Artistar A Educação Proposições e Ensaios Com Experiências de Um Professor de Arte
Artistar A Educação Proposições e Ensaios Com Experiências de Um Professor de Arte
Artistar A Educação Proposições e Ensaios Com Experiências de Um Professor de Arte
Artisting Education… propositions and essays with experiences from an art teacher
Resumo
O presente trabalho apresenta em relatos menores, possibilidades do que acontece na relação
professor/professora e alunos/alunas, atravessamentos de acontecimentos e reflexões dos processos
de docência em artes, sendo costurado com literaturas, onde a escrita deste trabalho se fez em conjunto
com a leitura da obra ‘Artistagens’ de Sandra Mara Corazza. Na tentativa de uma escrita de proposições
metodológicas do ensino da arte, percebe-se o problema das limitações linguísticas: durante o processo
de escrita percebe-se cortes e atravessamentos por ocorrências cotidianas, o mesmo acontece com os
processos que ocorrem dentro da sala de aula, no qual os atravessamentos se expandem no espaço
e tempo, reverberando reflexões para além da escola, no qual possibilitam novas formas de pensar. As
reflexões contidas permeiam questionamentos da pedagogização, onde tem impulsionado a busca por
novas possibilidades de docência, pensando num incentivo à diferença, um devaneio que propõe
criançar os educadores e artistar a educação.
Abstract
The present work presents in minorities accounts, possibilities of what happens in the relationship
between teacher/teacher and students/students, crossings of events and reflections of the teaching
processes in arts, being sewn with literature, where the writing of this work was done in conjunction with
the reading of the work 'Artistagens' by Sandra Mara Corazza. In an attempt to write methodological
propositions for art teaching, the problem of linguistic limitations is perceived: during the writing process,
cuts and crossings are noticed due to everyday occurrences, the same happens with the processes that
occur within the classroom, in which the crossings expand in space and time, reverberating reflections
beyond the school, which enable new ways of thinking. The reflections contained permeate questions
about pedagogization, which has driven the search for new teaching possibilities, thinking about
encouraging difference, a daydream that proposes to childish educators and artistize education.
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Possui graduação em Licenciatura em Artes Visuais - Claretiano Centro Universitário (2022) e graduação em Ecologia -
UNESP Campus Rio Claro (2021). Orcid: https://orcid.org/0009-0006-0108-3364. E-mail: tarcio.gustavo@unesp.br
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Possui graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1991), mestrado em Educação pela
Universidade Estadual de Campinas (1996) e doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2002) e Livre
Docente pela UNESP. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8889-750X. E-mail: cesar.leite@unesp.br
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Tárcio Gustavo Silva – César Leite
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menor’ (Gallo, 2003), que visa “insistir nessa coisa de investir num processo educativo
comprometido com a singularização, comprometido com valores libertários. Em suma,
buscar um devir-Deleuze na educação” (Gallo, 2003, p. 75); a proposição de relatos
menores é o encontro da literatura menor com a educação menor, possibilitando uma
literatura que relata experimentações de educadores, “e permite conceber outra coisa
que uma literatura de mestres” (Deleuze e Guattari, 2014, p. 37). Ou ainda na
perspectiva que nos apresenta Leite e Oliveira:
a ideia de ‘relatos menores’ aqui se dá́ como formas que escapam aos ditos
modos usuais de produzir os relatos e as pesquisas no campo das Ciências
Humanas de modo geral e da Educação de modo particular (Leite e Oliveira,
2019, p. 155).
Neste sentido, este texto foi composto pelos atravessamentos de uma escrita,
permeada e atravessada pelo que acontece para além do que é previsto e definido
pelas intencionalidades prévias, por proposições iniciais, que em nosso caso se
colocava em escrever acerca de certas proposições ‘metodológicas’ no ensino de
artes. Porém, atravessados pelos acontecimentos das experiências com as crianças,
fomos provocados a pensar acerca dos encontros com as crianças e a produzir
‘relatos menores’.
Nos ateremos neste primeiro momento na ideia dos relatos menores, e aqui
relatamos uma das situações vivenciadas por nósi.
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Tárcio Gustavo Silva – César Leite
Fonte: Registro fotográfico de aula de artes no 3º ano do ensino fundamental; dos autores, 2024.
