Xintoismo
Xintoismo
Xintoismo
Xintoísmo (em japonês: 神道, transl. Shintō) é o nome dado à espiritualidade tradicional do Japão e
dos japoneses, considerado também uma religião pelos estudiosos ocidentais. A
palavra Shinto ("Caminho dos deuses") foi adotada do chinês escrito (神道), através da combinação
[1]
chinesa shen); e "tō" (道 ), ou "do", que significa "estudo" ou "caminho filosófico" (originalmente da
?
palavra chinesa tao). Os termos yamato-kotoba (大和言葉) e Kami no michi (神の道) costumam ser
usados de maneira semelhante, e apresentam significados similares.[1][2]
O xintoísmo incorpora práticas espirituais derivadas de diversas tradições pré-históricas japonesas,
locais e regionais, porém não surgiu como instituição religiosa formalmente centralizada até a
chegada do budismo, confucionismo e taoismo no país, a partir do século VI.[3] O budismo
gradualmente se adaptou, no Japão, à espiritualidade nativa, como por exemplo na inclusão do kami,
componente da crença xintoísta, entre os bodisatvas (bosatsu). As práticas xintoístas foram
registradas e codificadas pela primeira vez nos registros escritos históricos do Kojiki e Nihon Shoki,
nos séculos VII e VIII. Ainda assim, estes primeiros escritos japoneses não se referem a uma
"religião xintoísta" unificada, mas a práticas associadas com as colheitas e outros eventos
dos clãs relacionados às estações do ano, aliadas a uma cosmogonia e mitologia unicamente
japonesas, que combina tradições espirituais dos clãs ascendentes do Japão arcaico, principalmente
das culturas Yamato e Izumo.[2]
O xintoísmo caracteriza-se pelo culto à natureza, aos antepassados, e pelo seu politeísmo, com uma
forte ênfase na pureza espiritual, e que tem como uma de suas práticas honrar e celebrar a existência
de Kami (神 ), que pode ser definido como "espírito", "essência" ou "divindades", e é associado com
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múltiplos formatos compreendidos pelos fieis; em alguns casos apresentam uma forma humana, em
outros animística, e em outros é associado com forças mais abstratas, "naturais", do mundo
(montanhas, rios, relâmpago, vento, ondas, árvores, rochas). Considerado como consistindo de
energias e elementos "sagrados", o kami e as pessoas não são separados, mas existem num mesmo
mundo e partilham de sua complexidade inter-relacionada.[2] O xintoísmo moderno apresenta uma
autoridade teológica central, porém não tem uma teocracia única. Consiste, atualmente, de uma
associação inclusiva de santuários locais, regionais e nacionais de variada significância, em
importância e história, que exprimem suas diversas crenças através de práticas e idiomas
semelhantes, que datam dos períodos Nara e Heian.[2]
O xintoísmo tem atualmente cerca de 119 milhões de seguidores no Japão,[4] embora qualquer pessoa
que pratique algum tipo de ritual xintoísta seja contado como tal. Geralmente aceita-se que a ampla
maioria do povo japonês participe de algum tipo de ritual xintoísta, ao mesmo tempo em que a maior
parte também pratica o culto budista aos ancestrais. No entanto, ao contrário de muitas das práticas
religiosas monoteístas, o xintoísmo e o budismo tipicamente não exigem daqueles que os professam
que sejam crentes ou praticantes, o que torna difícil contabilizar cifras exatas com base na
autoidentificação com alguma crença, entre os habitantes do país. Devido à natureza sincrética das
duas religiões, a maior parte dos eventos relacionadas à "vida" ficam a cargo dos rituais xintoístas,
enquanto os eventos relacionados à "morte" ou à "vida após a morte" ficam a cargo dos rituais
budistas (embora isto não seja uma regra); assim, é costumeiro, por exemplo, no Japão, registrar uma
criança ou celebrar seu nascimento num templo xintoísta, enquanto os preparativos para um funeral
costumam ser ditados pela tradição budista. Existem santuários xintoístas em diversos outros países,
incluindo os Estados Unidos, Brasil, Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Países Baixos, entre outros,
e está em vias de expansão para se tornar uma religião global, especialmente com o surgimento de
ramos internacionais dos santuários shinto.
