Revista-Tecnica-IBAPE-RS-2024 Excelente Cana

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Palavra da Mensagem
Presidente CREA-RS
Estamos entrando no segundo ano de Não é nenhum exagero afirmar que a engenharia
gestão do IBAPE RS, e durante esses é uma ciência onipresente. Movida pela incessante
meses em que eu tive o privilégio de busca por soluções criativas e eficientes, ela tem im-
estar a frente do instituto, posso afir- pulsionado o avanço tecnológico em todas as áreas.
mar que ganhei mais do que qualquer Desde o ambiente rural até o urbano com seus arra-
outro associado, pois meu aprendizado nha-céus que tocam as nuvens das cidades. No en-
foi muito grande. Presidir um instituto tanto, atrás dessas estruturas, onde a verticalização
com tantos anos de formação e com tan- é uma tendência, reside um aspecto muitas vezes
tos profissionais renomados associa- negligenciado: a importância da perícia e da inspe-
dos, me fez conhecer mais das pessoas, ção predial para a segurança pública.
ter mais contato com os conselhos de Tanto a perícia quanto a inspeção predial visam ga-
classe, saber mais das necessidades dos rantir que as edificações estejam em conformidade
profissionais das áreas das avaliações com as normas técnicas e o retrospecto é animador.
e das perícias e assim, poder trabalhar Dados recentes apontam que o número de ocorrên-
para ter um IBAPE RS cada vez melhor. cias relacionadas a problemas estruturais reduziu
Além disso, carrego sempre o orgulho em prédios que passaram por inspeções regulares.
de ser associada do IBAPE RS e fazer Além disso, a inovação está acompanhando este
parte dessa família. A troca de experi- panorama. A adoção de drones, sensores remotos,
ências com os colegas de profissão é realidade aumentada e outras ferramentas está pro-
sempre muito valiosa, isso sem contar porcionando uma coleta de dados mais precisa e
os momentos de reuniões quando nos eficiente, facilitando a análise minuciosa das condi-
encontramos com os IBAPEs dos outros ções das estruturas.
estados em congressos e seminários, Nesse contexto, o CREA-RS trabalha em parceria
sempre gratificante. com o IBAPE-RS para estabelecer padrões e diretri-
No ano de 2023 tivemos o grande de- zes que norteiam a prática da engenharia, promo-
safio de lançar a primeira revista téc- vendo a qualidade e a segurança das construções,
nica. Acompanhada desta publicação, além de capacitar e certificar profissionais especia-
fizemos dois grandes eventos que con- lizados em perícias prediais, garantindo a excelên-
tribuíram para o desenvolvimento do cia e ética na prestação desses serviços.
conhecimento da nossa área de atuação Em 2022, nossa gestão efetivou um dos primeiros
– o I Simpósio de Inspeção Predial, e o movimentos. Apenas 13 das 497 cidades gaúchas
III Seminário Nacional Agro Ambiental. possuíam uma Lei de Inspeção Predial. No entanto,
Ambos ocorridos em Porto Alegre e com desde o início, nossa meta era expandir essa atua-
a participação de colegas e profissionais ção. Por isso, em março de 2023, firmamos um acor-
de todo o país. do inédito com a Federação das Associações de Mu-
Para este ano de 2024 seguimos com o nicípios do RS (Famurs). Em 2024, renovamos esse
desafio de lançar a Revista Técnica na compromisso, com o mesmo empenho em promo-
sua 2ª edição, e assim, criarmos a cul- ver a implementação da legislação que regulamenta
tura de termos anualmente publicações as inspeções preventivas e corretivas de edificações.
técnicas de qualidade, sempre com o in- Reconhecemos os desafios que enfrentamos e en-
tuito de difundir a engenharia legal e de tendemos que esta implementação requer não ape-
avaliações. nas recursos financeiros, mas também um esforço
Agradeço aos colaboradores que ora coordenado entre autoridades governamentais, pro-
têm seus artigos publicados. Agradeço fissionais da construção civil e comunidades locais.
aos nossos patrocinadores que acredi- Por isso, seguiremos comprometidos em fornecer o
tam e valorizam as nossas profissões e suporte necessário para superar esses obstáculos e
tornam esse projeto realidade. garantir que a segurança das edificações seja uma
Grande abraço e ótima leitura! prioridade em todas as esferas da sociedade.

Eng. Amb. Nanci Walter


Eng. Civil Esp. Patrícia Bertotto Presidente do CREA RS
Presidente do IBAPE RS (2023-2024)

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Mensagem Mensagem
do CAU da MÚTUA
Na pessoa da presidente Engenheira Civil Patrí- A MÚTUA, Caixa de Assistência dos Profissionais do
cia Bertotto, saudamos mais esta edição da re- sistema Confea/Crea, é uma sociedade civil sem fins
vista do IBAPE. lucrativos criada pelo Conselho Federal de Engenha-
ria e Agronomia (Confea), pela Lei 6.496 de 7 de de-
O CAU/RS está no seu 12º ano de efetivo funcio- zembro de 1977.
namento, esta é a quinta gestão, e tenho a honra
de ser a primeira mulher a desempenhar o cargo Um dos objetivos da MÚTUA é oferecer a seus asso-
de presidente. Como é sabido, temos como dever ciados planos de benefícios sociais, previdenciários
a fiscalização profissional, mas também temos, e assistenciais, apoiando os profissionais. Nossa ins-
como Autarquia Federal, a responsabilidade de tituição tem como missão atuar como entidade as-
atuar em defesa do interesse público em geral. sistencial do Sistema Confea/Crea/Mútua, prestan-
do serviços, oferecendo benefícios e desenvolvendo
O IBAPE representa uma atividade profissional ações que propiciem melhor qualidade de vida aos
de fundamental interesse público. Perícias, es- mutualistas.
pecialmente as judiciais, são a forma de mostrar
aos envolvidos o real valor de suas demandas, Uma das atividades da MÚTUA é o oferecimento de
informação essencial para a proteção de seus assistência financeira por meio de linhas de crédito
interesses e para a solução de conflitos daí de- exclusivas para os profissionais, em diversas moda-
correntes. lidades. Tais ações permitem que os profissionais te-
nham acesso a recursos para investir em suas carrei-
A qualificação da atividade pericial é fundamen- ras, adquirir equipamentos especializados ou com
tal, e tanto CAU/RS quanto IBAPE precisam atuar utilidade para a promoção de sua profissão, financiar
nesse sentido. É necessário combater a vulgari- projetos ou aprimoramentos técnicos, sem burocra-
zação da atividade do perito, em todos os níveis. cia e com condições especiais para os mutualistas.
Dois prédios de mesmo tamanho e na mesma
situação geográfica podem ter um padrão cons- Além disto, a MÚTUA fomenta ações de capacitação
trutivo melhor ou pior, uma perspectiva de vida e aperfeiçoamento profissional, tanto no âmbito de
útil maior ou menor, e isso necessita estar pre- profissionais como das Entidades de Classe por meio
sente numa avalição que possa ser chamada por do Programa “Divulga MÚTUA”. Este programa tam-
esse nome. bém auxilia Entidades de Classe ainda sem registro
no Confea/Crea a desenvolverem ações e promove-
Somente o perito avaliador pode dar seguran- rem o bem coletivo.
ça efetiva às transações que envolvem imóveis,
pois é o seu olhar técnico que permite verificar A MÚTUA é uma importante aliada dos profissionais
se um imóvel realmente vale o valor que lhe é do sistema que atuam na área de avaliação e perícias,
atribuído, que a qualidade da construção é pro- oferecendo benefícios que variam desde o apoio fi-
porcional ao valor e que tem como corresponder nanceiro para capacitações, passando por planos de
à garantia que é exigida por lei. saúde e previdência privada. Essas atividades em
parceria com o IBAPE RS e seus associados
Aproveitamos o espaço para colocar o CAUR/RS
à disposição para tratar não apenas os proble- contribuem para o desenvolvimento contínuo dos
mas em comum, mas também para propor alter- profissionais, mantendo-os atualizados em relação
nativas criativas e inovadoras para os profissio- às melhores práticas, novas tecnologias e tendências
nais que agregamos. de mercado.

Propomos de início uma ação conjunta, na área Ao associar-se à MÚTUA, os profissionais recebem
judicial, para associar RESPONSABILIDADE aporte imediato no plano de previdência privada e
TÉCNICA e INTERESSE PÚBLICO no trato desta acesso aos benefícios disponíveis que sejam livres de
matéria. Uma ação institucional junto aos tribu- carência. Também ganham acesso às salas e auditó-
nais pode ser um bom primeiro passo. Tenham rio da sede da MÚTUA, localizada na Rua Dom Pedro
no CAU/RS um aliado! II, 864, Porto Alegre.

Arq. Andréa Hamilton Ilha Eng. Agr. Andrea Brondani da Rocha


Presidente do CAU RS MÚTUA RS | Caixa de Assistência dos
Profissionais do Sistema CONFEA/CREA

4 Revista Técnica IBAPE RS


SUMÁRIO
06 Inspeção estrutural, anamnese do acidente na obra
Autor Marcelo Suarez Saldanha

11 Perícias judiciais de irregularidades na medição de energia elétrica


Autor Jéferson Matheus de Oliveira

15 Procedimentos técnicos de inspeção em sistemas segurança contra incêndio


Autora Fernanda Pinheiro

19 Avaliação de intangíveis Apóstolos Paulo e Silas - Guache sobre cartão


Vicente do Rego Monteiro
Autor Radegaz Nasser Junior

26 Testes comparativos entre programas estatísticos para avaliações de imóveis


Autora Iarema Alcalde Brasil Biguelini

32 A inspeção em obras afetadas por inundações


Autores Patrícia Bertotto, Adriana Roxo Nunes Oliveira, Emília de Oliveira,
Alfredo Kuhn Pfeifer e Felipe Herrmann

39 Estudo da Capacidade de Geração de Renda (ECGR) com


Ecoturismo Rural de Aventura
Autor Henrique Seleme Lauar

50 Fundo de comércio agrícola, capital incorpóreo - uma nova ótica avaliatória


Autor Carlos A. Arantes

59 Importância da investigação de áreas contaminadas e suas etapas


Autora Amanda Votto Klafke

64 Registro de imóveis para engenheiros


Autor Péricles Alves Pinto

68 Entrevista
Com Fernando Petersen Junior
ARTIGO TÉCNICO

INSPEÇÃO ESTRUTURAL, ANAMNESE DO


ACIDENTE NA OBRA

PALAVRAS-CHAVE AUTOR
Engenharia Legal, Marcelo Suarez Saldanha
Inspeção Estrutural Engenheiro Civil
Porto Alegre/RS
1. ANAMNESE DO ACIDENTE: [email protected]

A anamnese do acidente na obra de engenha-


ria parte da descrição do local início da ruptura
investigação minuciosa permite, ainda, revelar
responsabilidades e apontar as consequências da
da estrutura de concreto armado, correspondente
ocorrência de acidente na obra.
à área onde estava sendo retirada as escoras das
marquises de uma edificação ao nível do segundo
pavimento, quando ocorreu o desabamento cau- 3. SINISTRO DE MARQUISE:
sando a morte de dois operários.
O estudo de caso é sinistro de marquise em con-
A engenharia legal é a arte de investigar os fatos creto armado é parte integrante do sistema estru-
ao conhecimento da verdade, através da deter- tural, projetada em balanço e apoiada nas extre-
minação da análise do fato, a origem sua causa midades por vigas de concreto, sendo constituída
e mecanismo de ação de um fato. A etapa inicial por uma laje maciça retangular com resistência
começa pela anamnese, configurada na coleta de de 20 Mpa, com 10 cm de espessura, largura de
dados e obtenção de informações sobre o histórico 2,00 m, e 7,90 m de comprimento, apoiada em
da execução da obra, desde os projetos executivos uma viga de contorno em sua borda perimetral,
a ocorrências de anomalias, vícios ou defeitos de vigas laterais (A e B): seção [40x30]cm x 2,00 m e
construção que configurem uma ameaça poten- viga de bordo (frontal C): seção [10x30]cm x 7,90
cial à segurança, decorrentes de falhas no proje- m e viga no bordo posterior (D): [20x135]cm.
to ou na execução de um produto ou serviço, ou,
ainda, de informação incorreta ou inadequada de
implantação do empreendimento em construção.

2. DIAGNÓSTICO ESTRUTURAL:
O diagnóstico do quadro patológico estrutural está Detalhamento
condicionado à abrangência das investigações, à do Projeto
Estrutural
confiabilidade e adequação das informações obti-
Viga de
das, à qualidade das análises técnicas efetuadas e Contorno
ao menor grau de subjetividade inserida nos tra-
balhos, configurando esta etapa como inspeção da
obra.

O inspetor estrutural, com suas competências,


desenvolve um processo investigativo que permi-
ta analisar a existência ou inexistência de possí-
veis nexos causais. A fundamentação técnica deve
atender os requisitos de certificação para inspe-
ção de estruturas ABNT NBR 16.230/13 que con-
siste numa análise de eventos ocorridos e a cons-
tatação de eventos ou evidências de fatos, com
Vistas da Marquise
os elementos que os constituem descritos minu- Sinistrada
ciosamente, para o estudo da causalidade. Essa Vigas Laterais A e B

6 Revista Técnica IBAPE RS


3. ANÁLISE DA ESTRUTURA:
Vistas da
Marquise
3.1. Circunstâncias dos Vestígios e Indícios:
Sinistrada A marquise sofreu uma rotação com centro de giro no encontro
Armaduras e
das faces inferiores das vigas A e B com a Viga D; Com a rotação,
Ancoragem
ficaram aparentes as ferragens (negativas) responsáveis pelo
engaste (ancoragem) e sustentação da laje de concreto armado,
com armadura de 5 barras superiores e 3 barras inferiores de
10mm de diâmetro;

A concretagem foi realizada com concreto usinado fornecido,


sendo que a retirada completa do escoramento se deu com
doze dias de cura, sendo que as resistências do concreto foram
comprovadas pelo corpo de provas ensaiado em laboratório.

Resultados dos ensaios de resistência a compressão


Identificação Rompimento Diâmetro Fator de
Idade Altura F Tensão de
Médio h/d Correção
Data Data (dias) (mm) (MPa) Ruptura
Lab. Obra Estrutura (mm) NBR 7680
Moldagem Ensaio
2295 1 viga 04/03/10 22/03/10 18 103,90 188,16 1,81 0,960 20 19,01
2296 2 laje 04/03/10 22/03/10 18 104,09 135,13 1,30 0,900 20 16,32
Fonte: Laboratório

Resultado dos Ensaios


Número do C.P. Idade Abatimento (mm) Resistência fc (MPa)
001585 7 90.00 15.60
001586 13 90.00 17.90
Fonte: Laboratório

Das análises efetuadas, foi considerado, prelimi- mado, constituída por uma laje maciça retangular
narmente, o que segue: com 10 cm de espessura, com balanço projetado
para frente, sobre o passeio, e apoiada nas extre-
• Descontinuidade do concreto da viga D (en- midades por vigas de concreto, perfazendo o con-
gaste), apresentando falta de estabilidade da torno de toda a sua borda perimetral.
armadura longitudinal;
• A retirada do escoramento no extremo livre A marquise sinistrada mede 7,90m de compri-
(borda) transformou os apoios em engastes mento, com uma largura de 2,00m sobre o passeio,
livres de forma abrupta, causando o pico do sendo sustentada pelas vigas laterais A (V104) e
carregamento; B (V119), e ancoragem na viga de engaste D (V91)
• A ancoragem negativa entrou em solicitação que se apoiava nos pilares (P58) e (P60).
de carga antes da idade de atingir a resistência
de carga do concreto;
• O comprimento de ancoragem das barras in-
termediárias da armadura superior das vigas
laterais A e B era insuficiente para a aderência
do concreto no momento da retirada do esco-
ramento;
Vista da Seção da Viga de Contorno

3.2. Levantamento do Projeto Características construtivas:


Estrutural:
• Laje de Concreto: 2,00m x 7,90m x 0,10m;
O projeto estrutural das marquises do empreen- • Vigas Laterais (A e B): seção [40x30]cm x
dimento, previa seis marquises em concreto ar- 2,00m;

Artigo Técnico 2ª Edição 7


• Viga de Bordo (Frontal C): seção [10x30]cm x
7,90m; O modelo analisado conclui que a queda
• Viga no Bordo Posterior (D): [20x135]cm; da marquise do edifício foi devido ao fato
• Resistência do Concreto: 20 MPa das armaduras negativas prescritas para
as vigas V104 e V119 no projeto estrutural
estarem defasadas na quantidade necessá-
Planta de ria, somado pelo fato de sua ancoragem ser
ferragens e insuficiente. Quanto a descontinuidade da
fôrmas viga V91, afirma que ela não tem nenhuma
Vigas e laje influência sobre a queda da marquise, uma
da marquise vez que os esforços recebidos no trecho si-
(com data)
nistrado não se alteraram.

Planta de
ferragens
Laje da 5. INSPEÇÃO ESTRUTURAL:
marquise
(sem data) Da inspeção estrutural, informações técnicas da
marquise sinistrada, análise de documentos e re-
gistros fotográficos e entrevistas realizadas junto
aos engenheiros civis, projetista, calculista e res-
Planta de ponsável técnico pela execução da obra, consta-
ferragens
tamos que os responsáveis técnicos da obra não
Laje da
fizeram a conferência das ferragens e fôrmas da
marquise
(sem data) marquise.

Referência: Projeto Estrutural, Vigas e Lajes. 5.1. Concretagem:


A marquise sinistrada foi concretada no dia
4. REVISÃO DO PROJETO 04/03/201 com concreto usinado fornecido pela
ESTRUTURAL: concreteira, verificamos, através da descontinui-
dade do concreto da viga D (V91 engaste), que as
Para proceder a verificação das estruturas, foram lajes L152 e L149 contíguas à marquise sinistrada
solicitadas todas as plantas elaboradas pelo calcu- e parte da V91, já se encontravam concretadas. Os
lista para conferência de conformidade dos cálcu- corpos de provas da concretagem da marquise si-
los estruturais, sendo o projeto estrutural da obra nistrada foram submetidos a ensaios durante 18
sinistrada revisado a partir da descrição da obra e dias e apresentaram resistências de 16,32 MPa e
serviços do sistema estrutural de concreto armado 19,01MPa, cujas resistências do concreto foram
e do projeto arquitetônico da área construída, que comprovadas em laboratório.
consiste nas pranchas dos pavimentos de subsolo,
térreo e 1º pavimento, totalizando 3.641,82m2, e
do projeto de reconstrução de 6 marquises do 1º
Vista da descontinuidade
pavimento. do concreto da viga D

4.1. Modelo Estrutural Analisado:


Realizada a revisão do projeto estrutural, foi emi-
Nota Explicativa: quando o lançamento do con-
tido um Laudo de Estabilidade Estrutural, com a
creto for interrompido, se forma uma junta de
fundamentação teórica de que o modelo estrutu-
concretagem não prevista, configurando uma li-
ral da marquise foi concebido de uma laje de qua-
gação do concreto já endurecido com o do novo
tro apoios, vigas V104, V119, V93 e V91. As vigas
V104 e V119 foram engastadas na viga V91 dis- trecho concretado.
tantes entre eixos 7,57m, a viga V93 foi considera-
da como simplesmente apoiada nas vigas V104 e 5.2. Desforma:
V119. A viga V91 foi considerada como viga contí-
nua apoiada nos pilares P58 e P60. Neste modelo O escoramento foi retirado no dia 16/03/2010,
não foi contemplado a armadura negativa da laje com doze dias de cura, não houve comunicação
da marquise que deveria ser engastada na viga nem autorização da desforma da marquise pelo
V91 ou nas lajes adjacentes. calculista ou projetista.

8 Revista Técnica IBAPE RS


A desforma deve ser realizada de forma criteriosa horas após) até atingirem a resistência para a qual
em estruturas com vãos grandes ou com balanços; foram projetadas (28 dias). A fim de liberarmos a
deve-se pedir ao calculista um programa de des- maioria das peças de cimbramento para o próxi-
forma progressiva, para evitar tensões internas mo uso, posicionamos novas escoras (ou, nos sis-
não previstas no concreto, que podem provocar temas que permitem a desmontagem das outras
fissuras e até trincas. A retirada das fôrmas e do peças sem movimentarmos as escoras, deixamos
escoramento não deverá ser feita antes dos se- parte delas) e depois desmontamos as demais pe-
guintes prazos, evitando-se desformas ou retira- ças para uso na próxima laje.
das de escoras bruscas ou choques fortes:
A retirada da fôrma e do escoramento de uma laje
• faces laterais: 3 dias; e/ou viga e a substituição por um escoramento
• retirada de algumas escoras: 7 dias; reduzido, é prática comum na execução de estru-
• faces inferiores, deixando-se algumas escoras turas de concreto. No escoramento convencional,
bem encunhadas: 14 dias; as escoras do reescoramento geralmente são posi-
• desforma total, exceto as do item abaixo 21 dias cionadas após da retirada (parcial) da fôrma, cuja
• vigas e arcos com vão maior do que 10m: 28 dias; supervisão e cuidado especial são essenciais para
• execução do reescoramento (antes do início evitar que a laje trabalhe sem reescoramento ade-
da desforma); quado.

Os escoramentos e fôrmas não devem ser remo- Notas Explicativas:


vidos, em nenhum caso, até que o concreto tenha a) O concreto convencional, com 14 dias de cura,
adquirido resistência suficiente para suportar a tem algo por volta de 50% da sua resistência, e,
carga imposta ao elemento estrutural nesse está- com 21 dias, chega aos 70% ou 80%.
gio, a fim de evitar deformações que excedam as b) A estrutura de concreto armado não deve ser
tolerâncias especificadas, e resistir a danos à su- submetida à carga prevista antes do tempo de cura
perfície durante a remoção. total do concreto, cujo tempo usual é de 28 dias, e
para submetê-lo a cargas antes da cura total, so-
Fôrmas e escoramentos devem ser removidos de mente com o uso do reescoramento adequado.
acordo com o plano de desforma previamente es-
tabelecido, de maneira a não comprometer a se-
gurança e o desempenho em serviço da estrutura. 5.4. Armaduras:
O balanço da marquise não possuía armadura ne-
Para efetuar sua remoção devem ser considerados
gativa e estava apoiado nas vigas laterais A e B, e
os seguintes aspectos:
o comprimento de ancoragem das barras da arma-
• peso próprio da estrutura ou da parte a ser dura negativa das vigas laterais A e B era insufi-
suportada por um determinado elemento es- ciente para suportar o carregamento de serviço da
trutural; marquise no momento da retirada do escoramento.
• cargas devidas a fôrmas ainda não retiradas
de outros elementos estruturais (pavimentos);
• sobrecargas de execução, como movimenta-
ção de operários e material sobre o elemento
estrutural;
• sequência de retirada das fôrmas e escora-
mentos e a possível permanência de escora-
mentos localizados;
• condições ambientais a que será submetido o
concreto após a retirada das fôrmas e as con-
dições de cura;
• possíveis exigências relativas a tratamentos
superficiais posteriores (impermeabilização)

5.3. Reescoramento:
É prática na desforma de obras de concreto provi-
denciar o reescoramento de lajes, devido a possí-
veis sobrecargas de execução.
Após a concretagem, inicia-se o processo de en-
durecimento do concreto, onde as peças atingem Vistas da falta de armadura negativa e da
a condição de serem autoportantes (em média 72 ancoragem insuficiente da viga lateral

Artigo Técnico 2ª Edição 9


Na armadura negativa em lajes em balanço com ção técnica dos procedimentos de análise adota-
continuidade, as barras devem ser estender na dos, da consulta a bibliografia técnica e normas
laje contígua 1,5 vezes o comprimento do balanço; técnicas NBR 6118, NBR 6120, NBR 12655, NBR
14931, NBR 15696 e NBR 16230 da ABNT, inde-
pendentemente das falhas de detalhamento do
projeto e execução da marquise apoiada em duas
vigas laterais A e B em balanço, podemos concluir
que dos fatores determinantes que contribuíram
para o colapso e ruptura do elemento construtivo
do sistema estrutural, a causa primordial da queda
da marquise, que se deu de forma abrupta quando
entrou em carga de serviço com 12 dias de cura,
com o descimbramento das escoras e fôrmas de
madeira, antes do tempo de cura total do concreto,
agravada pela falta de armadura negativa de laje
em balanço L155 (2,40m x 7,90m) ancorada nas
Figura 1
lajes adjacentes L149 e L152.
Detalhe ilustrativo da laje em balanço

7. Recomendações:
Nas lajes em balanço sem continuidade, a arma-
dura negativa deve ficar ancorada na viga: é o caso Em princípio, o engenheiro civil formado atual-
das pequenas marquises de proteção. Deve-se mente nas universidades brasileiras não possui
destacar a necessidade de dimensionar a viga à capacitação adequada para atuar na área da enge-
torção. nharia legal. Este campo da engenharia civil tem
sido tratado como uma especialidade profissional
na abordagem do ferramental de anamnese, das
análises de projeto e da inspeção estrutural.

Objetivamente, ao realizar uma inspeção ou anali-


sar a ruína de uma estrutura de concreto armado,
recomendamos ao inspetor estrutural fundamen-
Figura 2
te a configuração do nexo de casualidade do sinis-
Detalhe ilustrativo da ancoragem da viga em balanço
tro, realizando a anamnese da origem do evento
a partir da conferência dos projetos, da análise
6. Conclusão do Evento: do modelo estrutural, da montagem de fôrmas e
verificação das armaduras, da técnica de descim-
Das considerações sobre o evento, face a inspeção bramento e reescoramento do elemento em edi-
estrutural realizada na obra e nos escombros da ficação em fase de execução, na produção do ele-
marquise sinistrada, verificação da documenta- mento de prova técnica de engenharia legal.

BIBLIOGRAFIA
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 6118, NBR 6120, NBR 12655, NBR 14931, NBR 15696 e NBR
16230;
ANDRIOLO, Francisco R., Construções de Concreto, Ed. PINI-SP, 1984;
CANOVAS, M. F., Patologia e Terapia do Concreto Armado, Ed. PINI-SP, 1988;
CASCUDO, Oswaldo e CARASEK, Helena, Durabilidade do Concreto, Ed. IBRACON, 2014;
DUETSCH, Simone F., Perícias de Engenharia A apuração dos Fatos, Ed. LEUD, 2016;
GOMIDE Tito L. F., Inspeção Predial Total, Ed. PINI-SP, 2ª Edição, 2014;
HELENE, Paulo R. L. Corrosão em Armaduras para Concreto Armado, Ed. PINI-SP, 1986;
INSTITUTO DE ENGENHARIA-SP, Diretrizes Técnicas de Engenharia Diagnóstica em Edificações, Ed. LEUD-SP, 2016;
ISAIA, Geraldo C. – Concreto: Ciência e Tecnologia, Ed. IBRACON, 2011;
IPT-DIVISÃO DE EDIFICAÇÕES, Tecnologia de Edificações, Ed. Pini-SP, 1988.

10 Revista Técnica IBAPE RS


ARTIGO TÉCNICO

PERÍCIAS JUDICIAIS DE IRREGULARIDADES NA


MEDIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

PALAVRAS-CHAVE AUTOR
Irregularidades na medição, TOI, Jéferson Matheus de Oliveira
medidor de energia, furto de energia Engenheiro Eletricista
São Leopoldo/RS
RESUMO [email protected]

E ste artigo aborda perícias judiciais em casos de


irregularidades no sistema de medição de energia
le), perdas por transformação, etc. As PNT, tam-
bém conhecidas por perdas comerciais, incluem
elétrica, explorando suas implicações econômi- erros de medição e faturamento, furtos de energia
cas, sociais e técnicas. São apresentadas as regu- e fraudes. (ANEEL, 2022a).
lamentações da Agência Nacional de Energia Elé-
trica (ANEEL), exemplos de irregularidades mais A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)
encontradas e são destacados pontos de atenção calcula os valores regulatórios das PNT através de
nas perícias. uma metodologia que compara o desempenho das
distribuidoras, observando critérios de eficiência
INTRODUÇÃO e as características socioeconômicas das áreas de
concessão. (ANEEL, 2022a).
Os sistemas elétricos de potência podem ser divi-
didos em três grandes blocos: geração, transmis- Fraudes e furtos de energia afetam o valor regula-
são e distribuição de energia. (KAGAN; OLIVEIRA; tório considerado na tarifa do consumidor regular,
ROBBA, 2008). ou seja, parte das PNT compõe a tarifa de todos os
consumidores de energia elétrica.
Parte da energia gerada não chega a ser comercia-
lizada devido a perdas técnicas (PT) e perdas não A Figura 1 mostra histórico de perdas não técnicas
técnicas (PNT). As PT ocorrem no transporte de (em baixa tensão – BT) das distribuidoras de 2008 a
energia, devido à transformação de energia elétri- 2022, comparando limites regulatórios de repasse
ca em energia térmica nos condutores (efeito Jou- estabelecidos pela ANEEL com perdas reais.

Figura 1
Perdas Não Técnicas sobre BT
Fonte: ANEEL (2022b)
Regulatória Real

17,0%
16,2% 16,2% 16,2% 16,6%
15,2% 15,3% 15,1%
14,8% 14,7% 14,7% 14,6%
14,7% 14,3% 13,9% 14,0%
13,7% 13,8%
12,7%
11,7%
11,3% 11,2% 10,9%
10,7% 10,7% 10,6% 10,6% 10,8% 10,6% 10,7%

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Segundo Fonseca e Lineu (2012), muitas distri- dem ser repassados às tarifas, são custeadas pelas
buidoras apresentam níveis de perdas acima dos empresas, impactando sua receita operacional.
limites permitidos, ou seja, passíveis de serem
reconhecidos e admitidos na composição das ta- Somente no ano de 2022 a Amazonas Energia teve
rifas. As “sobras de perdas”, cujos valores não po- 69,33 % de perda regulatória e 119,46 % de perda

Artigo Técnico 2ª Edição 11


real. A CEA Equatorial (Amapá) teve 48,83 % re- Irregularidades administrativas comuns incluem
gulatória e 89,67 % real. A Light (RJ) teve perda rompimento de selos ou lacres em caixas ou cubí-
regulatória de 39,89 % e 56,74 %. (ANEEL, 2022b). culos de medição (sem ocorrência de fraude),
fornecimento a terceiros, destruição do medidor
De acordo com Fonseca e Lineu (2012), algumas sem consumo ou ação que possa ser imputada ao
ações, iniciativas e projetos para a redução do ní- consumidor, e autorreligação sem permissão da
vel de perdas não técnicas são: investimento em concessionária e com consumo regularmente me-
capacitação de equipes e em campanhas de co- dido. (MAIA. 2023).
municação e conscientização, incentivos para re-
gularização pelos consumidores, premiação para As irregularidades criminais são as que resultam
gestores e equipes por metas alcançadas, atuali- no uso da energia sem medição e estão tipificadas
zação de medidores, trabalho sociocultural e cam- no Código Penal.
panhas nas comunidades, intensificação das ins-
peções em unidades consumidoras. PRINCIPAIS TIPOS DE
IRREGULARIDADES
IMPLICAÇÕES DAS PERDAS NÃO Segundo Maia (2023), as irregularidades podem
TÉCNICAS (PNT) ser externas ao quadro de medição, no interior do
quadro de medição e exterior ao medidor, e no in-
O problema das perdas de energia elétrica envolve
terior do medidor.
variáveis econômicas, sociais e técnicas, além de
questões relacionadas à configuração e qualida- São exemplos de irregularidades externas ao qua-
de dos sistemas elétricos de cada concessionária dro de medição: desvio de energia através de li-
(FONSECA; REIS, 2012). gação clandestina, desvio de energia do ramal de
ligação ou do ramal de entrada da unidade consu-
De acordo com Rocha (2011), apesar dos esforços
midora, autorreligação sem medidor, neutro iso-
para combater as irregularidades, as concessioná-
lado, dentre outros.
rias enfrentam desafios externos, como a impossi-
bilidade de atuar em áreas de extrema vulnerabili- As irregularidades no interior do quadro de medi-
dade social, onde a violência impede a regularização ção e exteriores ao medidor são: desvio de energia
e fiscalização do fornecimento de energia. do lado linha do medidor para a unidade consu-
midora, desvio através de jumper ou ponte entre
A fraude de energia beneficia constantemente
os bornes do lado linha e o lado carga do medidor,
clientes legalmente cadastrados nas concessioná-
adulteração de medição através de ligação inverti-
rias, e que fazem intervenções de maneira a dificul-
da no medidor, chave de aferição aberta (em me-
tar sua detecção, muitas vezes com o envolvimento
dições indiretas), etc.
de ex-funcionários das empresas e empreiteiras,
ou seja, por pessoas altamente qualificadas. Os No interior do medidor são realizados os seguin-
principais beneficiários geralmente são clientes tes tipos de fraudes: adulteração de medição atra-
com capacidade financeira para quitar suas fa- vés de avaria intencional da bobina de potencial
turas, mas que obtém vantagens competitivas no ou dos transformadores de corrente do medidor,
setor industrial e comercial devido à redução dos adulteração através de seccionamento dos ele-
custos com energia elétrica. (ROCHA, 2011). mentos de medição de tensão ou de corrente do
medidor, utilização de dispositivos para aciona-
mento/desacionamento remoto, inserção de cor-
IRREGULARIDADES NO SISTEMA DE pos estranhos para travamento do disco ou rotor
MEDIÇÃO (medidores eletromecânicos), alteração no torque
de parafusos do mancal e do registrador, desaco-
Irregularidade abrange qualquer alteração no sis-
plamento de engrenagens, alteração de compo-
tema de medição, incluindo quadro, medidor, co-
nentes eletrônicos, etc.
nexões, divergindo dos padrões da concessioná-
ria. Defeitos técnicos no medidor, como desgaste
ou falhas por surtos elétricos, não são considera- CASOS PRÁTICOS DE ADULTERAÇÕES
dos irregularidades (MAIA, 2023). EM MEDIDORES
Existem dois tipos principais de irregularidades: As intervenções e manipulações em medidores
administrativas e criminais (fraudulentas). As ad- de energia podem exigir o rompimento de lacres,
ministrativas referem-se a infrações contratuais embora algumas fraudes possam ser realizadas
ou normativas entre consumidor e concessioná- sem a necessidade de violação dos selos.
ria, ou estabelecidas pela ANEEL, sem envolver
uso não medido de energia. A Figura 2 apresenta um medidor eletromecânico

12 Revista Técnica IBAPE RS


com a tampa de plástico perfurada para a inserção alterar as leituras.
de um arame, travando o disco do equipamento. A
intervenção foi realizada sem rompimento de lacres. O medidor eletrônico exibido na Figura 5 teve seus
lacres violados e condutores do circuito eletrônico
Na Figura 3, um medidor eletromecânico trifá- interno cortados e isolados.
sico teve seus lacres violados para a retirada das
pontes de potencial das fases A e B, resultando na A Figura 6 mostra um medidor com uma ponte
inatividade dos elementos dessas fases. Somen- (jumper) entre os bornes de linha e de carga da
te a fase C continuou mensurando o consumo de fase. Parte da energia é desviada pelo fio sem ser
energia. mensurada pelo medidor. Embora os lacres não
tenham sido violados, foram feitos dois furos na
A Figura 4 é ilustra um medidor com lacres rompi- carcaça do medidor para esconder o condutor
dos e o registrador ciclométrico manipulado para atrás do equipamento.

