RECEPTORES CDV
RECEPTORES CDV
RECEPTORES CDV
BOTUCATU, SP
2021
i
COMISSÃO EXAMINADORA
Dedicatória
Aos meus pais Luiz e Iolanda, aos
meus irmãos Sandro Luiz e Flavia e
ao meu sobrinho Davi, pelo apoio,
paciência, amor e por não medirem
esforços para que eu alcance a minha
vocação.
A Nossa Senhora, por tudo que tenho,
tudo que sou, tudo que fiz e farei.
“Totus tuus ego sum Mariae et omnia
mea tua sunt. ”
iv
Agradecimentos Oficiais
Ao meu orientador, professor Dr. Antônio Carlos Paes, pela orientação, ajuda, apoio,
incentivo e paciência para que eu pudesse “salvar o meu mestrado”. Sinto-me honrada e
grata ao senhor pela oportunidade de ser sua orientanda na pós-graduação.
Aos professores da Pós-Graduação da Faculdade de Medicina Veterinária (FMVZ) da
Unesp, que foram mestres excepcionais na arte de ensinar e conduzir. Cresci muito
sendo aluna de vocês!
À banca de qualificação, professores Dr. Cassiano e Dr. Márcio pelas contribuições a
este trabalho.
À banca de defesa, professores Dra. Noeme, Dra. Leila, Dr. Rogério e Dra.Tatianna pela
disponibilidade em me avaliar e contribuir para o aprimoramento desta dissertação.
Ao Colegiado da Pós-Graduação em Medicina Veterinária da Unesp- Botucatu, em
especial à coordenadora professora Dra. Renée e aos representantes de discentes André
e Lohaine, pelo apoio e acolhimento durante o mestrado.
Ao Carlos Roberto da Seção Técnica de Pós-Graduação, pela atenção e trabalho de
excelência na orientação ao pós-graduando.
À professora Noeme, por ajudar na seleção e laudo das imagens de histopatologia.
Ao CNPQ, pela bolsa de mestrado que foi essencial para a minha permanência em
Botucatu.
À CAPES, pela assistência financeira. O presente trabalho foi realizado com apoio da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) -
Código de Financiamento 001”
v
Agradecimentos pessoais
A Deus, pelo amor incondicional, cuidado e por possibilitar que tudo seja possível na
minha vida.
Aos meus pais, pelo apoio, carinho, cuidado e dedicação para que este mestrado se
tornasse possível.
Aos meus irmãos, pela alegria de tê-los por perto, pela parceria, amizade e apoio de
sempre.
Ao meu sobrinho lindo, Davi, pela alegria e amor que ele me trouxe desde que nasceu.
Ao meu namorado, Demétrius, pela parceria, amizade e companheirismo que tornaram
mais agradável esse tempo em Botucatu.
Aos meus amigos da Pós-Graduação, Ísis, Rodrigo, Ana Paula da Biotecnologia, Ana
Paula da Medicina Veterinária, Arthur, Ana Carolina, Viviane, João Baqui e Raíssa que
me incentivaram, me ouviram, me apoiaram e fizeram deste período de mestrado um
tempo especial.
Aos meus amigos de sempre, Mariana, Érica, Roberta, Letícia, Ana Keila, Christiane e
tantos outros, pela companhia da caminhada e por tornarem a minha trajetória mais
bonita.
Aos residentes do setor de Moléstias Infecciosas (MI), Beatriz, Gabrielly, Marcelo,
Carolina, Carmem, Thaís, Thiago e Larissa, por encaminharem os casos de cães com
cinomose que vieram a óbito para a coleta de encéfalo, e por ajudarem nos
procedimentos ambulatoriais.