Origens
O xintoísmo tem raízes muito antigas nas ilhas japonesas. Sua história registrada remonta
ao Kojiki (712) e ao Nihon Shoki (720), porém os registros arqueológicos datam de um
período significativamente mais antigo. Ambas as obras são compilações de tradições
mitológicas orais já existentes. O Kojiki estabelece a família imperial como o alicerce da
cultura japonesa, na condição de descendentes de Amaterasu Omikami. Existe também
uma genealogia de criação e aparição dos deuses, de acordo com um mito de criação.
O Nihonshoki estava mais interessado em criar um sistema estrutural de governo, política
externa, hierarquia religiosa e ordem social interna.
Existe um sistema interno de desenvolvimento xintoísta que configura as relações entre o
xintoísmo e outras práticas religiosas ao longo de sua história; os kami ("espíritos") internos
e externos. O kami interno ou ujigami (uji significa "clã") favorece a coesão e a continuação
dos papéis e padrões estabelecidos; e o hitogami, ou kami externo, traz inovação, novas
crenças, novas mensagens e alguma instabilidade.
Os povos joomon do Japão utilizavam-se de habitações naturais, ainda não conheciam o
cultivo de arroz, e frequentemente eram caçadores-coletores; a evidência física de suas
práticas rituais é de difícil documentação. Existem muitos locais que contêm estruturas
rituais de pedra, e conhecem-se práticas funerárias refinadas, além dos antigos Torii, que
indicam a continuidade do xintoísmo arcaico. Os joomon tinham um sistema tribal baseado
em clãs, similar a muitos dos povos indígenas do mundo. No contexto deste sistema, as
crenças locais desenvolveram-se naturalmente, e quando a assimilação entre os clãs
ocorreu, as crenças de tribos vizinhas acabaram por influenciar as outras. A um certo
ponto, passou a existir um reconhecimento de que os ancestrais criaram as gerações
presentes, e a reverência aos ancestrais (tama) tomou forma. Havia algum comércio entre
os povos indígenas das ilhas japonesas e o continente, bem como diversas migrações, o
que aumentou o crescimento e a complexidade da espiritualidade dos povos locais, através
de sua exposição a novas crenças. Esta espiritualidade, no entanto, ainda era centrada no
culto às forças naturais, ou mono, e aos elementos naturais dos quais todos dependiam.
A introdução gradual de organizações religiosas e governamentais metódicas a partir
da Ásia continental, começada por volta de 300 a.C., plantou as sementes das mudanças
reativas que ocorreriam no xintoísmo arcaico, ao longo dos 700 anos seguintes, em
direção a um sistema mais formalizado. Estas mudanças foram dirigidas internamente,
pelos diversos clãs, frequentemente como forma de um evento cultural sincrético
direcionado às influências externas. Com o tempo, à medida que os yamato conquistaram
o poder, um processo de formalização se iniciou. A gênese da casa imperial japonesa, e a
criação subsequente do Kojiki, ajudou a facilitar a continuidade necessária para este
desenvolvimento a longo prazo. O xintoísmo apresenta hoje em dia um equilíbrio entre as
influências externas do budismo, do confucionismo, do taoismo, das religiões abraâmicas,
do hinduísmo e de crenças seculares que, embora tenha tido conflitos em seu
desenvolvimento, aparenta atualmente ser natural e não exclusivo. Em períodos mais
modernos o xintoísmo desenvolveu também novas formas e suas próprias subdivisões, e
até mesmo expandiu-se para além das fronteiras do Japão, tornando-se uma religião
global.
CRENÇAS DO XINTOISMO
Kami
Kami
O xintoísmo baseia-se no culto aos kami ( 神 ). Esta palavra é frequentemente traduzida por
"deus" ou "divindade", o que não traduz completamente o conceito, dado que os kami pode ser
também forças vitais ou espíritos da natureza. Ao contrário dos deuses das outras religiões,
os kami não são onipotentes ou oniscientes, possuindo poderes limitados. Nem todos kami são
bons. Alguns kami são locais ou conhecidos como espíritos de um local em particular ou a
lugares (montanhas, ervas, árvores, vales, rios, mares, encruzilhadas). Outros representam
elementos ou processos da natureza, como por exemplo, Amaterasu, a deusa
do Sol, Tsukiyomi, deus da lua, Susanoo, deus dos oceanos e das tempestades.
