete.

Ainda estou ao telefone, discutindo novas estratégias de


investigação com o K e T, quando a governanta deixa a casa com um
sorriso no rosto e vejo o exato momento em que a princesa sobe em direção
ao seu quarto.
Sim… fuja, assim consigo manter minhas mãos longe de você.
Caramba, pareço um adolescente.
Desligo com os caras, com algumas varreduras para fazer.
Karl colocou os bots para fazerem diversas pesquisas, mas como
não temos a mínima ideia do que possa ligar o congressista e os albaneses, é
como procurar uma agulha no palheiro. Estamos olhando antigos projetos,
ligações políticas, amizades, qualquer assunto que possa nos dar uma pista.
E é afundado nesta merda que eu passo as próximas horas. Meus
olhos estão até cansados quando eu finalmente fecho o documento e me
levanto.
Caralho!
Horas olhando esta merda de arquivo, para continuar com zero de
informação.
— Hey, T, me diga que conseguiu algo com aquele russo fodido —
disparo quando ele atende.
— Porra, Y, conversei com Dimitri…
— Conseguiu algo?
— Não é muito! — começa, mas certeza que é melhor de como
estamos hoje, com um monte de nada.
— Manda!
— Segundo ele, nas ruas só se fala sobre um grande evento. Algo
grande que se aproxima.
— E como ele sabe que tem a ver com os albaneses?
— São os putos que estão falando isso. Disseram que depois desta
noite, eles serão respeitados e temidos, como merecem.
— Mas que inferno!
— Eu sei. Isto está cada vez pior.
Ando de um lado para o outro, mil cenários passando pela minha
cabeça.
— Para eles estarem agindo assim, é algo importante. Um atentado,
talvez?
— Pode ser! Sabemos que sabem brincar com os explosivos.
— Sim, e se a carga deixada no carro de Sophie for um indício, será
uma catástrofe.
— Precisamos de mais intel. Stef ia conversar com a BND
novamente, ver a agenda de compromissos do congressista, eventos
oficiais, este tipo de merda, talvez nos ajude a encontrar as respostas.
— Estes merdas não farão nada, até termos evidências concretas de
uma ameaça — disparo, e frustração me inunda.
— Você tem razão, cara, mas é o que podemos fazer no momento.
Eu sei.
Caralho, eu sei.
Respiro fundo, tentando colocar ordem nos meus pensamentos.
— Sabe o que não faz sentido, T?
Ele permanece em silêncio.
— Qual o papel da Sophie neste caralho. Por que estão ameaçando
ela? Por que não tentaram mais nada? Não faz sentido, porra. — Bato
minha mão na mesa e na mesma hora me arrependo.
Não quero assustá-la.
— Foda, se eu sei, cara — devolve e sei que está tão frustrado
quanto eu. — Precisamos manter a cabeça no lugar e continuar cavando.
— Sim — reconheço, desejando mais que tudo respostas.
— E, Y, cuidado com suas costas.
— Sempre, irmão.
— Estou falando sério, porra — frisa, e o homem de gelo está ali.
— Qualquer merda, por menor que pareça, nos chame.
— Eu vou!

Passo as próximas horas analisando novamente as imagens que


conseguimos com as câmeras de trânsito, procurando qualquer detalhe que
tenha passado despercebido.
Nada.
Meu estômago reclama e só então noto que, imerso nesta loucura,
não almocei, tampouco a princesa, que está no seu quarto desde que a
governanta foi embora.
E isso faz horas.
Subo as escadas, decidido a deixar este assunto para trás e cuidar
dela.
Bato na porta e a abro devagar. Encontro-a, distraída, focada no
quadro à sua frente e pintando como se não houvesse amanhã.
Linda!
Pigarreio e só então ela percebe que tem companhia.
— Niki… — Surpresa inunda seu olhar e se apressa a colocar o
pincel sobre o suporte. — Não te ouvi.
— Você estava concentrada. — Gesticulo na direção do cavalete.
— Confesso que estou até curioso — começo, mas suas mãos estão no meu
peito.
— Não até estar pronto.
— Humm, agora me deixou mais curioso, linda. — Envolvo meus
braços ao seu redor, puxando para junto de mim e ela sorri.
Bom!
— Lide com isso, você só verá aquilo — olha para trás — quando
eu tiver terminado.
— Ok, mandona! — Pisco e seu sorriso aumenta. — Não sei
quanto a você, mas eu estou faminto.
Como que respondendo à minha pergunta, seu estômago resmunga.
— Acho que não preciso nem me manifestar.
— Com certeza, não.
— Perdi a noção do tempo — explica e passo a mão pela sua
bochecha onde uma mancha de tinta se destaca.
— Estou toda suja, né? — Faz uma careta.
— Poderia estar coberta de tinta, que ainda estaria linda —
devolvo, mirando seus olhos.
— Não sabia que você era assim — retruca baixinho, mordendo os
lábios.
— Assim, como?
— Todo galanteador.
Paro e penso alguns segundos… e, realmente, eu não sou, mas com
ela parece apenas natural. Eu quis dizer cada palavra e não apenas para
entrar em sua calcinha.
— Acho que você está me estragando. — Levo uma mão até sua
nuca, sentindo a maciez dos seus fios em meus dedos.
Meu olhar cai em seus lábios, e porra, eu poderia me perder ali,
agora mesmo.
Respiro fundo, sabendo que agora não é o momento.
Preciso cuidar da minha garota.
Me aproximo e deposito um beijo suave no seu pescoço, seu corpo
retesa e meu pau já se anima.
Calma, amigão.
— Ok, ok… — Se afasta, e sei que está afetada tanto quanto eu. —
Vou limpar meu rosto e mãos — ergue as palmas, reforçando a necessidade
— e te encontro lá embaixo.
— Não demore — peço, varrendo seu corpo sem cerimônia e então
caminho em direção à porta, com um fodido sorriso no rosto, já sabendo
muito bem o que quero de sobremesa.
Ela…

— Estava tudo uma delícia, ainda não acredito que você realmente
preparou tudo isso.
Sophie olha chocada para os pratos à nossa frente.
Eu poderia ter pegado algo da geladeira, já que a governanta trouxe
pratos suficientes para alimentar um batalhão, mas não sei o que me deu.
De repente, pareceu uma boa ideia preparar uma carne suculenta,
acompanhada de umas batatas cozidas e assadas, para ela…
A minha garota.
Demorou um pouquinho, mas o resultado ficou espetacular e o
sorriso e surpresa no rosto da princesa é meu melhor pagamento.
— Tenho inúmeras qualidades, linda, algumas você já conheceu —
provoco, porque não resisto e vejo-a corar. — Esta é apenas mais uma.
— Modesto, hein?
— Contra fatos não há argumentos — devolvo, sorrindo, e ela
revira os olhos, mas acaba se rendendo e sorri ao final.
— Você é terrível. — Seus olhos não deixam os meus e meu peito
aperta.
Não consigo ter o suficiente dela… e isso me assusta.
— E quanto à sobremesa? O que você preparou? — questiona, se
levantando.
— Como cuidei do prato principal — começo, caminhando até ela,
que só pode estar brincando se acha que vou deixá-la cuidar da louça agora.
— Esta parte é com você — pontuo, tirando o copo da sua mão, colocando-
o de volta na mesa.
— Eu não… — Seu peito sobe e desce, e meu pau pressiona contra
a calça jeans. — Preparei nada… — Seu olhar está no meu.
— Não se preocupe, linda — agarro sua bunda, e a ergo,
arrancando um gritinho de surpresa —, você é a sobremesa — rosno na sua
orelha, colocando-a sentada sobre a bancada.
— Yannik… — murmura e não perco um segundo sequer, ataco sua
boca, como venho desejando o dia inteiro.
Enfio minha mão no meio dos seus cabelos, a mantendo sob meu
ataque, enquanto mordisco seus lábios, apenas para passar minha língua, na
sequência.
— Preciso de você… — sai da minha boca, e mal reconheço minha
voz.
Sophie me fita, os olhos vidrados de desejo.
Ergue os braços e diz tudo o que preciso saber.
Puxo sua blusa, deixando-a apenas com o sutiã preto. Minhas mãos
acariciam seus montes, por cima do tecido fino, e sinto seus bicos duros,
pedindo para serem tocados.
— Linda… — Solto a lingerie em segundos e caio de boca,
sugando, mamando gostoso.
Cada gemido de Sophie vai direto para o meu pau, que pulsa contra
o zíper.
Caralho.
Puxo seu mamilo entre os dentes, provocando, só para metê-lo todo
na boca, sugando forte.
— Niki… — resmunga, agarrando meu cabelo com força.
Libero o bico e sigo deixando uma trilha de beijos pela sua barriga.
Sophie se inclina para trás, apoiando os cotovelos na mesa, me
observando com atenção.
— Preciso chupar sua boceta — digo, sem meias-palavras, puxando
sua calça e calcinha com um único movimento.
Fodido céu…
— Caralho — sibilo, afastando suas coxas, deixando-a bem aberta
para mim.
— Niki…
— Porra, Sophie, você está pingando, linda. — Levo meu indicador
até suas dobras e ele desliza fácil em sua umidade.
Sophie fecha os olhos e arfa.
— Olha para mim, princesa — peço e ela obedece. — Quem
precisa de sobremesa, quando se tem isso — aponto e então, sem desviar o
olhar do seu, levo minha língua até sua boceta, lambendo de baixo para
cima.
— Humm… — geme e fome cresce dentro de mim.
Abro suas dobras e intensifico o ritmo, lambendo gostoso, subindo
e descendo, para então abocanhar seu clitóris, sugando, mordiscando, me
alimentando de cada gemido seu.
— Gostosa pra caralho — rosno, sem levantar o rosto da sua
boceta. — Eu poderia ficar horas aqui, te chupando, te fodendo com a
minha língua.
Ela geme, erguendo o quadril em direção ao meu rosto.
Agarro sua bunda, a mantendo firme sob meu ataque e então passo
a estocar dois dedos, enquanto sigo sugando seu grelo.
— Tão bom…
Enfio mais um dedo na boceta melada e Sophie passa a gemer
palavras desconexas, enquanto seu canal me aperta.
Meu pau parece a ponto de explodir.
Libero seu clitóris que está inchado e sensível e passo a circulá-lo
com a língua, só para metê-lo novamente na minha boca.
— Yannik — grita, eu aumento a velocidade das estocadas,
alternando pequenas mordidas e lambidas no ponto sensível. — Não pare,
Oh, não pare. — Sinto suas coxas retesarem e sua boceta me apertar.
— Nem fodendo que vou parar.
Puxo seu quadril, trazendo sua boceta ao meu rosto, passando a
fodê-la com a minha língua, enquanto meu polegar pressiona seu clitóris.
Continuo metendo e chupando sem descanso, e ainda com o rosto
enfiado entre suas pernas, olho para cima, apenas para ser presenteado com
a visão de Sophie, o rosto tomado pelo prazer, cabeça jogada para trás,
totalmente entregue, gritando meu nome, enquanto goza na minha boca.
E foda… se eu consigo explicar o que sinto neste momento.
É desconhecido e indescritível.
Porra, eu apenas preciso desta mulher.
Para mim.
— Preciso de você. — Sua voz me traz de volta.
— Do que você precisa, linda? — questiono, o rosto ainda metido
entre suas pernas.
— De você. Dentro de mim.
— Caralho! — Ponho a língua para fora e lambo, tomando todo seu
gozo, e só então me afasto. — Não precisa pedir duas vezes, princesa —
assinalo, puxando minha camisa sob seu olhar atento.
A calça e a boxer são as próximas a se juntarem à pilha de roupas
no chão.
Me aproximo feito um predador e ataco sua boca, querendo que
sinta seu gosto em mim.
— Mãos na bancada — comando, ajudando a ficar em pé.
Ela obedece, me presenteando com a visão do rabo branco.
Movimento minha mão para cima e para baixo, louco para me
enterrar nela, mas não resisto.
Me ajoelho, abro sua bunda e passo a lamber, deslizando todo
caminho.
— Yannik… — arfa, surpresa.
— Sua bunda é gostosa pra caralho — resmungo, passando minha
língua no seu cu. — Quero ver meu pau sumir aqui. — Pressiono e ela
geme, rebolando na minha cara. — Quero ver você me provocando quando
eu estiver estirando este cuzinho apertado seu, linda.
— Promessas… — devolve e quase gozo nas calças.
Me levanto e esfrego minha pica nas dobras molhadas.
— Tão encharcada.
— Me fode, Niki…
Porra, princesa!
Pressiono contra sua abertura, sentindo seu corpo me receber.
Quente, apertada.
— Caralho, sua boceta é minha perdição.
Ela arrebita o traseiro, me recebendo por inteiro, e trinco os dentes
ao senti-la apertando meu pau.
Firmo a mão no seu quadril, e me afasto, só para voltar todo
caminho, metendo na boceta melada.
— Foda!
— Sim… me come, Niki. — Rebola e sinto minhas bolas
apertarem.
— Porra, você está esganando meu pau.
— Agradeça, podia ser você… — ela brinca e levo minha mão ao
seu clitóris, pressionando-o, fazendo-a arfar.
Sem aviso, começo a estocar rápido, forte, entrando e saindo, sem
descanso.
— Sim…
— Você gosta, linda? — Mordisco sua orelha, sem deixar de meter.
Não responde, apenas geme entregue às sensações.
Sem deixar de arremeter, levo o indicador até seu cu, e pressiono,
vendo-o desaparecer.
— Oh, Deus.
O aperto de Sophie em mim aumenta, na mesma medida que seus
gemidos.
Acrescento mais um dedo, estocando na sua boceta e cu ao mesmo
tempo.
— Vou gozar — anuncia e eu aumento a velocidade, batendo contra
seu corpo. Fodendo-a exatamente como eu imaginei o dia inteiro.
Vejo-a agarrando com força a bancada, o corpo tremendo, gemendo
meu nome.
— Caralho… isso, linda… ordenha minha rola — comando,
socando fundo mais uma vez, antes de explodir gritando seu nome.
Foda.
— Isso foi… — Paro, não conseguindo articular uma frase digna
do turbilhão de sentimentos que me envolve.
Meu coração bate acelerado no peito e dou um beijo suave nas suas
costas antes de me retirar do seu corpo.
— Vou cuidar de você, princesa — aviso, caminhando até o
banheiro e pegando lenço umedecido para limpar suas pernas.
Pode parecer bizarro e machista, mas foda-se se não me agrada ver
minha porra escorrendo pelas pernas da minha mulher.
Me sinto como um animal… e a marquei como minha.
— Estou até mole — resmunga, quando passo a limpar suas coxas.
— O que acha de relaxarmos no ofurô? — disparo, desejando
continuar com ela em meus braços.
— Relaxar? — Vira o rosto na minha direção, arqueando a
sobrancelha.
— Claro — devolvo, rápido. — Palavra de honra.
— Por que será que não acredito em você?
— Assim você me magoa, linda.
Ela nem pisca, mantendo o semblante desconfiado.
— Ok, você sabe que no que se refere a você, eu sou insaciável…
talvez não seja tão relaxante assim.
— Eu sabia! — comenta e me pego sorrindo. — Vamos!
— Porra, sim!
Everybody hurts — Avril Lavigne
Angel — Sarah Mac Lachlan

Só posso ter enlouquecido, mas a ideia de curtir o ofurô com ele é


irresistível. Lá fora começa a escurecer, mais um dia que se encerra e eu só
consigo pensar em ter tudo que eu puder dele…
Porque ele vai embora.
Observo-o ajeitar a temperatura da água, todo preocupado, e isso
aquece meu coração.
— Perfeito! — murmuro ao afundar na água quente.
Joga alguns óleos aromáticos que estão na cestinha ao lado do deck
e então se junta a mim.
Em tese, este modelo é para até quatro pessoas, mas o fabricante
certamente não pensou em alguém do seu tamanho.
Yannik está sentado do outro lado, mas é tão grande e largo que seu
joelho quase roça no meu.
Não que você vai me ouvir reclamar.
Eu gosto de senti-lo…
Fecho os olhos, tentando relaxar, mas não adianta, sei que ele está
ali, a centímetros de distância, a um toque da minha mão.
A tentação é grande demais.
Abro os olhos, dando uma espiadinha, e o encontro de olhos
fechados.
Permaneço de olhos fechados e toco sua perna com o pé. Algo sutil,
sem maldade, uma suave carícia.
Supercomportado, ou era para ser, mas meu pé resolveu subir pela
coxa musculosa… e posso ter acidentalmente tocado seu amigão. E só de
pensar nisso, meu corpo acende de uma forma que só ele consegue.
Minha respiração acelera e abro os olhos, apenas para encontrar seu
olhar em mim.
Será que está bravo?
— Se divertindo, linda?
Aceno que sim, mordendo os lábios e debatendo se devo tomar a
iniciativa ou não.
Vamos, mulher, coragem.
— Eu preciso de mais — disparo, sem desviar o olhar do seu.
— O que você quer, Sophie? — A voz rouca faz meus pelos arrepiarem e
não é de frio.
Hora da verdade!
— Você… dentro de mim. — Sinto minhas bochechas quentes e
não tem nada a ver com a temperatura da água.
— Toma o que é seu, princesa. — Me devora de tal forma, que não
consigo pensar em outra coisa que não seja exatamente isso.
Monto no seu colo, sentindo seu pau roçar minha entrada.
Sigo provocando, me esfrego contra seu corpo, beijando com
suavidade seus lábios, tomando meu tempo.
— Você quer me matar, Sophie…
— Relaxa — murmuro na sua orelha, e então, sem aviso, desço
sobre seu comprimento, tomando-o todo dentro de mim.
— Porra — rosna, jogando a cabeça para trás, e isso me inflama.
Fico imóvel alguns segundos, deixando meu corpo se acostumar
com a invasão e então tomo o controle, subindo e descendo, devagar,
tirando-o quase todo, só para voltar a tê-lo inteiro.
— Que boceta gostosa! — Abocanha meu mamilo, sugando forte,
enquanto provoca o outro com o indicador e polegar.
— Oh… — arfo, acelerando o ritmo, movendo meu corpo para
frente e para trás, subindo e descendo no seu cacete.
Não sei se é o piercing ou a posição, mas é como se cada
terminação nervosa estivesse sendo estimulada.
— Tão bom… — gemo, jogando a cabeça para trás. — Todo meu
— murmuro, sentindo me encher a cada movimento.
— Seu, porra, todo seu, princesa — afirma, agarrando minha
bunda.
Chupa meus peitos sem misericórdia, enquanto sigo cavalgando
gostoso nele, rebolando no seu pau.
Na varanda, apenas o som dos nossos gemidos.
— Vou gozar — aviso, sentindo minhas coxas começarem a tremer.
Yannik mordisca meus mamilos sensíveis, ao mesmo tempo em que
mantém minha bunda firme sobre seu pau e então passa a arremeter,
estocando fundo em mim.
— Oh… sim, sim…
É demais.
— Niki — grito, sem me preocupar com mais nada que não seja no
prazer que atravessa cada parte do meu corpo.
— Caralho… — geme, metendo mais três vezes em mim, antes de
atingir a própria liberação, urrando meu nome, enquanto seu corpo inteiro
fica tenso.
Sinto minha boceta convulsionar ao seu redor, tomando tudo dele.
O homem geme alucinado e eu sorrio, realizada.
— Isso foi… relaxante — brinco, olhos fechados, deixando meu
corpo mole do orgasmo cair sobre seu peito.
Seus braços me envolvem e sinto suas mãos acariciando minhas
costas, meus cabelos.
Ele sussurra algo, mas não consigo entender.
— Só sei de uma coisa, princesa — resmunga, a respiração ainda
acelerada. — Foi você quem me atacou.
Não consigo nem retrucar.
Apenas começo a gargalhar e, Deus, é bom…
— Acho que desta vez, você tem razão — consigo dizer quando
minha respiração acalma. — Eu que te ataquei, mas em minha defesa, a
culpa é sua!
— Minha? — questiona, segurando meu rosto e me forçando a
encará-lo.
Droga!
Não diz nada, apenas me fita com tanta intensidade, que é… difícil
até raciocinar.
— Sua — devolvo, mesmo não tendo qualquer argumento, ou
brincadeira como resposta.
Ele apenas assente, acariciando meu rosto com o polegar, e então
toma meus lábios nos seus.
Agarro seus cabelos, me entregando a este beijo, desejando dizer
tudo que eu sinto, e não tenho coragem.
Tudo o que guardo comigo, há anos.
E que assim que eu coloquei meus olhos nele, eu soube…
Seria impossível resistir.
Yannik sempre me teve.
Ele é meu caos particular.

— Só consigo pensar em cama agora — brinco, quando finalmente


deixamos o ofurô.
Me enrolo na toalha e tiro o excesso de água dos meus cabelos sob
seu olhar atento.
— Vou ligar os alarmes e podemos subir, linda — aponta,
caminhando até seu notebook com apenas uma toalha ao redor da cintura.
É tão natural estar assim com ele que, por vezes, esqueço os reais
motivos de estarmos aqui… confinados.
Fecho os olhos, afastando os pensamentos negativos.
Não há nada que eu possa fazer sobre as ameaças ou albaneses…
isso, nós, está no meu controle. E eu escolho aproveitar cada segundo.
— Vamos? — questiona, após digitar alguns comandos e um
pequeno alarme soar na casa.
Aceno que sim e sou surpreendida por seus braços.
— Me coloca no chão! — ordeno, mas sou ignorada. — Qual seu
problema com a escada? Eu posso subir normalmente.
— Você mesma disse que estava até mole. — Pisca. — Além disso,
eu adoro segurar você, é uma oportunidade para ficar pegando em tudo que
é meu, você sabe.
Tudo que é seu…
Me calo e aproveito a curta caminhada.
— Meu quart… — começo, quando o vejo indo em direção ao lado
oposto.
— Precisa de algo de lá?
Mordo os lábios, pensando em como responder.
— Não, eu apenas achei que… — Paro e ele continua me olhando,
esperando uma resposta. Céus! — Achei que como já… você sabe… cada
um seguiria para seu quarto.
— Só porque fodemos, não significa que eu não te queira na minha
cama, comigo… — Seu indicador toca meu queixo. — Eu quero.
Ele quer.
— Você quer? — questiona, sem desviar o olhar do meu.
Aceno que sim, mas ele continua parado, comigo em seus braços.
— Diga…
Reviro os olhos.
— Depois eu que sou mandona — começo, tentando descontrair. —
Eu quero, ok?! Quero ficar com você, no seu quarto.
— Bom! — Abre um sorriso tão grande que meu peito acelera.
Ahh, Yannik, assim você destrói meu coração.
Com cuidado, me coloca sobre a cama e a toalha quase abre.
— Preciso colocar alguma roupa — digo para mim mesma e ele
escuta, pois, em segundos, uma camiseta preta surge na minha frente. —
Isso deve servir, obrigada — agradeço, colocando a peça, e isso não deveria
me afetar, mas faz.
É íntimo pra caramba… e, de repente, estou nervosa como uma
adolescente. Me cubro e acompanho, ansiosa, enquanto ele veste uma boxer
preta. O colchão afunda com seu peso e logo ele está deitado ao meu lado,
me fitando.
— O que foi? Estou com algo no cabelo? — Levo a mão, mas não
encontro nada.
— Só te olhando, princesa, você parece tensa.
Isso é porque eu estou.
Respiro fundo.
Não há motivos para o nervosismo.
É ele… meu amigo, meu Niki.
— Acho que são muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo —
disparo, tentando organizar meus pensamentos.
— O que quer dizer?
— As ameaças, o fato de estarmos há meses vivendo na casa de
hóspedes do meu pai… — Faço uma careta. — Isso, entre… nós. — Olho
para o teto, com medo de como ele interpretará esta última parte.
— Realmente é muita coisa — reconhece e um sorriso brota no
meu rosto.
Até nesta situação, ele me faz rir.
— O que vai acontecer se não descobrirmos nada? — Viro o rosto e
ele está sério. — Por mais que esteja bom aqui com você — começo, para
que ele não entenda errado minha pergunta. — Preciso voltar para minha
vida… e você tem o seu trabalho.
— Porra, linda, eu queria ter uma resposta para você, mas não
tenho. Só sei que nem fodendo, vou deixar você… enquanto houver a
mínima chance daqueles filhos da puta te fazerem mal.
— Não sabemos quanto tempo pode levar até termos respostas.
— Então, você terá que me aguentar mais tempo — devolve e não
há brincadeira em seu tom de voz. — Até que não haja uma fodida dúvida.
Desvio o olhar, incapaz de continuar fitando-o, sem que ele veja
como sua resposta mexe comigo. Foco minha atenção nas tatuagens que
cobrem seu braço e se estendem até o meio do peito.
Isso, perfeito. Qualquer coisa, para acalmar o turbilhão dentro de
mim. No antebraço, uma floresta escura, pinheiros altos. Tudo negro,
escuro… e na entrada da floresta, um menino. Me viro, ficando de bruços, e
passo a acompanhar o desenho com o indicador.
— Esta tattoo, é quase como se eu pudesse sentir a tristeza que
emana dela — começo, sem filtro. — É tudo tão preto, escuro. — Olho em
sua direção, mas ele permanece em silêncio, apenas me observando.
Ok!
Continuo minha exploração e sigo em direção ao seu peito, onde se
destaca uma forma geométrica. Um triângulo e, dentro dele, um mar
revolto, ondas agitadas, é uma tempestade em alto mar, continuo analisando
o desenho e então percebo do lado de fora, uma palavra, apenas uma…
— CAOS? — Ergo o olhar e encontro o seu. — O que significa
essa tatuagem? A tempestade? — questiono baixinho.
Me fita alguns segundos em silêncio, fecha os olhos e me arrependo
na hora da pergunta.
— Desculpe minha intromissão, Niki — me apresso, mas então
seus olhos azuis estão em mim.
— Sou eu… — Sua voz soa firme.
— Você? — Tento não soar confusa, mas é impossível.
— Eu… eu sou o caos, a tempestade — dispara sem deixar de me
fitar. — É como me sinto, cada fodido dia… desde que… — Para alguns
segundos e entrelaço meus dedos nos dele, simplesmente parece o certo.
— Ei, tudo bem! — acalmo, mas ele continua:
— Desde que meu pai faleceu, tudo mudou, você já sabe que minha
mãe é dependente química.
— Sim… — Minha voz é um sopro.
— O que você não sabe é o inferno que nossa vida virou. O medo
de não saber se eu ia voltar da escola e encontraria ela bem, viva. Muitas
vezes não tínhamos comida, não havia mais um lar… eu e o Luke tínhamos
que fazer tudo, torcendo para que ela acordasse bem. Vivíamos com a
esperança de ser a última vez, e com medo de uma recaída.
Oh, Deus!
— Eu não sabia…
— Ninguém sabia, linda. Porque eu não queria ver o que estou
vendo no seu olhar agora… pena.
— Não — me apresso, mas ele ignora, fechando os olhos.
Pena é a última coisa na minha cabeça.
— Na escola, eu era forte, zoeiro, brincalhão… não queria que
soubessem o que eu escondia, a vergonha, o medo, o caos…. — Um soluço
escapa do seu peito e uma lágrima escorre pelo meu rosto. — Eu tinha
medo de te perder, que você se afastasse que, de alguma forma, você não
quisesse, ou fosse proibida de ficar perto do filho da drogada.
— Nunca…
Dá um sorriso amargo.
— No fim, o vício levou a melhor e conseguiu nos afastar, tirou o
melhor que eu tinha… a paz que eu só encontrava na escola, com você.
Uma lágrima escorre pelo meu rosto e me apresso em secá-la.
— Você queria saber por que fui embora, princesa, sua resposta é
essa. Eu pertenço à escuridão, aqui dentro — aponta para o próprio peito —
é tudo caótico. Minha mãe está bem hoje, mas tudo pode mudar num piscar
de olhos, e eu não queria trazer você para dentro da minha bagunça, eu
queria te proteger, de mim…
Tento controlar, mas não consigo.
Abaixo o rosto e as lágrimas caem livres.
Choro por tudo que ele passou.
Pelo adolescente assustado que, desde cedo, teve que assumir as
rédeas e cuidar da mãe e do irmão.
Por tudo que perdemos e, principalmente, pela forma como ele se
vê.
— Não chore, linda. Está tudo bem. É passado, lembra? — Acaricia
meu rosto, e ergo o olhar.
— Eu não tenho pena de você — começo e ele me fita, surpreso. —
Como eu poderia, quando você é a pessoa mais forte que conheço.
— Sophie… — Coloco o indicador sobre seus lábios.
Minha vez.
— Eu sinto muito que você tenha passado por tudo isso, sozinho,
que você tenha escondido toda esta dor, este medo em você, que você tenha
achado que a solução era partir. — Um soluço chacoalha meu corpo, mas
me forço a continuar: — Sinto muito que você se ache caótico ou que
carrega a escuridão dentro de si, quando você é a pessoa mais iluminada
que eu conheço. — Meus lábios tremem. — Você sempre foi a melhor parte
do meu dia… e por mais que me doa admitir, continua sendo. — Faço uma
careta.
Segura meu rosto entre as mãos, apoiando a testa na minha.
— Você é…
Seus lábios estão nos meus, suaves, e eu apenas retribuo, deixando
que seu toque leve a tristeza embora.
— Não quero você triste…
— Difícil — retruco, secando o rosto com a mão.
— Eu nunca falei essas coisas para ninguém, mas eu senti que você
merecia saber, princesa. Toda verdade.
Respira, Sophie.
Respira.
— Eu… obrigada por confiar em mim.
— Agora vem aqui, linda, que não te trouxe pra minha cama para
ficar chorando. Eu tenho uma fama a zelar. — Pisca, e lá está ele, o Yannik
brincalhão.
É um mecanismo de proteção, mas agora eu sei o que ele esconde.
— Achei que você não tinha o costume de dormir com as garotas
— rebato.
— Tem razão — admite. — Só com a minha — complementa, sem
desviar o olhar do meu.
Sua…
— Boa noite, Niki.
— Boa noite, princesa. — Roça os lábios nos meus numa suave
carícia.
Me viro e seu corpo cola no meu. Não há motivo para tristeza. Não
há caos ou escuridão. Não agora, quando estou entre seus braços, sentindo o
calor do seu corpo e sua respiração no meu pescoço.
Aqui e agora, tudo é sereno.
É perfeito!
Demons — Imagine Dragons
So help me girl — Gary Barlow

