Sukyo Mahikari Breve Contextualizacao e

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(Sukyo) Mahikari – breve contextualização do movimento e seus objectivos e

crenças de base no campo do espiritismo e morte

Dissertação redigida no âmbito do Seminário de Religiões Asiáticas leccionado


pelo Professor Doutor António Barrento

Alexandra Sofia Tocha Carmo


Nº 46130
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Índice

Introdução pág. 2

Aspectos fundamentais da religião Mahikari pág. 3

O processo de fundação de Mahikari e o seu fundador pág. 6

Organização de Sukyo Mahikari e suas áreas de dispersão pág. 9

A problemática do Karma, Reencarnação, Espíritos e culto aos Antepassados pág. 12

Mahikari e a Morte – Como a religião encara o fenómeno pág. 16

Conclusão pág. 21

Bibliografia pág. 23

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Introdução

Nesta breve dissertação, o principal objectivo prende-se na abordagem dos


conceitos de Karma, Reencarnação, culto aos Ancestrais e visões do que é a morte
segundo o ponto de vista deste movimento religioso chamado Sukyo Mahikari.

A abordagem começará com uma breve apresentação do que é este movimento


religioso, o que nele se pratica e como foi fundado.

Seguidamente falar-se-á da concepção Sukyo Mahikari das ideias acima citadas


de Karma, Reencarnação, veneração aos Antepassados e o que ocorre com a alma
quando chega a morte.

A metodologia que adoptei foi a de análise de uma fonte primária, no sentido em


que o autor, Tebecis (TEBECIS; 1982), sendo membro do movimento Sukyo Mahikari
aborda os diversos tópicos em primeira mão, ignorando porém (foi uma limitação e uma
dificuldade observadas), aspectos como a questão da sucessão do grupo religioso
aquando da morte do fundador. Para esse propósito, recorri a um website chamado
Mahikari Exposed, criado por dois ex-membros Mahikari com o objectivo de dar a
conhecer a verdade por detrás do movimento religioso. Serão citados quando for usada
informação baseada no website, sendo a restante apreendida da leitura da obra de
Tebecis. Por uma questão de maior lógica e coerência, tendo em conta o volume de
informação usada, sempre que for usada informação proveniente de outra fonte que não
o livro de Tebecis, será devidamente citada e referenciada, partindo-se do princípio que
a restante informação foi apreendida da leitura da obra de Tebecis e provém dos
capítulos 2, 3 e 5.

Em relação à escolha dos subtemas que desenvolverei, prende-se sobretudo com


a minha área de interesse no estudo das religiões, que é a morte e questões associadas.

Assim, esta será uma dissertação que englobará praticamente apenas estes
aspectos específicos desta ramificação que é o Sukyo Mahikari.

O objectivo, para além de uma pequena apresentação sobre estes subtemas


específicos, será tentar aplicar os conceitos apreendidos em seminário de Religiões
Asiáticas, para uma mais fácil compreensão de ideias-chave comuns em todas as
religiões. Serão a seu tempo apresentadas na conclusão.

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Aspectos fundamentais da religião Mahikari

Nas próximas páginas abordar-se-à muito sumariamente em que consiste o


movimento Sukyo Mahikari, integrante no movimento das Novas Religiões que surgem
no arquipélago japonês a partir da década de 1950. Traduzindo, o termo Sukyo significa
“ensinamentos sagrados” ou “ensinamentos Divinos”. O termo Mahikari significa, em
japonês, “Luz Verdadeira”, que é em suma, uma forma específica de energia espiritual,
que segundo os praticantes desta religião, quando usada, tem valores terapêuticos ao
nível do espírito.

Um aspecto original desta religião, ou até apenas estilo de vida, é o de qualquer


pessoa se poder iniciar nos seus ritos, independentemente da nacionalidade, sexo e
crença religiosa, que pode ter ou não. Até Ateus e Agnósticos, que à partida não se
identificariam com tal sistema, podem fazer parte de Mahikari. Em resumo, é uma
religião destinada a todos, sem excepções.

É a Luz Divina, a Luz de Deus, que segundo Tebecis (1982; 16), é a “luz
verdadeira” mencionada na Bíblia (João 1:9) (com mais de 50 menções), é a Luz de
Allah descrita no Alcorão (Luz 24:35) e é a Luz Infinita ou Luz Imensurável do
Budismo. Esta concepção vai de encontro à crença generalizada nas religiões que,
resumidamente, “Deus é Luz”.

No contexto Mahikari, a Luz Verdadeira cura, detém sabedoria divina que


desperta as almas dos crentes e remove máculas espirituais que se possam ter
acumulado ao longo dos anos, como resultado de Karma. Na religião Mahikari a
principal prática denomina-se Mahikari no Waza e consiste no irradiar, pela mão, a
Verdadeira Luz, denominando-se também de dádiva de Okiyome, ou purificação.

Porém, uma pessoa não consegue irradiar esta luz sem preparação. Existem pré-
requesitos. O indivíduo deverá participar num ritual de iniciação, um seminário com a
duração de três dias chamado Kenshuu, onde estudará parte das Revelações dadas por
Deus Todo-Poderoso (Su) ao fundador, Yoshikazu Okada, no fim do qual receberá
talismã chamado Omitama. Este termo japonês significa “espírito sagrado ou precioso”.

Só usando este talismã conseguirá o indivíduo irradiar a Luz das mãos. O


pendente Omitama funciona, em suma como um catalisador da Luz dentro do indivíduo,
que o usa ao pescoço. Com o uso deste pendente, o indivíduo está também a ser

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constantemente purificado, abençoado e protegido pelo poder espiritual de Deus Todo-


Poderoso.

