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Pesq. Vet. Bras. 16(2/3):67-74, abr./set.

1996

EPIDEMIOLOGIA E QUADRO CLÍNICO DO BOTULISMO


EPIZOÓTICO DOS BOVINOS NO ESTADO DE SÃO PAULO 1

Julio Augusto N. Lisbôa 2, Mareio R.G. Kuchembuck3, Iveraldo S. Dutra4, Roberto


C. Gonçalves3, Clóvis T. Almeida 3 e Ivan R. Barros Filho 5

ABSTRACT.- Lisbôa J.A.N., Kuchembuck M.R.G., Dutra I.S., Gonçalves R.C., Almeida
C.T. & Barros Filho I.R. 1996. [Epidemiological and clinicai aspects of the epi-
zootic botulism of cattle iri the State of São Paulo.] Epidemiologia e quadro clínico
do botulismo epizoótico dos bovinos no Estado de São Paulo. Pesquisa Veterinária
Brasileira 16(2/3):67-74. Depto Clínicas Veterinárias, Universidade Estadual de Londrina,
Campus Universitário, C.P. 6001, Londrina, PR 86051-970, Brazil.
ln order to investigate epidemiological and clinica! aspects of beef cattle mortalities
caused by botulism, a syndrome popularly known as "doença da vaca caída", studies
were carried out in 32 naturally affected 4 to 9 year old cows, 27 belonging to the Nellore
breed and 5 to crossbred Nellore, all from 27 farms located in municipalities near Botucatu,
State of São Paulo. The epidemiological anel clinica! features were based, respectively,
on the farm and herd managements, and on the general physical examination of the
cows. Mouse bioassay anel complement microfixation tests were performed to detect the
presence of botulinum toxins in liver samples. The results showed that the disease occurs
in beef cattle of range breeding systems, reared under inadequate mineral nutrition and
deficient health management. Pregnant and milking cows represented the group at risk,
anel the incidence was higher during the rainy season (December to March), with mor-
bidity and mortality rates of 3,2 ± 3,6%. Clinica! examination revealed cows with no
alterations of vital signs, behavior, visual and auditory acuities and skin sensation; but
revealed ruminai hypomotility, anorexia, dehydration, flaccid para or tetraparesis with
permanent recumbency, and a paretic or paralytic tongue. The diagnosis of botulism,
involving type C and D toxins, was consistent with the epidemiological and clinica!
findings.
INDEX TERMS: Cattle, epizootic botulism, epidemiology, clinicai signs.

SINOPSE.- Com o objetivo de verificar aspectos epide- "doença da vaca caída", estudaram-se 32 vacas (27 da raça
miológicos e clínicos da mortalidade de vacas de corte Nelore e 5 mestiças), entre 4 e 9 anos de idade, natural-
causada pelo botulismo, popularmente conhecida como mente acometidas, e pertencentes a 27 propriedades ru-
rais distintas, localizadas em 17 municípios próximos a
Botucatu, Estado de São Paulo. As caracterizações da
epidemiologia e do conjunto de sintomas basearam-se,
1 Aceito para publicação em 22 maio de 1996. respectivamente, no histórico dos rebanhos acometidos e
Projeto financiado pela FAPESP (92/0970-1). no exame clínico das vacas estudadas, com análise estatís-
2 Departamento de Clínicas Veterinárias, UEL, Campus Universitário,
tica descritiva. Empregaram-se as provas de inoculação em
Caixa Postal 6001, Londrina, PR 86051-970.
camundongos e de microfixação de complemento para a
3 Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ, Unesp, Campus de
detecção de toxinas botulínicas em amostras de fígado
Botucatu, Botucatu, SP 18618-000.
colhidas durante a necropsia dos animais. Os resultados
4 Departamento de Medicina Veterinária, FOA, Unesp, Campus de
apontaram a ocorrência da doença em rebanhos de cor-
Araçatuba, Caixa Postal 533, Araçatuba, SP 16015-050.
5 Departamento de Medicina Veterinária, UFPR, Campus Universitário,
te, explorados extensivamente, com manejas de
Curitiba, PR 80001-970.
suplementação mineral e sanitário inadequados. A inci-

67
68 Júlio Augusto N. Lisboa et ai.

