Ei, Deus! - Frank Foglio
Ei, Deus! - Frank Foglio
Ei, Deus! - Frank Foglio
Ei, Deus!
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Frank Foglio
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ISBN 85-7367-151-3
Categoria: Testemunho
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NOTA DA EDITORA
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DEDICATÓRIA
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“ João respondeu... Eu na verdade vos batizo com água, mas
vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno
de desatar-lhe as correias das sandálias; ele vos batizará com o
Espírito Santo e com fogo.”
Lucas 3:16
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Índice
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Batismo com o
Espírito Santo
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CAPÍTULO 1
Batismo com o Espírito Santo
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sonhamos ser possível possuir. Estou certo disto.
Tenho visto esse poder demonstrado na minha vida,
primeiramente quando tinha doze anos de idade.
Nós morávamos a oeste das colinas de Pensilvânia,
na comunidade, razoavelmente grande, de
Burgettstown, até à idade de nove anos. Meus irmãos
José, Costy, Cármen, Jorge e Antônio e eu nascemos lá,
assim como duas irmãs, Doly e Jessy. Um dia, em 1925,
papai voltou à casa, de onde trabalhava, na ferrovia
Pensilvânia, e contou à mamãe que íamos mudar.
Mamãe começou a chorar e a fazer um
estardalhaço porque, para ela, mudança significava
deixar todos os seus vizinhos italianos, católicos
romanos. Papai geralmente chamava-a por “mama”,
salvo quando ele se tornava sério; então ele a chamava
de Angelina. Seu nome de solteira era Angelina Crede
Dio. Crede Dio quer dizer “creio em Deus”. Mamãe
acreditava em Deus de acordo com os ensinos católicos
romanos, e ela não queria deixar uma vizinhança de
italianos de crença semelhante. Ela usava este
argumento para demonstrar ao papai que desejava ficar
em Burgettstown. Mas James Foglio, chamado também
“Pequeno Jim” pelos companheiros de trabalho,
tornou-se inflexível.
- Angelina - disse ele -, por muitos meses alguma
coisa está me dizendo que devo ir para o interior. Não
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entendo o que seja. O que sei é que temos de mudar.
Arrendei uma chácara por 10 dólares mensais, e dista
daqui oito quilômetros. Fica no distrito de Raccoon
School.
Essa era uma conversa muito longa para o papai
que não sabia ler nem escrever. Mas ele podia fazer um
bom negócio. Ele alugara uma chácara com uma casa
bem grande, celeiros, uma área enorme carregada de
frutos, grandes canteiros de moranguinhos, amora preta
e framboesa. Ele havia persuadido a autoridade
dirigente do distrito a arrendar-lhe a chácara pelo preço
irrisório de uma promessa: conservar a chácara em
perfeita forma e progresso.
Apesar de todas as vantagens que papai enumerou,
mamãe ainda se lamentava em deixar o lugar onde seus
antepassados tinham vivido. Mas papai dizia: Temos de
mudar. E assim foi.
Nós estávamos na chácara por algumas semanas
somente, quando papai interrogou um preto que
passava pelo caminho e convidou-o a jantar conosco.
Ele aceitou, e papai lhe fez uma proposta. Slim Hopper
era o nome do convidado; ele lavraria a terra por um
pagamento mínimo em dinheiro, mas da produção da
terra teria em abundância. Slim Hopper concordou e
logo depois a sua esposa apareceu. Era uma mulher
também de cor, alta bonita e de voz agradável. Seu rosto
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irradiava uma expressão de paz que a tornava diferente
de todas as pessoas que eu já havia encontrado.
Ela concordou em ajudar mamãe a cuidar das
crianças, e também na limpeza da casa, e ainda cozinhar,
se papai lhe permitisse usar uma pequena área de terra,
à sua escolha, a fim de fazer uma horta. Papai
concordou e ela andou por quase toda a propriedade,
parando de vez em quando, para inclinar a cabeça e
depois olhar para o céu. Ao voltar para a casa da
chácara, parou num pedaço de terra, à beira de um
riacho. Ficou com a cabeça inclinada por uns minutos,
depois ergueu os olhos ao céu, disse alguma coisa e
voltou para casa.
- Gostaria daquela pequena área à beira do riacho
disse ela.
- Você está doida, mulher; aquela terra é péssima.
Não cresce nada, nem mato.
- Eu a quero mesmo assim - respondeu a mulher.
Aquela área produziu mais do que qualquer outra
da fazenda relativamente. Papai não podia entender. No
ano seguinte papai lhe disse que desejava aquela área
por uma razão especial, e que a mulher poderia escolher
outra. A senhora Hopper repetiu os mesmos passos da
escolha anterior. A área que havia escolhido produziu
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mais que qualquer outra da chácara. Papai não podia
entender. Nós também não entendíamos.
Nossa família era de doze pessoas no segundo ano
na chácara. Meu irmão Fred e minha irmã Yolanda
nasceram lá, completando assim doze pessoas com
mamãe e papai. Nós éramos uma família católica
romana devota, exceto papai, que era agnóstico. Ele
acreditava somente em si mesmo. Nós cumpríamos
nossa religião com a mente corpo e alma. Era tudo o
que conhecíamos e a conservávamos muito cara ao
nosso coração. Respeitávamos os santos, e
guardávamos os dias consagrados a eles. Nós nos
sentíamos absolutamente garantidos de que estávamos
salvos. Não importava o que acontecesse, nós sabíamos
que ganharíamos o céu por meio da nossa religião.
Éramos sinceros naquilo que críamos, mas
evidentemente isso não era suficiente para Deus. O
plano de Deus para a nossa salvação era diferente
daquele que vivíamos.
Deus nos revelou seu plano em um domingo, de
uma maneira poderosamente tocante. Estávamos em
casa esperando pelo espaguete que cozinhava para o
almoço. Essa é uma hora sensacional na vida de um
italiano a panela no fogo, o espaguete fervendo, e o
molho ótimo. Depois, não é possível adiar em servir a
refeição pela qual a família esteve esperando a manhã
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toda, até o momento de servi-la. Mas os distúrbios
estavam na ordem daquele dia.
Tudo começou com uma batida à porta. Antes que
alguém tivesse a oportunidade de ir atender, ela se abriu
e doze estranhos entraram. Cada um trazia consigo um
livrinho preto. Nós não os conhecíamos, nem eles a
nós, mas se apresentaram com rapidez. Eram os
Montecalvo, outra família italiana como a nossa; a mãe,
o pai e dez filhos. Disseram que tinham sidos batizados
no Espírito Santo, e que Deus os havia guiado para nos
procurar, embora não soubessem nossos nomes.
Haviam andado muitos quilômetros para nos ensinar -
a família Foglio - a Palavra de Deus.
O livrinho que traziam consigo era um exemplar
do Novo Testamento, o livro que nós, como católicos,
éramos proibidos de ler. Nós éramos membros da igreja
de Nossa Senhora de Lourdes, uma maravilhosa igreja
católica Romana. Mas o padre McCashin disse que não
deveríamos ler aquele livrinho preto. Ele nos disse: - Se
vocês quiserem saber qualquer coisa sobre ele, tragam-
no e eu o lerei para vocês, interpretarei e guardá-lo-ei
para vocês!
Que deveríamos fazer? Aqui estávamos nós, presos
numa cilada por esta súbita invasão de nossa casa. Não
havia escapatória. Os rapazes Montecalvo se agarraram
a meus irmãos e a mim. As moças começaram a falar
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com minhas irmãs, e a senhora Montecalvo com minha
mãe. Ninguém se pôs em contato com papai, que era
de baixa estatura e um dos homens mais mesquinhos e
avarentos que já conheci. Ele não tinha medo de nada.
Na realidade, medo era uma palavra que não existia no
seu vocabulário. Amaldiçoava a Deus, aos anjos, aos
santos, aos padres pessoalmente, ao papa e ao diabo.
Ele amaldiçoava a todos e a tudo. Quando não havia
ninguém sobre quem lançar o seu veneno, ele o
concentrava sobre a esposa e os filhos. Satanás não o
queria, acho eu, nem o Senhor também. Ele tinha sua
própria religião, a qual era odiar tudo e todos.
Quando aquelas pessoas entraram em nossa casa, a
mente do papai teve um único pensamento: eles
estavam invadindo propriedade alheia. Isso lhe dava o
direito de agarrar a espingarda de cano duplo e fazê-la
funcionar. Ele encaminhou-se para o canto da sala onde
ocultava suas armas, chegou antes de mamãe, que
compreendeu suas intenções, e agarrou a espingarda.
Minha mãe segurou-o assim que ele pegou a arma.
Estes invasores, com a Palavra de Deus, não
tiveram medo de meu pai, de armas, ou de outra coisa
qualquer. Eles o ignoraram como a um cão desdentado
a latir. Papai os amaldiçoou. Ele disse coisas que um
pecador jamais poderia pensar em dizer. Os
Montecalvos simplesmente o ignoraram e continuaram
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contando-nos sobre Jesus e lendo nos seus livrinhos
pretos.
- O senhor precisa nascer de novo - eles disseram
-. O senhor precisa receber o Espírito Santo, e deve ser
batizado por imersão. O senhor recebeu somente uns
chuviscos.
Eles não usaram de meias-medidas. Contaram-nos
de Jesus, da crucificação e do Salvador ressuscitado.
Disseram que Cristo, hoje, está vivo e que Maria é uma
mulher maravilhosa, mas não obscurece Jesus Cristo.
Ela não é maior do que nosso Senhor e Salvador. Deus
usou-a. A concepção santa e imaculada deu à luz Jesus,
o Cristo. Eles queriam por toda a lei convencer-nos do
que pregavam, e eram talentosos e hábeis.
Pela primeira vez na história da família Foglio os
filhos não tinham nada a dizer. Como poderia você
replicar se não tivesse conhecimento do que a outra
família estava falando? Que é Espírito Santo? Nós
tínhamos ouvido falar de espíritos voando ao redor,
envoltos em lençóis brancos. Que é falar outras línguas?
Nós falávamos o italiano e o inglês. Não haveria
necessidade de aprender outra língua qualquer. Que é a
certeza do céu, e o caminho para ele? Nós tínhamos
isso. Não importava o que fizéssemos, uma pequena
penitência e estaríamos no caminho outra vez;
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confessávamos, endireitávamos tudo e na semana
seguinte éramos piores.
Não queríamos nenhuma religião nova. Não
queríamos ouvir nada mais. Mas aquela família era tão
bem versada na Palavra e ungida com o poder do
Espírito Santo de Deus, que nós tínhamos de ouvir.
Havia algo a respeito deles e a maneira como
explicavam e Palavra, que prendia a nossa atenção
como um gigantesco torno que segura uma barra de
aço. Não podíamos argumentar quando não tínhamos
material com que refutar o que estava sendo dito. E
assim, nós simplesmente sentados ali, estávamos como
mudos. Podíamos ouvir, mas não podíamos refutar, à
medida que eles explicavam o plano de salvação
mediante o poder redentor de Jesus Cristo. Eles
estavam tão entusiasmados, tão cheios de fervor por
Jesus, que não podíamos fazer nada, senão permanecer
ansiosos por ouvir mais da Palavra de Deus.
Mamãe foi a primeira e única que conseguiu
animar-se a falar, a defender as crenças religiosas da
família. Com o rosário preso em suas mãos, ela disse: -
Um minuto, por favor -. Ela também era uma mulher
pequena, baixinha. - Somente um minuto! Pare aí! Não
tente derramar essa religião maluca pela nossa goela
abaixo. Não me diga que a nossa religião não é o único
caminho.
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- Não! - eles disseram. Não é! - Bem, não me digam
que estou errada. - Sim! A senhora está errada.
- Minha mãe disse: - Não critique Maria, a Mãe de
Deus.
- Ela não é mãe de Deus.
Estas pessoas estavam empanturradas das coisas
que acreditavam e não se desanimavam em discutir as
crenças de um católico romano devoto. Mas minha mãe
também não cedia.
- Não se esqueçam - disse ela -, vocês falaram de
São Pedro. Ele foi nosso primeiro papa. Não tenham a
ousadia de mencionar o seu nome.
Eu nunca vi mamãe furiosa em toda a minha vida.
Ela era sempre mansa, temerosa, frágil.
Papai batia-lhe uma vez por semana só para
mostrar-lhe que ele era o chefe que estava presente. Mas
agora, repentinamente, ela está defendendo sua família,
defendendo aquilo em que acreditava. Isso é ótimo.
Louvado seja Deus! Vocês e eu vamos ajustar as contas
e é já. Aquilo que nós acreditávamos vai ser provado
ainda que dolorosamente provado. Não desanime. Não
pense que você vai criar asas, fugir e perder tudo isso.
Você vai ver o ponto mais importante, e é melhor que
tenha a sua fé bastante forte para a prova.
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Minha mãe tinha uma fé invencível à medida que a
batalha com os Montecalvos fazia furor em nossa casa.
Ela os acusava de menosprezar os santos, os papas, e as
crenças da igreja católica romana. Os Montecalvos se
mantinham firmes em suas crenças também, e eles
diziam que tinham consigo o Espírito Santo como
poder extra. Finalmente a mãe dos Montecalvo pediu
que todos ficassem em silêncio, e então tomou a
palavra.
- Agora todos vocês escutem - disse ela -. Vou lhes
contar exatamente as coisas da maneira como realmente
são. Primeiro, o ÚNICO caminho para Deus é por
meio de Jesus, seu filho. Segundo, a assim chamada Mãe
de Deus, Maria. Vou contar-lhe alguma coisa sobre ela.
Maria era uma mulher maravilhosa. Deus a usou para
conceber Cristo pelo poder do Espírito Santo. Deixe-
me, agora, ler no Novo Testamento o que aconteceu no
dia de Pentecostes, no cenáculo.
A senhora Montecalvo leu em Atos 2.1-4: “Ao
cumprir-se o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos
no mesmo lugar; de repente veio do céu um som, como
de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde
estavam assentados. E apareceram, distribuídos entre
eles, línguas como de fogo, e pousou uma sobre cada
um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo, e
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passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito
Santo lhes concedia que falassem.”
Ela parou de ler, e antes que alguém tivesse
oportunidade de dizer algo, explicou: - Eles estavam no
Cenáculo quando isto aconteceu. Em Atos 1.13,14 diz:
“Quando ali entraram, subiram para o cenáculo onde se
reuniam Pedro, João, Tiago e André; Filipe, Tomé,
Bartolomeu e Mateus; Tiago, filho de Alfeu, Simão o
Zelote, e Judas, filho de Tiago. Todos estes
perseveravam unânimes em oração, com as mulheres,
estando entre elas Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos
dele.”
Nós nunca tínhamos ouvido nada sobre o
cenáculo. Mas estávamos escutando boquiabertos,
considerando cada palavra como se fosse uma joia
brilhante que não queríamos que fugisse. Enquanto
estávamos quietos, num silêncio espantoso, a senhora
Montecalvo sorriu tão docemente para minha mãe e
disse:
- Estou contente que a senhora mencionou Pedro,
seu primeiro papa. Como vê, pela Palavra de Deus, ele
foi um dos primeiros pentecostais um “barulhento”
como vocês nos chamam. Do mesmo modo Maria, a
mãe de Jesus.
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Enquanto a sua mãe falava conosco, as crianças
Montecalvo mostravam para minhas irmãs e meus
irmãos e eu, o que sua mãe tinha lido no livrinho preto.
Não podíamos negá-lo. Estava exatamente ali, na
Palavra de Deus.
“Oh!” pensei eu. “Maria, a mãe de Deus, ela
também recebeu o batismo no Espírito Santo. Ela, com
certeza, regozijou-se delirantemente no Cenáculo.
Maria! Maria, a quem sempre víamos com o menino
Jesus em seus braços.”
Minha mãe disse: - Maria! Ela, também, é como
vocês? Hum! Que trágico!
Pessoas totalmente estranhas tinham vindo à nossa
casa, estabeleceram uma cabeça de ponte começaram a
dar pancadinhas nos nossos castelos de areia. Com o
amor de Deus e unção divina nas suas vidas, eles nos
desarmaram completamente. Não tínhamos defesa.
Não podíamos nos defender porque não sabíamos
como; não conhecíamos nada daquilo que nos falavam.
Quando terminaram de contar-nos sobre Jesus
Cristo e o plano da salvação, mediante seu poder
redentor, eles empregaram uma estratégia
incomparável.
- Oremos - disseram eles.
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Oremos? Como é possível você esquivar-se? Não
se pode dizer não a uma sugestão de orar se você é
cristão. Eles se ajoelharam. Não havia nada que
pudéssemos fazer senão ajoelhar também. Assim
fizemos. Bem, você acha que fecharíamos os olhos para
orar. Mas... nós não fechamos; queríamos ver o que eles
fariam depois. Como iríamos saber se eles não sairiam
a voar ao redor da sala?
Enquanto oravam, eles faziam um barulho
engraçado, baixinho, como se estivessem cochichando
alguma língua “mumbo-jumbo”. Papai, furioso, andava
de lá para cá, na sala, praguejando, xingando Deus e
todos. E durante aquela prece alguma coisa aconteceu
que tocou meu coração. O velho Montecalvo, que
trouxe todo o bando para a nossa casa, levantou os
olhos aos céus, estendeu os braços e disse: “Oh! Deus,
perdoa-lhe. Oh! Senhor, abre suas mentes e seus
corações. Que o amor de Cristo os faça transbordar.
Senhor Deus, que eles vejam a sua condição de
pecadores, e faze-os conhecer que estão alienados de ti.
Oh! Senhor, nós os amamos. Que eles possam
entender, Senhor.” Lágrimas lhe corriam pela face.
Que compaixão! Que amor! Ele nem ao menos nos
conhecia, e ainda assim chorava por nós. Algo
aconteceu em mim. Como menino de quase doze anos,
senti alguma coisa mudando o íntimo da minha vida.
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Algo havia-me tocado, e senti-me tão bem como se
estivesse pulando um tanque de água fresca num dia de
verão. Senti-me limpo, e totalmente refrescado.
Os Montecalvo terminaram a oração com
“Amém” alto e foram embora, deixando conosco doze
dos seus livrinhos pretos. Mamãe pegou todos os que
podia, girou pela sala e subiu correndo uma escada de
dezessete degraus e bateu a porta atrás dela. Podíamos
ouvi-la no seu quarto. Estava furiosa com Deus. Não
orou. Ela gritava: - Ei, Deus! Olhe! Escute-me. O
Senhor quer dizer que todos estes anos eu estive errada?
Os Foglio estavam em fila na sala, no começo da
escada, e apesar de a porta que dava para a escada estar
fechada, nós podíamos ouvir a sua comoção.
- Deus! O Senhor quer dizer que todos estes anos
tenho conduzido minha família erradamente! Meu
Deus! Ela batia no chão com os seus punhos. - Deus! É
verdade o que eles disseram? Preciso nascer outra vez?
Preciso ser batizada no Espírito Santo? E fazer todo
aquele barulho estranho como aquelas pessoas fizeram
quando estavam orando?
Minha mãe estava certa. Eles realmente fizeram o
barulho mais estranho quando oravam. Eles não
falavam em inglês, não falavam em italiano. Eles
falavam uma outra língua. Nós não a entendíamos.
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Lá naquele quarto mamãe ainda estava falando
com Deus.
- Oh! Deus! Se eu devo receber o Espírito Santo,
eu o quero agora. Eu quero que tu, Deus, me concedas
já, neste momento.
Ela parou de falar. Em seguida parecia haver cem
pessoas lá em cima. Minha mãe tinha tido o seu
cenáculo. Não mais parecia que lá estava uma mulher
pequenina e só. Podíamos ouvi-la fazendo aquele
barulho estranho que continuava.
Eu pensei: "Oh, meu Deus, ela deve ter rasgado
suas roupas e arrancado os cabelos até às raízes. É o que
aconteceu." O barulho que ela estava fazendo, pisando
e batendo no chão, eu estava certo de que podia ser
ouvido pela casa toda.
Não sei por que pensei em ser herói. Pensei que
seria melhor subir e ver o que acontecia com a mamãe.
Agarrei a maçaneta da porta que dava para a escada e
puxei-a; abri um pouquinho. Um forte vento subia a
escada, entrava no quarto da mamãe e voltava para a
escada novamente. Soprou forte e depois, arrancando a
porta da minha mão, ela se fechou batendo. Não havia
nem uma brisa soprando em algum lugar, fora ou
dentro, exceto naquela escada e no quarto da mamãe.
Quando a porta se fechou batendo, as crianças Foglio
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ficaram brancas. Nós sabíamos que alguma coisa
sobrenatural estava acontecendo, e estávamos com
medo. E como estávamos assustados!
Esperamos. Logo ouvimos a mamãe descendo a
escada. Paramos até de respirar. Que é que surgiria
daquela porta? Finalmente ela se abriu e mamãe entrou
na sala. Nós nunca tínhamos visto a mamãe parecer tão
linda. Ao seu redor havia um brilho. Também nunca vi
em toda a minha vida alguém parecer tão tolo. O seu
sorriso chegava até às orelhas e balançava nos seus
calcanhares. Ela se dirigiu ao papai e tentou falar-lhe,
mas tudo o que saía de sua boca era aquele estranho
barulho.
Papai disse: - Ah, ela está maluca; ela está maluca.
Perdemos a nossa Mama. Ela está maluca -. Ele voltou-
lhe as costas.
Mamãe continuou sorrindo, e papai conservava-se
distanciado. Ela não podia falar inglês ou italiano,
somente a esquisita língua "mumbo-jumbo" dos
Montecalvo. Nós, crianças italianas católicas romanas,
a observávamos, todos nós, mortos de medo. Papai não
tomava conhecimento dela e não estava com medo.
Mamãe foi para a cozinha e olhou demoradamente para
o velho fogão a carvão. Os tempos estavam difíceis.
Não podíamos comprar um fogão melhor. Éramos tão
pobres que as pessoas pobres nos chamavam de pobres.
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O fogão estava quentíssimo. A cafeteira, o
espaguete, o molho e a água deveriam estar mais do que
fervidos, mas não estavam. Mamãe ficou a olhar para
tudo, sorrindo e balançando-se nos calcanhares. Eu
imagino que ela deveria ter visto um anjo mexendo o
espaguete. Voltou à sala, sorriu para todos e subiu para
o seu quarto novamente para outra sessão,
provavelmente com centenas de anjos. Depois desceu.
Desta vez nos pregou um sermão.
- É isso aí minha família - disse ela -. Isto é real.
Isto é Deus. E agora vou contar a vocês a respeito de
Jesus.
Toda vez que ela se aproximava de nós, tínhamos
que nos afastar. A maior covarde da família toda,
repentinamente havia-se tornado em comandante
chefe. Podíamos sentir o poder que emanava dela, e a
sua face mantinha ainda aquele radiante brilho.
- Aquelas pessoas estavam certas - disse ela -. Deus
falou comigo e disse-me isso. Todo o nosso modo de
vida deve ser mudado. Eu lhes mostrarei. Guiá-los-ei a
Deus mediante Jesus Cristo Nosso Senhor e Salvador.
Ela arrumou a mesa para o jantar. Tínhamos uma
mesa grande, com capacidade para dezoito pessoas.
Papai a fez com doze tábuas, uma mesa grande para
uma família grande, e nossa porta estava sempre aberta
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para todos, fosse católico ou protestante, branco ou
preto, eram convidados a entrar e comer conosco.
Nós estávamos com muita fome quando mamãe
trouxe a comida para a mesa. Era ao cair da noite e
tínhamos passado a maior parte da tarde escutando
aquela família invasora, e depois as sessões com a
mamãe.
Uma vez sentados à mesa, com a comida posta,
todos se serviram de alguma coisa. Você não pode
perder tempo com tanta criança disputando por causa
de alimento, juntamente com a mamãe e o papai. Mas
nesta noite ninguém se serviu. Começamos a nos servir
quando - Pare aí - mamãe ordenou - . Um momento.
Ninguém toque em nada. Eu vou orar.
Durante meia hora ela orou por nós pecadores.
Depois, quando terminou, ela ficou muito emocionada
e começou com o “mumbo-jumbo”, língua dos
Montecalvo, que durou uns vinte minutos. “- Chal ma
keia mumba kaio”.
“Que é esse barulho todo afinal de contas?” pensei
intrigado. Papai tinha razão. “Ela está maluca.” Era uma
pena, mas alguma coisa realmente aconteceu com ela no
seu cenáculo.
Aquela foi a refeição mais difícil que a família
Foglio já comeu. Mal podíamos engolir a comida. Não
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sabíamos o que mamãe poderia fazer em seguida, e nós
a observávamos em vez de comer.
A hora de dormir naquela noite foi algo que jamais
esquecerei. Meu irmão Jorge e eu dormíamos num
quarto, no segundo pavimento, com nossos irmãos e
irmãs, em quartos que davam para um vestíbulo
circular. Embaixo, mamãe andava sob os nossos
quartos enquanto rezava o rosário, ou lia alto para nós
no livro de orações.
Nós íamos dormir com a sua voz suave, cujo
último som percebíamos todas as noites. Mas esta noite
foi diferente.
Mamãe tinha uma voz retumbante, fora do comum
para uma mulher baixinha, eu achava. Mas a voz tinha
uma ressonância agradável. Ela permaneceu embaixo
do quarto onde Jorge e eu dormíamos.
- Ei, Deus - disse ela - ; o Senhor está vendo Jorge.
Está vendo o Frank. O Senhor vê todos lá em cima.
Nós podíamos sentir o dedo de Deus justamente
no meio de nossas costas.
- Dá a eles o que recebi, Senhor - disse ela.
Ela caminhava para cá e para lá, embaixo de cada
quarto, pedindo a Deus que concedesse a cada um de
seus filhos o que ela havia recebido. Finalmente chegou
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embaixo do quarto onde ela e papai dormiam. Não
disse nada. Por quase um minuto houve completo
silêncio, depois tudo desabou lá em cima, naquele
quarto, sobre sua cabeça.
Papai pegou o sapato e começou a batê-lo no chão.
- Ah, sua maluca, diga alguma coisa. Sei que você está
aí embaixo. Diga alguma coisa. Maluca é o que você é.
A curiosidade me venceu; então desci a escada
como se quisesse pegar um pouco de água. Quando
mamãe ia me mandar voltar, alguém bateu à porta. Era
a senhora Hopper que desejava um pouco de leite.
Mamãe ficou tão feliz pelo seu batismo no Espírito
Santo que teria de contar à senhora Hopper a sua
experiência.
- Louvado seja o Senhor! Eu sei tudo sobre ele -
explicou ela -. Não faço nada sem orar. Deus me guia
até para escolher o pedaço de terra da minha horta. Oro
sobre ele e então a colheita vem abundantemente.
Por que não me disse? - mamãe perguntou. -
Querida, você não aceitaria ou não entenderia. Eu tive
que orar a Deus para que ele mandasse alguém lhe
contar, e ele mandou os Montecalvo, lá de Pensilvânia.
Louvado seja o Senhor!
Mamãe deu um pulo e atirou-se aos braços da
senhora Hopper e se alegraram, dando glória a Deus
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com aleluias. Agora eu entendi porque as hortas da
senhora Hopper produziam mais que as do papai. Mas
haveria mais e maiores surpresas nos dias e semanas
seguintes.
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CAPÍTULO 2
Um Intrépido Testemunho por Cristo
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Quando o trabalho estava completo, ela disse
alguma coisa que realmente nos convenceu de que
estava “maluca”, como papai havia dito. Ela mandou
que tirássemos todos os quadros da parede, e ao redor
da casa, e todos os ídolos, e trouxemos para ela.
