3 Bimesttre - 2 Ano - Filosofia

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Capítulo

15 reINo UNIDo
NatIoNaL GaLLery, LoNDres,

Qual é o principal
recurso pictórico
utilizado na
pintura ao lado?
Que experimento
ela retrata? Como
reagem as pessoas?
Qual poderia ser
sua mensagem
(ou problema)?
Experimento com um pássaro em uma bomba de ar (1768) – Joseph Wright. Uma cacatua se debate asfixiada
dentro de um globo de vidro, sob a ação de um filósofo natural (ou cientista).

Empirismo e Iluminismo
Vamos agora cruzar o canal da Mancha para estudar o pensamento de-
senvolvido por filósofos britânicos que se opuseram ao grande racionalismo
dos filósofos continentais, defendendo concepções empiristas.
Depois abordaremos pensadores do século XVIII, o “século das Luzes”,
quando a confiança nos poderes da razão continuou em alta e a investigação
filosófica se expandiu para todos os campos da atividade humana, sendo exercida
também “nas ruas e nos salões”.

Conceitos-chave
Como conhecemos? racionalismo, empirismo, apriorismo, ideias inatas,
Existem ideias inatas? corpos naturais, corpos artificiais, tábula rasa,
experiência, sensação, reflexão, contratualismo,
Como chegamos a conclusões
livre-iniciativa, idealismo subjetivo imaterialista,
Questões gerais a partir do particular?
indução, dedução, Iluminismo, progresso, tolerância,
filosóficas O que é o bem e o mal? igualdade jurídica, propriedade privada, separação
Por que o ser humano vive em dos poderes, liberdade, bom selvagem, estado de
sociedade? natureza, perfectibilidade, vontade geral, liberalismo
econômico, trabalho, autonomia, juízos analíticos e
O que legitima o poder político?
sintéticos a priori e a posteriori, formas a priori da
sensibilidade e do entendimento

Cap’tulo 15 Empirismo e Iluminismo 271


EmpIrIsmo brItânIco
O conhecimento parte da experiência

NatIoNaL GaLLery of art, WashINGtoN, eUa


Comecemos nosso estudo pelo contexto his-
tórico-filosófico. Vimos no capítulo anterior que o
desenvolvimento da ciência moderna nos sécu-
los XVI e XVII inseriu-se em um contexto de ques-
tionamento sobre os critérios e os métodos para
a elaboração de um conhecimento verdadeiro.
Por essa razão, o próprio processo de conhecer
passou a ser investigado e discutido intensamente
por boa parte dos principais filósofos. essa discus-
são concentrou-se entre os séculos XVII e XVIII.
em consequência, foi na Idade Moderna que se for-
mularam algumas das principais gnosiologias –
teorias a respeito do conhecimento – da história
da filosofia (conforme estudamos no capítulo 10).

Processo de conhecer
recordemos que as duas principais vertentes
que se destacaram no início dessa discussão filo-
sófica foram:
• a racionalista – que defendia basicamente a tese
de que o conhecimento obtido pela razão (e fun-
damentalmente em seu uso lógico-dedutivo) é
mais confiável do que aquele que se obtém pela
experiência sensível, desqualificando o valor da
experiência no processo de conhecer a verdade;
• a empirista – que considerava um erro desqua-
lificar totalmente a experiência, com base na
tese de que qualquer conhecimento se origina,
em última análise, da experiência.
algum tempo depois, em pleno Iluminismo, o
filósofo alemão Immanuel Kant entraria nesse
debate, realizando uma espécie de síntese das A menina com chapéu vermelho (1666-1667) – Jan Vermeer.
Valorização da percepção dos sentidos.
duas correntes em sua doutrina apriorista. Vere-
o pintor teria traçado a imagem projetada na câmara
mos com mais detalhe como foi o processo dessa escura e depois copiado o padrão de luzes e sombras,
discussão ao longo deste capítulo. de forma a alcançar uma imagem “fotográfica”, fiel à
impressão fornecida pela visão do próprio objeto.