A razão pela qual é necessário o uso deste pendente dourado, é a de a alma


humana, originalmente pura, estar nos dias de hoje conspurcada e enfraquecida pela
negatividade e pelas muitas vidas que passou.

Devem tomar-se precauções para com o próprio Omitama, pois só com ele a Luz
de cada um pode ser transmitida. Se um Omitama for deixado cair ou se molhar o seu
utilizador só poderá voltar a irradiar a Luz depois de o seu pendente ser purificado por
alguém que tenha recebido poder da Líder Espiritual (Oshienushisama). Desta forma, os
Omitama são embrulhados em plástico e numa bolsa de pano, sendo usados ao pescoço
e presos à roupa do seu utilizador com um alfinete, ou guardados em pequenos bolsos
no interior das roupas. Só desta forma se consegue mater o pendente puro e em boas
condições.

Os crentes/praticantes deste movimento designam-se de Kamikumite, os que


andam de “mãos dadas com Deus”, nome que ilustra a sua ligação com Deus Todo-
Poderso, fazedo o seu Divino trabalho que muitas vezes é acreditado como milagroso,
mesmo não tendo o kamikumite ainda muita experiência enquanto membro do Mahikari.

Como todas as religiões, também Mahikari dispõe de orações, sendo as


principais chamadas Amatsu Norigoto, que devem, independentemente de quem as
recita, ser sempre ditas em japonês. Isto não se deve à proveniência desta religião nem à
do seu fundador, ambos japoneses, mas sim ao poder espiritual (Kotodama) que esta
cominação de sílabas detém. As palavras desta oração têm um carácter purificante,
como o poder de chamar as almas à Verdade, bem como de as revitalizar com o “poder
original dos filhos de Deus”. Sujeitas a uma tradução, estas sílabas e palavras perderiam
muito do seu sentido original e, desta forma, perderiam grande parte do seu poder
espiritual. Não obstante, os crentes não japoneses são encorajados a estudar as versões
traduzidas destas preces nas suas línguas maternas, com o objectico de encontrarem
mais significado.

Em relação ao público-alvo destas orações, compõem-se por pessoas e espíritos,


nomeadamente, espíritos protectores, espíritos ligados, etc. Estes espíritos, no seu tempo
de vida física, podem não ter sido necessariamente japoneses, agradecendo às preces nas

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suas línguas maternas. O objectivo de recitar estas orações é o de purificar tanto pessoas
como espíritos e levá-los a compreender os Divinos ensimanentos, independentemente
da sua proveniência.

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O processo de fundação de Mahikari e o seu fundador

O movimento religioso Mahikari, como já foi dito, foi fundado no Japão em


1959 por Yoshikazu Okada,nascido a 27 de Setembro de 1901, um antigo soldado do
Exército Imperial e homem de negócios antes de receber as Revelações de Deus Todo-
Poderoso.

Depois do ensino secundário, igressa na Academia do Exército Imperial e torna-


se um portador da bandeira a cavalo, no primeiro regimento da Guarda Imperial, o mais
elitista dos regimentos imperiais. No decurso da Segunda Guerra Mundial, estando no
destacamento na Indochina, Okada vê-se obrigado a regressar ao Japão devido ao
ressurgimento de uma lesão na coluna feita anos antes. Devido à gravidade da dita lesão,
são-lhe dados no máximo 3 anos de vida. Esta gravíssima situação leva-o a dedicar a
Deus os dias que lhe restavam. Por alguma razão, não mostrava sinais de estar a
definhar e a sua lesão na coluna desapareceu passados 3 anos.

Com esta espantosa recuperação, Okada começa a dedicar-se aos negócios e cria
diversas empresas, tornando-se bastante abastado, até todas as suas companhias serem
destruidas com os raides e bombardeamentos americanos no final da Segunda Grande
Guerra. Isto leva-o à bancarrota e a dívidas tremendas, sem nunca deixar de se dedicar a
Deus.

Desta forma, no dia 27 de Fevereiro de 1959, de madrugada, Deus Todo-


Poderoso concede-lhe a primeira Revelação, que dizia respeito à formação de Mahikari.
Este momento é considerado o início da religião Mahikari. Deus Todo-Poderoso
transmite ao senhor Okada que todas as religiões até esse dia existentes transmitiam
apenas uma ínfima parte da Verdade Divina, e que a ele seriam revelados os
pormenores mais profundos que mais nenhum ser humano conhecia. No senhor Okada
entra o Espírito Santo da Verdade Divina, que lhe ordena que fale aquilo que dele ouvir,
nomeadamente que deveria adoptar o nome de Kotama (“Bola de Luz”) e comunicar e
preparar o mundo para os árduos momentos que estavam para vir.

Até 1974, ano da sua morte, Yoshikazu Okada recebeu muitas mais Revelações
de Deus Todo-Poderoso. Muitas delas estão compiladas em dois livros sagrados: o
Livro das Palavras Sagradas ou Revelações (Goseigenshu) e o Livro das Preces
(Norigotoshu). Estas são as escrituras sagradas da religião Sukyo Mahikari. Transmitiu

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ainda outros Ensinamentos que se encontram publicados na revista mensal Mahikari,


bem como outros livros.

Em 1961, o senhor Okada recebeu o nome espiritual de Seigyoku, ou seja, “Jóia


Sagrada”, após uma consulta com um oráculo divino Xintoista, que lhe confirmou que a
ele havia sido confiadas grandes missões em nome de Deus Todo-Poderoso. Em 1965,
após outra Revelação Divina, recebe de Deus o nome de “Pássaro Sagrado” ou Seio.