Existem kami ligados a fenômenos atmosféricos (chuva, vento (Fujin), trovão),
e kami associados à vida humana (vestuário, transportes, ofícios, etc.). Incluem-se ainda no
conceito de kami os espíritos de homens notáveis, como de certos guerreiros. Os espíritos dos
antepassados também são considerados deuses tutelares da família ou do país, motivo pelo
qual os ritos fúnebres possuem grande relevo.
Os textos xintoístas referem-se a "oitocentas miríades" de kami (八百万神 yaoyorozu no kami);
este número não deve ser interpretado literalmente, pretendendo-se apenas transmitir a noção
de que existem numerosos kami. Os kami não são perceptíveis pelo ser humano.
Podem ser divididos em dois tipos: os que habitam no céu ( 天 津 神 amatsukami) e os que
habitam na terra ( 国 津 神 kunitsukami). Os primeiros trazem à terra influências positivas,
enquanto que os segundos mantêm-na como ela.
O kami mais eminente é a deusa-sol Amaterasu Oo-mikami, antepassada da família real
japonesa. O seu santuário principal é o Grande Santuário de Ise.
A natureza
Há que reconhecer que o homem vive graças à natureza, a tudo quanto ela lhe fornece, pelo
que a sua atitude deve ser de profunda gratidão e reverência. Mesmo quando a natureza se
desenfreia, o ser humano é forçado a reconhecer que muito maiores são os benefícios que dela
recebe. O homem, apesar de todo o seu avanço tecnológico, não possui poder pleno, e deve
reconhecer a sua humildade, num espírito de coexistência pacífica.[5][6]
Há numerosas divindades ligadas a elementos naturais, o que atesta que tudo é governado
pelos kami. Logo, a natureza reveste um carácter sagrado, regendo-se por uma vontade e
sensibilidade próprias, por uma espiritualidade misteriosa, mais do que propriamente por leis
naturais.
Sendo que toda a natureza descende de kami assim como a humanidade, fica claro que tudo
está interligado tendo como origem em comum um ancestral divino. Assim sendo o ser humano
e a natureza, seus elementos, minerais, vegetais e animais, são parentes.
A vida desassociada da natureza é incompatível com o Xintô, o ser humano não deve
combatê-la ou transformá-la sem necessidade vital. É comum aos praticantes xintoístas o retiro
para ambientes onde possam promover a integração com a natureza, uma forma de purificação,
elevação espiritual, e oportunidade para reflexão e meditação.
Como já foi dito na introdução, o Xintô e a própria cultura japonesa pregam que sendo a
natureza sagrada, sua destruição é indesejável, e não existe o sentimento de hostilidade
inerente recíproca imperante no ocidente.
Outra prática bastante disseminada é a deificação de determinados elementos naturais em
especial. Como por exemplo a árvore que representa um família ou um rocha que ocupa lugar
de destaque em determinada cidade. Principalmente na antiguidade, era tradicional em muitas
aldeias a veneração de algum "ícone" que representasse bem seu povoado ou dinastia.
O comportamento xintoísta é tão avesso a interferência no cenário natural, para ele é sagrado
e perfeito, que qualquer atividade que implique em utilização ostensiva dos recursos naturais
deve ser recompensada no mínimo com a construção de um templo dedicado a natureza.
MORAL
Como vimos, o homem é considerado como naturalmente bom e puro, participante da natureza
dos kami, e que o pecado e a impureza se devem a influências malignas dos espíritos habitantes
do mundo inferior. Por isso, o homem recebe diretamente dos kami uma componente natural, um
ideal celeste a ser realizado nesta vida, modelo de vivência dado e aceite como meta, e que
representa a ligação da vida humana à vida divina. Este é o maior conceito moral do xintoísmo, o
chamado michi, termo que significa “caminho”. Trata-se de um ideal de justiça e de carácter, de
que ninguém se deve afastar, elemento básico da vida xintoísta e do próprio culto. O michi,
obediência ao curso da natureza, reveste-se duma extrema simplicidade e naturalidade.