Ideias inatas
a respeito da existência de ideias fundadoras do
o início do debate esteve vinculado ao pensa- conhecimento, as chamadas ideias inatas.
mento de rené Descartes, o primeiro e principal trata-se de ideias que teriam nascido com o
expoente do racionalismo moderno. sujeito pensante e que, por isso, dispensariam a
No capítulo anterior, vimos que o filósofo francês percepção de um objeto exterior para se forma-
dizia que o verdadeiro conhecimento das coisas rem no pensamento. os conceitos matemáticos e
externas devia ser conseguido por meio do trabalho a noção de Deus seriam exemplos de ideias inatas,
lógico-dedutivo da mente, ou seja, a partir de uma segundo Descartes.
ideia evidente e certa poderiam ser deduzidas entre os principais defensores do inatismo no
outras sucessivamente. processo de conhecimento encontram-se Platão,
Um dos principais argumentos de Descartes na antiguidade, e santo agostinho, na Idade Média,
para justificar essa concepção era sua suposição além do próprio Descartes, na filosofia moderna.
272 Unidade 3 A filosofia na hist—ria
reação empirista
a filosofia cartesiana, principalmente a tese da Paralelamente, no plano social, grande parte
existência de ideias inatas, provocou forte reação da burguesia conquistava não apenas poder eco-
de vários pensadores. alguns deles passaram a nômico, mas também poder político e ideológico,
defender justamente a tese oposta, isto é, de que impondo o fim do absolutismo monárquico durante
o processo de conhecimento depende sempre da a Revolução Gloriosa.
experiência e dos sentidos, pelo menos como alguns estudiosos relacionam essa ascensão
ponto de partida, em sua origem última, e que da burguesia, no plano epistemológico, ao empi-
consequentemente não existiriam ideias inatas. rismo (valorização da experiência concreta, da
assim surgiram diversas doutrinas modernas investigação natural) e, no plano sociopolítico, ao
empiristas (recorde que essa palavra vem do grego liberalismo (respeito à liberdade individual; fim do
empeiria, que significa “experiência”). entre os arbítrio dos monarcas, impondo-se limites cons-
principais defensores de gnosiologias empiristas titucionais aos seus poderes).
encontram-se aristóteles, na antiguidade, e santo entre os principais representantes do empiris-
tomás de aquino, na Idade Média, além dos pen- mo britânico destacam-se francis Bacon (que já
sadores que estudaremos em seguida. estudamos no capítulo anterior), thomas hobbes,
o palco inicial do empirismo moderno ocorreu John Locke e David hume.
durante o século XVII nas ilhas britânicas, notada-
thomas Hobbes

NatIoNaL PortraIt GaLLery, LoNDres, rU


mente na Inglaterra, onde a filosofia se afasta do
padrão especulativo (cartesiano) e se lança cada
Detalhe de Thomas Hobbes (1669) –
vez mais ao concreto, à experiência, à ciência. John Michael Wright. o pensamento
de hobbes ficou mais conhecido nos
MUsée DU LoUVre, ParIs, fraNça

âmbitos da ética e da filosofia política,


notadamente pelo debate sobre sua
doutrina a respeito da maldade natural
humana (“o homem é o lobo do próprio
homem”) e sua defesa do absolutismo.

thomas hobbes (1588-1679) nasceu em


Westport, Inglaterra. No período da revolução
liberal inglesa, apoiou o rei Carlos I, que acabou
derrotado e decapitado, o que obrigou o filósofo a
exilar-se na frança, onde entrou em contato com
a filosofia de Descartes.
o pensamento de hobbes foi muito influencia-
do pelas ideias de Bacon e Galileu. Como estes, ele
abandonou as grandes pretensões metafísicas (a
busca da essência do ser) e procurou investigar
as causas e propriedades das coisas. Para hobbes,
a filosofia seria a ciência dos corpos, isto é, de tudo
que tem existência material. os corpos naturais
seriam estudados pela filosofia da natureza; os
corpos artificiais ou Estado, pela filosofia política.
e o que não é corpóreo deveria ser excluído da
reflexão filosófica.