Contudo, nos dias de hoje é mais conhecido pelo nome de “Grande Salvador”,
ou Sukuinushisama, cuja importante missão, entre outras, seria a de estender ao mundo
a sua mão e purificá-lo, bem como ensinar esta habilidade a quem preocurasse aprendê-
la. Outras das suas missões consistiam em permitir aos seres humanos transmitirem o
poder de Deus Todo-Poderoso; unir todas as religiões do mundo, construir o Templo
Mundial onde seria entesourado o Grande Deus Criador Todo-Poderoso; alertar a
Humanidade para a importância do mundo espiritual invisível mas existente; mudar o
mundo para o caminho do Bem (o caminho inverso é considerado uma ilusão); conceder
à Humanidade conhecimento e compreensão da existência de inúmeras almas a viver
no mundo dos espíritos e a interferir com a vida terrena. É de frisar que Okada nunca
aplicava o termo “Pecado”, tentando transmitir ao invés uma noção de que existe um
caminho de Bem e Virtude e um caminho oposto, um caminho ilusório, não dito como
mau ou desvirtuante.

Além dos seus muitos Ensinamentos sobre como viver, o sentido da Vida e as
relações entre religiões, o senhor Okada fez também diversas profecias sobre o Futuro,
bem como diversas Revelações sobre detalhes de acontecimentos do Passado, como a
verdadeira História do Mundo e a origem das línguas. Tudo o que revelou terá sido
directamente transmitido por Deus Todo-Poderoso ou terá chegado a Okada por via dos
seus estudos pessoais sob orientação Divina.

Porém, o senhor Okada, não se cingiu apenas ao Japão. Em 1973 vista Paris,
onde os jornais o anunciam como Messias depois de Buda, Jesus e Maomé. Depois da
visita a Paris, Okada dirige-se a Roma, onde conhece o Papa Paulo VI, com quem troca
um aperto de mão, contrariamente à etiqueta seguida nestas circunstâncias. Estes
acontecimentos mostram a faceta universal do movimento Mahikari e com efeito,
segundo o autor Tebecis (1982: 29), Okada encorajava o povo japonês a estudar a Bíblia,
falando muito bem de Jesus Cristo. Isto devia-se a uma das Revelações que tinha

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recebido que dizia que as grandes religiões apenas mostravam uma pequena parcela da
Verdade, e que pensar que elas falavam da Verdade Completa, seria algo de egocêntrico
e pseudo-verdadeiro.

Anos mais tarde, em Junho de 1974, dez dias antes da sua morte,
Sukuinushisama transmitiu oficialmente as suas Divinas missões a Sachiko Okada, sua
filha adoptiva, cujo nome espiritual é Keijusama, ou seja, “Jóia Abençoada”. Dois anos
antes, Sachiko havia completado um treino especial de cariz ascético, apenas levado a
cabo, além dela, pelo seu pai. Assim, Sachiko torna-se a segunda Grande Ensinadora e
Líder Espiritual e é agora conhecida como Oshienushisama, ou seja, “Mestre do
Ensinamento” ou “Grande Ensinadora”. Ela constitui a ligação entre Deus e o mundo
físico e neste é ela a representante de Deus Todo-Poderoso.

Esta é a versão da sucessão defendida pelos membros do movimento Sukyo


Mahikari. No próximo capítulo falar-se-á em termos gerais da questão da sucessão de
Yoshikazu Okada.

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Organização de Sukyo Mahikari e suas áreas de dispersão

O movimento aqui em estudo, como já foi dito, designado na totalidade como


Sukyo Mahikari, teve origem no Japão no ano de 1959, como fruto das revelações que o
senhor Yoshikazu Okada terá recebido directamente de uma entidade chamada Su, o
Deus Todo-Poderoso. Também como resultado destas Revelações, Yoshikazu Okada
passa depois a ser chamado de Sukuinushisama. Teria o papel de intermediário entre
Deus Todo-Poderoso e a Humanidade.

Porém, observa-se também este carácter do intermediário nos Divinos altares


Mahikari, em que perto do rolo Goshintai (“Objecto Divino”), se coloca uma estatueta
do deus Izunomesama, cuja responsabilidade é a de pôr em prática na Terra a vontade
de Deus Todo-Poderoso. Em relação ao Goshintai, este reflecte-se de um carácter
extremamente sacro, pois é a partir deste objecto que se possibilita a comunicação entre
humanos e Deus. A parte mais sagrada deste objecto designa-se de Chon, um símbolo
em forma de vírgula assente num disco dourado, que emana Luz continuamente, não
visível através de meios físicos. Com efeito, o Goshintai está presente em todos os
altares Divinos, centros Mahikari e nos locais onde se fazem os rituais de iniciação
(kenshuu), sendo como uma materialização da presença de Deus.

O movimento Mahikari terá gozado desde a sua fundação de uma boa aceitação
no arquipélago japonês.

Devido a tal flexibilidade na aceitação de novos participantes e ao seu carácter


universal, o movimento Mahikari encontra-se hoje muito disperso por todos os
continentes, desde a Ásia à América. Existem centros Mahikari nos países mais
diversos, incluindo Bélgica, Suíça, Marrocos, Costa do Marfim, Estados Unidos da
América, Canadá, Brasil, Bolívia, México, Hong Kong, Taiwan, Malásia, Indonésia,
Nova Zelândia e Austrália.

Este carácter de ampla difusão inscreve-se num dos objectivos do movimento


Mahikari, que é o de unir todas as pessoas, sem olhar à religião, proveniência, cor de
pele, género, ou qualquer outro factor discriminatório.

