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TEOLOGIA, IGREJA E MISSÃO

MINICURSO – CBM 2022

Ronaldo Lidório

INTRODUÇÃO

Objetivos

Teológico – Observar a missão da igreja em uma perspectiva teológica e (mais


especificamente) eclesiológica, pinçando da Missiologia do primeiro missiólogo
protestante, Gisbertus Voetius (século 17) as características essenciais da missão.

Hermenêutico – Compreender e interpretar alguns textos bíblicos fundamentais


que expõe sobre a missão (sua natureza, conteúdo e aplicabilidade), alinhando
suas conclusões com a nossa realidade atual.

Prático – Aplicar as conclusões teológicas e hermenêuticas para a realidade atual


da missão, das equipes missionárias, da pregação do evangelho, do plantio de
igrejas, da tradução da Bíblia, das ações sociais e outras iniciativas.

Pessoal – Expectativa do Senhor tocar nossos corações, quebrantar o nosso


espírito e nos dar um profundo encorajamento para a vida e a missão.

Minicurso composto por três partes

Dia 1 – A missiologia de Gisbertus Voetius e a essência da missão.


Dia 2 – A igreja e a missão: Uma perspectiva hermenêutica bíblica.
Dia 3 – Conclusões missiológicas e aplicações missionárias hoje.
PARTE I

A MISSIOLOGIA DE GISBERTUS VOETIUS E A ESSÊNCIA DA MISSÃO

Gisbertus Voetius, considerado o primeiro missiólogo protestante na pós


Reforma, século 17.

Foi o primeiro a tratar da missão da Igreja em uma perspectiva teológica de forma


sistemática e distinta.

SUA VIDA E INFLUÊNCIA

Nasceu em Heusden, na Holanda em 1589. Perdeu seu pai aos 8 anos de idade.
Seu avô era ministro do evangelho.

Aos 15 anos de idade ingressou na Universidade de Leyden (1604 a 1611).


Brilhante: Hebraico, Árabe e Latim.

Impactado pelo livro ‘A Imitação de Cristo’, de Thomas à Kempis – Piedade.

Teólogo holandês calvinista, discípulo de Franciscus Gomarus. Viveu paralelo ao


movimento Puritano Inglês.

Voetius foi ordenado pastor no dia 25 de setembro de 1611 em Vlijmen, aos 22


anos de idade, onde pastoreou por 6 anos (1611 a 1617), e logo depois outros 17
anos em Heusden, onde pastoreou de 1617 a 1634.

Em 1612 casou-se com Deliana van Diest e tiveram 10 filhos.

Diretor da universidade de Utrecht por 42 anos (1634-1676) ensinando teologia


sistemática, ética, línguas orientais, eclesiologia e filosofia, com forte ênfase na
missão.

Paralelo ao ministério pastoral, onde pregava 8 vezes por semana. Evangelista


intenso, trabalho com órfãos.

Visitava as igrejas e lares cristãos. Dois desafios: formar teólogos piedosos e levar
o povo de Deus a plantar igrejas e adotar órfãos.

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Faleceu em 1º de novembro de 1676 aos 87 anos de idade. A universidade de
Utrecht ficou conhecida como Academia Voetiana.

Três teólogos que influenciou com especial destaque

- Herman Bavinck (1854-1921), autor de ‘Dogmática Reformada’, um dos


mais aclamados tratados teológicos desde a Reforma Protestante.

- Johan Herman Bavinck (1895-1964), missionário na Indonésia, autor de


‘Uma introdução da Ciência das Missões’. Apresentou o conceito de
‘Elêntica’ (apologia cristã).

- Abraham Kuyper (1837-1920), teólogo, primeiro-ministro na Holanda e


fundador da Universidade Livre em Amsterdã. Lema: Influenciar a
sociedade até que ela se renda a Cristo, dando graças a Deus.

Popularizou o selo de João Calvino: Cor meun tibi offero Domini, prompt et
sincere (O meu coração a ti ofereço, Senhor, pronto e sincero).

