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AGRADECIMENTOS

Aos autores e coautores pela dedicação empregada na escrita dos capítulos.

Para todas as professoras do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis


Gurgacz, pela orientação na construção de cada um dos capítulos deste livro,
bem como pelas revisões realizadas.

À nutricionista Marianela Díaz Urrutia, egressa do curso de Nutrição do Centro


Universitário Assis Gurgacz, pelo valoroso auxílio na organização do material.

À coordenadora do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz,


Me. Nanci Teruel Berto pela escrita do prefácio e incentivo na concretização
deste projeto, bem como por sempre estimular seus professores na busca
pelo conhecimento.

Ao Centro Universitário Assis Gurgacz e em especial à Pró-reitora de Ensino,


Pesquisa, Extensão e Pós-graduação, Aline Gurgacz Ferreira Meneghel, por
apoiar e acreditar nesta obra, e por incentivar os professores na pesquisa e
contínuo aperfeiçoamento.

Ao Serviço de Editoração do Centro Universitário Assis Gurgacz pela revisão


final desta obra.

Estendo meu reconhecimento e gratidão a todos os envolvidos no processo,


aos meus familiares e familiares dos demais autores e coautores, pois sem
apoio e perseverança, a realização desta obra não seria possível.

Muito obrigada!
Dra. Daniela Miotto Bernardi
Nutricionista
PREFÁCIO

Honra-me sobremaneira prefaciar este livro: Tópicos Emergentes em

Nutrição , pois reconheço a importância dos assuntos apresentados e


a dedicação de todos os envolvidos, principalmente o trabalho da

Professora Dra. Daniela Miotto Bernardi que não poupou esforços

para que mais essa publicação, a segunda em dois anos, fosse lançada

com tanta qualidade e validade.

Essa é uma coletânea com pesquisas admiráveis decorrentes de um

planejamento detalhado, revisões e discussões entre professores e

alunos da graduação em Nutrição do último período do curso,

ocorridas durante a disciplina de Tópicos Emergentes em Nutrição, e

que, por ser construída por várias mãos, contém temas atuais, além da

fácil leitura. Os estudos aqui reunidos são perfeitos à atualização

profissional de acadêmicos e profissionais nutricionistas das diversas

áreas de atuação da nossa estimada profissão.

Boa leitura a todos!

Profa. Me. Nanci Rouse Teruel Berto


Coordenadora do Curso de Nutrição
Centro Universitário FAG
APRESENTAÇÃO
A nutrição é uma ciência que está em constante evolução, sendo que
pesquisas recentes têm impulsionado a área, que cada vez mais tem
apresentado papel de destaque na saúde e qualidade de vida da população.
O livro Tópicos emergentes em nutrição apresenta recentes revisões
de literatura sobre assuntos em evidência na área da nutrição. O livro é
composto por treze capítulos onde são abordados temas de diferentes áreas:
Necessidades e recomendações nutricionais na vida adulta; Nutrição na
senescência da vida; Nutrição, inflamação, imunologia e compostos bioativos;
Micronutrientes e estresse oxidativo; Alimentos funcionais e compostos
bioativos; Câncer, fatores de risco e prescrição dietética; Síndrome metabólica;
Terapias nutricionais na obesidade; Politica nacional de alimentação e nutrição
nos distúrbios alimentares; Guia alimentar da população brasileira;
Comportamento alimentar; Rotulagem nutricional e Controle de qualidade de
alimentos. Todos os capítulos foram estruturados a partir de sólida
fundamentação teórica, resultante da dedicação coletiva de 41 autores.
Vale ressaltar que esta obra, surgiu como parte de um projeto de ensino
realizado no ano de 2019, na disciplina de Tópicos Emergentes em Nutrição, do
curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel-PR. O projeto
está em seu quarto ano, este é o segundo livro publicado e o objetivo principal
do projeto é incentivar a pesquisa, a análise crítica e a capacidade de escrita
científica em formandos de nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz.
Esta obra é destinada à estudantes e profissionais da área da saúde, de
forma que sirva especialmente como subsídio para incentivar pesquisas,
embasamento teórico e esclarecimentos gerais sobre temas da nutrição.
Como organizadora e professora responsável pela disciplina de Tópicos
emergentes em nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz, gostaria de
expressar minha gratidão a cada um dos colaboradores pela dedicação e
inspiração empregadas na escrita de cada capítulo.
Desejo uma excelente e agradável leitura a todos!

Dra. Daniela Miotto Bernardi


Nutricionista
SUMÁRIO
Capítulo 1 [ p. 4 ]
NECESSIDADES E RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS NA VIDA ADULTA:
COMO SE PREPARAR PARA O FUTURO?
Jamile Milena Lotici Zago, Alessandra Hitsue Inumaru, Fabiana Rodrigues de Lima,
Thais Mariotto Cezar, Daniela Miotto Bernardi

Capítulo 2 [ p. 19 ]
A NUTRIÇÃO NA SENESCÊNCIA DA VIDA COMO PROCESSO BIOLÓGICO
Marianela Díaz Urrutia, Amanda Gemelli,
Thais Mariotto Cezar, Daniela Miotto Bernardi

Capítulo 3 [ p. 36 ]
NUTRIÇÃO, INFLAMAÇÃO, IMUNOLOGIA E A INFLUÊNCIA DOS
COMPOSTOS BIOATIVOS POR MEIO DO MANEJO DIETÉTICO
Paula Silveira Prado, Vanessa Cristina da Silva,
Thais Mariotto Cezar, Daniela Miotto Bernardi

Capítulo 4 [ p. 56 ]
A IMPORTÂNCIA DOS MICRONUTRIENTES NO
CONTROLE DO ESTRESSE OXIDATIVO
Marianela Díaz Urrutia, Daniela Miotto Bernardi

Capítulo 5 [ p. 77 ]
ALIMENTOS FUNCIONAIS E COMPOSTOS BIOATIVOS:
LEGISLAÇÃO E ESTUDOS COM FOCO NAS PROPRIEDADES FUNCIONAIS
RELACIONADAS À ATIVIDADE ANTIOXIDANTE
Ana Carolina Lunkes, Mirely Scharlau, Suzana Segalla Menegaz,
Caroline Zanatta Maciel, Daniela Miotto Bernardi

Capítulo 6 [ p. 100 ]
CÂNCER:
FATORES DE RISCO RELACIONADOS A ALIMENTAÇÃO
Gabriela Yasmin Porfirio, Giovana Maria Martinasso dos Santos, Rayssa Alves Pimentel, Débora
Regina Hendges Poletto Pappen, Daniela Miotto Bernardi
Capítulo 7 [ p. 119 ]
SÍNDROME METABÓLICA E OS SEUS EFEITOS SOBRE A SAÚDE HUMANA
Marcia Machado, Millena Tureta, Rafael Dewes Lenz,
Débora Regina Hendges Poletto Pappen, Daniela Miotto Bernardi

Capítulo 8 [ p. 136 ]
O AUXÍLIO DAS TERAPIAS NUTRICIONAIS NO CONTROLE
E TRATAMENTO DA OBESIDADE, UMA EPIDEMIA MUNDIAL
Marina Horst, Natália Miorando, Renan Sebben,
Nanci Rouse Teruel Berto, Daniela Miotto Bernardi

Capítulo 9 [ p. 155 ]
PAPEL DA POLÍTICA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO
E NUTRIÇÃO (PNAN) NOS DISTÚRBIOS ALIMENTARES
Luana Schwarz, Débora Carneiro Teixeira, Jean Carlos Sarturi,
Jaciara Reis Nogueira Garcia, Daniela Miotto Bernardi

Capítulo 10 [ p. 181 ]
GUIA ALIMENTAR DA POPULAÇÃO BRASILEIRA
Camila Meurer Walter, Thamiris Rodrigues de Freitas, Teresa Souza Ferrari,
Adriana Hernandes Martins, Daniela Bernardi Miotto

Capítulo 11 [ p. 207 ]
COMPORTAMENTO ALIMENTAR
Ana Caroline Dos S. Fanegas, Mariana Barbara Moreira Garbuio,
Tatiani Deisy Becario, Caroline Zanatta Maciel, Daniela Miotto Bernardi

Capítulo 12 [ p. 219 ]
ROTULAGEM NUTRICIONAL
Allan Eduardo Vidal, Larissa de Carvalho Zimmermann, Rafaela Menegusso,
Sabrine Zambiazi Silva, Daniela Miotto Bernardi

Capítulo 13 [ p. 235 ]
QUALIDADE E LEGISLAÇÃO NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS
Ana Luiza de Souza Melo Fabris; Tássia Fernanda Sacks; Vanessa da Cruz,
Adriana Hernandes Martins, Daniela Miotto Bernardi
Capítulo 1
____________________

NECESSIDADES E
RECOMENDAÇÕES
NUTRICIONAIS
NA VIDA ADULTA:
COMO SE PREPARAR
PARA O FUTURO?
Jamile Milena Lotici Zago
Alessandra Hitsue Inumaru
Fabiana Rodrigues de Lima
Nutricionistas pelo Centro Universitário da Assis Gurgacz

Thais Mariotto Cezar


Nutricionista e Mestre em Engenharia Agrícola
Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz

Daniela Miotto Bernardi


Nutricionista e Doutora em Alimentos e Nutrição
Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz
INTRODUÇÃO

A estrutura atual da referência de ingestão dietética (do inglês Dietary

Reference Intakes - DRIs) fundamenta-se no histórico de recomendações


alimentares, relacionado as transformações do estado nutricional da população dos

Estados Unidos da América – EUA. Em 1940, em razão do predomínio da

desnutrição nos EUA, foi solicitado a Academia Nacional de Ciências para que este

pudesse apoiar na resolução das falhas nutricionais. A partir disso, foram

desenvolvidos dois Comitês: o Comitê de Hábitos Alimentares e o Comitê de

Alimentos e Nutrição, este, desenvolveu a Ingestão Média Recomendada (do inglês

Recommended Dietary Allowance – RDA), na qual, a finalidade era orientar sobre os


subsídios adequados à manutenção de um bom estado nutricional (NATIONAL

ACADEMY OF SCIENCES – NAS, 1965; NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC, 1943).

O desenvolvimento da DRI evoluiu a partir da RDA. Esta nova recomendação

foi fundamentada visando garantir as necessidades nutricionais de indivíduos

saudáveis a longo prazo, e reduzir o risco de ocorrência de doenças crônicas não

transmissíveis (DCNT). A principal divergência entre ambas, é que, enquanto as RDA’s

consideravam apenas um único valor de referência para ingestão de nutrientes, as

DRI’s surgem com quatro especificações de referência que abrangem uma faixa

segura de ingestão (COZZOLINO e COLLI, 2001).

O estado nutricional de um indivíduo, reflete o suprimento das

necessidades fisiológicas de nutrientes durante determinado estágio da vida,

sendo estes nutrientes supridos principalmente por meio da alimentação. As

avaliações de ingestão alimentar são feitas tradicionalmente por meio de dados

obtidos a partir de recordatório alimentar de 24 horas, questionário de

frequência, e registros alimentares. Mas as pessoas nem sempre se lembram

de tudo o que ingerem, seus componentes específicos, e possuem dificuldade

5
de estimar o tamanho das porções. Fazendo com que ocorram erros de

medição na avaliação dietética. Além disso, alguns indivíduos podem sonegar a

ingestão dietética (PICÓ, SERRA e RODRÍGUEZ, 2019; THOMPSON et al., 2010).

Na nutrição novas técnicas de análise global, conhecidas como ômicas,

estão abrindo novos caminhos de pesquisa, relacionados ao estado nutricional do

indivíduo. A saúde do indivíduo depende das informações contidas no seu

genoma e como ele é interpretado ao longo da vida (epigenoma, metiloma,

transcriptoma, proteoma e metaboloma). Estas técnicas permitem a identificação

e esclarecimento de interações gene-nutriente (RAMOS-LOPEZ et al., 2017; CHEN

et al., 2012). A genômica nutricional fornece instrumentos necessários para


entender as combinações entre genes e ambiente, especialmente no que diz

respeito à alimentação e compostos bioativos, portanto, como ciência ela estuda

os efeitos de nutrientes e compostos bioativos, isolados ou combinados na

alimentação, sobre a expressão gênica e o efeito dessa interação sobre a saúde

(KUSSMANN, RAYMOND e AFFOLTER, 2006).

Nesse sentido, o uso de ferramentas ômicas, possibilita aos

pesquisadores na área de nutrição elucidar questões complexas a respeito da

interação gene-nutriente, por exemplo, apresenta potencial de

desenvolvimento de biomarcadores para o estado de saúde; para a

identificação de alterações precoces no desenvolvimento de doenças crônicas

não transmissíveis; para a diferenciação entre indivíduos que respondem e não

respondem a intervenções dietéticas, entre outros (KUSSMANN, RAYMOND e

AFFOLTER, 2006; RIST, WENZEL e DANIEL, 2006; ZHANG, YAP e WEI, 2008).

Sendo assim, o objetivo principal deste capítulo é apresentar um

panorama geral sobre como foi a construção das recomendações nutricionais

energéticas na vida adulta e elucidar o caminho da nutrição no sentido de

recomendações nutricionais individualizadas por meio de estratégias de

genômica nutricional.

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RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS PARA ADULTOS

A ingestão dietética de referência (do inglês Dietary Reference Intakes -

DRIs) tem como objetivo satisfazer as necessidades nutricionais de indivíduos

adultos para manutenção da saúde e redução do risco de doenças crônicas.

Estas recomendações foram divididas em quatro categorias de acordo com

faixa etária e sexo. De acordo com classificações do Conselho de Alimentação e

Nutrição (do inglês Food and Nutrition Board - FNB), e do Instituto de Medicina

(do inglês: Institute of Medicine - IOM) as recomendações podem ser

classificadas em (COZZOLINO e COLLI, 2001):

1. Necessidade média estimada (do inglês: Estimated Average Requirement - EAR)


equivale a cinquenta por cento das necessidades diárias para um indivíduo

saudável.

2. Ingestão Diária Recomendada (do inglês: Recommended Dietary Allowance –


RDA) correspondem às necessidades adequadas para noventa e oito por cento

da população sadia.

3. Ingestão Adequada (do inglês: Adequate Intake – AI) equivale a estimativa das
necessidades diárias recomendadas. São utilizadas quando determinado

nutriente não possui a RDA estipulada.

4. Limite de Ingestão Máxima Recomendada (do inglês: Tolerable Upper Intake


Level – UL) representam valores máximos ingeridos sem apresentar toxicidade
ou causarem danos à saúde.

Na Figura 1 é possível identificar as variâncias entre cada recomendação

de nutrientes.

7
Figura 1: Classificações das Recomendações de Nutrientes de
acordo com a ingestão dietética de referência – DRI.

Fonte: (COZZOLINO e COLLI, 2001).

O risco de inadequação de nutrientes decai em 50% com a utilização da

prescrição nutricional EAR, e se torna praticamente nula quando aplicada a

recomendação RDA. É possível verificar que a AI fica entre os níveis seguros de

ingestão, portanto, mesmo que determinado nutriente não possua sua RDA

definida, o uso da AI de acordo com IOM (2005) ainda se encontra dentro dos

limites seguros. A UL é o limite de ingestão de nutrientes sem causar toxicidade.

Ingestões acima do UL podem causar efeitos adversos, não sendo

recomendado concentrações acima das recomendações (PADOVANI, AMAYA-

FARFÁN e COLUGNATI, 2006).

Estas definições se aplicam aos macronutrientes e micronutrientes de

acordo com grupos de pessoas em comum faixa etária e sexo. É importante

salientar que os macronutrientes (carboidrato, proteína e lipídeo) adotam

diversas funções no organismo humano, entre elas, a energética (MOREIRA et

al., 2012), sendo que para a ingestão destes nutrientes, o IOM criou uma
recomendação de Faixas Aceitáveis de Macronutrientes (do inglês Acceptable

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Macronutrients of Distribution Ranges – AMDR) que indica uma faixa segura
para reduzir riscos de doenças crônicas (IOM, 2005).

Antes de falar sobre as faixas adequadas de ingestão dos

macronutrientes, é necessário compreender a como estabelecer a necessidade

energética de um indivíduo, a qual pode ser feita por diferentes métodos, como

por exemplo a caloria direta, caloria indireta, quociente respiratório, além de

estimativas por meio de fórmulas já pré-estabelecidas. Neste sentido, no

quadro 1, estão apresentadas fórmulas para o cálculo da Necessidade

Energética Estimada (do inglês Estimated Energy Requirement -EER), o qual visa

manter o equilíbrio energético em um adulto saudável de idade, sexo, peso,

altura e nível de atividade física definidos, consistente com a boa saúde.

Quadro 1: Fórmulas para cálculo de EER de adultos


saudáveis, de acordo com atividade física praticada.

Fonte: Institute of Medicine, 2002.

Proteínas são nutrientes essenciais sendo que a adequada ingestão

proteica assegura substrato para o organismo produzir as proteínas endógenas

(SGARBIERI, 1996; COZZOLINO; COMINETTI, 2013). As recomendações de

ingestão de proteínas variam especialmente de acordo com a faixa etária. As

referências de ingestão dietética (IOM, 2005) recomendam que a ingestão de

proteína seja de 0,8 g/kg/dia para maiores de 18 anos. Em relação AMDRs a

9
distribuição proteica aceitável na dieta de indivíduos saudáveis é de que perfaça

10 a 35% da ingestão energética diária.

Para suprir as demandas corporais é importante que as proteínas

ingeridas apresentem perfis aminoacídicos adequados (SGARBIERI, 1996).

Neste contexto a Organização mundial da saúde (sigla do inglês: World Health

Organization-WHO), juntamente com a Organização das Nações Unidas para a


Alimentação e a Agricultura (do inglês Food and Agriculture Organization-FAO)

e com a Universidade das Nações Unidas (sigla do inglês United Nations

University-UNU), estabeleceram recomendações de aminoácidos essenciais,


sendo esta recomendação expressa em mg de aminoácido por dia por kg de

peso corporal, onde a recomendação de histidina é de 10 mg, isoleucina 20 mg,

leucina 39 mg, lisina 30 mg, metionina e cisteína 15 mg, fenilalanina e tirosina

25 mg, treonina 15 mg, triptofano 4 mg e valina 26 mg (WHO; FAO; UNU, 2007).

Lipídios são macronutrientes que possuem diferentes funções no

organismo (COZZOLINO; COMINETTI, 2013), sendo que as recomendações

oficiais para a ingestão lipídica, bem como para a ingestão dos ácidos graxos

levam em consideração a saturação da cadeia carbônica. Em relação AMDRs a

distribuição lipídica aceitável na dieta de adultos é de que estes macronutrientes

representem 20 a 35% das necessidades energéticas diárias (IOM, 2005) e para

indivíduos com LDL dentro da meta e sem comorbidades associadas, a ingestão

de gorduras saturadas não deve exceder 10% da ingestão calórica total, enquanto

que as monoinsaturadas e as poli-insaturadas devem perfazer 15% e 5 – 10%,

respectivamente (MILLER et al., 2011; FALUDI et al., 2017).

Da mesma forma como os outro macronutrientes, os carboidratos

apresentam funções importantíssimas ao organismo (COZZOLINO; COMINETTI,

2013). Em relação AMDRs a distribuição aceitável de carboidratos na dieta é de

que a ingestão diária deste nutriente contribua com 45 a 65% da ingestão

energética total (IOM, 2005). Em relação à ingestão de fibras a recomendação

10
para adultos é de que a ingestão seja de 38 g para homens e 25 g para mulheres

(IOM, 2005).

As vitaminas e os minerais são essenciais para uma serie de reações

metabólicas endógenas (COZZOLINO; COMINETTI, 2013) e a realização destas

funções de forma eficiente, está condicionada a ingestão adequada segundo

recomendações nutricionais específicas para a idade, gênero e período da vida,

sendo assim, na Tabela 1 estão apresentadas as recomendações nutricionais

de vitaminas para adultos (IOM, 1997, 1998, 2000, 2001, 2011).

Tabela 1: Recomendações nutricionais de vitaminas e minerais


para adultos (homens e mulheres)
Homens (19 a 50 anos) c Mulheres (19 a 50 anos) c
Vitaminas
Vitamina A a 900 (µg/d) 700 (µg/d)
Vitamina C a 90 (mg/d) 75 (mg/d)
Tiamina (B1) a 1,2 (mg/d) 1,1 (mg/d)
Riboflavina (B2) a 1,3 (mg/d) 1,1(mg/d)
Niacina (B3) a 16 (mg/d) 14 (mg/d)
Piridoxina (B6) a 1,3 (mg/d) 1,3 (mg/d)
Folato total (B9) a 400 (µg/d) 400 (µg/d)
Cobalamina (B12) a 2,4 (µg/d) 2,4 (µg/d)
Ácido pantotênico (B5) b 5 (mg/d) 5 (mg/d)
Colina b 550 (mg/d) 425 (mg/d)
Vitamina D a 15 (µg/d) 15 (µg/d)
Vitamina E a 15 (mg/d) 15 (mg/d)
Vitamina K b 120 (µg/d) 90 (µg/d)
Minerais
Cálcio a 1000 (mg/d) 1000 (mg/d)
Cobre a 0,9 (mg/d) 0,9 (mg/d)
Ferro a 8 (mg/d) 18 (mg/d)
Magnésio a 400/420 (mg/d) 310/320 (mg/d)
Fósforo a 700 (mg/d) 700 (mg/d)
Zinco a 11 (mg/d) 8 (mg/d)
Sódio b 1500 (mg/d) 1500 (mg/d)
Potássio b 4700 (mg/d) 4700 (mg/d)
Manganês b 2,3 (mg/d) 1,8 (mg/d)
Selênio a 55 (µg/d) 55 (µg/d)
a RDA: Ingestão dietética recomendada; b AI: ingestão adequada; Fonte das
referências nutricionais: c Dietary Reference Intakes
(IOM, 1997, 1998, 2000, 2001, 2011)

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CONSUMO ALIMENTAR X RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS

O consumo alimentar está intimamente relacionado aos aspectos

culturais, antropológicos, socioeconômicos e psicológicos que envolvem o

ambiente dos brasileiros, sendo que o consumo desenfreado de alimentos com

alto valor calórico, que, aliado ao sedentarismo, está produzindo uma geração

com sobrepeso (MORATOYA et al., 2013).

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, Ciclos de Vida, de 2013 realizada

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2015)., apontou que a

prevalência de excesso de peso aumenta com a idade, de modo mais rápido

para os homens, que já na faixa etária de 25 a 29 anos chega a 50,4%. Não

obstante, nas mulheres, a partir da faixa etária de 35 a 44 anos a prevalência do

excesso de peso (63,6%) ultrapassa a dos homens (62,3%), chegando a mais de

70,0% na faixa de 55 a 64 anos.

A pesquisa de referência sobre a investigação dos padrões de consumo

dos brasileiros é a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada entre

maio de 2008 e maio de 2009, pelo IBGE, no qual participaram 55.970

domicílios, para obter informações sobre o consumo alimentar individual. A

faixa etária mínima era de dez anos, com moradores do sexo feminino e

masculino, das cinco maiores regiões do Brasil: Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e

Centro-Oeste na área urbana e rural (IBGE, 2015). Os resultados desta pesquisa

apontam que a participação calórica dos carboidratos e lipídios no valor

energético total da dieta atendem às recomendações, enquanto que a ingestão

das proteínas é ligeiramente superior à recomendação (IBGE, 2015).

O estudo de Oliveira e colaboradores (2008), realizado com portugueses

residentes do Porto, no qual foi avaliado 2389 indivíduos (61,6% mulheres), com

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o objetivo de verificar a prevalência de ingestão inadequada de macronutrientes

em adultos Portugueses, demonstrou que o percentual médio de proteína,

carboidrato e lipídios foi de 18,4%, 48,9%, 29,3% respectivamente. Mais de 80%

dos indivíduos do Porto apresentou ingestões de macronutrientes de acordo

com os intervalos aceitáveis preconizados pela DRI (2005). A gordura foi o

macronutriente para o qual se observou uma maior prevalência de ingestão

inadequada 17,1% nas mulheres e 21,0% nos homens (OLIVEIRA et al., 2008).

Portanto, de acordo com as pesquisas, mesmo com os indivíduos

consumindo os macronutrientes dentro dos valores recomendados pela DRI, as

atuais análises refletem o aumento de obesidade e sobrepeso na população,

fazendo-se necessário uma revisão sobre estimativas das necessidades diárias

de indivíduos, e qual a metodologia mais adequada para isso. Neste sentido,

despontam as áreas que buscam estabelecer recomendações individualizadas.

GENÔMICA NUTRICIONAL

As respostas celulares dos animais ao ambiente nutricional (ou seja, a

disponibilidade ou escassez de nutrientes) estão ligadas por uma série de

eventos bioquímicos e fisiológicos. A interação entre genética e meio ambiente,

natureza e criação, é a base de toda saúde e doença. Os genes definem a

predisposição a uma doença ou condição, e fatores ambientais, como dieta e

exercício, determinam quem dentre os predispostos desenvolverá a doença ou

condição (SIMOPOULOS, 2009).

A genômica nutricional é um campo emergente nas ciências da saúde,

que examina a interação entre genes e nutrientes em âmbito molecular,

utilizando para isso, técnicas de biologia molecular de alto desempenho. Ela

fornece instrumentos necessários para entender as combinações entre genes

e ambiente, especialmente no que diz respeito à alimentação e compostos

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bioativos, portanto, como ciência ela estuda os efeitos de nutrientes e

compostos bioativos, isolados ou combinados na alimentação, sobre a

expressão gênica e o efeito dessa interação sobre a saúde.

Uma serie de diferentes disciplinas compõem a genômica nutricional, das

quais a nutrigenômica, nutrigenética, e epigenômica nutricional. A nutrigenética

estuda a influência da variabilidade genética na prevalência de doenças

considerando diferentes tipos de ingestão alimentar, em outras palavras a

nutrigenética é o estudo dos efeitos de variações genéticas nas respostas de

animais ou humanos a diferentes componentes da dieta. A nutrigenômica

analisa os efeitos dos nutrientes da dieta na expressão de genes celulares,

respostas metabólicas e, finalmente, mudanças fenotípicas de organismos

vivos. A epigenômica nutricional estuda a influência dos hábitos alimentares

sobre a expressão genética, sem a alteração na sequência de nucleotídeos do

DNA (CAMP e TRUJILLO, 2014, SPRONSEN, 2010)

Na prática, a aplicação da nutrigenômica utiliza várias técnicas "ômicas"

em várias disciplinas, incluindo genômica, epigenômica, transcriptômica,

proteômica e metabolômica, de maneira independente ou integrada, para

analisar as respostas celulares e moleculares dos animais a vários nutrientes da

dieta, revelando a globalidade na influência dos nutrientes nos genomas

animais, metilomes, epigenomas, transcriptomas, proteomas e metabolomos,

respectivamente. A aplicação das ferramentas ômicas tem alto rendimento no

campo de pesquisa em nutrição que pode melhorar muito a compreensão da

regulação de nutrientes de vias metabólicas e de sinalização celular e seu

controle homeostático (PAREEK, 2011).

No futuro muito próximo a genética não será exclusiva em centros

regionais de teste e aconselhamento genético. Em vez disso, terá que se

aprender a avaliar e explicar o conhecimento genético sobre os pacientes e

associar com um regime alimentar adequado, o tipo e a quantidade de atividade

14
física e produtos farmacêuticos. Vendo que os profissionais vão utilizar

informações genéticas para identificar os subgrupos populacionais com respostas

diferentes às dietas, infecção e exposição ambiental. Os testes genômicos serão

para uso individual, considerando as subjetividades de cada indivíduo, e permitirão

a formulação de políticas de saúde mais precisas para a redução de riscos de

doenças crônicas não transmissíveis (SALES, PELEGRINI e GOERSCH, 2014).

O mapeamento genético já é disponibilizado por alguns laboratórios,

podendo identificar através de testes rápidos com amostras de saliva, pré-

disposições genéticas de determinadas patologias e trabalhar de forma

preventiva, e/ou características específicas para melhor rendimento físico.

Porém para utilização destes dados genéticos e aplicação na nutrição

individualizada, requer o conhecimento amplo na área da genética, e de como

suas suscetibilidades e informações como, histórico familiar, predisposições

genéticas, fatores bioquímicos, fatores de risco para desenvolvimento de

patologias, influenciam a genômica. Neste sentido os testes genéticos podem

fornecer informações uteis para o profissional, afim de identificar riscos de

desenvolvimentos de patologias, e buscar maneiras de manter a saúde do

indivíduo (CAMP e TRUJILLO, 2014).

Por fim é importante ressaltar que todas as disciplinas que compõem a

genômica nutricional são promissoras, com alto potencial para revolucionar a

ciência da nutrição, especialmente no que tange às recomendações

nutricionais, porém embora seja uma área motivadora, é necessário ter

consciência que essa ainda é uma área incipiente, os mecanismos não estão

suficientemente esclarecidos, quando se trata de nutrientes e compostos

bioativos é necessário ter cautela, pois estes podem atuar de formas distintas

dependendo da concentração em que são utilizados, bem como, da interação

e sinergia com outros componentes do alimento. Portanto, é indiscutível as

pesquisas nesta área de conhecimento progridam de forma rápida, para que a

15
ciência da nutrição avance no sentido de que uma nutrição realmente

personalizada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As DRI’s foram criadas com o intuito de suprir as necessidades

nutricionais de indivíduos, e reduzir as doenças crônicas. Por muito tempo tem

se utilizado das mesmas como um padrão a ser seguido para todos, sem

respeitar a individualidade de cada pessoa.

Com a evolução da ciência, e descobertas técnicas ômicas, tem sido

possível comprovar que cada ser humano possui uma necessidade específica

de nutrientes, e que prescrições realizadas de maneira global, podem não ser

eficazes para todos. A nutrigenômica e nutrigenética tendem a ser ferramentas

importantes na prescrição dietética visto que através delas é possível identificar

como reagem cada nutriente nas vias metabólicas e como interagem

geneticamente.

Em um breve futuro, será possível avaliar as necessidades dos indivíduos

de forma clara e direta, através de exames genéticos. Diminuindo riscos de

carências e excessos nutricionais, e contribuindo para a redução da prevalência

de doenças crônicas.

REFERÊNCIAS

CAMP, K. M.; TRUJILLO, E. Position of the academy of nutrition and dietetics: Nutritional genomics. Journal
of the Academy of Nutrition and Dietetics, v. 114, n. 2, p. 299-312, 2014.

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18
Capítulo 2
____________________

A NUTRIÇÃO NA
SENESCÊNCIA DA VIDA
COMO PROCESSO
BIOLÓGICO

Marianela Díaz Urrutia


Amanda Gemelli
Nutricionistas pelo Centro Universitário Assis Gurgacz

Thais Mariotto Cezar


Nutricionista e Mestre em Engenharia Agrícola
Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz

Daniela Miotto Bernardi


Nutricionista e Doutora em Alimentos e Nutrição
Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz
INTRODUÇÃO

A população no Brasil e no mundo apresenta um crescimento acelerado,

nas faixas etárias com idade mais avançada, em decorrência da queda na

natalidade e pelos avanços da medicina (PEREIRA, NOGUEIRA e SILVA, 2015).

Sendo este tema, escopo de diversos estudos científicos com incentivo do

governo mediante políticas de apoio (DAWALIBI et al., 2013).

Contextualizando a velhice, segundo Freitas, Queiroz e Souza (2009),

trata-se de um evento biológico da vida de um indivíduo, que acontece como

consequência do processo de envelhecimento, onde, para Sampaio e Moraes

(2010), há uma produção aumentada de Espécies Reativas de Oxigênio que

seriam a gênese de muitas patologias relacionadas à velhice, pois podem causar

danos ao DNA celular, aos lipídeos de membrana e as proteínas com função

biológica (VINCENT, INNES e VINCENT, 2007).

Dessa maneira, ocorre uma mudança de estilo de vida, influenciada por

uma série de fatores, tais como, capacidade funcional, aspectos físicos e

emocionais, estado de saúde, vitalidade, âmbito social e comprometimento

cognitivo (FERREIRA, MEIRELES e FERREIRA, 2018).

Por outro lado, durante este ciclo da vida, também acontecem mudanças

na fisiologia do indivíduo, tais como, sarcopenia, obesidade, desnutrição,

osteopenia, osteoporose e depressão (ATMIS et al., 2019; FERREIRA, MEIRELES e

FERREIRA, 2018; PEREIRA, SPYRIDES e ANDRADE, 2016; MOTSINGER et al., 2012).

A sarcopenia refere uma perda da massa do músculo esquelético que se

associa à fragilidade, inatividade física, qualidade de vida deficiente e

mortalidade, sendo que, esta mudança muscular pode estar ou não associada

à obesidade, relacionando-se com maior prevalência no sexo feminino (ATMIS

et al., 2019), que ao mesmo tempo apresenta uma acentuada deficiência de


vitaminas e minerais (FERREIRA, MEIRELES e FERREIRA, 2018).

21
A obesidade em idosos está fortemente relacionada a agravos

nutricionais, como doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs). Em

contrapartida, nessa faixa etária a desnutrição também se encontra presente e

está relacionada à incapacidade funcional, reduzindo a qualidade de vida,

aumentando o risco a infecções, maior número de internações hospitalares e

mortalidade (PEREIRA, SPYRIDES e ANDRADE, 2016).

Mudanças no estilo de vida e redução do apetite em idosos se associam

à deficiência de micronutrientes, tais como a vitamina D que estudos

demonstram, por um lado, está ligada a doenças neuropsiquiátricas como a

depressão (MOTSINGER et al., 2012) e por outro lado, sabe-se que, aliada a

deficiência de cálcio, prejudicam a densidade óssea desencadeando osteopenia

e osteoporose conformando um fator de risco para fraturas (RAEF et al., 2011).

Para a identificação clínica precoce da vulnerabilidade fisiológica do

idoso, é necessário um manejo adequado do estado nutricional do mesmo,

mediante a aplicação de avaliações nutricionais constantes (TORRES et al., 2015;

KURCKU et al., 2017).

Neste contexto, o objetivo do presente capítulo é reunir informações

encontradas em artigos científicos contemporâneos com relevância temática

relacionados ao impacto que a nutrição exerce na fisiologia de indivíduos

idosos, considerando o estado holístico do indivíduo.

CICLO VITAL:
IDOSOS

Em países subdesenvolvidos e em processo de desenvolvimento, um

indivíduo é considerado idoso a partir dos 60 anos de idade, já em países

desenvolvidos, a entrada na terceira idade é após os 65 anos (BRASIL, 2010).

Há uma expectativa de que entre os anos 2015 e 2050, a população

mundial de idosos passará de 12% para 22% da totalidade de habitantes no


22
mundo e que até 2020 o número de indivíduos com idade superior a 60 anos

será maior do que a quantidade de crianças menores de 5 anos (ORGANIZAÇÃO

MUNDIAL DA SAÚDE – OMS, 2015).

No plano nacional, sabe-se que, até o ano 2017, a população idosa

alcançou os 30,2 milhões de pessoas no país, sendo que os homens

representaram a menor porção, com 44% do total dessa coletividade (INSTITUTO

BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE, 2018). No entanto, de acordo

com estatísticas do Banco Mundial (2011), há uma projeção de que a população

idosa brasileira no ano 2050, alcançará 49% do total dos habitantes no país, sendo

que, concomitantemente, crianças e adolescentes em idade escolar, irão diminuir

sua porção de 50% para 29% da totalidade dos brasileiros.

No Brasil, este cenário irá gerar uma sobrecarga, tanto nos sistemas de

saúde como nos sistemas de aposentadoria (VERAS, CALDAS e CORDEIRO,

2013), pois, trata-se de um país acostumado a lidar com os problemas típicos

de uma população jovem (SOUZA, 2010).

Assim, faz-se necessário criar um suporte científico com ampla

divulgação de informações, a modo de expandir o conhecimento relacionado

aos processos que ocorrem neste estágio da vida, com uma visão

interdisciplinar (DAWALIBI et al, 2013).

Este conhecimento pode conduzir um bom manejo da prevenção do

surgimento das patologias próprias da terceira idade, principalmente das

doenças crônicas, pois é a maneira mais eficaz de promover e manter uma boa

saúde, diminuir a desnutrição e a mortalidade (ARTAZA–ARTABE et al., 2016;

ATMIS et al., 2019), evitando a incapacidade e a redução da qualidade de vida

(FERREIRA, MEIRELES e FERREIRA, 2018).

No Brasil, no ano 2006 foi aprovada a Política Nacional de Saúde da

Pessoa Idosa (PNSPI), que tem por objetivo atender as demandas da população

idosa (BRASIL, 2006). Nesse contexto, Damaceno e Chirelli (2019), mediante um

23
estudo que analisou os processos de trabalho no cuidado do idoso em um

município do Brasil, observaram uma falta de planejamento dos gestores em

relação à PNSPI. Por outro lado, observaram o despreparo dos profissionais que

fazem parte da equipe que cuida dos idosos, concluindo que seria necessária

uma formação acadêmica específica que atenda as necessidades dessa

população.

FISIOLOGIA NA VELHICE

Entre as teorias do envelhecimento estão, a teoria da degradação

programada das células, em que o ser humano está programado para

envelhecer, e a teoria que os danos provocados no DNA ao longo da vida

causam o envelhecimento (JIN, 2010). Nesse processo, ocorre a diminuição da

capacidade de proliferação celular, fazendo com que seja estimulada a secreção

de células pró-inflamatórias que causam uma inflamação crônica sistêmica

(SAVIOLI et al., 2013), relacionada à patogênese de doenças relacionadas a

maior idade (ZUO et al., 2019).

As alterações fisiológicas, relacionadas ao envelhecimento, fazem parte

do processo biológico e envolvem declínios em determinadas funções, período

chamado de senescência, que tem início aos 30 anos de idade e que pode ser

influenciado por fatores como, genética, patologias, estilo de vida e condições

socioeconômicas (MAHAN e RAYMOND, 2018).

A fragilidade em idosos é um conceito utilizado para um estado clínico onde

se encontra um aumento do estado de vulnerabilidade e desenvolvimento de

dependência que, quando exposto a um estressor, pode levar à mortalidade (CRUZ–

JENTOFR et al., 2017). Sendo que, um consumo adequado diário de proteínas, pode

reduzir ou inclusive, prevenir a perda de massa magra (BEASLEY et al., 2013).

24
São considerados os atributos da fragilidade: vulnerabilidade, pela

fraqueza do organismo a acontecimentos estressores; alterações de marcha,

pela instabilidade física e lentidão influenciado pelo sistema neurológico,

musculoesquelético e cardiovascular; autorrelato de fadiga; fraqueza muscular,

decorrente, principalmente, da sarcopenia, disfunção imunológica,

neuroendócrina e da carência de exercício físico (ANDRADE et al., 2012).

A sarcopenia é caracterizada como uma perda de massa muscular,

força, função quando relacionada ao aumento de idade (SPIEGELEER et al.,

2016). No processo de envelhecimento ocorre um declínio significativo na

função e desempenho neuromusculares, influenciando na redução da massa

muscular esquelética e também na perda de força dos idosos (DOHERTY,

2013), ainda são relacionados outros fatores como inflamação, hormônios e

inatividade (NARICI e MAFFULLI, 2010).

No processo de envelhecimento ocorrem complexos mecanismos que

provocam a deterioração de específicas áreas do cérebro e em consequência a

resposta a estímulos periféricos. Por isso a mudança na regulação do apetite

ocorre pela modificação dos sinais de saciedade (LANDI et al., 2016).

A perda de peso não intencional em indivíduos idosos pode estar

relacionada com a desnutrição e a anorexia, e como consequência ocorre a

redução de tecido magro, principalmente tecido esquelético, então associado a

sarcopenia (SOENEN e CHAMPMAN, 2013). Alterações fisiológicas ocorrem na

função reduzida da mucosa gástrica e na menor produção de ácido clorídrico,

fato relacionado a inflamações, menor disponibilidade de absorção de

nutrientes e desconforto alimentar (MAHAN e RAYMOND, 2018).

Em estudo de Blair et al. (2015), cerca de 58% dos idosas avaliadas estavam

em estado de sobrepeso ou obesidade, característica relacionada a fatores

demográficos e de estilo de vida, considerando que apenas um terço dos adultos

com mais de 40 anos realizam a prática de atividade física. Ainda assim, estudos

25
indicam que idosos em estado de risco de desnutrição apresentam peso superior

como sobrepeso e obesidade (WINTER et al., 2013), associando assim a falta e / ou

inadequada ingestão alimentar, a perda do tecido muscular por mecanismos

fisiológicos relacionados à idade e a baixa adoção de atividade física.

PATOLOGIAS ASSOCIADAS À NUTRIÇÃO

Diversos estudos científicos descrevem as doenças com maior

ocorrência na etapa de senescência da vida, onde se destacam a obesidade

associada ou não à perda de massa muscular que como consequência gera a

sarcopenia. Nesse contexto, Atmis et al. (2019), mediante um estudo

observacional que considerou 350 indivíduos idosos hospitalizados em uma

unidade geriátrica, verificaram que 32% desse total apresentava sarcopenia e

que 68,4% correspondia ao sexo feminino.

Por outro lado, Cabrerizo et al. (2015), em artigo de revisão sobre os

níveis séricos de albumina em idosos, observaram que a hipoalbuminemia

apresenta uma relação direta com a sarcopenia, que por sua vez é

desencadeada por uma reduzida ingestão de alimentos, mas principalmente

pelo baixo consumo de alimentos fontes de proteínas, responsáveis pela

produção orgânica da musculatura. Nesse aspecto, Landi (2016) destaca que a

redução do apetite em idosos, tem origem multifatorial e é denominada

anorexia do envelhecimento, pois ocorre com frequência nesse ciclo da vida.

Entretanto, Cheng et al. (2019), corroboraram, por meio de um estudo de

retrospectiva observacional, que incluiu 461 pacientes idosos com fibrilação

atrial, classificados pelo estado nutricional, que essa patologia está associada a

um processo inflamatório que contribui para um quadro de hipoalbuminemia

gerando depleção proteica e supressão na produção de proteínas.

26
Em um estudo observacional realizado por Beasley et al. (2013) foi

avaliada a relação entre função física, por auto relato e consumo de proteína,

estimada mediante questionário de frequência alimentar (QFA) aplicado em

mais de 93 mil mulheres com idade superior a 50 anos pós-menopausa.

Observaram que, houve uma relação diretamente proporcional entre o

consumo proteico e o desempenho físico das mulheres avaliadas, pois aquelas

em que a ingestão de proteínas era menor do que 16% do valor calórico total

(VET), ou inferior a 1,18 g de proteína / kg de peso, a capacidade física era inferior

a aquelas que consumiam as referidas quantias deste macronutriente.

Em relação às deficiências associadas a osteopenia e osteoporose, em

estudos, Raef et al. (2011), destacam que há uma conjugação de vários fatores que

desencadeiam as referidas patologias, dentre elas, o reduzido consumo de

alimentos fonte de cálcio, inatividade física e a deficiência de vitamina D, que por sua

vez, relaciona-se com a falta de exposição da pele ao sol (GLOTH et al., 1995) e

possivelmente a distúrbios na secreção de paratormônio (LAMBRONICI et al., 2012).

Por outro lado, segundo um estudo transversal realizado por Motsinger

et al. (2012) que associou a saúde mental e transtornos de humor com os níveis
deficientes de vitamina D sérica em mulher idosas, concluíram que a carência

deste micronutriente está relacionada diretamente com patologias do sistema

nervoso, tais como a depressão.

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL

Diferentes estratégias podem ser empregadas na avaliação do estado

nutricional de idosos, sendo a Mini Avaliação Nutricional (MNA ®) e o Índice de

Massa Corporal (IMC) amplamente utilizados.

A Mini Avaliação Nutricional (MNA®) é uma ferramenta utilizada para

determinar o estado nutricional de idosos em vulnerabilidade, tendo como a

27
finalidade a intervenção nutricional quando necessário. Os questionamentos

contemplam um estado nutricional global do indivíduo, como: avaliação clínica,

consumo alimentar e estilo de vida, avaliação antropométrica e avaliação bioquímica

(GUIGOZ et al., 1996). A avaliação é iniciada pela Triagem (Quadro 2) e já se obtém

os resultados, para mais detalhes é utilizada a Avaliação Global (Quadro 3).

Quadro 2: Modelo adaptado da Mini Avaliação Nutricional (MNA ®) – Triagem


A - Nos últimos três meses houve diminuição da ingesta alimentar devido a perda de apetite,
problemas digestivos ou dificuldade para mastigar ou deglutir?

0 = diminuição grave 1 = diminuição 2 = sem diminuição da ingesta


moderada
B - Perda de peso nos últimos 3 meses

0 = superior a três 1 = não sabe informar 2 = entre um e três 3 = sem perda de


quilos quilos peso
C – Mobilidade

0 = restrito ao leito ou 1 = deambula mas não é capaz de sair de casa 2 = normal


à cadeira de rodas

D - Passou por algum estresse psicológico ou doença aguda nos últimos três meses?

0 = sim 2 = não

E - Problemas neuropsicológicos

0 = demência ou 1 = demência ligeira 2 = sem problemas


depressão graves psicológicos
F - Índice de Massa Corporal = peso em kg / (estatura em m)

0 = IMC < 19 1 = 19 ≤ IMC < 21 2 = 21 ≤ IMC < 23 3 = IMC ≥ 23

Pontuação da Triagem (subtotal, máximo de 14 pontos)


12-14 pontos: estado nutricional normal
8-11 pontos: sob risco de desnutrição
0-7 pontos: desnutrido
Para uma avaliação mais detalhada continue com as perguntas G – R

* Modelo adaptado de Guigoz et al., (1996).

