Lei de Tortura
Lei de Tortura
Lei de Tortura
LEI Nº 9.455/97
Tortura
Os crimes de tortura são definidos pela Lei nº 9.455/97.
Na verdade, como se trata de conduta extremamente repugnante, a
própria Constituição Federal proibiu expressamente a prática da tortura:
Art. 5º (...)
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante;
(...)
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los,
se omitirem;
Sujeito ativo
Todas as figuras previstas no inciso I do art. 1º são crimes comuns, ou
seja, podem ser praticados por qualquer pessoa.
Atenção para isso: ao contrário do que ocorre nos outros países, no Brasil,
mesmo o particular, ou seja, quem não é funcionário público, também
pode praticar crime de tortura. As Convenções internacionais preveem,
inclusive, a tortura como crime próprio. Isso, contudo, não interfere no
Brasil:
O art. 1.º da Lei nº 9.455/1997, ao tipificar o crime de tortura como crime
comum, não ofendeu o que já determinava o art. 1º da Convenção da
ONU Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos
ou Degradantes, de 1984, em face da própria ressalva contida no texto
ratificado pelo Brasil.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.299.787/PR, Min. Laurita Vaz, DJe 3/2/2014.
Exemplos
• policial que bate em suspeito até que ele confesse o crime;
• patrão que, ameaçando ordenar que o segurança da empresa agrida o
empregado, o faz admitir que ele desviou dinheiro do caixa;
• credor que, com uma arma na cabeça do devedor, obriga que ele
assine um termo de confissão de dívida;
Consumação
O crime se consuma com o sofrimento (físico ou mental) causado pelo
emprego da violência ou da grave ameaça.
Não importa, para fins de consumação, que o agente tenha conseguido
seu objetivo. Assim, mesmo que a vítima não dê a informação,
declaração ou confissão exigida, o crime já estará consumado.
A tentativa é possível, considerando que se trata de crime
plurissubistente.
Elemento subjetivo
É o dolo com o especial fim de agir (com o fim de obter informação,
declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa).
Prova ilícita
A prova obtida mediante tortura será considerada ilícita e, em regra,
deverá ser desentranhada dos autos.
Nesse sentido: art. 5º (...) LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas
obtidas por meios ilícitos.
Vale relembrar também o art. 157 do CPP:
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as
provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas
constitucionais ou legais.
§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo
quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou
quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente
das primeiras.
§ 2º Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os
trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução
criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
§ 3º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada
inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes
acompanhar o incidente.
Exemplo
João tortura Pedro para que ele fraude uma licitação.
Natureza criminosa
O agente tortura a vítima para o cometimento de crime (“natureza
criminosa”).
Não se enquadra neste dispositivo o agente que tortura a vítima para que
ela pratique contravenção penal. Nesse sentido:
(Delegado PC/MS 2017 FAPEMS) O funcionário público que constrange
fisicamente o estagiário a praticar contravenção penal poderá ser
responsabilizado pelo crime de tortura do art. 1º da Lei nº 9.455/1997.
(errado)
Responsabilidade do torturador
O torturador responderá pela tortura-crime (art. 1º, I, “b”) em concurso
material com o crime que obrigou o torturado a praticar. O torturador é
autor mediato do crime que for praticado pelo torturado.
Sujeito ativo:
Trata-se de crime próprio.
Somente pode ser agente ativo do crime de tortura-castigo (art. 1º, II,
da Lei nº 9.455/97) aquele que detiver outra pessoa sob sua guarda,
poder ou autoridade (crime próprio).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.738.264-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
em 23/08/2018 (Info 633).
Figura equiparada
Sujeitos do crime
• Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa.
• Sujeito passivo: exige-se uma qualidade especial (deve ser uma pessoa
que está presa ou sujeita a medida de segurança).
Pessoa presa
O tipo abrange a prisão penal ou civil (devedor de pensão alimentícia)
Se for penal, pode ser provisória ou definitiva.
Omissão
• Se o agente tinha o dever de evitar a tortura: neste caso, tem-se a
omissão imprópria (crime comissivo por omissão).
• Se o agente tinha o dever de apurar a tortura: trata-se de omissão
própria (crime omissivo puro).
Omissão imprópria
A omissão imprópria é aquela relacionada com a figura do “garante”
(garantidor).
Se o agente era garantidor da vítima, ele tinha o dever de evitar a
tortura.
Exemplo: a mãe tem ciência que seu marido tortura o filho dela, mas
nada faz para impedir a conduta.
Omissão própria
O agente soube da tortura, mas não determinou a sua apuração.
Ex: Delegado de Polícia é informado que um dos agentes que trabalha
com ele praticou tortura no último plantão contra um suspeito. Apesar
disso, ele se omite e não toma nenhuma conduta.
Formas qualificadas
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a
pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a
reclusão é de oito a dezesseis anos.
Preterdoloso
Prevalece que o § 3º é uma forma preterdolosa do crime de tortura.
Isso significa que somente se aplica o § 3º se a lesão corporal ou morte
decorreu de culpa do agente.
Se o agente tinha a intenção de praticar tortura e de matar a vítima, ele
deverá responder por tortura em concurso formal com homicídio.
Agente público
A doutrina afirma que se deve utilizar o conceito do art. 327 do CP
(funcionário público).
Assim, para fins penais, agente público = funcionário público do art. 327
do CP.
Aplicação deste inciso II em conjunto com a agravante do art. 61, II, "f",
do CP
No caso de crime de tortura perpetrado contra criança em que há
prevalência de relações domésticas e de coabitação, não configura bis in
idem a aplicação conjunta da causa de aumento de pena prevista no art.
1º, § 4º, II, da Lei nº 9.455/1997(Lei de Tortura) e da agravante genérica
estatuída no art. 61, II, "f", do Código Penal.
STJ. 6ª Turma. HC 362634-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 16/8/2016 (Info 589).
A majorante prevista no art. 1º, § 4º, II, da Lei nº 9.455/97 busca punir de
forma mais rígida o autor de crime que demonstrou maior covardia
porque cometeu o crime se favorecendo da menor capacidade de
resistência da vítima (que é uma criança). Há, pois, um nexo lógico entre
a conduta desenvolvida e o estado de fragilidade da vítima.
Por outro lado, a agravante prevista no art. 61, II, "f" do Código Penal
pune com maior rigor o agente pelo fato de ele ter demonstrado maior
insensibilidade moral, já que violou o dever de apoio mútuo que deve
existir entre parentes e pessoas ligadas por liames domésticos, de
coabitação ou hospitalidade.
Desse modo, esses dispositivos tratam de circunstâncias e objetivos
distintos, razão pela qual não há que falar na ocorrência de bis in idem.
Efeito extrapenal
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou
emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do
prazo da pena aplicada.
Art. 92, I, do CP
O art. 92, I, do CP prevê, como efeito extrapenal específico da
condenação, o seguinte:
Art. 92. São também efeitos da condenação:
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou
superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou
violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4
(quatro) anos nos demais casos.
Assim, aplica-se a lei brasileira mesmo que o crime de tortura tenha sido
praticado no exterior, desde que:
• a vítima seja brasileira (princípio da personalidade passiva); ou
• o agente esteja em local sujeito à jurisdição brasileira (princípio do
domicílio).
Competência
A competência para processar e julgar o crime de tortura, em regra, é da
Justiça Estadual.