Figura 2
Arame trancando o disco do medidor Figura 3
Fonte: Autor Pontes de potencial retiradas internamente
Fonte: Autor

Figura 4 Figura 5
Registrador ciclométrico manipulado Condutores cortados internamente
Fonte: Autor em medidor eletrônico
Fonte: Autor

Figura 6
Ponte ( jumper) entre bornes de
linha e de carga da fase do medidor
Fonte: Autor

PONTOS DE ATENÇÃO NAS PERÍCIAS JUDICIAIS


Geralmente, a nomeação do perito em um proces- O perito deve verificar se a concessionária emitiu o
so judicial envolvendo irregularidade no sistema Termo de Ocorrência e Inspeção (TOI) e se o docu-
de medição ocorre com grande lapso temporal. mento está de acordo com a resolução da ANEEL.
Nesse sentido, é importante verificar qual reso-
Se a irregularidade for no medidor, o expert pre-
lução da ANEEL é aplicável ao caso. Atualmente,
cisa averiguar se a distribuidora retirou o equipa-
a resolução normativa que trata dos direitos e de-
mento, acondicionando-o em invólucro específico
veres dos consumidores e das distribuidoras de
e lacrando-o e se ocorreu avaliação técnica em la-
energia é a REN 1000/2021 da ANEEL. No entanto,
boratório. É necessário também observar a porta-
para fatos ocorridos até 31 de dezembro de 2021 a
ria do INMETRO aplicável ao caso.
resolução vigente era a REN 414/2010.
É crucial rastrear o medidor, que muitas vezes é
Novas definições e terminologias trazidas pela Re-
descartado ou extraviado pela distribuidora.
solução 1000 podem impactar as perícias. (RAN-
GEL JÚNIOR et al., 2022). O expert precisa estar atento a todo o sistema de

Artigo Técnico 2ª Edição 13


medição (medidor, equipamentos auxiliares, cir- mais anos. Realizar o cálculo pode ser arriscado e
cuitos), ao histórico de leituras e inspeções reali- pouco conclusivo, dada a unilateralidade dos da-
zadas pela concessionária e a todo o conjunto de dos e a incerteza sobre a presença dos aparelhos
evidências. elétricos na época da inspeção realizada pela dis-
tribuidora.
É comum que as partes apresentem quesitos ale-
atórios, especialmente na ausência de assistentes
técnicos contratados. Cabe ao perito discernir e CONCLUSÃO
posicionar-se diante de questionamentos irrele-
vantes para o esclarecimento dos fatos. Por exem- As perícias judiciais em casos de irregularidades
plo, indagações sobre as condições atuais das ins- no sistema de medição de energia elétrica de-
talações internas ou possíveis fugas de corrente. mandam uma abordagem cuidadosa e criteriosa.
As condições atuais de uma instalação elétrica ou Ao longo deste artigo, exploramos as implicações
eventuais medições instantâneas realizadas no econômicas, sociais e técnicas. Destacamos a im-
local (normalmente com alicate amperímetro) po- portância da atuação da ANEEL na regulação do
dem não refletir a situação passada. Além disso, é setor e discutimos pontos críticos nas perícias, in-
comum questionarem sobre levantamento de car- cluindo a relevância da aplicação das resoluções
ga e cálculo de consumo presumido em casos nos vigentes e da análise detalhada do sistema de me-
quais a concessionária emitiu o TOI há 3, 4, 5 ou dição e de todo o conjunto de evidências.

BIBLIOGRAFIA
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (ANEEL). Perdas de energia. Brasília, DF, 2022a. Disponível em: https://
www.gov.br/aneel/pt-br/assuntos/distribuicao/perdas-de-energia. Acesso em: 28 fev. 2024.
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (ANEEL). Relatório de Perdas de energia. Brasília, DF, 2022b. Disponí-
vel em: https://portalrelatorios.aneel.gov.br/luznatarifa/perdasenergias. Acesso em: 02 mar. 2024.
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (ANEEL). Resolução Normativa nº 1000, de 7 de dezembro de 2021.
Brasília, DF, 2021. Disponível em: https://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren20211000.html. Acesso em: 07 mar. 2023.
FONSECA, Joazir Nunes; REIS, Lineu Belico dos. Empresas de distribuição de energia elétrica no Brasil: temas rele-
vantes para a gestão. Rio de Janeiro: Synergia, 2012.
KAGAN, Nelson; OLIVEIRA, Carlos César Barioni de; ROBBA, Ernesto João. Introdução aos sistemas de distribuição
de energia elétrica. São Paulo: Edgard Blücher, 2008.
MAIA, Sérgio. Perícia em furto de energia elétrica: da inspeção administrativa ao exame pericial. 2. ed. Campinas:
Millennium, 2023.
RANGEL JÚNIOR, Estellito et al. Resolução 1000 ANEEL: abordagem inicial. Rio de Janeiro: Ecthos, 2022.
ROCHA, Fábio Amorim da. As irregularidades no consumo de energia elétrica: doutrina, jurisprudência, legisla-
ção. Rio de Janeiro: Synergia, 2011.

14 Revista Técnica IBAPE RS


ARTIGO TÉCNICO

PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE INSPEÇÃO EM SISTEMAS


SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO

PALAVRAS-CHAVE AUTORA
Inspeção Predial, Incêndio Fernanda Pinheiro
Arquiteta e Especialista em Segurança
Contra Incêndio
1. INTRODUÇÃO Porto Alegre/RS
fernanda@fernandapinheroarquiteta.
A atividade de inspeção predial estabelecida na
NBR 16747 tem por objetivo constatar o estado de
com.br
conservação e funcionamento da edificação, seus
sistemas e subsistemas, de forma a permitir um
acompanhamento do comportamento em uso ao e funcionalidade da edificação e de seus sistemas
longo da vida útil, para que sejam mantidas as e subsistemas construtivos, de forma sistêmica e
condições mínimas necessárias à segurança, ha- predominantemente sensorial considerando os
bitabilidade e durabilidade da edificação. requisitos dos usuários.
A inspeção predial deve levar em conta a interde- A avaliação consiste na constatação da situação da
pendência e as exigências da Regulamentação de edificação quanto à sua capacidade de atender à
Proteção Contra Incêndio aplicável a cada situa- suas funções, com registro das anomalias, falhas
ção. Portanto, a inspeção predial deve considerar de manutenção, uso e operação e manifestações
não apenas aspectos pontuais relacionadas aos patológicas identificadas nos diversos componen-
diferentes sistemas de proteção, mas também que tes de uma edificação.
estes funcionam como um sistema de componen-
tes em série, onde a falha de um pode comprome- A Inspeção Predial Especializada visa avaliar as
ter o desempenho do sistema como um todo. condições técnicas, de uso, operação, manuten-
ção e funcionalidade de um sistema ou subsiste-
A totalidade dos sistemas de proteção contra in- ma específico, normalmente desencadeado pela
cêndio que devem ser inspecionados deve incor- inspeção predial, de forma a complementar ou
porar os sistemas recomendados na Regulamen- aprofundar o diagnóstico.
tação do Corpo de Bombeiros do respectivo Estado
em que a edificação está localizada, para cada si-
tuação de risco em que está enquadrada. 3. PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE
INSPEÇÃO
2. INSPEÇÃO PREDIAL O desenvolvimento das etapas deve ser planejado
conforme o tipo da edificação, consideradas suas
A inspeção predial visa auxiliar na gestão da edi- características construtivas, idade das instalações
ficação e, quando realizada com periodicidade re- e da construção e vida útil prevista, exposição am-
gular, contribui com a mitigação de riscos técnicos biental da edificação, agentes de degradação e ex-
e econômicos associados à perda do desempenho. pectativa sobre o comportamento em uso.
A atividade de inspeção predial estabelecida na As vistorias podem ser realizadas por equipe mul-
NBR 16747 tem por objetivo constatar o estado de tidisciplinar, conforme a complexidade e/ou espe-
conservação e funcionamento da edificação, seus cificidade das instalações existentes na construção.
sistemas e subsistemas, de forma a permitir um
acompanhamento sistêmico do comportamento
em uso ao longo da vida útil, para que sejam man- 4. ABNT/CEE 249
tidas as condições mínimas necessárias à segu-
A Comissão Especial de Estudos – CEE, está desen-
rança, habitabilidade e durabilidade da edificação.
volvendo parte que especifica os requisitos para a
Inspeção predial é o processo de avaliação das Inspeção de Sistemas De Proteção Contra Incên-
condições técnicas, de uso, operação, manutenção dio, que é parte integrante da avaliação global da

Artigo Técnico 2ª Edição 15


edificação, objeto da Inspeção Predial definida na rança contra incêndio no Brasil, e as decisões a
ABNT NBR 16747-1 serem tomadas em relação a essa questão devem
ser consideradas.
Esta Norma deverá ser aplicada sempre em con-
junto com a ABNT NBR 16747 parte 1, não sendo Para efeito desta Norma, os sistemas de proteção
utilizada de forma isolada dos demais sistemas que contra incêndio são subdividas do seguinte modo:
compõem a edificação, objeto da Inspeção Predial.
1. Controle da reação ao fogo dos materiais em-
pregados na edificação;
4.1. Componentes do Sistema de 2. Compartimentação horizontal e vertical da
edificação.
Proteção Contra Incêndio 3. Resistência ao fogo dos elementos estruturais
A segurança contra incêndio de uma edificação da edificação;
é obtida por meio da adoção de um conjunto de 4. Sistema de sinalização de emergência;
medidas ou procedimentos necessários para al- 5. Sistema de iluminação de emergência;
cançar os seguintes objetivos: limitar o risco sur- 6. Saídas de emergência;
gimento do incêndio, possibilitar sua extinção, fa- 7. Sistema de pressurização das escadas de saí-
cilitar o abandono, limitar sua propagação e evitar da de emergência;
a ruína estrutural, de forma a propiciar a proteção 8. Sistema de controle de fumaça e calor em in-
à vida humana, patrimônio e meio ambiente. cêndio;
9. Sistema de detecção e alarme de incêndio;
As medidas de proteção contra incêndio e se di- 10. Sistema de proteção por extintores;
videm em ativas, que necessitam de acionamento 11. Sistema de hidrantes e mangotinhos;
ou energia para seu funcionamento, e passivas, 12. Sistema de proteção contra incêndio por chu-
que normalmente estão incorporadas à edificação veiros automáticos;
desempenhando outras funções em seu dia a dia.

As medidas de proteção contra incêndio, em ge- 4.2. Documentação específica a


ral, são interdependentes e devem ser considera- ser solicitada
das como um conjunto necessário para se obter o
desempenho esperado em projeto, ou seja, um ní- A relação de documentos necessários para a ins-
vel de segurança contra incêndio compatível com peção dos sistemas de proteção contra incêndio,
o risco existente na edificação e com objetivos de conforme ABNT NBR 16747-1, são apresentados
segurança contra incêndio considerado. nas Tabelas 1, 2 e 3.

Quando se detecta por meio da inspeção predial a fa- Essa relação deve ser ajustada e complementa-
lha de um dos sistemas de proteção, é recomendável da pelo profissional responsável pela avaliação
que seja realizada a inspeção predial especializada de acordo com a complexidade técnica, idade e
de todas elas, com ênfase na avaliação dessa inter- as condições de exposição ambientais das ins-
dependência e do cumprimento da Regulamentação. talações existentes na edificação, como também
quanto às exigências legais específicas de cada
A totalidade dos sistemas de proteção contra in- localidade.
cêndio a serem inspecionados deve incorporar os
sistemas recomendados na Regulamentação do Estes documentos devem ser analisados e compo-
Corpo de Bombeiros do respectivo Estado em que rão a metodologia da Inspeção Predial juntamente
a edificação está localizada, para cada situação com documentos relativos a outros sistemas da edi-
de risco em que está enquadrada. Considerando ficação, considerando outras Partes desta Norma.
que a regulamentação propõe recomendações
mínimas a serem atendidas, pode existir edifica- A relação dos documentação que deve ser solici-
ções dotadas de sistemas adicionais que no todo tada no início das atividades de inspeção predial
da abordagem tem importância equivalente aos considerar são divididas em três categorias:
sistemas obrigatórios. Deste modo, esses sistemas a) documentos técnicos;
também devem ser objeto da inspeção predial. b) documentos administrativos;
Caso a edificação não apresente sistemas que são
c) documentos de manutenção.
obrigatórios, a inspeção predial de segurança con-
tra incêndio deverá destacar essa questão como
uma falha grave que compromete definitivamente Os documentos solicitados podem não ser disponi-
a segurança contra incêndio da edificação. bilizados na sua totalidade para a inspeção predial.
Nessas circunstâncias as regras definidas na ABNT
De qualquer forma, esta situação é complexa e NBR 16747-1 devem ser consideradas para se de-
está submetida aos processos evolutivos de segu- finir a possibilidade de realizar a inspeção predial.

16 Revista Técnica IBAPE RS


4.3. Procedimentos básicos para vistoria nas instalações de proteção
contra incêndio
Os procedimentos básicos envolvem os
itens dos sistemas de proteção contra in-
cêndio a serem inspecionados em obser-
vância à NBR 16747-1.

A etapa da vistoria deve coletar dados e in-


formações técnicas sobre as instalações,
identificar irregularidades em relação ao
disposto na Regulamentação e, ainda, pro-
mover análise entre o constatado e os docu-
mentos analisados.

Todos os procedimentos apresentados na


Norma devem, ainda, ser adequados e com-
plementados pelo profissional responsável
pela Inspeção Predial, de acordo com a com-
plexidade técnica, a exposição ambiental, a
idade e o uso das instalações. Também, e
sempre que necessário, esses procedimen-
tos devem ser adaptados e complementa-
dos conforme especificações e legislações
vigentes.

Os procedimentos apresentados em Nor-


ma, portanto, possuem objetivo de orientar
a etapa da vistoria da Inspeção Predial e
permitir atendimento a ABNT NBR 16747-
1, exclusivamente para as instalações indi-
cadas.

Os procedimentos não se caracterizam


como lista de verificações, roteiros de ins-
peção, ou tópicos do Laudo.

Artigo Técnico 2ª Edição 17


4.4. Identificação do nível de manutenção em função da não conformidade
verificada através da inspeção visual periódica, conforme norma ABNT
NBR 12962.

BIBLIOGRAFIA
ABNT NBR 16747 - INSPEÇÃO PREDIAL: Diretrizes, Conceitos, Terminologias e Procedimentos
ABNT/CEE 249 - Projeto de Revisão foi elaborado pelo Grupo de Trabalho de Inspeção Predial – Seguran-
ça contra Incêndio (CEE-249-GT 04) do Comitê Brasileiro de Segurança Contra Incêndio (ABNT/CB-024)
Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio Grande do Sul

18 Revista Técnica IBAPE RS


ARTIGO TÉCNICO

AVALIAÇÃO DE INTANGÍVEIS APÓSTOLOS PAULO E SILAS


- GUACHE SOBRE CARTÃO VICENTE DO REGO MONTEIRO

PALAVRAS-CHAVE AUTOR
Intangível, Obra de arte, Pintores Radegaz Nasser Junior
Engenheiro Civil
1. INTRODUÇÃO Vitória/ES
1.1. Justificativa da investigação e [email protected]
fontes utilizadas

A avaliação de obras de arte no Brasil, ainda é


um campo pouco explorado, com pouca literatura
se obtenha uma avaliação de mercado mais técni-
ca e fundamentada.
nacional sobre o tema e com poucos profissionais
especializados que dedicados a explorar essa área, 1.2. Dados do autor analisado -
fazendo-se necessário que a abordagem deste tema
seja de maneira mais técnica e fundamentada, evi-
Vicente do Rego Monteiro (1899-
tando com isso o empirismo e a especulação. 1970)
As obras de artes se destacam entre os bens que Segundo FRAZÃO (2020), foi um artista nascido
podem ser avaliados, devido às suas característi- em Pernambuco, foi escritor, desenhista, escultor
cas únicas, pelo fato de seus compradores serem e pintor. Fez amizade com os artistas que ideali-
desde pessoas físicas, até instituições, colecio- zaram a Semana de Arte Moderna de 1922 e ex-
nadores e investidores, com elevado poder aqui- pôs oito de suas obras. Sua formação começou em
sitivo, e elevado comportamento voltado para o 1911, quando mudou-se para a Paris, onde estu-
interesse social, cultural, moda, status socioeco- dou desenho, pintura e escultura na Académie
nômico e até mesmo gostos pessoais. Julian, frequentou também a Académie Colarosi
e a Académie de La Grande Chaumière. Em 1913
Nos primórdios, ocorreu como um dos itens da expôs duas obras no Salão dos Independentes.
valorização da arte brasileira, a Semana de Arte
Moderna acontecida entre os dias 11 e 18 de fe- Com a Primeira Guerra Mundial retornou ao Brasil
vereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, em 1914, onde fixou residência no Rio de Janeiro,
que influenciou no rompimento de tradições e re- em 1915. Em 1918 realiza sua primeira exposição
volucionou não só as artes plásticas, mas também individual no Teatro Santa Isabel no Recife. Em
outros campos como a literatura, a música e a ar- 1920 estuda a arte marajoara da coleção do Museu
quitetura, causando grande repercussão nacional Nacional da Quinta da Boa Vista.
e internacional. Neste mesmo ano ele apresenta seus quadros em
Vários dos principais artistas plásticos brasileiros São Paulo com temas que exploram os indígenas,
da época participaram da daquele evento e suas a crítica da época considerou seus quadros futu-
obras incluem-se entre as mais valiosas e preten- ristas. Foi também nesta mesma época que ele se
didas, tais como: Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, aproximou da corrente modernista no Brasil em
Portinari, Anita Malfatti, Vicente do Rego Montei- especial dos pintores Di Cavalcanti e do escritor
ro, Portinari entre outros. Oswald de Andrade.

Neste artigo, será realizado um estudo sobre Vi- Entre as suas principais obras estão: Mulher com
cente do Rego Monteiro, desde uma pesquisa de Galinha (1925), Deposição (1924) e O Artesão (s/d).
mercado sobre a compra e venda de suas obras em A Semana de Arte Moderna de 1922, foi um evento
casas de leilões e posterior análise pelo Método que reuniu artistas dos mais variados segmentos da
Comparativo de Dados de Mercado (MCDM) com arte como: escritores, pintores, escultores, músicos
auxílio da técnica de inferência estatística para e arquitetos, oficializando o modernismo no Brasil.
determinar e encontrar uma modelo que forneça
com precisão especificada, a variação do valor das Esses artistas reuniram suas obras em 1922 en-
obras de arte do autor em análise, permitindo que tre os dias 11 e 18 de fevereiro em São Paulo, para

Artigo Técnico 2ª Edição 19


Imagem 1 Imagem 2 Imagem 3
Apóstolos Paulo e Silas, de Teatro Municipal de São Paulo, que sediou Cartazes da Semana de Arte
Vicente do Rego Monteiro. a Semana de Arte Moderna de 1922 Moderna de 1922

Fonte: Site Catálogo de Artes Fonte: Site Arte & Artistas


(www.catalogodeartes.com.br) (https://arteeartistas.com.br/) (2023)
(2023)
Fonte: Site Arte & Artistas (https://arteeartistas.com.br/)
(2023)

uma exposição ao público do que de mais novo rães Villa-Lobos, Guiomar Novaes, Ernani
havia no universo da arte no Teatro Municipal de Braga Paulina de Ambrósio, Alfredo Gomes,
São Paulo, no saguão do teatro se instalou uma Fructuoso Vianna.
exposição de obras de pintura e escultura que es-
candalizaram o público brasileiro que não estava
acostumado com a nova proposta estética de arte 1.3. Conteúdo da investigação
do século XX. A partir da conceituação do mercado de arte, pas-
Dentre os principais artistas que participaram da sa-se a destacar os seus elementos mais signifi-
semana de Arte Moderna de 1922, destacam-se: cativos analisando-se o rol que desempenham os
distintos agentes desse mercado na fixação das
. Escritores: Mario de Andrade, Oswald de cotizações das obras de arte, assim como a apre-
Andrade, Menotti del Picchia, Guilherme de ciação subjetiva das ditas avaliações.
Almeida, Graça Aranha, Ronald de Carvalho,
Plínio Salgado, Álvaro Moreya, Elysio de Car- Atualmente as obras de arte têm alcançado altos
valho, Luiz Aranha, Ribeiro Couto, Tacito de valores, porque os colecionadores não veem ape-
Almeida, Agenor Barbosa, Afonso Schmidt, nas a estética, mas também as veem como formas
Sérgio Milliet. de investimento rentável e seguro. O investimen-
. Pintores: Emiliano Di Cavalcanti, Anita Mal- to em obras de arte é uma maneira de se proteger
fatti, Zaina Aita, Ferrignac, Yan de Almeida em tempos de câmbio flutuante, além de ser uma
Prado, John Graz, Vicente do Rego Monteiro, proteção patrimonial e ter a vantagem de ficar em
Antônio Paim Vieira. poder do proprietário.
. Escultores: Victor Brecheret, Hildegardo Leão Consultando um site especializado em obras de
Velloso, Haarberg. arte, observa-se situações em todo o mundo, atra-
. Arquitetos: George Przyrembel, Antônio Moya vés de gráficos apresentados como a seguir:
. Músicos: Heitor Villa-Lobos, Lucília Guima-

Gráfico 1: Evolução semestral dos leilões de obras de arte


$ 20.000.000.000

$ 15.000.000.000

$ 10.000.000.000

$ 5.000.000.000

H1 H2

$0 Fonte: Site Artprice


2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 (www.arteprice.com) (2023)

20 Revista Técnica IBAPE RS


Gráfico 2: Distribuição Gráfico 3: Distribuição da receita de vendas por
geográfica do mercado de período artístico até o 1º Semestre de 2018
belas artes – 1º Semestre 100%
de 2018
Other
10% 80%
France USA
4% 40%

60%

UK
22%
40%

20%
China
24%
Fonte: Site Art&price 0%
(www.arteprice.com) (2023) 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Contemporary Art Modern Art Old Masters


Post War 19th Century

Fonte: Site Artprice (www.arteprice.com) (2023)

1.4. Os agentes no mercado de geral, Serigrafia.


arte . Fase: Somente com um olhar retrospectivo
aprimorado é que se consegue determinar
Como agente no mercado de arte é possível citar: quais fases mais valorizadas de um artista e
Artistas, Galerias de Arte, Portais de Internet e que configuram o auge de sua criatividade, ou
Vendas Diretas, Feiras e Bienais, Colecionadores, de maior sincronicidade com a importância
Museus e Salas de Leilões. dela perante seu tempo na história. Não obe-
decem a uma ordem cronológica
Nos dias atuais, os leilões do mercado de obras de . Dimensão: O tamanho pode influir ou não, no
arte giram em torno de duas casas e são contro- valor de uma obra de arte. Porém, no caso de
lados basicamente por elas, Christie’s e Sotheby’s, obras de arte, este item, na maioria das vezes
ambas de origem inglesa. Essas duas casas são tem baixíssima relevância.
responsáveis pela maior parte da venda de obras . Conservação: O bom estado de conservação é
em leilões. um fator que contribui para a sua valorização.
Este item tem grande relevância. Pois o estado
1.5. Critérios para a avaliação de atual da obra, o quanto esta obra já foi restaura-
obras de arte da ou não, o quanto de original, que ainda pos-
sui, podem ser dados que estabelecem um valor
Segundo vários avaliadores de obras de arte, os maior ou menor da obra de arte a ser avaliada.
principais critérios utilizados por um avaliador de . Origem: A procedência conta no valor final de
obras de arte para obter um valor coerente e ade- uma obra de arte. Quando ela fez parte de uma
rente ao mercado são: importante coleção ou figurou em uma expo-
sição e catálogo. A trajetória da própria obra,
. Autoria: Os artistas atingem cotações diver- pode alterar para mais o seu valor final.
sas, mesmo sendo contemporâneos ou acadê- . Assinatura: A falta de assinatura poderá dimi-
micos nuir o valor de uma obra de arte, como tam-
. Técnica: A valorização de uma obra de arte bém a não tipicidade da mesma.
obedece a uma escala formal: (Óleo, acrílica
sobre a tela, madeira, metal e cartão, guache e
têmpera sobre cartão ou papel, aquarela, pas- 1.6. A Coleta de dados para a
tel seco e oleoso, lápis de cor e ecoline sobre avaliação da obra de arte
papel, desenhos a Nanquim, Carvão, Sanguí-
nea, sépia e lápis. GONZALEZ (2015) informa que a primeira etapa
. Gravuras: Litografia, Xilografia, Gravura em da avaliação é identificar, com o máximo de deta-
lhes possível, física e historiográfica, o objeto a ser

Artigo Técnico 2ª Edição 21


avaliado (por exemplo: registro completo do leilão um dos dados coletados contém as seguintes in-
de uma obra de arte), para o qual o avaliador deve formações:
abordar estas questões. Este ponto trata do traba-
lho de campo "in situ" do avaliador, sendo muito . Título da Obra, Ano da transação ou da ofer-
importante o nível de conhecimento artístico, ta, Preço negociado, Dimensão em cm² (Altura
técnicas e restauração das obras de arte que eles x Largura), Técnica: Pintura a óleo ou demais
possuem, pois facilitarão bastante a identificação técnicas e Local onde se realizou o Leilão
correta do trabalho, através de fotos, e etc,.

Segundo vários especialistas, as obras que foram 3. METODOLOGIA


objeto de alguma restauração terão menos valor e
O método usado foi o Método Direto Comparativo
ainda mais se forem do século XIX ou XX. Tanto
Direto de Dados de Mercado através do uso da infe-
que, se alguma parte importante da tabela estiver
rência estatística com regressão Método dos Míni-
danificada, como a assinatura, o valor será reduzi-
mos Quadrados Ordinários (MMQO) para a artista,
do em mais de 80%.
sabendo que através desta análise de regressão é
possível obter um modelo estatístico para estimar
2. BASE DE DADOS DISPONÍVEIS NO o valor de mercado das obras do artista escolhido.
MERCADO PARA O ESTUDO
Para o estudo de mercado foi utilizado uma base de 4. AVALIAÇÃO DA OBRA DE ARTE
dados relativos a preços de obras extraídos do banco SELECIONADA
de dados do site Catálogo de Artes, que é um portal
A obra selecionada para a avaliação foi a tela Apósto-
especializado em cotações online de obras de arte.
los Paulo e Silas, com as seguintes dimensões (90,00
cm x 134,00 cm) e com a técnica guache sobre car-
2.1. Estudo de Mercado tão, baseada nos dados obtida no site www.catalo-
godasartes.com.br, onde foram obtidos 62 elemen-
O estudo limitou a pesquisa de obras de arte do tos, reproduzidos adiante e deles foram eliminados
autor compreendidas no período entre os anos 5 elementos por não terem todas as informações
de 1997 e 2020, intervalo em que foram selecio- necessárias completas pra a análise ou por serem
nadas as obras de Vicente do Rego Monteiro, Cada outliers, resultando no seguinte modelo:

Relatório Estatístico - Regressão Linear Modelo: Obras de Arte


Data de referência: sábado, 01 de setembro de 2021

Variáveis independentes Estatísticas


Variáveis e dados do modelo Quant. Estatísticas do modelo Valor
Total de variáveis: 5 Coeficiente de correlação: 0.9191903 / 0.9191903
Variáveis utilizadas no modelo: 5 Coeficiente de determinação: 0.8449108
Total de dados: 62 Fisher - Snedecor: 70.82
Dados utilizados no modelo: 57 Significância do modelo (%): 0.01

Variáveis independentes Outliers do modelo de regressão:

Distribuição dos resíduos Curva Normal Modelo Quantidade de outliers: 0


Resíduos situados entre -1 e + 1 68% 68% % de outliers: 0.00%
Resíduos situados entre -1,64 e + 1,64 90% 92%
Resíduos situados entre -1,96 e + 1,96 95% 98%

Análise da variância:

Soma dos Graus de


Fonte de variação Quadrado Médio F
Quadrados Liberdade
Explicada 129753885206.695 4 32438471301.674 70.823
Não Explicada 23817220144.182 52 458023464.311
Total 153571105350.877 56

22 Revista Técnica IBAPE RS


Equação de regressão / Função Testes de Hipóteses:
estimativa (moda, mediana e média):
Variáveis Transf. t Obs. Sig.(%)
Area total ln(x) 11.83 0.01
Valor total = -277708.3866
+38364.64691 * ln (Area total) Tipo de Negócio X -2.53 1.44
-16098.21443 * Tipo de Negócio Data do evento X 2.14 3.69
+1391.114968 * Data do evento Técnica X 9.25 0.01
+62984.24601 * Técnica
Valor total Y -10.10 0.01

Correlações Parciais:
Correlações parciais para Area total Isoladas Influência Correlações parciais Isoladas Influência
para Tipo de Negócio
Tipo de Negócio -0.09 0.28
Data do evento -0.40 0.25
Data do evento 0.20 0.16
Técnica -0.08 0.24
Técnica 0.02 0.67
Valor total -0.31 0.33
Valor total 0.71 0.85

Correlações parciais para Data do evento Isoladas Influência Correlações parciais Isoladas Influência
para Data do evento
Técnica 0.12 0.17
Valor total 0.55 0.79
Valor total 0.38 0.28

Gráfico de Aderência - Regressão Linear


Modelo do SisDEA
Autor:
Modelo: Obras de Arte
Data de criação: 01/09/2021
Área de concentração: Avaliação de Bens
Tipologia em estudo: Outras tipologias
Descrição do modelo:
Avaliação de Obras de Arte

Dados do modelo: 73
Gráfico de Resíduos - Regressão Linear Dados utilizados: 57
Variáveis do modelo: 5
Variáveis utilizadas: 5
Regressão Estimativa
Coef. de correlação 0,919190295 0,919190295
Coef. de determinação 0,844910798 0,844910798
Desvio padrão 21401,48276 21401,48276

Normalidade: [ 68, 92, 98]

Variável Média Mínimo Máximo Coeficiente t Sig(%) transf


Area total 8,18 6,12 9,72 38.364,65 11,83 0,01 ln(x)
Tipo de Negócio 0,39 0,00 1,00 -16.098,21 -2,53 1,44 x
Data do evento 14,00 1,00 22,00 1.391,11 2,14 3,69 x
Técnica 0,77 0,00 1,00 62.984,25 9,25 0,01 x
Valor total 98.106,14 17.000,00 190.000,00 -277.708,39 -10,10 0,01 y

