Man Us Crito
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Man Us Crito
https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.2938
ARTIGO
RESUMO: O presente artigo versa sobre o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), tendo em
vista sua incidência na (re)formulação de Políticas Públicas Educacionais no Brasil. Compreendendo seu
papel de precursor dos exames de aferição do desempenho dos estudantes e das redes de ensino, nosso
objetivo nesse trabalho foi analisar os documentos oficiais que tratam da organização, das características
e funções do Saeb, por meio de análise documental dos marcos de referência – Versão 1.0 (2018),
acompanhada de uma revisão de literatura. Os resultados indicam que o Saeb traz consigo nuances da
ideologia neoliberal ao estabelecer um padrão de competência a ser alcançado pelos estudantes,
desconsiderando o contexto social em que estão inseridos, bem como se submete à lógica da
produtividade, com consequente ranqueamento das escolas participantes. O estudo aponta que os
mecanismos de avaliação devem garantir o ensino de qualidade a todos, respeitadas as necessidades
específicas de cada estudante e escola, bem como os dados quantitativos devem ser utilizados como
tomada de decisão para as práticas pedagógicas.
ABSTRACT: This article is about Saeb - Sistema de Avaliação da Educação Básica (Basic Education
Assessment System), in view of its impact on the (re)formulation of educational public policies in Brazil.
As a precursor to students and educational networks performance admeasurement exams, we seek to
discuss the official documents that deal with the organization, characteristics and functions of Saeb,
through research and documental analysis of the Reference Documents - Version 1.0 (2018). The results
indicate that Saeb brings with itself nuances of neoliberal ideology by establishing a pattern of
competence to be achieved by students, disregarding the social context in which they are inserted, as well
as submitting to the logic of productivity, with a consequent ranking of participating schools. The study
points out that evaluation mechanisms must guarantee quality teaching for all, respecting the specific
needs of each student and school, as well as quantitative data must be used as decision-making tools for
pedagogical practices.
RESUMEN: Este artículo trata sobre el Sistema de Evaluación de la Educación Básica (Saeb), en vista
de su impacto en la (re) formulación de las Políticas Públicas Educativas en Brasil. Como precursor de
los exámenes para medir el desempeño de los estudiantes y las redes educativas, se buscó analizar los
documentos oficiales que abordan la organización, características y funciones del Saeb, a través del análisis
documental de benchmarks - Versión 1.0 (2018), acompañado de una revisión de la literatura. Los
resultados indican que el Saeb trae consigo matices de ideología neoliberal al establecer un patrón de
competencia a alcanzar por los estudiantes, desconociendo el contexto social en el que se insertan, además
de someterse a la lógica de la productividad, con una consecuente clasificación de escuelas participantes.
El estudio señala que los mecanismos de evaluación deben garantizar una enseñanza de calidad para
todos, respetando las necesidades específicas de cada alumno y escuela, así como los datos cuantitativos
deben ser utilizados como toma de decisiones para las prácticas pedagógicas.
INTRODUÇÃO
A primeira experiência em avaliação sistêmica no território nacional foi em 1988 nos Estados
do Paraná e Rio Grande do Norte, aplicada apenas no ensino primário e realizada pelo MEC,
representando assim um marco para a ampliação desse tipo de política avaliativa que, atualmente, abrange
os três níveis de ensino (BONAMINO, 2002). Apesar de tantas décadas dessa prática de avaliar em larga
escala, pouco ainda se sabe, se discute e se domina sobre o assunto, no tocante às suas reais finalidades e
repercussões.
