Manual Apoio Elab Projeto

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Expediente

Cordenao Geral

Instituto Votorantim
Lrcio Benedetti Izabella Ceccato Amanda Arago Sueme Matuzawa

Contedo e Projeto Grfico

Significa
Yacoff Sarkovas Rafael Gioielli Ludmila Frateschi Bill Martinez Benoit Jeay Mike Cmara

Consultoria Tcnica de Contedo Maria Helena Pires Martins Shraron Hess

Este manual foi impresso em papel Lumimax 150 gramas, da Votorantim Celulose e Papel

Sumrio
I. Apresentao II. Democratizao cultural
Cultura e evoluo Investimento cultural no Brasil Acesso a equipamentos culturais A causa da democratizao cultural 4 6 6 10 12 14 15 15 21 22 22 28 32 32 34 34 39

III. Projetos culturais


Etapas para a elaborao de um projeto cultural

IV. Projetos sustentveis


Captao de recursos Fontes de captao de recursos Fatores valorizados pelas empresas na escolha de projetos Contrapartidas Plano de cotas Formulrios de inscrio Incentivos fiscais: legislaes federal, estaduais e municipais

V. Consideraes finais

I. Apresentao
O Grupo Votorantim acredita que o Brasil um pas povoado de pessoas dispostas a construir uma nova realidade. No tem sido por falta de vontade ou de iniciativa da populao que aes ou projetos de transformao social deixam de ser realizados. O que falta, muitas vezes, so condies para que esses projetos sejam implementados. De acordo com essa perspectiva, fundamental contribuir para a fomao de pessoas e instituies que possam empreender aes de sucesso. Dentre as demandas sociais a serem supridas, esto os baixos ndices de prticas culturais da populao. Somos seres culturais e temos a necessidade de experincias culturais diversas. por meio delas que ampliamos a nossa viso de mundo e nossa capacidade de transform-lo. Quanto mais palavras conhecemos, mais frases podemos formular. Um dos papis da experincia cultural justamente o de trazer novas palavras para o nosso repertrio e, assim, permitir a formulao de realidades que ainda no vivemos. Apesar de o Brasil ser reconhecido por uma vasta cultura popular, temos poucos espaos, equipamentos e oportunidades para as prticas culturais. por isso que o Programa de Democratizao Cultural da Votorantim fomenta e apia projetos que buscam ampliar o acesso da populao cultura. Muitas vezes, todos os esforos dos realizadores culturais centram-se apenas na concretizao de um produto cultural. Seja um filme, uma pea teatral, um espetculo de dana, uma exposio ou um livro, a iniciativa se esgota na obra cultural em si. O processo encerra-se quando o produto finalizado, seguindose imediatamente para a prxima produo. Falta a considerao de que a ao cultural s se completa de fato quando acessada pelo pblico.

Apresentao

Este material de orientao, composto por um manual e um vdeo, foi criado para informar e contribuir para a elaborao de projetos que possam ampliar as oportunidades de prticas culturais para a populao. Pretende auxiliar realizadores com menor experincia no assunto, mas tambm pode ser til para qualquer profissional interessado. O contedo abrange tanto questes conceituais como prticas, com o objetivo de guiar e fomentar a elaborao de projetos consistentes e sustentveis, direcionados democratizao do acesso cultura. Esperamos que as prximas pginas inspirem novos projetos e ajudem os empreendedores culturais a realiz-los com sucesso. Boa leitura!

Lrcio Benedetti Gerente de Desenvolvimento Cultural Instituto Votorantim

II. Democratizao cultural


Cultura e evoluo
Um grande salto evolutivo, ocorrido h alguns milhares de anos, possibilitou ao homo sapiens tornar-se o ser humano moderno. Nossa distino de todas as demais espcies no foi resultado de qualidades fsicas ou armas intimidadoras, e sim da nossa capacidade intelectual de conceber, criar e de nos comunicar por smbolos. Nossos instintos animais foram sendo substitudos por significados culturais com os quais cada populao passou a orientar sua vida, tanto na esfera coletiva quanto na individual. A forma de comer, de organizar o tempo, de falar, de dormir, os contedos que aprendemos e transmitimos, os nomes que damos s coisas, tudo isso resultado da nossa capacidade de produzir cultura. essa possibilidade de atribuir significados ao mundo e aos objetos, de dar nome a si e ao que nos cerca, que permite aos humanos no s adaptarse ao meio, mas tambm adaptar o meio a si. A todo momento em nossas vidas procuramos explicar e dar sentido s coisas. Um tronco de rvore, por exemplo, passa a ter um significado e torna-se um banco para alguns. Para outros, pode ser um adorno.

Para participar dos grupos sociais, temos que negociar os significados que atribumos s coisas com os significados que as outras pessoas atribuem a essas mesmas coisas. Como resultado, os significados vo sendo aceitos, rejeitados ou transformados. Aos poucos so entrelaados e formam uma grande teia - em permanente construo - que constitui a cultura do grupo.

Democratizao cultural

por conta disso que podemos falar em cultura brasileira ou em cultura hindu. Em cada um desses pases, Brasil e ndia, as populaes foram formando teias distintas com os significados prprios que atribuam s coisas. A constatao de que existem diferenas entre as teias formuladas pelos habitantes de um e de outro lugar o que permite diferenciar as culturas. Como exemplo, vamos ilustrar um dos ns que compem a teia: a forma de comer. Na ndia, a cultura determina pegar o alimento diretamente com as mos. Por aqui, convencionou-se a utilizao de talheres. Ambas as populaes satisfazem a mesma necessidade fisiolgica de alimentao, mas as formas legitimadas para cumprir esse ato so distintas. Isso cultura, ou melhor, so culturas. Mas se os significados das coisas se eternizassem, a construo da grande teia da cultura seria interrompida. Os troncos seriam sempre bancos, no podendo ser vistos como um adorno, lenha, ou um totem. contra essa estagnao que a arte deve agir. O papel da arte na cultura justamente questionar os significados atribudos e legitimados para as coisas e ajudar a renov-los. Na arte, um simples tronco pode se transformar em qualquer coisa que passe pela imaginao do artista. Ele explora possibilidades do real por meio de suas invenes. Ao tomar contato com a obra de arte e com a renovao de sentidos que ela prope, o pblico levado a rever os significados que atribui s coisas. Com isso, a cultura se alimenta: as coisas ganham novos entendimentos; os problemas, possibilidades de solues; a vida, mais sentido; o mundo, novos contornos. Por isso a arte uma parte to importante da cultura e precisa ser acessvel a todos, tanto do ponto de vista econmico, quanto da oferta e, acima de tudo, da compreenso.

