Guia de Primeiros Socorros 2023

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GUIA BÁSICO DE

PRIMEIROS SOCORROS
Revisto e adaptado às
guidelines do European
Resuscitation Council 2020

Rev. 4-
2023

AUTOR: José Galvão


Mestre Riscos e Proteção Civil
Pós-Graduado Urgências e Emergências Hospitalares
Licenciado Educação Especial e Reabilitação
Mail to: [email protected]
Guia Básico de Primeiros Socorros
_______________________________________________________________________________________________

© copyright José Galvão e Caduceus


Direitos reservados. Cópias e reproduções físicas ou eletrónicas (ainda que parciais) e
distribuição proibidas sem autorização expressa do autor.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Índice
Introdução..................................................................................................................... 4
Definição e objetivos do Primeiro Socorro .................................................................... 4
Interação com o SIEM .................................................................................................. 5
Abordagem da Vítima e Pré-Socorro ............................................................................ 6
Avaliação primária........................................................................................ 6
Avaliação secundária ................................................................................... 7
Valores de Referência .................................................................................. 7
Prioridades de Socorro ................................................................................................. 9
Hemorragias ............................................................................................................... 10
Hemorragias Externas................................................................................ 10
Hemorragias Internas Invisíveis ................................................................. 11
Hemorragias Internas Visíveis.................................................................... 12
Lesões da Pele ........................................................................................................... 14
Feridas ....................................................................................................... 14
Caso especial: amputação ......................................................................... 15
Queimaduras ............................................................................................. 16
Por calor .................................................................................................. 16
Por frio ....................................................................................................... 18
Suporte Básico de Vida – SBV ................................................................................... 19
A Cadeia da Sobrevivência ........................................................................ 20
Segurança do Reanimador ........................................................................ 24
Algoritmo de Suporte Básico de Vida ......................................................... 26
Segurança do Reanimador – Parte 2 ......................................................... 33
Obstrução da Via Aérea – OVA.................................................................. 36
Posição Lateral de Segurança ................................................................... 40
Casos Especiais......................................................................................... 42
Suporte Básico de Vida Pediátrico ............................................................. 46
Obstrução da Via Aérea (OVA) Pediátrica.................................................. 49
Lesões músculo-esqueléticas ..................................................................................... 50
Fraturas ..................................................................................................... 50
Lesões articulares ...................................................................................... 51
Traumatologia Geral ................................................................................................... 53
Traumatismo Craniano (TCE): Causas, Consequências e Tratamento ...... 53
Traumatismo da coluna - traumatismos vertebro medulares (TVM) ........... 55
Urgências e Emergências Médicas ............................................................................. 57
Ataque cardíaco ......................................................................................... 57

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Acidente Vascular Cerebral – AVC e Acidente Isquémico Transitório (AIT) 59
Diabetes ..................................................................................................... 61
Crise Convulsiva e Epilepsia ...................................................................... 62
Primeiros Socorros Pediátricos ................................................................................... 66
A mala de primeiros socorros ..................................................................................... 67
Bibliografia .................................................................................................................. 69

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Introdução
Este guia tem como objetivo permitir uma consulta rápida em caso de
emergência ou um fácil acompanhamento dos tópicos fundamentais
numa ação de formação em primeiros socorros.

A sua leitura, não habilita por si só à prática de primeiros socorros e


não deve em nenhuma circunstância substituir o estudo de um
manual completo e muito menos a certificação como socorrista obtida
pela frequência de um curso.

Pretende ser um mero auxiliar simplificado e não mais do que isso.


Como tal, os seus autores e a Caduceus, declinam qualquer
responsabilidade legal por práticas inadequadas resultantes da sua
leitura.

Definição e objetivos do Primeiro Socorro


De acordo com as guidelines 2015 do ERC1, o Primeiro Socorro é
definido como um conjunto de comportamentos e cuidados iniciais
prestados face a uma situação de trauma ou doença súbita.

O Primeiro Socorro pode e deve ser iniciado por qualquer pessoa, na


medida dos seus conhecimentos e competências.

Entende-se por Socorrista o indivíduo treinado em Primeiros Socorros


que deverá:

• Reconhecer, avaliar e priorizar as necessidades de atuação;


• Administrar os cuidados ao(s) paciente(s) utilizando as
competências apropriadas;
• Reconhecer as suas limitações e solicitar ajuda diferenciada
sempre que necessário.

O objetivo primordial do Primeiro Socorro será, portanto, preservar a


vida do paciente, minorando o seu sofrimento e prevenindo o
agravamento da situação clínica, contribuindo assim de forma eficaz
para a sua eventual recuperação futura.

1 O European Resuscitation Council (ERC) publica a cada 5 anos um conjunto de linhas


orientadoras (guidelines) para aplicação de técnicas de ressuscitação na Europa. Pela primeira
vez em 2015 as guidelines introduzem um capítulo dedicado a outras intervenções no âmbito
do primeiro socorro.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Interação com o SIEM
O Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM) é um conjunto de
meios e ações coordenadas que possibilitam uma ação rápida e eficaz
em situações que envolvam emergências médicas.

O SIEM consta de 6 fases (1-detecção,


2-alerta, 3-pré-socorro, 4-socorro, 5-
transporte e 6-tratamento hospitalar),
que devem ser colocadas em prática por
ordem sequencial tal como vemos na
imagem ao lado. Estas fases podem ser
representadas pelas 6 pontas da ‘Estrela
da Vida’, símbolo universal da
emergência médica.

Na maior parte da União Europeia, o número europeu de emergência


é o 112. Tal acontece também em Portugal, sendo as chamadas
atendidas e triadas numa central da PSP.

Caso necessite de ligar 112 por razões de


emergência médica, deve referir esse facto ao
centralista que o atender, que transferirá de imediato
a chamada para o CODU (Centro de Orientação de
Doentes Urgentes). Aí a chamada será atendida por
um operador de central com formação em
emergência médica, que lhe prestará a ajuda
necessária e enviará para o local os meios de socorro
adequados. Se for o caso, poderá ainda recorrer ao
médico de serviço.

Sempre que fizer um contacto deste tipo, deve referir o seguinte:

1. Localização exata, (endereço e pontos de referência)2;


2. Tipo de situação, o que ocorreu;
3. Tipo de vítima (sexo e idade aproximada);
4. Se há socorrista no local e o que está a ser feito;
5. Se há condicionantes especiais (riscos ambientais ou outros,
vítimas encarceradas, etc.);
6. O seu número de telefone caso seja pedido;
7. Apenas desligue a chamada após indicação do centralista.

2 Em 2023 o INEM introduziu em fase experimental um sistema de geolocalização das


chamadas efetuadas via smartphone. Recomenda-se, contudo, a descrição da localização
como plano complementar.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Abordagem da Vítima e Pré-Socorro
A finalidade do pré-socorro é estabilizar o estado das vítimas,
evitando que o mesmo se agrave até que chegue a ajuda mais
diferenciada. É por isso fundamental evitar erros comuns (como
mobilizar a vítima, dar-lhe água, etc.) e abordá-la da forma mais
adequada, em função do seu estado e origem do problema.

Em primeiro lugar, é fundamental garantir que estão


reunidas as condições de segurança do local. O
socorrista não deve expor-se a riscos iguais ou superiores
aos da vítima.

Garantidas as condições de segurança (suas, da vítima e de


terceiros), o socorrista deverá efetuar a avaliação primária a todas as
vítimas e a avaliação secundária com particular relevância em vítimas
de trauma. Consegue-se assim ter uma panorâmica mais adequada
do estado provável da vítima e comunica-lo ao CODU, bem como
tomar decisões quanto à melhor forma de a estabilizar.

Avaliação primária:

Qualquer socorrista ainda que menos diferenciado, deve saber avaliar


as funções vitais básicas de uma vítima (consciência, respiração,
circulação, temperatura, …) e procurar recolher informações
significativas, seguindo o acrónimo CHAMU3:

Circunstâncias (que originaram a situação)


História (historial clínico da vítima)
Alergias conhecidas
Medicação que a vítima esteja a tomar
Ultima refeição que tomou (o quê e há quanto tempo)

Deve ainda seguir os 3 primeiros (ou os 5 conforme a formação que


tiver) passos do acrónimo ABCDE:

Airway: abrir a via aérea


Breathing: verificar a respiração
Circulation: verificar a circulação / controlar hemorragias
Disability: avaliar existência de disfunção neurológica
Expose/Environment: exposição com controlo de temperatura e
avaliação do envolvimento

3
Alguns autores consideram integrar este passo na avaliação secundária, bem como uma
sequência de procedimentos ligeiramente distinta. Em nosso entender esta questão não se
levanta, já que o mais importante é o socorrista saber como proceder em casos distintos.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Avaliação secundária:

De primordial importância na vítima de trauma, deve também ser


considerada noutras vítimas enquanto se aguarda a chegada da ajuda
diferenciada.

Consiste na reavaliação das funções vitais (em particular


consciência, respiração, circulação/pressão arterial, temperatura, dor)
se possível recolhendo os diversos parâmetros (ritmo, frequência,
amplitude, simetria) que lhes estejam associados;

Se ainda não o fez e tem oportunidade de o fazer agora, recolha as


informações do acrónimo CHAMU;

Considere a avaliação sistematizada (observação/palpação) de todo o


corpo da vítima, expondo-o (com controlo da temperatura) e
observando-o numa sequência céfalo-caudal e próximo-distal.

Se tiver conhecimento e equipamento para tal, meça/avalie a pressão


arterial, a glicemia capilar e a oximetria periférica.

Valores de Referência (adulto):

Frequência Frequência Temperatura Pressão Glicemia SpO2


respiratória cardíaca (ºC) Arterial (mg/dl) (%)
(Ciclos por (Pulsações (mmHg)
minuto) por
minuto)
Valores 12~20 Cpm 60~100 Ppm 35~37,5ºC 120/80 70~100 96~99%
padrão mmHg
Desvios Bradipneia:<12 Bradicardia: Hipotermia: Hipertensão: Hipoglicemia: Variável
Polipneia: >20 <60 <35ºC >140/90 <70 em
Taquipneia:>35 Taquicardia: Hipertermia mmHg Hiperglicemia: diversas
>100 (febre): >100 patologias
>37,5ºC

Outras escalas e tabelas para avaliação da vítima:

Existem várias escalas


para avaliação da
intensidade da dor. Os
exemplos ao lado,
permitem questionar a
vítima e avaliar de
forma mais ou menos
objetiva como ela
classifica a dor que
refere.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Escala de avaliação de consciência (disfunção neurológica) – permite
avaliar o grau de consciência da vítima.

A A vítima encontra-se ALERTA (reage à aproximação)


V Responde a estímulos VERBAIS
D Responde a estímulos DOLOROSOS (prega cutânea, …)
S SEM RESPOSTA a quaisquer estímulos

Escala de coma de
Glasgow (disfunção
neurológica) – permite
classificar objetivamente
as principais respostas da
vítima a estímulos e
consequentemente o seu
grau objetivo de
inconsciência/coma.
Embora esta escala possa
não ter grande
representatividade para o
socorrista comum, ela é
importante para as
equipas de socorro.

Idêntica situação se passa com a Escala


de Trauma (apresentada à direita),
aplicável como o nome indica, na
abordagem da vítima de trauma grave e
levando sempre em linha de conta os
resultados obtidos na Escala de Glasgow.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Prioridades de Socorro
Como é obvio, nem todas as situações em primeiro socorro têm a
mesma gravidade e, como tal, o socorrista deve avaliar quais têm
maior prioridade de atendimento e que são naturalmente as situações
emergentes, ou seja, aquelas que colocam em risco imediato uma ou
mais funções vitais e, consequentemente, a própria vida das vítimas.

De uma forma geral e como mnemónica, consideram-se situações de


socorro prioritário, as enquadráveis no acrónimo ACHET, ou seja:

Asfixia – inclui todas as emergências cardiorrespiratórias


Choque
Hemorragias Graves
Envenenamentos ou Intoxicações Agudas
Traumatismos Graves

As restantes situações não enquadráveis nas 5 anteriores, são


consideradas de socorro não prioritário, embora não devam ser
menosprezadas pois podem a médio prazo acabar por agravar e
colocar igualmente em risco a vida da vítima.

Não obstante, ao longo deste manual, abordaremos apenas as


situações que, não tanto pela sua gravidade ou prioridade, mas pela
pertinência do público-alvo, serão tratadas ao longo do curso.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Hemorragias
As hemorragias podem classificar-se de
diferentes formas, seja quanto à
proveniência, tipo de vasos afetados, forma
de apresentação…

No entanto a sua abordagem por parte do


socorrista é, claramente a de procurar
conter a saída de sangue (sempre que tal
for possível e salvo indicações em contrário).

Hemorragias Externas

Assim sendo e tendo em conta o controlo de hemorragias externas


(aquelas em que o sangue se exterioriza por uma ferida), existem 3
métodos de estancamento (hemóstase), como veremos em seguida.

Primeiros Socorros:

Compressão Manual Direta: é o método


preferencial. O socorrista (após colocar luvas)
aplica pressão sobre a ferida com a sua mão e
com ajuda de compressas esterilizadas. Na
ausência destas, pode usar panos limpos, mas
nunca algodão ou outros tecidos com pelos ou
contaminados com algum tipo de impurezas.
Se a hemorragia for numa extremidade, deve
mantê-la elevada, podendo ainda colocar uma
ligadura pouco apertada para segurar as
compressas e ajudar à compressão.
Atenção que a compressão deve ser mantida até que a hemorragia
esteja obviamente contida e nunca deve retirar a compressa que
esteja diretamente aplicada sobre a ferida para não remover coágulos
que já se tenham formado.

