Julho 2024

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News

— JULHO 2024 —

JULGADOS EM DESTAQUE
DIREITO CONSTITUCIONAL

Não podem ser consideradas válidas as relações jurídicas regidas por Medida Provisória
afastada por decisão liminar em Ação Direta de Inconstitucionalidade, quando esta decisão
ainda se encontrava em vigor no momento da rejeição da MP

O STF, em diversas ocasiões, rejeitou o controle de constitucionalidade concentrado da aplicação


da MP n. 242/2005, uma vez que sendo rejeitada, só restariam as relações jurídicas constituídas
sob a sua a égide, relações subjetivas que deveriam ser tratadas por outros meios processuais.
A MP nº 242/2005 foi suspensa por decisão liminar na ADI 3467-7/DF. Posteriormente, essa
ação foi extinta por perda de objeto, pois o Congresso Nacional rejeitou a MP por motivos
de inconstitucionalidade.
O art. 62, §11º, da CF/88 determina que as relações jurídicas decorrentes de atos praticados
durante a vigência de uma MP rejeitada são por ela regidas. Isso significa que os atos realizados
sob a égide da MP permanecem válidos, mesmo após sua rejeição.
No caso em questão, essa determinação abrange não apenas os atos diretamente resultantes da
aplicação da MP, mas também seus efeitos subsequentes, incluindo atos judiciais que suspenderam
a eficácia da MP em controle concentrado de constitucionalidade.
As relações formadas por norma jurídica afastada em controle de constitucionalidade por decisão
liminar são caracterizadas pela ausência de higidez jurídica.
Quando o Senado Federal emitiu o Ato Declaratório nº 1 em 20/07/2005, rejeitando a MP, estava
em vigor a medida cautelar concedida pelo STF que suspendia a eficácia da referida norma.
Aceitar o argumento de que as consequências concretas produzidas durante a vigência da MP
deveriam ser perpetuadas, implicaria em uma repristinação indevida. Isso faria com que a
norma tivesse efeitos em um momento em que estava suspensa, sendo essa repristinação
contraditoriamente decorrente de sua própria revogação.
Portanto, uma vez que o STF constatou a inconstitucionalidade da norma por meio de medida
liminar, a qual ainda estava em vigor quando o Congresso Nacional rejeitou a MP, as relações
jurídicas objeto de impugnação judicial não podem ser consideradas válidas.
STJ. 2ª Turma. REsp 2.024.527-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/6/2024 (Info 817).
JULGADOS EM DESTAQUE 2

DIREITO ADMINISTRATIVO

O serviço de fretamento colaborativo oferecido pela BUSER é ilegal

O caso concreto envolvia a prestação de serviços de fretamento realizado por intermédio da empresa
de tecnologia Buser, em circuito aberto. Isso significa que, por meio da utilização de plataforma
eletrônica, os passageiros adquirem viagens para destinos de seu interesse, normalmente em rotas
consideradas lucrativas pelas empresas de transporte de passageiros em geral.
A legislação exige que o serviço de fretamento, para ser autorizado, deve ser praticado somente
em “circuito fechado” (viagens de ida e de volta realizadas com os mesmos passageiros), o que
não é o caso de pelo menos grande parte dos serviços oferecidos pela Buser.
O serviço oferecido pela Buser de fretamento em circuito aberto implica, na realidade, a prestação
irregular de serviço de transporte rodoviário de passageiros. Isso porque:
i) são disponibilizados diversos trajetos diários, com preço individual e horários fixos, em circuito
aberto (só ida e até previsões de paradas), e muitas vezes sem informação quanto à empresa
responsável pelo transporte;
ii) a regularidade na oferta dos serviços (viagens diárias, nos mesmos horários), a venda de bilhetes
individuais e a compra facultativa da passagem de volta (circuito aberto) revelam que não se trata de
serviço de caráter ocasional, mas sim de “estabelecimento de serviços regulares ou permanentes”; e
iii) as empresas cadastradas na plataforma da Buser possuem apenas autorização para fretamento
no circuito fechado.
Configurada, portanto, atuação em situação de concorrência desleal com as empresas que
prestam regular serviço de transporte interestadual de passageiros.
Em suma: o serviço oferecido por plataforma de tecnologia, que envolve operações conjuntas
com empresas de fretamento, anúncio e cobrança individual de passagens para viagens
interestaduais, é um tipo de fretamento em circuito aberto e configura prestação irregular de
serviço de transporte rodoviário de passageiros.
STJ. 2ª Turma. REsp 2.093.778-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/6/2024 (Info 817).