Democratizar o acesso arte criar condies para que todos tenham a chance de participar da renovao da cultura, criando e usufruindo de todos os tipos de arte, sejam eles eruditos ou populares.

A experincia que a arte nos proporciona afeta nossos sentidos e nossos sentimentos, revelando um novo entendimento do mundo e de ns mesmos. por isso que a arte to indispensvel quanto a alimentao.
Referncias: CUCHE, Denyz. A noo de cultura nas cincias sociais. Bauru: EDUSC, 2005. KATZ, Helena. chegada a hora de enfrentar a subnutrio cultural. In: OESP, 10 de janeiro de 2003 KLEIN, Richard G.; EDGAR, Blake. O despertar da cultura. So Paulo: Jorge Zahar, 2004.

PARA QUE SERVE A ARTE?


A beleza do humano, nada mais
por Ferreira Gullar Confesso que, espontaneamente, nunca me coloquei esta questo: para que serve a arte? Desde menino, quando vi as primeiras estampas coloridas no colgio (que estavam muito longe de serem obras de arte) deixei-me encantar por elas a ponto de querer copi-las ou fazer alguma coisa parecida. No foi diferente minha reao quando li o primeiro conto, o primeiro poema, e vi a primeira pea teatral. No se tratava de nenhum Shakespeare, de nenhum Sfocles, mas fiquei encantado com aquilo. Posso deduzir da que a arte me pareceu tacitamente necessria. Por que iria eu indagar para que serviria ela, se desde o primeiro momento me tocou, me deu prazer?

Democratizao cultural

Mas se, pelo contrrio, ao ver um quadro ou ao ler um poema, eles me deixassem indiferente, seria natural que perguntasse para que serviam, por que razo os haviam feito. Ento, se o que estou dizendo tem lgica, devo admitir que quem faz esse tipo de pergunta o faz por no ser tocado pela obra de arte. E, se este o caso, cabe perguntar se a razo dessa incomunicabilidade se deve pessoa ou obra. Por exemplo, se voc entra numa sala de exposies e o que v so alguns fragmentos de carvo colocados no cho formando crculos, ou um pedao de papelo de dois metros de altura amarrotado tendo ao lado uma garrafa vazia, pode voc manter-se indiferente quilo e se perguntar o que levou algum a faz-lo. E talvez conclua que aquilo no arte ou, se arte, no tem razo de ser, ao menos para voc. Na verdade, a arte - em si - no serve para nada. Claro, a arte dos vitrais servia para acentuar a atmosfera mstica das igrejas e os afrescos as decoravam como tambm aos palcios. Mas no residia nesta funo a razo fundamental dessas obras e, sim, na sua capacidade de deslumbrar e comover as pessoas. Portanto, se me perguntam para que serve a arte, respondo: para tornar o mundo mais belo, mais comovente e mais humano.
Sobre o autor: um dos maiores poetas brasileiros, nascido no Maranho (1930), tambm cronista, ensasta, teatrlogo e crtico de arte. autor de livros de poesia como Dentro da Noite Veloz, Poema Sujo e Na Vertigem do Dia, e de ensaios como Vanguarda e Subdesenvolvimento e Argumentao Contra a Morte da Arte. Artigo escrito para a edio 3 da revista Onda Jovem (novembro de 2005)

Investimento cultural no Brasil


Na Idade Antiga, estadistas e sacerdotes mantinham artistas que produziam arte como servio. No mundo moderno, o fomento cultura e s artes tornou-se, em muitos pases, funo do poder pblico, que passou a reconhec-las como fonte de desenvolvimento individual e social. Desde a dcada de 30, na Era Vargas, a legislao brasileira atribui ao Estado responsabilidades com a cultura. A Constituio de 1988 explicita melhor essa atribuio e declara como obrigaes dos governos a defesa do patrimnio; a difuso e o acesso pblico; o fomento produo e, em especial, a preservao dos traos de identidade cultural dos povos formadores da nacionalidade. Apesar das obrigatoriedades constitucionais, os oramentos das instituies pblicas ainda so bastante reduzidos, sequer sendo suficientes para manter a mnima infra-estrutura cultural pblica. O investimento direto nos processos culturais bem menor que o desejvel. No Brasil, uma das formas de investimento de recursos pblicos na cultura se d por meio das chamadas leis de incentivo fiscal. Elas permitem que pessoas e empresas destinem parte do seu imposto devido a projetos culturais. O Estado fixa uma porcentagem do imposto que pode ser deduzida e estabelece critrios para definir quais projetos culturais podem se beneficiar desses recursos. A deciso de beneficiar este ou aquele projeto feita individualmente pelos contribuintes. Outra forma de investimento pblico, preponderante na maioria dos pases, mas ainda incipiente no Brasil, a dos fundos de financiamento. Nesse caso, o acesso aos recursos se d pelo mrito do projeto em atender a polticas pblicas.

Democratizao cultural

O Programa de Democratizao Cultural da Votorantim mescla o investimento de recursos prprios e a destinao de recursos pblicos, aplicando verba proveniente de incentivo fiscal num sistema transparente e regulamentado de financiamento. Adota como critrio de seleo a capacidade do projeto de promover o acesso da populao ao mundo das artes.

PRODUO X ACESSO
Os mecanismos de incentivo fiscal cultura promoveram um grande aquecimento da produo cultural no Brasil nos anos recentes. O Guia Brasileiro de Festivais de Cinema, por exemplo, divulga o registro de cerca de 350 filmes de curta, mdia e longa-metragem finalizados apenas entre julho de 2004 e maro de 2006. No h dvida de que o crescimento da produo cultural importante. Porm, o acesso ao que produzido fundamental para dar sentido a esse investimento. Sob essa perspectiva, os nmeros disponveis no so animadores. Dos 350 filmes finalizados, por exemplo, apenas 120 foram lanados at o fim do ano passado. H, portanto, cerca de 230 filmes prontos, realizados em boa parte com recursos pblicos, que no chegaram populao. E dos que chegaram, poucos tiveram pblico expressivo: dos 72 filmes brasileiros lanados em 2006, 32 no atingiram a marca de 10 mil espectadores. Segundo Gabriela Lotta, pesquisadora do Instituto Plis e doutoranda em Cincia Poltica na USP, a diferena entre os ndices de produo e o acesso a bens culturais reflexo da excluso social, educacional e de renda que existe no Brasil. Se, por um lado, o pblico tem dificuldade no acesso e na fruio