Como é fácil de entender, apesar de esta técnica ser a preferencial,


ela não pode ser usada em determinadas circunstâncias, por
exemplo, se na zona da hemorragia existir uma fratura ou um objeto
empalado.

Garrote: consiste num dispositivo improvisado com um cinto, um


lenço triangular, uma gravata, ou qualquer outro agente, que
comprima uma artéria situada entre o coração e o ponto da
hemorragia. Obviamente o garrote só serve para hemorragias nos

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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membros e é normalmente aplicado na raiz dos mesmos, isto é, na
parte superior do braço ou da coxa, conforme o caso.
Por ser extremamente traumático, o garrote apenas deve ser aplicado
em casos extremos, se a hemorragia for realmente grave. Por isso e
porque está em causa a vida da vítima, não é recomendável que o
socorrista alivie ou retire o garrote. Deve, no entanto, anotar a hora
de colocação num local bem visível (como a testa da vítima) para que
as equipas de socorro possam decidir se e quando o aliviar para não
comprometer demasiado a irrigação do membro.
Tradicionalmente em Portugal esta anotação é feita com 6 dígitos
consecutivos: HGHHMM, em que HG significa Hora de Garrote, HH
os 2 dígitos da hora e MM os 2 dígitos do minuto.

Exemplo: garrote colocado às treze horas e vinte e três minutos,


deve escrever-se:

HG1323
Não colocar traços ou pontos a separar os dígitos.

NOTA: frequentemente os termos garrote e torniquete são


confundidos. No entanto trata-se de dispositivos distintos, sendo que
o torniquete não é por norma utilizado pelo socorrista, mas sim por
profissionais treinados, já que incorretamente utilizado pode agravar
francamente a lesão.

Compressão Manual Indireta: é no fundo uma técnica semelhante


à do garrote, mas sem recurso a qualquer objeto. É feita por pressão
(contra o osso) de uma artéria que irrigue o local da hemorragia.
Usam-se entre outras artérias, a Umeral (na parte superior do braço),
a Femoral (na zona superior e interna da coxa) e a Temporal (na
região superior lateral da face).
Como esta pressão é efetuada com as mãos ou os dedos do
socorrista, não é constante e, portanto, acaba por ser menos
traumática que o garrote. Contudo e pelo mesmo motivo é também
menos eficaz, logo pouco recomendada em casos graves.

Hemorragias Internas Invisíveis

Como o nome indica, neste tipo de hemorragias o sangue não se vê,


pois fica alojado no interior do corpo. São por isso muito perigosas,
na medida em que muitas vezes não são detetadas até que seja
demasiado tarde. Mas há sinais e sintomas que podem fazer-nos
suspeitar da sua existência (sinais de Choque ou de hipovolemia),
tais como:

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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• Tendência para perda de consciência
• Respiração e circulação fracas, mas bastante rápidas
• Pressão arterial muito baixa
• Dor local; aparecimento de equimoses (nódoas negras)
• Sede muito intensa
• …

Primeiros Socorros:

Perante esta sintomatologia e porque


obviamente o socorrista nem sabe exatamente o
local da hemorragia nem pode aceder-lhe, deve
limitar-se a manter a vítima tão imóvel quanto
possível, procurar acalmá-la e, se possível,
mantê-la consciente e humedecer-lhe os lábios
com uma compressa molhada, mas não dar
água a beber.
Informar o 112 da suspeita para que eles
possam enviar ajuda urgente.

Hemorragias Internas Visíveis

Estas hemorragias são já mais fáceis de identificar que as anteriores,


na medida em que o sangue se exterioriza por um orifício natural do
corpo.
Podem ser de diversos tipos e origens, sendo a sua gravidade
variável. Neste manual iremos apenas abordar as mais frequentes no
dia-a-dia, ou seja, as hemorragias nasais, tecnicamente chamadas
‘epistaxis’.

Perante a presença de uma hemorragia nasal, continua a assistir-se a


um sem número de erros de procedimentos que convém de uma vez
por todas corrigir. O mais recorrente é a questão da cabeça inclinada
para trás, o que é completamente desadequado e até perigoso, pois a
vítima pode asfixiar com o próprio sangue. Vejamos então os
procedimentos corretos:

Primeiros Socorros:

• Colocar a vítima sentada, com a cabeça


direita ou ligeiramente inclinada para a frente
(para que não engula o sangue nem se
engasgue);
• Pressionar ambas as narinas com os
dedos, continuamente até que a hemorragia

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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pare (pode demorar vários minutos) ou, em alternativa…
• Introduzir pequenos rolos de compressa em ambas as narinas e
mantê-los até que claramente a hemorragia tenha parado.
Cuidado ao retirá-los pois podem estar colados à mucosa nasal
e ao retirar, despoletar nova hemorragia;
• Pode ainda combinar os métodos anteriores com a colocação de
frio sobre o nariz, o que irá contrair os vasos e diminuir o fluxo
de sangue. Para tal, pode usar um pacote de frio instantâneo
(vulgarmente existente em malas de primeiros socorros) ou
mesmo um saco de gelo embrulhado num pano. Nunca colocar
gelo diretamente sobre a pele, pois ao fim de algum tempo irá
provocar lesões.

MUITA ATENÇÃO:

Sem prejuízo do acima descrito, não deve estancar uma


hemorragia nasal se suspeitar que a vítima tem um
traumatismo craniano ou um episódio de hipertensão
arterial.

NOTA: Recentemente têm sido introduzidos no nosso país algoritmos


de atuação distintos dos referidos, cuja aceitação por parte das
Entidades competentes é ainda um pouco incipiente. Damos como
exemplo o caso dos fundamentos americanos de controlo de
hemorragias graves, ensinados em formações como a ‘Stop the
Bleed’4 e que, em nosso entender faz sentido dominar pois trata-se
de procedimentos razoavelmente simples e que em casos limite
podem salvar vidas.

Este algoritmo, consiste resumidamente em (adaptado de Chapleau,


2023):

• Etapa 1: garanta a sua própria segurança.


• Etapa 2: ligue 112
• Etapa 3: Encontre a lesão hemorrágica
• Etapa 4: Interrompa a hemorragia exsanguinante:
o Pressão direta
▪ Ou
o Use torniquete para hemorragias nas extremidades
▪ Ou
o Cubra (preencha) a ferida com gaze ou pano limpo e em
seguida aplique pressão com as 2 mãos
• Etapa 5: Mantenha as vítimas o mais aquecidas possível.

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A Caduceus encontra-se neste momento acreditada para ministrar esta ação (N. do A.)

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Lesões da Pele
Feridas

No tocante a feridas, temos antes de mais


que avaliar a sua gravidade (se é muito ou
pouco profunda, se tem objetos estranhos
encravados, se tem hemorragia considerável
associada, …)
Obviamente que a ferida será tanto mais
problemática, quanto maior for o número de
fatores de gravidade. Como tal, quanto mais
grave ela for, menos o socorrista lhe deverá
mexer.
Comecemos pelas feridas mais simples – as
superficiais, sem hemorragias consideráveis nem objetos empalados:

Primeiros Socorros:

• Lavar abundantemente a ferida, com


água potável ou soro fisiológico, caso exista em
quantidade substancial;
• Após certificar-se que não ficaram
impurezas dentro da ferida, desinfetar,
preferencialmente com um germicida não
corante. Certifique-se de usar um produto ao
qual a vítima não seja sensível ou alérgica. Na
dúvida, saltar este passo;
• Cobrir a ferida com compressas, pensos rápidos, etc. nunca
usar algodão ou outros tecidos com pelos.
• Recomendar sempre a ida a um posto de socorros, para
minimizar riscos de infeção e outros.

Fatores de gravidade:

Diversas circunstâncias podem tornar as feridas mais graves e


requerer cuidados especiais. Assim, podemos (entre outras)
encontrar as seguintes situações agravantes:

• Hemorragias graves
• Feridas profundas
• Objetos encravados (empalados)
• Mordeduras de animais
• Feridas em zonas sensíveis (olhos, mucosas, …)

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Estas situações irão requerer procedimentos especiais e são sempre
da competência de técnicos diferenciados. Assim basicamente, o
socorrista limitar-se-á a conter as hemorragias (se existentes), cobrir
a ferida e enviar a uma unidade de saúde. Caso haja objetos
empalados, estes devem ser imobilizados, mas nunca removidos.
Finalmente, no caso das mordeduras de animal, deve lavar-se
abundantemente a ferida e, se possível, o animal deve ser visto por
um veterinário para descartar doenças transmissíveis ao ser humano.

Caso especial: amputação

Esta situação, embora possa ter outros


enquadramentos, não deixa de ser uma
ferida com características especiais.
Considera-se amputação a separação de
qualquer parte anatómica do resto do
corpo. Muito frequentemente esta
situação está associada a traumatismos
das extremidades. Podemos, pois, estar
a falar de membros na sua totalidade ou apenas de alguns segmentos
(dedos, etc.).

Os procedimentos a ter nestes casos, são mistos


entre o socorro das feridas e o das hemorragias.
Assim, se existir hemorragia relevante (pode
não acontecer), esta deverá ser contida pelos
métodos correspondentes (compressão direta,
indireta ou garrote, conforme os casos).
Contida que esteja a hemorragia, proteger o
membro residual (coto da amputação) com um
penso estéril ou pelo menos limpo.
A peça anatómica separada, deve ser
embrulhada num pano limpo, introduzida num saco fechado e
preservada em frio (i.e. numa mala térmica ou outro recipiente com
gelo.

Muita atenção:

Nunca colocar a peça anatómica diretamente no gelo, pois


isso iria queimá-la e impossibilitar o seu reimplante se for
o caso.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Queimaduras

As queimaduras são igualmente lesões na pele


e tecidos moles tal como as feridas, mas com
características distintas, já que são provocadas
por agentes físicos (calor, frio, eletricidade,
radiações) ou químicos (ácidos, bases fortes,
outros agentes corrosivos).

É sabido que, numa perspetiva anatómica


simples, a pele é constituída por 3 camadas, a saber:

• Epiderme – camada mais superficial, bastante fina e constituída


maioritariamente por células mortas;
• Derme – camada intermédia, fortemente vascularizada e
enervada;
• Hipoderme – camada mais profunda, constituída por diversas
estruturas, como o tecido adiposo.

As queimaduras
classificam-se assim em
primeiro, segundo e
terceiros graus, conforme
a camada ou camadas de
pele afetada (s).
Obviamente que será tanto
mais grave, quanto mais
profunda for.

Tendo em conta os
destinatários deste
manual, debruçar-nos-emos essencialmente sobre as queimaduras
térmicas (calor e frio).

Por calor:

Após o contacto com uma fonte de calor, todas as camadas da pele


irão ser progressivamente afetadas e por isso, o mais importante é
arrefecer imediatamente a zona e de forma tão prolongada quanto
possível. A melhor forma de o fazer é mergulhando a zona afetada
em água fria (mas sem ser gelada e muito menos com gelo, pois isso
acabaria por provocar mais lesões). Manter este procedimento
durante o tempo que for necessário até que a dor diminua ou
desapareça. Caso a vítima seja transportada ao hospital, manter o
arrefecimento durante o percurso.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Após o arrefecimento concluído (e insistimos na necessidade de o


fazer independentemente do grau), os passos seguintes já poderão
depender da profundidade da queimadura. Assim e conforme o caso
os procedimentos serão:

• 1º grau – após arrefecimento, passar


creme hidratante. Por norma não requer
transporte a unidade de saúde;
• 2º grau – após arrefecimento, deverá
proteger as bolhas (flictenas) sem as perfurar.
Caso estas rebentem espontaneamente, deve
efetuar um penso para proteger a ferida
resultante, preferencialmente com gaze não
aderente; a ida ao hospital irá depender não só
da extensão e localização da queimadura, como
também do estado das bolhas.
• 3º grau – sendo as mais profundas, são por defeito as mais
graves. Requerem quase sempre ida ao hospital. As zonas
carbonizadas deverão ser cobertas com compressas não
aderentes e estes pensos mantidos molhados para ir
arrefecendo e não colarem. Como há risco de a vítima entrar
em hipotermia e choque, deve manter-se a temperatura
corporal com um lençol para queimados e/ou um lençol
isotérmico (dispositivo de cor metalizada – ouro ou prata –
frequentemente disponíveis em kits de primeiros socorros.

É ainda fundamental ter em


atenção que, as tradições populares
passam de geração em geração,
usos e costumes que, apesar de
poderem provocar um aparente
alívio temporário, nem sempre
estão corretos e em certos casos
podem mesmo ser perigosos. Já
vimos atrás situações deste tipo e também neste capítulo existem
várias. Portanto muita atenção às seguintes recomendações:

Para além de água fria não utilize em nenhuma circunstância:

• Manteiga ou outro tipo de gorduras


• Álcool ou bebidas alcoólicas de nenhuma espécie
• Pasta dentífrica ou outros produtos mentolados
• Clara de ovo ou outros produtos culinários
• Pomadas de nenhum tipo (algumas podem ser adequadas
mas são do âmbito da enfermagem, não do socorrismo)
• Etc, etc., …

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Por frio:

Quando existe um contacto ou uma exposição mais ou menos


prolongada a temperaturas muito baixas, poderão resultar
igualmente lesões na pele, com principal incidência às zonas mais
expostas, normalmente as extremidades.

No que toca ao primeiro socorro a aplicar, a


lógica para as queimaduras pelo frio (geladuras)
é em tudo similar às do calor, com exceção
evidentemente do primeiro passo que neste caso
não será arrefecer, mas sim aquecer
gradualmente a área afetada, por imersão em
água morna. Há que ter em conta que a vítima
pode perder a sensibilidade térmica, portanto o
socorrista deve ter em atenção a temperatura da
água. Pelas mesmas razões das queimaduras,
não devem existir choques térmicos portanto a água será apenas
tépida e o aquecimento gradual.