Para o xintoísmo, a vida só alcança o seu sentido e a sua finalidade se for vivida na pureza, que
é o seu estado natural. A vida que não leva isto em conta é radicalmente antixintoísta e não
agrada aos kami que, desgostosos, podem mandar vários tipos de desgraças para avisar o
pecador, e até mesmo castigá-lo. Procura-se esse ideal de pureza, tanto corporal como mental e
espiritual, que leva o homem à sua plenitude. Embora o homem não possa controlar tudo o que
acontece e pode danificar a sua pureza, tem a responsabilidade de procurar viver uma vida
autenticamente xintoísta, reta, clara e honesta, segundo a vontade dos kami.
Vítima de forças que lhe escapam, o homem corrompido é alguém que deixou de pertencer,
durante algum tempo, ao mundo da bondade e da felicidade, possuindo, porém, o direito de
voltar a ele. Por isso, o pecado e a falta moral, embora reconhecidos, revestem um carácter
diferente do que têm para os ocidentais.
Aquilo que pode danificar a pureza pode ser de carácter voluntário ou involuntário. As faltas
voluntárias são verdadeiros pecados, da responsabilidade daquele que os pratica, e denominam-
se tsumi. As faltas involuntárias não fazem, obviamente, a pessoa incorrer em igual
responsabilidade, embora ela possa ter contribuído para a situação, devido à sua má conduta ou
imprudência. Incluem-se neste grupo as calamidades ou desgraças (wazawai) e as manchas,
impurezas (kegari), adquiridas por contactos com elementos como a cadáver, o sangue, as
relações carnais, etc. Estes males, como vimos, têm origem no mundo inferior, que envia as
calamidades e impurezas e incita aos crimes. Para afastar a sua nefasta influência, realizam-se
vários tipos de exorcismos.
Isto, que parece uma confusão entre mal moral e acontecimentos fortuitos, tem a sua justificação
no preceito fundamental da pureza que, para muitos pensadores xintoístas, se sobrepõe
aos ritos e ao culto.
Tudo isto é a concepção geral acerca da moralidade. No que se refere ao concreto, as
concepções morais rígidas do xintoísmo apresentam bastante pobreza, pois não se encontram
códigos morais definidos propriamente ditos, como existem noutras religiões orientais, como o
confucionismo, por exemplo. O michi apresenta-se como algo extremamente vago e simples, o
que pode levar a pensar que o xintoísmo rejeita propositadamente qualquer tipo de regras
concretas de moral.
Mas, a este respeito, um grande teólogo xintoísta, Motoori (1730-1801), apresenta uma teoria
interessante. Diz ele que os homens foram naturalmente dotados pelos kami de conhecimento
do que devem ou não fazer, pelo que não precisam de códigos morais. Se necessitassem de tal
coisa, seriam inferiores aos animais que, embora em grau inferior, sabem como devem proceder.
A ausência deliberada dum código moral no xintoísmo é, para Motoori, motivo de orgulho, pois
significa que aos japoneses basta-lhes seguirem a moral do coração e do espírito puro, neles
inscrita pelos kami.
Culto individuaL
Na sua vida diária, todo o fiel xintoísta tem a obrigação de prestar homenagem aos kami, o que
pode ser feito nos mais variados lugares e ocasiões, desde a casa até ao templo passando pelo
campo ou pela rua.
Revestem uma importância particular as visitas aos santuários, que podem ser realizadas com
diferentes objectivos: prestar contas, louvar, agradecer ou rogar. Todos os fiéis têm como dever
ir visitar periodicamente o kami e relatar-lhe o que lhe tem acontecido na vida diária, não no
intuito de pedir perdão, mas para simples informação. É comum também agradecer graças
recebidas ou louvar simplesmente o kami. O pedido de graças faz-se geralmente em favor de
outra pessoa ou da sociedade, pois considera-se de mau tom pedir para si próprio. As orações
também não devem ser muito longas, complexas, para não aborrecer o kami. Muitas vezes, são
os sacerdotes os encarregados de transmitir as preces às divindades, devendo saber interpretar,
por sinais diversos, se a oração foi ou não bem recebida. A adivinhação é um rito que também
acompanha frequentemente o rito individual: faz-se através de varetas numeradas, dentro duma
caixa, que correspondem a predições e conselhos.
Põem-se em prática também uma série de rituais específicos, entre os quais o mais
característico é o bater das palmas. Depois de reverências solenes, diante do templo do kami, o
devoto bate várias vezes as palmas, finalizando de novo com reverências. Este gesto parece
destinar-se a atrair a atenção da divindade, mas o seu sentido não se esgota simplesmente aí.
