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Na calada da noite, Ana acordou com um barulho vindo do andar de cima.

Pensou ser o
vento, mas, quando ouviu novamente, resolveu investigar. Subiu as escadas lentamente, o
coração acelerado, e chegou até o corredor vazio. Quando estava prestes a voltar para o
quarto, ouviu uma respiração suave atrás de si. Virou-se rapidamente, mas não havia
ninguém. O que a deixou paralisada foi o bilhete no chão, escrito com uma letra trêmula:
*“Eu estou atrás de você.”*

**A Casa na Colina**

Era uma noite sem lua, e o vento gelado soprava forte pelas ruas desertas da pequena
cidade de São Sebastião. Na colina, uma antiga casa de madeira, coberta por musgos e
vinhedos, parecia mais uma sombra na escuridão. As pessoas da cidade evitavam aquele
lugar, dizendo que era amaldiçoado. Mas para Clara, uma jovem curiosa e ousada, esse
aviso não passava de superstição.

Ela sempre ouvira histórias sobre a velha mansão, sobre as vozes que se ouviam nas
noites sem vento, sobre as luzes que piscavam nos corredores vazios. Mas Clara não
acreditava em assombrações. Naquela noite, ela decidiu investigar por si mesma.

Ao chegar à porta da casa, um calafrio percorreu sua espinha. A madeira rangia sob seus
pés, e a porta se abriu com um estrondo, como se esperasse por ela. O cheiro de mofo e
madeira podre tomou conta de suas narinas. Clara respirou fundo e entrou.

Os móveis estavam cobertos por lençóis brancos, e o piso de madeira rangia a cada passo
que ela dava. Ela percorreu os corredores escuros, seu farol de celular iluminando apenas
uma fração da imensa casa. Quando chegou ao final de um longo corredor, viu uma porta
entreaberta. O que chamava sua atenção era um som baixo e contínuo vindo de dentro. Era
como um murmúrio, uma conversa distante, mas impossível de compreender.

Ela empurrou a porta com cautela. A sala estava vazia, exceto por uma grande cadeira de
balanço no centro, que se movia lentamente, como se alguém estivesse nela. Clara sentiu
um frio cortante. De repente, o murmúrio se tornou mais claro, e ela conseguiu entender as
palavras, embora estivesse completamente sozinha.

“...você… é tarde demais...”

O medo se apossou dela. Ela tentou se virar para sair, mas seus pés pareciam grudados ao
chão. O som da cadeira de balanço se acelerava, e o ar ao seu redor ficou denso, pesado.

Quando ela finalmente conseguiu mover as pernas e dar um passo para trás, a porta se
fechou com força, trancando-a dentro da sala. O som do murmúrio agora vinha de todos os
cantos da casa. Clara tentou gritar, mas sua voz foi abafada, como se algo invisível a
estivesse sufocando. Ela caiu de joelhos, com os olhos arregalados, tentando respirar.

Então, algo se aproximou dela. Uma figura escura, alta, com olhos vermelhos que brilhavam
na penumbra. Um sorriso torto se formou em seu rosto, e a voz sussurrou novamente:

“Agora… você é parte de nós.”


A última coisa que Clara viu antes de desmaiar foi a figura estender a mão, e a casa ao seu
redor começar a se distorcer, como se estivesse engolindo-a.

Na manhã seguinte, os moradores da cidade acordaram com um silêncio estranho. A velha


casa na colina estava quieta, mais do que nunca. Nenhuma luz piscava nas janelas, e
nenhum som ecoava pelos corredores.

Mas, por algum motivo, ninguém se atrevia a se aproximar. E assim permaneceu, até que a
casa, com o passar do tempo, fosse engolida pela vegetação. Mas, em noites muito quietas,
quem ousasse caminhar perto da colina poderia ouvir, no vento distante, um sussurro
arrepiante:

“Agora, somos todos parte dela…”

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