Barreto 2007
Barreto 2007
Barreto 2007
SÃO PAULO
2007
CLARISSA DE ARAÚJO BARRETO
São Paulo
2007
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Aprovado em:
Banca Examinadora
Ao concluir este trabalho me lembro de todos que contribuíram de alguma forma para a
realização do meu mestrado.
À minha orientadora, Profª. Dra. Helena Ribeiro, por ter aceitado me orientar, pela orientação
tranqüila, e pela simpatia com a qual sempre me recebeu.
Ao Profº. Dr. Mauro Leonel, pelo apoio e incentivo inicial para que este trabalho se
realizasse.
À CAPES, pela concessão de bolsa e auxílio para a pesquisa de campo, sem os quais essa
dissertação não se realizaria.
Aos Profs. Drs. Waldir Mantovani e Gerd Sparoveck, pelas sugestões dadas nas reuniões do
comitê de orientação.
À Profª. Dra. Ana Paula Fracalanza, pela simpática supervisão na disciplina Sociedade, Meio
Ambiente e Cidadania, na qual fui estagiária pelo Programa de Aperfeiçoamento de Ensino.
À Ms. Márcia Cândido, pelas pequenas dicas que me ajudaram a enfrentar o processo seletivo
do mestrado.
Aos colegas de mestrado: Fabi, Jôse, Leny, Mari, Neiva, Paulino, Rê, Ric, pela pouca, porém
agradável, convivência.
Aos amigos de Sampa: Ana Cláudia, Ariel, Fabi, Gustavo, Karin, Lannes, Rosangela, Ruth,
Suely, Tristan. Guardo um carinho especial por cada um de vocês.
Ao mais que namorado Alex Degan, amigo e companheiro de todas as horas. Te adoro!
Ao Nilson Silva Soares, pela ajuda no processamento dos dados no EPI INFO.
Ao Profº. Ms. Luiz Antônio de Oliveira, pela ajuda e apoio em Rio Verde.
Aos funcionários Ana da Silveira Gomes, Marcílio Pereira Goulart e Fausto Gonçalves do
escritório regional do IBAMA de Rio Verde, pelas informações.
Aos engenheiros agrônomos, Watson Azevedo e João Venâncio Soares, pelos esclarecimentos
e informações.
À Saneago, pelos resultados das análises de resíduos de agrotóxicos em água de Rio Verde-
GO.
Aos funcionários e bibliotecários de todas as bibliotecas onde pesquisei, pelo auxílio que me
prestaram.
À tia Ivone, pelas palavras que encorajaram minha vinda para São Paulo.
Por último, mas com enorme consideração: aos meus adorados pais, Barreto e Maria, e meu
querido irmão Vinícius. Obrigada pelo carinho e apoio incondicional! Longe ou perto vocês
sempre estão no meu coração.
RESUMO
A agricultura foi responsável por transformar os modos de vida há milhares de anos atrás.
Mais recentemente, a transformação desencadeada pela agricultura ocorreu através da
modernização de seus processos produtivos. Em território brasileiro, a modernização agrícola
possibilitou amplamente o cultivo de soja. A alta demanda e os bons preços no mercado
internacional incitaram a promoção de políticas de incentivo ao cultivo de soja,
principalmente no bioma Cerrado. Ademais os benefícios econômicos, a sojicultura realizada
nos moldes da modernização agrícola brasileira, com grandes aportes mecânicos e químicos, e
manutenção da estrutura fundiária causa impactos ambientais e sociais. Desmatamento,
poluição de cursos d’água, erosão, compactação de solos, intoxicação e concentração de terra
são alguns desses problemas. No presente trabalho, procurou-se traçar o perfil e verificar as
percepções e práticas de um grupo de produtores de soja, isto é, sojicultores, atores sociais
envolvidos com o cultivo de soja, em torno de sua atividade produtiva e do meio ambiente. A
pesquisa se realizou no município maior produtor de soja de Goiás, Rio Verde, cuja vegetação
nativa é típica de Cerrado. Também se procurou verificar a existência e a situação dos
problemas ambientais mais percebidos pelo grupo de sojicultores em Rio Verde. Para alcançar
tais objetivos, aplicou-se questionário a um grupo de 50 sojicultores em 3 grandes lojas
revendedoras de produtos agropecuários de Rio Verde. Posteriormente, os dados foram
processados pelo programa computacional EPI INFO e analisados. De forma geral, os
questionários revelaram que o grupo pesquisado cultivava soja nos padrões verificados no
Cerrado, isto é, em grandes propriedades e intensivo em mecanização e agrotóxicos. Em
relação às percepções e às práticas, constatou-se que de uma forma geral, a percepção
ambiental dos sojicultores entrevistados não necessariamente influenciava na adoção de
práticas agrícolas sustentáveis. A adoção do plantio direto, que apregoa a mitigação de
impactos da agricultura no ambiente, é sinal de uma agricultura mais sustentável, apesar da
exigência de maiores quantidades de herbicidas. Desmatamento, poluição das águas, erosão e
intoxicação foram os problemas ambientais mais percebidos pelos entrevistados. A
verificação da existência e situação desses problemas ocorreu através de mapas de uso do solo
de Rio Verde dos anos 1975, 1989 e 2005, dos autos de infração emitidos por órgãos de
fiscalização ambiental, dos resultados das análises de resíduos de agrotóxicos na água
destinada ao abastecimento público do município e dos casos de intoxicação por agrotóxico
de uso agrícola no município. Por falta de dados não foi possível conferir a presença de
erosão. A presença e gravidade do desmatamento, que ocorreu entre 1975 e 2005, puderam
ser detectadas pelos dados analisados. Já os dados sobre intoxicação, por possivelmente
estarem subnotificados, revelaram um problema de saúde pública. Concluiu-se a necessidade
de ações pelo poder público para que haja uma verdadeira fiscalização ambiental em Rio
Verde, a tomada de medidas que melhorem a notificação de casos de intoxicação, e a
promoção de incentivos àqueles agricultores que respeitam as leis ambientais. Também se faz
necessário o desenvolvimento de técnicas agrícolas mais sustentáveis dos pontos de vista
econômico, produtivo, social e ambiental.
Palavras-chave: soja, sojicultor, percepção, meio ambiente, problema ambiental, Cerrado, Rio
Verde
ABSTRACT
Agriculture was responsible for transforming the ways of life millions of years ago. More
recently, the transformation promoted by agriculture happened through the modernization of
its productive processes. In Brazilian territory, the agricultural modernization made possible
soybean growing. The strong demand and the good prices at the international market
motivated incentive policies for soybean growing, mainly at the Cerrado biome. Besides the
economic benefits, soybean growing conducted through Brazilian agriculture modernization,
with huge mechanical and chemical inputs, and the maintenance of the land distribution
structure caused environmental and social impacts. Deforestation, pollution of waters, soil
erosion and depletion, intoxication and land concentration are some of these problems. In the
present work, the aim was to outline the profile and verify the perceptions and practices of a
group of soybean-planters, social actors involved with the growing of soybean, along its
productive activity and the environment. The research was done at the largest soybean grower
municipality of Goiás, Rio Verde, with native vegetation typical of Cerrado. It also aimed to
verify the existence and the situation of the most perceived environmental problems by the
group of soybean-planters in Rio Verde. To reach those objectives, a questionnaire was
applied to a group of 50 soybean-planters at 3 big agricultural products reselling stores of Rio
Verde. Data obtained was processed by EPI INFO computer program and analyzed. Broadly
speaking, the questionnaire revealed that the investigated group grew soybean into the
Cerrado patterns, which means, on large properties with intensive use of mechanization and
pesticides. About the perceptions and practices, it was verified that, broadly speaking, the
environmental perception of the interviewed soybean-planters not necessarily influenced the
adoption of sustainable agricultural practices. The no-till system adoption, that reduces
agricultural impacts on the environment, is a signal of a more sustainable agriculture,
although it demands greater amounts of herbicides. Deforestation, water pollution, soil
erosion and intoxication were the most perceived environmental problems by the
interviewees. The verification of the existence and situation of these problems was done
through maps of Rio Verde’s land use of the years 1975, 1989 and 2005; by illegal
deforestation infractions issued by environmental control offices, by the results of pesticides
remains analyses in the drinking water of the city, and by the intoxication cases by pesticides
of agricultural use at the municipality. Soil erosion couldn’t be checked due to lack of data.
The deforestation presence, that took place between 1975 e 2005, and its seriousness, could be
detected by the analyzed data. The intoxication data, that were probably under notified,
revealed a public health problem. As conclusion it was emphasized the need of public actions
in order to promote a better environmental control in Rio Verde, the adoption of measures that
would improve the notification of intoxication cases, and the promotion of incentives for
those planters that respect the environmental laws. It is also necessary to devise more
sustainable agricultural techniques according to the economic, productive, social and
environmental points of view.
Tabela 4.9 – Problema ambiental, segundo sojicultores entrevistados que acham que
o cultivo de soja não causa problema ambiental 81
Tabela 4.12 – Motivos pelos quais 80% dos sojicultores entrevistados foram a
favor do plantio de soja transgênica 86
Tabela 4.14 – Instituições de pesquisa com as quais 44% dos sojicultores entrevistados
tinham contato 91
Tabela 5.1 – Área e porcentagem dos usos do solo em Rio Verde em 1975, 1989 e
2005 100
Tabela 5.2 – Variações dos usos do solo em Rio Verde em 1975, 1989 e 2005 104
Tabela 5.3 – Infrações autuadas pelo IBAMA e BPMA em Rio Verde em 2004 e 2005 107
Tabela 5.4 – Casos de intoxicação por agrotóxico em Rio Verde em 2004 111
Tabela 5.5 – Casos de intoxicação por agrotóxico em Rio Verde em 2005 112
LISTA DE SIGLAS
INTRODUÇÃO 14
REFERÊNCIAS 121
ANEXOS 128
14
Introdução
partir da Revolução Industrial e que tiveram seu ápice no início da segunda metade do século
vinte com a Revolução Verde. Alicerçada nos pilares mecânico, químico e genético, a
Revolução Verde atingiu vários países, inclusive o Brasil, promovendo mudanças na base
também denominado sojicultura, foi bastante privilegiado pelas pesquisas científicas, que
ao aproveitamento de áreas ocupadas por outras culturas e de novas áreas para seu cultivo,
Oriunda do leste asiático, a soja, leguminosa cujos grãos são ricos em proteínas, se
espalhou pelo Ocidente no final do século XV, sendo cultivada na Europa e nas Américas.
Atualmente, grande parte da sua produção ocorre nos Estados Unidos, Brasil e Argentina, os
quais, tanto a consomem internamente como a exportam para outros países. Seu consumo
industrial, como a soja, se beneficiaram com a moderização agrícola ocorrida no país entre
1965 e 1980. Houve integração entre a agricultura e a indústria, a qual atuava antes do cultivo
agrícolas.
para as cidades ou o trabalho temporário nas médias e grandes propriedades. Além desse
lo ainda mais.
como os sociais, a maior parte deles se manteve nos dias atuais. A adoção de técnicas
desmatamento ocasionado pela implantação de áreas de cultivo além de ter levado à extinção
LUIZ; LUCCHIARI JÚNIOR, 1996), o que levou à utilização de agrotóxicos. Esses, por sua
impactos não pontuais, pois ao acumularem na cadeia alimentar, podem causar danos em
16
regiões muito distantes daquelas onde foram aplicados. Os fertilizantes também possuem essa
água. Contribui para o agravamento desses impactos o uso abusivo que muitas vezes é feito
No caso da soja, Spadotto e Gomes (2004) apontam que os agrotóxicos não são
aplicados intensivamente por unidade de área cultivada, como acontece no caso do tomate e
da batata. Porém, o fato de a soja atualmente ocupar extensas áreas do país a coloca como
fonte potencial de contaminação pelo uso de agrotóxicos com grande amplitude espacial.
padrão sustentável, e que por isso devem ser mudadas. Uma agricultura sustentável
recursos naturais e da produtividade agrícola por um grande período, geraria menos impactos
premente, visto os impactos que o atual modelo causa e as ambições do setor agrícola de se
expandirem os campos de cultivo. Um dos representates desse setor acredita que o Brasil
“figura como o país que apresenta as melhores condições para expandir a produção e prover o
esperado aumento da demanda mundial. Este país possui, apenas no [...] Cerrado, mais de 50
milhões de hectares de terras ainda virgens e aptas para a sua imediata incorporação ao
2002, p.20).
17
transformação de uma grande área do Cerrado em pastos e lavouras. Atualmente, esses usos
continuam pressionando o bioma, com destaque para a soja, cuja produção se concentra nos
desmatada nesse bioma constitui profunda alteração do uso da terra e uma das principais
Goiás é um dos estados que possui o Cerrado como bioma e ocupa a quarta colocação
possibilitaram uma grande expansão da agropecuária no estado que atualmente possui quase
teórico desta pesquisa para tentar compreender as visões, os interesses, as opiniões e as ações
transformação do meio natural. Eles implantam uma vegetação diferente da natural, criam
nela animais atípicos do meio que se apropriaram, no caso dos pecuaristas, e se valem de
__________
1
Sojicultor equivale a produtor de soja.
18
deles com meio que eles transformam e com o meio que os cerca.
Acredita-se que uma percepção do que é meio ambiente e dos impactos causados a ele
pelas atividades agrícolas, refletida em práticas que procuram reduzir esses impactos é
proximidade entre o agricultor e o meio natural é importante conhecer a percepção que ele
possui diante deste meio e de questões ambientais que se relacionam diretamente com sua
atividade produtiva.