É inconstitucional lei estadual que proíbe militar afastado por falta grave de participar
de concurso público

É inconstitucional — por criar sanção de caráter perpétuo — norma que, sem estipular prazo
para o término da proibição, impede militares estaduais afastados pela prática de falta grave de
prestarem concurso público para provimento de cargo, emprego ou função na Administração
Pública direta ou indireta local.
STF. Plenário. ADI 2.893/PE, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 17/06/2024 (Info 1141).
JULGADOS EM DESTAQUE 3

STF prorrogou validade da Lei 12.990/2014, que instituiu o sistema de cotas raciais em concursos
públicos federais

A Lei nº 12.990/2014 estabeleceu uma cota aos negros de 20% das vagas em concursos públicos
realizados no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas,
das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União.
O art. 6º dessa lei previu que o sistema de cotas teria vigência pelo prazo de 10 anos, ou seja, ele
terminaria dia 10 de junho de 2024.
O Psol e a Rede Sustentabilidade ingressaram com ADI, no STF, pedindo a manutenção da política
de cotas para candidatos negros em concursos públicos mesmo após esse prazo.
De acordo com os partidos, não houve a efetiva inclusão social almejada pela política afirmativa.
O STF, ao apreciar medida cautelar, deu interpretação conforme a Constituição ao art. 6º da Lei
nº 12.990/2014, a fim de que o prazo nele constante seja entendido como marco temporal para
avaliação da eficácia da ação afirmativa, determinação de prorrogação e/ou realinhamento e,
caso atingido o objetivo da política, previsão de medidas para seu encerramento, ficando afastada
a interpretação que extinga abruptamente as cotas raciais.
Em outras palavras, tais cotas permanecerão sendo observadas até que se conclua o processo
legislativo de competência do Congresso Nacional e, subsequentemente, do Poder Executivo.
STF. Plenário. ADI 7.654 MC-Ref/DF, Rel. Min. Flávio Dino, julgado em 17/06/2024 (Info 1141).

É constitucional o prazo de 25 anos, prorrogável por até 10 anos, para a outorga a particulares
de concessão ou de permissão dos serviços e das obras públicas de portos secos

É constitucional o prazo de 25 anos, prorrogável por até 10 anos, para a outorga a particulares de
concessão ou de permissão dos serviços e das obras públicas de “portos secos”.
Todavia, esses períodos devem ser compreendidos como prazos máximos (ou prazos-limites), na
medida em que é vedado ao legislador fixar uma duração contratual aplicável, de forma invariável
e inflexível, a toda e qualquer concessão ou permissão.
É inconstitucional a prorrogação da vigência dos contratos de concessão ou de permissão
dos “portos secos” cujas outorgas iniciais não forem antecedidas de procedimento licitatório.
Essa prorrogação viola a regra da obrigatoriedade de prévia licitação (art. 175 da CF/88).
Ainda que a outorga inicial seja precedida de licitação, é inconstitucional a prorrogação direta e
automática — por força de lei — da vigência dos contratos de concessão ou de permissão dos
“portos secos”.
O STF modulou os efeitos da decisão para permitir que o Poder Público promova, no prazo máximo
de 24 meses contados da data da publicação da ata deste julgamento, as licitações de todas as
concessões ou permissões cuja vigência esteja amparada nos dispositivos mencionados e que
estejam em desacordo com a interpretação ora conferida, findo o qual os respectivos contratos
ficarão extintos de pleno direito.
STF. Plenário. ADI 3.497/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/06/2024 (Info 1141).
JULGADOS EM DESTAQUE 4