materialismo e empirismo
Como vimos antes, para o filósofo inglês, toda
Carlos I da Inglaterra – anthony van Dyck, óleo sobre tela. a realidade poderia ser explicada a partir de dois
a revolução Gloriosa (1688-1689), última etapa da revolução
liberal inglesa, instituiu a monarquia parlamentarista na elementos: o corpo, entendido como o elemento
Inglaterra. estabeleceu-se, assim, a superioridade das leis material que existe independentemente do nosso
sobre a vontade do rei (dizia-se na época que “o rei reina, pensamento, e o movimento, que pode ser deter-
mas não governa”). o processo revolucionário iniciou-se
em 1642, com uma guerra civil na qual o rei Carlos I acabou
minado matemática e geometricamente. trata-se,
sendo preso e decapitado. Na pintura, vemos o monarca em portanto, de uma concepção materialista e meca-
uma cena de caça. nicista da realidade.
Cap’tulo 15 Empirismo e Iluminismo 273
as ideias ou pensamentos não seriam nada mais o filósofo John Locke (1632-1704) nasceu em
que imagens das coisas impressas na “fantasia cor- Wrington, Inglaterra. Durante os tempos de uni-
poral”. Isso quer dizer que, para hobbes, o processo versidade, decepcionou-se com o aristotelismo e
de conhecimento inicia-se pela sensação – uma com a escolástica medieval, enquanto tomava
concepção empirista, como podemos perceber. contato com o pensamento de francis Bacon e
Uma consequência dessa doutrina é que, no rené Descartes. Problemas políticos obrigaram-no
pensamento de hobbes, não há lugar para o acaso a sair de seu país, em 1675, e exilar-se na frança e,
e a liberdade (mudanças não condicionadas), por- posteriormente, na holanda. regressou à Inglaterra
que os movimentos resultam necessariamente dos somente em 1688, durante a revolução Gloriosa,
nexos causais que lhes dão origem. (reveja as con- que levou Guilherme de orange ao trono da Ingla-
cepções de hobbes estudadas no capítulo 6, que terra. a partir de então, pôde dedicar-se livremente
ampliam esta exposição.) às atividades intelectuais.

Ética e política tábula rasa

No plano ético, hobbes defende que o que cha- Com o Ensaio acerca do entendimento humano,
mamos de bem é tão somente o que desejamos Locke tornou-se o principal representante do em-
alcançar, enquanto o mal é apenas aquilo de que pirismo britânico e uma referência nos estudos
fugimos. Isso se explicaria pelo fato de que, no en- gnosiológicos. Nessa obra, combateu duramente
tendimento desse pensador, o valor fundamental a doutrina cartesiana segundo a qual o ser humano
para cada indivíduo é a conservação da vida, ou possui ideias inatas. ao contrário de Descartes, o
seja, a afirmação e o crescimento de si mesmo. filósofo inglês defendia que nossa mente, no ins-
assim, cada pessoa sempre tenderá a considerar tante do nascimento, é como uma tábula rasa.
como bem o que lhe agrada e como mal o que lhe o substantivo tábula significa “tábua” ou “placa
desagrada ou ameaça. de madeira” ou de outro material; o adjetivo rasa
Portanto, na filosofia hobbesiana não há es- quer dizer “plana, lisa”. assim, a expressão tábula
paço para o bem e o mal como valores universais rasa usada por Locke tem o significado de “tábua
a serem introjetados nas pessoas. a pergunta lisa”, na qual nada foi escrito nem gravado. ao nas-
que pode surgir então é a seguinte: se o bem e o cer, nossa mente seria como um papel em branco,
mal são relativos, isto é, são determinados pelos sem nenhuma ideia previamente escrita.
indivíduos, como será possível a convivência entre assim, Locke retomava a tese empirista se-
as pessoas? gundo a qual nada existe em nossa mente que
hobbes responde a essa questão nos livros não tenha sua origem nos sentidos. Para ele, as
Leviatã e Do cidadão, nos quais defende a necessi- ideias que possuímos são adquiridas ao longo
dade de um poder absoluto que mantenha os in- da vida mediante a experiência sensível imedia-
divíduos em sociedade e impeça que se destruam ta e seu processamento interno. Desse modo, o
mutuamente. (estudaremos com mais detalhe o conhecimento seria constituído basicamente por
pensamento político de hobbes no capítulo 19.) dois tipos de ideias:
• ideias da sensação – são nossas primeiras
John Locke ideias, aquelas que chegam à mente através
dos sentidos, isto é, quando temos uma expe-
riência sensorial, constituindo as sensações.
aLBUM/aKG/North WIND PICtUre arChIVes/LatINstoCK