Análise da Variância
Fonte de Variação Soma dos Graus de Quadrado F calculado
Explicada 1,2975E+11 4 3,244E+10 70,82272816
Não explicada 2,3817E+10 52 458023464
Total 1,5357E+11 56

Artigo Técnico 2ª Edição 23


Nome Tipo Classificação Descrição da varável Habilitada
Area total Numérica Quantitativa Area total do imóvel medida em m² sim
Tipo de Negócio Numérica Dicotomica Tipo de negócio (Venda - 0, Oferta - 1) sim
Data do evento Data Proxy Data de ocorrencia do evento (oferta ou transação) sim
Técnica Numérica Dicotomica Tipo de negócio (Venda - 0, Oferta - 1) sim
Valor total Numérica Dependente Valor total do imóvel sim

Pesquisa
Título da Obra Local do Leilão Area total Tipo de Negócio Data do evento Técnica Valor total
Livro Aberto Bolsa de Arte do Rio de Janeiro 1.748,00 1 1 1 38.850,00
Natureza Morta Bolsa de Arte do Rio de Janeiro 1.748,00 1 2 1 76.650,00
Saltimbancos Bolsa de Arte do Rio de Janeiro 6.480,00 1 2 0 32.550,00
Duas Figuras Bolsa de Arte do Rio de Janeiro 10.580,00 1 5 1 157.500,00
Natureza Morta Bolsa de Arte do Rio de Janeiro 871,00 1 5 1 40.000,00
Vaso e Cavaquinho Leilão Soraia Cal 1.870,00 1 5 1 57.000,00
Paisagem Bolsa de Arte do Rio de Janeiro 3.050,00 1 7 0 17.000,00
Objetos e Frutas Leilão Soraia Cal 1.038,70 1 9 1 65.000,00
Mulher e Animal Leilão Reno 3.942,00 1 9 0 17.500,00
Mulher com Cavalo Leilão James Lisbo 3.250,00 0 10 0 50.000,00
O Lavrador Leilão Palácio dos Leil􀳦 8.239,00 0 11 1 150.000,00
Atraçã Leilão Vitor Brag 4.389,00 0 11 0 22.000,00
Cristo e Discípulo Leilão Soraia Cal 4.374,00 0 11 1 90.000,00
Figuras Femininas Leilão James Lisbo 9.720,00 0 11 1 180.000,00
Figura Sentada Leilão Bolsa de Arte 9.373,00 1 11 1 132.000,00
Carregador Leilão Soraia Cal 3.808,00 0 12 0 27.000,00
Vaso de Flores Leilão James Lisbo 1.786,00 0 12 1 300.000,00
Operário Leilão Reno 5.084,00 1 13 1 135.000,00
Figura com Bezerro Leilão Pro Art 3.996,00 1 13 0 38.000,00
Irmã Clariss Leilão Soraia Cal 926,49 0 13 1 90.000,00
Wilma Leilão James Lisbo 456,00 0 13 1 40.000,00
Dida Leilão James Lisbo 567,00 0 13 1 40.000,00
Maria - Auxilium Leilão Bolsa de Arte 5.520,00 0 13 1 150.000,00
Christianorum, Ora Pro Nobis
Sem Título Leilão Pro Art 11.224,00 0 14 1 120.000,00
Violon D'Ingres Leilão das Galerias 4.080,00 0 14 1 148.000,00
Sem Título Palácio dos Leilõ 10.614,00 0 14 1 180.000,00
Amassando Uvas para Vinho Leilão Soraia Ca 4.486,75 0 14 1 120.000,00
Duelo Leilão Dagmar Saboya 6.720,00 1 14 1 121.000,00
Figura Feminina Leilão Casa Amarel 808,50 1 14 1 44.000,00
Mulher e Peixes Leilão James Lisbo 3.250,00 1 15 0 50.000,00
Composição com Figu Leilão CIA Paulist 4.240,00 0 15 1 120.000,00
Apóstolos Paulo e Sila Leilão TN 12.060,00 0 15 0 130.000,00
􀳦ndio Leilão James Lisbo 1.064,00 0 15 0 25.000,00
Rosto de Mulher Leilão Arte Maio 525,00 1 15 1 40.000,00
Duas Figuras Leilão TN 8.100,00 0 16 1 160.000,00
Calceiro Leilão TN 4.312,00 0 16 0 35.000,00
A Reza Leilão James Lisbo 8.000,00 0 16 1 120.000,00
Mulher com Violino Leilão James Lisbo 2.530,00 0 16 1 100.000,00
Menino e Ovelha Leilão James Lisbo 2.530,00 0 16 1 100.000,00
Os quatro mestres do infinito Leilão TN 11.330,00 0 16 0 220.000,00
Madona Leilão Vitor Brag 3.055,00 0 16 1 90.000,00
Aguaceiro Leilão Vitor Brag 3.200,00 0 16 1 78.000,00
Ritual Indígena Leilão Pro Art 1.064,00 0 17 0 18.000,00
Vendedor de Frutas Leilão James Lisbo 5.600,00 0 17 1 125.000,00
Amoladores Leilão Vitor Brag 11.000,00 0 17 0 220.000,00
Figura Egípci Leilão Soraia Cal 3.560,40 1 17 1 110.000,00
Fuga do Egito Leilão TN 14.070,00 0 17 1 3.321.000,00
Mulher com Cachorros Leilão M. Mizrah 16.688,00 0 17 1 190.000,00
A Ceramista Leilão Dutr 3.713,00 0 17 1 150.000,00
Sem Título Leilão M. Mizrah 1.290,00 0 18 0 30.000,00
Café da Manh Leilão Miguel Salle 4.800,00 1 18 1 150.000,00
Flores Leilão Errol Flyn 1.230,00 0 18 1 95.000,00
Trapezistas Leilão Soraia Cal 3.736,70 0 19 1 160.000,00
Guerreiro com Onç Leilão Villa Antic 4.125,00 1 19 1 101.000,00
Flores - Óleo s/ madeir Leilão TN 1.312,00 0 19 1 70.000,00
Chico do Banjo Leilão Aloiso Crav 4.000,00 1 19 1 73.000,00
Sem Título Leilão James Lisbo 10.406,00 1 19 0 120.000,00
Sem Título Leilão Canva 10.086,00 0 20 1 185.000,00
Lavrador Leilão Vitor Brag 10.980,00 0 20 1 190.000,00
A pesca milagrosa Leilão CIA Paulist 5.292,00 0 21 1 160.000,00
Caleidoscópi Leilão TN 11.881,00 0 21 1 160.000,00
Canavial Leilão Blomb􀳦 7.000,00 1 22 1 100.000,00

Projeção de valores
Local do Tipo de Data do Valor
Título da Obra Area total Técnica Vr. Médio Vr. Mínimo Vr. Máximo
Leilão Negócio evento total
Apóstolos Paulo e Silas Leilão TNT 12.060,00 0 22 0 0 113.433,65 102.393,64 124.473,65

24 Revista Técnica IBAPE RS


5. CONCLUSÃO arte, verificamos que as informações são de difícil
acesso devido à falta de conhecimento da maioria
Considerando que o Grau de Fundamentação e de das transações.
Precisão atingiram o grau III máximo previsto na
ABNT- NBR 14.653-2 / 2011, conclui-se que dentro Mesmo pesquisando em diferentes casas de lei-
do Campo de Arbítrio do avaliador, é possível adotar lões as informações são limitadas às informações
valores entre R$ 96.500,00 e R$ 130.500,00, e o res- obtidas no site Catálogo de Arte (www.catalogode-
tante de 15,50% que não está explicada pela modelo artes.com.br) que informaram apenas as variáveis
estatístico escolhido, fica por conta da variabilidade como, local do leilão, dimensões da obra (altura
do desejo e outros senões do interessado. e largura), técnica utilizada, data do evento e al-
Destaca-se como conclusão final deste trabalho as gumas vezes o ano da obra, porém não informa
limitações na aplicação deste modelo de avaliação. informações quanto ao estado de conservação,
a qualidade artística, a certificação e etc. que no
Apesar de ser importante termos um banco de presente caso poder atribuídas aos resíduos não
dados nas transações comerciais de obras de explicados equivalentes à 15,50%.

BIBLIOGRAFIA
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Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT – Brasil.
NBR-14.653-7/2008 - Avaliação de Bens - Parte 7: Bens de Patrimônios históricos e artísticos. Associação Brasileira de
Normas Técnicas – ABNT – Brasil.
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GONZALEZ, Mª Angeles Alcaide. (2019). Valoración y tasación de obras de arte - Unidad Didáctica 1.- Expertización
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NASSER, Radegaz. (2019). Introdução à Avaliação de Bens Singulares. 3ª Edição. Editora LEUD. São Paulo/SP. Brasil.

Artigo Técnico 2ª Edição 25


ARTIGO TÉCNICO

TESTES COMPARATIVOS ENTRE PROGRAMAS


ESTATÍSTICOS PARA AVALIAÇÕES DE IMÓVEIS

PALAVRAS-CHAVE AUTORA
Comparativo. Engenharia Civil. Iarema Alcalde Brasil Biguelini
Programas para cálculo estatístico Engenheira Civil
Palmares do Sul/RS
1. INTRODUÇÃO
[email protected]
O cálculo do valor de um imóvel urbano pode
ser realizado por muitos métodos que estão des- ferência estatística existentes e que estão à dispo-
critos na norma de avaliação de bens da Associa- sição dos profissionais.
ção Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR
14.653 (2019), na parte 1 - Procedimentos Gerais
e na parte 2 – Imóveis Urbanos. Essa norma reco- 3. METODOLOGIA:
menda que, sempre que possível, deve-se utilizar o Para a elaboração do trabalho, foi utilizada uma
método comparativo direto de dados de mercado. avaliação de um imóvel em que se utilizou o Méto-
No método comparativo de dados de mercado, são do Comparativo de Dados de Mercado e os dados
examinadas várias variáveis que influenciam na foram tratados cientificamente por meio de infe-
formação dos preços de vendas dos imóveis. Exis- rência estatística. Neste método, de acordo com
tem muitos métodos para tratamento e modela- Saldanha (2023),
gem dos dados. Neste trabalho, foi utilizado o trata-
mento por inferência estatística. Com o uso do das a análise através deste método depende, ba-
novas tecnologias, é possível utilizar sistemas com- sicamente, da natureza do bem avaliando, da
putacionais avançados para este tipo de tratamen- finalidade da avaliação e da disponibilidade,
to e chegar a resultados bem próximos à realida- qualidade e quantidade de informações colhi-
de. Entre os sistemas disponíveis, fica a pergunta: das no mercado e do comportamento do mer-
todos apresentam resultados iguais e atendem às cado retratado por meio de modelos que supor-
normas? Essa é a dúvida que muitos profissionais tem racionalmente o conhecimento do valor.
têm. Berrini (1949) apud Schmutz (1941) diz que
O cálculo inferencial foi realizado em três siste-
São tendencias lastimáveis do caráter huma-
mas: Microsoft Excel, R 4.3.2 (The R-project for
no: - acreditar aquilo que prefere acreditar ao
statistical computing) e outro adquirido no mer-
invés daquilo que deveria acreditar, baseado
cado para avaliação de imóveis.
nos tatos; achar errado aquilo que não com-
preende; sobrestimar a importância dos dados O imóvel utilizado neste comparativo é uma re-
favoráveis e subestimar os efeitos contrarias sidência de alvenaria localizada em uma cidade
dos dados desfavoráveis; chegar a conclusões da região metropolitana de Porto Alegre/RS, com
sem devidamente considerar os fundamentos 100,00 metros quadrados, construída sobre um
sobre os quais tais conclusões se baseiam. terreno de 300,00 metros quadrados, com três
dormitórios, padrão normal, bom estado de con-
A técnica mais utilizada quando se deseja estu- servação e idade aparente de 25 anos.
dar o comportamento de uma variável dependen-
te em relação a outras que são responsáveis pela
variabilidade observada nos preços é a análise de 3.1 Levantamento de dados de
regressão (NBR 14.653-2 (2011), Anexo A, item mercado e identificação das
A.1.2). Neste trabalho foram testados alguns siste- variáveis:
mas utilizados pelos profissionais que trabalham
com avaliações de imóveis. O levantamento dos dados foi realizado em setem-
bro de 2023. Nessa parte, é observado o mercado
e feita a coleta de dados e informações que serão
2. OBJETIVO: utilizados no tratamento estatístico. Representa,
portanto, parte mais importante do trabalho.
O objetivo deste trabalho é fazer um comparativo
dos resultados de três sistemas para cálculo de in-

26 Revista Técnica IBAPE RS


Para realizar as análises, foram utilizados 24 da- 4.1 Inferência estatística:
dos de mercado.
O objetivo é inferir certos fatos acerca da popula-
ção, a partir de resultados observados na amostra.
3.2 Variáveis: Tal processo denomina-se inferência estatísti-
ca. (Spiegel,1978). Segundo Moreira (2021) apud
Variáveis são as características de cada elemento
Martins (2010),
amostral e devem representar a realidade do mer-
cado no qual o imóvel está inserido. Elas podem É o conjunto de técnicas que, partindo de uma
ser independentes ou dependentes: as indepen- amostra, estabelece hipóteses, tira as conclu-
dentes são as que representam as características sões sobre a população de uma amostra, es-
físicas e econômicas dos dados observados e as tabelece hipóteses, tira as conclusões sobre a
que irão influenciar no resultado final da avalia- população de origem, formula previsões, fun-
ção e as dependentes que são aquelas explicadas damentando-se na teoria das probabilidades,
pelas variáveis independentes. Para a identifica- e baseia-se na análise e na interpretação dos
ção da variável dependente, é necessária uma in- dados.
vestigação no mercado para saber como ele está
trabalhando. As variáveis são do tipo quantitativas
e qualitativas. As quantitativas são as que podem 4.1.1 Considerações preliminares:
ser mensuráveis ou contadas e expressam uma
quantidade. As variáveis qualitativas são as que Para o cálculo, foram analisadas várias variáveis e
não podem ser medidas. Isto é, são, segundo Hair foram escolhidas aquelas que mais influenciaram
(2009), medidas que descrevem diferenças em nos preços do mercado dos imóveis. Após vários
tipo ou natureza, indicando a presença ou ausên- testes, foram definidas as variáveis utilizadas no
cia de uma característica ou propriedade. cálculo estatístico. As variáveis quantitativas utili-
zadas foram a área da construção em metros qua-
drados (áreaconst), a área do terreno em metros
4. Método Avaliatório: quadrados (áreate) e a distância ao centro comer-
O método utilizado foi o Método Comparativo de cial da cidade em metros (distanciacentro). Já as
Dados de Mercado, que consiste na comparação variáveis qualitativas foram as seguintes: padrão
do imóvel avaliando com os dados da amostra da construção (pad) sendo normal igual a 0,00 e
pesquisada quanto às características extrínsecas entre normal e alto igual a 1,00 e a conservação
e intrínsecas. da construção (cons) considerando regular igual a
0,00 e bom igual a 1,00.
O método utilizado para fazer o comparativo dos
sistemas foi o científico por meio da análise mul-
tivariada utilizando modelo de regressão linear 4.1.2 Amostra utilizada:
múltipla. No início da pesquisa, foram utilizados 36 dados,
porém foi aplicado um filtro e retirados alguns da-

Tabela 1: Banco de dados utilizado para realizar as comparações (continua)

Dado areaconst areater pad cons distanciacentro Vu


1 189,00 300,00 0,00 1,00 2.164,00 1.851,85
2 70,00 300,00 0,00 1,00 2.324,00 2.571,43
3 120,00 300,00 0,00 1,00 2.328,00 2.000,00
4 195,00 425,00 1,00 1,00 972,00 3.076,92
5 118,75 450,00 0,00 1,00 948,00 3.031,58
6 200,00 300,00 0,00 0,00 700,00 1.910,00
7 200,00 300,00 1,00 1,00 606,00 3.500,00
8 70,00 360,00 0,00 1,00 713,00 3.142,86
9 120,00 880,00 0,00 0,00 943,00 3.091,67
10 184,00 360,00 1,00 1,00 747,00 3.804,35
11 80,00 855,00 0,00 1,00 574,00 4.375,00
12 140,00 465,00 0,00 1,00 483,00 2.857,14
13 160,00 605,00 1,00 1,00 2.990,00 2.500,00

Artigo Técnico 2ª Edição 27


Tabela 1: Banco de dados utilizado para realizar as comparações
Dado areaconst areater pad cons distanciacentro Vu

14 203,00 1.200,00 1,00 1,00 3.288,00 4.679,80


15 100,00 480,00 0,00 1,00 3.290,00 2.000,00
16 212,00 300,00 1,00 1,00 3.040,00 1.981,13
17 128,00 672,00 1,00 0,00 3.628,00 2.500,00
18 200,00 600,00 0,00 0,00 3.817,00 1.750,00
19 94,29 363,00 1,00 1,00 4.208,00 2.492,31
20 190,00 528,00 1,00 1,00 4.454,00 2.105,26
21 67,00 484,00 1,00 1,00 4.310,00 3.283,58
22 210,00 1.300,00 1,00 1,00 4.498,00 4.047,62
23 112,00 300,00 1,00 1,00 4.532,00 2.232,14
24 280,00 1.200,00 1,00 0,00 1.977,00 3.214,29

dos discrepantes. Após esse ajuste, o banco de da- 5.2 The R-project for Statistical
dos foi reduzido a 24 casos. Como o objetivo deste Computing (R 4.3.2):
trabalho é comparar os sistemas, a tabela 1 apre-
senta o banco de dados utilizado. É um sistema de programação, que trabalha no am-
biente do Windows, para computação estatística,
gráficos, análise e depuração. Trata-se de um pro-
5. ANÁLISES REALIZADAS: grama muito utilizado entre pesquisadores. Os cál-
culos estatísticos estão apresentados no Anexo B.
5.1 Microsoft Excel:
O Microsoft Excel é um editor de planilhas produ- 5.3 Sistema de cálculo estatístico
zido pela Microsoft para computadores que utili-
zam o sistema operacional Microsoft Windows.
adquirido no mercado:
O sistema aqui exemplificado, com patente brasi-
A variável dependente escolhida foi o Vu, valor
leira, é utilizado principalmente por avaliadores
unitário por metro quadrado. Os cálculos estatís-
de imóveis. Ele também utiliza o Windows como
ticos estão apresentados no Anexo A.
plataforma. Os cálculos estatísticos estão apresen-
tados no Anexo C.

6. RESUMO DAS ANÁLISES REALIZADAS:


Os resultados dos cálculos realizados estão descritos na tabela abaixo:
Excel R 4.3.2 Sistema p/assinatura

Coeficiente de Correlação 0,929073 0,929086 0,929073

Coeficiente de Determinação 0,863176 0,8632 0,863176

areaconst 0,003713 0,0037134 0,37%


areater 8,99E-08 0.00000008987 0,01%
Teste de pad 0,00068 0.0006801 0,07%
significância
cons 0,004371 0.0043711 0,44%
distancia centro 5,66E-06 0.00000565854 0,01%
Interseção 2325,325 2325,32519 2325,3252
areaconst -5,23755 --5.23755 -5,2375452
areater 2,232401 2,23240 2,2324011
Coeficientes da
equação de regressão pad 770,5913 770,59127 770,59127
cons 645,8356 645,83558 645,83558
distancia centro -0,36097 0.00000565854 -0,3609702

28 Revista Técnica IBAPE RS


7. Análise dos resultados tros, quando pertinente, pode ser testada pela
estatísticos: análise da variância particionada, com a utili-
zação do teste da razão de verossimilhança;
a) coeficiente de correlação (R): medida do quanto - Os níveis de significância utilizados nos teste
dos dados originais se ajustam ao modelo (HAIR, citad citados nesta subseção serão compatíveis
2009). Ainda, Saldanha (2023) cita que com a especificação da avaliação.
é uma medida do grau de direção de uma relação Os resultados obtidos nos sistemas foram todos
linear entre duas variáveis, e que representa o co- iguais e todos menores que “1,00%”, indicando
eficiente de correlação amostral. Este coeficiente que a hipótese de rejeição de cada uma delas é
é representado por (r), assume apenas valores en- nula. O teste de significância do modelo é de 0,01
tre -1 e 1. também afirmando a hipótese de rejeição nula.
a) se r > 0 indica uma correlação positiva e dire- d) resultados dos resíduos: os resíduos são a dife-
ta entre as variáveis: um aumento na variável X rença entre o valor observado e o valor ajustado
provocará um aumento na variável Y; pelo modelo. Devem estar no intervalo (-2,2) e, se
b) se r > 0 indica uma correlação negativa e in- estiverem fora, são considerados outleir.
versa entre as variáveis: um aumento na variá-
vel X provocará uma redução na variável Y; Pelos gráficos dos resíduos apresentados, pode-
c) se r = 0 indica a inexistência de qualquer rela- mos verificar que todos estão no intervalo (-2,2),
ção ou tendência linear entre as variáveis X e Y. não indicando presença de outleir.

Podemos verificar que todos os sistemas tiveram


os resultados iguais, 0,929073, indicando que há 8. Cálculo do valor do imóvel ava-
uma forte correlação entre as variáveis indepen- liando:
dentes e a variável dependente. b) coeficiente de
Os atributos para o imóvel avaliando foram os se-
determinação (R²): o poder de explicação do mo-
guintes: áreaconst = 1,00; áreater = 300,00; pad =
delo. De acordo com Hair (2023),
0,00, cons = 1,00 e distanciacentro = 1.800,00.
é a medida da proporção da variância da vari-
Equação de regressão, comum a todos sistemas,
ável dependente em torno de sua média que é
explicada pelas variáveis independentes ou pre- vu =2325,3252 +-5,2375452 * areaconst
ditoras. O coeficiente pode variar entre 0 e 1. Se +2,2324011 * areater +770,59127 * pad
o modelo de regressão é propriamente aplicado +645,83558 * cons +-0,3609702 *distanciacentro
e estimado, o pesquisador pode assumir que
quanto maior o valor de R², maior o poder de o valor calculado foi R$246.738,00 (duzentos e
explicação da equação de regressão e, portanto, quarenta e seis mil setecentos e trinta e oito re-
melhor a previsão da variável dependente. ais). A amplitude, dentro da estimativa de 80,00%,
foi de 12,85% e, de acordo com a NBR 14.653-
Nos cálculos realizados, os valores de determi- 2(2011), esta avaliação atingiu o grau de precisão
nação são todos iguais, 0,863176, que indica que III e um grau de fundamentação II. Não foi atingi-
86,32% do resultado é explicado pela variação das do grau de fundamentação maior porque o núme-
variáveis independentes. ro de dados foi insuficiente.
c) teste de significância: processo que nos per-
mite decidir, aceitar ou rejeitar uma hipótes, ou 9. Conclusão:
determinar se as amostras observadas diferem
significativamente dos resultados esperados. Neste trabalho, foram testados três sistemas: Mi-
(Murray,1978). De acordo com a NBR 14.653- crosoft Excel, R 4.3.2 (The R-project for statistical
2(2011), anexo A, computing) e outro por assinatura para avaliação
de imóveis disponível no mercado. Foi utilizado
- A significância individual dos parâmetros das como teste um banco de dados para avaliação de
variáveis do modelo deve ser submetida ao tes- uma residência com 100,00 metros quadrados na
te t de Student, em conformidade com as hipó- região metropolitana de Porto Alegre/RS.
teses estabelecidas quando da construção do
modelo; As apurações finais nos mostram que os resulta-
- A hipótese nula do modelo deve ser subme- dos são iguais em todos sistemas. A única diferen-
tida ao teste F de Snedecor e rejeitada ao nível ça entre eles é a maneira de apresentar os resulta-
máximo de significância de 1%; dos e a capacidade de permitir uma análise mais
- A significância de subconjuntos de parâme- profunda dos dados observados.

Artigo Técnico 2ª Edição 29


BIBLIOGRAFIA
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. NBR 14653:1 / 2019. Avaliação de Bens Parte 1: Procedimentos
gerais. Rio de Janeiro, 2001.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. NBR 14653:1 / 2011. Avaliação de Bens Parte 2: Procedimentos
gerais. Rio de Janeiro, 2001.
SALDANHA, Marcelo Suarez. Análise Qualitativa de Dados – Variáveis Categóricas. São Paulo, 2023
DANTAS, Rubens Alves. Engenharia de Avaliações: uma introdução à metodologia científica. São Paulo: Pini, 1998.
BERRINI, Luiz Carlos. Avaliações de Imóveis. São Paulo, 1949
HAIR, Joseph F Jr. et al. Análise Multivariada de Dados. Porto Alegre, 2009.
SPIEGEL, Murray R, Probabilidade e Estatística. São Paulo, 1978
MOREIRA, Terezinha de Jesus Rocha Vilanovs; Marlei Rosa dos Santos; Antonia Lediana Moreira. Estatística básica
para cursos de graduação. Piauí, 2021

ANEXO A – MICROSOF EXCEL


Estatísticas da Regressão: Análise de Variância da Regressão
Estatística de regressão ANOVA
R múltiplo 0,929073 F de
gl SQ MQ F significação
R-Quadrado 0,863176
Regressão 5 13518051 2703610 22,71122 3,4E-07
R-quadrado ajustado 0,82517
Resíduo 18 2142773 119042,9
Erro padrão 345,026
Total 23 15660824
Observações 24

Análise dos Coeficientes da Regressão


Erro 95% 95% Inferior Superior
Coeficientes Stat t valor-P
padrão inferiores superiores 95,0% 95,0%
Interseção 2325,325 350,8733 6,62725 3,2E-06 1588,168 3062,483 1588,168 3062,483
areaconst -5,23755 1,572107 -3,33154 0,003713 -8,54042 -1,93467 -8,54042 -1,93467
areater 2,232401 0,260322 8,575534 8,99E-08 1,685485 2,779318 1,685485 2,779318
pad 770,5913 188,1889 4,094775 0,00068 375,221 1165,962 375,221 1165,962
cons 645,8356 198,2517 3,257654 0,004371 229,3241 1062,347 229,3241 1062,347
distanciacentro -0,36097 0,056934 -6,3401 5,66E-06 -0,48059 -0,24136 -0,48059 -0,24136

Resíduos do Modelo de Regressão


ANEXO B - THE R-PROJECT FOR STATISTICAL
COMPUTING (R 4.3.2)
Coefficients:
Estimate Std. Error t value Pr(>|t|)
(Intercept) 2325.32519 350.87331 6.627 0.0000032010 ***
areaconst -5.23755 1.57211 -3.332 0.00371 **
areater 2.23240 0.26032 8.576 0.0000000899 ***
cons 645.83558 198.25174 3.258 0.00437 **
distanciacentro -0.36097 0.05693 -6.340 0.0000056585 ***
pad 770.59127 188.18892 4.095 0.00068 ***
---
Signif. codes: 0 '***' 0.001 '**' 0.01 '*' 0.05 '.' 0.1 ' ' 1
Residual standard error: 345 on 18 degrees of freedom
Multiple R-squared: 0.8632, Adjusted R-squared: 0.8252
F-statistic: 22.71 on 5 and 18 DF, p-value: 0.0000003404
Equação de regressão: Anova Table (Type II tests)
Response: vu
Sum Sq Df F value Pr(>F)
Vu = 2325,325 + areaconst 1321280 1 11.099 0.0037134 **
areater 8754391 1 73.540 0.00000008987 ***
-5,23755*areaconst cons 1263321 1 10.612 0.0043711 **
+ 2,232401*areater distanciacentro 4785158 1 40.197 0.00000565854 ***
+ 770,5913*pad + pad 1996015 1 16.767 0.0006801 ***
Residuals 2142773 18
645,8356*cons +
-0,36097*distanciacentro

30 Revista Técnica IBAPE RS


Resíduos do Modelo de Regressão Equação de regressão:

Vu = 2325.32519 + --5.23755 *areaconst +


2,23240*areater + 770,59127*pad +
645,83558*cons + -0,36097*distanciacentro

ANEXO C - SISTEMA DE CÁLCULO ESTATÍSTICO ADQUIRIDO NO MERCADO


Resultados Estatísticos: Normalidade dos resíduos
Linear • 70% dos resíduos situados entre -1 e +1 s
• Coeficiente de correlação: 0,929073 • 95% dos resíduos situados entre -1,64 e +1,64 s
• Coeficiente de determinação: 0,863176 • 100% dos resíduos situados entre -1,96 e +1,96 s
• Coeficiente de determinação ajustado: 0,825170
• Fisher-Snedecor: 22,71
• Significância: 0,01 Outliers do Modelo: 0
Não-Linear
• Coeficiente de determinação: 0,863176

Equação

Regressores Equação T-Observado Significância Crescimento Não-linear


• Areaconst x -3,33 0,37% -3,94 %
• Areater x 8,58 0,01% 7,88 %
• Pad x 4,09 0,07% 31,90 %
• Cons x 3,26 0,44% 27,80 %
• Distanciacentro x -6,34 0,01% -5,16 %
• Vu y

Equação de regressão:

vu =2325,3252 +-5,2375452 * areaconst +2,2324011 * areater +770,59127 *


pad +645,83558 * cons +-0,3609702 *distanciacentro

GRÁFICO DE ADERÊNCIA (Valor Observado X Valor Calculado)

Artigo Técnico 2ª Edição 31


ARTIGO TÉCNICO

A INSPEÇÃO EM OBRAS AFETADAS POR INUNDAÇÕES

PALAVRAS-CHAVE AUTORES
Inspeção, vistoria, inundações Patrícia Bertotto
Engenheira Civil
Rio Grande do Sul
N o ano de 2023 o Rio Grande do Sul sofreu com
altos volumes de chuvas. Foram muitas perdas
[email protected]
Adriana Roxo Nunes Oliveira
materiais, e principalmente, de vidas. Especial- Arquiteta e Urbanista
mente no mês de setembro alguns profissionais
do IBAPE se viram em meio à necessidade de co- Emília de Oliveira
locar em prática e ofertar seus conhecimentos ao Engenheira Civil
Estado, para que, de uma forma colaborativa, pu- Alfredo Kuhn Pfeifer
dessem somar forças para auxiliar na recupera- Engenheiro Civil
ção dos imóveis que sofreram com as inundações
ocorridas. O resultado deste estudo e união foi um Felipe Herrmann
trabalho onde os técnicos vistoriadores das obras Arquiteto e Urbanista
podem avaliar o percentual atingido, o percentual
passível de recuperação e o valor médio necessá-
rio para esta recuperação. Esta matéria mostra rem chuvas torrenciais em áreas limitadas. Isso
um pouco do estudo realizado. traz perigo e dificuldades, mesmo que as áreas de
risco desses eventos repentinos possam ser identi-
1. INTRODUÇÃO ficadas através de estudos prévios, pois na maioria
dos casos, não existem métodos de alertas e pro-
As inundações provocam impactos sociais e eco- cedimentos de emergência. As inundações podem
nômicos como a exigência de grandes e onerosos também estar associadas com as barragens, even-
trabalhos de recuperação das edificações nas áre- tualmente projetadas para ajudar na redução do
as atingidas, bem como a perda de bens móveis e risco de inundações, podendo em algumas situa-
imóveis. Esse evento ocorre quando as águas dos ções ser inadequadas. Os mais trágicos exemplos
rios ou galerias pluviais saem do leito de escoa- são de barragens construídas com especificações
mento devido à falta de capacidade de transporte ou capacidades inadequadas, e/ou em locais inse-
de um desses sistemas, e ocupa áreas que a po- guros, com falha repentina e ocorrência de inunda-
pulação utiliza para moradia, transporte (ruas, ro- ções rápidas em suas vizinhanças. No Rio Grande
dovias e passeios), recreação, comércio, indústria, do Sul o Governo do Estado faz o estudo das bacias
entre outros. e das barragens, assim como o seu controle.
Esses eventos podem ocorrer devido ao comporta- Outra causa de inundações pode ser o colapso
mento natural dos rios ou são ampliados pelo efei- de barragens naturais. Essas barragens são, em
to de alteração produzida pelo homem na urba- geral, formadas no deslizamento de terra que
nização, pela impermeabilização das superfícies bloqueia um vale, criando assim um reservató-
e canalização dos rios. Os problemas resultantes rio de água que pode correr vale abaixo quando
da inundação dependem do grau de ocupação da o bloqueio natural é erodido. Devido ao fato de o
área de várzea pela população, da impermeabi- fluxo subsequente ser rápido, ele cria uma inun-
lização e canalização da rede de drenagem, bem dação rápida (similar à falha de barragem), que é
como da vulnerabilidade e resiliência das edifi- de difícil escape para a população. Ainda assim,
cações. Também a contribuição do descarte ina- em muitos casos, é possível a adoção de medidas
dequado de resíduos sólidos para as ocorrências preventivas. Dessa maneira, as causas dos desas-
é fator que deve ser mencionado, nos levando a tres de inundações são várias, envolvendo o meio
pensar sobre a necessidade do correto descarte ambiente físico, a economia local e o desempenho
dos nossos lixos. das instituições e agentes públicos. A inadequada
ação desses agentes afeta os sistemas de alerta
Devido a seu comportamento repetitivo, a maioria
contra inundações, bem como, torna vulnerável a
das inundações tem risco conhecido. As inunda-
proteção social.
ções ribeirinhas são restritas às planícies de inun-
dação. Já as inundações rápidas são comuns em Adicionalmente, as águas de inundação trazem
áreas montanhosas da bacia do rio quando ocor- também um aumento do risco de doenças, tais