dência foi maior de dezembro a março, em vacas prenhes investigação laboratorial da presença das toxinas botulínicas
ou lactantes, com coeficientes de morbidade e mortalida- tipos C e D em amostras de fígado, como meio de confir-
de de 3,2 ± 3,6%. Clinicamente observaram-se funções vi- mar o diagnóstico.
tais, comportamento, visão, audição e sensibilidade cutânea
normais, porém hipotonia ruminal, anorexia, desidratação, MATERIAL E MÉTODOS
para ou. tetraparesia flácidas com decúbito permanente e
diminuição ou ausência do tônus da língua. O diagnóstico Animais
de botulismo, com envolvimento das toxinas tipos C e D, Selecionaram-se para o estudo 32 fêmeas bovinas, sen-
foi coerente com as observações epidemiológicas e clíni- do 27 da raça Nelore e 5 mestiças, com idade variando
cas. entre 4 e 9 anos, possuindo história e quadro clínico, indi-
vidual e de rebanho, compatíveis com o problema em
TERMOS DE INDEXAÇÃO: Bovinos, botulismo epizoótico, questão, e pertencentes a 27 propriedades rurais, localiza-
epidemiologia, sintomas. das em 17 municípios relativamente próximos a Botucatu,
Estado de São Paulo.
INTRODUÇÃO Foram descartados todos os animais com evidências
Desde o início da década passada, os pecuaristas e técni- clínicas e/ou anatomo-patológicas da presença de outros
cos brasileiros têm a sua atenção voltada para a crescente processos patológicos concomitantes, bem como, com re-
mortalidade de vacas nos rebanhos de corte, a qual vem sultado positivo para raiva no exame rotineiro de
determinando expressivos prejuízos econômicos pelo nú- imunofluorescência direta.
mero elevado de animais envolvidos, e, recebeu denomi-
nações variadas, sobretudo "doença da vaca caída". Colheita de material
Dentre os aspectos epidemiológicos apontam-se as va- Amostras de aproximadamente 100g de tecido hepáti-
cas como a categoria predominantemente acometida, es- co, totalizando 28 unidades, foram colhidas durante a rea-
pecialmente se prenhes ou lactantes, pertencentes a reba- lização do exame necroscópico dos animais, utilizando-se
nhos de corte mantidos em regime de manejo extensivQ, facas limpas de aço inoxidável, sendo identificadas indivi-
geralmente com suplementação de fósforo inadequada, dualmente e conservadas por congelamento.
registrando-se o maior número de casos na época das chu-
vas e a elevada incidência nas regiões de cerrado Estudo epide1niológico
(Dõbereiner et al. 1990, 1992, Dutra 1991). O levantamento epidemiológico, referente às 27 pro-
O quadro clínico é, em geral, de caráter agudo (evolu- priedades rurais incluídas no estudo, baseou-se nas infor-
ção de 24 a 72 horas), caracterizando-se por uma mações obtidas com os proprietários e/ou tratadores e nas
incoordenação dos membros posteriores, decúbito esternal evidências "in loco" quando da visitação, registrando-se
permanente evoluindo para lateral e morte, com apetite em questionário específico.
variável e estado mental normal (Dõbereiner et al. 1990, Os dados sofreram análise ou classificação em diferen-
1992, Real et al. 1991, Dutra 1991), o que encontra forte tes tópicos relacionados a seguir, abrangendo-se a caracte-
compatibilidade com as descrições do conjunto de sinto- rização do manejo e rebanho (tipo de manejo e de explo-
mas observado em bovinos acometidos pela intoxicação ração); a nutrição mineral (tipo de suplemento utilizado,
botulínica (Henning 1949, Tokarnia et al. 1970, Blood & frequência de suplementação e tipo de cocho empregado
Radostits 1989, Mayhew 1989). para tal finalidade); o manejo sanitário (frequência de
De fato, o diagnóstico epidemiológico e clínico-patoló- vennifugações, tipos de vacinações, frequência de assis-
gico de botulismo, defendido em diferentes oportunida- tência médico veterinária e possibilidade de osteofagia
des para explicar o problema sanitário em questão (Tokarnia segundo a presença de ossos e/ou carcaças em áreas des-
et al. 1988, Dõbereiner et al. 1990, 1992, Dutra 1991), foi tinadas ao pastoreio);~ a epidemiologia da doença (época
consistentemente confirmado com o trabalho de Dutra et · de ocorrência do problema em relação aos meses do ano,
al. (1993) ao empregarem o teste de microfixação de com- categoria animal afetada, estado fisiológico provável das
plemento (Weiss & Weiss 1988), método laboratorial com vacas acometidas e coeficientes de morbidade, mortalida-
sensibilidade superior ao exame clássico de inoculação em de e letalidade), considerando-se nesta última abordagem
camundongos, possibilitando a detecção das toxinas as informações referentes ao total de 332 animais acometi-
botulínicas tipos C e D em amostras provenientes de ani- dos nas diferentes propriedades estudadas.
mais naturalmente acometidos.
Em vista das considerações anteriores e, utilizando-se Exame clínico
vacas da raça Nelore e suas mestiças manifestando quadro Das 32 vacas incluídas no trabalho, somente 26 partici-
clínico compatível e pertencentes a rebanhos acometidos param do estudo clínico uma vez que_ as demais morreram
pelo problema em municípios próximos a Botucatu, Esta- anteriormente à abordagem inicial, impossibilitando a rea-
do de São Paulo, o presente trabalho traz como objetivos lização do exame rotineiro, o qual, seguindo os preceitos
o estudo da epidemiologia da doença em seus diferentes clássicos (Blood & Radostits 1989, Dirksen et al. 1993),
aspectos, a caracterização do quadro sintomatológico e a constituiu-se na avaliação das funções vitais (temperatura

