eugenia-e-seus-males(1)
eugenia-e-seus-males(1)
eugenia-e-seus-males(1)
Patricia Silva*
1 Resenha da obra: CHESTERTON, Gilbert Keith. Eugenia e outros males. Trad. Mateus Leme.
Campinas: Ecclesiae, 2023.
* Pós-doutoranda em Sociologia (UFRJ). Pedagoga da Coordenação de Extensão do Instituto de
Filosofia e Ciências Sociais (UFRJ). E-mail: [email protected]
Coisas do Gênero | São Leopoldo | v. 9, n. 2 | p. 279-282 | Jul./Dez. 2023
Disponível em: http://198.211.97.179/periodicos_novo/index.php/genero/index
280
a) prefácio assinado por Dale Ahlquist, do The Society of Gilbert Keith Chesterton;
b) ao leitor, preâmbulo assinado pelo próprio autor;
c) parte 1, intitulada “A teoria falsa”;
d) parte 2, intitulada “O verdadeiro objetivo”.
O objetivo da obra é expor os males da eugenia pela civilização ocidental. Para
os dias de hoje, pode parecer um objetivo obtuso – afinal, quais seriam os benefícios da
eugenia? -, mas, no início do século XX, eugenia era o termo do momento e foi defendida
por diversos intelectuais progressistas.
No início do século XX, Francis Galton, inspirado na teoria de seu primo, Charles
Darwin, desenvolveu a eugenia: ideia que propunha o melhoramento da humanidade
através da criação controlada e seletiva de seres humanos. As ideias de Galton
ganhavam espaço no debate público, conforme a teoria de Darwin era bem recebida no
debate público. A elite da época apoiou as ideias de Galton. Inclusive, magnatas
financiaram a iniciativa, afinal, como disse Ahlquist, “a eugenia é uma palavra que soa
bem, combinando as palavras gregas para ‘bom’ e ‘nascimento’ [...]”2.
Na obra, Chesterton afirma que
Por volta de 1913, a eugenia passou de ser um capricho para tornar-se uma
moda. Então, se é possível resumir assim a situação, é que a piada começou de
fato. A mente organizadora que vimos considerando o problema da população
de guetos, o material popular e a possibilidade de protestos, sentiu que chegara
o momento de lançar sua campanha. A eugenia começou a aparecer em grandes
manchetes na imprensa diária, e em grandes figuras nos jornais ilustrados [...].3
2 AHLQUIST, Dale. Prefácio. In: CHESTERTON, G. K. Eugenia e outros males. Trad. Mateus Leme.
Campinas: Ecclesiae, 2023. p. 7.
3 CHESTERTON, 2023, p. 171.
Coisas do Gênero | São Leopoldo | v. 9, n. 2 | p. 279-282 | Jul./Dez. 2023
Disponível em: https://revistas.est.edu.br/periodicos_novo/index.php/genero/index
281
abertamente a ideia de que tais pessoas deveriam pedir permissão oficial para
ter filhos, ‘tal como imigrantes precisam solicitar passaportes’ [...]”4
À época, apenas Chesterton escreveu uma obra contra a eugenia, a obra que
está aqui sendo resenhada. É importante notar que o autor escreveu a obra em 1910 e
foi publicada originalmente em 1922.
Por opor-se aos eugenistas, Chesterton recebia a alcunha de “individualista”:
[...] Ao que só posso responder, com uma paciência de coração partido, que não
sou individualista, mas um pobre jornalista, pecador, mas batizado, que está
tentando escrever um livro sobre eugenistas, dos quais já conheceu vários, ao
passo que nunca conheceu um individualista [...].8
[...] Os livros e artigos dos eugenistas estão cheios de sugestões de que uniões
não-eugênicas deveriam e podem chegar a ser encaradas como encaramos os
pecados; de que deveríamos realmente sentir que se casar com um inválido é
uma espécie de crueldade com os filhos [...].9
A grande ironia por trás dos ensaios reunidos nesta obra é a seguinte: um
escritor católico, apoiado na doutrina cristã, foi um dos primeiros a vir a público para
criticar a eugenia. Ironia porque hoje – e talvez desde sempre – intelectuais progressistas
fazem seus melhores esforços para relacionarem a cristandade ao atraso e ao
retrocesso.
A leitura de “Eugenia e outros males” é fortemente recomendada por todos que
desejam conhecer a verdadeira história da eugenia e suas vis consequências para a
humanidade.