32 Revista Técnica IBAPE RS


como o cólera e a diarreia provenientes da conta- tagiosas como, por exemplo, a leptospirose ou mes-
minação da água potável pelo esgoto. Pode tam- mo acabarem presas embaixo de escombros.
bém haver um rápido crescimento na incidência
de malária e febre amarela, devido à multiplica- O histórico de enchentes e inundações no
ção de vetores de insetos na água estagnada, que Brasil nos mostra:
permanece empoçada após a enchente. Essa água
deve ser canalizada para os rios através de dutos, 1855 - Enchentes em Santa Catarina em 1855
mas estes ficam frequentemente sem manuten-
1967 - Enchentes e Deslizamentos de terra em Ca-
ção e em algumas situações eles podem estar tam-
raguatatuba
bém obstruídos pela presença de areia.
1979 - Enchentes em Minas Gerais e Espírito Santo
2. O HISTÓRICO DE ENCHENTES NO 2008 - Enchentes em Santa Catarina
BRASIL: CAUSAS E TRAGÉDIAS
2010 - Inundações e Deslizamentos de Terra no
Quando alguém fala a palavra "enchente" é natural Rio de Janeiro e São Paulo
que a primeira imagem que venha a cabeça seja
a de destruição, prejuízos e até mesmo algumas 2010 - Enchentes em Alagoas e Pernambuco
mortes. Durante a época das chuvas a atenção vem
Outras Enchentes e Inundações da História do
se redobrando, principalmente, no estado do Rio
Brasil: Enchente em Porto Alegre em 1941, En-
Grande do Sul, e isso nos faz questionar o que afinal
chentes no Norte e Nordeste do Brasil em 2009, De-
gera esse problema. Há como prevenir? Trata-se de
sastres naturais no Rio de Janeiro em abril de 2010,
uma questão urbana, ou da região dos vales, e das
Enchentes e deslizamentos de terra no Rio de Janei-
ilhas banhadas pelo Guaíba? Vamos ao estudo.
ro em 2011, Enchentes em Santa Catarina em 2011.
Inicialmente é importante entender como come-
2023 - Vale do Taquari: A cheia do Rio Taquari é de
çam as enchentes. Se o leito natural de um rio ou
proporções históricas e atinge níveis que somen-
córrego recebe uma quantidade muito grande de
te foram vistos uma vez desde o começo das me-
água que provém da chuva e não tem a capacidade
dições no século 19. O nível medido em Estrela e
da suportá-la, acaba transbordando e causando a
informado pelo Município chegou a 29,15 metros.
enchente. Esse processo é natural e todo rio preci-
A cota medida é a segunda maior já aferida na ci-
sa ter uma área chamada de "área de inundação"
dade. O nível de 29,15 metros se aproxima do re-
para a qual a água irá escoar.
corde oficial de 29,92 metros, da grande enchente
Esse é o grande problema que causa as enchentes no Rio Grande do Sul de maio de 1941. Superou no
e alagamentos nas cidades, a área de inundação, ranking das maiores cheias da histórias as marcas
na maior parte dos casos, não foi respeitada e fa- de 28,86 metros de abril de 1956 e de 27,55 metros
mílias se estabeleceram nessa região construindo da grande cheia de julho de 2020. Os volumes de
casas. Então, quando o rio transborda a sua água chuva foram extraordinários no sistema Taquari-
alaga essas casas. Além disso, ainda existe a ques- -Antas, especialmente junto às cabeceiras na serra.
tão da urbanização das cidades, na maior parte Os acumulados em alguns pontos ficaram acima de
delas o processo foi feito sem nenhum tipo de pla- 300 mm, em menos de 24 horas. Isso explica por
nejamento como, por exemplo, pensar na declivi- que a elevação das águas foi extremamente rápida
dade das ruas (para onde a água da chuva deveria e veloz com as águas do Rio Taquari invadindo ci-
escorrer) ou então a construção de galerias plu- dades como Muçum e Roca Sales, subindo metros
viais (uma forma de captar e transportar a água em curto período. Vários moradores mais antigos
das chuvas sem problemas). da região dizem que a água chegou aonde jamais
alcançado em cheias passadas. Justamente pelo
A falta desses procedimentos é o que contribui fato de que desde 1941 não se observada cheia
em grande parte para tantos casos de enchentes e igual. Essa tragédia resultou, até o momento, em
alagamentos no Brasil. Destinar verbas para essas 48 mortos e 600 famílias desabrigadas, 10 mil imó-
obras ou para a implantação de estudos de ocupa- veis afetados (levantamento feito até 24/09/2023).
ção urbanística ordenada, sairia muito mais bara- Fonte: https://metsul.com/cheia-do-taquari-e-se-
to do que ter que recuperar regiões completamen- gunda-maior-da-historia-e-se-aproxima-de-1941/
te destruídas e com certeza nem se equivalem a
possibilidade de perder vidas.
3. CARACTERÍSTICAS DOS MATERIAIS
As enchentes representam um problema muito sé- DE CONSTRUÇÃO
rio para o Brasil que além de prejuízos econômicos
grandiosos arriscam a vida de pessoas inocentes. Nesse capítulo foram apresentadas algumas ca-
Essas pessoas podem contrair doenças infectocon- racterísticas básicas dos materiais de construção

Artigo Técnico 2ª Edição 33


comumente utilizados nas construções brasilei- ção depende dos fatores porosidade e capilarida-
ras, que é uma base do conhecimento técnico, de, sendo que as variações no teor de umidade de
necessário para o vistoriador ter e poder avaliar um material provocam movimentações irreversí-
as condições de ruína ou recuperação do imóvel veis e reversíveis. As movimentações irreversíveis
vistoriado. são aquelas que ocorrem geralmente logo após a
fabricação do material e se originam pela perda ou
Os materiais de construção, quando submersos ganho de água, até ser atingida a umidade higros-
em água de inundação, podem se deteriorar, ex- cópica de equilíbrio do material fabricado. As mo-
pandir ou empenar. A umidade favorece a dete- vimentações reversíveis ocorrem por variações do
rioração dos materiais de construção, o cresci- teor de umidade do material, ficando delimitadas
mento de mofo, que descolore as superfícies dos a certo intervalo, mesmo no caso de secar ou satu-
materiais, e causa odores desagradáveis (PEN- rar completamente o material.
NING-ROWSELL; CHATTERTON, 1977). Os danos
físicos à construção decorrentes de uma inunda- O conhecimento das propriedades higroscópi-
ção são frequentemente estimados por meio de cas dos materiais seja, talvez, um dos itens mais
orçamentos de reforma, sendo que os prejuízos importantes de conhecimento para o estudo do
são avaliados através dos preços de mercado de trabalho que foi proposto, pois que irá analisar a
móveis e eletrodomésticos novos. Esse tipo de capacidade resistente dos componentes constru-
abordagem é adequado principalmente para o tivos das construções periciadas.
cálculo de danos diretos.
Deve existir um conhecimento e compreensão dos
Embora o tema venha sendo bastante pesquisado fenômenos físicos relacionados com o comporta-
em âmbito internacional, os estudos no Brasil se mento dos materiais, para que os elementos cons-
encontram ainda incipientes relativamente à ava- trutivos apresentem garantias de durabilidade,
liação do efeito da inundação sobre as constru- estanqueidade, manutenção e funcionalidade. A
ções e a extensão dos danos provocados pela ação variação da umidade nos materiais de construção
da água. pode gerar fenômenos prejudiciais para o bom
funcionamento dos materiais, tais como, degrada-
Importante observar que além dos danos causa- ção do aspecto estético, diminuição da resistência
dos apontados através da seleção das patologias mecânica, efeitos físico-químicos, aparecimento
ocorridas no imóveis, cabe traçar um comparativo de bolores nas zonas de pontes térmicas, efeitos
entre profundidade da enchente, ou seja, altura biológicos. A partir do estudo das características
em que houve submersão da construção e período dos materiais empregados em cada construção,
em que esta ficou submersa. Portanto, além das associado as suas propriedades higroscópicas, é
patologias, devem ser coletados dados relativos possível traçar um comparativo de danos asso-
às características da inundação (profundidade de ciados à presença de água de inundação, de modo
submersão e duração da inundação), a qualidade a definir se os fenômenos observados podem ou
das edificações e os reparos a serem realizados. não apresentar capacidade de recuperação de de-
Esses estudos podem proporcionar a obtenção de terminado sistema.
curvas de custo de recuperação dos danos à cons-
trução em função da profundidade de submersão,
estabelecidas através de orçamentos para reforma 4. MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS
de cada residência, de acordo com as informações NAS EDIFICAÇÕES
fornecidas pelos entrevistados sobre os danos
ocorridos. Para tanto, devem ser estabelecidos Outro fator não menos importante para o estudo
custos unitários de recuperação dos danos à cons- é o conhecimento das manifestações patológicas
trução provocados pela inundação, para após, se associadas aos efeitos da umidade. A umidade,
chegar à conclusão de uma determinada região. além de ser frequente, representa um dos maio-
res problemas de uma edificação durante sua vida
Dada a influência das características dos mate- útil. As patologias de umidade apresentam diver-
riais de construção na extensão dos danos causa- sas formas de manifestação, dentre as quais se
dos pelas inundações, foram apresentadas as pro- pode citar: (a) manchas, (b) formação do bolor ou
priedades dos principais tipos de revestimentos mofo, (c) aparecimento de fissuras e trincas.
dos componentes das edificações: (1) Revestimen-
tos argamassados, (2) Sistema de pintura, (3) Re-
vestimentos cerâmicos, (4) Rejuntes, (5) Madeira. 5. AÇÕES DAS ÁGUAS DE
INUNDAÇÕES
Além disso, conhecer as propriedades higroscópi-
cas dos materiais de construção completa o estudo O conhecimento das ações das águas de inunda-
sobre as características dos materiais. A quantida- ções sobre as edificações bem como o estudo das
de de água absorvida por um material de constru- patologias através de suas manifestações caracte-

34 Revista Técnica IBAPE RS


rísticas oferece subsídios e informações para os Além destes itens acima abordados pelo BRE, é
trabalhos de proteção e manutenção das edifica- plausível somar a análise dos seguintes sistemas:
ções (SILVA et al., 2006).
(e) instalações hidros-sanitárias, que devem pas-
As ações das águas de inundações sobre as edifi- sar por limpeza e testes de estanqueidade. A água
cações são descritas a seguir (ZEVENBERGEN et que submerge os imóveis, sem que estes tenham
al., 2007): (a) ações hidrostáticas; (b) ações hidro- sofrido danos estrutural, possivelmente não cau-
dinâmicas; (c) erosão; (d) ação de flutuabilidade; sou danos nas redes, mas os testes são fundamen-
(e) ação dos detritos; (f) agressividade da água; e tais; (f) instalações elétricas: as partes condutoras
(g) gelo. A expansão da água e o consequente au- não possuem capacidade resistente à água, fator
mento de pressão podem causar fissuras e trincas, que, pela presença de umidade, causará danos
e eventualmente rachaduras nos componentes da irreversíveis nos sistemas elétricos; (g) telhados
edificação. em geral construídos em material cerâmico ou
de fibrocimento, devem passar pela análise visu-
O BRE (Building Research Establishment - orga- al e verificação da sua capacidade resistente; (h)
nização independente de consultoria , testes e nos elementos de concreto é preciso identificar
treinamento baseada em pesquisa , que opera no as partes externas e identificar se existem mani-
ambiente construído e nas indústrias associadas, festações patológicas. Nas partes ocultas, como as
com sede em Watford e escritórios regionais na fundações, por exemplo, caso haja a suspeita de
Escócia e no País de Gales), descreve os possíveis dano, é necessário agendar inspeções específicas.
efeitos de uma inundação sobre os materiais e Dentre as manifestações possíveis devemos ob-
estrutura de uma edificação, bem como os vários servar: Fissuras e Trincas, Desagregação, Erosão e
tipos de danos que podem ser causados, incluin- Desgaste, Desplacamento ou Esfoliação, Segrega-
do uma indicação dos pontos a serem checados ção, Manchas, Eflorescência, Calcinação, Flechas
quando é necessário lidar com edificações dani- Exageradas, Perda de Aderência Entre Concretos
ficadas por inundação. Entre os principais efeitos (nas juntas de concretagem), níveis de Porosidade
citados pode-se destacar (PENNING-ROWSELL; e Permeabilidade; (i) esquadrias em geral devem
CHATTERTON, 1977): (a) as alvenarias porosas passar por identificação dos componentes, para
absorvem até 55 litros de água por metro quadra- após, avaliar seu funcionamento e capacidade de
do. Apesar de a secagem poder se estender du- recuperação. Esquadrias de PVC, por exemplo,
rante meses, é improvável que haja danos, a não possuem instalações metálicas no seu interior, e
ser que a inundação seja acompanhada de geada. podem não apresentar resistência à submersão;
Nesse caso, a alvenaria em contato com a água (j) pisos que também devem ser avaliados sob a
pode se esfacelar, e o reparo torna-se muito one- ótica dos seus componentes e sistemas, contudo,
roso; (b) nos rebocos internos de paredes de tijolos devem ser verificadas anomalias relacionadas a
ou blocos, o efeito de inundações é motivo de con- afundamentos ou falta de estabilidade.
trovérsias. Uma imersão por um período reduzido
(minutos) não causa danos graves se a condição
pré-inundação do reboco for adequada (por exem- 6. VISTORIA E ANÁLISE CRÍTICA DOS
plo, forte aderência do reboco à base e ausência de SISTEMAS DA CONSTRUÇÃO
trincas). Uma argamassa de qualidade deve resis-
tir à água por períodos mais longos. Entretanto, o Antes de partir para o roteiro de inspeção em si,
contato prolongado irá saturar a massa e, uma vez cabe esclarecer quais os pontos devem ser obser-
que isso ocorra, a aderência pode eventualmente vados na construção vistoriada. A título de orien-
ser comprometida, não deixando alternativa, a tação completando todos os itens a que se desti-
não ser a restauração. Quando as águas de inun- nou o trabalho, se recorreu a alguns preceitos da
dação estiverem contaminadas por efluentes e inspeção para auxiliar no roteiro, trazendo para
estes tiverem tempo de penetrar o reboco, prova- a situação presente, inicialmente, a vistoria em
velmente será também necessária a confecção de elementos visíveis, para um primeiro momen-
novo reboco; (c) inundações de duração curta (ho- to, para posteriormente avaliar a necessidade de
ras) causam entre 10% e 50% menos danos do que aprofundamento da perícia. Portanto, os sistemas
inundações de duração longa (dias), uma vez que que devem ser inspecionados incluem estruturas,
a água não tem tempo de penetrar o reboco e os ti- alvenarias, revestimentos em geral, esquadrias,
jolos. Inundações de longa duração causam o esfa- instalações e coberturas.
celamento do rejunte, principalmente em prédios
antigos, onde ele é à base de cal; e (d) pintura de 7. ROTEIRO PARA ANÁLISE PERICIAL
paredes exteriores sofrerá danos sob inundações
de durações curtas ou longas. Certa quantidade de
NO IMÓVEL AFETADO
água penetra na tinta, causando descoloração ou O roteiro deve ser implementado a partir do es-
esfacelamento durante a secagem. tudo e conhecimento dos materiais e projetos ve-

Artigo Técnico 2ª Edição 35


rificados, para tanto, é fundamental a análise do casas nas tipologias de projetos adotadas é neces-
sistema construtivo e o levantamento de dados sário para a posterior elaboração de orçamentos
cadastrais do imóvel, itens que irão completar o e quantificação dos custos de recuperação das
levantamento de dados para o laudo. Dentre os patologias observadas. As metragens dos imóveis
dados cadastrais é imprescindível saber a data da devem ser levantadas no local da vistoria, quan-
construção, fator que irá contribuir para o conhe- do possível, ou estimadas, devendo representar o
cimento de materiais de construção empregados, mais próximo da realidade segundo informações
tipo de fundação empregada, quando possível sa- técnicas do vistoriador.
ber, tempo em que o imóvel permaneceu submer-
so, profundidade de submersão. A partir do levantamento de análise das condições
construtivas do imóvel, obtendo-se o percentual
Foi criada uma planilha para servir de exemplo de de dano observado, e traçando um comparativo
material de levantamento a ser utilizado na vistoria entre custo de reestabelecimento da construção e
e levantamento de dados cadastrais. O vistoriador, custo de reconstrução, cabe concluir, nesse que-
de posse desta planilha, pode chegar a um percen- sito, que para valores de reestabelecimentos aci-
tual passível de recuperação do imóvel afetado. ma de 50%, a melhor solução a se enquadrar é a
opção de demolição e reconstrução, uma vez que
os custos seriam exacerbados em termos de repa-
ros e reformas. Para danos que apresentam ne-
cessidade de intervenções abaixo de 50%, fazer o
apontamento da área construída ou mensurada, e
utilizar o CUB correspondente ao projeto estipula-
do para o imóvel vistoriado. Cabe acrescentar nos
orçamentos os valores correspondentes a BDI.

Se, por exemplo, a planilha apresentar um per-


centual afetado abaixo de 50%, isso significa que
o imóvel pode ser recuperado, e o estudo atribuiu
um valor por metro quadrado para a recuperação
do imóvel. Contribuiu também para este valor, a
aplicação das diretrizes da NBR 14.653 – Avalia-
ção de Bens – adotar custo de reedição de benfei-
toria, aplicação da metodologia de Ross-Heidecke
em valores médios para os sistemas da construção
com o valor da depreciação e reedição das benfei-
torias, e, para concluir, o MÉTODO DA QUANTIFI-
CAÇÃO DE CUSTO (cálculo completo em acordo
com NBR 14.653), o que permitiu atribuir um va-
lor médio ao metro quadrado de recuperação dos
imóveis.

8. PROFISSIONAL HABILITADO
O estudo tem um capítulo dedicado a falar sobre
a atuação do profissional habilitado para a execu-
ção das vistorias e execução dos laudos, a saber:
o trabalho proposto de vistoria e formulação de
laudo pericial deve ser executado por profissional
habilitado da área da arquitetura ou engenharia
e que esteja regularmente inscrito no seu conse-
lho de classe, sendo obrigatória a emissão da RRT/
Para a caracterização do tipo de construção em CAU ou da ART/CREA, como documento anexo ao
relação ao projeto, foi sugerida a adoção das tipo- trabalho pericial. Conforme item 4.4 da Norma
logias conforme padrão construtivo do SINDUS- Técnica que trata de Perícias de Engenharia, é ob-
CON RS. As tipologias de projeto devem ser ado- servada a Competência profissional da seguinte
tadas de forma a melhor representar os projetos forma: “A realização de perícias de engenharia na
das edificações objeto do estudo, uma vez que em construção civil é matéria eminentemente técnica
muitos casos não é possível obter os projetos de e de exclusiva competência de peritos e assisten-
tais edificações. Além disso, o enquadramento das tes técnicos nos termos da legislação vigente”.

36 Revista Técnica IBAPE RS


9. PARTES CONSTITUINTES DO LAUDO vel e de seus elementos, a constatação de danos,
TÉCNICO as condições de estabilidade do prédio. Qualquer
anormalidade deve ser assinalada e adequada-
A qualidade do trabalho, segundo a Norma Téc- mente fundamentada. Inclui também documen-
nica que trata de Perícias de Engenharia, está re- tar a vistoria com fotografias esclarecedoras, em
lacionada à inclusão de um número adequado de tamanho adequado, gerais e/ou detalhadas e ob-
fotografias por cada bem periciado, com exceção servar condições relatadas na mesma norma so-
dos casos em que ocorrer impossibilidade técni- bre a apresentação do laudo técnico.
ca; execução de um croqui de situação; descrição
sumária dos bens nos seus aspectos físicos, di-
mensões, áreas, utilidades, materiais construtivos 10. APONTAMENTOS E
etc.; indicação e perfeita caracterização. LEVANTAMENTOS DE INFORMAÇÕES
EM NOTÍCIAS
(...) Devem ainda ser observadas as condições es-
pecíficas estabelecidas: das atividades básicas, Para um melhor entendimento do trabalho, para
da vistoria, da caracterização da região, do imó- aqueles leitores que não presenciaram os fatos, al-

Residências foram tomadas pela água em Muçum. Mateus Bruxel / Agência RBS
Relatório aponta que cerca de 10 mil imóveis foram afetados pelas enchentes no RS Documento, que analisou os
municípios de Santa Tereza, Muçum, Encantado, Roca Sales, Lajeado e Estrela, destaca que 67% das propriedades
atingidas sofreram danos significativos. 20/09/2023 - 12h34minAtualizada em 20/09/2023 - 12h43min - Fonte: GZH

gumas imagens do GZH podem ilustrar as situações. • Engenheira Civil Patrícia Bertotto – formada pela
PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul) 2003, especialista em Vistorias e
11. ANÁLISE E CONCLUSÕES Inspeções Prediais pelo IBAPE SP e PR (Instituto
As enchentes podem causar danos irreversíveis Brasileiro de Avaliações e Perícias) 2004, Pós Gra-
em algumas construções, principalmente naque- duada em Produção Civil pela PUCRS (Pontifícia
las que apresentam condições irregulares, sem a Universidade Católica do Rio Grande do Sul), Cur-
adoção de boas práticas da engenharia, ou cons- so de Inspeção Predial pela UFRGS (Universidade
truídas em locais com ocupação desordenada. Federal do Rio Grande do Sul) Programa IDURFGS
x IBAPE RS, Atuação em Perícias pelo TJRS, Res-
O trabalho pretendeu mostrar um roteiro prático ponsável Técnica pela Inspecta –Inspeção Pre-
para auxiliar as autoridades na organização de dial e Avaliações, Escritório de Engenharia, desde
vistorias a serem realizadas nos imóveis afetados 2006, Diretora Secretária da ACAE LN – Associa-
pela enchente do Rio Taquari, ocorrida no mês de ção Central de Arquitetos e Engenheiros do Lito-
setembro, no estado do Rio Grande do Sul. ral Norte do RS desde 2008, Diretora Técnica do
IBAPE RS - Gestão 2021/2022, Diretora de Normas
Como perspectiva para trabalhos futuros sugere-se do IBAPE Nacional - Gestão 2022/2023, Partici-
a proposição de medidas de proteção para mitiga- pante do estudo de revisão da norma de Inspeção
ção dos prejuízos causados pelas inundações e de Predial na ABNT em 2022, Presidente do IBAPE
adaptações das edificações, tornando-as mais resi- RS Gestão 2023/2024
lientes, e a avaliação dos custos de recuperação dos
danos causados às edificações com as alternativas • Arquiteta e Urbanista Adriana Roxo Nunes Oli-
de proteção implantadas. Sugere-se também um veira - Pós-graduada em Preservação Ambiental
estudo de levantamento e avaliação imobiliária dos da Cidade; Engenharia Diagnóstica, Patologias e
imóveis afetados, considerando a desvalorização Perícias na Construção Civil; Auditoria e Perícia
dos bens diante dos danos provocados em decor- Ambiental. Atuação em perícias, consultorias,
rência da situação de submersão da construção. mediações e conciliações, judiciais e extrajudi-
ciais, nas áreas de patologia das construções,
inspeção e manutenção predial, licenciamento e
12. CONTRIBUIÇÃO patrimônio histórico-cultural. Docente em cursos

Artigo Técnico 2ª Edição 37


de extensão e pós-graduação em Perícias de Enge- cedimentos – IDUFRGS x IBAPE-RS (2022), Curso
nharia, Gestão de Obras Públicas e Manutenção de de Inspeção e Recebimento de Obras – Edificações
Edificações. Integrante de Comissões de Estudos Habitacionais (2021), Profissional Cadastrado
da ABNT para elaboração de normas técnicas. Di- como Perito junto ao Poder Judiciário Federal 4ª
retora Técnico-Cultural do IBAPE-RJ gestão 2020- Região (2018), Curso: Avaliação em Contratos de
2021 e 2022-2023 Engenharia (CLAIMs) – Arbitragem na Construção
Civil pelo IBAPE-RS (2018), Profissional Cadastra-
• Engenheira Civil Emília de Oliveira - Forma- do como Perito junto ao Poder Judiciário do Es-
da pela Unisinos, Pós-graduada em Engenharia tado do Rio Grande do Sul (2015), Pós-graduado
Diagnóstica, Patologia e Perícias na Construção em Gestão Empresarial – FGV/Decision/RS (2007
Civil – UNIP/INBEC, Mestranda em Engenharia - 2009).
Civil – UFRGS, Presidente do IBAPE-RS – Gestão
2021/2022, Diretora Cultural do IBAPE-RS – Ges-
tão 2023/2024, Proprietária da empresa Vetor • Arquiteto e Urbanista Felipe Herrmann – Gra-
Engenharia LTDA., onde atua em avaliações de duado pelo Centro Universitário Ritter dos Reis
imóveis, perícias judiciais e extrajudiciais e con- (2004); Especialista em Inovação e Design do Sis-
sultoria em patologia e desempenho das constru- tema-Produto pela UNISINOS (2012); Especialista
ções. em Avaliações e Perícias de Imóveis Urbanos –
BSSP (previsão de término: 2024); Proprietário e
• Engenheiro Civil Alfredo Kuhn Pfeifer - Enge- Diretor Técnico da Herrmann Perícia e Avaliação
nheiro Civil formado pela Universidade Federal do (2013), atuando com Avaliação Imobiliária, Enge-
Rio Grande do Sul (1981-1985), Administrador de nharia Legal e Diagnóstica; Cadastrado e atuante
Empresas formado pela Universidade Federal do como Perito Judicial no TJRS e JFRS (2013); Cre-
Rio Grande do Sul (1982-1994), Inspetor Secretá- denciado CAIXA (2017); Credenciado BANCO DO
rio da Inspetoria de Porto Alegre – CREA/RS – Ges- BRASIL (2018); Membro Convidado da Comissão
tão (2023/2024), Sócio e Segundo Vice Presidente Especial de Direito Urbanístico e Planejamen-
do IBAPE/RS - Instituto Brasileiro de Avaliações e to Urbano da OAB/RS (2013-2015;2016/2018);
Perícias de Engenharia do RGS (2023/2024), Cur- Membro Sócio do IBAPE-RS (2013); Diretor de En-
so de Inspeção Predial: Conceitos, métodos e pro- sino do IBAPE-RS (2023-2024).

BIBLIOGRAFIA
O histórico de enchentes no Brasil - https://biomania.com.br/artigo/o-historico-de-enchentes-no-brasil-causas-e-tra-
gedias
O seguro residencial cobre inundações? - https://www.mapfre.com.br/para-voce/imoveis/artigos/o-seguro-residen-
cial-cobre-inundacoes/
Relatório - https://acrobat.adobe.com/link/review?uri=urn:aaid:scds:US:a82f18f2-96d5-3095-a170-1a8a943baf44
Avaliação de danos as edificações - https://www.scielo.br/j/ac/a/cH8zJVw4jMyrhVmGQ3BwTnS/?lang=pt
GZH - https://gauchazh.clicrbs.com.br/ultimas-noticias/tag/enchentes/
Inspeção Predial: Guia da Boa Manutenção – IBAPE SP 2005 Norma Básica para Perícias de Engenharia
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 15575-1/2013; Manutenção de edificações. Rio de
Janeiro: ABNT, 2013.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 12721; Avaliação de custos de construção para incor-
poração imobiliária e outras disposições para condomínios edilícios. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 14653-1; Avaliação de bens– Procedimentos Gerais.
Rio de Janeiro: ABNT, 2001.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 14653-2; Avaliação de bens– Parte 2: Imóveis Urba-
nos. Rio de Janeiro: ABNT, 2001.
Análise do Cálculo da Depreciação de Benfeitorias Utilizando a Vida Útil, de Vários Elementos, Estabelecida pela Nor-
ma Brasileira de Desempenho – ABNT NBR 15.575: 2013 - Felipe Lopes Silveira

38 Revista Técnica IBAPE RS


ARTIGO TÉCNICO

ESTUDO DA CAPACIDADE DE GERAÇÃO DE RENDA (ECGR)


COM ECOTURISMO RURAL DE AVENTURA

PALAVRAS-CHAVE AUTOR
Renda, Ecoturismo Rural Henrique Seleme Lauar
Engenheiro Agrônomo
1. INTRODUÇÃO Goiânia/GO
[email protected]
I números imóveis rurais em Goiás (e Brasil)
possuem áreas de Cachoeiras, Trilhas, Vestígios pode trazer a exploração agrossilvopastoril,
Arqueológicos/Históricos, Cânions, Mirantes, Pe- principalmente quanto a conscientização
regrinação Religiosa/Holística ou Beleza Cênica. que o uso sustentável do atrativo natural do
Inclusive, detém construções Históricas as quais imóvel rural, inclusive a realizar estudos
poderiam agregar valor às explorações agrossil- para estimar a Capacidade de Carga quanto a
vopastoris quanto a Atividade Pluriativa, seja no visitação e Estudo de Caso em imóvel rural de
Turismo de Visitação, Entretenimento, Recreativo propriedade do INCRA, cuja modalidade de
ou Histórico/Cultural. Há inclusive normativos fe- assentamento de famílias fora a de Projeto de
derais aos quais orientam quanto a forma de ex- Desenvolvimento Sustentável (PDS) em Alto
ploração de forma sustentável com implantação Paraíso de Goiás-GO.
de infraestrutura que permita o fluxo de turistas
e visitantes, assim como atividades, obras e servi-
ços permissíveis, como a Lei nº 6.513 (20/12/77), 2. ANÁLISE DA DEMANDA TURÍSTICA
o Decreto nº 86.176 (06/07/81) e o Decreto nº DE ALTO PARAÍSO DE GOIÁS,
99.556 (01/10/90). Entretanto, o desconhecimen-
to quanto a Linhas de Crédito de apoio ao Ecoturis-
SEGUNDO O PDITS DA GOIÁS
mo – a exemplo o PRONAF-Jovem/Turismo Rural, TURISMO
destinado a pessoas com idade entre 16 a 29 anos
(R$ 15.000), conforme Vide RESOLUÇÃO/BCB/nº
4.107 (28/06/12) – e principalmente carências
de estudos quanto a rentabilidade rural, inibem
o proprietário rural tomada de decisão quanto a
exploração turística.