Neste sentido, a percepção ambiental é aqui utilizada como instrumento teórico para se
analisar a visão e as práticas que um grupo de sojicultores de Rio Verde possui diante de
questões ambientais. Pois entende-se que a apreensão que temos do mundo “se dá pelos
processos perceptivos que registram e aferem significados à realidade que cada um de nós
percebe, como membros de um grupo social e como indivíduos” (DEL RIO; OLIVEIRA,
1999, p. XV).
entre eles e o ambiente, suas expectativas, julgamentos e condutas (DEL RIO; OLIVEIRA,
1999). Dessa forma acredita-se que haverá um maior entendimento sobre alguns aspectos da
Assim como em Gibson (1966) e Fiske; Taylor (1991)1 apud Del Rio (1999), a
meio ambiente, e ocorre através de duas formas: os mecanismos perceptivos, que são
dirigidos pelos estímulos externos e captados através dos cinco sentidos, com destaque
20
As atividades produtivas e as formas como elas se processam são fruto das diversas
percepções ambientais dos atores sociais que delas participam, pois os diferentes atores vêem
responsabilidade, ou a idéia que dele se faz, varia, enormemente, conforme a categoria social
p.24). No entanto, não foi objetivo do presente estudo a análise e a comparação da percepção
ambiental dos diferentes atores que compõem o cenário do cultivo de soja rioverdense.
Apenas nos interessou a percepção de um grupo de produtores de soja por desejar entender as
_____________
1
GIBSON, J. The senses considered as perceptual systems. Boston: Houghton Mifflin. 1966
FISKE, S; TAYLOR, S. Social cognition. Nova Iorque: Mc Graw Hill, 1991.
21
humana já que:
relação ao meio ambiente. Atitude é caracterizada pelo autor como sendo uma sucessão de
Num outro aspecto, Tuan (1980, p.112) coloca que o sentimento topofílico1 entre os
O pequeno agricultor, dono de sua terra [...] podia nutrir uma atitude devota
para com a terra que o mantinha e que era sua única segurança. O agricultor
de uma fazenda próspera revelava um orgulho de ser o dono de sua
propriedade e pela transformação da natureza, por sua própria vontade, em
um mundo produtivo.
Poltroniéri (1999) afirma que distintas formas de organização espacial são geradas por
distintos níveis de riqueza do espaço e distintos níveis de habilidade humana para aproveitar
os recursos, e que esses por sua vez, ocorrem porque a influência dos recursos do meio
_____________
1
A topofilia é conceituada pelo autor como os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente.
22
ambiente varia de acordo com a percepção humana. Aplicando esse raciocínio à organização
espacial de Rio Verde, percebe-se que essa é fruto de uma percepção que viu e vê nos
recursos ambientais do município, dominado pelo bioma Cerrado, uma forma de produção
para um tipo de produção na qual a simplificação característica dos monocultivos foi a tônica
das ações que levaram ao desmatamento de grande parte do bioma. Neste caso, o alto nível de
riqueza desse espaço, caracterizado pela sua biodiversidade e espécies endêmicas, foi
O Estado, em grande parte, colaborou para que o Cerrado fosse percebido como um
claramente uma opção desenvolvimentista que não contemplou a biodiversidade desse rico
bioma.
Nesse sentido, este estudo pretende contribuir com as pesquisas realizadas no campo
1.2 – Metodologia
sojicultores em Rio Verde em torno de sua atividade produtiva e do meio ambiente, realizou-
sojicultores.
soja não permitiu a ida às mesmas. Portanto, adotou-se a metodologia que Wehrmann (1999)
utilizou para também entrevistar sojicultores. Aplicou-se o questionário em três grandes lojas
entravam nas lojas, perguntava-se se elas plantavam soja, isto é, eram sojicultoras. Nos casos
questionário.
Grande parte do processo de confecção dos mapas foi executada no software ENVI
4.1, desde a coleta de amostra da imagem até a geração do mapa. A finalização da topologia e
a aplicação das classes de uso foram feitas no software ArcGis 9. Inicialmente, na imagem de
satélite da área, foram definidas as classes nas quais a mesma iria ser dividida. Foram
coletadas amostras de pixels correspondentes a cada uma das classes que seriam geradas, para
foi então exportado para o formato shapefile, o qual, no software ArcGis 9, passou pelo
processo de edição topológica, recortado para o limite da área em estudo. Neste software, foi
feita a classificação visual propriamente dita, onde cada polígono gerado foi confirmado e re-
maio de 1975. Foram utilizadas as órbitas pontos: 239/72 e 239/73. As bandas foram: banda
MSS banda 4 = 0,5 – 0,6 µm (verde), banda MSS banda 5 = 0,6 – 0,7 µm (vermelho) e banda
MSS banda 7 = 0,8 – 1,1 µm (infravermelho próximo). O mapa de 1989 foi obtido através de
pontos: 222/72, 222/73, 223/72 e 223/73. As bandas foram: banda TM banda 3 = 0,52 - 0,60
satélite CBERS, do dia 6 de agosto de 2005. Foram utilizadas as órbitas pontos: 161/119,
161/120, 160/119, 160/120 e 159/120. As bandas foram: banda CCD banda 2 = 0,52 – 0,59
µm (verde), banda CCD banda 3 = 0,63 – 0,69 µm (vermelho) e banda CCD banda 4 = 0,77 –
25
mapas foi o mesmo. A classificação foi supervisionada e o algoritmo foi distância mínima.
Os índices Kappa dos mapas foram: 0,8492 (mapa de 1975); 0,9842 (mapa de 1989) e
0,7192 (mapa de 2005). As matrizes de contingência de cada mapa estão nos anexos B, C e D.
26
criação de animais deixaram o homem mais sedentário do que quando caçador e coletor e
propiciaram um suprimento alimentar menos limitado, o que levou a uma maior reprodução e
agrícola. Ela ocorreu “por meio de um longo processo que inclui cuidadosa percepção dos
(PINSKY, 2005, p.51). Portanto, até que o homem chegasse a um organizado e planejado
sistema de cultivo muito se processou, o que leva a crer na convivência das atividades
A agricultura primitiva era praticada próximo das habitações e sobre aluviões que
resultavam da baixa das águas dos rios, locais caracterizados por possuírem terras já
difundiram pelo mundo. Após o desflorestamento e a queima surgiam sistemas agrários pós-
florestais característicos dos climas onde eram implantados. Os principais sistemas agrários
- Os sistemas agrários hidráulicos: culturas que resultavam da baixa das águas dos rios
ou culturas de irrigação na Mesopotâmia, nos vales dos rios Nilo e Indo, e nos oásis e vales do
Império Inca;
27
Antiguidade, que ocorreu nas regiões temperadas da Europa, os sistemas de cultura eram
Média, que se caracterizava pela associação dos sistemas de cultura à criação de gado, pelo
dos tempos modernos (do século XVI ao XIX), surgiu um novo sistema de rotação de cultura
em detrimento do pousio. Esse sistema de rotação utiliza espécies de plantas que exercem as
mesmas funções de preparo do solo: raízes (beterraba, nabo, etc.), tubérculos (batata), plantas
minerais, típicos da segunda revolução agrícola dos tempos modernos. Tais sistemas
resultaram “em grande medida do esforço técnico-científico para tornar viável a monocultura
_______________
1
Metade do terreno era cultivada e a outra metade permanecia em pousio. No período seguinte a faixa
que havia permanecido em pousio é cultivada e a que havia sido cultivada fica em pousio. Romeiro
(1998) explica que o pousio é uma técnica de preparo do solo e controle de ervas daninhas, e portanto
implica em trabalhar a terra e não em um período de descanso para que o solo recupere sua fertilidade,
como é entendido por algumas pessoas.
2
Charrua era uma espécie de arado que revirava o solo expondo ao sol as raízes das ervas daninhas
(ROMEIRO, 1998).
28
p.69). Anteriormente a monocultura havia sido tentada sem sucesso, pois sua continuidade era
agrícola, pois permite “um uso mais eficiente da maquinaria agrícola para preparo de solo,
pela sigla VAR - Variedades de Alta Resposta – alta resposta à fertilização química.
utilização de todos eles é condição imposta pela agricultura moderna. Percebe-se, através
palavras dos autores “o apropriacionismo constitui-se pela ação empreendida pelos capitais
como uma força fora de sua direção e controle” (GOODMAN et al., 1990, p.3). Exemplos
respectivamente.
Esse padrão tecnológico foi rapidamente difundido para vários países graças ao apoio
que, de acordo com o autor, são “um resumo de uma série de fatores (novos) de produção”
(SCHULTZ, 1965, p.137). Esses novos fatores de produção incluem desde melhores técnicas
baratos, etc.), até chegar aos investimentos em pesquisa agrícola objetivando o incremento na
pois “é de primeira importância o investimento para produzir uma oferta de novos fatores
1965, p.109). Para ele são essenciais as despesas públicas em estradas, transportes e
determinadas atividades públicas para servir ao setor agrícola, que se materializariam por
meio de estações experimentais do governo para pesquisas agrícolas e ações públicas para
processo pelo qual mudanças técnicas e institucionais são induzidas via disponibilidades de
mudança técnica induzida seriam as inovações mecânicas, que são induzidas pela escassez de
potencial produtivo estaria incorporado. Aliados a esse fluxo, devem estar os investimentos
31
transformação seria incentivada pelos retornos esperados por empresários ou líderes políticos,
oportunidades técnicas.
a modernização agrícola nos Estados Unidos da América e no Japão. No caso japonês, houve
produção agrícola era baixa. Enquanto que no caso estadunidense a prioridade foi dada ao
criação da Embrapa, no início dos anos 70” (ROMEIRO, 1998, p.125). No entanto, por aqui,
a excessiva mecanização poupadora de trabalho contrastou com uma realidade marcada pela
_______________
3
SANDERS, J. H. and RUTTAN, V.W. Biased choice of technology in brazilian agriculture.
BISWANGER, H. P. and RUTTAN, V. W. (orgs.) Induced innovation, institutions, and
development. Baltimore and London: The John Hopkins University Press. 1978.
32
especificidades regionais. Contudo, Romeiro (1998) critica tal solução por não levar em
trabalhadores rurais. Para ele, a solução não seria tão simples, pois passaria pela eliminação
de obstáculos estruturais.
Ocorrido nos países da Europa Ocidental e nos Estados Unidos da América, no início
1980. Tal processo se caracterizou pela integração técnica da indústria com a agricultura, e
agricultura não foi resultado de uma política voltada para o desenvolvimento agrícola em si
significativa alteração no padrão técnico do setor rural, através de aumento nos indicadores
acordo com eles, nesse processo, “a atividade industrial não apenas representa uma proporção
crescente do valor agregado, mas o produto agrícola, depois de ser primeiramente reduzido a
um insumo industrial, sofre cada vez mais a substituição por componentes não-agrícolas”
(GOODMAN et al., 1990, p.2). Esse processo de industrialização tanto ocorre a partir de
mais privilegiadas que outras, no sentido de que receberam maiores aportes científicos,
produções. Através do histórico do seu cultivo e utilização, e exposição da atual situação dos
A soja (Glycine max (L.) Merril) é uma planta herbácea anual pertencente à família
das papilionáceas e à subordem das leguminosas. Seus frutos apresentam-se sob a forma de
vagens que contêm grãos globulosos ricos em proteínas (38%) e lipídios (18%). Ao ser
atualmente, essa é a produção dominante (BONETTI, 1981). A maioria dos usos dos grãos
1987). A partir desses, produtos alimentícios e não alimentícios amplamente consumidos são
originados: óleo de cozinha, margarina, molhos, queijo, leite, detergentes, tinta, verniz,
combustível e outros. Em 2001, sua produção totalizou 60% da produção total das oleaginosas
e seus subprodutos estão entre os mais consumidos do mundo – 60% do farelo consumido é o
concorda-se que a área de origem se localiza na região leste da Ásia. Sua distribuição se
limitou ao Oriente, durante os dois milênios após seu surgimento (século XI a.c.), e sua
século XVI. Após cerca de quatro séculos, a soja deixou de ser mera curiosidade no Ocidente,
A primeira referência sobre soja na América do Sul data de 1882, quando há relatos
sobre seu cultivo no Brasil, mais precisamente no estado da Bahia. Posteriormente, países
35
como Argentina, Paraguai, Colômbia, Equador, Bolívia, Peru e Chile introduziram o cultivo
de soja nas suas atividades agrícolas. No entanto, na América do Sul, apenas o Brasil, a
mundial. A soja também se distribuiu por países africanos, pela Austrália e pela Índia, porém
Entre 1955 e início do presente século, a produção mundial de soja aumentou quase 10
vezes, de 20 passou para cerca de 200 milhões de toneladas. Os países responsáveis por esse
incremento de produção são os três maiores produtores, que em ordem decrescente são os
Estados Unidos da América, Brasil e Argentina. Na safra 2002/03 tais países contribuíram
com 80% da produção mundial - 39, 24 e 17% respectivamente (DAYDÉ et al., 2004).