- “Que vai fazer, mamãe?”
Ela sorriu e disse no seu inglês nada correto: - Vou
queimá-los todos, lá fora, e fazer uma grande fogueira.
“É esta a maneira de o Pentecostismo invadir uma
casa?" perguntava a mim mesmo. "Destrói nossa fé e
nossas crenças e depois toma todas as nossas armas?
Toma tudo que temos e destrói?” Isso foi o que mamãe
fez. Deixou-nos sem nada. Ela tirou até os colares que
usávamos no pescoço. Levamos tudo para fora e
fizemos uma fogueira, e depois ficamos a olhar as
chamas devorarem todas as nossas queridas possessões.
- Vejam - disse ela -, não são nenhum Deus. Elas
se queimam.
Depois que as últimas labaredas tinham diminuído
até se tornarem cinzas ardentes, mamãe ajuntou a sua
turma e levou para dentro de casa onde novas surpresas
nos esperavam. Todos os bancos, cadeiras, tudo que
servisse para uma pessoa sentar-se nós trouxemos para
a sala e arrumamos em fileiras à maneira de banco de
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uma igreja. Fizemos isso sem perguntar-lhe coisa
alguma.
- Muito bem - disse ela, em pé, fazendo uma
inspeção na sala com um olhar de satisfação - . Agora
todos vocês vão a Burgettstown. Vão às casas de seus
avós e padrinhos e suas famílias.
É bom que você imagine uma grande família
italiana daqueles dias e muitos de seus parentes. Antes
que eu terminasse meu pensamento, mamãe estava
falando outra vez. Diga-lhes que a senhora Foglio vai
dar uma grande festa, hoje à noite, às 19:30h. Todos eles
são convidados.
Era ainda de manhã, com um longo dia pela frente,
e mesmo na minha mocidade, eu sabia que quando você
dizia a um italiano que iria ter uma festa, ele já começava
a jejuar. Pelo menos era assim naqueles dias. Você podia
garantir que não comeriam nem um pouquinho o dia
todo. Meus irmãos, minhas irmãs e eu fomos a
Burgettstown e convidamos setenta e oito pessoas para
a festa.
Fiquei observando mamãe detalhadamente o dia
todo, depois de voltar para casa. Era de admirar que este
pobre menino não tivesse uma úlcera. Eu podia ver que
mamãe não estava cozinhando nada. Que espécie de
festa ela queria dizer? Naqueles dias uma festa italiana
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durava muitos dias. Mamãe não tinha preparado
nenhum ravióli, lasanha, espaguete, ou salame. Nada!
Ela nem sequer tinha providenciado o pão. Que festa?
Eu não podia entender. O relógio deu cinco horas, e
depois seis. Nada ainda indicava que uma festa estava
sendo preparada. Certamente mamãe ia fazer um
milagre e fazê-lo bem depressa.
Sete horas! Os convidados começaram a chegar.
Eles chegaram com seus cachimbos, e charutos e
um grande sorriso de satisfação. Olharam ao redor.
Nada de comidas! Começaram a cheirar o ar
procurando algum aroma de alimento. Eles tinham um
ótimo sentido de olfato. Na verdade, há uma história
entre os italianos que, quando estão numa cidade
estranha à procura de um restaurante, o italiano põe a
cabeça para fora do carro e pode sentir o cheiro de um
restaurante a um quilômetro de distância. Mas não havia
nenhum cheiro de comida em nossa casa.
Eu disse comigo: “Meu Deus, que acontecerá aqui
hoje à noite, quando eles descobrirem que não há festa?
Não sei o que mamãe planejou, mas alguma coisa
poderia acontecer. Eles poderiam maltratar a mamãe e
a nós também. Setenta e oito famintos italianos,
pecadores, e nada é mais perigoso do que um italiano
ímpio quando está faminto. Ora, provavelmente farão
churrasco de nós.”
- 34 -
Então orei: “- Ó meu Deus! É melhor o Senhor
fazer alguma coisa aqui. Ó Maria, Mãe de Deus, ajude-
nos.” Somente mamãe tinha abandonado a fé católica.
Ela havia nos reunido aos convidados na sala. Estavam
sentados em cadeiras, ou bancos e banquetas que
havíamos arrumado em fileiras.
Mamãe entrou na sala. Nunca vi tal coragem em
toda a minha vida. Ela estava sorrindo, e aquele sorriso
ia até às orelhas. Cumprimentava as pessoas inclinando
a cabeça. Ela segurava alguma coisa atrás. Espiei.
Aquele livrinho preto! Aquilo era o máximo para mim.
Eu tomei assento na primeira fila, bem perto da porta,
onde poderia ser o primeiro a fugir. Minhas irmās roíam
as unhas. Estavam tão assustadas!
Mamãe disse: Eu prometi a vocês uma festa, e vão
ter uma festa. Vou contar-lhes a respeito de Jesus.
Eu disse para mim mesmo: “- Senhor Jesus, e
Maria Mãe de Deus, ajudem-nos. Santo Antônio e São
Cristóvão, onde estão?”
Eu nada ouvia, exceto mamãe pregando. Olhei ao
redor, e os setenta e oito italianos estavam paralisados,
boquiabertos e seus olhos maiores do que pires. Notei
um homem. O charuto aceso caiu de sua boca sobre a
perna, queimou a calça e ele nem se moveu. Mamãe
contou-lhes sobre Jesus, sobre a alegria e paz que ela
- 35 -
havia encontrado. Depois começou com aquele
estranho barulho.
Eu disse para mim mesmo: “- Vai entornar o
caldo.” Mas não. Os convidados ficaram brancos como
papel. Não se moviam. Os cachimbos estavam no chão.
Charutos ainda acesos estavam entre os dedos. Quando
mamãe acabou de falar, ela usou a estratégia da família
que nos contou sobre Jesus, Ela disse: - Agora oremos.
Eu pensei: “- Pronto, agora é hora. As cadeiras
voarão. Sairão pelas janelas!” Mas não aconteceu nada
disso.
Todos se ajoelharam e mamãe orou. Ela orou pelos
setenta e oito pecadores, mais os onze não salvos na sua
família. Comecei a ouvir um soluço num canto. Depois
alguém soluçando a meu lado, e outro atrás de mim, e
ao redor todo. Aquelas pessoas estavam chorando.
Quando mamãe disse “- Amém”, eles todos se
levantaram. Não havia um olho entre os setenta e oito
que não tivesse lágrimas.
Mamãe perguntou: - Que tal acharam a festa? Eles
perguntaram: Quando vamos ter outra? Essa foi a
primeira reunião de oração da mamãe. Todas as
semanas foi realizada, durante 39 anos e não houve uma
só pessoa que, assistindo à primeira, não fosse
finalmente salva e cheia do Espírito Santo.
- 36 -
Para todas as ações mamãe tinha a pergunta: “-
Que diz a Palavra?” Quando um problema surgia ela
dizia: “- Um minuto só!” Então folheava as páginas da
Bíblia. "- Ah! Aqui está! Ouça o que diz a Palavra de
Deus." Ela começou a administrar a nossa casa, nossas
vidas, de acordo com a Palavra de Deus.
Papai permanecia cada vez pior. Não falava nada.
Ele dormiu no chão durante três meses.
Tinha medo de dormir com a mamãe. Eu vi, uma
vez, quando ele ia bater-lhe. Parou. Ele teve medo de
perder a mão. Não chegava perto dela. Não ousava
tocá-la. Ele até respeitava a ungida de Deus.
Um dia, enquanto lia a Bíblia, mamãe foi inspirada
à missão de visitação, visitando as casas de italianos na
vizinhança, em cidades próximas, para contar às
famílias acerca de Jesus, justamente como a família
Montecalvo testemunhara a nós.
- Vamos, crianças. Vocês vêm comigo. Dois ou três
de nós íamos com ela, de porta em porta, nas
vizinhanças italianas. Imagine só, levando com ela
crianças católicas para testemunhar de Jesus. Na
primeira visitação, caminhamos oito quilômetros, mais
ou menos, para chegar à primeira casa na cidade mais
próxima. A população era 75% católica, e mamãe era
uma mulher pequena, miúda. Mas era ungida com o
- 37 -
poder do Espírito Santo e fazia um trabalho notável,
poderoso.
O padre McCashin olhou pela sua congregação
num domingo de manhã, na primeira missa e viu sete
fileiras de bancos vazios. Ele falou em alta voz: - Que
está acontecendo aqui?. Pela primeira vez os
paroquianos ouviram-no falar em inglês: Onde estão os
Foglio? Onde estão os Sarracino e os Boni?
O bom padre tinha pregado a grandes famílias.
Toda vez que a mãe e o pai eram convertidos, a família
inteira entrava para a igreja, o que significava doze,
treze, quatorze ou quinze filhos. Nós tínhamos uma
nova classe de escola dominical toda vez que uma
família se convertia.
Um dos paroquianos se levantou e disse ao padre:
Os barulhentos estão levando nossas famílias. O padre
não perdeu tempo em estabelecer regras para o contra-
ataque. Ele disse à congregação: Quando essas pessoas
chegarem às suas casas, não lhes deem atenção. Tapem
os ouvidos. Não os deixem entrar; afugentem-nos com
qualquer coisa que tenham à mão. Nem sequer abram a
porta.
Esse foi o tipo de resistência que a mamãe
encontrou no próximo dia quando se dirigia a uma
vizinhança italiana. Ela estava conduzindo a turma,
- 38 -
duas de minhas irmãs estavam com ela, e eu
caminhando devagar, uns dez metros atrás. Mamãe
bateu à porta de uma casa branca, de madeira. Vi a
cortina da janela ser puxada e uma senhora gorda e alta
espiar para fora. Parecia zangada. Logo depois abriu a
porta, e lá estava ela com um balde cheio de água
quente. Pelo vapor que subia dele eu podia imaginar que
a água estava escaldante. De imediato percebi o que
estava na sua mente, porque o semblante do seu rosto
não indicava amor. Mas mamãe tinha um jeito de
desarmar as pessoas. Ela sorria docemente e dizia: "-
Olá!"
- Que deseja?
- Eu quero contar-lhe sobre Jesus.
- Conte-me e conte depressa.
Mamãe contou-lhe sobre Jesus e seu amor.
Contou-lhe a respeito de Deus, o plano da salvação,
como se sentiu, e a alegria que recebeu em conhecer e
amar a Jesus. Aquela mulher pôs o balde no chão antes
que a mamãe falasse a metade, e quando terminou, a
mulher estava chorando e limpando as lágrimas com o
avental.
Mamãe disse: - É melhor você esfregar o chão
antes que a água fique fria -. Ela agarrou a mamãe,
abraçou-a e disse: Sabe? Eu ia atirá-la em você.
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Mamãe sabia disso, mas não teve medo. Ela
possuía a unção do Espírito Santo na sua vida. Depois
dela ter virado aquela cidade de cabeça para baixo,
decidiu ir para outra, Steubenville, Ohio. Naquela
tempo a área italiana em Steubenville era tão má que as
pessoas tinham medo de sair à noite. As pessoas
naquela vizinhança eram tão violentas que até os cães
não andavam pelas ruas depois de escurecer. Mamãe foi
avisada para não ir lá.
- O Senhor me mandou ir e eu irei.
Mamãe, de modo geral, testemunhava numa
vizinhança, começando pela primeira casa no quarteirão
e descendo até ao fim da rua, depois subindo-a do outro
lado. Um dia, quando visitava certo quarteirão, eu não
senti vontade de ir junto.
Minhas duas irmãs, Jessie e Yolanda foram com
ela. Aproximaram-se de uma casa no meio do
quarteirão, e mamãe bateu à porta. Imediatamente a
porta foi aberta, e lá estava um homenzarrão que
deveria pesar mais ou menos uns 120 quilos. - Entrem
- ordenou ele.
Elas entraram e ele bateu a porta e encostou-se
nela. Segurava, em uma das mãos, uma grande faca de
- 40 -
açougueiro. Ele empurrou a faca contra o estômago da
mamãe. Ela podia sentir a ponta da lâmina na sua carne.
- Agora veja se o seu Jesus pode salvá-la, porque eu
vou matá-la e às suas filhas.
O homem tinha feito a ameaça sem saber se
mamãe e minhas irmãs conheciam Jesus. Não houve
tempo para mencionar Jesus antes que a ameaça fosse
feita. Ele deveria estar possuído pelo demônio para
saber isso. Mamãe não sabia, mas nós soubemos mais
tarde que toda a vizinhança tinha pavor dele. Ele tinha
estado a observar mamãe e minhas irmãs através da
janela da sua sala, observando cada movimento que
faziam; estava ansioso à espera do momento em que
elas entrassem em sua casa, para matá-las. Era esse o
seu plano.
Ele pressionava a faca contra o estômago da
mamãe. Minhas irmãs estavam mortas de medo. Mas
mamãe somente sorria, como se a faca não estivesse ali.
- Eu quero lhe contar de Jesus.
- Conte e seja rápida, porque você vai morrer.
Ela falou de Jesus em tão poucas palavras quanto
possível, e quando parou, ele perguntou: - Já acabou?
- Somente mais um favor seu.
- Qual?
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- Antes que o senhor me mate, eu gostaria de orar.
- Está bem, ore, mas seja breve.
Ela ajoelhou e ele manteve a ponta da faca sobre
seu ombro. (Pode você orar em tal situação? Chegará
talvez um dia justamente como esse. Pode você orar
com uma baioneta entre os seus ombros? O dia virá e é
bom que você se prepare para ele.)
“- Ó meu Deus! Tu sabes que ele não sabe o que
faz. Olha para ele, Deus, Tu o amas. Tu deste o teu filho
para morrer por ele. Mesmo que ele fosse o único
homem, Deus, tu ainda darias teu Filho. Senhor,
abençoa-o. Senhor, liberta-o. Senhor, eu o amo. Mesmo
que ele me mate, Senhor, eu ainda o amo.”
A faca tilintou no chão. O homem recuou,
envolveu seus braços ao redor dos tornozelos da
mamãe e não a deixou mover-se.
- Você orou por mim! - exclamou ele -. Fui salvo,
curado e libertado. Curado pelo Espírito Santo e o
poder de Deus. Ele se levantou, agarrou mamãe e
minhas duas irmãs e abraçou-as até quase quebrar-lhes
os ossos. Deus tinha um propósito em salvar aquele
homem: ele tornou-se o guarda-costas da mamãe e do
seu rebanho.
- 42 -
Sempre que vier a esta vizinhança, de hoje em
diante, deixe-me ir com vocês e protegê-las. Deus
continuou dando àquele homem, curado pelo Espirito
Santo, olhos ferozes. Ele podia dar testemunho diante
de um grupo e até chorar, mas seus olhos brilhavam
como dois pedaços de aço em brasa. Todo o ódio dos
anos passados tinham deixado cicatrizes, porém ele
sentia a alegria do Senhor Jesus em seu coração. Mamãe
e minhas irmãs o visitavam em sua casa, e ele pegava o
seu livrinho preto e ia com elas para outras casas. Ele
batia à porta, e quem atendia via esse homenzarrão, ali,
em pé.
- Que deseja?
- Minhas amigas desejam contar-lhes de Jesus, está
bem?
Quem seria capaz de discutir com um homem que
quase enchia a porta?
- Oh, sim. Entrem, por favor.
Muitos escutavam e eram convertidos e batizados
com o Espírito Santo. Iniciaram uma grande reunião de
oração naquela cidade que mais tarde se transformou
em igreja. Testemunho maravilhoso do que pode uma
mulher pequenina fazer pelo seu Senhor e Salvador,
quando ela acredita no seu Deus. Mamãe foi apedrejada
em algumas cidades, mas não se intimidou, visto como
- 43 -
continuou seu trabalho. Sua fé e intrepidez em
testemunhar fazem-me lembrar de Atos 4.29 “Agora,
Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus
servos que anunciem com toda a intrepidez a tua
palavra.”
Jesus disse que “nenhum profeta é bem recebido
na sua própria terra.” Isto foi verdade com a mãe da
família Foglio. A conversão de seu esposo e filhos foi
lenta, vagarosa. Eu fui o primeiro na família a aceitar os
ensinos da mamãe e receber o Espírito Santo. Aquele
batismo foi maravilhoso. Eu não sabia como recebê-lo.
Eu pensava que o Senhor viria na sala comigo, e então
aconteceria a experiência maravilhosa. Ele
simplesmente entraria na sala, poria suas mãos sobre
mim, e eu estaria pleno do Espírito Santo. Por muitas
manhãs eu dizia: “- Este é o dia.” Mas nada acontecia.
Eu acreditava, eu era sincero.
Cada manhã eu dizia comigo mesmo: “- Depressa,
Senhor. Toque-me agora.” Mas Deus não se apressava.
Ele diz: “Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus” (Salmo
46.10), e outra vez: “Não andeis ansiosos de coisa
alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de
Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica, com
ações de graça.” (Filipenses 4.6).
- 44 -
Eu não sabia então, que tais preciosidades de
conselhos estavam na Bíblia, porque eu era novo na
leitura das Sagradas Escrituras. Nem eu entendia que
algumas vezes o Senhor demora em responder às
orações para nosso próprio bem. Ele pode demorar,
porque tem algo melhor esperando por nós, e nós ainda
não estamos preparados para recebê-lo.
Deixei de implorar a Deus que apressasse o meu
batismo. Comecei a dizer: “- Eu sei, Deus que o Senhor
me tocará. Serei cheio do Espírito Santo. Obrigado,
Deus.”
Numa manhã, logo depois que completei doze
anos, eu me ajoelhei, sozinho em meu quarto e disse: “-
Jesus, entra no meu coração e toma conta de minha
vida.”
Aconteceu com a rapidez do relâmpago num céu
de nuvens tempestuosas de verão. Senti a mão de Deus
entre os meus ombros. Uma doce presença como chuva
fininha caindo do alto da minha cabeça até aos meus
pés. Chuvas após chuvas das bênçãos de Deus caíram.
Eu falei outras línguas; estive sob o poder de Deus por
duas semanas. Não podia fugir daquele poder, não
podia desligá-lo. Bastava que alguém dissesse "Jesus" e
eu me sentia inspirado.
- 45 -
Tornei-me sedento pela Palavra. Era melhor que
comer um bom alimento. Levava o Novo Testamento
em meu bolso para as aulas na escola. Durante o
período de estudos, eu punha o livrinho preto entre as
páginas do meu livro grande de geografia que eu punha
em pé sobre a carteira Aqueles livros de geografia eram
tão maciços que qualquer livro comum poderia ser
escondido por eles.
Um dia eu estava lendo o livro de Atos dos
Apóstolos. Estava ótimo e continuei interessado na
leitura. Fiquei tão envolvido que realmente me senti
andando e conversando com aqueles homens de Deus.
Esqueci que estava na escola. Meu ambiente fora
transportado para milhares de quilômetros distante,
para a terra dos primeiros cristãos. Repentinamente
senti a plenitude do Espírito Santo em mim.
“- Ako makei asundra ma heika!” eu gritei. O som
de minha voz quebrou o encantamento; voltei para o
livro de geografia, a carteira, e a sala de aula. A explosão
sacudiu aquela sala de aula. Os estudantes olharam ao
redor, aflitos, querendo saber o que aconteceria em
seguida. O diretor estava atrás de mim. Ele podia ver o
Novo Testamento escondido entre as páginas daquele
livro grande. Ele viu este italianinho lendo a Bíblia e
ouviu o barulho estranho que ele fez.
- 46 -
Todos os meninos, e homens também, naqueles
dias usavam suspensórios. Sem dizer uma palavra, o
diretor se aproximou e com dois dedos agarrou a meu
suspensório na altura das espáduas, puxou o elástico,
esticou-o mais ou menos um metro e soltou. Quando o
suspensório bateu nas minhas costas, eu pulei em
direção ao teto. “- Aleluia!” gritei. Pensei que tivesse
sido transladado. O diretor não disse uma palavra
Ninguém disse nada. Eu tinha assustado a classe e o
professor e tinha sacudido o diretor. Ele saiu da sala.
Ninguém jamais mencionou-me o episódio. Pensei
depois que se o diretor tivesse esticado o suspensório
um pouco mais, eu teria atravessado o teto. Minha
mente estava tão fixa nos apóstolos, que eu tinha
perdido o sentido da realidade terrena; todo o sentido
de alguém, ou alguma coisa ao meu redor.
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CAPÍTULO 3
Um Tanque de Gasolina Vazio
- 48 -
Deus moveu toda a comunidade de Burgettstown
por meio do testemunho de mamãe, e nos estabeleceu
uma igreja. Era um lugar que tinha a unção do Espírito
Santo. Havia reavivamento em todas as reuniões. Nós
pensávamos que ега próprio, e também uma
necessidade. Fundamos a nossa igreja sobre a Palavra
de Deus, e nossas leis secundárias e nossa linha de guias
eram tomadas da Bíblia. Quando os problemas surgiam,
nós perguntávamos: “Que diz a Palavra de Deus?” Nós
achávamos na Bíblia a resposta para todos os
problemas.
Cada família sentava-se na igreja em grupo, os
filhos com os seus pais. Nada de conversa ou
sociabilidade. Nós conservávamos um pouco da
tradição católica conosco: ajoelhávamos, orávamos, e
então sentávamos. Nosso pastor, Louis Montecalvo,
um sapateiro de Washington, Pensilvânia, não recebia
nenhum salário. Era dedicado ao serviço do Salvador e
Rei. Ele vinha de Washington a Burgettstown, de carro,
aproximadamente 58 quilômetros ida e volta todos os
domingos e quartas-feiras, e mais outro dia, que ele
chamava de “dia de visita”, quando visitava as famílias
da igreja.
O pastor Montecalvo era um dos filhos mais
velhos da família Montecalvo, que veio à nossa casa na
fazenda, naquele memorável domingo, à tarde, quando
- 49 -
mamãe foi salva e recebeu o Espírito Santo. Além de
cuidar do seu pastorado, ele viajava de Washington até
às comunidades na Área, recolhia sapatos e todo tipo
de calçados em vários pontos, e levava-os de volta para
a sua sapataria a fim de fazer os consertos necessários.
Aos 200 membros da igreja, o pastor avisava com
uma antecedência de duas semanas o dia de comunhão.
Ele pedia que nos preparássemos para esse dia: “- Se
você disse alguma coisa de alguém, acerte o mal-
entendido ou a ofensa. Se tiver qualquer coisa contra
alguém, por pequenina que seja, acerte tudo. Se tiver
ódio no seu coração, limpe-o.” Ele insistia no preparo
espiritual para a Santa Comunhão. Pedia fidelidade
rigorosa à Palavra de Deus.
Começaram a acontecer coisas duas semanas antes
da Comunhão. Alguns irmãos viajavam muitos
quilômetros para visitar outros contra os quais tinham
ressentimentos. Eles se abraçavam, pediam perdão, e
Deus os abençoava. Mas havia alguns que deixavam até
ao último minuto para consertar os males. Então,
durante os cânticos e os coros de louvor a Deus, no dia
de Comunhão, acontecia de uma irmã se levantar de um
lado da igreja e outra do outro lado e encontrarem-se
no meio da nave. Ali se abraçavam, choravam as suas
faltas e pediam perdão. Qualquer um que não
preenchesse as exigências do perdão, era proibido de
- 50 -
participar da Ceia do Senhor. Eles sentavam-se em seus
bancos, chorando e tentando orar por si e por seus
problemas.
À mesa de Comunhão, nós todos bebíamos do
mesmo cálice. Era de admirar que ninguém nunca
contraiu doença alguma; Deus cuida de tais assuntos à
sua própria maneira. Nós acreditávamos e confiávamos
em Deus, e administrávamos a nossa igreja pela Bíblia.
Deus nos abençoava com um reavivamento constante.
Qualquer um que ficasse enfermo e desejasse sarar, era
curado, Todo aquele que desejava o batismo do
Espírito Santo, recebia-o. Apesar de andarmos em
harmonia com Deus, tanto quanto possível, nossa igreja
sofria perseguições. As pessoas da cidade eram
predominantemente católicas, e não toleravam um
pequeno grupo indo de porta em porta, contando aos
moradores acerca de Jesus.
Os italianos constituíam 75% da população da
cidade, e alguns dos maridos de mau gênio ficaram
furiosos quando as suas esposas foram salvas e ungidas
pelo Espírito Santo, e depois traziam os seus filhos para
a igreja. Muitas mulheres eram surradas e maltratadas,
mas continuavam a frequentar a nossa igreja
pentecostal.
- 51 -
Minha madrinha tornou-se membro e fiel adepta
da nossa igreja, mas seu esposo não tolerava esta
religião dos “barulhentos”. O homem amava-me de
todo o coração. Foi ele quem comprou meu primeiro
par de sapatos, e a primeira calça comprida. Porém, as
coisas mudaram depois que me tornei pentecostal.
Um dia encontrei-me com ele na rua, a caminho
para a igreja. Parou, e com lágrimas nos olhos, disse: -
Eu não sou mais o seu padrinho -. Pôs a mão no bolso,
tirou a sua carteira e dela a minha foto que eu lhe havia
dado quando estava no primeiro ano primário. Pôs a
foto na minha mão dizendo: - Não quero vê-lo nunca
mais.
Ele era um homem alto, 1,80m de altura e pesava
mais ou menos 90kg, uma pessoa rude, um valentão.
Sua esposa não era alta. Toda vez que ela desejava ir à
igreja, ele a espancava. Um domingo muito especial, ela
se preparou para sair.
- Você não vai para aquela igreja - gritou ele.
- Oh, como não, vou sim.
- Está bem! Eu verei isso.
Ele agarrou o Novo Testamento, juntou os poucos
vestidos que ela possuía, e atirou-os no grande fogão
- 52 -
que ficava na sala. Fechou a porta, com violência abriu
a entrada do ar e o fogo começou a arder.
Ela foi para a igreja de chinelos e com um vestido
de algodão. O marido ficou defronte do fogão até que
ele se aquecesse bastante. Então começou o solilóquio:
“- Veremos agora a que espécie de Deus você serve.”
Depois de alguns minutos, ele abriu a tampa do
fogão e olhou para dentro. Repentinamente ele ficou
branco como papel. Os vestidos tinham se queimado,
mas no centro das chamas o Novo Testamento nem
chamuscando estava. Ele deixou cair o atiçador de
ferro, mergulhou as mãos nas chamas, agarrou o Novo
Testamento, tirou-o do fogo, e com as mãos queimadas,
segurou-o, afagando-o contra o peito.
Correu para o barracão de depósito de madeira e
escondeu o Novo Testamento entre as vigas.
Diariamente ele visitava aquele barracão, abria o Novo
Testamento e lia-o. Um domingo ele decidiu entrar
sorrateiramente na igreja enquanto o culto estava sendo
realizado. Entrou pela porta dos fundos, foi ao porão,
onde ficou escutando o desenrolar do culto no
santuário, lá em cima.
Naquele mesmo domingo aconteceu de eu ir ao
porão para levar um recado, e vi meu padrinho
escondendo-se atrás da fornalha. Subi a escada
- 53 -
correndo, de dois em dois degraus, cheguei até ao
púlpito e disse ao pastor: - O irmão Boni, meu
padrinho, está lá embaixo atrás da fornalha.
