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1-3 Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública. Escola de Enfermagem. Universidade Federal de Minas Gerais. Av. Prof. Alfredo Balena, 190. Santa
Efigênia. Belo Horizonte, MG, Brasil. CEP: 30.130-100. E-mail:[email protected]
4,5 Hospital Sofia Feldman. Belo Horizonte, MG, Brasil.
Resumo
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative http://dx.doi.org/10.1590/1806-93042018000300004
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer
meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. Rev. Bras. Saúde Mater. Infant., Recife, 18 (3): 509-515 jul-set., 2018 509
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510 Rev. Bras. Saúde Mater. Infant., Recife, 18 (3): 509-515 jul-set., 2018
Perspectiva materna da separação mãe-bebê no pós-parto imediato
mãe e o bebê no pós-parto imediato na perspectiva exploração do material e tratamento dos resul-
materna. tados. 12 A pré-análise é desenvolvida para sistem-
atizar as ideias iniciais e estabelecer indicadores para
Métodos a interpretação das informações coletadas.
Concluída a primeira fase, inicia-se a exploração do
Trata-se de um estudo descritivo com abordagem material, que constitui a segunda fase na qual ocorre
qualitativa que permite desvelar processos sociais, a construção das operações de codificação,
construir novas abordagens, revisar e criar conceitos considerando-se os recortes dos textos em unidades
e categorias durante a investigação. Trabalha com de registro e agregação das informações em catego-
significados, valores e atitudes, o que corresponde a rias simbólicas ou temáticas. A terceira fase
um espaço mais profundo das relações, dos compreende o tratamento dos resultados e interpre-
processos e dos fenômenos que não podem ser tação, constituindo em captar os conteúdos mani-
reduzidos à operacionalização de variáveis.9 festos verificados nas entrevistas.12
A pesquisa foi desenvolvida em uma mater- Visando o anonimato, as entrevistadas foram
nidade filantrópica em Belo Horizonte, com atendi- codificadas pela letra A, seguida de um número para
mento integral ao Sistema Único de Saúde (SUS). representar a ordem de participação variando de 1 a
Segundo os indicadores da instituição, no ano de 15, por exemplo: A1 (Entrevistado1). Este estudo
2015 foram realizados 11.473 partos, 78% dos partos respeita os princípios éticos e possui aprovação no
normais realizados por enfermeiras obstétricas e Comitê de Ética e Pesquisa da instituição, sob o
22% assistidos pelo médico-obstetra. A taxa de parecer CAAE de nº: 33611314.5.0000.5132.
cesárea foi de 24%.10 Ressalta-se que, nesse cenário,
é protocolo que os neonatos saudáveis fiquem com Resultados
as mães imediatamente após o nascimento e que não
se separarem. O perfil das entrevistadas foi 15 mulheres (100%),
As participantes deste estudo foram 15 mães sendo que dessas, sete estavam vivenciando a exper-
separadas de seus bebês logo após o parto, devido ao iência da maternidade pela primeira vez – com
desequilíbrio na vitalidade do bebê. Foram incluídas exceção de uma, que havia tido um aborto anterior –
mães que vivenciaram a separação do filho no pós- enquanto oito tinham dois ou mais filhos. A idade da
parto imediato. Não houve recusas maternas em amostra variou de 20 a 26 anos, e todas relataram ter
participar do estudo. Para definir o número de cursado ensino médio completo. Todas as partici-
sujeitos entrevistados, foi usada a saturação de dados pantes declararam que a gestação foi planejada,
a fim de cessar a inclusão de novos participantes, no fizeram pré-natal e viviam com seus companheiros.
momento em que os dados coletados apresentarem Entre as 15 participantes, 10 tiveram partos normais
redundância, segundo o pesquisador, e em que já e 5 tiveram indicação com justificativa para cesa-
havia a compreensão do fenômeno investigado.11 riana.