Nos casos extremos em que haja congelamento de extremidades,


estas poderão encontrar-se fragilizadas e, por conseguinte, o seu
manuseamento terá de ser extremamente cauteloso.

Em nenhuma circunstância o aquecimento deverá ser efetuado por


fricção ou contacto direto com fontes de calor (aquecedores, …).

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Suporte Básico de Vida – SBV
Introdução

Este capítulo
encontra-se de
acordo com as
normas e manuais
do Conselho
Europeu de
Ressuscitação,
com as adaptações
introduzidas pelas
guidelines
publicadas em
Outubro de 2015 e
revistas em 2020.

A legislação
portuguesa tem
introduzido
recentemente vários Diplomas que conduzem à obrigatoriedade de
diversos profissionais necessitarem obrigatoriamente de frequentar
formação Acreditada em SBV, para o desempenho de diversas
funções, designadamente no tocante ao transporte de doentes
(independentemente de ser ou não em ambulância). Tal faz, em
nosso entender, todo o sentido, na medida em que qualquer pessoa,
particularmente doentes instáveis, pode a todo o momento necessitar
de intervenção ao nível do suporte básico de vida, pelo que, tal como
ocorre já há décadas noutros países, estes conhecimentos deveriam
fazer parte da formação cívica obrigatória de qualquer cidadão.

Ao longo do capítulo, tomará assim contacto com diversos conceitos


que lhe permitirão dominar as técnicas de Suporte Básico de Vida e
aprenderá como colocar em prática (com maior enfoque) os 2
primeiros elos da ‘Cadeia da Sobrevivência’ já que, sem prejuízo da
importância dos restantes, são estes os que têm diretamente a ver
com a atuação no âmbito do suporte básico de vida.

Os restantes 2 elos serão tratados em ações de formação


complementares e/ou de especialização.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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A Cadeia da Sobrevivência

Este é um dos mais importantes conceitos a reter por qualquer


socorrista, pois a colocação em prática de cada um dos seus quatro
elos é, na maioria dos casos, a condição para o êxito na recuperação
de um paciente em paragem cardiorrespiratória.

Como é sabido, cada elo da cadeia terá um tempo útil para ser
colocado em prática, sem o que, a eficácia dos elos seguintes será
desde logo comprometida. É, pois, comum afirmar-se que esta cadeia
‘tem a força do elo mais fraco’ ou, por outras palavras, se um dos
elos falhar, todos os subsequentes passarão a ficar comprometidos.

Do Curso de Suporte Básico de Vida, os formandos ficarão aptos a


executar de forma adequada os 2 primeiros elos da cadeia. Na
evolução para o Curso de DAE, o enfoque passa a ser essencialmente
no 3º elo, sem prejuízo de continuar a ser fundamental a execução
dos 2 anteriores.

Passemos então à respetiva descrição.

1º Elo: Deteção Atempada e Alerta

É fundamental que qualquer situação de paragem


ventilatória e/ou cardíaca seja detetada nos primeiros
minutos e de imediato alertada uma central de
emergência (por defeito, em Portugal o nº de
emergência é o 112, pelo que, doravante, utilizaremos
esta designação). Quaisquer atrasos neste alerta
poderão por em causa a chegada atempada dos meios de socorro.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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2º Elo: Início das manobras de Suporte Básico de Vida

É consensual que o início das manobras de SBV nos


primeiros 3 ~ 5 minutos após a ocorrência, não só
duplica as probabilidades de recuperação dos pacientes,
como proporciona uma maior garantia de que a
recuperação se dará sem lesões irreversíveis do tecido
nervoso. Por conseguinte, estas manobras (ou se preferirmos chamar
desta forma, manobras de reanimação cardiopulmonar), uma vez
iniciadas, deverão ser mantidas de forma ininterrupta, até que a
vítima dê sinais óbvios de recuperação, ou até que o reanimador
possa ser substituído (por exemplo, quando chega a ajuda
diferenciada).

3º Elo: Desfibrilhação Precoce (requer curso específico) 5

As principais causas de paragem cardíaca súbita,


devem-se a disritmias como a ‘fibrilhação ventricular’
(FV), ou a ‘taquicardia ventricular sem pulso’ (TVSP). A
única terapia eficaz para estas disritmias, é a
administração de uma descarga elétrica controlada,
conhecida como ‘desfibrilhação’. No entanto, é sabido que, a cada
minuto que passa, a eficácia desta terapia decresce cerca de 10%,
daí a necessidade de formar o maior número de pessoas possível
nesta técnica e proporcionar a existência de equipamentos em locais
chave, de modo a que a terapia possa ser proporcionada dentro dos
primeiros 10 minutos.

4º Elo: Início do Suporte Avançado de Vida / Cuidados


Pós-Ressuscitação

Em muitas circunstâncias, o SBV e a DAE, por si só não


são suficientes para restabelecer a atividade cardíaca
dos pacientes. Nestes casos é fundamental que se
iniciem tão breve quanto possível as manobras de
suporte avançado de vida (SAV). Estas técnicas
encontram-se restritas ao pessoal médico e paramédico
devidamente formado para o efeito, pelo que, a chegada das equipas
em causa, dependerá, desde logo, da eficácia do 1º elo – Deteção e

5 As guidelines ERC2015, vieram recomendar que a formação em SBV, passe a estar


necessariamente associada a formação conjunta em DAE, já que estes 2 elos se
complementam e incrementam largamente a minimização da taxa de mortalidade/morbilidade
em caso de paragem cardíaca.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Alerta. Por outro lado, mesmo obtendo êxito na ressuscitação, é
importante a manutenção de cuidados médicos, a fim de evitar e/ou
intervir precocemente sobre consequências de lesões adquiridas no
período da paragem circulatória e assim proporcionar uma maior
qualidade de vida futura ao paciente.

SUPORTE BÁSICO DE VIDA: O Conceito

O Suporte Básico de Vida, tal como


o nome indica, consiste num
conjunto de passos sequenciais que
permitem percecionar em
determinado ponto se a vítima se
encontra ou não a respirar (ventilar)
de forma eficaz e se apresenta sinais
evidentes de circulação. Em caso
negativo, deveremos iniciar a
execução de técnicas simples de
reanimação cardiopulmonar (RCP),
que permitem, uma vez detetada a
paragem cardiorrespiratória (PCR),
manter a perfusão sanguínea, isto é, ‘obrigar’ o sangue a continuar a
sua circulação, mantendo assim, dentro do possível, as células,
tecidos e órgãos a receber algum oxigénio, até que outras manobras
mais avançadas possam ser postas em prática.

É muito importante ter em conta que, na grande maioria dos casos,


estas técnicas por si só, não são suficientes para que a vítima
recupere as funções vitais, mas (e por isso mesmo), é fundamental
iniciar estas manobras tão rapidamente quanto possível e mantê-las
sempre, de forma correta e eficaz, até que o cenário mude.

QUANDO PODEMOS INTERROMPER AS MANOBRAS?

Em Portugal, os protocolos existentes não permitem ao socorrista


tomar esta decisão. Portanto (e desde que se mantenham as
condições de segurança), o reanimador só
deve interromper as manobras em 3
cenários, a saber:

1. Se a vítima apresentar algum tipo de


sinal de recuperação (movimentos
espontâneos, tosse, vómito, …). Neste caso,
deve interromper para reavaliar as funções
vitais e agir em conformidade com o que
concluir.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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2. Quando chegar a ‘ajuda


diferenciada’. À chegada da ambulância, o
reanimador continua sempre com as
manobras, até que os ‘técnicos’ se
aproximem e lhe deem indicação de que
deve parar para ser por eles substituído.

3. Quando o reanimador se encontrar exausto.


Claro que isto não implica nem que pare quando se
sentir ‘um pouquinho cansado’, nem pelo contrário,
que só pare no ponto em que sente que vai desmaiar.
Deve haver bom senso, como em todos os casos, ou
seja, se acha que já está suficientemente cansado a
ponto de as manobras já não terem qualquer eficácia,
então deverá parar.

Sem prejuízo de serem estes os 3 cenários protocolados para a


interrupção das manobras, frisamos uma vez mais que o bom senso
deve sempre prevalecer e, por vezes, outras circunstâncias poderão
indicar-nos a necessidade de as interromper. Por exemplo se, por
qualquer circunstância, deixarem de estar reunidas as condições de
segurança (como veremos adiante) ou, obviamente, se existir no
local outra pessoa que nos possa substituir quando estivermos
cansados. Aliás, as entidades de referência como o ERC e a AHA,
preconizam que, sempre que possível, o reanimador deve ser
substituído a cada 2 minutos, por ser este o tempo médio durante o
qual uma pessoa consegue efetuar RCP de forma eficaz. Mas claro,
isto só é possível se houverem mais pessoas no local.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Segurança do Reanimador

É absolutamente imperioso ter em conta que, por


muito que desejemos ajudar uma vítima, o socorrista
nunca deve expor-se a riscos incontroláveis. É mesmo
um princípio básico a reter que, o socorrista nunca
deve expor-se a riscos iguais ou superiores aos da
própria vítima.

Qualquer socorrista por mais experiente que seja sabe que, perante a
presença de uma vítima, a primeira tendência é abordá-la seja de
que forma for. ERRO CRASSO!

A primeira coisa a fazer antes de abordar


qualquer vítima, é sempre garantir que estão
reunidas as condições de segurança para tal.

Infelizmente a inobservância desta regra de ouro


leva a que muitos socorristas, no natural desejo de socorrer as suas
vítimas o mais rápido possível, acabem por se submeter a riscos de
forma descontrolada, o que, em alguns casos, se vem a revelar fatal.
É por isso fácil entender que o primeiro passo do algoritmo de SBV
(ou aliás de qualquer outro no âmbito do socorro), que adiante
estudaremos, seja justamente garantir as condições de segurança.
É também por isso que nos cursos de SBV, o incumprimento desta
regra nas bancas de avaliação, é considerado um dos chamados
‘erros fatais’ (erros que, se repetidos, poderão levar à reprovação no
curso).

Então, o que fazer para garantir as condições de


segurança?

À chegada ao local e antes mesmo de se aproximar da


vítima, o socorrista deverá de forma rápida, mas
cuidada, observar o local à sua volta, de forma a poder
aperceber-se de potenciais perigos de ordem diversa,
tais como (apenas a título de exemplos):

• Risco de atropelamento
• Risco de incêndio ou explosão (derrame de combustíveis, cheiro
a gás em espaços fechados, …)
• Riscos elétricos
• Risco de queda de estruturas ou objetos diversos
• Risco de violência ou agressão por parte da própria vítima ou
de ‘mirones’
• Etc.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Caso se aperceba da existência de algum dos riscos supracitados ou
de qualquer outro, por muito urgente que lhe pareça socorrer a
vítima, deve obrigatoriamente em primeiro lugar tomar as medidas
necessárias para eliminar ou pelo menos minimizar os perigos,
tornando assim o local minimamente seguro para si, para a própria
vítima e para outras pessoas que possam posteriormente chegar,
incluindo as equipas de socorro.

Em suma e utilizando uma das frases mais conhecidas dos


socorristas, a primeira coisa a fazer é afastar o perigo da vítima, ou a
vítima do perigo (conforme os casos).

Não esqueça, portanto: se não


conseguir garantir a mínima segurança
do local, não deve nem do ponto de
vista moral nem do legal, prosseguir a
abordagem da vítima. Deve em
alternativa, contactar as entidades de
socorro (por exemplo via 112),
comunicar a situação e os riscos
observados e aguardar a chegada de
equipas devidamente treinadas e
equipadas para resolver a situação.
Possivelmente o operador de central com quem falar, dar-lhe-á
também algumas sugestões quanto ao que fazer a seguir. Com esta
atuação, cumpriu o primeiro elo da ‘Cadeia da Sobrevivência’ e não
colocou a sua segurança em risco.

Um outro aspeto relativo à segurança tem a ver


com a existência ou não de equipamentos de
proteção individual (EPI), tais como luvas e
máscaras de ventilação assistida. Estes
equipamentos não podem ser improvisados de
forma segura. Sejamos claros, ou os temos
connosco na altura, ou não. No segundo caso,
também não será aconselhável efetuar
determinados passos do algoritmo, mas este
aspeto será desenvolvido noutro ponto do manual.

Em todo o caso, a maioria das entidades formadoras proporcionam


estes equipamentos aos formandos no próprio curso, seja de forma
gratuita ou como complemento opcional. Garanta, pois, que, no seu
kit pessoal de primeiros socorros (em casa, no carro, etc.), existe
pelo menos uma barreira (máscara) de proteção adequada para SBV
e alguns pares de luvas.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Algoritmo de Suporte Básico de Vida

Vamos agora passar então à apresentação do mais recente algoritmo


de SBV. Este é o que está atualmente preconizado pelas principais
entidades de referência internacionais (ERC e AHA) e consiste nos
vários passos sequenciais que devem ser seguidos em presença de
uma vítima em paragem cardiorrespiratória (PCR).

Se tiver oportunidade de consultar diferentes manuais, poderá


parecer-lhe que existem algoritmos distintos, uma vez que, cada
autor tende a dar-lhe um toque pessoal na forma como lhe parece
mais percetível. No entanto, é espectável que os passos se
encontrem lá todos e na sequência correta:

Garantidas
•Verificar condições de segurança

Inconsciente?
•Verificar consciência

•Abrir via aérea (extensão da cabeça)

•Verificar respiração e sinais de circulação (V.O.S.


Não respira? máximo 10'')

Ajuda a
•Chamar ajuda e Ligar 112 (ajuda diferenciada)
caminho?

•30 compressões torácicas

•2 insuflações... 30 compressões...

