Então Causou Sensação

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Para fornecer as informações mais atualizadas, preciso de mais contexto.

O que você
gostaria de saber?

Aqui estão algumas opções para te ajudar a refinar sua pergunta:

 Assunto específico:
o Notícias sobre um país em particular?
o Avanços em determinada área da ciência ou tecnologia?
o Tendências em moda, música ou cinema?
o Resultados de jogos ou eventos esportivos?
o Alterações no mercado financeiro?
o ...
 Data:
o Deseja as notícias mais recentes de hoje?
o Ou as principais manchetes do dia anterior?
o Talvez um resumo dos últimos acontecimentos da semana?

Exemplos de perguntas mais específicas:

 "Quais foram as principais notícias sobre a eleição brasileira de ontem?"


 "Houve algum avanço significativo na pesquisa sobre a cura do câncer nos
últimos dias?"
 "Quais são as tendências de moda para o outono/inverno deste ano?"
 "Qual foi o resultado do jogo do Flamengo ontem?"
 "Como o mercado de criptomoedas se comportou nas últimas 24 horas?"

Com uma pergunta mais precisa, posso te fornecer informações mais relevantes e
concisas.

- Então causou sensação?

- Tanto mais quanto era inexplicável. Tu amavas a Clotilde, não? Ela,


coitadita!, parecia louca por ti, e os pais estavam radiantes de alegria. De
repente, súbita transformação. Tu desapareces, a família fecha os salões como
se estivesse de luto pesado. Clotilde chora... Evidentemente havia um
mistério, uma dessas coisas capazes de fazer os espíritos imaginosos
arquitetarem dramas horrendos. Por felicidade, o juízo geral é contra o teu
procedimento.

- É claro. Pobre amigo! Então, sofreste muito? Conta lá. Estás pálido, suando
apesar da temperatura fria, e com um olhar tão estranho, tão esquisito. Parece
que bebeste e que choraste. Conta lá. Nunca pensei encontrar o Rodolfo
Queirós, o mais elegante artista desta terra, num trem de subúrbio, às onze de
uma noite de temporal. É curioso. Ocultas os pesares nas matas suburbanas?
Estás a fazer passeios de vício perigoso?

O trem rasgava a treva num silvo alanhante, e de novo cavalava sobre os


trilhos. Um sino enorme ia com ele badalando, e pelas portinholas do vagão
viam-se, a marginar a estrada, as luzes das casas ainda abertas, os silvedos
empapados de água e a chuva lastimável a tecer o seu infindável véu de
lágrimas. Percebi então que o sujeito gordo da banqueta próxima - o que
falava mais - dizia para o outro:

- Tomas morfina, agora? Foi o desgosto, decerto...

O rapaz que tinha o olhar desvairado perscrutou o vagão. Não havia ninguém
mais - a não ser eu, e eu dormia profundamente... Ele então aproximou-se do
sujeito gordo,
numa ânsia de explicações.

- Foi de repente, Justino. Nunca pensei! Eu era um homem regular, de bons


instintos, com uma família honesta. Ia casar com a Clotilde, ser de bondade a
quem amava perdidamente. E uma noite estávamos no baile do Praxedes,
quando a Clotilde apareceu decotada, com os braços nus. Que braços! Eram
delicadíssimos, de uma beleza ingênua e comovedora, meio infantil, meio
mulher - a beleza dos braços das Oréades pintadas por Botticelli, misto de
castidade mística e de alegria pagã. Tive um estremecimento. Ciúmes? Não.
Era um estado que nunca se apossara de mim: a vontade de tê-los só para os
meus olhos, de beijá-los, de acariciá-los, mas principalmente de fazê-los
sofrer. Fui ao encontro da pobre rapariga fazendo um enorme esforço, porque
o meu desejo era agarrar-lhe os braços, sacudi-los, apertá-los com toda a
força, fazerlhes manchas negras, bem negras, feri-los... Por quê? Não sei, nem
eu mesmo sei - uma nevrose! Essa noite passei-a numa agitação incrível. Mas
contive-me. Contive-me dias, meses, um longo tempo, com pavor do que
poderia acontecer. O desejo, porém, ficou, cresceu, brotou, enraizou-se na
minha pobre alma. No primeiro instante, a minha vontade era bater-lhe com
pesos, brutalmente. Agora a grande vontade era de espetá-los, de enterrar-lhes
longos alfinetes, de cosê-los devagarinho, a picadas. E junto de Clotilde, por
mais compridas que trouxesse as mangas, eu via esses braços nus como na
primeira noite, via a sua forma grácil e suave, sentia a finura da pele e
imaginava o súbito estremeção quando pudesse enfiar o primeiro alfinete,
escolhia posições, compunha o prazer diante daquele susto de carne a sentir.