Louvado seja Deus! O pastor falou em voz baixa
aos santos de Deus que o irmão Boni estava lá embaixo,
e eles então oraram, louvaram a Deus e se exultaram em
altas vozes como nunca tinham feito antes. Oraram
pelo perdão de seus pecados e de sua salvação. Oraram
pela sua redenção. O poder de Deus, em resposta às
orações, começou dando àquele homem horas difíceis.
Não sei como ele conseguiu ficar no porão. Mas, Deus
tinha ainda muito o que fazer com ele. Durante a
semana ele veio a mim e confessou que havia queimado
os vestidos de sua esposa, e tentado queimar o Novo
Testamento, mas aconteceu com o livrinho o que
aconteceu com os três homens na fornalha ardente do
Velho Testamento, no livro de Daniel.
No domingo seguinte, o irmão Boni foi novamente
à igreja. Desta vez entrou pela porta da frente. Ele foi
até ao altar, ajoelhou-se e orou e chorou por uma
salvação completa. Estava salvo e cheio do Espírito
Santo. Deus havia tocado grandemente este homem. É
assim o Deus a quem nós servimos.
O irmão Boni e sua esposa assistiram àquela
primeira reunião que mamãe realizou em nossa casa.
Eles eram um casal dentre os muitos que se iniciaram
- 54 -
no caminho da salvação e o batismo no Espírito Santo
no início daquela reunião de oração. Mamãe continuou
aquelas reuniões todas as semanas, na segunda-feira à
noite. Se você quiser que a sua igreja cresça, se quiser
ser forte, faça reuniões de oração. Elas são a espinha
dorsal da sua igreja, se forem reuniões de oração cujo
centro é Deus.
Numa das reuniões da mamãe, uma família russa
foi salva e cheia do Espírito Santo. O homem tinha
quase dois metros de altura e pesava mais ou menos
110kg. Aceitou a Jesus Cristo, de braços abertos, bem
como os outros membros de sua família. Ele ficou tão
emocionado com a salvação recém-achada, que desejou
que mamãe realizasse uma reunião de oração em sua
casa.
A família vivia numa área de Burgettstown
chamada Dago Hill. Ninguém entendia realmente como
aconteceu a sua mudança para ali, porque eles eram a
única família não italiana na área toda. Eu fui com a
mamãe e seus amigos, e a casa ficou tão cheia que
parecia que teríamos de ficar nas janelas, ou subir até às
vigas do telhado. Testemunhamos, cantamos, louvamos
ao Senhor e oramos. Eram mais ou menos 8 horas da
noite quando todos nós nos ajoelhamos cantando: “- Ó
Senhor, manda o fogo! Manda o fogo! Manda o fogo!”
- 55 -
Todas as janelas estavam abertas e o nosso canto
provavelmente poderia ser ouvido por alguns
quarteirões. Indubitavelmente essa foi a razão por que
a repetição das palavras “- Manda o fogo, ó Senhor,
manda o fogo!” trouxe uma resposta tão rápida, mas
não da autoridade que esperávamos. De repente
ouvimos o carro de bombeiros e as sirenes da polícia na
rua. Num instante o oficial chefe veio rápido até à porta
da frente arrastando uma mangueira em uma das mãos
e carregando um machadinho na outra. O irmão russo
levantou-se e foi até à porta.
- Onde está o fogo? - gritou o oficial.
- Não há fogo aqui. Nós estamos numa reunião de
oração disse o irmão russo.
- Bem, um de seus vizinhos chamou e disse que
vocês estavam gritando “fogo, fogo!”.
- O senhor não pode apagar esse fogo.
O oficial voltou-se para os seus homens e disse: -
Não há fogo algum aqui. É uma reunião de oração.
Muitas situações excepcionais e curas milagrosas
foram experimentadas no ministério de mamãe. Ela
aprendeu a encarar cada situação com a abençoada
certeza de que Deus estava com ela dirigindo-a. Ela
acreditava em Romanos 8.31: “Se Deus é por nós, quem
- 56 -
será contra nós?” e Mateus 17.20: “Se tiverdes fé... Nada
vos será impossível.”
Uma noite sua fé foi severamente testada. Pediram-
lhe para orar por uma mulher da igreja, possuída de
demônio, e que tinha tentado receber o batismo do
Espírito Santo. Ela estava tão cheia de demônios que o
batismo foi impossível. Mamãe decidiu que a situação
deveria ser confrontada. Ela, nosso pastor, e uma
dinâmica mulher de Deus, de Pittsburg, decidiram
fechar-se na igreja a jejuar e orar sobre esta mulher,
possessa de demônio, até que ela fosse libertada. Outra
mulher insistiu em juntar-se ao grupo de oração, mas o
Espírito Santo testemunhou à minha mãe que esta
mulher não deveria tomar parte no exorcismo de
demônios, porque ela ainda não estava pronta para
entrar neste tipo de dom do Espírito Santo. A mulher
insistiu, e o pastor e os outros aquiesceram, levaram-na
a igreja com o grupo e começaram a orar pela irmã
possessa. Quando oravam, a mulher afligida pôs a
cabeça entre os joelhos, enrolou-se como uma bola e
começou a latir como um cão, e espumar pela boca. Os
demônios atacavam-na em todas as direções; eles
tentavam distrair mamãe, o pastor e as duas irmãs.
Havia 200 cadeiras nessa sala especial da igreja, 100
de um lado e 100 de outro, com a nave separando-as.
Todas as cadeiras se moviam de um lado para outro, e
- 57 -
depois voltavam aos seus lugares, onde estavam
inicialmente. Nem uma só cadeira ficou fora do lugar.
O movimento das cadeiras era um plano usado pelos
demônios para distrair a atenção das pessoas, mas
mamãe e seus guerreiros de oração continuavam a
implorar o sangue de Jesus Cristo e buscando a Deus.
Todos puseram as mãos sobre a mulher possessa
que estava no chão, enrolada como uma bola. A irmã
que suplicou para fazer parte do grupo pôs as mãos
sobre a mulher também. Os seus dedos estavam
entrelaçados, e no instante em que ela tocou a
endemoninhada, começou a dizer: - Sai dela! - De
repente, Satanás segurou-a também. Ela não conseguiu
separar as suas mãos uma da outra; gritava e rolava no
chão, e suas mãos continuavam unidas pelos dedos
entrelaçados. Isso me fez lembrar de Atos 19.15:
“Conheço a Jesus e sei quem é Paulo; mas vós, quem
sois?”. Mamãe, a irmã de Pittsburgh e o Pastor tiveram
que voltar a sua atenção para a mulher recentemente
possessa e pôr as suas mãos sobre ela. Oraram e
finalmente ela foi liberta. A fim de ir protegê-la de mais
alguns demônios, mamãe pediu-lhe que saísse, para que
o grupo pudesse dar completa atenção à outra irmã, sem
nenhuma outra interferência dos espíritos demoníacos.
Eles oraram horas e horas pela mulher possessa, e
então, repentinamente, o poder de Deus envolveu a
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sala. A igreja toda começou a vibrar com a santa
presença de Deus. A irmã foi completamente libertada.
Louvado seja Deus pela firmeza, e louvado seja ele pelo
seu povo que ousa acreditar nele!
Mamãe estava sempre testemunhando durante
meus anos de escola. Eu a levava para uma cidade de
manhã cedo, quando estava no ginásio, deixava-a lá para
o seu testemunho. Depois, ao terminar as aulas, à tarde,
eu ia buscá-la de carro e trazia-a para casa. Seus pés e
calcanhares podiam estar doloridos, mas a alegria do
Senhor lhe enchia o coração.
Estávamos frequentando uma pequena igreja em
Weirton, em West Virginia. Grande número de pessoas
estavam sendo salvas e ungidas pelo Espírito Santo. O
Pastor, por motivos não revelados, deixou a área. Nós
tomamos a direção da igreja. Os cultos continuavam
pela noite adentro até 1:30h da madrugada, às vezes.
Numa noite de inverno, saímos do culto à 1:30h da
madrugada. Mamãe e minhas irmãs Jessie e Dolly,
tomaram o carro para Burgettstown, 27,5km distante.
Liguei a chave e pus o pé na partida. O motor nunca
tinha falhado. Liguei as luzes do painel.
- Oh, não! - exclamei. O tanque está vazio! - Não
se preocupe - disse a mamãe -. Você simplesmente vá
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em frente. Ei, Deus, abençoa este carro. O Senhor tem
que fazê-lo nos levar para casa.
Isto era uma prova real de fé. Eu tinha que vê-la.
Um tanque de gasolina vazio! O ponteiro indicador
estava rente ao pino de “vazio”. Para mamãe não fazia
diferença. Seu Deus era a fonte de abastecimento.
- Frank! Tente o motor outra vez.
Pisei na partida. O motor pegou, “tossiu” e se pôs
em movimento. Falhou algumas vezes enquanto se
aquecia, e eu pensei que fosse parar. Mas não parou.
Dirigi oito quilômetros, depois dezesseis, e mamãe
continuava orando: “Ei Deus! Senhor! Faça o carro nos
levar para casa.”
Mamãe punha um pouco mais de ênfase na sua
conversa com Deus se o carro dava um solavanco, ou
falhava, como se o motor fosse parar. Chegamos em
frente de nossa casa e o motor morreu completamente.
Ele simplesmente parou e pegava mais. Nós tínhamos
andado 27,5km com um tanque vazio. Mamãe tinha fé!
Glória a Deus!
Durante aqueles anos de ginásio, na minha escola
eu conheci uma linda moça, Júlia Cujas, que não tinha
recebido o batismo no Espírito Santo. Nem ela nem sua
família assistiam à missa regularmente, apesar de serem
católicos romanos, de ascendência francesa. Apaixonei-
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me por ela loucamente. Ela era uma estudante muito
aplicada, uma das primeiras da classe, mas não
participava de nenhuma atividade extracurricular na
escola. Ela era linda, de aparência saudável, e para mim
a mais maravilhosa pessoa do mundo. Depois de algum
tempo de escola, travamos amizade.
No domingo de Páscoa, de 1942, pedi a Júlia que
viesse à minha casa, conhecer minha família. Ela foi um
sucesso imediato. Mas eu não poderia considerar tudo
um sucesso. Havia mamãe, e ela poderia com muita
doçura e tato saber do relacionamento de alguém com
Jesus Cristo.
- Que igreja você frequenta, Júlia? Você já pediu
para Jesus entrar em seu coração?
Então tudo foi revelado: Júlia era católica romana
que não assistia à missa regularmente. Mas o que era
pior, na opinião da mamãe, era o fato dela não ser salva
e não ter recebido o Espírito Santo. Mamãe não
mencionou o batismo do Espírito Santo para Júlia, e eu
também fiquei contente, porque, não sabendo o
significado, eu teria que explicar-lhe isso mais tarde.
Não queria fazer isso agora, com medo de perdê-la.
Mamãe foi muito bondosa com ela em nossa casa, mas
no dia seguinte descarregou as censuras sobre mim.
Tanto ela como o Pastor achavam que eu não devia me
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associar com moça alguma que não fosse favorável ao
pentecostismo.
Eles podiam ter causado uma impressão mais
profunda sobre os quatro ventos se lançassem suas
objeções sobre eles. Eu estava tão apaixonado por
aquela moça que não atendia aos conselhos de ninguém.
Ela era a escolhida para mim e eu tinha certeza disso.
Não podia ser de outro jeito. Tinha intenção de casar
com ela - e logo - porque o nosso país estava em guerra,
e qualquer dia eu seria convocado para as forças
armadas. Eu queria o nosso casamento antes disso; Júlia
também desejava assim.
Nós nos vimos frequentemente durante os poucos
meses seguintes. Então, no dia 11 de novembro de
1942, eu pedi ao pastor para fazer o nosso casamento,
e ele se recusou. Mamãe opunha-se veementemente ao
nosso casamento. Eu insistia energicamente, e por fim
o nosso pastor consentiu em realizar a cerimônia,
dizendo: - Eu farei o seu casamento sob protesto - . Ele
ajuntou: - Frank, eu somente gostaria que você
conseguisse que ela orasse e recebesse o Espírito Santo.
Eu ainda me sentia temeroso em contar a Júlia a
respeito do batismo do Espírito Santo, com medo de
perdê-la. Às vezes construímos montanhas de medo
que são um pouquinho mais do que papel mascado
quando posto à prova com ácido. Pior ainda, mamãe e
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eu tínhamos fracassado em colocar o problema nas
mãos de Deus. Quão fracos tínhamos sido nós.
Júlia e eu nos casamos, e pouco tempo depois fui
convocado para a guerra. Fui para o quartel, no Forte
Riley, em Kansas. Mandei buscar Júlia. Ficamos, nós
dois, na casa de hóspedes, no acampamento do
exército. Todas as noites Júlia e eu orávamos, cada um
a seu modo.
Uma noite, depois de terminar nossas orações e ir
para a cama, ela disse: - Querido, eu gostaria de orar.
- Mas nós acabamos de orar disse eu. - Querido, eu
tenho que orar. Não posso dizer-lhe por quê, mas eu sei
que devemos orar AGORA!
Descemos da cama. Desta vez ajoelhei-me ao lado
dela e seguramos as mãos. No momento em que nossos
joelhos tocaram o chão, o poder de Deus derramou-se
sobre todo o nosso ser. Júlia estava salva e cheia do
Espírito Santo. Ela começou a falar em línguas. Foi um
acontecimento glorioso. Deus foi maravilhoso. Júlia e
eu estávamos com o mesmo Espírito e tínhamos a
mesma visão.
Não ficamos mais naquele pequeno cômodo, na
casa de hóspedes, no Forte Riley. Transferimo-nos para
um campo de trigo, grande e bonito. Podíamos ver os
grãos dourados das espigas de trigo na ponta das hastes,
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balançando à brisa. As nossas vestes eram lindas e
brancas, e exaltávamos e glorificávamos a nosso
Senhor.
Deus é sempre o doador de boas coisas, se nós
simplesmente acreditamos e, por Ele permitiu que
percebêssemos, por um único momento, quão
pequenino era o cômodo em que vivíamos na casa de
hóspedes, porque tal compreensão deveria ter apagado
o Espírito Santo, Nós nos sentíamos livres para
glorificar o nome de Deus. No dia seguinte eu mal
podia esperar o momento de telefonar para mamãe, e
contar-lhe que Júlia tinha recebido o batismo do
Espírito Santo, Quando, finalmente, consegui a ligação,
eu disse:
- Mamãe, Júlia...
- Sim - disse ela -, Júlia já recebeu o batismo do
Espírito Santo -. Depois eu soube que naquela mesma
noite mamãe tinha estado ajoelhada, em oração, falando
com Deus. “- Ei, meu Deus, concede ao meu filho uma
esposa salva.”
Deus ouviu a sua oração, e enviou seu Santo
Espírito sobre Júlia para convencê-la, naquela noite,
depois que terminamos nossas orações, e fomos
dormir. Júlia foi tão impelida a voltar orar, que não
resistiu ao poder que a guiava. As orações de mamãe
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chegavam a Deus, como sempre acontecia, e Deus
respondia na sua maneira maravilhosa e tão poderosa.
Glória seja dada ao Senhor Deus!
Mamãe tinha preocupação apesar de estar sempre
perto de Deus. Seis dos seus sete filhos estavam nas
forças armadas durante a Segunda Guerra Mundial. Joe,
meu irmão mais velho, não foi aceito para o serviço
militar devido a uma lesão que teve quando criança.
Tony era um paraquedista, membro do Grupo 101 de
transporte aéreo. Ele foi capturado e morto durante a
invasão aliada, na Europa. Costy morreu de ferimentos
em combate. Cármen, lutando com os Aliados, na
Alemanha, servia na Terceira Divisão de Blindados. Ele
foi atingido 10 vezes por metralhadora, foi
hospitalizado na Inglaterra e passou longo tempo em
recuperação.
A guerra foi trágica para mamãe, mas continuava
agradecendo a Deus, agradecendo ao Senhor pelos
filhos que eram salvos. Ela não sentia amargura ou
mágoa, mas agradecia continuamente por todas as
coisas, lembrando a última parte de Jó 1.21: “O Senhor
o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do
Senhor.”
Dei baixa do exército e voltei para Burgettstown,
onde mamãe ainda estava realizando sua reunião de
oração todas as segundas-feiras, à noite. Quase em
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todas as reuniões víamos extraordinários milagres de
como Deus atuava poderosamente em nosso meio.
Pessoas eram salvas, batizadas pelo Espírito Santo, e
curadas. Eu observava milagres que poderiam
assombrar qualquer um, exceto aqueles que realmente
acreditam em Efésios 3.20: “Ora, àquele que é
poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo
quanto pedimos, ou pensamos, conforme o seu poder
que opera em nós.”
Uma noite, a irmã Reed veio à nossa reunião de
oração e anunciou que havia se submetido a alguns
exames, num hospital, cujos exames mostraram-na que
estava com câncer. Os médicos disseram que não havia
esperança de cura. Deus sabia diferentemente. Nós
colocamos as mãos sobre ela e oramos, e o poder de
Deus desceu sobre aquela humilde irmã Reed. Ela
começou a dançar no poder do Espírito Santo e a
glorificar e louvar a Jesus. Algumas semanas mais tarde
ela voltou ao hospital para outro exame. Nenhum sinal
de câncer foi achado. Ela ainda está louvando e
glorificando a Deus. Nas nossas reuniões de oração,
orar para a cura do câncer não era diferente de orar pela
cura de um resfriado comum.
Nós experimentávamos outros milagres, além de
curas. Este caso, em particular, aconteceu depois que
nos mudamos da fazenda para a cidade de
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Burgettstown e exatamente no meio de uma vizinhança
católica. Mamãe continuava com as reuniões de oração.
Ela abria as janelas e você poderia ouvir nosso cântico
quatro quarteirões distantes. Havia uma viela ao longo
de nossa casa, e uma segunda-feira, à noite, enquanto
estávamos em oração, cerca de 36 pessoas vieram
caminhando pela viela, chefiadas pelo seu padre. Não
sei o que planejavam fazer, mas chegaram, ficaram em
pé, do lado de fora da casa, e olhavam, através das
janelas, para dentro da sala, onde estávamos orando. A
sala era próxima a um grande alpendre.
Era uma noite linda e clara. As estrelas cintilavam
em seu leito celestial, e uma lua brilhante iluminava o
céu. Uma noite calma, também, exceto dentro, onde
estávamos orando, exultando e falando em línguas.
Repentinamente um forte e impetuoso vento surgiu
através das árvores e até ao telhado. Segundos depois,
o ribombar de trovão, seguido por uma das piores
tempestades que eu jamais presenciei. Os relâmpagos
brilhavam, riscando o céu, e um trovão estalou e
retumbou pela viela e ao redor de nossa casa.
Não era uma noite para estar fora, espiando, e
nossos visitantes compreenderam isso. Provavelmente
mamãe foi a primeira a compreender a situação. Ela foi
até à porta e convidou os visitantes a entrar. Eles não
esperaram um segundo para um novo convite. Pelo
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menos trinta católicos, possivelmente meia dúzia mais,
encheram o alpendre, e logo estavam de joelhos com
seus rosários. Tivemos o maior grupo na história de
nossa reunião de oração. Muitos dos recém-chegados
tornaram-se nossos amigos, e não somente vinham à
nossa reunião de oração, mas juntaram-se à nossa igreja.
Mais tarde soubemos que eles tinham vindo para nos
perturbar, interromper a reunião. Aquele primeiro
estrépito do trovão fez o padre correr para sua igreja,
deixando os paroquianos tomarem suas próprias
decisões. Verdadeiramente Deus opera de modos
misteriosos as suas maravilhas.
Uma segunda-feira à noite, depois que a família
Foglio tinha mudado para Fontana, Califórnia, mamãe
recebeu uma chamada telefônica da irmã Sarracino, de
Burgettstown. Chorando enquanto falava ao telefone,
ela disse: - Irmã Foglio, estou doente. Sentia-me muito
fraca e fui ao médico. Ele fez alguns exames e achou
que estou com diabete. Disse-me que estou com essa
moléstia há anos, mas eu não sabia. Não há esperança
de cura segundo a opinião dele. Mamãe confortou-a
dizendo-lhe para não se preocupar. Naquela noite, na
reunião de oração, pegamos um lenço limpo, pusemos
as mãos sobre ele, e mamãe orou; “- Ei, Senhor Deus!
Abençoa este lenço. Ó, Deus, unge este lenço. E,
Senhor Deus, quando ela o colocar sobre seu corpo,
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que possa ser curada. Em nome de Jesus Cristo,
Amém!”.
Enviamos este lenço pelo correio para a irmã
Sarracino, e logo depois recebemos outro telefonema.
Ela tinha voltado do médico, naquela hora e teve a feliz
notícia de que os novos exames comprovaram não
haver traço de açúcar no seu sangue. Os médicos não
podiam entender o fato. Ela podia. Nós podíamos.
Glória seja ao Senhor Deus! Que fé notável! “Eu sou o
Senhor que te sara” (Êxodo 15.26).
Mamãe continuou por muitos anos o trabalho
benéfico para o Senhor até ao tempo em que nos
mudamos para Fontana. Somente o céu terá registrado
as almas que ela ganhou. Toda vez que ela ganhava uma
família para o Senhor, aquela ganhava outra, e assim foi
pelos anos todos em que levou a cabo a campanha de
testemunho de porta em porta, em seis cidades. Ela
testemunhava a todos, inclusive papai. Ele, também,
teve a sua vez, e o que aconteceu com ele, e a maneira
como se deu a experiência, foi inteiramente fora do
comum.
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CAPÍTULO 4
Cozinhe o Espaguete
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o buraco e dissesse: “- Encha-o!”, eu tinha de enchê-lo.
Nós todos agíamos do mesmo modo com papai. Ele
nos dava uma ordem, e nós instantaneamente nos
púnhamos a cumpri-la.
Ele nos mantinha ocupados seis dias por semana.
Aos domingos saíamos, andando pela chácara, e nos
sentávamos sob as macieiras. Mas os outros seis dias da
semana, cada um de nós tínhamos certos deveres a
cumprir. Por mais estranho que fosse, papai tinha um
método incomum: psicologia. Ele não sabia ler nem
escrever, mas em alguns assuntos era o homem mais
esperto que já encontrei. Descobri isso mais tarde em
minha vida.
Psicologia! Papai podia ensinar a um psicólogo. Ele
fazia mamãe levantar-se cedo, antes que ele fosse para
o trabalho na rotunda, na estrada de ferro, e distribuía
tarefa do dia para cada um de nós. Quando voltava, à
noite, não perguntava à mamãe: “- Frank fez seu
trabalho?” Não! Ele tinha treinado a mamãe. Ele se
assentava, e ela lia o relatório para ele. Citava todos os
nomes. Se eu não tivesse cuidado das minhas tarefas,
ela deixava para o fim da lista, dizendo: “- Frank foi
brincar com os meninos da vizinhança”.
Você acha que papai reagiria dizendo: “- Ei, você,
garotinho, vem cá?” Não! Ele fazia de conta que não
tinha ouvido o que mamãe disseram, ou pelo menos,
- 71 -
agia como se não tivesse. Mas quando eu chegava perto
dele, olhava-me com olhos que pareciam brasas
ardentes. À mesa ele me olhava com o canto dos olhos.
Papai era o tipo de homem que, quando tínhamos
visitas, não dizia: “- Frank, Jorge! Deixem a sala!”. Ele
nos olhava como um imã poderoso que atrai um pedaço
de ferro. Hoje em dia, para fazer com que as crianças
saiam da sala, você tem que lhes dar uns golpes de judô
ou enxotá-las. E de vez em quando elas ainda voltam
esgueirando-se calmamente. Não há respeito.
Você não enganaria meu pai. Ele olhava para mim
e dizia: “- Não me importo se você é mais alto que eu,
e pesa mais. Enquanto estiver embaixo do meu teto eu
sou o chefe sabe?”. E realmente era. Você não
contrataria, ou ameaçaria. Nós não ousávamos tentar
fazer isso, nem mesmo quando éramos adultos e cada
um de nós era duas vezes a sua altura.
Ele tinha o seu sistema. Quando um filho não
fazia o trabalho, ele deixaria passar um, dois, às vezes
três dias antes de aplicar o castigo. Todo esse tempo ele
não se importaria com o que o filho fizesse. Mas você
estaria numa ansiedade tremenda, suando na
expectativa do que aconteceria. O castigo vinha quando
a gente estivesse com os nervos aniquilados. Então,
numa manhã, bem cedo, você ouviria seus passos
subindo a escada; já saberia o que era. Você ficaria de
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barriga para baixo antes que ele entrasse no quarto. Ele
não falava uma palavra. Ele não diria que você não tinha
feito a sua tarefa.
Uma manhã eu quis me livrar da surra. Troquei de
lugar com o Jorge. Eu deveria ter ficado onde estava.
Ele em Jorge com uma cinta. Ele sabia onde bater.
Durante toda a surra Jorge gritava: “- Papai, papai! Sou
eu, Jorge!
- Não faz diferença! – disse papai – depois de
terminar -. Possa ser que na próxima semana você
cometa erros. Assim você já ganhou a sua surra.
Jorge tomava conta de mim depois disso. Nunca
mais troquei de lugar com ele. Não se podia ganhar de
papai. Ele era o chefe, e fazia com que todos soubessem
disso. Não havia exceções, nem mesmo mamãe. Esse
era o tipo de lar que nós tínhamos, e essa era a maneira
de sermos disciplinados. Uma família! Uma cabeça!
No decorrer dos seus anos papai desenvolveu o
hábito se trazer para casa alguns funcionários da
rotunda, depois do trabalho. A rotunda fica mais ou
menos um distante de casa. Uma tarde, ele chegou do
trabalho com dois maquinistas e dois foguista. Olhou
para mamãe e disse “- Cozinhe espaguete!” – Foi só o
que disse. Ele não perguntou se havia espaguete ou se
tínhamos o bastante para todos. “-Cozinhe espaguete!”.
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Mamãe sabia que seria melhor cozinhá-lo e não fazer
perguntas.
Faltavam a nós modernas comodidades do tempo,
mas nós comíamos bem. Papai nunca perguntou se
onde vinha a comida, quando ela fazia espichar a bolsa
ou quão fraco estava o armário da despensa. Ele gostava
de comer, e geralmente dizia a mamãe o que cozinhar.
Era um homem generosos quanto a alimentação.
Ninguém jamais saiu de casa com fome; na verdade, ele
convidava estranhos para sentar-se a comer, mesmo
Que estivesse de passagem, se ele achasse que estavam
com necessidade de alimento.
Um dia um homem de cor passava por lá, e papai
lhe perguntou, fazendo-o parar: “- Você está com
fome?”. O estranho disse que sim. “- Entre, e venha
comer!”. O homem entrou e papai entregou-lhe um
prato de espaguete. O homem caminhou para fora,
sentou-se no alpendre, e começou a comer. Aquilo fez
subir a pressão sanguínea do papai.
“- Olhe aqui!” – gritou ele, indo depressa para o
alpendre -. Você pensa que é melhor do nós, que não
pode entrar e comer com a gente? Entre e sente
conosco”-. O homem entrou e papai transformou-o –
Slim Hopper – num membro do clube italiano.
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Nós comprávamos espaguete em caixas de 10kg e
guardávamos no armário. Mamãe foi ao armário, nesta
noite especial, que papai tinha trazido quatro pessoas
para o jantar. Ela pegou a caixa de espaguete e olhou
dentro. Havia menos de meio quilo. Não erro o
suficiente. O armazém mais próximo ficava a 8km de
nossa casa. Não tínhamos meio de transporte, exceto o
lombo de uma égua. Não tínhamos telefone,
encanamento interno, nem luz elétrica. Nosso único
sistema de iluminação era o lampião de querosene.