Continue sempre a RCP à razão de 30 compressões torácicas para 2


insuflações. Não esqueça: uma vez iniciada a reanimação, a mesma
apenas deve ser interrompida se houver sinais de recuperação, se o
reanimador for substituído ou se ficar exausto.

Note que no algoritmo acima, alguns dos passos se encontram a


vermelho. Estes são os passos que, se forem esquecidos no momento

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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certo, comprometem todo o processo. Daí que, se tiver de abandonar
temporariamente a vítima para os garantir, deve fazê-lo.

Passemos agora a explicar um pouco melhor cada um dos passos:

CONDIÇÕES DE SEGURANÇA

Este passo já foi explicado no capítulo anterior


(Segurança do Reanimador). Não adianta,
portanto, desenvolvê-lo muito mais. Lembrar
apenas que deve observar criteriosamente o local e
executar todos os procedimentos necessários para
o tornar seguro. Só após isto estar garantido, se
deve aproximar da vítima.

VERIFICAÇÃO DO ESTADO DE CONSCIÊNCIA

Para verificar se uma vítima está ou não


consciente, deve abordá-la tocando-lhe
nos 2 ombros, ao mesmo tempo que
chama por ela. É muito importante que
faça a abordagem desta forma, uma vez
que, dependendo do estado de
consciência a vítima pode responder a
estímulos distintos. Tenha em conta que
ao tocar-lhe nos ombros deve fazê-lo
nos dois, pois pode haver
insensibilidade num dos lados. Não
‘abane’ demasiado pois ainda não sabe que tipo de lesões podem
existir e não deve correr o risco de as agravar.

Também é importante perceber que a vítima não tem de dar uma


resposta verbal. Ela pode ser muda ou estar incapaz de falar. A
resposta de uma vítima consciente poderá passar simplesmente por
abrir os olhos ou outro tipo de reação aos estímulos.

1º PEDIDO DE AJUDA

Se concluir que a vítima se encontra inconsciente, irá provavelmente


necessitar de ajuda para os passos seguintes. Portanto, deve gritar
bem alto:

‘AJUDEM-ME! TENHO AQUI UMA PESSOA DESMAIADA!’

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Não esqueça que, salvo raras exceções,


existirão pessoas ao seu redor que
poderão ajudar. Essas pessoas não são
necessariamente socorristas e, portanto,
deve usar linguagem clara e simples.
Qualquer indivíduo que esteja próximo
entende o conceito de ‘pessoa desmaiada’
e certamente não deixará de se
aproximar e oferecer ajuda. Deve, pois,
indicar-lhe que se mantenha no local pois
em breve poderá necessitar do seu
auxílio6.

ABERTURA DAS VIAS AÉREAS

Caso a vítima esteja como vimos inconsciente e particularmente se


estiver deitada em decúbito dorsal (deitada de costas), é natural que
a vítima não consiga respirar devido à ‘queda da língua’ que, sendo
um músculo, irá relaxar e descair em caso de inconsciência.

Deve-se, portanto, abrir a via


aérea antes de pesquisar a
ventilação. Tal é conseguido
através de uma manobra
chamada extensão da cabeça.
Basicamente consiste em colocar
2 dedos no queixo da vítima (na
parte óssea sem comprimir os
tecidos moles) e a outra mão na
testa, por forma a estender
ligeirame
nte o
pescoço e elevar a mandíbula com um
movimento único. Esta manobra é
naturalmente contraindicada caso haja
suspeita de lesões cervicais e, neste caso, é
substituída por uma outra designada tração
da mandíbula7, mas esta é, em nosso
entender mais complexa e porventura menos

6
De acordo com os mais recentes algoritmos para socorristas indiferenciados, este pedido
passou a ser efetuado conjuntamente com o pedido de ajuda diferenciada. Nada obsta,
contudo a que seja feito antes, se aplicável.
7 Esta manobra é também vulgarmente chamada subluxação da mandíbula, mas preferimos

usar o termo tração ou protusão, pois o outro pode induzir interpretações erradas.

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eficaz, e requere a presença de um segundo socorrista, pelo que, na
dúvida, pode aplicar-se (com cuidado) a extensão da cabeça.

Apenas a título de curiosidade, a abertura da via aérea pode ser


efetuada também com equipamentos próprios (como o tubo
orofaríngeo ou tubo de ‘Guedel’), mas estes equipamentos requerem
treino específico e, portanto, apenas devem ser usados por pessoal
técnico devidamente treinado.

É ainda importante nesta fase, proceder ao desaperto


(e mesmo abertura ou corte se necessário) das roupas
ao nível do pescoço, tórax e abdómen (gravatas,
colarinhos, soutiens, cintos, …). O tórax para além de
liberto, deve estar exposto, não só para observar
movimentos, como para visualizar outros tipos de
situações ou objetos que possam condicionar as
manobras de reanimação (fios, medalhas, lesões
diversas, pacemakers, etc…).

V.O.S.

V.O.S. significa ver, ouvir e


sentir e consiste em encostar o
ouvido do socorrista ao nariz e
boca da vítima, ao mesmo tempo
que se olha para o respetivo
tórax e abdómen. Durante um
período de tempo não superior a
10 segundos, vamos então
verificar se a vítima se encontra
a respirar de forma eficaz, vendo
se há movimentos regulares do
tórax e/ou abdómen e,
simultaneamente, ouvir e sentir se existe movimentação de ar pelas
vias aéreas superiores (nariz/boca).

Não esquecer que, nesta altura, a roupa que cobria o tórax e


abdómen já deve ter sido aberta, o que facilita a visualização dos
possíveis movimentos toracoabdominais.

É também nesta fase que se poderão identificar ‘sinais de circulação’


(no fundo qualquer sinal de vida, como movimentos oculares, de
deglutição, de vómito, etc.), uma vez que, com o atual algoritmo, se
abandonou a palpação do pulso (salvo no caso de profissionais
treinados e, normalmente em ambiente hospitalar). Portanto e em
caso de dúvida, se a vítima não respira de forma espontânea e eficaz,

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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não havendo outros sinais de vida, assume-se que há paragem
cardiorrespiratória (PCR).

PEDIDO DE AJUDA DIFERENCIADA → 112

Se com os passos anteriores, constatou a


presença de paragem cardiorrespiratória
(PCR), este é o momento de pedir a 2ª
ajuda, ou ajuda diferenciada.
Normalmente este pedido é efetuado
através de uma chamada para o 112, por
ser um número gratuito, que todos
conhecem e que pode ser acedido de
qualquer telemóvel, mesmo sem saldo e
até sem cartão ou com rede limitada.

Se obteve sucesso com o primeiro pedido


de ajuda, pode agora solicitar à pessoa que se aproximou, que faça
ela a chamada. De contrário, deve deixar temporariamente a vítima e
fazer a ligação. Se possível não se afaste muito pois necessitará de
confirmar algumas informações fundamentais junto da vítima.

Seja qual for o caso, quem efetuar a chamada deve ter alguns pontos
em linha de conta, designadamente:

Quando liga 112 é atendido por um


telefonista que faz uma primeira triagem.
Para que não haja perdas de tempo, peça-
lhe de imediato que transfira a chamada
para a Emergência Médica (C.O.D.U. –
Centro de Orientação de Doentes
Urgentes).

Quando for atendido pelo Operador de Central do CODU, procure ter


já preparado as seguintes informações:

• Local exato onde se encontra a vítima (se possível dê pontos de


referência para uma melhor localização)
• Tipo de situação (no caso presente, uma paragem
cardiorrespiratória)
• Tipo de vítima (sexo, idade aproximada, …)
• Circunstâncias especiais caso existam (riscos de
incêndio/explosão, vítimas encarceradas, riscos elétricos, …)
• Quem se encontra a socorrer (cidadão comum, socorrista,
enfermeiro, médico, …)

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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• Medidas já tomadas/que se pretendem tomar (início de RCP, …)
• Confirme o seu número de telefone e/ou de outra pessoa que
permaneça no local
• Outras que o centralista possa considerar importantes
• Não desligue a chamada sem que o centralista indique ser
apropriado

Importa relembrar que, se não for o socorrista e sim uma pessoa sem
qualquer experiência, estas informações lhe devem ser passadas de
uma forma simples e clara, sem recurso a linguagem técnica, de
modo a que a pessoa facilmente entenda o que tem a fazer. Da
mesma forma, sublinhar uma vez mais que, sempre que possível, a
chamada deve ser efetuada na proximidade da vítima para verificar
em tempo real possíveis questões que o centralista venha a colocar
(se a vítima respira, aspeto das pupilas, etc.).

COMPRESSÕES TORÁCICAS

Coloque a base da sua mão


sobre o centro do tórax da vítima, na
linha intermamilar (sobre o esterno,
mas sem comprimir o apêndice
xifoide)
Coloque a outra mão por cima
da primeira e interlace os dedos
Mantenha os cotovelos direitos.
Os seus ombros devem ficar
alinhados com o tórax da vítima
Pressione o esterno da vítima
entre 5 e 6 cm (média). Depois alivie
a pressão por completo, mas sem
retirar as mãos do tórax do paciente.
Efetue 30 compressões a uma frequência não inferior a
100/min, nem superior a 120/min, ou seja, cerca de 2 por
segundo
Conte alto (um, e dois, e três, e … e trinta)
No final de cada ciclo de 30 CT, efetue 2 insuflações8

VENTILAÇÃO ASSISTIDA

8Efetue insuflações apenas se possuir barreiras de proteção. De contrário, prossiga apenas


com séries de 30 compressões.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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• Mantenha a via aérea aberta e desobstruída (extensão da cabeça)
e com os dedos polegar e indicador, aperte o nariz da vítima. Com
a outra mão, mantenha a mandíbula para cima, permitindo, no
entanto, que a boca se mantenha aberta.
• Inspire profundamente e coloque os seus lábios ao redor dos da
vítima, selando-os por completo (ver nota abaixo relativa a uso
de máscara).
• Expire lentamente para dentro da boca da vítima (aprox. 1
segundo).
• Cada expiração deve ser suficiente para expandir o tórax da vítima
como se ela estivesse a ventilar espontaneamente.
• Permita que o ar saia, mantendo a extensão da cabeça e
afastando a sua boca da vítima, enquanto enche de novo o seu
tórax e olha para o tórax da vítima para verificar o movimento.
• Repita os passos anteriores de forma a fornecer uma segunda
insuflação.

NOTA DO AUTOR: Os estudos mais recentes apontam para


uma probabilidade, ainda que reduzida, de transmissão de algumas doenças
através da ventilação assistida, Assim por razões de segurança e de higiene,
recomenda-se sempre o uso de barreiras (máscaras com filtro e/ou válvula
unidirecional).

Caso estes dispositivos não estejam presentes, é aceitável não efetuar as


ventilações, podendo o socorrista limitar-se a efetuar os ciclos de compressões.

Não esqueça que um pano ou um lenço não constituem uma proteção eficaz e
podem até aumentar o risco de contaminação.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Segurança do Reanimador – Parte 2

Apesar de estes conceitos já terem sido


referidos ao longo do manual, nunca é
demais recordar que ‘o Socorrista
nunca deve expor-se a riscos iguais
ou superiores aos da própria
vítima’.

Dito isto, tenha sempre em conta que,


qualquer salvamento, pode estar
condicionado pelo envolvimento, pelas
características da vítima e, porventura,
pela existência de equipamentos que
garantam as medidas universais de
proteção do Socorrista.

A título de exemplo, sublinhamos uma vez mais que, é


consensualmente aceite, que o Socorrista se abstenha de efetuar
ventilação assistida, caso não tenha consigo uma máscara de SBV
(PocketMask, etc.), não só por questões de higiene, mas,
particularmente, devido ao risco (ainda que reduzido) de
contaminação por qualquer agente biológico ou químico existente na
vítima.

É espectável que qualquer


entidade formadora,
proporcione dispositivos de
proteção aos seus formandos
durante o curso, mas, na vida
real, os riscos de contaminação
são bastante maiores do que os
do contacto com manequins.
Hoje em dia, é bastante fácil
adquirir máscaras de SBV de
diversos tipos, existindo mesmo
algumas bastante portáteis (bolsa porta-chaves) e que podem
também ser combinadas com um par de luvas, garantindo assim uma
proteção razoavelmente eficaz.

Mas não é menos frequente verificar que, socorristas detentores


deste tipo de máscaras, por vezes desconhecem a forma correta de
as utilizar, pelo que, vamos ver como fazê-lo:

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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A mais comum, é vulgarmente conhecida por PocketMask (máscara
de bolso) e, salvaguardadas as distintas variantes existentes no
mercado, tem normalmente a seguinte configuração:

A máscara, tal como


pode ser visto na
imagem, tem uma
forma
aproximadamente
triangular e deve ser
colocada sobre o nariz e
boca da vítima com o
vértice mais
pronunciado do
triângulo para cima
(lado do nariz). Aliás,
na própria máscara
existe uma seta com a
inscrição ‘nose’ (nariz).
Essa seta deve
obviamente ficar a
apontar para cima
(exceção no caso da reanimação infantil, mas isso será visto adiante).

A existência de elástico para fixação ao redor da cabeça nem sempre


existe e a sua utilização é opcional.

O dispositivo mais importante nesta máscara é o filtro, que deve


conter uma válvula unidirecional, que permite apenas a passagem do
ar no sentido socorrista → vítima e não o inverso, bloqueando
igualmente a passagem de quaisquer fluidos (sangue, saliva, vómito,
…) para o lado do socorrista.

É portanto, como vimos, uma barreira de proteção bastante eficaz e


que não deve de forma alguma ser improvisada.

