Sentença

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
6ª VARA CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/Nº, São Paulo - SP - CEP 01501-900

SENTENÇA

Processo nº: 1121558-78.2021.8.26.0100


Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Indenização por Dano Moral
Requerente: -----------
Requerido: ------------

Prioridade Idoso
Justiça Gratuita

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Lúcia Caninéo Campanhã.

Vistos.

----------- moveu Ação


Declaratória cumulada com Indenização por Danos Morais contra --------- alegando que não
solicitou nem anuiu com o empréstimo consignado no valor de R$ 2.129,74 a ser quitado
em 84 parcelas de R$ 52,20, tendo sido vítima de fraude; registrou reclamação perante o
Procon solicitando a anulação do empréstimo, bem como registrou boletim de ocorrência;
tentou solucionar a questão extrajudicialmente, mas o requerido manteve os descontos
indevidos; não assinou qualquer contrato autorizando a transação ou descontos em sua
conta; reportou-se ao Código de Defesa do Consumidor; configurada falha na prestação dos
serviços pelo requerido; faz jus à indenização por danos morais. Requereu a concessão de
tutela de urgência e, ao final, sua confirmação para que sejam interrompidas as cobranças,
declarada a inexigibilidade do empréstimo consignado, com a condenação do requerido à
devolução em dobro dos valores indevidamente descontados e ao pagamento de indenização
por danos morais na quantia de R$ 22.000,00.
Deferido o pedido de tutela de urgência para determinar que
o requerido suspenda os valores descontados do benefício previdenciário de titularidade da
requerente e se abstenha de negativar o nome dela (fls. 49). Interposto recurso de agravo,
negaram-lhe provimento (fls. 254/264).
O réu foi citado e contestou a ação alegando preliminar de
falta de interesse de agir. No mérito aduziu que, em 12 de novembro de 2020, a requerente

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contratou empréstimo consignado nº 010013612626, disponibilizado crédito no valor total


de R$ 2.129,74, a ser pago em 84 prestações de R$ 52,20 cada; a requerente assinou o
instrumento contratual e apresentou seus documentos pessoais; para a liberação de
empréstimo consignado realiza a conferência de uma série de requisitos; as condições
contratuais são claramente repassadas no momento da contratação; o valor contratado foi
integralmente disponibilizado em conta bancária de titularidade da requerente; não houve
qualquer irregularidade de sua parte, tendo agido no regular exercício de direito;
inexistência de danos morais indenizáveis; não tendo ocorrido cobrança indevida ou máfé,
indevida a repetição em dobro.
Realizada prova pericial grafotécnica (fls. 343/369).
É o relatório.
DECIDO.
Mantenho a decisão que afastou a preliminar arguida na
contestação (fls. 222/223).
A requerente não reconhece o vínculo jurídico entre as partes
e tem legítimo interesse na declaração de inexistência de relação jurídica, da inexigibilidade
do débito, com restituição de valores, tendo formulado ainda pedido de indenização por
danos morais.
Não se exige esgotamento da via administrativa, ressaltando
ainda que a requerida resistiu ao pedido, o que revela o interesse de agir.
Trata-se de ação declaratória de inexistência de débito
cumulada com indenização por danos morais decorrentes da contratação apontada como
fraudulenta de empréstimo consignado vinculado ao benefício previdenciário da autora.
A requerente contesta a contratação de empréstimo no valor
de R$ 2.129,74, disponibilizado pelo banco requerido, referente ao contrato nº
010013612626 (fls. 4 e 76).
Em que pese a liberação do valor emprestado na conta
corrente da autora (fls. 3 e 180), verifica-se que registrado boletim de ocorrência (fls. 42/43)
e comunicados os fatos ao banco requerido (fls. 40/41).
No caso, exibido o contrato (fls. 37/38 e 173/174), a autora
impugnou a sua autenticidade, alegando que não assinou os documentos (fls. 4 e 187).

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Assim, diante da impugnação à autenticidade do contrato,


determinada a realização de prova pericial grafotécnica (fls. 222/223).
O perito nomeado concluiu, analisando o contrato original,
que a assinatura do documento questionado, atribuída à autora, não emanou de seu punho,
sendo falsa (fls. 358).
Nesse contexto, deve-se mesmo reconhecer a irregularidade
da contratação, fruto de fraude em prejuízo da ora requerente.
Diante da fraude, impõe-se a procedência do pedido para
cancelamento do contrato de empréstimo e condenação do réu na restituição em dobro dos
valores descontados indevidamente do benefício previdenciário, em conformidade com o
disposto no art. 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor.
A responsabilidade do fornecedor do serviço independe da
existência de culpa, nos termos do art. 14, e conforme art. 17, ambos do Código de Defesa
do Consumidor, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
Nos termos do parágrafo terceiro do art. 14, “o fornecedor de
serviços só não será responsabilizado quando provar que, tendo prestado o serviço, o defeito
inexiste ou a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro”.
A instituição financeira requerida não prestou a sua atividade
com a segurança esperada, expondo a cliente a riscos. Aplica-se a Súmula 479 do Egrégio
Superior Tribunal de Justiça: "As instituições financeiras respondem objetivamente pelos
danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no
âmbito de operações bancárias", entendimento este já consagrado e que não pode ser
afastado sem justo motivo.
Desta forma, entende-se que não demonstrada a culpa
exclusiva de terceiro ou da autora, logo, conclui-se que a alegada fraude poderia ser obstada
pela instituição financeira se agisse com diligência, caracterizando o defeito no serviço.
Em casos análogos, envolvendo o banco requerido, assim já
se decidiu:
AÇÃO DECLARATÓRIA C. C. RESTITUIÇÃO EM DOBRO E
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL SENTENÇA DE