28
Quadro 3: Modelo adaptado da Mini Avaliação Nutricional (MNA ®) – Avaliação Global

G - O doente vive na sua própria casa (não em instituição geriátrica ou hospital) 1 = sim 0 = não

H - Utiliza mais de três medicamentos diferentes por dia? 0 = sim 1 = não

I - Lesões de pele ou escaras? 0 = sim 1 = não

J - Quantas refeições faz por dia? 0 = uma refeição 1 = duas refeições 2 = três refeições

K - O doente consome:

pelo menos uma porção diária de leite ou derivados (leite, queijo, iogurte)? ( ) sim ( ) não

duas ou mais porções semanais de leguminosas ou ovos? ( ) sim ( ) não

carne, peixe ou aves todos os dias? ( ) sim ( ) não

0.0 = nenhuma ou uma resposta «sim» 0.5 = duas respostas «sim» 1.0 = três respostas «sim»

L - O doente consome duas ou mais porções diárias de fruta ou produtos hortícolas? 0 = não 1 = sim

0.0 = menos de três copos


M - Quantos copos de líquidos (água, sumo, café, chá, leite)
0.5 = três a cinco copos
o doente consome por dia?
1.0 = mais de cinco copos

0 = não é capaz de se alimentar sozinho


N - Modo de se alimentar 1 = alimenta-se sozinho, porém com dificuldade

2 = alimenta-se sozinho sem dificuldade

( ) total

0 = acredita estar desnutrido


O - O doente acredita ter algum problema nutricional? 1 = não sabe dizer

2 = acredita não ter um problema nutricional

( ) total

P - Em comparação com outras pessoas da mesma idade, como 0.0 = pior 1.0 = igual

considera o doente a sua própria saúde? 0.5 = não sabe 2.0 = melhor

( ) total

Q - Perímetro braquial (PB) em cm 0.0 = PB < 21 0.5 = 21 ≤ PB ≤ 22 1.0 = PB > 22

( ) total

R - Perímetro da perna (PP) em cm 0 = PP < 31 1 = PP ≥ 31

Avaliação global (máximo 16 pontos) ( ) Pontuação da triagem ( )

Pontuação total (máximo 30 pontos) ( ) total

de 24 a 30 pontos ( ) estado nutricional normal


Avaliação do Estado Nutricional de 17 a 23,5 pontos ( ) sob risco de desnutrição

menos de 17 pontos ( ) Desnutrido


* Modelo adaptado de Guigoz et al., (1996).

29
Estudo de Hedman, Nydahl e Faxen–Irving (2016), apontou que a MNA

não foi tão eficaz por não distinguir claramente os resultados dos idosos em

risco de desnutrição e idosos desnutridos. Já Kurkcu et al. (2017), utilizando o

MNA e avaliando os riscos de fragilidade dos idosos, mostraram que o MNA foi

independente da relação de risco aumento de fragilidade.

Outra ferramenta nutricional utilizada é o Índice de Massa Corporal

(IMC). Para calcular o IMC se utiliza dados antropométricos (IMC = peso /

altura²) para classificar o estado nutricional em: < 22 kg/m² baixo peso; ≥ 22

e ≤ 27 kg/m² peso adequado e > 27 kg/m² sobrepeso (BRASIL, 2014), sendo

essa classificação para indivíduos acima de 60 anos.

Em estudo de Huisman et al. (2016), o IMC foi uma das ferramentas

utilizadas, ainda que associado a outros métodos, não foi possível chegar num

consenso sobre qual é a ferramenta de triagem nutricional mais apropriada.

RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS

Em relação às recomendações de ingestão adequada de

macronutrientes, atualmente, para indivíduos idosos de ambos os sexos,

segundo a ingestão dietética de referência ( do inglês: Dietary Reference Intakes

– DRI) do Instituto de Medicina (do inglês: Institute of Medicine – IOM) (2005) dos

Estados Unidos é de 0,8 gramas de proteínas por kg de peso por dia e 130

gramas de carboidratos por dia, sendo que esta referência não determina uma

quantidade específica para o consumo de gorduras totais nessa faixa etária.

Entretanto, de acordo com a variação de distribuição aceitável de

macronutrientes (do inglês: Acceptable Macronutrient Distribution Ranges -

AMDR), do (VET), o consumo deve oscilar entre: 10 - 35% para proteínas, 45 -

65% para carboidratos e 20 - 35% para gorduras totais.

30
Por outro lado, quanto ao consumo de proteína em idosos, estudos

afirmam que o consumo recomendado deveria oscilar entre 1,0 - 1,3 g/kg/dia,

para assim, preservar a massa muscular evitando o catabolismo da mesma e

promover a síntese proteica (MORAIS, CHEVALIER e GOUGEON, 2006).

Nesse âmbito, Previdelli, Goulart e Aquino (2017), analisaram, mediante

um estudo de regressão linear, o consumo de macronutrientes de 4.286

indivíduos idosos de ambos os sexos de diferentes regiões do Brasil, baseados

no registro alimentar de dois dias. Verificou-se que, o total de indivíduos

consumiu em média (intervalo de confiança de 95%) 1.546 kcal/dia, das que

20,1% correspondem a proteínas, 53% a carboidratos e 27,4% a gorduras.

Sendo que, o consumo de calorias totais foi significativamente maior para os

homens. Por outro lado, o consumo energético total diário foi superior nas

regiões rurais em relação às urbanas. E este foi significativamente maior na

região norte do que no centro-oeste do país.

No tocante ao consumo proteico, no mesmo estudo, observou-se que, a

região norte apresentou um percentual significativamente maior do que aquele

consumido na região sul, com 21,5% e 17,9%, respectivamente, sendo que no

geral o consumo de proteína foi superior na zona rural em comparação à zona

urbana. Já para o consumo de carboidratos, a região centro-oeste foi a que

apresentou um consumo significativamente menor quando comparado às

outras regiões do país com 51,1% do VET e em 14,5% dos idosos o consumo foi

inferior ao recomendado, sendo que metade dessas pessoas apresentaram

uma ingestão excessiva de gorduras, que por sua vez foi superior à

recomendação em aproximadamente 10% dos idosos e, especificamente, a

gordura saturada apresentou uma superioridade significativa nas regiões

urbanas em relação às rurais e no sexo feminino.

Quanto ao consumo de micronutrientes, a DRI do IOM (1997), dos

Estados Unidos estabelecem que a ingestão diária de cálcio e vitamina D em

31
idosos, deve atingir 1.200 mg e 10 mcg, respectivamente, sendo que a partir dos

70 anos o consumo de vitamina D, para ambos os sexos, deve ser de 15 mcg/dia.

Fisberg et al. (2013) analisaram a ingestão de certos micronutrientes por

parte da população idosa no Brasil, mediante um estudo que avaliou o consumo

alimentar de 4.322 indivíduos que responderam um registro alimentar de dois

dias. Observou-se que, o consumo de cálcio e vitamina D para o sexo masculino

foi em média de 499,9 mg/dia e 3,1 mcg/dia, respectivamente, e para o sexo

feminino, verificou-se uma média no consumo de 476,6 mg/dia e 2,9 mcg/dia

para cálcio e vitamina D, respectivamente. Sinalizando que, em ambos os sexos

houve uma inadequação para a ingestão desses dois micronutrientes quando

comparados às recomendações adequadas de ingestão estabelecida pela DRI.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do momento em que começa o processo de senescência do

organismo humano, mudanças físicas acontecem em decorrência de processos

fisiológicos do corpo, e o estado nutricional do indivíduo que atravessa esse ciclo da

vida é determinante no aparecimento e estabelecimento de determinadas patologias.

Dessa maneira, o acompanhamento nutricional constante, por parte dos

profissionais da nutrição com conhecimentos específicos desses indivíduos,

mediante o uso de ferramentas avaliativas adequadas, torna-se essencial, para

assim, evitar carências de nutrientes, auxiliando, tanto na prevenção como no

monitoramento de patologias relacionadas à nutrição.

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35
Capítulo 3
____________________

NUTRIÇÃO, INFLAMAÇÃO,
IMUNOLOGIA E A
INFLUÊNCIA
DOS COMPOSTOS BIOATIVOS
POR MEIO DO MANEJO
DIETÉTICO

Paula Silveira Prado


Vanessa Cristina da Silva
Nutricionistas pelo Centro Universitário Assis Gurgacz

Thais Mariotto Cezar


Nutricionista e Mestre em Engenharia Agrícola
Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz

Daniela Miotto Bernardi


Nutricionista e Doutora em Alimentos e Nutrição
Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz
INTRODUÇÃO

A inflamação é uma resposta natural ao estresse celular, aos danos

teciduais ou à infecção, e quando ela ocorre em seu processo normal, quando

o agente estressor for retirado, a inflamação cessa, porém em algumas

situações ela se torna crônica, dando início a doenças inflamatórias como por

exemplo sepse, câncer, aterosclerose ou artrite reumatoide (FOLEY, 2015).

Idealmente ela deveria permitir que tecidos novos se reestabelecessem após

uma infecção, entretanto, quando se torna crônica, pode causar inflamação de

baixo grau o que é um dos principais fatores de risco para aumento da

mortalidade, estando relacionada ao aumento dos níveis sanguíneos de

mediadores inflamatórios, presente no Alzheimer, Diabetes Mellitus Tipo 2,

Sarcopenia, Osteoporose, Câncer, entre outras doenças (FOUGÈRE et al., 2017)

Por motivos fisiológicos, o ser humano necessita se alimentar

diariamente, e o tipo e a qualidade dessa alimentação são de suma importância,

haja vista pelos nutrientes disponíveis e pela presença de compostos bioativos

- CBA (compostos presentes nos alimentos que exercem efeitos benéficos

sobre um organismo, tecido e/ou célula) nos alimentos, os quais podem atuar

de várias maneiras, tanto em funções específicas do organismo, como em seus

mecanismos de ação (BASTOS, ROGERO e ÂREAS, 2009).

Existem CBA que têm sua ação nas vias de sinalização pró e anti-

inflamatórias (SOARES et al., 2015), sendo a Curcumina e os compostos

polifenólicos com destaque para os flavonoides (resveratrol e catequinas)

exemplos de CBA com ação anti-inflamatória (BASTOS, ROGERO e ÂREAS, 2009).

A curcumina, é um pigmento fenólico de cor amarela presente no açafrão,

obtido a partir da cúrcuma (Curcuma longa L.). Segundo Gupta et al. (2012),

vários estudos com modelos in vitro, demonstraram que este CBA apresenta

propriedades anti-inflamatórias (reduzindo a resposta inflamatória através da

36
regulação de moléculas causadoras), antioxidantes, cicatrizante e

quimiopreventivas entre outras. O resveratrol é um polifenol (flavonoide)

encontrado principalmente nas uvas, no vinho tinto e no amendoim. Este CBA

atenuou a geração de citocinas pró-inflamatórias em células pulmonares e do

miocárdio, atuando (aumento) sobre o fator de transcrição Nrf2 (HAO et al.,

2013). As catequinas são monômeros de flavonoides, divididas em:

epicatequina, epigalocatequina, epicatequina galato ou/e

epigalocatequinagalato (EGCG). A EGCG é um nutriente bioativo encontrado no

chá verde (Camellia sinensis), com ação antioxidante e anti-inflamatória -

diminuição na expressão de marcadores inflamatórios (KALAISELVI et al., 2013).

Neste contexto, o presente capítulo tem como objetivo fazer uma

análise da literatura a respeito da diminuição da resposta inflamatória crônica e

aumento da imunidade por meio da ingestão de compostos bioativos presentes

em alimentos.

DOENÇAS INFLAMATÓRIAS, IMUNOLOGIA E INFLAMAÇÃO

A imunologia é o estudo do sistema imunológico, este é caracterizado por

um conjunto de células, tecidos, órgãos e moléculas onde a função básica, é

eliminar agentes estranhos ao organismo, para manter a homeostase. Ele é

dividido em Imunidade Inata e Imunidade Adaptativa. A imunidade inata

corresponde à respostas imediatas que geram uma defesa inicial por meio de

mecanismos celulares e bioquímicos já pré-existentes à infecção. Estes

componentes são principalmente: proteínas do sangue (citocinas), barreiras físicas

e químicas, células fagocitárias (neutrófilos e macrófagos), células Natural Killer (NK)

e Células dendríticas. A resposta imune inata possui dois tipos de reações:

inflamação e defesa antiviral. Já a resposta imune adaptativa é constituída por

respostas tardias que são estimuladas pela exposição a agentes infecciosos

37
gerando uma defesa mais especializada e eficaz contra infecções, sendo que seus

principais componentes são os linfócitos (ABBAS, LICHTMAN e PILLAI, 2014).

A inflamação, uma característica da imunidade inata, é um processo de

recrutamento de leucócitos e proteínas plasmáticas, seguido do acúmulo nos

tecidos e sua ativação para destruir os microrganismos. Tanto o processo

inflamatório quanto a defesa antiviral envolvem as citocinas definidas como

mediadores de inflamação que coordenam e regulam muitas atividades da

imunidade inata, sendo que elas são responsáveis pela comunicação entre

leucócitos e entre leucócitos e outras células. A maioria das citocinas com

estrutura definida é chamada de Interleucina (IL), as citocinas que estimulam a

inflamação são Fator de Necrose Tumoral (TNF), IL-1, IL-12, Interferon Gama

(IFN-γ), e as Quimiocinas. Após a ativação destes mecanismos, segue a ingestão

e destruição dos microrganismos e células danificadas se o processo estiver

ocorrendo naturalmente (ABBAS, LICHTMAN e PILLAI, 2014).

As citocinas estão sendo cada vez mais usadas na medicina, para induzir

ou inibir a inflamação, pois a maioria das citocinas mediadoras e reguladoras da

imunidade natural atuam como estimuladoras de reações inflamatórias iniciais

aos microrganismos e outras atuam controlando essa resposta. Cada

componente da resposta imune é importante e tem sua função. O TNF é o

principal mediador da resposta inflamatória aguda a bactérias gram-negativas

e outros microrganismos infecciosos, além de ser responsável por muitas

complicações sistêmicas de infecções graves, sendo que um dos principais

estímulos de produção do TNF é o encontro de Receptores Semelhantes a Toll

(do inglês: Toll-Like Receptors – TLR) a Lipopolissacarídeos (LPS) e outros

produtos microbianos. A principal ação fisiológica dessa citocina é estimular o

recrutamento de neutrófilos e monócitos para locais de infecção. O TNF em baixa

concentração plasmática induz inflamação aguda, em concentração mediana

medeia os efeitos sistêmicos da inflamação (como febre, por exemplo) e quando

38
em altas concentrações ele causa anomalias patológicas do choque séptico (baixo

débito cardíaco, trombos, baixa resistência nos vasos sanguíneos e hipoglicemia).

A IL-1 tem função semelhante ao TNF, ou seja, ela é mediadora da resposta

inflamatória do hospedeiro a infecções e outros estímulos, e seus efeitos biológicos

também são semelhantes aos do TNF (ABBAS, LICHTMAN e PILLAI, 2008).

A IL-12, é uma interleucina que atua como principal mediador da

resposta imune natural inicial a microrganismos intracelulares e é um indutor

essencial da imunidade mediada por células, ela estimula a produção de IFN- γ

pelas células NK e Linfócitos T. Já os IFNs medeiam a resposta imune natural

inicial a infecções virais. As quimiocinas estimulam o movimento dos leucócitos

e regulam a migração dos leucócitos do sangue para os tecidos, sendo que as

que estão envolvidas na resposta inflamatória, são produzidas por leucócitos

em resposta a estímulos externos (ABBAS, LICHTMAN e PILLAI, 2008).

Apesar do processo inflamatório natural ser essencial para a defesa do

organismo, quando é anormal e mal resolvido, leva ao desenvolvimento de

doenças crônicas, que possuem alto grau de morbidade e mortalidade, como

aterosclerose, artrite reumatoide e também determinante na patologia do

tecido adiposo em excesso (FOLEY, 2015; MINIHANE et al., 2015; ABBAS,

LICHTMAN e PILLAI, 2014). Estas patologias crônicas apresentam uma

característica em comum: a inflamação de baixo grau por longo período (doenças

inflamatórias) podendo ser proveniente de componentes dietéticos inflamatórios,

e prevenida por meio de uma alimentação rica em compostos anti-inflamatórios,

garantindo assim, que não haja uma resposta inflamatória induzida pela dieta

(BARREA et al., 2018). Existe também a inflamação induzida pela idade, que ainda

não tem seus agentes etiológicos bem elucidados, porém existe relação entre ela,

disbiose, aumento da permeabilidade intestinal e Alzheimer, que traz aos estudos

a neuroinflamação e o tratamento com agentes anti-inflamatórios (MCGEER,

ROGERS e MCGEER, 2017; THEVARANJAN et al., 2017).

39
Diversas formas de prevenir e tratar a inflamação são percebidas, sendo

que agentes anti-inflamatórios e modificação dos caminhos que iniciam o

processo de pró-resolução são essenciais (FULLERTON e GILROY, 2016), neste

sentido a alimentação tem papel de destaque.

NUTRIÇÃO, INFLAMAÇÃO E IMUNOLOGIA

Diferentes fatores são responsáveis pelo desenvolvimento da inflamação,

entre eles alguns tem caráter nutricional, tais como o excesso de peso, Diabetes

Mellitus, patologias cardiovasculares e distúrbios metabólicos (dislipidemias)


(SIPPEL et al., 2014).

Quando se trata de nutrição, nutrientes, dieta e a sua relação com a

inflamação, deve-se levar em conta o Fator de Inflamação da Dieta (do inglês:

Dietary Inflammatory Index - DII). Inicialmente, o DII foi desenvolvido por Cavicchia
et al. (2009), onde 3 valores eram utilizados para classificar cada artigo com base
no efeito do alimento ou componente especifico na inflamação, o valor de -1 foi

associado com efeitos pró-inflamatórios (onde ocorria aumento significativo dos

níveis de IL-1 β, IL-6, TNF-alfa ou CRP ou diminuição da IL-4, IL-10), artigos com

pontuação de +1 possuíam efeitos anti-inflamatórios (eles apresentavam

diminuição significativa nos níveis de IL-1 β, IL-6, TNF-alfa ou CRP ou aumento dos

níveis de IL-4, IL-10) e os atribuídos ao valor 0 foram considerados neutros, onde a

variável dietética não produziu mudança nos marcadores inflamatórios. Com o

objetivo de refinar e melhorar a avaliação do DII através dos seguintes marcadores

de inflamação: IL-1 β, IL-4, IL-6, IL-10, TNF-alfa e CRP os autores desenvolveram um

novo método de cálculo do DII e descreveram que ele pode ser utilizado em

qualquer tipo de população na qual, o objetivo seja avaliar o fator de inflamação da

dieta, podendo posteriormente, ser utilizado para reduzir níveis de inflamação e

possivelmente reduzir o risco e algumas condições crônicas (SHIVAPPA et al., 2014).

40
Doenças cardiovasculares, por exemplo, mostraram aumento da

probabilidade de desenvolvimento quando se tem uma dieta pró-inflamatória,

sendo que a associação foi forte, gradual e consistente a partir de diversos

métodos de avaliação (RAMALLAL et al., 2017; GARCIA-ARELLANO et al., 2015).

Além disso, o ganho de peso também se demonstra associado a dietas pró-

inflamatórias podendo ser o início de sobrepeso ou obesidade. A avaliação foi feita

de forma onde cada participante recebia um ponto caso consumisse diariamente

mais que a média de ingestão por sexo (seis) de legumes, frutas, nozes, peixe,

frutos do mar, cereais e razão lipídica monoinsaturada para saturada e também

recebia um ponto caso sua ingestão estivesse abaixo da média de consumo por

sexo para laticínios, carnes e seus derivados (RAMALLAL et al., 2017).

Tratando-se de imunologia, é importante abordar as doenças

autoimunes que são causadas por uma autoimunidade, caracterizada por uma

falha nos mecanismos normais de auto tolerância do organismo resultando em

reações contra as células e tecidos do próprio corpo (ABBAS, LICHTMAN e

PILLAI, 2008). O tratamento de doenças autoimunes através da alimentação e

manejo dietético é um dos pontos mais relevantes e as alterações na dieta

podem ser um meio de buscar a modulação das células T. A restrição calórica

ou outras formas de restrição dietética se mostraram efetivas para prevenção

de doenças autoimunes principalmente através de jejuns longos e Dieta

Mimetizadora de Jejum (do inglês: Fasting Mimicking Diet - FMD) seguida de

períodos de realimentação, com objetivo de reduzir a taxa de envelhecimento

e fatores inflamatórios (CHOI, LEE e LONGO, 2017). Em um estudo experimental

conduzido com ratos portadores de Diabetes Mellitus Tipo 1 e Tipo 2, com o

objetivo de avaliar o efeito da FMD sob os mecanismos responsáveis pela

regeneração das células-β pancreáticas e aumento da produção de insulina, o

resultado observado foi que a aplicação de uma dieta FMD baixa em proteínas

e baixa em açúcar reduz temporariamente o número de células-β seguido do

41
retorno ao seu número normal depois da realimentação, sugerindo uma

reprogramação de linhagem in vivo . Entre seis e oito ciclos de FMD e

realimentação são requeridos para restaurar a massa de células-β pancreáticas,

a função de secreção de insulina e o retorno próximo aos níveis normais da

glicose sérica de 6 horas de jejum, sugerindo assim, que a FMD altera a

expressão dos genes envolvidos na produção e regeneração de células-β

(CHENG et al., 2017).

COMPOSTOS BIOATIVOS E INFLAMAÇÃO

Assim como existem aspectos relacionados ao desenvolvimento da

inflamação, como dito anteriormente, existem fatores que podem evitar ou/e

diminuir essa reação no organismo, bem como o padrão alimentar dos

indivíduos. Schwingshackl e Hoffmann (2014), realizaram uma pesquisa de

meta-análise com publicações de estudos (ensaios randomizados) de doze

semanas a quarenta e oito meses de intervenção com 2300 indivíduos entre 25

e 77 anos de idade, os quais utilizaram a dieta mediterrânea com o intuito de

verificar seus possíveis efeitos sobre a inflamação, a conclusão do estudo foi

que essa mesma dieta diminuiu marcadores inflamatórios (IL-6, PTN C reativa

de alta sensibilidade e molécula de adesão intracelular – 1), em contrapartida,

elevou o hormônio adiponectina relacionado ao aumento da sensibilidade à

insulina e oxidação de ácidos graxos, além da melhora da função endotelial e

redução da gliconeogênese (produção de glicose pelo fígado).

Haja visto, que a dieta mediterrânea é composta de verduras, legumes,

cereais, leguminosas, peixes, vinhos e frutas, nas quais estas últimas, são fontes de

vitaminas, carotenoides, minerais, fibras e compostos bioativos do tipo fenólicos,

que estão presentes em raízes, folhas e caules (SCHIASSI et al., 2018). O consumo

de frutas está relacionado à redução de patologias cardiovasculares, aterosclerose,

42
inflamação, processos neurodegenerativos e atuam na atividade antiviral e

melhora do sistema imunológico (HABIBI e RAMEZANIAN, 2017).

Outro modelo de dieta também resultou de forma benéfica na

inflamação. O estudo avaliou 122 mulheres de 65 a 70 anos de idade, com

critério de não serem portadoras de DM ou de patologias cardíacas e não

fazerem uso de medicamentos anti-inflamatórios e/ou cigarro. O modo de

avaliação foi através de: coleta de sangue para analisar índices inflamatórios

(adiponectina, PCR e fibrinogênio) e metabólicos; atividade física para verificação

da pressão arterial; e qualidade da alimentação (registro alimentar de 6 dias

com escore para adesão à dieta “Abordagem dietética para parar a hipertensão”

- DASH). O escore DASH classifica por meio de pontuação, o consumo de grupos

alimentares enfatizados (frutas, legumes, nozes, grãos integrais e laticínios

reduzidos em gordura) e minimizados (carnes vermelhas e processadas,

bebidas açucaradas e sódio) nessa dieta. As mulheres que tiveram maior

adesão a DASH, tiveram redução na circunferência de cintura e de glicose

sanguínea, já nos marcadores inflamatórios houve aumento da adiponectina

(anti-inflamatória), porém, não houve nenhuma ligação/efeito com a PCR e

fibrinogênio (NILSON, HALVARDSSON e KADI, 2019).

Os compostos bioativos com destaque neste artigo são a curcumina,

resveratrol e catequinas, onde os mesmos serão discutidos detalhadamente

nos tópicos a seguir. Na Tabela 2, estão apresentados uma série de estudos

onde estes mesmos compostos foram empregados na dieta no intuito de

verificar seus efeitos sobre processos inflamatórios englobando diferentes

patologias.

43
Tabela 2: Estudos científicos que utilizaram como base compostos bioativos (curcumina,
resveratrol ou catequinas) e seus efeitos (positivo ou negativo) na inflamação.
Concentração e forma de uso
CB * Modelo Efeito** Referência
do CB
Schwingshackl e
Fenólicos Humanos Dieta Mediterrânea +
Hoffmann, 2014
Topcu-
100mg/kg de curcumina por via
Curcumina Ratos Wistar + Tarladacalisir et
intragástrica
al., 2013
Gulcubuk et al.,
Curcumina Ratos 100ml/kg via intragástrica +e-
2012
Sciberras et al.,
Curcumina Humanos 500mg de Meriva® via oral +e-
2015
Ratos Sprague ‐ Soetkino et al.,
Curcumina 75mg/kg /dia via gavagem +
Dawley 2013
Walker et al.,
Resveratrol Humanos 2g/dia via oral +
2018
Palsamy e
Resveratrol Ratos Wistar 5mg/kg via oral +e- Subramanian,
2011
Larrosa et al.,
Resveratrol Ratos 1mg/kg/dia ingestão oral +
2009
300ml/dia (vinho) por ingesta Noguer et al.,
Resveratrol Humanos +
oral 2012
EGCG***
Ratos 50mg/kg via intraperitoneal + Xiao et al., 2014

Extrato de 1 cápsula (379mg de extrato de


Bogdanski et al.,
chá verde e Humanos chá verde + 208mg de EGCG) via +
2012
EGCG oral
Gu, Yu e
Cacau em pó Camundongos Ração peletizada 80g/kg +
Lambert, 2014
*Composto bioativo; ** + (positivo); - (negativo); *** Epigalocatequinagalato.

CURCUMINA E INFLAMAÇÃO

A cúrcuma encontrada em celeiros, mercados e outros locais de gêneros

alimentícios, é constituída por até três elementos, sendo: a curcumina (CUR) que

corresponde em maior quantidade (70%), a desmetoxicurcumina (DMC) e a

bisdesmetoxicurcumina (BDMC). No Brasil este composto bioativo é conhecido

em sua maioria por “Açafrão da Índia” (corante em pó de coloração

amarelada/alaranjada) e é muito utilizado na culinária local para dar cor e sabor

aos alimentos (SUETH-SANTIAGO et al., 2015). E em países asiáticos, como a

44
Índia, a curcumina já é comercializada em forma de cápsulas, pomadas e

cremes, e por isso os efeitos da mesma dependem de como e o local que foi

administrado, afirma Carneiro (2014).

Segundo Sueth-Santiago et al. (2014), a curcumina é notoriamente um

composto inibidor do potente marcador inflamatório o Fator Nuclear Kappa-

βetta (NF-Kβ), no qual é responsável também por processos tumorais e

infecções por parasitas. O mesmo autor explica que para o NF-Kβ ser ativado

irá depender das ações de espécies reativas de oxigênio – EROS (instabilidade

dos elétrons desemparelhados, gerando alto potencial de reatividade com

moléculas biológicas, proporcionando oxidação de estruturas de membranas

celulares e até mesmo do ácido desoxirribonucleico – DNA), provenientes de

inflamações em geral, lesões e estresse oxidativo (caracterizado pela diminuição

da atividade do sistema antioxidante). A curcumina age sequestrando os

radicais das EROS e consequentemente a redução da ativação da via NF-Kβ.

Vários estudos mostram os efeitos da curcumina sobre a inflamação,

como veremos a seguir. No experimento de Topcu-Tarladacalisir et al. (2013),

os autores analisaram as implicações do uso da cúrcuma em ratos Wistar

machos induzidos a colite ulcerosa (doença inflamatória intestinal) por ácido

acético, fazendo com que aumentassem células apoptóticas no tecido do

cólon, feridas micro e macroscópicas no intestino grosso, atividade da

mieloperoxidase colônica – MPO (enzima presente em leucócitos que tem

papel fundamental na produção de EROS) e a malondialdeído – MDA

(produto secundário do estresse oxidativo). Os animais do grupo que

recebeu diariamente 100mg/kg de curcumina por via intragástrica dez dias

antes de adquirirem a colite e mais dois dias após a indução da patologia,

tiveram melhora das lesões intestinais, diminuição da MPO e MDA e

interrupção da apoptose.

45
Gulcubuk et al. (2013) investigaram os resultados do tratamento com

curcumina nas lesões teciduais e de marcadores inflamatórios em ratos

induzidos a pancreatite aguda (inflamação aguda no pâncreas) na fase inicial e

também tardia da doença. O grupo dos animais que foram tratados com a

cúrcuma via intragástrica, recebendo 100 ml/kg (1 ml de substância ativa por

dissolução em 9% de etanol), por 20 dias antes de estarem com a pancreatite

aguda e 288 horas após a indução da mesma, apresentaram diminuição da

tripsina, da proteína ativadora 1 (AP-1), e de lesões pancreáticas, houve também

a inibição da NF-Kβ. Por outro lado, a IL-6 e TNF-α, não foram reduzidas e/ou

inibidas no tecido pancreático em todos os momentos do experimento.

Em se tratando de esportes ou exercícios físicos de alta resistência, foi

observado no estudo de Sciberras et al. (2015), que essas atividades induzem a

produção de marcadores inflamatórios, principalmente de IL-6. No mesmo

estudo, os autores tinham o intuito de examinar as possíveis funções da

curcumina nas citocinas inflamatórias e no estresse causado pelo exercício.

Foram onze atletas, do sexo masculino com idade máxima de 35 anos, nos quais

consumiam uma dieta de baixo carboidrato (2,3g/kg/dia). Segundo os autores,

a curcumina na forma de fármaco (Meriva®) foi a melhor escolha para se usar

no estudo, pois o mesmo tem maior biodisponibilidade (velocidade e ação

esperada), concentração plasmática e efeito superior, quando comparado a

outras formas do composto. Os atletas recebiam antes de realizarem o ciclismo,

500mg de Meriva® no horário do almoço por três dias e outra dose de 500mg

antes de iniciar o exercício no mesmo dia da atividade. Os atletas

suplementados com o fármaco relataram sentir menor estresse durante a

atividade, porém, nos fatores relacionados a inflamação (IL-6) não houve

diferença estatisticamente significativa nos níveis, entre os grupos, sendo

respectivamente, logo após e depois de 1 hora de ciclismo: curcumina 2,3 – 2,0;

placebo 2,0 – 4,8; controle 2,0 – 3,5.

46
A nefrectomia 5/6 é um procedimento cirúrgico muito utilizado em

laboratórios de fisiologia para reproduzir a insuficiência renal crônica, dada a

sua reprodutibilidade e praticidade. Ratos Sprague ‐ Dawley foram submetidos

a este processo, no qual Soetkino et al. (2013) tinham o objetivo de verificar os

efeitos da curcumina na fibrose e na infamação renal. Os animais foram

divididos em três grupos, sendo: grupos não tratados (NX); grupos tratados com

curcumina (75 mg/kg /dia, via gavagem) e grupos tratados com fármaco

Telmisartan 10 mg/kg/dia administrado oralmente durante 8 semanas. No fim

do estudo foi concluído, que tanto o grupo tratado com curcumina e o grupo

do fármaco tiveram os mesmos efeitos sobre a patologia renal como redução

das atividades nas vias de NF-kβ e TNF-α. Também ocorreu elevação da

concentração de Nrf-2 e controle dos níveis de Keap-1, sendo que estes dois

indicadores juntos interagem para regulação da resposta antioxidante e

melhora do estresse oxidativo.

Portanto, conclui-se com base nos estudos apresentados, que a

curcumina foi benéfica em processos patológicos e efetiva em certos

marcadores inflamatórios, no entanto, para alguns indicadores não houve

diminuição significativa ou até inibição com o uso do composto.

RESVERATROL E INFLAMAÇÃO

O resveratrol (RES) é um polifenol, fitoalexina (composto químico)

derivado das plantas e está presente nas uvas e no vinho tinto, sendo conhecido

por sua ação antioxidante e anti-inflamatória (BONNEFONT-ROUSSELOT,

2016). Vários estudos têm demonstrado os efeitos dos polifenóis (resveratrol) e

alguns serão expostos a seguir.

A síndrome metabólica está associada à resistência a insulina, o que

contribui para o desenvolvimento da inflamação. Walker et al. (2018)

47
desenvolveram um estudo com o trans resveratrol e seus possíveis efeitos

sobre a inflamação em indivíduos obesos (IMC de 30 a 40), resistentes à insulina

e com idade de 30 a 70 anos. Os indivíduos que receberam 2g/dia de resveratrol

via oral por 30 dias e tiveram diminuição na concentração de glicose, melhora

da sensibilidade à insulina e não houve aumento de marcadores inflamatórios

(proteína C reativa de alta sensibilidade e contagem de glóbulos brancos).

Palsamy e Subramanian (2011) realizaram um estudo com o objetivo de

analisar as ações do resveratrol sobre a diabetes mellitus (DM). A DM resulta na

hiperglicemia crônica, que aumenta radicais livres e com isso o estresse

oxidativo, causando consequências em outros órgãos, como por exemplo a

nefropatia. Esse estudo utilizou ratos Wistar que recebiam estreptozotocina para

assim desenvolverem a DM. Os grupos tratados com resveratrol, recebiam o

composto na dosagem de 5mg/kg de peso corporal em suspensão aquosa via oral

por 30 dias. Os resultados do experimento para os animais que recebiam o

resveratrol foram os seguintes: as concentrações de glicose sanguínea foram

diminuídas no grupo de ratos diabéticos; houve redução dos danos renais causado

pela hiperglicemia; normalização da atividade de Nrf-2 e Keap-1 e diminuição dos

marcadores inflamatórios Nf-kβ, IL-6 e TNF-α nos animais diabéticos. Nos casos

dos animais que não tinham a DM, não houve diferença significativa dos níveis de

IL-6, TNF-α e da Nf-kβ daqueles que recebiam ou não o resveratrol.

O resveratrol trouxe benefícios na inflamação intestinal de ratos

induzidos a colite. Os animais recebiam 1mg/kg/dia de resveratrol via oral

misturada à ração padrão por 25 dias anterior a colite induzida e mais 5 dias

com a patologia já instalada. O estudo mostrou que houve aumento das

Bifidobacterium e Lactobacillus, diminuição de Enterobactérias (causadoras de


infecções intestinais), maior proteção na mucosa colônica com presença de

áreas do epitélio intestinal que permaneceram intactas, menor infiltração de

células indicadoras de inflamação como eosinófilos e neutrófilos, e diminuição

48
de marcadores inflamatórios: prostanglandina E sintaxe, ciclo-oxigenase 2 –

COX2 (enzima presente em locais com inflamação) e a prostanglandina natural

E2 (LARROSA et al., 2009).

Noguer et al. (2012) analisaram o consumo diário de 300 ml de vinho tinto

sem álcool por humanos durante uma semana, obtiveram através do mesmo, o

aumento das enzimas antioxidantes glutationa redutase, catalase e superóxido

dismutase, porém no que se referiu à ação na capacidade antioxidante

endógena não foi verificado efeito pela ingesta do vinho.

Com isso, verifica-se através dos experimentos discutidos, que o

resveratrol reduziu marcadores inflamatórios, normalizou a ação de Nrf-2 e

Keap-1, no entanto, em ensaio com humanos que consumiram o resveratrol

presente no vinho tinto sem álcool não se observou nenhum efeito antioxidante

relacionado à ingestão do composto.

CATEQUINAS E INFLAMAÇÃO

As catequinas também chamadas de flavonóis e as epicatequinas são

flavonoides presentes nas sementes do cacau e da maçã, em algumas

leguminosas (fava, farinha de alfarroba), castanhas (pistache) e em maior

concentração no chá verde, sendo este último obtido através da vaporização e

secagem das folhas das plantas que anulam a enzima polifenol oxidase (DIAS,

2016). O composto EGCG (epigalocatequinagalato) é o mais presente neste chá,

o que equivale de 50 a 60%, porém a qualidade e quantidade do mesmo

depende da localização geográfica da plantação e tipo de cultivo (SENGER,

SCHWANKE e GOTTLIEB, 2010).

No experimento de Xiao et al. (2014), ratos foram induzidos a desenvolver

esteatose hepática por dieta gordurosa, que consequentemente, começaram a

apresentar aumento de marcadores inflamatórios e de fibrose, além de necrose

49
e absorção de gordura hepática. Os animais recebiam 50mg/kg (injetado via

intraperitoneal) - 3 vezes na semana do composto epigalocatequinagalato por

8 semanas. No fim do experimento foi verificada a diminuição de gordura no

fígado, redução de necrose e de atividades inflamatórias, havendo regulação de

marcadores inflamatórios como TNF-α e NF- kβ. Nos ratos saudáveis as

catequinas não mostraram nenhum efeito.

O uso do extrato de chá verde também apresentou resultados positivos

no estudo de Bogdanski et al. (2012). Esse estudo teve como modelo indivíduos

obesos diagnosticados com hipertensão arterial (HAS), os mesmos foram

tratados por 3 meses, com 1 cápsula/dia contendo 379mg de extrato de chá

verde e 208mg do composto EGCG, o outro grupo recebia placebo. No final do

experimento se constatou que o grupo em que os animais foram tratados com

a cápsula teve diminuição da pressão arterial, redução da concentração de

insulina em jejum e aumento da sensibilidade à mesma. Houve também

menores níveis de glicose sérica, de TNF-α, e da proteína C reativa (indicadora

de inflamação). Em relação a perda de gordura corporal, constatou-se

diminuição de triglicerídeos e de lipoproteínas de baixa densidade (LDL), já para

lipoproteínas de alta densidade (HDL) ocorreu aumento significativo.

O cacau tem maior concentração de flavonoides especificamente em

catequinas, epicatequinas e procianidinas. Para se ter uma ideia, cada grama de

cacau em pó possui 50mg de polifenóis (KATZ, DOUGHTY e ALI, 2011). Essa

forma de cacau foi usada no estudo de Gu, Yu e Lambert (2014), para avaliar os

efeitos do mesmo, em camundongos obesos com processos inflamatórios e

vulneráveis à complicações pelo excesso de peso (DM, esteatose hepática). Os

animais foram divididos em grupos e tratados com dieta (oral – ad libitum)

diferenciada, sendo: de baixo teor de gordura (10%) e alto teor de gordura (60%)

para indução da obesidade. Após 8 semanas os animais alimentados com 60%

de gordura foram divididos novamente, em que um grupo permaneceu com a

50
mesma dieta e o outro igualmente, porém, suplementada com 80g/kg de cacau

em pó (adicionada a dieta – peletizada) por mais 10 semanas. No fim do

experimento foi observado que os animais suplementados com cacau, tiveram

aumento da sensibilidade à insulina, menor índice de ganho no peso corporal,

redução de complicações na esteatose hepática, diminuição de marcadores

inflamatórios como IL-6, IL-12b e proteína quimioatraente de monócitos-1

(MCP-1) presentes no tecido adiposo branco, além de elevação da adiponectina,

resultados estes inversos aos comparados com os animais tratados somente

com a dieta de alto teor de gordura.

Portanto, os estudos supracitados demonstraram a eficácia de

alimentos fontes de catequinas sobre a inflamação e patologias como

obesidade e suas complicações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os efeitos sistêmicos da inflamação crônica são muito patológicos,

podendo trazer sérias consequências à saúde. A nutrição, estilo de vida e

hábitos alimentares interferem diretamente neste aspecto, podendo alterar

o destino da saúde do indivíduo e desenvolvimento ou não da inflamação

crônica, sendo que a imunidade, desenvolvimento e progressão de doenças

autoimunes também podem ser mediadas através da alimentação, nutrição

e estratégias nutricionais.

Os compostos bioativos expostos e discutidos nesse artigo com base em

experimentos com modelos animais e humanos, tiveram resultados positivos

em processos inflamatórios como a diminuição de alguns indicadores e

aumento de outros (anti-inflamatórios). No entanto, alguns estudos mostraram

que o uso dos compostos não apresentou efeito significativo esperado sobre a

inflamação, o que demonstra que mais estudos precisam ser feitos.

51
Pesquisas futuras podem abordar o tema de forma mais específica, onde

apenas cada composto é avaliado a longo prazo na melhora e controle da

inflamação e também conscientização geral deve ser feita enfatizando a

importância da nutrição e estratégias nutricionais na prevenção do

desenvolvimento de doenças, trazendo para a população a necessidade de uma

alimentação saudável para garantir uma boa saúde.

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55
Capítulo 4
____________________

A IMPORTÂNCIA DOS
MICRONUTRIENTES
NO CONTROLE DO ESTRESSE
OXIDATIVO

Marianela Díaz Urrutia


Nutricionista pelo Centro Universitário Assis Gurgacz

Daniela Miotto Bernardi


Nutricionista e Doutora em alimentos e Nutrição
Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz
INTRODUÇÃO

Organismos vivos aeróbios dependem do oxigênio molecular (O2) para

produzir energia na forma de ATP (do inglês: Adenosine TriPhosphate) e assim,

promover a manutenção e crescimento das células (SILVA, 2016). O ATP é

produzido nas mitocôndrias celulares, mediante o processo de respiração celular

concluído na cadeia transportadora de elétrons, que apresenta quatro complexos

proteicos onde ocorrem reações de óxido-redução em uma molécula de O2 que

finalmente é reduzida em H2O (FERREIRA, AGUIAR e VILARINHO, 2008).

De acordo com Kuss (2005) 95 a 98% do O2 utilizado pelo organismo,

sofre uma redução tetravalente na cadeia transportadora de elétrons, gerando

como produto final H2O. Por outro lado, 2 a 5% do O2 consumido, apresenta

uma redução univalente, ou seja, não completa o processo de respiração

celular, liberando intermediários de oxigênio denominados Espécies Reativas de

Oxigênio (EROs) que apresentam intensa reatividade. Um desequilíbrio entre as

reações de óxido-redução durante a respiração celular, desencadeia uma

produção exacerbada de EROs, representando o estresse oxidativo (BARBOSA

et al., 2010; MANISHA, HASAN e RAJA, 2017).


Contudo, as células possuem um sistema de defesa antioxidante para

manter o equilíbrio, por meio de dois mecanismos de ação: inibindo as EROs

antes da lesão e/ou reparando a célula já lesionada (FERREIRA e MATSUBARA,

1997; BARBOSA et al., 2010; LOBO, PATAK e CHANDRA, 2010).

Os antioxidantes são substâncias que, em baixas concentrações,

possuem a capacidade de atrasar e inibir as taxas de oxidação e são

classificados em dois sistemas: enzimático, que é produzido pelo organismo

dependente de micronutrientes e, o não enzimático, que corresponde, quase

que em sua totalidade em substâncias advindas da dieta, tais como, a vitamina

E, a vitamina C e polifenóis. Sendo que, a eficiência dos antioxidantes depende

57
de muitos fatores, porém uma alimentação com aporte adequado em

micronutrientes (vitaminas, minerais, aminoácidos) tem papel de destaque

(VASCONCELOS et al., 2014).

O estresse oxidativo, quando recorrente, apresenta-se como um fator

comum na patogênese de diversas doenças, destacando-se entre elas as

cardiovasculares, doença intestinal inflamatória, câncer, obesidade, diabetes

mellitus, artrite reumatoide, doenças autoimunes, entre outras (FERREIRA e

MATSUBARA, 1997; FILIPPINI et al., 2008; MAHAN e RAYMOND., 2018; VINCENT,

INNES e VINCENT, 2007).

Por outro lado, estudos científicos demonstram que, o consumo

frequente de alimentos ricos em micronutrientes antioxidantes, ajuda na

prevenção de diversas doenças causadas pela ação do estresse oxidativo

(BIANCHI e ANTUNES, 1999).

O objetivo deste capítulo, foi reunir informações da literatura, em

relação ao estresse oxidativo e sistemas antioxidantes, bem como sobre o

papel que desempenham os micronutrientes advindos da dieta como

fatores antioxidantes.

ESTRESSE OXIDATIVO

O estresse oxidativo é um desequilíbrio entre as reações pró-oxidantes

e antioxidantes, sendo que as reações de oxidação, são aquelas onde uma

molécula perde elétrons e nas reações de redução, uma molécula apresenta

ganho de elétrons (FERREIRA e MATSUBARA, 1997).

O metabolismo aeróbico, é desencadeado em todos os sistemas

biológicos, onde o oxigênio molecular (O2), sofre transformações químicas

sequenciais, até resultar em uma molécula de água (H2O) como produto final,

na cadeia transportadora de elétrons. Conforme mostra a Figura 2, inicialmente,

58
o O2 é reduzido e forma superóxido (O2-), para logo receber mais um elétron (e-

) e dois íons de hidrogênio e assim, formar peróxido de hidrogênio (H 2O2), que

na sequência é reduzido e recebe um íon de hidrogênio liberando uma molécula

de água (H2O) e o radical hidroxila (OH-) que é reduzido e ganha um hidrogênio

para finalmente formar uma molécula de H2O (HARVEY e FERRIER, 2011;

FERREIRA e MATSUBARA, 1997; BREITENBACH e ECKL, 2015).

Figura 2. Sequência da redução do oxigênio molecular (O2) em água (H2O) na cadeia


transportadora de elétrons na mitocôndria

e-: Elétron; H+: Íon de hidrogênio.


Fonte: Elaborado pelas autoras, 2019.

Quando o processo de redução do O2 não completa a sua sequência até

formar H2O, por ser interrompida em quaisquer das etapas (Figura 2), EROs com

um elétron não pareado na sua última órbita ou pareados mas altamente

reativos, ficam livres na célula, sendo propensos a se ligar a outro elétron de

moléculas de estruturas próximas, tais como, tióis, cofatores enzimáticos,

proteínas, nucleotídeos e lipídios, principalmente ácidos graxos poli-insaturados

que fazem parte da estrutura das membranas celulares, modificando a sua

permeabilidade, integridade e fluidez (REIS et al., 2008; ANGELI, 2011;

SCHMELING, 2015), gerando, portanto, danos macromoleculares no organismo

(ROSS et al., 2016).

Na Figura 3, observa-se uma representação da estrutura do

emparelhamento estável dos elétrons de uma molécula de O2, onde dois pares

são formados pela associação de elétrons das duas moléculas de oxigênio.

59
Figura 3: Emparelhamento de elétrons de do oxigênio molecular (O 2).

O: Oxigênio; e-: Elétron.


Fonte: Elaborado pelas autoras, 2019.