Entrevistamos instituições as quais atuam no Tu-


rismo de Aventura, assim como inquiridos dados
financeiros/contábeis junto aos Empreendedores
do Ecoturismo Rural, em especial voltados a explo-
ração de Cachoeira, como Empreendedores abaixo:

• UEG – Câmpus de Pirenópolis-GO


• Parque Natural Salto do Corumbá em Co- De acordo com o Plano de Desenvolvimento Inte-
rumbá de Goiás-GO grado do Turismo Sustentável (PDITS) elaborado
• Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cer- pelo Instituto de Pesquisas do Turismo de Goiás
rado em Pirenópolis-GO (IPTUR) – vinculado a Agência Goiana de Turismo
• Cachoeira do Rosário em Pirenópolis-GO (GOIÁS TURISMO), o município de Alto Paraíso
• Cachoeira do Abade em Pirenópolis-GO de Goiás integra o Polo Turístico da Chapada dos
• Santuário de Vida Silvestre Vaga Fogo em Pi- Veadeiros, ao qual se localiza a Área de Proteção
renópolis-GO Ambiental (APA) do Pouso Alto.
• Secretaria Municipal do Turismo de Pirenó-
polis-GO O intuito deste levantamento fora o A pesquisa de campo realizada pela GOIÁS TURIS-
de apresentar ao Proprietário de Imóvel Ru- MO revelou que o da Chapada dos Veadeiros tem
ral – e concomitantemente ao Empreende- capacidade de carga estipulada em 450 pessoas/dia
dor de Turismo de Aventura Rural - quanto e o seu Plano de Manejo - que é um instrumento legí-
a capacidade de retorno que uma cachoeira timo de planejamento para a gestão de uma unidade

Artigo Técnico 2ª Edição 39


de conservação dotado de todas as prerrogativas le- Médio Prazo: Em até cinco anos, projeta-se que a
gais neste sentido - foi atualizado em 2009. participação de turistas com origem em outros Es-
tados chegue a 30% e que o TMP passe a um total
Na cidade, estão instalados mais de 40 grupos mís- de 4 dias.
ticos, filosóficos e religiosos, o que a transforma,
segundo a Goiás Turismo, na Capital Brasileira do Longo Prazo: Aumentar a receita turística no Polo.
Terceiro Milênio. O paralelo 14, o mesmo que atra- Atualmente apenas 30%⁴ dos turistas gastam mais
vessa a cidade de Machu Picchu, no Peru, passa de R$ 150,00 por dia. A partir da estruturação dos
sobre Alto Paraíso de Goiás, originando histórias produtos na região, espera-se que este percentual
sobre a região ligadas ao misticismo e ufologia. O chegue a 37%, após cinco anos, e a 47% em dez anos⁵.
município possui uma crescente oferta de serviços
para o turismo, com hotéis, pousadas e campings. 3. ESTUDO DE CASO DO ATRATIVO
O município de Alto Paraíso de Goiás é o mais di- TURÍSTICO DAS CATARATAS
vulgado destino turístico da região mais elevada do
DOS COUROS NO PROJETO DE
Planalto Central, área reconhecida pela UNESCO
como Reserva da Biosfera. Sendo assim, o princi- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
pal segmento turístico é o Ecoturismo, em função (PDS) ESUSA:
de ser a principal atração de Alto Paraíso o Parque
Nacional da Chapada dos Veadeiros, cuja porta de
3.1. Dados do Imóvel:
entrada se localiza no distrito de São Jorge. Denominação: Projeto de Desenvolvimento Sus-
tentável (PDS) ESUSA
2.1. Metodologia do Estudo do Proprietário(s): INCRA – Superintendência Re-
PDITS realizado pelo IPTUR-GO/ gional do Distrito Federal e Entorno (DFE).
ESTUDOS ESPECÍFICOS:
Exploradores: Associação das Lindas Cataratas
Constituem-se objetivos específicos do Plano de dos Couros – ALCOUROS
Desenvolvimento Integrado de Turismo Susten-
tável – PDITS, do Polo da Chapada dos Veadeiros: Área registrada em hectares: 12.751,6287 ha
CCIR no INCRA: 927.015.000.752-6
Curto Prazo: Reduzir a dependência do turista do
DF, GO e SP, atualmente responsável por 80%¹ dos Área objeto do Estudo de Rentabilidade: Compre-
turistas. Para elevar a receita turística é necessário ende Centro de Atendimento ao Turista (CAT), Re-
que exista uma maior diversificação da origem do cepção e Estacionamento e Centro Holístico eCentro
turista no Polo, evitando uma dependência muito de Permacultura – para exploração do Ecoturismo
alta de poucos mercados. A partir da diversifica- na Cachoeira das Cataratas dos Couros, a cobran-
ção do público visitante no Polo da Chapada dos ça de estacionamento, visitação e edificações para
Veadeiros, espera-se que o percentual de turistas venda de produtos da Agricultura Familiar: Galinha,
de outros Estados se eleve a 25% em dois anos. Em Ovos, Rapadura, Farinha, Doces, Conservas, Polpas,
relação a aumentar o tempo de permanência mé- Artesanato, Coco, Lanches e Refeições - para venda
dia dos turistas no Polo, a pesquisa de satisfação no seguinte Quadro de Área abaixo:
do turista realizada em Alto Paraíso ² (principal
Áreas delimitadas no Ante-Projeto Área (ha)
receptivo do Polo) aponta que os turistas passam
em média três dias na cidade. Adotando-se este 02 – Centro Holístico/CAT 3,4949ha
número como o Tempo Médio de Permanência 03 – Recepção/Estacionamento 3,9880ha
(TMP) do Polo, pode-se projetar para o período de 04 – Centro de Permacultura 43,3516ha
dois anos um TMP de 3,5 dias³. Total 50,8345ha

¹ Este percentual foi indicado pela pesquisa realizada em Alto Paraíso no período de Jun/09 a Jan/10 com turistas que cadastraram
e-mail no canhoto da taxa de turismo.
² Esta pesquisa foi realizada em 2010 através de questionários enviados a turistas que visitaram Alto Paraíso entre Jul/2009 e Jan/2010
e cadastraram seu e-mail no canhoto da taxa de turismo. Foram enviados 500 questionários e respondidos 113. Esta pesquisa apre-
senta margem de erro de 10%.
³ Este TMP será calculado a partir do somatório de dias permanecidos nos municípios do Polo ininterruptamente. As projeções foram
realizadas com base no aumento do fluxo turístico para o Estado.
⁴ Este percentual foi indicado pela pesquisa realizada em Alto Paraíso no período de Jun/09 a Jan/10 com turistas que cadastraram
e-mail no canhoto da taxa de turismo.
⁵ Estas projeções foram realizadas adotando-se a taxa média de crescimento do PIB esperada para os próximos 10 anos.

40 Revista Técnica IBAPE RS


3.2. Localização e roteiro acesso 3.4. Imagem das e Cataratas do rio
ao imóvel rural: dos Couros:
O imóvel posiciona-se aproximadamente à região Imagens aéreas (Cataratas e Cânios) e panorâmi-
oeste do município de Alto Paraíso de Goiás – na cas, objeto do ECGR em Ecoturismo.
região denominada “São João/Esusa” a 37,3Km
da cidade. O melhor acesso ao imóvel se faz – par- Cachoeira e Cânion Rio dos Couros
tindo de Alto Paraíso de Goiás - pela rodovia esta-
dual GO-118 (sentido Sº João d’Aliança) até o Km
18 – Coordenada: 8.419.462 x 228.826m; daí, vira
à direita e segue por estrada municipal – sentido
povoado de Garimpinho, rio Tocantizinho e Cata-
rata dos Couros – até o Km 28 – trevo de acesso
secundário ao PA Sílvio Rodrigues. Segue pela op-
ção de estrada da margem direita até atravessar a
ponte do ribeirão Piçarrão e sede da Fazenda São
João-Quinhão 1 do Major José Felipe dos Santos
(espólio) no Km 31,5; vira à esquerda e segue até a
ponte do córrego Caldeirão (intermitente) no Km
37,3 onde se acessa imóvel (em frente).

Acesso é considerado bom, uma vez que há boa


condição de trafegabilidade, sinuosidade e incli-
nação destes 33Km de estrada não pavimentada.
Coordenada Acesso: 8.415.818 x 211.197. A sede
– atual Núcleo Comunitário - fica a 8,6 Km da en-
trada do imóvel – Coordenada da Sede/Núcleo Co-
munitário: 8.413.499 x 206.523. 4) Capacidade de Carga Física
(CFC) de um Recurso Turístico:
3.3. PDS ESUSA (11.846,7090ha), Quanto ao estudo da Capacidade de Carga Físi-
CAT/Holístico (3,4949ha) e ca (CCF) de um Recurso Turístico, Soares, P.H.V.
Estacionamento (3,9880ha): (2006) utilizou-se metodologia aplicável as Catara-
tas dos Couros, cujo pico de fluxo dos banhistas se
concentram entre os horários das 11 às 15 horas:

CCF = Superfície total da área (m²) x


nº de visitantes/m² x tempo de visita

Os critérios a serem adotados no cálculo da Capa-


cidade de Carga Física (CCF) são:

a) para as trilhas, considera-se o parâmetro de 1


metro linear por pessoa;

b) na área plana da entrada e do topo da cachoei-


ra, considera-se 1 m² por pessoa;

c) para as áreas de descanso na cachoeira e nos


tanques - ao invés de 1m² por pessoa - aplica-se um
fator redutor, devido às pedras, passando-se a con-
siderar 5m² por pessoa nas atividades econômicas-
que se apresentam mais viáveis no momento.

Para a aplicação dessa metodologia de cálculo da


Capacidade de Carga Física (CFC) a ALCOUROS
deve calcular inicialmente o número de turistas
que visitam a Catarata dos Couros para o período
de um ano através da CCF que deve ser calculada
da seguinte forma:

Artigo Técnico 2ª Edição 41


d) uma vez que a visitação é reduzida nos dias de se- maior parte das respostas (37%) indica que os vi-
mana e fora da alta temporada que ocorre nos me- sitantes ficam menos de 3 horas no local do banho.
ses de fevereiro a junho, deve-se considerar apenas
os finais de semana e feriados do calendário anual; Utilizando números fictícios - apresentados por
Soares, P.H.V. (2006) para se calcular a Capacida-
e) em agosto a novembro e nos demais dias frios de de Carga Física (CCF) de um Recurso Turístico
e início do período chuvoso, apesar do aumento - apenas para fins de exemplificação, tem-se:
do número de turistas em Alto Paraíso de Goiás,
a atividade balneária na cachoeira é reduzida e, Área de banho Catarata (2.015m²): Poço Adulto
nesse caso, deve-se aplicar um índice de redução (622m²) e 02 Poços Infantis (308m²)
estimativo de 25%.
Horário dos Banhistas nas Cataratas dos Couros
Assim, para exemplificar, indica-se o seguinte (06 horas): das 10 às 16 horas
roteiro de cálculo da Capacidade de Carga Física
Tempo máximo de permanência de cada banhis-
(CCF) com base no calendário de 2005:
tas na área da Cachoeira = 03 horas
4.1) 52 sábados/ano + 52 domingos/ano = 104 dias
4.5) aplicação da fórmula: CCF = superfície total da
- 25% (índice redutor: frio/chuva) = 78 dias
área (930m2) x nº visitante/m2 (1 indivíduo/5m2)
4.2) 78 dias + 07 feriados (média/ano descontando x tempo (3 horas/banhista) que resulta em:
feriados de sábado e domingo em 2005) = 85 dias

4.3) 85 dias + 62 dias de semana durante as férias CCF (máximo/hora) = 186 banhistas/hora
de janeiro, fevereiro e julho (90 dias menos 28 dias
referentes a 14 finais de semana) = 147 dias URB CCF (máximo/dia) = 558 banhistas/dia, cujo
tempo máximo de banho cachoeira 3 horas
(Uso Recreativo Balneário durante um ano)

4.4) na fórmula da CCF, deve-se considerar o tem-


po de 2 horas como sendo aquele durante o qual 4.6) multiplicando-se 147 dias URB pela CCF que
as pessoas permanecem na área, uma vez que, de indicou o máximo de pessoas por dia (558 pes-
acordo com a análise da pesquisa de perfil do tu- soas/dia), obtém-se como resultado o máximo de
rista realizada no verão de 2005, soube-se que a pessoas por ano (82.026 = pessoas/ano).

5. DADOS REFERENCIAIS DE CUSTOS DA INFRAESTRUTURA DE ECOTURISMO:


Dados financeiros obtidos junto aos Empreende- • Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cer-
dores do Ecoturismo Rural, assim como junto às rado em Pirenópolis-GO
Instituições as quais atuam no Turismo de Aven- • Cachoeira do Rosário em Pirenópolis-GO
tura: • Cachoeira do Abade em Pirenópolis-GO
• Santuário de Vida Silvestre Vaga Fogo em Pi-
• UEG – Câmpus de Pirenópolis-GO renópolis-GO
• Parque Natural Salto do Corumbá em Co- • Secretaria Municipal do Turismo de Pirenó-
rumbá de Goiás-GO polis-GO

Infraestrutura/Construções Materias Mão-de-Obra


* Nível B – Jardins de padrão médio:
Bio-construções Permaculturais R$ 1.200/m² Árvores de porte médio, com canteiros de
flor e utilização de arbustos floríferos. Maior
Trilhas: calçamento de pedra (L = 1,0m) 97,14/m² densidade de plantio e utilização de plantas e
flores de maior qualidade e preço. Árvores
Arvorismo (estrutura, construção, R$ 70.000/unidade de até 4 metros de altura, palmeiras de 3
a 4 metros e arbustos de mais de 1 metro
treinamento) de altura. Plantas bem desenvolvidas
e com maior padrão. Com utilização
Pêndulo R$ 35.000/unidade de chips, adubos de lenta liberação e
materiais de acabamento diferenciados.
Tirolesa R$ 40.000/unidade Incorporam equipamentos básicos como
bancos, pergolados e playgrounds de baixa
Rappel R$ 20.000/unidade complexidade.

Mirante de Madeira com corrimão R$ 15.000 R$ 15.000


Ponte pênsil, vão de 50 metros R$ 16.500 R$ 20.000
Escadaria suspensa de madeira com R$ 129/m² R$ 55/m²
verniz marítimo
Jardinagem e Paisagismo padrão médio* R$ 90/m²

42 Revista Técnica IBAPE RS


6. ESTIMATIVA DO FATURAMENTO zação para exploração do Ecoturismo, Centro de
BRUTO (FB) Atendimento ao Turista (CAT), Alimentação, Esta-
cionamento, Hospedagem, Banhistas – em Carta/
Discriminação Veículos Turistas ALCOUROS/nº 01 (07/08/18) - das Taxas cobradas
Total veículos/turistas Baixa 2.729 8.108 de Cachoeiras em Alto Paraíso de Goiás-GO, alia-
Temporada do aos descontos atrativos a crianças/idosos, su-
Média diária Baixa Temporada 11 31 gerimos que o tarifário das Cataratas dos Couros
Total veículos/turistas Alta 3.474 10.513 – comumente aplicado na região - seja disposto
Temporada conforme tabela abaixo:
Média diária Alta Temporada 24 70
Total veículos/turistas Anual 6.203 18.621
Arrecadação visitantes
Média diária Anua 14 40
Van R$ 25,00
Carro R$ 10,00
Uma vez que o Projeto de Desenvolvimento Sus-
tentável (PDS) do INCRA é destinado ao uso/ex- Moto R$ 5,00
ploração pelas famílias de forma coletiva, essas Pessoa > 12 anos R$ 10,00
criaram uma associação de direito privado com Criança: 02 a < 12 anos R$ 5,00
personalidade jurídica – a Associação das Lin-
Bebê: 0 a < 2 anos R$ 0,00
das Cataratas dos Couros-ALCOUROS, CNPJ nº
22.582.651/0001-70 - e reivindicaram ao INCRA o
Licenciamento e/ou Autorização para exploração
6.3) Taxa de Exploração por Serviços/Produtos/
sustentável da visitação já existente pelos turis-
Alimentos/Bebidas – até implantação da Infra-
tas/banhistas. O modelo abaixo – e respectiva ren-
estrutura do Centro de Atendimento ao Turista,
tabilidade – pode ser aplicado tanto a associação
Restaurante, Lanchonete, Quiosques, Centro Ho-
(coletivo) que queiram explorar o Ecoturismo de
lístico, Trilhas/Entretenimento, Galpão para venda
Aventura, quanto ao proprietário particular de for-
do Artesanato/Fitoterápicos e produtos da Produ-
ma direta, ou de forma indireta, através da Cessão
ção Familiar (queijos, doces, conservas, rapadu-
de Uso a terceiros, cujos estudos abaixo apresen-
ra, farinha, biscoitos/pães artesanais, defumados,
tam proposta de que os investimentos em melho-
linguiças, ovos, manteiga, castanhas, pequi, etc),
rias/bioconstruções sejam aplicados com a renta-
propomos que a ALCOUROS cobre o percentual de
bilidade da cobrança de taxa de visitação ao longo
10% do Faturamento Bruto (FB) a título de Taxa de
de 20 anos. Após esse período, todo Lucro Líquido
Exploração, inclusive sobre quaisquer outros ser-
seria rateado entre Empreendedor do Ecoturismo
viços de Entretenimento, Guias, Passeios a Cavalo,
(associação) e o proprietário do imóvel.
Camping, Serviços de Terapia/Massoterapia execu-
6.1) Registro de Visitantes - Baseado na plani- tados por terceiros ao longo dos próximos 15 anos.
lha de registro diário de visitantes entre os dias A partir do 15º ano ao 20º ano, a ALCOUROS poderá
29/11/2017 a 07/08/2018, apurada pela ALCOU- cobrar um % maior pela Taxa de Exploração ou –
ROS, houve apuração do nº de visitantes/veículos deliberado pelos Associados – assumir integral-
nos períodos de “alta temporada” - concernente a mente esta exploração e concomitantemente os
férias escolares e feriados – e “baixa temporada” custos dos insumos e construções Permaculturais,
- meses chuvosos e baixa temperatura – apresen- inclusive com a venda de Reciclados plásticos/PET,
tados no quadro abaixo: papelões e latas de alumínio e prensagem em far-
dos, cuja renda mensal pode chegar a R$ 360,00.
6.2) Tarifário dos Visitantes - baseado nos dados Assim, até o 15º ano, se propõe a arrecadação de
apresentados ao pedido de Licenciamento/Autori- 10% sobre o Faturam. Bruto (FB):

Faturamento Bruto (FB): diário Tarifa diária FB diário FB mensal


Restaurante taxa 10% exploração 15 R$ 3,50 R$ 52,50 R$ 1.575,00
Lanches e Bebidas 10% exploração 25 R$ 1,00 R$ 25,00 R$ 750,00
Artesanato e souvenir 10% explor 40 R$ 1,00 R$ 40,00 R$ 1.200,00
Produção agrícola do Assentamento* 40 R$ 2,00 R$ 80,00 R$ 2.400,00
Trilhas e Entretenimento 40 R$ 2,50 R$ 100,00 R$ 3.000,00*

* 10% do Faturamento Bruto (FB) da venda de produtos Assentamento, como:Doces, Conservas, Pães, Biscoitos, Castanhas, Frutos
Cerrado, frango congelado, Queijos, Farinha, Rapadura, Polpa Frutas, Garapa, Côco-verde, Pães/Biscoitos/Bolos Artesanais, etc

Artigo Técnico 2ª Edição 43


6.4) Faturamento Bruto (FB) mensal – previsto com a co- Alimentação
brança de estacionamento, visitação e cobrança da Taxa
15 pessoas refeições R$ 35,00
de Exploração terceirizada totalizará o Faturamento Bru-
to (FB) mensal de R$ 25.125,00 conforme quadro abaixo: 25 lanches R$ 10,00

Faturamento Bruto (FB): diário Tarifa diária FB diário FB mensal


Visitantes 40 R$ 10,00 R$ 400,00 R$ 12.000,00
Veículos 14 R$ 10,00 R$ 140,00 R$ 4.200,00
Restaurante taxa 10% exploração 15 R$ 3,50 R$ 52,50 R$ 1.575,00
Lanches e Bebidas 10% exploração 25 R$ 1,00 R$ 25,00 R$ 750,00
Artesanato e souvenir 10% explor 40 R$ 1,00 R$ 40,00 R$ 1.200,00
Produção agrícola do Assentamento* 40 R$ 2,00 R$ 80,00 R$ 2.400,00
Trilhas e Entretenimento 40 R$ 2,50 R$ 100,00 R$ 3.000,00*

* 10% do Faturamento Bruto (FB) da venda de produtos Assentamento, como:Doces, Conservas, Pães, Biscoitos, Castanhas, Frutos
Cerrado, frango congelado, Queijos, etc

7– CUSTOS FIXOS (CF) & CUSTOS aqueles os quais não exista revisão destes, em vir-
VARIÁVEIS (CV) tude da não exploração na Catarata dos Couros. Até
o 20º ano, todo Lucro Bruto dos Sócios (30,939%)
7.1) Custo Fixo (CF) mensal – são aqueles que não será aplicado nas construções/benfeitorias.
sofrem alteração de valor em caso de aumento ou
diminuição da produção. Independem portanto, do Baseado nas entrevistas com os Empreendedores
nível de atividade, conhecidos também como custo do segmento do Ecoturismo Rural de Cachoeiras,
de estrutura. Possíveis variações na produção não Trilhas e Entretenimento de Pirenópolis e Corum-
afetarão os dispêndios abaixo, que já estão com seus bá de Goiás, os percentuais de 85,188% de Cus-
valores fixados. Por isso chamamos de custos fixos. tos Fixos sobre o FB – aos quais propomos que a
ALCOUROS rubrique em sua Contabilidade - estão
Os campos os quais não possuem valores % são dispostos abaixo:

Proposta de Custos (CF/CV) e aplicação das receitas nas Construções: CAT, Centro Holístico, % sobre o Custo Total
Trilhas, CânionsMirantes, Ponte Pênsil, Portaria e Estacionamento (CT) Couros
Pró-labore aos Sócios: Dividendos líquidos 5,085%
Salário de 04 Trab. fixos. Banco de 704 horas (44 horas x 04 semanas x 04 pessoas) 20,586%
Lucro Bruto aos SóciosEscritório Contabilidade 0,560%
Impostos: Simples + FGTS + IR + ITR 1,600%
Material Escritório/Desp. Bancárias/Administração 0,040%
Material Limpeza/ferramentas 0,680%
Energia Elétrica e serviços elétricos 0,780%
Seguro veículos + consórcio 2,000%
Perda produtos revenda: bóias/picolés/iorgute/lanche 0,221%
Gás cozinha restaurante/lanchoneteEncargos c/ Assistência Médica 1,020%
Veículos (despesas/financiamento)1,480%Combustíveis/deslocamentos 0,620%
Máquinas/Equipamentos/Energia/Combustível 0,630%
Manutenção/reparos de Máquinas/Equipamentos0,500%
Insumos jardinagem/horta0,084%Moradias de Funcionários 0,131%
ÁguaAquisição de Equipamentos/Utensílios elétricos 0,421%
Bomba d'água e Poço Artesiano0,780%Despesas Gráficas 0,310%
Software/Internet/Radio comunicador/Máq. Cartão de crédito 1,136%
Jardinagem + Paisagismo + Sistema de Irrigação 0,069%
Construções sobre Ecoturismo (CAT + Trilhas + pontes) 30,939%

44 Revista Técnica IBAPE RS


Proposta de Custos (CF/CV) e aplicação das receitas nas Construções: CAT, Centro Holístico, % sobre o Custo Total
Trilhas, CânionsMirantes, Ponte Pênsil, Portaria e Estacionamento (CT) Couros
Prensa reciclados e Depreciação 0,142%
Fundo de Capital de Giro p/ despesas Baixa Temporada 11,134%
Obras Engª/locação de máquinas pesadas/tratores/Patrol 0,504%
Placas Sinalizações/Advertência estrada/trilhas projeto e construção 0,204%
Depreciação Placas e susbstituições adesivos/02 anos 0,046%
Depreciação das Construções/Maquinários 0,317%
Fundo Reserva s/ LB p/ Construções e Reforma imprevistos 1,902%
Fundo Reserva s/ LB p/ Rescisões Trabalhistas imprevistos 0,634%
Fundo Reserva (FR) s/ LB p/ ações promocionais de Marketing 0,380%
FR s/ LB p/ Ações Sociais, Patrocínio atletas, estudantes, doações, estradas 0,253%
Custos Fixos (CF) 85,188%

7.2) Custo Variável (CV) mensal – são variáveis Baseado nas entrevistas com os Empreendedores
aqueles que variam proporcionalmente de acordo do segmento do Ecoturismo Rural de Cachoeiras,
com o nível de produção ou serviços prestados. Trilhas e Entretenimento de Pirenópolis e Corum-
Seus valores dependem diretamente do serviço bá de Goiás, os percentuais de 14,812% de Custos
(ecoturístico) prestado volume produzido ou volu- Variáveis – aos quais propomos que a ALCOUROS
me de vendas efetivado num determinado perío- rubrique em sua Contabilidade - estão dispostos
do. abaixo:

% sobre o
Proposta de Custos (CF/CV) e aplicação das receitas onas Construções: CAT, Centro Holístico, Trilhas Custo Total
Cânions Mirantes, Ponte Pênsil, Portaria eEstacionamento
(CT) Couros
Marketing, panfletagem e publicidade 2,650%
Bebidas
Faxineira/limpeza 0,640%
Salário de 03 auxiliares diaristas. Banco de 144 horas (12 horas x 04 semanas x 03 pessoas) 4,810%
Encargos transporte dos 03 Diaristas 0,830%
Seguranças 0,380%
Combustível carro equipe funcionários 0,210%
Cursos/treinamentos/capacitações 1,116%
Portaria/ingressos/pulseira com lacre Tyvek 1,260%
Assistência médica turistas 0,060%
Insumos Restaurante e LanchoneteImpostos sobre Serviços (ISS) 2,856%
Custos Variáveis (CV) 14,812%

7.3) Contabilidade proposta a ALCOUROS sobre beis sobre o Faturamento Bruto sejam lançados
o Faturamento Bruto (FB) – recomenda-se obser- com base nas experiências do segmento de Eco-
var a escrituração contábil e fiscal do Livro II do turismo Rural de Pirenópolis e Corumbá de Goi-
Decreto nº 3.000 (26/03/99) pela associação, uma ás, ao qual colhemos as informações das rubricas
vez que a ALCOUROS nos próximos 20 anos apli- aos respectivos elementos de Despesas conforme
cará integralmente o lucro na construção de edi- quadro disposto nos itens 7.1 e 7.2.
ficações/trilhas/mirantes e acomodações aos ba-
nhistas/turistas, inferimos que a mesma rubrique Ao longo dos próximos 20 anos, todo percentual
seus lançamentos/provisionamentos contábeis de Lucro Bruto sobre o Faturamento Bruto mensal
seguindo as orientações da Resolução/Conselho estimado (R$ 7.773,42 ou 30,939%) será destina-
Federal de Contabilidade/nº 877 (18/04/00) – a do a Bio-construções Permaculturais; sugerimos
qual instituiu o item 10.19 das Normas Brasileiras que os associados da ALCOUROS (ou outro Em-
de Contabilidade (NBC) - uma vez que a ALCOU- preendedor de Ecoturismo de Aventura) - visitem
ROS nos próximos 20 anos não auferirá lucros; é o Instituto de Permacultura-IPEC, assim como as
importante destacar que os lançamentos contá- Cachoeiras (Rosário e Abade) e Santuário do Vaga

Artigo Técnico 2ª Edição 45


Fogo em Pirenópolis/GO; outro local a visita para Na ALCOUROS, há famílias que optaram pelo tra-
depreender funcionamento seria o Salto do Co- balho direto com o Ecoturismo de Aventura, en-
rumbá em Corumbá de Goiás/GO, cujos custos tretanto, outras optaram pelas atividades agrossil-
foram discriminados nos itens 06 e 07 deste In- vopastoris convencionais, porém com a venda de
formativo Técnico. Aplicando-se mensalmente os sua produção aos Ecoturistas ou outros mercados
R$ 7.773,42 ao longo dos próximos 240 meses (20 consumidores. A remuneração das pessoas da AL-
anos) o total aplicado em Infraestrutura será de R$ COUROS as quais trabalharão de forma direta (04
1.865.620,80 nas principais Obras de Engenharia/ pessoas) e eventuais (03 pessoas) será na forma
Entretenimento: de “Banco de Horas”, a fim de estimular as famí-
lias ao trabalho Pluriativo e Solidário rural.
Portaria Trilhas calçadas Centro Holístico
Os % dos Custos – e respectiva correlação com Sa-
Centro Atend. Mirantes Passarelas lário Mínimo mensal de R$ 954,00/2018 - foram to-
Turista (CAT) piscinas naturais
mados considerando o FB mensal de R$ 25.125,00.
Irrigação/
Jardim e distribuição d’água Estacionamento Nos meses de Alta x Baixa Temporada que divergi-
Paisagismo Estacionamento rem desta média, os lançamentos contábeis deve-
Escadaria madeira rão obedecer a esses percentuais, a fim de se evitar
Tirolesa Ponte Pênsil
envernizada o descontrole orçamentário e concomitante impro-
Deck sobre piscina Escadaria acesso Restaurantes/ bidade da Associação destinação de recursos para
caverna Lanchonetes
a “saúde” financeira do Ecoturismo Rural.

Salário Mínimo em 2018 R$ 954,00 100%


LB = Lucro Bruto CT = Custo Total
CAT = Centro de Atendimento ao Turista FR = Fundo de Reserva
FGTS = Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
ITR = Imposto Territorial Rural
IR = Imposto de Renda
Trabalhadores Fixos (04) = Recepcionista, Serviços Gerais, Vigilante Veículos e Monitor Trilhas/CachoeiraR$
5.172,23/704 horas = R$ 7,35/hora trabalhada ou diária (08 horas) de R$ 58,80
Trabalhadores auxiliares Eventuais diaristas (03): Salva-vidas, Monitor Trilhas/Cachoeira e Auxiliar Serviços
GeraisR$ 1.708,51/144 horas = R$ 8,39/hora trabalhada ou diária (08 horas) de R$ 67,12

Proposta de Custos (CF/CV) e aplicação das receitas nas 40 banhistas/dia Correlação % sobre o Custo
Construções: CAT, Centro Holístico, Trilhas, Mirantes, , Ponte Pênsil, Taxa Ocupação em Salário Total
Portaria e Estacionamento Ponte Pênsil, Portaria e Estacionamento 57,14% Mínimo ( CT) Abade
Custos Fixos (CF) R$ 21.403,49 22,4355 85,188%
Pró-labore aos Sócios: Dividendos líquidos R$ 1.277,61 1,3392 5,085%
Salário de 04 Trab. fixos. Banco de 704 horas (44 horas x 04 R$ 5.172,23 5,4216 20,586%
semanas x 04 pessoas)
Lucro Bruto aos Sócios R$ 0,00 0,0000
Escritório Contabilidade R$ 140,70 0,1475 0,560%
Impostos: Simples + FGTS + IR + ITR R$ 402,00 0,4214 1,600%
Material Escritório/Desp. Bancárias/Administração R$ 10,05 0,0105 0,040%
Material Limpeza/ferramentas R$ 170,85 0,1791 0,680%
Energia Elétrica e serviços elétricos R$ 195,98 0,2054 0,780%
Seguro veículos + consórcio R$ 502,50 0,5267 2,000%
Perda produtos revenda: bóias/picolés/iorgute/lanche R$ 55,53 0,0582 0,221%
Gás cozinha restaurante/lanchonete R$ 0,00 0,0000
Encargos c/ Assistência Médica R$ 256,28 0,2686 1,020%
Veículos (despesas/financiamento) R$ 371,85 0,3898 1,480%
Combustíveis/deslocamentos R$ 155,78 0,1633 0,620%
Máquinas/Equipamentos/Energia/Combustível R$ 158,29 0,1659 0,630%
Manutenção/reparos de Máquinas/Equipamentos R$ 125,63 0,1317 0,500%
Insumos jardinagem/horta R$ 21,11 0,0221 0,084%

46 Revista Técnica IBAPE RS


Proposta de Custos (CF/CV) e aplicação das receitas nas 40 banhistas/dia Correlação % sobre o Custo
Construções: CAT, Centro Holístico, Trilhas, Mirantes, , Ponte Pênsil, Taxa Ocupação em Salário Total
Portaria e Estacionamento Ponte Pênsil, Portaria e Estacionamento 57,14% Mínimo ( CT) Abade
Moradias de Funcionários R$ 32,91 0,0345 0,131%
Água R$ 0,00 0,0000
Aquisição de Equipamentos/Utensílios elétricos R$ 105,78 0,1109 0,421%
Bomba d'água e Poço Artesiano R$ 195,98 0,2054 0,780%
Despesas Gráficas R$ 77,89 0,0816 0,310%
Software/Internet/Radio comunicador/Máq. Cartão de crédito R$ 285,42 0,2992 1,136%
Jardinagem + Paisagismo + Sistema de Irrigação R$ 17,34 0,0182 0,069%
Construções sobre Ecoturismo (CAT + Trilhas + pontes) R$ 7.773,42 8,1482 30,939%
Prensa reciclados e Depreciação R$ 35,68 0,0374 0,142%
Fundo de Capital de Giro p/ despesas Baixa Temporada R$ 2.797,42 2,9323 11,134%
Obras Engª/locação de máquinas pesadas/tratores/Patrol R$ 126,63 0,1327 0,504%
Placas Sinalizações/Advertência estrada/trilhas projeto e R$ 51,26 0,05370,2 04%
construção
Depreciação Placas e susbstituições adesivos/02 anos R$ 11,56 0,0121 0,046%
Depreciação das Construções/Maquinários R$ 79,65 0,0835 0,317%
Fundo Reserva s/ LB p/ Construções e Reforma imprevistos R$ 477,88 0,5009 1,902%
Fundo Reserva s/ LB p/ Rescisões Trabalhistas imprevistos R$ 159,29 0,1670 0,634%
Fundo Reserva s/ LB p/ ações promocionais de Marketing R$ 95,48 0,1001 0,380%
FR s/ LB p/ Ações Sociais, Patrocínio atletas, estudantes, R$ 63,57 0,0666 0,253%
doações, estradas
Custos Variáveis (CV) R$ 3.721,52 3,9010 14,812%
Marketing, panfletagem e publicidade R$ 665,81 0,6979 2,650%
Bebidas R$ 0,00 0,0000
Faxineira/limpeza R$ 160,80 0,1686 0,640%
Salário de 03 auxiliares diaristas. Banco de 144 horas (12 R$ 1.208,51 1,2668 4,810%
horas x 04 semanas x 03 pessoas)
Encargos transporte dos 09 Diaristas R$ 208,54 0,2186 0,830%
Seguranças R$ 95,48 0,1001 0,380%
Combustível carro equipe funcionários R$ 52,76 0,0553 0,210%
Cursos/treinamentos/capacitações R$ 280,40 0,2939 1,116%
Portaria/ingressos/pulseira com lacre Tyvek R$ 316,58 0,3318 1,260%
Assistência médica turistas R$ 15,08 0,0158 0,060%
Insumos Restaurante e Lanchonete R$ 0,00 0,0000
Impostos sobre Serviços (ISS) R$ 717,57 0,7522 2,856%
Custo Total (CT) mensal R$ 25.125,00 26,3365 100,000%