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dos produtos culturais, no podemos esquecer que a produo tambm est restrita a um pequeno grupo. Por mais que existam incentivos fiscais e patrocnios, ainda um grupo muito pequeno para as dimenses do Pas que tem condies de colocar sua produo no ar. A pesquisadora enfatiza que garantir acesso no s tornar um evento gratuito. preciso levar em considerao como essa pessoa chegar ao local (transporte), como ela acha que deve se vestir (cdigos sociais) e, principalmente, se a produo dialoga com o indivduo, se ele capaz de se apropriar daquela obra e reconhecer-se nela. Gabriela argumenta que a maior parte dos produtores culturais ainda no pensa nessas questes. Nesse contexto, formar e estimular o produtor cultural a colocar em perspectiva quem usufrui da obra reduz o descompasso existente entre a quantidade de produtos culturais disponveis e o pequeno acesso a eles. As estratgias para o acesso ao produto cultural e sua fruio precisam ser previstas desde a formulao de um projeto cultural, evitando que o produto final daquele esforo fique restrito a um pequeno grupo de pessoas ou aos prprios realizadores. Isso ainda mais relevante quando so utilizados recursos fiscais na produo, uma vez que so recursos pblicos.

Acesso a equipamentos culturais


Quando se analisa a distribuio dos equipamentos culturais no Pas, descobre-se que muitos municpios no possuem cinemas, museus, teatros etc. J nas grandes cidades, os equipamentos culturais ficam instalados nas regies mais centrais e ricas. Essa realidade uma das questes que contribui para os baixos ndices de prticas culturais da populao brasileira. Segundo o IBGE, at 2001, 92% dos municpios brasileiros no possuam salas de cinema1. O mesmo rgo divulga que apenas 16% dos municpios possuem

Democratizao cultural

museus. Esse nmero cai para 10% quando so considerados apenas os municpios com menos de 20 mil habitantes2. Uma reportagem publicada pelo Jornal Gazeta Mercantil informa que h mais de mil municpios no Brasil que no possuem sequer uma biblioteca. Isso impede que cerca de 14 milhes de pessoas tenham acesso gratuito a livros.
Referncias: 1 IBGE, 2001. Disponvel em www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/1704munic.shtm 2 IBGE. Disponvel em www.ibge.gov.br/ibgeteen/noticias/municipios.html

Essa situao j percebida pela prpria populao brasileira. Uma pesquisa realizada pelo Ibase e pelo Instituto Plis, em 20053, constatou que das cinco maiores preocupaes do jovem brasileiro no que se refere cultura e ao lazer, trs esto ligadas s condies de acesso: Falta de acesso a espaos de cultura e lazer Concentrao da oferta nas zonas de maior poder aquisitivo nas cidades Falta de apoio/patrocnio para baratear os custos

Uma outra pesquisa, realizada pelo CEBRAP (Centro Brasileiro de Anlise e Planejamento) no municpio de So Paulo tambm em 20054, mostra que grande parte da populao no tem contato freqente com nenhuma rea cultural. Isso se agrava nas camadas mais pobres da populao. Mesmo quando se trata de ir ao cinema, que a prtica mais disseminada, 64% dos entrevistados das classes C e D no haviam tido essa experincia nenhuma vez nos 12 meses que antecederam a pesquisa.
Referncias: 3 Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia participao esferas e polticas pblicas relatrio final nov./2005. Realizada pelo Ibase (www.ibase.org.br)e pelo Instituto Plis (www.polis.org.br). 4 O Uso do Tempo Livre e as Prticas Culturais na Regio Metropolitana de So Paulo.CEBRAP, 2005.

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A causa da democratizao cultural


Levando em conta todas as questes mostradas aqui, define-se a causa da democratizao cultural como sendo a ampliao das possibilidades e do acesso da populao a experincias culturais e artsticas. Segundo a pesquisadora Isaura Botelho, investir na democratizao cultural no induzir a totalidade da populao a fazer determinadas coisas, mas sim oferecer a todos a possibilidade de escolher entre gostar ou no de algumas delas5.

Por que a Votorantim investe em aes de democratizao cultural?


O Grupo Votorantim historicamente sempre buscou o desenvolvimento do Pas. Nesse contexto, realiza investimentos sociais e culturais desde a sua fundao. A causa da democratizao cultural passou a orientar recentemente esses investimentos pelo entendimento de que a experincia simblica expressa na arte e na cultura fundamental para a realizao de todo ser humano. Assim, por meio do Programa de Democratizao Cultural, o Grupo busca contribuir para a ampliao e melhoria das opes, das experincias e do acesso da populao, especialmente dos jovens, a criaes artsticas, prioritariamente as brasileiras.

Boletim da Democratizao Cultural


Para difundir o conhecimento e estimular o debate sobre o tema, foi criado o Boletim da Democratizao Cultural. Distribudo quinzenalmente por meio eletrnico, o informativo traz textos, reflexes, entrevistas, dicas e uma agenda de atividades.
Para receb-lo, cadastre-se na pgina: www.votorantim.com.br/democratizacaocultural
Referncia: 5 O Uso do Tempo Livre e as Prticas Culturais na Regio Metropolitana de So Paulo. CEBRAP, 2005.

Projetos culturais

III. Projetos culturais


Um projeto tem como objetivo transformar idias e aspiraes em aes concretas que possam aproveitar oportunidades, solucionar problemas, atender a necessidades ou satisfazer desejos. Para isso, deve apresentar um conjunto de atividades programadas para acontecer num determinado perodo de tempo, com objetivos precisos, estratgias consistentes e indicadores coerentes para avaliar os resultados alcanados.

A realizao de um espetculo musical, a montagem de uma pea de teatro, a publicao de um livro ou a gravao de um filme so projetos culturais tpicos. Porm, no so apenas as atividades ligadas produo que definem um projeto cultural. Atividades que visam garantir o acesso e ampliar as prticas culturais da populao tambm podem ser consideradas projetos em si, ou podem complementar projetos de produo. Nestes casos, por sua natureza, configuram-se como projetos de democratizao cultural.

Etapas para a elaborao de um projeto cultural


O ponto de partida para elaborar um projeto de democratizao cultural a identificao de uma demanda ou oportunidade. A partir delas que se estrutura o plano de ao. Esse processo pode ser facilitado e obter maior sucesso se for dividido em etapas. Cada etapa deve responder a questes especficas. Abaixo segue um roteiro que pode ajud-lo na elaborao de um projeto, com exemplos voltados democratizao cultural.
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1. Ttulo
Todo projeto deve ter um ttulo que seja capaz de dar uma idia concisa e clara da sua proposta. Um bom ttulo orienta a construo do projeto. Porm, ele pode ser atualizado quando o projeto for concludo para que incorpore as mudanas e aprimoramentos que possam ter sido realizados ao longo do processo.