O FGTS, por ter uma função social a cumprir, está sujeito a critérios diferenciados do mercado
financeiro em geral, de modo que o índice oficial da inflação (IPCA) deve ser a referência
mínima para a correção dos saldos dos depósitos realizados nas contas a ele vinculadas

A remuneração do FGTS não pode ficar abaixo da inflação (IPCA). Isso viola a Constituição, pois faz
com que os trabalhadores percam dinheiro, já que seu saldo do FGTS não acompanha o aumento
geral dos preços.
Portanto, quando a forma atual de remuneração do FGTS (TR mais juros de 3% ao ano) ficar
abaixo da inflação, o Fundo deverá compensar os trabalhadores, fazendo a remuneração chegar
até o índice oficial de inflação (IPCA).
Essa compensação teve a concordância das quatro maiores centrais sindicais do país, que
representaram os trabalhadores em negociação com o governo.
A decisão será aplicada ao saldo existente na conta do FGTS a partir da publicação da ata do
presente julgamento, que ocorreu em 17/06/2024.
Isso garante o direito de propriedade do trabalhador, ao mesmo tempo em que protege os
projetos sociais que são realizados com o FGTS. É que, além de funcionar como uma espécie de
poupança do trabalhador, o dinheiro do FGTS é usado para fins sociais importantes: ele ajuda
a financiar a compra de casas para pessoas de baixa renda e obras de saneamento básico e de
infraestrutura urbana. Se o índice a ser utilizado para a correção dos valores depositados no FGTS
fosse muito alto, os juros desses financiamentos aumentariam e isso prejudicaria a parcela mais
pobre da população que se beneficia desses projetos sociais.
STF. Plenário. ADI 5.090/DF, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, redator do acórdão Min. Flávio Dino,
julgado em 12/06/2024 (Info 1141).

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DOD News - Junho 2024


JULGADOS EM DESTAQUE 5

DIREITO CIVIL

Não há óbice para a imediata suspensão do perfil profissional de motorista de aplicativo que
pratica ato suficientemente gravoso, com a possibilidade de posterior exercício de defesa
visando ao recredenciamento

Conjugando a determinação do art. 20 da LGPD com a eficácia dos direitos fundamentais nas
relações privadas, entende-se que o titular de dados pessoais deve ser informado sobre a razão
da suspensão de seu perfil, bem como pode requerer a revisão dessa decisão, garantido o seu
direito de defesa.
A plataforma pode suspender imediatamente o perfil do motorista quando entender que a
acusação é suficientemente gravosa, informando-lhe a razão dessa medida, mas ele poderá
requerer a revisão dessa decisão, garantido o contraditório.
Se tiver sido conferido o direito de defesa ao usuário e ainda assim a plataforma concluir que
restou comprovada a violação aos termos de conduta, não há abusividade no descredenciamento
do perfil. Até mesmo porque não se afasta a possibilidade de revisão judicial da questão.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.135.783-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/6/2024 (Info 817).
JULGADOS EM DESTAQUE 6

Não é legítimo o descumprimento de cláusula compromissória pactuada por sociedade


empresária que foi sucedida pela União, mesmo antes das alterações promovidas pela Lei
13.129/2015 na Lei de Arbitragem, sob pena de ofensa ao ato jurídico perfeito

A Lei nº 13.129/2015 inseriu, expressamente, na Lei nº 9.307/96 a possibilidade de a