SUAS PUBLICAÇÕES

17 livros mais importantes. ‘Seleções teológicas’ (1648-1669) e ‘Política


eclesiástica’ (1663-1676).

Tratados sobre a evangelização dos muçulmanos, católicos romanos e judeus.

Os Cânones de Dort são essencialmente missiológicos, boa parte por sua


influência. O Capítulo 2, artigo 5, é chamado por alguns como a ‘Carta magna das
missões’.

“A promessa do evangelho é que todo aquele que crê no Cristo crucificado não
pereça, mas tenha vida eterna. Esta promessa deve ser anunciada e proclamada
sem discriminação a todos os povos e a todos os homens, aos quais Deus em seu
bom propósito envia o evangelho, com a ordem de se arrependerem e crerem”.

Um dos principais livros: ‘De Plantatione Ecclesiarum’ – Sobre o plantio de igrejas


(1663-1676 – em ‘Política eclesiástica’).

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Razões teológicas, eclesiológicas e estratégicas para o plantio de igrejas.

Paulo não apenas evangelizou, mas plantou igrejas intencionalidade.

Phuteuo, Plantar (1 Co 3:6-9)


Oikodomeo, Construir (Rm 15:20; 1 Co 3:10)
Gennao, Dar a luz (1 Co 4:15)

Em que medida igrejas filhas devem estar ligadas às igrejas mães?

- Ligadas: Doutrina e comunhão


- Autônomas: Culto, liderança, finanças e missão

O conceito de raiz eclesiástica. O que a igreja é em seus dois primeiros anos, ela
tende a ser nas próximas décadas.

SUA MISSIOLOGIA

Baseada em quatro fundamentos.

Primeiro, o entendimento de que a teologia deveria ser prática, ou seja,


praticada.

O segundo fundamento foi sua compreensão teológica dos decretos de Deus.

O terceiro fundamento seria a natureza de sua eclesiologia, compreendendo


igreja como chamada e enviada vocatio et missio.

O quarto fundamento seria sua convicção de que a finalidade de todas as coisas é


a glória de Deus e que Deus é também glorificado quando perdidos se convertem,
são redimidos e inseridos na igreja de Cristo.

Missiologia Teocêntrica

A missão da igreja vem de Deus, da vontade de Deus e do empoderamento de


Deus ao seu povo, chamando no mundo o povo de Deus, para a glória de Deus

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A teologia deveria estar enraizada na fé, na graça e na missão.

Na fé, que se baseia em três coisas: conhecimento intelectual da verdade,


concordância de coração com a verdade e completa crença na verdade.

- A teologia sem fé estaria morta e a fé sem teologia se perderia.

- A fé produziria resultados racionais e emocionais, sempre desembocando


em arrependimento e transformação pessoal.

Na graça, pois a própria manifestação de Deus é expressão e resultado da graça


divina.

- Entendia o evangelho como resultado da graça de Deus, que ama, escolhe,


chama e salva o seu povo.

- Entendia que a teologia do pacto era a demonstração da graça de Deus ao


longo de toda a história humana. Deus em aliança com o seu povo.

Na missão, pois é um resultado direto da fé.

- A igreja que crê, obedece.

- A igreja era vocatio et missio – chamada e enviada ao mesmo tempo.

Missiologia Trinitária

Conceito atual de Missio Dei (Missão de Deus), a igreja é participante da missão


de Deus. Conceito mais abrangente, envolvendo todas as áreas que necessitam
de transformação pessoal, espiritual e social no mundo.

Voetius utilizava o termo Missio Dei apontando para o conceito agostiniano do


século 4: Missio Dei Trinitatis: a missão do Deus Triúno.

Pai, amando, escolhendo e chamando o seu povo. Filho, derramando o seu


sangue e pagando o preço pela salvação dos perdidos. Espírito Santo,
convertendo os perdidos e selando a igreja para ser fiel a Cristo.