Acompanhada a trajetória histórica de implementação da Avaliação Educacional no Brasil,
vê-se que, desde 1930, já se manifestava interesse pela avaliação na organização do sistema educacional,
inspirado nas experiências de outros países. Na verdade, percebe-se uma deixa teórica e política dos países
centrais que iniciaram pesquisas de levantamento de dados sobre a educação. Seu nascedouro se dá no
discurso dos países desenvolvidos sobre a redução das desigualdades educacionais e de ampliação do
acesso à escola. Com base na ideia da democracia via formação do cidadão, iniciaram as intervenções
políticas e investimentos financeiros na educação. Ao se discutir a democratização da educação,
revelaram-se mais latentes as desigualdades sociais e, consequentemente, educacionais, pois não eram (e
ainda não são) igualitárias as oportunidades (PASIAN; VELTRONE; CAETANO, 2012).
Contudo, a ideologia mercantil encontra-se velada diante da preocupação com a
democratização do ensino, em que a educação se torna um produto e o capital humano é a forma de
angariar recursos para a produção. Sobre o capital humano, esclarecemos que é uma teoria que defende
a educação como um instrumento de mudança social, ou seja, na medida em que se investe no “fator
humano”, logo esse refletirá uma maior produtividade, favorecendo o desenvolvimento social e
econômico da sociedade da qual faz parte. Todavia, esse sujeito qualificado, via formação educacional,
na verdade, retorna como força de trabalho para atender o interesse da classe enonomicamente
dominante (CASTRO; ALMEIDA, 2015, p. 76).
Por consequência, a teoria do capital humano vincula-se à ideologia meritocrática que diz
respeito à responsabilidade total do indivíduo pelo seu desenvolvimento, ou seja, o seu crescimento se
dá por seu mérito, desvinculado de suas condições sociais; ao final, sua formação atenderá às demandas
do capital.
Nas palavras de Bonamino (2002, p. 22),
padrões de desempenho e controle de resultados a serem alcançados pelas escolas e estudantes, alterando
o sentido primeiro da avaliação (SOUZA; OLIVEIRA, 2010).
Há críticas sobre a questão de as avaliações externas atenderem as exigências das agências
internacionais avaliadoras, na medida em que ditam o currículo e apresentam a Educação formal como a
única aceita, em detrimento da Educação não formal, defendendo que há conhecimentos historicamente
sistematizados que devem ser ensinados, contudo reconhecem que o indivíduo também adquire
conhecimentos em suas experiências sociais, extra-escolares, em práticas e espaços diversos, que não
apenas na escola e, por isso, o indivíduo deve ser formado para a vida e não apenas ensinar para fazer
testes.
À vista disso, Lopes (2018, p. 26-27) afirma que a Educação extrapola “ensinar
conhecimentos, transmitr conteúdos e produzir resultados em exames”, haja vista que se conecta à
identidade e diversidade dos estudantes, contrapondo ao “pressuposto sujeito educado universal”. E
portanto,
Referente à intenção do Banco Mundial, Júnior e Maués (2014, p. 1141) pontuam que a
referida agência “reconhece a importância das reformas educacionais para consolidar a democracia liberal
e promover a estabilidade política” [o que justificaria seu interesse em financiar], ou seja, revela que um
maior número de indivíduos deve estar submetido a essa lógica, para se “evitar protestos e
descontentamento social”, pois se é educado para saber fazer e não para saber pensar, apresentando-se
como um mecanismo de controle social.
Todavia, historicamente se percebe que o financiamento da educação, no qual se sustenta a
efetivação de uma Política Pública, não se mantém de tal forma que garanta êxito, visto que é oneroso
educar a base e, com isso, o que se gasta para avaliar deveria ser revertido para ofertar melhores condições
para ensinar. Consoante a essa reflexão, Horta Neto (p. 90, 2010) afirma que alguns autores como Barreto
alegam que, diante da escassez de recursos, o alto custo desses sistemas tem consumido os
recursos que poderiam ser utilizados pra a realização de estudos e pesquisa menos custosos, que
também teriam potencial para melhorar o sistema escolar. Além disso, essa mesma escassez, que
impede até mesmo as medidas educacionais mais básicas de serem utilizads, impossibilita que os
sistemas invistam outros recursos financeiros para solucionar os problemas apontados pela
avaliação. Assim, os problemas só estariam sendo apontados e nada efetivo estaria sendo feito.