O outro grande objectivo, de facto a grande missão dos crentes Mahikari, foi a
do estabelecimento de um Grande Templo Mundial Principal, chamado em japonês de
Sekai So Honzan ou Suza, onde vive o espírito de Deus Todo-Poderoso e onde todas as

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populações do mundo o podem venerar. Os kamikumite acreditavam que com o


estabelecimento de tal santuário, o mundo se tornaria um paraiso, à semelhança do
Jardim do Éden. Com efeito, Suza foi erigido com sucesso no ano de 1984 nas
montanhas do centro do Japão em Hida (Takayama) e inaugurado pela senhora Okada,
sucessora do fundador.

Estes são todos aspectos abrangentes do ramo Sukyo Mahikari, uma das facções
resultantes das polémicas após a morte do fundador do movimento em 1974. Com efeito,
o senhor Okada morre como fundador e líder do movimento Sekai Mahikari Bunmei
Kyodan (o grupo que origina o movimento Sukyo Mahikari) e de acordo com os dados
na altura divulgados o seu sucessor seria um reverendo chamado Sekiguchi. Porém, ao
momento da morte do senhor Okada existiriam já dentro do Sekai Mahikari Bunmei
Kyodan dois grupos (ou facções) distintas: o grupo liderado por Sekiguchi e outro
liderado por Sachiko Okada, filha adoptiva de Yoshikazu Okada. (ALLERTON; 1997).
A 25 de Junho de 1974, Sachiko anuncia Sekiguchi como o sucessor do seu pai
adoptivo, porém, a 5 de Julho do mesmo ano, regista-se como Representante Oficial do
movimento, que mais tarde anula. Sachiko auto-proclama-se sucessora de Yoshikazu e
nova líder do movimento religioso alegando falhas de compreensão por parte de
Sekiguchi e seus seguidores, o que levou a toda uma série de processos jurídicos
mediáticos.

Como consequência de toda esta polémica, o prestígio do movimento estava em


jogo, o que levou à difamação de Sekiguchi, como sendo homem de várias mulheres,
cujo corpo estaria contaminado de doenças. Por outro lado, estava Sachiko, apontada
como a única pessoa capaz de levar a cabo por vontade divina a construção de Suza.
Contudo, o processo judicial não estava favorável para Sachiko, o que rapidamente a
leva a criar um novo movimento, uma ramificação da religião fundada por Yoshikazu:
Sukyo Mahikari em 1978. Acompanharam-na a esmagadora maioria dos membros do
SMBK por influência dos líderes dos dojos, pois frise-se que os membros comuns não
dispuseram da liberdade de poder escolher ficar no grupo original (ALLERTON; 1997).

Não é por isso de estranhar que além do santuário mandado erigir por Sachiko
Okada, exista um outro, apelidado de Su-za, que é o santuário construido pelo grupo
SMBK de Sekiguchi, em 1987 em Amagi (Izu), também ele um santuário de culto a
nível mundial, com precisamente os mesmos objectivos do seu concorrente de

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universalizar as religiões e chamar a si todos os crentes à escala global, partilhando até


do mesmo nome com uma muito ligeira alteração. Porém, as suas dimensões superiores
às de Suza fazem com que o último seja inferiorizado face a ele, bem como um choque
para os crentes do grupo Sukyo. (ALLERTON; 1997).

Por fim, e em jeito de conclusão deste capítulo note-se sucintamente que, com
efeito, o grupo Sekai Mahikari Bunmei Kyodan terá dado origem a cinco facções: Shin
Yu Gen Kyu Sei Mahikari Kyodan; Sukyo Mahikari; Subikari Koha Sekai Shindan;
Mahikari Seiho No Kai; Yokoshi Tomo No Kai. Todas se encontram no activo à data
deste balanço feito por S. Allerton em 1997.

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A problemática do Karma, Reencarnação, Espíritos e culto aos Antepassados

Estes conceitos, eles próprios conceitos-chave quando se fala de religiões


extremo Orientais, são também fundamentais na religião Mahikari.

A crença Mahikari baseia-se na ideia de que a Morte não é mais que o regresso
do corpo humano na sua forma física aos elementos da Natureza, sendo que a alma e o
corpo espiritual se deslocam para uma outra dimensão, o mundo astral.

Algum tempo passado após a morte a alma/espírito torna a surgir no mundo


terreno, desta vez num novo corpo físico, não igual ao que possuiu na vida anterior. Em
suma, a morte no mundo físico não mais é que um renascer no mundo astral que algum
tempo depois levará ao renascimento no mundo físico dos humanos.

Os kamikumite recebem vários Ensinamentos sobre estes conceitos e ideias, para


além de estarem expostos à vertente prática de tudo isto a nível diário, nomeadamente
quando emanam a Luz para outras pessoas e se manifestam os espíritos a elas apegados.

Estas ideias complementam-se com a concepção Mahikari dos planos de


existência, sem a qual não perceberíamos estas ideias na totalidade. Grosso modo,
existem trêm mundos ou dimensões de existência diferentes e intimamente interligados
entre si: o mundo físico, o mundo astral e o mundo Divino.

O mundo físico é o mundo habitado por humanos, animais e plantas, é o mundo


onde imperam os cinco sentidos básicos dos seres vivos e onde os seres têm corpos
físicos.

O mundo astral é o plano de existência no patamar intermédio. É em


circunstâncias normais invisível aos habitantes do mundo físico, porém, manifesta-se e
pode ser sentido através de fenómenos que dão de si pequenos vislumbres aos seres
humanos por intermédio de visões, sonhos, pressentimentos e intuições.