Com cuidado, levanto da cama, precisando urgente de um copo de


água e um pouco de ar fresco.
Sophie não demorou a pegar no sono, mas só me mexi quando tive
certeza de que não iria incomodá-la.
Vê-la vestindo minha camisa, dormindo tranquilamente, toda
enrolada nas cobertas, me faz sonhar com coisas que nunca me peguei
imaginando e sinto um aperto no peito.
Me abrir foi difícil pra caralho.
Nem os caras sabem de tudo, guardo minhas merdas comigo, mas
quando ela comentou sobre a tatuagem e toda a escuridão dela, não
consegui me conter.
Foi como se uma comporta tivesse se aberto.
Me sinto leve.
Estar com ela me acalma.
Sophie é minha paz.
No andar de baixo, tudo calmo. Do lado de fora, apenas a breu da
noite. Uma olhada no celular mostra que passa um pouco de uma da manhã.
Sei que ela está acordada. Não é de hoje que ela luta contra a
insônia.
— Querido — atende no segundo toque e há preocupação em sua
voz. — Está tudo bem?
— Oi, mãe, só queria saber se está bem. — Passo a mão pelos
cabelos, o olhar perdido na forma como o vento balança a copa das árvores.
— Tudo bem, e com você? Em casa?
— Ainda em Bonn.
— Ahh, ainda está com a Sophie.
— Sim.
— Isso é bom! Muito bom! — Mal disfarça a empolgação.
— É apenas um trabalho.
— Não precisa ser apenas isso.
— Mãe…
— O quê? Uma mãe pode sonhar.
— Não com isso. Eu não sou o Luke.
— Não, você não é, mas também quero ver meu filho mais velho
feliz.
— Não acho que casamento esteja no meu futuro.
— Quem disse algo sobre casar, querido? Só quero você feliz.
— Vou voltar para cama — anuncio, querendo encerrar o assunto,
não preciso da minha mãe criando expectativas de algo que nunca
acontecerá.
— Ok, meu amor. Durma bem. Fiquei feliz de te ouvir.
— Eu também.
Estou quase desligando, quando resolvo fazer uma última pergunta.
— Mãe…
— Oi?
— Por que você contou à Sophie sobre o passado? Sobre você… a
overdose.
— Ela precisava saber, querido.
— Não entendo.
— Minha avó sempre dizia que para a ferida cicatrizar, é preciso
deixá-la respirar, eu só puxei o curativo.
Fecho os olhos, assimilando o significado da sua frase, refletindo
como a situação entre nós mudou desde aquele dia.
— Boa noite, mãe.
— Boa noite, querido. Fique bem!
— Você também.
Volto para o quarto e a encontro encolhida e descoberta.
Me deito, puxo a coberta sobre nós e passo meu braço sobre seu
corpo.
Ela resmunga baixinho, se aconchegando contra mim.
Porra!
Afundo meu rosto na curva do seu pescoço, inalando o perfume do
seu cabelo.
Não sei o que o futuro nos reserva, mas melhor lugar que este…
com ela em meus braços.
Não há.
Estou fodido!
O cadelinha agora sou eu.

— Alguém acordou animado! — Sua voz soa atrás de mim e um


sorriso surge no meu rosto.
— Achei que ia ter que chamar um guindaste para te tirar da cama
— provoco, colocando uma omelete fresquinha sobre um prato.
— Exagerado. — Revira os olhos, se aproximando. — Dormi
gostoso, mesmo.
— Isso é bom. — Puxo-a para os meus braços e roço meus lábios
nos seus. — Bom dia, princesa — murmuro contra eles, puxando seu lábio
inferior com cuidado. — Com fome?
Arqueia a sobrancelha e sei exatamente o que está pensando.
— Faminta…
Aperto a sua bunda, puxando em direção ao meu pau, que claro, já
está duro.
— Não é que você está animado mesmo — brinca e mordisco sua
orelha.
— Sempre! Agora, coma antes que eu esqueça minhas boas
maneiras e não deixe você tomar café.
— Acho que estou de dieta — debocha e não seguro a gargalhada.
— Provocadora — grito, caminhando em direção à sala, enquanto
ela se senta na banqueta da cozinha.
Linda.
— Estava quase esquecendo — comento, enquanto confiro as
gravações da noite anterior. Tudo certo com o perímetro, rondas estão
acontecendo. Nada fora do ordinário.
— O quê?
— Desculpe, linda.
— Você disse que estava quase esquecendo algo e aí ficou mudo.
— Me distraí vendo as câmeras — explico. — A Martha passou
agora há pouco aqui, deixou a correspondência. — Aponto na direção da
pequena mesa no centro da sala.
— Nossa, estou tão acostumada a receber tudo por e-mail, que
esqueci totalmente disso.
— Ela disse que pediu para um funcionário passar no apartamento
e pegar tudo que estivesse por lá.
— Ok. — Começa a separar as correspondências, enquanto toma
um copo de suco de laranja.
— Revista, revista, outra revista, boleto. — Faz uma careta e então
segue na sua missão.
Aproveito que está entretida e começo a checar meus e-mails,
torcendo para que os caras tenham alguma notícia boa.
Estou terminando de ler um e-mail do K, quando o barulho de um
copo se quebrando em mil pedaços soa.
Sophie está branca, me olhando como se tivesse visto um fantasma.
— Que houve? Se machucou? — Salto da cadeira, procurando por
algum sinal de ferimento. — Princesa? Você se cortou?
Suas mãos estão tremendo quando ela estende os papéis que está
segurando. Meu olhar vai para o envelope branco, simples, onde se lê
apenas:

“Aos cuidados de Srta. Meyer.”

Sinto um arrepio percorrer minha coluna e sei que não é nada bom.
— Somos…. Nós. — Sua voz soa ao meu lado no exato momento
em que vejo.
Dezenas de fotos.
Dela, nossas…. no Audi, no baile, aqui… fodendo no ofurô.
Merda, merda.
Meu sangue ferve e vejo vermelho.
Quem quer que tenha tirado estas fotos, ou esteve perto o suficiente
para conseguir, ou usou um fodido drone.
Em qualquer cenário, esteve muito perto… dela.
Caralho!
Quando acho que nada pode piorar, vejo a última foto.
Ela montada em mim, exceto que na sua cabeça há um x vermelho,
acompanhado de uma pequena nota.

“Então o lírio não é flor que se cheire.


Tic-tac, tic-tac, a vadia deve morrer.”

— Mas que porra!


Um soluço escapa dela e eu largo tudo no chão, pegando-a no colo
e a tirando do meio de todo aquele vidro.
— Vai ficar tudo bem — sussurro, tentando acalmá-la. — Vamos
descobrir quem está por trás disso, está me ouvindo?
A coloco no chão e seguro seu rosto.
— Olha pra mim, princesa.
Obedece, os olhos vermelhos, assustada, e não é para menos.
Alguém esteve perto… perto pra cacete.
— Ninguém vai chegar até você, está me ouvindo? Não sem passar
por cima do meu cadáver — friso e ela arregala os olhos, um soluço escapa
antes dela afundar o rosto no meu peito e me abraçar com força.
— Vou encontrar os filhos da puta — murmuro contra seus cabelos.
Nem que seja a última coisa que eu faça.

Depois de muita insistência, consegui convencer Sophie a


descansar no seu quarto. Preciso falar com os caras e a última coisa que
preciso é assustá-la ainda mais.
As coisas não estão bonitas.
O que quer que seja, é pessoal.
De todas as fotos, ele escolheu a nossa fodendo, para marcá-la e
escrever a ameaça.
É quase como se isso o incomodasse.
“… o lírio não é flor que se cheire…”
Que merda ele quis dizer com isso?
Meu celular vibra e vejo o nome de Stefan no visor.
— Hey, S.
— Karl acabou de me atualizar sobre a situação. Como estão as
coisas aí?
— Eles tiraram fotos dela, cara! Debaixo do meu nariz, porra. No
meu dicionário, isso significa que as coisas vão de mal a pior — disparo,
falhando miseravelmente em manter meu tom de voz controlado.
— Foda!
— Nem me fale! — Começo a andar de um lado para o outro.
— Sophie?
— No quarto.
Lembro-me do olhar assustado quando disse que ia tentar pintar e
tirar a cabeça daqui. Quem pode culpá-la?
O fodido fez uma ameaça direta!
E só de lembrar isso e do pavor que vi em seu olhar, quero torturá-
lo, antes de matá-lo.
Foda…
— K e T estão aqui, nos conte exatamente o que aconteceu — pede
e passo os próximos quinze minutos narrando os acontecimentos da manhã,
até a descoberta da correspondência.
— Você já falou com o funcionário que foi até o apartamento?
— Sim, o moleque jurou, de pés juntos, não ter visto o maldito
envelope branco. Só pegou algumas revistas e boletos.
— Isso significa que o envelope foi incluído aí.
— Exato. — Cada palavra sai com sabor amargo da minha boca. —
Quem quer que seja o maldito, ele tem acesso à residência, ou contatos aqui
dentro, o suficiente para plantar o envelope e passar despercebido.
— Filhos da puta! — Thorsten esbraveja, tirando as palavras da
minha boca.
— Sobre as fotos, eram de qual distância, Y? Alguma estimativa?
Isso pode nos ajudar a delimitar o raio de acesso dos fodidos.
— Não sei dizer, K, ou a câmera tem um zoom do caralho ou o
drone estava voando aqui do lado e não ouvimos. Parece que foram tiradas
a menos de dez metros de distância, essa porra.
— Foda!
— Sim… — passo as mãos pelos cabelos.
— E a mensagem, Y?
— Apenas na última foto.
— Na de vocês… — Pigarreia e eu apenas retruco.
— Sim, na nossa fodendo. Isso parece ter mexido com o cretino.
Ele tinha diversas, no carro, no baile, mas escolheu esta para ameaçá-la.
Quero sua cabeça.
— Se alguém tirasse uma foto minha mandando ver, eu também ia
querer.
— Vá se foder, K.
— Desculpa, cara. Entendo sua raiva, se alguém tirasse foto da
minha mulher e a ameaçasse, eles não veriam a luz do dia novamente.
— É o que tenho em mente.
— Parece que temos mais um soldado abatido — é Thorsten quem
provoca desta vez, mas apenas ignoro.
— Precisamos fazer algo. Se dependermos da BND descobrir algo,
estamos fodidos.
Todos concordam.
— Já faz semanas que tenho a sensação de que os cretinos querem
que ela fique na mansão. Com exceção do dia do baile, tudo acontece
quando saímos.
— Você tem razão, Y — T é o primeiro a se manifestar, mas logo é
acompanhado por S e K.
— O projeto que afeta as máfias já foi votado, não haveria motivos
para mais ameaças, ainda assim, a cada saída, eles surgem. Não fazem uma
ofensiva, é quase como se quisessem apenas que soubéssemos que estão por
perto.
— Querem que ela continue aí… — Stefan chega à mesma
conclusão que eu.
— A questão é: por quê? Se não fossem as fotos, tudo estaria
tranquilo e eu estaria confortável em ir embora.
Isso é a maior mentira, mas eles não precisam saber.
Já estou sendo zoado por menos.
— Aham… — K murmura ao fundo, mas eu escuto. Filho da puta
ligeiro.
— Precisamos intensificar a segurança. Não posso sair de perto
dela.
— Primeira coisa é organizar nossas suspeitas — Stefan começa. —
Até agora sabemos que as ameaças estão concentradas na Sophie, o
congressista não tem recebido nada, tampouco tem sido seguido ou
qualquer coisa do gênero.
— Perfeito! — devolvo.
— E se for algo relacionado exclusivamente a ela?
— Um ex? Stalker? — K é o primeiro a levantar um ponto.
— Com os albaneses envolvidos, não faz muito sentido — T
pontua.
— Concordo com o T.
— Vocês têm razão, mas que porra — S esbraveja, e mesmo a
quilômetros de distância, me sinto na sala de guerra junto com eles. — Y, o
Sr. Meyer está pensando em talvez contratar um segurança em regime
integral para Sophie.
Inferno!
Cerro os punhos e respiro fundo.
— Aposto que deve ser sugestão daquele fodido chefe de
segurança. Este filho da puta não me desce.
— Você foi chamado por conta dos explosivos, com isto riscado da
equação, não precisam mais de você. Pode ser um outro segurança, com
experiência em proteger celebridades.
— Não, caralho. Não posso abandoná-la. Não estamos lidando com
amadores.
Todos ficam em silêncio e pânico me invade.
Não posso.
— Ela… — começo, mas travo.
—Vou conversar com ele, explicar as particularidades do caso, isto
deve nos comprar algum tempo, mas precisamos descobrir alguma merda.
— Foda, sim! — retrucamos juntos.
— K, vasculhe tudo que conseguir sobre o pub — peço.
— Algum motivo em especial?
— No dia em que deixaram a caixa no apartamento dela, encontrei
uma caixa de fósforos perto do capacho. Hoje, olhando as câmeras de
segurança, vi o chefe de segurança puxar o mesmo fósforo para acender o
charuto do Sr. Meyer. Pode não ser nada, mas…
— Vale checar — S completa.
— Conte com isso — Karl sinaliza.
— E, K, faça um pente-fino no engomadinho, algo não me desce.
Faz alguns dias que não vejo o infeliz, mas não gosto do jeito que vejo ele
olhando para ela.
— Y com ciúme. É o fim dos tempos.
— Vá se foder, T. É mais que isso, porra.
— Relaxa, irmão, se alguém estivesse olhando para minha mulher,
eu também ficaria louco.
Penso em corrigir, mas foda-se.
Para todos os efeitos, Sophie é minha.
Enquanto eu estiver aqui… ela é.
Depois que ela estiver segura, poderá voltar para sua vida, enquanto
eu sigo a minha.
Que será vazia sem ela…
Mas que caralho!
Coloque a cabeça no lugar, cacete.
— Só chequem, ok. Estou com um mau pressentimento.
Todos ficam sério, sabem que meu radar para merda não costuma
falhar.
— Estaremos todos nisso, Y — Stefan anuncia e todos respondem
dando um Hurra.
Foda, como eu amo os caras.
— E, Y… Sophie é sua prioridade, o que a torna a nossa prioridade.
Somos família.
— Família!
E a gente cuida dos nossos.

— Você está longe, aposto que nem tem prestado atenção no filme
— comenta, virando o rosto na minha direção.
Faço uma careta, pois ela não poderia estar mais certa.
Depois que desliguei com os caras, até tentei me distrair, trabalhar,
mas foi inútil. Não consigo tirar aquelas fotos da cabeça.
Na minha mente há a interrogação constante: o que não estamos
vendo?
Depois de almoçarmos um lanche, sugeri assistirmos a um filme
juntos.
O pedido tinha um único propósito: distraí-la por algumas horas,
tirar as preocupações da sua cabeça.
— Desculpe.
— O que foi? Achei que a ideia era nos distrairmos, uma mão boba
aqui e acolá, talvez. — Dá uma piscadinha e um sorriso brota no meu rosto.
— O plano era exatamente esse, mas…
— Você não fez a sua parte! — devolve, desligando a TV, virando o
corpo na minha direção.
— Culpado! — reconheço, afastando uma mecha de cabelo do seu
rosto. — Preocupado só, linda.
— Com as fotos?
— Com você… — Acaricio seu rosto. — Este puto está mais perto
do que eu gostaria.
— Tenho você — retruca, mas sei que está tão preocupada quanto
eu.
— Você me tem — afirmo, me perdendo nos seus olhos
esverdeados. — Por inteiro.
Ela sorri e é um soco no estômago.
Pensar em alguém tocando num fio de cabelo dela, acaba comigo.
Não quero admitir, mas estou com medo.
De não ser o suficiente…
De perdê-la.
— Esquece eles agora, esquece as fotos… — pede, depositando um
beijo no meu peito — Me faz esquecer. — Segue, deixando uma trilha de
beijos.
— Vou fazer você esquecer tudo… que não seja apenas eu e você…
aqui, agora. — Minha voz soa rouca, necessitada, quando agarro sua nuca e
me viro, aprisionando-a sob meu corpo.
— Niki…
— Princesa…
Ficamos nos fitando, em silêncio. Se ela ia dizer algo, desistiu.
Não perco mais tempo, roço meus lábios nos seus. Suave, lento…
explorando, querendo que dure.
— Só nós dois, linda — gemo contra sua boca.
— Eu e você — sussurra no meu ouvido e é como se algo dentro de
mim rachasse.
Vou te mostrar, Sophie. Tudo que não consigo colocar em palavras.
Libero sua boca, deixando uma trilha de beijos no seu pescoço, colo. Enfia
a mão sob a minha camisa, e seu toque é como brasa. Queimando por onde
passa.
Me afasto apenas o suficiente para me livrar das minhas roupas e
ela faz o mesmo, puxando a blusa sobre a cabeça e deslizando a calça e
calcinha, sem desviar o olhar do meu.
Linda!
Minha.
— Preciso te provar, linda…
Abre as pernas, num convite, e não desperdiço um segundo sequer.
Agarro suas coxas, puxando sua boceta ao encontro da minha boca,
coloco a língua para fora e passo a deslizar pelas dobras úmidas.
— Porra, Sophie.
— Ohh… — arfa, agarrando o lençol, enquanto eu sigo lambendo,
de cima a baixo, tomando meu tempo, para então circular seu clitóris
devagar, antes de abocanhá-lo, sugando forte.
— Yannik — grita, agarrando meus cabelos, e eu ignoro,
continuando a chupar.
— Delícia — declaro, puxando seu grelo inchado, antes de metê-lo
inteiro na boca, sugando de forma rítmica.
Sophie se remexe, mas eu a mantenho firme sob meu ataque.
Enfio dois dedos na boceta apertada e sigo torturando, tomando
tudo que ela tem para me dar.
Sinto suas coxas tremerem e aumento a velocidade das estocadas.
— Ohh, Deus! Ohh… — geme, alucinada, erguendo o quadril,
cravando as unhas no lençol.
— Goza, linda, aperta meus dedos, porra — rosno, puxando seu
clitóris entre os dentes, sentindo seu corpo convulsionar num orgasmo
poderoso.
Tiro os dedos e passo a fodê-la com a minha língua, mantendo-a
firme, enquanto puxo sua boceta ao meu encontro.
— Gostosa — gemo, lambendo seu gozo, como o homem sedento
que sou. — Caralho, linda.
— Humm… — geme, o corpo ainda tremendo.
— Esta boceta é minha… — Pressiono seu clitóris com o polegar e
ela arfa em resposta.
— Por favor, Niki — pede, erguendo o quadril, mas eu mantenho
meu rosto enfiado entre suas pernas, provocando, tocando.
— Diga que é minha. — Minha língua desliza pelas dobras
encharcadas, tomando cada gota do seu prazer.
Seu olhar está no meu… e é faminto como o meu.
Nunca fui tão possessivo como agora.
Mas, inferno, eu quero ouvir.
— Sua — declara, sem desviar o olhar. — Eu sou toda sua.
— Porra, sim!!!
A viro de bruços, erguendo seu traseiro e a penetro com um único
movimento.
— Ahhh...— gemo, usando todo o autocontrole para não gozar,
enquanto sua boceta me estrangula.
Me afasto, só para voltar a arremeter dentro dela, fundo.
— Não pare.
Nunca…
Seguro o seu quadril com uma mão e passo a estocar rápido,
entrando e saindo, enquanto seus músculos me apertam cada vez mais.
— Preciso de você. — Sua voz é quase um murmúrio, mas eu
escuto e, droga, se não reflete o que eu sinto.
— Você me tem, princesa — respondo, provocando seu clitóris com
a mão livre.
Minhas bolas apertam e sei que estou por um fio.
Lambuzo meus dedos nas suas dobras e pressiono dois contra o seu
cu, vendo-os desaparecer.
Sophie joga a cabeça para trás, gemendo alucinada.
— Foda… sim, me aperta. Caralho, princesa… — gemo, metendo
rápido e forte, sentindo sua boceta e cu convulsionarem ao meu redor,
quando ela grita meu nome num orgasmo avassalador.
É demais…
Explodo, gozando forte, enchendo-a com a minha porra.
Desejando marcá-la como minha, não somente agora.
Para sempre!

Não faço ideia de que horas são. É madrugada. Sophie dorme


tranquilamente nos meus braços, a mão espalmada no seu peito. E por mais
que eu queira negar, nunca me senti tão feliz, como nestas últimas semanas.
Mesmo com todo o caos sobre nossas cabeças, tê-la… comigo, as sensações
que ela desperta em mim, faz cada segundo valer a pena.
Uma notificação dispara no notebook, na mesa de cabeceira, e meu
corpo fica em alerta. Não é aviso de ronda, não a esta hora. O único aviso
que configurei no computador é merda séria, quebra de perímetro.
Com cuidado, saio da cama e pego minha pistola, conferindo o
pente. Não houve abertura de nenhuma janela ou porta, tudo permanece
fechado. A casa está segura. O que quer que seja, está lá fora… ainda.
Uma olhada na tela mostra que foi o sensor no fundo da casa que
acionou.
Pode ser um animal?
Pode… Mas algo me diz que não é.
Sophie se remexe na cama, mas continua dormindo.
Deixo o quarto, em silêncio, verificando cada ponto com cautela.
Desço as escadas com a arma apontada para a grande porta de vidro da
entrada.
Nada. Apenas escuridão e silêncio.
Confiro todas as portas, janelas e permaneço não sei quanto tempo
observando as câmeras ao redor da residência.
Arma em punho, dedo no gatilho.
O que quer que tenha passado por ali, já foi embora. Mas a
sensação ruim não deixa meu peito.
A tempestade está chegando!
Highway to Hell — AC/DC
Thunderstruck — AC/DC

A primeira coisa que faço é olhar ao redor da casa, à procura de


qualquer indício. Qualquer coisa. A trezentos metros da propriedade,
encontro minhas respostas. No início do perímetro. Um par de pegadas.
Bota militar. E duas bitucas de cigarro.
Ainda que os putos tenham deixado digitais, o orvalho da manhã
deve ter arruinado qualquer vestígio.
Foda… nada para ajudar.
Olho na direção da casa e nem fodendo que as câmeras pegam esta
área com tantas árvores ao redor.
Os fodidos sabiam até onde podiam ir. Ficaram no meio da
vegetação. O local tem uma ótima visão para a varanda e para a janela dela.
Tiro uma foto e encaminho para K.
Hora de fazer uma visita para o Sr. Meyer, e colocar as cartas na
mesa.
Encontro-a na cozinha, linda como sempre, numa legging que
deveria ser proibida e com um agasalho chumbo.
— Aí está você. — Sorri, enquanto passa manteiga numa torrada.
— Acordou cedo.
— Não consegui dormir direito. Madruguei e precisava conferir
algumas coisas.
— O que houve? — Apoia a torrada sobre o prato e passo as mãos
pelos cabelos, pensando a melhor forma de abordar o assunto.
Que caralho.
Me sinto o mensageiro do apocalipse, ultimamente. Notícia ruim
atrás de outra.
— Sem segredos… — Se aproxima e apoia as mãos no meu peito.
— Queria que você pelo menos tomasse café, linda. — Roço meus
lábios nos seus, a puxando de encontro ao meu peito.
— Eu aguento. Dispara de uma vez.
Conto tudo.
Desde o alarme na madrugada até o que descobri agora.
— Por que não me acordou? — questiona, aflita.
— Não foi necessário. — Dou de ombros. — Eles estavam lá fora,
observando.
— Observando?
— Seja quem for, sabe que a casa está sendo monitorada. Foi por
questão de centímetros que soubemos que eles estavam aqui perto.
— Eles sabem que você sabe?
— Não. Provavelmente, acreditam que os sensores estão num raio
de cinquenta metros, como é o usual.
— Isso é bom, certo?
Aceno que sim.
— O que quer que estejam planejando, está próximo.
— Isso não é nada bom!
— Se não podemos evitar, vamos nos preparar!
— Preparar?
— Vou te explicar, linda, mas primeiro, precisamos fazer algumas
coisas.
— O quê?
— Já avisei Stefan, mas seu pai precisa saber.
— Meu Deus, ele vai ficar desesperado.
— Ele tem que estar mesmo!
Se sobressalta e me arrependo de ser tão direto.
Foda… filtro, otário.
— Outra coisa, o bracelete que te dei — começo.
— Guardei no meu quarto — devolve.
— Quero você com ele — pauso, tentando ser racional, por mais
que a ideia seja uma facada no peito —, caso…
— Caso me peguem… tem o rastreador — aponta, me fitando e
vejo seu receio a cada palavra.
Porra.
— Sim, princesa. Temos que pensar no pior cenário, caso eles te
peguem, a pulseira vai ser essencial para que eu ou os caras cheguem até
você.
Arregala os olhos, assimilando o significado.
— O que você quer dizer, com os caras e não você? — pergunta e
faço uma careta.
—A pulseira é só uma cautela extra — desconverso.
— Olha para mim — pede e encontro seu olhar. — O que você está
querendo dizer?
— Se chegarem até você, há grandes chances de eu estar morto.
— Não… não… — Começa a andar de um lado para o outro,
nervosa.
— Hey, estamos apenas trabalhando com cenários aqui, não planejo
morrer tão cedo, linda. — Pisco, mas ela ignora.
Agarro seus ombros, fazendo com que pare na minha frente.
— Eu preciso que você entenda — começo e seus olhos marejados
estão nos meus — que eu vou fazer tudo ao meu alcance para te proteger, e
isto significa levar uma bala por você.
— Eu… não…
— Se algo acontecer comigo, saiba que a cavalaria estará a
caminho. Apenas resista, linda. Stefan, Karl, Thorsten e todo o inferno virá
por você, porque eles são a minha família e nós cuidamos dos nossos.
— Não quero pensar nisso — retruca, uma lágrima escorrendo pela
bochecha.
— Eles virão, não porque você é minha missão… — Passo meu
indicador pela sua bochecha, secando seu choro. — Eles virão porque
sabem que você é importante para mim, porque sabem que eu morreria por
você, princesa.
Seus lábios tremem e meu peito parece a ponto de explodir.
— Eu estou com medo, Niki.
— Eu também estou — reconheço, sem deixar de fitá-la. — Mas a
vontade de foder com estes filhos da puta e te ver segura, é maior.
— Prometa… — começa, e a olho com curiosidade. — Prometa
que é você que virá atrás de mim, caso alguma merda aconteça.
— Sophie…
— Eu não aceito qualquer cenário diferente! — Sua voz falha. — É
você! Você é meu guarda-costas, não eles… é você… prometa! —
esbraveja, um soluço escapando do seu peito.
— Eu… — Seguro sua nuca com firmeza e ela me olha, séria, sem
titubear.
Colo meus lábios nos seus, puxando seu corpo para o meu. Sophie
corresponde, abraça minhas costas, apertando seus dedos com força. Não é
suave, é intenso… carregado de palavras não ditas.
De promessas que pretendo cumprir.
Eles mexeram com a mulher errada.
Eles mexeram com a MINHA mulher.