Administração Pública valer-se da arbitragem quando a lide versar sobre direitos disponíveis.
Vale ressaltar, contudo, que, mesmo antes da Lei nº 13.129/2015, já era entendido que a
administração pública poderia se submeter à arbitragem. Esta interpretação era respaldada pela
doutrina especializada e por decisões do STJ e STF, mesmo quando essa possibilidade não estava
explicitamente prevista na legislação.
Portanto, não é aceitável que a União tente evitar o juízo arbitral ao suceder uma empresa que
tenha assinado um contrato com cláusula compromissória de arbitragem, antes da liquidação
e incorporação do patrimônio dessa empresa pela União. Mesmo que se argumentasse que a
sucessão pela União alterou o regime do contrato, isso não poderia invalidar o compromisso
anteriormente assumido, pois violaria o princípio do ato jurídico perfeito.
O fato de a sucessão pela União ter ocorrido quando já havia uma ação indenizatória em
andamento, baseada em alegado descumprimento contratual, não é relevante. Conforme o
art. 8º da Lei nº 9.307/96 e o entendimento consolidado na doutrina e jurisprudência, a cláusula
compromissória é um negócio jurídico autônomo, destinado a resolver disputas, mantendo a
competência do juízo arbitral para controvérsias relacionadas ao contrato.
Além disso, é contrário à boa-fé objetiva que a União busque indenização por descumprimento
contratual e, ao mesmo tempo, tente afastar a cláusula compromissória presente no mesmo contrato.
Tanto pela validade da cláusula compromissória quanto pela necessidade ético-jurídica de preservar
as expectativas legítimas dos contratantes, deve-se aplicar o princípio da transmissibilidade dessa
cláusula em casos de sucessão.
STJ. 1ª Turma. REsp 2.143.882-SP, Rel. Min. Paulo Sérgio Domingues, julgado em 11/6/2024 (Info 817).

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JULGADOS EM DESTAQUE 7

DIREITO DO CONSUMIDOR

A eficácia preclusiva da coisa julgada impede o ajuizamento de nova ação para pleitear
a restituição de quantia paga a título de juros remuneratórios incidentes sobre tarifas
bancárias declaradas nulas em anterior ação de repetição de indébito

A eficácia preclusiva da coisa julgada impede a apreciação de questões deduzidas e dedutíveis,


ainda que não tenham sido examinadas, desde que atinentes à mesma causa de pedir.
Caso concreto: a parte autora ajuizou a primeira ação pedindo a devolução em dobro de todos os
valores pagos com as tarifas declaradas nulas. Nessa ação é possível concluir que o pleito abarcou
também os encargos incidentes sobre as respectivas tarifas. Se a parte eventualmente esqueceu
de deduzir, de forma expressa, a pretensão de ressarcimento dos juros remuneratórios que
incidiram sobre as tarifas declaradas nulas na primeira ação, não poderá propor nova demanda
com essa finalidade, sob pena de violação à coisa julgada.
O acessório (juros remuneratórios incidentes sobre a tarifa) segue o principal (valor correspondente
à própria tarifa), razão pela qual o pedido de devolução de todos os valores pagos referentes à tarifa
nula abrange, por dedução lógica, a restituição também dos respectivos encargos, sendo incabível,
portanto, nova ação para rediscutir essa matéria.
Desse modo, a declaração de ilegalidade de tarifas bancárias, com a consequente devolução
dos valores cobrados indevidamente, em ação ajuizada anteriormente com pedido de forma
ampla, faz coisa julgada em relação ao pedido de repetição de indébito dos juros remuneratórios
incidentes sobre as referidas tarifas.
A eficácia preclusiva da coisa julgada impede a apreciação de questões deduzidas e dedutíveis,
ainda que não tenham sido examinadas, desde que atinentes à mesma causa de pedir.
STJ. 2ª Seção. EREsp 2.036.447-PB, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 12/6/2024 (Info 817).

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JULGADOS EM DESTAQUE 8

A inscrição e manutenção do nome do devedor em cadastros de inadimplentes está adstrita


ao prazo de cinco anos contados do primeiro dia seguinte à data de vencimento da dívida,
que deverá estar inserida no banco de dados da administradora do cadastro