Após corretamente colocada na


face da vítima, a máscara deve
ser simplesmente ajustada à face
(com ambas as mãos,
envolvendo-a na sua totalidade),
para que o ‘cuff’ (balão) fique
bem moldado e não haja fugas de
ar durante as insuflações.

É muito importante não esquecer


que, a menos que a máscara seja usada em conjunto com

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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dispositivos mais avançados (tubos orofaríngeos), é fundamental
manter a extensão da cabeça durante as insuflações, de contrário, a
via aérea estará obstruída e as mesmas não serão eficazes.

Os erros mais comuns de ajuste da


máscara são:

Pegar-lhe pelas extremidades apenas.


Isto faz com que, durante as
insuflações, o ar normalmente saia
pelas laterais da máscara.

Uma vez mais, a forma correta é


envolver toda a máscara com ambas as
mãos e pressioná-la ligeiramente
contra a face da vítima.

Outro erro muito comum é apertar a


máscara ao invés de a pressionar
contra a face da vítima. Isto impede
qualquer tipo de ajuste à face e a
quase totalidade do ar insuflado é
perdido.

Uma vez mais:

A sua segurança só está garantida se estes


dispositivos estiverem presentes.

Nunca improvise uma máscara de SBV,


pois está a aumentar os riscos de
contaminação!

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Obstrução da Via Aérea – OVA

CONCEITOS

Por vezes a causa dos compromissos


ventilatórios, encontra-se diretamente
relacionada com obstruções mecânicas das
vias aéreas, sendo a mais comum (e
importante causa de morte em todo o
mundo), o engasgamento com corpos
estranhos, sejam alimentos, brinquedos ou
outros.

Estes eventos são frequentemente fáceis de


resolver, com recurso a manobras
relativamente simples, mas que requerem na
maioria dos casos a presença de um
socorrista com conhecimento das mesmas.
Infelizmente isto nem sempre acontece e a
maioria das mortes daí resultantes, ocorrem
porque a vítima estava sozinha no momento
do engasgamento ou rodeada de leigos sem
quaisquer conhecimentos de técnicas de socorro. Por isso, as
entidades de referência como o ERC ou a AHA, defendem de forma
unânime que as técnicas básicas de suporte de vida devem ser
ensinadas ao maior número possível de pessoas, incluindo leigos.
Aliás, em alguns países as próprias crianças começam a ser
sensibilizadas para estes procedimentos nas escolas, logo no ensino
básico.

Justifica-se assim plenamente, a inclusão neste manual de um


capítulo dedicado à OVA (Obstrução da Via Aérea) ou, como referem
alguns autores OVACE (Obstrução da Via Aérea com Corpos
Estranhos).

Importa referir logo de início que as técnicas utilizadas para promover


a desobstrução da via aérea, deverão ser selecionadas não só de
acordo com o tipo de obstrução, mas também com a fase em que a
vítima se encontra. No fundo, a abordagem da vítima poderá ser
distinta, conforme o socorrista tenha presenciado o evento ou tenha
chegado posteriormente já numa fase de inconsciência.

CENÁRIOS

Por outras palavras, poderemos então considerar 2 circunstâncias


distintas, com diferentes cenários associados, designadamente:

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Vítima consciente que tosse

1. A vítima apresenta uma obstrução ligeira, encontrando-se ainda


consciente e conseguindo tossir de forma espontânea. Este será
talvez o cenário mais frequente, já experienciado por todos nós,
quando nos engasgamos com um líquido ou um alimento de
pequena dimensão. Neste caso não é recomendado nenhum
procedimento para além de estimular a vítima a continuar a
tossir e ir vigiando a evolução da situação. Em princípio o
objeto acabará por ser expelido com a própria tosse e o
problema resolve-se por si.

Vítima consciente que já não tosse

2. A vítima apresenta uma obstrução moderada a grave, com 2


cenários possíveis:

2.1. A vítima ainda se


encontra consciente, embora já
não consiga tossir (e
possivelmente nem respirar).
Neste caso, em que
frequentemente o socorrista
presencia a situação, deverá
considerar-se a aplicação da
conhecida ‘Manobra de
Heimlich’9. Na verdade, neste
momento todos os algoritmos
defendem que tal consiste na
combinação de 2 técnicas
distintas; em primeiro lugar
devem aplicar-se até 5 pancadas
intercostais ou interescapulares
com a base da mão ou, em
alternativa com a mão em
concha (nunca com o punho
fechado) entre as omoplatas. Em
seguida, poderá ou mão
verificar-se a cavidade bucal
para constatar se o objeto se
encontra alcançável e, em caso
negativo, passa-se à fase da dita
manobra de Heimlich, que

9
Atualmente esta manobra tende a designar-se simplesmente como compressões abdominais.

37
Guia Básico de Primeiros Socorros
_______________________________________________________________________________________________
consiste na aplicação de até 5 compressões abdominais. A
sequência pode ser repetida até que o objeto seja expelido
ou, se tal não ocorrer, quando a vítima passar à fase de
inconsciência.
Há que ter em conta que as compressões abdominais devem
ser aplicadas com a força necessária para induzir uma saída
brusca de ar suficiente para arrastar consigo o objeto. Pode,
portanto, ser traumática e induzir efeitos indesejados como
o vómito, mas por se tratar de mais uma manobra de ‘life-
saving’ (salvamento da vida), há que aplicá-la sem receios
desde que da forma correta.
A abordagem é efetuada por trás da vítima10 (caso esta se
encontre de pé), colocando-se o socorrista numa posição de
equilíbrio para que não haja o risco de caírem ambos. O
socorrista coloca a sua mão dominante (com o punho
fechado) no abdómen da vítima na zona do diafragma
(sensivelmente a meia distância entre o apêndice xifóide e o
umbigo) e, abraçando a vítima, segura o punho dominante
com a outra mão. Pede à vítima que se deixe cair para a
frente (o peso da vítima ajuda à compressão, mas, uma vez
mais cuidado com o equilíbrio para que não caiam ambos).

Vítima inconsciente

2.2. O último cenário


ocorre quando a
obstrução é grave e a
vítima se encontra
inconsciente (e não
respira). Neste caso,
por definição, segue-
se o algoritmo normal
de SBV.

10 Por motivos óbvios, a Manobra de Heimlich não pode ser aplicada a 3 tipos de vítimas:
crianças muito pequenas (menores de 1 a 2 anos), grávidas e vítimas ‘incontornáveis’ (grandes
obesos). Nestes 3 casos as compressões devem ser em alternativa, efetuadas sobre o esterno,
na mesma zona das compressões torácicas do SBV.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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O Algoritmo

Em resumo, temos então as seguintes situações possíveis e


respetivas formas de atuação:

Verificar
gravidade

Obstrução ligeira Obstrução


a moderada moderada a
(vítima tosse) grave

Vítima consciente Vítima


Encorajar a tosse
(que já não inconsciente, não
e vigiar evolução
tosse) respira

Manobra Heimlich:
(5 Pancadas Iniciar Algoritmo
Intercostais + 5 SBV
Compressões
Abdominais)

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Posição Lateral de Segurança
Tal como foi referido anteriormente, se a vítima respira de forma
normal, mas permanece inconsciente deve ser colocada em Posição
Lateral de Segurança (PLS). Esta é claramente por si só, uma
manobra que permite a manutenção de uma via aérea permeável e,
portanto, a sua descrição enquadra-se igualmente neste capítulo.
Quando uma vítima está inconsciente, em decúbito dorsal, mesmo
que respire espontaneamente pode desenvolver um quadro de
obstrução da via aérea, ou de regurgitação do conteúdo gástrico,
secreções ou sangue. Com a PLS, mantém-se a permeabilidade da
via aérea, evitando a obstrução por ‘queda’ da língua, bem como se a
vítima vomitar evita que o conteúdo entre nas vias aéreas.
Princípios da PLS
• Ser uma posição o mais lateral possível para que a cabeça fique
numa posição em que a drenagem da cavidade oral se faça
livremente;
• Ser uma posição estável;
• Não causar pressão no tórax que impeça a respiração normal;
• Permitir um acesso fácil à via aérea bem como a sua
observação;
• Ser possível voltar a vítima para decúbito dorsal de forma fácil
(caso deixe de respirar);
• Não causar nenhuma lesão à vítima;

Procedimentos para executar a PLS


• Retirar objetos que possam magoar durante o posicionamento
(óculos, ganchos, chaves, etc.)
• Alinhar os braços e as pernas
• Colocar o braço da vítima mais
próximo de si dobrado ao nível do cotovelo
de forma a fazer um ângulo reto e colocar a
palma da mão virada para cima.

• Dobrar o outro braço da vítima sobre


o tórax e colocar o dorso da mão contrária à
face da vítima, do lado do reanimador.
• Segurar a mão da vítima mantendo a
esta posição.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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• Com a outra mão fletir a coxa do lado


contrário do reanimador, para que esta
funcione como alavanca para rolar a vítima.
Manter uma mão a apoiar a cabeça e rolar a
vítima puxando pela zona do joelho.
• Ajustar a perna que fica por cima de
forma a formar um ângulo reto entre a coxa e o joelho.
• Ajustar a mão que ficou por baixo da vítima para que a cabeça
fique em extensão
• Verificar se a via
aérea se mantém
permeável e se a
vítima mantém
respiração eficaz;
deve reposicionar-
se a cabeça caso
necessário
• Deve reavaliar periodicamente as funções vitais

Assim que coloca uma vítima inconsciente e que respira de forma


eficaz em PLS deverá chamar 112 (caso não o tenha já feito antes,
claro está!).
Deverá reavaliar a eficácia da respiração da vítima de minuto a
minuto, e em caso de dúvida desfazer a PLS para uma melhor
avaliação.
Se a vítima tiver que permanecer por mais de trinta minutos em PLS,
deve desfazer a posição e refazê-la para o lado contrário, com vista a
não provocar lesões de pressão.
Caso a vítima deixe de respirar espontaneamente, deve desfazer-se a
PLS e progredir no algoritmo de SBV.
Nota: pode efetuar a PLS para ambos os lados, contudo, se possível,
privilegie o lado esquerdo. De qualquer forma, ao fim de algum
tempo (cerca de 15 minutos) a vítima deve ser rolada para o lado
oposto ao inicial.

ATENÇÃO:
A posição lateral de segurança não deve ser considerada
em vítimas com suspeita de trauma da coluna, para não
correr o risco de agravar as lesões, salvo se esta for
imprescindível.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Casos Especiais

Existem diversos casos que, pelas suas características, poderão


eventualmente condicionar os procedimentos a tomar,
designadamente a sequência do algoritmo de SBV.
Vamos, portanto, analisar algumas dessas situações:

Afogamento

As situações de afogamento (ou pré-


afogamento) revestem-se de características
mais ou menos especiais, conforme a sua
causa e origem. Por exemplo, se estiver
associado a mergulhos em águas rasas, há
que ter muita atenção à retirada da vítima
da água pois é provável que existam lesões
na coluna.
É fundamental que o SBV se inicie prematuramente, uma vez que a
origem do problema é maioritariamente de carácter respiratório (e
não circulatório), o que torna mais provável o sucesso da
reanimação. Aliás, alguns autores, referem mesmo que a reanimação
deve ser iniciada ainda dentro de água, durante o resgate, mas isto é
discutível.
Face ao exposto, após constatar a paragem respiratória, pode
excecionalmente efetuar 5 insuflações, seguidas de 1 minuto de
RCP (cerca de 3 ciclos de 30:2). Só então e caso a vítima não
apresente sinais de recuperação, efetuar o pedido de ajuda
diferenciada (112).

Hipotermia

A hipotermia é uma baixa generalizada da


temperatura corporal e pode por si só, em casos
limite, conduzir a uma PCR. Esta situação
encontra-se frequentemente associada à anterior
(afogamento), podendo, contudo, ter outras
origens (acidentes de escalada/alpinismo, etc.).
Esta situação é especialmente complexa pois, se
por um lado a hipotermia é favorável à vítima do
ponto de vista da proteção de células e órgãos
vitais (existem casos documentados de submersão em águas geladas
por períodos superiores a 20 minutos, com subsequentes
recuperações totais, aparentemente sem lesões irreversíveis), por

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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outro lado, dificulta as manobras de reanimação que, frequentemente
demoram mais tempo a ter êxito.
Portanto neste caso, os autores dividem-se e os protocolos de
atuação (mesmo hospitalar) variam conforme os casos. Assim e ao
nível do SBV, recomenda-se de forma genérica que se aqueça a
vítima (remover roupas molhadas, envolver em lençol isotérmico,
colocar em local aquecido, …) e seguir o algoritmo geral de SBV sem
alterações de maior.
Cuidado, no entanto, pois em casos extremos (congelamento de
extremidades, …) o manuseamento da vítima deve ser efetuado de
forma cuidada, sem movimentos bruscos e, especialmente, sem
contacto direto com fontes de calor.

Eletrocussão

As PCR causadas por eletrocussão são razoavelmente


frequentes, especialmente nos casos em que a
mesma está associada a corrente de elevada
intensidade.
O mais importante nestes casos, acaba por ser a
segurança do próprio socorrista, que deve garantir
que a corrente elétrica se encontra cortada antes
mesmo de se aproximar da vítima. E sublinhamos
este fator, na medida em que, em determinadas
circunstâncias, não é necessário tocar na vítima para
que possa ficar igualmente eletrocutado. É por isso que as equipas de
resgate treinadas para o efeito possuem equipamentos isolados
(plataformas de cerâmica, croques isoladores, luvas e calçado para
alta tensão, etc.), que permitem um resgate seguro na
impossibilidade de cortar a corrente.
Uma vez que o local esteja em segurança, o SBV propriamente dito
segue o algoritmo normal, podendo eventualmente o 3º elo da
Cadeia da Sobrevivência (desfibrilhação) ser especialmente
importante caso haja meios disponíveis para tal.