Finalmente, o mundo espiritual/Divino é o patamar mais elevado de existência,


um mundo de extrema pureza onde residem divindades e espíritos santos e abençoados
que se tornaram puros o suficiente para lá ascenderem. Já este mundo não é de todo
tangível ou sentido por humanos considerados normais.

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Da mesma forma, os seres humanos possuem também corpos físicos, astrais e


divinos/espirituais. Quando a Morte ocorre, o corpo regressa aos elementos naturais e
alma/corpo espiritual vai para o mundo astral onde receberá uma formação ou treino
que pode ser espiritual, mental ou moral em condições mais ou menos agradáveis. Por
outro lado, a alma poderá ter que atravessar sofrimentos diversos que dependerão do seu
karma, cuja duração vai até ao momento em que a alma compreende o porquê de
merecer esse sofrimento e como se pode emendar e auto-aperfeiçoar. Passado este
tempo o espírito reencarna no mundo físico com o instuito de aprender mais lições
sobre como se aperfeiçoar e ser melhor aos olhos de Deus Todo-Poderoso. O derradeiro
objectivo da alma é o de atingir o plano superior do mundo Divino, porém isso só
poderá acontecer quando a alma estiver para isso preparada e purificada o suficiente.
Assim que o estiver, ascenderá a esse plano sem ter que reencarnar no mundo físico, a
não ser que necessite de completar uma última tarefa de melhoramento ou prova.

Em condições ideais, os espíritos aceitarão que necessitam de levar a cabo auto-


aperfeiçoamento até poderem reencarnar, no entanto, alguns fogem do mundo astral ou
nem chegam a lá entrar no momento da morte. Ligam-se, sim, ao corpo físico dos
humanos, tornando-se espíritos que possuem, ou espíritos apegados.

Estes distinguem-se dos espíritos protectores. Todas as pessoas os têm, sendo


normalmente antepassados que os guiam e protegem. Estão sempre por perto mas não
estão “agarrados” ao corpo físico da pessoa que protegem.

Quanto aos espíritos apegados, ligam-se aos corpos físicos dos humanos por
diversos motivos, nomeadamente: ódio; ressentimentos; raiva; sede de vingança; amor
egoista/paixão desmedida; desejo de sensações do mundo terreno; fuga ao sofrimento
do mundo astral; ignorância; necessidade de alimentos. Estes espíritos conseguem
interferir, perturbar e manipular de várias formas a pessoa a cujo corpo se apegaram,
dependendo da força espiritual, karma e espíritos guardiões do indivíduo a que se
ligaram. A este fenómeno a religião Mahikari chama de “perturbação espiritual”. Os
Ensinamentos defendem que quase toda a população mundial está afectada por este
fenómeno e é dele que derivam todos os grandes problemas globais.

Ao nível individual e na menor gravidade, esta perturbações podem levar a


ferimentos ligeiros, desconforto e mau humor. Na pior das hipóteses pode levar a
doenças e ferimentos graves, acidentes, crimes, suicídios e até homicídios. No caso de

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vários espíritos vingativos agirem em grupo podem gerar-se incêndios, histerias, guerras
e revoluções.

São espíritos que conseguem passar muitos anos a planear e premeditar a sua
vingança sobre o indivíduo-alvo, podendo até abater-se essa vingança sobre os
descendentes do seu alvo por várias gerações até o problema se resolver. Assim se vê e
se prova que o karma dos antepassados, a mal ou a bem, é sempre herdado.

Os espíritos que por ignorância se ligam ao corpo físico de um indivíduo, podem


também desenvolver sentimentos de raiva derivados dessa igorância, que pode partir de
questões como, por exemplo, o espírito desconhecer ou não estar ciente da própria
morte.

Ao incider-se Luz Verdadeira na testa do indivíduo, também o espírito apegado


a recebe e nestas circuntâncias tendem a manifestar-se através do corpo que possuem,
levando-o a mover-se, chorar, falar e até escrever, sendo frequente confessarem as suas
acções de vidas e o porquê de se terem ligado ao corpo do indivíduo possuído.

Em resumo, estes espíritos mais não são que pessoas ou animais desprovidas do
seu corpo físico, e a Luz Verdadeira que neles se irradiar deve sê-lo com amor,
compreensão e respeito. Isto porque a transmissão destes sentimentos é capaz de
apaziguar os espíritos mais violentos e purificá-los, juntando-se a isto a recitação de
Ensinamentos. Se bem sucedida esta acção, o espírito deixará de possuir a pessoa e
deslocar-se-à finalmente para o mundo astral.

Abordando de seguida a segunda parte da problemática exposta neste capítulo,


falar-se-á assim do culto e homenagem aos espíritos dos Antepassados. Na religião
Mahikari, este culto é feito com base em pequenas tabuinhas em que está escrito o nome
e através do qual é possível comunicar directamente com o antepassado.

Estas homenagens prestadas pelos crentes aos espíritos dos seus antepassados,
ajudam os últimos no seu treino no mundo astral, por via da oferenda de Ensinamentos
Divinos, Luz Verdadeira, comida, bebida e dinheiro. Esta cerimónia de dádiva de
oferendas chama-se Sorei Matsuri e é através dela que os espíritos dos antepassados
recebem permissão para obter a ajuda dos seus descendentes que habitam o mundo
físico.

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Para o efeito, é necessário um altar onde prestar culto, onde está presente uma
tabuleta com o nome principal e a maior das dispostas que permite a comunicação
directa com todos os espíritos de antepassados que tenham partido para a dimensão atral
há mais de 30 anos. Estão também presentes tabuletas mais pequenas e individuais para
avós, pais, irmãos e/ou filhos falecidos há menos de 30 anos. Note-se que o altar exibirá
o nome da família do kamikumite que nele presta culto.