Ao laboratório Objetiva Vet, pela confecção das lâminas de histopatologia.
vi
“Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a
Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios.” Rm 8:28
vii
LISTA DE FIGURAS:
Figura 3: A cepa 5804PeH do VCC do tipo selvagem infecta células que expressam
nectina-4 em humanos e em cães. Os membros dos grupos de VCC e vírus do sarampo
compartilham tropismo e doenças comuns. O estudo sugere que a abundância de
nectina-4 por ser um receptor de VCC, na superfície celular está relacionada à sua
susceptibilidade à infecção pelo VCC. As imagens de fluorescência foram capturadas
quatro dias após a infecção e sobrepostas com fases contrastantes; a nectina-4 na linha
celular correspondente sombreado com IgG; anticorpo nectina-4, nectina-4-vermelho
(NOYCE et al., 2013)......................................................................................................14
Figura 13: O fragmento do lobo parietal direito de um cão, macho, SRD, adulto. A seta
azul aponta um
infiltrado de células inflamatórias mononucleares, sugestivas de linfócitos, na região
encefálica.........................................................................................................................45
Figura 14: Imagem de um cão, macho, SRD, adulto. O fragmento do lobo parietal
esquerdo mostra perda de substância branca, neurônios vermelhos por isquemia e
degeneração neuronal. (Paciente do setor MI, FMVZ-Unesp, Botucatu, 2021).............46
Figura 15: Imagem de um cão, macho, SRD, adulto. O fragmento do lobo parietal
esquerdo apresentando
xii
Figura 16: Imagem de um cão, macho, SRD, adulto. O fragmento do lobo parietal
esquerdo apresenta infiltrado linfocitário de células mononucleares dentro do vaso,
lesão neuronal por hipóxia (neurônio vermelho). Coloração H.E. (Paciente do setor MI,
FMVZ-Unesp, Botucatu, 2021)....................................................................................47
Figura 16: Imagem de um cão, macho, raça SRD, adulto. A figura mostra o Tálamo/
córtex temporal com vacúolos devido a perda de mielina na substancia branca e intenso
infiltrado linfocitário. Presença de vacúolos e infiltrado inflamatório. Coloração HE.
(Arquivo pessoal,
2021)................................................................................................................................47
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 1
2 REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................................................... 2
2.1 Epidemiologia..............................................................................................................2
2.2 Etiopatogenia.............................................................................................................10
2.3 SLAM: O receptor do Morbillivirus e os mecanismos de entrada do vírus na célula
do hospedeiro...................................................................................................................12
2.3 Anatomia do sistema nervoso do cão........................................................................18
2.4.1 Neurônios ..............................................................................................................18
2.4.2 Sistema Nervoso Autônomo..................................................................................19
2.4.3 Sistema Nervoso Central....................................................................................20
2.4.4 Sistema Nervoso Periférico.................................................................................. 23
3. Neuropatogenia da cinomose.....................................................................................24
3.1 Os mecanismos de neuroinvasão do VCC............................................................... 24
3.2 Estágio agudo da infecção neurológica da cinomose.............................................. 26
3.3 Estágio crônico da infecção neurológica da cinomose.............................................28
3.4 Os mecanismos de defesa imunológica no SNC na neuroinvasão pelo VCC......... 30
3.5 Encefalite causada pelo Morbillivirus na
cinomose..........................................................................................................................31
3.6 A função imunológica das células da microglia e dos oligodendrocitos, na encefalite
pelo VCC.........................................................................................................................35
3.7 Manifestações neurológicas causadas pela
cinomose.........................................................................................................................36
3.8 Síndromes neurológicas decorrentes do
VCC...............................................................................................................................37
3.9 Encefalite do cão
idoso................................................................................................................................37
3.10 Alterações histopatológicas do Sistema Nervoso Central de cães com encefalite por
cinomose......................................................................................................................... 40