Na tabela a seguir, verificam-se as EROs, que são classificadas em radicais

livres, por apresentarem elétrons desemparelhados e em compostos não

radicalares com pares de elétrons emparelhados, porém altamente reativos

(HARVEY e FERRIER, 2011; FERREIRA e MATSUBARA, 1997; MARTELLI e NUNES,

2014; ROSS et al., 2016).

Tabela 3: Principais espécies reativas de oxigênio (EROs) produzidas na


cadeia transportadora de elétrons
Radicais livres Compostos não radicalares
Superóxido (O2-) Peróxido de hidrogênio (H2O2)
Radical Hidroxila (HO-)
Fonte: Ross et al., 2016.

Assim, quando ocorre a liberação das EROs, durante os processos de

transformação do O2 na cadeia transportadora de elétrons, é necessário, uma

ação imediata dos sistemas antioxidantes para a neutralização dos agentes

oxidantes, evitando, consequentemente, possíveis danos celulares. Conforme

será discutido em profundidade mais adiante, este mecanismo pode ser

endógeno e dependente de micronutrientes, ou exógeno, compostos por

nutrientes advindos diretamente dos alimentos ingeridos (ANGELI, 2011).

60
SISTEMAS ANTIOXIDANTES

SISTEMA ANTIOXIDANTE ENZIMÁTICO

O organismo possui um sistema enzimático de defesa antioxidante como

primeira linha de defesa para manter o equilíbrio entre a produção de EROs e a

sua neutralização (ROVER-JÚNIOR, HÖER e VELLASCO, 2001). Este sistema é

formado pelas enzimas: Superóxido Dismutase (SOD), Catalase (CAT), Glutationa

Peroxidase (GPx) e Glutationa Redutase (GR), que inibem a reatividade do agente

causador de lesões em conjunto com determinados micronutrientes advindos da

dieta (CÉZAR, 2015; MARTELLI e NUNES, 2014; FERREIRA e MATSUBARA, 1997).

Na Figura 4, está representado o mecanismo de ação do sistema

antioxidante enzimático do organismo. As setas em azul sinalizam o fluxo de

redução que o O2 sofre até liberar uma molécula de H2O. Em vermelho,

observam-se as enzimas antioxidantes SOD, CAT, GPx e GR, e o seu efeito sobre

as EROs. As setas em verde, demonstram as reações de Haber Weiss e Fenton.

61
Figura 4: Mecanismo de ação das enzimas antioxidantes endógenas Superóxido
dismutase (SOD), Catalase (CAT), Glutationa peroxidase e Glutationa reduzida (GR)
sobre as espécies reativas de oxigênio (EROs).

SOD: Superóxido dismutase; CAT: Catalase; GPx: Glutationa peroxidase; GR: Glutationa redutase.
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2019.

A SOD é a enzima capaz de realizar o processo de dismutação do radical

livre superóxido, transformando-o em uma molécula de O2 e uma molécula de

H2O2 (Figura 3) (CALLEJO et al., 2003; HARVEY e FERRIER, 2011). No citosol da célula,

a SOD apresenta Cu2+ como centro redox e Zn2+ como um elemento da sua própria

estrutura, onde a sua atividade não é afetada pelo estresse oxidativo. Entretanto a

SOD presente na mitocôndria apresenta Mn2+ como centro redox e a sua atividade

se vê aumentada com o estresse oxidativo (BABIOR, 1997).

Na Reação de Haber Weiss, a ERO superóxido é restabelecida a partir do

Fe3+ a O2, assim, por sua vez, o Fe2+ resultante desta reação pode reduzir o H2O2

na Reação de Fenton, obtendo como resultado uma molécula do radical livre

OH- (Figura 3) (CÉSAR, 2015), que constitui o radical com maior capacidade de
62
provocar prejuízo oxidante, pois altera a função biológica da membrana das

células, proteínas e do DNA, gerando mutações genéticas (WELCH et al., 2002).

Dessa maneira, a CAT é a enzima encarregada de evitar a Reação de Fenton,

mediante a antecipação da neutralização do H2O2 em uma molécula de água e

uma de oxigênio molecular (COLOMBO, 2013).

A GPx se apresenta como um importante elemento do sistema antioxidante

do organismo, encontra-se em vários tecidos do corpo e se trata da enzima mais

estudada do grupo de enzimas antioxidantes (HUBER, ALMEIDA e FÁTIMA, 2008;

ROSS et al., 2016). A composição desta enzima é particularmente diferenciada, por

apresentar a incorporação de um resíduo de selenocisteína no seu sítio ativo

(HUBER, ALMEIDA e FÁTIMA, 2008), por este motivo é essencial a presença de

selênio no organismo para a sua síntese (ROTTA, 2007), assim, a deficiência deste

micronutriente, afeta o correto desempenho da GPx associado a variações no

metabolismo (ROVER-JÚNIOR, HÖER e VELLASCO, 2001).

Esta enzima atua como catalisador na transformação do peróxido de

hidrogênio em duas moléculas de água, mediante a oxidação da glutationa

(LOBO, PATAK e CHANDRA 2010; COLOMBO, 2013), especificamente, a GPx,

controla o grau de formação de hidroperóxidos fosfolipídicos produzidos pela

ação das EROs às membranas celulares (HUBER, ALMEIDA e FÁTIMA, 2008).

Em relação à GR, trata-se de uma enzima não tem uma ação direta na

remoção de EROS, porém, trabalha indiretamente para a sua neutralização,

pois, como se observa na Figura 3, mediante a presença do cofator NADPH, a

GR restabelece a glutationa que a enzima GPx oxida na transformação do H2O2

em duas moléculas de H2O, deixando a glutationa na sua forma reduzida pronta

para ser utilizada novamente pela GPx na remoção do H2O2 (ROVER-JÚNIOR,

HÖER e VELLASCO, 2001; ROTTA, 2007; HUBER, ALMEIDA e FÁTIMA, 2008).

Em um ensaio com ratos Wistar César (2015), avaliou a lipoperoxidação

no tecido hepático como marcador de estresse oxidativo e observou que este

63
indicador se apresentou aumentado nos animais, tanto do grupo alimentado

com uma dieta hiperlipídica a base de gordura saturada (HFS) como no grupo

alimentado com uma dieta hiperlipídica a base de óleo de pequi (Caryocar

brasiliense) (HFS-OP), que diferiram do grupo controle (CON) que apresentou


este parâmetro reduzido. Por outro lado, verificou que a atividade da enzima

SOD, no mesmo tecido, foi superior nos animais do grupo HFS-OP, quando

comparado aos grupos CON e HFS, que por sua vez não diferiram entre si.

Analisando os resultados, a pesquisadora inferiu que o grupo que recebeu

excesso de gordura saturada demonstrou uma resposta diminuída da enzima

SOD no controle dos danos oxidativos quando comparado ao grupo

suplementado com óleo de pequi, que a pesar de ter apresentado uma

atividade oxidativa aumentada conseguiu responder com uma atividade

superior da SOD. No mesmo estudo, em relação à atividade da CAT no fígado,

verificou-se que não houve diferença estatística entre os três tratamentos e

quanto à atividade da GPx no tecido hepático, observou-se que, os três

tratamentos (CON, HFS e HFS-OP) diferiram entre si, sendo que o grupo

suplementado com óleo de pequi (HFS-OP) apresentou uma atividade desta

enzima, significativamente superior aos demais grupos experimentais.

Em outro ensaio animal, Yang et al. (2000) confirmaram alterações da

enzima CAT no fígado de camundongos magros e camundongos obesos,

verificando que houve uma correlação entre o aumento da atividade da CAT nos

animais obesos com o objetivo de, especificamente, neutralizar o H 2O2 que

apresentou extravasamento da mitocôndria para o citosol dos hepatócitos, pois

esta enzima atuou em associação aos peroxissomos na desintoxicação de EROs.

Assim, os pesquisadores, sugerem que as EROs produzidas em decorrência da

geração de energia, estão fracamente correlacionadas com o incremento da

ação da CAT e sim com a desintoxicação de EROs por extravasamento.

64
Em um ensaio clínico, Coutinho (2003) avaliou os efeitos da

suplementação de castanha do Brasil em praticantes de atividade física

(capoeira), com o objetivo de estabelecer uma correlação entre o consumo desta

reconhecida fonte de selênio e a atividade enzimática sanguínea da GPx dos

participantes. Após 170 dias de suplementação, verificou-se um aumento

significativo dos níveis de selênio e da atividade da GPx no sangue dos participantes

em relação aos testes aplicados no início do ensaio. Dessa maneira, ficou

estabelecida uma significativa relação entre o consumo adequado do

micronutriente selênio pela da dieta e o desempenho da enzima GPx.

Berno, Poeta e Maróstica-Júnior (2010), analisaram a eficiência do selênio

advindo da torta extraída da castanha do Brasil quanto ao desempenho da

atividade da GPx sanguínea de ratos Wistar. Assim, verificaram, que não houve

diferença estatística entre todos os tratamentos. Contudo, os pesquisadores

concluíram que o selênio da dieta não foi determinante no padrão de atividade

apresentado pela GPx, pois os aminoácidos das dietas também poder ter

influenciado este resultado.

Em um ensaio biológico, Schmeling (2015) avaliou o impacto da

suplementação de extratos aquoso e hidroalcoólico de casca de noz-pecã

(Carya Illinoinensis) aliada a uma dieta hipercalórica e a uma dieta balanceada

sobre o sistema antioxidante de camundongos. Dessa maneira, foi observado

que ambos os extratos reduziram a lipoperoxidação hepática, tanto nos animais

com dieta balanceada como naqueles com dieta hipercalórica. Porém houve

diferença estatística entre o tipo de extrato, onde nos grupos suplementados

com o extrato hidroalcoólico a inibição da peroxidação foi significativamente

superior. A ação da GPx foi maior no grupo com dieta hipercalórica,

especialmente nos grupos experimentais que receberam os extratos. Em

relação à SOD, a sua atividade foi superior nos grupos que receberam a dieta

hipercalórica, quando comparados a dieta normocalórica, e a suplementação

65
dos extratos no excesso calórico diminuiu a ação dessa enzima. A avaliação da

enzima CAT, determinou que os extratos aplicados nos animais tratados com a

dieta hipercalórica diminuíram a sua atividade em relação aos não suplementados.

Já a atividade da GR foi superior nos animais com dieta normocalórica, porém a

suplementação do extrato hidroalcoólico foi significativamente inferior ao não

suplementado e ao que recebeu o extrato aquoso.

SISTEMA ANTIOXIDANTE NÃO ENZIMÁTICO

Este sistema apresenta elementos que o organismo é incapaz de

produzir, portanto, devem ser obtidas por meio da dieta, para atuarem

diretamente na captura das EROs, estes são as vitaminas lipossolúveis A e E,

compostos fenólicos e a vitamina hidrossolúvel C (KUSS, 2005; BARBOSA et al.,

2010; LOBO, PATAK e CHANDRA 2010).

A vitamina E, especificamente o α-tocoferol, é um dos mais importantes

antioxidantes da dieta, pois atua como mecanismo de defesa antioxidante antes de

que a lesão à célula ocorra, evitando com isso de maneira eficiente, a

lipoperoxidação de membranas celulares (BATISTA, COSTA e PINHEIRO-SANT`ANA,

2007; HONARBAKHSH e SCHACHTER, 2009; MUÑOZ e MUNNÉ-BOSCH, 2019).

Na Figura 5, observa-se como o radical fosfotidilcolina peroxila, resultante

da ação das EROs sobre o ácido graxo polinsaturado de membrana

fosfotidilcolina, é captado e restabelecido pelo α-tocoferol que é capaz de

neutralizar até dois radicais peroxila. Logo, para que esta reação seja

completada, é preciso a ação em sinergia com o ascorbato (vitamina C na forma

ionizada) em membranas celulares (BARREIROS e DAVID, 2006). Por outro lado,

a regeneração do α-tocoferol é realizada em associação à coenzima Q10

(ubiquinona) na membrana mitocondrial, por meio da doação de um átomo de

hidrogênio (WANG e QUINN, 1999; COZZOLINO e COMINETTI, 2013).

66
Figura 5: Complexo antioxidante vitamina E / ascorbato contra a lipoperoxidação.

Fonte: Barreiros e David, 2006.

Em ensaio biológico, Bahri et al. (2019) observaram que a vitamina E exerceu

um efeito protetor contra o estresse oxidativo induzido nos ratos com aplicação de

altas doses de cádmio, pois potencializou a atividade enzimática no fígado dos

animais da CAT e SOD, revertendo assim, o estresse oxidativo gerado.

No entanto, em um ensaio clínico, Gvozdjáková et al. (2019)

avaliaram a influência da temperatura ambiental sobre a concentração de

α-tocoferol e coenzima Q10 nas mitocôndrias de plaquetas em dois grupos

de jovens saudáveis, sendo que um grupo foi avaliado em inverno e o outro

no verão. Observou-se que, a variação da temperatura ambiental não

afetou significativamente a função mitocondrial de ambos os grupos,

porém, verificou-se que a coenzima Q10 apresenta uma influência maior

em baixas temperaturas durante o inverno no desenvolvimento da

respiração mitocondrial.
67
Quanto a atividade isolada da vitamina C, esta acontece como

antioxidante no plasma do sangue, mediante a restauração direta de EROs

circulantes com potencial oxidante de lipídeos e também neutralizando os

lipídeos que já sofreram este ataque, doando-lhes uma molécula de

hidrogênio, assim, a vitamina C evita a agressão às proteínas das paredes

dos vasos sanguíneos impedindo o acúmulo lipídico que pode causar o

entupimento do vaso. Por este motivo, a vitamina C é considerado um

importante fator de prevenção de doenças cardiovasculares (BARREIROS e

DAVID, 2006). No entanto, a vitamina C em presença de íons ferro, pode

potencializar os danos ocasionados pelo H 2O2 na denominada Reação de

Fenton, descrita na Figura 3, onde o OH - é produzido, tornando esta

vitamina um elemento pró-oxidante (WELCH et al., 2002).

Dentre a família de carotenoides, o ß-caroteno é o principal precursor da

vitamina A, e um importante agente redutor biológico. É eficiente na redução de

produtos de reações de oxidação em ambientes com baixas concentrações de

oxigênio, sendo que a maioria dos tecidos biológicos apresentam esta

característica. O ß-caroteno é efetivo na neutralização de EROs como, o oxigênio

singleto (˙O2), resultante do efeito de foto-excitação sobre o O2 (Figura 3) e dos

radicais peroxila (BARREIROS e DAVID, 2006). Entretanto, os carotenoides são

essenciais no apoio ao sistema antioxidante enzimático, pois conseguem

neutralizar o OH-, posto que nenhuma das enzimas que o compõe é capaz de

desempenhar esta tarefa César (2015).

Em um estudo clínico, onde foram avaliados indivíduos com e sem

diagnóstico de síndrome metabólica, foi observado que as pessoas com síndrome

metabólica apresentaram níveis significativamente inferiores de ésteres de retinil e

carotenoides, tais como luteína, α-caroteno, ß-caroteno, quando comparados aos

indivíduos sem síndrome metabólica diagnosticada. Por outro lado, o consumo de

68
alimentos vegetais, tais como, frutas e verduras, foi substancialmente maior no

grupo de pessoas sem a síndrome (FORD et al., 2003).

Os polifenóis, são compostos bioativos encontrados nos vegetais e

apresentam uma alta atividade antioxidante por sequestrarem EROs, por meio

da doação de um elétron ou átomos de hidrogênio, neutralizando assim a sua

ação oxidante (SHARMA et al., 2012). Esta característica se dá por apresentarem

na sua estrutura, pelo menos, um grupamento hidroxílico unido ao seu anel

benzênico e é a posição e o número de hidroxilas que possuem, o que determina

o seu potencial antioxidante (BERNARDI e SGARBIERI, 2019). São classificados em

4 grupos: lignanas, estilbenos, ácidos fenólicos e flavonoides (BERNARDI e PAPPEN,

2018), sendo que este último é o mais encontrado nos vegetais e os seus principais

representantes são: antocianinas, catequinas, flavonóis, flavononas, flavonas e

isoflavonas (Figura 6) (BERNARDI e SGARBIERI, 2019).

Figura 6: Estrutura química dos principais flavonoides

Fonte: Bernardi e Sgarbieri, 2019.

Em uma pesquisa com ratos Wistar , Gladine et al. (2007) avaliaram os

efeitos no plasma da suplementação de diversos extratos de vegetais com

alto conteúdo de polifenóis (alecrim, uva, citrino e calêndula) em uma dieta

rica em ácidos graxos poli-insaturados (PUFA) por serem susceptíveis à

69
lipoperoxidação. Os resultados mostraram que, os extratos suplementados,

independente da fonte vegetal, conseguiram diminuir a intensidade da

lipoperoxidação plasmática dos animais em 12%, quando comparados ao

grupo controle que não recebeu a suplementação. Entretanto, o extrato de

alecrim foi o mais eficiente em diminuir a susceptibilidade à lipoperoxidação

no plasmo entre todos os grupos.

Em um estudo onde foi avaliado o potencial antioxidante do kombucha,

uma bebida produzida a partir da fermentação de chá e sacarose com uma

colônia de bactérias e leveduras em simbiose (do inglês: Symbiotic Culture of

Bacteria and Yeast – Scoby), os pesquisadores verificaram que o kombucha


elaborado com chá verde apresentou conteúdo significativamente maior de

polifenóis, do que o kombucha produzido com chá preto, concluindo que as

enzimas liberadas pelos microrganismos presentes no Scoby realizam uma

biotransformação dos flavonoides, especificamente de catequinas do chá verde,

favorecendo a liberação de mais catequinas, potencializando, assim, a atividade

antioxidante da bebida final (JAYABALAN, MARIMUTHU e SWAMINATHAN, 2007).

INFLUÊNCIA DO ESTILO DE VIDA ASSOCIADO À PRÁTICA


DE EXERCÍCIO FÍSICO NOS SISTEMAS ANTIOXIDANTES

A qualidade da dieta está diretamente relacionada ao controle das EROs,

pois se acredita que o funcionamento das enzimas que as neutralizam, poderia

apresentar eventuais falhas, portanto, os micronutrientes antioxidantes

advindos da dieta desempenham um papel fundamental em impedir a

instalação do estresse oxidativo (TURECK et al., 2017).

Em relação a prática de exercício físico, este provoca um aumento na

frequência respiratória, elevando o consumo total de oxigênio em cerca de dez

a vinte vezes quando comparado ao estado em repouso, este fenômeno altera

o metabolismo do oxigênio propiciando um ambiente vantajoso para a


70
produção de radicais livres, porém, ao mesmo tempo quando esta prática de

exercícios é regular, o corpo é eficiente em desenvolver mecanismos de

adaptação associados aos sistemas antioxidantes enzimático e não enzimático

provocando, maior resistência dos tecidos aos efeitos do estresse oxidativo

(KOURY e DONANGELO, 2003; SCHNEIDER e OLIVEIRA, 2004).

Em um ensaio clínico, Nies et al. (1996) avaliaram os efeitos da prática de

exercício exaustivo no plasma de indivíduos treinados e não treinados. Os

resultados demonstraram que a peroxidação lipídica, determinada mediante a

detecção dos níveis de malonaldeído no sangue, foram significativamente menores

nos indivíduos treinados após 15 minutos de terminado o exercício, quando

comparados aos indivíduos não treinados. Os pesquisadores concluíram que o

exercício físico constante provoca uma resistência ao estresse oxidativo.

Nesse sentido, Burneiko et al. (2006) em um estudo com ratos Wistar que

foram submetidos a atividade física (natação) e uma dieta hipercalórica,

semelhante à consumida pela população ocidental, composta por batata chips,

chocolate ao leite, salame, cereal matinal, biscoitos (maisena, chocolate e queijo)

e amendoim torrado, verificou-se que a associação destes fatores afetou

negativamente os níveis de peroxidação lipídica em relação aos demais grupos.

Contudo, Rebelatto et al. (2008), em um ensaio clínico com mulheres

idosas, avaliaram os efeitos da suplementação de uma bebida composta de

frutas (laranja, limão, cenoura, maracujá, abacaxi e acerola) enriquecida com as

vitaminas A, C e E, sobre o estresse oxidativo causado pela atividade física leve

a moderada (3 vezes por semana). Assim, amostras de sangue foram coletadas

antes de iniciar o plano de atividade física e a suplementação (Amostra 1) e logo

após de terminado (Amostra 2). Verificou-se que, o grupo exercitado sem

suplementação (GC) apresentou um aumento significativo na lipoperoxidação

na Amostra 2 quando comparada à Amostra 1. Já no grupo exercitado e

suplementado (GS), verificou-se que a bebida diminuiu significativamente os

71
níveis do mesmo parâmetro na Amostra 2 em relação a Amostra 1. Quanto aos

níveis de atividade da glutationa, observou-se que no GC foi significativamente

inferior na Amostra 2. Logo, no GS, comprovou-se que a suplementação

aumentou a atividade da glutationa até o final do experimento. Os

pesquisadores, concluíram que uma dieta associada a uma suplementação

antioxidante em mulheres idosas, melhora a incidência do estresse oxidativo

induzido pela atividade física.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A formação de EROs é inevitável no organismo humano, pois a produção

de energia é dependente da utilização do oxigênio molecular, que ao sofrer

transformações sequenciais na cadeia transportadora de elétrons, pode liberar

estes agentes oxidantes.

No entanto, o controle da produção das EROs e o seu efeito no organismo,

dependem da neutralização do excesso das mesmas, por parte dos sistemas

antioxidantes, sendo que, o sistema enzimático é vinculado, necessariamente, à

disponibilidade de vitaminas e minerais que participam como coenzimas no

correto funcionamento deste sistema e o sistema não enzimático, é formado

diretamente por bioativos presentes nos alimentos vegetais.

Dessa maneira, o controle do estresse oxidativo é sujeito, por um lado, à

qualidade da alimentação que o indivíduo ingere, pois, a insuficiência de

micronutrientes no organismo se reflete no funcionamento deficitário dos

sistemas antioxidantes, e por outro lado à prática de atividade física regular que

induz uma resistência tecidual ao efeito das EROs.

72
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76
Capítulo 5
____________________

ALIMENTOS FUNCIONAIS
E COMPOSTOS BIOATIVOS:
LEGISLAÇÃO E ESTUDOS COM
FOCO NAS PROPRIEDADES
FUNCIONAIS RELACIONADAS
À ATIVIDADE ANTIOXIDANTE
Ana Carolina Lunkes
Mirely Scharlau
Suzana Segalla Menegaz
Nutricionistas pelo Centro Universitário Assis Gurgacz

Caroline Zanatta Maciel


Nutricionista e Engenheira de Alimentos
Mestre em Ambiente e Desenvolvimento
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz

Daniela Miotto Bernardi


Nutricionista e Doutora em Alimentos e Nutrição
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz
INTRODUÇÃO

As melhorias na qualidade de vida, avanços na área da Medicina e

Nutrição, somados ao desenvolvimento e modernização das indústrias, tem

promovido aumento da perspectiva de vida do homem. Concomitante ao maior

tempo de vida, está o aumento da incidência de doenças crônicas não

transmissíveis, como a diabetes, câncer, hipertensão arterial, doenças

cardiovasculares, entre outras, despertando o interesse por novas opções para

a redução de risco e tratamento das mesmas (SANTOS, 2011). Neste sentido, de

acordo com Zaparolli et al. (2013), a alimentação é considerada um importante

fator para o controle, tratamento e redução de risco dessas doenças.

Atualmente diversos estudos e pesquisas são divulgados salientando

propriedades fisiológico-funcionais de alimentos que atuam diminuindo riscos

de doenças e promovendo saúde. Para Vidal et al. (2012), os alimentos que

possuem capacidade de produzirem efeitos metabólicos e fisiológicos no

organismo, além das suas funções nutricionais, podem ser denominados como

alimentos funcionais.

Portanto, os benefícios fornecidos pelos alimentos funcionais asseguram a

manutenção da saúde, modulando a fisiologia do organismo e promovendo efeito

hipocolesterolemiante, hipotensivo, redução dos riscos de aterosclerose,

anticancerígenos, estimulação do sistema imune, hipoglicêmico, entre

outros. Desse modo, muitas das doenças crônicas, como o diabetes e a

hipertensão podem ter o risco de ocorrência diminuído com o consumo diário de

alimentos funcionais, ou mesmo, aos que já apresentam a doença, podem reduzir

danos consequentes, a partir do consumo destes alimentos (BASHO e BIN, 2010).

Os efeitos fisiológico-funcionais dos alimentos supracitados se devem à

presença de certos nutrientes ou certos compostos bioativos não nutrientes, os

78
quais podem atuar no crescimento, desenvolvimento, manutenção e outras funções

do organismo humano (ASSOCIAÇÃO DIETÉTICA AMERICANA – ADA, 2009).

Assim, o objetivo deste capítulo é investigar a produção de

conhecimentos científicos, acerca das propriedades fisiológico -funcionais

dos alimentos.

ALIMENTOS FUNCIONAIS:
CONCEITOS E LEGISLAÇÃO

Os estudos dos benefícios fisiológicos e o uso dos alimentos, com

capacidade de agirem na prevenção de doenças crônicas, segundo Rosa e Costa

(2016), teve início nos anos de 1980 no Japão e se estendeu para o mundo, com

regulamentações locais para os benefícios alegados e subsequentes

aprovações. Na época o Japão conferia elevada importância à cultura alimentar

oriental, bem como sua população sempre considerou que a capacidade

terapêutica está na união de uma dieta moderada e com poder que as ervas

exercem no corpo. Pesquisas apoiadas pelo governo japonês mostravam as

potencialidades de alguns alimentos influenciarem as funções fisiológicas

humanas. Como decorrência destes resultados, o Ministério da Saúde e Bem-

estar japonês estabeleceu uma categoria de alimentos para o uso dietético

especial, que podiam associar o seu consumo a alguns efeitos benéficos de

saúde. Estes alimentos foram denominados de “ Foods for Specified Health

Use”, comumente conhecidos como FOSHU e definidos como “qualquer


alimento que exerça um impacto positivo na saúde, performance física ou

estado mental de um indivíduo em adição ao seu valor nutritivo”. Os

consumos destes alimentos deveriam exercer um efeito de melhora ou

regulação do processo biológico ou o mecanismo de prevenção a uma

doença específica (NITZKE, 2012).

79
No Brasil, a legislação brasileira não define alimentos funcionais, mas

reconhece a alegação de propriedade funcional, com diretrizes para seu

emprego e utilização. Para tanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(Anvisa) recebe contribuições de pesquisadores e instituições das áreas de

Nutrição, Tecnologia de alimentos, Toxicologia e outros, para análises de

ingredientes e alimentos pretensos “alimentos com alegações de propriedades

funcionais e/ou de saúde” (ROSA e COSTA, 2016). Nesse sentido, em 1999, por

meio da Portaria nº 15 foi constituída a Comissão Técnico-científica de

Assessoramento em Alimentos Funcionais e Novos Alimentos (CTCAF), alterada

em 2005 pela Portaria nº 386 para Comissão de Assessoramento

Tecnocientífico em Alimentos com Alegação de Propriedade Funcional e, ou, de

Saúde e Novos Alimentos (STRINGHETA et al., 2007).

De acordo com Stringheta et al. (2007) em 1999, considerando a

constante necessidade do aperfeiçoamento das ações sobre o controle

sanitário na área de alimentos, visando à proteção da saúde da população e a

necessidade de estabelecer diretrizes para a avaliação dos riscos de segurança

dos alimentos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA criou a

Resolução nº 17, de 30 de abril de 1999 e também foi aprovada a RDC de nº 19,

que trouxe o conceito de alegações funcionais, além de propriedade de saúde

de alimentos e ingredientes, sendo definida como alegação de propriedade

funcional, aquela relativa ao papel metabólico ou fisiológico que o nutriente ou

não nutriente tem no crescimento, desenvolvimento, manutenção e outras

funções normais do organismo humano. E a alegação de propriedade de saúde

é aquela que afirma a existência de relação entre o alimento ou ingrediente com

doença ou condição relacionada à saúde.

Nessa mesma trajetória, com propósitos de auxiliar na elaboração de

critérios para seleção dos alimentos passíveis de veicular alegações de

propriedade funcional, de saúde e de função plenamente reconhecidas, em

80
2013 foi instituído o Grupo de Trabalho, por meio da Portaria nº 811 com a

participação de membros da ANVISA, Ministério da Saúde, Universidades,

Organização Pan-americana de Saúde – OPAS, International Life Sciences

Institute – ILSI e de Indústrias de alimentos (BRASIL, 2013).


Mais recentemente no Brasil foram aprovadas algumas legislações neste

contexto dos alimentos funcionais. A Resolução da diretoria colegiada – RDC nº

243 de 26 de julho de 2018, compõe os requisitos para a qualidade, segurança,

rotulagem e composição de alimentos para a nova atualização das listas de

substâncias bioativas, nutrientes, probióticos e enzimas, também definindo o

limite de uso e as alegações permitidas na rotulagem (BRASIL, 2018a) e para

complemento desta resolução foi aprovado a Instrução Normativa – IN nº 28,

de 26 de julho de 2018 (BRASIL, 2018b). A Resolução da Diretoria Colegiada –

RDC nº 241 de 26 de julho de 2018, dispõe sobre os requisitos para

comprovação da segurança e dos benefícios à saúde dos probióticos para uso

em alimentos (BRASIL, 2018c).

COMPOSTOS BIOATIVOS E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE

Os compostos bioativos são constituintes extras nutricionais, não

essenciais às funções vitais, que ocorrem tipicamente em pequenas

quantidades nos alimentos e são reconhecidos por suas propriedades

benéficas à saúde humana, ou seja, quando ingeridos são fatores de proteção

adicionais ao equilíbrio da célula (SINGHI et al., 2012; BARBOSA e FERNANDES

2014). Alimentos com compostos bioativos podem atuar de maneiras diferentes

em relação aos alvos fisiológicos e aos seus mecanismos de ação (DAIMIEL,

VARGAS e MOLINA, 2012).

Segundo Daimiel, Vargas e Molina (2012), estudos destacam a

importância de diversos componentes bioativos presentes nos alimentos,

81
incentivando a comunidade científica a desenvolver pesquisas que comprovam

tais efeitos em diferentes condições patológicas e de saúde, além disso, os

benefícios à saúde que são atribuídos aos compostos bioativos presentes nos

alimentos também despertam o interesse e a atenção dos consumidores e da

indústria alimentícia.

A categoria de compostos bioativos é regulamentada pela RDC nº 2 de 7 de

janeiro de 2002, que define como substâncias bioativas “os nutrientes e não

nutrientes que possuem ação metabólica ou fisiológica específica” (BRASIL, 2002).

Entre as diferentes propriedades atribuídas aos compostos bioativos, a

atividade antioxidante é destaque e objeto de estudo de diferentes

pesquisadores. Neste contexto, é importante destacar que a produção de

radicais livres é um processo biológico natural e organizada por diferentes

processos e vias metabólicas, atuando como intercessores na sinalização extra

e intracelular, entretanto a produção demasiada pode conduzir a danos

oxidativos. O estresse oxidativo é caracterizado pelo acúmulo intracelular de

compostos reativos ao oxigênio, e ao nitrogênio, chamadas espécies reativas de

oxigênio (EROs) e de nitrogênio (ERN), e normalmente ocorre nas células como

consequência de um desequilíbrio do sistema redox (CUNNINGHAM, LEVENO e

BLOMM, 2012). Portanto, devido a sua função fisiológica e ação contra radicais

livres, compostos bioativos podem proteger o organismo contra o estresse

oxidativo, prevenindo distúrbios crônico-degenerativos, por intermédio de suas

atividades antioxidante, da qual decorrem outras propriedades como anti-

inflamatória e antitumoral (OLIVEIRA et al., 2018).

Sendo assim, diferentes compostos bioativos que possuem atividade

antioxidante podem ser encontrados em alimentos e também podem ser

usados isolados na forma de suplementos. A quantificação destes compostos

em alimentos, bem como dos efeitos de seu consumo são objetos de muitos

estudos, neste sentido, os carotenoides e compostos fenólicos com destaque

82
para a curcumina, serão abordados a seguir, além disso na Tabela 4 estão

apresentados os resultados de alguns dos estudos biológicos realizados com

os carotenoides e compostos fenólicos.

Vale ressaltar, porém, que os alimentos funcionais, como também os

compostos bioativos isolados, já estão sendo usados no atendimento clínico,

com o objetivo de demonstração das alegações atribuídas pela literatura,

entretanto os resultados obtidos podem não atender às expectativas, uma vez

que muitos das alegações apresentadas pela literatura ainda correspondem à

dados de avaliações in vitro ou em animais e portanto podem acabar diferindo

quando aplicados em humanos. Portanto, embora hajam muitos estudos, é

importante salientar a necessidade de mais estudos clínicos para comprovação

das alegações de propriedades funcionais, especialmente em se tratando da

atividade antioxidante.

Tabela 4: Estudos Utilizados para as Comprovações Científicas das Alegações Associadas aos Compostos Bioativos .

Condição
Compostos
Modelo fisiológica ou Efeito demonstrado Referência
bioativos
patológica

Diminuição dos níveis plasmáticos de


Carotenoid Hiperglicêmico Ali e Agha,
Ratos glicose e insulina e conteúdo de insulina
es s 2009.
pancreática e o nível de glicose no plasma.

Obesidade
Carotenoid induzida por Diminuição dos níveis de colesterol total e Silaste et al.,
Ratos
es dieta rica em colesterol LDL no plasma. 2007.
gordura.

Não exerceu alterações níveis de


colesterol (colesterol total, colesterol LDL,
Carotenoid Dieta rica em Vilahur et al.,
Suínos e colesterol HDL). E as concentrações
es colesterol 2015.
plasmáticas de triglicerídeos
permaneceram dentro da faixa fisiológica.

Ações hipolipemiantes, diminuindo os


Hiperlipidemia
níveis séricos, hepáticos e fecais de
Carotenoid Hamster induzida por Lee et al.,
triglicerídeos e colesterol total, e níveis
es s dieta rica em 2015.
séricos de LDL-C e LDL-C / LDL-C / HDL-C
colesterol
em hiperlipidemia.
83
Hipertensão Elevação significativa dos níveis
Carotenoid Humano arterial em plasmáticos de licopeno está bem Paran et al.,
es s tratamento correlacionada com o declínio da pressão 2009.
com fármaco arterial.

Redução significativa no peso, IMC e níveis


Carotenoid Mulhere Vinha et al.,
Saudáveis séricos de glicose, triglicerídeos, colesterol
es s 2014.
e ácido úrico.

Carotenoid Mulhere Efeitos antiobesidade, antioxidação e anti-


Saudáveis Li et al., 2015.
es s inflamatório.

Homens
Não produz alterações nos marcadores
Carotenoid e Salazar-Lugo
Saudáveis hepáticos e renais, o que demonstrou sua
es Mulhere et al., 2016.
segurança na função hepática e renal.
s

Ácidos Diabetes Silva, 2008.


Ratos Efeitos antioxidante
Fenólicos Induzida

Moreira e
Compostos Ratos Mancini-
Saudáveis Atividade antioxidante
Fenólicos Wistar Filho, 2004.

Hipercolestero Penumathsa
Resveratrol Ratos Função protetora infarto do miocárdio
lemia et al., 2007.

Davis et al.,
Curcumina Ratos Saudável Melhorar a performance física
2007.

Ação positiva na redução dos níveis de


Hamiste ácidos graxos livres, colesterol total, Jang et al.,
Curcumina Saudável
r triglicerídeos e leptina, e auxilia para o 2008.
aumento do HDL-c.

Efeito positivo sobre o perfil lipídico e no Yiu et al.,


Curcumina Ratos Saudável
metabolismo de gordura no fígado. 2011.

Contribuir positivamente na redução da Kam et al.,


Curcumina Ratos Saudáveis
hipercolesterolemia 2012.

Hamiste Estresse oxidativo e o colesterol hepático Singh Jain e


Curcumina Saudável
r diminuído Ankita, 2013.

Ação benéfica na redução das citocinas


Síndrome Panahi et
Curcumina Ratos pró- inflamatórias TNF-α, IL-6, TGF-β e
metabólica al., 2016.
MCP-1.

Foi observando uma contribuição positiva


Humano Khajehdehi et
Curcumina Nefrite lúpica e um dos fatores de risco para doenças
s al., 2012.
cardiovasculares.

84
CAROTENOIDES

Os carotenoides formam um grupo de pigmentos naturais com

aproximadamente 700 representantes que apresentam coloração amarela,

laranja ou vermelha. A ocorrência de carotenoides na natureza é abrangente e

eles podem ser encontrados em vários seres vivos, desde microrganismos até

animais. Algumas espécies de bactérias, fungos, algas e plantas superiores são

capazes de produzir estes pigmentos. Em animais, como crustáceos (camarão,

lagosta, siri), aves (flamingo) e peixes (truta e salmão), esses pigmentos são

acumulados no organismo por meio da alimentação (MESQUITA et al., 2017).

Possuem estrutura química altamente insaturada, composta por duplas

ligações conjugadas, que são responsáveis por algumas de suas funções

biológicas. Alguns como o alfa e betacaroteno têm atividade provitamina A, ou

seja, transformam-se em vitamina A no organismo. Outros como o licopeno,

presente no tomate e na goiaba, não são precursores da vitamina A, mas agem

no organismo como antioxidantes, na eliminação de espécies ativas de

oxigênio, formadas ou não no nosso metabolismo. Outros ainda como a

zeaxantina e a luteína, carotenoides encontrados no espinafre, brócolis e

milho, encontram-se nos olhos, na região macular e parecem ter papel de

prevenção da degeneração macular que ocorre com o envelhecimento

(VOLP, RENHE e STRINGUETA, 2011).

O interesse por estes pigmentos naturais tem aumentado muito nos

últimos anos devido à descoberta de propriedades biológicas envolvendo sua

atividade antioxidante, através do sequestro e extinção de radicais livres,

reduzindo assim o risco do desenvolvimento de doenças degenerativas como

doenças cardiovasculares, imunodeficiências, degeneração macular e formação

de cataratas e o câncer (RIOS, ANTUNES e BIANCHI, 2009; BERNARDI e PAPPEN,

2018). Em relação ao câncer, esta é uma condição complexa, então vale

85
ressaltar que estudos experimentais propõem a divisão da carcinogênese em

três estágios: iniciação, promoção e progressão. O estágio de iniciação é

caracterizado por alteração do material genético, que pode ou não resultar em

mutação. O estágio de promoção, caracterizado pela conversão da célula

iniciada em pré-maligna, é um processo longo e reversível, sendo este um ponto

estratégico para ação de agentes quimiopreventivos. A progressão da célula

pré-maligna para célula maligna ocorre em consequência de dano adicional ao

cromossomo. O resultado é a divisão celular incontrolada, resultante do

aumento da autonomia celular. A atuação dos carotenoides, em especial do

betacaroteno, nestas diversas fases pode estar relacionada à sua ação

antioxidante, à regulação das junções comunicantes, ao aumento da resposta

imune ou ainda à modulação da expressão do gene supressor tumoral.

Entretanto, os estágios da carcinogênese em que os carotenoides podem agir

ainda não estão estabelecidos e estudos preliminares realizados na década de

90 não apontaram efeitos benéficos destes compostos no câncer de pulmão

(VOLP, RENHE e STRINGUETA, 2011; BERNARDI e PAPPEN, 2018).

Nos estudos realizados por Ali e Agha (2009), observaram os efeitos do

licopeno nos níveis plasmáticos de glicose e insulina bem como o conteúdo de

insulina pancreática e o nível de glicose no plasma. A administração de doses

graduais de licopeno em ratos com hiperglicemia resultou em diminuição das

concentrações de glicose. O nível plasmático de insulina no grupo

hiperglicêmico diminuiu em comparação ao grupo normoglicêmico. E

a administração de doses graduais de licopeno em ratos com hiperglicemia

resultaram em aumento da concentração de insulina.

Silaste et al. (2007) demonstram em seus estudos feitos com ratos, que

os níveis de colesterol total e colesterol LDL no plasma diminuiu

significativamente durante a dieta rica em tomate quando comparado à dieta

pobre em tomate. Segundo Vilahur et al. (2015), em seus estudos demonstra

86
que não detectou diferenças no ganho de peso com a ingestão de molho

de tomate cozido. Com relação ao perfil de lipídios, todos os animais

apresentaram padrão dislipidêmico por causa da dieta recebida, e a

ingestão de molho de tomate cozido não exerceu alterações níveis de

colesterol (colesterol total, colesterol LDL, e colesterol HDL). E as

concentrações plasmáticas de triglicerídeos permaneceram dentro da faixa

fisiológica em todos os grupos ao longo do estudo. Já o experimento de Lee

et al. (2015), teve ações hipolipemiantes, diminuindo os níveis séricos,


hepáticos e fecais de triglicerídeos e colesterol total, e níveis séricos de LDL-

c e LDL-c / LDL-c / HDL-c em hiperlipidemia.

Em um estudo realizado em indivíduos por Paran et al. (2009) mostraram

que uma elevação significativa dos níveis plasmáticos de licopeno está bem

correlacionada com o declínio da pressão arterial.

O consumo diário de tomate mostra uma redução significativa no peso,

IMC e níveis séricos de glicose, triglicerídeos, colesterol e ácido úrico, segundo

os estudos de Vinha et al. (2014). Além de relatar a redução do estresse

oxidativo e produção de hormônios do apetite, modular a expressão gênica e

aumentar o gasto de energia. Li et al. (2015) realizaram um estudo com

mulheres saudáveis e jovens, onde tiveram a suplementação de 32,5 mg de

licopeno em um período de oito semanas. Este estudo teve como resultado

efeitos antiobesidade, antioxidação e anti-inflamatório.

Outro estudo em humanos foi realizado por Salazar-Lugo et al. (2016),

que teve como resultado, de acordo com as análises bioquímicas realizadas nos

voluntários, o consumo de suco de tomate por seis semanas não produz

alterações nos marcadores hepáticos e renais, o que demonstrou sua

segurança na função hepática e renal.

87
COMPOSTOS FENÓLICOS

Os compostos fenólicos são substâncias abundantemente distribuídas

na natureza, presentes em grande variedade de vegetais e frutas. Podem ser

pigmentos que conferem cor aos alimentos ou produtos decorrentes de

reações das plantas em combate às agressões do ambiente (SILVA et al., 2010).

A classificação dos polifenóis é baseada em suas estruturas, resultando

em quatro famílias: lignanas, estilbenos, ácidos fenólicos e flavonoides, com esta

última família fracionada em seis grupos: as isoflavonas, flavonas, flavononas,

antocianinas, flavonóis e flavanóis. Cada família e grupo exibem características

específicas e propriedades diferentes, com os interesses científicos focados nas

propriedades funcionais fisiológicas desses compostos em humanos, como

suas capacidades de atuarem como antioxidante por diferentes mecanismos de

ação, na modulação do funcionamento de algumas enzimas, além do potencial

antibiótico, antialergênico e anti-inflamatório (BERNARDI e PAPPEN, 2018).

Para Khoddami, Wilkes e Roberts (2013), na classificação dos compostos

fenólicos, destacam-se os flavonoides e os ácidos fenólicos, sendo que as

moléculas de fenólicos, presentes em alimentos vegetais como frutas, legumes

e verduras, podem agir como antioxidantes para a redução de inflamação e na

prevenção de doenças cardiovasculares e incidência de cânceres, além de

diminuírem taxas de mutagênese em células humanas (KHODDAMI, WILKES e

ROBERTS, 2013). A seguir serão apresentados resultados de estudos que

avaliaram a presença de compostos fenólicos e sua atividade antioxidante em

diferentes frutas e na sequencia os resultados da utilização destes compostos

em condições patológicas.

Efraim, Alves e Jardim (2011), em estudos de revisão sobre a presença de

polifenóis no cacau e produtos derivados, bem como dos seus benefícios à

saúde, concluíram haver maior quantidade de compostos fenólicos na semente

88
de cacau, no chocolate em pó e no chocolate amargo quando comparado a

outros alimentos. Contudo, as etapas do processamento à eliminação das

sensações indesejáveis de adstringência e amargor, provocadas pela

complexação dos polifenóis na presença de proteínas e carboidratos,

produzem perdas dos compostos fenólicos sobre suas capacidades

antioxidante, cardioprotetora e anti-inflamatória.

Em trabalho para análise da caracterização físico-química e quantificação

dos polifenóis e flavonoides de quatro espécies de pitaya nativas e comerciais,

Lima et al. (2013) destacam a espécie Hylocereus costaricensis pela maior

quantidade dos compostos bioativos avaliados, salientando o potencial dessas

espécies para enriquecer e diversificar a alimentação e a nutrição da população,

favorecendo uma dieta saudável. Da mesma forma, Rockenbach et al. (2008),

em estudo para investigar o perfil de ácidos fenólicos da fruta physalis,

encontraram teores acima a outros estudos com polpa de abacaxi, cupuaçu,

maracujá, graviola e da uva.

Jardini et al. (2010), em estudo objetivando identificar os principais ácidos

fenólicos livres da polpa de romã, encontraram resultados maiores aos do

antioxidante sintético butil-hidroxitolueno, utilizado como padrão, sendo os

principais o ácido salicílico, o protocatequínico e o gálico.

Estudo sobre fitoquímicos presentes na polpa de umbus maduros, semi

maduros e nas cascas desidratadas (farinha), demonstrou baixos teores de

ácido ascórbico e de carotenoides, sendo possível deduzir que a ação

antioxidante apresentada veio, principalmente dos compostos fenólicos,

possibilitando sua atuação como um promissor antioxidante natural. A atividade

antioxidante das cascas do fruto maduro foi similar à dos antioxidantes

sintéticos (MELO e ANDRADE, 2010).

Trabalho semelhante desenvolvido por Reis et al. (2015), quantificando as

concentrações de vitamina C, carotenoides totais e polifenóis totais em quatro

89
variedades de mamão, sugerem que a vitamina C e os compostos fenólicos

participam significativamente para a atuação antioxidante dos frutos analisados.

Todavia, o fator antioxidante também é devido a presença de outros compostos.

A atividade dos mecanismos moleculares dos polifenóis na

inflamação ainda necessita de maiores esclarecimentos, todavia estudos

apontam indícios de efeitos benéficos na saúde cardiovascular com o

consumo de determinadas frutas, como a uva e derivados (GUEDES, 2013).

