Aula 5 - NOVA DIAGRAMAÇÃO

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 16

Me.

Paulo Eduardo de Mattos Stipp

Aula 5
Cultura contemporânea
Antropologia

0
Elaboração do conteúdo
Me. Paulo Eduardo de Mattos Stipp
Produção
Núcleo de Ensino a Distância (Nead)
Coordenação
Dra. Nínive Daniela Guimarães Pignatari
Coordenação de Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)
Esp. Eric de Oliveira Freitas
Revisão
Ma. Karina de Oliveira
Ma. Silvia Brandão Cuenca Stipp
Projeto gráfico
Douglas Augusto Victorino Junior
Me. Vinícius Sanchez dos Santos
Diagramação
Maristela Aparecida Oliveira Pereira
Me. Vinícius Sanchez dos Santos
Design instrucional
Esp. Cristiane da Silva
Esp. Jéssica Belucci
Esp. Marisa Cavalcante Diégues Nara
Imagens editoriais
Shutterstock

© Copyright 2024 – Todos os direitos reservados.

Fundação Educacional de Votuporanga


CNPJ(MF) 45.164.654/0001-99 Inscr. Est. 718.146.332.111
Rua Pernambuco, 4196 - Centro - CEP 15500-006 - Votuporanga - SP
Site: www.unifev.edu.br

Proibida a reprodução parcial ou total desta obra


por qualquer meio sem autorização do titular.

1
Competência

Olá! Bem vindo à unidade curricular Antropologia em EaD da


Unifev.

Na aula passada, desenvolvemos a conceituação de cultura


e apresentamos uma primeira polarização entre cultura erudita e
cultura popular.

Enfatizamos que a cultura é o modo de dar sentidos às coisas


e às relações humanas, isto é, o modo pelo qual compreendemos
e nos posicionamos perante o mundo.

Tendo em vista que todo homem é produtor de cultura,


discutimos ainda que a cultura pode funcionar como um marcador
social de distinção. Neste sentido, a cultura erudita se refere a
uma manifestação da elite em diferenciação à cultura popular

Na aula de hoje, ampliaremos a discussão sobre cultura


popular em nossos dias, contemporaneamente. Para tanto, a aula
está organizada nos seguintes tópicos:

2
Nesta aula

• Ainda sobre a cultura

• Cultura de massa

• Folkcomunicação

Fonte: Wikipedia. Foto: Dominic Robinson.


Ainda sobre a cultura

Na aula passada, trabalhamos a compreensão de cultura


como um marcador de distinção social e econômico enquanto
expressão de visões de mundo e de valores distintos.

Para compreender a cultura contemporânea, massificada e


globalizada, as ciências sociais se debruçaram sobre a discussão
das formas de dominação simbólica cultural, sobre o fazer e
consumir cultura.

A aproximação entre elite e cultura erudita faz sentido, e se


justifica na dificuldade do acesso a essa cultura. O custo e o tempo
demandado à erudição. Mesmo que não seja uma regra, e que
exceções existam, a cultura erudita demanda um maior poder
econômico, pois o custo de escolas, livros, sapatilhas, tintas,
pincéis, telas, instrumentos musicais e tempo para se dedicar a
estas atividades exclui as camadas menos abastadas.

Tomemos um exemplo que faz parte do seu cotidiano.

Você gosta de música? Você consome música diariamente?


Você consegue pensar sua vida sem música?

Pois bem. Se imagine em meados do século XIX. A única


maneira de você escutar música seria ao vivo. Assistindo a um

4
concerto ou mesmo executando uma sonata ao piano. Nas duas
situações, a questão econômica se apresenta como um seletor do
consumo das manifestações musicais.

Quem tocava piano provavelmente pertencia à camada


dominante, pois teve condições econômicas para adquirir um
piano, teve tempo e dinheiro para se dedicar ao estudo de piano,
aplicou constantemente recursos adicionais, como
transportadores e afinadores de piano. Houve um investimento
de tempo e dinheiro que provavelmente as camadas
trabalhadoras não dispunham.

Para quem pretendia apenas consumir um bom espetáculo


musical, imagine a situação. Uma cidade no interior (ou mesmo
uma capital) não tinha uma programação diversificada para o ano
todo. Quando chegava a temporada das apresentações, todo e
qualquer amante de música gostaria de assistir à apresentação,
mas não haveria lugares para acomodar a todos em um teatro,
ainda mais se pensarmos que as apresentações eram acústicas. O
preço dos ingressos transformavam o espetáculo em noite de
gala, que acabava exigindo um traje a rigor, uma vestimenta
especial. Tudo isso demandaria muto investimento.

Na aula passada, consideramos que a cultura popular não


demandaria tanto tempo ou mesmo capital. A cultura popular

5
está mais associada a uma manifestação espontânea, de tradição
oral, transmitida de geração a geração e sem grandes demandas
de tempo ou capital. Violão, rabeca, pífaros eram instrumentos
baratos e que se aprendia a tocar em casa ou mesmo nas festas
populares.