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EPIDEMIOLOGIA E QUADRO CÚNICO DO BOTULISMO EPIZOÓTICO DOS BOVINOS NO ESTADO DE SÃO PAULO 69

e frequências cardíaca, respiratória e de movimentos


ruminais); coloração das mucosas e estado de hidratação,
classificando-se o grau de desidratação, quando presente,
em leve (5 a 8%), moderado (8 a 10%) e grave (acima de
10% do peso vivo); além dos sistemas tegumentar, linfáti-
co, respiratório, cardiovascular, digestivo e urogenital.
O exame clínico neurológico consistiu na avaliação de
postura; do estado mental, o qual segundo a intensidade
de resposta aos estímulos externos sofreu classificação em
alerta (resposta normal), apatia (relativa indiferença aos
estímulos) e depressão (ausência de resposta); das
acuidades visual e auditiva; do tônus muscular nos mem-
bros; do tônus da língua, testado por meio da exposição
manual do órgão e classificado como normal (exposição
dificultosa), diminuído (exposição com relativa facilidade
seguida por recolhimento espontâneo à cavidade oral) e
ausente (protrusão permanente, ou facilidade de exposi-
ção sem o recolhimento imediato à cavidade oral); assim
como, da presença de sensibilidade cutânea na região
paravertebral e nos membros, testada através de leves to-
ques com o bisel de agulhas hipodérmicas na pele.

Métodos de diagnóstico para o botulismo


Realizaram-se dois métodos distintos para à verificação
da presença de toxinas botulínicas nas amostras de fígado
colhidas: o teste de inoculação intraperitonial em camun- Fig. 1. Apresentação da região de abrangência do estudo no Esta-
dongos (ensaio biológico) seguido pela prova de do de São Paulo, com indicação dos municípios de loca-
soroneutralização quando de resultados positivos, segun- lização das propriedades rurais afetadas pelo problema
de mortalidade.
d_o a metodologia clássica e empregada por Tokarnia et al.
(i970), e, o teste de microfixação de complemento segun-
do a técnica de Weiss & Weiss (1988), utilizando-se as
antitoxinas botulínicas C e D, gentilmente cedidas pelo
100
"Staatens Serum Institut" de Copenhagen, Dinamarca.
A metodologia laboratorial empregada, envolvendo
ambos os exames, desde o preparo inicial das amostras,
encontra-se detalhadamente descrita no estudo de Dutra
et al. 0993).
O exame de soroneutralização foi procedido em unica- 44;44

mente quatro amostras positivas no ensaio biológico, em


razão da não disponibilidade de suficientes quantidades
das antitoxinas específicas.

Métodos estatísticos Extensivo Cria . Criá Recria Cria· Recria·


Efetuou-se um estudo estatístico descritivo para o con- ·Engorcià

junto de variáveis quantitativas determinando-se medidas


de tendência central e de dispersão, assim como as distri- Fig. 2. Caracterização do tipo de manejo e do tipo de exploração
buições de frequência para as variáveis qualitativas (Berquó empregados nas propriedades rurais (n=27) onde se veri-
et al. 1980). ficou o problema de mortalidade bovina, no Estado de
São Paulo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Estudo epidemiológico mortalidade se evidenciou em condições de criação exten-
A Figura 1 mostra a área de abrangência do estudo siva com exploração do rebanho para reprodução (Fig. 2)
destacando os municípios onde se localizavam as proprie- sendo ainda digno de nota que todas as propriedades se
dades cujos dados permitiram o enfoque epidemiológico. localizavam em áreas de cerrado, com solos arenosos e a
Os resultados do estudo epidemiológico, por sua vez, maior parte das pastagens formadas por capins do gênero
estão apresentados nas Figuras 2 a 11, mostrando que a Brachiaria (89,61%), características coerentes com a ocor-

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70 Júlio Augusto N. Lisboa et ai.