Para Siochetta (2018), moléculas de radicais livres, apesar de exercerem

funções protetoras, podem produzir danos às células e tecidos na presença

do estresse oxidativo. Assim, propriedades antioxidantes contidas em

alimentos funcionais são capazes de oferecerem benefícios por meio da

redução de danos metabólicos e retardando o aparecimento da

aterosclerose. Não obstante as contradições, diversos estudos demonstram

efeitos positivos dos compostos fenólicos presentes no vinho da uva.

Apesar de maiores esclarecimentos em relação aos mecanismos

moleculares dos compostos fenólicos da uva e seus derivados, pesquisas apontam

que os polifenóis modulam a ação de fatores de transcrição, colaborando na

redução de citocinas inflamatórias e de moléculas de adesão, elevando a

quantidade de enzimas antioxidantes. Composto fenólicos presentes na uva e no

vinho tinto, por exemplo, mostram-se como importantes antioxidantes, exercendo

considerável papel na prevenção da oxidação da LDL-c e nos mediadores

inflamatórios, reduzindo o curso aterosclerótico (SOUSA e PEREIRA, 2013).

Jardini et al. (2010), em estudo objetivando identificar os principais ácidos

fenólicos livres da polpa de romã, encontraram resultados maiores aos do

antioxidante sintético butil-hidroxitolueno, utilizado como padrão, sendo os

principais o ácido salicílico, o protocatequínico e o gálico. Estudos analisados

atestam a eficácia da punica granatum L. com capacidades de atuarem em ações

antifúngicas, antimicrobianas, antineoplásicas, anti-inflamatórias e até mesmo

90
antiparasitárias, com relevância ao seu potencial antioxidante, identificando a romã

como um alimento nutracêutico (WEIRICH et al., 2019).

Compostos fenólicos, presentes no azeite virgem, diminui a proliferação

de células mononucleares pós-prandial, sendo capaz de reduzir o

desenvolvimento da aterosclerose, condição observada nos países

mediterrâneos em que a fonte de gordura primordial é o azeite virgem. O estilo

de vida, entre outros fatores, também pode contribuir para menor risco de

doença cardiovascular (CAMARGO et al., 2011). Contudo, para Cerqueira,

Gennari e Ohara (2007), a eficácia da capacidade antioxidante dos polifenóis,

embora estudos in vitro apontem a possibilidade da redução de oxidações

implicadas em doenças cardiovasculares, efeitos apropriados são obtidos em

concentrações que variam de < 0,1 a > 100 µmol/L. Os níveis fisiológicos

geralmente se encontram em torno de 1 µmol/L; desta forma, nem todos os

polifenóis consumidos irão apresentar atividade antioxidante.

Experimento para avaliar a capacidade antioxidante in vitro de extratos e

frações de ácidos fenólicos obtidos das folhas de alecrim e seus efeitos sobre

ratos diabéticos induzidos, apresentou como resultados o extrato de alecrim

com capacidade antioxidante significativa e, quando administrado na

concentração de 50mg/Kg, pode ter papel importante sobre o estresse

oxidativo presente no diabetes experimental (SILVA, 2008).

Estudos de um chá elaborado pela mistura de especiarias (mostarda,

canela e erva-doce) para avaliar o efeito dos seus compostos fenólicos sobre o

metabolismo dos ácidos graxos das séries ômega 3 e ômega 6 apresentou

atividade antioxidante equivalente ao hidroxitolueno butilado. Todos os tecidos

dos grupos teste apresentaram menores valores em lipoperoxidação, em

comparação aos grupos controles (MOREIRA e MANCINI-FILHO, 2004).

A terapia combinada de estatina e resveratrol, em estudo para

determinar sua função cardioprotetora, foi mais eficaz do que a estatina

91
administrada isoladamente contra infarto do miocárdio em ratos com

hipercolesterolemia (PENUMATHSA et al. , 2007).

Curcumina

A cúrcuma é uma planta monocotiledônea pertencente à família

Zingiberaceae, sendo considerada como uma planta condimentar. No Brasil é

conhecida popularmente como açafrão, açafroeira, açafrão-da-terra, açafrão-

da-Índia e gengibre dourado (VILELA e ARTUR, 2009). Devido a sua denominação

popular, a cúrcuma é frequentemente confundida com o açafrão-verdadeiro

(Crocus sativus L.), no entanto, a parte utilizada da cúrcuma longa é o rizoma, já

na Crocus sativus utiliza a flor, porém, ambas são utilizadas na culinária com o

propósito de conferir cor e sabor aos alimentos (DUKE, 2007).

O principal composto ativo do açafrão é um curcuminoide,

denominado curcumina, a qual foi extraída dos rizomas de cúrcuma longa

e isolada no século XIX. Possui cor amarela e é responsável por suas ações

biológicas. Vários estudos que indicam uma grande variedade de atividades

farmacológicas da curcumina, tais como atividades antioxidante, anti -

inflamatória, antiviral, antibactericida, antifúngica, anticarcinogênica, entre

outras ações terapêuticas (ARAÚJO e LEON, 2001) como a melhoria da

memória, proteção de comprometimento cognitivo, prevenção e proteção

contra a morte celular (KIM, KIM e YANG, 2014).

A importância da cúrcuma para a saúde mudou consideravelmente desde

a descoberta da propriedade antioxidante, por meio da presença de compostos

fenólicos, como os curcuminoides, os quais inibem a produção de espécies reativas

de oxigênio (ROS), protegendo o organismo de danos ocasionados pelo estresse

oxidativo. Compostos de cadeia longa também podem interferir em outros

processos celulares diferentes, tais como a ativação da apoptose, inibição da

92
agregação de plaquetas, inibição da produção de citocinas inflamatórias e inibição

de ciclo-oxigenases (BALASUBRAMANYAM et al., 2008).

Com relação a estudos com comprovações científicas sobre curcumina

foi possível encontrar estudo realizado por Davis (2007), onde se observou que

suplementação de curcumina em ratos reduziu a inflamação e marcadores de

lesão muscular induzidos pelo exercício excêntrico. Em decorrência desses efeitos

foi avaliada uma melhor performance física. Davis (2007), avaliou se a

suplementação de cúrcuma diminui a inflamação, melhorando o desempenho

físico e reduzindo o dano e a dor muscular após corrida. Os resultados indicaram

que a curcumina, apresentou baixa biodisponibilidade não sendo, portanto, capaz

de proporcionar um aumento da capacidade antioxidante do plasma.

Em estudo realizado por Jang et al. (2008) foi analisado que, curcumina

em hamsters possui ação positiva na redução dos níveis de ácidos graxos livres,

colesterol total, triglicerídeos e leptina, e auxilia para o aumento do HDL-c.

Segundo o resultado estudo de Yiu et al. (2011) foi possível observar

que a atuação da suplementação com açafrão de 100 mg a 300 mg causa possíveis

mudanças sobre o perfil lipídico. Após a suplementação foi visto que a redução

significativa do LDL-c, colesterol total, gordura no fígado, como também teve

elevação no HDL-c e nas enzimas que participam do metabolismo da gordura. Com

isso, é possível distinguir que a curcumina presente no açafrão possui efeito

positivo sobre o perfil lipídico e no metabolismo de gordura no fígado.

De acordo com o experimento de Kam et al. (2012) o extrato de cúrcuma

também possui efeito positivo no perfil lipídico, contribuindo positivamente na

redução da hipercolesterolemia, e auxiliar na elevação da atividade de enzimas

favorecendo a vasodilatação.

Singh, Jain e Ankita (2013), realizaram investigações sobre a importância

do óleo essencial de cúrcuma em hamsters com hiperlipidemia e dieta rica em

colesterol. Foi possível observar que a diminuição considerável no LDL-c,

93
triglicerídeos e colesterol total, além da elevação no HDL-c. O estresse oxidativo

e o colesterol hepático também foram diminuídos com o melhor resultado da

função do fígado, verificando uma relação direta desses benefícios com o

consumo de óleo de cúrcuma.

Estudo de Panahi et al. (2016) demonstrou que a suplementação de

curcumina em indivíduos com Síndromes Metabólicas, tem ação benéfica na

redução das citocinas pró- inflamatórias TNF-α, IL-6, TGF-β e MCP-1.

Com relação ao estudo de Khajehdehi et al. (2012), a suplementação de

açafrão auxilia na redução da pressão arterial sistólica, em pacientes com nefrite

lúpica, esse resultado foi comparado com pré e pós ingestão de açafrão nos

indivíduos, observando assim contribuição positiva e um dos fatores de risco

para doenças cardiovasculares.

Em estudos realizados por Oliveira et al. (2019), com ratos wistar

demonstraram que a ingestão de cúrcuma em altas concentrações (5% da dieta)

promoveu efeito deletério ao tecido hepático, que apresentou esteatose.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Alimentos com propriedades funcionais, devido aos seus compostos

bioativos, tem ganhado a atenção da população e dos setores ligados à nutrição.

Os benefícios atribuídos aos compostos bioativos podem estar presentes em

alimentos in natura ou serem adicionados a alimentos industrializados, como

mais um atributo a ser considerado pelo consumidor, além também da

possibilidade de serem ingeridos na forma de compostos bioativos isolados

como suplementos.

Nesse sentido, observa-se o interesse por estudos sobre a utilidade e

funcionalidade dos compostos bioativos e alimentos funcionais. Contudo,

observa-se a necessidade de aumento do número de estudos clínicos para

94
melhor esclarecer os mecanismos de ação e comprovação dos benefícios

alegados às propriedades dos compostos, especialmente estudos que

abranjam maiores números de pessoas.

A comprovação dos benefícios alegados aos alimentos com

propriedades funcionais subsidiará que legislações pertinentes ao tema

possam apresentam maior clareza, bem como maior segurança nas

certificações.

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99
Capítulo 6
____________________

CÂNCER:
FATORES DE RISCO
RELACIONADOS À
ALIMENTAÇÃO

Gabriela Yasmin Porfirio


Giovana Maria Martinasso dos Santos
Rayssa Alves Pimentel
Nutricionistas pelo Centro Universitário Assis Gurgacz

Débora Regina Hendges Poletto Pappen


Nutricionista e Mestre em Engenharia de Alimentos
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz

Daniela Miotto Bernardi


Nutricionista e Doutora em Alimentos e Nutrição
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz
INTRODUÇÃO

O câncer é uma enfermidade multifatorial crônica, caracterizada pelo

crescimento desordenado de células, que pode ocorrer em vários tecidos e em

diferentes áreas do organismo, podendo evoluir lentamente ou de forma

agressiva. Estudos evidenciam que a patologia é causada primeiramente por

modificações genéticas adquiridas por fatores externos e não como uma

doença que passa de geração a geração, neste contexto, a redução do risco da

sua ocorrência tem se tornado objetivo do estudo de muitos pesquisadores no

campo das ciências da saúde (MUNHOZ et al., 2016).

O processamento de alimentos, seja em nível industrial ou mesmo

quando é feito na casa dos consumidores, pode resultar na formação de

compostos com potencial carcinogênico, como as aminas heterocíclicas. Além

disso, muitos dos aditivos e ingredientes utilizados em alimentos podem

desencadear efeitos danosos no organismo humano, como por exemplo os sais

de nitrito e nitrato, empregados como aditivos principalmente nos embutidos

com o objetivo de evitar a deterioração microbiológica (SILVA et al., 2017).

A alimentação saudável pode reduzir o risco de desenvolvimento de câncer,

e quando já diagnosticada a doença, a alimentação possui importância terapêutica,

pois posterior ao diagnóstico o indivíduo passa por alterações que podem

comprometer o paladar ou olfato, o que promovem a redução da ingestão,

podendo repercutir no prognóstico clínico da patologia (CAPELARI, 2018).

Sendo assim, objetivo deste capítulo foi elaborar uma revisão

bibliográfica sobre os fatores de risco carcinogênicos associados a compostos

alimentares, bem como, as técnicas dietéticas empregadas na redução do risco

de formação de compostos carcinogênicos.

101
PRINCIPAIS COMPOSTOS CARCINOGÊNICOS

Quando o assunto é câncer e seus fatores de riscos são encontrados na

literatura uma variedade de estudos e por sua vez, uma enorme variedade de

causas. De acordo com Dusman et al. (2012), a principal porta de entrada dos

agentes carcinogênicos em seres humanos é a dieta e maus hábitos cotidianos

como uso excessivo de temperos industrializados, corantes, tabagismo, bebida

alcoólicas, drogas ilícitas e medicamentos. Em relação aos compostos da dieta

que podem ter ação carcinogênica é importante apontar que alguns são

compostos naturalmente presentes no alimento, enquanto que muitos outros

ficam presentes após o processamento, sejam pelas técnicas de

processamento empregadas, seja pelos ingredientes/aditivos utilizados

(SGARBIERI, 1999; NEHLIG, 1994; PRADO, 2003), neste sentido mais adiante

serão abordados alguns dos principais compostos relacionados aos alimentos.

O corpo humano contém um material genético muito vulnerável às agressões

impostas pelo ambiente e substâncias ingeridas no dia a dia (EL-ZEIN et al., 2005),

além disso, as mutações podem ocorrer em qualquer célula, em qualquer estágio

do ciclo celular, pois o material genético é definido por uma ordem específica na

molécula de DNA, porém essas moléculas estão expostas a variados agentes

naturais e principalmente artificiais que podem causar uma alteração na sua

estrutura ou composição química, ocasionando uma mutação (ZAHA et al., 2003).

Também segundo Dusman et al. (2012), outro fator de exposição a esses

agentes carcinogênicos são os ambientais, que de alguma forma podem afetar

o material genético humano, tais como radiação solar, efluentes industriais,

agrotóxicos, derivados do petróleo, as emissões de gases no ambiente

provenientes das combustões de veículos, genotóxicos como óxidos de

nitrogênio/enxofre, metais (cádmio, cromo, cobre, níquel, vanádio, zinco e

102
chumbo), sendo o câncer de pulmão o mais frequente em estudos com

roedores expostos a estas condições ambientais (HEUSER et al., 2001).

COMPOSTOS CARCINOGÊNICOS FORMADOS DURANTE O PROCESSAMENTO

A produção de alimentos envolve várias etapas e reações, e durante

esses processos podem ser encontradas substâncias tóxicas ao organismo, de

modo, que é indispensável atentar a relação entre o consumo desses

compostos durante um longo período e o desenvolvimento de doenças, como,

por exemplo, o câncer (MARQUES et al., 2009).

Acrilamida

São compostos formados a partir da reação entre açúcares redutores

(glicose, frutose) e o aminoácido asparagina. Esta reação ocorre quando estes

compostos são submetidos a cocção em altas temperaturas, sendo, portanto,

resultado da Reação de Maillard e seus produtos carboximetilisina, hidroxi-

metilfurfural, pentosidina, carboxietilisina, pirrali-na, vesperlisina A, dímero de

glioxal-lisina, dímero metilglioxal-lisina e glicosepana (KUMAR et al., 2018).

O alto poder tóxico da acrilamida pode causar grande impacto e

comprometer a saúde humana (JING et al., 2019). Hagmar et al. (2001)

estudaram os efeitos na saúde da exposição ocupacional à acrilamida usando

hemoglobina de adultos como biomarcadores de dose interna e obteve como

principais resultados, as associações claras aos sinais clínicos de

neurotoxicidade da acrilamida que foram neuropatias periféricas, como

dormência e formigamento nos membros superiores e inferiores.

O alto consumo de produtos com a presença de acrilamida aumentam a

expressão das caspases quando comparado com produtos ausentes desse

103
composto (ALBALAWI et al., 2017). As caspases são proteases que possuem

cisteína em seu sítio ativo capazes de reconhecer e clivar especificamente

resíduos de aspartato em outras proteínas (THORNBERRY e LAZEBNIK,

1998). A ativação das caspases ocorre por duas vias principais: uma via

extrínseca, mediada por receptores localizados na membrana celular,

chamados receptores da morte, ou por uma via intrínseca, mediada por

estímulos internos de estresse intracelular, tais como lesão do DNA ou

perturbações no ciclo celular ou nas vias metabólicas (PAROLIN e REASON,

2001). Essas diferentes vias culminam em ativação de proteases, que têm

papel fundamental no processo de morte celular (PATEL, 1998).

A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer classificou a acrilamida

como provável carcinogêneo em humanos, baseada em resultados positivos

obtidos laboratorialmente em roedores e pela evidência de que a acrilamida é

metabolizada nos mamíferos gerando a glicidamida, um epóxido reativo. O

estudo analisou a influência da acrilamida no desenvolvimento de células

cancerígenas em ratos, sendo que para o estudo foram utilizados 200 animais,

separados em diversos grupos e expostos à inalação do gás de acrilamida (com

99,9% de pureza) em todo corpo. Quando os animais foram expostos à um

longo período em 5mg/kg de acrilamida aumentaram os riscos de câncer, ou

seja, de um grupo de 54 fêmeas expostas, 9 desenvolveram angiosarcomas

extra-hepáticos. Outro grupo de roedores machos ou fêmeas de 67 no total, 10

desenvolveram carcinomas na glândula zimbal. Já os tumores desenvolvidos no

cérebro em ratos machos em um grupo de 67 no total, 11 desenvolveram

tumores nas células de glia, e um grupo de ratos fêmeas de 54 no total, 10

desenvolveram tumores nas células da glia, todos expostos ao gás de acrilamida

durante 104 semanas (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE – OMS, 1994).

Pelucchi et al. (2014) realizaram uma metanálise atualizada sobre a

ingestão de acrilamida e o risco de câncer em vários locais. Foram identificadas

104
32 publicações até o referido ano, e calculado o risco relativo sumário (RR) de

cada local de câncer para o nível mais alto versus o mais baixo de ingestão e

para um incremento de 10 mg/dia de acrilamida na dieta. As publicações e seus

resultados foram ordenados por local do câncer (de acordo com a Classificação

Internacional de Doenças) e ano de publicação. Várias publicações relatadas

tinham estimativas de risco para mais de um local e / ou subtipo de câncer, ou

separadamente por sexo. Desta forma os tipos de câncer de relevância

analisados estão descritos na tabela 5.

Tabela 5: Tipos de câncer, seus riscos relativos e números de casos

Tipo de Câncer Risco Relativo (RR) Número de casos


Bexiga 0,93 1.838
Endométrio 1,06 2.774
Esôfago 1,14 1.546
Estômago 1,03 787
Laringe 1,10 707
Mama 0,96 16.773
Neoplasias linfoides 1,13 1.208
Oral/ Faríngeo 0,87 933
Ovário 1,12 2.010
Pâncreas 0,93 1.732
Pulmão 0,88 3.598
Próstata 1,00 13.559
Colorretal 0,94 7.417
Rim 1,20 1.802
Fonte: Adaptada de PELUCCHI et al. (2014).

O risco relativo (RR) apresentou significância limítrofe apenas para câncer

renal (RR 5 1,20; 95% de confiança intervalo, IC, 1,00–1,45). Entre os nunca

fumantes, surgiram associações limítrofes com acrilamida na dieta para

endometrial (RR 5 1,23; 95% IC, 1,00–1,51) e câncer de ovário (RR 5 1,39; IC95%,

0,97–2,00). Esta metanálise indica que a acrilamida na dieta não está

relacionada ao risco de alguns tipos de câncer. Entretanto ainda é possível

relacionar uma associação modesta para câncer de rim e câncer de ovário e

endométrio em nunca fumantes.

105
Neste sentido, ainda são necessários mais estudos que considerem a

ingestão da acrilamida em alimentos, além disso, seria interessante avaliar a

presença simultânea de outras substâncias potencialmente carcinogênicas nos

alimentos, como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, nitrosaminas e agentes

tóxicos naturais, fatores associados que dificultam a análise e medição da toxicidade

da acrilamida isoladamente (MARTINS, 2015).

Segundo Koszucka et al. (2019), há compostos antioxidantes em

diferentes alimentos, que diminuem a indução dos efeitos tóxicos da Acrilamida.

O estudo foi feito a partir de células in vitro ou in vivo. Esses compostos

presentes que estão em diferentes alimentos, como descritos na Tabela 6.

Tabela 6: Compostos bioativos avaliados em diversos modelos de ensaios biológicos

Compos
Modelo Efeito Referência
to
É capaz de minimizar a neurotoxicidade induzida pela
Extrato acrilamida, e promover assim regeneração neuronal no
de Ginko Camundong hipocampo do tratamento com acrilamida em ratos. A Huang et al.,
biloba os Kunming acrilamida é um produto químico altamente hidrofílico, 2017.
que tem toxicidade média nos nervos, e ainda assim, a
mesma pode danificar os nervos por inúmeras rotas.
Atenuaram o efeito tóxico pela normalização das células
Ratos
L- de apoptose, a acrilamida induziu impacto negativo em Zamani et al.,
albinos
Cartinina cromossomos, micronúcleos na medula óssea e 2017.
Swiss
anormalidades morfológica em espermas.
Foi administrado 10mg/kg/bw de acrilamida, e
100mg/kg/bw de vitamina E. A administração de vitamina
E pode reduzir o estresse oxidativo pelo aumento da
capacidade antioxidante em um estudo com femeas
Sprague. A taxa de administração significante de
Vitamina Femeas Erdemli et al.,
malondialdeído (MDA), levou aos tecidos renais em fetos
E Sprague 2019.
diminuírem a quantia de catalise (CAT) e perfil
antioxidante (TAS), enquanto a administração de vitamina
E aumentou os níveis de glutationa redutase (GSH) e TAS
e diminuíram os níveis de MDA, que são produtos da
oxidação
Ratos A utilização de quercetina pode melhorar o perfil da
Querceti Yang et al.,
machos acrilamida (ACR) ingerida, pois induz a redução do
na 2016.
Wistars estresse oxidativo.
A acrilamida induz a nefrotoxicidade pelo aumento de
Óleo de Fêmeas Ghorbel et al.,
malondialdeído, hidróxido de hidrogênio, proteína
oliva Wistars 2016.
carbonil e pela diminuição de glutationa, vitamina C.
Fonte: adaptada de KOSZUCKA et al., 2019.

106
Aminas heterocíclicas

As aminas heterocíclicas (AH) são compostos formados a partir da cocção

do alimento quando submetidos à altas temperaturas durante longos períodos.

Cocções do tipo: assar, fritar ou cozinhar, favorecem a formação dessa substância

(MARQUES et al., 2009). A matéria prima também influencia na produção ou não

das aminas heterocíclicas. As carnes bovinas e de frango produzem em maior

escala, seguindo as de peixe, porco ou embutidos (CARVALHO, 2016).

No processo de metabolização das AH, elas passam por um procedimento

denominado bioativação, pela ação das enzimas de fase I e fase II (enzimas de

detoxificação), com a finalidade de torná-las hidrossolúveis para serem excretadas

pela urina e/ou pela bile, porém nesse processo, são formados compostos capazes

de acarretar danos ao DNA e promover estresse oxidativo, que, por sua vez, se não

reparados, resultam em câncer (CARVALHO, 2016).

Em estudo elaborado por Alaejos e Afonso (2011), demonstrou que

algumas AH apresentaram mutagenicidade maior que de alguns agentes

mutagênicos como benzo(a)pireno e aflotoxina B1. Para reduzir a formação

desse composto é necessário adicionar às preparações antioxidantes naturais

ou sintéticos durante a preparação. É possível reduzir essa substância em

hambúrgueres através da adição de cebola (MARQUES et al., 2009). No forno

micro-ondas, apesar das elevadas temperaturas, a mutagenicidade das AH são

reduzidas pelo curto período de cocção (BALOGH et al., 2000).

Hidrocarbonetos aromáticos

Os hidrocarbonetos são compostos que possuem dois ou mais anéis

benzênicos condensados, são formados a partir da combustão incompleta ou

da pirólise da matéria orgânica. Estudos evidenciam que quando ingeridos

107
podem estabelecer o processo carcinogênico, principalmente em órgãos como

pulmão, trato gastrointestinal e mama (PAZ et al., 2017). Pode ser encontrado

em diferentes produtos alimentares como laticínios, óleos vegetais, café, chá e

carne defumada (CHUNG et al., 2011).

Quando um alimento é submetido a altas temperaturas, estando em

contato com a chama, são liberados compostos considerados carcinogênicos,

como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HPA), que são prejudiciais à

saúde, sendo que em indivíduos não fumantes, a dieta é a principal fonte de

contaminação por estes compostos (MUNHOZ et al., 2016). A exposição à essa

substância está associada a diversos tipos de câncer como o de pulmão, pele,

bexiga, esôfago e sistema hematopoiético (BRASIL, 2018).

Alimentos ricos em lipídios são promissores dos HPAS, uma vez que, eles

aumentam a solubilidade em produtos alimentícios (DENNIS et al., 1991). Os

óleos vegetais podem apresentar níveis elevados de HPA oriundos de diversos

fatores, como a secagem de sementes oleaginosas com gases de combustão

antes da extração do óleo (no Brasil esse método é uma prática comum), a

contaminação do solo através da utilização deste composto durante o

crescimento das culturas, falhas no processo de refinamento, entre outros

fatores. (CAMARGO et al., 2011; CAMARGO et al., 2012).

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) determina um nível

máximo para benzo(a) pireno em óleo de bagaço de azeitona (2,0 µg/kg), e

aromatizantes para defumação artificial (0,03 µg/kg), porém não há uma legislação

específica em nível nacional sobre os níveis de hidrocarbonetos para controle

desse composto em óleos vegetais (BRASIL, 2003; BRASIL, 2007; BRASIL, 2011).

O método de cocção dos alimentos está diretamente relacionado à

formação de HPA, essa concentração pode ocorrer tanto no modo de preparo

quanto na cocção (PAZ et al., 2017). Alimentos grelhados e assados formam

HPA, sendo que, a concentração é menor em alimentos assados, em alimentos

108
assados em forno a gás é menor do que nos alimentos assados usando carvão

vegetal (CHUNG et al., 2011).

INGREDIENTES E ADITIVOS COM POTENCIAL CARCINOGÊNICO

O elevado consumo de alimentos industrializados está relacionado com

o aumento de risco de câncer, principalmente alimentos que são acrescidos

substâncias para conservar o sabor e aroma (ALMEIDA, 2017).

Podemos observar que a indústria alimentícia utiliza uma grande

variedade de aditivos e conforme a Portaria nº 540, de 27 de outubro de 1997,

aditivo alimentar é definido como qualquer ingrediente que é adicionado com

objetivo de modificar características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais

durante o processamento, preparação, embalagem, acondicionamento,

manipulação, entre outros, sem intenção de nutrir. Ao inclui-los nos alimentos,

os mesmos ou seus derivados podem converter em um determinado

componente do alimento (BRASIL, 1997).

Por se tratar de substâncias adicionadas intencionalmente nos

alimentos, é importante analisar e conhecer suas propriedades, e

principalmente as concentrações seguras para serem adicionadas, pois elas

podem desencadear reações adversas (AUN et al., 2011). A carcinogênese de

aditivos alimentares vem sendo estudada em longo prazo, e tem demonstrado

a relação entre a exposição à essas substâncias e o aparecimento de tumores

como tumores cerebrais, câncer de mama e outros tipos de neoplasias. Quanto

maior a frequência de alimentos contendo esses compostos, maior será

ingestão desses aditivos, como apresentam efeito cumulativo no organismo,

podendo acarretar em danos à saúde pública (SOUZA et al., 2019).

A fiscalização de aditivos alimentares é atribuída a Agência Nacional de

Vigilância Sanitária – ANVISA, bem como a elaboração da legislação brasileira

109
sobre o uso deles. Sendo assim, os mesmos não podem conferir odor, cor ou

sabor anormal em produtos que são acrescidos dessas substâncias. E devem

obedecer de forma criteriosa aos objetivos dos quais foram atribuídos e

principalmente as quantidades máximas de uso.

Nitrito e nitrato

Produtos alimentícios enlatados e embutidos utilizam conservantes para

que mantenham suas características organolépticas, bem como aumentem a

vida de prateleira e em especial sejam seguros do ponto de vista microbiológico

ao longo da validade estabelecida (IAMARINO et al., 2015).

Os sais de sódio e potássio de nitratos (NaNO3, KNO3) e nitritos (NaNO2,

KNO2) são utilizados principalmente pela indústria de carnes, são classificados

como substância conservadora ou aditivos intencionais, pois retardam ações

microbianas e enzimáticas, protegendo-os da deterioração. A função mais

importante destes compostos como aditivo é inibir o crescimento do

Clostridium botulinum (IAMARINO et al., 2015 apud PARDI, 1996). Eles


estabilizam a coloração avermelhada/rosada das carnes e também realçam o

sabor típico de carnes curadas (GAVA, 2008).

A coloração rosada de produtos cárneos é oriunda da reação entre a

mioglobina com o ácido nítrico, primeiramente o nitrato de sódio é reduzido a

nitrito de sódio, posteriormente em condições redutoras adequadas, o nitrito é

convertido em ácido nitroso, que é reduzido a óxido nítrico (FRATUCCI, SILVA e

GUEDES, 2017).

As nitrosaminas são compostos orgânicos, que são formadas a partir da

reação de nitrosação de aminas que podem estar presentes em alimentos

acrescidos de nitrito e nitrato (carnes) ou defumados (peixes e produtos

cárneos). A formação endógena também é importante fontes desse composto

110
e tem sido alvo de estudos, essa reação é beneficiada em pH ácido, as

nitrosaminas são consequências do excesso de nitrito acumulado no estomago

(DUTRA et al., 2007). O uso em excesso de nitrito e nitrato, podem desencadear

compostos prejudiciais à saúde, carcinogênicos, como os supracitados

(HUERTAS, 2017).

TÉCNICAS DIETÉTICAS PARA REDUZIR A FORMAÇÃO


DE COMPOSTOS CARCINOGÊNICOS

TÉCNICAS DE PREPARO

Conforme apontado anteriormente a preparação dos alimentos pode ter

alta influencia na produção de compostos carcinogênicos. Dentre essas,

observa-se que, quando um alimento é submetido em alta temperatura, sobre

chama, é liberado um composto de alto potencial cancerígeno. O consumo de

churrasco, também tem influência, e apresenta fator de risco considerável para

câncer de estomago e pescoço. As frituras podem ser associar ao câncer de

laringe ou colo real (MUNHOZ et al., 2016).

A fim de reduzir os níveis da molécula de acrilamida nos alimentos, são

utilizadas diferentes abordagens tecnológicas, sendo que isso pode ser de

aspecto agronômico a partir da seleção de matéria prima, ou tecnológicos como

a partir de pré-tratamentos químicos (imersão em soluções aditivas), físicos,

biotecnológicos ou a combinação destes. Vale ressaltar que também podem ser

empregadas mudanças na formulação com substituição de substratos para

produção de acrilamida ou adição de ingredientes inibidores da acrilamida,

além de mudanças de processamento, que incluem redução da entrada

térmica, aumento da umidade relativa durante o aquecimento, modalidade de

transferência de calor e resfriamento rápido. Essas estratégias demonstraram

111
reduzir os níveis de acrilamida nos alimentos, entretanto nenhum deles

conseguiu inibir a formação da molécula tóxica (ANESE, 2009).

Um estudo realizado por Jing et al. (2019), analisou o efeito dos extratos

de trigo sarraceno na formação de acrilamida e na qualidade do pão. Os

extratos de trigo sarraceno podem inibir significativamente a formação de

acrilamida na via asparagina/glicose, tendo também uma atividade antioxidante

nos extratos o que mostrou uma redução no nível de acrilamida. Os resultados

mostraram que os pães com menor teor de acrilamida foram tratados com

extrato do broto de trigo sarraceno, o que reduziu a concentração da

substância em 27,3%, assim os resultados afirmam que a adição de extratos

tartáricos de broto de trigo sarraceno durante a preparação do pão pode

melhorar sua cor, reduzir o nível de acrilamida sem afetar os atributos

sensoriais e a textura do pão.

COMPOSTOS BIOATIVOS

Os antioxidantes podem ser definidos como qualquer substância que

mesmo em baixas concentrações é capaz de atrasar ou inibir a oxidação,

diminuindo a concentração de radicais livres no organismo (HALLIWELL e

GUTTERIDGE, 1990).

Dito isso, é possível encontrar diversos estudos utilizando antioxidantes, na

redução de risco e no tratamento da doença e isso se dá pela redução do dano

oxidativo da quimioterapia e da radioterapia como também, pela possível redução

de iniciação, promoção, progressão e metástase de câncer. Esses efeitos incluem

redução de dano oxidativo a lipídios e proteínas do DNA; redução da proliferação

e da angiogênese; e aumento da apoptose (HARVIE, 2014).

Um exemplo de compostos com atividade antioxidante são os extratos

de plantas que contêm principalmente compostos fenólicos, como flavonoides

112
e ácidos fenólicos, utilizados em um estudo realizado por Huang et al. (2017)

que obteve como resultado, a redução efetiva da formação de acrilamida no

sistema asparagina / glicose e atingiram uma taxa máxima de inibição de 59,9 e

78,2%, respectivamente.

Os flavonoides são polifenóis compostos por dois anéis aromáticos, com

o centro heterocíclico. Está presente em plantas, tais como frutas, vegetais, chás

e vegetais (VUE, ZHANG e CHEN, 2016).

São capazes de modular muitos eventos biológicos no câncer, como

apoptose, vascularização, células de diferenciação e proliferação. Os compostos

mais comuns observados são isoflavonas, antocianinas, flavan-3-ols, flavanonas,

flavonas e flavonóis (ROSSI et al., 2019).

O funcionamento dos flavonoides contra a doença depende da absorção,

metabolização e distribuição do composto por todo o corpo. Há uma grande

variação da sua composição. Isso se dá pela sua diferente estrutura, subclasse,

peso molecular entre outros (GEORGE et al., 2017).

A curcumina é um corante alimentício natural, no qual é extraído da

Curcuma Longa, que tem capacidade antioxidante e anticarcinogênica

(ANTUNES et al., 2004). Quando aliada a outros compostos que podem prevenir

o câncer, podem induzir apoptose das células tumorais. Tem efeito

antiangiogênico, antioxidante, e possíveis efeitos anticâncer provenientes da

medicina Indiana e Chinesa (LV et al., 2014).

Alternativas para a redução do teor de hidrocarbonetos em alguns

alimentos é marinar a carne em ingredientes ácidos como suco de limão, devido

a suas propriedades antioxidantes, elas inibem a formação de compostos

carcinogênicos (PAZ et al., 2017).

113
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da revisão bibliográfica foi possível perceber que o meio

ambiente, fatores genéticos e hábitos alimentares estão diretamente

relacionados ao câncer. Dentre esses fatores, podemos ressaltar a alimentação,

visto que, o elevado consumo de alimentos industrializados contribui para tal

problema de saúde pública.

É necessário evidenciar as orientações à população quanto aos

malefícios do excesso de consumo de tais compostos, assim como, orientar

sobre os métodos de cocção, visto que também há formação no processamento

de alimentos.

Pesquisas futuras devem ser realizadas a fim de definir a real capacidade

dos componentes ditos carcinogênicos, terem essas características e não

somente a toxicidade que seu consumo propicia. Deve-se ser pesquisado

também se compostos isolados tem peso quanto à diminuição do risco de

câncer, e não somente na diminuição da atuação dos radicais livres, e estresse

oxidativo, causados pela quimioterapia.

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118
Capítulo 7
____________________

SÍNDROME METABÓLICA E
OS SEUS EFEITOS SOBRE A
SAÚDE HUMANA

Marcia Machado
Millena Tureta
Rafael Dewes Lenz
Nutricionistas pelo Centro Universitário Assis Gurgacz

Débora Regina Hendges Poletto Pappen


Nutricionista e Mestre em Engenharia de Alimentos
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz

Daniela Miotto Bernardi


Nutricionista e Doutora em Alimentos e Nutrição
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz
INTRODUÇÃO

Síndrome Metabólica (SM) é o termo atribuído a um complexo conjunto

de distúrbios metabólicos, podendo ser diagnosticada quando o indivíduo

apresentar pelo menos três dos seguintes fatores de riscos: deposição central

de gordura, hipertensão arterial sistêmica (HAS), nível de glicose em jejum

elevado, níveis elevados de triglicérides e baixos níveis da fração HDL-colesterol

(do inglês: High Density Lipoprotein – HDL) (ALBERTI et al., 2009).

Os efeitos da SM sobre a saúde humana estão intimamente relacionados

com alterações no metabolismo glicídico e hormonal, compartilhando

características como hiperglicemia pós-prandial, desequilíbrio entre os

parâmetros de colesterol e suas frações, HDL-colesterol e LDL-colesterol (do

inglês: Low Density Lipoprotein), doença hepática gordurosa não alcoólica

(esteatose hepática), aumento nos processos inflamatórios que resulta em

outros sintomas agravantes que comprometam a saúde e bem estar da

população (PÉREZ-MARTINEZ et al., 2017).

No Brasil e no mundo, vem crescendo o número de diagnósticos da SM,

apesar de ainda não terem sido realizados estudos de prevalência em relação

à população brasileira em si, encontram-se estudos aplicados em outras

populações do mundo, a exemplo das populações mexicana, asiática e

americana, que manifestam dados importantes de prevalências elevadas desta

síndrome, dependendo do critério utilizado e das características da população

analisada, as taxas de prevalência variam de 12,4% a 28,5% em homens e de

10,7% a 40,5% em mulheres (JUNQUEIRA et al., 2011).

A alta incidência desta síndrome, vem sendo pontuada como um

problema de saúde pública associado a vários casos de morbitabilidade,

consequência da combinação de fatores de risco que, contribuem para o

desenvolvimento de Doenças Cardiovasculares e Diabetes Mellitus (DM) Tipo II,

120
(HAN e LEAN, 2016). O surgimento desses fatores pode estar relacionado com o

envelhecimento, a atividade hormonal, a predisposição genética, ao componente

ambiental, já que, o sedentarismo e os incorretos hábitos alimentares, contribuem

para o progresso das diferentes patologias, como a obesidade que se destaca

como importante fator de influentes nos riscos e desencadeamento das demais

doenças pertinentes à esta patogenia (AFONSO, 2013).

Neste contexto o objetivo do presente capítulo foi realizar uma

abordagem sobre os fatores de risco relacionados à ocorrência da SM, bem

como sobre os mecanismos envolvidos na sua ocorrência e o papel da nutrição

no tratamento e redução do risco de desenvolvimento.

DEFINIÇÕES GERAIS E FATORES DE RISCO

A prevalência da SM varia pois depende das definições adotadas por

órgãos de saúde e dos critérios para a realização do diagnóstico, como por

exemplo a presença de comorbidades características desta patologia, as quais

foram citados anteriormente (obesidade, a dislipidemia, a DM, e HAS).

Diferentes aspectos exercem influência sobre a saúde de indivíduos com SM,

tais como a gravidade das comorbidades, a faixa etária e o estágio da vida. É

importante minimizar complicações decorrentes desta síndrome, em toda a

população e em especial em grupos de risco com sedentarismo e

comportamento alimentar inadequado (KANE et al., 2017). Neste sentido, os

idosos são um grupo da população com maior prevalência de eventos

cardiovasculares, sendo então importante a identificação da prevalência de SM

para que sejam aplicadas intervenções específicas e implementação de

protocolo de medidas preventivas (RIGO et al., 2008).

Estudos apontam que fatores psicológicos, culturais e fisiológicos, aliados

ao cotidiano como o estresse e atropelamento de etapas necessárias para o

121
bem estar e saúde da população, tais como o distúrbio do sono e ansiedade,

predispõem os primeiros sintomas de agravantes das doenças metabólicas e

acarretam em alterações significativas no funcionamento físico, ocupacional,

cognitivo e social do indivíduo, além de comprometer substancialmente a

qualidade de vida de forma à atuarem na predisposição do indivíduo à obesidade

e consequentemente à SM (MILLER e GUIMARÃES, 2007; ARAÚJO et al., 2015).

Por definição, a obesidade é uma enfermidade crônica que se caracteriza

pelo acúmulo excessivo de gordura corporal para um nível tal que compromete

significativamente a saúde. São classificados como obesos indivíduos com

Índice de Massa Corporal (IMC) de 30 Kg/m2 ou mais, sendo que muitos outros

índices antropométricos podem ser utilizados na avaliação clínica desta

condição (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE – OMS, 2018). Também, define-

se pela medida da região do abdômen, no ponto médio entre a borda inferior

da última costela e a borda superior da crista ilíaca, onde pode se concentrar a

gordura visceral, diretamente relacionada a diversos riscos, como aumento da

pressão arterial, DM e colesterol alto, fatores que elevam o risco de doenças

cardiovasculares (BRASIL, 2017).

Definida como uma doença, esta condição obesogênica, resulta em um

processo inflamatório que ocorre quando tecido adiposo, secreta citocinas pró-

inflamatórias que produzem importante efeito sobre redução na sensibilidade

à insulina, hiperlipidemia, redução de proteína muscular e estresse oxidativo

(SIPPEL et al., 2014), também apontado em revisão de estudo de Francisqueti,

Nascimento e Corrêa (2015) que relaciona o aumento de peso e alteração de

gordura visceral como determinante fator de risco para outras doenças

cardiovasculares como HA, além da potencialização do stress oxidativo e maior

resistência à insulina .

A obesidade é um dos mais importantes fatores de risco para a

ocorrência de distúrbios metabólicos e desenvolvimento da SM na população

122
geral, sejam em crianças, adolescentes e adultos e está intimamente ligada a

todos os outros fatores associados a essa síndrome que pode ser notada de

forma expressiva principalmente em aspectos sociais, culturais, físico e

psicológicos, que abrangem principalmente hábitos alimentares, caracterizados

por alimentos com industrializados, com elevada densidade calórica, açúcares

e gorduras, combinado com o estilo de vida contemporâneo, caracterizado pelo

sedentarismo, advindo das formas de trabalho, uso de transportes motorizados

e urbanização, os quais vão influenciar diretamente em um resultado de

desequilíbrio no controle e redução desses fatores de risco, dentre eles o

desenvolvimento da DM (MADEIRA et al., 2008; SOUZA et al., 2010).

Uma alimentação excessiva promove ganho de peso e obesidade que

por sua vez, resulta em inflamação, isso ocorre porque o tecido adiposo, secreta

citocinas pró-inflamatórias que produzem importante efeito sobre redução na

sensibilidade à insulina, hiperlipidemia, redução de proteína muscular e

estresse oxidativo. Foi encontrado uma relação direta entre obesidade e outras

doenças inflamatórias como as doenças cardiovasculares, alguns tipos de

câncer e DM Tipo II, conforme será discutido mais adiante. Além disso, sabe-se

que a presença de gordura visceral está altamente correlacionada com maior

resistência à insulina, associada à DM (BARROSO et al., 2017).

Embora a DM seja classificada em DM Tipo I e DM Tipo II, DM gestacional e

em outros tipos específicos de acordo com a etiologia da doença, a DM Tipo II é a

que geralmente está associada à SM, pois se correlaciona com estilo de vida e

obesidade. A DM consiste em um distúrbio metabólico caracterizado por

hiperglicemia persistente, decorrente da insuficiência na produção de insulina ou

na sua ação, ou em ambos, ocasionando complicações em longo prazo

(SOCIEDADE BRASILEIRA DO DIABETES, 2017).

A hiperglicemia persistente está associada a complicações crônicas micro

e macrovasculares, aumento de morbidade, redução da qualidade de vida e

123
elevação da taxa de mortalidade mediada por outras influências como o stress

oxidativo que atua como fator principal tanto na etiologia quanto nas

complicações relacionadas à esta condição (TELES et al., 2015). A DM pode ser

agravada nos casos de obesidade, sedentarismo, excesso de ingesta calórica, que

desencadeará na ativação vias inflamatórias, que poderão provocar uma cascata

de estímulos, resultando em lipogênese hepática e então em liberação de ácidos

graxos livres e triglicérides na circulação sanguínea e, portanto, dislipidemia e

deposição adiposa (MAGALHÃES et al., 2018).

Vários estudos relatam que o stress oxidativo é um importante fator no

desenvolvimento da SM, de modo que o metabolismo humano possui

naturalmente um sistema antioxidante onde inibem a superprodução de

espécies reativas de oxigênio (ROS), constituídos por fatores endógenos e

exógenos (as radiações gama e ultravioleta, o ozônio, o tabagismo e aspectos

nutricionais) e enzimas antioxidantes que podem ativar ou inibir o equilíbrio

oxidativo e inflamatório (AVELAR et al., 2015).

Outro fator agravante desencadeado pela SM, são as doenças

cardiovasculares constituídas por um grupo de doenças, onde a Pressão Arterial

Sistêmica (HAS) apresenta maior incidência. Usualmente, chamada de pressão

alta, a HAS ocorre quando o indivíduo tem a pressão arterial, sistematicamente,

igual ou maior que 140 e/ou 90 mmHg, condição proveniente do débito

cardíaco e resistência periférica (BRASIL, 2019).

A HAS pode ser agravada pela obesidade visceral, resistência a insulina,

concentrações elevadas de triglicerídeos e baixas concentrações de HDL

colesterol, em determinados casos, advindos da SM. Fatores externos como o

estilo de vida podem contribuir fortemente para a ocorrência desta doença,

dentre eles, destacam-se tabagismo, sedentarismo, estresse e erros

alimentares, caracterizada neste caso pela ingestão excessiva de sódio que tem

relação direta com o aumento da pressão pois tem efeito sobre a volemia e

124
consequentemente sobre o débito cardíaco, além de influenciar na ativação de

outros mecanismos pressores como a vasoconstrição renal (LAMOUNIER et al.,

2005; BARRETO et al., 2009).

O PAPEL DA NUTRIÇÃO NO TRATAMENTO E PREVENÇÃO

PRESCRIÇÃO DIETOTERAPICA

No contexto de recomendações, a dieta de portadores de SM deve ser

composta por carboidratos complexos e integrais (representando entre 45 e 65

% do valor calórico total diário), proteínas (10-35% do valor calórico diário total)

e gorduras (20-35% do valor calórico diário total), dando-se preferência às

gorduras mono e poli-insaturadas, sendo o ácido graxo linoleico, 5 a 10% da

ingestão calórica, e linolênico, 0,7-1,6% da ingestão calórica, tudo isso aliado a

uma redução de 5 a 10 % de peso corporal (BRASIL, 2014; PENALVA, 2008). No

quadro 4 estão as recomendações para o plano alimentar do paciente com SM

(Sociedade Brasileira de Cardiologia 2005).

