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3, e29811326681, 2022
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i3.26681
Resumo
As ocorrências de depressão e suicídio são causados por uma variedade de fatores, a maioria dos quais são motivados
pelo desejo de escapar de uma vida de grande sofrimento psicológico. Dessa forma, o presente estudo tem como
objetivo analisar a produção cientifica sobre depressão e suicídio em profissionais da saúde, e conhecer os fatores
agravantes para o seu desenvolvimento durante a pratica de assistência à saúde, a partir de uma busca na literatura por
estudos publicados entre os anos de 2016 e 2022. As pesquisas foram feitas nos periódicos eletrônicos Scopus,
PubMed, Cinahl e Medline. Utilizando a questão norteadora: Quais as repercussões e principais causas da depressão e
suicídio em profissionais da saúde? Como resultados, foram observadas associações entre depressão e ideação suicida
e horas de trabalho, satisfação e valorização no trabalho, distúrbios do sono, bullying, sexismo e discriminação;
cultura de culpa; vergonha e medo de denunciar; falta de suporte; estigma e uma necessidade percebida de parecer
invulnerável; conflito trabalho/família, isolamento social e abuso de álcool. Portanto, os impactos comuns a essas
psicopatologias podem induzir eventos adversos relacionados a assistência à saúde, podendo resultar em óbitos dos
pacientes. Conclui-se que a utilização de estratégias de redução e prevenção de danos, a exemplo da introdução
precoce de terapêutica psicológica e psiquiátrica, bem como, maior conscientização da população sobre o tema,
predispõe a diminuição das taxas de prevalência de depressão e suicídio.
Palavras-chave: Saúde mental; Depressão; Suicídio; Pessoal de saúde.
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(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i3.26681
Abstract
The occurrences of depression and suicide are caused by a variety of factors, most of which are motivated by the
desire to escape from a life of great psychological suffering. Thus, the present study aims to analyze the scientific
production on depression and suicide in health professionals, and to know the aggravating factors for its development
during health care practice, from a literature search for studies published between the years 2016 and 2022. The
searches were made in the electronic journals Scopus, PubMed, Cinahl and Medline. Using the guiding question:
What are the repercussions and main causes of depression and suicide in healthcare professionals? As results,
associations were observed between depression and suicidal ideation and work hours, job satisfaction and
appreciation, sleep disturbances, bullying, sexism and discrimination; blame culture, shame and fear of reporting; lack
of support; stigma and a perceived need to appear invulnerable; work/family conflict, social isolation and alcohol
abuse. Therefore, the impacts common to these psychopathologies can induce adverse health care-related events,
potentially resulting in patient deaths. It is concluded that the use of harm reduction and prevention strategies, such as
the early introduction of psychological and psychiatric therapies, as well as a greater awareness of the population on
the subject, predisposes to a decrease in the prevalence rates of depression and suicide.
Keywords: Mental health; Depression; Suicide; Health personnel.
Resumen
La aparición de la depresión y el suicidio se debe a diversos factores, la mayoría de los cuales están motivados por el
deseo de escapar de una vida de gran sufrimiento psicológico. Así, el presente estudio tiene como objetivo analizar la
producción científica sobre la depresión y el suicidio en los profesionales sanitarios, y conocer los factores agravantes
para su desarrollo durante la práctica asistencial, a partir de una búsqueda bibliográfica de estudios publicados entre
los años 2016 y 2022. Las búsquedas se realizaron en las revistas electrónicas Scopus, PubMed, Cinahl y Medline. A
partir de la pregunta guía: ¿Cuáles son las repercusiones y las principales causas de la depresión y el suicidio en los
profesionales de la salud? Como resultados, se observaron asociaciones entre la depresión y la ideación suicida y las
horas de trabajo, la satisfacción y el aprecio por el trabajo, los trastornos del sueño, el acoso, el sexismo y la
discriminación; la cultura de la culpa, la vergüenza y el miedo a denunciar; la falta de apoyo; el estigma y la necesidad
percibida de parecer invulnerable; el conflicto entre el trabajo y la familia, el aislamiento social y el abuso del alcohol.