4% 100.00
100.00

□ Sal Comum % 50,00


O Concentrado Mineral + Sal Comum
li Sar Mineralizado Comercial
■ Sal Mineralizado não Comercial
(Calculado) 19.23

3.85
O.DO
Aftosa Carbúnculo Brticelose Raiva Botulismo

44% Fig. 6. Tipos de vacinações realizadas nas propriedades rurais


(n=27) onde se verificou o problema de m01taliclacle bo-
Fig. 3. Tipo de suplemento mineral utilizado nas propriedades vina, no Estado ele São Paulo.
rurais (n=27) onde se verificou o problema de mottalida-
de bovina, no Estado de São Paulo. O exame conjunto das Figuras 3, 4 e 5 deixa claro, a
exemplo do relato de Ortolani 0993), a existência ele fa-
7% lhas no manejo de nutrição mineral dos rebanhos acome-
tidos, quer seja quanto ao tipo de suplemento utilizado,
quer quanto à frequência de oferta ou tipo de cocho em-
pregado para esta finalidade. E, embora não tenha sido
possível averiguar a facilidade de acesso dos animais aos
cochos destinados à suplementação mineral, parece razo-
1
■ Esporádica 1

□ Regular 1
ável admitir que a presença ele pelo menos um cocho para
□ Permanente cada divisão de pastagem, observada na maioria elas pro-
priedades (80,77%), possa ser considerada satisfatória. Por
outro lado, cada cocho atendia, em média, 51,6 ha de pas-
to, com uma variação de 16,6 a 128,0 ha, área aparente-
71% mente extensa em demasia para algumas situações, o que
pode supostamente prejudicar o consumo elo suplemento.
Com respeito ao manejo sanitário, os dados ele
Fig. 4. Frequência ele suplementação mineral praticada nas pro- vermifugação, realizada a intervalos semestrais (26,9%) ou
priedades rurais (n=27) onde se verificou o problema ele quaclrimestrais (46,1%), e de vacinação (Fig. 6) são relati-
mortalidade bovina, no Estado ele São Paulo. vamente semelhantes àqueles indicados por Ortolani 0993),
destacando-se que a imunização contra o botulismo não
era uma prática de rotina, e na maioria elas vezes fora
realizada recentemente (há no máximo 45 dias) após o

4%

□ Coberto
47%
□ Descoberto
■ Coberto e Descoberto

O Esporádica
□ Regular
■ Pennanente

Fig. 5. Tipos ele cochos utilizados para a suplementação mineral


nas propriedades rurais (n=27) onde se verificou o pro-
blema de mortalidade bovina, no Estado ele São Paulo.
81%
rência do problema em varias regiões do País, conforme
as citações ele Tokarnia et al. 0988), Dóbereiner et al. 0990, Fig. 7. Frequência de assistência médico veterinária nas proprie-
1992) e Dutra 0991), por serem áreas deficientes em fós- dades rurais (n=27) onde se verificou o problema de mor-
foro. talidade bovina, no Estado de São Paulo.

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EPIDEMIOLOGIA E QUADRO CLÍNICO DO BOTULISMO EPIZOÓTICO DOS BOVINOS NO ESTADO DE SÃO PAULO 71

surgimento do problema de mortalidade. Adicionalmente, Quadro 1. Estatística descritiva das funções vitais, temperatura
em coerência com o manejo padrão de g::iclo de corte do (Temp ), frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (PR) e
País, somente uma reduzida porcentagem das proprieda- movimentos ruminais(MR), observadas nas vacas de corte (n=23)
des era assistida por médico veterinário regular ou perma- naturalmente acometidas pelo decúbito permanente, no Estado de
São Paulo
nentemente (Fig. 7).
Na Figura 8 pode-se observar que em 65% das propri- Temp (ºC) FC (/min) FR (/min) MR (/5min)
edades os rebanhos estavam sujeitos ao risco de osteofagia 38,L0
X 67,52 22,95 1,60
em função da presença, recente ou antiga, de ossos e/ou s 0,95 16,21 7,90 1,64
carcaças, bovinas ou não, nas áreas de pastoreio. Em seu CV 2,5[ 24,01 34,43 102,21
levantamento, Ottolani 0993) apontou um risco ainda maior LI 37,69 60,50 19,53 0,89
ICLS 38,52 74,53 26,37 2,31
(95,7%), citando como comum a observação de parorexia
Md 38,50 68,00 20,00 1,00
em animais cios rebanhos atingidos, situação anteriormen-
te registrada por Tokarnia et al. (1970), ao concluírem o
diagnóstico ele botulismo, investigando mortalidades bovi-
nas no Piauí. Em razão ela limit::icla confiabilidacle da infor-
mação, não foi possível incluir, na presente investigação, a
porcentagem de rebanhos cujos animais manifestavam
osteofagia.
Em relação à epidemiologia ela doença, os achados □ Presença
□ Ausência
condizem com as observações de Dõbereiner et :11. 0990,
1992), Dutra 0991) e Ortolani (1993), destacando-se o ní-
tido padrão ele comportamento sazonal com incidência mais
elevada no período chuvoso do ano (Fig. 9), além ele as 65%
vacas constituírem-se no grupo de mais alto risco (Fig. 10),
especialmente se prenhes ou lactantes (Fig. 11), o que está
ele acordo ainda com os relatos de Tokarnia et al. 0970)
ao estudarem rebanhos acometidos pela intoxicação Fig. 8. Presimça ou aparente ausência de ossos e/ou carcaças,
botulínica. A explicação encontra-se fundamentada no recentes ou antigos, nas áreas de pasto, possibilitand6 o
contato dos animais, nas propriedades rurais (n=27) onde
conceito de que· sendo as vacas, em particular durante a
se verificou o problema de mortalidade bovina, no Estado
prenhez e a lactação, a categoria do rebanho com os mais ele São Paulo.
acentuados níveis de exigência nutricional, é lógico espe-
rar, portanto, que sejam as primeiras a manifestarem sinais
de desequilíbrio quando ele uma dieta deficiente em fósfo- 80.00