1920. Entre 1924 e 1940 a área cultivada aumentou mais de cinco vezes – de 770.000 a 4,2
milhões de hectares. Bertrand, Laurent e Leclercq (1987) apontam os primeiros eventos que
Chicago (1930).
isto é, a aliança entre agricultores e industriais, sob a direção do capital industrial. Outros
eventos foram importantes para a consolidação do mercado da soja nos Estados Unidos da
36
medidas governamentais (preço mínimo ao produtor, preço máximo para o óleo e a torta,
estadunidense para outros países, nesse caso, para a Europa pós-guerra, foi o Plano Marshall
em 1947, que serviu de base para elaboração, em 1954, da lei de ajuda alimentar Public Law
480. Tal lei tinha como objetivos escoar os excedentes agrícolas americanos, reforçar os
vínculos com os países “amigos” e, desse modo, tornar a ajuda um instrumento de política
exterior e socorrer países atingidos por catástrofes naturais. Entre 1954 e 1979, as exportações
Unidos da América (mais de 95%), lidera mundialmente desde a década de 1950, exceto em
2003, quando a produção sul americana liderou pela primeira vez. Países da América Central,
de um terço da soja cultivada nos Estados Unidos da América. A soja norte americana
alimentos (Kraft, Kellog, ConArga, General Mills, Heinz, Unilever e Dean Foods), e a
Agricultura dos Estados Unidos da América (USDA), afim de incentivar importações por
A soja foi introduzida nos pampas argentinos na década de 1920, mas apenas
LECLERCQ, 1987). Tal êxito pode ser comprovado através de números: 0,5 milhão de
toneladas na safra 1975/76 para 35,5 milhões de toneladas na safra 2002/03. Atualmente,
além de ser o terceiro maior produtor, a Argentina é o maior exportador de óleo e farelo de
(ROSSI, 2004).
decréscimo nas suas exportações a partir da década de 1960, mas voltou a se destacar no
mercado exportador entre 1984 e 1994 devido a ganhos de produtividade. O grande mercado
consumidor interno e a limitada expansão do cultivo de soja em termos de área levaram o país
para que a China se mantenha como grande importador - um quadro que não se alterará
mesmo com ganhos de produtividade na sua produção (CHANG; QIU; GUO, 2004).
toneladas foram colhidas na zona colonial do Rio Grande do Sul. No entanto, apenas a partir
sucessivo trigo-soja naquele mesmo estado (BONETTI, 1981). Entre 1960 e início da década
de 1980, isto é, em 20 anos, a área cultivada aumentou cerca de 40 vezes (de 200.000 para 8
as regiões ditas tradicionais, por terem sido as pioneiras no cultivo da soja, Rio Grande do
Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, colaboraram com grande parte da produção.
tecnologias já testadas nos EUA. O programa Aliança para o Progresso, uma espécie de Plano
Marshall para a América Latina, criado pela USAID, na década de 1960, teve importante
outras coisas, essa troca de informações ensinou a usar a planta como fonte de óleo e a extrair
esse óleo através de solventes, ao invés de esmagar o grão. Permitiu, também, o usufruto da
3) Semelhança entre o clima do sul dos EUA e do sul do Brasil, o que permitiu o
1981);
7) O interrompimento das exportações de soja, em 1973, por parte dos EUA, para
proteger seu mercado interno, enfraqueceu suas relações com os mercados japonês e
soviético. Por outro lado, favoreceu o estabelecimento de acordos de fornecimento entre esses
10) Demanda de rações, por parte da avicultura mundial e nacional, que, de acordo
com Wehrmann (1999, p. 113), passou de 275 milhões de cabeças, em 1970, para 615
milhões, em 1980. Houve também, o crescimento da demanda por rações por parte da
(DALL’AGNOL, 2004);
2004);
14) O bom nível econômico e tecnológico dos agricultores que migraram do sul para o
centro-oeste brasileiro, assim como as boas características físicas do solo, a topografia plana e
proporcionaram ampla difusão do cultivo da soja no Brasil e nos demais países produtores,
através da mecanização do seu cultivo e transformação dos seus grãos pela indústria.
privilégios das oligarquias rurais expressas territorialmente pelos latifúndios. Por isso, os
mesmo tempo em que se processava avanços tanto a montante quanto a jusante na agricultura,
culturas e regiões assim como alguns tipos específicos de unidades produtivas (médias e
uma modernização induzida através de pesados custos sociais e que só vinga pelo amparo do
Estado”. Amparo que se concretizou através de políticas cujos principais instrumentos foram,
além do crédito rural, os incentivos fiscais que consistiam em uma tentativa de transferência
produtos de exportação e/ou transformação industrial, como a soja, o trigo, a cana, etc. No
caso da soja, os grandes estabelecimentos foram sendo cada vez mais os responsáveis por sua
produção. Se, em 1970, 30,3% dos grãos da soja tinham origem nesses estabelecimentos, em
1980 esse percentual pulou para 53,7%, mostrando um incremento de mais de 1000%,
enquanto que nos pequenos, o crescimento foi de 350% (AGUIAR, 1986, p.114).
da soja, possuem uma relação direta com os maiores estabelecimentos, já que o crédito
Além disso, o fato de requererem maior aporte de insumos modernos e mecanização, produtos
tecnológicos altamente subsidiados, permite que a lucratividade de tais culturas seja maior,
ainda mais que a evolução dos seus preços é relativamente mais favorável em relação às
considerações. A ciência, assim como a sua forma de aplicação, isto é a tecnologia, não são
entidades neutras, elas se moldam de acordo os anseios sociais que, no caso das sociedades
capitalistas, são ditados pela classe dominante. A tecnologia pode ser compreendida como o
42
capitalista, a tecnologia que permite gerar mais lucros será sempre bem-vinda. A esse respeito
exemplo no qual o caráter político de decisão é nítido. A tecnologia adotada favorece a classe
dominante, detentora do capital, por criar mercado para as indústrias de insumos e máquinas.
Além disso, a aquisição de máquinas e insumos via crédito rural é facilitada aos médios e
grandes proprietários de terras, já que esses podem dar suas terras como garantia.
agrícola. Enquanto aquele sistema seria responsável pela geração e difusão de tecnologia
Assistência Técnica Rural e Extensão Rural difundiria o pacote junto aos produtores e o
maioria dos países que modernizaram suas técnicas agropecuárias, levou a grandes aumentos
de produção. Junto aos produtos do pacote tecnológico da Revolução Verde, estava embutida
a promessa de aumento da produção agrícola. E essa foi cumprida, como revelam os números
de Ehlers (1999, p.33): “entre 1950 e 1985, a produção mundial de cereais passou de 700
43
milhões para 1,8 bilhão de toneladas, uma taxa de crescimento anual de 2,7%. Entre 1950 e
trabalhador volante. O pesquisador lembra que o trabalho temporário é realizado tanto por
chamados minifúndios. Aguiar (1986) mostra que, de 1960 a 1980, o número desses
estabelecimentos no Brasil sofreu um aumento de 1,5 milhão para 2,6 milhões, enquanto a
área média sofreu um decréscimo, de 4 ha para 3,5 ha. Essa minifundização é responsável
queda da produção para autoconsumo, com reflexos negativos sobre a produção de excedentes
tal pacote tecnológico, têm se “revertido sempre em aumento dos lucros capitalistas (seja do
44
responsável pelo agravamento dos impactos ambientais. Spadotto e Gomes (2004) classificam
esses impactos como intrínsecos, caso os efeitos da atividade agrícola recaiam sobre ela
mesma, ou extrínsecos, caso seus efeitos se expandam além de seus limites, em escala local,
regional e /ou global. Adotando essa classificação, pode-se dizer que os impactos relatados a
pois eles se estendem para lugares além daquele onde é praticada a atividade agrícola.
congelados, na medida em que os tornam agricultáveis, foi responsável pelo agravamento dos
expõe o solo a altas temperaturas que destroem a vida microbiana e a matéria orgânica nele
presentes, além de facilitar a ação de elementos erosivos, como as chuvas - freqüentes nos
clima temperado dos países norte-americanos e europeus, em um país tropical como o Brasil
constituiu um erro. A respeito dessa adoção Graziano Neto (1986, p.91) acha
_____________
4
A legislação brasileira define impacto ambiental como “qualquer alteração das propriedades físicas,
químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante
das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I – a saúde, a segurança e o bem-estar da
população; II – as atividades sociais e econômicas; III – a biota; IV – as condições estéticas e
sanitárias do meio ambiente; V – a qualidade dos recursos ambientais” (Resolução 1/86 do CONAMA
apud MEDAUAR, 2005, p.623).
45
forma imperceptível, sendo detectado através da cor das águas dos rios (maior turbidez), dos
vestígios em torno das plantas e do assoreamento das partes baixas do terreno. A ocorrência
desse tipo de erosão foi citada por Romeiro e Abrantes (1981) nos estados do Paraná e Rio
Muito se alertou sobre esses riscos. Um dos primeiros e mais difundidos alertas
ocorreu com a publicação do livro Primavera silenciosa da bióloga Rachel Carson, que trata
____________
5
Como alertam Spadotto e Gomes (2004), há anos existe no Brasil uma controvérsia no uso dos
termos agrotóxicos, defensivos agrícolas, produtos fitossanitários, pesticidas, biocidas. Acrescenta-se
nessa lista o temo praguicida, utilizado por Paschoal (1979). Adotado e definido pela legislação
brasileira (lei 7802, de 1989, e decreto 98816, de 1990), o termo agrotóxico é adotado nesse trabalho.
Os agrotóxicos se dividem em três grandes grupos principais: os fungicidas, que controlam doenças
fúngicas; os inseticidas, que controlam as pragas; e os herbicidas, que controlam ervas e outras plantas
tidas como invasoras.
46
dos problemas causados pelo uso excessivo de agrotóxicos sintéticos (CARSON, 1962).
causados pelas atividades agropecuárias tidas como modernas, afirmando que essas não
pesquisador Adilson Paschoal, também criticou a agricultura moderna ao tratar dos usos e
impactos dos agrotóxicos no país. Em relação ao cultivo de soja, ele afirmou que “[...] a febre
da soja tem sido responsável por aplicações maciças de biocidas, que ameaçam a existência de
muitas espécies de vertebrados da nossa fauna” (PASCHOAL, 1979, p.3). E relata dois
bois no norte e no oeste do Paraná, em julho de 1976; e a morte por intoxicação com
círculo inicia-se com a esterilização provocada pelos defensivos – eliminação de flora e fauna
químicos que normalmente são compostos por apenas três macronutrientes básicos:
atividade biológica no solo, gera uma perda de qualidade alimentícia das plantas que as
tornam suscetíveis às pragas. Tal suscetibilidade, por sua vez, demanda doses cada vez
47
1981).
De acordo com esses autores, o consumo de fertilizantes no Brasil, entre 1960 e 1977,
cresceu 513%, porém a produtividade das sete culturas tidas como as mais modernas e
café, milho, soja e trigo) não acompanhou tal incremento. Isso se deu no Brasil como um
todo, quanto nos estados maiores consumidores de fertilizantes no período (São Paulo, Paraná
e Rio Grande do Sul). Em relação à soja, verificou-se que o crescimento de sua produtividade
foi o 3º maior no país, alcançando em 1977 um nível médio 29,16% maior do que em 1960.
Nos três estados consumidores de mais de 70% do total de fertilizantes consumidos no país, a
sua produtividade atingiu, em 1977, um nível 54,36% superior ao de 1960, ficando apenas
atrás da cultura do trigo. Entretanto, esses números se mostram incipientes diante do quadro
de consumo crescente de fertilizantes, que seria o principal fator responsável pelo incremento
Diante desse quadro, fica claro que o modelo de modernização conservadora adotado
condiz com uma agricultura sustentável e muito menos com os padrões de uma estrutura
agrária justa.
agrícola, assim como, de forma mais ampla, no atual padrão de desenvolvimento, é vista
como necessária, desde que os resultados negativos desses padrões se tornaram cada vez mais
48
hídricos e do solo, a má distribuição de renda são alguns exemplos resultantes desse (mau)
Uma maior preocupação em relação aos problemas ambientais por parte de vários
1960. Em 1972, a Conferência de Estocolmo representou uma grande guinada para o início
das discussões em torno do tema meio ambiente e desenvolvimento. No início dos debates,
meio ambiente e desenvolvimento eram vistos como contraditórios, sendo que um anulava o
outro. Na medida em que a questão era discutida, uma nova visão entrou em cena, a de que
desenvolvimento e meio ambiente são dois lados da mesma moeda e, portanto, não são
assuntos contraditórios.
na qual se reconhece que o progresso técnico pode até relativizar os limites ambientais, porém
não os elimina; e que o crescimento econômico é condição necessária, mas não é suficiente
notoriedade a partir de 1987, quando a Comissão das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desde então, o conceito tem sido alvo de discussões e críticas que questionam sua
que a era do desenvolvimento infinito passou e que, portanto, deve-se aceitar que ele é finito.
Como será colocado logo adiante, a palavra desenvolvimento gera várias discordâncias
quanto ao seu significado. Restringindo-se à colocação de Sachs, percebe-se que, para ele, a
exploração dos recursos naturais, não pode ser levada adiante simplesmente porque tais
Interno Bruto (PIB) per capita para medi-lo; 2) desenvolvimento não existe, ele é uma ilusão,
nem uma ilusão - tal significação é chamada de “caminho do meio” pelo autor.
é condição sine qua non para que ocorra o desenvolvimento, porém devem se levar em conta
exclusão social.
benignos. Este último tipo de crescimento seria o único que corresponderia ao conceito de
econômico que beneficiasse tanto a sociedade quanto o meio ambiente. Para esse autor, não
industrialismo exigido pelos países periféricos e o pós-industrialismo dos países centrais. Para
Veiga (2005) uma solução para o impasse faz-se necessária e pelo menos algo já é certo: a
Em relação a isso, Sachs (1994) defende o crescimento econômico dos países do Sul e
do Leste como necessário para que se desate o duplo nó da pobreza e da destruição ambiental.
sustentável. No entanto, para o autor tal crescimento econômico não deve ser aquele que
desenfreada, pode apenas aprofundar a divisão entre e dentro das nações” (SACHS, 1994,
p.34).