A coleta de dados foi feita no período de Deve-se ressaltar que essas mães foram sepa-
dezembro de 2014 a janeiro de 2015, norteada por radas de seus bebês logo após o parto por condições
meio de entrevistas com roteiro semiestruturado, de instabilidade hemodinâmica e/ou respiratória das
além de consulta aos prontuários para colher as crianças. As causas foram diversas, sendo as mais
causas das separações e a história clínica das prevalentes a prematuridade e o estado fetal não
mulheres. As entrevistas foram gravadas, posterior- tranquilizador do bebê o que é considerado quando
mente transcritas e analisadas, de acordo com o há a interrupção da transferência de oxigênio do
referencial metodológico da análise qualitativa de ambiente para o feto.13
conteúdo. Este tipo de análise apresenta vasta apli- A partir da análise das entrevistas, foi possível
cabilidade, permitindo a utilização de técnicas apreender as seguintes categorias: 1) Sentimentos e
integradas, incluindo abordagens interpretativas e percepções maternas frente à separação do filho no
intuitivas. 12 É definido como um método de pós parto e 2) Percepção das mulheres frente a
pesquisa, utilizado para a análise e interpretação atuação dos profissionais de saúde e a presença de
subjetiva de um fenômeno ainda não suficientemente seus acompanhantes.
estudado, mantendo o rigor científico.
Em sua modalidade convencional, as categorias Sentimentos e percepções maternas frente à
derivam dos dados obtidos pelas entrevistas, separação do filho no pós parto
trazendo informações diretas dos sujeitos de
conteúdo. Apresenta três fases distintas: pré-análise, As entrevistadas expressaram o desejo e o sonho de
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vivenciar a maternidade, seguido da quebra da A primeira coisa eu perguntei, como está o meu filho?
expectativa por se separar do filho após o nasci- Gente fala comigo pelo amor de Deus, fala comigo!! (A4)
mento, como pode ser observado no depoimento a
seguir: (...) dá uma sensação estranha, nossa o que vai acontecer
com eles agora, até eu chegar lá em cima para saber como
Foi difícil (...) era o meu sonho, ter meu bebê nos meus é que foi (...) eu fiquei bem assustada, só na expectativa
braços, poder dar a primeira amamentação para ele (...) de saber o que eles iam fazer com os meninos (A5).
(A2).
Eu estava preocupada dela morrer, nossa senhora. Nooh,
A gente fica ali sonhando porque a gente levou dez anos meu Deus do céu, minha primeira filha (A14).
para ter filho ai quando engravida que vem, você tem que
ficar separada. (A13). Percepção das mulheres sobre a atuação dos
profissionais de saúde no momento da
Por sua vez, quando o sonho não foi realizado e separação e a presença de seus acompanhantes
o desfecho não foi o esperado, surgiram sentimentos
como a frustração, tristeza e angústia devido à Notou-se que, a maneira pela qual a mãe e bebê são
quebra das expectativas criadas. Esse sentimento assistidos pelos profissionais de saúde, repercute em
ficou explícito no depoimento a seguir: uma separação menos traumática para ambas as
partes, como podemos notar em:
(...) eu esperei tantos meses para ficar com ela e quando
eu achei que ia pegar ela, eles levaram, porque ela estava Eu queria só que ele tivesse ficado perto, né? Mas ele foi
com dificuldade para respirar (...) (A6). atendido bem, graças a Deus, levado pra UTI, foi tudo
rápido pra ele, graças a Deus tá bem [...](A6).
(...) achei que nascia e a gente já podia ficar com ela (...)
fiquei até agora ainda com aquele vazio (...) nossa, eu nem (...) a gente vê todo mundo com os bebês no colo, eu
escutei o primeiro choro, porque ela não chegou a chorar também queria tá com a minha, só que como ela está bem
lá na sala de parto (A11). melhor lá (UTI) então, espero daqui a pouco ela (..)]esteja
comigo também (A8).
As mães expressaram o sentimento de angústia
de não poder viver o momento esperado de sentir seu Nas falas, percebeu-se que, até mesmo a trans-
filho em seu colo pela necessidade da equipe em ferência da criança para unidade de terapia intensiva,
realizar intervenções: que é tida como local destinado a pacientes com
risco de morte, pode ter reflexos amenizados quando
(...) eu via ela chorando e já levaram ela para um lugarz- o atendimento transcorre de forma respeitosa.
inho e começaram a limpar ela, depois eles colocaram ela Porém, em alguns relatos, percebeu-se a insegu-
do meu lado rapidinho, mas como não podia levantar a rança e dúvidas maternas relativas aos procedi-
cabeça, né, vi assim ela, nem vi ela direito e foi muito mentos invasivos realizados ao bebê, como foi
rápido, então assim, foi muito ruim. Eu tinha uma expec- retratado a seguir:
tativa maior de ficar com ela, de poder abraçar (A6).