3.11 Alterações histopatológicas do Sistema Nervoso Central de doenças com
mecanismos de desmielinização semelhantes à cinomose..............................................48
xvii
3.12 Diagnóstico..........................................................................................................50
3.13 Diagnóstico laboratorial..........................................................................................51
3.13 Diagnóstico diferencial...........................................................................................52
3.13 Diagnóstico diferencial entre raiva canina e cinomose............................................53
4 OBJETIVOS........................................................................................................... 56
5 MATERIAL E MÉTODOS.....................................................................................56
5.1 Revisão Sistemática...................................................................................................57
5.2 Critérios de inclusão..................................................................................................57
5.3 Critérios de exclusão.................................................................................................57
5.4 Análise histopatológica..............................................................................................58
6 CONCLUSÕES.........................................................................................................59
REFERÊNCIAS..............................................................................................................60
ANEXOS.........................................................................................................................66
Anexo 1- Atestado de aprovação do Conselho Nacional de Controle de Experimentação
Animal - CONCEA........................................................................................................ 73
xviii
ABSTRACT: The aim of this study was to review the neuropathogenesis caused by
Morbillivirus in dogs through systematic literature review with emphasis on the
pathophysiology of canine distemper. Encephalic samples from dogs diagnosed with
canine distemper that died were analyzed based on histopathological analysis of the
lesions. Canine distemper is a severe, highly contagious, multisystemic disease with
high morbidity and mortality rates. A complete study of the neuropathogenesis of
canine distemper, covering the etiopathogenesis and neurological complications of the
disease is necessary to elucidate in detail the consequences of this infection in the
Central Nervous System (CNS), such as chronic multifocal demyelinating lesions. In
these pathologies, the viral nucleocapsids by they do not use envelopment in viral
particles for their multiplication, they are transmitted to the nerve cells through
receptors, mainly the astrocytes. Cell-to-cell fusion depends on nectin-4, which is
present in demyelinating strains of cynomatosis virus (DCV). Some research shows that
the distemper virus affects the CNS, even if the infection has not generated neurological
changes. The mechanisms of brain invasion and dissemination of Morbillivirus are not
yet fully known. The analysis of neuropathological changes caused by the presence of
CCV to support studies of new treatments aimed at the recovery of neurological signs in
dogs affected by canine distemper, which results in the main causes of death.
Preâmbulo
1 INTRODUÇÃO
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Epidemiologia
A cinomose é uma doença viral altamente contagiosa que afeta carnívoros das
famílias Canidae, Mustelidae, Felidae e Procyonidae em diferentes países do mundo,
como os Estados Unidos, Finlândia, Alemanha, Polônia e os países do continente
africano. Os animais selvagens como raposas, furões e primatas não humanos também
podem ser acometidos pelo Morbillivirus (ATHANASIOU et al., 2017).
A soroprevalência da cinomose em populações de raposas varia de 4 a 17%,
porém esse valor pode estar subestimado devido às altas taxas de mortalidade nessa
espécie que atua como reservatório da doença (BILLINIS et al., 2013). A taxa de
letalidade da cinomose é de 5 a 30% em primatas, sendo que a principal causa da morte
é a pneumonia seguida de alterações neurológicas (VRIES et al., 2014). Em um estudo
realizado ao longo de sete anos, observou-se que a prevalência de cinomose em cães
selvagens na África foi de 16%, comparado a 48% de prevalência nos cães domésticos
(WOODROFFE et al., 2012).
Outros vírus estão relacionados ao vírus da cinomose, como o vírus do sarampo
humano e o vírus da peste bovina. Os Morbillivirus também acometem espécies como
os cetáceos, felinos, morcegos e roedores (UHL et al,. 2019; PFEFFERMANN et al.,
2018). Vários estudos relataram que o vírus da cinomose possui ancestral comum e que
se adaptou a uma variedade de hospedeiros ao longo do tempo (VRIES et al., 2014).
Surtos causados pelo VCC já ocorreram em diversas espécies, como cão
doméstico (Canis familiaris), cão selvagem africano (Lycaon pictus), furão de pé preto
3
naturais. A análise gênica mostrou que a recombinação ocorreu dentro dos genes F e H
(SAKAGUCHI et al., 2015).