Por lo tanto, los impactos comunes a estas psicopatologías pueden inducir eventos adversos relacionados con la
atención sanitaria, que pueden provocar la muerte de los pacientes. Se concluye que la utilización de estrategias de
reducción y prevención de daños, como por ejemplo la introducción precoz de terapias psicológicas y psiquiátricas,
así como una mayor concienciación de la población sobre el tema, predisponen a la disminución de las tasas de
prevalencia de la depresión y el suicidio.
Palabras clave: Salud mental; Depresión; Suicidio; Personal de salud.
1. Introdução
A depressão, atualmente designada, inclui transtornos com sintomas comuns em três dimensões principais: cansaço,
despersonalização e baixa realização pessoal, que pode levar à tristeza, causando prejuízos na vida daqueles que são
acometidos, de seus familiares, amigos e comunidade (Zhou, 2020). Assim, a alta frequência de depressão entre os
profissionais de saúde reflete sua exposição a ambientes estressantes e vulnerabilidade psicológica (Yuan, 2017). Bem como,
ocorre alterações na alimentação, peso, sono, interesse em atividades, perda de energia, sentimentos de inutilidade, dificuldade
para pensar e tomar decisões e pensamentos repetidos de morte ou suicídio são todos sinais de depressão, também conhecida
como transtorno depressivo maior (Sambasivam et al., 2016; Huo et al., 2021).
Os efeitos do suicídio são definidos como qualquer ato de morte que resulte, direta ou indiretamente, de um ato
positivo ou negativo realizado pela própria vítima, estando muitas vezes ciente do resultado (Correia et al., 2020). Já a ideação
suicida é definida como o surgimento de ideias em que o indivíduo é a causa de sua própria morte (Ranuzi et al., 2020). A
prevenção do suicídio é dificultada pelo estigma associado à procura de ajuda (Rubanovich et al., 2022). Já a depressão é um
tipo de doença mental. No trabalho, cria problemas interpessoais e intrapessoais, bem como fadiga, falta de foco, introversão,
impaciência e desmotivação. Além disso, indivíduos deprimidos são mais propensos a abusar do álcool. Mais da metade de
todos os casos de depressão não são diagnosticados ou tratados, aumentando o risco (Sambasivam et al., 2016; Huo et al.,
2021).
Os altos índices para o suicídio são considerados um dos problemas de saúde mais sérios enfrentados na atualidade,
pois o número de ações suicidas concluídas aumenta ao longo do tempo. Embora a ligação entre suicídio e doenças mentais,
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particularmente a depressão, seja amplamente estabelecida, variáveis adicionais como conflito, dupla jornada de trabalho,
violência, perdas familiares, isolamento e tentativas de suicídio anteriores também estão substancialmente associadas ao
comportamento suicida (Pilgrim et al., 2017; Campo-Arias et al., 2021).
Ademais, a tentativa do suicídio é qualquer ato através do qual o indivíduo fere a si mesmo, independentemente da
forma utilizada para consumar o ato e o real motivo que a levou a praticar tal feito (Hernández et al., 2019). A idealização
suicida e os cometimentos de suicídio fatal e não fatal geralmente iniciam precocemente e tendem a aumentar durante a
adolescência, e consequentemente podem estabelecer um determinado padrão de comportamento suicida em adultos jovens
(Lejderman et al., 2020).
Diariamente, profissionais de saúde e trabalhadores envolvidos no combate à pandemia estão expostos ao risco de
contágio, e a heterogeneidade que caracteriza esse segmento da força de trabalho determina diferentes tipos de exposição, tanto
ao risco de contágio quanto ao trabalho e fatores relacionados. O esgotamento físico e o estresse psicológico, assim como a
inadequação ou negligência nas medidas de proteção e atenção à saúde desses profissionais, afetam as diversas categorias de
forma diferenciada, sendo necessário atentar para as especificidades de cada segmento para evitar o declínio da qualidade e
capacidade de trabalho (Bryant-Genevie et al., 2021).