ro, destacando-se, dentre os mesmos, a osteofagh e ingestão 67.47

ele toxinas botulínicas consequentemente.


As taxas ele morbiclade e mortalidade resultaram, por
fim, idênticas por não ter havido relato ele recuperação ele
qualquer animal acometido, fazendo com que o índice ele
letalidade fosse absoluto. O resultado médio obtido (3,2 ±
3,61%), assim como o valor mais elevado (12,5%), mostra-
ram-se inferiores aos apontados por Ortolani (1993) em
outras situações geográficas ele ocorrência cio problema.

Estudo clínico Dez-Mar Abr,Mal,Out,Nov Jun-Set

Das 32 vacas estuclaclas, 13 estavam prenhes (a maioria Fig. 9. Distribuição de ocorrência dos casos (n=332) segundo a
a partir cio segundo trimestre) e 14 lactantes (quase todas época cio ano nas 27 propriedades rurais incluídas no
no primeiro trimestre), com tempo de evolução da doença estudo, no Estado ele São Paulo.
desde o início dos sintomas até a primeira abordagem os-
cilando ele 6 a 120 horas, sendo mais frequente o intervalo
entre 24 e 72 horas. Vale ressaltar que somente 26 animais anormalidade consistente, podendo estar relacionada com
participaram cio estudo clínico, pois os demais estavam a ausência ele ingestão de alimentos ou água pela maior
mortos antes do primeiro contato. parte dos animais acometidos (88 e 76%, respectivamen-
Não se observaram quaisquer alteraçôes quanto à tern- te), sendo o rúmen comumente encontrado não repleto e
peratl!ra e frequências cardíaca e respiratória (Quadro 1), com seu conteúdo relativamente ressecado.
o que encontra coerência parcial com ::is observações ele A maioria elos animais estudados apresentava mucosas
Real et al. 0991), as quais indicaram a bradicardia como róse,is (65,3%) ou congestas (30,7%), e graus leve (52,1%)
um achado comum. A hipotonia ruminai foi, contudo, uma a moderado (26,1%) de desidratação, provavelmente pela

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72 Júlio Augusto N. Lisboa et al.

100.00 15%
90.36

43% □ Alerta

□ Apatia

■ Depressão

42%
Bezerro Garrote Novilha Boi Touro Vaca

Fig. 10. Distribuição da ocorrência dos casos (n=332) segundo a


categoria de animais do rebanho acometida, nas 27 pro-
Fig. 13. Característica do estado mental demonstrado pelas vacas
priedades rurais estudadas, no Estado de São Paulo.
de corte acometidas (n=26) no momento cio primeiro exa-
me clínico, no Estado de São Paulo.
7%
100
100

80.77

□ Prenhe
% 50
□ Lactante

53% ■ Seca e vazia


40%

o o
o
Visão Visão Visão Audição Audição
Normal Diminuída Ausente Presente Ausente

Fig. 14. Característica elas acuidades visual e auditiva observadas


Fig. 11. Distribuição das vacas acometidas (n=300) de acordo nas vacas ele corte (n=26) acometidas pelo decúbito per-
com o seu estado fisiológico, nas 27 propriedades rurais manente, no Estado ele São Paulo.
incluídas no estudo, no Estado de São Paulo.
100

57.69

Flacidêz Tetraparesia Paraparesia

Estação Decúbito Esternal Decúbito Lateral Fig. 15. Característica ele tonicidade na musculatura dos membros
Fig. 12. Característica da postura apresentada pelas vacas de cor- e do tipo de paresia apresentados pelas vacas ele corte
te acometidas (n=26) no momento do primeiro exame (n=26) acometidas pelo decúbito permanente, no Estado
clínico, no Estado de São Paulo. de São Paulo.