Sendo assim, para que os sistemas de ensino se desenvolvam, é preciso que sejam
mobilizados recursos para o enfrentamento dos problemas apontados pelas avaliações externas.
Conforme Bonamino (2002), o Saeb, especificamente, trata-se de um sistema de avaliação que abarca o
Ensino Fundamental e Médio e, por isso, se volta para a etapa de ensino de maior concentração de oferta
pública e gratuita. Em suma, é no Ensino Fundamental que se encontra o maior número de pobres, já
excluídos de tantos outros direitos sociais.
Nesse contexto, Bertagna e Mello (2020) realizam uma reflexão oportuna, quando apontam
que esse aparente fortalecimento e incentivo ao Ensino Fundamental, nos países em desenvolvimento,
demonstram uma abertura para a privatização gradual da Educação Pública, uma vez que o Poder Público
se mostra ineficiente para manter a Educação Básica. Na lógica capitalista do Banco Mundial, “uma
educação ‘básica’ seria necessária para minimizar a pobreza, ter controle de fecundidade e melhoria da
saúde” (BERTAGNA; MELLO, 2020, p. 291), reafirmando os pressupostos neoliberais que visam
lucros, competição e influência direta na gestão pública. Portanto, a formação humana e cidadã por meio
da educação dos mais pobres dá lugar à lógica mercantil da educação como mercado bem favorável, pois
se alavanca a formação de indivíduos qualificados que retornarão como força de trabalho para as
atividades econômicas, ou seja, o investimento mantém a exploração da classe operária.
CARACTERÍSTICAS
DEFINIÇÃO FOCO
Pode ser censitária ou
Instrumento avaliativo utilizado O desempenho da escola e o amostral. Requer metodologia
para elaboração de políticas seu resultado é uma medida e instrumentos específicos de
públicas dos sistemas de ensino e de proficiência, que indica a análise que possibilitem a
redirecionamento das metas das consolidação de competências manutenção da
unidades escolares. e habilidades ao longo do comparabilidade e
processo de ensino e confiabilidade dos resultados.
aprendizagem.
FINALIDADE
OBJETIVOS
- Fornecer subsídios para a tomada de decisões que visem a
- Assegurar a qualidade da Educação,
melhorias no sistema de ensino e nas escolas.
fortalecendo o direito a uma educação de
- Acompanhar o desenvolvimento das redes e sistemas de
qualidade a todos os alunos.
ensino.
- Apresentar a realidade de ensino, oferecendo
- Possibiitar a construção de indicadores nacionais, como o
um panorama do desempenho educacional a
Ideb, bem como a distribuição do percentual de alunos em
partir dos resultados.
cada nível da escala de proficiência.
currículo escolar deve englobar experiências que permitam ao estudante compreender “seu próprio
mundo da vida”. Nesse sentido, Lopes (2018) acrescenta que o currículo escolar precisa ser definido por
concepções, saberes, conteúdos e metodologia associados às demandas contextuais de cada escola,
buscando o desenvolvimento integral do estudante, para garantir a qualidade social do ensino ministrado.
Percebe-se que há implicações na aprendizagem dos estudantes quando o currículo é afetado
pelo que é avaliado, uma vez que “acabam por ter efeitos nefastos sobre o currículo, empobrecendo-o,
sobre o ensino, demasiado condicionado pelo que “cai no exame”, sobre o desenvolvimento de
competências de resolução de problemas por parte dos alunos e das decisões políticas (FERNANDES,
2009, p. 112).
E na amplitude dessa reflexão, com vistas ao estudo sobre o sistema de avaliação brasileiro,
iniciamos a análise do que atestam os documentos quanto ao Saeb, suas características, objetivos e função
e como é tratado nos documentos escolares das escolas pesquisadas. Para tanto, é salutar discorrer sobre
a metodologia adotada para a coleta das informações sobre o objeto de estudo.