As ofertas feitas são geralmente de ramos de sakaki, a que se prendem tiras de papel.
Em sua casa, os fiéis têm geralmente um pequeno altar doméstico (kamidana), onde colocam
vários amuletos: um do santuário local, outro do grande santuário nacional de Ise, e mais algum,
conforme as devoções e preferências. Todas as manhãs, são feitas oferendas: saquê
(aguardente de arroz), arroz, sal. Acende-se uma lamparina e fazem-se orações aos kami.
Um outro costume é o das peregrinações. Os japoneses apreciam peregrinar, ganhando méritos
pela austeridade e pelas privações. Mas é claro que hoje em dia as viagens são muito mais
confortáveis. É hábito ter um livrinho, onde se registam os emblemas dos vários santuários
percorridos, assim como adquirir amuletos, que servem de recordações.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Xinto%C3%ADsmo
Princípios do Xintoísmo
• Musubi – Indica a origem da criação e estabelece uma relação entre o homem e os Kamis, ou
seja, o real e o divino em harmonia.
• Makoto – São virtudes alcançadas ao obter o contato com os Kamis.
• Tsunagari – O conceito de continuidade, onde todos devem se doar uns para os outros.
Na mitologia, para a morada dos Kamis considera-se duas teorias, a primeira é o vertical, que
possui três mundos diferentes. "Alta planície", morada dos Kami no céu, é descrito como um
lugar harmônico dedicado aos Kamis divinos. Sendo considerado um mundo perfeito. O
segundo, chamado de "País do Meio da Planície dos Canaviais", lugar onde vivem os homens,
considerado o lugar onde os Kamis descem. E o último, é um mundo subterrâneo conhecido
como a terra de "Yomi" ou mundo dos mortos, lugar onde vivem os espíritos malignos que
atormentam e levam os homens a cometer maldades. Conta-se que, ao descer à terra dos
mortos, o espírito é consumido pelo fogo e nunca mais retornará ao mundo dos vivos.
O segundo conceito é o horizontal, que coloca dois países lado a lado, um é chamado de "País
do Meio", e o outro "País dos Mortos", que diferente da concepção anterior, não é um submundo,
mas um lugar com boas energias, no qual o homem tem uma interação harmônica com os
elementos da natureza e é considerado puro, onde qualquer influência negativa dar-se através
do mundo inferior.
https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/religiao/xintoismo
XINTOÍSMO MODERNO
Hoje em dia o Xintoísmo não tendo mais o caráter de religião oficial e nem sendo mais
regulamentado politicamente, assume desdobramentos mais espontâneos, e sua convivência
com o Budismo, ainda a segunda maior religião do Japão, e outras religiões como o
Cristianismo, têm se dado de forma pacífica e harmônica.
O povo nipônico não aceito facilmente o exclusivismo religioso radical, sendo perfeitamente
normal a congregação em mais de uma religião. É comum casos de famílias que fazem seus
rituais ora num templo ora numa igreja.
Diversas seitas novas de características Xintoístas têm surgido recentemente sendo muito
comumente iniciadas por líderes locais que obtêm "revelações" através de experiências
transcendentes. Muitos desses novos messias são, diferente da maioria esmagadora das
religiões do mundo, mulheres.
Algumas dessas "novas" religiões, chamadas shinko shukyo, são ainda do
período Tokugawa (1603-1868) como a Tenrikyo que tem Nakayama Miki(1798-1887) como
fundadora, e cujo nome significa "Religião da Divina Sabedoria".
Outras de 1868 a 1945 como a Omoto, a Hito no Michi e a Soka Gakkai, esta última de
características budistas antigas influenciadas pelo budismo Nichiren, e com muito seguidores
ocidentais. A famosa Seich-no-Ie é de 1930, fundada por Masaharu Taniguchi.
As surgidas após 1945 são consideradas "novas religiões", como a Aum Shinrikyo.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
O Xintô primitivo perdura de períodos indefinidos até cerca do século VI dC. Representava a
união das crenças indígenas predominantes no arquipélago do país cujo primeiro nome fora
Yamato, devido a liderança desta província sobre as demais. O isolamento natural com certeza
garantiu a consolidação e hegemonia necessárias para que mesmo na ausência de qualquer
regulamentação teórica, aliás até mesmo de escrita, os mitos populares se cristalizassem na
cultura.