ausência de ingestão de água, uma vez que não se detec- unicamente nos animais em decúbito lateral, como uma
tou nenhum sinal aparente de perda de líquidos. tendência da evolução natural de agravamento do quadro.
À avaliação clínica neurológica observou-se que todas As demais vacas apresentavam-se alerta ou apáticas, sen-
as vacas encontravam-se permanentemente em decúbito do rara a detecção de perturbações quanto às acuidades
esternal ou lateral (Fig. 12, 18 e 19), não sendo capazes de visual e auditiva (Fig. 14), o que justifica, segundo Mayhew
se manter em estação quando erguidas por sistema de (1989), a interpretação preliminar da inexistência de
guindaste. Em contrapartida somente uma minoria mani- encefalopatia nestes animais.
festava grave distúrbio no seu estado mental, sem evidên- Todas as vacas examinadas apresentavam diminuição,
cia de interação com o meio (Fig. 13), sintoma observado porém nunca ausência completa, cio tônus da musculatura

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EP ID EM fO LOG IA E QUADRO CLÍN ICO DO BOTUUSMO EPIZOÓ TI CO DOS BOVINOS NO ESTADO DE SÃO PA U LO 73

15% se nsorial , ava liada r e la prese nça ele se nsibiliclacle cut;rnea


parave rteb ral e nos membros (Fig. 17) .
A ca racterizaç[to cio conjunto ele sinto mas consicle racla
anteriormente é coe re nte com as citações ele Dõbe re ine r
et ai. 0990, 1992), Dutra 0991) e Rea l e t ai. 0 991), e
e ncontra forte compat ibiliclacle com as descrições cios qua-
□ Normal
dros clínicos ele intoxicação botu líni ca e m bovinos, na lite-
□ Diminuíd o

■ Ausente
ratura consultada (He nning 1949, Tokarnia et ai. 1970, Bl oocl
50 %
35¾
& Raclostits 1989, Mayhew 1989), nos quais a toxina por
sua s uposta ação a nível ele junções ne uromu scul ares, é
capaz el e d eterminar a paralisia fun cio na l motora sem in -
terfe rência co m a fun ção se nsorial.

Diagnóstico de botulismo
Fig. 16. Caracte rística cio tô nus muscu lar ela líng ua obse rvado nas A apreciação ci o Quad ro 2 pe rmite ve rificar que o diag-
vacas ele co n e ( n=26) aco me tid as pe lo dec úbito pe rm a- nóstico clínico ele botulis mo fo i confirmado em aproxima-
ne nte, no Estado ele São Pa ul o . d ame nte metacle elas vacas estudadas por meio cio e nsaio
100
biológico e m ca mundongos, se ncl o qu e q uase a tota licl acl e
92 .31
88 .46
res ulto u pos itiva quando el a rea li zação ci o tes te el e
mi crofi xação el e comple me nto.
A dife re nça obse rvada e ntre os res ultad os cios do is
¾ 50
métodos e mpregados poss ui semelhança com os relatos
ele We iss & We iss (1988) e Dutra et ai. (1993), refl e tindo
possive lm e nte a limitação cio e nsa io bi o lóg ico e m te rm os
7.69
11 .54 ele se nsibilicl acle, e rea firm ando a s u pe ri o ridad e ela
microfixa ção neste aspecto.
Prese nte na Ausente na Presente nos Ausente nos Apesa r desta limitação, a inoc ul ação em camund o ngos
Paravertebral Paravertebral Membros Membro s
fo i ca paz ele cletectar um número relativame nte elevado
Fig. 17. Presença o u a pare nte ausê ncia el e sensibi lidade cutân ea ele a nima is positivos q uando comparado às c itações el e
nas regiões parave rte b ral e cios me mbros, detectadas nas Dutra et a i. (1993) e Orto lani 0993), cl evenclo-se sa lie ntar,
vacas ele co rte ( n= 26) aco me tidas pe lo decú bito pe rm a- no e ntanto , que ao co ntrári o cio fíga do, as amostras ele
ne nte, no Estado ele São Pa u lo. soro sanguíneo o u co nte údo digestivo, as q uais constitu -
e m-se no materi a l co mume nte e nviado ao laborató rio para
esta aná lise, po cl e m não co nte r qua nticlacl es sufi cie ntes ele
Quadro 2. Resul tados do s exa mes de bioensaio em camundongos,
soro ne utra li zação e m icrofixação de complemento empregado s para
tox in a .
o di ag nósti co de botuli smo nas vacas de corte natura lmente aco meti- As p rovas ele soro ne utrali zaçào, e mbora em nCrmero
das pe lo decúb ito pe rmanente, no Estado ele São Pau lo muito recluziclo, e ele microfi xaçào ele compleme nto per-
mitiram, po r sua vez, a cletecção ela prese nça elas toxinas
Bioe nsa io Soroneu- M icro-
tral ização fi xação
botu líni cas ci os tipos C e/ ou D nas dife re ntes amostras de