Quadro 4: Composição do plano alimentar recomendado para a Síndrome Metabólica (SM)

CALORIAS, MACRONUTRIENTES E RECOMENDAÇÕES


Calorias totais: Recomenda-se a redução de 5% a 10% do peso.

Carboidratos: Recomendação de 50% - 60% das calorias totais. O total de porções diárias desse grupo
de alimentos varia de acordo com o VCT do plano alimentar prescrito. Considere que uma porção e
carboidratos corresponde a uma fatia de pão de forma, ou meio pão francês, ou uma escumadeira de
arroz ou macarrão.

Fibras: Recomendação de 20g – 30g/dia. Selecionar alimentos integrais ou com baixo índice glicêmico.

Gordura total: Recomendação de 25% - 35% das calorias totais. Devem ser evitados alimentos
gordurosos em geral como carnes gordas, embutidos, laticínios integrais, frituras, gordura de coco,
molhos, cremes e doces ricos em gorduras e alimentos refogados e temperados com excesso de óleo
ou gordura.

Ácidos graxos saturados (AGS): Recomendação de < 10% das calorias totais. Incluem ácidos graxos
saturados (C8-C16) e os ácidos graxos trans. Recomendar até 7% se LDL-colesterol for > 100mg/dl.

Ácidos graxos poliinsaturados (AGPI): Recomendação de até 10% das calorias totais. Incluem os ácidos
graxos ômega-3 os quais são encontrados em peixes como salmão, sardinha, cavala e arenque.

125
Ácidos graxos monoinsaturados (AGMI): Recomendação de até 20% das calorias totais. O azeite de
oliva possui 77% de AGMI e seu consumo é predominante na dieta Mediterrânea.

Colesterol: Recomendação <300 mg/dia. Alguns indivíduos com LDL-colesterol > 100mg/dl podem se
beneficiar com uma ingestão diária de colesterol de 200 mg/dia.

Proteína: Recomendação 0,8 a 1,0 g/kg peso atual/dia ou 15% das calorias totais. Corresponde a duas
porções pequenas de carne magra/dia, que podem ser substituídas pelas leguminosas (soja, grão de
bico, feijão, lentilha, etc.) e duas a três porções diárias de leite desnatado ou queijo magro. O consumo
de peixes deve ser incentivado por sua riqueza em ácidos graxos n-3. Os ovos também podem ser
utilizados como substitutos da carne, respeitando o limite de duas gemas/semana, em função do teor
do colesterol. Excessos proteicos devem ser evitados.

Fonte: Adaptado da Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2005.

A adoção de um plano alimentar saudável é fundamental no tratamento

da SM, o qual deve ser individualizado a fim de atender as necessidades

particulares de cada indivíduo, tendo como primeiro passo estabelecer as

necessidades a partir da avaliação nutricional cuidadosa, incluindo a

determinação do índice de massa corporal, circunferência abdominal e, quando

possível, a composição corporal, além da determinação do perfil metabólico

(BRANDÃO, 2005). É importante ressaltar que a terapia nutricional deve ser

somada a uma participação efetiva de uma equipe multidisciplinar, em especial

as competências relacionadas à atividade física, importante fator para auxílio no

combate à obesidade e na promoção de saúde e bem-estar da população.

MODELOS DIETÉTICOS E ALIMENTOS FUNCIONAIS


DE INTERESSE NA SÍNDROME METABÓLICA (SM)

Atualmente, não há uma abordagem única e definitiva para o tratamento

da SM, porém, de uma maneira geral se visa à normalização do peso do

paciente, além e manutenção do controle cardiometabólico, incluindo os níveis

de lipídeos séricos, glicemia, e pressão arterial, condições que podem ser

alcançadas com intervenções em relação ao padrão de alimentação individual,

associadas também com a mudança no nível de atividade física (PÉREZ-

MARTINEZ, et al., 2017). Portanto, as estratégias de conduta nutricional em

126
indivíduos com SM, devem ter como foco principal a abordagem constante de

hábitos e comportamento alimentar saudável de forma consciente e educativas,

neste sentido, estudo de Bressan e Vidigal (2014), revisam a influência da dieta

na abordagem terapêutica da SM.

Sendo assim, resultados positivos têm sido apresentados pelos estudos

que avaliam o padrão alimentar da população dos países pertencentes à bacia

do Mediterrâneo, cuja característica é uma alimentação com alto teor de boas

gorduras (variando entre 35% a 45% do teor calórico total da dieta, das quais a

maior proporção são de gorduras insaturadas), uma alta concentração e

variedade de vegetais, frutas, legumes, cereais integrais e oleaginosas,

combinado com o consumo de carnes em quantidades moderadas, com a

maior predominância do consumo de aves e peixes, e moderado consumo de

bebidas alcoólicas, sendo principalmente o vinho tinto. Esta dieta parece,

colaborar com a melhora dos parâmetros de avaliação da SM e das

comorbidades associadas, como a obesidade abdominal, dislipidemia, alteração

da glicemia em jejum e pressão arterial, sendo estes efeitos atribuídos em geral

à presença de componentes com efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios,

referidos como cardioprotetor (BACH-FAIG et al., 2011 e ESPOSITO et al., 2004).

Ainda neste contexto, ensaios clínicos têm evidenciado sobre os

benefícios do consumo de fontes alimentares de ácidos graxos insaturados,

como o azeite de oliva em doses de 20g a até 50g diárias, independentemente

do tipo de dieta. O azeite virgem e extravirgem têm como componente principal

o ácido oleico e também outros componentes menores com propriedades

bioativas, sendo o consumo deste azeite associado aos perfis lipídicos

sanguíneos benéficos, melhora a sensibilidade à insulina e regulação dos níveis

de glicose no sangue, bem como a atenuação do stress oxidativo como

mecanismo acelerador inflamatório no metabolismo associados à

comorbidades ligados a SM (COVAS, et al. 2015 e MISRA et al., 2010).

127
Lapointe (2006) e Covas (2007), também apontam que Dietas ricas de

ácidos graxos monoinsaturados apresentam uma maior eficácia quando

comparada a aquelas ricas em ácidos graxos poli-insaturados para reduzir a

resistência do LDL à oxidação. O efeito benéfico dos ácidos graxos

monoinsaturados na inflamação pode ser transmitido através de um efeito

transcriptômico, diminuindo a expressão de genes pró-inflamatórios.

Outro estudo que apresenta eficácia no consumo adequado de azeite de

oliva, é o de Bondia-Pons et al. (2007), realizado em diferentes países europeus,

observou que, o consumo de 25 mL /d (22 g /d) de qualquer tipo de azeite de

oliva não aquecido em substituição de outras gorduras durante períodos de três

semanas diminuiu os triglicerídeos e pressão arterial sistólica. No mesmo estudo,

presenciou-se um aumento nos níveis HDL, diminuição na oxidação do LDL bem

como na expressão de genes relacionados à inflamação, efeito atribuído ao

conteúdo polifenóis do óleo de oliva administrado.

Em relação ao consumo de legumes e sementes como meio de redução

de risco e controle da SM e suas comorbidades, estudo de Sala-Vila (2015),

fazendo uma metanálise de ensaios clínicos, sugeriu um leve efeito das

leguminosas na redução da pressão arterial, além disso, em pacientes

diabéticos, pode-se observar que o maior consumo de leguminosas melhorou

controle glicêmico e resistência à insulina, bem como uma redução na

possibilidade de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Estes efeitos

podem ser explicados pelo fato de que leguminosas são ricas em proteínas,

carboidratos complexos, fibras e vários micronutrientes bioativos, com efeitos

na regulação de diferentes mecanismos biológicos com interação nas

patologias relacionadas a SM (SIEVENPIPER et al., 2009).

Para tanto, outros estudos observaram que há uma relação inversa

entre o consumo de cereais com a incidência da SM e doenças associadas. No

estudo de Kochar, Gaziano e Djousse (2012), foram analisados os dados de

128
13.368 homens participantes do Physicians' Health Study, e verificou-se uma

redução de 19% no risco de HA, nos pacientes que realizavam o consumo diário

de cereais, com uma relação positiva mais forte com grãos integrais do que com

cereais refinados, sendo que os autores sugeriram que, componentes como

folato, magnésio, potássio e fibra, presentes nos cereais integrais, podem ser

responsáveis por esse efeito. Hosseinpour-Niaz et al. (2015) realizaram o

acompanhamento de 1.582 adultos e observaram que os indivíduos que

consumiam mais cereais, assim como frutas e vegetais, em sua dieta,

apresentavam uma menor incidência na formação do quadro de SM, sendo este

efeito atribuído às fibras alimentares.

De outra forma e com outras fontes de nutrientes, no trabalho de Song

et al. (2015), em que foram acompanhados um total de 668 pacientes, destes


413 homens e 255 mulheres, com idades superiores a 30 anos, foi avaliado o

consumo de produtos derivados do leite e de frutas e verificou-se que os

indivíduos que realizavam um consumo menor de frutas e produtos derivados do

leite apresentavam maior incidência da SM comparado a aqueles que consumiam

em maior quantidade este tipo de produto (1,1 vs. 1.6 porções ao dia e 0,6 vs. 0,8

porções ao dia respectivamente). Os resultados obtidos foram correlacionados

devido a presença de componentes como as fibras alimentares e antioxidantes

das frutas, já em relação ao leite e seus produtos derivados, componentes como o

cálcio, a vitamina D, potássio e magnésio, foram inversamente associados com as

patologias individuais da SM, incluindo glicemia elevada em jejum, pressão arterial

elevada, triglicerídeos elevados e obesidade.

Já em relação à carne vermelha e processados, estudos têm

correlacionado que a alta ingestão destes alimentos, estão associadas ao

aumento do risco de desenvolvimento da SM, possivelmente devido à maior

presença de gorduras saturadas e aditivos alimentares usados nestes tipos de

produto (KIM e JE, 2018).

129
Na Tabela 7, encontram-se expostas de forma resumida os modelos

dietéticos estudados sobre a Síndrome Metabólica (SM).

Tabela 7: Estudos de modelos dietéticos e componentes alimentares com efeito sobre a


Síndrome Metabólica (SM)
Dieta/compon População Como foi
ente alimentar que foi feito o Efeito Referência
testado testado teste
Melhora dos parâmetros de
avaliação da *SM e melhora
Habitantes Avaliação
das comorbidades BACH-FAIG
dos países da do padrão
Dieta associadas, como a et al., 2011
bacia do alimentar
Mediterrânea obesidade abdominal, e ESPOSITO
mediterrâne da
dislipidemia, alteração da et al., 2004
o população
glicemia em jejum e pressão
arterial.
Melhora dos perfis lipídicos
sanguíneos, melhora a
sensibilidade à insulina,
regulação dos níveis de COVAS et
Avaliação
Ácidos graxos População glicose no sangue, bem al., 2015 e
de
insaturados europeia como a atenuação do stress MISRA et al.,
consumo
oxidativo como mecanismo 2010
acelerador inflamatório no
metabolismo associados à
comorbidades ligados a *SM.
Diminuição dos triglicerídeos
e pressão arterial sistólica,
Avaliação
População de aumento nos níveis HDL-
do Bondia-
diferentes colesterol, diminuição na
Azeite de Oliva consumo Pons et al.,
países oxidação do LDL-colesterol
de azeite 2007
europeus bem como na expressão de
de oliva
genes relacionados à
inflamação.
Leve efeito na redução da
pressão arterial, além disso,
em pacientes diabéticos,
Metanálise houve melhora controle
Legumes e Sala-Vila,
Geral de ensaios glicêmico e resistência à
sementes 2015
clínicos insulina, bem como uma
redução na possibilidade de
desenvolvimento de doenças
cardiovasculares.
Redução de 19% no risco de
Análise de Kochar,
*HA nos pacientes que
13.368 dados de Gaziano e
Cereais realizavam o consumo diário
homens participant Djoussé,
de cereais, com uma relação
es de 2012
positiva mais forte com grãos
130
estudo integrais do que com cereais
clinico refinados
Relação inversamente
Analise de Hosseinpou
proporcional do consumo de
Cereais 1582 adultos consumo r-Niaz et al.,
cereais com a incidência do
alimentar 2015
quadro de *SM.
Acompanh
amento Independente de sexo,
668 dos pacientes os quais
pacientes, pacientes realizavam um consumo
destes 413 recrutados, menor de frutas e produtos
Leite e homens e avaliando o derivados do leite
Song et al.,
derivados + 255 consumo apresentavam maior
(2015)
frutas mulheres, de frutas, incidência da *SM
com idades leite e seus comparado a aqueles os
superiores a derivados e quais consumiam em maior
30 anos seu quantidade este tipo de
impacto na produto.
SM
População Metanálise a alta ingestão destes
Carne
predominant de estudos alimentos, estão associadas Kim e Je,
vermelha e
emente observacio ao aumento do risco de 2018
processados
asiática nais desenvolvimento da *SM.

*SM: Síndrome Metabólica; HA: Hipertensão Arterial.

A ATIVIDADE FÍSICA COMO UMA AÇÃO


DE IMPACTO NA SINDROME METABÓLICA (SM)

Praticar atividade física constantemente tem influência na incidência de riscos

cardiovasculares, HA, além de contribuir para a diminuição da resistência à insulina,

melhorar o estado de dislipidemia, e proteger contra o desenvolvimento da SM. Ao

relacionar os exercícios com a síndrome, observa-se que este auxilia na perda de

peso e da gordura abdominal (EBRAHIMOF e MIRMIRAN, 2013).

Um estudo realizado em Portugal com uma amostra de 115 indivíduos

caucasianos, do qual 47 do sexo masculino e 68 do sexo feminino. Sendo que 4,4%

das mulheres apresentam SM e 17,1% dos homens também apresentam SM.

Dentre estes, constatou-se que 70,7% se apresentaram insuficientemente ativos em

atividade física e 29,3% ativos. Concluindo que a falta de atividade física, pode

contribuir para o agravamento desta patologia (SANTOS et al., 2005). Portanto pode
131
se afirmar que a prática regular da atividade física demonstra resultados benéficos

importantes nos indivíduos acometidos pela SM (CARLET, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nesta revisão sobre SM, verificou-se que tal patogênese, é

desencadeada por diversos fatores, porém o comportamento, hábitos

alimentares e estilo de vida do indivíduo são os principais fatores de impacto

para o desenvolvimento desta patologia e suas comorbidades. Uma dieta

saudável, adequada e individualizada para a necessidade de cada indivíduo,

pode prevenir e/ou tratar essa síndrome com eficiência, evidenciando ainda

mais a necessidade do papel atuante e constante do nutricionista, como

principal influente para a promoção de saúde e bem-estar.

Dessa maneira, estas evidências poderiam ser conjugadas com o

desenvolvimento de outros estudos que abordassem a importância de

atividades multidisciplinares que incentivassem a mudança de estilo de vida,

como alimentação e atividade física, as quais devem ser consideradas

especificamente dependendo da gravidade e quais fatores desencadearam a

ocorrência desta patologia na população. Também seria de grande valia serem

realizados outros estudos os quais pudessem vir avaliar o padrão alimentar da

população brasileira, em sua totalidade bem como as particularidades regionais,

devido ao tamanho continental do país. Estudos regionalizados poderiam

avaliar a influência exercida sobre o consumo de produtos naturais disponíveis

em cada localidade, que contassem com presença de uma diversidade de

compostos bioativos, na prevenção ou auxilio de tratamento das patologias

apresentadas pelo indivíduo portador da SM.

132
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135
Capítulo 8
____________________

O AUXÍLIO DAS TERAPIAS


NUTRICIONAIS NO
CONTROLE E TRATAMENTO
DA OBESIDADE, UMA
EPIDEMIA MUNDIAL

Marina Horst
Natália Miorando
Renan Sebben
Nutricionistas pelo Centro Universitário Assis Gurgacz

Nanci Rouse Teruel Berto


Nutricionista e Mestre em Desenvolvimento Rural Sustentável
Coordenadora do Curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz

Daniela Miotto Bernardi


Nutricionista e Doutora em Alimentos e Nutrição
Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz
INTRODUÇÃO

A obesidade é definida como condição crônica caracterizada pelo

acúmulo excessivo de gordura que traz repercussões à saúde, categorizada, na

décima revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), no item de

doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas. O diagnóstico do

sobrepeso/obesidade vem sendo realizado por meio do índice de massa

corporal (IMC), calculado como a razão da massa corporal pela estatura ao

quadrado (DIAS, 2017).

De acordo com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e

Síndrome Metabólica (ABESO) (2016) há uma previsão de que, em 2025, cerca

de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso e mais de 700 milhões obesos

e de que, o número de crianças com sobrepeso e obesidade no mundo poderá

chegar a 75 milhões se medidas não forem tomadas.

Entre as principais causas da obesidade, pode-se citar uma alimentação

inadequada com uma grande quantidade de carboidratos e açúcares pouco

consumo de frutas e o sedentarismo. Fatores genéticos também podem influenciar

no ganho de peso e na dificuldade de emagrecimento (SCHÖLER et al., 2016).

Indivíduos obesos têm grandes chances de desenvolver graves

comorbidades, incluindo doenças cardiovasculares (DCV), distúrbios

gastrointestinais, Diabetes Mellitus (DM) Tipo 2, doença do refluxo

gastroesofágico (DRGE), esteatose hepática, degeneração e/ ou agravamento de

distúrbios articulares e musculares, problemas respiratórios e psicológicos,

certos tipos de câncer, entre outras, que afetam significativamente a qualidade

de vida e aumentam os riscos de mortalidade (FRUH, 2017).

Para a ABESO (2016), existem três abordagens para o tratamento da

obesidade: dietética, farmacológica e cirúrgica. Essas estratégias podem ser

137
indicadas de forma combinada ou não, de acordo com a gravidade do problema

e com a presença ou ausência de complicações associadas. Porém, mudanças

de estilo de vida incluindo hábitos alimentares saudáveis e prática regular de

atividade física são fundamentais para obtenção de sucesso terapêutico em

curto, médio e longo prazo.

No entanto, grande parte das pessoas obesas relatam o desejo de mudar

a situação em que se encontram, porém existe um desânimo e uma falta de

motivação para o tratamento. Além disso, a insatisfação com a autoimagem

promove dificuldades no cuidado consigo mesmo. Assim, a abordagem

nutricional isolada pode não ser suficiente para mobilizar as mudanças

necessárias para o tratamento e o controle da obesidade (MORAES, 2013).

Neste contexto, o objetivo do presente capítulo é verificar e analisar os

fatores envolvidos na ocorrência da obesidade, assim como a participação e

contribuição da terapia nutricional na melhora desse quadro.

DESENVOLVIMENTO E FISIOLOGIA DA OBESIDADE

A Organização Mundial de Saúde (OMS) (2018), define o sobrepeso para

indivíduos com Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior a 25 Kg/m², e a

obesidade para indivíduos com o IMC igual ou superior a 30 Kg/m². O IMC fornece

a medida útil de sobrepeso e obesidade na população, pois pode ser utilizado

para ambos os sexos e para adultos de todas as idades. Porém, deve ser

considerado como um valor aproximado, uma vez que pode não corresponder

ao mesmo nível de espessura em pessoas diferentes, como por exemplo, em

atletas, onde o IMC pode apontar valores altos, porém o indivíduo possui mais

massa magra do que gordura corporal. Em relação às crianças, deve ser levada

em conta a idade, para definir o excesso de peso ou a obesidade.

138
Sem dúvidas os números e as estatísticas mostram que a obesidade é

um problema atual de saúde pública, que atinge cada vez uma maior parcela da

população uma vez que, conforme citado anteriormente, apresenta etiologia

multifatorial. Mesmo assim, ela ainda é associada a problemas

comportamentais do indivíduo, como um mal que acomete aqueles que não

conseguem ter disciplina alimentar e que cedem diante das "tentações" ou que

são incapazes de estabelecer uma dieta "equilibrada", não tendo força de

vontade para a prática regular de exercícios físicos, e colocando assim, sua vida

em risco. Essa visão sobre os indivíduos e sobre a obesidade é falsa e precisa

ser mudada (MARTINS, 2018).

Lorenço e Rubiatti (2016), avaliaram indivíduos obesos maiores de 18

anos, de ambos os sexos, de uma Unidade Básica de Saúde e verificaram que a

maioria dos indivíduos obesos era do sexo feminino. Verificaram ainda que 52%

não relataram antecedentes familiares para obesidade, e que o ganho de peso

foi ligado a alguma situação do tipo gestação, menopausa e casamento. Dos

48% que apresentaram antecedentes familiares, o destaque foi para os pais.

Outros pontos relatados pelos pesquisados, foi a ingestão de comidas rápidas

(do inglês: Fast Foods), onde 40% dos participantes relataram que não

costumavam consumi-los, dentre os que relataram que consumiam,

informaram que a frequência era de uma vez na semana. Os autores verificaram

ainda, que 32% dos participantes realizaram apenas três refeições ao dia, e 22%

quatro refeições. O consumo mensal de óleo, por pessoa, era de 66% acima do

recomendado e de sal 62%, também acima do recomendado. Ainda, os

alimentos consumidos diariamente pelos pesquisados foram arroz, carnes,

leguminosas, refrigerantes, verduras, pães e biscoitos sem recheio, leite e

derivados, legumes e doces; o suco natural, frutas, massas e frituras

apareceram com maior frequência de uma a duas vezes na semana; os

139
embutidos, guloseimas, sucos em pó e bebidas alcoólicas foram os mais

relatados como nunca consumidos.

Em outro estudo, onde foram avaliadas mulheres adultas, obesas graves,

na primeira consulta no Ambulatório de Nutrição em Obesidade Grave, em um

Hospital do estado de Goiás, Brasil, foi verificado a associação de

superobesidade com comportamento de compulsão alimentar periódica e

variáveis de consumo alimentar, como consumo diário de vegetais folhosos em

geral e não consumir diariamente leite e derivados, levando em consideração

esses alimentos como fonte de cálcio (RODRIGUES e SILVEIRA, 2018). Costa e

Rosa (2016), apontam que a curta prazo, a ingestão de leite e derivados (uma a

quatro porções ao dia) está relacionada com redução de gordura corporal e

quando associada à restrição calórica, a redução da massa de gordura é

também acompanhada de redução do peso corporal.

Rosa e Alves (2017), por outro lado, avaliaram mulheres adultas, entre 18

e 60 anos, colaboradoras de uma Unidade de Alimentação e Nutrição de um

Município do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Participaram do estudo 106

mulheres, com idade mediana de 46 anos. Dessas, 39,6% apresentaram

obesidade, conforme a classificação do estado nutricional e 72,6%

apresentaram sobrepeso. Avaliando os critérios necessários para diagnóstico

sugestivo de síndrome metabólica, encontrou-se que 49,1% das mulheres tem

a doença. Em relação a análise da dieta, 61,3% das mulheres apresentavam

dieta inadequada, mesmo que ao serem questionadas de como consideravam

sua alimentação, 53,8% afirmaram que a alimentação era saudável. Em relação

a atividade física, 78,3% das mulheres informaram que não a fazem, e ainda

somente 7,5% das mulheres vai a pé para o trabalho.

Quando se fala em obesidade, refere-se também a muitos fatores que

são envolvidos nesse quadro, como por exemplo a inflamação. O tecido

adiposo, secreta ativamente uma ampla gama de citocinas pró e anti-

140
inflamatórias, que são influenciadas por polimorfismos de único nucleotídeo

nos genes de citocinas. Os efeitos incluem insensibilidade à insulina,

hiperlipidemia, perda de proteína muscular e estresse oxidativo (MAHAN e

RAYMOND, 2018). O TNF-alfa é uma citocina pró-inflamatória, sintetizada e

secretada principalmente por monócitos, macrófagos e adipócitos, e que tem a

concentração bastante elevada no plasma e no tecido adiposo de indivíduos

obesos. Essa proteína apresenta ação autócrina, parácrina e endócrina em

diversas funções biológicas, como na regulação da gordura corporal, por meio

da inibição da lipogênese e do estímulo da lipólise, bem como contribui para a

redução da sensibilidade à ação da insulina. Em indivíduos obesos, a inflamação

contribui para o aumento da produção de espécies reativas de oxigênio (ERO).

O tecido adiposo, ao estimular a produção de macrófagos e de citocinas, como

a IL-18 e o TNF-alfa, aumenta a respiração celular e a produção de ERO. Esses

radicais oxigenados, em desequilíbrio com as defesas antioxidantes do

organismo, promovem o estado de estresse oxidativo, sendo que este

considerado um dos mecanismos envolvidos na resistência à insulina, no DM2

e nas doenças cardiovasculares (COZZOLINO e COMINETTI, 2013).

Bonadeo, Vogt e Chielli (2015), em seu estudo, onde foram avaliados 149

indivíduos, sendo 54 com peso normal, 27 com sobrepeso e 68 indivíduos

obesos, verificaram um aumento significativo da glicose no grupo obeso, em

relação ao grupo dos indivíduos com peso normal. Observou-se também, um

aumento significativo nos valores da resistina no grupo dos indivíduos obesos,

comparando com o grupo de indivíduos com peso normal. Assim, o estudo

concluiu que o acúmulo excessivo de tecido adiposo, estão intrinsecamente

associados a mecanismos de ação de patologias como a resistência a insulina e

DM tipo 2, corroborando, portanto com o que foi citado anteriormente.

141
REDUÇÃO DO RISCO DA OCORRÊNCIA DA OBESIDADE

As ações que estão sendo apontadas como efetivas para a redução de

risco da obesidade são intersetoriais e envolvem o fortalecimento de sistemas

alimentares que promovam ao mesmo tempo prosperidade, equidade,

sustentabilidade ambiental e saúde; a regulação de publicidade de produtos

ricos em gordura e açúcar e daquela dirigida ao público infantil; a melhoria da

rotulagem de alimentos; a implementação de medidas fiscais que desencorajem

a aquisição de produtos muito processados e que encorajem a de alimentos in

natura ou minimamente processados; a promoção de ambientes alimentares


saudáveis; a promoção do aleitamento materno e da alimentação

complementar saudável; e o desenvolvimento de ações de Educação Alimentar

e Nutricional (Castro, 2017).

As diretrizes estabelecidas segundo a Política Nacional de Alimentação e

Nutrição (PNAN) visam estabelecer os direitos humanos básicos, a alimentação,

garantindo assim que a promoção e a proteção da saúde da população ocorram

através do enfoque na prevenção e nas ações básicas de cuidado, tornando

possível aos indivíduos um discernimento de suas escolhas e práticas

alimentares. Estas ações são desenvolvidas por meio da educação alimentar e

nutricional (EAN), voltada ao longo do curso da vida de todos os indivíduos,

contribuindo para a realização do direito humano à alimentação adequada e

garantia da segurança alimentar e nutricional (SAN) para adquirir interação

social entre os profissionais de saúde e a população, em busca da promoção da

autonomia e do autocuidado (BRASIL, 2010).

Os Guias Alimentares fazem parte das diretrizes e são instrumentos

desenvolvidos com abordagem nos princípios e nas recomendações de uma

alimentação adequada e saudável, tendo como estrutura 5 capítulos onde são

fornecidas recomendações de escolha, preparo e consumo de alimentos,

142
levando em consideração os fatores ambientais que favorecem ou dificultam a

colocação dessas recomendações em prática. As Estratégias Intersetoriais de

Prevenção e Controle da Obesidade orientam e guiam as ações do governo

brasileiro em busca do crescimento e da implementação das diretrizes para o

controle deste cenário epidemiológico, visando quantificar a disponibilidade e

acesso a alimentos adequados e saudáveis, gerando a educação, comunicação

e informação, com o intuito de promover modos de vida saudáveis em

ambientes específicos através da vigilância alimentar e nutricional, com atenção

integral a saúde do indivíduo em sobrepeso ou obesidade na rede de saúde,

com base neste processo diversos programas, ações e discussões estão

voltadas para a redução e manejo da obesidade (BRASIL, 2008).

Corroborando com esta informação, o estudo de Oliveira et al., (2015),

onde o objetivo foi comparar o estado nutricional e práticas alimentares de

crianças de 1 a 7 anos, que tiveram diferentes tipos de amamentação nos seis

primeiros meses de vida, a fim de explanar os benefícios do aleitamento

materno contra alergias, sobrepeso e obesidade infantil. O estudo teve um

grupo amostral que foi composto por 40 crianças, sendo 26 (65%) do sexo

feminino e 14 (35%) do sexo masculino, de 1 a 7 anos, matriculadas na rede

particular e pública de ensino infantil. No estudo foi possível verificar que dentre

as 17 crianças que receberam amamentação exclusiva, a maioria (58,8%) foi

identificada e classificada como eutrófica e 26,5%, como acima do peso. Já entre

as crianças que receberam algum tipo de alimento além do leite materno antes

do 6º mês, a maioria (47,8%) foi classificada como acima do peso. Com base nos

dados apresentados, conclui-se que a amamentação representa um fator de

proteção contra o sobrepeso, obesidade e alergias infantis. É possível

considerarmos então a importância da "Estratégia Nacional para a promoção

do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no SUS –

Amamenta e Alimenta Brasil", criada em 2012 pelo PNAN, que busca reforçar e

143
incentivar a promoção do aleitamento materno e da alimentação saudável das

crianças menores de 2 anos.

Em outro estudo, Rodrigues e Boog (2016), avaliaram 22 adolescentes

por oito meses, com idades entre 11 e 16 anos e diagnóstico de obesidade

exógena, encaminhados pelo Ambulatório Geral de Adolescência do Hospital

das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e por uma

Unidade Básica de Saúde de Campinas. O estudo apresenta dados literários

mostrando que a obesidade acontece, principalmente, pela alimentação

inadequada e por atividades físicas irregulares. Indicam que programas de

prevenção e acompanhamento devem guiar a ação nessa situação, sempre com

a orientação do Nutricionista.

A educação alimentar e nutricional (EAN), que está inserida nas ações do

PNAN busca envolver indivíduos ao longo de todo o curso da vida, tornando

possível o entendimento e a valorização da cultura alimentar e sustentabilidade

desde os seus primórdios. Na revisão literária de Ferreira et al., (2018), onde o

objetivo foi apontar algumas considerações sobre a associação entre a escolha

alimentar e a obesidade. O mesmo relata que estabelecer bons hábitos

alimentares desde a infância ajuda a diminuir a obesidade na idade adulta. A

promoção de hábitos de vida saudáveis e as intervenções nos hábitos de vida

devem ser iniciadas o mais precocemente possível, já que na adolescência

ocorrem mudanças importantes na personalidade do indivíduo e por isso é

considerada uma fase favorável para a consolidação de hábitos que poderão

trazer implicações diretas para a saúde na vida adulta.

Em outro estudo de revisão literária, Silva (2014), relata que o exercício

físico tem um papel fundamental quando o assunto é sobrepeso ou obesidade,

está claro a sua importância na redução da gordura corporal. Alguns outros

métodos são aliados ao exercício físico na prevenção e combate a obesidade. O

controle nutricional se torna essencial quando falamos em obesidade, diminuir

144
a ingestão de calorias consumidas durante o dia e aumentar o gasto calórico

por meio dos exercícios parece uma combinação ótima para diminuir a gordura

corporal. É, portanto, este o ponto em que as ações de prevenção da obesidade

criadas pelo PNAN buscam promover a reflexão, que são elas que impedem que

haja exposição da população a fatores e situações que estimulem práticas não

saudáveis, por isso se faz necessário a informação e a motivação para auxiliar

através de programas como ´´Academia da saúde´´ e através da redução e

eliminação de gordura trans em alimentos processados, e discussão sobre a

redução de açúcar nestes alimentos.

A TERAPIA NUTRICIONAL NA OBESIDADE

Em relação à obesidade, programas com sucesso na redução de peso

corporal, contam com alterações na escolha dos alimentos, exercícios e

modificações comportamentais, sendo que em alguns casos é necessária a

cirurgia e tratamento farmacológico. Em relação ao valor calórico da dieta,

normalmente se trabalha com um déficit calórico de 500 a 1000 Kcal

diariamente, sendo que restrições calóricas extremas não são recomendadas

pois podem resultar em desordens alimentares mais graves, além de resultar

em elevação de cetonas e colesterol sérico, podendo gerar problemas como

cálculos biliares e doenças renais. A distribuição de macronutrientes na dieta,

de maneira geral 50 a 55% para carboidratos, 15 a 25% proteínas, lipídios não

excedem 30% e ingestão extra de fibras. Existem várias estratégias que podem

ser aplicadas para o aumento da adesão ao programa e contar com alimentos

apetitosos, saudáveis e de baixo valor calórico pode ajudar (MAHAN e

RAYMOND, 2018). A seguir serão apresentados os resultados de estudos que

utilizaram diferentes estratégias nutricionais no tratamento de pacientes com

obesidade.

145
No estudo de Alves e colaboradores (2018), que foi realizado no

ambulatório do Centro de Referência em Obesidade (CROb) do Hospital

Universitário Bettina Ferro de Souza na Universidade Federal do Pará, o objetivo

foi relatar caso de adolescente diagnosticada com obesidade grave em

intervenção Nutricional, o estudo mostrou que a intervenção nutricional foi

eficaz no tratamento, pois houve boa adesão as orientações nutricionais e

planos alimentares, os quais provocaram mudanças positivas na composição

corporal e, assim, auxiliaram na redução de fatores de risco para doenças e

agravos não transmissíveis.

Em outro estudo, Honicky et al. (2017), onde foram avaliados 171 crianças

e adolescentes com sobrepeso e/ou obesidade entre 2 e 18 anos, de ambos os

sexos, que aceitaram realizar intervenção nutricional e receber

acompanhamento nutricional na Clínica Escola de Nutrição - UNICENTRO de

Guarapuava-PR, com entrega de plano alimentar individual e orientações

nutricionais para a promoção de hábitos saudáveis. Verificou-se que as crianças

e os adolescentes apresentaram alta prevalência de hábitos alimentares

inadequados e não apresentaram diferença significativa no estado nutricional

após a intervenção nutricional.

Almeida et al. (2018) realizaram um estudo intervenção, onde o objetivo

foi avaliar o estado nutricional de clientes atendidos pelo Centro de

Atendimento Nutricional (CAN) da Universidade do Estado de Minas Gerais

(UEMG), Unidade de Passos. Nesse estudo, foram realizadas intervenções

nutricionais por meio de oficinas culinárias e palestras educativas. Após essas

intervenções, percebeu-se uma redução significativa na circunferência

abdominal e no percentual de gordura corporal dos pacientes.

No estudo de Magalhães et al. (2019), onde o objetivo foi analisar na

literatura a influência das ações de educação alimentar e nutricional (EAN) como

intervenção em hábitos alimentares no ambiente escolar. Trata-se de revisão

146
integrativa, realizada com 10 artigos originais publicados em português no

período de 2008 a 2017, no Brasil. Destaca-se no estudo que são notáveis as

mudanças em termos de perfil alimentar, estilo de vida e padrão de saúde da

população diante das ações de EAN como Oficina Permanente de Educação

Alimentar e em Saúde (OPEAS) e ações de educação nutricional postas em

prática com escolares.

Em outro estudo, realizado por de Deus e colaboradores (2015), onde a

intervenção constou de grupos de educação alimentar e nutricional, teve por

objetivo avaliar o impacto de intervenção sobre o perfil alimentar e

antropométrico de usuárias, envolvendo mulheres com 20 anos ou mais que

praticavam exercícios físicos, do Programa Academia da Saúde de Belo

Horizonte-MG. Segundo o estudo os resultados tiveram um impacto positivo da

associação entre intervenção nutricional e prática regular de exercícios físicos

no PAS sobre o perfil alimentar e antropométrico das participantes.

Ainda neste contexto, em relação a EAN no ambiente escolar, podemos

observar o estudo de Fernandes et al. (2018), onde o objetivo do trabalho foi

avaliar o efeito de um programa de intervenção no sobrepeso de escolares, no

consumo alimentar e nos conhecimentos sobre alimentação e nutrição do

grupo utilizando como estratégia as oficinas de Educação Alimentar e

Nutricional. No estudo a promoção da saúde como estratégia para o controle

do excesso de peso em escolares utilizando como ferramenta metodológica as

oficinas de EAN, revelou-se como proposta favorável e eficaz, percebe-se que a

teve efeito nos conhecimentos dos escolares resultando em um maior senso

crítico dos alunos.

No estudo de Matos et al. (2018), as intervenções nutricionais ocorriam

por meio de reuniões e o objetivo do estudo foi avaliar o impacto da intervenção

nutricional e de exercícios físicos, sobre fatores de riscos cardiovascular em um

grupo de mulheres obesas. No estudo foi verificado redução do excesso de

147
peso, acompanhada de melhora na composição corporal e no perfil bioquímico,

especialmente sobre os lipídios sanguíneos. E, apesar da orientação nutricional ter

sido realizada em grupo, os dados encontrados evidenciaram que as mulheres

apresentaram melhora nos hábitos alimentares, afinal, apenas o exercício físico

não provocaria tais mudanças. Os autores afirmaram que a orientação alimentar

aliada à atividade física foi satisfatória em gerar alterações corporais e

comportamentais importantes, devendo esta associação ser adotada em projetos

de combate à obesidade, pois são capazes de prevenir efetivamente o surgimento

de doenças crônicas não transmissíveis, minimizando também as possíveis

complicações decorrentes destas enfermidades.

BARREIRAS QUE IMPEDEM A TERAPIA

Soares et al. (2017) avaliaram prontuários de pacientes de uma Clínica

Escola de Nutrição, que estavam classificados no índice de Massa Corporal - IMC

em obesidade classe I, II ou III, que tinham entre 21 e 60 anos e que tiveram

uma frequência mínima de duas consultas. A amostra foi composta de 150

indivíduos obesos, de ambos os gêneros. Foi desenvolvido ainda, para esta

pesquisa, um questionário, aplicado via ligações telefônicas, para avaliar o

motivo das desistências dos pacientes do acompanhamento nutricional. Os

resultados que os pesquisadores obtiveram, foram que a maioria dos pacientes

eram do sexo feminino, com faixa etária entre 41 e 50 anos, sendo que 71,3%

desses pacientes classificaram o atendimento nutricional como muito bom. Em

relação a adesão do plano alimentar, 76% dos pacientes informaram que

aderiram ao plano. Os principais motivos relatados para o abandono do

tratamento foram a falta de tempo (58%), a falta de segurança dos pacientes em

acreditar que conseguiria emagrecer (23%) e por falta de transporte (11,3%).

148
Em outro estudo, onde foram avaliados pacientes, do sexo feminino com

idade entre 18 e 59 anos, em tratamento nutricional para redução de peso e

que não foram submetidos a tratamento cirúrgico, verificou-se que a maioria

não procurou o atendimento nutricional apenas para a melhora nas condições

de saúde, mas sim que os fatores relativos à autoestima e estética corporal

foram estímulos importantes para essa busca. Além disso, os pesquisadores

puderam perceber que, de acordo com o relato dos pacientes, o sentimento

individual, a forma como cada indivíduo consegue lidar com suas emoções e até

mesmo pelas relações estabelecidas com o profissional, podem influenciar na

adesão e aceitação do tratamento dietoterápico. Ainda, verificou-se que

experiências de tratamentos anteriores e as memórias que o paciente registra

desses, podem, de certa forma, determinar o sucesso do tratamento dietético,

uma vez que a obesidade, sendo uma doença crônica, normalmente já

acompanha o paciente por algum tempo. Assim, concluiu-se que ao consultar

um profissional, o paciente procura mais que alguém que planeje sua

alimentação diária, mas alguém com quem possa ter um diálogo e que o apoie

nesse processo, conquistando uma confiança entre os dois, o que parece

representar talvez um dos mais relevantes aspectos para a adesão ao

tratamento nutricional (TAGLIETTI et al. 2018).

Niquini et al. (2012) analisaram uma amostra representativa de dois

indivíduos com diagnóstico de obesidade, um demarcando a categoria dos

indivíduos que estão em tratamento e outro demarcando a categoria dos

indivíduos que o abandonaram. Foi verificado, durante a pesquisa, que um

suporte familiar e social no tratamento é de extrema importância, pois ajuda a

reduzir atitudes negativas ao tratamento e a ter motivação como um todo. Além

disso, fatores que foram verificados que interferem diretamente na decisão da

adesão ou não do tratamento foram: problemas psicossociais, grau de

motivação do início e durante o tratamento, a complexidade do tratamento, o

149
conhecimento em saúde, a relação prescritor-paciente, os aspectos

econômicos, a dificuldade de perder velhos hábitos, realização do plano

alimentar em datas comemorativas, a quantidade de comida e a regularidade

das refeições ao longo do dia.

Mizota (2018), em seu estudo, onde foram avaliados prontuários de

pacientes adultos, de ambos os sexos, com excesso de peso e obesidade,

atendidos no ambulatório de Nutrição de um Centro Universitário do município

de Maringá - PR, com idade média de 39 anos, verificou que 58,89% dos

pacientes não retornaram às consultas, 19,06% retornaram duas vezes ou mais,

sugerindo que aderiram ao tratamento e que estavam mais comprometidos

com as recomendações nutricionais. Assim, concluiu que a obesidade e o

excesso de peso são uma preocupação frequente entre os pacientes, e que é

preciso buscar novos métodos, e diversificar as ações que promovam a melhor

alimentação, de forma mais saudável e equilibrada.

Em outro estudo neste contexto, foram analisados indivíduos cadastrados

por meio de anúncio de jornais, rádio e televisão, de ambos os sexos, com idades

entre 18 e 65 anos, com IMC entre 25 e 35kg/m² e portadores de dois ou mais

fatores de risco cardiovascular associados. Para a avaliação da adesão ao

tratamento, foi considerado o registro de assiduidade às consultas e às reuniões

em grupo e a avaliação aos parâmetros dietéticos, pesquisados por questionários

de frequência alimentar simplificado, antes e ao final do período da pesquisa. Ao

final do estudo, foi verificado uma taxa de desistência superior a 50%, porém 40%

dos indivíduos que continuaram, completaram todo o protocolo. Os fatores mais

citados pelos indivíduos, como barreiras à adesão ao tratamento foram as

refeições fora de casa (46,7%) e a dificuldade em aplicar os conhecimentos na

prática, principalmente em eventos sociais (33,3%) (GUIMARÃES et al., 2010).

Na Tabela 8, é possível verificar um apanhado das intervenções

nutricionais realizadas, como terapia para o tratamento da obesidade.

150
Tabela 8: Intervenções Nutricionais realizadas em estados do Brasil

Local do estudo no
Terapia que mostrou eficiência Referência
(cidade-Estado) participantes
Orientações Nutricionais e Plano ALVES et al.,
Belém-PA 1
Alimentar 2018.
Plano Alimentar individual e HONICKY et al.,
Guarapuava-PR 171
Orientações Nutricionais 2017.
Oficinas Culinárias e Palestras ALMEIDA et al.,
Passos-MG 35
Educativas 2018.
MAGALHÃES et
- 10* Educação Alimentar e Nutricional
al., 2019.
Belo Horizonte- Intervenção Nutricional e prática de DEUS et al.,
124
MG regular de exercícios 2015.
Oficinas de Educação Alimentar e FERNANDES et
Florianópolis-SC 135
Nutricional al., 2018.
Intervenção Nutricional e de exercício MATOS et al.,
Manaus-AM 30
físicos 2018.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

São muitos os fatores que levam um indivíduo a desenvolver a obesidade.

Sendo ela, uma doença crônica multifatorial e que pode levar o indivíduo a

desenvolver outras comorbidades associadas, deve ser considerada como um

problema grave e tratado com cautela e atenção, pois é um problema de Saúde

Pública, que se não tratado adequadamente pode tomar uma proporção tão

grande, que dificilmente terá controle, em um futuro não tão distante.

Inúmeras são as ações que se desenvolvem para o tratamento e controle

da obesidade, porém, quando se trabalha com indivíduos, não se tem muito

controle dos resultados que se obterão em cada uma dessas ações. Diante

disse, uma equipe multidisciplinar é um caminho interessante para obtenção de

resultados mais satisfatórios. Os indivíduos submetidos às terapias envolvidas

no tratamento e controle da obesidade enfrentam muitos desafios e barreiras.

Nesse sentido, mais uma vez o papel de uma equipe multidisciplinar nesse

quadro se mostra imprescindível, pois um indivíduo necessita do apoio e auxílio

151
de diversos profissionais para conseguir compreender, aceitar e desenvolver o

que lhe foi proposto.

Frente ao que foi explanado é de suma importância que estudos

desenvolvidos com base no presente tema, busquem uma compreensão das

investigações em nutrição e saúde, analisando mais a fundo os reais motivos e

barreiras que os obesos enfrentam no tratamento da obesidade, a partir da

perspectiva de que ela deve ser considerada uma doença decorrente da

combinação de diversos fatores e para que haja um tratamento eficaz ela seja

observada, acompanhada e tratada desta forma especifica, não fragmentada,

pela equipe multiprofissional.

Diante das informações apresentadas e das pesquisas realizadas, nota-

se que apesar dos inúmeros artigos existentes sobre o tema em questão, ainda

se sente falta de pesquisas e estudos que verifiquem mais a fundo o que a

obesidade faz em um organismo, quais as consequências que as células e que

os órgãos sofrem devido a essa doença, as transformações que esse organismo

passa, para chegar à fase mais aguda da obesidade. E, verificar também, como

esse organismo fica após o tratamento dessa doença, em relação a sua fisiologia

e metabolismo.

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154
Capítulo 9
____________________

PAPEL DA POLÍTICA
NACIONAL DE
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO
(PNAN) NOS DISTÚRBIOS
ALIMENTARES

Luana Schwarz
Débora Carneiro Teixeira
Jean Carlos Sarturi
Nutricionistas pelo Centro Universitário Assis Gurgacz

Jaciara Reis Nogueira Garcia


Nutricionista e Mestre em Desenvolvimento Rural Sustentável
Nutricionista responsável técnica concursada da Prefeitura de Marechal Cândido Rondon-PR e
Vice-Presidente da Associação de Nutrição do Oeste do Paraná – ANUOP
Integrante do Comitê Gestor da Agricultura Sustentável da Itaipu Binacional e Coordenadora
da Comissão Regional de Segurança Alimentar e Nutricional – CORESAN
Membro do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional do Paraná (CONSEA)

Daniela Miotto Bernardi


Nutricionista e Doutora em Alimentos e Nutrição
Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz.
INTRODUÇÃO

Como base para uma alimentação saudável e adequada é necessário levar

em consideração as leis básicas da alimentação, propostas em 1937 por Pedro

Escudero, a saber: quantidade, adequação, qualidade e harmonia. A quantidade

de alimentos precisa suprir as necessidades nutricionais, ser adequada aos

diferentes ciclos da vida do indivíduo, deve apresentar qualidade para fornecer

todos os nutrientes necessários para manutenção e formação do organismo e,

ainda precisa estar em harmonia proporcionando equilíbrio na distribuição e

proporção dos nutrientes (LIMA, GAMALLO e OLIVEIRA, 2009).