Eu observava mamãe. Ela pegou o espaguete e não
pestanejou quando colocou a caixa sobre a mesa.
Então, ela correu pela sala como um gato assustado, e
voltou com aquele livrinho preto. Pegou o espaguete da
mesa, segurou-o numa mão, acima de sua cabeça, e
levantou o Novo Testamento, no alto, com a outra
mão.
- Ei, meu Deus! – disse – eu preciso dizer, por
favor. Ei, olhe meu Deus! Eu li hoje como o Senhor
alimentou uma multidão com cinco pães e dois peixes.
O Senhor é o mesmo hoje. O Senhor não mudou -. Ela
pediu que Deus abençoasse o espaguete, e então
começou a fazer aquele barulho estranho. Usualmente
isto mandaria o resto da família embora rapidamente de
casa, fingindo fazer algum trabalho. Mas eu fiquei.
Queria ver o que aconteceria.
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Ela pôs o espaguete na mesa e o molho também.
Depois ela foi até o armário, trouxe a maior travessa e
a maior panela que é a colocou-a sobre a mesa. Encheu
a panela com água e levou-a ao fogão de carvão. Por
fim, tudo estava em andamento, um livrinho em uma
mão, na outra mexia a panela, com uma colher de
madeira.
A água começou a ferver. Mamãe pegou o
espaguete, e eu observei quando ela pôs o macarrão
naquela água fervendo. Ele mergulhou na panela
desaparecendo, como se fosse uma gota d’água numa
concha. Mamãe mexeu, e mexeu; quando o espaguete
ficou cozido, começou a prepará-lo. Ela escorreu-o, e
tornou a escorrê-lo. Eu não podia acreditar no que
estava vendo, enquanto mamãe escorria o espaguete.
Pensei; “-Será que ela não vai parar?” Ela encheu a
travessa até transbordar. Não piscou um olho.
Nenhuma surpresa, nenhum chique ou desmaio. Era o
que ela esperava que acontecesse.
- Tu não podes mentir, Deus, Ei, Ei!
Ela chamou a família: doze Foglios, dois
maquinistas, dois foguista, e duas crianças vizinhas.
Dezoito sentaram-se a mesa grande de jantar. Todos
comeram o quanto lhes apeteceu. No dia seguinte os
Foglio comeram a sobra e houve o bastante – tudo de
menos de maio quilo de espaguete. Deus ainda mantém
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sua palavra. Não deixe ninguém dizer-lhe que milagres
não acontecem mais.
Já não é tempo de ficarmos informados? Nós
jejuamos, pedimos a todos que orem, e oramos a
respeito das mesmas coisas dia e noite. Mas nós
entregamos a causa a Deus? Pensei sobre isso. Uma
pequenina mulher e meio quilo de espaguete. Ela usou
o que tinha em sua mão; ergueu-o para Deus. “-Aqui
está Senhor. É tudo o que eu tenho. Abençoe-o! É tudo
teu. Tu és o mesmo Deus que alimentou a multidão
com cinco pães e dois peixes. Tu és o mesmo hoje. Tua
mão falhará nas tuas promessas”.
Sim! Mamãe disse, “É tudo teu. Abençoa-o”, e Ele
abençoou. Ela deixou que Deus tomasse conta e deixou
que Deus o fizesse.
Não suponho que mamãe jamais tenha contado ao
papai como Deus abençoou e multiplicou o espaguete
naquela noite. A situação tinha mudado em nosso lar.
Enquanto no passado mamãe tinha medo do papai,
agora era o inverso. Papai não tinha realmente “medo”
dela. Ele simplesmente não queria correr o risco do que
poderia acontecer-lhe se, errada ou deliberadamente,
atacasse a ungida pelo Espírito Santo. Ele ficava
distante dela. Não falava com ela. Mas seu gênio e sua
mesquinhez pioravam cada dia. Então, um dia, algo
aconteceu.
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Papai estava sentado na cozinha com seu vinho e
o cachimbo. Mamãe não criticava as pessoas que
tinham vícios. ela não olhava para vícios de ninguém..
ela se preocupava mais com suas Almas ela não notava
o cigarro, ou o cachimbo, ou o hálito de álcool.
Somente queria trazer a alma para Jesus, e uma vez que
tal coisa acontecia, tudo viria na linha certa no devido
tempo. ela nunca criticou o papai., ele praguejava
enquanto orávamos e ela simplesmente sorria, e tratava
o com bondade.
Neste dia, em particular, ele estava sentado na
cozinha, um seu cachimbo e vinho, e começou a chorar.
Eu nunca tinha visto papai chorar, em toda a minha
vida. mas agora ele estava chorando como se seu
coração estivesse se despedaçando. De repente ele
deixou o cachimbo e o vinho e foi para a sala, onde
mamãe passava algumas roupas. Os únicos ferros que
haviam em casa eram velhos, em forma de Cunha ele
tem um carro preto, frios, que eram aquecidos no
fogão.
- Mama, eu estou doente.
- Qual o problema? – Ela não levantou os olhos da
tábua de passar roupa.
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- Eu me sinto como se não pertencesse mais a esta
família. Sinto que estou perdido. Estou separado. O que
devo fazer?
Mamãe não disse: “Você é um grande pecador.
Você tem que abandonar os, abandonar seu cachimbo.”
Não! Ela continuou passando e nem lhe deu um olhar.
- Você sabe o que deve fazer. Faça-o!
Papai caiu de joelhos, agarrou-se na tábua para
firmar-se. Mamãe orou. Os dois oraram juntos, e ele
recebeu o batismo do Espírito Santo. Estava salvo.
A aceitação de Jesus Cristo como seu senhor e
Salvador Mudou papai instantaneamente. Que
testemunha de Jesus ele se tornou! Mas, houve provas
e tribulações. Ele era hesitante em contar aos seus
amigos e colegas, na estrada de ferro, que ele tinha sido
salvo e batizado no Espírito Santo.
Ele continuou a agir com aspereza fora de casa,
apesar de ter deixado de praguejar, beber e fumar.
Estava liberto de todos estes hábitos. Era difícil para
seus companheiros da estrada de ferro entenderem por
que papai não participava mais dos seus vícios quando
ele não dava desculpas por tê-los abandonado.
Um dia um dos maquinistas disse para papai:
Jaiminho, minha esposa teve um menino ontem. Ele
ofereceu um charuto ao papai. Papai disse: -Bem, eu
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não fumo mais -. Ele pegou o charuto e pôs no bolso
da camisa. Ocupado com o trabalho, ele logo se
esqueceu do charuto. Mas Satanás não estava disposto
a livrá-lo do anzol assim tão fácil. Ele fez papai lembrar
que tinha um charuto muito caro no bolso. O velho
Satanás sabia onde atacar, e atacava fortemente. Papai
sempre gostou de um bom charuto.
Satanás sugeriu que papai somente tirasse o
charuto do bolso. Ele não precisava fumar. Podia
simplesmente cheirar longamente aquele aroma tão
doce. Papai tirou o charuto do bolso e tentou cheirá-lo,
mas não havia aroma algum. Satã sabia, e disse: “- Você
não pode cheirar nada através do papel. Tire o
invólucro e sinta o aroma desse charuto!” Papai fez o
que Satanás sugeriu e oh, aquele charuto cheirava tão
delicioso, tão tenta. dor. Mais tarde papai disse: - Em
toda a minha vida nunca senti um cheiro tão bom de
charuto como aquele, cheirava como um buquê de
rosas.
Satanás disse: “- Você não precisa acendê-lo. Você
não precisa fumá-lo. Somente pegue a ponta dele e
passe ao redor de sua boca.” Papai estava um
pouquinho relutante. Não desejaria que a tentação o
conduzisse assim tão longe. Mas Satanás convenceu-o
de que não haveria mal algum, nenhum pecado,
somente rolando a ponta do charuto ao redor da sua
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boca. Papai colocou a ponta do charuto na boca e
rolou-a ao redor.
“- Oh, tem o sabor de leite e mel!”, ele disse
baixinho.
Satanás deixou-o então. Papai pôs o charuto
novamente no bolso da camisa e esqueceu tudo até
chegar em casa aquela noite. Depois foi até o celeiro
fazer um pequeno trabalho, e Satanás voltou
novamente, fazendo-o lembrar-se daquele suave e
cheiroso charuto em seu bolso. Ele disse: “- Por que
você simplesmente não rola o charuto ao redor da sua
boca outra vez? Você sabe como é bom o gosto dele.
Não é nada errado, não é pecado. Você não precisa
acendê-lo.”
A tentação estava deslumbrante demais. Papai pôs
o charuto na boca e Satanás deu o golpe final. “- Por
que não o acende? Não precisa tragar. Somente tire uma
fumaças e depois jogue-o fora.”
Outra vez papai seguiu a sugestão de Satanás.
Ele tirou três fumaças e achou que nunca tinha
provado algo melhor em toda a sua vida. “-Oh”, disse
ele baixinho. “- Tem gosto tão bom. É melhor do que
um prato de espaguete.”
No meio do seu êxtase, papai viu uma mão grande,
branca e linda. Veio pelo ar e esbofeteou-o alcançando
- 81 -
o charuto e tudo. A mão bateu-lhe tão forte que o
derrubou contra o lado do celeiro e lhe feriu o lábio.
Papai esmagou o charuto com o calcanhar e correu pra
casa para casa onde caiu aos pés da mamãe. Ele estava
chorando e tremendo. Mamãe perguntou: - Que
aconteceu? Que aconteceu?
- Deus me bateu.
- Ele deve ter tido razão. Que fez você de mal?
- O fiado! Ele me mandou fumar um charuto. Eu
vi uma mão grande. Ela me bateu na boca.
- Você vem que mereceu. Não devia ter fumado.
- Por favor, Mama, ore por mim.
Mamãe pôs as mãos sobre ele. Ela disse: “Ei, Deus!
Abençoa-o muito. Conforta-o, Senhor. Não o deixes
fumar mais. Obrigada, Senhor.
Quando papai começava a contar a respeito de
Jesus, você tinha que escutar. Ele era um homem
poderoso apesar da sua pequena estatura. Ele tomava
pela mão a pessoa a quem desejava dar o seu
testemunho. “- Quero lhe contar sobre Jesus.” Ele
aprendeu isso com mamãe.
Não era fácil puxar a mão quando ele a mantinha
segura, apertada. Você teria que escutar, e depois de
testemunhar, ele endireitava a gravata da pessoa e lhe
- 82 -
mostrava um amável sorriso. Ele viveu firme com o
Senhor, foi sincero até à morte, que ocorreu poucos
anos depois que a família se mudou para Fontana.
O dia em que papai partiu para estar com o Senhor,
nós pensávamos firmemente que não haveria reunião
de oração à noite. Mas entramos na sala, sentamo-nos
nas cadeiras e esperamos. Logo mamãe veio do quarto.
Lágrimas estavam rolando pelas faces, mas enxugou-as
e declarou:
- Filhos, nós temos que ter uma reunião de oração
hoje à noite. O papai não está lá na sala do velório. Ele
está com Jesus.
Tivemos então uma suave e confortante reunião de
oração. Mamãe orou: “- Ei, Deus, abençoa meus filhos.
Consola seus corações. Faze-os compreender que um
dia eles irão ver o papai. Obrigada, meu Deus. Amém!”
Papai me deixou muitas e grandes recordações,
algumas más e outras boas. As melhores foram as dos
últimos anos de sua vida. Acho que eu falava demais
para contentá-lo. Eu falava e ainda sinto alegria em
falar. Mas um dia papai me disse: - Filho, você fala
demais. Depois acrescentou: - Aquele que pensa por
centímetros e fala por quilômetros, deveria receber um
bom chute.
- 83 -
O conselho não pareceu tão importante quando o
papai me deu, mas se eu tivesse seguido aquelas
palavras, elas deveriam ter-me poupado muitos
aborrecimentos alguns anos mais tarde.
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CAPÍTULO 5
Não Faça Nada sem Consultar a Deus
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harmonia com Deus, perder esse contato ao ponto de
compreender que Deus lhe virou as costas? Que ele não
mais permite que exista aquele contato? Pois eu perdi
esse relacionamento.
Deus tinha me abençoado abundantemente com
uma maravilhosa esposa, plena do Espírito Santo, e dois
maravilhosos filhos. Minha posição no departamento
de engenharia da Swift & Cia. proporcionava fundos
para fazer face às necessidades, apesar de vivermos na
base de salário. Tornei-me atormentado com aquela
velha doença dos empregados: trabalho demais e mal
pago. O descontentamento pode bater quando as coisas
correm suavemente. Aquele velho diabo, Satanás,
infiltra-se e faz você acreditar que deveria ser
abençoado mais abundantemente. Insatisfação! Pena de
si próprio! Impaciência! Estas são armas do diabo e eu
as senti.
Alguma coisa me aconteceu quando dei ouvidos ao
diabo. Comecei a pensar que eu poderia prosperar mais
com meu próprio negócio. E tornei-me obcecado com
esta ideia.
Enquanto minha obsessão crescia, desenvolveu-se
algo muito incomum. Clem Marone, sua esposa Mary
Jo, e seus dois filhos mudaram-se para Fontana, e com
eles veio o pai de Clem, o senhor Nick. Clem e sua
família eram católicos romanos. Mas Nick, homem
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cheio do Espírito Santo, desejava associar-se com
outros da mesma fé e experiência. Alguém enviou Nick
para minha mãe, e mamãe falou-lhe a meu respeito.
Nick e Clem visitaram-me um dia, trazendo uma
ideia que mudou a minha vida. Nick tinha uma fórmula
para fazer mortadela. Ele desejava a minha experiência
no processamento de carne, e ofereceu colocar a mim e
a Clem no negócio. Não havia fábrica de mortadela na
área, e desde que Fontana e seus arredores tinham uma
grande população italiana, imediatamente pressenti
estabelecer um grande e próspero negócio. Eu sabia que
meu sonho estava a caminho da realidade quando entrei
no meu lar naquela noite, depois do trabalho, e fiz um
anúncio simples mas enfático.
- Querida - disse para Júlia -. Não vou mais
trabalhar para outro homem pelo resto da vida. Deixei
o emprego agora. Nunca mais usarei estes sapatos.
Tirei os sapatos, calcei meus chinelos, e levei aquele
velho par de sapatos para a garagem. Não queria mais
vê-los. Voltando à sala, eu sentia ter alcançado aquela
alta montanha egoísta coroada com o grande “Eu”.
- Vou trabalhar no meu próprio negócio - disse eu
a Júlia -. Vou ganhar muito dinheiro e vou fazê-lo
depressa, a despeito de qualquer coisa ou de alguém. É
isso mesmo, Júlia. Estou decidido Você me conhece.
- 87 -
Quando começo a fazer algo fico firme nele. Sou uma
pessoa muito decidida.
Júlia não disse: “Você consultou a Deus? Falou
com ele sobre isso?” Ela não disse nada. Ela sabia e
compreendia minha atitude. A maioria das esposas
compreendem seus maridos muito melhor do que os
maridos pensam. Teria sido melhor para mim se Júlia
tivesse me lembrado do sábio conselho do meu pai:
“Aquele que pensa por centímetros e fala por
quilômetros deveria receber um bom chute.”
Não desejo fazer nenhum álibi pelo meu abandono
dos caminhos do Senhor, mas acho que fui influenciado
pelo meu irmão Joe. Ele era um opulento homem de
negócio, em Weirton, em West Virgínia. Ele possuía
uma linda casa, possuía carros caros e grandes. Sua
carteira estava sempre recheada e sabia como conservá-
la assim. Era o epitome de riqueza em suas ações,
vestuário e conduta. Apesar de não conhecer a Jesus
Cristo, ele ia muito bem sem o Senhor.
Eu me tornaria um homem de negócios, rico,
talvez até mais que Joe. Havia somente uma coisa
errada. Eu não estava colocando Deus em meus planos.
Quando você está fora do contato com Deus, pode
facilmente dar lugar a acontecimentos terríveis; e eu
estava indo rapidamente para um deles quando, em
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janeiro de 1955, me associei com os Marones na
empresa de produção de mortadela.
Clem Marone e seu pai, Nick, formaram o negócio
centralizado em mim. Esse foi o primeiro erro.
Nenhum negócio deve depender de um único indivíduo
para sua operação. Mas eu tinha a experiência no
processamento de carne na Swift & Companhia, de
modo que minha palavra era lei. Clem, seu pai e eu
construímos uma fábrica. Nós agimos bem depressa.
Ficamos cada vez mais envolvidos na construção da
fábrica e no equipamento. Problemas começaram a
surgir. Como enfrentá-los? Pela habilidade humana.
Nem uma vez consultei a Deus. Nem mesmo pensei
nisso. Estava ocupado demais.
Não perguntei: “Senhor, é esta a tua vontade!
Deus, devo prosseguir nesta direção?” Eu não busquei
a face de Deus porque tinha medo que ele desse
respostas que eu não desejaria ouvir. Não! Frank Foglio
estava agindo com sua habilidade e inteligência. Ele ia
fazer muito dinheiro e fazê-lo depressa. De manhã eu
já estava com o telefone numa das mãos e a xícara de
café na outra. Muitas e muitas vezes, durante o dia,
Deus deveria ter tentado tocar a porta do coração.
Mamãe, eu sei, estaria orando para que Deus quebrasse
meu orgulho e teimosia. Ela deveria estar dizendo: “- Ei
Deus! Meu filho, Frank! Abençoa-o.”
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Poderia ouvir Deus tentando responder às orações
de mamãe, tentando falar comigo, tentando penetrar no
meu horário tão atarefado. “- Filho! Filho! Ouça-me!”
“Deus estou muito ocupado. Por favor, espere.
Falarei com o Senhor à noite. Deus, honestamente, esta
noite eu falarei com o Senhor.”
A noite vinha, e muitas outras noites, mas Frank
Foglio estava ocupado demais para falar com Deus até
que chegasse a hora de ir para cama. Então eu me
sentiria tão exausto, que cairia no sono ajoelhado, e
minha paciente esposa teria que me acordar e pôr-me
na cama. Eu nunca consegui conversar com o Senhor;
não poderia ter uma audiência com Deus porque estava
sempre exausto demais ou muitíssimo ocupado para
ouvi-lo e conversar com ele.
Nunca pense que você pode fazer com Deus como
você faz com uma torneira de água quente ou fria, abrir
ou fechar quando lhe aprouver. Aprendi isso de uma
maneira bem dura. Logo descobri que Deus não iria
deixar este italianinho tão facilmente. Deus nunca
esquece. Ele faz um plano, e usa meios misteriosos para
realizá-lo. Isto também eu aprendi de uma maneira bem
dolorosa.
Durante aqueles dias difíceis, árduos, eu estava em
constante companheirismo com Clem e seu pai, Nick.
- 90 -
Clem era um indivíduo rude. Tinha sido pugilista e
mantinha três títulos. Durante a nossa associação de
negócios, ele não mostrou nenhum interesse em
Cristianismo ou em aprender a respeito de Jesus. Mas
seu pai era bem diferente.
Nick tinha pouco mais de um metro e meio de
altura e era bem gordo. Não tinha um fio de cabelo na
cabeça e nenhum dente, mas era cheio do Espírito
Santo. Eu não gostava dele. Pode imaginar isso? Meu
sentimento de desagrado tinha raízes num hábito que
ele formou. Ele poderia estar trabalhando na fábrica, e
então, entraria na ponta dos pés. Eu não poderia ouvi-
lo, mas senti-lo. Sabia que ele estava no edifício. De
repente detrás de mim vinha um estrondo: “Aaaa-
eeeee-uuuuu-iaaaa!” Vinha do céu da sua boca! Eu
sentia os pelos das minhas costas eriçarem e sentia
bolhas por todo o corpo.
Você sabia que, se estiver fora do centro da
vontade de Deus você não suportará o louvor dos seus
santos? Eu nunca podia suportá-lo. Todos os dias ele
fazia a pequena caminhada até onde eu estivesse
trabalhando na fábrica, e soltava o seu grito, “aaaaa-eeeee-
uuuuu-iaaa!” Por que teria ele de ficar atrás de mim para
exercitar sua garganta? Ele poderia ter escolhido
qualquer outro lugar na fábrica, qualquer peça do
equipamento. Não! Frank Foglio tinha que ouvir aquilo.
- 91 -
Um dia eu disse a Clem: - Vamos para o escritório
conversar sobre um assunto -. Eu não queria que seu
pai ouvisse o que eu tinha para dizer. - Sabe, Clem. - eu
disse -. Seu pai está idoso. Suponha que algum dia ele
venha andando nesta fábrica; o chão é escorregadio,
poderá escorregar cair e quebrar o pescoço -. Baixinho
eu disse: - Desejaria que tal acontecesse? - Conversa
bem cruel para um homem que uma vez esteve sob o
batismo do Espírito Santo.
Clem olhou-me diretamente nos olhos. - Frank,
você está esquecendo alguma coisa.
- O quê?
- Nós estamos construindo, estamos funcionando
e estamos recebendo nosso salário do dinheiro do
papai.
Eu alcancei o topo da minha sorte no dia 25 de
fevereiro de 1955. Tenho certeza que Deus teria
determinado outra coisa para mim, se eu tivesse
permitido que ele penetrasse nos meus negócios para
conferenciar comigo. Mas eu nem tinha tempo para
minha família. Estava-me tornando um estranho na
minha própria casa. A leitura da Bíblia e as orações
tinham sido também negligenciadas. Meus negócios
eram importantes para mim. Ganhar dinheiro e fazê-lo
rapidamente era o meu alvo.
- 92 -
Agora estava tudo pronto para começar a colheita
daquilo que eu havia semeado tão diligente e
incansavelmente. Fevereiro, 25. No dia seguinte 26, nós
abriríamos a fábrica oficialmente. Hoje estávamos
testando o equipamento para ter certeza de que tudo
estava funcionando em ordem. Que sentimento
maravilhoso quando eu aguardava com prazer aquela
ambiciosa abertura. Estávamos tão entusiasmados. Não
tivemos uma reunião de oração ou um culto de ação de
graças. Não precisávamos agradecer a Deus pelo
empreendimento. Agradecer a Deus pela razão de tudo
ter sido tão lindo. Por quê? Nós mesmos tínhamos feito
tudo.
Começamos a testar o equipamento. Chegamos até
à máquina de moer carne, que poderia moer 50kg de
carne em um minuto. Ela trabalhava perfeitamente.
Depois testamos o moedor. Clem começou a limpá-lo.
- Frank! Venha rápido! Alguma coisa está errada.
Corri para Clem e a máquina de moer. A lâmina
que corta a carne estava faltando. A porca borboleta
estava lá, mas a lâmina tinha sumido. Nem um vestígio
dela em lugar algum. Havia simplesmente desaparecido.
Onde? Onde? Não podíamos entender. Era a única
lâmina que tínhamos. Devíamos ter tido a previdência
de comprar uma lâmina extra para uma emergência.
Mas infelizmente não fizemos isso.
- 93 -
- Teremos que ir a São Bernardino já, e comprar
outra - eu disse, e fomos para casa nos aprontar para a
viagem porque eu não queria tratar de negócios com a
minha roupa de trabalho.
Pouco depois Clem e seu pai estavam em frente à
minha casa, numa caminhonete novinha em folha. A
buzina soou. Eu saí correndo, como sempre fazia
quando estava com pressa. Quando eu estava lá fora,
no pátio, senti que alguma coisa iria acontecer; nunca
me esquecerei daquele momento. Senti um calafrio pelo
corpo, como se alguém tivesse atirado um cobertor
gelado sobre mim. Estremeci por um momento.
Se eu estivesse em paz com Deus, como deveria
estar, eu correria para dentro de casa, abriria minha alma
e perguntaria a Deus qual o significado daquele
repentino calafrio. Que deveria fazer? Eu teria evitado
muita tristeza e sofrimento. Mas, não! Caminhei até à
rua, semelhante a uma peça de máquina, um homem
cuja mente e coração, e todo o ser, estavam dedicados
à promoção, a ganhar dinheiro, muito dinheiro, e
ganhá-lo rapidamente.
Meu filhinho veio correndo para mim e com seus
bracinhos estendidos, pedindo: - Paizinho, me leva? Me
leva com o senhor, paizinho?
- 94 -
Ele era um lindo garotinho, de cabelos
encaracolados, tão encantador. Não podia recusar seu
pedido. Sabia que ele ia gostar de sentar-se no meu colo.
– Me abaixei para pegá-lo. Minhas mãos estavam
debaixo dos seus braços e ia levantá-lo. A voz de Deus
disse: “Não faça isso!”.
“Só um minuto”, eu disse colocando o menino no
chão. Será que foi na minha mente que ouvi aquela voz?
Seria realmente Deus falando comigo? Quando me
abaixei para pegar o garotinho outra vez, ouvi
novamente a voz de Deus Poderoso falando ao meu
coração, e dizendo: “Não faça isso!”.
Olhei para minha esposa, depois para Clem e seu
pai, e pensei que eles tivessem ouvido a voz também.
Foi o bastante. Afastei-me do meu filho e disse: Outra
vez eu levo você, e entrei na caminhonete. Fomos a São
Bernardino e compramos a lâmina para a máquina do
moer carne.
Tencionávamos voltar de São Bernardino pela
mesma rota da ida, mas um grande cano de água havia
se rompido e nós tivemos que desviar para a Avenida
São Bernardino. Deus vê adiante e prepara a cena. Ele
queria desviar este Foglio. Retardar-lhe a marcha para
onde ele teria de ouvir Deus falar e voltar a conversar
com seu Senhor.
- 95 -
Estávamos andando numa velocidade de 100km
por hora, com pressa de voltar para a fábrica. Sempre
com pressa! Numa encruzilhada de Meridian e São
Bernardino, um automóvel colidiu com o nosso
veículo. Não havia sinal para parar em Meridian ou São
Bernardino. O motorista do automóvel não viu o nosso
carro, e Clem, dirigindo a nossa caminhonete não viu o
carro. Este, que desenvolvia uma velocidade de 100km
por hora, bateu contra o meu lado da caminhonete.
Meu corpo comprimiu-se contra o para-brisa. A porta
foi arrancada das suas dobradiças. Eu fui atirado a mais
de 10 metros de distância. Ainda consciente enquanto
voava pelo ar, lembro-me de dizer: “É isso ai.”
Tive outro pensamento também: “Deus é
misericordioso” Meu filhinho estaria sentado no meu
colo se eu o tivesse levado conosco. Ele teria morrido
em meus braços, esmagado.
Tanto Clem como Nick foram atirados para fora
da caminhonete na estrada. Eu permaneci deitado de
costas. Quando recobrei a consciência, estava no
Hospital Kaiser, olhando para as luzes do teto na sala
de operações. Fiquei surpreso de me achar vivo. Eu
pensava ter morrido na encruzilhada quando os
veículos se colidiram.
Comecei a fazer o inventário. Meu braço direito
estava enfaixado, amarrado ao meu corpo. Eu não
- 96 -
podia mover-me. A vista direita estava embaçada, e eu
sentia fortes dores na cabeça e por todo o corpo. Todos
os meus dentes estavam quebrados, e a boca estava
cheia de areia. Meu braço esquerdo estava machucado
e ensanguentado.