Cª Dª e D CDª

Posit ivos 15 (53,6%) 3 26 (92,9%) 10 6 10


Negativos 13 (46,4%) 02 (7, 1%)
Tota l 28 28

ª Tipos de toxinas bo tul íni cas.

cios me mbro s, parecendo lóg ico associar a pa ra o u


te trapares ia fl ác ida s (Fig. 15, 18 e 19) ~l ca usa cio clecCrbito
p e rma ne nte. Quanto ao tô nus ela líng ua, na maior parte
cios casos este se e ncontra va cl iminuíclo o u ause nte (Fig.
16 e 19), não apa re nta nd o, entretanto, se r esta pote ncial
d isfag ia , a principal ca usa da ausê ncia ele ingestão el e ali-
me ntos pelos animais , uma vez que os mesmos não de-
mo nstravam rea l inte resse em fazê-lo. Por fim , e m co ntra s- Fig. 18. Vaca acometida pe lo bo tulismo , ap resentando decúb ito
te com a impo tê ncia fun cio nal moto ra acim a caracteri za- este rn al pe rma ne nte há 36 ho ras, e resposta a bsolutame nte
da, foram raras as ev iclê ncias ele ano rmalidades na fun ção no rma l aos estímulos cio meio (a lerta).

l'esq . Vet. Bras. 16(2/ 3):67-74, ab r./sel.1 996


74 JCili o Augusto N. Lisboa el ai.

acl equ ad os, sendo a maio r ocorrên cia ele dezembro a m ar-
ço, e acom etendo prin cipalmente as vacas, em esp ec ial as
pren hes e lactantes, co m coe fi c ientes ele m o rbicl acle e
m o rta lid ade id ênticos e relativa m ente rec.lu ziclos .
2. O co njun to de sintom as ca racteri zo u-se p o r fun ções
v itais no rm ais ;:, exceção ele hipo to nia rumin ai, ano rexia
com cles iclra tação , parap ares ia o u tetrapares ia fl ác id as co m
decC1b ito pe rm anente, e climinui ç~10 o u ausê ncia ci o tô nu s
e.la língua, sem al terações qu anto ao estad o m ental, v isào ,
aud ição e se nsib ilicl acl e cutânea.
3. A co nfirmação ci o di agnóstico el e intoxicação co m os
ti pos C e D el e toxin a botul ínica n os bov in os estucl aclos,
enco ntra coe rência co m os ac hac.l os epiclemio lóg icos e clí-
nicos, c.le m o nstra nc.lo se r o b o tu lism o epi zoó tico a ca usa
ela morta liel ac.l e investi ga da na f1rea el e abrangê ncia elo es-
tuc.l o.