Dessa forma, os distúrbios nutricionais causados pelo desequilíbrio

nutricional consistem em um estado de dicotomia, onde de um lado se

apresenta a desnutrição e do outro a obesidade, ambos determinados por

fatores econômicos, sociais, biológicos e também culturais (SILVEIRA et al., 2015;

KONSTANTYNER et al., 2015).

Considerando as práticas alimentares da atualidade, pode-se perceber que

a transição nutricional no Brasil, caracterizou-se pela diminuição da incidência de

desnutrição e carências nutricionais relacionadas à falta de alimento, e por um

aumento da incidência de sobrepeso e obesidade, acarretando em aumento de

doenças crônicas relacionadas à má alimentação. Sendo assim, as intervenções

nutricionais devem levar em consideração o incentivo a práticas alimentares

saudáveis, apoio para que seja possível a proteção à saúde de forma a evitar a

exposição dos indivíduos a práticas não saudáveis. Para tanto, as políticas públicas

que visam a melhoria da saúde da população organizam as funções públicas para

ações de promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e sua

coletividade (REIS, VASCONCELOS e BARROS, 2011).

Além disso, as iniciativas de promoção da saúde, como definidas na Carta

de Otawa, buscam a redução das iniquidades em saúde, objetivando o

156
empoderamento dos indivíduos. O conjunto de estratégias para a promoção da

Saúde, no âmbito individual e coletivo, deve atender às necessidades sociais de

saúde e garantir a melhoria da qualidade de vida da população (MALTA, 2014;

TEO et al., 2017).

De acordo com a Lei Orgânica da Saúde nº 8.080/1990, estão inclusas no

campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS) a Vigilância Nutricional e a

Orientação Alimentar que fazem parte da Política Nacional de Alimentação e

Nutrição (PNAN) (BRASIL, 1990a). A PNAN foi aprovada em 1999 e atualizada em

2011, por fazer parte das estratégias da Política Nacional de Segurança

Alimentar e Nutricional (PNSAN) para a garantia do Direito Humano à

Alimentação Adequada (DHAA) e da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) da

população. Assim,

“A PNAN tem como propósito a melhoria das condições de alimentação,


nutrição e saúde da população brasileira, mediante a promoção de práticas
alimentares adequadas e saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional, a
prevenção e o cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e
nutrição”.

As ações estratégicas de cuidado e promoção à saúde da PNAN são:

vigilância alimentar e nutricional; programa bolsa família; promoção de saúde

da alimentação adequada e saudável; prevenção e controle de agravos

nutricionais; pesquisa em inovação e conhecimento (BRASIL, 2013).

Neste contexto, o objetivo do presente capítulo foi analisar o papel das

ações estratégicas da PNAN na redução do risco de aparecimento de distúrbios

nutricionais na população.

NUTRIÇÃO ADEQUADA E DISTÚRBIOS NUTRICIONAIS

De acordo com Mahan e Escott-Stump (2005), a nutrição de um indivíduo

expressa o quanto as necessidades fisiológicas de nutrientes vêm sendo


157
atendidas. Desta maneira, para ter um estado nutricional adequado, é

necessário consumir macro e micronutrientes em quantidades corretas. Caso

não haja uma alimentação saudável e balanceada, poderão ocorrer alterações

funcionais nos níveis de nutrientes acarretando sobrepeso e obesidade ou

desnutrição, que são distúrbios nutricionais que modificam o estado nutricional

do indivíduo (ARAÚJO et al., 2013).

O excesso de peso é uma condição que desperta interesse desde a

antiguidade. A obesidade é caracterizada pelo aumento excessivo de gordura

corporal, em consequência principalmente pelo aumento do fornecimento de

energia pela dieta, e redução da atividade física, ou seja, desequilíbrio

energético entre as calorias consumidas e gastas, com perda considerável, tanto

na quantidade como na qualidade de vida (TARDIDO, 2006). Doenças Crônicas

Não Transmissíveis (DCNT) podem estar associadas à obesidade, dessa

maneira o indivíduo obeso pode apresentar concentração plasmática de ácidos

graxos livres aumentados, gerada por um desequilíbrio entre lipólise e pela

utilização de ácidos graxos, alterações na pressão arterial, alterações nas

concentrações plasmáticas de glicose, entre outras condições metabólicas

anormais (BERSCH-FERREIRA et al., 2017; COZZOLINO e COMINETTI, 2013).

A Desnutrição Energético-Proteica (DEP) é caracterizada como uma

doença multifatorial capaz de favorecer alterações fisiológicas devido a uma

tentativa do organismo a se adaptar à insuficiência ou abundância de nutrientes

essenciais. Geralmente está associada à pobreza, carências alimentares e

condições ambientais desfavoráveis como a falta de saneamento básico e água

potável. A DEP pode ser considerada primária quando de origem nutricional e

secundária quando causada por doenças que não são de origem nutricional tais

como doenças crônicas, nefropatias, cardiopatias e alterações metabólicas que são

resultados do catabolismo das reservas de proteínas, carboidratos e gorduras. Além

disso, a DEP pode causar alterações hormonais, tais como hormônio do cortisol,

158
reprodutivos, tireoidianos, metabolismo da glicose e insulina e, hormônio do

crescimento (LIMA, GAMALLO e OLIVEIRA, 2010; COZZOLINO e COMINETTI, 2013).

O estado nutricional do indivíduo pode influenciar diretamente na

absorção de vitaminas e minerais, de forma que ambos os distúrbios

nutricionais supracitados podem interferir negativamente na absorção e

utilização de micronutrientes. As vitaminas, são compostos orgânicos

complexos essenciais para manutenção do organismo humano, contendo

propriedades nutricionais e em alguns casos antioxidantes. Os minerais são

elementos que apresentam funções orgânicas ao organismo, podendo atuar

em enzimas, hormônios, secreções e proteínas de tecido orgânico. Neste

contexto, a PNAN apresenta diversas ações e estratégias para combate das

carências nutricionais associadas aos micronutrientes, a saber: a Deficiência de

Vitamina A (DVA), anemia ferropriva, bócio endêmico e deficiência de tiamina

(REIS e CALIXTO-LIMA, 2015).

A Vitamina A é essencial para o crescimento, desenvolvimento,

integridade das células epiteliais, produção de glóbulos vermelhos, função

imunológica e reprodução. A deficiência desta vitamina é o principal fator de

cegueira e é um importante contribuinte para o aumento da morbidade e

mortalidade derivadas de infecções (WEST, EILANDER e LIESHOUT, 2002), sendo

um fator de risco especialmente para gestantes e crianças em idade pré-escolar

(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE – OMS, 2013).

O ferro exibe funções como transporte de oxigênio e elétrons para as

células. A deficiência ocorre quando há redução das taxas de ferro corporal com

exaustão dos estoques, podendo prejudicar o desenvolvimento cognitivo, físico

e mental, também diminuir a resistência às infecções e com isso, aumento

significativo em morbidades (SILVA et al., 2015). A anemia ferropriva é

caracterizada pela concentração de hemoglobina baixa no organismo humano,

159
apresenta alto predomínio em populações carentes (ALVES e JAIME, 2011;

GROTTO, 2010; AMARANTE et at., 2015).

As doenças ocasionadas pela deficiência de iodo são influenciadas pelos

hábitos alimentares, sendo que quando as necessidades mínimas de iodo não são

supridas pela alimentação, podem surgir anormalidades funcionais como lesões no

cérebro e alterações na tireoide. O bócio é caracterizado pelo aumento da glândula

da tireoide, são considerados endêmicos quando houver carência de iodo na

alimentação da população (LAMBERG, 1993).

A deficiência de Tiamina (vitamina B1) provoca diminuição da indução da

condução nervosa, neuropatia periférica e danos cerebrais irreversíveis. O beribéri

é a principal doença associada à deficiência desta vitamina, podendo ocorrer tanto

devido à carência na sua ingestão, como também em decorrência do alcoolismo

crônico (REIS e CALIXTO-LIMA, 2015).

Segundo a PNAN e o Guia alimentar da População Brasileira (BRASIL, 2014a)

uma alimentação saudável e adequada deve ser apropriada nas diferentes fases

da vida respeitando dos aspectos biológicos e socioeconômicos dos indivíduos.

Além disso, de acordo com a Lei n° 11.346/2006 a alimentação adequada é um

direito humano básico, deve ser garantido de forma socialmente justa,

permanente e regular a todos os indivíduos e em sua coletividade, de forma a

prevenir a ocorrência de distúrbios nutricionais (BRASIL, 2006).

Neste sentido, o SUS apresenta diferentes ações estratégicas dentro da

PNAN, focadas nos aspectos que determinam a saúde e doença, voltadas a

práticas de intervenções amplas, intersetoriais e coletivas que favorecem

práticas alimentares saudáveis para a população, contribuindo assim para a

diminuição de sobrepeso, obesidade, carências nutricionais e doenças crônicas

(BRASIL, 2013a). As diferentes ações estratégicas serão abordadas mais adiante

neste capítulo.

160
TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E NUTRICIONAL

As transformações no perfil epidemiológico no Brasil, caracterizadas pelo

aumento na prevalência da obesidade e pela queda progressiva da desnutrição,

foram acompanhadas por mudanças importantes no estado nutricional, sendo

estas modificações chamadas de “transição nutricional” (SICHIERI, 1997), que é

decorrente de uma série de fatores que serão abordados a seguir.

O consumo alimentar vem sofrendo mudanças na qualidade e quantidade

dos alimentos disponíveis, gerando um consumo desenfreado de alimentos com

alto valor calórico, que, aliado ao sedentarismo, está resultando em uma geração

com sobrepeso. Alguns fatores foram identificados e contribuem de certa forma

aos hábitos de consumo, são eles a renda e demanda, a urbanização e globalização

(MORATOYA, 2013; CORREIA, SANTOS e CAMOLAS, 2018).

O aumento do predomínio de sobrepeso e de obesidade é preocupante

devido ao risco aumentado que esses indivíduos apresentam doenças crônicas

não transmissíveis como as cardiopatias, diabetes mellitus (DM), hipertensão

arterial e câncer. A principal via para evitar o aparecimento cada vez mais precoce

destas doenças é a prevenção e o tratamento da obesidade já na infância e

adolescência. Diferentes pontos de vista tentam explicar as condições para o

entendimento do processo saúde/doença. Em relação a termos de ocupação

demográfica, modificou-se o espaço físico de uma população rural de 66% nos

anos 50, para uma população predominantemente urbana de aproximadamente

80% no país (FILHO, 2003; LANG, 2009; TARDIDO, 2006; FLORES et al., 2013).

Outro fato importante é a inserção da mulher no mercado de trabalho,

principalmente na década de 70, ocasionando uma família economicamente

dependente da participação da renda da mulher no sustento da família. Com

isso, perde-se um pouco da figura da mulher “dona do lar”, o que transforma a

qualidade da alimentação, caracterizando na falta de tempo para preparar as

161
refeições, dando espaço para alimentos industrializados, e realização das

refeições fora do lar, principalmente em restaurantes e comidas rápidas (do

inglês fast-foods) (SOUZA, 2010).

As atividades de lazer passaram de atividades com gasto energético

acentuado, como práticas esportivas, caminhadas, subir escadas, para atividades

sedentárias, como televisão, uso de elevadores, automóveis, videogame ou

computador. A prática de exercícios físicos contribui no controle do índice

glicêmico, gasto de energia, prevenção do DM Tipo 2 e outros fatores associados

a saúde (MORAES, GUERRA e MENEZES, 2013).

Neste contexto, políticas públicas de garantia de direitos, proteção a

populações em vulnerabilidade e o fortalecimento da alimentação saudável são

de grande importância, a fim de garantir o DHAA, a SAN, para a redução das

desigualdades sociais (CASTRO, 2019) e consequentemente ter impacto positivo

na transição nutricional, de forma que nos próximos anos seja possível vivenciar

uma transição nutricional não mais caracterizada por predominância de

distúrbios nutricionais na população e sim por presença de saúde e obtenção

de adequado estado nutricional.

POLÍTICA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO (PNAN)

No Brasil, a PNAN é uma política intersetorial que busca garantir o acesso

a uma alimentação saudável para toda a população. A alimentação humana é

um indicador essencial de qualidade de vida, além de afetar os indivíduos de

diversas formas, haja vista a importância dos macro e micronutrientes para o

funcionamento do organismo (GARNELO, 2009).

A verificação do quadro representado pela desnutrição proteico-calórica,

pelas carências específicas de micronutrientes e pelos índices insatisfatórios de

aleitamento materno exclusivo e outras questões que assumiram status de

162
problemas de saúde pública no país, como a evolução epidêmica da obesidade,

das dislipidemias, do diabetes mellitus e das doenças cardiovasculares deles

decorrentes demonstra a importância das Políticas Públicas estratégicas na

área de alimentação e nutrição (BARROS e TARTAGLIA, 2003. Além disso,

considera-se a urgência de se assumir os compromissos na busca de uma

situação de Segurança Alimentar e Nutricional, além de ações eficientes de

vigilância sanitária, para a garantia de padrões adequados de qualidade dos

alimentos produzidos no país ou importados (RECINE e VASCONCELLOS, 2010).

De acordo com o Ministério da Saúde com a criação do SUS, através da Lei

n º 8.080/1990, a alimentação foi apresentada como um fator determinante para

a saúde (BRASIL, 1990a). Por isso, as ações relacionadas a alimentação devem estar

inseridas nas ações de promoção à saúde, ou desempenhadas de forma

transversal, complementar, e a formulação, avaliação e execução devem estar

entre as atividades e responsabilidades do sistema de saúde (BRASIL, 2013a).

Assim, conforme citado no início deste capítulo, em junho de 1999 foi

aprovada a PNAN, pela Portaria nº 710/1999, para integrar “os esforços do

Estados Brasileiro que, por meio de um conjunto de políticas públicas, se


propõe a respeitar, proteger, promover e prover os direitos humanos à saúde
e à alimentação” (BRASIL, 1999). Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2013a)
a PNAN apresenta como objetivo a melhoria das condições de alimentação,

nutrição e saúde para a população brasileira, por meio da promoção de práticas

alimentares adequadas e saudáveis, vigilância alimentar e nutricional,

prevenção e cuidado de forma total dos agravos relacionados à alimentação e

nutrição. A PNAN é direcionada pelos princípios do SUS: universalidade,

integralidade, equidade, descentralização, regionalização, hierarquização e

participação popular (BRASIL, 2013a).

As ações de alimentação, devem ser executadas de forma de

humanizada, em conformidade com as práticas de saúde, considerando a

163
história, os valores e as relações sociais que inferem diretamente sobre a

qualidade de vida e saúde dos indivíduos. Dessa forma, a abordagem e as ações

desenvolvidas auxiliam no conjunto de práticas estabelecidas pelo setor de

saúde (BRASIL, 2013a). O respeito à diversidade e cultura alimentar está

relacionado ao reconhecimento, preservação, resgate e difusão das inúmeras

variedades de alimentos do país no que diz respeito à identidade cultural de

alimentação da população (BRASIL, 2014a).

Nesse contexto, de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2013a) é

necessário que as ações desenvolvidas visem o fortalecimento da autonomia

dos indivíduos, através de um processo educativo que resulte no aumento na

capacidade de análise e interpretação do sujeito sobre si e sobre o mundo e,

ainda na capacidade de exercer escolhas, governar e conduzir a vida.

Por ser uma Política estruturante para a promoção da SAN, a PNAN deve

visar a garantia do Direito Humano a Alimentação Adequada e da soberania

Alimentar. A SAN é estabelecida no Brasil como a realização do direito de todos

ao acesso a alimentos de qualidade, com quantidade suficiente, sem

comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, com suporte de

práticas alimentares que promovam saúde e que tenham respeito à diversidade

cultural e que seja ambientalmente, culturalmente, economicamente e

socialmente sustentável, com isso, a soberania alimentar se refere ao direito da

de decisão da população no seu sistema de alimentação e produção de

alimentos saudáveis e adequados, acessíveis, sendo sustentáveis e ecológicos,

caracterizando a SAN com soberania alimentar (ALBUQUERQUE, 2009;

GREGOLIM et al., 2017; SCHENEIDER e NEVES, 2014).

Para o alcance da SAN, com base nas diretrizes, a PNAN estruturou

diversas ações como o combate de carências nutricionais (ferro, iodo, vitamina

A e vitamina B1), o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), a

criação de rede de comunicação entre profissionais envolvidos com a PNAN e

164
criação de documentos como o Guia Alimentar e Nutricional para População

Brasileira e, Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO) e incentiva a

alimentação saudável nas escolas (VIEIRA et al., 2013).

AÇÕES ESTRATÉGICAS DO PNAN

As diretrizes que integram a PNAN indicam as linhas de ações para o alcance

do propósito (citado na introdução deste capítulo) desta política, sendo que as

ações estratégicas são o meio para o enfrentamento dos distúrbios nutricionais

(BRASIL, 2013a). A seguir serão discutidos aspectos importantes sobre cada uma

das ações estratégicas.

SISTEMA DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL (SISVAN)

A Vigilância Alimentar e Nutricional corresponde a um sistema de coleta,

processamento e análise contínua de dados, e à predição de tendências das

condições de alimentação e nutrição da população, assim como de seus fatores

determinantes. A partir do SISVAN, são embasadas decisões políticas no sentido

de auxiliar no planejamento, monitoramento e gerenciamento de programas

relacionados com a melhoria dos padrões de consumo alimentar e nutricionais da

população (COUTINHO, 2009; HUNGER et al., 2017).

As primeiras experiências na vigilância alimentar e nutricional no Brasil

foram efetuadas nos estados da Paraíba (Vale do Piancó) e Pernambuco

(zona metropolitana do Recife), entre 1983 e 1984, por iniciativa do Instituto

Nacional Alimentação e Nutrição (Inan). Concomitantemente, a Escola

Nacional de Saúde Pública (Ensp), com a ajuda do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Programa de Apoio à

165
Reforma Sanitária (Pares), inicia a implantação de um projeto experimental

na área de Manguinhos (FILHO, 1993).

O SISVAN foi estabelecido nacionalmente no ano 1990, após a

promulgação da Lei nº 8.080/1990 e a publicação da Portaria nº 1.156/1990 de

31 de agosto de 1990 (BRASIL, 1990a; BRASIL, 1990b). Em 2001, o Incentivo ao

Combate às Carências Nutricionais (ICCN) foi substituído pelo Programa Bolsa

Alimentação, ampliando o número de beneficiários, e propondo como uma das

ações a vigilância nutricional de gestantes e crianças. No ano de 2002, iniciou-se

o processo de informatização do SISVAN no Brasil, que culminou com a criação

do SISVAN Módulo Municipal em 2003 (FERREIRA, 2013).

Em 2008, a necessidade da utilização do SISVAN na atenção primária

à saúde do SUS foi reforçada pela Portaria nº 154/2008, que cria os Núcleos

de Apoio à Saúde da Família (NASF) e cujas atribuições envolvem a vigilância

alimentar e nutricional das famílias acompanhadas nesse nível de atenção

à saúde (BRASIL, 2008). Atualmente os sistemas informatizados de vigilância

alimentar e nutricional em operação correspondem a um conjunto de

sistemas de informações alimentados em nível local, que têm como objetivo

principal produzir dados contínuos sobre as condições nutricionais e

alimentares da população. Estes abrangem o SISVAN Web e SISVAN módulo

de gestão (Bolsa Família), sendo este último voltado especificamente para o

monitoramento das condicionalidades de saúde dos beneficiários do

Programa Bolsa Família (PBF) (DAMÉ, 2011; BRASIL, 2018a).

PROMOÇÃO DE SAÚDE DA ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E SAUDÁVEL

Esta ação também é uma das diretrizes da PNAN, que tem como enfoque

prioritário a realização de um direito humano básico, a alimentação (BRASIL,

2013a), a qual contribui para a promoção da saúde, viabilizando o crescimento

166
e desenvolvimento humano e a qualidade de vida. Existem princípios básicos que

necessitam conduzir as relações entre as práticas alimentares e a promoção de

saúde e prevenção de doenças. Neste contexto, uma alimentação saudável deve

contemplar o respeito e valorização das práticas alimentares culturalmente

identificadas, acessibilidade física e financeira, cor, variedade, sabor, harmonia,

segurança sanitária e também a qualidade nutricional. Além disso é importante

ressaltar que os alimentos trazem significados antropológicos, socioculturais,

comportamentais e afetivos (PINHEIRO et al., 2005).

A ação estratégica de promoção da saúde consiste em um conjunto de

estratégias focadas na melhoria da qualidade de vida dos indivíduos e

coletividades. Ela se realiza por meio de políticas, estratégias, ações e

intervenções com objetivo de favorecer escolhas saudáveis dos indivíduos e

coletividades, de forma a garantir promoção e proteção para a saúde da

população, possibilitando assim, crescimento e desenvolvimento humano, com

qualidade de vida e cidadania. Esta ação estratégica atua diretamente na

prevenção e cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e nutrição

como carências nutricionais específicas, desnutrição, sobrepeso, obesidade e

doenças crônicas não transmissíveis. O Ministério da Saúde apresenta

diferentes ferramentas para incentivar a autonomia dos indivíduos nas escolhas

de práticas alimentares saudáveis, todas essas ferramentas estão disponíveis

no site no Ministério da Saúde (http://saude.gov.br/) e serão abordadas a seguir:

 Educação Alimentar e Nutricional (EAN): É um campo de pratica e conhecimento

permanente e contínuo, intersetorial e multiprofissional que objetiva promover

a realização voluntária e autônoma de hábitos alimentares saudáveis. A EAN

deve fazer recursos e abordagens educacionais que favoreçam o diálogo de

indivíduos e grupos populacionais, considerando todas as fases da vida. Sua

meta é cooperar para a promoção do direito humano à alimentação adequada

e garantia da SAN.
167
 Guias Alimentares: São ferramentas oficiais que determinam as diretrizes

alimentares a serem empregadas na direção de escolhas de alimentos mais

saudáveis. Segundo a OMS, as recomendações são fundamentadas em

alimentos e não em nutrientes, não obstante, os fatores nutricionais são

considerados, sendo os alimentos classificados em grupos de acordo com seus

principais nutrientes. Contudo, os guias necessitam abranger a relação efetiva

entre os alimentos e a saúde do indivíduo. O Ministério da Saúde instituiu o

Guia alimentar para a população brasileira (BRASIL, 2014a) com a finalidade de


conduzir as pessoas a implementar escolhas alimentares saudáveis, mediante

de orientações e esquemas de porções de alimentos para indivíduos saudáveis

e Guia alimentar para crianças menores de 2 anos (BRASIL, 2018b) a fim de

auxiliar na amamentação e alimentação saudável da criança nessa faixa etária.

 Ações de prevenção de obesidade: A obesidade é um agravo de caráter

multifatorial, que pode trazer risco à saúde devido aos agravos metabólicos que

promove, e, conforme discutido anteriormente a prevalência vem aumentando

entre adultos. A Estratégia Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade

norteia as ações do governo brasileiro e tem por objetivo promover a reflexão

e fomentar a implementação de diretrizes para o enfrentamento deste cenário

epidemiológico, estas ações são pautadas em: 1) Disponibilidade e acesso a

alimentos adequados e saudáveis; 2) Ações de educação, comunicação e

informação; 3) Promoção de modos de vida saudáveis em ambientes

específicos; 4) Vigilância Alimentar e Nutricional; 5) Atenção integral à saúde do

indivíduo com sobrepeso/obesidade na rede de saúde; e 6) Regulação e

controle da qualidade e inocuidade de alimentos. No que concerne ao setor

saúde, diversas ações são preconizadas para a redução e manejo da obesidade

tais como:

1. Programa Saúde na Escola (PSE) e Promoção da alimentação saudável

nas escolas, com enfoque nas cantinas;

2. Programa Academia da Saúde;

3. Discussão da regulação da publicidade, práticas de marketing e

comercialização de alimentos, para o público infantil;


168
4. Redução e eliminação de gordura trans em alimentos processados, e

discussão sobre a redução de açúcar nestes alimentos;

5. Ações de promoção da alimentação adequada e saudável para crianças

por meio da elaboração de guias e materiais educativos;

6. Discussão junto ao Ministério do Trabalho para atualização do Programa

de Alimentação do Trabalhador (PAT);

7. Ações de Vigilância Alimentar e Nutricional (VAN) para monitoramento

de práticas alimentares e estado nutricional da população.

 Incentivo a amamentação e alimentação complementar saudável: Suas

propostas são conceituar as condutas da promoção do aleitamento materno e

da alimentação complementar saudável para crianças menores de 2 anos de

idade. Também melhorar as habilidades dos profissionais de saúde para a

ascensão do aleitamento materno e da alimentação complementar como

atividade de rotina das Unidades Básicas de Saúde (UBS).

 Controle e regulação de alimentos: São as ações que impedem que haja

exposição da população a fatores e situações que estimulem práticas não

saudáveis. Para que haja adesão a práticas saudáveis por indivíduos e

coletividades, é necessário deixar os indivíduos informados e motivados. Neste

cenário, algumas medidas já foram e estão sendo tomadas, por exemplo para

auxiliar os consumidores a interpretarem os rótulos nutricionais, a Anvisa

publicou o manual de orientações aos consumidores, além disso recentemente

foi aberto consulta pública sobre rotulagem frontal, também foram implantadas

ações para o melhoramento nutricional dos alimentos processados

principalmente em relação à redução de gorduras, açúcares e sódio, em relação

à propagandas o processo de regulação da publicidade e propaganda de

alimentos busca aliar o direito à informação com a proteção do consumidor de

práticas abusivas.

169
PREVENÇÃO E CONTROLE DE AGRAVOS NUTRICIONAIS

Diferentes referências demonstram a persistência dos agravos

nutricionais decorrentes de deficiências e desarranjos no consumo de

micronutrientes. Neste sentido, a seguir estão discutidas as principais ações do

governo para prevenção e controle destes agravos.

Deficiência de Iodo

De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2015) os Distúrbios de

Deficiência de Iodo (DDI) podem resultar em cretinismo em crianças (retardo

mental irreversível), surdo-mudez, anomalias congênitas e, principalmente o

bócio (crescimento da glândula tireoide). Ainda, está relacionado com altas taxas

de natimortos e nascimento de crianças com baixo peso, problemas na

gestação e aumento do risco de abortos e mortalidade materna. No Brasil, a

partir dos anos 50, a Lei nº 1.944/1953 tornou obrigatória a iodação de todo sal

para o consumo humano, com o objetivo diminuir a prevalência de DDI e, para

que isso fosse atingido eram necessárias estratégias de controle destas

deficiências (BRASIL, 1953). O Programa de Combate aos Distúrbios por

Deficiência de Iodo no Brasil é uma das ações mais bem-sucedidas no combate

aos distúrbios por deficiência de micronutrientes e tem sido elogiado pelos

organismos internacionais pela sua condução e resultados obtidos. Por meio

do programa é feito o monitoramento do teor de Iodo do sal em cinco frentes

(BRASIL, 2014b):

 Monitoramento dos distribuidores de sal;

 Monitoramento do impacto da iodação do sal na saúde da população;

 Atualização dos parâmetros legais dos teores de iodo do sal destinado ao

consumo humano;
170
 Implantação contínua de estratégias de informação, educação, comunicação e

mobilização social.

Anemia por Deficiência de Ferro

A Anemia por Deficiência de Ferro é considerada um enorme problema

de saúde pública, também é considerada mundialmente como uma carência

nutricional de grande magnitude. De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL,

2013d) as causas da anemia podem ser determinadas a partir de diversos

fatores como principalmente a insuficiência de ferro na alimentação e,

deficiência de folato, vitamina B12 ou vitamina A, inflamação crônica, infecções

por parasitas e doenças hereditárias. Suas principais consequências são o

comprometimento do sistema imunológico aumentando as infecções, aumento

do risco de doenças e mortalidade perinatal em mães e recém-nascidos,

aumento da mortalidade de mães e crianças, redução do crescimento, prejuízo

no desenvolvimento e função cognitiva e, diminuição de aprendizagem em

crianças e de produtividade em adultos.

Em 1999, o Ministério da Saúde estabeleceu o Compromisso social para

redução da anemia ferropriva no Brasil. O objetivo desse propósito foi unir

forças para redução da prevalência da anemia ferropriva no Brasil. Para o

controle da Deficiência de Ferro o Ministério da Saúde criou o Programa

Nacional de Suplementação de Ferro (PNSF), que se baseia na suplementação

em nível universal com suplementos de ferro em doses preventivas, fortificação

dos alimentos para as crianças com micronutrientes em pó, fortificação

obrigatória das farinhas de trigo e milho com ferro e ácido fólico e, a promoção

da alimentação adequada e saudável para aumento do consumo de alimentos

fontes de ferro (BRASIL, 2013c).

171
 Fortificação das farinhas de trigo e milho: De acordo com Santos et al. (2016) o

enriquecimento das farinhas com os demais micronutrientes é uma estratégia

recomendada pela OMS e Ministério da Saúde para diminuição de carências de

micronutrientes desde o século XX. A RDC nº 344/2002 (BRASIL, 2002) tornou

obrigatória à fortificação das farinhas de trigo e milho com ferro e ácido fólico.

 Estratégia de Fortificação da Alimentação Infantil com micronutrientes em pó –

NutriSUS: Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2015) o NutriSUS consiste na

adição de mistura de vitaminas e minerais em pó em uma refeição diária. Esses

micronutrientes em pó são embalados em sachês de 1g, sendo que os sachês

possuem15 micronutrientes (Vitamina A, D, E, C, B1, B2, B6, B12, Niacina, Ácido

fólico, Ferro, Zinco, Cobre, Selênio e Iodo).

Deficiência de Vitamina A (DVA)

As carências nutricionais podem se associar expandindo e otimizando os

sinais dos efeitos prejudiciais uma carência isolada, por exemplo, a DVA

influencia diretamente o metabolismo do ferro, sendo que a associação da DVA

com anemia ferropriva excessivamente grave, além disso, a deficiência de Zinco

interfere no transporte da vitamina A. Por isso a suplementação de dois ou mais

micronutrientes e mostra mais eficaz (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA,

2007). A DVA no Brasil é considerada um problema moderado de saúde pública,

na Região Nordeste, e em alguns locais no Norte e Sudeste e como medidas de

prevenção de deficiência de vitamina A, foi criado o Programa Nacional de

Suplementação de Vitamina A (BRASIL, 2013d).

 Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A: foi criado em 2005 com o

objetivo de reduzir e controlar a deficiência nutricional de vitamina A em

crianças e puérperas no pós-parto imediato, consiste na suplementação

preventiva medicamentosa para crianças (6 a 59 meses) e, mulheres no pós-

parto.
172
Deficiência de vitamina B1

No Brasil, desde 2006, têm sido notificados casos de beribéri em alguns

estados e comunidades indígenas, desde então, estão sendo empreendidas

ações em parceria com estados e municípios na investigação,

acompanhamento, prevenção e controle desta condição. Em 2012, foi lançado

o Guia de Consulta para Vigilância Epidemiológica, Assistência e Atenção

Nutricional dos Casos de Beribéri. Esse guia se destina aos profissionais de

saúde do SUS e do Sistema de Atenção à Saúde Indígena, e destaca os aspectos

relativos à vigilância epidemiológica, assistência e atenção nutricional do

beribéri. De acordo com o Guia de Consulta para Vigilância Epidemiológica

Assistência e Atenção Nutricional dos Casos de Beribéri (BRASIL, 2012a) esta

doença pode se manifestar em adultos ou crianças.

Desnutrição

A desnutrição é uma doença de natureza clínico-social multifatorial, cujas

raízes se encontram na pobreza, sendo que na primeira infância, está associada

à maior mortalidade, prejuízos no desenvolvimento psicomotor, menor

aproveitamento escolar e menor capacidade produtiva na idade adulta. No

Brasil, a prevalência foi reduzida, porém não de forma homogênea, sendo maior

entre as famílias e regiões mais pobres e vulneráveis do país. O setor saúde

deve monitorar os casos de desnutrição infantil, principalmente dos quadros

graves e moderados, e garantir a oferta de cuidados adequados para

recuperação dos indivíduos desnutridos. Ações de prevenção e controle da

desnutrição estão sendo realizadas tais como a promoção do aleitamento

materno exclusivo até os 6 meses e da alimentação complementar saudável,

173
prevenção de deficiências nutricionais como as citadas anteriormente,

acompanhamento do estado nutricional de crianças menores de cinco anos,

com a utilização do SISVAN, elaboração de manual de atendimento da criança

com desnutrição grave em nível hospitalar, entre outros (BRASIL, 2013a).

No Quadro 5, exposto a seguir, apresentam-se os principais programas

governamentais que tem o objetivo de reduzir carências nutricionais no Brasil.

PESQUISA EM INOVAÇÃO E CONHECIMENTO

Quadro 5: Programas e ações contra carências nutricionais do Ministério da Saúde.


Programas
Ministério da Objetivo Como é realizado?
Saúde
Monitoramento, monitoramento do
impacto da iodação do sal na saúde da
Programa Pro- Monitoração do teor população, atualização dos
Iodo
Iodo de Iodo do sal parâmetros legais dos teores de iodo
do sal e, implementação de novas
estratégias.
Fortificação dos alimentos para as
crianças com micronutrientes em pó
(NutriSUS);
Suplementação de
Fortificação das farinhas de trigo e
Ferro PNSF ferro em doses
milho com ferro e ácido fólico;
preventivas
Promoção da alimentação adequada e
saudável (Estratégia Amamente e
Alimenta Brasil).
Redução e controle
de deficiência de
Suplementação preventiva
Vitamin vitamina A em
Vitamina A mais medicamentosa para crianças (6 a 59
aA crianças e puérperas
meses) e, mulheres no pós-parto.
no pós-parto
imediato
Guia de Consulta
para Vigilância Vigilância
Administração de Tiamina em adultos
Epidemiológica epidemiológica,
e crianças, acompanhamento médico
Tiamina Assistência e assistência e atenção
e, capacitação profissional para
Atenção nutricional do
desenvolvimento do guia.
Nutricional dos beribéri
Casos de Beribéri
Ação Brasil Contribuir com a Pagamento de benefício para famílias
Vitamin
Carinhoso do eliminação da com no mínimo 1 filho com até 15 anos
aAe
Plano Brasil Sem extrema pobreza no e distribuição de sulfato ferroso e
Ferro
Miséria país vitamina A.

174
Pesquisas geram avanço do conhecimento, além da geração de evidências e

instrumentos necessários para implementação da PNAN, de forma a potencializar

as ações do programa. Para traçar o perfil nutricional da sua população, são

necessários aplicações de inquéritos populacionais e pesquisas antropométricas

locais, os quais possibilitam um diagnóstico contínuo e dinâmico da situação

alimentar e nutricional da população brasileira. A Coordenação Geral de Alimentação

e Nutrição investe recursos para garantir a execução e disseminação dos resultados

das pesquisas (BRASIL, 2013a).

A pesquisa em Alimentação e Nutrição em Saúde coletiva é uma pauta

dinâmica, que deve observar atentamente as mudanças no perfil nutricional da

população de interesse nacional e regional, de forma a priorizar pesquisas que

gerem respostas para reverter o atual quadro epidemiológico nutricional da

população brasileira (BRASIL, 2013a).

PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA (PBF)

Este é um programa federal de transferência direta de renda para

famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza cuja finalidade é

promover seu acesso aos direitos sociais básicos, melhoria da qualidade de vida

e inclusão social. Neste contexto, o programa se justifica como uma estratégia

de prevenção e redução de risco de distúrbios nutricionais, uma vez que, além

da transferência direta de renda as famílias beneficiárias são assistidas por uma

equipe de saúde da família, por agentes comunitários de saúde ou por unidades

básicas de saúde.

175
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Distúrbios nutricionais são condições presentes em qualquer população

do mundo. Em sua atuação profissional, o nutricionista, precisa compreender a

origem destes distúrbios, para saber quais as melhores estratégias de

intervenção e, ainda, conhecer as políticas públicas juntamente com ações e

estratégias voltadas à prevenção e controle dos agravos.

No presente capítulo foram discutidas e apresentadas as estratégias

governamentais brasileiras através da PNAN para o combate destes distúrbios.

Porém vale ressaltar que essas estratégias se somam as ações individualizadas

realizadas em nível hospitalar e ambulatorial pelos nutricionistas que atuam

nestes setores. A educação e aconselhamento nutricional são ferramentas

essenciais no processo, e sua utilização de forma adequada pode contribuir

para a diminuição da prevalência destes distúrbios.

Em relação ao PNAN é imprescindível maior divulgação para profissionais

da saúde e população em geral, uma vez que grande parte da população

desconhece a amplitude desta política.

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Oficial da União. Brasília – DF, 1990a.

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180
Capítulo 10
_______________________

GUIA ALIMENTAR DA
POPULAÇÃO BRASILEIRA

Camila Meurer Walter


Thamiris Rodrigues de Freitas
Teresa Souza Ferrari
Nutricionistas pelo Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz

Adriana Hernandes Martins


Nutricionista e Especialista em Gestão da Qualidade e Segurança dos Alimentos
Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz

Daniela Bernardi Miotto


Nutricionista e Doutora em Alimentos e Nutrição
Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz
INTRODUÇÃO

Desde muito antes da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS),

alimentação e nutrição já eram defendidas como primordiais para as políticas

de saúde pública. Na década de 1930, por exemplo, Josué de Castro teve

importante papel apontando os vários sinais da fome e desnutrição do ser

humano como resultantes das desigualdades sociais (JAIME et al., 2018).

Em 1988, a Constituição Federal colocou que a “Saúde é direito de todos

e dever do Estado”, sendo assim implementado o SUS, proporcionando o


acesso universal ao sistema público de saúde, sem discriminação. Em 1990 foi

aprovada a Lei Orgânica da Saúde (nº 8.080, de 19 de setembro de 1990), de

forma que passou a ficar evidente que a saúde não se limitava apenas a

ausência de doença, mas sim, abrangia a qualidade de vida, decorrente de

políticas públicas promotoras da redução de desigualdades regionais e

desenvolvimentos econômico e social. Em 1999 foi aprovada a Política Nacional

de Alimentação e Nutrição (PNAN), com objetivo de promover a melhoria das

condições de alimentação, nutrição e saúde, bem como a garantia da Segurança

Alimentar e Nutricional para todos os brasileiros, fortalecendo assim a

promoção da saúde (BRASIL, 2013; JAIME et al., 2018).

Como parte das ações propostas pela PNAN, surgiu o Guia Alimentar

para a População Brasileira, que foi elaborado pelo Ministério da Saúde e teve

sua primeira edição publicada em 2006 com diretrizes alimentares, objetivando

então a educação alimentar e nutricional de forma simples e didática, para

tornar as escolhas dos alimentos mais autônomas e saudáveis. Em 2014, houve

lançamento da segunda edição, a qual foi atualizada a partir de consulta pública

(BRASIL, 2014; BRASIL, 2015).

É válido ressaltar ainda, que nos últimos anos o Brasil experimentou um

processo de transição nutricional, juntamente com um aumento significativo

182
nas doenças crônicas não transmissíveis, e para enfrentar este cenário são

necessárias ações estratégicas intersetoriais (BRASIL, 2014). Assim, a agenda de

alimentação e nutrição, hoje está inserida nas pautas e discussões temáticas do

Ministério da Saúde, com o intuito de melhorar a atenção básica e preventiva

do SUS e torná-la mais abrangente e completa, pois a alimentação e nutrição

são requisitos básicos para a complementação da malha de atenção à saúde

(JAIME et al., 2018). Neste sentido, o Guia Alimentar da População Brasileira é

um documento oficial, que retrata os princípios e as recomendações de uma

alimentação adequada e saudável, a fim de promover melhoria nos padrões da

alimentação e nutrição da população, para dessa forma promover de saúde e

qualidade de vida (BRASIL, 2014).

O objetivo do presente capítulo é realizar um levantamento acerca dos

guias alimentares ao redor do mundo e conduzir uma análise específica do Guia

Alimentar para a População Brasileira.

CONTEXTUALIZAÇÃO DOS GUIAS


ALIMENTARES AO REDOR DO MUNDO

A Organização Mundial de Saúde propõe que os governos forneçam

informações à população para facilitar a adoção de escolhas alimentares mais

saudáveis em uma linguagem que seja compreendida por todas as pessoas e

que leve em conta questões culturais, sociais, econômicas e ambientais.

Portanto, a elaboração de guias alimentares não é uma estratégia apenas do

Brasil, muitos outros países desenvolvem estes materiais com para orientar a

população, promover de aconselhamento nutricional, melhor a qualidade de

vida e reduzir o risco de doenças crônicas não transmissíveis. Neste tópico

serão apresentados os Guias Alimentares dos seguintes países: Estados Unidos

da América, Portugal, Jamaica, Canadá, França, Suécia e Espanha. Vale ressaltar,

que a elaboração de guias alimentares abrange diversas etapas e é um processo


183
complexo, pois devem considerar o perfil alimentar e nutricional da população

em questão e dessa maneira possuem recomendações gerais distintas.

Em 1916, foi redigido o primeiro guia alimentar nos Estados Unidos da

América por Caroline Hunt, com orientações acerca das necessidades

nutricionais da população e propriedades bromatológicas dos alimentos.

Durante o período da Segunda Guerra Mundial, com a possibilidade de

escassez alimentícia e mudanças políticas e econômicas, foi desenvolvido o Guia

Básico dos Sete Alimentos (do inglês: Basic Seven Food Guide) baseado nas

novas recomendações do Conselho Nacional de Pesquisa (do inglês: National

Research Council), porém foi considerado inadequado por ser complexo para o
entendimento da população (ANDRADE et al., 2016).

Atualmente, no Guia Alimentar para Americanos (Do inglês: Dietary

Guidelines for Americans), as recomendações alimentares são baseadas em


evidências para os americanos maiores de dois anos de idade, visando

promoção de saúde e peso eutrófico. São mencionados alimentos fontes de cada

nutriente, recomendação diária para cada faixa etária e gênero com base na

Ingestão Dietética de Referência (Do inglês: Dietary Reference Intakes (DRI),

também explica sobre gordura corporal adequada, esclarece quais alimentos

vegetarianos devem consumir para suprir carências nutricionais pela exclusão de

derivados animais, aponta a importância de variar a ingestão de diferentes tipos de

vegetais, as limitações ao consumo de sal, importância do controle de peso e

exercícios e apresenta informações sobre as principais Doenças Crônicas Não-

Transmissíveis (DCNTs), sobrepeso e obesidade. O Guia fornece 41

recomendações, agrupadas dentro de 9 categorias. Apesar de apresentar tantas

informações relevantes, faltam valores de corte rigorosos para a gordura trans e o

açúcar adicionado (SICHIERI et al., 2010).

A primeira edição de Guia alimentar de Portugal foi a Roda dos Alimentos,

em 1970 e apresentou de fácil aplicabilidade para a população leiga devido ao

184
visual didático, porém não continha muitas informações. Como a população

continuava com dúvidas, em 2003 foi lançado uma versão do Guia Alimentar

Português que se elaborou em nove etapas. A obtenção da opinião de

pesquisadores sobre alimentação e nutrição teve papel primordial para então

o estabelecimento das recomendação de energia de 13 grupos populacionais

de ambos os sexos (crianças acima de um ano até adultos), para a distribuição

de macronutrientes, micronutrientes e de fibras alimentares e para a partir daí

fazer a definição de sete grupos e 21 subgrupos de alimentos de acordo com a

composição nutricional e hábitos alimentares portugueses. O guia português

fez o estabelecimento da porção padrão de cada grupo alimentar, baseada na

média de peso de medidas caseiras ou em unidades e então, estabeleceu-se a

porção de equivalente de cada grupo alimentar e na etapa seguinte se definiu

o número recomendado de porções diárias de cada grupo, com base em três

dietas calculadas de acordo com o valor energético total de 1.300, 2.200 e 3.000

calorias. Diante da recomendação, foi analisado se as três dietas ofertavam em

quantidades adequadas os macro e micronutrientes de forma a atender às

recomendações nutricionais. Foi feita posteriormente a apresentação dos

resultados, e o ícone escolhido foi o formato do círculo por estar associado à

imagem de um prato, que simboliza a cultura portuguesa e também por já ser

reconhecido pelos indivíduos por conta da primeira versão do guia alimentar

(ANDRADE et al., 2016).

O manual com as Diretrizes alimentares baseadas na alimentação para a

Jamaica (do inglês: Food based dietary guidelines for Jamaica), foi publicado em

2015 pelo Ministério da Saúde da Jamaica e teve sua construção em doze

capítulos, já contemplando dúvidas populacionais. Na introdução é abordando

as principais enfermidades que acometem a população, como deficiência de

ferro, obesidade, hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, pois nos

últimos anos houve um aumento no uso de alimentos ricos em açúcar, sódio,

185
gorduras e óleos, somado ao baixo consumo de frutas e vegetais. Ao início do

Guia Alimentar, há apresentação dos grupos alimentares que proporcionam

variedade na alimentação, apresenta-se a Roda dos Alimentos, assegurando as

quatro leis da alimentação de Pedro Escudero: qualidade, quantidade, harmonia e

adequação, citando os benefícios da variedade alimentar e como garantir essa

diversidade de alimentos, assim como os benefícios de cada grupo alimentar. É

descrita e exemplificada a recomendação diária de porções de cada classe de

alimentos, baseada em uma alimentação de 2200 kcal/dia (JAMAICA, 2015).