É espantoso que eu não chamasse em voz alta por
Júlia, minha esposa, ou Clem, ou Nick. As primeiras
palavras que pronunciei foram: “- Oh! Deus!” Eu sabia
em meu coração que estava fora do centro da vontade
de Deus. Se então Ele tivesse me levado, estaria perdido
para sempre, por toda a eternidade. Mas eu estava vivo.
Comecei a imaginar a respeito do meu sócio e do
seu pai. Que teria acontecido com eles? Logo soube que
Clem tinha tido um ferimento, mas depois de medicado
foi para casa. Mas não consegui saber nada sobre Nick.
O médico e um enfermeiro tiraram-me da mesa de
operação e me colocaram numa cadeira de rodas. Eles
me empurraram pelo corredor com salas em ambos os
lados. O enfermeiro disse: - Todos os quartos estão
ocupados. Não sei onde iremos pô-lo. - De repente ele
parou de empurrar a cadeira de rodas e foi em direção
a uma sala. - Há uma cama ali - disse ele -, depois de
olhar dentro. Colocaram-me na única cama vazia que
havia naquele andar.
- 97 -
Deus sempre prepara a cena. Na cama próxima eu
vi Nick Marone, o pai do meu sócio. Ele estava
escorado, com a cabeça completamente enfaixada. Ali
estava ele, vestindo um roupão de hospital para alguém
muito maior do que ele. Parecia um bebê gordo e
machucado. Estava ali com a boca totalmente aberta.
- Cuido dele? o enfermeiro perguntou ao médico,
acenando com a cabeça em direção a Nick.
- Não - foi a resposta -. Ele não viverá para ver o
dia de amanhã. O agente de funerário cuidará dele.
Imediatamente compreendi que não era meu
desejo que Nick morresse. Comecei a implorar a Deus.
“- Oh, meu Deus! Não, Deus! Não! Não! Tu não podes
deixá-lo morrer, Deus! Tu não podes levá-lo! Não foi
sua a falta. Ela é minha. Eu mereço ser aquele que deve
partir. Eu mereço ser punido. Ó Deus! Por que não o
deixas aqui? Ele te ama!”
Reconheci que Deus não estava me ouvindo pela
primeira vez há anos. Eu tinha andado tão ocupado, tão
mergulhado em negócios, e tão longe do contato com
Deus, que eu não compreendia que Deus tivesse
voltado as suas costas e não estivesse me ouvindo. Ele
não estava interessado no que eu dizia. Ele faria como
lhe aprouvesse. Ele não precisava de mim para lhe dizer
o que fazer.
- 98 -
Agora eu estava decidido a me achegar a Deus. “-
Deus, é porque eu não estava fazendo a tua vontade que
ele está ali deitado, morrendo. Deus, por favor, deixa-o
viver. Eu sei que eu tinha vergonha de falar teu nome
em público, meu Deus. Eu tinha vergonha de ser uma
testemunha tua e testificar. Mas agora não tenho
vergonha, Senhor. Por favor, não o leves ainda embora.
É minha a falta. Por favor, cura-o, Deus.”
O médico e o enfermeiro olharam para mim,
sacudiram a cabeça e saíram do quarto enquanto o
médico dizia: - Ele está delirando -. Eu continuei a orar.
Minhas palavras batiam no teto e voltavam à minha
face. Eu continuava clamando a Deus. Depois da meia-
noite uma forte e brilhante luz cintilou como o clarão
do relâmpago no quarto. Era como se milhares de
lâmpadas estivessem brilhando - cores prismáticas
sobrenaturais. Eu sabia que tínhamos um visitante do
céu. Uma poderosa força entrou na sala, sacudindo a
cama, o quarto todo. Eu não podia me mover; não
podia gritar; mas podia observar tudo.
A mais linda mão estendeu-se entre as duas camas.
Acima da mão havia uma manga branca, ampla,
brilhante. Reconheci a mão do meu Senhor, a mão de
Jesus com o sinal dos cravos, Ouvi a mesma voz que
me disse antes: “Não faça isso!”, tão claramente como
quando tinha falado naquela tarde em que eu ia levar
- 99 -
meu filhinho conosco na caminhonete para São
Bernardino. Agora, aquela voz estava falando comigo
outra vez. - Não temas, porque eu cuidarei dele.
A mão moveu-se, tocou nas faixas da cabeça de
Nick, e apertou-as até que o sangue escorreu pelos
dedos do meu Senhor.
Depois a mão apontou em direção a mim, e eu caí
num profundo sono.
- 100 -
CAPÍTULO 6
Uma Cura Milagrosa
- 101 -
Aquele homem pequenino pulou da cama, bateu os
pés no chão, ambas as mãos erguidas para orar,
gritando: - Graças sejam dadas a Deus, eu estou ótimo!
- Ele dançava pelo quarto, gritando e falando em
línguas. Nós tivemos um reavivamento ali mesmo. E foi
o de Nick. A enfermeira saiu do quarto correndo e
gritando pelo corredor: - Ele está vivo! Ele está vivo!
Ela achou o médico e agarrou-o, levando-o para o
quarto. Eu sabia que ele deveria ter sido agarrado
porque, como eu podia vê-los em frente à porta, ela
tinha dobrado seu braço nas costas e estava tão animada
que não sabia o que estava fazendo.
- Olhe - Olhe! - gritou. - Ele está vivo! - Nick corria
ao redor do quarto, suas mãos erguidas, falando numa
língua celestial.
O médico olhava assombrado. Ele foi o único que
pronunciou a sentença de morte de Nick na noite
anterior. Ficou parado uns minutos, não acreditando no
que estava vendo, à medida que Nick continuava
pulando pelo quarto e fazendo aquele barulho estranho.
- Você, volte já para aquela cama! ordenou o
médico quando recuperou a voz. Nick gritou: - Graças
sejam dadas a Deus! Eu estou ótimo!
- 102 -
- Ei, você! - o médico gritou, tentando fazer-se
ouvido acima do barulho feito por Nick saltando e
pulando pelo quarto e louvando a Deus.
- Ei, você! Volte para aquela cama!
- Oh, não! Não! Estou ótimo. Jesus me curou a
noite passada. Frank está doente. Tome conta dele. Eu
quero ir para casa.
Eu chorava e gritava enquanto Nick permanecia
pulando e saltando pelo quarto e falando línguas
estranhas.
-Faça o favor de voltar para a cama - pediu o
médico.
- Eu volto para a cama sob uma condição -, Nick
respondeu. - Fico fazendo companhia para Frank.
O médico consentiu. Nick saltou para a cama e
começou a pular para cima e para baixo. O médico
aproximou-se dele cautelosamente, como alguém que
se aproxima de uma cascavel. Eu não o censurei. O
médico disse: - Por favor, eu quero examinar seu
coração. Como você poderá escutar o coração de um
homem que está pulando e gritando e louvando a Deus?
O médico queria ter a prova de que Nick estava ainda
vivo. Ou era a rigidez cadavérica que começava a
manifestar-se?
- 103 -
O médico disse: “- Por favor, deixe-me examinar
algo.” Nick ficou silencioso, sentou-se quietamente
quando o médico se aproximou e começou a tirar a
faixa da cabeça de Nick. Ele puxou-as devagar até que
todas fossem removidas, e, à medida que as faixas eram
tiradas, os olhos do médico tornavam-se cada vez
maiores, primeiro por descrença, depois com espanto.
Afastou-se um pouco de Nick, e olhou demoradamente
a cabeça dele.
- É um milagre! - exclamou. Um milagre! Ele estava
para morrer ontem, e agora nem uma cicatriz, Nem um
ponto será preciso. Todos os ferimentos estão limpos e
curados. Um milagre!
Houve silêncio completo por um minuto quase,
depois o médico sacudiu a cabeça. - Não sei o que
aconteceu.
- Eu sei o que aconteceu! - gritou Nick -. Jesus
curou-me ontem à noite. Foi isso que aconteceu! -
Então da sua garganta veio aquele grito de louvor.
“Aaaa-Leeee-Luuuu-iaaaa!” Sacudiu a mim, sacudiu o
quarto, e atraiu a atenção de todos do nosso andar.
Queriam saber o que estava acontecendo no nosso
quarto. Glória seja dada a Deus! Que testemunho a cura
de Nick se tornou! Seu médico queria conservá-lo no
hospital por alguns dias mais a fim de certificar-se da
sua cura, se seria na verdade permanente. Nick
- 104 -
concordou, somente se fosse para me fazer companhia.
Isso foi um erro.
Nosso café da manhã foi trazido. Nick não achou
que eu fosse digno de dar graças pela refeição. Ele
começou a orar. Orou por mim para que eu fosse
alimentado espiritualmente. Não orou pelo meu corpo
quebrado. Depois falou línguas estranhas, e os ovos
ficaram frios. Ele com nada se importava. Não tomei o
meu café da manhã. Ele estava cantarolando e cantando
e falando línguas estranhas e mastigando o alimento,
tudo ao mesmo tempo. E a maneira como olhava para
minha bandeja fez-me pensar que pediria minha parte,
também. Eu não podia comer sozinho, pois minha mão
direita estava enfaixada, e como o alimento ficou frio,
esperando que Nick terminasse de orar e louvar a Deus,
a enfermeira, que deveria me alimentar, saiu para
atender outros deveres.
O médico voltou e disse: - Foglio, nós tiramos
diversas radiografias de você -. Eu não sabia disso. - Eu
não gostaria de dizer isto -, continuou. - Você tem um
ferimento grave no cérebro. Você quase perdeu o braço
direito. Praticamente todos os discos na sua espinha
estão feridos.
Toda vez que o médico explicava um ferimento,
Nick dizia: - Obrigado, Deus! Obrigado, Jesus! Amém!
- O médico disse: - A única coisa que ajudará seu braço
- 105 -
será uma operação maior. Vamos por uma ligadura
entre o osso inferior e o osso do ombro -. Nick gritou:
- Obrigado Jesus!
O médico saiu e o velho Nick pegou a Bíblia. Ele
começou a tratar-me como se eu fosse o pior dos
pecadores que ele tinha encontrado. Segurando a Bíblia
ele disse: - Vou ler um pouco da Escritura Sagrada -.
Leu cinco capítulos e continuaria lendo se o enfermeiro
não tivesse chegado para me levar à sala de raio-X para
mais algumas radiografias.
Quando voltei, lá estava Nick, escorado na cama,
com sua Bíblia. Ele disse: - Terminamos verso 35 do
capítulo 38 -. E assim foi noite e dia. Eu ouvi mais
Escritura durante os poucos dias seguintes do que
durante qualquer tempo em minha vida. Deus me havia
posto onde ele queria, de costas, na minha cama, de
onde não podia sair. Eu tinha que ouvir. “Porque assim
diz a Palavra de Deus”, gostasse ou não gostasse.
Apesar da leitura da Bíblia que Nick fazia, e do seu
louvor a Deus, as coisas tornaram-se piores para mim.
Eu sofria dores cruciantes na cabeça e em todo o corpo.
Também sofria uma dor que comprimido nenhum
podia curar, nenhuma injeção acalmava. Era em minha
alma. Eu não podia alcançar Deus. Não tinha mais
aquela paz confortante dada pela presença do Senhor;
- 106 -
não mais experimentava aquelas alegrias do poder do
Espírito Santo.
Eles me enrolavam em cobertores e dia após dia
me levavam para a sala de raio-X. Eu não era capaz de
me alimentar sozinho, sentar ou voltar a cabeça. Que
desanimo, deitado naquela cama de hospital, pensando
que alguns dias antes era um homem forte fisicamente,
um homem que gostava de trabalhar, que apreciava os
esportes, e gostava de sentir os músculos trabalhando!
Agora era um inválido desamparado, sem saber se
viveria o dia seguinte.
Eu chamei a Deus, implorando: - Meu Deus,
devolve-me tudo aquilo! Ele nem sequer me ouviu.
No quinto dia, o médico chegou no quarto,
aproximou-se de minha cama e disse: - Tenho boas
notícias para você. Suas costas não estão quebradas.
Você tem um abalo cerebral e um ferimento no
pescoço. Sua espinha está machucada como já lhe disse;
e como você sabe, seu braço direito está seriamente
ferido -. Ele não disse nada sobre a cirurgia no braço
como havia dito no dia seguinte após o acidente.
No dia seguinte o enfermeiro entrou no quarto e
disse: - Sr. Foglio, sua família está esperando para vê-lo
lá em baixo no vestíbulo.
- 107 -
Nunca esquecerei esse dia. Eu estava com a barba
crescida. Não podia me barbear, e ninguém havia feito
a minha barba. Puseram-me numa cadeira de rodas e eu
me senti como um homem que tinha ressuscitado da
morte, que tinha acabado de sair da sepultura; que tinha
recebido outra oportunidade para ver o que havia
negligenciado.
Eles empurraram a cadeira de rodas até o vestíbulo
e me pareceu que minha família estava a milhares de
quilômetros distante. A cadeira de rodas não estava
indo rápido o bastante.
Vi meu filho, minha filha, e minha esposa; e à
medida que me aproximava, então compreendi que
nunca os havia visto parecerem tão lindos. Júlia e minha
filha, Marilyn Joice, estavam surpreendentemente
lindas. Eu estava envergonhado de encará-las. Nunca
pensei que um dia eu teria vergonha de encarar minha
família. Mas agora eu tinha. Quando levantei os olhos
elas ainda pareciam tão lindas a pouca distância. Elas
não tinham mudado; foram sempre assim lindas.
Apenas eu é que não havia notado.
Eu podia quase ouvir Deus falando: “Aqui está
uma outra oportunidade para você, Frank Foglio, Você
se levantou da sepultura. Aqui está uma oportunidade
para observar o que tem negligenciado, Não somente
negligencia a igreja, Escola Dominical, uma vida de
- 108 -
oração, a sua família e o seu Deus, mas você tem
negligenciado a minha Palavra”.
Meu filhinho, Frank Anthony Jr., subiu na cadeira
de rodas e pôs seus bracinhos ao meu redor e me
abraçou. - Amo você paizinho -. Então, imediatamente,
eu não me importei com quem pudesse me ouvir.
Envolvi meu braço esquerdo ao redor dele, quase de
uma maneira protetora e falei com Deus do profundo
de minha alma:
- Senhor, ele poderia estar morto. Senhor, eu
poderia estar olhando para seu esquife. Deus, tu me
poupaste esta dor. E meu Deus, tu mo deste de volta.
Deus, ele é teu. Tu poupaste sua vida. Eu o dou de volta
a ti. Ele é tua propriedade, Senhor. Ele é teu -. Se alguma
vez na vida tive a intenção de dizer algo, isto foi o que
sinceramente eu disse. E pela primeira vez Deus me
ouviu. Eu sabia que ele me ouviria. Eu não poderia
voltar atrás, não era uma brincadeira com meu Deus.
Nos poucos dias seguintes depois da visita da
minha família, houve uma série de exames e consultas.
Por eu ter me recusado a me submeter à cirurgia,
decidiram que não havia mais nada que fosse possível
fazer por mim no hospital. Eles queriam ligar a minha
espinha. Eu nunca seria capaz de me curvar para
amarrar os sapatos ou para qualquer outra coisa, se isso
fosse feito. Eu seria como um robô, andando nos
- 109 -
calcanhares. Eu nunca mais poderia virar a cabeça em
toda a minha vida. Os médicos disseram que o meu
braço direito poderia ser melhorado, mas que nunca
mais eu teria o uso completo dele. Somente Deus
poderia curar meu cérebro ferido. Eles diziam: - Você
deve ficar engessado, desde o pescoço até aos joelhos,
por nove meses.
Eu disse: - Não! Não ficarei!
- Então seja como quiser - foi a decisão final.
Depois da minha alta do hospital eu me tornei
religioso. Não diria super-religioso, mas estava
procurando a cura para o meu corpo. Todo evangelista
que vinha para a cidade encontrava-me na sua fila de
oração, procurando Deus para tocar meu corpo
quebrado. Pessoas na minha frente e atrás de mim eram
curadas, mas eu não. Porém, Deus não se esqueceu do
que prometi a ele referente ao meu filho.
Semanas depois daquela promessa, eu estava
sentado na igreja com minha família. O culto havia
terminado, e os membros da congregação estavam
saindo. Nós não tínhamos nos retirado do nosso banco.
Meu filho olhou para a frente, apontou e gritou: - Eu vi
Jesus! Eu vi Jesus!
O poder do Espírito Santo desceu sobre aquela
congregação. Todos na igreja, na porta, fora e dentro
- 110 -
foram repentinamente dominados pelo Espírito Santo.
Os não salvos foram salvos, oito desviados voltaram,
depois que experimentaram uma poderosa mudança de
Deus. Meu filho foi cheio do Espírito Santo. Ele
começou a falar línguas estranhas. Ele permaneceu sob
o poder de Deus por algumas horas. Ele era a
propriedade de Deus, e Deus estava fazendo um
trabalho extraordinário na sua vida.
Eu continuava na minha busca para cura nas
orações. Eu tinha tanto óleo de unção na minha fronte
ao ponto de sentir que ele escorreria até aos meus pés.
Cada pregador que orava pelos doentes orava por mim,
mas nada acontecia. Um deles agarrou meu braço
doente e disse: - Tire-o da tipoia. - Ele tirou-o da tipoia,
e torceu-o, puxou-o e gritou: - Em nome de Jesus -.
- Sim, em nome de Jesus estarei de volta ao hospital
-. Foi como se ele tivesse rasgado todos os ligamentos
que então ficaram soltos.
Ainda não era a minha vez. Apesar de alguém
ungir-me ou ter orado por mim, não era da vontade de
Deus que eu ficasse curado, porque havia ainda muita
coisa para ser consertada em minha vida, muito para ser
posto em ordem e ser realizado, e somente então Deus
poderia atuar em mim.
- 111 -
Um dia eu soube de um notável evangelista em
Bakersfield. Ele estava dirigindo uma grande reunião
em uma tenda. Pensei seriamente que se eu fosse à
reunião, e ficasse na fila de oração eu seria curado. A
tarefa imediata mais importante era ir a Bakersfield.
Não era um caso simples para um homem nas minhas
condições, tanto física como financeiramente.
Eu me mantinha em contato com Clem e Nick. -
Depois que Nick deixou o hospital ele jejuou durante
quarenta dias em favor de seu filho, orando para que ele
se tornasse pentecostal. Clem casou-se com uma moça
irlandesa, católica romana, Mary Joe, a quem ele havia
encontrado na Inglaterra, durante a guerra. Ele
frequentava a igreja católica com ela. Numa noite de
quarta-feira, logo depois que Nick terminou o jejum,
Clem chamou-o e disse-lhe que desejaria ir à igreja com
ele. O pastor da Assembleia de Deus pregou a
mensagem de salvação e Clem recebeu Jesus Cristo em
seu coração. Ele foi batizado com água, mas não
recebeu o batismo do Espírito Santo.
Na manhã do domingo seguinte, Mary Jo pediu a
Clem que se aprontasse para ir confessar com ela e as
duas crianças. Ele respondeu que não necessitava
confessar seus pecados a nenhum homem. - Confessei-
os ao Senhor no batismo de água na igreja da
Assembleia de Deus.
- 112 -
Mary Jo enfureceu-se, agarrou tão fortemente a
camisa de Clem que se rasgou nas costas. Ele sorriu para
ela e disse: Deus seja louvado! Deus seja louvado.
Apesar dos violentos protestos de Mary Jo, Clem
continuou frequentando a igreja da Assembleia de
Deus, e finalmente houve uma agradável mudança de
fatos, os quais voltarei a relatar mais adiante neste livro.
O negócio do processamento de carne estava
cambaleante. Clem e Nick não sabiam como dirigi-lo.
Eles haviam dependido inteiramente de mim, e quando
alguém se apoia na força humana, encontrar-se-á em
dificuldades. O negócio ia tão mal que eles não tinham
mais meios para me pagarem um salário. Eu não tinha
recursos. Mamãe emprestou-me dois dólares para eu ir
a Bakersfield.
Júlia me acompanhou até Bakersfield, onde
encontramos a tenda de Oral Roberts. Entrei e mesmo
em dores a passos lentos, ignorei todos os porteiros, ou
introdutores que ficavam ao lado da entrada. Realmente
nada havia acontecido no meu coração. Eu estava
quebrado fisicamente, mas ainda continuava sendo um
presunçoso. Eu era um animalzinho esperto com
muitas características e hábitos que tinham de ser
postos sob o sangue do Senhor. Orgulho e uma atitude
sabe-tudo eram duas das minhas faltas. Deus precisava
tratar com este italiano à sua própria maneira. Por isso
- 113 -
é que ele estava demorando. Ele sabia que alguns ajustes
tinham de ser feitos na minha vida e ele tinha seu
próprio plano.
Aproximei-me do introdutor e disse: - Senhor! (Eu
não estava muito amável ou cortês.) Senhor! Eu tenho
que estar na fila da oração esta noite!
- Sim! Você e mais seiscentos! - Deus sabe como
responder a um presunçoso esperto.
- Senhor! O senhor não sabe. Eu tenho que estar
nessa fila esta noite!
- Que disparate! - respondeu ele. - Por que não vai
para um motel e fica uns dias? Nós estaremos ainda
aqui!
Eu disse para mim mesmo: “Como é que Oral
Roberts contrata este tipo de introdutor? Este rapaz
não está certo.” No meu coração eu sabia que o
introdutor tinha razão. Era experimentado em tratar
com petulantes. Eu nem peguei uma ficha para a fila de
oração. Eu achava que o mundo todo estava contra
mim quando voltei e me sentei na ponta de uma fileira
de assentos.
Logo depois começaram a recolher as ofertas. As
cestas de ofertas eram grandes. Pareciam baldes. Pus a
mão no bolso esquerdo do paletó. Não é curioso
quando chega a hora da oferta? Nós sabemos onde
- 114 -
pusemos cada nota de um dólar e de cinco dólares, e,
usualmente, antes do culto, separamos as de um das de
cinco, para termos certeza de que estamos segurando a
de um dólar para colocar na salva. Às vezes, por engano,
colocamos as de cinco dólares e então vem o pânico.
Mas eu tinha somente duas notas de um dólar, não seria
possível um engano. Separei-as.
O balde chegou na minha frente, e eu deixei cair
uma nota de um dólar. Ouvi aquela voz que me havia
dito “Não faça isso!”, quando me preparava para pegar
meu filho e levá-lo comigo na caminhonete para San
Bernardino, naquela tarde funesta. Ela me disse: “Você!
dê os dois dólares.” Eu estava sentado na última cadeira
de uma fila de assentos, e o introdutor ali estava, parado,
segurando o balde, paralisado, mas, com um sorriso na
face. Eu disse comigo: “Mas, Deus.” O introdutor
deveria ter ouvido a voz de Deus, porque ele não se
moveu. Ficou imóvel, esperando que eu tirasse do bolso
outra nota de um dólar. Fiz um rodeio para pôr a mão
no bolso. Eu não queria que ele pensasse que eu iria dar
mais. Achei que ele se afastaria, se eu demorasse mais
um pouquinho de tempo. Puro engano! Ele ali
permanecia, em pé, parado, com um grande sorriso, até
que, então, tirei do meu bolso a outra nota de um dólar
- o último dólar que tinha - e coloquei-o no balde.
- 115 -
“Senhor, agora tu tens tudo o que eu possuía”, eu
disse.
Deus não gosta que as pessoas sejam larápias. Eu
era um larápio. Eu não acreditava em dízimos. Pensava
que se eu desse dez dólares por mês isso era o bastante.
Pouco sabia eu que não estava roubando a Deus. Eu
estava roubando a mim! Mas hoje era diferente. Desta
vez o Senhor tinha tudo. “Tu conseguiste, Senhor”,
disse eu para mim mesmo.
Não tinha eu ainda acabado de pronunciar aquelas
palavras e Oral Roberts veio para a plataforma, e
começou a nos contar sobre seu “pacto de bênçãos”.
Ele apresentou uma proposta agradável. Ele disse: - Se
qualquer um de vocês puder fazer um compromisso de
cem dólares, eu porei seu nome no meu livro de
orações, e no fim do ano os receberá de volta e muito
mais. Se não os receber, escreva-me e eu os devolverei!
Eu pensei: “Pois sim! Isso significa todos, menos
eu. Não tenho cem dólares, nunca verei uma nota de
cem dólares. Assim, como vou prometer todo esse
dinheiro?” Oral Roberts pareceu ler meus
pensamentos, porque ele disse: - Antes de vocês
prometerem, vamos orar.
“Por que deveria eu orar?” pensei. “Estou tão
endividado agora, nunca sairei desta situação. Além
- 116 -
disso, nunca verei cem dólares. Por que perder o meu
tempo e o de Deus?”
Acho que todos naquela tenda oraram, menos eu.
Fiquei em pé, direito, enquanto todos os outros
oravam. Eu deveria ter, pelo menos, a delicadeza de
curvar a cabeça durante a oração. Mas não o fiz, e
enquanto permanecia em pé, a voz que levou os meus
dois dólares veio outra vez. “Você! Prometa cem
dólares!”
“- Agora, por favor, somente um minuto! Pare lá,
companheiro! Pare!” Seguindo esse monólogo
baixinho, eu pensei: “- Por que estou ficando tão
animado? Ele estava falando com o companheiro atrás
de mim, e eu peguei a voz quando ela passava.” Voltei-
me, e o rapaz atrás de mim estava tendo um
avivamento. Ambas as mãos erguidas, e estava falando
outras línguas.
Pensei que talvez fosse o homem na minha frente.
Não era. Ele também estava tendo momentos de júbilo,
louvando o Senhor.
Eu sei que a Bíblia diz: “Minhas ovelhas conhecem
minha voz.” Mas eu não estava me arriscando. Deus
sabia que estava tratando com um tolo, porque ele pôs
um outro pensamento em minha mente. “Se Deus falou
comigo, ele também falou com Júlia, que está distante
- 117 -
somente onze cadeiras. Voltei-me completamente - eu
ainda não podia virar a cabeça - Júlia olhou-me o
suficiente para me dar um sorriso de cem dólares e
acenou com a cabeça. Isso foi o bastante. Levantei a
mão. O evangelista me perdeu. Não ouvi sequer uma
palavra da sua mensagem. Nem uma simples palavra.
Adivinhe quem entrou na tenda? O simpatizante!
O velho Satanás com as suas maneiras astutas chegou-
se a mim. Eu não sabia que ele frequentava
avivamentos. Ele ficou ombro a ombro comigo e disse:
- Não é terrível? - Eu respondi: - Sim, é -. Comecei a
escutá-lo, e o que dizia tinha sentido. Ele me perguntou:
- Não é simplesmente terrível quando você está
deprimido, e não tem nada, e Deus tirando até sua pele?
- Eu concordei.
Satanás continuou: - Olhe, você veio ontem à noite
para ser curado.
- Certamente.
- Mas não ficou curado. Você até nem podia ficar
na fila da oração. Em vez disso - de ficar curado - você
está com um déficit de cento e dois dólares. Você se
sente pior. Você está totalmente ferido, não é mesmo?
- Eu tive que admitir tudo isto. Nós quase nos
abraçamos; dois camaradas. O tentador estava
tentando.
- 118 -
Repentinamente reconheci quem era este
simpatizante: um patife, ladrão e mentiroso. Não falo
mais com ele desde essa ocasião.
Andei de carro aqueles quilômetros através do
deserto, de volta à minha casa, com dores insuportáveis,
consumindo todo o meu corpo. Eu tinha que dirigir
com um braço e uma só mão. Eu não podia usar a outra.
