FSIG - Capítulo 2

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1.

Os primeiros indícios de sexualidade e identidade de gênero na história

Quando voltamos no tempo, percebemos que a sexualidade e o conceito de gênero


sempre fizeram parte da experiência humana, mas de maneiras bem diferentes das que
conhecemos hoje.

Era Vitoriana: O "Manual de Regras" da Moralidade Sexual

A Era Vitoriana (1837-1901), marcada pelo reinado da rainha Vitória no Reino Unido,
foi um período que moldou profundamente a forma como o Ocidente via sexualidade e
gênero. É como se a sociedade, naquela época, tivesse escrito um "manual" de
comportamento, cheio de regras rígidas e expectativas idealizadas.

1. Moralidade e repressão: “O que é certo e errado”

Durante essa época, a sexualidade era um tema tratado quase como um segredo de
estado: todo mundo sabia que existia, mas ninguém falava sobre isso abertamente. A
moral vitoriana ditava que pureza e autocontrole eram sinais de virtude.

• Para as mulheres:
Elas eram colocadas num pedestal, vistas como símbolos de pureza, maternidade
e submissão. A expectativa era que fossem recatadas e focadas na família,
enquanto a sexualidade feminina era tratada como algo quase inexistente (e que
só se manifestava dentro do casamento).
• Para os homens:
Embora tivessem mais "liberdade" social, esperava-se que controlassem seus
impulsos em público. O ideal masculino era de um cavalheiro respeitável, que
liderava a casa e mantinha a aparência de virtude.

Curiosidade: Apesar de toda essa repressão pública, existiam bordéis e materiais


pornográficos circulando na clandestinidade. Isso mostra que o comportamento real e as
normas sociais nem sempre andavam de mãos dadas.

2. Gênero e a ideia de papéis fixos

A era vitoriana estabeleceu um modelo rígido de papéis de gênero: o homem era o


provedor e líder; a mulher, a cuidadora e a figura de suporte. Esses papéis eram
sustentados por teorias pseudocientíficas que afirmavam que o cérebro masculino era
mais "racional" e o feminino, mais "emocional".

• A Rainha Vitória como símbolo:


Ironia ou não, o reinado de uma mulher poderosa ajudou a reforçar esses papéis
de gênero. Vitória era vista como a "mãe da nação", combinando autoridade e
feminilidade, mas sempre dentro dos limites da moralidade vitoriana.
3. O surgimento da ciência da sexualidade

Se por um lado o discurso público era de repressão, por outro, a ciência começou a
explorar o tema da sexualidade:

• Estudos médicos: Pesquisadores como Richard von Krafft-Ebing escreveram


sobre comportamentos sexuais, catalogando o que chamavam de "desvios",
como homossexualidade e fetichismo, que eles viam como doenças.
• A psicanálise nascendo: Freud começou a desenvolver suas ideias no fim do
período vitoriano, questionando a repressão sexual e sugerindo que isso tinha
impactos psicológicos profundos.

4. Reflexão espiritual: o cristianismo na era vitoriana

A sociedade vitoriana era profundamente influenciada pela religião cristã,


especialmente por uma visão mais moralista e institucionalizada. Isso moldou as normas
sociais, mas nem sempre refletiu o coração do Evangelho:

• Valorização da pureza: Era importante manter a dignidade do corpo, mas a


ênfase excessiva na repressão sexual muitas vezes ignorava o amor, a graça e a
redenção oferecidos por Deus.
• O perigo da hipocrisia: Jesus constantemente confrontava aqueles que
priorizavam regras externas em vez de uma transformação verdadeira do coração
(Mateus 23:27-28).

O que podemos aprender?


A era vitoriana nos lembra que é fácil cair no erro de focar nas aparências e esquecer a
essência. Para Deus, a sexualidade não é algo para ser ignorado ou reprimido, mas para
ser entendido e vivido dentro do Seu plano. Ele nos chama a um equilíbrio: pureza, sim,
mas também honestidade e graça.