A caminhada até a mansão é feita em silêncio.


Sophie está com o bracelete no pulso direito e, quem olhar,
realmente pensará que é uma joia.
Aperto sua mão e dou um sorriso encorajador.
— Estamos bem — sussurro.
Acena e sorri, mas é algo tímido. Não como o sorriso lindo que eu
adoro ver em seu rosto.
— Olha só quem resolveu sair da toca. — A governanta se
aproxima com um olhar curioso. — Tudo bem, querida?
— Sim, Má, viemos conversar com meu pai.
— Ele está no escritório com o Sr. Koch.
Meu corpo fica tenso ao ouvir o nome.
— Será que está muito ocupado?
— Vou avisar que está aqui, querida. Enquanto isso, vou pedir para
trazerem uns sucos e pãezinhos para vocês. Aposto que nem tomaram café.
Seu olhar está em mim e realmente comer não está na minha de prioridades
no momento.
Foder com alguns filhos da puta, sim.
— Obrigada, Má.
A senhora some em direção ao escritório e, poucos minutos depois,
surge novamente.
— Estão terminando algo e já te atende, querida.
Dez minutos depois, a grande porta de madeira abre e a visão não
poderia ser pior.
Engomadinho e o chefe de segurança, seguidos pelo Sr. Meyer, que
não parece estar num bom dia.
Adivinhe, ele está para piorar.
Sophie e eu nos levantamos e cerro os punhos ao ver o filho da puta
se aproximar com um sorrisinho no rosto.
Respira, porra.
Você não tem nada contra o infeliz.
— Kief, Rainer… — ela cumprimenta.
— Srta. Meyer, Sr. Bauer, espero que não haja nenhum problema.
— O chefe de segurança é o primeiro a abrir a boca.
— Tudo mais que perfeito — me adianto e Sophie pega a dica,
sorrindo para mim.
— Sim, só viemos dar uma passadinha aqui — complementa,
ligeira.
O engomadinho não diz nada. O olhar fixo nela, como um cachorro
babando sobre um osso.
— Ótimo! — o segurança devolve, o olhar fixo no meu. — Neste
caso, vamos deixar vocês… — troca um olhar com o outro — …à vontade.
Sim, filho da puta. Vaza.
Sophie se adianta na direção do pai e eu fico alguns passos para
trás.
Minha nuca coça.
Viro o rosto para o lado, apenas para encontrar o que já imaginava.
Os dois conversando, com o olhar fixo, não em mim, mas nela.
Merda…
Me apresso em direção ao escritório, fechando a porta atrás de
mim.
Puxo do meu bolso um equipamento de contraespionagem e
começo a circular pelo local.
— Sr. Bauer, poderia me explicar o que está fazendo?
Faço sinal de silêncio, ao mesmo tempo em que coloco uma música
no meu celular. O congressista me olha, sem entender merda nenhuma e a
julgar pela sua expressão, está pronto para fazer mais perguntas.
— Procurando qualquer sinal de escutas ou câmeras, sem fio —
sinalizo, agora protegido pelo som.
— Escuta?
— Grampo — explico. — Se colocaram algo aqui, esta belezinha
detecta a transmissão de vídeo e áudio.
— Tenho certeza que não há com o que nos preocuparmos. Na
verdade, de acordo com o último relatório que recebi, não há mais motivos
para preocupação.
O aparelho não sinaliza nada. Não aqui, pelos menos.
— O escritório está limpo — atesto, guardando o aparelho no bolso
da minha calça e abaixando o som. — E o seu relatório está furado.
— Perdão?
— Este relatório, o que recebeu da BND, é um monte de merda.
— Sr. Bauer, receio que tenha que falar com seus superiores… —
começa e interrompo, colocando as cartas na mesa.
— O que é isso?
— Fotos tiradas da Sophie, aqui, no baile… — Claro que omiti a
nossa transando, afinal, não quero matar o velho do coração, e estas já
conseguiriam atrair sua atenção.
— Como?
— Alguém aqui dentro ou um drone, são os principais suspeitos.
— Achei que isso tinha acabado. Não houve mais bombas ou
cartas.
— Aí que o senhor se engana.
— Pai, é melhor o senhor se sentar.
— Que carta?
— Junto com as fotografias, veio uma ameaça dirigida diretamente
para a Sophie.
— Oh, Deus… — Se joga na poltrona.
— Ainda não sabemos se estão mirando Sophie para atingir o
senhor, ou se o alvo é ela — admito e frustração inunda minha voz.
— Sophie, querida, você poderia passar um tempo nos Estados
Unidos, temos amigos, parentes… — começa, e nem perco tempo
esperando a conclusão.
— Não temos garantia que não irão segui-la até lá.
Me olha, e não está mais o congressista ali, mas um pai
preocupado.
— Tem razão, filho, eu… não sei mais o que pensar. Rainer disse
que isso talvez ajudasse e eu preciso de ideias.
Rainer.
— Foi ele quem sugeriu para o senhor contratar outro segurança
para a Sophie?
— Como assim? — ela dispara. — Eu não quero outro segurança…
bem da verdade, eu nunca quis nenhum, para começo de conversa.
— Não foi Rainer. — O velho se serve de uma dose de uísque.
— Deixe-me adivinhar, o engomadinho?
— Quem? — pergunta e só então percebo que não o chamei pelo
nome.
— Foi o Kiefer, pai? — ela questiona, e eu já estou puto, andando
de um lado para o outro, aguardando sua resposta.
— Sim, foi ele — reconhece e cerro os punhos, me controlando
para não ir atrás desse cretino. —Kiefer conhece muitos guarda-costas de
outros políticos e artistas, está tentando ajudar.
Claro que sim.
— Ajudar? O senhor realmente acredita nisso?
Silêncio.
Respiro fundo.
— Há alguém da sua equipe envolvido, Sr. Meyer.
— Isto é absurdo. Não há nenhuma evidência disso, rapaz.
— Encontrei pegadas hoje ao redor da casa — disparo e Sophie se
abraça ao meu lado.
— Não pode ser — balbucia, surpresa em cada músculo do seu
rosto.
— Veja por si mesmo. — Coloco meu celular sobre a mesa.
— O que vamos… fazer? — A voz falha.
— Primeira coisa, nada do que falamos aqui pode chegar ao Rainer,
ou ao Kiefer. Porra, para ninguém daqui. O senhor entendeu?
Acena que sim e me forço a me acalmar.
Que situação do caralho.
— Vamos continuar como se não soubéssemos. Eles estão ficando
cada vez mais audaciosos e podem deixar pistas. Vou intensificar a
vigilância ao redor da casa e ver com Stefan, se não conseguimos infiltrar
alguém da USC na portaria, seria bom ter alguém confiável na equipe.
— Tudo o que for necessário.
— O senhor estará por aqui na próxima semana?
— O fim de semana inteiro, até quarta. Só então viajo para Berlim.
Sem compromissos.
— Ótimo. Talvez tenhamos que fazer novos alinhamentos e prefiro
tratar das coisas pessoalmente, e não com seu assessor.
— Ok, filho.
Aceno e caminho até a porta, vendo o momento em que ele abraça
Sophie e sussurra:
— Vai ficar tudo bem, meine Lilie.
— Estou bem, pai. Yannik está cuidando de mim. Se preocupe com
o senhor. Não sabemos o que estes loucos querem.
— Eu sou velho, já vivi o suficiente, só me preocupo com você,
querida.
— Ah, pai… — Acaricia seu rosto, e então caminha até mim e
inocentemente entrelaça os dedos nos meus e isso não passa despercebido
ao congressista. Ele percebeu, mas eu não poderia me importar menos.
Não vou recusar ou afastá-la.
— Sr. Meyer — chamo, atraindo seu olhar para o meu rosto —, o
senhor já foi no Floyd’s Pub?
— Não, mas já ouvi falar, vários colegas vão lá. Kiefer disse que é
bom. Por quê?
— Curiosidade, apenas. — Então o engomadinho é um cliente,
interessante isso. — Boa tarde, Sr. Meyer — me despeço, apertando forte
sua mão.
— Para você também, e, Sr. Bauer… — Aperta meu ombro e então
sussurra no meu ouvido: — Cuide da minha filha.
— Deixe comigo, senhor — devolvo, sem desviar o olhar do seu.
Sophie o abraça forte e dez minutos depois conseguimos finalmente
sair da casa principal, sob fortes protestos da governanta, que queria de tudo
quanto é jeito que almoçássemos lá.
Felizmente, Sophie conseguiu convencê-la que tínhamos que voltar
logo para a casa de hóspedes, o que é ótimo, pois preciso muito falar com
os caras.
Estou curioso para saber se Karl conseguiu algo nas suas pesquisas.
O céu está nublado e uma brisa gelada varre o pátio, sinalizando
que o tempo vai mudar.
Folhas secas lotam o piso ao redor da piscina e meu olhar vai
imediatamente para as estátuas que adornam o local.
— Qual é a do seu pai com os leões? — Aponto na direção da
escultura próximo da cascata. — Vi outros enfeites lá dentro também. —
Gesticulo na direção da casa e ela ri.
— Você reparou? Desde que me lembro por gente, meu pai tem
inúmero objetos com leões, estátua, peso de papel, é leão para tudo quanto é
lado. — Dá de ombros. — Acho que não é à toa ele ser chamado de “Leão
de Bonn”, bem isso, ou pelo fato de ele defender com unhas e dentes os
seus ideais. O homem é teimoso.
— Interessante.
— Minha mãe costumava dizer que lá fora ele podia ser Leão, mas
em casa quem mandava era ela — comenta com o olhar longe e lamento ter
trazido o assunto à tona.
— Desculpe, princesa. Não queria te fazer lembrar de coisas tristes.
— Não se desculpe — me interrompe. — É sempre bom lembrar
dela, da sua sabedoria…. eu só tenho saudade.
— Eu te entendo. — Acaricio seu rosto, colocando atrás da sua
orelha uma mecha teimosa que insiste em cair no seu rosto.
— Porra! — disparo, mal acreditando no que estou vendo. As peças
começam a juntar na minha cabeça.
Nem fodendo…
— O que foi?
— O que é isso? — Toco sua orelha.
— Meu brinco? — Me olha confusa e apenas aceno. — É uma
lembrança. Foi um presente que ganhei da minha mãe, aos dezoito anos.
— É uma flor, certo? — questiono, o coração acelerado.
— Sim, um lírio. Ela amava lírios e costumava me chamar de…
— Meine Lilie… — completo, recordando a forma como seu pai a
chamou agora.
— O que está havendo, Niki?
Memórias do meu cativeiro me atingem.
A conversa louca deles. Achei que eu estava delirando, mas não.
“Para adestrar o leão, precisamos adubar o lírio.”
A conversa sem nexo, agora faz sentido.
Só pode ser isso…
Nunca foi sobre a Sophie, ela é só um meio para chegarem ou
conseguirem algo do seu pai, o Leão.
Os filhos da puta estão tramando isso há meses.
Inferno!
— Precisamos ligar para os caras, agora. — Seguro firme sua mão
e acelero os passos.
— Você está me assustando.
— Você vai entender quando eu falar com eles — aponto e ela
concorda, acelerando o ritmo.
Agarro meu celular e disco para o Karl.
— Fala, Y.
— Preciso falar com vocês… agora.
— Algum problema?
— Um norte.
— Te ligamos da sala de guerra.
— Fechado.

— Porra, Y. Por que não comentou nada sobre isso antes? — S


questiona.
— Foda, eu achei que tivesse ouvido algo sem nexo. Não preciso
lembrá-los que me fizeram de saco de pancada lá — justifico e Sophie me
olha, preocupada. — Já estou melhor, princesa — tranquilizo, e só então
percebo que os caras ouviram.
Foda.
Karl pigarreia e certeza de que está dando risada. Eu apenas sei.
— Além disso, só percebi a quantidade enorme de leões nesta
propriedade hoje.
— Bem, pelo menos a teoria de estarem apenas atrás da Sophie está
descartada — Thorsten se manifesta e todos concordamos.
— A hipótese de termos alguém infiltrado é ainda maior. A pessoa
sabe sobre os leões e o apelido — K dispara e não poderia concordar mais.
— Querem usar ela, de alguma forma, contra o pai. A questão é
como e para quê.
— Talvez seja bom separá-los? — Stefan dispara. — Pensem bem,
tudo indica que querem os dois no mesmo local.
— Faz sentido. Sempre que estivemos fora, fomos atacados. Eles
nos querem aqui!
O que os putos estão tramando?
— Isto está fedendo.
— Você está no viva-voz, K.
— Oh, merda. Desculpe, Sophie!
— Não por isso. Já escutei pior aqui, acredite.
Todos riem.
— Imaginamos.
— Hey, estou aqui, caralho.
— Como eu dizia… — minha linda debocha e me pego sorrindo.
Foco.
— A questão é: para onde ir? — disparo, sabendo como a hipótese
deve soar aterrorizante para ela.
Já teve a vida virada do avesso ao ter que sair do seu apartamento e
vir para cá. Ir para algum esconderijo, só em último caso.
— Não é o melhor cenário, mas o alojamento é sempre uma opção.
Deixo para você avaliar, cara.
— Valeu, S.
—Ei, Y, estou trabalhando numa outra frente — Karl anuncia e isto
me atrai, muito. — Te ligo assim que os robôs terminarem.
— É quente?
— Tudo indica que sim.
— Quanto tempo?
— Mais algumas horas, no máximo. São teras de dados sendo
analisados.
— Ok, K. Se puder ajudar com algo, me avise.
— Tranquilo, irmão. Te chamo assim que concluir.
— Fechado.
— E, Y — é Stefan novamente —, cuidado com as costas, irmão.
Vou tentar colocar alguém nosso na equipe de segurança do Sr. Meyer.
Porra, por mim Sven já estava aí como apoio.
— Chamaria muita atenção. Precisamos manter as aparências.
Vamos torcer para K fazer sua mágica ou, no caso, seus robôs fazerem —
provoco.
— Ei, eu ouvi isso…
— Tem razão. Nos falamos. Se cuidem aí e qualquer problema,
ligue.
— Nada de bancar o herói. — A voz de Thorsten se eleva e não me
contenho.
— Sim, senhor! — Os putos riem e desligo com um sorriso no
rosto.
— Você não brincou quando disse que são família — comenta, me
observando.
— Eles são os irmãos que a vida me deu. Aqueles que eu escolhi…
e não tenha dúvida, são os caras mais fodidos que você vai encontrar na
área.
— Modesto você, hein?
— São apenas fatos, linda.
— Bem, se dependermos do seu ego para pegarmos quem está por
trás disso tudo, sei que estamos bem.
— Ouch! — Coloco a mão no peito. — Vou te mostrar o tamanho
do meu ego — provoco, puxando-a para meus braços, roçando meus lábios
nos seus.
Ela gargalha e é bom esquecer por pelo menos uns segundos, os últimos
acontecimentos e toda preocupação que nos cerca.
— Acha que eles vão voltar a nos observar hoje?
Lá está a tensão de volta.
— Não sei — admito —, mas se vierem, estaremos preparados. —
Acaricio seu rosto. — Manter você segura é tudo que importa.
Roça os lábios nos meus, sem dizer nada. Não há necessidade.
— A vontade é te levar pro quarto e te lembrar do meu ego gigante,
mas… — Olho na direção do notebook e ela morde os lábios, segurando
uma risada.
— Vou deixar você trabalhar e tentar terminar o quadro em que
estou trabalhando. Seu ego… fica para mais tarde. — Dá uma piscadinha.
— Parece um bom plano. Vou conferir as câmeras, sensores,
alarmes e depois ver se o K tem boas notícias.
— Boa sorte! — dispara, caminhando em direção às escadas.
Acompanho cada movimento seu. Não conseguindo ter o suficiente
dela.
Suas últimas palavras ecoam na minha cabeça. “Sorte.”
Neste tipo de trabalho, não contamos com sorte, é planejamento,
estratégia, sangue-frio e boa pontaria, mas reconheço que uma ajudinha dos
céus cairia bem.
Ainda mais quando a missão é pessoal.
Não adianta negar…
Desde que eu soube que deveria protegê-la, eu já estava perdido.
Quem precisava de proteção era eu, mas agora já é tarde.
Sophie me tem…
Totalmente.
Master of Puppets — Metallica

Cinco minutos.
Cinco fodidos minutos.
Podem me chamar de paranoico, mas algo não está certo.
Eu apenas sei.
O alarme soou no meu celular exatamente como tem ocorrido nos
últimos meses, pontualmente.
O único problema?
A ausência da segurança fazendo a patrulha do perímetro.
Martelo as teclas do notebook alternando as câmeras, procurando
mais informações. Torcendo para ver os cretinos fumando em algum canto,
quando deveriam estar circulando ao redor da propriedade, mas encontro
um monte de nada.
Foda…
Mudo para a câmera 15, a da central de segurança, próximo do
portão principal.
Fora de serviço.
Mas que merda. Há algo acontecendo.
Olho para a janela e já está escuro.
Mando uma mensagem para K, perguntando se ele consegue ter
visão da central, torcendo para que seja algo pontual nos meus
equipamentos. A negativa vem poucos minutos depois, seguido da
mensagem: “Te ligo, 5 minutos”.
— Sophie — grito, precisando tê-la na minha visão.
Pense, porra.
Subo as escadas, saltando os degraus de dois em dois.
— Princesa… — Abro a porta e a encontro vestindo um agasalho.
— Se preparando para ir a algum lugar? — disparo, o coração batendo
acelerado no peito.
— Martha acabou de me ligar — faz uma careta —, pediu para que
fosse urgente até lá.
— Agora?
— Ela disse que fez meu bolo preferido, um bolo de maçã, mas que
não consegue trazer, pois estão com visitas — explica. — Fiquei sem graça
de dizer não, afinal, ela sempre traz as coisas aqui para nós.
— Isso está estranho — começo, espiando pela janela.
— Nem me diga. Martha sabe que meu bolo favorito é chocolate,
não sei de onde ela tirou maçã, deve estar muito atarefada.
— Não… há algo acontecendo — solto e ela me olha, sem entender
nada.
Confiro o pente da minha pistola e coloco no coldre das costas, sob
seu olhar atento.
— O que vamos fazer? Devo avisar que não consigo ir? —
questiona, aflita.
— Nós vamos — friso o nós, pois não há nenhuma chance de ela ir
lá sozinha. — Está com o bracelete? — pergunto e ela mostra. — Se
encontramos qualquer sinal de perigo, por menor que seja, quero que volte
correndo para cá e se esconda na passagem secreta sob a bancada da
cozinha.
— Como é?
— Só me escute — peço, a cabeça a mil. — Não disse antes, pois
não imaginei que fosse necessário. — Agarro sua mão e desço as escadas
com pressa. — Eu conferi as plantas da mansão. Muito antes de vocês se
mudarem para cá, foram construídos túneis, saindo da casa principal,
conectando um depósito que havia aqui, onde hoje é a casa de hóspedes e o
pequeno depósito na ala norte do estacionamento.
— Onde meu pai guarda um monte de ferramentas?
— Sim, os túneis ligam estes três lugares.
— Eu nunca soube, meu pai nunca comentou.
— Na certa, nunca achou que fosse necessário. É algo antigo, nem
sabemos as condições do lugar, mas você pode se esconder, em caso de
perigo.
— Quando você achou?
— Umas semanas atrás, à noite. Aqui. — Aponto na direção da
base da bancada na cozinha.
— Não vejo nada.
— Esta é a ideia. Quem olha de fora, pensaria que é apenas um
revestimento de madeira rústico, combinando com o restante da casa, mas
ao tocar aqui — mostro o pequeno detalhe da madeira — uma porta de
pouco mais de um metro de altura se abre, dando para uma escadaria que
leva ao túnel.
— Você entrou aí? — Sophie se abraça ao meu lado.
— Apenas alguns metros.
— E você quer que eu entre? — Arregala os olhos, em choque. —
Não quero nem pensar no que pode ter neste buraco.
Seguro seus ombros, fazendo com que me fite.
— Se for necessário, você vai entrar aqui, entendeu? Não estou
brincando, princesa.
Ela acena e alívio invade meu peito. Devia ter falado com ela antes
e não assim, à queima-roupa. Respiro fundo, olhando para as câmeras no
notebook.
Nada.
E como se não houvesse segurança.
— Se algo acontecer, preciso que entre e aguarde a ajuda chegar.
— Fica comigo — pede.
— Vou fazer o possível para isso, linda. — Acaricio sua bochecha.
— Vamos que a Martha deve estar te esperando.
O vento frio nos recebe, mas quase não sinto. Todos meus sentidos
estão focados ao nosso redor.
Silêncio.
Sophie entrelaça os dedos nos meus e começamos nossa caminhada
rumo à mansão.
Meu celular vibra.
Karl.
Porra, sim.
— Espero que tenha boas notícias, porque alguma coisa me diz que
algo grande está para acontecer.
— Foda, Y. — Parece nervoso, o que é raro.
— Cospe.
— Encontrei merda pesada… achei muito estranha a ficha
impecável do cara e seu radar não costuma falhar. Kiefer Koch não é seu
nome real, ele nasceu como Jurgen, filho de Johann e Petra, uns fodidos
extremistas, raça pura, aos doze anos ficou órfão, após um embate do grupo
paramilitar em que seus pais estavam envolvidos entrar numa confusão com
a polícia. Sem familiares próximos, foi parar num orfanato. Passou por
algumas casas de custódia, mas nunca ficava mais que alguns meses.
Sempre era devolvido. Aos dezoito, veio para Berlim e o resto da ficha bate,
faculdade, e ingressou na política.
— Como não vimos isto antes? — Mal reconheço minha voz.
— Não sei como ele conseguiu, na certa molhou a mão de pessoas
grandes no sistema, fato é que sua ficha estava lacrada e como ele mudou
de nome aos dezoito anos, não havia nada que indicasse um passado
diferente do que ele vende nas redes sociais. A imagem e vida que criou,
desde então.
— Como descobriu?
— Ele realmente é um frequentador do pub. Numa das visitas, três
meses atrás, uma câmera de segurança de um estabelecimento do outro lado
da rua pegou ele e um outro homem mais velho saindo e entrando num
carro. Depois de muito cavar, descobri quem era.
— Estou até com medo de perguntar o nome.
— Ulrich Bambach.
— Porra, você está de brincadeira.
O filho da puta é famoso por uma série de ataques xenofóbicos
contra mulçumanos e outros estrangeiros que imigram para a Alemanha. Foi
responsável por diversas mortes num ataque com bomba numa mesquita,
anos atrás.
— Achei que este puto estava apodrecendo na cadeia.
— Eu também — devolve e, pelo seu tom de voz, sei que não
acabou por aí. — Ele é o tio do Kiefer ou, no caso, Jurgen Bambach.
— Caralho, coincide quando as ameaças começaram.
— Sim, quando eles se encontraram. Foda, Y. É pior do que
imaginávamos.
Sinto um arrepio percorrer meu corpo e então vejo, a pouco mais de
uns duzentos metros de distância, no alto da escadaria que leva para a
mansão, com dois homens fortemente armados ao seu lado, que de longe
reconheço, com membros da equipe de segurança, ele, olhando diretamente
para nós, com um sorrisinho no rosto.
Filho da puta.
— Y, você está me ouvindo? Procure abrigo, até nós chegarmos.
Estamos falando de extremistas fortemente armados e com conexões na
máfia albanesa.
Tarde demais…
— Quanto tempo até vocês chegarem aqui? — devolvo, apertando
a mão da Sophie e reduzindo a velocidade do nosso passo.
— Quarenta minutos — começa e escuto-o gritando ordens ao
redor.
— Preciso que faça em menos, irmão. A festa já começou por aqui
— digo e ele entende a mensagem.
— Foda, Y. Se cuide, irmão. Estamos a caminho — dispara e
desliga.
Respiro fundo, sabendo que não há alternativas. Se caminharmos, a
morte é certa. Reconheço o olhar sádico do filho da puta. Preciso tentar
colocar uma distância entre eles e ela.
— Princesa — sussurro, apertando levemente sua mão.
— Niki — devolve, a voz quase um sopro.
— Quando eu disser “agora”, preciso que corra, o mais rápido que
conseguir até o esconderijo. Sem olhar para trás.
— E você? — Sua voz preocupada é com uma faca no meu peito.
— Eu vou atrasar eles… e estarei logo atrás de você.
— Eu…
Viro o rosto rapidamente na sua direção e sem que ela tenha tempo
de argumentar algo, puxo a arma do coldre, ao mesmo tempo em que sopro
na sua orelha.
— Agora!
Os seguranças erguem as armas e começam a disparar na nossa
direção.
Empurro Sophie na direção das árvores e vejo pelo canto dos olhos
o exato momento em que ela começa a correr.
Busco proteção atrás de um tronco, me camuflando na vegetação,
enquanto eles se aproximam, disparando a submetralhadora sem dó.
Escuto gritos e então os tiros cessam.
— Parem de atirar, imbecis. Precisamos dela viva, porra.
Uma boa notícia, finalmente.
Respira.
Preciso garantir que não coloquem suas mãos nela.
— Encontrem eles. Quero Sophie, quanto ao guarda-costas, matem!
Andem!
Me concentro em escutar seus passos. Preciso pegá-los antes que a
alcancem. Confiro meu pente, a munição está no fim. Tenho que fazer valer
cada bala. Puxo minha faca tática e escuto o exato momento que um dos
filhos da puta pisa numa folha seca a poucos metros de distância. Não
escuto o outro, o que significa que se separaram.
Merda…
Jogo uma pedra para o lado oposto e quando ele se vira naquela
direção, dou o bote, cortando sua garganta, num movimento preciso.
Meu coração parece estar a ponto de explodir, mas não há tempo a
perder. Com cuidado, coloco seu corpo sobre o chão.
Pego a metralhadora, o colete, pentes de munição, e o rádio
comunicador e avanço com cuidado em direção à casa de hóspedes.
Na minha cabeça apenas um pensamento.
Sophie. Estou indo, princesa.
Não sei que porra está acontecendo na casa principal.
Só tenho uma certeza.
Preciso chegar até ela… e todos que cruzarem o meu caminho
encontrarão o mesmo destino.
A morte.
Oceans (Where Feet May Fail) — Hillsong United, Taya
No instante em que ele atendeu ao telefone, eu sabia que algo muito
errado estava acontecendo. Só não imaginava que era tanto.
Agora.
Sua voz ecoa na minha cabeça e eu corro. Minhas pernas queimam
e os galhos batem no meu rosto, mas eu não diminuo a velocidade ou olho
para trás.
Lágrimas escorrem pelas minhas bochechas, enquanto escuto o som
inconfundível de tiros e gritos.
Deus!
Proteja o Yannik, por favor.
Não me deixe perdê-lo, agora que o reencontrei.
Por favor…
Corra.
Estou quase lá, mais alguns metros.
Vejo a casa e alívio invade meu peito, mas logo é substituído pela
dor.
Braços fortes me agarram.
— Me solta — grito, chutando com toda minha força, me
debatendo. — Me solta!
Tão perto.
— Apaga ela. — Escuto e então uma forte dor me atinge e tudo fica
escuro.

