Equidade e Eficiência Da Matriz Tributária - 13.08.2024
Equidade e Eficiência Da Matriz Tributária - 13.08.2024
Equidade e Eficiência Da Matriz Tributária - 13.08.2024
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ABSTRACT: This article aims to analyze and verify the efficiency and equity of the
National Tax System within the scope of international relations, in view of the process of
economic, political and social globalization. It appears that globalization is an irreversible
phenomenon, and there are countless commercial relationships resulting from it, resulting
in a need to apply legal-tax relationships, which are present in facts that demonstrate
financial movements and representations. In this way, an analysis of the tax aspects
involved is proposed to meet the needs of a Democratic State of Law, with regard to the
State's taxing power.
1
Especialista em Ordem Jurídica e Ministério Público pela Fundação Escola Superior do Ministério Público
do Distrito Federal e Territórios (FESMPDFT). E-mail: [email protected]
2
Mestre em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (CEUB). Doutorando em Direito na Universidade
de Brasília (UnB), Campos Darcy Ribeiro, Faculdade de Direito, Brasília/DF, Brasil – CEP: 70919-970 –
Telefone: (61) 31070718 – E-mail:[email protected]
1. INTRODUÇÃO
determinada situação, se “A” não paga imposto no ano. Os critérios para sujeição passiva
tributária, isto é, decidir se “A” deve contribuir ou não, ou qual o valor que deverá
arrecadar, devem estar na lei, e não no julgamento de expediente da administração pública.
Conforme o autor supracitado, a atuação do Poder Legislativo na instituição do
tributo não se resume à mera autorização, mas deve definir todos os aspectos da atividade
arrecadatória para torná-la transparente e previsível para o contribuinte. Desta forma, o
contribuinte não será surpreendido pela imposição de um tributo com repercussões em seu
patrimônio de maneira desconhecida.
O fato gerador deve ser passível de identificação e quantificação pelo contribuinte,
possibilitando a previsibilidade da incidência da norma no caso concreto. Assim, o Fisco
deve atuar nos limites estabelecidos pela lei, arrecadando somente os tributos e em
conformidade com os dispositivos em lei, resultando na atividade administrativa vinculada
do Estado.
O Estado deve demonstrar com elementos concretos a existência do fato gerador,
apto a legitimar a arrecadação tributária (RIBEIRO, 2012). Verifica-se que o Fisco deve
dispor de um sistema organizado e estruturado para comprovar os fatos ocorridos e instituir
os tributos devidos, sendo vedada a transferência ao contribuinte o ônus probatório.
O Sistema Tributário Nacional deve funcionar para beneficiar o contribuinte, pois
este representa o verdadeiro titular do poder em um Estado Democrático de Direito,
sobretudo no Brasil (1990), conforme o art. 1º, parágrafo único, da Constituição Federal
que prescreve que: “Todo o poder emana do povo [...]”. Logo, o Sistema Tributário
Nacional deve estar em conformidade como este preceito fundamental, combatendo a
abusividade do Fisco contrária ao interesse público.
Essa legalidade é denominada de estrita legalidade tributária, pois o ato de tributar
deve ser detalhadamente descrito em lei, assim considerada a produzida por meio de
processo legislativo legítimo cercado pela representatividade democrática. Neste sentido, a
aplicação do princípio da legalidade na seara tributária é mais exigente do que nas demais,
vinculando a atuação do Estado o máximo possível. Em sentido oposto, existem tributos
que não têm a finalidade exclusivamente arrecadatória, mas objetiva influenciar
determinado comportamento econômico ou social, exercendo uma função extrafiscal.
Algumas exceções à estrita legalidade tributária se justificam pelas finalidades
existentes. Assim, quando a Constituição Federal dispensa a estrita legalidade está
legitimada em alguma permissibilidade para atingir o interesse público, seja
O Imposto sobre o Valor Agregado surgiu nos países da América do Sul com o
intuito de facilitar a tributação nas transações realizadas entre os países deste
bloco econômico. Todos os parceiros do Brasil no MERCOSUL, sem exceção, a
saber, Argentina, Uruguai e Paraguai, já possuem um IVA nacional. O Brasil
ainda é o único membro deste bloco que não introduziu o IVA na sua economia.
integra o outro.
Assim, pelo princípio da não-cumulatividade é necessário compensar o crédito de
cada etapa da relação jurídico-tributária, combatendo-se o efeito cascata. No entanto, essa
prática traz desvantagens em face de sua complexidade, onerando o contribuinte com
alíquotas maiores e obrigações acessórias excessivas, e à própria Administração Tributária,
mediante a dificuldade na fiscalização (ALVES; PETRI; PETRI, 2012).
Verifica-se que a complexidade da tributação sobre o consumo no Brasil constitui-
se em um verdadeiro obstáculo ao Sistema Tributário Nacional, sobretudo quando
internacionalmente considerado. A tributação do consumo é responsável por mais da
metade da receita tributária que afeta de alguma forma a cadeia produtiva,
sendo transferida ao consumidor final por meio de mecanismos
que transferem economicamente a carga tributária para o preço final dos bens e serviços
(PORTELLA, RIBEIRO, 2023). Como resultado, uma matriz fiscal muito regressiva
contribui enormemente para o alargamento da divisão social no nosso país. Numa clara
violação do princípio da capacidade de pagamento, o Brasil pretende tributar mais as
camadas mais pobres da população através da tributação do consumo.