A grande maioria dos contos mitológicos provêm dessa fase e obviamente não se pode ter
certeza de sua regularidade através dos tempos. Mas como toda e qualquer mitologia, o
inconsciente humano garante pelo menos a linhagem básica do mito, variando principalmente na
sua manifestação icônica.
Apresenta nessa fase todas as características comuns a qualquer mitologia primitiva, panteísmo,
gênese figurativa, com elementos reconhecíveis da própria cultura representando conceitos
místicos, e explicações sobre a origem e destino das coisas.
Nessa fase o Xintô sequer tinha nome definido, sua designação mais comum seria kami-no-
michi, "a via dos deuses", mas como era praticamente a única, tal distinção não se fazia
necessária.
Com a entrada da cultura continental especialmente chinesa no Japão, a partir do século VI dC,
houve entre outras coisas a importação de uma filosofia específica, o Confucionismo, e uma
nova religião, o Budismo.
Obviamente assim como qualquer sociedade primitiva não havia filosofia pura, aquela
desassociada da mística, na terra de Yamato. Mas o Confucionismo caiu como um luva para o
modo de vida daquela sociedade, se adaptando facilmente a seus hábitos e justificando muitos
de seus costumes.
O Budismo também não representou nenhum choque cultural grave. Primeiro por que trata-se de
uma concepção místico-filosófica, que não reclama o status de religião, não têm caráter
exclusivista, e não condena necessriamente aquele que não a pratica.
Entretando as diferenças naturais entre elas exigiram que uma distinção fosse feita e só então a
crença kami-no-michi ganhou finalmente no século XI d.C. o nome que perdura até hoje.
Somente em 712 d.C. é que surge graças ao esforços de estudiosos, o Kojiki, História das
Coisas Antigas, sobre a antiguidade japonesa e mais posteriormente o Nihongi, Crônicas do
Japão, em 720 e o Engishiki, já no início do século X. Nesses ecritos antigos têm-se os primeiros
registros da história antiga do Japão e das bases mitológicas Xintoístas. Entretanto sua
imprecisão é grande, mesmo em fatos históricos como o do provável primeiro imperador Jimmu-
Tenno, são cercados de muitas dúvidas quanto as datas em que viveram e o conteúdo exato de
seus feitos.
Tendo sido produzidos por decreto imperial, esses registros obedeciam além de interesses de
reconstituíção cultural, objetivos "doutrinários", resgatando os elementos primitivos que
pudessem embasar a descendência divina imperial e a legitimação sagrada do estado. Dessa
forma é evidente que não se pode esperar fidelidade absoluta apenas ao mito primitivo em si,
pois os interesses da época com certeza o influenciaram em grau indefinido.
Os mitos recuperados e conservados nesses livros então não têm como representar com total
fidelidade o conteúdo mais primitivo do Xintoísmo, e refletem mais a forma como a sociedade da
época lidava com a crença.
De qualquer forma o Xintô mesmo não possuindo livro sagrado, começou a ser melhor
identificado e regulamentado, mas passou a ser relegado cada vez mais a segundo plano devido
a predominância do Budismo, principalmente devido ao total apoio que o princípe Shotoku (573-
621) dava a sua disseminação e a da cultura chinesa em geral.
O Budismo passou a ser quase uma espécie de religião oficial, praticado nas côrtes reais, mas o
Xintoísmo não foi totalmente esquecido, tendo sempre algum lugar ao lado da predominante
religião de procedência chinesa, que durou até o século XVIII.
Nessa fase também surge um aspecto notável, o Ryobu-Xinto, ou Xintô de duas faces. É mais
que uma convivência pacífica com o Budismo mas quase um fusão destes. Havia casos de
sacerdotes que comungavam nas duas religiões, assim como fiéis Xintô que recorriam ao
monges Budistas para obter recursos para seus templos.
Havia rituais duplos tanto em santuários budistas quanto xintoístas mas o mais interessante foi a
forma como a filosofia budista explicou a mitologia xintoísta. Entre outras coisas classificou
os Kami como encarnações temporárias de Buda, assim como enquadrou toda a mitologia Xintô
dentro de um mais abrangente plano universal visto pela ótica budista. Dessa forma o Budismo
não desmereceu o Xintô, apenas o reinterpretou extendendo a importâncias do Kami também ao
Budismo, que em alguns templos passou a venerá-los tal qual entidades da religião dos Buda.