Cultura de massa

A transição do século XIX ao XX inaugura o conceito de


modernidade em que a cultura se redimensiona sob novas bases.
O desenvolvimento do capitalismo redimensionou as relações
humanas (sociais e produtivas). A produção em massa não se
restringia à produção de mercadorias em escala industrial. A
produção da vida e da morte foi redimensionada em uma nova
escala. A profusão de mercadorias potencializava a reprodução da
vida, ao mesmo tempo em que a produção gerava um série de
restos, dejetos e detritos que ampliaram a poluição e a
proliferação de doenças (ainda mais se pensarmos na
proximidade das pessoas nas grandes metrópoles, que ampliavam
a possibilidade de contágio).

As transformações radicais que a sociedade humana


experimentaram no início do século XX redimensionou a
concepção da geração, intenção e consumo da cultura. Os avanços

6
da ciência e da tecnologia propiciava não só uma nova e boa vida
da sociedade capitalista, como também redimensionou as
manifestações culturais, em um sentido mercadológico,
capitalista.

Se o jornal ilustrado estava contido virtualmente na


litografia, o cinema falado estava contido virtualmente na
fotografia. A reprodução técnica do som iniciou-se no fim do
século passado. Com ela, a reprodução técnica atingiu tal
padrão de qualidade que ela não somente podia transformar
em seus objetos a totalidade das obras de arte tradicionais,
submetendo-as a transformações profundas como conquistar
para si um lugar próprio entre os procedimentos artísticos.
Para estudar esse padrão, nada é mais instrutivo que
examinar como suas duas funções – a reprodução da obra de
arte e a arte cinematográfica – repercutem uma sobre a
outra.

O gramofone, jornais e revistas, a fotografia, o rádio, o


cinema, as transformações tecnológicas ampliaram o acesso à
difusão e ao consumo de informação e cultura. Com a expansão
do capitalismo, a cultura passa a se submeter à lógica do mercado,
passa a ser compreendida como um negócio que deve ser
lucrativo.

7
A cultura se torna mercadoria que passa a ser produzida em
escala industrial a um mercado consumidor. Aparecem os grandes
conglomerados da indústria cultural: a cidade de Hollywood e
seus oito estúdios cinematográficos, as grandes gravadoras
musicais, redes radiodifusoras, as grandes editoras etc.

Figura 2 – Andy Warhol - Latas de Sopa Campbell.

Fonte: pt.wikipedia.org/wiki. Acesso em: 16 mar. 2023.

A cultura deixa de existir por si, e passa a ter uma finalidade


dentro da lógica do consumo capitalista: o lucro. Quando o
capitalismo se apropria da cultura, ele passa a se apropriar de
nosso inconsciente.

Em suma, a cultura de massa é um produto padronizado e


pré-definido para o consumo imediato. Muitas vezes, é
considerado como algo trivial, tal qual ouvir uma música ou
assistir a um programa de televisão. Podemos destacar oito
pontos que caracterizam a cultura de massa e a indústria cultural:

8
1- A reprodutibilidade das obras de arte em escala
industrial se submetem a uma padronização, com
baixo nível formal e de conteúdo.

2- Ocorre a domesticação do estilo no desenvolvimento


de um “gosto médio”. O que é diferente passa a ser
chato. Nos acostumamos ao padrão narrativo dos
filmes hollywoodianos e passamos a estranhar o ritmo
narrativo dos filmes iranianos, por exemplo.

3- Separação entre a arte e o artista. Ocorre a alienação


do artista em relação a sua arte. A demanda, as
necessidades e as imposições do mercado pautam o
que o artista deve produzir. Sua arte não é mais a
expressão de sua personalidade e visão.

4- Cultura como sinônimo de entretenimento, como


lazer, como passatempo. O lazer passa a ser
compreendido como momento de consumo. O tempo
deve ser utilizado de modo produtivo, lucrativo. A
cultura se torna mercadoria, o turismo se torna
indústria, o tempo todo deve-se estar produzindo
(proliferação dos coaching superestimados nos dias de
hoje).

9
Emicida se manifesta contra a ideia do ócio
criativo
www.facebook.com/watch/?v=225826742018492.

5- A manutenção da ordem. O uso dos meios de


comunicação de massa e da indústria cultural são bons
aparatos à manutenção e à promoção das ditaduras,
sejam elas de direita ou de esquerda. Vale a pena
pensarmos o uso dos meios de comunicação de massa
durante a II Guerra Mundial pelos líderes totalitários
como Stalin, Mussolini e Hitler, ou mesmo pelos líderes
populistas latino-americanos como Getúlio Vargas e
Juan Domingo Perón.

6- Promove a massificação de atitudes, conceitos e ideias


que padronizam os comportamentos e modas através
dos meios de comunicação.

7- Banalizam o ódio, o sofrimento, a morte e a desgraça.