8. CRÉDITOS DISPONÍVEIS PARA Agroecologia e PRONAF-Custeio Grupo “C”/Tu-


EMPREENDEDOR FAMILIAR: rismo Rural (R$ 5.000). Vide RESOLUÇÃO/BCB/nº
4.107 (28/06/12)
8.1) A serem restituídos à União:
8.1.3 – PRONAF-Jovem/Turismo Rural: pessoas
8.1.1 - CRÉDITO INSTALAÇÃO: Decreto nº 9.424 com idade entre 16 a 29 anos (R$ 15.000). Vide
(29/06/2018): Apoio Inicial (R$ 5.200,00), Fomen- RESOLUÇÃO/BCB/nº 4.107 (28/06/12)
to Mulher (R$ 6.400,00), Florestal (R$ 6.400,00),
Recuperação Ambiental (R$ 6.400,00), Habita- 8.1.4 – PRONAF-Mulher: R$ 2.500. Vide MCR/
cional (R$ 34.000,00) e Reforma Habitacional (R$ BCB/nº 554 (26/11/12)
17.000,00) 8.1.5 – PRONAF-Florestal: beneficiárias do PRO-
8.1.2 – PRONAF: Grupo “A” (R$ 20.000), Grupo NAF “A”, “A-C” e “B” (R$ 15.000). Vide MCR/BCB/nº
“A-C” (R$ 5.000), Mulher, Jovem Rural, Floresta e 547 (06/08/12)

Artigo Técnico 2ª Edição 47


8.1.6 – PRONAF-Semi árido: R$ 18.000. Vide RE- o limite individual de R$ 10.000,00 (dez mil reais)
SOLUÇÃO/BCB/nº 4.107 (28/06/12). por associado relacionado na DAP-Pessoa Jurídi-
ca emitida para a associação. Vide MCR/BC/nº 560
8.1.7 – PRONAF-Eco/Energia Renovável/Hidro- (04/03/13).
energético: R$ 10.000. Vide RESOLUÇÃO/BCB/nº
4.107 (28/06/12). 8.2.3. PGPAF P rograma de G arantida de Pre-
ços para A gricultura F amiliar. Vide MCR/BCB/
8.1.8 – PRONAF-Agroecologia: R$ 10.000. Vide nº 551 (28/09/
RESOLUÇÃO/BCB/nº 4.107 (28/06/12).
8.2.4 – PROGRAMA TERRA SOL: NE/INCRA/DD/
n° 103 (12/07/2012).
8.2 Não restituídos à União -
“fundo perdido” e somente uso
coletivo: 9. CONCLUSÕES:
Formas de acessar o Manual de Crédito Rural 9.1) Ao se demonstrar os investimentos neces-
(MCR) do Banco Central do Brasil (BCB). Fonte de sários em Infraestrutura e Bio-Construções Per-
consulta: maculturais necessárias – como Centro de Aten-
dimento ao Turista, Redários, Trilhas, Arvorismo,
1º) Acessar o sítio do Banco Central do Brasil: Pêndulo, Tirolesa, Rappel, Mirantes, Ponte Pênsil,
www.bcb.gov.br Escadarias, Jardinagem e Bioconstruções Holísti-
cas para hospedagem e alimentação - para o bom
2º) Na página inicial, procurar no menu à esquer- atendimento aos Turistas de Aventura que procu-
da : Legislação e Normas ram as Cataratas dos Couros em Alto Paraíso de
Goiás-GO, inserido no Arranjo Produtivo Local
3º) Procurar na lista (barra de rolagem) o título
(APL) do Ecoturismo, o modelo supra apresenta-
Manuais e abrir a pasta 01 – MCR Normas
do demonstra que o empreendimento é auto-sus-
4º) Uma vez aberta a pasta 01–MCR Normas, pro- tentável ao longo de 20 anos, onde o Lucro Bruto
curar na lista a sub-pasta e escolher 10 – Progra- (30,939%) obtido seria destinado a amortização
ma Nacional de Fortalecimento da Agricultura desta infraestrutura para atendimento ao turista.
Familiar – PRONAF
9.2) Após esse período, haveria rentabilidade do
5º) Dentro desta sub-pasta, procurar especial- sistema integralmente ao Empreendedor. Contu-
mente o item 17, o qual é específico para o PRO- do, há flexibilidade de cronograma quanto ao pra-
NAF “A” e “A/C”, linhas exclusivamente destinadas zo para conclusão da infraestrutura ou financia-
aos assentados da Reforma Agrária e beneficiários mento (público/privado).
do crédito fundiário. Outras linhas de interesse da
9.3) O intuito deste levantamento fora o de apre-
Agricultura Familiar são os itens: 05 a 11 e 14 a
sentar ao Proprietário de Imóvel Rural – e conco-
16.
mitantemente ao Empreendedor de Turismo de
8.2.1 – PRONAF-Investimento de Agroindústria: Aventura Rural - quanto a capacidade de retor-
para associações até R$ 30.000.000,00 (trinta mi- no que uma cachoeira pode trazer a exploração
lhões de reais), observado o limite individual de agrossilvopastoril, principalmente quanto a cons-
R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) por associado cientização que o uso sustentável do atrativo na-
relacionado na DAP-Pessoa Jurídica emitida para tural do imóvel rural, inclusive a realizar estudos
a associação. Vide MCR/BC/nº 551 (28/09/12). para estimar a Capacidade de Carga quanto a visi-
tação e Estudo de Caso em imóvel rural de proprie-
8.2.2 – PRONAF-Custeio de Agroindústria In- dade do INCRA, cuja modalidade de assentamento
vestimento Familiar: para associações até R$ de famílias fora a de Projeto de Desenvolvimento
4.000.000,00 (quatro milhões de reais), observado Sustentável (PDS) em Alto Paraíso de Goiás-GO.

BIBLIOGRAFIA
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48 Revista Técnica IBAPE RS


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Artigo Técnico 2ª Edição 49


ARTIGO TÉCNICO

FUNDO DE COMÉRCIO AGRÍCOLA, CAPITAL


INCORPÓREO – UMA NOVA ÓTICA AVALIATÓRIA

PALAVRAS-CHAVE AUTOR
Fundo, Comércio, Agrícola, Rural, Carlos A. Arantes
Avaliação Engenheiro Agrônomo
Araçatuba/SP
1. DEFINIÇÕES
[email protected]
S egundo o Código Civil Brasileiro1 (BRASIL,
2002):¹
ou usufruto do estabelecimento, a proibição
prevista neste artigo persistirá durante o pra-
Art. 1.142. Considera-se estabelecimen- zo do contrato.
to todo complexo de bens organizado, para
Art. 1.148. Salvo disposição em contrário, a
exercício da empresa, por empresário, ou por
transferência importa a sub-rogação do adqui-
sociedade empresária.
rente nos contratos estipulados para explora-
Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto ção do estabelecimento, se não tiverem caráter
unitário de direitos e de negócios jurídicos, pessoal, podendo os terceiros rescindir o con-
translativos ou constitutivos, que sejam com- trato em noventa dias a contar da publicação da
patíveis com a sua natureza. transferência, se ocorrer justa causa, ressalva-
da, neste caso, a responsabilidade do alienante.
Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto
a alienação, o usufruto ou arrendamento do Art. 1.149. A cessão dos créditos referentes
estabelecimento, só produzirá efeitos quan- ao estabelecimento transferido produzirá
to a terceiros depois de averbado à margem efeito em relação aos respectivos devedores,
da inscrição do empresário, ou da sociedade desde o momento da publicação da transfe-
empresária, no Registro Público de Empresas rência, mas o devedor ficará exonerado se de
Mercantis, e de publicado na imprensa oficial. boa-fé pagar ao cedente.

Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens De acordo com o que ensina Coelho² (2005), Fundo
suficientes para solver o seu passivo, a eficácia de Comércio nada mais é que “(...) a reunião dos bens
da alienação do estabelecimento depende do necessários ao desenvolvimento da atividade econômica.
pagamento de todos os credores, ou do consen- Quando o empresário reúne bens de variada natureza,
timento destes, de modo expresso ou tácito, em como as mercadorias, máquinas, instalações, tecnologia,
trinta dias a partir de sua notificação. prédio etc.”

Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento Desta forma, temos caracterizado Fundo de Co-
responde pelo pagamento dos débitos an- mércio como sendo um estabelecimento comer-
teriores à transferência, desde que regular- cial, composto por bens corpóreos (tangíveis) e
mente contabilizados, continuando o deve- incorpóreos (intangíveis), integrando o patrimônio
dor primitivo solidariamente obrigado pelo de seu titular, onde o empresário atua para o exer-
prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos cício de sua atividade visando lucro. Evidente que
vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, este complexo organizado de bens deve possibilitar
da data do vencimento. o exercício das atividades da empresa, ou seja, tais
bens devem estar interligados e interdependentes.
Art. 1.147. Não havendo autorização expres- A equalização de seu valor se dá pelo complexo da
sa, o alienante do estabelecimento não pode atividade e não pela individualização dos bens.
fazer concorrência ao adquirente, nos cinco
anos subsequentes à transferência. Não se pode confundir bens isolados (que são o
patrimônio da empresa ou da pessoa física) com
Parágrafo único. No caso de arrendamento Fundo de Comércio.

¹ Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Brasil.


² COELHO, Fábio Ulhoa. (2005). Manual de Direito Comercial. 16ª Ed., p. 56, Saraiva. São Paulo / Brasil.

50 Revista Técnica IBAPE RS


Em sendo a atividade rural uma atividade fim, acervo de dívidas ativas e passivas e etc.) e tem por
onde a produção agropecuária é seu destino, e objetivo facilitar o desenvolvimento da atividade
que, para produção se fazem presente e necessá- mercantil de forma a obter mais sucesso.
rias as benfeitorias reprodutivas (culturas, pas-
tagens, reflorestamentos e etc.) e as benfeitorias Conforme NBR 14.653-1:2019 ABNT:
não reprodutivas (construtivas, represas, açudes,
3.1.7.2 bem intangível: bem não identifica-
caminhos, e etc.), em estando obrigada tal ati-
do materialmente (por exemplo, fundo de co-
vidade a exibir um CNPJ – Cadastro Nacional de
Pessoa Jurídica, é passível de entendimento que mércio, marcas e patentes)
o complexo agropecuário em atividade possa ser 3.1.23 fundo de comércio: bem intangível
entendido como um Fundo de Comércio. pertencente ao titular do negócio, decorren-
Observamos ainda o que reza o Código Civil Brasi- te do resultado de suas operações mercantis,
leiro (BRASIL, 2002): composto, entre outros, de nome comercial,
freguesia, patentes e marcas.
Art. 1.150. O empresário e a sociedade em-
presária vinculam-se ao Registro Público de Conforme NBR 14.653-4:2002 ABNT:
Empresas Mercantis a cargo das Juntas Co-
merciais, e a sociedade simples ao Registro 3.37 good-will: Diferença entre o valor eco-
Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá nômico de um empreendimento e o seu valor
obedecer às normas fixadas para aquele re- patrimonial.
gistro, se a sociedade simples adotar um dos 7.6.4 Fundo de comércio e good-will: A
tipos de sociedade empresária. identificação deverá considerar a previsibi-
lidade de rendas líquidas a serem auferidas
Felipe dos Santos Reis citado por Tourinho³ (1954)
pelo empreendimento, durante sua vida eco-
considera que o “fundo de comércio industrial,
nômica, e corresponderá à diferença entre o
agrícola ou ainda individual, é a soma dos elemen-
valor econômico e o patrimonial. Em caso de
tos corpóreos que constituem, ou que se lhe agre-
apuração de valor negativo, configura-se uma
garam, durante sua existência jurídica ou social
em certo local ou em determinado tempo”. perda econômica.

Ainda Tourinho (1954, op. cit.) afirma que: Conforme IVS (2022, op. cit.):

O fundo de comércio abrange valores das mais Generally, goodwill is any future economic
diversas naturezas, tais como: mercadorias, benefit arising from a business, a interest in
instalações, móveis e utensílios, direito de ar- a business or from the use of a group of as-
rendamento total ou parcial do respectivo local, sets which has not been separately recogni-
freguesia, nome comercial, insígnia, marcas de sed in another asset. The value of goodwill is
fábrica ou comércio, patentes de invenção, mo- typically measured as the residual amount
delos de utilidades e acervo de dívidas ativas e remaining after the values of all identifiable
passivas, plantações e benfeitorias do solo pas- tangible, intangible and monetary assets, ad-
síveis do aproveitamento comercial, tudo, en- justed for actual or potential liabilities, have
fim, que possa constituir parte da propriedade been deducted from the value of a business. It
comercial, industrial, agrícola ou individual. As is often represented as the asset of the price
árvores, no fundo agrícola, aderem ao ponto paid in a real or hypothetical acquisition of a
(solo, terra) e dele não podem ser despejadas. O company over the value of the company’s as-
próprio valor individual dos sócios adere à fir- set identified assets and liabilities. For some
ma ou nela é integrado. purposes, goodwill may need to be further di-
vided into transferable goodwill (that which
Portanto, temos que, em área agrária, o fundo de can be transferred to third parties) and non-
comércio nada mais é do que o conjunto de bens -transferable or “personal” goodwill.⁴
corpóreos (rebanho, safra e etc.) ou incorpóreos
(nome, tecnologia, contratos comerciais – arren- Como vemos as definições de Fundo de Comércio
damento, parceria, comodato -, marcas e patentes, e Goodwill pelas normas técnicas são bem dife-

³ TOURINHO, José Bastos. (1954). Fundo do Comércio. Irmãos Pongetti Editores. Rio de Janeiro / Brasil.
⁴ Tradução livre: Geralmente, fundo de comércio é qualquer benefício econômico futuro decorrente de um negócio, um interesse em
um negócio ou pelo uso de um grupo de ativos que ainda não tenha sido reconhecido separadamente em outro ativo. O valor do fundo
de comércio é normalmente medido como a quantidade residual remanescente após os valores de todos ativos tangíveis, intangíveis
e monetários identificáveis, ajustados para bens reais ou potenciais passivos, forem deduzidos do valor de um negócio. É frequen-
temente representado como o excesso do preço pago em uma real ou hipotética aquisição de uma empresa sobre o valor da outra
empresa identificados ativos e passivos. Para alguns propósitos, goodwill pode necessitar ser mais dividido em goodwill transferível
(aquela que pode ser transferida para terceiros partes) e não transferíveis ou de boa vontade "pessoal".

Artigo Técnico 2ª Edição 51


rentes daquelas de diversos autores. Sendo que, to empresário rural, Hoog⁷ (2010) pontua:
pela NBR 14.653-4:2002 ABNT, Goodwill pode ser
calculado pela seguinte equação (Eq.01): Essa nova compilação admite a existência de
empresas no setor rural com atividade eco-
Eq. 01
nômica, sendo certo que o termo empresário
Gwill = VEcon – VPatr rural amplia profundamente o campo de atu-
ação da contabilidade e do direito comercial,
em especial no que tange à aplicação do ins-
Ou seja, Goodwill resulta da diferença entre o va- tituto jurídico contábil do fundo de comércio.
lor econômico de um empreendimento e o seu va- Uma vez que na existência do fundo de co-
lor patrimonial. mércio se reconhece o direito do empresário
Como ensina Coelho⁵ (2017), “ao organizar o es- rural sobre todos os elementos do goodwill,
tabelecimento, o empresário agrega aos bens notadamente quanto ao crédito, know-how,
reunidos um sobre valor. Isto é, enquanto esses economia em escala, e à freguesia entre ou-
bens permanecem articulados em função da em- tros itens, permitindo, inclusive, que este
presa, o conjunto alcança, no mercado, um valor fundo seja um indicativo de prosperidade.
superior à simples soma de cada um deles em
Portanto, em conclusão, é de se entender que o
separado”. Segundo o autor, esse valor agregado
fundo de comércio (atualmente denominado fun-
é chamado de goodwill, goodwill of trade, fundo
do de empresa), enquanto propriedade, deve es-
de comércio, fundo de empresa ou aviamento. Em
tar sujeita a proteção e ser indenizada em caso de
suma, o estabelecimento comercial é o conjunto
perdas e danos, mas não somente, sua importân-
de bens materiais ou não de que o empresário se
cia deve ser destacada visto que agrega valor ao
utiliza para exercer a sua atividade comercial. Por
patrimônio como um todo. Visto que a empresa
outro lado, o valor desse conjunto de bens é o fun-
agrega ao valor de mercado de seus elementos
do de comércio. individualmente considerados, uma plus valia,
representando que o valor dessa empresa é su-
Segundo Madaleno⁶ (2010):
perior que a simples soma de seus componentes,
O fundo de comércio é constituído de bens no caso, terra nua e benfeitorias, levando por base
materiais e imateriais reunidos e organiza- sua reputação, nome / marca e possível influência
dos pela empresa para a produção de seus no mercado que se inclui.
benefícios econômicos, compondo toda uma
estrutura empresarial apta a ser transferida, A corroborar, Coelho⁸ (2011).
e cujo patrimônio tangível e intangível reflete O direito, assim, em geral, deve garantir a
na apuração de seu valor. Entre os bens cor- justa retribuição ao empresário quando este
póreos, com existência física, estão as mer- perde, por culpa que não lhe seja imputável,
cadorias, instalações, estoque, máquinas, di- o valor representado pelo estabelecimento
nheiro, e etc., entre os bens pertencentes ao empresarial. Assim, em caso de desapropria-
ativo fixo da empresa, que não são destina- ção do imóvel em que o empresário mantém
dos a venda, e aqueles bens pertencentes ao o seu estabelecimento empresarial, a indeni-
ativo circulante, adquiridos exatamente para zação correspondente deve compreender o
sua revenda. No rol dos bens incorpóreos, valor do fundo de empresa por ele criado.
que assim se identificam por que não terem
existência física, encontra-se o nome empre- Na sucessão por morte ou na separação do
sarial, o nome de fantasia, a propriedade ou empresário individual, o estabelecimento
ponto empresarial, a propriedade intelectu- empresarial deve ser considerado não ape-
al, a marca e a propriedade imaterial, repre- nas pelo valor do simples somatório do preço
sentada pelo aviamento e pela clientela. dos bens, singularmente considerados, que
o compõem, mas pelo valor destes agregado
Fazendo referência ao artigo 970 do Código Civil ao decorrente da situação peculiar em que
(BRASIL, 2002), quanto ao produtor rural enquan- se encontram — reunidos para possibilitar

⁵ COELHO, Fábio Ulhoa. (2010). Curso de Direito Comercial, V.1 - Direito de Empresa. Ed. Saraiva. São Paulo / Brasil.
⁶ MADALENO, Rolf. (2010). O Fundo de Comércio do Profissional Liberal na Meação Conjugal. Disponível em: <https://www.paginasdedirei-
to.com.br/index.php/artigos/41-artigos-set-2010/3689-o-fundo-de-comercio-do-profissional-liberal-na-meacao-conjugal>. Acesso
em 20.12.2021.
⁷ HOOG, W. A .Z. (2010). O intangível fundo de comércio do empresário rural e as indenizações por perdas e danos. <https://www.contadores.
cnt.br/noticias/artigos/2010/05/11/o-intangivel-fundo-de-comercio-do-empresario-rural-e-as-indenizacoes-por-perdas-e-danos.
html>. Acesso em 28.10.2021.
⁸ COELHO, F.U. Manual de Direito Comercial: direito de empresa. 23ª edição. São Paulo: Saraiva. 2011

52 Revista Técnica IBAPE RS


o pleno desenvolvimento de uma atividade relativa ao fundo de comércio, acoplada a ou-
empresarial. tra indenização pelos lucros cessantes, pois
são coisas distintas e ambas sofreram lesões.
Ademais, o fundo de comércio não reflete, neces-
sariamente, o valor de mercado, mas sim, um va- Uma vez que a inibição ao exercício da empre-
lor especial (NBR 14653-1:2019 ABNT, 3.1.52), ou sa rural implica na perda do fundo de comér-
até o valor real do bem avaliando. cio que é um bem intangível que se dilapidou.
E também, tem-se uma provável perda do lu-
cro cessante que representa o que razoavel-
2. INDENIZAÇÃO CONSIDERANDO O mente o empresário rural iria obter de renda.
FUNDO DE COMÉRCIO
E por fim, considerando devida a indenização por
Diuturnamente no Brasil temos ações expropria- inibição da empresa rural, tanto em relação ao
tórias ou de instituição de servidão de passagens, bem fundo de comércio como a do lucro cessante,
onde, discute-se, basicamente, o quantum inde- devem ser mensuradas...
nizatório. Inúmeras metodologias foram e estão
sendo propostas, mas é certo que deve-se obser- Observa-se aí que o autor não considerou comen-
var uma indenização de forma que o expropriado tar sobre os danos emergentes e nem depreciação
/ serviente tenha total possibilidade de retomar de área remanescente, mas tão somente, a indeni-
sua atividade de pronto, aos mesmos moldes an- zação devida pelo fundo de comércio e lucros ces-
teriores, sem perdas. A consideração também do santes. O que nos leva a certeza, logicamente, que
Fundo de Comércio na avaliação rural pode ser o valor total a indenizar seria o resultado da soma
um modelo de melhor composição deste quantum de todos os valores anteriormente descritos, e não
indenizatório. somente uma fração dos mesmos como equivoca-
damente vimos ocorrer em diversos processos.
Ainda segundo Hoog (2010, op. cit.):
Vejamos a Constituição Federal Brasileira (BRA-
Um empreendimento rural é uma “condição” SIL, 1988) sobre a questão da justa indenização:
para a criação do fundo de comércio; e a “cau-
sa” são os negócios relativos ao exercício da Art. 5º
empresa rural, já o aviamento, que também XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para
é conhecido como fundo de comércio – goo- desapropriação por necessidade ou utilidade
dwill, sempre é o “efeito” e é um atributo da pública, ou por interesse social, mediante jus-
empresa rural. Este atributo baseia-se na ta e prévia indenização em dinheiro, ressalva-
perspectiva de lucratividade, capaz de remu- dos os casos previstos nesta Constituição;
nerar o investimento no empreendimento ru-
ral. O fundo comércio é, pois um bem, cons- É sabido que o termo “justa” indenização é extre-
tituído por uma universalidade jurídica (de mamente complexo, controverso, debatido e sem
fato e de direito) que se vale à empresa rural. consenso comum, da mesma forma que o termo
Motivo pelo qual não podemos confundir o “valor justo”. Segundo o CPC⁹ 46, temos como de-
fundo de comércio do empresário rural com finição de valor justo:
o fluxo de caixa descontado, ainda que ambos
sejam instrumentos de gestão. Pois o fluxo de Definição de valor justo: Este Pronunciamen-
caixa descontado demonstra a movimentação to define valor justo como o preço que seria
de entrada e saída de recursos monetários, o recebido pela venda de um ativo ou que se-
fluxograma financeiro; sendo que o fluxo de ria pago pela transferência de um passivo em
caixa descontado avalia a geração de caixa a uma transação não forçada entre participan-
valor presente e o fundo de comércio demons- tes do mercado na data de mensuração.
tra a capacidade de geração de um bom lucro.
Pois caixa e lucro são coisas distintas, uma vez Segundo IVS¹⁰ (2022):
que se pode ter caixa e não ter lucro, sendo o 20.8. Fair Value (International Financial Re-
contrário também verdadeiro. porting Standards)
O mesmo autor a comentar sobre indenizações IFRS 13 defines fair value as the price that would
(perdas e danos) a serem pagas ao proprietário be received to sell na asset or paid to transfer a
rural, afirma que: liability in a orderly transaction between market
Logo se conclui que é devida uma indenização participants at the measurement date.¹¹

⁹ Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento Técnico CPC 46. Mensuração do Valor Justo. Correlação às Normas Inter-
nacionais de Contabilidade – IFRS 13 (IASB - BV 2012)
¹⁰ International Valuation Standards (IVS) 2022. International Valuation Standards Council

Artigo Técnico 2ª Edição 53


É possível visualizar, em ambas definições, uma Onde o Valor Total da Empresa (VTE) é o resultado
semelhança com o que é definido por Valor de do Capital (C) mais o Fundo de Comércio (FC):
Mercado em NBR 14.653-1:2019 ABNT:
Eq. 03
3.1.47 valor de mercado: quantia mais provável
pela qual se negociaria voluntária e conscien-
temente um bem, em uma data de referência,
dentro das condições do mercado vigente O que corresponde dizer que:
Independente das definições, é evidente que, tan- Eq. 04
to em caso de desapropriação como de instituição
de servidão, a indenização deve deixar o proprie-
tário indene. Gomes¹² (2011) apresenta:

Com a indenização busca-se recolocar a ví-


tima, tanto quanto possível, na situação an- 4. DO IMÓVEL AVALIANDO – EXEMPLO
terior à lesão. A indenização é proporcional DE APLICAÇÃO
ao dano sofrido pelo lesado já que o objetivo
da indenização – tornar indene – é reparar o Este estudo teve como base a necessidade de ava-
dano o mais completamente possível. Limi- liação de um imóvel rural denominado Fazenda
tar a reparação é impor à vítima que suporte Santo Antonio, situado em Bauru/SP, com e sem
o resto dos prejuízos não indenizados. Sob a consideração de seu Fundo de Comércio, imóvel
outro ponto de vista, a indenização mede-se este notoriamente conhecido por sua produção
pela extensão do dano, sob pena de caracteri- ambientalmente sustentável, com alta tecnologia
incorporada em sua produção no sistema orgâni-
zar enriquecimento sem causa.
co, o que lhe permitiu um contrato comercial dife-
O que nos leva a conclusão que, tanto no caso renciado. Este imóvel encontra-se arrendado para
de avaliação do patrimônio da empresa, quanto lavoura de cana de açúcar e exploração própria de
numa avaliação para indenização, possa, ou até, eucalipto para produção de biomassa, com as se-
seja recomendada a consideração da avaliação do guintes características:
Fundo de Comércio Agrícola.
Tabela 1: Quadro de Distribuição de áreas:
3. FORMA DE CÁLCULO DO FUNDO DE
COMÉRCIO AGRÍCOLA Descrição Sistema Área (ha)
Reflorestamento
Para cálculo do Fundo de Comércio Agrícola, con- Exploração
Comercial com 150,00
Própria
sideramos os seguintes: Eucalipto
Cultura de Cana de
FC = Fundo de Comércio, em unidades monetárias. Açúcar Arrendamento 235,00
C = Capital, em unidades monetárias. Benfeitorias Não 5,00
RA = Rentabilidade anual da empresa. Reprodutivas

JC = Remuneração anual do capital investido na APP – Área de 10,00


Preservação Permanente
empresa. De acordo com o princípio anteriormen-
te citado, o Fundo de Comércio pode ser definido Reserva Legal 100,00
como o capital incorpóreo, intangível, que, soma- Área Total 500,00
do ao capital investido na empresa, e remunerado Fonte: Elaborado pelo autor (2023)
pela taxa de mercado de capitais da praça em que
a empresa opera, produz o lucro que a empresa
está efetivamente obtendo (HOPP; MOTTA, 2015). 4.1. Valor econômico do
De acordo com esta definição, e usando o simbo- reflorestamento comercial com
lismo acima descrito, podemos escrever:
eucalipto
Eq. 02
Calculando o Valor Econômico (VEcon) dos 150,00
hectares de eucalipto (Eucalyptus urograndis), tere-
mos:

¹¹ Tradução livre: A IFRS 13 define "valor justo" como o preço que seria recebido para vender um ativo ou pago para transferir um
passivo em uma transação ordenada entre os participantes do mercado na data da mensuração.
¹² GOMES, Daniela Vasconcellos.(2011). O papel da indenização na reparação de danos. Jornal Informante, Farroupilha – RS, v. 175,
p. 05, 24 jun. Rio Grande do Sul / Brasil.

54 Revista Técnica IBAPE RS


Tabela 2: Índices econômicos

Produtividade 420,00 m³/ha


Preço Líquido de Venda R$ 46,00 /m³
Ano de Avaliação 3º ano
Espaço temporal até a colheita (n) 4 anos
Taxa de juros considerada (i) 7,00% ao ano
Taxa de Inflação (IPCA) 4,52% ao ano
Taxa real de juros (ir) 2,37% ao ano
Taxa de risco considerada (r) 1,00%
Produtividade 420,00 m3/ha
Preço Líquido de Venda R$ 46,00 /m3
Receita Líquida R$ 19.320,00 /ha
Ano de Avaliação 3º ano

Fonte: Elaborado pelo autor (2023)

Observa-se que, para cálculo da taxa real de juros Desenvolvendo o cálculo do Valor Econômico
(ir) considerou-se o uso da equação 05. (Eq.06) para a cultura do eucalipto, temos:
Eq. 05 Eq. 06

Aplicando a equação 06 com o uso de uma planilha eletrônica, teremos:

Tabela 3: Cálculo de Valor econômico da cultura do eucalipto


Taxa Valor
Safra Prod/e Fundação
Ano RB/ha Manutenção RL/ha FA de Presente
pendente m³/ha cultura
Risco Liquido
0 R$0,00 R$ 7.224,37 -R$ 7.224,37 1,00000 0,99 -R$ 7.152,13
1 R$0,00 R$ 1.234,64 -R$ 1.234,64 1,00000 0,99 -R$ 1.222,29
2 R$0,00 R$ 1.234,64 -R$ 1.234,64 1,00000 0,99 -R$ 1.222,29
3 R$0,00 R$ 1.234,64 -R$ 1.234,64 1,00000 0,99 -R$ 1.222,29
1 4 R$0,00 R$ 1.234,64 -R$ 1.234,64 0,97682 0,99 -R$ 1.193,96
2 5 R$0,00 R$ 1.234,64 -R$ 1.234,64 0,95418 0,99 -R$ 1.166,29
3 6 R$0,00 R$ 2.539,90 -R$ 2.539,90 0,93207 0,99 -R$ 2.343,68
4 7 420,00 R$19.320,00 R$ 1.342,52 R$ 17.977,48 0,91046 0,99 R$ 16.204,16

Valor Econ. da Cultura (R$/ha) R$ 11.500,22


Fonte: Elaborado pelo autor (2023)

Sabendo ser a área com eucalipto de 150,00 hec- Eq. 07


tares, teremos como valor econômico total (Eq.07)
dessa área:

Artigo Técnico 2ª Edição 55


4.2. Valor econômico da cultura de cana de açúcar
Composição do valor da renda anual da cultura de cana de açúcar (Saccharum officinarum):

Tabela 4: Cálculo de Valor econômico da cultura do eucalipto

Quilos de ATR¹³ por tonelada de Cana KATR 131,00 kg de ATR/ton


Preço do quilo de ATR (Consecana¹⁴/SP) PKilo R$ 0,611 /kg ATR
Preço da tonelada de cana pelo ATR PTon R$ 80,04 /ton
Q’ 50,00 ton/alq¹⁵
Quantidade de cana contratada
Q 20,83 ton/ha
Valor por hectare do arrendamento V R$ 1.667,52 /ha
Quantidade de safras futuras (n) 4 safras
Taxa real de juros (ir) 2,37% ao ano
Taxa de risco considerada (r) 0,00%

Fonte: Elaborado pelo autor (2023)

Onde o preço por tonelada de cana resulta da Considerando as informações anteriormente


equação (Eq.08) considerando quilos de ATR (açú- apresentadas, temos como Fluxo de Caixa descon-
car total recuperável) e preço do quilo de ATR con- tado do empreendimento desenvolvido com uso
forme manual da Consecana (Conselho de Pro- de uma planilha eletrônica e o uso da equação 06:
dutores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol do
Estado de São Paulo): Tabela 5: Fluxo de caixa descontado -
Eq. 08 cana-de-açúcar
Safras RL Fa16 Valor
Pendentes Econômico
1 R$ 1.667,52/ha 0,97682 R$ 1.628,87
Ficando:
2 R$ 1.667,52/ha 0,95418 R$ 1.591,12
3 R$ 1.667,52/ha 0,93207 R$ 1.554,24
4 R$ 1.667,52/ha 0,91046 R$ 1.518,22
R$ 6.292,45
Fonte: Elaborado pelo autor (2023)

O cálculo do valor então, considera p preço por


Calculando o Valor Econômico total da cultura, te-
tonelada de cana multiplicado pela quantidade
remos:
de cana acordada em contrato, representado pela
equação 09 a seguir: Eq. 10
Eq. 09

Ficando pois:

¹³ ATR = Açúcar Total Recuperável. É medido em quilos por tonelada de cana colhida.
¹⁴ CONSECANA - Conselho dos Produtores de Cana de Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo / Brasil.
¹⁵ Alq = Alqueire Paulista (mede 24.200,00 m2 ou 2,42 hectares).
¹⁶ FA = Fator de Antecipação.

