A Prescricao No Atual Codigo Civil

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A PRESCRIÇÃO NO ATUAL CÓDIGO CIVIL, E A REFORMA DO

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

Maria Luiza Póvoa Cruz – www.marialuizapovoa.com.br

A segurança da ordem jurídica e a pacificação social, são os


fundamentos maiores da prescrição. O decurso do tempo tem influência na aquisição
(prescrição aquisitiva – usucapião) , e na extinção de direitos (prescrição extintiva).

O Código Civil de 1916, elaborado pelo gênio do Direito Civil, CLÓVIS


BEVILÁQUA, tratava no artigo 161 a 179, somente da “prescrição extintiva”, não
tratando do instituto da “decadência”.

O artigo 177 estabelecia prazos gerais, discriminados: para as ações


pessoais, 20 (vinte) anos, as reais 10 (dez) anos, entre presentes , e entre ausentes em
15 (quinze) anos.

Já o artigo 178, cuidava dos prazos especiais da prescrição.

Difícil era identificar os prazos decadenciais e prescricionais, que se


encontravam emaranhados no mesmo artigo 178 do Código Civil.

O atual Código Civil Brasileiro, seguindo o modelo do Código Civil de


1916, regulamentou a prescrição extintiva na Parte Geral. Na Parte Especial, no Livro
do Direito das Coisas, na parte referente aos modos de aquisição do domínio, tratou
da prescrição aquisitiva.

Porém, ao contrário do CC-16, optou por um critério simplificado: 10


(dez) anos para o prazo prescricional geral, tanto para as ações pessoais como para as
reais, artigo 205.

Os prazos especiais, mais exíguos, para possibilitar o exercício de certos


direitos subjetivos, em situações especiais, artigo 206, parágrafo 1 a 5, do CC.

Portanto, quando não houver previsão de prazo especial, tem-se o prazo


prescricional de 10 (dez) anos.

Importante: a pretensão de reparação civil que era de 20 (vinte) anos,


aplicando a regra geral do CC-16, pela ausência de norma específica, foi
substancialmente modificada. O CC-2002, alterou a sistemática da matéria de
Responsabilidade Civil, estabelecendo o prazo especial de 03 (três) anos, artigo 206,
parágrafo 3, inciso IV, para a “a pretensão da reparação civil”.

1
Destarte, deve-se entender que estão canceladas as Súmulas 39 e 143, do
STJ.

Ao adotar o princípio da operabilidade (concretude), o legislador do CC-


2002, tratou da Prescrição e da Decadência em um único Título, IV, artigos 189 a
211. Porém, no Capítulo I, (artigo 189 a 206), tratou da prescrição separadamente, e
no Capítulo II, (artigo 207 a 211), da decadência.

A exemplo dos Códigos mais modernos como o italiano e o português, o


atual CC define o que é prescrição (artigo 189) e institui uma disciplina específica
para a decadência.

Se a prescrição é a perda da pretensão (força de reagir contra a violação


do direito subjetivo), não se pode, realmente, cogitar de prescrição dos direitos
potestativos.

Portanto, para distinguir prescrição de decadência, o CC-2002, de forma


“taxativa” trata nos artigos 205 (regra geral) e 206 (regras especiais) dos prazos
prescricionais. Todos os demais prazos estabelecidos, seja na Parte Geral, como na
Especial são prazos “decadenciais”.

Outras modificações ocorreram no tocante a prescrição .

Em virtude do princípio da inércia da atividade jurisdicional, a redação


original do CC-16, artigo 166 estabelecia que ao juiz era vedado reconhecer a
prescrição de direitos patrimoniais, se não foi invocada pelas partes. O artigo 194 do
CC-2002, autoriza ao juiz “suprir, de ofício, a alegação de prescrição, se favorecer a
absolutamente incapaz”. Porém, esse artigo, foi revogado pela Lei 11.280/2006, que
deu nova redação ao artigo 219, parágrafo 5º, do Código de Processo Civil.

A alteração é substancial. Em prol da celeridade processual, o texto do


parágrafo 5º, do artigo 219 do CPC, permite ao juiz reconhecer da prescrição de
ofício, independentemente da natureza dos direitos em litígio e da capacidade das
partes. A matéria ficou consolidada somente na Lei Processual, não havendo mais
menção a ela no CC.

Discussões surgem na doutrina. Nelson Nery e Rosa Maria de Andrade


Nery e Maria Helena Diniz, afirmam que o reconhecimento da prescrição de ofício
constitui matéria de ordem pública.