Dor…
Vozes fracas ao longe.
Tento me mexer, mas não consigo.
Respira.
Reconheço a voz de Kiefer e permaneço de olhos fechados.
Estou sentada. Sinto a cabeça latejar e minhas mãos e pés estão
amarrados.
Mas estou viva.
Por enquanto.
— Sophie, querida. Perdoe os modos dos meus associados. — A
voz, de quem um dia achei que fosse um amigo, soa próxima.
Acaricia meus cabelos e tento me afastar, inutilmente.
— Calma.
Estamos no escritório do meu pai. Onde está ele?
— Vou arrancar isso — aponta para minha boca — e você não vai
gritar, vai se comportar, certo?
Filho da puta, forço minhas mãos contra as amarras, mas não
adianta, só consigo machucar minha pele no processo.
Droga.
— Na, na, na… Você não vai a lugar algum, Sophie. — Segura meu
queixo, me fazendo fitar seus olhos azuis, mas ao contrário de Yannik, os
deles são frios, vazios. — Temos muitos planos para você — enfatiza e
então, sem aviso, puxa a fita adesiva.
Me seguro para não gritar. Não querendo lhe dar este prazer.
Inspiro fundo, antes de falar:
— Onde está o meu pai? Por que você está fazendo isso, Kif? Achei
que fôssemos amigos. Pegue o dinheiro que quiser… e nos deixe em paz.
— Quantas perguntas. — Bate palmas como um lunático. Olho ao
redor e vejo mais seis guardas. Alguns eu reconheço e outros não. Todos
estão vestindo uma roupa toda preta, com colete à prova de balas e armas
enormes nas mãos.
Deus.
— Infelizmente, não estou interessado em dinheiro, mas no que o
seu pai pode fornecer, com o incentivo correto. — Acena para um dos
capangas que traz uma mala e coloca sobre a grande mesa de madeira.
— Está vendo aquele cara ali. — Aponta na direção de um dos
desconhecidos. Não consigo ver seu rosto, coberto pela máscara, mas é o
sorriso macabro que me faz arrepiar no lugar. — Veja, ele não é tão
amigável como eu. Está vendo aquela câmera ali — gesticula para o teto, e
em seguida acena —, diga “oi” para o seu pai.
O quarto do pânico, meu pai está seguro.
— Seu pai está ali, acompanhado de outros associados meus.
O quê?
— Você achou que ele estava sozinho, é? — A felicidade que senti
por segundos, esvai. — Pobrezinha. Não fique triste. Seu pai está
exatamente onde eu quero que esteja.
Não estou entendendo nada. Kief não fala nada com nada.
— Vejo que está confusa, vou te ajudar. — Puxa uma cadeira e se
senta muito próximo para o meu gosto, acariciando meu rosto com o
indicador.
Meu estômago revira.
— Seu pai possui uma informação muito valiosa para mim. Um
código de lançamento.
Código? Lançamento?
— Há anos, o exército vem trabalhando no desenvolvimento de
drones fantasmas. Nem mesmo os radares mais avançados conseguem
captá-los. No último ano, conseguimos inovar equipando-os com
micromísseis, mas capazes de destruir grandes zonas, quarteirões, varrer
bairros da história.
Bomba?!
Não consigo disfarçar minha surpresa e ele percebe.
— Sei que o que está pensando… a bomba no seu carro, os meus
amigos albaneses… tudo isso foi parte do plano para tê-la exatamente onde
preciso, aqui.
— Por quê? — questiono, temendo a resposta que irei ouvir.
O capanga abre a mala revelando uma série de ferramentas,
alicates, pinças, facas e pânico me envolve.
— Para acionar o sistema de lançamento, são necessários dois
códigos, o primeiro deles, já conseguimos, mas o Sr. Klein não foi, como
posso dizer, cooperativo.
Klein, o congressista do mesmo partido do meu pai?
Para demonstrar seu ponto, coloca um vídeo para eu assistir, nele a
esposa do Sr. Klein está amarrada, Kief aparece pedindo o código para seu
marido.
Oh, Deus!
Bile vem até minha boca. Fecho os olhos.
— Abra a porra dos olhos — grita, me assustando. — Veja o que
vai acontecer com você, caso seu pai não coopere.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto, enquanto assisto torturarem a
mulher por não sei quantos minutos. Ela desmaia, mas a acordam apenas
para continuar. Sangue por todos os lados, seus gritos de desespero ecoam
nos meus ouvidos. Quando finalmente o deputado revela o código, Kief o
digita num notebook e sorri, satisfeito. Com um sinal seu, o capanga atira
na cabeça da mulher e do congressista. Seus corpos caem numa poça de
sangue.
— Oh, Deus… — Um soluço chacoalha meu corpo.
Inspira.
Expira.
Fecho os olhos, tentando me acalmar.
Yannik virá por mim… ele tem que vir.
Você nem sabe se ele está vivo.
Ele tem que estar…
Ele tem que estar…
Oh, Deus!
Niki, espero que você e a cavalaria estejam chegando.
— Tudo isso poderia ter sido evitado, se ele tivesse falado logo —
aponta, como se estivesse falando do clima.
Por mais medo que eu esteja sentindo… por mais que eu queira
viver… É a minha vida contra a de centenas, milhares de pessoas.
Eles vão nos matar, de qualquer forma.
Eu apenas sei, eu vejo a maldade no olhar dele e do louco ao seu
lado, com uma tatuagem gigante no pescoço, onde se lê: 88.
88
Eu já vi este desenho no passado, mas onde?
Forço meu cérebro a pensar.
Um documentário, é isso, sobre o significado de símbolos, imagens
e tattoos. Muitos consideram uma referência nazista.
A oitava letra do alfabeto é o H, o que daria HH, uma abreviação
para Heil Hitler, a saudação nazista.
Oh, Deus!
Eles realmente são loucos.
Respiro fundo, sabendo as consequências que me esperam.
— Não diga nada, pai! — grito o mais alto que consigo e o
primeiro tapa vem forte, fazendo a cadeira cair.
— Vadia burra! — Kif cospe, irritado. — As coisas podiam ser
diferentes entre nós — aperta meu queixo com força, e eu apenas sei que
ficará a marca dos seus dedos —, mas você virou a puta daquele palhaço.
Sinto o gosto de sangue e o rosto latejar. Uma lágrima escorre pela
minha bochecha, mas preciso ser forte.
Pelo meu pai…
Pelas milhares de vidas em risco… e para…
Que Yannik consiga chegar.
Ele vai me salvar, eu tenho certeza.
Eu tenho que acreditar.
É só o que me resta.
— Comecem a trabalhar nela — grita, e assisto impotente o nazista
tatuado caminhar na minha direção com um alicate na mão.
Não demore, Niki… venha por mim, por favor.
Master of Puppets — Metallica
Thunderstruck — AC/DC
Oceans (Where Feet May Fall) — Hillsong United, Taya

Caminho o mais rápido que posso, tentando não fazer barulho.


Esquadrinhando cada metro. Na situação atual, qualquer um é o inimigo.
Não sei quem é aliado ou não.
Preciso de dados, informações, mas a prioridade é encontrar
Sophie. Próximo da casa de hóspedes, me escondo entre as árvores e
observo ao redor. Se o engomadinho for esperto, aqui é o primeiro lugar que
ele mandaria seus homens.
Era o que eu faria.
Sou uma ameaça, e como tal, devo ser eliminado.
Faz parte do jogo.
Como imaginado, quatro caras, coletes, máscaras, armados até os
dentes, na mão descoberta a águia com duas cabeças, os albaneses.
Caralho.
A residência foi tomada, não há qualquer dúvida. Consigo dar conta
dos quatros, mas minha preocupação é a princesa. Se ela está na casa,
preciso afastá-los dali, uma troca de tiros é sempre um risco.
— Prossiga — um deles fala no rádio e fico atento.
O som sai cortado, mas é a sua resposta que é um soco no
estômago.
— Confirmado. O Lírio está a caminho. Sim, pegamos ela próximo
da casa.
Porra, não.
Meu coração dispara, mas me forço a raciocinar.
Eles não a querem morta.
Respira, cacete.
— Entendido. Vamos patrulhar — responde para algo que não
consigo ouvir.
— Esse otário acha que é nosso chefe — o cretino do lado comenta.
— Ele pode achar o que quiser, contanto que nos pague. Estamos
nessa pelo dinheiro, Baardi.
— Foda, sim. Depois de recebermos, nada nos impede de matá-lo.
— O puto ri e é acompanhado pelos outros.
Escória.
Me mantenho em silêncio, esperando que se afastem. Por mais
tentador que seja matá-los, preciso ser frio. Saber da minha presença é uma
desvantagem. Deixe que me procurem, ou me deem por morto.
A surpresa em seus olhos será a cereja do bolo quando nos
encontrarmos novamente.
Ir para a casa é arriscado e já sei que ela não está lá.
Preciso de informações e saber se os caras estão chegando.
Rumo em direção à portaria.
Com cautela, me aproximo e o portão principal está fechado, quem
vê de fora, não notaria nada estranho. Nada para atrair a atenção das
autoridades. Empurro a porta da central de segurança com o cano da arma e
dentro o cenário é de destruição.
Corpos espalhados.
Reconheço um dos rapazes da segurança, um com quem troquei
poucas palavras e parecia um bom rapaz.
Só há uma justificativa para estas mortes. Eles não estavam
envolvidos no esquema.
Volto minha atenção para as inúmeras telas. Cada uma mostrando
em tempo real as imagens captadas pelas câmeras espalhadas pela
propriedade. Inclusive, dentro da mansão.
Foda!
Procuro, tentando encontrá-la. Há cerca de meia dúzia patrulhando
a área externa da mansão, próximo à piscina. Um na cozinha, onde os
funcionários foram reunidos e estão sentados no chão. Martha está entre
eles, bem, e sei que Sophie ficará feliz com a notícia.
Cadê você, linda?
Continuo analisando as imagens que mudam a cada quinze
segundos, quando vejo…
Porra, não!
Bile vem à minha boca e quando percebo, estou vomitando.
Não pode ser…
Eles…
Os filhos da puta a machucaram.
Respira, caralho.
Inspiro e expiro fundo, tentando manter minhas emoções sob
controle, mas ver minha Sophie… o rosto inchado, ensanguentado…
É minha culpa, eu não devia a ter deixado sozinha.
Vou matar o filho da puta que fez isso com ela.
Eu vou…
Cerro os punhos e neste momento meu celular vibra.
— Y, tempo de chegada: três minutos, qual a situação? — A voz de
Stefan soa cortante.
— A mansão está tomada. Estou na segurança, próximo ao portão
principal, se aproximem por aqui. Eles estão patrulhando ao redor da
propriedade, mas a maioria está dentro da propriedade.
— Estamos chegando, irmão.
— Eles a pegaram… eu…
Falhei.
Dor rasga dentro de mim, imaginando o que ela está sofrendo na
mão destes cretinos.
— Precisamos agir, eles estão torturando, cara… a minha garota. —
Minha voz quebra e me calo, ouvindo ao fundo a respiração dos meus
irmãos.
— Nós vamos salvá-la. — Sua voz é firme, sem titubear, e fecho os
olhos. — Você está me ouvindo, porra?
— Sim! — retruco, acalmando a merda dentro de mim.
— Agora, coloca a sua cabeça no lugar. Sophie precisa de você
calmo e centrado, cirúrgico como você sempre é. Deixe sua escuridão para
eles, irmão.
Foda, sim!
Aperto minha mão ao redor da arma, pronto para tudo.
Menos para perdê-la.
Acompanho pelos monitores Stefan, Karl, Thorsten e Sven se
aproximarem pela direita, todos vestindo trajes táticos pretos, camuflados
nas sombras ao redor do muro.
Confiro a munição e vou para próximo do portão para dar
cobertura, enquanto acessam a propriedade e, em segundos, estamos todos
reunidos.
— Caralho, Y. — Karl bate seu punho no meu e sei que ele entende a
preocupação que estou sentindo.
— Eles estão no escritório do Sr. Meyer. Até agora contei quinze
filhos da puta, mas não sei quantos estão no quarto do pânico junto com o
congressista. Só posso imaginar que estejam lá, já que não os vi nas
imagens — começo, precisando que esta operação inicie logo. — Há seis
do lado de fora, fazendo a patrulha — aponto para as telas —, um na
cozinha, e a maioria está com… — Minha voz embarga.
— Vamos pegá-la, Y. — Thorsten aperta meu ombro e me forço a
continuar.
— Os albaneses estão nessa pelo dinheiro. Não sei o que os
extremistas querem com o pai dela, mas estão torturando-a para conseguir.
— Infelizmente, já temos algumas respostas — K é quem fala,
conseguindo minha atenção. — No caminho para cá, soubemos que o corpo
do deputado Klein e da esposa foram encontrados. A mulher foi espancada e
torturada e, ao final, executada, um tiro na cabeça.
— Porra, já sabemos a conexão?
— A BND foi envolvida e estão verificando se conseguem algo nas
câmeras de segurança, mas tudo indica que apagaram antes de deixarem a
residência. Fiz minhas pesquisas e ambos são do mesmo partido e — frisa
— estão envolvidos num projeto denominado “Freedom”.
Não significa nada para mim.
— Vá direto ao ponto, K.
— Drones militares fantasmas, capazes de levar armamento
suficiente para fazer um quarteirão sumir do mapa ou, no caso, o centro de
refugiados que há na cidade de Dresden, onde, coincidentemente hoje está
ocorrendo uma manifestação em prol dos imigrantes e refugiados.
— Caralho! — Thorsten e eu falamos juntos.
Que porra é esta?
Se Karl está certo, isto é um genocídio.
— É um palpite, mas encontrei diversas mensagens de ódio do
Ulrich Bambach direcionadas ao centro. Fato é que o lançamento dos
drones depende da inserção de dois códigos secretos, que mudam a cada
quatro horas.
— O corpo dos Klein foi encontrado há cerca de cinquenta minutos
— Stefan pontua.
— O que significa que eles precisam do segundo código, logo, ou
perderão a janela para utilização — Thorsten aponta.
— Foda, precisamos invadir. Eles… vão torturá-la, até o velho dar
o código, igual fizeram com o outro deputado. — Passo as mãos pelos
cabelos, desesperado.
— Precisamos de você frio, Y. — Abro e fecho as mãos, tentando
aliviar o estresse e aceno em concordância. — Uma abordagem errada não
ajudará Sophie — S continua, calmo e objetivo como sempre. — Estamos
em desvantagem numérica, mas temos o fator surpresa. Temos que usar isso
a nosso favor. Não há margem para erros, precisamos ser precisos. Todos de
acordo?
— Porra, sim! — K e Sven retrucam e não poderia concordar mais.
— Alguma ideia de como entramos lá, sem ser pela porta da frente?
— Stefan questiona.
— Na verdade, sim — começo, pensando que não há alternativa
melhor. — K, consegue mostrar a planta da propriedade?
— Aqui! — Puxa um tablet da mochila e não perco mais tempo.
— Há túneis cortando a propriedade. Podemos entrar aqui, na casa
de hóspedes, e sair aqui, no andar superior da mansão.
— Você já os percorreu?
— Só cerca de cinquenta metros, saindo da casa de hóspedes.
— Foda, não sabemos como é o trajeto inteiro, pode estar
bloqueado, até onde sabemos.
— São cerca de trezentos metros de comprimento. Acho que vale o
risco — Karl sinaliza, dando de ombros.
— É sem iluminação e sujo pra caralho, mas acredito que esteja
inteiro. Você que manda, estou mais do que pronto para chegar chutando
alguns traseiros!
A imagem de Sophie não sai da minha cabeça.
Quero sangue.
— Túnel será! — aponta. — Thorsten, você cuida dos caras fora da
casa. Imagino que consiga se posicionar em algum lugar próximo e apagar
os filhos da puta, sem chamar a atenção.
— Deixe comigo!
— K, Y e Sven, uma vez dentro da mansão, precisamos nos livrar
do alvo na cozinha, para depois seguir ao escritório. Imagino que não
matarão o congressista, ainda que nos vejam chegando, pois precisam dele,
ainda assim, gostaria de conduzir isso de forma mais sutil. Alguma
sugestão?
K olha para as telas de monitoramento.
— O que você tem em mente, K? — questiono.
— Podemos colocar a gravação em loop.
— Como assim? — S é o primeiro a perguntar.
— Os quartos de pânico geralmente são equipados com
monitoramento da área externa, próxima da “porta do quarto”, no caso o
escritório. Isso significa que quem está lá, sabe tudo que acontece do lado
de fora e verá nossa aproximação.
— É o que quero evitar.
— Exato. Vou gravar — começa a explicar, enquanto tecla feito
louco no teclado da central de segurança. — Uns trinta segundos deve ser o
suficiente. Vou aproveitar que neste instante não estão se movendo muito.
Pronto. Agora é só colocar este trecho para reproduzir em repetição.
— Você é foda pra caralho, K— explodo. — Quando invadirmos,
não saberão, para eles estará tudo normal do lado de fora.
— Exato!
— Boa, K.
— Lembrem-se, silenciadores nas armas e precisão. Esta não é uma
incursão qualquer. Uma vez com a área neutralizada e Sophie em mãos,
vamos cuidar do quarto do pânico.
Thorsten joga um colete na minha direção e uma máscara preta.
Me visto, sentindo a adrenalina bombear nas minhas veias.
— Bora foder com os filhos da puta, USC? — Stefan pergunta.
— Hurra! — falamos em uníssono.
Estou indo, princesa.

— Você está de brincadeira comigo, Y! — K dispara ao ver a altura


do túnel.
— Esqueci de comentar. Cuidado para não bagunçar o cabelo. —
Dou de ombros, conforme entramos pelo acesso da casa de hóspedes.
— O cabelo é o de menos, porra, quero ver minhas costas depois de
sair deste túnel. Quem morava aqui? Hobbits? — devolve, e eu sorriria, se
não estivesse tão preocupado em chegar logo à mansão.
— Vamos que quero sair logo deste buraco. — Stefan joga alguns
luminosos no chão e, cacete, é bom ver o caminho.
— Parece livre pra mim! — comento, satisfeito de ver o longo
corredor à frente.
— Porra, sim! — Sven vibra.
Avançamos em silêncio pelos próximos metros e chegamos a uma
porta antiga de ferro.
— T, qual situação aí fora?
— Seis patos prontos para o abate.
— Quando você quiser.
Permanecemos em silêncio, esperando uma atualização.
— Alvos abatidos. Área externa limpa.
Stefan gesticula na direção da porta e Sven se aproxima,
procurando por alguma trava ou fechadura.
— É de correr… — Ilumino a parte de baixo com a lanterna da
metralhadora.
Ele se prepara.
Stefan, Karl e eu trocamos um olhar.
Armas em punho.
— O engomadinho é meu — friso e eles assentem.
Hora da verdade.

Meu cérebro entra no modo missão.


Frio, metódico.
Saímos em formação, esquadrinhando cada canto. É quase como
uma dança. Nos movemos coordenados, procurando inimigos. Meu coração
bate acelerado no peito, mas ignoro.
Foco.
Sophie, precisa de mim.
E eu dela.
Descemos a escada em silêncio, e sem identificar nenhum alvo. Já
no térreo, nos separamos. Stefan e Karl vão na direção da cozinha e eu e
Sven seguimos até a sala, ficando a poucos passos do escritório. Colo meu
corpo na parede e ele faz o mesmo, no lado oposto, aguardando o momento
certo. O som de passos indica que logo teremos companhia.
Puxo minha pistola e fico com ela pronta, na expectativa.
— Besnik — alguém grita e o filho da puta para a pouco metros de
distância de nós. — Volte aqui. O chefe está chamando.
Resmunga algo e se afasta.
— Cozinha limpa! — S anuncia no comunicador.
— Tudo tranquilo aqui também — sinalizo. — Os funcionários? —
questiono, pensando na governanta.
— Estão bem. Escondidos na despensa, até limparmos totalmente a
mansão.
— Vocês vão ficar conversando ou vão trabalhar? — T brinca, o
que é algo novo. Caralho, conhecer a loira realmente mudou o cara. — Tá
frio aqui, porra.
Stefan e Karl se juntam a nós e Sven puxa uma granada de
atordoamento do colete.
É agora!
Em 3, 2, 1…
K abre a porta do escritório e, sem segundo aviso, a granada é
lançada, disparando um clarão de luz que é capaz de cegar qualquer um,
fora o barulho ensurdecedor.
O objetivo é apenas um: desorientar os cretinos, enquanto
invadimos.
A troca de tiros começa.
Claro que eles não iam se entregar facilmente, não os albaneses.
Os filhos da puta podem ser o que for, mas caem lutando.
Disparo sem dó, mirando a cabeça.
Os alvos vão caindo.
Alguns jogam a arma no chão, se deitando em sinal de rendição.
— No chão! No chão, filho da puta! — grito no meio ao caos,
procurando nesta confusão a única coisa que me interessa.
Ela.
Então a vejo e por pouco meus joelhos não cedem.
Porra!
Amarrada à cadeira, a cabeça caída de lado.
Sangue, tanto sangue.
— Sophie… — Ignoro tudo ao meu redor que não seja ela.
Dor rasga meu ombro e percebo que um dos cretinos me baleou de
raspão.
Raiva ferve dentro de mim.
Viro na sua direção e nem penso muito, apenas apago o cretino.
Um a menos.
Stefan grita ordens ao fundo e sei que está tudo sob controle.
Eu… mal consigo respirar.
Por favor, Deus, que ela esteja bem.
— Sophie… princesa. — Me ajoelho ao seu lado, fazendo uma
varredura dos seus ferimentos.
Controlo a vontade absurda de chorar.
Eles a machucaram.
Eu devia protegê-la… eu…
Ela resmunga algo incompreensível e então ergue o rosto com
dificuldade. Seu rosto está inchado e mal consegue abrir os olhos.
— Sou eu, linda, vou tirar você daqui. — Puxo minha faca tática e
corto a corda dos seus pulsos e tornozelos.
— Niki… — Sua voz sai fraca, e alívio invade meu corpo.
Ela está viva!
Ela vai ficar bem, ela tem que ficar.
— Vou cuidar de você, linda, vai ficar tudo bem. Já vamos para o
hospital.
— Dói — choraminga e a puxo com delicadeza para o meu peito.
— Xiii, vai ficar tudo bem, princesa.
Seu peito chacoalha, conforme ela se entrega ao choro, e sinto
meus próprios olhos marejados.
— Eu… desculpe — murmuro contra seus cabelos, rezando para
que um dia ela me perdoe.
— Y. — A voz de Stefan soa ao meu lado, e ergo o meu olhar para
encarar meu irmão. — Deixe Sven dar uma olhada nela, ele pode ajudar
com alguns ferimentos até a ambulância chegar.
S tem razão, mas não quero soltá-la.
— Precisamos… — Gesticula na direção do quarto do pânico.
Foda, ainda não acabou.
— Os que se renderam, já estão contidos, os outros mortos — K
anuncia. — Trouxe este presente para você, achei que ia gostar — anuncia,
trazendo o filho da puta do assessor.
Olho para o verme e vejo vermelho.
Sophie está no meu colo, encolhida, ferida, suja de sangue, vômito,
urina, por culpa deste filho da puta.
— Já volto, linda, só preciso ajudar seu pai, e venho aqui com você.
— Sua mão ensanguentada agarra meu colete e só então percebo que os
filhos da puta arrancaram suas unhas.
Deus…
— Não — fala algo, mas não consigo entender.
— Cuide dela com a sua vida! — advirto para Sven, antes de
delicadamente apoiá-la sob seus braços.
Assente e só então a deixo.
Vazio me invade, mas logo é preenchido por fúria.
É incontrolável.
Pulsa em minhas veias.
Me aproximo do infeliz e nem penso a respeito. Meu punho
encontra seu rosto, fazendo-o cuspir sangue.
— Então você gosta de tortura, filho da puta. — Outro soco na
boca do seu estômago o faz se dobrar. — Seu pedaço de merda. — Puxo
seu cabelo, fazendo com que me olhe. — Eu deveria tomar meu tempo te
fazendo sofrer…
Ele ri e eu poderia matá-lo, se não precisássemos dele, ainda.
— A vadia chamou seu nome, antes de começar a chorar feito um
bebê.
Desfiro três golpes em sequência, quebrando seu nariz.
— Y. — A mão de Stefan toca meu ombro.
— Estou bem — esclareço. — Morrer seria muito fácil para ele,
quero viver sabendo que ele vai sofrer todo dia na cadeia, sendo a cadela da
prisão. — Seguro seu queixo, apertando mais do que necessário. — Você
fará sucesso lá, engomadinho do caralho.
— Se quiser ter uma vida um pouco mais fácil na prisão, sugiro que
peça para seus comparsas abrirem a porta. Fale que quer levar a garota para
dentro, para o pai vê-la, seja criativo. Sei que consegue — Stefan propõe.
— Por que eu faria isso? — Cospe sangue no chão e me seguro
para não ir até ele novamente.
— Acredite quando digo, filho da puta — S se aproxima e sua
coragem desaparece —, que você ajudar ou não, fará toda diferença para
qual prisão você será levado.
— Prefiro morrer!
— Não seja por isso — anuncio e me aproximo, enfiando o cano da
minha arma na sua boca.
— Y — S adverte, mas ignoro, observando a forma como seus
olhos se arregalam de medo quando encontram o meu.
Sim, filho da puta, fode mais comigo.
— Você tem exatamente cinco segundos — advirto, pressionando o
cano, fazendo com que ele tenha reflexo de ânsia. — Quatro…
— Ommmm…
— O quê? Não entendi — devolvo, antes de remover a pistola.
— Quero por escrito — demanda, como se estivesse em posição de
fazer alguma exigência.
— Não há tempo para isso, cretino — K é quem fala, e já começo a
me aproximar, vendo seu pânico.
— Ok, eu faço. — Ergue as mãos.
Ele puxa o celular do bolso.
— Viva-voz. Faça alguma palhaçada, por favor — peço, a arma
pressionada na sua cabeça.
— Rainer…
O chefe da segurança, eu sabia.
— Na escuta? Estamos ficando sem tempo — dá uma piscadinha
—, abra a porta, vou fatiar a vadia na frente do velho — debocha e cerro o
punho. — Quero ver se, assim, ele abre o bico.
— Kief, ele está quase cedendo.
— Abra a droga da porta — dispara e então desliga. — Satisfeito?
— questiona olhando para mim.
— Você ainda respira, então a resposta é não.
A porta de aço começa a mexer e nos preparamos.
Ficamos a postos, não sabendo quantos inimigos há lá.
Não esperamos a abertura total, quando há espaço suficiente,
avançamos, surpreendendo-os.
— No chão, no chão, filho da puta. Solta a arma ou estouro seus
miolos, agora mesmo. Porra! — grito, avançando sem misericórdia.
Rainer olha para nós como um coelho assustado.
Segura o congressista pelo pescoço, a arma apontada para sua
cabeça.
— A casa caiu, Rainer, melhor você se entregar e se juntar aos seus
amigos, na cadeia ou… no inferno — friso a última palavra.
— Vou matá-lo! — exclama. — Se afastem!
Ele se distrai olhando na direção do Karl e afasta a arma do seu
alvo.
É a deixa que eu precisava.
Acerto sua mão, e ele grita liberando o deputado, o revólver cai no
chão e eu chuto para longe dele.
— Cadeia ou inferno? A escolha é sua — questiono, sem desviar a
mira da sua cabeça.
Entrelaça os dedos atrás da cabeça, derrotado, e gesticulo para K,
que o revista, algemando o filho da puta.
Caminho na direção do Sr. Meyer.
— Senhor… — começo, não sabendo como irá me tratar.
— Obrigado, filho — agradece, emocionado, me surpreendendo,
com um abraço. — Sophie… — Há pânico em sua voz.
— Estamos cuidando dela — aviso. — A ambulância está a
caminho. Ela está…
—Eles machucaram… minha filha. É minha culpa, eu devia ter te
ouvido desde o início. — Um soluço escapa dele e aperto seu ombro,
fazendo com que olhe para mim.
— Não. A culpa não é sua, mas deles — afirmo, ignorando o
sentimento que me corrói. — Vamos, vocês precisam ir para o hospital —
aponto, observando o corte não tão profundo na sua cabeça, provavelmente
uma coronhada.
— A polícia federal e a BND estão a caminho — Stefan anuncia,
após desligar o telefone. — Ambulância, tempo estimado para chegada,
cinco minutos.
— Hey, Y — Sven me chama, e seu olhar é de preocupação.
— O que foi?
Sophie está branca e respira com dificuldade.
— Que caralho está havendo? — questiono, me agachando ao seu
lado. — Princesa? — chamo, mas ela não consegue responder.
— Uma das costelas, provavelmente, perfurou um pulmão, cara —
sinaliza. — Ela precisa ir para o hospital, urgente.
Inferno, não…
Não!
— Cadê a porra da ambulância? — grito, desespero inundando
minha voz, mas não ligo.
Pego seu corpo frágil nas minhas mãos e a aperto com cuidado
contra meu peito.
— A ajuda está vindo, princesa — falo contra sua orelha e ela tenta
puxar ar com dificuldade.
Deus, por favor, não…
Eu não posso perdê-la.
— Y… — Escuto a voz do Karl, longe, e ignoro, continuo
mantendo Sophie em meus braços, acariciando seus cabelos, fazendo-a
saber que eu estou aqui… com ela. — A ajuda chegou, cara.
Porra, sim.
Os paramédicos se aproximam e começam a gritar comandos.
Sven sinaliza o status dela e, a contragosto, me afasto, assistindo,
impotente, eles a colocarem sobre a maca.
— Cuidado — peço, mas sei que os caras são profissionais. Eles
sabem o que estão fazendo e, em minutos, ela está imobilizada, recebendo
fluidos e começa a corrida pela vida.
Eu não pude protegê-la, não como eu deveria.
Eles têm que salvá-la.
Por favor, Deus, não a leve…
Sophie é a minha luz.
Demons — Imagine Dragons
Hold on — Chord Overstreet