(...) quando eu vi colocando ela no capacete lá (...) tipo
Nesse sentido, as mães ressaltaram que, além da assim, eu fiquei com medo (...) fiquei pensando, uai gente
quebra da expectativa de permanecer com seu bebê será que ela engoliu o líquido? (A7)
após o parto, surgiu também o sentimento de
angústia relacionado ao medo de perder seus filhos, Assim, durante as entrevistas observou-se
como relatado abaixo: divergências sobre a percepção das mulheres frente
aos profissionais que as assistiram no processo de
(...) Imaginei, eu estou perdendo meu filho (...) não quero parto e nascimento. A puérpera do relato abaixo
perder (...) fiquei com muito medo, só imaginando, identifica os profissionais como alguém que pode
chorando, pedindo a Deus para salvar meu filho (A4). contribuir para amenizar a angústia desse processo
que é permeado por sentimentos diversos.
Adicionado ao medo da perda, evidenciou-se
também uma intensa preocupação e incertezas frente Eles conversaram comigo o tempo todo (...) conversou
ao desconhecido, como pode-se perceber nos depoi- bastante, eles mostraram tranquilidade o tempo todo. Aí
mentos: acaba passando tranquilidade para gente também (A5).
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Perspectiva materna da separação mãe-bebê no pós-parto imediato
Diante disso, nota-se que esse momento da sepa- Assim, percebeu-se a ambivalência de senti-
ração exige que o profissional de saúde inclua essa mentos vividos por essas mulheres durante o
mãe e seu acompanhante nos cuidados realizados a processo de parto e nascimento de seus filhos. Tanto
esse RN, explicando cada procedimento realizado, a expectativa de ter o filho quanto o medo de perdê-
minimizando assim a angústia e o medo, como pode lo são elementos expressivos que surgem juntamente
ser vislumbrado em: com o temor de possíveis consequências ao bebê em
razão do nascimento prematuro ou outras comor-
(...) aí a moça foi me explicando, que não, que ela nasceu bidades.17
com um pouquinho de falta de ar, por causa do parto (...) Nesse sentido, os sentimentos negativos podem
(A7) ser suavizados a partir do momento em que a família
conhece melhor os procedimentos que estão sendo
Neste estudo, também ficou evidenciado que não realizados com o seu bebê e posteriormente começa
foram todas as mães que tiveram a percepção posi- a desmistificar a Unidade de Tratamento Intensivo
tiva em relação ao profissional durante a assistência. Neonatal (UTIN), compreendendo seus símbolos e
Houve relatos, inclusive, de insatisfação ao processo significados e passam a enxergar o setor como um
de trabalho de parto, apresentando queixas em lugar seguro para eles. 14 Nesse cenário, os profis-
relação à demora do seu processo de indução e da sionais de saúde, principalmente a equipe de enfer-
assistência prestada por profissionais específicos. magem, precisam acompanhar o processo de
inserção da família no ambiente da UTIN, capaci-
(...) uma enfermeira, a noite, a moreninha, eu esqueci o tando-a para a coparticipação no cuidado da criança,
nome dela, ela era muito gente boa, eu pedi ela ajuda, ela respeitando os seus momentos de estresse, ansiedade
me ajudou (...) correu atrás, agora a outra loira falou que e angústia, proporcionando o fortalecimento do
ia me ajudar (...) com exercício, com isso e com aquilo, vínculo do binômio e a prestação de cuidado huma-
com um monte de coisas, não me ajudou (...) (A7). nizado, seguro e integral.18
Portanto, nos casos em que o vínculo entre o
No que diz respeito à presença do acompanhante binômio foi interrompido logo após o parto, devido
durante todo o momento, as mulheres relataram ao desequilíbrio na vitalidade do bebê, tão logo esta-
maior confiança e sentiram-se apoiadas com a bilizadas as suas condições, o contato deve ser
presença deles. Como desvela a puérpera a seguir: estimulado por meio do incentivo do profissional aos
cuidados maternos diários ao bebê, como no
E o meu acompanhante era meu marido, ele a todo momento do seu banho e da alimentação. Assim, a
momento ficou conversando comigo, perguntando se eu mãe deixa de ser mera expectadora e passa a parti-
estava bem, se eu estava sentindo alguma coisa (...) (A6) cipar dos cuidados realizados com seu bebê.19,20
Desse modo, a assistência proporcionada pelos
Discussão profissionais no momento da separação podem
atenuar medos, angústias e inseguranças, além de
Os resultados apresentados vão ao encontro aos contribuírem para que o laço mãe-filho sejam restab-
achados evidenciados por outros estudos, enfati- elecidos pelo toque e contato pele a pele assim que
zando que, quando ocorre o desfecho inesperado, a possível, amenizando os transtornos da separação