2. Descrio e justificativa
Geralmente, inicia-se um projeto respondendo seguinte questo: Por que o projeto deve ser implementado? Esse item deve esclarecer que o projeto responde a uma determinada demanda percebida e identificada pela pessoa, comunidade ou entidade que o empreende. A sugesto apresentar um diagnstico que rena elementos capazes de enfatizar a relevncia dessa demanda, tais como: dados sobre a regio e a populao atendida, suas necessidades sociais, a acessibilidade a atividades culturais, os antecedentes e outros esforos j implementados. As perguntas abaixo tambm podem ajudar a elaborar essa etapa: Qual a importncia dessa demanda/questo para a comunidade? Que benefcios sero alcanados pelo pblico-alvo do projeto? Em um projeto de democratizao cultural, a demanda geralmente est na baixa incidncia de prticas culturais entre a populao, o que se mede pela escassez de equipamentos (teatros, cinemas, museus etc.), pela baixa acessibilidade a eles, pela oferta restrita de opes culturais na regio, ou, simplesmente, pela falta de conhecimento e informao a respeito das opes ali presentes.

Projetos culturais

3. Objetivos Ao se especificar o objetivo de um projeto, deve-se buscar respostas para as questes: para que? e para quem? Os objetivos devem ser formulados visando especificar aquilo que se quer atingir a partir da realizao do projeto, apresentando solues para uma demanda ou respondendo a uma oportunidade. Os objetivos podem ser classificados em dois nveis: Objetivo geral: corresponde ao produto final pretendido pelo projeto. Deve expressar o que se quer alcanar no longo prazo, ultrapassando inclusive o tempo de durao do projeto. O projeto no pode ser visto como fim em si mesmo, mas como um meio para alcanar um fim maior. Objetivos especficos: correspondem s aes que se prope executar e aos resultados esperados at o final do projeto.

Um projeto de democratizao cultural tem por objetivo, no longo prazo, a formao de indivduos - crianas, jovens e/ou adultos - mais aptos para a vida e para a construo de uma nova realidade. Seus objetivos especficos se concentram na realizao das atividades propostas como meio para essa finalidade maior. Alguns exemplos so a realizao de uma oficina de artes, a viabilizao do acesso de uma determinada populao a um espetculo de dana, a capacitao de professores para atuarem como mediadores, entre muitos outros.

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4. Metas As metas detalham os objetivos especficos do projeto. Nesse sentido, devem ser concretas, expressando quantidades e qualidades que permitam avaliar, posteriormente, a efetividade do projeto. Uma meta dimensionada de maneira coerente ajuda a definir os indicadores que permitiro, ao final do projeto, evidenciar o alcance da atuao. Em um projeto de democratizao cultural, as metas podem definir, por exemplo, qual setor da populao ser atendido, quantas pessoas sero beneficiadas, por quanto tempo cada pessoa estar envolvida nas atividades, com que grau de participao, entre outros.

5. Metodologia A metodologia de um projeto deve responder basicamente seguinte questo: Como o projeto vai alcanar seus objetivos? Nesse sentido, deve descrever as estratgias e tcnicas que sero empregadas. Em projetos de democratizao cultural, vrias estratgias podem ser adotadas, dentre elas: Exibio, circulao, difuso e distribuio cultural: oferecer, facilitar e qualificar a fruio artstica pelo pblico beneficiado. Prticas culturais e sensibilizao/educao artstica: vivenciar o fazer artstico, seja por meio de oficinas, cursos ou outras atividades de carter educativo. Formao artstica e capacitao de mediadores: formao e/ou profissionalizao de futuros artistas, mediadores ou arte-educadores.

Projetos culturais

Alm disso, a metodologia pode descrever de que maneira ser a interao com o pblico beneficiado e como ser a gesto do projeto.

6. Cronograma O desenvolvimento do cronograma deve responder pergunta: quando? Todo projeto possui um prazo determinado para acontecer e apresenta algumas aes que se alternam ou se coordenam nesse perodo. A elaborao do cronograma visa organizar essas atividades em uma seqncia lgica e coerente que permita alcanar os resultados no prazo determinado.

7. Oramento A elaborao de um oramento deve permitir a previso e o controle dos gastos que o projeto ter. Nessa perspectiva, responde questo: quanto? O oramento deve servir como um resumo financeiro do projeto no qual se indica quanto ser gasto para sua realizao e como. uma ferramenta importante na gesto do projeto para o acompanhamento das despesas previstas e realizadas. Geralmente, agrupam-se os custos em blocos de despesas: material de consumo; administrao; equipe; servios de terceiros; cachs; aluguel de espao e equipamentos; alimentao e hospedagem; transporte; divulgao; instalaes e infra-estrutura, entre outros. Isso facilita a organizao e o controle dos gastos.

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8. Mensurao de resultados Um projeto coerente aquele que estabelece indicadores para medir seus resultados. Os indicadores podem ser: Quantitativos: consolidam nmeros para avaliar o cumprimento das metas estabelecidas, a exemplo do nmero de comunidades atendidas, atividades realizadas, ou pblico dos espetculos. Podem ser obtidos por meio da contabilizao do nmero de pessoas beneficiadas, por exemplo. Qualitativos: trazem uma anlise em profundidade sobre algum aspecto, como a metodologia empregada, os contedos de uma atividade, entre outros. Tais dados podem ser obtidos por meio de pesquisas de opinio, entrevistas, questionrios de avaliao etc.

Independentemente de serem qualitativos ou quantitativos, os indicadores devem sinalizar se as metas foram atingidas, alm de permitir avaliar se a estratgia empregada foi bem sucedida, sinalizando quais pontos podem ser aprimorados.

Projetos sustentveis

IV. Projetos sustentveis


Para que um projeto seja sustentvel, ou seja, acontea da forma como foi planejado e atinja seus objetivos e metas, preciso atentar aos seguintes aspectos:

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Posicionamento: deve-se definir, com uma proposta clara, qual o foco de atuao do projeto. Um projeto com uma misso bem definida evita, desde o planejamento, crises provocadas pela disperso de esforos. Atuao: deve-se buscar sempre uma atuao de qualidade. Todos os detalhes devem ser planejados para que o projeto ocorra da melhor forma possvel, sem imprevistos ou falhas que possam gerar uma m experincia do pblico participante. Comunicao: o projeto deve ser conhecido pelos pblicos que se quer atingir. De nada adianta uma ao exemplar se o pblico no fica sabendo da sua realizao. Equipe: deve-se contar com um nmero suficiente de pessoas para a realizao das atividades, com qualificao e remunerao adequadas. Alm dos prprios protagonistas da ao, necessrio pensar quem sero os responsveis pela produo, comunicao, controle financeiro e do cronograma etc. Recursos: a sustentao econmica do projeto deve ser baseada no planejamento para a obteno de recursos junto s diferentes fontes de recursos disponveis. Discutiremos a seguir as fontes de financiamento existentes.