O Guia Alimentar do Canadá (do inglês: Canada’s Dietary Guidelines), foi

desenvolvido em 2019 para profissionais da saúde e formuladores de políticas,

nele são expressas as influências do ambiente no modo de se alimentar, a

importância de atendimento nutricional de indivíduos com enfermidades e

distúrbios metabólicos específicos. É exposta a necessidade do consumo

regular de alimentos variados, e se possível, alimentos tradicionais resgatando

a cultura local; cita a necessidade de um consumo maior de gordura insaturada

proveniente de oleaginosas e azeites para prevenção de cardiopatologias;

ressalta a importância do consumo de água, e não de bebidas calóricas,

adoçadas e coloridas artificialmente. Enfatiza o alerta sobre o consumo de

açúcar e de álcool, também esclarece detalhadamente a respeito da rotulagem

dos alimentos. Em geral, capacita de forma favorável os profissionais da saúde

para que programas e políticas alinhadas às Diretrizes Dietéticas do Canadá

ofereçam uma oportunidade de criar ambientes de apoio para uma alimentação

saudável a partir de escolhas alimentares saudáveis (CANADÁ, 2019).

Os Padrões alimentares e dietéticos recomendações na Espanha, França e

Suécia (do inglês: Food patterns and dietary recommendations in Spain, France and

Sweden), estão contemplados em um único guia, porém em capítulos diferentes.


Esses países possuem uma dieta mediterrânea, qual é considerada um dos estilos

186
de vida mais saudável pelo seu alto teor de frutas, legumes, peixes, azeites com

gordura insaturada (DOOREN e KRAMER, 2012).

As primeiras diretrizes para a Espanha, foram publicadas sob a forma de

pirâmide alimentar, baseadas nas descobertas de um grupo de Especialistas da

Sociedade Espanhola de Nutrição Comunitária (do espanhol: Sociedad Española

de Nutrición Comunitaria). A pirâmide foi atualizada em 2004 e a Fundação


desenvolveu a Dieta Mediterrânea Pirâmide (MDP). Outro formato orientativo ainda

utilizado na Espanha é a Nova Roda de Alimentos (do espanhol: Nueva Rueda de los

Alimentos), publicado pela Sociedade Espanhola de Dietética e Ciência de Alimentos


(SEDCA). A roda possui seis segmentos que representam diferentes grupos

alimentares, sendo que o tamanho dos segmentos representa a quantidade

recomendada de cada grupo alimentar em uma dieta saudável, com menos

preferência alimentos colocados em direção ao centro em uma seção destacada,

além disso, a atividade física e água estão no eixo da roda, enfatizando que são

requisitos básicos para um estilo de vida saudável (DOOREN e KRAMER, 2012).

Na França, o Programa Nacional de Nutrição e Saúde (PNNS), criado pelo

Ministério da Saúde da França e pelo Instituto Nacional de Prevenção e Educação

em Saúde (INPES; Instituto Nacional de Prevenção e Educação para a Saúde), definiu

nove regras para acompanhar a escada. Os alimentos que as pessoas podem

consumir mais estão no topo da escada, e os alimentos que as pessoas devem

comer apenas em pequenas quantidades estão no fundo. Os alimentos que as

pessoas devem comer em quantidades limitadas são mostrados através de uma

lupa. Parte do PNNS era desenvolver esses diretrizes nutricionais, que agora são

considerados conselhos nacionais na França. Até agora, o PNNS tem sido muito

bem-sucedido na comunicação das diretrizes ao público. Em 2005, mais de 75% das

ações de saúde pública planejadas foram realizadas ou em andamento,

principalmente as relativas à comunicação e educação nutricional. As nove regras do

Guia alimentar francês estão citadas na tabela 9 (DOOREN e KRAMER, 2012).

187
Tabela 9: Nove regras do Guia Alimentar da França

Grupo alimentar Quantidade

Frutas e legumes Mínimo 5 porções ao dia

Laticínios 3 porções por dia

Alimentos ricos em amido De acordo com o apetite em cada refeição

Carne, peixe e ovos 1 ou 2 vezes por dia.

Óleos vegetais, peixe oleoso e São preferidos, assim como os métodos de cozimento
nozes que exigem pouca gordura;

Produtos doces Limitados

Alimentos salgados (alimentos Limitados


embutidos, carnes, biscoitos,
lanches)

Água Tanto quanto necessário durante e entre as refeições.

Álcool (vinho, cerveja, champanhe Dois copos padrão para mulheres e três para homens
ou licor)

Atividade física Mínimo de 30 minutos de caminhada rápida por dia


para adultos e, no mínimo, uma hora para crianças e
adolescentes).
Fonte: DOOREN e KRAMER, 2012.

GUIA ALIMENTAR BRASILEIRO

A população brasileira, nas últimas décadas, teve grandes mudanças

sociais que acabaram por resultar em mudanças no seu padrão de saúde e

consumo alimentar. Essas mudanças acarretaram em um impacto na

diminuição da pobreza e exclusão social e por consequência, da fome e

desnutrição. Porém, pode ser observado um aumento do excesso de peso em

todas as camadas da população, indicando um novo cenário de problemas

relacionados à alimentação e nutrição (BRASIL, 2012a). A Política Nacional de

Alimentação e Nutrição (PNAN) tem como determinação o avanço dos estados

de alimentação, nutrição e saúde dos indivíduos brasileiros, com o incentivo de

hábitos alimentares adequadas e saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional,


188
a precaução e o zelo integral de agravantes que são associados à alimentação

e nutrição. Neste contexto, os guias alimentares são ferramentas de grande

importância (BRASIL, 2013).

O Guia Alimentar Para Crianças Brasileiras menores de dois anos (BRASIL,

2002) foi o primeiro guia elaborado no Brasil, sendo uma iniciativa do Ministério

da Saúde (Áreas Técnicas de Alimentação e Nutrição e da Saúde da Criança e

Aleitamento Materno) e do Programa de Promoção e Proteção à Saúde da

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/Brasil), que incluiu

recomendações em forma de mensagens e por meio de uma representação

gráfica. A figura escolhida foi a pirâmide alimentar que ilustra os três principais

conceitos do guia: a variedade, a moderação e a proporcionalidade. Vale

ressaltar também que o guia traz um grande incentivo ao aleitamento materno

(BARBOSA, COLARES e SOARES, 2008).

Conforme citado na introdução deste capítulo, a versão de 2014 do Guia

Alimentar Para a População Brasileira substituiu a de 2006, sendo que a versão

atual tem por objetivo promover saúde das pessoas e comunidades e da

sociedade brasileira como um todo, para hoje e também para a sociedade

futura. Este instrumento pode ser manuseado tanto nas casas, em unidades de

saúde, escolas em todos os lugares onde a finalidade seja a viabilização da

saúde. O material reforça também que embora ele apresente recomendações,

é fundamental que os profissionais nutricionistas adaptem as orientações

nutricionais para as situações específicas de cada indivíduo. O Guia é dividido

em 5 capítulos (BRASIL, 2014), sendo que a seguir serão abordados aspectos

relevantes relacionados a cada um destes capítulos.

No Capítulo 1 são abordados os princípios norteadores para a

formulação do guia. Sendo que os princípios norteadores foram (BRASIL, 2014):

189
1) Alimentação é mais que ingestão de nutrientes: O modo de comer, as

dimensões culturais e sociais e a saúde e o bem-estar também são importantes

para a alimentação, ou seja, ela não se restringe à nutrientes;

2) Recomendações sobre alimentação devem estar em sintonia com seu tempo:

O cenário em relação à evolução das condições alimentares e de saúde da

população devem ser considerados na elaboração de recomendações;

3) Alimentação adequada e saudável depende de um sistema alimentar social e

ambientalmente sustentáveis: O impacto social da produção e da distribuição dos

alimentos deve ser considerada;

4) Diferentes saberes geram o conhecimento para a formulação de guias

alimentares: A alimentação possui uma complexa relação com saúde e bem-

estar, e estes saberes devem ser considerados;

5) Os guias alimentares ampliam a autonomia nas escolhas alimentares:

Informações acessíveis e confiáveis (baseadas em evidências científicas)

proporcionam autonomia nas escolhas.

O Capítulo 2 apresenta orientações gerais relacionadas às escolhas

alimentares, é feita uma classificação dos alimentos que são divididos em

alimentos in natura, alimentos minimamente processados, ingredientes

culinários, alimentos processados e alimentos ultraprocessados e também é

feito uma explicação sobre o que foi considerado para esta classificação. Ao

final, são apresentadas quatro recomendações e uma “regra de ouro”:

“Faça de alimentos in natura ou minimamente processados a base de sua


alimentação; Utilize óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao
temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias; Limite o uso de
alimentos processados, consumindo-os, em pequenas quantidades, como
ingredientes de preparações culinárias ou como parte de refeições baseadas
em alimentos in natura ou minimamente processados; Evite alimentos
ultraprocessados; A regra de ouro: Prefira sempre alimentos in natura ou
minimamente processados e preparações culinárias a alimentos
ultraprocessados” (BRASIL, 2014).

190
De acordo com o Guia Alimentar para a população brasileira (BRASIL, 2014):

 Alimentos in natura aqueles obtidos diretamente de plantas ou de animais e

adquiridos para o consumo sem qualquer alteração após deixarem a natureza;

 Alimentos minimamente processados são alimentos in natura que foram

submetidos a processos de limpeza, remoção de partes não comestíveis ou

indesejáveis, fracionamento, moagem, secagem, fermentação, pasteurização,

refrigeração, congelamento e processos similares que não envolvam agregação de

sal, açúcar, óleos, gorduras ou outras substâncias ao alimento original;

 Ingredientes culinários (sal, açúcar, óleos e gorduras) são extraídos de alimentos in

natura ou da natureza por processos adequados, sendo usados no preparo


culinário de alimentos para temperar e para criar preparações variadas e

saborosas;

 Alimentos processados são produtos relativamente simples e fabricados

essencialmente com a adição de sal ou açúcar (ou outra substância de uso culinário

como óleo ou vinagre) a um alimento in natura ou minimamente processado. As

técnicas de processamento desses produtos se assemelham a técnicas culinárias,

podendo incluir cozimento, secagem, fermentação, acondicionamento dos

alimentos em latas ou vidros e uso de métodos de preservação como salga,

salmoura, cura e defumação. Estes alimentos em geral são reconhecidos como

versões modificadas do alimento original com maior vida de prateleira;

 Alimentos ultraprocessados são formulações industriais prontas para consumo e

feitas inteira ou majoritariamente de substâncias extraídas de alimentos, derivadas

de constituintes de alimentos ou sintetizadas em laboratório com base em matérias

orgânicas. Estes alimentos geralmente possuem pouca (ou nenhuma) quantidade

de alimentos in natura ou minimamente processados em sua composição.

Nilson et al. (2012) apontam que no Brasil se deve atuar para que se

resgate o consumo dos alimentos básicos como os in natura e os minimamente


191
processados, e também na reformulação de alguns alimentos processados para

que se reduza o teor de sódio, gorduras e de sacarose.

O Capítulo 3 apresenta orientações sobre como ajustar os alimentos nas

refeições. Sendo que essas orientações são baseadas nas refeições consumidas

por uma parcela da população brasileira que ainda baseiam sua alimentação em

alimentos que são in natura ou minimamente processados e em preparações que

são feitas com esses tipos de alimentos. São apresentadas várias fotos de pratos

de maneira didática e orientativa. A frase chave deste capítulo: Cuidados na

escolha, conservação e manipulação de alimentos (BRASIL, 2014).

O Capítulo 4 aborda algumas orientações sobre a execução de comer e

a presença de indivíduos queridos durante as refeições, e explana como o

período, foco e espaço, influenciam no aproveitamento dos alimentos e

também sobre o prazer que a refeição proporciona. Três regras que este

capítulo retrata: comer com regularidade e com atenção; mastigar bem os

alimentos; alimentar-se em companhia (BRASIL, 2014).

O Capítulo 5 analisa alguns fatores que podem se tornar empecilhos para

a adesão dos indivíduos as recomendações do guia, como o conhecimento,

oferta, preço, habilidades na cozinha, tempo e publicidade, e ainda sugere para

o triunfo a combinação de práticas no propósito pessoal e familiar e no plano

do exercício da cidadania. Palavras-chave deste capítulo: Informação, Oferta,

Custo, Habilidades culinárias, Tempo, Publicidade. E ao final do capítulo, possui

sugestões de leitura que aprofunda os temas abordados acima, esclarecendo

possíveis dúvidas (BRASIL, 2014).

E, além disso, possui de uma forma sucinta dos “Dez passos para uma

alimentação adequada e saudável” que são:

192
1 - Fazer de alimentos in natura ou minimamente processados a base da
alimentação.
2 - Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar
e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias
3 - Limitar o consumo de alimentos processados.
4 - Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados.
5 - Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que
possível, com companhia.
6 - Fazer compras em locais que oferecem variedades de alimentos in natura ou
minimamente processados.
7 - Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias.
8 - Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece.
9 - Preferir, quando fora de casa, locais que servem refeições feitas na hora.
10 - Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre
alimentação veiculadas em propagandas comerciais (BRASIL, 2014)

APROFUNDANDO ALGUNS TEMAS ABORDADOS


PELO GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA

Alimentos processados e ultraprocessados

O processamento de alimentos tem por finalidade prolongar a vida de

prateleira e tornar o alimento mais sápido.

Alimentos processados geralmente são de fácil reconhecimento como

versões modificadas do alimento in natura, abrangem conservas de alimentos

inteiros, frutas inteiras preservadas em açúcar como geleias e compotas, carnes

com acréscimo de sal e peixes conservados em sal ou óleo, queijos fermentados

a partir de leite, sal e micro-organismos usados para fermentar o leite, e pães

feitos de farinha de trigo, água e sal e leveduras usadas para fermentar a farinha

(BRASIL, 2014).

193
Apesar de haver generalizações, é um equívoco dizer que todos os

alimentos processados são ricos em gorduras, sal, açúcares, conservantes e

aditivos químicos, já que dentro da indústria alimentar há processos que não

envolvem adição de quaisquer produtos, apenas modificações físicas. Qualquer

que seja a quantidade de ingredientes, ou o fato de a nomenclatura técnica destes

ser pouco familiar, isso não interfere, necessariamente, em sua qualidade ou

saudabilidade, uma vez que todos os ingredientes utilizados nos produtos

alimentícios processados são avaliados quanto à seguridade para a ingestão

humana, com determinação de doses específicas para a sua aplicação industrial

previstas em listas positivas aprovadas pelas agências regulamentadoras como a

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (REGO, 2018).

Os alimentos ultraprocessados por sua vez, apresentam formulações

que possuem fonte industrial com baixo custo de energia e nutrientes

alimentares, além de possuírem aditivos e passarem por uma série de

processos (portanto, "ultraprocessados"). Neste conjunto, são energeticamente

densos, ricos em gorduras ruins, amidos refinados, açúcar livre e sal e pobres

fontes de proteína, fibra dietéticas e micronutrientes. Os produtos

ultraprocessados são feitos para serem palatáveis e atraentes, com longa

duração de prateleira e práticos para consumo. Sua formulação, apresentação

e marketing geralmente promovem o consumo excessivo. Alguns estudos

mostram que os produtos ultraprocessados dominam a oferta de alimentos de

muitos países desenvolvidos e estão cada vez mais presentes nos países

emergentes. Os indicativos até o momento demonstram que a troca de

alimentos minimamente processados e pratos e refeições preparados na hora

por produtos ultraprocessados está associado a perfis de aditivos alimentares

deletérios e várias doenças não transmissíveis associadas à alimentação

(MONTEIRO et al., 2017).

194
Alimentos ultraprocessados relacionados com a dieta brasileira, mostrou

que o teor de micronutrientes que está presente nos alimentos

ultraprocessados, tendem a ser menor que o presente nos outros tipos de

alimentos. Essa inferioridade dos alimentos que são ultraprocessados é mais

visível quando se compara com alimentos naturais ou que são minimamente

processados. Quando relaciona o teor de micronutrientes 16 de 17 deles

possuírem menor teor do que se encontra nos alimentos minimamente

processados e naturais. Alguns micronutrientes que estavam presentes nos

ultraprocessados, não eram cerca de nem metade do que se encontra nos

alimentos naturais ou minimamente processados (LOUZADA et al., 2015).

Os alimentos ultraprocessados induzem a padrões alimentares que não

são saudáveis. Esses alimentos são chamados de “comidas rápidas”, porque são

portáteis, acessíveis e mais conveniente. Induzem a pular refeições principais,

comer em frente a televisão, dirigindo o carro ou trabalhando. Esses alimentos

se tornam muito calóricos e acarreta no aumento de peso. Existem evidências

que o consumo de grandes quantidades de refrigerantes calóricos pode

enganar mecanismos biológicos que são responsáveis pela resposta de

saciedade, e causar o excesso de consumo de energia e acarretando em

sobrepeso e obesidade (MONTEIRO et al., 2009).

Consumo de alimentos processados e


ultraprocessados de acordo com estudos

De 2004-2005 ocorreu um estudo de Coorte de nascidos em Pelotas no

ano de 1982, os quais foram identificados para entrevista domiciliar, onde foi

aplicado um questionário de frequência alimentar e estimado o teor calórico

ingerido por estes indivíduos. Os resultados mostraram que o consumo de

ultraprocessados nesta população representou 51% do total calórico ingerido,

além disso, também foi observado que o consumo destes alimentos foi
195
relacionado ao maior consumo energético, de gorduras totais, colesterol e

sódio, por outro lado foi relacionado com menor consumo de carboidratos,

proteínas e fibras (BIELEMANN et al., 2015).

Em estudo transversal feito com dados da pesquisa de orçamento

familiar de 2008-2009 apontou que aproximadamente 70% da energia ingerida

pelos brasileiros entrevistados era proveniente de alimentos in natura ou

minimamente processados, 9% proveniente de processados e 22% de

alimentos ultraprocessados, sendo que este último grupo apresentou maior

consumo em relação a densidade energética, maior teor de gorduras totais,

saturadas e trans, bem como menor teor proteico, de fibras e certos minerais

(LOUZADA et al., 2015).

Outro dado interessante apontado por Louzada et al. (2015) é que o teor

energético dos alimentos ultraprocessados é em média 2,5 vezes mais maior

que dos alimentos in natura e minimamente processados, sendo isso

importante uma vez que muitos indivíduos regulam o consumo de alimentos

pelo volume de alimento consumido e não pela densidade energética deste,

desta forma, é possível entender porque a maior ingestão de ultraprocessados

está relacionada à maior densidade energética da dieta.

Os estudos de Louzada et al. (2015) e de Bielemann et al. (2015)

corroboram no sentido de que o perfil nutricional desfavorável dos alimentos

ultraprocessados, e de seu impacto negativo na no balanceamento da ingestão

de nutrientes pela população brasileira, principalmente por contribuírem para

o aumento da densidade energética da dieta, para o aumento nos teores de

açúcar, gordura total, saturada e trans e sódio, bem como para as menores

ingestões de fibras e certos minerais. Neste contexto, a Organização Mundial da

Saúde (OMS), aponta a necessidade de redução do consumo de alimentos com

alto teor energético, de sódio, gorduras saturadas e trans e de carboidratos

refinados, portanto, com base nos resultados dos estudos supracitados é

196
possível verificar que a redução no consumo de alimentos ultraprocessados

poderia contribuir para alcançar esta recomendação.

Em relação ao impacto do consumo de ultraprocessados sobre a

ingestão de micronutrientes, outro estudo de Louzada et al. (2015b), que

também usou dados da pesquisa de orçamento familiar de 2008-2009, aponta

que o aumento da ingestão de ultraprocessados e processados resulta em

redução na ingestão de vitaminas B12, D, E, niacina e piridoxina e de cobre,

ferro, fósforo, magnésio, selênio e zinco.

Artigos demonstraram que o consumo brasileiro diário de sal é de 12,6 a

5,8 g por indivíduo. Desse volume de sal, mais da metade eram advindos da

adição de sal aos alimentos. Nas moradias, as fontes dominantes de sódio na

dieta, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002–2003, foram

o sal e os condimentos à base de sal (76,2%), os alimentos processados com

acréscimo de sal (15,8%), os alimentos in natura ou processados sem adição de

sal (6,6%) e as refeições prontas (1,4%). A distribuição desses grupos diversifica

conforme a localização do domicílio e com a renda familiar, sendo maior o

consumo de alimentos processados nas moradias urbanas e nas faixas de

maior renda per capita (NILSON et al., 2012).

Para refletir: “Alimentos Ultraprocessados”

De acordo com o Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) (2019), o

termo ultraprocessados não é amparado pela ciência e tecnologia de alimentos,

ele vai contra as normas e leis que classificam os alimentos com termos que não

possuem fundamentos que são consistentes.

ITAL (2019) ainda demonstra que o termo “passa por diversas etapas e

técnicas de processamento”, que é citado no Guia Alimentar da População

Brasileira (BRASIL, 2014), pode ser debatido por profissionais da área, já que não

197
há graus de processamento, mas sim alguns tipos e métodos diferentes de

processo, sendo eles pasteurização, esterilização, congelamento, altas pressões,

entre outros, e todas essas técnicas empregadas nos alimentos, não interfere na

qualidade e composição final do produto.

Outro termo que o Guia Alimentar da População Brasileira (BRASIL, 2014)

cita é “que os alimentos ultraprocessados tendem a ser muito pobres em fibras,

que são essenciais para a prevenção de doenças do coração, diabetes e vários


tipos de câncer. A ausência de fibras decorre da ausência ou da presença limitada
de alimentos in natura ou minimamente processados nesses produtos”, porém
ITAL (2019) contesta da seguinte forma, que é o que compõe cada produto, e não

o fato dele passar por um processo ou não que irá determinar se ele é rico em

fibras, vitaminas, minerais. Por exemplo, existem pães que possuem farinha

integral, grãos, castanhas que são ótimas fontes de fibras.

O Guia Alimentar da População Brasileira (BRASIL, 2014) também cita que

“embora cada aditivo utilizado nesses produtos tenha que passar por testes e

ser aprovado por autoridades sanitárias, os efeitos de longo prazo sobre a


saúde e o efeito cumulativo da exposição a vários aditivos nem sempre são bem
conhecidos”. Porém ITAL (2019) relata que alguns aditivos são essenciais no
processamento, pois desempenham um papel muito importante desde a

segurança do produto, até sabor, aparência, textura, mas são utilizados

somente para fins específicos. Mas quando se fala de produtos congelados,

desidratados, enlatados, não se percebe a necessidade de incluir aditivos.

Portanto, é importante fazer uma reflexão sobre o termo

“ultraprocessado”, pois da forma que é usado pelo Guia alimentar da população

brasileira ele não reflete impacto do processamento per se, uma vez que de

acordo com o guia esta classificação se deve mais aos ingredientes da

formulação do que ao processamento em si. Portanto, o que se observa é um

cenário conflituoso sobre o que é alimento processado e o que é

198
ultraprocessado, isso por que não é o “processamento” fator de diferenciação

entre as classes, mas sim os ingredientes presentes no produto. Neste sentido,

uma terminologia mais coerente para classificar os alimentos quanto a sua

saudabilidade seria de acordo com os ingredientes presentes, por exemplo,

alimentos com altos teores de açúcares simples, alimentos com altos teores de

gorduras, alimentos com altos teores de sódio e alimentos com altas

concentrações de aditivos.

Sistema de produção e sua necessidade

As plantas estão no centro da agricultura da alimentação e saúde e os

agricultores têm papel essencial no sustento de uma população saudável.

Produzir alimentos é desafiador, pois deve levar em conta a nutrição e saúde e

ao mesmo tempo que tem de enfrentar mudanças climáticas e aumento

populacional no mundo, portando é necessária uma agricultura inovadora e

sustentável para os próximos anos (GREEN et al., 2016). Neste contexto, o Guia

alimentar para a população brasileira aborda temas relacionados à produção

orgânica e o uso de defensivos agrícolas, assim a seguir são apresentadas

algumas definições relacionadas com este tema.

De acordo com Lei Nº 10.831, de 23 de dezembro 2003, que abrange as

ocupações que são pertinentes a prática da agricultura orgânica, define-se

sistema orgânico de produção agropecuária, agricultores que adotam técnicas

características, diante da otimização do uso dos recursos naturais e

socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades

rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a

potencialização dos benefícios sociais, a diminuição da dependência de energia

não renovável, utilizando, sempre que praticável, métodos culturais, biológicos e

mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, dispensando uso de

199
organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer

período do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição

e comercialização, e a amparo ao meio ambiente (BRASIL, 2003).

De acordo com a Lei n° 7.802, de julho de 1989, os agrotóxicos ou

agroquímicos são os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou

biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e

beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas,

nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes

urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora

ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados

nocivos (BRASIL, 1989).

Para refletir: “Alimentos orgânicos”

Os alimentos orgânicos estão sendo difundidos pelo Guia Alimentar da

População Brasileira (BRASIL, 2014) como alimentos melhores que os

convencionais, porém de forma errônea e desinformada, pois existem

estudos que comprovam que não existe uma diferença nutricional,

significante entre um cultivo e outro.

De acordo com um estudo realizado por Freitas e Martins (2019), na

cidade de Cascavel - PR sobre alimentos de cultivo orgânico e convencional,

relacionado ao teor de compostos fenólicos e antioxidantes, obteve o resultado

de que a banana prata e o kiwi convencional, obtiveram maior teor de

antioxidantes e compostos fenólicos, e maçã de cultivo orgânico obteve maior

teor de compostos fenólicos e antioxidantes, porém não com uma diferença

significativa. Esse resultado maior na maçã orgânica, pode ter sido maior devido

ser utilizado a casca junto para a análise.

200
Segundo um estudo realizado por Inumaru e Martins (2019), na cidade

de Cascavel - PR, sobre a composição centesimal de alimentos orgânicos e

convencionais, obtiveram que os alimentos orgânicos não tiveram diferença

significativa em comparação com o convencional. Alguns nutrientes tiveram

variação conforme a adubação do alimento.

PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO GUIA ALIMENTAR


PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA

De acordo com o Relatório Final da Consulta Pública do Guia Alimentar

(BRASIL, 2015) ainda possuem dúvidas populacionais não incluídas sobre

alimentação que podem ser incluídas em uma nova versão do Guia Alimentar para

População Brasileira. A seguir estão classificadas as sugestões de acordo com os

capítulos com os principais pontos de alterações e inclusões (BRASIL, 2015).

Sugestões sobre temas gerais levantadas acerca do contexto geral do Guia Alimentar:

 Utilizar imagens, infográficos e ilustrações ao longo do texto.

 Incluir recomendações para vegetarianos.

 Manter o resumo do capítulo ao final e suprimi-lo.

 Explicar sobre o processo de revisão do Guia e a metodologia utilizada.

 Esclarecer os dez passos para a alimentação saudável, aperfeiçoando o texto

 Comentar sobre a importância do profissional nutricionista.

 Resgatar o conceito de alimentação saudável da PNAN.

 Explicar a abordagem qualitativa adotada pelo Guia.

Sugestões levantadas acerca do Capítulo 1 – Princípios:

 Desenvolver o conteúdo que aborda o sistema alimentar sustentável e incluir a

agricultura familiar.

 Abordar a questão dos agrotóxicos, transgênicos, orgânicos, agroecológicos e

hidropônicos.

201
 Alterar o título desse princípio para Educação Alimentar e Nutricional (EAN).

 Ressaltar o saber popular, a transmissão intergeracional e incluir a política de

educação popular.

 Apresentar o conceito de segurança alimentar e nutricional, soberania

alimentar e Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA).

 Desenvolver o conteúdo que aborda o sistema alimentar sustentável e incluir a

agricultura familiar.

 Abordar a questão dos agrotóxicos, transgênicos, orgânicos, agroecológicos e

hidropônicos.

 Alterar o título desse princípio para Educação Alimentar e Nutricional (EAN).

 Ressaltar o saber popular, a transmissão intergeracional e incluir a política de

educação popular.

 Apresentar o conceito de segurança alimentar e nutricional, soberania

alimentar e DHAA.

Dúvidas levantadas acerca do Capítulo 2 - Recomendações gerais:

 Esclarecer o conceito de alimentos adotado.

 Melhorar o conceito de alimentos e resgatar a questão simbólica.

 Utilizar o termo cozinhar e comida.

 Abordar a questão das preparações culinárias e exemplificá-las.

 Valorizar as mensagens positivas.

 Esclarecer a palavra moderação.

 Incluir a recomendação média de consumo de óleo, sal e açúcar.

 Explicar sobre os temperos industrializados.

 Diversificar os tipos de gorduras e adicionar referências na seção Para Saber

Mais.

 Rever o destaque dado aos produtos processados e ultraprocessados.

 Rever o termo pronto para consumo.

 Esclarecer as formas de processamento utilizadas para um produto processado

e ultraprocessado.

 Incluir a temática da rotulagem.


202
 Abordar os produtos diet e light.

 Esclarecer o conceito e as “calorias líquidas” de sucos industrializados,

refrigerantes, bebidas açucaradas etc.

 Destacar a relação do consumo dos produtos ultraprocessados com a perda de

patrimônio alimentar e cultural.

Dúvidas levantadas acerca do Capítulo 3 - Alimentos e preparações culinárias:

 Dividir o capítulo em dois, opções alimentares dos grupos alimentícios.

 Esclarecer o conceito de preparações culinárias e fornecer dicas culinárias ao

longo do capítulo.

 Incluir temperos e ervas.

 Inserir a safra em legumes, verduras e frutas.

 Esclarecer a questão de outras refeições, no que tange a recomendação de

três refeições.

 Esclarecer a importância do consumo de água ao longo do dia e incentivar o

aumento do seu consumo.

 Acrescentar discussão sobre sustentabilidade ecológica do planeta e sistemas

alimentares sobre a água.

 Enfatizar o consumo de frutas, legumes e verduras e destacar o aumento

desse consumo.

 Incluir o café nesse capítulo.

 Incluir o aproveitamento integral dos alimentos, no contexto do desperdício e

não no contexto da fome.

 Esclarecer a recomendação do consumo de carnes.

 Fornecer outros exemplos no grupo dos pescados, além do peixe.

Sugestões levantadas acerca do Capítulo 4 - Como Comer:

 Incluir a questão de gênero, etnia e cultura.

 Apresentar mais dicas práticas para o dia a dia.

 Esclarecer a recomendação sobre não comer entre as refeições.

 Exemplificar a alimentação fora do lar.


203
Sugestões levantadas acerca do Capítulo 5 - Compreendendo e Superando Obstáculos:

 Valorizar as ações coletivas e a responsabilidade compartilhada.

 Explicar, para cada obstáculo, como o indivíduo pode superá-lo e o papel do

estado.

 Inserir propostas de superação dos obstáculos, abrangendo a variedade de

sugestões e os exemplos.

 Acrescentar obstáculo sobre segurança sanitária dos alimentos.

 Esclarecer a questão do custo da alimentação.

 Ressaltar o papel do governo na regulação (taxação) de impostos de alimentos

saudáveis e não saudáveis.

 Ressaltar a importância do cuidado na leitura dos rótulos.

 Estimular as feiras locais, hortas em casa e comunitárias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Guias alimentares são ferramentas de grande importância para

promover educação alimentar e nutricional para a população de uma forma

simples e didática, o que torna as escolhas pela população mais autônomas e

saudáveis. O Guia alimentar utilizado no Brasil está em sua segunda edição e

faz parte da Política Nacional de Alimentação e Nutrição como uma ferramenta

de orientação para a população.

O Guia Alimentar da População Brasileira deveria ser mais acessível à

população, já que é esse o objetivo dele, porém não é amplamente divulgado, e

grande parte da população não sabe que existe este material.

204
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206
Capítulo 11
_______________________

COMPORTAMENTO
ALIMENTAR

Ana Caroline Dos S. Fanegas


Mariana Barbara Moreira Garbuio
Tatiani Deisy Becario
Nutricionistas pelo Centro Universitário Assis Gurgacz

Caroline Zanatta Maciel


Nutricionista e Engenheira de Alimentos
Mestre em Ambiente e Desenvolvimento
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz

Daniela Miotto Bernardi


Nutricionista e Doutora em Alimentos e Nutrição
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz
INTRODUÇÃO

Estudos relacionados a nutrição e alimentação, bem como fatores que

influenciam os padrões alimentares da população, têm sido o centro de muitas

pesquisas. Isso é reflexo de como as atitudes alimentares têm influenciado na

saúde da população, especialmente na ocorrência de doenças crônicas não

transmissíveis (DCNT) (AZEVEDO et al., 2014).

O consumo e as escolhas de alimentos pelos indivíduos, constituem um

processo complexo, que envolve fatores biológicos, socioculturais e psicológicos, e a

interação dos mesmos. O comportamento alimentar, depende daquilo que se

conhece, acredita, sente e pensa sobre determinado alimento, envolve decisões

conscientes e inconscientes (ALVARENGA et al., 2015).

A abundância de alimentos industrializados no mercado mundial criou

um meio competitivo, onde o marketing tem se tornando fundamental para o

sucesso das companhias (MAYHEW et al., 2014). Neste contexto, os rótulos

alimentares, juntamente com a mídia, passaram a ser uma ferramenta

imprescindível de marketing e não mais apenas um recurso informativo, o que

tem influenciado significativamente no comportamento de compra e consumo

dos alimentos (NESTLE e LUDWIG, 2010).

As informações estão cada vez mais acessíveis e em constante evolução

e os alimentos têm sido categorizados sendo “bons” ou “ruins”, o que muitas

vezes resulta em uma situação onde o prazer de comer é associado à culpa.

Neste sentido, a nutrição comportamental emerge como uma temática

científica e inovadora, que são incluídos os aspectos fisiológicos, sociais e

emocionais relacionados a alimentação, promovendo mudanças no

relacionamento entre o indivíduo e o alimento (ALVARENGA et al., 2015).

Diante do exposto, o presente capítulo pretende se aprofundar nesta

complexa relação que envolve o comportamento alimentar, pois a medida que

208
o comportamento alimentar de indivíduos e grupos populacionais é estudado

e trabalhado, as chances de sucesso das ações de promoção de práticas

alimentares saudáveis são aumentadas.

COMPORTAMENTO ANIMENTAR:
DEFINIÇÕES E A INFLUÊNCIA DO MERCADO

Carvalho et al. (2013) definem comportamento alimentar como todas as

formas de convívio com o alimento, refere-se a atitudes relacionadas às práticas

alimentares em associação a atributos socioculturais, como os aspectos

subjetivos intrínsecos do indivíduo e próprios de uma coletividade, que estejam

envolvidos com o ato de se alimentar ou com o alimento em si. De acordo com este

mesmo autor a insatisfação corporal é identificada como o um dos fatores de risco

para o desenvolvimento do comer transtornado. Fisberg et al. (2009) trazem uma

definição de que o comportamento alimentar é um dos principais componentes do

estilo de vida e abrange não apenas a escolha dos alimentos em si, mas tudo que

esteja relacionado à alimentação cotidiana. É determinado por diversas influências,

que incluem aspectos nutricionais, demográficos, econômicos, sociais, culturais,

ambientais e psicológicos de um indivíduo ou de uma coletividade.

Neste sentido, conforme apontado na introdução, são múltiplos os

fatores que condicionam as escolhas e o comportamento alimentar, as quais

são mais ou menos consciente e são tomadas quando se compra ou consome

determinado alimento. As escolhas são determinadas por fatores fisiológicos,

psicológicos, sociais, econômicos e culturais, além disso, influenciam

significativamente o estado de saúde ao longo da vida (FISBERG et al., 2009).

Não existe uma decisão racional, estudos apontam que a decisão é emocional

e é tomada antes mesmo que o raciocínio se dê conta, assim, o raciocínio serve

apenas para dar um sentido à decisão (DUTCOSKY, 2013).

209
Um dos fatores que podem dificultar as escolhas alimentares saudáveis

é a dificuldade em interpretar rótulos dos alimentos (MENDONÇA, 2017). Estudo

realizado em uma universidade Holandesa, observou que durante os testes, os

consumidores não perceberam a importância dos dados informacionais ou

textuais propostos nas embalagens, portanto, a falta de informação ou a

presença dela de forma equivocada, bem como a utilização de imagens em

embalagens, pode afetar a resposta do consumidor (TIMMERMAN e PIQUERAS-

FISZMAN, 2019). Além disso, particularidades do consumidor, como

personalidade, humor, status, cultura e hábitos induzem os seus

comportamentos frente a diferentes alimentos, ou seja, o alimento é consumido

em determinadas circunstâncias, sendo influenciado por: “onde, como, quando,

com quem e como” o indivíduo se alimenta (ALVARENGA et al., 2015).

Por fim, é importante apontar que existem três fatores cognitivos e

sensoriais que influenciam o consumidor na hora da compra, sendo: A) afetivo,

que aborda respostas positivas ou negativas em relação ao produto; B)

cognitivo, a crença, a opinião, conhecimento sobre um determinado produto; C)

comportamental, sobre intenções ou ações, definindo o quão disposto o

consumidor está referente a algumas situações (COSTELL et al., 2010).

TRANSIÇÃO NUTRICIONAL:
UM CENÁRIO INFLUENCIADO PELO COMPORTAMENTO ALIMENTAR

Em decorrência da urbanização e modernização, o mundo vem passando

por um processo chamado de transição nutricional que é caracterizada pelo

declínio marcante da subnutrição e aumento da prevalência de excesso de peso

e obesidade. Essa mudança teve como causa questões econômicas, sociais e

demográfica, que consequentemente influenciam no estado nutricional dos

indivíduos (VAZ, 2014).

210
Além do sobrepeso e da obesidade, a transição nutricional também é

responsável por desencadear as denominadas doenças crônicas não

transmissíveis (DCNT), conhecidas como doenças cardiovasculares, diabetes e

hipertensão arterial. Os altos índices de excesso de peso e obesidade da

população Brasileira são causados pelas mudanças nos padrões alimentares,

tanto de consumo, quanto de produção e comercialização dos alimentos. Essa

situação é caracterizada pela substituição de alimentos tradicionais por

alimentos industrializados ricos em gordura e açúcares. O estilo de vida, a

diminuição da prática de atividade física, bem como fatores ambientais, também

contribui para essas alterações (VAZ e BENNEMANN, 2014).

A transição nutricional e os agravos decorrentes dela podem ser

resultado, portanto, de uma dieta extremamente calórica, rica em açúcares e

gorduras, e insatisfatória quanto ao aporte especialmente de micronutrientes e

certos macronutrientes essenciais (FRANÇA et al., 2002). Os sistemas

alimentares, incluindo os processos de produção, transformação, distribuição,

marketing e consumo de alimentos, estão fortemente relacionados ao processo

e precisam ser reposicionados para não apenas ofertar alimentos, mas sim

promover dietas mais saudáveis e sustentáveis para todos (JAIME et al., 2011).

Além disso, o estilo de vida contemporâneo e menos ativo, também tem

contribuindo para o aparecimento das DCNT (RÔAS e REIS, 2012) e o

sedentarismo é considerado também um dos fatores a explicar o excesso de

peso encontrado na sociedade moderna. Diferentes estudos apontam estreita

relação entre escolhas alimentares, obesidade e inatividade física, (HELENA,

NEVES e NETTO, 2016).

Neste contexto é importante ressaltar o papel do governo na

implementação de políticas públicas que visem o incentivo à uma alimentação

e estilo de vida mais saudável para a população, a fim de reduzir a prevalência

e incidência de DCNT. No Brasil, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição

211
(PNAN), desde 1999, tem atuado e contribuído por meio da implementação de

uma série de ações estratégicas cujo objetivo foi e é, a melhoria da alimentação

da população. De acordo com a PNAN a alimentação e a nutrição devem ser

encaradas como determinantes de saúde e precisam “levar em conta a

subjetividade e complexidade do comportamento alimentar” (BRASIL, 2013).

INFLUÊNCIA CULTURAL NAS ESCOLHAS ALIMENTARES:


UM OLHAR PARA A INFÂNCIA

A alimentação tem sido cada vez mais marcante na vida do homem, de

forma que ato de se alimentar está relacionado a agregar nutrientes

importantes para a manutenção do organismo, assim como é um ato social

influenciado pelo ambiente e, portanto, por crenças e hábitos. Por exemplo,

certos produtos são considerados alimentos por uma determinada população,

ao passo que, não são considerados por outras, como também os alimentos

consumidos em uma determinada sociedade podem ser proibidos em outras,

e assim por diante, portanto, questões culturais tem forte impacto na

alimentação (PINHEIRO, 2008).

Neste sentido, é imperativo abordar o comportamento alimentar de

crianças frente à influência cultural da família, pois estudos apontam que o

comportamento alimentar é desenvolvido nos primeiros 24 meses de vida, da

mesma maneira que outros hábitos. Tendo isso em vista, é importante apontar

que esse comportamento tem a total influência dos pais/responsáveis pela criança,

já que ela ainda não é capaz de escolher seus próprios alimentos (BIRCH et al.,

2014). Estudo realizado por Vaz e Bennemann (2014), afirmou que as influências

relacionadas ao comportamento alimentar se iniciam na infância, no instante em

que a criança passa a realizar as refeições da mesma forma que a família, assim

sendo estimulada de forma social e cultural. Dado que é de dentro do ambiente

212
familiar que são inicialmente geradas as práticas de expressão de valores e crenças

vividas influenciando da formação do indivíduo (VAZ e BENNEMANN, 2014).

No entanto, crianças com preferências alimentares pré-estabelecidas,

quando inseridas diante outras crianças, passam a preferir pelos alimentos

adquiridos pelo grupo onde estão colocados, assim alterando as escolhas por

elas inicialmente (HELENA, NEVES e NETTO, 2016). Portanto, a forma como a

criança se alimenta está fortemente vinculada ao seu contexto familiar e às

interações afetivas, podendo o âmbito familiar, exercer importante influência

sobre comportamentos alimentares saudáveis (MAYER e WEBER, 2014).

FATORES PSICOLÓGICOS E O IMPACTO


NO COMPORTAMENTO ALIMENTAR

Ao ocorrer alguma alteração no estado fisiológico, psicológico ou nas condições

ambientais, o comportamento alimentar também é afetado. Em uma situação de

elevada ansiedade, o indivíduo pode recorrer à comida, a fim de compensar o seu

estado emocional, portanto um “mecanismo compensatório” (DOVEY, 2010).

Estudo realizados com mulheres durante a menopausa, que é uma

condição caracterizada por alterações hormonais, avaliou a associação do nível

de ansiedade e o comportamento alimentar tal como o estado nutricional de

mulheres adultas. Assim, verificou-se que não há correlação entre a ansiedade

e estado nutricional, mas sim podendo ser associada ao comportamento

alimentar, resultando em um escore de 16,0 (13,0 - 21,0) para uma alimentação

descontrolada (JANJETIC et al., 2019).

O termo emotional eating é designado ao comportamento de ingerir

alimentos devido a alterações significativas no estado emocional. O sujeito

procura aliviar suas emoções por meio do consumo alimentar compulsivo,

independente da qualidade nutricional do alimento. Estes alimentos específicos e

concretos para o sujeito servem para combater os sentimentos de baixa autoestima


213
e de elevada ansiedade (DOVEY, 2010). Um estudo realizado com mulheres

participantes em programas para perda de peso, foi avaliado a relação entre

episódios de compulsão alimentar e sintomas de depressão e ansiedade,

encontrando portanto uma expressiva relação entre a presença de transtornos de

compulsão alimentar e sintomas depressivos graves (BITTENCOURT et al., 2012).

Com isso, pode se observar que se tem desencadeados cada vez mais o

Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP), que é uma doença

comportamental no qual o indivíduo demonstra impulsividade elevada e

determinados comportamentos referentes a alimentos. O estresse está entre

as causas de TCAP, pois tem forte influência sobre os níveis de cortisol, o qual

se é estimulado para o consumo elevado de alimentos (RAZZOLI et al., 2017;

SOARES, 2019). A busca pela magreza, também é um fator que pode afetar

negativamente comportamentos alimentares, e que pode causar sérios

impactos sobre a saúde do indivíduo (SOIHET, SILVA e SC, 2019).

Portanto, os transtornos alimentares vão muito além do alimento, envolvem

condições psiquiátricas entre alimento e indivíduo. Levando a ter grandes impactos

negativos na saúde dos indivíduos, pois consiste nos hábitos alimentares do

indivíduo em si, refletindo, consequentemente a distúrbios como ansiedade

(MAHAN e RAYNMOND, 2018).

NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL:
UMA ESTRATÉGIA PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Evidências científicas que validam o prazer de comer e o equilíbrio, são

peças-chave para uma comunicação responsável, positiva e inclusiva na

promoção de um comportamento saudável. A comunicação sobre nutrição e

saúde precisa melhorar e o nutricionista deve contribuir ativamente no

processo, especialmente na disseminação de informações sobre alimentação

(ALVARENGA et al., 2015). No que diz respeito à prática clínica da nutrição, o


214
nutricionista precisa entender o fatores que influenciam no comportamento

alimentar do seu paciente (VAZ e BENNEMANN, 2014).

A Coordenação Geral de Educação Alimentar e Nutricional – (CGEAN) visa

"promover a educação alimentar” e nutricional visando à alimentação adequada e

saudável no sentido de prazer cotidiano, de modo a estimular a autonomia do

indivíduo e a mobilização social, valorizar e respeitar as especificidades culturais e

regionais dos diferentes grupos sociais e etnias na perspectiva da Segurança

Alimentar e Nutricional (SAN) e da garantia do Direito Humano à Alimentação

Adequada (DHAA) (SANTOS, 2012).

Ferramentas e abordagens, que estimulem os indivíduos a promoverem

efetiva mudanças de comportamentos com a comida, são muito importantes.

Algumas estratégias que podem para ajudar na prática clínica são: terapia

cognitivo-comportamental (TCC), cujo princípio é “as nossas emoções e

comportamentos são determinados pela forma como interpretamos a

realidade”; estratégias de comer com atenção plena e comer intuitivo (CI), que

podem ser aplicadas para ajudar os pacientes a distinguir suas emoções como

angústia, ansiedade, tristeza, tédio e para aprender a lidar com isso sem ter que

usar a comida (ALVARENGA et al., 2015).

Destacamos ainda, que a crescente importância da educação alimentar

e nutricional no contexto da promoção da saúde e da alimentação saudável,

vista como uma estratégia fundamental para enfrentar os novos desafios nos

campos da saúde, alimentação e nutrição é considerada um desafio diário para

o profissional nutricionista, porém muitas vezes tem que ser usado com outras

estratégias, pois não garante a mudança comportamental do paciente

(ALVARENGA et al., 2015).