Tive que parar diversas vezes para relaxar e tomar novas
forças e coragem para prosseguir. Um ano havia já
passado depois do acidente. Entrei em casa
cambaleando, à 1:30h da manhã. Pela a primeira vez na
vida eu tinha desistido. Nunca pensei que algum dia
viesse a me encontrar em tal situação. Por que ser um
desistente? Nunca fui desistente. Mas, eu sabia agora
que havia chegado ao fim.
“Senhor, estou acabado”, disse. “Não posso
continuar. Deus, onde estás? Meu Deus, meu Deus,
onde estás?” Deus deveria estar milhões de quilômetros
distante por tudo que eu podia perceber. Sabia que
minhas orações não o alcançavam, mas eu continuava
implorando.
“Meu Deus, eu preciso do teu toque. Preciso de
uma bênção para minha alma. Sei que não posso chegar
a ti. Eu sei. Mas, Deus a quem devo pedir para chegar a
ti por mim?”
- 119 -
Deus falou. Ele disse: “Demos Shakarian! Ele orará
por você.”
Eu não conhecia Demos Shakarian. Chamei a
telefonista e dei-lhe o nome. Ela já sabia deste
maravilhoso homem, ungido pelo Espírito Santo,
fundador do Full Gospel Business Men's Fellowship
International. Ela fez a ligação.
Quando Deus age, ele sempre prepara a cena
primeiro. Ao soar a campainha, Deus já havia colocado
Demos sentado ao lado do telefone. Quando ele
respondeu, eu disse: - Irmão Demos Shakarian, aqui é
Frank Foglio. Senhor, eu preciso de ajuda.
- Quanto precisa?
- Senhor, um milhão de dólares não me ajudariam.
Eu necessito de um toque de Deus. Preciso de uma
bênção para minha alma. Preciso sentir a bênção de
Deus.
- Mantenha-se firme. Orarei por você.
Ele fez a oração mais simples que jamais ouvi. Ele
disse: “Oh, Deus!” Quando ouvi aquelas palavras
pronunciadas, senti as portas do céu abertas sobre mim.
Ele continuou: “Frank é teu filho, Deus. Ele te ama.
Deus, abençoa-o completamente. Abençoa-o agora,
desde o alto da cabeça até à ponta dos pés”.
- 120 -
O poder de Deus veio sobre mim como uma onda
de maré. Foi semelhante àquela minha experiência,
quando eu tinha doze anos, quando o poder do Espírito
Santo veio sobre mim plenamente. A bênção desceu
como uma chuva fininha. Não sei nada sobre a primeira
ou última chuva, ou sobre a chuva de amanhã. Eu
somente sei que a recebi totalmente. Onda após onda
de chuva fina caiu sobre meu corpo, desde o alto da
cabeça até aos pés. Comecei a falar outras línguas,
glorificando o nome do Senhor, louvando a Deus. O
poder de Deus ribombava por todo o meu corpo, e eu
cambaleava pela casa louvando ao Senhor.
- 121 -
CAPÍTULO 7
Uma Corrente de Milagres
- 122 -
Um corpo quebrado não é nada. Prefiro viver toda
a minha existência aleijado e sem um braço a viver sem
as bênçãos de Deus em minha alma. Pode ser que você
nunca tenha sentido uma fome intensa na sua alma,
uma fome tal que o alimento material não o satisfaz.
Isso é o que acontece quando não se encontra o Senhor.
As bênçãos que você recebeu como certas, não mais
existem. É algo que você não pode imaginar. Nunca,
jamais, abandone o Senhor. Se eu for capaz de
convencer você de alguma coisa, que seja isto: Apesar
das provas e tribulações, não se separe de Deus.
Eu disse, então: “Senhor, se eu tiver que ficar
aleijado pelo resto da vida, já ganhaste a transação.
Estou satisfeito. Somente desejo que me conserves
ungido com o Espírito Santo. Não me importa se falarei
outras línguas sete dias por semana. Não me importa se
não puder levantar minha mão para Te tocar. Eu só
quero sentir a tua presença e saber que estás a meu lado.
Não viverei mais sem Ti. Eu já provei a tua bênção.
Estou de volta. Nunca mais Te deixarei. Não importa
quão profundo seja o vale, eu quero Te sentir perto de
mim.”
Eu não havia experimentado o que era dormir por
um longo tempo, por meses e meses. Tomava
tranquilizantes até chegar ao ponto do vício. Eu não
podia dormir porque todas as noites eu recordava o
- 123 -
acidente. Assim que caía no sono, eu ouvia o estrépito
dos vidros despedaçando-se. Acordava gritando. Mas,
depois que Demos Shakarian orou por mim, e recebi a
bênção do Senhor, tenho dormido tranquilamente
todas as noites. Eu estava pronto para encontrar-me
com Jesus a qualquer momento. Não fazia diferença
alguma para mim quando ele me chamasse, exceto
alguns negócios que permaneceriam sem solução aqui
na terra.
A fábrica de mortadela cambaleava na iminência da
falência, e nós estávamos em uma situação de quase
perder nossa casa, perder tudo. Júlia arranjou um
emprego para ajudar nas despesas domésticas. Eu
decidi fazer alguma coisa. Eu podia falar, mesmo que
meu andar fosse inseguro, e, às vezes desajeitado. Eu
sofria de periódicas convulsões que também me
deixavam consideravelmente relaxado. Apesar destas
enfermidades, consegui persuadir um corretor de
imóveis que patrocinasse minha matrícula numa escola
de imóveis. Depois de terminar o curso, fui
imediatamente ao patrocinador.
Suas observações iniciais, depois que entrei no seu
escritório, foram: - Filho, não quero desanimá-lo -. Ele
hesitou refletidamente e continuou: - Mas nós estamos
numa situação de depressão nos negócios. Acho que
- 124 -
seria melhor você esquecer a corretagem de imóveis, e
tentar outra coisa qualquer.
- Mas o senhor me patrocinou.
- Sinto muito em fazer isso. Ninguém está
vendendo nada.
Voltei-me para sair do escritório. O Senhor falou-
me: “Continue, entre.” Voltei-me para o homem e pedi-
lhe uma oportunidade para tentar. Possivelmente ele
julgou, pela minha aparência, que eu estava sofrendo
uma grande depressão.
- Oh, está bem disse. O que fizer fica por sua conta.
Na primeira semana vendi um lote por
US$1.500,00. Eu quase tive um avivamento no
escritório. Na semana seguinte vendi uma casinha
próxima a um bosque por US$5.500,00.
As coisas tinham ficado tão más antes de eu
receber meu primeiro cheque de comissão que eu tinha
somente um terno de roupa que estava ficando bem
usado e fino, não somente nos joelhos, de tanto
ajoelhar-me em oração, mas a calça estava também
puída na parte traseira. Meus sapatos também estavam
gastos. Um dia, quando atravessava o gramado, senti os
pés embebidos de água. Os dois pés de sapatos tinham
buracos na sola. Eu sabia o que fazer, criado que fui na
fazenda. Peguei um pedaço de papelão grosso, tomei a
- 125 -
tesoura, cortei dois pedaços na forma e tamanho certo
da sola, e coloquei dentro dos sapatos. Aquele papelão
deixou-os muito confortáveis.
O Senhor conservava os seus olhos no pardal, e
este italiano era o pardal. Deus estava se preparando
para fazer alguma coisa por mim. Um arquiteto, na
cidade de Nova Iorque, quase 5.000km distante, havia
encomendado um par de sapatos, feitos sob
encomenda, uma das melhores marcas do mercado. Ele
mandou tirar radiografias dos pés e os sapatos foram
desenhados para o tamanho quarenta e dois. Um dia a
loja telefonou para dizer-lhe que os sapatos estavam
prontos.
Ele disse para a esposa que o dia estava tão lindo,
então iria dar uma caminhada pela rua Manhattan até à
loja, pegar os sapatos feitos sob medida, e usá-los de
volta ao apartamento. Ele chegou à loja, provou os
sapatos, e o conforto que sentiu deixou-o muito
satisfeito. Saiu, então, caminhando de volta para casa,
assobiando pela rua muito feliz. De repente, alguma
coisa começou a acontecer. Os sapatos tornaram-se
apertados. Ele soltou um pouco os cordões. Não
adiantou. Bolhas começaram a formar-se no calcanhar
e na ponta dos dedos. Chegou até ao seu apartamento
coxeando e gritou para a esposa: - Querida, venha
- 126 -
depressa. Tire estes sapatos dos meus pés. Tenho
bolhas nos calcanhares e nos dedos.
- Não entendo - disse ela. - Eles foram feitos para
os seus pés. Eles são caros. Feitos sob medida.
- Certamente que foram feitos para mim. Mas não
me servem, me machucam. Eu também não entendo.
- Leve-os de volta.
- Não. Nunca mais entrarei naquela loja.
- Mas, o que fazer com eles?
- Eles são tamanho quarenta e dois; deverão servir
para meu cunhado, Johnny Sarracino, em
Burgettstown, Pensilvânia. Vou mandar-lhe por via
aérea.
Sim, Deus tinha seus olhos neste pardal italiano, e
ele não desperdiça tempo nenhum quando há uma
necessidade. Quando o cunhado abriu o pacote, ele
quase não acreditou, tal foi a felicidade sua quando viu
aqueles sapatos feitos sob medida. Eram exatamente o
seu número. Calçou-os, amarrou os cordões e começou
a andar pela sala de estar. Eles eram muito folgados para
seus pés, eram como chinelos grandes de banho.
Decidiu, então, a única solução seria enviá-los para seu
irmão em Fontana, Califórnia, que, por coincidência, é
o meu cunhado. Os sapatos chegaram. Meu cunhado
- 127 -
abriu a caixa e quase desmaiou. Nunca vira sapatos tão
lindos, e era um presente de seu irmão. Eram
justamente o seu número, quarenta e dois. Enfiou os
pés nos sapatos, amarrou os cordões e andou pela sala.
Eles eram folgados demais para seus pés, como também
eram para os pés de seu irmão. Foi ao sapateiro e
comprou palmilhas, colocou-as no sapato, mas nada
resolveu; ficaram até piores do que antes.
Deus tinha seus olhos no pardal.
Eu estava sentado na sala quando meu cunhado
chegou. Ele atirou os sapatos para mim. - Você é o
único sujeito para quem estes sapatos poderão servir -
disse ele, ainda frustrado porque eles não lhe serviram.
- Calce-os - disse. Ele voltou-se e eu pude ver as
palmilhas em seu bolso. Eu entendi. Se os sapatos
fossem folgados, ele me venderia as palmilhas.
- Sapatos novos! - exclamei, examinando-os. - É a
melhor marca também. Deus seja louvado! Aleluia!
- Experimente-os antes de louvar o Senhor- ele
disse.
Calcei-os, e eles se ajustaram maravilhosamente
aos meus pés. Amarrei os cordões e andei para cá e para
lá, para frente e para trás.
- Como se sente?
- 128 -
- Maravilhoso! Louvado seja Deus!
- Não machucam? Não estão folgados demais?
Não estão apertados?
- Não. Servem perfeitamente.
Tudo o que ouvi quando a porta bateu era: “Eu
não entendo.” Mas eu entendia. Deus tinha os seus
olhos num homem em necessidade, e ele supriu aquela
necessidade.
Quando chegaram os cheques de comissão pelas
minhas primeiras vendas de imóveis, comprei novos
sapatos e dei aquele par, feito sob medida, ao meu
pastor. Ele usou-os até se cansar deles; depois os deu
ao seu filho que também fez a mesma coisa. A última
notícia sobre aqueles sapatos era que estavam na África.
Algum missionário, depois de usá-los por uns tempos,
passou-os para um outro missionário. Viajaram por
todo o mundo de Jesus.
Deus sabe como abençoar você. Às vezes você ora
por milhões de dólares, mas Deus sabe que você não
poderia manejá-los, e seria um apóstata e o deixaria para
sempre. Deus sabe como confiar em você também. Ele
sabe se você está em harmonia com ele. Graças ao meu
Deus, eu estava de volta ao seu aprisco e realmente em
harmonia com sua vontade para mim. Toda vez que ele
- 129 -
falava, eu estava pronto para agir. Pronto para toda
ação. Eu era uma criança obediente.
Uma tarde Deus me disse: “Dirija-se para a outra
extremidade da cidade. Há um escritório, bem grande,
de imóveis. Vá lá.” Entrei no meu carro e dirigi-me para
aquele escritório. Não me surpreendi ao vê-lo, porque
Deus me havia dito que ele ali estava. Mas o Senhor não
me disse o que fazer. Provavelmente ele sabia que um
adulto não iria para lá, sentar-se em seu carro, e olhar
para o edifício. Eu não fiz isso.
Entrei, e na outra extremidade da grande sala vi um
homem sentado à mesa. Estava com um chapéu na
cabeça e fumando um grande charuto preto. Ele ergueu
os olhos para mim, olhou-me rapidamente, depois
olhou para sua mesa, ignorando-me por completo.
“Senhor Deus, estás certo que tu me queres aqui?”
eu perguntei.
Pergunta tola! É claro que ele queria que eu
estivesse ali, do contrário não me teria mandado.
Caminhei até à mesa. - Olá! Sou Frank Foglio.
A única resposta foi alguma coisa que soou como
um grunhido. Ele me fez a carranca mais feia que me
lembro de ter visto na face de alguém.
“Oh! Oh! Senhor!” disse comigo. “É melhor o
Senhor dizer algo, pois este sujeito vai me bater.”
- 130 -
- Como vão os negócios? - perguntei, esperando
por uma brecha aberta para uma conversa amável.
- Podres! De fato, estão tão mal... Olhe para estas
listas. Ele atirou um punhado de fichas sobre a mesa e
disse: - Não consigo vender um, e eles são todos
ótimos.
Quando ele jogou aquelas fichas, uma lista flutuou
sobre a mesa e pousou à minha frente. Eu a peguei e vi
o número 95.000 dólares. Atirei-a sobre a mesa,
também. - Meu Deus -, eu disse. - Quem comprará isso?
- Henrique Kaiser, e não penso que teria meios
para isso.
Deus começou a trabalhar. Sobre a mesa, debaixo
do vidro, estava um recorte de jornal, preso a um clipe.
Estava um pouco distante de mim para poder ler. O
nome naquele recorte começou a erguer-se e eu pensei
que estaria ao ponto de ter uma daquelas convulsões.
Segurei-me na beirada da mesa. Aquele nome elevou-se
de modo que consegui ler. Então o Senhor falou: “Ele
comprará.”
- Consegui um comprador! Consegui um
comprador! exclamei. - Onde? Onde, homem? Eu não
vejo nenhum.
- Exatamente naquele recorte de jornal sob o vidro
de sua mesa.
- 131 -
Nós dois tivemos que encostar o nariz no vidro
para ler o nome e endereço, porque, apesar de o nome
ter-se elevado de modo que eu conseguisse ler, em
minha agitação eu tinha esquecido.
- Mas isso exigirá uma chamada interurbana! - eu o
adverti.
- Chame qualquer lugar se você conseguir vender
aquela propriedade.
Cheguei ao telefone, sentei-me, dei o nome e
endereço para a telefonista e ela fez a ligação. Deus
sempre prepara a cena quando ele quer que façamos
algo. De outra maneira ele não nos ordenaria fazê-lo. A
pessoa havia chegado de um grande avivamento na
cidade de Nova Iorque. Ele estrava em casa quando o
telefone tocou. Ele não tinha nem colocado a sua pasta
no chão, eu soube mais tarde. - Sim! Aqui é Frank
Foglio. Eu tenho 222.500 m²...
Um momento. Eu sei tudo sobre esses metros
quadrados. Quando eu estava na cidade de Nova
Iorque, Deus falou comigo. Ele me disse que fosse até
aí e comprasse essa área. Darei tanto como inicial. - Ele
citou as condições: US$95.000,00. Prossiga. Faça a
escritura. Mandarei o cheque, Está comprado. Você
acaba de me vendê-la.
- 132 -
Desliguei o telefone e ainda tinha o fone na minha
mão quando o corretor, atirando baforadas do
cachimbo, disse: - Hum! Que rápido ele terminou, não?
Virei-me na cadeira giratória, e acho que estava
branco como papel. Tentei falar, mas tudo que eu
pudesse pronunciar soava como: Gongo! Gongo!
Gongo!
- Ora bolas! Com toda a certeza ele assustou você.
Eu me levantei. - Sim, ele comprou-a! O seu
charuto voou pelo escritório como um míssil dirigido. -
Mas você não disse uma palavra!
- Deus vendeu-a.
- Ele não trabalha aqui.
- Ele acabou de ser contratado.
Aquele sujeito grandalhão, que eu achava tão
mesquinho, levantou-se e colocou a mão no meu
ombro. Grandes lágrimas lhe rolaram pela face. Ele
pegou a minha mão e disse: - Frank, você não sabe o
que isto significa para mim. Não posso pagar os móveis
da minha casa. Não posso pagar o meu carro. Não
posso pagar as contas nas lojas. Estou em péssimas
condições.
- Aperte as mãos de um companheiro.
- Você vai trabalhar para mim, Frank.
- 133 -
- Sim senhor, mas sob uma condição: que eu possa
trazer minha Bíblia comigo para o escritório para eu ler.
Que eu possa orar quando sentir vontade de orar, e se
eu quiser dizer “Aleluia”, eu a diga.
- Lhe farei companhia.
Nós, cristãos, somos os maiores covardes do
mundo. Deus disse: “Prova-me, Prova-me, e eu
derramarei bênçãos que transbordarão.” E nós nos
mantemos, a muito custo, com os nossos níqueis. Deus
diz: “Dá-me o que é meu, e te devolverei medida cheia,
recalcada e transbordante.”
Leia 2 Coríntios 9.8: “Deus pode fazer-vos
abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em
tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa
obra.”
Por que teríamos de ser covardes quando, como
cristãos, devemos reivindicar as bênçãos que são nossas
mediante a promessa de Deus? Peça-as como filho de
Deus.
Trabalhei para aquele corretor de imóveis para
quem Deus vendeu 222.500 m² por US$95.000,00. Uma
tarde, logo depois daquela venda, ele me pediu para
avaliar uma mansão. Eu nunca tinha avaliado nada em
toda a minha vida. Não seria capaz de avaliar uma
casinha de cachorro, ou uma gaiola de pintinhos.
- 134 -
Porém, eu senti que era a direção de Deus e não
dependia da minha habilidade.
Fui até a outra extremidade da cidade até uma
grande entrada circular para carros. Observei a mansão
e meu coração palpitava fortemente. Mas, se era a
direção de Deus, que tinha eu a temer? Saí do carro,
caminhei até à porta, e toquei a campainha. Uma
senhora alta, séria, atendeu.
- Bom dia. Sou Frank Foglio. Vim para avaliar sua
casa, e não sei nada sobre avaliação.
- Ótimo! Entre, por favor.
O Senhor tinha preparado a cena. Ela levou-me
pela casa toda e avaliou-a para mim. Quando eu estava
saindo, ela se aproximou de uma pilha enorme de
revistas, e dentre elas tirou três, velhas e manchadas, um
pouco rasgadas, e entregou-as para mim.
- Leia-as. Elas o ajudarão.
De volta ao escritório, comecei a depositar aquelas
velhas revistas no recipiente próprio - a cesta de papéis.
Outra vez o Senhor falou: “Pare! Leia-as!” Olhei mais
atentamente e vi que eram exemplares de Vida
abundante de Oral Roberts.
Havia ainda alguma coisa errada com este italiano
cristão. Eu realmente não acreditava em dízimo. Eu
- 135 -
tinha a minha Bíblia toda misturada. Eu pensava que
estava sob a lei: “Não deixe sua mão esquerda saber o
que a sua direita faz.” Nessa maneira furtiva, eu podia
escapar de dar a Deus sem ter a minha consciência me
perturbando. Mas o Senhor ainda estava trabalhando
comigo quando Ele disse: “Leia-as!”.
Peguei a primeira revista do maço e abri-a. Em
letras bem grandes, no topo da página estava escrito:
“Você não pode exceder a Deus em generosidade.” Deixei
aquela de lado. Peguei outra, abria-a na parte posterior.
Grandes letras distintas surgiram diante dos meus
olhos: “Estes homens, de leste a oeste, têm provado que você não
pode exceder a Deus em generosidade.” "Hum! São todos
artigos sobre dar", eu disse. Mas as revistas não eram
números consecutivos. Eram de diferentes meses.
Fechei a segunda revista e examinei a capa para
procurar o índice. Eu queria ver se todos os artigos
eram sobre dádivas. Sem dúvida, fora inadvertidamente
omitido. Mas havia a história de um alcoólatra que tinha
sido libertado, salvo e cheio do Espírito Santo. Depois
da sua libertação do vício ele tomou emprestado alguns
milhares de dólares e deu-os ao Senhor. Mais tarde ele
tornou-se no maior mecânico de maquinaria pesada do
país.
A última revista eu não abri imediatamente. todas
elas não seriam sobre dar. Eu disse comigo: Meditei
- 136 -
alguns minutos. Tinha certeza de que “Por favor, que
esta seja sobre a Bíblia.” Eu deveria ter ficado em
silêncio, porque justamente na capa daquela revista
estava um convite ao leitor: “Neste número, leia o primeiro
de uma série de artigos mensais sobre dar.” Dentro, outra
página dupla proclamando em grandes e claras letras:
“Estes dez homens provaram que você não pode
exceder a Deus em generosidade.”
Eu li os nomes. Eram homens que eu conhecia,
homens como Demos Shakarian e Henrique Krause.
Comecei a ler seus testemunhos e o poder de Deus veio
sobre mim. Deixei de lado as três revistas, curvei a
cabeça, e comecei a falar com Deus.
“Meu Deus, eu creio nisso. Mas, Deus, primeiro eu
vou dar-te meu ser e tudo o que possuo - minha família,
minha casa, meu carro, tudo. - Não vou dar mais - mas
sim até que ajude”.
Cumpri fielmente minha promessa. Dei, e dei até
que o meu da ajudava – ajudava outros de muitas
maneiras. Um dia o contador que examinava meus
livros veio até a minha mesa, que ele usa quando
trabalha no meu escritório:
- Sr. Foglio, o Sr. cometeu um engano.
- Que quer dizer? Cometi um erro?
- O Sr. tem dado demais ao Senhor.
- 137 -
- Eu respondi: - Tenho boas notícias para você,
irmão. Não tenho dado o bastante e tenho vergonha
por não ter dado o quanto deveria.
O Senhor me estava fazendo prosperar
financeiramente nos negócios de corretagem, mas eu
ainda não tinha sido curado fisicamente.
- 138 -
CAPÍTULO 8
O Poder Curador de Cristo
- 139 -
dos seus serviços. – eu disse quando sua secretária me
encaminhou ao seu gabinete -. Meu nome é Frank
Foglio.
Ele levantou-se, deu-me um amável aperto de mão
e ofereceu-me uma cadeira, e quando me sentei, ele
sentou-se também.
- Penso que tenho ouvido falar sobre sua família –
foi a sua observação de início. – “Vocês não são as
pessoas que realizam reuniões de oração todas as
segundas-feiras a noite?”.
- Sim.
- Você é um deles, não é?
- Sim, senhor.
- Você acredita em cura, como tem o seu braço em
tipoia? Antes que eu pudesse responder, ele lançou
outra pergunta: - Você fala línguas estranhas? Também,
não é?
- Sim, senhor -. Eu vim aqui procurar os serviços
desse advogado, disse para mim mesmo, e ele está me
colocando numa classe de terceiro ano de religião.
- Sim, você é um deles, está bem. Eu quero saber
uma coisa. Você diz que sofreu um acidente de
automóvel.
- Sim.
- 140 -
- Bem, tenho de estar convencido de que você está
ainda fisicamente incapacitado como resultado dos
ferimentos naquele acidente.
Ele levou-me ao seu médico, e no processo de
exames, eu desmaiei. Tanto o advogado Henry como o
seu médico estavam convencidos de minha grave
condição física. O advogado decidiu tomar o meu caso,
e ele preparou uma declaração do médico. Eu tive que
assinar a queixa com a mão esquerda.
O relatório resumido da minha condição era:
“Braço direito violentamente arrancado da cavidade e
colocado de volta sob anestesia geral. Os médicos
tinham esperança de que a articulação unisse, assim o
braço ficaria na cavidade sustentado por uma tipoia por
certo tempo. O suporte não foi suficiente. O braço
repetidamente sai fora da cavidade por causa de
repetidas deslocações.”
“O cliente também sofre de fortes convulsões
cerebrais e os efeitos se manifestam constantemente.
Sofreu ferimentos na espinha, tornando difícil mover-
se. Inclinar-se é uma impossibilidade. Anda
vagarosamente com muita dor. Tem recebido os
melhores cuidados médicos acessíveis.”
O advogado Henry, ao preparar a declaração para
o processo, tomou depoimento das partes envolvidas,
- 141 -
obteve os relatórios do hospital e dos médicos a meu
respeito, e leu todos os relatórios dos médicos
referentes aos meus ferimentos. Ele conversou com os
meus vizinhos próximos, e os motoristas dos carros
envolvidos. Logo ele teve o processo preparado a seu
contento.
Um acúmulo de processos no tribunal impediu,
por dezoito meses, o julgamento do caso que o
advogado Henry tinha ajuizado, dois anos e meio após
o acidente. Duas semanas antes do julgamento o
advogado fez com que eu fosse examinado pelos
cirurgiões que me atenderam na ocasião do acidente.
Ele disse que desejava um exame geral de modo que os
médicos pudessem testificar no tribunal, referente a
incapacidades permanentes. Ferimentos são
normalmente curados, de maneira que após dois anos e
meio, será evidente a permanência ou não da
incapacidade em virtude desses mesmos ferimentos.
Comecei a tropeçar e cair devido aos efeitos dos
ferimentos quando saí da sala de exames, e entrei nos
consultórios dos médicos. Sofria dores de cabeça e
convulsões constantemente. Quando andava pelo
corredor, tive uma dessas convulsões. O advogado me
amparou de um lado e o enfermeiro de outro. Eles me
ajudaram a sentar numa cadeira e o enfermeiro trouxe
alguns sais para cheirar e me reanimar. Com toda a
- 142 -
certeza eu desmaiara, porque quando voltei a mim, o
enfermeiro segurava sais aromáticos sob meu nariz.
Júlia e eu fomos até à casa do advogado na noite
anterior ao julgamento. Éramos muito íntimos agora. O
irmão de Paul Henry e muitos outros estavam lá, e eles
decidiram fazer oração.
- Deus está vivo e está ainda ocupado em socorrer
necessidades humanas na medida das nossas
necessidades - Paul explicou. - Frank necessita de cura,
e eu necessito de sabedoria e força no que se refere a
este processo judicial.
Sei que “não é pela força, nem pelo poder, mas
pelo meu Espírito, diz o Senhor”. Nós devíamos
parafrasear isso e dizer: “Não é pelo bom senso, nem
pela psiquiatria, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor”.
Nós oramos, colocando todas as coisas nas mãos
do Senhor, incluindo o juiz, júri, testemunhas, médicos
- todos que tinham qualquer ligação com o caso -.
Enquanto estávamos orando, comecei a falar
pessoalmente com Deus. Eu disse ao Senhor: “Ó Deus,
se tu me curares, eu testemunharei por ti.