Nessa perspectiva, apresentamos o que compõe o Saeb, a partir das informações exibidas
nos sítios eletrônicos que tratam das avaliações externas no Brasil, assunto definido de pesquisa, tais
como MEC, Inep e CAEd/UFJF – plataformas de busca utilizadas. Nesse contexto, procedemos à análise
documental dos Documentos de Referência – Versão 1.0 – do Saeb (2018).
Inicialmente, realizamos uma pesquisa junto aos sítios eletrônicos dos órgãos oficiais
mencionados, para obter informações sobre as avaliações externas aplicadas no Brasil. Após o estudo
dessas informações, inclusive do percurso histórico das Políticas Públicas Educacionais de Avaliação,
constatamos que o Saeb representa a concretização dos mecanismos de avaliação externa no Brasil e, por
isso, a necessidade de analisar sua organização, características e funções por meio da análise dos
Documentos de Referência – Versão 1.0, localizados no sítio eletrônico do Inep/MEC (2018).
A escolha dessas instituições se deu pela abrangência das informações publicizadas por elas
considerando as avaliações externas realizadas no Brasil. Para tanto, faz-se oportuno descrever a
competência de cada um dos órgãos escolhidos:
É fato que a avaliação das redes de ensino precisa ser constantemente analisada, de forma a
acompanhar as demandas necessárias para o aprimoramento dos processos de ensino e de aprendizagem.
Enquanto os gestores fazem questão de mantê-la, estudiosos questionam sua veracidade, e há o
crescimento de pesquisas que discutem seus pontos e contrapontos, possibilitando o alargamento dos
horizontes para o aperfeiçoamento das avaliações sistêmicas. Nesse sentido, Bonamino (2002, p. 13)
critica o desconhecimento dos professores sobre o Saeb, apesar de ser o “precursor da política ampla de
avaliação implementada nos anos 90”. Logo, o que é o Saeb? Podemos defini-lo como uma avaliação que
focaliza os sistemas de ensino responsáveis pelo Ensino fundamental e Médio, na rede pública e privada
brasileira. Apesar da nomenclatura, é importante ressaltar que o Saeb não é um sistema, conforme
esclarecem Franco (2001) e Bonamino (2002).
Vieira (2019, p. 751) afirma que o Saeb favoreceu a sociedade com o conhecimento mais
sistemático do desempenho dos estudantes, o qual se tornou a “principal base de dados dos estudos em
eficácia escolar desenvolvidos no Brasil”, nas últimas décadas, alinhada às demais estratégias de ampliação
do acesso à educação, principalmente no que se refere ao Ensino Fundamental.
O Saeb é de responsabilidade do Inep, autarquia vinculada ao MEC, tendo sido criado em
1990 e realizado bienalmente desde 1995. Sua abrangência acoberta todos os estados brasileiros e o
Distrito Federal, com aplicação de testes de natureza amostral com base na TRI. Seu objetivo é avaliar a
qualidade do ensino ministrado, mediante aferição de conhecimentos e habilidades dos estudantes,
buscando a melhoria da qualidade do ensino e redução das desigualdades educacionais (COTTA, 2001;
FRANCO, 2001).
O MEC apresenta o Saeb como um sistema que “permite aos diversos níveis governamentais
avaliar a qualidade da educação praticada no país, oferecendo subsídios para a elaboração, o
monitoramento e o aprimoramento de políticas” (BRASIL, 2018), possibilitando “ações voltadas à
correção das distorções e debilidades identificadas nas redes de ensino” (BRASIL, 2018). Além disso, a
realização e divulgação dos resultados são formas do poder público prestar contas de qual ensino vem sendo
ofertado e em que condições é desenvolvido.
Diante da importância de se apresentar uma síntese do percurso histórico de constituição do
Saeb e do Inep (que o coordena), buscamos, no sítio eletrônico do Instituto, a linha de tempo ilustrada
na Figura 2, a seguir.