essas ideias seriam moldadas pelas qualida-


des próprias dos objetos externos, como pode-
Um dos maiores mos observar nas ideias de amarelo, branco,
representantes do
empirismo britânico, quente, frio, mole, duro, amargo, doce etc.
Locke manifestou • ideias da reflexão – são aquelas que resultam
interesse por diversos da combinação e associação das sensações por
campos de estudo,
como química, teologia,
um processo de reflexão, de tal maneira que a
filosofia, mas formou-se mente vai desenvolvendo outra série de ideias
em medicina. seu que não poderiam ser obtidas das coisas exter-
pensamento empirista e nas. seriam ideias como “a percepção, o pen-
liberal inspirou diversos
filósofos do Iluminismo, samento, o duvidar, o crer, o raciocinar” (LOCKE,
como Montesquieu e Voltaire. Ensaio acerca do entendimento humano, p. 160).
274 Unidade 3 A filosofia na hist—ria
assim, a reflexão seria nosso “sentido interno”, david Hume
que se desenvolve quando a mente se debruça
sobre si mesma, analisando suas próprias ope-
rações. Das ideias simples, a mente avança em
direção a ideias cada vez mais complexas. Porém,
para Locke, de qualquer maneira a mente sempre
tem “as coisas materiais externas, como objeto

LeBreCht/other IMaGes
de sensação, e as operações de nossas próprias
mentes, como objeto da reflexão” (Ensaio acerca do
entendimento humano, p. 160). apesar de viver
o filósofo admitia, no entanto, que nem todo em um ambiente
caracterizado
conhecimento se limita exclusivamente à ex- pela religiosidade,
periência sensível. Considerava, por exemplo, hume era ateu. e,
o conhecimento matemático válido em termos curiosamente, talvez
por seu acentuado
lógicos, embora não tivesse como base a expe- ceticismo e espírito
riência sensível. Nesse sentido, Locke não era um investigador, escreveu
empirista radical. História natural da religião
(1757), considerada por
estudiosos a primeira obra
Crítica ao absolutismo científica sobre a sociologia da religião.
analisando o filósofo e o homem político, po-
Por último, vejamos algumas das principais
demos dizer que Locke, de certa maneira, “trans-
concepções de David hume (1711-1776), filósofo
portou” suas teorias sobre o conhecimento hu-
de grande impacto em pensadores posteriores.
mano para o campo sociopolítico. Para ele,
Nascido em edimburgo, escócia, hume ocupou
assim como não existem ideias inatas, também
importante posição na diplomacia inglesa. realizou
não deveria existir poder inato (ou de origem
diversas viagens a países europeus, como frança e
divina), como defendiam os adeptos do absolu-
Áustria, estabelecendo contato com pensadores
tismo monárquico.
destacados da época, entre eles adam smith e
revelando sua preocupação em proteger a li-
Jean-Jacques rousseau.
berdade do cidadão, defendia que o poder social
Crítico do racionalismo dogmático do século XVII
deveria nascer de um pacto entre as pessoas.
e do inatismo cartesiano, em sua obra Investigação
Por sua vez, as leis deveriam expressar as nor-
acerca do entendimento humano, hume defendeu
mas estabelecidas pela própria comunidade, que
outra tese segundo a qual todo conhecimento de-
escolheria, através do mútuo consentimento dos
riva da experiência sensível. ele dizia que tudo o
indivíduos, a forma de governo considerada mais
que há em nossa vida psíquica são percepções,
conveniente ao bem comum.
as quais dividiu em duas categorias:
A única maneira pela qual uma pessoa qualquer re-
nuncia à liberdade natural e se reveste dos laços da • impressões – referem-se aos dados fornecidos
sociedade civil consiste em concordar com outras pelos sentidos, como as impressões visuais,
pessoas em juntar-se e unir-se numa comunidade auditivas, táteis;
para viverem com segurança, conforto e paz. (LoCKe, • ideias – referem-se às representações mentais
Segundo tratado sobre o governo, p. 71.) (memória, imaginação etc.) derivadas das im-
pressões sensoriais.
em razão das suas ideias políticas – pois foi um
adversário ferrenho da tirania e do abuso do po- assim, toda ideia é uma re(a)presentação de
der –, Locke é apontado por muitos historiadores alguma impressão. essa representação pode pos-
como o “pai do Iluminismo” (tema que trataremos suir diferentes graus de fidelidade. e alguém que
mais adiante neste capítulo). seu pensamento nunca teve uma impressão visual – um cego de