Intoxicações

Uma vez mais, em caso de intoxicação, é fundamental garantir a


segurança do socorrista, especialmente no caso de intoxicações de
origem ‘ambiental’, em que os agentes tóxicos possam afetar
terceiros (por exemplo por via respiratória ou cutânea).

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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É, portanto, especialmente importante que o
socorrista se encontre bem protegido, que a vítima
(caso necessário) seja retirada do local contaminado
e, havendo necessidade, seguir como habitual o
algoritmo geral de SBV, recorrendo aos
equipamentos de proteção individual possíveis
(especialmente máscara de SBV e eventualmente
luvas).
Não esquecer que existe um serviço telefónico
permanente (CIAV: 800250250), que presta
aconselhamento quanto às atuações adequadas nestes casos. Mas se
não puder contactar este número poderá recorrer ao 112 como
habitual.
É ainda frequente que o SBV nestes casos seja particularmente
enriquecido se houver possibilidade de administrar oxigénio
suplementar durante a RCP mas, na maioria dos casos, isto só é
possível após chegada da ambulância. É expectável que os tripulantes
da ambulância possuam formação adequada em técnicas de
oxigenoterapia e conheçam as principais exceções, por exemplo no
caso de intoxicações com Paraquato (Gramoxone).

Gravidez

A gravidez é, nesta matéria, uma das


exceções mais sensíveis, na medida em que
não existe apenas uma vítima, mas pelo
menos duas (a grávida e o feto). É, portanto,
especialmente importante iniciar o SBV em
tempo útil e, claro está, informar o CODU que
se trata de uma reanimação a uma grávida
(se possível informar também o tempo
aproximado de gestação).
Embora as manobras de RCP não sofram particulares alterações na
grávida, pode ser recomendável em estados de gravidez avançado, a
colocação de uma almofada por baixo da anca direita da vítima, de
modo a mantê-la ligeiramente inclinada para o lado esquerdo. Isto
leva a que o feto exerça menos pressão sobre a veia cava, facilitando
assim o retorno venoso ao coração durante a RCP.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Outras Exceções

Muitos outros casos excecionais poderiam aqui ser considerados, mas


pensamos que foram abordados os mais frequentes e que, como
vimos, salvaguardadas pequenas adaptações, acaba por se aplicar
sempre o algoritmo geral de SBV.
Sendo assim, limitar-nos-emos a fazer um pequeno resumo dos
passos fundamentais e, porque cada caso é um caso, quaisquer
adaptações poderão ser necessárias, desde que haja bom senso, pois
afinal, um algoritmo não passa de um conjunto de linhas
orientadoras, que serve para uniformizar procedimentos, mas que é
passível de adaptações sempre que as situações particulares assim o
exijam.
Portanto e em resumo, não esqueça:

➢ Garanta a segurança do local


➢ Aborde a vítima quando for seguro e verifique sinais vitais
(consciência, respiração, circulação)
➢ Peça as ajudas preconizadas, nos momentos adequados
➢ Se necessário, inicie RCP
➢ Mantenha as manobras de RCP, parando apenas nos 3 casos
previstos ou, claro, se o ambiente se tornar inseguro
➢ Tenha fundamentalmente presente que o SBV por si só não
resolve a maioria dos casos, mas permite ganhar tempo até
chegada dos meios mais diferenciados. Por isso… persista!

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Suporte Básico de Vida Pediátrico

A anatomofisiologia da criança é distinta da do adulto. Ela está a


desenvolver-se, as suas atividades acompanham o desenvolvimento
e, salvo algum incidente de percurso, algumas patologias típicas do
adulto, dificilmente ocorrem nas crianças.
Por exemplo, os eventos que originam paragens cardiorrespiratórias
(PCR) no adulto, têm maioritariamente origem em patologias
cardíacas adquiridas ao longo da vida. Já na criança saudável, é raro
assistirmos a um ‘ataque cardíaco’. Portanto as PCR infantis ou
pediátricas são, por norma, de etiologia respiratória, associadas a
obstruções das vias aéreas ou eventos similares.
Como tal há 2 questões que devemos ter em conta nesta matéria:
1. Não faz tanto sentido privilegiar o estímulo cardíaco nas manobras de
reanimação (como sucede no adulto), mas sim a função respiratória;
2. O prognóstico das manobras de reanimação é mais favorável, desde
que se consiga promover a desobstrução da via aérea.
Dito isto, a comunidade científica introduziu algumas alterações nos
algoritmos de SBV neonatais e infantis/pediátricos. Consideramos que
o primeiro é mais importante para equipas de socorro diferenciadas,
pelo que dedicaremos este capítulo ao segundo algoritmo.
Comecemos então pelo conceito de Cadeia da Sobrevivência, já
abordado no SBV para adultos. Quais as diferenças?

Bom, desde logo estamos a falar de 5 elos ao invés dos 4 que


conhecemos atrás. E como vemos o primeiro deles é a prevenção. Os
eventos de PCR pediátricos são porventura previsíveis e evitáveis.
Como tal a melhor forma de os evitar é… prevenindo-os, claro!
Uma vez ocorrido e diagnosticado o evento, é demasiado tarde para
aplicar o primeiro elo e então passamos ao segundo que é,
justamente, o início das manobras de reanimação. A importância
desta inversão de elos é, justamente, o facto de em muitos casos, as
manobras de reanimação são suficientes para promover a

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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desobstrução da via aérea e reverter o evento sem outro tipo de
intervenções.
Após efetuarmos 5 insuflações iniciais ou, caso não tenhamos acesso
a telefone de imediato, após 1 minuto de reanimação, reavaliamos a
criança. Se esta não recuperou, passamos então ao 3º elo que é o
pedido de ajuda diferenciada (112). Garantida a ajuda, retomamos as
manobras de reanimação.
Os restantes elos (desfibrilhação e suporte avançado de vida),
aplicam-se na sequência normal da Cadeia de adulto. Atenção,
contudo, à questão da desfibrilhação, que deve ser aplicada no modo
pediátrico.
E quanto ao algoritmo de SBV Pediátrico, o que muda?

Quais as diferenças gerais que consegue detetar relativamente ao


algoritmo utilizado em vítimas adultas?
Vejamos então, resumidamente, cada um dos passos do algoritmo
pediátrico e o porquê destas diferenças:

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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1. Verifique e garanta sempre as condições
de segurança antes de abordar a vítima;
2. Avalie o estado de
consciência da vítima,
chamando por ela e tocando-
lhe em ambos os ombros. NOTA: nos infantes
efetua-se o chamado estímulo cruzado, apertando ligeiramente
a mão direita e o pé esquerdo e vice-versa.
3. Se inconsciente, abra a via aérea. Nota: no
infante não pronuncie demasiado a extensão da
cabeça. Apenas ligeiramente, mantendo uma
posição neutra. Se necessário, coloque-lhe uma
toalha dobrada por baixo das omoplatas para
manter o posicionamento da cabeça.
4. Verifique a ventilação com o método V.O.S.
(ver, ouvir, sentir);
5. Efetue 5 insuflações
eficazes. Por vezes, estas ventilações são
suficientes para desobstruir a via aérea e
resolver a situação;
6. Se as ventilações não resolveram, ligue
agora 112. Contudo, se não tem telefone à mão, efetue 1
minuto de RCP e só depois deve procurar o telefone e efetuar a
chamada. NOTA IMPORTANTE: em pediatria a RCP é efetuada
numa cadência de 15 compressões para 2 insuflações e não
30:2 como no adulto;
7. Mantenha RCP até que a vítima recupere, chegue ajuda
diferenciada que o substitua, ou até que esteja exausto.

Tenha em conta que, para além das alterações supracitadas, deve


ainda ter em conta a força exercida quer nas insuflações, quer nas
compressões, tendo em conta o tamanho da vítima.
Assim, caso se trate de um infante (até 1 ou 2
anos), deve efetuar as compressões apenas com 2
dedos. As insuflações são feitas apenas com o ar
contido na sua boca.
Para crianças de maior idade
(sensivelmente até aos 8 anos), poderá efetuar as
compressões apenas com uma das mãos e as
insuflações apenas com o volume de ar suficiente
para expandir o tórax.11

11
Imagens desta secção: fonte – Martins, 2022

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Obstrução da Via Aérea (OVA) Pediátrica

A maioria das situações de OVA nas crianças ocorre durante a


alimentação ou quando as crianças estão a brincar com objetos de
pequenas dimensões. São situações frequentemente presenciadas
pelo que o socorro pode ser iniciado de imediato, ainda com a vítima
consciente (Martins, 2022).
Tal como no adulto, também a criança tosse quando se engasga,
numa tentativa espontânea de expulsar o objeto estranho. Também a
evolução do caso é idêntica ao adulto, logo, o algoritmo de DVA é
bastante semelhante. Contudo, temos aqui pequenas diferenças que
deveremos ter em conta, a saber:
Se a criança é encontrada inconsciente, o socorrista deve pesquisar a
via aérea para tentar identificar a presença de corpos estranhos.
Seguidamente e se não identificou nenhum objeto (ou não conseguiu
removê-lo), deverá efetuar 5 insuflações com o propósito de fazer
deslocar qualquer
objeto obstrutivo.
Finalmente se tal
não sucedeu, deve
então ligar 112 e
iniciar o SBV
Pediátrico.
Outra questão
importante é que,
nos infantes, as
compressões
abdominais devem
ser substituídas
por compressões
torácicas, sobre o
esterno e uma vez
mais, apenas com
2 dedos.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Lesões músculo-esqueléticas

Fraturas

Considera-se fratura, toda a


interrupção da continuidade de um
osso.

Como ocorre com qualquer outro


traumatismo, as fraturas podem ser
fechadas – se a lesão é apenas no
osso, sem compromisso dos tecidos
adjacentes, ou abertas – quando os
topos ósseos resultantes rompem os
tecidos moles, podendo mesmo
exteriorizar-se. Neste caso, tomam a
designação de fraturas expostas.

Embora não seja muito importante que o socorrista conheça todas as


classificações e componentes das fraturas, deve essencialmente ter
em conta que, nestas lesões, os ossos podem quebrar de várias
formas e mesmo em várias partes. Por isso, quanto menos
diferenciado for o socorrista, menos deve manipular a lesão, sob pena
de a agravar e causar outras lesões mais graves que, no limite,
podem ser fatais.

Importa, portanto, perceber que, sem prejuízo de, depois de


avaliados exames complementares de diagnóstico (Rx ou outros), o
médico ortopedista promover o alinhamento da fratura, este
procedimento não deve ser executado fora do hospital (salvo em
determinados casos especiais e sempre por técnicos mais
diferenciados). Sendo assim, e porque este manual se destina a
socorristas indiferenciados, os procedimentos nele descritos serão os
mais simples.

Diagnóstico

O diagnóstico (ou pelo menos a suspeição) das fraturas é por norma


bastante simples, uma vez que os sinais/sintomas são óbvios e
conhecidos de todos, a saber:

• Dor
• Inchaço; deformação
• Impotência funcional; mobilidade anormal
• Crepitação óssea (ruído ao mover o segmento afetado)

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Primeiros Socorros:

Imobilizar todo o segmento, incluindo as


articulações acima e abaixo do foco da fratura,
procurando manter a posição em que este se
encontra (salvaguardando as exceções acima
indicadas.

Para promover esta imobilização, deve recorrer


a talas e ligaduras que, muitas vezes terão em
falta de melhor, que ser
improvisadas com materiais
correntes (pedaços de cartão, ripas de madeira ou
plástico, cintos, gravatas, etc.), dependendo do
local e das circunstâncias.

Claro que, havendo uma boa mala de primeiros


socorros, esta poderá conter talas e ligaduras como
as que podemos visualizar na imagem mas nem
sempre isto sucede e portanto teremos de recorrer
a algum improviso.

Deve, portanto, ter em atenção:

• Não tente endireitar o segmento lesionado ou recolocá-lo na


sua posição anatómica, pois isto feito por socorristas indiferenciados,
pode agravar a lesão, mais do que melhorá-la;
• Se a fratura for aberta ou exposta e tiver hemorragia
associada, primeiro deve conter a saída de sangue através das
técnicas descritas em capítulo próprio e só depois imobilizar a fratura.

A imagem ao lado, pretende dar uma noção


de formas como podem ser utilizadas talas
moldáveis, de forma eficaz e mobilizando os
segmentos lesionados o mínimo
indispensável. Claro que, não existindo tais
talas, terá que se recorrer a improviso com
os materiais que estiverem disponíveis.

Lesões articulares

No caso de se tratar de uma lesão numa


articulação (luxação, entorse, rotura
ligamentar), a mesma deve ser socorrida
como se de uma fratura se tratasse, uma

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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vez que o diagnóstico definitivo apenas será feito no hospital. Por
norma, estas lesões requerem algum tempo de repouso da
articulação e aplicações frias nas primeiras 24/48 h. Só após este
período, devem ser aplicados calor e/ou anti-inflamatório local.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Traumatologia Geral

Os traumatismos são lesões decorrentes de


violências diretas ou indiretas, provocando
lesões mais ou menos graves nos diversos
tecidos e/ou órgãos e podendo levar a
consequências graves como paralisias ou
mesmo à morte do sinistrado. O princípio
geral da abordagem de uma vítima de
trauma, poderá passar pela velha máxima
‘se não sabe não mexa’, já que uma
mobilização inadequada da vítima pode
levar ao agravamento das lesões. Contudo e
como sempre em primeiros socorros, cada caso é um caso e, como
tal, por vezes torna-se necessário mover a vítima quando a sua
segurança possa estar em perigo (i.e., risco de incêndio, explosão,
atropelamento, afogamento, etc.).