- Que horror!
Além disso, posso te ajudar com:

 Resumos de artigos: Se você encontrar um artigo interessante, posso te dar um


resumo mais curto.
 Comparação de diferentes fontes: Posso te mostrar diferentes perspectivas
sobre um mesmo assunto.
 Análise de dados: Se você tiver dados específicos, posso te ajudar a interpretá-
los.

Por favor, me diga o que você precisa saber.

- Afinal, uma outra vez, encontrei-a na sauterie da viscondessa de Lajes, com


um vestido em que as mangas eram de gaze. Os seus braços - oh! que braços,
Justino, que
braços! - estavam quase nus. Quando Clotilde erguia-os, parecia uma ninfa
que fosse se metamorfoseando em anjo. No canto da varanda, entre as
roseiras, ela disse-me:
"Rodolfo, que olhar o seu. Está zangado?" Não foi possível reter o desejo que
me punha a tremer, rangendo os dentes. "Oh! não!" fiz, "estou apenas com
vontade de espetar este alfinete no seu braço". Sabes como é pura a Clotilde.
A pobrezita olhou-me assustada, pensou, sorriu com tristeza: "Se não quer
que eu mostre os braços, por que não me disse, há mais tempo, Rodolfo?
Diga, é isso que o faz zangado?" "É, é isso, Clotilde." E rindo - como esse riso
devia parecer idiota! - continuei: "É preciso pagar ao meu ciúme a sua dívida
de sangue. Deixe espetar o alfinete." " Está louco, Rodolfo?" "Que tem?" "Vai
fazer-me doer" "Não dói." "E o sangue?" "Beberei esta gota de sangue como
a ambrosia do esquecimento." E dei por mim, quase de joelhos, implorando,
suplicando, inventando frases, com um gosto de sangue na boca e as frontes
a bater, a bater... Clotilde por fim estava atordoada, vencida, não
compreendendo bem se devia ou não resistir. Ah! meu caro, as mulheres!
Que estranho fundo de bondade, de submissão, de desejo, de dedicação
inconsciente tem uma pobre menina! Ao cabo de um certo tempo, ela
curvou a cabeça, murmurou num suspiro: "Bem, Rodolfo, faça... mas
devagar, Rodolfo! Há de doer tanto!" E os seus dois braços tremiam.

Tirei da botoeira da casaca um alfinete, e nervoso, nervoso como se fosse


amar pela primeira vez, escolhi o lugar, passei a mão, senti a pele macia e
enterrei-o. Foi
como se fisgasse uma pétala de camélia, mas deu-me um gozo complexo de
que participavam todos os meus sentidos. Ela teve um ah! de dor, levou o
lenço ao sítio picado, e disse, magoadamente: "Mau!"
Ah! Justino, não dormi. Deitado, a delícia daquela carne que sofrera por meu
desejo, a sensação do aço afundando devagar no braço da minha noiva,
dava-me espasmos de horror! Que prazer tremendo! E apertando os varões
da cama, mordendo o travesseiro, eu tinha a certeza de que dentro de mim
rebentara a moléstia incurável. Ao mesmo
tempo em que forçava o pensamento a dizer: "Nunca mais farei essa
infâmia!", todos os meus nervos latejavam: "Voltas amanhã; tens que gozar
de novo o supremo prazer!" Era o delírio, era a moléstia, era o meu horror...