Sorei Matsuri é uma forma de os descendentes pedirem perdão pelos seus actos
negligentes para com os seus antepassados, bem como uma demonstração de redenção,
pois quer se queira quer não, é-se sempre fruto dos antepassados e esse facto deve ser
tido em conta com gratidão. Gratidão essa que abrange também os espíritos protectores
do crente, também eles antepassados.

Esta cerimónia ajuda também os antepassados cujos espíritos possam estar em


dimensões inferiores e menos agradáveis do mundo astral por não conseguirem superar
o seu sofrimento. Estes necessitam de energia do mundo físico, que obtêm por via das
oferendas de comida. Se não as receberem pode dar-se o caso de caírem em desepero e
apegar-se aos corpos físicos dos seus descendentes, no pior dos casos podendo levá-los
à morte.

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Mahikari e a Morte – Como a religião encara o fenómeno

À luz do mundo dos dias de hoje em que impera o desenvolvimento tecnológico


e científico, as pessoas parecem ter-se esquecido que a Morte a todos atinge, não se
preparando espiritualmente para esta eventualidade. A morte revela-se, assim, um
fenómeno socialmente aceitável, evitada e negada até ao momento em que se abate
inevitavelmente. Só nesse momento se gera um frenesim de actividades com ela
relacionadas, desde a aceitação (ou não) do moribundo ao seu testamento e funeral.
Psicologicamente, isto explica-se em diversas fases ou estágios (E. Kübler-Ross; 1973),
nomeadamente Negação, Raiva, Negociação, Depressão e, por fim, Aceitação.

Assim se torna evidente que para a devida preparação e aceitação da morte se


deveria conhecer e saber o que acontecerá depois de esta ocorrer, o que responderia
certamente à antiquíssima questão de “Para onde vamos?”.

A religião Mahikari tenta esclarecer estas questões nas formações kenshuu desde
o nível primário/elementar até ao mais avançado. Expõe a crença, já aqui anteriormente
abordada, que a morte não existe realmente. O que ocorre na verdade é o renascimento
da alma no mundo astral. É o fenómeno em que a alma e o corpo espiritual abandonam
o corpo físico e regressam ao mundo dos espíritos. Expressa-se também a crença que a
alma-espírito abandona o corpo físico pela cabeça, não acontecendo isto
instantaneamente, podendo levar de minutos até horas ou dias. Isto deve-se ao facto de
se crer na existência de densos cordões quem ligam a alma-espírito ao seu corpo físico
durante algum tempo após a morte. É por isso que a pessoa ou, depois da morte, aquilo
que é só o seu corpo físico, deve ser purificado com Luz Verdadeira durante minutos ou
horas após a declaração de morte clínica.

A fase de transição do plano físico para o astral é crítica e deve fazer-se o


máximo que se conseguir para purificar a alma-espírito. Isto através da Luz Verdadeira,
tem um tremendo potencial para subir a moral dos espíritos, desta forma permitindo a
sua entrada em níveis mais elevados do mundo astral, onde o seu trein o será feito sob
condições mais agradáveis. Caso contrário, a existência do alma-espírito no mundo
astral pode ser triste, sombria e infeliz. A irradiação de Luz no corpo pode sempre ser
feita até ao momento do enterro ou cremação.

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Os kamikumite admitem ainda a ocorrência de fenómenos no mínimo peculiares


devido à irradiação da Luz no cadáver. Os relatos (TEBECIS; 1982) dizem que a cor
nas faces deixa de ser pálida e volta a ser em tons rosados e os mesmbros e corpo
perdem a rigidez causada pelo rigor mortis. Relatam também que se a Luz for irradiada
no momento da morte ou pouquíssimos minutos depois, o corpo pode nem sofrer
diminuições na temperatura causadas pela morte. Estes efeitos verificam-se até ao seu
funeral dois ou três dias depois. A Luz tem também efeitos espiritualmente curativos,
pois se for irradiada por por familiares do falecido no próprio, muitos admitiram não
sentir qualquer desgosto pela perda, mas sim felicidade e contentamento pelo espírito do
seu parente defunto.

Como já se explicitou anteriormente, a alma-espírito após um período de treino


espiritual no mundo astral, reincarna num novo corpo físico que esteja a ganhar forma
num ventre materno, sendo este ciclo de renascimentos repetido até a alma-espírito
atingir a purificação necessária para ascender ao mundo divino. Este ciclo no mundo
astral deverá durar entre 300 e 500 anos, idealmente. Actualmente, crêm que os espíritos
passam por ciclos de apenas 150 a 200 anos (há excepções, é claro), o que se deve às
ligações demasiado fortes ao mundo físico. A punição para estes espíritos que não
aprendem o suficiente no seu treino espiritual e para aqueles que se ligam aos corpos
físicos do mundo terreno é a de não poderem reencarnar durante muitas centenas de
anos, ficando condenados aos treinos espirituais no mundo astral.

Apenas os humanos conseguem reencarnar, contrariamente aos animais, apesar


de estes serem também dotados de um espírito. Requerem-se muitas vidas pois
considera-se que os humanos têm muitíssimo que aprender no seu caminho de auto-
aperfeiçoamento. Transgressões à vontade Divina causam a acumulação de impuzeras
espirituais e em consequência outras existências terão de ser vividas não só para
aprender novas lições mas também para se praticar a redenção pelos erros cometidos,
que são karma negativo.

Um dos ensinamentos de Suinushisama diz que por um período de 49 dias após


a morte a alma-espírito é livre de ir para onde quiser, sendo importante neste período
abdicar de todas as ligações ao mundo terreno, como a saudade pela pessoa amada, o
desejo de cumprir algum desejo que tenha ficado pendente, etc. Estes 49 dias servem

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para suavizar o período de transição para o mundo astral, que segundo os ensinamentos
Mahikari, se divide por vários níveis, ou patamares.