Inep
1997 - O Inep se
1937 - Criado para 1964 - Primeiro
torna uma
realizar estudos para Censo Escolar.
autarquia federal.
identificar os problemas
do ensino e propor
Políticas Públicas. 1982 - Inep
assume a 2007 - Lançamento do Ideb.,
1941- Organização de cursos responsabilidade reunindo em um só indicador o
de capacitaçaõ de sobre as estatísticas fluxo escolar e as médias de
professores e início da coleta educacionais. dsempenho nas avaliações.
de informações sobre a
educação brasileira.
Saeb
1948 - Publicado o Boletim 2019 - O Saeb
1990 - O Saeb é elaborado para avalia a educação
Novos Prédios Escolares - identificar o que possa interferir
aponta o panorama da infantil.
no desempenho dos estudantes
educação primária e os e dar um indicativo da
principais déficts da qualidade do ensino..
educação.
da matriz de referência são estabelecidos conteúdos a serem avaliados e quais níveis de desempenho
necessários e, a partir desse levantamento, são construídos os testes (FREITAS, 2009).
Os conteúdos que compõem as matrizes de referência retratam as competências e habilidades
que se espera alcançar em cada componente curricular avaliado dos três anos de escolaridade escolhidos
pelo Saeb (Língua Portuguesa, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas), sendo divididos
em descritores, que são as habilidades que baseiam os itens dos componentes curriculares.
Os itens da avaliação são elaborados mediante a matriz de referência, na qual utiliza-se a
tecnologia da Teoria de Resposta ao Item, mais conhecida como TRI. A TRI, além de considerar o
número de acertos, também analisa a habilidade do avaliado e a característica das questões, sendo o item
a unidade básica de análise. Assim, considera-se que o número de questões por nível de dificuldade afeta
o resultado. O referido item é qualificado nos parâmetros de: “poder de discriminação, que é a capacidade
de um item distinguir os estudantes que têm a proficiência requisitada daqueles quem não a têm; grau de
dificuldade e possibilidade de acerto ao acaso (chute)” (MEC, 2018).
Ressalta-se, portanto, que não se confunde matrizes de referência com currículo, estratégias
ou metodologia de ensino, uma vez que elas representam apenas um recorte do currículo baseado no que
se pode ser aferido da aprendizagem, convertido em escalas de proficiência (INEP/MEC, 2020).
De acordo com o que está publicizado no sítio eletrônico do Inep (2020), é importante
salientar que as escalas de proficiência podem
ser visualizadas como uma régua construída com base nos parâmetros estabelecidos para os itens
aplicados nas edições do teste. Em cada ciclo de avaliação, o conjunto de itens aplicados nos
testes de desenvolvimento é posicionado na escala de proficiência a partir dos parâmetros
calculados com base na Teoria de Resposta ao Item (TRI). Após aplicação do teste, a descrição
dos itens da escala oferece uma explicação probabilística sobre as habilidades demonstradas em
casa intervalo da escala.
Assim, o que se ressalta da TRI é que ela permite a elaboração de escalas de desenvolvimento
dos estudantes, que por fim possibilitam mapear os dados.
A divulgação dos resultados do Saeb é realizada por meio de relatórios consolidados, sistemas
de acesso a resultados ou boletins de desempenho, por Estado, municípios e escolas, tendo variações em
cada edição do Saeb. Há ainda as Narrativas Multimídia, uma plataforma digital e interativa do sítio
eletônico do Inep, que revelam os resultados em formato ilustrado e animado (documentários, gráficos,
ilustrações), que facilitam a sua visualização, consoante à oferta de “subsídios para a elaboração,
monitoramento e aprimoramento das políticas públicas educacionais, promovendo análise e estudo dos
resultados obtidos nos testes (INEP/MEC, 2020).
Em seus 30 anos de existência, o Saeb vem sendo submetido a mudanças. Destaca-se, entre
elas, a alteração na nomenclatura, que foi unificada para Saeb, não sendo mais utilizadas as denominações
de Avaliação Nacional da Alfabetização – ANA e Avaliação Nacional de Rendimento Escolar – Anresc
(Prova Brasil). O Saeb ora contempla toda a Educação Básica – da Educação Infantil ao Ensino Médio.