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Captao de recursos
Segundo Rosana Kisil6, recursos so todos os bens, insumos e servios utilizados na realizao das atividades do projeto. Equipamentos, suprimentos, salrios da equipe, benefcios trabalhistas dos funcionrios, viagens, consultores externos etc. Captar significa reunir todos os tipos de recursos necessrios para viabilizar o projeto: verba, produtos, servios, trabalhos voluntrios, entre outros.
Referncia: 6 KISIL, R. Elaborao de projetos e propostas para organizaes da sociedade civil. So Paulo: Global, 2001.

Fontes de captao de recursos


Uma das maiores preocupaes dos gestores de projetos culturais normalmente sobre como e onde captar recursos. O primeiro passo entender e identificar quais so as possveis fontes de recursos disponveis para projetos culturais. O ideal combinar diversas fontes, evitando que seu projeto dependa de apenas uma delas. Segue aqui um descritivo das principais fontes a serem buscadas.

Governo
O investimento do poder pblico em cultura pode ser feito pela instncia federal, estadual ou municipal. Cada uma delas tem mecanismos prprios de atuao.

A forma mais simples de o governo investir em cultura quando ele mesmo abre um concurso ou edital para inscrio de projetos e premia aqueles que obtm melhor avaliao com destinao direta de recursos. Nesses casos, o governo tem a chance de

Projetos sustentveis

estabelecer, j no concurso, os critrios de avaliao que julga mais importantes e, assim, direcionar o investimento para o interesse pblico. Fique sempre atento a concursos e editais. Eles costumam ser divulgados nos grandes jornais, mas voc tambm pode pesquisar no site do Ministrio da Cultura (www.cultura.gov.br) e nos sites das secretarias de cultura do estado e do municpio onde voc est.

Outra forma de investimento governamental bastante comum a formao de convnios com organizaes da sociedade civil. Isso acontece quando o poder pblico entende que alguma organizao civil capaz de exercer determinada funo ou executar determinada ao de interesse coletivo. Ento, ele repassa verba a essa organizao para que ela realize o trabalho. Para formar um convnio, voc precisa pertencer a uma organizao e deve procurar os rgos pblicos do seu municpio, tais como a Secretaria de Cultura, a de Educao e o Conselho Tutelar. A terceira forma de investimento pblico em cultura se d por meio das leis de incentivo. Trata-se de uma legislao que permite a pessoas fsicas e jurdicas repassar um percentual de seu imposto devido a projetos culturais que julguem interessantes. Assim, parte do que seria pago ao governo destinado diretamente aos projetos, sem intermediao. A lei de incentivo de maior amplitude no Pas a Lei Federal de Incentivo Cultura ou Lei Rouanet (1991). Essa lei permite que as empresas financiem at 100% do valor dos projetos selecionados, com at 4% do imposto de renda devido Unio. No entanto, a fim de garantir a qualidade dos projetos beneficiados, s podem receber esses recursos projetos previamente aprovados por uma comisso tcnica instituda pelo Ministrio da Cultura. Para isso, o primeiro passo inscrev-lo nos programas de incentivo disponveis e obter autorizao para captao (informe-se a respeito
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nos sites do Ministrio da Cultura e das secretarias municipal e estadual de onde estiver localizado). O segundo passo apresentar o projeto para pessoas fsicas e jurdicas que possam repassar ao projeto parte do imposto devido.

Indivduos
Uma fonte possvel de captao de recursos so os prprios indivduos. Segundo pesquisa realizada em 1999, 50% da populao adulta no Brasil faz doaes individuais a instituies e projetos que considera relevantes (21% doa dinheiro e 29% doa apenas bens, em sua maioria alimentos)7. Um outro estudo nos mostra que, no mundo, em mdia 14% da verba total de uma organizao sem fins lucrativos provm de doaes individuais8. Assim, o contribuinte individual um doador importante. Sua motivao est relacionada misso do projeto, causa que ele defende. Muitas pessoas doam apenas quando solicitadas; outras doam anualmente; h ainda quem doe heranas e patrimnios inteiros. O importante, para conseguir doadores, encontrar pessoas que se identifiquem com a causa do projeto e convenc-las de que se trata de um bom projeto. Valorize e agradea cada doao, mostrando ao doador que ele um importante parceiro nas aes. Divulgue metas e resultados, mostrando que o dinheiro foi bem aplicado e qual foi o retorno do investimento. Assim, ele ter motivao para investir novamente. E, por fim, pea para os investidores fiis ajudarem a obter novos doadores. O testemunho deles vale muito.
Referncias: 7 LANDIM, L.; SCALON, M. C. Doaes e trabalho voluntrio no Brasil - uma pesquisa. Rio de Janeiro: Ed. 7 Letras, 2000. 8 SALAMON, Lester e outros. Global Civil Society: dimensions of the nonprofit sector. Baltimore: Johns Hopkins Center for Civil Society Studies. 1997.

Projetos sustentveis

A captao com indivduos tambm pode ser dar por meio de eventos e apresentaes pblicas em que as pessoas compram um ingresso para assistir a um espetculo ou participar de uma festa promovida pelo projeto ou instituio. Nesse caso, lembre-se sempre que a democratizao cultural est associada gratuidade. Se for necessrio cobrar ingressos, pratique preos acessveis ao seu pblico.

Fundaes e agncias
Existem no mundo algumas organizaes cujo objetivo distribuir recursos para projetos e instituies que considerem importantes. Elas apiam aes buscando gerar resultados e benefcios pblicos. O financiamento feito normalmente durante um perodo determinado (geralmente de um a trs anos). Espera-se que, nesse perodo, a entidade ou projeto apoiado encontre outras formas de se manter, tornando-se auto-sustentvel. Existem trs tipos de fundaes: as de empresas, as de famlias e as de comunidades. J as agncias internacionais normalmente so responsveis por destinar recursos de pases mais desenvolvidos para aqueles em processo de desenvolvimento. Nesse caso, interessam especialmente as ONGs e grupos de interesse (tais como sindicatos internacionais ou associaes) que destinam recursos a projetos comunitrios menores em pases em desenvolvimento. Normalmente, agncias e fundaes atuam em torno de uma causa especfica e em uma regio determinada. Antes de procur-las, cabe descobrir se: H alinhamento entre essa causa e a misso do seu projeto A regio foco de atuao desta organizao a regio onde o seu projeto ou instituio est localizado A organizao apenas realiza projetos prprios ou se tambm destina recursos a iniciativas de terceiros

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Gerao de renda prpria


A gerao de renda prpria tambm uma das formas comuns de obteno de recursos. Ela pode ser implementada com a oferta de produtos e servios oferecidos pela organizao. Bons exemplos so a venda de camisetas e brindes do projeto, artesanato, comida ou, ainda, por meio de cursos e outros servios que possam ser oferecidos. Convnios com Governo por meio dos quais a instituio ou ONG fornece um servio que contratado pelo poder pblico tambm so considerados uma forma de gerao de renda prpria. A grande vantagem a autonomia: com recursos prprios no necessrio depender de terceiros. O importante, nesse caso, ter bons produtos e servios que possam ser oferecidos. O risco haver uma distoro na misso do projeto. Gerar renda prpria no deve se tornar o objetivo principal do projeto, mas contribuir para que se atinjam os objetivos originais.