Su, o Deus Todo-Poderoso, é senhor de todo o universo, tanto físico como


espiritual, não havendo mais nenhuma entidade que lhe seja superior. Criou diversos
planos de existência e para nele manter a ordem criou também uma série de divindades
menores, todas reflexo de si mesmo, combinando uma visão monoteista, politeista e
panteista simultaneamente.

Os muitos níveis do mundo espiritual estendem-se por aqueles extremamente


brilhantes e puros, onde reina a beleza e a felicidade e vão até ao extremo oposto,
nomeadamente os reinos infernais de trevas, horror e desgosto.

No topo da hierarquia está Deus Todo-Poderoso, reinando no topo do mundo


Divino, em cujos níveis mais baixos está o reino dos Grandes Deuses do Céu, onde não
habitam quaisquer almas humanas. Mais abaixo está o nível onde coabitam divindades e
almas humanas com estatuto de santos. A seguir está o mundo astral, em cujos níveis
mais elevados domina a pureza, o brilho e a alegria. Nas zonas intermédias estão os
níveis onde as almas humanas fazem o seu treino espiritual de forma agradável por via
da leitura e técnicas de auto-aperfeiçoamento. Ao descer aos níveis do mundo astral, os
planos de existência tornam-se mais sombrios, frios e desagradáveis. Os níveis mais
baixos do mundo astral pelas suas condições de existência para além do desagradável
são referidas como Inferno.

Os espíritos são “avaliados” de acordo com os seus níveis espirituais, ou seja o


karma resultante dos seus treinos espirituais e existências físicas. Em suma, apesar de se
poder ter um sem número de existências, apenas as acções do indivíduo vão determinar
se elas serão boas ou más, e aquilo que se faz numa vida vai determinar as
circunstâncias da próxima, apesar de não se ter consciência ou memória dessas vidas
passadas. Frise-se que os indivíduos devem ter as consequências de tudo o que fazem,
seja bom ou mau, e se não as tiverem em vida, terão na morte, sem qualquer hipótese de
escaparem. O suicídio, contrariamente à generalização, não acaba com os problemas, só
os piora, enfurece e desepera os espíritos (para além de acumular uma tremenda dose de
mau karma) que se vão ligar muitas vezes aos corpos dos seus descendentes,
transmitindo-lhes desta forma o seu sofrimento. Esta dor pode, porém, ser apaziguada

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através da Luz Verdadeira e das cerimónias Sorei Matsuri, que elevarão o espírito e o
farão sentir a sua o seu sofrer transformar-se em alegria.

No entanto, o que se pretende idealmente é que a alma-espirito tenha noção dos


erros que cometeu e que se redima e desculpe por eles. Só assim conseguirá ultrapassar
o seu sofrimento para níveis astrais mais felizes e luminosos. Assim, todos os actos
bons e virtuosos praticados durante a existência física vão resultar no acumular de bom
karma no mundo astral, da mesma forma que problemas que não tenham ficado
resolvidos no mundo físico terão de ser resolvidos no mundo astral.

Mahikari ensina que a morte ideal é a morte natural, não a acidental ou em


tragédias, pois no mundo astral a dor é mais difícil de aguentar devido à ausência de um
corpo físico para a tolerar. Por outro lado, quando um indivíduo morre como resultado
de uma doença, esse problema durará por muitos anos na sua existência astral.

Oshienushisama ensinou também que muitos animais têm espiritos que outrora
foram humanos e transmigraram para animais no ciclo de renascimentos. Nestes ciclos
as almas podem transmigrar não só de homens para mulheres (e vice-versa) mas de
humanos para animais, se esse indivíduo teve uma vida que se assemelhasse à de um
animal, por exemplo, um indivíduo demasiado apegado aos bens materias seria uma
cobra na sua próxima vida e aqueles que em vida usavam de muitas artimanhas
poderiam na próxima vida ser raposas. Se a transmigração for incompleta, os indivíduos
nascem neste mundo com características animais, nomeadamente pelo, multiplos seios e
vestígios de caudas. Quando esses espíritos provenientes de processos de transmigração
recebem Verdadeira Luz eventualmente apercebem-se de porque é que renasceram
como animais e que pedindo desculpa a Deus e recebendo purificação a sua alma
retorna ao estado original.

Em resumo e jeito de conclusão, a preparação para a morte mais não é que a


preparação para uma nova vida, que segundo Mahikari existe vida após a morte e que a
transição da alma para o mundo astral é gradual e não instantânea. Aquilo que deixamos
por fazer no mundo físico, não estará resolvido no mundo astral e deve sê-lo
rapidamente. Os indivíduos devem redimir-se pelos seus erros e pelos erros dos seus
antepassados através da prática constante de serviços Divinos tanto mundo físico como
no mundo astral. Os ensinamentos revelam também que é gravíssimo um espírito
apegar-se a um corpo físico como escapatória do mundo anstral, pois os espíritos devem

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mostrar gratidão por terem a oportunidade de se aperfeiçoarem no mundo astral e de se


redimirem pelo seu mau karma.

O Inferno existe mas não deve ser temido se as vidas forem vividas em bondade
e virtude, dizem os ensinamentos Mahikari.

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Conclusão

Mahikari, ou mais especificamente no caso deste trabalho, Sukyo Mahikari é


uma organização religiosa fundada no Japão no ano de 1959 por Yoshikazu Okada após
ter recebido uma série de Revelações por parte de Su, Deus Todo-Poderoso no âmbito
desta religião.