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Tárcio Gustavo Silva – César Leite
Imagem 2 – Crianças
Fonte: Registro fotográfico de aula de artes na 2ª etapa da educação infantil; dos autores, 2024.
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vivido, por isso, nos arriscamos em falar das falências da docência, pelas
características da não-memória da violência ao submeter-se ao processo de formação
escolar, e ao não-discernimento pela simples falta de bom senso.
A fuga e o escapar, ou o resistir e o insistir em negar, a recusar às posturas
autoritárias na docência, os padrões, as múltiplas formas de agressão, permite levar
o docente, muitas vezes, à condição de posturas indecentes. Possibilitar aos
discentes um respiro do que possa ser libertário e pode ser visto como uma
obscenidade. É como ferir aquilo que em nosso cotidiano é visto e chamado de ‘bons
costumes’, ‘moral’, por se alterar o fluxo de padronizações mecanizadas de
subjetivação. Com isso, o julgamento como indecente, pensando pela lógica binária,
onde tudo que não representa o pensamento padrão se manifesta como oposto, logo
opera um juízo de valor que o torna negativo.
A partir das fugas, e do que escapa dos padrões, fomos levados a pensar em
práticas onde o docente perde toda sua postura como docente, que durante as
práticas já não se sabe mais quem é docente e quem é discente. O professor
abandona a ideia de mediação e passa a não tentar mais mediar ou ensinar, mas sim
passa a ser mais um elemento que junto com as crianças, se torna um propositor, um
incendiador, como aquele que abastece o fogo com lenhas de ideias, proposições,
posturas a fim de incendiar o caos, criando assim com as crianças movimentos
errantes, errâncias. O docente e os discentes perdem suas posições fixas, dadas,
teleológicas e marcadas, misturam-se, produzem um corpo povoado por
multiplicidades que compõem o próprio conjunto dos espaços escolares e fazem
juntos a construção do novo, descobrem juntos as possibilidades.
O pensamento de que o docente não se faz um ser superior, se torna ação que
possibilita vozes múltiplas, é a ação que legitima a fala da criança, que permite trocas
e inverte o modelo pré-estabelecido de que o professor transmite o conhecimento e
as crianças absorvem. É criar campos que produzem linhas de fuga às máquinas
sistêmicas de subjetividade, é criar novas subjetivações, é possibilitar ou ainda
assumir, que o professor também esteja em processo de subjetivação, é o descobrir
novas metodologias, é negar a equação da violência educacional: “dano causado =
dor sofrida + olhar avaliador” (Corazza, 2006, p. 67).
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Fonte: Registro fotográfico de aula de artes no 2º ano do ensino fundamental; dos autores, 2023.
Imagem 4 - Crianças
Fonte: Registro fotográfico de aula de artes na 2ª etapa da educação infantil; dos autores, 2024.
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Fonte: Registro fotográfico de aula de artes no 4º ano do ensino fundamental; dos autores, 2024.
O/a docente em artes pode abrir vias que fazem fugir essas máquinas
reprodutivistas, possibilitando/afirmando… Os devaneios, os sonhos, as utopias, as
errâncias, as experimentações, os voos, a vida como poesia, o rompimento das
engrenagens, a singularidade, e… e… e…
Se por um lado temos que o ensino de artes geralmente é povoado por
técnicas, fundamentos, histórias, entre outras características que povoam as práticas
docentes e também mesmo que sabemos da importância da necessidade da disciplina
fazer parte do currículo escolar, talvez também podemos ampliar essa discussão para,
não somente povoar uma disciplina de arte como outros jogos compositivos, mas
também, pensar a disciplina de arte como uma ‘ferramenta’ para artistar a educação,
ou dito de outro modo, nos perguntarmos: pode a disciplina de arte ser trabalhada
como modos de partilha e produção do comum na escola? Pode a disciplina de arte,
para além de ser uma disciplina aos moldes de outras tantas, ser também formas de
artistar a educação? Pode a docência em arte não se limitar ao que possa ou não ser
arte? A docência em arte que propomos, penso que vai além do interdisciplinar, do
pluridisciplinar... Pensamos em uma docência que se movimenta em uma educação
trans… transgressora (Hooks, 2013)… transdisciplinar… transformadora… [voltamos
à indissociabilidade do início do texto, me perdi no caminho mas cheguei, pura
errância] A arte abarca tudo e muito mais do que o existente! O que pode a arte? O
que pode a docência em arte? Nem o céu é o limite…
O que aqui pensamos como interdisciplinaridade consiste na “transferência de
métodos de uma disciplina para outra” (Rosa, 2020, p. 30), ou seja, ela não se
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estabiliza apenas dentro das barreiras disciplinares, mas ainda transita sobre as
disciplinas. Já o que chamamos de pluridisciplinaridade, “diz respeito ao estudo de um
objeto por várias disciplinas ao mesmo tempo” (Rosa, 2020, p. 30), ou seja, a partir
de um objeto, pode-se pensar em diferentes percepções de estudos dados pelo
campo da disciplina.