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PROCEDÊNCIA APELAÇÃO DO RÉU - Responsabilidade


civil - Empréstimos consignados não reconhecidos pela autora -
Fraude constatada - Conclusão pericial de que as assinaturas
apostas nos contratos não foram provenientes do punho da
apelada - Procedência da ação nesse ponto que era de rigor.
Dano moral Ocorrência - Situação que ultrapassou o limite de
meros aborrecimentos, na medida em que a autora, pessoa idosa, se
viu despojada de valores importantes de seu benefício
previdenciário, verba de caráter alimentar - Valor arbitrado em R$
6.000,00 que se mostra condizente com a natureza do dano e dentro
dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade - Sentença
mantida. - Restituição em dobro - Possibilidade - Falha na
prestação do serviço - Transferência que não se deu em relação
a terceiro - Fraude que permaneceu no âmbito da instituição
financeira - Sentença mantida. - Juros moratórios - Tratando-se
de responsabilidade extracontratual, aplica-se a
Súmula 54 do C. STJ - Incidência a partir do evento danoso -
Sentença retificada de ofício, por se tratar de matéria de ordem
pública. Recurso não provido. (TJSP; Apelação Cível 1006465-
80.2021.8.26.0322; Relator (a): Marino Neto; Órgão
Julgador: 11ª Câmara de Direito Privado; Foro de Lins - 1ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 12/07/2023; Data de Registro:
12/07/2023)

APELAÇÃO. Ação declaratória de inexistência de negócios


jurídicos. Empréstimos consignados. Irregularidades nas
contratações. Consumidora que impugnou as assinaturas.
Ausência de perícia grafotécnica. Banco que não se desincumbiu
de seu ônus probatório. Fraude. Serviço disponibilizado que não
fornece a necessária segurança. Responsabilidade
objetiva da instituição financeira. Dever de restituição em
dobro dos valores cobrados, conforme entendimento do
Superior Tribunal de Justiça no EAResp 676.608/RS. DANOS
MORAIS reconhecidos. Transtornos impingidos em patamar
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superior a meros aborrecimentos. Uso de dados da autora,
contratações fraudulentas e descontos indevidos no benefício
previdenciário. Condenação ao pagamento de indenização
compensatória. Sentença reformada para julgar procedentes os
pedidos iniciais. Recurso provido. (TJSP; Apelação Cível 1001824-
21.2022.8.26.0223; Relator (a): Flávio Cunha da Silva;
Órgão Julgador: 38ª Câmara de Direito Privado; Foro de Guarujá
- 2ª Vara Cível; Data do Julgamento: 21/06/2023; Data de
Registro: 22/06/2023)
Por fim, caracterizado também o dano moral.
A autora impugnou os lançamentos indevidos, bem como
noticiou os fatos à autoridade policial (fls. 40/41 e 42/43). No entanto, o requerido
permaneceu inerte, deixando a cargo da consumidora o pagamento da dívida, por conta da
ação do fraudador, e comprometendo parte dos proventos da requerente.
Tal situação evidencia a recalcitrância do requerido em
detrimento da requerente, que se viu na delicada situação de ter que arcar com empréstimo
que jamais contratou.
Quanto ao valor dos danos, o montante sugerido na petição
inicial mostra-se exacerbado, visto que a indenização não pode consistir em fonte de
enriquecimento ilícito. Desta forma, razoável a fixação da indenização no patamar de R$
5.000,00.
Quanto aos juros, são computados desde que constituído o
réu em mora, ou seja, desde a citação, conforme dispõe o art. 397, parágrafo único, do
Código Civil.
Por fim, observo que, no caso, não consta que os valores
depositados na conta da autora tenham sido devolvidos nem depositada a diferença em juízo,
assim, dos valores devidos pelo réu deve ser descontado aquele efetivamente
disponibilizado em benefício da autora (fls. 3: R$ 2.129,74).
Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE a ação,
confirmando a tutela anteriormente deferida, para declarar a nulidade do contrato nº
010013612626 e a inexigibilidade dos débitos dele decorrentes, com a condenação do
requerido na devolução em dobro dos valores descontados do benefício previdenciário da
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autora, acrescidos de correção monetária desde cada desembolso e juros de 1% ao mês a
partir da citação, bem como no pagamento de indenização a título de danos morais no valor
de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), acrescido de correção monetária desde a data da sentença
e juros de 1% ao mês a partir da citação, observado que do valor devido deve ser descontado
o depositado em conta da autora, nos termos da fundamentação.
Arcará o requerido com as custas, despesas processuais e
com honorários advocatícios, que fixo em 10% sobre o valor da condenação. P.R.I.C.

São Paulo, 21 de julho de 2023.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA
1121558-78.2021.8.26.0100 - lauda 6

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