56 Revista Técnica IBAPE RS


4.2.1. Resumo do valor econômico das culturas
Planilhando as informações anteriormente calculadas, teremos:

Tabela 6: Resumo de valores

Valor das Benfeitorias

Reprodutivas Não VTN


reprodutivas

Descrição Sistema Área Valor Custo de R$/ha


(ha) Econômico Reprodução
Reflorestamento Exploração 150,00 R$ 1.725.033,42 R$ 20.000,00 R$ 3.000.000,00
com Eucalipto Própria
Cultura de Cana Arrendamento 235,00 R$ 1.478.725,07 R$ 20.000,00 R$ 4.700.000,00
de Açúcar
Benfeitorias Não Reprodutivas 5,00 R$ 1.250.000,00 R$ 20.000,00 R$ 100.000,00
APP - Área de Preservação 10,00 R$ 20.000,00 R$ 200.000,00
Permanente
Reserva Legal 100,00 R$ 20.000,00 R$ 2.000.000,00
Área Total 500,00
SOMA R$ 3.203.758,49 R$ 1.250.000,00 R$ 10.000.000,00
TOTAL R$ 14.453.758,49

Fonte: Elaborado pelo autor (2023)

4.3. Composição do valor do Capital (C) = R$ 14.453.758,49


capital do imóvel Considerando o uso da equação 02, será calculado
Considerando o Método Evolutivo, a composição o valor de seu Fundo de Comércio, a saber:
do valor do capital do imóvel resulta da soma de Eq. 02
seus componentes, ou seja:
Eq. 11

Resultando:

Sendo:

VTN = VTN - Valor de Terra Nua


VBR = VBR - Valor de Benfeitorias Reprodutivas
4.5. Avaliação da empresa rural
VBNR = VBNR - Valor de Benfeitorias Não Repro-
considerando seu fundo de
dutivas
comércio
Para cálculo do valor total da empresa rural, in-
cluso aí seu Fundo de Comércio, temos (Eq. 03 já
4.4. Avaliação do fundo de apresentada):
comércio agrícola Eq. 03

Para avaliação do Fundo de Comércio agrícola


consideraram-se os seguintes parâmetros para o
imóvel avaliando:
Resultando:
Rentabilidade Anual (RA) = 17,00% (líquida, aferi-
da pela contabilidade no imóvel avaliando)

Remuneração anual do capital investido na em-


presa (JC) = 13%

Artigo Técnico 2ª Edição 57


Como resumo gráfico teremos (Graf.01): 5. CONCLUSÃO
Para avaliação de imóveis singulares é mister sair do
modelo comum, visto que, por vezes, não se conse-
Gráfico 01: Comparativo Capital x Fundo guem comparativos no mercado. A conjugação do Mé-
de Comércio todo da Renda com Método Evolutivo é possível e per-
mitido pelas normas técnicas pertinentes, da mesma
R$ 14.453.758,49 forma que a avaliação econômica de um empreendi-
R$ 4.447.310,31 mento no modelo rural.

A avaliação considerando o Fundo de Comércio, embo-


ra tenha seu uso mais comum em áreas urbanas, não
pode ser ignorada no caso desses bens diferenciados.

A metodologia apresentada claramente demonstra a


importância e, em especial, a viabilidade de sua utili-
zação para avaliação desses bens.

Evidente que a consideração de uso do cálculo de Fundo


Capital Fundo de Comércio
de Comércio não pode ser tomada de forma leviana, mas
sim, como resultado de um profundo estudo caso a caso.

Fonte: Elaborado pelo autor (2023) Por fim, resta claro que ignorar o valor expressado pelo
Fundo de Comércio nesse tipo especial de bem, pode
deixar de refletir seu real valor.

BIBLIOGRAFIA
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14653-3 ABNT (v.2019). Rio de Janeiro: ABNT, 2019.
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COELHO, F. U. Manual de Direito Comercial. 16ª Ed., p. 56, São Paulo / Brasil. Saraiva. 2005.
COELHO, F.U. Manual de Direito Comercial: direito de empresa. 23ª edição. São Paulo: Saraiva. 2011
COELHO, F.U. Curso de Direito Comercial. V.1 - Direito de Empresa. Ed. Saraiva. São Paulo / Brasil. 2010.
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GOMES, D. V. O papel da indenização na reparação de danos. Jornal Informante, Farroupilha – RS, v. 175, p. 05, 24
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TOURINHO, J. B. Fundo de Comércio. Irmãos Pongetti Editores. Rio de Janeiro / Brasil. 1954.

58 Revista Técnica IBAPE RS


ARTIGO TÉCNICO

IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO DE ÁREAS


CONTAMINADAS E SUAS ETAPAS

PALAVRAS-CHAVE AUTORA
Áreas contaminadas, Contaminação, Amanda Votto Klafke
Legislação Ambiental e Investigação Engenheira Agrônoma
Ambiental
Porto Alegre/RS
[email protected]
INTRODUÇÃO
Assim, a legislação ambiental nacional e interna-
O modelo de desenvolvimento adotado em todo
o mundo e as tecnologias de produção agrícola e
cional aponta como direito humano fundamental
a proteção do meio ambiente para assegurar a sa-
industrial atualmente empregados, juntamente dia qualidade de vida do homem, e essa percepção
com, a imperícia, a ausência de uma educação da necessidade de proteção ambiental precisa ur-
ambiental, a negligência, a indiferença, a impru- gentemente ser incorporada no dia a dia da socie-
dência, ou até mesmo a ganância, tem gerado, ao dade para a efetivação do seu direito constitucio-
longo de vários anos, uma infinidade de despejos nal ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
totalmente descabidos, insanos e irresponsáveis e sadio.
de resíduos nos solos, nas águas superficiais e nas
águas subterrâneas que podem causar contami- Portanto, dentro do contexto apresentado, é ex-
nação destes recursos naturais e comprometer a tremamente necessário, como prevê alguns dos
qualidade dos mesmos. princípios do Direito Ambiental, a prevenção e a
precaução da contaminação do solo e das águas
A Constituição Federal de 1988, no seu Artigo superficiais e subterrâneas, assim como a identi-
225, apresenta claramente um direito de tercei- ficação, estudos e investigações de áreas contami-
ra geração, isto é, identifica um direito coletivo e nadas com o objetivo final de eliminar o perigo ou
difuso, pois ultrapassa a esfera do indivíduo para reduzir o risco à saúde humana, e eliminar ou mi-
contemplar uma coletividade e sua titularidade nimizar os riscos ao meio ambiente, assim como
não pertence exclusivamente a alguém, mas a to- evitar danos aos demais bens a proteger.
dos, indistintamente (BELTRÃO, 2011). O caput
do Artigo 225 diz o seguinte: “Todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
DESENVOLVIMENTO
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, Define-se neste trabalho a contaminação como
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever sendo o processo pelo qual ocorre a introdução de
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras substâncias ou resíduos em um meio, decorrentes
gerações”. de atividades antrópicas, onde suas concentra-
ções modificam as características naturais deste
A nível internacional, o documento intitulado “Our
meio, e estão acima de um valor de referência vi-
Common Future” (Nosso Futuro Comum), mais co-
gente para a região, para o país, ou, na ausência
nhecido como “Relatório de Brundtland”, apresen-
desse, aquele aceito internacionalmente, o que
tado no ano de 1987, aponta para a incompati-
indica a existência de um risco potencial ao meio
bilidade entre desenvolvimento sustentável e os
ambiente, à saúde humana ou à segurança, e que
padrões atuais de produção e consumo, afirman-
restrinjam a utilização do recurso ambiental para
do que deve haver uma nova relação entre o ser
os usos atual e pretendido.
humano e o meio ambiente, e que o mundo deve,
urgentemente, caminhar para um sentido em que Quando ocorre contaminação no solo, as suas fun-
possamos “satisfazer as necessidades do presente sem ções ficam comprometidas, e, por decorrência de
comprometer a capacidade das gerações futuras de su- sua contaminação, dependendo das suas caracte-
prir as suas próprias necessidades”, apresentando, rísticas, das características dos contaminantes, da
dessa forma, o conceito de Desenvolvimento Sus- concentração dos mesmos, da gravidade da situa-
tentável e alertando para a conscientização am- ção, tais contaminantes poderão atingir as águas
biental para garantir as necessidades humanas ao subterrâneas, comprometendo, também, por con-
longo de gerações (GUERRA, 2004). sequência, a qualidade da mesma, configurando

Artigo Técnico 2ª Edição 59


um cenário de sérios riscos para a saúde humana, de substâncias químicas no solo resultantes da
além do risco para outras formas de vida, a fauna aplicação ou disposição de resíduos e efluentes,
e a flora. Por serem o meio para o crescimento das observada a legislação em vigor, não poderão ul-
plantas, pela sustentação e fonte de nutrientes às trapassar os respectivos Valores de Prevenção.
mesmas, os solos são essenciais para a produção
de alimentos, fibras e matérias-primas para a hu- O estudo e investigação de áreas contaminadas, de
manidade, e como sustentáculo das edificações da acordo com a Resolução CONAMA 420:2009 e com
mesma. Além disso, serve como meio básico para a Norma Brasileira da Associação Brasileira de Nor-
a sustentação da vida e de habitat para outros ani- mas Técnicas ABNT NBR 15515, parte 1 (Versão
mais e plantas, sendo importante para a manu- 08.10.2021), parte 2 (Versão 30.03.2023) e parte 3
tenção do ciclo dos nutrientes. Possuindo impor- (Versão 02.09.2013) foram organizados em etapas,
tantes funções de preservação da vida no planeta, cuja explicação será apresentada na sequência.
o solo atua na regulagem do fluxo de água entre a
A etapa inicial da investigação da contamina-
atmosfera e a hidrosfera, e na retenção, filtragem e
ção do solo e da água subterrânea consiste numa
decomposição de produtos químicos indesejáveis,
Avaliação Preliminar, a qual identifica a possível
servindo de meio de controle à contaminação am-
existência de contaminação na área, identifican-
biental devido a sua capacidade de tamponamen-
do, assim, áreas suspeitas de contaminação. Nesta
to. Por consequência disso, o solo tem como outra
etapa, deve ter início ao estabelecimento do mo-
função primordial de proteger as águas subterrâ-
delo conceitual, o qual consiste em uma síntese
neas e superficiais. Ainda, o solo constitui fonte de
das informações relativas a uma área em estudo,
recursos minerais e fonte de informação quanto
que deverá ser atualizada na conclusão de cada
ao patrimônio natural, histórico e cultural. Não
etapa do trabalho investigatório.
menos importante, por fim, o solo serve como um
meio básico para a ocupação territorial e propicia No que concerne à Avaliação Preliminar, esta con-
usos públicos sociais e econômicos. siste na realização de um diagnóstico e avaliação
inicial mediante uma análise conjunta de dados e
Portanto, por todas essas funções ecológicas que
informações existentes, coletados com base nas
o solo exerce, e sobretudo pela existência de for-
informações históricas disponíveis, reconhecen-
mas de vida que ocorrem no mesmo, é imperio-
do a presença de fontes de contaminação, seja ela
so preservar a qualidade deste recurso natural de
atual ou pretérita conforme o estudo do histórico
importância ecológica. Isso implica em prevenir a
da geração de contaminação. Esta análise inclui
contaminação do solo, e por consequência, tam-
também o estudo preliminar dos contaminantes
bém, da água subterrânea, assim como, quando
presentes nas fontes de contaminação identifi-
houver indícios ou suspeita de contaminação, in-
cadas, assim como do meio físico, realizado por
vestigar a respectiva área para que se possa, caso
meio de vistorias, inspeções e análises na área
haja a confirmação da contaminação, eliminar ou
em estudo, e investigação em fotografias ou ima-
reduzir o risco à saúde humana e/ou ao meio am-
gens aéreas multitemporais. Consiste também
biente.
na análise de documentos e estudos ou relatórios
Conforme a Resolução CONAMA Nº 420 de 28 de ambientais, assim como em entrevistas com os
dezembro de 2009, que dispõe de critérios e va- moradores, funcionários, ex-funcionários, entre
lores orientadores de qualidade do solo quanto à outros. Esta análise preliminar tem como objetivo
presença de substâncias químicas e estabelece di- principal de encontrar evidências, indícios ou fa-
retrizes para o gerenciamento ambiental de áreas tos que permitam suspeitar da existência de con-
contaminadas, os objetivos finais de identificação, taminação na área.
estudos e investigações de áreas contaminadas
Tendo por base o modelo conceitual definido na
consistem em eliminar o perigo ou reduzir o risco
Avaliação Preliminar, e encontrando relevantes
à saúde humana, eliminar ou minimizar os riscos
indícios de contaminação na área (fontes poten-
ao meio ambiente e evitar danos aos demais bens
ciais de contaminação evidentes no momento da
a proteger. Esta mesma resolução determina que
análise (atual) ou a presença destas com base na
a avaliação da qualidade do solo quanto à pre-
análise do histórico das atividades no imóvel (pre-
sença de substâncias químicas deve ser efetuada
téritas)), ou verificando que há incertezas sobre a
com base em Valores Orientadores de Referência
existência ou não de fonte(s) potencial(is), realiza-
de Qualidade, de Prevenção e de Investigação, os
-se a próxima etapa, que consiste numa Investiga-
quais são listados no Anexo II desta resolução, e
ção Confirmatória, a fim de verificar a existência
que, por sua vez, são referências para o enqua-
ou ausência de contaminação no solo e/ou na água
dramento do solo a ser investigado em classes
subterrânea.
de qualidade do solo, segundo a concentração de
substâncias químicas. Como forma de prevenção Nessa etapa devem ser realizadas coletas de
e controle da qualidade do solo, as concentrações amostras representativas de solo e/ou de água

60 Revista Técnica IBAPE RS


subterrânea em pontos suspeitos ou com relevan- veis com a eliminação desta condição, para somen-
te indício de contaminação, e enviadas aos labo- te após proceder na continuidade na investigação.
ratórios qualificados para a realização de análises
químicas para as substâncias de interesse. Será considerada Área Suspeita de Contaminação
(AS) aquela em que após uma realização de uma
A interpretação dos resultados das análises quími- Avaliação Preliminar forem observados indícios
cas realizadas nas amostras coletadas é feita por da presença de contaminação ou identificadas
meio da comparação dos valores de concentração condições que possam representar perigo.
obtidos com os valores orientadores estabelecidos
pelo órgão ambiental competente. A confirmação Será considerada, e declarada pelo órgão ambien-
da contaminação dar-se-á pela identificação de tal competente, Área Contaminada Sob Investi-
substâncias químicas em concentrações acima do gação (AI) aquela em que comprovadamente for
Valor de Investigação (VI). constatada, mediante Investigação Confirmatória,
a contaminação com concentrações de substân-
Confirmada a existência da contaminação na área, cias no solo ou nas águas subterrâneas acima dos
realiza-se a etapa seguinte de Investigação De- valores de investigação.
talhada e Avaliação de Risco Humana, tendo por
base o modelo conceitual definido e atualizado Será considerada, e declarada pelo órgão ambien-
na etapa de Investigação Confirmatória, segundo tal competente, Área Contaminada Sob Interven-
as normas e técnicas ou procedimentos vigentes, ção (ACI) aquela em que for constatada a presença
com o objetivo de subsidiar a etapa de interven- de substâncias químicas em fase livre ou for com-
ção. provada, após Investigação Detalhada e Avaliação
de Risco, a existência de risco à saúde humana.
Os principais objetivos da etapa de Investigação Nesta etapa, o proprietário deve submeter ao ór-
Detalhada e Avaliação de Risco Humana são: de- gão ambiental competente proposta para a ação
finição das substâncias químicas de interesse de intervenção a ser executada sob sua responsa-
para a área; quantificação da massa de substân- bilidade.
cias químicas de interesse no solo e na água sub-
terrânea; identificação e caracterização de outras E, por fim, após a eliminação dos riscos ou a sua
fontes de contaminação não apontadas nas eta- redução a níveis toleráveis, será considerada, e
pas anteriores; caracterização do meio físico e do declarada pelo órgão ambiental competente, Área
entorno; mapeamentos horizontal e vertical da em Processo de Monitoramento para Reabilitação
contaminação por meio da comparação entre as (AMR). Somente na etapa de reabilitação da área
concentrações dos contaminantes e os valores de contaminada o proprietário informará o uso pre-
investigação ou intervenção; definir a dinâmica de tendido à autoridade competente que decidirá so-
transporte dos contaminantes e simular prognós- bre sua viabilidade ambiental, com fundamento
ticos da evolução da contaminação; identificar as na legislação vigente, no diagnóstico da área, na
vias de exposição e receptores para a realização avaliação de risco, nas ações de intervenção pro-
de avaliação de risco à saúde humana, e subsidiar postas e no zoneamento do uso do solo. Após o pe-
plano de ações necessárias (ABNT NBR 15515- ríodo de monitoramento, definido pelo órgão am-
3:2013). Por todos esses objetivos é notório que biental competente, que confirme a eliminação do
essa etapa é a mais complexa e requer inicial- perigo ou a redução dos riscos a níveis toleráveis,
mente um plano bem estruturado de investigação a área será considerada e declarada pelo mesmo
detalhada por meio do qual vai se basear todo o órgão, como Área Reabilitada para o Uso Declara-
estudo e investigação subsequente. do (AR).

A etapa de Intervenção é a etapa de execução de Diante deste processo complexo de investigação


ações de controle para a eliminação do perigo ou de uma área contaminada (contaminação do solo
redução a níveis toleráveis, dos riscos identifica- e da água subterrânea) é essencial e imperioso
dos na etapa de Avaliação de Risco à Saúde Hu- que os profissionais envolvidos tenham um exce-
mana, assim como o monitoramento da eficácia lente conhecimento sobre o assunto e que tenham
das ações executadas, considerando o uso atual cautela e rigor técnico-científico nas suas análises
e futuro da área, segundo as normas técnicas ou e avaliações. E, sobretudo, os profissionais envol-
procedimentos vigentes. vidos neste processo de investigação de áreas con-
taminadas deverão ser habilitados e capacitados
A realização da etapa da Avaliação Preliminar e o para isso, quais sejam, profissionais engenheiros
estabelecimento do modelo conceitual são pré-re- civis e engenheiros agrônomos que tenham tido
quisitos para a realização das etapas subsequentes na sua grade curricular disciplinas afetas à maté-
de investigação da área contaminada. Em qualquer ria, engenheiro ambiental e geólogos, não tendo a
dessas etapas, se identificado condição de perigo, intenção aqui de fazer um rol exaustivo, uma vez
deverão ser tomadas ações emergenciais compatí- que é uma atividade técnico-científica multidis-

Artigo Técnico 2ª Edição 61


ciplinar, mas sim, chamando a atenção para que nhas às atribuições discriminadas em seu registro;
os profissionais sejam habilitados e capacitados, c) o profissional que emprestar seu nome a pesso-
com registro no seu órgão de classe, para ao aten- as, firmas, organizações ou empresas executoras
dimento legal, e, sobretudo, à segurança do meio de obras e serviços sem sua real participação nos
ambiente e da população. Salientando que a habi- trabalhos delas;
litação do profissional provém da graduação, en-
d) o profissional que, suspenso de seu exercício,
quanto que uma especialização, pós-graduação,
continue em atividade;
mestrado ou doutorado proporcionará a capacita-
ção e qualificação ao profissional. De nada adianta e) a firma, organização ou sociedade que, na qua-
um profissional de uma área x, que não é habili- lidade de pessoa jurídica, exercer atribuições re-
tado, fazer uma especialização em investigação servadas aos profissionais da engenharia, da ar-
de áreas contaminadas para se capacitar. Ele não quitetura e da agronomia, com infringência do
terá a base técnico-científica de uma graduação disposto no parágrafo único do art. 8º desta lei (Lei
que o habilite, sem falar que ele não terá base legal Federal Nº 5.194:1966).
para o exercício da atividade profissional.

O profissional deverá sempre adotar os devidos CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES


meios e recursos para atingir o melhor resultado
possível (Norma ABNT NBR 15515:1;2;3). Ainda, Diante da importância da qualidade do solo e das
de acordo com a Norma da ABNT NBR 15515, os águas subterrâneas e superficiais para a sadia
profissionais devem pautar-se pela cautela e ra- qualidade da vida humana e da vida dos animais
zoabilidade na sua avaliação no decorrer de todo e das plantas, sobrevindo daí o direito constitucio-
esse procedimento técnico-científico. nal, difuso e coletivo, ao meio ambiente ecologi-
camente equilibrado, é essencial a preservação da
Todo profissional deve observar o Código de Ética qualidade destes significativos recursos naturais.
de sua profissão com objetivo de conhecer e apli- Suplanta a preservação em sí para, ainda, a reali-
car os fundamentos éticos e as condutas necessá- zação de estudo e investigação de áreas que pos-
rias à boa e honesta prática das profissões, assim sam apresentar indícios e/ou suspeitas de conta-
também, os direitos e deveres. minação, com a finalidade de, se for comprovada a
contaminação, após todo o processo de investiga-
As competências profissionais do Sistema CON-
ção detalhada, eliminar ou reduzir o risco à saúde
FEA/CREA estão estabelecidas na Resolução do
humana e/ao meio ambiente.
CONFEA nº 218 de 29 de junho de 1973. Seu Art.
25 estabelece que é defeso ao profissional desem- Contudo, para que haja a eficiência, eficácia e se-
penhar atividades além daquelas que lhe compe- gurança desse processo complexo de investigação
te, nestas palavras: de uma área contaminada e que os resultados tra-
gam a verdade dos fatos, e sobretudo a eliminação
Art. 25 - Nenhum profissional poderá desempe-
ou redução do risco, é imperioso que esse proces-
nhar atividades além daquelas que lhe competem,
so investigatório seja executado por profissionais
pelas características de seu currículo escolar, con-
habilitados e capacitados (engenheiros civis, en-
sideradas em cada caso, apenas, as disciplinas que
genheiros agrônomos, engenheiros ambientais,
contribuem para a graduação profissional, salvo
geólogos), e que tenham um excelente conheci-
outras que lhe sejam acrescidas em curso de pós-
mento acerca do assunto, incluindo o conheci-
-graduação, na mesma modalidade (Resolução
mento aprofundado envolvido em cada etapa do
CONFEA nº 218:1973). processo investigatório. Etapas essas que são:
O profissional que desempenhar atividades que Avaliação Preliminar, Investigação Confirmatória,
não lhe compete estará exercendo ilegalmente a Investigação Detalhada com Análise de Risco à
profissão. Nesta mesma linha, dispõe o Art. 6º da Saúde Humana e Intervenção. de desenvolvimen-
Lei Federal nº 5.194 de 24 de dezembro de 1966, to adotado em todo o mundo e as tecnologias de
produção agrícola e industrial atualmente empre-
nestas palavras:
gados, juntamente com, a imperícia, a ausência de
Art. 6º Exerce ilegalmente a profissão de engenheiro, uma educação ambiental, a negligência, a indife-
arquiteto ou engenheiro-agrônomo: rença, a imprudência, ou até mesmo a ganância,
tem gerado, ao longo de vários anos, uma infini-
a) a pessoa física ou jurídica que realizar atos ou
dade de despejos totalmente descabidos, insanos
prestar serviços público ou privado reservados aos
e irresponsáveis de resíduos nos solos, nas águas
profissionais de que trata esta lei e que não possua
superficiais e nas águas subterrâneas que podem
registro nos Conselhos Regionais;
causar contaminação destes recursos naturais e
b) o profissional que se incumbir de atividades estra- comprometer a qualidade dos mesmos.

62 Revista Técnica IBAPE RS


BIBLIOGRAFIA
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Norma Brasileira 15515 – 1:2021 - Passivo Ambiental em Solo e
Água Subterrânea. Parte 1: Avaliação Preliminar. Rio de Janeiro, RJ, 08 de outubro de 2021. 29p
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Norma Brasileira 15515 – 2:2023 - Passivo Ambiental em Solo e
Água Subterrânea. Parte 2: Investigação Confirmatória. Rio de Janeiro, RJ, 30 de março de 2023. 24p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Norma Brasileira 15515 – 3:2013 - Passivo Ambiental em Solo e
Água Subterrânea. Parte 3: Investigação Detalhada. Rio de Janeiro, RJ, 02 de setembro de 2013. 18p.
BELTRÃO, A.F.G. Direito Ambiental. 3ª Ed. Rio de Janeiro (RJ): Forense; São Paulo: MÉTODO, 2011. 352p.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 420 de 28 de dezembro de 2009. Dispõe sobre critérios
e valores orientadores de qualidade do solo quanto a presença de substâncias químicas e estabelece diretrizes para
o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por essas substâncias em decorrência de atividades antrópicas.
Diário Oficial da União. Brasília, DF, MMA, 30 dez. 2009. p. 81-84.
GUERRA, S. Direito Ambiental: Legislação. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, 2ª Ed., 2004. 704 p.

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Maiores informações:
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ARTIGO DE OPINIÃO

REGISTRO DE IMÓVEIS PARA ENGENHEIROS

INTRODUÇÃO AUTOR
Péricles Alves Pinto
E ste artigo pretende trazer uma ilustração sobre
o Ofício de Registro de Imóveis cotejando-o frente
Engenheiro Agrônomo
a Perícias Dominiais, foi escrito por um engenheiro Curitiba/PR
para engenheiros, portanto não pretende aprofun- [email protected]
damentos legais ou jurídicos, não pretende defen-
der alguma posição ou discussão do estado atual,
ção do Cartório de Registro de Imóveis a qual não
apenas presta-se a informar sobre uma, e somen-
atinge o Tabelionato, por exemplo uma escritura
te uma, das interfaces que a atuação como Perito
de compra e venda pode ser lavrada em qualquer
de ações fundiárias exige. O conhecimento de ou-
tabelionato do Brasil, deve-se ter no momento da
tras áreas do Direito, de Legislação, de Cadastros,
lavratura ao menos uma certidão negativa de ônus
de Costumes, também é necessário e merece, se-
atualizada do registro do imóvel objeto da trans-
não um estudo aprofundado, ao menos o conheci-
ferência, mas é possível lavrar uma escritura de
mento das estruturas e finalidades. Por exemplo,
imóvel localizado em outro Estado ou Cidade.
o conhecimento de que um imóvel pode ter infor-
mações diferentes no cadastro municipal destina- Quanto ao processo de transferência de um imó-
do à tributação e do destinado ao urbanismo, que vel em última análise o Cartório é o verificador dos
muitos dados cadastrais ainda estão em meio físi- atos anteriores, é o último estágio, é onde se con-
co (papel), que a inserção e atualização se dava de sumará a transferência do imóvel, é importante se
maneira diversa da atual. Vale lembrar que o teor frisar esta diferenciação entre tabelionato e o ofí-
deste artigo refere-se à experiência deste autor em cio de registro de imóveis suas competências e os
anos de acompanhamento de demandas junto aos produtos finais (escritura e matrícula).
Ofícios, tanto como cliente de balcão como também
como consultor, isto circunscrito a uma região ao
longo de 20 anos, portanto o aqui apresentado não O que é a Circunscrição
é uma regra, uma obrigatoriedade, e sim uma ilus- Imobiliária?
tração que se espera auxilie na compreensão deste
tema. Espero que aproveitem e boa leitura. Os Ofícios de Registro de Imóveis, Cartório de Re-
gistro de Imóveis, obedecem uma disposição ge-
O REGISTRO DE IMÓVEIS ográfica chamada de circunscrição imobiliária,
assim ao contrário dos tabelionatos os Cartórios
Não se pretende abranger todos os aspectos referen- somente registram os imóveis pertencentes a sua
tes aos registros públicos e suas peculiaridades, há circunscrição. Esta circunscrição pode ter tido
livros inteiros dedicados a esta tarefa, pretende-se uma área maior no passado e portanto podem
trazer alguns aspectos relevantes no estudo de ca- haver registros (imóveis) que deveriam ter sido
deias dominiais o qual é imprescindível nas perícias transladados ao novo Cartório mas ainda perma-
envolvendo usucapiões tanto rurais como urbanos. necem no anterior. A solicitação deste translado
cabe ao proprietário e não ao Cartório, este en-
O conhecimento da prática dos Registros Públicos, tendimento do encadeamento temporal de um
tanto atual como pretérita, é um pré-requisito ne- registro (transcrição ou matrícula) é importante
cessário aos profissionais envolvidos em ações de em imóveis rurais devido à possibilidade de ven-
usucapião; neste sentido é importante trazer algu- da de partes ideais, podendo parte do imóvel ter
mas considerações de modo a contextualizar este sido transladado e parte ainda permanecer na cir-
ambiente e sua relação com os usucapiões especi- cunscrição de origem.
ficamente no estudo de cadeias dominiais.