Sigo para o hospital junto com a ambulância. Stefan e os caras


ficam na mansão para tratar da burocracia com os federais. Eu não posso
deixá-la, não até ter certeza de que está bem. Mesmo estando a pouco mais
de dez quilômetros, o trajeto parece demorar uma eternidade.
Sophie segue direto para a emergência.
Seu pai levou alguns pontos e agora está ao meu lado, aguardando
notícias.
Duas horas.
Estou enlouquecendo.
— Sophie é forte, ela vai sair desta.
Não consigo imaginar outro cenário que não este.
As últimas horas ao lado do seu pai me deram as peças de
informações que faltavam. Não havia nenhuma visita programada. Ele
estava no escritório conversando com Rainer e Kiefer, quando a portaria
sinalizou a invasão. Foi tudo orquestrado pelos dois, claro.
Conseguiram colocá-lo no quarto do pânico, onde não haveria
escapatória, e uma vez com o código em mãos, ainda que a polícia
chegasse, não conseguiriam invadir, não até que tivessem concluído o plano
macabro e matado milhares de inocentes.
— Não acredito como fui inocente. Como não vi esta maldade no
Kiefer, nunca notei nenhum comportamento preconceituoso… nada.
— Ele cobriu bem seu passado, senhor.
— Por favor, já passou da hora de você me chamar de Olaf, não sou
cego, rapaz, sei que você e minha filha são bem mais que…
Um médico se aproxima e nos levantamos.
— Então? — questiono, e medo me domina.
— Tivemos que colocar um dreno no seu peito, para conseguir
estabilizar sua respiração.
Puta merda.
— Mas ela está fora de perigo.
— Graças a Deus, porra — disparo, ignorando o olhar de surpresa
do médico.
Olaf ao meu lado apenas sorri.
— Ela teve duas fraturas na costela e uma delas acabou perfurando
o pulmão, causando o pneumotórax, mas conseguimos reverter a situação.
Sem fraturas no rosto, os hematomas e inchaço demorarão umas semanas
para sair. A Srta. Meyer está se recuperando no quarto. Ainda está sedada,
mas estimo que retornará da anestesia em alguns minutos.
— Obrigado, doutor… — Seu pai estende a mão.
— Dr. Zimmer — ele sinaliza, aceitando o cumprimento.
— Obrigado — também agradeço, sentindo como se um peso
tivesse sido tirado dos meus ombros.
O médico nos dá as costas e quando percebo, sou engolido pelos
braços do Sr. Meyer.
Retribuo, abraçando-o com força.
As últimas horas não foram fáceis, mas…
Ela conseguiu.
Sedada, mas viva.
Viva, caralho!
Eu deveria ir embora. Mas, foda-se, eu preciso vê-la acordada.
Stefan e os caras estão a caminho, e mando uma mensagem
avisando que ela está fora de perigo.
Uma enfermeira nos leva até o seu quarto.
Dói vê-la assim. Deitada, rosto machucado, curativos espalhados
pelo corpo, fios e monitores por todos os lados.
Respira…
Seu pai vai até a cama e acaricia seu cabelo. Eu permaneço
congelado, assimilando que quase a perdi.
Perco a noção do tempo ali.
O médico disse trinta minutos, mas já faz mais de sessenta e nada.
Seu pai foi buscar um café e eu estou a ponto de chamar a
enfermeira, para que ela traga o médico aqui, quando ela se mexe na cama.
— Sophie… — Minha voz é quase um sopro.
Suas pálpebras tremem e devagar ela abre os olhos.
Foda…
Como é bom ver seus olhos verdes.
Meu coração acelera, mas me forço a manter a calma.
— Niki… — Sua voz sai baixa, e seu olhar encontra o meu.
Lágrimas escorrem pela sua bochecha e me aproximo, segurando
sua mão com cuidado.
— Não chore, princesa — começo, mas é minha voz que embarga.
Pigarreio, respirando fundo. — Está tudo bem… você está bem! — Passo o
polegar pela sua bochecha e ela fecha os olhos.
Sinto uma pressão inexplicável no peito.
É tão forte que, por segundos, acho que quem vai precisar ficar
internado sou eu.
— Eu… — ela tenta falar, mas sua garganta está seca.
— Vou chamar a enfermeira — começo, mas ela segura minha
mão. — Ok, seu pai está vindo. Ele está preocupado. Todos estamos.
Falando no velho, ele surge e quando a vê desperta, começa a
chorar.
— Oh, meu Deus, Sophie, nunca mais faça isso com seu velho pai.
Me afasto em direção à porta, deixando que tenham seu tempo com
privacidade.
Ela… está bem.
Está segura.
A missão foi cumprida.
Agora, eu posso finalmente ir…
A realização que não há nada mais para mim aqui é como um soco
no estômago.
— O que houve? — K dispara ao me ver sair do quarto.
— Nada. Você me dá uma carona até a mansão?
— Mansão? Agora?
— Preciso pegar minhas coisas, meu carro… — sinalizo.
— Aconteceu alguma coisa?
— Preciso voltar para Dortmund. A missão acabou.
— E quanto a Sophie, voc… — começa, mas o interrompo.
— A missão acabou, cara! — friso e ele entende o recado. Não
quero conversar sobre esta merda, não quando meu peito parece a ponto de
explodir.
— Vamos, eu te levo. Vou só avisar os caras, eles foram na
cafeteria.
Aceno em agradecimento, fazendo meu caminho até a saída. Antes
de empurrar a porta, dou uma última olhada para trás. Desejando que as
memórias que construí nos últimos meses sejam suficientes para me
impedir de me afogar na minha própria escuridão.
Porque a minha luz…
Ela fica aqui.
É ela.
E sem ela… só me resta o caos.

Uma semana.
Sete fodidos dias, desde que tudo aconteceu.
Kiefer, Rainer e os comparsas que se renderam estão na prisão
aguardando julgamento. As perspectivas deles não são boas, e eles sabem,
homicídio, tentativa de genocídio, lesão corporal, invasão, a lista de crimes
é grande, ainda assim, é melhor do que o destino dos outros, o necrotério. É
lá que Ulrich, o extremista procurado, e vários outros filhos da puta estão.
Eu deveria estar na USC, trabalhando, focado na minha próxima
missão, mas Stefan me proibiu de pisar lá.
Uma semana de descanso, compulsório.
Falei que não precisava dessa merda, sua desculpa foi o tiro de
raspão que levei e que nem de pontos precisou.
É de foder.
Ficar aqui está me deixando louco.
Sei que ela está em casa, se recuperando.
Não nos falamos.
Não mais… desde aquele dia.
É melhor assim, quero me convencer, mas é difícil.
Eles sabem que Sophie é mais do que deveria ser, mas não dizem
nada. Claro que K sempre dá um jeito de soltar alguma informação sobre
ela, me alimentando com migalhas.
O quão louco é isso? Eu… foda, só quero focar na minha próxima
tarefa, fazer as horas passarem, fazer com que doa menos.
A campainha toca, conseguindo minha atenção. Pego minha pistola
sobre a mesa.
Gato escaldado tem medo de água fria, não é?
Espio no olho mágico e surpresa me atinge ao ver minha mãe, mas
que droga. Uma olhada ao redor mostra o chiqueiro que está o apartamento.
Ela não vai ficar nada contente.
Abro a porta, ao mesmo tempo em que apoio a arma na estante.
— Mãe.
— Filho… — Entra, equilibrando duas sacolas com mantimentos,
ela tenta disfarçar o choque ao notar as latas, caixas de pizza e roupas
espalhadas pelo apartamento, mas não me engana.
— A que devo a visita?
— Tenho que ter motivo para visitar meu mais velho? — retruca,
colocando as latas, pães, sucos, sobre a bancada da cozinha.
— Não estou num bom dia, está tudo bagunçado, como você pode
perceber.
Não preciso de ninguém me dizendo que estou um lixo. Eu me vejo
no espelho. Me sinto assim. Stefan me deu uns dias, mas a verdade é que
nem meses surtiriam efeito. Tirariam a dor que rasga meu peito.
É difícil até respirar.
— Vou dar uma ajeitada nas coisas para você, querido, e preparar
algo decente para comer. Aposto que faz dias que não coloca nada saudável
na boca. — Junta as caixas de pizza e leva até os lixos recicláveis.
— Mãe… — começo, não sabendo como fazê-la entender que só
quero ficar sozinho.
— O que houve? — questiona, parando a poucos passos de
distância.
Está elegante, bem, e vê-la assim me traz certo conforto. Não
preciso me preocupar com ela, não hoje.
— A faxineira vem só semana que vem — disparo, não tendo
coragem suficiente para pedir que apenas vá embora.
É minha mãe e sei que está querendo ajudar.
— Não estou brincando, Yannik Bauer — fala meu nome completo,
como fazia quando eu aprontava, faz tempo… — Liguei no seu serviço,
Karl me disse que você estava em casa.
— Aquele linguarudo.
— Entendi que sua missão foi um sucesso.
— Isso é uma forma de ver as coisas. — Dou de ombros, pegando
uma cerveja na geladeira. Foda-se que são apenas onze horas da manhã.
— Sophie está bem?
— Podia estar melhor.
— Ela está viva, você a salvou.
Quero rir.
— Ela poderia ter morrido… por minha culpa — falo, raiva
rasgando através de mim.
— Você a salvou. Você. Não se culpe. — Acaricia meu rosto e
fecho os olhos, deixando suas palavras entrarem em mim. Torcendo para
que me façam esquecer.
O terror que foi vê-la nas mãos deles.
Ver o que fizeram com ela.
— Eu demorei, eu deveria ter feito algo diferente, não sei. — Sinto
os braços da minha mãe me envolverem e fico em silêncio, tentando
controlar o turbilhão de emoções no meu peito.
— Xiii… tenho certeza de que você fez tudo que estava ao seu
alcance. Que se você pudesse, teria ficado no lugar dela.
Porra, sim, sem nem pensar.
— Eu sei disso, e não porque alguém me disse, mas é porque eu te
conheço, filho, e você é esta pessoa incrível, amigo, protetor daqueles que
você se importa, daqueles que você ama. E você ama aquela garota… —
Sua voz falha. — Sim, eu sei, eu sempre soube.
Meu olhar encontra o seu, e lágrimas escorrem do seu rosto.
— Não chore, mãe.
— Oh, meu amor, me dói te ver assim… quebrado.
— Vou ficar bem — minto, me sentando no sofá.
— Eu te quero inteiro. — Olha para os pés, nervosa, antes de voltar
a me fitar. — Me perdoa?
Arregalo os olhos, surpresa me invadindo.
Segura meu rosto entre as mãos, o que só é possível, pois estou
sentado, nem com salto minha mãe é alta.
— Eu deixei o luto me dominar e esqueci que vocês também
estavam sofrendo. Me desculpa, Yannik, eu devia ter falado isso, anos atrás,
mas eu tive vergonha.
— Mãe… — começo, mas ela não me deixa continuar.
— Eu falhei — continua, mexendo as mãos, nervosa, lágrimas
escorrem pelo seu rosto. — Falhei como mãe, não estive perto de você e do
Luke quando vocês mais precisaram, quando perderam seu pai.
— Isto é passado, mãe, estamos bem.
— Eu deveria ter procurado ajuda antes, hoje eu sei que não
consigo vencer a luta contra esta doença sozinha, que eu preciso de
acompanhamento médico, que preciso da minha família comigo, que
preciso de vocês.
— Estamos aqui, mãe. Eu estou aqui para você.
— Eu sei, meu amor, e eu estou aqui para você também. Todos nós
estamos. — Seu olhar está no meu e sinto um bolo na garganta. Meu peito
queima. — Você não precisa carregar o mundo nas suas costas, você pode
pedir ajuda também, não é vergonha alguma. Eu sei que você se preocupa
comigo, mas não quero ser mais um fardo para você, não mais. Eu estou
bem, querido. Você e seu irmão me fazem querer estar bem.
Envolvo meus braços ao redor da sua cintura.
Não consigo falar.
— Eu…
— Não precisa dizer nada, meu amor. — Acaricia meus cabelos. —
Sei que é difícil, que você tem medo, mas espero do fundo do meu coração
que você consiga levar a vida um pouco mais leve e ser feliz. Construir a
sua família, netinhos serão bem-vindos e, quem sabe, um dia você possa me
perdoar — sussurra contra meus cabelos e sinto uma lágrima cair na minha
perna.
É minha.
Nem lembro a última vez que chorei na frente dela.
Foi antes do velho partir.
A partir daquele momento, eu só tive que ser forte… por ela, pelo
Luke, por nós.
Deixo tudo vir, meu corpo sacode num choro silencioso, abraçado a
ela.
— Ah, meu menino forte. — Seu aperto em mim intensifica.
Não sei quanto tempo fico ali.
Quando ergo o rosto, me sinto mais leve.
— Obrigado, mãe.
— Pelo que, querido?
— Por ter vindo aqui. Por esta conversa. Eu não sabia que eu
precisava tanto dela — reconheço, me levantando. — Não consigo deixar
de me preocupar com você ou com Luke, nunca vou conseguir, vocês são a
minha família, eu amo vocês, mas prometo tentar deixar as coisas mais
leves. Eu sei que você está bem, sei que cada dia é uma luta, e eu estarei
aqui por você, a cada passo, sempre que precisar, mãe.
— Oh, meu amor, te amo, tanto.
— E mais uma coisa, eu já te perdoei, anos atrás, mãe. Eu te amo!
Lágrimas escorrem pelo seu rosto, e ela sorri. Um sorriso largo.
— Obrigada.
— Agora venha aqui e me dê um abraço — peço, estendendo o
braço. Suas mãos acariciam minhas costas.
Foda.
É bom!
— Agora, vou dar uma ajeitada nas coisas, enquanto a senhora
prepara o rango.
— Uma ótima ideia, este lugar está me dando arrepios.
— Eu sabia! — disparo, já começando a reunir as roupas jogadas,
no rosto o esboço de um sorriso.
Meu peito ainda dói, mas isso nem uma conversa com a minha mãe
resolverá. Ela pode dizer o que for, fato é que ainda me sinto culpado sobre
o que aconteceu com Sophie. Espero que a princesa possa me perdoar um
dia também.
— Não deixe aquela menina escapar, meu filho — ela grita da
cozinha. — Ela gosta de você, eu sei disso, todos sabem, só você parece
não enxergar — continua, pegando cebola e alho e colocando sobre a
bancada.
— É complicado — devolvo, não querendo estender o assunto.
— Não precisa ser, descomplique, você sempre foi bom em
resolver problemas.
Sempre fui.
Será que estou perdendo algo aqui?
Uma solução que envolva ter a princesa, onde eu desejo…
Nos meus braços e na minha vida, é tudo que mais quero.
Always remember us this way — Lady Gaga
Everybody hurts — Avril Lavigne

Fiquei olhando para a porta. Esperando seu retorno por não sei
quanto tempo… Até que percebi que ele não iria retornar.
Ele foi embora.
Respiro fundo. Ignorando o aperto no peito e a lágrima solitária que
escapa. Felizmente, se alguém perguntar, posso colocar a culpa num dos
outros ferimentos. A lista é grande, mas estou viva.
Graças a ele.
Ele e seus irmãos me salvaram.
— Ele deve ter tido que resolver algum problema, querida — meu
pai comenta, e finjo que não entendi.
— Quem?
— Yannik… — Segura minha mão com cuidado, e mordo os lábios
freando a vontade louca de desatar a chorar. — Ele não saiu daqui, sabe…
até termos certeza de que você estava fora de perigo. Foi um sufoco fazer
ele ser atendido, o rapaz é cabeça-dura, parece alguém que conheço.
— Ele se machucou? — questiono, preocupada.
— Um tiro de raspão, nada sério, fique tranquila.
Aceno em concordância, tentando me distrair.
Três homens enormes entram no quarto e meu primeiro reflexo é
me assustar, mas então vejo meu pai cumprimentando-os.
Stefan, Karl e Thorsten, seus irmãos.
O último a entrar, eu lembro vagamente de ter ouvido o nome… era
algo com S.
— Sr. Olaf. Estes são Karl, Thorsten e Sven — o loiro, que só pode
ser o Stefan, aponta. Eu sabia que era algo com S.
Todos estão aqui, menos ele, e me pego pensando se aconteceu
algo.
Aconteceu, Sophie. A missão acabou.
— Muito prazer em finalmente conhecê-los, ainda que a situação
não seja a melhor — meu pai brinca, tentando descontrair. — Obrigado. —
Aperta a mão de cada um, os olhos marejados. — Obrigado por salvarem
minha filha, meus funcionários e a mim. Serei sempre grato.
— Ficamos felizes de ter ajudado — Karl devolve. — Y teve que
resolver uns problemas, mas também está feliz que tudo tenha terminado
bem — complementa, trocando um olhar sutil com os demais, mas eu vejo.
Resolver uns problemas? Fugir tem outro nome agora?
Respira.
Forço um sorriso no rosto, e volto minha atenção para os outros
membros da USC.
Aqueles que querem estar aqui.
— Obrigada, eu… — Minha voz falha, e conto até cinco.
— Descanse, querida.
— Vou ter tempo de sobra para descansar, preciso agradecer a cada
um.
E assim, eu faço. Peço que se aproximem e, com dificuldade,
aperto a mão deles. Claro que não é bem um aperto de mão, já que está tudo
enfaixado, mas é o mais próximo que consigo.
— Obrigada por terem vindo ao nosso resgate. Yannik disse que
vocês viriam, ele não mentiu quando disse que vocês eram bons — brinco e
todos sorriem. — Posso pedir um favor? — disparo antes que saiam.
— Claro! — o loiro responde sem titubear.
— Digam a ele… — respira Sophie — …digam que eu sou muito
grata… por tudo que ele fez por mim — friso a última palavra e quero me
parabenizar por não desmontar.
— Nós diremos — Stefan assegura e todos os olhos estão em mim.
A vontade é complementar…
Falem que ele é um cretino por ter ido embora, sem se despedir e
que, a propósito, eu o amo.
Oh, Deus, esqueça esta merda, você sabia que os dias ao lado dele
estavam contados. Sim…
Eu sabia, mas isso não faz doer menos.
Observo, os caras da USC irem embora e é como virar a página de
um livro. Fecho os olhos, torcendo para que o médico passe logo e me dê
alta. Eu… só quero ir para casa, ficar quietinha e lamber minhas feridas.
Sei que daqui a algumas semanas estarei bem. Os cortes
cicatrizarão, os hematomas irão sumir, mas esta dor dentro de mim… ah,
essa… eu não sei quanto tempo vai durar.
Essa tem nome…
Sempre teve!