Por isso, é importante que cada vez mais estudos tentem desvendar as diversas causas dessas patologias que vem
aumentando o número de mortes a cada ano. Segundo estudo realizado no Brasil e Portugal, encontrou cerca 24,7% de
prevalência de depressão comparado a população geral, estando entre as principais causas de morte nesses países, aumentando
o alarme contínuo também sobre o aumento das taxas de suicídio (Passos et al., 2020). O suicídio mata cerca de 800.000
pessoas em todo o mundo a cada ano, e esses números não incluem o número de tentativas de suicídio, tendo estudos que
mostram que são aproximadamente 10 a 20 vezes mais comuns do que o ato de suicídio em si (Correia et al., 2020).
Pelo exposto, percebe-se a relevância acadêmica e científica da avaliação dos aspectos da depressão e risco de
suicídio em trabalhadores da saúde, pois são esses profissionais que prestam serviços especializados, de apoio diagnóstico e
terapêutico, ambulatorial e hospitalar, garantindo assistência e manutenção da saúde física e mental da população. Diante
disso, o objetivo deste estudo foi analisar a produção cientifica nacional e internacional sobre depressão e suicídio em
profissionais da saúde, e conhecer os fatores agravantes para o seu desenvolvimento durante a pratica de assistência à saúde, a
partir de uma busca na literatura nacional e internacional.
2. Metodologia
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com produções nacionais e internacionais, baseada na identificação,
análise e comparação dos resultados de estudos sobre o mesmo tema. Essa pesquisa seguiu rigorosamente as etapas do método
proposto por Whittemore e Knafl, que consiste em seis etapas: identificação do tema e formulação da questão de pesquisa;
definição de critérios de busca em bases de dados eletrônicas; coleta dos achados incluídos; análise de dados; interpretação
criteriosa dos resultados; e apresentação dos achados por categorias (Whittemore, Knafl, 2005).
A identificação do tema e da questão de pesquisa foi construída com o auxílio da estratégia PICo: Problema (P) =
depressão e suicídio; fenômeno de interesse (I) = profissionais da saúde; contexto do estudo (Co) = serviços de saúde. Assim, o
delineamento deste estudo surgiu a partir da seguinte questão norteadora: Quais as repercussões e principais causas da
depressão e suicídio em profissionais da saúde?
As bases de dados utilizadas para a busca foram: Cinahl, PubMed, Scopus e MedLine, a partir dos seguintes termos
DeCS (Descritores de Ciências da Saúde), e os descritores booleanos OR e AND na seguinte combinação a seguir na
BVS/BIREME: (“mental health“) AND (“depression”) AND (“suicide”) AND (“health personnel” OR “professional, health
care” OR “health care professionals”) AND ( la:("en" OR "es" OR "pt")) AND (year_cluster:[2016 TO 2022]).
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Os critérios de inclusão incluem: artigos originais completos disponíveis online nas bases de dados nos idiomas em
português, inglês e espanhol no período de 2016 a 2022, este recorte temporal ajudará a descrever melhor o assunto estudado
na tentativa de aliar conhecimento e experiência daquela época. Foram excluídos artigos duplicados, artigos de revisão de
literatura, dissertações, livros, editoriais, resumos de eventos e relatos de casos que não sejam relevantes para a questão de
pesquisa ou leitura de artigos que não sejam relevantes para os objetivos do estudo.
Um total de 334 publicações foram encontradas e exportadas para o software Rayyan ® para seleção da amostra por
meio da estratégia de busca nas bases de dados, sendo 55 do CINAHL, 96 do SCOPUS, 118 do MEDLINE e 65 do PUBMED.
Inicialmente, por meio do software, foram identificados e excluídos estudos duplicados (n = 187). Após a exclusão de
duplicatas, dois revisores independentes realizaram a avaliação da qualidade metodológica dos artigos incluídos pelos os
títulos e resumos dos (n = 147) estudos, onde fizeram julgamentos e aplicaram critérios de inclusão e exclusão,
individualmente.
No segundo momento, os dois revisores, com base em consenso, listaram os artigos pré-selecionados, que foram
definidos como artigos que atendiam aos critérios de elegibilidade para leitura do texto na íntegra. Na terceira etapa, os dois
revisores leram os artigos de forma independente (n = 30) e depois da análise resultou nas qualificações finais determinadas
com a ajuda do terceiro revisor; dentre estes, quinze artigos constituíram a amostra final da revisão.