Neste capítulo não iremos fazer uma abordagem exaustiva do tema


pois o mesmo é vastíssimo. Iremos sim abordar apenas alguns tipos
de traumatismos pela sua gravidade ou frequência e as questões
mais prementes no que toca ao seu socorro.

Traumatismo Craniano (TCE): Causas, Consequências e Tratamento

O traumatismo craniano é uma lesão na


cabeça que ocorre quando há um impacto
direto ou indireto na região do crânio,
podendo resultar em lesões nos tecidos
cerebrais (traumatismo cranioencefálico).
Esse tipo de lesão pode variar em
gravidade desde leves concussões até
lesões mais severas que podem levar a
danos permanentes ou até mesmo à
morte. Vamos explorar as causas,
consequências e opções de tratamento
para o traumatismo craniano.

Causas frequentes:

• Acidentes de Trânsito: Colisões entre viaturas, tanto


automóveis quanto motociclos, são uma das principais causas

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de traumatismo craniano. A velocidade e a força do impacto
podem resultar em danos significativos.
• Quedas: Principalmente em crianças e idosos, quedas em altura
podem causar (entre outros), traumatismos cranianos. Isso é
especialmente preocupante em ambientes onde essas faixas
etárias são mais vulneráveis, como em creches, jardins de
infância ou lares de idosos.
• Atividades desportivas: Desportos de contato ou atividades com
risco de queda, como futebol americano, rugby, boxe, ciclismo
ou skate, podem resultar em lesões na cabeça.
• Agressões Físicas: Pancadas na cabeça, como socos ou golpes
com objetos, também podem causar traumatismo craniano.
• Lesões por Explosão: Exposição a explosões, como em
acidentes industriais ou militares, pode gerar ondas de choque
que afetam o cérebro.

Em resumo, o traumatismo craniano é uma lesão séria que pode ter


consequências variadas, dependendo da gravidade. A
conscientização, a prevenção e o acesso rápido a cuidados médicos
adequados desempenham um papel fundamental na minimização dos
riscos associados.

Tipos de lesões e diagnóstico

O diagnóstico dos TCE nem sempre é fácil, uma vez que os


sinais/sintomas são muito variados dependendo do tipo e zona da
lesão. Por vezes ainda, pode ocorrer um período assintomático que
pode ter uma duração de horas ou dias, dificultando assim o
diagnóstico e colocando em risco a vida da vítima.

• Concussão: Uma forma normalmente leve de traumatismo


craniano que resulta em perda temporária de consciência,
confusão mental, amnésia e dor de cabeça. Frequentemente há
também a ocorrência de náuseas e vómitos. Pode ainda ocorrer
assimetria das pupilas (anisocoria) e eventuais equimoses
(nódoas negras) sob os olhos – máscara equimótica – ou na
região posterior dos pavilhões auriculares.
• Hematoma Intracraniano: Ocorre quando há acúmulo de
sangue dentro do crânio, pressionando o encéfalo. Isso pode
ser fatal se não for tratado a tempo.
• Lesão Axonal Difusa: Lesões nas fibras nervosas do cérebro
(axónios) que podem levar a problemas cognitivos, de memória
e de coordenação.
• Edema Cerebral: Inchaço do cérebro devido à resposta
inflamatória às lesões, que pode aumentar a pressão
intracraniana e causar danos adicionais.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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• Lesões Focais: Danos a uma área específica do cérebro podem
resultar em déficits sensoriais, motores ou cognitivos,
dependendo da área afetada.

Primeiros Socorros:

É fundamental a recolha de eventuais sinais e


sintomas e referência dos mesmos no hospital
ainda que eles tenham, entretanto, desaparecido
(intervalo livre).

A vítima deve ser abordada/manuseada tendo


em consideração a possibilidade de outras lesões
associadas como traumatismos cervicais ou
outros. Daí que a imobilização cervical seja
muitas vezes mandatória.

Não havendo impedimentos, a vítima deve ser transportada


lateralizada, devido ao risco de vómito, por forma a prevenir o
engasgamento/aspiração.

Mesmo após eventual alta hospitalar, é muito importante a


monitorização de novos sintomas, pelo menos durante 24/48 horas e
recorrer de imediato às urgências caso estes ocorram de novo,

Traumatismo da coluna - traumatismos vertebro medulares (TVM)

A coluna vertebral é a estrutura óssea que permite a


manutenção da nossa postura ereta e é composta por
um conjunto de vértebras sobrepostas, formando numa
perspetiva descendente a região cervical, a dorsal (ou
torácica), a lombar e a sacrococcígea. Não esqueçamos,
contudo, que a sobreposição das vértebras dá origem ao
canal vertebral, no interior do qual se aloja a medula
espinal que, por sua vez, dá origem aos nervos
raquidianos.

O grande risco de uma lesão na coluna vertebral, é por


isso mesmo o possível compromisso nervoso o qual será
tanto mais dramático quanto mais acima ocorrer. Lesões cervicais
(acima de C5) podem levar à morte, compromissos do automatismo
ventilatório ou tetraplegia. Lesões abaixo de C5 podem originar
tetraplegia ou paraplegia, entre outras consequências.

Diagnóstico

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Ao contrário dos TCE, os TVM são normalmente fáceis de


diagnosticar, não só pelo histórico do acidente, como pela
sintomatologia bastante típica:

• Dor local (pescoço, costas, …)


• Deformação postural
• Insensibilidade/formigueiros/incapacidade funcional nas
extremidades (membros)
• …

Primeiros Socorros:

Sempre que haja suspeição de TVM, a


abordagem e manuseamento da vítima só
devem ser efetuados por equipas devidamente
treinadas, salvo quanto esteja em risco imediato
a segurança da mesma.

Assim, é fundamental que se promova um


alinhamento vertebral e uma correta
imobilização de toda a coluna, com particular
enfoque no segmento cervical.

O uso de dispositivos de levantamento e/ou transporte como a maca


telescópica (Pluma), o plano duro, a maca de vácuo (discutível), são
mandatórios, de acordo com os protocolos locais e sempre associados
ao uso do colar cervical de tamanho adequado.

O socorrista deve estar preparado para a eventualidade de ter de


iniciar manobras de suporte básico de vida, caso os danos
neurológicos afetem a função cardiorrespiratória. Claro que o SBV
pode eventualmente agravar as lesões na coluna, mas sem ele, em
casos graves, a vítima morrerá. Não esquecer que a missão
primordial do socorrista é manter vida!

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Urgências e Emergências Médicas

Por definição, uma urgência é algo que


ocorre subitamente e que requer uma
intervenção rápida, para que não se agrave.
Já a emergência refere-se a uma situação
de gravidade extrema e cuja atenção deve
ser imediata. No caso das Emergências
Médicas, pressupõe-se que tenha havido ou
esteja iminente a falência de pelo menos
uma função vital.

Obviamente poderíamos escrever diversos compêndios acerca deste


tema e o assunto dificilmente estaria esgotado. Por isso, vamos
apenas aqui selecionar umas quantas situações que, seja pela sua
gravidade, frequência ou desmistificação de erros de atuação
comuns, achámos serem merecedores da nossa atenção neste guia.

Ataque cardíaco

Até prova em contrário, toda a dor torácica com


origem cardíaca, deve ser considerada grave e
premonitória de uma emergência médica – o
ataque cardíaco.

Infelizmente nem sempre é fácil diagnosticar tal


situação, já que os sintomas podem ser difusos
e confundirem-se com outro tipo de patologias
menos graves. No entanto, alguns são bastante
comuns, designadamente:

• Dor opressiva no peito, podendo irradiar para o pescoço e


mandíbula, ombros e membros superiores (principalmente o
esquerdo), abdómen e/ou costas;
• Dificuldade em respirar;
• Palidez;
• Náuseas e/ou vómitos;
• Sensação de desmaio ou de morte iminente;
• Suores frios;
• Eructações (arrotos) violentos;
• Etc…

Considerando que o ataque cardíaco resulta de uma obstrução parcial


ou total dos vasos que irrigam o coração (artérias coronárias), o
episódio pode ser passageiro e reversível (crise de angina de peito),

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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ou bem mais grave (no caso de se tratar de uma obstrução total) e
conduzir a um cenário de enfarte agudo do miocárdio (EAM) e
subsequente paragem cardiorrespiratória. Esta situação é
extremamente grave, com um prognóstico bastante reservado e a
intervenção médica rápida é absolutamente fundamental.

Como as duas situações acima podem ter sintomatologias idênticas,


não é possível distingui-las de forma segura sem recorrer a exames
complementares de diagnóstico e portanto, na dúvida, deve alertar-
se o 112 o mais rápido possível, pois no pior dos cenários, cada
segundo conta.

Primeiros Socorros:

• Até chegar a ajuda diferenciada, o


doente deverá ser mantido em repouso
absoluto, preferencialmente sentado ou
ligeiramente recostado para trás, devendo
evitar-se a posição de deitado. Alertar de
imediato o CODU.
• Se o doente tem medicação SOS prescrita
pelo cardiologista (normalmente para
administração sublingual), esta deve ser-lhe
facultada. Também a administração de oxigénio
seria útil embora, salvo em casos excecionais, o socorrista não
tenha acesso a este meio.
• O socorrista deve ainda tentar acalmar o doente, estabilizar a
temperatura corporal e evitar dar bebidas.
• As funções vitais, em particular a consciência, respiração e
circulação (incluindo pressão arterial) devem ser
constantemente vigiadas.
• Se necessário, iniciar Suporte Básico de Vida

Em princípio, caso se trate de uma crise de


angina de peito, as medidas acima irão aliviar
ou mesmo reverter a situação. No entanto, nos
casos mais graves, tal não acontecerá pelo que
o músculo cardíaco irá sofrer lesões
progressivas e irreversíveis e eventualmente
conduzindo à paragem cardíaca e à morte.
Ligando 112 e estabelecendo contacto com o
CODU é possível ativar um protocolo designado
por Via Verde Coronária e o doente ser
rapidamente assistido e transportado ao
hospital para desobstrução coronária, minimizando assim os danos e
promovendo a qualidade da sua vida futura.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Acidente Vascular Cerebral – AVC e Acidente Isquémico Transitório


(AIT)

Tal como a situação anterior, também esta é de extrema gravidade e,


se não for corrigida em tempo útil, poderá deixar
sequelas neurológicas irreversíveis ou mesmo a
morte do doente.

É por isso que, como é comum afirmar-se hoje


em dia, nestes casos, tempo é cérebro! Como
veremos adiante, ativar a ajuda diferenciada é
absolutamente primordial.

O AVC pode, tal como o ataque cardíaco, ter como origem a


obstrução de vasos, mas neste caso no cérebro (AVC isquémico),
vulgarmente designado por trombose ou embolia, sendo que também
pode ser hemorrágico.

De uma forma geral, sempre que ocorre uma patologia deste tipo, o
doente apresenta um quadro sintomatológico muito específico, que
faz com que seja razoavelmente simples diagnosticar o problema,
designadamente (entre outros):

• Alterações da consciência, desorientação;


• Insensibilidade, formigueiros ou perda de força nas extremidades ou
em todo um lado do corpo;
• Paralisia facial com desvio da boca para um dos lados;
• Dores de cabeça;
• Temperatura elevada;
• Dificuldade em falar (cuidado: por vezes as alterações da fala podem
ser perigosamente confundidas com embriaguez);
• Alteração do diâmetro, simetria e reação das pupilas;
• Possibilidade de convulsões;
• …

Na presença de um ou vários destes sinais/sintomas, há que atuar


rapidamente, pois a probabilidade de estar a ocorrer um AVC é
grande.

Por vezes, contudo, estes mesmos sinais/sintomas apresentam uma


intensidade e duração menores e acabam por desaparecer ao final de
algum tempo (minutos, horas, …), o que significa provavelmente que
se terá tratado de um episódio de menor gravidade, designado por
Acidente Isquémico Transitório (AIT). Ainda assim este não deve ser

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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descurado, devendo procurar-se na mesma ajuda diferenciada, já que
o AIT pode prenunciar a prazo a ocorrência de um AVC.

A aplicação da Escala de
Cincinnati é uma forma
razoavelmente segura de
despistar a possibilidade de estar
a ocorrer um AVC e o CODU deve
ser imediatamente alertado se
esta suspeita existir.

Tal como no caso do ataque


cardíaco, também aqui o INEM
tem um protocolo específico
designado por Via Verde AVC
(VVAVC), que diminui o tempo
de resposta e atendimento destes
doentes. Contudo existem
critérios de inclusão na VVAVC,
designadamente, o tempo de
evolução do AVC ou eventuais
dependências prévias.

Ao contrário do que ocorria no


passado, hoje em dia, se
intervencionado a tempo, o
prognóstico do AVC já é
razoavelmente favorável,
conseguindo-se taxas de recuperação em muitos casos próximas dos
100%.

Primeiros Socorros:

• Até chegar a ajuda diferenciada, o doente


deverá ser acalmado mantido em repouso,
preferencialmente deitado mas com a cabeceira
elevada, ou em decúbito lateral se existir risco de
vómito;
• Reduzir estímulos sensoriais (luzes, ruídos,…)
• Alertar de imediato o CODU para ativar VVAVC.
• Evitar dar bebidas.
• As funções vitais, em particular a consciência,
respiração e circulação devem ser constantemente
vigiadas.
• Se necessário, iniciar Suporte Básico de Vida

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Diabetes

A diabetes é uma condição médica crónica,


que afeta a forma como o corpo regula os
níveis de açúcar no sangue. É uma das
doenças mais prevalentes em todo o
mundo, com um aumento significativo na
sua incidência nas últimas décadas. Existem
diferentes tipos de diabetes, sendo os tipos
mais comuns a diabetes tipo 1, a diabetes tipo 2 e a diabetes
gestacional.