— Pretende ficar escondida neste quarto até quando? — Martha


entra igual a um furacão no meu quarto na mansão e puxa as cortinas,
fazendo com que eu cubra meu rosto contra a luminosidade repentina.
Eu poderia estar no meu apartamento, mas a verdade é que nem
estou animada. Parece estranho e assustador ir para lá depois destes meses e
de tudo que aconteceu. Como ainda estou me recuperando e, bem… é
difícil fazer algumas coisas sozinhas, ainda mais por conta da fratura e corte
na altura das costelas, aceitei o pedido do meu pai e fiquei mais uns dias
aqui, com eles.
Eu não queria ficar sozinha.
— É cedo— resmungo, mas sei que não é o caso.
— Aham, estamos quase terminando o almoço e a senhorita aí…
precisa levantar, se alimentar, tomar um pouco de sol, pelo amor de Deus.
— Estou me recuperando.
— Eu sei, querida. — Senta na cama e me olha com preocupação.
Martha sempre foi mais que uma funcionária.
É família.
— Estou preocupada com você.
— Logo estarei melhor, Má. Sei que devo estar a visão do inferno,
mas logo estes verdes e pretos — abaixo o lençol, expondo meu rosto que
mais parece uma paleta de cores escuras — vão desaparecer.
— Não estou falando disso e você sabe.
Reviro os olhos e miro o teto.
— Como está o pessoal?
— Todos bem e não mude de assunto, Sophie Meyer.
— O que você quer que eu diga, Má? — Volto a fixar o olhar nela.
— Quando você vai atrás dele?
— De quem?
— Não se faça de boba, mocinha.
Com dificuldade, me movo, ficando sentada na cama.
— Ele foi embora, Má, eu era a sua missão.
Me ajuda a levantar da cama. Dói como o diabo. Só se passaram
duas semanas, e de acordo com os médicos, a recuperação varia de quatro a
seis semanas.
Paciência… e tomar logo meus analgésicos, é o que preciso.
Saio do banheiro e Martha continua parada me observando e sei
que o assunto ainda não acabou.
— Que foi? — questiono, com medo da resposta.
— Você realmente acha isso, filha?
Fecho os olhos, pensando o que responder.
— Achei que fosse mais esperta.
Faço uma careta e não tem nada a ver com os meus machucados.
Flashes dos nossos momentos juntos. Das suas brincadeiras, da sua
proteção, a forma como me tocava, me fazia sentir… viva.
Não é possível que eu tenha me enganado tanto.
Ele nunca prometeu nada ou fez declarações românticas, isso é fato,
mas e se…
Mordo os lábios e meu coração acelera com as implicações do que
estou em mente.
— Você tem razão, Má.
— Eu tenho? — Coloca as mãos na cintura. — É claro que eu
tenho, eu sempre tenho — devolve, com um sorriso. — O que você tem em
mente, querida?
— Vou tomar um café e preciso de alguém como meu motorista.
Sem chance de eu dirigir.
— Posso perguntar para onde a senhorita vai?
Um sorriso brota no meu rosto.
O primeiro nos últimos quinze dias.
— Para Dortmund.
— Já não era sem tempo! — Bate palmas, animada, e mal contenho
a minha animação.
Vou até ele.
Não vou deixá-lo fugir.
Não tão fácil.
Se ele quer ir embora, terá que dizer adeus olhando nos meus olhos.
Não aceito menos que isso.
“…I see my future When I look in your eyes…
[Eu vejo meu futuro, quando olho nos seus olhos]
It took your love to make my heart come alive… “
[Foi necessário seu amor, para fazer meu coração
viver…]
Forever - kiss

Hold on - Chord Overstreet


Forever - Kiss

Meu ombro ainda incomoda, mas foda-se, eu só preciso continuar


socando. O saco de pancada balança. Suor pinga da minha testa.
Quinze dias.
Quinze fodidos dias, sem vê-la.
— Se continuar deste jeito, vai quebrar a porra do saco.
Nem me viro ao ouvir a voz de T, só continuo minha sequência de
socos e chutes. Raiva ferve dentro de mim.
— Mas que droga, K! — resmungo quando o puto agarra o saco,
impedindo que eu continue.
— Precisamos de você lá em cima. Vá tomar um banho e esfrie a
cabeça.
— Minha cabeça está boa — debocho.
— Estamos vendo.
— O que está querendo dizer? — questiono ao mesmo tempo em
que solto as amarras em volta dos meus pulsos.
— Porra, Y. Já se passaram quinze dias, cara. Vá falar com ela.
Ligue para a mulher.
Thorsten não diz nada, apenas acompanha o show.
— Não tenho nada para falar com ela — minto, dando de ombros.
— O caralho que não. Quem você quer enganar, cacete?
— Somos seus irmãos, te conhecemos. — T apoia a mão no meu
ombro bom e meu peito se aperta.
— O que vou falar para ela, cara? Eu falhei, eu deveria ter sacado o
esquema, eu era o fodido guarda-costas… eles machucaram ela… — Fecho
os olhos, cerrando os punhos.
— Você a salvou! Você fez tudo que estava ao seu alcance,
inclusive ficar vivo para ir atrás dos cretinos — K continua. — Você não…
— pausa e troca um olhar com T — …não viu o rosto dela quando você foi
embora, porra. — Seu tom aumenta. — Nós vimos, inferno! Ela não te
culpa por nada. Bem, talvez por você ter fugido como um cuzão, mas isto é
outra história.
— Foda, K. Não é simples.
— Torne simples. Aprenda com os nossos erros. Eu quase perdi a
Mari por não falar o que eu sentia. Você falou para ela? Ela sabe que tem
você de quatro?
Sorrio.
Não podia ser mais verdade.
— Vocês estão se divertindo com isso, né?
— Muito! — Thorsten responde sem rodeios.
— Filho da puta! — devolvo e eles sorriem.
— Tome um banho que você está fedendo, pense a respeito. Você
está perdendo tempo, irmão.
— Vou fazer isso — prometo, e meu coração acelera com a ideia de
rever a princesa.
A reunião foi rápida.
Um serviço novo em Dubai, mas nada com que eu precise me
preocupar. Temos gente no local, e nossa parte será cuidar da intel por aqui.
O tempo na ducha me fez pensar.
Os caras estão certos.
Preciso tirar minha cabeça do cu, e resolver esta merda.
Conversar com ela.
Não adianta ficar aqui remoendo o que poderia ter sido feito de
diferente. Fato é que os filhos da puta encobriram bem os planos e usar a
máfia albanesa como meros peões foi inteligente, colocou o foco neles, mas
o importante é que conseguimos impedi-los. A tragédia seria sem
precedentes.
Necessito vê-la, saber que está bem. Apagar o pavor que senti ao
descobrir que estavam com ela. Foda, a imagem dela machucada ainda me
persegue, noite após noite. E quando o pânico me invade, é a lembrança do
seu sorriso, sua boca esperta, seu corpo junto ao meu, o cheiro do seu
xampu, quando ela adormecia no meu braço… é isso que me acalma.
Porra.
Se bem conheço Sophie, ela está puta.
Fugi, de novo.
Mas, estou pronto para ir atrás dela e implorar até que ela me deixe
entrar na vida dela de novo, desta vez, sem prazo de validade.
— Y — Vivi chama, parada na porta, me olhando de um jeito
estranho.
— Precisa da sala? — questiono, colocando um relatório de
inteligência para rodar.
— Não. Você tem visita.
Arregalo os olhos.
— Visita?
— Sophie Meyer.
A mesa balança quando me levanto com tudo, quase derrubando o
porta-lápis no centro.
— Aconteceu alguma coisa? — questiono, passando a mão nos
cabelos. O que poderia ter trazido ela aqui? Mais problemas?
— Não sei, coloquei ela na sala 02.
— Obrigado, eu estou indo.
Inúmeros cenários passam na minha cabeça, conforme caminho a
passos largos até o meu destino.
Se fosse uma nova ameaça, eu saberia. Seu pai teria avisado. Stefan
saberia.
Mas que porra.
Abro a porta e a vejo, de costas, calça legging preta, um suéter
azul-marinho, cabelos soltos.
Seu perfume inunda meu nariz e…
Deus, como senti sua falta.
— Sophie…
— Pensei em passar no seu apartamento, mas eu não tinha o
endereço, então imaginei que você estaria trabalhando — comenta, sem se
virar.
— Você está bem? — questiono, me aproximando com cautela.
Paro a um metro de distância, freando a vontade louca de tocá-la.
— Não!
A resposta é curta, direta, então ela se vira.
Seu rosto está coberto de roxos, em diferentes tonalidades, mas em
alguns lugares, já começa a clarear… a curar.
— O que houve? — pergunto, sabendo que farei tudo ao meu
alcance para ajudá-la, ainda que ela não queira.
— Você — retruca, a voz baixa, mas eu escutei e meu coração
dispara. — Você houve — afirma, os olhos verdes fixos em mim.
Não sei quanto tempo ficamos parados apenas nos fitando.
— Eu… — começo, mas ela continua:
— Não posso… — Olha para as mãos, nervosa, e então seu olhar
está no meu. — Não posso deixar você ir embora, me dar as costas, me
tratar como mais uma missão sua, quando…
— Sophie… — tento interromper, mas ela ignora.
— Não quando… eu te amo, tanto que dói.
O que ela disse?
Meu peito parece a ponto de explodir.
Ela realmente disse isso?
— Eu não queria, acredite — faz uma careta, os olhos marejados
—, mas eu faço. Eu amo você, todo você… — Lágrimas começam a
escorrer pela sua bochecha e cerro os punhos, contendo a vontade louca de
puxá-la para meus braços. — Amo sua boca suja e sem filtro, seu jeito
moleque e brincalhão, sua irreverência, sua maneira de me deixar louca… e
ao mesmo tempo de me acalmar, seu colo, seu toque no meu corpo, eu amo
a forma como me sinto — um soluço varre seu corpo — só de estar perto de
você, porque você me completa, você é o caos para a minha calmaria.
Sinto meus olhos pesados, mas não posso chorar.
Não antes de falar tudo que tenho guardado dentro de mim.
Respira, porra.
Ela me ama… eu…com todos os meus defeitos, com toda minha
escuridão.
Respiro fundo, tentando controlar o turbilhão de emoções dentro de
mim. Ela se agacha, pegando algo no chão próximo de uma das cadeiras.
Um quadro.
— Eu terminei… é seu, considere um presente de despedida. —
Com cuidado, coloca-o sobre a mesa, então me dá as costas e começa a
caminhar na direção da porta.
Não sei o que me surpreende mais.
O fato de reconhecer meu rosto pintado em cores vivas naquela
tela… que porra, é lindo demais e não estou dizendo isso porque sou eu ali,
ou o fato dela realmente achar que pode simplesmente ir embora.
Ah, princesa, o que eu vou fazer?
Deixo-a dar mais alguns passos, mas então falo, fazendo-a parar:
— Terminou, princesa?
— Eu poderia ficar horas falando sobre você — reconhece, sem me
fitar — e não precisa me mandar embora. — Agarra com força a alça da
bolsa. — Eu sei o caminho da saída, só precisava colocar isso para fora.
Em três passos, estou ao seu lado.
— Se você acha que você pode vir aqui, falar tudo isso e ir embora,
você é realmente mais louca do que eu imaginava.
— Ora, seu… — Se vira e seu olhar é puro fogo.
Com um movimento rápido, prendo-a contra a parede,
pressionando meu corpo contra o seu. Aprisionando-a entre meus braços,
onde ela pertence.
Seu peito sobe e desce, a respiração acelerada.
— Yan… — Seus olhos estão nos meus e eu poderia me perder
neles, na intensidade que vejo ali.
— Xiii, gatinha, eu preciso te falar umas coisas também, e não é
fácil, não pra mim.
— Só me diz, por que você foi embora, de novo? Eu preciso saber.
— Lágrimas escorrem pela sua bochecha. — Você foi embora do hospital e
não olhou para trás, você me deixou, de novo.
— Eu tive medo — reconheço e vejo surpresa no seu olhar —, eu
falhei com você… e achei que você não ia queria olhar mais na minha cara.
— Faço uma careta, só de pensar nisso, meu peito aperta. — Não protegi
quem eu… amo.
Arregala os olhos.
— É isso mesmo que você ouviu, princesa, você me tem desde
aquele dia na aula de Biologia. Todos estes anos, eu tentei esquecer, seguir
em frente, mas eu nunca te esqueci, nem por um fodido segundo. Eu sempre
achei que amar era loucura, que é a coisa mais estúpida deste mundo. Você
fica exposto como um nervo. Minha mãe quase destruiu nossa família ao
perder meu velho.
Sinto sua palma sobre o meu rosto e fecho os olhos, mas me forço a
continuar:
— Eu não vivi o luto pela perda do meu pai, linda. Eu guardei toda
dor dentro de mim, escondi ela atrás de uma máscara de felicidade, mas por
dentro era só escuridão.
Seguro sua mão sobre o meu peito, para que ela veja como meu
coração está acelerado.
— Eu não sei porra nenhuma sobre relacionamento. Eu nunca tive
um, mas eu quero… eu quero com você.
— Niki…
— Eu estou com medo, porra, eu nunca senti tanto medo, do que
quando eles te pegaram, quando eu achei que ia te perder. Eu… eu amo
você, Sophie Meyer.
Lágrimas continuam escorrendo pelo seu rosto, mas agora um
sorriso está ali, e isso me faz sorrir também.
— Então, me ensina, posso não saber nada disso, de casalzinho, de
flores, mas eu aprendo rápido, e sempre vou compensar com muitos
orgasmos. — Pisco e seu sorriso aumenta em meio às lágrimas, desta vez de
felicidade e, quando dou por mim, estou chorando também.
Foda!
— Sempre foi você, princesa, sempre! Você é a calmaria para
minha tempestade, você é luz na minha escuridão, você é paz para o meu
caos.
— Eu não sei nem o que dizer… — Ela arfa, segurando meu rosto
em suas mãos.
— Diz que me aceita com todas as minhas falhas e defeitos, me
aceita, porque eu sou seu e eu cansei de fugir, eu quero você, linda.
— Niki…
— Me aceita com toda minha escuridão e caos. Eu não faço
promessas que eu não possa cumprir. E eu prometo que nunca mais vou
fugir. Eu sou seu enquanto você me quiser. — Cruzo os dedos em
juramento.
— Você está em sérios problemas — devolve, o semblante fechado.
— Estou?
— Aham — confirma, tentando se segurar, mas seu sorriso começa
a surgir. — Porque eu te quero pra sempre. Eu sempre quis.
— Então eu sou o puto mais feliz deste mundo.
— O meu homem puto — ela complementa, brincando com meu
apelido do passado. — Só meu, meu caos particular, o meu amor.
— Seu, todo seu, princesa.

FIM!
“Você é o caos que organiza tudo dentro de mim…”

I will be — Avril Lavigne


You’ve got a way — Shania Twain

Quase seis meses depois.

Desperto, sentindo o peso da sua perna sobre a minha. Um sorriso


preguiçoso brota no meu rosto. Tem sido assim, desde que fui atrás dele na
USC. Não nos separamos mais. Não podia ser diferente.
Yannik é teimoso… igual a mim.
Me conheço e sei que um relacionamento à distância não ia
funcionar. Não quando temos esta necessidade de estar juntos, de
compartilhar nosso dia, de dormir abraçados e acordar entrelaçados.
Nunca me considerei uma romântica, mas descobri que sou.
Já perdemos tanto tempo, que não quero desperdiçar um segundo
sequer. Seu pedido fez sentido e eu aceitei, sem titubear.
Nada me prendia em Bonn. Visitamos nossos pais com frequência e
somos felizes no nosso canto.
Me mudei para o apartamento dele, embora estejamos pensando em
mudar para um lugar maior, onde eu possa ter meu próprio estúdio, dentro
de casa, de preferência com uma vista para um jardim.
A ideia partiu dele.
Yannik não cansa de me surpreender e o amo cada dia mais.
Tateio embaixo do travesseiro, à procura do celular, só para
descobrir que estamos atrasados.
— Precisamos levantar, já passa das dez horas.
— Humm — resmunga, esfregando a barba rala contra meu
pescoço, enquanto pressiona seu pau no meu traseiro.
Se tivéssemos mais tempo, eu até provocaria. É um prazer que
tenho com frequência. Nada como sexo de manhã, para começar bem o dia.
Só de pensar nisso, sinto minha boceta pulsar.
Se comporte, Sophie.
— Porra, princesa — mordisca minha orelha —, quero comer seu
rabo de novo. — Puxa meu quadril contra sua ereção e mordo os lábios.
— Você está achando que é festa? — brinco, virando o rosto
levemente de lado, mas arrebitando a bunda ao seu encontro. — Só em
datas especiais.
— Hoje é uma. — Pisca, e quero rir, pois realmente é.
— Não sei por que ainda argumento com você.
— Você vai deixar o meu amigão na mão?
— Tenho certeza que sua mão pode resolver o problema muito bem
— debocho, mas meu corpo já está em chamas e ele mal me tocou.
O infeliz tem este efeito em mim.
— Para que a mão, se tenho esta boceta. — Enfia a mão sob a
minha calcinha e me encontra ensopada. — Molhada pra cacete.
Me viro na sua direção e ele não perde tempo, abocanha meu peito,
sugando forte, enquanto seus dedos seguem provocando meu clitóris.
— Vamos nos atrasar — resmungo, mas quero tanto.
— Está cedo ainda — devolve, puxando o bico entre os dentes,
antes de enfiar dois dedos em mim.
— Niki…
Circula o mamilo, provocando com a língua, antes de colocar tudo
na boca e mamar com gosto.
—Hummm. — Derreto em seus braços e a próxima coisa que sei é
que a minha calcinha foi abaixada.
— Ok, mas não podemos demorar.
— Se a forma como você está apertando meus dedos é um sinal,
será rápido, gostosa — rosna na minha orelha.
Fico de ladinho, sentindo Yannik esfregar seu comprimento na
minha boceta, lambuzando-o na minha excitação, só para depois esfregar na
minha bunda.
— Hum…
— Caralho, toda melada.
Movimenta o quadril, deslizando para frente e para trás, me
fazendo ansiar.
— Quero você… — gemo.
— O que você quer, linda? — Roça seu pau contra meu cu, fazendo
uma leve pressão, mas então se afasta.
— Você sabe… — Arfo quando seu indicador pressiona meu
clitóris em movimentos circulares. — Me fode, por favor.
— Porra, sim. — Pressiona devagar contra meu cu, e sinto seu pau
me enchendo.
— Oh, Deus — gemo, meu corpo queima, mas ele permanece
imóvel, esperando que eu me acostume com a intrusão.
Devagar, se afasta, só para voltar a me preencher.
— Você vai me partir no meio — resmungo, num misto de dor e
prazer.
Yannik ri contra minha orelha e volta a provocar meu clitóris, já
sensível, e mordo os lábios, sentindo o prazer crescer dentro de mim.
Ele abaixa o lençol e alisa minha bunda.
— Adoro ver meu pau sumir no seu rabo, porra — geme, conforme
empurro meu quadril contra sua ereção, tomando tudo dele.
— Mais…
— Caralho, Sophie, você está gulosa, apertando minha rola assim,
não vou durar…
— Estamos atrasados — brinco, mas estou tão próximo.
Yannik se retira inteiro e me sinto vazia.
— De quatro, princesa.
Obedeço, apoiando as mãos no colchão, rebolando a bunda em
provocação.
O tapa que recebo só me deixa mais quente.
— Safada, você quer meu pau?
— Quer que eu desenhe? — brinco novamente, mas me arrependo
no segundo que vejo seu olhar safado.
Oh, merda.
Separa as bandas do meu traseiro.
— Você vai se lembrar do meu pau estirando este cuzinho apertado
o dia inteiro. — Então, com uma estocada profunda, me enche.
— Ahhh… — Jogo a cabeça para trás, sentindo cada nervo em
chamas.
Firma meu quadril, entrando e saindo num ritmo duro, me fodendo,
exatamente como pedi.
Minhas coxas começam a tremer e movo meu corpo ao encontro do
seu, precisando de tudo que só ele pode me dar.
— Vou gozar — gaguejo e ele intensifica a velocidade. — Ohhh…
— Gozo, o corpo todo tremendo, conforme as ondas do orgasmo me
varrem. Gemo palavras desconexas, ignorando que os vizinhos possam
ouvir, ignorando tudo que não seja apenas ele e eu. Nós.
— Cacete, ordenha minha rola.
Seus dedos apertam minha pele, conforme ele arremete em mim,
fundo, e sei que ficarão marcas.
— Minha — urra, me enchendo de porra.
— Sua — devolvo, morta, querendo apenas me jogar de volta na
cama. — Isso foi…
— Uma ótima maneira de começar o dia — provoca, mordendo
minha bunda antes de se levantar.
— Fala isso porque não foi você que teve o cu arregaçado —
disparo, sentindo meu corpo latejar.
Yannik começa a gargalhar.
— Cretino. Juro que se disser “eu avisei” — ameaço, jogando o
travesseiro sobre ele.
— Você não reclamou quando eu estava dentro de você, princesa.
De fato, não. Estava bom.
— Parecia estar, como posso dizer, apreciando.
— Vá se lascar, quero ver como vou conseguir andar hoje.
— Te carrego no colo, se for necessário, linda. — Um sorriso
sacana surge no seu rosto e não resisto, me pego sorrindo também.
— Vamos, linda… — Estende a mão. — Vem tomar banho comigo.
Vou ensaboar bem este rabão e prometo deixar ele descansar.
— Agora, só no Natal — brinco e ele arregala os olhos.
Como se eu conseguisse resistir ao seu charme.
— Vamos tomar banho, logo — devolvo, tentar soar séria, mas não
consigo e seu sorriso está lá de novo. E eu não me canso de vê-lo assim,
feliz.

Entro no salão de beleza, vinte minutos atrasada. Foi difícil largar


do homem hoje, mas consegui. Odeio atrasos, mas tenho que admitir que
valeu cada segundo, e só de me lembrar disso, sinto minhas bochechas
quentes.
Vivi, Mari e Elise já estão sendo atendidas quando entro, toda
esbaforida.
— Desculpem. Yannik fez… a gente se atrasar.
— Relaxa, Sophie — Vivi tranquiliza. — Sabemos como eles
podem ser terríveis. — Dá uma piscadinha e apenas sorrio.
Terrível é pouco!!
Minha bunda que o diga, mas guardo essa informação comigo.
Desde que me mudei para Dortmund, elas me acolheram. Em
Bonn, não tinha muitas amigas, nunca tive. Sempre fui reservada, Cathy é o
mais próximo que me aproximei de alguém nos últimos anos. Por isso, é
difícil me acostumar com tanto carinho. Não é à toa que Yannik falou que
eles são uma grande família.
Pude comprovar isso.
Não é apenas um trabalho. Nos vemos fora, saímos juntos, nos
divertimos, compartilhamos tantos momentos, as preocupações, as
conquistas, que é algo inexplicável.
Hoje é um dia para lá de especial.
É o casamento da Mari e Karl. E todos estão eufóricos.
Niki foi encontrar com os caras numa barbearia, dar uma aparada
no cabelo e barba e depois irá me pegar.
A cerimônia será numa propriedade rural, a pouco mais de vinte
minutos da cidade. Um casamento ao ar livre, aproveitando o clima
delicioso no verão.
Vivi, Elise e eu somos madrinhas e me sinto tão honrada com o
convite, afinal, sou a novata da turma.
Mesmo com meu pequeno atraso, tudo correu bem.
Unhas feitas, cabelo meio preso e um vestido lindo salmão, que
caiu perfeitamente em mim. Leve, de tule, e o detalhe fica pelo bordado no
decote e as alças cruzadas no pescoço.
Simples e elegante.
Todas nós optamos por algo nesse tom, por ser um lindo dia de
verão e estou ansiosa para ver todas vestidas, principalmente a noiva.
— E a Ju, vem? — questiono para Vivi, observando os últimos
retoques no seu cabelo.
— Infelizmente não. — Faz beicinho e se tem algo que aprendi
nestes últimos meses, é o quanto elas são próximas, amigas de longa data.
— Viajou com Nick para uma conferência da Ulbrech, no Brasil, e
aproveitou para levar a Heleninha para visitar sua mãe.
Mãe.
Meu peito aperta ao pensar na minha, mas acredito que estaria feliz
de ver como as coisas estão. No fim, ela estava certa em não jogar as
fotografias fora. Yannik e eu encontramos nosso caminho de volta um para
o outro.
Estou a ponto de responder, quando Elise sai do quarto ao lado,
onde foi com a ajuda das atendentes se vestir.
— Deus, você está maravilhosa!
— Jura? — pergunta, dando uma volta, seu vestido de um tom mais
claro que o meu, quase pêssego, é um sem alças, soltinho, e o detalhe fica
por um cinto logo abaixo dos seios, todo incrustado de pedrarias,
destacando sua barriga.
— Lindo demais, juro. — Ela sorri e fica ainda mais linda.
— Caramba, Lise, você está gata demais. Quero ver o T babando e
brigando com quem ousar olhar na sua direção.
— Estou a ponto de explodir, ninguém vai pensar em olhar pra
mim, já para vocês — olha de mim para Vivi —, estão fantásticas.
— Deixe de bobeira, você está uma gravidinha gostosa — Vivi
retruca e não contenho o sorriso.
— Você está perfeita, Elise — reforço e é a mais pura verdade. —
Quando o Thomas chega?
Acaricia a barriga pontuda e seu sorriso aumenta.
— A data prevista é daqui a duas semanas.
— E a tia Vivi já está louca pra te conhecer — Vivi fala perto da
barriga.
— Pode desistir de jogar seu charme, que a dinda sou eu. — A voz
de Mari soa ao fundo e todas nós nos viramos para vê-la, e me faltam
palavras.
— Você está… — começo.
— Deslumbrante — Elise completa e não poderia concordar mais.
— Gostosa pra cacete! — Vivi dispara e assobia.
— Ahhh, gostaram? — Morde os lábios, nervosa, e não consigo
parar de admirar.
O vestido longo todo de renda, com um decote em V, costas
abertas, mangas curtas, expondo com orgulho suas tatuagens, e um delicado
cinto de cristais é a cereja do bolo.
— Divino.
Mordo os lábios, freando a emoção.
Elise ao meu lado já está chorando, mas ela pode pôr a culpa nos
hormônios.
— Não chora, Lise, senão eu choro — Mari repreende, mas é difícil
não se emocionar.
— Quero tanto ver a cara do Karl — Vivi anuncia e o choro é
substituído pelos risos.
— Acho que todas queremos — retruco e Lise assente, batendo
palmas. — Não sei quanto a vocês, mas estou curiosa para saber como eles
estão se saindo.
— Stefan disse que eles estão a caminho. Acho que vamos
descobrir em breve.
— Oh, Deus… está acontecendo! — Mari dispara, nervosa.
Nós nos despedimos dela, fazendo um esforço enorme para não arruinarmos
a maquiagem.
Casamento Mari e Karl, aí vamos nós.

— Você está tão linda, princesa — Yannik dispara, me olhando.


