Resenha Livro e Filme

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FACULDADE DE SÃO FRANCISCO DE BARREIRAS – FASB

CURSO DE PSICOLOGIA

ANDRESSA DA SILVA SOUZA

NOEDILA NOEMI BARRETO

RESENHA DO LIVRO “FILOSOFIA DA CIÊNCIA: INTRODUÇÃO AO JOGO E


SUAS REGRAS” E DO FILME “O ÓLEO DE LORENZO”

BARREIRAS-BA

2018
ANDRESSA DA SILVA SOUZA

NOEDILA NOEMI BARRETO

RESENHA DO LIVRO “FILOSOFIA DA CIÊNCIA: INTRODUÇÃO AO JOGO E


SUAS REGRAS” E DO FILME “O ÓLEO DE LORENZO”

Resenha apresentada como pré-requisito parcial para


avaliação do componente curricular Metodologia
Científica, sob orientação da Professora Emília Amaral.

BARREIRAS-BA

2018
ALVES, R. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1987.
MILLER, G. Lorenzo’s Oil (O óleo de Lorenzo). Estados Unidos: Universal Pictures / UIP,
1992. 1 vídeo-disco (135 minutos), son., color.

Rubem Alves (15 de setembro de 1933 — 19 de julho de 2014) além de escritor,


foi professor, teólogo e psicanalista. Ele escreveu diversos livros, artigos e crônicas sobre
religião, questões existenciais e educação para crianças. Em 1964, no início da ditadura
militar no Brasil, Rubem foi acusado por sua igreja de abandonar a sua fé, por conta de
suas ideias liberais e contrárias as que eram defendidas pelo clero. Em 1968, com o aumento
do controle por parte dos militares, o autor foi perseguido e foi obrigado a ir para um exílio,
nos Estados Unidos. No entanto, sua passagem por lá lhe deu inúmeros ganhos, como o
doutorado em Filosofia que ele concluiu no país. Ao retornar para o Brasil, Rubem Alves
dedicou-se ao ensino de Filosofia, Ciências e Letras, além de também ter se especializado
em Psicanálise. As suas obras foram traduzidas para diversas línguas, além de serem, até hoje,
objeto de estudo.
George Miller (3 de março de 1945) é um produtor de filmes, diretor de
cinema, roteirista e médico australiano. Além de Digirir o filme “O Óleo De Lorenzo”,
George esteve envolvidos em diversos trabalhos, como nos filmes da saga “Mad Max”,
“Happy Feet” e “Babe”, pelos quais foi indicado a concorrer em diversas categorias nas
premiações relacionadas a cinema, chegando a ganhar alguns prêmios.
Em seu livro “Filosofia da ciência: Introdução ao jogo e suas regras”, o autor Rubem
Alves levanta diversos questionamentos no que se refere a supremacia do conhecimento
científico em relação ao conhecimento de senso comum.
No primeiro capítulo sob o tema “O Senso Comum e a Ciência(I)” o autor começa
diferenciando ambos os tipos de conhecimento apontando a supervalorização do cientista,
para ele é necessário desfazer a ideia de que o cientista é um ser de pensamento superior,
indicando que qualquer pessoa pode fazer ciência. No capítulo o autor critica a falta de
questionamento às especializações, como por exemplo, à médicos e engenheiros, assim como
também a falta de interdisciplinaridade da ciência, afirmando que se perde em extensão
quando há o aprofundamento. Rubem aponta ainda que a ciência só se desenvolve a partir do
senso comum, e que todos têm capacidade de fazer ciência. Seguindo o capítulo, o autor traz
outro paralelo entre ciência e senso comum, onde aponta que ambas têm como objetivo a
compreensão do mundo visando viver melhor e sobreviver.
No capítulo seguinte, apresentado como “O Senso Comum e a Ciência (II)”, Rubem
afirma que assim como a ciência o senso comum também requer o uso de modelos como pré-
requisitos para o diagnóstico. O mesmo segue explanando sobre o conhecimento, aprontando
que este só se da em situações de problema, justificando que o indivíduo só pensa para
continuar a ação interrompida.
Abordando a questão da ordem, Rubem Alves traz no terceiro capítulo o tema “Em
Busca de Ordem”, onde explicita que, assim como a ciência, o senso comum também busca
ordem, pois a mesma é necessária para sobrevivência. Seguindo a mesma linha o autor afirma
que para se iniciar o fazer da ciência é necessário um problema, que este gera um modelo, que
Rubem Alves define como sendo a dedução lógica das consequências, ou seja, um teste, e
ressalta que para o senso comum acontece da mesma forma.
Seguindo a temática Rubem Alves aponta no décimo capítulo, “As Credencias da
Ciência”, que o objetivo da ciência é produzir conhecimento, onde a verdade seja alcançada
de forma infindável, explicando que a mesma necessita ser metodologicamente testada.