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Perante a Missio Dei Trinitatis, qual a missão da igreja? Ir pelo mundo dizendo:
olhem o que Deus Pai, Filho e Espírito Santo estão fazendo!

O centro da missão da igreja é a proclamação dos feitos de Deus.

Vocatio et Missio

- A igreja é chamada e enviada, ao mesmo tempo.


- Se é igreja, é missionária .

Romanos 1:5

V.1 Identidade, chamado e mensagem.

V.2-4 A mensagem (evangelho) é Jesus .

V.5 Em Cristo recebemos graça e apostolado.

- Graça para salvação em Cristo.


- Apostolado para a missão em Cristo.

Somos chamados a guardar e proclamar a fé ao mesmo tempo.

- Proclamar sem guardar: Igrejas nominais.


- Guardar sem proclamar: Igrejas infrutíferas.

Gisbertus Voetius e William Carey

O pai das missões modernas (William Carey: 1761-1834) possuía similaridades


com Gisbertus Voetius e sua missiologia.

A glória de Deus como máxima para a missão.

A universalidade da missão, não restrita aos apóstolos.

O plantio de igrejas entre todos os povos como obediência da igreja.

Diferença eclesiológica.

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- Carey enfatizava a obediência da igreja cristã, abrindo portas para a criação e
desenvolvimento de iniciativas missionárias em forma de agências.

- Voetius entendia a missão a partir da igreja instituída, local ou


territorialmente, em uma perspectiva institucional, como única agência que
deveria enviar missionários

TRÊS CONSELHOS À LUZ DA MISSIOLOGIA DE VOETIUS

Fortaleça a sua fé

- Ef 6:10 “Sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder”.

- V.11 Para não cair nas armadilhas do inimigo.

Cuide da sua teologia

- Em que você crê e como você crê tem um impacto fundamental em sua vida e
ministério.

Cumpra a missão

- Leve família e igreja a compreenderem o propósito de Deus para cada um.

Todo cristão deve evangelizar


Toda igreja deve plantar igrejas
Todo missionário deve fazer discípulos

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PARTE II

A IGREJA E A MISSÃO – UMA PERSPECTIVA HERMENÊUTICA BÍBLICA

Qual a missão da igreja?

A MISSÃO DE DEUS E A MISSÃO DA IGREJA

A missão da igreja é submissa, mas distinta da missão de Deus.

Sobre “a missão da igreja é a missão de Deus”, há algumas considerações


teológicas a serem feitas.

Primeiro, “a missão da igreja é a missão de Deus” no sentido que a igreja (sua


natureza, vida e propósito) é definida e está submissa a Deus e aos planos de
Deus.

Segundo, a missão da igreja é distinta da missão de Deus, uma vez que Deus
delegou ao seu povo uma missão específica e detalhada, que envolve aquilo que
Ele deseja que a igreja seja e faça.

Ao observar o conceito de missão na Palavra, Antigo e Novo Testamentos, a


missão em duas esferas: geral e específica.

Missão geral

Mateus 5:13-17

Somos sal, mas podemos não salgar. Somos luz, mas podemos não brilhar.
Se brilharmos seremos vistos pelos homens, que glorificarão a Deus.

A missão geral da igreja é ser igreja. É existir neste mundo como sal que salga, luz
que brilha e árvore que frutifica.

Na teologia temática paulina, isto envolve a integridade, a fidelidade e


cumplicidade.

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Na teologia prática paulina, sete práticas mais enfatizadas: Palavra, adoração,
comunhão, oração, santidade, boas obras e proclamação.

Tudo o que somos e fazemos debaixo dos valores de Cristo podem ser alojados
dentro da missão geral da igreja.

Nessa medida, o chamado de Deus é pessoal, intransferível, incontestável e


comunitário.

Missão específica

Se a missão geral da igreja é viver neste mundo com os valores dos céus; há uma
missão específica.