Um diabético consegue por norma manter a sua doença


razoavelmente estabilizada, particularmente se levar uma vida
regrada no tocante ao cumprimento do equilíbrio entre a medicação
adequada/aporte de hidratos de carbono na alimentação/exercício
físico adequado.

Por vezes, contudo, um ou mais destes fatores sofre um


desequilíbrio, podendo ocorrer uma variação mais ou menos
significativa dos níveis de açúcar no sangue (glicemia), podendo
conduzir a uma subida ou descida dos mesmos e, no limite, a
situações de gravidade extrema.

Assim, uma subida exacerbada do açúcar (hiperglicemia) pode


conduzir a uma situação de coma diabético se a mesma não for
controlada a tempo. O agravamento desta situação é normalmente
lenta e pode ser tratada com recurso a insulina caso o doente esteja
habilitado a fazê-lo.

Já a descida brusca da glicemia (hipoglicemia) é normalmente muito


rápida e deve ser de imediato compensada com a ingestão de glicose
(açúcares, hidratos de carbono). De contrário, poderá conduzir ao
choque insulínico que, no limite, pode ser fatal.

Diagnóstico

O diagnóstico de uma ‘crise diabética’ de forma descontextualizada,


pode ser complexo para um leigo, já que os sintomas poderão ser
variados e difusos e, claro, distintos consoante se trate de uma hiper
ou de uma hipoglicemia.

De qualquer modo se soubermos que a pessoa é diabética,


poderemos perceber que a situação está a descontrolar de alguma
forma caso ela apresente sintomas como:

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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• Sede ou fome exacerbadas;
• Perda súbita de forças, desmaio;
• Hálito com forte odor cetónico (cheiro a acetona) ou frutado;
• Discurso confuso, desconexo;
• Aumento da frequência respiratória;
• Náuseas ou vómitos;
• …

Consideram-se valores normais de glicemia em jejum (embora


possam variar ligeiramente em função do laboratório) entre 80 e 120
mg/dl (Valente, 2012). Mais recentemente a OMS atualizou estes
valores para 70~100 mg/dl, mas, uma vez mais, estes são apenas
valores de referência pelo que não devem ser tidos como valores
rígidos.

Primeiros Socorros:

• Se possível medir a glicemia, usando o


glucómetro do doente;
• Proceder de acordo com o resultado obtido:
ativar a emergência médica em caso de hiperglicemia
grave12 (já que provavelmente não saberá administrar
insulina) ou, caso se trate de uma hipoglicemia grave,
dar açúcar ou glicose (sublingual ou papa de açúcar no
interior da bochecha). Se o doente estiver bem
consciente e colaborante, pode optar por bebidas
açucaradas;
• Se a situação ocorreu de forma súbita e não tiver como medir a
glicemia, assuma que se trata de uma hipoglicemia e proceda em
conformidade.

Crise Convulsiva e Epilepsia

A convulsão é um distúrbio no funcionamento


cerebral, caracterizado por descargas elétricas
anormais, podendo gerar contrações
involuntárias da musculatura, com movimentos
desordenados, tónicos e/ou clónicos, desvio do
olhar e tremores (Valente,2012). As crises
convulsivas podem ter diversas origens,
nomeadamente tumores cerebrais, TCE,
hipertermia (febre alta), AVC, hipoglicemia,

12
Dado que os valores da glicemia não são estanques, poderemos considerar
hiperglicemia grave algo acima dos 300 ou 400 mg/dl e hipoglicemia grave, valores
na ordem dos 50 mg/dl ou abaixo disso.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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hipoxia, intoxicações e, claro, a mais comum que é a epilepsia.

Do ponto de vista médico, é muito importante determinar a causa


para adequar o tratamento. No pré-hospitalar isto é igualmente
importante já que o combate à causa é fundamental. A título de
exemplos, na criança pequena é frequente a ocorrência de convulsões
febris. Neste caso, o mais importante é baixar a temperatura
corporal. Já na diabetes, a hipoglicemia grave também pode levar a
convulsões, sendo que neste caso, o mais urgente é administrar
açúcares. E daí por diante… Contudo, nem sempre o socorrista
consegue determinar a causa pelo que, muitas vezes terá de se
limitar a prevenir o agravamento da crise.

Mas, na verdade, a causa maioritária de crises convulsivas é a


epilepsia. Por ser a causa mais comum de convulsões, iremos
debruçar-nos essencialmente sobre esta patologia.

A epilepsia é uma doença do foro neurológico, que pode existir sob


duas formas:

• Epilepsia de Pequeno Mal


• Epilepsia de Grande Mal

Muitos mitos existem em redor desta doença, a maioria dos quais


sem qualquer fundamento. Julgamos que estes mitos terão origens
bastante remotas, podendo mesmo recuar-se a alguns milhares de
anos atrás, encontrando-se registo de ocorrências que hoje
poderemos identificar como possíveis crises epiléticas. Na época, não
se compreendia a origem destas crises, que eram frequentemente
atribuídas à alegada presença de ‘espíritos malignos’ e as situações
eram ‘tratadas’ com exorcismos ou, pior ainda com atuações do tipo
trepanação, em que eram feitos buracos no crânio do paciente,
alegadamente para libertar os espíritos malignos.

Outro dos mitos que ainda hoje perdura, prende-se com a opinião
(infundada) de que o paciente poderia enrolar ou mesmo engolir a
própria língua, asfixiando em seguida.

Finalmente e por se tratar de uma doença com origem neurológica,


confunde a maioria das pessoas, que tendem a encarar esta doença
como algo de estranho, sendo que algumas pessoas a confundem
mesmo como uma doença psiquiátrica, o que não é de todo verdade.

Voltando então aos dois tipos de epilepsia, podemos afirmar que, na


maioria dos casos, a de pequeno mal se manifesta apenas sob a
forma de ‘ausências’, ou outras características muitas vezes pouco

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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percetíveis, pelo que não representa grande interesse prático para o
socorrista.

Já o segundo tipo (epilepsia de grande mal), manifesta-se por vezes


sob a forma de ‘ataques’, tecnicamente designadas por crises, que
poderão passar por 4 fases (não forçosamente todas):

• AURA: o paciente pode ter alucinações visuais e/ou auditivas,


apercebendo-se de que está iminente uma crise. Conforme os casos, poderá
ou não ter tempo de se preparar para tal.
• TÓNICA: inicialmente o paciente fica hipertónico, ou seja, a
tonicidade muscular aumenta drasticamente, notando-se, pois, a presença
de uma rigidez anormal. Logo de seguida dá-se o inverso, ou seja, a perda
do tónus muscular bem como da consciência. Poderá ainda ocorrer
descontrole dos esfíncteres, pelo que o utente pode defecar ou urinar. Nesta
fase, ao perder a consciência, o paciente poderá cair descontroladamente e
lesionar-se.
• CLÓNICA: nesta fase (nem sempre presente), verifica-se a presença
de espasmos musculares, havendo possível corte da língua com os dentes,
ou perfuração das mãos com as unhas. Os espasmos têm uma violência
bastante grande, verificando-se que o paciente exerce uma força terrível.
Por isso, não é adequado tentar restringir-lhe os movimentos, dado que isso
poderia provocar-lhe lesões, ou ao próprio socorrista. A fase clónica poderá
ter uma duração variável, mas decerto não durará mais de alguns minutos.
• POST CRÍTICA: Fase de recuperação.

Primeiros Socorros:

• Durante as fases tónica e/ou clónica, protege-se


a vítima de embates contra superfícies duras, afastando
objetos contundentes e, se possível, coloca-se um tubo
orofaríngeo ou lenço enrolado entre os dentes e nas
mãos do doente, a fim de evitar as lesões atrás
referidas. ATENÇÃO: Não forçar a colocação do que
quer que seja na boca do paciente, caso este seja já
encontrado com os dentes cerrados. Nunca introduzir
os dedos na boca do doente, dado que este exerce uma
força tremenda.
• Caso haja saída de espuma ensanguentada pela boca do paciente, tal
poderá dever-se a alguma lesão na boca. Há que não dramatizar o
facto pois poderá ser de importância menor. Verificam-se
frequentemente períodos de apneia (paragem ventilatória). A menos
que estes sejam demasiados prolongados, não se preocupe. A
ventilação restabelecer-se-á por si.
• Na fase post crítica, aconselha a ida ao hospital, na medida em que
não sabemos a extensão das hipotéticas lesões que possam ter
ocorrido no decorrer da crise. É importante manter o doente
lateralizado (PLS caso adequado), já que ele poderá fazer aspiração
de eventual vómito ou outros fluidos.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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• O risco maior será, pois, o de eventuais lesões associadas à queda ou
aos espasmos, daí a recomendação de recorrer ao hospital após a
crise.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Primeiros Socorros Pediátricos

O primeiro conceito a reter quando falamos de


primeiros socorros pediátricos é o de que a
criança não é, obviamente, um adulto em ponto
pequeno!

Isto é: a criança tem uma anatomia e uma


fisiologia específicas e evolutivas à medida que
cresce, as suas atividades e rotinas são distintas
das dos adultos e até as patologias são distintas
ao longo da idade. Consequentemente, a probabilidade de
encontrarmos determinadas patologias ou lesões típicas do adulto
será ínfima nas crianças e os procedimentos gerais poderão ter de ser
reajustados de modo a adaptar-se às características intrínsecas da
criança ou do infante.

Isto leva-nos a questionar: valerá então a pena elaborar


especificamente um manual de primeiros socorros estritamente
pediátrico? Estamos convictos que não, na medida em que a grande
maioria das técnicas e situações descritas neste guia poderão ser
aplicadas tanto a adultos como a crianças. Mas atenção às
exceções!!! Alguns procedimentos fundamentais (como o caso do
suporte básico de vida) contam com algoritmos próprios,
devidamente adaptados e que estão referidos neste guia nos
capítulos pertinentes.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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A mala de primeiros socorros

Com exceção de algumas


atividades específicas, a
legislação portuguesa ainda
não é muito clara quanto aos
conteúdos obrigatórios das
malas de primeiros socorros
e, por isso mesmo,
proliferam no mercado
ofertas completamente
desadequadas à realidade
atual, com conteúdos muitas
vezes obsoletos e utilidade
porventura duvidosa.

Assim sendo, as malas e seus


conteúdos são muitas vezes
designados pelos serviços de HSST ou Medicina no Trabalho (quando
existentes), de acordo com os riscos inerentes às atividades e/ou
orçamentos disponíveis para este tipo de equipamento.

Obviamente que, quanto mais completa for a mala de primeiros


socorros (e a formação dos seus utilizadores), melhor será a
prestação de cuidados às vítimas.

Cabe aos utilizadores das malas (preferencialmente os socorristas das


empresas), conhecer o respetivo conteúdo (e, eventualmente, sugerir
alterações), as indicações e forma de utilização do mesmo e, claro
está, zelar pela sua manutenção e reposição caso os consumíveis
sejam utilizados ou termine o prazo de validade.

Deve ainda ser proporcionada aos utilizadores uma ficha de utilização


da mala, que lhes permita verificar periodicamente os conteúdos e
efetuar relatórios de utilização/reposição dos artigos.

Sem prejuízo do acima exposto e apenas como linha orientadora


de referência para os interessados em constituir uma boa mala de
primeiros socorros, deixamos algumas sugestões de possíveis
conteúdos que, uma vez mais, deverão ser ajustados caso a caso.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Qtd. ARTIGO
01 Adesivo hipoalergénico
01 Colar cervical ajustável
01 Colete refletor
10 Compressa esterilizada 10x10
12 Compressa esterilizada 5x5
10 Compressa esterilizada 7,5x7,5
05 Compressas não aderentes
01 Kit de glicemia
02 Kit proteção individual (bata, luvas, máscara, óculos, …)
01 Lanterna de reflexos pupilares
02 Lençol isotérmico
05 Lenços triangulares
10 Ligaduras de gaze (tamanhos diversos)
10 Ligaduras elásticas (tamanhos diversos)
1 cx Luvas vinil ou nitrilo (azuis no caso do setor alimentar)
01 Máscara ventilação assistida
01 Oxímetro de dedo
02 Pack calor
02 Pack frio
05 Pacotes de açúcar ou glicose
02 Penso queimados ou gel queimados (Hidrogel)
03 Pensos compressivos
20 Pensos rápidos diversos (azuis no caso do setor alimentar)
03 Pinça descartável
01 Solução Antisséptica (clorexidina)
100cc Soro Fisiológico
1 cx Soro Fisiológico unidoses
10 Suturas adesivas
02 Talas moldáveis
01 Tensiómetro digital
01 Termómetro digital
01 Tesoura forte
20 Toalhete álcool
06 Tubos orofaríngeos
---- Medicamentos diversos a ponderar em função das necessidades dos
utilizadores (apenas em malas individuais)13

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Não esquecer que o socorrista não se encontra habilitado a administrar
medicamentos de qualquer tipo. Usar apenas quando devidamente prescritos.

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Guia Básico de Primeiros Socorros
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Bibliografia
Nota: ainda que a esmagadora maioria deste manual tenha sido
escrita pelo autor com recurso a diversas fontes bibliográficas, uma
pequena parte dos capítulos adicionados na última revisão (agosto
2023) foi elaborada com algum recurso experimental a plataformas
de IA e posteriormente revista e adaptada pelo autor.

• Chapleau, W., et al., 2023. Fundamentos do Controlo de


Hemorragia do Paciente Ferido para Agentes de Proteção Civil.
IPHMI
• Martins, C., et al., 2022. Manual de Suporte Básico de Vida
Pediátrico, Versão 4 , 1ª Edição. INEM
• Valente, M., et al., 2012. Emergências Médicas – Manual TAS.
INEM

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