5. Impactos duradouros: o que ficou dessa época?

Muito do que vivemos hoje em relação a normas de gênero e sexualidade ainda carrega
ecos da era vitoriana:

• A ideia de que a mulher deve ser "santa e recatada" e o homem, "forte e


racional".
• A dificuldade de falar abertamente sobre sexualidade em ambientes cristãos,
como se fosse um tabu.

Por outro lado, os excessos dessa época também levaram à reação oposta: movimentos
de liberação sexual nos séculos XX e XXI, tentando romper com as "correntes"
vitorianas.
Conclusão: A era vitoriana foi um divisor de águas. Embora tenha dado importância à
moralidade, também exagerou na repressão, o que gerou feridas e hipocrisias. Como
cristãos, somos chamados a resgatar o equilíbrio: entender que o corpo, a sexualidade e
os papéis de gênero são presentes de Deus, que devem ser vividos à luz da verdade, da
graça e do amor.

1. Outras civilizações

• Civilizações antigas (Egito e Mesopotâmia):


Essas culturas já mostravam como a sexualidade e o gênero estavam
relacionados à espiritualidade e à ordem social. No Egito, por exemplo, a
fertilidade era vista como algo divino, enquanto na Mesopotâmia existiam
sacerdotes chamados gala, que transcendiam os papéis de gênero tradicionais,
refletindo a flexibilidade com que essas sociedades entendiam o tema.
• Gênero e divindade:
Na Índia antiga, por exemplo, a figura de Ardhanarishvara (uma fusão de Shiva
e sua consorte Parvati) representava a união de masculino e feminino como algo
divino. Essas culturas enxergavam a identidade humana como algo que ia além
de definições fixas.
• Conexão bíblica:
Já na Bíblia, encontramos a ideia de que Deus criou homem e mulher à Sua
imagem (Gênesis 1:27), com papéis complementares, mas igualmente dignos.
Essa criação perfeita foi afetada pelo pecado, o que explica as tensões e
confusões sobre identidade e propósito que vemos ao longo da história humana
(Romanos 8:22).

2. Filosofia: os primeiros a refletirem sobre gênero e sexualidade

Platão e o amor que aponta para o eterno


Platão foi um dos primeiros filósofos a tratar do desejo humano e da sexualidade de
forma sistemática. No Banquete, ele apresenta o mito de Aristófanes, que diz que os
humanos eram originalmente seres completos e foram divididos em duas partes pelos
deuses. Desde então, cada pessoa busca sua “metade” para se sentir plena. Essa ideia
relacionava a sexualidade com a busca de algo maior, quase divino.

• Por que ele falou disso?


Platão queria entender como o amor e o desejo nos conectam com algo
transcendental. Para ele, o desejo físico era só um reflexo de uma busca
espiritual mais profunda.
• Aristóteles: um contraponto
Já Aristóteles via as coisas de forma mais prática, baseando-se na biologia.
Infelizmente, ele classificou a mulher como inferior ao homem, uma visão que
influenciou séculos de pensamento ocidental.
• Reflexão cristã:
Enquanto Platão e Aristóteles tentavam decifrar o desejo humano, a Bíblia
apresenta o amor e o desejo como dons dados por Deus, mas que, sem Ele,
acabam sendo desordenados (Jeremias 17:9). O amor verdadeiro, conforme
descrito em 1 Coríntios 13, vai além da atração física e reflete o caráter divino.
3. Psicanálise: como a sexualidade começou a ser moldada como ciência

Freud: o início de uma revolução no pensamento


Freud foi o primeiro a dizer que a sexualidade influencia nossa mente desde a infância.
Ele acreditava que o desenvolvimento humano passava por fases (oral, anal, fálica, etc.)
e que conflitos nessas fases moldavam quem somos. O famoso complexo de Édipo, por
exemplo, sugeria que o desejo inconsciente por um dos pais era fundamental para o
desenvolvimento da identidade. (gente, pausa aqui para dizer que eu não tanko muito
Freud não, com todo respeito, mas seguimos.)