215
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O comportamento alimentar é um conjunto de ações relacionadas ao

alimento, que envolvem, desde a escolha até a ingestão, bem como tudo a que

ele se relaciona. O hábito alimentar é a resposta do indivíduo frente ao alimento

ficando caracterizado pela repetição desse ato. Fica evidente que, o

comportamento alimentar promove o hábito alimentar. Por se tratar de

conceitos tão interligados e complementares, o entendimento dos dois

significados e de suas diferenças é fundamental para o sucesso em todos os

tipos de tratamentos, intervenções e ações preventivas relacionadas aos

indivíduos. Mudar atitude frente ao alimento, ou seja, tornar mais saudável o

comportamento alimentar é uma tarefa complexa, que para ter sucesso precisa

da contribuição de uma equipe multiprofissional da qual o nutricionista é

profissional de destaque.

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218
Capítulo 12
_______________________

ROTULAGEM NUTRICIONAL

Allan Eduardo Vidal


Larissa de Carvalho Zimmermann
Rafaela Menegusso
Nutricionistas pelo Centro Universitário Assis Gurgacz

Sabrine Zambiazi SILVA


Nutricionista e Mestre em Engenharia Agrícola
Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz

Daniela Miotto Bernardi


Nutricionista e Doutora em alimentos e Nutrição
Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz
INTRODUÇÃO

Os rótulos são fundamentais na escolha dos alimentos, pois permitem que

os consumidores analisem, comparem informações e alcancem a garantia de

segurança alimentar e nutricional. Os rótulos devem conter informações claras,

acessíveis e corretas para atender ao consumidor e não apenas para atender

determinação da legislação, portanto, devem ser verdadeiros aliados do consumo

alimentar equilibrado e saudável (ARAUJO, 2017).

De acordo com a Resolução de Diretoria Colegiada – RDC nº 259 de

setembro de 2002 é considerado rótulo toda inscrição que estiver exposta na

embalagem de um alimento, seja ela legenda, imagem, matéria descritiva ou

gráfica, que esteja escrita, impressa, estampada, gravada, gravada em relevo,

litografada ou colada sobre a embalagem do alimento. Para que esteja de

acordo com os padrões da legislação essas inscrições devem conter todas as

informações obrigatórias regulamentadas pela legislação. A rotulagem se aplica

a todo alimento embalado na ausência do cliente, pronto para ser oferecido aos

consumidores, destinado ao comércio nacional ou internacional, qualquer que

seja sua origem (BRASIL, 2002; MACHADO, 2015).

Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 360, de 23 de

dezembro de 2003, na rotulagem nutricional devem ser declarados os seguintes

nutrientes: valor energético, carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras

saturadas, gorduras trans e sódio para facilitar ao consumidor conhecer as

propriedades nutricionais dos alimentos, contribuindo assim para a escolha e

para um consumo adequado dos mesmos. Como princípio geral, os rótulos dos

alimentos não devem apresentar: Informação falsa; que atribua efeitos ou

propriedades que não possuam; destaque a presença ou ausência de

componentes que sejam intrínsecos ou próprios de alimentos de igual natureza,

exceto nos casos previstos em Regulamentos Técnicos específicos e deve ser

220
feita exclusivamente nos estabelecimentos, onde ocorre a sua elaboração ou

fracionamento (BRASIL, 2003). Vale ressaltar também que, o fato de a rotulagem

ser obrigatória não significa que os consumidores estejam utilizando-a como

uma ferramenta para a escolha dos alimentos (CAVADA et al., 2012).

Em outubro de 2020 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA), aprovou mudanças na rotulagem dos alimentos brasileira, pois

estudos recentes apontam que o modelo atual dificulta o uso da rotulagem

nutricional pelos consumidores por problemas de identificação visual, pelo

baixo nível de educação e conhecimento nutricional. Uma das principais

mudanças propostas foi a adoção de um modelo de rotulagem nutricional

frontal que seja obrigatório, complementar à tabela nutricional, e que

informe o alto teor de açúcares adicionados, gorduras saturadas e sódio, de

forma simples e compreensível. O modelo deve utilizar cores, símbolos e

descritores qualitativos. Também deve estar baseado na declaração por 100g

ou 100ml do alimento, de forma a garantir sua consistência com a tabela

nutricional. A medida visa facilitar a compreensão das principais

propriedades nutricionais e reduzir as situações que geram engano quanto

à composição dos produtos (BRASIL, 2020).

Diante do exposto, este estudo se propôs abordar as informações

obrigatórias de rotulagem, recursos de marketing adotados nas embalagens e

a percepção do consumidor perante os tipos rotulagens nutricionais, por meio

de revisão bibliográfica.

ROTULAGEM NUTRICIONAL X EDUCAÇÃO NUTRICIONAL


E MARKETING DE ALIMENTOS

As elevadas taxas de doenças crônicas não transmissíveis, tendo o

consumo alimentar como um dos principais fatores de risco, dentro de um

contexto que envolve um conjunto de alterações do estilo de vida e de


221
alimentos disponíveis, têm sido apontadas como um dos grandes problemas de

saúde populacional, tanto no Brasil como em outros países. Visando mudar

esse cenário, importantes estratégias de promoção da saúde e da alimentação

saudável têm sido propostas por organismos nacionais e internacionais, no que se

refere à alimentação saudável, com destaque especial à divulgação do

conhecimento sobre alimentos e sobre nutrição. Os rótulos alimentares, por

serem acessíveis, são apontados pela população como uma das principais fontes

de informação sobre os alimentos, sendo utilizados como um importante

instrumento para escolhas alimentares. Os rótulos claros podem melhorar o

comportamento alimentar e diminuir o risco para doenças especialmente em

grupos de risco (LINDEMANN et al., 2016).

Estudo realizado em dezesseis países (Índia, China, África do Sul,

Colômbia, Emirados Árabes Unidos (EAU), Zimbábue, Brasil, Suécia, Chile, Irã,

Canadá, Argentina, Polônia, Malásia, Turquia e Paquistão) avaliou rótulos

nutricionais de biscoitos doces e chips. Os parâmetros foram analisados por

meio de um escore de 1 a 7: número total de nutrientes listados, número de

nutrientes necessários segundo a recomendação do Codex Alimentarius,

legibilidade do rótulo, alegações de saúde e técnicas de marketing utilizados. O

escore médio da legibilidade foi de 5,6, sendo maior no Canadá, Brasil e Suécia.

Vinte e nove por cento (29%) das embalagens continham algum tipo de alegação

nutricional, ocorrendo com maior frequência no Brasil, Canadá e Argentina e

87% das embalagens tinham alguma técnica de marketing, sendo que 40%

destas era voltado ao público infantil (MAYHEW et al., 2016).

A atual Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) assinala a

educação alimentar e nutricional, além da regulação de alimentos, como

importante forma de promoção da alimentação saudável e da saúde, cabendo

aos profissionais de saúde, especialmente aos vinculados ao SUS e, mais

especificamente, aos que atuam na atenção básica, orientar e estimular a leitura

222
de rótulos de alimentos no sentido de qualificar as escolhas alimentares dos

usuários (LINDEMANN et al., 2016).

Estudo de Peyerl e Matos (2012) avaliou os rótulos de alimentos frente

às exigências legais de rotulagem de alimentos embalados comercializados no

Brasil e Nova Zelândia, a pesquisa de campo foi realizada por meio da coleta e

avaliação de rótulos de alimentos embalados e comercializados em redes de

supermercados. Foram avaliados rótulos de alimentos pertencentes aos mais

diversos grupos de alimentos totalizando 47 (quarenta e sete) rótulos de

alimentos produzidos e comercializados no Brasil e, 37 (trinta e sete) rótulos de

alimentos comercializados na Nova Zelândia. Os mesmos critérios foram

utilizados para a avaliação dos rótulos dos alimentos comercializados no Brasil

e para Nova Zelândia, porém, respeitando as suas respectivas legalidades exigidas

em seu país. Foram avaliados quanto ao atendimento dos seguintes critérios:

atendimento as declarações obrigatórias (nome do alimento, lista de ingredientes,

conteúdo líquido, identificação de origem, lote, prazo de validade, manipulação e

modo de preparo), apresentação da tabela nutricional, declaração nutricional

complementar, declaração de alergênicos, declaração de organismo geneticamente

modificado (OGM) e produtos irradiados. De maneira geral, os resultados

mostraram que os rótulos avaliados atendiam as disposições presentes nas

legislações dos países Brasil e Nova Zelândia, sendo que se verificou que havia uma

similaridade quanto ao entendimento da definição de rotulagem de alimentos, suas

aplicações e informações de caráter obrigatório (PEYERL e MATOS, 2012).

No quadro a seguir está apresentada uma comparação feita por Peyerl e

Matos (2012) de certos critérios obrigatórios na rotulagem de alimentos em

relação à legislação brasileira, da Nova Zelândia e Codex Alimentarius.

223
Quadro 6: Comparativo entre legislação Brasileira e de da Nova Zelândia e Codex Alimentarius

BRASIL NOVA ZELÂNDIA CODEX ALIMENTARIUS


Rotulagem é toda
Rotulagem é qualquer
Inscrição, legenda, Rotulagem é qualquer
informação escrita ou
imagem ou toda matéria marca, símbolo, indicação
impressa no rótulo de
descritiva ou gráfica, ou declaração por escrito,
um alimento, ou
escrita, impressa, ou ainda, qualquer
Definições exibida próxima a este,
estampada, gravada, representação ou desenho
com o intuito de
gravada em relevo, presente na embalagem do
promover sua oferta
litografada ou colada alimento relacionado.
ou venda.
sobre a embalagem do
alimento.
Alimentos Alimentos fabricados, Todos os alimentos
comercializados e distribuídos, transportados embalados oferecidos
prontos para a oferta ao ou armazenados e aos consumidores
Aplicação
consumidor, embalados embalados com uma área prontos para o
na ausência deste. de superfície superior a 30 consumo ou passíveis
cm. de reconstituição.
Nome do Alimento Nome do Alimento Nome do Alimento
Conteúdo Líquido Conteúdo Líquido
Nome e Endereço
Identificação de Origem Nome e Endereço
Fabricante ou Distribuidor
Informações Lote Lote Lote
obrigatórias Data de Fabricação e Data de Fabricação e
Prazo de Validade
Validade Validade
Condições de Condições de
Manipulação
Armazenamento Armazenamento
Modo de Preparo Modo de Preparo Modo de Preparo
Rotulagem nutricional
Rotulagem nutricional é
Rotulagem nutricional é as são as informações
toda descrição
Informação informações descritas com descritas com o
destinada a informar ao
Nutricional e o intuito de informar o intuito de informar o
consumidor sobre as
Declarações consumidor sobre as consumidor sobre as
propriedades
Obrigatórias propriedades nutricionais propriedades
nutricionais de um
de um alimento. nutricionais de um
alimento.
alimento.
Valor Energético Valor Energético Valor Energético
Proteína Proteína Proteína
Carboidrato Carboidrato Carboidrato
Gorduras totais, Gorduras totais e
Gordura
saturadas e trans saturadas

Declarações Fibras
obrigatórias
Sódio Sódio
Nutriente sobre o qual
Nutriente sobre qual seja realizado um
Nutriente sobre qual seja
seja feito um apelo apelo específico ou
feito um apelo especifico.
especifico. considerado
necessário pela
224
legislação nacional
vigente.
Cereais que contenham Cereais que
Glúten
glúten contenham glúten.
Crustáceos e
Crustáceos e derivados Crustáceos e derivados
derivados.
Ovos e derivados Ovos e derivados Ovos e derivados.
Peixes e derivados Peixes e derivados Peixes e derivados.
Amendoim, soja e Amendoim, soja e Amendoim, soja e
derivados derivados derivados.
Leite e derivados Leite e derivados Leite e derivados.
Castanhas, nozes, avelã,
amêndoa e Castanhas e nozes. Castanhas e nozes.
macadâmias.
Alergênicos
Látex, pistaches, pecãs,
pinoli.
Sulfito em concentrações
superiores a 10mg/kg. São
ingredientes que também
Sulfito em
devem ter a presença
concentrações
Corante amarelo informada: pólen de
superiores a 10mg/kg
tartrazina abelha, aspartame,
quinina, guaraná,
fitosteróis, ésteres,
própolis, cafeína e leite
com baixo teor de
gordura.
O rótulo do alimento
irradiado deve indicar
Alimentos em sua
que o alimento foi
totalidade ou que
submetido a este tipo
contenham algum É proibida a irradiação de
de tratamento.
ingrediente tratado por alimentos ou ingredientes
Quando se tratar de
Irradiação irradiação, deve a menos que o produtor
um ingrediente
apresentar um alerta receba autorização para tal
utilizado, esta
referente a este
indicação deve constar
processo impresso no
após o nome do
rótulo.
mesmo na lista de
ingredientes.
Fonte: Peyerl e Matos, 2012.

A necessidade de uma rotulagem nutricional completa, clara e

suficientemente informativa para o consumidor, de forma a evitar erros de

interpretação e confusão quanto às características dos produtos. É importante

ressaltar ainda, que o rótulo é um importante agente de marketing dos

alimentos e é papel da educação nutricional fomentar na população o


225
entendimento correto das informações de rotulagem, especialmente para

estimular escolhas alimentares mais saudáveis de forma a mitigar a ocorrência

de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT).

ATUALIZAÇÃO NA ROTULAGEM TRADICIONAL DOS ALIMENTOS

Conforme apontado anteriormente, a alimentação não existe unicamente

com o fim de satisfazer as necessidades nutricionais dos indivíduos e, neste

sentido, é fundamental uma educação alimentar para que as escolhas alimentares

sejam feitas com maior consciência, ou seja, uma boa rotulagem dos alimentos

pode ajudar a reduzir problemas de saúde futuros, pois pode contribuir para

escolhas mais saudáveis no ato de compra (GOUVEIA e MAIA, 2018).

Neste contexto, no Chile, assim como no resto do mundo, os níveis de

sobrepeso e obesidade aumentaram, juntamente com o aumento do índice das

doenças crônicas não transmissíveis causadas por essas condições nutricionais,

cuja prevenção está principalmente ligada à nutrição e hábitos alimentares. Por

esse motivo, em 2007 alguns senadores apresentaram o documento "Lei de

Regulamentação de Alimentos Insalubres", com o objetivo de propor soluções


para esses casos. Dentro dos argumentos apresentados, é citado que o

crescimento e expansão das comidas rápidas (do inglês: fast foods) tem

contribuído para o aumento do sobrepeso e obesidade da população,

apontaram que tem sido fornecido ao público alimentos com alta densidade

energética, alto teor de gordura, gorduras saturadas e ácidos graxos trans,

associados a alta palatabilidade, juntamente com grandes quantidades de sal e

açúcares, com alto índice glicêmico e baixo teor de fibras. Além disso, mostram

que as estratégias de marketing de restaurantes de fast food tem em vista

especialmente o público infantil. Além disso, os senadores apresentam as

medidas propostas pela Organização Mundial da Saúde – OMS aos governos

226
para prevenir o sobrepeso e a obesidade, sustentadas em dois pontos

importantes: a informação dos principais aspectos nutricionais e à propaganda.

A lei utiliza o conceito de "indicadores de nutrientes da qualidade da dieta".

Diante disso, o Chile e o Peru propuseram e implementaram duas estratégias

legislativas, mediante duas leis que visam prevenir o excesso de peso e a obesidade

na população, especialmente crianças, através da regulação de três aspectos:

rotulagem frontal dos produtos, através de sinais de aviso quando os nutrientes

críticos para os alimentos excedem um limite estabelecido; as vendas de alimentos

considerados não saudáveis nas escolas (BOZA et al., 2016).

Em 2014 a França apresentou uma nova forma de rotulagem nutricional

frontal denominado Nutri-Score. Este foi anunciado pelo Ministro da Saúde

como rótulo oficial da França em 2017. O Nutri-Score conta com o cálculo de

perfis de nutrientes, derivado do sistema de perfil de nutrientes da Agência

Britânica de Padrões Alimentares, desenvolvido pela OfCom para regular a

publicidade televisiva para crianças. É calculado usando o conteúdo de

nutrientes por 100 g para alimentos e bebidas atribuindo pontos positivos de 0

a 10 para energia (kJ), açúcar total (g), ácidos graxos saturados (g) e teor de sódio

(mg). Pontos negativos (0–5) são atribuídos para frutas, legumes e nozes,

conteúdo de fibras e proteínas. A pontuação é, portanto, baseada em uma

escala c-15 (mais saudável) a +40 (menos saudável). A rotulagem Nutri-Score

possui cinco categorias de qualidade nutricional que é representado do verde

para o vermelho. O número de categorias foi selecionado para garantir um alto

poder discriminador dentro dos grupos de alimentos, mantendo uma categoria

central para evitar a divisão dos alimentos entre bons e ruins. As letras foram

adicionadas às cores para melhorar a legibilidade do rótulo (RAYNER,

SCARBOROUGH e LOBSTEIN 2009).

Outro formato de rotulagem nutricional é Semáforo Nutricional. Este foi

criado pela Agência Britânica de Normas Alimentares (BALCOMBE et al., 2010) e

227
tem sido utilizado de maneira voluntária nos EUA e diversos países da Europa. Está

sendo usado como recurso de Informação Nutricional Complementar para uma

melhor percepção da informação referente ao conteúdo específico dos alimentos.

A este recurso de rotulagem está associado um código de três cores (verde, amarelo

e vermelho), semelhante a um semáforo de trânsito, e indicador das quantidades de

quatro nutrientes existentes no produto: gordura, gordura saturada, açúcar e sal

(GOUVEIA e MAIA, 2018). Assim, de forma a facilitar e a tornar a leitura dos rótulos

mais intuitiva, têm sido usados recursos de Informação Nutricional Complementar,

nomeadamente, o Semáforo Nutricional (CORDEIRO et al., 2010).

Ao Semáforo Nutricional está associado um código de três cores (verde,

amarelo e vermelho), semelhante a um semáforo de trânsito, que atribui uma

cor às quantidades de quatro nutrientes existentes no produto: valor

energético, açúcares totais, gordura saturada e sódio (Figura 7) (EQUIPA

NUTRIÇÃO CONTINENTE, 2012).

Em estudo realizado por Lima et al. (2016), foi avaliado o nível de

compreensão e atratividade de diferentes rotulagens nutricionais contendo o

semáforo. Ao fim da pesquisa foi verificado que o modelo de semáforo

nutricional apresentou índice de compreensão e atratividade superiores à

tabela nutricional. O semáforo nutricional tradicional foi o modelo mais atrativo

aos consumidores, indicando a viabilidade da implementação deste sistema,

possibilitando uma consulta aos rótulos de alimentos mais compreensível e

prático para os consumidores.

228
Figura 7: Semáforo Nutricional

Fonte: Equipa nutrição Continente, 2012.

Em outubro de 2020 a ANVISA aprovou a inclusão do selo de advertência

(Figura 8) na parte frontal das embalagens de alimentos processados e

ultraprocessados, indicativos da presença excessiva de nutrientes críticos como

açúcar, sódio, gorduras saturadas. O selo deve alertar, sobre a presença de

adoçante e gorduras trans, independentemente da quantidade. Já os alimentos

in natura ou minimamente processados ficam dispensados de qualquer tipo de


advertência. O modelo foi para consulta pública após aprovação da Diretoria

Colegiada (Dicol) da Anvisa, associado a novos requisitos técnicos para a adoção

das normas pela indústria, com o objetivo de deixar os dados nutricionais mais

claros no rótulo, permitindo fazer comparações entre produtos semelhantes,

sem gerar enganos ou dúvidas. Ainda tem o intuito de aumentar a abrangência

das informações contidas nos rótulos e a veracidade dos valores informados

pela indústria (BRASIL, 2020).

229
Figura 8: Modelo de selo de advertência para 3 nutrientes no Brasil

Fonte: BRASIL, 2020

PERCEPÇÃO DO CONSUMIDOR PERANTE


A ROTULAGEM NUTRICIONAL

Uma pesquisa realizada pelo IDEC (2014), teve como objetivo avaliar o

conhecimento, comportamento, percepção e preferência do consumidor em

relação à rotulagem nutricional segundo a presença de doenças crônicas não

transmissíveis. Os entrevistados foram mulheres que declararam ser

responsáveis pela compra de alimentos em seu domicílio. Ao ser avaliado o grau

de concordância das mulheres sobre a informação nutricional dos alimentos foi

relatado pelas participantes que existe dificuldade de encontrar a informação

nutricional nos produtos que compram e cerca de 39% discordam da afirmação.

De acordo com o IDEC (2014) o hábito de ler rótulos, informações

nutricionais e frases nas embalagens é razoavelmente propagado entre as

consumidoras, o que aumenta a importância da embalagem como um meio de

combate às DCNT. Já a tabela nutricional é menos consultada e, embora

230
aparentemente compreendida por grande parte das consumidoras não é muito

utilizada no dia a dia por várias razões, dentre elas, a dificuldade de leitura.

Em estudo realizado com idosos acima de 60 anos, moradores de Porto

Alegre, verificou-se que 86% não possuem o hábito fazer a leitura de rótulos,

porém ao efetuarem a leitura 82% dos idosos tinham dificuldade de

compreender as informações dispostas nos rótulos. Assim, as informações

nutricionais se caracterizaram como de difícil entendimento, contradizendo a

finalidade da rotulagem de alimentos, já que dificulta a compreensão das

informações dispostas ao invés de ser um elo entre a indústria e o consumidor.

Constatou-se que 86% dos entrevistados consideram que as informações

presentes nos rótulos podem nortear a escolha de um alimento saudável. Além

disso, 90% acreditam que a informação nutricional disposta nos rótulos poderia

ampliar o conhecimento sobre alimentos (NASCIMENTO et al., 2013).

Ao analisar os estudos citados, verificou-se que não é realizada a

leitura da rotulagem e informações nutricionais e quem observa esses itens

não faz de forma correta sendo necessário maior clareza e incentivo aos

consumidores de lerem os rótulos.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA)

(2017), a pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

(IBOPE) realizada no ano de 2017 fez a comparação do formato de

rotulagem de semáforo e advertência onde os parâmetros que foram

avaliados foram a utilidade, clareza, a facilidade para identificar a

informação no rótulo, a facilidade para comparar produtos, facilidade para

comparar produtos de marcas diferentes, a transparência, a confiabilidade

e o estímulo a reformulação de produtos. De maneira geral, a maior parte

dos entrevistados relatou que o rótulo em formato semáforo parece mais

útil para escolher alimentos e bebidas não alcoólicas mais nutritivas e

saudáveis, além de ser mais claro e didático para entender as informações

231
nutricionais, é considerado mais rápido e de destaque na embalagem, bem

como transmite confiança em relação as informações destacadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As recomendações e legislações abordadas neste trabalho permitiu uma

melhor compreensão do complexo sistema que é desenvolvido no processo de

rotulagem de alimentos e sua importância. Apesar da obrigatoriedade da

indústria alimentícia de disponibilizar rótulos nutricionais, até o momento não é

uma ferramenta efetiva na decisão de compra dos alimentos, pois a maioria dos

consumidores não possuem o hábito de ler os rótulos dos alimentos

consumidos. Neste sentido, a recente rotulagem frontal aprovada para ser

implementada no Brasil, pode vir como um fator facilitador da visualização da

informação nutricional, de forma a facilitar escolhas mais saudáveis.

Vale ressaltar ainda a importância da realização de outros estudos que

avaliem o comportamento dos consumidores frente à rotulagem nutricional,

com objetivo de identificar suas necessidades dando prioridade,

fundamentalmente, a saúde do consumidor.

REFERÊNCIAS

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preferem o semáforo nutricional nos rótulos de alimentos e bebidas. São Paulo – SP, 2017.

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relationship between nutritional food labels and price. Food Policy, v. 35, n. 3, p. 211-220, 2010.

BOZA, S., GUERRERO, M., BARREDA, R., ESPINOZA, M. Recent changes in food labelling regulations in Latin
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232
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de 20 de setembro de 2002. Regulamento Técnico sobre Rotulagem de Alimentos Embalados. Diário Oficial
da União, Brasília – DF, 2002.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Resolução de Diretoria Colegiada – RDC nº 360,
de 23 de dezembro de 2003. Aperfeiçoamento das ações de controle sanitário na área de alimentos
visando a proteção à saúde da população. Diário Oficial da União, Brasília – DF, 2003.

BRASIL. Projeto de lei nº 10.695, de 2018. Altera o Decreto-Lei nº 986, de 21 de outubro de 1969, para
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CORDEIRO, T; SILVA, C; BENTO, A. Rotulagem Nutricional, sua importância. Cadernos de Estudos


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233
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and “unhealthy” food and drinks for TV advertising to children. London: Food Standards Agency, p. 01-11,
2009.

234
Capítulo 13
_______________________

QUALIDADE
E LEGISLAÇÃO NA
PRODUÇÃO DE
ALIMENTOS

Ana Luiza de Souza Melo Fabris


Tássia Fernanda Sacks
Vanessa da Cruz
Nutricionistas pelo Centro Universitário Assis Gurgacz

Adriana Hernandes Martins


Nutricionista e Especialista em Gestão da Qualidade e Segurança dos Alimentos
Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz

Daniela Miotto Bernardi


Nutricionista e Doutora em Alimentos e nutrição
Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Assis Gurgacz
INTRODUÇÃO

Com o avanço da tecnologia, bem como com o aumento da necessidade

de produzir e processar alimentos, tornou-se necessário a instalação de

mecanismos que possam avaliar e proporcionar a segurança tanto dos

alimentos, como também do manipulador (COSTA et al., 2013).

Um dos conjuntos de ações mais importantes dentre esses mecanismos é

a vigilância sanitária, que teve sua origem na Europa dos séculos XVII e XVIII,

enquanto que no Brasil surgiu nos séculos XVIII e XIX, com o aparecimento da

noção de “polícia sanitária”, que tinha como objetivos vigiar a cidade para evitar a

propagação das doenças, regulamentar o exercício das profissões relacionadas à

saúde, instituir o saneamento da cidade e fiscalizar as embarcações, os cemitérios

e o comércio de alimentos (ROZENFELD, 2000).

O contexto histórico brasileiro de legislações sanitárias na área de alimentos

teve um avanço significativo a partir da década de 1990, onde o Ministério da

Saúde publicou a Portaria nº 1.428/1993 que aprovou o Regulamento Técnico para

Inspeção Sanitária de Alimentos, as Diretrizes para o Estabelecimento de Boas

Práticas de Produção e de Prestação de Serviços na Área de Alimentos e o

Regulamento Técnico para o Estabelecimento de Padrão de Identidade e

Qualidade para Serviços e Produtos na Área de Alimentos, além de introduzir a

“Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle” (APPCC) (BRASIL, 1993).

De acordo com Cartana (2000), a vigilância sanitária verifica os padrões

de higiene, com procedência no artigo 200 da própria Constituição Federal, o

qual descreve as competências do Sistema Único de Saúde (SUS). Relacionado

a essa competência está o fato de ser dotado de poder policial, que estende os

direitos funcionais de seus agentes ao atributo de função confiável, poder para

emitir pareceres oficiais sobre o assunto sob investigação, reduzir o prazo,

236
redigir avisos e emitir pareceres e julgamentos técnicos relacionados a esse

assunto (RIBEIRO, 2006).

A produção de alimento em grande escala vem crescendo e portanto a

importância da fiscalização e um controle rigoroso é necessário, visto que

existem várias doenças transmitidas por alimentos. Diante disso, a proposta

deste capítulo é, por meio de uma pesquisa bibliográfica, apresentar de forma

resumida as legislações brasileiras vigentes, acerca deste tema, bem como

explorar a legislação de alimentos em outros países e a diversidade no processo

de produção de alimentos.

PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NO BRASIL:


REGULAMENTAÇÃO

Conforme apontado anteriormente, no Brasil a produção de alimentos,

tanto em nível industrial, como também aquela produção realizada por

serviços de alimentação e nutrição deve seguir rigorosos padrões sanitários

que são fiscalizados periodicamente por órgãos competentes. Cada setor

possui legislações específicas que devem ser aplicadas de forma a garantir a

segurança dos alimentos produzidos. Neste contexto, a seguir serão citadas

e discutidas algumas das legislações brasileiras que tem enfoque geral nas

boas práticas de fabricação (BPF).

Segundo a Portaria n° 1.428/1993 do Ministério da Saúde, as BPF são

normas de procedimentos que visam garantir qualidade de um produto e/ou

serviço na área de alimentos e bebidas (BRASIL, 1993). As BPFs, tratam-se então

de um programa utilizado para monitorar processos e condições operacionais

para nortear a manipulação de alimentos inócuos, e abrange procedimentos

relacionados à instalações e sua utilização, recepção e armazenamento de

mercadorias, manutenção de equipamentos, treinamento e higiene de

237
manipuladores, limpeza e desinfecção, controle de pragas e vetores, e

devolução de produtos (CRUZ, CENCI e MAIA, 2006).

A Portaria da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde –

SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997, abrange o regulamento técnico sobre as

condições higiênico-sanitárias e de boas práticas de fabricação para

estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos destinados a

consumo humano (BRASIL, 1997a).

A Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n° 275/2002 foi desenvolvida

com finalidade de atualizar a legislação geral, introduzindo o controle contínuo

das BPF e os procedimentos operacionais padronizados (POPs), além de

incentivar a harmonização das ações de inspeção sanitária por meio de

instrumento genérico de verificação das BPF, neste sentido esta resolução

aprovou Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados


aplicados aos Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos e a Lista

de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos

Produtores/Industrializadores de Alimentos (BRASIL, 2002).

A RDC nº 216/2004 estipulou os procedimentos de Boas Práticas para

serviços de alimentação, com finalidade de garantir as condições higiênico-

sanitárias do alimento preparado, porém ela foi alterada e atualizada para RDC nº

52/2014 (BRASIL, 2004a; 2014a). Alguns atos relacionados também fazem parte da

nova agenda regulatória de 2017/2020, a RDC nº 10/2014, dispõe sobre os critérios

para a categorização dos serviços de alimentação, a RDC nº 43/2015 sobre

prestação de serviços de alimentação em eventos de massa, e a RDC nº 49/2013,

dispõe sobre a regularização para o exercício de atividade de interesse sanitário

do microempreendedor individual, do empreendimento familiar rural e do

empreendimento econômico solidário (BRASIL, 2013b; 2014b; 2015b).

A RDC nº 218/2005 estipula procedimentos higiênico-sanitários para o

preparo, acondicionamento, armazenamento, transporte, distribuição e

238
comercialização de alimentos e bebidas preparadas com vegetais, a fim de

prevenir doenças de origem alimentar. Impõe às unidades de comercialização

de alimentos e aos serviços de alimentação que manipulem alimentos e bebidas

preparados com vegetais, tais como lanchonetes, quiosques, barracas,

ambulantes e similares (BRASIL, 2005).

A seguir está apresentada uma tabela com algumas das legislações

importantes no setor de produção de alimentos, entretanto, é importante

salientar que no site da ANVISA1 é possível verificar as demais legislações que

norteiam a produção de alimentos no Brasil, tanto na indústria como também

nas unidades de alimentação e nutrição. Vale ressaltar que no site do Ministério

da Agricultura Pecuária e Abastecimento também é possível fazer busca sobre

legislação de alimentos2.

1
http://antigo.anvisa.gov.br/legislacao#/
2
http://sistemasweb.agricultura.gov.br//sislegis/loginAction.do?method=exibirTela
239
Tabela 10: Legislações e guias de interesse no setor de alimentos no Brasil
Legislação/Guia Assunto
Lei nº 9.782/1999 Definindo o Sistema Nacional de Vigilância sanitária.
Decreto-Lei nº
Instaura normas básicas sobre alimentos.
986/1969
Procedimento de petições submetidas à análise pelos setores técnicos da
*RDC 23/2015
Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA.
*RES 17/1999 Avaliação de risco e segurança dos alimentos.
Guia nº 23, versão 1, Guia para Comprovação da Segurança de Alimentos e Ingredientes.
2019
*RES 18/1999 Análise e comprovação de propriedades funcionais e ou de saúde alegadas
em rotulagem de alimentos.
*RDC 241/2018 Requisitos para comprovação da segurança e dos benefícios à saúde dos
probióticos para uso em alimentos.
Guia nº 21, versão 1, Guia para Instrução Processual de Petição de Avaliação de Probióticos para
2019 Uso em Alimentos.
Portaria nº Regulamento técnico para inspeção sanitária de alimentos.
1.428/1993
*RDC 275/2002 Regulamento técnico de procedimentos operacionais padronizados
aplicados aos estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos
e a lista de verificação das *BPF em estabelecimentos
produtores/industrializadores de alimentos.
*RDC 49/2013 Dispõe sobre a regularização para o exercício de atividade de interesse
sanitário do microempreendedor individual, do empreendimento familiar
rural e do empreendimento econômico solidário.
*IN 2/2015 Dispõe sobre os produtos para saúde, produtos de higiene, cosméticos e/ou
alimentos cuja fabricação em instalações e equipamentos pode ser
compartilhada com medicamentos de uso humano, obedecendo aos
requerimentos da legislação sanitária vigente, independente de autorização
prévia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Portaria *SVS/MS Regulamento técnico sobre as condições higiênico-sanitárias e de BPF* para
326/1997 estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos.
Portaria *MAA Regulamento técnico sobre as condições higiênico-sanitárias e de BPF* para
368/1997 estabelecimentos elaboradores/industrializadores de alimentos.
*RDC 352/2002 BPF* para estabelecimentos produtores/industrializadores de frutas e ou
hortaliças em conserva.
*RDC 172/2003 BPF* para estabelecimentos industrializadores de amendoins processados e
derivados.
*RDC 218/2005 Procedimentos higiênico-sanitários para manipulação de alimentos e
bebidas preparados com vegetais.
*RDC 52/2014 Boas Práticas de Fabricação para Serviços de Alimentação.
*RDC 10/2014 Critérios que categorizam os Serviços de Alimentação.
*RDC 43/2015 Eventos em massa- prestação de Serviços de Alimentação.
Atividade de interesse sanitário do microempreendedor individual, do
*RDC 49/2013 empreendimento familiar rural e do empreendimento econômico solidário e
dá outras providências.
*BPF: Boas Práticas de Fabricação; RDC: Resolução da Diretoria Colegiada; IN: Instrução Normativa;
SVS/MS: Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde; MAA: Ministério da Agricultura e do
Abastecimento.

240
PRODUÇÃO DE ALIMENTOS EM OUTROS PAÍSES:
REGULAMENTAÇÃO

O Brasil exporta alimentos para países da União Europeia (EU), Estados

Unidos da América (EUA), China e muitos outros, por isso serão abordadas a

seguir algumas das leis vigentes desses países sobre produção de alimentos.

Em relação aos EUA em 1958, o FDA (do inglês: Food and Drug

Administration) recebeu autoridade específica para regular substâncias químicas


adicionadas aos alimentos, alterações de um ano ao estatuto de alimentos e

medicamentos. Com exceções limitadas, essas permaneceram inalterados. A mais

importante atualização para eles veio em 1996, quando o Congresso promulgou a

Lei de Proteção à Qualidade dos Alimentos. Este ato deu à Agência de Proteção

Ambiental responsabilidades atualizadas e fortalecidas para estabelecer níveis

máximos admissíveis de pesticidas em alimentos, chamados “tolerâncias aos

pesticidas”. Estes níveis são aplicados pelo FDA (OLSON, 2011).

A Lei de Modernização da Segurança de Alimentos (do inglês: Food Safety

Modernization Act - FSMA) é uma lei do órgão FDA assinada pelo Presidente dos
Estados Unidos, Barack Obama, em 04 de janeiro de 2011. O FSMA se encarregou

de novas responsabilidades para evitar que alimentos adulterados entrassem no

comércio em primeiro lugar. O FSMA exigiu o estabelecimento de medidas

preventivas, tais como análise obrigatória de perigos e controles preventivos para

instalações de produção de alimentos, padrões para alimentos sanitários

transporte, normas para evitar a contaminação intencional de alimentos e padrões

para segurança do produto (YANG, 2016). Portanto, de acordo com a FDA-2011-

0920 toda indústria é obrigada a se registrar e seguir as Boas Práticas de

Fabricação nos Estados Unidos, de forma que as instalações de alimentos tenham

um plano de segurança alimentar que inclua uma análise de perigos e controles

preventivos baseados em riscos para minimizar ou evitar os riscos identificados.

241
Embora todas as regras descritas sejam claras e explícitas nos Estados

Unidos a relatos de mais de 38 milhões de casos de doença gastrointestinal

causada por agentes etiológicos não especificados por ano. As maiorias desses

surtos estão associados aos alimentos importados (ABDEL-RAHMAN et al., 2011).

Na União Europeia – UE as normas regulamentadoras na produção de

alimentos são descritas pelo Conselho da União Europeia (do inglês: European

Council – CEE), todas as medidas da UE são guiadas pelos princípios gerais


alimentares da Lei descrita na Regulamentação Geral da Alimentação (do inglês:

General Regulation of Food – CE) 178/2002 ela abrange todas as fases da


produção, processamento e distribuição de alimentos e ração animal. Na

Inglaterra o Governo Britânico estabeleceu a Agência de Normas Alimentares

(do inglês: Food Standards Agency - FSA) em 2001, reunindo várias agências

existentes, para promover padrões da cadeia alimentar e aconselhar o Governo.

A UE possui um dos padrões mais altos segurança alimentar quando se

trata principalmente importações de alimentos. A UE passou por uma crise de

segurança alimentar e por isso decidiu prevenir qualquer problema relacionado às

doenças transmitidas por alimentos ao invés de tratá-las (LANG, 2019). De acordo

com a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) Regulamento

(CE) no 178/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 28 de janeiro de 2002,

que determina os princípios e normas gerais da legislação alimentar e estabelece

procedimentos em matéria de segurança dos géneros alimentícios (UNIÃO

EUROPEIA – UE, 2002).

A EFSA determina que: os gêneros alimentícios que sejam prejudiciais para

a saúde ou impróprios para consumo não deverão ser colocados no mercado,

sendo que os seguintes fatores devem ser considerados: A legislação alimentar se

aplica a todas as fases da cadeia alimentar, desde a produção, transformação,

transporte e distribuição ao fornecimento (UNIÃO EUROPEIA – UE, 2002).

242
A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos presta apoio

científico e técnico à Comissão Europeia e aos países da UE em todas as áreas

que têm impacto na segurança alimentar, e é igualmente responsável por

coordenar as avaliações dos riscos, identificar riscos emergentes e fornecer

aconselhamento sobre gestão de crises. O sistema de alerta rápido (RASFF), que

envolve todos os países da UE, a Comissão e a Autoridade, prevê a partilha de

informações sobre: medidas para limitar a circulação de gêneros alimentícios,

ou a sua retirada do mercado; ações tomadas para controlar a utilização de

gêneros alimentícios; a rejeição de um lote de gêneros alimentícios importados

(UNIÃO EUROPEIA – UE, 2002).

Juntamente com a Autoridade e os países da UE, a Comissão deve elaborar

um plano geral de gestão de crises para contemplar situações em que as medidas

de emergência regulares sejam insuficientes. Sempre que tal caso seja identificado,

a Comissão deve criar imediatamente uma unidade de crise para identificar as

possibilidades existentes de proteger a saúde humana. A UE pretende também

proteger os consumidores contra práticas fraudulentas ou enganosas no comércio

alimentar, como a adulteração de géneros alimentícios, e fornece uma base para

os consumidores tomarem decisões informadas sobre os gêneros alimentícios

(UNIÃO EUROPEIA – UE, 2002).

De acordo com o site oficial de Noções básicas sobre a lei de segurança

alimentar da China (do inglês: Understanding China’s Food Safety Law – USCBC),

o sistema centralizado agora é explicitamente fornecido sob a nova lei e os

produtores de alimentos devem manter um sistema de registro para registrar

o fornecimento e o exame de ingredientes alimentares, aditivos alimentares e

produtos relacionados. Esse registro deve ser mantido por um período de seis

meses após a data de vencimento dos produtos alimentícios relevantes ou dois

anos se a data de vencimento não for especificada. Os importadores e agentes

importadores de alimentos devem ser registrados na Administração Geral de

243
Supervisão, Inspeção e Quarentena da Qualidade (do inglês: Quality

Supervision, Inspection and Quarantine – AQSIQ). Fabricantes de produtos


alimentícios importados também devem ser registrados no AQSIQ.

A Administração de Medicamentos e Alimentos da China (CFDA) em 2013

foi nomeada como a agência sucessora a Administração Estatal de Alimentos e

Medicamentos (SFDA). A nova lei possui penalidades aos produtores e funcionários

de alimentos que não respondem adequadamente às preocupações de segurança

alimentar, possuem responsabilidades os fabricantes de alimentos - e não os

distribuidores ou varejistas de alimentos estes serão considerados os principais

responsáveis. Os funcionários que não responderem a emergências de segurança

alimentar e/ou participarem de encobrimentos de segurança alimentar podem ser

rebaixados ou demitidos.

As estratégias dos EUA, EU e China procuram priorizar a segurança dos

alimentos desde o recebimento do produto até o consumidor final e o Brasil,

como país exportador de alimentos deve estimular que os responsáveis pela

produção de alimentos no país conheçam as legislações dos outros países a fim

de facilitar esta exportação.

ESTUDOS QUE AVALIARAM BOAS PRÁTICAS


DE FABRICAÇÃO E CONTROLE DE QUALIDADE NA PRODUÇÃO
E MANIPULAÇÃO DE ALIMENTOS

Para que o alimento esteja seguro ao consumo do ponto de vista

microbiológico, a indústria de alimentos exige controle rigoroso em todas as

etapas de todo o processo, desde a aquisição da matéria prima até o produto

acabado que chega para o consumidor final (SIQUEIRA et al., 2008). Adiante

serão apresentados alguns estudos em que foram avaliadas situações que

apresentam pontos críticos de controle e veículos de contaminação no

processamento de alimentos.

244
De acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS (2019) mais de 60%

das doenças transmitidas por alimentos (DTA) são decorrentes de técnicas

inadequadas de produção e processamento, falta de higiene na estrutura física,

utensílios e equipamentos, e pelo descuido higiênico-sanitário dos manipuladores.

Em outro estudo realizado na Colômbia, por Serna, Guarnizo e

Valencia (2012), onde foi avaliado fatores de risco para adquirir DTAs em uma

escola e quatro estabelecimentos de comida, os principais fatores e risco

identificados foram a falta de documentos padronizados para limpeza e

desinfecção, infraestrutura em desacordo com a legislação e os padrões de

qualidade, deficiência em programas de controle de pragas, ausência de

programas de resíduos sólidos e o eminente risco de contrair uma DTA pela

falta de higiene.

Visto que a qualidade não é uma preocupação recente, é necessário a

implantação, manutenção e avaliação de sistemas que assegurem a qualidade

do processo e do produto final, o que implica no acompanhamento das

diferentes etapas e processos da produção (PAULA, ALVES e NANTES, 2017).

O estudo de Sorlini et al. (2017) avaliou o controle higienicossanitário na

produção de alimentos em Unidade de Alimentação e Nutrição Hospitalar

(UANH) de forma a verificar o nível de conformidades frente à legislação. Uma

das complicações para a efetividade do BPF dentro de qualquer unidade está

diretamente relacionada à infraestrutura, mesmo havendo o controle

higiênicos-sanitário nos locais e alguns pontos críticos frequentes são as falhas

pontuais na adoção e controle do BPF.

Contudo uma Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) de hotelaria no

centro de São Paulo foi avaliada e apresentou valores de não conformidade,

porém satisfatório às normas regulamentadoras classificada como segura.

Embora considerado segura, os autores sugerem algumas alterações como

manutenção da estrutura física, adequação das práticas de higiene, do

245
armazenamento de matéria-prima e dos alimentos avariados, como a maioria

das UAN’s precisando de manutenção estrutural (LOPES et al., 2016).

Tobias, Ponsano e Pinto (2014), avaliaram os possíveis contaminantes na

cadeia produtiva de processamento de leite pasteurizado tipo A e detectaram que

de 172 itens avaliados, 95 foram considerados não conforme e que os itens

“Manipuladores”, “Edificações e Instalações” e “documentação” apresentaram

maiores índices de inconformidades.

Muitas UAN’s foram analisadas, mesmo com pontos críticos registrados,

sendo infraestrutura, algumas práticas dos manipuladores de alimentos e do

armazenamento dos alimentos levando a um alto risco higiênicos-sanitário elas

estão dentro da Norma Regulamentadora. Então para que setores de produção

de alimentos ofereçam serviços de qualidade é necessária uma infraestrutura

melhor antes de iniciar qualquer produção além de proporcionar melhores

condições de trabalho aos manipuladores, muitos dos cargos vinculados a UAN

são mal remunerados, então uma melhora de salário também resultaria em

resultados positivos uma vez que a insatisfação leva a um não

comprometimento com o serviço prestado (VIEIRA et al., 2016).

Lacerda et al. (2018) afirmam que a garantia para obtenção de um

alimento seguro está diretamente relacionada a recursos humanos treinados e

qualificados. Os manipuladores influenciam diretamente na higiene e qualidade

da alimentação e para que isso ocorra em eficiência no trabalho realizado são

necessários treinamentos contínuos para os manipuladores, para não ser

esquecida as informações e nem perdidas. Para que a informação não seja

perdida ou esquecida é de suma importância à fiscalização rigorosa da

qualidade do trabalho realizado.

Lacerda et al. (2018) e Bastos et al. (2018) têm como foco para a aplicação

adequada do BPF o bom treinamento dos manipuladores focando na

higienização dos utensílios, equipamentos e a higienização das mãos. Sugerindo

246
dentro da fiscalização não somente do técnico responsável, mas também a

vigilância sanitária e os demais órgãos responsáveis de fiscalização, obtendo

assim um produto com segurança higiênico-sanitário e de qualidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nota-se que apesar da disponibilidade de Resoluções e programas que

norteiam e auxiliam a indústria de alimentos e também as unidades de

alimentação e nutrição para que estas mantenham padrões de qualidade, ainda

existem falhas que podem resultar em danos à saúde do consumidor.

Diante da necessidade de assegurar uma prática segura na produção de

alimentos, embasada em evidências científicas e pesquisas de campo,

evidencia-se que há uma necessidade de maiores investimentos em

infraestrutura e fiscalização por parte de órgãos governamentais a fim de

garantir um produto final de qualidade e maior segurança.

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