maioria das mães manifestam medo, ansiedade e abrupta do binômio logo após o nascimento.16
insegurança frente ao bebê em situação de fragili- Apoiando esses achados tem sido reiterado que a
dade, diante a perda do bebê idealizado até o atitude do profissional é fundamental para minimizar
momento do parto.14,15 a insegurança materna diante da separação de seu
Assim, os pesquisadores afirmam que apenas as filho, visto que o cuidado individual e integral ao
famílias que vivenciam o processo de risco de vida binômio deve ser oferecido, junto a uma abordagem
de um filho conhecem a dimensão de se viver essa empática com o intuito de proporcionar o bem estar
experiência angustiante. Esse sentimento se torna da parturiente e do seu recém-nascido, envolvendo a
forte desde o momento do parto, principalmente família nesse processo.8
quando há algum diagnóstico desfavorável prévio ou Assim, o processo do parto e nascimento exige
quando se trata de um filho prematuro. 15 Demais atenção do profissional, acolhimento à cliente,
pesquisadores concordam com essa ideia e formação de vínculo e habilidade de comunicação,
descrevem que toda mãe sente o medo da perda, características que poderão resultar em um parto
pois, sabem que não se pode prever o desfecho que menos traumático e doloroso, independentemente da
poderá ser positivo ou negativo.16 via, e assim favorecer o vínculo entre a mãe e o
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recém-nascido mesmo nas situações diversas.8 vivenciaram dentre tantos sentimentos, a alegria da
No entanto, conforme o cotidiano de assistência chegada do filho e o medo da perda; o desejo de
aos bebês internados logo após o parto, observou-se abraçá-los e permanecer ao lado e compreensão
que mesmo a equipe multiprofissional realizando acerca da necessidade do afastamento.
orientações às mães e suas famílias sobre as Portanto, cabe aos profissionais procurarem
condições do bebê, as reações maternas podem ser minimizar os efeitos e traumas da separação precoce
diferentes diante desse processo vivido.16 entre mãe e filho, agindo como facilitadores do
No que se refere à presença do acompanhante de contato pele-a-pele e do apego entre mãe e bebê. A
livre escolha da mulher, o trabalho de vários autores inclusão do acompanhante nesse processo pode
corroboram os relatos apresentados pelas puérperas, impactar nos sentimentos vividos por essas
e afirmam que esse apoio durante o processo do mulheres, uma vez que o suporte dos profissionais
nascimento contribui para o bem-estar físico e atrelado à dos familiares pode aumentar os senti-
emocional da mulher. O acompanhante fornece mentos de segurança e trazer maior tranquilidade
suporte emocional, conforto e encorajamento, mini- num momento permeado por angústias, medos e tris-
mizando os sentimentos de solidão, medo, ansiedade tezas.
e estresse causados pela vulnerabilidade da parturi- É necessário que os sentimentos e experiências
ente.21,22 relatadas pelas mulheres diante da situação de sepa-
Assim, viver esse momento juntamente com o ração, sejam considerados pelos profissionais de
parceiro ou alguém com quem a mulher tenha um saúde no momento da assistência, para que esses
laço afetivo, trará fortalecimento de suas relações.23- possam suprir as demandas delas e assim minorar os
25 traumas gerados pela separação do binômio mãe-
Para que esses benefícios sejam garantidos, em filho.
2005 foi sancionada a lei nº 11108, que estabelece Espera-se que os resultados encontrados neste
que os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde estudo possam contribuir para o aumento da quali-
– SUS ou da rede privada, ficam obrigados a dade na assistência às mulheres na situação de sepa-
permitir a presença, de um acompanhante de escolha ração pós-parto do seu filho, norteando os profis-
da mulher durante o período de trabalho de parto, sionais para melhor assistirem à mulher e ao recém-
parto e pós-parto imediato.26 nascido, quanto às suas reais necessidades.
Por outro lado novos estudos que abordem essa
Considerações finais temática são necessários a fim de sustentar e ampliar
a discussão podendo provocar mudanças na prática.
Por meio dos relatos maternos foi possível perceber Sugere-se que o tema seja discutido rotineiramente
as contradições e os desafios vivenciados pelas mães pelos profissionais da área, e que faça parte da
diante da separação do binômio mãe-filho, que formação acadêmica dos mesmos.
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______________
Recebido em 16 de Fevereiro de 2018
Versão final apresentada em 6 de Junho de 2018
Aprovado em 18 de Julho de 2018
Rev. Bras. Saúde Mater. Infant., Recife, 18 (3): 509-515 jul-set., 2018 515