Houve um silêncio. O trem corria em plena treva, acordando os campos com


o desesperado badalar da máquina. O sujeito gordo tirou a carteira e
acendeu uma cigarreta.

- Caso muito interessante, Rodolfo. Não há dúvida de que é uma


degeneração sexual, mas o altruísmo de São Francisco de Assis também é
degeneração e o amor de Santa Teresa não foi outra coisa. Sabes que
Rousseau tinha pouco mais ou menos esse mal? És mais um tipo a enriquecer
a série enorme dos discípulos do marquês de Sade. Um homem de espírito já
definiu o sadismo: a depravação intelectual do assassinato. És um Jack-the-
ripper civilizado, contentas-te com enterrar alfinetes nos braços. Não te
assustes.

O outro resfolegava, com a cabeça entre as mãos.

- Não rias, Justino. Estás a tecer paradoxos diante de uma criatura do outro
lado da vida normal. É lúgubre.

- Então continuaste?

- Sim, continuei, voltei, imediatamente. No dia seguinte, à noitinha, estava


em casa de Clotilde, e com um desejo louco, desvairado. Nós conversávamos
na sala de visitas. Os velhos ficavam por ali a montar guarda. Eu e a Clotilde
íamos para o fundo, para o sofá. Logo ao entrar tive o instinto de que podia
praticar a minha infâmia na penumbra da sala, enquanto o pai conversasse.
Estava tão agitado que o velho exclamou: "Parece, Rodolfo, que vieste a
correr para não perder a festa".

Eu estava louco, apenas. Não poderás nunca imaginar o caos da minha alma
naqueles momentos em que estive a seu lado no sofá, o maelstrom de
angústias, de esforços, de desejos, a luta da razão e do mal, o mal que eu
senti saltar-me à garganta, tomar-me a mão, ir agir, ir agir... Quando ao cabo
de alguns minutos acariciei-lhe na sombra o braço, por cima da manga, numa
carícia lenta que subia das mãos para os ombros, entre os dedos senti que já
tinha o alfinete, o alfinete pavoroso. Então fechei os olhos, encolhi-me,
encolhi-me, e finquei.

Ela estremeceu, suspirou. Eu tive logo um relaxamento de nervos, uma doce


acalmia. Passara a crise com a satisfação, mas sobre os meus olhos os olhos
de Clotilde se
fixavam enormes e eu vi que ela compreendia vagamente tudo, que ela
descobria o seu infortúnio e a minha infâmia. Como era nobre, porém! Não
disse uma palavra. Era a desgraça. Que havia de fazer?... Então depois,
Justino, sabes?, foi todo dia. Não lhe via a carne, mas sentia-a marcada,
ferida. Cosi-lhe os braços! Por último perguntava: "Fez sangue, ontem?" E ela
pálida e triste, num suspiro de rola: "Fez"... Pobre Clotilde! A que ponto eu
chegara, na necessidade de saber se doera bem, se ferira bem, se estragara
bem! E no quarto, à noite, vinham-me grandes pavores súbitos ao pensar no
casamento porque sabia que se a tivesse toda havia de picar-lhe a carne
virginal nos braços, no dorso, nos seios... Justino, que tristeza!

De novo a voz calou-se. O trem continuava aos solavancos na tempestade, e


pareceu-me ouvir o rapaz soluçar. O outro porém estava interessado e
indagou:

- Mas então como te saíste?