Por ser uma atividade que lida diretamente com o meio ambiente, transformando-o em
no entanto agravou ainda mais tais impactos. Em países como o Brasil, onde a modernização
pequenos compuseram uma massa de expropriados rurais. Isto é, houve um acirramento das
saudável, produtiva, viável economicamente e socialmente justa. Isto é, uma proposta que
agrada tanto os interessados em práticas agrícolas que causam menos impactos ao ambiente e
Nesse quadro, há duas visões distintas sobre como a sustentabilidade na agricultura pode
ser atingida. A primeira defende que um ajuste na agricultura convencional, incluindo práticas e
tecnologias mais cuidadosas e eficientes, reduziria ou eliminaria muitos dos efeitos indesejáveis
fundamentais na agricultura, que requerem uma grande transformação dos valores sociais. No
meio dessas divergentes visões, há ainda uma dificuldade de se definir quais práticas agrícolas
podem ser consideradas sustentáveis para cada lugar e circunstância (SCHALLER, 1993).
experiência empírica é uma das bases da agricultura sustentável, na medida em que o empirismo
pode indicar tipos de práticas de manejo bem sucedidas e a ciência pode providenciar a
explicação científica do processo. As outras bases seriam: o ordenamento territorial para que a
atividade agrícola obedeça a uma aptidão econômico-ecológica, de acordo com cada área, uma
de recuperação ambiental.
Após expor várias definições do que se entende por agricultura sustentável, Ehlers (1999)
chega à conclusão de que quase todas elas expressam uma insatisfação com o padrão
O autor alerta que as práticas que levarão a esses objetivos não se agruparão como o
importantes aspectos que determinam a adoção de uma agricultura sustentável. E entre os três
aspecto ambiental.
53
Iniciada sua produção em terras gaúchas, a soja foi ocupando espaços agricultáveis
rumo ao norte do país. Se em Santa Catarina ela se destacou mais como insumo protéico para
presença se fez no campo, principalmente na sua porção oeste. Até a década de 1970 seu
cultivo também se estabeleceria no estado de São Paulo, formando assim o que a literatura
denomina de região tradicional do cultivo de soja, isto é, os estados da região sul mais o
estado paulista. O ano agrícola 1967/68 é tido como o ponto de partida para a expansão
significativa da leguminosa por estados que possuem o bioma Cerrado em seus territórios.
estratificação é denominada de campo limpo, sendo seguido pelo campo sujo de cerrado,
campo cerrado, o cerrado stricto sensu e o cerradão, esse último uma formação florestal
O Cerrado é o segundo maior bioma do país em área (cerca de 2.000.000 km2), apenas
superado pela Floresta Amazônica, e abrange como área contínua os estados de Goiás,
Tocantins e o Distrito Federal, parte dos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Rondônia e São Paulo, ocorrendo em áreas
disjuntas ao norte dos estados do Amapá, Amazonas, Pará e Roraima, e ao sul em pequenas
54
partes do Paraná. Seu clima é classificado como tropical chuvoso, sendo caracterizado pela
Cortado pelas três maiores bacias hidrográficas sul-americanas, o Cerrado possui uma
flora composta por plantas vasculares cujo número de espécies pode alcançar 10 mil, sendo
que 4.400 são endêmicas do bioma, isto é, estão presentes apenas no Cerrado. A fauna de
vertebrados é rica: 837 espécies de aves; 67 gêneros de mamíferos, abrangendo 161 espécies,
das quais 19 são endêmicas; 150 espécies de anfíbios, das quais 45 são endêmicas; 120
espécies de répteis, das quais 45 são endêmicas. Somente no Distrito Federal são conhecidas
morcegos. Em relação aos invertebrados, sabe-se que há um grande endemismo e uma alta
cupins, 1000 de borboletas e 550 de abelhas e vespas (ALHO; MARTINS, 1995; IBAMA,
2006).
O Cerrado, assim como a Mata Atlântica, está entre os 25 hotspots mundiais, isto é,
sua extraordinária riqueza biológica, aliada à alta pressão antrópica a qual vem sendo
submetido, o coloca como área crítica para a conservação. Antes de ser alvo da expansão
agrícola comercial, que teve a soja como carro-chefe, a região do Cerrado já havia sido palco,
no século XVIII, da exploração de ouro e pedras preciosas, que, após a exaustão das minas,
deu lugar à criação extensiva de gado. Em grande parte do Cerrado goiano (65%) os solos
predominantes são os Latossolos. Este tipo de solo, caracterizado por sua baixa fertilidade,
alta acidez e elevadas concentrações de alumínio (Al), atribuía ao bioma a incapacidade para
exploração agropecuária que atendesse aos grandes interesses comerciais. Todo o bioma era
visto apenas como produtor de uma pecuária extensiva e extrativista madeireira para a
Arantes e Souza (1993) afirmam que o Cerrado possui um quadro ruim em relação a
fatores controláveis (fertilidade e correção dos solos), e um melhor quadro quanto a fatores
correção dos solos foram contornados com a adição de fertilizantes e corretivos, notadamente
agrícolas contribui para que esse bioma seja propício ao desenvolvimento de atividades
revela a tônica dos seus trabalhos de pesquisa ao se afirmar que “os Cerrados brasileiros, que
ainda há pouco tempo despertavam o interesse apenas de cientistas, passaram a ocupar agora a
(FERRI, 1963, p.10). Tais problemas de imediata importância prática estavam relacionados
de soja (estados da região sul mais São Paulo), no final da década de 1960, e a prioridade
dada à soja, por ser cultura de fácil exportação e industrialização, fizeram do Cerrado uma
microrregiões de outros estados, tais como Alto Paranaíba (MG), Triângulo Mineiro (MG),
Sudoeste Goiano (GO) e Sul de Mato Grosso (MT). Posteriormente, grandes áreas de
Cerrado, ao sul do paralelo 13, por possuírem solos passíveis de mecanização e boa infra-
56
Os esforços estatais mais expressivos para a ocupação do Cerrado, não somente pela
soja como pela agropecuária em geral, se deram a partir de 1975, com a implantação do
extensas áreas do Cerrado através da agropecuária. No entanto, pelo fato de ter incorporado o
município de Rio Verde (estudo de caso dessa pesquisa), como uma das 12 áreas de atuação
reflorestamento, o que não ocorreu, já que 70% de todo o incremento de área foi destinado à
destaque ficou por conta da soja, a cultura que mais recebeu estímulos do POLOCENTRO.
De 80.000 ha, em 1975, a soja passou a ocupar 508.289 ha em 1980, nas áreas de atuação do
programa nos quatro estados (Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul).
57
modernas, dos efeitos positivos do mercado e de uma série de efeitos propulsores. Nesse
aspecto, a incorporação do Cerrado à economia nacional e mundial era vista como uma
oportunidade para se incrementar os níveis de emprego, renda e bem-estar, o que não ocorreu,
Além dos resultados sociais não tão bem sucedidos, o POLOCENTRO, assim como o
áreas de Cerrado, desmatamento que ocorre e é incentivado até os dias atuais1. Ao analisar
dados dos Censos Agropecuários do IBGE, Mueller (2003) constatou que quase 30 milhões
de hectares de Cerrado foram desmatados entre 1975 e 1996 para dar lugar às atividades
agropecuárias.
transformados pela ação humana 55% do bioma, o equivalente a 880.000 km2, três vezes a
área desmatada na Amazônia brasileira, em um ritmo de 22.000 a 30.000 km2 por ano. Esse
ritmo chegou a uma taxa média anual de 40.000 km2, entre 1970 e 1975, antes mesmo da
Henriques (2003) observa que a maior parte da área desmatada do Cerrado, cerca de
_____________
1
Em palestra sobre a produção e utilização atual da soja no Brasil durante o VII World Soybean
Research Conference, realizado em março de 2004 em Foz do Iguaçu, o pesquisador do Centro
Nacional de Pesquisa em Soja (CNPSo), Amélio Dall’Agnol, afirmou que cerca de 50.000.000 ha de
Cerrado podem ser transformados em campos e cultivo de soja, e que é fácil a retirada de sua
vegetação, bastando utilizar dois tratores e uma corrente (o popularmente conhecido “correntão”).
58
69%, foi ocupada pela pecuária, enquanto a agricultura ocupou cerca de 15% dessa área. A
respeito dessas atividades produtivas, vale lembrar que aproximadamente 40% do rebanho
bovino brasileiro é criado no Cerrado e 45% da safra nacional de soja sai do bioma.
de carbono no bioma. A esse respeito, Miranda e Miranda (2000, p.79) atribuem importância
ao Cerrado como estoque mundial de carbono, pois a “a alteração desta vegetação, seja por
fisionômicas, pode ter implicações no papel funcional das árvores e gramíneas e do estoque
químicos, vem causando impactos ambientais, como erosão, compactação do solo (impactos
monoculturas que possuem áreas extensas como a soja, podem se alastrar além das áreas de
cultivo já que eles são transportados pelos sistemas naturais de circulação de ar e água e
acumulam-se em plantas e animais. Além do mais, Henriques (2003) lembra que o impacto
prever.
Dentro desse quadro de destruição, duas forças opostas caracterizam o discurso sobre
meio ambiente. No âmbito do governo federal essa dicotomia se apresenta entre as ações do
Ministério do Meio Ambiente, que trabalha em medidas que visam a conservação do Cerrado,
comercializadas, gerando renda para as comunidades. Isso mostra que o Cerrado não serve só
para fins agropecuários, como o agronegócio costuma afirmar para justificar sua invasão no
bioma. Isto é, através de um manejo adequado, vários habitantes podem auferir lucros através
da flora, sem prejudicar a biodiversidade e todos os benefícios que ela possui. Entretanto, o
uso mais comum das espécies do bioma tem sido para lenha e carvão, como subproduto da
agrícolas, tanto para uso doméstico como para exportação, ganhos na produtividade da
modernizada.
60
teve como primeira grande atividade econômica a produção aurífera baseada nas descobertas
contribuíram num primeiro instante, com destaque para a Estrada de Ferro de Goiás,
latifúndio (BORGES, 2000), já que os projetos de colonização impulsionados por tal política
entraram em crise e seus assentados foram deslocados por latifundiários. A expropriação dos
pequenos produtores continuou nas décadas de 1950 e 1960, num processo de abertura da
fronteira agrícola, em que esses, após tomarem posse da terra a desmatavam e a preparavam a
um baixo custo. Posteriormente, a terra era apropriada por grandes fazendeiros que
61
implantavam uma pecuária extensiva. A região sul do estado foi a primeira a ter esse processo
em Goiás como também na Amazônia e nos estados que tinham o Cerrado como bioma.
Nesse contexto, o cultivo de soja recebeu grandes incentivos que proporcionaram contínuos
1960, quando ocorreu a primeira safra goiana, a de 1968-69 (ARANTES; SOUZA, 1993). No
regiões onde a soja foi introduzida se repetiu em Goiás, isto é, dezenas de variedades foram
testadas. Nesse estado, os testes ocorreram maciçamente durante as três primeiras décadas
para a região, e o apoio do CNPSo são exemplos dos esforços empreendidos pela pesquisa
Rural de Goiás (ACAR-GO), em 1970, foi um importante propulsor do cultivo de soja. Seu
avanço técnico nas pesquisas de plantio no Cerrado, a migração de agricultores sulistas para
Entre 1969-85 a produção apresentou crescimento de 31,05% ao ano, para o qual colaboraram
pela soja sobre outras culturas. Isto é, sua expansão em área foi a principal responsável, entre
12 culturas consideradas, pela perda de participação em área das culturas que apresentaram
composição agrícola também foram detectadas por Estevam (1998, p.175) ao relatar que
A expansão da soja no estado, que ocorreu principalmente nas regiões sul e sudeste,
1970, 98% da produção de soja originava de apenas 7 municípios (Itumbiara, Rio Verde,
Goiatuba, Bom Jesus de Goiás, Quirinópolis, Santa Helena de Goiás e Paraúna), já em 1977
esse número era de 25 (SANTOS; COSTA, 1981), atualmente 176 municípios são
ESTATÍSTICA, 2005).
exportações goianas, cujos principais produtos são os grãos de soja, o farelo e os resíduos da
Por outro lado, Almeida (2002) aponta um problema social agravado com a
trabalho e emprego para essa mão-de-obra pouco qualificada agrava ainda mais essa situação.
O estudo GeoGoiás 20022 (GALINKIN, 2003, p.34) lembra que, da mesma forma que
ano 2000, que mostra o alto grau de antropização do território goiano. Contribuíram para isso
tanto o uso das terras (agricultura intensiva, prática de queimadas, mecanização, irrigação,
14,71% da área de Goiás, incluindo nesse total as áreas protegidas existentes. Tais vegetações
são utilizadas como pastagem natural e, em muitos casos, já sofreram significativas alterações
serem áreas extremamente fragmentadas e cercadas por atividades agrícolas mais intensivas, o
que pode ser visualizado no entorno do Parque Nacional das Emas, no sudoeste do estado. No
total, as áreas com cobertura vegetal natural em diferentes estágios de preservação, incluindo
concluiu que em cerca de 86 anos a cobertura vegetal original se extinguirá, restando apenas
as áreas das unidades de conservação. Uma estimativa otimista, se comparada com a realizada
_____________
2
O GeoGoiás 2002 consiste em uma avaliação do estado do meio ambiente no estado de Goiás
baseada no plano de trabalho do Global Environment Outlook do Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente
65
por Machado e colaboradores (2004) para o bioma Cerrado, na qual o seu desaparecimento
(exceto as unidades de conservação e terras indígenas) seria esperado no ano de 2030, isto é,
daqui a 23 anos.
dos municípios que compõem a mesorregião Sul Goiano e a microrregião Sudoeste de Goiás.
Localizado a 17º 47’ 41” de latitude (S) e 50º 05’ 41” de longitude (W) ocupa uma área de
8.388 km2, o que corresponde a 2,47% do estado de Goiás, sendo considerado o 4º maior
município goiano em área. Com altitude média de 715 m e topografia plana levemente
possui clima com duas estações bem definidas: uma seca (maio a outubro) e outra chuvosa
Rio Paranaíba.