Flávio Tartuce: “Sendo a norma autorizadora do reconhecimento “ex


officio”da prescrição incoerente com o sistema jurídico brasileiro, deve ela ser
considerada inconstitucional”.

2
Humberto Theodoro Júnior: “Sem embargo da reforma simplista do
parágrafo 5, do artigo 219 do CPC, o juiz não terá como decretar “ex officio”a
prescrição de direitos patrimoniais, senão quando no direito material houver
semelhante previsão. A revogação do artigo 194 do CC, dentro de uma lei de reforma
do CPC, não quebra o conceito e a natureza do instituto da prescrição, figura típica do
direito material, reconhecida, como tal, pelo própria lei processual, artigo 269, inciso
IV. Melhor seria revogar, “de lege ferenda” a infeliz inovação, mas, enquanto isto
não se der, o dever do intérprete e aplicador da lei inovadora será o de buscar
minimizar as impropriedades contidas em sua literalidade, e reduzir sua aplicação
apenas às hipóteses compatíveis com a natureza, finalidade e sistema da prescrição,
dentro do direito material”.

“Prima facie” entendo, difícil a decretação da prescrição de ofício pelo


juiz, liminarmente, sem o contraditório entre os litigantes. Isto, porque, ao contrário
da decadência, que é fatal e se atinge inexoravelmente pelo decurso do prazo da lei, a
prescrição sujeita-se a fatores que interferem em seu fluxo temporal, impedindo-o,
suspendendo-o ou interrompendo-o com muita freqüência ( artigos 197 a 204, do
CC).

Porém, em prol da rápida entrega da prestação jurisdicional,


obedecendo a devida garantia do processo legal, respeitando tanto os direitos do
credor, como do devedor, a aplicabilidade do artigo 219, parágrafo 5º, do CPC, faz-se
imperiosa. Nos casos de prescrição em favor de absolutamente incapazes, (artigo 3º,
do CC), e ainda, nas hipóteses da falta de diligência do autor, por não promover os
atos que lhe competir, não movimentando o processo.

Importante também registrar, que tanto os prazos prescricionais, como


os decadenciais, fluem contra os relativamente incapazes (artigo 4º, do CC), pela
redação do artigo 195 do CC. E, esse artigo não se aplica aos filhos durante o poder
familiar, pois nos termos do artigo 197, inciso II, do CC, “não corre a prescrição,
entre ascendentes e descendentes durante o pode familiar”. A título de exemplo:
numa execução de pensão alimentícia, manejada pelo filho maior de 16 anos
(relativamente incapaz), em desfavor de seu genitor, o prazo prescricional do artigo
206, parágrafo 2º, só passará a fluir, quando o exeqüente-alimentado completar 18
anos, quando se extingue o poder familiar, pela redação do artigo 1.635, inciso II e
III, do CC.

Finalizando, grande novidade do CC-2002, que traz alguns problemas


práticos: “a interrupção da prescrição somente poderá ocorrer uma vez”, artigo 202.
No sistema do Código anterior, não havia limites para o recurso à interrupção da
prescrição. Inspirado no fundamento do instituto da prescrição, que é evitar a
perpetuidade da incerteza e insegurança nas relações jurídicas, o atual CC, restringe a
uma só vez a possibilidade de ocorrer a interrupção da prescrição .
3
No rol das hipóteses de interrupção da prescrição, “o protesto
cambiário” (realizado perante o cartório extrajudicial de protestos de títulos),
interrompe a prescrição, artigo 202, inciso III.

Enfim, a mudança é expressiva, substancial. O intérprete e aplicador da


Legislação inovadora certamente encontrará a forma adequada, para aplicabilidade da
mesma no ordenamento jurídico, através dos entendimentos doutrinários ou
jurisprudenciais.

O interesse público, a estabilização do direito e o castigo á negligência,


comungam com o espírito do novo Direito Civil e Processual. Desburocratizar o
procedimento, acelerar o resultado da prestação jurisdicional, e o emprego de técnicas
e aceleração da prestação jurisdicional, estão no rol dos direitos fundamentais, da
Constituição Federal, artigo 5, inciso LXXVIII.

Caminha-se pois para novas vertentes (processos e procedimentos), em


que o objetivo maior é a solução justa e adequada, valorização das partes e redução
das tensões sociais.

Maria Luiza Póvoa Cruz.

Fontes – Direito Civil, Flávio Tartuce, vol. I Ed. Método


Humberto Theodoro Júnior, Curso de Direito Processual
Civil, Vol. I, Ed. Forense.

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