A tributação sobre o consumo atinge principalmente a camada mais pobre da
população, pois toda essa carga tributária é repassada ao consumidor final, resultando em
preços mais elevados em produtos e serviços básicos como alimentação e transporte. Desta
forma, a tributação afeta a economia em seu aspecto macroeconômico, prejudicando a
finalidade precípua do poder de tributar do Estado de subsidiar a concretização do interesse
público.
A capacidade contributiva é um princípio fundamental do Direito Tributário,
condicionando a atividade arrecadatória do Estado à capacidade do contribuinte de dispor
de seu patrimônio sem causar-lhe prejuízo (MONTENEGRO; BORGES, 2023). Assim, o
contribuinte precisa ter o sentimento, genericamente considerado, de que está contribuindo
de forma positiva para o fortalecimento do Estado Democrático de Direito e suas garantias
fundamentais.
O Brasil precisa estabelecer um sistema tributário compatível com estes princípios
e com a nova realidade mundial, pois o processo de globalização reflete também nos
direitos e garantias fundamentais. A adequação internacional do país está
intimamente relacionada com a concretização de interesses gerais relevantes, o que conduz
a um modelo fiscal correspondente a esta realidade, tanto a nível nacional como
públicos, porque qualquer atividade que não sirva os interesses da comunidade conduz a
um desvio do objetivo do Estado (ARAÚJO; CHAI; MORAES, 2023).
As atividades administrativas são realizadas pelo Estado em benefício
da sociedade. Mesmo quando age no interesse de algum Estado imediato, o objetivo final
da sua ação deve ser o bem público. E se esse propósito, como pode ser visto, não existe, o
ato viola o abuso de propósito.
As atividades desenvolvidas pela Administração Pública precisam sempre estar
fundamentadas no interesse público, sob pena de desvio da finalidade precípua do Estado,
conforme verificado. A mesma lógica aplica-se ao poder de tributar do Estado, o qual
sempre deve ter como foco principal a concretização do bem comum, do interesse público,
em prol da coletividade.
A justiça fiscal é uma das características do sistema tributário, permitindo aos
contribuintes o acesso à igualdade, por meio da capacidade contributiva. Logo, a justiça
fiscal, isonomia fiscal e capacidade contributiva devem ser consideradas no poder de
tributar do Estado.
A progressividade é definida como uma importante ferramenta de justiça
fiscal, necessária para que o sistema tributário promova, entre outras coisas, o objetivo de
reduzir a desigualdade social (GONZÁLEZ, SANTANA, 2023). Assim, a
progressividade é entendida como uma forma de tributação que se torna mais ou menos
difícil à medida que a base tributária cresce. Mais especificamente, os
impostos progressivos são aqueles em relação aos quais as alíquotas do imposto aumentam
à medida que aumenta a base de cálculo.
Verifica-se neste diapasão que o Sistema Tributário Nacional precisa adequar-se às
necessidades do povo, juridicamente tutelados pelo Estado Democrático de Direito, ou
seja, os direitos e garantias fundamentais devem ser concretizados por meio da atividade
arrecadatória. Em sentido contrário, a instituição de tributos pode transformar-se em um
instrumento de impedimento, dificultando a concretização do bem comum.
O Sistema Tributário Nacional precisa ser baseado nos princípios e valores de
equidade e eficiência, cuja finalidade é concretizar esta finalidade do Estado, ou seja, o
interesse público. Assim, o complexo de normas tributárias precisam ser as mais
simplificadas possíveis, evitando confusões doutrinárias e jurisprudenciais desnecessárias.
É importante mencionar a existência da PEC 233/08, também conhecida como
“reforma tributária”, pois tem a finalidade de trazer algumas alterações no Sistema
Tributário Nacional. Essa reforma tributária objetiva construir uma estrutura mais
eficiente, equitativa e economicamente competitiva, reduzindo custos e acelerando as
transações comerciais.
No entanto, conforme Harada (2016, p. 873), as alterações propostas vão no sentido
oposto, trazendo mais burocratização e complexidade ao sistema tributário brasileiro:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verifica-se que o Sistema Tributário Nacional não está preparado para um fluxo
internacional econômico, resultando em entraves burocráticos e complexos aos
contribuintes, sobretudo aos possíveis investidores estrangeiros no mercado brasileiro.
Essa complexidade causa um efeito de instabilidade jurídica, e, consequentemente,
incerteza econômica para os que pretendem estabelecer relações comerciais com o Brasil.
No entanto, o processo de globalização das relações políticas, sociais e econômicas
é irreversível, estreitando-se cada vez mais as consequências jurídicas decorrentes destas
relações, inclusive as tributárias. Desta forma, são inúmeros os tratados e acordos
internacionais acerca da matéria tributária, no sentido de superar as dificuldades do sistema
brasileiro de tributos.
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