A revisão foi conduzida de forma sistemática, seguindo as recomendações do Preferred Reporting Items for
Systematic Reviews and MetaAnalyses –PRISMA® (Sousa et al., 2018; Moher et al., 2009). Ademais, de acordo com a
Resolução CNS 466/12, este estudo não foi submetido à aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos por
se tratar de uma revisão. O processo de seleção completo para os artigos da amostra pode ser visto no fluxograma da Figura 1.
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3. Resultados e Discussão
Nesta pesquisa, um total de quinze estudos foram escolhidos para responder à questão norteadora e aos objetivos
previamente selecionados. Os estudos analisados e classificados para a amostra final foram: 13 (86,67%) pesquisas
internacionais e dois (13,33%) estudos nacionais. A maioria das publicações, três artigos (20,02%), é originária dos Estados
Unidos da América (EUA). Em seguida, Austrália dois (13,34%) artigos e outros dois (13,34%) provenientes da Reino Unido.
Já o Brasil representou dois estudos (13,34%); Colômbia, Itália, Quênia, China, Chile e Califórnia tiveram um artigo (6,66%)
cada.
Dos estudos publicados no Brasil, todos foram divulgados no idioma português, desses, também constavam no inglês
e espanhol. Já os publicados nos Estados Unidos da América, todos encontravam-se apenas em inglês, enquanto os da
Colômbia e Chile constavam como inglês e espanhol; Turquia; Itália, Quênia, China, e Califórnia somente em inglês. Além
disso, quatro (26,66%) estudos analisaram as diferenças nos resultados de saúde mental entre os profissionais médicos, três
(20%) pontuaram significativamente a depressão e ansiedade entre médicos e enfermeiros. Já oito (53,34%) avaliaram o tema
com entrevistados médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde.
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A análise da literatura cientifica consultada elucidou que os profissionais da saúde encontram-se constantemente
expostos a situações de alto risco, logo, o gerenciamento precoce dos transtornos psíquicos, a exemplo da depressão e suicídio
fornecem suporte à saúde mental (Xiaoming et al., 2020). Ademais, os estudos reforçam que o aparecimento de agravantes
como o fato de terem que lidar diariamente com a vida, a dor e a morte das pessoas, bem como as demandas de seus familiares,
traz relevância significativa na piora da capacidade de trabalho e na vida pessoal dos acometidos, bem como, aumento no risco
do aparecimento de depressão e suicídio (Pilgrim et al., 2017).
Observou-se, ainda, em uma pesquisa com 26.174 participantes como médicos, enfermeiros e outros profissionais de
saúde estão propensos a uma qualidade de vida instável em decorrência do ambiente ao qual estão expostos e das funções que
exercem, contribuindo para o aparecimento da depressão e ideação suicida (Bryant-Genevie et al., 2021). Além disso, a
pesquisa evidenciou a contribuição negativa de longas jornadas de trabalho e a privação do sono. Já as mulheres muitas vezes
trabalham em turnos duplos e enfrentam mudanças no trabalho, em casa e com os filhos, o que pode levar à depressão (Frank
et al, 2021). Nesse sentido, outro estudo com médicos demonstra o problema, com carga e condições de trabalho; culturas de
trabalho tóxicas – incluindo abuso e bullying, sexismo e racismo, uma cultura de culpar e envergonhar; e falta de apoio (Riley
et al., 2017).
No Reino Unido, estudo de coorte (n=4.378) indicou a depressão e suicídio como um problema de saúde pública, com
variáveis de causa associadas e potencializadas pela pandemia pelo novo coronavírus (COVID-19), com a aumento do risco de
infecção, perda de colegas de trabalho, acesso insuficiente a equipamentos de proteção individual (Lamb et al., 2021). Ainda,
quando os profissionais de saúde das enfermarias de COVID-19 e outras instalações foram comparados, foi demonstrado que
os primeiros apresentavam níveis mais altos de sintomas depressivos e suicida, estando as mulheres, funcionários mais jovens
e enfermeiros pesquisados em estudo na Itália mais propensos a níveis mais altos de potencial ansiedade, depressão, sintomas
de ideação suicida e abuso de álcool, tendo resultados piores do que outros funcionários (Tella et al., 2020).
