3 - Judaísmo Antigo
3 - Judaísmo Antigo
3 - Judaísmo Antigo
O que deu vitalidade para o componente ético implícito no judaísmo antigo foi a
atuação da profecia judaica. Isso se explica porque a constituição de um estamento
sacerdotal, que exercia sua atividade religiosa em templos, tendia a dar ênfase à
atividade mágica de culto, o que contrariava o ensinamento de Jeová. Porém, apenas
com o componente ético da obediência irrestrita dos mandamentos divinos, fato que era
lembrado insistentemente pelos profetas, a salvação seria possível, e não mais com
técnicas mágicas de salvação e contemplação dos sacerdotes. O profeta indica ou
inventa caminhos novos para seu povo; enquanto o sacerdote, ao contrário, é o
“burocrata da religiosidade” e apenas reproduz a mensagem já institucionalizada. O
trabalho dos profetas era dirigido à radicalização do componente ético e seu efeito no
comportamento cotidiano. As lógicas mundanas deviam se conformar e subordinar-se à
mensagem religiosa.
Essa visão dualista do mundo, tensão entre ética religiosa e mundo profano, entre
o que desejo fazer e o que Deus me manda fazer, gera o drama moral individual em
sua primeira forma histórica , e é por isso que Weber considera o desenvolvimento das
formas religiosas a parteira do mundo simbólico secular e por consequência, do mundo
moderno no qual vivemos.
A fonte da moralidade é tradicional e religiosa e está presente nela a dimensão
revolucionária como mecanismo transformador da realidade . Essa dimensão moral e a
extraordinária força de solidariedade e convicção que ela produz fizeram com que os
judeus, um povo cercado por adversários poderosos, pudessem sobreviver à escravidão
e manter sua identidade mesmo sem pátria ao longo dos milênios. Isso foi alcançado ao
custo de uma dupla moralidade, intra e extracomunitária, que estipulava deveres para
com seus irmãos e ausência de compromissos morais com os gentios, o que viria a
produzir o antissemitismo como reação da comunidade maior .
Diante desse contexto entre o rigor ético religioso e as demandas profanas , Weber
nota a oposição entre os profetas da “boa ventura”, que pretendiam dar aos fiéis o
que eles queriam ouvir, lembrando muito a teologia da prosperidade contemporânea;
com os profetas da “desgraça”, ou seja, os que enfatizavam a obediência
incondicional aos mandamentos divinos. De um lado sempre temos os que defendem
os interesses dominantes, e do outro os que se insurgem contra esse tipo de mensagem,
se opondo ao conformismo com base em valores éticos , prefigurando as formas
arquetípicas de toda luta simbólica , religiosa e pré-religiosa, em qualquer sociedade a
partir de então.
CONCLUSAO
Em resumo, podemos dizer que vimos os aspectos revolucionários que o
nascimento da esfera consciente da moralidade individual enseja:
I. A Consciência do dilema moral sobre a vitória do tradicionalismo mágico;
II. O dilema da escolha se dirige à consciência individual, que não mais imita o
comportamento tradicional aceito à sua volta. O indivíduo pode escolher entre
obedecer a Deus ou ao mundo.
Em sentido estrito, aqui nasce o indivíduo ocidental não só como idéia, mas como
prática efetiva, na medida em que a faculdade de realizar escolhas morais conscientes é
sua dimensão mais importante. Ela implica a decisão refletida a favor de uma
orientação de vida em todas as dimensões mas também a responsabilidade pelas
consequências dessa decisão.
A noção de indivíduo como realidade moral refletida foi produto de condições
sociais muito específicas. Foi uma ideia que teve de ser “inventada”, criada
historicamente, e por isso o estudo da evolução das formas religiosas da moralidade tem
importância decisiva. Ele permite não apenas compreender o mundo em que vivemos
hoje, mas também nos ajuda a perceber sua contingência e sua singularidade. Tudo
poderia ter se dado de outro modo, como foi efetivamente o caso do Oriente. Toda a
história do Ocidente, naquilo que ela tem de mais importante e relevante, teve sua
origem na criação de uma ideia de indivíduo com instância moral refletida e consciente.
E seu berço foi a profecia ética do judaísmo antigo.
Alexandre Amaral
São João do Cariri PB
18/11/2021
Referência
1- SOUZA, Jessé. Como o racismo criou o Brasil.1ed. Rio de Janeiro: Estação
Brasil, 2021.