Mateus 9:35-38

V. 35 “E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas,


pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e
enfermidades”.

Mateus 24:1-14

Sinais do fim: cosmológicos, eclesiológicos e missiológico.

V.14 “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para
testemunho a todas as nações. Então virá o fim”.

Mateus 28:18-20

V.18 “...Toda autoridade me foi dada no céu e na terra” (o fundamento da


autoridade)

V.19 “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações...” (o fundamento do


envio)

V.20 “ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (o


fundamento da doutrina)

V.20 “E eis que estou convosco todos os dias...” (O fundamento da presença)

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Interpretação do apóstolo Paulo quanto ao ensino do Antigo Testamento e de
Jesus sobre a missão.

A missão proclamadora é necessária porque todos pecaram (Rm 3:23).

A missão proclamadora demanda vida transformada (At 13:2).

A missão proclamadora se dá por meio de palavras e vida: kerugma e marturion


(1 Tess 1:5,6).

A missão proclamadora verbalizada deve comunicar a realidade da criação de


Deus, do pecado humano e da redenção em Cristo (At 17).

- Kerusso (proclamar audivelmente) – 1 Co 1:17 “Porque não me enviou


Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho…”.

- Laleo (comunicar claramente, contar) – At 16:32 “E lhe pregaram a palavra


de Deus e a todos de sua casa”.

- Euaggelizo (anunciar boas notícias) – Ef 3:8 “A mim, o menor de todos os


santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das
insondáveis riquezas de Cristo”.

Há uma prioridade das prioridades na proclamação do evangelho (Rm 15:20).

CONCLUSÕES

A missão geral da igreja é ser sal da terra e luz do mundo.

A missão específica da igreja é a proclamação do evangelho de Cristo Jesus.

A missão global da igreja é comunicar o evangelho a todos, de forma


teologicamente fiel e culturalmente aplicável, ao mesmo tempo.

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PARTE III

CONCLUSÕES MISSIOLÓGICAS E APLICAÇÕES MISSIONÁRIAS HOJE

Deus é um Deus com propósitos (Rm 16)

- A glória do seu Nome.


- O fortalecimento da sua igreja.
- A salvação dos perdidos entre todas as tribos, línguas, povos e nações.

Deus chama o seu povo para participar e cumprir dos seus propósitos na terra

- A vocação é pessoal, intransferível, incontestável e comunitária.


- Todos os salvos em Cristo são chamados por Deus: sete práticas cristãs.
- Dentre todos, alguns são chamados para ministérios específicos: Ef 4:11.
- Alvo: a igreja fortalecida e o evangelho espalhado por toda a terra.

Deus empodera o seu povo na pregação do evangelho

- Impulso da espiritualidade (At 2).


- Impulso do sofrimento (At 8).
- Impulso do envio missionário (At 13).
- Impulso da multiplicação de igrejas (At 16).

Deus cumpre os propósitos, mesmo quando os nossos planos fracassam (At 16)

- Ásia, Bitínia e Macedônia.


- Oração, adoração e missão.

Há uma tarefa inacabada – os que pouco ou nada ouviram (Rm 15)

- Os PNAs.
- Os PNEs.
- Os casos especiais.

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A tarefa não acaba quando o evangelho é pregado e a igreja é plantada (Ef 6)

- Igrejas enfraquecidas.
- Igrejas que não multiplicam.

A missão da igreja é guardar e proclamar a sua fé simultaneamente (2 Tm 4)

- Os que guardam e não proclamam.


- Os que proclamam sem guardá-la.

Alguns conselhos

(1) Alicerce as ações missionárias nas convicções teológicas.

(2) Investigue as reais motivações do seu coração.

(3) Relembre o seu chamado.

(4) Priorize aquilo que é prioridade para Deus.

(5) Cumpra a missão geral, de ser sal que salga e luz que brilha.

(6) Cumpra a missão específica, de proclamar o nome de Jesus em toda parte.

(7) “Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas...” (2 Tm 4:5)

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