Na Itália, em um gato com doença renal crônica (DRC), o MVFE foi encontrado
através de exame RT-PCR de urina. Em 2013, foram registrados gatos com MVFE na
Alemanha, e recentemente na Túrquia e nos Estados Unidos (EUA). A infecção crônica
causada pelo Morbillivirus pode ser responsável pela recombinação e heterogeneidade
viral. Além disso, a diversidade viral está relacionada à existência de diferentes
ancestrais virais envolvidos na origem do MVFE. Na Europa, o MVFE foi detectado em
gatos com DRC. Estudos mostram que os gatos parecem hospedar uma população
heterogênica de novos paramixovírus que estão relacionados com a DRC nesses animais
(MARCACCI et al., 2016).
No VCC a proteína H é a mais variável no gênero do Morbillivirus, o que
explica um amplo espectro de hospedeiros. A infecção pode levar à formação de células
multinucleadas, os sincícios. A formação de sincícios é determinada pela proteína H do
VCC. O receptor celular para a proteína H em células linfáticas hospedeiras é a
molécula SLAM (molécula de ativação de linfócitos de sinalização) que se liga ao
Morbillivirus. O SLAM é expresso em humanos por células T de memória, células B e
induzida por uma gama de células imunes, após a ativação. A especificidade da proteína
H do VCC e a interação proteína-receptor SLAM representam um potencial
disseminador da gama de hospedeiros do Morbillivirus (NIKOLIN et al., 2012).
Em humanos, o vírus do sarampo é um tipo de Morbillivirus. O vírus do
sarampo e o VCC usam dois receptores celulares, o CD150 expresso em subconjuntos
de células dos sistemas imunes e a nectina-4 expressa em células epiteliais. O vírus do
sarampo infecta células imunes que expressam CD150, e estas células migram os
nódulos linfáticos de drenagem (SAKAGUCHI et al., 2015). O gênero inclui o vírus
Rinderpest (RPV) já erradicado pela vacinação, peste dos ruminantes e vírus da
cinomose em cães. Há evidências de Morbillivirus em animais marinhos, como os
cetáceos, sendo esse vírus, denominado de Phocid distemper vírus-1 (PDV-1) e em
felinos recentemente observou-se o Morbillivirus, em gatos domésticos, espécies de
morcegos e roedores (PFEFFERMANN et al., 2018). Os Morbillivirus também foram
encontrados em morcegos, nos exames de RT-PCR do soro sanguíneo, em taxa de
5
Quito,
Cinomo Améric 1748,
Equador NRF NRF NFR
se a 1759
, Sul
Inglaterr
Europa NRF NRF
a
1761-64,
NRF NRF 1782-84, 1808
França
1799
Aleman
NRF NRF NRF 1834
ha
Endemia
1700-
Endemia,
Endemia em 1800,
União 1808, 1811-
Endêmic 1629-1700, 1740,
Européi 1812,
a 1665,1675 1762,
a 1839,1846,18
1751,
49, 1882,
1781,178
3,
Toda a
África NRF NRF 1726-65 1887-97
região
(d) A descoberta do Morbillivirus felino (roxo), um novo membro proposto do gênero na Ásia e nos
Estados Unidos.
Determinação da sequência do Morbillivirus de morcego (azul claro com linha tracejada) a partir de
material clínico obtido no Brasil. O Morbillivirus expande o seu alcance geográfico na Ásia e África e é
isolado na Turquia e na China. O ressurgimento de Morbillivirus (azul com linha vermelha) em regiões
do mundo onde eram endêmicas.
A detecção de Morbillivirus em cetáceos (amarelo) ocorreu em uma faixa mais ampla de mamíferos
marinhos amplamente distribuídos. Após ocorrer a erradicação do Rinderpest morbillivirus, o uso da
vacina em bovinos foi suspenso. O Morbillivirus permanece globalmente distribuído (NAMBULLI et al.,
2016).