Não há obrigação legal de a administradora do cadastro de inadimplentes inserir no seu banco de


dados todas as informações constantes na certidão de protesto do título.
Vale ressaltar, por outro lado, que a data de vencimento do título é uma informação essencial para a
análise de risco de crédito ao consumidor, devendo obrigatoriamente constar no banco de dados
do cadastro de inadimplentes.
O Código de Defesa do Consumidor (art. 43, § 1º) prevê expressamente que não podem permanecer
no cadastro de inadimplentes informações negativas referentes a período superior a 5 anos.
Nesse sentido, foi editada a Súmula n. 323 do STJ.
A data de vencimento da dívida é informação de extrema relevância para determinar o período
de manutenção do dado negativo do consumidor no cadastro de inadimplentes, desempenhando
papel fundamental na gestão adequada das informações sobre os devedores, contribuindo para
preservar a integridade e a precisão dos registros nos cadastros de inadimplentes.
Essa prática tem por finalidade salvaguardar os direitos dos consumidores, assegurando que
dados desatualizados não comprometam seu acesso ao crédito por um período excessivamente
prolongado. Dessa forma, a negativa do pedido para que conste no banco de dados do cadastro
de inadimplentes a data de vencimento da dívida ofende o art. 43, § 1º, do CDC.
STJ. 4ª Turma. REsp 2.095.414-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 11/6/2024 (Info 817).

DIREITO EMPRESARIAL

Para se reconhecer a imprescritibilidade da ação de nulidade de registro de marca, é


necessário demonstrar a notoriedade da marca e haver má-fé do registrador, decorrente
do uso indevido, sendo relevante a análise do comportamento das partes para tal definição

Nos termos da CUP (Convenção da União de Paris), art. 6º, bis, item 3, para se reconhecer
a imprescritibilidade da ação de nulidade de registro de marca, é necessário demonstrar a
notoriedade da marca e haver má-fé do registrador, decorrente do uso indevido, admitindo-se
prova em contrário.
STJ. 4ª Turma. REsp 2.061.199-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/6/2024 (Info 817).
JULGADOS EM DESTAQUE 9

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Admite-se a comprovação da instabilidade do sistema eletrônico, com a juntada de


documento oficial, em momento posterior ao ato de interposição do recurso

O § 1º do art. 224 do CPC prevê que a indisponibilidade ocorrida nos dias do começo e do
vencimento tem o condão de prorrogar o prazo para o dia útil seguinte.
A parte, no momento da interposição do recurso, já é obrigada a comprovar a indisponibilidade
ou pode comprovar posteriormente, juntando documento oficial que ateste a indisponibilidade
ocorrida? Pode comprovar depois.
Admite-se a comprovação da instabilidade do sistema eletrônico, com a juntada de documento
oficial, em momento posterior ao ato de interposição do recurso.
Não é razoável exigir que, no dia útil seguinte ao último dia de prazo para interposição do
recurso, a parte já tenha consigo documentação oficial que comprove a instabilidade de sistema,
sendo que não compete a ela produzir nem disponibilizar este registro.
Não se pode admitir que a parte seja impedida de exercer sua ampla defesa em razão de
falha técnica imputável somente ao Poder Judiciário, até mesmo porque não existe norma que
imponha a comprovação no momento do recurso.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 2.211.940-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/6/2024 (Info 817).

DIREITO PENAL

No crime sexual cometido durante vulnerabilidade temporária da vítima, sob a égide do


art. 225 do CP com a redação dada pela Lei 12.015/2009, a ação penal é condicionada à
representação

Súmula 670-STJ: Nos crimes sexuais cometidos contra a vítima em situação de vulnerabilidade
temporária, em que ela recupera suas capacidades físicas e mentais e o pleno discernimento
para decidir acerca da persecução penal de seu ofensor, a ação penal é pública condicionada à
representação se o fato houver sido praticado na vigência da redação conferida ao art. 225 do
Código Penal pela Lei n. 12.015, de 2009.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 20/06/2024, DJe 24/06/2024 (Info 817).

Somente após a Lei 13.106/2015, o fornecimento de bebida alcóolica a criança ou adolescente


passou a ser crime (art. 243 do ECA)

Súmula 669-STJ: O fornecimento de bebida alcóolica a criança ou adolescente, após o advento da


Lei n. 13.106, de 17 de março de 2015, configura o crime previsto no art. 243 do ECA.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 12/06/2024, DJe 17/06/2024 (Info 817).
JULGADOS EM DESTAQUE 10

DIREITO PROCESSUAL PENAL

A utilização de aparelho celular durante o trabalho externo, sem expressa vedação judicial,
configura falta grave?