Outra alteração se dá em sua aplicação em anos ímpares, com divulgação dos resultados em anos pares
(INEP/MEC, 2020).
Diante do que se propõe no Saeb, nesses 30 anos de avaliação, analisamos o teor de parte de
seus Documentos de Referência a fim de compreender o que o norteia e qual a sua função no sistema
educacional no Brasil.
Quadro 1: Histórico da Constituição da Matriz de Avaliação do Saeb do Documento Referência – Versão 1.0 – do Saeb
(2018)
Fonte: Elaboração da autora com base em Documentos de Referência – Versão 1.0 – do Saeb (2018)* Disponível em:
https://download.inep.gov.br/educacao_basica/saeb/2018/documentos/saeb_documentos_de_referencia_versao_1.0.pdf.
Educação Pública, assegurando que esses sujeitos internalizem a posição social que lhes foi atribuída
hierarquicamente, resignado ao domínio dos interesses de quem financia e estabelece os padrões de
desempenho.
No Quadro 2, a seguir, apresentamos as Principais informações contidas na Introdução dos
Documentos Referência do Saeb. Esclarecemos que a codificação ID refere-se à identificação de três
objetivos do Saeb (O1, O2, O3 – Objetivos); quanto ao eixo de discussão, trata-se do excerto do texto
extraído na pesquisa referente à Introdução; e a palavra-chave, o conceito analisado.
Nessa proposta de discussão, o Quadro 2 apresenta informações sobre os objetivos do Saeb
no âmbito da Educação Básica.
Quadro 2: Principais informações da Introdução dos Documentos Referência – Versão 1.0 – do Saeb (2018)
Qualidade
Avaliar a qualidade, a equidade e a eficiência da educação praticada no
01 Equidade
país em seus diversos níveis governamentais (p. 6).
Eficiência
Fonte: Elaboração da autora com base em Documentos de Referência – Versão 1.0 – do Saeb (2018)* Disponível em:
https://download.inep.gov.br/educacao_basica/saeb/2018/documentos/saeb_documentos_de_referencia_versao_1.0.pdf.
Desse modo, o mecanismo de avaliação do Saeb pode representar pressupostos do capitalismo neoliberal
de controle e regulação, ao propor a transferência “do poder de regularização do Estado para o mercado”
(FREITAS, 2009, p. 54), ou seja, o Estado se desresponsabiliza de um controle que é seu para atribui-lo
ao mercado.
O estabelecimento de metas gera conflitos entre as escolas e os professores, principalmente
pela competição e individualismo. No cotidiano escolar podem ser vistos momentos para tratar,
especificamente, das avaliações externas, bem como treinamento de questões e descritores com os
estudantes, preparando-os para as provas. Nas palavras de Cotta (2001, p. 94) “avaliar significa formar
um juízo de valor com base na comparação entre uma situação empírica e uma situação ideal”. Assim, o
ranqueamento traduz a segregação e exclusão, típicos da lógica capitalista, pela disparidade entre o real e
o ideal, e logo não permitirão a igualdade pregada pelos objetivos do Saeb.
De acordo com Bertagna e Mello (2020, p. 295), essa afirmativa mantém relação com a
eficiência, pois
a avaliação externa em larga escala, dentro do atual contexto social, projeta a aplicação da lógica
de controle dos resultados na educação como uma ideia de produção de eficiência entre os
consumidores, pautada no individualismo e, consequentemente, relacionada ao mérito próprio
pontuado pela perspectiva neoliberal.
o fato é que, para ensinar a pobreza, teríamos de gastar muito mais com educação, pois ela exige
estratégias pedagógicas mais caras, já que mais personalizadas. Não poderíamos ter o número de
alunos elevado em sala de aula, o que demandaria mais escolas. Não poderíamos tratar
diferenciadamente a pobreza, do ponto de vista metodológico, deixando-a em trilhas secundárias
que a remetem ao nada. Tudo isso custa.