2.2 Etiopatogenia
A proteína de fusão (F) é uma glicoproteína clássica do tipo I, composta por 662
aminoácidos essenciais para a penetração e disseminação viral no hospedeiro. A
tradução da proteína F começa no primeiro códon de início, o AUG1, ou no segundo
códon, AUG61, gerando os pré-F0 AUG1 e pré-F0 AUG61, que são translocados para o
retículo endoplasmático e clivados entre os aminoácidos 135 e 136 por uma peptidase
de sinal celular, produzindo assim um peptídeo de 75 ou 135 aminoácidos, dependendo
do códon da tradução (VANDEVELDE & ZURBRIGGEN, 2005; SATO et al., 2012;
LOOTS et al., 2017).
Para ocorrer a fusão de membrana, a proteína F sofre uma cascata de alterações,
a proteína F representa para a membrana plasmática uma estrutura potencialmente ativa
de fusão dependente do receptor e da hemaglutinina (H), a proteína F passa por
alterações conformacionais, que finalmente levam à fusão da membrana (PLATTET et
al., 2017).
a)
12
b)
Figura 2
A) A figura mostra a partícula viral com o envelope de lipoproteína, contendo o complexo
de ribonucleoproteína que consiste no nucleocapsídeo. No envelope, existem as
proteínas M, a proteína de fusão F e a hemaglutinina (H). O RNA polimerase viral
contém as proteínas L e P (Adaptado de SATO et al. 2012 e LOOTS et al., 2017).
molécula de SLAM homóloga ao SLAM humano que atua como receptor celular para o
VCC e RPV, respectivamente (TATSUO & YANAGI, 2002).
Os mecanismos de entrada do Morbillivirus nas células hospedeiras são
importantes para determinar a sua característica de multi-hospedeiro e o tropismo de
tecido. Os Morbillivirus têm duas glicoporteínas, a hemaglutinina (H) e a proteína de
fusão (F) na superfície viral. Durante a invasão do vírus, a proteína H se liga ao receptor
de entrada do hospedeiro, o SLAM, que também é conhecido como CD150. O SLAM é
uma proteína específica de células imunes, expressa na superfície de timócitos,
linfócitos ativados, células dendríticas maduras e macrófagos (FUKUHARA et al.,
2019).
O receptor SLAM é considerado um determinante de imunossupressão e induz
mudanças conformacionais na proteína F, ocorrendo a fusão do vírus à membrana
plasmática das células imunes do hospedeiro. Durante a fusão, alguns aminoácidos da
proteína H são importantes para favorecer a ligação a nectina-4 que é expressa na
superfície celular, sendo responsável pela suscetibilidade da infecção pelo Morbillivirus
(MESSLING et al., 2005; FUKUHARA et al., 2019).
14
Figura 3: A cepa 5804PeH do VCC do tipo selvagem infecta células que expressam nectina-4 em
humanos e em cães. Os membros dos grupos de VCC e vírus do sarampo compartilham tropismo e
doenças comuns. O estudo sugere que a abundância de nectina-4 por ser um receptor de VCC, na
superfície celular está relacionada à sua susceptibilidade à infecção pelo VCC. As imagens de
fluorescência foram capturadas quatro dias após a infecção e sobrepostas com fases contrastantes; a
nectina-4 na linha celular correspondente sombreado com IgG; anticorpo nectina-4, nectina-4-vermelho
(NOYCE et al., 2013).
15
Figura 4: O CDV5804PeH de tipo selvagem infecta eficientemente células Vero que expressam a
nectina-4 do cão. As células Vero caninas expressam o SLAM. As nectinas-4 das MDCK (células renais
caninas) que expressam nectina-4 de cão e um plasmídeo no grupo controle, foram infectadas com a cepa
de CDV5804PeH. Fase de contraste e fluorescência: As imagens foram capturadas e sobrepostas para
visualizar a extensão da replicação do vírus, ocorrendo um aumento significativo no CDV5804PeH.