À semelhança das grandes religiões, como o Judaismo, Cristianismo, Islamismo


e Budismo, Mahikari está em torno do conceito de “Deus é Luz”, abarcando até uma
certa visão Messiânica, pois Yoshikazu Okada recebe de Deus o título de
Sukuinushisama, ou seja, “Grande Salvador”.

Como acontece muitas vezes e noutros casos, também Mahikari vai buscar
conceitos-chave a outras religiões. Note-se que o princípio central do culto Mahikari é a
Pureza espiritual. Também no Xintoismo a Pureza é a ideia-chave, não só espiritual mas
também física. Mantendo-me nesta linha de pensamento relativa às semelhanças com o
Xintoismo, verifiquei também o uso de um vocábulo que me tem parecido de uso
especialmente em contexto Xintoista, que é o de Matsuri. Este termo define a ideia de
festival e aplica-se a todas as festividades deste âmbito no campo Xintoista, como por
exemplo no nome Hina Matsuri, o festival consagrado aos votos de crescimento
saudável e prosperidade na vida das crianças do sexo feminino. No caso da religião
Mahikari, o vocábulo Matsuri é aplicado a uma cerimónia e não a um festival
propriamente dito. Trata-se da cerimónia Sorei Matsuri, em que se fazem oferendas
diversas aos espíritos dos antepassados com o objectivo de tornar mais fácil e agradável
a sua estadia no mundo astral. Considerei também de inspiração xintoista a montagem e
uso de altares domésticos em honra dos antepassados (ostentado pequenas tabuletas
com os nomes) e diante dos quais se pratica esta cerimónia. A prática de homenagear e
cultuar as almas dos antepassados está também presente no Confucionismo, Budismo e
Taoismo, apesar de no caso japonês serem mais relevantes as duas primeiras, não
havendo praticamente cultuantes da última.

Diferencia-se do Xintoismo, porém, na questão da vida no Além. Na crónica


Kojiki a ideia transmitida é que após a morte o defunto vai viver para Yomi no Kuni, ou
País da Fonte Amarela, como foi o caso de Izanami-no-mikoto. Na religião Sukyo
Mahikari concebe-se que a morte não existe realmente, é sim um renascer da alma-
espírito noutra dimensão de existência assim que o corpo físico não é mais necessário e

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regressa aos elementos da Natureza. Ainda na questão da morte, interpretei que no culto
Mahikari não é dada muita importância ao funeral propriamente dito, sendo a constante
preocupação o espírito do defunto. O corpo tanto pode ser cremado ou enterrado e não é
explicitado se existe alguma cerimónia fúnebre típica desta religião.

Comparativamente ao Budismo, a religião Sukyo Mahikari concebe também as


ideias de Karma (acumulação de bom e mau karma por acções praticadas) e o de
Renascimento/Reencarnação. Mas se por um lado o Budismo concebe a alma como algo
impermanente (como tudo o resto), Mahikari crê que a alma é eterna (assemelha-se aqui
a tantas outras religiões, como é o caso do Cristianismo). Á semelhança do Budismo,
Mahikari diz também que o karma, quer seja bom ou mau, é transmissível pelas
diversas vidas que o indivíduo venha a ter, sendo nos dois sistemas de crenças com o
objectivo de auto-aperfeiçoamento para atingir uma dimensão Superior/Divina de
existência, que no caso de Mahikari é o Mundo Divino ou Espiritual e no caso Budista,
Nirvana. Ambas crêm que o indivíduo terá sempre consequências mais ou menos boas
pelo seu karma acumulado, quer seja bom ou mau.

Por fim, pareceu-me ter encontrado uma pequena influência do Cristianismo,


quando o autor Tebecis (TEBECIS; 1982) diz que os crentes acreditavam que a
construção do Grande Templo Mundial geraria na Terra um Paraíso semelhante ao
Jardim do Éden e também na crença de uma das dimensões inferiores do mundo astral
ser acreditada como um Inferno de chamas eternas, que vai de encontro, sem sombra de
dúvida, à concepção cristã/católica.

Autores como Anne Broder (BRODER; 2008) explicitam que antes de receber
as Revelações, Yoshikazu Okada teria feito parte do movimento religioso Sekai
Kyuseikyo 1 (Igreja do Messianismo Mundial) e que a sua doutrina na religião que funda
tem vários pontos em comum com a de Omoto 2 (Grande Origem) e com a do
movimento a que teria pertencido. Estes aspectos têm levado ainda nos dias de hoje
vários académicos a questionarem-se sobre se os Ensinamentos Mahikari seriam
totalmente um produto da interacção de Okada com Deus ou se teriam sido inspirados
nestas duas doutrinas ou outras experiências religiosas ou espirituais que Okada pudesse
ter vivido.

1
Movimento religioso fundado em 1935 por Mokichi Okada.
2
Seita de base Xintoista fundada em 1892 por Nao Deguchi.

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Bibliografia

BRODER, A; Mahikari in Context in Japanese Journal of Religious Studies; Nº 35/2;


Nanzan Institute for Religion and Culture; 2008; pp. 331-362

TEBECIS, A. K.; Mahikari – Thank God for the Answers at Last; Yoko Shuppansha;
Tokyo; 1982.

Webgrafia

ALLERTON, S; ALLERTON, Y; Mahikari – an Insight: a short study of (sukyo)


Mahikari culture in http://www.mahikariexposed.com/mahikari.htm#uniting; 1997
[última visualização a 10/05/2014]

ALLERTON, S; The Tale of Two Shrines in


http://www.mahikariexposed.com/suza.htm; [última visualização a 10/05/2014]

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