Outra investigação, realizado no Brasil, destaca que independentemente do atual cenário de pandemia, os
constrangimentos enfrentados pelos profissionais de enfermagem, incluindo dupla jornada de serviço, remuneração inadequada
e agressão no local de trabalho, contribuem para o estresse e doenças mentais (Monteiro et al.,2019; Palma et al., 2019). Nessa
situação, um estudo com 34 médicos e enfermeiros que atuam nas unidades de clínica médica e pronto-socorro, trouxe que as
crises e outras deteriorações da saúde mental dessa população podem se agravar, exigindo o desenvolvimento e a
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implementação de técnicas adequadas de atenção à saúde mental para esses profissionais (Monteiro et al., 2019).
Corroborando, com isso o contexto de enfrentamento e os estigmas associados à sua natureza, a saúde mental relacionada ao
trabalho revela-se um desafio ímpar para o campo da saúde do trabalhador muita das vezes não recebendo o devido apoio
(Palma et al., 2019).
Já a redução das horas de sono é outro componente significativo no desenvolvimento da depressão, conforme estudo
transversal, com (n= 2.706) médicos participantes (Petrie et al., 2020). Em pesquisa com 338 residentes interrogadas, a maioria
(70,4%), apresentou sintomas depressivos leves, enquanto (12,7%) apresentaram sintomas depressivos moderados e (16,9%)
sintomas graves, exercendo cuidado negligente responsável por 28% dos eventos adversos, sendo 13,6% dos que resultam em
óbito do paciente, sendo a privação de sono um dos responsáveis (Shah et al., 2021). Ademais, alternativas como a prática de
atividade física regular podem ser utilizadas para tratar e prevenir a depressão (Young et al., 2021). O exercício físico tem se
mostrado uma alternativa viável aos medicamentos, melhorando os sintomas depressivos sem os efeitos colaterais negativos da
medicação, podendo haver uma ligação farmacológica e não farmacológica.
Um estudo de coorte retrospectivo, realizado por legistas australianos com 404 mortes relacionadas a drogas
envolvendo profissionais de saúde (incluindo médicos, paramédicos, enfermeiros, dentistas, psicólogos, farmacêuticos e
veterinários), demonstrou que as taxas de suicídio aumentaram em paralelo com o aumento do uso indevido de álcool, sendo os
maiores percentuais formado por enfermeiros (62,87%) e médicos (18,07%) (Pilgrim et al., 2017). Portanto, compreender os
motivos do suicídio na área assistencial é fundamental para promover e valorizar as circunstâncias de trabalho que promovam
a felicidade do empregado, com remuneração justa e sentimento de pertencimento (Pilgrim et al., 2017; Campo-Arias,
Jiménez-Villamizar & Caballero-Domínguez, 2021). Assim, a promoção da saúde pode ajudar a criar um ambiente de trabalho
positivo e reduzir o risco de depressão e suicídio.
Paralelo a isto, os profissionais de saúde relataram más condições de trabalho, falta de equipamentos de proteção
individual, tudo isso contribuindo para um ambiente de trabalho hostil que afeta diretamente a saúde da equipe de combate.
(Young et al., 2021). Acrescenta-se também a carga moral, que é uma das questões mais desafiadoras para a equipe, pois ela
deve exigir e tomar decisões que impactarão diretamente na vida desses pacientes, podendo causar sentimentos de pavor,
agonia, desconforto e preocupação nesses especialistas na área da saúde mental (Rubanovich et al., 2022). Tão logo, reduzir a
jornada de trabalho e/ou aumentar os intervalos de descanso dos profissionais, bem como encaminhar profissionais com
qualquer tipo de sintoma para psicoterapeutas, psiquiatras ou psicólogos, enfatizando os métodos online para períodos de
isolamento social, pode ser uma estratégia assertiva.