(Adaptado de NOYCE et al., 2013).
2.2.1 Neurônios
Hipotálamo Amígdala
Legendas:
A Giro pro reano N Sulco ectomarginal
B Sulco Pro reano O Giro Supra Sylvius
C Fissura de Sylvius P Sulco Supra Sylvius
D Sulco lateral rinal Q Giro Ecto Sylvius
E Pedúnculo olfatório R Sulco Ecto Sylvius
F Giro pré-cruzado S Giro Sylvius
G Giro pós-cruzado T Sulco pseudoSylvius
Figura 6: Reconstrução da superfície do cérebro canino. A localização do giro proreano, sulco coronal
(vermelho) e sulco ansate (azul) é indicado na vista dorsal. (B) Vistas lateral e medial do branco inflado,
com sulcos e giros marcados. As estruturas cinza escuro são os sulcos e as regiões cinza claro são os
23
giros. Nas superfícies rotuladas, os sulcos são coloridos em cores menos saturadas e os giros em cores
saturadas (DATTA et al., 2012)
3. Neuropatogenia da cinomose
al., 2009). As lesões subagudas com desmielinização ocorrem entre 24 a 32 dias após o
início da infecção (KLEMENS et al., 2019).
As lesões iniciais causadas pelo VCC no estágio agudo da doença, durante o
período de imunossupressão grave, são a desmielinização induzida pelo Morbillivirus.
A desmielinização ocorre durante o processo de replicação do VCC nas células gliais da
substância branca. A maioria das células infectadas são astrócitos, porém ocorre
também à infecção de oligodendrócitos, as células produtoras de mielina (GRIOT et al.,
2003).
A infecção aguda da substândia branca por VCC interfere em alterações
metabólicas em oligodendrócitos, favorecendo a desmielinização. Outros danos na
mielina são causados por fatores tóxicos, liberados por células da microglia.
(VANDEVELDE & ZURBRIGGEN, 2005).
As lesões agudas são caracterizadas por vacuolização, havendo edema nas
bainhas de mielina e hipercelularidade da substância branca em astrócitos e células da
microglia. Podem ser observados nesta fase, os corpos de inclusão eosinofílicos
intranucleares e / ou intracitoplasmáticos. Além de uma leve diminuição da densidade
da bainha de mielina por causa da vacuolização do neurópilo (GRIOT et al., 2003).
As lesões subagudas apresentam desmielinização, astrogliose com gemistócitos,
macrófagos / microglia ativados, células de gitter e linfócitos únicos no
neuroparênquima, mas sem inflamação perivascular (GRIOT et al., 2003).
Na fase aguda da cinomose, as lesões na substância branca, ativação de células
microgliais, progressão da reação imune e a desmielinização somadas a uma modulação
associada à doença da neurogênese hipocampal resultam em convulsões sintomáticas e /
ou epilepsia crônica nos cães acometidos, além disso, os cães podem desenvolver
encefalite aguda (GALÁN et al., 2014; VON RÜDEN et al., 2017).
28
uma proteína de matriz (M), uma proteína de fusão (F) e uma proteína hemaglutinina de
fixação (H) (PARDO et al., 2005).
A proteína H viral é responsável pela transmissão celular do VCC no SNC. A
transmissão do Morbillivirus pode ocorrer rapidamente através de junções comunicantes
e se espalhar pelos astrócitos (CARVALHO et al., 2012). A proteína H liga o vírus a um
receptor celular, gerando poros, independente da proteína F. A atividade do VCC ocorre
entre um complexo de fusão e um receptor viral, se espalhando por células da glia
(WYSS-FLUEHMANN et al., 2010).
Ao ativar a proteína F por polimerases específicas de tecidos, é gerado o
processo infeccioso. Existem 10% de variações nas seqüências de aminoácidos da
proteína H com reações biológicas nas células hospedeiras (PARDO et al., 2005). A
infecção da cinomose causa a leucoencefalite desmielinizante, sendo a principal
manifestação observada na cinomose seguida pela disseminação do vírus na substância
branca (SEEHUSEN et al., 2017).