Isso prova que o Xintoísmo não só e compatível com o Budismo como na verdade pode ser até
mesmo uma diferente interpretação de alguns de seus aspectos, sendo o Budismo uma crença
reencarnacionista, o Xintô que apesar de não explicitar o mesmo ponto de vista também não o
condena, podendo ser considerado pelo menos subjetivamente reencarnacionista como
praticamente todas as místicas primitivas.
Apesar disso no século XVI, houve a entrada de uma religião totalmente incompatível com o
próprio ou com o Budismo. O Cristianismo europeu penetrou no Japão e embora não tenha sido
expressivo demograficamente, constituí um fato notável.
Totalmente intolerante com qualquer outro tipo de crença, não plenamente por essência e mais
por postura política, o Cristianismo no Japão obviamente não pode contar com a violência das
Cruzadas ou da Santa Inquisição, tendo que se valer unicamente de seu apelo emocional e
argumentação, o que numa cultura tão diferente, não conseguiu lograr-lhe uma disseminação
ampla.
E importante lembrar também que o Japão nunca sofreu uma invasão cultural, mesmo após o
fim da Segunda Guerra Mundial a cultura japonesa sobreviveu e se forteleceu de forma
homérica.
Uma especialidade do povo japonês é a capacidade de absorver novas idéias ao mesmo tempo
que conserva as antigas, e cria coisas novas e próprias enquanto transforma as alheias em seu
benefício. Tal comportamento já era de certa forma presente no Xintoísmo e no Budismo e
perdura até hoje, dando ao país do Sol Nascente um incrível capacidade de adaptação que lhe
permitiu ser uma das nações técnincamente mais avançadas do mundo e ao mesmo tempo uma
das mais conservadoras.
Se tomarmos por exemplo as américas, veremos que as culturas originais foram praticamente
dizimadas pela cultura européia, principalmente no caráter místico através de uma religião
dogmática de comportamento muito mais prático e mundano do que trascendente.
O Japão então foi beneficiado não só pelas condições histórico e geográficas como também pelo
fato da religião predominante a ser importada, o Budismo, não praticar a dominação filosófica
cultural explícita e muito menos teologicamente defendida.
O "Renascimento", a terceira fase do Xintoísmo ao contrário dos períodos anteriores têm data
precisa de início, 1868. Até este ano o Japão encontrava-se sob o Xogunato, o regime dos
samurais, mas este dando lugar a uma nova ascenção imperial exigiu do imperador instrumentos
psicológicos convincentes para manifestar seu poder perante o povo.
Um desses intrumentos foi a reafirmação da crença xintoísta que dava à família real um caratér
divino, descendentes diretos de AMATERASU, deixando esta numa posição bem mais
apropriada perante seus súditos.
Têm início a era Meiji, que modernizou o Japão num ritmo inigualável por qualquer outra nação
no mundo, houve também um certa reação ao Budismo e muito maior ao Cristianismo,
teologicamente incompatível com o Xintô.
Nessa época surgiu o Xintô de Estado, Jinja-Xinto, que assume o caráter de religião oficial
declarada. e outras divisões como o Xintô-Popular, Minkan-Xinto, mais espontâneo, o Xintô-
Acadêmico, Fukko-Xinto, o Xintô da Casa Imperial, Koxitsu-Xinto, e o Xintô das Seitas, Kyoha-
Xinto, que chegou a abranger 160 seitas.
O Xintô de Estado só vêm a cair em 1946, com a derrota do Japão para os E.U.A. na guerra do
pacífico, o imperador então perde seu poder político mantendo apenas o simbólico mas o
Xintoísmo não enfraquece, pelo contrário, assume um caráter ainda mais forte de nacionalismo
num sentimento patriótico de auto defesa psicológica.
Apesar da reconstrução do Japão, assim como sua modernização de certa forma agredir um
princípio básico do Xintoísmo de respeito pela natureza, o Xintô sobrevive dando provas de sua
flexibilidade diante da calamidade que se abateu sobre seu povo, que precisou lançar mão entre
outras coisas de grande parte dos recursos naturais para se reerguer.
http://www.xr.pro.br/monografias/xinto.html