Aa 10519
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Felipe Tuxá
Edição electrónica
URL: https://journals.openedition.org/aa/10519
DOI: 10.4000/aa.10519
ISSN: 2357-738X
Editora
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (UnB)
Edição impressa
Paginação: 61-66
ISSN: 0102-4302
Refêrencia eletrónica
Felipe Tuxá, «Antropologias indígenas e a questão da posicionalidade», Anuário Antropológico [Online],
v.48 n.1 | 2023, posto online no dia 28 abril 2023, consultado o 29 outubro 2024. URL: http://
journals.openedition.org/aa/10519 ; DOI: https://doi.org/10.4000/aa.10519
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Anuário Antropológico
anuário
antropológico v.48 n.1 | 2023
v. 48 • nº 1 • janeiro-abril • 2023.1
2023/v.48 n.1
Edição electrônica
URL: http://journals.openedition.org/aa/10519
DOI: 10.4000/aa.10519
ISSN: 2357-738X
Editora
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (UnB)
Referência eletrônica
Felipe Tuxá, «Antropologias indígenas e a questão da posicionalidade», Anuário Antropológico
[Online], v.48 n.1 | 2023. URL: http://journals.openedition.org/aa/10519 ; DOI: https://doi.org/10.4000/
aa.10519
Doutor em Antropologia Social pela Universidade de Brasília. Professor Adjunto do Departamento de Etno-
logia e Antropologia da Universidade Federal da Bahia, Brasil. Seus interesses de pesquisa são violações
dos direitos indígenas no Brasil, antropologia da violência, genocídios indígenas e colonialismo.
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Antropologias indígenas e a questão da posicionalidade PPGAS 50 ANOS
Felipe Tuxá
Há mais de cinco anos, quando a autora começou a elaborar esse texto, do qual
participo na condição de um de seus interlocutores, a nossa relação, que se des-
dobrou posteriormente em vínculo de orientação de doutorado, estava no início.
Começávamos ali a discutir acerca da chegada de indígenas na antropologia pela
porta da frente da disciplina, enquanto estudantes de programas de pós-graduação
em busca por um diploma e pela expertise característica dessa disciplina.
O argumento principal do texto apresentado nesta edição do Anuário está
centrado na reflexão sobre como a antropologia pode se renovar a partir da en-
trada de seus íntimos outros (povos indígenas) na condição de pares em igualda-
de de elaboração de conhecimentos e interpretações sobre o mundo humano e
não humano. A autora aborda, com franqueza, a temática em voga na atualidade,
versando sobre, por um lado, as suas expectativas quanto ao teor e conteúdo do
que os intelectuais indígenas podem contribuir para a produção antropológica e,
por outro, a dimensão política inerente à entrada em um campo de disputas, de
sujeitos que foram, no passado, meros objetos de pesquisa. Essas duas dimensões,
se assim quisermos situar a problemática elaborada por Ramos, são da maior
importância para a efetivação do que a autora trata por ecúmeno antropológico
e, embora estejam intimamente relacionadas, arriscaria dizer estar a primeira
subordinada à segunda.
De antemão, parece-me que a tentativa de tentar definir a priori como viria a
ser uma produção de indígenas antropólogos, em sua forma e conteúdo, arrisca
cair naquilo que tanto criticamos acerca das malogradas generalizações antropoló- 62
gicas em torno de um pensamento indígena substanciado, quase sempre reforçan-
do as projeções, fobias e anseios do mundo branco em torno de seus Outros. Logo,
tendo a acreditar que debater as condições políticas para que a presença indígena
possa se materializar, de forma eficaz, nas universidades e na antropologia já seja,
por ora, de grande valia. Não estou me referindo apenas às condições estruturais
mínimas para que indígenas possam frequentar cursos de antropologia (bolsas,
políticas de ingresso e permanência), mas também e, sobretudo, às condições
políticas que dizem respeito à constituição de campos científicos, com a devida
1 Sobre os acordos tácitos
ênfase nos desafios de romper com os aspectos da cultura (ou habitus)1 dos antro- que informam a prática e carac-
teriza o campo da antropologia,
pólogos em voga nas universidades e entre os nossos pares. O passo inicial, que já
ver Cruz (2017, 2018).
foi dado, muito lentamente, rumo ao ecúmeno antropológico, é neste momento
menos sobre o que está escrito nas etnografias e copiosas teses, dissertações e nos
artigos e mais sobre ações concretas dentro desse campo social que segue, como
em todo campo social, impregnado por antigas relações de poder e manutenção
de estruturas de privilégios. Refiro-me, a exemplo, sobre o modo como coalizações
de forças de ordem geopolítica e histórica se encontram refletidas na distribuição
de recursos escassos entre programas de pós-graduação em antropologia, o que
corrobora com a continuação de desigualdades regionais acumuladas. Ou sobre
como as percepções acerca da ciência e da Universidade enquanto lugares de
“excelência”, onde um certo modo de escrever e um certo tipo de conhecimento
é valorado, subscrevem diretamente os privilégios de indivíduos cujas trajetórias
estão relacionadas ao acesso a certas instituições de ensino, ao passo que dis-
Anu. Antropol. (Brasília) v. 48, n. 1, pp.61-66. (janeiro-abril/2023). Universidade de Brasília. ISSN 2357-738X. https://doi.org/10.4000/aa.10519
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Felipe Tuxá
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Felipe Tuxá
Referências
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cendo redes antirracistas: Áfricas, Brasis, Portugal, organizado por A. R. Oliva, et al.,
23–35. Belo Horizonte: Autêntica.
Cruz, Felipe S. M. 2017. “Indígenas antropólogos e o espetáculo da alteridade”. Revista
de Estudos e Pesquisas sobre as Américas 11, nº 2: 93–108.
Cruz, Felipe S. M. 2018. “Entre la academía y la aldea: Algunas reflexiones sobre la for-
mación de indígenas antropólogos en Brasil”. Anales de Antropologia 52, nº 2: 25–33.
Cruz, Felipe S. M. 2022. “Letalidade branca: Negacionismo, violência anti-indígena e as
políticas de genocídio”. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, Brasília.
Gramsci, Antonio. 1981. Os intelectuais e a organização da cultura. São Paulo: Círculo do
Livro.
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Smith, Linda T. 2018. Descolonizando metodologias: Pesquisa e povos indígenas. Curiti-
ba: Editora da UFPR.
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