Artigo Filme Escolas em Luta
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Resumo
Este artigo tem como objetivo refletir sobre o poder persuasivo do documentário, um
gênero cinematográfico que tem uma forte ligação com a realidade e possibilita diversas
possibilidades de representação de eventos históricos. Chamo de documentário
ideológico um subgênero em que os filmes utilizam a as linguagens e as técnicas do
gênero documentário com claras intenções de persuadir o espectador sobre determinada
ideia. Para definir os limites desse subgênero e características que possibilitem a
identificação de um documentário como parte deste grupo, usarei como base referências
das áreas de análise narrativa de literatura (Suleiman, 2001) e teoria de documentário
(Nichols, 2005; Bruzzi, 2006). Após construída, esta metodologia será aplicada na análise
do documentário “Escolas em Luta” (Eduardo Consonni, Rodrigo T. Marques e Tiago
Tambelli, 77 min, 2017).
1. Introdução
Este artigo tem como objetivo refletir sobre o poder persuasivo do documentário,
um gênero cinematográfico que tem uma forte ligação com a realidade e possibilita
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XXIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Belo Horizonte - MG – 7 a 9/6/2018
3 Trabalho defendido para obtenção do título de Master of Arts and Culture, specialization: Creative Industries, pela
Radboud University, Nimega – Holanda, orientado pelo Prof. Dr. Tom Sintobin.
4 “Ficções Autoritárias: O Romance Ideológico como um Gênero Literário”, em tradução própria.
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autora húngara Susan Suleiman delimita as regras para identificação de uma obra como
parte do gênero literário francês originalmente denominado “roman à thèse”5 – obras de
ficção claramente motivadas a guiar o leitor em direção a uma ideologia. As referências
da área de teoria do documentário que utilizarei são Bill Nichols, que em “Introdução ao
Documentário” (2005) apresenta importantes conceitos e reflexões sobre o gênero; e
Stella Bruzzi, que em “New Documentary: A Critical Introduction” apresenta reflexões
críticas sobre o documentário e sua relação com a realidade que completam os escritos de
Nichols.
Apesar de que a metodologia para análise narrativa proposta por Suleiman (2001)
também permite ser adaptada para a análise de obras de ficção, meu maior interesse
continua sendo a relação do documentário com a realidade, as possiblidades de
representação, de apropriação e ressignificação de documentos e registros de eventos
acontecidos no mundo real. Deste grupo, escolhi “Escolas em Luta” por diversos motivos:
porque o filme relata um evento que teve uma conclusão, mas cujas consequências ainda
reverberam nos acontecimentos políticos atuais; por suas opções estéticas e narrativas,
como deixar os manifestantes se filmarem (supostamente) sem intervenções dos
cineastas; pela representação da oposição entre mídia tradicional e mídia alternativa,
mostrando como são construídos os discursos, numa tentativa de manipular a população.
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expectativas em relação a possíveis influências nas eleições deste ano no Brasil. Todos
os filmes aqui citados continuam extremamente relevantes neste momento que antecede
as eleições presidenciais e estaduais de 2018, em que os crescentes extremismos ditam o
clima de tensão. Nesse contexto, “Escolas em Luta” se destaca por colocar um
personagem emblemático – o ex-governador do Estado de São Paulo e atual pré-candidato
à Presidência da República Geraldo Alckmin – como principal antagonista.
2. Metodologia
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3. Revisão Bibliográfica
Nesta breve revisão bibliográfica, destacarei alguns conceitos presentes nos textos
já citados que serão de grande importância na análise de “Escolas em Luta”: a relação
tridimensional entre o documento, o documentário e o evento; a representação da
realidade e o documentário ideológico.
“Um documento é um registro de um evento: pode ser uma foto, uma captura de
vídeo, uma trilha de áudio, documentos escritos ou ainda a filmagem bruta de um
documentário, ainda sem edição e finalização.” (Costa, 2017, p.14, em tradução
própria6)
6 “A document is a record of an event: it can be pictures, video footages, sound tracks, written documents, or even the
raw footage the filmmakers captured for the documentary before its edition and finalization.”
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A Representação da Realidade
Assumir que o documentário, assim como qualquer texto, é incapaz de conter esta
suposta verdade absoluta e que a representação apresentada é um ponto de vista/versão
de um evento é essencial no exercício de se fazer e assistir um documentário. Um
7 “the documentary gives the filmmaker a way to construct a truth using these documents as evidence”.
8 Butler, J. Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
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elemento que possibilita identificar qual o ponto de vista apresentado é o que Nichols
(2005) e Bruzzi (2006) chamam de “voz” do documentário, que seria o discurso, a versão,
uma junção da subjetividade do cineasta com suas escolhas estéticas para representar seu
objeto. Segundo Nichols, “a voz do documentário transmite qual é o ponto de vista social
do cineasta e como se manifesta esse ponto de vista n ato de criar o filme”. (Nichols,
2005, p.76)
O Documentário Ideológico
Antes de mais nada, se faz necessária uma definição clara de ideologia e objetiva.
Suleiman (1993) contribui com uma abordagem certeira que evita confusões. Segundo
Costa (2017), a autora:
“se refere a ideologia como ‘uma noção na qual podemos chamar um discurso de
ideológico quando este se refere a, ou se identifica com, um corpo de doutrina ou
sistema de ideias reconhecido’ (Suleiman, 1993, citado por Costa, 2017) ao invés de
‘uma noção ampla na qual podemos dizer que qualquer representação da realidade
humana é dependente, e que de alguma fora expressam um ideologia mais ou menos
definida’” (Suleiman, 1993, citado por Costa, 2017). (Costa, 2017, p.23)
A definição proposta por Suleiman se faz extremamente útil pois bloqueia a
afirmação que todo e qualquer texto reproduz uma ou mais ideologias. Com as limitações
propostas, a propaganda se mostra explicitamente para o expectador. Um texto ideológico
nesse sentido, sendo este um roman à thèse ou um documentário ideológico, não pode
possuir ambiguidades ou duplos sentidos, sob o risco de não deixar a mensagem clara o
suficiente a ponto de persuadir o expectador. O texto deve interpretar-se, tornando
impossível uma interpretação diferente, de forma que chega a infantilizar o público.
(Costa, 2017, p.21)
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Suleiman (1993) apresenta 3 critérios para categorizar uma obra como roman à thèse, que
seriam a “essência do gênero” (Suleiman, 1993, citada por Costa, 2017, p.24):
3. Intertexto doutrinal (a doutrina precisa existir fora do texto)11. (Costa, 2017, p.24,
tradução própria)
Esses critérios eliminam qualquer obra que não se encaixem na noção de ideologia
proposta pela autora, e podem ser facilmente aplicados na análise de documentários.
Além desses critérios, Suleiman (1993) apresenta também duas estruturas narrativas
classificadas como modelos estruturais do roman à thèse:
1. A estrutura do aprendizado12
2. A estrutura do confronto13
A estrutura do confronto, por sua vez, se baseia no conflito entre lados opostos,
nos quais bem e mal estão explicitamente definidos e reconhecíveis. O foco, aqui, está no
confronto ao invés de no protagonista. O herói e o antagonista não evoluem, e lutam até
o fim por seus objetivos. É comum neste tipo de história que o herói represente um
coletivo, a massa. Nesta estrutura, vitória e derrota nunca são definitivas: são sempre
batalhas vencidas ou perdidas numa guerra sem fim. (Costa, 2017, p. 26)
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4. Análise
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5. Conclusão
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6. Referências
Filmes Citados
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