Se o preso, durante o trabalho externo, for encontrado portando celular ou seus componentes
essenciais, haverá a prática de falta grave?
5ª Turma do STJ: SIM.
Esta Corte Superior, ao interpretar o art. 50, VII, da Lei de Execução Penal, firmou entendimento
no sentido de que a posse de celular, ainda que na realização de trabalho externo, configura
a prática de falta grave. Tal posicionamento é o que melhor se coaduna com o propósito da
alteração legislativa promovida pela Lei n. 11.466/2007 na LEP - o controle da comunicação entre
os custodiados e o ambiente externo, via aparelhos de telefonia móvel.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 839.818/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/10/2023.
6ª Turma do STJ: NÃO.
O entendimento da Sexta Turma é no sentido de que, durante o trabalho externo, não há previsão
legal de incomunicabilidade do sentenciado. Nesse compasso, somente nos casos em que há
ordem expressa judicial de não usar telefone fora dos limites da unidade penal, é que o apenado
poderá ser penalizado por falta grave pela infração de desobediência descrita no art. 50, VI, da LEP.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 866.758-SP, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do
TJDFT), julgado em 15/4/2024 (Info 752).

O prazo para a interposição do agravo regimental em matéria penal é de 5 dias corridos

O CPC/2015 possui regra dizendo que o prazo para a interposição de qualquer agravo é de 15
dias úteis (art. 1.070 c/c art. 219). Essa regra, no entanto, não se aplica para o agravo regimental
interposto contra decisões monocráticas proferidas por Ministros do STF ou STJ em processos de
natureza criminal. Isso porque existem previsões específicas que regem o tema no processo penal:
• o art. 39 da Lei nº 8.038/90 prevê que o prazo do agravo em matéria criminal é de 5 dias.
• o art. 798 do CPP prevê que os prazos no processo penal são contínuos, ou seja, não são
contados em dias úteis.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 851.985-SP, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do
TJDFT), julgado em 14/5/2024 (Info 817).
JULGADOS EM DESTAQUE 11

Não é adequada a decisão que impede a habilitação do ofendido em mandado de


segurança, cujo propósito afeta seus interesses, sendo imperativa a formação do
litisconsórcio passivo necessário

As garantias constitucionais do devido processo legal, do exercício do contraditório e da ampla


defesa não devem ser consideradas apenas sob a perspectiva do acusado, mas também da
vítima. Isso se deve ao inegável interesse que a vítima tem no resultado do processo instaurado.
Neste contexto, a vítima participa ativamente do processo de várias formas: ao ser ouvida,
ao apresentar provas, ao sugerir diligências e ao buscar a reparação dos danos sofridos em
decorrência do crime.
Seguindo essa linha de pensamento, as recentes alterações no Código de Processo Penal
demonstram a crescente intenção do legislador em atribuir um papel mais relevante à vítima,
tanto na fase de investigação quanto na fase de acusação do processo penal.
Por outro lado, a jurisprudência do STJ e do STF tradicionalmente não admitia a intervenção de
terceiros em ações de mandado de segurança e habeas corpus. No entanto, ao longo dos anos, o
entendimento dessas cortes evoluiu, passando a permitir, em casos excepcionais, a participação
do querelante (acusador privado) no julgamento do habeas corpus.
Dessa forma, se no habeas corpus, que tutela o direito constitucional de locomoção, a jurisprudência
tem admitido excepcionalmente a intervenção de terceiros, o mesmo raciocínio pode ser aplicado
ao mandado de segurança. Isso é especialmente verdadeiro quando o direito em discussão se
refere aos interesses legítimos da vítima, como a reparação de danos.
No caso em análise, a ação constitucional na origem, ao questionar uma decisão que negou a
restituição de valores provenientes de um furto milionário, justifica a ampliação do direito de
participação da vítima (Banco Central) no processo de mandado de segurança, uma vez que afeta
diretamente seus interesses legítimos de ressarcimento.
Impedir a participação da vítima em uma discussão que busca delimitar ou condicionar seu direito
de participar ativamente nos processos que afetam seus interesses viola justamente esse direito
de participação.
Além disso, diferentemente do habeas corpus, no mandado de segurança existe uma norma que
autoriza a intervenção de terceiros, o que reforça sua admissibilidade neste caso.
Nesse sentido, o respeito ao devido processo legal implica na observância do art. 24 da
Lei nº 12.016/2009, que se materializa com a formação do litisconsórcio passivo necessário
(previsto no art. 47 do CPC/1973 e no art. 114 do CPC/2015). Isso assegura ao Banco Central o
exercício do contraditório na defesa de seus interesses no contexto do pedido de restituição de
valores obtidos com a alienação antecipada de bens adquiridos com o produto do furto milionário
do qual é vítima.
Em um sistema jurídico que promove e incentiva a participação da vítima na persecução penal,
não é adequado impedir sua habilitação em um mandado de segurança cujo propósito afeta
diretamente seus interesses. Portanto, é imperativa a formação do litisconsórcio passivo
necessário, sob pena de nulidade do processo.
STJ. 5ª Turma. AREsp 1.700.368-CE, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em 18/6/2024 (Info 817).
JULGADOS EM DESTAQUE 12