A área rural abrange a maior parte do município, já que a sede do município, isto é, a
área urbana, possui apenas 35,6 km2 de área (0,43% da área total). Além da sede localizada na
66
parte central do município, Rio Verde possui dois distritos (Ouroana e Riverlândia) e dois
O ano de 1846 marca o surgimento de Rio Verde que se denominava Arraial de Nossa
Senhora das Dores de Rio Verde3 e desde então recebeu várias denominações: Arraial das
Dores, Arraial das Abóboras4, Vila das Abóboras, Freguesia de Nossa Senhora das Dores,
Vila Nossa Senhora das Dores de Rio Verde e finalmente, Rio Verde. Ao que tudo indica, o
nome Rio Verde está relacionado ao fato de o principal curso d’água da região possuir uma
tonalidade verde-clara.
descreve Ab’Saber e Costa Júnior (1951, p.40) ao viajarem pela região, essa se deu apoiada
em
_____________
3
O surgimento do Arraial se apoiou na construção de uma capela em louvor à Nossa Senhora das
Dores.
4
Denominação que remetia à abundância do fruto.
67
grandemente desse quadro. Seus habitantes tornaram a região a mais progressista da província
(CAMPOS, 1971, p.22). A atividade em Rio Verde recebeu grande incentivo na época do
Império ao ficar isenta da obrigação de pagamento de impostos por 10 anos (PIRES, 2004).
Tal isenção funcionou como chamariz para que migrantes paulistas e mineiros viessem ocupar
sudoestino, assim como a cidade de Barretos em São Paulo, constituía grande vantagem
impulsionadora da pecuária local. E foi sob os auspícios da pecuária extensiva que Rio Verde,
assim como outros centros urbanos do Sudoeste Goiano (Jataí, Mineiros, Caiapônia,
problemas econômicos assolavam a região de Rio Verde, como bem notaram Ab’Saber e
problemas da cidade de Rio Verde e de sua região econômica, como acontece, aliás, com todo
o Sudoeste Goiano [...].” O gado por ser mercadoria auto-transportável, isto é, menos
agrícolas.
(1997) não como economia de subsistência e nem comercial e sim de abastança - adquiriu
década de 1930, representou um marco de uma nova etapa histórica para o estado de Goiás,
uma etapa que divulgava o estado para o país e trazia incrementos para sua economia,
extrema importância não só econômica como também política, já que Pedro Ludovico,
médico de Rio Verde, era quem estava no poder nos idos de 1930, participando da construção
Desde então o poder político tem gerado bons frutos no campo econômico da região e,
seja expressiva.
1975 e 1979 e objetivava promover a abertura de áreas do Cerrado para estabelecer atividades
69
agropecuárias. Nesse sentido, Rio Verde foi bastante beneficiado por esse programa por ter
sido uma das 12 áreas de sua atuação. Além da soja, outros cultivos ligados à exportação e à
Sudoeste Goiano.
média 600 hectares, já que esse era um dos pré-requisitos para a obtenção de recursos do
poderiam torná-lo competitivo diante dos grandes empresários agrícolas. Essa supressão
agricultura brasileira via adoção do padrão tecnológico estabelecido pela Revolução Verde,
(FCO), política federal de isenção fiscal. Ao lado dessas políticas e programas, a boa
entroncamento rodoviário constituído pelas rodovias BR 060 (liga Goiânia a Cuiabá), BR 452
(liga Rio Verde à BR 153), GO 174 (liga Rio Verde ao Mato Grosso Goiano) e a BR 364 (que
possui São Paulo como destino) (LUNAS; ORTEGA, 2003; PEREIRA; ALMEIDA FILHO,
2003).
POLOCENTRO, a COMIGO, de acordo com Cunha Neto (1988, p.337), se formou através de
Helena, com infra-estrutura para secar e armazenar arroz, o principal cultivo na época.
pela cooperativa. Atualmente, a COMIGO é uma grande cooperativa, que possui mais de
4.000 cooperados, em nove municípios goianos, e além de processar a soja possui fábricas de
complexo agroindustrial.
indústria avícola e sunícola Perdigão em 2000 é um bom exemplo, e também trouxe consigo
O cultivo de soja em Rio Verde pode ser observado na tabela 3.2. Percebe-se que os
soja, oito culturas temporárias são cultivadas em Rio Verde (tabela 3.3). O milho e o feijão
são cultivados em mais de um período, portanto, suas produções resultam de duas safras, no
caso do milho e três no caso do feijão. Nenhuma cultura é irrigada, exceto o trigo, que é
Verde ocupa o segundo lugar no ranking dos 15 municípios mais competitivos do estado, pois
para onde se destina atualmente grande parte dos investimentos feitos em empreendimentos
estudo de clusters. Para o autor, os clusters são basicamente constituídos por indústrias e
72
instituições que têm ligações fortes entre si, tanto horizontal quanto verticalmente e,
referindo a Rio Verde como um cluster de grãos: “O cluster de grãos na região de Rio Verde
no sudoeste de Goiás”.
Silva (2004) discorda, afirmando que Rio Verde não possui todos os requisitos para
ser enquadrado como cluster, entre eles: os mecanismos de estrutura organizacional em torno
e Santa Helena.
Rio Verde possui ampla influência nos municípios que o cercam, atraindo
pessoas desses municípios que vêm estudar, fazer compras, buscar lazer,
etc. Com isso, o município passa a ser o centro mais importante de uma
região, portanto, um Pólo Regional. [...] É um Pólo de Crescimento porque
Rio Verde ainda carece de muita coisa para falarmos em desenvolvimento.
Estamos na fase em que o município enfrenta um problema social muito
sério, com falta de moradia, emprego e renda. O município começou a
crescer, porém ainda está um pouco longe da fase de desenvolvimento.[...]
Isso nos levou a acreditar que ele é um Pólo de Crescimento Regional.
que o que deve ser extraído desses estudos é a atenção que a dinâmica agroindustrial local
está provocando nos meios acadêmico, econômico e social. Outro aspecto interessante é a
distinção que Silva (2004) faz entre crescimento e desenvolvimento. O primeiro possui um
viés econômico e pode começar a ser visto em Rio Verde, enquanto que o segundo envolve
boas condições de moradia, emprego, renda e outros aspectos, que ainda não são
vislumbrados.
73
2000, o município ocupou o 5º lugar entre os municípios goianos com melhor IDH-M e o
422º lugar entre os 5.506 municípios brasileiros. Entre 1991 e 2000 seu IDH-M cresceu
14,96%, passando de 0,702 para 0,807. Educação e longevidade foram os fatores que mais
contribuíram para tal incremento. O fator renda influenciou menos, pelo fato de a
desigualdade ter crescido nesse período - o indicador de desigualdade (Índice de Gini) passou
de 0,56 para 0,60. O que equivale dizer que os 20% mais ricos de Rio Verde detinham 64,6%
da renda do município, enquanto que aos 80% mais pobres restavam 35,4%. Portanto, a
Goiás, advém da “produção de uma modernidade que não foi capaz, até o momento de
minimizar o flagelo de parte significativa da população que vive nas favelas ou nas periferias
de Rio Verde, Jataí, Mineiros e Santa Helena, entre outros tantos” (ARRAIS, 2002, p.168).
Portanto, para o pesquisador, esses municípios produziram não somente a modernidade como
Capítulo 4 – Sojicultores de Rio Verde, suas percepções dos problemas ambientais e suas
práticas.
sojicultores em Rio Verde em torno de sua atividade produtiva e do meio ambiente aplicou-se
(anexo A). Com o propósito de facilitar a compreensão dos dados, as questões foram
agrupadas em três partes. A primeira parte se refere ao perfil dos produtores, a segunda
engloba dados referentes à percepção ambiental e a terceira agrupa outras práticas dos
sojicultores.
homens. A idade deles variou entre 26 e 70 anos, sendo que a maioria, 64%, possuía até 47
Idade Frequência %
26 – 36 11 22
37 – 47 21 42
48 – 58 9 18
59 – 70 9 18
Total 50 100
75
Apenas 24% deles residiam na propriedade rural, o que provavelmente ocorria devido
escritórios de suas fazendas na cidade, o que poderia indicar que eles residiam na cidade.
grupos. Os resultados indicam que 40% dos entrevistados possuíam até o ensino fundamental
como grau de instrução, nenhum possuía o ensino médio incompleto e 16% deles possuíam o
ensino médio. Houve predominantemente sojicultores que possuíam alto grau de instrução
100 Alfabetizado
Ensino fundamental
80
incompleto
Ensino fundamental
60
Ensino médio incompleto
40 Ensino médio
20 Ensino superior
incompleto
Ensino superior
0
entanto, acredita-se que mesmo aqueles que não a utilizavam adquiriam informações
atualizadas através das associações. Um fato que mostra isso claramente é a presença de um
76
aproximou do número daqueles que eram de origem rural, 46% e 54% respectivamente.
O cultivo da soja no Brasil que teve seu início nos estados da região sul e São Paulo, a
e norte. Juntamente com esse movimento de “subida” da soja houve a migração de produtores
das regiões sul e sudoeste, que vislumbravam maiores oportunidades nas novas áreas de
era comandada principalmente por produtores goianos: 64% dos sojicultores eram de Goiás,
10% eram de Minas Gerais e 26% nasceram em estados da região tradicional no cultivo de
soja no país (Rio Grande do Sul (12%), Paraná (4%) e São Paulo (10%)).
Os sojicultores que não eram de Goiás migraram para Rio Verde entre 1950 e 2001
(tabela 4.3). No geral os motivos se relacionam com a atividade agrícola, sendo que apenas
22% deles migraram devido a outro fator (profissão, herança, problemas de saúde). O motivo
anos, entre esses 72,5% a cultivavam há mais de 10 anos (tabela 4.4). Tal dado indica que
grande parte dos sojicultores já estava há um bom tempo na atividade, e por isso já dominava
Antes de cultivar soja, 72% dos sojicultores entrevistados exerciam outra atividade,
69% desses sojicultores exerciam atividades ligadas à agricultura e/ou pecuária (tabela 4.5).
Os mesmos sojicultores que exerceram outra atividade antes da sojicultura em Goiás eram
atividade remunerada, isto é, não eram exclusivamente sojicultores. E 55% desses sojicultores
desempenhavam atividade ligada à agricultura e/ou pecuária (tabela 4.6), sendo a pecuária a
Tabela 4.6 – Atividades exercidas concomitantemente com a sojicultura por 54% dos sojicultores
entrevistados
Atividade Frequência %
Pecuária 12 44,4
Agropecuária 2 7,4
Agricultura (milho) 1 3,8
Outra atividade 12 44,4
Total 27 100
A maioria dos sojicultores entrevistados era proprietária das terras onde cultiva soja.
elevaria para 78%. Dentre os sojicultores entrevistados, 22% eram apenas arrendatários.
O padrão do tamanho das propriedades onde a soja é cultivada em Rio Verde reflete o
padrão desse cultivo no Cerrado, isto é, a predominância de grandes áreas (tabela 4.7). A
menor área era de 82,28 ha e a maior 13.454,6 ha. Levando em consideração a classificação
Reforma Agrária (INCRA)1 para Rio Verde, 74% das propriedades dos entrevistados seriam
_____________
1
O INCRA se baseia na unidade de módulo rural (MR) para classificar as propriedades rurais. Em Rio
Verde, o MR é igual a 30 ha. As propriedades rurais que possuem área de até 1 MR são classificadas
como minifúndios. As pequenas são aquelas que possuem de 1 a 4 MRs, as médias de 4 a 15 e as
grandes possuem mais de 15 MRs.
79
Tabela 4.8 - Tamanho das propriedades dos sojicultores entrevistados (segundo o INCRA)
Área (ha) Frequência %
Até 120 2 4
121 – 450 11 22
Mais de 451 37 74
Total 50 100
passava por uma grave crise pelo fato de os agricultores terem comprado insumos para a safra
2004/2005 com o dólar a R$3 e a produção estar sendo vendida com o dólar a R$2,20. Tal
prejuízo deixou insatisfeitos com o rendimento financeiro da cultura 88% dos sojicultores
ambiente quando cultivavam soja. Entretanto, sua visão do que é meio ambiente era bastante
heterogênea. Por isso dividiu-se as 72 respostas obtidas em quatro categorias: meio ambiente,
A categoria “meio ambiente” inclui respostas que se relacionam com o que é meio
- Outras em relação ao meio ambiente: onde vivemos, terra onde trabalho, reserva
legal, vida, natureza, ar, solo, predador, tudo, tudo que engloba o ecossistema, tudo que
A categoria “ações positivas” engloba 23,6% das respostas, e, como o próprio nome
diz, inclui respostas que ditam ações que contribuem positivamente para a manutenção do
- Preservação dos recursos naturais, conservação dos recursos naturais, cuidar das
margens, seguir o regulamento, proteger as cabeceiras, não jogar vasilhames nas nascentes,
respostas que não se encaixam nas categorias acima mencionadas. São elas: veneno e
sustentabilidade do clima.
problemas ambientais. De acordo com 63% desses sojicultores, o cultivo de soja poderia
causar desmatamento, 60% acreditavam ocasionar a poluição das águas, 49% citaram
Desmatamento
100
Poluição das águas
80
Intoxicação
60
Erosão
40 Proliferação de pragas
20 Desaparecimento de
animais
Mudança no clima
0
Compactação do solo
Figura 3. Freqüência em porcentagem de sojicultores que consideram que a sojicultura pode causar
algum problema ambiental
problema ambiental. E a maior parcela deles (71%) considerou erosão como problema
ambiental (tabela 4.9). Isto é, para a maioria deles a sojicultura não causa problema ambiental
Tabela 4.9 – Problema ambiental, segundo sojicultores entrevistados que acham que o cultivo de soja
não causa problema ambiental
Problema ambiental Freqüência %
Erosão 5 71
Desmatamento 1 14
Diminuição de animais 1 14
Poluição 1 14
Uso de inseticidas 1 14
Poluir rios 1 14
Acabar com nascentes 1 14
Apesar de 86% dos sojicultores entrevistados terem acreditado que o cultivo de soja
pode causar problemas ambientais, poucos afirmaram a existência desses problemas nas suas
propriedades e/ou plantações, apenas 12%. Apenas 4% dos sojicultores afirmaram observar
desmatamento, o problema ambiental mais citado como sendo causado pela sojicultura, nas
suas propriedades e/ou plantações. A tabela 4.10 aponta os problemas ambientais observados
por eles.