exerceu profunda influência na fundamentação nascença, por exemplo – jamais poderá ter uma
ideológica da democracia liberal burguesa, contri- ideia de cor, nem mesmo uma ideia pouco fiel.
buindo para a difusão de valores iluministas como hume entendia também que as impressões e
a tolerância religiosa, o respeito pela liberdade ideias se sucedem continuamente na vida psíquica
individual, a expansão do sistema educacional e a do ser humano, combinando-se por semelhança ou
livre-iniciativa econômica. (Voltaremos ao pensa- contiguidade. esse processo de associação de ideias
mento político de Locke no capítulo 19.) explicaria, enfim, todas as operações mentais.
Capítulo 15 Empirismo e Iluminismo 275
Crítica à indução
Como vimos anteriormente, a indução ou ra- bora nunca tenha havido na natureza um círculo ou
ciocínio indutivo vai do particular para o geral. um triângulo, as verdades demonstradas por Euclides
assim, as conclusões indutivas são produzidas conservarão sempre sua certeza e evidência. (Investi-
pelo seguinte processo mental: partindo de per- gação acerca do entendimento humano, p. 77.)
cepções repetidas que nos chegam da experiência
sensorial, saltamos para uma conclusão geral, Legado epistemológico
da qual não temos experiência sensorial (reveja o ao questionar a validade lógica do raciocínio
trecho a esse respeito no capítulo 5). indutivo, a obra de hume legou um importante
hume chamou a atenção para o fato de que a problema para os teóricos do conhecimento (os
conclusão indutiva, por maior que seja o número epistemologistas). afinal, é principalmente a
de percepções repetidas do mesmo fato, não possui partir de experiências particulares que se che-
fundamento lógico – ou seja, sempre será um salto ga às conclusões gerais representadas pelas
do raciocínio. Para o filósofo, esse “salto” seria leis científicas.
impulsionado pela crença ou hábito. este surge revelando um ceticismo teórico, como vimos,
com as reiteradas percepções de um fato, as quais hume concluiu que o conhecimento científico – que
nos levam a confiar em que aquilo que se repetiu ostenta a bandeira da mais pura racionalidade –
até hoje se repetirá amanhã e sempre. assim, por também está ancorado em bases não racionais,
exemplo, cremos que o sol nascerá amanhã porque como a crença e o hábito intelectual.
até hoje ele sempre nasceu. Mas, em termos ló- Isso significa que, desconfiando das posições
gicos, nada pode garantir essa certeza. arraigadas pela força do hábito, o cientista deveria –
Como explicou hume, somente o raciocínio de- de acordo com hume – nunca renunciar ao estudo
dutivo, utilizado na matemática, fundamenta-se da natureza, mas sempre apresentar suas teses
em uma lógica racional: como probabilidades, não como certezas irrefutá-
As proposições deste gênero podem descobrir-se pela veis. tal atitude epistemológica, estendida ao con-
simples operação do pensamento e não dependem vívio social, tornaria os indivíduos mais tolerantes,
de algo existente em alguma parte do universo. Em- democráticos e abertos.

anáLIse e entendImento
1. sintetize em que discordavam racionalistas e empiristas na discussão sobre o processo de conhecimento.
2. Comente a relação estabelecida entre a ascensão da burguesia e o empirismo.
3. No pensamento de hobbes não há lugar para a liberdade. Justifique essa afirmação.
4. explique a tese epistemológica da seguinte afirmação e contra quem ela é dirigida: “a mente humana, no
instante do nascimento, é uma tábula rasa”.
5. Como se pode relacionar o empirismo de Locke com suas concepções políticas?
6. Para hume, um cego de nascimento jamais poderia ter uma ideia de cor. explique essa impossibilidade
a partir da teoria humeana do conhecimento.
7. hume entendia que o hábito fundamenta muitas ideias consideradas verdadeiras sobre a realidade e os
fatos. Justifique essa tese e dê um exemplo.

Conversa fILosófICa
1. Limite das teses cient’ficas
Considerando a recomendação de hume de que os cientistas apresentem suas teses como probabilidades
e não como certezas irrefutáveis:
a) qual é a diferença entre probabilidade e certeza?
b) você concorda com essa recomendação? Justifique com exemplos concretos.
Depois, reúna-se com colegas para debater sobre esse tema.
276 Unidade 3 A filosofia na hist—ria

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