DIREITO TRIBUTÁRIO

Não deve haver pagamento de IPI se a mercadoria foi furtada ou roubada após a sua saída
do fabricante e antes da entrega ao adquirente

Súmula 671-STJ: Não incide o IPI quando sobrevém furto ou roubo do produto industrializado após
sua saída do estabelecimento industrial ou equiparado e antes de sua entrega ao adquirente.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 20/06/2024, DJe 24/06/2024 (Info 817).

Os valores pagos pelas instituições financeiras a seus correspondentes bancários não podem
ser deduzidos da base de cálculo da Contribuição ao PIS e da COFINS, por não se tratar de
despesas com a operação de intermediação financeira propriamente dita

As instituições financeiras, de acordo com o art. 17 da Lei n. 4.595/1964, têm entre suas atividades
a operação de intermediação financeira, a qual consiste na captação de recursos dos agentes
econômicos superavitários (poupadores), remunerados com juros, para emprestá-los aos agentes
deficitários (tomadores), com a cobrança de juros.
Para exercer essa atividade, as instituições financeiras podem se valer da contratação de
correspondentes bancários que são, em regra, pessoas jurídicas (exceto os prestadores de
serviços notariais pessoa física) contratadas pela instituição financeira para atender clientes e
usuários da contratante, que se responsabilizam plenamente pelo atendimento prestado aos
clientes e usuários por meio da parte contratada.
Desse modo, constata-se que os correspondentes, de fato, facilitam o relacionamento da instituição
financeira contratante com seus clientes e usuários e a realização dos serviços mais corriqueiros
de um banco. Contudo, isso não implica dizer que as despesas desembolsadas para a manutenção
daqueles devem ser deduzidas da base de cálculo da Contribuição ao PIS e da COFINS.
Isso porque as despesas que podem ser excluídas da base de cálculo dos referidos tributos são
aquelas que diretamente estão relacionadas com a intermediação financeira, a qual, por sua vez,
é relação que ocorre entre a instituição financeira e o terceiro, e não entre aquela (instituição) e o
correspondente.
O valor da remuneração paga aos correspondentes bancários, que pode ser composta por comissões,
na verdade, constitui despesa administrativa decorrente da escolha da instituição bancária de se valer
daqueles (os correspondentes) como um meio de prestar a atividade de intermediação financeira,
optando por contratá-los em substituição à admissão direta de empregados e à expansão do número
de agências e pontos de atendimento próprios.
Essas últimas despesas, portanto, servem para remunerar a relação jurídica estabelecida entre a
instituição financeira e o seu correspondente bancário, pelo que não se trata de despesas com a
operação de intermediação financeira propriamente dita. Por isso, não podem (tais despesas) ser
deduzidas da base de cálculo da Contribuição ao PIS e da COFINS, pois em nada se relaciona com
o ato econômico em si.
STJ. 1ª Turma. AREsp 2.001.082-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 18/6/2024 (Info 817).
JULGADOS EM DESTAQUE 13