Seguindo, o autor afirma que não existe um método para se alcançar a descoberta de uma
teoria, porém existe um para testá-la, sendo assim, existe certeza quando uma teoria é
declarada falsa, mas nunca existe certeza de que a teoria é verdadeira. Dentro desse contexto,
o autor afirma que o único fato que pode ser aceito como credencial da ciência seria a
falsicabilidade, ou seja, a capacidade de ser testada pela experiência, podendo, a partir daí,
demonstrar sua falsidade, já que o verdadeiro é inconclusivo e o falso não o é. A partir desse
exposto Rubem ainda sugere que daí deriva a razão pela qual os cientistas não demonstram
seus fracassos, entendendo que estes não são metodológicos. Fechando o capítulo Rubem
expõe que mesmo que os resultados confirmem as previsões da teoria, não quer dizer que a
teoria seja verdadeira.
O filme “O Óleo de Lorenzo” estreou em 1992, dirigido George Miller o longa tem
seu enredo baseado na história real de Lorenzo Odone (interpretado por Zack o'Malley
Greenburg), um garotinho de seis anos que após apresentar comportamentos atípicos é
diagnosticado com ALD, ou síndrome de Adrenoleucodistrofia, uma doença degenerativa
causada pelo acúmulo de ácidos graxos de cadeia muito longa no cérebro e na glândula
suprarrenal, causando a desmielinização dos neurônios. Após o diagnostico os pais de
Lorenzo, Augusto (interpretado por Nick Nolte) e Michaela Odone (interpretada por Susan
Sarandon) ficam desolados e inconformado com as informações que receberam do médico, já
as mesmas eram poucas, vagas, ressaltavam o pouco conhecimento dos médicos em relação a
doença e prediziam a morte precoce do garoto.
Convencidos de que exista um meio para salvar o filho, Augusto e Sara começam uma
jornada que os leva a diversos grupos de apoio, médicos e reuniões, mas diante do insucesso
decidem procurar pela cura sozinhos. Através de pesquisas autodidatas e contando com o
auxílio do neurologista Hugo Moser (interpretado por Peter Ustinov) eles desenvolvem
primeiramente uma substância que mostrou efeito, mas cessou logo depois. A partir disso,
continuam por mais alguns anos aperfeiçoando a descoberta até desenvolverem o Óleo de
Lorenzo.
Para Lorenzo, infelizmente, a descoberta chegou tarde, já que mesmo apresentando
melhoras a cura através desse método era impossível. Porém, os estudos continuaram e
destinaram-se ao tratamento de outras crianças portadoras do LDA.
A partir das explanações é tão possível quanto clara a correlação entre as obras
citadas, já que assim como no capítulo inicial da obra de Rubem Alves, o início do filme
também nos mostra a diferenciação primaria entre ciência e senso comum, sendo isso
perceptível quando a mãe do Lorenzo percebe comportamentos comumente associados a
atipicidade, buscando um médico especializado para descobrir a raiz do problema. Ainda no
primeiro capítulo o autor traz a crítica em relação ao não questionamento da “autoridade
científica especializada”, o que acontece em primeiro momento com Sara e Augusto, os pais
de Lorenzo, que após recebem a notícia sobre a gravidade da doença que acometia o filho e o
diagnostico de morte precoce do mesmo ficaram desolados, porém acabam acatando a opinião
do especialista.
Em um momento mais tarde no filme, os pais de Lorenzo começam a se questionar
sobre a perspectiva terminal da doença, decidindo por conta própria buscar respostas para o
tratamento, e quiçá cura do garoto, já que nada conseguiram no âmbito da ciência. Essa é uma
relação clara com a obra de Rubem Alves, já que o mesmo aponta que qualquer pessoa pode
fazer ciência.
Quando Rubem fala sobre a busca pela ordem, bem como sobre os métodos existente
tanto no senso comum quanto na ciência, é possível nos remetermos a obra de George,
quando Augusto e Sara, na busca por restaurar a saúde, o que era típico de Lorenzo,
estruturaram métodos de pesquisa, anotações, seguindo sempre um método em sua busca.
Assim como os pais de Lorenzo buscaram dentro da ciência fatos e fatores para lhes
auxiliarem, também é possível perceber que aquilo que era senso comum desenvolveu-se
tornando ciência, quando os mesmos criaram uma substância capaz de frear as consequências
da doença do filho. Esse fato apresentado no filme de Miller corrobora com a fala de Rubem
Alves que afirma que a ciência nasce do senso comum.
A relação do senso comum com a ciência fica ainda mais clara quando no filme nos é