• O inconsciente e o desejo:
Freud mostrou que a sexualidade não é só sobre o físico; ela também reflete
nossos conflitos internos e influências culturais.

Lacan: indo além de Freud


Lacan pegou as ideias de Freud e acrescentou um elemento mais simbólico. Ele dizia
que a forma como entendemos gênero e sexualidade é profundamente influenciada
pelos símbolos e significados que herdamos da sociedade. É como se o “quem somos”
fosse moldado pelas palavras e normas que nos rodeiam.

• Perspectiva espiritual:
A psicanálise toca em questões importantes sobre desejo e identidade, mas para
a Bíblia, nossa verdadeira identidade está em Deus. Em Cristo, somos uma nova
criação (2 Coríntios 5:17), e é Ele quem redefine quem somos,
independentemente das influências sociais ou conflitos internos.

Resumo

Desde as primeiras civilizações, passando pela filosofia e chegando à psicanálise, o ser


humano sempre buscou entender quem é e qual o significado da sexualidade e do
gênero. Enquanto Platão via o amor como um reflexo do divino, Freud e Lacan
trouxeram um olhar mais psicológico e simbólico. No entanto, a Bíblia oferece uma
visão que transcende essas ideias: ela nos lembra que fomos criados por Deus com um
propósito, e é n’Ele que encontramos nossa verdadeira identidade.

Por: Yasmin Araujo

Materiais de apoio:
Livros sobre História e Sociologia de Gênero e Sexualidade
1. "História da Sexualidade" - Michel Foucault
Uma das obras mais fundamentais para entender como as ideias de sexualidade
foram moldadas ao longo do tempo. Foucault analisa como o poder, a ciência e a
sociedade influenciam nossos entendimentos modernos sobre o tema.
2. "Gênero: Uma Categoria Útil de Análise Histórica" - Joan W. Scott
Aborda como o conceito de gênero tem sido usado como ferramenta de análise
para entender relações de poder ao longo da história.
3. "O Segundo Sexo" - Simone de Beauvoir
Embora focado mais no feminismo, é crucial para entender como as construções
sociais sobre o gênero feminino foram formadas.

Livros sobre Filosofia e Psicologia

4. "Sexualidade e Relações Humanas" - Sigmund Freud


Este livro trás uma introdução à visão de Freud sobre sexualidade e
desenvolvimento psicossexual, marcando os primórdios da psicanálise nesse
campo.
5. "Corpo, Gênero e Sexualidade: Um Corpo Estranho" - Guacira Lopes
Louro
Trabalha com questões filosóficas e sociológicas para desconstruir noções
rígidas de gênero e sexualidade.

Livros sobre Aspectos Espirituais e Teológicos

6. "Amor e Responsabilidade" - Karol Wojtyla (Papa João Paulo II)


Explora a sexualidade humana sob uma perspectiva teológica, conectando-a com
a ética cristã e o propósito divino.
7. "Deus e a Sexualidade Humana" - Cristiane Nord
Este livro é ótimo para integrar princípios bíblicos às discussões sobre
sexualidade, destacando a dignidade humana conforme ensinada nas Escrituras.
8. "A Teologia do Corpo" - Papa João Paulo II
Uma coleção de discursos do Papa João Paulo II que aborda a dignidade do
corpo humano, a sexualidade e o propósito divino para a humanidade.

Recursos Práticos e Contemporâneos

9. "Gênero e Sexualidade: Ensaios Contemporâneos" - Vários autores


Uma coletânea de textos acadêmicos que discute questões modernas de gênero e
sexualidade sob perspectivas culturais e espirituais.
10. "Cristianismo Puro e Simples" - C.S. Lewis
Embora não seja focado em gênero e sexualidade, este livro é excelente para
refletir sobre questões éticas e espirituais em um contexto cristão.

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