O Perito Judicial Engenheiro


Cartório de Registro de Imóveis e enquanto cliente de balcão de um
Tabelionato são sinônimos? Tem a Cartório.
mesma função?
Alguns colegas no exercício das funções de Perito
Não tem a mesma função. Talvez a melhor modo Judicial não raras vezes têm enfrentado dificulda-
de exemplificar é a restrição geográfica de atua- des no relacionamento com os Cartórios, ao longo

64 Revista Técnica IBAPE RS


de anos de experiência tenho constatado situações não produz correções ou adapta documentação,
que poderiam ter sido evitadas se somente dois ele a recebe pronta e acabada para então proce-
aspectos tivessem sido atendidos, o primeiro refe- der o registro, o Cartório não é um corretor dos
re-se ao conhecimento prévio que o Perito Judicial demais que lhe antecederam.
deve ter, visto que é um expert, sobre a estrutura,
o contexto, a organização interna e a função de um Sobre os termos técnicos deve-se considerar que
Cartório, o segundo refere-se aos termos técnicos o interlocutor não os conhece, além disto, não tem
da engenharia e do direito em geral. obrigatoriedade em conhecê-los, como informado
acima o Cartório recebe documentos prontos, a di-
Sobre a estrutura deve-se considerar que os regis- ferença entre uma deflexão de linha de divisa ser
tros eram analógicos e assim foram por um bom informada na planta pelo ângulo interno, azimute
tempo, que está havendo uma migração para o di- ou rumo (direto ou inverso) é um assunto distante
gital que nem sempre ocorre de maneira integral do Cartório, neste sentido em algumas ocasiões é
podendo haver prazos ou não para serem cumpri- necessário que antes de tudo haja uma informa-
dos, que alguns Cartórios não dispõe de verba su- ção técnica sobre o objeto que se está discutindo.
ficiente para esta adequação estrutural, sim há di-
ferenças significativas de receita entre Cartórios. Como dito anteriormente desta falta de compreensão
decorrem inúmeras divergências no balcão dos Car-
Sobre o contexto deve-se considerar que o Cartó- tórios, as quais poderiam ser ao menos minimizadas
rio é uma delegação de um serviço do Estado a uma
pessoa física, obtida através de concurso, a qual
responde por demandas judiciais contra o Cartó- PORQUE SURGIU A MATRÍCULA
rio com seu patrimônio pessoal, ou seja, a eventual APÓS A TRANSCRIÇÃO
indenização ou outra consequência reparatória é
Atualmente o formato dos títulos dominiais é a
arcada pelo Oficial do Cartório, isto responde mui-
matrícula (Lei de Registros Públicos, 6015/1973),
to o por que dos Oficiais buscarem seguir rigoro-
antes dela havia a transcrição. O advento da matrí-
samente o seu Código de Normas interpretando-o
cula pretendeu melhorar a descrição do imóvel de
de modo restrito, contrariamente aos Juízes que
forma a individualizá-lo não restando dúvida de
dispões da estrutura do judiciário para lhes dar su-
suas características (Princípio da Especialidade),
porte os Oficiais não são funcionários.
atualmente o cadastro de imóveis rurais georrefe-
Sobre a organização interna deve-se considerar renciados no INCRA seguido da averbação na ma-
que dentro de um Cartório, a depender entre outras trícula é exemplo de melhoria na individualização.
características da área da Circunscrição, há setores
responsáveis por cada tipo de serviço prestado, PECULIARIDADES da Certidão
provavelmente haverá um setor responsável por
registros, certidões, averbações, loteamento, con-
Negativa de Registro
domínios, e que estes setores não possuem e cum- Para a instrução da peça inicial de ações de usu-
prem as mesmas normas e prazos, donde um fun- capião é usual juntar-se uma certidão negativa de
cionário não necessariamente consegue responder registro informando não haver imóvel registrado
sobre temas que não lhe são estritamente os seus, com as descrições do usucapiendo. Esta certidão é
quando a consulta ou serviço solicitado ao Cartó- resultado de uma busca na base de dados do Car-
rio envolve mais de um setor nem sempre obtemos tório (indicador real e pessoal) por um imóvel com
uma resposta imediata de nossa demanda. idênticas ou semelhantes características às do
usucapiendo. A formatação desta base de dados
Sobre a função deve-se considerar que um Cartó-
pode estar assim estruturada:
rio é a instância final de uma lista de outros ór-
gãos, é de uma maneira simplificada o órgão que No indicador real busca-se através da localida-
recebe a documentação produzida para consoli- de e área; nota-se claramente que em se tratan-
dá-la, aí residem duas situações peculiares e im- do de imóveis rurais e portanto não oriundos de
portantes, tomemos um loteamento como exem- parcelamentos convencionais (subdivisão ou
plo, inicia com topografia e segue pelo, município loteamento) esta conferência torna-se de difícil
(planejamento), estado (ambiental/urbanismo/ execução visto que: não há informação georrefe-
planejamento), município (todas as secretarias renciada dentro dos Cartórios, a informação da lo-
envolvidas) até findar em uma planta e um me- calização de um imóvel é o nome da localidade em
morial o qual é encaminhado ao Cartório, nota-se que se encontra, nem sempre plantas utilizadas
que a primeira situação é que o Cartório até este em parcelamentos estão arquivadas no Cartório.
momento não tem ciência do material produzido, Aqui cabe uma ressalva importante, não se pode
lembrando que tem seu próprio Código de Normas confundir o arquivamento de um memorial ou
para atender, a segunda situação é que o Cartório planta georreferenciada no Cartório com a gera-

Artigo Técnico 2ª Edição 65


ção de informação georreferenciada, são arquivos área, estar ativo e portanto não ter sido encerrado,
e objetivos distintos, o primeiro busca a guarda os registro anteriores, os registros posteriores, ou
da informação suficiente a produzir títulos futu- seja, é necessário consultar cada registro para se
ros baseados na cadeia dominial (Princípio da obter estas informações. Recentemente utilizando
Continuidade) e o segundo a fornecer informa- a plataforma da ONR (https://registradores.onr.org.
ção georreferenciada não sendo este o objetivo br/Acesso.aspx) me deparei com a nova exigência
do Cartório, ou seja, o Cartório não tem um banco da inserção do CPF para se proceder uma busca no
de dados capaz de providenciar uma busca utili- indicador pessoal, isto sem dúvida é um retrocesso,
zando coordenadas, este último objetivo tem sido anteriormente era possível a busca somente infor-
pretendido pelo INCRA através da lei 10.267/01 mando o nome aceitando-se a condição de que a
alterada recentemente pela lei 13.838/19, portan- mesma poderia retornar nula ou com homônimos,
to a primeira busca no caso de imóveis rurais deve condição esta possível de se suportar visto a difi-
ser ao INCRA, esta resultando negativa restará ao culdade de se obter por exemplo o CPF de um con-
Perito fazer o serviço de georreferenciar a infor- frontante, ainda mais com a implantação da LGPD
mação encontrada nos Cartórios, ou seja, fixar a que vem retirando da internet esta informação, no-
localização da informação arquivada em Cartório, ta-se que é um retrocesso esta exigência.
pretérita ou atual, encontrada nas transcrições e
matrículas. Outra característica do indicador real
é este somente possuir descrições oriundas de PECULIARIDADES da Transcrição
matrículas portanto mesmo havendo um imóvel
ainda em transcrição com idêntica descrição ao Devido a importância de se conhecer o passado de
usucapiendo este não será encontrado conforme um registro faz-se necessário também o conhe-
a seguir explanado. Tem-se notado uma busca dos cimento de algumas peculiaridades do formato
Cartórios no sentido de melhorar sua base de in- de registro utilizado antigamente, o qual ocorria
formação de seu indicador real, alguns Cartórios através de anotações em Livros, por isto geravam
tem proposto inclusive que esta base para consul- as chamadas transcrições.
ta seja uma plataforma de GIS onde a informação Quanto às anotações existentes em uma certidão de
estivesse cartograficamente disponível, nota-se transcrição cabem algumas considerações para a
que a semelhança do INCRA para os imóveis ru- correta extração de informação e sua compreensão:
rais os Cartórios poderiam ser os gestores para os
imóveis urbanos, alguns tem proposto uma inter- 1. uma transcrição pode conter mais de um imó-
face entre as plataformas GEO já existentes dos vel, a transcrição refere-se a uma anotação em
Municípios e a base de dados dos Cartórios, sem um Livro antigo, é a transcrição de um campo de
dúvida uma evolução a ser acompanhada. Visan- anotação de um Livro vinculado a um vendedor e
do disciplinar o material técnico a ser enviado ao um comprador, este campo pode conter mais de
uma porção de área. A transcrição tem seu foco no
Cartório se aprovou no ano de 2022 a ABNT NBR
proprietário e não no imóvel, por isto quando se
170474 – Levantamento cadastral territorial para
alterava o proprietário era gerado outro registro/
registro público – Procedimento, esta norma vem transcrição do imóvel diferentemente da matrícu-
socorrer tanto técnicos como Cartórios na defini- la que permanece a mesma perpetuando o imóvel
ção do material técnico a ser produzido, detalhe e alterando os proprietários,
importante que não há requisito novo nesta nor-
ma, trata-se de um compilado de normas ABNT 2. uma transcrição pode referir-se a uma parte
e requisitos legais já existentes mas que estavam ideal e não a uma parte certa individualizada, a
principal peculiaridade da parte ideal é que esta
distribuídos em diversas fontes. não se localiza dentro do imóvel, trata-se de uma
quantidade de área dentro de um imóvel, pode
No indicador pessoal busca-se pelo nome, des-
estar descrita como uma quantidade certa de
necessário dizer que por exemplo o Requerente
área utilizando as unidades pertinentes como:
de um usucapião não está usucapindo seu próprio alqueire, hectare, litro, metro quadrado, ou pode
imóvel portanto dependendo do Cartório esta bus- ser descrita como uma proporção, nesta situação
ca por nome dá-se em relação aos confrontantes adotando valores monetários ou quantidade de
do usucapiendo numa tentativa de identificá-lo área, como exemplos: parte ideal correspondente
a partir dos imóveis confrontantes, ainda assim a 10.000 cruzeiros sobre avaliação de 50.000 ou 1
seria necessário a ocorrência de diversas peculia- alqueire sobre um todo de 20 alqueires,
ridades para a identificação inequívoca do usuca-
3. uma transcrição pode ter um ou mais registros
piendo como um imóvel confrontante já registra-
anteriores, ao compor uma quantidade de área
do, o indicador pessoal pode estar dividido entre esta pode ter origem em mais de uma transcrição.
transcrições e matrículas contendo o número do Esta situação pode ocorrer em transferências en-
registro ao qual o nome foi ou está vinculado, não tre herdeiros onde é necessário se compor mais
há informação quanto ao registro: descrição, local, de uma origem para se obter o total destinado ao

66 Revista Técnica IBAPE RS


herdeiro, isto no estudo da cadeia dominial resul- fim todas as variações da fonética das vogais.
ta em maior trabalho pois abrem-se outros cami-
nhos a serem percorridos, Conforme explanado no início, este tema não se
esgota aqui, há inúmeras situações derivadas das
4. uma transcrição anterior pode estar em uma expostas, todas obviamente dependentes da época
Circunscrição anterior, ou seja, pode estar em ou- em que ocorreram dos costumes locais, da legisla-
tra comarca/município,
ção contemporânea e além destas dos costumes,
5. uma transcrição pode conter nomes de mem-
atualmente os Códigos de Normas editados pelas
bros da mesma família grafados de forma diferen- Corregedorias Estaduais tem sido a base legal pri-
te, nomes de origem europeia, não raros em nos- mária do funcionamento dos Cartórios sem esque-
sa região, podem conter somente 1 vogal entre 7 cer as demais bases, o Cartório está em constante
consoantes, com pronuncia igual, por exemplo, o atualização trazendo novos desafios de adequação
sobrenome “Luczsk” tem pronúncia LUCÉSQUI, tanto interna como de nós seus usuários. Espe-
podendo ser grafado Lucesk, Luceski, Luceschi, ro ter contribuído, sugestões de desenvolvimento
Lyczsky, outro sobrenome “Wojck” tem pronún- deste tema podem ser enviadas para o IBAPE/RS.
cia VUICHIQUÊ e pode ser grafado Woycik, Woyck,
Wojck, Wojcik, Woicik, Woick, Woicki, Woycky, en- Obrigado.
ENTREVISTA

FERNANDO PETERSEN JUNIOR

1) Qual a sua formação e como foi o seu pri-


meiro contato com a área de avaliações e pe-
rícias de engenharia?
R: Sou graduado em Engenharia Civil pela
PUCRS (1978) e pós-graduado na área de sa-
neamento pela UNISINOS (1985). Ademais,
fiz algumas dezenas de cursos complementa-
res sobre engenharia legal ao longo de minha
carreira.

O início da minha história (com o que gosto


de chamar de engenharia legal) deu-se atra-
vés do meu tio, Carlos Alberto Barreto Vianna
pois na parte privada, ao longo dos últimos
Petersen. Meu tio sempre foi uma referência
dez anos. Portanto, vi toda a evolução dessa
de pessoa e de engenheiro para mim e, lá nos
ciência de perto.
anos sessenta, por ter como seu melhor ami-
go um juiz de Direito, acabou sendo distingui- Lá atrás, realizava-se simples médias para
do em algumas desapropriações para atuar avaliação de bens. Às vezes, avaliava-se um
como perito oficial. terreno com base no valor das casas da re-
gião e então subtraíamos o custo estimado
2) Como eram feitas as avaliações quando o
daquela construção específica, numa espécie
senhor se formou?
de inversão do método evolutivo atual. Enfim,
R: Meu filho, que hoje é meu sócio e que teve não existiam normas, então o bom senso era
nesta área de atuação sua dedicação exclusi- o que nos guiava na maior parte dos casos.
va deste o início de sua carreira, sempre brin- Depois trouxeram as regressões, e a seguir,
ca comigo a respeito destas questões (risos). a análise envoltória, as redes neurais, as si-
Por exemplo, às vezes, encontrar o local a ser mulações de monte carlo etc. Acho que na
periciado era mais difícil do que efetivamente época era mais fácil ver diferentes “métodos”
realizar a perícia (risos). Tínhamos que ir de avaliatórios. Embora todos fossem baseados
um posto de gasolina em outro e ir obtendo em algum tipo de comparação, em função da
direções para chegar no local desejado. Usá- inexistência de softwares compatíveis, usáva-
vamos guias, que possuíam mapas recorta- mos a imaginação (risos). Me recordo que no
dos e distribuídos entre diferentes páginas. início dos softwares de regressão, por exem-
Lembre-se, não havia celulares, Google Maps, plo, em que hoje são realizadas milhões de
Waze etc. Enfim, essa área de atuação vem se equações por minuto, precisávamos deixar o
profissionalizando ao longo do tempo. Lá no computador buscando modelos de tendência
início, acho que os que atuavam nessa área por várias horas. O computador, dada suas
apenas buscavam um meio de complementa- especificações, também ficava travando e não
ção de renda. Naturalmente ainda existe isso, permitia seguirmos trabalhando em outros
mas acho que a tendência vem sendo altera- assuntos. Às vezes até saíamos para almoçar,
da. Em função dessas questões iniciais, aca- jantar, íamos dormir etc., pois realmente de-
bei sempre atuando com engenharia legal. morava muito tempo. A única vantagem era
Primeiro, como assistente-técnico na área que aprendíamos a fazer à mão o que os sof-
pública, durante 30 anos consecutivos, e de- twares hoje fazem computacionalmente.

68 Revista Técnica IBAPE RS


3) Como o senhor vê as mudanças nas nor- rua. A parte não franqueava o acesso. Para não
mas técnicas desde então? termos que solicitar força policial, fizemos
R: Acho que são muito produtivas. Sempre imagens com o drone e logo fomos embora. O
digo que o pior critério é a falta de um crité- que precisávamos viajar para realizar reuni-
rio. É claro que sempre há o que melhorar, em ões que agora rapidamente são satisfeitas por
qualquer área da vida e nas normas, portanto videoconferências, as quais são mais produ-
não é diferente. De qualquer sorte, penso que tivas e facilitam o alinhamento da agenda de
a norma de avaliação de bens seja uma das todos também foi uma mão na roda.
melhores que estão disponíveis na ABNT. Se
5) Como o senhor vê o futuro da engenharia
atendidas as entrelinhas lá estabelecidas, sin-
de avaliações?
ceramente, acho que seja difícil errar na ob-
tenção dos resultados. Por outro lado, a norma R: Existem autores, filósofos do Direito, como
de perícias em vigor ainda é a de 1996 e salvo Michele Taruffo e a Susan Haack que defen-
engano está em revisão há bastante tempo. dem em obras relativamente recentes que
cada vez mais serão necessários esses servi-
4) E o avanço da tecnologia? Qual a sua visão ços que prestamos através dos IBAPE. Se es-
do uso de novas tecnologias para os avalia- sas autoridades pensam isso, naturalmente,
dores? não posso pensar diferente. Acho que preci-
R: Incrível. Por ter um sócio jovem, hoje ad- samos, todavia, elevar a qualidade dos profis-
quirimos equipamentos inimagináveis no sionais. A responsabilidade e a ordenação de
início da minha carreira. Temos aqui no es- condutas impedem que os trabalhos sejam
critório, por exemplo, um drone, que gera realizados com o desinteresse técnico que às
excelentes imagens, uma câmera de termo- vezes vemos por aí.
grafia, ambos adquiridos há uns 10 anos. Po-
6) Qual o conselho o senhor pode deixar para
demos falar também a respeito dos laborató-
os engenheiros e arquitetos que desejam in-
rios e dos ensaios tecnológicos criados para
gressar nesta área de avaliações?
diferentes sistemas, elementos e componen-
tes das construções, os quais às vezes são R: Sou suspeito para falar. Em resumo, que ve-
fundamentais para a obtenção de adequados nham! Trata-se de uma área que nos permite
diagnósticos e para a redução de subjetivi- evoluir como profissionais e como pessoas.
dades nos trabalhos. Peguei uma época, que Nos demandam estudos diferentes todas as
hoje também deva ser considerada impen- semanas. Trata-se de uma área fundamental
sável, em que deviam ser avaliados bens em à sociedade.
que não havia qualquer acesso. Uma ilha, por
7) Por acaso o senhor sabe de alguma novi-
exemplo, em que o acesso devia ser realizado
dade para contribuir com os colegas?
através de um barco. Como compararíamos
dados naquela época? Como registraríamos Acredito que sim. Por exemplo, a Câmara Mu-
fotos naquela época? O drone hoje vai a 8km nicipal de Porto Alegre aprovou o projeto de
de distância e chega até 300m de altura, salvo lei que estabelece a disponibilização dos da-
engano. Naturalmente a ideia não é testar a dos do cadastro imobiliário de IPTU e de ITBI
veracidade dessas informações (risos). para consulta e download por meio de portal
de informações (https://www.camarapoa.rs.
Tivemos dificuldades uma vez em uma perí- gov.br/noticias/dados-sobre-iptu-e-itbi-sera-
cia recente a respeito de um acesso. Era um o-disponibilizados-na-internet). Outro exem-
trabalho pequeno, em que a discussão versa- plo, seria o fato de que o IBAPE-SP teria obtido
va sobre algo externo, isto é, se haviam sido deferimento do Tribunal de Justiça, em tese
realizados pavimentos a mais do que o que daquela região, o qual agora permite a con-
era permitido pelo plano diretor da região. Os sulta a processos, mesmo sem sermos os pe-
pavimentos indevidos ficavam escondidos, ritos nomeados e desde que não haja segre-
pois se situavam na parte posterior da edifi- do de justiça (https://www.instagram.com/p/
cação e não podiam ser visualizados desde a C35UkL2ApZE/

Artigo Técnico 2ª Edição 69


CAU

SOFTWARE LIVRE: UMA GRANDE


OPORTUNIDADE DE ECONOMIA COM QUALIDADE

O Solare – Softwares Livres para Arquitetu- Seminário à vista


ra e Engenharia – é uma plataforma que tem
Recentemente, o CAU/RS e a FNA estiveram
por objetivo fomentar o uso e o desenvolvi-
reunidos para debater novos formatos de
mento de softwares livres necessários à prá-
promoção e desenvolvimento do programa
tica da arquitetura, urbanismo e engenharia.
Solare. “Teremos um seminário neste ano,
Fruto de um convênio firmado entre o Con- em Porto Alegre e, além disso, uma das linhas
selho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RS) e que queremos trabalhar é a divulgação do
a Federação Nacional dos Arquitetos e Urba- software livre junto às prefeituras e univer-
nistas (FNA), a proposta do Solare é garantir o sidades”, destacou a presidenta do CAU/RS,
acesso a programas gratuitos e de qualidade, Andréa Hamilton Ilha.
gerando economia de até R$ 20 mil ao ano*
aos profissionais da área. Além disso, dis-
pensa o uso de softwares “piratas”, cada vez
mais rastreáveis pelas grandes companhias,
as quais podem acionar os usuários judicial-
mente.

Como funciona?
Softwares Livres existem por meio de duas
comunidades: a comunidade de usuários – os
profissionais de arquitetura e engenharia – e
a comunidade de desenvolvedores. Na inter-
seção entre ambas, estão os profissionais que
auxiliam no desenvolvimento dos softwares.
O Solare visa estimular a formação e organi-
zação da comunidade de usuários, de modo a
manter uma comunidade de desenvolvedores
de acordo com seus propósitos.
Participaram do encontro, ainda, o Chefe de
Por meio do convênio, o CAU/RS repassa à Gabinete do CAU/RS, Paulo Henrique Soares;
FNA recursos que auxiliam na contratação de o Assessor de Relações Institucionais e Go-
professores e elaboração de videoaulas sobre vernamentais do Conselho, Fausto Leiria; a
softwares livres, armazenados em plataforma presidente da FNA, Andréa dos Santos; o co-
online e gratuita. Entre os programas dispo- ordenador do Solare na FNA, Danilo Matoso;
níveis com foco em engenharia e arquitetu- a secretária-geral da FNA, Danya Silva, e a ar-
ra, estão: FreeCad (CAD/ BIM); QCAD (CAD); quiteta e urbanista Eleonora Mascia, membro
GIMP (edição de imagens); Inkscape (edição do Conselho Consultivo da FNA.
de imagens); Blender (3D e renderização);
QGIS (georreferenciamento/planejamento). Conheça o programa Solare! Acesse:
Também é possível encontrar softwares equi- https://solare.org.br/
valentes a licenças oferecidas pela Microsoft
(Word, Excel e Powerpoint) e Apple (Pages,
Numbers e Keynote). *Média de gastos com licença/anos por máquina.

70 Revista Técnica IBAPE RS


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Alfredo Kuhn Pfeifer Carlos Alberto Pires
Engenheiro Civil Engenheiro Civil
IBAPE-RS 3031/17 IBAPE-RS 0610/15
CREA RS 56927 CREA RS 40782
(51)33420930 / (51) 995189933 (51)30137905 / (51)99862486
[email protected] [email protected]
Amanda Votto Klafke Carlos Augusto Arantes
Engenheira Agrônoma Engenheiro Agrônomo
IBAPE-RS 3010/16 IBAPE-RS 1095/00
CREA RS 140274 CREA SP 601834940
051- 99.66.77 023. (18) 36239178 / (18)991067777
[email protected] [email protected]
André Barros Bolzani Petersen Carlos Cezar Mennet Leal
Engenheiro Civil Engenheiro Civil
IBAPE-RS 1703/15 IBAPE-RS 3263/2024
CREA RS 201056 CREA RS 109385
(51)999351660 / (51)33324632 (51)995061236
[email protected] [email protected]
Brasil Ganzo Fernandez Barcellos Carlos de Santis
Engenheiro Civil Engenheiro Mecânico / Engenheiro de Segurança do
IBAPE-RS 1055/11 Trabalho
CREA RS 73649 IBAPE-RS 3252/2023
(51) 981469664 CREA RS 47867
[email protected] (51) 998084880
[email protected]
Brunno Pavoni
Engenheiro Civil Carlos Eduardo Bruxel
IBAPE-RS 3261/2024 Engenheiro Mecânico / Engenheiro de Segurança do
CREA RS 155395 Trabalho
(54) 999545269 IBAPE-RS 3265/2024
[email protected] CREA RS 246333
(51)998033706
Bruno Brock Girardi [email protected]
Engenheiro Civil
IBAPE-RS 3257/2024 Cláudia Diehl
CREA RS 222685 Engenheira Civil
(51) 998118182 IBAPE-RS 0405/15
[email protected] CREA RS 126791
(51)999973536/ (51)37201088
Camila de Arantes Nery [email protected]
Engenheira Agrônoma / Engenheira Civil
IBAPE-RS 1210/13 Claudiomiro Mendes
CREA/SP 5063789272 Eng. Civil, Eng. de Segurança do Trabalho
(18) 36239178 / (18) 996907117 IBAPE-RS 3279/2024
[email protected] CREA RS 253858
51993448739
Camila Luzzatto Guimarães [email protected]
Engenheiro Civil
IBAPE-RS 3267/2024 Daniel Letti Grazziotin
CREA RS 161076 Engenheiro Civil
(51) 991176955/(51) 33008103 IBAPE-RS 3238/23
[email protected] CREA RS074697
(51) 999689141
Carivaldo Afonso Nunes [email protected]
Engenheiro Agrimensor, Engenheiro de Segurança
do Trabalho Danilo Tassinari Nery
IBAPE-RS 3206/21 Engenheiro Civil
CREA SP 5069514563 IBAPE-RS 3228/23
(38)999741034 CREA/SP 5071180617
[email protected] 18 998161935
[email protected]
Carla de Arantes
Advogada Agroambientalista Dirce Bisotto
IBAPE-RS 3274/2024 Engenheira Civil
OAB/SP 309.751 IBAPE-RS 0204/12
(018) 997550448 CREA RS 55883
[email protected] (54) 99777195
[email protected]
Eliane Guerreiro Dulac Gustavo Mercali
Arquiteta e Urbanista Engenheiro Civil Eng. Segurança do Trabalho
IBAPE-RS 3233/23 IBAPE-RS 3249/20234
CAU RS A57933-5 CREA RS 17217
(51) 998886262 51995596363
[email protected] [email protected]
Eliomar Rodrigo Sinigaglia Henrique Bertolini
Arquiteto e Urbanista Engenheiro Civil
IBAPE-RS 3254/2024 IBAPE-RS 3248/2023
CAU RS A52646-0 CREA RS 208946
(54) 981111567 (54) 99670-0920
[email protected] [email protected]
Emília de Oliveira Iarema Alcalde Brasil Biguelini
Engenheira Civil Engenheiro Civil
IBAPE-RS 1203/11 IBAPE-RS 3075/20
CREA RS 155399 CREA RS 045025
(51)30914754 / (51)991674759 (51) 999737111
[email protected] [email protected]
Fábio Borges Fanfa Isabela Beck da Silva Giannakos
Engenheiro Agrônomo RS051967
IBAPE-RS 3250/2023 IBAPE-RS 1200/90
CREA RS 222336 CRE RS RS051967
(51) 999472469 51999685351/5133288764
[email protected] [email protected]
Felipe Herrmann Fontoura Iuri Pereira Britto
Arquiteto e Urbanista Engenheiro Civil
IBAPE-RS 2703/14 IBAPE-RS 1160/11
CAU RS A418536 CREA RS 57124
(51) 998861579 (51) 991227707
[email protected] [email protected]
Fernanda Alcalde Vieira Pinheiro Jéferson Matheus de Oliveira
Arquiteta e Urbanista Engenheiro Eletricista / Engenheiro de Segurança do
IBAPE-RS 3241/23 Trabalho
CAU RS A97786-1 IBAPE-RS 3231/23
(51) 996869229 CREA RS 247332
[email protected] (51) 99888-3132
[email protected]
Fernando Petersen
Engenheiro Civil Jerônimo Bazerque Pereira
IBAPE-RS 1023/81 Engenheiro Civil
CREA RS 032785 IBAPE-RS 3268/2024
(051) 33324632 CREA RS 207849
[email protected] (53) 999097753
[email protected]
Geraldo da Rocha Ozio Jorge Mauricio Ben Brum Júnior
Arquiteto Urbanista Arquiteto e Urbanista
IBAPE-RS 1011/96 IBAPE-RS 3275/2024
CAU RS A16853-0 CAU RS A46597-6
(51) 999696818 55999740524
[email protected] [email protected]
Giovana Oliveira Kaleti José Octavio de Azevedo Aragón
Engenheiro Civil Eng.Agrônomo
IBAPE-RS 3204/21 IBAPE-RS 1235/11
CREA RS 230814 CREA 38847
(54) 999369119 (48) 99981 3249
[email protected] [email protected]
Gregório Beck da Silva Giannakos Josiani Betencourt
Eng. Civil Engenheiro Civil
IBAPE-RS 3100/19 IBAPE-RS 3269/2024
CREA RS RS236248 CREA RS 219641
5196884655/51-33379288 (54) 992060233
[email protected] [email protected]
Guilherme Antonio Be Juliano Bulla
Engenheiro Civil Engenheiro Civil Especialista
IBAPE-RS 3256/2024 IBAPE-RS 3235/23
CREA RS 1463187 CREA RS 231239
(55) 997268941 (54) 999258995
[email protected] [email protected]
Justina Ines Troian Mario Vicente Nasi
Engenheira Civil / Engenheira de Segurança do Engenheiro Civil
Trabalho IBAPE-RS 1188/11
IBAPE-RS 3262/2024 CREA RS 73684
CREA RS 139333 5(1)991235949/(51)33466424
(54) 991914616 [email protected]
[email protected]
Miriam da Costa e Silva Nunes Lopes
Luana Grings Engenheira Civil / Engenheira de Segurança do
Eng. Civil, Eng. de Segurança do Trabalho Trabalho
IBAPE-RS 3277/2024 IBAPE-RS 1018/11
CREA RS 237251 CREA RS 078101
55997231808 (51) 997075494
[email protected] [email protected]
Nathalia Leal de Carvalho
Luis Fernando Mottola de Oliveira Engenheira Agrônoma
Arquiteto e Urbanista IBAPE-RS 3255/2024
IBAPE-RS 1701/12 CREA RS 150574
CAU RS A32519-8 (51)992578959
(51)999874195 [email protected]
[email protected]
Newlton Jacuniak
Luís Otávio Rech Faltam informações
Engenheiro Civl 51993621262
IBAPE-RS 3237/23
CREA RS 227210 Olindo Augusto Duque Estrada Scarparo
(54 ) 996011589 Engenheiro Civil
[email protected] IBAPE-RS 3280/2024
CREA RS 40.948-D
Luiz Alcides Capoani (51) 999961201
Engenheiro Civil [email protected]
IBAPE-RS 1050/99
CREA RS 49550 Paola Jurca Grigolli
(51)32325061 / (51)993433000 Engenheira Agrônoma
[email protected] IBAPE-RS 3226/22
CREA SP 5063542247
Luiz Carlos Stein (16) 98235 0216
Engenheiro Eletricista [email protected]
IBAPE-RS 1103/11
CREA RS 055590 Patrícia Bertotto
(51)35171802/(51)992677836 Engenheira Civil
[email protected] IBAPE-RS 1115/11
CREA RS 126781
Manuel Emilio Hidalgo Orozco (51)33309325 / (51)999174850
Engenheiro Civil [email protected]
IBAPE-RS 3227/23 -
(+506) 8384 4306 Paula Carvalho Torres
[email protected] Engenheira Civil
IBAPE-RS 3251/2023
Marcelo Suarez Saldanha CREA MG 196492
Eng. Civil e Agrotécnico (51) 98903-8850
IBAPE-RS 1116/85 [email protected]
CREA RS 53446
(51)32284511 / (51)999610056 Paulo César Pérez Baldasso
[email protected] Engenheiro Civil
IBAPE-RS 3269/2024
Marcio Eduardo Boeira Bueno CREA RS RS76852
Engenheiro Agrônomo (51) 999687211
IBAPE-RS 3072/18 [email protected]
CREA RS 095220
(54)32329924 /(54)984353989 Paulo Fernando do Amaral Fontana
[email protected] Arquiteto e Urbanista
IBAPE-RS 3271/2024
Marco Antonio Rocha Vasconcellos CAU RS A10368-3
Engenheiro Eletricista (54)98112.6520
IBAPE-RS 1029/11 [email protected]
CREA RS 100031
(51)32451294 /(51) 984421759 Paulo Rogério Parente Dias
[email protected] Engenheiro Civil
IBAPE-RS 3258/2024
Mariana Diehl Cardoso Dal Pizzol CREA SP 5061879052
Engenheiro Civil (51)995804004
IBAPE-RS 3082/19 [email protected]
CREA RS 233269
( 51 )997125929 Rafael Adler
[email protected] Engenheiro Civil
IBAPE-RS 3219/21
CREA RS 236077
51-981005162
[email protected]
Rafael Feltrin Segala Rosane Saraiva Castanho Dagani
Arquiteto e Urbanista Arquiteta e Urbanista
IBAPE-RS 3066/07 IBAPE-RS 3079/18
CAU RS A462519 CAU RS A90.595-0
55-996264493 51-999698255
[email protected] [email protected]
Rafael Pompermayer Rui Juliano
Engenherio Civil Engenheiro Civil
IBAPE-RS 3246/2023 IBAPE-RS 1054/01
CREA RS 109125 CREA RS 42102
(54) 996985061 - (54)34511132 53 - 98115 1779 /0800 887 0622
[email protected] [email protected]
Rafaela Ritter dos Santos Salvador Amodeo
Arquiteta e Urbanista Eng. Civil
IBAPE-RS 3074/18 IBAPE-RS 3276/2024 CREA RS 013946
CAU RS A31442-0 (51)999852774 / (51)30268874
051 - 991248477 [email protected]
[email protected]
Silvia Regina Bier
Raquel Silva de Paula Lopes Engenheira Civil
Arquiteta e Urbanista IBAPE-RS 3247/2023
IBAPE-RS 3272/2024 CREA RS 50.270
CAU RS A278649-4 (51) 999633795
(55)999698869 [email protected]
[email protected]
Sônia Maria Bolzani Petersen
Regina Célia Zanella Engenheiro Civil
Engenheiro Civil IBAPE-RS 3050/17
IBAPE-RS 3264/2024 CREA RS 11752
CREA RS: SP60095888 51-33324632 / 999825764
51991274569 [email protected]
[email protected]
Stella Marys Della Flora
Renan Andrade Cardoso Engenheira Civil
Engenheiro Civil IBAPE-RS 3229/23
IBAPE-RS 3240/23 CREA SP 5068955522
CREA RS 236534 (11) 96150-9662/(11) 5531-2179
51- 33450080/51--997150439 [email protected]
[email protected]
Vagner Luis Kijak
Renata Bandarra Engenheiro Civil / Engenheiro de Segurança do
Arquiteta e Urbanista Trabalho
IBAPE-RS 3218/21 IBAPE-RS 3059/17
CAU RS A25357-0 CREA RS 142437
(51) 982375800 51-991430004
[email protected] [email protected]
Ricardo Miranda Vanusa do Nascimento de Ávila
Engenheiro Mecânico Engenheira Civil
IBAPE-RS 3260/2024 IBAPE-RS 3273/2024
CREA RS 044364 CREA RS 251037
51981297610 (51)999540634
[email protected] [email protected]
Roberto Brito Nogueira Victor Avena Dall’Agnol
Engenheiro civil Engenheiro Civil
IBAPE-RS 3245/23 IBAPE-RS 3259/2024
CREA RS 065297 CREA RS 229289
(51) 999691964 54-991692743
[email protected] [email protected]
Roberto de Siqueira Estivallet Viviane Maria Pschichholz Mello
Hidrotécnico Arquiteta e Urbanista
IBAPE-RS 3054/17 IBAPE-RS 3278/2024
168517 CAU A42893-0
51-997536806 (51)999176767
[email protected] [email protected]
Ronaldo Mohr
Arquiteto e Urbanista
IBAPE-RS 3266/2024
CAU RS A22318-2
51 98222 8836
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Parceiros
ASSOCIAÇÃO DOS
ENGENHEIROS AGRÔNOMOS
DE PORTO ALEGRE - AEAPA

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Alegre - RS | CEP 90550-142 | Segunda a sexta, das
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ASSOCIAÇÃO SUL RIOGRANDENSE


DE ENGENHARIA DE SEGURANÇA
DO TRABALHO - ARES

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
ENGENHEIROS MECÂNICOS
SEÇÃO RS - ABEMEC-RS

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ENGENHARIA LEGAL E DE
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Edição: 002
Jornalista Responsável
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RIO GRANDE DO SUL (IBAPE-RS) Edição e produção
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Higienópolis, Autores dos artigos técnicos
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