Na leucoencefalite ocorre uma infiltração de células T citotóxicas CD8-positivas
e citocinas pró-inflamatórias, como as interleucina IL 6 e IL-8, fator de necrose tumoral
(TNF) -α e IL-12. A desmielinização ocorre em estágios avançados da doença, e
constitue uma diminuição da expressão da proteína viral e uma regulação positiva de
MHC de classe II, interferon-γ e IL-1, resposta imune dominada por linfócitos CD4 e
CD8 positivos, células plasmáticas e macrófagos (SEEHUSEN et al., 2017).
Os antígenos virais são demonstrados nas lesões iniciais. No início do curso da
doença, ocorre infecção de macrófagos do epitélio do plexo coróide que se desprendem
dos ventrículos e são depositados nas superfícies ependimárias, resultando em infecção
ependimal e desmielinização periventricular subsequente (SUMMERS & APPEL,
1994).
Durante a infecção no SNC pelo vírus da cinomose, ocorrem à maturação e a
plasticidade dos astrócitos, axonopatia primária e uma potencial regeneração mediada
por células de Schwann. A proliferação de citocinas, metaloproteinases de matriz e seus
inibidores, podem influenciar no grau da inflamação e distribuição do vírus pelo SNC.
Algumas cepas do CVD como a Snyder Hill podem causar polioencefalite aguda,
enquanto A75 / 17 e R252 causam predominantemente leucoencefalite desmielinizante
(SUMMERS & APPEL, 1994; PLATTET et al., 2007; LEMPP et al., 2014). A
33
Alguns estudos mostram que em torno de 30% dos cães infectados pelo VCC
desenvolvem alterações neurológicas que podem ser observadas de 1 a 6 semanas após
o início dos sinais clínicos. Após a replicação do vírus nos tecidos linfóides, se a
resposta imunológica não for satisfatória, ocorre uma viremia secundária resultando na
disseminação do vírus às células epiteliais de vários órgãos, causando doenças
multissistêmicas incluindo o SNC, ocorrendo assim polioencefalopatias que causam
disfunção do prosencéfalo (GREEN et al., 2020).
O VCC invade os astrócitos, microglia, oligodendrócitos, neurônios, células
ependimárias, células do plexo coróide e oligodendrócitos, levando à desmielinização.
Os astrócitos são os mais afetados pelo Morbillivirus, e as alterações neurológicas da
cinomose ocorrem como resultado da desmielinização aguda ou crônica com manguito
perivascular de linfócitos, células plasmáticas e monócitos (GALÁN et al., 2014). Os
sinais vestibulares podem ser observados com lesões nos pedúnculos cerebelares
(AMUDE et al., 2007).
A forma neurológica da cinomose apresenta algumas manifestações clínicas que
podem ocorrer isoladamente ou combinadas, tais como a mioclonia, ataxia, convulsão,
paraplegia, retenção urinária, rigidez muscular, atrofia muscular, pressão da cabeça
contra objetos, disfagia e incontinência urinária. A mioclonia do temporal e de
músculos dos membros anteriores seguida de convulsão, opistótono, tremores,
37
Figura 12: A figura mostra a apresentação histológica da substância branca cerebelar de cães do
grupo controle e com cães com cinomose. Coloração: hematoxilina e eosina (HE) A – A ′ ′ ′) e violeta
azul-cresil rápido de luxol (LFB / KEV) (B – B ′ ′ ′).
Grupo 1: O animal do grupo controle apresenta a substância branca intacta.
Grupo 2: Lesão aguda com hipercelularidade e vacuolização. (A ′, B ′)
Grupo3: Lesão desmielinizada subaguda com hipercelularidade, astrócitos gemistocíticos (seta),
células gitter (cabeça de seta) e a coloração LFB / KEV intralesional diminuída.