Nesse sentido, ainda acrescenta: “a pobreza perambula pelo interior das escolas. Pusemos a
pobreza na escola e não sabemos como ensiná-la. Nenhum processo de avaliação externo resolverá isso”
(FREITAS, 2007, p. 979). Na proposta maior de ensinar a todos, na perspectiva da igualdade, e a cada
um, respeitada a equidade, deve-se superar o entendimento equivocado de maquiar o fracasso escolar.
No entendimento do potencial pedagógico da avaliação, ressalta-se a importância do Saeb
para a sua cultura, todavia ele “precisa identificar quem são seus usuários preferenciais e se manter
permanentemente focado em seus interesses e necessidades (COTTA, 2001, p. 100). O que se vê é que
a melhoria da qualidade da educação tem se dirigido ao cumprimento das metas e indicadores das
avaliações externas, eixo das Políticas Públicas de Avaliação na atualidade.
A fim de analisar os Pressuspostos Legais e Normativos do Saeb, elaboramos o Quadro 3, a
seguir, que apresenta os eixos de discussão que pautam essa análise. O referido Quadro apresenta a
codificação ID como identificação do assunto pelo sumário do texto do Documento de Referência (P1,
P2, P3 – Pressuposto); o eixo de discussão trata do excerto do texto extraído na pesquisa sobre os
Pressupostos Legais e Normativos; e a palavra-chave, o conceito analisado.
Quadro 3: Principais informações dos Pressupostos Legais e Normativos do Documento Referência – Versão 1.0 – do
Saeb (2018)
ID Eixo de discussão Palavras-chave
Fonte: Elaboração da autora com base em Documentos de Referência – Versão 1.0 – do Saeb (2018)* Disponível em:
https://download.inep.gov.br/educacao_basica/saeb/2018/documentos/saeb_documentos_de_referencia_versao_1.0.pdf.
daqueles que não conseguem aprender ou acompanhar os que aprendem, e essa situação tem relação
direta com as avaliações externas, visto que o referido adiamento reflete em menor proporção ou não
implica nos dados estatísticos das avaliações.
No mesmo entendimento, Freitas (2007, p. 968) denomina esse efeito de “eliminação
adiada”, ao criticar a progressão continuada [e não o regime de ciclo], enfatizando que muitos estudantes,
já socialmente marginalizados, são ignorados em suas dificuldades de aprendizagem, sujeitos aos
regimes/programas de recuperação, aceleração, progressão continuada para serem definitivamente
eliminados quando não mais implicarem nas estatísticas de reprovação e evasão.
A avaliação não se desvincula dos outros instrumentos pertinentes aos processos de ensino
e de aprendizagem, podendo ser muito produtiva se considerada como verificação de aprendizagem e
utilizada para redimensionamento do planejamento pedagógico. É de interesse social que todas as escolas
ofertem um ensino de qualidade social, produzindo efeitos para a emancipação dos sujeitos,
principalmente das classes populares, em maior número na rede pública de ensino. Nas palavras de Freitas
(2007, p. 969)
[...] Não significa que todas as escolas não tenham de ser eficazes em sua ação. Muito menos que
as escolas que atendem à pobreza estejam desculpadas por não ensinarem, já que têm alunos
com mais dificuldades para acompanhar os afazeres da escola. Ao contrário, delas se espera mais
competência ainda. Mas os meios e as formas de se obter essa qualidade não serão efetivos
entregando as escolas à lógica mercadológica. A questão é um pouco mais complexa. Deixada à
lógica do mercado, o resultado esperado será a institucionalização de escola para ricos e escola
para pobres (da mesma maneira que temos celulares para ricos e para pobres). As primeiras
canalizarão os melhores desempenhos, as últimas ficarão com os piores desempenhos. As
primeiras continuarão sendo as melhores, as últimas continuarão sendo as piores. Mas o sistema
terá criado um corredor para atender as classes mais bem posicionadas socialmente, o que será,
é claro, atribuído ao mérito pessoal dos alunos e aos profissionais da escola.