— Olhos na estrada — devolvo, feliz com o elogio.
— Difícil prestar atenção aqui, quando este mulherão está ao meu
lado. Será que vão reparar se atrasarmos um pouco?
— Nem pense nisso! — respondo, séria. — Somos padrinhos, não
podemos atrasar.
— Thorsten e Stefan já devem estar lá, já tem dois padrinhos.
Não digo nada, só dou meu melhor olhar matador.
— Eu só queria começar as comemorações — brinca, dando uma
piscadinha.
— Mantenha isso em mente — devolvo — para mais tarde.
— Linda.
— Você também não está nada mal — comento, e estou sendo
educada.
Quando o vi, parado ao lado do Audi, naquele terno cinza-claro que
parece feito sob medida, destacando as costas largas, as coxas grossas…
minha nossa senhora das calcinhas molhadas.
— Aposto que você está molhada.
— Pena que você não pode descobrir.
— Provocadora. — Bate com a mão no volante.
Chegamos ao local e a decoração é um espetáculo à parte.
Simples, delicada.
Cadeiras de madeira estão espalhadas por um grande gramado.
Lindos arranjos de flores, delimitando o corredor e, ao final, um
arco totalmente coberto por centenas de flores brancas.
Chega o nosso momento e, com um sorriso no rosto, caminho pelo
corredor com meu amor.
Nós nos posicionamos ao lado dos nossos amigos e fica difícil
segurar o choro ao ver a emoção estampada no rosto do Karl, enquanto
assiste à Mari, a sua pequena, caminhar ao seu encontro, segurando no
braço do seu pai.
Pisco, tentando afastar as lágrimas, mas é uma tarefa difícil.
Respira, Sophie.
Emocionante não é uma palavra boa o suficiente para descrever.
Quando o padre disse o tão esperado “pode beijar a noiva”, K não
perdeu tempo, e todos explodimos em uma grande salva de palmas.
Seco a lágrima teimosa.
—O que foi, linda?
— Nada — tento disfarçar.
— Você quer isso?
— O quê?
— Isso, vestido, igreja…
Isso foi inesperado.
— Eu… nunca pensei muito a respeito. E você? — devolvo a
pergunta.
— Eu também não. Achei que nunca ia.
— Deixar de ser puto? — provoco baixinho.
— Continuo sendo — sussurra no meu ouvido —, mas apenas seu.
— Bom mesmo, Yannik Bauer. — Sorrio, dando um tapa no seu
peito. — Você faria isso tudo? — questiono, mirando seus olhos.
— Por você, eu chamo até o Papa para fazer a fodida cerimônia —
retruca, sem titubear, a voz rouca fazendo meu corpo responder.
— Te amo, Niki. — Roço meus lábios nos seus, suave,
comportado.
— Eu também te amo, princesa.
— Vocês dois, arrumem um quarto, pelo amor de Deus.
— Que foi, T, já está de mau humor, pensando nas futuras noites
mal dormidas? — Yannik provoca.
Sim, algumas coisas nunca mudam.
Thorsten ergue o dedo do meio.
— Sua hora vai chegar!
— Ei, devagar, irmão. Ainda nem chegamos na parte da coleira por
aqui.
— Você é realmente cego, ou só finge?
Elise e eu só rimos.
— Quando K fez a proposta, Elise chorou, disse que todas as
mulheres choram nestas situações. Semanas depois, apareceu grávida — T
pontua e gesticula com a cabeça na minha direção.
— Você não…? — Yannik olha para mim com os olhos
arregalados.
— Relaxa, tudo certo por aqui — tranquilizo.
— Ufa!
— Ia ser tão ruim, se fosse verdade? — pergunto ao ver sua reação.
— Não, mas é que nem “casamos” e tal…
— Ah, e agora você quer fazer tudo certinho? Deveria ter pensado
nisso antes de transarmos — retruco.
— Isso quer dizer que está grávida?
— Não, seu louco!
— Pare de assustar o pobre do Yannik — Elise comenta, mal
disfarçando o riso ao nosso lado.
— Isso, loira, me defende.
— Ai… — ela resmunga e viro o rosto em sua direção, bem na
hora que ela faz uma careta.
— Tudo bem, Lise? — pergunto, preocupada.
— Só uma contração de treinamento. — Ela respira fundo,
agarrando no braço do Thorsten, que agora é só atenção com a esposa.
— Está tudo bem, El? Vou ligar para a Dra. Ross — começa,
puxando o celular do bolso, mas ela o tranquiliza com o olhar.
— Estou bem, estamos bem. Este menino vai esperar mais um
pouquinho para sair do forno, certo? — acaricia a barriga e a dor parece ter
passado.
O resto da tarde é tranquilo.
Dançamos e cantamos ao som das músicas tocadas pelo DJ,
criamos novas memórias ao lado dos nossos amigos.
E eu não poderia estar mais feliz.
— Um orgasmo pelos seus pensamentos?
— Só um? — devolvo, envolvendo meus braços em volta do seu
pescoço.
— Depois não quer que te chame de gulosa. — Mordisca minha
orelha.
— Só pensando como foi um dia maravilhoso.
— Com certeza.
— É bom ver isso, celebrar a felicidade deles, dançar, curtir.
— Os caras estão animados. — Faz uma careta.
— O que quer dizer?
— Dois casamentos em menos de seis meses.
— Algum problema? — Estreito o olhar, só esperando a resposta
que ele dará. Nunca falamos sobre isso. Estou feliz com o que temos.
— Nenhum, princesa, absolutamente nenhum.
— Com medo de se amarrar?
— Eu não, você já me tem todinho amarrado, princesa, não é um
papel ou uma festa que vai dizer o contrário.
— Boa resposta — devolvo num sopro, mas reconheço que
testemunhar o casamento da El e Mari, me fez sonhar com o meu. Não que
eu vá admitir isso, não agora, pelo menos. — Não sei se meu pai seria louco
o suficiente para dar minha mão a você.
Ele gargalha e o som é música em mim.
— Ah, linda, seu pai me daria sua mão, seu pé… você inteirinha.
— Você está dizendo que ele quer me desencalhar?
— Nunca, é só porque ele sabe como eu sou louco pela filha dele e
farei tudo para vê-la feliz.
— Para de falar e me beija — peço e ele faz.
Estamos nos despedindo de Thorsten e Elise, quando ouço um
barulho de algo estourando, como se fosse um “ploc”.
— Mas que porra — Yannik dispara ao meu lado, sutil como um
cavalo.
— Acho que este rapazinho resolveu chegar um pouco antes —
aponto, ao ver a poça de líquido nos pés dela.
Elise olha do chão para Thorsten, que está branco como papel. E,
por um momento, não sei se ajudo ela ou tento tranquilizá-lo.
Vivi e Stefan se aproximam com a pequena comoção.
— Eita que a família vai aumentar — Vivi dispara, batendo palmas.
— Pode vir, meu amor — Elise sussurra para sua barriga,
conversando com Thomas, e droga, me pego pensando se um dia viverei
essa experiência.
Karl e Mari se aproximam, e ela não disfarça a surpresa.
— Meu Deus, Lise. — Leva as mãos à boca. — Thomas está
chegando, nem acredito.
— Desculpe a confusão.
— Para com isso, que confusão? A festa praticamente já acabou,
estão todos indo, se eu pudesse ia com você agora para o hospital, mas
daqui a pouco, te encontro lá.
— Nem pensar, curta sua festa e depois…
— A festa já acabou, amiga, e a lua de mel pode esperar. — Troca
um olhar com Karl e ele assente confirmando. — A dinda quer ver a carinha
deste rapazinho.
— Não esqueça do tio babão — Yannik fala, me surpreendendo.
— Tios — Karl e Stefan corrigem e quero rir.
— Parece que o pós-festa será na maternidade — Vivi aponta e
todos rimos.
Maternidade, aí vamos nós.
Heaven — Bryan Adams
(Everything I do), I do it for you — Bryan Adams
When you look me in the eyes — Jonas Brothers.

— Tenho um sobrinho — disparo, ainda bobo com os últimos


acontecimentos.
— Sim, você tem… tio Niki. — Dá uma risadinha.
Faço uma careta, estranhando o som, mas só de me lembrar do
pacotinho no colo da Elise, já não soa tão ruim.
— Posso me acostumar com isso. — Dou de ombros, secando os
cabelos e caminhando ao seu encontro.
O dia de ontem com certeza vai ficar para a história, K se amarrou
em grande estilo e depois Thomas resolveu chegar e nos transformar em um
monte de tios e tias babões.
A sala de espera da maternidade ficou pequena.
A Família USC está aumentando.
E, porra, só de me lembrar da princesa com ele nos braços,
conversando com o pequeno, enquanto ele agarrava seu indicador, foda.
Isso me faz pensar em coisas que nunca imaginei.
Como seria termos a nossa própria família?
Será que eu seria um bom pai?
Lembranças do meu velho me atingem, de tudo que ele me ensinou,
das brincadeiras, quando ele tinha folga… E, sinto um aperto no peito, mas
antes de pensar em bebê, tenho algumas coisas em mente.
Preparei duas surpresas.
Uma, Sophie até suspeita, mas a outra, ela não faz a mínima ideia.
Estou ansioso pra caralho, as próximas semanas vão ser longas.

— Já ia te ligar, tudo certo? — Me olha com preocupação.


— Tudo mais que perfeito! — retruco, puxando-a para os meus
braços, arranhando minha barba no seu pescoço. — Caramba, você está
muito cheirosa. — Subo minha mão por baixo do roupão que ela está
usando, apenas para encontrar seu traseiro coberto com um pedaço
minúsculo de pano. — Porra, Sophie, você quer me matar. Vou ficar
imaginando você a noite toda com este pedaço de pano enfiado na bunda.
— Se comporte. — Sorri, se afastando de mim. — Vá tomar banho
ou vamos nos atrasar.
— Temos mesmo que sair? — questiono, me aproximando como
um predador. — Seria tão mais interessante arrancar este roupão e cair de
boca nesta sua boceta gostosa.
— Sim. — Morde os lábios, me observando com atenção. — Cathy
falou que esta exposição está maravilhosa, que eu tenho que ir — se
justifica, o peito subindo e descendo. — Eu prometi que ia.
— Ok, então. — Paro a poucos centímetros de distância. — Acho
que teremos que deixar isso para mais tarde.
— Sim, por favor — sussurra, apertando as pernas uma na outra e
me controlo para não a jogar na cama agora mesmo.
Tiro minha camiseta com um único puxão e dou uma piscadinha
antes de fazer meu caminho até o banheiro.
— O que é isso? — Sua voz soa atrás de mim.
— O quê?
— Não acredito. — Leva as mãos à boca. — Você realmente fez
outra tatuagem! Eu sabia que você ia aprontar.
— Ah, sim! Passei no estúdio que o K frequenta e pedi…
— Oh, Deus! — Seus olhos estão fixos no meu peito.
— Gostou, linda? — questiono, meu coração batendo em
disparada. — Já faz tempo que eu precisava adicionar isso — explico,
afastando uma mecha de cabelo que insiste em cair no seu rosto.
Sophie ergue o rosto e seus olhos verdes estão marejados.
Porra, princesa.
— Eu… é linda — sussurra, passando o indicador com delicadeza
sobre o traço ainda sensível.
— Não fazia sentido ter apenas o caos — começo, erguendo seu
queixo, precisando que ela olhe para mim. — Não quando eu tenho a minha
calmaria… a minha luz.
Lágrimas escorrem pela sua bochecha.
— Não chore, princesa.
— É de felicidade, é tão linda.
Onde antes havia apenas um triângulo com o mar revolto, uma
tempestade.
O CAOS.
Agora há um novo triângulo, exatamente oposto, um mar calmo,
próximo de uma ilha, onde há um farol e logo abaixo se lê: CALMARIA.
— Você é a minha calmaria, meu farol.
— Niki…
— Tem mais.
— Mais?
Viro o corpo, mostrando meu braço e seu sorriso aumenta.
— Quando eu vi… achei tudo tão triste e escuro — começa,
emocionada.
— Era como eu me sentia — explico —, mas não mais, porque
agora eu tenho luz, eu tenho você.
No antebraço, onde antes havia uma floresta escura, com pinheiros
altos e um menino sozinho, há uma lua cheia iluminando o caminho, ao
lado uma frase pequena.
— Et lux in tenebris lucet — ela repete.
— E a luz brilha na escuridão — traduzo e então ela, com cuidado,
beija a tatuagem, o braço, o meu peito, e foda…
Seguro sua bunda, erguendo-a. Suas pernas se enrolam ao meu
redor, no instante em que tomo seus lábios nos meus.
— Te amo tanto, princesa.
— Te amo, Niki, tanto.
Coloco-a sentada sobre a pia do banheiro. Acaricio o seu pescoço,
sem deixar de prová-la. Provoco sua língua com a minha, precisando de
mais…
Abro seu roupão, expondo o seio nu, e com o indicador, contorno,
provocando.
— Hummm.
— Preciso de você, linda.
— Eu sou sua, eu sempre fui.
Mordisco seu queixo e então abocanho seu peito, chupando forte.
Sophie esfrega os pés nas minhas costas.
O roupão abre completamente, expondo seu corpo e trinco os
dentes, precisando dela.
— Caralho, acho que vamos chegar um pouco atrasados, linda,
porque só saio daqui depois de ver minha porra escorrendo desta boceta
gostosa. — Puxo o pedaço de pano para o lado e deslizo meu indicador
pelas dobras encharcadas.
— Sim, por favor.
— Foda… — Deslizo minha língua por onde meus dedos estavam
e ela joga o corpo para trás, se abrindo para mim. — Gostosa pra cacete —
rosno, abocanhando seu clitóris e sugando de forma rítmica.
— Oh… — Agarra meus cabelos, enquanto a devoro, lambendo de
baixo para cima, só para depois puxar seu clitóris entre os dentes, antes de
metê-lo na boca. — Quero seu pau… — geme, enlouquecida, e minhas
bolas apertam.
— Porra, princesa, seu pedido é uma ordem.
Abaixo minha calça e cueca, me livrando da roupa em tempo
recorde.
Dou duas bombadas no meu comprimento, sob seu olhar faminto.
— É isso que você quer? — Esfrego minha rola na sua excitação,
pressionando levemente, só para afastar em seguida.
— Me fode…
Enfio até o talo, numa única investida.
Sua boceta me recebe, me apertando, e cerro os dentes.
Puxo seu quadril até a beirada da pedra e, sem aviso, começo a
estocar, forte, fundo… entrando e saindo.
Seus gemidos são o meu combustível.
No banheiro, apenas o som dos nossos corpos batendo.
— Não pare — implora, as coxas tremendo.
— Foda, aperta minha rola. — Pressiono o polegar no seu clitóris e
aumento a velocidade, a fodendo gostoso, entrando e saindo, sem descanso.
— Niki — grita meu nome, jogando a cabeça para trás, entregue,
enquanto seu corpo convulsiona num orgasmo potente.
Continuo socando, sua boceta é como uma luva apertando meu pau,
tomando cada gota minha.
— Sophie... — grito, gozando forte, despejando minha porra, como
disse que faria. — Isso é o que chamo de arte — brinco, me afastando e
apreciando meu gozo escorrendo pelas suas dobras.
— Você é louco e um tremendo safado — ela resmunga com um
sorriso no rosto.
Linda.
Minha.
— Acho que preciso de outro banho.
— Vamos que eu esfrego as suas costas — brinco, dando uma
piscadinha.
Sophie revira os olhos, mas aceita minha mão, com um sorriso
maior que o mundo.

Chegamos à galeria no horário exato. Não que Sophie saiba, ela


não faz nem ideia da minha segunda surpresa.
— Achei que estaria mais movimentado — comenta, olhando o
estacionamento com poucos veículos estacionados.
— Às vezes, os convidados se atrasaram por um bom motivo, como
o nosso — provoco e ela dá um tapa na minha perna.
— Se comporte. Ainda não esqueci que você foi fazer tatuagem
sem mim, eu te disse que queria cobrir a cicatriz.
Ela disse.
Mas eu não queria estragar a surpresa.
— Você tem que admitir que gostou da surpresa — devolvo,
fazendo biquinho.
— Muitooooo — confirma, roçando os lábios nos meus. — Por
isso, vou fazer uma também. Me aguarde.
Dou uma gargalhada enquanto estaciono.
Esta é a minha garota.
Entrelaço meus dedos nos seus, e a cada passo meu coração
acelera.
Ensaiei esta merda no último mês, mas pareço um novato na sua
primeira missão.
Porra.
— Está tão vazio.
Toco a pequena caixa no meu bolso e me forço a respirar.
— Cathy — Sophie chama, conforme entramos na galeria.
Está tudo meio escuro. Uma leve penumbra.
Então, algumas luzes se acendem, iluminando doze quadros, cada
um com uma letra, mas que juntos formam a pergunta que martela no meu
peito:

No final da pergunta, o meu quadro, aquele que ela me entregou


quando foi atrás de mim, meses atrás, quando não me deixou fugir dos
meus sentimentos.
— Niki… — Sua voz está embargada.
Me ajoelho atrás dela e puxo a caixa, revelando um anel de
diamantes, no formato de um lírio.
— Princesa… — Minha voz está rouca, carregada de emoção.
Ela se vira e me vê ali, lágrimas caem pelo seu rosto e sinto uma
escorrendo pelo meu.
Respira, porra.
— Segunda surpresa da noite, linda — sussurro, só para seus
ouvidos. — Diz que aceita, que me aceita com todas minhas falhas, que me
aceita hoje e todos os dias das nossas vidas, que aceita minha escuridão e
meu caos, porque você é a minha luz, minha calmaria, minha paz… —
Minha voz falha, mas me forço a terminar. — Você é meu amor. Te amo,
Sophie Meyer.
— Sim… sim… sim — grita e eu deslizo o anel pelo seu dedo,
antes de erguê-la em meus braços.
— Te amo tanto, linda. — Roço meus lábios no seus e ela acaricia
meu rosto, secando minhas lágrimas.
— Eu te amo também. Meu caos, meu amor.
Ao nosso redor, aplausos explodem e, por um segundo, havia me
esquecido da nossa plateia.
Do escuro, eles surgem, todos emocionados, minha mãe, meu
padrasto, Luke com a esposa, Sr. Meyer, Martha… nossa família.
E então eu vejo meus irmãos, com suas mulheres incríveis, minhas
amigas… e foda, fica difícil segurar a emoção.
Stefan e Vivi, Karl e Mari, Thorsten e Elise, com o pequeno
Thomas em seu colo.
A família que eu escolhi. A família USC.
Presenciando este momento, estão as pessoas mais importantes da
minha vida.
Os caras podem me zoar à vontade.
Soldado abatido e de coleira.
Soldado feliz pra porra.
Sou eu.

Sophie e eu nos casamos numa cerimônia íntima, nos jardins da


mansão. Foi sua escolha, e para mim não importava se a festa era para mil,
ou para nossos familiares e amigos.
Eu só a queria feliz.
A minha mulher.
Seu pai foi osso duro de roer, mas com jeitinho, ela convenceu o
velho. Depois de um almoço, ele finalmente compreendeu que não
queríamos festança. Apenas nós, nossas famílias, os caras e alguns amigos
em especial. Nada de imprensa. Não era um evento político.
A pobre da governanta quase enlouqueceu, pois resolvemos que
íamos casar exatamente dois meses depois do pedido.
No fim, foi tudo bem.
Sem bolsa estourando, graças a Deus.
Karl está agitado e acho que em breve teremos surpresas aí, meu
faro investigativo é bom demais, bem isso, ou talvez o fato de eu o ter visto
acessando algumas páginas suspeitas sobre bebês.
Enfim, só esperando as boas notícias, quem sabe agora consigo ser
padrinho, já que o filho da puta foi rápido e roubou esta posição com
Thomas. Stefan e eu teremos uma boa disputa, mas estou em vantagem,
porque já tenho a suspeita.
Pensar nisso, faz minha mente viajar. Sonho com coisas que nunca
imaginei possível.
Filhos, família.
Sophie faz isso comigo. Me faz querer ser cada dia um homem
melhor, me faz sonhar.
Não temos pressa.
Acabei de ser encoleirado.
Quando tiver que acontecer, será bem-vindo.
Ela parou de tomar os remédios e agendou uma consulta com seu
médico para o próximo mês. Segundo ela, foram muitos anos tomando o
anticoncepcional e deve demorar para acontecer.
Não entendo nada dessa merda.
De minha parte, vou continuar contribuindo… e praticando
bastante.
Encontro K na academia, o que é raro. Geralmente, ele não fica
muito tempo longe dos seus brinquedos.
— Tudo certo, K? — questiono, segurando o saco de pancada,
enquanto ele segue desferindo socos e pontapés.
— Muita coisa na cabeça — começa, parando um segundo para
secar o suor que escorre pelo rosto. — Precisando desestressar.
— Problemas no paraíso?
— Quê? Não — é rápido em retrucar. — Tudo bem, Mari está meio
indisposta, uma virose, ao que parece.
— Virose?
— Tem passado mal direto. Falei para marcar logo um gastro, mas
ela diz que não preciso me preocupar.
— É por isso que você estava pesquisando sobre bebês? — disparo,
dando uma piscadinha.
Nada sutil, reconheço.
— Porra, sim, é complicado.
— Só quero dizer que espero um convite para ser padrinho dessa
criança, se for mesmo uma, e não, bem, uma gastrite ou virose — brinco e
ele me mostra o dedo do meio.
— Ainda não temos certeza, ela acha que sim, fez um exame de
sangue hoje cedo, estamos aguardando o resultado. Não consigo parar de
pensar nisso. — Dá mais um soco e faço força para manter o saco firme.
Caramba, se eu já fiquei nervoso, imagina ele.
—E se… e se ela realmente estiver… — Seu olhar é de pânico.
— Relaxa, K, tenho certeza que você será um ótimo pai.
— Meu pai… ele… — começa e então se interrompe e consigo ver
as engrenagens girando na sua cabeça.
— Você não é o seu pai, tá me ouvindo, porra? — Largo o saco e
apoio minhas mãos nos seus ombros. — Você não tem nada a ver com
aquele bosta. — Respiro fundo, sabendo que Karl precisa ouvir isso. —
Você é um cara fantástico, e esta criança terá sorte de te chamar de pai,
assim como eu tenho de te chamar de irmão.
K me encara alguns segundos e então me abraça forte e eu retribuo.
— Obrigado, irmão — sussurra.
Um pigarreio me faz erguer a cabeça.
— Desculpe atrapalhar o momento — T provoca, dando risada e
mostro o dedo do meio para o filho da mãe. — Y, Sophie ligou na recepção.
Imediatamente, levo a minha mão para o celular.
Duas chamadas perdidas.
— Caralho, não escutei tocar.
— Ela deixou um recado com a Vivi. Algo sobre ir pro hospital.
— Que porra! — disparo, já caminhando em direção à recepção,
mal ouvindo o grito do Thorsten ao fundo.
Vivi me passou o recado.
Sophie disse que não estava se sentindo muito bem, dor no corpo,
mal-estar e que iria lá para ver se não era uma intoxicação alimentar.
Realmente, abusamos das besteiras na última semana, mas ainda
assim…
— Você deveria ter me ligado, linda — disparo, assim que ela
atende.
— Eu liguei — retruca e sei que está revirando os olhos. — Relaxa,
não quis te atrapalhar. Peguei um táxi até aqui.
Foda, se ela não foi dirigindo aquele projeto de carro, é porque
estava se sentindo mal pra caralho.
— Estou a cinco minutos daí.
— Falei que não precisava.
— Ignorei esta parte do recado — devolvo e sei que está sorrindo.
— Teimoso, estou na ala norte.
— Ok, já te encontro.
Estaciono o Audi e caminho a passos largos pela recepção do
pronto-socorro, e então a vejo. Sentada num sofá. Mesmo pálida, esboça um
sorriso ao me ver.
— Princesa, desculpe, não ter atendido, estava com os caras e não
ouvi.
— Isso é sua forma de me dizer que estou péssima?
Faço uma careta e ela sorri.
— Já passei na triagem e fizeram coleta de sangue e urina.
Acaricio suas costas, tentando confortá-la.
— Com dor?
— Um cansaço extremo, como se eu tivesse ido na academia
depois de meses, e uma ânsia contínua. Acho que as pizzas e frango frito
atacaram meu fígado.
— Você quer acompanhar o campeão aqui, dá nisso — brinco. —
São anos de prática comendo besteira.
— Aprendi a lição. Nunca mais tento acompanhar seus hábitos
alimentares.
— Sophie — uma enfermeira chama e nos levantamos. —
Consultório 3.
— Pode ficar aqui, se quiser — ela fala baixinho, só para mim.
— Vou com você — devolvo e ela sorri, entrelaçando os dedos nos
meus.
— Obrigada.
— Achou que ia se livrar de mim, Sra. Bauer? — brinco, usando
seu novo sobrenome.
— Eu esperava que fosse comigo. — Faz uma careta. — Eu odeio
consultórios — devolve, apertando minha mão.
A doença da sua mãe.
Ela me disse que veio tanto ao hospital visitá-la, que hoje é difícil
vir.
— Estou aqui, princesa. — Acaricio sua mão com o polegar.
Um médico, na faixa dos seus sessenta anos, se levanta assim que
entramos no consultório.
— Sra. Bauer, bom dia!
Porra, não me canso de ouvir isso.
Sra. Bauer… é do caralho!
— Bom dia, doutor. Este é o meu marido.
O senhor acena para mim e nos sentamos nas poltronas em frente à
grande mesa de madeira.
— Estou com seus resultados aqui.
— Tudo certo? Juro que não vou comer mais tanta fritura no fim de
semana.
Ele sorri, sem desviar os olhos do monitor.
— Tudo em ordem com seu hemograma. Sem sinal de infecção.
Vou prescrever um antinauseante para os enjoos, mas isso é algo
absolutamente normal na sua condição. Melhor evitar alimentos com alto
teor de gordura e optar por legumes, cereais e fibras, algo leve. Nada de
ficar sem se alimentar, do contrário, pode contribuir com a hipoglicemia e
queda de pressão.
Tento acompanhar o que o médico diz, mas meu cérebro parou no
início e, pelo semblante de Sophie, o dela também.
— Minha condição? Como assim?
Boa, princesa, tirou as palavras da minha boca.
O médico checa os exames novamente e olha dela para mim.
— Perdão, pelos níveis do hormônio, imaginei que já soubessem.
— Passa a mão pelos cabelos grisalhos.
— Algum problema, doutor? — disparo, direto.
— De forma alguma — tranquiliza. — Sua esposa não está doente.
Ela está grávida — anuncia. — Uma gravidez, imagino que de umas onze
semanas — continua, mas meu cérebro travou.
Puta que pariu.
Grávida.
Eu escutei certo esta porra?
— O que o senhor disse?
— Onze semanas — o médico repete, me olhando, confuso.
— Antes — devolvo, e olho para Sophie, que me fita com olhos
arregalados.
— Grávida. Podemos fazer um exame de ultrassom, para confirmar
a idade gestacional, mas não há dúvidas quanto a gestação.
— Eu vou ser pai — murmuro, meu coração batendo
descompassado.
Foda!
— Princesa… — Viro na sua direção e seguro seu rosto em minhas
mãos.
Ela me fita com os olhos marejados.
Em choque como eu.
— Vou pedir para a enfermeira trazer o ultrassom portátil, e já
retorno — anuncia e sai da sala, nos deixando a sós.
— Eu… — Sua voz falha em meio ao choro. — Nós vamos ter um
bebê. — Me fita e seu sorriso aumenta.
— Porra, sim… — Roço meus lábios nos seus, e então passo a
beijar seu rosto, secando suas lágrimas, não me importando com as minhas.
Um filho.
Quero gritar para todo mundo ouvir.
— Não entendo… eu menstruei!
O médico retorna para a sala e ouve seu comentário, pois se apressa
em explicar:
— No início da gravidez, pode ocorrer um pequeno sangramento. É
normal, e muitas vezes é confundido com a menstruação.
Ela assente, tentando secar as lágrimas.
— Acha que já conseguiremos ver algo, doutor? — questiono, de
repente nervoso, enquanto o acompanho passar gel pela barriga de Sophie.
— Esperemos que sim — devolve, deslizando o aparelho, com os
olhos fixos no monitor.
Sophie agarra minha mão com força.
Estou tentando enxergar algo na tela preta, quando um som forte,
rápido e ritmado invade o quarto.
— Oh, Deus… — ela dispara.
— Isto é o que estou pensando? — pergunto, sentindo um nó na
garganta.
— É o coraçãozinho dele? — Sophie complementa aflita, quase
furando minha mão com as unhas.
— Um segundo.
Mas que caralho está acontecendo?
O médico parece surpreso enquanto observa a tela.
— Sim, é o coração — anuncia. — A senhora está cem por cento
grávida, Sra. Bauer.
Sophie começa a chorar e é difícil segurar a emoção.
— E não é apenas um coração, mas dois, a senhora está grávida de
gêmeos.
— Nem fodendo — disparo, me erguendo e não consigo mais
segurar.
Choro.
Choro feito um menino, é difícil respirar.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto.
— Vejam, há dois sacos gestacionais. — Aponta para a tela e,
porra, eu consigo ver.
— Filhos… dois…
Olho minha princesa e ela chora, copiosamente. Não me importo
com a presença do médico. Seguro seu rosto, encostando minha testa na
sua. Estamos os dois chorando. A felicidade é tanta que não cabe no peito.
— Te amo tanto, princesa.
— Eu também te amo.
— Pelo tamanho, a idade gestacional é entre nove e onze semanas,
ainda é cedo para afirmar com certeza, mas me parecem duas meninas,
recomendo que repita o ultrassom daqui a algumas semanas, e inicie seu
pré-natal imediatamente. Gravidez gemelar sempre inspira mais cuidados.
Vou imprimir sua receita, já contemplando com algumas vitaminas.
Parabéns ao casal.
— O quê?
— É só um palpite deste velho. — Dá uma piscadinha.
Duas meninas.
Me sento, com medo das minhas pernas não me sustentarem.
Caralho!
— Obrigada, doutor. Muito obrigada — Sophie agradece, se
sentando na maca, e eu cumprimento o médico, ainda atordoado.
— Porra… — tento falar, mas minha voz falha.
Sophie me observa.
— Parece que veio mais rápido do que imaginávamos.
— E em dose dupla — complemento, acariciando seu rosto.
— Você está feliz? — questiona, mordendo os lábios, me aproximo,
me posicionando entre suas pernas.
Seu olhar está no meu.
— Tanto que parece que vou explodir.
Lágrimas voltam a escorrer pelo seu rosto.
— Estou com medo, mas tão feliz.
— Eu também — reconheço, secando seu choro com o polegar. —
Você será a mãe mais linda e gostosa que eu conheço — brinco e ela sorri.
— Vou ficar enorme. — Faz uma careta.
— E continuará sendo a minha gostosa — friso, dando uma
piscadela. — Já ouvi dizer que as mulheres ficam mais excitadas na
gravidez… algo sobre a circulação.
— Niki…
— Com gêmeos… — Pauso e ela me dá um tapa de leve. —
Caralho, princesa, estou pronto para te servir, vinte e quatro horas por dia.
— Loucoooo, você é louco — devolve, rindo.
— Por você, por você e por nossas filhas. — Apoio a mão na sua
barriga, roçando seus lábios com suavidade.
— Te amo, Niki.
— Te amo, princesa.
Meu celular vibra e ignoro por um segundo.
— Atenda, pode ser algo urgente — ela fala, passando mais papel
na sua barriga.
Uma mensagem do K.