Típico da mídia sensacionalista da imprensa marrom
que explora a miséria humana como fator de consumo
e audiência.

8- A perda da áurea. A reprodutibilidade da obra de arte


banaliza a obra de arte. A reprodução da imagem em

10
profusão da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci,
dessacraliza a obra. Ainda mais quando a imagem se
prolifera em uma infinidade de imagens em produtos
que não estão vinculados com a obra em si, como um
copo de requeijão, uma camiseta ou um outdoor
vendendo apartamentos.

Walter Benjamin chama atenção para o teatro como única


arte que mantém seu caráter aurático, pois é único, presencial, ao
vivo. Não se pode filmar o teatro, pois ele deixa de ser teatro, vira
audiovisual, cinema. O teatro é uma experiência única. Não que a
filmagem de uma peça não tenha seu valor comunicativo e
artístico, mas não é mais teatro.

Folkcomunicação

Luiz Beltrão de Andrade Lima foi um professor brasileiro


pioneiro nos estudos de Folkcomunicação, considerada por
muitos a primeira teoria brasileira no campo da comunicação.

Beltrão afirma que a Folkcomunicação é a comunicação de


grupos sociais rurais e urbanos, marginalizados social e
culturalmente, sem acesso ou representação nos meios de
comunicação estabelecidos (imprensa, rádio, televisão) e
precisam comunicar aos seus pares alguma informação.
11
Folkcomunicação é, assim, o processo de intercâmbio de
informações e manifestação de opiniões, ideias e atitudes da
massa, por meio de agentes e meios ligados direta ou
indiretamente a um saber popular.

A Folkcomunicação é o estudo da comunicação popular não


a partir da confrontação com os meios de comunicação de massa
ou do referencial do observador, mas como manifestação própria
dentro de determinado grupo cultural.

A questão central de Beltrão se dava frente a questão da


exclusão, ou não, do homem ante ao processo comunicacional.
Ou, em outras palavras, de que forma o cidadão comum tinha
acesso à informação como meio de garantir sua cidadania.

Se os grandes conglomerados culturais monopolizam e


manipulam a comunicação em uma cultura massificada, a
Folkcomunicação descentraliza esse processo. O grande público
de uma sociedade massificada fica à mercê dos lançamentos
editoriais, fonográficos ou mesmo das últimas tendências da
moda das grandes corporações, editoras, gravadora, etc.

Beltrão procura compreender como as manifestações


populares permeiam essas relações comunicacionais por meio de
formadores de opinião: um padre, um cordelista, um grafiteiro
etc.

12
Essa discussão sobre as formas de comunicação são bem
complexas, mas para nossos objetivos, basta compreendermos
como que essa descentralização do processo comunicacional –
das grandes corporações, aos pequenos formadores de opinião –
vai ajudar a compreender as relações rizomáticas (em rede) da
cultura midiática.

Fonte: Shutterstock. Foto: Antlii.

Toda essa explanação teórica pode ficar mais facilmente


compreendida mediante exemplos.

Voltemos à música. Imagine um grupo de jovens dos anos de


1980. O consumo de música já se dá alicerçado em alta tecnologia.
Rádios, toca-discos, gravadores, aparelhos de som, som
automotivo, walkman... uma diversidade de recursos para
consumir música.

No entanto, o gênero, a banda, o músico e o cantor que eram


lançados no mercado eram determinados por uma grande

13
gravadora (que tinha interesses mercadológicos, até mesmo nas
músicas mais rebeldes, resistentes, dissonantes e irritantes). O
grupo de jovens consumia praticamente os mesmos gêneros,
bandas. Compartilhavam dos mesmos gostos musicais. Viam
programas de TV com suas bandas, ou videoclipes internacionais.

Hoje, um grupo de jovens em uma roda no intervalo de suas


aulas possui fones de ouvido em que a diversidade está presente.
A cultura midiática permite a pesquisa e o consumo de nichos
culturais específicos. A internet permite que se encontre e se filie
a uma infinidade de gêneros e manifestações musicais: reggae,
rock, K-pop, J-pop, músicas marciais, sertaneja, irlandesa, clássica.
Ocorre a descentralização e a diversificação das manifestações
culturais.

Conclusão

Trabalhamos, nesta aula, a compreensão da cultura de


massa para poder diferenciá-la da cultura midiática, mais
horizontalizada e plural. Para tanto, passamos pela discussão da
teoria da comunicação do brasileiro Luís Beltrão, e da
compreensão da figura do formador de opinião.

Até a próxima!

14
Referências

BELTRÃO, L. Folkcomunicação: a comunicação dos


marginalizados. São Paulo: Ed. Cortez, 1980.

BENJAMIN, W. A obra de arte na era de sua


reprodutibilidade técnica. São Paulo: Brasiliense, 1994.

DEBORD, G. A sociedade do espetáculo: comentários sobre


a sociedade do espetáculo. Trad. Estela dos Santos Abreu.
Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

15

Você também pode gostar