Grupo 4: Lesão subaguda a crônica com cufs perivasculares marcados, astrócitos gemistocíticos
(setas) e desmielinização da substância branca. Asterisco: vaso sanguíneo (A – A ′ ′ ′) Barra de escala =
50 µm. (B – B ′ ′ ′), barra de escala = 200 µm. (KLEMENS et al., 2019).
Figura 13: O fragmento do lobo parietal direito de um cão, macho, SRD, adulto. A seta azul aponta um
infiltrado de células inflamatórias mononucleares, sugestivas de linfócitos, na região encefálica.
46
Coloração H.E., aumento no microscópio de 400 x. (Paciente do setor de Moléstias Infecciosas (MI),
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) -Unesp, Botucatu, 2021).
Figura 14: Imagem de um cão, macho, SRD, adulto. O fragmento do lobo parietal esquerdo mostra perda
de substância branca, neurônios vermelhos por isquemia e degeneração neuronal. (Paciente do setor MI,
FMVZ-Unesp, Botucatu, 2021).
47
Figura 15: Imagem de um cão, macho, SRD, adulto. O fragmento do lobo parietal esquerdo apresentando
astrócitos em desmielinização intensa e infiltrado linfocitário no lobo parietal. Coloração H.E. (Paciente
do setor MI, FMVZ-Unesp, Botucatu, 2021).
Figura 16: Imagem de um cão, macho, SRD, adulto. O fragmento do lobo parietal esquerdo apresenta
infiltrado linfocitário de células mononucleares dentro do vaso, lesão neuronal por hipóxia (neurônio
vermelho). Coloração H.E. (Paciente do setor MI, FMVZ-Unesp, Botucatu, 2021).
48
Figura 17: Alterações patológicas no cérebro de um paciente com esclerose múltipla (EM)
secundária progressiva. As lesões desmielinizadas focais estão presentes na substância branca
(A). Há extensa desmielinização subapical cortical. (B). Em contraste com o padrão normal de
mielina no córtex cerebral, como mostrado em C, a perda completa de mielina nas lesões
subpiais (D). Placas desmielinizadas na substância branca podem aparecer como lesões
desmielinizantes com uma baixa densidade de bainhas finas de mielina, visível por
imunocitoquímica para proteínas de mielina ou como placas de sombra remielinizadas (G e H)
(LASSMANN, 2018).
50
3.12 Diagnóstico:
Os métodos que podem ser utilizados são a Imunocromatografia direta (IC) para
a detecção de antígeno da cinomose canina, Quantitative Real Time-PCR (RT-PCR) e
PCR nested, histopatologia do SNC, isolamento viral, Elisa, imunoflourescência,
Análise do fluido cérebro-espinhal e hematologia. As taxas de positividade mais altas
são relatadas nos exames de Elisa, IC e RT-PCR (COSTA et al., 2019).
No Elisa, as taxas de sensibilidade e especificidade variam de 93 a 100% e de 83
a 100%, respectivamente. A soroneutralização possui uma taxa de positividade de 38%.
O nested PCR, considerado como o padrão ouro no diagnóstico de RNA do vírus da
cinomose, tem alta sensibilidade, porém a sensibilidade depende do tipo de amostra
coletada (COSTA et al., 2019).
Análises de detecção de anticorpos não são consideradas bons testes de
diagnóstico, por causa da cinética do anticorpo de protocolos vacinais (ATHANASIOU
et al., 2017).
4 OBJETIVOS:
Tendo em vista que a cinomose é a doença viral mais importante em cães, com
alta morbimortalidade, podendo causar complicações no Sistema Nervoso Central,
foram revisados os mecanismos da neuropatogenia da infecção pelo VCC para melhor
compreensão desse processo mórbido.
5 MATERIAL E MÉTODOS
6. CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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ANEXOS
Anexo 1: Atestado de aprovação do Conselho Nacional de Controle de
Experimentação Animal - CONCEA
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