Testemunharei que tu me curaste.” Deus, porém, não
viu nenhuma conveniência para responder minha
oração. Quando terminei de orar, levei mais ou menos
- 143 -
três minutos para me levantar, devido à condição da
minha espinha.
O julgamento começou na terça-feira, dia quatro
de setembro de 1957. Depois que o júri foi escolhido,
Paul começou a chamar as testemunhas. Ele chamou
um oficial de polícia que testemunhou com referência
aos elementos físicos pertencentes à cena - marcas dos
pneus, estragos dos veículos, onde os ocupantes foram
achados, em relação aos veículos, e outras informações
pertinentes.
Paul chamou as testemunhas, uma após outra. O
vizinho pegado testemunhou que tinha sido meu
vizinho por cinco anos, que anteriormente ao acidente
eu era sadio, forte e robusto, mas nos últimos dois anos
e meio, após o acidente, eu era comprovadamente um
aleijado. Ele declarou que nunca me vira usando
nenhuma ferramenta de jardim, ou pegando as crianças,
ou brincando com elas, por dois anos e meio. Ele
ajuntou que, o maior trabalho que me tinha visto fazer,
desde o acidente, era segurar a mangueira do jardim.
O médico testemunhou que meu braço direito
tinha sido arrancado da cavidade, e que eu tinha sofrido
um grande número de deslocações durante os dois anos
e meio seguintes ao acidente. E disse que uma cirurgia
poderia alterar a condição. Ele descreveu a operação
explicando que exigiria aproximadamente dezenove
- 144 -
incisões, afastando toda a carne e grampeando uma
articulação na parte superior da extremidade do osso do
braço ao osso do ombro.
A articulação impediria o osso de sair fora da
cavidade. Depois estenderia a carne, costurá-la-ia, e
após uma série extensiva de tratamentos, eu recuperaria
o uso do braço a um grau limitado. Porém haveria
aproximadamente 25% de limitação dos movimentos
naquele braço e ombro, e que seria uma incapacidade
permanente.
Quanto às convulsões cerebrais, e os efeitos
posteriores, nada poderia ser feito. Eram permanentes
e eu teria de viver com elas.
A lesão na espinha estava acima de qualquer auxílio
médico. Possivelmente no futuro se tornaria pior, o que
o médico achava que poderia acontecer; a fusão das
articulações envolvidas podia ser necessária.
Um dos médicos da companhia de seguros que me
examinaram, permaneceu no tribunal durante todas as
sessões, pronto para testemunhar, mas a sua companhia
evidentemente não desejava que o seu testemunho
fosse ouvido. Deus trabalhou de muitas maneiras, e no
terceiro dia, a companhia de seguros ofereceu um
acordo, e Paul me aconselhou a aceitá-lo.
- 145 -
“Obrigado, meu Deus”, eu disse. “O caso está
encerrado. Agradeço-te, Senhor, por uma bênção
financeira substancial.” Paul também orou comigo
numa oração de gratidão, numa antessala do tribunal.
Eu dei detalhadamente a explicação médica da
minha condição física de modo que não haja
conjecturas sobre a gravidade da minha incapacidade
física. Mesmo trabalhando na imobiliária, eu não estava
em boas condições e havia pouca probabilidade de
melhoras, exceto pela intervenção divina.
Júlia e eu estávamos tão felizes com a solução do
processo que decidimos fazer espaguete para um jantar
em nossa casa, e convidamos muitos dos nossos
amigos. Chamei Demos Shakarian ao telefone.
- Alô, irmão Demos -, eu disse. - Aqui é Frank
Foglio, em Fontana.
- Irmão Frank, como vai? Deus o abençoe. -
Louvor seja dado ao Senhor. Demos, minha esposa e
eu estamos convidando alguns amigos para um jantar
aqui em casa, no dia dezessete de setembro.
Gostaríamos de tê-lo conosco para esse jantar.
- Posso levar Tommy Hicks e o irmão Rolle... Sim,
Demos. Traga seus amigos -. Quando você convidar
Demos para um acontecimento, é melhor preparar-se
para convidar a metade de Los Angeles, porque ele
- 146 -
geralmente está acompanhado por uma turma de
amigos. Convidei meu advogado batista, Paul Henry e
sua família. Anos atrás, Paul tinha recebido o batismo
quando rapaz, mas tinha-se “esfriado”. Recentemente,
ele frequentava a reunião do café da manhã da “Full
Gospel Business Men's Fellowship”, e outras reuniões,
e esta associação levou-o a uma vida espiritual mais
profunda. Havia muitos outros naquele jantar à noite,
inclusive minha mãe.
Depois do jantar, passamos para a sala de estar,
onde a conversação girou em torno da grande cruzada
em progresso na América Latina, naquela época.
Ninguém tinha mencionado curas. De repente Paul
Henry começou a entusiasmar-se espiritualmente com
a ideia de que eu poderia ser curado aquela noite. Ele
me contou isso mais tarde.
- Frank - disse ele. - Eu estava sentado, ali na sua
sala de estar, entre aqueles homens que realmente
conheciam Deus, homens que tinham estado em
constante contato com Deus. Senti como se estivesse
sentado entre Pedro, João, Tiago e Paulo. Tive a
impressão de que estes homens conheciam Deus, e que
eles tinham o poder que vem de Deus.
Paul não era um homem somente de ideias. Ele
agia. Ele levantou-se, olhou para mim e disse: - Frank,
- 147 -
estes homens poderiam orar por você, e Deus o curaria.
Ele pegou uma cadeira e colocou-a no meio da sala.
- Sente-se nesta cadeira - ele disse. - É uma cadeira
elétrica, cheia do poder de eletricidade espiritual.
Eu me sentei. Os homens ficaram ao meu redor e
começaram a orar. Eles puseram suas mãos sobre mim
enquanto oravam; comecei a chorar. Havia muito
tempo que eu deixara de orar pedindo minha cura,
resignando-me a ser um aleijado pelo resto da vida.
De repente ouvi a mesma voz que me dissera “Não
faça isso!”, quando ia levar meu filho comigo para San
Bernardino. A mesma voz que dissera, “Você! Dê dois
dólares!” “Prometa cem dólares.” Agora ela me dizia:
“Fique tranquilo e saiba que eu sou Deus.” Depois, pela
segunda vez: “Fique tranquilo e saiba que eu sou Deus.”
Segundos depois eu me levantei, completamente
libertado pelo poder de Deus. Podia ouvir cada vértebra
estalando ao colocar-se no seu lugar. Senti a pressão
soltar-se do meu cérebro: senti meu braço empurrado
para a cavidade. Eu tinha sido libertado pelo poder de
Deus. Todas as minhas enfermidades desapareceram.
- Estou curado! Estou curado! - exclamei. Há
sempre alguns “Tomés” duvidando entre nós, e graças
a Deus por eles, porque, muitas vezes, eles confirmam
o que Deus tem feito por nós.
- 148 -
Paul Henry perguntou: - Você está realmente
curado? -Você pode imaginar uma coisa destas? Ele foi
quem, tão entusiasticamente, sugeriu a oração para
minha cura!
- Estou curado, Paul. Eu sei, Deus curou-me.
- Bem, vamos descobrir -. Ele se aproximou de
mim e, com seu punho forçou meu ombro onde havia
o ferimento.
- Está vendo? Estou curado!
Isso não foi o bastante para Paul. Ele bateu no
braço que tinha estado deslocado da cavidade. Bateu
forte e eu disse: - Estou curado, Paul. Inclinei-me,
curvando a cintura, e toquei o chão.
Ele me perguntou se eu podia alcançar o chão.
- Você pode levantar os braços acima da cabeça?
Levantei-os tão alto quanto podia alcançar. Isso foi
tudo. Eu tinha passado no teste. Todos sabiam que eu
estava curado.
O poder de Deus desceu sobre cada indivíduo
naquela sala. Paul começou a falar em línguas. Mamãe
glorificava a Deus em uma bela linguagem. Outros
falavam em línguas. Muitas línguas estavam
representadas. Nós glorificamos e exaltamos a nosso
Senhor, nosso poderoso Salvador, porque ele tinha
- 149 -
honrado nossa casa. Ele me livrou e me libertou às
dezenove horas, do dia dezessete de setembro de 1957.
Desde aquele momento, não tenho tido nenhuma
lembrança de dor, de nenhuma espécie relacionada aos
ferimentos sofridos naquele acidente automobilístico.
Fui completamente curado. Mas Deus não havia
terminado com seus milagres e comigo.
- 150 -
CAPÍTULO 9
Dando Para Ajudar
- 151 -
- Vamos orar - Velmer Gardner disse:
Certamente! Vamos orar! Eu posso fazer isso. Mas
não fiz. Eu simplesmente sentei ali, exatamente como
fiz na reunião de Oral Roberts, em Bakersfield. Que
bela maneira para este italiano agir, justamente depois
de uma cura milagrosa. Enquanto ali sentado, nem
mesmo exercitando minhas prerrogativas para orar, o
Senhor falou comigo. Parecia que ele sempre estava
falando comigo assuntos referentes a finanças. Ele
disse: “Você vai prometer dois mil dólares.”
- Senhor, um momento. Eu não tenho nem mesmo
duzentos dólares.
“Prometa dois mil dólares.”
- Senhor, Tu tens o homem errado, bem sabes.
Todos esses milionários aqui certamente um deles vai
se manifestar. Observe, e certamente receberás.
Esperei mais ou menos cinco minutos e nada
aconteceu. Ninguém prometeu dois mil dólares. Então
Velmer Gardner disse: - Esse homem não prometeu e
Deus está falando em seu coração.
Não havia engano algum. Deus tinha o seu dedo
apontado para mim, e eu sabia disso. Eu prometi e
fiquei com um débito de dois mil dólares. Logo depois
eles tiraram uma oferta para uma necessidade especial.
Muitos prometeram seiscentos dólares. Eu imaginei que
- 152 -
desta vez eu estaria isento. Eu já havia prometido dois
mil dólares que eu não tinha. Mas eu estava errado outra
vez. O Senhor falou: “Prometa seiscentos.” Isto então
seria dois mil e seiscentos de débito. Eu vim para ser
abençoado. O Senhor não tinha me abençoado o
bastante com minha família e minha cura. Não! Eu
desejava que os céus se abrissem completamente com
chuvas de bênçãos derramando sobre mim. Então
Gardner saiu com mais esta:
- Você ore que dentro de um ano o Senhor lho dará
de volta. Caso contrário, fale comigo.
Um ano se passou e nós ainda não tínhamos pago
nossa promessa de dois mil e seiscentos dólares. Eu
disse para Júlia: - Será melhor pagarmos -. Nós saímos,
empenhamos nossos móveis e pagamos aqueles votos.
Foi bastante difícil.
Uma tarde, logo depois deste fato, levei a família
para um pequeno passeio. Estávamos passando por
uma propriedade, pela qual eu tinha passado tantas
vezes havia anos. Era um tipo de granja. Eu não
consegui ler o nome do proprietário, ou o número de
telefone no anúncio “vende-se”, que estava
dependurado no portão de entrada da propriedade.
Provavelmente a ilegibilidade da impressão no anúncio
era a maneira de Deus impedir que aquele imóvel fosse
vendido, porque quando passei por ali, o Senhor falou
- 153 -
comigo. Ele disse: “Compre essa propriedade.”
Repentinamente freei o carro e quase joguei meu filho
e minha filha para o banco da frente comigo e Júlia. Eu
pedi a Marilyn que descesse do carro e anotasse nome e
número do telefone no anúncio.
- Que você vai fazer? - Júlia perguntou.
- Vou comprá-la.
- Mas você tem somente setenta e cinco dólares no
banco.
- Ótimo, vou comprar essa propriedade.
No dia seguinte chamei o proprietário e expliquei
que desejava comprar o imóvel. Fiz um depósito de
vinte e cinco dólares abri a opção de compra e vendi a
opção com sete mil dólares de lucro, e continuei com
meus negócios. Deus abençoou e abençoou e
abençoou. Os dois mil e seiscentos dólares que eu tinha
prometido e emprestado do banco para pagar a minha
promessa deram-me de volta sete mil dólares naquela
transação. Oh, o que Deus pode fazer se nós lhe dermos
a oportunidade! Mas nós a prorrogamos e nos
queixamos.
“Bem, Senhor, eu lhe dei cem dólares o mês
passado e não recebi nada”.
- 154 -
Vá ao médico e faça um exame. Você
provavelmente saberá que não há nada errado com sua
saúde. Não tem o Senhor lhe dado algo? Perfeita saúde?
Não são três refeições por dia alguma coisa? Depois
dessas três refeições você dorme bem à noite Não vale
cem dólares por mês dormir uma noite de sono o ano
todo? Eu diria que vale mil dólares. Seus nervos são
como aço. Suas pernas são fortes. Seus olhos ótimos. E
o Senhor não lhe tem dado nada em troca dos cem
dólares por mês que você lhe dá?
Eu aprendi pelo método difícil. Você não tem de
dar de mais. Você tem de dar até que ajude, e muitas
vezes isso excede em muito o dízimo. Os dez por cento
que você dá como dízimo são o que o Senhor requer.
Você não está dando ao Senhor até que exceda dez por
cento da sua renda, e os dez por cento saem do salário
total, não depois que as suas despesas são deduzidas.
Com quantos amigos você tem jantado que hoje dão
gorjetas de quinze ou vinte por cento da nota, por causa
de inflação em espiral? E a respeito do Senhor, então?
Não estão as despesas em fazer o seu trabalho afetados
pelas mesmas medidas inflacionárias? No entanto,
quantos hoje estão ainda continuando naqueles dez por
cento quando chega a hora de dar ao Senhor?
Não tenha receio de acelerar o passo. Não pense
em termos pequenos. Pense em termos grandes e atue
- 155 -
também de modo grandioso. Transfira tudo para Deus.
Ele diz para pedir com abundância. Peça
abundantemente! Não assim: “Oh, Senhor, se eu
pudesse ao menos pagar minhas contas”.
Peça bastante. “Senhor, abençoa-me. Faze-me
prosperar não só espiritual e fisicamente, mas também
materialmente. Não por mim, mas por tua glória. Tudo
o que tenho é teu, inclusive minha família e eu.” Depois
que você tiver pedido, louve ao Senhor. Agradeça-lhe
com louvores de ações de graça por tê-lo abençoado,
não somente por bênçãos de aumento, mas também
pelas adversidades. Agradeça e louve ao Senhor por
todas as coisas.
Não chame o Senhor de seu sócio. Esse foi o erro
que cometi. Ele não é meu sócio, ele é meu chefe. Eu
estive anos sob a suposição de que ele era meu sócio;
em outras palavras, eu dizia ao mundo que Jesus é
responsável por tudo que faço, até meus erros. Todos
nós cometemos erros. Prometemos coisas que não
somos capazes de cumprir. Se Jesus é seu sócio, ele é
responsável por cinquenta por cento de tudo que
acontece com você. Você o está arrastando para o seu
nível ao chamá-lo de seu sócio. Faça-o seu chefe. Nada
sairá errado quando é ele que dirige o espetáculo.
Nós tentamos fazer o trabalho de Deus; tentamos
fazer o impossível em vez de entregar tudo a Deus. Que
- 156 -
tem você na sua mão? Entregue esse minguado
pouquinho a Deus, como minha mãe fez com menos
de meio quilo de espaguete. Ela entregou-o a Deus, e
ele abençoou-o ao ponto de alimentar dezoito pessoas
famintas, e ainda houve sobra suficiente para alimentar
doze Foglios no dia seguinte. Louvado seja Deus! Isso
é que é entregar e crer. Que tem você na mão? Nós
sentamos e trememos, e choramos e pedimos,
imploramos como indivíduos não salvos, quando tudo
o que temos a fazer é tomar o que temos e entregá-lo a
Deus. Ajoelhe e entregue-o a ele. Depois levante-se.
Tire as suas mãos do problema e deixe-o para Deus.
É tempo de nos fecharmos em nosso quarto, ou
escritório, sozinhos, sentarmos e conversar com Deus.
Se eu entrasse no seu escritório, ou em sua casa, você
começaria a gritar comigo como um leiloeiro? Eu não o
entenderia, e ficaria aborrecido, com toda a razão.
Como acha você que Deus se sente? Ele gostaria de
conversar com você às vezes. Sente ali e diga: "Ó Deus,
tu conheces meu coração; tu conheces minha vida e
meus problemas. Deus, a não ser que tu me ajudes,
estou desamparado. Ó Deus, eu não posso fazer nada,
não tenho recursos financeiros. Deus, estou cansado,
não posso continuar. Tudo vai indo errado. Eu te amo,
meu Deus. Tudo o que tenho é teu, Deus. Eu te servirei.
Não te deixarei jamais. Meu Deus, abençoa-me!
- 157 -
Enriquece a minha alma. Tu disseste que desejas, acima
de todas as coisas, que prosperemos e tenhamos saúde
à medida que nossas almas prosperam.”
Um dia, no meu escritório, eu estava falando com
Deus dessa maneira. Repentinamente senti a sua
presença. Senti-o ao meu lado direito, e fiquei temeroso
de encará-lo. Fechei os olhos. Ele falou comigo e disse-
me o que fazer, e em questão de minutos todos os meus
problemas foram resolvidos.
Deus não deseja que falhemos. Nós falhamos
porque pedimos erradamente. Ele disse para pedirmos
com abundância. Faça isso e veja o que Deus pode
fazer. Desafie-o. Ele o protegerá e cuidará de você. Ele
disse: “Ele (o mal) não se aproximará da tua habitação.”
Mas você está lutando, tentando fazer as coisas sozinho,
e está falhando. Você quer pagar suas contas, quer
prevalecer em suas transações financeiras. Você quer
proteger o seu crédito; quer continuar ativo; quer dar a
Deus. Mas o mal está constantemente procurando uma
brecha, continuamente agitando o seu alicerce. Saiba
quem ele é. Transfira-o para Deus. Suplique o Sangue
de Jesus sobre ele. “Você, Satanás, eu venho contra
você, não em meu nome, mas em nome de Jesus Cristo.
Senhor, dá-lhe um bom chute. Senhor, controla-o!”
Depois você o contemplará afastando-se.
- 158 -
Quanto mais o Senhor o abençoar, tanto mais a sua
fé em Deus crescerá. Quanto mais ele o fizer prosperar,
tanto mais você estará cheio do Espírito Santo. Quanto
mais ele der a você, mais você lhe dará em troca. Ele lhe
devolverá em quantidade sempre crescente, recalcada e
transbordante, como a Bíblia diz. Torna-se um círculo
vicioso, sem fim. Somente tenha a coragem de acreditar
em Deus. Tenha a coragem de testemunhar por ele. Ele
o libertará dos seus sonhos por mais loucos que sejam.
Quase perdi meu avião uma noite em que
testemunhava ao telefone para um negociante que tinha
sido rico, mas na ocasião em que conversávamos ele
estava tão quebrado como não é possível imaginar. Fui
diretamente ao assunto, dizendo-lhe como era. Nada de
afagos e palavras de simpatia. Em vez disso, falei-lhe
sobre o assunto ao telefone.
- Eu não posso dar - ele disse.
- Oh, sim, você pode. Escute-me. Eu vou lhe ditar
uma carta, e você vai escrevê-la. Eu ainda tenho a cópia
desta carta, que dizia:
“Meu Deus, por meio desta eu te prometo, em
nome de Jesus, cinco mil dólares. Eu lhe darei e ainda
mais. Tu és o meu supridor. Tu és a minha fonte de
suprimentos. Tu proverás para minhas necessidades.
Sinceramente, John Smith”.
- 159 -
Depois que terminei de ditar a carta, um ver-
dadeiro reavivamento começou na outra extremidade
daquela linha. O negociante começou a falar línguas
estranhas. Acho que ele estava correndo pela sala,
porque não consegui me comunicar com ele por algum
tempo. Finalmente, ele voltou ao telefone e disse: “Eu
vou lhe mandar esta carta por via aérea, expressa.”
Recebi a carta e coloquei-a num lugar onde posso
consultá-la periodicamente. Estou também desfrutando
do prazer de ver este homem abençoado, tirado de uma
vida cheia de dívidas.
As coisas começaram a acontecer comigo de uma
maneira formidável depois que confiei em Deus e lhe
prometi minha vida inteira. Eu disse a Deus que eu
tinha um compromisso para levar um senhor idoso para
almoçar fora. Não podemos ignorar as pessoas mais
idosas. Elas desejam companhia. Elas gostam de
conversar com pessoas. Elas são humanas.
O senhor idoso era rico. Mas eu disse a Deus que
não iria levá-lo para almoçar por algum interesse em seu
dinheiro. Não! Eu amava esse amigo. Fomos almoçar,
e ele pagou as despesas. Depois do almoço ele quis fazer
umas visitas, desejando ardentemente companhia. Ele
também apreciou o passeio, e passeamos pelas estradas
na sua limusine dirigida pelo seu motorista.
Discretamente eu levava a conversa para uma discussão
- 160 -
sobre a alma do homem, e como ele necessitava de
aceitar a Jesus Cristo como seu Salvador, quando
semelhante a algo completamente inesperado, meu
amigo disse: - Irmão Foglio, não sei por que lhe digo
isto, mas eu tenho cento e vinte e cinco mil e
quatrocentos metros quadrados de terra em Los
Angeles. Distam somente dez minutos da Prefeitura.
Estou velho, e vai me custar um milhão de dólares de
impostos quando eu morrer. Quero vender essa
propriedade. É terra e imposto demais!
Cento e vinte e cinco mil e quatrocentos metros
quadrados de terra a dez minutos distantes da
Prefeitura! Glória seja dado ao Senhor! Aleluia! Eu
desejaria ficar em pé, no assento de trás daquela
limusine, levantar as mãos aos céus, e gritar louvores ao
Senhor! Eu sabia que tinha um comprador. Não havia
problema para aquela propriedade. O Senhor me havia
dito a quem chamar, no momento em que o amigo
dissera que desejava vender aquela propriedade.
Chamei a pessoa assim que cheguei ao meu escritório.
Eu lhe havia vendido alguns imóveis, e ele confiava em
mim. Quando lhe contei dos cento e vinte e cinco mil e
quatrocentos metros quadrados em Los Angeles, ele
disse: - Eu fico com a propriedade -. Ele nem se
preocupou em ver o imóvel; em vez disso, veio ao meu
- 161 -
escritório, e olhou a localização das terras num mapa da
área de Los Angeles.
- Que você acha disso?
- Maravilhoso! Perfeitamente maravilhoso!
Eu mal podia conter o meu arrebatamento. Não
porque significaria uma boa comissão para mim; muito
além de ganhos materiais, o negócio significava uma
contribuição considerável para o trabalho do Senhor.
Nós somos sovinas demais com Deus. Estamos
em condições difíceis, não por culpa de Deus, mas por
nós mesmos. A Bíblia nos diz: “ Ele faz um caminho
onde não parecia haver nenhum.” Quantas vezes nós
temos estado com Deus? Satanás deseja que nós
desistamos. Ele tentou persuadir-me quando voltei da
cruzada de Oral Roberts em Bakersfield. Ele se infiltra
em nós no momento oportuno, quando pensamos que
tudo está perdido. Não existe tal coisa chamada
desistência; nem renúncia, nem deitar à espera da
morte. Absolutamente não!
Satanás deseja dizer ao seu ouvido: “Olhe! Ele
disse que abençoaria você e lhe faria próspero. Mas veja
o que você tem. Você não está recebendo nada em
troca. Veja o quanto você deu em dízimo o ano
passado. Que é que recebeu de volta? Falsas
promessas”.
- 162 -
O meu Deus, “segundo a sua riqueza em glória, há
de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas
necessidades” (Filipenses 4.19). Ele não falhará! Ele
disse: “Eu nunca te abandonarei, nem te deixarei.”
Então, quem é que está abandonando alguém? O diabo
nos observa. Ele sabe quando nos atacar. É geralmente
quando nos sentimos eufóricos, felizes, e tudo vai
otimamente. Nossas defesas estão caídas. A
prosperidade nos tem afastado um pouco, permitindo
que o mal penetre nas brechas; portanto, quando
estamos bem e Deus está suprindo todas as
necessidades, essa é a ocasião de exclamar, e louvar, e
glorificar a Deus, e nos aprofundarmos espiritualmente.
Agradeça-lhe por todas as coisas. Não descanse por um
simples momento.
Ore em inglês. Ore em iugoslavo. Ore em italiano.
Deus tem nos avisado que Satã não é tolo. Ele sabe
todas as línguas do universo. Ele sabe todos os dialetos.
Não há uma língua que ele não fale e interprete. É
melhor nos educarmos no Espírito Santo e falar no
Espírito. Quando fazemos isso, nós confundimos o
velho de casco fendido.
Ore no Espírito enquanto guia seu carro pela
estrada, ou através de tráfego na cidade. Em seu coração
ore no Espírito. No seu escritório, conversando com
um homem de negócios, converse com ele em seu
- 163 -
coração e ore no Espírito. Você ganhará em muitos
pontos. O Senhor abençoá-lo-á. Nunca faça uma
compra, quer seja você um homem de negócios ou um
empregado - ou qualquer que seja sua posição na vida -
sem primeiro ter bons momentos de oração com o
Senhor. Isso pagará dividendos.
O Senhor não somente nos faz prosperar
espiritualmente, mas também física, material e
financeiramente. Às vezes suas bênçãos parecem ser
adversidades. Realmente, ele está nos abençoando de
uma maneira que na ocasião não entendemos.
Poucos anos depois de minha cura, encontrei-me
com um cristão, cuja resignação à pobreza me
incomodava tanto que decidi mostrar-lhe, pelas
bênçãos de Deus, que ele poderia vencer a sua pobreza.
Nós estávamos indo de Fontana a Los Angeles no carro
deste senhor; um modelo bastante antigo. Ele morava
num barracão velho de uma casa, com a esposa e cinco
filhos. Dizia-se homem de negócios, mas uma distinção
destas era para deixar dúvidas. A caminho de Los
Angeles, aquele carro velho falhava a estalava, e tanta
fumaça subia do piso do carro, que eu mantive a cabeça
fora da janela o tempo todo, a fim de fugir do
sufocamento. Viajando para Los Angeles, e depois de
volta a Fontana, três pneus furaram. Eu fiquei furioso.
- 164 -
- Irmão - eu disse. - Você não pode viver como um
homem derrotado. Você está salvo e já recebeu o
Espírito Santo. Tome emprestados dez mil dólares e
traga-os ao meu escritório.
Penso que o Senhor deveria estar usando alguma
linguagem bastante forte por meu intermédio. Fizemos
a viagem de carro no sábado e na segunda-feira seguinte
ele me telefonou. Estava assustado. Disse que não tinha
dormido por duas noites.
- Eu tenho os dez mil dólares disse ele. - Venha
pegá-los -. Sua voz tremia. Ele deveria ter hipotecado
tudo que tinha. Mas, era cauteloso, como logo percebi.
Quando cheguei à sua casa, ele tinha duas notas
promissárias preenchidas. Ele disse: - Irmão Foglio,
penso que não deveria me arriscar por toda a quantia.
Você assina esta nota promissória -. Ele me entregou
uma das notas e disse: - Você fica responsável por
cinco, e eu aceitarei a responsabilidade por cinco
também.