Outro estudo com a participação de 8.817 funcionários hospitalares identificou a incidência de depressão, ansiedade,
sintomas somáticos encontrados em 30,2%, 20,7%, 46,2% da população amostral, posto que, as taxas aumentaram em paralelo
com o aumento novos casos de COVID-19 na China (Pilgrim et al., 2016). Assim, estratégias de trabalho com ajustes nas
práticas assistenciais e no fluxo de pacientes, a telemedicina utilizada sempre que possível, e as avaliações presenciais foram
reservadas para pacientes de alto risco clínico, reduziram a depressão (Xiaoming et al., 2020). Igualmente, pesquisa com 1.934
participantes, com idade média de 38 anos, e (48%) dos entrevistados trabalhavam em um hospital, identificou que a
sobrecarga de trabalho detém um papel no aumento do estresse mental e físico, que pode levar a uma variedade de distúrbios
psíquicos a exemplo da depressão (73%), causando instabilidade mental e acredita-se que seja um gatilho para a ideação
suicida (2,3%) (Alvarado et al., 2021).
Portanto, essa revisão evidenciou a existência de características como jornada e condições de trabalho; padrões de
sono; bullying, sexismo e discriminação; cultura de culpa, vergonha e medo de denunciar; falta de suporte; estigma e uma
necessidade percebida de parecer invulnerável; conflito trabalho/família; relação entre as horas médias de trabalho semanais e
a saúde mental; acesso a substâncias controladas, estão ligados à probabilidade de depressão e suicídio entre os trabalhadores
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da saúde (Pilgrim et al., 2017; Xiaoming et al., 2020; Lamb et al., 2021; Petrie et al., 2020). Outros estudos revelaram que
prevenir o suicídio é difícil pela dificuldade de detectar o risco iminente de comportamento suicida; no entanto, avaliação de
risco, identificação de fatores de risco e uso de estratégias como: restrição de meios altamente letais, uso de métodos de
rastreamento e identificação de pessoas vulneráveis, gerenciamento de risco de suicídio e educação da população em geral
podem contribuir para sua prevenção (Rubanovich et al., 2022; Bryant-Genevie et al., 2021).
4. Conclusão
Os profissionais de saúde, quando comparados a outros profissionais apresentam uma maior vulnerabilidade na
ocorrência de depressão e suicídio, com isso a carga horaria de trabalho, privação de sono juntamente com ambiente estresse e
ter que lidar diariamente com a vida são fatores que ocasionam uma pior qualidade de vida, reflexo disso são consequências na
vida pessoal e no trabalho. Foi observado que o sono acumulado estava relacionado a maiores chances de eventos adversos,
negligência e até mesmo óbito do paciente, o que se torna um fato de grande estresse e que muitos profissionais apresentam
dificuldade em lidar com esses sentimentos. Além disso, com a pandemia da covid-19 que se tornou um momento em que lidar
com grande número de óbito, o medo, isolamento e angustia, teve como consequência um aumento na ocorrência de depressão
no grupo de profissionais de saúde.
As medidas para tentar reverte essa condição, cada vez mais frequentes nos profissionais, seriam acompanhamento
com psiquiatras, psicólogos, e entre outros; diagnóstico precoce da depressão, melhorias de trabalho (redução de carga horaria,
ambientes adequados para sono e repouso) e usufruir da telemedicina. Ademais, os gestores hospitalares com relação a
melhorias no trabalho têm capacidade de alterar esse cenário. Como limitações no estudo, constatamos que a temática sobre
suicídio apresentou difícil diagnostico, havendo necessidade de mais estudos sobre essa condição no grupo estudado.
Por fim, este estudo destaca a necessidade de aprofundar a temática com novos estudos sobre as experiências e
desafios individuais dos profissionais de saúde, particularmente aqueles que estão em contato direto com o paciente, incluindo
fatores sociodemográficos, formação profissional e histórico de saúde mental, usando abordagens qualitativas, bem como
avaliar as implicações de médio e longo prazo em sua saúde física e mental.
Diante das evidências aqui discutidas, notadamente a depressão e suicídio apresentam um impacto psicológico muito
significativo nos profissionais de saúde, assumindo importantes prevalências, principalmente entre os da “linha de frente”
tornando-os uma população particularmente vulnerável que merecem especial atenção. Logo, pacientes, familiares e
profissionais de saúde podem se beneficiar de psiquiatria e outros estudos de saúde mental, tornando-se fundamental para
mitigar os impactos negativos e ter sucesso na prevenção de futuros transtornos psíquicos e psiquiátricos.
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