82
Tabela 4.10 – Problemas ambientais observados nas propriedades e/ou plantações de 12% dos
sojicultores entrevistados
Problema ambiental Freqüência %
Seleção de pragas 3 50
Desmatamento 2 33
Erosão 2 33
Redução de animais 1 17
Desequilíbrio do meio ambiente 1 17
responder. Para a maioria daqueles que consideraram sustentável o cultivo de soja (59%) o
sustentabilidade para esses atores sociais seria alcançada através de um conjunto de vários
lucros satisfatórios.
estabelecida juridicamente pelas leis 6.938 de 1981, 7.802 de 11 de julho de 1989, 9.974 de 6
define central como unidade que recebe, controla, reduz o volume, acondiciona e armazena
estabelecimentos comerciais e postos, até que as embalagens sejam retiradas para a destinação
final, ambientalmente adequada. A central de Rio Verde (figura 4) recebe embalagens trazidas
por agricultores e pecuaristas de 20 municípios goianos que posteriormente são levadas para
a necessidade de devolução das embalagens, que deve ocorrer no prazo máximo de 1 ano após
aquisição do agrotóxico. Caso a devolução não ocorra, logo após o uso do agrotóxico, as
de agrotóxicos para serem diluídas em água devem ser lavadas antes da devolução. A limpeza
das embalagens pode ser feita através de dois procedimentos: a “tríplice lavagem” ou a
“lavagem sob pressão”2. Caso a lavagem não seja feita, as embalagens são devolvidas ao
Todos sojicultores estavam cientes de que existe uma lei que determina a
obrigatoriedade de reserva legal nas propriedades rurais. Essa lei é a 4.771, de 15 de setembro
de 1965, também conhecida como Código Florestal, que define que a área destinada à reserva
legal em formações vegetais como o Cerrado, que ocorre no estado de Goiás, deve
compreender 20% da área total da propriedade. A reserva legal é definida pela lei como sendo
de fauna e flora nativas. A averbação da reserva é obrigatória. Nessa pesquisa 98% dos
A presença de tal formação vegetal, considerada como área de preservação permanente (APP)
pelo Código Florestal, foi afirmada por 90% dos sojicultores. Todos os entrevistados achavam
importante manter a mata ciliar e apontaram diversos motivos para mantê-la (tabela 4.11).
Percebe-se que uma boa parte dos sojicultores achava importante manter a mata ciliar devido
_____________
2
Informação obtida no Manual de Destinação Final de Embalagens Vazias de Agrotóxicos, elaborado
pelo INPEV.
85
Tabela 4.11 – Motivos pelos quais os sojicultores pesquisados achavam importante manter a mata
ciliar
Motivo Freqüência %
Preservar, manter, conservar as águas, nascentes, rios 18 34,61
Previne o assoreamento 7 13,46
Por causa dos animais 6 11,59
Previne erosão 5 9,61
Para proteger, conservar, preservar o meio ambiente 4 7,69
Barreira contra agrotóxicos 2 3,84
Porque é natureza 2 3,84
Para as espécies sobreviverem 2 3,84
É vida 1 1,92
Porque não pode destruir tudo 1 1,92
Para manter a temperatura 1 1,92
Para segurar a degradação 1 1,92
Para aproveitar a madeira 1 1,92
Porque vira deserto se não tiver 1 1,92
Total 52 100
defensivos, intoxicação, poluição causada por dejetos de granja, erosão ocorrida no passado, a
volume de água nos rios, uso agressivo do solo, desperdício de água, acúmulo de lixo na
cidade, embalagens nas margens das rodovias, poluição, desmatamento sem autorização,
poluição dos rios, poluição do ar causada pela indústria, mau cheiro causado pela indústria,
favor, 6% eram contra e 14% estavam indecisos, por isso não souberam opinar. Dentre os
86
sojicultores que eram a favor do plantio de soja transgênica, 75% eram favoráveis, pois
acreditavam que ela seria vantajosa economicamente (tabela 4.12). Os sojicultores que eram
contra a soja transgênica achavam que ela seria “contra a natureza” e “pode prejudicar o ser
humano”.
Tabela 4.12 – Motivos pelos quais 80% dos sojicultores entrevistados foram a favor do plantio de soja
transgênica
Motivo Freqüência %
Economicamente favorável 30 75
Ambientalmente favorável 8 20
Utiliza menos agrotóxicos 4 10
Mais uma opção p/ o agricultor 2 5
Mais produtiva 1 2,5
Mais resistente 1 2,5
Possui menos pragas 1 2,5
Não prejudica a saúde 1 2,5
Ideal em regiões infestadas por ervas daninhas 1 2,5
Valoriza a soja convencional 1 2,5
celebrada entre o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Verde e o Sindicato Rural de Rio
aquelas fazendas onde não há 20% de vegetação nativa ou reflorestada. Portanto, desde 2001,
87
dessa reserva, assim como daquela estabelecida pelo Código Florestal, fica a cargo da
Agência Ambiental, órgão estadual responsável pela execução da legislação estadual relativa
ao meio ambiente, que, em sua portaria 14 / 2001, regulamenta os critérios técnicos para
averbação da reserva.
O presente estudo revelou que a maioria dos sojicultores entrevistados que possuía
reserva; 71,4%, a possuía no interior das suas propriedades, 20,4% possuíam reservas tanto no
interior como fora de suas propriedades, e 8,2% a possuíam fora da propriedade. A maior
Caiapônia. A escolha desse município de deve à presença de grandes áreas impróprias para a
agropecuária. Sobre a permissão de se ter esse tipo de reserva, 72% dos sojicultores eram
A maioria dos sojicultores que possuía reserva legal, 69,4%, já havia adquirido sua
propriedade com reserva, 28,6% deles destinaram área para reserva após aquisição da
propriedade, e 2% tanto adquiriram propriedade com reserva, como também destinaram área
para reserva após aquisição. Em relação à vegetação da reserva, 90% dos sojicultores que
considerado insuficiente para o estado de Goiás. Em Rio Verde, apenas 3 fiscais do IBAMA
são responsáveis pela fiscalização em 30 municípios (todos do sudoeste goiano e mais alguns
da região sul do estado). Devido à ausência de uma fiscalização mais atuante, a maioria dos
sojicultores, 62%, afirmou que suas reservas legais nunca foram conferidas por algum órgão
de defesa / controle ambiental, 32% afirmaram que suas reservas já foram conferidas e 6%
Verde. E apenas 8% dos sojicultores conheciam alguma “política ambiental” para a região.
Tais “políticas” seriam: a revitalização do córrego Abóbora, um dos cursos d’água utilizados
cultivavam soja. Dessas propriedades, 63,3% possuíam pastagens plantadas, 33,3% possuíam
pastagens naturais e 3,3% possuíam pastagens plantadas e naturais. Apesar da maioria das
propriedades possuir pastagem, apenas 28% dos sojicultores entrevistados eram pecuaristas.
89
área destinada à agricultura temporária era o mesmo destinado à soja em 96% das
propriedades pesquisadas. O tamanho médio das áreas de soja era de 862,24 ha, sendo a maior
10.648 ha e a menor 40 ha. Na safra 2003/2004, o tamanho da área média cultivada com soja
foi de 652,58 ha, o maior foi de 4.162 ha e o menor de 30 ha, e a produtividade média obtida
Além de soja, 40% dos sojicultores entrevistados também cultivavam milho, sorgo ou
milheto. Entre esses, o mais cultivado era o sorgo, em áreas com tamanho médio de 689,77
ha, sendo a maior 4.162 ha e a menor 30 ha. O tamanho médio das áreas cultivadas com milho
era de 242,34 ha, sendo a maior 600 ha a menor 40 ha. Apenas um sojicultor afirmou cultivar
Como em Goiás os proprietários rurais podem averbar suas reservas legais em área
APP, cuja obrigatoriedade é estabelecida em lei. Contudo, apenas 58% dos sojicultores
deles possuía matas plantadas. Entre os que souberam dizer o tamanho de suas matas, 27,6%
possuíam matas de tamanho igual aos 20% do tamanho da área da propriedade. Apenas 13,8%
dos sojicultores entrevistados, que sabiam o tamanho das suas áreas de matas, possuíam mais
(figura 5): 98% dos sojicultores adotavam o sistema, enquanto apenas 2% adotavam o sistema
convencional. O Plantio Direto (PD) é um técnica que leva, entre outras vantagens, à redução
da perda de solo por erosão. O PD consiste na ausência de preparo convencional do solo, isto
(LANDERS, 1995).
90
Ele apresenta práticas que movimentam menos o solo e permitem um eficiente controle da
erosão, pela manutenção de uma cobertura morta sobre o solo (LANDERS, 2002). Sua larga
adoção na agricultura brasileira está ligada às vantagens econômicas que ele propicia em
Além de terem cultivado soja na safra 2003/2004, 64% dos sojicultores cultivaram
uma ou duas das seguintes culturas: milho, sorgo, milheto e arroz. Todas elas, exceto o arroz,
época na qual há também o plantio de soja, e a segunda, conhecida como safrinha, ocorre logo
após a colheita da soja. Dados do IBGE, da safra 2003/2004, mostram que o plantio de milho
segunda.
era prestado por um dos quatro prestadores indicados na tabela 4.13. Pessoa física
empresa especializada em prestar esse tipo de serviço, revenda se refere ao comércio que além
Tabela 4.13 – Prestadores de serviços de assistência técnica utilizados pelos sojicultores pesquisados
Prestador Freqüência %
Pessoa física 17 36,1
Empresa de planejamento 10 21,3
Revenda 10 21,3
Cooperativa 10 21,3
Total 47 100
Geralmente, o contato ocorria com mais de uma instituição de pesquisa, sendo que a
FESURV era a instituição com a qual eles possuíam mais contato (tabela 4.14).
Tabela 4.14 – Instituições de pesquisa com as quais 44% dos sojicultores entrevistados tinham contato
Instituição de pesquisa Frequência %
Universidade 17 77
Embrapa 10 45
Agência Rural 2 9
Sociedade Brasileira de Fitopatologia 1 4
pesquisa, sendo que geralmente cada sojicultor se utilizava de mais de uma forma (tabela
4.15). A incidência de pragas, como a ferrugem asiática, era um dos motivos que levavam os
FESURV.
92
Tabela 4.15 – Formas de contato que os sojicultores tinham com instituições de pesquisa
Forma de contato Freqüência %
Informações 10 45
Análise foliar e de solo 8 36
Visita técnica 7 32
Dias de campo 6 27
Campo de demonstração 2 9
Em Rio Verde, a soja é adquirida por grandes empresas do ramo, como a Cargill
secagem e totalizou 919,5 t na recepção de grãos, em 2004, sendo 637,56 t de soja, 198,78 t
amplamente adotado pelos sojicultores de Rio Verde, não há preparo do solo. Após a colheita,
há o beneficiamento dos grãos, que pode ser realizado na própria fazenda desde que haja
_____________
3
Dados obtidos no Relatório do Conselho de Administração COMIGO de Janeiro de 2005.
93
solo. No plantio, a média do número de trabalhadores empregados por sojicultor foi de 6,76.
No trato, a média foi de 3,48 trabalhadores por sojicultor e na colheita foi de 4,51
sojicultura do Cerrado, e esse foi o padrão mais encontrado na amostra em Rio Verde. A mão-
de-obra do tipo familiar era empregada por 14% dos sojicultores, sendo exclusivamente
utilizada por apenas 4%. A mão-de-obra assalariada permanente era utilizada por 76% dos
assalariada temporária era empregada por 80% dos sojicultores, e 12% deles utilizavam
entrevistados corrigiam o solo para cultivarem soja. Isso ocorre devido ao pH ácido,
característico dos solos do Cerrado, que inviabiliza o plantio de culturas como a soja. É,
portanto, necessário o uso de calcário para tornar os solos agricultáveis. As curvas de nível
solo, via escoamento superficial de água de chuva. Esse escoamento é responsável por
grandes perdas de solo agricultável, provocando assoreamentos nos corpos d’água. Com a
acreditando que a palha poderia conter o escoamento superficial e, portanto, as perdas de solo.
Realmente, a palha “segura” parte do escoamento, mas não torna prescindível a presença de
curvas de nível. A esse respeito, 82% dos sojicultores afirmaram utilizar curvas de nível.