O que pensamos ser transdisciplinar é sobre aquilo que “está, ao mesmo
tempo, entre, através e além das disciplinas em estudo” (Rosa, 2020, p. 30), é o que
ultrapassa as barreiras da disciplina, que flui pela necessidade de aprendizagem para
a vida, aquilo que nem sempre é possível estar em um currículo.
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Fonte: Registro fotográfico de aula de artes no 1º ano do ensino fundamental; dos autores, 2024.
Fonte: Registro fotográfico de aula de artes no 4º ano do ensino fundamental; dos autores, 2024.
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Fonte: Registro fotográfico de aula de artes no 2º ano do ensino fundamental; dos autores, 2024.
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que o adulto dificilmente consegue traduzir. Ela fala mais que o adulto, ela não se cala
por vergonha, ela não se cala por ‘falta de educação’, é sincera, é expressiva, é
realista! Já o adulto, se cala por timidez, guarda suas opiniões quando diverge de
algum padrão, modifica suas opiniões em favor do agrado de outro, “(...) os adultos é
que são infantis. As crianças conseguem não sê-lo por algum tempo, enquanto não
sucumbem a essa produção de subjetividade. Depois elas também se infantilizam”
(Guattari e Rolnik, 1986, p. 26).
Criançar o mundo é habitar por outras possibilidades, é criar, é inventar, é
experienciar, é fruir…
Fonte: Registro fotográfico de aula de artes no 2º ano do ensino fundamental; dos autores, 2024.
“Diante do caos, o que importa ao filósofo não é nem vencer o caos, nem fugir
dele. Mas conviver com ele e dele extrair possibilidades criativas e velocidades
infinitas” (Corazza, 2006, p. 88).
O caos se faz como uma abertura de possibilidades para se artistar, o caos se
constitui de fugas, da fuga da linearidade, da fuga das normatizações, da fuga de
padronizações, da fuga do pré-determinismo, da fuga das imposições, da fuga… de
fugir… o caótico aqui não é nada pejorativo!
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Ah, o instante de fazer experimentação! Ah, educar como obra de arte! Ah,
educar com potência criadora, apta a reverter ordens e representações! Ah,
educar afirmando a Diferença no estado de revolução permanente do eterno
retorno! Ah, educar para mostrar a diferença diferindo! Ah, educar apenas
uma diferença entre as diferenças! (Corazza, 2006, p. 16)
Fonte: Registro fotográfico de aula de artes na 2ª etapa da educação infantil; dos autores, 2024.
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Fonte: Registro fotográfico de aula de artes no 3º ano do ensino fundamental; dos autores, 2024.
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Fonte: Registro fotográfico de aula de artes no 2º ano do ensino fundamental; dos autores, 2023.
Fonte: Registro fotográfico de aula de artes na 2ª etapa da educação infantil; dos autores, 2023.
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GUATTARI, Félix. Caosmosis. 1. ed. Buenos Aires: Editora Manantial, 1996. 164 p.
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LEITE, César Donizetti Pereira. Infância, Experiência e Tempo. São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2011.
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LEITE, César Donizetti Pereira Leite e Oliveira, Luana Priscila de. Pesquisa-
experiência: relatos, corpos e acontecimentos. Revista Digital do LAV, Santa Maria:
UFSM, v. 12, n. 3, p.153-171, set/dez, 2019.
Notas
iO presente trabalho se entrelaça com vivências de um dos autores, professor de arte, com crianças
do Ensino Fundamental em escola da Rede Pública.
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