apresentado uma cena onde Augusto e Sara utilizam-se do exemplo de uma pia de cozinha
para correlacionar o avanço da doença com os efeitos da mesma.
A descoberta do Óleo de Lorenzo por Augusto e Sara traz outro ponto apresentado no
livro de Rubem Alves, onde o mesmo indica que não existe um método para se alcançar a
descoberta de uma teoria, porém existe um para testá-la. Dessa forma percebemos no filme
que os pais de Lorenzo não tinham acesso a uma teoria para descobrir a cura, mas através do
conhecimento de senso comum foram desenvolvendo substâncias, consequentemente
testando-as, e em fim, quando notou-se melhora no quadro da criança, a teoria se provou.
Tanto no filme, quando os pais de Lorenzo chegam a versão aperfeiçoada do óleo,
quanto no livro, quando Rubem Alves aborda a temática sobre as credenciais da ciência,
percebemos que realmente a ciência pode ser feita por todos, já que sua única credencial
aceitável, segundo Rubem Alves, parte do princípio da falsicabilidade, não sendo requisito
para isso ser necessariamente cientista.
Um aspecto importante que pode ser notado após a apreciação das obras é o fato de o
senso comum, em um primeiro momento, volta-se muito mais para uma questão pessoal,
enquanto que a ciência tende a universalidade e comunicabilidade. Isso pode ser visto por
exemplo, na tentativa dos pais de Lorenzo em buscarem uma forma de curar o filho, onde
preocupam-se inicialmente, única e exclusivamente com a saúde do mesmo, enquanto que os
médicos e cientistas estudam os fenômenos ocorridos com Lorenzo para uma posterior
universalidade em relação aos remédios e/ou tratamentos descobertos. Ou seja, assim como
aponta Rubem Alves, o conhecimento só ocorre quando existe um problema a ser resolvido, e
para a ciência há a necessidade que a solução deste problema seja universal e possa ser
comunicada, enquanto que para o senso comum essa solução geralmente é de cunho
individual, ou de um determinado grupo, não havendo assim, a necessidade de ser
universalizada.
Rubem afirma brilhantemente em seu livro que o individuo só pensa para dar
continuidade a uma ação interrompida, e conseguimos ver esta colocação claramente em toda
trajetória do filme, já que o enredo do mesmo trata exatamente da luta de pais e corpo
médico/científico em busca de cura, não há conseguindo tratamento, e posteriormente
somente qualidade de vida para a criança. Não só no filme, como também em nosso cotidiano,
é possível perceber tal premissa, já que não temos como iniciar uma solução quando não
temos um problema a ser solucionado.
As obras nos trazem uma grande reflexão a respeito da importância dos tipos de
conhecimento. Percebemos o grande valor da ciência, ela se dedica a buscar a solução de
diversas questões de forma metodológica, com volumoso empenho, preocupada com a
universalidade do conhecimento gerado. Mas em contraponto também notamos que a base da
ciência é o conhecimento de senso comum, trazendo a luz questões antes desconhecidas,
dando material para ciência, não só no que se refere a problemática, mas também no que se
refere a pontos de partida para a própria solução.
Através das explanações é possível entender que melhores resultados são gerados
quando esses conhecimentos estão aliados, e não quando um se coloca em um patamar acima
do outro. Que é sim possível fazer ciência mesmo não possuindo um jaleco branco e um
laboratório muito bem equipado. E que o senso comum precisa ser visto e respeitado como
uma infindável fonte de conhecimento, afastando da população não-cientista o medo de
produzir conhecimento.
Ambas as obras abordam a questão do conhecimento de senso comum versus
conhecimento científico, nos mostram a relação intima entre estes, desmitificam a ideia de
ciência como conhecimento superior, trazendo para o leitor/espectador uma formação crítica,
sendo assim recomendado não só para àqueles que estão nas ciências, mas para o público
como um todo.
As duas obras são claras, de fácil entendimento, não havendo necessidade de
conhecimento prévio, bem como não há restrição quanto ao público. E ainda que as obras
tenham a mesma temática, elas a apresentam de forma diferente. Enquanto que “A Filosofia
da Ciência” o faz de forma objetiva e didática, “O Óleo de Lorenzo” traz para o público a
subjetividade das emoções, mostrando não só o conhecimento de senso comum e científico,
mas também o religioso.

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