94
Correção do solo
100
80 Curvas de nível
60
Rotação de culturas
40
Reincorporação dos
20 resíduos da safra
anterior
0 Queima dos resíduos
A rotação de culturas era utilizada por 66% dos sojicultores. A safrinha, isto é, o
segundo cultivo que ocorre no mesmo ano agrícola (a segunda safra de milho, por exemplo)
às vezes é confundida com rotação de culturas, no entanto, a rotação não ocorre no mesmo
ano agrícola. Portanto, acredita-se que os entrevistados possam ter se enganado com o termo
produtores como “gradear o solo”, é uma prática corriqueira na agricultura convencional. Ela
consiste na passagem de grade, implemento agrícola que revolve o solo, na fase de preparação
dele para o plantio. Como em Rio Verde a técnica do Plantio Direto é utilizada pela maioria
dos sojicultores, em detrimento da técnica convencional, e tal técnica elimina o uso de grade,
anterior. A queima dos resíduos da cultura era outra prática pouco utilizada pelos sojicultores,
apenas 2% a faziam.
95
As ervas daninhas, insetos e fungos4 eram controlados de forma química por todos
(figura 7). A maioria utilizava tais agrotóxicos de forma preventiva, isto é, antes do
aparecimento das ervas, insetos e fungos, e curativa, quando eles apareciam (tabela 4.17).
Tabela 4.17 – Utilização de agrotóxicos de forma preventiva e curativa pelos sojicultores pesquisados
Agrotóxico Frequência %
Herbicida 29 58
Fungicida 27 54
Inseticida 22 44
comprovado na amostra dessa pesquisa (figura 8). Todos sojicultores afirmaram possuir trator
______________
4
Foram citados os seguintes insetos, ervas daninhas e fungos pelos sojicultores: lagarta, percevejo,
mosca branca, besouros, ferrugem, mofo branco, galhas, mata pasto, erva quente, falsa serralha,
capim, colchão, braquierão, capim, colonião, trapoeraba, carrapicho, fedegoso, apaga fogo, braquiária,
picão preto, erva de touro, custódio, guanchuma, leiteira, folha estreita, capim margoso, vaquinha
verde, picão, corda de viola, quebra joelho, míldio, oídio, traquinose, septória, elasmo, diabrótica.
96
e plantadeira, 86% possuíam colheitadeira, 24% possuíam arado e apenas 2% possuíam pivô
central elétrico. O fato de poucos deles possuírem arado se deve ao pouco ou nenhum uso
desse maquinário, atualmente, no cultivo de soja, uma vez que esse cultivo é amplamente
realizado através das técnicas do PD, que dispensam seu uso. A baixíssima utilização de pivô
pelos entrevistados reflete a situação da soja irrigada em Rio Verde, ela não existe. Esse
cenário se repete em quase todo o estado de Goiás, já que apenas 5 municípios cultivam soja
100
Trator(es)
80
Plantadeira(s)
60
Colheitadeira(s)
40
Arado(s) tração
mecânica
20 Pivô central elétrico
A terceirização de operações do cultivo de soja constitui opção para aqueles que não
dispõem de número suficiente de máquinas para realizá-las. Em Rio Verde, 37% dos
observar que apenas 14% dos sojicultores afirmaram não possuir colheitadeira, no entanto
30% deles terceirizavam toda ou parte da colheita, o que faz essa operação ser a mais
terceirizada no município. Isso indica que o número de colheitadeiras que alguns sojicultores
possuíam não era suficiente para colher toda a safra. Muito provavelmente esse déficit no
número de colheitadeiras se deve ao alto custo que implica a aquisição dessas máquinas. De
acordo com eles, uma média de 82% da colheita é terceirizada. O transporte dos grãos
97
colhidos era totalmente terceirizado por 16% dos sojicultores. Enquanto apenas 1 dos
Terra, entre outros. Entre os sojicultores entrevistados, 82% participavam de uma ou mais
(figura 9). Entre os associados, os cooperados eram os que mais participavam da associação:
100 Cooperativa
80 Sindicato
60 Associação de
produtores
40 Clube recreativo
esportivo
Clube Amigos da Terra
20
GAPES
0
Tabela 4.18 – Serviços das associações utilizados pelos sojicultores pesquisados associados
Serviço Freqüência %
Compra de insumos 26 63
continua
98
continuação
Compra de peças 23 56
Venda de grãos 22 54
Assistência técnica 13 32
Armazenagem de grãos 6 15
Contabilidade 6 15
Laboratório 5 12
Informações 5 12
Assessoria jurídica 4 10
Folha de pagamento 3 7
Beneficiamento de grãos 2 5
Cálculo do Imposto Territorial Rural 2 5
A maioria dos sojicultores que participava de uma ou mais associações, isto é 88%,
participava de reuniões nessas associações. Meio ambiente foi apontado como um dos temas
mais discutidos nas reuniões, juntamente com o tema “como e o que plantar”, e antecedido
afirmaram que houve mudança(s) nas suas maneiras de trabalhar/produzir após entrarem na(s)
associação(ões).
99
Nessa pesquisa, a maioria dos sojicultores entrevistados, 86%, teve a percepção de que
a sojicultura pode causar problemas ambientais. Entre esses sojicultores, 63% acreditavam
que a sojicultura poderia causar desmatamento, 60% acreditavam que seria a poluição das
problemas, sendo os mais citados: desmatamento, por 27,42% dos entrevistados, erosão, por
Dentre os problemas ambientais citados pelos sojicultores como sendo gerados pela
sojicultura, e aqueles que estariam presentes na região de Rio Verde, observou-se os que
foram mais percebidos por eles, e buscou-se informações que pudessem verificar suas
município, uma vez que não foram encontrados dados na prefeitura do município e nem
estudos científicos ou de qualquer outra natureza que abordassem a erosão em Rio Verde.
5.1 – Desmatamento
de mapas de uso do solo de Rio Verde de 1975, 1989 e 2005, que possibilitaram a
desmatamento ilegal1 que foram levantadas junto aos órgãos ambientais responsáveis pela
fiscalização no município.
Os mapas de uso do solo (figuras 9, 10 e 11) e as tabelas 5.1 e 5.2 revelam uma
da vegetação.
Tabela 5.1 – Área e porcentagem dos usos do solo em Rio Verde em 1975, 1989 e 2005
Tabela 5.2 – Variações dos usos do solo em Rio Verde em 1975, 1989 e 2005
Em 1975, havia uma grande área desmatada sem utilização pela agropecuária,
ocupando 35% da área total do município, denominada Cerrado aberto. As áreas de Cerrado
classificadas como Cerrado denso / Mata de galeria perfaziam o segundo maior uso do solo
do município, contabilizando 29% da área total. A Mata ciliar se destacava em terceiro lugar,
ocupando 14% da área. Enquanto as atividades agropecuárias tomavam conta de 12% da área
Entre 1975 e 1989, grandes alterações se processaram nos usos do solo de Rio Verde.
A área ocupada pela categoria Cerrado aberto apresentou um grande recuo de cerca de 95%,
Mata de galeria e Mata ciliar também sofreram reduções nas suas áreas: 45,2 e 24,5%
respectivamente. Isso equivale a 1.119,3 e 290,8 km2 a menos em relação a 1975 nas duas
maiores acréscimos de área durante esses 14 anos: 345,47 e 871,84%, respectivamente. O que
105
equivale a dizer que 2.921,5 e 1.534,6 km2 a mais foram incorporados a essas categorias,
ocorreram sobre as reduções de áreas que já estavam desmatadas e também sobre aquelas
onde havia vegetação. Isto é, houve desmatamento no município para que a pecuária e a
agricultura crescessem. Ademais, a área urbana apresentou o terceiro maior incremento entre
as categorias, em 1989 estava 194% maior do que em 1975, e o mapa de 1989 mostra dois
Entre 1989 e 2005, a área desmatada, isto é, o Cerrado aberto, continuou em declínio
perdendo no período 85,52 km2, assim como o Cerrado denso / Mata de galeria que teve
105,9 km2 subtraídos nesse período. Entretanto, a maior redução de área ocorreu na Mata
ciliar, que perdeu 598,09 km2 durante esses 16 anos. Em termos de acréscimo de área, as
atividades agropecuárias tiveram desempenho bem menor do que o registrado entre 1975 e
1989. Agricultura incorporou apenas 19% a mais de área, isto é, 330 km2, enquanto as áreas
de Pastagem sofreram um decréscimo de 2,9%, perdendo 108 km2. Por outro lado, as
Ao examinar os usos do solo de Rio Verde, durante esses 30 anos, isto é, de 1975 a
galeria perdeu quase 50% de área, o equivalente a 1.225 km2 , enquanto Mata ciliar foi
agropecuária. Em 2005 essas áreas estavam reduzidas em 98% da área que ocupavam em
1975, isso equivale a dizer que 2.886 km2 dessas áreas deixaram de existir;
lideraram no ranking dos usos do solo em Rio Verde, em 2005, ocupando quase 44% da área
do município. Agricultura seguiu logo atrás, ocupando cerca de 24%. Portanto, houve, no
655% da Área urbana: de 3,22 km2 ela passou a ocupar 24,31 km2 em 2005.
recentes em relação à época na qual essa pesquisa foi realizada, 2004 e 2005, devido à maior
dificuldade na obtenção de dados mais antigos. Três órgãos ambientais são responsáveis pela
o Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA). Dentre eles, apenas na Agência Ambiental
não foi possível o levantamento dos autos de infração, por eles se encontrarem dispersos e de
difícil localização. Nos outros órgãos, o acesso a essas informações foi rápido, já que elas se
A tabela 5.3 mostra todas as infrações autuadas pelo IBAMA e pelo BPMA nos anos
2004 e 2005. Durante esses anos, os dois órgãos expediram praticamente o mesmo número de
autos de infração: o IBAMA expediu 26, e o BPMA, 23. Entre as 49 infrações, a maioria, 28,
107
Tabela 5.3 – Infrações autuadas pelo IBAMA e BPMA em Rio Verde em 2004 e 2005
continuação
29/08/2005 BPMA Desmatar APP
02/09/2005 BPMA Cortar árvore em APP
23/09/2005 BPMA Destruir/Danificar vegetação de APP
27/09/2005 BPMA Destruir/Danificar vegetação de APP
29/09/2005 BPMA Extrair minério sem autorização
29/09/2005 IBAMA Usar fogo em 1 ha de pastagem sem autorização
06/10/2005 BPMA Extrair minério sem autorização
14/10/2005 IBAMA Extração de árvores em 15 ha sem autorização
20/10/2005 BPMA Extrair minério sem autorização
10/11/2005 IBAMA Utilizar agrotóxico proibido
11/11/2005 IBAMA Destruir APP
12/12/2005 IBAMA Utilizar agrotóxico proibido
27/12/2005 BPMA Destruir vegetação de APP
Fontes: IBAMA E BPMA
6
st. corresponde à abreviação de estéreo ou estere, uma medida de volume para lenha, equivalente a
um metro cúbico.
Esses dados mostram que a pouca vegetação nativa que ainda resta em Rio Verde,
como foi mostrado pelo mapa de uso do solo de 2005, está sendo retirada ilegalmente,
município. Esse desmatamento está sendo ocasionado pela expansão das áreas de agricultura e
É importante observar que o IBAMA possui escritório regional em Rio Verde que
conta com apenas cinco fiscais que, além desse município, “fiscalizam” mais outros 29, e que
fiscais do IBAMA. Gomes (2005) afirma que o baixo número de fiscais e policiais e os parcos
recursos financeiros disponibilizados ao escritório regional do IBAMA não permitem que haja
uma fiscalização ambiental eficiente no município (informação verbal)7. Por isso, pode-se
concluir que se houvesse mais fiscais e recursos financeiros, também haveria mais autuações,
_____________
7
Informação fornecida por Gomes no escritório regional do IBAMA em Rio Verde, em 2005.
109
poluição das águas. De acordo com eles, esse seria um dos problemas ambientais causados
pela sojicultura. Portanto, tal poluição seria causada pelos produtos químicos utilizados no
corpos hídricos, e os produtos químicos que elas utilizam no cultivo de soja. A partir disso, se
principal objeto de estudo de uma dissertação. Como esse não é o caso dessa dissertação, nos
água que abastece o município. Tais análises são realizadas pela empresa estadual de
saneamento, a Saneamento de Goiás S.A. (SANEAGO), que por dispositivo legal é obrigada a
agrotóxicos, etc) na água que é utilizada para abastecimento público. As análises foram
realizadas em água bruta, isto é, na água que ainda não havia sido tratada.
Os resultados dessas análises, realizadas em 2004 e 2005, anos nos quais essa pesquisa
se realizou, indicam que a água para abastecimento em Rio Verde esteve dentro dos valores
máximos permitidos em 90,9% das análises realizadas (anexo E). Por isso, pode-se afirmar
que, pelo menos no período investigado, não houve poluição por resíduos de agrotóxicos na
Claro que a investigação, aqui realizada, sobre a poluição das águas ocasionada pela
sojicultura, foi bastante restrita. E, portanto, não nos permite inferir que as águas superficiais
110
e subterrâneas de Rio Verde não estavam, no período estudado, poluídas por produtos
químicos utilizados no cultivo de soja. Para tanto, investigações mais abrangentes deveriam
5.3 – Intoxicação
entrevistados, apesar de ser um problema de saúde ambiental. Como não foi explicitado nas
perceberam que intoxicação é um dos problemas causados pela sojicultura, problema que
na capital Goiânia que, além de prestar informações ao público, relacionadas aos diversos
As tabelas 5.4 e 5.5 apresentam os casos de intoxicação por agrotóxico de uso agrícola
que foram notificados nos hospitais públicos de Rio Verde e repassados ao CIT-GO, nos anos
2004 e 2005, respectivamente. Todos os casos ocorreram em Rio Verde, exceto um dos casos
de 2004, que apesar de ter sido notificado em Rio Verde ocorreu em Montividiu, município
próximo a Rio Verde. Esse fato mostra que casos ocorridos em Rio Verde podem ter sido
Nas tabelas, consta o nome comercial do agrotóxico que causou a intoxicação, o qual
às vezes não foi identificado, colocando-se no seu lugar o tipo de agrotóxico (por exemplo,
formicida), o ingrediente ativo (organofosforado, por exemplo), ou até mesmo não colocando
nas quais ocorrem intoxicação, a ambiental e a criminosa, entretanto essas não foram
O local onde ocorreu a intoxicação, zona rural (R) ou zona urbana (U), também consta
momento da intoxicação. Por último é informada a evolução de cada caso, que ainda poderia
estar em andamento no momento da consulta das notificações, ter resultado em cura da pessoa
Dentre os 41 casos notificados em Rio Verde, nos anos 2004 e 2005, 17 foram
utilizado em culturas que não predominam no município, tais como: algodão, amendoim,
arroz irrigado, banana, batata, café, cana-de-açúcar, cenoura, fumo, repolho, tomate e trigo10.