Além disso, o professor, muitas vezes, não consegue saber a diferença de uma matriz de
referência de avaliação para o currículo em sua abrangência, o que corrobora para não conseguir
interpretar os dados e utilizá-los em favor do ensino.
CONSIDERAÇÕES
a avaliação externa por meio do Saeb, analisando sua organização, características e função no sistema de
ensino.
Por fim, consoante às ideias de Duarte (2019, p. 16), os conteúdos, o trabalho pedagógico e
as formas de avaliar, e todo o processo educacional, estão associados aos "fins ético-políticos da educação
para a formação humana e emancipação do sujeito, bem como dos meios empregados para se atingir
esses fins” e, portanto, a “perspectiva pedagógica” precisa ser entendida por sua conexão a outras
vertentes, entre elas a política, ideológica, social e econômica.
No âmbito das avaliações externas e, sobretudo do Saeb, analisamos, neste artigo, os
documentos oficiais, sua organização, características e funções, bem como sua incidência sobre a (re)
formulação/implementação de Políticas Públicas Educacionais e nas práticas escolares. Por meio da
pesquisa e análise documental dos Documentos de referência – Versão 1.0 (2018), os resultados indicam,
no tocante ao Histórico da Constituição da Matriz de Avaliação do Saeb, que a (re)formulação de Políticas
Públicas Educacionais devem garantir a melhoria da qualidade social da educação que favoreça a
aprendizagem dos estudantes e que essa seja significativa para a sua formação humana integral.
Contudo, percebemos que nas avaliações externas há nuances neoliberais na medida que
estabelecem um padrão de desempenho, voltado à lógica da produtividade, e que legitimam a formação
do sujeito como força de trabalho para o sistema do capital. Além disso, as avaliações externas são
financiadas por agências internacionais que definem índices educacionais e metas de desempenho que
desconsideram o contexto social dos estudantes.
Na Introdução dos Documentos de Referência do Saeb – Versão 1.0, os dispositivos
neoliberais de qualidade, equidade e eficiência carregam em si a ideologia meritocrática que reforça o
mérito e o esforço individual, o que gera competição, ou seja, ranqueamento das escolas em virtude da
comparabilidade dos resultados das avaliações.
Quanto aos Pressupostos Legais e Normativos do Saeb, observamos que a democratização
do ensino ultrapassa o acesso, abarcando também a permanência do estudante na escola.
No que diz respeito às matrizes de referência das avaliações externas, os estudantes são
direcionados ao desenvolvimento de habilidades e competências que visam a foramção de mão de obra
para o mundo do trabalho, afastando-o da consciência filosófica de pensar e não apenas de fazer,
consciência esta tão necessária para sua emancipação social.
Portanto, as discussões realizadas apontam que o valor que a comunidade escolar e a
sociedade darão à avaliação está ligado ao movimento de aprimoramento dos mecanismos já existentes,
consequentemente de Políticas Públicas Educacionais que garantam o ensino de qualidade a todos,
respeitadas as necessidades específicas de cada sujeito e cada escola. Os dados quantitativos precisam ser
contextualizados para além do que está nos testes e questionários, ou seja, devem ser utilizados para
tomada de posição para novas práticas pedagógicas.
REFERÊNCIAS
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em larga escala do Brasil: os desafios do processo e do sucesso educativo na garantia do direito à
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Ana Paula Nogueira Rocha Borges executou a redação – rascunho original e conceituação. Shirley Patrícia
Nogueira de Castro e Almeida executou a redação – revisão e edição; conceituação e Kátia Cristina Lima
Santana executou a redação – revisão e edição; conceituação.
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Avaliação Educacional: o Saeb, seus pressupostos, finalidades e repercussões. e todas as coautoras que
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