Eu peguei o cheque de dez mil dólares e voltei ao
meu escritório; alguns dias depois vi uma área de
terreno, e o Senhor me disse que a comprasse para o
meu amigo e para mim. Comprei-a. A transação deu-
me oito mil dólares de lucro, dos quais quatro eu enviei
ao meu amigo. Pouco tempo depois comprei outra
propriedade e consegui quinze mil dólares. E assim fui
- 165 -
comprando e vendendo. Por estranho que pareça, com
este movimento de dinheiro, tive que lutar com este
homem por todos os meios. Tive que arrastá-lo pelos
calcanhares para que ele fosse abençoado pelo Senhor.
Comprei um lote de terra com um pagamento
inicial de dois mil e quinhentos dólares. O lote media
dezoito mil, seiscentos e sete metros quadrados, no
valor de vinte e sete mil, duzentos e cinquenta dólares.
Eu disse ao meu amigo que segurasse o lote até que eu
lhe dissesse quando vender. Toda vez que desejávamos
vendê-lo o Senhor me provava, mesmo quando meu
amigo teve uma oferta de trinta e cinco mil dólares pelo
lote. Meu amigo queria livrar-se logo e pegar o seu
lucro. Mas, ele esperou.
Então, um dia, quando eu estava de joelhos em
oração, o Senhor me contou que um comprador faria
uma oferta para o lote de meu amigo e ele o venderia.
Telefonei-lhe e dei-lhe autorização para vender. Poucos
dias mais tarde ele me chamou, tão excitado que mal
podia falar. - Adivinhe uma coisa gritou ele.
- Você o vendeu?
- Oh! Sim. Tenho um título de setenta e cinco mil
dólares que representa dinheiro vivo.
Deus tem abençoado aquele homem
maravilhosamente. Se você o tivesse conhecido antes
- 166 -
destas transações comigo, e se o encontrasse agora,
você não diria que é o mesmo homem. Ele tem uma fé
notável e é grande ganhador de almas. Ele provou
Deus. Ele teve a coragem de sair da situação em que
estava anteriormente. Peça abundantemente e acredite,
e você receberá.
A Bíblia diz em 3 João 2: “Amado, acima de tudo
faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é
próspera tua alma.” Creia. Não é pecado ganhar
dinheiro. Ganhe-o, mas use-o para Deus. Você não
pode dar mais do que Deus lhe dá. Experimente.
Enquanto as bênçãos de Deus estavam caindo
sobre mim, como chuvisqueiros da primavera, algumas
nuvens começaram a aparecer no horizonte. Desde a
minha cura, os anos tinham-me visto prosperar, mas
havia vácuos espirituais ao meu redor que necessitavam
ser preenchidos.
- 167 -
CAPÍTULO 10
Para a Morada da Glória
- 168 -
Uma das suas tristezas centralizava-se nos meu
irmãos, Joe, Fred e Cármen, e meu cunhado Jimmy
Sarracino. Eles não tinham recebido o batismo do
Espírito Santo, embora tivessem recebido Jesus Cristo
em seus corações. Meu irmão mais velho, Joe, era
morno com respeito ao Cristianismo, e mais interessado
em ganhar dinheiro do que receber o batismo do
Espírito Santo. Joe era um negociante bem sucedido em
Weinton, em West Virginia. Visitava-nos em Fontana
sempre que os negócios lhe permitiam. Mamãe lhe dizia
com muita doçura: - Joe, seria melhor você receber
plenamente o Espírito Santo. Bom seria se mudasse o
seu caminho -. Joe sempre dava a mesma resposta.
Enfiava a mão no bolso do paletó, tirava a carteira,
tocava-a carinhosamente e dizia: - Mama, este é o meu
Deus.
Mamãe acariciava-lhe a face mas nunca
pronunciava palavras de críticas. Ela tentava falar com
Cármen que sentia muita amargura pelo Tony, que fora
capturado e morto pelo inimigo, na Segunda Guerra
Mundial. Como Fred, ele não dava ouvidos à mãe.
Jimmy Sarracino expressava satisfação em ser
simplesmente salvo. Mas mamãe não estava satisfeita.
Ela centralizava suas orações em Joe, Jim e Cármen,
pondo seu relógio para despertar às três da manhã e sair
- 169 -
da cama para orar por estes três rapazes. Eu me lembro
de ouvi-la na sua conversa com Deus.
“Ei, Deus. Derrama o Espírito Santo sobre Joe.
Derrama o Espírito Santo sobre Cármen. Derrama o
Espírito Santo sobre Jim. Obrigada, meu Deus.” Ela
fazia orações simples, mas poderosas.
Certa vez, Joe visitou-nos durante um avivamento
em Ontario, Califórnia. Mamãe queria que ele fosse
com ela ao avivamento. Ela pediu ao Jim e Cármen que
fossem também. Joe concordou em ir, mas deixou claro
que ia para satisfazê-la. Nós fomos e ouvimos Bernie
Davis, um homem de muito poder no Senhor.
Francamente, eu estava assustado. Eu pensei: “Ó Deus,
espero que nada aconteça para afligir Joe.” Você sabe
como somos às vezes tentados a dizer a Deus como
dirigir as nossas vidas ou um culto, cheios de medo,
correndo à frente de Deus. Eu disse: “Meu Deus,
espero que alguma senhora não rompa em gritos e
berros, e fale outras línguas. Certamente vai afugentar o
Joe.”
Nós sentamos ali, escutando Bernie Davis, e eu
estava nervoso. Joe, sentado a meu lado, sério, bem
vestido, o tipo de um negociante opulento, enfatuado,
e contente de si. O culto ia-se realizando e eu cada vez
mais apreensivo. Convidamos a preocupação quando
começamos a temer que ela nos ataque. Como um ímã,
- 170 -
atraímos aquilo que tememos. Eu deveria ter observado
o conselho de 2 Timóteo 1.7: “Porque Deus não nos
tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e
de moderação.”
O evangelista estava chegando ao fim do seu
sermão quando o poder de Deus tocou uma jovem de
dezesseis anos. Ela levantou-se, começou a falar línguas
estranhas e caiu na nave. Aquilo perturbou Joe. Agarrei-
o pelo braço para que não saísse. Ele até praguejou, e
eu pensei em Efésios 4.30: “Não entristeçais o Espírito
de Deus.”
- Vocês estão loucos, e estão fora de juízo - Joe
falou ao meu ouvido. - Eu não acredito em nada disto.
É tudo reação psicossomática. Tentei acalmá-lo. Depois
do culto, Bernie Davis mostrou tanto amor ao Joe e
falou com ele com tal entusiasmo sobre mamãe, e a
serva fervorosa que ela era, que Joe ficou
profundamente emocionado. Bernie disse-me que
estava indo para Chino, para uma reunião de
avivamento lá. Ele convidou Joe para ir e levar a família.
- Sim, estarei lá - Joe respondeu.
Sua palavra foi o seu compromisso. Quando fazia
uma promessa, ele a cumpria. Eu sabia disso. Mas foi,
na verdade, uma surpresa para mim, na noite seguinte,
- 171 -
quando ele mencionou a reunião. - Está bem - disse ele
-. Vamos em meu carro até Chino, ouvir Bernie Davis.
Outra vez eu orei: “Ó meu Deus, que tudo saia
bem.” Eu não sabia, mas deveria ter suspeitado que a
explicação disso tudo é que mamãe esteve falando com
Deus, naquela sua maneira de falar: “- Ei, Deus!
Derrama teu Espírito Santo sobre meus filhos.
Obrigada, Deus.”
Fomos no carro grande de Joe para o endereço da
igreja, e o que eu vi me surpreendeu. Nós estávamos em
frente de um velho edifício de lojas, que parecia ter sido
condenado pelos inspetores de edifícios anos atrás.
Entramos e vimos, à nossa frente, velhos bancos
simples de madeira, postos juntos. Os bancos e o chão
estavam empoeirados. Sentamo-nos. Joe, em seu terno
cinza, impecável, parecendo completamente fora de
lugar, como um rei na choça de um pescador, ou um
mendigo num palácio.
“- Meu Deus! Meu Deus!” disse eu em agonia. “Por
que permitiste que viéssemos aqui?”
Deus prepara a cena. Nós nos preocupamos e nos
afligimos porque somos carne. “Os que se inclinam
para a carne, cogitam das coisas da carne; mas os que se
inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito”
(Romanos 8.5).
- 172 -
O Espírito Santo animou os cânticos. Eu podia
sentir o culto decorrendo calmamente com Bernie
pregando um sermão dinâmico sobre o batismo do
Espírito Santo. Quando terminou, pediu que todos
curvassem a cabeça, e, então ele fez a chamada para o
altar. Eu conservei a cabeça curvada por uns minutos, e
depois ergui-a. Joe tinha ido embora. Eu sabia o que
tinha acontecido. Ele havia saído para fumar e
provavelmente estaria no carro esperando por nós
quando saíssemos. Pobre Joe!
Voltei minha atenção para um grupo de homens
em pé, num círculo, na frente da igreja. Um dos homens
virou-se e fez sinal para eu me juntar ao grupo. Fui para
lá e encontrei Joe deitado no chão, coberto de pó da
cabeça aos pés, seu lindo terno cinza todo amassado e
sujo onde ele tinha rolado no chão. Ele tinha descalçado
um sapato e tentava levantar-se. Pôs as mãos no chão e
levantou-se ligeiramente, depois caiu de novo, batendo
no chão com uma forte pancada. Repetiu seus esforços
várias vezes, mas sem resultado. Ninguém lhe tocou.
Finalmente desistiu da luta, e caiu estirado, de costas, e
relaxou. O poder de Deus viera sobre ele e estava salvo
e batizado com o Espírito Santo.
Quando aprenderemos que “O homem vê o
exterior, porém o Senhor, o coração”? (1 Samuel 16.7)
- 173 -
Finalmente, Joe levantou-se, enfiou a mão no
bolso, tirou o maço de cigarros e pisou sobre eles até
esmagá-los com os sapatos. Durante o derramamento
do Espírito Santo sobre Joe, meu irmão Cármen
também foi salvo e recebeu o Espírito Santo.
Joe e Cármen falaram línguas estranhas e louvaram
o Senhor durante a volta para a casa e aquela noite toda.
Jim ficou excitado e com inveja, porque ele ainda não
tinha recebido o batismo, mas na noite seguinte, na
reunião de oração da mamãe ele também recebeu o
poder e o batismo do Espírito Santo. Mamãe estava
radiante. Ela andava pela casa com um sorriso até às
orelhas, dizendo: - Ei, Deus. Derramaste o Espírito
Santo sobre meus filhos. Obrigada, Deus!
A transformação que ocorreu na vida de Joe
assombrava todos que o conheciam. Ele voltou para
Weirton e tornou-se uma fortaleza, uma fonte de
energia para Deus. Todas as noites, depois que saía do
escritório, tomava seu cupê e voava para cidades como
Pittsburgh, Steubenville, Cleveland, Columbus, e outras
áreas de West Virginia, Ohio e Pensilvânia, dando
testemunho de Jesus Cristo e relatando o
acontecimento da sua salvação. Seu trabalho pelo
Senhor continuou por três anos, nunca perdendo um
dia de testemunhar por seu Senhor e Salvador em algum
lugar. Seu notável entusiasmo e energia faziam-me
- 174 -
lembrar de mamãe, e como, depois de ser salva e cheia
do Espírito Santo, viajava de cidade em cidade, batendo
à porta, explicando: “Eu quero contar-lhe a respeito de
Jesus.”
O testemunho de Joe trouxe centenas de almas ao
Senhor. Ele trabalhava na vinha do Mestre, dia e noite,
sem cansar, sempre com pressa -pressa como se
houvesse muito pouco tempo para ele contar aos outros
a respeito de Jesus. Pode ter sido um pressentimento
que o guiava.
Um dia, três anos depois do seu batismo no
Espírito Santo, ele saiu do aeroporto de Weirton com
um sacerdote católico romano, num voo curto para
Sewickley, Pensilvânia. Durante o voo o motor do avião
começou a aquecer. Pousou em Aliquippa e
permaneceu lá até que o motor esfriasse, e decolou
novamente. O avião começou a perder altura logo
depois de decolar e não muito tempo depois caiu. O
sacerdote que tinha gostado do Joe, e estava sendo
susceptível ao seu testemunho, escapou com alguns
arranhões e ferimentos de menor importância. Joe
sofreu fraturas de ambos os maxilares, pernas
mutiladas, dez costelas quebradas e uma delas perfurou
o pulmão.
Recebi um telefonema em Fontana, da esposa do
Joe. Ela me disse que seria bom que eu me apressasse.
- 175 -
Joe tinha chamado por mim, e estava bem mal. Meu
irmão Fred e eu voamos para Aliquippa, onde
permanecemos ao lado de Joe por cinco dias. Ele estava
consciente quando chegamos, mas logo depois caiu em
coma. Em vez de gritar de dor e agonia, ele
continuamente repetia: “- Glória a Deus! Glória a
Deus”! Tentamos conversar com ele, mas não nos
ouvia; pelo menos não parecia compreender o que
dizíamos, exceto quando eu falei sobre Jesus ou disse:
“Louvor seja dado ao Senhor!” Então ele sorriu e sua
face irradiava felicidade.
No quinto dia depois do acidente, Joe foi para o lar
do Senhor. Ele saiu deste mundo glorificando seu
Salvador, e deixando atrás de si uma grande colheita de
almas salvas. Graças a Deus, pois “Pelos seus frutos os
conhecereis” (Mateus 7.20).
Chamei a mamãe, e tudo que eu podia dizer era: -
Mãe! Mãe! – Eu não podia dizer-lhe que Joe tinha
partido com Jesus. Porém ela sabia.
- Filho, não é bom, não é verdade?
- Não, mamãe.
- Traga-o para casa.
Trouxemos o corpo para Fontana. Mamãe
chorando e soluçando, andava ao redor do esquife. Ela
não ficou zangada com Deus por ter levado seu filho
- 176 -
para estar com ele. Ela sabia que esta era a vontade de
Deus, e agradecia a ele pelo que Joe havia feito de bom
pelo seu Senhor.
- Logo verei você ela disse, quando seu corpo
desceu à sepultura.
Mamãe envelhecia e sentia-se cansada. Eu
observava os sinais, mas não queria acreditar. Este ano,
1965, tinha sido especialmente um ano de pesados
fardos para ela, com o acidente de Joe e sua morte,
esgotando-lhe as forças. Mas este ano, também,
marcava o trigésimo-nono aniversário de uma contínua
reunião de oração semanalmente, todas as segundas-
feiras, à noite, em nossa casa, começando em Raccoon,
Pensilvânia. Nós continuamos com planos de observá-
la. Mamãe convidava todos os santos de Deus da área
de Fontana, e todos os membros de nossa família.
Ela fazia um pedido especial para meu irmão Fred,
que tinha nascido na fazenda, no ano em que mamãe
iniciou as reuniões de oração.
Fred é um homem de quase 1,80m de altura; seus
cabelos estão totalmente brancos. Ele trabalhava como
delegado no departamento de polícia. Fred é um
indivíduo corajoso, uma pessoa que vive estritamente
de acordo com seus caprichos. Ele não se importava
muito em envolver-se completamente com Deus desde
- 177 -
que chegou à idade adulta. Mas era inteiramente
diferente nos dias de sua juventude.
Fred estava salvo, cheio do Espírito Santo, e falava
em línguas quando tinha apenas sete anos de idade. Ele
tornou-se um dos maiores milagres de salvação que já
vi numa criança. Aos dezoito anos ele alistou-se na
marinha, e as coisas mudaram. Ele começou a beber e
a fumar muito, e desenvolveu um caso sério de úlceras.
Os cirurgiões tiraram sessenta por cento de seu
estômago. Ele pediu-nos que viéssemos ao hospital
para orar com ele. Deus graciosamente restabeleceu-o
da operação, e devolveu-lhe uma saúde normal. Mas as
bênçãos não lhe tocavam. Continuou no seu próprio
padrão de vida.
Ele veio à nossa casa no dia em que mamãe
celebrava o trigésimo-nono aniversário de nossa
reunião de oração. Entrou em casa com um grande
charuto na boca, e saudou mamãe com um “- Alô,
Mama!” e soltou uma baforada de fumaça em seu rosto.
Mamãe não disse uma palavra; simplesmente conservou
aquele cintilar em seus olhos. Ela nunca bateu ou
chicoteou os filhos. Suas mãos eram macias como
veludo; em vez de nos bater, ela nos afagava o rosto
com uma de suas mãos e sorria. Houve ocasiões quando
ela fez isso comigo, e eu desejaria que ela me tivesse
batido com um cacete, porque aquele pequenino afago
- 178 -
na face trazia terrível condenação a mim, como também
aos meus irmãos e irmãs. Ela parecia saber exatamente
como estávamos vivendo sem que lhe dissessem.
O aniversário da reunião de oração teve um grupo
de mais ou menos setenta e cinco pessoas. Eu tive a
incumbência de dirigir periodicamente a reunião desde
aos meus doze anos. Eu dirigia a reunião e os cânticos.
A voz de Fred sobressaía a todas, usando a plenitude
dos seus pulmões. Mamãe sentou-se a um canto, como
usualmente fazia nos últimos anos, quietamente
louvando o Senhor em Espírito. Nós nos ajoelhamos
na hora de oração e a presença do Senhor encheu a sala,
com todos louvando a Deus e falando línguas estranhas
- justamente uma reunião pentecostal de derramamento
do Espírito Santo.
Lá no canto, onde mamãe estava, repentinamente
veio a voz e a frase familiar: “- Ei, Deus!” A reunião de
oração parou por completo, nem um sussurro. O “- Ei,
Deus!” fez parar as exclamações, silenciou todas as
vozes.
Mamãe tomou a direção. Ela disse: “- Ei, Deus!
Meu filho Fred, ele está aqui esta noite. O Senhor sabe,
Deus, quando ele tinha sete anos foi salvo e cheio do
Espírito Santo. Mas Deus, agora ele é um apóstata. O
Senhor sabe, Deus, ele está aqui. Ele está exatamente
ali.”
- 179 -
Fred começou a tremer tanto que a cadeira em que
estava sentado começou a matracar, com um som
semelhante ao manejo de uma metralhadora de calibre
trinta; havia tanta convicção na alma de Fred. Ele não
sabia o que fazer, se ficar ou sair correndo pela porta.
Acho que se não fosse pela humilhação, ele teria corrido
para sua casa.
Mamãe continuou orando. “- Senhor, eu sei que
sabes. O Senhor tem que trazê-lo de volta. Sim, Deus
traze-o de volta. Eu agradeço, Deus. Amém.”
Fred foi até a mamãe depois de terminada a
reunião. Ele estava tão bravo, tão confuso, que mal
podia falar. Ele disse algumas palavras às pressas e
confuso: - Mamãe, nunca mais fale com Deus desse
jeito; eu não voltarei mais aqui.
Mamãe sorriu, acariciou-lhe na face e disse: - Meu
bondoso filho.
Fred ficou tão perturbado que não sabia o que
dizer ou fazer. Sua perplexidade não surpreendeu
mamãe, que sabia que algum dia suas orações seriam
respondidas, não importava quanto tempo levasse.
Um dia, poucas semanas mais tarde, mamãe
chamou minha irmã Jessie ao telefone. “- Eu quero que
você me escute. Tome nota de tudo que eu lhe digo.”
- 180 -
Ela disse a Jessie todas as coisas que ela desejava
que fossem feitas e exatamente como. Ela explicou o
tipo de esquife no qual desejava ser sepultada, o vestido
que desejava usar, e quem era para estar na cerimônia
do funeral, assim também quais os pregadores. Ela
citou os hinos que desejava que fossem cantados.
- Não é para haver choro, porque vocês sabem para
onde a Mama vai. E acrescentou: - Eu vou partir logo.
Vou ver Costy, Tony, Joe e o papai. Eu logo partirei.
Nós não percebíamos quase nada de como mamãe
estava cansada e exausta, e estaria em pouco tempo com
nossos irmãos e o papai. Os médicos nos tinham dito
que tudo o que ela precisava era um descanso, um
pouco de recuperação de forças. Mas eu podia perceber
que ela estava desejando ardentemente encontrar-se
com o Senhor Jesus. Ela estava cansada. Ela havia
combatido um bom combate. Ela desejava ver Jesus e
seus queridos que haviam partido antes dela.
Jessie escreveu tudo que mamãe lhe dissera. Ela era
uma doce mulherzinha e não fez perguntas. Mamãe não
me chamou para eu ouvir o que ela queria dizer porque,
mesmo que eu acreditasse, ela sabia que eu desataria a
rir, e deixaria facilmente o assunto de lado. Esse era o
meu jeito, e mamãe sabia. Ela pôs a sua casa em ordem,
fez seu testamento e fê-lo perfeitamente claro, sem
dúvida alguma - guiada pelo Espírito Santo - que
- 181 -
nenhum membro da família teve comentário algum a
fazer.
Depois de ter falado com Jessie, mamãe foi para
fora de casa. Ela notou um homem subindo a rua, e o
Senhor lhe disse que testemunhasse a ele. Ela nunca
deixou de dar seu testemunho quando a oportunidade
se apresentava, e se uma oportunidade não surgisse ela
faria uma. Ela tropeçou, segurou-se na parede para
amparar-se, e tentou chegar até ao portão enquanto o
estranho se aproximava.
- Senhor! - Ela exclamou -. Será bom que o senhor
aceite Cristo como seu Salvador, e aceite-o
rapidamente. O senhor não tem muito tempo.
- Não quero ouvir isso respondeu ele.
- Eu quero contar-lhe sobre Jesus.
- Não quero ouvir isso.
Quatro dias depois eu fui ao funeral daquele
homem. Ele teve a sua oportunidade.
Minha irmã Dolly visitou mamãe um dia depois
que ela tentou dar seu testemunho ao estranho. Ela
contou para Dolly a sua experiência. Mamãe estava
deitada na sua cama, e quando terminou de relatar
aquele fato, ela disse: - Estou um pouco cansada. Pode
sair e deixe-me descansar.
- 182 -
Dolly hesitou. - A senhora não está com a
aparência muito boa - disse mamãe para ela. - Vá para
casa. Venha ver-me mais tarde.
Dolly retirou-se do quarto, e então “Mama” partiu
silenciosamente para Jesus. Ela fechou os olhos e Deus
a tomou para sua glória. Dolly correu voltando ao
quarto, mas “Mama” já pertencia à glória celeste.
Não ouvimos mais a “Mama” dizer: “Ei, Deus!”
Mas eu sei que se Deus permitir que ela olhe para nós
lá do céu, ela se chegará a ele (uma pequenina mulher,
um pequeno dínamo), e dirá: “- Ei Deus! Abençoa
aquelas pessoas lá embaixo.”
Nós dependíamos tanto das orações da mamãe.
Meu Deus! Como nós vivíamos! Sempre certos de todas
as respostas. Sabendo que tudo que tínhamos a fazer
era contar para mamãe. “- Mama, por favor, ore pelos
meus negócios. Mama, por favor, ore por isto, ou por
aquilo.” Era tão inspirador, tão encorajador em tempos
de reveses, ouvir exatamente a “Mama” dizer: “- Ei,
Deus, abençoe seus negócios. Abençoe sua casa.”
Quando o Senhor levou mamãe para o lar celeste,
eu tive que aprender a orar outra vez. Tive que aprender
a andar com meus próprios pés. Tive que aprender a
procurar Deus por mim próprio. Onde quer que eu
esteja, guiando o carro pela estrada, andando no meu
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escritório, ou no meu lar, eu uso o mesmo padrão. Eu
digo: “- Ei, Deus! Escuta. Eu quero falar contigo.” Esse
é o modo como falo com Deus agora. Do mesmo jeito
que mamãe fazia. Tente alguma vez. Quando você
disser: “- Ei, Deus!” Você sentirá a sua presença.
Eu sou abençoado em minha alma toda vez que
penso sobre a Mama e nossa família, e o seu notável
alcance de Jesus Cristo. Ela possuía tanta simplicidade,
tanta realidade, tanta sinceridade. Deus se fez tão real
em nossa família. Ele deu provas, mostrou sua força,
seus milagres. Como poderíamos deixar de crer? Deus
mostrou-nos que a salvação era real, o Espírito Santo e
a libertação eram reais. Louvado seja Deus! Ele é o
mesmo hoje como era naqueles dias, quando as cento e
vinte pessoas se encontravam no Cenáculo, o mesmo
agora como aquele dia em que a família pentecostal
trouxe as bênçãos de Deus em nossas vidas mediante a
aceitação de Jesus Cristo como nosso Salvador,
arrependimento e derramamento do Espírito Santo.
Deus não mudou nem um pouquinho. Ele é tão
perfeitamente real, tão perfeitamente benevolente, tão
perfeitamente glorioso e tão perfeitamente precioso.
Deus age no seu tempo e modo próprios. Ele não
pode ser impelido a agir com rapidez. Tive o privilégio
de testemunhar de acordo com o horário de Deus no
caso de Clem Marone, meu sócio na empresa de
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processamento de carne, em Fontana. Logo depois da
minha cura, em 1957, a companhia foi dissolvida. O pai
de Clem, Nick, voltou para Cleveland. Clem, Mary Jo e
seus dois filhos mudaram-se para Honolulu, onde Clem
e Mary Jo entraram num negócio de pizzaria. Ela ia de
porta em porta vendendo pizzas. Deus fê-los prosperar,
e eles abriram negócio em outros áreas.
Clem e eu não nos mantínhamos em contato
frequentemente, mas em 1968, Júlia e eu, com diversos
outros casais, voamos para Honolulu, onde renovamos
nossa amizade com Clem e Mary Jo.
Surpreendentemente, Mary Jo estava radiante de
entusiasmo pelo Senhor, dando toda evidência de que
tinha sido salva e batizada no Espírito Santo. Clem não
tinha o entusiasmo de sua esposa, e ele nos contou por
que.
Um domingo de manhã, logo depois da mudança
para Honolulu, Mary Jo disse a Clem que ela desejava ir
à igreja. Ele respondeu: - Pode ir.
- Eu quero ir à sua igreja com você.
Naquele domingo, de manhã, Clem e sua família
foram à igreja Assembleia de Deus. O pastor pregou
uma mensagem de salvação. Mary Jo e as crianças
responderam à chamada do altar. Eles foram salvos e
cheios do Espírito Santo. Louvado seja o Senhor! Era
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uma resposta às orações de Clem, às orações da mamãe,
e às orações de muitos outros, incluindo o pai de Clem,
Nick.
- Eu simplesmente não entendo uma coisa - Clem
disse, queixando-se. -Tenho procurado o batismo do
Espírito Santo desde 1957, e nada tem acontecido. Olhe
minha esposa. Uma chamada ao altar, e ela recebe tudo,
é salva e cheia do Espírito Santo.
Júlia e eu e alguns outros casais que fomos à
convenção, pusemos nossas mãos sobre Clem, e
oramos por ele. Logo ele começou a tremer como um
junco ao vento tempestuoso. Ele irrompeu em línguas
estranhas. Louvado seja Deus! Clem recebeu tal
derramamento do Espírito Santo que nós pensamos
que ele iria estourar, louvando a Deus por “oceanos de
bênçãos”.
Deus não é um Deus pequeno. Peça e creia e você
receberá. Jesus disse aos seus apóstolos em João 15.7:
“Se permanecerdes em mim e as minhas palavras
permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos
será feito.”
Continuando em João 15.1, 2, 4-5: “Eu sou a
videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo
que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo
o que dá fruto, limpa, para que produza mais fruto
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ainda. Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós.
Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se
não permanecer na videira; assim nem vós o podeis dar,
se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós os
ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá
muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.”
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Mamãe Foglio
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