- Em um mês ela emagreceu, perdeu as cores. Os seus dois olhos negros


ardiam aumentados pelas olheiras roxas. Já não tinha risos. Quando eu
chegava, fechava-se no quarto, no desejo de espaçar a hora do tormento. Era
a mãe que a ia buscar. "Minha filha, o Rodolfo chegou. Avia-te." E ela de
dentro: "Já vou, mãe". Que dor eu tinha quando a via aparecer sem uma
palavra! Sentava-se à janela, consertava as flores da jarra, hesitava, até que
sem forças vinha tombar a meu lado, no sofá, como esses pobres pássaros
que as serpentes fascinam. Afinal, há dois meses, uma criada viu-lhe os
braços, deu o alarme. Clotilde foi interrogada, confessou tudo numa onda de
soluços. Nessa mesma tarde recebi uma carta seca do velho pai desfazendo o
compromisso e falando em crimes que estão com penas no código.
- E fugiste?

- Não fugi; rolei, perdi-me. Nada mais resta do antigo Rodolfo. Sou outro
homem, tenho outra alma, outra voz, outras idéias. Assisto-me endoidecer.
Perder a Clotilde foi para mim o soçobramento total. Para esquecê-la
percorri os lugares de má fama, aluguei por muito dinheiro a dor das
mulheres infames, freqüentei alcouces. Até aí o meu perfil foi dentro em
pouco o terror. As mulheres apontavam-me a sorrir, mas um sorriso de
medo, de horror.

A pedir, a rogar um instante de calma eu corria às vezes ruas inteiras da


Suburra, numa enxurrada de apodos. Esses entes querem apanhar do
amante, sofrem lanhos na fúria do amor, mas tremem de nojo assustado
diante do ser que pausadamente e sem cólera lhes enterra alfinetes. Eu era
ridículo e pavoroso. Dei então para agir livremente, ao acaso, sem dar
satisfações, nas desconhecidas. Gozo agora nos tramways, nos music-halls,
nos comboios dos caminhos de ferro, nas ruas. E muito mais simples.
Aproximo-me, tomo posição, enterro sem dó o alfinete. Elas gritam, às vezes.
Eu peço desculpa. Uma já me esbofeteou. Mas ninguém descobre se foi
proposital. Gosto mais das magras, as que parecem doentes.

A voz do desvairado tornara-se metálica, outra. De novo porém a envolveu


um tremor assustado.

- Quando te encontrei, Justino, vinha a acompanhar uma rapariga magrinha.


Estou com a crise, estou... O teu pobre amigo está perdido, o teu pobre
amigo vai ficar louco...

De repente, num entrechocar de todos os vagões o comboio parou.


Estávamos numa estação suja, iluminada vagamente. Dois ou três
empregados apareceram com lanternas rubras e verdes. Apitos trilaram.
Nesse momento, uma menina loira com um guarda-chuva a pingar,
apareceu, espiou o vagão, caminhou para outro, entrou. O rapaz pôs-se de
pé logo.

- Adeus.

- Saltas aqui?
- Salto.

- Mas que vais fazer?

- Não posso, deixa-me! Adeus!

Saiu, hesitou um instante. De novo os apitos trilaram. O trem teve um


arranco. O rapaz apertou a cabeça com as duas mãos como se quisesse reter
um irresistível impulso. Houve um silvo. A enorme massa resfolegando
rangeu sobre os trilhos. O rapaz olhou para os lados, consultou a botoeira,
correu para o vagão onde desaparecera a menina loira. Logo o comboio
partiu. O homem gordo recolheu a sua curiosidade, mais pálido, fazendo
subir a vidraça da janela. Depois estendeu-se na banqueta. Eu estava incapaz
de erguer-me, imaginando ouvir a cada instante um grito doloroso no outro
vagão, no que estava a menina loira. Mas o comboio rasgara a treva com o
outro silvo, cavalgando os trilhos vertiginosamente. Através das vidraças
molhadas viam-se numa correria fantástica as luzes das casas ainda abertas,
as sebes empapadas d'água sob a chuva torrencial. E à frente, no alto da
locomotiva, como o rebate do desespero, o enorme sino reboava, acordando
a noite, enchendo a treva de um clamor de desgraça e de delírio.

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