Parcerias e articulaes
Uma das fontes de captao mais simples e eficientes so as parcerias. Para realizar um projeto, no preciso fazer tudo sozinho e nem criar solues que j existem. Pode-se contatar pessoas e organizaes que auxiliem nesse processo. O primeiro passo buscar parcerias nas localidades onde o projeto acontece. Identifique pessoas ou organizaes que: Tenham objetivos semelhantes aos do seu projeto Tenham pbicos semelhantes aos do seu projeto Ocupem espaos prximos ou similares aos do seu projeto

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Procure essas pessoas. Discuta com elas os problemas que tem enfrentado e proponha aes conjuntas que beneficiem as duas partes. A palavra de ordem aqui cooperao. Numa parceria, a idia que todas as partes saiam ganhando. Um passo um pouco mais ambicioso buscar organizaes que desenvolvam grandes projetos na mesma rea do seu, ainda que no atuem na sua regio. Essa busca pode ser feita de vrias maneiras: a partir de relacionamentos com outras pessoas (contatos com rgos pblicos e ONGs, por exemplo), participao em eventos importantes da sua rea de atuao, busca em sites especializados, participao em fruns na internet etc. Tem sido comum as organizaes se articularem em torno daquilo que se chama rede. Falamos em rede porque diferentes organizaes se conectam em torno de objetivos comuns, entrelaando-se. Essas articulaes servem para trocar informaes, compartilhar experincias e atuar na busca conjunta de solues para problemas sociais de mbito local, nacional ou global. Com o desenvolvimento tecnolgico e a possibilidade de comunicao via internet, as redes ganharam fora. Aproveite a chance e os benefcios de se comunicar com pessoas que fazem a mesma coisa que voc em qualquer lugar do Pas e do mundo!

Patrocnios empresariais
Outra fonte de captao bastante comum o patrocnio empresarial. Muitas empresas patrocinam projetos, por meio de financiamento direto ou de permuta. Permuta uma forma de apoio em que a empresa no fornece dinheiro, mas sim produtos ou servios em troca de visibilidade para a sua marca no projeto. Uma tecelagem, por exemplo, pode oferecer tecidos para o figurino de uma pea e, como contrapartida, ter seu nome no material de divulgao. Ou uma grfica,
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que oferece a impresso de convites em troca de ter sua marca exibida ao lado do palco em uma apresentao de msica. Financiamento direto quando a empresa investe dinheiro no projeto e o realizador pode geri-lo conforme o planejado, comprando de terceiros os produtos e servios necessrios. O financiamento direto tambm se d em troca de visibilidade para a marca e outras contrapartidas que podem ser acordadas entre as partes. O patrocnio empresarial pode ser feito com recursos prprios (quando a empresa destina parte de seu oramento ao apoio de projetos) ou incentivados (quando os recursos so provenientes de parte do imposto devido, o que viabilizado pelas leis de incentivo). Para a destinao de recursos incentivados necessrio que o projeto tenha sido autorizado a captar recursos pelo Governo. Fatores valorizados pelas empresas na escolha de projetos Abaixo seguem algumas perguntas que podem ajud-lo a preparar seu projeto para a apresentao a uma empresa, destacando pontos relevantes para os patrocinadores.

Como o meu projeto pode ajudar a construir uma reputao cidad para a marca da empresa?
Uma srie de fatores de mercado tem levado as empresas a buscar a associao de suas marcas a aes de interesse pblico. O primeiro deles a necessidade de encontrar formas de comunicao que chamem ateno em meio enxurrada de informaes que as pessoas recebem todos os dias pela TV, internet, rdio, meios impressos etc. O outro a preocupao cada vez maior que as empresas tm para com o bem da sociedade.

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O patrocnio a aes de interesse coletivo (como projetos culturais e sociais) que associem uma empresa a uma postura tica e participativa na sociedade uma forma de comunicao que diferencia a marca e ajuda a construir uma reputao cidad. Enfatize sempre essas caractersticas no seu projeto.

Por que o investimento em cultura ser um canal diferenciado para o meu patrocinador?
Por mais que o investimento em cultura seja crescente e muitas empresas estejam comeando a pratic-lo, a iniciativa ainda surpreendente e vista como positiva pela populao. Alm disso, o investimento em cultura normalmente associado a uma srie de qualidades que nem sempre as empresas conseguem transmitir com a propaganda: responsabilidade social, excelncia, emoo, beleza etc. Um projeto ser sempre mais interessante para uma empresa se for inovador, pois aumenta o grau de diferenciao do patrocnio. Valorize os diferenciais e as caractersticas de inovao do seu projeto.

Por que o patrocnio ao meu projeto um canal de comunicao mais efetivo para a empresa falar com seus pblicos?
Quando uma empresa escolhe um projeto a ser patrocinado, est sempre atenta ao pblico que poder ser atingido com essa ao, seja diretamente ou por meio das aes de comunicao. O que a empresa busca no falar com todos os pblicos possveis, mas com segmentos especficos que a interessam. O importante que haja uma aproximao real da marca com esse seguimento de pblico. Dessa maneira, a empresa sempre analisar o projeto em relao ao potencial que ele oferece para gerar oportunidades de relacionamento e comunicao com pblicos de interesse (funcionrios, clientes, consumidores, comunidade
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do entorno etc.). Uma fbrica, por exemplo, pode querer falar com as pessoas que vivem nas suas proximidades. Nesse sentido, um projeto que atenda a essa comunidade por meio de atividades culturais passa a ser interessante para ela. J uma outra empresa pode querer falar com pessoas que valorizam a ao cultural, mas que no so beneficiadas diretamente por ela - um grupo de artistas ou a imprensa, por exemplo. Nesse caso, utilizam-se as aes que comunicam o projeto para atingir essas pessoas. Quando for apresentar seu projeto para uma empresa, destaque com quais pblicos ela se relacionar diretamente e apresente quais sero as aes e peas de comunicao realizadas e para quais pblicos sero dirigidas.