Essa informação, aliada ao fato de que 13 dos 17 casos ocorreram na zona urbana, permite
inferir que o Furadan foi utilizado em cultivos domésticos, e não em lavouras comerciais.
O segundo agrotóxico que mais causou intoxicações foi o Roundup, 5 casos. Ele é um
herbicida pouco tóxico utilizado em diversos cultivos: café, citros, maçã, algodão, ameixa,
______________
10
As informações sobre os agrotóxicos foram retiradas do sistema de agrotóxicos fitossanitários
(Agrofit) localizado no sítio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
113
arroz, banana, cacau, cana-de-açúcar, coco, eucalipto, fumo, feijão, mamão, milho, nectarina,
pastagens, pêra, pêssego, pinus, seringueira, soja, trigo e uva. Provavelmente, é bastante
utilizado em Rio Verde devido á presença dos cultivos de soja e milho no município e
além de terem sido notificados poucos casos, a maioria, 3, ocorreu na zona urbana, e 2 foram
tentativas de suicídio.
por 4 casos de intoxicação no período analisado. Todos os casos ocorreram na zona urbana e 3
maçã e foi responsável por 3 tentativas de suicídio que ocorreram na zona urbana. Em relação
aos 5 casos nos quais não houve a identificação do agrotóxico, 4 ocorreram na zona urbana e
diferentes, sendo que 4 deles ocorreram na zona urbana, 3 foram acidentes de trabalho, 2,
alimentos contaminados (2) e os acidentais (7), os quais não implicam no uso de equipamento
sua utilização, e em 6 deles o intoxicado não o estava utilizando. A utilização de EPI nessa
circunstância ocorreu em apenas 1 caso. Também não se informou sobre a utilização de EPI
nos 2 casos ocupacionais, ambos ocorridos no meio rural. Entre os 41 casos de intoxicação,
todos evoluíram para a cura, exceto 3 que evoluíram para óbito e 2 que ainda estavam em
andamento.
Diante desses casos de intoxicação por agrotóxico de uso agrícola, em Rio Verde, nos
anos 2004 e 2005, chamam a atenção: o alto número de notificações de casos que ocorreram
na zona urbana, 31, em relação aos ocorridos na zona rural, 10; e a predominância de casos
114
originados por acidente de trabalho, 15, e por tentativa de suicídio, 13. O maior número de
notificações de casos de intoxicação por agrotóxico de uso agrícola ocorridos na zona urbana,
urbana, o que facilita bastante o acesso dos moradores dessa zona ao atendimento médico.
Infelizmente, não se pôde avaliar precisamente a utilização de EPI, já que na maioria dos
casos nos quais seu uso era necessário não se informou sobre sua utilização. Mas,
provavelmente, o EPI não estava sendo utilizado no momento da intoxicação, já que o mesmo
Verde não eram totalmente notificados, isto é, haveria subnotificação. Isso ocorreria porque
no município não havia um especialista em toxicologia, o que, de acordo com ela, resultaria
citou o município vizinho a Rio Verde, Jataí, que também possuía grandes áreas destinadas à
agropecuária, no qual havia um toxicologista e que por isso sempre apresentava um número
Nos anos 2004 e 2005, foram notificados nos hospitais públicos de Jataí, 83 casos de
intoxicações por agrotóxico de uso agrícola realizadas em Rio Verde no mesmo período. Se
levarmos em conta que Rio Verde possui uma população total e rural maior que a de Jataí
(116.552 e 10.473 contra 75.451 e 6.630) poderíamos imaginar que, talvez, o número de casos
de intoxicação por agrotóxico em Rio Verde fosse superior ao de Jataí, ou no mínimo igual,
mas dificilmente inferior. Exceto se houvesse a ampla utilização de EPIs pelos trabalhadores
_____________
11
Informação fornecida por Dávila no Centro de Informações Toxicológicas de Goiás, em 2006.
115
Baseado no fato de que os sojicultores entrevistados afirmaram que o EPI era utilizado
na aplicação de agrotóxicos, poder-se-ia imaginar que talvez esse fosse o quadro geral no
município. No entanto, tal constatação para ser precisa deveria ser realizada in loco, isto é, nas
obtenção de um quadro real das intoxicações por agrotóxico de uso agrícola no município.
Dois agravantes contribuem para a subnotificação: a baixa procura por médicos por parte das
agropecuária. Nazário e Bitencourt (2003), por exemplo, constataram que as matas ciliares de
que vem ocorrendo no estado de Goiás (GALINKIN, 2003), e no Cerrado (MACHADO et al.,
2004). Essa redução é reflexo das políticas ambientais federais e estaduais que priorizam um
crescimento econômico que não gera desenvolvimento, pois se baseia na depleção de recursos
Considerações finais
maioria dos sojicultores era goiana; citadina, apesar de possuir propriedade na zona rural;
experiente na atividade, já que cultivava soja há mais de 5 anos; e exercia outra atividade
antes da sojicultura. As propriedades nas quais a maioria cultivava soja eram suas e possuíam
grandes áreas. No momento em que essa pesquisa se realizou, a maioria se revelou insatisfeita
com o rendimento financeiro da soja, devido à crise pela qual passava o setor.
ambientais positivas, mas que em certos momentos eram contraditas. Eles percebiam que a
sojicultura poderia causar problemas ambientais, quais seriam esses problemas, assim como
A ausência de problemas ambientais, relatada por eles, nas suas propriedades, condizia
com o fato de eles terem afirmado que se preocupavam com o ambiente ao cultivarem soja.
Contudo, o temor à contradição e a uma possível censura por parte do entrevistador podem ter
escondido a verdade, já que eles percebiam os problemas ambientais causados por sua
atividade. Também foi notada contradição entre a percepção e a prática na questão da mata
afirmaram possuir ambas em suas propriedades, entretanto, nas propriedades da maioria deles
não havia o mínimo de área de mata exigido por lei em forma de reserva legal.
Algo que poderia ter contribuído para o descumprimento da legislação seria o fato de
que poucas propriedades foram fiscalizadas por órgãos ambientais, como afirmou a minoria
117
município.
maioria constitui elementos do meio ambiente, porém o ser humano nunca foi citado. Isso
indica uma percepção do ambiente na qual o homem não está incluído nele. A respeito do
plantio de soja transgênica, a maioria dos sojicultores se mostrou a favor e possuía uma
percepção de que ele seria vantajoso economicamente. Isso indicava que a escolha de um
aspecto da produção, nesse caso a soja transgênica, se pautaria mais na percepção de seus
benefícios econômicos, do que nas possíveis implicações ambientais que ele poderia causar.
As práticas adotadas pelos sojicultores apontaram que, de uma forma geral, eles
cultivavam soja de maneira análoga à maioria dos sojicultores do Cerrado. Isto é, em grandes
e agrotóxicos) e, tal como ocorre em geral no estado de Goiás, suas lavouras de soja não eram
irrigadas.
recebimento dessas embalagens em Rio Verde, uma prática que minimiza os impactos desses
produtos no ambiente e na saúde das pessoas. Todos entrevistados também afirmaram que os
funcionários que trabalham nas suas lavouras de soja utilizavam equipamento de proteção
Além disso, observou-se a ampla utilização das técnicas de plantio direto entre os
entrevistados, algo que vem sendo observado na sojicultura do país. Sua larga utilização se
deve a dois fatores: sua capacidade de mitigar impactos da agricultura no ambiente, como a
erosão; e a redução dos seus custos ao longo do tempo de sua adoção. Por outro lado, os
problemas ambientais gerados pelo uso de agrotóxicos permanecem, na medida que prevê
ambiental que a sojicultura poderia causar, assim como de que ele era um dos problemas
citados que, segundo os sojicultores, se encontrariam no município foram: poluição das águas,
erosão e intoxicação.
2005, havia vegetação de Cerrado em apenas 18,5% da área do município, um número muito
localizassem fora das propriedades, o que certamente não era o caso. Além disso, as infrações
autuadas por dois órgãos de fiscalização ambiental constataram que os desmatamentos, nesses
casos, ilegais, eram uma prática corriqueira nos anos investigados nessa pesquisa, isto é 2004
e 2005.
No entanto, mesmo que desmatamento tenha sido o problema ambiental municipal mais
apontado pelos sojicultores como presente no município, e causado pela sojicultura, não se
soja. Tal fato pode ter ocorrido, assim como a implantação de pastagens pode ter ocupado
áreas de vegetação nativa, e as lavouras de soja, por sua vez, terem substituído áreas de
pastagem.
O que pôde ser concluído a respeito desse problema ambiental foi o evidente
devido à falta de recursos humanos. Como resultado, houve contínua retirada de vegetação e,
maiores que o permitido na água destinada ao abastecimento público, estudos a esse respeito
deveriam ser realizados nas águas superficiais e subterrâneas, assim como também nos solos
de Rio Verde. Pois a grande quantidade de agrotóxicos demandada pelas extensas áreas sob
lavouras de soja impõe riscos de contaminação aos solos e aos corpos hídricos do município.
pelas atividades agropecuárias no município, como a erosão, que não pôde ser verificada
pelo poder público que proporcionem melhor registro dos casos de intoxicação por
agrotóxicos de uso agrícola. Houve indícios de subnotificação dos casos aliada à ausência de
Também conhecem a obrigatória utilização de EPIs pelos seus funcionários. Entretanto, suas
propriedades não possuem o mínimo de vegetação exigida por lei, e ainda há a perpetuação de
um modelo agrícola que causa impactos ao ambiente. Mesmo sendo apregoado como sendo
um conjunto de técnicas que mitiga esses impactos, o plantio direto não pode ser considerado
ambientais do que o plantio convencional. Sua larga adoção advém dessas características,
120
possivelmente com mais ênfase no aspecto econômico. O mesmo pôde ser constatado nas
intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola. Medidas que revertam esse quadro devem ser
priorizadas, por exemplo, através de incentivos aos agricultores que respeitam as leis
produtores rurais em associações, como foi constatado no caso dos sojicultores entrevistados,
constitui importante fator que poderia mudar a percepção ambiental e as práticas agrícolas de
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128
ANEXOS
129
I - IDENTIFICAÇÃO DO SOJICULTOR
1- Sexo:
()M ( )F
2 – Idade: ______
4 – Grau de instrução:
( ) alfabetizado
( ) ensino fundamental incompleto
( ) ensino fundamental
( ) ensino médio incompleto
( ) ensino médio
( ) ensino superior incompleto
( ) ensino superior
5 – Utiliza Internet?
( ) Sim ( ) Não
6 – Origem:
( ) rural ( ) urbana
II – MIGRAÇÃO
9 – Para quem não é de Rio Verde: Qual motivo o(a) levou a migrar?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
14 – Está satisfeito com o rendimento financeiro obtido com a soja? Pretende ampliar a área
de cultivo?
___________________________________________________________________________
IV – MEIO AMBIENTE
25 – O(A) senhor(a) acha que de acordo com a lei é obrigatório ter reserva na propriedade?
( ) Sim ( ) Não ( ) NS / NL
26 – Possui reserva?
( ) Sim ( ) Não
29 – Sua propriedade:
( ) comprou com reserva ( ) destinou área para reserva após aquisição
30 – Sua reserva é:
( ) nativa
( ) plantada
( ) recuperada
V – PRODUÇÃO AGRÍCOLA
44 – Como se dá o contato?
( ) dias de campo
( ) campos de demonstração
( ) visita técnica
( ) outros _________________________________
49 – Tipo de plantio:
( ) manual
( ) semi-mecanizado
( ) mecanizado convencional
( ) mecanizado direto
51 – Adubação de plantio:
( ) adubação química
( ) adubação verde
( ) adubação orgânica
54 – Uso de defensivos e freqüência de uso (preventivo e/ou quando aparecem ervas, insetos,
fungos, etc):
( ) herbicidas ______________
( ) fungicidas ______________
( ) inseticidas______________
( ) outros________________
55 – Maquinário:
( ) trator(es)
( ) arado(s) tração mecânica
( ) plantadeira(s)
( ) colheitadeira(s)
( ) irrigação – pivô central elétrico
( ) irrigação – pivô central e motor diesel
( ) irrigação - aspersão
( ) irrigação – auto-propelido
( ) outros: ___________________
56 – Tipo de colheita:
( ) manual
( ) semi-mecanizada
( ) mecanizada
VI – ASSOCIATIVISMO
DIRETORIA DE PRODUÇÃO
SUPERINT. MANUT. DESENV. OPERACIONAL E CONTROLE AMBIENTAL
GERÊNCIA DE CONTROLE DA QUALIDADE DO PRODUTO
** Valores estabelecidos pela Portaria 1.469, de 29/12/2000 e Portaria nº 518, de 24/03/2004, do Ministério da
Saúde. Resultados expressos em Percentual de I.A.E. - Inibição da Atividade Enzimática, por litro de resíduos de
pesticidas nas amostras. V.M.P. = 20.
- ND = Não Detectado.
Goiânia, 22 de dezembro de 2005.