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

A Súmula 289 do STJ aplica-se apenas aos casos de desligamento e de resgate, não se
aplicando às de migração entre planos de previdência privada

A Súmula 289 do STJ prevê que a restituição das parcelas pagas a plano de previdência privada
deve ser objeto de correção plena, por índice que recomponha a efetiva desvalorização da moeda.
Essa questão já foi decidida no STJ sob a sistemática dos recursos repetitivos, em que reafirmou
o entendimento sumular acima citado (Tema 511: “É devida a restituição da denominada reserva
de poupança a ex-participantes de plano de benefícios de previdência privada, devendo ser
corrigida monetariamente conforme os índices que reflitam a real inflação ocorrida no período,
mesmo que o estatuto da entidade preveja critério de correção diverso, devendo ser incluídos os
expurgos inflacionários (Súmula n. 289 do STJ)”.
Por sua vez, de acordo com o Tema 943 do STJ, no julgamento do REsp n. 1.551.488/MS, decidiu-se
que “1.1. Em caso de migração de plano de benefícios de previdência complementar, não é cabível
o pleito de revisão da reserva de poupança ou de benefício, com aplicação do índice de correção
monetária. 1.2. Em havendo transação para migração de plano de benefícios, em observância à
regra da indivisibilidade da pactuação e proteção ao equilíbrio contratual, a anulação de cláusula
que preveja concessão de vantagem contamina todo o negócio jurídico, conduzindo ao retorno ao
status quo ante”.
Dessa forma, a Súmula 289 do STJ aplica-se apenas aos casos de desligamento e de resgate, não
se aplicando às de migração entre planos de previdência privada.
STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 1.295.169-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado
em 20/5/2024 (Info 817).

A inclusão do terço de férias no cálculo da contribuição previdenciária patronal só vale a


partir da publicação da ata do julgamento sobre o Tema 985

A mudança da jurisprudência é motivo ensejador para a excepcional modulação dos efeitos da


decisão que fixou a tese referente ao Tema 985 da repercussão geral (“É legítima a incidência de
contribuição social sobre o valor satisfeito a título de terço constitucional de férias”), de modo
que, anteriormente à data de seu julgamento, no ano de 2020, devem ser mantidos apenas os
pagamentos já efetuados pelas empresas e não questionados judicialmente.
STF. Plenário. RE 1.072.485 ED/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Luís Roberto
Barroso, julgado em 12/06/2024 (Info 1141).
DIZER O DIREITO NEWS 14

O boletim Dizer o Direito News é uma publicação mensal do Buscador Dizer o Direito,
a única ferramenta de pesquisa da jurisprudência do STF/STJ com julgados comentados,
coordenada por Márcio André Lopes Cavalcante.

SOBRE O IDEALIZADOR

Márcio André Lopes Cavalcante é o idealizador e editor


do Buscador Dizer o Direito.
Atua como Juiz Federal (TRF da 1ª Região).
Antes disso, foi Defensor Público, Promotor de Justiça
e Procurador do Estado.
Possui grande experiência em concursos públicos, tendo
sido aprovado em inúmeros outros certames, como Técnico
e Analista Judiciário, Procurador do Município, Procurador
de Contas e Juiz de Direito.
É autor de 8 livros e dedica-se intensamente ao estudo e análise
da jurisprudência por acreditar que se trata, atualimente, de
uma das fontes do Direito, sendo, aliás, a mais dinâmica delas.
Atua como "professor virtual" de milhares de alunos das mais
diversas partes do país por meio do site "Dizer o Direito"
(www.dizerodireito.com.br) do qual é fundador.
E lançou o Buscador "Dizer o Direito" para expandir ainda
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