Agradecimentos.- Aos mú li cos ve1criné11·ios res iclenles José T ho lll:Iz Man-


so Sa ião, MarLha Luzi:1 l'a checo, Alex andre Secorun Bo rges e Fran cisco
César cl<.: Moura e Sil va pela colaboração n:1 fa se ele colheita cl<.: dados. À
Pro f~ Dr' Mari:1 Cecíli a Rui Luv izoI10 pel:1 part icip:1ç;10 e o acolllpanha-
lllenLo nas fases d <.: id ca li zaç/10 e in icial cio Lrabalho. Ao Dr. Jürgen
Dó ber<.:i n<.: r pe la im erferência ju nto ao "SLaatens Sc rulll l nsLitu l " d e
Copen hagcn , Di nalllarca, possibi li1:1nclo a cess,10 ele :111titox in:1s bOLu lín icas.
Fig . 19. Va c:1 acom eti da pelo bo tuli smo com decúb ito estern al
P,erm an ente hft 24 horas, apresem anclo-se alerta e co m
ausên cia ci o tô nus ela língua. REFERÊNCIAS
!Jc rqu ó E.S., Sou za .J.l'.M . & Gotlieb L. D. 1980. 13ioesta tística. EPU, S,10
Paul o . 325p.
fígad o testad as , o qu e enco ntra coe rência co m as indi ca-
Bl uucl D .C. & Raclostils O.M . 1989. Vcte ri nary Medicine. 7th eel . 13ai ll iêre
ções ele I-Ienning (1949) e Bl oocl & Raclostits 0989) a res-
Ti nda ll , London. 1502[1.
p eito ela relati va espec ificidade entre estes tipos el e to x ina
Dirk se n G. , G rünck r 1-1.D. & S1óber M. 1993 . Rose nberge r - Exalllc Clínico
e a espéc ie bov ina, estan d o el e acord o ainda com os acha-
dos 13ov in os. 3' ecl. Gua na bara Kooga n, Hio ele .J an eiro. 4 J9p.
d os ele To k arni a et ai. 0970) e Dutra et ai. 0993) em
Dóbere in c rJ, L:1ngeneggerJ., To k:1 rni a C. II . & Dut ra I.S. ·1990. Bo tul islll o
animais natu ra lme nte acometidos no B ras il. A p rese nça c pi zuóLicu d os bov inos nu Brasi l. Ana is 16° Cong r. Mu nd ia l el e
co ncomi ta nte d e ambos os ti pos el e toxina acusa da em Bui aLri a, S: tl vadu r, p . 540-546.
urn a p ro p o rção co nsid eráve l cio m ateri al, ~, sem elh ança DóhereinerJ. , Tok:t rn ia C. 1-1 ., LangeneggerJ. & Dutra I.S. 1992 . Ep izoo1ic
ci os relatos el e Outra et ai. (1993), p o de se r interp retada bOLuli slll o f c:1uk in 13razil. Drsc h. T icrü rzrl. Wschr. 99:188-190.
com o reação cru zad a em co nseq uência ela se m elh ança Du tra I.S. 199 1. 13otul ismo em bovi nos , '·Doen,;·a da Vaca Caíd a" . FU N EI',
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Merece conside ração final o fa to de q ue so m ente dez DuLra I.S., Wciss f-1 .E., Weiss f-1 & Dóbcre in er J. 1993 . Diag nósLico cio
(3 1,2%) vaca s incl uída s no estudo ap rese ntassem fragm en- borulislllo em bov inos no Br:1 sil pela técni ca ele m icro fixação ele com-
tos el e ossos no interi or e.l o retícul o e/ ou rúm em confir- plcmen10. l'esq . Ve1. Bras. 13:83-86.

m and o a dep rava ção cio apetite, a q ual, represe nta o p ri n- l lc nn ing M.W. 1949. Ani ,n:tl Di seases in Sou Lh Afri c:1. 2nd ecl . Ce m ra l
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380p .
To k arnia et ai. 0970), e p o d e se r ju stificac.l a p elas co loca-
ções el e H enning (1949) ele q ue bov inos deficientes em O r10 1"ni E. L. 1993. 1''1 nor'1 ma epiclcmiológ ico ela 111orrn li claclc.: c nzoórica
cl<.: bov inos :1clul1os no Brasil e no Pa ,·aguai: r<.: lros pccti va e lev:1 nta-
fósforo, adq uirem o hábito el e roe r e m ascar ossos, sem 111cmos. ! !o ra Vct. 71 :20-24.
necessar ia m ente deglu ti-los, arri sca nd o -se a ingerirem a
!leal C. M ., !(ca l M. H. & H<.:a l M.H. 199 1. Erio logia ela 111or1 anclaele el e vacas
toxina letal el e Clostridium hotulln um. Clll Mmo Grosso d o Su l, 13r:tsil. Hora Ve L. 6.3 :39-53 .
Tobrn ia C. II ., Langenegger .J. , Langc negg<.: r C. 1-1 . & Ca rva lh o E.V. 1970.
CONCLUSÕES Bo Luli smo c m bov inos nu Piauí, 13 rasil. Pesq . Agropec. Br:ts. 5:465-
li72.
Nas co ndi ções em q ue se dese nvol ve u o p rese nte estu d o,
a análise ci o co njunto ele resu ltados perm itiu as segu in tes To k:t rni a C. I1. , Dobe rein er .J. & Mor:1es S.S. 1988. Situa çüu atua l e pers-
pectivas sob re nu triçüo min eral em bov in os nu 13r:1sil. Pesq. VeL. Bras.
conclu sões : 8(1 / 2): l - l 6. .
1. Do p o nto ele v ista epi cle mi o lógico, o p roblem a se
\Xle iss 1-1. E. & \Xle iss 1-1 . .1 988. Nachw eis von Clostridill m bot11.linrnn-Toxin
verifi cou em reba nhos ele corte, explo rad os ex tensiva m ente, 111i 1tels M ikro-Wü rm eko lllpl eme 11Lb in du ngsreak 1io n. Ti er,irzll . Um sc h:t u
com m anejas el e supl ementação min eral e sa ni tá rio não 43: "11 7- 126 .

Pesq . Vet. l:lra s. 16(2/3) :67-74, ab r./set. 1996

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