“Vou ser pai, porra!!!”


— Nem ferrando…
A USC vai precisar de um berçário deste jeito.
— Que foi? — Sophie questiona.
— Mari está grávida também — anuncio, sem filtro.
— Sério? — Leva as mãos à boca.
— Aham. — Mostro a mensagem. — Chegou mais uma, peraí.

“É um meninão, caralho… já deu pra ver o


tamanho do equipamento. Puxou o pai.”

— Nem fodendo.
— O que foi? Deixa eu ver.
— Melhor não, linda. — Guardo o celular no bolso, rindo.
— Então? — Sophie me olha com expectativa.
— É um menino — digo, simplesmente, já imaginando os dois
putos me zoando, três, se contar Stefan.
— Uau, teremos dois meninos e duas meninas. Você sabe que vão
te zoar, né? — ela pergunta, mal disfarçando a risada. — Fornecedor do
ano, já consigo ouvir.
— Até você, princesa. Vou deixar para contar as notícias
pessoalmente, assim posso mandá-los à merda com mais propriedade —
brinco, puxando seu corpo junto ao meu, um sorriso enorme no rosto. —
Minhas filhas só vão namorar quando tiverem uns trinta e cinco anos —
pontuo.
— Aham, vai sonhando. Se puxarem seus genes, teremos
problemas em mantê-las quietas em casa.
Passo as mãos pelos cabelos, já imaginando como afastar os
pretendentes que certamente aparecerão.
— Tô fodido, se elas puxarem um porcento da sua beleza, vão me
deixar de cabelo branco.
— Relaxa, teremos tempo para você se acostumar com a ideia —
debocha do meu sofrimento. — Vamos antes que a enfermeira venha nos
expulsar. — Me puxa em direção à porta.
Caminho até ela, apoiando minha mão nas suas costas.
Grávida, ainda não acredito.
Sophie se vira na minha direção e apoia a palma sobre meu peito.
— Niki…
— Princesa…
— Não vou poder fazer minha tatuagem pelos próximos meses —
sinaliza e confirmo com a cabeça. — Mas já sei o que será…
— O que vai ser? Uma fada, uma aquarela, um pincel enorme como
o meu? — pergunto, não contendo a piada dentro de mim, mas ela ignora.
— Uma garota sentada, observando o céu estrelado.
— Tenho certeza que ficará lindo, como a dona.
— Embaixo, estará escrito: “sem escuridão, não poderíamos ver as
estrelas…” é de um filme, e não poderia ser mais perfeita. Você me faz ver
as estrelas, todos os dias, Niki, eu não poderia ter escolhido um pai melhor
para minhas filhas. Eu te amo, todo você, você é minha escuridão, meu
caos, meu amor…
Porra!
— Te amo, linda, pra caralho. — Minha voz embarga, seguro sua
nuca, com força, mirando seus olhos verdes, dizendo tudo que não consigo
falar, então desço meus lábios nos seus.
As palavras podem até faltar, mas mostro com cada toque, com
cada olhar…
Tudo que ela significa para mim.
Sophie é meu amor, sempre foi.
E eu sou o puto mais feliz deste mundo.
E esta… é a minha história.

FIM!
Ou não…
Vejam a ilustração e bônus que deixei para vocês.
“Amigos são a família que a vida nos permite
escolher” – Edna Buchanan
“Há pessoas que vão fugir da tempestade que
você é, outras vão se molhar com você —
Beco do Poeta”

Thank you for loving me — Bon Jovi


When you look me in the eyes — Jonas brothers

2033 - 9 anos depois

Mais um 03 de outubro… não precisamos de motivos para nos


reunir e comemorar.
Nunca.
Mas este feriado já virou tradição.
No dia em que o país celebra a unidade alemã, sempre nos
reunimos na casa do T, e este ano não é diferente.
É outono, as árvores já estão com aquela coloração dourada… é
quase um marrom, sinalizando que o inverno se aproxima.
Não está um calor absurdo, nem um frio de gelar até a alma.
É minha estação preferida.
Observo as crianças brincando, os meninos chutando as folhas e as
meninas jogando para cima, só para vê-las caindo e se enroscar nos cabelos,
bem, isso até eles brigarem.
Isso sempre ocorre.
Thomas e Ben têm apenas um ano de diferença, com 9 e 8 anos. O
filho do Karl nasceu no mesmo ano das meninas, com poucas semanas de
diferença. O pessoal da maternidade não aguentava mais ver a nossa cara,
essa que é verdade.
Stefan, claro, não quis ficar para trás e logo depois chegaram Luísa
e Liam, hoje com seis e quatro anos. Acho que é isso.
É tanta criança que às vezes é difícil lembrar todos os aniversários.
Dois parece ser o nosso número.
Karl teve mais um filho, dessa vez chegou Ella, a princesinha do
tio, com seis anos.
Thorsten acho que até tentou uma menina, mas não rolou… mais
uma cueca, Elias.
E eu, depois de na primeira tentativa ser presenteado com duas
meninas, não quis nem correr mais riscos.
Estamos felizes. A família está mais do que completa.
— O que você está pensando? — Sophie sussurra no meu ouvido e
meu sorriso aumenta.
— Só lembrando de quando eles chegaram, de como cresceram.
Ela olha na direção das crianças e entrelaça seus dedos nos meus.
— Estão crescendo, logo mais estarão pedindo para sair.
— Não arruíne o momento, princesa. Já conversamos a respeito, só
com quarenta anos.
Ela ri.
— Não era trinta e cinco?
— Eu resolvi aumentar. — Pisco, levando sua mão até minha boca.
Brinco, mas parece que foi ontem que minhas princesinhas
chegaram.
Mia e Hanna.
Lindas, gêmeas não idênticas.
Uma mais observadora, tímida como a mãe, longos cabelos escuros
como os meus, mas olhos verdes tão incríveis quanto os da Sophie.
Mia é minha cópia, até no temperamento, e confesso que isso me
preocupa.
Uma pequena confusão começa e Vivi se levanta, chamando a
atenção de todos.
— Aposto que é o Ben — disparo e K me mostra disfarçadamente o
dedo do meio.
Sim, somos pais, temos que dar bons exemplos. Mas ainda somos
nós, e adoramos infernizar um ao outro.
— Não tenho dúvida alguma — T complementa e Stefan apenas ri.
— Isto é uma perseguição contra o pequeno arteiro — Karl
comenta.
Arteiro é suavizar.
Benjamin pode ser um pestinha quando quer. Sempre infernizando
a irmã, Ella, para loucura de Liam, que pode até ser o caçula da turma, mas
sempre a protege.
Tudo que Ben tem de atentado, Liam, Thomas e Elias têm de
observadores e protetores.
Não que as garotas precisem, mas é bom ver que eles cuidam uns
dos outros, desde sempre.
Família.
Eles correm até a mesa, suados, sujos, e já me preparo para todos
falarem ao mesmo tempo.
— A culpa foi da Ella, pai — nosso suspeito já se pronuncia.
— Não foi, não — a pequena se defende.
— Ben está mentindo, foi ele que começou, tio — Luísa ataca,
mirando Karl com as bochechas coradas.
— Se acalmem e falem um de cada vez — Elise pede com calma,
mas assim que fica em silêncio, a confusão retorna.
Quero rir, mas me controlo.
Porra, uma pipoca e eu poderia ficar aqui só dando risada.
— Thomas, você é o mais velho — Stefan começa e o menino até
se endireita. — O que aconteceu?
Ele olha para o pai e T apenas assente.
— Ella estava juntando uma pilha de folhas com a Lu, e aí Ben a
chutou.
— Eu não vi que era pilha dela — se justifica, mas K só faz um
sinal e ele fica quieto.
— Ella ficou triste e o empurrou, ele empurrou de volta. Liam
empurrou o Ben… aí, todos se empurraram. — Faz uma careta.
— Vocês não podem resolver as coisas se empurrando — Mari
começa, tentando contornar a situação. — Tem que conversar.
Todos ficam em silêncio.
— Ben, o que você tem a dizer? — K pergunta, sério.
— Desculpe, Ella, por ter chutado a sua pilha e ter te empurrado,
mesmo sendo depois que você me empurrou.
Uma risada quase escapa. Foda.
— Ótimo. Ella?
E assim, todos se desculpam entre si e, em menos de cinco minutos,
já estão correndo, se preparando para a próxima confusão.
— Cinquenta conto que daqui a vinte minutos, eles estão aqui de
novo — disparo, não me contendo mais.
— Porra, sim! — os caras retrucam para assombro da mulherada.
— Vocês são terríveis! — Mari revira os olhos.
— Sophie, como você faz para educar as meninas com Yannik por
perto?
— Olha, vou te dizer que não é fácil. Às vezes, acho que tenho três
crianças em casa.
— Isso doeu. — Levo a mão ao peito e ela sorri.
— As meninas são boazinhas, Yannik é quem dá mais trabalho —
Thorsten comenta e Sophie concorda.
— Hey, achei que você estava do meu lado.
— Ele só disse verdades — Sophie afirma ao meu lado.
— Espera até elas crescerem, você terá trabalho. Chamo isso de
carma — Karl provoca, e droga, não quero pensar nisso.
— Devo te lembrar que você também tem uma menina.
— Ela tem seu irmão mais velho para manter os abutres afastados
até os cinquenta anos.
— O quê? — Mari começa a rir.
— Foda — resmungo, olhando para o gramado onde Thomas e Mia
estão juntos, brincando no celular.
— Mia e Hanna sempre terão os meninos, além de mim e dos tios
babões, é claro!
Todos erguem os copos em concordância.
— Só tenho uma coisa a dizer — Vivi começa, atraindo a atenção
de todos. — Deus tenha piedade destas meninas, com este monte de
testosterona envolvido — ela para e então sorri —, ou de vocês. Eu só
quero a pipoca para me divertir da primeira fila, quando a hora chegar.
Fico até em silêncio depois dessa e Sophie apenas ri ao meu lado.
As horas voam e quando percebo, já passou da hora de irmos para
casa.
— Mãe — Mia e Hanna vêm correndo e sei que vão pedir algo.
— Que foi? Que gritaria é essa?
— Podemos dormir na casa da tia Elise?
Eu sabia.
— Diz que sim?
— Quem vai dormir?
— Todo mundo!!! — grita, animada.
— Mas vocês nem trouxeram pijama — ela tenta argumentar, mas
sei que as espertinhas já têm uma resposta na ponta da língua.
— Não precisa, mãe — Hanna é a primeira.
— Tia Elise empresta alguma roupa dela para a gente, deixa, vai…
— Mia já trouxe uma solução, ainda que não sirva perfeitamente.
Só observo, me segurando para não rir.
— Podemos? — perguntam juntas, olhando como dois filhotinhos.
— Elise? — Sophie já está quase cedendo.
— Eles querem fazer uma festa do pijama. — Dá de ombros. — As
meninas disseram que vão me ajudar a fazer cookies e arrumar os colchões
na sala — complementa, sorrindo.
— Aceita, antes que ela mude de ideia ou Thorsten escute —
sussurro em sua orelha e ela me dá uma cotovelada.
—Aiiii. — Esfrego o local da pancada e Elise revira os olhos.
— Você é louca, ou uma santa. Ainda não me decidi.
— Para de bobeira, as meninas são superboazinhas.
— Bem, sim, quando estão sozinhas, talvez.
— Consigo dar conta deles, relaxa. Não se preocupe.
Observo Sophie se despedir das meninas, deixando mil
recomendações. No fim, havia uma mochila no porta-malas, com algumas
roupas delas e o nécessaire da escola, então, pelo menos escovar os dentes,
vão conseguir.
— Se comportem, hein?! — acaricio o cabelo delas, quando vêm
me abraçar em despedida.
— Vamos sim, papai.
— Ótimo, princesas. Amanhã venho pegar vocês. Se divirtam.
— Te amo. — Me dão um beijo estalado e saem correndo na
direção dos amigos.
— Pode deixar que vou cuidar da Mia e da Hanna, tio Niki —
Thomas anuncia ao meu lado.
— Obrigado, cara. — Bagunço seu cabelo. — Conto com você para
ficar de olho nelas. Nada de irem dormir muito tarde, hein?!
— Vamos fazer campeonato de videogame e assistir alguns filmes,
vai ser legal! — Ele sorri, e ali está o menino de nove anos.
— Parece um bom plano! — devolvo e ele sai correndo na mesma
direção das pequenas.
— Sabe o que também é um bom plano? — Sophie sussurra no
meu ouvido quando não tem ninguém por perto.
— O quê?
— Ligar aquela hidro, que nem sei quanto tempo não usamos sem
não sermos incomodados.
— Porra, sim — rosno, puxando-a para junto de mim. — Nem
acredito que vou comer sua boceta e te ouvir implorar pelo meu pau, sem
me preocupar de sermos ouvidos.
— Niki… — Sophie arfa, apertando as pernas, mas eu noto.
Caralho!
Me despeço dos caras em tempo recorde.
— Vamos. — Praticamente arrasto minha mulher em direção ao
carro. — Já mande uma mensagem para a Elise, linda.
— Mensagem?
— Sim, avise que só venho buscar as meninas depois do almoço.
— Dou uma piscadinha e não preciso dizer mais nada.
Sophie entendeu.
— Já te disse hoje, o quanto você é louco… e safado? —
questiona, me fitando com segundas intenções também, mas então puxa o
celular do bolso e digita a mensagem.
— Feito? — pergunto, depois de alguns segundos.
— Aham.
Bato a mão no volante em comemoração e coloco o veículo em
movimento.
— Vamos descobrir em quanto tempo chego em casa.
Ela gargalha.
O som que eu amo ouvir.
— E sim, princesa, eu sou louco, sim — safado também, mas isso
ela sabe bem e não precisa ser dito —, louco por você, pelas meninas, pela
nossa família, mas mais que tudo… eu sou feliz.

FIM.
(Agora é fim, mesmo!)

Esta música embalou diversos momentos deste livro… e acho que


sempre que eu a ouvir, vou lembrar do Y e da Sophie… ouçam, vejam a
letra… e relembrem um pouquinho da história dos dois.

When You Look Me In The Eyes


Quando Você Me Olha Nos Olhos

If the heart is always searching


Se o coração está sempre procurando

Can you ever find a home?


Você nunca consegue encontrar seu lar?

I've been looking for that someone Tenho procurado por esse alguém

I'll never make it on my own


Não consigo encontrar por mim mesmo

Dreams can't take the place of loving you Sonhos não podem tomar o lugar
de amar você

There's gotta be a million reasons why it's true Deve haver um milhão de
razões por que é verdade

When you look me in the eyes


Quando você me olha nos olhos

And tell me that you love me


E diz que me ama

Everything's alright
Tudo está certo.

When you're right here by my side Quando você está aqui ao meu lado

When you look me in the eyes


Quando você me olha nos olhos

I catch a glimpse of heaven


Eu tenho um relance do céu

I find my Paradise
Eu encontro meu Paraíso

When you look me in the eyes


Quando você me olha nos olhos

How long will I be waiting


Quanto tempo eu estive esperando

To be with you again


Para estar com você novamente

Gonna tell you that I love you


Quero lhe dizer, que eu te amo.

In the best way that I can


Da melhor forma que eu posso .
I can't take a day without you here Eu não posso ter um dia sem você aqui .

You're the light that makes my darkness disappear Você é a luz


que faz a minha escuridão desaparecer

When you look me in the eyes


Quando você me olha nos olhos

And tell me that you love me


E me diz que me ama

Everything's alright
Tudo está certo .

When you're right here by my side Quando você está aqui ao meu lado.

When you look me in the eyes


Quando você me olha nos olhos

I catch a glimpse of heaven


Eu tenho um relance do céu.

I find my Paradise
Eu encontro meu Paraíso

When you look me in the eyes


Quando você me olha nos olhos

More and more, I start to realize


Mais e mais, eu começo a perceber

I can reach my tomorrow


Eu posso alcançar meu amanhã

I can hold my head high


Eu posso manter minha cabeça erguida
And it's all because you're by my side E isso tudo, porque você está ao meu
lado .

When you look me in the eyes


Quando você me olha nos olhos

And tell me that you love me


E diz que me ama

Everything's alright
Tudo está certo

When you're right here by my side Quando você está aqui ao meu lado

When I hold you in my Arms


Quando eu te seguro nos meus braços .

I know that it's Forever


Eu sei que é para sempre

I just gotta let you know


Eu apenas quero que você saiba

I never wanna let you go


Eu nunca vou deixar você ir

When you look me in the eyes


Quando você me olha nos olhos

And tell me that you love me


E diz que me ama

Everything's alright
Tudo está certo

When you're right here by my side Quando você está aqui ao meu lado.
When you look me in the eyes
Quando você me olha nos olhos

I catch a glimpse of heaven


Eu tenho um relance do céu

I find my Paradise
Eu encontro meu Paraíso

When you look me in the eyes


Quando você me olha nos olhos .
Primeiro: obrigada, Deus!
Mais um desafio, mais uma história.
Uma trilogia concluída.
E me despeço dela com a sensação de dever cumprido e coração
quentinho.
Obrigada, Karl, Thorsten e Yannik… obrigada, USC!!!!
Obrigada, Léo e meninas, pela paciência, por ficarem quietinhos
(de vez em quando). Amo vocês!
Obrigada às minhas leitoras betas: Lethycia Balloni e Luana Dias.
Como sempre, vocês arrasam e me motivam a continuar. Obrigada pelo
tempo, carinho e principalmente por se disporem a ler algo cru, sem revisão
e sem diagramação.
Sei que enchi bastante a @Luana… e, por isso, um especial
agradecimento aqui. Mulher, você me ajudou a não pirar e sentir através de
cada surto seu (que não foram poucos) que a história estava ficando com a
cara dele… do nosso puto kkk. Obrigada, Lu.
Obrigada à Ariel @leiturasdaariel, minha assessora, que como
sempre é parte essencial de cada lançamento. Obrigada, Jully
@leiturasdajully… por nos ajudar diariamente, nossa salvadora. Amo
vocês!
Obrigada à minha revisora, Barbara Pinheiro
@portfolio.bahrevisora, pelo cuidado, dicas e profissionalismo de sempre!
Obrigada às minhas parceiras, por toparem este desafio comigo!
Algumas já estão comigo de outros livros… e eu amo… não soltem minha
mão kkk. Algumas novas e muito bem-vindas!!! Obrigada por panfletarem
o Y e toda família USC, de quebra. Vocês são demais!!! Amo!!!!
Obrigada às minhas Ceciletes, aquelas que estão comigo
diariamente nos surtos, me pedindo livros dos personagens secundários
mais improváveis, sempre me motivando para novas histórias. Obrigada,
suas lindas!!
Obrigada aos meus leitores. Cada mensagem, cada surto, cada
direct… é o que me motiva a continuar, a escrever novas histórias e trazer
para vocês. Obrigada por me permitirem viver tantas histórias. Amo
vocês!!!
Obrigada a você, que está lendo! Sim, você! Espero que tenha
curtido a história do Yannik e Sophie. Avalie a história, deixe seu recadinho,
é importante demais para minha evolução e para que a história chegue a
outros leitores.
Um grande beijo e até a próxima!

Cecília Turner.
Cecília Turner é o pseudônimo de uma advogada paulista.
Leitora voraz desde a adolescência, costumava ir até a casa das tias
buscar livros e mais livros para devorar, após a lição de casa.
Hoje, casada, com duas filhas, continua devorando livro atrás de
livro.
A vontade de escrever surgiu há alguns anos e após quase quatro
anos, conciliando a carreira, criação das filhas, o maridão, pós-graduação e
as inúmeras séries que adora assistir, finalizou seu primeiro romance
“Viciada em Você”, em 2021, desde então não parou mais.
Gosta de criar histórias para deixar o coração quentinho e garantir
umas boas risadas, talvez com algumas lágrimas deixadas no caminho…
Instagram: @ceciliaturner_autora
https://www.instagram.com/ceciliaturner_autora/

Facebook: @CeciliaTurner.autora
https://www.facebook.com/CeciliaTurner.autora

Tiktok: autora_ceciliaturner
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Wattpad: @Cecilia_Turner
https://www.wattpad.com/user/Cecilia_Turner

Site:
www.ceciliaturner.com.br

Grupo zap:
https://chat.whatsapp.com/GCLoZTSSynC711X1EMSfZM
Uma noite de curtição com as amigas.
Uma noite para mudar tudo, para sempre!
Após ser chamada de pedra de gelo pelo ex-namorado, Juliana só
queria curtir uma noite com suas amigas.
Por uma noite, esquecer todos os problemas.
Então ela o viu e percebeu que seus problemas estavam apenas
começando.
Como proteger seu coração, quando tudo que ela mais quer é ele.
Absolutamente, tudo dele!
Viviane Bittencourt precisa de novos ares.
Infeliz no trabalho e após um grande trauma, vê sua melhor amiga
prestes a mudar para outro país.
O que ela faz? As malas!
Tudo o que ela deseja é um novo emprego e quem sabe encontrar
um homem que preencha as cinco regras que criou anos atrás…
Todos falharam, menos ele…
O único que está completamente fora de questão.

Stefan Ulbrech é um ex-policial da elite alemã.


Especialidade: Contraterrorismo e resgate de reféns.
CEO da própria empresa de segurança vive exclusivamente para o
trabalho.
Missão dada é missão cumprida.
É simples e fácil, sem complicações.

Ela tem várias regras…


Ele tem apenas uma….
Mas algumas regras são feitas para serem quebradas!
Karl Heinrich não teve uma infância fácil.
Dizem que tudo tem um lado positivo, se isto é verdade, seu
passado lhe ensinou uma única coisa, a não acreditar no amor.
Ex-militar das forças de elite alemã atualmente trabalha na USC,
empresa de segurança especializada em contraterrorismo e operações de
resgate, com os irmãos que a vida lhe deu.
Todos forjados em sangue, suor e lágrimas.
Desde jovem soube que não gostava de relações tradicionais. Gosta
de exercer controle em todos os aspectos da sua vida, inclusive na cama.
Não é porque não acredita no amor, que não gosta de foder, pelo
contrário, gosta e muito.
Uma missão no Brasil, um encontro inusitado que mudaria sua vida
para sempre.

Mariana Medeiros é uma jornalista que sonha em investigar


grandes escândalos.
A realidade não poderia ser mais cruel, já que passa dia após dia,
cuidando das fofocas da região.
Com seus próprios traumas e frustrações para lidar, se vê envolvida
numa investigação de homicídio, ela só não contava que passaria a ser o
alvo.

Ele terá que protegê-la, mas para isso, terá que mostrar todas as
suas facetas.
Ela terá que entrar num mundo do qual nunca imaginou fazer
parte.
Conseguirão proteger seus corações?
Vale tudo para encontrar os culpados?
Inclusive perder o próprio coração.
NEW ADULT + Friends to lovers + Haras

Ana Clara Telles tem 19 anos e acabou de se formar no ensino


médio.
Seu pai quer que ela curse direito, mas ela odeia a ideia com todas
as forças.
Negocia seis meses de descanso…
Destino: A Fazenda de seu avô, um haras no interior de São Paulo.
Lá sempre foi seu lugar preferido.
Foi onde conheceu seu melhor amigo… Joaquim.
Na verdade EX-MELHOR AMIGO…
Ele disse "amigos para sempre", mas ele mentiu!
.
Joaquim Alberto Lopes Saraiva tem 23 anos.
Não teve uma infância fácil.
Sua vida foi virada do avesso do dia para a noite.
Encontrou na Fazenda um novo lar, uma nova família, e sua melhor
amiga…
Pelo menos era o que achava, mas ela foi embora e ele ficou
SOZINHO, de novo.
.
Depois de 06 anos, ela vai voltar para onde nunca quis sair.
Vai em busca de respostas, encontrar o seu caminho.
Não é mais uma menininha…
Mas estaria mentindo se dissesse que seu coração não acelera, só
com a ideia de revê-lo.
Pode uma amizade permanecer após uma longa distância?
Seu coração de menina sempre foi dele, mas isso é passado ou
deveria ser…

É sobre amizade…
É sobre reencontro…
É sobre descobertas e escolhas.
É sobre não estar mais sozinho.
É sobre AMOR…
AGE GAP + MOCINHO MILITAR E PROTETOR + MOCINHA
PLUS SIZE EM PERIGO + HOT…

Thorsten Muller, ex-militar das forças de elite alemã.


Trabalha na USC, empresa de segurança especializada em
contraterrorismo e operações de resgate.
Se teve algo que aprendeu com seus pais foi que não existe "felizes
para sempre".
Não quer desperdiçar tempo com algo fadado a fracassar.
É conhecido como homem de gelo.
Relacionamento é tudo o que mais repudia.
Uma fraqueza.
E ele só quer ser forte.

Elise Stein já teve sua cota de relacionamentos fracassados.


Divorciada, vive para o trabalho e lutando contra a balança.
Depois de testemunhar um crime federal, precisa de proteção.
O protetor? Um homem sério, lindo e dono dos olhos mais azuis
que ela já viu na vida e que faz seu coração acelerar…
Seu único foco deveria ser sobreviver e ter sua vida de volta, mas
como resistir a atração devastadora?

Ele viu sua mãe abandonar a família e não acredita em


relacionamentos.
Ela vem de um relacionamento tóxico e tem problemas de
autoestima.
Eles terão que conviver…

A missão dele é apenas protegê-la…


O problema é resistir.
Ele quer cada
Pe-da-ci-nho dela.
AGE GAP + PAI SOLO + SLOW BURN + BOMBEIRO
RANZINZA + MOCINHA INOCENTE + HOT

Carlos Eduardo Moreira de Carvalho, ou simplesmente Cadu, vive


para sua filha, Manuela e para o trabalho no 21º grupamento do corpo de
bombeiros de Sorocaba.
Com 39 anos, não está atrás de relacionamentos.
Quando quer, procura mulheres maduras, com o mesmo interesse
que o dele: Uma boa foda e nada mais.

Laura Alves Godoi, tem 24 anos e viveu praticamente a vida inteira


reclusa, por motivos de saúde.
Agora curada, o que mais quer, é viver, cada dia, intensamente.
Um projeto de final de curso e uma ação solidária colocará os
dois, frente a frente: Uma sessão de fotos: Um calendário com o corpo de
bombeiros mais quente da região.
Deveria ser simples, algumas fotos e arrecadar verba para a ala de
queimados do hospital regional, mas a realidade é outra.

Ele quer resistir, ela quer viver.


Era para ser apenas sexo, mas nem sempre as coisas funcionam
como a gente quer.
Ainda mais, quando está escrito no nosso Destino!
Afinal, o que é Destino?
[1]
Pós-festa.

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