Na formatao do projeto para apresentar a uma empresa, procure ser objetivo e sinttico. Ilustre a apresentao com imagens e insira a marca de seu potencial patrocinador. Utilize um roteiro lgico, como aquele apresentado no captulo anterior, procurando enfatizar os pontos de maior relevncia para a tomada de deciso da empresa.

Fique atento:

Ao comportamento das empresas com relao aos patrocnios. Muitas empresas j investem em cultura e algumas determinam um foco para esse investimento. Analise o foco e veja se seu projeto est alinhado a ele. Se no houver alinhamento, procure outras empresas. O ajuste entre os objetivos do projeto e os objetivos da empresa fundamental. s matrias que saem na mdia sobre a empresa. Quanto mais informaes for possvel reunir, mais chances voc tem de avaliar se seu projeto est adequado ou no a essa empresa.

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Aos processos adotados para a seleo de projetos pela empresa: Seleo pblica: a empresa seleciona projetos por meio de edital. Nele, as inscries so realizadas pelos prprios proponentes. Os editais normalmente so divulgados na mdia. Os patrocinadores no costumam atender aos proponentes, a fim de garantir que todos os candidatos tenham as mesmas chances. Seleo dirigida: os projetos so identificados pelo patrocinador por meio de prospeco, de acordo com critrios prestabelecidos. Nesse caso, o importante ter um bom projeto e torn-lo conhecido. Escolha direta: a empresa recebe vrios projetos e seleciona aqueles que atendam aos critrios definidos por ela. Pesquise quais so as portas de entrada e envie seu projeto empresa. Procure marcar uma reunio pois a presena do proponente facilita a empatia e possibilita que as dvidas do patrocinador sejam esclarecidas.

Ao perodo do ano em que voc apresentar o projeto. As empresas possuem perodos especficos para preparar o oramento do ano seguinte. Uma proposta de patrocnio pode ser descartada por chegar uma semana atrasada. Em geral, o melhor perodo de abordagem s empresas no segundo semestre do ano, por volta do ms de setembro, quando esto sendo definidos os investimentos do ano seguinte.

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Contrapartidas
Quando levar um projeto a uma empresa, fundamental apresentar um plano de contrapartidas. Contrapartida aquilo que o projeto oferece empresa em troca do patrocnio. As contrapartidas vo desde a exposio da marca em materiais de comunicao at uma cota de ingressos para as apresentaes, ou um espao exclusivo para venda de produtos em um evento. O grande objetivo de um plano de contrapartidas apresentar ao patrocinador a visibilidade e as oportunidades de comunicao e relacionamento que o projeto pode oferecer a ele. Para isso, o ideal identificar e avaliar todas as aes e peas de comunicao em que o nome do patrocinador poder aparecer, assim como as possibilidades que ele ter de se beneficiar a partir do projeto patrocinado, seja convidando clientes e funcionrios para a participao, seja promovendo parte do evento dentro da empresa e assim por diante. A marca sempre deve estar em destaque para que o patrocinador se sinta atrado pela contrapartida. Um conjunto de contrapartidas deve estar sempre associado a uma cota de patrocnio.

Plano de cotas
Uma das perguntas que voc pode ouvir na apresentao de seu projeto a uma empresa quais so as cotas de patrocnio previstas e quais os valores e contrapartidas previstos em cada uma delas. O que uma cota de patrocnio? Quando um projeto pretende ter mais de um patrocinador, preciso

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regulamentar a participao que cada um deles ter no projeto. Isso deve ser diretamente proporcional ao valor do patrocnio: quanto maiores os recursos disponibilizados, maiores devem ser as contrapartidas. Marcas que investem mais devem ter benefcios maiores.

A delimitao e a valorao de um conjunto de contrapartidas compem o que se chama de cota de patrocnio.

Costuma ser uma grande preocupao das empresas que, logo na proposta de patrocnio, fique claro qual o montante que devem investir e as alternativas possveis para os benefcios. As cotas devem ser adequadas ao porte da empresa e ao grau de interesse dela no patrocnio. Algumas delas, por exemplo, sempre exigem ser as patrocinadoras principais de um projeto. Antes de fazer uma abordagem, procure descobrir como a empresa se comporta em relao ao patrocnio. No se deve mostrar todas as opes de cotas, mas sim a cota que seja a mais adequada quela empresa. Ter um bom plano de cotas tambm ajuda os realizadores. De incio, permite que se planeje o nmero de patrocinadores necessrios para a execuo do projeto. Garante tambm que o projeto no dependa de um nico patrocinador: caso algum desista, existem outros patrocinadores e, eventualmente, voc poder at revender a cota abandonada. Para montar seu plano, faa contas e simulaes at chegar melhor definio.

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Perguntas que podem orientar a elaborao de um plano de cotas: Ser que uma nica marca pode investir todo o montante necessrio ao projeto ou necessrio mais de um patrocinador? Quantos patrocinadores so necessrios? Quanto cada patrocinador precisa investir? Dentre os possveis patrocinadores, algum tem maior poder de investimento? Quanto ele poderia investir? Para cada cota criada, quais as contrapartidas que podem ser oferecidas? Como diferenciar na comunicao do projeto as diferentes marcas patrocinadoras e as diferentes cotas?

Formulrios de inscrio
Muitas empresas, principalmente aquelas que realizam seleo pblica, exigem um formato padro para apresentao de projetos. Isso se d por meio de um formulrio. Nesses casos, voc no ter a chance de defender seu projeto presencialmente. Quando isso acontecer, redobre a ateno com a redao e com a adequao do projeto ao foco da empresa. Leia o formulrio antes de preencher. Certifique-se de que voc compreendeu exatamente o que cada campo solicita e, em caso de dvidas, no hesite em contatar o servio de suporte da empresa. S depois comece a preench-lo de forma tcnica, sucinta e objetiva. No seja repetitivo, prolixo ou enaltecedor das aes do patrocinador.

Incentivos fiscais: legislaes federal, estaduais e municipais


Como vimos, uma das formas de financiamento pblico cultura so as leis de incentivo. Porm, trata-se de uma forma peculiar, pois quem escolhe o projeto a ser patrocinado a empresa ou a pessoa que destinar os recursos.

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O projeto passa por dois tipos de avaliao: Pelo rgo pblico: Ministrio da Cultura ou secretarias que autorizam que o projeto capte recursos. Pela fonte patrocinadora: empresa ou pessoa fsica que destinar ao projeto parte de seu imposto devido.

J apresentamos os processos relacionados s fontes de financiamento. Falta, agora observar como se d o processo de aprovao nos rgos pblicos. Existem leis de incentivo fiscal em municpios, estados e na federao. Voc deve procurar se informar sobre todas elas a fim de compreender quais podem beneficiar o seu projeto e os procedimentos requeridos para que isso acontea. As leis municipais se referem iseno de impostos arrecadados pelas prefeituras, como o ISS e o IPTU, por exemplo. Normalmente, so voltadas a projetos que atuam em mbito municipal e que trazem algum benefcio cultura local. As leis estaduais normalmente atuam sobre o ICMS. Aes que valorizam a cultura da regio ou que projetam o estado para outras regies do Pas, por exemplo, so diretrizes adotadas em alguns estados. As leis federais, mais utilizadas, destinam-se a projetos de relevncia nacional, que atendam s principais demandas culturais da populao brasileira como um todo.

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Lei Rouanet
A Lei Federal de Incentivo Cultura (8.313/91), a Lei Rouanet, institui um mecanismo chamado Mecenato, por meio do qual pessoas fsicas e jurdicas (empresas) podem abater de seu Imposto de Renda valores destinados execuo de um projeto cultural, desde que este esteja habilitado pelo Ministrio da Cultura. Dessa maneira, o Estado renuncia parte do imposto devido pela pessoa ou empresa para que este recurso seja repassado diretamente ao projeto cultural considerado de interesse pblico. A Lei permite que pessoas fsicas ou jurdicas financiem com recursos pblicos at 100% do valor total do projeto. Os patrocinadores empresariais podem repassar at 4% do Imposto de Renda devido. Para pessoas fsicas, esse percentual de at 6%. Isso pode ser feito de duas maneiras:

Doao: a transferncia definitiva e irreversvel de dinheiro ou bens em favor de pessoas fsicas ou jurdicas de natureza cultural, sem fins lucrativos, para a execuo de programas, projetos ou aes culturais aprovados pelo Ministrio da Cultura. O investidor no autorizado a receber nenhum tipo de contrapartida (nem exigir gratuitamente parte do produto cultural ou solicitar peas de comunicao para divulgar a doao). Patrocnio: a transferncia definitiva e irreversvel de dinheiro ou servios, a cobertura de gastos ou a utilizao de bens mveis ou imveis do patrocinador, sem a transferncia de domnio, para a realizao de projetos culturais. Pode ser conferido a pessoas fsicas ou jurdicas de natureza cultural, com ou sem fins lucrativos. Ao patrocinador permitido divulgar sua marca e obter uma parte do produto cultural.

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Que empresas podem investir?


S podem investir as empresas tributadas com base no lucro real que possuam imposto de renda a pagar. Quando solicitar patrocnio a uma empresa, verifique se ela se enquadra nesta categoria.

Quem pode apresentar projetos?


Podem financiar projetos por meio da Lei Rouanet pessoas fsicas que tenham atuao na rea cultural, pessoas jurdicas com ou sem fins lucrativos (ONGs, OSCIPs, empresas, associaes, cooperativas etc.), de natureza cultural, alm de fundaes pblicas.

Tramitao dos projetos no Ministrio


Se voc desejar inscrever seu projeto para concorrer aos recursos da Lei Rouanet, dever acessar o site do Ministrio da Cultura (www.cultura.gov.br) e preencher o formulrio de solicitao. Aps essa etapa, existem trs instncias de avaliao:

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Admissibilidade: para ingressar no Pronac (Programa Nacional de Apoio Cultura) e estar apto captao por meio da Lei Rouanet, o projeto passa por uma avaliao inicial de admissibilidade, que identifica se aquele proponente atende a requisitos obrigatrios. Parecer tcnico: aps ser aceito, o projeto analisado por pareceristas das instituies vinculadas ao MinC, especializados em cada segmento (artes cnicas e plsticas, audiovisual, humanidades, msica e patrimnio cultural).

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CNIC: a avaliao final e validao dos pareceres feita pela CNIC (Comisso Nacional de Incentivo Cultura), uma comisso composta por especialistas em cultura e pessoas ligadas ao Ministrio que julgar se o projeto atende aos critrios necessrios para aprovao e aos requisitos da Lei Rouanet. Essa comisso formada hoje pelo Ministro da Cultura, que a preside, pelos dirigentes das entidades vinculadas ao Ministrio e por representantes de entidades associativas dos setores culturais de mbito nacional, pelos secretrios de estado da cultura e pelo empresariado brasileiro. Lembre-se que a aprovao no Ministrio somente o primeiro passo. Aps esta estapa preciso formatar e apresentar um projeto de patrocnio para a captao dos recursos junto a pessoas fsicas e/ou jurdicas.

Para conhecer mais sobre as leis federais de incentivo cultura e seu funcionamento, bem como sobre a adequao de seu projeto para concorrer aos recursos, recomenda-se a consulta ao site do MinC (www.cultura.gov.br).

Consideraes finais

V. Consideraes finais
Este manual de apoio elaborao de projetos de democratizao cultural e o vdeo que o acompanha foram desenvolvidos pela equipe do Programa de Democratizao Cultural da Votorantim com o objetivo de auxiliar indivduos, grupos e instituies interessadas em elaborar projetos culturais em todo o Brasil. A idia permitir que cada vez mais pessoas possam se tornar proponentes culturais e contribuam para reverter os baixos ndices de prticas culturais entre a populao brasileira. Alm de apresentar conceitos relacionados democratizao do acesso cultura, o manual e o vdeo foram desenvolvidos e pensados como material de consulta permanente que auxilie na elaborao de projetos sustentveis. Independentemente da rea cultural - artes cnicas, artes visuais, cinema e vdeo, literatura, msica e patrimnio - ou da estratgia adotada exibio, circulao, formao, prticas etc. -, o material visa fomentar aes comprometidas com a ampliao do acesso da populao s produes artsticas, qualificando os projetos desde o processo de elaborao. Projetos bem estruturados possuem maior viabilidade e potencial de transformao. A distribuio do manual e do vdeo gratuita e ambos podem ser acessados eletronicamente no endereo www.votorantim.com.br/democratizacaocultural. Esperamos que esse material inspire novas idias e novos projetos. Bom trabalho a todos!

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Este material no pode ser comercializado. O acesso a seu contedo livre e gratuito pelo site www.votorantim.com.br/democratizacaocultural

Programa de Democratizao Cultural Votorantim


Mais informaes: [email protected] www.votorantim.com.br/democratizacaocultural

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